Os fatores de acesso e permanência estudantil no ensino superior da UFRGS: um encontro entre pesquisa científica e gestão universitária Resumo Este estudo teve como objetivo analisar o acesso e a permanência estudantil na UFRGS. Os dados foram coletados através da base de dados da Universidade para as variáveis de ingresso, diplomação e evasão, em uma série histórica de 2009 a 2013, para toda a instituição e em especial para 15 licenciaturas, e foram analisados a partir da estatística descritiva. Como resultados descobriu‐se que o incremento geral de vagas na Universidade, não ocorreu nas licenciaturas de forma significativa. A taxa de diplomação possui uma média anual de 54,4% na Universidade e de apenas 30% nas licenciaturas. Já em relação ao índice anual de evasão, esse possui uma média de 5,25% para a Universidade e de 7,3% nas licenciaturas, e vem aumentando nos últimos anos. Os dados levantados possibilitaram o reconhecimento de uma taxa muito baixa de diplomação e, em particular nas licenciaturas, possibilitando uma avaliação institucional retrospectiva e prospectiva. Assim, ressalta‐se a importância desse tipo de pesquisa para a gestão universitária e espera‐se que a mesma possibilite o desvelar de mudanças, colaborando para um incremento na qualidade da graduação, incentivando o desenvolvimento de uma educação superior sólida e de excelência. Palavras‐chave: Acesso; Permanência; Ensino superior; Pesquisa; Gestão universitária Claudia Terra do Nascimento Paz Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected] Sérgio Roberto Kieling Franco Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected] Nayane Rocha Manaut Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected] Rute Vera Maria Favero Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected] X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.1
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Os fatores de acesso e permanência estudantil no ensino superior da ufrgs: um encontro entre pesquisa científica e gestão universitária Claudia Terra do Nascimento Paz ‐ Sérgio Roberto Kieling Franco ‐ Nayane Rocha Manaut ‐ Rute Vera Maria Favero Introdução Esta pesquisa é fruto de projeto científico que busca investigar os fatores de acesso e permanência que envolvem a educação superior e, em especial, os cursos de licenciatura na UFRGS, financiado pela CAPES/Programa Observatório da Educação. No cerne do estudo, então, está a problemática de pesquisa, que reside na seguinte questão: Quais são os fatores de acesso e permanência que envolvem a educação superior e as licenciaturas na UFRGS ? Compõem o grupo de pesquisa, além de estudantes da graduação e da pós‐
graduação da referida Instituição de Ensino Superior, docentes e técnicos em assuntos educacionais, envolvidos na gestão universitária, os quais logo perceberam a importância da pesquisa para a gestão da graduação na perspectiva da excelência, meta a ser atingida pela UFRGS, a partir do que expõe seu Projeto de Desenvolvimento Institucional para os anos de 2011 – 2015. Esse grupo, desde o ano de 2012 reflete acerca do ensino superior brasileiro, estando consciente de que o mesmo possui como princípio a igualdade de condições de acesso e permanência, de acordo com o que postulam a Constituição Federal do Brasil de 1988 (BRASIL, 1988) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (BRASIL, 1996). No entanto, também tem em mente que esse nível de ensino em nosso país sempre foi elitizado e visto como algo inalcançável para muitos brasileiros, dada a discrepância de vagas ofertadas e a demanda real às universidades públicas, fato que impediu muitos cidadãos brasileiros de cursarem o ensino superior nessas universidades. Nesse contexto, é importante que se entenda que, passada uma fase de forte crescimento do ensino superior brasileiro, que figurou entre os anos de 1996 e 2006, através do incremento da oferta pela iniciativa privada, a educação superior pública não acompanhou tal crescimento na mesma proporção (POLIZEL; STEINBERG, 2013). Nos moldes ocorridos em outros setores da economia, o setor educacional iniciou o seu processo de consolidação, um movimento de ampliação, aquisição e fusão de IES, gerando, assim, grandes instituições privadas que concentraram boa parte do alunado do país. Especificamente quanto ao setor de educação privada, essa transformação salta aos olhos, transformando‐se de um setor X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.2
