UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS SÍNTESE E AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES ANTIMICROBIANA E ANTI-T.CRUZI DE DERIVADOS NITROARILTIOSSEMICARBAZÔNICOS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DYEGO REVORÊDO DE CARVALHO SILVA RECIFE, PE, BRASIL 2010 Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos SÍNTESE E AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES ANTIMICROBIANA E ANTI-T.CRUZI DE DERIVADOS NITROARILTIOSSEMICARBAZÔNICOS por Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas do Centro de Ciências da Saúde da UFPE, como requisito parcial para obtenção do grau em MESTRE em Ciências Farmacêuticas. Orientador: Prof. Dr. Dalci José Brondani RECIFE-PE, BRASIL 2010 Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos Silva, Dyego Revorêdo de Carvalho Síntese e avaliação das atividades antimicrobiana e anti-T.Cruzi de derivados nitroariltiossemicarbazônicos / Dyego Revorêdo de Carvalho Silva. – Recife: O Autor, 2010. 159 folhas: il., fig,, esquemas. ; 30 cm. Orientador: Dalci José Brondani. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCS. Ciências Farmacêuticas, 2010. Inclui bibliografia e anexos. 1. Tiossemicarbazonas. 2. Chagas. 3. Atividade Antimicrobiana. 4. Atividade Anti-T.Cruzi. 5. Nitrocompostos. I. Brondani, Dalci José. 615.31 CDU (20.ed.) II.Título. UFPE CCS2011-193 Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS LABSINFA – LABORATÓRIO DE PLANEJAMENTO, SÍNTESE E AVALIAÇÃO DE FÁRMACOS Recife, 02 de dezembro de 2010 Defesa de Dissertação de Mestrado defendida e APROVADA por decisão unânime, em 02 de dezembro de 2010 e cuja Banca Examinadora foi constituída pelos seguintes professores. PRESIDENTE ORIENTADOR E EXAMINADOR INTERNO: Prof. Dr. Dalci José Brondani (Deptº de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE Assinatura: SEGUNDO EXAMINADOR INTERNO: Profa. Dra. Janete Magali de Araújo ( Deptº de Antibióticos da Universidade de Pernambuco – UFPE) Assinatura: PRIMEIRO EXAMINADOR EXTERNO: Profa. Dra. Ivani Malvestiti ( Deptº de Química Fundamental da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE) Assinatura: Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO REITOR Prof. Dr. Amaro Henrique Pessoa Lins VICE-REITOR Prof. Dr. Gilson Edmar Gonçalves e Silva PRÓ-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO Prof. Dr. Anísio Brasileiro de Freitas Dourado DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Prof. Dr. José Tadeu Pinheiro CHEFFE DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Prof. Dr. Dalci José Brondani COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Prof. Dr. Pedro José Rolim Neto VICE-COORDENADORA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Profa. Dra. Beate Saegesser Santos Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos DEDICATÓRIA À minha mãe Rosely, uma verdadeira batalhadora, pela dedicação e amor, pois sem isso não seria o que sou hoje; Ao meu pai Marconi (in memorian), pelo exemplo de respeito, caráter, sinceridade e dignidade; Ao meu irmão por todo companheirismo prestados nas horas que precisei; À minha namorada por todo amor, atenção e dedicação durante essa etapa da minha vida. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos “Quem sabe concentrar-se numa coisa e insistir nela como único objetivo, obtém, ao fim e ao cabo, a capacidade de fazer qualquer coisa” Mahatma Gandhi Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos AGRADECIMENTOS A Deus, por me proporcionar vida e saúde, pois essas são os dois maiores presentes que um ser humano pode receber. Ao meu orientador Prof. Dr. Dalci José Brondani pelos ensinamentos, paciência e ajuda de uma forma geral, além da amizade construída durantes esses anos. Aos meus pais, Marconi e Rosely por tudo que aprendi durante a vida, pelo apoio e compreensão, além de carinho, amor e dedicação, me auxiliando a superar todas as dificuldades e conquistar meus sonhos. As reclamações nas horas pertinentes também foram importantes. Vocês são os alicerces do meu crescimento. Ao meu irmão Thyago por todos os momentos de descontração vividos, como também pelos ensinamentos de determinação e superação. A minha namorada Priscila por todo amor, dedicação, compreensão, respeito, atenção e principalmente paciência, com os meus aperreios, e motivação para continuar vencendo as etapas que a vida oferece. Aos meus familiares, em especial os mais próximos que sempre estiveram presentes em todas as etapas da minha vida. Aos amigos de Laboratório e agregados: Wan, Victor, Lucas Oliveira, Lecílio, Márcia, Andrea, Daura, Leilane, Jannyeres, Elany, Gevânio, Lucas Coelho, Suellen, Luiz Carlos, Danniel, Eraldo, Janessa e Tarcilla pela amizade construída nesse tempo, que tenho certeza que vai durar muito tempo. Aos Doutorandos Marcos Veríssimo e Diogo Lúcio por todas as dúvidas sanadas, que não foram poucas, e também por ensinar vários ―macetes laboratoriais‖ que facilitaram muito a realização das tarefas. A todos os professores que fazem parte do PPGCF por compartilharem conosco seus vastos conhecimentos, mostrando-me uma nova visão das coisas. Aos todos os funcionários do DCFar, em especial Iguaci, Fátima, Conceição e Margareth. À FACEPE, pela concessão do auxílio financeiro durante esses dois anos, possibilitando a realização do projeto. Aos meus familiares, em especial os mais próximos que sempre estiveram presentes em todas as etapas da minha vida. Obrigado por todo momento compartilhado, de Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos apoio e força. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS................................................................................................. XII LISTA DE ESQUEMAS............................................................................................ VX LISTA DE TABELAS................................................................................................ XVIII LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS................................................................ XIX RESUMO.................................................................................................................... XXI ABSTRACT............................................................................................................... XXII CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO, REVISÃO DA LITERATURA E OBJETIVOS............................................................................................................... 23 I- 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 24 I- 2. REVISÃO DA LITERATURA......................................................................... 26 I- 2.1 DOENÇA DE CHAGAS.......................................................................... 26 I- 2.1.1 Generalidades da doença de Chagas................................................ 26 I- 2.1.2 Epidemiologia ................................................................................. 28 I- 2.1.3 Ciclo Biológico................................................................................ 29 I- 2.1.4 Transmissão..................................................................................... 31 I- 2.1.5 Manifestações clínicas ................................................................... 33 I- 2.1.6. Tratamento e novos alvos terapêuticos........................................... 35 I- 2.2 QUÍMICA DAS TIOSSEMICARBAZONAS....................................... 41 I- 2.2.1 Tiossemicarbazonas- Aspectos Químicos........................................ 41 Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos I- 2.2.2 Síntese de tiossemicarbazonas......................................................... 42 I- 2.2.3 Tiossemicarbazonas e seus metais complexos................................. 52 I- 2.3 TIOSSEMICARBAZONAS E SUAS APLICAÇÕES FARMACOLÓGICAS....................................................................................... 57 I- 2.3.1 Atividade antiviral........................................................................... 57 I- 2.3.2 Atividade Antibacteriana................................................................. 59 I- 2.3.3 Atividade Antifúngica..................................................................... 60 I- 2.3.4 Atividade Antitumoral..................................................................... 61 I- 2.3.5 Atividade antiprotozoária................................................................. 62 I- 2.3.6 Atividade antichagásica................................................................... 64 I- 3. OBJETIVOS...................................................................................................... 68 I- 3.1 Objetivo Geral............................................................................................ 68 I- 3.2 Objetivos Específicos................................................................................. 68 CAPÍTULO II: OBTENÇÃO DOS DERIVADOS NITROARILTIOSSEMICARBAZÔNICOS........................................................................ 69 II- 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 70 II- 2. METODOLOGIA ............................................................................................ 70 II- 2.1 Procedimento Geral de Obtenção dos Aril-aldeídos Nitrados.................. 70 II- 2.2 Procedimento Geral de Obtenção das Nitro-Aril tiossemicarbazonas....... 71 II- 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................... 73 CAPÍTULO III: AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES BIOLÓGICAS.................... 89 III- 1. INTRODUÇÃO............................................................................................... 90 Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos III- 2. ATIVIDADE ANTIBACTERIANA ............................................................. 90 III- 2.1 Metodologia.............................................................................................. 90 III- 2.1.1 Método da difusão em discos de papel.......................................... 90 III-2.1.2 Determinação da Concentração Mínima Inibitória (CMI) e Concentração Mínima Bacteriostática (CMB)............................................ 93 III- 2.2 Resultados e discussão.............................................................................. 93 III- 3. ATIVIDADE ANTICHAGÁSICA E AVALIAÇÃO DA CITOTOXICIDADE.................................................................................................. 96 III- 3.1 Metodologia.............................................................................................. 96 III- 3.1.1 Ensaio de citotoxicidade dos compostos em células esplênicas..... 96 III- 3.1.2 Avaliação da atividade dos compostos frente ao T. cruzi............... 97 III- 3.2 Resultados e discussão............................................................................. 97 CAPÍTULO IV: CONCLUSÕES E PERPESCTIVAS........................................... 106 IV- 1. CONCLUSÕES.......................................................................................... 107 IV- 2. PERPESCTIVAS ....................................................................................... 108 CAPÍTULO V: PARTE EXPERIMENTAL 109 V- 1. PARTE EXPERIMENTAL.............................................................................. 110 V- 1.1 Materiais e Métodos................................................................................... 110 V- 1.1.1Cromatografias.................................................................................. 110 V- 1.1.2 Pontos de Fusão............................................................................... 110 V- 1.1.3 Espectroscopias de IV, RMN 1H e RMN 13C............................... 110 V- 1.1.4 Equipamentos................................................................................... 110 Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos V- 1.1.5 Reagentes e solventes...................................................................... 111 V- 1.2. Procedimentos Experimentais............................................................ 111 V- 1.2.1 Síntese e Caracterização estrutural......................................... 111 V- 1.2.2 Avaliação da Atividade Antibacteriana.................................. 125 V- 1.2.2.1 Metodologia............................................................. 125 V- 1.2.3 Avalização da atividade anti- T.cruzi...................................... 126 V- 1.2.3.1 Metodologia............................................................. 126 V- 1.2.4 Obtenção de células esplênicas de camundongos isogênicos e Ensaio de Citotoxicidade................................................................... 126 V- 1.2.4.1 Metodologia............................................................. 126 Referências Bibliográficas......................................................................................... 128 ANEXOS..................................................................................................................... 142 ANEXO A: Espectros de IV dos derivados obtidos……………………………… 143 ANEXO B: Espectros RMN 1H................................................................................. 149 Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos LISTA DE FIGURAS Figura 1: Número de novos medicamentos desenvolvidos entre os anos de 1975 e 2004............................................................................................................................... 24 Figura 2: Estrutura química do Benznidazol............................................................... 25 Figura 3. Barbeiro (Triatoma infestans): inseto transmissor da doença de Chagas....... 27 Figura 4: Fatores predisponentes para o aparecimento da doença de Chagas: casas de pau-a-pique..................................................................................................................... 27 Figura 5: Estimativa da população global afetada pelo Trypanosoma cruzi, 2009....... 29 Figura 6: Formas evolutivas do Trypanosoma cruzi – A: Fibras musculares cardíacas infestadas pela forma amastigota; B: Forma epimastigota e C: Forma tripomastigota................................................................................................................. 30 Figura 7: Ciclo biológico da doença de Chagas........................................................... 31 Figura 8: A: Sinal de Romaña; B: chagoma de inoculação.......................................... 33 Figura 9: Coração de pacientes que desenvolveram doença de Chagas e morreram por: (A) morte súbita, (B) megacólon ou mega-esôfago e (C) insuficiência cardíaca congestiva...................................................................................................................... 34 Figura 10: Subestruturas químicas fundamentais de nitrocompostos empregados em terapêutica..................................................................................................................... 36 Figura 11: Estrutura molecular da nitrofurazona......................................................... 36 Figura 12: Fármacos utilizados na terapia antichagásica............................................. 37 Figura 13: Estrutura química das tiossemicarbazonas.................................................. 40 Figura 14: Representação das conformações das tiossemicarbazonas.......................... 41 Figura 15: Representação dos estereoisômeros E e Z das Tiossemicarbazonas............ 42 Figura 16: Representação das duas formas tautoméricas das TSCs............................... 52 Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos Figura 17: Estruturas químicas dos compostos sintetizados por Teitz et al., 1994....... 58 Figura 18: Estrutura química do composto 3 sintetizado por Finkielsztein, 2008..... 58 Figura 19: Estrutura química dos compostos sintetizados por Khan et al., 2007.......... 59 Figura 20: Representação geral dos compostos sintetizados por Guzel et al., 2008 que obtiveram melhor atividade..................................................................................... 60 Figura 21: Estruturas químicas das TSCs com atividade antifúngica segundo Opletalová et al., 2008.................................................................................................... 61 Figura 22: Pró- fármaco sintetizado a partir do 3-AP.................................................... 62 Figura 23: Estrutura química dos compostos sintetizados por Dilovic et al., 2008 com melhores atividades................................................................................................. 62 Figura 24 Estrutura química dos compostos sintetizados por Bhart, 2002.................... 63 Figura 25: Estruturas químicas dos compostos sintetizados por Abid e grupo, 2000... 63 Figura 26: Estrutura química do protótipo antimalárico segundo Duan & Zhang, 2010.................................................................................................................................. 64 Figura 27: Mecanismo de inibição da TCC por derivados aril-tiossemicarbazônicos proposta por Du et al., 2002............................................................................................. 65 Figura 28: Compostos sugeridos como inibidores da TCC segundo Chiyanzu et al., 2003................................................................................................................................. 65 Figura 29: Estrutura Química dos compostos sintetizados por Aguirre e grupo, 2004. 66 Figura 30: Estrutura química do composto que apresentou melhor atividade antichagásica segundo Fujii e colaboradores 2005.......................................................... 66 Figura 31: Estrutura química dos compostos sintetizados por Siles e grupo, 2006....... 67 Figura 32: Espectro de RMN 1H do composto 2b.......................................................... 80 Figura 33: Espectro de RMN 13C do composto 2b........................................................ 81 Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos Figura 34: Espectro de RMN 1H do composto 2d......................................................... 82 Figura 35: Espectro de RMN 1H do composto 2g. ........................................................ 83 Figura 36: Espectro de RMN 1H do composto 2i. ........................................................ 84 Figura 37: Espectro de IV do composto 2b. .................................................................. 85 Figura 38: Espectro de IV do composto 2j. ................................................................... 86 Figura 39: Espectro de RMN 1H do composto 2j. ......................................................... 87 Figura 40: Estrutura química dos derivados nitro-aril tiossemicarbazônicos 92 sintetizados....................................................................................................................... Figura 41: Mecanismo de ação das tiossemicarbazonas proposto por Du e colaboradores (2002)....................................................................................................... 99 Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos LISTA DE ESQUEMAS Esquema 1: Rota de obtenção de tiossemicarbazonas a partir de tiossemicarbazidas..... 43 Esquema 2: esquema da síntese do 1-ciclohexilideno-N (1,2-dihidro-2-oxo-3H-indol3-ilideno) tiossemicarbazona............................................................................................. 43 Esquema 3: Rota sintética de bis-[N(4)-tiossemicarbazonas] a partir do 1-fenilglioxal. 44 Esquema 4: Reação global da isatina com N-[4-(4‘-clorofenil) tiazol-2-il] tiossemicarbazida, produzindo tiossemicarbazona............................................................ 44 Esquema 5: Rota sintética de tiossemicarbazonas a partir de aldeídos naturais ((3R)(+) citronelal...................................................................................................................... Esquema 6: Rota sintética de novas tiossemicarbazonas a partir 45 de ferrocenilchalconas............................................................................................................ 45 Esquema 7: Rota de síntese de metil-piruvatos tiossemicarbazonas................................ 45 Esquema 8: Rota de síntese do composto pirazinaformamida N(4)- 46 metiltiossemicarbazona..................................................................................................... Esquema 9: Rota de síntese do derivado tiossemicarbazônico da 3-(5-nitrofurfuril) acroleína............................................................................................................................. 46 Esquema 10: Rota de síntese do composto 1,3-difenil-4-(4‘-fluro)benzal-5-pirazolona4-etil tiossemicarbazona (DP4FBP–ETSC).................................................... 47 Esquema 11: Rota de síntese de várias α-silil-substituidas tiossemicarbazonas.............. 47 Esquema 12: Rota de síntese de uma série de 1-metil-2,6-diarilpiperidina-4-ona tiossemicarbazonas............................................................................................................. 48 Esquema 13: Rota de síntese do composto (5-Bromobenzofuran-2-il)(3-metil-3mesitilciclobutil) cetona tiossemicarbazona...................................................................... 48 Esquema 14: Rota de síntese de tiossemicarbazonas oriundas de derivados do Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos salicilaldeído...................................................................................................................... 49 Esquema 15: Rota de síntese de tiossemicarbazonas a partir de hidrazinas..................... 49 Esquema 16: Rota de síntese de bis-tiossemicarbazonas a partir do 3,5´diacetil-1,2,4triazol................................................................................................................................. 49 Esquema 17: Rota de síntese de tiossemicarbazonas esteroidais..................................... 50 Esquema 18: Rota de síntese uma série de 2-etoxi-3-metoxi-benzaldeído tiossemicarbazonas............................................................................................................. 50 Esquema 19: Rota de síntese novas 1-indanona-tiossemicarbazonas. 51 Esquema 20: Rota de síntese do (E)-2-(2,4-dihidroxi-benzilideno) tiossemicarbazona, com rendimento de 87%.................................................................................................... 