A. Isenmann.......................................................................................................................................CORANTES Os direitos neste texto são exclusivamente com o autor. Isenmann, Armin Franz Corantes / Armin Franz Isenmann - Timóteo, MG : 2013. 1a Edição Bibliografia ISBN 978-85-913050-6-3 Imagem da capa: adaptação da gráfica em http://www.kumartextile.com/dyes.html A. Isenmann CORANTES Conteúdo 1. Preâmbulo........................................................................................................................... 9 2. Desenvolvimento histórico dos meios colorantes ........................................................... 10 2.1. Introdução................................................................................................................. 10 2.2. Corantes antes da Malve de W. Perkin..................................................................... 11 2.3. Os primeiros corantes sintéticos: corantes de anilina............................................... 16 2.4. Fucsina ..................................................................................................................... 21 2.5. Negro de Anilina ...................................................................................................... 23 2.6. Alquilação e fenilação da anilina ............................................................................. 24 2.7. A ascensão das indústrias alemãs e suíças de corante.............................................. 24 2.8. A alizarina sintética .................................................................................................. 25 2.9. Aumento da produção da alizarina por Perkin ......................................................... 29 2.10. A queda da força econômica britânica na Alizarina............................................. 32 2.11. Corantes ftaleínas e azo........................................................................................ 33 2.12. A indústria de corantes dos Estados Unidos ........................................................ 41 2.13. Índigo e a luta BASF contra Hoechst................................................................... 44 2.14. A indústria dos corantes de 1900 a 1914.............................................................. 45 2.15. O impacto da Primeira Guerra Mundial sobre a indústria dos corantes............... 46 2.16. Inovações pós-guerra: corantes dispersos, ftalocianinas e novos produtos para fibras sintéticas ..................................................................................................................... 50 2.17. Tendências dos negócios de 1920 a 1939: protecionismo e a ascenção dos cartéis internacionais ....................................................................................................................... 54 3. 2.18. Indústria de corantes dos anos 1950..................................................................... 59 2.19. Produtos tradicionais e corantes novos ................................................................ 64 2.20. Diversificação dos corantes hoje.......................................................................... 67 2.21. Literatura recente relaciona à história dos corantes sintéticos ............................. 68 Introdução teórica à absorção da luz ................................................................................ 68 3.1. Transições eletrônicas .............................................................................................. 68 3.1.1. Transições proibidas, transições permitidas e as regras de seleção ................. 70 3.1.2. O espectro UV-Visível ..................................................................................... 73 3.1.3. Dedicação das bandas de absorção às transições eletrônicas ........................... 75 3.1.4. O coração dos corantes: o grupo cromóforo .................................................... 77 3.1.5. Análise das partes funcionais em corantes, sob o aspecto da absorção ........... 79 Outros fatores que influenciam na cor ......................................................................... 80 3.1.6. 3.2. Interpretação quantitativa do espectro UV-VIS ............................................... 81 Os grupos cromofóricos, isolados e em conjunto .................................................... 86 2 A. Isenmann CORANTES 3.2.1. Conjugação....................................................................................................... 86 3.2.2. Ligações C=C em conjugação, os polienos...................................................... 89 Efeito mesomérico (efeito +M ou –M): ...................................................................... 90 Efeito indutivo (efeito +I ou –I)................................................................................... 90 Efeito estérico............................................................................................................... 91 3.3. Absorções do benzeno e seus derivados .................................................................. 98 Aromáticos condensados............................................................................................ 103 3.4. 4. Compostos com grupo carbonila............................................................................ 105 Corantes orgânicos, sua química e aspectos do seu manuseio ....................................... 111 4.1. Classes de corantes, conforme o tipo de aplicação e fixação em cima da fibra..... 111 Corantes ácidos .......................................................................................................... 112 Corantes básicos ......................................................................................................... 114 Corantes diretos = corantes substantivos ................................................................... 114 Corantes de cuba ........................................................................................................ 115 Corantes dispersos...................................................................................................... 115 Corantes usados em solvente orgânico....................................................................... 116 Corantes Reativos....................................................................................................... 116 Corantes Naftol .......................................................................................................... 117 Corantes de mordente................................................................................................. 117 Corantes naturais ........................................................................................................ 118 4.2. Classificação dos corantes segundo grupos funcionais, inclusive o grupo cromóforo 119 Acridinas .................................................................................................................... 120 Antraquinonas ............................................................................................................ 121 Corantes arilmetano.................................................................................................... 121 Corantes azo ............................................................................................................... 124 Corantes nitro ............................................................................................................. 126 Ftalocianinas............................................................................................................... 126 Quinoniminas (azinas)................................................................................................ 127 Corante tiazol ............................................................................................................. 128 Corantes Xantenos (= Fluorenos = Rodaminas) ........................................................ 128 4.2.1. têxtil 4.3. Indicações de livros sobre as famílias de corantes e o processo de tingimento 129 Corantes de cuba - química e fabricação................................................................ 129 4.3.1. Introdução....................................................................................................... 129 4.3.2. Fabricação de corantes de cuba mais usados.................................................. 131 3 A. Isenmann CORANTES 1) Pardo de cuba ......................................................................................................... 132 2) Corante de cuba Amarelo 2.................................................................................... 134 3) Corante de cuba amarelo 4..................................................................................... 134 4) Corante de cuba Alaranjado 1................................................................................ 134 5) Corante de cuba Alaranjado 15.............................................................................. 135 6) Corante de cuba Azul 20........................................................................................ 135 7) Corante Verde de cuba 1........................................................................................ 136 4.3.3. Fluxos de resíduos da fábrica dos corantes de cuba....................................... 136 4.3.4. Referências ..................................................................................................... 138 4.4. "Anil" - Rei dos corantes........................................................................................ 140 Retrato-falado do anil (em inglês e alemão: Indigo).................................................. 140 4.4.1. Duas plantas diferentes - um corante em comum........................................... 143 A queda do pastel ....................................................................................................... 145 4.4.2. Descoberta da estrutura química e síntese do anil.......................................... 147 4.4.3. Outros corantes azuis e o primeiro medicamento da Bayer AG .................... 153 4.4.4. Anil sintético .................................................................................................. 155 4.4.5. Os corantes azúis do século XX..................................................................... 157 4.4.6. Anil - o colorido "Blue Denim" da calça jeans .............................................. 158 4.4.7. A púrpura, parente nobre do anil.................................................................... 159 4.4.8. Problemas atuais acerca da tintura com corantes de cuba.............................. 161 4.4.9. Resumo dos fatos sobre o anil........................................................................ 162 4.5. A química dos corantes azo.................................................................................... 162 4.5.1. Formação dos sais de diazônio....................................................................... 163 4.5.2. Características gerais dos sais de diazônio..................................................... 164 4.5.3. Reações dos sais de diazônio ......................................................................... 165 4.5.4. Reações onde o nitrogênio permanece no produto......................................... 167 Reações de acoplamento com aromáticos ativados.................................................... 168 4.5.5. Técnicas de tintura com corantes azo............................................................. 171 4.5.6. Técnicas de colorir fibras celulósicas............................................................. 172 Tintura da celulose impregnada básica ...................................................................... 172 Tintura da celulose impregnada ácida ........................................................................ 173 Tintura da celulose não-impregnada .......................................................................... 174 4.6. Corantes da família Naftol AS ............................................................................... 175 4.7. Corantes inertes de dispersão ................................................................................. 177 4.8. Corantes reativos ................................................................................................... 178 4.8.1. Introdução ...................................................................................................... 178 4 A. Isenmann CORANTES 4.8.2. Os fixadores mais prominentes: aromáticos nucleofílicos ............................. 178 4.8.3. Uma nova concorrente: Vinilsulfona ............................................................. 180 4.8.4. Condições e restrições do tingimento com corantes reativos......................... 183 Ponto forte dos corantes reativos ............................................................................... 184 Como aplicar um corante reativo ............................................................................... 186 4.8.5. Desenvolvimento mais recente: os corantes reativos bifuncionais. ............... 186 4.8.6. Apresentação das características dos corantes reativos comerciais ............... 186 Procion MX ................................................................................................................ 187 Cibacron F .................................................................................................................. 187 Drimarene K ............................................................................................................... 187 Remazol...................................................................................................................... 188 Levafix ....................................................................................................................... 189 Procion H e Procion H-E............................................................................................ 189 4.8.7. Efeito da temperatura sobre o corante reativo................................................ 189 Maneiras de aumentar a temperatura de reação ......................................................... 190 4.8.8. Tempo de tingimento ..................................................................................... 190 4.8.9. Efeito do pH no tingimento ............................................................................ 191 Corantes ácidos (para fibras de proteína) ................................................................... 191 Corantes reativos no algodão ..................................................................................... 191 Corantes de vinilsulfona (corantes do tipo Remazol) ................................................ 192 Corantes Lanasol ........................................................................................................ 192 4.9. Corantes quinóides e a fotografia colorida............................................................. 192 4.10. Corantes naturais ............................................................................................... 195 4.10.1. 5. Bibliografias acerca de corantes naturais ....................................................... 197 Pigmentos ....................................................................................................................... 198 5.1.1. 5.2. Princípio físico da absorção de luz por pigmentos......................................... 200 Desenvolvimento histórico dos pigmentos ........................................................... 201 5.2.1. Surgimento dos pigmentos sintéticos ............................................................. 202 5.2.2. Métodos industriais de aplicação dos pigmentos ........................................... 204 5.2.3. Produção e padrões industriais ....................................................................... 205 5.2.4. Classificação dos meios de coloração conforme DIN 55943......................... 206 5.2.5. Classificação química dentro dos pigmentos inorgânicos.............................. 206 5.2.6. Fichas técnicas de pigmentos ......................................................................... 207 5.2.7. Aplicações industriais dos pigmentos inorgânicos......................................... 208 Metálico e carbono ..................................................................................................... 209 Pigmentos biológicos e orgânicos .............................................................................. 210 5 A. Isenmann CORANTES Pigments roxos (CI Pigment Violet; PV)................................................................... 210 Pigmentos azúis (CI Pigment Blue; PB) .................................................................... 211 Pigmentos verdes (CI Pigment Green; PG)................................................................ 211 Pigmentos amarelos (CI Pigment Yellow; PY).......................................................... 211 Pigmentos alaranjados (CI Pigment Orange; PO)...................................................... 212 Pigmentos vermelhos (CI Pigment Red; PR)............................................................. 212 Pigmentos marrons (CI Pigment Brown; PBr)........................................................... 212 Pigmentos negros (CI Pigment Black; PBk) .............................................................. 212 Pigmentos brancos (CI Pigment White; PW)............................................................. 212 5.2.8. Pigmentos orgânicos ...................................................................................... 213 Pigmentos orgânicos naturais..................................................................................... 213 Pigmentos orgânicos artificiais .................................................................................. 213 Pigmentos azo ............................................................................................................ 213 Pigmentos bisazo........................................................................................................ 214 Pigmentos policíclicos................................................................................................ 216 Propriedades dos pigmentos orgânicos ...................................................................... 216 Toxicologia dos pigmentos orgânicos........................................................................ 216 5.3. Pigmentos com efeitos especiais ............................................................................ 217 Efeito metálico ........................................................................................................... 217 Efeito perolizante ....................................................................................................... 218 Colorimetria em pigmentos especiais ........................................................................ 219 Pigmentos luminescentes ........................................................................................... 219 5.4. 6. Literatura sobre pigmentos..................................................................................... 221 Aplicações específicas dos meios colorantes ................................................................. 221 6.1. Tintas e vernizes - o reinado dos pigmentos. ......................................................... 221 6.1.1. Dados econômicos sobre tintas e vernizes no Brasil...................................... 221 6.1.2. Classificação das tintas................................................................................... 222 6.1.3. Os componentes básicos em tintas ................................................................. 223 6.1.4. As resinas mais usadas nas tintas ................................................................... 223 Resina alquídica ..................................................................................................... 223 Resinas epóxi.......................................................................................................... 224 Resinas acrílicas ..................................................................................................... 225 Resina poliéster ...................................................................................................... 226 Emulsões vinílicas.................................................................................................. 226 Resina nitrocelulose ............................................................................................... 227 6.1.5. Os pigmentos e corantes mais utilizados em tintas e vernizes ....................... 227 6 A. Isenmann CORANTES 6.1.6. Cargas em tintas industriais............................................................................ 228 6.1.7. Solventes usados em tintas ............................................................................. 228 Aditivos em tintas....................................................................................................... 229 6.1.8. Etapas operacionais na fabricação de tintas ................................................... 230 Tintas para revestimentos - base solvente .................................................................. 230 Pré-mistura: ............................................................................................................ 230 Dispersão (Moagem): ............................................................................................. 230 Completagem: ........................................................................................................ 230 Filtração:................................................................................................................. 230 Envase: ................................................................................................................... 230 Produção de vernizes.................................................................................................. 231 Tintas para revestimentos - base água........................................................................ 232 Processo de fabricação de tintas látex .................................................................... 232 Tinta em Pó ................................................................................................................ 233 Processo de fabricação ........................................................................................... 234 Tintas para impressão................................................................................................. 235 6.2. Corantes e pigmentos como protetores contra a auto-oxidação ............................. 236 6.2.1. Controle da cinética e métodos de prevenção da auto-oxidação.................... 238 Motivos para o uso de antioxidantes .......................................................................... 239 1.1.1 Como funciona um antioxidante? .................................................................. 240 Espalhamento da luz UV............................................................................................ 240 Dissipação da luz UV ................................................................................................. 241 Reações reversíveis, induzidas por luz UV................................................................ 242 Novos materiais antioxidantes e tendências............................................................... 244 Antioxidantes naturais e aditivos protetores em alimentos ........................................ 245 6.3. Corantes para alimentos ......................................................................................... 248 6.3.1. Objetivo da coloração de comidas e bebidas.................................................. 248 6.3.2. Corantes naturais versus artificiais................................................................. 248 6.3.3. Legislação dos corantes alimentares .............................................................. 249 6.3.4. Tonalidades dos corantes alimentares ............................................................ 251 Amarelo, cor laranja e vermelho ................................................................................ 252 Azul ............................................................................................................................ 255 Verde .......................................................................................................................... 256 Marrom e preto........................................................................................................... 257 Pigmentos brancos, vermelho e metais ...................................................................... 258 6.3.5. Antocianinas................................................................................................... 258 7 A. Isenmann 6.3.6. CORANTES Coloração marrom: o reinado do caramelo .................................................... 261 Preparo do caramelo................................................................................................... 261 Reações químicas que levam ao caramelo ................................................................. 262 7. 8. 9. Medição da cor ............................................................................................................... 264 7.1. Aplicações e justificativas para a instrumentação.................................................. 264 7.2. Fundamentos da colorimentria ............................................................................... 265 7.3. O olho humano – uma obra-mestre da natureza..................................................... 266 7.4. Os valores colorimétricos normalizados, X,Y,Z. ................................................... 266 7.5. Geração da cor percebida ....................................................................................... 269 7.6. Iluminantes padronizados....................................................................................... 271 7.7. Metameria............................................................................................................... 273 7.8. O observador padrão .............................................................................................. 274 7.9. Geometria-padrão 45°/0°........................................................................................ 275 7.10. As geometrias padronizadas 0°/d, d/0° e d/8° .................................................... 276 7.11. O triângulo das cores da CIE.............................................................................. 278 7.12. Espaço de cores CIE L.a.b. ................................................................................ 280 7.13. Outros sistemas de cor ....................................................................................... 283 7.14. Mistura aditiva e subtrativa das cores ................................................................ 284 7.15. O problema da visualização das cores na tela do computador ........................... 287 7.16. Cálculos de receitas de coloração....................................................................... 288 7.16.1. Estratégia geral e metas.................................................................................. 288 7.16.2. Cálculo da formulação segundo Kubelka e Munk .......................................... 289 7.16.3. Etapas na prática............................................................................................. 290 O banco de dados dos meios colorantes - Colour Index ................................................ 291 8.1. CI Generic Name.................................................................................................... 292 8.2. CI Constitution Number ......................................................................................... 293 Propostas de ensaios práticos de síntese e aplicação de corantes .................................. 295 9.1. Síntese de corantes e substâncias coloridas............................................................ 295 9.1.1. Síntese de derivados do trifenilmetano .......................................................... 295 9.1.2. Prova de aromáticos ....................................................................................... 298 9.1.3. Síntese da Violeta de Genciana ...................................................................... 299 9.1.4. Síntese de fenolftaleína .................................................................................. 302 9.1.5. Síntese de fluoresceína ................................................................................... 303 Aplicação da fluoresceína: ......................................................................................... 303 9.1.6. Síntese de corantes azo .................................................................................. 303 a) Síntese de um corante azo de cor púrpura.............................................................. 303 8 A. Isenmann CORANTES b) Síntese de Alaranjado de β-naftol (CAS 633-96-5)............................................... 305 c) Síntese do Vermelho do Congo.............................................................................. 306 9.1.7. 9.2. Síntese do anil ................................................................................................ 307 Técnicas de tintura ................................................................................................. 307 9.2.1. Exigências ao corante..................................................................................... 307 9.2.2. Técnicas de tintura ......................................................................................... 308 Tintura direta ou substantiva: ..................................................................................... 308 Tintura reativa ............................................................................................................ 308 Tintura formativa do corante...................................................................................... 308 Tintura de cuba........................................................................................................... 309 Tintura com mordente ................................................................................................ 310 9.3. 10. Procedimentos de tintura ........................................................................................ 310 9.3.1. Tintura substantiva com corantes naturais. .................................................... 310 9.3.2. Tintura substantiva com corantes artificiais................................................... 310 9.3.3. Tintura formativa com Azul da Prússia.......................................................... 311 9.3.4. Tintura formativa com Negro de Anilina ....................................................... 311 9.3.5. Tintura de cuba com anil ................................................................................ 312 9.3.6. Tintura com mordente .................................................................................... 313 Anexos........................................................................................................................ 313 1. Preâmbulo O ser humano é literalmente impressionado com as cores do seu ambiente. Os sentidos do homem captam cerca de 87% de todas suas percepções pelo órgão da visão, apenas 9% pela audição e os 4% restantes por meio do olfato, do paladar e do tato. A cor é o resultado produzido no cérebro pelo estimulo recebido quando a energia radiante penetra nos olhos, permitindo a distinção do verde, do azul, do vermelho e de outras cores. Este processo será discutido detalhadamente no contexto do cap. 7, "Medição da cor". Este texto, assim como a maioria dos livros acerca do tema, divide os meios colorantes, entre corantes solúveis e pigmentos. Os primeiros absorvem uma parte do espectro da luz visível, cada molécula por si. Os pigmentos, por outro lado, têm seu efeito óptico também devido sua morfologia cristalina, onde se tem efeitos tais como espalhamento da luz - o que falta nos corantes verdadeiros. Conforme a sua importância econômica e também à sua diversificação estrutural, serão apresentados em primeiro lugar os aspectos dos corantes moleculares - das quais a grande maioria é de natureza orgânica (cap. 4). A discussão dos corantes orgânicos na sua vasta diversidade requer uma classificação genérica. Em primeiro lugar podemos organizá-los conforme suas características moleculares. Uma outra classificação será sob aspectos mais práticos: conforme a técnica (= tintura) com que são aplicados no material suporte a ser colorido. 9 A. Isenmann CORANTES Mais adiante, no cap. 5, serão tratados separadamente os aspectos dos pigmentos, aplicados em todas as superfícies e materiais maciços onde se procura desviar o caminho da luz. A aparência dos materiais que contêm pigmentos é, portanto, turvo ou, mais em geral, opticamente fechado. Mas antes de entrar nos detalhes destes materiais fantásticos, o leitor é introduzido aos conceitos da absorção de luz ultravioleta e visível, por processos de excitação de elétrons (cap. 3). Aqui procura-se explicar as características de cada grupo cromofórico por si e também as absorções que se esperam de um conjunto de vários grupos cromofóricos na mesma molécula. O livro começa mesmo olhando na história grandiosa dos meios colorantes (cap. 2), vamos acompanhar a ascenção, os sucessos e as (poucas) derrotas deste ramo industrial. Percebemos uma íntima relação entre a produção dos corantes e a Revolução Industrial do século XIX. Afinal, podemos afirmar que as indústrias química e farmacêutica de hoje são frutos dos conhecimentos colecionados na produção industrial dos corantes. 2. Desenvolvimento histórico dos meios colorantes 1 2.1. Introdução Quem estuda os corantes, inevitavelmente, vai encontrar com o anil (inglês: Indigo), corante azul mais antigo e até hoje mais utilizado. É o corante principal da calça jeans. Vale a pena ler sobre a história do anil, pois as descobertas além a sua síntese no laboratório, o desenvolvimento de métodos industriais da sua produção em grande escala, a confrontação com os primeiros problemas ambientais, marcam o início da época industrializada e o fim das grandes explorações das colônias. Nomes famosos tais como Perkin, von Baeyer, Heumann ou Sandmeyer, estão interligados ao grande sucesso industrial deste corante, principalmente na Alemanha. O anil sintético certamente é uma das substâncias mais influentes, ao desenvolvimento da química orgânica e da síntese industrial, cuja ascenção começou na segunda parte do século XIX. Mas já durante os séculos anteriores o anil natural marcou a área dos corantes, pela sua fascinação e também seu valor econômico. Índigo era o corante caro de países orientais que trouxe a cor azul para os cidadãos europeus e o resto do mundo. Ao mesmo tempo que as pessoas viram essa bonita cor na natureza, não foram capazes por muitos séculos isolar ou até produzir o corante responsável. Portanto, podemos afirmar que o anil é um marco para o desenvolvimento da química tecnológica, na forma que existe hoje. Nas primeiras tentativas achou-se até um subproduto que logo se revelou como um dos primeiros medicamentos sintéticos. Com admiração olhamos nos pioneiros desta substância e no rastro que ela deixou, não só na pesquisa científica, mas também nas operações unitárias da indústria química e até na cultura da sociedade. A preparação e utilização de corantes é uma das mais antigas atividades humanas, como evidenciado pela descoberta de tecidos em antigos sítios arqueológicos, bem como relatos na bíblia e as obras da antiguidade clássica. Até dois séculos atrás, os materiais e métodos não 1 Baseado em um artigo de P.J.T. Morris, A.S. Travis. A History Of The International Dyestuff Industry, disponível em: http://colorantshistory.org/HistoryInternationalDyeIndustryRev1/HistoryInternationalDyestuffIndustryFirefox/dy estuffs.html#bp7. Note que o artigo contém detalhes sobre os processos químicos do século XIX que não foram incluídos neste texto. Também as fontes originais dos fatos históricos, ver este artigo. 10 A. Isenmann CORANTES tinham evoluído. Depois, com o advento da revolução industrial, a química começou a desempenhar um papel de destaque na indústria têxtil. Isso levou a melhorias em corantes existentes e seus métodos de aplicação. Portanto, analisamos com carinho a pré-história dos corantes modernos que é intimamente ligada à ascensão da indústria química durante o século XIX. Foi nesta época quando a ciência com base em inovações levou a produtos artificiais que logo se provaram superiores em todos os aspectos aos derivados naturais. No século XX surgiram novas fibras que os químicos, com seus conhecimentos já colecionados, conseguiram colorir de maneira cada vez mais eficaz, econômica e de qualidade superior. 2.2. Corantes antes da Malve de W. Perkin Em 1630, um Sr. Higginson de Salem da Carolina do Norte, observou a vegetação local: "aqui existem diversas raízes e frutos silvestres com as quais os índios extraem corantes excelentes que usam nos seus feriados, que nenhuma chuva ou lavagem pode alterar...". Ele, assim como outros colonialistas no Novo Mundo, ficou maravilhado com a notável variedade de corantes, feitos a partir de madeiras e plantas que nunca eram vistos até então no Velho Mundo. Até a chegada dessas novas fontes de corantes, a Europa dependia quase que exclusivamente dos mesmos corantes que foram usados desde a antiguidade, como o pastel e o índigo. Nem mesmo os métodos de aplicação mudaram desde que foram empregados no antigo Egito. Mordentes 2 permitiram uma grande variedade de cores, especialmente quando usados junto à ruiva dos tintureiros, mas os procedimentos não tinham desenvolvidos e continuaram tradicionais. Mesmo assim,voltamos um pouco para trás, na idade média. Notável progresso foi feito na Europa durante os séculos XIII e XIV, especialmente pelos tintureiros venezianos. Comerciantes de Gênova estabeleceram o comércio com alúmen (KAl(SO4)2.12 H2O), o mais importante mordaz do tintureiro, via Golfo de Esmirna. Havia rivalidade com Veneza que trouxe o alúmen e corantes pela via direta do leste. A partir de 1429 Florença também entrou neste comércio. Em 1548 a primeira edição de um livro dedicado exclusivamente aos tintureiros profissionais foi publicado em Veneza. Essa obra de Gioanventura Rosetti incluiu detalhes de receitas de corante e técnicas empregadas em Veneza, Gênova, Florença e em outras partes da Itália. Foi o registro mais completo sobre o ofício dos tintureiros, numa época onde os primeiros paus colorantes da America do Sul surgiram na Europa. Até então três cores primárias foram empregadas por tintureiros: Azul era sinônimo de índigo, quer a partir do pastel ou da indigofera. Vermelho estava disponível a partir do inseto Kermes, a partir da raiz da ruiva dos tintureiros ou do chamado de "pau-brasil" que foi importado do oriente. Amarelos foram extraídos da raiz da erva amarela (reseda lutea; yellow weed), da folha da gonda (reseda luteola; weld), sementes da Pérsia, açafrão e vassoura dos tintureiros. Muitas flavonas e flavonóides são de coloração amarela. Através da combinação destas três cores foram obtidas verdes, marrons, violetas e outras tonalidades, podendo ser variadas com o auxílio de mordentes. 2 Sob mordente (ou mordaz) na tinturaria se entende uma substância (inorgânica) que se deposita na fibra, sem notavelmente prejudicar suas qualidades mecânicas. O pré-tratamento da fibra com mordente facilita a fixação do corante, natural ou sintético, numa etapa posterior e aumenta sua resistência à radiação do sol. Como mordentes servem, em geral, os sais ou hidróxidos de Al3+ e Cr3+, enquanto os mais usados e mais antigos são alúmen (KAl(SO4)2.12 H2O), bicromato/ácido oxálico (o ácido serve como redutor para Cr3+), e taninos (da casca de carvalho ou dos talos da uva). Em vez do alúmen pode-se também usar o sulfato de alumínio, Al2(SO4)3.12 H2O, porém é mais caro do que o alúmem e pode conter impurezas de Fe3+ - o que falsificará a tonalidade da tintura. São submetidas aos mordentes todas as fibras de proteína e fibras celulósicas provenientes de folhas. Ver também p. 117 e o procedimento na p. 313. 11 A. Isenmann CORANTES Fig. 1. Alguns corantes naturais, suas fontes e aplicações: a) Cochonilha, um corante vermelho-carmim extraído da fêmea deste pulgão. b) Tatajuba, uma madeira usada na coloração amarela de lã. c) Nogueira preta, fornece um corante escuro. d) Madeira do pau-brasil, não só usado para extrair cores marrons, mas também material padrão para arcos de violino. e) Garança, também conhecida como ruiva dos tintureiros ou rúbia, cuja raiz tem um corante vermelho (= alizarina). f) Hena, a planta e uma aplicação típica: tatuagem temporária na mão de uma noiva indiana. A publicação de Rosetti não continha ainda a cochonilha (um bessouro), que só no século XVI foi explorado e logo deslocou os corantes de Kermes do mercado, principalmente como resultado das viagens de Cortez (a partir de 1523). O tingimento com a cochonilha foi aperfeiçoada na Holanda por volta de 1630, mas em seguida os segredos do novo processo foram roubados por um alemão que espalhou os detalhes em Londres. A garança foi a base do tingimento com vermelho turquês, introduzido na Europa por técnicos gregos no século XVIII. A garança também foi importante para as emergentes indústrias de impressão de chita de Amesterdã, Basileia, Berlim, Elberfeld, Glasgow, Manchester e Mulhouse. A impressão têxtil exigiu grande experiência do colorista, e incentivou a publicação de livros impressos em chita, o primeiro dos quais foi "Assistente dos produtores britânicos e dos impressores de chita" de Charles Obrien, que apareceu em Londres em 1790. Mesmo que os exploradores do século XVII viajaram ao oriente remoto, o "verde chinês" (Lo-Kao), não foi levado à Europa até o final do século XVIII, e atraiu muita atenção na década de 1850. Às vezes, as cores tinham caído em desuso e os segredos da sua aplicação se perderam. Assim aconteceu com o fabuloso azul bíblico e o roxo romano, primeiro extraído do caramujo murex pelos antigos israelitas e depois adotado pelos fenícios e romanos. Durante o século XIX muitos cientistas tentaram descobrir os segredos das cores da antiguidade, ao extraír e modificar líquenes e os produtos de madeira do Novo Mundo. 12 A. Isenmann CORANTES Enquanto os novos corantes de madeira enriqueceram os métodos dos tintureiros europeus, os profissionais da América continuaram, por enquanto, colorir com a garança, o índigo e outros corantes vegetais que foram recentemente cultivados em Virginia (desde cerca de 1650). Houve certa mudança, porque os corantes a base das madeiras (sul)americanas deslocaram aqueles que tinham sido importados da Europa d Ásia. Tatajuba, cochonilha e novas madeiras colorantes foram trazidas do Caribe, e aos poucos a Carolina do Sul e Geórgia tornaram-se produtores significativos da cochonilha. A casca interna do freixo comum proporcionou um substituto ao índigo, e por volta de 1770 acharam que a casca interna do carvalho negro americano deu o corante amarelo logo conhecido como quercitron. O desenvolvimento da indústria colonial acerca de corantes naturais coincidiu com uma revolução transatlântica em métodos de fabricar os têxteis. A introdução de processos mecanizados, melhorias no branqueamento e, por meados do século XIX, a impressão multicor por meio de rolos, causou uma ascenção rápida da indústria têxtil a partir do fim do século XVIII. Notavelmente, o cloro se tornou agente de branqueamento preferido. Estes novos processos, bem como a introdução da máquina a vapor, permitiram produção rápida e em larga escala - o que causou uma demanda sem precedentes por corantes. Isto encorajou estudos científicos, especialmente na França, buscando novos métodos para aplicação de tintas na impressão e melhores processos de extração. O Imperador Napoleão I assinou um decreto exigindo melhor tingimento da lã com a garança, e na década de 1820 a recémformada Société Industrielle de Mulhouse até ofereceu um prêmio para quem trouxesse conhecimentos químicos sobre a garança. Isto, afinal, levou ao isolamento, análise e identificação de alizarina e purpurina. 13 A. Isenmann CORANTES O OH O OMe OH a) OH b) O O O OH O OH OH c) d) OH O O OH O OH OH O glicose e) COOH f) HO OH OH OH O O O O H N h) g) N H OH O O O O NH i) N H Fig. 2. Moléculas que foram isoladas e identificadas no século XIX nos corantes naturais: a) alizarina (ver também Fig. 14); b) alizarina-1-metiléter; c) xantopurpurina; d) purpurina; e) rubiadina (na rubiaceae); f) ácido carmínico; g) lawsona (na hena); h) e i) indigotina e indirubina (no anil). Os tintureiros e gráficos franceses em Mulhouse e Rouen, e os alemães em Berlim e Elberfeld, mantiveram estreitas ligações com os locais de maior consumo na Inglaterra e na Escócia, por muitos historiadores considerados como berço da grande revolução industrial. Químicos foram atraídos nessas áreas onde ajudaram aos tintureiros e os fabricantes de chita, enquanto os últimos começaram a apreciar a importância da química. Uma consequência desta evolução foi que o estudo da química se tornou uma atividade respeitável já que oferecia possibilidades de ganhar a vida. Novas fontes de corantes foram investigadas a partir da década de 1840, como alcatrão de carvão que, por enquanto, era um resíduo sem valor proveniente da extração de gás usado para iluminação. Nitração de fenol (a partir do alcatrão) rendeu ácido pícrico (Fig. 3), que servia como corante amarelo e era útil por mais de três décadas, a partir da década de 1850. Justus Liebig e Friedich Wöhler em Giessen investigaram a murexida (Fig. 4), um produto roxo obtido a partir de excrementos de cobra, porém, no final da década 1830 seu potencial como corante não foi imediatamente reconhecido. 14 A. Isenmann CORANTES OH O2N NO2 NO2 Fig. 3. Ácido pícrico, um dos primeiros corantes artificiais (amarelo), se obtém ao tratar fenol com ácido nítrico concentrado (catalisador: H2SO4). Pela presença dos grupos nitro no anel a acidez se eleva, de pKa = 14 no fenol, para pKa = 0,9 no ácido pícrico. O O HN NH O N O HN N O -O NH4+ Fig. 4. Murexida (ou purpurato de amônio), descoberta e descrita na dissertação de F.K. Beilstein em 1858. O problema, como acontece com muitos outros corantes novos também, não haviam métodos confiáveis para a fixação destes novos "semi-sintéticos". Nem houve matéria-prima em abundância. Além disso, as receitas e procedimentos da coloração eram segredos que foram, tanto que possível, mantidos dentro da tinturaria. Esta situação começou a mudar quando coloristas quimicamente treinados viajaram pela Europa e, por vezes, através do Atlântico, recolhendo os mais recentes desenvolvimentos e vendendo suas habilidades para tinturarias e gráficas. Na década de 1840 a indústria dos corantes ainda era nas mãos dos extratores dos corantes naturais, comerciantes e tintureiros. Os franceses foram particularmente bem sucedidos, e seus métodos otimizados para a tintura com garança logo foram investigados e imitado pelos holandeses. Durante a década de 1850, coloristas franceses e produtores de corantes, especialmente Depoully em Paris, conseguiram superar as dificuldades de fazer murexida a partir do abundante guano importando da América do Sul e de aplicá-la às fibras naturais. Este método foi adotado na Grã-Bretanha, França e Alemanha. Mas a ascenção dos corantes começou nesta década achou seu auge com o anil sintético (a partir de 1890, ver p. 152). Podemos afrimar que a partir dos 1860 o desempenho de poucos industriais e pesquisadores prenunciava o fim dos corantes naturais e uma predominância econômica da indústria dos corantes químicos. Os processadores restantes do índigo natural, das madeiras colorantes e outros corantes vegetais foram forçados a unir-se, a fim de sobreviver. Na Grã-Bretanha a British Dyewood Chemical Company era formada em Glasgow em 1898 (em 1911 foi reestruturada e se tornou propriedade da United Dye Corporation de Nova Jersey, EUA, voltou para as mãos dos britânicos em 1927 e sobreviveu até 1980). Também fusionaram a United Indigo & Chemical Co. em 1899 (formada pelos escoceses e as fábricas de índigo natural e produtos de pau-brasil, de Lancashire e Yorkshire), e a Yorkshire Dyeware & Chemical Co. em 1900. Em todo século XIX e até a década de 1920, a hemateína de campeche (= azul; ver Fig. 5) ainda foi usada em grandes quantidades na coloração de lã. Hoje ainda esse corante natural é usado com éxito na preparação e coloração de tecidos animais para fins de pesquisa medicinal (inglês: staining, ver nota de rodapé 34 na p. 120). Suas cores se intensificam ao entrar em 15 A. Isenmann CORANTES complexação, especialmente com alúmen (complexo com Al3+) e sais férricos, sendo esse ao mesmo tempo a explicação por que os tecidos, antes de ser coloridos, tinham que ser tratados com um mordente destes sais. Sua tonalidade depende sensivelmente do pH no seu ambiente, por isso mostra uma coloração diferente ao estar em contato com proteínas ácidas ou básicas. Embora sua síntese (junto à brasilina) foi feita em 1937 3, sua produção em escala industrial fica economicamente inviável. Note que o corante do pau-brasil difere da hematoxilina por apenas um grupo hidroxila. A tatajuba (Fig. 1) era um corante popular para produzir tons mistos na região do amarelo, e o índigo natural foi muitas vezes preferido em lã para os azuis escuros. A maioria da madeira de campeche véio do Haiti e foi exportada para os EUA. OH OH O O Red. HO O HO OH Ox. HO HO OH OH Fig. 5. Hemateína (esquerda), parente do corante natural do pau-brasil e do campeche. A forma reduzida é conhecida como "hematoxilina" (= Natural Black 1; CI 75.290; CAS 517-282). Afinal, podemos constatar que os corantes naturais e tradicionais eram muito caros, e, na maior parte, não tinham permanência. Além disso, variaram bastante em concentração e pureza - o que praticamente impediu manter padrão na tintura em uma linha de produção. 2.3. Os primeiros corantes sintéticos: corantes de anilina A anilina em si é um líquido incolor, oleosa, ligeiramente solúvel em água e utilizada na fabricação de produtos farmacêuticos. Mas é facilmente oxidada e quase sempre contém impurezas (incluindo compostos de enxofre e polímeros 4) que escurecem sua aparência. A maioria dos lotes de anilina, até hoje, é vendida com aspecto preto! 3 W.H. Perkin Jr., A. Pollard, R. Robinson, Synthesis of brazilin and hematoxylin. IV. Synthesis of Odiethylenehematoxylone. J. Chem. Soc. 1937, 49-53. 4 A polianilina se forma facilmente, a partir da anilina, já na presença de traços de ácido. É um material colorido e, o que o torna especialmente interessante, condutor elétrico. O curioso é que as propriedades deste material dependem sensivelmente, tanto do pH como do estado de oxidação. Nome trivial Leucoesmeraldina Estrutura H H H H N N N N x Cor (abs.max.) Características amarela; 310 nm isolante; completamente reduzida. 16 A. Isenmann CORANTES Anilina por si é um corante mediocre, mas certamente é a substância-mãe dos primeiros corantes sintéticos comercialmente bem sucedidos. Uma grande variedade de corantes sintéticos fabricados a partir de alcatrão de carvão (ou a partir de derivados do benzeno encontrados nele) é usada no tingimento de têxteis e de vestuário, em tintas de impressão flexográfica e de tela. (A flexografia originalmente foi chamada de "impressão de anilina."). O estudo de produtos de alcatrão de carvão que iam transformar o mundo dos corantes, foi liderado por A.W. Hofmann 5, um assistente de Liebig. Durante o início de 1840, Hofmann conseguiu demonstrar a identidade de um composto básico obtido de diferentes fontes, incluindo índigo e alcatrão. Este composto logo foi chamado de "anilina", derivado da palavra árabe "anil" que significa índigo. Depois de 1845 Hofmann preparou esta amina aromática em duas etapas, a partir do benzeno, hidrocarboneto do alcatrão de carvão. Sal de esmeraldina H H H H N N N N x Base de esmeraldina N N H H N N verde; 320, 420 e 800 nm. condutor; parc. oxidada e protonada. azul; 320 e 620 nm. isolante; parc. oxidada e desprotonada. púrpura; 320 e 530 nm. isolante; compl. oxidada. x Pernigranilina N N H H N N x Com exceção da leuco-esmeraldina todas as formas da polianilina, quando em concentrações maiores, têm aparência preta, por terem fortes extinções na faixa visível. Note que apenas o sal da esmeraldina é condutor, com condutividades entre 10 e 1000 S.cm-1. Sua síntese é tão fácil que existe um roteiro para o laboratório de ensino, ver R. Faez, C. Reis, P.S. Freitas, O.K. Kosima, G. Ruggeri, M.A. Paoli. Polímeros condutores, Qímica Nova na Escola, 11 (2000), 13-18. 5 August Wilhelm von Hofmann (08/04/1818 - 05/05/1892), químico alemão, dedicou-se à química a partir de 1843, quando se tornou assistente de J. von Liebig. Dois anos depois, foi nomeado professor no Colégio Real de Química, em Londres. Os vinte anos que passou nessa instituição foram vitais para o desenvolvimento da química na Inglaterra. Em 1865 retornou para a Alemanha como sucessor do químico E. Mitscherlich, em Berlim, onde permaneceu até sua morte. A maioria de seus trabalhos refere-se aos compostos de alcatrão da hulha, seus derivados e reações. Embora a anilina já foi descoberta independentemente por três químicos muitos anos antes (O. Unverdorben 1826; F.F. Runge 1834; Fritsche 1840), foi somente Hofmann que mostrou que nestes três trabalhos se tratava da mesma substância. Ele melhorou a síntese da anilina, ao reduzir o nitrobenzeno usando zinco em pó e ácido. Em seguida, sua escola estudava a anilina e suas reações. Esse estudo foi estendido às alcoilaminas, e foi Hofmann quem descobriu os sais de amônio quaternários e suas reações (regra de eliminação de Saytzeff-Hofmann). Dedicou-se então à classificação de todas as aminas. O "rearranjo de Hofmann" transforma amidas, RC(=O)NH2, diretamente em aminas, R-NH2. Os compostos importantes descobertos ou analisados corretamente pela primeira vez por Hofmann incluem, entre outros, o álcool alílico, a etilenodiamina e o formaldeído. Seu nome também é lembrado pela operação chamada "metilação exaustiva de Hofmann" ou "degradação de Hofmann", que, durante muito tempo, foi um importante instrumento para o estudo das estruturas dos alcalóides e outras aminas. Hofmann foi um dos fundadores da "Sociedade de Química Alemã", sendo seu presidente por diversos anos. Foi também presidente da "Sociedade Britânica de Química". Suas pesquisas sobre a anilina, juntamente com as de Sir W. Perkin, ajudaram a lançar as bases da indústria de corantes de anilina. 17 A. Isenmann CORANTES NH3+ Cl- NO2 a) HNO3 Zn / HCl NH 3+ Cl- CaO [H2SO 4] b) NO2 4 c) NH2 + 9 Fe + 4 H2O [HCl] 4 + 3 Fe3O4 NH2 Cl + NH2- [NH3 liq.] -33 °C + Cl- Fig. 6. Síntese da anilina: a) Método clássico segundo Hofmann; b) Variação usada hoje: após essa redução é neutralizado com CaO, anilina e água removidos por destilação, enquanto o subproduto óxido de ferro pode ser usado como pigmento vermelho. c) Acesso alternativo: amonólise de clorobenzeno (ou de fenol). Houve ainda outros hidrocarbonetos do alcatrão, tal como tolueno, naftaleno e antraceno. Foram introduzidas funções de amina nestes também, com o objetivo de imitar os alcalóides, sobretudo a quinina, na época muito valorizados como drogas. Fig. 7. Pioneiros dos corantes sintéticos, A.W. von Hofmann (esquerda), Sir W.H. Perkin(meio), J.P. Griess (direita) . Hofmann se tornou diretor do Royal College of Chemistry em Londres em 1845, e seus alunos e assistentes elaboraram reações que levam a uma variedade de amino-compostos. 18 A. Isenmann CORANTES Também trabalharam na análise de importantes substâncias naturais, incluindo as matérias corantes. Em 1853, aos 15 anos de idade, W.H. Perkin 6 tornou-se um dos alunos de Hofmann. Depois de absolver o curso introdutório, Perkin foi atribuído a um projeto de pesquisa relacionado a compostos de alcatrão de carvão: o preparo de um derivado amino do antraceno. Embora o projeto foi um fracasso, Perkin se entusiasmou para os compostos aromáticos aminados e continuou com experiências semelhantes com benzeno e naftaleno, em 18551856. Entre os produtos tinham substâncias coloridas. Seu efeito de tingimento foi investigado e publicado nos relatórios subseqüentes que apareceram durante 1857. Em 1856, o jovem W. Perkin de 18 anos, estava tentando resolver o problema da doença da malária que atingiu severamente as colônias britânicas na Ásia. Sabia-se que é transmitida por um mosquito (Anopheles). Verificou-se que a quinina foi um remédio eficaz contra a malária, daí os colonos britânicos a importaram dos holandêses 7. Tinha que ser importado porque a quinina só é obtida naturalmente a partir da casca da planta quina, que na época só crescia no Peru e em colônias indonésias - ambas de propriedade dos holandêses, que cobraram um preço alto por isso. Tentativas para cultivar plantas da quinina na Inglaterra falharam, então tornou-se um desafio entre os poucos químicos que tinha na época de desenvolver um meio de criar quinina sintética. O que tinha em abundância era alcatrão, um produto residual da produção de gás, que se verificou possuir substâncias muito semelhantes à estrutura química da quinina. Perkin também estava interessado em uma rota para a quinina sintética. Ele tentou isso durante as férias da páscoa de 1856 em um laboratório que ele montou em um quarto na casa dos seus pais, em East London. A idéia era provocar a autocondensação da amina aliltoluidina, sob condições oxidantes usando dicromato de potássio. O experimento fracassou, mas para descobrir o por-quê, Perkin mergulhou nos mistérios da oxidação dos aromáticos. Ele tratou a anilina com o mesmo agente oxidante. O resultado: um precipitado preto - não parecia muito promissor. Ao tratá-lo com álcool, no entanto, ele obteve uma solução púrpura que manchou seu jaleco. Esta mancha resistiu ao sabão e à ação da luz, e logo Perkin considerou suas possibilidades como um corante comercial. N OH HN O N-alil toluidina H2N N N N H N Quinina Mauve A 6 Sir William Henry Perkin (12/03/1838 - 14/07/1907), químico britânico. Ficou conhecido pelo desenvolvimento dos primeiros corantes síntéticos e pioneiro da indústria química. Mais detalhes, ver texto. 7 Curiosamente, os colonos britânicos descobriram que a quinina, de gosto amargo horrível, era mais palatável quando misturado com água tônica. Ainda de gosto terrível, mas foi rendido completamente potável quando um pouco de gin era adicionado. Assim, o gim e tônica resultante é provavelmente a única bebida alcoólica que pode legitimamente reivindicar ter sido desenvolvido para "fins medicinais". 19 A. Isenmann CORANTES Fig. 8. A síntese acidental da mauve por Perkin em 1857. A química das etapas é bastante complexa e fornece vários isômeros da mauve. A quinina mostrada aqui, ele infelizmente não conseguiu. N H2N N+ NHPh OAc- N N H2N N+ N H OAc- H2N N+ N H OAc- Fig. 9. Estrutura da mauveína, originalmente proposta por Perkin (em cima). Hoje se sabe que a Malve é uma mistura de dois isômeros (em baixo). Perkin enviou amostras do seu corante para Pullars of Perth, tintureiros de quinquilharias de tecido com conexões em toda a Europa, que emitiram um laudo favorável a esta nova substância. Roxo foi uma cor bastante popular, mas quando obtida a partir de líquenes ou da murexida de guano, não era resistente à luz, especialmente nas atmosferas ácidas das cidades industrializadas. Daí Perkin sabiamente registrou uma patente para sua nova invenção, em agosto de 1856, e já em outubro saiu do Royal College of Chemistry para se dedicar inteiramente à melhoria do seu corante. Foi em janeiro de 1857 que um tintureiro de seda de East London, Thomas Keith, relatou as qualidades superiores da cor de anilina. Isso encorajou Perkin a construir uma pequena fábrica em Greenford Green para produzir o roxo da anilina em escala piloto. Pronto o primeiro lote, ele enviou a Thomas Keith em dezembro de 1857, e Perkin estava em negócio. Infelizmente, o produto se mostrou difícil de vender, com excepção para a aplicação limitada de tingimento de seda. Isso se devia às dificuldades de fixação em cima da fibra de algodão. Consequentemente houve pouco entusiasmo entre os impressores de chita, em Lancashire e na Escócia. No entanto, o roxo tornou-se cor líder da moda em Paris e Londres, provavelmente por causa da introdução de um corante brilhante de líquen, chamado de "roxo francês", fabricado por uma empresa em Lyon. Perkin estava sob pressão para desenvolver um mordente adequado para o algodão e ele o achou ao mesmo tempo que Robert Pullar. Em seguida, o produto teve de ser vendido para os impressores, o que significava viajar muito por toda a Grã-Bretanha, oferecendo demonstrações nas fábricas de potenciais consumidores. A campanha teve sucesso e o corante sintético se vendia bem a partir de 1859 sob o nome fantasia "Levantine". A produção do novo corante implicou um fornecimento seguro da anilina, que foi feita em duas etapas a partir do benzeno (destilado a partir de alcatrão de carvão), nitração e redução. 20 A. Isenmann CORANTES No início, o aparelho de processo foi feito de vidro, mas quando a procura pelo corante aumentou Perkin mudou para bateladas de ferro, agitadas a mão. Estes reatores foram bem maiores e, em seguida, mecanizados por Edward Chambers Nicholson da fábrica de produtos químicos, Simpson, Maule & Nicholson (os parceiros também foram ex-alunos de Hofmann). Perkin não concedeu licença para outras empresas da Grã-Bretania para produzir seu corante patenteado, o que não impediu o espalhamento do roxo no exterior. Tintureiros de Lyon, França, especializados em seda, começaram logo a experimentar com a reação da anilina. A partir do final de 1858, eles e inovadoras empresas parisienses, tais como Depoully e Castelhaz, produziram o roxo de anilina em uma escala considerável, assim como uma ou duas empresas alemãs. Assim, o corante se difundiu nos centros de moda da Europa. Na GrãBretanha, o roxo da anilina foi rebatizado em "Malve" (francês para a flor de malva) na primavera de 1859, quando o corante atingiu seu auge em popularidade. Dando-se à busca da quinina, Perkin tinha investido as economias do seu pai e nunca achou a rota de síntese do alcalóide que quis. Mas logo depois tornou-se bastante rico, inesperadamente, com o corante roxo que obteve por acaso. Infelizmente, não conseguiu patentear sua descoberta de maneira esgotante. Primeiro os francêses, e mais tarde a indústria química alemã, entraram no ramo dos corantes sintéticos, e de repente as cores sintéticas estavam por toda parte. Contudo, podemos atribuir o sucesso dos primeiros corantes sintéticos aos trabalhos de Perkin, na década de 1850. Embora a anilina é raramente utilizada como um corante hoje, foi Perkin que estimulou uma grande quantidade de investigações e de investimentos em corantes de anilina, que levaram a uma ampla variedade de pigmentos e corantes atualmente disponíveis. 2.4. Fucsina Ao mesmo tempo que a Malve tornou-se popular, um segundo corante de anilina, um vermelho brilhante chamado de "Fucsina" (segundo a flor fúcsia; vermelho), foi desenvolvido na fábrica dos irmãos Renard, uma parceria de tintureiros com sede em Lyon. Foi a invenção de François Emmanuel Verguin, que se juntou aos Renards no início de 1859. O agente oxidante foi o cloreto estânico. O produto entrou no mercado, já em maio daquele mesmo ano. NH2 NH2 + H+ HSO 3SO3H 2N NH 2 H2N NH2 Fig. 10. Fucsina (também chamada de fucsina básica; CAS 8075-08-9) e a adição de compostos de enxofre de baixo NOX (sulfito, mono e polissulfetos). Isso leva à destruição irreversível do sistema quinóide, e assim à perda da cor. 21 A. Isenmann CORANTES NH2+ -O -O 3S 3S H 2N NH 2 SO 3 Fig. 11. - Fucsina sulfonada ("fucsina ácida"), com melhor solubilidade em água. Durante o inverno de 1859/60, Nicholson em Londres descobriu um acesso melhor ao vermelho, usando ácido arsênico em vez de SnCl4, para a condensação oxidativa da anilina comercial. Henry Medlock, outro ex-aluno de Hofmann e consultor de uma firma de tintureiros em Coventry, veio através de um processo quase idêntico. Em janeiro de 1860, Medlock registrou sua patente, apenas uma semana antes de Nicholson. Em outubro, os direitos de Medlock no processo usando ácido arsênico foram adquiridos pela empresa Simpson, Maule & Nicholson (SM&N), que comercializou o vermelho que logo ficou conhecido na Grã-Bretanha como "Magenta". O terceiro corante de anilina foi descoberto em 1860 por C. Girard e G. de Laire, auxiliares químicos de T.J. Pelouze em Paris. Pelouze, especialista na extração e reações de benzeno, era dono de uma fábrica para a preparação deste hidrocarboneto e os intermediários nitrobenzeno e anilina, em Brentford, perto de Londres. Enquanto ele trabalhava em Brentford na reação do vermelho de anilina, Girard e de Laire chegaram, através de uma nova mistura, a um corante azul. Eles descobriram que o melhor método para este azul era aquecer anilina pura junto com o vermelho Magenta. Esta rota foi patenteada no início de 1861 e a patente logo vendida para os Renards, que também compraram as dependências de Pelouze. Os Renards estavam intimamente ligados com SM&N para os quais foi concedida uma licença para fabricar o azul na Grã-Bretanha em 1862. Hofmann foi o consultor científico para as duas empresas, e estudou a constituição de anilina vermelha e do novo azul. A partir daí, a ascenção da indústria de corantes de anilina foi intimamente ligada aos trabalhos de Hofmann sobre compostos aminados. Hofmann analisou o azul para Nicholson, e em maio de 1863 revelou ao mundo científico que era a anilina vermelha trifenilada. Esta evidência prometeu novas cores, ao se fazer outras substituições no corante vermelho. Ele investigou a alquilação e chegou a cores violetas brilhantes. O processo foi patenteado e em seguida licenciado para as empresas SM&N, os Renards, e um fabricante alemão. As novas cores violetas logo ficaram conhecidas como "Roxo de Hofmann" que a partir de 1864 desbancaram a Malve de Perkin. Ao contrário dos primeiros corantes de anilina, que tinham sido descobertos através de métodos empíricos em manipulações ou em laboratório de fábrica, as violetas de Hofmann foram fruto de uma pesquisa científica baseada em conhecimentos teóricos. Pesquisas contínuas de Hofmann revelaram que a anilina vermelha (fucsina, magenta, roseina, etc.), não era um produto de anilina por si só, mas se constituíram de uma mistura de tolueno e anilina. Além disso, Nicholson atingiu por sulfonação um aumento na solubilidade do azul de anilina - uma propriedade importante na aplicação ao tecido. 22 A. Isenmann CORANTES Os Renards e SM&N tentaram controlar os mercados na França e Grã-Bretanha com monopólios baseados em suas patentes. Um processo judicial que começou em Paris no início de 1860 foi resolvido em março de 1863, quando o julgamento foi dado em favor aos Renards. Esta foi uma decisão controversa, pois agora os Renards controlaram todos os processos para o vermelho de anilina, e com este, também tinham um monopólio sobre seus derivados, o azul de anilina e as violetas de Hofmann. SM&N teve menos sorte. Esta empresa perdeu sua causa de patente do vermelho de anilina em 1865, embora tenha conseguido manter o monopólio no azul de anilina. Uma vez que o processamento do vermelho de anilina tornou-se propriedade pública na GrãBretanha, a indústria de corantes expandiu naquele país. Foi Thomas Holliday, filho do destilador de alcatrão Read Holliday em Huddersfield, que tinha processado contra SM&N, a fim de liberar a síntese do vermelho de anilina via ácido arsênico, e depois de 1865 sua empresa cresceu rapidamente. Isso também ajudou a Ivan Levinstein, de Berlim, que em 1865 começou a fabricação de magenta em Manchester; sua fábrica foi um precursor da empresa ICI Specialities que tem uma posição lider até hoje. Injunções e os resultados de disputas de patentes eram também um estímulo para novas atividades inovadoras. Uma vez que as rotas com base nas oxidações da anilina com ácido arsênico foram aplicados com éxito na Grã-Bretanha (com exceção da empresa SM&N) até início de 1865, as empresas nos outros países tinham que achar alternativas. Sendo assim, se investiram nas pesquisas em novos corantes a base de fenol, corantes a partir do naftaleno, modificações da Malve e finalmente também na exploração da descoberta sensacional de P. Griess 8, o que mais tarde foi chamado de reação de diazotamento. Os trabalhos de Heinrich Caro, o colorista alemão que trabalhava na época na Roberts, Dale & Co em Manchester, rival principal da SM&N, foram fundamentais para a pesquisa sistemática que levou a todos esses corantes, hoje conhecidos como “corantes azo”. 2.5. Negro de Anilina Caro inventou um processo para o corante Malve em 1860, em que usou sais de cobre como agentes oxidantes. Assim, tornou-se o único concorrente ao processo de dicromato de Perkin. A Malve de Manchester foi usada em Lancashire e na Escócia a partir de 1862. A reação feita na Roberts, Dale & Co tinha um subproduto, um corante preto, adequado para a impressão em algodão. No entanto, este foi usado por um número limitado de impressores na Grã-Bretanha 8 Johann Peter Griess (06/09/1829 – 30/08/1888), químico industrial alemão. Ele começou seus estudos em Jena, em 1850, mas mudou para a Universidade de Marburg, em 1851. Em decorrência da sua excessiva vida de estudante, ele foi várias vezes condenado para o cárcere e também foi banido da cidade por um ano, em que ele ouviu as aulas de Justus Liebig em Munique. Depois de ter gasto a maior parte da bolsa da família ele teve que começar a trabalhar na fábrica química de Oehler em Offenbach, em 1856. Isso só foi possível após a recomendação de Hermann Kolbe, que foi chefe do departamento de química em Marburg, Alemenha. O fogo devastador na fábrica em 1857 deixou Griess voltar ao grupo de H. Kolbe em Marburg. Seu novo entusiasmo para a química rendeu a descoberta dos sais de diazônio. Em 1858 descreveu a reação de diazotamento (sem saber da estrutura dos sais de diazônio que produziu) que formou também a base para o "teste de Griess", para a deteção de nitrito. A descoberta de uma nova classe de produtos químicos convenceu A.W. Hofmann a chamar Griess para seu novo grupo no Royal College of Chemistry. Durante esse tempo, Griess estudou as reações de moléculas orgânicas ricas em nitrogênio. Levou bastante tempo para acostumar à sua nova casa na Inglaterra, mas ele ficou. Ele saiu da universidade em 1862 e começou uma posição numa grande cervejaria, onde trabalhou até sua aposentadoria. A maioria de seu trabalho, relacionado com a fabricação de cerveja, permaneceu confidencial, mas seus trabalhos adicionais sobre química orgânica ele publicou em diversos artigos. Uma animada troca de idéias e amizade o ligava por muitos anos com o químico Heinrich Caro. 23 A. Isenmann CORANTES por causa da ação corrosiva nas máquinas de impressão. Foi mais amplamente aplicado no continente Europa, onde a impressão com blocos de madeira ainda era popular. A primeira descoberta do negro de anilina foi feita em 1859 por John Lightfoot, ao norte de Manchester. Ele notou que a aplicação direta da anilina no algodão na presença de um agente oxidante, utilizando-se placas gravados de cobre nos cilindros da máquina impressora, rendeu um resistente negro brilhante. No entanto, como já dito antes, não foi inteiramente satisfatória, devido ás problemas de corrosão. Lightfoot finalmente patenteou seu processo no início de 1863. No continente europeu e nos Estados Unidos os direitos de patente foram atribuídos a J.J. Müller-Pack da Basileia. Em 1864, Charles Lauth em Paris saiu com a primeira das melhorias acerca do negro de anilina que tornou possível a impressão com as máquinas convencionais, sem causar corrosão demasiada. Tal foi conseguido através da utilização de sais de cobre insolúveis. Para o restante do século XIX, o tingimento e a impressão com negro de anilina foram efetuados numa vasta escala seguindo este procedimento. 2.6. Alquilação e fenilação da anilina Desde que os Renards manteram o controle exclusivo sobre a produção da anilina vermelha, azul e violeta, os químicos em Paris e Lyon também procuraram novas reações a partir de produtos do alcatrão de carvão mineral. Além disso, os Renards, que se tornaram Societé La fucsine em 1864, tiveram problemas com a poluição severa que resultou da oxidação com ácido arsênico em grande escala (1862). Por estas razões, os hidrogênios do grupo amina da anilina e toluidina foram substituídos por grupos fenil e/ou alquila antes da oxidação. Este trabalho, inspirado pelas publicações de Hofmann sobre as constituições dos corantes de anilina, foi feito junto às variações em temperatura e pressão. A empresa Poirrier em Paris conseguiu a alquilação em 1866, a temperatura e pressão bem elevadas. Com este novo método conseguiram contornar as patentes dos Renards. Essa variação também levou ao emprego de oxidantes menos tóxicos. Na Grã-Bretanha, Levinstein e Holliday usaram essas reações de substituição para contornar os processos do azul e violeta que foram licenciados por SM&N. Em 1864, o preço do vermelho de anilina havia caído a cerca de 10% dos níveis de 1860 - o que reflete tanto os métodos aperfeiçoados da produção em grande escala, como o alto nível de competição. Uma grande variedade de cores a partir da anilina comercial estava agora disponível, incluindo amarelo, marrom e cinza. 2.7. A ascensão das indústrias alemãs e suíças de corante Um pequeno grupo de empresários e químicos alemães fundou a "Hoechst Corantes" (Meister Lucius & Co.), na localidade de Höchst, perto de Frankfurt, em 1863. No mesmo ano, a Friedrich Bayer & Co foi fundada em Barmen, mais tarde se mudou para Elberfeld. Eles tendiam a imitar processos franceses e britânicos, favorecidas pela ausência de uma lei de patentes unificada em todos os estados e principados (lembre-se que, naquela época, a "Alemanha" ainda não existia!). A partir de 1861, os irmãos Clemm tinham sido envolvidos na fabricação de magenta em Mannheim, e este tornou-se o núcleo do Badische Anilin-& Soda-Fabrik (BASF), formada em 1865. 24 A. Isenmann CORANTES No mesmo ano Hofmann deixou Londres para a Universidade de Berlim, onde C.A. Martius 9, anteriormente na Dale Roberts & Co, foi um de seus assistentes e trabalhou em substituições de hidrogênios do grupo amino em compostos aromáticos. No final de 1866, Caro partiu de Manchester para trabalhar com Bunsen em Heidelberg, e tornou-se um consultor, principalmente para a BASF. O monopólio de La Fucsine forçou vários químicos franceses e empresas a mudar-se para a Suíça, onde a recém indústria de corantes começou a florescer em torno de 1862. As primeiras empresas suíças para a fabricação de corantes do alcatrão de carvão eram tintureiros, comerciantes de corante e destiladores do alcatrão na Basileia que entraram em ação em 1860. Entre eles Alexander Clavel, um emigrante francês que criou uma empresa que em 1884 tornou-se a Gesellschaft für Chemische Industrie Basel (Ciba). A J.J. Müller-Pack originalmente só vendeu corantes em nome da família Geigy, mas começou a fabricação da Malve e da Magenta. Eles continuaram negociar com negro de anilina, primeiro o produto da Roberts, Dale & Co e, mais tarde, dos processos de Lightfoot (Manchester) e Lauth (Paris). Em 1862, a Müller foi tomada por Johann Rudolf Geigy. 2.8. A alizarina sintética Em 1865, a jovem indústria da Europa Ocidental se reestruturou. As mudanças organizacionais se deveram principalmente aos casos de patente na Grã-Bretanha e França. Mas nesta época também a pesquisa científica fez um pulo para frente, por exemplo, F.A. Kekulé apresentou sua teoria de anel do benzeno. Junto ao conceito de duplas ligações conjugadas isto transformava a compreensão dos compostos aromáticos, especialmente pelos químicos alemães, incluindo aqueles que tinham convivido com o crescimento inicial da indústria britânica dos corantes. Muitos haviam retornado à sua terra natal depois de 1865, prontos para contribuir e/ou fundar novas empresas. Martius, por exemplo, tornou-se um parceiro no precursor da corporação Agfa em 1867. No final de 1868, Caro juntou-se à BASF como vice-diretor técnico e melhorou os corantes que ele tinha descoberto em Manchester, tais como a indulina azul (Fig. 12). Além disso, preparou importantes novos corantes, entre eles o azul de metileno (Fig. 13), primeiro representante da família das fenotiazinas. Mais ainda do que na tinturaria o azul de metileno é útil no laboratório, como indicador redox, e especialmente no campo medicinal onde derivados desta família servem como psicofármacos. 9 Carl Alexander Martius, (19/01/1838 - 26/02/1920), químico industrial alemão. Martius era um estudante de J. Liebig e assistente de A.W. Hofmann em Londres e Berlim. Em sua pesquisa e, posteriormente, em produção, ele dedicou-se à produção de óleo de anilina e aos corantes de anilina, produtos da destilação da hulha de alcatrão. Martius descobriu o dinitronaftol em 1867 que levou a uma valiosa tintura para lã ("Amarelo de Martius"). Este foi o primeiro corante de naftalina técnicamente aplicado. Ele também é o descobridor do corante azo "Marrom de Bismarck", com nome do fundador do Império Alemão, Otto von Bismarck, que ainda hoje é usado na indústria têxtil. Em 1867, ele fundou em Rummelsburg perto de Berlim a "Sociedade para Fabricação de Anilina", que se converteu em 1872 através da fusão com a empresa de P. Mendelssohn Bartholdy na "Corporação para Fabricação de Anilina" (Agfa). Mais tarde (1880) ele assumiu a direção geral após a morte do parceiro. Também em 1867, ele foi membro fundador da Sociedade Química Alemã. Em 1874 foi Presidente da Associação de Proteção de Patentes, além de outros altos cargos de confiança. Ele também foi membro do Comité Económico e no Instituto de Seguros Imperial, na Comissão Tarifária Ferroviária e participou em 1911 na fundação do "Instituto Imperador Guilherme de Química". 25 A. Isenmann CORANTES H2N N NHPh H2N N NHPh Cl- Fig. 12. Indulina (C.I. Acid blue 20), parente da mauve. N Me2N Fig. 13. Cl- S NMe2 Azul de metileno, representante das benzotiazinas. O OH O OH O OH O OH OH a) b) O O OH OH OH d) c) OH N O O Fig. 14. A família da alizarina hoje existe em todas as cores. Alguns representantes: a) substância mãe (vermelho); b) negro de alizarina; c) azul de alizarina; d) bordeaux de alizarina. 26 A. Isenmann CORANTES O OH OH [Al(OH) 3(H2O)3] + SO3O - O- - O3S H 2O OH O Al O . OH O 2 H2O H 2O Fig. 15. Um precipitado de coloração típica (= laca vermelha) se alcança quando tratar hidroóxido de alumínio com alizarina S. No laboratório essa reação serve para a análise qualitativa deste metal 10. COO- Na+ O 2N N N OH Fig. 16. Este corante é conhecido como "Amarelo de alizarina", porém não dispõe de um sistema quinóide, mas um grupo azo como cromôforo. O N H H N O Fig. 17. C.I. Pigment Red 122. O sistema cromóforo aqui é misto, anilina com antraquinona. Derivado sem os grupos metilas: CI Pigment Violet 19. Em 1869, ele começou a trabalhar na comercialização de um processo recentemente patenteado: a síntese de alizarina artificial. Este foi a mais notável descoberta, de grande alcance para a indústria do século XIX, preparar corantes referindo-se em fundamentos teóricos, principalmente na nova teoria química da aromaticidade de Kekulé. Observou-se 10 Também forma-se um complexo estável com Zr4+. Este pode ser usado para comprovar indiretamente o fluoreto, pois unicamente F- destrói o complexo colorido, formando [ZrF6]2-. 27 A. Isenmann CORANTES uma colaboração acadêmica-industrial nunca vista antes - certamente o mérito destes poucos nomes mencionados. E isso trouxe lucros substanciais para as empresas e abriu os caminhos para uma forte pesquisa industrial que a partir daí se mantém na Alemanha. A alizarina, como também a quinina e muitos novos corantes potenciais, foram, a partir de 1850, considerados sendo relacionados ao alcatrão da hulha. Análises indicaram que o ponto de partida para a alizarina pode ser o naftaleno. E realmente, quando as cores de anilina apareceram, a síntese de alizarina a partir do naftaleno foi investigada na Alemanha, França e Grã-Bretanha. No início, no entanto, nenhum produto útil apareceu. A descoberta ocorreu em 1867 no Gewerbe Institut, uma faculdade de comércio em Berlim. Desde 1860, A. von Baeyer havia realizado estudos em produtos naturais e mostrou um grande interesse em índigo e alizarina. Seu assistente, Carl Graebe estabeleceu que alizarina era, provavelmente, uma quinona, e continuou se esforçando, junto com Carl Liebermann 11, para mostrar que era um derivado de antraceno e não do naftaleno. Alizarina era, como se demonstrou finalmente em 1868, uma dihidroxi-anthraquinona. Sua síntese se conseguiu por bromação da antraquinona, seguida por hidrólise. O rendimento foi baixo, mas a patente foi registrada no final de 1868. Uma licença nessa patente foi oferecida a várias empresas alemãs e estrangeiras, e em maio de 1869 um acordo foi firmado com a BASF. Naquele mês, Caro na BASF, bem como Perkin em Londres, e a Hoechst Corantes, todos independentemente descobriram que a sulfonação da antraquinona pode ser alcançada, com o deslocamento subsequente dos grupos sulfônicos por hidroxilas, à temperatura e pressão elevada. O resultado foi a alizarina com elevado rendimento. Isto se tornou a base para a produção rentável nas fábricas de Perkin e Hoechst a partir do final de 1869, no anos seguintes também na BASF. W. Perkin havia patenteado o seu processo em Londres em 26 de Junho de 1869, apenas um dia depois de Caro, Graebe e Liebermann. Enquanto a produção técnica tinha sido atingida por Perkin, que também apresentou o dichloroantraceno como percursor alternativo, a BASF ainda tinha que lidar com a rejeição da sua nova rota de síntese via sulfonação, frente ao escritório prussiano de patentes de Berlim. Mas resolvida essa formalidade, eles decidiram que o melhor caminho era dividir o mercado com Perkin. Em março de 1870, haviam chegado a um acordo sobre licenças cruzadas das patentes registradas em 1869. Perkin iria monopolizar o fornecimento da alizarina artificial na ilha britânica e a BASF controlar o continente Europeu e setores na América do Norte. Seguia uma transferência de informações técnicas - principalmente em direção à Alemanha. 11 Carl Theodor Liebermann (23/02/1842 - 28/12/1914) foi um químico alemão. Ele era filho do magnata têxtil Benjamin Liebermann, um primo do famoso pintor Max Liebermann e um tio-avô do político Walter Rathenau. Liebermann estudou química em 1861 com Robert Wilhelm Bunsen em Heidelberg, onde ele era um membro da fraternidade Allemannia. Desde 1862, ele trabalhou no laboratório de A. von Baeyer no Instituto Industrial de Berlim. Lá ele recebeu em 1865 o título de doutor. Em 1868 Liebermann e Graebe conseguiram a síntese e elucidação da estrutura da alizarina. Em 1870 seguiu sua habilitação. Depois que Baeyer foi chamado para a Universidade de Estrasburgo (1872), Liebermann tornou-se seu sucessor como chefe do laboratório do Gewerbe Institut de Berlim. Em 1873 Liebermann foi promovido para professor titular. Como "reação de Liebermann" se conhece uma prova de análise de fenóis e derivados do fenol. Seu companheiro, Carl Gräbe (1841 - 1927), também um químico orgânico alemão, sintetizou o corante alizarina com C. Liebermann. Esta descoberta podia levar a indústria de corantes e pigmentos do Império Alemão para proeminência. Gräbe também introduziu a nomenclatura 'para', 'meta' e 'orto' para descrever a posição de grupos em benzenos dissubstituídos. 28 A. Isenmann CORANTES A alizarina sintética logo começou a substituir o produto natural, e também foi fabricada na Suíça. Uma vez que os vários co-produtos foram isolados e caracterizados, um maior controle sobre a reação tornou-se possível. A qualidade da alizarina também melhorou. A cor foi consistente e mais fácil de aplicar do que o produto vegetal, cujo fornecimento foi sujeito aos caprichos da natureza. A Guerra Franco-Prussiana de 1870/71 implicou um revés nesta nova fase de crescimento da indústria alemã de corantes, mas depois da guerra (vencida) não tinha mais como segurá-la. Marketing e serviço ao cliente foram melhorados, e os produtos britânicos foram cada vez mais subcotados. Os francêses nesta altura ficaram na segunda linha, pois tinham que digerir ainda o colapso da La Fucsine, que abafou atividades competitivas na França até 1868. A Alemanha anexou recentemente a área de fronteira da Alsácia, região líder de impressão logo após Lancashire, que em seguida tornou-se um mercado cativo para os corantes alemães. 2.9. Aumento da produção da alizarina por Perkin W. Perkin foi o primeiro produtor bem sucedido de alizarina e de um composto de antraquinona similar. Seus esforços, tanto quanto aqueles de Caro, Graebe e Liebermann, tornaram a síntese da alizarina comercialmente viável. Subsequentemente, os corantes de antraquinona foram estendidos de tal forma que a gama completa de tons pôde ser obtida, embora as cores que variam do azul ao verde receberam maior atenção. Suas cores brilhantes e duráveis foram consideradas quase sem igual. Décadas mais tarde sua diversificação e aplicabilidade aumentaram ainda, quando a função da antraquinona foi combinada com outras funções, especialmente com os indantrenos, para render produtos otimizados, tais como corantes dispersos, corantes ácidos, corantes para lã e corantes catiónicos para poliacrilonitrila. Até para colorir o algodão as alizarinas podem ser modificadas, ao acrescentar a função de azo (corante azoanthraquinona), enquanto uma antraquinona simples e não reativa mostra insuficiências neste tipo de fibra. O O HN NH O O Fig. 18. Indantreno Azul RS, um corante quinóide da segunda geração, usado como corante de cuba com excelente estabilidade frente à luz e à lavagem. Em alguns países é permitido como corante de alimentos, E 130. Ver outro representante da família, na Fig. 36. A contribuição principal de Perkin era na concepção e elaboração de equipamentos químicos, incluindo novos reatores e sistemas de fluxo de matéria e calor, que permitiram uma otimização do processo, quer no rendimento da síntese, na controlabilidade ou sob aspectos de segurança, tudo baseado quase inteiramente em estudos empíricos. Assim, podemos afirmar que ele foi definitivamente um pioneiro da engenharia, ao inventar e aplicar o conceito das operações unitárias. Seu trabalho servia como base para melhorias posteriores, realizadas uma vez que surgiram os conhecimentos mecanísticas sobre as reações químicas, durante a década 29 A. Isenmann CORANTES de 1870. Felizmente, Perkin documentou detalhadamente o desenvolvimento da sua fabricação de alizarina, de 1869 até o fim de 1873, publicado em 1879 e complementado (1896) com informações em seu laudácio para Hofmann. Através dos seus processos foi possível produzir os corantes numa escala de toneladas elevada, essencial para o crescimento contínuo deste setor e, mais tarde, das indústrias de química orgânica. No desenvolvimento da planta de alizarina, W. Perkin trabalhou de perto com seu irmão e parceiro Thomas D. Perkin. Em primeiro lugar investigaram o fornecimento de quantidades suficientes do material de partida, o antraceno, um componente menor de arremesso, acumulado no piche (= resíduo não volátil) da destilação do alcatrão de hulha. Em bateladas de ferro (desenvolvidas no Royal College of Chemistry e registadas em 1855) foi feita a destilação do breu de alcatrão de carvão. O antraceno sólido bruto se depositou aos poucos do destilado. Em seguida colocado em sacos de lona de modo que o óleo residual pode ser pressionado para fora e drenado. Em julho de 1869, a primeira imprensa hidráulica foi introduzida para fazer este trabalho mais fácil e mais eficiente. O material bruto foi então lavado com nafta e redestilado em uma aparelho de duas retortas, uma ligada à outra através de um tubo esquentado. O sólido resultante - uma mistura de cristais amarelos e um pó esbranquiçado - não era mais do que um por cento da massa do piche da partida. Mas os irmãos Perkin estavam cientes de que antraceno "pode também ser obtido a partir das últimas frações da destilação do alcatrão, a partir do qual cristalizou por arrefecimento." Tendo dominado a arte de separar o antraceno, Thomas Perkin visitou então as destilarias de alcatrão de carvão mais importantes, para instruir os destiladores na extração correta do antraceno, prometendo “pegar tudo o que podiam fazer, e desta forma uma oferta suficiente para nossas necessidades”. E logo recebeu todos os tipos de qualidades, sendo algumas “não muito mais espessas do que uma sopa de ervilhas, devido ao modo imperfeito em que foi drenado". Avaliar a qualidade do hidrocarboneto exigiu bastante criatividade química e os esforços de muitos químicos durante a década de 1870. “O valor do antraceno foi estimado por lavagem com dissulfureto de carbono; depois foi utilizado álcool; mas para os nossos propósitos se mostrou mais adequado fazer o teste de antraquinona.” Este método, aperfeiçoado posteriormente no continente européu, foi elaborado como teste prático tanto para comprador como vendedor, mas “no momento em que estou escrevendo os destiladores alcatrão não têm instrução suficiente - nem para aplicar os testes mais simples”. A maioria do antraceno que chegava dos destiladores estava em forma de uma pasta grossa, embalada em barris. Este material foi então colocado entre lençóis de linho e submetido às prensas hidráulicas. No entanto, como observou Perkin, uma vez os destiladores começaram extrair tudo o que podiam, a qualidade do material entregue deteriorou-se rapidamente, e "qualquer lote testado pelo álcool, e que mostrou um ponto de fusão de ~190 °C foi vendido como antraceno." A oxidação para a quinona tornou-se excessivamente cara, uma vez que os reagentes (principalmente dicromato de potássio, K2Cr2O7) foram consumidos por reagir com as impurezas do antraceno, também. Este problema foi finalmente superado, ao se aplicar uma etapa de purificação adicional em que o antraceno bruto foi destilado sobre potassa cáustica (= hidróxido de potássio), que removeu os componentes não desejados da mistura. (O por quê só foi compreendido quando Graebe, em 1880, comprovou a presença de carbazol). H N 30 A. Isenmann Fig. 19. CORANTES Carbazol (CI Pigment Violet 23) A maneira pela qual a oxidação subsequente e as etapas de sulfonação foram realizadas por Perkin & Sons, são de especial interesse porque representam a base dos métodos de produção em massa, da primeira alizarina artificial efetuada por qualquer empresa, e foram usados quase exclusivamente em Greenford Green até os meados de 1870. A sulfonação da antraquinona purificada foi realizada com ácido fumegante importado de Nordhausen, Alemanha. O ácido sulfúrico concentrado tornou-se disponível apenas em meados da década de 1870. Geralmente usaram quatro ou cinco partes deste para cada parte de antraquinona, e aqueceu-se a mistura até 270-280 ° C. Especialmente na etapa da sulfonação se mostrou vantagem usar o dicloroantraceno, em vez do antraceno, com o qual a substituição pelos grupos -SO3- ocorreu facilmente, com ácido sulfúrico ordinário. Este método exigiu mais duas etapas operacionais, a preparação de cloro e a cloração do antraceno, antes da sulfonação e o tratamento com cal (neutralização) e troca dos cátions por barrilha (Ca2+ → Na+), para se obter os sais sulfonatos do antraceno. Mais tarde foi comprovado que se tratava de uma mistura de dois isômeros dissulfonados e um monossulfonado do antraceno, Ar-SO3-Na+. As proporções entre estes compostos dependem da proporção, (ácido sulfúrico):(antraquinona), e também é questão da rota usada, do antraceno ou do dicloroantraceno. Embora seja possível separar os compostos sulfonados, é pouco provável que Perkin jamais efetuou esta etapa na sua fábrica. Mesmo assim, ele obteve lotes de corantes de qualidade bem constante. Os estágios finais, a fusão alcalina dos sulfonatos da antraquinona a 180 °C (troca de -SO3por -OH) e a acidificação para os produtos prontos para o mercado, eram comuns a ambos os processos, antraceno e dichloroanthraceno. 31 A. Isenmann Fig. 20. 2.10. CORANTES Vista geral sobre a planta de alizarina de Perkin. A queda da força econômica britânica na Alizarina Apesar da grande conquista de Perkin, os vencedores finais na batalha da alizarina foram os alemães. O segredo do seu sucesso foi a melhor compreensão dos fundamentos da ciência, melhorias na tecnologia e na capacidade de controlar o mercado mundial. Na época de Perkin já operaram várias empresas alemãs em grande escala. Um problema típico que foi resolvido a base de evidências científicas foi a sulfonação múltipla de aromáticos, usando ácido sulfúrico em excesso, que também proporcionou o dissulfonato da antraquinona de Perkin. Bastante cedo, no entanto, observou-se que tanto os ácidos di e monosulfônicos foram formados (Graebe e Liebermann, 1871), e isto tinha implicações consideráveis quanto à natureza do produto colorante. Apenas o ácido monossulfônico levou à alizarina pura, de tom violeta. Os alemães tiveram o maior compromisso com o desenvolvimento das sínteses acerca da antraquinona. Um dos primeiros produtos de sucesso foi a própria alizarina como principal produto a partir do ácido monossulfônico, e logo conseguiram controlar as condições de reação para se otimizar o rendimento. Perkin, no entanto, continuou a explorar o processo via dicloroantraceno, o que levou sempre à uma mistura de dois ácidos dissulfônicos e muito pouco do monossulfônico. Um corante vermelho, a Antrapurpurina (ou Isopurpurina; um derivado de três grupos hidroxilas) era o produto principal, enquanto a Alizarina S (Fig. 15) foi formada somente em baixa porcentagem. As plantas do processo da alizarina também passaram por mudanças consideráveis na Alemanha (assim como na Suíça), durante e após a década de 1870. Notavelmente, a adição 32 A. Isenmann CORANTES de cloreto de potássio impediu a liberação de hidrogênio na etapa da fusão alcalina, o que acabou na redução de produtos quinóides. Além disso, essa variação diminuiu os perigos para o operador, como visto numa explosão na fábrica de Perkin), já que permitiu operar sob pressões mais baixas. A negligência de tais melhorias técnicas e do processo que deu o produto de maior demanda (de tom violeta) prenunciava o fim da liderança inovadora por empresas britânicas, ainda durante o século XIX. Os alemães ganharam o controle do mercado por meio da criação da "Convenção da Alizarina" em 1881, que incluiu um fabricante britânico e vários alemães. A empresa britânica Burt Boulton & Heywood assumiu a fábrica de Perkin em Greenford Green e os direitos em seus processos. Mas continuou com massivas dificuldades com o processo de dicloroantraceno. Em seguida começaram novas obras em Silvertown em East London onde a alizarina de tom violeta foi fabricada. Em 188283, os consumidores britânicos de alizarina se libertaram do controle alemão por criação da Companhia British Alizarine, que comprou a fábrica de Silvertown. Isto, junto à recessão vivida na Alemanha, causou o colapso da "Convenção da Alizarina" em 1885. Mas o revés dos alemães era de curta duração... Corantes ftaleínas e azo 2.11. Durante a década de 1870 a química acadêmica na Alemanha tornou-se cada vez mais relacionada com os interesses da indústria de corantes. Em virtude dos estudos de compostos aromáticos, von Baeyer, durante seu estágio na Universidade de Estrasburgo (1872 até 1875), e com o apoio de Caro, elucidou a estrutura química da alizarina (1874). E esta colaboração industrial-acadêmica teve ainda outros frutos, tais como os corantes ftaleínas, feitos por condensação de ácido ftálico com fenóis (Caro e von Baeyer, 1874). O primeiro produto da família era a eosina (Fig. 22), praticamente a fluoresceína bromada. Ela foi prontamente intzroduzida ao mercado ainda no mesmo ano, em 1874. Anidrido ftálico foi feito por oxidação rigorosa, a partir do naftaleno, por sua vez um hidrocarboneto abundante no alcatrão de hulha e, até então, com poucas utilidades. Essa nova síntese aumentou rapidamente sua demanda. O O O O + 2 H OH H2SO 4 conc. 120 °C - H2O OH O Anidrido f tálico Fenol HO Fenolftaleína (f orma incolor) Fig. 21. A síntese da fenolftaleína, muito usada como indicador (pH<10: incolor; pH>10: roxo). Ver também roteiro na p. 302. 