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Os fatores de acesso e permanência estudantil no ensino superior da ufrgs: um encontro entre pesquisa científica e gestão universitária Claudia Terra do Nascimento Paz ‐ Sérgio Roberto Kieling Franco ‐ Nayane Rocha Manaut ‐ Rute Vera Maria Favero pulverizado para uma realidade de grande concentração e possibilidades ímpares de ganho em escala (POLIZEL; STEINBERG, 2013). É por isso que se tornam tão importantes estudos que analisem a educação superior pública e de qualidade, pois assim como coloca Ristoff (2008), o problema do acesso à educação superior no Brasil não está na falta de vagas, mas na falta de vagas públicas para esse nível de ensino. Já em relação à formação inicial de professores de nível superior, essa tem sido foco das políticas governamentais, oportunizando aumento no acesso de vagas. No entanto, o número de estudantes que fazem uma licenciatura ainda é muito baixo e a taxa de abandono é grande, provocando um déficit de mais de 235 mil professores na rede básica de ensino, segundo dados do Censo do Ano de 2009 (INEP, 2009). Dados do Censo de Educação Superior do ano de 2011 (INEP, 2012) mostram que no período 2010‐2011, a matrícula nas licenciaturas cresceu apenas 0,1%, enquanto que nos bacharelados esse percentual foi de 6,4% e de 11,4% nos cursos tecnológicos. Nesse contexto, o percentual de estudantes matriculados em cursos de licenciatura no país representa apenas 20,2% do total de matrículas nas graduações, fato que demonstra a necessidade de pensar as condições de acesso e permanência nas licenciaturas brasileiras. Mello (2004) afirma que é necessário promover uma revisão radical nas formações realizadas pelas universidades. Para compor um novo modelo arquitetônico da formação superior, Castro (2008) destaca a prática reflexiva e a formação sólida do profissional da educação como eixos dessa formação. As Instituições de Ensino Superior devem, então, coadunar esforços em prol de licenciaturas de qualidade, assumindo em conjunto com o Ministério da Educação, a execução de formação docente para melhorar a qualidade do ensino na educação básica. E, em nosso ver, as Instituições Federais de Ensino Superior possuem papel especial nessa tarefa. De acordo com Azevedo et al (2012, p. 999), “os cursos de licenciatura que ofertam formação para o professor atuar na educação básica permanecem, desde sua X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.3
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Os fatores de acesso e permanência estudantil no ensino superior da ufrgs: um encontro entre pesquisa científica e gestão universitária Claudia Terra do Nascimento Paz ‐ Sérgio Roberto Kieling Franco ‐ Nayane Rocha Manaut ‐ Rute Vera Maria Favero origem, sem alterações significativas em seu modelo”. E, ainda, “considerando os graves problemas que afetam o processo de ensino‐aprendizagem dos estudantes, vemos que se intensificam a preocupação com os cursos de licenciatura”. É nesse contexto que se insere esta pesquisa, buscando investigar os fatores de acesso e permanência no ensino superior e em especial nos cursos de licenciatura da UFRGS. Este estudo traz à tona, então, a importância da realização de pesquisas científicas que retroalimentem a gestão universitária, permitindo a realização de análises institucionais acerca da realidade da universidade pública que se quer de qualidade, análises essas fomentadas por estudos atualizados a respeito do sucesso no ensino superior. Busca‐se favorecer o repensar de questões institucionais importantes, com conhecimento da realidade acadêmica a partir de dados científicos e impactar na reflexão dos gestores acerca dessa realidade. Metodologia Este estudo responde por uma pesquisa de tipo descritiva, de caráter quali‐
quantitativa, que objetivou identificar os fatores locais de acesso e permanência na educação superior da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mais especificamente de seus cursos de licenciatura, servindo de alicerce para a reflexão institucional acerca da graduação na referida Instituição. Para coletar esses dados, utilizou‐se a base de dados institucionais da Universidade, levantando‐se dados da graduação da UFRGS como um todo e, especificamente, de 15 licenciaturas presenciais da Universidade, no período de 2009 a 2013. Foram coletados dados institucionais para as variáveis de ingresso, diplomação e evasão, entendendo que as mesmas respondem aos aspectos de acesso e permanência nesse nível de ensino, a partir dos seguintes entendimentos conceituais: X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.4
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Ingresso: ingressante é todo o estudante que está ingressando em um curso, já que foram consideradas as formas de ingresso, tanto as especiais1, como o ingresso via vestibular. 
