REVISTA PALAVRA VIVA – A IGREJA DE JESUS CRISTO
Apoio didático – Lição 10a
UMA HERANÇA HISTÓRICA
A Igreja Cristã não esteve sempre dividida por muitas das barreiras e discordâncias que
hoje existem. Apesar de perseguições tentarem destruir a igreja primitiva, ela se tornou mais
forte a cada onda de ataque. Heresias e divisões a ameaçaram quase desde o seu início, mas a
igreja visível permaneceu virtualmente uma até o grande cisma entre o Oriente e Ocidente no
século 11.
No século 16, outra significativa divisão atingiu a igreja ocidental quando Roma, então
centro do poder político e religioso da igreja dominante, excomungou um monge agostiniano
chamado Martinho Lutero, recusando a Reforma proposta. No Concílio de Trento (1545-1563)
Roma fechou oficialmente as portas para as contribuições teológicas dos reformadores, os
quais se esforçavam por corrigir falhas graves que haviam sido desenvolvidas na igreja ao
longo dos séculos.
As palavras familiares do Credo dos Apóstolos, acima, são um resumo histórico e
simples das verdades essenciais professadas pelos primeiros cristãos. Embora essa confissão
não seja, certamente, uma produção direta dos doze apóstolos de Cristo, ela consiste em uma
declaração resumida dos seus ensinos e está em perfeita harmonia com o espírito do Novo
Testamento.
Muitos católicos conhecem bem esse credo. E se espantam ao descobrir que os
protestantes também o conhecem. Do mesmo modo, alguns protestantes se surpreendem
quando ouvem um companheiro evangélico recitá-lo. Quase sempre, os evangélicos ficam até
mesmo mais surpresos ao descobrirem que existe um credo antigo que, muito mais do que
apenas um documento misterioso e abstrato, é uma viva e vibrante profissão das verdades
essenciais cridas por todos os cristãos ao longo dos séculos.
Aqui está um ponto de partida universal para a declaração cristã – um credo que
expressa as verdades vitais e fundamentais confessadas pelos crentes muito antes da ruptura
da igreja visível nos séculos 11 e 16. Entretanto, nem tudo o que precisa ser professado pelos
modernos cristãos está contido nele. Por exemplo, esse documento não menciona a graça de
Deus na salvação. Também não há nele referência alguma à autoridade das Escrituras. Não
obstante tudo isso, ele é um bom começo – um ponto de partida para toda as confissões
cristãs históricas – e uma excelente declaração de fé para os momentos de culto comunitário.
A confiança viva em Cristo requer uma fé cristã alicerçada tanto na História quanto na
experiência presente. A verdadeira confissão não pode existir sem o Novo Testamento e este
exige que confessemos nossa fidelidade a Cristo, tanto à sua pessoa como à sua obra. Todos
aqueles que confessam seu amor a Cristo precisam compreender isso. “Mas, eu sou um cristão
evangélico”, você vai dizer. “Eu não posso confessar fidelidade à ‘santa igreja católica’.” Essa
linguagem é inaceitável para mim. Eu creio na igreja bíblica do Novo Testamento e não em
uma “santa igreja católica”.
Ao longo dos séculos, crentes têm sempre confessado sua fé ao confirmar sua crença
na santa igreja católica. É que a palavra católica significa universal,1 antes de ser usada como
nome próprio da igreja de Roma. E a igreja de Cristo, em razão de estar espalhada por toda a
terra, abrangendo pessoas de todas as origens, tanto sociais quanto étnicas (Ap 5.9), é uma
igreja católica (que significa universal). Todos os cristãos de todos os tempos e lugares formam
a igreja universal, ou católica, de Cristo.
(Adaptado de O Mistério Católico, de John Armstrong [Editora Cultura Cristã], cap.1)
©
A IGREJA DE JESUS CRISTO
Vamos em frente, soldados de Cristo
REVISTA PALAVRA VIVA – A IGREJA DE JESUS CRISTO
Apoio didático – Lição 10b
NOTA HISTÓRICA SOBRE
A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER
Desde julho de 1643 até fevereiro de 1649, reuniu-se em uma das salas da
Abadia de Westminster, na cidade de Londres, o Concílio conhecido na História pelo
nome de Assembleia de Westminster. Esse Concílio foi convocado pelo parlamento
inglês, para preparar uma nova base de doutrina, forma de culto e governo eclesiástico
que devia servir para a Igreja do Estado nos três reinos.