33 A. Isenmann CORANTES Br HO Br O HgOH O HO Br Br Br O O O Br COOH O O Fluoresceína Eosina Br COOH Mercuriocromo Fig. 22. Alguns corantes ftaleínas de importância. Note que o último é usado como antiséptico na medicina até hoje. Martius, co-fundador da AGFA com sede em Berlim, agora mudou as regras do jogo para descobrir novos corantes sintéticos. Ele comprou alguns dos produtos de eosina da BASF, e os encaminhou nas mãos de seu consultor, Hofmann da universidade de Berlim. Hofmann rapidamente publicou a fórmula, e os detalhes da reação, que tornou pública uma importante propriedade segreda da industria, pela surpresa e desgosto de Caro e outros industriais. NH . H 2N Fig. 23. 5) HCl NH 2 Magenta , também conhecida como Fucsina (Basic Violet 14; CI 42.510; CAS 632-99- Esses avanços também contribuíram para a elucidação estrutural da magenta e seus derivados. Os corantes do tipo magenta foram estudados por Emil Fischer 12, um assistente de von 12 Hermann Emil Fischer (09/10/1852 - 15/07/1919) foi um químico alemão. Por muitos historiadores é considerado sendo o pai da química orgânica. Filho de um homem de negócios, depois de graduar-se em ciências naturais, trabalhou com seu pai na empresa da família, até concluir que não era adequado para este tipo de trabalho. Em 1872 estudou nas universidades de Bonn e de Estrasburgo. Obteve o doutorado em 1874 e foi eleito para trabalhar na universidade como professor auxiliar, posição que desempenhou de 1874 até 1878. Foi nesta época que realizou a primeira de suas pesquisas sobre corantes. Mais tarde lecionou nas universidades de Munique (1879), Erlangen-Nuremberga (1882), Würzburgo (1885) e na Universidade Humboldt de Berlim (1892). Com a descoberta do Veronal, Fischer criou uma classe totalmente nova de medicamentos. Também demonstrou que as proteínas eram compostas por cadeias de aminoácidos, e que as ações das enzimas eram específicas. Revelou as estruturas moleculares da glicose e da frutose. Foi o primeiro químico que identificou as fórmulas dos derivados da purina, como o ácido úrico e a cafeína. Efetuou a hidrólise de proteínas complexas em aminoácidos. Estabeleceu um vínculo entre a biologia, a química orgânica e a estereoquímica. Entre suas obras mais importantes está o título Einleitung zur Darstellung organischer Präparate (1901). Por seus trabalhos sobre a síntese dos açúcares recebeu o Prêmio Nobel de Química de 1902. 34 A. Isenmann CORANTES Baeyer em Munique, e seu primo Otto Fischer, em parte, com a ajuda de Caro. A magenta e, um ano mais tarde, o verde de malaquita (Fig. 23 e Fig. 24, respectivamente) evidenciaram-se como derivados do trifenilmetano. Já a partir de 1878 o verde de malaquita, o produto otimizado, tornou-se um imenso sucesso. NMe2 NMe2 Red. CH Me2N Fig. 24. Me2N Verde de malaquita e sua redução para a forma leuco (= incolor). Uma curiosidade: os trabalhos no Verde de malaquita provocaram indiretamente um avanço da indústria dos agrotóxicos. Como se vê na Fig. 25, as estruturas moleculares do corante e do DDT, o mais famoso e até hoje um dos mais eficazes remédios no combate da malária, se assemelham muito 13. Me2N NMe2 Cl Cl Cl Cl Cl DDT Fig. 25. Os trabalhos no Verde de malaquita levaram à descoberta do pesticida DDT. A década de 1870 vivenciou uma outra mudança dramática trazida pelo desenvolvimento científico. Otto N. Witt 14, um químico que aprendeu seu ofício na Suíça e agora trabalhando 13 W. M. Jarman, K. Ballschmiter. From coal to DDT: the history of the development of the pesticide DDT from synthetic dyes till Silent Spring. Endeavour 36 (2012) 131-142. 14 Otto N. Witt, químico alemão, nasceu em 31/03/1853 em S. Petersburgo e morreu em 23/03/1915 em Berlim. Como filho de professor de química, ele se interessou desde pequeno para a química orgânica. Estudou na ETH em Zurick (1875) e trabalhou em diversas fábricas na Inglaterra, Suíça e Alemanha. Em 1885 retornou à vida acadêmica como docente particular e em 1891, finalmente, como professor em Química Aplicada na TU Berlim. Foi ele que desenvolveu a teoria básica dos grupos cromóforos e tentou relacionar as estruturas químicas com a região da luz absorvida - uma teoria vital para o entendimento e desenvolvimento dos corantes. Ele foi o primeiro que isolou os corantes naturais, crisoidina e tropeolina. Desenvolveu e introduziu vários corantes azo e mostrou caminhos para diazotar até aminas de reatividade baixa. Em 1884, Witt descobriu os indofenóis, preparou os devidos compostos leuco e propôs métodos de sulfonar a α-naftilamina. 35 A. Isenmann CORANTES na Williams Thomas & Dower em Brentford, perto de Londres (no site da antiga fábrica de Pelouze), foi investigar a relação entre cor e constituição, usando os novos corantes azo como substâncias-modelos. Essa classe de corantes foi descoberta por Peter Griess no Colégio Real de Química de 1858. Kekulé tinha, em 1866, proposto a existência de um radical diazo, nos quais dois átomos de nitrogênio substituíram um átomo de hidrogênio no anel de benzeno. Corantes amarelos e marrons já tinham sido fabricados na Roberts, Dale & Co durante a década de 1860, mas naquela época pouco se sabia sobre sua constituição química. Durante a década de 1870 então foi estabelecido que o amarelo continha um e o marrom três grupos amino livres (ver esquema na Fig. 26). Witt especulou que entre estes existou um composto desconhecido, contendo dois grupos aminas, cuja cor ficaria entre os dois. Ele acreditava que era uma cor laranja, e de estabilidade moderada, a julgar pelas propriedades dos outros dois membros. Em 1875, von Baeyer e Jäger propuseram o mecanismo do acoplamento azo, que se tornou a chave do sucesso de Witt. Witt havia encontrado o corante alaranjado, com as propriedades previstas, e foi comercializado como "Amarelo de Londres". Caro tinha encontrado uma rota semelhante, e ele compartilhou os detalhes com Witt na "Exposição de Empréstimo Especial" no Museu South Kensington, Londres, em 1876. O produto da BASF se tornou logo conhecido como crisoidina. Este foi o primeiro corante azo de sucesso com base em duas diferentes aminas de partida. Em seguida Francois Zacharie Roussin 15 fez outros corantes azo usando intermediários derivados do naftaleno, e estes foram fabricados por Poirrier em Paris (Poirrier havia comprado os direitos de patentes dos Renards após o colapso da La Fucsine). 15 François-Zacharie Roussin (06/09/1827 - 08/04/1894), farmacêutico francês. Entusiasta da química desde a infância, ele se tornou um treinador de química na Escola de Medicina e Farmácia de Rennes, com Destouches seu mestre. Ele conseguiu o embarque dos hospitais de Paris, em 1849, 1851 isolou manitol em folhas de lilás e aumentou o rendimento da síntese de nitroprussiato de sódio em 1852. Em 1858 foi nomeado Professor Associado de Química e Toxicologia. Conhecido por sua descoberta dos corantes azo ácidos, em 1861 obteve naftazarina, corantes alizarinas roxo e azul. Ele publicou um livro sobre o envenenamento e tornou-se perito judicial neste campo. Em seguida, ele provou a culpa em vários casos de assassinato. Roussin morreu em Paris em 1894 devido a um acidente em seu laboratório, de asfixia devido a fuga de gás de iluminação. 36 A. Isenmann CORANTES 2 N HNO2 NH2 N NH2 Amarelo de anilina (M artius, Caro, 1863/64) Anilina H2N H2N H2N 2 NH2 N HNO2 m-f enilenodiamina N NH2 Marrom de Bismarck (M artius, Caro, 1863/64) H2N NH2 H2N NH2 HNO2 N2 HCl + Cloreto de diazônio Cl- N N NH2 Crisoidina, laranja (W itt, Caro, 1875/76) Fig. 26. Sínteses dos corantes azo que levaram à teoria da relação constituição-coloração de O. Witt. Note que a cor laranja fica aproximadamente entre amarelo e marrom. H2N N N Fig. 27. NH3+ Cl- Crisoidina (cor laranja) 37 A. Isenmann CORANTES NH2 NH2 N H2N N N N NH 2 Marrom de Bismarck - O3S N N NMe2 Alaranjado de metila N N NMe2 COOH Vermelho de metila Fig. 28. Exemplos de corantes azo contendo anéis aromáticos simples: marrom de Bismarck, alaranjado de metila e vermelho de metila. Todos esses processos foram mantidos em segredo, como a lei de patentes foi considerada pouco confiável, tanto na Alemanha como na França (mesmo na Grã-Bretanha uma patente nem sempre era a melhor maneira de proteção). E de novo Martius comprou os produtos azo novos da BASF e os entregou a Hofmann que logo publicou as fórmulas dos três conhecidos corantes azo, bem como as condições da sua síntese, e de repente o novo processo foi adotado por todas as empresas renomadas de corantes. Na Alemanha, esta prática incentivou a formulação de uma lei de patentes unificada, que foi introduzida em 1877. Ela foi feita com a ajuda de Hofmann, representante da recémformada Sociedade Interesses da Indústria Química (1876; hoje Verband de Chemischen Industrie, VCI). Os monopólios sobre os corantes azo e outros, podiam agora ser protegidos efetivamente com validade em todo o Império Alemão, e o impacto do método científico promoveu a criação de laboratórios de pesquisa industrial muito bem equipados. Não demorou que as novas invenções alemãs também foram patenteadas em outros países. Percebeu-se a facilidade com que diferentes agrupamentos atômicos puderam ser introduzidos na etapa do acoplamento azo, e essas diferentes combinações pareciam levar a uma variedade infinita de corantes. Daí muitos milhares de experimentos foram realizados. No entanto, não foram tantos corantes que foram levados à produção em alta escala, mas aqueles que eram produzidos trouzeram enormes lucros e alimentaram a demanda por mais pesquisa. Novos intermediários foram introduzidos, incluindo a anilina em que hidrogênios do grupo amino foram substituídos (parcialmente) por hidroxilas, assim que derivados do naftaleno. Quando os compostos dominados do tolueno foram investigados, os corantes avermelhados foram criados. O avanço dos corantes azo planou o caminho para Witt que apresentou sua teoria da cor e constituição molecular em 1876. Este foi o início de todas as teorias modernas de tingimento. 38 A. Isenmann CORANTES Foram identificados os agrupamentos de átomos, essenciais para as propriedades específicas de cor e tingimento. Isso tornou possível prever, tanto a cor como o grau de fixação do corante em cima da fibra, e influenciou assim o curso da pesquisa industrial de uma maneira que não era possível antes. Versões posteriores da teoria, como a teoria quinonóide de Henry E. Armstrong (1888) representam refinamentos da teoria pioneira de Witt; a teoria será apresentada resumidamente no capítulo 4.5 (corantes azo). Corantes azo foram fabricados na Grã-Bretanha em escala considerável por Ivan Levinstein e Holliday Ler & Sons. No entanto, os alemães consideraram muitas dessas atividades sendo violações contra suas patentes válidas na Inglaterra, o que levou ao litígio demorado e caro. Desde o início dos anos 1880 houve movimentos para reformar a lei de patentes britânica, com uma cláusula que exigia o trabalho à base de patentes. Mas isso estimulou os Alemães ainda a mais aumentar suas atividades naquele país, assim criaram muitas filiais na GrãBretanha. O impacto dos corantes alemães foi espectacular; os corantes nas prateleiras de alguns consumidores escoceses foram, invariavelmente, "Made in Germany". A partir de 1881, a BASF lutou com Ivan Levinstein em um caso de patente acerca de um importante corante azo vermelho, Fast 16 Red AV (Fig. 29). A empresa alemã foi declarada vencedora em 1887, depois que o caso chegou à Câmara dos Lordes. Os irmãos Dawson de Huddersfield também entraram em ação contra o poder da BASF, em disputa de patentes. CH 3 O 2N N N OH Fig. 29. Fast Red AV, um corante vermelho especialmente firme em cima da fibra de algodão. SO3- N N H O SO3- N N OH 16 A palavra inglesa "fast", no contexto de corantes, não deve ser traduzido por "rápido", mas se entende no sentido de firme, fixado, estável. Os coloristas também falam em "sólido". 39 A. Isenmann CORANTES Fig. 30. Tautomeria ao longo do extenso sistema de duplas-ligações conjugadas, mostrada na molécula de "Acid Red 88", assim que a alocação de retirador/fornecedor de elétrons em aromáticos distantes, que intensivou a coloração (= efeito auxocrômico). Em 1890, a Bayer e a AGFA juntaram-se para assumir o controle da fábrica de Levinstein em Manchester, bem como para manter um monopólio sobre "corantes azo diretos". Estes aderiram ao algodão sem pré-tratamento com mordente. O primeiro destes foi o vermelho do Congo, introduzido pela AGFA em 1884, seguido pela Bayer cuja versão foi conhecida como "Benzopurpurina". Isso finalizou em outro cartel, a "Convenção da benzopurpurina". Como as duas empresas, Bayer e AGFA, foram participantes na Levinstein, eles lutaram com meios legais para proteger o monopólio contra Read Holliday e outros. Mais tarde Levinstein se livrou dos seus parceiros alemães (1895) e embarcou em uma campanha de reforma das patentes e uma lei nacional que protegia os produtores de corantes britânicos. Finalmente, a reforma ocorreu em 1907, mas já era tarde demais para ajudar à enfraquecida indústria de corantes britânica. NH2 H2N N N N N (H 3C) -O S 3 (CH3) Vermelho do Congo (com grupos metilas: benzopurpurina) SO 3- Fig. 31. Vermelho do Congo (AFGA); variação com grupos metilas na unidade bifenileno (Bayer): benzopurpurina. O corante azo direto (expressão explicada na p. 174), Primulina (Fig. 32), foi inventado por Arthur Green durante 1887 na Brooke Simpson & Spiller (sucessor de S,M&N). Green juntouse com a Clayton Aniline Co de Manchester em 1894, e continuou desenvolvendo este tipo de corante. A Clayton foi construida em 1876 por um emigrante da Alsácia, Charles Dreyfus 17, principalmente para a fabricação de produtos intermediários, especialmente para fazer negro de anilina (Fig. 34) para impressão. N S S NH2 N SO3- Fig. 32. Primulina (amarelo) 17 Charles Dreyfus (1848 -11/12/1935) nasceu na Alsácia, França e estudou química em Estrasburgo. Ele emigrou para Manchester em 1869, onde estabeleceu a Clayton Aniline Company em 1876. Como vereador liderou a campanha para um hospital judeu. Dreyfus era empregador de Weizmann em Manchester e permaneceu um amigo até a sua morte. Charles Dreyfus era um parente distante de Alfred Dreyfus, o oficial de artilharia judeu jovem no centro do escândalo político francês famoso ("o caso Dreyfus"). 40 A. Isenmann CORANTES Na Grã-Bretanha sentiram a necessidade de um órgão profissional que servia tanto aos fabricantes como aos consumidores de corantes. Assim se reuniu um grupo de interesse comum e fundou a Society of Dyers and Colourists em 1884, publicando um periódico técnico de grande renome. Entretanto, a Suíça também se expandiu na área dos corantes azo. Um recém-chegado foi Kern & Sandoz, criada em 1886 por Alfred Kern, um químico que trabalhou antes na Ciba, e Edouard Sandoz, anteriormente na Durand & Huguenin (empresa que havia sido formada no início dos anos 1870; Durand foi previamente La Fucsine em Lyon). Eles dependiam dos intermediários alemães, como também a Ciba que desenvolveu projetos em conjunto com a BASF no campo dos corantes rodaminas (ver representante famoso na Fig. 33). Et2N O NEt2 Cl- COOH Fig. 33. Rodamina B Em 1888, o químico Traugott Sandmeyer (ver N° de rodapé 43) juntou-se à Geigy. Anteriormente ele tinha investigado a primulina de Green (Fig. 32), um corante que não estava protegido por patente. Sandmeyer estabeleceu a constituição e o método de preparação, que foi imediatamente elevado à escala industrial pela fábrica de Geigy, na Basiléia, Suíça. Praticamente sozinho, Sandmeyer foi o autor de uma série de sucessos de pesquisa, incluindo o uso de sais de cobre na diazotação anteriormente impossível, de 1,2-diaminonaftóis (1901). Este foi, em termos comerciais, o maior do sucesso de Sandmeyer. 2.12. A indústria de corantes dos Estados Unidos Enquanto a Europa vivia o primeiro impacto dos corantes de anilina, os Estados Unidos foram sacudidos pela Guerra Civil. No entanto, isto não impediu completamente a transferência de novas tecnologias da Europa, e um ou dois imigrantes alemães fizeram tentativas de fabricar corantes, em início dos anos 1860. Os Renards tentaram dominar o mercado, o que não deu certo devido aos esforços de Friedrich Hoffmann, um químico alemão que procurou seu sucesso, como também tiveram seus conterrâneos no velho continente, naqueles anos. Quando S,M&N na Grã-Bretanha ganharam o monopólio (por pouco tempo) sobre o processo mais importante para a magenta, seus concorrentes tinham que procurar outro lugar para realizar suas oportunidades. A família Holliday de Huddersfield abriu um escritório em Nova York em 1864, e começou a fabricar anilina, corantes de anilina e produtos a partir de corantes naturais. Esses produtos claramente promoveram a impressão com o Negro de anilina (Fig. 34) nos Estados Unidos. 41 A. Isenmann CORANTES N HN N H N N HCrO4- Fig. 34. NH N H N N HCrO4- 2 H N N HCrO4- Negro de anilina A Albany Aniline & Chemical Company (AA&CC) de Nova York era outra fábrica pioneira que começou já no início de 1868. Quando A. Bott, um dos fundadores da AA&CC, visitou os laboratórios de Hofmann em Berlim, ele levou as idéias cruciais para a produção de corantes. Também a mencionar os esforços de Carl Rumpff que tentou associar-se à Bayer. A magenta já estava em produção, mas houve problemas com outros corantes de anilina a serem resolvidos. A empresa Bayer entrou como parceiro nos meados de 1860, e a gama dos corantes prontamente disponíveis foi aumentada até 1881, quando as partes da Bayer foram adquiridas por um Sr. Hendrick que foi acompanhado por W. Lesser. Oakes & Rathbone, um fabricante de ácido sulfúrico, juntou-se com J.A. Moffat para definir as obras para a American Aniline Works, durante o ano 1870. A anilina foi preparada na escala de 3,1 a 3,6 t em uma velha caldeira que foi arrefecida por fora com jatos de água. O inventor F. Shuman contribuiu na produção da magenta com a introdução da oxidação de anilina usando ácido arsênico. No entanto, como também na AA&CC, não houve sucesso com outras cores. Eventualmente, toda a planta foi derrubada por uma enchente do rio Ohio. A indústria téxtil dos Estados Unidos era representada por uma lobby forte e tinha a demanda por quantidades significativas de corantes, a um preço mais baixo possível. O governo então baixou as barreiras tarifárias, e isso melhorou a posição competitiva das empresas alemãs e suíças. Na década de 1860 as taxas de importação foram ainda de US $ 1 por libra de corante, mais uma IVA de 35% (uma taxa inferior do que para índigo e corantes de madeira). Na década de 1870 a sobretaxa foi reduzida a 50 centavos, mais a IVA de 35%. Óleo de anilina, o importante intermediário e base para a impressão com negro de anilina, até foi completamente liberado da taxa de importação. Isso caiu muito bem, já que o gás americano e produtores de coque descuidaram da extração de hidrocarbonetos a partir de alcatrão de carvão. Em 1911, Jacob F. Schoellkopf18 tentou explicar a ausência de uma forte indústria de corantes nos Estados Unidos. Notou que havia um excedente de químicos na Alemanha depois de 1880, e isso encorajou muitos deles a emigrar, com certa preferência para os Estados Unidos. Ele também afirmou que, até a década de 1880 as baixas taxas de importação não impediram a criação de indústrias de corantes sintéticos. Assim, durante 1880 a 1883 nove plantas foram abertas e suas perspectivas apareceram brilhantes. No entanto, a lei de importação de julho de 1883, que deixou apenas a IVA de 35% (sem imposto sobre produtos intermediários), possibilitou incursões maciças pelos alemães e suíços. Cinco fábricas existentes foram obrigadas a fechar, incluindo a AA&CC (1886), as subsidiárias da família britânica Dawson 18 Jacob F. Schoellkopf (02/12/1827 – 13/10/1903). Emigrante alemão, começou com uma pequena fábrica de curtumes. Logo expandiu suas ações e adquiriu moinhos de trigo, partes na ferrovia, bancos, companhias de gás e cervejarias. Em 1877 fundou a Niagara Falls Hydraulic Company e em 1879 a Schoellkopf Aniline & Chemical Co. em Buffalo, Nova York. 42 A. Isenmann CORANTES de Huddersfield (Dan Dawson & Sons, da Filadélfia) e a empresa de Williams & Ekin Brentford. No entanto, Schoellkopf sobreviveu, produzindo intermediários bem estabelecidos e corantes azo, assim imitando em pequena escala o estilo alemão de pesquisa. Corantes negros, diretos e resistentes, eram muito procurados, e um produto notável de Schoellkopf foi "Negro Erie GXOO", descoberto por Oscar Müller, em 1901. Seis anos mais tarde, o primeiro corante Schoellkopf de enxofre, "Marrom de enxofre", apareceu. - O3S N N H2N SO 3- N N H2N HO N N NH2 Fig. 35. Negro de Erie GXOO, também conhecido como "Negro Direto". Outro sobrevivente foi Heller & Merz, formada na década de 1860 para produzir o popular mineral corante ultramarino. Por volta de 1880 a empresa começou a fabricação de corantes de anilina, em particular o roxo feito a partir da oxidação da anilina alquilada. O sucesso deste ramo de actividade foi, provavelmente, devido aos esforços do recém-chegado engenheiro químico alemão G. Prochazka19. A Bayer foi a empresa alemã mais ativa nos Estados Unidos no início da indústria de corantes. Em 1882, um ano depois de vender suas partes na AA&CC, a Bayer AG juntou-se a E. Sehlbach; assistidos pelos ex-colaboradores da Albany, W. Lesser e H. Preiss, fundaram a Hudson River Aniline & Color Co., em Albany. Mas em seguida Lesser e Preiss mudaram-se (1898) para fundar, juntos a L.I. Waldman, a American Color & Chemical Co., no outro lado do rio Hudson, em Renselaer. Mas no início de 1903, suas obras ao longo do Rio Hudson foram destruídas por um incêndio. Esta foi, por sua vez, uma oportunidade para a Bayer adquirir o que sobrou, ao mesmo tempo comprar a American Color (em outubro de 1903). Tab. 1. Matérias corantes, nos Estados Unidos. Consumo de corantes, produtos intermediários e matérias-primas, de 1867 a 1914, em toneladas anuais. 1867 Produzido nos EUA Importados -- 27,000 19 George Prochazka (1855 – 1936): engenheiro químico norte-americano, com raizes na Alemanha, onde se tornou doutor em filosofia em 1874 em Heidelberg, mas também estudou os processos químicos nos laboratórios de Bunsen, Kirchoff, Kopp, Wallach e Kekulé. Seus destaques: otimização das linhas de produção da magenta e da eosina; melhoramentos na produção do ultramarino, produto principal da empresa Heller & Merz. Ele deixou a empresa em 1897 para construir a Central Corante & Chemical Co. em Newark. 43 A. Isenmann CORANTES 1883 -- 1,200,000 1890 700,000 1,900,000 1900 1,500,000 4,500,000 1910 4,300,000 7,000,000 1914 9,000,000 10,000,000 A mudança dos impostos de consumo de 1883 não foi a única razão para o considerável aumento das importações alemãs. O mercado da alizarina foi dominado pela BASF que aproveitou das patentes de Graebe e Liebermann e suas melhorias. Isso achou sua expressão na "Convenção da Alizarina", quando a Bayer tentou desenvolver seus negócios nos Estados Unidos, através do seu ponto de venda de alizarinas em Glasgow. Havia várias disputas e batalhas judiciais. O que era de interesse dos consumidores foi que, enquanto a BASF manteve o monopólio nos Estados Unidos, os preços tanto dos corantes naturais como dos sintéticos foram mantidos elevados. O caso chegou ao Supremo Tribunal Federal, e o julgamento foi contra a BASF em 1884. O tenor desta decisão foi que um produto análogo ao natural não pode ser protegido por uma patente, mesmo que tenha sido feito via síntese química. Isso significava que toda alizarina produzida pelas demais empresas alemãs podia agora chegar sem impedimentos aos consumidores dos Estados Unidos. O preço da alizarina rapidamente caiu, e as toneladas do produto natural também, como já era visto alguns anos antes na Europa. Em 1885, um ano após a decisão do Supremo Tribunal, a "Convenção Européia da Alizarina" entrou em colapso, e até 1900 não havia mais controles sobre a produção e comercialização da alizarina. Mas nesta época as empresas alemãs já eram tão poderosas que foram principalmente os produtos deles, a alizarina, corantes azo e corantes ftaleínas, que chegaram aos portos americanos. 2.13. Índigo e a luta BASF contra Hoechst Devido à sua importância será dedicado um capítulo inteiro ao anil, o "Rei dos corantes" (Cap. 4.4, na p. 140). Desde o final dos anos 1870 as fábricas de corantes na Grã-Bretanha perderam sucessivamente sua liderança em desenvolvimento técnico, e foram incapazes de desenvolver mercados fora do Império Britânico. Eles não tinham o mesmo compromisso de produção adotado pelos alemães, que colocaram grande ênfase na produção e qualidade, baseando-se em testes frequentes dos produtos e um moderno atendimento ao cliente. Essas atitudes se propagaram para as gerações posteriores de fábricas de corantes. Novas descobertas adequadas às necessidades dos consumidores em todo o mundo atingiram o mercado, ao menor tempo possível. Em comparação aos alemães, o compromisso que os ingleses tiveram com sua indústria não era o mesmo. Além disso, eles ainda tinham responsabilidade para a produção do índigo natural nas suas colônias, portanto não tinham grande interesse num anil sintético. Isso elevou as fábricas alemãs que conseguiram produzir o anil sintético em escala industrial, a partir de 1890 - sem dúvida alguma, um outro triunfo na história industrial daquele país. 44 A. Isenmann CORANTES Ao contrário do caso de alizarina e os outros corantes de alcatrão de hulha, não houve um esqueleto carbônico pronto do anil. Isso tinha que ser criado primeiro. Inicialmente, isto foi feito através de benzaldeído, partindo do tolueno. A pesquisa de von Baeyer foi promovida pela BASF e a Hoechst, que estavam na concorrência para alcançar o índigo artificial. A estrutura do anil se tornou pública (von Baeyer em 1883, naquela época professor na Universidade de Munique). No entanto, nos anos seguintes, os líderes científicos e técnicos, von Baeyer e Caro, foram cada vez menos envolvidos nos trabalhos acerca do índigo. Sucesso na solução do quebra-cabeça científico veio da Suíça, onde foram encontradas rotas a partir de matérias-primas mais abundantes. Em 1890, Karl Heumann da ETH Zurick descobriu que a anilina e o naftaleno foram possíveis matérias-primas. O processo via anilina partiu do benzeno; o precursor naftaleno foi oxidado para o anidrido ftálico, e este transformado num derivado da fenilglicina. Rudolph Knietsch começou suas pesquisas em índigo na Ciba na Basiléia, mas, em seguida, lançou mão à BASF. Este apoio tornou-se crítico para o sucesso da BASF. Em julho de l897, usando o processo de naftaleno, a BASF começou a comercializar o anil sintético. O processo foi baseado na oxidação econômica de naftaleno para anidrido ftálico, com ácido sulfúrico fumegante e mercúrio. O subproduto desta, o dióxido de enxofre, foi recuperado e voltou a ser oxidado para ácido sulfúrico, através do então novo "processo de contato", recentemente desenvolvido por Knietsch e agora aplicado em grande escala. A BASF também realizou uma das primeiras sínteses eletroquímicas, para produzir cloro e álcali, essenciais na síntese do índigo. No início o novo produto mal consegiu competir com o corante natural. Mas a BASF estava confiante de que indigo sintético ganharia se a qualidade fosse boa. Eles estavam certos. O produto sintético começou a fazer progressos rápidos, uma vez que estava na mão dos tintureiros ele foi atestado ser fácil de aplicar (como era a alizarina sintética na década de 1870), a cor ficou firmemente aderida na fibra de algodão. A partir da virada do século, o anil alemão começou a desbancar o índigo indiano, para a preocupação dos senhores de engenho e comerciantes britânicos. BASF e Hoechst montaram outras unidades de fabricação na França, em Villeneuve St. Georges e Creil, respectivamente, e Hoechst abriu uma fábrica de índigo na Grã-Bretanha em Ellesmere Port. As tentativas dos suíços em produzir o anil em grande escala foram parcialmente bemsucedidas. O processo de Sandmeyer foi revivido com algumas modificações, por Rathien de Hamburgo durante 1910, e no mesmo ano von Heyden de Dresden começou a fabricação do anil pela rota da fenilglicina. 2.14. A indústria dos corantes de 1900 a 1914 A influência alemã sobre os mercados mundiais se tornou tão grande que praticamente todos os países importaram corantes alemães, incluindo os consumidores principais na Ásia, a China e o Japão. Essa dependência se devia à formação de cartéis e à introdução de novos produtos. Em 1900, a "Convenção da Alizarina" foi revivida sob pressão dos alemães. Durante 1901, René Bohn na BASF (nota de rodapé 47, na p. 157) desenvolveu um amarelo firme (Fast Yellow) conhecido como flavantrona (Fig. 36), seguido pela Indantrona Azul RS (= indantreno azul; ver Fig. 18). Estes novos corantes de cuba, feitos a partir da antraquinona já utilizada no processo da alizarina, estavam em demanda mundial. Juntaram-se a versões da Bayer e da Hoechst, logo conhecidas como “Corantes indantreno”. 45 A. Isenmann CORANTES O Z1 N N Z2 O Fig. 36. Flavantrona, um corante da família dos Indantrenos. Ver outro representante da família, na Fig. 18. Logo após a virada do século, os alemães formaram comunidades de interesses, isto é, associações poderosas de empresas que se tornaram mais intimamente ligadas do que em monopólios, mas não eram fusões. Isso ajudou a manter a força por meio de acordos sobre os preços e as quantidades de diversos produtos que os membros individuais jamais poderiam produzir. Em 1904, juntaram-se a Hoechst e a Cassella de Frankfurt para formar a dupla aliança; mais poderoso ainda se tornaram a Bayer, BASF e AGFA, ligados à Tríplice Aliança ("Dreibund"), também conhecida como a "Pequena IG Farben". Neste mesmo ano, 20% da produção total das fábricas alemãs foram exportados para os Estados Unidos, sendo assim o cliente mais importante (embora comprassem muito pouco do anil sintético). Durante 1907, a Kalle de Biebrich tornou-se associada com o grupo Hoechst-Cassella, posteriormente conhecida como a "associação tripartite". No mesmo ano, a nova lei de patentes britânica incluiu cláusulas que fazem o trabalho sob patentes obrigatório. Embora houvesse lacunas, esta lei forçou a Hoechst e a BASF abrirem novas fábricas na Inglaterra, em Ellesmere Port (Hoechst, produzindo anil), e em New Ferry, Birkenhead (Mersey Chemical Works da BASF). Considerando que, em 1914, os fabricantes britânicos British Alizarine, Ivan Levinstein, e Read Holliday produziam 4000 t de corantes, as oito principais empresas alemães fabricaram 140.000 t (!) - alguma parte em outros países. Os alemães e suíços exportaram grande parte da sua produção, o que levou a encontros frequentes dos produtores, para discutir um único assunto: como controlar os mercados. Os maiores consumidores dos corantes alemães em 1913 foram: os EUA (13.855 t), a China (8.461 t), a Índia (3.822) e o Japão (3.500 t). 2.15. O impacto da Primeira Guerra Mundial sobre a indústria dos corantes A Primeira Guerra Mundial eclodiu em agosto de 1914, e um mês mais tarde, o governo alemão proibiu as exportações para a Grã-Bretanha e seus aliados. O bloqueio naval britânico começou a restringir o comércio alemão com as nações não-beligerantes, especialmente os Estados Unidos. Além disso, alguns intermediários feitos pelos britânicos já não estavam mais disponíveis na Alemanha. Então, as indústrias alemãs rapidamente integraram suas atividades para apoiar os esforços de guerra do Imperador, especialmente em forma de programas de auto-suficiência, e em 1916 as duas comunidades de interesses, Dreibund e tripartite (ver cap. 46 A. Isenmann CORANTES 2.14), mesclaram. Dois anos depois, as três maiores empresas suíças, a Ciba, Geigy e Sandoz, igualmente formaram sua própria comunidade de interesses (a Baseler Interessengemeinschaft). A partir de 1914, os suíços tomaram o lugar como fornecedores para a Grã-Bretanha e a França, muitas vezes disfarçando corantes alemães ou vendendo corantes feitos a partir de intermediários da Alemanha. Seus negócios cresceram, e Sandoz, por exemplo, aumentou o volume de negócios por oito vezes (!) entre 1914 e 1920. Os suíços substituíram a Alemanha como fonte de muitas especialidades, bem como o anil feito a partir de intermediários britânicos. Os britânicos, com muitos esforços e dedicação, investigaram o por-quê da estagnação no desenvolvimento da sua indústria de corantes; eles responderam com grande entusiasmo que deixou renascer sua própria indústria. A fabricação de corantes de cuba - a indantrona e o anil sintético - foram sucessos notáveis. James Morton de Carlisle, um novato no mundo dos corantes, conseguiu o primeiro sucesso britânico em sua fábrica de têxteis e tingimentos. Em 1914, ele contratou alguns químicos para realizar a conversão de antraquinona-ácido-2-sulfônico em corantes de cuba do tipo indantrona, nas cores amarelo e azul. Usando um autoclave de aço e trabalhando a temperaturas e pressões elevadas, eles atingiram os objetivos visados em pequena escala. Até o final de 1915, os corantes estavam sendo produzidos só para uso doméstico, e os intermediários também foram feitos em Carlisle. Em 1916, a equipe de Morton inventou um substituto para o corante azul de lã do tipo alizarina, que se tornou conhecido como Solway Blue. Outros consumidores pressionaram Morton a colocar seus produtos no mercado livre, inclusive para a poderosa Bradford Dyers Association Ltd. Respondendo a essas demandas, a Sundour Fabrics Ltd de Morton montou a Solway Dyes Company (que em 1920 se tornou em Scottish Dyes Ltd.). Herbert Levinstein, filho de Ivan, adquiriu a fábrica de índigo da Hoechst que foi ocupada pelo militar em Ellesmere Port. Lá ele produziu em seguida a fenilglicina de anilina, e índigo de boa qualidade se tornou disponível a partir de 1916, em quantidades suficientes para satisfazer os impressores escoceses e os tintureiros de Lancashire. A demanda por uniformes militares pôde ser cumprida. (A fábrica da BASF em Birkenhead foi vendida para o Coronel E.A. Brotherton de Leeds.) Os produtores de corantes tiveram de repente outras grandes funções estratégicas: eles foram os principais fornecedores de nitro compostos para explosivos, e, a partir de 1915, também produtos químicos usados para fazer gás de combate. Consequentemente, a consolidação da indústria britânica foi incentivada pelo governo. Read Holliday tinha ligações estreitas com a "Associação dos Tintureiros de Bradford", um contato valioso para assegurar o fornecimento de negros de enxofre. Não precisava de muita persuasão pelo lado do governo, para deixar fusionar Lead Holliday com essa mesma Associação e também com a "Associação dos impressores de chita", para formar a "British Dyes Ltd." em 1914 (o prospecto foi publicado em março de 1915). No entanto, imediatamente após a a guerra, com a ajuda da recémformada "Associação dos Usuários de Corantes" (1919), foi necessário trazer os rivais Read Holliday e Levinstein na mesma mesa (maio de 1919). Neste encontro foi então fundada a Corporação dos Corantes Britânicos, que veio a ser uma congregação das fábricas British Dyes de Huddersfield e a Levinstein Ltd. de Manchester. Outro ramo da família Holliday, L.B. Holliday & Co. Ltd., foi criada em 1916, em Huddersfield, e esta permaneceu independente. Desde o início das hostilidades, o governo francês apoiou movimentos de auto-suficiência. A maior fábrica em 1914 foi a Societé Colorantes et Produits Chimiques de Saint-Denis, antigamente empresa de Pointer. As fábricas importantes da Hoechst e da BASF na França 47 A. Isenmann CORANTES foram tomadas pelo governo. Em 1917, através do Serviço de pólvora (um órgão que deu assistência aos produtores não-governamentais de explosivos), o governo francês ajudou na criação da Compagnie Nationale des Matières Colorantes Chimiques et Produits, perto de Rouen, que empregava 2.000 trabalhadores, e que produziu anil sintético em larga escala, a partir de 1921. A ausência dos produtos alemães incentivou a fabricação de corantes em países europeus que anteriormente não tinham aparecidos no cenário. A primeira fábrica italiana, Industria Nazionale Colori di Anilina, foi aberta em Milão durante 1915 com a ajuda da Manchester´s Claus & Co. Ltd. (que foi tomado por Levinstein já no ano seguinte), e especializada em corantes de enxofre, azo e trifenilmetano. A indústria espanhola foi concentrada na Catalunha, em Barcelona, onde J. Pellicier e L. Sangier foram unidos pela Sociedad Espanola de Productos Quimicos. Na Rússia, onde em 1913 cerca de 10 empresas - algumas de propriedade estrangeira produziram cerca de 8.000 t de corantes, e um quarto de todas as importações chegou da GrãBretanha, houve graves carências a partir de 1914. Isto forçou os tintureiros e impressores a agir, produzir corantes de enxofre, fenol e naftaleno. Mas foi no outro lado do Atlântico onde ocorreu a maior transformação. Em 1914, os fabricantes de corante nos EUA se invocaram fortemente em intermediários importados da Alemanha, e os tintureiros e impressores em corantes alemães - apesar da IVA de 30%. A Schoellkopf (então conhecida como Schoellkopf, Hartford & Hanna Co., especializada em corantes azo e negros diretos e de enxofre) e Heller & Merz juntos não produziram mais do que 12% do corantes consumidos pelo mercado nacional. Com a eclosão da guerra havia escassez e os preços de corantes aumentaram consideravelmente. Houve um aumento na demanda por corantes naturais, nomeadamente pelo vermelho do pau-brasil, o azul da campeche e o amarelo da tatajuba. As instalações da Bayer ao lado do rio Hudson foram apreendidas e vendidas para a Sterling Products que estava interessada principalmente na divisão que produziu farmacêuticos. As plantas dos corantes foram compradas pela Grasselli Chemical Co. (1919) que operava uma fábrica de tintura em Linden, Nova Jersey. A produção doméstica foi incentivada pela lei conhecida como Revenue Act, de 1916, que proporcionou uma barreira de proteção frente à mercadoria importada por um período de cinco anos. Em 1915, Herbert Dow tinha começado a trabalhar com índigo em Midland, Michigan, e no final de 1916 o primeiro índigo artificial de fabricação americana foi disponível. A Calco Chemical Company, em Bound Brook, Nova Jersey, foi fundada em 1915 e imediatamente começou a produzir intermediários. Um ano mais tarde, a Federal Dyestuff Corporation em Kingsport, Tennessee, foi aberta, e tornou-se grande produtora de negros de enxofre. Em maio de 1917 foi criada a Nacional Aniline & Chemical Company (NACCO), produto da fusão de 4 empresas: Schoellkopf, Aniline & Chemical Works (fundada em Brooklyn durante 1912 por William Becker), Century Colors Corporation de Nutley, Nova Jersey e Benzol Products Company (formada em 1910, uma coprodução da Barrett Manufacturing Co., maior distribuidor e destilador de produtos de alcatrão, da 48 A. Isenmann CORANTES General Chemical Co., fabricante de ácidos, e da Semet-Solvay Co., conhecida por seus álcalis). Logo em seguida foram incorporadas a Standard Aniline Products de Wappinger Falls, Nova York, assim como instalações da Barrett, General Chemical e Semet-Solvay. Juntos, eles formaram uma rede totalmente integrada de produtos de alcatrão de hulha, produtos intermediários, ácidos, álcalis e corantes, com uma produção anual de 16.000 toneladas. Em Deepwater Point, Nova Jersey, a E.I. Du Pont de Nemours & Co., com ajuda técnica da Levinstein, começou a produção de índigo em 1917. Os Estados Unidos entraram na Guerra Mundial, e a recente lei "Trading with the Enemy Act", do outubro de 1917, deu mais impulso ainda para o crescimento da indústria doméstica de corantes. Posteriormente, a Comissão de Comércio Federal começou a emitir licenças para patentes alemãs, através da Chemical Foundation Incorporated. Índigo e negros de enxofre foram os produtos mais importantes fabricado nos Estados Unidos. Em 1919 os Estados Unidos investiram US $ 466.000.000 em sua indústria de corantes, do qual Du Pont emergiu como líder. Mais de 2.600 químicos foram empregados na indústria, em comparação com 1.700 em 1917 (e um total de 214 colaboradores em 1914). A NACCO iniciou a produção de índigo artificial em 1919. O sucesso pôde ser medido pelo valor das exportações, que em 1920 chegou a US $ 17 milhões. Só em abril de 1920, corantes de cerca de US $ 3 milhões foram exportados, dos quais cerca de um terço alcançou a China e o Japão (isso ainda antes da introdução de altos impostos sobre importações pelos japonêses). A Allied Chemical & Dye Corporation foi formada em 1920, e isso trouxe uma maior integração de Barrett, General Chemical, Semet-Solvay, Solvay, e NACCO. Em seguida, as operações se concentraram no local de Buffalo. Para proteger a nova indústria de corantes dos EUA, uma lei conhecida como "Longworth Bill", a introdução de uma tarifa protecionista, foi aprovada pela Câmara dos Deputados em setembro de 1919, assim como a lei de "controle de químicos e corantes", aprovada em 27 de maio de 1921. Estas restringiram em primeira linha a entrada de corantes alemães aos Estados Unidos. Mais de 200 intermediários foram produzidos, mas a falta de alcatrão de hulha (e assim do antraceno) criou vários problemas, até que este hidrocarboneto foi sintetizado a partir de anidrido ftálico e benzeno em 1922. Note que esta síntese era o oposto do que foi feito na Europa (antraceno → anidrido ftálico; compare cap. 2.11, na p. 33). No entanto, em 1922, uma depressão afligiu o inteiro mundo industrializado, e a produção diminuiu severamente nos Estados Unidos. A situação não se tornou melhor ao atacar novamente os fabricantes alemães, embora estes foram interrompidos pela greve generalizada na sua maior região de mineração de carvão, a Ruhr, em 1923. Houve uma forte batalha com os alemães, suíços e franceses por uma fatia do mercado chinês no setor do índigo sintético, país que consumiu a metade da oferta mundial. Mais em geral, os chineses foram os maiores consumidores de corantes, com cerca de 32.000 t por ano, em comparação com as 25.000 t utilizadas pelo segundo maior consumidor, os Estados Unidos. O Japão, anteriormente totalmente dependente da Alemanha no que diz respeito aos corantes sintéticos (6.000 t só em 1913), também começou sua produção própria durante a guerra. Várias empresas estabelecidas no negócio, e a maior empresa, a Japanese Dyestuff Manufacturing Co. (Nippon Senryo Seizo Kabushiki Kaisha), de Osaka, receberam apoio considerável pelo governo. Mitsui Mineração e Tóquio Gás extraíram hidrocarbonetos do alcatrão de hulha em 1914. Negros de enxofre e corantes azo foram produzidos, bem como os corantes trifenilmetano, e Mitsui (em Omuda, Qushu) e a Japanese Dyestuff Manufacturing 49 A. Isenmann CORANTES Co. se exercitaram na produção de índigo. Após a guerra houve corantes japoneses especialmente nas cores básicas, corantes diretos de algodão, corantes ácidos e corantes de enxofre, além dos mordentes apropriados para cada processo de tingimento. Mitsui continuou com anil e a produção de alizarina. Em 1920 exportações de corantes japoneses para a China estavam competindo de forma eficaz com os produtos da Suíça, Alemanha e Estados Unidos. A mineiração de ferro, 100% em mão do governo japonês, e as coquerias da Ferrovia Manchurian começaram a aumentar a disponibilidade de produtos de alcatrão de carvão. A British Dyestuff Corporation (BDC) abriu uma agência no Japão durante o tempo em que as importações alemãs foram interrompidas logo após a guerra, enquanto os corantes feitos nos Estados Unidos não foram bem recebidos. A BDC também criou a American Dyestuffs Corporation, absorvendo a produção transatlântica de Levinstein e os pontos de venda de Read Holliday na América. Assim, tornou-se um vendedor internacional importante que também ofereceu corantes da Du Pont. Voltou a confiança nas indústrias britânicas, como foi demonstrado em 1922, na feira British Industries Fair realizada em Londres, onde os novos e velhos fabricantes de corante exibiram seus produtos coloridos. Os principais participantes foram a BDC, British Alizarine Co.Ltd., L.B. Holliday & Co. Ltd., Scottish Dyes, John W. Leitch & Co. Ltd., Hickson & Partners, Ltd., John C. Oxley Dyes & Chemicals Ltd., James Robinson & Co. Ltd., Gray´s Dyes & Chemicals Ltd., JB & WR Sharp Ltd., Williams Bros & Co., Alliance Colour & Chemical Co. Ltd., e Ajax Aniline Dye Manufacturing Co (holandesa). Dentro de uma década, o número de expositores caiu, principalmente como resultado de fusões dentro das indústrias químicas que foram acopladas com a formação de um só grande produtor nacional. Tab. 2. Produção nas novas nações produtores de corantes, em milhares de toneladas. 1918 1919 Itália 0,9 França 2,7 - 3,2 EUA 26,6 Japão 7,3 (85% de cor. de enxofre) 1923 1925 Itália EUA 42,5 4,5 (80% de cor. de enxofre) 2.16. Inovações pós-guerra: corantes dispersos, ftalocianinas e novos produtos para fibras sintéticas A década de 1920 viu várias inovações tecnológicas, principalmente nas áreas de maior solidez da cor e corantes para fibras sintéticas. Ainda nessa década os químicos da Scottish Dyes descobriram o primeiro corante de cuba verde brilhante, chamado de “Caledon Jade Green” (Fig. 37), que era popular durante os próximos 50 anos. Com a introdução de tecidos de acetato de celulose em larga escala, logo após a guerra, químicos da tinturaria tiveram que adotar conceitos completamente novos de fixação. Acetato de celulose foi também conhecida como seda de acetato, uma das formas de seda artificial, e foi comercializada como Celanese na Grã-Bretanha e Lustron nos Estados Unidos; o termo "Rayon" foi somente introduzido em 1924. Anteriormente, tingimento tinha sido realizado em meios aquosos e as fibras de fontes naturais (algodão, lã, seda e linho) absorveram o corante. Agrupamentos iônicos que polarizam as moléculas de corante favorecem sua solubilidade e aplicabilidade no meio aquoso. No entanto, estes agrupamentos se mostraram adversários à aplicação no acetato de celulose cujo caráter é muito pouco hidrofílico. 50 A. Isenmann CORANTES O O O O Fig. 37. Caledon Jade Green, também conhecido como Vat Green 1. Corantes dispersos 20 forneceram uma resposta ao desafio apresentado pelos novos materiais têxteis. Sua descoberta e desenvolvimento começou na Grã-Bretanha. Eles foram aplicados em forma de dispersão de partículas em água (ordem de grandeza: poucos micrômetros), uma prática que se baseava em recentes avanços na química teórica dos colóides. Arthur Green e William Perkin Júnior (filho do descobridor da Malve) haviam realizado estudos sobre estes e outros novos corantes para as empresas British Alizarine, Levinstein, e Morton. OH N O2N S N OAc N N N N O2N Disperse Blue 106 S N N Disperse Blue 124 AcNH N N Disperse Yellow 3 O 2N HO N N O2N NH N N Disperse Orange 1 NH2 Disperse Orange 3 OH O2N N N Disperse Red 1 N OH O2N N N N OH Disperse Red 17 Fig. 38. Exemplos de corantes de dispersão, aplicáveis em fibras sintéticas (sem necessariamente grupo funcional). 20 Uma revisão da história dos corantes dispersos, ver tese de doutorado de T.A. El-Fetouh Ameen, disponível em: http://www.zu.edu.eg/thesis/9717617%20.%20Synthesis%20Of%20Some%20New%20Disperse%20Dyes%20A nd%20Their%20Application%20On%20Polyester.pdf 51 A. Isenmann CORANTES Fig. 39. Mais exemplos de corantes de dispersão, junto às percentagens com que podem ser aplicados em cima da fibra de polilactídeo. (Fonte: D. Karst, D. Nama, Y. Yang, Effect of disperse dye structure on dye sorption onto PLA fiber, Journal of Colloid and Interface Science 310 (2007) 106–111.) Os resultados foram corantes que se mantiveram firme em fibras sintéticas, nomeadamente as aminas com grupos iônicos (ionominas 21), descobertas por Green e K.H. Saunders no laboratório da BDC em 1922, e que foram aplicados com êxito no acetato de celulose. Uma vez ligados à fibra foram diazotados e revelados numa maneira semelhante à primulina de A. Green (Fig. 32). Eles rederam uma série de novos tons amarelos, laranjas, vermelhos, marrons, roxos, pretos e azuis. Estes foram rapidamente seguidos por uma gama de corantes azo insolúveis e novos corantes de antraquinona que se tornariam conhecidos como "corantes de acetato". Os ionaminas mostraram que era possível aplicar corantes solúveis em água na fibra do acetato, mas a ICI teve pouco sucesso com esta pesquisa, que também foi retomada na Alemanha. Os primeiros experimentos foram realizados também com o que foi mais tarde conhecido como "corantes reativos na fibra" (ver cap. 4.8, na p. 178). No entanto, eles não foram completamente 21 Ionominas foram os precursores dos corantes dispersos de hoje. São corantes onde os grupos aminas foram sulfometilados. Por esta substituição das aminas primárias e secundárias aumentou-se a solubilidade do corante que em si era praticamente insolúvel. 52 A. Isenmann CORANTES entendidos nem explorados, até a década de 1950. O progresso foi invariavelmente impedido por conceitos enganosos. Corantes diretos para rayon viscose também apareceram nos anos 1920, e foram copiados por fabricantes suíços e alemães. A vasta gama de corantes pediu um novo sistema de classificação. Anteriormente, este foi baseada nas "Farbstofftabellen" (Tabellarische Übersicht der Künstlichen Organischen Farbstoffe = Vista geral tabelada dos corantes orgânicos artificiais) de G. Schultz e P. Julius, publicado pela primeira vez em 1888, por ocasião do setuagésimo aniversário de A.W. Hofmann. Em 1914, cinco edições já tinham surgido. Essas tabelas continham detalhes de cerca de 1000 corantes que eram conhecidos por cerca de 10.000 nomes comerciais! Como esta obra era em alemão, muitos coloristas ao redor do globo não aproveitaram satisfatoriamente, e desejaram um guia de idioma inglês. Então a Sociedade Britânica de Tintureiros e Coloristas assumiu a tarefa de indexar todas as matérias colorantes. A primeira edição do Colour Index (= Índice de Corantes, ver cap. 8), editado por F.M. Rowe, apareceu em 1924, mas a reclamação de estabelecer uma nomenclatura sistemática a longo prazo foi somente alcançada em 1956 (com a participação da Associação Americana de Químicos Têxteis e Colorists depois de 1945). Não só os corantes, mas também os negócios internacionais foram reorganizados. Na Europa (fora da Alemanha), América do Norte e no Japão, observaram-se duas tendências: 1. A introdução de tarifas protecionistas que possam ajudar o crescimento das indústrias domésticas e 2. Fusões para tornar as empresas mais poderosas e capazes de exercer força econômica no cenário internacional. Na França, por exemplo, a partir de 1924, a Compagnie Nationale des Produits Matières Colorantes et Produits Chimiques veio sob o controle acionário da Etablissements Kuhlmann, que teve uma participação minoritária nas empresas com sede em Paris, a Société des Produits et Matières Colorantes et Chimiques de Saint-Denis, e uma participação maioritária na Compagnie Française de Produits Chimiques et Matières Colorantes de Saint-Clair-duRhone. O único rival depois era a fábrica da Ciba em St. Fons, perto de Lyon. O grande evento na Grã-Bretanha foi a formação da Imperial Chemical Industries (ICI) em 1925, pela fusão das quatro maiores empresas químicas na ilha, uma das quais era a British Dyestuffs Corporation. Através de compras de ações anteriores, a Scotish Dyes já foi absorvida em 1928, assim que a Soledon Ltd. (criada em 1920; anexada em 1934). Essa ligação escocesa provou ser particularmente valiosa. Em 1928, os químicos que trabalharam nas obras de Grangemouth da Scotish Dyes observaram uma cor azul no reactor de aço em que ftalimida foi preparada a partir de anidrido ftálico e amoníaco. Este foi um composto de ferro contendo pigmentos semelhantes aos naturais, como a clorofila e o sangue, e o complexo análogo contendo cobre tornou-se Monastral azul firme (1934) . Este protótipo dos novos corantes da família de ftalocianina tem sido descrito como o corante mais importante descoberto no século XX. 53 A. Isenmann CORANTES N N Cu N N Ftalocianina Fig. 40. Monastral fast blue - o protótipo dos corantes ftalocianinas. -O 3S O S - O3S NH O N Cu N NH N N H2N N N N Cl -O S 3 SO 3- Fig. 41. Variação de um corante ftalocianina, para ser um corante reativo (do tipo Procion). Os grupos sulfona facilitam seu manuseio em ambiente aquoso. O metal pode ser variado, por Co2+, Fe2+, Mg2+, Ni2+, Pb2+, Zn2+, Sn2+, Mn2+, Pt2+. As cores geralmente são azúis. Em 1934, a corporação IG Farben (ver próxima seção) apresentou sua versão dos ftalocianinas, o Heliogen Azul B, feito por um método melhorado, para o grande espanto do setor dos corantes da ICI, que ponderou que era "uma revelação dos recursos que eles [IG Farben] são capazes de jogar em qualquer abertura para a pesquisa, quer a base da sua própria iniciativa ou pela de seus concorrentes." A ICI mais tarde adquiriu uma licença para utilizar esse processo alemão. 2.17. Tendências dos negócios de 1920 a 1939: protecionismo e a ascenção dos cartéis internacionais A enorme corporação química IG Farben foi criada na Alemanha no final de 1925. Havia 67.000 trabalhadores, incluindo 1000 químicos. Cerca de 36% das vendas foram feitas com os corantes. A fábrica da Bayer em Uerdingen se especializou em compostos intermediários, e a planta em Leverkusen, também da Bayer, em corantes azo. A criação da IG Farben anunciou e realizou muitas mudanças em outros lugares. Assim, embora a ICI na Inglaterra e a Du Pont nos EUA, ambas semelhante em tamanho e ambas as maiores do segmento em seus respectivos países, não foram páreos para a gigante IG Farben. 54 A. Isenmann CORANTES A ICI e seus precursores poderiam até ter introduzido os corantes mais invovadores no período entre-guerras, mas ela não tinha a mesma experiência no marketing internacional que a IG Farben. Além disso, os corantes alemães foram incluídos nas reparações a serem pagas aos Aliados e apesar da falta de renda, a indústria alemã promoveu uma volta à confiança em seus produtos, de uma maneira que nenhum esforço de vendas poderia ter igualado. (Quantidades consideráveis de corantes alemães foram apreendidos após a guerra, e por um período de cinco anos os alemães foram forçados a fornecer um quarto da sua produção a preços ditados pelo Aliados). Antes da Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), o domínio alemão no mercado mundial era tão significativo que não havia necessidade para a criação de cartéis internacionais - embora certas discussões foram conduzidas com a Suíça. Com a entrada de vários novos países no setor dos corantes e a crescida concorrência internacional comprovada pelas exportações dos anos 1920 (ver Tab. 5), os alemães foram obrigados a procurar novas estratégias, assim como seus concorrentes. Embora os alemães tiveram dificuldades em recuperar suas antigas posições na América do Norte e na Europa, principalmente por causa da retomada das indústrias domésticas e das novas barreiras tarifárias, eles foram capazes de fazer incursões maciças em importantes mercados no Oriente e ampliar o mercado para seus novos corantes sintéticos. Isso criou uma dependência dos fornecedores alemães, não muito diferente à que experimentaram a Europa e a América do Norte antes de 1914. O resultado foi que as exportações de outros países europeus foram ameaçados. Consequentemente, por meados de 1920, os alemães estavam em uma posição forte para exercer influência considerável sobre outros fabricantes de corantes na Europa. Em parte, seus esforços se explicam também com as medidas de outros governos européus, visando a restrição da entrada de produtos alemães em seus países. Nos Estados Unidos ainda houve grande necessidade dos corantes alemães na década de 1920, particularmente as tinturas de cuba do tipo indantreno, portanto as empresas alemãs pretendiam recuperar os mercados nos EUA que foram perdidos durante a guerra. Isto levou à formação do antecessor da General Aniline & Film (GAF; de propriedade alemã), um dos principais fabricantes de tinturas de cuba e corantes azo em Rensselaer, Nova York, e em Linden, Nova Jersey. Na Grã-Bretanha, uma restritiva lei de importação de corantes entrou em vigor em 15 de janeiro de 1921. Esta cortou o fluxo de muitos produtos alemães, numa tentativa de promover sua produção na Grã-Bretanha. No entanto, as indústrias britânicas de corantes precisavam do apoio alemão para controlar vários importantes mercados. A British Dyestuffs Corporation e os alemães começaram imediatamente discussões sobre uma cooperação em matérias colorantes e outros setores, assim como a divisão do mercado. Apesar da oposição de químicos profissionais na Inglaterra, muitos industriais e membros do parlamento, as negociações foram revividas em 1927. A ICI estava ansiosa para manter o mercado no Império Britânico, e também para adquirir o controle sobre a Clayton Aniline que estava em mãos suíças. Essa última ligação, porém, não se concretizou, em parte como resultado da pressão pelo governo. Além disso, em 1927 o governo britânico introduziu uma tarifa de 33,3% sobre importações de compostos orgânicos sintéticos. Tab. 3. Capacidades dos países produtores de ponta (com ano), em mil toneladas. Alemanha (1913) 127 França (1923) 11 55 A. Isenmann CORANTES Estados Unidos (1923) 43 Itália (1922) 4,5 Grã-Bretanha (1920) 19,5 Japão (1919) 4,5 Suíça (1920) 11 Fonte: "The American Dye Industry", Journal of the Society of Dyers and Colourists, 40 (1924) 428-429. Tab. 4. Corantes de alcatrão de hulha em 1926, na época das grandes fusões, produção em mil toneladas. Alemanha 63-75 Suíça 8.7-10 Estados Unidos 36-43 Itália 7 Grã-Bretanha 13.5-18 Japão 7 França 11-17 Tab. 5. A exportação de corantes, em percentagem do mercado mundial em 1926. Alemanha 64,8 Tchecoslováquia 1,0 Suíça 16,4 Holânda 0,9 Estados Unidos 8,3 Itália 0,6 Grã-Bretanha 4,1 Bélgica 0,4 França 3,3 Polônia 0,2 Fonte para Tab. 4 e Tab. 5: Harm G. Schroter, "Cartels as a Form of Concentration in Industry: The Example of the International Dyestuffs Cartel from 1927 to 1939" (Cartéis como uma forma de concentração na indústria: o exemplo do cartel internacional dos corantes de 1927 a 1939), em "German Yearbook on Business Histroy 1988 (Springer Verlag Berlim, 1990), pp. 113-144. Dentro de um ano, no entanto, acordos de cartel foram iniciados pelas duas maiores nações exportadoras, a Alemanha e a Suíça. Estes foram favorecidos por novas e já existentes corporações nacionais e parcerias. Os alemães, suíços e franceses (cuja indústria foi controlada pela Kuhlmann), se vincularam em 1928, um cartel em que também entrou a ICI em 1932. A empresa britânica se tornou, ao longo das discussões, pressionada para assumir seus pequenos rivais britânicos. De fato, adquiriu a British Alizarine Company em 1931 e exerceu influência sobre a maioria das outras empresas. No entanto, a L.B. Holliday, responsável por um quarto das exportações britânicas, rejeitou todos os avanços da ICI. Ao aumentar a produção de determinados corantes, Holliday conseguiu convencer o governo britânico a promulgar a retirada da licença de importação para esses corantes específicos. A ICI e a IG Farben ficaram furiosos, e em resposta criaram em conjunto a Trafford Chemical Co. (1938), para que os corantes da IG Farben pudessem ser fabricados e vendidos na GrãBretanha. 56 A. Isenmann CORANTES A legislação anti-cartel americana impediu a penetração do mercado dos Estados Unidos pela nova congregação européia. A resposta européia foi a criação de fábricas alemãs e suíças na América do Norte, onde a parede de taxas de importação foi um sério obstáculo nos primeiros dias do seu funcionamento. Não só para estas, mas para toda a indústria americana um vento frio soprava da frente, em forma da Grande Depressão que reteu o progresso de todos os participantes. O volume de negócios da Du Pont, por exemplo, caiu de US $ 214 milhões em 1929, para US $ 127 milhões em 1932. É interessante notar que na União Soviética, apesar de uma falta de matérias-primas, foram produzidos 10.000 t de corantes cada ano para o mercado doméstico, em fábricas recémabertas e também ex-fábricas suíças e alemãs perto de Moscou. Após a Revolução de 1918, o Bureau for Aniline Manufacture foi estabelecido, que dois anos mais tarde controlou sete fábricas especializadas, principalmente em corantes de enxofre e azo. Nesta época foram importados corantes alemães em quantidades consideráveis. Na segunda metade da década de 1930 as indústrias se deram bem melhor e cresceram consideravelmente. Em 1938, a ICI teve cerca de 60% das vendas britânicas, a Clayton Aniline (proprietária Ciba) cerca de 25% e L.B. Holliday pouco menos de 15%. Os suíços, quase completamente orientados para a exportação, reestabeleceram suas posições e suas comunidades de interesse. A Ciba foi a principal fábrica de tintura; com um volume de vendas maior que a Chemische Fabrik vorm. Sandoz (a partir de 1939 chamada de Sandoz AG) e a J.R. Geigy AG juntas. A última especializada em tinturas de cuba, e Sandoz em derivados da antraquinona. Pequenas empresas suíças foram Chemische Fabrik Rohner AG, uma empresa familiar criada em 1906 no Pratein, e Durand & Huguenin AG que reprocessaram corantes da IG Farben. A Geigy mantinha produções em Grenzach e Rouen, enquanto a Ciba, que a partir de 1919 era proprietária única da Clayton Aniline, manteve sua fábrica de St. Fons. A IG Farben tinha 50% das ações na Durand & Huguenin, e em 1928 adquiriu a Rohner. Nos EUA a Swiss IG tinha comprado a fábrica de corantes de Ault & Wiborg (Cincinnati Chemical Works) em 1920. Somando tudo, cartéis internacionais e participações em fábricas estrangeiras, podemos afirmar que os suíços controlaram quase 20% das vendas mundiais em corantes. A maioria das vendas francesas em 1938 veio da Compagnie Nationale de Matières Colorantes et Manufactures de Produits Chimiques du Nord Reunies de Kuhlmann, Paris. Um quarto foi fornecido pela fábrica de Saint-Denis e a unidade de Saint-Clair-du-Rhone (igualmente controlada por Kuhlmann). Todos eles eram membros da Centrale des Matières Colorantes, fazendo parte no acordo de cartel com a IG Farben e os suíços. A Kuhlmann manteve ações em outras empresas francesas, incluindo pequenos produtores. Os italianos se especializaram em corantes de enxofre para algodão. Estes foram desenvolvidos comercialmente na década de 1890, exigiram baixa tecnologia e foram, por conseguinte, baratos de produzir. Em 1931 assumiu a Montecatani Aziende Colori Nazionali Affini (ACNA) de Milão uma fusão de seis empresas. A Cassella tinha comprado em 1920 a segunda maior empresa, a Soc. Chimica Lombarda A.E. Bianchi & Co. de Rho, e essa participação foi usada para puxar a Bianchi para o cartel internacional. Em 1925, a Swiss IG adquiriu a Soc. Italiana Begamasca per l´Industrial Chimica de Seriate. A ACNA foi responsável por pouco mais de 50% das vendas, a Bianchi por cerca de 16%, Begamasca por 15%, a Industria Chimica Dot. Saronnio de Melegnano por 13%, e a Industria Piemontese Colori Anilina de Ciriè por 5%. 57 A. Isenmann CORANTES A união nos Estados Unidos em 1938 foi dirigida por Du Pont, Nacional Anliline & Chemical Co. (NACCO) e a American Cyanamid (que havia assumido Calco em fevereiro de 1929). Em 1930, a divisão Calco da Cyanamid absorveu a Heller & Merz. A Geral Aniline & Film Corporation (GAF; propriedade da IG Farben), a Dow Chemical Co. e a Cincinnati Chemical Works (propriedade dos suíços) foram responsáveis por outros 20% das vendas. Du Pont e NACCO podiam orgulhar-se com consideráveis exportações, além do mais a Du Pont foi considerada a mais inovadora entre as empresas americanas. No Japão haviam operado apenas a Japanese Dyestuffs e a Mitsui em 1923, apesar da introdução de uma taxa de importação de 35%. O drástico regresso no número de produtores foi causado por uma grave recessão e também as crescentes importações da Alemanha e dos Estados Unidos. A indústria foi reativada durante a década de 1930 e, no final dessa década, as seguintes empresas aumentaram suas produções: Japanese Dyestuffs (que controlaram cerca de dois terços do mercado local), a Mitsui Bussan Kaisha Ltd. de Tóquio, a Mitsui Kozan Kabushki Kaisha de Tóquio e Miike, e a Mitsubishi Dye Co., também de Tóquio. Havia acordos sobre o controle do mercado do anil, com o cartel internacional. Antes da Segunda Guerra Mundial grande parte do restante da indústria de corantes em todo o mundo foi controlada, direta ou indiretamente, pelo cartel, às vezes por causa de participações dos suíços, franceses, britânicos ou alemães. Na Polónia, Pabjanicer AG, fundada em 1899 por Ciba, era de propriedade da Swiss IG, e Winnica foi formada em 1929 pela IG Farben e Kulhmann. O tcheco Aussiger Verein aderiu ao cartel em 1934, junto com a Tofa (criada em 1925; parte da IG Farben, com fábricas em Reichenberg e Brunn). Outras empresas que foram alinhadas pelo grande cartel: na Holanda a N.V. van Chemische Producten Vondelingenplaat em Schiedam e a Niederländische Farben-und Chemikalienfabrik em Delft; na Espanha a Fabricacion Nacional de Colorantes y Explosivos em Barcelona e a Chimica Industrial Espanola SA em Quiesa; na Romênia a Colorom Chemische Fabrik R.A.O. em Zeiden, Codlea; na Bulgária a Coloriska SA em Sofia; na Grécia a S.A. Oeconomides & Co. em Piraus; no Brasil a Companhia de Productos Industriais M. Hamers S.A. no Rio de Janeiro. A produção brasileira começou em 1922, com duas fábricas em São Paulo e uma no Rio de Janeiro. Negros de enxofre foram produzidos numa escala considerável, enquanto os intermediários foram importados. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1939, o cartel internacional entrou em colapso. A Swiss IG foi desmanchada alguns anos mais tarde, e Geigy, Sandoz e Ciba adquiriram a maioria das ações em Durand & Huguenin. A ocupação alemã da Europa continental trouxe novas estruturas na indústria de corantes, embora na realidade o efeito era um contínuo dos acordos anteriores do cartel. Em março de 1941, o governo francês concordou com a formação de uma empresa franco-alemã a ser chamada de Francolor. Desta forma, a IG Farben absorveu os principais fabricantes de corantes franceses. Livre do controle alemão depois da guerra, a Francolor continuou a negociar e até o nome foi mantido, mesmo que sendo adquirida pela ICI da Grã-Bretanha. 58 A. Isenmann CORANTES A hegemonia alemã foi particularmente forte na Europa Oriental, onde, por exemplo, o fabricante lider de corantes da Tchecoslováquia, Spolek, veio sob o controle da IG Farben. Depois que a União Soviética entrou na guerra em 1941, sua produção de anilina foi aumentada, mas a produção de corantes caiu. 2.18. Indústria de corantes dos anos 1950 Em 1945, o Conselho de Controle Aliado assumiu os ativos da IG Farben, e equipes de aliados, investigadores científicos e técnicos, sugaram os segredos e todos os aspectos da indústria alemã. Suas descobertas foram documentadas, nos relatórios Fiat (Field Intelligence Agency, Technical; responsável os EUA) e BIOS (British Subcomission Objective Intelligence Agency); ver exemplos na p. 138. Posteriormente foram amplamente divulgados, e livros sobre corantes sintéticos começaram a citar os avanços alemães a partir de 1930. Nomeadamente a obra de Krishnasamy Venkataraman, "Chemistry of Synthetic Dyes", de dois volumes, foi escrita com base em sua visita na Alemanha pós-guerra. Aqui já estavam descritos, entre outros: Corantes solúveis para acetato de celulose, Corantes azo metalizados para nylon 6, Corantes directos para algodão e Corantes benzocromo permanentes para lã e celulose. Poucos anos após a guerra foi decidido que as fábricas alemãs que outrora compunham a IG Farben seriam liberadas do controle dos Aliados. As sucessoras, a Hoechst e a Bayer foram reformadas em 1951, e a BASF em 1952 (a fábrica da BASF em mãos francesas foi liberada somente em março de 1953). A Bayer, anteriormente na zona britânica, continuou com corantes ao lado de outros produtos sintéticos, produtos medicinais, plásticos, etc, e absorveu a AGFA de Berlim. A Hoechst, anteriormente na zona americana, assumiu a Cassella em 1969. Durante os anos 1940 / início dos anos 1950, a pesquisa teve como objetivo os corantes firmes na celulose e novos corantes para a fibra de nylon que se tornou cada vez mais popular, assim como outros fios sintéticos. Também era desenvolvida a teoria química relacionada à cor, resistência e constituição dos corantes. Registaram-se progressos com novos corantes azo, corantes básicos, antraquinonas, corantes de enxofre, indigóides, ftalocianinas e pigmentos. As linhas de pesquisa pré-guerra foram seguidas energicamente. Por exemplo, a ICI já tinha apresentado em 1933 sua série de corantes Solacet, solúveis em água e apropriados para colorir o acetato de celulose; L.B. Holliday havia lançado com Supracet corantes dispersos para acetato e, depois, para o nylon. Mas nos seis anos da guerra (1939 a 1945) ninguém esforçava-se muito em otimizar estes produtos. Por volta de 1950, a maioria dos corantes foi aplicada em algodão e rayon de viscose, e cerca de sessenta novos corantes diretos de algodão apareceram, feitos principalmente pela Bayer e as suiças Ciba, Geigy e Sandoz. As empresas que a IG Farben tinha controlado na Europa voltaram ao original ou se tornaram propriedade dos respectivos governos. Assim que aconteceu com Spolek na Tchecoslováquia. Durante os anos 1950, outras nações começaram a fabricação de corantes sintéticos, incluindo a Argentina, a Índia e o México. Em virtude deste desenvolvimento as empresas européias abriram unidades fabris nos países em 59 A. Isenmann CORANTES desenvolvimento, participaram em joint ventures e assumiram negócios já estabelecidos. O crescimento das indústrias têxteis fora da Europa Ocidental e os Estados Unidos, onde eles estavam em declínio, e as restrições legais sobre o uso de vários produtos químicos que foram usados para fazer os corantes tradicionais - tudo incentivou a expansão da indústria dos corante para outros lugares. Impostos direcionados a certos bens importados também promoveram a produção em novas terras. Quando as restrições foram parcialmente aliviadas no México, por volta de 1980, os corantes estrangeiros que inundaram o mercado doméstico já tinham prejudicados a indústria mexicana. Recuperação era possível após o aumento de impostos em produtos estrangeiros, seguindo uma evidência que já se ganhou após a Primeira Guerra Mundial: "Um país só pode montar sua própria indústria sob os impactos de uma boa proteção tarifária, uma vez que serão necessários muitos anos antes que a economia chegue à escala de produção em quantidade suficiente". Afinal, a indústria de corantes dos EUA usufruiu deste princípio protecionista por muitos anos (e até hoje se sente confortável com tal). No entanto, como já visto em outros lugares e outra época, as barreiras de importações, licenças a serem compradas dos inventores e impostos incentivam as empresas estrangeiras a abrir novas fábricas naquele país. É assim que aconteceu no México, onde durante o início dos 1980s, haviam sete fábricas estrangeiras, e apenas quatro empresas nacionais, liderados por Pigmentos Y Oxidos em Monterrey (agora Pyosa; eles também exportaram). A primeira empresa mexicana, a Argo SA, que iniciou sua produção em 1952, tornou-se intimamente ligada à Bayer; a Colorquim, originalmente criado pela Sun Chemical, foi tomada pela Du Pont. A Anyl Mex, inaugurada em 1968, baseou-se numa planta projetada na Tchecoslováquia, e mais tarde foi vendida para a ICI Grã-Bretanha. O governo mexicano subsidiou a produção de produtos intermédios, proporcionando benzeno, tolueno, xilenos e naftaleno de plantas petroquímicas estaduais, para chegarem a 10-20% abaixo dos preços do mercado mundial. Acordos de transferência de tecnologia entre as empresas da Europa Ocidental e as nações em desenvolvimento também foram incentivados pelos regulamentos cada vez mais rigorosos e controles ambientais na Europa e na América do Norte, além da mudança geográfica dos centros da produção têxtil. Assim se explica que muitas plantas na Argentina e no Brasil têm um rosto alemão ou suíço. A partir dos anos 1950, a indústria de algodão de Hong Kong que tradicionalmente satisfaz as necessidades da Tailândia, Indonésia e da Ásia central, começou a fazer incursões maciças nos mercados europeus e americanos. Crescente produção de têxteis significa também consumo crescente de corantes e produtos químicos coadjuvantes no processamento, assim como novas oportunidades para os fabricantes asiáticos desses produtos. As indústrias de corantes da Indonésia, Paquistão, Coréia do Sul, Taiwan, Tailândia e República Popular da China, como a do México e uma série de países em desenvolvimento, começaram com produtos de baixa tecnologia que satisfizeram os mercados locais. Hoje a Coréia fabrica intermediários importantes, e a China tem considerável capacidade de produção, incluindo os intermediários, tais como o β-naftol. No Paquistão, a Corantes Pak, criada em colaboração com a Bayer e Hoechst, produz grandes quantidades de corantes azo (200 toneladas por ano) e negro de enxofre (300 toneladas por ano). A indústria no Paquistão é parcialmente estadual, mas em agosto de 1992 uma comissão de privatização pediu propostas para participações. No Japão, a Sumitomo tinha tomado o grande produtor, Japanese Dyestuffs Manufacturing Co., em 1944. A Mitsui Chemical Industries, fundada em 1941, e a Mitsubishi Chemical 60 A. Isenmann CORANTES Industries, criada em 1944 a partir da Japan Tar Industries (formada em 1934), tornaram-se rivais formidáveis. De muitas formas isso marcou a emergência do Japão como um dos líderes mundiais na fabricação de corantes. Por volta de 1966, o Japão já era o quarto maior produtor de corante, e cada uma das cinco maiores empresas (Sumitomo, Nippon Kayaku, Mitsui Toatsu Chemicals, Mitsubishi e Hodogaya Chemical) tinham estabelecido joint ventures com empresas estrangeiras. Em 1968, a Mitsui Toatsu Chemicals fundiu com Toyo Koatsu e Mitsui. O Japão logo se tornou um dos principais exportadores de tinturas, e foi o principal responsável pelo aumento notável em novos produtos e marcas em todo o mundo, num total de nada menos do que 964 (!), durante 1974. A produção japonesa no final da década de 1970 chegou a 60.000 t, isto é 50% a mais do que em 1975. Em 1980, o governo japonês permitiu a criação de um cartel para resolver questões acerca do excesso de oferta, e para auxiliar pesquisas e estratégias de desenvolvimento. Quando a Mitsubishi fechou acordos com a Atlantic Chemical Corporation, dos EUA, sobre a comercialização dos corantes do outro, houve preocupação considerável na indústria americana de corantes e tintas. Intervenções governamentais também se observaram na Índia, onde, como resultado da política dos preços competitivos, um terço da produção foi exportado em 1979. A indústria de corantes indiana tinha crescido rapidamente após a independência do país. A Atul Products Ltd., situada em Gujaret, 200 km de Bombaim, foi formada em 1949 e criou empresas mistas com a ICI (Atic Industries, 1955) e a Ciba (Cibatui, 1960). Agências foram abertas na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia. A Indian Dyestuffs Industries situada em Bombaim é a segunda maior produtora, foi formada em 1950. Entre as importantes empresas estão também a Amar (50 km de Bombaim, criada em 1954), Rathi / Chemiequip, e a Exim. Na União Soviética a produção de corantes continuou a crescer após a Segunda Guerra Mundial, a partir do 4° Plano Quinquenal (1946-1950), atingindo mais de 95.000 t no início de 1970. No entanto, a produção diminuiu um pouco para chegar em 75 a 80.000 t no final da década de 1980. A Sandoz colaborou em um joint venture em uma nova fábrica na Ucrânia, onde deviam, como planejado, ser produzidos 6.000 t por ano de corantes de enxofre. A fusão da Ciba com a Geigy, que assim se tornaram o maior produtor mundial de corantes com sede na Basiléia, ocorreu em 1970. Na Itália a Montecatani e a Edison uniram em 1966 e a nova corporação foi rebatizada em Montedison Group em 1970; eles continuam a produzir corantes e intermediários. Em 1980, a ACNA, um membro deste grupo, expandiu consideravelmente a produção dos intermediários. A Montedison assinou um contrato de cinco anos com a autoridade química polonesa em 1981, para troca de produtos; a Polônia iria fornecer outros intermediários necessários para corantes. Havia inúmeras turbulências na França, caracterizadas por fusões nem sempre bem-sucedidas e também diversificações. Mais da metade das indústrias químicas francesas caiu sob controle do governo e sofreu uma considerável reorganização em 1982-1983 e durante o início de 1990. A Kuhlmann tornou-se parte do grupo Pechiney-Ugine-Kuhlmann em 1972 e a produção de matérias colorantes e outros produtos químicos foi sistematicamente reduzida ou vendida. Em 1989 cerca de 40% do setor privado estava nas mãos de empresas estrangeiras. Também houve transtornos na Grã-Bretanha. Em 1981, a Comissão de Desenvolvimento Econômico Britânico previu para a Indústria Química um declínio da produção na Europa Ocidental (principalmente na Grã-Bretanha, Alemanha e Suíça), devido ao surgimento de fabricantes na Europa do Leste e na Ásia. Isso levou a uma reorganização considerável. Assim, a antiga Yorkshire Dyeware & Chemical Co., a partir de 1971 conhecida como 61 A. Isenmann CORANTES Yorkshire Chemicals Limited (época em que as preparações de corantes naturais foram substituídos pela fabricação de produtos sintéticos), trabalhou especialmente agressiva na promoção de seus produtos. Novos pontos de venda foram estabelecidos na Europa (especialmente na Itália), na Ásia, e nos Estados Unidos (Yorkshire Pat-Chem, Inc.). Hoje, a divisão de corantes da Yorkshire Chemicals Plc. está sediada em Leeds, enquanto as especialidades são fabricadas em Selby, no norte de Yorkshire. L.B. Holliday teve menos sorte. Embora a empresa recebeu um prêmio da Rainha para suas exportações em 1978, a recessão nos anos seguintes levou à falência em 1981. E.M. Bray comprou os ativos em 1982 e montou a Corantes Holliday & Chemicals Ltd., em 1992 uma empresa próspera. Esta empresa está atualmente expandindo seus esforços nos Estados Unidos e em outros mercados estrangeiros. A resposta da ICI era consolidar sua posição como fornecedor lider mundial de corantes, pigmentos e auxiliares, através de uma proposta de aquisição da empresa química francesa PCUK (Produits Chimiques Ugine Kuhlmann)". A aquisição da PCUK, cujos corantes foram vendidos sob a marca Francolor, teve lugar no final de 1982, e incluiu unidades fabris em Oissel (no sul de Rouen, especializada em corantes azo e pigmentos). Também fizeram parte nesta aquisição a fábrica de Saint Clair du Rhône (a meio caminho entre Lyon e Grenoble; produção de couro tingido com corantes azo e corantes trifenilmetano), e Villers Saint Paul (norte de Paris; ftalocianinas azúis e tinturas de cuba do tipo Solanthrene). A subsidiária da PCUK, a Société des Produits Chimiques et des Matières Colorantes de Mulhouse igualmente foi tomada pela ICI, como também suas filiais britânicas, Alliance Dye & Chemical Co. e Química Catco Bolton, ambas em Lancashire, e a fábrica Fosfanil no Brasil. Isso aumentou as vendas da ICI em corantes em 50%, com um volume de negócios anual superior a US $ 380 milhões. As condições de venda haviam sido aceitas em 1 de Outubro de 1982, e no início do ano seguinte a ICI Francolor SA foi criada, uma filial integral da ICI incorporando sua agência de vendas anterior, a ICI France. Assim, a ICI herdou não só os interesses das sucessoras de Perkin, Simpson Maule & Nicholson, Levinstein, as Hollidays e a Morton, mas também a antiga empresa inovadora de Poirrier em Saint Denis, Paris (onde foi realizado em 1860 o novo processo da alquilação da anilina). Não muito longe, em Villers Saint Paul, a fabricação de uma gama de corantes foi completamente computadorizada em 1982, enquanto em Oissel "os corantes azo vermelho e amarelo são sintetizados por um processo contínuo. Este é acreditado ser o primeiro e único de seu tipo no mundo". Muitos fatores contribuiram para as mudanças na indústria de corantes dos EUA. Os anos de crescimento foram os 1950s e 60s. Em março de 1950, 70% da Arnold Hoffman & Co, Inc. de Providence, Rhode Island, e a Dighton de Massachusetts foram compradas pela ICI GrãBretanha. Na Dighton foram feitos os corantes do tipo Soledon e Caledon, com o suporte de mais instalações em Charlotte, Carolina do Norte. A aquisição da ICI logo foi completa, e o nome ICI Organics foi adotado em julho de 1963 ("ICI America Inc." já existia desde outubro de 1958). Este foi o nascimento da ICI nas Américas que continua até o presente. Em 1954, a Althouse Chemical Company em Reading, Pensilvânia, foi comprada por Crompton & Knowles, uma empresa estabelecida há muito tempo por fabricantes de máquinas têxteis. Eles abriram uma filial belga, a Althouse Tertre SA em 1969. Uma empresa completamente nova de corante, a Fabricolor, foi fundada em 1961, com fábrica em Paterson, Nova Jersey. Na década de 1970 foi o início de uma série de cortes que reduziram o tamanho da indústria nacional americana quase pela metade. Este declínio foi inicialmente causado pela produção 62 A. Isenmann CORANTES de excessos de corantes, na expectativa de um contínuo crescimento das fibras sintéticas (o que não veio devido à crise do petróleo em 1974) e a preocupação com a poluição, instrumentalizada por novas normas de segurança e preservação da saúde pelo Governo dos EUA. Finalmente, caíram também nas sobras da recessão mundial. Em particular, os fatores ambientais começaram a favorecer a fabricação dos importantes corantes de cuba do tipo antraquinona, fora dos Estados Unidos. Durante os anos 1970, a Allied Chemical & Nacional Dye Aniline Divisão, a General Anilina & Film (GAF), e a American Cyanamid decidiram retirar-se do setor dos corantes. A Allied vendeu sua produção de índigo para a recém-formada Buffalo Color Corporation em Buffalo, Nova York. A GAF vendeu seu negócio de corantes para a BASF (1978), e a Harshaw Chemical Co. (que tinha fabricado corantes desde que assumiu Zinnser & Co.) passou a fazer parte do novo líder, Crompton & Knowles (1979). A Crompton & Knowles também comprou a Belle Chemical Co. em Lowell, Carolina do Norte, a Otto B. May em Newark, New Jersey, e a Atlantic Industries em Nutley, Nova Jersey. Os EUA perderam cerca de 40% de sua capacidade de produção, e Du Pont, depois de alguns sucessos técnicos notáveis que não foram pareados por sucesso nas vendas, saiu da produção de corantes em 1980 (a divisão de corantes foi vendida para a Crompton & Knowles). A Ciba-Geigy adquiriu a Americana Color & Chemical, e a Sandoz fez parte em uma fábrica em conjunto em Toms River, New Jersey. A fábrica de Toms River abriu em 1950 para produzir os corantes de cuba da Ciba. Mais tarde, através da nova parceria, a produção de corantes azo foi iniciada. Em 1988, exatamente a metade dos 22 produtores ativos em 1976 tinham desaparecido. Importações subiram mais de três vezes, atendendo mais de um quarto do consumo nacional de corantes (em comparação com 8%, em 1976). Hoje a divisão Dyes and Chemicals da Crompton & Knowles Corporation é a maior produtora norte-americana de corantes, com plantas e escritórios em Reading e Gibraltar, Pensilvânia, e escritórios e laboratórios em Charlotte, Carolina do Norte, entre outros. A Crompton & Knowles Atlantic Industries Division opera em Nutley, Nova Jersey, e Greenville, Carolina do Sul. Em 1990, uma nova fábrica foi instalada em Greenville que impulsionou a produção de corantes líquidos em 300% e em 1992 a C&K comprou a planta da ICI em Oissel na França. O desaparecimento dos principais fabricantes de corantes dos EUA tem sido acompanhado por um aumento dos investimentos pelos suíços e empresas alemãs, especialmente a Sandoz e a Ciba-Geigy. A Sandoz introduziu novos corantes cujos métodos de fabricação superaram os problemas da poluição. Desenvolveram atividades consideráveis na formulação e aplicação de corantes que foram importados em forma de massa seca prensada, e promoveram um número de empresas, tais como Carey Industries Inc. em Sunbelt e a Organic Chemical que continuam atuar nesta área. Colaborações com a Europa Oriental são fechadas nos Estados Unidos, onde a Fabricolor tem ligações estreitas com a Synthesia e a Spolek da Tchéquia. Até o presente momento a Spolek (fundada em 1856, tinha sido absorvida pela IG Farben no início de 1930) emprega em torno de 800 pessoas e produz 4000 t métricas de corantes por ano. A Synthesia em Pardubice emprega 1800 pessoas, com uma produção anual de 12.000 toneladas métricas (a divisão de corantes da Synthesia foi formada em 1939; antigamente, a empresa foi envolvida na fabricação de explosivos e munição). Ambas as empresas comercializam seus corantes através da Ostacolor em Pardubice. 63 A. Isenmann CORANTES 2.19. Produtos tradicionais e corantes novos Hoje temos uma ampla gama de corantes que podem ser fixados na fibra por ligação covalente, conhecidos como corantes reativos (inglês: "reactive dyes"; ver cap. 4.8). Dentro desta família foram desenvolvidos corantes com dois ou mais grupos funcionais, onde a taxa de fixação na fibra celulósica fica bastante elevada. Antigos e ainda atuais são, por outro lado, os corantes dispersos que não fazem ligações fortes com a fibra, mas apenas são retidos por forças dipolares, pontes de hidrogênio e forças Van der Waals. O anil é, mais do que nunca, procurado no mercado internacional, quase que exclusivamente para o tingimento da calça jeans. Em março de 1956 foi o centenário da descoberta da Malve de Perkin. O evento foi celebrado, como o quinquagésimo aniversário, por encontros internacionais em Londres e Nova York. Para este evento a Divisão Corantes da ICI apresentou o primeiro corante reativo, quer dizer, um corante que ia ligar-se através de uma unidade de acoplamento reativa diretamente à fibra formando uma ligação covalente. Esses corantes excepcionalmente rápidos e firmes, tornaram-se os primeiros membros da família Procion, ideal para o tingimento de algodão (Procion Amarelo R, Procion Brilliant Red 2B, e Procion azul 3G, ver Fig. 42). Em 1957, foram complementados pelos corantes Cibacron (Ciba), e Remazol (da Hoechst), que usou um princípio reativo diferente (ver Fig. 43). Os corantes da Ciba eram na verdade o resultado de acordos técnicos com a ICI sobre o uso de cloreto cianúrico como intermediário (resultando no grupo diclorotriazina), enquanto a própria Ciba elaborou a técnica de fixação via grupo monoclorotriazina. Yellow R Cl Cl N Cl N N N N Cl -O S 3 -O S 3 O N HN NH H 2N O N N N SO3- Cl OH N NH O OH N SO3- - O3S NH2 HN N N Cl N - SO3- O3S O Blue 3G Fig. 42. Et Brilliant Red Típicos corantes reativos (Procion) 64 A. Isenmann CORANTES O HO O corante O S O OH ∆ O Sulfato etilsulfona Fig. 43. SO 3- corante S O fibra ou H2N fibra corante O O ∆ corante Vinilsulfona O fibra H N fibra S ou S O Princípio do acoplamento dos corantes reativos do tipo Remazol. Em 1959, a Bayer apresentou sua família de corantes reativos Permafix que foram estendidos e renomeados de Levafix, em 1961. Durante 1959, a ICI introduziu corantes dispersos contendo cloro reativo, adequados para tintura de nylon, chamado de Procinyl. Seguido em 1961 por corantes Procinyl com complexo de metal na sua estrutura cromofórica e um grupo reativo que aderiu ao algodão. A ACNA da Itália apresentou a sua família Reacna de corantes reativos em 1965, e dois anos depois a ICI trouxe os corantes Procion Supra para algodão e rayon de viscose. Todos estes corantes contêm grupos reativos da mesma estrutura química, e são chamados "corantes reativos homobifuncionais", alguns dos quais contêm grupos organofluorados. Em 1959 e 1961, respectivamente, a ICI e a Hoechst registraram patentes para corantes reativos contendo dois diferentes grupos funcionais ("corantes heterobifuncionais"), mas o primeiro corante deste tipo somente foi produzido em grande escala a partir de 1975, quando a Hoechst disponibilizou Remazol Brilliant Red SBB contendo três grupos reativos. A primeira série completa de corantes multifuncionais foi a Sumifix Supra, introduzida pela Sumitomo do Japão em 1979; hoje há 13 desses corantes disponíveis. Todos contêm um grupo de monoclorotriazina e uma vinilsulfona. A Hoechst, a Nippon Kagaku, a Bayer e a CibaGeigy trouxeram corantes semelhantes ao mercado nos anos 1980, e o número de aplicações de patentes para este grupo já atingiu mais de 100. Corantes reativos são produtos principais da parceria alemã-japonesa entre a Hoechst e a Mitsubishi Kasei Co. Ltd. Hoje em dia, os corantes reativos estão disponíveis em uma ampla gama de tons, são extremamente brilhantes, são fixos e resistentes aos processos de lavagem (inglês: wetfast), e podem ser aplicados economicamente. Eles foram originalmente aplicados à lã, mas suas qualidades superiores eles mostram no tingimento da celulose. No Japão, por exemplo, os corantes reativos são responsáveis por mais da metade dos corantes utilizados para fibras celulósicas. Também os corantes dispersos (que a princípio podem também ser classificados como pigmentos) continuam ser bastante aplicados e ampliam as facetas do tingimento. São produzidos com sucesso, principalmente pela ICI. Eles são utilizados para tingir fibras de poliéster que não contêm os grupos funcionais que permitem a ligação química direta, nem se apropriam à coloração em solução aquosa. Eles são aplicados como dispersões ultra-finas, e podem ser usados em outras fibras sintéticas também, incluindo os nylons. Estes e outros novos corantes abriram caminho para uma vasta gama de tecidos sintéticos querendo entrar no mundo da moda. Durante os anos 1970, a ICI desenvolveu um sistema de tingimento contínuo para malha de poliéster misto com celulose (inglês: fabrics blend). Foi disponível para tingimentos em larga escala em 1980, utilizando corantes dispersos e reativos (Procion Dispersol-T). O sortimento 65 A. Isenmann CORANTES atual de corantes ("Dispersol C") é recomendado para um processamento rápido de tecidos de poliéster e poliéster misto com celulose; os corantes Dispersol D onde altos níveis de resistência ao calor são necessários, enquanto os Corantes Procion MX oferecem máxima versatilidade. Corantes líquidos tipo Caledon SF, usados em conjunto com um auxiliar multifuncional e uma resina, são adequados para "passagem única", um processo contínuo de tingimento em cuba e acabamento de tecidos celulósicos e mistos, poliéster-celulose. Corantes reativos e outros corantes especiais para materiais sintéticos apareceram na União Soviética a partir da década de 1960. A produção de corantes dispersos chegou a 3000 t em 1987. A Everlight Chemical Industrial Corporation de Taiwan adicionou os reativos ao sortimento de corantes de dispersão, diretos, ácidos e de couro, e na Coréia do Sul a Kyung-In Synthetic produz corantes reativos e dispersos. Os corantes reativos da Crompton & Knowles aparecem sob a marca Intracron; as vinilsulfonas nesta classe foram recentemente estendidas. Estudos de mercado e previsões de crescimento, feitos pela ICI nos anos 70 e 80, sugeriram um reforçamento dos corantes reativos, dispersos, Nylomine, e os verdes de ftalocianina, sendo esses com melhor potencial do que muitas linhas tradicionais que foram então eliminadas. Isso estreitou a gama de produtos bastante. Somente ao comprar a Kuhlmann em 1982, a ICI superou esta insuficiência e voltou a oferecer a gama completa dos corantes modernos. Além disso, reativou suas pesquisas em corantes completamente novos. Corantes do tipo benzodifuranona para tinturaria e estamparia de roupas íntimas femiminas, feitas de blendas de poliéster e algodão, foram desenvolvidos no início dos anos 80. A maioria foi vendida às freguesas contendo um corante vermelho, para disfarçar problemas de sangramento. Para estes benzodifuranonas (Red CBN, Scarlet SF, Red BNPC) a ICI recebeu o prêmio da Rainha para o avanço tecnológico em junho de 1990. Y X O O O O X Fig. 44. Y Estrutra geral da nova classe de corantes, as benzodifuranonas. Nos anos 60 o visual desbotado dominou as modas. Desde então, a produção de índigo aumentou e os locais mais importantes da sua produção são os EUA (Buffalo Color Corp), a Grã-Bretanha (ICI Especialidades), a Alemanha (BASF), o Japão (Mitsui Chemicals Toatsu) e também em outros lugares, como a Índia e o México (Pyosa). Em 1988 a demanda mundial pelo anil atingiu 14.000 t. Em 1988, na fábrica de anil em Ellesmere Port (adquirida por Hugo Levinstein durante a Primeira Guerra Mundial), a ICI gastou US $ 1,4 milhões com a introdução de uma nova torre de secagem por atomização, na busca de uma forma mais limpa do corante que previamente era vendido principalmente em forma de pasta. O produto acabado é conhecido como "pérolas de corante", vendido sob a Etiqueta Microperle, um nome herdado da Kuhlmann. A formulação ainda contém outros corantes de cuba além do anil, principalmente à base das antraquinonas. 66 A. Isenmann CORANTES Os métodos atuais de produzir o anil são semelhantes aos introduzidos no início do século XX, mas a matéria-prima, como é o caso em todos os corantes contendo hidrocarbonetos aromáticos, mudou desde os anos 1980, sendo o carvão substituído pelo petróleo. Todavia, esta tendência pode reverter-se logo, em função da disponibilidade limitada das reservas fósseis. 