Diplomação: diplomado é todo o aluno que se diplomou/formou em um curso, em um dado período letivo, integralizando seu currículo. Esse aluno é também conhecido como concluinte. 
Evasão: evadido é todo o estudante com matrícula desligada da Universidade, de um respectivo curso, exceto por diplomação (egresso), falecimento e transferência interna (mobilidade acadêmica). Esse conceito está coerente com o que postula o Artigo 28 da Resolução CEPE/UFRGS nº 11/2013: “Os discentes em situação de abandono, e que ainda não incorreram em desligamento definitivo, serão considerados aptos à matrícula”. Apresentação e discussão dos resultados Os dados serão apresentados subdivididos em três partes, a partir das variáveis levantadas – dados de ingresso, dados de diplomação e dados de evasão. Dados de Ingresso Pelos valores absolutos, identificados a partir do ano de 2009, observa‐se que o número de ingressantes da UFRGS vem aumentando gradativamente. Assim, a Universidade iniciou o período pesquisado totalizando 5.405 ingressantes (2009) e no ano de 2013 esse número aumentou para 6.764 alunos ingressantes. 1
Ingressos especiais: ingresso de aluno indígena, dupla diplomação, ingresso de diplomado, ingresso de
diplomado – aluno convênio, transferência compulsória, transferência interna, transferência interna – aluno
convênio, transferência interna – aluno indígena, transferência voluntária, transferência voluntária – aluno
convênio.
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Os fatores de acesso e permanência estudantil no ensino superior da ufrgs: um encontro entre pesquisa científica e gestão universitária Claudia Terra do Nascimento Paz ‐ Sérgio Roberto Kieling Franco ‐ Nayane Rocha Manaut ‐ Rute Vera Maria Favero Esses números podem ser explicados pelo fato da UFRGS ter aderido ao Programa REUNI, tendo como consequência, o incremento gradativo no número de vagas da graduação. Com esse Programa, o Governo Federal concretizou o aumento no número de cursos de graduação e de vagas nas universidades públicas. Além disso, houve uma preocupação com relação à formação de professores para a educação básica, estabelecendo o incremento de vagas também para os cursos de licenciatura (COSTA et al, 2010). Nas licenciaturas da UFRGS o incremento no número de ingressantes no período de 2009 a 2013 foi pequeno. Em 2009 ingressaram 1.162 e em 2013 ingressaram 1.234 estudantes. Considerando esses valores absolutos, o percentual de ingressantes nas licenciaturas, em relação ao percentual total de ingressantes na UFRGS manteve‐se relativamente estável para o período, apresentando uma média anual de 21%, conforme apresenta o Gráfico 1. Percentual de Ingressantes nas Licenciaturas em relação ao Percentual Total de Ingressantes da UFRGS
21,5
21,5
21
20,5
19,9
20
19,3
19,5
19,1
18,9
19
18,5
18
17,5
2009
2010
2011
2012
2013
Gráfico 1: Percentual de Ingressantes nas Licenciaturas em relação ao Total de Ingressantes da UFRGS. Ainda, em relação aos dados de ingresso, é interessante verificar esses valores por tipo de ingresso. O Gráfico 2 apresenta tais dados para a Universidade como um todo: X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.6
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5306
4945
5000
5461
5000
4600
4000
2009
2010
3000
2011
2012
2000
2013
976
805
1000
1141
1303
229
0
Vestibular
Ingressos Especiais