51 Esquema 21: Rota de síntese do (E)-2-[(1H-indol-3-il) metileno] tiossemicarbazona com rendimento de 67%.................................................................................................... Esquema 22: Rota de síntese de 51 2,4-diaril-3-azobiciclo[3.3.1]nonano-9-ona tiossemicarbazonas............................................................................................................. 52 Esquema 23: Rota sintética de complexos Pt/TSC segundo Horton & Varela................. 53 Esquema 24: Rota de síntese de complexos Oxovanádio/TSC........................................ 54 Esquema 25: Rota de síntese de complexos de Rênio/TSC............................................. 54 Esquema 26: Rota de síntese de complexos de Pd II segundo Shailendra....................... 55 Esquema 27: Rota de síntese de complexos de Ni II/ TSC.............................................. 55 Esquema 28: Rota de síntese de complexos de Pd segundo Kostas................................ 56 Esquema 29: Rota de síntese de complexos de Mo/TSC segundo Vrdoljak.................... 56 Esquema 30: Rota de Nitração dos Aril-aldeídos em presença de CHCl3....................... 71 Esquema 31: Rota de Nitração dos Aril-aldeídos em presença de H2SO4....................... 71 Esquema 32: Rota de obtenção das Nitro-Aril tiossemicarbazonas................................. 72 Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos Esquema 33. Rota geral de síntese da bis-tiossemicarbazona 2g e 2l.............................. 73 Esquema 34: Mecanismo de condensação de compostos carbonilados com a tiossemicarbazida............................................................................................................... 78 Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos LISTA DE TABELAS Tabela 1: Principais efeitos colaterais observados na terapia específica da Doença de Chagas............................................................................................................................. 39 Tabela 2: Estruturas químicas dos derivados 2a-2l e suas respectivas nomenclaturas.. 74 Tabela 3: As principais bandas de absorção dos grupos inerentes as moléculas sintetizadas...................................................................................................................... 79 Tabela 4: Valores das ZMI dos compostos testados, em mm........................................ 94 Tabela 5: Valores da Concentração Mínima Inibitória e Concentração Mínima Bactericida para os compostos 2c e 2h frente às cepas avaliadas em µg/mL…………. 96 Tabela 6: Atividade anti-T. cruzi dos derivados nitro-aril tiossemicarbazônicos........... 98 Tabela 7: Citotoxicidade dos derivados nitro-aril tiossemicarbazônicos....................... 103 Tabela 8: Relação IC50 X Citotoxicidade....................................................................... 105 Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS TSC: Tiossemicarbazona Bdz- Benznidazol Nfx : Nifurtimox TCC- Cruzáina do T. Cruzi TR- Tripanotiona Redutase DCT- Doença de Chagas Transfusional HIV: Human Imunodeficiency virus (Vírus da Imunodeficiência Humana) DCA: Doença de Chagas aguda IC: Insuficiência Cardíaca ACTH: Hormônio Adrenocorticotrófico NO2: Grupo nitro DNA: Deoxyribonucleic acid (Ácido desoxiribonucléico) RMN – Ressonância Magnética nuclear CCD: Cromatografia em camada delgada EtOH: Álcool etílico MeOH: Metanol p-TsOH: Ácido para-tolueno sulfônico EtOAc: Acetato de etila Acac: Acetil-acetonato DMSO: Dimetil sulfóxido t-BuOK: Tert-butóxido de Potássio CMI: Concentração mínima inibitória CMB: Concentração mínima Bacteriostática Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos IV: Infra-vermelho Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos RESUMO A doença de Chagas apresenta-se como um dos maiores problemas de Saúde Pública em países da América Latina, chamados países endêmicos. Estima-se que 18 a 20 milhões de pessoas estejam infectadas e que outros 100 milhões vivam em áreas de risco de contaminação. No Brasil, apenas o benznidazol (Bdz) está disponível para o tratamento da doença, e apesar de seu uso clínico, este fármaco apresenta efeitos colaterais severos, sendo ativo apenas na fase aguda da doença. Neste contexto, faz-se necessário de novas substâncias com potencial atividade anti-Tcruzi. Dentre os alvos biológicos considerados como mais promissores no combate a doença de Chagas, encontram-se enzima Cruzaína ou cruzipaína do T. cruzi (TCC) e a tripanotiona redutase (TR). As tiossemicarbazonas, grupo de moléculas com amplo perfil farmacológico, vêm sendo relatadas na literatura como potentes inibidores da TCC, principalmente as aril-tiossemicarbazonas. Nitrocompostos também tem sido descritos como potentes inibidores irreversíveis da TR em condições anaeróbicas. Focando-se nessas características, neste trabalho sintetizamos uma série de onze derivados nitro-aril tiossemicarbazônicos e avaliamos seu potencial antimicrobiano e anti- T. cruzi, assim como as suas toxicidades. Estes derivados (2a-2l) foram sintetizados a partir de aril-aldeídos previamente nitrados e tiossemicarbazida, substituida ou não, em etanol sob temperatura ambiente, acrescidas de quantidades catalíticas de HCl. A elucidação estrutural foi realizada através da análise dos dados espectroscópicos de RMN 1H, 13 C e IV. Em referência as atividades biológicas, os testes antimicrobianos foram realizados in vitro, frente aos da coleção do Departamento de Antibióticos da UFPE, onde se mediram as ZMI, CMB e CMI. A atividade anti- T. cruzi foi avaliada com parasitos das cepas Y, frente à forma evolutiva epimastigota. Para determinar o efeito antiproliferativo para T. cruzi, o ensaio colorimétrico MTT (metil tiazol tetrazólio) foi empregado, obtendo os valores de IC50 em μg/mL. A citotóxicidade foi avaliada em células esplênicas de camundongos utilizando-se o método de incorporação da timidina tritiada, sendo os valores obtidos em μg/mL. Dos onze derivados sintetizados e avaliados, o 2c, 2h e 2i obtiveram os melhores resultados nos testes antimicrobianos, com merecido destaque para o 2h. Este também se mostrou ativo nos testes anti- T. cruzi, sendo mais potente que o Bdz e possuindo a mesma citotoxicidade, sendo considerado um possível protótipo na terapêutica da Deonça de Chagas. Palavras-Chave: Tiossemicarbazonas, Doença de Chagas, Atividade antimicrobiana, Atividade antiT.Cruzi, Nitrocompostos. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva Síntese e Avaliação das Atividades Antimicrobiana e Anti-T.Cruzi de Derivados Nitro-Ariltiossemicarbazônicos ABSTRACT Chagas disease presents itself as a major public health problems in Latin America, called endemic countries. It is estimated that 18 to 20 million people are infected and another 100 million live in areas at risk of contamination. In Brazil, only benznidazole (Bdz) is available for the treatment of disease, and although its clinical use, this drug has severe side effects, being active only during acute illness. In this context, it is necessary to new substances with potential anti-Tcruzi activity. Among the biological targets deemed most promising in the fight against Chagas disease, there are cruzain enzyme, cruzipain of T. cruzi (TCC) and trypanothione reductase (TR). The thiosemicarbazones, group of molecules with broad pharmacological profile, have been reported in the literature as potent inhibitors of TCC, especially aryl thiosemicarbazones. Nitrocompounds also has been described as potent irreversible inhibitors of TR under anaerobic conditions. Focusing on these features, in this work we synthesized a series of eleven nitro-aryl thiosemicarbazones derivatives and we evaluated their potential antimicrobial and anti-T cruzi, as well as their toxicities. These derivatives (2a-2l) were synthesized from aryl aldehydes previously nitrated and the Thiosemicarbazones substituted or not, in ethanol at room temperature, together with catalytic amounts of HCl. Structural elucidation was performed by analysis of spectroscopic data of 1H, 13C and IV. With reference to the biological activities, antimicrobial tests were performed in vitro, against to the collection of the Antibiotics Department of UFPE, where he measured the ZMI, CMB and CMI. Anti-T. cruzi activity was performed with parasites from the Y strains, against to the evolving form called epimastigote. To determine the antiproliferative effect of T. cruzi, the MTT colorimetric assay (methyl thiazole tetrazolium) was used, obtaining the IC50 values in μg/mL. Cytotoxicity was evaluated in spleen cells of mice using the method of incorporation of tritiated thymidine, and the values obtained in μg/mL. Of the eleven derivatives synthesized and evaluated, 2c, 2h and 2i showed the best results in antimicrobial testing, with deserved attention for 2h. This last one was also active in testing anti-T. cruzi, being more potent than the BDZ and having the same cytotoxicity, therefore it can be considered a possible prototype in the treatment of Chagas Disease. Keywords: Thiosemicarbazones, Chagas disease, Antimicrobial activity, anti- T.Cruzi activity, nitrocompounds. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 23 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO, REVISÃO DA LITERATURA E OBJETIVOS Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 24 1. INTRODUÇÃO Todo ano morrem mais de um milhão de pessoas em todo mundo vítimas de doenças intituladas negligenciadas. As opções de tratamento para estas patologias, quando disponíveis, são ineficazes e ultrapassadas, causando uma série de efeitos colaterais, além de não promoverem a cura definitiva. As doenças tropicais são os principais representantes das doenças negligenciadas, atingindo em sua grande maioria, pessoas muito pobres, distribuídas pelos países com baixo nível de desenvolvimento sócio-econômico. Levando-se em consideração que as pessoas afetadas por essas doenças não representam um mercado lucrativo para atrair investimentos necessários para a pesquisa e o desenvolvimento de novos medicamentos, essas doenças vêm sendo progressivamente marginalizadas por decisões dos responsáveis pelos programas de pesquisa, tanto no setor privado, quanto no setor público. Como podemos observar na Figura 1, entre 1975 e 2004, apenas 21 medicamentos foram registrados para doenças tropicais e tuberculose, ainda que estas doenças constituam mais de 11% da carga global de doença. Durante o mesmo período, 1.535 medicamentos foram registrados para outras doenças1. Figura 1: Número de novos medicamentos desenvolvidos entre os anos de 1975 e 2004. Por sua grande difusão, pela gravidade das manifestações que pode apresentar e pela complexidade de sua profilaxia, a doença de Chagas, causada pelo parasito Trypanosoma cruzi, apresenta-se como uma doença extremamente negligenciada, representando grave e alarmante problema sanitário2. Mesmo após mais de 100 anos da sua descoberta pelo pesquisador Carlos Chagas, o tratamento específico anti- T. Cruzi permanece inapropriado e irresoluto, permitindo apenas efeitos supressivos, podendo diminuir a parasitemia no curso do tratamento, não garantindo a cura definitiva3. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 25 O único fármaco atualmente disponível para a quimioterapia antichagásica no Brasil é o Benznidazol (N-benzil-2-nitroimidazol-1-acetamida, Bdz, Figura 2), agindo através da redução do seu grupo nitro e formação de ligações covalentes com macromoléculas do T. cruzi 4. É eficaz na fase aguda da doença, com excelentes taxas de cura na fase inicial da doença, e na infecção congênita. No entanto, é ineficaz no estágio crônico da doença e está associada com efeitos colaterais severos, os quais podem resultar na interrupção do tratamento5. Até o ano de 2007, somente uma única formulação farmacêutica do Bdz (comprimidos de liberação imediata na dose de 100 mg) estava disponível no mercado, o que tornava não indicado o tratamento para crianças (no qual a dose recomendada é de 25 mg por dia) e para idosos, que em alguns casos tem dificuldade em deglutir, exemplificando mais uma característica agravante desta monoterapia5. Tendo em vista todo esse panorama que define a terapêutica da doença de Chagas como algo ineficaz, ultrapassado e inapropriado, têm-se cada vez mais intensificada a necessidade de recorrer a novas alternativas terapêuticas para a obtenção de fármacos mais seguros, ativos e com alvos biológicos mais específicos, principalmente para a fase crônica da doença. O N N N NO2 H Benznidazol Figura 2: Estrutura química do Benznidazol. As tiossemicarbazonas apresentam um amplo perfil farmacológico e constituem uma classe importante de compostos cujas propriedades têm sido extensivamente estudadas na Química Medicinal. Para o desenvolvimento de fármacos antichagásicos, as pesquisas estão sendo focadas para a inibição da enzima Cruzaína ou cruzipaína do T. cruzi (TCC)7 e a Tripanotiona redutase (TR)8. A porção tiossemicarbazona presente em alguns compostos descritos na literatura, mostra-se como um grupo farmacofórico que apresentam potencial atividade inibitória da TCC 9,10 , principalmente aril-tiossemicarbazonas, descritos desde 2002 como potentes agentes tripanocidas e de baixa citotoxicidade11. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 26 Segundo Du e colaboradores (2002), a interação tiossemicarbazona-TCC, acontece via ataque covalente do resíduo Cys25 da TCC em direção ao carbono da tiocarbonila e transferência de um próton do resíduo His159, formando um derivado tetraédrico. Em estudos de ―docking‖ realizados em 2006 e 2007, Leite e colaboradores, comprovaram a afinidade das aril-tiossemicarbazonas com a TCC, revelando a capacidade inibitória que as tiossemicarbazonas possuem. Tendo em vista todos esses estudos que demonstram e comprovam a atividade das tiossemicarbazonas, em especial aril-tiossemicarbazonas, como potentes armas na terapêutica contra o T. cruzi, nesse trabalho decidimos aliar essa notável característica com a conhecida atividade do grupamento nitro como parasitóforo, presente no Bdz, através do planejamento e síntese de novos derivados nitro-ariltiossemicarbazônicos, os quais possam apresentar real atividade contra o T. cruzi, principalmente no estágio crônico da doença. I- 2. REVISÃO DA LITERATURA II- 2.1 DOENÇA DE CHAGAS II- 2.1.1 Generalidades da doença de Chagas A doença de Chagas constitui-se, pela sua vasta distribuição, altos índices de prevalência e gravidade de evolução, um dos maiores problemas de Saúde Pública em países do cone sul das Américas12,13. Estima-se que sejam de 18 a 20 milhões os indivíduos infectados nessa região e que outros 100 milhões vivam em áreas de risco de contaminação14. Esta enfermidade foi descoberta e descrita pelo grande cientista Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas em Abril de 1909, sendo seu agente etiológico, o protozoário Trypanosoma cruzi, por ele assim nomeado em homenagem a Oswaldo Cruz, e o inseto vetor, um triatomíneo conhecido popularmente como barbeiro (Figura 3) pelo hábito de picar o rosto de suas vítimas, descobertos previamente no final de 190815. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 27 Figura 3. Barbeiro (Triatoma infestans): inseto transmissor da doença de Chagas. O parasita possui um complexo ciclo biológico passando por hospedeiros vertebrados e invertebrados, e apresenta diferentes formas evolutivas subdivididas em flageladas (epimastigota e tripomastigota) e aflagelada (amastigota). A doença é um exemplo típico de uma injúria resultante das alterações produzidas pelo ser humano ao meio ambiente. O protozoário responsável pela parasitose vivia restrito à situação silvestre, circulando entre mamíferos do ambiente natural através do inseto vetor ou, também, por via oral através da ingestão de vetores e mamíferos infectados. O homem se fez incluir no ciclo epidemiológico da doença, oferecendo ao vetor hemíptero vivendas rurais de péssima qualidade (Figura 4), as chamadas casas de pau-a-pique16. Figura 4: Fatores predisponentes para o aparecimento da doença de Chagas As formas mais importantes de transmissão da doença de Chagas ainda são as vetoriais, seja via lesão resultante da picada, seja por mucosa ocular ou oral. Contudo, apresenta também grande importância epidemiológica a transmissão transfusional e a congênita. Mais recentemente, houve surtos de transmissão por meio da via oral, devido ingestão de alimentos contaminados. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 28 Embora considerada eminentemente rural, atualmente a doença de Chagas representa um problema também para os centros urbanos. Admite-se que dos 3,4 milhões de infectados existentes no Brasil, 60% estejam vivendo no espaço urbano em grandes centros como Grande São Paulo (cerca de 300 mil) e Grande Belo Horizonte (cerca de 100 mil). A doença de Chagas é a terceira mais importante causa mortis entre as doenças infecciosas e parasitárias (13,6%) e o número absoluto de óbitos ainda é muito relevante, chegando a cerca de 6000 por ano. Os estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul e os da região Nordeste apresentam a mais alta endemicidade no Brasil 17,18. Enquadrando-se no setor das doenças negligenciáveis, a doença de Chagas não representa um mercado lucrativo para atrair investimentos necessários para a pesquisa e o desenvolvimento de novos medicamentos, sendo por este motivo, progressivamente marginalizadas por decisões dos responsáveis pelos programas de pesquisa, tanto no setor privado, quanto no setor público1. II- 2.1.2 Epidemiologia Endêmica em 21 países, a doença de chagas afeta atualmente cerca de 18 a 20 milhões de pessoas distribuídas pelo México, Américas Central e do Sul. Globalmente é descrita como a terceira mais importante doença parasitária, sendo responsável por significativos encargos econômicos e de saúde pública na América Latina19. Estimativas informam que essa enfermidade mata aproximadamente 14 mil pessoas por ano nessa região, matando mais do que qualquer outra doença negligenciada, inclusive a malária. Relata-se também que outros 100 milhões de indivíduos vivam em áreas de risco de contaminação14,20. No final da década de setenta, uma alta incidência de casos da doença de Chagas foi observado no Brasil, chegando a cerca de 100 mil novos casos por ano. Hoje se estima que cerca de 3,4 milhões de pessoas estejam infectadas 21,22. Atualmente, casos e surtos podem ser observados em diferentes estados (Bahia, Ceará, Piauí, Santa Catarina, São Paulo), sendo sua maior a freqüência na região da Amazônia Legal, que engloba os estados do Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Amapá, Pará, Tocantins23. Recentes estudos mostraram um crescimento rápido e notável em países fora da América Latina, intitulados países não-endêmicos (Austrália, Canadá, Espanha e E.U.A). Isto se deve ao advento da migração de aproximadamente 15 milhões de pessoas vindas de área conhecidamente endêmicas 24,25. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 29 Figura 5: Estimativa da população global afetada pelo Trypanosoma cruzi, 2009. Estima-se que nos EUA existam 300.167 pessoas infectadas, sendo este valor aproximadamente seis vezes maior que os casos relatados na Espanha26,27. Na Europa Ocidental, em 2008 foi relatado que o numero total de pessoas infectadas vivendo nesta região é de 25 a 40 mil, tendendo a aumentar 28,29,30,31. III- 2.1.3 Ciclo Biológico O ciclo biológico do T. cruzi é do tipo heteroxênico, passando o parasito por uma fase de multiplicação intracelular no hospedeiro vertebrado (homem e mamíferos pertencentes a sete ordens diferentes) e extracelular no inseto vetor (triatomíneos) 32. Este ciclo compreende três estágios ou formas principais, dotadas de características morfológicas e biológicas distintas. As formas evolutivas envolvidas nesse ciclo são a amastigota, tripomastigota e epimastigota. Os amastigotas possuem formas arredondadas ou ovóides, imóveis, desprovidas de flagelo livre. Agrupam-se em "ninhos" na intimidade de tecidos diversos do hospedeiro vertebrado. Trata-se da forma de multiplicação do parasita no hospedeiro vertebrado e medem de 1,5 a 4 µm de diâmetro. Os tripomastigotas apresentam corpo alongado, com cerca de 20 µm de comprimento. São formas encontradas no sangue dos hospedeiros vertebrados e nas porções terminais do Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 30 intestino dos vetores 33. A forma epimastigota, apresenta cerca de 20 µm de comprimento e trata-se da forma multiplicativa do parasita no intestino do triatomíneo, e é também a forma predominante em cultivo axênico, sendo por isso, mais comumente utilizada em estudos bioquímicos34. A B C Figura 6: Formas evolutivas do Trypanosoma cruzi – A: Fibras musculares cardíacas infestadas pela forma amastigota; B: Forma epimastigota e C: Forma tripomastigota Considerando o mecanismo natural de infecção pelo T. Cruzi, os tripomastigotas metacíclicos eliminados nas fezes e urina do vetor, durante ou logo após o repasto sanguíneo, penetram pelo local da picada e interagem com células do sistema mononuclear fagocitário da pele ou mucosas. O parasita tem acesso facilitado ao interior do organismo pelo toque das mãos, já que a picada causa irritação local. Se a picada for próxima dos olhos ou da boca, o parasita pode penetrar diretamente pelas mucosas. Uma vez dentro do organismo, os tripomastigotas entram em uma variedade de células, dentro das quais se transformam em amastigotas. Nesse estágio, os parasitas reproduzem-se por fissão binária35,36,37. A seguir, ocorre a diferenciação dos amastígotas em tripomastigotas, que são liberados da célula hospedeira caindo no interstício. Estes tripomastigotas caem na corrente circulatória, atingem células de qualquer tecido ou órgão para cumprir novo ciclo celular. Por vezes, estes podem ser destruídos por mecanismos imunológicos do hospedeiro ou ainda serem ingeridos por triatomíneos, onde cumprirão seu ciclo extracelular32. No estômago do inseto triatomíneo, a forma tripomastigota transforma-se gradualmente em formas arredondadas, algumas com um longo flagelo colado ao corpo e outras com um curto flagelo, chamadas de esferomastigotas e epimastigotas, respectivamente. Em seguida, os parasitas migram para o intestino, onde se multiplicam como formas epimastigotas, o que pode ser observado cerca de 25 horas após o repasto sanguíneo. Posteriormente migram para a parte mais posterior, atingindo o reto, e transformam-se em tripomastigotas metacíclicos, que são eliminados junto com as fezes e urina do triatomíneo Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 31 fechando assim o ciclo evolutivo do T. Cruzi 37. O ciclo evolutivo do T. Cruzi é demonstrado na Figura 7. Figura 7: Ciclo biológico da doença de Chagas I- 2.1.4 Transmissão A doença de Chagas é transmitida nos países endêmicos principalmente pelo inseto Triatoma infestans, conhecido popularmente como barbeiro25,38,39. Relatos da literatura têm informado que a transmissão vetorial foi significativamente reduzida devido aos esforços de controle, como a Iniciativa do Cone Sul um dos maiores programas de cooperação internacional contra a doença de Chagas, criada em Brasília em julho de 1991. 