2.20. Diversificação dos corantes hoje A disponibilidade comercial dos mais diversos corantes levou também à diversificação nas suas aplicações. Não só servem para decorações artísticas. Desde a década de 1890, os corantes também foram utilizados em tratamentos de quimioterapia, e em 1930 um corante azo vermelho brilhante tornou-se o primeiro fármaco da família das sulfonamidas. Muitas empresas de corante logo se transformaram em produtores farmacêuticos (melhor exemplo: a Bayer AG). O corante clássico de Caro, o Azul de Metileno (CI 52.015; ver Fig. 13) foi recentemente testado com sucesso como agente ativo no combate dos "Tangles" - causa mais provável da mal de Alzheimer - além de ter inúmeras outras aplicações medicinais (inclusive em anti-depressivos e como remédio anti-malária; P. Ehrlich 1891). Em laboratório serve como indicador redox, na deteção de detergentes aniônicas em águas servidas e na análise quantitativa de sulfetos; na síntese orgânica como sensibilizador na geração de peróxidos e oxigênio singleto, 1O2. Hoje, a indústria eletrônica e de comunicações tornaram-se grandes consumidores de corantes que absorvem a luz em certa faixa de comprimento de onda, usados na texturação miniaturizada de semicondutores. Estes corantes, entre os quais as ftalocianinas metálicas tocam um role prominente, receberam o nome de "corantes funcionais". Novidades como os corantes líquido-cristalinos (usados nos dispositivos OLED), outros cuja cor varia muito com a temperatura, que permitem a substituição da estampagem clássica em têxteis, agora usando uma simples impressora a jato ou uma copiadora, mostram caminhos até então desconhecidos e cada vez mais confortáveis para produzir objetos coloridos em pequena série. Sendo assim, podemos constatar que novas moléculas estão sendo projetadas, tanto para o mundo da moda como para as indústrias de alta tecnologia. Tab. 6. Os cinco corantes mais aplicados em 1996, em t por ano. Fonte: H-J. Quadbeck-Seeger (editor), World Records in Chemistry, Wiley-VCH Weinheim 1999. Corante (nome genêrico do CI) 22 Indigo t / ano 15,000 Disperse blue 79 15,000 Sulphur black 1 10,000 Reactive dye black 5 8,000 Acid black 194 7,000 22 Para os nomes sistemáticos do Colour Index, recorra cap. 6.3. 67 A. Isenmann CORANTES 2.21. Literatura recente relaciona à história dos corantes sintéticos Simon Garfield. Mauve: How One Man Invented a Colour that Changed the World. London: Faber and Faber, 2000. Sharon B. McGrayne. Prometheans in the Lab: Chemistry and the Making of the Modern World. New York: Mc Graw-Hill, 2001, pp. 15–29. (William Perkin) Johann Peter Murmann. Knowledge and Competitive Advantage: The Coevolution of Firms, Technology, and National Institutions. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. Carsten Reinhardt, Anthony S. Travis. Heinrich Caro and the Creation of Modern Chemical Industry. Dordrecht: Kluwer, 2000. Anthony S. Travis (editor). "150 Years of the Coal-Tar Dye Industry, 1856-2006," special issue of History and Technology, volume 22, No. 2, June 2006. Zvi Rappoport (editor). The Chemistry of the Functional Group: The Anilines. Chichester: Wiley, forthcoming (2006). (inclui material histórico e resumos do desenvolvimento da insústria dos corantes até 2005.) Gerald W.R. Ward (editor), The Grove Encyclopedia of Materials and Techniques in Art", Oxford University Press, Nova York 2008; capítulo "Textile". 3. Introdução teórica à absorção da luz Na introdução deste livro (p. 2) já foi mencionado que a aparência dos pigmentos se deve ao espalhamento (= reflexão não direcionada) da luz incidente, uma propriedade que depende sensivelmente da morfologia deste material cristalino, principalmente da qualidade da sua superfície (ver p. 217). Os corantes orgânicos, por outro lado, não precisam organizar-se em partículas sólidos para ser coloridos. Aqui unicamente se discute a absorção na região do ultravioleta e de uma faixa da luz visível, um processo que se deve à transição eletrônica em cada molécula por si. Mais uma diferença constatamos entre os corantes moleculares e os pigmentos: a geometria onde o efeito da absorção se percebe mais fortemente é em linha direta da luz incidente, ou seja, na medição em transmissão. Aspectos da medição objetiva da cor e as geometrias favoráveis serão tratados num capítulo aparte, mais à frente (Cap. 7). O assunto principal deste capítulo são as propriedades dos corantes moleculares e sua interação com a luz, ou seja, a relação entre a estrutura química do grupo cromofórico e a absorção seletiva da luz UV/VIS. 3.1. Transições eletrônicas Quando uma luz de certa energia E (ou frequência ν, conforme E = h.ν) alcança uma molécula que se encontre no estado eletrônico fundamental, ψ0, ela pode ser absorvida e elevar o nível energético dos elétrons da molécula para um estado superior, geralmente o primeiro estado excitado, ψ1. Deste estado elevado o sistema pode voltar para seu estado fundamental, que 68 A. Isenmann CORANTES seja via emissão espontânea ou ainda sob o estímulo da luz que vem da fonte luminosa. Nesta frase é importante falar em "pode voltar", porque nem cada evento de absorção acarreta necessaria e imediatamente a volta da molécula ao seu estado fundamental; existe uma probabilidade para que essas transições, tanto para cima como para baixo, aconteçam. A Fig. 45 mostra o dito para os processos da absorção e da emissão de radiação. A energia desta radiação é idêntica com a distância dos níveis energéticos entre os orbitais moleculares envolvidos: ∆E = E (ψ 1 ) − E (ψ 0 ) = h ⋅ν . Fig. 45. Transições eletrônicas e os processos de radiação. O orbital energeticamente mais alto que contêm elétron(s) é denominado de HOMO (= Highest Occupied Molecular Orbital), o próximo orbital mais energético que está vazio é chamado de LUMO (Lowest Unoccupied Molecular Orbital). Daí podemos interpretar a Fig. 45 que a absorção da luz provoca a elevação de um elétron do HOMO para o LUMO, a emissão de radiação o oposto, então a queda do elétron do LUMO para o HOMO 23. A probabilidade para a absorção de energia, quando se discute a excitação em forma de movimento molecular, pode ser expressa pela força do oscilador, f01. Esse modelo clássico pode ser aplicado também à transição eletrônica; daí ela tem o significado da porcentagem de cargas negativas (elétrons) que efetivamente são elevados (= aumentam a frequência da sua 23 Este modelo é bastante simplificado. Uma consideração mais detalhada revela que a diferença em energia entre LUMO e HOMO é consideravelmente maior do que a energia necessária para a excitação eletrônica. Uma imagem mais correta seria uma energia de excitação A que serve para elevar o elétron do estado singleto fundamental, S0, ao primeiro excitado estado singleto, S1. Essa distância é resultado de uma interação entre os elétrons que se exprime no termo de Coulomb J e o termo de troca, 2K. Nesta aproximação a distância energética entre singleto e tripleto é de 2K. Como K > 0 podemos concluir que o estado eletrônico básico tripleto, T1, sempre fica abaixo do estado singleto S1. Como resultado desta interação configurativa anotamos que a transição HOMO → LUMO não é necessariamente idêntica com a transição S0 → S1. 69 A. Isenmann CORANTES oscilação). Mais útil, no entanto, é o modelo mecanico-quântico, onde se fala, em vez de f, de um momento de transição M01 que representa a mudança em momento de dipolo durante uma 2 transição eletrônica. A grandeza do dipolo, D01 = M 01 , é diretamente proporcional à força do oscilador f. Com essa definição podemos indentificar três situações marcantes: 1. Em caso de D01 = M 01 = f 01 = 0 não haverá transição, mesmo se a condição da ressonância ∆E = h ⋅ν for satisfeita. 2. Ao se ter um valor pequeno de f temos uma transição proibida (= improvável 24). 3. Um valor de f próximo a 1 indica o caso de transição permitida (= transição fácil e provável). 3.1.1. Transições proibidas, transições permitidas e as regras de seleção Uma molécula diatômica (HCl, Br2, N2, etc.) e em moléculas lineares (O=C=O, SO2, alenos, etc.) podem ser postulados regras de seleção para predizer quando uma uma transição eletrônica seja permitida. Em analogia à manutenção do ímpeto, geralmente aplicada em átomos com mais de um elétron. Essas regras de seleção levam às transições interditadas ou impedidas, quando aplicadas às moléculas não lineares - que logicamente é a grande maioria. O impedimento de spin diz que o spin total da molécula S (ou seja, sua multiplicidade M = 2 S + 1 ) durante uma transição eletrônica não deve mudar. Isso significa que a partir de um estado singleto a absorção ou emissão de radiação somente deve levar a outro estado singleto, mas não diretamente a um estado tripleto. Em outras palavras: o sentido do spin do elétron durante uma interação com a luz não se inverte. Outro critério limitante para a probabilidade de excitação (M01) é a simetria dos orbitais envolvidos. Essa simetria é descrita pelas funções de onda, ϕ0 e ϕ1, que representam a parte eletrônica nas funções globais da molécula, ψ0 e ψ1. Desta vez temos um impedimento de simetria que indica baixa probabilidade de uma transição caso a simetria dos orbitais envolvidos não muda. Falando positivamente, uma transição eletrônica a partir de um orbital centrossimétrico (= simetria impar) deve levar a um orbital excitado de simetria de espelho (= simetria par), e vice-versa. Isso se aplica de maneira mais evidente em moléculas que por si só são centrossimétricas, onde as funções de onda dos orbitais moleculares são de simetria par ou impar. O impedimento de simetria (também conhecido como regra de Laporte ou seleção por pariedade) aplicado nestes casos indica probabilidade zero para transições entre orbitais MO da mesma paridade: Permitidos: Proibidos: par → impar par → par impar → par impar → impar. No entanto, um movimento dos núcleos desta molécula abaixa sua simetria durante a transição. Isso tem por consequência que transições eletrônicas proibidas por simetria podem ser observadas, sim. Um exemplo representa a banda de absorção do benzeno nos maiores comprimentos de onda (ver Fig. 62), que se deve a uma transição eletrônica devido ao movimento (vibratório) dos núcleos. Menos ainda vale a regra da simetria em moléculas ou 24 Na mecânica-quântica o "proibido" não quer dizer que nunca pode acontecer. Veja, por exemplo, o fenômeno do tunelamento, onde uma barreira de energia potencial muito alta pode ser superada, porém com pouca probabilidade. 70 A. Isenmann CORANTES agrupamentos tenham baixa simetria – tanto no estado fundamental como no estado excitado (por exemplo, o grupo carbonila, C=O). Outra restrição para uma transição eletrônica se conhece como impedimento de sobreposição. Este indica baixa probabilidade para uma transição quando os lobos dos dois orbitais envolvidos estejam em locais distantes. Positivamente falando, prováveis são aquelas transições onde os lobos do MO de origem se sobrepõem com os lobos do MO de destino (HOMO → LUMO). Isto é evidentemente dado numa transição sob transferência de carga, onde a carga eletrônica seja transferida dentro do complexo, de uma parte doadora para outra parte aceitadora (= charge transfer complex). Além disso, existem muitos exemplos intramoleculares onde uma transição, devido à sobreposição, seja permitida (ver transição n → π* no grupo carbonila, p. 105). Ao todo temos que lidar basicamente com três diferentes critérios que delimitam a probabilidade da transição eletrônica: O spin total da molécula não deve mudar. A simetria dos orbitais dentro da molécula deve mudar. Os orbitais envolvidos devem sobrepor-se. Afinal, quando aplicamos todas essas regras, chegamos à conclusão de que a maioria das transições eletrônicas deve ser proibida, por infringir uma ou mais destas regras. Na verdade, observa-se que as transições proibidas são bastante comuns e as permitidas são a exceção. Realmente observam-se muitas transições que, embora são proibidas, acontecem, no entanto com menor probabilidade, quer dizer, com intensidade reduzida. Os valores da probabilidade destas bandas de absorção ficam entre 10-1 ≥ f ≥ 10-6. Destas regras, qual mais rigorosamente se aplica é o impedimento do spin. No entanto, também essa regra é frequentemente quebrada, especialmente quando se tem um forte acoplamento spin-órbita (= acoplamento de Russel-Sounders, uma qualidade atômica, especialmente expressiva nos átomos mais pesados) ou na presença de espécies paramagnéticas. Daí se fala em "transição proibida pelo spin". Na Fig. 46 são representados os processos foto-físicos acerca de transições eletrônicas, num diagrama de Jablonski. A partir do estado fundamental - em geral um estado singleto S0, a absorção da radiação eleva um elétron a um nível superior do tipo S1, S2, etc. A volta para S0 pode ocorrer a partir de S1 - raramente a partir de outro nível Sn. Ao mesmo tempo se emite radiação eletromagnética, o porcesso é então chamada de fluorescência; a alternativa seria a desativação silenciosa (isto é, sem notável radiação na região visível; conhecida como "IC" = internal conversion). Também ocorrem, porém com probabilidades menores, inversões do spin daquele elétron que foi elevado. Esses processos de "ISC" (= intersystem crossing) deixam o elétron ativado com spin invertido, ou seja, ele cai num nível tripleto T. Dalí ele pode voltar - contra o impedimento devido à simetria - ao estado fundmental singleto, S0. Essa queda é acompanhada por uma forma de emissão de luz conhecida como fosforescência; alternativa seria seu relaxamento para S0 sem radiação, via um ISC na direção oposta. O processo de longe mais importante para a absorção e emissão de luz visível por corantes é a fluorescência, um processo espontâneo e rápido, na ordem de nanossegundos (ao contrário da fosforescência que pode demorar vários segundos). 71 A. Isenmann CORANTES Fig. 46. Esquema de termos segundo Jablonski. Mostrada a configuração eletrônica da molécula durante sua excitação por radiação (flechas para cima) e durante seu relaxamento (flechas para baixo. Símbolos usados: setas diretas são processos envonvendo radiação na região do visível: A = absorção; F = Fluorescência; Ph = Fosforescência. Flechas onduladas = sem radiação: IC = Internal Conversion; ISC = Inter System Crossing. S representa a multiplicidade singleto e T o tripleto. Sob incidência da luz de intensidade moderada somente um elétron por molécula ou agrupamento está sendo elevado. Outra situação onde se ativa a molécula via luz de laser, por sua vez de altíssima intensidade (= densidade de energia). Sob esta condição podem ser elevados dois elétrons simultaneamente ou um elétron já elevado pode absorver mais energia e pular de um estado excitado a outro superior. Estes casos, no entanto, não são relevantes nas condições normais de uso dos corantes, portanto não precisam ser discutidos aqui. Ao contrário dos risquinhos nítidos de absorção que conhecemos dos espectros de emissão de átomos isolados, os processos foto-físicos em moléculas, especialmente quando estes estiverem em fase condensada (= envoltas por solvente ou outras moléculas da espécie), mostram bandas de absorção e emissão relativamente largas. Isto se deve à sobreposição de vários níveis de rotação e de vibração dentro da molécula em questão, mas também aos processos de relaxamento devido aos contatos da molécula colorida com seu ambiente. Vamos primeiro olhar nos movimentos que acontecem dentro da molécula excitada, vibrações e rotações. Não podemos esquecer que as dimensões destas transições são de diferentes ordens de grandeza: uma mudança do nível rotacional envolve energia eletromagnética da região das microondas, enquanto uma troca do estado vibracional requer de radiação da região do infravermelho (= calor). Agora uma elevação de um elétron a um nível superior, conforme mostrado na Fig. 46, requer de radiação da região ultravioleta, às vezes do visível. Entre cada uma destas energias temos um fator na ordem de 1000, crescente (ver Fig. 177, na p. 265): E eletron >> E vib >> E rot . Como os níveis de rotação e de vibração são situados relativamente próximos, podemos esperar uma multidão de bandas finas, uma perto da outra. E até essa estruturação fina se perde quando a molécula se encontra em fase condensada, pois daí ela pode relaxar sem radiação, passando sua energia para seu ambiente em pequenas etapas, arbitrárias e estatísticas. Resulta então uma região, mais ou menos larga onde se tem absorção ou emissão contínua de luz. Na presença de transições eletrônicas (o que é o caso das moléculas coloridas) esta região se encontra, como já dito, na região do UV-VIS e as bandas tem uma largura típica de 10 < ∆λ < 50 nm. Todavia, notamos que a energia total da molécula excitada se dá aditivamente, por uma parte eletrônica, uma parte vibracional e uma parte rotacional: 72 A. Isenmann CORANTES E total = E eletron + E vib + E rot . De acordo com isso, a energia da absorção ou emissão se calcula por: ∆E total = ∆E eletron + ∆E vib + ∆E rot . Portanto, deve-se considerar, além das transições visualizadas no diagrama de Jablonski, os relaxamentos R entre os estados rotacionais e vibracionais, também. Este fato e as dimensões relativas são esboçados na Fig. 47. 25 Fig. 47. Sobreposição dos níveis energéticos de rotação (representada pelo número quântico J) e vibração (número v), aplicados a um nível eletrônico (seja Singleto ou Tripleto); R = relaxamento. 3.1.2. O espectro UV-Visível Um feixe de luz da intensidade I0 incide no meio onde há absorção. Este meio seja homogêneo (= isento de variações locais em concentração) e isotrópico (= mesma absorção, independente da direção de incidência/observação). Desconsideremos, além disso, as perdas devido à reflexão nas beiradas do meio e os fenômenos de espalhamento não direcionado 26. Daí, alguma quantidade da intensidade, Iabs, será absorvida pelo meio. Podemos afirmar que a intensidade I que sai do lado oposto da incidência é I = I 0 − I abs . Também é evidente que a quantidade absorvida depende da espessura d do meio translúcido absorvedor. Além disso, temos que levar em consideração que a variação da intensidade, dI, depende da intensidade I mesmo, ou seja, quanto maior a intensidade incidente, maior será também a queda em intensidade que passa pelo meio, dI. dI = −α ⋅ I ⋅ dx , onde α é a constante de proporcionalidade, em seguida chamada de coeficiente de extinção); x é o percurso da radiação dentro do meio absorvedor; o sinal negativo respeita o fato de que se trata de uma diminuição em intensidade, ao longo do percurso. 25 Além dos processos mono-moleculares descritos aqui também existem fenômenos foto-físicos bimoleculares, tal como a transferência de energia por sensibilização ou por quenching; mas isto é além do necessário para entender a aparência colorida da matéria. 26 Justamente os fenômenos de reflexão e espalhamento são de suma importância nos pigmentos (de efeito especial), ver cap. 5.3. 73 A. Isenmann CORANTES A integração da última equação fornece I d d 1 ∫I I ⋅ dI = − ∫0 α ⋅ dx ≈ −α ⋅ ∫0 dx 0 I = I 0 ⋅ e − α ⋅d ou ln I0 =α ⋅d I A constante a é uma grandeza (dimensão: m-1) que nos interessa especialmente, pois descreve a absorção específica da amostra, então é um valor característico do meio iluminado. Ainda podemos separar do valor de a sua dependência da concentração c, ao definirmos: α ≡ ε ´⋅c ou ainda α ≡ 2,303 ⋅ ε ⋅ c . Inserimos na equação acima chegamos à lei de Lambert-Beer: ln I0 = 2,303 ⋅ ε ⋅ c ⋅ d . I Lambert-Beer Mais simples ainda aparece esta lei quando definirmos a absorbância como A ≡ lg A = ε ⋅c⋅d I0 . I Lei de Lambert-Beer. A absorbância logarítmica A 27 não tem dimensão. Mais comumente indicadas são a concentração c em gramas a cada 100 mL e a espessura d da cubeta com o meio absorvedor em cm. Daí lidamos com um coeficiente de extinção ε em unidades de [cm².g-1]. Essa lei rigorosamente somente vale para luz monocromática e varia, além disso, com a temperatura. Portanto, devemos indicar, por meio de índices no coeficiente α, o tipo de luz usado e a temperatura durante o ensaio. Por exemplo, α D20 significa que na medição da absorbância foi usada a luz laranja da linha D do sódio (λ = 589 nm) e a temperatura foi de 20 °C. O limite superior em concentração, onde a lei de Lambert-Beer ainda fica linear, é geralmente ≤1 g/100 mL, o que corresponde aproximadamente ao α ≤10-2 mol.L-1. Ao tiver diferentes espécies i no meio absorvedor, a absorbância total Atot se dá aditivamente (salvo exceções 28): Atot = d ⋅ ∑ ε i ⋅ ci . i Para caracterizar o comportamento de uma substância colorida é especialmente interessante fazer as medidas da absorbância usando diversos comprimentos de onda da luz incidente. No ideal se faz uma varredura sobre os comprimentos de onda, na região de 200 < λ < 800 nm. O resultado é o espectro UV-Visível, geralmente representado num diagrama x-y onde a absorbância é anotada na ordenada e os comprimentos de onda na abscissa. Esses espectros, ao contrário dos espectros atômicos em fase gasosa, não contém riscos definidos, mas bandas bastante largas de absorção, devido à sobreposição de estados eletrônicos, estados vibracionais e rotacionais, conforme descrito acima. Somente em casos excepcionais se obtém um espectro com estruturação fina (por exemplo, em espectros UV-VIS de gases diluídos). Quanto maior a concentração do meio absorvedor e maiores as interações com o solvente, menos informação estrutural contém o espectro UV-VIS (compare Fig. 48). A ausência da 27 A absorbância A às vezes é chamada de “extinção”, porém essa expressão frequentemente leva a enganos. 28 Atenção com as concentrações quando a espécie foto-ativa se dissocia ou se associa dentro da solução. A lei de Lambert-Beer não vale para esses casos (exemplo: dimerização de ácidos carboxílicos em solução aquosa). 74 A. Isenmann CORANTES estrutração fina das bandas implica um perda em informação sobre a molécula absorvedora. Todavia, a forma geométrica da banda, sua intensidade e a posição da absorbância máxima, contém informações importantes, úteis para caracterizar a molécula colorida. Fig. 48. Perda da estruturação fina no espectro UV-VIS, mostrado numa amostra de 1,2,4,5tetrazina. O meio absorvedor foi aplicado: a) em fase gasosa a temperatura ambiente; b) congelado a 77K numa matriz de i-pentano/metilcicloexano; c) em cicloexano a temperatura ambiente; d) em água a temp. ambiente. Houve um deslocamento dos comprimentos de onda. 3.1.3. Dedicação das bandas de absorção às transições eletrônicas Uma classificação das transições eletrônicas pode ser feita de acordo com os tipos de MOs envolvidos. O orbital de partida, isto é, de onde um elétron pode ser excitado, pode provir de uma ligação covalente simples(orbital σ) ou dupla (orbital π), ou então a partir de um par de elétrons localizado num átomo (= elétron não ligante = n). O destino (LUMO) geralmente é um orbital vazio antiligante, que pode ser de natureza σ* ou π*. Daí, podemos representar os processos de absorção por σ → σ*; π → π*; n → π*; n → σ*; etc. A ordem de grandeza relativa das energias envolvidas se lê no comprimento da flecha, na Fig. 49. Fora desta nomenclatura simples e à base dos MOs, existe uma série de outras representações das transições eletrônicas na literatura, conforme a Tab. 7. 75 A. Isenmann CORANTES Fig. 49. Sequência dos orbitais envolvidos na absorção de radiação. Os comprimentos das flechas é a medida para a energia necessária para a respectiva transição. Tab. 7. Possíveis nomenclaturas das transições eletrônicas e seus inventores. Sistema segundo MO Mullikan Platt Kasha Teoria de grupos Símbolos usados S0 (singleto fundamental) N (fundamental) A (fundamental) σ, π, n (partida) A (simétrico) S1, S2, S3,... (singleto excitado) Q, V, R (excitados) B, C, L (excitados) σ*, π* (destino) (papel na absorção) T1, T2, T3,... (tripleto) B (antissimétrico, referente a um eixo de simetria rotacional, Cn) E (estado energético degenerado 2 vezes) T (estado degenerado 3 vezes) Índices # Exemplos de absorções S0 → S1 V←N B←A σ → σ* 1 A2 ← 1A1 S0 → S2 Q←N C←A π → π* 1 B1i ← 1A1p L←A n → π* 1 B2i ← 1A1p n → σ* 1 E1i ← 1A1p S0 → S3 T1 → T2 # Índices usados na teoria de grupos: índice p (par) ou i (impar): simétrico ou antissimétrico na operação de simetria especular); índice 1 ou 2: denomina os eixos rotacionais de simetria perpendicular ao eixo principal Cn; índice 1: planos de simetria σ perpendicular ao eixo principal Cn. Mais interessante é a previsão da energia envolvida numa transição eletrônica, em dependência do local e do tipo de orbital envolvido. Para ficar na nomenclatura segundo 76 A. Isenmann CORANTES Kasha, a Fig. 50 dá uma orientação grosseira. Não vamos esquecer que efeitos estéricos, indutivos e especialmente os mesoméricos podem largamente deslocar as regiões indicadas: deslocamento em direção à energia maior, caso o orbital de origem for estabilizado, deslocamento em direção à energia menor, caso a posição do orbital de destino for abaixado. Afinal, até o solvente da molécula colorida pode ter influência sobre a posição energética das absorções. Fig. 50. Natureza dos orbitais envolvidos na absorção por grupos cromofóricos. 3.1.4. O coração dos corantes: o grupo cromóforo O local dentro de uma molécula onde acontece a maior absorção de luz UV-VIS é chamado de grupo cromóforo. Os mais importantes grupos cromóforos em corantes são: O grupo azo, -N=N-, o grupo carbonila, >C=O, o grupo azometina ou imina, >C=N- (os corantes principais da fotografia colorida têm este grupo) os alquenos, >C=C<. Eles absorvem intensamente a luz UV, isto é, têm altos coeficientes de extinção, ε. A maioria destes grupos por si só (quer dizer, isoladamente) absorvem a luz na região de 300 nm – uma luz que nosso olho ainda não percebe. Em cada caso o processo que absorve energia é a elevação de um elétron do HOMO para o LUMO. Geralmente os processos n → π* são menos eficazes (isto é, com menor extinção, ε) do que π → π*. Por outro lado, os processos n → π* geralmente requerem menos energia do que π → π*, então absorvem a luz de menor energia, ou seja, com maiores comprimentos de onda λ, do que π → π*. 77 A. Isenmann CORANTES Os grupos azo, carbonilas e azometina têm um heteroátomo com elétrons não ligantes. Esses grupos podem absorver pelo processo n → π* ; por outro lado, os alquenos e aromáticos não têm elétrons n, portanto não fazem a transição n → π*. A situação é diferente quando uma molécula contém dois ou mais grupos cromóforos próximos. Nestes casos os orbitais HOMO e LUMO dos grupos vizinhos entram em contato em formam novos orbitais HOMO´ e LUMO´ mais amplos, em cima de todos estes agrupamentos; na química se conhece este fenômeno como conjugação (maiores detalhes, ver cap. 3.2.1, na p. 86). Quando o cromóforo está em conjugação com um sistema aromático, mais em geral, com um sistema extenso de duplas ligações C=C conjugadas, o máximo da absorção se desloca para menores energias, ou seja, do UV para a região do visível. Quando isso ocorre a gente percebe esta substância colorida. As cores mais brilhantes se observam quando a banda de absorção é bem estreita. Na verdade, percebemos a "cor complementar", isto são todas as demais cores que não foram absorvidas. Podemos afirmar que toda luz que não foi engolida pela molécula está sendo refletida para o observador que percebe essas cores. A Tab. 8 dá uma orientação grosseira, referindo as cores absorvidas e a aparência do meio translúcido (isto é, suas cores complementares), sendo o sol a fonte de iluminação. Note que os intervalos de comprimentos de onda variam a cada cor característica; isso tem a ver com a sensibilidade diferenciada do nosso olho, demonstrada com maior clareza no triângulo das cores (ver Fig. 198, na p. 279). A relação entre cor absorvida e cor complementar, ver também Fig. 54, na p. 88. Tab. 8. Absorção de luz e a cor aparente Luz absorvida Aparência do absorvedor Comprimento de onda (nm) Correspondendo à cor: 400 a 440 violeta verde-amarelado 440 a 480 azul amarelo 480 a 490 azul-esverdeado cor laranja 490 a 500 verde-azulado vermelho 500 a 560 verde púrpura 560 a 580 verde-amarelado violeta 580 a 595 amarelo azul 595 a 605 cor laranja azul-esverdeado 605 a 750 vermelho verde-azulado 750 a 800 púrpura verde 78 A. Isenmann Fig. 51. CORANTES Círculo R-G-B das cores que visualiza as cores complementares. Em geral podemos afirmar: quanto mais fácil deslocar os elétrons π ou n, mais escura a cor e menos energia se precisa para a absorção. Assim, os sistemas com maior facilidade de absorver pelos processos n → π* ou π → π* aparecem azúis, verdes ou até pretas. 3.1.5. Análise das partes funcionais em corantes, sob o aspecto da absorção As exigências ao corante não se restringem à presença de grupos cromóforos, mas também inclui a facilidade de ser fixado na fibra têxtil, que pode ser algodão, lã celulósica, lã de ovelha, seda, couro, reyon ou fibras inteiramente sintéticas (poliamidas ou poliésteres). Portanto, é importante introduzir um grupo auxocrômico no anel aromático que estabelece a fixação do corante de maneira que não sai na lavagem, nem estraga sob incidência de luz. A satisfação destes critérios é certificada pela indústria com a expressão "cor garantida". Os grupos auxocrômicos mais importantes são os que doam elétrons n: -NH2, -NHR, -NR2, -OH, -OCH3. Do colorido azobenzeno, Ph-N=N-Ph, se obtém com um destes grupos um corante azo, por exemplo p-aminoazobenzeno ("amarelo de anilina"), phidroxi-azobenzeno,... Os corantes com grupos auxocrômicos de aminas são denominados corantes básicos, aqueles que têm grupos -OH fenólicos são os corantes ácidos (lembra-se que um fenol é bem mais ácido do que um álcool alifático, com pKa em torno de 10). Muitas vezes o caráter ácido do corante pode ser estabelecido pela introdução de grupos sulfonilas, -SO3H, ou carboxilas, COOH que, ao mesmo tempo, aumenta sua solubilidade em água. Estes últimos grupos auxocrômicos, porém, atraem os elétrons, então são aceitadores de elétrons. Além da sua função principal ser fixar o corante na fibra, os grupos auxocrômicos também provocam uma intensificação da cor. Quando desloca o máximo de absorção em direção a energias menores é conhecido como efeito batocrómico. Isto é, a absorção se desloca em direção vermelho (comprimentos de ondas maiores), enquanto o nosso olho percebe a substância cada vez mais azul-verde. 79 A. Isenmann CORANTES Um exemplo: A substituição dos hidrogênios no grupo -NH2 em corantes por grupos alquilas ou arilas tem um efeito batocrómico. Pelo contrário, uma substituição de hidrogênios diretamente ligados ao anel aromático, por grupos alquilas, leva o máximo de absorção em direção a energias maiores (= efeito hipsocrómico). Outros fatores que influenciam na cor Muitos corantes têm dois anéis aromáticos que são interligados por meio do grupo cromofórico. A presença de um aceitador de elétrons em um anel aromático e doador no outro leva ao deslocamento dos elétrons dentro do sistema inteiramente conjugado. Nestes cromogênios se observa uma mudança batocrómica da cor, quando formam um sal ("halocromia"). Sendo assim, o p-hidroxiazobenzeno é cor laranja, enquanto o seu sal de álcali aparece vermelho. Isto tem sua explicação na maior participação dos elétrons do oxigênio fenólico na mesomeria do anel aromático quando for desprotonado. Assim, a qualidade do doador de elétrons melhorou, enquanto o aceitador de elétrons ficou o mesmo. N OH N N OH N p -hidroxiazobenzeno (cor de laranja) + NaOH N - H2O O N N N O Na+ Ânion (vermelho) Por esta razão o alaranjado de metila serve como indicador ácido-base, mas não é usado para colorir tecidos, devido à forte dependência da cor e da solubilidade do pH: 80 A. Isenmann CORANTES N +Na -O S 3 NMe2 N Alaranjado de metila (amarelo) + NaOH (- H2O) N -O S 3 + HCl (- NaCl) NMe2 N N -O H 3S NMe 2 N H (vermelho) Até o solvente pode influenciar a cor do composto azo ("solvatocromia"). Sendo assim, o 4Et2N N N NO2 dietilamino-4´-nitro-azobenzeno, , fica amarelo em ciclohexano (λmax = 470 nm), enquanto fortemente vermelho em etanol (λmax = 510 nm). Isso tem a ver com o estado fundamental (HOMO) que é menos polar do que o estado excitado (LUMO). O LUMO então é mais estabilizado pelo solvente polar do que o HOMO. Em consequência o corante solubilizado no solvente polar requer menos energia (deslocamento batocrómico), já que a absorção da luz se reflete na transição HOMO → LUMO. 3.1.6. Interpretação quantitativa do espectro UV-VIS A primeira fonte de informações num espectro, certamente, é a posição dos máximos de absorção, conforme discutido acima. Mas também de interesse é a área abaixo de uma banda de absorção, a partir da qual deduzimos valores característicos da molécula, no que diz respeito à sua força como oscilador e o tempo de vida do estado excitado. Na p. 69 introduzimos o momento M ou então a força do oscilador f sendo a medida para a intensidade de uma transição eletrônica. No experimento obtemos áreas S abaixo de uma banda que serve como medida da sua intensidade. A relação entre essas grandezas, S e f, em boa aproximação é dada por: m ⋅ c2 f ≈ ⋅ 10 3 ⋅ lg S ; 2 N A ⋅π ⋅ e f ≈ 4,32 ⋅ 10 −9 S (m = massa do elétron; e = carga do elétron; NA = constante de Avogadro; c = velocidade da luz). O acesso alternativo à área S, em caso de ausência da integração gráfica no software, pode-se usar a largura na meia-altura da banda, multiplicada pelo valor da extinção no máximo, εmax: S ≈ l ⋅ ε max . 81 A. Isenmann CORANTES Em outras palavras, a área S se dá do retângulo cuja altura é a do pico máximo e as laterais cortam a curva de absorção na meia-altura. Mas esse método somente é confiável em caso de bandas de absorção bonitas e simétricas. O tamanho da banda de absorção permite estimar também o tempo de vida do estado excitado, τ0. Quando maior a probabilidade para uma transição, menor o tempo de vida do estado excitado: τ0 = m ⋅ c3 1 ⋅ . 2 2 2 8π ⋅ν ⋅ e f Indicando τ0 em segundos, podemos esperar grosseiramente τ 0 ≈ 1 . 10 ⋅ ε max 4 A extinção máxima tem valores que se estendem sobre 5 (!) ordens de grandeza: Transições proibidas ε ≤ 10 10 < ε < 1000 1000 < ε < 100.000 ε > 100.000 Transições pouco permitidas Transições permitidas Transições fortemente permitidas Para a interpretação da estrutura fina e a forma geométrica de uma banda de absorção no UVVIS, temos que mergulhar um pouco na estatística quântica dos movimentos moleculares. Como já dito acima (p. 73), não podemos esperar que todas as moléculas de uma amostra se encontrem num nível energético nítido, por que as energias vibracionais e rotacionais se adicionam à energia eletrônica. Cada modo de vibração de um conjunto de átomos e moléculas somente pode ser realizada uma única vez (exclusão de Pauli). Através da estatística de Boltzmann podemos indicar a probabilidade de uma molécula encontrar-se num estado vibracional excitado. Ni e = N total − Ei kT ∑e − Estatística onde cada nível energético pode ser realizado no máximo uma Ei kT i vez. Observamos que no estado fundamental quase que exclusivamente o nível vibracional fundamental (v = 0) é populado. Inserindo os valores realísticos para T ≈ 300 K, então a energia térmica fica kT ≈ 200cm −1 , na escala de número de ondas tipicamente usada na espectroscopia no infravermelho. Para uma banda de absorção típica de ν~ = 1000cm −1 calculamos − Ei Ei 1000 − − N i e kT E = E = e j = e 200 = e −5 = 0,0067 , j Nj − e kT ou seja, apenas 0,67% das moléculas se encontram num estado vibracional excitado, enquanto 99,3% estão no estado fundamental. Além disso, a exclusão de dois estados vibracionais idênticos dentro do sistema faz com que até nas maiores temperaturas os estados excitados nunca podem ser mais populados do que o estado fundamental. 82 A. Isenmann CORANTES Diferente nos estados rotacionais. Rotações em volta de ligações σ requerem tipicamente uma energia de ativação de ν~ = 50cm −1 . Isto significa que à temperatura ambiente já temos uma distribuição entre dois níveis energéticos vizinhos ( ∆J = 1 ) de 50 − Ni = e 200 = 0,78 = 44 : 56 , Nj ou seja, mais da metade está excitada. Mais um argumento: nas rotações não vale a exclusão de Pauli, então cada estado rotacional pode ser realizado várias vezes. Isso se chama de degeneração. Na fórmula estatística de Boltzmann isso se reflete na introdução de um fator g de degeneração: − Ei kT Ni gi ⋅ e = E − i N total kT g ⋅ e ∑ i Estatística válida para a populacão dos níveis energéticos com i degeneração de g vezes. A energia do rotor é, neste caso, Ei = h ⋅ c ⋅ B ⋅ J ( J + 1) , onde B é a constante de rotação e o fator g de degeneração é (2J + 1); J = número quântico da rotação. Isso faz com que seja possível, sim, popular um estado rotacional superior, mais do que o estado fundmantal. Visualizamos a situação de absorção e emissão sob fluorescência num gráfico, em analogia à Fig. 47. A absorção de energia eleva um elétron, do nível S0 para S1. Ao mesmo tempo, essa energia é suficiente para induzir vibrações, ou seja, o elétron vai chegar a um nível de vibração v´= 0, 1, 2, 3,... O mesmo vale para as rotações: vários diferentes níveis podem ser alcançados 29. De lá, o elétron sofre um relaxamento bastante rápido para o estado vibracional fundamental, v´= 0. O elétron agora está na base do estado eletrônico S1. Em um período na região de nanosegundos ocorre a queda para S0 que identificamos como fluorescência. Note que as regras de seleção de ∆v = ±1 e ∆J = ±1 , para as transições vibracionais e rotacionais, respectivamente, não se aplicam quando ao mesmo tempo ocorre transição eletrônica. 29 83 A. Isenmann CORANTES Fig. 52. Absorção e fluorescência (flechas diretas): as transições ocorrem entre diferentes níveis rotacionais (riscos mais finos), vibracionais (riscos compridos) e eletrônicos. Os relaxamentos entre os níveis rotacionais (flechas onduladas) se precebe como dissipação em forma de calor. Note que praticamente o único nível vibracional de partida é v = 0. Cada transição discreta deve provocar uma absorção discreta de energia – então deveríamos esperar um espectro UV-VIS muito bem estruturado, onde cada “banda de absorção se evidencia como acúmulo de muitas linhas finas. Realmente, essa estruturação somente se observa quando medir uma amostra em fase gasosa, onde uma molécula tem pouquíssimos contatos com seus vizinhos. Já em fase condensada ou na presença de um solvente temos que lidar com não-homogeneidades locais na concentração e com impedimentos espaciais das rotações. As moléculas excitadas podem relaxar, de maneira estatística e sem grandes obstáculos, transferindo sua energia em parte para as moléculas vizinhas. Em consequência disso, a estrutura fina no espectro se perde e temos má resolução. No melhor caso, podemos ainda esperar algumas bandas de vibração, mas jamais bandas de rotação (o que correspondia à resolução ultra-fina). E quando aumentamos ainda a temperatura, finalmente, a estruturação das vibrações se perde também e temos apenas uma bandacontínua, bastante larga devido à transição entre os níveis eletrônicos. Na Fig. 48 (p. 75) essa perda de informação estrutural foi bem claramente ilustrada. A constituição da molécula absorvedora também influencia na resolução do seu espectro. Bandas de vibração podemos esperar em moléculas de estrutura rígida (muitas duplas ligações, pequenos anéis, fixação em complexos queleantes, etc.), enquanto numa molécula flexível e grande (muitas ligações σ), os níveis vibracionais são tão próximos e numerosos que a resolução espectroscópica se perde. Neste acontecimento podemos questionar: é possível prever o estado vibracional para onde o elétron será elevado durante a absorção de luz UV-VIS? A resposta é sim, aplicando-se o princípio de Franck-Condon. Este princípio fala que durante a absorção de energia eletromagnética - isso ocorre muito rapidamente, então a posição dos núcleos fica inalterada - a probabilidade de se popular um nível vibracional elevado do S1 é 84 A. Isenmann CORANTES especialmente grande quando a seta vertical (isso exprime a rapidez da absorção) liga o estado fundamental do S0 com a curva parabólica hiperenergética do S1. O acontecimento durante a absorção é esboçado na Fig. 53. As áreas de energia são mais favoravelmente ilustradas por curvas de potencial, conhecidas como curvas de Morse. Sua posição horizontal reflete o deslocamento do núcleos atômicos, da sua posição em repouso. A rapidez do processo implica que no momento da absorção a geometria da molécula não varie, ou seja, os comprimentos das ligações, as conformações rotacionais, gaiolas de solvente, etc. ficam inalterados. Decissiva são então as posições relativas das duas curvas de Morse. Caso estas parábolas sejam exatamente uma em cima da outra, a absorção de energia não levará notavelmente a estados vibracionais elevados (caso a). Mas quando as curvas ficam deslocadas horizontalmente (caso b) a população dos níveis vibracionais superiores será favorecida. Isso se explica com o fato de que a probabilidade de se encontrar o elétron (= quadrado da função de onda, Ψ ⋅ Ψ ∗ ) varia tipicamente com a distância à curva potencial de Morse. Observe as alturas relativas das pequenas áreas em cinza, na Fig. 53. Absorção provável se espera onde a linha vertical da excitação interliga duas áreas grandes. Fig. 53. Estruturação vibracional das bandas de excitação eletrônica, mostrada para uma molécula diatômica. Aplica-se o princípio de Franck-Condon. No caso a) observamos uma banda assimétrica, devido à forte transição v0 ← v´0 No caso b) observa-se uma banda de absorção simétrica, favorecida pela forte transição v0 ← v´3. r = distância interatômica. Pode-se ver que na Fig. 53 que a população de elevados níveis vibracionais influencia sensivelmente na geometria da banda de absorção eletrônica. Sem induzir as vibrações (caso a), a banda é assimétrica, ou seja, íngreme (= bem definido) no lado de baixa energia, enquanto fica rasa e larga no lado de alta energia. No outro caso, excitação para níveis vibracionais elevados, a banda de absorção eletrônica fica mais simétrica para ambos os lados energéticos (caso b). 85 A. Isenmann 3.2. CORANTES Os grupos cromofóricos, isolados e em conjunto Na Tab. 41 (no anexo, p. 313) estão listados os valores das absorções máximas, suas energias e intensidades absolutas, dos grupos cromofóricos isolados. Também, nesta tabela, a identificação das absorções junto à natureza da transição eletrônica (orbital de partida → orbital de origem). 3.2.1. Conjugação O que é intimamente ligado à cor é o fenômeno da conjugação. Por isso, vamos tentar definir o que significa conjugação 30. Na química orgânica se entende por conjugação uma estabilidade extra pelas ligações que a molécula ganha quando seu orbital molecular é o resultado da sobreposição de pelo menos três orbitais atômicos p e/ou n. Isso implica que devem existir três ou mais átomos vizinhos, em cada átomo existe um orbital com lobos de simetria axial (o que não é o caso no AO tipo s, nem em MOs do tipo σ), e todos esses orbitais devem ser alinhados (isto é, os eixos mostram na mesma direção). O que não é critério para conjugação é o número de elétrons contidos nestes orbitais. Isso pode ser então: um elétron - o que é o caso na ligação π, nenhum elétron: em caso de cátions, por exemplo, o alilcátion, ou dois elétrons: em carbânions ou na participação de um heteroátomo, geralmente O ou N, com um par de elétrons não ligantes. Importante para uma interação construtiva entre os AOs vizinhos é, no entanto, que estejam de tamanhos semelhantes. Sendo assim, podemos afirmar que em um sistema onde somente participam elementos do 2° período (B, C, N, O, F) podemos esperar uma melhor sobreposição dos lobos, do que em um sistema onde também participam também elementos dos períodos maiores (S, P, As, Sn,...), pois estes têm AOs do tipo p muito maiores do que, por exemplo, o carbono. Conjugação não deve ser confundida com aromaticidade, por sua vez mais estável ainda. Todo aromático tem um sistema conjugado, mas nem toda conjugação significa aromaticidade. Além de ser conjugados, os aromáticos devem ser também cíclicos e o número de elétrons contidos no sistema conjugado deve ser igual a 2, 6, 10, 14,..., conforme a regra empírica de Hückel. Como veremos a seguir, todas as moléculas de corantes têm um amplo sistema de conjugação; a maioria destes, além disso, contém unidade(s) aromática(s). Caso uma molécula disponha de vários grupos cromofôricos que não estiverem em contato através de orbitais n ou π, podemos esperar um espectro UV-VIS que se dá aditivamente de cada cromóforo isolado. No entanto, temos exceções, denominadamente devido aos efeitos estéricos, isto é, quando dois grupos cromofóricos estão forçados em posições próximas, sem ser vizinhos diretos. Isso inclui formas de fixação, tais como pequenos anéis, compostos bicíclicos e anéis tensos, duplas ligações acumuladas, e outras estruturas rígidas. Outro exemplo de geometria especial representam os sistemas cíclicos dos ftalocianinas (Fig. 84). Nestes casos os grupos cromofóricos podem interagir, mesmo sem ser conectados através de 30 Kurt P.C. Vollhardt, Neil E. Schore. Delocalized Pi Systems. Organic Chemistry: Structure and Function. 6a ed. Freeman, New York 2011. p. 642-47. 86 A. Isenmann CORANTES um sistema conjugado, levando a um deslocamento ou desdobramento (de Davidov) das bandas de absorção. Uma molécula com dois grupos cromofóricos idênticos, fixados num sistema rígido, mostram em vez de uma única banda de absorção forte, duas bandas mais fracas donde uma aparece em comprimentos de onda menores, a outra em maiores do que um grupo único. Segue um exemplo simples, onde há deslocamento da banda sem ter um sistema eletrônico conjugado. λmax = 178 nm εmax = 17 000 λmax = 205 nm εmax = 2 100 1,4-pentadieno Norbornadieno A homoconjugação 31 no 1,4-pentadieno influencia pouco a posição da banda: ela começa elevar-se a 200 nm e se prolonga até o UV longe conforme esperado de uma mono-olefina; o máximo se observa em 178 nm e a intensidade da absorção é forte. Já no norbornadieno começa a absorção em energias consideravelmente mais baixas, a 270 nm, mostra um ombro a 230 nm e até absorções estruturadas entre 226 e 199 nm, com um pico alto em 205 nm (intensidade média). Isso indica que a estrutura rígida bicíclica favorece uma forte interação entre os grupos cromofóricos, mesmo que sejam isolados. Todavia, podemos atribuir suma importância à conjugação entre os grupos cromofóricos. Exemplos clássicos são os corantes polimetinos (= polienos; ver, por exemplo, os carotenos, ver Tab. 37, na p. 252): quando mais extenso o sistema conjugado de duplas ligações C=C, menor a energia onde absorvem e, ao mesmo tempo, maior a intensidade ε da absorção. Podemos concluir que a transição π → π* requer cada vez menos energia, quanto mais extenso o sistema conjugado. Neste exemplo, no entanto, as absorções dos poliolefinos não se deslocam de maneira linear, mas aproximam-se num valor limite. 31 A expressão homoconjugação é usada em casos onde um orbital π com qual se estabeleceria conjugação, é substituído por um grupo metileno, -CH2-. 87 A. Isenmann CORANTES Fig. 54. Deslocamento das absorções no UV-VIS devido à conjugação: a) cianinas (aqui comparadas na forma catiônica); b) merocianinas (envolvendo um grupo de aldeído na conjugação); c) polienos. Convergência observa-se, especialmente no exemplo c. Os efeitos batocrómico e hipercrómico observam-se também quando agrumapementos com elétrons localizados em orbitais n (= não ligantes; localizadas em um átomo discreto) se encontram na vizinhança ao grupo cromofórico. Estabeleceu-se nestes casos a expressão "grupo auxocrômico". Estes grupos podem ser -OH, -OR, -NH2, -NHR, -NR2, -F. Já menos influência se espera dos grupos -SH, -SR, -Cl e –Br, pois estes elementos são do 3° e 4° período, então acomodam seus elétrons em orbitais n bem maiores do que se têm nos elementos C, O e N. Em geral, podemos estabelecer três requisitos para uma conjugação entre orbitais π e n: 1. ser próximos (isto é, em átomos vizinhos). 2. ter geometria favorável (todos orbitais devem ser alinhados paralelamente e não cruzados) 3. possuir aproximadamente o mesmo tamanho. O exemplo drástico é a próxima comparação, entre dois grupos cromofóricos C=O, uma vez isolado, outra vez sob influência de um grupo auxocrômico. As substâncias modelos sejam o formaldeído e o glioxal. 88 A. Isenmann CORANTES H H O C C O H λmax = 303 nm εmax = 18 C O H λmax = 450 nm εmax = 5 A transição proibida n → π* do formaldeído (em fase gasosa) gera uma banda bastante estruturada, com máximo a 303 nm. Ao contrário do formaldeído incolor, o glioxal é um gás verde-amarelado, ou seja, seu máximo de absorção é deslocado para 450 nm – o que parece uma batocromia de 150 nm. Na verdade, nenhum dos orbitais envolvidos nesta absorção é comparável com os orbitais do formaldeído, n e π*, respectivamente. As duas ligações p conjugadas no glioxal geram 4 orbitais moleculares, os ligantes π1 e π2 e os dois anti-ligantes π3* e π4*. No estado fundamental os dois MOs ligantes estão completos e os dois anti-ligantes vazios. Mas também os dois pares de elétrons não ligantes (cujos orbitais têm caráter p) entram em interação, o que se evidencia pelo desdobramento em n+ e n- (por definição a combinação antissimétrica, n+, é energeticamente mais alta). Fig. 55. Transições eletrônicas de onda mais longa, S0 → S1, do formaldeído e do s-transglioxal. 3.2.2. Ligações C=C em conjugação, os polienos A transição π → π* no etileno pode ser provocada por absorção no UV longe, com λmax = 165 nm. Essa transição, embora ser altamente energética, é permitida e muito intensa (εmax = 16.000). Ao substituir um dos hidrogênios por um grupo auxocrômico, a absorção se desloca no sentido batocrómico (isto é, para comprimentos de onda maiores; enegia menor). Antes de explicar esse deslocamento com os MOs envolvidos, temos que discutir os mecanismos com que os orbitais do grupo auxocrômico entram em contato com o sistema π do etileno. As mesmas considerações se aplicam nos auxocrômicos ligados em sistemas de Hückel, a serem discutidos logo a seguir, nos aromáticos mais importantes. 89 A. Isenmann CORANTES Podemos contar, em resumo, com três tipos de efeitos: 1. Efeito mesomérico (= efeito M) 2. Efeito indutivo (= efeito I) 3. Efeito estérico. Efeito mesomérico (efeito +M ou –M): Um grupo funcional mostra um efeito +M quando o átomo diretamente ligado ao carbono sp² (-C=C- em olefinas ou no anel aromático) tem pelo menos um par de elétrons não-ligantes. Pode-se afirmar que o efeito mesomérico se deve à conjugação eletrônica entre os elétrons n do substituinte e o sistema π do carbono onde está ligado. Auxocrômicos típicos onde se discute um forte efeito +M contêm os elementos O (em viniléteres), N (em enaminas) e F; menos pronunciado é o efeito mesomérico com os elementos S (em mercaptanos e tioéteres), Cl, Br e I. Esse par de elétrons aumenta o sistema conjugado por mais lobos do tipo p, assim que o número de MOs da molécula e, por consequência, também a densidade eletrônica nos carbonos sp². Este efeito doador de elétrons não-ligantes é especialmente pronunciado com os heteroátomos do segundo período cujos orbitais não-ligantes têm um tamanho semelhante ao orbital 2p do carbono sp² vizinho. Neste caso se espera a conjugação mais eficaz, do que com elementos mais pesados onde o par de elétrons é do período 3 ou maior. Caso o átomo diretamente ligado ao carbono sp² não tenha elétrons livres, o efeito do substituinte é considerado –M. Átomos típicos são C, B, N (nos grupos nitro, sais quaternários de amônio, sais de diazônio e N-óxidos), P(V), As(V), S(VI) - em geral, todos os elementos de alto NOX, centros ácidos de Lewis ou cátions. Grupos auxocrómicos com efeito –M abaixam a densidade eletrônica, não só no carbono sp² vizinho, mas em todo o sistema conjugado, se houver. O efeito mesomérico, quer -M ou +M, se propaga ao longo de todo sistema conjugado - quase sem perder em intensidade. No entanto, percebe-se uma variação periódica do efeito, ao longo da cadeia de átomos: mais forte, mais fraco, mais forte, mais fraco,... Efeito indutivo (efeito +I ou –I) O efeito indutivo é uma consequência da eletronegatividade do átomo ligado ao carbono sp². Ao contrário do efeito mesomérico, o efeito I se propaga através da ligação σ (= ligação simples, na linha direta entre os núcleos). Elementos mais eletronegativos do que o carbono atraem os elétrons, então têm um efeito –I. Elementos menos eletronegativos (B, P, Si, metais) disponibilizam elétrons para o carbono aromático, então exercem um efeito +I. Caso o substituinte for um grupo alquila, a argumentação com eletronegatividade naturalmente se dispensa. Mesmo assim, é possível indicar um efeito +I, usando o conceito da hiperconjugação. Um grupo alquila é considerado ter um efeito indutivo mais positivo do que o hidrogênio, enquanto um grupo alquila ramificado não necessariamente tem um efeito I mais positivo do que um grupo alquila linear. Isto quer dizer que a sequência que é típica para a estabilidade de carbocátions não é idêntica com a do efeito +I que grupos alquilas exercem sobre um anel aromático ou um sistema alílico. Isto se explica com a capacidade de “doar” elétrons, apenas da ligação C-H, mas não da ligação C-C (nem da ligação C-D!), frequentemente ilustrada com as seguintes fórmulas (= "hiperconjugação"): 90 A. Isenmann CORANTES Hiperconjugação no sistema alílico: H H H H+ H C H H C H+ H+ C H H C H H2C CH H2C CH H2C CH H2C CH H + H C H H2C etc. CH Hiperconjugação no sistema aromático: H H C H H H H C H + H C H H + H C H H + H C H+ H+ H C H etc. Com essas estruturas é então possível explicar o efeito doador de elétrons por grupos auxocrômicos, conectados ao grupo cromofórico por meio de um carbono. A importância deste efeito +I diminui na seguinte sequência: metila > etila > isopropila > t-butila, conforme o número de hidrogênios ligados ao carbono em posição alílica/benzílica. Porém, esta teoria tem certas limitações: 1) Esta sequência contém exceções que não são muito bem entendidas. 2) As fórmulas da hiperconjugação não devem ser entendidas como verdadeiros íons! 3) As posições dos núcleos nas fórmulas dadas acima são fixas; a parte positiva não é independente da parte negativa, como seria o caso em íons verdadeiros. Além disso, a hiperconjugação não achou apoio, por enquanto, pelos químicos quânticos. Efeito estérico Geralmente, o efeito M é mais pronunciado do que o efeito I, no que diz respeito aos orbitais HOMO e LUMO do sistema cromofórico. Mas isso somente sob a condição de um alinhamento perfeito entre os lobos dos orbitais atômicos a serem usados para construir os respectivos MOs. Além da geometria favorável, esses lobos devem ser de tamanhos semelhantes. Impedimentos estéricos, no entanto, podem ser adversos à geometria favorável e 91 A. Isenmann CORANTES assim reduzir drasticamente a sobreposição dos lobos. Isto vale explicitamente em sistemas onde as conformações são restritas pela formação de pequenos anéis (especialmente onde o cromóforo e auxocrômico fazem parte de um esqueleto bicíclico), mas também pode ocorrer na presença de grupos vizinhos volumosos (t-Bu, i-Pr, Ph, etc.). Para aplicar estes conceitos, vamos voltar para nossa substância-modelo mais simples, o etileno. Considerando os efeitos M e I, podemos criar três novos MOs quando combinar o etileno com o auxocrômico X. Como se vê na Fig. 56, HOMO e LUMO se aproximam - com a consequência de precisar menos energia para a excitação eletrônica. Igualmente um deslocamento batocrómico se observa quando grupos alquilas são ligados ao carbono sp² do alqueno, como explicado acima, usando o conceito de “hiperconjugação”. Fig. 56. Diagrama dos MOs que explica o deslocamento batocrómico na combinação do etileno com um grupo auxocrômico X (= posição vinila). Outra consideração importante nos (poli-)olefinos diz respeito à conjugação entre as duplasligações C=C. Aqui esperamos uma sobreposição dos lobos especialmente favorável, já que os orbitais atômicos que participam são idênticos – só carbonos sp². A tendência é mostrada na Fig. 57. A fim de comparação fácil os níveis energéticos dos orbitais π foram colocados na mesma altura - o que distorce a situação real: quanto mais extenso o sistema π, mais baixa a energia média dos orbitais π. De qualquer maneira podemos observar que o comprimento das flechas da absorção “A” diminui, o que corresponde a um deslocamento batocrómico da absorção. Além disso (não mostrado) a transição HOMO-LUMO se torna cada vez mais permitida, então os coeficientes de extição εmax aumentam. 92 A. Isenmann Fig. 57. CORANTES Transições HOMO-LUMO no etileno, 1,3-butadieno e 1,3,5-hexatrieno. Tab. 9. As absorções de onda mais comprida em polienos all-trans, do tipo R(CH=CH)n-R. n R = CH3 λmax R = C6H5 εmax λmax (em benzeno) εmax (em éter de petróleo) 1 174 24.000 306 24.000 2 227 24.000 334 48.000 3 275 30.200 358 75.000 4 310 76.500 384 86.000 5 342 122.000 403 94.000 6 380 146.000 420 113.000 Cálculos exatos e o experimento mostram que o deslocamento da absorção máxima para comprimento de onda maiores não anda linear com o número de MOs, mas se aproxima num valor limite (para n → ∞). Uma particularidade observa-se em sistemas muito extensos de elétrons π, como, por exemplo, se tem em polímeros altamente insaturados (poli-acetileno, poli-pirrol, poli-anilina, poli-tiofeno, poli-p-fenileno, poli(p-fenileno-vinilideno)), mas também em sistemas de porfirinas e corantes polimetinos. Nestas moléculas particularmente grandes podemos observar um deslocamento de λmax que vai além da região do visível e chega até a região do 93 A. Isenmann CORANTES infravermelho! A banda de absorção menos energética é situada tipicamente em λmax ≈ 2000 nm - uma região espectral pouca estudada, que somente pode ser medida com aparelhos especiais. Ao dotar, por exemplo, o poli(p-fenileno-vinilideno), com um ácido de Lewis com poder oxidante, isso pode levar à transferência de elétrons que transforma o polímero num radical cátion - no caso extremo até a um íon de duas cargas positivas. Estes íons são conhecidos como polarons ou bipolarons, respectivamente, com interessantes propriedades: o material dielétrico (= isolante) se transforma em um semicondutor, depois em um condutor elétrico e, abaixo de certa temperatura, até em um supercondutor elétrico! A maioria destes materiais é preta (isto é, fortíssima absorção numa larga faixa, na região do visível). E mais uma particularidade destes materiais: ao se medir a absorção em solução, precebe-se também uma mudança em outras regiões do espectro eletromagnético: o dotamento provoca novas bandas de absorção no UV, na beirada do visível. R´ R R´ R SbCl5 R Fig. 58. n R n Princípio do dotamento em poli(p-fenileno-vinilideno) Também a configuração geométrica (E,Z) dos (poli)olefinos influencia sensivelmente sua absorção. Isso veremos para os isômeros do estilbeno, Ph-C=C-Ph, na Fig. 59. Fig. 59. Espectro UV dos estilbenos (E) e (Z), solutos em hexano a 295 K. 94 A. Isenmann CORANTES Podemos observar que as absorções do isômero (Z) são menos intensas e acontecem com energias mais altas, em comparação ao isômero (E). Este processo se torna muito importante nas absorções mais energéticas, observadas nos poli-olefinos. Isso é mostrado no β-caroteno (ver também p. 252), cujos isômeros têm um papel fundamental no processo da visão noturna (contidos nos bastonetes do olho, ver cap. 7.3). O primeiro harmônico do β-caroteno fica em 340 nm. Só que na configuração all-trans essa transição é proibida por simetria (regra de seleção de pariedade, ver p. 70). A implementação de uma configuração Z abaixa a simetria, com a consequência que a transição eletrôncia se torne permitida e no espectro se observe a absorção, o "pico Z" típico deste β-caroteno (ver Fig. 60). Fig. 60. Espectros UV-VIS dos β-carotenos de configuração diferente: a absorção do primeiro harmônico a 340 nm não se observa no isômero centrossimétrico, all-trans. Para os dienos e trienos foram estabelecidas regras empíricas que permitem calcular as transições menos energéticas: para a transição π → π* por Woodward em 1942; mais tarde por Fieser e Scott). O princípio é a adição de incrementos, a cada particularidade estrutural, a partir de um valor-base típico para a estrutura do dieno. Como se vê resumido na Tab. 10, esse valor-base é diferente, dependendo da maneira de fixação - e ainda se fizer parte em um sistema anelado ou não. Tab. 10. Cálculo do pico de absorção (de comprimento de onda maior), usando o sistema de incrementos. Aqui mostrado para dienos e trienos. flexível, com preferência cis (somente um anel): trans (por exemplo, acíclico): 253 nm 217 nm fixo trans condensados): (ciclos 214 nm Incrementos: cada dupla ligação conjugada a mais: + 30 nm cada dupla ligação exocíclica: + 5 nm 95 A. Isenmann CORANTES cada carbono ligado: + 5 nm cada grupo auxocrômico: -O-alquil + 6 nm -O-acila ±0 -S-alquil + 30 nm -N(alquil)2 + 60 nm -Cl + 5 nm -Br + 5 nm Seguem alguns exemplos deste cálculo via incrementos (Tab. 11). Como se vê nos últimos dois exemplos, o método está falhando quando se tem impedimentos estéricos fortes dentro do dieno. As falhas da regra de incrementos é mostrada mais uma vez na Tab. 12, ao se comparar os dienos (Z,Z), embutidos num anel simples. Especialmente forte é o desvio no 1,3-ciclohexadieno. Tab. 11. Exemplos do cálculo da λmax pelo método de incrementos. Composto H 3C CH3 CH 2 λmax experimental λmax calculada 227 nm 217 + 2.5 = 227 231 nm 214 + 2.5 + 5 = 229 282 nm 253 + 4.5 + 2.5 = 283 234 nm 214 + 3.5 + 5 = 234 306 nm 253 + 30 + 3.5 + 5 = 303 220 nm 253 + 2.5 + 2.5 = 273 ! 246 nm 214 + 2.5 + 5 = 229 ! CH3 O O 96 A. Isenmann CORANTES Tab. 12. Absorções de UV (dos maiores comprimentos de onda) de 1,3-dienos monocíclicos. Aqui não se aplica o cálculo por incrementos. Composto: λmax εmax 238 nm 3400 257 nm 8000 248 nm 7500 228 nm 5600 Além dos compostos monocíclicos, a regra dos incrementos está falhando também ao se ter condições eletrônicas especiais - denominadamente aromaticidade. Uma série de anulenos poli-insaturados e altamente conjugados é mostrado na Tab. 13. Os anéis podem seguir a regra de Hückel (2, 6, 10,.... elétrons π) e se tornam aromáticos; os anti-aromáticos, especialmente instáveis, dispõem de 4, 8, 12,... elétrons π e, finalmente, os anéis onde os núcleos dos carbonos não ficam no mesmo plano (quer dizer, os lobos dos AOs do tipo p não ficam alinhados), são considerados os não aromáticos. No entanto, nenhum destes sistemas mostra absorções calculáveis pelo método apresentado na Tab. 11. Tab. 13. Absorções no UV-VIS dos anulenos (A = aromático, AA = anti-aromático, N = não aromático). Composto: [10]-anuleno λmax lg εmax ~ 305 nm ~ 2,0 262 nm 2,41 208 nm 3,90 189 nm 4,74 285 nm Solvente Cor da solução Caráter AA hexano incolor A 2,3 CHCl3 amarelo N 265 nm 4,30 metanol amarelo N 257 nm 4,46 97 A. Isenmann [14]-anuleno [16]-anuleno [18]-anuleno [24]-anuleno 3.3. CORANTES 374 nm 3,76 314 nm 4,84 440 nm 2,82 282 nm 4,91 764 nm 2,10 456 nm 4,45 379 nm 5,5 530 nm 3,23 375 nm 5,29 360 nm 5,26 i-octano vermelhomarrom A cicloexano vermelho AA benzeno amareloverde A benzeno roxo AA Absorções do benzeno e seus derivados Na p. 93 vimos a absorção do 1,3,5-hexatrieno. Ao contrário deste, o benzeno forma dois pares de MOs com energias iguais ("degeneração"): π2/π3 e π4*/π5*, com consequências para seu espectro de UV. Pode-se mostrar teoricamente que as quatro absorções possíveis de π2/π3 → π4*/π5* elevam o estado fundamental do benzeno, 1A1g, aos estados singletos excitados da simetria 1B2u, 1B1u e 1E1u (o "E" usado para o último representa um estado degenerado). Devido à correlação eletrônica estes três estados excitados têm energias ligeiramente diferentes (Fig. 61). Isso tem por consequência um desdobramento das bandas de absorção, que são chamadas por motivos históricos banda α, β e p (ver Fig. 62). Fig. 61. Esquema dos MOs do benzeno (a) e as possíveis excitações eletrônicas (b): 1 I: A1g → 1B2u ou 1A → 1Lb ou Banda α; λmax = 256 nm (εmax = 204) II: 1A1g → 1B1u ou 1A → 1La ou Banda p; λmax = 203 nm (εmax = 7.400) III: 1A1g → 1E1u ou 1A → 1B ou Banda β; λmax = 184 nm (εmax = 60.000) 98 A. Isenmann Fig. 62. CORANTES Espectro de absorção de UV do benzeno. No espectro do benzeno se explica a forte estruturação da banda α com uma redução da simetria por vibração, conforme: νA´ ν B´ Fig. 63. Vibrações durante a transição eletrônica do benzeno, usando os símbolos da Fig. 62. A vibração νA´ requer a energia de 520 cm-1, a νB´ de 923 cm-1. A banda α não mostra a transição 0 → 0, porque é fortemente proibida pela simetria. A vibração νA´ evidentemente reduz a simetria hexagonal da molécula e leva à absorção menos energética (= comprimento de onda maior). Outras bandas de desdobramento seguem em direção às maiores energias, numa distância que se calcula com a vibração (= pulsação) simétrica, νB´. 99 A. Isenmann CORANTES Apesar da intensidade média da banda p, podemos constatar que as duas absorções, α e p, são transições proibidas por simetria e somente a banda β é permitida. A intensidade surpreendentemente alta da banda p se explica com sua proximidade à banda β. É comum que bandas muito próximas se assemelham nas suas intensidades, sendo a mais fraca o "ombro" da mais forte. A introdução de um substituinte no benzeno reduz drasticamente a simetria da molécula. Isso tem por consequência que a banda α ganha em intensidade. Muitas vezes ela perde sua estruturação fina e, além disso, mostra a transição 0 → 0 cujo impedimento se tornou menos rigoroso. Afinal, as intensidades e também as energias de todas as três bandas mudam, ao introduzir um substituinte no benzeno que, na verdade, amplia o sistema cromofórico do anel. Com certos substituintes a banda p pode até "ultrapassar" as bandas α e absorver em comprimentos de onda maiores. A seguinte tabela mostra as características dos benzenos monossubstituídos. Tab. 14. Substituinte R Absorções no UV dos benzenos monossubstituídos. Transição intensa Transição proibida (a comprimentos de onda maiores). (a comprimentos de onda maiores). Solvente * λmax (nm) εmax λmax (nm) εmax 204 7.400 254 204 A 198 8.000 255 230 C -CH3 207 9.300 260 300 E -C2H5 200 31.600 259 158 E -i-Pr 251 250 H -F 259 1.290 E -H -Cl 210 7.400 264 190 A -Br 210 7.900 261 192 A -I 207 7.000 257 700 A -OH 211 6.200 270 1.450 A -O- 235 9.400 287 2.600 A -OCH3 217 6.400 269 1.480 A -O-C6H5 255 11.000 272 2.000 A 278 1.800 -NH2 230 8.600 280 1.430 A -NH3+ 203 7.500 254 160 A -NMe2 251 12.900 293 1.590 E 296 7.800 A -NO2 -CH=CH2 244 12.000 282 450 E -C≡CH 236 12.500 278 650 H -C≡N 224 13.000 271 1.000 A 100 A. Isenmann CORANTES -CH=O 242 -CO-CH3 243 14.000 13.000 280 1.400 330 60 278 1.100 319 50 H E -COOH 230 11.600 273 970 A -COO- 224 8.700 268 560 A -SO3H 213 7.800 263 290 E * A = água; C = cicloexano; E = etanol; H = n-hexano; A introdução de dois ou mais substituintes no anel do benzeno pode provocar uma mudança drástica do espectro, comparado ao da substância monossubstituída, quando se trata de um substituinte fornecedor e outro retirador de elétrons. Neste caso a ampliação do grupo cromofórico é acompanhada pelo fenômeno de transferência de carga (charge-transfer). Isso seja mostrado no p-nitrofenol cuja fórmula pode ser representada pela seguinte mesomeria: -O O N - OH -O O N O H Uma pequena escolha de benzenos substituídos é referida na Tab. 15. Tab. 15. Absorções λmax (nm) de alguns aromáticos dissubstituídos em posição para. X2 = H -X1 λmax log ε -H 254 2,31 -OH 270 -NH2 -NO2 -OH -NH2 λmax log ε 3,16 293 3,43 280 3,16 294 269 3,89 310 -NO2 λmax log ε 3,30 315 3,30 4,00 375 4,20 λmax log ε 267 4,16 Um efeito ainda maior do que no p-nitrofenol se espera do ânion, o p-nitrofenóxido. A Fig. 64 documenta os deslocamentos. No entanto, estes espectros mostram também efeitos no isômero meta, para o qual não existem fórmulas quinóides como mostrado acima, para o derivado para. 101 A. Isenmann CORANTES Fig. 64. Espectros de UV-VIS dos derivados orto, meta e para-nitrofenol: a) em 10-2 mol.L-1 de HCl b) em 5.10-3 mol.L-1 de NaOH. Nestes casos o solvente pode ter grande influência - até podem inverter-se as sequências das bandas de absorção. Um bom exemplo deste efeito é a dimetilamino-benzonitrila. H 3C N C N H 3C A transferência da carga intramolecular é facilitada neste caso, por uma posição girada do grupo -NMe2, em relação ao plano do anel. Daí se fala de estado TICT (= Twisted Intramolecular Charge Transfer), no qual a molécula mostra um momento dipolar especialmente alto (µ = 12 D). Em solventes polares este estado fica ainda mais estabilizado, o que implica um abaixamento do nível energético do estado eletronicamente excitado. Ele se tornará S1 e isso significa que sua fluorescência (= cor) pode ter orbitais MOs diferentes, em dependência da qualidade do solvente, "fluorescência dual". Novas tentativas de explicação do grande efeito solvocrómico desta molécula se baséiam no ICT (= transferência de carga intramolecular, sem necessariamente sofrer torção), enquanto o solvente induz um efeito pseudo-Jahn-Teller; sob a condição de se ter dois estados eletrônicos excitados bem próximos pode-se observar uma fluorescência dual. 102 A. Isenmann CORANTES Aromáticos condensados Nos espectros dos aromáticos de anéis condensados se observa uma característica interessante: ao contrário dos seus parentes monocíclicos os estados HOMO (πn-1 e πn) e LUMO (πn+1 e πn+2) não são mais degenerados, mas se encontram em níveis energéticos ligeiramente diferentes. Isso tem por consequência um desdobramento da banda de absorção. Geralmente observam-se as bandas de quatro transições eletrônicas. O esquema MO é dado na Fig. 65. Fig. 65. Transições eletrônicas em aromáticos condensados: a) esquema dos MOs; b) refinamento conforme a teoria HMO (= aproximação por Hückel 32); c) transições eletrônicas sob a consideração das interações configurativas. Com a ampliação do sistema anelado (Os carbonos anelados devem estar rigorosamente coplanos) as bandas α, p e β se deslocam para energias menores. Nos compostos policíclicos a banda p ultrapassa a banda α que nos homólogos menores sempre foi a menos energética (e menos intensa, por ser uma transição proibida). Sendo assim, acontece que a banda α fica escondida debaixo da sua forte vizinha, a banda p. A intensidade desta última, no entanto, não varia notavelmente em comparação com os aneis simples; a ampliação do sistema anelar não tem influência sobre a intensidade, pois essa transição eletrônica é polarizada em direção ao eixo simétrico curto da molécula. A Fig. 66 mostra claramente o efeito batocrómico nos homólogos dos aromáticos policíclicos. A partir do tetraceno as absorções caem na região visível. Benzeno, naftaleno, antraceno incolor Tetraceno amarelo alaranjado Pentaceno azul-roxo 32 D.A. Bahnick. Use of Huckel Molecular Orbital Theory in Interpreting the Visible Spectra of Polymethine Dyes: An Undergraduate Physical Chemistry Experiment. J. Chem. Educ. 71 (1994), 171. E.I. Nagy-Felsobuki. Huckel theory and photoelectron spectroscopy. J. Chem. Educ. 66 (1989), 821. 103 A. Isenmann CORANTES Hexaceno verde escuro. Benzeno Naftaleno Antraceno Tetraceno (Naftaceno) Fenantreno Fig. 66. Espectros UV-VIS dos aromáticos condensados (em solvente heptano). O desvio da anelação retilínea acarreta mudanças drásticas no espectro UV-VIS. Comparamos na Fig. 66 os espectros do antraceno e do fenantreno. Com quatro anéis condensados temos até mais variações estruturais: o benz[a]antraceno, benzo[c]fenantreno, criseno, trifenileno e o peri-pireno. Cada um tem seu espectro característico, portanto a espectroscopia UV-VIS é uma importante ferramenta para identificar esses compostos, por exemplo, na fumaça de cigarros. 104 A. Isenmann CORANTES Benz[a]antraceno Fig. 67. 3.4. Benzo[c]f enantreno Criseno Trif enileno Pireno Isômeros estruturais do tetraceno linear. Compostos com grupo carbonila No grupo carbonila podemos identificar quatro tipos diferentes de MOs: os ligantes σ e π e os não ligantes (n) que podem ser de caráter s ou p. Esta imagem simplificada tem como base um átomo de oxigênio não híbrido. Estudos mais detalhados dos MOs localizados no oxigênio confirmaram que o HOMO do agrupamento C=O tem as características (tamanho; simetria; orientação) de orbitais p. A excitação pode elevar o elétron num orbital anti-ligante, π* ou σ*. Nos aldeídos e cetonas saturados essas transições permitidas, n → σ* e π → π* , provocam absorções no UV - ainda longe da região visível. Já a transição (proibida) de n(p) → π* se observa com energias menores, entre 275 e 300 nm. Sua intensidade fica normalmente entre ε = 15 a 30, típica para uma transição proibida. No entanto, pode ser consideravelmente mais intensa nas cetonas β,γ-insaturadas, pelo fator 10 a 100. Fig. 68. Geometria dos orbitais envolvidos no grupo carbonila (sem os orbitais anti-ligantes). Grupos auxocrômicos, tais como -OH, -OR, -NH2, -NHR, -NR2 ou -Hal, quando diretamente ligados ao grupo C=O exercem os efeitos doador de elétrons π (efeito mesomêrico +M) e aceitador de elétrons σ (efeito indutivo -I; ver p. 90). O conjunto destes dois efeitos aumenta a energia do orbital π*, ao mesmo tempo abaixa o nível do MO tipo n do grupo C=O. O resultado é um deslocamento hipsocrômico (= para energias maiores) da absorção n(p) → π*, típica para os ácidos carboxílicos e seus derivados. Tab. 16. Absorções da transição n → π* de compostos com grupo carbonila (sem conjugação com outras duplas-ligações). Composto: λmax (nm) εmax Solvente: * Acetaldeído 293 12 H Acetona 279 15 H Cloreto de acetila 235 53 H Acetanidrido 225 50 I 105 A. Isenmann CORANTES Acetamida 205 160 M Acetato de etila 207 70 P Ácido acético 204 41 E H = n-hexano; I = isooctano; M = metanol; P = éter de petróleo; E = etanol. A conjugação do grupo carbonila com o agrupamento C=C acarreta um forte deslocamento dos níveis π, enquanto o efeito sobre o orbital n é praticamente nulo. Fig. 69. Diagrama MO e as transições eletrônicas em enonas conjugadas, em comparação com o alqueno simples e o composto carbonilado saturado. O efeito batocrómico se reforça ainda quando aumentar o comprimento do sistema conjugado dentro das enonas. Assim, a banda π → π* menos energética se desloca para a região visível, ela ultrapassa a banda (fraca) da transição n → π* que fica completamente escondida, devido à intensidade muitas vezes superior da transição π → π*. A Tab. 17 mostra os efeitos dentro das enonas homólogas conjugadas. Tab. 17. Absorções da transição π → π* dos homólogos C6H5-(CH=CH)n-CO-R (medido em solvente metanol). R=H R = C6H5 n λmax (nm) εmax λmax (nm) εmax 0 244 12.000 254 20.000 1 285 25.000 305 25.000 2 323 43.000 342 39.000 3 355 54.000 373 46.000 4 382 51.000 400 60.000 O cálculo incremental permite a previsão dos valores λmax da absorção π → π* dentro dos compostos carbonilados α,β-insaturados. 106 A. Isenmann CORANTES Tab. 18. Cálculo das absorções em compostos carbonilas α,β-insaturados via incrementos. Sistema cromofórico em geral e nomenclatura: α γ δ O β X (medições em metanol ou etanol) Valores-base em dependência do grupo X: O λmax X X = -H 207 nm X = -Alquil 215 nm X = -OH; -O-Alquil 193 nm Incrementos: a cada C=C em conjugação + 30 nm a cada C=C exocíclica + 5 nm a cada componente dieno homo-anular + 39 nm cada substituinte nas posições: α β γ δ -Alquil (ou parte de anel) 10 12 18 18 -Cl 15 12 -Br 25 30 -OH 35 30 -O-Alquil 35 30 17 31 -O-Acil 6 6 6 6 -N(Alquil)2 50 95 Esses valores valem quando medido em álcool. Em outros solventes devem-se aplicar as seguintes correções: Água + 8 nm Clorofórmio - 1 nm Dioxano - 5 nm Dietiléter - 7 nm Hexano - 11 nm Ciclohexano - 11 nm 107 A. Isenmann CORANTES Tab. 19. Comparação das absorções da transição π → π*, calculadas e experimentais, para algumas enonas (solvente: etanol). Experimental Composto Calculado λmax (nm) εmax λmax (nm) 224 9.750 215 + 12 = 227 231 13.180 207 + 10 + 12 = 229 217 10.230 193 + 10 + 12 = 215 Tipo esteróide 241 - 215 + 10 + 12 + 5 = 242 Tipo esteróide 388 - 215 + 2.30 + 5 + 39 + 12 + 3.18 = 385 253 6.460 215 + 2.12 = 239 O 3-Penten-2-ona O C H Ciclohex-1-eno carbaldeído COOH Ciclohex-1-eno ácido carboxílico O O O (1S)-4,6,6trimetilbiciclo[3.1.1]hept-3-eno2-ona (desvio devido à tensão anelar) 108 A. Isenmann CORANTES Em vários lugares já encontramos uma forte dependência da λmax do solvente. Estes efeitos solvocrômicos foram especialmente bem estudados no caso das cetonas. A Fig. 70 mostra isso para a benzofenona. Quase todos os níveis eletrônicos da benzofenona são rebaixados pela presença de um bom solvente. Isso vale explicitamente para solventes polares e próticos, pois estabilizam o grupo carbonila por meio de ligações de hidrogênio de considerável estabilidade. Fig. 70. Espectro de absorção da benzofenona: em cicloexano; - - - - - - - em etanol b: efeito batocrómico provocado pelo solvente (aumentando a polaridade) h: efeito hipsocrómico provocado pelo solvente (aumentando a polaridade). O maior efeito se observa na transição que envolve os estados de maior polaridade, isto é, no estado singleto com π e π*. O MO mais influente para o estabelecimento das ligações de hidrogênio certamente é o localizado no oxigênio, o orbital n (de simetria p), contendo dois elétrons. O estado singleto n,π* das cetonas acha condições de solvatação inferiores. Resultam destas condições diferenciadas, tanto deslocamentos batocrómicas como hipsocrómicas, conforme ilustrado na Fig. 71. Fig. 71. Explicando os deslocamentos batocrómico e hipsocrómico das transições π → π* e n → π*, respectivamente, em cetonas ao aumentar a polaridade do ambiente (= solvatocromia). 109 A. Isenmann CORANTES Efeitos semelhantes provocados pelo solvente se observa em Compostos azo, Compostos nitroso, Tiocetonas certos aromáticos heterocíclicos No entanto, a dedicação das absorções observadas, às transições π → π* e n → π* devido aos efeitos do solvente, fica de longe mais seguro, nos casos de aldeídos e cetonas. Um grupo cromóforo de enona especial representa a quinona. Temos os isômeros 1,4 (para) e 1,2 (orto), enquanto as o-quinonas geralmente absorvem energias mais baixas do que as pquinonas. 1,4-benzoquinona O O λmax (nm) εmax (em benzeno) 242 24.300 (π → π* permitida) 281 400 (π → π* proibida) 434 20 (n → π* proibida) 1,2-benzoquinona (vermelha) O O λmax (nm) εmax (em benzeno) 390 3.020 (π → π*) 610 20 (n → π* proibida) A explicação desta diferença é que o orbital antiligante mais baixo, π*, fica em posição energeticamente mais baixa no caso da o-quinona, onde temos um sistema de conjugação linear. Além disso, temos que contar com um desdobramento da banda n → π* do isômero orto, devido à interação dos orbitais n(p) nos dois oxigênios fixados em posições vizinhas. Além disso, a simetria da molécula inteira da o-quinona é inferior à da p-quinona. Em resumo, são as transições n → π* que são responsáveis pela cor visível das quinonas. Os agrupamentos quinóides são importantes cromóforos em uma série de corantes. Sendo um bom exemplo a fenolftaleína que serve também como indicador ácido-base (Fig. 72), a ser estudada mais em detalhe a seguir. A forma cíclica (= lactona) contém três anéis aromáticos isolados. A falta de conjugação entre eles deixa a substância incolor - não importa se for protonada ou desprotonada. Acima de pH 8,4 os dois grupos fenólicos perdem seus prótons, formando o diânion. Neste, a abertura do éster cíclico é facilitada, pelo forte efeito doador de elétrons do grupo fenóxido. Note que aqui não se trata de uma hidrólise do éster, no sentido clássico, porque o oxigênio anelar da lactona fica no mesmo estado de oxidação do grupo carbonila. Resulta então um novo diânion, desta vez quinóide e de absorção forte na região visível (λmax = 552 nm; εmax = 31.000; vermelhoroxo). Ao aumentar o pH mais ainda (= excesso de NaOH), no entanto, o sistema quinóide é destruído e forma-se um triânion. Neste carbinol novamente se tem três sistemas aromáticos isolados, portanto fica novamente incolor. 110 A. Isenmann CORANTES HO -O OH O +2 rápido O - 2 H+ O H+ O- O O- COO- O desprotonada (ainda incolor) protonada (incolor) -O OH- em excesso -O O COO - O- OH COO- desprotonada (f ortemente colorida, roxa) triânion (incolor) Fig. 72. A fenolftaleína em ambiente aquoso: a coloração se deve à formação de um sistema quinóide, o que depende sensivelmente do pH do ambiente. 4. Corantes orgânicos, sua química e aspectos do seu manuseio 4.1. Classes de corantes, conforme o tipo de aplicação e fixação em cima da fibra A meta em qualquer aplicação de corantes é sua fixação permanente e eficiente, no objeto a ser colorido. A maior parte das tinturas é aplicada em têxteis, daí podemos exigir uma ligação íntima entre o corante e a fibra do tecido, não só para resistir ao movimento do tecido e ao contato físico do toque seco, mas principalmente ao entrar em contato com a água da lavagem. Os corantes mais permanentes geralmente são os da ligação mais forte com a fibra. Mas também sua própria hidrofobicidade é um fator importante para sua permanência no local onde foram aplicados. Finalmente podemos afirmar que a forma de embutir o corante na estrutura secundária e terciária da fibra também influencia na sua durabilidade. Uma possível classificação dos corantes surge do aspecto mais prático: a forma como é aplicado no tingimento do tecido. Tab. 20. Classificação dos corantes conforme seu uso no processo de tingimento de tecidos Corantes ácidos Corantes básicos Essa expressão é usada de maneira arbitrária, ver também cap. 3.1.4. No contexto da sua aplicação à fibra “ácido” não significa necessariamente que o corante é um ácido, mas quer dizer que esses tipos de corante devem ser aplicados em solução ácida. As fibras a serem tingidas nestas condições são em primeira linha a lã e a seda, enquanto o algodão não absorve o corante de maneira satisfatória. São corantes catiônicos que são aplicados em solução aquosa básica, geralmente de pH > 10. Ambos, os corantes ácidos e os básicos, são 111 A. Isenmann Corante azo Corante direto Corante de cuba Corantes reativos Corantes dispersos Corante de mordente CORANTES fixados em cima da fibra, devido à interação iônica. O corante é feito por acoplamento azo, a partir de dois componentes, um sal de diazônio e um aromático rico em elétrons. Esse acoplamento fornece um corante hidrofóbico, então deve ser executado nas imediações da fibra. Corantes que são aplicados em solução aquosa, na presença de alta concentração de um eletrólito (= sal). As forças que seguram o corante em cima da fibra, são de natureza bastante fraca (dipolos; pontes de H), portanto sua resistência à lavagem é modesta. Por outro lado, estes corantes geralmente são bastante baratos. Esses corantes são insolúveis, mas podem ser transformados reversivelmente em uma forma solúvel na água na qual são aplicados no tecido. Geralmente essa transformação para a forma "leuco" é uma redução e acontece em solução básica, então é adequada para tingir fibras celulósicas. O tingimento é um processo bastante complexo, mas vale a pena, por que a resistência à lavagem é alta. Essa família de corantes é a mais moderna (ICI, a partir de 1956), ao mesmo tempo uma das mais resistentes frente à lavagem, porque estabelece uma ligação covalente forte com a fibra. As reações responsáveis pela ligação com a fibra (principalmente celulósica) são a substituição nucleofílica em aromáticos e a "adição de Michael". Certamente, esta família representa a mais importante hoje, no contexto do tingimento do algodão. Esses corantes são especialmente estáveis, moléculas grandes e insolúveis. Sendo assim, eles são aplicados a partir de uma suspensão aquosa. O mordente, muitas vezes um sal de Cr3+, em segunda linha de Fe3+ e Al3+, serve para pré-tratar o tecido (e especialmente o couro), aumentando assim sua receptividade para o corante. São bastante resistentes à lavagem, mas infelizmente trazem as desvantagens da toxicologia complicada dos metais pesados. Os requisitos para formar uma ligação durável entre corante e seu suporte, dependem então principalmente dos grupos funcionais nos dois participantes, corante e fibra. Em segunda linha também do tamanho da molécula do corante e, logicamente, do método como o corante for aplicado. Em seguida serão apresentadas as características de cada família de corantes orgânicos e os princípios do seu tingimento específico. Os mais simples destes procedimentos serão descritos como ensaios em laboratório de ensino, no cap. 9.3. Corantes ácidos A grande maioria dos corantes são compostos aromáticos que contém grupos funcionais de fácil ionização. Assim, eles são capazes de interagir com os constituintes do tecido com cargas opostas. Corantes que são carregados negativamente a serem fixados em fibras com cargas positivas, são denominados corantes ácidos. O Colour Index (cap. 8) usa essa qualidade no seu sistema de classificação e nomenclatura: "Acid + cor + número corrido". Os grupos que são responsáveis pela capacidade de ionização, também chamados de auxocrômicos, são: hidroxila fenólica, carboxila e sulfônico. O corante então se apresenta 112 A. Isenmann CORANTES como ânion. Dentre estes, somente o grupo sulfônico pode ser considerado sendo um ácido forte. Os grupos positivos da fibra (protéica), por outro lado, são quase sempre bases fracas, denominadamente grupos amônios. Portanto, o corante é aplicado de preferência em ambiente ácido, já que um ambiente básico iria desprotonar o grupo amônio da fibra com facilidade. Existem membros de famílias importantes de corantes, onde o grupo sulfônico foi introduzido para inverter a polaridade natural da substância-mãe, do positivo para o negativo. O derivado sulfonado se torna assim mais apropriado para colorir fibras protéicas. Exemplo: a fucsina ácida (= Acid violet 19) é adequada para tingir a lã, enquanto sua substância-mãe não sulfonada, a pararosanilina (= Basic red 9; ver também Fig. 10) não é. Esse último corante, por outro lado, é apropriado para tingir fibras sintéticas de poliacrilonitrila, onde uma pequena alíquota dos grupos nitrilas (-C≡N) foi devidamente hidrolisada, formando grupos carboxilatos (-COO-). NH2+ H2N + Na -O3S NH2+ H2N Cl- SO3- Na+ SO3- Na+ NH2 Acid violet 19 (f ucsina sulfonada) NH2 Basic red 9 (pararosanilina) As ligações entre corantes ácidos e as fibras de proteína são as mais complexas de todas. As proteínas são feitas de até vinte aminoácidos diferentes, cada um dos quais tem uma cadeia lateral diferente. Em diferentes pHs, diferentes corantes podem formar pontes de hidrogênio favoráveis a várias dessas cadeias laterais. O fato de muitos corantes conterem um grupo sulfonato ou, em alguns casos, um grupo carboxilato, favorece a ligação eletrostática (formação de um par de íons; "ligação de sal") com os grupos básicos (= amônio) na molécula de lã. Note que uma ligação com base nas forças de Coulomb pode chegar numa estabilidade equivalente à de uma ligação covalente, mas como ela diminui com o quadrado da distância ela requer a melhor posição entre os íons participantes - o que raramente é dado. Todavia, podemos afirmar que a força desta ligação proporciona aos corantes ácidos boa resistência à lavagem. Nota-se que certos corantes reativos, geralmente aplicados ao algodão, podem ser também aplicados à lã. Por exemplo, corantes do tipo Procion MX (p. 187), são ditos que não reagem apreciavelmente com lã sob condições ácidas, mesmo assim servem para colorir a lã de maneira satisfatória - mesmo se os grupos reativos do corante reagirem mais com a água do processo do que com a fibra (as condições alcalinas, tipicamente aplicadas no tingimento do algodão, deveriam ser evitadas, pois irão danificar a lã de ouvelha- apesar de funcionar bem na seda.) 113 A. Isenmann CORANTES Corantes básicos Os corantes orgânicos são geralmente compostos coloridos, aromáticos que podem ionizar. Assim, eles são capazes de interagir com os constituintes do tecido cujos grupos funcionais dispõem de cargas opostas. Corantes que são carregados positivamente e são usados para ligar aos componentes do tecido com carga negativa, são denominados de corantes básicos. O Colour Index (C.I.) usa isso como um sistema de classificação e nomenclatura, onde cada corante é denominado de acordo com o padrão: "Basic + cor elementar + número corrido" Isso especifica estes corantes, portadores de grupos auxocrômicos catiônicos, implicando que o mecanismo de fixação principal é por ligação iônica. No entanto, essa nomenclatura do CI não contém nenhuma outra informação química, nem significa que corantes com nomes semelhantes têm alguma estrtura química em comum. Deve-se também notar que essa nomenclatura do CI dá conta ao mecanismo principal de coloração. Outros mecanismos podem ser possíveis, no entanto, com o mesmo corante. Corantes básicos geralmente têm grupos auxocrômicos amino ou alquilamino. Sob condições que geralmente se aplicam durante o tingimento e o uso posterior, estes serão em partes protonados e têm uma carga positiva. Embora a carga molecular é geralmente mostrada num átomo específico da fórmula, o amplo sistema conjugado de elétrons π faz com que a carga positiva se encontre na molécula inteira do corante. Um exemplo de corante básico de grupos -NH2 é a pararosanilina (= Basic Red 9, ver em cima e na Tab. 44, na p. 321), e com grupos alquilamino que é azul de metileno (= Basic Blue 9, ver Fig. 13, na p. 26). Corantes diretos = corantes substantivos A grande maioria dos corantes são compostos aromáticos contendo grupos laterais que tendem a ionizar. Essa constituição favorece interações iônicas com os grupos funcionais de cargas opostas provenientes do tecido, às vezes com auxílio de um íon metálico que cria uma "ponte iônica" entre corante e fibra (= mordente, ver mais em baixo). Mas tem exceções. Alguns corantes são usados na indústria têxtil para tingir algodão sem o uso de mordente. Um nome antigo para o tingimento sem mordente é "tingimento direto", e os corantes são denominados corantes diretos ou, às vezes, corantes de algodão diretos. O Colour Index especifica esses casos (excepcionais) em sua nomenclatura genérica. Cada corante deste tipo ganha a sigla: "Direct + cor base + número corrido". Expressivamente, estes corantes podem ser usados sem pré-tratamento com mordente. Notase que esta é uma classificação que não contém nenhuma informação química, nem implica que os corantes com nomes semelhantes são de alguma forma relacionados. Deve-se também notar que essa classificação se refere somente ao procedimento principal de tingimento. Outros procedimentos, de repente, também podem ser possíveis. Muitos corantes diretos têm a tendência de portar carga negativa. Todavia, são as ligações de hidrogênio (= pontes de hidrogênio) que são as principais responsáveis pela fixação do corante no algodão. Este mecanismo também é o responsável na coloração histológica (= análise de microscopia de tecidos biológicos), e explica por que alguns destes corantes mostram boa seletividade para a amilose. No entanto, eles também são capazes de ligar-se aos componentes do tecido com carga positiva, via interação dipolar - em certa analogia aos 114 A. Isenmann CORANTES corantes ácidos. Sendo assim, eles podem ser vistos como subgrupo dos corantes ácidos, sendo muitos deles corantes azo. O corante direto mais utilizado (também para colorir especificamente os amilóides) é o Vermelho do Congo (= Direct Red 28) - ao mesmo tempo um dos corantes da época pioneira do séculao 19 (fórmula ver p. 174). Erie Granada (= Direct Red 10) pode ser usado em um método de coloração sob congelamento e o "Sirius Red F3B" (= Direct Red 80) pode ser utilizado para tingir o colágeno ionicamente num procedimento adaptado de Van Gieson, bem como amilóides, por ligação de hidrogênio (= contrastamento de células biológicas). Tingimento direto (ou tingimento substantivo) é geralmente feito num banho de tingimento neutro ou ligeiramente alcalino, perto do ponto de ebulição, na presença de um eletrólito (NaCl, Na2SO4 ou Na2CO3). Os corantes diretos são bem universais: podem ser aplicados com éxito em algodão, papel, couro, lã, seda e nylon. Alguns também são utilizados como indicadores de pH e como corantes da pele viva. Corantes diretos, incluindo os corantes universais ou "corantes todos os fins", são apenas fracamente associados com a fibra celulósica, uma propriedade chamada de substantividade, que é a tendência do corante de associar-se à fibra sem laços fortes. Esta substantividade aumenta junto ao tamanho da molécula, então as maiores moléculas são geralmente os corantes diretos mais duráveis. Sendo assim, a classe dos corantes substantivos (ver também p. 174) encosta, sob os aspectos de qualidade da cor, solubilidade e tamanho da partícula, na área dos pigmento (ver definição na p. 198) Substantividade é o resultado da combinação das forças relativamente fracas, de Van der Waals e pontes de hidrogênio (que são na ordem de 100 e 10 vezes, respectivamente, mais fracas do que uma ligação covalente). Pequenas moléculas de corante tendem a ser brilhante, enquanto as grandes moléculas de corante tendem a ser mais maçante - uma consequência de ter mais sítios que podem absorver a luz de comprimentos de onda adicionais. Então, os corantes diretos são geralmente menos brilhantes do que os corantes reativos. Corantes de cuba Corantes de cuba (ver cap. 4.3) - o membro mais famoso é o índigo - são insolúveis (na água) e presos no interior da fibra. Como chegam lá? Em sua forma solúvel pela qual foi transformado, logo antes de ser aplicado na solução aquosa da cuba. Neste estado, conhecido como "forma leuco" ou "forma reduzida", o corante penetra nas fissuras da fibra. Note que esta é uma forma puramente física de ligação, estabelecendo apenas as ligações fracas de Van der Waals e, no máximo, pontes de hidrogênio. Assim é uma surpresa que os corantes de cuba são tão resistentes à lavagem. Na maioria os corantes de cuba têm a tendência de serem aderidos, principalmente na superfície do tecido (ver p. 190, "tingimento em anel"), o que acontece quando o tintureiro deixa de se certificar de que o corante penetrou completamente o eixo da fibra. Quando apenas a superfície de cada fibra for revestida, então a camada colorida poderia soltar após poucas vezes usar e lavar a roupa. Normalmente, este é um atributo ruim. Com uma exceção prominente: o desaparecimento da cor em calças jeans, às vezes até provocada por uma abrasão mecânica forçada ("stone washed"), é geralmente apreciado, uma vez que implica uma maior idade da peça de roupa, sinônimo para mais comodidade e até numa filosofia de vida de algumas gerações em nossa sociedade. Corantes dispersos Corantes dispersos (Cap. 4.7) são aplicados principalmente em fibras sintéticas tais como o poliéster ou poliuretano. São aplicados ao ser vaporizados pelo calor do ferro de engomar ou por uma prensa quente. Assim, podem condensar sobre e dentro da fibra. Eles também podem migrar para a fibra por meio de um veículo químico especial, mas sempre a uma temperatura elevada. Não é surpresa que este corante vagamente associado pode sair do tecido ao esfregar 115 A. Isenmann CORANTES - embora isso geralmente não acontece visivelmente. O fato de que o corante pode passar para o usuário torna esta classe de corantes alergênicos, mais do que outros tipos de corante. As poucas pessoas que mostram sensibilidade elevada são, portanto, aconselhadas usar roupas de fibras naturais que foram tingidas com corantes reativos. Corantes usados em solvente orgânico A definição mais comum para os corante orgânicos é: composto aromático com amplo sistema de elétrons deslocalizados (cromofórico) e a presença de grupos polares, ácidos ou básicos (auxocrômicos). No entanto, uma classe de corantes é uma exceção a isso, onde os grupos auxocrômicos são completamente ausentes. Estes corantes se dissolvem molecularmente em um solvente apolar. Nesta forma são aplicados à fibra, onde, devido à sua hidrofobicidade, podem ser depositados ao trocar o solvente pela água. O Colour Index classifica esses corantes na seguinte forma: "Solvent + cor elementar + número corrido". Nota-se que a classificação refere-se a um mecanismo primário de coloração. Outros mecanismos também podem ser possíveis com estes corantes, mas são raros. Característica geral é que estes corantes (também chamados de corantes lipócromos) não ionizam, mas a sigla não diz nada sobre a natureza química do sistema cromofórico. Muitos são da família azo. Os solventes não polares, no ideal, são de baixa toxicidade e de fácil remoção após o tingimento. Triglicerídeos (gordura) são bastante usados. Assim se explica também sua utilidade como colorantes na bioquímica, onde podem realçar seletivamente a matéria gordurosa (triglicerídeos, ácidos graxos e lipoproteínas, principalmente). Assim a parte gordurosa pode ser facilmente caracterizada e quantificada. Sudan III (= Solvent Red 23), Sudan IV (= Solvent Red 24) e Vermelho de óleo O (= Solvent Red 27) são comumente utilizados para demonstrar gordura nas seções. Negro do Sudã B (= Solvent Black 3) também é muito eficaz, mas também pode manchar ionicamente em algumas circunstâncias. Corantes Reativos Corantes reativos criam ligações fortes (= ligações covalentes) com a fibra durante o processo de tingimento. Um dos primeiros corantes desta classe era o Procion MX, com fixação através de um anel de diclorotriazina. Assim, corante e fibra tornam-se uma única molécula. Esta família de corantes, melhor falado esta maneira da fixação do corante em cima da fibra, é hoje tão importante que representa mais da metade do volume dos corantes produzidos nos países altamente industrializados (p. ex., no Japão). Por isso dedicamos um capítulo inteiro na química destes corantes (cap. 4.8). Os corantes reativos mais sucedidos são (ver descrição mais detalhada, a partir da p. 186): • • • Cibacron (Ciba AG), a base de monoclorotriazina Remazol e Dystar (Hoechst), onde o princípio reativo é um éster do ácido sulfúrico de β-hidroxietilsulfonas (Ar-SO2-CH2-CH2-O-SO3H) ou uma vinilsulfona, (Ar-SO2-CH=CH2). Levafix (Bayer AG), com o grupo Ar-SO2-NH-CH2-CH2-O-SO3H. Os reativos são hoje os mais importantes corantes na tinturaria têxtil, porque são especiais na sua capacidade de conferir tons de forma durável, inclusive no processo da lavagem. Seu brilho se mantém em tecidos celulósicos por um longo tempo e podemos afirmar que para o 116 A. Isenmann CORANTES consumidor de roupas de algodão (que ainda é a maioria) eles representam a classe de corantes mais confiáveis. Corantes Naftol Como os corantes de cuba, os corantes naftol (ou corantes Naftol AS, ver cap. 4.6) são retidos dentro da fibra de forma insolúvel. A técnica é bastante interessante: qualquer um de uma variedade de sais de diazônio (Ar-N2+ X-) é combinado no tecido, com qualquer um dos agentes de acoplamento, que é no caso um naftol. A reação de acoplamento azo acontece então no interior da fibra. Resulta um corante insolúvel em água, tipicamente de uma cor totalmente diferente de qualquer um dos dois componentes. A variedade de diferentes cores e tonalidades é, portanto, especialmente ampla nesta classe. Estes corantes são amplamente utilizados na técnica de bática, muito aplicada na Índia e no sudeste da Ásia. O uso de cera na bática exige que a reação do corante não requeira nem libere calor - o que realmente é o caso no acoplamento azo (eles até reagem sob refrigeração). Por isso, somente dois corantes, tipo Naftol e tipo "Reativo a frio", são adequados para esta técnica. Corantes de naftol são menos caros do que muitos corantes reativos, e particularmente adequados para a tintura "arco-iris", quer dizer, onde diferentes cores encostam uma à outra, no mesmo tecido. Infelizmente, os precursores dos corantes de naftol são bastante tóxicos, e provavelmente significativamente cancerígenos, e, portanto, não são considerados adequados para tingimentos caseiros ou em estúdio de artista. Corantes de mordente Em analogia aos corantes substantivos, a fixação dos corantes de mordente na fibra também não acontece via ligação iônica. Mas, ao contrário dos seus parentes, também não são capazes de formar ligações de hidrogênio estáveis o suficiente para serem atribuídos de "prova ao processo de lavagem". Portanto, precisam de um íon metálico de alta carga como intermediário, sendo uma ponte entre o corante e os grupos polares da fibra (ver esboço da situação, na p. 310). O Colour Index denomina estes corantes na sua nomenclatura genérica, conforme: "Mordant + cor elementar + número corrido". De novo, essa denominação não contém nenhuma informação química; além disso, ela não exclui a possibilidade de o corante ser fixado através de outro mecanismo, também. Os corantes mordentes mais utilizados têm grupos hidroxilas e carboxilas e são de caráter aniônico. É conveniente classificar estes como subgrupo especial, dos "corantes ácidos” (ver p. 112). Alguns corantes a mordente podem possuir também grupos -NH2, representando sítios catiônicos, mas nunca sem a falta dos grupos hidroxilas ou carboxilas. O princípio de fixação na fibra é, contudo, a ligação iônica, mais especificamente a complexação na imediação de um íon metálico. Certamente, podemos identificar esta forma de ligação como laca (ver nota de rodapé 70, na p. 210). Desvantagem desta técnica: as colorações são muitas vezes claras, às vezes tão pálidas que os resultados nem têm valor comercial. Muitas vezes se anota uma drástica mudança em saturacão e tonalidade quando um pigmento mordente forma um complexo com um metal de fixação. Isto se deve à presença de elétrons d que facilmente são encorporados no sistema deslocalizado de elétrons do corante. Os coloristas falam de um efeito batochrómico (definição ver p. 79). Como íons de metais diferentes têm elétrons em diferentes níveis de energia, a cor dos complexos logicamente depende do tipo de metal. 