Em um sentido, a ocasião não foi propícia. Já começara a luta entre o
parlamento e o rei, Carlos I, e durante as sessões do concílio o país foi agitado pela
revolução em que o rei perdeu a vida e Cromwell tomou as rédeas do governo. Em
outro sentido, a ocasião foi oportuna. Os teólogos mais eruditos daquele tempo
tomaram parte nos trabalhos da Assembleia. A Confissão de Fé e os Catecismos foram
discutidos ponto por ponto, aproveitando-se o que havia de melhor nas Confissões já
formuladas, e o resultado foi a organização de um sistema de doutrina cristã baseado
na Escritura e notável pela sua coerência em todas as suas partes.
O Parlamento não conseguiu o que almejava quando nomeou os membros do
Concílio. A Confissão de Fé foi aprovada, mas por apenas poucos meses a Igreja
Presbiteriana foi nominalmente a Igreja do Estado na Inglaterra.
A Confissão de Westminster foi a última das confissões formuladas durante o
período da Reforma. Até agora tem havido na história da Igreja somente dois períodos
que se distinguiram pelo número de credos ou confissões que neles foram produzidos.
O primeiro pertence aos séculos quarto e quinto, que produziram os credos
formulados pelos concílios ecumênicos de Nicéia, Constantinopla, Éfeso e Calcedônia;
o segundo sincroniza com o período da Reforma. Os símbolos do primeiro período
chamam-se “credos”, os do segundo “confissões”. Uma comparação entre o Credo dos
Apóstolos, por exemplo, e a Confissão de Westminster mostrará a diferença. O Credo é
a fórmula de uma fé pessoal e principia com a palavra “Creio”. A Confissão de
Westminster segue o plano adotado no tempo da Reforma, é mais elaborada e
apresenta um pequeno sistema de teologia. Esse sistema é conhecido pelo nome de
Calvinismo, por ser o que João Calvino ensinou, e foi aceito pelas Igrejas Reformadas,
que diferiram das Luteranas.
A utilidade de uma Confissão de Fé evidencia-se na história das Igrejas
Reformadas ou Presbiterianas. Sendo a Confissão de Westminster a mais perfeita que
elas conseguiram formular, serve de laço de união e estreita as relações entre os
presbiterianos de todo o mundo. Os Catecismos especialmente têm servido para
doutrinar a mocidade nas puras verdades do Evangelho.
No tempo em que se reuniu a Assembleia, e por muito tempo antes, todos
sustentavam a necessidade da união da Igreja e do Estado, e originalmente havia no
Capitulo que trata do Magistrado Civil uma seção ensinando essa necessidade. Ao
©
A IGREJA DE JESUS CRISTO
Vamos em frente, soldados de Cristo
formar-se a Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos da América do Norte, em 1788,
essa seção foi omitida, pois ali quase todos entendiam que a Igreja devia estar livre de
toda a união com o Estado, sendo cada um livre e independente na esfera que lhe
pertence.
Em 1887, ou quase cem anos mais tarde, a Igreja geralmente chamada Igreja do
Norte eliminou a última parte da Seção IV do Capítulo XXIV, que dizia:
“O viúvo não pode desposar nenhuma parente carnal de sua mulher nos graus
de parentesco em que não possa desposar uma das suas próprias parentes, nem a
viúva poderá casar-se com um parente carnal de seu marido nos graus de parentesco
em que não possa casar-se com um dos seus próprios parentes”.
O Sínodo do Brasil, organizado em 1888, fez igual eliminação. No ano 1903 a
mesma Igreja do Norte dos Estados Unidos fez outras emendas importantes1 e
também acrescentou mais dois capítulos à Confissão de Fé.2
John M. Kyle
A Confissão de Fé de Westminster, Editora Cultura Cristã
1
As duas seções que foram modificadas rezam do modo seguinte:
“As obras feitas pelos não regenerados, embora sejam, quanto à matéria, coisas que Deus ordena e em si mesmas
louváveis e úteis, e embora o negligenciá-las seja pecaminoso e ofensivo a Deus, não obstante, em razão de não procederem de um
coração purificado pela fé, elas não são feitas devidamente – segundo a Palavra – nem para um fim justo – a glória de Deus – ficam
aquém do que Deus exige e não podem preparar homem algum para receber a graça de Deus” (Capítulo XVI. Seção VII).
“Nosso Senhor Jesus Cristo é o único cabeça da Igreja, e a pretensão de qualquer homem ser vigário de Cristo e cabeça da Igreja, é
contrária à Escritura nem tem base alguma na História e é uma usurpação que desonra a nosso Senhor Jesus Cristo” (Capítulo XXV.