Gráfico 2: Total de ingressantes na UFRGS por tipo de ingresso (N). A partir dos dados apresentados no Gráfico 2, pode‐se observar que os ingressos especiais vêm aumentando gradativamente, ano a ano, chegando a representar, em 2013, cerca de 19,2% dos ingressantes da UFRGS. A ampliação do acesso em universidades públicas é coerente e necessária à realidade brasileira. Segundo Ristoff (2008, p. 45), isto significa “criar oportunidades para que os milhares de jovens de classe baixa, pobres, filhos da classe trabalhadora e estudantes das escolas públicas tenham acesso à educação superior”. A ideia de aumentar o número de oportunidades para cotistas é importante para alterar o caráter elitista da universidade brasileira. No entanto, é preciso, ainda, criar muitas oportunidades de reflexão e discussão sobre o assunto dentro da própria Universidade, para desmitificar a ideia de que expandir significa, necessariamente, piorar a qualidade do ensino. Há a necessidade de se tornar a democratização indissociável da expansão nos campi públicos, onde permanece fortemente enraizada a noção de que expandir significa piorar a qualidade. Lamentavelmente, escapa à maioria de nós, a percepção de que se preocupar apenas com a X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.7
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Os fatores de acesso e permanência estudantil no ensino superior da ufrgs: um encontro entre pesquisa científica e gestão universitária Claudia Terra do Nascimento Paz ‐ Sérgio Roberto Kieling Franco ‐ Nayane Rocha Manaut ‐ Rute Vera Maria Favero qualidade, sem pensar em quantidade, significa a preservação de um sistema elitista e excludente! (...) E assim, democratizar o campus público permanece, no campus público, ironicamente um tabu. (...) Sob muitos aspectos, os cursos de graduação não reproduzem, mas hipertrofiam as desigualdades sociais existentes (RISTOFF, 2008, p. 44;45). A própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) confirmou a tendência de reforço à autonomia das universidades no tocante às formas de acesso dos concluintes do ensino médio aos cursos de graduação. De acordo com Oliveira et al (2008, p. 74), “a introdução do termo ‘processo seletivo’ para o ingresso no ensino superior, na LDB, em lugar do tradicional termo ‘vestibular’, aparece como parte da estratégia de ampliar os mecanismos de acesso a esse nível de ensino”. Assim, mais uma vez concordamos com Ristoff (2008, p. 48), quando esse afirma que “só com políticas de expansão, combinadas com a democratização do acesso e da permanência, é possível fazer com que o campus deixe de ser espelho que aguça as nossas distorções”. A partir desses dados de ingresso, então, é preciso refletir acerca do que representa a reforma na formação docente, já que esta expressa uma preocupação a respeito do papel do professor na atualidade. Mello (2004) afirma que é necessário promover uma revisão radical nas formações realizadas pelas universidades. Para compor um novo modelo arquitetônico da formação docente, Castro (2008) destaca a prática reflexiva e a formação sólida do profissional da educação como eixos dessa formação. Dados de Diplomação De acordo com a Comissão Especial da SESu/MEC (1996, p. 55), “as preocupações maiores de qualquer instituição de ensino superior, em especial quando públicas, devem ser a de bem qualificar seus estudantes e a de garantir bons resultados em termos de número de diplomados que libera a cada ano para o exercício profissional”. Pelos valores absolutos, identificados a partir de 2009, observa‐se que o número de diplomados da UFRGS gira, em média, em torno de 3.000 ao ano. Assim, a UFRGS teve uma manutenção relativa de seu índice de diplomação durante o período de 2009 a 2012. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.8