117 A. Isenmann CORANTES Fibras -O 3S OH N N Fibra OH - O3S N O2N Fibra Cr O K2Cr 2O7 Fibra O N O2N Fig. 73. Exemplo de fixação do corante na fibra, por meio de um mordente. O corante mordente mais utilizado é, sem dúvida, a hemateína (= CI Natural Black 1), cujo status como um produto natural, aparentemente, supera a questão acerca do seu modo de tingimento que, aliás, é complicado e ecologicamente problemático. Outros representantes desta família são a cromoxana cianina R (= CI Mordant Blue 3) e o celestino azul B (= CI Mordant Blue 14), ambos usados como substitutos para a hematoxilina, com a diferença de serem usados com sal de Fe3+ em vez de alúmen como mordaz. Vermelho de alizarina S (= CI Mordant Red 3) é valioso, além da coloração de tecidos, como indicador do cálcio (seja na titulação no laboratório químico ou na medicina, visualizando o esqueleto de embriões). Corantes mordentes exigem um mordaz, o que melhora sua solidez, estabilidade na lavagem, indiferença frente à luz solar e também à transpiração do usuário. A escolha do mordente é muito importante porque diferentes mordentes podem mudar a cor final significativamente (ver exemplo na p. 313). Historicamente interessante é que a maioria dos corantes naturais usados na idade média eram corantes mordentes. Há, portanto, uma grande base de literatura que descreve as técnicas de tingimento. Os mais importantes corantes mordentes são, portanto, de origem natural, que são aplicados à fibra (principalmente na lã) via íons de Cr6+. Assim, se consegue especialmente os tons escuros, preto e azul escuro. Interessante é que o mordente, no caso o dicromato de potássio (Na2Cr2O7), é aplicado em um pós-tratamento. É importante notar que muitos mordentes, particularmente os metais pesados, podem ser perigosos à saúde, causar alergias e devem ser usados com bastante cuidado. Menos alergênico, entre todos os mordazes, certamente é o íon Al3+. Corantes naturais Materiais colorantes naturais têm sido usados por milhares de anos pelo homem. Couro, tecidos, alimentos, cerâmica e invólucros têm sido modificado desta forma. As duas maneiras antigas foram cobrir o objeto maciço com uma camada pigmentada (= pintar), a outra de passar a cor na massa inteira (= tingir). Pigmentos para a pintura foram feitos geralmente de pó a partir de pedras coloridas e minerais, enquanto os corantes foram obtidas a partir de animais e plantas. Hoje, as fontes de corantes tradicionais são raramente usados, salvo exceções (casca de cebola, suco de beterraba, por exemplo). No entanto, alguns dos corantes ainda mais comuns são derivados ou cópias das fontes naturais. Estes são denominados corantes naturais. Os corantes naturais (ver também cap. 4.10) são, na maioria dos casos, corantes ácidos, razão pela qual são especialmente adequados para tingir lã e outras fibras de origem animal, mas não o algodão. Um modo para melhorar a fixação na lã (e até de criar alguma ligação modesta 118 A. Isenmann CORANTES no algodão), é a utilização de íons metálicos, por vezes tóxicos, incluindo os íons de metais pesados, de modo a formar uma ponte entre o corante e a fibra, o que é chamado de "mordente". O algodão é tipicamente pré-tratado com mordentes tais como taninos, além de sais de Al3+ ou Cr3+. O mesmo vale para couro. O anil é um corante natural, mas que é muito diferente de outros corantes naturais, por ser um membro (o primeiro membro conhecido) da classe dos corantes de cuba. O Colour Index denomina esses corantes e pigmentos de: "Natural + cor elementar + número corrido". Esta classificação especifica a cor da tintura, mas não fornece informação química, nem implica que os corantes com siglas semelhantes estejam em relação próxima. Também não dá nenhuma informação sobre o procedimento pelo qual ocorre a coloração. O uso destes corantes, como já dito, é muito antigo. Kermes (= Natural Red 3) é identificado no livro bíblico de Êxodo, onde são feitas referências ao linho de cor vermelha-escarlate. Corantes similares são o carmim (= Natural Red 4) e laca 33 (= Natural Red 25). Estes três corantes são parentes quimicamente próximos, obtidos a partir de insetos do gênero Coccus. Todos exigem uma mordaz. O corante natural mais utilizado, sem dúvida, é a hemateína (Natural Black 1), obtida a partir do cerne de uma árvore. Este corante também requer um mordente. O açafrão verdadeiro (= Natural Yellow 6), é obtido a partir dos estigmas da flor de Crocus sativus, e é usado sem mordente, tingindo como um corante ácido. Embora seu uso seja muito antigo, é mais usado hoje na cozinha como tempero do que para o tingimento, devido seu custo elevado (os preços variam entre 100 e 200 R$ por grama!). 4.2. Classificação dos corantes segundo grupos funcionais, inclusive o grupo cromóforo Hoje conhecemos mais de 50 diferentes grupos cromóforos, isto é, grupos específicos dentro da molécula que absorvem seletivamente uma parte do espectro eletromagnético, próximo à 33 CI Natural Red 25, a laca (inglês: gum lac), é uma mistura de ácidos lacaínicos. Esse corante é obtido em forma de um pó vermelho-amarelado. Pequena quantidade pode ser dissolvida em água, daí o corante mostra um vermelho azulado escuro. O corante faz parte do grupo de corantes de origem animal, sendo um parente da cochonilha (Kerria Lacca), que vivem em árvores de figo da Índia. O piolho se alimenta da seiva açucarada de seringueiras, e segrega uma resina contendo o corante. A produção de resinas é tão forte que os próprios produtores, os piolhos, são completamente embutidos na camada e morrem sufocados. Os ramos revestidos com a resina são colhidos e extraídos. A resina é moída para um pó e agitada em água. Daí o corante solúvel em água pode ser precipitado com alúmen. O resto da resina é material base para a goma-laca (Shellac), material de que eram feitos os primeiros discos de música. O corante laca é uma mistura de diferentes ácidos lacaínicos (A, B, C, D e E), enquanto o ácido A está presente na maioria. Esses ácidos são da família das antraquinonas e estão relacionados ou idênticos com o corante obtido da cochonilha. O corante laca é solúvel nos alcoóis etílico e metílico, bem como na acetona e no ácido acético. Em água é pouco solúvel e praticamente insolúvel em éter. O corante é bastante resistente ao calor, funde a 180 °C e decompõe-se a cerca de 230 °C. A resistência à luz e a boa resistência à lavagem eram outros atributos apreciados anteriormente. Entretanto, temos hoje corantes sintéticos superiores à laca em todos esses aspectos. O ponto fraco da laca: ela é muito sensível frente a íons metálicos, especialmente ao Fe3+. Recomenda-se usar um agente de geleificação durante o processo de tingimento. Com a laca se consegue diversas tonalidades, que vão desde o carmesim, escarlate até alaranjado. 119 A. Isenmann CORANTES região visível (ver Fig. 177, na p. 265). No entanto, uma discussão abrangente dos grupos cromóforos fica fora do escopo deste livro. A seguinte tabela contém um resumo das classes dos corantes orgânicos comuns, organizadas sob três possíveis critérios: na primeria coluna estão mencionados as estruturas químicas dos seus grupos cromóforos, na segunda conforme suas qualidades e técnicas de aplicação e na terceira conforme seus grupos auxocrómicos (= grupos funcionais que não fazem grande papel no sistema que absorve a luz visível). Note que uma lista mais abrangente se encontra no anexo, onde os corantes são listados, em atendimento ao Colour Index, conforme seu nome em ingês (ver Tab. 45, p. 322). Tab. 21. Resumo das classificações mais aplicadas nos corantes orgânicos: conforme seu grupo cromóforo, conforme as classes do Colour Index e outros classificações. Fonte: http://stainsfile.info/StainsFile/dyes/dyes.htm 34 Natureza dos cromôforos Classe no Colour Index Natureza dos auxôcromos Acridina Ácido Corantes anfotéricos Antraquinona Básico Corantes neutros Diarilmetano, triarilmetano Direto Classificados por Azo Mordente Nitro Natural Ftalocianina Solvente Quinonimina Alimentos Edward Gurr Tiazol Xanteno Segue uma descrição breve de cada grupo cromofórico mencionado na primeira coluna da Tab. 21. A apresentação das classes do Colour Index (segunda coluna da Tab. 21) foi objetivo do cap. 4.1; a classificação conforme os grupos auxôcromos (não aplicada neste livro) tem menor importância para a aplicação industrial, porém pode ser importante na coloração biológica, de amostras e tecidos naturais. Acridinas A fórmula geral do cromóforo mostra um sistema anelado quinóide. Também mostra uma carga positiva no nitrogênio, ou seja, a natureza destes corantes é "básica". Aguns destes corantes são fluorescentes. Os representantes mais famosos são o Alaranjado de acridina (= CI Basic Orange 14; CI 46005) e a acriflavina (CI 46000). 34 "Staining", tópico da fonte desta lista, é a expressão para o tingimento seletivo de partes em tecidos naturais. O objetivo geral é o contrastamento histológico. 120 A. Isenmann CORANTES N CH3 H+ N Me 2N N+ H2N NMe2 NH2 Cl- Cl- Fig. 74. Fórmula geral do cromóforo das acridinas (em cima); Alaranjado de acridina (esquerda); Acriflavina (direita). Antraquinonas O cromóforo é uma quinona, e os grupos auxocrômicos mais frequentemente encontrados são hidroxila e amina. Representantes são a alizarina (corante natural na raíz da Rubia Tinctorium; ver Fig. 1e e Fig. 14; CI Mordant Red 11; CI Pigment Red 83; CI 58000), o Vermelho de alizarina S (usado como indicador para Ca2+ e Al3+; CI Mordant Red 3; CI 58005), sendo ambos usados como corantes de mordaz. Outros são o azul de antraceno SWR (substituto para a hematoxilina; CI Mordant Blue 32; CI 58605) e o Helio Fast Rubim BBL (CI 60760; um corante de mordaz para colorir o núcleo em células vivas). O O O O OH OH OH OH SO3O Alizarine Red S O Alizarine OH O OH O OH NH2 OH HO OH O OH Anthracene Blue SWR Fig. 75. SO3O OH Helio Fast Rubim Fórmula básica do cromóforo das antraquinonas e alguns corantes representantes. Corantes arilmetano Corantes da família arilmetano (ou fenilmetano) podem ser subdivididos em diarilmetanos e triarilmetanos: 121 A. Isenmann CORANTES Y Y C C . Diarilmetanos têm dois anéis aromáticos conectados via ponte de metileno. Um exemplo é a auramina O (= Basic Yellow 2; CI 41000), um corante fluorescente (descrição deste fenômeno óptico, ver p. 219). É usado no contrastamento biológico, especialmente na visualização de bactérias. Lá é transformado em um reagente de Schiff 35, já que neste reagente trata-se de uma amina secundária. O cromóforo, no sentido mais estreito, é o agrupamento C=N. NH2+ C Me2N Fig. 76. NMe2 Auramina O, um corante fluorescente básico. Triarilmetanos (ou trifenilmetanos) possuem três anéis aromáticos ligados ao mesmo carbono. Entre os corantes estes são bem mais prominentes do que os diarilmetanos. Bons exemplos são a fenolftaleína (Fig. 72), a magenta (Fig. 23), a fucsina (Fig. 10) e o roxo de Hofmann (p. 22). Devido à sua sensibilidade frente ao pH do ambiente, estes corantes são menos usados no tingimento de tecidos, mas representam valiosos indicadores no laboratório. Outros membros desta família são os homólogos da pararosanina. Estes têm grupos -NH2, portanto são corantes de caráter básico, também denominados de aminotriarilmetanos. Na pararosanilina mostrada abaixo cada um dos anéis aromáticos tem um grupo amino, enquanto somente o anel quinóide comumente é considerado sendo o cromóforo. Isso mostra claramente que é difícil identificar exatamente o grupo funcional dentro da molécula que é responsável pela cor, enquanto temos que lidar com um sistema amplo de conjugação. 35 Existem na literatura vários nomes para estes compostos: azometina, Base de Schiff, imina. A unidade estrutural: >C=N-R ou -CH=N-R. 122 A. Isenmann CORANTES NH2+ NH 2+ NH2+ C C C H2N NH2 H2N Pararosanilina CI 42500 H2N NH2 NH 2+ C C NH2 Me2N C NMe2 Me2N NMe Violeta de metila 6B CI 42540 Violeta de metila 2B CI 42535 2 NH 2 - - O3S O 3S C NMe3 H 2N NHEt Me2N Fig. 77. NH C C Roxo de Hof mann CI 42530 Magenta II NMe2 NHEt EtHN NH2 Rosanilina CI 42510 NH2+ Fucsina nova CI 42520 H 2N Verde de metila CI 42585 SO 3NH 2 Fucsina ácida CI 42685 Corantes trifenilmetano, parentes da pararosanilina. Nem todos os corantes triarilmetano são de natureza básica. Aqueles que têm grupos sulfônicos, entre outros, certamente são de caráter ácido, já que são os ânions de um ácido forte, sempre presente como –SO3-. Isto quer dizer que, sob condições normais, a carga negativa prevalece nestes corantes. Exemplos são a Fucsina Ácida (última fórmula na Fig. 77) e o Azul Brilhante (Fig. 78). O leigo olha nestas estruturas, aparentemente complexas e frágeis, com admiração. Mas sua síntese química é geralmente bastante simples, tanto no mecanismo como na sua execução. O seguinte exemplo mostra uma síntese típica de um corante trifenilmetano, neste caso o Azul Brilhante (que até é permitido em alimentos; E 133). Este composto é feito por apenas dois componentes, nas proporções 1:2, por etapas mecanísticas que se conhecem como condensação e oxidação: 123 A. Isenmann CORANTES SO3- -O S 3 SO3- CHO H H N N 1. Condensação 2. Oxidação -O S 3 SO3 SO3- - C N N Fig. 78. Síntese do corante trifenilmetano ácido, Azul Brilhante. Outro subgrupo dos arilmetanos tem grupos hidroxilas, em vez de aminas. Também estes podem ser classificados como corantes ácidos - bem que esse caráter não é muito pronunciado. Um exemplo é Cromoxano cianina R. Dentre os triarilmetanos são o menor grupo. Corantes azo Corantes azo certamente representam a classe mais versátil e são também os corantes orgânicos produzidos em maiores toneladas hoje. Portanto, dedicamos o capítulo 4.5 inteiramente ao corantes com este tipo de cromóforo. Neste lugar somente a menção que uma subdivisão destes corantes pode ser feita, conforme o número de unidades -N=N- na molécula. Além deste, eles podem mostrar as mais diversas características, provenientes tanto do componente diazo como do componente de acoplamento. Seguem alguns exemplos: Classe monoazo: N N SO3- HO SO3Fig. 79. Orange G (Acid Orange 10; CI 16230) 124 A. Isenmann CORANTES Classe bisazo: NH2 OH O2N Fig. 80. N N N N - SO3- O3S Negro Amido 10B (Acid Black 1; CI 20470) HO -O S 3 N N N N SO3- Fig. 81. Biebrich Escarlato (Acid Red 66; CI 26905) Classe tetrakisazo: HO - O3S Fig. 82. N N OH N N N N SO3- -O3S SO 3- -O3S NH C NH O N N SO3- Vermelho Sírio F3B (Direct Red 80; CI 35780) Sob "corantes lipocrómicos" entendemos corantes solúveis em gordura, geralmente do tipo bisazo, com um único grupo -OH em posição orto ao grupo azo. Nesta posição se estabelece uma forte ponte de hidrogênio entre o nitrogênio e o grupo hidroxila que proporciona à molécula um agrupamento quinóide, com a consequência de perder a hidrofilia do fenol e se tornar lipofílico. Muito comum também é a expressão de "corantes de naftol" (p. 117). Todos eles são corantes com o grupo azo, formados a partir de um sal aromático de diazônio e um naftol. O acoplamento azo, reação química pela qual se forma a unidade Ar-N=N-Ar´, não se restringe aos compostos naftóis; igualmente acoplam com os sais de diazônio os seguintes aromáticos: Compostos com grupos fenólicos em geral Arilaminas primárias e (poucas) secundárias Aromáticos com grupo metileno reativo que são capazes de enolizar Heterocíclicos, tais como pirol, indol e imidazol o-alquilfenóis, naftóis, os etiléteres dos fenóis e naftóis, N-acilaminas, acetilnaftilaminas 125 A. Isenmann CORANTES Até enóis alifáticos (!) podem acoplar. Exemplos são o acetoacetato, compostos com carbono alicíclico, entre outros presente no ácido ascórbico e na dimedona 36. Corantes nitro Os elétrons π dentro do grupo nitro são deslocalizados. As duas ligações N-O dentro do grupo -NO2 são equidistantes, então sua distância fica entre simples e dupla-ligação. Quando este grupo for ligado ao anel aromático, então resulta forte interação com os elétrons π do sistema de Hückel. Em consequência os compostos nitro aromáticos têm curta distância entre HOMO e LUMO, e muitos deles absorvem a luz na gama do visível. Os corantes assim formados são invariavelmente corantes ácidos. OH O OH O 2N NO2 NO 2 N Ar O NO2 Ar N O O O HO O N Ar NO2 NO2 Fig. 83. Ácido pícrico (CI 10305) e Amarelo Martius (Acid Yellow 24; CI 10315), exemplos de corantes nitro (diferentes representações do grupo nitro e fórmula geral destes corantes). Ftalocianinas O grupo dos corantes ftalocianinas, por sua vez mais novo dentro dos corantes, é relativamente pequeno. Eles têm um amplo sistema anelado , são N-heterocíclicos e seguram no seu centro um íon metálico, formando um complexo quelato tetradentado. X SO3- X - N N N N N N N N Cu N N Cu Cu O 3S N N SO3- X -O S 3 X X= CH2 S NHR2 R = alquila ou arila a NH2 NR2 N H b N H 2 c Fig. 84. Exemplos para corantes ftalocianinas: a) Alcian Blue 8GX (Ingrain Blue 1; CI 74240). b) Azul Durazol 8G. c) Luxol Fast Blue MBS (Solvent Blue 38; CI 74180). 36 Essas estruturas, como também sua síntese e sua reatividade química, são descritos no livro “Princípios da Síntese Orgânica”, disponível no site : http://www.timoteo.cefetmg.br/site/sobre/cursos/quimica/repositorio/livros/sintese/ 126 A. Isenmann CORANTES Quinoniminas (azinas) Corantes de quinonimina têm a unidade de para-quinona-di-imina - um composto que em si não existe, mas deu o nome para essa classe de corantes. Existem 5 subgrupos dentre as quinoniminas: indaminas, indofenóis, azinas, oxazinas e tiazinas. NH 2 HN HN N S O NH2 Indamina NH OH Indofenol H N O NH NH NH N Tiazina N Oxazina N Azina Fig. 85. Quinonimina e seus subgrupos. Note que a indamina neste gráfico é representada por sua forma reduzida, na qual ainda aparece incolor. Somente ao ser oxidada, sob formação do sistema quinóide, ela aparece na sua forma colorida. N H2N N Me2N N H N NH2 NH2 Fig. 86. Exemplos de azinas: Neutral Red (Basic Red 5; CI 50040); Safranin O (Basic Red 2; CI 50240) OH Me2N O OH OH Me2N O OH OH Et2N N N COOH O OH N CONH2 CONH2 Fig. 87. Exemplos de oxazinas: Galocianina (Mordant Blue 10; CI 51030); Galamina azul (Mordant Blue 45; CI 51045); Celestina azul (Mordant Blue 14; CI 51050). 127 A. Isenmann CORANTES N Me2N S NMe2 Azul de metileno CI 52015 Me2N S NH2 Azul de Toluidina O CI 52040 N Me2N H2N S Tionina CI 52000 NH2 Me2N NH2 N N S Azur A CI 52005 Fig. 88. N N NHMe MeHN S Azur B CI 52010 S Azur C CI 52002 NH2 Os análogos do Azul de metileno, corante tiazina. Corante tiazol H 3C S S NMe2 N CH3 N Fig. 89. Fórmula geral dos tiazóis e um exemplo: o corante Tioflavina T (Basic Yellow 1; 49005). Corantes Xantenos (= Fluorenos = Rodaminas) Os corantes da família dos xantenos podem ser divididos em três subgrupos: Fluorenos, fluoronas e rodóis. A Fig. 90 somente representa os esqueletos que todos têm em comum – sem tomar conta das variações em grupos auxocrómicos. O O NH2 Xanteno (fórmula geral) Fluoreno Pironina H2N O NH2 HO O O COOH Rodamina B Fig. 90. O OH O O Rodol (f enolf taleína) Fluorona (Eosina; Fluoresceína) Corantes da família dos xantenos. 128 A. Isenmann CORANTES 4.2.1. Indicações de livros sobre as famílias de corantes e o processo de tingimento têxtil David G. Duff, Roy S. Sinclair. Giles's Laboratory Course in Dyeing, Fourth Edition (1989). ISBN 0 901956 49 X. (Bom livro para que quer começar colorir tecidos em escala artesanal.) John Shore (editor). Cellulosics Dyeing (1995). ISBN 0 901956 68 6. (Muitas informações úteis; contém também desenhos dos mecanismos das reações.) Alan Johnson (ed). The Theory of Coloration of Textiles, Second Edition (1989, 1995). ISBN 0-901956 48 1. (Informações bastante detalhadas, mas difícil de ler para iniciantes.) Victor B. Ivanov. Reactive Dyes in Biology. (original em russo, publicado em 1982; tradução para o inglês em 1987.) Harwood Academic Publishers. ISBN 3-71860235-0. David R. Waring, Geoffrey Hallas (editores): The Chemistry and Application of Dyes (1990). ISBN 0306432781. David M. Lewis. Wool Dyeing. Society of Dyers and Colourists 1992. (Altamente técnico e completo, este livro explica todos os aspectos de tingimento de lã de forma compreensível, para profissionais têxteis e estudantes de ciências avançadas.) Heinrich Zollinger. Color Chemistry: Synthesis, Properties, and Applications of Organic Dyes and Pigments. 3a Edição, Wiley VCH 2001 (Caro, mas vale a pena para químicos com interesses em corantes). James A. Kent (editor). Riegel's Handbook of Industrial Chemistry Springer Nova York 2003, pp. 880-962: Dye Application, Manufacture of Dye Intermediates and Dyes. Wilfred Ingamells. Colour for Textiles: A User´s Handbook, The Society of Dyers e Colourists, 1993, ISBN 0 901956 56 2. 4.3. Corantes de cuba - química e fabricação. Dentro dos corantes de cuba se destaca, sem dúvida alguma, o anil. Não só por ter a maior fatura anual de todos os corantes de cuba, mas também devido à sua história movida e seu grande significado para o desenvolvimento da indústria química do século XIX. Portanto, dedicamos um capítulo extra ao "rei dos corantes" (cap. 4.4). 4.3.1. Introdução Corantes de cuba 37 (inglês: vat dye; alemão: Küpenfarbstoffe), que incluem o anil (= índigo) e os corantes de antraquinona, são corantes quimicamente complexos, insolúveis em água. Eles devem primeiro ser reduzidos para a forma leuco, solúvel na água do tingimento e aplicável à fibra igualmente hidrofílica. O sistema redutor é quase que exclusivamente uma solução alcalina de hidrossulfito de sódio (= ditionita de sódio; Na2S2O4, ver Fig. 103), Este método pode ser aplicado com sucesso em todas as fibras de origem vegetal, principalmente ao algodão e no rayon. Depois da penetração completa da forma leuco no tecido, segue a etapa da oxidação no ar que fixa fortemente o corante sobre a fibra, resultando numa excelente resistência à lavagem e à luz. As tinturas de cuba foram uma das mais importantes invenções da tintura de têxteis no início do século XX. 37 Traduzido de Robert J. Baptista, The Chemistry and Manufacture of Vat Dyes (2009), disponível em http://www.colorantshistory.org/files/Vat_Dye_Chemistry_Manufacture_Express_PDF_version_web.pdf 129 A. Isenmann CORANTES Azul de Indantreno foi o primeiro corante de cuba da família da antraquinona, sintetizado por René Bohn (BASF, Alemanha, 1901). Usou as condições de reação que já eram estabelecidas para a síntese do índigo, a partir da 2-aminoanthraquinona, fundindo-a com potassa cáustica, para obter o corante. Em 1906, a Bayer introduziu o primeiro vermelho de cuba e já comercializou uma gama de cores sob a marca Algol. Os Estados Unidos importaram esses corantes de cuba da Alemanha, porque a produção nacional foi prejudicada pela proteção de patente alemã, a falta de suficiente antraceno (matéria-prima da antraquinona). Mas também por falta de experiência técnica dos químicos norte-americanos, e do grande investimento necessário para as operações com solventes orgânicos, equipamentos especializados e edifícios industriais a provas de explosão. A qímica dos vat-dyes norte-americanos desencadeou em 1917, quando os químicos do governo em Washington, DC desenvolveram um processo para a fabricação da antraquinona a partir do prontamente disponível naftaleno e benzeno, extraídos em grande quantidade do alcatrão de hulha. Em fase de vapor o antraceno foi oxidado para o anidrido ftálico, o qual foi condensado com benzeno para formar o 2-benzoíla-ácido benzóico (reação de Friedel-Crafts), seguido pelo fecho do anel com ácido sulfúrico para se obter a antraquinona. O [O], catalisador O O [H2SO4] Acilação de Friedel-Craf ts COOH O O H2SO4 O Fig. 91. Rota americana para a antraquinona A sulfonação da antraquinona leva ao 2-ácido sulfônico da antraquinona, conhecido de "sal prateado" por causa do brilho prateado dos seus cristais. A reação do sal prateado com amônia em autoclave a 200 ºC e pressões de até 1.000 psi leva à 2-amino antraquinona, componente versátil que se encontra em vários corantes de cuba. A utilização de tolueno em vez de benzeno leva à 2-metilantraquinona, material de partida para corantes de cuba alaranjados. Muito mais importante, porém, é a 1-amino antraquinona. Ela é feita a partir da antraquinona via sulfonação, catalisada por mercúrio. O produto intermediário, o ácido 1-sulfônico da antraquinona (conhecido como "sal de diamante"), é submetido à aminação catalisada por arsênico. O "sal de diamante" faz parte em corantes de tons verdes olivas, marrons, cinzas, entre outro. Notamos que a maioria das sínteses de corantes de cuba envolve múltiplas etapas e vários procedimentos de purificação, secagem e acabamento. 130 A. Isenmann CORANTES Em 1919, a DuPont realizou a primeira produção comercial bem sucedida nos Estados Unidos, de tinturas de cuba à base da antraquinona. Já um ano mais tarde era disponível uma gama de cores comercializados pela DuPont sob o nome Ponsol. Em 1927, a Nacional Aniline & Chemical Company, uma subsidiária da Allied Chemical & Dye Corporation, entrou no mercado com corantes de cuba Carbantreno. A General Aniline and Film Corporation Divisão Química Calco da American Cyanamid logo seguiram com os seus próprios sortimentos de corantes de cuba. Em 1928 a produção de tinturas de cuba, fora do índigo, cresceu para 2.900 toneladas, o que representa quase 7% da produção total de corantes nos EUA. Na década de 1950 os fabricantes americanos estavam produzindo o espectro completo de cores do tipo tintura de cuba, ou em forma de pasta ou em pó , como mostrado na Tabela 1. (Referências 2 a 6, na p. 138): Tab. 22. Corantes de cuba comuns, indicados por seu nome sistemático do Colour Index (CI). Nome do Colour Index (CI) Vat Yellow 2 Vat Yellow 4 Vat Orange 1 Vat Orange 9 Vat Orange 15 Vat Orange 2 Vat Orange 3 Vat Blue 5 Vat Blue 14 Vat Blue 20 Vat Blue 6 Vat Blue 18 Vat Green 1 Vat Green 2 Vat Brown 3 Vat Brown 1 Vat Red 1 Vat Red 10 Vat Red 13 Vat Violet 9 Vat Violet 1 Vat Violet 13 Vat Green 8 Vat Black 27 Vat Green 3 Vat Black 25 Vat Black 34 Número dos Chemical Abstracts 129-09-9 128-66-5 1324-11-4 128-70-1 2379-78-4 1324-35-2 4378-61-4 2475-21-2 1324-27-2 116-71-2 130-20-1 1324-54-5 128-58-5 25704-81-8 131-92-0 2475-33-4 2379-74-0 2379-79-5 4203-77-4 1324-17-0 1324-55-6 4424-87-7 14999-97-4 2379-81-9 3271-76-9 4395-53-3 12271-03-3 4.3.2. Fabricação de corantes de cuba mais usados Antes de entrar em detalhe, já vamos deixar claro que a síntese dos corantes de cuba é uma das mais exigentes de todos os corantes, em termos de etapas operacionais, ou seja, o rendimento sobre toda a linha de fabricação é baixo. Também os processos de tintura na cuba sempre são acarretam uma série de efluentes nocivos ao meio-ambiente. Portanto, e com exceção do anil, a tendência atual é reduzir os processos que envolvem corantes de cuba. 131 A. Isenmann CORANTES 1) Pardo de cuba O O O HN O Fig. 92. NH O O CI Vat Brown 1 CAS 2475-33-4 Um grande volume de tinturas de cuba se tornou padrão (= "commodity" = produto industrializado disponível em qualquer quantidade) de vários fornecedores. Os conhecimentos sobre as sínteses estavam livremente disponíveis após a Segunda Guerra Mundial, quando os governos britânico e norte-americano publicaram seus relatórios BIOS e Fiat, respectivamente, que as inteligências pegaram dos fabricantes alemães, principalmente da IG Farben (ver cap. 2.18). Os detalhados relatos continham dados sobre os processos e os equipamentos, os mais desenvolvidos na época e baseados na engenharia química mais avançada do mundo. O corante de cuba CI Vat Brown 1, um derivado da antraquinona com carbazol, é um exemplo representativo da complexidade dos corantes de cuba que eram conhecidos na época da guerra. O processo descrito abaixo vêm da Ciba que fez seu Cibanone castanho BR na sua fábrica de Toms River, Nova Jersey, e publicou detalhes do processo em 1954 (Ref. 7). Dois intermediários diferentes são preparados em primeiro lugar e, em seguida, feitos reagir em conjunto para formar o corante. Sendo assim, o processo é exemplo para uma síntese convergente. As etapas desta são apresentadas a seguir (Fig. 93): 132 A. Isenmann CORANTES OH O O O+ O Cl H2SO4 O O H2SO4 O OH O NH3 OH O KCl O NH SO3- K+ O O Cl NH O O AlCl3 O O NH2 1 : 2 O O NH2 Cl2 O SO3H Brown BR O O Fig. 93. Síntese do pardo Vat Bown BR (CI Vat Brown 1) O anidrido ftálico e p-clorofenol reagem, na presença de ácido sulfúrico, formando quinazirina. A quinizarina é aminada para dar 1,4-diaminoantraquinona. A conversão da antraquinona para o ácido 1-sulfônico da antraquinona precisa do catalisador sulfato de mercúrico, para aumentar a seletividade da sulfonação em posição 1 no anel da antraquinona. A cloração, no entanto, leva à 1-cloroantraquinona sem grandes dificuldades. A fase seguinte é a condensação dos dois compostos intermediários, na presença de um catalisador de cobre, para formar a triantrimida do pardo BR (= 1,4-(diantraquinoilamino)antraquinona). Fechar as útimas partes abertas para anéis de cabazol, isso pode ser feito em piridina na presença de cloreto de alumínio. O processo de sete etapas do pardo BR tem um 133 A. Isenmann CORANTES rendimento global estimado de apenas 19%. Baixos rendimentos químicos e o uso de matérias-primas e solventes perigosos faz com que tinturas de cuba se tornem a classe mais poluente de todos os corantes fabricados. Nem falar dos perigos e altíssimos padrões de segurança que os operadores da fábrica têm que seguir. 2) Corante de cuba Amarelo 2 A primeira etapa na fabricação deste corante é a preparação da intermediária 2,6-diaminoantraquinona. A etapa da condensação da 2,6-diaminoantraquinona com benzotricloreto (= triclorometilbenzeno) e enxofre é feita no solvente naftaleno, enquanto CuCl serve como catalisador. O naftaleno é recuperado por arraste a vapor, no equipamento "secador Venuleth" (Ref. 8-10). N S O Fig. 94. CI Vat Yellow 2; CAS 129-09-9. O S 3) Corante de cuba amarelo 4 N O O Fig. 95. CI Vat Yellow 4; CAS 128-66-5 Este corante é um representante da classe dibenzopirenoquinona. Ele é preparado a partir de 1,5-dibenzoilnaftaleno, que por sua vez é feito por acilação de Friedel-Crafts (= benzoilação) do naftaleno. O 1,5-dibenzoilnaftaleno é recristalizado em monoclorobenzeno e então fundido junto com cloreto de alumínio (anidro) para formar o Vat Yellow 4. A solução do corante pode ser ainda purificada e branqueada com hipocloreto de sódio, para dar um tom mais brilhante (Ref. 11). 4) Corante de cuba Alaranjado 1 134 A. Isenmann CORANTES O Br Br O Fig. 96. CI Vat Orange 1; CAS 1324-11-4 Este corante foi feito por bromação do Vat Yellow 4 em cloreto de alumínio fundido (Ref. 12). 5) Corante de cuba Alaranjado 15 O O HN O NH Fig. 97. O N H O O CI Vat Orange 15; CAS 128-70-1 O corante de cuba CI Vat Orange 15 é um membro da classe do antrimidocarbazol; sua síntese é a condensação dos intermediários 1-amino-5-benzoilaminoantraquinona e 1benzoilamino-5-cloroantraquinona, seguida por fecho do anel. A síntese funcionou sob catálise de mercúrio metal (Referências 13-17). 6) Corante de cuba Azul 20 O Fig. 98. O CI Vat Blue 20; CAS 116-71-2 (Dibenzantrona ou Violantrona) 135 A. Isenmann CORANTES O primeiro passo é a preparação da benzantrona (ver Fig. 99), através da reação de antraquinona com glicerol na presença de ferro, que no caso tem o papel de redutor: H2C O H OH + HO OH CH 2 [Fe] O Fig. 99. CHO O O Síntese de Benzantrona A benzantrona em seguida é convertida para dibenzantrona, também conhecida como violantrona, por fusão alcalino (Ref. 18-19). 7) Corante Verde de cuba 1 O Fig. 100. O H3CO OCH 3 CI Vat Green 1; CAS 128-58-5 (Verde Jade), ver também Fig. 37. O tratamento de benzantrona com potassa cáustica alcoólica rende o intermediário 2,2'dibenzantronil (Ref. 20). O 2,2'-dibenzantronil pode ser oxidado com dióxido de manganês, para formar dihidroxi-dibenzantrona. A última etapa envolve a metilação da dihidroxidibenzantrona (Ref. 21). 4.3.3. Fluxos de resíduos da fábrica dos corantes de cuba A síntese de corantes sintéticos em larga escala requer, além de uma série de reações químicas para formar o corante, procedimentos posteriores de acabamento para produzir um pó seco (hoje feito no secador por atomização) ou uma pasta grossa. Além disso, reagentes não convertidos e solventes devem ser recuperados e reaproveitados nas etapas da síntese. A maioria dos clientes prefere a pasta, por ser de manuseio mais fácil. Cada etapa operacional, quer de transformação química ou apenas física, pode gerar efluentes do processo, emissões aéreas ou, no caso mais fácil, resíduos sólidos. Os corantes de cuba tipo antraquinona exigem mais etapas de síntese do que os corantes ácidos, básicos, diretos, dispersos, mas geralmente menos esforços químicos do que os corantes reativos. As reações em múltiplas etapas aumentam o consumo de matérias-primas, o que deixa os corantes de cuba ser uma classe com elevada taxa de matérias-primas em relação ao produto acabado, em comparação com as outras classes de corantes. Esta relação é relatada como 4,8:1 para a produção de corantes cuba de empresas alemãs e como 5,5:1 por Ciba em Toms River, New Jersey, em 1954 (Ref. 23). A alta taxa de matéria-prima por corante faz as tinturas de cuba o principal gerador de águas residuais e de resíduos perigosos, em relação a outras classes de corantes. Águas residuais da fabricação de corantes de cuba é da ordem de 8000 litros por kg 136 A. Isenmann CORANTES de produto, em comparação a um máximo de 700 litros por kg, para as outras classes de corantes (Ref. 24). As perdas de matéria mais significativas na produção do corante se devem às reações químicas incompletas. O rendimento das várias etapas reacionais apresentadas acima varia 39-98%, com uma média de somente 79% do valor teórico. Alguns dos corantes de cuba exigem cinco ou mais etapas sintéticas. O rendimento global de um processo de cinco etapas consecutivos, por exemplo, cai para (0,795) = 31% do valor teórico. No entanto, a queda em rendimento é menor em sínteses convergentes, isto é, quando a síntese contiver etapas paralelas em vez de etapas consecutivas - o que é o caso no Pardo 1 (Fig. 93). A maior parte das matérias-primas utilizadas na fabricação de corantes de cuba é perigosa, uma vez que inflamável, corrosiva ou tóxica. A baixa produtividade significa grande quantidade de substâncias perigosas nas águas residuais e em forma de resíduos sólidos, tais como o fundo da destilação de solventes e as lamas de filtração da clarificação. O efluente da fábrica do corante de cuba ainda contém matérias-primas que não reagiram e produtos paralelos que são solúveis; além destes, contém sais inorgânicos formados pela neutralização. Os catalisadores de metais pesados e reagentes utilizados nas principais etapas intermediárias, tais como mercúrio, arsênio, cobre e cromo, são encontrados principalmente em águas residuais na forma de sais solúveis e podem contaminar o solo e as águas subterrâneas - se inadequadamente tratados ou eliminados. Os corantes das classes ácido, básico, direto, disperso e reativo, geralmente são feitos no meio aquoso. Os corantes de cuba, no entanto, requerem solventes orgânicos, muitos destes de ponto de ebulição elevado (por vez > 200 °C) em muitas das sua etapas intermediárias. Os solventes mais comuns são: • o nitrobenzeno, • o naftaleno e • os solventes clorados clorobenzeno, 1, 2-diclorobenzeno e 1, 2, 4-triclorobenzeno (Ref. 25). Todos estes solventes são produtos químicos perigosos, com potencial de contaminação ambiental grave. Na indústria de corantes de cuba os solventes podem ser recuperados através do recolhimento do licor-mãe do passo de filtração, em um balão de destilação equipado com um condensador e receptor. No entanto, é mais comum usar um secador rotativo do tipo Venuleth. Este é um secador que trabalha a vácuo, com pratos num sistema rotativo horizontal, utilizado para se obter um pó seco a partir de soluções ou bolo molhado que permite ao mesmo tempo recuperar o solvente. O vapor é fornecido por meio de revestimento exterior e através de um eixo oco, dentro da unidade de pás. 137 A. Isenmann CORANTES Fig. 101. Secadores rotatórios a vácuo, com recuperação do solvente. Fontes: http://www.aaronequipment.com/usedequipment/dryers-drying-equipment/rotary-vacuumdryers e http://www.foodonline.com/doc/Turbo-Dryer-Assists-In-Achieving-Specified-Pr0001. Recuperação de solventes gera borras de destilação que devem ser removidas do equipamento frequentemente, a fim de facilitar a transferência de calor. O resíduo de alcatrão é raspado do interior do equipamento e normalmente embalado em tambores que vão à deponia. Porém, são listados como resíduos perigosos dentro da lei RCRA (Resource Conservation and Recovery Act de 1976). A incineração, ou seja, queimar a temperaturas acima de 1000 °C, é o caminho mais adequado de se liberar destes resíduos. A temperatura não deve ser menor que 800 °C, se não se corre o perigo de liberar dioxinas muito tóxicas - já que o lixo é repleto de compostos aromáticos e organoclorados. Operações de filtração também produzem resíduos sólidos quando os intermediários não podem ser purificados por recristalização em solventes. Nestes casos se adiciona terra de diatomáceas e carvão activado à solução para adsorver a matéria-prima que não reagiu e outras impurezas, para evitar o entupimento dos meios filtrantes. Também os sólidos da filtração de lamas (nas operações de clarificação) contêm os resíduos perigosos listados, incluindo produtos clorados e metais pesados. 4.3.4. Referências 1) Robert J. Baptista, Anthony S. Travis, “IG Farben in America: The Technologies of General Aniline and Film”, History and Technology, Vol. 22, No. 2, June 2006, pp. 196-197. 2) “Alphabetical List of American-Made Dyes”, 1952 Technical Manual and Year Book of the American Association of Textile Chemists and Colorists, Vol. 28, American Association of Textile Chemists and Colorists, Lowell, MA, 1952, p. 170. 3) “Alphabetical List of New Products”, American Dyestuff Reporter, December 7, 1953, p. 811. 4) “Alphabetical List of New Products”, American Dyestuff Reporter, December 1, 1958, p. 821. 138 A. Isenmann CORANTES 5) “Alphabetical List of New Products”, American Dyestuff Reporter, December 14, 1959, p.85. 6) “Alphabetical List of New Products”, American Dyestuff Reporter, December 6, 1954, p. 807. 7) Kevin J. Bradley, Phillip Kronowitt. “Anthraquinone Vat Dyes”, Industrial and Engineering Chemistry, Vol. 46, No. 6, June 1954. 8) J.C. Cain and J.F. Thorpe, The Synthetic Dyestuffs and Intermediate Products From Which They Are Derived, Charles Griffin & Co., London, 1946, p.35. 9) “Anthraquinone Dyestuffs and Intermediates”, BIOS Final Report No. 1484, British Intelligence Objectives Sub-Committee, London, 1946, p. 14. 10) “German Dyestuffs and Dyestuff Intermediates Including Manufacturing Processes, Plant Design, and Research Data”, FIAT Final Report No. 1313, Technical Industrial Intelligence Division, U.S. Department of Commerce, Washington, DC, 1948, pp. 61-63. 11) FIAT Report No. 1313, pp. 122-124 12) US Patent No. 1,901,307, 1933 13) FIAT Report No. 1313, pp. 54-55 14) BIOS Report No. 1484, pp. 4-5 15) FIAT Report No. 1313, pp. 36-37 16) FIAT Report No. 1313 pp. 34-35 17) FIAT Report No. 1313, p. 120 18) FIAT Report No. 1313, pp.31-33 19) US Patent No. 1,993,667, 1935 20) Cain and Thorpe, Synthetic Dyestuffs, p. 242 21) FIAT Report No.1313, pp. 85-87 22) Julia E. Godwin and David C. Bomberger, Wastes from Manufacture of Dyes and Pigments: Volume 4, Anthraquinone Dyes and Pigments, U.S. EPA, June 1984, p. 45 23) Godwin and Bomberger, Wastes from Manufacture of Dyes and Pigments, p. 46 24) Nicholas P. Cheremisinoff, Handbook of Pollution Prevention Practices, CRC Press, 2001, p. 238 25) Godwin and Bomberger, Wastes from Manufacture of Dyes and Pigments, p. 72 139 A. Isenmann CORANTES 4.4. "Anil" - Rei dos corantes Retrato-falado do anil (em inglês e alemão: Indigo) Massa molar M = 262,26 g.mol-1; temperatura de fusão Tfus = 390 a 392 °C; sublimação a partir de 170 °C formando prismas avermelhados; em etanol se acha um máximo de absorção a 606 nm, com alto coeficiente de extinção (lg εmax = 4,23). No entanto, o anil é praticamente insolúvel em água, etanol e dietiléter, até mesmo em ácidos diluídos. Somente em ácido sulfúrico concentrado se dissolve sob formação do ácido 5,5´-dissulfônico ("indigocarmin"), uma solução de aparência verde a frio e azul a quente. Antigamente este derivado era usado como corante para lã e seda, porém mostrou insuficiências em estabilidade ao ser exposto à luz UV e se perdeu durante repetitivos processos de lavagem. Por muitos anos era usado também como corante em alimentos (ver Indigotina, na p. 255; formula Fig. 2 e Fig. 108). O H N 2 1 3 N H 7 4 6 5 O Índigo (= anil) Fig. 102. O anil - "Rei dos corantes". A contagem das posições no outro anel é 1´, 2´,... O alto ponto de fusão e também a má solubilidade se explicam com a formação de pontes de hidrogênio. Em forma cristalina cada molécula é intimamente ligada a quatro outras moléculas - um arranjo extraordinariamente estável. É relativamente fácil reduzir o anil. Para este fim se usam tetrationato de sódio em ambiente alcalino (até hoje o redutor mais usado), hidroxiacetona (= acetol), zinco em pó, H2 e catalisador ou então uma redução bioquímica (método tradicional). O produto é a "forma leuco" do anil (ver Fig. 124), solúvel em álcali e levemente amarelada, que pode ser obtido em forma cristalina. Este, quando aplicado ao tecido de algodão, reoxida-se em questão de poucas horas ao anil (fortemente azul). Devido à sua insolubilidade nos solventes domésticos comuns e a facilidade de cristalizar, o anil permanece como partícula sólida no tecido, sem estabelecer fortes ligações químicas com a fibra. Isso é o princípio da coloração de cuba. - O O S S - O O Ditionita Fig. 103. As S S S As S As S As S As2S3 (auripigmento) O HO Hidroxiacetona Potenciais redutores do anil: ditionita, auripigmento e hidroxiacetona. Podemos classificar o anil como corante de carbonila. Nesta classe se contam todas as moléculas coloridas que dispõem pelo menos dois grupos carbonilas conectados por um sistema de duplas ligações conjugadas. Também fazem parte desta classe de corantes, as antraquinonas (ver Fig. 122). 140 A. Isenmann CORANTES A larga aceitação do anil se deve a uma razoável durabilidade no tecido, quer na exposição à luz quer na lavagem. No entanto, conhecemos hoje corantes de cuba modernos que superam as qualidades do anil em qualquer sentido. Em cima da lã de ouvelha, no entanto, o anil até hoje é um dos melhores corantes azuis. Nota-se que durante a exposição prolongada à luz UV o anil perde sua cor (diminuindo o coeficiente de extinção), mas ao contrário de muitos outros corantes orgânicos azuis os produtos de degradação não aparecem com tons estranhos - o que certamente é uma vantagem para quem valoriza a moda colorida. Desde os tempos pré-históricos o homem aplica-se em colorir peles, depois têxteis e outros utensílios. Sempre se servia de corantes diretamente da natureza, quer de origem vegetal ou animal. Nos hieroglíficos do Velho Egito acham-se instruções gravadas como isolar os corantes naturais e também qual a maneira certa de aplicá-los. Mas por muito tempo faltava simplesmente o azul - enquanto as pessoas enxergaram muito azul no seu ambiente: o céu, a água, diversas flores e frutas. Embora admiraram este azul, especialmente o azul escuro e intenso, por exemplo, no lapis lázuli, uma pedra semi-preciosa e desde a antiguidade muito valorizada, não conseguiram imitar essa cor mágica. Alguns corantes não conseguiram isolar em quantidade e concentração suficiente, outros estragaram durante as tentativas, ainda outros conseguiram aplicar, mas duraram por muito pouco tempo. Embora a natureza providencie diversas fontes da cor azul, o corante responsável tinha que ser extraído e ativado, por meio de técnicas adequadas. Portanto, podemos afirmar que as técnicas da coloração azul são uns dos primeiros processos biotecnológicos aplicados pela história humana. Afinal, em quase todas as regiões do mundo (com exceção da Austrália e da parte sul da África menos a Madagascar) se conheciam técnicas de colorir azul. A fonte destes corantes foram plantas, das quais as duas mais importantes são apresentadas a seguir. Pastel do tintureiro Nas zonas de clima moderado cresce um cruzífero com nome latim de Isatis tinctoria, em português conhecido como pastel do tintureiro. A planta é bienal e chega numa altura de 1,20 m. Por muitos séculos esta planta foi usada com a finalidade de colorir tecidos principalmente da lã e do algodão. A planta contém nas folhas e no caule uma substância que desenvolve, após o tratamento adequado, um corante azul. Desde a idade do ferro essa planta foi largamente distribuída e cultivada na Europa ocidental. Sua aplicação é descrita por Julius Caesar em 54 a.c. no seu texto ´De bello Gallico´: "...Omnes vero se Britanni vitro inficiunt, quod caeruleum efficit colorem, atque hoc horribiliores sunt in pugna aspectum...." (Todos os Britanos pintam-se com pastel, o que lhes dá uma cor azulada, e os torna de horrível aspecto na luta). No entanto, a falha dos romanos na ilha britânica não deve ser atribuída unicamente neste detalhe... 141 A. Isenmann Fig. 104. CORANTES Isatis tinctoria, principalmente cultivada na Europa. Como as outras plantas colorantes também, o pastel se evoluiu ao longo dos séculos: desde a tintura caseira dos camponeses, ao cultivo em jardins de fazendas e mosteiros, até ao cultivo planejado e organizado em grande escala. A produção comercial do pastel teve seu auge na Europa no século XIII, as regiões mais fortes foram a Alsácia e Turínga, hoje França e Alemanha, respectivamente. O teor em corante nesta planta varia bastante, de acordo com o tipo de solo e do clima onde cresceu. Os camponeses foram responsáveis pelo plantio e a coleta, mas também para a moagem da folhagem para chegar num mingau que foi levado à fermentação. Por duas semanas essa massa tinha que ser virada várias vezes, para depois ser formada em bolas de pastel, do tamanho de uma bola de futebol, e deixar secando ao ar. Pela lei, a continuação do processo era proibida aos camponeses; as bolas eram enviadas para os tintureiros. Os tintureiros desmancharam as bolas do pastel e a massa era umedecida com água e urina, para ser submetida a uma segunda fase de fermentação. Esta etapa precisava seguir uma legislação rigorosa, pelo mau cheiro que envolveu. Sob multas pesadas era proibido executar em dias de feriado. O produto desta fermentação era então transportado, por via terrestre e em barris de carvalho, aos tecelões consumidores. Em resumo, o pastel era de longe o mais importante corante na Europa da idade média. Por exemplo, o imperador Carlos Magno deu ordem já no século VIII que todas suas granjas tinham que ter áreas reservadas para o plântio do pastel. Indigofera tinctoria Nas regiões trópicais e subtrópicais cresce uma planta da família da vagem, a Indigofera tinctoria ou curto índigo, que se mostra muito superior ao pastel, quer no rendimento quer na qualidade da coloração azul. Os rastros desta técnica podem ser seguidos até no 3o milênio a.c., principalmente no sul da China e na Índia. Igualmente conhecida foi a arte da coloração no Antigo Egito. Foram descobertas múmias em túmulos, embrulhadas com faixas de pano azulado. A partir do 1o século a.c. o índigo foi utilizado também na medicina, devido seu efeito adstringente. Sendo assim, servia no tratamento externo de inflamações, tumores e feridas abertas. Mas devido às restrições legais que regulavam o comércio com o oriente, esta planta de cultura e seus produtos ficaram praticamente desconhecidos na Europa da 142 A. Isenmann CORANTES antiguidade e da idade média. Os raros casos de importação foram documentados somente na Itália, onde o índigo servia como cor de pintores, de altíssimo custo. As primeiras indicações documentadas do anil vêm do comerciante veneziano, Marco Polo (1254 - 1324), que trouxe por volta de 1300 o corante das suas viagens extensas. Em seus diários ele descreve a extração do corante no reinado de Kulam, na costa oeste da Índia, também menciona Gujarat e Cambai no noroeste da Índia sendo centros da produção do anil. Outros pólos de produção do anil se encontraram na Ásia sudeste, especialmente na ilha Java (onde tem produção até hoje), Indonésia e no Vietnam. A disseminação pelos negociantes europeus levou a anileira bem mais tarde também às Antelas e para o continente americano, onde em seguida foi cultivada em grande estilo. Fig. 105. Indigofera tinctoria: coleta e procedimento manual da extração, até hoje executadas na ilha Java. A planta cortada da anileira é fermentada numa lixívia de água e diversos aditivos, a 35 °C. Após 18 horas as partes sólidas são separadas e o líquido é batido numa outra bacia com varas ou ripas, por algumas horas. O oxigênio introduzido por este procedimento, oxida o indoxil (solúvel), ao índigo (insolúvel; depósito em flocos azuis). Ao mesmo tempo, o gás carbônico formado através da fermentação é expulso. Depois de algumas horas de repouso os flocos do anil são recolhidos do fundo do tanque, secados e prensados em pedaços, prontos para o comércio. Desta planta se consegue em torno de 30 vezes mais corante do que da Isatis que era cultivada na Europa central. Além destas duas plantas do índigo, ainda se conhece a Polygonum tinctorium, principalmente cultivada na ilha Shikoku, Japão e na China. 4.4.1. Duas plantas diferentes - um corante em comum O que se nota nas imagens das plantas acima: nenhuma mostra partes azuis. E mais: não se aproveita das flores, mas o anil se esconde nas folhas e no caule, no caso da anileira numa concentração de 0,2 a 0,8%. O aspecto químico interessante vem dos conhecimentos estruturais que temos hoje: as duas plantas, o pastel e a anileira, contêm o mesmo corante, o indoxil, fixado em forma de um glicosídeo incolor: 143 A. Isenmann CORANTES H H N N CH2OH Indicano (indigofera tictoria) OO OH O Isatano B (isatis tictoria) O C OH O HO OH OH CH2OH OH Fermentação O N Indoxil Fig. 106. H Fixação do precursor do corante nas plantas de cultivo, pastel e anileira. Como se vê na Fig. 106, o indoxil é fixado em uma molécula de glicose, no caso do indicano em forma de acetal e no isatano em forma de éster. Essas ligações têm que ser quebradas - o que pode ser feito pelo processo de fermentação, também conhecido como "maceração". No caso do pastel isso foi feito sob adição de urina, em tonéis típicos (cubas). Daí se formou a expressão "corante de cuba" (em inglês: vat dye). Ao se encharcar o tecido nesta solução quase incolor, ainda não dá para prever o efeito final. Somente depois de deixar aberto no sol por algumas horas a cor azul se revela. O O H N O2 2 N H Indoxil Fig. 107. N H O Índigo Acoplamento oxidativo do indoxil (quase incolor) para o corante anil. É claro que os antigos tintureiros não tinham conhecimentos de oxidação e redução. Até mesmo a fórmula e os grupos funcionais (= grupos cromóforos) do anil eram desconhecidos, até 150 anos atrás. Os ingredientes foram segredos bem guardados, e a corporação estabeleceu e padronizou detalhadamente o procedimento. Mesmo assim, o alcance de um padrão na coloração era uma arte - às vezes pura sorte. Por que ambos os extratos vegetais contêm naturalmente isômeros do anil, a dizer a indigotina (= isômero cis) e o indigorubi, ambos de cores estranhos. A composição exata variou bastante e isso exigiu bastante experiência do tintureiro, ao lidar com este corante. Raramente se obteve a mesma intensidade e tonalidade da cor ao seguir uma receita fixa. 144 A. Isenmann CORANTES O O N O N H H Indigotina Fig. 108. N H O N H Indirubi (vermelho) Impurezas contidas no anil de origem vegetal. A queda do pastel Depois da descoberta da rota naval para a Índia (Vasco da Gama, em 1498) o índigo asiático rapidamente entrou nos mercados europeus. Os portugueses que trouxeram este corante o chamaram de "anil", o que provavelmente vem do indiano antigo "nilah" = azul escuro. Nos primeiros anos o uso do novo corante foi afetado por grandes dificuldades que levou à falta de aceitação entre os tintureiros. Para a transformação do corante na sua forma solúvel, também chamada de forma leuco (= anil reduzido, iônico, solúvel, amarelo-pálido), os tintureiros europeus usaram sulfeto de arsênio 38. Este redutor brando formou um precipitado preto ao ser tratado com ferro. Naturalmente, o trabalho com este sulfeto acarretou grandes riscos de saúde para os tintureiros. Além disso, tinha efeito cáustico em cima da fibra - o que rapidamente levou à má reputação do novo anil, como "corante corrosivo". Mais tarde usava-se uma cuba de sulfato ferroso (FeSO4, "vitriol"), que junto à cal levou igualmente à redução do anil. Porém, o vitriol deixou a fibra rígida e quebradiça, então causou uma danificação inaceitável do tecido. Por estes motivos, mas também a fim de proteger os produtores domésticos do pastel, na Europa ocidental este "corante diabólico" foi então proibido: em parte da Alemanha via proclamação imperial em 1577, já na França em 1558, até sob pena de morte! Unicamente na Inglaterra, onde o cultivo do pastel não era extenso, o anil não sofreu tanta rejeição. Embora tantas restrições, continuavam-se experimentos com o anil asiático. Frequentemente os tintureiros usaram uma cuba de pastel mantendo o procedimento típico, mas substituíram a maior parte do pastel pelo novo anil. Logo vieram novos ingredientes na cuba de fermentação, por exemplo, a cuba de potassa (KOH) ou de soda (NaOH), que substituíram em grande parte a antiga cuba de urina. Mas vale salientar que o método tradicional tinha suas vantagens, também. Especialmente ao colorir a lã, a cuba de urina mostrou-se especialmente branda. Devido à alta sensibilidade da lã frente a valores de pH extremos, a urina que é praticamente neutra, se manteve especialmente na coloração caseira e artesanal, até no século XX. Cada vez mais os tintureiros souberam lidar com o anil asiático, e o pastel perdeu em importância. Na Índia os portugueses foram deslocados pelos holandeses e com a fundação da "Companhia comercial indo-oriental" no ano 1602 as importações do anil da Índia e Indonésia para a Europa aumentaram muito. Anos depois os espanhóis levaram mudas do anil nas suas extensas viagens navais, para as terras colonizadas da América Central e do Sul. O anil foi plantado em grande estilo, em fazendas extensas que somente funcionaram com novos escravos da África e condições de trabalho que já conhecemos dos livros de história. A própria França promoveu novas plantas de anil em São Domingo, por sua vez colônia 38 Sulfeto de arsênio, As4S6, é um redutor moderado. Em outras ocasiões também era usado como pigmento amarelo, na idade média também como agente reativo na coloração preta. 145 A. Isenmann CORANTES francesa mais importante na Caribe, e os ingleses fundaram suas primeiras culturas de anil por volta de 1700 na Carolina. Embora o cultivo do pastel tintureiro ainda era bastante espalhado na Europa e seus produtores lutaram para sua continuidade, a queda econômica desta planta era inevitável. Especialmente com a eclosão da Guerra de 30 anos, em 1618, os campos do pastel foram cada vez reduzidos, seja por falta de mão-de-obra, seja por necessidade de produzir alimentos. E nesta lacuna entrou agora o anil da Ásia que, afinal, era de qualidade superior e, devido seu alto rendimento, bem mais barato. A Inglaterra perdeu suas colônias na América do Norte em 1783. Então focou a exploração do índigo na Bengala, Índia. E depois da revolta dos mulatos e negros em São Domingo (1795) a Grã-Bretanha até chegou à posição de monopólio mundial no comércio do anil. A resposta da França foi, por meio do imperador Napoleão 1o, uma lei que subsidiou o cultivo do pastel, ao mesmo tempo colocou altos impostos de importação para o anil inglês. Em 1810 ele até expôs um prêmio de 425.000 Francos para quem trazer melhoras no processo tintureiro de pastel ou para quem achar uma planta substituta de fácil cultivo. Já um ano depois, em função de essa chamada não ter sucesso, na França inteira foi ordenado por lei o plântio do pastel. Mas todos esses incentivos não levaram à sobrevivência do pastel - já que o império de Napoleão não durou muito. Durante o século XIX a produção do anil alcançou um aumento de mais de 100%, principalmente devido às melhoras no método de cultivo na Índia Britânica. Aproximadamente 75% da produção mundial veio desta região. Outros países de exportação foram a Java, Ceylon, Guatemala, São Salvador, Nicarágua, México e Venezuela. E como todas as monoculturas, as grandes plantas do anil foram frequentemente objetos de ataque de pragas que reduziram ou até estragaram toda a safra. Um avanço considerável no processamento trouxe a descoberta de um novo agente de cuba por P. Schützenberger 39 em 1873. Ele experimentou com ácido hidrossulfídrico e seu sal, a ditionita (= hidrossulfito), S2O42-. Este redutor relativamente forte desencadeou uma pequena revolução nas fábricas de tintura. Agora era possível solubilizar o corante, de maneira rápida e segura (mais rápido ainda foi a dissolução do anil sintético, anos depois). Em apenas 60 minutos a frio ou 30 minutos à quente a redução pude ser levada ao éxito. Em 1897 a produção do anil vegetal chegou em 9 milhões de quilogramas; somente na Índia a área cultivada era de 650.000 hectares e Calcuta foi o centro comercial para o anil. As melhores variedades (da ilha Java) continham o corante numa pureza de até 90%, enquanto as inferiores mal saíram dos 20%. O valor do corante foi considerável, assim é claro que se 39 Paul Schützenberger (23/12/1829 - 16/06/1897) Em 1849 fez o bacharelado sob a orientação de L. Pasteur. Trabalhou como assistente no laboratório de Caillot, depois no Conservatoire de Arts et Métiers em Paris. A partir de 1854 trabalhou como professor na escola profissionalizante de Mulhouse. Em paralelo ele continuou seus estudos de medicina e promoveu em 1855 como Dr. med. Já em 1863 ele fez outro doutorado na Sorbonne, como Dr. Chim. e se tornou assistente no Collège de France em Paris. Em 1868 ele foi eleito na diretoria da École pratique des hautes da Sorbonne. Como professor ele se especializou em 1867 em química mineralógica no Collège de France e em 1882 assumiu a cadeira de diretor na Ecole municipale de physique e chimie em Paris. O mérito de Schützenberger se estende, tanto na área da química orgânica como inorgânica. Ele isolou os corantes da raiz da ruiva dos tintureiros e mostrou que apenas a alizarina e a purpurina serviam como corantes para fibras têxteis. Em 1865 ele produziu pela primeira vez o acetato da celulose - material de partida até hoje para seda artificial. Em 1869 conseguiu isolar e caracterizar a ditionita de sódio. Usou o anil como indicador para a determinação da sua concentração, já que este corante foi rapidamente descolorido pela ditionita. Enfim, foi também ele que propôs o uso deste redutor, no processo industrial da tintura com anil. Durante trabalhos sobre a platina, seus compostos e ligas, achou que os compostos CO, NH3 e PCl3 podem ser acoplados em substâncias orgânicas. Em 1875 começou a estudar reações catalisadas por leveduras, o que foi estendido mais tarde aos estudos de carboidratos. Além disso, contribuiu na área dos carbetos metálicos e no isolamento dos íons das terras raras. 146 A. Isenmann CORANTES tentaram fraudes ao misturar com amido, azul da prússia, fuligem, resina e até recortes moídos de seda e lã coloridos. Só que a era do anil vegetal ia achar um fim súbito - com o advento da química tecnológica e os corantes sintéticos a base do alcatrão. 4.4.2. Descoberta da estrutura química e síntese do anil Somente aos poucos os cientistas químicos se esforçaram a revelar os segredos do anil. A operação mais simples de purificar uma substância orgânica é sua evaporação e recondensação, no processo da destilação. Em 1826 o farmacêutico O. Unverdorben 40 aplicou este processo ao anil. O resultado foi um desastre: o corante se decompôs, e Unverdorben denominou a parte volátil desta pirólise de “anilina”. Enfim, uma descoberta ocasional de uma das substâncias mais elementares da química orgânica. Novos ramos da química sintética surgiram, e até hoje algumas empresas mantêm a palavra "anilina" no seu nome: Badische Anilin und Soda Fabrik (BASF) ou Aktiengesellschaft für Anilinfabrikation (= empresa de produção de anilina; breve Agfa). O H N NH2 pirólise N H O Anil Fig. 109. Anilina Descoberta da anilina Em 1841 se conseguiu o ácido antranílico(= o-amino ácido benzóico) a partir do anil, aplicando a degradação sob condições mais brandas. Outros métodos levaram ao indol e e à isatina (Fig. 110). Já os nomes revelam o parentesco com o corante natural. Embora em quantidades diferentes, foram obtidos os mesmos produtos de decomposição, tanto a partir do pastel como da anileira, sendo esses os primeiros indicativos que o corante contido nas duas plantas poderia ser idêntico. H N O Indol (Indigofera tictoria) H N N H O Anil H N O Isatina (Isatis tictoria) O 40 Otto Unverdorben (13/10/1806 - 28/11/1873) Trabalhou como químico em Dresden, Leipzig e Halle. Sua dedicação principal foi a destilação a seco de diversas substâncias orgânicas. Já em 1829 herdou um mercearia e em seguida parou suas atividades científicas. 147 A. Isenmann Fig. 110. CORANTES Produtos de decomposição do anil vegetal. Em 1865 o grande cientista A. von Baeyer 41 iniciou seus trabalhos visando a revelação da estrutura do anil, ao mesmo tempo procurando por rotas de síntese. Suas primeiras experiências ele já fez como menino, na idade de 13 anos, quando comprou um pedaço do corante e nele fez reações segundo o livro-padrão de síntese de Wöhler. Para o éxito de seus estudos ele ia gastar 15 anos! Fig. 111. Adolf von Baeyer (1835 - 1917) O primeiro sucesso de von Baeyer foi em 1866, quando submeteu o anil a uma destilação com zinco em pó. O produto ele identificou como indol (ver Fig. 110). Em 1870 ele conseguiu o primeiro anil sintético, a partir da isatina: primeiro fez uma cloração, seguido por uma redução. Só que este material de partida, a isatina, ele tinha obtido a partir do próprio anil por oxidação. Daí se abriu o novo problema de como conseguir a isatina. E ele gastou mais 8 anos 41 Adolf von Baeyer (31/10/1835 - 20/08/1917) Inicialmente estudou matemática e física em Berlim. Só mais tarde, em Heidelberg nos grupos de Bunsen e Kekulé, dedicou-se à química. Fez o doutorado em 1858 e seguiu seu orientador Kekulé para Gent. Voltou a Berlim onde habilitou-se em 1860, no Instituto de tecnologia de Berlim. Neste instituto seus alunos, Gräbe e Liebermann, descobriram a estrutura química da alizarina. Um dos principais métodos neste estudo foi a destilação redutora com zinco em pó, uma invenção de von Baeyer. Também conseguiram sintetizar a alizarina, a partir do antraceno. Após um curto estágio na universidade de Estrasburgo ele seguiu uma vocação como sucessor de Liebig, para a universidade de Munich. Lá ele realizou importantes trabalhos sobre ftaleínas (fluoresceína em 1871), hidrobenzenos, acetileno, terpenos, sais de oxônio e pironas. Geralmente é considerada sua obra principal, a descoberta da estrutura química do anil. Comprovou os grupos funcionais do anil por meio da sua síntese. A condensação de fenol com formaldeído no ano 1872 formou a base para um dos mais importantes materiais plásticos do início do século XX, a baquelite. Através da oxidação de Baeyer-Villiger (1899) é possível transformar cetonas em ésteres, usando perácidos. Famosa também a "prova de Baeyer", indicativo aos alquenos por meio de ema solução alcalina de permanganato. Foi homenageado pelos seus méritos na química orgânica, com o prêmio Nobel de Química em 1905. 148 A. Isenmann CORANTES para achar uma rota sintética: a partir do ácido fenilacético. A primeira síntese total do anil data do 6 de junho de 1878. Porém, a estrutura exata do corante não se soube ainda. Grande apoio ganhou von Baeyer na época pelo então diretor técnico da BASF, H. Caro 42. Por muitos anos se desenvolveu uma amizade e uma colaboração fértil, entre a pesquisa acadêmica e a indústria de tintas. Assim, von Baeyer conseguiu uma série de outras rotas sintéticas para o anil, porém nenhuma pôde ser aplicada em grande escala, devido aos rendimentos baixos e/ou custos elevados das matérias-primas. Certamente uma luz no fim do túnel foi a síntese a partir do ácido cinâmico (von Baeyer, patente alemã 11 857, do 19 de março de 1880). Foi evidente que o derivado o-nitro ácido cinâmico (ver Fig. 112) superou todos os demais materiais de partida e métodos já testados, para se produzir anil, isatina e indol. Br COOH COOH Br2 Br NO2 NO2 COOH base - 2 HBr o-nitro ácido cinâmico NO2 o-nitro ácido propargílico Degradação alcalina O H H N N Redução O N H O Anil Fig. 112. Isatina O Síntese do anil a partir do ácido cinâmico, segundo Baeyer. A partir do benzaldeído ele achou outra rota de síntese, especialmente simples na sua execução (von Baeyer, patente em 1883. Ver Fig. 113 e proposta de prática, na p. 307). Mais remarcável do que a obtenção do anil foi que através desta síntese ele conseguiu identificar pela primeira vez a constituição química do anil. De plena satisfação von Baeyer constatou que "finalmente, cada átomo achou seu lugar nesta molécula". Apenas a preponderância da forma isomêrica trans, fato que é plausível pelo estabelecimento de duas ligações intramoleculares de hidrogênio, somente pôde ser comprovado após o falecimento de von Baeyer, em 1928 via cristalografia de difração de raio X. 42 Heinrich Caro (13/02/1834 - 11/09/1910) Começou seus estudos de Química em Berlim, depois foi treinado em impressão de chita, um tecido grosseiro de algodão fabricado na Índia. Durante um estágio na empresa Roberts em Dale, Inglaterra, ele apreendeu muito, nas tentativas de análise da alizarina. Quando voltou à Alemanha, passou pelo laboratório de V. Meyer em Berlim, até que em 1858 retornou a Mühlheim, mas não conseguiu dar prosseguimento a seu trabalho, e por isso voltou para a Roberts. Em 1861 retornou à Alemanha, onde trabalhou no laboratório de Bunsen até ser contratado pela Chemische Fabrik Dyckerhoff Clemm & Co, empresa química que mais tarde se tornaria a Badische Anilin und Soda Fabrik (BASF). Lá, Caro foi responsável pelas pesquisas com índigo e, junto com von Baeyer, sintetizou o primeiro corante índigo em 1878. Caro também patenteou o corante alizarina em nome da BASF, foi o primeiro a isolar a acridina, e experimentou com o "ácido de Caro", H2SO5. 149 A. Isenmann CORANTES OH CHO NO2 Acetona [OH-] NO2 O O - H2O o-nitro ácido cinâmico NO2 Degradação alcalina O H H N Redução N O N H O Anil Fig. 113. Isatina O Síntese do anil a partir do benzaldeído, segundo von Baeyer. Com esta última síntese se conseguiu sintetizar também o derivado 6,6´-dibromo do anil, mais conhecido como púrpura (ver p. 159). Na antiguidade a coloração com púrpura foi um privilégio exclusivo do imperador. E na idade média a realeza gastou fortunas para extrair quantidades modestas de púrpura, a partir de um caracol marinho, para colorir suas roupas oficiais. Este corante altamente valorizado se consegue a partir do 4-bromo-2nitrobenzaldeído. Ao contrário do procedimento, o mecanismo da síntese do anil a prtir do o-nitrobenzaldeído é nada simples. Ela contém as seguintes etapas mecanísticas (Fig. 114): 1a linha: oxidação seletiva do grupo benzílico, para o aldeído; em seguida: condensação aldólica, enquanto o benzaldeído funciona como aceitador e a acetona (via formação do enolato) como componente metilênico. 2a linha: a forma enólica do aldol é especialmente rica em elétrons, portanto pode atacar o nitrogênio do grupo o-nitro. Ocorre a ciclização e aromatização, tudo sob catálise de OH-. 3a linha: A hidratação da cetona favorece a perda do grupo acetato, para que resulte a forma oxidada do indoxil. 4a linha: a adição de água favorece a formação do grupo de endiol, também conhecido como "grupo reduton" (ver vitamina C; antioxidante), por sua vez fácil de ser oxidado. A última etapa é, portanto, um acoplamento oxidante que leva a um sistema extenso de duplas-ligações conjugadas, ao nosso produto final - o anil. 150 A. Isenmann CORANTES Fig. 114. Etapas mecanísticas da síntese do anil a partir do o-nitrobenzaldeído. Nota-se que há ainda explicações mecanísticas alternativas: em vez de se formar o enol na 2a linha, discute-se também a desidratação do enol formando um sistema conjudado (sistema de Michael), onde a parte negativada da ligação C=C ataca o nitrogênio do grupo nitro, fechando em seguida o anel de 5 membros. OH δ- O O δ+ δ- δ+ NO 2 NO 2 - H2O Para o professor universitário von Baeyer o trabalho com o anil foi então concluído. Ele mostrou que a síntese deste corante a princípio é possível - certamente um marco no desenvolvimento da ainda jovem indústria de tintas e corantes sintéticas. Uma exploração industrial e aplicações da sua invenção não constaram do seu interesse. No final do século XIX o plantio racionalizado em grandes fazendas barateou muito o índigo asiático. Os indianos abasteceram o mercado com este corante por um preço que colocou margens estreitas a qualquer anil sintético. Daí a síntese de von Baeyer não justificaou sua produção em escala industrial. Especialmente a nitração do aromático foi um ponto fraco, pois sempre levou a uma mistura de isômeros. Uma série de novas fábrica químicas usaram os rios para seus rejeitos, pois ninguém tinha experiência nas consequências ambientais. Muitos novos corantes se provaram tóxicos e prejudicaram os trabalhadores. Rapidamente se espalharam apelidos para estas fábricas, tais como "cozinha de veneno" ou "inferno de anilina". Nos anos depois dos sucessos de von Baeyer se iniciou um desenvolvimento fulminante das sínteses orgânicas, entre elas também novas rotas para o anil. Uma destas a síntese de 151 A. Isenmann CORANTES tiocarbanilida de T. Sandmeyer 43, na Basiléia. Uma das mais importantes, no entanto, foi a de K. Heumann 44 que patenteou em 1890 uma rota a partir da anilina (ver Fig. 115). Heumann achou na fundição alcalina de N-fenilglicina cerca de 10% de anil. Embora este rendimento ainda foi bastante baixo (grande parte da fenilglicina se degradou irreversivelmente sob as condições drásticas da fundição de 300 °C), todos os ingredientes necessários para a Nfenilglicina, tais como anilina, ácido acético, cloro e álcali, já estavam disponíveis em abundância e a preços acessíveis. NH NH2 COOH KOH + Anilina Cl COOH 300 °C Cloroácido acético N-fenilglicina Fig. 115. Primeira síntese de anil segundo Heumann, mais tarde otimizada por Pfleger. Material de partida era a N-feniglicina. Ainda no mesmo ano Heumann descobriu uma segunda síntese do anil que partiu da naftalina (Fig. 116). O produto desta sequência foi o o-ácido carboxílico da N-fenilglicina que, por sua vez, forneceu até 90% de anil, no álcali fundido! O O2 Naftalina O O NH3 O Anidrido ftálico NH Ftalimida O COOH ClCH2COOH COOH NH2 NH CH2 COOH Ácido antranílico 43 N-fenilglicina ácido o-carboxílico Traugott Sandmeyer (15/09/1845 - 09/04/1922), químico suíço. Começou seus estudos em química, de maneira autodidática, então achou emprego como assistente nas aulas de V. Meyer na ETH Zurique. Em 1888 mudou como cientista prático para a empresa Geigy na Basiléia, onde se tornou diretor em 1901. Em 1884 achou a "Reação de Sandmeyer", uma reação de substituição por via de radicais que partiu de sais de diazônio e sais cúpricos. Nos anos 1899 e 1912 publicou dois métodos para a síntese do anil. Além destes, desenvolveu métodos para uma série de outros corantes e compostos intermediários. 44 Karl Heumann (10/09/1850 - 05/08/1894) Heumann estudou a química nas universidades técnicas de Darmstadt, Heidelberg e Berlim. Sua vida profissional começou como professor contratado em Darmstadt, mas logo depois (1877) foi chamado como professor titular para a ETH em Zurique. Além de trabalhos na área da química inorgânica, ele se dedicou também aos compostos azo e diazo. Suas obras-primas foram as duas sínteses do anil, em 1880. 152 A. Isenmann Fig. 116. BASF. CORANTES Segunda síntese de anil segundo Heumann, mais tarde otimizada pela Hoechst e a Essa rota foi patenteada pela empresa Meister Lucius & Brüning (depois renomeada em Hoechst AG) e a produção industrial foi aperfeiçoada. Mas Heumann morreu antes de se realizar o sucesso desta síntese: mais 7 anos passaram até que a BASF lançou seu primeiro anil sintético ("Indigo rein BASF", julho de 1897). Neste período foram desenvolvidas muitas novas operações unitárias e sínteses técnicas o que levou às substâncias básicas da indústria química de hoje (entre outras, a síntese de ácido sulfúrico no catalisador de contato). Qual era a diferença mais marcante entre as duas sínteses de Heumann? Os dois caminhos levam a uma amina aromática, à anilina na primeira e à anilina o-carboxilada (= ácido antranílico) na segunda síntese. Mas este grupo carboxílico se perde na penúltima etapa, em forma de CO2, devido às altas temperaturas na fundição. Portanto, o que segue é idêntico em ambas as sínteses. NH COOH O N-fenilglicina Degradação alcalina O H N O2 N COOH H Indoxil N H O Anil NH CH2 COOH N-fenilglicina ácido o-carboxílico Fig. 117. As duas sínteses de Heumann em comparação. Note que as reações na fundição são idênticas. 4.4.3. Outros corantes azuis e o primeiro medicamento da Bayer AG As fábricas de tintas trabalharam paralelamente e com muito entusiasmo, no desenvolvimento de outros corantes azúis. Em 1886 a Bayer AG introduziu, através de uma campanha em grande estilo, o corante azo Benzazurina G (Fig. 118), prometendo qualidades superiores às do anil. Já era planejado ampliar a capacidade de produção a 10.000 Kg por dia, a ser feito em uma nova fábrica. Mas as promessas foram enganosas: uma exposição deste corante ao sol direto provocou a aparência de uma coloração estranha, na região do vermelho. Todavia, a produção subiu logo a mais de 1000 Kg diários, já que não havia corante melhor na época. 153 A. Isenmann CORANTES OH H3CO OCH3 N N SO3H Fig. 118. OH N N Benzazurina G SO3H Um corante azul da família dos corantes substantivos. Na primeira etapa se aplicou uma nitração do fenol: NO2 OH Fenol Fig. 119. HNO3 OH + NO2 o-nitrofenol OH p-nitrofenol Isômeros na nitração do fenol. Daí houve um produto paralelo em grandes quantidades que não servia para fazer corantes: o p-nitrofenol. Naquele momento não houve uso para tal, então foi estocado em barris, no pátio da fábrica. Em curto período a fábrica estava repleta com estes barris - e já nasceu um dos primeiros problemas de triagem e descarte, da ainda jovem indústria química. Após a metilação do grupo OH e a redução do grupo nitro se obteve o composto acoplado de hidrazo, da estrutura Ph-NH-NH-Ph. O reagente da redução era Zn em pó em ambiente alcalino. Esse composto entra num rearranjo de benzidina (ver p. 174) o que leva à dianisidina (anisidina = metoxianilina). O diazotamento desta amina (p. 162) e o acoplamento azo (p. 168) com 1-naftol-4-ácido sulfônico levou finalmente, em bom rendimento, ao corante substantivo, a Benzazurina G (Fig. 118). Na solução do problema do resíduo ajudou, como tantas vezes na história da indústria, o companheiro acaso. Um farmacêutico de Estrasburgo vendeu para dois jovens médicos, Dr. Kahn e Dr. Hepp, acidentalmente acetanilida em vez de naftalina. Os dois médicos suspeitaram um efeito antitérmico da naftalina e queriam testar a substância em um cachorro adoecido de esgana. Mas agora acharam o efeito procurado, inesperadamente na acetanilida. Enviaram uma amostra para a empresa Kalle & Co onde trabalhava o irmão de Hepp, para assegurar a identidade química. Enfim, esta empresa identificou e apresentou em 1886 a substância ao mercado sob o nome-fantasia "Antifebrin". Isso era um truque para disfarçar a acetanilida que em si era muito barata e acessível, assim manterem a natureza do remédio em segredo e asseguraram uma boa venda por alguns anos. Mas este primeiro medicamento sintético não era livre de efeitos colaterais. E nos anos seguintes a Bayer AG conseguiu produzir um remédio menos tóxico do que o Antifebrin - justamente a partir do antigo resíduo, p-nitrofenol. Foi lançado em 1888 sob o nome "Phenacetina" (Fig. 120), o primeiro remédio e o começo de uma longa história de sucesso da Bayer AG na indústria farmacêutica. 154 A. Isenmann CORANTES O EtO NH C CH3 Fenacetina N-(4-etoxifenil)-acetamida Fig. 120. Primeiro medicamento da Bayer AG. O remédio foi lançado na época certa, pois em 1889 uma onda de influenza percorreu o mundo - especialmente a América. Dai a Phenacetina se tornou uma salvação para inúmeros doentes. A Phenacetina ajuda em casos de dor de cabeça (crônica), ciática, neuralgias, reumatismo, etc. e foi ingrediente indispensável em uma série de preparados de febre e analgésicos, até sua proibição em 1986. O consumo durante um período prolongado, como se sabe hoje, prejudica os rins e aumenta o risco de câncer. A procura por um novo corante azul desencadeou assim - indiretamente - a indústria farmacêutica, e muitas fábricas de corantes começaram a pisar neste segundo pé. 4.4.4. Anil sintético Voltamos um pouco ao "rei dos corantes". A primeira síntese de Heumann (Fig. 115) funciona a partir da fenilglicina, material de acesso fácil e barato. É uma substituição nucleofílica (SN2) no ácido cloroacético, enquanto o nucleófilo é anilina. Mas o processamento da fenilglicina se provou problemático; embora de muitas variações e tentativas durante 11 anos não conseguiram aumentar o rendimento em anil significativamente - assim, o processo todo não era rentável. Na segunda síntese de Heumann, a partir do ácido carboxílico da N-fenilglicina, já a primeira etapa era a mais problemática, onde a naftalina é oxidada para o anidrido do ácido ftálico. No início esta etapa somente era possível por tratamento da naftalina com ácido nítrico concentrado, um reagente bastante caro na época. Sendo o HNO3 impróprio para ser aplicado em escala industrial, começou uma busca intensa, nas empresas BASF e Hoechst, por um meio oxidante mais barato. Finalmente, eles tornaram essa reação viável, por diferentes caminhos. Na Hoechst se experimentou com ácido crômico e cromatos. Realmente uma maneira viável de se oxidar a naftalina, mas o problema era a recuperação do sub-produto, a lixívia de cromo. Até não achar um método de levá-la de volta para o ácido crômico, o processo não era econômico (sem falar do aspecto ecológico deste metal pesado...). Uma solução acharam com a eletrólise, um processo relativamente limpo, porém bastante energético. Precisava-se de eletricidade barata. No sul da Alemanha, em Augsburgo, fecharam um contrato com uma companhia de energia hídrica. Construíram em seguida uma nova fábrica perto, com a única finalidade de produzir o anil e suas matérias-primas. A nova planta da Hoechst já foi erguida, enquanto a BASF ainda procurou por um oxidante viável para a naftalina. Experimentaram com ácido sulfúrico concentrado que por si não é um oxidante muito forte, mas era barato. Sendo assim, os primeiros resultados foram nada empolgante. Mas daí entrou o acaso no jogo, um dos mais famosos na história da química tecnológica. Em um dos experimentos de oxidação o termômetro quebrou e o mercúrio se derramou dentro do balão. As caras chateadas dos químicos em volta - o grupo foi liderado por René Bohn 47 - logo se clarearam quando perceberam que o Hg foi o catalisador ideal para esta oxidação. E de repente a BASF chegou a realizar seus sonhos: a pesquisa de muitos anos 155 A. Isenmann CORANTES e um investimento de 18 milhões de Reichsmark (praticamente o inteiro capital de valores) não foram à toa. Em fevereiro de 1897 começou a produção em grande estilo e já em julho do mesmo ano o primeiro anil sintético entrou no mercado. No início os tintureiros enfrentaram o novo anil com bastante desconfiança e preconceitos. Além disso, a BASF ganhou concorrência forte, logo depois da introdução do seu novo produto. Foi J. Pfleger 45 da Degussa 46 que achou um efeito bastante benéfico de amideto de sódio, NaNH2, quando adicionado à fundição alcalina da fenilglicina (1a síntese de Heumann). Com este aditivo ele chegou a 90% de rendimento em anil! E um detalhe de vantagem: o amideto foi um subproduto na Degussa até então não utilizado, que obteram em toneladas na produção de cianeto de sódio (o que serve para a complexação e extração dos metais nobres). O efeito do amideto é provavelmente um indireto: não entra diretamente em contato com o reagente, mas ajuda a remover os últimos restos de umidade da mistura. Com esta medida foi então possível abaixar a temperatura da etapa, de >300 °C antes, para 180 a 200 °C. Sob estas condições o segundo anel do indoxil se fechou, sem correr o risco de decomposição térmica do mesmo. A patente de Pfleger foi então adquirida pela Hoechst (antiga Meister Lucius & Brüning) que produziu a partir daí o "Índigo ML&B". A BASF perdeu sua posição líder e começou uma luta entre os rivais (que dura até hoje). Afinal, quando o preço do anil caiu a 7 Reichsmark por quilograma, entraram em acordo e o mercado foi dividido a partir de 1904. Mas o futuro coube ao método de Pfleger. A planta eletroquímica em Augsburgo não foi ampliada e as toneladas produzidas foram regressivas. Somente a Hoechst produziu 4,5 milhões de toneladas de anil em 1913. Em 1926, finalmente, as duas fábricas fecharam um contrato que permitiu a cada um produzir o anil conforme o método de Heumann/Pfleger. Este papel estratégico introduziu uma fase preliminar para a fundação da mega-empresa IG Farben, uma das mais poderosas na época da Alemanha nazista. Remarcável é a virada dos poderes econômicos no mundo antigo nesta época: em 1900 a Alemanha ainda importava o anil no valor de 20 milhões de Reichsmark. Já em 1905 a exportação de anil sintético chegou num volume de 25 milhões de marcos. O monopólio do anil natural e orgulho econômico da Inglaterra foi derrubado em curto período; os historiadores vêem neste o começo da queda econômica do império do Commonwelth. Ao mesmo tempo, a auto-estima dos alemães aumentou bastante - o que devia se mostrar fatal mais tarde, como todos sabem. Fato é que a ciência e tecnologia conseguiu pela primeira vez derrubar o monopólio de um grande império colonial. O índigo natural teve uma curta revivência, durante a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918), por que o fluxo do anil sintético para muitos países foi cortado, em virtude do bloqueio das rotas navais pelos Aliados. Lembramos que este corante era exclusivamente produzido na Alemanha e na Suíça. Após a retomada da produção química o anil foi produzido em outros países, também, daí as fazendas e manufaturas do anil vegetal decresceram rapidamente. Em 1930 o cultivo do índigo na Índia foi praticamente erradicado. A produção do anil ainda hoje é a partir da fenilglicina, mas sua obtenção é a base da fenilaminoacetonitrila que é saponificada, conforme mostrado na Fig. 121. 45 Johannes Pfleger (11/09/1867 - 08/08/1957) Desde 1891 Pfleger foi empregado como químico, mais tarde como químico-chefe, na Degussa em Frankfurt. Em 1901 achou com o amideto de sódio o aditivo ideal para a condensação da fenilglicina. Somente com este aditivo a síntese do anil segundo Heumann prosseguiu ao sucesso - na época de longe a síntese mais eficaz e econômica deste corante. 46 Abreviação de Deutsche Gold- und Silberscheideanstalt = Companhia alemã para a purificação de ouro e prata. 156 A. Isenmann CORANTES O NH2 H H NH CH2OH CN- NH CH2 CN H2O NH CH2 Fenilglicina Fig. 121. Síntese moderna do anil, via fenilaminoacetonitrila. Além do anil foi desenvolvida, no início do século XX, uma série de corantes "indigóides", que se tornaram importantes especialmente na coloração de têxteis. Um exemplo é o tioíndigo, desenvolvido por Paul Friedländer 48 em 1905, onde o grupo NH foi substituído por enxofre. Esse corante foi produzido pela empresa Kalle em Biebrich e comercializado sob nome "Vermelho de Tioíndigo" - muito bem aceito pelos aplicadores e consumidores. 4.4.5. Os corantes azúis do século XX O que foi aspirado por tanto tempo e investigado com esforços extraordinários, agora era presente em várias versões: o acesso ao anil sintético. Mas a preponderância deste corante não durou por muito tempo. Logo foram descobertos novos tipos de corantes orgânicos, através dos conhecimentos que se ganharam na tintura com o anil. A tintura via cuba serve evidentemente também para aplicar outras familias de corantes ao tecido. O princípio é sempre o mesmo: tornar o corante solúvel por meio de uma reação química reversível e nesta forma “leuco” aplicá-lo à fibra de algodão. Destacam-se neste sentido os corantes da família de antraquinona que foram com sucesso reduzidos à estrutura de hidroquinona e nesta forma impregnaram a fibra. Sua reoxidação deixa o corante fixo no local e o tornou resistente ao processo de lavagem. Neste aspecto as antraquinonas são superiores ao "rei dos corantes". Já em 1901 foi desenvolvido por R. Bohn 47 na BASF, uma síntese então conhecida como "Indantreno", pela fusão de 2-aminoantraquinona em álcali (Fig. 122). O nome fantasia escolhido por Bohn também mostrou sua motivação para tal síntese: ele queria fazer índigo a partir da antraquinona. Embora essa idéia falhou, o novo produto era igualmente azul. 47 René Bohn (07/03/1862 - 06/03/1922) Estudou a química e fez o bacharelado em 1882. Em 1883 fez o doutorado com Heumann. Entrou na BASF em 1884, onde trabalhou nas divisões de "pesquisa em corantes" e "técnicas de tintura". Em 1906 entrou na chefia da empresa. Bohn desenvolveu corantes a base do ácido gálico, pirrogalol, naftaleno e antraceno. Foi em 1889 que achou o grande efeito catalítico do mercúrio, ao introduzir grupos hidroxilas em derivados da antraquinona por meio de ácido sulfúrico concentrado ("Reação de Bohn-Schmidt"). Em 1901 descobriu os indantrenos (índigo a partir do indantreno) que logo se tornaram a uma das classes mais importantes de corantes. E mais uma classe de corantes ele descobriu (1912): os corantes de complexo cromo-ácido. 