Seção VI).
2
Considerando a conveniência de exprimir claramente a doutrina da Igreja a respeito do Espírito Santo, das Missões e do amor de
Deus para com todos os homens, a igreja americana acrescentou os seguintes capítulos: Capítulo XXXIV. Do Espírito Santo – I. O
Espírito Santo é a terceira pessoa da Trindade, procedente do Pai e do Filho, da mesma substância e igual em poder e glória, e devese crer nele, amá-lo, obedecê-lo e adorá-lo, juntamente com o Pai e o Filho, por todos os séculos (Mt 3.16,17; Mt 28.19; 2Co 13.13;
Jo 15.26; Jo 16.13,14; Jo 17.24; Jo 16.14). II. É Ele o Senhor e Doador da vida, presente em toda parte na natureza, e é a fonte de
todos os pensamentos bons, desejos puros e conselhos santos que se encontram nos homens. Por ele os profetas foram levados a
falar a Palavra de Deus, e todos os autores da Sagrada Escritura foram inspirados a registrar de um modo infalível a disposição e a
vontade de Deus. A dispensação do Evangelho foi-lhe entregue de um modo especial. O Espírito Santo prepara o caminho para o
Evangelho, acompanha-o com seu poder persuasivo e recomenda a sua mensagem à razão e à consciência dos homens, de maneira
que os que rejeitam a oferta misericordiosa, ficam não somente sem desculpa, mas também culpados de terem resistido ao Espírito
Santo (Rm 8.2; Gn 1.2; Sl 139.7; Jo 16.13,14; 2Pe 1.19-21; Jo 14.16; Jo 16.7-11; At 7.51-53). III. O Espírito Santo, o qual o Pai
prontamente dá a todos os que lho pedirem, é o único agente eficaz na aplicação da redenção. Ele convence os homens do pecado,
leva-os ao arrependimento, regenera-os pela sua graça, e persuade-os e habilita-os a abraçar Jesus Cristo pela fé. Ele une todos os
crentes a Cristo, habita neles como seu Consolador e Santificador, dá-lhes o espírito de adoção e de oração, e cumpre neles todos os
graciosos ofícios pelos quais eles são santificados e selados até ao dia da redenção (Lc 11.13; At 1.5; At 5.32; Jo 16.8; At 2.37,38;
Tt 3.4-7; At 8.29,37; 1Co 12.13; 1Co 3.16,17; Rm 8.15; Ef 4.30). IV. Pela presença do Espírito Santo nos seus corações, todos os
crentes, estando intimamente unidos a Cristo, a Cabeça, estão assim unidos uns aos outros na Igreja, que é seu corpo. Ele chama e
unge os ministros para o seu santo ofício, prepara todos os outros oficiais da Igreja para o seu trabalho especial e concede vários
dons e graças aos demais membros. Ele torna eficazes a Palavra e as ordenanças do Evangelho. Por Ele a Igreja será preservada e
aumentada até cobrir a face da terra; será purificada, e, afinal, tornada perfeitamente santa na presença de Deus (Ef 1.22; Ef 1.23; At
20.28; 1Co 12.11; Ef 5.27). Capítulo XXXV. Do Amor de Deus e das Missões – I. Em seu amor infinito e perfeito – e tendo provido
no pacto da graça, pela mediação e sacrifício do Senhor Jesus Cristo, um caminho de vida e salvação suficiente e adaptado a toda a
raça humana decaída como está – Deus determinou que a todos os homens esta salvação de graça seja anunciada no Evangelho (Jo
3.16; 1Tm 4.10; Mc 16.15). II. No Evangelho Deus proclama o seu amor ao mundo, revela clara e plenamente o único caminho da
salvação, assegura vida eterna a todos quantos verdadeiramente se arrependem e creem em Cristo, e ordena que esta salvação seja
anunciada a todos os homens, a fim de que conheçam a misericórdia oferecida e, pela ação do seu Espírito, a aceitem como dádiva
da graça (Jo 3.16; Jo 14.6; At 4.12; 1Jo 5.12; Mc 16.15; Ef 2.4,8,9). III. As Escrituras nos asseguram que os que ouvem o Evangelho
e aceitam imediatamente os seus misericordiosos oferecimentos, gozam os eternos benefícios da salvação; porém, os que continuam
impenitentes e incrédulos agravam a sua falta e são os únicos culpados pela sua perdição (Jo 5.24; Jo 3.18). IV. Visto não haver
outro caminho de salvação a não ser o revelado no Evangelho, e visto que, conforme o usual método da graça divinamente
estabelecido, a fé vem pelo ouvido que atende à Palavra de Deus, Cristo comissionou a sua Igreja para ir por todo o mundo e ensinar
a todas as nações. Todos os crentes, portanto, têm por obrigação sustentar as ordenanças religiosas onde já estiverem estabelecidas e
contribuir, por meio de suas orações e ofertas e por seus esforços, para a dilatação do Reino de Cristo por todo o mundo (Jo 14.6; At
4.12; Rm 10.17; Mt 28.19,20; 1Co 4.2; 2Co 9.6,7,10).