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Os fatores de acesso e permanência estudantil no ensino superior da ufrgs: um encontro entre pesquisa científica e gestão universitária Claudia Terra do Nascimento Paz ‐ Sérgio Roberto Kieling Franco ‐ Nayane Rocha Manaut ‐ Rute Vera Maria Favero Cabe salientar que no mesmo período houve um incremento no número de ingressantes, o que nos traz a perspectiva de um aumento na taxa de diplomação para os próximos anos. A taxa média anual de diplomação da UFRGS foi de 54,4%, crescendo no período 8,5%. Para encontrar essa taxa, calculou‐se, por ano, o número de diplomados em relação ao número de ingressantes quatro anos antes. A Tabela 1 apresenta melhor esses dados. Tabela 1: Taxa anual de diplomação da UFRGS. Taxa de Diplomação da Graduação UFRGS 2009 2010 2011 2012 N 2.674 3.297 3.017 2.992 % 46,9 61,4 54,2 55,4 Nesse contexto, concordamos com Ristoff (2008, p. 45), quando este afirma que “se a palavra de ordem da década passada foi expandir, a desta década precisa ser democratizar”. Ou seja, de nada adianta incrementar o acesso sem a garantia da permanência, tendo como resultado a diplomação. Nesse sentido, de acordo com Dourado, Catani e Oliveira (2003), verificam‐se novos desafios a esse nível de ensino, visto que a expansão das oportunidades educacionais deve, agora, refletir‐se em qualidade de ensino, apontando para novas exigências. A expansão da educação superior é uma demanda legítima da sociedade brasileira e foi implementada, especialmente na década de 1990, como parte constitutiva das prioridades e das ações estatais, em sintonia com novos padrões de regulação e gestão (DOURADO, CATANI e OLIVEIRA, 2003, p. 27). Em relação à taxa anual de diplomação das licenciaturas, a mesma apresenta média em torno dos 30%, estando abaixo da taxa geral da Universidade, conforme mostra a Tabela 2: X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.9
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Os fatores de acesso e permanência estudantil no ensino superior da ufrgs: um encontro entre pesquisa científica e gestão universitária Claudia Terra do Nascimento Paz ‐ Sérgio Roberto Kieling Franco ‐ Nayane Rocha Manaut ‐ Rute Vera Maria Favero Tabela 2: Taxa anual de diplomação das Licenciaturas da UFRGS – 2009/2012. Taxa de Diplomação das Licenciaturas da UFRGS 2009 2010 2011 2012 N 390 335 338 376 % 31,4 27,1 28,0 32,4 Assim, o índice de representatividade do percentual de egressos das licenciaturas em relação aos demais egressos da Universidade possui uma média anual em torno dos 12%, conforme apresenta o Gráfico 3, que se segue. Percentual de Egressos nas Licenciaturas em relação ao Percentual de Geral de Egressos da UFRGS
16
14
12
10
8
6
4
2
0
14,6
12,6
10,2
2009
2010
11,2
2011
2012
Gráfico 3: Percentual de Egressos nas Licenciaturas em relação ao Percentual Geral de Egressos da UFRGS. Para melhor explicar a taxa de diplomação da Universidade e, em especial das licenciaturas, é necessário analisar os dados de evasão, buscando aprofundar o X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.10
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Os fatores de acesso e permanência estudantil no ensino superior da ufrgs: um encontro entre pesquisa científica e gestão universitária Claudia Terra do Nascimento Paz ‐ Sérgio Roberto Kieling Franco ‐ Nayane Rocha Manaut ‐ Rute Vera Maria Favero conhecimento acerca do abandono e da permanência na vida acadêmica dos estudantes da UFRGS. Dados de Evasão A evasão pode ser entendida como uma postura ativa do aluno que decide desligar‐se por sua própria responsabilidade (BUENO, 1993). Ristoff (1995) faz uma distinção entre evasão e mobilidade. Para o referido autor, evasão implica em abandono de estudos, enquanto que mobilidade corresponde à migração do estudante para outro curso. Neste estudo, adotou‐se conceito de evasão como a saída definitiva do aluno de seu curso de origem, sem concluí‐lo, coerente com o que postulou a Comissão Especial da SESu/MEC (1996). Para além do conceito adotado, é preciso deixar claro que a evasão no ensino superior é fenômeno complexo, abrangente e universal. Na UFRGS, os dados absolutos mostram que a evasão está decrescendo nos últimos anos. Se compararmos anualmente, temos uma diminuição de 256 estudantes evadidos do ano de 2010 para 2011, e uma diminuição de 233 estudantes evadidos do ano de 2011 para 2012. Assim, a Tabela 3, apresenta a taxa anual de evasão da graduação da UFRGS, para o período de 2009 a 2012. Para encontrar o percentual de evadidos, calculou‐se, por ano, o total de evadidos em relação ao total de matriculados de mesmo período. A média anual ficou em torno dos 5,25%, relativamente baixa. Tabela 3: Taxa anual de evasão da UFRGS – 2009/2012. Taxa de Evasão – Total UFRGS 2009 2010 2011 2012 N 2.312 2.584 2.328 2.095 % 5,3 5,8 5,2 4,6 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.11
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Os fatores de acesso e permanência estudantil no ensino superior da ufrgs: um encontro entre pesquisa científica e gestão universitária Claudia Terra do Nascimento Paz ‐ Sérgio Roberto Kieling Franco ‐ Nayane Rocha Manaut ‐ Rute Vera Maria Favero Cabe reiterar que o conceito utilizado foi o de evasão enquanto desligamento definitivo da universidade. Ou seja, se considerarmos os dados da mobilidade (transferência interna) e da evasão temporária (estudantes com matrícula trancada, mas ainda sem perder o vínculo), com certeza, essa taxa subirá. Para exemplificar, podemos citar o estudo de Paredes (1994), que analisou os cursos de duas universidades brasileiras, utilizando o conceito de evasão como abandono definitivo do sistema de ensino superior. Nesse parâmetro, o estudo chegou a uma taxa de evasão de 12%, enquanto que 64% dos mesmos estudantes concluíram o ensino superior em outro curso ou instituição, indicando que a evasão da universidade e do sistema é menor que a evasão de curso. Em estudo semelhante, realizado pelo Ministério da Educação e Cultura da Argentina (ARGENTINA, 1992), verificou‐se que 71% dos supostos evadidos acabavam reinscrevendo‐se ou reingressando nas instituições de ensino superior, sendo que a evasão definitiva não ultrapassava o percentual dos 29%. A partir da Tabela 4, podemos verificar a taxa de evasão dos cursos de licenciatura da UFRGS. Essa apresentou uma média de 7,3% para o período investigado. Como se pode observar, esse índice encontra‐se superior à taxa de evasão da UFRGS como um todo. Tabela 4: Taxa anual de evasão das licenciaturas da UFRGS – 2009/2012. Taxa de Evasão das Licenciaturas – UFRGS 2009 2010 2011 2012 7,4% 7,8% 7,3% 6,8% As causas para essa taxa superior de evasão nas licenciaturas podem estar atreladas a fatores sociais e pedagógicos relacionados à questão salarial dos professores e às necessidades de inovação pedagógica na formação inicial. Para Moura e Silva (2007, p.31) as causas podem ir “desde as repetências sucessivas nos primeiros anos, até a falta de recursos para os alunos se manterem, mesmo numa universidade pública”. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.12
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Os fatores de acesso e permanência estudantil no ensino superior da ufrgs: um encontro entre pesquisa científica e gestão universitária Claudia Terra do Nascimento Paz ‐ Sérgio Roberto Kieling Franco ‐ Nayane Rocha Manaut ‐ Rute Vera Maria Favero A taxa de evasão das licenciaturas encontra coerência com o percentual de evadidos das licenciaturas em relação ao percentual geral de evadidos da UFRGS, conforme apresenta o Gráfico 4, demonstrando que houve um aumento anual gradativo na participação das licenciaturas na taxa de evasão da Universidade. Percentual de Evadidos nas Licenciaturas em relação ao Percentual de Geral de Evadidos da UFRGS