157 COOH A. Isenmann CORANTES O O NH2 O 2-aminoantraquinona Fig. 122. O HN NH Degradação alcalina O O Indantreno A síntese do "Indantreno" segundo Bohn. Bohn descreve seu novo corante na seguinte maneira: "O novo azul é aplicável na mesma forma que o anil e também é prova à luz igual o original. Mas ele senta na fibra como se fosse queimado." Através de uma campanha nunca vista antes este novo corante foi introduzido ao mercado: em 1903 pela BASF sob o nome "Azul de indantreno RS" e em 1906 pela Bayer AG sob o nome "Algol". Não só o tintureiro foi o alvo deste reclame, mas também o usuário da moda. A partir de agora o próprio consumidor devia determinar o que compete no mercado. O novo princípio de síntese não se restringiu ao azul. Seguiram outras cores, cada uma de estabilidade extraordinária frente detergentes e à radiação UV. Em 1922 a expressão "Indantreno" se tornou marca para praticamente todos os corantes de qualidade que foram aplicados pelo processo de cuba. Em seguida foram desenvolvidos os corantes azuis à base do enxofre - por sua vez bem mais baratos do que o anil. É interessante como a tradição segurava os corantes de moda antiga. Sendo assim, o anil tradicional manteve sua posição líder nas tinturarias por várias décadas. Os tintureiros sentiram uma grotesca “falta do cheiro típico”, então a indústria colocou aditivos fedorentos – nada a ver com a qualidade do corante nem com seu processamento, só para atender os desejos dos seus clientes tintureiros. Capacidades maiores nas fábricas e métodos cada vez mais baratos deixaram cair o preço do anil constantemente. A favor do anil foi a convenção de se usar roupas de trabalho azuis. Nos países em fase da industrialização se fabricaram cada vez mais destes vestuários resistentes, especialmente na China onde foi propagada uma nova cultura trabalhista sob o líder Mao. No auge de Mao a China consumava mais anil do que todos os demais países do mundo. Mesmo assim, a produção do anil era regressiva e várias fábricas pararam sua produção. Por algumas décadas o anil era usado ainda para produzir a isatina (ver Fig. 110) que serve como intermediário na linha de outros corantes. Quando ainda acharam caminhos alternativos e mais econômicos para a isatina, muitos produtores pensaram em fechar a linha completamente. Mas aí começou uma nova era que, inesperadamente, elevou o anil a uma longa alta que dura até hoje: 4.4.6. Anil - o colorido "Blue Denim" da calça jeans Vamos alguns anos para trás. O jovem negociante judeu Levi Strauss (1829 - 1902) emigrou em 1850, de Buttenheim (sul da Alemanha) para São Francisco (oeste dos EUA). No seu novo lar regia naquela época uma loucura por ouro. Strauss produziu neste ambiente um trespano colorido com anil, para os costureiros de roupa de serviço. Aquele pano robusto, o trespano, 158 A. Isenmann CORANTES ele importava de Nîmes na França; junto ao azul (em francês: bleu) ele negociou então com o "bleu de Nîmes" - que entre os americanos logo virou “Blue Denim”. Até hoje o mundo da moda usa esta expressão para o tipo de pano. E como o próprio pano era transportado via Geneva ("bleu de Gênes"), também nasceu a expressão Blue Jeans. Em 1872 foram introduzidos e patenteados os rebites de cobre que até hoje reforçam as juntas das costuras neste tipo de roupa - pronta era a calça que se mantém até hoje, sem grandes mudanças na sua estrutura. Começou rolando uma nova onda de jeans no final dos anos 1960. Os jovens daquela época estavam cansados dos ícones de um mundo chique, perfeito, mas infelizmente também corrupto e falso. Portanto, o anil, um corante nem tão perfeito, era ideal para representar a postura de vida daquela geração. O "rei dos corantes" virou símbolo destes não-conformistas. Hoje a calça e jaqueta jeans são simplesmente padrão das roupas informais - todo mundo as usa. A produção anual do anil subiu nos anos 1988 e 1995 ao valor recorde de 14.000 toneladas. 90%, outra fonte fala de até 99%, deste corante são usados para colorir a jeans. Para uma calça jeans precisam-se, na média, 10 g de anil. Supomos um preço de 25 $ ao Kg de anil, então chegamos num valor de 25 centavos que se gasta para o corante a cada roupa. A base do cálculo da fatura anual é uma produção anual de aproximadamente 1 bilhão (!) de calças jeans, isto é, a cada 7 pessoas uma compra uma calça! As quatro empresas líderes entre os produtores do anil sintético de hoje são: • Buffalo Color Corporation (EUA), • BASF (Alemanha), • ICI (Inglaterra) e • Mitsui Toatsu (Japão). Mais de 400 empresas produzem o pano para a roupa jeans e todos usam quase que exclusivamente o anil para sua coloração típica. Mais de 70% dos têxteis vêem da Ásia, especialmente de Hong Kong. A Ásia também é o maior mercado desta roupa, seguido pelos EUA e a Europa. 4.4.7. A púrpura, parente nobre do anil Aproximadamente em 1500 a.c. os Fenícios acharam dois tipos de moluscos marinhos carnívoros, Murex brandaris e Murex trunculus, que produzem uma secreção incolor na parede interna do seu trato respiratório. Ao colocar este muco na fibra de têxteis e expor ao ar e sol, uma coloração intensa entre vermelho e roxo se revela. Como um molusco produz somente pouco deste muco, a produção do corante e o procedimento da tintura de pano eram extremamente demorados e trabalhosos. Para se obter o extrato, os moluscos foram mortos, triturados e tratados com sal. Após 3 dias se diluía com água e urina e essa mistura foi cozida por 10(!) dias. Pedaços de carne e outros corpos estranhos foram devidamente decantados. É claro que este processo não era livre de odores, e assim se explica que a importante cidade fenícia, Tyrus, famosa para seus negócios internacionais e também como pólo de produção da púrpura, fedeu para caramba! Uma notação deste procedimento já se tem no velho testamento (Ezéquiel 27:7 e 2o livro cronológico 2:7). A arte da coloração púrpura começou então no médio oriente e se espalhou em toda a costa mediterrânea. Na busca de novas colônias naturais destes moluscos os fenícios avançaram até o Atlântico. Até hoje se acham indicações da produção fenícica da púrpura, na costa noroeste da África. 159 A. Isenmann CORANTES No entanto, os produtos sempre ficaram, devido seu custo elevadíssimo, reservados para a nobreza, a púrpura se tornou a cor dos reis. No livro de Moisés a púrpura é descrita como corante dos monges (= Tekhelet; Exodus 26:1,31). Igualmente o Alexandre Magno e a Cleópatra se erguiam ao luxo das roupas de púrpura. Nos romanos o avental de púrpura sempre era o privilégio dos comandantes. O Cesar até restringiu o uso deste tipo de roupa a si mesmo (o triunfador) e seus funcionários mais altos. Somente eles eram permitidos de vestirse com "vestae clavatae", faixas em púrpura. O Imperador Augusto reservou este direito exclusivamente aos senadores da Roma. Uma exceção foi Tibérius que renunciou a púrpura: ele queria dar exemplo para liberar os romanos do seu vício para a púrpura, daí proibiu o uso destas roupas sob pena de morte. Após a morte de Nero as leis foram afrouxadas, mas o vestir de roupas inteiramente coloridas com púrpura ficou o privilégio do imperador. Na época instável dos cruzeiros da idade média (século XII) a coloração com púrpura se deslocou para a Sicília, onde sua reputação chegou ao auge. Com o advento dos corantes sintéticos no final do século XIX, porém, a coloração de púrpura foi em poucos anos completamente extinta. Independente do oriente médio a tintura com púrpura se desenvolveu também na América do Sul. Também em dois moluscos marinhos do Pacífico se achou a púrpura antiga, especificamente a purpura aperta e purpura lapillus. Os índios colocaram estes animais em cima dos panos umedecidos e estimularam a secreção do muco com suco de limão. Depois do seu serviço os animais foram devolvidos vivos ao mar. O então tratado tecido se tornou vermelho após pouco tempo exposto no sol. Em 1909 P. Friedländer 48 da Universidade Técnica de Darmstadt isolou cerca de 1,4 g do corante, a partir de 120.000 (!) moluscos. Com esta amostra ele conseguiu determinar a estrutura química 49. Trata-se do derivado 6,6´ dibromo do anil (Fig. 123). É bastante raro, encontrar na natureza um composto orgânico contendo bromo. Além do mais, a posição dos bromos não obedece o sentido com que os demais substituintes no anel aromático estão dirigindo: o grupo C=O está dirigindo em posição meta, enquanto o grupo NH dirige um eletrófilo em posição orto e para. Daí, qualquer introdução de bromo no anil no laboratório, usando Br2 e um catalisador ácido de Lewis, leva em primeira linha ao produto 5,5´-dibromo (ver Fig. 102). O H N Br Br N H O Púrpura Fig. 123. 6,6´-dibromoíndigo, conhecido como púrpura. 48 Paul Friedländer (29/08/1857 - 04/09/1923) Estudou a química em Königsberg (hoje Kaliningrad), Estrasburgo e Munique, onde se tornou assistente de von Baeyer e a mão direita no desenvolvimento da síntese do anil. Em 1882 achou várias reatividades interessantes da síntese orgânica: a síntese da quinolina e a condensação entre 2-aminobenzaldeído e compostos carbonilas (com grupo -CH2- ativado em posição α ao grupo C=O). Em tentativas de revelar a estrutura químca de corantes a base de enxofre da empresa Casella (1906), nasceu a idéia para sintetizar o tioíndigo. A partir de 1908 ele sintetizou diversos compostos indigóides, com as mais diversas tonalidades. Em 1909 ele isolou a partir de uma quantidade elevada de moluscos, a púrpura e identificou sua estrutura química. 49 Chemische Berichte, 42 (1909) 765. 160 A. Isenmann CORANTES Por este motivo uma síntese técnica e a purificação da púrpura teria sido caríssima. Remarcável é que todos os demais derivados halogenados deslocam a tonalidade do anil para a região do verde (= deslocamento hipsocrômico), somente na púrpura, quer dizer o derivado dois átomos de bromo na mencionada posição, a cor se desloca para a região do vermelho. A posição extraordinária que a púrpura sempre teve na sua história, continua valendo sob aspecto científico... 4.4.8. Problemas atuais acerca da tintura com corantes de cuba Como já dito na p. 140, o anil pertence ao grupo dos corantes de cuba. Para tais é característico que a molécula, melhor falado em partícula, não é fixada por ligação química forte à fibra. Em vez disso, forças fracas mantêm a partícula no local por meio de ligações fracas, que podem ser interações entre dipolos, pontes de hidrogênio ou forças Van der Waals. O campo principal da aplicação dos corantes de cuba hoje são as fibras celulósicas. O consumo ao mundo todo é estimado de 65.000 toneladas anuais. Os corantes de cuba são na sua maioria (e com exceção do anil mesmo) derivados da antraquinona ou sistemas de anéis aromáticos condensados onde há um amplo sistema de duplas ligações conjugados. O número de grupos carbonilas nestes corantes geralmente é 2, 4 ou 6, enquanto pelo menos dois devem ser de redução fácil. A tintura com corantes de cuba (inglês: vatting) ocorre em solução aquosa. Como o corante em si é praticamente insolúvel na água, então deve ser solubilizado numa primeira etapa - o que se alcança pela redução dos grupos carbonilas. No caso do anil (azul escuro) isso leva à "forma leuco", um sal de sódio solúvel na água, sob coloração pálida-amarela. A concentração desta forma leuco do corante não precisa ser muito alta: ela geralmente é de 0,15 a 0,2%. O O- H N H O Anil (azul; insolúvel) Fig. 124. N Redução alcalina Oxidação no ar N H 2 Na+ N H -O Sal de cuba (solução amarelada; aplica-se no tecido) Solubilização do corante de cuba, no processo da tintura de fibras celulósicas. Mais difícil no processo de tintura de cuba é a etapa da redução. Na maioria das fábricas ainda se usa a ditionita (Fig. 103) como agente redutor, por ser superior aos demais redutores em eficiência, rapidez, durabilidade e manuseio. Este se torna sulfita de sódio que, junto ao oxigênio soluto na água servida, logo se oxida em sulfato de sódio. Embora estes sais não tenham grande impacto à saúde humana, eles não são facilmente degradados na natureza. Sob condições anaeróbicas alguns microorganismos reduzem o sulfato para o sulfeto, ou seja, para um gás muito tóxico e fedorento, o H2S. Não é raro que também alguma ditionita não reagida é lixiviada nos esgotos. Com as leis e controles ambientais cada vez mais rigorosos, a alta carga de enxofre na água servida e sua difícil remoção levou ao regresso ou até abandono da tintura de cuba, em várias fábricas. 161 A. Isenmann CORANTES Resumindo, podemos afirmar que o sobreviver da técnica de tintura de cuba depende criticamente do desenvolvimento de novas técnicas biocompatíveis, da solubilização do corante. Em diversos programas de pesquisa ao redor do mundo procuram-se caminhos ecologicamente viáveis para a tintura, especialmente com o anil. Uma possível alternativa é o uso do redutor hidroxiacetona, substância que libera exclusivamente subprodutos biodegradáveis. Ao escolher e adaptar os demais parâmetros do processo, é possível reduzir o corante em tempos hábeis. A redução neste caso pode ser feita à temperatura baixa, assim se economiza ainda energia. 4.4.9. Resumo dos fatos sobre o anil Até 1900 o anil se obteve a partir de plantas. Anos de pesquisa e altíssimos investimentos foram precisos, para finalmente em 1897 lançar o anil sintético ao mercado. Os primeiros corantes sintéticos marcam o início da indústria química. Em 1883 A. von Baeyer identificou a estrutura química do anil; constituição trans confirmada em 1928. Síntese mais importante na história do anil: Heumann-Pfleger Anil é insolúvel. Para o processo da tintura: reduzir com ditionita para a "forma leuco" que é solúvel. Aplicação principal do anil: calça jeans (cerca de 10 g por calça). 4.5. A química dos corantes azo Os corante azo representam hoje a classe mais diversificado de todos os corantes orgânicos. Já na época da Primeira Guerra Mundial se conheciam mais de 1000 diferentes compostos! Não só as variações estruturais, mas também suas cores mais brilhantes, a facilidade da sua síntese e vantagens durante o tingimento fizeram com que essa classe é ao mesmo tempo a mais produzida, com faturas anuais consideráveis. Tab. 23. Economia dos compostos http://atlas.media.mit.edu/hs4/2927/) diazo, azo Exportação País China Valor (US $) $184.302.102 Indonésia $63.693.413 Japão $60.556.578 Alemanha $41.084.281 Coréia do Sul $30.209.288 Índia $23.486.186 e azoxi em 2011 (fonte: Importação Por cento País Valor (US $) Por cento 35,56% EUA 12,29% Coréia do Sul $61.610.200 13,64% $53.405.178 11,82% 11,68% Alemanha 7,93% Hong Kong $37.595.486 8,32% $33.892.991 7,50% $26.551.094 5,88% $24.734.933 5,48% 5,83% Ásia (outros) 4,53% Japão 162 A. Isenmann EUA Volume total: CORANTES 3,72% Suíça $19.270.254 US $ 518 milhões $23.702.240 US $ 452 milhões 5,25% Este capítulo tem por objetivo apresentar os conceitos básicos da química acerca dos corantes azo, mais do que mostrar todas as variações estruturais que são possíveis com esta química. As três expressões usadas em seguida são muito parecidas, portanto definimos para maior clareza: Compostos diazo (também diazocompostos) Compostos azo (também azo-compostos) Compostos de diazônio (também sais de diazônio) R R C N N C N N R R R N N R R N N X- Além destas, usaremos as expressões: "Diazoamino", para compostos com a unidade Ar-N=N-NH-Ar. "Aminoazo", para compostos com a unidade Ar-N=N-Ar-NH2. "Diazotamento", para a criação do sal de diazônio, a partir de amina primária. "Acoplamento azo", para a reação do composto diazônio (“componente diazônio”) com um aromático rico em elétrons (“componente de acoplamento”), no sentido de uma substituição eletrofílica. 4.5.1. Formação dos sais de diazônio Ponto de partida para os corantes azo é um sal de diazônio, de fórmula geral de [Ar-N+≡N ] X. Este sal representa o eletrófilo que ataca um aromático Ar´-H rico em elétrons, formando o corante da estrutura Ar-N=N-Ar´. Primeiramente, queremos olhar no mecanismo sob qual este sal altamente reativo se forma. Sais de diazônio aromáticos são reagentes muito versáteis, tanto no laboratório quanto em escala industrial. Eles reagem em pelo menos 3 diferentes maneiras (ver lista na p. 165). Devido sua alta reatividade os sais de diazônio sempre são produzidos in situ, a partir de uma amina aromática primária (= anilina; Ar1-NH2), por tratamento com um agente nitrosilante, isto é, uma fonte do cátion nitrosil, [N≡O]+. Esta etapa é chamada de diazotamento. Ar NH2 Anilina "NO+" Ar N2 + + H2 O Diazotamento Os sistemas mais comuns, geradores do cátion nitrosil, são: 163 A. Isenmann CORANTES • Nitrito de sódio e um ácido mineral, geralmente ácido clorídrico de 3 a 5 mol.L-1 • N2O3 • Éster do ácido nitroso, R-ONO (por exemplo, nitrito de amila). 51 50 . . Mecanismo do diazotamento: Ar NH2 Tautomeria + HNO2 Ar NH2 N O - H+ Ar NH N O Ar N N OH Nitrosamina (uma amina secundária pára aqui) Ar N N OH + H+ Ar N N OH2 - H2O Ar N 2+ Sal de diazônio Os sais de diazônio - na maioria das vezes cloretos de diazônio - são obtidos como solução aquosa; eles geralmente não podem ser isolados nem purificados por serem muito instáveis, reativos ou até explosivos. Portanto, sempre são preparados in situ e a baixas temperaturas (banho de gelo de 0 °C), para evitar uma decomposição precoce. A solução do sal de diazônio geralmente é moderadamente ácida: ou o sistema foi acidificado com HCl ou foi empregado o cloreto de anilínio, Ph-NH3+Cl-, em vez da anilina livre no diazotamento. Esse último método traz vantagens preparativas, já que o ArNH3+Cl- é de manuseio mais fácil do que a anilina livre: é um sólido não volátil, fácil de pesar, fácil de purificar, além disso, é completamente solúvel em ambiente aquoso. 4.5.2. Características gerais dos sais de diazônio Os sais de diazônio, Ar-N2+ X- são incolores e cristalinos que escurecem rapidamente ao entrarem em contato com o ar (= auto-oxidação). São tipicamente produzidos sob refrigeração (0 °C), a partir de aminas aromáticas e nitrito de sódio (catalisador: um ácido mineral de baixa concentração). Ao aquecer-los a temperatura ambiente em estado seco ou sob batida eles explodem; especialmente sensíveis são os nitratos e percloratos. Em água os sais de diazônio de ácidos fortes são completamente dissociados. Existem poucos sais que são realmente estáveis a temperatura ambiente: o sal duplo com cloreto de zinco, os tetraflúoroboratos e sais do ácido p-toluenossulfônico (= tosila = Ts = ptoluenossulfônico): Ar-N+≡N| ZnCl42- Ar-N+≡N| BF4- Ar-N+≡N| TsO- 50 A espécie nitrosilante pode ser formulada como [N≡O]+ Cl- ou como O=N-Cl. Na fórmula covalente o grupo nitrosil tem o papel de "pseudo-halogênio"; em vez do Cl- também funcionam NO2-, Br-, HSO4-, SCN-, entre outros. 51 N2O3 é um gás que aparece azul quando dissolvido em solventes orgânicos. No laboratório é produzido ao gotejar HNO3 de concentração média, em cima de granalhas de Cu. 164 A. Isenmann CORANTES Estes sais, ao mesmo tempo, são os únicos usados de modo seguro, na técnica de coloração in situ de Naftol AS (ver p. 175). 4.5.3. Reações dos sais de diazônio Os sais de diazônio mostram um largo espectro de reações que podem ser divididas em aquelas onde o nitrogênio é abstraído e onde o nitrogênio permanece no produto. Em particular dividimos em: 1) Reações de substituição do grupo N2 por um nucleófilo, que pode ser: • via mecanismo iônico • via mecanismo radicalar 2) Redução do grupo N2. 3) Substituição eletrofílica num aromático, enquanto o grupo N2 represente o eletrófilo. Embora os corantes azo são feitos pela terceira estratégia, temos algumas reações nas duas primeiras que deveríamos conhecer, também. 1) A decomposição do sal de diazônio em solução aquosa fornecendo fenóis: N N + OH H2O Cl - N N + + HCl Fenol O mecanismo é em etapas: primeiro a saída do nitrogênio gerando o altamente reativo fenilcátion. O nucleófilo mais abundante é água : H N N - N2 + H2O O H - H+ OH 2) Formação de anisol quando aquecer o sal de diazônio em metanol (a reação paralela é uma oxido-redução fornecendo benzeno e formaldeído): 165 A. Isenmann CORANTES O N N + R CH2 R + N2 + Cl CH2 OH Cl - + N2 + HCl + R CHO 3) A introdução de haletos no anel aromático, especialmente fácil na presença de sais de Cu+, conhecida como reação de Sandmeyer: [CuCl] N N Cl + N2 Cl 4) A introdução de flúor no anel aromático foi um grande desafio por muito tempo. Até achar a possibilidade de um simples aquecimento do tetraflouroborato de diazônio seco (reação de Schiemann), ou melhor, ao dissolver este sal em acetona e acrescentar quantidades pequenas de cobre em pó: aquecer N N F + N N + BF3 BF45) Arilação de Gomberg: N N + + NaOH Cl - + N N + NaCl + H2O Bif enil A maioria destas reações já ocorre à temperatura ambiente, aproximadamente a metade delas via mecanismos radicalares. Um exemplo: cloração segundo Sandmeyer. 166 A. Isenmann CORANTES N N Cl- + N N CuICl CuICl Cl CuIICl + Cl Cl + CuIICl + - N2 Cl- CuICl 4.5.4. Reações onde o nitrogênio permanece no produto Os exemplos mais importantes são a síntese de fenilidrazina (= reagente para cristalizar e caracterizar cetonas e aldeídos), de fenilazida (Ar-N3) e as reações de acoplamento (que enfim levam aos corantea azo). Fenilidrazina: O tratamento de cloreto de diazônio com solução de sulfito de sódio fornece sulfito de diazônio que faz um rearranjo para o azossulfonato. N N Cl - + Na2SO 3 N N N N NaSO 3- - NaCl SO 3- Na+ Azossulf onato Sulfito de diazônio A adição de HCl provoca a liberação de ácido sulfuroso que funciona como redutor, a seguir representado como “H”. N N SO3- Na+ + H H N N 2 H SO3- Na+ Finalmente, ao aumentar a concentração do HCl e a temperatura, ocorre hidrólise do sulfonato, liberando o hidrocloreto da fenilhidrazina. H H N N SO3- Na+ + HCl + H2O H N NH3+ Cl - + NaHSO4 Hidrocloreto da fenilidrazina A fenilidrazina livre se obtém por neutralização com a quantidade calculada de NaOH. 167 A. Isenmann CORANTES Reações de acoplamento com aromáticos ativados Este caminho certamente é o mais importante, já que leva aos corantes azo de alta importância industrial. O sal de diazônio representa um eletrófilo que pode reagir com sistemas aromáticos ativados. Ativado neste caso significa: especialmente rico em elétrons. Isso se tem quando: o anel aromático Ar-X tem um ou mais substituintes fornecedores de elétrons (grupos X podem ser -OH, -O-, -OR, -NHR, etc.); Atenção: pode-se ter um desvio reacional na presença do grupo amina primária (p. 169). dentro do sistema aromático participam pares não ligantes de elétrons provenientes dos heteroátomos O ou N (furanos, pirróis). o sistema aromático consiste de anéis condensados, onde aumenta a mobilidade eletrônica (naftaleno, indeno, fluoreno, antraceno, benzpireno, etc.). Assim, o acoplamento pode acontecer com um fenol ou uma amina aromática (= anilina). No caso mais simples acopla aquela parte da amina aromática que sobrou da síntese do sal de diazônio, caso o diazotamento foi incompleto. A densidade eletrônica do fenol, quando usado como componente de acoplamento azo, aumenta mais uma vez ao tratá-lo com NaOH. Devido à alta acidez do composto Ar-OH forma-se o ânion fenóxido em alta porcentagem (os valores de pKa dos fenóis ficam entre 10 e 12). Porém, existe um valor ótimo de pH que deve ser mantido durante o acoplamento azo. Os melhores rendimentos e velocidades se obtêm por volta de pH 11. Ao operar em ambiente fortemente alcalino uma parte do reagente eletrofílico, Ar-N2+, se perde devido à formação de diazotatos: Ar N2+ + OH- Ar N N OH - H+ Ar N N ODiazotato , que evidentemente não tem mais qualidades como eletrófilo. Grande importância têm as reações do sal de diazônio com os seguintes componentes de acoplamento: • aminas aromáticas • fenóis • éteres aromáticos (p. ex.: anisol) • particularmente os fenóxidos. Todos são aromáticos ricos em elétrons, sendo assim de elevada reatividade frente ao eletrófilo, Ar-N2+. A etapa do acoplamento é então uma substituição aromática eletrofílica (sigla: SE). O mecanismo da SE seja mostrado no exemplo da N,N-dimetilanilina sendo componente de acoplamento: 168 A. Isenmann CORANTES N N H NMe2 Componente diazônio N,N-dimetilanilina (= eletróf ilo) Componente de acoplamento N N N N H N H NMe2 N H NMe2 NMe2 Complexo σ - H+ N N NMe2 Dimetilaminoazobenzeno (acoplamento em posição p ara; produto principal) Fig. 125. Mecanismo do acoplamento azo. Note que a entrada do eletrófilo em posição para é facilitada, pelas particularidades eletrônicas e estéricas da N,N-dimetianilina. No caso de aminas primárias e secundárias pode ocorrer, em dependência do pH que deve ser levemente ácido, um acoplamento no nitrogênio (acoplamento N) que leva aos compostos diazoamino. N N + Cl - H N N H2N + HCl N Diazoaminobenzeno Interessante neste contexto é a simplicidade desta síntese: a uma solução do hidrocloreto da anilina, Ph-NH3+ Cl-, acrescenta-se tanto nitrito, NaNO2, que for preciso para transformar aproximadamente a metade da anilina em seu sal de diazônio (diazotamento). Em seguida acrescenta-se simplesmente acetato de sódio que tem o papel de tampão. O acoplamento ocorre imediatamente e a “One pot reaction” está pronta em poucos minutos. Tudo isso a zero graus. N N + Cl - H2N H N N + AcO- Na+ N - NaCl, - AcOH Diazoaminobenzeno Muitos destes compostos mostram a tendência de fazer rearranjo (provavelmente uma reação intermolecular) para o composto p-aminoazo: 169 A. Isenmann CORANTES H N N H (anilina; HCl) N N H2N N Diazoaminobenzeno p -Aminoazobenzeno Maior importância prática, no entanto, têm os acoplamentos com o carbono aromático (acoplamento C), já que levam a produtos mais estáveis. Ocorrem com aminas primárias e secundárias, geralmente em ambiente alcalino. O acoplamento C é a única maneira de acoplar em casos de o componente de acoplamento ser uma amina terciária: N N2+ Cl- + H NMe2 NMe2 N - HCl p -Dimetilaminoazobenzeno e com fenóis: N2+ Cl- + H N O - Na+ OH N Fenóxido de sódio + NaCl p -Hidroxiazobenzeno . Também têm importância os acoplamentos dos sais de diazônio com grupos metilenos duplamente ativados (a última etapa da síntese descrita a seguir é uma tautomeria, do composto azo para a aril-hidrazona). COOR COOR N2+ Cl- + H2 C COOR Éster malóico N - NaCl N COOR H N N COOR COOR Hidrazona do éster mesoxálico Certas reações deste tipo levam aos corantes da classe de pirazolona. Sendo um exemplo a 3(etoxicarbonil)-1-fenil-5–pirazolona, usada em tinturas e como intermediária na fabricação do pigmento Vermelho 38 (CAS 6358-87-8) 52: 52 Um outro exemplo para corante com a unidade de pirazolona é dado na Fig. 135; porém, naquele exemplo o heterociclo foi feito por um método diferente. 170 A. Isenmann CORANTES Cl O Ph N N OEt N N O Pirazolona Cl COOEt N N O EtOOC N N CI Pigment Red 38 N N O 4.5.5. Técnicas de tintura com corantes azo Devido ao largo espectro das possíveis combinações de componente diazo / componente de acoplamento o número de corantes azo superou de longe as variedades nas outras classes de corantes orgânicos. Os sais de diazônio mais utilizados hoje são feitos a partir de: • anilina e derivados, • naftilaminas e derivados e • benzidina e derivados (ver abaixo). Como componentes de acoplamento servem, além dos fenóis, os naftóis e seus derivados, especialmente os di-ácidos sulfônicos ("ácido R" e "ácido G", ver Fig. 126) e os ácidos sulfônicos aminonaftólicos ("ácido γ", "ácido I" e "ácido H"). O ácido γ ganha preferência na tintura de lã, enquanto os ácidos I e H são os componentes de acoplamento preferidos na coloração do algodão. 171 A. Isenmann CORANTES SO3H OH 6 OH 8 2 3 2 6 HO3S SO3H HO3S Ácido R (2-Naf tol-3,6-ácido dissulf ônico) Ácido G (2-Naftol-6,8-ácido dissulf ônico) OH HO3S NH2 8 NH2 7 2 6 2 5 HO3S Ácido γ (2-Amino-8-naf tol-6-ácido sulf ônico) NH2 OH Ácido I (2-Amino-5-naf tol-7-ácido sulf ônico) OH 8 6 HO3S 3 SO3 H Ácido H (8-Amino-1-naf tol-3,6-ácido dissulfônico) Fig. 126. Componentes de acoplamento no processo de Naftol AS. A regiosseletividade do acoplamento usando ácidos sulfônicos aminonaftólicos depende fortemente do pH médio. Quem dirige mais o local do acoplamento é o grupo ácido sulfônico. Em ambiente ácido observa-se um acoplamento no lado do grupo amina (flecha direta), enquanto no meio alcalino o grupo diazo entra pelo lado do grupo hidroxila (flecha pontilhada, nas fórmulas acima). 4.5.6. Técnicas de colorir fibras celulósicas A importância dos corantes azo e historicamente a primeira aplicação foi a tintura de lã e seda. Estas fibras de origem animal são proteínas cujos aminoácidos têm caráter anfotérico, portanto conseguem fixar tanto corantes ácidos quanto básicos, sob formação de pares iônicos (sal). Mais difícil é a coloração das fibras vegetais que consistem da quimicamente neutra celulose, portanto não sustentam a formação de pontes de sal com o corante. O desafio aos químicos é, portanto, como fixar o corante na celulose. As estratégias mais aplicadas sejam rasculhadas a seguir. Tintura da celulose impregnada básica Para assegurar uma boa fixação é preciso pré-tratar a fibra celulósica (“macerar”) com algum sal de hidrólise fácil e proveniente de bases fracas, tais como: • acetato de alumínio, 172 A. Isenmann CORANTES • alúmen, • sais de cromo(III), ferro(III) ou estanho(IV). Os mencionados sais, quando usados para a finalidade de preparar o tecido de celulose, são conhecidos como "mordentes". Esse nome já é um indicativo para a agessividade de alguns destes reagentes frente à fibra. O tecido é então mergulhado nestes sais e depois tratado com um ferro a vapor. Assim se gera uma camada fina em cima da fibra, de caráter levemente básico, que agora pode acomodar o corante ácido, formando um verniz de cor que resiste aos ataques mecânicos durante o processo de lavagem. Exemplo para um corante azo ácido: Negro-azul de naftol 6B, também um importante corante de lã, produzido por acoplamento de ácido H com 1 mol de cloreto de (p-nitrofenil)diazônio em meio ácido, depois com 1 mol de cloreto de fenildiazônio em meio alcalino. Este é então um exemplo onde dois componentes diazo são acoplados sucessivamente ao mesmo componente de acoplamento. p -Nitroanilina D Ácido H A Anilina D NO2 OH N N + Na -O3S NH2 N N SO3- Na+ Azul de naf tol 6 B Fig. 127. O Azul de naftol 6B é um exemplo para dois acoplamentos azo sucessivas. Tintura da celulose impregnada ácida Quando se pretende colorir com corante básico é útil um pré-tratamento da fibra com compostos orgânicos de reação levemente ácida. O mordente 53 mais utilizado que atende estas exigências é o tanino. Exemplo para um corante azo básico: Contém os grupos auxocrômicos -NH2 ou -NR2. A crisoidina (2,4-diamino azobenzeno) é produzida por acoplamento de anilina diazotada com m-diaminobenzeno. É o primeiro corante mono-azo básico que foi sintetizado em 1875 por Witt e Caro. Aliás, a maioria dos corantes foi patenteada no século XIX, que pode ser visto como início do período industrial moderno. Até hoje este corante é usado para tingir o algodão taninado, além de couro e papel. 53 Os agentes de pré-tratamento de fibras vegetais são denominados de "mordente", enquanto os agentes para fibras e material de origim animal são conhecidos como "curtume". 173 A. Isenmann CORANTES N 4 N NH2 2 H 2N Crisoidina (alaranjado) Fig. 128. A crisoidina é um dos mais simples corantes azo básicos. Tintura da celulose não-impregnada Um grupo respeitável de corantes azo tem a habilidade de fixar-se diretamente na fibra celulósica, sem pré-tratamento. Estes corantes de algodão são conhecidos como corantes "diretos" ou "substantivos" (ver também p. 114). O componente diazo com qualidade satisfatória pode ser feito a partir da benzidina que, por sua vez, pode ser sintetizada a partir da difenilidrazina, percorrendo o famoso rearranjo de benzidina: H NH NH Hidrazobenzeno Fig. 129. H [H+] H2N NH2 Benzidina Rearranjo de benzidina Com a descoberta do Vermelho do Congo (Böttiger, 1884, ver Fig. 31) começou a história de sucesso desta classe - que hoje representa o grupo da maior diversidade estrutural dentro dos corantes azo. Não só a celulose nativa, mas também as fibras semi-sintéticas, Viscose e Reyon, podem ser tingidas por este corante, sem necessitar algum pré-tratamento. O Vermelho do Congo se obtém por acoplamento da benzidina bis-diazotada com 2 moles de ácido naftotiona. Em primeira instância forma-se um ácido de cor azul que apenas após o tratamento com cloreto de sódio se precipita em forma do sal di-sódico fortemente vermelho: 174 A. Isenmann CORANTES NH2 NH2 N N H N N H SO3- SO3- NH2 NH2 N N H N N H SO3- SO3- V ermelho do Congo protonado Fig. 130. Vermelho do Congo na sua forma protonada. Essa mudança de cor é reversível: a cor azul reaparece sob adição de ácidos minerais. Sendo assim, o Vermelho do Congo serve também como indicador para ácidos minerais. A explicação da descrita batocromia da cor é uma mesomeria do sistema conjugado dos elétrons π. Evidentemente é mais fácil deslocar os elétrons π no complexo quando estiver protonado. Mais um exemplo: o corante triazo, "Negro direto E", é feito por acoplamento de benzidina bis-diazotada com 1 mol de ácido H (em ambiente ácido), depois com 1 mol de cloreto de fenildiazônio que reage na parte hidroxílica do ácido H (em ambiente alcalino). Finalmente o segundo grupo de diazônio da benzidina é acoplado com m-diaminobenzeno. N H2N N NH2 Fig. 131. 4.6. NH2 N -O Negro Direto E OH N N N 3S SO 3- Na+ Exemplo de corante triazo: Negro Direto E, um corante substantivo. Corantes da família Naftol AS O desenvolvimento mais recente são os corantes da família Naftol AS. São acoplados em contato direto com a fibra, portanto também chamada de "revelação direta". A histórica expressão "corantes de gelo" se explica pelo fato de executar o tratamento da fibra em banho de gelo, a 0 °C. Um composto importante é o Para-vermelho (vermelho de p-nitroanilina): após mergulhar a fibra de algodão em solução alcalina de β-naftol e a secagem ela fica impregnada com o componente de acoplamento. O corante insolúvel é desenvolvido numa segunda etapa, ao tratar essa fibra com uma solução de p-nitroanilina diazotada. 175 A. Isenmann CORANTES OH N NO2 N Vermelho Para Fig. 132. O Para-vermelho é um corante simples do β-naftol. O grande desafio sempre foi a geração de uma coloração uniforme em tecidos, já que o Paravermelho é um corante típico de estampa. Esse problema foi resolvido satisfatoriamente com a invenção do Naftol AS (aplicado em solução alcalina; Laske, Zitscher, 1913) em vez do βnaftol, uma vez que esse componente de acoplamento (incolor) mostra a vantagem de espalhar-se uniformemente em cima da fibra, sem a necessidade de algum mordente. O acoplamento ocorre em posição 1 do anel naftólico (ver flecha). Os corantes azo do Naftol AS têm resistências à lavagem e à luz, especialmente garantidas. O 1 NH 2 3 OH Naf tol AS A síntese do Naftol AS é uma amidação usando 3-hidroxi-ácido 2-naftóico e uma arilamina, muitas vezes anilina. Um catalisador eficaz é cloreto de fósforo (III), PCl3, que ativa o grupo carboxílico e fornece a anilida em rendimentos muito bons. Como já dito na introdução, os componentes diazônio têm que ser seguros, para serem aplicados como tais na fábrica de tecido. No início do século XX houve casos de explosões nas tinturaria, até o memento que inventaram sais de diazônio onde o ânion tem a qualidade de estabilizante. Eis foram o sal duplo com cloreto de zinco, os sulfonatos aromáticos (TsO-) e o tetrafluoroborato (compare p. 164). Todos esses sais duplos são completamente estáveis à temperatura ambiente, desde que estejam absolutamente secos. Somente ao dissolver e acidificá-los com ácido mineral se libera o componente diazo reativo. Os "corantes rapidogênios" são uma sofisticação dentro da família dos corantes Naftol AS. São feitos a partir de compostos diazoamino que representam uma alternativa para a estabilização do sal de diazônio, pelo motivo mencionado acima. Eles podem ser produzidos com bons rendimentos (isto é, evitando o acoplamento C), ao converter o cloreto de diazônio com aminas aromáticas que são bloqueadas nas posições 2 e 4: HOOC HOOC N N + H2N Cl- SO3H H N N - HCl SO3H N Ácido 2-amino-5-sulfobenzóico O composto diazoamino é resistente ao ambiente alcalino, então pode ser misturado com o naftolato AS, sem acoplar e formar o corante insolúvel descontroladamente. Na prática manipula-se o tecido com a mistura dos dois componentes até atingir a desejada 176 A. Isenmann CORANTES uniformidade. Apenas após o seu tratamento com vapores de ácido fórmico ou acético o composto diazoamino libera o sal de diazônio e o corante forma-se imediata e irreversivelmente. 4.7. Corantes inertes de dispersão Fibras inteiramente sintéticas muitas vezes podem ser coloridas de forma suficiente durável, ao colocar os pigmentos no banho de "regeneração" ou "precipitação” usado na sua fiação. Sendo assim, a única ligação corante-fibra é do tipo Van der Waals, por sua natureza uma ligação bastante fraca. Bastante apropriados são os corantes de dispersão que não dispõem de grupos que promovem a ionização. Assim são de baixa solubilidade em água e podem ser aplicados somente dispergidos de forma coloidal. Os componentes diazo e de acoplamento são representados por compostos aromáticos e heterocíclicos, como ilustram as seguintes fórmulas. O CN 1 O2N 5 2 C NH2 O2N 2-Amino-5-nitrobenzonitrila 2 5 3 N O2N NH2 S NH2 2-Amino-5-nitrotiazol NO2 2-Amino-3,5-dinitrobenzof enona Fig. 133. Muito utilizados no diazotamento são esses compostos. Et N O CH2 CH2 C CH3 4-(N-Etilanilino)-2-butanona Fig. 134. CH2 CH2 CN N CH2 CH2 OH 3-[N-(2-hidroxietil)anilino]propionitrila Estes aromáticos são componentes de acoplamento úteis. Além destes podem ser usados compostos heterocíclicos com anel de pirazolona. Corantes azo com este anel (aromático de 5 membros, com dois nitrogênios vizinhos) são corantes importantes para lã. A síntese da tartrazina (amarela–verde) pode ser referida como exemplo típico: 177 A. Isenmann CORANTES + N N Cl COOR O COOR O OR + HN 4 NH2 [OH-] O 1 N N - H2O; - ROH SO3- Na+ Fig. 135. 4.8. Na -O 3S COO - Na+ N N SO 3- Na+ H 3 O 5 1 N N (hidrólise) SO3- Na+ Tartarazina SO3- Na+ Síntese da tartrazina: o aromático de acoplamento é uma pirazolona. Corantes reativos 54 4.8.1. Introdução 55 Entende-se por corantes reativos aqueles que formam uma ligação covalente com a fibra. Assim a fixação dos corantes reativos é melhor do que nos vernizes descritos acima que apenas são retidos por interações dipolares e iônicas. O protótipo foi desenvolvido nos anos 1960 pela ICI e se conhece como corante Procion. A síntese é a partir de corantes azo que são solúveis em água, geralmente devido à presença de dois grupos sulfonatos. O grupo amina presente no corante pode ser transformado em uma amida (mais corretamente: uma amidina) usando cloreto do ácido cianúrico. O que mais deve chamar a nossa atenção dentro dos corantes reativos é menos a unidade colorida, mas como é feita sua fixação em cima da fibra (celulósica). Portanto, o foco deste capítulo serão as unidades reativas que acoplam corante com o suporte por meio de ligações covalentes (fixador). 4.8.2. Os fixadores mais prominentes: aromáticos nucleofílicos Um exemplo é o alaranjado Procion brilliant GS, feito pelo acoplamento do o-amino ácido benzossulfônico com ácido I (ver p. 172), na segunda etapa convertido com o cloreto do ácido cianúrico (= tricloreto da 1,3,5-triazina): 54 Grande parte deste capítulo foi traduzida da página de Paula Burch, disponível em: http://www.pburch.net/dyeing/dyeblog/C1845207367/E20120521071257/index.html Esta página contém muitas dicas práticas como fazer a tintura em casa. Também dá respostas às dúvidas dos visitantes, no estilo de um blog. Artigo de revisão: A. Denizli, E. Piskin, Dye-ligand affinity systems. Journal of Biochemical and Biophysical Methods 49 (2001) 391-416. 55 Riley Jo Carrigg, Process Development and Optimization for High Efficiency Fiber Reactive Dyes. Tese de MSc, Universidade estadual de Carolina do Norte 2006; disponível em http://repository.lib.ncsu.edu/ir/bitstream/1840.16/669/1/etd.pdf 178 A. Isenmann CORANTES SO3- Na+ OH Cl N N + N N Na -O3S N N H Alaranjado brilhante Procion GS Fig. 136. Cl Exemplo de um corante reativo, derivado do diclorotriazina. Sob balanceamento cuidadoso de pH e temperatura apenas um cloreto do componente cianúrico pode ser substituído pelo corante, sobrando dois cloros que posteriormente vão reagir com grupos hidroxilas da celulose formando ligações em forma de imidoéster. O cloreto se fixa da mesma maneira às fibras poliméricas que tenham grupos -NH2. Essa reação pode ser vista como substituição nucleofílica no sistema aromático cianúrico, onde os cloros têm o papel de grupos nucleófugos que dão espaço para os grupos nucleofílicos (-OH ou NH2) da fibra. A fixação do corante na fibra de algodão acontece então por ligações covalentes, enquanto o elo é o ácido cianúrico: Cl N Corante N SN SN N SN Cl N Cl Triclorotriazina (Cloreto do ácido cianúrico) Celulose N N Celulose Dentre os heteroaromáticos, certamente a 1,3,5 triazina representa o anel mais pobre em elétrons, quer dizer, mais acessível aos grupos nucleofílicos da fibra 56. A seguinte comparação refere as densidades eletrônicas nos carbonos, onde o valor de referência seja o homoaromático não substituído (= benzeno). N 0,951 N 1,010 0,989 Piridina N N 0,957 0,987 Piridazina 0,899 N 1,026 0,926 Pirimidina N N 0,960 N Pirazina N N 0,833 Triazina Fig. 137. Eletrofilia nos carbonos dos anéis heteroaromáticos, em comparação ao benzeno (eletrofilia relativa = 1,000). 56 Kris Kolonko, "Reactive Dyes", acessível em http://www.chem.wisc.edu/areas/organic/studsemin/kolonko/Kolonko-Sem.pdf (17/07/2013) 179 A. Isenmann CORANTES Também de influência são os grupos abandonadores nestes anéis heteroaromáticos. Os mais importantes são referidos na Fig. 138. Interessante é o aspecto da temperatura na qual estes grupos são trocados pelos grupos hidrofílicos da fibra: • Corantes reativos "frios" • Corantes reativos "mornos" temperatura ideal no tingimento entre 50 e 80 °C. • Corantes reativos "quentes" temperatura ideal no tingimento >80 °C. H N Corante N F Corante N Cl Corante Cl N S CH 2 COOH N S CH2 COOH N Cl Cl N N Corante Cl- H N Cl H N N N SO3H Cl Corante quente COOH Cl Corante frio Fig. 138. N F Corante morno H N Corante N H N Cl F Corante f rio H N temperatura ideal no tingimento = 30 a 40 °C. Corante f rio Corantes reativos com grupo de pirimidina, usando diferentes grupos nucleófugos. 4.8.3. Uma nova concorrente: Vinilsulfona Já em 1958 a Hoechst AG lançou um novo sistema reativo acoplado ao corante, com propósito de fixá-lo de maneira covalente à fibra celulósica. Trata-se do grupo altamente reativo da vinilsulfona. E descobriram ainda mais: ela será mais estável antes e durante o processo do tingimento (inglês: shelf life), se for presente de maneira mascarada, ou seja, em forma do éster sulfato de β-etilsulfonato. O O S Corante Na2CO 3 OSO3H H2O 80 °C O O S Corante -O celulose O O S Corante O celulose Vinilsulf ona H+ O O S Corante H OSO3H O O S Corante O celulose OH - Fig. 139. Aplicação do corante funcionalizado como sulfato de β-etilsulfonato. A vinilsulfona represta um alqueno altamente polarizado: através do efeito mesomêrico o grupo sulfona atrai os elétrons da unidade C=C, então deixa o carbono 2 especialmente pobre em elétrons e assim susceptível ao ataque por nucleófilos. O nuclófilo, no caso regular, é um grupo hidroxila da celulose. Este tipo de reatividade, adição de um nucleófilo numa dupla 180 A. Isenmann CORANTES ligação C=C, é conhecida na literatura química como "adição de Michael"; a vinilsulfona tem o papel de aceitador de Michael. A síntese dos vinilsulfonas tem por objetivo o rendimento máximo em cromóforos funcionalizados. Ao longo dos anos se destacaram principalmente dois caminhos: o acoplamente deste grupo reativo através de uma anel aromático (ativado) e o acoplamento de tioglicol num derivado do ácido carbônico, seguido pela oxidação. Rota 1: O Ar S O Na2SO 3 Cl H2O O Ar S O HS O OH Ar H H2SO4 NH2 Ar = O Ar Rota 2: S S OH 20 a 30 °C O OSO3H O HN OH ∆, N2 O + HS oxazolidin-2-ona tioglicol H2N OH S oxidação H2SO4 esterif icação H2N O Fig. 140. O S OSO3H O Estratégias seguidas na síntese dos corantes reativos da família vinilsulfona. (Fonte: Y.Z. Kim, J.P. Kim, Synth.Comm. 32 (2002) 1601-1605). Como vimos na Fig. 139, o grupo sulfato estabiliza a parte reativa da molécula, ou seja, este grupo serve para mascarar o grupo vinilsulfona que, por si, é altamente reativo e, portanto, pouco durável. Além disso, a taxa de grupos reativos vinilsulfônicos que sofrem hidrólise durante o processo do tingimento pode ser reduzida, ao usar o corante reativo na forma mascarada. Uma alternativa equivalente a este grupo, por enquanto, não se conhece. Sob restrição, pode-se usar também uma amina secundária para mascarar a vinilsulfona. No entanto, existem duas restrições severas neste composto: primeiro, é preciso de um pH bastante ácido para desmascarar o grupo reativo; além disso, essa etapa da ativação requer temperaturas elevadas (> 80 °C). Contudo - são condições muito mais rigorosas do que se precisa no sulfato de β-etilsulfonato, para liberar o grupo reativo. Sendo assim, este composto somente serve para tingir lã, mas não se aplica em fibras celulósicas. 181 A. Isenmann O corante S CORANTES O N O + H+ SO3- - corante H+ S O H N SO3- corante reativo mascarado ∆ eliminação β O corante S O + SO3- HN corante reativo lã O corante Fig. 141. S NH2 O N H lã Uma amina alifática, para mascarar a vinilsulfona. Existem poucos aceitadores de Michael sendo boas alternativas ao sistema de vinilsulfona. Uma é a α-bromo acrilamida, usada com sucesso no tingimento de lã. No entanto, essa rota tem duas ressalvas: a fibra de lã pode sofrer ramificação, daí muda sua textura e diminui a qualidade de uso; também pode-se observar certa fraqueza da ligação corante-fibra, quando o pH sai da região neutra. O corante O OH- N H Br Br - HBr corante N H H 2N lã O corante Br N H lã N H Br α-bromoacrilamida H 2N lã O corante N H lã Fig. 142. NH N H lã A bromoacrilamida - um aceitador de Michael alternativo? Uma interessante alternativa foi apresentada pela Hoechst AG em 1992 57, usando cloreto de alila como modificador do grupo reativo. A estratégia completa para este tipo de corante reativo é mostrado na Fig. 143. O corante é comercializado sob o nome Dystar e o fabricante promete uma elevada taxa de fixação na fibra, devido à presença de mais um grupo funcional polar. 57 EP 513 657 (1992) 182 A. Isenmann O2N CORANTES S Cl Cl cloreto de alila Cl O2N Cl S O 2N -40 a -20 °C S Cl - Cl Cl 1. Ácido nitroso O2N S Cl 2. Acoplar corante O S O corante OH - O S O OH - corante Fig. 143. OH OH - corante Cl - H 2O corante O S O Cl Cl + H2O O S O OH Cl Síntese de um novo corante com grupo vinilsulfona, segundo Hoechst. 4.8.4. Condições e restrições do tingimento com corantes reativos Dentre os corantes de tingimento de algodão de hoje, certamente os reativos dominam o mercado. Ele podem ser produzidos a um preço apenas pouco acima dos demais corantes e assim deslocaram seus concorrentes - especialmente os corantes diretos, dispersos e de cuba (com exceção do índigo). Porém, a utilização dos corantes pode acarretar custos elevados em casos onde os níveis de fixação ficam baixos. Os primeiros corantes reativos, por exemplo, mostraram uma taxa de apenas 50% de fixação, enquanto o restante foi levado pelos efluentes da fábrica. Além disso, níveis elevados de sal são geralmente necessários para atingir as tonalidades desejadas. O tratamento desses poluentes é caro e difícil de conduzir. Portanto, há muitas preocupações ambientais acerca do processo da coloração de tecidos. Junto às leis cada vez mais rigorosas, os fabricantes de corantes têm motivos suficientes para investir em pesquisas por sistemas mais sustentáveis. Até o momento os gastos do tratamento das águas servidas empatam aproximadamente com os custos da síntese do corante e do tingimento juntos. Aumentar a eficiência de fixação e levar o processo de tingimento até a exaustão não é só a maneira mais econômica do tingimento, mas também um desafio constante para a indústria têxtil que atende uma clientela cada vez mais atenta aos problemas ambientais acerca dos produtos que compra. Para otimizar um processo de tingimento em batelada é necessário controlar rigorosamente a temperatura, as concentrações de sal alcalino (estabilizar o valor ótimo do pH por meio de um sistema tampão), 183 A. Isenmann CORANTES a concetração de outros eletrólitos que tenham o papel de coadjuvante (concentrações elevadas de sal causam danos nas máquinas de tingimento e outros equipamentos devido à corrosão), o tempo do tratamento, a concentração de corante e a quantidade do veículo, a água, na cuba de tingimento. No caso específico dos corantes reativos tem-se mais uma ferramenta para melhorar as taxas de fixação: aumentar o número dos sítios reativos em cada molécula, uma estratégia que será discutida na p. 186. De um tingimento otimizado usando corantes reativos se esperam hoje rendimentos em torno de 60%. Como já dito no início desta seção, os melhores corantes para o algodão e outras fibras celulósicas são hoje - de longe - os corantes reativos (inglês: fiber reactive dyes). São os mais brilhantes, mais duradouros e mais fácil na sua aplicação do que os corantes diretos (também chamados de "corantes para fins gerais"). No mercado também existem corantes reativos especificamente para lã, alguns dos quais são encontrados dentro da família Lanaset para fibras protéicas. No entanto, isso são produtos de nicha. Quando se fala neste capítulo de"corantes reativos", então subentendemos os que são adequadas para fibras de celulose, incluindo a possibilidade de aplicar estes corantes também em fibras de proteína. A história de sucesso dos crantes reativos começou há 50 anos atrás e continua sem interrupção. Somente em 1998 se notaram 22 patentes de novos sistemas colorantes reativos: Tab. 24. Comparação entre as classes de corantes, em termos de inovação e sucesso econômico. A tabela refere as patentes internacionais pedidos em 1998. Classe de corante: Países ocidentais Países orientais Total Ácidos 4 0 4 Diretos 0 5 5 Reativos 10 12 22 Cuba 1 0 1 Ponto forte dos corantes reativos Um corante reativo pode estabelecer, durante o processo de tingimento, uma ligação covalente com a fibra, sendo essa uma ancoragem mais estável do que todos os demais tipos de ligações com corantes orgânicos. Uma vez que essa ligação for formada, o tecido tingido em cor brilhante pode ser lavado com segurança, na mesma máquina que se lava uma peça branca, quantas vezes quiser, sem pôr as peças em mínimo perigo - mesmo que sejam todas de diferentes cores brilhantes, ou até mesmo preto sólido! Tab. 25. Os corantes reativos e suas funções químicas reativas com a fibra. Nomes como Procion, Cibacron e Drimarene são marcas comerciais das empresas que patentearam esses corantes. A tabela a seguir dá os nomes químicos reais das diferentes classes de corantes reativos. Fonte: John Shore, Cellulosics Dyeing (ver indicação no final deste capítulo). Sistema químico Nome comercial 184 A. Isenmann CORANTES típico .............................Monofuncional............................. diclorotriazina Procion MX aminoclorotriazina (monoclorotriazina) Procion H aminofluorotriazina (monofluorotriazina) Cibacron F clorodifluoropirimidina Drimarene K tricloropirimidina Drimarene X dicloroquinoxalina Levafix E sulfatoetilsulfona Remazol sulfatoetilsulfonamida Remazol D .............................Bifuncional.............................. N Cl N bis(aminoclorotriazina) Procion H-E bis(aminonicotinotriazina Kayacelon React aminoclorotriazinasulfatoetilsulfona Sumafix Supra aminofluorotriazinasulfatoetilsulfona Cibacron C H N Cl N N HN Cl N N F N N HN Diclorotriazina H N N Cl Cl Dicloroquinoxalina O Ar HN S CH2 CH2 O Cl F Clorodif luoropirimidina Aminoclorotriazina N H N O Ar S CH2 CH2 O O SO3- Sulf atoetilsulf ona O SO3- Sulf atoetilsulf onamida 185 A. Isenmann CORANTES Fig. 144. Fórmulas das unidades reativas frente à fibra, de alguns corantes reativos.. A parte do corante é simbolizada pela linha ondulada. Como aplicar um corante reativo Os detalhes da aplicação dos diferentes corantes reativos segue mais abaixo (p. 186). Em geral, eles estão sendo usados sob condições brandas, quer dizer, em solução aquosa de temperatura moderada. Geralmente se aplicam soluções concentradas, ou seja, com pouca água na mistura. Isso pode ser feito encharcando o tecido durante algumas horas (sem deixar secar!) ou até mesmo numa máquina de lavar, onde a homogeneidade da coloração é mais facilmente atingida. Eles funcionam especialmente bem em tecidos ou fios de algodão, rayon, seda, e também funcionam bem no linho, liocel (Tencel), cânhamo, e de qualquer outra fibra celulósica. Embora sejam geralmente aplicados em ambiente alcalino, os corantes reativos também podem ser usados como os corantes ácidos em fibras de proteína, incluindo a lã (que não tolera o pH elevado do processamento de algodão) e seda (que pode ser tingida de qualquer forma). 4.8.5. Desenvolvimento mais recente: os corantes reativos bifuncionais. Os corantes reativos são a classe mais importante dos corantes para fibras de celulose, devido à sua boa resistência à lavagem, tons brilhantes, e métodos de tingimento versáteis. Uma característica estrutural desses corantes é o grupo reativo ligado, quer por meio de um agrupamento de ponte ou diretamente, com o sistema cromogênico. O grupo reativo, geralmente baseado em um heteróciclo halogenado (= aromático pobre em elétrons) ou uma vinilsulfona, é capaz de formar uma ligação covalente com a fibra celulósica, sob condições alcalinas. No entanto, em banhos de tingimento alcalinos, a reação de hidrólise de um corante reativo, sempre acompanha a reação de fixação do corante na fibra. A reação de hidrólise competitiva faz com que os níveis de fixação fiquem reprimidos e, portanto, ela traz grandes prejuizos ambientais e econômicos. Uma vez o grupo reativo do corante hidrolisou, ele não pode ser mais ligado covalentemente à fibra da celulose. Grande parte do corante hidrolisado não permanece em cima do tecido, mas é descarregada junto com o efluente da cuba ou da primeira lavagem. A fim de conseguir um maior grau de fixação e, por conseguinte, uma poluição da água inferior, as investigações de fabricantes de corantes tenham sido focadas no desenvolvimento de corantes reativos com dois grupos reativos, ou seja, corantes bifuncionais, que são agora largamente comercializados. Como pode-se ver na Tab. 25, mostrou-se mais vantajoso disponibilizar dois grupos reativos diferentes, na mesma molécula de corante (heterobifuncional). Assim, as faixas de tempo, temperatura e pH da solução do tingimento ficam mais largas - afinal, aumenta-se a probabilidade de reagir realmente com grupos hidroxilas da fibra celulósica. 4.8.6. Apresentação das características dos corantes reativos comerciais Esta secção é conceituada, em primeira linha, para pessoas animadas a experimentar com os corantes reativos, em lotes de baixo volume e tecidos de pequena série. Como se conhece, por exemplo, dos artesãos que vendem seus artigos nas feiras hippy. 186 A. Isenmann CORANTES Procion MX Provavelmente a melhor escolha para um novato, assim como para muitos tintureiros artesanais experientes, é o Procion MX, pois este corante é muito fácil de se trabalhar. Não é preciso submeter o tecido ao vapor ou a outra forma de calor. Outra vantagem é que estes corantes têm relativamente baixa toxicidade. Além destas, destacam-se por boa resistência à lavagem (como quase todos os corantes reativos). Uma peça tingida de arco-íris brilhante pode ser lavada com outras peças - até mesmo brancas - sem borrar as cores, uma vez que na primeira lavagem após a tintura a maioria da tinta má aderida já foi eliminada. Os corantes Procion MX são os mais fáceis e também os mais disponíveis para o tintureiro amador. Geralmente se vendem em kits já prontamente com a quantidade de soda (Na2CO3) que tampona a solução no pH certo, a serem comprados em lojas de artesanato e catálogos de brinquedos (procure, por exemplo, o kit "Dylon a Frio"). Nota-se que a patente do corante Procion MX já expirou, então versões genéricas estão agora disponíveis. Mais preciso seja, portanto, falar no princípio químico genérico, a diclorotriazina, do que na marca Procion. A maioria dos fornecedores ainda estão usando as mesmas ou muito semelhantes códigos MX, mas para ter a certeza de quais corantes se tem no produto, é melhor orientar-se nos nomes do Colour Index (p. ex., 'Reative Red 2') 58. As temperaturas ótimas de reação para os corantes Procion MX são entre 35 e 41 °C (exceto para a cor turquesa, onde 55 °C são mais favoráveis). Não use em temperaturas abaixo de 22 °C, se a temperatura do estúdio é menor do que isso, prende cada peça em um saco plástico separado ou em um balde e levá-los para um lugar mais quente para reagir durante a noite. Cibacron F Outro corante reativo bastante adequado para os artistas e artesãos é a linha Cibacron F (vendidos também sob o nome Sabracron F). Como os corantes Procion MX, os Cibacron F podem ser usados em água morna, em vez de água extremamente quente como alguns outros corantes reativos. Suas vantagens sobre Procion MX: uma vez em solução aquosa eles têm uma maior vida útil. Quer dizer, é possível armazenar e possivelmente até mesmo comprá-lo já em solução (forma líquida), evitando assim correr o perigo de se intoxicar ao respirar o pó. Também é mais fácil de lavar o excesso de corante solto depois do tingimento quando se usa Cibacron F. No entanto, a linha tem um grande problema, quando comparado à do Procion MX: a variedade de cores é bem restrita. Sendo assim, pode-se optar por comprar os Cibacron F primários e misturar a sua própria cor, ou comprar misturas pré-fabricados do fornecedor de corantes. Corantes Cibacron F podem ser utilizados de acordo com as receitas dadas para Procion MX, até mesmo podem ser misturados livremente com eles. No entanto, os corantes Cibacron F são ligeiramente menos rápidos a reagir do que Procion MX, razão pela qual podem ser armazenados de forma muito mais longa após a dissolução em água do que os corantes Procion MX, o que também significa que as temperaturas no tingimento devem ser ligeiramente mais elevadas. Ótimas são 55 a 65 °C; a recomendação para a linha Sabracron F é 45 a 55 °C. Drimarene K Este corante (também divulgado sob o nome Dylon Permanent ou Dylon Machine Dye) é outra excelente linha de tintura para uso doméstico ou em estúdio, é mais do tipo "água morna" do que de "água fria". Ele requer temperaturas mais elevadas que o Cibacron F, mas 58 Os nomes do Colour Index para tintas puras do tipo MX, juntos com algumas fórmulas químicas dos corantes são dadas na página http://www.pburch.net/dyeing/FAQ/pureMXcolors.shtml 187 A. Isenmann CORANTES não exige um tratamento com vapor 59. O maior inconveniente, além da necessidade de encontrar um lugar quente para a reação corante-fibra ocorrer, é a ausência de um vermelho verdadeiramente saturado. O Drimarene K não deve ser confundido com "Dylon multi purpose dye", ou seja, corante para todos os fins, que é menos louvável para artesãos. A temperatura mínima de se trabalhar com Drimarene K é de 35 °C, a temperatura ótima cerca de 60 °C para a maioria das cores, para outras (cor turquesa) é de 80 °C. Remazol Corantes da linha Remazol ou vinilsulfona (princípio químico do grupo reativo, ver Fig. 43) são normalmente utilizados para a pintura de seda e fixados por tratamento a vapor, mas, como corantes Procion H, podem ser fixados ao algodão desde que o ambiente for fortemente alcalino (pH > 11). Isso se estabelece de preferência com silicato de sódio (alternativamente com fosfato trissódico) em vez do carbonato de sódio, à temperatura ambiente ou por aquecimento moderado. Eles funcionam bem entre 40 a 60 °C. É possível aplicá-los na técnica de tingimento de imersão com baixa água 60, em um tanque de água morna. Também podem ser usados no forno de microondas. Corantes com grupo vinilsulfona são particularmente úteis para a técnica de tingimento de duas tintas "chemical resist" 61, em que dois tipos diferentes de corantes reativos são utilizados para aplicar um primeiro plano em cima de um fundo de cor diferente. Remazol é o corante mais adequado em processos onde partes do tecido tingido devem ser branqueadas posteriormente. Corantes com o grupo vinilsulfona são menos reativos do que, por exemplo, Procion MX, portanto se mantêm melhor em solução em água e requerem mais calor para a reação com a fibra. Isto significa que estes podem ser definitivamente comprados já dissolvidos em água, ao contrário do Procion MX ou Cibacron F, evitando assim os perigos acerca do trabalho com pó químico. Até em lã o Remazol se aplica com sucesso, porém isso requer altas temperaturas, ao contrário do algodão. A menor reatividade das vinilsulfonas não é o único diferencial aos reativos a base de (di)clorotriazinas, Drimarene K e Cibacron F. Conforme abstraído na Fig. 43, o agrupamento da vinilsulfona se forma in situ, isto é, no ato do tingimento. Na verdade este corante é comercializado em forma do éster com o ácido sufúrico, ou seja, como sulfato de etilsulfona. Esta forma "mascarada" da parte reativa da molécula impede uma reação precoce do corante com a água. Isto explica, ao mesmo tempo, por que este corante é muito mais duradouro na água. O grupo de mascaramento pode ser removido a um pH elevado (isto é, com o carbonato de sódio ou silicato de sódio, que é apropriado para o algodão). Assim se provoca a eliminação β do sulfato, liberando o grupo vinil. Alternativamente, a solução do corante será aquecida a uma temperatura suficientemente alta, mantendo um pH ligeiramente ácido, o que será adequado para a lã. Como já dito acima, este último é um processo mais lento. 59 Instruções em colorir com Drimarene K, ver site de Batik Oetoro: http://www.dyeman.com/directions1.html#drimarene 60 Tingimento com pouca água de imersão é também conhecido como "tingir e amassar" ou "tingir e crepitar". No tingimento de imersão tradicional, utiliza-se um grande volume de água, agitação frequente, e a utilização de agentes niveladores, tais como sal e, opcionalmente, de óleo Calsolene, a fim de tornar a cor tão suave quanto possível , sem marcas nos vincos. Na técnica de imersão, por outro lado, utiliza-se o mínimo de água possível, esmagando o tecido. Com essa técnica se consegue bonitas gradações nas cores. Até misturar cores opostas, como o vermelho e verde, fornece efeitos interessantes (enquanto isso feito em solução leva a um barrento feio). 61 Chemical resist = resistividade química; consulte a técnica em http://www.emich.edu/textiles/PDFs/chemresist.pdf 188 A. Isenmann CORANTES Levafix Este corante, feito pela Dystar para usuários de pequena escala, é menos usado. A temperatura ótima é de cerca de 50 °C, então inferior à temperatura dos Drimarene K, mas superior à temperatura para Procion MX. Mas notamos que resultados aceitáveis já se obtém a temperaturas inferiores que a ótima. Isso vale para todos corantes reativos. Procion H e Procion H-E São corantes de água quente, normalmente usados para pintura em seda. Eles exigem vapor ou água fervendo, para serem fixados em algodão ou seda. Corantes Procion H são quimicamente semelhantes aos Procion MX, sendo monochlorotriazinas, mas eles são muito menos reativos, e não funcionam nada bem à temperatura ambiente. Eles podem ser comprados em forma de pó ou dissolvidos em água. A Pro Chemical & Dye diz que seu Procion H em pó seja a alternativa ideal para os corantes franceses, por sua vez padrão na pintura tradicional em seda, porque precisa de menos tempo de vapor e também está concentrado. Os varejistas Jacquard vendem seus corantes Procion H na forma líquida, enquanto a G&S Dye os oferece já pré-diluídos e com todos os produtos químicos auxiliares adicionados. Tintureiros profissionais afirmam que somente o vapor proporciona a ótima definição nesses corantes, cores mais ricas e mais brilhantes. A técnica de imersão em pouca água (ver nota de rodapé 60) é melhor feita a 80 ° C. 4.8.7. Efeito da temperatura sobre o corante reativo A velocidade com a qual ocorre a reação depende fortemente da temperatura. Por exemplo, se dissolver o Procion MX em água fervente, muito do corante irá hidrolisar antes que possa entrar em contato com a fibra, resultando em cores muito mais pálidas do que se pretendia. Quase todo o corante permanecerá na água da cuba e será levado embora - uma perda economica e ecologicamente não aceitável. Para os corantes do tipo Procion MX, por exemplo, a taxa de hidrólise - isto é, a taxa à qual o corante reage com água, tornando-se indisponível para reagir com a fibra - aumenta aproximadamente três vezes a cada dez graus em temperatura. Assim, o armazenamento da solução deve ser somente sob refrigeração (geladeira de 4 °C). Comparado com o estoque a temperatura ambiente (25 °C) se estende a durabilidade da solução por cerca de nove vezes. Na hora do tingimento, logo depois de se colocar o corante e o carbonato de sódio sobre o tecido, quando aplicados a 35 °C em poucas horas a reação desejada ocorre e o excesso de tinta pode ser enxaguado. Por outro lado, ao operar a apenas 15 °C, até mesmo dois ou três dias podem ser insuficientes. Portanto, a temperatura ótima para o tingimento com Procion MX é indicada na Tab. 26 com 30 °C, a ser aplicada durante um dia. Tab. 26. Resumo das temperaturas ótimas para diferentes corantes reativos. Lista das reatividades relativas dos diferentes corantes reativos à fibra, de maior para o menor, junto à temperatura de reação recomendada. Fonte: John Shore, Cellulosics Dyeing (ver p. 129). Corante Procion MX Drimarene K Temperatura 30°C. 40°C. 189 A. Isenmann CORANTES Levafix E 50°C. Cibacron F 50°C. Vinilsulfona (Remazol) 60°C. Procion H 80°C. Drimarene X 95°C. Nota-se que as temperaturas ideais variam um pouco de acordo com a fonte da informação. No entanto, uma vez que todas nesta tabela provêm da mesma fonte, eles são úteis para as comparações entre as classes de corantes. Maneiras de aumentar a temperatura de reação A causa mais comum para cores pálidas, quando tingir com corantes reativos, é uma temperatura de cuba muito baixa. Pior ainda é um tingimento não uniforme que pode ser o resultado de um aquecimento não uniforme da mistura reacional. Os itens devem ficar em contato com a solução do corante (mais os aditivos recomendados), pelo menos durante a noite, alguns tintureiros preferem um total de 48 horas, à temperatura constante, uniforme e indicada pelo fabricante. Se daí o resultado for ainda insatisfatório, então é aumentar a temperatura e deixar por mais um dia. Um método especial de aquecimento é por microondas - também uma maneira viável no tingimento, seguindo algumas regras básicas. Logicamente, não deve-se colocar peças com fechos, botões, rebites, etc. de metal, pois estes se esquentam demasiadamente. É prático cobrir o recipiente com filme plástico e aplicar as microondas por um minuto ou dois de cada vez, observando de perto. Deve-se parar o forno de microondas, no mais tardar, quando o filme começar inflar-se. O aquecimento no microondas acelera o tingimento bastante. Pode-se fazer necessário deixar a peça no banho de tingimento em repouso, uma ou duas horas à temperatura ambiente antes do aquecimento, somente para garantir que o corante tem tempo bastante para ser absorvido pela fibra. Caso contrário, obtém-se um efeito conhecido como "tingimento em anel": a peça que foi exposta apenas brevemente vai ser tingida apenas nas camadas exteriores, por sua vez mais expostas ao desgaste (em certas roupas de moda, este efeito é até desejado). Todavia, umidade suficiente na mistura do tingimento é essencial, pois qualquer tecido que secou vai queimar no forno de microondas. Isso vale em geral: a umidade é essencial! Uma vez que o corante esteja completamente seco sobre o tecido, a reação entre o corante e a fibra irá cessar. Pelo menos um pouco de umidade deve estar presente. A adição de pouca uréia na mistura de reação ajudará consideravelmente na retenção de umidade. 4.8.8. Tempo de tingimento A temperatura do tingimento e o tempo são inversamente relacionados. O tingimento de imersão com baixa água (ver nota de rodapé 60) geralmente está completo dentro de uma hora. Aplicar os corantes diretos em solução, por outro lado, pode demorar várias horas até dois dias, para garantir a fixação completa no tecido. Esses tempos de reação prolongados se explicam, em parte, com o fato de a maioria dos corantes reativos conterem grupos sulfonatos, ou seja, carga negativa. A fibra ativada pela alcalinidade da solução também é negativa, daí a aproximação dos reagentes à fibra fica mais difícil. 190 A. Isenmann CORANTES 4.8.9. Efeito do pH no tingimento Cada corante reativo funciona melhor em um determinado pH. Corantes ácidos (para fibras de proteína) No caso de tingimento ácido, um pH baixo ajuda a formar as ligações de hidrogênio entre corante e a fibra. Sendo assim, a taxa de aproximação do corante à fibra fica elevada, então a taxa de perda do corante por hidrólise mais baixa. As fibras tingidas no ácido são em geral as fibras de proteína, seda, lã ou pêlo, mas também o nylon. Tingimento ácido não funciona em fibras de celulose, como o algodão. O pH ótimo varia de acordo com o tipo de corante (reativo), alguns requerem apenas um ácido muito leve, outros um pH significativamente mais baixo. A estabilidade do pH é garantida ao se usar um sistema tampão, do tipo ácido acético/acetato, ácido fosfórico/fosfato, ácido bórico/bórax, etc. A seda é relativamente insensível frente ao pH. Ela pode ser tingida a pH baixo ou então, como as fibras de celulose, em pH elevado. Por outro lado, a lã só pode ser tingida com pH baixo porque um pH elevado danifica irreversivelmente a fibra. Tab. 27. Faixas de pH para o tingimento de lã usando corantes ácidos. Classe de corante faixa de pH Ácido de ajustagem (tampão) / Kiton / ácido forte 2.5 a 3.5 Ácido em pó / ácido fraco 5.2 a 6.2 Pó ultrafino / ácido rápido 5.5 a 7.0 Lanaset 4.5 a 5.0 Procion MX usado em banho ácido 2.5 a 3.5 Corantes reativos no algodão Ao contrário das fibras de proteínas, as fibras celulósicas, tais como algodão, linho, rayon, etc, não podem ser tingidas a pH baixo. Ao contrário do tingimento no ácido, um pH alto realmente influencia diretamente na velocidade da formação da ligação covalente, corantefibra. Lembra-se que os grupos hidroxilas (= álcool) são nucleófilos relativamente fracos; para eles se tornarem nucleófilos mais fortes frente ao corante reativo eles devem ser desprotonados - pelo menos em pequena prcentagem. Sem um pH elevado a taxa de fixação do corante à fibra de celulose fica muito baixa. No tingimento de algodão e outras fibras de celulose com corantes reativos populares, tais como Procion MX ou Sabracron F, o carbonato de sódio (= soda) é utilizado a fim de elevar o pH e estabilizá-lo na faixa ótima (ver p. 191). É interessante notar que alcalinizar com amônia ou até com soda cáustica não leva a um resultado satisfatório - provavelmente devido à tendência destes reagentes de reagirem mais rapidamente com o corante reativo, do que com a celulose. Isso já implica que alcalinidade exagerada (pH > 12) prejudica o processo do tingimento, assim como valores muito baixos. Tab. 28. Faixas de pH recomendadas para tingimento de algodão mercerizado com corantes diclorotriazina (Procion MX) Fonte: Ivanov, Reactive Dyes in Biology. Corante Procion MX Brilliant red 2BS faixa de pH 10.2 nomes triviais 191 A. Isenmann CORANTES Brilliant red 5BS Brilliant yellow 6GS Blue 3GS Yellow RS Brilliant orange GS Brilliant blue RS Red GS 10.4 10.8 10.8 10.9 11.0 11.0 11.1 vermelho "light" ou "mixing" azul "sky" ou "basic" Os valores de pH ótimos podem deslocar-se, quer para cima ou para baixo, ao aplicar em outros materiais. Com o rayon são entre 0,5 e 1,0 unidades acima das indicadas na Tab. 28. Nota-se que o "S" em códigos MX na tabela acima indicam apenas que o corante é vendido a uma concentração padrão. Caso diferente a concentração da solução é explicitamente indicada. Por exemplo, Fúcsia MX-8B 50% é meio concentrado, em peso, em relação ao grau padrão. Corantes de vinilsulfona (corantes do tipo Remazol) O pH ideal para o tingimento de algodão com corantes Remazol é provavelmente 11,5. Em lã e outras fibras de proteína, corantes Remazol podem ser usados como verdadeiros corantes reativos, basta ferver a solução a um pH baixo, que conforme a Batik Oetoro (nota de rodapé 59) deve ser de 5,5. Corantes Lanasol A linha Lanaset providencia corantes reativos que são otimizados para uso em fibras protéicas: os corantes Lanasol. Apesar de serem verdadeiros reativos, eles são usados a um pH ligeiramente ácido, como os corantes ácidos. 4.9. Corantes quinóides e a fotografia colorida Esses corantes não têm o grupo azo como cromóforo, mas um sistema quinóide, proveniente de um processo oxidativo feito no anel aromático. As substâncias mãe são o indofenol e a indoanilina: N N O OH Indofenol O NH2 Indoanilina O indofenol (marrom) é feito a partir de uma mistura equimolar de p-aminofenol e fenol, numa reação de oxidação com hipoclorito em ambiente alcalino (água sanitária). O “Azul de fenol”, um corante indoanilina, se obtém por oxidação com hexacianoferrato (III) de potássio, de uma mistura de p-diaminobenzeno e fenol. Em primeira instância forma-se uma leucobase, isto é, uma forma solúvel com que a fibra ou o papel fotográfico está sendo tratado. A última etapa é a transformação da leucobase em sua forma definitiva e insolúvel o que causa a fixação na fibra. 192 A. Isenmann CORANTES NH2 H H N [O] + Me2N OH - H2O Me2N OH Leucobase [O] - H2O N Me2N O Azul de f enol O princípio dos corantes quinóides é aplicado com sucesso na fotografia colorida (Rudolf Fischer, 1911). Uma emulsão de haleto de prata é revelada usando N,N-dialquil-pdiaminobenzeno. A reação é catalisada pelas partes iluminadas do filme, os produtos são prata metálica e a diimina quinóide. Et 2N Et 2N NH2 NH + 2 Ag+ N,N-Dietil-p -f enilenodiamina + 2 Ag + H+ Et 2N NH N,N-Dietil-quinondiimina A diimina pode em seguida acoplar com um componente que dá a cor típica, que seja amarela, púrpura ou verde-azul. Em qualquer caso o componente de acoplamento dispõe de um grupo ativo de metileno ou metino (portanto, usa-se a expressão “componente de metileno”). Podem ser compostos cíclicos ou abertos. Exemplo: com a β-cetoanilida se obtém um “corante azometino” amarelo: 193 A. Isenmann CORANTES O O R Et2N NH + H2C H N - H+ R NH CH H N O Et 2N O N,N-Dietil-quinondiimina + 2 Ag+ - 2 Ag - 2 H+ O R Et2N N C H N O Corante azometina (amarelo) Com pirazolinonas, sendo componente cíclico de metileno, a diimina acopla e um processo oxidante revela um corante púrpura com o grupo cromóforo azometina. Finalmente pode-se usar um fenol ou um α-naftol para se revelar uma indoanilina de coloração verde-azulada. Et 2N N N N ´R Corante azometina (púrpura) O N R Et2N O R Corante indoanilina (azul) Nestas três cores se baseia a patente da Agfa-color de filmes coloridos de três camadas. Na fotografia colorida é crucial que o componente de acoplamento fique móvel (= solúvel), enquanto os corantes revelados sejam o mais insolúveis possível, por não difundir através das camadas distintas do filme fotossensível. A solubilidade em água (alcalina) foi atingida pela introdução de grupos sulfonilas ou carboxilas, a resistência à difusão pela implementação de grupos alquilas compridos. Em modernos filmes multicamada ocorre uma mistura subtrativa de três imagens parciais. Em cada uma das três camadas se encontra um componente típico de acoplamento, mais o brometo de prata que foi sensibilizado (isto é, misturado com um filtro de cor, para restringir sua sensibilidade a uma certa região espectral). Assim é possível revelar as imagens latentes de todas as três camadas em um único banho de revelação. 194 A. Isenmann 4.10. CORANTES Corantes naturais 62 O uso de corantes naturais começou há milhares de anos, havendo evidências entre os antigos egípcios, na China e na Índia. No Brasil, os corantes naturais têm importante relação com sua história, a começar pelo nome do país, proveniente da madeira de pau-brasil (Caesalpinia echinata), importante fonte de corante vermelho no século XVI. Durante grande parte do século XIX, o Brasil também forneceu corante índigo (Figura 1) extraído da planta Indigofera tinctoria, de coloração azul. Até a metade do século XIX, os corantes naturais eram essencialmente extraídos dos reinos animal e vegetal, que ofereciam todos os recursos para sua obtenção. O cultivo de plantas e a criação de animais ou suas coletas junto às fontes naturais, o processamento e a comercialização de materiais corantes deles obtidos (Figura 2), tiveram importantíssimo papel sócio-econômico no passado, em nível mundial. No entanto, com o desenvolvimento do primeiro corante sintético em 1856, os corantes naturais foram rapidamente substituídos, devido ao baixo custo decorrente das economias na escala de produção, da flexibilidade de localização perto dos centros consumidores, homogeneidade da composição e garantia da qualidade. Fig. 145. Venda de corantes na ilha Java 62 Artigo de Ticiane Rossi. Corantes Naturais: Fontes, Aplicações e Potencial para Uso da Madeira (2008); disponível em http://www.ipef.br/tecprodutos/corantes.asp 195 A. Isenmann CORANTES Embora a maioria dos corantes sintéticos seja classificada como seguros, os consumidores estão cada vez mais interessados em produtos de origem natural, que causa menores danos à saúde humana e ao meio ambiente. Dessa forma, em busca de atender esse novo nicho de mercado, as indústrias alimentícia, cosmética, papeleira e têxtil têm aumentado o uso de corantes naturais. Atualmente há uma série de produtos, principalmente alimentícios, que já utilizam corantes naturais tais como bebidas, molhos, sopas, maioneses, sorvetes, temperos, massas etc. (a coloração de alimentos é um ramo industrial importante, portanto dedicamos o cap. 6.3 ao assunto). Os corantes naturais, em relação aos corantes sintéticos apresentam uma grande vantagem no tratamento de efluentes, que representa um grande problema para a indústria têxtil. Tradicionalmente, a etapa industrial de tingimento, é uma das que mais utiliza a água em seu processo produtivo, o que gera uma grande quantidade de efluentes, que têm como destino os rios. Cerca de 90% do consumo de água de toda indústria têxtil se dá no processo de tinturaria. Sendo assim, um grande volume de efluentes é despejado nos rios causando danos ao ambiente. Uma área promissora para o tratamento desses efluentes tem sido a dos métodos de biodegradação. No entanto, os corantes sintéticos não foram degradados pelos microorganismos, aumentando ainda mais o interesse sobre os corantes naturais, posto que estes sejam facilmente tratados por métodos de biodegradação. Se quiséssemos somente corantes naturais para tingir as fibras (igualmente naturais), necessitaríamos de 100 milhões de toneladas ao ano. É claro que isso é muito além do viável economica e ecologicamente. Ainda lembramos que os rendimentos desses corantes naturais, em relação ao peso seco de matéria-prima, são muito variados sendo que, para conchas de Murex (utilizadas pelos fenícios para produzir corante púrpura) o rendimento é de 0,01 %, chegando até 10 % em média, para corantes extraídos a partir de madeira. Portanto, até agora, apenas um número muito limitado de corantes naturais tem-se revelado comercialmente viável. Assim, a aplicação majoritária destes corantes é para coloração de gêneros alimentícios e cosméticos (Tab. 29) e, mesmo assim, apenas corantes selecionados são aceitos no mercado, devido às rigorosas normas de segurança em relação a dados toxicológicos e farmacológicos. Tab. 29. Alguns corantes naturais de plantas aceitos na indústria de alimentos e cosméticos. Cor Nome comum Nome científico ou fonte Vermelho Beterraba Beta vulgaris Vermelho Vermelho Cochonilha Páprica Dactylopius costa Capsincum anuum Laranja Urucum Bixa orellana Amarelo Cúrcuma Curcuma longa Verde Clorofila Células de cloroplasto Azul a violeta Azul Antocianinas Indigo Uvas,framboesa,morango, amora etc. Indigofera tinctoria Parte utilizada Aplicação Cosméticos e alimentos Inseto inteiro Alimentos Frutos Alimentos Cosméticos e Sementes alimentos Cosméticos e Rizomas alimentos Folhas de Cosméticos e diversas plantas alimentos Cosméticos e Flores e frutos alimentos Indigofera Cosméticos Raízes 196 A. Isenmann CORANTES tinctoria Violeta Paucampeche Haematoxylum campechianum Cerne da madeira Cosméticos Atualmente, a indústria têxtil é uma das mais afetadas pela concorrência com os produtos da China, o que vêm incentivando o desenvolvimento da indústria brasileira de forma a diferenciar seus produtos através de inovação e busca de novos ingredientes, entre eles os corantes naturais, que agregará valor ao produto final, diferenciando-se dos outros. Embora haja uma grande quantidade de pigmentos provenientes de fontes minerais e animais, as plantas são fontes importantes para obtenção de corantes e pigmentos, os quais podem ser encontrados em ramos, raízes, folhas, flores, cascas etc. Uma fonte importante de material natural está presente nos extrativos provenientes da madeira. Estes extrativos podem ser removidos facilmente da madeira, apresentando fácil solubilização em água, ou em solventes orgânicos neutros, como etanol, sendo responsável pelas características peculiares da madeira como sabor, odor e, principalmente, a cor. No sentido de atender e reforçar o apelo ambiental dos corantes no mercado, uma fonte potencial de extrativos de madeira é a utilização dos resíduos do processamento mecânico (serragem; pó), devido à sua produção em grande quantidade por todo o Brasil. Por não terem uma disposição final adequada, em geral, estes resíduos causam problemas ambientais na deponia. Estima-se que o consumo de madeira nativa em toras seja de 34.000 m³ e considerando que, em média, o aproveitamento é de 50 % no desdobre da madeira, tem-se, portanto aproximadamente 17.000 m³ de resíduos florestais, somente no Brasil. O estudo de algumas madeiras, notadamente amazônicas, verificou que os extrativos destes resíduos apresentaram grande potencial como corantes naturais para tingimento têxtil em algodão e papel, com características de boa permanência da cor à luz. Foi avaliado também, o efeito da remoção dos extrativos nas características energéticas da madeira, em que se concluiu não haver influência negativa no valor do material prontamente extraído e seco, para uso como combustível. Por fim, o crescimento do nicho de mercado que valoriza os produtos naturais incentiva, cada vez mais, a busca por novas fontes de corantes naturais, cuja demanda tem aumentado. Dessa forma, o Brasil destaca-se como um potencial fornecedor destas matérias-primas corantes, mediante a riqueza em biodiversidade e fonte de resíduos de madeira, cujo potencial como corante já foi avaliado. Nesse sentido, há necessidade de estudos para avaliar o fornecimento de matéria-prima, seu custo e sazonalidade em busca da viabilidade econômica do corante. Não obstante, são informações fundamentais no desenvolvimento de um produto para indústria, a estabilidade do corante, sua fixação, as caracterizações químicas, estudos toxicológicos e farmacológicos. 4.10.1.Bibliografias acerca de corantes naturais H.S. Freeman, A.T. Peters. Colorants for non-textiles applications. Elsevier Science B.V. 2000. p. 382-455 C. L. Green. Natural Colourants and Dyestuffs: A review of production, markets and development potential. Non-Wood Forest Products. Rome, Food and Agriculture Organization of the United Nations, 1995. 197 A. Isenmann CORANTES C.C.I. Guaratini, M.V. B. Zanoni. Textile dyes. Quím. Nova, v.23, n.1, p.71-78. jan./feb. 2000. ISSN 0100-4042. Disponível no site: http://www.scielo.br/pdf/qn/v23n1/2146.pdf D. Maimom. Estudo de mercado de matéria-prima: corantes naturais (cosméticos, indústria de alimentos), conservantes e aromatizantes, bio-inseticidas e óleos vegetais e essenciais (cosméticos e oleoquímica). Belém, PA, 2000. Disponível em: http://www.genamaz.org.br/estudcosmetico01.html T. Rossi, J.O. Brito. Pesquisa avalia os extrativos de madeira como fonte potencial de corantes naturais. IPEF Notícias, n.184, p. 13. jan./fev.2007. Disponível no site: http://www.ipef.br/publicacoes/ipefnoticias/ipefnoticias184.pdf T. Rossi, J.O. Brito. Avaliação dos extrativos de resíduos gerados no setor madeireiro da empresa Orsa Florestal, como fonte potencial de corantes naturais para tecidos e papel. Estágio Profissionalizante em Engenharia Florestal. Universidade de São Paulo. Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz". 2007. 5. Pigmentos Um pigmento é um material sólido, insolúvel, que muda a cor da luz, como resultado da absorção selectiva de alguma faixa do espectro da luz visível. A luz reduzida pelo pigmento pode ser refletida (melhor falado: espalhada) ou transmitida, então o pigmento exerce o papel de um filtro. Este processo físico difere da fluorescência, fosforescência, e outras formas de luminescência, em que um material emite luz (exemplos na p. 219). Conforme a definição na p. 200, o fenômeno óptico que resulta de vários pigmentos é uma mistura subtrativa das cores espectrais. Muitos materiais absorvem seletivamente certos comprimentos de onda de luz. Materiais que os seres humanos têm escolhidos e desenvolvidos para uso como pigmentos geralmente possuem propriedades especiais que os tornam ideais para a coloração de outras matérias. Um pigmento deve ter uma elevada força de coloração, em relação ao material que ele deve colorir (uma vasilha de plástico na cozinha, o pára-lama do nosso carro, a tela de fundo do pintor, no rosto com maquiagem,...). Deve ser estável e sólido, à temperatura ambiente. Para aplicações industriais, bem como nas artes, sua permanência e estabilidade frente ao ambiente agressivo são propriedades desejáveis. Pigmentos que não são permanentes são chamados de fugitivos; eles desaparecem com o tempo ou com a exposição à luz, enquanto alguns, eventualmente, tornam-se escuros. Suas aplicações são relativamente raras. Os pigmentos são utilizados para coloração de tintas para pintura artística, lápis de cor pintura de alvenaria e prédios, impressão e escrever em papel (em forma de dispersão em solvente ou como pó a ser polimerizado) plásticos, coloração e impressão em tecidos, cosméticos (batom, maquiagem, tinturas de cabelo) vidros, velas e ceras, alimentos e outros materiais. 198 A. Isenmann CORANTES Embora que não sejam coloridos, também temos que referir os pigmentos brancos (espalhando tudo, por não absorver nada) e pretos (espalhando nada, então absorvendo tudo) muito usados como aditivo na produção de papel branco e pneus pretos, para mencionar os dois maiores consumidores destes pigmentos. Assim, podemos afirmar que as indústrias que mais consomem pigmentos são: tintas e esmaltes, impressoras, plásticos, cosmética, papel, materiais de construção, cerâmica e vidro. Na indústria têxtil se observa a tendência que os pigmentos (alí chamados de corantes dispersivos; cap. 4.7) substituírem cada vez mais os corantes solúveis - especialmente aqueles que necessitam de solventes orgânicos. O mercado mundial de pigmentos inorgânicos, orgânicos e especiais chegou a um volume total de cerca de 7,4 milhões de toneladas em 2006. A Ásia tem a maior taxa em quantidade de pigmentos comercializados, seguida pela Europa e América do Norte. Em 2006, um volume de negócios de US$ 17,6 bilhões foi atingido principalmente na Europa, seguida pela América do Norte e a Ásia. Já em 2009 a demanda mundial de pigmentos foi de aproximadamente US$ 20,5 bilhões, e se prevê ainda um crescimento mais acelerado nos próximos anos - apesar da crise econômica na Europa. As vendas mundiais são ditas para aumentar até US$ 24,5 bilhões em 2015, e atingir US$ 27,5 bilhões em 2018 63. A maioria dos pigmentos utilizados nas fábricas e nas artes visuais são aplicados de forma seca, geralmente moído para um pó fino, mas de granulometria controlada. As propriedades deste material dependem então, além da sua estrutura química, das qualidades como sólido, tais como: • • • • • da rede cristalina e modificação do cristal, do tamanho médio das partículas e da distribuição dos tamanhos, do aspecto dos cristais (pauzinhos, discos, bolinhas, etc.) que, em conjunto, definem sua superfície específica. Este pó é adicionado a um veículo (ou juntura), um material relativamente neutro e incolor que suspende o pigmento e fornece à massa a sua aderência. A maioria dos veículos são polímeros e pré-polímeros orgânicos, sendo esses nas tintas e vernizes ou então em objetos feitos inteiramente de plástico. Existem também veículos inorgânicos para os pigmentos, tais como vidro incolor ou esmalte, a serem produzidos a altas temperaturas. Em qualquer aplicação é importante que o pigmento seja distribuído de maneira uniforme neste meio neutro. Às vezes isso requer de aditivos que promovem a dispersão das partículas finas; esses aditivos têm o papel de compatibilizar as fases distintas, o pigmento (polar) e a matriz (muitas vezes de natureza apolar). Isto é possível através do caráter anfifílico do aditivo, quer dizer, cabeça polar e cauda apolar, do jeito que se conhece dos sabões e detergentes. A dispersão perfeita apresenta-se, ou em forma de micelas ou partículas soltas de pigmento que agora mostram uma tensão superficial muito baixa frente ao veículo. Uma distinção é geralmente feita entre um pigmento, que é insolúvel no veículo (resultando numa suspensão), e um corante que já por si é um líquido ou é solúvel no seu veículo (resultando numa solução verdadeira). Essa definição, no entanto, não é muito nítida, porque um meio colorante pode ser tanto um pigmento como um corante, de acordo com o veículo 63 http://www.acmite.com/market-reports/chemicals/world-pigment-market.html 199 A. Isenmann CORANTES em que é utilizado. Além disso, referimos os "corantes dispersivos" (cap. 4.7), insolúveis, que naturalmente estão na beirada para os pigmentos. Em alguns casos, pode-se obter um pigmento ao precipitar um corante solúvel por meio de um sal metálico (por exemplo, o vermelho do carmim). E não esquecemos os "corantes de mordente", onde justamente um íon metálico (Al3+, Cr3+, Fe3+) forma um compelxo insolúvel com o corante, ao mesmo tempo estabelece uma ponte entre o complexo e a fibra do tecido. 5.1.1. Princípio físico da absorção de luz por pigmentos Pigmentos aparecem em cores intensas porque refletem (mais corretamente falado: espalham) a luz e, no caso dos pigmentos coloridos, absorvem seletivamente outros comprimentos de onda da luz visível. A luz branca é uma mistura aproximadamente uniforme de todos os comprimentos de onda do espectro da luz visível, numa gama de cerca de 375 aos 780 nm. Isto implica que um pigmento branco ideal não absorve dentro da região do visível, mas reflete toda a radiação, de maneira não direcionada. Quando esta luz encontra um pigmento colorido, algumas partes do espectro são absorvidas pelas ligações químicas de sistemas conjugados (expressão ver p. 86) e de outros detalhes estruturais do pigmento. O que não for absorvido e transformado em calor, então é refletido ou espalhado. A maioria dos pigmentos são complexos de transferência de carga, como por exemplo, os sais de metais de transição, com largas bandas de absorção que subtraem a maior parte das cores da luz branca incidente. Somente a parte da luz refletida cria a aparência da sua cor. Ultramarino reflete a luz azul, enquanto absorve as outras cores. Pigmentos, ao contrário de meios fluorescentes ou fosforescentes, só pode subtrair comprimentos de onda da fonte de luz, nunca adicionar novos 64 . Também é verdade que o pigmento se esquenta ao ser irradiado. Quem menos se esquenta são os pigmentos brancos, já que retêm muito pouco e refletem/espalham quase todas as frequências do espectro visível. Como veremos no cap. 7.5, o aparecimento do pigmento está intimamente relacionado com a cor da fonte luminosa. A luz solar tem uma alta temperatura de cor e um espectro bastante uniforme; essa luz é imitada pelo padrão D65 (= Daylight 6500 K), com a temperatura de cor mais ou menos igual ao sol. Fontes de luz artificiais da nossa casa, por outro lado, tendem a ter grandes picos em algumas partes do seu espectro, e vales profundos nos outros. Visto sob estas condições, os pigmentos aparecem em cores diferentes. Fig. 146. Reflexão parcial da luz natural deixa aparecer o pigmento colorido (reflexão total seria branco). 64 Exceção: os pigmentos especiais luminescentes e materiais radioativos, ver p. 219. 200 A. Isenmann CORANTES Outras propriedades de cor, tais como a clareza ou a sua saturação, podem ser determinadas pelas outras substâncias que acompanham os pigmentos. Aglutinantes e cargas, adicionadas ao pigmento quimicamente puro, também têm seus próprios reflexos e padrões de absorção, o que pode afetar o espectro final. Por exemplo, pode acontecer que em uma mistura do pigmento dentro de uma matriz, algumas frequências da luz incidente nem chegam às partículas do pigmentos, mas são espalhados antes, pela matriz. Estes raios de espúria atenuam a saturação da cor com que aparece o pigmento puro. Em outras palavras: um pigmento puro deixa escapar muito pouca luz branca, produzindo uma cor altamente saturada. Uma pequena quantidade de pigmento misturado com uma grande quantidade de aglutinante branco, no entanto, aparece pálida, devido à elevada quantidade de fuga de luz branca. 5.2. Desenvolvimento histórico dos pigmentos 65 Muito antes da Revolução Industrial do século XIX a humanidade já aproveitou dos pigmentos, que achou como tal na natureza ou que transformou levemente, por meios físicos e simples (moer, misturar, esquentar, secar, suspender em água, suspender em óleo de linhaça etc.). Óxidos de ferro são minerais da natureza e dão uma gama de cores (desde amarelo, alaranjado, vermelho, até marrom e preto). Ocras (tons no amarelo) são argilas de pequena granulometria, encontrados em regiões onde na última era glacial passaram as geleiras. Estes pigmentos geralmente não foram tratados à alta temperatura, mas usados como encontrados na nautreza. Embora estes pigmentos sejam conhecidos e utilizados desde tempos préhistóricos, hoje se prefere produzi-los de maneira mais controlada na fábrica química, como todos os pigmentos inorgânicos. O tom verde foi acessível a base de compostos do cobre (II), tal como seu carbonato básico ou cloreto básico, mas também a malaquita, um mineral. O último se obtém ao mergulhar o metal de cobre em uma salmoura. Raros eram os pigmentos azúis. Desde a antiquidade foi produzido o azul do Egito, um silicato de cobre e cálcio, provavelmente feito por sinterização de carbonato de cobre, carbonato de cálcio e areia (quartzo) - apreciado pela sua tonalidade clara. Também antigo é o aluminato de cobalto que foi esquecido ao longo dos séculos e somente redescoberto como "Azul de Thenard" em 1804. O pigmento branco era - e ainda é - vital na pintura artística. Durante vários séculos o branco de chumbo (Pb(OH)2 . 2 PbCO3) era o único branco confiável e disponível, até que no início do século XIX surgiu o branco do zinco (ZnO) que, embora tiver menor opacidade, logo ganhou preferência sobre o produto de chumbo, já que não é tóxico. Hoje se usa quase que exclusivamente o branco de titânio TiO2 (rutilo). Note que é fisicamente impossível fazer um corante (= solúvel) branco! No entanto, a gama das cores e também a aplicabilidade eram limitadas. A maioria dos pigmentos em uso eram terras e minerais, outros eram pigmentos de origem biológica. Pigmentos a partir de fontes incomuns, tais como a dispersão coloidal de cobre (vermelho; a partir da calcinação redutiva de malaquita ou azurita) ou materiais botânicos, resíduos animais (urina de vaca, no "Amarelo da Índia"), insetos e moluscos foram colhidos e comercializados a longas distâncias. Alguns eram caros ou impossíveis de se misturar com outros meios colorantes que estavam disponíveis. Por exemplo, o azul e o roxo passaram a ser associados à realeza - por causa da sua rariedade e exclusividade. 