©
A IGREJA DE JESUS CRISTO
Vamos em frente, soldados de Cristo
REVISTA PALAVRA VIVA – A IGREJA DE JESUS CRISTO
Apoio didático – Lição 10c
UMA HERANÇA HISTÓRICA
A AUTORIDADE DA CONFISSÃO DE FÉ E DOS CATECISMOS
Pessoas há que estranham adotar a Igreja Presbiteriana uma Confissão de Fé e
Catecismos como regra de fé, quando sustenta sempre ser a Escritura Sagrada sua
única regra de fé e de prática. A incoerência é apenas aparente. A Igreja Presbiteriana
coloca a Bíblia em primeiro lugar. É ela só que deve obrigar a consciência.
É também princípio fundamental da Igreja Presbiteriana que toda autoridade
eclesiástica é ministerial e declarativa; que todas as decisões dos concílios devem
harmonizar-se com a revelação divina. A consciência não se deve sujeitar a essas
decisões se forem contrárias à Palavra de Deus.
Ainda outro princípio da mesma Igreja é que os concílios, sendo de homens
falíveis, podem errar, e muitas vezes têm errado. Suas decisões, portanto, não podem
ser recebidas como regra absoluta e primária de fé e prática; servem somente para
ajudar na crença ou na conduta que se deve adotar. O supremo juiz de todas as
controvérsias, em matéria religiosa, é o Espírito Santo falando na e pela Escritura. Por
esta, pois, devem-se julgar toda e qualquer decisão dos concílios e toda e qualquer
doutrina ensinada por homens.
Admitir-se a falibilidade dos concílios não é depreciar a autoridade da Confissão
de Fé e dos Catecismos para aqueles que de livre vontade os aceitem. Admitindo tal, a
Igreja somente declara que depende do Autor da Escritura, e recebe a direção do seu
Espírito na interpretação da Palavra e nas fórmulas de aplicar suas doutrinas.
A Igreja Presbiteriana sustenta que a Escritura é a suprema e infalível regra de
fé e prática; e também que a Confissão de Fé e os Catecismos contêm o sistema de
doutrina ensinado na Escritura, e dela deriva toda a sua autoridade e a ela tudo se
subordina.
É justamente porque cremos que a Confissão de Fé e os Catecismos estão em
harmonia com a Escritura, nossa regra infalível, que os aceitamos. Não existem, pois,
na Igreja Presbiteriana, duas regras de fé, mas uma só, suprema e infalível. As outras
fórmulas são subordinadas e falíveis, necessárias para a pureza, governo e disciplina da
Igreja. Assim a experiência de muitos séculos o tem demonstrado.
John M. Kyle
A Confissão de Fé de Westminster, Editora Cultura Cristã
©
A IGREJA DE JESUS CRISTO
Vamos em frente, soldados de Cristo
REVISTA PALAVRA VIVA – A IGREJA DE JESUS CRISTO
Apoio didático – Lição 10d
VERDADE COM PROPÓSITOS
Em 1562, Frederico III do Palatinado Eleitoral, um opulento estado do Sacro
Império Romano (pense na Alemanha), ordenou a preparação de um novo catecismo
para o seu território. O novo catecismo deveria preencher três funções: (1) ser um
recurso para ensinar às crianças, (2) ser um guia para pregadores, e (3) ser uma forma
de unidade confessional entre as facções protestantes do Palatinado. Frederico queria
um catecismo unificador que evitasse rótulos teológicos e fosse claramente enraizado
nos textos das Escrituras. Para isso, ele reuniu uma equipe de professores de teologia e
ministros (juntamente com o próprio Frederico) para elaborar um novo catecismo.
Embora o catecismo fosse verdadeiramente um trabalho de equipe (incluindo Caspar
Olevianus, que costumava ser considerado um coautor do catecismo, mas agora é
visto simplesmente como um membro valioso da comissão), há pouca dúvida que o
principal autor foi Zacarias Ursino.