25
25
24
23
23
22
21
21
2009
2010
21
20
19
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Gráfico 4: Percentual de Evadidos nas Licenciaturas em relação ao Percentual Geral de Evadidos da UFRGS. Esses dados nos trazem à tona, mais uma vez, reflexões em torno da democratização do acesso e da permanência no ensino superior no Brasil. Todavia, sabemos que existem explicações que ultrapassam os muros da Universidade. Schiefelbein (1994) afirma que existem baixos níveis de satisfação e prestígio entre os docentes na América Latina como um todo, além de poucos incentivos de premiação a excelência profissional. Nesse sentido, destaca que há uma profunda desvalorização da profissão, culminando em deterioração remuneratória e nas condições de vida dos docentes, o que, segundo ele, levou ao abandono da profissão. Ainda assim novos e mais aprofundados estudos precisam ser realizados, no sentido de melhor compreendermos a realidade verificada. Urge a análise do fluxo desses estudantes, associada ao estudo da retenção estudantil na UFRGS, como forma de análise de imersão aos dados institucionais. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.13
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Os fatores de acesso e permanência estudantil no ensino superior da ufrgs: um encontro entre pesquisa científica e gestão universitária Claudia Terra do Nascimento Paz ‐ Sérgio Roberto Kieling Franco ‐ Nayane Rocha Manaut ‐ Rute Vera Maria Favero Temos consciência que a Universidade precisa vencer o desafio de atender a demandas econômicas e sociais heterogêneas por educação superior. Mas, por outro lado, concordamos com Oliveira et al (2008, p. 85), que também é preciso, paralelamente, “ampliar significativamente a produção de conhecimento que contribua para o bem estar coletivo e para a construção da sociedade futura”. Assim, será somente com políticas de expansão, aliadas à democratização real do acesso e, especialmente, da permanência, que o campus público deixará de ser espelho das distorções sociais, para se tornar “uma lâmpada que ilumina os caminhos rumo à igualdade de oportunidades para todos” (RISTOFF, 2008, p. 48). Considerações finais O conhecimento dos dados de ingresso, evasão e diplomação possibilitou uma avaliação retrospectiva e prospectiva da realidade da Universidade, levando a reflexões acerca dos índices de evasão e da taxa de diplomação da Instituição, visibilizando os índices de diplomação, que está baixo, e o de evasão, que parece aumentar nos últimos anos. Assim, a pesquisa já possibilitou uma reflexão inicial da gestão institucional da Universidade, acerca das oportunidades que podem ser aproveitadas e quais podem ser criadas para melhorar as condições de permanência dos estudantes na graduação como um todo. Por esse motivo, pensa‐se que o conhecimento dos fatores de acesso e permanência estudantil poderá incidir diretamente na concretização de uma política institucional que privilegie a expansão do ensino superior, através do aumento do número de vagas com qualidade e condições de permanência. Os gestores precisam, ainda, analisar em profundidade os dados levantados, para implementar ações e formas de combater a evasão, mas principalmente aumentar o índice de diplomados, visando o sucesso institucional. Nesse sentido, faz‐se necessário aprofundar ainda mais o conhecimento dessa realidade, coletando‐se outros e mais aprofundados dados institucionais, para melhor explicar a situação, bem como pensar em estratégias complementares de ação, que envolvam toda a comunidade acadêmica. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.14