65 ver também http://www.webexhibits.org/pigments/intro/history.html 201 A. Isenmann CORANTES Não só a famosa púrpura (feito a partir do muco de um caramujo marinho, ver p. 159 e Fig. 4), mas também os pigmentos minerais foram negociados a longas distâncias. A única maneira de conseguir um profundo e rico azul era a moagem de uma pedra semi-preciosa, o lápis lazuli, para produzir um pigmento conhecido como ultramarino, e as melhores fontes de lápis eram remotas. O pintor flamengo Jan Van Eyck (século XV), geralmente não utilizou azul em suas pinturas. Encomendar um retrato pintado com azul-ultramarino foi considerado sendo grande luxo. Se um patrão queria azul, então pagou extra. Quando Van Eyck usava lapis, ele nunca misturou com outras cores. Em vez disso, ele aplicou em sua forma pura, quase como um esmalte decorativo. O preço proibitivo de lápis lazúli forçou os artistas para buscar pigmentos mais baratos, quer de minerais (azurita, vidro de cobalto) ou então biológicos (índigo). Os espanhóis conquistaram um império no Novo Mundo ao decorrer do século XVI e introduziram novos pigmentos e cores para os povos de ambos os lados do Atlântico. Carmim, um corante e pigmento derivado de um inseto parasita encontrado na América Central, alcançou grande status e valor na Europa. Produzido a partir de insetos cochonilha colhidas, secas e trituradas o carmim podia ser, e ainda é, utilizado na tintura de tecidos, alimentos, pintura corporal, ou, em sua forma sólida, em quase qualquer tipo de pintura ou em cosméticos. Exemplos famosos da idade-média são os mantos dos cardeais católicos, outros os uniformes militares dos Portugueses. Curiosidade: a fonte exata do pigmento, um inseto, foi mantida em segredo até o século XVIII, quando os biólogos descobriram a origem verdadeira. 5.2.1. Surgimento dos pigmentos sintéticos Dois dos primeiros pigmentos sintéticos foram o "branco de chumbo" (carbonato básico de chumbo, (PbCO3)2 . Pb(OH)2 e a "frita azul" (= azul do Egito). Branco de chumbo é feito através da combinação de chumbo com vinagre, na presença de CO2. A "frita azul" é um silicato de cálcio e cobre e foi feita a partir de vidro colorido junto a um minério de cobre, como a malaquita. Estes pigmentos foram usados desde o segundo milênio a.C. A revolução industrial (e científica!) do século XIX levou a uma enorme expansão do sortimento de pigmentos. Pigmentos que antes foram fabricados ou refinado a partir de materiais naturais, de repente eram disponíveis em abundância, tanto para o processamento em série como na expressão artística. Áinda antes daquela época, em 1704, o "azul da Prússia" (hexacianoferrato(II) férrico) foi descoberto por acaso, sendo assim o primeiro pigmento inorgânico sintético (ver sua história e síntese, na p. 311). No início do século XIX, os pigmentos azuis sintéticos e metálicos aumentaram consideravelmente o sortimento dos azuis, incluindo o ultramarino francês, uma forma sintética de lápis lazuli, e as várias formas de óxidos de cobalto e de cobre - ás vezes sinterizados mistos ("Azul Ceruleano"). O primeiro pigmento orgânico 66 foi o "Vermelho de Pará" (CI Pigmento Red 1), um pigmento azo do grupo dos β-naftóis que data de 1885. Somente 50 anos depois, a química orgânica contribuiu com a ftalocianina de cobre (1935), um organometálico sintético, um pigmento com poder de tingimento nunca visto antes. Os pigmentos orgânicos mais recentes e de importância econômica, são a quinacridona (do roxo ao vermelho escuro; 1955; ver Fig. 147) e o di-ceto-pirrolo-pirol (DPP; vermelho; 1986, ver Fig. 148). 66 K. Hunger, W. Herbst. "Pigments, Organic" em Ullmann's Encyclopedia of Industrial Chemistry, Wiley-VCH, Weinheim, 2012. 202 A. Isenmann CORANTES H N O N H O Fig. 147. Substância mãe das quinacridonas. A primeira foi feita por condensação do éster succinosuccinato com anilina, seguido pela ciclização, levando à dihidroquinacridona. Esta pode ser facilmente oxidada no ar e rende a quinacridona. COOEt + HN O O CN Base HN NH O Fig. 148. Síntese do di-ceto-pirrolo-pirol (DPP), um dos pigmentos orgânicos mais recentes. São usados como fotossensibilizadores e em células fotovoltáicas. O desenvolvimento rasante dos pigmentos químicos e corantes ajudou a trazer uma nova prosperidade industrial, principalmente na Alemanha e em outros países do norte da Europa, mas também causou dissolução e declínio em outros lugares. Melhor exemplo é o império dos espanhóis no Novo Mundo, onde produziram o corante de cochonilha com emprego de milhares de trabalhadores com baixos salários ou até escravos. Esse monopólio já sofreu uma depressão no início do século XIX, quando a Guerra da Independência do México e outras mudanças do mercado interromperam a produção. A química orgânica finalmente lançou o golpe final para a indústria do “carmim”. Antes da Revolução Industrial , muitos pigmentos eram conhecidos pelo local onde eles foram produzidos. Pigmentos à base de minerais e argilas muitas vezes levavam o nome da cidade ou região onde foram extraídas. Sienna Cru e Sienna Calcinado vieram de Siena, Itália, enquanto Umber Cru e Umber Calcinado veiam da Úmbria. Esses pigmentos estão entre os mais fáceis de se extrair, mas os químicos agora criaram cores modernas que eram mais consistentes do que as cores extraídas do minério original. Mas os nomes tradicionais para certos tons (entre o amarelo e marrom com toque de vermelho) permanecem até hoje. Por convenção, uma mistura contemporânea de pigmentos que substitui um pigmento histórico devia ser caracterizad pela sua tonalidade (inglês: hue), mas os fabricantes nem sempre foram preocupados em cuidar e manter esta distinção. Os exemplos seguintes ilustram o uso ambíguo de nomes históricos para pigmentos novos: O "Amarelo da Índia" já era produzido através da recolha da urina de gado que tinham sido alimentados apenas com folhas da manga. Pintores holandeses e flamengos dos séculos XVII 203 A. Isenmann CORANTES e XVIII favoreceram essa tinta devido suas propriedades luminescentes - muitas vezes usada para representar o sol. Já que as folhas dea mangueira são nutricionalmente inadequadas para o gado, a prática da colheita indiana foi finalmente declarada desumano. Os tons modernos de "Indian Yellow" são exclusivamente feitos de pigmentos sintéticos. O Ultramarino, originalmente da pedra semi-preciosa lápis lazúli, foi substituído por um pigmento sintético barato moderno, o ultramarino francês, fabricado a partir de silicato de alumínio com traços de enxofre. Ao mesmo tempo, o "azul marinho", um nome antigamente dado às tonalidades produzidas a partir do lápis lazúli, evoluiu-se como marca que estava de cor muito mais clara e mais brilhante. Como o ultramarino sintético é quimicamente idêntico ao lápis lazuli, a designação de "tom" não se justifica aqui. "Azul francês", outro nome histórico para o ultramar, foi adotado pela indústria têxtil e de confecção como um nome de cor na década de 1990, e foi aplicado a um tom de azul que não tem nada em comum com o pigmento ultramarino histórico. Hoje costuma-se produzir este tom, a partir da ftalocianina e dióxido de titânio - de baixo custo e ainda mais brilhante. O Vermelhão (= cinabre), um tóxico composto de mercúrio apreciado pela sua cor vermelhaalaranjada profunda desde os pintores antigos como Ticiano, foi substituído nas paletas de pintura por vários pigmentos modernos, incluindo os vermelhos de cádmio. No século XX a tinta "Vermelhão genuíno" ainda pode ser comprada para artes plásticas e aplicações de conservação de arte, mas somente poucos fabricantes ainda o produzem por causa de questões de responsabilidade legal. E poucos artistas o compram, já que foi substituído por pigmentos modernos que são menos caros e bem menos tóxicos - e também menos reativo com outros pigmentos. Como resultado, o "Vermelhão genuíno" é quase indisponível. Hoje as cores avermelhadas estão devidamente designadas como "Hue Vermilion" para distingui-los do cinabre original. 5.2.2. Métodos industriais de aplicação dos pigmentos Pigmentos surgem normalmente em forma de partículas primárias. As partículas primárias podem crescer em conjunto nas suas superfícies formando agregados. Fala-se de "aglomerados" quando as partículas primárias e/ou os agregados estão ligadas por seus cantos e arestas. Perante o processo de dispersão, no ato da incorporação dos pigmentos num meio de aplicação, os aglomerados do pigmento são esmagados. Daí voltam para aglomerados menores, agregados e partículas primárias. Imediatamente são umedecidos pelo meio dispersante, assim se previne a re-aglomeração. Idealmente, devem ser distribuídos aleatoriamente ao longo do meio de aplicação (processo industrial, ver p. 230). Na forma sólida, o pigmento pode ser utilizado não diluído (pigmento primário), ou em forma de mistura sólida de dois ou mais pigmentos, ou ainda em uma mistura com um ou mais materiais de enchimento (= carga) e aditivos de dispersão. No último caso, misturando-se com agentes de enchimento, a intensidade em cor abaixa-se. Desta maneira, baixas taxas de aplicação podem ser melhor administradas. Esta opção é usada em revestimentos em pó. Em geral vale: quando mais próximos os pigmentos primários, mais intensa a cor (= "contraste simultâneo"). Em caso de tintas e lacas líquidas os pigmentos se aplicam muitas vezes em forma de prépreparados que podem ou não, conter aditivos de dispersão. São formulados de forma semelhante à da própria tinta (onde geralmente são aplicados), que contêm pigmentos, aditivos, solventes ou água, dependendo da formulação da base (ver detalhes no cap. 6.1). A vantagem dos pré-preparados de pigmentos é sua fácil e precisa aplicação, uma vez que o pigmento já está disperso e padronizado e, portanto, preparação de pigmentos de tintas só precisam ser misturados, sob agitação relativamente leve. A desvantagem é que os aditivos 204 A. Isenmann CORANTES podem afetar na coloração, caso a preparação de pigmentos não estivesse compatível com todos os ingredientes do sistema da tinta. Por esse motivo, a compatibilidade é um importante critério nas preparações de pigmentos de desempenho. Denomina-se de sistema de tingimento (inglês: tinting system) a combinação de vários pré-preparados de pigmentos (muitas vezes de 12 a 20 diferentes pigmentos), através de um sistema de dosagem automática e um software especial que calcula as quantidades para reder a cor-alvo (ver cap. 7.16). Este método é usado em tintas para alvenaria e tintas automobilísticas. Preparações de pigmento também podem estar presentes como uma mistura com outros pigmentos ou agentes de enchimento. Além das comumente usadas preparações de pigmentos líquidos, também existem preparados em forma de granulado, feito com aglutinantes facilmente solúveis. Eles são usados, por exemplo, quando solventes adicionais são indesejáveis na formulação final da tinta. Eles têm a vantagem, em comparação aos pós de pigmento, de não ter mais a necessidade de ser dispergidos cuidadosamente, além de serem livres de poeira. Uma terceira forma de aplicação, particularmente na indústria de plásticos, é a possibilidade de aplicar preparações de pigmentos sólidos, os chamados "masterbatches". Os pigmentos são misturados e extrudados, a uma temperatura elevada, numa matriz de plástico – o mesmo material do objeto alvo. Após arrefecimento, os sólidos são granulados e nesta forma dosados e aplicados à matriz do objeto final. Assim é possível gerar cores mais precisos e reproduzíveis quando incorporadas ao plástico. Masterbatches podem conter, dependendo do efeito desejado, pigmentos ou agentes de enchimento em alta concentração. 5.2.3. Produção e padrões industriais Antes do desenvolvimento de pigmentos sintéticos, e o aperfeiçoamento de técnicas de extração de pigmentos minerais, os lotes eram muitas vezes inconsistentes e variáveis na cor. Com o desenvolvimento de uma indústria de corantes moderna, os fabricantes e os profissionais têm elaborados padrões internacionais que permitem a identificação inequívoca (cap. 8), a produção constante e um controle rigoroso da qualidade através da medição objetiva das cores (colorimetria; ver cap. 7) e testes químicos. A partir da metade do século XX os métodos padronizados para a química dos pigmentos estavam disponíveis. A International Organization for Standardization (ISO) e a Deutsche Industrie Norm (DIN) desenvolveram normas técnicas para a fabricação de pigmentos e corantes. Estas definem tanto os processos industriais e químicos da produção, como os procedimentos de teste dos produtos. As principais normas industriais que dizem respeito aos pigmentos em geral são: • • • • • ISO-787 Os métodos gerais de teste para os pigmentos e extensores. ISO-8780 Métodos de dispersão para a avaliação de características de dispersão. ISO 4618 Normas dos materiais aplicados na superfície de bens. DIN 55943 Sobre meios colorantes em geral; definição das classes. DIN 55944 Classificação dos meios colorantes sob ponto de vista do colorista. Outras normas ISO se referem a determinadas classes ou categorias de pigmentos, com base na sua composição química, como pigmentos ultramarino, dióxido de titânio, óxidos de ferro, e assim por diante. 205 A. Isenmann CORANTES 5.2.4. Classificação dos meios de coloração conforme DIN 55943 Pigmentos com propriedades comuns são agrupados em conjuntos respeitando sua aplicação. A norma DIN 55943 inicialmente divide em meios colorantes orgânicos e inorgânicos. Daí cada um dos grupos é dividido em corantes (solúveis) e pigmentos (insolúveis). No próximo nível, a classificação segue o efeito óptico. Existe uma distinção entre pigmentos brancos, pigmentos e corantes coloridos, pigmentos e corantes pretos, pigmentos de efeito e pigmentos e corantes luminantes, Note que os grupos "corantes brancos" e "corantes de efeito" são fisicamente impossíveis, uma vez que o branco se baseia unicamente em espalhamento e o efeito especial em reflexão (pigmentos de efeito), e isto requer uma interface com um sólido cristalino que os corantes não possuem. Meios colorantes Branco Colorido Corantes Pigmentos Fig. 149. Preto Efeitos especiais Pigmentos Pigmentos Corantes Pigmentos Posição dos pigmentos dentro dos meios colorantes, conforme DIN 55943. Segue uma discussão dos mais importantes pigmentos inorgânicos, seguidos pelos orgânicos. 5.2.5. Classificação química dentro dos pigmentos inorgânicos Os pigmentos inorgânicos, industrialmente importantes, podem ser divididos em oito classes de substâncias: 1. dióxido de titânio, 2. negro de carbono, 3. pigmentos de bismuto, 4. óxidos e hidróxidos de metais, 5. azul e ciano de ferro, 6. ultramarino, 7. pigmentos de cádmio 8. cromatos. O grupo dos óxidos e hidróxidos é dividida em pigmentos de óxido de ferro, óxido de cromo e pigmentos de óxidos mistos tal como o "verde de Rinmann" (este último com os subgrupos espinelos, pigmentos da hematita, espinelos inversos e derivados do rutil). O grupo dos cromatos contém o pequeno subgrupo dos molibdatos; são pigmentos amarelos e verdes. 206 A. Isenmann CORANTES A fuligem ocupa uma posição especial. Por definição a fuligem é considerada sendo inorgânica, mas é frequentemente classificada como um pigmento orgânico, devido ao tamanho pequeno das partículas e as propriedades de desempenho resultantes. Pigmentos de Fuligem Bismuto Óxido de titânio Ultramarino Óxidos do cromo Cromatos Óxidos mistos Amarelo Espinelos inversos Espinelos Hematita Fig. 150. Ciano de ferro Pigmentos inorgânicos Óxidos e hidróxidos Óxidos do ferro Pigmentos de cádmio Verde Molibdatos Tipo rutil Os importantes pigmentos inorgânicos. 5.2.6. Fichas técnicas de pigmentos Um critério importante na seleção de um pigmento para certa aplicação é o custo. Também interessam as propriedades físicas e os atributos do próprio pigmento. Por exemplo, um pigmento que é usado para colorir intrinsecamente uma cerâmica deve ter uma estabilidade térmica muito elevada, a fim de sobreviver ao processo de fabricação; por outro lado, sua resistência aos reagentes alcalinos ou ácidos não é um problema, quando está suspenso no veículo vidroso. Outro caso: na pintura artística, estabilidade térmica é menos importante, enquanto a resistência à luz e a toxicidade são as maiores preocupações. Seguem alguns dos atributos de pigmentos que determinam a sua aptidão para determinados processos de fabricação e aplicações: • • • • Resistência à luz e sensibilidade para danos causados por luz ultra-violeta Estabilidade térmica Toxicidade (especialmente problemáticos os pigmentos amarelos de sulfeto de cádmio, cromato de chumbo e o vermelho de molibdato) Tingimento 207 A. Isenmann • • • • • CORANTES Coloração Dispersão Opacidade ou transparência Resistência aos ácidos e álcalis Reações e interações entre pigmentos A grande maioria dos pigmentos inorgânicos se destacam por não reagir com o oxigénio do ar, portanto, são extremamente resistentes ao envelhecimento e mantêm sua tonalidade por tempo indeterminado. Porém, o veículo orgânico (em muitas pinturas se usaram óleos insaturados, tal como óleo de linhaça) pode envelhecer e amarelar, enfim isso pode afetar negativamente a coloração da superfície acabada. Sua alta resistência ao calor facilita seu uso na pintura de porcelana, coloração de vidros e cerâmicas. Aqui, apenas pigmentos inorgânicos podem ser utilizados, já que pigmentos orgânicos não são aguentam as temperaturas do forno e são destruídos completamente. Também em outras aplicações industriais se exige alta resistência ao calor, por exemplo na coloração de plásticos (temperatura na máquina injetora: entre 200 e 300 °C), revestimentos em pó e revestimentos "coil coating" 67, mas aqui as temperaturas não chegam tão altas e portanto podem ser aplicados pigmentos orgânicos, também. A tonalidade de muitos pigmentos inorgânicos é frequentemente descrita como sem graça, em comparação com os pigmentos orgânicos. Isso certamente vale para os óxidos de ferro e os óxidos de cromo. Mas há também alguns pigmentos inorgânicos com um tom puro e brilhante. Entre esses se destacam o vanadato de bismuto, os agora desacreditados sulfeto de cádmio, cromato de chumbo e o vermelho de molibdato que mostram um matiz brilhante, combinada com uma boa opacidade ou solidez. Também bonitos são os pigmentos menos usados, tais como o azul de cobalto ou o ultramarino. 5.2.7. Aplicações industriais dos pigmentos inorgânicos Os pigmentos brancos certamente têm uma posição especial dentro dos pigmentos inorgânicos. Somente na indústria de papel da Europa são usados bem mais de 10 milhões de toneladas por ano, sendo os minerais brancos de carbonato de cálcio de longe os mais consumidos. Note que a indústria de tintas acrílicas é também grande consumidora do carbonato de cálcio, mas lá tem mais o papel de carga que deixa a tinta opticamente mais densa, devido seu alto índice de refração, e ainda confere a importante qualidade da tixotropia 68 . Também na área de tintas de dispersão o branco é de suma importância. Nas tintas de látex o branco é a base para as demais cores (ou até a cor principal), principalmente devido sua excelente opacidade. Pelo valor e também o volume de produção, os pigmentos de dióxido de titânio estão em primeira posição, com cerca de 60% de todos os pigmentos usados em material de acabamento! Em 2006 foram usados cerca de 4,5 milhões de toneladas de dióxido de titânio, mundialmente. Sua posição líder como pigmento branco o TiO2 alcançou no decorrer da década de 1960. O dióxido de titânio suplantou o branco de chumbo, devido à sua resistência frente à luz e intempérie, mas também por sua inércia química e baixa toxicidade. Os pigmentos de óxido de ferro são facilmente acessíveis e baratos e seguem em posição 2, com uma fatura de 8% e um volume de produção de 22%, seguido pelo negro de fumo no 67 Processo contínuo de revestir metal bobinado. 68 Sob tixotropia se entende um comportamento não Newtoneano, no sentido de ter baixa viscosidade ao ser aplicada (com pincel, rolo ou pistola de ar pressurizado), mas alta viscosidade quando estiver em repouso. 208 A. Isenmann CORANTES valor de 9% e 4% em quantidade. Os outros pigmentos inorgânicos e orgânicos são divididas na quantidade restante. Devido seus preços bastante elevados, no entanto, estes chegam quase a 30% em valor. Produção de pigmentos em peso Dióxido de titânio Óxidos de ferro Negro de fumo Outros Produção de pigmentos em valor Dióxido de titânio Óxidos de ferro Negro de fumo Outros Fig. 151. Mercado dos pigmentos inorgânicos. Entre os "Outros" se encontram o óxido de cromo(III) (verde), o ultramarino (azul), vanadato de bismuto BiVO4 (amarelo), silicato de zircónio(IV) ZrSiO4 (branco) e o grupo dos pigmentos óxidos mistos que são significativos. Tab. 30. Lista de pigmentos por elemento químico principal. Metálico e carbono • • Cádmio: pigmentos amarelos (CdS), vermelho, verde, laranja (CdSe). Carbono: pigmentos negros de carbono (inclusive carvão ativado), negro de marfim (cinza de ossos) 209 A. Isenmann • • • • • • • • • • CORANTES Cromo: pigmentos amarelos e verdes. Note que os amarelos contêm o mais tóxico Cr6+ em forma do PbCrO4, enquanto os verdes o menos tóxico Cr3+. Cobalto: cobalto violeta, azul (CoAl2O4) , azul Cerúleo (A. Höpfner, 1805), aureolina (amarelo; N.W.Fischer, 1848) Cobre: Azurita (mineral; Cu3(CO3)2(OH)2), púrpura de Han (sintético; BaCuSi2O6 ), Han azul (sintético, BaCuSi4O10), azul egípcio (antigo; CaO·CuO·4SiO2), malaquita (verde, mineral, Cu2CO3(OH)2), verde de Paris (acetoarsenita de cobre (II), Cu(C2H3O2)2·3Cu(AsO2)2), azul ftalocianina BN (1934; ver Fig. 40 e Fig. 84), ftalocianina verde G (= azul policlorado), verdete (acetato de Cu(II)), viridian (verde a azul; óxido de cromo(III) hidratado). Óxidos do ferro: sanguine (cal avermelhada; mineral), caput mortuum (variedade da hematita), óxido vermelho , ocra vermelho (mineral; Fe2O3 . H2O), vermelho veneziano (variedade da hematita); argilas e terras (óxidos e silicatos de ferro): amarelo ocra, Sienna cru, Sienna queimado, umber cru (óxido de ferro contendo manganese, marrom), umber queimado. Cianeto do ferro: azul da Prússia (1706; [Fe4[Fe(CN)6]3]). Chumbo: branco de chumbo (PbCO3), cremnitz branco , amarelo Nápoles (PbCrO4), zarcão 69 (vermelho; Pb3O4) Mercúrio: vermelhão (= cinabre; HgS; tóxico) Titânio: titânio amarelo (NiO . Sb2O5 . 20 TiO2), titânio bege, branco de titânio (TiO2), titânio preto (Ti2O3) Ultramarino: (mineral, fórmula muito complexa que pode variar nos limites de Na810Al6Si6O24S2-4; sua cor azul vem do radical ânion S3 ), ultramarino sombra verde. Zinco: pigmentos brancos do zinco (ZnO), ferrita de zinco (marrom escuro; ZnxFe3xO4) Pigmentos biológicos e orgânicos • • Origens biológicas: alizarina (= vermelho turquês = Mordant Red 11; sintetizada), gamboge , cochonilha vermelha , ruiva do tintureiro, anil , amarelo da Índia, púrpura. Não biológico orgânico: quinacridona, magenta, verde ftalocianina, ftalocianina azul, pigmento vermelho (PR 170 = sigla para Pigment Red 170). Tab. 31. Lista de pigmentos inorgânicos, de origem natural e sintéticos. Somente os corantes que são derivados diretamente dos pigmentos inorgânicos são mencionados. Oferece-se uma organização pela cor-base. Pigments roxos (CI Pigment Violet; PV) do alumínio: Ultramarino violeta: (Pigment Violet 15) Silicato de sódio e alumínio contendo enxofre. do cobre: Han Purple: BaCuSi2O6. do cobalto: Cobalt Violet: (PV 14) fosfato de cobalto. 69 O zarcão foi até 2000 um dos mais vendidos fundos para estruturas de ferro. Seu efeito anticorrosivo é inegável, mas sua toxicidade, também. Hoje é largamente substituído, por tintas com alumínio em pó. 210 A. Isenmann CORANTES do manganese: Violeta de manganês (PV 16), fosfato de amônio e manganese, idêntico ao mineral purpurita. Pigmentos azúis (CI Pigment Blue; PB) do alumínio: Ultramarino (PB 29): pigmento natural, complexo de silicato de sódio contendo enxofre; fórmula sumária: Na8-10Al6Si6O24S2-4. do cobalto: azul de cobalto (PB 28) e azul Ceruleano (PB 35): estanato de cobalto(II). do cobre: azul do Egito: pigmento sintético, um silicato de cálcio e cobre (CaCuSi4O10). Supostamente o primeiro pigmento sintético da humanidade. Han Blue: BaCuSi4O10. do ferro: Azul da Prússia (Prussian Blue, PB 27): pigmento sintético, hexacyanoferrate férrico (Fe7(CN)18). A solução conhecida como "Marking blue" é uma mistura de Azul da Prússia e álcool. do manganese: YIn1-xMnxO3: pigmento sintético. Na estrutura cristalina do YInO3 foi inserido o manganês para coordenar-se trigonal-bipiramidal. Pigmentos verdes (CI Pigment Green; PG) do cádmio: ver do cádmio: pigmento verde claro, uma mistura de sulfeto de cádmio (cor amarela do correio; CdS) e o viridiano (Cr2O3). do cromo: verde de cromo (PG 17). Viridiano (PG 18): pigmento verde escuro, um hidrato de óxido de cromo(III). do cobre: verde de Paris: acetoarsenito de cobre(II), Cu(C2H3O2)2·3Cu(AsO2)2. Scheele's Green (also called Schloss Green): arsenito de cobre, CuHAsO3. Pigmentos amarelos (CI Pigment Yellow; PY) do arsênio: Opermento (ou orpimento), um sulfeto de arsênio(III) natural, monoclínico (As2S3; ver estutura na Fig. 103). do cádmio: amarelo de cádmio (PY 37): sulfeto de cádmio, CdS. É o pigmento tradicional dos carros de correio. do cromo: amarelo de cromo (PY 34): pigmento natural, cromato de chumbo(II), PbCrO4. do cobalto: Aureolino (ou amarelo de cobalto, PY 40): cobaltinitrito de sódio, (Na3Co(NO2)6. do ferro: Ocra amarelo (Yellow Ochre; PY 43): argila natural, um óxido de ferro hidratado, Fe2O3.H2O. do chumbo: Naples Yellow (PY 41) do titânio: Titanium Yellow (PY 53) do estanho: Mosaic gold: sulfeto de estanho, SnS2. 211 A. Isenmann CORANTES Pigmentos alaranjados (CI Pigment Orange; PO) do cádmio: alaranjado de cádmio (PO 20): intermediário entre o vermelho de cádmio (CdSe) e o amarelo de cádmio, então o sulfosseleneto de cádmio. do cromo: alaranjado de cromo: pigmento misto de cromato de chumbo(II) e óxido de chumbo, PbCrO4 + PbO. Esses compostos se encontram também na natureza como minerais. Pigmentos vermelhos (CI Pigment Red; PR) do cádmio: Cadmium Red (PR 108): seleneto de cádmio, CdSe. do ferro: Sanguine, Caput Mortuum, Venetian Red, Oxide Red (PR 102). Ocra vermelho (PR 102), óxido férrico anidro, Fe2O3. Burnt Sienna (PBr 7), um pigmento feito por calcinação de Sienna crua. do chumbo (tóxico): zarcão (Red Lead), tetróxido de chumbo, Pb3O4. do mercúrio (tóxico): cinabre (Vermilion; cinnabar; PR 106): pigmento sintético e natural; sulfeto de mercúrio, HgS. Pigmentos marrons (CI Pigment Brown; PBr) Esses são os pigmentos naturais mais abundantes, feitos de argilas (= óxidos de ferro formados pela natureza). Dentre estes se destacam: • Umber cru (PBr 7): pigmento de argila natural contendo principalmente óxido férrico, óxido de manganês e óxido de alumínio: Fe2O3 + MnO2 + nH2O + Si + AlO3. Sua cor se intensifica ao ser calcinado (Umber queimado). • Raw Sienna (PBr 7): também um pigmento de argila natural do tipo limonita. Este pigmento é usado desde os tempos pré-históricos. Pigmentos negros (CI Pigment Black; PBk) do carbono: • • • • Carvão ativado (Carbon Black, PBk 7) Negro de marfim (Ivory Black, PBk 9) Negro de vinho (carbonização de varas verdes de vinho; Vine Black, PBk 8) Negro de queroseno (Lamp Black, PBk 6) do ferro: Magnetita (Iron black, PBk 11; CI 77499); um espinelo inverso, Fe3O4. do manganês: MnO2 (em alemão: Braunstein = pedra marrom), calcinado. do titânio: Titanium Black Pigmentos brancos (CI Pigment White; PW) do antimônio: branco de antimônio, Sb2O3. 212 A. Isenmann CORANTES do bário: sulfato de bário (PW 5; não tóxico). do chumbo (tóxico): White Lead (PW 1): (PbCO3)2·Pb(OH)2. Pigmento ultrapassado. do titânio: Rutil (TiO2, Titanium White, PW 6): óxido de titânio(IV), TiO2. Pigmento mais usado hoje. do zinco: Zinc White (PW 4), óxido de zinco, ZnO, não é tóxico e até usado para fins medicinais (em curativos). 5.2.8. Pigmentos orgânicos Pigmentos orgânicos naturais Pigmentos orgânicos são encontradas na natureza, tanto da fonte animal como vegetal. Alguns destes pigmentos podem ser preparados facilmente. "Negro do vinho" (PBk 8), por exemplo, é a madeira da uva queimada incompletamente. Alguns pigmentos historicamente importantes, como o "Amarelo da Índia" intensamente colorida a partir da urina de vacas, perderam a exclusividade na medida que a gama dos pigmentos sintéticos aumentou. A forma solúvel do anil (= forma leuco), levemente amarelado e quase incolor, torna-se um colorante azul e insolúvel ao ser oxidado pelo oxigênio atmosférico, portanto o anil é referido no Colour Index (p. 292) sendo um pigmento - o PB 66 (= Pigment Blue 66). Pigmentos orgânicos artificiais Hoje existem muitos pigmentos orgânicos sintéticos; eles são classificados de acordo com sua estrutura química. O grupo mais diversificado representam certamente os pigmentos azo. Esses pigmentos são responsáveis por mais de 50% da quantidade de pigmentos orgânicos vendidos. Outro grupo importante pode ser descrito como pigmentos policíclicos (também chamado de pigmentos não azo; ver p. 216). Pigmentos azo Os pigmentos azo têm um sistema amplo de elétrons π conjugados, envolvendo pelo menos um grupo azo (-N=N-). Os pigmentos azo são divididos em classes cuja química permite uma indicação aproximada da estabilidade dos pigmentos. Essa estima é grosseira, já que os detalhes se dão do tipo e do número dos substituintes nos aromáticos, mas também do tamanho das partículas. Distingue-se pelo número de ligações azo contidos, entre pigmentos monoazo e bisazo; as sub-classes descrevem os respectivos substituintes. Os pigmentos monoazo incluem importantes materiais, tais como pigmentos do β -naftol e de naftol AS, e também os pigmentos resinificados 70. Os pigmentos monoazo são os mais antigos pigmentos azo produzidos em escala industrial. Alguns membros são entre os 70 Pigmentos resinificados, também conhecidos como "lacas" (a não ser confundidas com a genérica expressão para o material "laca", ver nota de rodapé 33), são aplicados no couro ou no tecido e fixados com ajuda de sais, contidos no banho do mordente. Resinas ou lacas coloridas são então complexos metálicos insolúveis, onde corante e a fibra celulósica têm o papel de ligantes (quelantes) e o metal representa a ponte entre colorante e fibra. Além dos pigmentos, existem também corantes (ainda solúveis) que podem ser fixados no tecido prétratado com mordente. Os mordentes mais usados são sais solúveis de Al3+, Cr3+, Fe3+ ou taninos. 213 A. Isenmann CORANTES pigmentos coloridos mais utilizados hoje; exemplos incluem os amarelos CI Pigment Yellow 1, 3 e 74, o CI Pigment Orange 5 e o CI Pigment Red 112. Um caso especial são as benzimidazolonas, que por sua vez têm a unidade monoazo e ao mesmo tempo substituintes policíclicos. Isso levou à elevada resistência às intempéries. Além disso, podemos atribuir a estes pigmentos uma maior solidez 71 dentro do grupo monoazo. Exemplos incluem CI Pigment Yellow 154 e Pigment Orange 36 (ver Fig. 152). F3C O2N N N N O H N H N O O N H F3C HN O Cl N O H N O N H O NO2 N H N O H N N H N N H N O Cl O H N O H N N H O Fig. 152. Corantes benzimidazolonas: CI Pigment Yellow 154 (em baixo: o isômero tautomérico) e o Pigment Orange 36 (em baixo: conformação preferida devido à ligação de hidrogênio). Pigmentos bisazo Entre os pigmentos bisazo são o amarelo diarila (= CI Pigment Yellow 83), os pigmentos de condensação bisazo (CI Pigment Yellow 128), e as anilidas do ácido acetoacético (CI Pigment Yellow 155), conforme Fig. 153. Cl N H N O N O Cl N O N H N O 71 Solidez no contexto dos pigmentos significa opticmente denso, tampando os detalhes do objeto que foi pintado. 214 A. Isenmann CORANTES Cl O CF3 Cl HN Cl Cl O O O O N N HN NH N N HN O Cl O MeOOC O CF3 COOMe NH N O O N O H NH O N HN MeOOC COOMe Fig. 153. Pigmentos bisazo (de cima para baixo): CI Pigment Yellow 83, CI Pigment Yellow 128 e CI Pigment Yellow 155. Um colorante bisazo com mais uma unidade cromofórica temos na Crisofenina G (Fig. 154): o meio desta molécula identificamos como estilbeno, então é um derivado do 4,4´diaminoestilbeno. É fortemente amarelo, insolúvel, tem apenas dois grupos ácidos e pode, devido à sua aplicabilidade na fibra de algodão não tratada, ser contado também à família dos corantes substantivos (ver pp. 114 e 174). Evidentemente, este foi feito por diazotamento do 4,4´-diaminoestilbeno-2,2´-diácido sulfônico e acoplamento com 2 mols de fenol. Para aumentar sua estabilidade frente ao ambiente alcalino do banho de tintura (opcional), os dois grupos fenólicos podem ser eterificados numa etapa posterior, usando brometo de etila e um catalisador básico (= síntese de éter de Williamson). A crisofenina G 72 pode ser aplicada com sucesso em quase todas as fibras naturais (lã, seda, algodão). SO3EtO 3S N N N 72 -O C H C H OEt N Um derivado da mesma classe, com interessantes propriedades ópticas, é apresentado na p. 219. 215 A. Isenmann CORANTES Fig. 154. Crisofenina G, um corante bisazo com a unidade de estilbeno. Em baixo: estrutura da substância-mãe, o estilbeno, que existe nos dois isômeros E e Z. Pigmentos policíclicos Pigmentos policíclicos geralmente são compostos onde o cromóforo é um sistema amplo de elétrons π que se estende sobre vários anéis aromáticos condensados. Os mais importantes pigmentos desta classe são as ftalocianinas de cobre (ver Fig. 40 e Fig. 84), que compõem cerca da metade dos pigmentos policíclicos. Os principais representantes são os azúis de ftalocianina e seus homólogos polihalogenados verdes. Também encaixam na categoria dos pigmentos policíclicos as quinacridonas (Fig. 147), os pigmentos de diceto-pirrolo-pirrol (Fig. 148), as dioxazinas (Fig. 85), os perilenos, isoindolinas, os indantrenos (Fig. 36) e o Caledon (Fig. 37 e Fig. 96). Propriedades dos pigmentos orgânicos Pigmentos orgânicos geralmente têm cores mais fortes do que os pigmentos inorgânicos. São menos opacos, mas mais coloridos (= maior croma) e têm menor resistência à intempérie. Além disso, os pigmentos orgânicos são na sua maioria mais caros. Tab. 32. Comparação entre os pigmentos orgânicos e inorgânicos Critério de qualidade Nitidez da cor Intensidade da cor (croma) Resistência à luz UV Resistência à oxidação atmosférica Resistência térmica Processabilidade Preço Inorgânicos + + Orgânicos + + - + + + - Pigmentos orgânicos são tratados para melhorar certas características de desempenho como a dispersibilidade ou opacidade. Pelo pós-tratamento também o tamanho da partícula é selecionado, que é responsável pela solidez, a força da cor e ajustar as propriedades de cor. Toxicologia dos pigmentos orgânicos Devido à sua insolubilidade os pigmentos orgânicos podem ser vistos sendo muito pouco tóxicos até fisiologicamente inertes. Preocupações com a saúde surgem principalmente durante seu manuseio, por ser um material finamente particulado. Pigmentos orgânicos praticamente não são biodegradáveis. Uma vez que os pigmentos sempre vêm aditivados quando aplicados no produto final (os aditivos são dispersantes, aglutinantes, solventes), o colorista deve ser mais preocupado com os efeitos toxicológicos dos aditivos. No entanto, 216 A. Isenmann CORANTES alguns pigmentos podem liberar toxinas após a sua degradação, por exemplo, quando expostos à luz UV de alta intensidade. Um exemplo é a decomposição sob irradiação com luz laser, para remover os pigmentos de tatuagens. Verificou-se a liberação da tóxica e cancerígena 2-metil-5-nitroanilina, a partir do pigmento CI Pigment Red 22. 5.3. Pigmentos com efeitos especiais Os pigmentos de efeitos especiais são pigmentos que conferem ao sistema no qual eles são incorporadas, certas características adicionais, tais como coloração dependente do ângulo de observação ou alterações no brilho (efeito flop), mais outros conferem textura direcionada ou rugosidade. Uma vez que quase todos os pigmentos de efeito afetam o brilho do objeto colorido, o termo "pigmento de brilho" também se justifica. Especificamente os pigmentos que aumentam o brilho são cristais em forma de plaquinhas ultra finas. Os efeitos ópticos que acontecem nesta classe de pigmentos são a reflexão especular e a interferência, enquanto nos pigmentos "comuns" se discutiu principalmente dispersão e absorção (parcial). Efeito metálico Partículas de latão e de alumínio são de longe os pigmentos mais importantes para a criação de um efeito metálico. Em segunda linha ficam as partículas de cobre. As cores obtidas são: dourado por partículas de latão, prateado pelo alumínio e efeito avermelhado-marrom por cobre. Uma ajustagem fina da cor é possível por meio da composição da liga. A impressão visual é dependente do ângulo entre a superfície plana da partícula e o observador. Em vista de cima (ou seja, perpendicular) se percebe o pigmento metálico que aparece mais claro e brilhante; ao observar em ângulo raso se percebe mais a cor-base escura. Isto significa que, ao contrário dos pigmentos comuns onde se tem espalhamento uniforme da luz incidente, aqui a intensidade da luz refletida fica mais forte para ângulos típicos de observação. Este efeito é chamado de "flop" ou "flip-flop". Condição é uma partícula cristalina em forma de lamínula fina de superfície plana, enquanto seu diâmetro é de menor importância para seu brilho. Tamanhos típicos são: espessura < 1 µm e diâmetro de 5 a 100 µm. Isto é, os tamanhos laterais são certamente maiores do que os comprimentos de onda da luz visível e podem chegar a dimensões que a gente percebe de olho nu. O aspecto mais realizado é em forma de discos, mas também existem partículas alongadas. A intensidade da cor está associada com a dimensão do grão. Por outro lado, ao se ter partículas esféricas com quase o mesmo tamanho das lamínulas, a superfície aparece uniformemente cinza. A aparência exata do pigmento metálico, no entanto, é determinada pelo tamanho médio e da regularidade das partículas. Quando mais grossas, mais forte o efeito de pisca (também comparável com espumante ou faísca). Partículas mais finamente divididas produzem um flop suave, isto é, uma transição mais suave quando mudar de ângulo de visão. Para conseguir o efeito desejado, especialmente na pintura de automóveis, aplicam-se ambos os caráteres de reflexão. Os pigmentos de alumínio não tratados, especialmente quando expostos à umidade, são pouco duráveis. Recentemente se desenvolveram marcas com partículas de superfície tratada, cuja resistência à corrosão fica bem elevada. 217 A. Isenmann CORANTES Efeito perolizante Enquanto os pigmentos de efeito metálico, inicialmente feitos de ouro, mais tarde de latão, já eram conhecidos em 400 a 300 a.c., o desenvolvimento dos pigmentos perolizantes não começou antes do século XVII d.c. Só com a elucidação do mecanismo de ação (cerca de 1920) os materiais com tal efeito podiam ser sintetizados de maneira planejada. Nos anos de 1963 e 1964, as primeiras patentes foram apresentadas, descrevendo a produção de pigmentos de interferência. Nos anos de 1990 foram submetidos a um desenvolvimento muito rápido de várias novas classes de pigmentos de interferência, tais como aqueles à base de polímeros de cristal líquido (pigmentos LCD), mica sintética, alumina, sílica e borossilicato. As partículas perolizantes consistem de um substrato de suporte em forma de plaquinha (muitas vezes transparente, o que é o caso da mica), enquanto o índice de refração deste material deve ser baixo. O mais usado são a mica natural, sílica ou flocos de vidro muito finas. Estes materiais são revestidos com uma ou mais camadas bastante finas e uniformes de óxidos. É importante que as camadas aplicadas tenham um elevado índice de refração, porque nestas camadas pode ocorrer reflexão múltipla da luz incidente. De preferência, portanto, se aplicam o dióxido de titânio, óxido de ferro(III) ou o dióxido de zircónio. Também são utilizados óxidos mistos dos referidos. Os métodos mais importantes com quais essas camadas finas podem ser aplicadas são: o processo sol-gel, processos de CVD (= Chemical Vapor Deposition; vapores gerados por reação química) ou processos de PVD (= Physical Vapor Deposition; vapor por aquecimento). A espessura da camada fica na ordem de 100 nm (isto é, menor que o comprimento de onda da luz visível). Decisivo no processo de fabricação é o controlo preciso da espessura do revestimento (tolerância de apenas ± 3 nm) e sua homogeneidade. Na hora da aplicação devese respeitar uma alocação uniforme, não muito concentrada; além disso, as superfícies planas das plaquinhas devem direcionar-se uniformemente. Pela escolha judiciosa dos parâmetros de revestimento, que são: os índices de refração, a espessura das camadas de película e a sequência da sua aplicação, quase todas as cores e matizes podem ser realizados. O fenômeno físico é chamado de interferência (ver Fig. 155). Sob certas condições podem-se ver assim diferentes cores, dependente do ângulo (= flop colorido). Fig. 155. Princípio de funcionamento dos pigmentos de madrepérola. Dependendo do ângulo o espectador percebe uma tonalidade diferente. A Fig. 156 deixa mais clara a diferença entre estes pigmentos de interferência e os de efeito metálico. Famosos são os flops coloridos, do dourado para o azul. 218 A. Isenmann CORANTES Fig. 156. Em cima: efeito de madrepérola (flop colorido); em baixo: efeito metálico (flop escuro-claro; também chamado de reflexão especular ou reflexão direcionada). Existe também uma classificação técnica dos pigmentos de interferência, por aparência, levando em conta sua saturação em cor e sua transparência. Pigmentos opticamente densos podem aparecer pretos, prata, coloridos ou goniocromático (= impressão de cor dependente do ângulo). Note que nos pigmentos de efeito semi-transparentes e transparentes, não existem tonalidades escuros ou até negros. Pigmentos perolizantes são considerados seguros. Eles são até aprovados pela FDA 73 para a coloração de produtos alimentares. Colorimetria em pigmentos especiais A medição das cores refletidas pelos pigmentos especiais, até hoje, é um grande desafio tecnológico. Todos os pigmentos de efeito têm em comum uma impressão visual que depende do ângulo. A caracterização colorística, portanto, deve ser realizada sob vários ângulos. Uma comparação visual é feita pela inclinação manual das amostras, a serem comparadas de uma forma simplificada. Para a avaliação colorimétrica rigorosa, no entanto, os aparelhos convencionais já não são suficientes, uma vez que estes só podem medir em um ângulo. Os colorímetros mais avançados para avaliar pigmentos de efeitos especiais são capazes de determinar a cor em ângulos de até 10°. Pigmentos luminescentes Pigmentos luminescentes podem ser distinguidos em fluorescentes para cores fluorescentes ("Neon") e substâncias fosforescentes. 73 Food and Drug Administration, órgão governamental dos EUA para aprovação de aditivos em alimentos. 219 A. Isenmann CORANTES Os primeiros se destacam por emitir uma luminosidade acima da esperada, mas só no momento de serem iluminados. Esse adicional em clariedade se deve à capacidade da molécula iluminada de transformar uma parte da luz fora do espectro visível (λ < 400 nm; parte ultravioleta), em luz visível. Durante esse processo alguma parte da energia da luz UV incidente se perde, como ilustrado na Fig. 52 (p. 84), em forma de calor. O fenômeno da fluorescência se percebe quase imediatamente quando iluminar e acaba logo depois de retirar a fonte luminosa. Estes tipos de colorantes são usados, por exemplo, em marcações e placas de trânsito, roupas de proteção sinalizantes, mas também e, em grandes toneladas, no sabão em pó - especialmente adequado para lavar qualquer roupa colorida 74. Este tipo de pigmentos normalmente consistem em corantes fluorescentes, incorporados numa matriz insolúvel, assim tornam-se insolúveis como todo. Um bom exemplo é o Blancofor R, um aditivo muito usado no sabão em pó de qualidade. Este foi feito por reação do 4,4´-diaminoestilbeno-2,2´-diácido sulfônico (ver tambem p. 216), com dois moles de fenilisocianato, formando o bisuretano. SO3- O N H N H C H -O 3S C H O N H N H 6,6'-(ethene-1,2-diyl)bis(3-(3-phenylureido)benzenesulf onate) Fig. 157. Blancofor R, um exemplo de um pigmento fluorescente, usado em sabão em pó com a finalidade de realçar cores brilhantes nas roupas. A segunda classe de colorantes luminosos, os fosforescentes, armazenam por certo tempo a radiação incidente e a emitam num tempo consideravelmente mais tarde, que pode chegar a vários segundos até horas depois de parar a iluminação. A transição eletrônica responsável pela fosforescência é, ao contrário da fluorescência, um processo "proibido", portanto muito mais demorado (refere-se ao diagrama de Jablonski, Fig. 46). A maioria dos materiais que mostram este fenômeno de "afterglow" são sais inorgânicos dopados. Estes incluem, por exemplo, os pigmentos verdes fluorescentes a base de sulfeto de zinco 75, com traços de outros íons de metais de transição ou metais raros. Uma aplicação típica de pigmentos fosforescentes é a marcação de rotas de fuga em prédios. Meios iluminantes radioativos, no entanto, são auto-luminoso. Eles, portanto, não são contados juntos aos pigmentos - apesar de serem insolúveis. Tab. 33. Resumo dos pigmentos de efeito especial Impressão da cor Negro Pigmentos opticamente densos grafita; MoS2; Pigmentos semitransparentes - Pigmentos transparentes - 74 Ao invés dos pigmentos fluorescentes, os corantes azúis que também fazem parte na maioria dos sabões em pó, servem mais para lavar roupa branca. Estes têm o papel de compensar o amarelamento natural de alguns tipos de tecidos, com a idade e à exposição prolongada ao sol. Lembre-se que a cor complementar ao amarelo é azul (ver Tab. 8). 75 ZnS é o pigmento que foi muito usado em telas de raios catódicos, tais como a antiga TV e monitores de computador. Ainda é bastante usado para revestir por dentro os tubos de lâmpadas fluorescentes. 220 A. Isenmann CORANTES mica/Fe3O4 efeito metálico Prata Colorido plaquinhas de Al com revestimento simples Cor dependente do ângulo plaquinhas de Al com revestimento múltiplo 5.4. mica/FeTiO3. mica/Fe2O3; Al2O3/Fe2O3; Fe2O3 laminular; Mica/TiO2 mica/TiO2/pigm.org.; mica/Fe2O3 Fe2O3/SiO2/Fe2O3; SiO2/Fe2O3; recortes de poliéster mica/TiO2 BiOCl mica/TiO2 Polímeros de cristais líquidos; SiO2/TiO2 Literatura sobre pigmentos G. Buxbaum, G. Pfaff (Editor). Industrial Inorganic Pigments, 3a edição, Wiley-VCH, Weinheim 2005. DIN Deutsches Institut für Normung e.V. (editor), DIN-Taschenbuch 157: Farbmittel 2. Pigmente, Füllstoffe, Farbstoffe. 3a edição, Beuth Verlag GmbH Berlim-VienaZurick 1997 W. Herbst, K. Hunger. Industrial Organic Pigments - Production, Properties, Aplications. 3a edição, Wiley-VCH Weinheim 2004. H.Smith (editor). High Performance Pigments. Wiley-VCH Weinheim 2002. G. Pfaff: Spezielle Effektpigmente (em alemão). 2a edição. Vincentz Network, Hannover 2007 6. Aplicações específicas dos meios colorantes 6.1. Tintas e vernizes - o reinado dos pigmentos. 6.1.1. Dados econômicos sobre tintas e vernizes no Brasil Composto por produtos das linhas imobiliária, industrial e automotiva, o setor de tintas e vernizes tem números expressivos e grande potencial para crescimento. O mercado brasileiro de tintas já é bastante consolidado, com os seguintes campos de aplicação: veículos automotivos, bicicletas, capacetes, móveis, brinquedos, eletrodomésticos, vestuário, equipamentos, artesanatos, na impressão e serigrafia, na construção civil e para aplicações artísticas - superando assim a marca de um milhão de metros cúbicos de tintas produzidas anualmente. Com este volume o Brasil é posicionado no mercado como o quarto produtor mundial de tintas, com um setor produtivo formado por grandes empresas (nacionais e multinacionais) e fabricantes de médio e pequeno porte, voltados para o consumo em geral e para segmentos com necessidades específicas. Estima-se que mais de 400 indústrias operem atualmente no país, responsáveis pela geração de quase 16 mil empregos diretos. Apesar de representarem pouco mais de 5% do faturamento total do setor de tintas e vernizes, as exportações têm um papel importante para o desempenho do mercado brasileiro e possuem 221 A. Isenmann CORANTES ainda grande potencial para crescimento. Atualmente, o volume de exportação e importação no setor é equilibrado. 6.1.2. Classificação das tintas A indústria de tintas para revestimentos utiliza um grande número de matérias-primas e produz uma ampla gama de produtos, em função da grande variedade de acabamentos (coloridos) e tipos de superfícies a serem cobertas, formas de aplicação, especificidade e desempenho da tinta. De modo geral, a tinta pode ser considerada como uma mistura estável de uma parte sólida (que forma a película aderente à superfície a ser pintada) e um componente volátil (água ou solventes orgânicos). Uma terceira parte denominada aditivos, embora representando somente 5% em peso, é responsável pela obtenção das propriedades específicas, tanto na tinta líquida como no revestimento seco. A tinta é uma preparação, o que significa que há uma mistura de vários insumos na sua produção. A combinação dos elementos sólidos e voláteis define as propriedades de resistência e de aspecto, bem como o tipo de aplicação e o custo do produto final. As tintas podem ser classificadas de várias formas dependendo do critério considerado. De acordo com o mercado atendido e tecnologias mais representativas as tintas podem ser: 1) Tintas imobiliárias: tintas e complementos destinados á construção civil; podem ser subdivididas em: • Produtos aquosos (látex): látex acrílicos, látex vinílicos, látex vinil-acrílicos, etc., enquanto o fundo geralmente é alvenaria. • Produtos base solvente orgânico: tintas a óleo, esmaltes sintéticos, etc., enquanto o fundo geralmente é madeira ou metal. 2) Tintas industriais: serão denominadas aquelas tintas que são aplicadas no insumo, dentro da fábrica. As tintas e complementos utilizados como matérias-primas no processo industrial de fabricação de um determinado produto incluem, entre outros, os seguintes produtos: • Fundos (inglês: primers) eletroforéticos • Fundos base solvente • Esmaltes acabamento mono-capa e bi-capa • Tintas em pó • Tintas de cura por radiação (UV). 3) Tintas especiais: abrange os outros tipos de tintas, como por exemplo: • Tintas e complementos para repintura automotiva • Tintas para demarcação de trânsito • Tintas e complementos para manutenção industrial • Tintas marítimas • Tintas para madeira, etc. As tintas também podem ser classificadas quanto à formação do revestimento, isto é, levandose em conta o mecanismo da formação do filme protetor e a secagem ou cura das tintas. Lacas: a película se forma através da evaporação do solvente. Exemplos: lacas nitrocelulósicas e lacas acrílicas. Produtos látex: a coalescência é o mecanismo de secagem. Exemplos: as tintas látex acrílicas, vinil-acrílicas usadas na construção civil. 222 A. Isenmann CORANTES Produtos termoconvertíveis: a secagem ocorre através da reação entre duas resinas presentes na composição, a uma temperatura adequada (entre 100 a 230 C); os produtos utilizados na industria automotriz e em eletrodomésticos são exemplos. Sistemas de dois componentes: a formação do filme ocorre à temperatura ambiente, após a mistura dos dois componentes (embalagens separadas) no momento da pintura; as tintas epóxi e os produtos poliuretânicos são os exemplos mais importantes. Tintas de secagem oxidativa: a formação do filme ocorre devido à reação com o ar. Os esmaltes sintéticos e as tintas a óleo usados na construção civil são os exemplos mais marcantes. 6.1.3. Os componentes básicos em tintas As matérias-primas básicas para a produção de quase todos os tipos de tinta são constituídas por quatro componentes funcionais: 1) resinas, 2) pigmentos, 3) solventes, 4) aditivos. 6.1.4. As resinas mais usadas nas tintas As resinas são formadoras da película da tinta e são responsáveis pela maioria das características físicas e químicas desta, pois determinam o brilho, a resistência química e física, a secagem, a aderência, entre outras. As primeiras tintas desenvolvidas utilizavam resinas de origem natural (principalmente vegetal). Atualmente, com exceção de trabalhos artísticos, as resinas utilizadas pela indústria de tinta são sintéticas e constituem compostos de alto peso molecular. As resinas atualmente mais utilizados são as alquídicas, epóxi, poliuretânicas, acrílicas, poliéster, vinílicas e nitrocelulose. Segue uma breve descrição de cada uma destas resinas. Resina alquídica Polímero obtido pela esterificação de poliácidos (melhor: um derivado mais reativodo que o ácido carboxílico livre) e ácidos graxos com polialcoóis. São usadas em tintas que secam por oxidação ou polimerização via calor. Um exemplo típico para policondensados deste tipo é o produto a partir do anidrido ftálico e a glicerina. O aquecimento a 250 °C leva a um oligômero, altamente viscoso, mas ainda solúvel e fundível. Um excesso em anidrido ftálico leva à resina firme e infundível; isso se deve à estrutura altamente ramificada do polímero formado. Sua massa molar nesta etapa se torna infinita. 223 A. Isenmann CORANTES O O O + HOOC OH HO OH OH O Anidrido f tálico OH O (- H2O) Glicerina O O O O OH x O O O O O + Anidrido f tálico O O (- H2O) O O O O O Fig. 158. Esquema reacional da resina alquídica A adição de óleos que não ressecam, por exemplo, óleo de mamona, mas também o acréscimo balanceado de óleos secantes (p. ex. óleo de linhaça) leva ao produto com as qualidades exigidas: formando uma película fechada e altamente ramificada, ao mesmo tempo elástica e flexível. O acabamento final destas tintas e esmaltes é por exposição à alta temperatura por curto tempo. Daí são especialmente resistentes à intempérie e ao calor. Aspecto negativo desta resina: as duplas ligações restantes dentro deste material seco podem levar ao amarelamento, ao longo dos anos. Uma variação desta é a famosa Resopal ou "resina melamínica", revestimento branco em chapas de MDF, que é uma mistura de resina alquídica com a aminorresina: NH2 NH2 N H2N N N + NH2 N O H H Melamina Formaldeído 1 : 2,2 N H N N N H H2 C x Pré-polímero melamínico + Resina alquídica Resopal Fig. 159. Reações de condensação na resina melamínica. Resinas epóxi 224 A. Isenmann CORANTES Formadas na grande maioria pela reação do bisfenol A com epicloridina; os grupos glicidila presentes na sua estrutura lhe conferem uma grande reatividade com grupos aminas, introduzidos por meio de poliaminas e/ou poliamidas. O Cl CH3 + HO OH + O Cl CH3 Bisfenol A Epicloridrina [OH-] HO OH CH3 Cl O O Cl CH3 [OH-] O - 2 HCl O CH3 O O CH3 Bisfenol A-bisepóxiéter (= Bisfenol A-diglicidil-éter) [OH-] + Bisfenol A OH O CH3 O O CH3 Fig. 160. O x Esquema reacional da resina epóxi. Resinas epóxi são então do tipo poliéter, a partir de um epóxido com mais um grupo reativo, e um fenol ou outro álcool multivalente. Estes dois reagentes, quando aquecidos a 100 - 150 °C na presença de álcali, formam os diepóxidos cuja massa molar depende principalmente da relação [epóxido : fenol]. Quando usados na relação 2 : 1 ou maior, formam-se principalmente os éteres bisepóxi (= diglicidil), conforme mostrado no esquema. Com proporções menores em epicloridrina se consegue massas cada vez mais altas - até uma massa molar de ≈ 3000. Essa massa é ainda relativamente baixa, mas pode ser aumentada consideravelmente com a adição de uma di ou triamina ou um anidrido de ácido dicarboxílico (por exemplo, anidrido ftálico). Esses reagentes provocam a ramificação - a resina endurece e torna-se insolúvel e infusível, através de pontes de amina ou éster, respectivamente. Resinas acrílicas Polímeros formados pelos monômeros acrílicos e metacrílicos; por vezes também o estireno. Afinal se obtém um copolimerizado com estes monômeros. A polimerização destes monômeros em emulsão (base de água) resulta nas denominadas emulsões acrílicas usadas nas tintas “látex”. A polimerização em solvente leva a resina indicada para esmaltes termoconvertíveis (cura com resinas melamínicas) ou em resinas hidroxiladas para cura com poliisocianatos (Fig. 161), formando os chamados “poliuretânicos acrílicos”. 225 A. Isenmann O CORANTES OR O OR R = Me, Bu. Éster do ácido acrílico Éster do ácido metacrílico CH3 OCN CH2 NCO NCO MDI TDI NCO Estireno Formação do uretano: δ+ R N C O H O R´ O R N C O H R´ Fig. 161. Os monômeros usados na resina acrílica (em cima); diisocianatos metileno difenildiisocianato (MDI) e toluenodiisocianato (TDI), comumente usados para a cura da resina. Resina poliéster Os poliésteres são produtos da reação de diácidos com di ou tri-alcoóis. Quando ela é modificada com óleo, recebe o nome de alquídica, conforme descrito na p. 223. As resinas poliésteres são usadas na fabricação de primers e acabamentos de cura à estufa, combinadas com resinas amínicas, epoxídicas ou com poliisocianatos bloqueados e não bloqueados. As resinas UP (= poliésteres insaturados) são feitas com componentes onde o diácido ou o diol ainda contém uma dupla ligação C=C. Muito usado para este fim é o anidrido do ácido maléico. Estes componentes são dissolvidos em monômero vinílico comum, por exemplo em estireno. Sob adição de peróxidos se induz a copolimerização e então o endurecimento da resina. As qualidades mecânicas frequentemente são melhoradas ao misturar fibras de vidro com a resina enquanto ainda está liquida. A resina poliéster não só serve em tintas, mas também como material de parede de estruturas maiores. Piscinas, caixas d´água e cabines de caminhões são objetos típicos feitos deste material. Emulsões vinílicas São polímeros obtidos na copolimerização em emulsão (base água), de acetato de vinila com diferentes monômeros: acrilato de butila, di-butil maleato, etc. Estas emulsões são usadas nas tintas látex vinílicas e vinil-acrílicas. 226 A. Isenmann CORANTES O O OBu O O O BuO OBu Acetato de vinila Acrilato de butila Dibutil maleato Fig. 162. Monômeros usados na resina vinílica Resina nitrocelulose Produzida pela reação de celulose, altamente purificada, com ácido nítrico, na presença de ácido sulfúrico. A nitrocelulose 76 possui grande uso na obtenção de lacas, cujo sistema de cura é por evaporação de solventes. São usadas em composições de secagem rápida para pintura de automóveis, objetos industriais, móveis de madeira, aviões, mas também para produzir bolas de ping-pong e esmalte de unha. H OH HO O HO H H OH OH H x HNO3 [H 2SO4] Celulose (insolúvel) Fig. 163. NO2 HO O O2N HO O H H OH O O 2N H x Nitrocelulose (solúvel) Nitração da celulose 6.1.5. Os pigmentos e corantes mais utilizados em tintas e vernizes Os pigmentos são substâncias insolúveis no solvente em uso (orgânico ou aquoso) e têm como finalidades principais conferir cor ou cobertura (= solidez) às tintas. Como elucidado na p. 200, o processo responsável pelo seu brilho é o espalhamento da luz. Os corantes, por outro lado, são substâncias translúcidas, geralmente solúveis em água ou no solvente orgânico e são utilizados para conferir cor a um determinado produto ou superfície, mas não proporcionam cobertura. Sendo assim, é possível ver ainda os veios da madeira pintada. Produtos de acabamento com esta finalidades são chamados de “verniz”. Os corantes (solúveis) se fixam na superfície e trazem o efeito colorido através de mecanismos de absorção seletiva da luz (ver cap. 3); são ancorados por ligações iônicas e covalentes. Os pigmentos, por outro lado, fazem seu efeito colorido, principalmente por espalhamento; são dispersos no meio (= base da tinta) formando uma dispersão relativamente estável, enquanto suas ligações com a base são exclusivamente por interações fracas, van der Waals ou dipolares, raramente pontes de hidrogênio. Os corantes são muito utilizados na indústria têxtil e os pigmentos são fundamentais em tintas para revestimento. 76 Esse nome é muito usado na indústria, porém é enganoso: a celulose não tem grupos nitro, mas é um éster do ácido nítrico. A denominação mais correta seria "nitrato da celulose". 227 A. Isenmann CORANTES Nas tintas se aplicam pigmentos de todas as três categorias (ver cap. 5): pigmentos inorgânicos, pigmentos orgânicos e pigmentos de efeito. Os mais usados são: Pigmentos inorgânicos: dióxido de titânio, amarelo óxido de ferro, vermelho óxido de ferro, cromatos e molibidatos de chumbo, negro de fumo, azul da Prússia, etc. Pigmentos orgânicos: ftalocianinas azúis e verdes, quinacridona violeta e vermelha, perilenos vermelhos, toluidina vermelha, aril amídicos amarelos. Pigmentos de efeito: alumínio metálico, mica. 6.1.6. Cargas em tintas industriais As cargas são minerais industriais com características adequadas de brancura e granulometria sendo as propriedades físicas e químicas também importantes. Elas são essenciais na produção de tintas látex e seus complementos, esmaltes sintéticos foscos e acetinados, tintas a óleo, tintas de fundo, etc. Os minerais mais utilizados são: O carbonato de cálcio, agalmatolito, caulim e a barita. Também são importantes as cargas sintéticas, como por exemplo: O carbonato de cálcio precipitado, sulfato de bário, sílica, silico-aluminato de sódio. As cargas, além de baratearem uma tinta, também ajudam a melhorar certas propriedades, tais como cobertura e resistência às intempéries, principalmente. 6.1.7. Solventes usados em tintas São compostos orgânicos ou água, responsáveis pelo aspecto líquido da tinta com uma determinada viscosidade. Após a aplicação da tinta, geralmente por meio de pincel, rolo ou borrifador, o solvente evapora deixando um filme seco aderido sobre o objeto. Os solventes orgânicos são geralmente divididos em dois grupos: os hidrocarbonetos e os oxigenados. Por sua vez, os hidrocarbonetos podem ser subdivididos em dois tipos: alifáticos e aromáticos, enquanto que os oxigenados englobam os álcoois, , cetonas, éteres e ésteres (acetatos). As tintas com base água utilizam uma pequena quantidade de líquidos orgânicos hidrofílicos, para promover a volatilização da água. A escolha do solvente em uma tinta deve ser feita de acordo com a respectiva solubilidade da resina, a viscosidade e da forma de aplicação da tinta. Também são critérios importantes o preço do solvente e seu impacto à saúde humana, especialmente quando usados em ambiente fechado. Note que uma exceção importante são as tintas látex, onde a água é a fase dispersora e não solubilizadora, do polímero responsável pelo revestimento. Neste caso não se usam solventes adicionais. Atualmente existe um esforço mundial no sentido de diminuir o uso de solventes orgânicos em tintas, perceptível com iniciativas tais como: • substituição por água, • aumento do teor de sólidos, • desenvolvimento de tintas em pó, • desenvolvimento do sistema de cura por radiação ultravioleta, dentre outras. 228 A. Isenmann CORANTES Aditivos em tintas Este grupo de produtos químicos engloba uma vasta gama de componentes que são empregados em baixas concentrações (geralmente < 5%), que têm funções específicas e conferem importantes propriedades às tintas e aos revestimentos respectivos, tais como: • • • • • • • • consistência e aplicabilidade da tinta líquida, aumento da proteção anti-corrosiva, bloqueadores dos raios UV, catalisadores de reações, dispersantes e umectantes de pigmentos e cargas, melhoria de nivelamento, preservantes (bacterizidas, fungizidas) anti-espumantes. A tabela a seguir relaciona alguns aditivos com sua função específica, dando exemplos típicos de substâncias – mas sem entrar em detalhe, já que alguns destes compostos são segredos da fábrica. Tab. 34. Os aditivos mais usados em tintas, sua função e exemplos destes agentes ativos. Aditivo Função Exemplos Fotoiniciadores Formação de radicais livres quando submetidos à ação da radiação UV; iniciando a cura das tintas de cura por UV. Secantes Catalisadores da secagem oxidativa de resinas alquídicas e Óxidos ou oleatos de óleos vegetais polimerizados. Secantes são catalisadores Pb, Mn, Co ou Zn. da auto-oxidação de ácidos graxos poli-insaturados. (= sicativo) Agentes reológicos Peróxidos Modificam a fluidez das tintas (aquosas e sintéticas): aumento da tixotropia, nivelamento da grossura na hora da aplicação, diminuição do escorrimento, ajustagem da Espessantes espessura da camada seca. Inibidores de Conferem propriedades anti-corrosivas ao revestimento, corrosão especialmente quando o material pintado é aço-carbono. Amido, polissilicatos alcalinos. Dispersantes Melhoram a dispersão dos pigmentos na tinta. Copolímeros polares. Umectantes Nos sistemas aquosos aumentam a molhabilidade de Uréia, silicatos. cargas e pigmentos, facilitando a sua dispersão. Biocidas Evitam a degradação do filme da tinta devido à ação de Óxido cuproso, bactérias, fungos e algas. organilas do estanho(IV). Coalescentes Facilitam a formação de um filme contínuo na secagem de Siliconas. tintas base água unindo as partículas do látex; reduzem defeitos mecânicos da camada na hora da aplicação. Antiespumantes Impedem a formação de pequenas bolinhas de ar na hora Siliconas da aplicação. Antioxidantes Primários: sequestram radicais livres (= sustentadores da HALS, quinonas, sais cadeia cinética). Secundários: decompõem peróxidos. de Mn. Cromatos, polifosfatos, nitritos, molibdatos, derivados da tiouréia, benzotriazol; alumínio em pó. 229 A. Isenmann Plastificantes CORANTES Previnem a secagem demasiada da tinta a longo prazo; Ésteres do ácido ftálico. fornecem maciez por lubrificação interna. 6.1.8. Etapas operacionais na fabricação de tintas A indústria de tintas é caracterizada pela produção em lotes (= bateladas), o que facilita o ajuste da cor e o acerto final das propriedades da tinta. Nas etapas de fabricação predominam as operações físicas (mistura, dispersão, completagem, filtração e envase), sendo que as conversões químicas somente acontecem na produção dos componentes (matérias-primas) da tinta e na secagem do filme após aplicação. As operações unitárias nestes processos variam bastante, principalmente em função do estado físico dos ingredientes e da forma de agregação que o produto acabado deve ter. A seguir a descrição da produção de tintas a base de solvente orgânico, vernizes, tintas a base de água, tintas látex, tintas em pó e tintas para impressão. Tintas para revestimentos - base solvente O processo de produção deste tipo de tinta, geralmente abrange as seguintes operações unitárias: pré-mistura, dispersão (moagem), completação, filtração e envase. A determinação das quantidades dos insumos deve ser feita através de pesagem e medição volumétrica com acuracidade adequada, para tintas com as propriedades desejadas. Pré-mistura: Os insumos são adicionados a um tanque (aberto ou fechado) provido de agitação adequado, na ordem indicada na “fórmula” (= roteiro para a produção de uma tinta). O conteúdo é agitado durante um período de tempo pré-determinado a fim de se conseguir uma relativa homogeneização. Dispersão (Moagem): O produto pré-disperso é submetido à dispersão em moinhos adequados. Normalmente são utilizados moinhos horizontais ou verticais, dotados de diferentes meios de moagem: areia de quartzo, zirconita, etc. Esta operação é contínua, então acontece em virtude da transferência do produto, do tanque de pré-mistura para o tanque de completagem. Durante esta operação ocorre a desagregação dos pigmentos e cargas e, ao mesmo tempo, há formação de uma dispersão maximizada e estabilizada desses sólidos. A dispersão maximizada e estabilizada é necessária para que a tinta aplicada forme um filme fino e uniforme, ao mesmo tempo tenha alto poder de cobertura e da tonalidade. Note que o grau de dispersão é uma função do tempo de prateleira. Portanto, este tipo de tinta deve ter a data de fabricação indicada, melhor ainda um prazo de validade dentro do qual sua qualidade fica garantida. Completagem: Em um tanque provido com agitação são misturados, de acordo com a fórmula, o produto da dispersão e os demais componentes da tinta. Nesta fase são feitos os acertos finais para que a tinta apresente parâmetros e propriedades desejados; assim é feito o acerto da cor e da viscosidade, a correção do teor de sólidos, etc. Filtração: Após a completagem e aprovação, a tinta é filtrada e imediatamente após segue para o envase. Envase: 230 A. Isenmann CORANTES A tinta é envasada em embalagens pré-determinadas. Essa etapa deve garantir a quantidade de tinta indicada na embalagem. Solvente Resinas Pré-mistura Pigmentos Cargas Aditivos Dispersão (Moagem) Resinas Solventes orgânicos Aditivos Água (limpeza)/ Sólidos/ Suspensão Completagem Solvente (de limpeza e evaporado) Pasta de pigmentos Filtragem Embalagens Fig. 164. Envasamento Torta de filtragem Produto final Fluxograma do processo de fabricação de tintas com solvente. Produção de vernizes O verniz, que pode ser incolor ou colorido, é uma dispersão coloidal (= emulsão) não pigmentada, ou então uma solução de resinas sintéticas/naturais em óleos dissolvidos em solventes. Vernizes são translúcidos, portanto acham aplicação como películas protetoras ou revestimento decorativo em várias superfícies. Mistura – A produção de verniz é simples e não exige as etapas de dispersão e moagem. O produto é feito em apenas uma etapa: a mistura. São homogeneizados em tanques ou tachos, as resinas, solventes e aditivos. Dispersão – Alguns tipos de vernizes necessitam também desta etapa. Quando algumas das matérias-primas são difíceis de serem incorporadas, é necessário aplicar maior força de cisalhamento a fim de evitar grumos. Filtração – Concluída a mistura, o lote é filtrado para remover qualquer partícula de tamanho acima do máximo permitido. Envase - Depois de aprovado pelo Laboratório de Controle de Qualidade, o verniz é envasado em latas, tambores ou containeres, rotulado, embalado e encaminhado para o estoque. 231 A. Isenmann CORANTES Tintas para revestimentos - base água Nos sistemas à base de água a parte líquida é preponderantemente a água. Os monômeros e pré-polímeros que formam a base da tinta, no entanto, geralmente são de moderado caráter hidrofóbico. Portanto, fala-se melhor em emulsão do que em solução. As tintas aquosas e os seus complementos, utilizados na construção civil, são um exemplo marcante, pois representam 80% de todas as tintas consumidas deste segmento. Estes produtos denominados genericamente de produtos látex são baseados em dispersões aquosas poliméricas (emulsões) tais como: vínílicas, vinil-acrílicas, acrílicas, estireno-acrílicas, principalmente. A parte volátil das tintas látex é constituída por 98% de água e 2% de compostos orgânicos (valores médios). As cargas minerais são particularmente importantes na produção de tintas látex para a construção civil; sob o ponto de vista quantitativo representam uma parte importante da composição dessas tintas. Em tintas industriais, os sistemas aquosos estão adquirindo uma importância crescente; o primer eletroforético utilizado na pintura original automotiva é um dos exemplos mais importantes. Algumas tintas de acabamento automotivo também são aquosas. É importante salientar que em tintas industriais há outras tecnologias concorrentes dos sistemas aquosos na solução de problemas ambientais, como, por exemplo, tintas em pó, tintas de cura por UV ou por calor, tintas de altos sólidos, etc. Processo de fabricação de tintas látex O processo de produção desse tipo de tinta é mais simples do que o usado na produção de tintas base solvente. Pré-mistura e dispersão - Em um equipamento provido de agitação adequada são misturados: água, aditivos, cargas e pigmento (dióxido de titânio) A dispersão é feita em sequência no mesmo equipamento. Completagem - Esta etapa é feita em um tanque provido de agitação adequada onde são adicionados ao produto da dispersão: mais água, emulsão, aditivos e dispersantes. Nesta etapa são feitos o acerto da cor e as correções necessárias para que se obtenham as características especificadas da tinta. Filtração e envase - Estas etapas ocorrem simultaneamente. A produção de tintas base água surge como alternativa para a redução de compostos orgânicos voláteis (“VOC” = Volatile Organic Compounds). Sua maior aplicação é no ramo imobiliário, onde hoje predominam as tintas látex. As etapas de fabricação são basicamente as mesmas da base solvente. As diferenças resumem-se a ordem de adição dos componentes da tinta e na maior facilidade de se obter uma dispersão uniforme. 232 A. Isenmann CORANTES Água Pigmentos Cargas Aditivos Pré-mistura + Dispersão (Moagem)esage m Água (limpeza)/ Sólidos/ Suspensão Água Emulsão (resina) Coalescente (líquido orgânico) Completagem Água de limpeza Pasta de pigmentos Aditivos Filtragem Embalagens Fig. 165. Envasamento Torta de filtragem Produto final Fluxograma do processo de fabricação de tintas em emulsão (= látex). Tinta em Pó As tintas em pó são isentas de componentes líquidos em sua formulação. São produtos sólidos apresentando-se na forma de pó, à temperatura ambiente. A ausência completa de solventes orgânicos é considerada sendo um dos maiores avanços do desenvolvimento ecológico das tintas, no últimos 20 anos. Por outro lado, este tipo de tintas fica reservado à aplicação na fábrica especializada, pois requer um equipamento avançado, como será descrito a seguir. Mais uma grande vantagem desta nova tecnologia podemos referir: o objeto “pintado” recebe o material em pó, bastante uniforme nas superfícies planas. Mas justamente nos cantos, por sua vez mais sujeitos à corrosão, as cargas eletrostáticas na hora da aplicação do pó, ficam acumuladas. Isto faz com que nestes locais haverá uma camada mais grossa da tinta – o que confere uma proteção extra dos locais vulneráveis. Como já mencionado, a tinta em pó é geralmente aplicada através de processos eletrostáticos, isto é, o pó é carregado com carga elétrica proporcionada por um revólver nebulizador (= atomizador) especial para tal finalidade. Entre o revólver e a peça a ser pintada há a formação de um campo elétrico, de diferença de potencial de alguns kV. O pó fica aderido eletricamente na superfície da peça por um período de tempo (alguns minutos), suficiente para que esta seja transportada a uma estufa onde é aquecida à temperatura adequada (> 80 °C) por um tempo adequado, para que ocorra a fusão do pó e em seguida a formação do revestimento. A própria 233 A. Isenmann CORANTES cabine de aplicação do pó fica hermeticamente fechada, e o revólver de aplicação geralmente é movido por um robô. Aquela parte do pó que não fique aderida, passa por uma grade no chão e pode ser reaproveitada. As tintas em pó podem ser classificadas em dois grupos, em função do mecanismo da formação do revestimento: a) Tintas em pó termoplásticas: o pó, depois de aplicado, é aquecido a uma temperatura superior à da fusão quando então o líquido resultante recobre a superfície; o resfriamento da peça para as condições normais de temperatura transforma esse revestimento líquido em um revestimento duro e protetor. Não há qualquer transformação química nesse mecanismo. São exemplos: tintas em pó à base de nylon, tintas em pó base PVC, etc. b) - Tintas em pó termo-convertíveis: ocorre uma reação entre a resina e o agente de cura após a fusão do pó. Ocorre então, a formação de uma outra espécie química com um peso molecular muito alto; como consequência as propriedades físicas e químicas do revestimento são maximizadas. As tintas em pó do tipo termo-convertíveis são mais importantes na pintura de produtos industriais, tais como eletrodomésticos, tubos de aço para oleodutos, etc. São exemplos: tintas em pó epóxi, tintas em pó epóxi - poliéster, tintas em pó acrílicas, poliéster puro. Processo de fabricação Como foi dito anteriormente não há insumos líquidos na fabricação de tintas em pó. O processo produtivo envolve as seguintes etapas: Pré-mistura - Os componentes da fórmula são misturados em um misturador de produtos sólidos até se conseguir uma relativa homogeneização. Extrusão - O produto da pré-mistura é extrudado em uma extrusora cujo canhão tenha zonas de diferentes temperaturas. A temperatura de saída do material é ao redor de 95 °C. É muito importante controlar as temperaturas das diferentes partes do canhão para se obter uma extrusão eficiente e evitar acidentes. Na extrusão ocorre a homogeneização final do material, a dispersão dos pigmentos e das cargas minerais dentro da resina, um (pré-)polímero. Resfriamento - O material extrudado é resfriado em uma cinta de aço resfriadora. Granulação - O produto resfriado é granulado em partículas de tamanho variando entre 2 a 3 mm. Moagem - O produto granulado é moído em um micronizador dotado de sistema de classificação e possível de ser regulado para que se obtenha uma determinada distribuição granulométrica do pó. Um perfil granulométrico típico apresenta partículas com tamanhos variando entre 10 e 100 micrômetros. O micronizador deve ter um sistema eficiente de dissipação do calor formado na micronização. Classificação e envase - O processo de envasamento deve estar acoplado diretamente ao sistema de classificação granulométrica, a fim de evitar que partículas maiores que o especificado contaminem o produto embalado. Geralmente as tintas em pó são embaladas em caixas de papelão providas com um saco plástico. 234 A. Isenmann CORANTES Resinas Agentes de cura Pigmentos Pré-mistura Cargas Aditivos Material particulado/ suspensão Extrusão Resfriamento Granulação Moagem Embalagens Fig. 166. Classificação/ Envasamento Resíduos de limpeza Produto final Fluxograma do processo de fabricação de tinta em pó Tintas para impressão As tintas para impressão compõem um grupo a parte dentro do setor de tintas. Os produtos se destinam à impressão de embalagens (plásticas, papel, cartão, metal), publicações diversas, material didático, etc. Assim, temos tintas para flexografia, rotogravura, off-set, off-set reativas, tipografia, metalografia, secagem a UV, litografia e silk-screen. As principais etapas de fabricação para este tipo de tinta são: Pesagem - Nas fábricas de tinta as matérias-primas são pesadas manualmente ou automaticamente. Entretanto, a automatização é mais comum quando as matérias-primas são líquidas ou pastosas, e manuais para matérias-primas sólidas. Dispersão - Nesta etapa do processo os componentes sofrem uma primeira homogeneização, este processo físico visa reduzir as matérias-primas sólidas a pequenas partículas, de tamanho uniforme, e distribuí-las por igual junto das matérias-primas líquidas. Moagem - Dependendo das características técnicas de cada produto, é necessário acrescentar mais uma etapa - a moagem. Este processo tem como objetivo reduzir ainda mais o tamanho das partículas facilitando a uniformidade do lote. Afinação/Diluição – O lote é enviado para tanques e/ou misturadores onde ocorre a adição de solventes, vernizes e aditivos. Filtragem – Após a diluição, a tinta é filtrada para remoção de partículas não dispersas ou qualquer outro sólido presente. 235 A. Isenmann CORANTES Envase e Armazenamento – A tinta é transferida para latas, baldes, tambores, containeres – em casos excepcionais também diretamente nos cartuchos das impressoras, rotulada, embalada e encaminhada para o estoque e/ou expedição. As tintas gráficas ou litográficas secam por oxidação (polimerização) do veículo e possuem características espessas e viscosas, conferindo a elas uma consistência pastosa. Já as tintas utilizadas para rotogravura e as flexográficas são mais fluidas, com veículo bem menos viscoso, e secam por evaporação do veículo. Resinas Pigmentos Cargas Pesagem Solventes Aditivos Solventes (evaporados)/ Sólidos/ Suspensão Dispersão Moagem Resíduos de limpeza Solventes Aditivos Diluição Vernizes Filtragem Embalagens Envase/ Estocagem Fig. 167. Material particulado/ Suspensão Produto final Fluxograma do processo de fabricação de tintas para impressão 6.2. Corantes e pigmentos como protetores contra a autooxidação Neste capítulo será discutido o papel protetor dos meios colorantes. A fim de propiciar uma consideração mais completa, incluimos também o efeito de moléculas que não sejam coloridas (isto é, não absorvem na região visível), mas que são igualmente utilizados como antioxidantes. Antes de falar sobre o efeito antioxidante, o local de aplicação e as especificações dos antioxidantes, vamos analisar os fatos sobre a auto-oxidação e os estragos que faz, nos materiais de construção, reagentes químicos, alimentos - e até em nós mesmos. 236 A. Isenmann CORANTES A expressão auto-oxidação é usada para reações com oxigênio do ar, geralmente à temperatura ambiente. O oxigênio “comum”, quer dizer, no seu estado fundamental, é um birradical. As reações deste oxigênio tripleto (notação: 3O2) ocorrem tipicamente por mecanismos radicalares. O O + 92 kJ mol-1 O O Oxigênio tripleto = estado fundamental Oxigênio singleto Muitas destas reações acompanham a nossa vida quotidiana. Algumas delas ocorrem, sem nos darmos conta delas, pelas seguintes razões: Elas se processam lentamente e, além disso, muitas delas ocorrem de maneira indesejada. Já pelo último motivo dedicamos-nós à discussão da prevenção da auto-oxidação, abordando métodos de importância industrial. Alguns exemplos: Envelhecimento de borracha e outros materiais poliméricos no ar Rancificação de alimentos gordurosos Endurecimento de tintas e vernizes Revelação e fixação de tintas no tecido, a partir da sua leuco-base (processo de coloração com anil). Outras auto-oxidações são tão “comuns” que fogem da nossa atenção: Qualquer combustão - seja um fogo de lenha, o fogão de cozinha ou uma turbina a jato. Mudanças de sabores, cores e valores nutricionais em alimentos (p.ex. a superfície de uma pêra cortada). R H substrato O (1) (2) R hν + O OH H (1´) R (3) O H2O2 + R Ini + Ini O R O O (5) 2 OH O (4) R H Catalisadores ou co-iniciadores são muitas vezes impurezas metálicas (Fe3+, Cu2+, Cu+,...), peróxidos e, certamente, a radiação solar. Ao comparar 3O2 com outros radicais livres podese afirmar baixa reatividade. Conforme o H princípio geral, baixa reatividade = alta seletividade, resulta uma característica importante para as auto-oxidações: a regiosseletividade da oxidação é bastante alta. Isto vale explicitamente para os hidrogênios em posições benzílica e alílica. Além destes podem ser substituídos, com certa facilidade, os hidrogênios em posição α de éteres (e acetais) e os hidrogênios ligados ao grupo carbonila (= aldeídos). ROOH + R Hidroperóxido (6) RO + OH 237 A. Isenmann CORANTES Para a auto-oxidação existem dois ciclos de propagação plausíveis: um ciclo iniciado pelo próprio ³O2 (caminho 1) e outro iniciado por um iniciador estranho (caminho 1´). Em dependência da estrutura do substrato e das condições do ambiente, os dois podem ser responsáveis pela transformação oxidativa do substrato. (1) Uma ativação de fora, por exemplo por radiação solar, provoca a formação dos radicais R⋅ e hidroperóxido, ⋅O2H, por sua vez mais reativo do que o próprio oxigênio tripleto. Alternativa: (1´) Um iniciador estranho ataca a ligação C-H mais fraca do substrato (ou uma posição da qual resulta um radical carbono estabilizado por ressonância), produzindo o radical R⋅ e o subproduto H-Ini. (2) ⋅O2H pode propagar o radical a uma outra molécula de substrato R-H. (3) O próprio radical R⋅ reage rapidamente com ³O2 já que a energia de ativação desta reação é quase nula e, além disso, o reagente ³O2 está presente em excesso. (4) A reatividade radicalar é transmitida do radical peróxido para uma molécula do substrato. Nesta etapa forma-se o produto principal da auto-oxidação, o hidroperóxido orgânico, R-O-OH. Os produtos da auto-oxidação de R-H são então H2O2 (H-Ini) e R-O-O-H. Comparando o substrato R-H, com o produto principal, o hidroperóxido orgânico R-O-O-H, a auto-oxidação se evidencia como "inserção" do grupo peróxido, -O-O-, numa ligação C-H ativada. As etapas (5) e (6) não constam do ciclo de propagação desta reação em cadeia, mas têm importância para sua cinética. É a produção de dois radicais hidroxilas, a partir de uma molécula não-radicalar de hidroperóxido. A produção de novos radicais, no entanto, inicia novas cadeias radicalares. O resultado é uma avalanche de reações que, na ausência de inibidores, leva a uma explosão. Isto é o caso, por exemplo, em cada motor de combustão. (Aliás, os produtos finais destas séries de oxidações descontroladas de hidrocarbonetos sempre são CO2 e H2O; a reação é comumente chamada de combustão completa.) As etapas que causam a avalanche nem sempre acompanham os ciclos da auto-oxidação. Sua ocorrência depende principalmente da disponibilidade de ligações fracas R-H no substrato, da energia de ativação fornecido pelo ambiente e da presença de catalisadores que promovem uma quebra dos hidroperóxidos. Quando as ligações R-H forem raras, a temperatura insuficiente para a ativação das etapas 5 e 6 e o recipiente da reação livre de traços de catalisadores, então ocorre a auto-oxidação de maneira silenciosa, como, por exemplo, na rancificação da manteiga ou no envelhecimento de borracha. 6.2.1. Controle da cinética e métodos de prevenção da auto-oxidação As etapas 5 e 6 do último esquema reacional não constam do ciclo de propagação, porém representam reações consecutivas dos produtos hidroperóxidos, H2O2 e ROOH, e podem causar uma avalanche de novos radicais iniciadores. As etapas 5 e 6, portanto, são catastróficas para a cinética desta reação. 238 A. Isenmann CORANTES Em aplicações técnicas a ocorrência das etapas 5 e 6 é altamente indesejada, ou seja, para manter o controle sobre os processos de oxidação os caminhos de ramificação cinética devem ser extintas. Infelizmente não existem métodos de reprimir seletivamente essas reações, 5 e 6, mas existem aditivos que absorvem grande parte dos radicais que foram produzidos em excesso. Estes são chamados, em dependência do insumo onde foram acrescentados, de retardantes, estabilizantes, inibidores ou antioxidantes. Eles têm o papel de impedir a iniciação de novos ciclos de propagação. A livre ocorrência das ramificações reacionais substanciadas pelas etapas 5 e 6, no outro extremo, se conhecem como "combustões descontroladas" ou "explosões isotérmicas" 77. Além desta providência deve-se reduzir ou excluir o contato direto entre o material a ser protegido e o oxigênio atmosférico; também uma atenuação da intensidade e/ou energia da luz UV do sol diminui a energia de ativação da qual as etapas da auto-oxidação aproveitam. Motivos para o uso de antioxidantes Não só o controle das ramificações mecanísticas, mas a completa extinção da auto-oxidação provocam os antioxidantes, também chamados de inibidores. A partir do esquema reacional acima podemos identificar os antioxidantes sendo moléculas que: 1. inibem a oxidação, isto é, são redutores; 2. reagem facilmente com radicais livres. Os dois critérios juntos deixam esperar atividade antioxidante daquelas moléculas com grupo funcional que pode ser oxidado com muita facilidade, através de SET (= Single Electron Transfer). Estes inibidores têm o papel de conservantes porque retardam o envelhecimento do substrato sujeito à auto-oxidação. Os antioxidantes são amplamente usados em alimentos industrializados, em produtos cosméticos e farmacêuticos, em protetores solares para conservar a nossa pele, em pneus de carro, em éteres e aldeídos nas prateleiras do laboratório - enfim, em todos os lugares onde a auto-oxidação é indesejada ou até perigosa. Em geral, os materiais de construção orgânicos têm que ser protegidos da degradação fotooxidativa que, como foi ilustrado acima, pode ocorrer via radiacais livres. Como sabemos destas reações, elas percorrem rapidamente os ciclos da propagação que pode levar à destruição macroscópica do material. Os fenômenos mais visíveis são: Secagem de materiais plastificados, devido à reação e imobilização dos agentes plastificantes. A peça fica mais dura e mais quebradiça. Endurecimento de material borrachoso, devido ao aumento do grau de ramificação (= criação de novas pontes intermoleculares). Igualmente o material torna-se duro e quebradiço. Engrossamento de óleos (combustíveis ou comestíveis), às vezes sob deposição de uma resina pegajosa. Aplicação deste processo: na conservação de pinturas de arte, usando óleo de linhaça e um catalisador metálico (organilas de Sn4+ ou Pb4+) chamado de sicativo ou secante. 77 Uma aceleração de cada uma das etapas pode ser provocada pela exotermia de uma delas. Daí se fala de "explosão térmica". 239 A. Isenmann CORANTES Alteração da coloração, porque são os corantes que são especialmente ricos em grupos funcionais, susceptíveis à foto-oxidação (cromóforos contendo os grupos carbonila, muitas vezes em conjugação com duplas ligações C=C, ver exemplo na p. 244). aumento do caráter hidrofílico da superfície da peça, devido à criação de grupos hidroxilas que são bastante polares. Portanto, na maioria das formulações de materiais orgânicos industrializados se encontram estabilizantes; em casos onde a incorporação no material não for possível, aplica-se uma camada superficial protetora, em forma de tinta (= colorida, sólida) ou verniz (sem cor própria, muitas vezes transparente). Mas também estas camadas orgânicas têm que ter esses aditivos antioxidantes, para torná-las mais resistentes à intempérie, a longo prazo. Como sabemos do dia-a-dia, o tempo de vida útil de praticamente toda tinta é limitada a alguns anos, no melhor caso algumas décadas. A sua degradação começa visivelmente com a perda do brilho, o descoramento dos pigmentos orgânicos e o amarelamento da própria base polimérica da camada. Em estado avançado a degradação se evidencia na perda de elasticidade, formação de rasgos e a bolhas, além de uma redução na espessura da camada. Afinal, a camada protetora se desfaz e o material maciço do objeto é plenamente exposto à radiação solar, ao oxigênio e aos demais gases agressivos da atmosfera. Neste contexto deve ser chamada também atenção ao perigo de auto-oxidações na natureza – especialmente quando acontecem no corpo humano. O ataque por radicais é uma das causas principais de envelhecimento e até do câncer de pele. Portanto, existe uma série de protetores antioxidantes, aplicados em formulações de cremes e loções. Vitaminas e pró-vitaminas (vitaminas E, C, β-caroteno e seus derivados, ver p. 245) são os representantes mais comuns com ação antioxidante. Os derivados do β-caroteno (cor laranja) são usados em cremes faciais, mas também em alimentos, especialmente nos alimentos gordurosos que rancificam facilmente. Aplicam-se principalmente duas classes de substâncias protetoras contra a foto-oxidação: absorvedores da luz UV e sequestradores de radicais. 6.2.2. Como funciona um antioxidante? Os princípios de ação dos antioxidantes podem ser classificados em dois físicos e dois químicos: 1. Bloqueio da radiação por espalhamento. 2. Desativação da radiação por dissipação. 3. Sequestro de radicais livres. 4. Absorção da luz UV por uma reação química reversível. Espalhamento da luz UV Uma maneira eficaz de proteger um objeto da auto-oxidação e da degradação sob incidência de luz é o bloqueio total da luz. Como já vimos acima, a luz UV pode iniciar as cadeias radicalares da auto-oxidação. Guardar um substrato sensível num recipiente não transparente ou pintar com uma tinta, são as formas mais comuns de proteger por este princípio. As tintas que nós interessam especialmente neste contexto, são de preferência de cor clara, são 240 A. Isenmann CORANTES altamente pigmentadas e opticamente densas (= solidez). O efeito protetor é ainda maior ao se usar tintas que formam uma camada fechada na superfície do objeto. Assim, representam uma barreira entre o objeto sujeito à oxidação e o reagente, o ³O2 do ar 78. O processo físico responsável por este efeito "escudo", quer dizer, o abaixamento da intensidade da luz penetrante, é chamado de espalhamento (= reflexão não-direcionada); ele ocorre na superfície de material cristalino, que é no caso o pigmento. Os elétrons do material que provoca o espalhamento geralmente não são elevados a outros níveis energéticos ao decorrer do espalhamento. Os antioxidantes desta categoria têm aparência turva ou opaca e podem ser incolores, brancos ou de qualquer coloração clara. O rutilo, TiO2, é o pigmento branco mais utilizado em tintas decorativas com efeito protetor, seguido pelo ZnO, BaCO3 e CaSO4; menos efetivos como espalhadores são os pigmentos inorgânicos coloridos. Todos os pigmentos devem ser insolúveis e finamente dispersos na base polimérica da tinta. A característica de qualquer tinta opticamente densa (= sólida) é a perda total da sua transparência – não só frente os raios ultravioletas, mas também para a luz visível. Dissipação da luz UV Interação entre os elétrons da molécula do antioxidante com radiação UV/Visível e sua transformação em simples calor. Esse tipo de protetores são conhecidos como "absorvedores da luz UV", o processo físico da transformação de energia eletrônica em simples calor é chamado de dissipação. Geralmente são os elétrons π de um extenso sistema de duplasligações conjugadas que interagem facilmente com a radiação dura. Alguns destes sistemas π interagem até com luz visível, por sua vez menos energética que a radiação UV, o que pode ser facilmente percebido na sua cor: estas substâncias aparecem fortemente coloridas ou até escuras. Ao mesmo tempo, elas são translúcidas e deixam o material transparente (= não opaco). Sendo assim, a dissipação é o princípio de funcionamento dos corantes 79. Os corantes, em geral, proporcionam ao material tingido um aspecto mais brilhante do que os pigmentos (ver acima). Ao contrário do fenômeno de espalhamento, a dissipação envolve a elevação temporária de elétrons em níveis superiores (assunto do cap. 3). Estes processos são facilitados pelo fato de que a distância entre os níveis dos orbitais HOMO e LUMO fica cada vez menor, ao se ter um sistema extenso de elétrons π conjugados. Uma vez elevado, o elétron relaxa para níveis inferiores, sob emissão de calor. Orbitais anti-ligantes Orbitais l igantes LUMO HOMO hν Absorção Relaxação em pequenas etapas, sob emissão de calor 78 Ter uma barreira efetiva para o oxigênio do ar é também um critério importante na embalagem de bebidas. No material composto conhecido como "Tetrapak", por exemplo, este problema so pôde ser resolvido por meio de uma fina folha de alumínio, enquanto os outros materiais utilizados são permeáveis frente ao gás O2. 79 Para relembrar: os meios colorantes geralmente são divididos em duas classes: os corantes (moléculas orgânicas, solúveis, onde cada molécula por si mostra efeito) e os pigmentos (orgânicos ou inorgânicos, insolúveis, cristalinos, onde o efeito da coloração se deve ao conjunto do sólido particulado). Os princípios da coloração são dissipação e espalhamento, respectivamente. 