Ursino, um professor na Universidade de Heidelberg, nasceu em 18 de julho de
1534, no que hoje é a Polônia, mas, na época, fazia parte da Áustria. Ursino foi o
principal arquiteto do Catecismo de Heidelberg, baseando muitas das perguntas e
respostas em seu próprio breve catecismo, e, em menor medida, no seu catecismo
maior. O Catecismo de Heidelberg reflete as convicções teológicas de Ursino
(firmemente protestante, com tendências calvinistas) e seu espírito caloroso e
conciliatório.1
Esse novo catecismo foi publicado pela primeira vez em Heidelberg (a principal
cidade do Palatinado), em janeiro de 1563, tendo passado por várias revisões nesse
mesmo ano. O Catecismo foi imediatamente traduzido para o latim e o holandês, e
logo depois para o francês e o inglês. Além da Bíblia, O Peregrino de John Bunyan e A
Imitação de Cristo de Tomás de Kempis, o Catecismo de Heidelberg é o livro de maior
circulação no mundo. Desde a sua publicação em 1563, o Catecismo de Heidelberg tem
sido utilizado em dezenas de idiomas e é amplamente elogiado como o catecismo mais
devocional e mais amado da Reforma.2
Como a maioria dos catecismos, o Catecismo de Heidelberg é em grande parte
um comentário sobre três temas: o Credo Apostólico, os Dez Mandamentos e a Oração
do Senhor. A estrutura de Heidelberg, no entanto, é original de duas maneiras.
Primeiro, a estrutura geral se encaixa no padrão de salvação encontrada no livro de
Romanos. Depois de duas perguntas introdutórias, o Catecismo trata do sofrimento
humano (Perguntas 3-11), a libertação do homem (12-85) e, finalmente, a resposta do
homem (86-129) – ou para colocá-lo de forma mais memorável: culpa, graça e
gratidão. Segundo, as 129 perguntas e respostas do Catecismo de Heidelberg são
divididas em 52 Dias do Senhor. Além de tornar mais fácil pregar a partir do Catecismo
(um de seus propósitos originais), essa divisão também torna o Catecismo conveniente
para as devoções familiares dominicais ou para a reflexão catequética pessoal
semanal.
As boas novas que quase esquecemos, Kevin DeYoung, Editora Cultura Cristã
©
A IGREJA DE JESUS CRISTO
Vamos em frente, soldados de Cristo
REVISTA PALAVRA VIVA – A IGREJA DE JESUS CRISTO
Apoio didático – Lição 10e
O FIM SUPREMO DO HOMEM
Catecismo Maior de Westminster
Pergunta 01: “Qual é o fim supremo e principal do homem?
Resposta: “O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus( Rm 11.36;
1Co 10.31) e gozá-lo para sempre”( Sl 73. 24- 26; Jo 17. 22- 24).
a) Glorificar a Deus: Sintética e esquematicamente, é o reconhecimento
humano, mental e expressivo, da indiscutível e absoluta soberania do Criador, único
merecedor da veneração e louvor da criatura. A glória devida ao supremo Senhor pode
ser ativa e passiva:
Ativa, aquela procedente da ação consciente, segundo a expressão da vontade
do homem, e adquire significado lógico ou simbólico. O voltar-se deliberada e
irrestritamente, em adoração, para o Senhor da vida, significa ato volitivo de: Glorificar
(doxazo) a Deus, conferir-lhe a glória devida, honrá-lo, adorá-lo, exaltá-lo, cultuar-lhe o
nome, submeter-se à sua autoridade, ser-lhe propriedade exclusiva, servi-lo
incondicionalmente. Glorificação conscientemente ativa, quando a inteligência
humana submete-se, serviçalmente, ao seu augusto Rei.
Passiva, a estampada na natureza inanimada e animada. Toda criação Deus a
formou para sua própria glória, conforme o curso natural do universo e a peculiaridade
de cada coisa, de cada ser. Ao homem, porém, Deus o criou não somente para ser-lhe
glória estética passiva, mas, e principalmente, expressar-lhe honra e adoração
racionais. Tal liturgia existencial emana de sua condição de “imago Dei” e de sua
capacitação para receber, reter e externar conhecimentos revelados. Para glorificá-lo
intelectiva e espiritualmente, o Criador o fez à sua semelhança. A posição privilegiada
do homem, criatura extremamente exaltada por Deus, ressalta-se com nitidez no
conjunto geral dos seres criados. As Escrituras pintam o quadro do mundo recémcriado assim: Paisagem de fundo e moldura: a natureza física e biológica. No meio, em
cores mais vivas e exuberantes: o Jardim do Éden com plantas ornamentais e
frutíferas, animais domésticos e selvagens. No centro do jardim, ressaltado,
evidenciado e honrado, o homem, figura eminente, proeminente, racional, emocional
e espiritual; em si mesmo, clímax da criação, e por si, glória maior do Criador. Tudo
Deus fez, especialmente o homem, para sua própria glória. Podemos, pois, sustentar
que “o fim principal de toda criação é glorificar a Deus e louvá-lo para sempre”: “Os
céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos”(Sl
19.1). Para o homem, o louvor a Deus, além de ser um requisito natural, é um dom da
graça e um privilegiado dever.