40,41. Em nove de junho de 2006, durante sua primeira reunião anual, a Comissão da Iniciativa do Cone Sul, declarou formalmente que o Brasil está livre da transmissão da doença de Chagas pelo Triatoma infestans. O Uruguai foi o primeiro país do Cone Sul a conseguir, em 1997, a interrupção da transmissão vetorial42. De 100 milhões de pessoas que se estimava Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 32 estarem em risco de contrair a doença nessa região, 60 milhões vivem agora sem esse risco 43. Levando em consideração este fato, as transfusões de sangue, transplantes de órgãos e as transmissões congênitas começam a representar riscos reais de transmissão da doença de Chagas 29. A Triagem das gestantes para a doença de Chagas durante os cuidados de saúde prénatal, especialmente quando eles nascem em uma área endêmica, tem importante papel para diminuir a incidência da transmissão de mãe para filho, a chamada transmissão congênita25. Este tipo de contaminação ocorre quando existem ninhos de amastígotas na placenta, que podem liberar tripomastigotas, chegando à circulação fetal32. Na América Latina, a doença de Chagas afeta cerca de dois milhões de mulheres em idades férteis, que são susceptíveis de transmiti-la para o seu feto44. Estimativas recentes indicam que na América do Norte, por ano, pelo menos 2.000 recém-nascidos estejam sujeitos a contraí-la45. A transmissão transfusional ganhou relativa importância epidemiológica nas duas últimas décadas, em função da migração de indivíduos infectados para os centros urbanos e da ineficiência no controle das transfusões, nos bancos de sangue23. A Prevalência de sangue para doação infectado por T. Cruzi na Europa e América do Norte varia muito, chegando a 0,62% na Espanha46. Recentemente, E.U.A., Espanha e França implementaram medidas para reduzir o risco transfusional através da seleção dos doadores de sangue e as estratégias de exclusão 31 . Comprovada nos anos 50 no Brasil, estima-se que no início da década de 80 cerca de 20 mil novos casos de doença de Chagas transfusional (DCT) eram produzidos anualmente. Neste mesmo período, a prevalência média de 7,03% em candidatos à doação de sangue, teve este coeficiente diminuído para 3,18% na década de noventa e atualmente para 0,6% na hemorrede pública e de 0,7% na rede privada. O risco de transmissão transfusional da infecção chagásica no Brasil é 10-15 vezes aquela estimada para a infecção pelo HIV, HBV ou HCV, dependendo da região47. Ainda a nível de Brasil, uma Nota Técnica do Ministério da Saúde divulgada em 2007 revelou que a transmissão via oral vem mostrando alguma relevância, principalmente devido ao surto em Santa Catarina no ano de 2005. Nesse episódio foram identificados 45 casos suspeitos de Doença de Chagas Aguda (DCA) relacionados à ingestão de caldo de cana, 31 com confirmação laboratorial, sendo que cinco pacientes evoluíram para óbito. Nos anos de 2000, 2001 e 2004, ocorreram 57 casos de doença de DCA por Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 33 transmissão oral; no período de 2005 a 2007, esses números somaram 301 casos. No ano de 2006 houve a confirmação de 115 casos de DCA, na região Norte e Nordeste, sendo 94 casos de transmissão via oral, devido ao consumo na maioria dos casos de açaí contaminado. Registrou-se também neste período surto pela ingestão de bacaba e de cana-de-açúcar 48. Em 2008, foram diagnosticados 94 casos de DCA no estado do Pará, dos quais 57 (65%) estavam envolvidos em transmissão oral; 20, no estado do Amapá, todos por provável transmissão oral e 7 no estado do Tocantins, 4 por transmissão oral (80%) e 1 vetorial23. I- 2.1.5. Manifestações clínicas A infecção chagásica humana pode se manifestar na forma aguda (sintomática ou assintomática), na forma crônica e indeterminada. Na maioria dos casos, a fase aguda da doença é oligossintomática, principalmente em adultos, não sendo valorizada pelo paciente ou pelo agente de saúde. Esta tem seu início evidenciado através das manifestações locais geradas quando o T. cruzi penetra na conjuntiva ou na pele, denominadas de sinal de Romaña e chagoma de inoculação, respectivamente (Figura 8). Estas lesões aparecem em 50% dos casos agudos dentro de 7-10 dias após a picada do barbeiro, regredindo em um ou dois meses3. A B Figura 8: A: Sinal de Romaña; B: chagoma de inoculação As manifestações gerais são representadas por febre, mal-estar geral, dor de cabeça, perda do apetite, fraqueza, edema localizado ou generalizado, inchaço de gânglios linfáticos (adenopatia), hepato-esplenomegalia. Em alguns pacientes, principalmente crianças ou indivíduos imunodeficientes, quadros meníngeos graves, alterações no eletrocardiograma e de Insuficiencia Cardíaca podem estar associados, chegando a óbito. É importante ressaltar que a gravidade da infecção depende também de outros fatores, como a virulência do parasito e o tamanho do inóculo 49,50,51. A fase aguda da doença pode durar de um mês a um ano, podendo Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 34 o paciente evoluir para a fase crônica ou indeterminada. Após a fase aguda, os sobreviventes passam por um longo período assintomático, cerca de 10 a 30 anos, sendo esta fase chamada de indeterminada. Caracteriza-se por apresentar positividade de exames sorológicos e/ou parasitológicos, ausência de sintomas e/ou sinais da doença, eletrocardiograma convencional normal e coração, esôfago e cólon radiologicamente normais. Aproximadamente 50% dos pacientes chagásicos que tiveram a fase aguda evoluem para a fase indeterminada, que, apesar de assintomática e de apresentarem lesões muito discretas, pode causar morte súbita de alguns pacientes mais debilitados32. Cerca de um terço dos casos agudos da doença de Chagas alcança para a fase crônica. Esta, em alguns casos, segue imediatamente o período agudo. Em outros, instala-se depois da fase indeterminada, anteriormente descrita12,52. Pacientes nessa fase da doença apresentam manifestações clínicas diversas, afetando de forma irreversível um ou mais órgãos. A cardiopatia chagásica crônica e o aparecimento dos megas (megaesôfago e megacólon, principalmente) representam as formas clínicas de maior gravidade 53,54,55. Na forma cardíaca, o coração mostra-se macroscopicamente aumentado de volume e mais pesado do que o normal, com peso de 550 g em média e hipertrofia das paredes (Figura 9). Dentre os seus principais sintomas enquadram-se arritmias (75.000 casos/ano), insuficiência cardíaca, trombo-embolismo, insônia, congestão visceral e edema dos membros inferiores 32. As manifestações digestivas são representadas principalmente no Brasil e na Argentina pelos megas, onde aparecem alterações morfológicas e funcionais importantes, como, por exemplo, a incoordenação motora (aperistalse, discinesia) caracterizando o megaesôfago e o megacólon. Figura 9: Coração de pacientes que desenvolveram doença de Chagas e morreram por: (A) morte súbita, (B) megacólon ou mega-esôfago e (C) insuficiência cardíaca congestiva Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 35 No caso do megaesôfago (45.000 casos/ano), observa-se o aumento do diâmetro do órgão e alterações na motilidade, além de sintomas como dores epigástricas, regurgitação, hipertrofia das glândulas salivares, disfagia, pirose, soluço, tosse e sialose. Acomete mais o sexo masculino do que o feminino, sendo mais freqüente na zona rural endêmica. O megacólon (30.000 casos/ano) apresenta como principal característica a obstipação do órgão, podendo durar semanas, e a perfuração levando por vezes à peritonite 32,54, 56. I- 2.1.6. Tratamento e novos alvos terapêuticos A doença de Chagas, por sua grande difusão, gravidade das manifestações que pode apresentar e pela complexidade de sua profilaxia, representa grave e alarmante problema sanitário2. Mesmo após mais de 100 anos da sua descoberta, o tratamento específico anti- T. Cruzi permanece inapropriado e irresoluto, permitindo efeitos supressivos, podendo apenas diminuir a parasitemia no curso do tratamento, não garantindo, portanto, a cura definitiva3. Os primeiros compostos desenvolvidos experimentalmente para o tratamento específico da tripanossomíase americana, após a sua descoberta em 1909, foram o atoxyl (arsênico), a tintura de fucsina, o tártaro emético (antimonial pentavalente) e o cloreto de mercúrio. Todos estes compostos se mostraram ineficazes no tratamento proposto, além de exibirem uma alta toxicidade 5,57. Entre os anos de 1936 e 1960 diversos medicamentos foram testados na tentativa de obter-se êxito, porém estes apenas obtiveram resultados negativos ou duvidosos. Dentre os testados destacam-se os derivados de quinoleínas e vários outros antimaláricos, arsenobenzóis e outros arsemicais, fenantridinas, sais de ouro, bismuto, cobre e de zinco, iodeto de sódio, violeta de genciana, aminopterinas, ácido para-aminosalicílico, hidrazida do ácido nicotínico, sulfonamidas, anti-histamínicos, ACTH e cortisona, derivados da estilomicilina, anfotericina B e mais de 30 antibióticos, e alguns nitrofuranos58. Maior atenção foi dada aos nitrocompostos a partir da década de 40 com sua introdução e emprego em terapêutica, período em que milhares de compostos desta classe foram sintetizados e testados frente a diversas doenças, dentre estas a doença de Chagas 59 . Estes pareciam ter atividade biológica dependente da presença do grupo nitro ligado à molécula, que resultava basicamente, em mudanças na estabilidade do mesmo, intermediada por interações entre o nitrocomposto e o seu alvo na biofase. Dentre estes nitrocompostos, Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 36 destacam-se os derivados nitrotiofênicos, nitrofurânicos, nitrobenzênicos e nitroimidazólicos (Figura 10). Derivados Nitrofurânicos Derivados Nitrotiofênicos Derivados Nitroimidazólicos Derivados Nitrobenzênicos Figura 10: Subestruturas químicas fundamentais de nitrocompostos empregados em terapêutica. A década de 60 trouxe diversos avanços na terapia da doença de chagas, com mudanças benéficas a nível de direcionamento para o desenvolvimento de novos fármacos eficazes no tratamento anti-chagásico. O primeiro passo foi dado a partir da utilização de um derivado dos nitrofuranos, a Nitrofurazona (5-nitro-2-furaldeído-semicarbazona), em esquema de duração prolongada (53 dias em média) na dose de 100mg/kg/dia, que curava mais de 95% dos camundongos cronicamente infectados. Entretanto, a conclusão final foi de que a Nitrofurazoma poderia ser curativa, mas os pacientes não toleravam os efeitos colaterais nas doses e no tempo necessário para a cura, devido a sua alta toxicidade60. Figura 11: Estrutura molecular da nitrofurazona No final da década de 1960 e início de 1970 dois novos nitrocompostos, os quais são utilizados até hoje, surgiram trazendo melhores perspectivas para o tratamento da doença de Chagas, tanto pelo potencial curativo, particularmente para a fase aguda, como também por Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 37 exibirem uma melhor tolerância quando comparados aos anteriores. Essas duas drogas são o nifurtimox (Nfx), um derivado nitrofurânico: 3-metil-4-(5´-nitrofurfurilidenoamino) tetrahidro-4H-1, 4-tiazina-1,1-dióxido (Bayer 2502) comercializado como nome de Lampit; e o benznidazol (Bdz), um derivado 2-nitroimidazólico: N-benzyl-2-nitroimidazol acetamida (RO 7-1051), comercializado com o nome de Rochagan® no Brasil e Radanil® na Argentina. O N N NO2 N NO2 O N N SO2 H Bdz Nfx Figura 12: Fármacos utilizados na terapia antichagásica. A ação destes fármacos é afetada diretamente por algumas condições, como a duração do tratamento, a idade e a distribuição geográfica dos pacientes, entre outros. O grupamento nitro (NO2), considerado como parasitóforo, presente em ambas as moléculas está diretamente relacionado nos seus mecanismos de ação, também contribuindo para a elevada toxicidade apresentada por estas14. O nifurtimox é tripanossomicida contra as formas amastigotas do T. cruzi. Seu mecanismo de ação envolve a redução parcial ao ânion radical seguida por auto-oxidação para regenerar o nitrofurano original e formar o radical ânion superóxido e outras espécies reativas de oxigênio, como o peróxido de hidrogênio e radical hidroxila. O T. cruzi mostra-se deficiente em mecanismos de detoxificação para metabólitos do oxigênio, particularmente o peróxido de hidrogênio, apresentando assim, mais sensível ao estresse oxidativo do que às células vertebradas 61. A ação do benznidazol não envolve danos oxidativos, e seu mecanismo de ação parece envolver uma diminuição da síntese de proteínas, redução de incorporação dos precursores de RNA e diminuição da incorporação da timidina em DNA62,63. O radical nitro estaria envolvido com seu efeito tripanocida através da formação de ligações covalentes com macromoléculas do T. cruzi 4. A duração media do tratamento é de cerca de sessenta dias, mas quando a doença crônica é reativada como em pacientes imunocomprometidos, este pode durar cinco meses ou Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 38 mais. Apenas em tratamentos de pacientes contaminados acidentalmente, como por exemplo, em um laboratório, a duração da profilaxia é aproximadamente dez dias64. Segundo requerimentos de 1997 da Organização Mundial de Saúde, uma droga para ser considerada ideal no tratamento da doença de Chagas deve possuir algumas características peculiares, que são as seguintes: 1- Cura parasitológica na fase aguda e crônica da doença; 2- Ser efetiva em uma ou poucas doses; 3- Ser de baixo custo para o paciente; 4- Não possuir efeitos colaterais nem teratogênicos 5- Não requerer internação para o tratamento e; 6- Não induzir resistência. Por não cumprir vários desses pré-requisitos, principalmente as abordadas nos números 1-4, o Nifurtimox (Lampit®) e o Benznidazol (Rochagan®) mesmo sendo apresentadas como drogas promissoras, não podem ser consideradas drogas ideais para a terapia anti- T. cruzi. Ambas não possuem eficácia considerável na fase crônica da doença e os efeitos colaterais apresentados são o seu inconveniente principal 53,65. Devido a este último fator, desde a década de 1980 apenas o Benznidazol permanece disponível em território nacional. A tabela abaixo mostra os principais efeitos colaterais apresentados por ambas, representando as intensidades por cruzes. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 39 Tabela 1: Principais efeitos colaterais observados na terapia específica da Doença de Chagas. Sintoma/sinal Anorexia Cefaléia Dermatopatia Excitação psíquica Gastralgia Insônia Náusea Perda de peso Polineuropatia Vômito Bdz ++ + +++ + + ++ + + ++ Nfx +++ ++ + +++ +++ ++ +++ +++ ++ ++ Tendo em vista todo esse panorama que define a terapêutica da doença de Chagas como algo ineficaz, ultrapassado e inapropriado, têm-se cada vez mais intensificada a necessidade de recorrer a novas alternativas terapêuticas para a obtenção de fármacos mais seguros, ativos e com alvos biológicos mais específicos, principalmente para a fase crônica da doença. O desenvolvimento deste tipo de fármacos requer um melhor conhecimento do ciclo de vida e do metabolismo do T. cruzi. Vários alvos biológicos têm sido apontados como alvos terapêuticos potenciais para a doença de Chagas, dentre eles destacam-se: enzima tripanotiona redutase, biossíntese de RNA mensageiro, biossíntese de esteróis, transialidase, cruzaína do T. cruzi, possibilitando assim um desenvolvimento racional de fármacos menos tóxicos e mais potentes contra o parasito42. A TR é uma flavoenzima NADPH-dependente e tem sido considerada uma enzima chave no metabolismo oxidativo do parasito. Ocorre exclusivamente em tripanosomatídeos, sendo indicada por este motivo como um dos mais promissores alvos na busca por drogas tripanomicidas10. Derivados nitrofurânicos, como a hidroximetilnitrofurazona, têm demonstrado produzirem, in vitro, inativação irreversível desta enzima em condições anaeróbicas 66. O T. cruzi requer esteróis específicos para a proliferação e a viabilidade de células em todos os estágios de seu ciclo, sendo este parasito extremamente susceptível a inibidores da biossíntese de esteróis. O principal esterol para o crescimento do T. cruzi é o ergosterol, o que torna, portanto, a via de biossíntese desse lipídeo um alvo atrativo para o desenvolvimento de Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 40 fármacos 67 . Atualmente, as enzimas mais bem estudadas desta cascata metabólica são a esterol 14-demetilase, lanoesterol sintase, esqualeno epoxidase, esqualeno sintase, D-24(25) esterol metiltransferase, farnesilpirofosfato sintase e a farnesiltransferase14. A TCC é a principal cisteína protease do T. cruzi sendo liberada em todos os estágios do ciclo de vida do parasita, porém entregue em diferentes compartimentos celulares em cada estágio. É a enzima crucial para a atividade proteolítica do T. Cruzi e essencial para a replicação intracelular do parasita, sendo um alvo em potencial para o desenvolvimento de novas drogas tripanomicidas 68. Recentemente tem sido demonstrado que a infecção por este parasito pode ser curada em células de ratos e modelos de cães pelo tratamento com inibição irreversível da cruzaína69. Diversos trabalhos têm descrito a atividade inibitória provocada por diversos grupos de compostos, como por exemplo, N-acilhidrazidas, uréias, tiouréias e tiossemicarbazonas68. As tiossemicarbazonas (Figura 13) apresentam um amplo perfil farmacológico e constituem uma classe importante de compostos cujas propriedades têm sido extensivamente estudadas na Química Medicinal. Dentre estas atividades, destacam-se a antitumoral, antibacteriana, antiviral, antiprotozoária e citotóxica70. Figura 13: Estrutura química das tiossemicarbazonas Engajando-se nesta característica de alta versatilidade farmacológica desta classe de compostos, vários pesquisadores têm direcionado seus estudos na síntese de novas tiossemicarbazonas com a intenção de obter moléculas que sirvam como protótipos para o desenvolvimento de novos fármacos antichagásicos. Desde 2002 as aril-tiossemicarbazonas estão sendo descritas como potentes agentes tripanocidas e de baixa citotoxicidade 11. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 41 I- 2.2. QUÍMICA DAS TIOSSEMICARBAZONAS I- 2.2.1 Tiossemicarbazonas- Aspectos Químicos As tiossemicarbazonas são compostos amplamente explorados na síntese orgânica, podendo ainda adquiri-las comercialmente com preços bastante acessíveis. Apresentam-se como sistemas com extrema deslocalização eletrônica, principalmente quando há grupos aromáticos ligados ao carbono da imina; aproximadamente planar, com o átomo de enxofre em posição anti em relação ao átomo de nitrogênio da função imina (Figura 14). Fatores eletrônicos e estéricos contribuem para este arranjo estrutural, porém, possivelmente o fator mais importante é que o átomo de enxofre em posição anti possibilita a ocorrência de ligação de hidrogênio intramolecular entre o nitrogênio da imina e os hidrogênios da tioamida, isso para as tiossemicarbazonas não substituídas em N-4. Levando em consideração as substituídas, a conformação sin é a preferida pela molécula. 70 H S N R2 N R1 N H Anti H H NR3R4 Sin N R1 N S R2 Figura 14: Representação das conformações das tiossemicarbazonas. Devido à presença da ligação dupla na tiossemicarbazonas, podem ser encontrados diasteisômeros conformacionais (Z e E). Mesmo a configuração E sendo teoricamente a mais favorável, estudos têm evidenciado a mudança de configuração de aril-tiossemicarazonas quando complexadas com metais de transição, tornando difícil a determinação configuracional absoluta. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 42 R≠H Isômero Z Isômero E Figura 15: Representação dos estereoisômeros E e Z das Tiossemicarbazonas Um complicador para a correta elucidação configuracional destes compostos é a difícil atribuição da configuração por técnicas de RMN, talvez por causa da flexibilidade da ligação iminíca e os efeitos paramagnéticos do nitrogênio, ou até mesmo devido ao efeito ‗guardachuva‘ que pode ocorrer com os pares de elétrons livres do nitrogênio 71. Do ponto de vista sintético apresentam como característica principal, sua versatilidade de obtenção, assim como sua aplicação como intermediários de muitos núcleos importantes. Em geral, apresentam baixo custo de síntese, além de grande economia de átomos, uma vez que, com exceção da água que é liberada em sua síntese, todos os outros átomos dos reagentes estarão presentes na molécula final 9. I- 2.2.2 Síntese de tiossemicarbazonas Uma das formas mais simples de obtenção das tiossemicarbazonas se dá pela reação de condensação equimolar de um derivado carbonilado (aldeído ou cetona), com tiossemicarbazidas em meio alcoólico sob refluxo, e com quantidades catalíticas de ácido (Esquema 1). Esta reação é muito utilizada pelo fato de possuir alta quimiosseletividade e rapidez apresentando geralmente altos rendimentos 72,73 . As tiossemicarbazonas são geralmente obtidas como misturas de isômeros E e Z, no estado sólido, havendo, em solução, isomerização da configuração Z para E, devido a uma maior estabilidade termodinâmica. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 43 H+ Ts = Tiossemiarbazida; R = H ou metil; R1 e R2 = H, Aril ou Alquil Isômero Z Isômero E Esquema 1: Rota de obtenção de tiossemicarbazonas a partir de tiossemicarbazidas. No ano de 1997, Gupta e Narayana, sintetizaram um derivado tiossemicarbazônico, partindo-se de outra tiossemicarbazona previamente sintetizada segundo metodologia acima descrita. Nesta nova metodologia, a 1-ciclohexilideno tiossemicarbazona, dissolvido em álcool (100mL), foi misturado a uma solução de indol 2,3- diona em água (150mL), produzindo o 1-ciclohexilideno-N (1,2-dihidro-2-oxo-3H-indol-3-ilideno) tiossemicarbazona. A mistura foi refluxada em banho de água por 10 minutos, mostrando alto rendimento (88%)74. Esquema 2: esquema da síntese do 1-ciclohexilideno-N (1,2-dihidro-2-oxo-3H-indol-3-ilideno) tiossemicarbazona. Mais tarde, em 1999, Castiñeiras e seu grupo de pesquisa publicaram em um de seus trabalhos o método de obtenção de duas bis-[N(4)-tiossemicarbazonas]. Estas foram Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 44 preparadas a partir da reação, na proporção 2:1, do 1-fenilglioxal com uma dada tiossemicarbazida em solução de etanol e gotas de ácido sulfúrico 72. Esquema 3: Rota sintética de bis-[N(4)-tiossemicarbazonas] a partir do 1-fenilglioxal. Neste mesmo ano, Pandeya e colaboradores mostraram a síntese de tiossemicarbazonas através da reação equimolar de isatina (indol 2,3 diona) com N-[4-(4‘clorofenil) tiazol-2-il] tiossemicarbazida. Ambos foram dissolvidos em etanol morno contendo 1mL de ácido acético glacial. A mistura ficou sob refluxo por 15 horas e o sólido resultante foi recristalizado uma mistura de etanol e clorofórmio, alcançando rendimento excelente de 94,6%73. Esquema 4: Reação global da isatina com N-[4-(4‘-clorofenil) tiazol-2-il] tiossemicarbazida, produzindo tiossemicarbazona. Já no ano de 2000, Tarasconi e seu grupo realizaram a síntese de tiossemicarbazonas através de uma reação de condensação de aldeídos naturais com a tiossemicarbazida, ambas em solução alcoólica a 95% (10mL), sob irradiação ultrassônica(40°) durante 1 hora. Este método visava aumentar a solubilidade dos reagentes e conseqüentemente o rendimento, chegando em alguns casos a 95% 75. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 45 Esquema 5: Rota sintética de tiossemicarbazonas a partir de aldeídos naturais ((3R)- (+) citronelal. No ano de 2001, Klimova e seu grupo de pesquisa demonstraram a síntese de uma série de acetilferroceno- tiossemicarbazonas através da mistura de ferrocenilchalconas (Fcchalconas) com tiossemicarbazida. A reação se processa com excesso de t-BuOK em isopropanol anidro(150mL) sob agitação e refluxo, durante cerca de 3-5 horas76. Esquema 6: Rota sintética de novas tiossemicarbazonas a partir de ferrocenilchalconas. Novas metil-piruvato TSCs foram descritas por Ferrari et al., 2001. Nessa metodologia fez-se reagir uma mistura de metil-piruvato e tiossemicarbazidas substituídas em etanol sob refluxo e borbulhamento de gás nitrogênio por 2 horas, obtendo rendimentos que variam de 58 a 76% 77. Esquema 7: Rota de síntese de metil-piruvatos tiossemicarbazonas. Em 2002, Labisbal e colaboradores, realizaram a síntese do composto pirazinaformamida N(4)-metiltiossemicarbazona, que serviria de produto de partida para a Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 46 formação de complexos metálicos. Nesse trabalho, uma solução metanólica de cianopirazina foi deixada sob agitação por meia hora. Nesse tempo, foi então adicionado lentamente a N(4)metiltiossemicarbazida em quantidades equimolares. Em seguida, mais 25 mL de metanol foram acrescidos a mistura, deixando-se refluxar por no mínimo 4 horas. Não foi mostrado o rendimento reacional 78. Esquema 8: Rota de síntese do composto pirazinaformamida N(4)-metiltiossemicarbazona. Aguirre et al., 2004 sintetizou tiossemicarbazonas oriundas de derivados do 5nitrofuril. O 5-nitrofurfural ou 3-(5-nitrofurfuril) acroleina foram postas para reagir com derivados da tiossemicarbazida. A reação se procedeu a temperatura ambiente em tolueno seco, com alíquotas catalíticas de acido p-tolueno sulfônico (p-TsOH) (AGUIRRE et al., 2004)10. Esquema 9: Rota de síntese do derivado tiossemicarbazônico da 3-(5-nitrofurfuril) acroleína. Mais adiante, no ano de 2005, H. Chai e colaboradores descreveram a rota de síntese do derivado 1,3-difenil-4-(4‘-fluro)benzal-5-pirazolona-4-etil-TSC (DP4FBP–ETSC). Este foi obtido através da mistura de 1,3-difenil-4-(4‘-fluro)benzal-5-pirazolona com N(4)- etil tiossemicarbazida, em etanol (40mL) e ácido acético glacial (2mL), em refluxo por 6 horas sob agitação magnética. O rendimento da reação foi de 71%79. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 47 Esquema 10: Rota de síntese do composto 1,3-difenil-4-(4‘-fluro)benzal-5-pirazolona-4-etil tiossemicarbazona (DP4FBP–ETSC). Também em 2005, Bolm demosntrou a síntese de várias de α-silil-substituidas tiossemicarbazonas para posterior ciclização. Nessa metodologia, reagiu-se um correspondente α-silil-ceto éster (10mmol) em solução de 100mL acetato de etila (EtOAc), com a tiossemicarbazida (20mmol). A suspensão foi agitada durante 1 hora a 50º C e filtrado após duas. Obteve rendimento de 84 %80. Esquema 11: Rota de síntese de várias α-silil-substituidas tiossemicarbazonas. Utilizando como produtos de partida derivados do 1-metil-2,6-diarilpiperidina-4-ona (0.01 mol) e a própria tiossemicarbazida (0.01 mol) em metanol (45 ml), Balasubramanian et al., 2005 sintetizou uma série de 1-metil-2,6-diarilpiperidina-4-ona TSCs. Após adição de quantidades catalíticas de um acido de força média e refluxo de 3 horas, obteve-se o produto desejado81. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 48 Esquema 12: Rota de síntese de uma série de 1-metil-2,6-diarilpiperidina-4-ona tiossemicarbazonas. Karatas et al., 2006 obteve o composto (5-Bromobenzofuran-2-il)(3-metil-3mesitilciclobutil) cetona-TSC fazendo-se reagir a tiossemicarbazida (10mmol) com (5Bromobenzofuran-2-il)(3-metil-3-mesitilciclobutil) metanona (10mmol) em etanol seco (80mL) e ácido p-tolueno sulfônico (0,01g), sob refluxo por um período de 8 horas. Obteve rendimento de 85%, mesmo com a carbonila sofrendo um grande impedimento estérico82. Esquema 13: Rota de síntese do composto (5-Bromobenzofuran-2-il)(3-metil-3-mesitilciclobutil) cetona tiossemicarbazona. Cukurovali em 2006 preparou uma série de tiossemicarbazonas derivadas do salicilaldeído. A uma solução de tiossemicarbazida e ácido p-tolueno sulfônico metanol (50mL), foi adicionada lentamente uma solução de um apropriado salicilaldeído em 20 ml de etanol absoluto. Manteve-se a mistura em agitação magnética contínua e aquecimento de 6070ºC 83. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 49 Esquema 14: Rota de síntese de tiossemicarbazonas oriundas de derivados do salicilaldeído. No ano seguinte, Bondock demonstrou a síntese de TSC em duas etapas, sem a utilização da tiossemicarbazida. Na primeira etapa, fez-se reagir 1-cloro-3,4-dihidronaftaleno2-carboxaldeído com hidrato de hidrazina, originando o composto 1-((4-cloro-1,2dihidronaftaleno-3-il)metileno) hidrazina, uma base de Schiff. Em seguida, essa base de Schiff foi posta para reagir com uma solução de fenil- isotiocianato em dioxano fervente, chegando enfim a respectiva tiossemicarbazona. A mistura ficou sob refluxo e agitação por 1 hora, obtendo rendimento de 77%84. Esta metodologia, além de apresentar bom rendimento, mostra-se basante versátil quimicamente, visto que torna possível sintetizar inúmeras tiossemicarbazonas, partindo-se de isotiocianatos e hidrazinas com diferentes substituintes. Esquema 15: Rota de síntese de tiossemicarbazonas a partir de hidrazinas Matesanz e grupo, 2007, realizaram a síntese de bis-tiossemicarbazonas através da reação do 3,5´diacetil-1,2,4-triazol (1,6mmol), previamente sintetizado, com a 4-etiltiossemicarbazida (3,2mmol), ambas em solução metanólica. A mistura ficou em refluxo por no mínimo 6 horas 85. Esquema 16: Rota de síntese de bis-tiossemicarbazonas a partir do 3,5´diacetil-1,2,4-triazol. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 50 Mais a frente, no ano de 2008, Khan mostrou a síntese de uma série de tiossemicarbazonas esteroidais. Estas foram obtidas a partir da reação uma solução etanólica de ciclopentil, ciclohexil e ciclooctil tiossemicarbazidas, na presença de algumas gotas de HCl, com uma solução também alcoólica de cetonas esteroidais. A mistura ficou em aquecimento (60ºC) e agitação magnética por 5 horas, obtendo altos rendimentos86. Esquema 17: Rota de síntese de tiossemicarbazonas esteroidais. Núñez-Montenegro et al., 2008 demonstrou a síntese de uma série de 2-etoxi-3metoxi-benzaldeído TSC fazendo-se reagir uma solução aquosa(15mL) de tiossemicarbazidas N(4)-substituidas com uma solução metanólica (15mL), acrescentando ainda algumas gotas de ácido sulfúrico concentrado. Para evitar a precipitação do aldeído, mais metanol foi adicionado. A reação ficou em refluxo e agitação por 2 horas87. Esquema 18: Rota de síntese uma série de 2-etoxi-3-metoxi-benzaldeído tiossemicarbazonas. Partindo de derivados da 1-indanona, Finkielsztein e grupo, 2008, sintetizaram novas 1-indanona-tiossemicarbazonas. Nessa metodologia, uma suspensão em etanol de tiossemicarbazida (2,7mmol) e dos derivados cetônicos (1,2mmol) ficou sob agitação e refluxo durante 30 minutos. Em seguida adicionou-se 0,1 ml de ácido sulfúrico, mantendo-se a agitação até o término da reação. Ao término, obteve-se rendimento médio de 65,5%88. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 51 Esquema 19: Rota de síntese novas 1-indanona-tiossemicarbazonas. No ano seguinte, Yildiz e grupo demonstraram a síntese de duas tiossemicarbazonas, a (E)-2-(2,4-dihidroxi-benzilideno) tiossemicarbazona (Esquema 20) e (E)-2-[(1H-indol-3-il) metileno] TSC (Esquema 21), utlizando uma metodologia simples e diferente. Nesse método, a tiossemicarbazida foi adicionada a uma solução em THF (100mL) do respectivo aldeído, ficando sob agitação e aquecimento por 2 horas. Não houve a necessidade de adição do ácido como catalisador. Houve uma pequena queda do rendimento da primeira para a segunda reação, tendo como possível causa a solubilidade do produto de partida89, limitando sua utilização apenas para síntese de tiossemicarbazonas oriundas de aldeídos poucos polares. Esquema 20: Rota de síntese do (E)-2-(2,4-dihidroxi-benzilideno) tiossemicarbazona, com rendimento de 87%. Esquema 21: Rota de síntese do (E)-2-[(1H-indol-3-il) metileno] tiossemicarbazona com rendimento de 67%. Em 2010, Ramachandran e equipe obtiveram uma série de 2,4-diaril-3- Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 52 azobiciclo[3.3.1]nonano-9-ona TSCs fazendo-se reagir a 2,4-diaril-3-azobiciclo [3.3.1]nonano-9-ona em solução clorofórmio-etanólica (45mL) fervente com uma mesma solução de cloridrato de tiossemicarbazida (0,01mol), a frio adicionada gota a gota, por 3 horas sob refluxo em banho de água90. Esquema 22: Rota de síntese de 2,4-diaril-3-azobiciclo[3.3.1]nonano-9-ona tiossemicarbazonas. I- 2.2.3 Tiossemicarbazonas e seus metais complexos As tiossemicarbazonas possuem uma capacidade intrínseca de formar complexos com metais de transição, seja na sua forma tiona ou na forma tiol (Figura 16), formas essas coexistentes em equilíbrio tautomérico, oriundas da intensa deslocalização de elétrons nessas moléculas. A forma tiona atua como ligante neutro bidentado, enquanto a forma tiol se desprotona e atua como ligante aniônico91. Esta capacidade de formar ligação coordenada com metais é aumentada se houver grupos doadores de elétrons ligados ao carbono da função azometina92. Tiona Tiol Figura 16: Representação das duas formas tautomérias das TSCs. No âmbito da química medicinal, salvo poucas exceções, vantagens podem ser observadas quando da utilização de moléculas bioativas complexadas com íons metálicos. Dentre estas, o incremento da atividade biológica, quando comparado somente ao ligante; a Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 53 habilidade de mimetizar substratos endógenos; e a modificação do perfil farmacodinâmico e farmacocinético são alguns que merecem destaques. Em 2000, Horton & Varela demonstraram a formação de complexos metálicos com a 3-deox-D-eritro-hexos-2-ulose bis-tiossemicarbazona. Essas bis-tiossemicarbazonas demonstram particular interesse pelo fato de possibilitarem a formação de complexos altamente estáveis. Utilizou-se para a reação os metais Pd, Cu II, Pt II, sendo este último o de maior interesse. Para sua síntese, misturou-se K2PtCl4 (1 mmol) dissolvido em água quente com uma solução hidroalcoólica (40 mL, 1:1) fervente da bis-tiossemicarbazona (1 mmol). A solução verde resultante foi fervida por 5 minutos, ficando em seguida por 20 horas em temperatura ambiente, alcançando rendimento de mais de 80%93. Esquema 23: Rota sintética de complexos Pt/TSC segundo Horton & Varela. Mais adiante, no ano de 2001, Gangadharmath e grupo, mostrou a síntese de complexos de oxovanádio IV tendo como ligantes uma série de 2,6 diformil-p-cresol bis tiossemicarbazonas, onde o átomo de oxigênio fenólico se complexa com dois átomos de metal formando a ponte M-O-M. Dessa forma, nota-se que cada metal possui numero de coordenação cinco. Para a obtenção dos respectivos quelatos, o ligante tiossemicarbazônico (1mmol) dissolvido em 50 mL de etanol foi tratado com uma solução também etanólica de 0,002mmol de acetil-acetonato de vanádio [(VO)2 acac]. A mistura ficou sob agitação e refluxo em vapor d‘água por 4-5 horas94. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 54 Esquema 24: Rota de síntese de complexos Oxovanádio/TSC. Carballo et al., 2002, sintetizou complexos de rênio I (Re) tendo como ligantes ferrocenilcarbaldeído tiossemicarbazonas, objetivando com isso investigar a reatividade destes complexos, assim como a capacidade das TSCs de se comunicar com o ferroceno e centros metálicos. Nessa síntese, uma mistura de bromopentacarbonilrênio I e TSC foi refluxada por 1 hora em tolueno, alcançando rendimento que variaram de 99,8% a 63,7%95. Esquema 25: Rota de síntese de complexos de Rênio/TSC. Em 2003, Shailendra et al., reportou a obtenção de complexos de paládio II com novas tiofeno-2-carboxialdeído TSCs, através da reação destas com um precursor necessário para a síntese complexos Pd II, o [Pd(DMSO)2Cl2]. A mistura foi mantida em refluxo por 5 horas em metanol. Neste estudo, a forma tiona da TSC parace ser a preferencial para formação destes quelatos, devido a sua maior nucleofilia96. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 55 Esquema 26: Rota de síntese de complexos de Pd II segundo Shailendra. Prabhakaran e grupo, em 2005, obtiveram complexos de níquel II tendo como ligante a salicilaldeído-N-fenil tiossemicarbazona, fazendo-se reagir [NiCl2(PPh3)2] dissolvido em 25 mL de etanol seco, que foi adicionado lentamente a uma solução de tiossemicarbazona em diclorometano em quantidade equimolar. A mistura foi deixada por quatro dias em temperatura ambiente, alcançando rendimento de 90% 97. Esquema 27: Rota de síntese de complexos de Ni II/ TSC. No ano de 2006, Kostas et al., demonstrou a síntese de complexos de paládio a partir de ligantes tiossemicarbazônicos de uma forma diferente daquela utilizada por Shailendra et al., 2003. Nessa metodologia, dois equivalentes da TSC dissolvidos em metanol, foram adicionados a 1 equivalente de K2PdCl4 em solução aquosa, sendo o pH em seguida ajustado para 9,0-9,5 através da adição de NH4OH. A mistura foi agitada por 24 horas em temperatura ambiente e com pH constante. O rendimento reacional foi de 50% 98. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 56 Esquema 28: Rota de síntese de complexos de Pd segundo Kostas. Em 2009, Vrdoljak e colaboradores, descreveram a síntese de novos complexos de dioxomolibdênio IV tendo como ligantes uma série de N-substituídas piridoxal TSCs. O molibdênio usualmente atua como ligante tridentado, formando complexos ao se coordenar com três átomos doadores de elétrons, que no caso dessas TSCs são o oxigênio fenólico, o nitrogênio da ligação imina e o enxofre (tiol ou tiona). Em alguns casos a complexação com o nitrogênio azometínico pode ocupar o lugar do enxofre. Nessa síntese, uma mistura equimolar da respectiva TSC e [MoO2(acac)2] em acetonitrila e metanol anidros foi refluxada por 4 horas, ficando em seguida por repouso durante um dia a temperatura ambiente. O rendimento reacional foi relativamente baixo, ficando por volta de 48% 99. Esquema 29: Rota de síntese de complexos de Mo/TSC segundo Vrdoljak. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 57 I- 2.3 TIOSSEMICARBAZONAS E SUAS APLICAÇÕES FARMACOLÓGICAS As Tiossemicarbazonas, como já citado anteriormente, representam uma classe de compostos cujas propriedades têm despertado cada vez mais interesse em pesquisadores atuantes na área de Química Medicinal Orgânica e inorgânica. Isto se deve principalmente ao amplo espectro de aplicação farmacológica demonstrados por seus derivados, como também a capacidade quelante e o papel da coordenação no seu mecanismo bioquímico de ação. De modo geral pode-se dizer que tiosemicarbazonas agem, seja como inibidores de enzimas – através da complexação de metais endógenos ou através de reações de redox – seja através de interações com o DNA e da inibição da síntese deste. Além disso, alguns complexos metálicos desses ligantes apresentam a habilidade de mimetizar a ação de certas enzimas. Por vezes, o complexo mostra-se mais ativos que o ligante ou pode ainda ativar o ligante como agente citotóxico e fazer decrescer a resistência celular a droga100. Vários relatos literários têm demonstrado a gama de atividades biológicas concernentes as TSCs, tendo-se como destaque a atividade antitumoral, antibacteriana, antiviral, antiprotozoária, citotóxica, dentre outras. I- 2.3.1. Atividade antiviral Em 1950, Hamre et al., mostrou que benzaldeído tiossemicarbazonas eram ativas no combate a infecção por neurovaccínia vírus quando administradas oralmente100. Este primeiro estudo da atividade antiviral dos derivados da TSC serviu como mola propulsora para o desenvolvimento de várias pesquisas de suas propriedades nessa área. Em 1994, Teitz e colaboradores relataram a atividade anti HIV para tiossemicarbazonas, onde foram estudadas duas TSCs dotadas de tal atividade N-metilisatinaβ-4‘:4‘-dietil tiossemicarbazona (Figura 17; composto 1) e N-alil-isatina-β-4‘:4‘-dialil tiossemicarbazona (Figura 17; composto 2). Ambas mostraram atuar sobre a síntese de proteínas estruturais do HIV101. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 58 1 2 Figura 17: Estruturas químicas dos compostos sintetizados por Teitz et al., 1994. Em 2008, Finkielsztein sintetizou e avaliou a atividade de novos derivados da 1indanona tiossemicarbazonas em inibir a replicação do BDVD (vírus da diarréia bovina) tipo 1, espécie NADL, em células de bois da raça Madin-Darby (MDBK). Esse vírus possui a organização genômica bastante semelhante ao do vírus da hepatite C (HCV) podendo servir como modelo para estudos moleculares de proteína virais e avaliação de compostos antivirais frente ao HCV88. Dos quinze compostos testados, seis mostraram alta seletividade (SI) nos testes quando comparados aos valores de referência da ribavirina (EC50= 4,62μM). Dentre estes compostos, o composto 3 (Figura 18) foi o que apresentou maior atividade antiviral (EC 50=1,75μM) e seletividade cerca de sete vezes maior que o fármaco de referência. Vale ressaltar que a porção TSC da molécula é essencial para esta atividade, visto que os derivados da 1-indanona semicarbazônicos e tiossemicarbazídicos são inativos frente ao BDVD. Figura 18: Estrutura química do composto 3 sintetizado por Finkielsztein, 2008. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 59 I- 2.3.2. Atividade Antibacteriana Tiossemicarbazonas apresentam um amplo espectro de atividades antibacterianas e é sabido que de modo geral, as tiossemicarbazonas, em particular as α(N)-heterocíclicas, inibem o crescimento de bactérias gram positivas, tais como Neisseria gonorrhoeae, Neisseria meningitides, Staphylococcus aureus, Streptococcus faecalis e Enterococcus, mas não são bons inibidores de bactérias gram negativas tais como Pseudomonas, Klebsiella, Enterobacter, Shigella, Escherichia coli e Proteus100. Em 2008, Khan et al., sintetizou e avaliou a atividade in vitro de uma série de tiossemicarbazonas esteroidais contra Staphylococcus aureus, Staphylococcus pyogenes, Salmonella typhimurium e E. coli. A atividade in vitro foi testada através do método de difusão em disco e a concentração inibitória mínima (CMI) pelo teste de macro-diluição. Os compostos que continham o substituinte cloro ou acetóxi na posição R e ciclopentil ou ciclohexil na posição R1 (Figura 19) foram os que obtiveram melhores resultados dentre os testados, embora nenhuma deles superasse a atividade da amoxicilina86. COMPOSTO 4 R O-Ac R1 NHC5H9 5 Cl NHC5H9 6 Cl NHC6H11 7 O-Ac NHC6H11 Figura 19: Estrutura química dos compostos sintetizados por Khan et al., 2007. Ainda nesse ano, Güzel e grupo sintetizaram e avaliaram a atividade contra Mycobacterium tuberculosis de uma série de 5-metil/trifluorometoxi- 1H-indol-2,3-diona 3tiossemicarbazonas. Nesse mesmo trabalho avaliou-se também a citotoxicidade e o MIC (IC90). A inibição do crescimento foi avaliada contra M. tuberculosis H37Rv usando o teste de micro-diluição em caldo, utilizando rifampicina como controle positivo. Dos 62 compostos testados, três mostraram atividades significativas, sendo considerados promissores no tratamento anti-tuberculose102. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 60 8e9 10 R1= CH3, CF3O R2= C4H9, C6H5, 4-FC6H4, 4-ClC4H6, 3-BrC6H4, Cicl- C6H11 R3= H, CH3, - Figura 20: Representação geral dos compostos sintetizados por Guzel et al., 2008 que obtiveram melhor atividade. I- 2.3.3. Atividade Antifúngica Em 2008, Opletalová e colaboradores demonstraram a síntese e testaram uma série de pirazina-tiossemicarbazonas frente suas atividades antifúngicas contra Candida albicans, Candida tropicalis, Candida krusei, Candida glabrata, Trichosporon asahii, Aspergillus fumigatus, Absidia corymbifera e Trichophyton mentagrophytes. Essas moléculas foram estudadas, pois relatos da literatura demonstraram que derivados da pirazina se mostram ativos contra algumas espécies de fungos. O método utilizado para avaliação da inibição do crescimento das espécies foi o de micro-diluição em caldo, utilizando fluconazol e anfotericina B como drogas controles. Dentre os testados, os compostos 11, 12 e principalmente o 13, foram os que demonstram resultados mais promissores. A eficácia do composto 13 foi similar ou superior ao do fluconazol frente a todas as espécies analisadas103. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 61 11 12 13 Figura 21: Estruturas químicas das TSCs com atividade antifúngica segundo Opletalová et al., 2008 I- 2.3.4. Atividade Antitumoral A atividade de derivados tiossemicarbazônicos como inibidores da Ribonucleosídeo difosfato redutase (RDR), enzima chave na fabricação do DNA, é conhecida desde 1956 através dos estudos de Brockman e grupo, que demonstrou a atividade antileucêmica da 2formilpiridina tiossemicarbazona. Desde este trabalho pioneiro, vários outros estudos vêm sendo desenvolvidos. No ano de 1998, Li e colaboradores desenvolveu o pró-fármaco triapina 3-AP da 3aminopirinida-2-carboxialdeído tiossemicarbazona (3-AP) (Figura 22), uma dos mais importantes substâncias no combate a vários tipos de células tumorais. Com isso, visava-se uma melhora no perfil farmacocinético da droga e também torná-la mais ativa frente a células tumorais de carcinoma hepático (células M-109) 104. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 62 3-AP Triapina-3-AP Figura 22: Pró- fármaco sintetizado a partir do 3-AP. Mais recentemente, no ano de 2008, Dilovic et al., sintetizaram uma série de 8 compostos e avaliaram suas atividades antitumorais frente a seis linhagens de células neoplásicas, HeLa (carcinoma cervical), Hep-2 (carcinoma de laringe), MCF-7 (câncer de mama) SW620 (câncer de cólon), Mia- PaCa-2 (carcinoma pancreático) Hep-2 (Carcinoma laríngeo) e WI 38 (fibroblastos diplóides). Destes, os compostos 14 e 15 (Figura 23) foram os que apresentaram maior porcentagem inibitória das células avaliadas, onde o composto 14 apresentou boa atividade frente a três linhagens, e o composto 15 frente a todas testadas 105. Composto 14 Composto 15 Figura 23: Estrutura química dos compostos sintetizados por Dilovic et al., 2008 com melhores atividades. I- 2.3.5. Atividade antiprotozoária Em 2002, Bharti et al., realizaram testes antiprotozoários de alguns derivados da 5nitro-tiofeno-2-carboxialdeído tiossemicarbazona, obtendo bons resultados frente a Entamoeba histolytica e Trichomonas vaginalis, utilizando metronidazol como droga de referência. A substância que apresentou melhor atividade frente a E. histolytica foi a 5-NT- Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 63 HMINTS (Figura 24), que apresentou IC50 igual a 1,71μM, ,enquanto que o metronidazol apresentou nas mesmas condições IC50 de 2,10μM. Já contra T. vaginalis, a melhor resultado foi o da substância denominada 5-NTBuTSC (Figura 24), que mostrou uma IC50 de 1,49μM, em comparação a 1,92μM da droga controle106. 5-NT-HMINTS 5-NTBuTSC Figura 24 Estrutura química dos compostos sintetizados por Bhart, 2002. Em 2008, Abid e colaboradores sintetizaram e avaliaram a atividade antiprotozoária contra Entamoeba histolytica de análogos tiossemicarbazônicos do metronidazol. O metronidazol (IC50= 1,81μM) é a droga de escolha para esta terapia e modificações em sua molécula, como a adição de alguns grupos relatados como possuidores de atividades antiamoébica (i.e. tiossemicarbazonas) parecem constituir uma boa estratégia para suplantar os efeitos colaterais e a resistência demonstrada por algumas cepas desse protozoário. O método utilizado para avaliação da atividade foi a micro-diluição em disco e, dentre os compostos analisados, merecem maior atenção os compostos 16, 18, e em especial o 17, ( Figura 25) que mostrou uma IC50 de 0,56μM 107. Composto 16 Composto 17 Composto 18 Figura 25: Estruturas químicas dos compostos sintetizados por Abid e grupo, 2000. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 64 Já no ano de 2010, Duan & Zhang testou a atividade contra Plasmodium falciparum de novas tiossemicarbazonas contendo uma porção aromática com o iodo ligado na posição para. Os testes foram realizados in vivo em camundongos, respeitando os procedimentos preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). As drogas foram testadas nas dosagens de 3,9,27 mg/kg de camundongo por dia e, a que apresentou maior grau de inibição de crescimento do P. falciparum foi o composto 19, se aproximando bastante dos valores para a droga controle cloroquina, inibindo 88.1 %, 90.7 % e 92.6 % em ordem crescente de dosagem 108. Composto 19 Figura 26: Estrutura química do protótipo antimalárico segundo Duan & Zhang, 2010. I- 2.3.6. Atividade antichagásica Para o desenvolvimento de fármacos antichagásicos, as pesquisas têm sido focadas, como já citado anteriormente, para a inibição da enzima TCC7 e a TR8. A porção tiossemicarbazona presente em alguns compostos descritos na literatura, tem sido evidenciada como um grupo farmacofórico que apresentam potencial atividade inibitória da enzima cruzaína9,10. Segundo Du e colaboradores a interação tiossemicarbazona TCC, acontece via ataque covalente do resíduo Cys25 da TCC em direção ao carbono da tiocarbonila e transferência de um próton do resíduo His159, formando um derivado tetraédrico. Em estudos de ―docking‖ realizados em 2006 e 2007 Leite e colaboradores comprovaram a afinidade das aril-tiossemicarbazonas com a TCC, revelando a capacidade em inibir a TCC que moléculas com núcleo tiossemicarbazona possuem 68. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 65 Figura 27: Mecanismo de inibição da TCC por derivados aril-tiossemicarbazônicos proposta por Du et al., 2002. Chiyanzu et al., 2003 preparam e avaliaram o grau de inibição da TCC de nove tiossemicarbazonas oriundas de derivados da isatina. Os resultados foram avaliados em termos de IC50, sempre os comparando com outros derivados da isatina com atividade inibitória previamente comprovada. Os mais promissores valores foram apresentados pelos compostos 20 e 21 (Figura 28), com valores de IC50 de 9 e 10,5μM, respectivamente 109. Composto 20 Composto 21 Figura 28: Compostos sugeridos como inibidores da TCC segundo Chiyanzu et al., 2003 Em 2004, Aguirre e colaboradores sintetizam e testaram a atividade in vivo de uma série de tiossemicarbazonas derivadas do 5-nitrofuril frente a duas cepas de T. cruzi. Os compostos foram testados na concentração de 5μM e suas capacidades de inibição de crescimento foram avaliadas em comparação com o Nifurtimox. Dentre estes, os que obtiveram os melhores resultados foram o 22,23, 24 e 25, mostrando serem mais ativos que a Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 66 droga nitrofurânica comercialmente disponível 10. COMPOSTO n R 22 1 H 23 1 Me 24 1 Et 25 1 Ph Figura 29: Estrutura Química dos compostos sintetizados por Aguirre e grupo, 2004. Fujii et al., 2005, analisou a atividade inibitória frente à TCC de uma série de tiossemicarbazonas análogas da 3,4 diclorofenil ou 3-trifluorometil tiossemicarbazonas, que em estudos anteriores mostraram-se bons inibidores da TCC. Os resultados obtidos revelaram que a inserção de um grupo fenil, p-metil-fenil, e alquílicos lineares incrementam a atividade dessa classe de moléculas. Por outro lado, a substituição do fenil por um ciclohexil diminui altamente a atividade. Foram testados 10 compostos e o que exibiu maior poder de inibição foi o 26, com IC50 de 19nm 110. Composto 26 Figura 30: Estrutura química do composto que apresentou melhor atividade antichagásica segundo Fujii e colaboradores 2005. Em 2006, Siles et al., preparou e avaliou a capacidade de inibição da atividade da TCC de uma série de TSCs derivadas do tetrahidronaftaleno, benzofenona e propiofenona. Os resultados obtidos foram comparados ao de um composto previamente descrito na literatura como potente inibidor da TCC, a 3-bromo propiofenona tiossemicarbazona, cuja menor IC50 descrita foi de 60nM. Os compostos que apresentaram melhores atividades anti-T. cruzi foram Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 67 o 27 e 28, cujas IC50 foi de 24nm e 17nm, respectivamente 111. Composto 27 Composto 28 Figura 31: Estrutura química dos compostos sintetizados por Siles e grupo, 2006. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 68 I- 3. OBJETIVOS I- 3.1. OBJETIVO GERAL Síntese e avaliação biológica de derivados tiossemicarbazônicos, visando obtenção de compostos ativos contra o T. cruzi e de menor toxicidade que os fármacos utilizados atualmente na farmacoterapia da doença de Chagas. I- 3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Obtenção de derivados tiosemicarbazônicos nitro-aril substituídos através da condensação entre a tiossemicarbazida e uma série de aril-aldeídos previamente nitrados por métodos convencionais. Determinação das principais propriedades físico-químicas e elucidação estrutural por meio de Ressonância Magnética Nuclear de Prótons (RMN-1H) e Infra-vermelho (IV). Avaliação das atividades biológicas das nitro-ariltiossemicarbazonas: atividade antimicrobiana e principalmente avaliação da ação tripanocida e citotoxicidade. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 69 CAPÍTULO Ii OBTENÇÃO DOS DERIVADOS NITROARILTIOSSEMICARBAZÔNICOS Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 70 II- 1. INTRODUÇÃO Tiossemicarbazonas são compostos obtidos pela reação de condensação de um aldeído ou uma cetona com uma tiossemicarbazida. Apresentam-se como sistemas com extrema deslocalização eletrônica, principalmente quando há grupos aromáticos ligados ao carbono da imina 112, e devido a presença da ligação dupla na tiossemicarbazonas, podem ser encontrados diastereoisômeros conformacionais (Z e E). Do ponto de vista sintético, apresentam como característica principal sua versatilidade de obtenção, assim como sua vasta aplicação como intermediários de muitos núcleos importantes. Geralmente, apresentam baixo custo de síntese, além de grande economia de átomos, já que, com exceção da água que é liberada na sua obtenção, todos os outros átomos dos compostos reagentes estarão presentes na molécula final 9. II- 2. METODOLOGIA II- 2.1 Procedimento Geral de Obtenção dos Aril-aldeídos Nitrados Para obtenção dos produtos desejados duas metodologias foram utilizadas: na primeira, a uma solução dos aril-aldeídos em CHCl3, utilizado como solvente e catalisador, foi adicionada quantidade equimolar de Ácido Nítrico concentrado (HNO3). A mistura reacional foi mantida sob agitação magnética e banho de gelo por 1 hora, retirando-se então o banho. Manteve-se a mistura em temperatura ambiente por mais um período de 4-7 horas, de modo que foi monitorada por cromatografia em camada delgada (CCD). Ao término da reação, realizaram-se três extrações, sendo a primeira apenas com água, e as demais com EtOAc / H2O. Em seguida a fase orgânica foi evaporada para obtenção do produto na forma de cristais, conteúdo esse que foi levado ao dessecador para retirada completa de qualquer resquício de solvente. Na outra, a uma mistura dos aril-aldeídos com ácido sulfúrico (H2SO4), utilizado como solvente e catalisador, em banho de gelo e constante agitação magnética, foi adicionada lentamente uma solução contendo quantidades equimolares de Ácido Nítrico concentrado (HNO3) e ácido sulfúrico (H2SO4). Após 1 hora, retirou-se do banho, deixando-se a mistura reacional em temperatura ambiente por 3-5 horas, também sendo monitorada por CCD. Ao Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 71 término da reação, adicionou-se água destilada e foi observada a formação de precipitado, o qual foi filtrado em funil sinterizado e lavado com água vária vezes, sendo por fim levado ao dessecador. Composto R1 R2 1a OH H 1b N(CH3)2 H 1c OH OCH3 1d CH3 H Esquema 30: Rota de Nitração dos Aril-aldeídos em presença de CHCl3. Composto R1 R2 1e Br H 1f Cl H 1g H CHO Composto X 1h O 1i S Esquema 31: Rota de Nitração dos Aril-aldeídos em presença de H2SO4. IV- 2.2 Procedimento Geral de Obtenção das Nitro-Aril tiossemicarbazonas A uma solução etanólica da tiossemicarbazida, adicionou-se 5 gotas do catalisador ácido clorídrico (HCl), deixando-se sob agitação magnética e temperatura ambiente por 15-30 minutos. Após esse tempo acrescentou-se então quantidades equimolares dos diferentes arilaldeídos nitrados, previamente sintetizados. A reação foi mantida à temperatura ambiente e constante agitação magnética, por um período de 3-5 horas, de modo que foi monitorada por Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 72 CCD. Ao término da reação, adicionou-se água destilada e foi observada a formação de precipitado, o qual foi filtrado em funil sinterizado e lavado com água. Para a purificação realizou-se recristalizações em EtOH absoluto. Composto 2a 2b 2c R1 OH N(CH3)2 OH R2 H H R3 NH2 NH2 2d 2e 2f 2j CH3 Br Cl Cl H H OCH3 H NH2 H NH2 NH2 NH2 NHPh Composto X 2h O 2i S Esquema 32: Rota de obtenção das Nitro-Aril tiossemicarbazonas Para obtenção das bis-tiossemicarbazonas 2g e 2l (Esquema 33), utilizaram-se dois equivalentes da tiossemicarbazida em relação ao 1,3 isoftaldeído. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 73 Composto R 2g NH2 2l NHPh Esquema 33. Rota geral de síntese da bis-tiossemicarbazona 2g e 2l. II- 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os derivados nitro-aril tiossemicarbazônicos 2a-2l (Tabela 2) foram sintetizados em pouco tempo, através de uma metodologia simples e barata. Trata-se de uma etapa inicial de nitração dos aril-aldeídos, com posterior condensação entre a tiossemicarbazida, ou 4-feniltiossemicarbazida, com uma série de nitro-aril aldeídos sintetizados. As reações de condensação se procederam à temperatura ambiente, diferentemente do que se encontra exposto na literatura, no qual a mesma acontece sob refluxo. Todos os produtos finais foram obtidos na forma de cristais coloridos, que precipitaram quando da adição de água destilada ao meio reacional, com rendimentos finais variando de bons a ótimos. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 74 Tabela 2: Estruturas químicas dos derivados 2a-2l e suas respectivas nomenclaturas. 2a: 3-nitro-4-hidroxibenzaldeído 2b: 3-nitro-4-dimetilaminobenzaldeído tiossemicarbazona tiossemicarbazona 2c: 3-metoxi-4 hidroxi-5-nitro 2d: 3-nitro-4-tolualdeído benzaldeído tiossemicarbazona tiossemicarbazona 2e: 3-nitro-bromobenzaldeído tiossemicarbazona 2f: 3-nitro-4-clorobenzaldeído tiossemicarbazona Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 75 2g: 5-nitro- isoftaldeído 2h: 5-nitro-2-furaldeído tiossemicarbazona tiossemicarbazona 2i: 4-nitro-2-tiofenocarboxaldeído 2j: 3-nitro-4-clorobenzaldeído N(4)- tiossemicarbazona fenil-tiossemicarbazona 2l: 5-nitro-isoftaldeído-N(4)-feniltiossemicarbazona Assim como nas nitrações usuais, a metodologia de nitração dos aril-aldeídos Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 76 utilizando CHCl3 como solvente e catalisador ácido, tem como primeira etapa reacional a formação formação do eletrófilo nitrônio. Este é produzido de uma maneira mais lenta, pois se utiliza como catalisador da reação, um ácido de Lewis fraco (CHCl3), possibilitando assim um controle maior da reação, dificultando a formação de produtos secundários indesejado. Esta metodologia mostrou-se útil apenas quando os aldeídos utilizados continham grupos ativantes como substutuintes. Estes, através dos efeitos mesomérico (+M) e indutivo (+I), aumentam a densidade eletrônica do anel aromático, proporcionando energia suficiente para que os elétrons π do anel aromático capturem o hidrogênio do catalisador utilizado, visto que o mesmo não apresenta-se muito ácido pelo fato de não encontrar-se ligado diretamente a um elemento de alta eletronegatividade. Em algumas reações lançadas sem o banho de gelo, houve um forte aquecimento inicial, e por vezes a formação do produto di-nitrado indesejado, mostrando dessa forma a necessidade do controle inicial das condições reacionais. Pelo fato da metodologia acima citada mostrar-se inapropriada para nitração de arilaldeídos contendo grupos desativantes como substituintes, testaram-se dois ácidos mais fortes como catalisadores: ácido acético glacial e H2SO4 concentrado. Dentre estes, o primeiro testado foi o ácido mais fraco, porém os resultados obtidos não se mostraram satisfatórios. O tempo reacional longo (mais de 48 horas) e a dificuldade de extração, evaporação, purificação para a retirada do ácido, com baixos rendimentos (30-50%), somado ao fato de alguns arilaldeídos nem sequer reagirem, inviabilizaram a sua utilização. Um dos fatores que contribuíram bastante para os baixos rendimentos foi o baixo poder do ácido em solubilizar os aril-aldeídos, os quais não reagiam por completo. Por outro lado, o emprego do ácido sulfúrico possibilitou a obtenção de todos os produtos desejados de forma rápida (± 6 horas) e altos graus de pureza. Pelo fato de se tratar de um ácido mais forte, seus hidrogênios encontram-se mais lábeis, e, portanto, mesmo arilaldeídos com grupos desativantes fortes possuíam energia suficiente para arrancá-los. Outra característica importante é sua capacidade em solubilizar os aldeídos utilizados em baixas temperaturas (banho de gelo), provavelmente devido a sua alta polaridade, se assemelhando á dos aldeídos. Isto favoreceu para o aumento dos rendimentos quando comparados ao a metodologia anterior. Não foi necessário realizar uma extração no término da reação, pois ao adicionar a mistura reacional a um béquer contendo água destilada, o produto precipitava na forma de cristais coloridos e todo o resquício de ácido presente, era retirado de forma mais simples através de várias lavagens dos cristais com água destilada. Independente da metodologia utilizada, os produtos obtidos mostraram-se Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 77 fotossensíveis e instáveis a temperatura ambiente, sendo necessário armazená-los em vidraria âmbar e sob refrigeração. Em alguns casos houve degradação dos produtos após armazenamento por muito tempo, mesmo sob essas condições acima citadas. A recristalização em EtOH foi o processo de purificação mais eficaz utilizado. Na etapa de condensação, foi empregada a metodologia clássica de formação de iminas utilizando-se ácido como catalisador. A tiossemicarbazida ou a 4-feniltiossemicarbazida representam as moléculas que contém o grupo amino. O uso de ácido faz-se necessário, pois este protona o oxigênio da carbonila do aldeído, possibilitando assim o ataque nucleofílico do nitrogênio da tiossemicarbazida, como mostrado mais adiante no esquema 34. Segundo Holla et al., 2003, para este tipo de reação o catalisador ácido utilizado foi o ácido acético em meio etanólico sob refluxo. Devido aos vários problemas já expostos quando da utilização desse ácido, decidiu-se abrir mão do uso deste catalisador, mesmo levando em consideração que se trata de diferentes procedimentos experimentais. Tendo-se em vista algumas reações lançadas pelo nosso grupo de pesquisa para a síntese de aril-semicarbazonas, onde se usou HCl como catalisador, obtendo rendimentos entre 65%-92%, decidiu-se testá-lo para o preparo das nitro-ariltiossemicarbazonas. O resultado do teste foi útil tanto em relação a tempo (3-5 horas) quanto em relação a rendimento, que ficou por entre 64-85%. Outra característica que distingue esta metodologia da descrita na literatura, tornando-a mais simples, é o fato da mesma acontecer sob temperatura ambiente. O mecanismo reacional desta etapa encontra-se ilustrado no esquema 34. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 78 S H O Et O H H O Ar Ar HO H H HO H S H N O H NH2 HO Et S N H N H NH2 NH2 + H2O S N H N H H Ar Ar H N NH2 S H Ar S H N NH2 HO Et H H N N H H Ar Et O N H H H H H2N Ar N H NH2 Esquema 34: Mecanismo de condensação de compostos carbonilados com a tiossemicarbazida. Tiossemicarbazonas sintetizadas a partir de uma amina primária podem ser obtidas nas configurações Z ou E, o que varia de acordo com o substituinte do aldeído utilizado 70 . Na síntese das Nitro-ariltiossemicarbazonas realizada por nosso grupo de pesquisa só foi observada a presença de uma única mancha na CCD e, portanto, pode-se sugerir que foram obtidas preferencialmente na configuração E, a qual é termodinamicamente mais estável. Ao final da reação, todos os compostos foram obtidos na forma de cristais insolúveis em água destilada. Para alguns deles, foi realizada uma purificação por recristalização em EtOH. Estes cristais não se mostraram fotossensíveis podendo ser armazenados em vidraria simples na geladeira. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 79 A elucidação estrutural das moléculas sintetizadas foi obtida através de análises de dados fornecidos por técnicas espectroscópicas de RMN de 1H e 13C, e de infravermelho (IV). As principais bandas de absorção no espectro de IV dos grupamentos inerentes as moléculas sintetizadas encontram-se listadas na tabela abaixo. Tabela 3: As principais bandas de absorção dos grupos inerentes as moléculas sintetizadas. Composto C=S Deformaç. axial NH2 C=N NO2 Deformaç. Deformaç. axial Axial Simét. NH Hidrazínico 2a 1165 3244 e 3393 1530 1281 3150 2b 1203 3236 e 3399 1526 1372 3154 2c 1057 3256 e 3437 1541 1321 3160 2d 1107 3238 e 3422 1518 1364 3158 2e 1091 3258 e 3417 1519 1360 3156 2f 1105 3366 e 3500 1519 1351 3156 2g 1105 3246 e 3423 1524 1343 3155 2h 1057 3301 e 3462 1537 1355 3086 2i 1103 3314 e 3472 1543 1335 3158 2j 1059 3255* 1544 1332 3164 2l 1086 3225* 1527 1446 3124 * Condensação realizada com fenil-tiossemicarbazida. De posse do conhecimento da existência dos grupamentos funcionais desejados, evidenciado pela análise de infravermelho, a confirmação estrutural mais detalhada foi realizada por RMN 1H e 13 C. No presente estudo não foi possível a determinação da configuração das moléculas sintetizadas, porém, para todas as tiossemicarbazonas foi detectado apenas um isômero na cromatografia de camada delgada, sugerindo que estas deveriam estar na configuração E, termodinamicamente mais estável. Através da interpretação dos espectros de IV pode-se afirmar que a metodologia de nitração empregada foi eficaz, pois em todas as moléculas sintetizadas (2a-2l), se observa bandas de absorção características a deformação axial simétrica do grupo NO2, situadas entre 1281-1446 cm-1 113. Como o produto di-nitrado era indesejado, foi necessário se certificar que Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 80 este não tinha sido sintetizado. Para isso, partiu-se para a análise dos dados de Ressonância Magnética Nuclear. Nos espectros de RMN 1H das moléculas 2a, 2b, e 2e nota-se em campo característico de hidrogênios ligados a anel aromático, a presença de três hidrogênios. Um deles encontra-se na forma de um singleto, entre 8,12 e 8,56 ppm e, e os outros dois como dubletos na região de 7,13-7,93 ppm. Isto pode ser visto tomando como exemplo o espectro de RMN 1H do composto 2b (Figura 32), onde nota-se a presença do singleto acima citado em 8,12 ppm (H7; figura 32) e dos dubletos, de mesma constante de acoplamento (8,1 Hz), em 7,88 (H5 ; figura 32) e 7,13ppm (H6 ; figura 32), sendo o mais desblindado localizado na posição orto ao grupo azometínico. O singleto aparece sempre em campo mais baixo que os dubletos, provavelmente devido ao efeito anisotrópico causado pela sua proximidade espacial com o grupamento nitro, sofrendo uma acentuada desblindagem. Figura 32: Espectro de RMN 1H do composto 2b. Como partimos, em sua maioria, de aril-aldeídos 4-substituidos, a presença de apenas três hidrogênios na região dos aromáticos, dois deles vicinais, somado a presença três Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 81 carbonos quaternários com deslocamentos químicos entre 112,9 ppm e 140,6 ppm no espectro de RMN 13C confirma que realmente ocorreu apenas a mono-nitração, como pode ser visto no espectro do composto 2b onde estes se encontram com deslocamento de 145,83 ppm, 137,88 ppm, 123,29 ppm (Figura 33). DMSO Figura 33: Espectro de RMN 13C do composto 2b. Em alguns casos, como para compostos 2d e 2f, houve uma modificação quanto aos tipos de acoplamentos. A análise do espectro do composto 2d (Figura 34) mostra que, o hidrogênio que aparecia normalmente como um singleto, mostrou-se agora como um dubleto com constante de acoplamento de 1,6 Hz (H7; figura 34), caracterizando o acoplamento J4, por vezes presente em anéis aromáticos. Em conseqüência disto, o hidrogênio orto ao grupamento azometínico (H5; figura 34) mostrou-se como um duplo-dubleto. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 82 Figura 34: Espectro de RMN 1H do composto 2d. Em relação ao composto 2g, oriundo de um aril-adeído 3-substituído, cujo substituinte é outro grupo aldeído, a confirmação dá-se pela presença de dois singletos, um deles integrando para um hidrogênio (δ 8,58ppm; H3; figura 35) e o outro integrando para dois hidrogênios (δ 8,62ppm; H1 e H2; figura 35). Isto indica também que a substituição ocorreu na posição 5, pois em qualquer outra posição, teríamos a presença provavelmente de dois dubletos. Não se levou em consideração a substituição ocorrer na posição 2, devido ao grande impedimento estérico oferecido pelos grupos presentes nas posições vizinhas. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 83 Figura 35: Espectro de RMN 1H do composto 2g. Para os heteroaromáticos, a confirmação do padrão de substituição se deu através da presença de dois hidrogênios na região dos aromáticos. Para o composto 2h esses hidrogênios apareceram como dois dubletos com deslocamento químico de 7,96 ppm e 7,36 ppm. Além de confirmar a entrada de apenas um grupo nitro no anel aromático, esses dubletos indicam que a substituição ocorreu na posição 5, posição favorecida pelo pequeno impedimento estérico e densidade eletrônica alta durante a ressonância dos elétrons. Já para o composto 2i, têm-se a presença de dois singletos, com integral para apenas um hidrogênio cada, em 8,05 ppm (H2; figura 36) e 7,51 ppm ( H1; Figura 36). Estes indicam que a entrada do substituinte ocorreu na posição 4’, menos impedida estericamente que a posição 3’. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 84 Figura 36: Espectro de RMN 1H do composto 2i. A partir da análise dos espectros de IV, pôde-se também confirmar o sucesso da condensação com a tiossemicarbazida. Bandas fortes na região 1518-1544 cm-1 foram atribuídas ao estiramento da ligação C=N 114 , caracterizando que realmente a metodologia utilizada foi eficaz. Em alguns casos, encontram-se superpostas por bandas de estiramento C=C. Com relação ao espectro de RMN 1H, também é possível corroborar o que foi dito. Isto pode ser exemplificado no espectro de IV do composto 2b (Figura 37), onde a banda de absorção referente a este grupo acima citado encontra-se em 1526 cm-1. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 85 Figura 37: Espectro de IV do composto 2b. Nos espectros de RMN 1H analisados, a presença de um singleto entre 7,96 ppm e 8,29 ppm, atribuído ao hidrogênio azometínico, como por exemplo para o composto 2b ( H4; Figura 32), onde este pico encontra-se em ppm. De forma geral, mostra-se mais desblindado que os hidrogênios do anel aromático, exceto quando estes se encontram em posição orto ao grupo nitro. Esta maior desblindagem em relação aos hidrogênios aromáticos deve-se ao efeito anisotrópico causado pelo movimento dos elétrons π da ligação imínica, e pela proximidade com um átomo mais eletronegativo. Por vezes, este pico pode coincidir com o singleto referente ao hidrogênio da amina terminal. Duas bandas de média a fracas das deformações axiais de cada hidrogênio do NH2 podem ser visualizadas entre 3236-3472 cm-1 (113) . Esses mesmo dois hidrogênios, como se pode observar nos espectros obtidos, encontram-se dois singletos, integrando para apenas um hidrogênio cada, situados entre 8,04 ppm e 8,55 ppm. Para o espectro do composto 2b (Figura 32), por exemplo, esses dois picos aparecem com deslocamentos químicos de 8,14 ppm (H2; Figura 32) e 8,04 ppm (H1; Figura 32), corroborando com os dados do IV. Essa diferença de Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 86 ambientes químicos deve-se ao bloqueio da rotação livre da ligação C-N em virtude de seu caráter parcialmente duplo, que favorece interação entre a nuvem eletrônica do enxofre da tiocarbonila, que possui um raio atômico grande, e o hidrogênio mais próximo a ele, quando seus orbitais encontram-se no mesmo plano. Este hidrogênio apresenta-se sempre como o mais desblindado. Vale salientar que para as semicarbazonas esse fenômeno não é observado, vendo-se apenas um singleto integrando para dois hidrogênios, devido a um menor raio atômico do oxigênio em relação ao enxofre, impossibilitando sua interação com os hidrogênios. Para os compostos 2j e 2l, apenas uma banda na região 3225-3500 cm-1 é encontrada (Figura 38), pois a condensação foi realizada com a 4-fenil tiossemicarbazida, onde no produto final, ao invés de uma tioamida primária, temos uma tioamida secundária. Figura 38: Espectro de IV do composto 2j. Com relação ao espectro RMN 1H desses dois compostos, aparece um singleto em campo baixo, com deslocamento químico de 10,27 ppm para o 2j e 10,27 para o 2l, este último integrando para dois hidrogênios pois trata-se de uma bis-tiossemicarbazonas. Nota-se Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 87 também a presença de mais hidrogênios na região dos aromáticos, referentes ao grupo fenil. No espectro de RMN 1H do composto 2j (Figura 39), esses aparecem como um dubleto (H1; Figura 39) em 7,5 ppm, um duplo-dubleto (H2; Figura 39) em 7,39 ppm e um tripleto (H3; Figura 39) em 7,24 ppm. Figura 39: Espectro de RMN 1H do composto 2j. A ausência da banda de S-H, observada em geral entre 2500-2600 cm-1, e a presença de C=S em 1057-1203 cm-1(113) confirma a estrutura de todas as tiossemicarbazonas na forma tiona116. No espectro de RMN 13 C, o carbono da tiocarbonila, pelo fato deste estar ligado a três átomos mais eletronegativos (C,N,N) e em um sistema em constante ressonância, aparece como o sinal mais desblindado em todos os espectros. Para o composto 2b, por exemplo, esse aparece com deslocamento químico de 177,63 ppm (Figura 32). Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 88 A banda de absorção encontrada em freqüências entre 3086 e 3164 cm-1 nos espectros de todas as tiossemicarbazonas foi atribuída ao estiramento da ligação N-H hidrazínico, pois, de acordo com Tarasconi et al. (2000) e Ferrari et al. (2000), ela é encontrada na região de 3041 – 3178 cm-1 (75,115). Esta afirmação pode ser reforçada analisando os espectros de RMN 1 H das moléculas obtidas, onde o sinal mais desblindado, sempre um singleto na região de 11,35-12,09 ppm, se refere ao do hidrogênio do N-H hidrazínico, como por exemplo, para o composto 2b, onde este aparece como um pico com deslocamento químico de 11,35 ppm (H3; Figura 32). Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 89 CAPÍTULO III AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES BIOLÓGICAS Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 90 III- 1. INTRODUÇÃO A propriedade antibacteriana das tiossemicarbazonas tem sido investigada desde 1946, quando Domagk et al. reportaram suas atividades contra o micro-orgaismo Mycobacterium tuberculosis. De modo geral, é sabido que as tiossemicarbazonas apresentam um amplo espectro de atividades antibacterianas e, em particular as α(N)-heterocíclicas, inibem o crescimento de bactérias gram positivas, tais como Neisseria gonorrhoeae, Neisseria meningitides, Staphylococcus faecalis, Streptococcus faecalis e Enterococcus, mas não são bons inibidores de bactérias gram negativas tais como Pseudomonas, Klebsiella, Enterobacter, Shigella, Escherichia coli e Proteus100. Alguns outros relatos na literatura também mostram as atividades de alguns derivados tiossemicarbazônicos frente à Staphylococcus aureus, Mycobacterium tuberculosis Staphylococcus 102 pyogenes, Salmonella typhimurium86 e . Dentre os alvos biológicos considerados como mais promissores no combate a doença de Chagas, encontram-se enzima TCC7 e a TR8. De acordo com vários relatos expostos na literatura, tiossemicarbazonas são consideradas como grupo farmacofóricos na atividade tripanocida, mostrando-se capazes de inibir a enzima TCC, além de possuírem uma baixa citotoxicidade 10,68 . Nitrocompostos, como derivados nitrofurânicos, também tem sido descritos como potentes inibidores irreversíveis da TR em condições anaeróbicas66. III- 2. ATIVIDADE ANTIBACTERIANA III- 2.1 Metodologia III- 2.1.1 Método da difusão em discos de papel A atividade antimicrobiana das nitro-aril tiossemicarbazonas 2b-2l (Figura 40) foi verificada in vitro, pelo método de difusão em disco de papel, frente a bactérias Grampositivas e Gram-negativas (Staphylococcus aureus, Bacillus subtilis, Streptococcus faecalis, Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Mycobacterium smegmatis) da coleção de microorganismos do Departamento de Antibióticos da UFPE. Neste método, os discos contendo concentrações conhecidas dos compostos Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 91 sintetizados foram colocados na superfície de uma placa de ágar, onde uma suspensão padronizada dos micro-organismos teste foi inoculada. As suspensões dos micro-organismos testes foram padronizadas através da escala de McFarland com turbidez correspondente a 0,5, equivalente a 1 a 2 x108 unidades formadoras de colônias por mililitros (UFC/mL). Discos de papel contendo apenas o solvente dimetil-formamida (DMF) foram utilizados como controles negativos. As placas foram levadas a estufa durante 24h e 48h à temperatura de 30°C e 37°C e após o período de incubação mediram-se os halos de inibição em milímetros (mm). O halo de inibição será considerado a área sem crescimento detectável a olho nu. A zona média de inibição para amoxicilina (antibiótico) foi utilizada como valor de referência, a qual foi medida em outro trabalho realizado por nosso grupo de pesquisa. Os experimentos foram realizados em duplicata, e repetidos se os resultados apresentassem alguma divergência 127. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 92 2a 2b 2e 2c 2f 2h 2d 2g 2i 2j 2l Figura 40: Estrutura química dos derivados nitro-aril tiossemicarbazônicos sintetizados. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 93 III- 2.1.2 Determinação da Concentração Mínima Inibitória (CMI) e Concentração Mínima Bacteriostática (CMB). Para os ensaios de CMI e CMB, foi utilizada a técnica de macrodiluição em meio líquido, onde a partir de uma solução-mãe com concentração de 1mg/mL dos compostos em análise, solubilizados em dimetilformamida, foram realizadas diluições seriadas para obtenção das concentrações desejadas. Foram adicionados 100μL da suspensão bacteriana, previamente padronizadas através da escala de McFarland acima citada, aos tubos de Muller-Hinton contendo as concentrações desejadas dos compostos em análise. Os tubos foram incubados a 37ºC por 24-48 h, e, em seguida, examinados para visualização da presença ou ausência de organismos de cultivo. Tubos contendo apenas DMF também foram avaliados. Os valores de CMI foram obtidos a partir da menor concentração dos compostos onde não foi observado qualquer crescimento de bactérias. Após plaqueamento, os valores da CMB foram medidos através da inoculação dos caldos utilizados para determinação do CMI. Os valores de CMB foram observados a partir do crescimento da diluição subseqüente. Os valores da CMI e da CMB, foram expressos em µg/mL 128. III- 2.2 Resultados e discussão Neste trabalho a avaliação da atividade antibacteriana deu-se em duas etapas: inicialmente foi realizado o teste qualitativo por meio da avaliação in vitro da atividade, através da difusão em discos dos derivados nitro-aril tiossemicarbazônico testados, medindose a zona média de inibição (ZMI). Esta foi obtida a partir da media dos valores dos halos de inibição. Em seguida, as substâncias que apresentaram halo de inibição superior a 14 mm, foram submetidas à determinação da CMI. Os valores da ZMI obtidos frente às bactérias em análise encontram-se expostos na tabela abaixo. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 94 Tabela 4: Valores das ZMI dos compostos testados, em mm. Microorganismo Compostos Padrão 2b 2c 2d 2e 2f 2g 2h 2i 2j 2l Amox. S. aureus - - - - - - 34,5 26 - - 18 B. subtilis - - - - - - 39 33,5 - - 18.5 E. faecalis - 15,5 - - - - 20 21 - - 32.5 E. coli - 14,5 - - - - 25,5 14 - - 26 K. pneumoniae - - - - - - - - - - - M. smegmatis - 22,5 - - - - 25,5 24 - - 35 - : não possui sensibilidade; NT: não testado Através da análise da tabela acima, foi possível notar que os compostos 2c, 2h e 2i foram os que se apresentaram ativos, apresentando em alguns casos ZMI maior que a droga controle de escolha. Também se pode perceber que nenhum dos compostos sintetizados mostrou-se ativo frente à bactéria K. pneumoniae, assim como a droga padrão utilizada. De um modo geral, substâncias contendo apenas um grupo ativador (2a, 2b e 2d), ou grupos desativadores (2e, 2f) ligado ao anel benzênico apresentaram-se inativas frente as espécies em estudo. Grupos volumosos ligados ao nitrogênio N(4) da porção TSC também parece interferir negativamente na potencia antimicrobiana, como pode ser visto para os compostos 2j e 2l, os quais contêm um grupo fenil ligado na posição anteriormente citada. As bistiossemicarbazonas, com ou sem o grupo fenil em N(4), 2l e 2g respectivamente, também se mostraram inativas. A atividade antibacteriana das tiossemicarbazonas parece envolver a coordenação de metais presentes nas estruturas das enzimas dos microorganismos com o átomo de enxofre100. Por isso, a presença de um substituinte que diminua, ou aumente pouco a deslocalização de elétrons para a função azometina, ocasiona em uma menor densidade eletrônica próximo do átomo de enxofre, interferindo na sua capacidade de complexação. Embora Rozenski e colaboradores, em 1995, tenham conseguido relacionar a ação antibacteriana com o potencial de redução do grupo nitro em alguns compostos, em nossos experimentos foi possível observar que nem todos os nitrocompostos sintetizados apresentaram atividade. Isto sugere que o grupo nitro, na ausência de grupos doadores de elétrons ligados ao anel aromático, por si só não é capaz de exercer atividade antibacteriana. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 95 Por outro, nota-se que de alguma forma o mesmo favorece a atividade quando da presença de grupos doadores. Isto pode ser confirmado quando comparamos o composto 2i com seu análogo, desprovido do grupo nitro, o qual mostrou mais baixa atividade, além de menor espectro de ação. O composto 2c, que apresenta dois grupos doadores de elétrons ligados ao anel benzênico, mostrou-se ativo frente a uma bactéria Gram-negativa (E. coli), uma Grampositiva (E. faecalis) e uma álcool-ácido resistente (M. smegmatis). Nos três casos, os halos de inibição foram inferiores ao da amoxicilina. Os compostos mais ativos da série testada foram o 2h e 2i, onde chama atenção a semelhança estrutural entre eles, diferenciando-os consideravelmente dos demais. Trata-se de duas nitro-aril-tiossemicarbazonas heteroaromáticas, onde o heteroátomo é o O e S, respectivamente. Estas tiveram o mesmo espectro de ação, sendo o composto 2h consideravelmente mais ativo. Ambos mostraram atividade frente às três bactérias Gram (+) (S. aureus, E. faecalis, B. subtilis), além de inibir o crescimento de uma das duas gram (-) testadas e do bacilo álcoolácido resistente. Frente às espécies S. aureus e B. subtilis, a ZMI das moléculas mostrou-se bem superior a da droga controle, sendo um dos resultados mais que o dobro do valor, como no caso do composto 2h frente a B. subtilis. O composto 2h também foi o mais ativo frente a E. coli. Os compostos 2c e 2h, por apresentaram boa atividade bactericida, foram selecionados para realização dos testes de determinação da CMI e da CMB em meio líquido, cujos resultados encontram-se mostrados na Tabela 5. Embora tenha apresentado-se bastante ativo, composto 2i não pôde ser testado, pois o mesmo precipitava em vários meios de culturas testados, indicando que havia interação entre a molécula e componentes do meio de cultura testados. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 96 Tabela 5: Valores da Concentração Mínima Inibitória e Concentração Mínima Bactericida para os compostos 2c e 2h frente às cepas avaliadas em µg/mL. Compostos 2c Microoganismos 2h CMI CMB CMI Staphylococcus Padrão Amoxicilina CMB CMI NT NT Bacillus subtilis NT NT 500 250 64 Mycobacterium 250 125 500 250 - Enterococcus faecalis NT NT >500 - 0,39 Escherichia coli NT NT 125 62,5 256 31,25 15,625 16 aureus smegmatis NT: Não testado; Analisando os dados da tabela, notamos que em geral, os compostos testados mostraram uma baixa atividade, pois foi necessária uma alta dose para obtenção das respectivas CMI e CMB em comparação às drogas padrões. Porém, quando analisamos a atividade do composto 2h frente a bactéria E. coli, nota-se que esta mostrou-se mais ativo que a droga controle utilizada, sendo este o composto mais promissor sintetizado. III- 3. ATIVIDADE ANTICHAGÁSICA E AVALIAÇÃO DA CITOTOXICIDADE. III- 3.1 Metodologia III- 3.1.1 Ensaio de citotoxicidade dos compostos em células esplênicas Células esplênicas foram cultivadas em placas de micropoços, contendo meio de cultura RPMI com de soro bovino fetal. Para o ensaio de citotoxicidade, as células serão incubadas com os compostos em sete diferentes concentrações e com timidina tritiada durante 24 h em estufa de CO2 a 37ºC. Em paralelo, foram feitos controles com células tratadas com Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 97 saponina, com células tratadas com DMSO, substâncias com reconhecida atividade tóxica e um controle sem tratamento. Após incubação, as células foram coletadas em papel de fibra de vidro e, posteriormente, a captação de timidina tritiada será determinada através do contador beta de cintilação. O percentual de citotoxicidade foi determinado comparando-se a percentagem de incorporação de timidina tritiada nos poços com as drogas em relação aos poços não tratados. III- 3.1.2 Avaliação da atividade dos compostos frente ao T. cruzi Para determinar o efeito anti-proliferativo para T. cruzi, formas epimastigotas crescidos em culturas axênicas, na fase log de crescimento, serão colocadas em placas de 96 poços sob condições de cultura adequadas. Os testes serão conduzidos tendo como controle o benzonidazol (50 mg/ml) e culturas de parasitos sem tratamento. As substâncias serão avaliadas quanto à concentração inibidora de 50% do crescimento dos parasitas (IC50%) onde formas epimastigotas da cepa Y de T. cruzi serão cultivadas, na presença de diferentes concentrações dos compostos, procedendo-se em seguida a contagem de parasitas viáveis. O cálculo da IC50% será determinada por meio de uma regressão linear simples utilizando o software Prisma 4 Graphpad. III- 3.2 Resultados e discussão A atividade tripanocida dos derivados nitro-aril tiossemicarbazônicos (2a-2l), foi avaliada, em valores de IC50, frente à forma evolutiva epimastigota do T. cruzi, crescidas em culturas axênicas. Os valores de IC50, em µg/ml, para cada composto sintetizado encontram-se dispostos na tabela abaixo. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 98 Tabela 6: Atividade anti-T. cruzi dos derivados nitro-aril tiossemicarbazônicos. Compostos IC50 epimastigotas (µg/ml) 2a 15.87 2b 28.63 2c 16.39 2d 5.12 2e 1.06 2f 2.06 2g 29.90 2h 1.42 2i 1.12 2j 36.25 2l 9,6 BDZ 1.73 BZD = Benznidazol. Segundo Du e colaboradores (2002), a interação tiossemicarbazona-TCC acontece via ataque covalente do resíduo Cys25 da TCC em direção ao carbono da tiocarbonila e transferência de um próton do resíduo His159, formando um derivado tetraédrico (Figura 41). Deduz-se, portanto que grupamentos que diminuam a densidade eletrônica no enxofre da tioarbonila, favoreçam a atividade anti-T. cruzi das TSC 9. Nossos estudos obtiveram como composto mais ativo da série, o 2e, que apresentou uma IC50= 1,06 µg/ml. Trata-se de uma nitro-aril tiossemicarbazona, com um substituinte desativador, o bromo, na posição 4‘ do anel fenílico. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 99 Figura 41: Mecanismo de ação das tiossemicarbazonas proposto por Du e colaboradores (2002). Embora o bromo não influencie na ressonância, o resultado observado para este composto está em concordância com os dados expostos no trabalho realizado por Greenbaum et al. (2004), mesmo que os testes tenham sido realizados diretamente na enzima TCC. O composto mais ativo sintetizado por seu grupo, trata-se de um isômero do nosso composto, variando-se apenas a posição do átomo de bromo, agora na posição 3‘ do mesmo anel aromático e substituindo-se o hidrogênio azometínico por um grupo metil, estando ausente o NO2 119 . Outro trabalho que mostra a eficácia deste substituinte na atividade tripanocida é mostrado por Siles e colaboradores (2006), onde novamente a tiossemicarbazona com substituinte bromo na posição 3‘ foi mais ativo dá série. Isto indica que a presença de halogênios na molécula influencie positivamente na atividade anti-T.cruzi destes compostos 111 . Foi testado também em nosso projeto um bioisóstero do composto 2e, onde na posição 4‘temos um átomo de cloro (2f). O emprego do bioisosterismo como estratégia de modificação molecular para a descoberta de novos agentes bioativos permite que se antecipe uma comparável afinidade entre duas substâncias bioisostéricas por um dado sítio receptor e, conseqüentemente, um potencial de atividade biológica similar120. No nosso caso, houve uma redução de quase duas vezes no valor da IC50, que para este composto foi de 2,06 µg/ml. Segundo Hernandes et al. (2010), a presença de substituintes volumosos como os átomos halogênios ―Cl‖ e ―Br‖, geralmente permite uma interação de maneira mais adequada destes com o sítio ativo de alguns alvos biológicos importantes, pois facilita a ligação a cavidades mais profundas na estrutura destes receptores biomoleculares 121 , podendo este ser o fator decisivo para uma maior atividade. De modo geral, os compostos que possuem grupos ativantes 2a, 2b, 2c e 2d Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 100 mostraram-se pouco ativos quando comparados as drogas controles utilizadas, com valores de IC50 que variaram de 5,12 a 28,63 µg/ml. Os compostos de 2a, 2b e 2c possuem grupos ativantes que exercem efeito do tipo +M no anel aromático e em todo sistema nele acoplado. Na tentativa de esclarecer os motivos da redução da atividade, resolveu-se analisar a influência destes grupos no mecanismo de ação proposto por Du et al (2002) 9. Sabe-se que nos compostos sintetizados, grupos ativantes do tipo +M, por ressonância, aumentam a densidade eletrônica em torno do carbono da tiocarbonila. Isto parece dificultar o ataque covalente do resíduo Cys25 da TCC em direção ao mesmo. Este efeito negativo de substituintes ativadores presentes nas moléculas sintetizadas por nosso grupo , parece estar de acordo com trabalhos realizados por Du et al. (2002) e Chiyanzu et al. (2003), onde ambos comparam TSC contendo grupos ativantes em anéis aromáticos (OCH3, CH3, OH) e desativantes, sempre com superior eficácia para estes últimos 9,109 . Outro fator que nos leva a acreditar que a movimentação dos elétrons no sentido da tiocarbonila influencia negativamente, é o fato de o composto mais ativo dentre esses quatro, trata-se de um ativante que exerce efeito +I (2d), o qual não influencia na ressonância. Dados na literatura relatam que grupos aril, principalmente o fenil, nas tiossemicarbazonas parecem ocupar um sítio especifíco na enzima TCC, o chamado bolso S2. Substituições realizadas por Greenbaum e colaboradores (2004) do grupo fenila por alguns grupos volumosos como bi-fenilas, bi-arilaminas, e bi-aril éter acetofenonas, ou por heteroaromáticos contendo nitrogênio, causou um decréscimo da atividade 119. Contradizendo os dados acima, em nossa série, os derivados nitro-heteroaromáticos 2h e 2i mostraram-se bastante eficazes em inibir o crescimento do parasito, possuindo IC50 igual 1,42 e 1,12 µg/ml respectivamente, sendo inclusive mais ativos que as drogas de referência. Estes resultados corroboram com os expostos por Gerpe et al. (2009) onde foram testadas seis derivados tiofênicos e furânicos que continham a porção tiossemicarbazonas frente a forma evolutiva epimastigota. Em geral, estes derivados mostraram boa atividade, principalmente os que possuíam como substituinte o grupo nitro na posição 5‘ do heteroaromático (IC50= 1,9 e 4,2 µg/ml), mostrando ainda a importância do grupo nitro nesse aspecto, o qual está presente em todas as moléculas em estudo no nosso trabalho 122. Nitrocompostos são moléculas bioativas utilizadas como agentes antimicrobianos, antiparasitários e antitumorais. A maioria dos compostos nitrados apresenta o mecanismo de biorredução enzimática do NO2, o que resulta na formação de radicais livres com toxicidade preferencial para células bacterianas e parasitárias 123 . Du et al., 2002, sintetizou três Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 101 moléculas análogas as nitro-aril tiossemicarbazonas 2c, 2e e 2f, sendo diferentes apenas pela ausência do grupo nitro9 (Figura 42). Comparando-se os valores de IC50 dos composto sintetizado por Du et al., 2004 frente a enzima recombinante purificada, cujos valores mostraram-se sempre superiores a 10 µg/ml, com os valores dos compostos 2e e 2f por nossso grupo sintetizados, percebe-se um incremento de cerca de dez vezes na atividade. Logo, nossas moléculas estão de acordo com dados literários que consideram o grupo nitro como parasitóforo 14. Não se pôde precisar se o composto 2c foi mais ativo. Moléculas sintetizadas por nosso grupo de pesquisa: 2c, 2e e 2f. Moléculas análogas sintetizadas por Du e colaboradores Figura 42: Comparação das estruturas 2c, 2e e 2f sintetizada por nosso grupo e as sintetizadas por Du et al., 2000. Esta comparação serve também para encorajar testes futuros de avaliação da atividade diretamente na enzima TCC isolada, visto que os compostos 2e e 2f, mesmo tendo seus testes anti-T.cruzi realizados frente a forma evolutiva epimastigosta, na qual a TCC encontra-se localizada dentro de vesículas lisossomais, necessitando, portanto que haja uma penetração dos compostos no parasito para uma melhor atividade, mostraram-se mais ativos. No geral, as nitro-aril tiossemicarbazonas 2g, 2j e 2l exibiram uma baixa atividade, possuindo uma IC50 igual a 29,90 µg/ml; 36,52 µg/ml e 9,6 µg/ml, respectivamente, sendo os dois primeiros valores os mais baixos da série. O composto 2j é um análogo do composto 2f onde, a única diferença entre eles é a presença, no primeiro, de um substituinte fenil no grupo amino da função tioamida terminal. A presença desse grupo volumoso nessa posição resultou numa diminuição de cerca de doze vezes na atividade anti-T.cruzi. Pode-se dizer que o resultado obtido por este composto está de acordo com relatos presentes na literatura, como Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 102 por exemplo, o trabalho realizado por Pérez-Rebolledo et al. (2008), onde testaram-se três TSCs variando-se os substituintes na posição em questão e, o derivado que obteve menor atividade foi o que possuía como substituinte um grupo piperidil 124 . Em 2004, Greenbaum e colaboradores também mostraram a influência negativa dessa substituição, onde os compostos que a sofreram tiveram uma queda na atividade na magnitude de duas ordens (de 0,06 μM a 20 μM), quando comparados ao seu melhor composto 119. Por outro lado, ao se comparar as bis-tiossemicarbazonas 2g e 2l, cuja única diferença também é a mesma anteriormente citada, notou-se uma melhora na atividade, contradizendo o que se encontra descrito acima. Alguns dados na literatura mostram que compostos volumosos, como o itraconazol, cetoconazol e posoconazol, mesmo sem possuírem semelhança estrutural, exibem certa atividade frente a T. cruzi, sendo este último o de maior massa molecular e mais potente que os demais na inibição da forma evolutiva epimastigota 125,126 . Extrapolando-se esses dados, pode-se pensar que, aumentando-se a massa molecular de alguns derivados, outros alvos biológicos possam ser ocupados, principalmente quando grupos volumosos estão presentes na molécula, visto que a molécula que contém os dois grupos fenil como substituinte em N-4, mostrou-se mais ativa. A terapia atual da doença de chagas encontra na incidência dos efeitos colaterais um dos principais obstáculos para ser considerada ideal. Estes, como descrito na literatura, têm sido atribuídos ao efeito citotóxico inerente ao grupo nitro presente nas drogas disponíveis no tratamento anti- T.cruzi, sendo, portanto, os nitrocompostos como o benznidazol e nifurtimox, alvos de inúmeras discussões visando o esclarecimento de sua toxicidade 123 . Neste contexto, no intuito de se obter uma nova droga na terapêutica da Doença de chagas, a avaliação da citotoxicidade é de suma importância para considerá-la um protótipo no tratamento antiT.cruzi. Neste trabalho, a avaliação da citotoxicidade dos compostos 2a-2l foi realizada frente a células esplênicas conforme metodologia anteriormente descrita. Os resultados foram obtidos em μg/mL, que representa a maior concentração atóxica testada. A tabela dos compostos e seus respectivos valores encontram-se expostos abaixo. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 103 Tabela 7: Citotoxicidade dos derivados nitro-aril tiossemicarbazônicos. a Composto Citotoxicidade s (µg/ml)a 2a >100 2b 10 2c >100 2d 25 2e 1 2f 10 2g 5 2h 25 2i 1 2j 50 2l <1 BDZ 25 NFX 1 = maior concentração atóxica em células esplênicas de camundongos BALB/c; Analisando os dados da tabela acima, nota-se que das onze nitro-aril tiossemicarbazonas sintetizadas e testadas, cinco (2a, 2c, 2d, 2h e 2j) mostraram menor ou igual citotoxicidade em relação a droga menos tóxica utilizada no tratamento da Doença de chagas, o Bdz. Alguns relatos na literatura corroboram com o fato de alguns nitrocompostos possuírem baixa citotoxicidade, como o trabalho publicado por Pérez-Rebolledo et al.(2008), o qual avaliou a citotoxicidade em macrófagos humanos de três derivados nitrotiossemicarbazônicos 124 . Destes, dois mostraram-se menos tóxicos que as drogas Bdz e Nfx utilizadas como padrão. Os compostos menos tóxicos da série foram os derivados 2a e 2c. Em outro projeto desenvolvido em nosso laboratório, sintetizamos e avaliamos a citotoxicidade, utilizando a mesma metodologia de diversos derivados arilsemicarbazônicos. Dentre estes, dois análogos dos compostos 2a e 2c, desprovidos do grupamento nitro, obtiveram valores de citotoxicidade > 100 µg/ml, mostrando que para essas duas estruturas a presença do grupo nitro parece não Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 104 interferir tanto nas suas propriedades tóxicas. Comparando-se os resultados dos compostos 2f e 2j, percebe-se que houve uma diminuição da citotoxicidade em cinco vezes do composto 2f, passando de 10 µg/ml para 50 µg/ml, mostrando que a estratégia de inserção do grupo fenil no grupo amino da função tioamida terminal embora não tenha melhorado a atividade, foi útil nesse aspecto. Por outro lado, para os compostos 2g e 2l, essa mesma estratégia de modificação molecular causou uma aumento de mais cinco vezes no poder tóxico do composto 2g, passando de uma concentração atóxica de 5 µg/ml para uma menor que 1 µg/ml. Este último dado corrobora com o trabalho realizado por Greenbaum et al (2004), onde mostra-se que a inserção de alguns grupos volumosos, seja em N-4, seja no anel aromático das tiossemicarbazonas aumentam significativamente a citotoxicidade 119 . Por fim, pode-se então dizer que nossos dados estão em concordância com o trabalho publicado por Paula e colaboradores (2009), onde é dito que a toxicidade dos nitrocompostos é dependente de fatores como a estrutura química e a posição do grupo nitro, sendo a primeira mais importante para nossa discussão 123. Os compostos 2e, 2i e 2l mostraram-se os mais tóxicos da série analisada, sendo este último mais tóxico que o Nfx, droga mais tóxica para o tratamento da Doença de chagas. Este fator pode estar relacionado à sua estrutura, como já comentado anteriormente. O composto 2e, considerado mais ativo da nossa série frente a formas epimastigotas do T. Cruzi, apresentou-se com uma citotixicidade de 1 µg/ml, a mesma do Nfx. Esse valor parece está de acordo com o trabalho de Du et al. (2002), onde um isômero de posição do composto 2e, cujo substituinte bromo encontra-se na posição meta em relação a função azometínica, também mostrou-se um dos mais citotóxicos da sua série. Analisando os valores da tabela para os compostos 2h (derivado nitrofurânico) e 2i (derivado nitro-tiofênico), nota-se que o último apresentou uma citotoxicidade 25 vezes menor que a do primeiro. Esses dados corroboram com o trabalho de Gerpe et al. (2009), onde analisou-se a citotoxicidade de algumas tiossemicarbazonas, tendo duas destas a mesma diferença apresentadas pelos compostos 2h e 2i. Nesse estudo, o derivado nitrofurânico obteve ID50 = 200 µM, e seu análogo ID50 <100 µM 122. Analisado de forma conjunta os valores obtidos de IC50 e citotoxicidade (Tabela 8) dos compostos sintetizados, que reflete o risco-benefício no tratamento da doença de Chagas, podemos considerar que os resultados obtidos para o derivado nitro-ariltiossemicarbazônico 2h, o qual apresentou IC50=1.42 μM/ e citotoxicidade= 25 µg/ml, foram os mais promissores da série, visto que se mostrou mais ativo e com mesmo poder citotóxico da droga de Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 105 referência, encorajando-nos a dar continuidade a este projeto. Os compostos 2a, 2c e 2j, embora tenham se mostrado pouco tóxicos, apresentaram IC50 muito baixa em relação ao Bdz, sendo necessário testar algumas modificações moleculares para melhoria da atividade. Os compostos 2e e 2i., os mais ativos da série, mostraram-se também como os mais tóxicos, sendo portanto sempre necessário avaliar essas duas características para eleição de um possível protótipo a fármaco anti- T. Cruzi. Tabela 8: Relação IC50 X Citotoxicidade Comp. IC50 epimastigotas Citotoxicidade (µg/ml) (µg/ml) 2a 15.87 >100 2b 28.63 10 2c 16.39 >100 2d 5.12 25 2e 1.06 1 2f 2.06 10 2g 29.90 5 2h 1.42 25 2i 1.12 1 2j 36.25 50 2l 9,6 <1 BDZ 1.73 25 Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 106 Capítulo IV CONCLUSÕES E PERPESCTIVAS Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 107 VI- 1. CONCLUSÕES Os compostos em estudo foram obtidos partindo-se de metodologia simples, econômica, rápida, e apresentando rendimentos que variaram de 68-85%. A confirmação estrutural deu-se através da análise de dados espectroscópicos de IV, RMN 1H e RMN 13 C. Nesse trabalho não foi possível determinar a configuração absoluta das nitro-ariltiossemicarbazonas. Quanto à atividade antibacteriana desses deriavados, os compostos 2c,2h e 2i obtiveram os melhores resultados, merecendo maior destaque o composto 2h, que mostrou-se mais ativo que a droga controle utilizada. As nitro-ariltiossemicarbazonas também foram avaliadas frente a atividade anti-T.cruzi contra a forma evolutiva epimastigota, sendo os compostos 2e, 2h e 2i os que apresentaram melhores resultados. Dentre estes, o composto 2e apresentou relevância, mostrando-se cerca de 40% mais ativo que o Bdz. No ensaio de citotoxicidade frente a células esplênicas de camundongo, todos os compostos mostraram maior concentração atóxica igual ou inferior ao Bdz (25µg/ml), excetuando-se os compostos 2a, 2c e 2j, com valores de maior concentração atóxica igual ou superior a 50µg/ml. Levando em conta o risco-benefício no tratamento da doença de Chagas, que é representado pela relação citotoxidade X atividade anti-T. cruzi, podemos considerar que os resultados obtidos para o derivado nitro-ariltiossemicarbazônico 2h, o qual apresentou IC50=1.42 μM/ ml e citotoxicidade= 25 µg/ml, foram os mais promissores da série, visto que se mostrou mais ativo e com mesmo poder citotóxico da droga de referência, encorajando-nos a dar continuidade a este projeto. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 108 IV- 2. PERPESCTIVAS Realizar estudos de ―docking‖ com os compostos sintetizados Realizar testes de avaliação da atividade frente às formas evolutivas tripomastigota e amastigota do T. cruzi, assim como frente a enzima recombinante TCC. Sintetizar um número maior de moléculas para realizar estudos de QSAR relativas as atividades biológicas expostas neste trabalho. Ciclização, complexação com metais e alquilação dos derivados nitro- ariltiossemicarbazônicos obtidos, com posterior avalização de suas atividades. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 109 Capítulo V PARTE EXPERIMENTAL Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 110 V- 1. PARTE EXPERIMENTAL V- 1.1 Materiais e Métodos V- 1.1.1 Cromatografias As cromatografias em camada delgada (CCD) foram conduzidas em placas de Sílica Gel 60 F254 da MERCK de 0,25 mm de espessura. A leitura das mesmas foi realizada através de radiação de ultravioleta (UV) no comprimento de onda (λ) de 254 nm. V- 1.1.2 Pontos de Fusão Os pontos de fusão foram medidos no equipamento QUILMES Q.340.23, em tubos capilares imersos em banho de silicone. V- 1.1.3 Espectroscopias de IV, RMN 1H e RMN 13C Os espectros de IV moram obtidos em espectrofotômetro BRUKER IFS-66, em discos de KBr. Os espectros de RMN 1H foram obtidos em um equipamento UNITYplus-300 MHzVARIAN, utilizando-se DMSO-d6 como solvente. Os deslocamentos químicos (d) foram reportados em ppm, utilizando tetrametilsilano como referência interna. As constantes de acoplamento foram indicadas em Hz, e as multiplicidades dos sinais foram designadas da seguinte forma: s – singleto, d – dubleto, dd – duplo dubleto, t – tripleto, m – multipleto. V- 1.1.4 Equipamentos Bomba de vácuo TECNAL TE 058 Placas de agitação e aquecimento FISOTON 752A Estufa; Vidraria geral; Evaporador rotativo; Capela com exaustão; Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 111 Balança analítica BEL 220; Freezer; Balança semi-analítica BEL Espátulas e pinças metálicas Marc 500 C Espectrofotômetro (Biorad 3550) V- 1.1.5 Reagentes e solventes Tiossemicarbazida N(4)-fenil tiossemicarbazida Aril-aldeídos substituídos. Ácido Clorídrico conc. Ácido Sulfúrico conc. Ácido Nítrico Ácido acético glacial Etanol e Metanol Saponina Dimetil-formamida (DMF) Hexano Acetato de etila Água destilada Meio de cultura Muller-Hinton Amoxicilina Timidina Tritiada Isopropanol Duodecil sulfato de sódio Dimetil-sulfóxido (DMSO) Soro Bovino Fetal V- 1.2 Procedimentos Experimentais V- 1.2.1 Síntese e Caracterização estrutural V- 1.2.1.1 Composto 2a: 3-nitro-4-hidroxibenzaldeído tiossemicarbazona Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 112 Em um balão de fundo redondo com capacidade para 100mL, em banho de gelo, adicionou-se 20 mL de clorofórmio (CHCl3). Em seguida acrescentou-se 5 mmol (0,61g) do reagente 4-hidroxibenzaldeído, adquirido comercialmente. A esta mistura, quantidade equimolar de ácido Nítrico (0,32g) foi adicionada, deixando-se sob agitação e banho de gelo por uma hora. Após esse tempo, retirou-se o banho e esperou-se o fim da reação, que aconteceu cinco horas mais tarde. Ao término da reação, realizaram-se três extrações, sendo a primeira apenas com água (30mL), e as demais com Acetato de etila/ água. Em seguida a fase orgânica foi evaporada para obtenção do produto na forma de cristais amarelos, os quais foram levados ao dessecador por 24 horas para retirada completa de qualquer resquício de solvente. Os cristais formados foram pesados e utilizados para a condensação. Nesta etapa, a solução etanólica da tiossemicarbazida, adicionou-se 5 gotas do catalisador ácido clorídrico (HCl), deixando-se sob agitação magnética e temperatura ambiente por 15 minutos. Após esse tempo acrescentou-se então quantidades equimolares do 3-nitro-4-hidroxibenzaldeído, previamente sintetizado. A reação foi mantida à temperatura ambiente e constante agitação magnética por um período de cinco horas, de modo que foi monitorada por CCD. Ao término da reação, adicionou-se água destilada (20 mL) e foi observada a formação de precipitado, o qual foi filtrado em funil sinterizado e lavado com água. V- 1.2.1.1.1 Caracterização F.M: C8H8N4O3S P.M: 240,23g/mol Sólido amarelo escuro; Rendimento: 74%; Rf: 0,5 (Acetona/Cicloexano 5:5); P.F: 241-243 ºC. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 113 RMN 1H (300 MHz, ppm, DMSO-d6): 11.40 (s, 1H, NH); 8.26 (s, 1H, Ar-H); 8.16 (s, 1H, NH2); 8.07 (s, 1H, NH2); 7.98 (s, 1H, CH=N), 7.93 (d, J = 8.10 Hz, 1H, Ar-H); 7.06 (d, J = 8,10 Hz, 1H, Ar); 3.48 (s, 1H, OH). IV (ν cm-1 KBr): 3244 e 3393 (NH2), 3150 (NH hidrazínico), 1530 (C=N), 1281(NO2), 1165 (C=S). V- 1.2.1.2 Composto 2b (3-nitro-4-dimetil-aminobenzaldeído tiossemicarbazona) Em um balão de fundo redondo com capacidade para 100mL, em banho de gelo, adicionou-se 20 mL de clorofórmio (CHCl3). Em seguida acrescentou-se 5 mmol (0,74g) do reagente 4-dimetilaminobenzaldeído, adquirido comercialmente. A esta mistura, quantidade equimolar de ácido Nítrico (0,32g) foi adicionada, deixando-se sob agitação e banho de gelo por uma hora. Após esse tempo, retirou-se o banho e esperou-se o fim da reação, que aconteceu 4,5 horas mais tarde. Ao término da reação, realizaram-se três extrações, sendo a primeira apenas com água (30mL), e as demais com Acetato de etila/ água. Em seguida a fase orgânica foi evaporada para obtenção do produto na forma de cristais laranja-escuro, os quais foram levados ao dessecador por 24 horas para retirada completa de qualquer resquício de solvente. Os cristais formados foram pesados e utilizados para a condensação. Nesta etapa, a solução etanólica da tiossemicarbazida, em quantidade equimolar ao aldeído, adicionou-se 5 gotas do catalisador ácido clorídrico (HCl), deixando-se sob agitação magnética e temperatura ambiente por 20 minutos. Após esse tempo acrescentou-se então o 3-nitro-4-dimetilaminobenzaldeído, previamente sintetizado. A reação foi mantida à temperatura ambiente e Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 114 constante agitação magnética por um período de três horas, de modo que foi monitorada por CCD. Ao término da reação, adicionou-se água destilada (20 mL) e foi observada a formação de precipitado, o qual foi filtrado em funil sinterizado e lavado com água. Foi necessário após alguns dias do produto armazenado na geladeira, realizar uma recristalização em EtOH. V- 1.2.1.2.1 Caracterização Fórmula Molecular: C10H13N5O2S Peso Molecular: 267,22g/mol Sólido laranja; Rendimento: 73%; Rf: 0,4 (Cicloexano/Acetona 6:4); P.F: 218-220ºC. RMN 1H (300 MHz, ppm, DMSO-d6): δ 11,35 (s, 1H, NH); δ 8,14 (s, 1H, NH2); δ 8,12 (s,1H, Ar-H); δ 8,04 (s, 1H, NH2); δ 7,96 (s, 1H, CH=N); δ 7,88 (d, J= 8 Hz, 1H, Ar-H); δ 7,13 (d, J= 8 Hz, 1H, Ar-H); 2,86 [s, 6H, N(CH3)2]. RMN 13 C (100 MHz, ppm, DMSO-d6): δ 177,63 (C=S); δ 145,83 (Cq Ar); δ 140,62 (CH=N); δ 137,88 (Cq Ar); δ 131,52 ( CH Ar); δ 125,08 (CH Ar); δ 123,29 ( Cq Ar); δ 118,02 (CH Ar); δ 41,83 (CH3-N) IV (ν cm-1 KBr): 3236 e 3399 (NH2), 3154 (NH hidrazínico), 1526 (C=N), 1372 (NO2), 1203 (C=S). V- 1.2.1.3 Composto 2c (3-metoxi-4 hidroxi-5-nitro-benzaldeído tiossemicarbazona) Em um balão de fundo redondo com capacidade para 100mL, em banho de gelo, adicionou-se 20 mL de clorofórmio (CHCl3). Em seguida acrescentou-se 5 mmol (0,76g) do reagente 3-metoxi-4 hidroxibenzaldeído, adquirido comercialmente. A esta mistura, Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 115 quantidade equimolar de ácido Nítrico (0,32g) foi adicionada, deixando-se sob agitação e banho de gelo por uma hora. Após esse tempo, retirou-se o banho e esperou-se o fim da reação, que aconteceu duas horas mais tarde. Ao término da reação, realizaram-se quatro extrações, sendo a primeira apenas com água (30mL), e as demais com Acetato de etila/ água. Em seguida a fase orgânica foi evaporada para obtenção do produto na forma de cristais laranja-claros, os quais foram levados ao dessecador por 24 horas para retirada completa de qualquer resquício de solvente. Os cristais formados foram pesados e utilizados para a condensação. Nesta etapa, a solução etanólica da tiossemicarbazida, em quantidade equimolar ao aldeído, adicionou-se 5 gotas do catalisador ácido clorídrico (HCl), deixando-se sob agitação magnética e temperatura ambiente por 15 minutos. Após esse tempo acrescentou-se então o 3-metoxi-4 hidroxi-5-nitrobenzaldeído tiossemicarbazona, previamente sintetizado. A reação foi mantida à temperatura ambiente e constante agitação magnética por um período de três horas, de modo que foi monitorada por CCD. Ao término da reação, adicionou-se água destilada (20 mL) e foi observada a formação de precipitado, o qual foi filtrado em funil sinterizado e lavado com água. V- 1.2.1.3.1. Caracterização F.M: C9H10N4O4S P.M: 270,26g/mol Sólido laranja-claro; Rendimento: 85%; Rf: 0,5 (Acetona/Cicloexano 5:5); P.F: 239241ºC. RMN 1H (300 MHz, ppm, DMSO-d6): δ 11.48 (s, 1H, NH); δ 10.85 (s, 1H, OH); δ 8.27 (s, 1H, NH2); δ 8.20 (s, 1H, NH2); δ 7.97 (s, 1H, Ar); δ 7.75 (s, 1H, Ar); δ 7.75 (s, 1H, CH=N); δ 3.94 (s, 3H, O-CH3). IV (ν cm-1 KBr): 3256 e 3437 (NH2), 3160 (NH hidrazínico), 1541 (C=N), 1321 (NO2), 1057 (C=S). V- 1.2.1.4 Composto 2d: 3-nitro-4-tolualdeído tiossemicarbazona. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 116 Em um balão de fundo redondo com capacidade para 100 mL, em banho de gelo, adicionou-se 20 mL de clorofórmio (CHCl3). Em seguida acrescentou-se 5 mmol (0,60g) do reagente 4-tolualdeído, adquirido comercialmente. A esta mistura, quantidade equimolar de ácido Nítrico (0,32g) foi adicionada, deixando-se sob agitação e banho de gelo por uma hora. Após esse tempo, retirou-se o banho e esperou-se o fim da reação, que aconteceu 6 horas mais tarde. Ao término da reação, realizaram-se quatro extrações, sendo a primeira apenas com água (30mL), e as demais com Acetato de etila/ água. Em seguida a fase orgânica foi evaporada para obtenção do produto na forma de cristais amarelos claros, os quais foram levados ao dessecador por 24 horas para retirada completa de qualquer resquício de solvente. Os cristais formados foram pesados e utilizados para a condensação. Nesta etapa, a solução etanólica da tiossemicarbazida, em quantidade equimolar ao aldeído, adicionou-se 5 gotas do catalisador ácido clorídrico (HCl), deixando-se sob agitação magnética e temperatura ambiente por 15 minutos. Após esse tempo acrescentou-se então o 3-nitro-4-tolualdeído, previamente sintetizado. A reação foi mantida à temperatura ambiente e constante agitação magnética por um período de cinco horas, de modo que foi monitorada por CCD. Ao término da reação, adicionou-se água destilada (20 mL) e foi observada a formação de precipitado, o qual foi filtrado em funil sinterizado e lavado com água. V- 1.2.1.4.1. Caracterização F.M: C9H10N4O2S P.M: 238,27g/mol Sólido amarelo-claro; Rendimento: 68%; Rf: 0,48 (Cicloexano/Acetona 6:4); P.F: 226-228ºC. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 117 RMN 1H (300 MHz, ppm, DMSO-d6): δ 11,545 (s, 1H, NH); δ 8,40 (d, J = 1,6 Hz, 1H, Ar-H); δ 8,26 (s, 1H, NH2); δ 8,20 (s, 1H, NH2); δ 8,06 (s, 1H, CH=N); δ 8,01 (dd, J= 8 Hz e J = 1,6 Hz, 1H, Ar-H); δ 7,13 (d, J= 8 Hz, 1H, Ar-H) ; 2,49 (s, 3H, Ar-CH3). IV (ν cm-1 KBr): 3238 e 3422 (NH2), 3158 (NH hidrazínico), 1518 (C=N), 1364 (NO2), 1107 (C=S). V- 1.2.1.5 Composto 2e (3-nitro-4-bromobenzaldeído tiossemicarbazona). Em um balão de fundo redondo com capacidade para 100mL, em banho de gelo, adicionou-se 10 mL de H2SO4. Em seguida acrescentou-se 5 mmol (0,70g) do reagente 4bromobenzaldeído, adquirido comercialmente. Ao conteúdo do balão, adicionou-se lentamente uma mistura de Ácido Nítrico concentrado e ácido sulfúrico em quantidades equimolares (0,32g e 0,49 respectivamente) em relação ao aldeído, deixando-se sob agitação e banho de gelo por uma hora. Após esse tempo, retirou-se o banho e esperou-se o fim da reação, que aconteceu 4,5 horas mais tarde. Ao término da reação, verteu-se o conteúdo do balão em um béquer com 50 mL de água destilada havendo precipitação do produto na forma de cristais esbranquiçados. Estes foram filtrados em funil sinterizado e lavados com água vária vezes, sendo por fim levado ao dessecador por um período de 24 horas para retirada completa de qualquer resquício de solvente. Os cristais formados foram pesados e utilizados para a condensação Nesta etapa, a solução etanólica da tiossemicarbazida, em quantidade equimolar ao aldeído, adicionou-se 5 gotas do catalisador ácido clorídrico (HCl), deixando-se sob agitação magnética e temperatura ambiente por 20 minutos. Após esse tempo acrescentou-se então o 3-nitro-4bromobenzaldeído, previamente sintetizado. A reação foi mantida à temperatura ambiente e Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 118 constante agitação magnética por um período de cinco horas, de modo que foi monitorada por CCD. Ao término da reação, adicionou-se água destilada (20 mL) e foi observada a formação de precipitado, o qual foi filtrado em funil sinterizado e lavado com água. V- 1.2.1.5.1. Caracterização F.M: C8H7BrN4O2S P.M: 303,13g/mol Sólido amarelo-claro; Rendimento: 83%; Rf: 0,63 (Cicloexano/Acetona 6:4); P.F: 238-240ºC. RMN 1H (300 MHz, ppm, DMSO-d6): δ 11,65 (s, 1H, NH); δ 8,56 (s,1H, Ar-H); δ 8,34 (s, 1H, NH2); δ 8,28 (s, 1H, NH2); δ 8,04 (s, 1H, CH=N); δ 7,93 (d, J= 8 Hz, 1H, Ar-H); δ 7,91 (d, J= 8 Hz, 1H, Ar-H). RMN 13 C (100 MHz, ppm, DMSO-d6): δ 178,40( C=S); δ 150,49 (Cq Ar); 138,53 (CH=N); 135,63 (Cq Ar); 134,68 ( CH Ar); 131,96 (CH Ar); 122,43 (CH Ar); 112,924 ( Cq Ar). IV (ν cm-1 KBr): 3417 e 3258 (NH2), 3156 (NH hidrazínico), 1519 (C=N), 1360 (NO2), 1091 (C=S). V- 1.2.1.6 Composto 2f (3-nitro-4-clorobenzaldeído tiossemicarbazona). Em um balão de fundo redondo com capacidade para 100 mL, em banho de gelo, adicionou-se 10 mL de H2SO4. Em seguida acrescentou-se 5 mmol (0,92g) do reagente 4clorobenzaldeído, adquirido comercialmente. Ao conteúdo do balão, adicionou-se lentamente uma mistura de Ácido Nítrico concentrado e ácido sulfúrico em quantidades equimolares (0,32g e 0,49 respectivamente) em relação ao aldeído, deixando-se sob agitação e banho de Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 119 gelo por uma hora. Após esse tempo, retirou-se o banho e esperou-se o fim da reação, que aconteceu três horas mais tarde. Ao término da reação, verteu-se o conteúdo do balão em um béquer com 50 mL de água destilada havendo precipitação do produto na forma de cristais amarelos claros. Estes foram filtrados em funil sinterizado e lavados com água vária vezes, sendo por fim levado ao dessecador por um período de 24 horas para retirada completa de qualquer resquício de solvente. Os cristais formados foram pesados e utilizados para a condensação Nesta etapa, a solução etanólica da tiossemicarbazida, em quantidade equimolar ao aldeído, adicionou-se 5 gotas do catalisador ácido clorídrico (HCl), deixando-se sob agitação magnética e temperatura ambiente por 20 minutos. Após esse tempo acrescentou-se então o 3-nitro-4-clorobenzaldeído, previamente sintetizado. A reação foi mantida à temperatura ambiente e constante agitação magnética por um período de quatro horas, de modo que foi monitorada por cromatografia em camada delgada (CCD). Ao término da reação, adicionou-se água destilada (20 mL) e foi observada a formação de precipitado, o qual foi filtrado em funil sinterizado e lavado com água. V- 1.2.1.6.1. Caracterização F.M: C8H7ClN4O2S P.M: 258,69g/mol Sólido amarelo-claro; Rendimento: 67%; Rf: 0,69 (Cicloexano/Acetona 6:4); Ponto de Fusão (P.F): 236-237ºC. RMN 1H (300 MHz, ppm, DMSO-d6): δ 11,65 (s, 1H, NH); δ 8,60 (d, J = 1,6 Hz, 1H, Ar-H); δ 8,34 (s, 1H, NH2); δ 8,26 (s, 1H, NH2); δ 8,05 (s, 1H, CH=N); δ 8,04 (dd, J= 8,4 Hz e J = 1,6 Hz, 1H, Ar-H); δ 7,7 (d, J= 8,4 Hz, 1H, Ar-H). IV (ν cm-1 KBr): 3366 e 3500 (NH2), 3156 (NH hidrazínico), 1519 (C=N), 1351 (NO2), 1105 (C=S). V- 1.2.1.7 Composto 2g: 5-nitro- isoftaldeído tiossemicarbazona Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 120 Em um balão de fundo redondo com capacidade para 100mL adicionou-se 10 mL de H2SO4. Em seguida acrescentou-se 5 mmol (0,67g) do reagente 1,3-isoftaldeído, adquirido comercialmente. Ao conteúdo do balão, adicionou-se lentamente uma mistura de Ácido Nítrico concentrado e ácido sulfúrico em quantidades equimolares (0,32g e 0,49 respectivamente) em relação ao aldeído, deixando-se sob agitação e esperou-se o fim da reação, que aconteceu sete horas mais tarde. Ao término da reação, verteu-se o conteúdo do balão em um béquer com 50 mL de água destilada havendo precipitação do produto na forma de cristais amarelo-palha. Estes foram filtrados em funil sinterizado e lavados com água vária vezes, sendo por fim levado ao dessecador por um período de 24 horas para retirada completa de qualquer resquício de solvente. Os cristais formados foram pesados e utilizados para a condensação. Nesta etapa, a uma solução etanólica de 2 equivalentes de tiossemicarbazida, em relação aldeído, adicionouse 5 gotas do catalisador ácido clorídrico (HCl), deixando-se sob agitação magnética e temperatura ambiente por 20 minutos. Após esse tempo acrescentou-se o 5-nitro- isoftaldeído, previamente sintetizado. A reação foi mantida à temperatura ambiente e constante agitação magnética por um período de cinco horas, de modo que foi monitorada por CCD. Ao término da reação, adicionou-se água destilada (20 mL) e foi observada a formação de precipitado, o qual foi filtrado em funil sinterizado e lavado com água. V- 1.2.1.7.1 Caracterização F.M.: C10H11N7O2S2 P.M.: 325,37g/mol Sólido amarelo-claro; Rendimento: 65%; Rf: 0,39 (Cicloexano/Acetona 6:4); P.F: 256-258ºC. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 121 RMN 1H (300 MHz, ppm, DMSO-d6): 11.69 (s, 2H, NH); 8.62 (s, 2H, Ar-H); 8.58 (s, 1H, Ar-H); 8.35 (s, 4H, NH2); 8.15 (s, 2H, CH=N). IV (ν cm-1 KBr): 3246 e 3423 (NH2), 3155 (NH hidrazínico), 1524 (C=N), 1343 (NO2), 1105 (C=S). V- 1.2.1.8 Composto 2h: 5-nitro-2-furaldeído tiossemicarbazona. Em um balão de fundo redondo com capacidade para 100mL, em banho de gelo, adicionou-se 10 mL de H2SO4. Em seguida acrescentou-se 5 mmol (0,48g) do reagente 2furaldeído, adquirido comercialmente. Ao conteúdo do balão, adicionou-se lentamente uma mistura de Ácido Nítrico concentrado e ácido sulfúrico em quantidades equimolares (0,32g e 0,49 respectivamente) em relação ao aldeído, deixando-se sob agitação e banho de gelo por uma hora. Após esse tempo, retirou-se o banho e esperou-se o fim da reação, que aconteceu três horas mais tarde. Ao término da reação, verteu-se o conteúdo do balão em um béquer com 50 mL de água destilada havendo precipitação do produto na forma de cristais amarelos. Estes foram filtrados em funil sinterizado e lavados com água vária vezes, sendo por fim levado ao dessecador por um período de 24 horas para retirada completa de qualquer resquício de solvente. Os cristais formados foram pesados e utilizados para a condensação Nesta etapa, a solução etanólica da tiossemicarbazida, em quantidade equimolar ao aldeído, adicionou-se 5 gotas do catalisador ácido clorídrico (HCl), deixando-se sob agitação magnética e temperatura ambiente por 20 minutos. Após esse tempo acrescentou-se então o 5-nitro-2furfurilcarboxaldeído, previamente sintetizado. A reação foi mantida à temperatura ambiente e constante agitação magnética por um período de 3 horas, de modo que foi monitorada por CCD. Ao término da reação, adicionou-se água destilada (20 mL) e foi observada a formação de precipitado, o qual foi filtrado em funil sinterizado e lavado com água. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 122 V- 1.2.1.8.1. Caracterização Fórmula Molecular: C6H6N4O3S Peso Molecular: 214,24g/mol Sólido amarelo-claro; Rendimento: 81%; Rf: 0,58 (Acetona/Cicloexano 6:4); Ponto de Fusão (P.F): 234-235ºC. RMN 1H (300 MHz, ppm, DMSO-d6): δ 11,86 (s, 1H, NH); δ 8,55 (s, 1H, NH2); δ 8,06 (s, 1H, NH2); δ 7,96 (s, 1H, CH=N); δ 7,96 (d, J = 3,9 Hz, 1H, Ar-H); δ 7,36 (d, J = 3,9 Hz, 1H, Ar-H). RMN 13 C (100 MHz, ppm, DMSO-d6): δ 178,37 (C=S); δ 152,58 (Cq Ar); δ 151,55 (Cq Ar); δ 129,97 (CH=N); δ 115,02 ( CH Ar); δ 113,08 (CH Ar). IV (ν cm-1 KBr): 3301 e 3462 (NH2), 3086 (NH hidrazínico), 1537 (C=N), 1355 (NO2), 1057 (C=S). V- 1.2.1.9 Composto 2i: 4-nitro-2-tiofenocarboxaldeído tiossemicarbazona. Em um balão de fundo redondo com capacidade para 100mL, em banho de gelo, adicionou-se 10 mL de H2SO4. Em seguida acrescentou-se 5 mmol (0,56g) do reagente 2tiofenocarboxaldeído, adquirido comercialmente. Ao conteúdo do balão, adicionou-se lentamente uma mistura de Ácido Nítrico concentrado e ácido sulfúrico em quantidades equimolares (0,32g e 0,49 respectivamente) em relação ao aldeído, deixando-se sob agitação e banho de gelo por uma hora. Após esse tempo, retirou-se o banho e esperou-se o fim da reação, que aconteceu 4,5 horas mais tarde. Ao término da reação, verteu-se o conteúdo do balão em um béquer com 50 mL de água destilada havendo precipitação do produto na forma Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 123 de cristais amarelos. Estes foram filtrados em funil sinterizado e lavados com água vária vezes, sendo por fim levado ao dessecador por um período de 24 horas para retirada completa de qualquer resquício de solvente. Os cristais formados foram pesados e utilizados para a condensação Nesta etapa, a solução etanólica da tiossemicarbazida, em quantidade equimolar ao aldeído, adicionou-se 5 gotas do catalisador ácido clorídrico (HCl), deixando-se sob agitação magnética e temperatura ambiente por 20 minutos. Após esse tempo acrescentou-se então o 5-nitro-2tiofenocarboxaldeído, previamente sintetizado. A reação foi mantida à temperatura ambiente e constante agitação magnética por um período de 3 horas, de modo que foi monitorada por CCD. Ao término da reação, adicionou-se água destilada (20 mL) e foi observada a formação de precipitado, o qual foi filtrado em funil sinterizado e lavado com água. V- 1.2.1.9.1. Caracterização F.M.: C6H6N4O2S2 P. M.: 230,17g/mol Sólido amarelo; Rendimento: 76%; Rf: 0,44 (Cicloexano/Acetona 6:4); P.F: 249251ºC. RMN 1H (300 MHz, ppm, DMSO-d6): δ 11,79 (s, 1H, NH); δ 8,42 (s, 1H, NH2); δ 8,18 (s, 1H, CH=N); δ 8,05 (s, 1H, Ar-H); δ 8,00 (s, 1H, NH2); δ 7,51 (s, 1H, Ar-H). RMN 13 C (100 MHz, ppm, DMSO-d6): δ 178,19 (C=S); δ 150,71 (Cq Ar); δ 146,68 (Cq Ar); δ 135,23 (CH=N); δ 130,34 ( CH Ar); δ 129,11 (CH Ar); IV (ν cm-1 KBr): 3314 e 3472 (NH2), 3158 (NH hidrazínico), 1543 (C=N), 1335 (NO2), 1103 (C=S). V- 1.2.1.10 Composto 2j: 3-nitro-4-clorobenzaldeído N(4)-fenil-tiossemicarbazona. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 124 A solução etanólica da tiossemicarbazida, em quantidade equimolar ao previamente nitrado conforme procedimento descrito no item V- 2.1.6, adicionou-se 5 gotas do catalisador ácido clorídrico (HCl), deixando-se sob agitação magnética e temperatura ambiente por 20 minutos. Após esse tempo acrescentou-se então o 3-nitro-4-clorobenzaldeído, previamente sintetizado. A reação foi mantida à temperatura ambiente e constante agitação magnética por um período de 5 horas, de modo que foi monitorada por CCD. Ao término da reação, adicionou-se água destilada (20 mL) e foi observada a formação de precipitado, o qual foi filtrado em funil sinterizado e lavado com água. V- 1.2.1.10.1 Caracterização F.M.: C14H11ClN4O2S P. M.: 334,78 g/mol Sólido amarelo-claro; Rendimento: 70%; Rf: 0,55 (Cicloexano/Acetona 7:3); P.F: 215-216ºC. RMN 1H (300 MHz, ppm, DMSO-d6): δ 12,04 (s, 1H, NH); δ 10,275 (s, 1H, NH); δ 8,67 (s, 1H, Ar-H); δ 8,17 (s, 1H, CH=N); δ 8,15 (d, J= 8,8 Hz, 1H, Ar-H); δ 7,81 (d, J= 8,8 Hz, 1H, Ar-H); δ 7,50 (d, J= 7,6 Hz, 2H, Ar-H); δ 7,39 (dd, J= 7,2 Hz e J = 7,6 Hz, 2H, Ar-H); δ 7,50 (t, J= 7,2 Hz, 1H, Ar-H). IV (ν cm-1 KBr): 3255* (NH2), 3164 (NH hidrazínico), 1544 (C=N), 1332 (NO2), 1059 (C=S). Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 125 V- 1.2.2 Avaliação da Atividade Antibacteriana V- 1.2.2.1 Metodologia Os ensaios preliminares de atividade antibacteriana foram realizados em triplicata, utilizando-se a metodologia de Difusão em Disco em meio sólido127. Soluções na concentração de 10 mg/mL foram preparadas para cada molécula analisada. Discos de papel foram impregnados com 30 μL das soluções recém-preparadas, resultando numa concentração final de 300 μg/disco. Os mesmos foram depositados sobre placas de Petri contendo os meios de cultura previamente semeados com os microrganismos testados, e inoculados a 37 ºC por 24-48 h. Discos previamente umedecidos com DMF foram utilizados como controle negativo. Os resultados foram analisados através das médias aritméticas dos halos de inibição, expressas em milímetros, sendo designadas como Zonas Médias de Inibição (ZMI). Os compostos 2c e 2h, por apresentaram melhor ação em relação aos demais, foram selecionados determinação das concentrações mínima inibitória (CMI) e mínima bactericida (CMB), em meio líquido. O composto 2i não pôde ser testado, pois o mesmo precipitava em vários meios de culturas testados, indicando que havia interação entre a molécula e componentes do meio de cultura. Para os ensaios em meio líquido, a partir da solução estoque (10 mg/mL) para cada composto selecionado, diluições seriadas foram preparadas, obtendo-se concentrações que variaram entre 500 e 7,8125 μg/mL para os derivados 2h e 2i, e entre 1000 e 15,625 μg/mL para 2c. Estas concentrações foram adicionadas aos tubos teste contendo os meios de cultura, e posteriormente as suspensões dos microrganismos foram inoculadas. Para o controle positivo, foram preparados tubos contendo apenas o meio de cultura e a suspensão do microorganismo. Tubos contendo o meio de cultura, a suspensão do microrganismo e o solvente DMF foram utilizados como controle negativo. Os tubos foram incubados a 37ºC por 24-48 h, e, em seguida, examinados e plaqueados para visualização ou não de crescimento. Os valores de CMI foram obtidos a partir da maior concentração dos compostos onde não se observou crescimento, e os valores de CMB, observados a partir do crescimento da diluição subseqüente, sempre plaqueando-os para uma melhor visualização e confirmação. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 126 V- 1.2.3 Avalização da atividade anti- T.cruzi. V- 1.2.3.1 Metodologia Para determinar o efeito anti-proliferativo para T. cruzi, formas epimastigotas (106/ml) crescidos em culturas axênicas, na fase log de crescimento, serão colocadas em placas de 96 poços no volume de 100 ml, sob condições de cultura adequadas (26°C). Os testes serão conduzidos tendo como controle o benzonidazol (50 mg/ml) e culturas de parasitos sem tratamento. As substâncias serão avaliadas quanto a concentração inibidora de 50% do crescimento dos parasitas (IC50%) onde formas epimastigotas da cepa Y de T. cruzi serão cultivadas durante 24 horas, respectivamente, na presença de diferentes concentrações dos compostos, procedendo-se em seguida a contagem de parasitas viáveis. O cálculo da IC50% será determinada por meio de uma regressão linear simples utilizando o software Prisma 4 Graphpad. V- 1.2.4 Obtenção de células esplênicas de camundongos isogênicos e Ensaio de Citotoxicidade V- 1.2.4.1 Metodologia Células esplênicas foram obtidas de acordo com metodologia descrita na literatura117. Após sacrifício do animal por asfixia em CO2, o baço de cada camundongo foi removido em condições assépticas e, em fluxo vertical, macerado em placa de Petri contendo meio de cultura RPMI. As suspensões celulares obtidas serão centrifugadas a 4ºC, durante 5 minutos. Após descarte do sobrenadante, adiciona-se água destilada ao sedimento promovendo lise das hemácias. Marca-se cinco minutos, coleta-se o sobrenadante e centrifuga-se novamente a 4ºC, 200 rpm por cinco minutos. O sedimento (contendo as células esplênicas) foi ressuspendido em meio RPMI 1640 e uma alíquota de cada suspensão celular removida, diluída 1:10 em azul de trypan e quantificada em câmara de Neubauer para se verificar as células viáveis. Células esplênicas (6x105 células/poço) foram cultivadas em placas de 96 poços de fundo plano, contendo meio de cultura RPMI com 10% de soro bovino fetal. Para o ensaio de citotoxicidade, as células serão incubadas com os compostos em sete diferentes concentrações Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 127 (faixa de 200 a 0,1 µg/mL) e com 1 µM de timidina tritiada/poço durante 24 h em estufa de CO2 a 37ºC. Em paralelo, foram feitos controles com células tratadas com saponina (0,05%), com células tratadas com DMSO (0,05%), substâncias com reconhecida atividade tóxica e um controle sem tratamento. Após 24 h de incubação, as células foram coletadas em papel de fibra de vidro e, posteriormente, a captação de timidina tritiada será determinada através do contador beta de cintilação. O percentual de citotoxicidade foi determinado comparando-se a percentagem de incorporação de timidina tritiada nos poços com as drogas em relação aos poços não tratados. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 128 Referências Bibliográficas 1- DRUGS FOR NEGLECTED DISEASES INIATIATIVE. Situações da P&D. Disponivel em: http://www.dndi.org.br/pt/sobre-a-dndi/modelo-administrativo/situacao-da-pad.html. Acesso em Maio, 2010. 2- RASSI, A.; TRANCHESI, J.; TRANCHESI, B. Doença de Chagas. In: VERONESI, R. Doenças infecciosas e parasitárias. 8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.665, 667, 675, 678, 680, 1991. 3- TEIXEIRA, R. 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Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 142 ANEXOS Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 143 ANEXO A: Espectros de IV dos derivados obtidos Composto 2a: 3-nitro-4-hidroxibenzaldeído tiossemicarbazona Composto 2b: 3-nitro-4-dimetil-aminobenzaldeído tiossemicarbazona. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 144 Composto 2c: 3-metoxi-4 hidróxi-5-nitro-benzaldeído tiossemicarbazona. Composto 2d: 3-nitro-4-tolualdeído tiossemicarbazona. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 145 Composto 2e: 3-nitro-4-bromobenzaldeído tiossemicarbazona. Composto 2f: 3-nitro-4-clorobenzaldeído tiossemicarbazona. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 146 Composto 2g: 5-nitro- isoftaldeído tiossemicarbazona. Composto 2h: 5-nitro-2-furaldeído tiossemicarbazona. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 147 Composto 2i: 4-nitro-2-tiofenocarboxaldeído tiossemicarbazona. Composto 2j: 3-nitro-4-clorobenzaldeído-N(4)-fenil-tiossemicarbazona. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 148 Molécula 2l: 5-nitro-isoftaldeído-N(4)-fenil- tiossemicarbazona. Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 149 ANEXO B: Espectros RMN 1H Composto 2a Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 150 Composto 2b Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 151 Composto 2c Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 152 Composto 2d Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 153 Composto 2e Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 154 Composto 2f Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 155 Composto 2g Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 156 Composto 2h Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 157 Composto 2i Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 158 Composto 2j Dyego Revorêdo de Carvalho Silva 159 Composto 2l Dyego Revorêdo de Carvalho Silva