241 A. Isenmann Fig. 168. CORANTES Modelo simplificado da elevação HOMO-LUMO durante a absorção de luz (UV). Para que os corantes desenvolverem plenamente seu efeito antioxidante, eles devem ser incorporados na massa do objeto a ser protegido - ao contrário dos pigmentos que agem melhor quando formarem uma camada fechada na superfície do objeto (= tinta). O negro de fumo (nos pneus) é um ótimo exemplo. Também encaixa nesta categoria o armazenamento de líquidos sensíveis em garrafas de vidro marrom e bem fechadas - melhor ainda, sob exclusão do ar. O material da garrafa retém a luz agressiva e a transforma em calor. As catergorias 3 e 4, da lista dada acima (p. 240), são de menor importância prática, já que podem levar ao estrago do corante. Portanto, estes mecanismos de proteção contra a autooxidação serão apenas referidos brevemente. O sequestro de radicais certamente consome o material antioxidante. Sequestradores são substâncias, radicais ou não, que reagem com os radicais livres e agressivos, para formar produtos menos agressivos. Encaixam nesta categoria certos complexos de metais de transição (especialmente os complexos high-spin que naturalmente são radicais), compostos orgânicos do estanho(IV) e do chumbo(IV), mas também moléculas orgânicas dentre as quais os mais prominentes são as aminas blindadas, "HALS" = Hidered Amines for Light Stabilization. Reações reversíveis, induzidas por luz UV Certas moléculas orgânicas mostram efeito antioxidante, portanto são largamente usados para proteger materiais poliméricos, madeira e outros bens de uso permanente. O processo de absorção de luz UV envolve nestas moléculas uma reação química reversível, como será descrito abaixo. Enquanto em tintas de madeira e alvenaria se aplicam de preferência pigmentos que espalham a radiação UV, que são de natureza inorgânica (principalmente TiO2 e ZnO, por serem mais baratos), a pintura em camada fina e transparente, de um automóvel, por exemplo, impede esses materiais particulados, porque derrubam a transparência e provocam um visual acetinado ou fosco. Embora ter alcançado recentemente um grande progresso nos aditivos inorgânicos, por meio da redução dos tamanhos à escala de nanopartículas, quase transparentes à luz visível, elas continuam acarretar desvantagens, tais como falsificação da cor de outros pigmentos ou corantes presentes na formulação, assim como um brilho reduzido (explicado pela física com o efeito de Tyndall). Solução oferecem os absorvedores UV orgânicos que são pequenas moléculas com a capacidade de absorver a luz na região ultravioleta. Sua concentração em formulações de tratamento de superfície fica em torno de 2,5%, enquanto seu efeito protetor depende, conforme a lei de Lambert-Beer (ver p. 73), da espessura final do filme seco. A concentração é delimitada pela solubilidade dentro da matriz da tinta e por seu efeito de reduzir as qualidades acerca de um filme polimérico fechado. Os aditivos mais frequentemente usados hoje são: • • • Benzofenonas (absorvedores clássicos, eficiência média, baratos; muito usados em verniz para madeira), Benzotriazóis (hoje os mais usados; eficazes em todas as tintas e para todos os materiais bases), Triazinas (mais recente; são os estabilizantes mais eficazes; são mais caros), 242 A. Isenmann CORANTES Oxalanilidas (bloqueiam UV-B e deixam passar UV-A, portanto podem ser usados em resinas foto-curados). As fórmulas gerais dessas classes de absorvedores UV, ver Fig. 169 80. • Todos esses estabilizantes funcionam de maneira semelhante: a luz UV absorvida pela molécula aumenta a mobilidade de um próton. A mudança deste próton acarreta também uma mudança de todas as duplas-ligações, ou seja uma tautomeria, na maioria das moléculas uma tautomeria "ceto-enol". A nova forma tautomérica da molécula, logo após o recebimento da energia, ainda encontra-se num estado excitado, mas logo a seguir retorna ao estado fundamental sob emissão de calor que é uma forma não destrutiva da energia. O mecanismo é conhecido como ESIPT (= Excited State Intramolecular Proton Transfer) 81. O H O O H O hν O Benzofenona H O R ∆ H R N N R R R H O hν N N O N R R N ∆ N Benzotriazol O R N hν N R O H O N N O ∆ R N R R Hidroxifeniltriazina O H N N O H O Oxalanilida O hν O H O N N ∆ R H O H N N R O H O- R Fig. 169. Estado fundamental e excitado, dos mais importantes estabilizadores orgânicos, absorvedores de luz UV. Note que os primeiros três têm em comum a unidade estrutual de αhidroxifenil. Através das cadeias laterais, representados na Fig. 169 pelos grupos R, o químico preparador tem que ajustar as propriedades exigidas ao estabilizante. Em primeira linha, isso é a região 80 Ocasionalmente e em aplicações de nicha, são também usados malonatos de benzilideno, cianacrilatos e formamidinas. 81 Não deve-se calar sobre um problema inerente deste mecanismo: a forma ativada, na maioria dos casos, representa um bom complexante para íons metálicos. Podem resultar, em caso de complexação, fortes colorações estranhas ou a imobilização do metal cujo papel é catalisador de endurecimento (exemplos: sais orgânicos de Sn) em tintas de dois componentes a base de poliuretanos; agentes "sicativos" em resinas alquídicas. 243 A. Isenmann CORANTES espectral onde a molécula está absorvendo a radiação (ver Fig. 170). Mas também sua boa compatibilidade com a base polimérica da tinta. Fig. 170. Espectros de absorção típicos das classes principais de absorvedores da luz UV. A área cinza do fundo representa a intensidade relativa de emissão da radiação solar, medida em um dia de primavera com céu azul. Através de cadeias laterais mais compridas pode ser diminuída a tendência destas (pequenas) moléculas de se migrar. A migração de aditivos, em particular dos estabilizantes UV, é sempre bastante indesejada - quer migração para a superfície, quer para camadas mais profundas. As qualidades secundárias a serem ajustadas através dos grupos R são o estado físico (líquido ou sólido), a volatilidade, a solubilidade e compatibilidade com a matriz da tinta, e, como sempre, o preço do aditivo. Igualmente importante é a durabilidade a longo prazo. Achamos a seguinte sequência (estabelecida em testes de intempérie, admitindo estabilidade destes aditivos desde dois anos até quase infinito): Benzofenonas < oxalanilidas < benzotriazóis < feniltriazinas. Novos materiais antioxidantes e tendências Além dos absorvedores UV estabelecidos no mercado, a pesquisa por novos aditivos antioxidantes orgânicos continua. Com a combinação das seguintes unidades estruturais procuram-se efeitos sinérgicos, unificados em uma única molécula: fenóis, quinonas e hidroquinonas, aminas terciárias e mercaptanos, sistemas aromáticos ou altamente conjugados. Segue um exemplo de antioxidante, com uma combinação de grupos funcionais típicos que interagem com radiação UV. Os derivados do ácido cinâmico, Ph-CH=CH-COOH, se destacam pela fácil deslocalização de elétrons. O sistema de elétrons π aromáticos foi estendido por uma dupla-ligação C=C 244 A. Isenmann CORANTES exocíclica, provocando assim um deslocamento batocrómico do máximo de absorção (isto é, deslocamento em direção à região visível). Um fácil deslocamento dos elétrons π e, além disso, uma grande flexibilidade redox é uma propriedade de todas as quinonas e fenóis. Sendo assim, espera-se uma multiplicação na eficácia como sequestradora de luz UV, ao combinar esses detalhes estruturais, como é mostrado no exemplo a seguir: O Bu-t O Bu-t R H O H R O Bu-t "Tautomeria" Bu-t A segunda fórmula perdeu a estabilidade aromática, porém ganhou estabilidade pela ampliação do sistema conjugado exo-cíclico de duplas ligações C=C. Trata-se de uma tautomeria ceto-enólica, pois o deslocamento das duplas ligações é acompanhado por uma transferência do hidrogênio hidroxílico. Nota-se que cada uma das formas tautoméricas dispõe de um grupo enol e de um grupo ceto, representados por letras negritas; estes grupos somente trocam suas posições. Além de ser absorvedor UV, espera-se desta molécula certo efeito sequestrador de radicais, pois o produto que resulta da reação com um radical livre e perigoso (por ser sustentador eficaz da cadeia cinética) é um oxirradical bastante estável. Seu estado de oxidação fica no entremeio dos grupos originais, quer dizer entre fenol e quinona. Esse radical, Ph-O⋅, não tem mais relevância como sustentador da cadeia cinética. Ele espera na mistura, sem reagir com o substrato R-H, até que outro radical reativo (HO2⋅, R⋅, H⋅,...) chegue perto. Os dois, radical preso e radical livre, reagem voluntariamente e se extinguem. Além desta consideração energética do radical Ph-O⋅, temos aqui um outro fator estrutural que inibe a propagação por este intermediário: a unidade Ph-O⋅ é protegida pelos grupos t-Bu ao seu redor. O papel dos grupos t-butilas nesta molécula é a proteção estérica do grupo fenólico. Uma vez reagido com um radical, a reatividade do grupo fenólico aumenta, porém não pode trasferir sua reatividade radicalar para o substrato R-H porque a posição fenólica é blindada. Esperam-se novas aplicações de derivados desta molécula, inclusive no setor farmacêutico. Antioxidantes naturais e aditivos protetores em alimentos Um dos antioxidantes naturais mais importantes para o nosso bem-estar é a vitamina C (L(+)ácido ascórbico). É uma vitamina hidrossolúvel que se encontra em altas concentrações em frutas azedas frescas (cítricas, acerola, kiwi, etc). A falta crônica desta vitamina causa sangramentos na pele e na gengiva e a perda de dentes. Essa doença conhecida como "escorbuto" foi muito sentida pelos marinheiros dos séculos passados. A unidade estrutural com facilidade de efetivar reduções (isto é, satisfazer um radical com mais um elétron e desta forma desativá-lo) é o endiol. Sua qualidade como redutor é tão pronunciada que este agrupamento ganhou o nome trivial "reduton". As distâncias interatômicas dentro da molécula da vitamina C são favoráveis para que o grupo reduton possa estabilizar-se por ligações de hidrogênio. Anotamos a semelhança estrutural com o sistema quinóide do item anterior. O produto, então a vitamina C oxidada, tem três grupos cetonas estáveis. 245 A. Isenmann CORANTES CH2OH CH2OH H H OH O O CH2OH OH Oxidação O = OH HO O O OH O O H H H H O H O O H Vitamina C A natureza providencia também sistemas blindados e/ou altamente conjugados, com finalidade de sequestrar radicais e/ou absorver radiação UV. Os mais conhecidos são as: Cumarinas (dentre elas a vitamina E 82), Antocianinas 83 (= flavonóide; corante natural da jabuticaba e outras frutas e flores de coloração escura; descrição detalhada no cap. 6.3.5) e Vitamina A (também conhecida como β-caroteno; um tetraterpeno) 84. Destes, as vitaminas E e A são lipossolúveis, enquanto a antocianina é hidrossolúvel. HO O α-Tocoferol (= Vitamina E) OH OH HO O OH OH Cianidina (= antocianina) 82 Os Antioxidantes (Texto original da Finlays Tea Solutions, traduzido pela Tovani Benzaquen Ingredientes, representante da empresa no Brasil. Food Ingredients Brasil, 6 (2009), 16-30; disponível em http://www.revistafi.com/materias/83.pdf 83 F. Okumura, M.H.F.B. Soares, E.T.G. Cavalheiro. Identificação de pigmentos naturais de espécies vegetais utilizando-se cromatografia em papel. Química Nova 25 (2002), 680-3. 84 Além destes antioxidantes orgânicos, o corpo humano aproveita do efeito antioxidante do elemento em traço, selênio. Note que esse elemento, em quantidades maiores, é altamente tóxico. 246 A. Isenmann CORANTES Vitamina A (= β-caroteno; fortemente amarelo igual cenoura) Os aditivos antioxidantes mais utilizados em alimentos e cosméticos industrializados são BHA, BHT e os galatos (ver fórmulas abaixo). Especialmente importante são esses aditivos em receitas ricas em especiárias, flavorizantes e gordura, tais como chips e palitos de batata, biscoitos e outros alimentos secos, mas também em cremes de pele que contém óleos altamente sensíveis 85. Nestes produtos os antioxidantes são acrescentados em concentrações de até 0,1%. Na sua presença a vida de prateleira do produto (devidamente embalado!) se estende a alguns meses. Em analogia ao antioxidante apresentado acima, observamos na molécula do BHT o grupo fenólico que é blindado, esta vez por dois grupos t-butilas. Bu-t Bu-t OH O HO HO HO BHA (2-t-butil-4-metoxifenol) Bu-t BHT (2,6-di-t-butil-4-metilfenol) O HO O Galato de propila Tabela 1. Aditivos antioxidantes em alimentos e suas siglas. Número E Substância Alimentos E 300 E 301 E 302 Ácido ascórbico Ascorbato de sódio Ascorbato de cálcio Refrigerantes, geleias, leite condensado, salsichas, etc. E 304 Palmitato de ascorbilo Salsichas, caldo de galinha, etc. E 306-309 Tocoferóis Óleos vegetais. E 310 E 311 Galatos Gorduras e óleos para produção industrial, óleos e gorduras para fritar, condimentos, sopas desidratadas, pastilhas elásticas, etc. E 320 E 321 Hidroxianisol Butilado (BHA) Hidroxi-tolueno butilado(BHT) Doces, uvas passas, queijo fundido, manteiga de amendoim, sopas instantâneas, etc 85 Artigo de revisão: M. Chorilli, G.R Leonardi, H.R.N. Salgado, Radicais livres e antioxidantes: conceitos fundamentais para aplicação em formulações farmacêuticas e cosméticas. Rev. Bras. Farm. 88 (2007), 113-118; disponível em http://www.rbfarma.org.br/files/PAG_113a118_RADICAIS.pdf 247 A. Isenmann CORANTES Com este assunto já criamos uma ponte para o próximo assunto, o uso dos corantes em alimentos (embora que esses aditivos não têm cor própria, mas apenas realçam as cores naturais dos produtos industrializados). 6.3. Corantes para alimentos Outra classe de corantes denominados pelo campo de aplicação, mais do que pelo modo de aplicação, são os corantes alimentares 86. A fabricação deste aditivo alimentar requer um padrão mais elevado do que os demais corantes industriais. Corantes alimentares podem ser diretos, mordaz ou tinturas de cuba, e seu uso é rigorosamente controlada pela legislação. A maioria são da família dos corantes azo, mas também se usam compostos de antraquinona e trifenilmetano (para colorações verde e azul, principalmente). 6.3.1. Objetivo da coloração de comidas e bebidas Como já dito na introdução deste livro, a visão colorida é de longe o sentido mais importante do homem. Portanto, podemos afirmar que a aceitação do produto alimentício pelo consumidor está fortemente relacionada à sua cor. Esta característica sensorial, embora subjetiva, é fundamental na indução da sensação global resultante de outras características, como o aroma, o sabor e a textura dos alimentos. Desta forma, a aparência do alimento pode exercer efeito estimulante ou inibidor do apetite. Corantes alimentares proporcionam ao alimento um visual melhor, satisfazendo assim o consumidor - especialmente na hora de comprar o alimento. Estes aditivos servem, principalmente, para compensar perdas em cores naturais do alimento que os perdeu durante sua preparação e processamento. Sendo assim, estes aditivos podem também sugerir uma qualidade melhor do que o produto alimentar atualmente possui. E mais uma: os corantes artificiais não têm nenhum valor nutricional. 6.3.2. Corantes naturais versus artificiais Apenas poucos corantes são de origem vegetal (por exemplo, betanoína, clorofila). Mais comumente usados são imitações de corantes naturais ou então corantes completamente atificiais. Dentre os últimos se destacam, em analogia aos outros setores industriais que consomem meios colorantes, os corantes azo. No entanto, esta classe de corantes tem má reputação - já que não traz benefício à saúde humana. Ao contrário: especialmente os corantes azo, quando usados em alimentos, cosméticos ou fármacos, podem provocar e realçar reações alérgicas (a tartrazina), alguns até estão sob suspeita de provocar câncer (o amaranto), sob certas condições. A natureza fornece a maioria dos nossos alimentos vegetais com corantes naturais. Estes incluem a folha de coloração verde (clorofila), os carotenóides, as cores da baga (antocianinas), corantes da beterraba (betanina) e cores de especiarias como pimentão, açafrão e cúrcuma (curcumina). Desde o século XIX se usam corantes, naturais e artificiais, em alimentos. Os primeiros casos foram especialmente perigosos, porque não tinha nenhum regulamento. Usavam-se até os pigmentos dos metais pesados para colorir alimentos. Sulfeto de mercúrio no queijo, óxido de chumbo em doces ou fucsina no vinho - só para mencionar os mais espectaculares. É lógico que isso prejudicou severamente a saúde dos consumidores, então em 1887 foi proibido, pelo menos o uso destes metais pesados em alimentos. 86 Resumo com a descrição química dos corantes http://www.insumos.com.br/aditivos_e_ingredientes/materias/119.pdf mais importantes, ver: 248 A. Isenmann CORANTES Mas os corantes orgânicos, especialmente os da família azo, tiveram uma ascenção íngreme. Isso compensou, em quantidade, a tendência do século XX de permitir cada vez menos destes corantes para fins alimentares: dos antigamente 80 aditivos usados se comprovaram efeitos colaterais, portanto em 1970 somente sete deles sobreviveram. Os Estados Unidos sempre tinham as leis mais restritivas no que diz respeito aos aditivos em alimentos; sendo assim, já em 1906 os corantes artificiais para tal aplicação foram delimitados. Todos esses, além de serem comprovadamente indiferentes no metabolismo humano, se destacam por: alta estabilidade frente à luz e ao oxigênio do ar, razoavelmente estável ao calor e pH, uniformidade na cor conferida, alto poder tintorial, isenção de contaminação microbiológica, e, não esquecer: custos de produção relativamente baixos. 6.3.3. Legislação dos corantes alimentares Em total temos hoje em torno de 70 corantes alimentares em uso. Eles são listados junto com um número de identificação para tal uso, o número INS ou simplesmente número"E". Os corantes têm os números E 100 (curcumina) a E 180 (Litol-rubim), mais alguns poucos pigmentos (E 181 a E 189) que somente servem para dar enfeite por fora, por exemplo, para colorir a casca de ovos, a casca de queijos, mas também o carimbo azul da vigilância alimentar em carnes frescas. Com a Tab. 35 segue uma lista dos 40 corantes alimentares atualmente permitidos no Brasil, e percebemos que são basicamente 11 corantes orgânicos artificiais que nós ingerimos junto aos alimentos industrializados. São esses: • Amarelo crepúsculo, • Azul brilhante FCF 87, • Bordeaux S (= amaranto), • Vermelho de Eritrosina, • Azul de Indigotina, • Ponceau 4R, • Amarelo de Tartrazina, • Azorrubina, • Verde rápido, • Azul Patente V • Vermelho 40. Destes, a maioria são corantes azo, seguidos pela família dos trifenilmetanos. Para as fórmulas químicas, desde que conhecidas, recorra a Tab. 37. Em comparação: a legislação norte-americana, elaborada pela FDA 88 permite atualmente os seguintes sete corantes artificiais em alimentos (nomes em ingês; os mais usados em negrito): 87 FCF = For Colouring Food 249 A. Isenmann • • • • • • • CORANTES Blue No. 1 – Brilliant Blue FCF, E 133 FD&C Blue No. 2 – Indigotine, E132 (tonalidade do anil) 89 FD&C Green No. 3 – Fast Green FCF, E143 (tom turquês) FD&C Red No. 40 – Allura Red AC, E129 FD&C Red No. 3 – Erythrosine, E127 (roxo-vermelho, geralmente usado em cerejas glacé) FD&C Yellow No. 5 – Tartrazine, E102 FD&C Yellow No. 6 – Sunset Yellow FCF, E110 (cor laranja) De uso limitado, isto é, somente em produtos especificados, são: • • Orange B (tom vermelho) - somente em salsicha de cachorro quente. Citrus Red 2 (alaranjado) - para colorir casca de laranja. Os corantes banidos nos EUA e/ou fora de uso são: • • • • • • • FD&C Red No. 2 – Amaranth FD&C Red No. 4 FD&C Red No. 32 (foi usado para colorir as laranjas da Florida). FD&C Orange Number 1 (era um dos primeiros corantes comerciais, solúveis em água e um dos 7 originais corantes de alimentos pela lei "Pure Food and Drug Act", do 30 de junho de 1906). FD&C Orange No. 2 (foi usado para colorir as laranjas da Florida). FD&C Yellow No. 1, 2, 3, and 4 FD&C Violet No. 1 Na União Européia regem leis mais leves: são permitidos em alimentos atualmente 17 corantes artificiais, conforme as diretrizes 94/36/EC e 95/45/EC. No entanto, na Noruega e na Suécia os artificiais são completamente proibidos. Tab. 35. Corantes alimentares tolerados no Brasil, de acordo com a Resolução nº 44 de 1977 (Diário Oficial da União; Poder Executivo, de 01 de fevereiro de 1978), refinado em 1999 e válida até hoje (junho/2013). Classe I - Corante orgânico natural Curcumina Riboflavina Cochonilha; ácido carmínico Urzela; orceína, orecína sulfonada Clorofila Caramelo Carvão medicinal 88 Classe II - Corante orgânico sintético artificial Amarelo crepúsculo Laranja GGN Amarelo ácido ou amarelo sólido Tartrazina Azul brilhante FCF Azul de idantreno RS ou Azul de alizarina Classe III - Corante orgânico sintético, idêntico ao natural Beta-caroteno Beta-Apo-8´-carotenal Éster etílico do ácido betaApo-8´carotênico Cantaxanteno Complexo cúprico da clorofila e clorofilina FDA = Food and Drug Administration 89 FD&C = Número de aprovação pela FDA, somente para os corantes artificiais. No entanto, os números E são mais significativas internacionalmente. 250 A. Isenmann CORANTES Carotenóides: - alfa, beta, e gama-caroteno - bixina, norbixina - capsantina, capsorubina - licopeno Xantofilas: - flavoxantina, luteína - criptoxantina - rubixantina - violaxantina - rodoxantina - cantaxantina Vermelho de beterraba, betanina Indigotina Bodeaux S ou amaranto Eritrosina Escarlate GN Vermelho sólido E Ponceau 4 R Vermelho 40 Azorrubina * Verde rápido * Azul Patente V * Foram banidos em 1987: Amarelo ácido (13015) Azul de In dantreno (69800) Laranja GGN (15980) Vermelho sólido E (16045) Escarlate GN (14815) Caramelo amônia Classe IV - Corante inorgânico (pigmentos) (emprego limitado à superfície) Carbonato de cálcio Dióxido de Titânio Óxido e hidróxido de ferro Alumínio Prata Ouro Antocianinas - pelargonidina, cianidina - peonidina, delfinidina - petunidina, malvidina * Acrescidos em 1999, em virtude da harmonização do Mercosul. Se for apenas a superfície de um alimento a ser colorida, até os metais alumínio (E 173), prata (E 174) ou ouro (E 175) podem ser utilizados. 6.3.4. Tonalidades dos corantes alimentares Tons de vermelho, amarelo, laranja ou preto são comuns nos alimentos. Nestes, destaca-se o corante vermelho natural da beterraba, a betanina. Ela tem um poder de tingimento acima da maioria dos corantes artificiais, porém estraga ao ferver e ao submeter em ambientes fora 4 < pH < 5. O caramelo, devido à sua importância industrial, é apresentado à parte (p. 261). Tab. 36. Comparação entre as cores e as extinções, da betanina e alguns corantes vermelhos artificiais. Corante (d = 1 cm) ε (1%) λmax (nm) Betanina 1120 537 Amaranto 438 523 Carmim 545 515 Ponceau 4R 431 505 Corantes azúis, por outro lado, são raros de encontrar em alimentos. Isso se deve ao fato que quase todos os corantes azúis são sintéticos, então não são muito aceitos pelos consumidores. Além disso, os corantes "Azul de patente V" e "Azul brilhante FCF" são sensíveis ao ambiente ácido e, portanto, inadequados para a coloração de sobremesas, doces, gelatinas, 251 A. Isenmann CORANTES bebidas refrescantes etc. O mesmo vale para o corante natural do repolho roxo: ele é azul em ambiente neutro-básico, mas tipicamente roxo-avermelhado no ácido 90. Tab. 37. Lista dos corantes de alimentos, organizados conforme sua tonalidade. Amarelo, cor laranja e vermelho Nome comercial Número Fórmula (classe de substância) (fonte) INS 91 Curcumina E 100 (amarelo natural; raíz do açafrão da Índia) Riboflavina H O MeO OMe HO OH O E 101 ("vitamina do crescimento") Riboflavina-5fosfato O H3C N H3C N N acúcar NH O E 101a (vitamina B2) O H3C N H3C N N O acúcar O P(OH) 2 NH O Tartrazina E 102 +Na -OOC (artificial, CI Acid Yellow 23) Quinolina N N E 104 (artificial) (= Amarelo crepúsculo; artificial) SO 3- OH -O 3S -O 3S (Azo) O N H O Sunset FCF N N (quinoftalona) HO E 110 N -O 3S N SO3- (azo; pode ser alergênico) 90 O roxo do repolho pode ser uma alternativa para o tornassol, quando no laboratório acabou o indicador de pH. 91 INS = International Numbering System, mais conhecido como "nomenclatura E". 252 A. Isenmann CORANTES Carotenos E 160 a α-caroteno (tetraterpenos naturais; existem α, β, γ, δ e licopina) H β-caroteno Anato E 160 b (= Colorau; carotenóide natural; sementes do urucum) >80% dos carotenóides deste corante é a α-bixina: MeOOC COOH "Bixina" Funciona como antioxidante (= sequestrador de radicais livres) Capsantina E 160 c OH (do páprica vermelho) O HO (xantofila) Licopeno (vermelho, tomate) E 160 d do 2 (carotenóide) E 160 e 8´-Apo-βcarotenal CHO (amarelo; da laranja; natural ou sintético) (carotenóide) E 160 f 8´-Apo-βcarotenal etiléster O O (carotenóide) Luteína (xantofila legumes folhados) E 161 b OH H de HO (Carotenóide 2o mais abundante depois do β-caroteno) 253 A. Isenmann CORANTES Cantaxantina O E 161 g (no camarão) O (xantofila ou carotenóide) Zeaxantina E 161 h (do milho e gema de ovo) Betanina (vermelho natural; beterraba) HO 2 (xantofila amarela) COOH E 162 NH da HO Glicose N COO- COOH (associada O às antocianinas) Antocianos E 163 (flavonóide; em quase todas as frutas) Existem cerca de 250 isômeros. Sua coloração vai desde o preto da beringela, escuro azulado da amora, roxo do açaí, até o vermelho da cereja e uva. Estrutura geral: OH OH O O + H+ HO O O glicose O glicose OH OH Rubi-litol BK 92 COO- E 180 HO (artificial; CI Pigment Red 57:1; complexo com Ca2+) N Ca2+ N SO 3- Carmim (vermelho natural, cochonilha) E 120 (laca de corante azo) OH O HO OH Ca2+ da COO - glicose OH O 2 (benzoquinona) 92 Esse pigmento azo vermelho (próximo à magenta) é resinificado com íons metálicos, de preferência com Ca2+. Foi descoberto em 1903 por R. Gley e O. Siebert e é atualmente um dos pigmentos orgânicos mais usados. Aplicações na coloração de plásticos, na impressão, em lápis de cor, na cosmética, nos alimentos, entre outros. 254 A. Isenmann CORANTES Azorubina E 122 SO3- OH (artificial, vermelho) N N SO3- Amaranto E 123 (= Bordeaux S; vermelho) -O (corante azo) SO 3- 3S HO N N SO3- Vermelho da E 124 cochonilha A -O (corante azo) 3S OH (= Ponceau 4R; sintético) SO 3- N N SO3- Eritrosina I E 127 (corante xanteno; derivado da fluoresceína; fonte de iodo) (corante azo) I +Na -O O I O I COO- Na+ (xanteno) Vermelho alura AC de E 129 SO 3- OH N (= Vermelho 40; artificial) N OMe SO 3- Azul Nome comercial (fonte) Número E (corante azo) Fórmula 255 A. Isenmann CORANTES Azul patente V E 131 NEt2 (corante artificial; CI Food blue 5) HO Indigotina 93 E 132 (também indigocarmim; solúvel na água!) Azul brilhante CFF -O 3S -O 3S SO3- NEt2 (trifenilmetano) H N O N H SO3- O (indigóide) E 133 (corante artificial) -O S 3 NEt SO 3- SO 3- N Et Verde Nome comercial (fonte) Número E Clorofila E 140 (trifenilmetano) Fórmula (natural; complexo entre clorina e Mg2+) N N Mg N N (ftalocianina) Clorofila e clorofilina, E 141 complexadas com Cu2+ (verde escuro; material de partida: porfina da natureza; síntese: troca Mg2+ → Cu2+) - OOC - OOC N N Cu N - N OOC 93 Pode ser usdo como indicador ácido-base, com ponto de virada em pH 12; também serve como indicador redox, porque ao ser oxidado se torna amarelo. 256 A. Isenmann CORANTES Verde S E 142 NMe2 (artificial; trifenilmetano) SO3- Me2N HO SO 3- Verde rápido OH E 143 (artificial; trifenilmetano; proibido na União Européu) SO3- N N Marrom e preto Nome comercial Número E (fonte) Fórmula Caramelo Tipo I (comum): Caramelo simples E 150 a (Xarope de glicose E 150 b caramelizado, na E 150 c presença de H2SO4 e/ou NH3; produto E 150 d polimerizado) Tipo II: Caramelo de sulfito Tipo III: Caramelo de amônia Tipo IV: Caramelo de sulfito de amônio -O Negro brilhante NB E 151 (dentre os corantes artificiais fisiologicamente menos ativo) SO3- SO3- N -O 3S N 3S SO3- NH N O SO 3- HN O (bisazo) Carvão ativado E 153 (queima incompleta de material orgânico) Marrom FK (mistura de 6 corantes azo, bisazo e trisazo; contém mais grupos -NH2 do E 154 Uso restrito: só para sardinhas defumadas na Inglaterra. Pode danificar coração e fígado. 257 A. Isenmann CORANTES que -SO3-) Marrom HT -O E 155 3S (artificial: bisazo; usado em chocolate) SO3- OH N N N N OH OH Pigmentos brancos, vermelho e metais Nome comercial (fonte) Número E Fórmula Carbonato de cálcio E 170 CaCO3 Dióxido de titânio E 171 TiO2 Óxido de ferro E 172 Fe2O3.H2O Alumínio E 173 Em decorações de bolos. E 174 Em decorações de bolos. E 175 Enfeite em bebidas alcoolicas e chocolate. (Só na superfície) Prata (Só na superfície) Ouro (Só na superfície) 6.3.5. Antocianinas Antocianinas 94 (do grego: anthos = flor; kianeos = azul escuro), são corantes hidrofílicos e pigmentos naturais, produzidos por quase todas as plantas mais desenvolvidas. As concentrações mais altas (até 1% do peso) se encontram na camada externa dos frutos, mas também nas flores; suas colorações podem variar desde vermelho, roxo, azul, até preto. R1 R2 R7 O R6 R3 R4 R5 Fig. 171. Fórmula geral das antocianinas Pela estrutura química elas pertencem à família dos flavonóides. Eles podem ser divididas em corantes contendo açúcar na sua estrutura (por exemplo, uma glicose ligada como R4 em forma de acetal), daí se fala mais rigorosamente em antocianina; as formas sem açúcar 94 F. Okumura, M.H.F.B. Soares, E.T.G. Cavalheiro. Identificação de pigmentos naturais de espécies vegetais utilizando-se cromatografia em papel. Química Nova 25 (2002), 680-3. 258 A. Isenmann CORANTES (aglicon) são as antocianidinas. Em alguns países esses corantes são permitidos como aditivos em alimentos, sob a sigla E 163. Aos todos se conhecem hoje cerca de 250 espécies desta família de corantes. Tab. 38. Pequena seleção de antocianidinas naturais. Antocianidin a R1 R2 R3 R4 R5 R6 R7 Aurantinidina -H -OH -H -OH -OH -OH -OH Cianidina -OH -OH -H -OH -OH -H -OH Delfinidina -OH -OH -OH -OH -OH -H -OH Europinidina -OCH3 -OH -OH -OH -OCH3 -H -OH Luteolinidina -OH -OH -H -H -OH -H -OH Coloração Fonte Vermelha Cereja, jamelão, uva, morango, amora, figo, cacau, açaí Beringela, romã, maracujá, uva Pelargonidina -H -OH -H -OH -OH -H -OH Vermelhaalaranjada Morango, bananeira, acerola, pitanga, gerânio, amora, ameixa Malvidina -OCH3 -OH OCH3 -OH -OH -H OH Violeta Uva, feijão, acerola Peonidina -OCH3 -OH -H -OH -OH -H OH Púrpura Cereja, Jabuticaba, uva Petunidina -OH -OH OCH3 -OH -OH -H OH Violeta Uva, petúnia Rosinidina -OCH3 -OH -H -OH -OH -H OC H3 Sua coloração depende sensivelmente do pH do ambiente. Isso será demonstrado na cianidina, no seguinte esquema. 259 A. Isenmann CORANTES OH OH OH HO OH O HO O OH OH OH OH Cátion f lavílio pH < 3; vermelho + H + + OH- H 2O OH OH O OH HO O HO OH O - H 2O + H 2O OH OH Base quinóide anidro pH- 6 a 7; púrpura + OH + H+ - H O OH 2 OH Cromenol pH 4 a 5; incolor Cianidina OH O HO O OH OH OH O - O OH OH O- HO OH (E) Fig. 172. OH HO Ânion calcon amarelo O OH O- Base iônica anidro pH 7 a 8; azul escuro - H2O + H 2O OH OH HO O OH OH OH (Z) O - Cromenol ânion pH > 8; incolor Dependência da cor em flavonóides, do pH do ambiente. Ao mesmo tempo, essa sensibilidade à protonação e hidratação impede sua aplicação na tintura, mas abre caminhos para a química analítica, onde é largamente usado como indicador de pH; o tornassol é um destes! Os flavonóides são acessíveis no laboratório, também. A estratégia é conhecida como "Anelação de Robinson", onde a etapa-chave é uma condensação de Knoevenagel entre um salicilaldeído e uma α-metoxiacetofenona: 260 A. Isenmann CORANTES OMe MeO + OMe MeO CHO O - H 2O OH OH OMe OMe OMe OMe O Tautomeria Oxo-ciclo MeO OMe + H+ Fig. 173. OMe - H2O O OMe MeO OMe O OMe OMe OH Síntese de flavonóides via anelação de Robinson. Outro acesso aos flavonóides substituídos é a ciclização eletrofílica de fenóis, usando ésteres do tipo acetato de benzoíla. 6.3.6. Coloração marrom: o reinado do caramelo Dentre os corantes permitidos como aditivo na indústria de alimentos, o corante caramelo ocupa lugar de destaque, sendo um dos mais antigos aditivos utilizados para coloração do produto final, para se conseguir uma cor que pode variar do amarelo-palha até o marrom escuro, até quase negro. O corante caramelo é um líquido ou sólido que possui odor de açúcar queimado e um gosto agradável, ligeiramente amargo. É totalmente miscível em água e contém agregados coloidais responsáveis pela maioria de suas propriedades colorantes, e de seu comportamento característico em presença de ácidos, eletrólitos e taninos. Com uma produção anual superior a 200.000 toneladas, o corante caramelo representa cerca de 90% em peso de todos os corantes adicionados em alimentos e bebidas consumidos no mundo. O marrom é a tonalidade mais espalhada entre os alimentos preparados. Os maiores usos do caramelo aqui no Brasil é, portanto, em molhos, gelados comestíveis, biscoitos, doces, bebidas alcoólicas e refrigerantes, destacando-se principalmente a cola e o guaraná. Preparo do caramelo A produção tradicional do caramelo é a partir do açúcar cristal (sacarose), aquecendo-o seco em um recipiente no fogo forte, mexendo sempre. Uma vez o açúcar começa a derreter, o tempo até o escurecimento leva apenas alguns segundos, o que implica que a fabricação do caramelo requer da atenção constante do operador. Quando o grau desejado de escurecimento é atingido a massa ainda quente e líquida-viscosa é extinta com água em ebulição (os respingos durante essa etapa requerem um EPI reforçado do operador). Resulta então um xarope de fácil dosagem e manuseio. Açúcar comum começa a derreter em cerca de 135 ° C, sem notável coloração. Esse líquido incolor é utilizado em confeitaria para frutas glaceadas, para algodão doce e diversas decorações. A caramelização que muda cor e sabor do produto, começa notavelmente em torno de 150 ° C, para o caramelo marrom-dourado temperaturas entre 180 e 200 ° C são necessárias. Este produto quando arrefecido é de consistência dura, quebradiça e transparente igual vidro (= amorfo). Cada açúcar tem sua própria temperatura de caramelização: a frutose já carameliza a 110 °C, enquanto a temperatura do açúcar de malte (maltose) é com 180 °C mais elevada do que a do açúcar comum. 261 A. Isenmann Tab. 39. CORANTES Temperaturas de caramelização de alguns açúcares simples Açúcar Frutose Galactose Glicose Sucrose Maltose Temperatura recomendada 110°C 160°C 160°C 160°C 180°C A coloração escura dos açúcares derretidos pode ser bastante acelerada pela presença de certos ácidos, bases, eletrólitos ou até taninos. Como indicado na Tab. 37, existem 4 tipos de caramelo com importância comercial, com aplicações distintas em alimentos e bebidas. Cada tipo tem propriedades funcionais específicas, assegurando sua compatibilidade com o produto e eliminando efeitos indesejáveis tais como turbidez, floculação, separação de ingredientes ou sabores estranhos. Na escolha do tipo de corante caramelo a ser utilizado deve-se considerar a compatibilidade com os demais ingredientes. As partículas que compõem o corante caramelo devem ter a mesma carga das partículas coloidais do produto a ser colorido, se não há perigo de coagulação e então dificuldades na homogeneização, tanto do corante como dos componentes nutricionais. Os corantes caramelos mais utilizados na indústria alimentícia são os do tipo III ("amônia") e IV ("sulfito de amônio"), sendo o primeiro indicado para produtos com partículas carregadas positivamente, e o segundo para meios com partículas carregadas negativamente. Os quatro tipos de corante caramelo são: Tipo I, conhecido como simples, natural, vulgar ou CP (= Caramel Plain); Tipo II, o caramelo de sulfito cáustico ou CSC (Caustic Sulfite Caramel); Tipo III, o caramelo amoniacal, obtido pelo processo amônia, ou AC (Ammonia Caramel); Tipo IV, o caramelo de sulfito de amónio, obtido pelo processo sulfito amônia, ou SAC (Sulfite-Ammonia Caramel) ou ainda SDC (Soft Drink Caramel). Reações químicas que levam ao caramelo A química da caramelização é bastante complexa e até hoje não totalmente entendida. Em etapas simultâneas ou consecutivas ocorrem, entre outras: a mutarrotação de dissacarídeos (na sacarose se observa inversão no polarímetro), reações de oxidação e condensações (que finalizam na polimerização), formação de ligações covalentes intramoleculares (ciclizações), rearranjos (isomerizações do esqueleto carbônico) e pirólise parcial (degradação descontrolada). Nos caramelos mais escuros a transição da pirólise para a carbonização é gradativa. Observam-se estruturas heterocíclicas no caramelo (ver Fig. 174) que também se encontram na lignina da madeira, portanto seu parentesco, tanto em cor como em odor. O açúcar é desidratado, e os carboidratos começam a formar diferentes polímeros contendo cetonas e aldeídos, alguns dos quais são responsáveis pela cor marrom e o sabor amargo. Portanto, quanto mais escuro e queimado, mais amargo o caramelo. Como odores característicos se desenvolvem diferentes dihidrofuranonas, ciclopentenolonas, ciclohexenolonas e pironas (por exemplo, maltol). 262 A. Isenmann CORANTES O OH OH O O O O OH O O O 4-pirona 2-pirona Maltol Ciclopentenolona/ ciclohexenolona Fig. 174. Algumas estruturas heterocíclicas contidas no caramelo: as pironas (também conhecidas das cumarinas), o derivado típico de maltol, além de diversas ciclopentenolonas e ciclohexenolonas. Já à temperatura ambiente alguns carboidratos podem ocasionalmente perder dois grupos adjacentes, -OH e-H, formando uma dupla ligação C=C, ou seja, esses carboidratos já possuem uma pequena pressão de vapor de água. Essa pressão está em equilíbrio com a pressão de vapor d´ água do ar, então a umidade natural do ambiente é geralmente suficiente para reverter imediatamente essa eliminação. Já no calor regem condições diferentes: os carboidratos podem perder completamente sua água, e o produto se transforma aos poucos em caramelo e depois em carvão ativado 95. O escurecimento em alimentos pode ocorrer de várias maneiras sendo que as duas mais importantes (não-enzimáticas) são, além da caramelização, a reação de Maillard. A reação de Maillard, ao contrário da caramelização que somente envolve os açúcares, é uma reação dos açúcares com aminoácidos (proteínas) levando, em etapas, à glicosilamina, desoxihexosulose e hexosulosilamina (compostos de Amadori), e em seguida a uma variedade de heterociclos nitrogenados, pigmentos poliméricos marrons escuros. Os açúcares redutores reagem no calor com o grupo -NH2 livre dos aminoácidos básicos para uma série de produtos de condensação que proporcionam ao produto um aspecto escuro (amarelo, marrom até quase preto - dependendo do grau desta reação). Essas reações foram estudadas por L.C. Maillard (1912); elas não servem em primeira linha para colorir o alimento, mas são responsáveis para uma série de aromas típicos que se desenvolvem ao cozinhar, mais ainda ao fritar o alimento. Por exemplo, o sabor da carne frita ou da batata frita se deve em partes nesta reação 96. Na primeira etapa forma-se um derivado da N-glicosilamina. Segue um rearranjo de Amadori para um derivado da 1-amino-1-desoxi-2-cetosa. CHO H C OH H 2N R H NHR C H C O OH H2CNHR C COO - O R= Carboidrato H2C H3N H (Lisina) 95 Um método de laboratório de desidratar o açúcar rapidamente para chegar ao carvão ativado (embora um pouco caro) é seu tratamento com ácido sulfúrico concentrado. Este reagente catalisa a saída do grupo -OH e sua higroscopia retira irreversivelmente a água liberada. 96 Uma curiosidade: também na catarata, uma turvação irreversível da córnea do olho, a reação de Maillard tem um papel central. 263 A. Isenmann CORANTES Fig. 175. O marrom pode ter origem na reação de Maillard, que funciona por aquecimento erepresenta uma degradação não enzimática. A conversão na Fig. 175 foi formulada com a lisina, já que esse aminoácido essencial se perde facil e irreversivelmente, caso o alimento for tratado numa temperatura demasiadamente alta. Em estados mais avançados das reações de Maillard seguem desidratação, ciclizações e degradações do esqueleto carbônico segundo Strecker. Os detalhes ainda não são conhecidos. Mais uma palavra de alerta acerca das reações de Maillard: Nem tudo que é gostoso é saudável. Ao se operar numa temperatura entre 170 e 190 °C, temperatura típica numa frigideira, a glicose e o aminoácido asparagina podem reagir, formando no final um produto volátil e comprovadamente cancerígeno: a acrilamida. A sequência a seguir esboça o percurso desta reação de condensação. O H OH H O HO HO H H OH OH H NH2 + O H2N OH O H OH - H2O H O HO HO H NH2 OH O N H H OH - CO2 O O H OH NH2 Acrilamida H O HO HO H OH NH2 N H Fig. 176. Formação da mutagênica acrilamida, a partir de glicose e asparagina. Ao contrário do escurecimento de alimentos que contenham proteínas, na caramelização dos açúcares e carboidratos puros não se observa reação de Maillard. Existem, no entanto, os processos combinados, por exemplo, na produção de doces e balas de mascar, onde no estado quente é adicionado creme ou proteína do leite, ao caramelo fundido. 7. Medição da cor 7.1. Aplicações e justificativas para a instrumentação Um toque de cor faz a diferença, porque, além da função puramente técnico, a aparência dos produtos é cada vez mais um marco de qualidade. O que nós lembramos da primeira vista é a forma e a aparência de um objeto, enquanto sua cor tem um papel essencial. Uma vez que quase todos os materiais são "coloridos", a cor tornou-se assim um parâmetro fundamental da qualidade. Amostragem e avaliações subjetivas por um observador treinado não são mais suficientes. Hoje, as menores diferenças têm que ser rapidamente reconhecidas e documentadas de maneira reprodutível. Somente assim temos a chance de aplicar as correções 264 A. Isenmann CORANTES necessárias, quer na etapa da preparação do corante, quer na aplicação do corante dentro ou em cima do produto final. Para a automatização dos processos de produção, portanto, precisamos de aparelhos de medição adaptados ao processo, integrados no sistema de medição, monitoramento e dosagem. 7.2. Fundamentos da colorimentria Dentro do espectro das ondas electromagnéticas o olho humano somente detectada uma pequena faixa chamada de luz visível, de cerca de 380 nm a 780 nm. Fig. 177. Espectro eletromagnético completo (numa escala distorcida), com a região visível ampliada. Escala em cima: comprimento de onda λ [m]; no meio: frequência ν [s-1 ou Hertz]; em baixo: comprimentos de onda da faixa visível. Note que a energia é diretamente proporcional à frequência ν [s-1], ao número de ondas ν~ [m1 ] e indiretamente ao comprimento de onda λ [m], conforme: h⋅c E = h ⋅ν = h ⋅ c ⋅ν~ = , λ onde h é o quanto mínimo de ação ou a constante de Planck, de 6,626.10-34 J.s; c é a velocidade da luz no vácuo, de 2,998.108 m.s-1. As unidades da energia são elétronvolts (relacionada a uma molécula) ou kJ.mol-1; também pode ser expressa em número de ondas ν~ , daí valem as seguintes conversões entre as unidades, bastante úteis na espectroscopia: 1eV = 23kcal ⋅ mol −1 = 96,5kJ ⋅ mol −1 = 8066cm −1 . Além da sensação de claro e escuro, o ambiente iluminado provoca no olho três estímulos de cores diferentes: azul, verde e vermelha. A impressão da cor é feita através da ligação dos três estímulos no aparelho sensorial humano, conforme descrito abaixo. O objetivo da colorimetria é descrever o efeito colorido de amostras ("appearance"), independente da impressão subjectiva do observador. A colorimetria é sempre uma medição espectral. Aplicam-se procedimentos normalizados para converter os valores medidos de reflectância e transmitância espectral, em estímulos de cor que seriam gerados sob condições padronizadas num "olho humano normal". 265 A. Isenmann 7.3. CORANTES O olho humano – uma obra-mestre da natureza Os raios de radiação eletromagnética que chegam ao olho são focados pelo cristalino e projetados ao fundo do interior onde se encontra uma camada fotossensível, a retina. Lá se encontram cerca de 120 milhões de bastonetes (responsáveis para a visão sob iluminação fraca; percepção apenas de escuro ou claro) e cerca de 6,5 milhões de cones em cada olho humano saudável (os cones são importantes para a visão colorida durante o dia), concentrados na região fóvea que são de interesse particular aqui. Podem ser identificados três tipos de cones contendo diferentes pigmentos (rodopsinas) que os tornam especialmente sensíveis em certas regiões do espectro visível: sensíveis no azul, no verde-amarelado e no vermelho. Com esta divisão em três tipos de receptores da cor pôde ser confirmada a teoria das três cores de Young e Helmholtz, segunda a qual qualquer cor pode ser produzida pela mistura aditiva de três estímulos, conhecidos como "valências primárias". Também vale a inversão desta lei ("leis de Grassmann") que é relevante na detecção da cor: um estímulo colorido pode ser completamente caracterizado, basta difratá-lo por três diferentes filtros coloridos. O fluxo de informação óptica que chega à retina é enorme: estimam-se cerca de 10 milhões de bits/s, processados em forma de impulsos elétricos e mandados para o cérebro! A condução dos impulsos elétricos para o cérebro acontece via cerca de 1 milhão de filamentos nervosos. O cérebro, por sua vez, somente consegue processar apenas 40 bits/s de informação visual. Isso implica que deve ocorrer uma enorme redução dos dados - sem que se perca informações importantes. O olho humano pode diferenciar cerca de 7 milhões de cores, além disso pode se adaptar à luminosidade, varrendo sobre um campo de 12 potências, ou seja, praticamente contínuo! Fig. 178. Esquema do olho humano (Fonte: http://www.jetdicas.com/img/fotos) 7.4. Os valores colorimétricos normalizados, X,Y,Z. O olho tem dois tipos de receptores em cima da retina: Os bastonetes (inglês: rod cells), células bastante sensíveis que permitem a visão noturna e durante a penumbra. Esse receptor é monocromático, ou seja, fornece uma imagem preto e branco. Estas células estão concentradas mais externamente na retina e existem, na retina dos humanos, cerca de 120 milhões de bastonetes. 266 A. Isenmann CORANTES Os cones (inglês: cone cells), células que têm a capacidade de reconhecer as cores, são bem menos sensíveis do que os bastonetes, pelo fator 100. Mas segundo a teoria tricromática (= teoria de Young-Helmholtz) são responsáveis para toda a beleza colorida do nosso mundo. Existem então três tipos de cones, com sensibilidades máximas em 420 nm, 534 e 564 nm - o que corresponde às cores azul (Z), verde (Y) e vermelho-alaranjado (X), respectivamente. Em parênteses já indicados seus símbolos comumente usados na colorimetria. A curva de absorção Z é mais larga do que as outras, por outro lado, o cone X (vermelho) tem um pequeno máximo lateral em 400 nm (região azul, mostrada na Fig. 180). Fig. 179. Distribuição espectral da sensibilidade dos fotoreceptores no olho humano (médias): bastonetes (tracejado preto) e os três cones sensíveis para azul, verde e vermelho. Fig. 180. Curvas dos valores tristímulos dos cones humanos, em dependência do ângulo de observação. Estas curvas, xλ , y λ e z λ , são a média representativa, normalizada pela CIE e 267 A. Isenmann CORANTES servem como definição dos dois "observadores padrões". (fonte: http://www.wegothek.de/farbmetrik.html) Nesta base, um padrão de "olho normal" humano foi definido. O aparelho é equipado com três receptores cujas sensibilidades espectrais (funções espectrais padrão) são semelhantes aos cones no olho humano. Também foi definido o ângulo de observação, quer dizer, o ângulo entre fonte de iluminação - objeto colorido - receptor. Este aparelho em seguida é chamado de "observador padrão", ver também p. 274. Em 1931 foi então definido pela CIE 97 o observador padrão de 2°, e em 1964 o observador padrão de 10°, por sua vez o mais usado hoje. Estas definições dos estímulos de cor formam a base da maioria dos demais sistemas cartesianos de cor. Por transformações matemáticas os valores colorimétricos XYZ permitem calcular as coordenadas para representar as cores espectrais, onde os gráficos da CIE L*a*b*, Hunter L.a.b. e o CIE LCh são os mais usados. Estes gráficos reclamam de ser mais intuitivos, de interpretação mais simples e na sua leitura mais exatas do que as próprias coordenadas XYZ da percepção visual humana. Fig. 181. Um olho humano posicionado que enxergue num ângulo sólido de 2°,... Fig. 182. ...sob uma iluminação padronizada,... Fig. 183. ...seja estimulada por uma área extensa, com superfície sem brilho, de cor uniforme, que se encontre num ambiente neutro,... 97 CIE = Commission Internacionale de l´Éclairage (do francês: comissão internacional da iluminação). 268 A. Isenmann CORANTES Fig. 184. ...multiplicados pela sensibilidade (= curvas tristímulos) dos três receptores da visão colorida do nosso olho,... Fig. 185. ...leva ao resultado que se conhece como os estímulos aditivos X Y Z (= valores colorimétricos normalizados). A base para entender esta divisão em três curvas de absorção se explica pelas sensibilidades diferenciadas dos tipos de receptores nos cone do olho humano. A sensibilidade de cada tipo destes receptores pode variar um pouco, de pessoa em pessoa. A CIE, no entanto, normalizou a sensibilidade espectral humana ("observador padrão"). 7.5. Geração da cor percebida Conforme representado nas Fig. 181 a Fig. 185, a impressão de cor X,Y,Z de uma amostra por um observador é o efeito da combinação de três fatores: 1) Fonte de luz Diferentes fontes de luz (por exemplo, luz do dia, lâmpada convencional de tungstênio, lâmpada fluorescente, etc.) têm diferentes intensidades nos componentes espectrais, criando uma iluminação diferente da amostra. A curva de distribuição da intensidade espectral chamaremos de S λ , ver exemplos nas Fig. 182 e Fig. 188. 2) Amostra A composição da amostra determina aquelas proporções da luz incidente que sejam transmitidas, absorvidas ou refletidas. Assim, a composição espectral da luz refletida (função espectral: Rλ ) ou transmitida ( Tλ ), que finalmente atinge o olho do observador, é alterada pelos grupos cromóforos (nos corantes; absorvedores) e tamanhos típicos das partículas sólidas (nos pigmentos; espalhadores), contidos na amostra. 3) Observador 269 A. Isenmann CORANTES A sensibilidade dos três receptores sensíveis à luz contidos na retina do olho, varia um pouco, de pessoa em pessoa. Sendo assim, dois observadores individuais percebem um corpo colorido um pouco diferente, mesmo se as condições de iluminação e a composição do objeto iluminado sejam idênticos. A CIE definiu então dois "observadores padrões", conforme Fig. 180, um para o ângulo de observação de 2° e outro de 10°. As funções espectrais normalizadas são chamadas de "valores tristímulos normalizados", xλ (vermelho), y λ (verdeamarelado) e z λ (azul). As integrais destes fatores sobre a inteira região visível fornece os valores espectrais normalizados do objeto colorido, X,Y,Z (ver p. 266 e Fig. 185). Para o caso mais comum da reflexão (Fig. 194) se dá: X = 1 x λ ⋅ S λ ⋅ Rλ ⋅ d λ k∫ Y= 1 y λ ⋅ S λ ⋅ Rλ ⋅ d λ k∫ Z= 1 z λ ⋅ S λ ⋅ Rλ ⋅ d λ k∫ Pela convenção, a constante k deve ser escolhida de forma tal que na iluminação de uma superfície branca-pura resulte a integral Y = 100 . Através dos valores colorimétricos normalizados X,Y,Z a cor de um objeto é nitidamente definida. Podemos afirmar que as cores de amostras com os mesmos valores de X,Y,Z são idênticas. A Fig. 186 ilustra este cálculo dos valores colorimétricos em etapas. Ao iluminar uma amostra colorida com uma luz da energia Sλ, apenas uma fração Rλ de cada comprimento de onda vai chegar ao observador, o resto será engolido pelo pigmento do objeto (fisicamente falado, dissipado = transformado em calor). O que chega ao observador é apenas a energia refletida, S λ ⋅ Rλ . Essa energia é transformada, conforme a sensibilidade do receptor, em sinais elétricos que são enviados para o processador. As sensibilidades dos receptores, no caso do observador padrão, são representados pelos valores tristímulos, xλ , y λ , z λ , e os sinais elétricos resultantes finalmente são os valores colorimétricos, X,Y.Z. 270 A. Isenmann Fig. 186. CORANTES Composição espectral de cada etapa do cálculo dos valores colorimétricos X,Y,Z. Para se obter uma medida objetiva da mudança espectral através da amostra, isto é, coloração verdadeira da amostra, é necessário tirar as variáveis "iluminação" e "observador individual" da equação e repô-las por valores fixos. Para este fim, acharam-se normas internacionais para os iluminantes e foram definidos os dois observadores padrões. Isso cria a mesma base para todas as medidas de cor em objetos coloridos. Portanto, quando indicar números objetivos de cor, sempre devem ser referidos também o tipo de iluminante usado e o tipo de observador padrão que registrou. Isso geralmente acontece através da configuração no software do colorímetro. 7.6. Iluminantes padronizados A cor de objetos tem uma aparência diferente com diferentes fontes de luz, portanto o tipo de fonte de luz sempre deve ser definido e indicado. Fig. 187. O mesmo objeto aparece em diferentes cores, dependendo do iluminante. 271 A. Isenmann CORANTES Uma definição inequívoca das condições de iluminação para a colorimetria requer dos conhecimentos sobre a composição espectral da fonte de luz. Em medidas espectrais absolutas, a fonte de luz real deve imitar fisicamente uma das iluminações padrões. Mais realizadas, no entanto, são medições espectrais relativas, onde a referência é um padrão de branco. Nestes casos o cálculo colorimétrico deve respeitar como fator o espectro inteiro, emitido pela fonte-padrão usada. O resultado do cálculo são as coordenadas das cores que indicam aqueles estímulos XYZ que seriam gerados pelo conjunto de iluminação e amostra. As primeiras fontes de luz padrões foram definidas pela CIE em 1931, entre outros os iluminantes-padrão do tipo A, B e C. Em 1964 estas fontes foram completadas/aperfeiçoadas pelos tipos D, hoje os mais usados para imitar a luz natural do dia. Em dependência da temperatura de cor fala-se em D55, D65 ou D75 98. Iluminante padrão A 99 = luz padronizada para lâmpadas convencionais, com fio de tungstênio (temperatura de cor: 2856 K). Iluminante padrão C = luz natural média do dia, sem parte espectrais UV (6750 K) Iluminante padrão D65 = luz natural média do dia, incluíndo os componentes UV (6500 K) As mais usadas hoje são as iluminações D65 ou D75. Elas correspondem à composição espectral da luz do dia com poucas nuvens (temperatura de cor 100: 6500 K) ou a um dia ensolarado com céu azul (7500 K), respectivamente. É a média de muitas medições espectrais, feitas nestas condições meteorológicas. Ambos os tipos de luz D contêm também uma quantidade definida de luz UV, por sua vez invisível para o olho humano. Mas esta parte se torna especialmente importante quando iluminamos um objeto contendo um pigmento fluorescente, isto é, uma substância que absorve luz UV da fonte (< 400 nm) e a transforma em luz visível a ser refletida para o observador 101. A arte agora é construir um iluminantepadrão tipo D que reproduz o melhor possível, os espectros do sol que foram medidos e descritos com tanta exatidão. Além destes, existem iluminantes das séries E e F que padronizam iluminações especiais (lâmpadas fluorescentes em oficinas e escritórios, por exemplo). 98 Leia mais sobre as fontes de luz padrão: http://en.wikipedia.org/wiki/Illuminant_D65 99 Os tipos B e C representaram a luz solar direta e a luz num dia nublado, respectivamente; são pouco usados hoje. 100 Após a definição dos iluminantes D em 1964 foi realizada uma revisão profunda de todas as constantes que entram na fórmula de Planck que descreve a emissividade do corpo negro aquecido. Como resultado as temperaturas correlacionadas à cor mudaram um pouco, por exemplo, da D50 para 5003 K e da D65 para 6504 K. 101 A maioria dos sabões em pó de qualidade contém corantes fluorescentes, também conhecidos como branqueadores. Daí, a propaganda que promete lavar " mais branco do que branco". Ver também nota de rodapé 74. 272 A. Isenmann Fig. 188. CORANTES Espectro dos iluminantes padrões da CIE, A e D65. A combinação mais utilizada hoje na colorimetria é o iluminante normalizado D65 em combinação com o observador padrão de 10° (CIE, 1964). Isso é geralmente a configuraçãobase no software que calcula o padrão das cores XYZ, a partir dos dados espectrais. 7.7. Metameria Na óptica se denomina com metameria a impressão visual (Sλ.Rλ) de dois objetos coloridos que seja a mesma sob a luz incidente aplicada (Sλ), embora que eles tenham diferentes espectros de reflexão (Rλ). Ao mudar as condições de iluminação, no entanto, as cores destes dois objetos diferem. Como sabemos da p. 269, a percepção exata da cor depende, além do espectro de absorção e/ou reflexão do objeto colorido, também do tipo de luz incidente (Sλ) e da sensibilidade do receptor (no caso do observador padrão: xλ , y λ , z λ ). Os dois objetos com este comportamento são chamados de "metámeros" ou “coloridos condicionalmente iguais”. Um exemplo da prática é dado na Fig. 189, representando dois objetos de coloração bege que o nosso olho não consegue diferenciar quando aplicada o iluminante D65. Ao mudar para a iluminação por uma lâmpada comum (luz tipo A), no entanto, a amostra 1 aparece mais avermelhada do que a amostra 2. O problema da metameria é vital na prática – especialmente na repintura de automóveis, onde se procura uma cor idêntica à origonal – não importa se o carro for visto sob a luz do dia ou numa garagem de iluminação artificial. 273 A. Isenmann CORANTES Fig. 189. Metameria, mostrada nas curvas de remissão de um par de amostras da mesma valência colorida sob a luz D65. 7.8. O observador padrão Para que a maneira humana de perceber a luz possa entrar nos cálculos dos valores colorimétricos XYZ de maneira reproduzível, era necessário definir um padrão para a vista humana. Tem-se definida essa vista normatizada nos chamados "CIE observadores padrões", cujas sensibilidades são os valores tristímulus padronizados, xλ , y λ , z λ . Uma das reclamações mais importantes ao observador padrão é a percepção da cor sem interferências. Foi ainda considerada pela CIE, que o homem percebe as cores mais nitidamente quando bater na fóvea (= um pequeno ponto amarelo dentro da retina). Uma vez que este ponto, numa distância normal de visualização de um objeto, é deslocado por aproximadamente 2° em relação ao eixo óptico olho-objeto, foi definido que o ângulo em que o observador olha no objeto colorido deve ser exatamente 2°. Assim, já em 1931 a CIE definiu o chamado "observador padrão 2°". Fig. 190. Observador-padrão CIE de 2°. Porém, quando olhar em objetos mais distantes este ângulo varia. Portanto, a CIE definiu mais um observador em 1964, o “observador padrão 10° ”, para também atender a essas condições. 274 A. Isenmann Fig. 191. CORANTES Observador-padrão CIE de 10°. Na colorimetria exata o observador-padrão sempre deve ser especificado, que geralmente dado pela configuração do software. 7.9. Geometria-padrão 45°/0° Na medição e avaliação de amostras coloridas a geometria da medição tem um papel muito importante. Devido à estrutura e propriedade da superfície das amostras, a radiação incidente é reflectida ou transmitida diferente, dependendo das direções. Incidência e divergência do feixe de iluminação e também o ângulo de orientação do receptor influenciam, portanto, no resultado da colorimetria. Foram recomendadas pela CIE quatro geometrias de medição da cor, entre elas a 0°/45° e 45°/0°. Geometria 0°/45° A iluminação da amostra sob 0 °, receptor a 45°. Geometria 45°/0° Iluminação da amostra sob 45°, observador a 0°. Fig. 192. As geometrias de medição 0/45 e 45/0. Na geometria 45/0 aquela parte da luz que chega ao observador por meio de reflexão total (efeito espelho) é intencionalmente eliminada, para evitar uma falsificação da medição por luz especular. No entanto, superfícies que apresentam uma estruturação orientada, podem fornecer resultados diferentes, para diferentes posições da luz incidente. Mais problemáticos ainda são aqueles pigmentos especiais com os efeitos “flip-flop”, de aparência metálica (p. 217) ou de madrepérola (p. 219). Em tais casos deve-se escolher uma medição com fonte de luz difusa ou um observador difuso, conforme descrito a seguir. 275 A. Isenmann 7.10. CORANTES As geometrias padronizadas 0°/d, d/0° e d/8° Para a medição da cor foram recomendadas pela CIE quatro geometrias , entre elas a 0°/d e d/0°. Na primeira sigla o "d" quer dizer que da luz disseminada pela amostra de forma difusa, é observada através da parede de uma esfera de Ulbricht; na segunda sigla o "d" simboliza a iluminação difusa da amostra através de uma esfera de Ulbricht. Geometria de medição 0°/d Iluminação da amostra sob um ângulo de 0°, medido sobre a bola Geometria de medição d/0° Iluminação difusa da amostra, medição sob um ângulo de 0°. Fig. 193. Geometrias colorimétricas 0°/d e d/0°, usando a esfera de Ulbricht. Segundo a definição da CIE o eixo do feixe pode ser inclinado de até no máximo 10° em relação à normal da superfície, em casos de iluminação/observação da amostra vertical (= 0°). Fig. 194. Posicionamento de amostra, iluminante e observador, na medição 0°/d, nos modos de reflexão e de transmissão. Especialmente adequada para este propósito é a geometria d/8° que oferece vantagens particularmente ao medir amostras brilhantes ou texturados. Ao observar uma amostra lustrosa e/ou texturada, é possível eliminar o componente especular da luz refletida, através de uma iluminação difusa de 8°. A providência é a inserção de um sequestrador de lustro, na esfera de Ulbricht. 276 A. Isenmann CORANTES Geometria d/8 Fig. 195. Iluminação difusa da amostra, medição sob 8° As geometrias 8°/d e d/8°, opcionalmente com sequestrador de lustro. Os colorímetros podem trabalhar com o sistema de três cores diferentes ou com todas as cores espectrais, enquanto o último tipo é mais avançado. Antigamente uma avaliação colorimétrica requeria horas de trabalho por um operador experiente. Hoje tudo é computadorizado, fácil e rápido: ajustagem de prismas, grades e filtros são automáticos, os cálculos no computador feitos em uma fração de segundo. O receptor hoje é um arranjo de diodos, o iluminante uma lâmpada de flash de xenônio (que evita o aquecimento da amostra; importante já que a tonalidade da maioria dos corantes varia ligeiramente com a temperatura do objeto iluminado). O esquema de um aparelho moderno de um colorímetro espectral 102 é dado na Fig. 196. Fig. 196. Esquema funcional de um colorímetro espectral (ICS Texicon "Spectraflash 500"). 102 (autores desconhecidos) Four state-of-the-art spectrophotometers, Journal of the Society of Dyers and Colourists, 107 (1991) 240–243. 277 A. Isenmann 7.11. CORANTES O triângulo das cores da CIE Os três valores colorimétricos X,Y,Z formam a base para construir um sistema de coordenadas de cores, conhecido como triângulo das cores da CIE. Para chegar às coordenadas do representativo deste triângulo (Fig. 197), calculamos os valores espectrais parciais x e y, a partir dos valores colorimétricos na seguinte forma: x= X ; X +Y + Z y= Y . X +Y + Z O valor de z é trivial, pois x + y + z = 1 . Sendo assim, conseguimos representar todas as cores num sistema de apenas duas coordenadas - muito favorável para a sua representação na tela ou numa folha de papel. A fim de mostrar as cores vivas, os componentes normalizados de vermelho e verde estão sendo projetados num sistema cartesiano plano com os eixos x e y (muitas vezes chamado de "sola de sapato", por causa de sua forma típica). Ele contém todas as cores, em diferentes saturações, mas somente de uma luminosidade. Se quisessemos representar as mais escuras e as mais claras, tamém, seria necessário um terceiro eixo z perpendicular (Fig. 197 e cap. 7.12) - afinal chegamos ao espaço das cores. Fig. 197. Construção do triângulo das cores, segundo a CIE. Essa representação no diagrama x,y é independente do brilho da cor, ao mesmo tempo consegue representar todas as cores com que um corpo pode aparecer. Além destas informações podem ser lidos neste diagrama os comprimentos de onda que desencadeiam o estímulo das cores monocromáticas. A beirada em baixo é representada pela linha roxa ("purple line") que reflete todos os roxos entre o vermelho e o azul. Bem no meio, na posição x = 0,33 / y = 0,33, o triângulo mostra uma mancha branca que resulta da mistura das três cores básicas igualmente intensas. Isso indica que este triângulo representa a mistura aditiva das cores (ver p. 284). A vantagem deste triângulo é que o resultado da mistura de duas cores se lê diretamente em cima da trajetória entre essas cores. Para achar o local exato da cor misturada se usa a regra da alavanca, aplicada à intensidades das duas cores da partida. Isto é, mais intensa uma das cores, 278 A. Isenmann CORANTES mais perto será o ponto da mistura. Para se saber a cor complementar, traça-se uma reta pelo ponto colorido e o ponto branco; a cor complementar fica então no lado oposto ao ponto branco. Fig. 198. Triângulo das cores, mostrando os comprimentos das ondas nas cores saturadas. Incluída a linha das cores do corpo negro quente, junto às temperaturas de cor (em Kelvin). Eixo x = vermelho; y = verde. Fonte: www.data5.de/naart/naartcolor.html Um déficit da cromaticidade x,y, no entanto, que as diferenças de cor neste diagrama (= distâncias entre dois pontos coloridos) não correspondem às diferenças fisiológicas de cores perceptíveis. Também a questão da tolerância das cores, isto quer dizer, qual a distância máxima entre dois pontos neste triângulo que nosso olho ainda percebe sendo as mesmas cores, não é de leitura fácil. Foram feitos estudos por Stiles e McAdams, com o resultado de elipsas de identidade. Como se vê na Fig. 199, estas elipas não são de tamanho único. Nosso olho tem a maior tolerância na região verde e menor no azul. Para se obter equidistância fisiológica das cores foi desenvolvido o sistema CIE Lab, descrito a seguir. 279 A. Isenmann Fig. 199. 7.12. CORANTES Elipsas de tolerância no triângulo CIE das cores, segundo Stiles e McAdams. Espaço de cores CIE L.a.b. Além do triângulo de cores da CIE, na prática se aproveita também do sistema tridimensional L*, a*, b* que foi desenvolvido por Judd e Hunter e padronizado em 1976. Neste sistema, o valor L* indica claro para cima e escuro para baixo, o valor a* dá a posição no eixo vermelho/verde e o valor b* a posição no eixo azul/amarelo, conforme mostrado na Fig. 201a. As coordenadas L*, a*, b* estão directamente relacionadas com os valores colorimétricos X, Y, Z, através de fórmulas cuja discussão vai além do foco deste livro 103. São apresentados aqui apenas os princípios da sua interpretação. Para cada par liluminante/observador existe um espaço Lab, os mais usados são a luz do dia D65 e o observador padrão 10°. Na origem deste diagrama se encontra o ponto branco, isto é, em analogia ao triângulo apresentado acima, a mistura das cores é aditiva. A linha vertical que passa pela origem, não tem cores, ela vai do preto via cinza até o branco. Um ponto que se encontra fora desta linha é então colorido, sua distância do eixo é chamado de "Chroma", * C ab = a *2 + b *2 . A chroma corresponde em algumas das suas propriedades à "saturação", expressão usada pelos coloristas. Cores que se encontram no plano a*-b*, numa reta que sai da origem, têm o mesmo ângulo de tom colorido, conhecido como "Hue" ou tonalidade, hab. Esse ângulo (ver construção das coordenadas polares, na Fig. 200) aumenta na sequência vermelho→amarelo→verde→azul. 103 As relações matemáticas e a forma de interpretar a posição no espaço L* a* b*, ver: http://www.hunterlab.com/appnotes/an07_96a.pdf 280 A. Isenmann CORANTES Fig. 200. Relação entre duas cores em diferentes pontos do plano a*-b*, do espaço CIE Lab, dada em coordenadas polares. 281 A. Isenmann Fig. 201. CORANTES Gráfico do sistema CIE L*a*b*. Para dois pontos no sistema CIE Lab podemos afirmar: quando se encontram no mesmo plano a*-b* eles têm a mesma luminosidade (clareza), L*. quando se encontram no mesmo circulo do plano a*-b* eles têm a mesma intensidade de cor, C*ab. quando se encontram numa reta que sai da origem a* = b* = 0, eles têm a mesma tonalidade, hab. A distância de dois pontos neste espaço é indicada com 282 A. Isenmann * ∆E ab = CORANTES (∆L *)2 + (∆a *)2 + (∆b *)2 , onde o símbolo ∆ representa a diferença entre amostra e referência. Por exemplo, ∆L* = L*amostra − L*ref . Assim, podemos interpretar: ∆L* > 0 : a amostra é mais clara do que a referência; ∆L* < 0 mais escura. ∆a * > 0 : a amostra é mais vermelha do que a referência; ∆a * < 0 ela é mais verde. ∆b * > 0 : a amostra é mais amarela do que a referência; ∆b * < 0 ela é mais azul. * Em alternativa do apresentado acima, a distância entre duas cores, ∆E ab , pode também ser * e um desdobrada em um fator de luminosidade ∆L* , um fator de intensidade colorida ∆C ab * fator de tonalidade ∆H ab : * ∆E ab = (∆L ) + (∆C ) + (∆H ) * 2 * 2 ab * 2 ab , onde ∆L* = L*amostra − L*ref 2 * * * * * * ∆C ab = C ab a amostra + bamostra , amostra − C ab , ref com C ab , amostra = 2 2 2 2 * * * e C ab a ref + bref . , ref = 2 2 * * * * Para ∆H ab segue da Fig. 200: ∆H ab = s B ⋅ s P = ∆E ab − ∆L* − ∆C ab ; para indicar o * sentido quando girar, ∆H ab ganha o mesmo sinal que ∆hab . 7.13. Outros sistemas de cor 104 Desde os anos 30 do século passado existe uma pesquisa contínua em novos sistemas de cores ou em melhorar os existentes, com o objetivo de representar a percepção graduada das cores, em gráficos matematicamente exatos que, ao mesmo tempo, sejam de leitura intuitiva e fácil. Neste sentido também existe uma série de novos algarismos computacionais 105 que representam as cores vistas em nosso ambiente, cada vez mais exatos. Estas novas fórmulas para a determinação das cores diferenciadas se baseiam em descobertas recentes da fisiologia da visão colorida. Uma divisão equidistante métrica das cores vistas se conseguiu com o sistema americano de Munsell. Na fórmulas da CMC (Color Measurement Comittee; society of Dyers and Colorists), muito usadas na indústria téxtil, a luminosidade, a croma e a tonalidade são acopanhadas por fatores de peso que são otimizados para cada tipo de aplicação. Em téxteis são diferentes de objetos de plástico. Exemplos: ∆ECMC, ∆E2000. Especificamente para pigmentos a fórmula da CMC é substituída aos poucos por um sistema CIE Lab corrigido ("CIE Lab 92"). 104 Trabalho de mestrado feito na universidade de Blumenau: http://campeche.inf.furb.br/tccs/2002-I/20021antoniocarlosfernandesvf.pdf 105 Resultados destes algarismos, ver: http://cvrl.ucl.ac.uk/ e clique no botão "CVRL functions". 283 A. Isenmann Fig. 202. CORANTES Desenvolvimento histórico dos espaços espectrais. Resumimos que o sistema de coordenadas mais comumente usado, até hoje, é o criado pela CIE Lab Systems em 1976. No entanto, existem algumas normas ISO e ASTM, envolvendo a medição colorimétrica, que exigem o uso de diferentes esquemas de cores, para o cálculo de certos parâmetros. 7.14. Mistura aditiva e subtrativa das cores Uma cor específica pode ser criada, ou pela adição ou pela subtração das três cores básicas, de preferência das cores tristímulos. Na mistura aditiva as cores são projetadas, a partir de iluminantes coloridos, uma em cima da outra. A cor resultante da mistura surge então somente no olho (ou no receptor). Uma mistura aditiva temos que esperar em todos objetos com luminosidade própria. Exemplos famosos são a televisão colorida ou a tela do nosso computador. Na tela destes dispositivos têm-se a emissão das três cores básicas, vermelho, verde e azul, emitidas a partir de lugares bem próximos que seja no ideal além da resolução espacial do olho humano. As cores são emitidas cada uma por si, de forma pura, mas em intensidades diferenciadas. O sistema das cores mais 284 A. Isenmann CORANTES usado para a mistura aditiva, especialmente quando isso acontece na tela do computador, é conhecido como sistema "RGB", do inglês: Red, Green, Blue. Fig. 203. Mistura subtrativa das cores cyan, magenta e yellow: resultam as cores R = vermelho; G = verde; B = azul; K = preto. É o resultado da mistura de diferentes pigmentos. A forma mais comum de se misturar as cores, no entanto, é a mistura subtrativa. Assim acontece em todos os objetos que são corpos sólidos sem própria luminosidade. Os exemplos são os mais diversos: fotos coloridas, carros de pintura colorida, vasilhas e tampas de plástico na cozinha, papel colorido, vidro colorido quando deitado em cima da mesa... Enfim, a sobreposição de quaisquer meios colorantes, sejam corantes solúveis ou pigmentos insolúveis, representam misturas subtrativas. Nestes casos a cor da mistura já é gerada dentro do próprio objeto. Quem provoca as cores são esta vez corantes (ou pigmentos), orgânicos ou inorgânicos, embutidos dentro do objeto colorido. Assim acontece que a radiação do iluminante, Sλ, é parcialmente absorvida (= transformada em calor) pelos corantes, enquanto o resto das cores espectrais de Sλ é refletido (= espalhado) para o espaço. Sendo assim, apenas uma parte do espectro de Sλ chega ao olho, na verdade somente o produto S λ ⋅ Rλ (em analogia à terminologia introduzida na p. 269, Rλ sendo o fator da reflexão). Um dos sistemas de cores mais usados no computador para a mistura subtrativa é chamado de "CMYK", do inglês: Cyan (região azul), Magenta (região roxa), Yellow (amarelo), Kontrast (preto, para acertar a luminosidade). Também são essas as cores dentro da impressora colorida que está em nossa casa. 285 A. Isenmann Fig. 204. CORANTES Mistura das cores primárias, vermelho, amarelo e azul. Estes processos são reproduzidos no esquema da Fig. 205, onde iluminamos um corpo recheado com pigmentos brancos (= reflexão total da luz incidente) e um corante ou pigmento que absorve seletivamente uma parte de Sλ, no caso a parte verde-azulada. Chega ao olho do observador aquela parte que não foi absorvida, no caso a cor vermelha. Fig. 205. Esboço das reflexões e transmissões que acontecem na iluminação de um corpo recheado com pigmentos brancos e coloridos. Na próxima figura se ilustra o efeito da mistura aditiva e subtrativa, num espectro de transmissão. Usamos um filtro amarelo e um filtro azul. Estes quando colocados em frente de iluminantes brancos, os transformam em fontes amarelo e azul. Estas cores, emitidas a partir de lugares bem próximos, provocam dentro do olho do observador a cor da mistura aditiva, representada pela curva tracejada superior. Como se vê, essa curva praticamente não tem máximo, ela emite todas as cores do espectro com aproximadamente a mesma intensidade. No olho resulta então novamente uma impressão branca, ou seja, cada cor é o resultado da soma das duas luminosidades. Onde uma fonte não emite, então a outra emite e vice versa. Quando colocamos os dois filtros em cima de uma mesa branca, um em cima do outro, então percebemos uma cor bastante escura, representada pela curva tracejada inferior da Fig. 206. Cada cor desta curva subtrativa corresponde à soma das extinções dos dois filtros. Onde uma chapa não absorve a luz, então a outra absorve e pouca, quase nenhuma luz, chega ao olho. 286 A. Isenmann Fig. 206. CORANTES Curvas de transmissão dos filtros azul e amarelo, mistura aditiva e subtrativa. 7.15. O problema da visualização das cores na tela do computador Pigmentos puros refletem a luz de um modo muito específico, que não pode ser imitado exatamente pelos emissores de luz discretos num monitor de computador. No entanto, através de medições colorimétricas cuidadosas em pigmentos, boas aproximações podem ser atingidas. O sistema de cores Munsell fornece uma boa explicação conceitual do que está faltando no monitor. Munsell criou um sistema que fornece uma medida objetiva de cor em três dimensões: matiz (= tom; "hue"), o valor (= luminosidade; "value") e a croma ("chroma"). Monitores de computador, em geral, são incapazes de mostrar a verdadeira croma de muitos pigmentos, mas conseguem simular o tom e a luminosidade com relativa precisão. No entanto, quando a gama 106 de um monitor de computador se desviar do valor de referência, a tonalidade é também sistematicamente tendenciosa. As seguintes aproximações assumem um dispositivo de exibição de gama 2.2, utilizando o espaço de cor RGB. Quanto mais um dispositivo de exibição desvia dessas normas, menor sua precisão em reproduzir as amostras físicas. Diferentes marcas e lotes do mesmo pigmento podem variar na cor. Portanto, as amostras médias são baseadas em várias medições de diferentes lotes e fabricantes de um corante/pigmento dispergidos em água. Ainda tem que converter o espaço de cor, do Lab para RGB, para ser exibido em um monitor de computador. 106 C. Poynton. A Technical Introduction to Digital Video. John Wiley & Sons, 1996. ISBN 0-471-12253-X. Detalhes técnicos também em http://www.libpng.org/pub/png/spec/1.2/PNG-GammaAppendix.html e http://www.inforamp.net/~poynton/Poynton-colour.html 287 A. Isenmann CORANTES Além disso, os pigmentos têm tipicamente um espectro complexo de reflexão (= policromático; com vários picos de absorção), fato que torna sua aparência de cor muito diferente, dependendo do espectro da fonte de iluminação (= metameria, ver cap. 7.7). Medições médias de amostras de pigmentos só irão produzir aproximações de sua verdadeira aparência sob uma determinada fonte de iluminação. Sistemas de visualização de computador usam uma técnica chamada de "Chromatic Adaptation Transform" 107 para emular a temperatura de cor correlacionada às fontes de iluminação, mas não podem reproduzir perfeitamente as combinações espectrais complexas que foram originalmente vistas. Em muitos casos a cor percebida de um pigmento sai fora da gama de monitores de computador e de um método chamado "mapeamento de gama" 108 é utilizado para aproximar a aparência real. Mapeamentos de gama comerciais tomam conta de qualquer um dos fatores, "Lightness, Hue e Saturation", com precisão para representar a cor na tela, dependendo da prioridade escolhida na conversão de renderização estabelecido pelo ICC 109. 7.16. Cálculos de receitas de coloração 7.16.1.Estratégia geral e metas A distribuição das cores espectrais e, consequentemente, dos corantes e pigmentos usados na coloração de objetos, determina sensivelmente a impressão colorida, como mostrado na Fig. 189. O cálculo das quantidades relativas dos corantes a serem usados na receita de uma tinta ou na massa de um objeto sólido, é de suma importância frente ao consumidor (fora de efeitos adicionais, tais como lustro, espelho, metálico, opacidade/transparência, textura - não levados em conta nesta consideração introdutória). O cálculo deve ser rápido, mostrando opções de composição, para levar em poucas etapas à imitação de um protótipo colorido ou simplesmente para agradar o cliente. Também se tem entre os objetivos possíveis deste cálculo, a correção de uma coloração antiga. Além deste critério principal tentam-se satisfazer os seguintes objetivos secundários na formulação de uma coloração: uso de um mínimo de corantes-padrões diferentes, facilitando a preparação da mistura, uso dos corantes e pigmentos mais baratos, facilidade de corrigir uma cor, indiferença fisiológica dos corantes, evitar problemas de metameria, entre outros. As etapas operacionais no cálculo de uma formulação são: Medição objetiva da cor do protótipo por meio de um espectrofotômetro, Elaboração da formulação mais favorável (geralmente significa mais barata; usando corantes disponíveis) no computador, 107 "Chromatic Adaptation", disponível em :http://www2.cmp.uea.ac.uk/Research/compvis/ChromaticAdaptation/ChromaticAdaptation.htm 108 http://en.wikipedia.org/wiki/Gamma_correction 109 ICC = International Color Consortium, foi formado em 1993 por oito fornecedores do setor, a fim de criar um sistema aberto de gerenciamento de cores, que funcionaria de forma transparente em todos os sistemas operacionais e pacotes de software. 288 A. Isenmann CORANTES Imitação da cor do protótipo ou de uma série antiga. Correção de uma mistura usada antes. Os métodos computacionais usados hoje são iterativos, a partir de uma mistura de 4 ou mais meios colorantes básicos (cujo espectro Rλ deve ser bem conhecido e salvo no computador antes). O resultado são no ideal 3 ou mais diferentes propostas, indicando cada colorante e sua quantidade relativa a ser usada dentro da mistura. 7.16.2.Cálculo da formulação segundo Kubelka e Munk Nos cálculos de uma formulação de corantes hoje em dia entram, além do fator de reflexão Rλ, também uma constante de espalhamento S e uma constante de absorção K (em caso de coloração sólida) de cada corante. Estes seguem a seguinte relação: 2 K (1 − Rλ ) = = F ( Rλ ) . S 2 Rλ A constante de absorção K de um meio colorido é proporcional à sua concentração. A constante de espalhamento S, por si independente da concentração, pode ser embutida em uma constante de proporcionalidade Ac, e a última relação pode ser escrita como Ac = (1 − Rλ )2 2 Rλ = F ( Rλ ) . Vamos considerar o caso mais simples, a mistura de três corantes cujas concentrações sejam ca, cb e cc. F ( Rλ ) = A ⋅ c a + B ⋅ cb + C ⋅ cc . As três constantes A, B e C se obtêm por meio de colorações de calibração usando concentrações variadas. Aλ = F (Rλ ,a ) ca , Bλ = F (Rλ ,b ) cb , Cλ = F (Rλ ,c ) cc . Para três comprimentos de onda favoravelmente escolhidos, λ1, λ2 e λ3, obtêm-se com estes fatores três equações contendo três desconhecidas: Aλ ,1 Aλ , 2 A λ ,3 Bλ ,1 Bλ , 2 Bλ , 3 C λ ,1 c a F (Rλ ,1 ) C λ , 2 cb = F (Rλ , 2 ) . C λ ,3 cc F (Rλ ,3 ) Nesta equação inserem-se os três valores da reflexão Rλ,1 , Rλ,2 , Rλ,3 , medidos nos três comprimentos de onda λ1, λ2 e λ3, daí podemos calcular as concentrações ca, cb e cc dos três corantes: c a α 1 α 2 α 3 F (Rλ ,1 ) cb = β1 β 2 β 3 F (Rλ , 2 ) . c γ c 1 γ 2 γ 3 F (Rλ ,3 ) Os coeficientes αλ, βλ e γλ calculam-se a partir das constantes Aλ, Bλ e Cλ das séries de concentrações dos três corantes escolhidos, sob os três comprimentos de onda escolhidos. 289 A. Isenmann CORANTES 7.16.3.Etapas na prática O programa já tem os parâmetros padronizados: o tipo de observador, os tipos de luz utilizados, a geometria da medição. Também devem ser conhecidas as propriedades espectrais e as concentrações máximas dos corantes disponíveis na fábrica e, em casos de coloração interna (de plásticos, vidros, etc.), as qualidades ópticas do material-base. O operador precisa alimentar o programa com os dados espectrais do protótipo colorido que deve ser imitado. O programa fornece como resultado as quantidades relativas (concentrações) dos corantes disponíveis. No ideal são propostas várias formulações alternativas. Um bom software fornece uma tabela com os seguintes dados: Opções de conjuntos de corantes e suas concentrações Os valores métricos de diferença entre a cor da formulação proposta e a cor do * * * protótipo ( ∆E ab , ∆a * , ∆b * , ∆L* , ∆C ab , ∆H ab ). Os índices de metameria, conforme DIN 6172. Eles descrevem as aproximações das diferenças métricas descritas acima, ao trocar o tipo de iluminante. A determinante de correção, que é um indicativo para a facilidade de corrigir a mistura proposta. O preço do preparado, caso os preços das tintas e pigmentos disponíveis foram salvas no computador. Para reduzir o tempo de computação podem-se escolher alguns poucos corantes de preferência, a partir de todos corantes disponíveis. O programa calcula então todas combinações possíveis entre estes corantes, por exemplo, todas as misturas de 4, de 3 e de 2 diferentes meios colorantes. Mas somente os "melhores" resultados são oferecidos ao colorista. Seus critérios geralmente mais importantes são: a) a ausência de metameria, para que o protótipo e o objeto reproduzido apareçam mais que possível idênticos sob qualquer tipo de iluminação. Um índice de mesomeria ∆E A < 0,5 é favorável. b) Grande flexibilidade da formulação, caso seja necessário corrigi-la. Isto é, a determinante relativa (rel.DET) deve ser maior possível. c) Em alguns casos se exige ótima coerência entre protótipo e imitação, no que diz respeito às curvas de reflexão (em casos de objetos opacos) ou às curvas de transmissão (em casos de objetos transparentes). Mas isso somente faz sentido caso os dois objetos são do mesmo material. Segue um exemplo da elaboração de uma formulação de meios colorantes. Deve-se imitar a coloração bege de uma peça de plástico opaco. Como iluminante se escolheu luz do tipo C que imita a luz do dia. Na Fig. 207 é representada a curva espectral de reflexão do protótipo bege (curva sólida). Para a receita foram disponíveis sete pigmentos: um vermelho, um azul, um cor laranja, dois amarelos, um preto (fuligem) e um branco (TiO2, rutil). Também contidas na Fig. 207 as curvas espectrais de reflexão de cada um dos pigmentos. Note que a mistura subtrativa destes, nas proporções calculadas, deve dar a curva de reflexão do protótipo, o mais exato possível. 290 A. Isenmann CORANTES Fig. 207. Curvas de remissão de uma peça de plástico bege (curva direta) e dos pigmentos preto, amarelo e alaranjado propostos para sua imitação. O protocolo do resultado computado contém, além das concentrações dos pigmentos escolhidos, uma série de valores que caracterizam a qualidade da receita. Na seguinte tabela se encontram sete propostas de misturas. A mistura No 3 tem a menor metameria (índice ∆E A de apenas 0,08), porém seria difícil corrigi-la, pois "rel.DET" é de apenas 0,090. A fábrica escolherá, portanto, a receita No 4, cuja receita é fácil de fazer e corrigir ("rel.DET": 0,386), ao mesmo tempo a mesomeria fica com 0,44 ainda abaixo do valor limite de 0,5. Tab. 40. Resultado de um cálculo de formulação de corantes. Receita No Pigmento 1 Conc. em % Pigmento 2 Conc. em % Pigmento 3 Conc. em % Pigmento 4 Conc. em % Metameria 1 amarelo 1 0,00257 vermelho 0,00189 azul 0,00100 branco 1,000 2,60 0,304 2 amarelo 1 0,00204 azul 0,00020 preto 0,00138 branco 1,000 1,41 0,144 3 amarelo 2 0,00101 alaranjado 0,00188 preto 0,00163 branco 1,000 0,08 0,090 4 amarelo 2 0,00359 vermelho 0,00296 azul 0,00087 branco 1,000 0,44 0,386 5 amarelo 2 0,00289 vermelho 0,00064 preto 0,00155 branco 1,000 0,67 0,221 6 alaranjado 0,00369 vermelho 0,00198 azul 0,00096 branco 1,000 1,49 0,291 7 alaranjado 0,00301 azul 0,00014 preto 0,00143 branco 1,000 0,41 0,140 ∆E A rel. DET 8. O banco de dados dos meios colorantes - Colour Index O banco de dados The Colour Index 110 (sigla: CI) é uma obra de referência que foi criada em 1925 e aperfeiçoado nos anos 1950, que contém todos os corantes usuais, pigmentos e compostos intermediários na síntese dos colorantes. Muitos fabricantes de tintas, têxteis, plásticos e corantes adotaram voluntariamente o CI como padrão industrial, para identificar os corantes e pigmentos que eles usam na fabricação de cores específicas. Atualmente abrange mais de 27.000 produtos com mais de 13 mil nomes genéricos. 110 http://www.colour-index.com/ 291 A. Isenmann CORANTES As editoras do CI são a British Society of Dyers and Colourists e a American Association of Textile Chemists and Colorists. A obra contém informações sobre a estrutura química e os nomes sistemáticos e triviais dos corantes. Também contém dados sobre a síntese, o comportamento químico do corante, sua solubilidade e sobre a literatura de patentes acerca de cada substância. O registro de uma nova substância no CI é um ato voluntário do inventor. No caso geral não são as próprias fábricas ou laboratórios que publicam sua estrutura química, mas instituições públicas (universidades, órgãos de controle, etc.). Sendo assim, não é surpresa que nem todos os corantes listados no CI têm sido publicados junto com sua estrutura química. O CI divide-se entre corantes e pigmentos. A seguir vamos conhecer alguns princípios de estruturação deste banco de dados. 8.1. CI Generic Name O nome genérico no CI é formado na seguinte forma: Classe Cor Número corrido Exemplo 1 Pigment Red 254 Exemplo 2 Pigment Blue 15 Modificação :1 A discriminação da classe do meio colorido se baseia nas seguintes categorias: Categoria Abreviação Explicação Acid A Corantes ácidos Basic B Corantes básicos Direct D Corantes diretos Sulfur Corantes de enxofre Azoic Corantes azo Reactive R Corantes reativos Vat V Corantes de cuba Solvent S Corantes insolúveis na água Food F Corantes de alimentos Disperse DS Corantes dispersos Natural Pigment Corantes naturais (vegetais) P Pigmentos Note: o que não é pigmento, então é corante; porém, nestes últimos a expressão "Dye" não faz parte do nome genérico. Discriminação da cor: Uma cor do círculo das cores básicas, Yellow, Orange, Red, Violet, Blue e Green. As tonalidades sem cor: desde branco, cinzas até preto. 292 A. Isenmann CORANTES Metal para pigmentos de efeito especial Brown Número corrido: Os corantes novos dentro de um grupo ganham um número corrido, isto implica que quanto maior o número, mais recente o corante. Modificação: A discriminação da modificação é importante, só nos pigmentos. Estes meios colorantes são de natureza inorgânica e são sólidos bem cristalizados. Então a mesma composição química pode existir em várias modificações, ou seja, maneiras de cristalizar. Exemplo: o pigmento de ftalocianina CI Pigment Blue 15. Além disso, os pigmentos podem ser complexados (no sentido de estabilizados) por diversos cátions - o que pode ter um efeito benéfico na aplicação de envernizar. Exemplo: CI Pigment Red 48. No seguinte exemplo são listadas as modificações do CI Pigment Blue 15, ilustrando as diferenças que as modificações podem fazer na apliação do meio colorante. CI Generic Name Observações CI Pigment Blue 15 qualidade não estabilizada em certa modificação CI Pigment Blue 15:0 modificação α, não estabilizada contra uma possível mudança de modificação. CI Pigment Blue 15:1 modificação α CI Pigment Blue 15:2 modificação α, estabilizada contra floculação 111. CI Pigment Blue 15:3 modificação β CI Pigment Blue 15:4 modificação β, estabilizada contra floculação. CI Pigment Blue 15:6 modificação ε Note que até os corantes de alimentos têm um CI Generic Name - que é diferente da sigla "E" (ver segunda coluna, na Tab. 37) que se usam quando o colorante já se encontra aplicado no alimento. Sendo assim, o azul CI Acid Blue 3 corresponde ao aditivo alimentar, E 131. 8.2. CI Constitution Number Além dos CI Generic Names existe uma classificação dos meios colorantes conforme os números "CI Constitution Number". Neste último se classificam os meios conforme seus grupos funcionais. Este número tem apenas a função de fornecer uma grosseira idéia da constituição química da substância. Note que cada substância referida no Colour Index dispõe 111 Sob floculação se entende o fenômeno de formar agregados maiores que tipicamente 1 µm, isto é, a região de colóides, devido à forças fracas (Van der Waals, pontes de hidrogênio, atrações de dipolos). Floculação é o oposto da peptização. 293 A. Isenmann CORANTES de um CI Generic Name, mas não necessariamente de um CI Constitution Number. Por exemplo, os pigmentos de vanadato de bismuto são referidos sob o nome genêrico CI Pigmento Yellow 184, mas não têm um CI Constitution Number. Muito usado é o CI Constitution Number (que consiste da sigla CI seguida diretamente pelo número) em regulamentos oficiais. Um exemplo famoso é o regulemento sobre produtos cosméticos. Função química CI Constitution Função química Number CI Constitution Number Nitroso 10.000 a 10.299 Nitro 10.300 a 10.999 Mono-azo 11.000 a 19.999 Bis-azo 20.000 a 29.999 Estilbeno 40.000 a 40.799 Difenilmetano 41.000 a 41.999 Triarilmetano 42.000 a 44.999 Xanteno 45.000 a 45.999 Acridina 46.000 a 46.999 Quinolina 47.000 a 47.999 Metino 48.000 a 48.999 Tiazol 49.000 a 49.399 Indamina 49.400 a 49.699 Indofenol 49.700 a 49.999 Azina 50.000 a 50.999 Oxazina 51.000 a 51.999 Tiazina 52.000 a 52.999 Aminocetona 56.000 a 56.999 Antraquinona 58.000 a 72.999 Indigóide 73.000 a 73.999 Ftalocianina 74.000 a 74.999 Pigmento inorgânico 77.000 a 77.999 Exemplos (mais exemplos encontram-se na Tab. 44, no anexo) da indexação pelo CI: Nome trivial CI Constitution CI Generic CAS Number Name Exemplo de cor Anilina CI 76.000 CI Oxidation 62-53-3 Base 1 incolor Azul de Berlim CI 77.510 CI Pigment Blue 14038-43-8 27 de CI 21.000 CI Basic Brown 10114-58-6 1 Marrom Bismarck Y Quinacridona CI 73.900 CI Pigment 1047-16-1 Violet 19 Fluoresceína CI 45.350 CI Acid Yellow 2321-07-5 73 Anil CI 73.000 CI Pigment Blue 482-89-3 66 Sulfato potássio dihidrato de CI 77.231 Azul patenteado CI 42.051 CI Pigment 10101-41-4 White 25 CI Food Blue 5 20262-76-4 294 A. Isenmann CORANTES V (E 131) Azul patenteado CI 42.051 V; sal de sódio. CI Acid Blue 3 20262-76-4 9. Propostas de ensaios práticos de síntese e aplicação de corantes A maioria dos procedimentos descritos a seguir é adequada para o laboratório de ensino. A maioria não requer uma estequiometria rigorosa, vidraria especial ou precauções acerca da segurança de experimentalista e o ambiente – caso contrário avisos explicitos indicam as devidas exigências. Alguns destes ensaios podem ser feitos no tubo de ensaio, portanto são especialmente recomendados para alunos iniciantes. Para todos os ensaios se recomenda usar EPI de laboratório, pois todas as substâncias descritas, além de terem um potencial tóxico, mancham pele e roupa. Em geral se recomenda ainda o forramento da mesa de trabalho (ou a capela de exaustão) com jornal, para não sujar a área de trabalho. Este capítulo é, grosseiramente falado, dividido em três partes: 1. Síntese de corantes e substâncias coloridas; 2. Explicação dos princípios da tintura e 3. Descrição dos processos de tintura. 9.1. Síntese de corantes e substâncias coloridas 9.1.1. Síntese de derivados do trifenilmetano Através desta síntese pode-se mostrar, de maneira impressionante, a característica de quase todos os radicais: uma coloração forte. O seguinte procedimento leva ao radical trifenilmetano, que se destaca por ser estável por alguns minutos. Tempo de preparação: 10 minutos. Execução do ensaio: 20 minutos. Tempo de limpeza: 10 minutos. Substâncias: 20 mL Clorofórmio (seco; em cima de peneira molecular) 1 mL Tolueno 5g Cloreto de alumínio anidro (não adianta tentar desidratar AlCl3 . x H2O na estufa, pois o resultado do tratamento térmico sob estas 295 A. Isenmann CORANTES condições leva ao óxido-hidróxido de alumínio) Ponta de espátula Zinco em pó 1 mL Etanol Vidraria e aparelhos: • • • • • • • Balão redondo de 50 mL Agitador magnético com peixinho Estativo Balança Erlenmeyer de 100 mL Funil Papel de filtro preguado Execução: Colocar o clorofórmio no balão redondo, depois o tolueno e no final o cloreto de alumínio. Após agitar suavemente por 5 minutos, acrescentar algum zinco em pó. Passar a mistura pelo filtro Acrescentar o etanol ao filtrado. Os resíduos líquidos devem ser neutralizados e recolhidos no lixo “solventes clorados”. Colorações observadas: No início a mistura é incolor. O acréscimo do AlCl3 provoca coloração amarela que logo muda para alaranjado claro e finaliza em vermelho escuro. Após o tratamento com o zinco obtém-se um amarelo intenso. A adição do etanol, finalmente, descolora a solução. Mecanismo: Sob a influência do AlCl3, um ácido de Lewis forte, ocorre a alquilação de Friedel-Crafts. Cl HC Cl Cl AlCl 3 - AlCl 4- ; - H + CHCl2 Como o clorofórmio dispõe de três cloros, então pode adotar até três moléculas de tolueno. 