b) “Gozá-lo para sempre”: Eterna comunhão da criatura com o Criador, a
condição permanente do filho na companhia de seu Pai, no estado em que foi criado e
sob constante zelo, proteção e direção paternos. A queda desfez o gozo da filiação
divina, acabou com a felicidade do lar original, onde a unidade prevalente era: Deus-
©
A IGREJA DE JESUS CRISTO
Vamos em frente, soldados de Cristo
Marido-esposa-filhos. A salvação em Cristo, reconciliando o pecador com o Salvador,
restaura o homem à condição de filho de Deus, conferindo-lhe paternidade divina,
dando-lhe uma santa e gozosa fraternidade na casa do Pai: relativamente aqui e
absolutamente na eternidade.
Esquecer não se deve que o homem é um ser muito complexo: composto do
material e do espiritual; do irracional e do racional; do cognitivo e do instintivo; do
transitório e do eterno; do destinado ao pó e do ordenado aos céus. Com a queda, um
elemento perturbador, o pecado, entrou na natureza humana, complicando ainda
mais o que já era muito complicado. Agora podemos dizer, referindo-nos ao salvo em
Cristo, que o homem é, simultaneamente, santo e pecador: santo por justificação e
pecador por natureza. Espiritual e psicologicamente o homem oscila hoje, a partir de si
mesmo, entre Deus e o ego; entre o ego e o tu(pessoa íntima, interativa); entre o ego e
o outro(pessoa menos íntima). A centralização em Deus fica-lhe extremamente difícil;
somente a graça restaura-lhe a comunhão com Deus.
DE IMAGEM DE DEUS À IMAGEM DE SI MESMO
O homem, segundo as Escrituras, veio à existência trazido pelas mãos de Deus
para ser instrumento da vontade do Criador, servi-lo e cultuá-lo com todas as suas
forças e potencialidades: inteligência, razão, memória, dons, criatividade,
produtividade, liderança e espiritualidade. A autossuficiência, o egocentrismo e a
egolatria são desvios decorrentes da queda. O tentador induziu o ser humano a
deslocar o centro controlador de sua vida do Criador para a criatura. Sem a bússola
divina a humanidade perdeu-se. Aquele que antes se voltava para o Senhor, voltou-se
para si mesmo, ensimesmou-se, sensualizou-se, materializou-se, endeusou-se.
Impotente, insuficiente, inábil e incapaz de gerir-se, torna-se vítima da malignidade
pessoal e alheia, tem seu mecanismo de orientação danificado, desorienta-se, fica à
deriva, angustia-se. Os sentidos, bases falsas de seus rumos vitais e comportamentais,
dão-lhe imensas alegrias sensuais e lhe causam sofrimentos insuportáveis.
GLORIFICAR A DEUS
De Deus procede todo a benignidade, plena na semente original e rudimentar
na humanidade reprovada. O Criador honrou e glorificou o homem( Sl 8), criando-o à
sua imagem e semelhança( Gn 1.27), conferindo-lhe majestade e grandeza, dotandolhe incríveis poderes, todos, porém, limitados aos propósitos divinos. O pecado afasta
a criatura de seu Criador e o conflita com o semelhante. Em Cristo, porém, os eleitos
são regenerados e reconciliados com Deus. Agora, na pessoa do Filho, o Pai diz a cada
redimido: “Tu és meu filho amado, tua vida me dá prazer”. Cada regenerado em Cristo
torna-se uma glória para o Salvador e uma honra ao seu nome. Glorificar a Deus
significa dedicar-lhe submissão, obediência, respeito, adoração e serviço, virtudes dos
agraciados com a redenção. O servo de Cristo é perene glorificador de Deus. A
harmonia consistente e permanente entre o Redentor e os redimidos é a forma mais
viva e existencial de adoração e louvor. Quem pode dizer pelo Espírito: “Já não sou eu
quem vive, mas Cristo vive em mim”( Gl 2.20), este voltou a ser imagem e semelhança
de Deus, entrou no gozo eterno de seu Senhor.