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Os fatores de acesso e permanência estudantil no ensino superior da ufrgs: um encontro entre pesquisa científica e gestão universitária Claudia Terra do Nascimento Paz ‐ Sérgio Roberto Kieling Franco ‐ Nayane Rocha Manaut ‐ Rute Vera Maria Favero Referências AZEVEDO, Rosa O M. et al. Formação Inicial de Professores da Educação Básica no Brasil: trajetórias e perspectivas. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, V. 12, nº 37, p. 997‐1026, set. / dez. 2012. BRASIL. Constituição Federativa do Brasil. Presidência da República. Casa Civil. Brasília, 1988. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ministério da Educação. Brasília, 1996. BUENO, Jose L. A evasão de alunos. Jornal da USP, São Paulo, USP, 14 a 20 de junho de 1993. CARVALHO, C. H. A. O PROUNI no Governo Lula e o jogo político em torno do acesso ao ensino superior. Educação et sociedade, Campinas/SP, V. 27, n. 96, p. 979‐1000, Out. 2006. CASTRO, A. M. D. A. Mudanças no mundo do trabalho: Impactos na política de formação de professores. Trabalho & Educação, Vol. 14, nº 1, jan‐abr.: 2008. COMISSÃO ESPECIAL SESU/MEC. Diplomação, Retenção e Evasão nos Curso de Graduação em Instituições de Ensino Superior Públicas. Resumo do relatório apresentado a ANDIFES, ABURUEM e SESu/MEC pela Comissão Especial. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior, Campinas: Vol. 1, nº 02, Sorocaba: 1996. COSTA, Danila de M. et al. O novo fenômeno da expansão da educação superior no Brasil. X Colóquio Internacional sobre Gestión Universitaria en América Del Sur. Mar Del Plata, Dez. de 2010. DOURADO, Luiz F.; CATANI, Afrânio M. e OLIVEIRA, João F. de (ORGS). Políticas e Gestão da Educação Superior Transformações recentes e debates atuais. Alternativa, São Paulo: 2003. INEP. Censo da Educação Superior: 2011 – resumo técnico. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2012. MELLO, Guiomar N. de. Formação Inicial de Professores para a Educação Básica uma (re)visão radical. São Paulo em Perspectiva. nº 14, v. 1, 2004. ARGENTINA. Ministerio de Cultura y Educación. Estadística Básicas de Universidades Nacionales, Argentina, 1992. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.15
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Os fatores de acesso e permanência estudantil no ensino superior da ufrgs: um encontro entre pesquisa científica e gestão universitária Claudia Terra do Nascimento Paz ‐ Sérgio Roberto Kieling Franco ‐ Nayane Rocha Manaut ‐ Rute Vera Maria Favero MOURA, D. H.; SILVA, M. S. A Evasão no Curso de Licenciatura em Geografia oferecido pelo CEFET‐RN. Holos, Ano 23, Vol. 3, (p. 26‐42): 2007. OLIVEIRA, João F. de et al. Democratização do acesso e inclusão na educação superior no Brasil. IN: INEP. Educação Superior no Brasil – 10 anos Pós‐LDB. Coleção INEP 70 anos. Vol. 2, Brasília, 2008. PAREDES, Alberto S. A evasão do terceiro grau em Curitiba. Documento de Trabalho 6/94. Curitiba, NUPES/USP/PUC‐PR, 1994. POLIZEL, C.; STEINBERG, H. Governança corporativa na educação superior. São Paulo: Saraiva, 2013. RISTOFF, Dilvo. Educação Superior no Brasil – 10 anos Pós‐LDB: da expansão à democratização. IN: INEP. Educação Superior no Brasil – 10 anos Pós‐LDB. Coleção INEP 70 anos. Vol. 2, Brasília, 2008. RISTOFF, Dilvo. Evasão: exclusão ou mobilidade. Santa Catarina, UFSC, 1995 (MIMEO). SCHIEFELBEIN, E. et al. Las características de La profesión de Maestro y La Calidad de La Educación en América Latina. Boletín Del Proyecto Principal de Educación de UNESCO. Santiago, Chile, nº 34: 1994. UFRGS. Resolução CEPE nº 11 de 2013. UFRGS, Porto Alegre: 2013. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.16
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