©
A IGREJA DE JESUS CRISTO
Vamos em frente, soldados de Cristo
GOZÁ-LO PARA SEMPRE
Receber as bênçãos de Deus e ser-lhe bênção é gozá-lo aqui, no tempo que se chama
hoje, e na eternidade. Aquele em quem o Espírito habita experimenta o permanente
gozo de estar em Cristo, servi-lo ativamente e alegrar-se nele incondicionalmente.
Deus se compraz com os seus eleitos, aqueles que estão em seu Filho amado Jesus
Cristo e o servem dia e noite. Cristo vive no gozo do Pai, à sua destra no trono da
realeza trinitária; nós vivemos no do Filho, à sua direita, sob sua proteção, misericórdia
e graça.
A ideia subjacente à afirmação catecismal: “Glorificar a Deus e gozá-lo para
sempre”, é a de um filho, na cultura patriarcal, que não abandona o seu pai, não
quebra a unidade do clã, não aborrece e nem entristece a sua família, não procede
como os dois filhos da parábola em que um abandona o pai, o mais novo, e outro
menospreza o irmão. No sistema tribal, as realizações pessoais, paterna e filial,
derivavam da interação consistente entre pai e filho; um, galardão do outro. Deus nos
criou para vivermos com ele. O pecado nos separou. Cristo nos reconciliou. Somos
agora, os reconciliados: um com o Filho como ele é um com o Pai. Voltamos, pois, pela
mediação do Messias, ao gozo da comunhão com Deus na fraternidade dos santos. O
crente verdadeiro, pois, glorifica a Deus e o goza para sempre. Não há poder capaz de
arrancá-lo dos braços de Cristo.
A glória de Deus foi vista na face de Moisés, no rosto de Cristo, nos semblante
dos apóstolos; sentida no gemido dos mártires e no testemunho de todos os cristãos
autênticos. O filho é a alegria do pai, que se vê na pessoa de seu herdeiro; cada filho,
no entanto, deve honrar e dignificar o seu pai. Assim somos e assim devemos ser,
como filhos, para o nosso Pai celeste.
SANTIFICAÇÃO
Pergunta 75: “Que é santificação?
Resposta: Santificação é a obra da graça de Deus, pela qual os que Deus
escolheu antes da fundação do mundo para serem santos, são, nesta vida, pela
poderosa operação do Espírito Santo, aplicando-lhes a morte e a ressurreição de Cristo,
renovados no homem interior, segundo a imagem de Deus( Ef 1.4; 1Co 6.11; 2Ts 2.13;
Rm 6.4-6; Fp 3.10; Ef 4.23-24), tendo os germes do arrependimento que conduz à vida e
de todas as outras graças salvadoras implantadas em seus corações(At 11.18; 1Jo 3), e
tendo essas graças de tal forma excitadas, aumentadas e fortalecidas( Jd 20; Ef 3.1619; Cl 1.10-11), que eles morrem cada vez mais para o pecado e ressuscitam para
novidade de vida( Rm 6.4,6,14)”.
SANTIDADE DE DEUS
Deus é santo nos seguintes absolutos atributivos, entre outros: 01- Bondade
absoluta: na divindade não houve, não há e não haverá o mínimo sinal ou vestígio de
maldade. O bem é a sua essência e seu objetivo; o bom é a marca de seus atos e de
suas obras. Por causa de sua intrínseca bondade, a fidelidade, a honestidade e a
sinceridade são lhe qualidades indissociáveis. A bondade divina é ilimitada: ele é
©
A IGREJA DE JESUS CRISTO
Vamos em frente, soldados de Cristo
benigno, paciente, tolerante e longânimo. 02- Moralidade absoluta: Deus é um ser
moral; suas palavras, atos e obras são revestidos de profunda moralidade. Ele é o
limite da perfeição. Contradições éticas não se verificam em Deus. Jesus Cristo, que
revelou o Pai ao mundo, agiu sempre coerentemente com a dignidade de sua própria
pessoa, normatizou seu comportamento segundo os parâmetros mandamentais das
Escrituras: veracidade, obediência, amor incondicional a Deus e ao próximo. O Filho do
Homem jamais foi pego em qualquer ilícito. Ninguém jamais o acusou de erros e
pecados: foi realmente um cidadão terrestre e celeste sem mácula. Por ele se conclui
que Deus, a quem revelou aos homens, é moralmente imaculado. 03- Deus é
absolutamente outro. A distância entre o Criador e a criatura é imensurável. O
universo de Deus não se identifica, por natureza e essência, com o do homem.
Compreendendo a insignificância do ser humano e a magnificência divina, Isaías
escreveu: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os
vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor; porque, assim como os céus são mais
altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos que os vossos caminhos e
os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos”(Is 55.8-9). O homem,
na condição de criatura, é frágil e falível; sujeito à falência moral. Deus, no entanto, é
inerrante, verdade no que é e verdadeiro no que fala e faz; nele não há mentira( Nm
23. 19; Hb 6. 18). Ele é santo em si mesmo. Santidade lhe é atributo real, essencial. Ele
não peca nem pode pecar, por ser infenso ao pecado, inatacável pelo mal,
estruturalmente incorruptível. O pecado entrou no céu, derrubou anjos, mas não
atingiu a divindade em virtude de sua perfeição, santidade, imaculabilidade e
inatacabilidade. Em suma: Deus é absoluta e incorrompivelmente santo. Santidade é
um de seus atributos, que o faz completa e distintamente outro.
SANTIDADE NO HOMEM
O homem, frágil, corruptível, falível, torna-se, por natureza, maculável e
efetivamente maculado. A santidade, não lhe sendo qualidade natural, não se lhe
constitui fonte causal de incorruptibilidade. Nenhum ser humano pode ser chamado
de “sua santidade”, pois somente torna-se “santo” pela misericórdia de Deus
mediante a eleição e a vocação em Cristo Jesus. Embora separado e adotado como
filho, ele continua sujeito a falhas morais e espirituais, isto é, pecador. O escolhido é
santo no sentido de “separado para Deus” de entre os demais seres humanos. Santo,
portanto, em se tratando do servo de Cristo, não significa estar puro moralmente, mas
selecionado pelo Pai para pertencer ao Filho, que não veio chamar justos, mas
pecadores ao arrependimento. A santificação do eleito tem origem exclusivamente na
graça salvadora: Primeiro, na eleição da livre iniciativa de Deus. Segundo, na santidade
do Criador e Redentor: “sede santos por eu sou Santo”. A santidade de Deus gera a
santidade de seus “santos”, aqueles que estão vinculados a ele por intermédio de seu
Filho. Terceiro, pela obra santificadora do Espírito Santo, agindo interna e
externamente no crente por decisão do Pai e ordenação do Filho.
Os não eleitos poderão ter seus deuses, clamarem a eles, penitenciarem-se
perante seus ícones, serem abstinentes sexuais e praticantes de rigorosos preceitos
morais e, em nome da crença, exercerem extensiva e intensiva caridade, mas santos
não serão, e muito menos santificados; pois santificação não é prática caritativa, não é
©
A IGREJA DE JESUS CRISTO
Vamos em frente, soldados de Cristo
fé iconólatra, não é exercício extático ou dom extra- sensório. Santificação é a
interação cada vez mais intensa entre Salvador e salvo, entre o membro e a
comunidade dos eleitos, obra da graça por meio do Espírito Santo, sistemática e
contínua conscientização do regenerado de seu novo estado em Cristo Jesus, de seus
compromissos com Deus, de seu dever inalienável de servo de Cristo, de sua gratidão
progressiva, expressa na adoração ao seu Salvador, de sua necessidade, como criatura,
de submissão ao Criador e prostração diante da Majestade divina, de sua obrigação
impostergável de testemunhar Jesus Cristo e anunciar o Evangelho redentor.
Sem reconciliação com Deus não há santificação; e o mesmo Deus que
reconcilia, santifica: a geração, a regeneração e o crescimento são obras da graça de
Deus. Ser santo, pois, é ser tomado por Cristo da bastardia absoluta e transformado
em filho de Deus, coerdeiro de Cristo. Santo e santificar-se são decorrências da eleição
e consequências da inserção na comunhão dos redimidos, produzindo a harmonização
interna e a harmonia externa com o irmãos, Sendo assim, conclui-se que santificação
inexiste fora do corpo de Cristo, não sendo jamais um meio de salvação ou de ingresso
na comunhão dos santos. Não se santifica para salvar-se; O salvo santifica-se por ser
regenerado.
Catecismo Maior de Westminster, Comentado por Onézio Figueiredo
Fonte: http://migre.me/eKpKj
©
A IGREJA DE JESUS CRISTO
Vamos em frente, soldados de Cristo
Download

Apoio didático – Lição 02 – Texto 1