296 A. Isenmann 3 CORANTES + CHCl3 [AlCl3] CH Embora o sal na teoria não deve ser consumido, a prática pede seu uso em quantidades elevadas. As demais etapas são apenas hipótese: O trifenilmetano (amarelo) abstrai um próton, no entanto a acidez não deve ser muito alta (pKa em torno de 30). O tri-toluilmetil ânion (vermelho escuro) é estabilizado por mesomeria, sua formação é lenta e pode facilmente ser monitorado. A adição do zinco reduz os prótons liberados e leva ao hidrogênio nascente, uma forma suficientemente reativa para oxidar o tritoluilmetil ânion ao respectivo radical (amarelo escuro). A estabilidade extraordinária do radical tritoluilmetil se explica pela mesomeria que se estende sobre toda a molécula, do tipo Além disso, os três anéis aromáticos funcionam como escudos e o radical se torna pouco acessível. O mesmo radical se obtém, aliás, pelo tratamento de cloreto de tritoluilmetano, Ar3C-Cl, com zinco. Para esta rota o mecanismo é mais plausível, onde os ácidos de Lewis presentes, AlCl3 e ZnCl2, abstraem o cloreto e liberam o tritoluilmetil carbocátion. Este é reduzido pelo zinco metálico, para o radical colorido. A síntese mencionada acima tem muita semelhança com uma das primeiras sínteses de um radical orgânico com elevada estabilidade para qual seu inventor Gomberg (1900) entrou na história da química. Seu alvo era o hexafeniletano (5), a ser feito por acoplamento de Wurtz a partir do trifenilclorometano (1) e sob atmosfera inerte de CO2 - uma molécula de interesse teórico, devido sua alta demanda estérica. Bem, ele não conseguiu sua molécula por este caminho, mas observou a ocorrência de uma solução fortemente vermelha por uns 10 minutos, antes de se formar um produto branco cristalino. No estado colorido ainda notou elevada reatividade frente cloro, bromo e oxigênio (4). Então postulou a existência do primeiro radical carbono trivalente (2), com notável tempo de vida. Essa conclusão era controversa durante vários anos, já que a análise da massa molar revelou o dobro do radical livre. Mais tarde e junto a Bachmann, ele conseguiu um reagente de Grignard a partir de “hexafeniletano” e magnésio – uma síntese incomum já que o material de partida é um hidrocarboneto. Estudos sistemáticos em outros compostos triarilmetilas deram cada vez mais apoio à conclusão de Gomberg, com a restrição que o radical livre sempre ocorre em 297 A. Isenmann CORANTES equilíbrio com seu dimero que, como já dito, não era o hexafeniletano, mas um composto quinóide (3). Ph3C-O-O-CPh3 4 O2 Ph3C Cl Zn 1 H 2 3 Ph3C-CPh3 5 9.1.2. Prova de aromáticos Ensaio simples, 10 minutos. É a mistura de clorofórmio com um composto aromático, na presença de cloreto de alumínio anidro. Em pouco tempo e a temperatura ambiente forma-se um composto colorido, enquanto a tonalidade depende do tipo de aromático. A reação responsável é uma alquilação de FriedelCrafts que pode acontecer até três vezes no CHCl3. O produto colorido é em cada caso um trifenilmetano. Representantes famosos desta família são a magenta (= fucsina, Fig. 23), o verde de malaquita (Fig. 24), a rodamina B (Fig. 33), a fenolftaleína (Fig. 21, Fig. 72 e roteiro 9.1.4) e a fluoresceína (Fig. 22). Uma estrutura possível que pode-se formar sob estas condições é dada abaixo: C C Substâncias químicas: Clorofórmio (seco; em cima de peneira molecular) 298 A. Isenmann CORANTES Diversos aromáticos: benzeno, tolueno, xilenos, naftaleno, antraceno, fenóis, anailinas, aromáticos funcionalizados. Cloreto de alumínio anidro (não adianta tentar desidratar AlCl3 . x H2O na estufa, pois o resultado do tratamento térmico sob estas condições leva ao óxido-hidróxido de alumínio) Equipamento: Bico de Bunsen, tubos de ensaio, pipeta, alguns pequenos béqueres para dissolver os aromáticos. Execução: Transferir alguns grãos de AlCl3 ao tubo de ensaio e esquentar em cima do bico de Bunsen, até que um sublimato amarelo se deposite nas paredes. Deixar resfriar e deixar descer uma gora do aromático dissolvido em clorofórmio. Atenção: há liberação de gás de HCl (corrosivo; capela). 9.1.3. Síntese da Violeta de Genciana (Sinônimos: C.I. Basic Violet 3, C.I. 42555, CAS 548-62-9, violeta cristal, pararosanilina, violeta de metila 10 B) Et2N Et2N NEt2 Cl- Et2N Violeta cristal NEt2 Cl- Verde de malaquita O violeta de genciana, parente do verde de malaquita (ver Fig. 24, na p. 35), é o clássico corante nos almofadas de carimbo. Além disso, é valorizado, tanto como seu parente na biologia onde serve para marcar seletivamente bactérias gram-positivas e colorir esporos e fungos. Existem várias sínteses destes corantes de trifenilmetano. A síntese clássica (H. Caro, 1884) é a partir da cetona de Michler 112 (4,4′-bis-dimetilamino-benzofenona; comercialmente disponível) com N,N-dimetilanilina, na presença de cloreto de fosforila, POCl3 e ácido clorídrico. A reação é uma substituição eletrofílica aromática, onde o complexo entre a cetona e o ácido de Lewis POCl3 serve como eletrófilo. A substituição ocorre exclusivamente em 112 A síntese clássica da cetona de Michler é a partir de N,N-dimetilanilina e fosgênio, COCl2 , este último sendo um gás muito tóxico, portanto não é apropriado para o laboratório de ensino. Nem menos perigoso é o dietilcarbonato, OC(OEt)2 que pode substituir o fosgênio. 299 A. Isenmann CORANTES posição para da dimetilanilina. Resulta em primeira etapa uma base carbinólica que elimina facilmente água no ambiente ácido. NEt 2 Et2N O + NEt 2 POCl 3 HO Et2N Cetona de M ichler NEt2 NEt 2 HCl - H2O + Et2N NEt2 Et2N Cl- Violeta cristal A leuco-base do Verde de malaquita (incolor) se obtém pela reação da N,N-dimetilanilina e bezaldeído, na presença de cloreto de zinco anidro. Catalisador alternativo é H2SO4 concentrado. A oxidação para o corante verde se consegue via oxidação por PbO2 ou um outro oxidante forte, em solução aquosa acidificada. Me2N NMe2 Me 2N + H O - H2O NMe2 Me 2N H C PbO 2 NMe2 OH C + HCl - H2O Verde de Malaquita Síntese alternativa do verde de malaquita é a reação da cetona de Michler com o brometo de fenilmagnésio. Neste caso a liberação do corante é por meio de uma solução aquosa de NH4Cl. Segue a descrição da síntese destes corantes via reação de Grignard. Esta síntese, no entanto, é mais exigente e não pode ser feita em qualquer laboratório de ensino. A reação 300 A. Isenmann CORANTES organometálica requer condições anidro, além disso, envolve etapas bastante exotérmicas que dificultam o controle da temperatura e da reação em si. NMe2 NMe2 Mg [THF] Br MgBr Reagente de Grignard NMe2 + 3 EtO O C 1. em THF anidro OEt 2. Hidrólise H2O/H+ Violeta cristal MgBr NMe2 O + 2 MeO 1. em THF anidro 2. Hidrólise H2O/H+ Verde de malaquita MgBr Material e reagentes: Balão de fundo redondo (50 mL), condensador intensivo, tubo de secagem com silicagel, Tetraidrofurano (THF), 4-bromo-N,N-dimetilanilina, magnésio em pó, benzoato de metila, dietilcarbonato. O THF usado deve ser rigorosamente anidro, ou seja, refluxado em cima de fio de Na. Solvente alternativo é o dietiléter anidro. Procedimento: Encher o tubo de secagem com silicagel azul (= seco), vedar com lã de vidro. Deixe este tubo, o condensador e o balão na estufa a 120 °C, por uma noite. Montar o aparelho de refluxo, mas deixe por enquanto o condensador com o tubo de secagem do lado. Acrescentar 2,5 g da 4-bromo-N,N-dimetilanilina, 0,4 g de Mg metal e 22 mL de THF. A película de óxidos em cima do metal, por enquanto, inibe o começo da reação. Ela pode ser destruída por vários métodos: a) Aquecer o metal e um grãozinho de I2 no balão seco, logo antes de acrescentar o solvente e a anilina. Os vapores do iodo atacam a superfície do metal. b) Adicionar um grãozinho de I2 à mistura completa e colocar o balão no banho de ultrassom. c) Adicionar uma gota de CCl4 à mistura completa e triturar cuidadosamente os grãos metálicos com um bastão de vidro. d) Adicionar uma gotinha de Br2 à mistura completa. Uma vez o metal for ativado, a reação exotérmica começa. Colocar rapidamente o condensador em cima do balão e deixar refluxar. Em caso de dietiléter ser o solvente, este 301 A. Isenmann CORANTES momento é mais crítico, pois a fervura deixa transbordar facilmente a mistura. Portanto, é aconselhado sempre manter um banho com gelo do lado, para acalmar a reação fulminante. Após alguns minutos o pico da reação passou, então aquecer ligeiramente para manter um leve refluxo. Acrescentar uma barra magnética e agitar a mistura refluxando por 30 minutos. Adicionar, gota a gota, 0,21 g de benzoato de metila (para o verde de malaquita) ou 0,30 g de dietilcarbonato (para o violeta cristal), soluto em 1 mL de THF. Refluxar por mais 30 minutos. Hidrólise e purificação: Despejar a mistura reacional em cima de 15 mL de água gelada. Acrescentar HCl meioconcentrado até chegar em pH 1. Deixar em descanço por 30 minutos na geladeira. Filtrar e lavar os cristais com pouca água gelada. Recristalização a partir de água e etanol. 9.1.4. Síntese de fenolftaleína Ensaio simples, 5 minutos. Material de partida são o fenol e o anidrido ftálico – ambos incolores em estado puro. Sob a influência de ácido sulfúrico concentrado forma-se a fenolftaleína, inicialmente igualmente incolor. Somente ao levar o pH ao alcalino forma-se o roxo típico. Na etapa-chave desta síntese tem-se uma variação da acilação de Friedel-Crafts: OH O C O + 2 C [H2SO4 conc.] - H 2O O C O C Fenolf taleína O Substâncias químicas: Fenol (atenção: evitar contato com a pele; causa queimaduras) Anidrido ftálico Ácido sulfúrico concentrado Para testar a dependência do pH: HCl (1 mol.L-1) e NaOH (1 mol.L-1) Equipamento: Tubo de ensaio, pipetas, béquer 400 mL; dispositivo de filtragem, bico de Bunsen. Execução: Misturar num tubo de ensaio cerca de 1 g de fenol com cerca de 1 g de anidrido ftálico. Acrescentar algumas gotas de H2SO4 concentrado. Esquentar cuidadosamente até que se forme um líquido viscoso, de cor fortemente vermelha. Não deixe resfriar para não se tornar sólido. Neste estado despejar num béquer com bastante água, onde se depositam flocos claros, às vezes quase brancos. Quando mais esquentada a mistura, mais amarelo o precipitado. 302 A. Isenmann CORANTES Filtrar e lavar com pouca água fria, para remover o excesso de ácido. A pureza pode ser melhorada ao recristalizar em etanol. 9.1.5. Síntese de fluoresceína A síntese de fluoresceína em toda analogia à síntese da fenolftaleína, somente trocar o fenol pela resorcina: OH O HO C O C O OH [H2SO4 conc.] + 2 OH - 2 H 2O O C O C O Fluoresceína Execução: Em um tubo de ensaio misturar uma espátula de resorcina com uma de anidrido ftálico. Acrescentar apenas uma gota de H2SO4 concentrado. Esquentar com cuidado e rápido, até que se forme uma massa viscosa, preta avermelhada. Rapidamente derramar num copo de água; alternativamente pode-se lavar o tubo com a massa por meio de uma pisseta. A solução é amarela. Sob acréscimo de NaOH surge a fluorescência típica, ela some de novo ao acidificar. Aplicação da fluoresceína: Aproveitamos da fluorescência reversível, por exemplo, na titulação de uma suspensão turva ou de uma solução com coloração própria. Um indicador comum não fornecerá um ponto de equivalência nítido nestes casos. Na análise de lodos a fluoresceína é frequentemente usada. Para um teste pode-se usar um forte chá preto. Colocando 5 mL de solução de fluoresceína, 25 mL de HCl (1 mol.L-1), titulando contra NaOH (1 mol.L-1). O ensaio deve ser feito na luz clara ou sob irradiação de uma lâmpada UV. 9.1.6. Síntese de corantes azo 113 a) Síntese de um corante azo de cor púrpura Ao misturar uma pequena quantidade de nitrito de sódio, em solução ácida, com ácido sulfanílico e 1-N-naftiletilenodiamina hidrocloreto, rapidamente forma-se um corante de cor púrpura. Essa reação é tão segura, sensível e rápida, que a mistura dos dois compostos orgânicos é conhecida como “reagente de Saltzmann”. É útil na análise de águas e ar, para descobrir contaminação de óxidos de nitrogênio, NOx. Na verdade, a reação vai através do nitrosil cátion que se forma a partir dos gases NOx (= mistura de NO e NO2) em ambiente ácido. Portanto, é legítimo formular a equação com os gases, conforme: 113 A síntese de um composto azo simples é um ensaio regular no 2º ano do ensino profissionalizante no CEFETMG de Timóteo. O roteiro completo do ensaio (duração cerca de 100 minutos) encontra-se em http://www.timoteo.cefetmg.br/site/sobre/cursos/quimica/repositorio/roteiros/ 303 A. Isenmann CORANTES SO 3- Na+ + NH2 HN 1 7 5 4 HO 3S HN 2 [HCl] - H2O NH2 N N NH 2 Este esquema mostra o acoplamento em posição 7, simplesmente devido à maior facilidade gráfica. Na verdade podemos esperar a entrada do sal de diazônio nas posições 2, 4, 5 ou 7, pois essas posições são especialmente ricos em elétrons 114. A formação do corante funciona também com o íon nitrito, NO2-, no entanto a reação é mais sensível com os gases NOx. O seguinte ensaio é simples e rápido (cerca de 10 minutos). Materiais e reagentes: Nitrito de sódio, ácido clorídrico 2 mol.L-1, ácido sulfanílico, N-(1-naftil)etilenodiamina hidrocloreto, ácido acético concentrado. Erlenmeyer de 100 mL, tubo de ensaio com rolha furada e um tubo de vidro angulado para a condução dos gases. Execução: O reagente de Saltzmann requer 0,5 g do ácido sulfanílico, 0,005 g da N-(1naftil)etilenodiamina hidrocloreto, 5 mL de ácido acético e 100 mL de água destilada. Essa solução é preparada no Erlenmeyer e tampada, pois traços de NOx da atmosfera a tornam inevitavelmente vermelha. No tubo de ensaio se coloca uma pitada de nitrito de sódio e 5 mL do ácido clorídrico. Tampar com a rolha/tubo e conduzir o gás liberado dentro do reagente de Saltzmann. Misturar com bastão de vidro. Resultado: Forma-se imediatamente o corante azo vermelho. Essa cor se intensifica dentro dos primeiros minutos. 114 Explicação dada com os complexos σ da SE; leia em A. Isenmann, Princípios da síntese orgânica. “Aromáticos” (Cap. 4.2.1.) e “Síntese e reações dos Compostos aromáticos contendo o grupo N2“ (Cap. 11.1); disponível no site http://www.timoteo.cefetmg.br/site/sobre/cursos/quimica/repositorio/livros/ 304 A. Isenmann CORANTES b) Síntese de Alaranjado de β-naftol (CAS 633-96-5) Duração: 60 minutos. Materiais e reagentes: Ácido sulfanílico, nitrito de sódio, β-naftol, cloreto de sódio, NaOH (2 mol.L-1), ácido clorídrico (4 mol.L-1), água destilada, gelo. 3 béqueres de 250 mL e um de 500 mL, vasilha para o banho-maria, termômetro, bastão de vidro, kitassato e funil de Büchner, proveta de 250 mL. Execução: Em etapas prévias devem ser preparadas as seguintes soluções e refirgeradas abaixo de 5 °C: 1. 2. 3. 4. 5. Colocar um béquer com 50 mL de HCl no banho de gelo. Preparar 50 mL de uma solução 10% de NaNO2. Dissolver em um béquer 10 g de ácido sulfanílico em 25 mL de NaOH Dissolver no béquer maior 8 g do β-naftol em 100 mL de NaOH. Preparar 200 mL de uma solução saturada de sal de cozinha. Misturar primeiro a solução do ácido sulfanílico com a solução do nitrito. Gotejar essa solução aos poucos dentro do HCl, sempre agitando uniformemente. Logo se formam cristais do sal de diazônio do ácido sulfanílico. É importante sempre olhar na temperatura (medida dentro da solução reacional, não no banho-maria!). No béquer do HCl ela não deve subir em nenhum momento acima de 5 °C, se não se corre o perigo da decomposição do sal de diazônio. Sob agitação acrescentar a suspensão do sal de diazônio à sulução alcalina do β-naftol. Deixar em repouso por 30 minutos. O sal de sódio do corante cristaliza em em lamínulas laranjavermelhas. Para completar a cristalização acrescentar a solução saturada de NaCl, misturar ligeiramente e deixar por mais alguns minutos. Filtrar o corante e lavar com pouca água gelada. Secar na estufa. 305 A. Isenmann CORANTES HO3S NH2 + NaNO2 [HCl] HO3S N2+ Cl- OH N2+ Cl- HO3S + [NaOH] N SO3- Na+ N OH N H N SO3- Na+ O c) Síntese do Vermelho do Congo Segue a descrição da síntese em escala média, de um corante diazo. Duração: 2 dias Material e reagentes: Benzidina 115, 1-naftilamino-4-sulfonato, nitrito de sódio, ácido clorídrico concentrado, acetato de sódio, carbonato de sódio, sal de cozinha, gelo. Béqueres de 800 mL e 2000 mL; agitador de haste, banho-maria para refrigeração, kitassato e funil de Büchner, bastão de vidro. Procedimento: Dissolver 25,7 g (0,1 mol) de benzidina hidrocloreto em 26 mL de HCl concentrado e 500 mL de água em um béquer de 800 mL. Em outro béquer dissolver 13,8 g (0,2 mol) de NaNO2 em 15 mL de água. Acrescentar lentamente a segunda solução à primeira sob agitação. Resulta o sal de diazônio que deve ser refrigerado em um banho-maria com gelo e sal até 5 °C. Deixar a solução do sal de diazônio no banho gelado por 30 minutos. Dissolver em um béquer de 2000 mL 55 g (0,246 mol) de 1-naftilamino-4-sulfonato de sódio e 12 g de acetato de sódio em 1 L de água. Em jato fino acrescentar a solução refrigerada do 115 Benzidina e seus derivados devem ser manuseados com cuidado, pois são suspeitos de provocar câncer. A decomposição do Vermelho do Congo pode liberar benzidina, então deve ser mauseado igualmente com cuidado. 306 A. Isenmann CORANTES sal de diazônio. Agitar esssa mistura por mais 20 minutos, depois deixa em repouso por 24 horas. Neste período o corante se deposita em forma de um mingau. Filtrar e lavar o corante, por fim de neutralização, com uma solução saturada de carbonato de sódio. Em última etama acrescentar à suspensão uma quantidade elevada de cloreto de sódio, assim se obtém o corante Vermelho do Congo em forma do sal de sódio. Filtrar de novo e secar sob vácuo. Observação: Ao aplicar o 1-naftilamino-4-sulfonato em grande excesso (até 4 vezes a quantidade indicada) o rendimento em corante pode ser bastante aumentado. O reagente não consumido pode ser recuperado. H 2N NH2 N N N N SO3 - -O S 3 Fig. 208. Vermelho do Congo 9.1.7. Síntese do anil O anil pode ser preparado 116, de maneira mais simples e segura, a partir do onitrobenzaldeído, conforme descrito a seguir. Embora o mecanismo da sua formação contenha várias etapas de condensações, desproporcionamentos e oxidações (ver p. 150), o procedimento é bastante simples e o rendimento satisfatório. 0,5 g de o-nitrobenzaldeído é dissolvido em 5 mL de acetona. Sob agitação acrescenta-se 5 mL de água. Através do funil de adição acrescentam-se 2,5 mL de NaOH 1 mol.L-1, gota a gota porque a reação que segue é altamente exotérmica e pode levar a solução até à fervura! Após cerca de 5 minutos o anil se precipita, então pode ser isolado por filtração. É purificado por lavagem com água e etanol 117. 9.2. Técnicas de tintura 9.2.1. Exigências ao corante Nem todo composto colorido é um corante no sentido técnico. Para que vale como tal ele deve ser fixo em cima da fibra ou em cima de outra superfície; além disso, espera-se que seja resistente frente aos seguintes fatores: 116 Desgaste mecânico Frente a detergentes, no processo de lavagem Ácidos e bases Incidência de luz, visível e UV J.R. McKee, M. Zanger, Journal of Chemical Education 10 (1991)A242. 117 Em uma fonte diferente achamos a seguinte receita: 0,5 g o-nitrobenzaldeído + 3 mL acetona + 5 mL KOH [2 mol.L-1]. 307 A. Isenmann CORANTES Frente ao oxigênio atmosférico, além de outros oxidantes mais agressivos, tais como NOx e ozônio. Frente a oxidantes, no sabão em pó (algumas marcas da Europa contêm peróxidos e/ou perboratos) ou na água clorada em piscinas. Alguns destes efeitos podem ser testados facilmente no laboratório: O Vermelho do Congo (Fig. 31 e Fig. 130) é sensível frente a ácidos: já o suco de um limão acarreta uma mudança da sua tonalidade. O Azul da Prússia (cap. “Pigmentos azúis”, p. 211) perde sua cor no ambiente alcalino; para isso já basta uma base fraca, tal como a soda. O anil (Fig. 102) perde sua cor quando em contato com ozônio. Esse corante é tão sensível que uma variedade solúvel é frequentemente usada em tubinhos de teste, na análise qualitativa do ozônio. 9.2.2. Técnicas de tintura Nesta secção são apresentados exemplos simplificados para as diversas técnicas de tintura: Tintura direta ou substantiva: O corante ou pigmento prontamente formado é aplicado à fibra, muitas vezes sob temperatura elevada (fervura). Caso o corante direto não disponha de carga, é chamado de substantivo. Exemplos bastante simples são as tinturas com corantes naturais. Podemos usar, a princípio, tudo que provoca “manchas”. Uma tintura direta também pode ser feita com o Vermelho do Congo (síntese na p. 306) ou com o Violeta Cristal (síntese na p. 299). Embora ser uma das técnicas mais inofensivas e simples, a tintura direta certamente tem suas limitações: a perda do corante é bastante alta; além disso, as forças que mantêm o corante em cima da fibra são bastante fracas (Van der Waals e pontes de hidrogênio). Tintura reativa Através desta técnica o corante é ancorado em cima da fibra, através de uma ligação covalente forte. Exemplos para moléculas que proporcionam essa ancoragem, além do cloreto cianúrico (abaixo), são listados na Fig. 138 e Fig. 144. Cl N Cl N N Cl Cloreto cianúrico Tintura formativa do corante Neste técnica o corante/pigmento se forma na proximidade da fibra, a partir de moléculas ou íons pequenos e largamente incolores. O princípio de retenção do corante no tecido, além das forças fracas Van der Waals e pontes de hidrogênio, é a retenção física em pequenas cavidades, já que o tamanho molecular do corante pronto geralmente é o dobro dos reagentes. 308 A. Isenmann CORANTES Além disso, muitos destes corantes formam aglomerados, isto é, têm o caráter de pigmentos. Exemplo prominente é o pigmento inorgânico, Azul da Prússia (hoje muito pouco aplicado): 4 Fe3+ + 3 [Fe(CN) 6]4- FeIII[FeIIIFeII(CN)6] 3 . Outro é o corante azometina, Negro de anilina, usado hoje principalmente na tintura de couro (indicada é a estrutura mais provável do produto final, na forma de betaína): NH 2 Ox. N (CuSO4) HCl N- N+ N x N- N+ N N- N+ N H N N NH 2 (estrutura provável) Tintura de cuba O corante é transformado temporariamente em uma forma solúvel (“forma leuco”). Neste estado é aplicado ao tecido, onde espalha uniformemente em cima da fibra. Em uma etapa posterior o corante é reformado e ganha sua forma definitiva, insolúvel e fortemente colorido. Certamente o mais famoso representante desta técnica é o anil (cap. 4.4), cuja forma reduzida é solúvel – especialmente em ambiente alcalino, onde se apresenta como fenolato. Os meios redutores tradicionais eram bactérias anaeróbicas (fecais), mas foram substituídos pelo vitriol ferroso e finalmente pela ditionita de sódio. Esta técnica é aplicada, em grande escala, até hoje. S2O42- Ox: Red: Anil O N H + 2 SO2 + 2 e- 2 H2O + 2 e- H N O Anil (insolúvel) AnilH2 + 2 OH- O(H) Red Ox H N N H (H)O AnilH2 ("f orma leuco"; solúvel) 309 A. Isenmann CORANTES Tintura com mordente Com esta técnica o corante é fixado em cima da fibra por meio de um íon metálico, tipicamente trivalente. Forma-se um complexo relativamente estável no qual alguns dos sítios na esfera coordenativa do cátion são ocupados por grupos hidroxilas do tecido, outros por grupos polares do corante. O seguinte esquema mostra a fixação da alizarina (cap. 2.8): Fibra celulósica HO HO O HO Al3+ OH O H OH O 9.3. Alizarina Procedimentos de tintura 9.3.1. Tintura substantiva com corantes naturais. É um dos ensaios mais simples, com as substâncias mais inofensivas – no entanto, a qualidade da tintura é bastante limitada: a intensidade das cores é fraca, a maioria é altamente sensível a mudanças em pH e sua resistência ao processo de lavagem é baixa. De materiais precisamos apenas um béquer (400 mL), bico de Bunsen e tripé e uma pinça. Os corantes vêm de materiais largamente disponíveis – grosseiramente falado de tudo que “mancha” a roupa: casca de cebola, suco de beterraba, suco de cereja, espinafre, salsinha, flor de rosas escuras, vinho tinto, etc. Execução: Ferver um pedaço de linho por cerca de 30 minutos em água com algumas cascas de cebola (só a parte marrom e seca; o interior e partes brancas não servem). Depois enxaguar bem e secar. Esta experiência pode ser repetida com uma grande variedade de outros materiais, alimentos ou não, que são fortemente coloridos. 9.3.2. Tintura substantiva com corantes artificiais Utensílios e substâncias: Pedaços de linho 10 x 10 cm, Vermelho do Congo (Fig. 208), Violeta Cristal (p. 299), ácido clorídrico (1%), ácido cítrico (10%). Execução: 310 A. Isenmann CORANTES Ferver um pedaço de linho em uma solução 1% de Vermelho do Congo (ou Violeta Cristal), por aproximadamente 1 minuto. Tirar o pedaço e lavar sob a água corrente. Observação: Esses corantes são sensíveis frente a ácidos; embora o fenômeno da “halocromia” é reversível, é muito indesejado na indústria téxtil, pois há inúmeros alimentos de caráter ácido que mancham o tecido. 9.3.3. Tintura formativa com Azul da Prússia (Sinônimos: Azul de Berlim, Turnbulls Blue; CAS 14038-43-8) Já se perguntou por que esse nome estranho para este pigmento inorgânico? O azul da prússia foi descoberto por acidente. Em 1706, em Berlim, o químico J.J. Diesbach e o empresário J.L. Frisch tentavam produzir um pigmento vermelho, mas devido ao uso de uma porção impura de carbonato de potássio o pigmento tornou-se azul. A porção contaminada foi cedida de Diesbach a J.K. Dippel. Ambos trabalharam mais na receita do pigmento azul e se mudaram para Paris, onde produziram o pigmento sobre o nome de azul parisiense. A receita era um segredo de negócio, mas em 1724 tornou-se conhecida por um Inglês. Nos meados do século 18 a grande armada da Prússia, com a capital de Berlim (hoje a parte norte da Alemanha e a Polônia) aproveitou deste novo corante e coloriu seus uniformes azul. Os Habsburguêses (hoje a parte sul da Alemanha, Áustria e Ungria), por outro lado, não se deram esse luxo e deixaram seus uniformes sem tinta. Isso se tornou logo tradição e chique: a partir daí o imperador e os altos militares usaram uniformes branca... Utensílios e substâncias: 2 béqueres (100 mL), bico de bunsen, tripé, pinça, pedaço de linho 10 x 10 cm. Ferrocianeto de potássio, cloreto férrico, soda cáustica (1%). Execução: Mergulhar um pedaço de linho em uma solução 10% de K4[Fe(CN)6], depois transferir para uma solução 1% de FeCl3 e ferver por pouco tempo. O pedaço de tecido tratado não é lavado, mas apenas secado do jeito que tirado da segunda solução. 4 Fe3+ + 3 K4[Fe(CN)6] solúvel, amarelo → K[FeIIIFeII(CN)6] → FeIII[FeIIIFeII(CN)6]3. azul, um pouco solúvel tóxico Azul da Prússia insolúvel, não tóxico. Observação: Esse corante é sensível frente a bases; o que foi dito acima sobre o Vermelho do Congo e o Violeta Cristal vale também para este corante, motivo pelo qual não é mais usado hoje na indústria vestuária. Mas os prussiatos são bastante usados na analítica – principalmente para visualizar e comprovar íons de Fe(III). 9.3.4. Tintura formativa com Negro de Anilina (Sinônimos: polianilina, C.I. Pigment Black 1; CAS 13007-86-8) 311 A. Isenmann CORANTES Ensaio simples; duração 20 minutos. Utensílios e substâncias: 2 béqueres (50 mL), 1 béquer (250 mL), bico de bunsen, tripé, pinça, pedaço de linho 10 x 10 cm. Ácido sulfúrico concentrado, dicromato de potássio, cloreto de anilínio ou anilina, ácido clorídrico (2 mol.L-1), sulfato de cobre. Execução: No primeiro béquer pequeno preparar 0,5 mL de H2SO4 em 50 mL de água e dissolver 0,5 g de K2Cr2O7. No outro béquer pequeno dissolver 0,4 g de cloreto de anilínio em 5 mL de água destilada. Caso não disponha do Ph-NH3+ Cl-, é dissolver 0,4 mL de anilina líquida em 5 mL de HCl 2 mol.L-1. Somente quando tudo for dissolvido, acrescentar 0,1 g de CuSO4. Colocar o pedaço de pano no béquer maior e despejar a solução de dicromato por cima, mexer com bastão de vidro. Depois cadrescentar a solução da anilina e misturar bem. Ferver por aproximadamente 5 minutos. A amostra se tornou preta. Tirar o pano e lavar bem, primeiro em 200 mL de água, depois sob a água corrente. Secar. Descarte dos resíduos: Juntar a água da primeira lavagem com a solução preta. A anilina, embora bastante tóxica, é inofensiva em forma do seu polímero e pode ser descartada sem causar grande impacto. Somente o Cr6+ não consumido deve ser reduzido, com uma espátula de tiossulfato, para o menos perigoso Cr3+. 9.3.5. Tintura de cuba com anil Duração 80 minutos Utensílios e reagentes: Erlenmeyer (100 mL), Béquer (400 mL), bico de Bunsen e tripé, termômetro, pinça, bastão de vidro, luvas de borracha domésticas. Pedaços de linho 10 x 10 cm, anil (em pó fino), hidróxido de sódio (pastilhas), ditionita de sódio (Na2S2O4). Execução: Em um Erlenmeyer se coloca 0,5 g de anil, cerca de 1 g de NaOH, 1 g de ditionita e 20 mL de água. Essa mistura é esquentada a 70 °C e mantida alguns minutos nesta temperatura. Use o béquer com 200 mL de água como banho-maria. Não descartar essa água, pois aproveitamos dela na segunda etapa! Após alguns minutos a cor azul desaparece largamente e resulta uma solução amarelada clara, típica para o fenolato do leuco-anil. Somente a beirada do Erlenmeyer, onde há contato com o ar, a coloração original do anil permanece. Despejar a solução do leuco-anil na água do banho-maria e esquentar essa mistura no tripé até fervura. Jogar o pano nesta “cuba” e apertar e virar frequentemente por meio do bastão de vidro. Retirar os pedaços após cerca de 5 minutos, enxaguar pouco e pendurar no varal. Não lavar com muita água, se não o leuco-anil sai do tecido. Resultado esperado: 312 A. Isenmann CORANTES No varal os pedaços de linho se tornam azúis em pouco tempo. É a cor típica da calça jeans. Uma coloração uniforme se consegue ao abrir o tecido tratado em cima de uma chapa de pedra horizontal. Ao secar o corante é reformado via oxidação pelo oxigênio do ar (autooxidação; ver p. 236). O processo é completo em aproximadamente 12 horas. 9.3.6. Tintura com mordente Duração: 20 minutos. Utensílios e reagentes: Béquer (250 mL), 6 béqueres (100 mL), bico de Bunsen e tripé, pinça, bastão de vidro, luvas de borracha domésticas. 3 pedaços de linho 10 x 10 cm, alizarina, cloreto férrico FeCl3.6 H2O), alúmen comum (KAl(SO4)2.12 H2O), alúmen de cromo (KCr(SO4)2.12 H2O), soda cáustica (1 %). Execução: 1. Preparo das soluções de mordente: dissolver uma pitada dos sais de Fe3+, Al3+ e Cr3+, em 3 copinhos com 50 mL de água. 2. Preparo da solução de tintura: colocar duas espátulas de alizarina em 150 mL de água e acrescentar algumas gotas de NaOH diluída. Agitar até que tudo se dissolva. Distribuir essa solução em 3 béqueres de 100 mL. 3. Ferver um pedaço de pano em cada uma das soluções de mordente, por aproximadamente 10 minutos. Essa tinutra pode-se também tentar com uma amostra de lã bem desengraxada. 4. Transferir os panos para as soluções de tinutra e ferver por mais 5 minutos. Resultado a ser esperado, em dependência do mordente: 10. Anexos Tab. 41. Picos de absorção no UV (de comprimento de onda maior), de grupos comóforos isolados. Grupo cromóforo 118 Transição eletrônica Exemplo de substância λmax em nm 118 εmax 118 valor pode variar de acordo com o solvente. 313 A. Isenmann CORANTES C-H σ → σ* CH3 H 122 intenso C-C σ → σ* CH3 CH3 135 intenso n → σ* H2O 167 1500 n → σ* H3C OH 183 200 n → σ* C2H5 O 189 2000 n → σ* H3C SH 235 180 H3C S 228 620 250 380 194 5700 210 800 193 3000 O S n → σ* n → σ* N Hal C C C C C C2H5 C2H5 CH3 S S C2H5 n → σ* NH3 n → σ* C2H5 NH2 n → σ* C2H5 NH n → σ* (C2H5)3N 213 6000 n → σ* H3C Cl 173 200 n → σ* H3C Br 204 260 n → σ* H3C I 258 380 n → σ* CHI3 349 2170 π → π* H2C CH2 165 16000 π → π* C2H5 C H 185 7940 π → π* 173 6000 π → π* HC H 172 2500 n → π* H3C C H O O 293 12 π → π* H3C C CH3 187 950 273 14 460 fraco 190 8000 279 15 O C2H5 C H C2H5 CH C C C2H5 O n → π* H3C C CH3 S C C S N n → π* H3C C CH3 π → π* CH3 N OH n → π* C H CH3 C H N OH 314 A. Isenmann N CORANTES H 3C N n → π* CH3 N N N N 353 240 343 25 H 3C CH3 N -NO2 O n → π* π → π* (CH3)3C NO 300 100 (CH3)3C NO 665 20 210 10000 278 10 H3C NO2 n → π* Tab. 42. Cronograma dos corantes e da tintura têxtil A seguinte tabela 119 contém, além dos marcos históricos dos corantes, algumas invenções fundamentais acerca do procedimento da tintura e também as invenções das fibras sintéticas mais importantes. 2600 a.C. 715 a.C. 331 a.C. 327 a.C. 236 a.C. 55 d.C. 2º e 3° séculos d.C. 3° século d.C. 273 d.C. Final do século IV 400 d.C. Século VIII Registro mais antigo do uso de corantes na China. Tingimento de lã estabelecido como ofício em Roma. Alexandre Magno encontra vestes roxas de 190 anos de idade, quando ele conquista Susa, a capital persa. Elas estavam no tesouro real e já tinham na época um valor equivalente a US $ 6 milhões. Alexandre Magno menciona "belos algodões impressos" na Índia. Um papiro egípcio menciona tintureiros como "fedendo de peixe, com olhos cansados e mãos trabalhando incessantemente. Romanos encontraram pessoas pintadas ("picti") na Gália com tingimentos de pastel (ingrediente químico: anil). Sepulturas romanas encontradas com têxteis tingidos de pastel e garança, substituindo o antigo roxo imperial (púrpura). Descoberta da formulação mais antiga de um corante, escrito num papiro (chamado Papiro de Estocolmo) encontrado em uma cova, descrevendo a imitação de roxo. Trata-se de um trabalho grego. O Imperador Aureliano recusou a deixar sua esposa comprar um vestuário de seda tingido com púrpura. Custou o seu peso em ouro. Theodosium imperador de Bizâncio emitiu um decreto proibindo o uso de certos tons de roxo, exceto pela família imperial, sob pena de morte. Murex (o molusco da púrpura) se tornando escassos devido à enorme demanda e sobre a colheita para os romanos. Um quilo de tecido tingido com Murex valor de US $ 20.000 em termos do nosso dinheiro hoje. Um manuscrito chinês menciona tingimento via técnica com cera e esmalte 119 Traduzido de S.C. Druding, Dye History from 2600 BC to the 20th Century, disponível em: http://www.straw.com/sig/dyehist.html 315 A. Isenmann 925 1188 1197 1200 1212 1290 1321 1327-1377 Início do século XV Século XV 1429 1464 1472 1507 1519 1614 1630 1631-1633 Meados de 1600 1688 1689 CORANTES ("bática"). Primeira corporação dos tintureiros de lã, iniciada na Alemanha. Primeira menção das corporações para tintureiros em Londres. Rei João (da Magna Carta) convenceu o parlamento para regular o tingimento de lã, a fim de proteger o consumidor de tecidos de má qualidade. Rucellia de Florença, redescobriu a antiga arte de fazer tintura roxa a base de líquenes que vieram da Ásia Menor. A cidade de Florença teve mais de 200 tintureiros e alfaiates. Um relatório sobre tecelões e fiandeiras também foi publicado. Começaram o cultivo extensivo do único corante azul do período, o pastel, na Alemanha. Os 3 principais corantes eram agora: pastel, garança e gonda. O pau-brasil foi mencionado pela primeira vez como um corante. A madeira foi importada das Índias Orientais e da Índia. (O país Brasil ganhou seu nome conforme a madeira encontrada ali, e não vice-versa!). Rei Edward III lançou a lei "Royal Wool Merchant" que ofereceu proteção a todos os estrangeiros que viveram na Inglaterra e a todos que queriam vir para ajudar a melhorar a indústria têxtil. Cennino Cennini de Pádua, Itália descreveu a impressão de pano através de técnica com blocos de madeira, em seu tratado "Método de Pintura de Panos por meio de Moldes". Astecas do reinado de Montezuma conquistaram os Maias. Onze cidades maias pagaram um ano tributo de 2000 cobertores de algodão decorados e 40 sacos de corante cochonilha (inseto), cada. O primeiro livro europeu sobre tingimento "Mariegola Dell'Arte de Tentori" foi publicado na Itália. O Papa Paulo II introduziu o chamado "Roxo dos cardeais"que foi escarlate (= vermelho) do inseto Kermes. Este tornou-se o primeiro corante de luxo da idade-média, assim como a púrpura (Murex) foi para o mundo antigo. Rei Edward IV incorporou a Companhia dos tintureiros de Londres. França, Holanda e Alemanha começaram o cultivo de plantas tintureiras em escala industrial. Pizarro e Cortez acharam algodão na América do Sul e Central. Eles enviam tecidos brilhantemente impressos para casa, mostrando que os índios sabiam sobre impressão de bloco antes da conquista. Também mandaram cochonilha do México e do Peru para a Espanha. Tingimento de panos "na madeira" foi introduzido na Inglaterra: campeche, tatajuba, etc. Drebbel, um alquimista holandês, produziu um novo brilhante corante vermelho de cochonilha e estanho. Ele foi usado em Gobelein (Paris) e na Bow Dyeworks (Inglaterra). The East India Co. começou a importação de chita (em inglês: calico) de Calicut, Índia para a Inglaterra. Eles ainda pensaram que o tecido era de linho, mas era de algodão. Cortadores ingleses de madeira de campeche levaram uma vida perigosa em Honduras (perigo de espanhóis, furacões, pântanos, doenças) na Baía de Campeachy, mas podiam ficar muito ricos. Rei James II, da Inglaterra, proibiu a exportação de panos não tingidos da Inglaterra, a fim de fortalecer a indústria nacional dos tintureiros, mais que os tintureiros escoceses. As primeiras estamparias de chita foram iniciadas na Alemanha em Augsburgo, que mais tarde viria a se transformar em uma grande indústria. 316 A. Isenmann Século XVIII 1708 1716 1727 1733 1745 1766 1769 1774 1774 1775 1786 1785 1788 1790 1794 1796 1797 1798 1802 1823 1825 1834 CORANTES Tinturaria inglesa recebe contrato para tingir os casacos dos guardas do Buckingham Palace com cochonilha. Este contrato continuou até o século XX, onde ainda usaram a cochonilha. William III assinou uma lei que proíbe a importação de sedas impressas para a Inglaterra, mas isso só tornou chitas e sedas mais populares. Havia agora mais de 30 leis na Inglaterra que proíbem a importação de chita e algodão. Estampas se tornaram mais popular do que nunca. Um método de branqueamento de linho com algas foi introduzido na Escócia. Tear de barquinho voador inventado por John Kay, Inglaterra. Índigo se torna cada vez mais popular na Inglaterra, após a revolta quando se tornou mais barato importar das Índias Orientais (= Caribe). Dr. Cuthbert Gordon patenteou um corante vermelho, Cudbear ou Cuthbert, extraído a partir de uma variedade de líquenes. Note que na história haviam apenas dois corantes naturais que podem ser creditados a um inventor individual (outro é quercitron descoberto por Bancroft). Arkwright na Inglaterra inventa nova moldura de tear (popularmente "Spinning Jenny") O químico sueco Scheele, ao observar uma rolha de uma garrafa de ácido clorídrico, conclui que o cloro destroi corantes vegetais. Azul da Prussia e ácido sulfúrico se torna disponíveis no mercado. Azul da Prússia formado a partir de prussita de potássio e sal de ferro. Um dos primeiros corantes químicos. Bancroft introduziu o uso de casca quercitron como um corante natural. Um de apenas dois naturais corantes cujo inventor é conhecido, produz um amarelo mais brilhante do que a tatajuba, e é feito a partir da casca interior do carvalho norte-americano. Bertholet na França, recomenda água de cloro para o branqueamento comercial. Outros agentes oxidantes começaram a ser utilizados, também: o peróxido de hidrogênio, peróxido de sódio e o perborato. Bell na Inglaterra que tinha inventado a impressão com placas, desenvolveu agora a impressão via rolo. O ácido pícrico agora era disponível. É um corante amarelo e desinfetante (além de explosivo!) que serve para tingir lã dentro de uma cuba ácida. Descolorante ácido desenvolvido para a impressão com mordente. Três franceses montaram a primeira impressão de chita. Tennant desenvolveu o processo de branqueamento. Bancroft desenvolve um processo de fixação de impressões a vapor. Oberkampf (em Jouy, França) alegrou Imperador Napoleão, mostrando-lhe uma impressora de rolo feita a partir de um canhão que Napoleão tinha apreendido do Papa. Logo depois começou a produção do famoso pano "Toiles de Jouy". Sir Robert Peel publica um novo método de imprimir. Ele tinha comprado a idéia de um viajante comercial por equivalente a US $ 25. O método funciona com uma cera ou outro esmalte aplicado pelo fundo, na verdade, uma técnica de "bática" feita em grande escala. Mercer descobre o cromato sendo desolorante para indigo. Mathias Baldwin (depois da fama locomotiva) começou a primeira produção americana de rolos de metal gravados para a impressão de chita que foram utilizados na área de Filadélfia e podiam produzir 275 m de tecido por dia. Runge, um químico alemão, reparou que a anilina isolada da destilação do alcatrão de carvão, quando tratada com pó de descoramento, daria uma cor 317 A. Isenmann 1844 1856 1858 1858-1859 1861 1862 1862 1863 1866 1868 1872 1873 1875-1876 1876 1877 1878 1878 1880 1884 1885 1885 1885-1889 CORANTES azul brilhante. Isso ajudou a pavimentar o caminho para o desenvolvimento dos corantes de anilina (básicos), 22 anos depois. John Mercer descobriu que o tratamento de algodão com soda cáustica, enquanto deixar o fio sob tensão, melhorou sua força, brilho, tingibilidade e as qualidades de absorção. O processo foi chamado de "mercerização". William Henry Perkin descobriu na anilina suja (contendo toluidina) o primeiro corante sintético, "Malve" (vulgarmente chamado de "anilina", um corante básico). Enquanto procurava por cura para a malária ele iniciou uma nova indústria. O corante que achou era malveína, brilhante e semelhante à flor da fúcsia, mas infelizmente pouco estável na luz solar. P. Griess descobre a diazotação e o acoplamento azo que pode ser feito em cima da fibra. Von Hofmann e Verguin descobrem independemente a magenta (= fucsina) . Era o segundo corante básico e mais amplamente utilizado do que a Malve. Lauth sintetiza violeta de metila, outro corante básico. Síntese do "Roxo de Hofmann". Hofmann foi um dos maiores químicos da tintura de todos os tempos. "Pardo de Bismarck" desenvolvido por Martius e Lightfoot, primeiro corante azo solúvel. "Negro de Anilina", desenvolvido por Lightfoot, um negro produzido pela oxidação da anilina em cima da fibra de algodão. "Violeta de Metila", um corante básico. Graebe e Liebermann, químicos alemães, produzem a alizarina sintética. Foi a primeira síntese no laboratório de um corante vegetal (da garança, uma raiz, também chamada de ruiva dos tintureiros). W.H. Perkin também a sintetizou, independentemente e ao mesmo tempo. "Verde de Metila" por Lauth e Baubigny, um corante básico, em uso ainda hoje. "Cachou de Laval", primeiro corante de enxofre, um marrom, feito por Groissant e Bretonniere, França. Caro e Witt preparam a "Crisoidina", primeiro importante membro da classe dos corantes azo. Caro, um importante químico de corantes da BASF, descobre "Azul de Metileno". Este corante é usado até hoje e tem aplicações na medicina (combate de Alzheimer). "Verde de Malaquita", corante básico por Döbner e Fischer. Invenção de "Biebrich Scarlet", um corante vermelho ácido muito puro, rivalizando com a cochonilha no seu brilho. A. von Baeyer sintetizou o anil (= índigo). Este, no entanto, não foi comercializado até 1897. Thomas e Holliday, Inglaterra, sintetizam o primeiro corante azo formado por acoplamento no tecido. Este "Vermelho de Vacanceina" se formou por tratamento do tecido com naftol e depois imergindo numa amina diazotada. Esta maneira fornece melhor fixação dos corantes (fora dos corantes reativos do tipo Procion). "Vermelho do Congo" por Böttiger, o primeiro corante direto para o algodão. "Benzopurpurina", um dos primeiros corantes por Duisberg. É um corante direto, brilhante e altamente substantivo. "Vermelho do Pará" feito por von Gallois e Ullrich. (β-naftol e nitroanilina) Chardonnet, França, fez o primeiro Rayon (= acetato da celulose) com sucesso e mostrou a fibra na Exposição de Paris de 1889. 318 A. Isenmann 1887 1887 1890 1891 1891 1891 1893 1895 1898 1900 1901 1901 1902 1905 1908 1914 1915 1921 1922 1924 1928 1936 1938 1948 1950 1951 1951 1951 CORANTES "Amarelo de Alizarina GG", o primeiro corante azo aplicado com mordente. "Rodamina B", um corante brilhante vermelho-violeta, corante básico. "Negro Direto BH", o primeiro corante negro direto. "Verde Diamina B", o primeiro corante azo verde. Chardonnet construiu sua primeira usina comercial em Besancon para a fabricação de rayon, pelo Processo Chardonnet. "Sky Blue FF" (Azul do céu), um azul direto importante por muitos anos, com boa resistência à luz. "Negro Vidal", o segundo corante de enxofre. Elaboração do método de "Viscose" para fazer fibras de rayon, inventado por Cross e Bevan, Inglaterra. Este é agora o processo mais comum para a fabricação do rayon. "Negro Direto E", um corante preto de grande importância. Quando Mozaffer ed Din se tornou Xá da Pérsia, um de seus primeiros decretos foi proibir a utilização de corantes Anilinas para tapetes. Todos os corantes de anilina foram apreendidos e queimados publicamente. Penalidades incluindo prisão e multas igual ao dobro do valor da mercadoria. René Bohn patenteou sua invenção "Azul de Indanthrena RS", o primeiro corante de cuba do tipo antraquinona. Essa categoria de corantes tem muito boa solidez à luz e à lavagem. Bohn desenvolveu o segundo corante de cuba, o "Amarelo de Flanthreno". Thesmar, Baumann, Descamps e Frossard produzem hidrossulfito e formaldeído sulfoxilado. P. Friedländer faz o primeiro corante indigóide, o "Vermelho de Tio-índigo". "Azul Hydron", concorrente para o anil, desenvolvido pela Cassella. Os EUA importam 90% dos corantes, um problema durante a Primeira Guerra Mundial, já que muitos vieram da Alemanha. O corante Neolan, primeiro corante cromo-metalizado, tingimento em banho fortemente ácido. Bader desenvolveu os corantes de cuba solúveis, os "Indigossóis". A American Association of Textile Chemists and Colorists (AATCC) formou sua primeira subcomissão para estudar a resistência à lavagem de algodão impresso e tingido. Eles formularam procedimentos de testes e definiram padrões de solidez. "Indigosol 0", por M. Bader e C. Sunder em Mulhouse, França, primeiro corante comercial do tipo indigossol. DuPont começou as pesquisas fundamentais que levaria à descoberta do nylon. Primeiro par de meias de malha com uma nova fibra sintética da DuPont chamada de "nylon". Carothers, ao mesmo tempo pioneiro da teoria da policondensação, recebeu a patente neste material. O nylon foi formalmente apresentado ao público. Os téxteis se tornam a segunda maior indústria nos EUA. O consumo médio de fibras, por capita: 12,3 Kg de algodão, 2,9 Kg de rayon, 2,2 Kg de lã. DuPont introduziu no mercado a primeira fibra de Orlon, um novo acrílico "substituto de lã". Corantes Irgalan introduzidos pela Geigy, o primeiro corante neutro prémetalizado (que não exigem muito ácido como era o caso nos Neolans). Os Cibalans são do mesmo tipo. DuPont anunciou que uma fábrica em Carolina do Norte iria começar a fabricar o poliéster Dacron. Um novo acrílico, Acrilan, foi introduzido por Chemstrand Corp. 319 A. Isenmann 1953 1954 1956 1956 1956 1956 1957 1958 1964 1968 1968 Final dos anos 1970 Tab. 43. CORANTES Com o amarelo Cibalan Brilliant 3GL foi introduzido um corante que levará à descoberta dos corantes reativos na fibra. A Celanese Corp anunciou a primeira produção comercial de um triacetato americano, o Arnel. A ICI na Inglaterra introduziu Procion, primeira geração de corante que são fixados na fibra por ligação covalente. Essa família de corante ia ter grande impacto na indústria, bem como aos artistas têxteis em todo o mundo. Eastman Kodak apresentou Verel, um acrílico modificado. A American Cyanamid lançou um novo acrílico, Creslan. Uma em cada 7 pessoas trabalhistas nos EUA ganha sua vida nas indústrias têxteis ou vestuário! A Ciba introduz Cibacrons, uma nova gama de corantes reativos e os primeiros a competir com os Procion da ICI. Eastman Kodak apresenta o poliéster Kodel. Primeiro uso de acabamento impresso permanente. DuPont introduz Qiana, um nylon fantasia com o toque da seda, muito usado em cortinas decorativas. Pela primeira vez o mercado americano consumiu mais fibras sintéticas do que naturais: 2,3 milhões t verso 2,1 milhões t. Os maiores aumentos se percebe nos poliésteres. Ciba-Geigy introduziu Cibacron série F. Cronograma das invenções dos primeiros corantes sintéticos (1850 - 1865) Fonte: Hamish McNab. The natural constituents of historical textile dyes. A tutorial review. Chem. Soc. Rev. 33 (2004) 329-336. Ano e nome do produto 120 1858 Tyrian purple 1859 Fuchsine/aniline red 1860 magenta/aniline red 1861 aniline blue 1861 mauve 1862 aniline black 1862 aniline green Inventor 121 Perkin (1856) Verguin Sinônimos aniline purple, mauve (1859) roseine, rosaniline Procedimento anilina comercial / K2Cr2O7 anilina comercial aniline/ SnCl4 Nicholson, Medlock anilina comercial /arsenic acid, AsO(OH)3 Girard, de Laire Caro (1860) aniline red + anilina anilina comercial / sais de cobre Caro Usèbe aldehyde green resíduo do processo da mauve de Caro aniline red + aldehyde 120 O nome do corante é mantido em inglês, conforme a maioria da literatura específica. 121 Indicando o ano da descoberta, caso seja diferente do ano em que entrou em produção. 320 A. Isenmann 1862 rosolic acid 1862 cyan brown 1863 aniline black 1863 phosphine CORANTES Caro, (Mùller, Kolbe, Schmitt; Persoz 1859) Caro Lightfoot (1859) Nicholson 1863 Hofmann's violets 1863/64 induline 1863/64 aniline yellow 1863/64 phenylene brown von Hofmann 1864 Martius yellow Martius, Caro Martius, Caro Martius, Caro Martius, Caro aurin(e), yellow coralline fenol + ácido oxálico + H2SO4 ácido pícrico + KCN chrysaniline aplicação direta da anilina em algodão durante a impressão. co-produto na produção da magenta (processo de Nicholson) aniline red + haletos de alquila azobenzeno + anilina HNO2 + anilina (diazotamento) Bismarck brown HNO2 + m-diaminobenzeno (c.1870), Manchester Brown, Vesuvin (BASF) Manchester yellow, naftilamina diazotada, naftol + jaune d'or (França), dinitronaftol chrysonaphthalic acid, dinitronaphthylalcohol, dinitronaphthalinic acid, binitrohydroxynaphthale ne, naphthalene yellow Tab. 44. Lista dos corantes mais usados, inclusive seus sinônimos, seu CI Generic Name e o CI Number. Fonte: BDH laboratory chemicals & biochemicals catalogue 1983 Nome trivial Sinônimos CI Generic Name Alcian yellow GXS Alizarin Alizarin red S Alizarin yellow GG Alizarin yellow R Azophloxin Bismarck brown R Bismarck brown Y Sudan orange Ingrain yellow 1 Mordant red 11 Mordant red 3 Mordant yellow 1 Mordant orange 1 Acid red 1 Basic brown 4 Basic brown 1 CI Const. Number 12840 58000 58005 14025 14030 18050 21010 21000 Basic dye Basic orange 1 Basic orange 2 51010 11320 11270 Brilliant cresyl blue Chrysoidine R Chrysoidine Y Azogeranin B Vesuvine brown Vesuvine Phenylene brown Cresyl blue BBS 321 A. Isenmann Congo red Crystal violet Fuchsin acid Gentian violet Janus green Lissamine fast yellow Martius yellow Meldola blue Metanil yellow Methyl orange Methyl red Naphthalene black 12B Naphthol green B Naphthol yellow S Orange G Rose bengal Sudan II Titan yellow Tropaeolin O Tropaeolin OO Tropaeolin OOO Victoria blue 4R Victoria blue B Victoria blue R Xylene cyanol FF CORANTES Direct red 28 Basic violet 3 Acid violet 19 Basic violet 1 Basic dye Yellow 2G Acid yellow 17 Acid yellow 24 Phenylene blue Basic blue 6 Acid yellow 36 Acid orange 52 Acid red 2 Amido black 10B Acid black 1 Acid green 1 Acid yellow 1 Acid orange 10 Acid red 94 Solvent orange 7 Direct yellow 9 Sulpho orange Acid orange 6 Acid orange 5 Orange II Acid orange 7 Basic blue 8 Basic blue 26 Basic blue 11 Acid blue 147 22120 42555 42685 42535 11050 18965 10315 51175 13065 13025 13020 20470 10020 10316 16230 45440 12140 19540 14270 13080 15510 42563 44045 44040 42135 Tab. 45. Lista abrangente de materiais colorantes conforme seu nome genérico no Colour Index. Fonte: http://stainsfile.info/StainsFile/dyes/dyes.htm Generic CI Name Acetyl yellow Acid black 1 Acid blue 22 Acid blue 93 Acid fuchsin Acid green Acid green 1 Acid green 5 Acid magenta Acid orange 10 Acid red 4 Acid red 26 Acid red 29 Acid red 44 Acid red 51 Acid red 52 CI Number 13015 20470 42755 42780 42685 42095 10020 42095 42685 16230 14710 16150 16570 16250 45430 45100 Chemical Class Nitro Azo Triarylmethane Triarylmethane Triarylmethane Triarylmethane Nitroso Triarylmethane Triarylmethane Azo Azo Azo Azo Azo Fluorone Xanthene Common Name Fast yellow Amido black 10B Water blue Methyl blue Acid fuchsin Light green SF yellowish Naphthol green B Light green SF yellowish Acid fuchsin Orange G Azo-eosin Xylidine ponceau Chromotrope 2R Ponceau 6R Erythrosin B Lissamine rhodamine B 322 A. Isenmann Acid red 66 Acid red 73 Acid red 87 Acid red 91 Acid red 92 Acid red 94 Acid red 101 Acid red 103 Acid roseine Acid rubin Acid violet 19 Acid yellow 1 Acid yellow 7 Acid yellow 9 Acid yellow 23 Acid yellow 24 Acid yellow 36 Acid yellow 73 Acid yellow 85 Acid yellow S Acid yellow T Acridine orange Acridine red Acriflavine Alcian blue Alcian yellow Alcohol soluble eosin Alizarin Alizarin blue Alizarin blue 2RC Alizarin carmine Alizarin cyanin BBS Alizarol cyanin R Alizarin red S Alizarin purpurin Alkali blue 4B, 5B Aluminon Amido black 10B Amidonaphthol red Amidoschwarz Amyloid red Aniline blue WS CORANTES 26905 27290 45380 45400 45410 45440 50085 50090 42685 42685 42685 10316 56205 13015 19140 10315 13065 45350 – 10316 19140 46005 45000 46000 74240 12840 45386 58000 67410 58605 58005 58610 43820 58005 58205 42750 43810 20470 18050 20470 29200 – Azo Azo Fluorone Fluorone Fluorone Fluorone Quinone-Imine Quinone-Imine Triarylmethane Triarylmethane Triarylmethane Nitro Ketonamine Nitro Azo Nitro Azo Fluorone Azo Nitro Azo Acridine Pyronin Acridine Phthalocyanine Azo Fluorone Anthraquinone Anthraquinone Anthraquinone Anthraquinone Anthraquinone Triarylmethane Anthraquinone Anthraquinone Triarylmethane Triarylmethane Azo Azo Azo Azo Triarylmethane Biebrich scarlet Woodstain scarlet Eosin Y ws Eosin B Phloxine B Rose bengal Azocarmine G Azocarmine B Acid fuchsin Acid fuchsin Acid fuchsin Naphthol yellow S Lissamine flavine FF Fast yellow Tartrazine Martius yellow Metanil yellow Fluorescein Coomassie fast yellow G Naphthol yellow S Tartrazine Acridine orange Acridine red Acriflavine Alcian blue 8GX Alcian yellow Ethyl eosin Alizarin Alizarin blue Anthracene blue SWR Alizarin red S Alizarin cyanin BBS Chromoxane cyanin R Alizarin red S Purpurin Alkali blue 5B Chrome violet CG Amido black 10B Azophloxine Amido black 10B Benzo scarlet 4BNS Aniline blue WS 323 A. Isenmann CORANTES Aniline purple Anthracene blue SWR Anthracene blue SWX Auramine O Azo-eosin Azocarmine B Azocarmine G Azoeosin G Azoic diazo 5 Azoic diazo 48 Azophloxine Azovan blue Azure A Azure B Azure C – 58605 58610 41000 14710 50090 50085 14710 37125 37235 18050 23860 52005 52010 52002 Azin Anthraquinone Anthraquinone Diarylmethane Azo Quinone-Imine Quinone-Imine Azo Diazonium salt Diazonium salt Azo Azo Thiazin Thiazin Thiazin Mauveine Anthracene blue SWR Alizarin cyanin BBS Auramine O Azo-eosin Azocarmine B Azocarmine B Azo-eosin Fast red B Fast blue B Azophloxine Evans blue Azure A Azure B Azure C Basic blue 8 Basic blue 9 Basic blue 12 Basic blue 15 Basic blue 17 Basic blue 20 Basic blue 26 Basic brown 1 Basic fuchsin Basic green 4 Basic green 5 Basic orange 14 Basic red 2 Basic red 5 Basic red 9 Basic violet 2 Basic violet 3 Basic violet 4 Basic violet 10 Basic violet 14 Basic yellow 1 Basic yellow 2 Benzo scarlet 4BNS Biebrich scarlet Biebrich scarlet R Bismarck brown Y 42563 52015 51180 44085 52040 42585 44045 21000 – 42000 52020 46005 50240 50040 42500 42520 42555 42600 45170 42510 49005 41000 29200 26905 26105 21000 Triarylmethane Thiazin Oxazin Triarylmethane Thiazin Triarylmethane Triarylmethane Azo Triarylmethane Triarylmethane Thiazine Acridine Safranin Eurhodin Triarylmethane Triarylmethane Triarylmethane Triarylmethane Rhodamine Triarylmethane Thiazole Diarylmethane Azo Azo Azo Azo Victoria blue 4R Methylene blue Nile blue A Night blue Toluidine blue O Methyl green Victoria blue B Bismarck brown Y Basic fuchsin Malachite green Methylene green Acridine orange Safranin O Neutral red Pararosanilin New fuchsin Crystal violet Ethyl violet Rhodamine B Rosanilin Thioflavine T Auramine O Benzo scarlet 4BNS Biebrich scarlet Sudan IV Bismarck brown Y 324 A. Isenmann Blauschwarz Brazilein Brazilin Brilliant crocein Brilliant cresyl blue Brilliant crystal scarlet 6R Brilliant green CORANTES 20480 75280 75280 27290 51010 Azo Natural Natural Azo Oxazin Naphalene blue black CS Brazilein Brazilin Woodstain scarlet Brilliant cresyl blue 16250 Azo Ponceau 6R 42040 Triarylmethane Brilliant green Calcium red Carmine Carminic acid Carmoisine 6R Celestine blue B China blue Chlorantine fast red 5B Chicago blue 4B Chrome fast yellow 8GL Chrome luxine yellow 8G Chrome violet CG Chromotrope 2R Chromoxane cyanin R Cochineal Coelestine blue Congo corinth Congo red Coomassie fast yellow G Cotton blue Cotton red Croceine scarlet Crocein scarlet 3B Crocein scarlet MOO Crocin Crystal ponceau 6R Crystal scarlet Crystal violet 60760 75470 75470 16570 51050 – 28160 – 56210 56210 43810 16570 43820 75470 51050 22145 22120 – 42780 22120 26905 27290 27290 75100 16250 16250 42555 Anthraquinone Natural Natural Azo Oxazin – Azo azo Aminoketone Aminoketone Triarylmethane Azo Triarylmethane Natural Oxazin Azo Azo Azo Triarylmethane Azo Azo Azo Azo Natural Azo Azo Triarylmethane Nuclear fast red Carmine Carmine Chromotrope 2R Celestine blue B Aniline blue Sirius red 4B Pontamine sky blue 5B Chrome fast yellow 8GL Chrome fast yellow 8GL Chrome violet CG Chromotrope 2R Chromoxane cyanin R Carmine Celestine blue B Congo corinth Congo red Coomassie fast yellow G Methyl blue Congo red Biebrich scarlet Woodstain scarlet Woodstain scarlet Saffron Ponceau 6R Ponceau 6R Crystal violet Dahlia Diamond green B Direct blue 14 Direct blue 58 Direct red 42530 42000 23850 23860 22120 Triarylmethane Triarylmethane Azo Azo Azo Hoffman's violet Malachite green Trypan blue Evans blue Congo red 325 A. Isenmann CORANTES Direct red 10 Direct red 28 Direct red 72 Direct red 76 Direct red 80 Direct red 81 Direct yellow 7 Direct yellow 11 Durazol blue 4R Durazol blue 8G Durazol scarlet 2G 22145 22120 29200 40270 35780 28160 49010 40000 – – 40270 Azo Azo Azo Azo Azo Azo Thiazole Stilbene, azo Azo Phthalocyanine Azo Congo corinth Congo red Benzo scarlet 4BNS Sirius scarlet GG Sirius red F3B Sirius red 4B Thioflavine S Sun yellow Durazol blue 4R Durazol blue 8G Sirius scarlet GG Eosin B Eosin Bluish Eosin Eosin Y Eosin yellowish Eosinol Erie garnet B Eriochrome cyanin R Erythrosin B Ethyl eosin Ethyl green Ethyl violet Evans blue 45400 45400 45380 45380 45380 – 22145 43820 45430 45386 42590 42600 23860 Fluorone Fluorone Fluorone Fluorone Fluorone Fluorone Azo Triarylmethane Fluorone Fluorone Triarylmethane Triarylmethane Azo Eosin B Eosin B Eosin Y ws Eosin Y ws Eosin Y ws Eosinol Congo corinth Chromoxane cyanin R Erythrosin B Ethyl eosin Ethyl green Ethyl violet Evans blue Fast blue B Fast green FCF Fast red B Fast yellow Fast yellow extra Fast yellow G Fat black HB Fluorescein Food green 3 37235 42053 37125 13015 13015 13015 26150 45350 42053 Diazonium salt Triarylmethane Diazonium salt Nitro Nitro Nitro Azo Fluorone Triarylmethane Fast blue B Fast green FCF Fast red B Fast yellow Fast yellow Fast yellow Sudan black B Fluorescein Fast green FCF Gallein Gallamine blue Gallocyanin Gentian violet 45445 51045 51030 – Fluorone Oxazin Oxazin Triarylmethane Gallein Gallamine blue Gallocyanin Methyl violet 2B 326 A. Isenmann CORANTES Guinee green 42085 Triarylmethane Guinee green B Haematein Haematine Haematoxylin Helio fast rubin BBL Helvetia blue Hematein Hematine Hematoxylin Hoffman's violet Hydrazine yellow 75290 75290 75290 60760 42780 75290 75290 75290 42530 19140 Natural Natural Natural Anthraquinone Triarylmethane Natural Natural Natural Triarylmethane Azo Hematein Hematein Hematoxylin Nuclear fast red Methyl blue Hematein Hematein Hematoxylin Hoffman's violet Tartrazine Indigoid Indigo carmine Fluorone Phthalocyanine Azo Tetrazolium salt Triarylmethane Eosin B Alcian blue 8GX Alcian yellow Iodonitrotetrazolium Iodine green Imperial red Ingrain blue 1 Ingrain yellow 1 INT Iodine green 73015, 75781 45400 74240 12840 – 42556 Kermes Kermesic acid Kernechtrot Kiton rhodamine B 75460 75460 60760 45100 Natural Natural Anthraquinone Xanthene Kermes Kermes Nuclear fast red Lissamine rhodamine B Lac Laccaic acid Lauth's violet Light green Lissamine fast red Lissamine fast yellow Lissamine flavine FF Lissamine green SF Lissamine rhodamine B Luxine pure yellow 6G Luxol fast blue 75450 75450 52000 42095 17045 18965 56205 42095 45100 56210 – Natural Natural Thiazin Triarylmethane Azo Azo Ketonamine Triarylmethane Xanthene Aminoketone Phthalocyanine Laccaic acid Laccaic acid Thionin Light green SF yellowish Lissamine fast red Lissamine fast yellow Lissamine flavine FF Light green SF yellowish Lissamine rhodamine B Chrome fast yellow 8GL Luxol fast blue MBS Magenta 0 Magenta I Magenta II 42500 42510 – Triarylmethane Triarylmethane Triarylmethane Pararosanilin Rosanilin Magenta II Indigo carmine 327 A. Isenmann CORANTES Magenta III Malachite green Manchester brown Martius yellow Mauve Mauveine Merbromin Mercurochrome Metanil yellow Methyl blue Methyl green Methyl violet Methyl violet 2B Methyl violet 10B Methylene azure A Methylene azure B Methylene azure C Methylene blue Methylene green Milling yellow 3G Mordant blue 3 Mordant blue 10 Mordant blue 14 Mordant blue 23 Mordant blue 32 Mordant blue 45 Mordant red 3 Mordant red 11 Mordant violet 25 Mordant violet 39 Mordant yellow 33 42520 42000 21000 10315 – – – – 13065 42780 42585 42535 42535 42555 52005 52010 52002 52015 52020 18950 43820 51030 51050 58610 58605 51045 58005 58000 45445 43810 56210 Triarylmethane Triarylmethane Azo Nitro Azin Azin Fluorone Fluorone Azo Triarylmethane Triarylmethane Triarylmethane Triarylmethane Triarylmethane Thiazin Thiazin Thiazin Thiazin Thiazine Azo Triarylmethane Oxazin Oxazin Anthraquinone Anthraquinone Oxazin Anthraquinone Anthraquinone Fluorone Triarylmethane Aminoketone New fuchsin Malachite green Bismarck brown Y Martius yellow Mauveine Mauveine Mercurochrome 220 Mercurochrome 220 Metanil yellow Methyl blue Methyl green Methyl violet 2B Methyl violet 2B Crystal violet Azure A Azure B Azure C Methylene blue Methylene green Milling yellow 3G Chromoxane cyanin R Gallocyanin Celestine blue B Alizarin cyanin BBS Anthracene blue SWR Gallamine blue Alizarin red S Alizarin Gallein Chrome violet CG Chrome fast yellow 8GL Naphthalene blue black Naphthol blue black Naphthol green B Naphthol yellow S Natural black 1 Natural red Natural red 3 Natural red 4 Natural red 8 Natural red 16 20480 20470 10020 10316 75290 58205 75460 75470 58205 58205 Azo Azo Nitroso Nitro Natural Anthraquinone Natural Natural Anthraquinone Anthraquinone Naphalene blue black CS Amido black 10B Naphthol green B Naphthol yellow S Hematein Purpurin Kermes Carmine Purpurin Purpurin 328 A. Isenmann CORANTES Natural red 24 Natural red 25 Natural red 28 Natural yellow 6 NBT Neutral red New fuchsin Niagara blue 3B Night blue Nile blue Nile blue A Nile blue sulphate Nile red Nitro BT Nitro blue tetrazolium Nuclear fast red 75280 75450 – 75100 – 50040 42520 23850 44085 51180 51180 51180 – – – 60760 Natural Natural Natural Natural Tetrazolium salt Eurhodin Triarylmethane Azo Triarylmethane Oxazin Oxazin Oxazin Oxazone Tetrazolium salt Tetrazolium salt Anthraquinone Brazilin Laccaic acid Orcein Saffron Nitro blue tetrazolium Neutral red New fuchsin Trypan blue Night blue Nile blue A Nile blue A Nile blue A Nile red Nitro blue tetrazolium Nitro blue tetrazolium Nuclear fast red Oil red O Orange G Orcein 26125 16230 – Azo Azo Natural Oil red O Orange G Orcein Pararosanilin Perkin's violet Phloxine B Picric acid Ponceau 2R Ponceau 6R Ponceau B Ponceau de Xylidine Ponceau S Pontamine sky blue 5B Primula Primuline Purpurin Pyronin B Pyronin G Pyronin Y 42500 – 45410 10305 16150 16250 26905 16150 27195 – 42530 49000 58205 45010 45005 45005 Triarylmethane Azin Fluorone Nitro Azo Azo Azo Azo Azo azo Triarylmethane Thiazole Anthraquinone Pyronin Pyronin Pyronin Pararosanilin Mauveine Phloxine B Picric acid Xylidine ponceau Ponceau 6R Biebrich scarlet Xylidine ponceau Ponceau S Pontamine sky blue 5B Hoffman's violet Primuline Purpurin Pyronin B Pyronin Y Pyronin Y Rhodamine B Rosanilin Rose bengal 45170 42510 45440 Rhodamine Triarylmethane Fluorone Rhodamine B Rosanilin Rose bengal 329 A. Isenmann CORANTES Saffron Safranin O Scarlet R Scarlet red Scharlach R Shellac Sirius red F3B Sirius red 4B Sirius scarlet GG Sirius supra blue F3R Solantine scarlet G Solochrome cyanin R Soluble blue Solvent black 3 Solvent blue 38 Solvent red 23 Solvent red 24 Solvent red 27 Solvent red 45 Solvent yellow 94 Spirit soluble eosin Sudan III Sudan IV Sudan black B Sudan red BK Sulfur yellow S Sulpho rhodamine B Sun yellow Swiss blue 75100 50240 26105 26105 26105 75450 35780 28160 40270 – 40270 43820 – 26150 – 26100 26105 26125 45386 45350 45386 26100 26105 26150 26100 10316 45100 40000 52015 Natural Safranin Azo Azo Azo Natural Azo Azo Azo Azo Azo Triarylmethane – Azo Phthalocyanine Azo Azo Azo Fluorone Fluorone Fluorone Azo Azo Azo Azo Nitro Xanthene Stilbene, azo Thiazin Saffron Safranin O Sudan IV Sudan IV Sudan IV Laccaic acid Sirius red F3B Sirius red 4B Sirius scarlet GG Durazol blue 4R Sirius scarlet GG Chromoxane cyanin R Aniline blue Sudan black B Luxol fast blue MBS Sudan III Sudan IV Oil red O Ethyl eosin Fluorescein Ethyl eosin Sudan III Sudan IV Sudan black B Sudan III Naphthol yellow S Lissamine rhodamine B Sun yellow Methylene blue Tartrazine Thioflavine S Thioflavine T Thionin Toluidine blue Toluyline red Tropaeolin G Trypaflavine Trypan blue 19140 49010 49005 52000 52040 50040 13065 46000 23850 Azo Thiazole Thiazole Thiazin Thiazin Eurhodin Azo Acridine Azo Tartrazine Thioflavine S Thioflavine T Thionin Toluidine blue O Neutral red Metanil yellow Acriflavine Trypan blue 330 A. Isenmann CORANTES Uranin 45350 Fluorone Fluorescein Victoria blue 4R Victoria blue B Victoria blue R Victoria green B 42563 44045 44040 42000 Triarylmethane Triarylmethane Triarylmethane Triarylmethane Victoria blue 4R Victoria blue B Victoria blue R Malachite green Water blue I Water soluble eosin Woodstain scarlet 42755 45380 27290 Triarylmethane Fluorone Azo Water blue I Eosin Y ws Woodstain scarlet Xylene red B Xylidine ponceau 45100 16150 Xanthene Azo Lissamine rhodamine B Xylidine ponceau Yellowish eosin 45380 Fluorone Eosin Y ws Índice remissivo 1,3,5-hexatrieno ........... 98, 103 Acid violet 19 .....118, 342, 343 6,6´ dibromo.......................169 ácido arsênico...........23, 25, 43 AA&CC ................... 43, 44, 45 ácido cianúrico ...........187, 188 absorbância ..........................79 ácido cinâmico............157, 259 absorvedores255, 259 ácido crômico .....................164 257, 258, açafrão.......... 12, 126, 263, 267 acetal .......................... 151, 274 acetanilida ..........................163 acetato de alumínio ............182 Acetato de celulose ..............53 acetato de sódio..................178 acetilnaftilaminas ...............132 acetoarsenito ......................223 acetol ..................................147 Acid Black 1 ......................131 ácido de Caro .....................156 68, 69, 76, 132, 158, 178, 179, 183, 184, 204, 205, Acoplamento azo ............... 172 acoplamento C ................... 179 ácido de Lewis ..............99, 169 acoplamento N................... 178 ácido fórmico......................186 acridina ...................... 127, 156 ácido G ...............................180 ácido gálico ........................166 ácido H ...............180, 182, 184 acriflavina .......................... 127 acrilamida .......................... 280 acrilato ............................... 240 ácido I.........................180, 187 acrílicos ..................... 235, 239 ácido nítrico..........15, 163, 240 agente nitrosilante.............. 172 ácido nitroso .......................173 ácido R ...............................180 Acid black 194 .....................72 ácido sulfúrico concentrado.32, 147, 164, 166, 279 Acid blue 20 .........................27 ácido sulfuroso ...................176 Acid Orange 10 ..................131 acilação...............................141 Acid Red 66 .......................131 ACNA........................61, 65, 69 Acid Red 88 .........................41 acoplamento37, 39, 117, 123, 131, 162, 176, 177, 180, 181, 182, 185, 186, 187, 228, 337, 338 Agfa ............................. 26, 204 aglicon ............................... 274 aglomerados....................... 215 aglutinantes................ 216, 229 Aglutinantes....................... 211 agregados............215, 277, 312 água tônica........................... 19 331 A. Isenmann CORANTES águas residuais ...................144 amargo..................19, 277, 279 antocianinas ........263, 269, 274 Ajax Aniline Dye Manufacturing.................53 American Aniline Works.......43 Antocianinas207, 274 261, 265, alaranjado de metila .............39 American Color & Chemical Co ....................................45 Albany Aniline & Chemical Company .........................43 American Cyanamid61, 137, 340 alcatrão14, 17, 18, 19, 21, 23, 25, 26, 29, 31, 32, 34, 44, 46, 51, 52, 59, 136, 145, 154, 337 amideto ...............................164 Alcian Blue 8GX................133 aminoanthraquinona ...........136 alergênicos .........................121 aminoantraquinona .....137, 166 alergias ...............................124 aminoazo ............................178 alérgicas .............................263 Aminoazo ...........................172 Alexandre Magno....... 168, 334 aminobenzaldeído...............169 Algol........................... 136, 166 aminoclorotriazina..............194 Aliados ................... 58, 63, 165 aminofluorotriazina ............194 appearance ......................... 282 alilcátion...............................91 aminorresina .......................238 arco-iris.............................. 123 alizarina12, 13, 14, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 45, 46, 47, 49, 52, 124, 127, 154, 155, 156, 222, 265, 338 aminotriarilmetanos............129 alizarina pura........................33 Anato ..................................268 Alliance Colour ....................53 anfifílico .............................210 Armstrong ............................ 40 Allied Chemical...... 51, 67, 137 anfotérico............................181 Arnold Hoffman ................... 66 Allied Chemical & Dye Corporation............. 51, 137 anidrido do ácido ftálico.....163 67, amidina ...............................187 aminas blindadas ................256 Ammonia Caramel..............278 analgésicos .........................163 alquídica............. 237, 238, 239 anidrido ftálico47, 52, 56, 136, 140, 237, 239 Althouse................................66 Anidrido ftálico ....................34 alúmen.... 11, 16, 124, 125, 182 anil sintético10, 15, 46, 47, 48, 49, 50, 154, 156, 159, 161, 164, 165, 166, 168, 171 alura ...................................270 Alzheimer ..................... 72, 338 Amadori..............................279 Amar.....................................65 Amaranth............................265 amarelamento ..... 233, 237, 254 Amarelo 2...........................141 Amarelo crepúsculo264, 268 265, amarelo da Índia.................222 Amarelo da Índia 212, 215, 226 Aniline & Chemical Works...51 Antocianos......................... 269 antraceno18, 19, 29, 31, 32, 52, 108, 109, 127, 136, 155, 166, 177 antranílico .................. 155, 161 antrapurpurina...................... 34 antraquinona28, 29, 30, 32, 33, 47, 49, 55, 60, 67, 136, 137, 139, 140, 141, 143, 144, 166, 170, 263, 339 antraquinonas63, 71, 125, 128, 148 antrimidocarbazol .............. 142 Anyl Mex.............................. 64 arco-íris.............................. 196 argilas ................................ 222 Arilação ............................. 175 arilmetano .......................... 128 aromaticidade .........29, 91, 102 arranjo de diodos ............... 294 arsênico.............................. 137 Arthur Green ................. 41, 54 asparagina .......................... 280 associação tripartite ............. 48 anisidina .............................162 Atlantic Chemical Corporation ........................................ 65 anisol ..........................174, 177 Atlantic Industries ............... 67 Anopheles .............................19 atomização................... 71, 144 anti-corrosiva......................242 Atul Products ....................... 65 anti-espumantes..................242 Augusto.............................. 168 Antifebrin ...........................163 auramina ............................ 128 antioxidante158, 253, 254, 255, 256, 257, 259, 262, 268 auripigmento...................... 148 amarelo de cádmio .............224 antioxidantes250, 254 251, 253, amarelo de cobalto .............224 antiséptico ............................35 Amarelo de Londres .............37 antocianidinas.....................274 Aussiger Verein ................... 61 automatização ............ 249, 281 auto-oxidação173, 243, 250, 251, 252, 253, 255, 256, 332 azinas ......................... 133, 134 332 A. Isenmann CORANTES azobenzeno..... 84, 86, 182, 341 Basic Red 5 ........................134 azometina ............. 82, 129, 204 Basic red 9..................118, 345 azometino ...........................204 Basic Red 9 ........................120 Azorrubina ................. 264, 265 Basic Yellow 1 ...................134 azossulfonato......................176 Basic Yellow 2 ...................128 azoxi...................................171 bastonetes ...100, 282, 283, 284 Azul Brilhante ....................130 bateladas.................21, 31, 243 Azul brilhante FCF264, 266 bática ..................123, 335, 337 265, azul Ceruleano....................213 azul da prússia....................154 azul da Prússia.... 213, 222, 241 azul de alizarina ...................27 Azul de fenol......................203 Azul de Indantreno .............136 azul de metileno ........... 26, 120 Azul de Metileno.. 72, 134, 338 Azul de naftol 6B ...............182 Azul de Thenard.................212 azul do Egito .............. 212, 213 Azul Durazol 8G ................133 Azul francês .......................215 azul marinho.......................215 Azul Patente ............... 264, 265 azurita......................... 212, 213 Azurita................................222 Badische Anilin und Soda Fabrik .................... 154, 156 Badische Anilin-& SodaFabrik..............................25 Baeyer10, 29, 34, 36, 37, 46, 155, 156, 157, 158, 159, 169, 171, 338 banho de gelo ............. 173, 185 Barrett ..................................51 Barrett Manufacturing .........51 BASF25, 26, 29, 35, 37, 39, 40, 42, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 63, 67, 71, 136, 154, 156, 161, 164, 165, 166, 168, 338, 341 Basic Blue 9 .......................120 Basic Orange 14 .................127 Batik Oetoro ...............197, 202 batocromia..........................184 batocrómico84, 85, 93, 94, 97, 108, 111, 114, 115, 259 Bayer25, 41, 43, 45, 47, 48, 50, 58, 63, 64, 69, 70, 72, 122, 136, 162, 163, 166 Becker...................................51 Begamasca ...........................61 Beilstein................................15 Belle Chemical .....................67 benzaldeído ..........46, 157, 158 benzantrona ........................143 benzazurina G.....................162 benzidina ....162, 180, 183, 184 benzimidazolonas .......226, 227 benzodifuranona...................71 benzofenona .......................114 Benzofenonas .............257, 259 benzoilaminoantraquinona .142 Benzol Products Company ...51 benzopurpurina.....................41 Benzotriazóis......................257 benzpireno ..........................177 betanina ..............263, 265, 266 Biebrich48, 131, 165, 338, 343, 345, 346, 350 biodegradação.................... 206 BIOS.....................62, 139, 146 birradical............................ 251 bisazo131, 132, 226, 227, 228, 272, 273 bisfenol A .......................... 238 bismuto .......218, 219, 221, 312 bisuretano .......................... 233 Blancofor ........................... 233 blindada ............................. 260 bloqueadores...................... 242 Blue Jeans.......................... 167 Bohn......47, 136, 164, 166, 339 Boltzmann ...................... 87, 88 bordeaux de alizarina........... 27 Bordeaux S ................ 264, 270 borras ................................. 145 Bott ...................................... 43 Böttiger...................... 183, 338 Bown BR........................... 140 Bradford Dyers Association 49 branqueadores.................... 289 branqueamento13, 141, 336, 337 Brasil62, 64, 66, 205, 208, 235, 264, 265, 277, 335 brasilina ............................... 16 Bray ..................................... 66 brilho123, 137, 230, 236, 241, 254, 257, 285, 296, 337, 338 Brilliant Red SBB ................ 70 Betanina......................266, 269 British Alizarine34, 48, 52, 54, 60 betanoína ............................263 British Dyes ......................... 49 beterraba125, 263, 265, 266, 269 British Dyestuff Corporation 52 Beterraba ............................207 BHA ...........................261, 262 BHT............................261, 262 Bianchi .................................61 British Dyestuffs Corporation .................................. 56, 58 British Dyewood Chemical Company......................... 15 bromo-2-nitrobenzaldeído . 158 Brooke Simpson & Spiller ... 41 Basic Red 2 ........................134 333 A. Isenmann CORANTES Brotherton ............................49 Carrigg ...............................187 CIE Lab 92 ........................ 301 Buffalo Color ......... 67, 71, 168 Cartéis ..................................59 cinabre ................215, 222, 224 Bunsen............ 26, 29, 155, 156 cartel.......41, 59, 60, 61, 62, 65 Burch..................................187 carvalho ..........11, 13, 149, 336 Cincinnati Chemical Works 60, 61 Bureau for Aniline Manufacture ....................60 Casella................................169 Burt Boulton & Heywood.....34 cabazol ...............................141 cádmio 215, 218, 219, 223, 224 Caesalpinia ........................205 Calco ...................... 50, 61, 137 Caledon ............ 53, 66, 70, 229 Calsolene............................198 campeche 16, 50, 207, 301, 336 câncer ................. 163, 254, 263 cancerígena ........................229 cancerígenas .......................123 cânhamo .............................195 canhão ........................ 248, 337 Cantaxantina ......................269 Capsantina..........................268 caput...................................222 caracol ................................158 Caramel Plain ....................278 Cassella ............48, 61, 63, 339 Castelhaz ..............................21 Caustic Sulfite Caramel......278 cebola .................................125 Celanese .......................53, 339 Celestina .............................134 Celestino.............................124 células fotovoltáicas ...........214 celulose impregnada ...181, 182 Central Corante & Chemical Co ....................................45 Centrale des Matières Colorantes .......................61 Century Colors Corporation 51 cérebro............................9, 282 Cerúleo ...............................222 charge transfer complex .......76 Chemical Foundation Incorporated ....................51 chemical resist ....................198 caramelização277, 278, 279, 280 Chimica Industrial Espanola62 Caramelo .................... 265, 272 chita12, 14, 21, 49, 156, 336, 337 Carbantreno .......................137 carbazol ........................ 32, 139 cardeais ...................... 213, 335 Clavel................................... 26 Clayton Aniline...41, 42, 59, 60 Clayton Aniline Co .............. 41 Clayton Aniline Company.... 42 Clemm.......................... 25, 156 Cleópatra........................... 168 cloreto de anilínio .............. 173 cloreto de fósforo............... 185 cloroantraquinona ...... 140, 142 clorobenzeno................ 18, 144 clorodifluoropirimidina ..... 194 clorofila ................56, 263, 265 Clorofila......207, 265, 271, 272 CMC .................................. 301 CMYK ............................... 303 coadjuvante........................ 193 coagulação ......................... 278 CoAl2O4 ............................. 222 cobalto212, 213, 220, 222, 223, 224 cobre24, 42, 56, 141, 144, 167, 175, 212, 213, 214, 222, 223, 229, 230, 340 cobre em pó ....................... 175 Chroma ...............................298 Coccus ............................... 126 Chromatic Adaptation ........306 cochonilha12, 13, 125, 213, 214, 222, 270, 335, 336, 338 Carey Industries...................68 chumbo212, 213, 219, 220, 222, 224, 225, 241, 256, 263 carmesim ............................126 cianeto ................................164 coil coating ........................ 219 carmim . 12, 125, 210, 213, 214 cianidina .....................265, 275 Colorau .............................. 268 Carmim .............. 213, 266, 270 cianúrico .......................68, 188 carmínico...................... 14, 265 Ciba26, 42, 47, 49, 56, 60, 61, 62, 63, 65, 67, 68, 70, 122, 139, 144, 340 colorimetria282, 283, 289, 290, 292 Caro24, 26, 29, 30, 34, 35, 36, 37, 46, 72, 73, 135, 156, 182, 338, 340, 341 caroteno100, 254, 261, 265, 269 carotenóides ............... 263, 268 Carotenos ...........................268 Cibacron68, 122, 193, 194, 197, 198, 199, 340 Cibanone castanho.............139 CIE284, 285, 286, 289, 290, 291, 292, 293, 295, 296, 297, 298, 299, 300, 301, 302 Cochonilha............12, 207, 265 colorímetro .........288, 294, 295 colorímetros............... 232, 294 Coloriska ............................. 62 colorista ..........12, 24, 229, 308 Colorom............................... 62 Colorquim............................ 64 334 A. Isenmann CORANTES Colour Index56, 72, 118, 119, 120, 122, 123, 125, 126, 127, 138, 196, 226, 310, 312, 342 corantes de cuba47, 49, 67, 71, 121, 123, 125, 136, 137, 138, 139, 144, 145, 148, 170, 339 Dale Roberts & Co .............. 25 commodity .........................139 Corantes de cuba121, 136, 138, 144, 311 Dawson .......................... 40, 44 Compagnie Française de Produits Chimiques .........56 Compagnie Nationale de Matières Colorantes ........61 Compagnie Nationale des Matières Colorantes ........50 Compagnie Nationale des Produits Matières Colorantes .......................56 corantes de dispersão54, 70, 186 55, corantes de enxofre50, 52, 60, 61, 63, 65 Dan Dawson & Sons ........... 44 Davidov ............................... 92 DDT............................... 36, 37 degeneração ................. 88, 103 degradação de Hofmann ...... 18 Degussa ............................. 164 corantes de gelo ..................184 Denim ................................ 167 corantes diretos63, 120, 121, 193, 200 Depoully ........................ 15, 21 corantes funcionais ...............72 descoramento ............. 254, 337 corantes lipocrómicos.........132 desdobramento92, 105, 108, 116 Corantes Pak ........................64 determinante relativa ......... 308 corantes para fins gerais .....193 diagrama de Jablonski ... 76, 78 completagem .............. 243, 244 corantes rapidogênios .........185 diaminoantraquinona ......... 140 cones .................. 282, 283, 284 corantes reativos55, 121, 123, 144, 193, 195, 196, 199, 200, 201, 339, 340 diaminobenzeno182, 184, 203, 341 Companhia comercial indooriental...........................153 Companhia de Productos Industriais .......................62 conjugação83, 91, 92, 93, 94, 95, 97, 110, 111, 112, 115, 116, 254 conservantes ............... 208, 253 constante de absorção.........307 Constitution Number .. 312, 313 contraste simultâneo...........216 Convenção da Alizarina34, 45, 47 Convenção da benzopurpurina .........................................41 convergente ................ 139, 144 cor aparente..........................83 cor complementar. 83, 233, 296 cor garantida.........................84 cor-alvo ..............................216 corante corrosivo................152 corante de cuba31, 53, 136, 139, 142, 144, 151, 170, 339 corante diabólico ................153 corante direto.............. 120, 338 corante triazo......................184 corantes ácidos30, 52, 84, 118, 119, 120, 123, 125, 131, 132, 144, 181, 195, 201, 202 corantes de acetato ...............55 68, 69, 70, 187, 192, 197, 198, 202, 338, 94, 103, diaminonaftóis ..................... 42 diarilmetanos ............. 128, 129 corantes substantivos120, 123, 162, 228 diazo37, 131, 160, 171, 180, 181, 182, 183, 186, 344 Corporação dos Corantes Britânicos ........................50 diazoamino .........178, 185, 186 corrosão ................24, 193, 243 Diazoamino........................ 172 cozinha de veneno ..............159 diazotamento24, 162, 172, 173, 177, 178, 228, 341 cremes faciais .....................254 Diazotamento..................... 172 Crisofenina G .....................228 diazotatos........................... 177 crisoidina ......................37, 182 dibenzantrona .................... 143 Crisoidina .....................38, 338 Dibenzantrona.................... 143 cristal líquido......................231 dibenzoilnaftaleno ............. 141 Crocus sativus ....................126 dibenzopirenoquinona ....... 141 cromatos .............164, 218, 241 diceto-pirrolo-pirol ............ 214 cromoxana ..........................124 diceto-pirrolo-pirrol........... 229 Cromoxano .........................131 dicloroantraceno ............ 32, 34 Crompton & Knowles.....67, 70 dicloroquinoxalina ............. 194 Cúrcuma .............................207 diclorotriazina68, 194, 196, 202 curcumina ...................263, 264 Curcumina ..................265, 267 curtume...............................182 CVD ...................................231 D65.....211, 289, 290, 291, 298 122, 188, dicromato de potássio20, 124 32, difuso ................................. 293 Dighton................................ 66 dihidrofuranonas................ 279 335 A. Isenmann CORANTES fast40, 57, 342, 343, 345, 346, 347, 348, 349, 350, 351 diimina ....................... 203, 204 El-Fetouh Ameen..................54 dimetilamino benzonitrila ..107 Emil Fischer .........................36 DIN .................... 217, 234, 308 endiol..........................158, 260 dioxazinas ..........................229 energia térmica .....................87 dióxido de enxofre ...............47 enonas.........................111, 113 dioxinas ..............................145 envelhecimento...219, 253, 254 Direct Red 10 .....................120 eosina........................34, 35, 45 Direct Red 28 .....................120 epicloridina.........................238 Direct Red 80 ............. 120, 132 epóxi...236, 237, 238, 239, 248 Disperse blue 79...................72 era glacial ...........................212 Dispersol D ..........................70 Erie Granada.......................120 Dispersol-T ..........................70 Eritrosina ............264, 265, 270 fenilglicina47, 49, 160, 163, 164, 165 dissipação ..... 89, 248, 255, 256 escarlate..............125, 126, 335 fenilidrazina....................... 176 dissipado ............................287 escorbuto ............................260 ditionita136, 148, 154, 170, 171 esfera de Ulbricht .......293, 294 fenóis29, 34, 132, 174, 177, 179, 180, 259, 277 Dow ................................ 50, 61 esmalte de unha ..................240 Fast Red AV ........................ 40 Fast Yellow.......................... 47 FDA ........................... 232, 264 Federal Dyestuff Corporation ........................................ 51 fenantreno .......................... 109 fenícios .................13, 168, 207 fenilaminoacetonitrila........ 165 fenilcátion .......................... 174 fenolftaleína..........35, 116, 129 fenômeno da conjugação ..... 91 DPP ....................................214 esmaltes209, 235, 236, 237, 239, 241 Dreibund ........................ 48, 49 espaço de cor ......................306 fenóxido..................... 116, 177 Dreyfus.................................42 espalhamento9, 21, 73, 78, 217, 241, 255, 256, 307 fenóxidos ........................... 177 Drimarene193, 194, 197, 198, 199, 200 Du Pont51, 52, 58, 60, 61, 64, 67 espectro UV-VIS80, 109 86, 89, espectrofotômetro...............307 fenotiazinas.......................... 26 férrico .........213, 223, 224, 225 Fiat............................... 62, 139 fiber reactive dyes.............. 193 fibras sintéticas53, 54, 55, 67, 70, 121, 334, 340 DuPont ............... 137, 339, 340 espinelo inverso..................225 Durand ..................... 42, 60, 62 espinelos .............................218 Dylon.......................... 196, 197 estabilizantes ..............253, 254 Dystar.................................198 estado singleto ..74, 75, 76, 114 E 100 .......................... 264, 267 estado tripleto .......................75 E 130 ....................................31 estanho 182, 224, 243, 256, 336 E 150 ..................................272 estilbeno .......................99, 228 fixação11, 15, 21, 40, 53, 68, 84, 89, 92, 100, 117, 119, 120, 122, 123, 124, 125, 181, 187, 188, 192, 193, 196, 200, 203, 208, 251, 337 E 163 .......................... 269, 274 estireno ...............239, 240, 246 flash de xenônio................. 294 E 180 .......................... 264, 269 Everlight Chemical...............70 flavantrona........................... 47 Edison ..................................65 explosão........34, 136, 252, 253 Flavantrona .......................... 48 efeito batochrómico............124 explosivos.........49, 50, 68, 173 flavonas ............................... 12 efeito indutivo .............. 95, 110 explosões isotérmicas .........253 flavonóides ...12, 274, 276, 277 efeito mesomérico ................95 extinção79, 82, 86, 87, 147, 148, 253 flexografia ......................... 249 extrusora.............................248 flip-flop.............................. 230 Fabricacion Nacional...........62 floculação .................. 278, 312 efeito metálico.... 230, 232, 234 efeitos colaterais......... 163, 263 efluentes ............. 144, 192, 206 Ehrlich..................................72 eletrófilo ..... 169, 172, 174, 177 Fabricolor ......................67, 68 Farbstofftabellen ..................56 Fieser................................. 100 Fischer..........36, 203, 222, 338 Flexografia........................... 17 flop......................230, 231, 232 Florença ....................... 11, 335 336 A. Isenmann CORANTES flúor....................................175 GAF ..........................58, 61, 67 halocromia ........................... 85 fluoreno ..............................177 Galamina azul.....................134 HALS......................... 243, 256 Fluorenos............................135 Galatos................................262 Hamers ................................ 62 fluoresceína .......... 34, 155, 270 Galocianina ........................134 Han ............................ 222, 223 fluorescência76, 88, 89, 107, 209, 233 gama30, 43, 55, 66, 132, 211, 212, 265, 305, 306, 340 Han Purple ......................... 223 fluorescente 128, 129, 233, 289 garança12, 13, 15, 334, 335, 338 fluorescentes127, 289, 290 211, 233, Garança ................................12 força do oscilador........... 74, 86 gás carbônico......................150 forças de Coulomb .............119 Geigy26, 42, 49, 60, 62, 63, 65, 67, 70, 160, 339, 340 formaldeído18, 93, 94, 155, 174, 339 harmônico .......................... 100 Harshaw Chemical .............. 67 Helio Fast Rubim BBL ...... 128 Heliogen .............................. 57 Heller & Merz...........45, 50, 61 Helmholtz................... 282, 283 General Aniline ....58, 137, 146 hemateína..................... 16, 126 fornecedores de elétrons.....177 General Aniline & Film........58 Hemateína.................... 16, 124 Fosfanil ................................66 General Chemical ................51 hematita ..................... 218, 222 fosforescência....... 76, 209, 233 Generic Name310, 311, 312, 313, 341 hematoxilina .........16, 124, 127 Fosforescência......................77 fotografia colorida82, 202, 203, 204 Gênova .................................11 Gewerbe Institut ...................29 Hena..................................... 12 Hendrick .............................. 43 Hepp .................................. 163 fóvea........................... 282, 291 Girard...........................22, 340 Franck-Condon ....................90 Gley ....................................269 Francolor ....................... 62, 66 glicose ..36, 151, 272, 274, 280 Friedel-Crafts............. 136, 141 glioxal.............................93, 94 Heumann10, 46, 160, 161, 163, 164, 165, 166, 171 Friedländer ........ 165, 169, 339 Gomberg.............................175 Hexaceno ........................... 109 Friedrich Hoffmann .............43 gonda ............................12, 335 hexacianoferrato ........ 203, 213 frita azul .............................213 goniocromático...................232 Hickson ................................ 52 Fritsche ................................17 Gräbe............................29, 155 hidrazo ............................... 162 ftaleínas ............ 34, 35, 46, 155 Graebe..29, 30, 32, 33, 45, 338 hidrazona ........................... 179 ftalimida ...............................56 granulometria .............210, 241 hidroperóxido .................... 252 ftalocianina57, 70, 214, 215, 222, 229, 271, 311 Grasselli Chemical ...............50 hidroperóxidos................... 253 Gray´s Dyes..........................52 hidroquinona...................... 166 hidrossulfito........136, 154, 339 fúcsia ............................ 22, 337 Green21, 32, 34, 41, 42, 53, 55, 138, 143, 208, 264, 303, 311 Fúcsia.................................202 Griess ...............19, 24, 37, 337 hidroxiacetona ........... 147, 170 fucsina22, 23, 118, 129, 263, 337 grupo auxocrómico84, 93, 94, 97, 101 Hidroxianisol ..................... 262 Fucsina ................... 22, 35, 130 grupo azo 28, 82, 132, 202, 226 higroscopia ........................ 279 fucsina ácida................. 22, 118 grupo carbonila76, 110, 111, 114, 116, 251 hiperconjugação............. 95, 96 ftalocianinas53, 57, 63, 66, 72, 133, 229, 241 fugitivos .............................209 fuligem ............... 154, 218, 309 Fundos................................236 furanos................................177 grupo cromóforo...................82 grupo nitro ..132, 133, 159, 162 grupos cromóforos84, 152, 286 126, heterobifuncionais ............... 69 heteróciclo ......................... 196 hidrossulfito de sódio......... 136 hidroxietilsulfonas ............. 122 hipercrómico........................ 93 hipocloreto......................... 141 hipsocrómico ........85, 114, 115 hipsocrômico ............. 110, 169 337 A. Isenmann CORANTES histológica ..........................120 indantreno...............47, 58, 166 Intracron.............................. 70 Hoechst25, 29, 46, 47, 48, 49, 50, 63, 64, 68, 69, 122, 161, 164 Indantreno ............31, 166, 167 íon metálico 120, 123, 133, 210 Indantreno Azul RS ..............31 ionominas ............................ 55 indantrenos ...........30, 166, 229 isatano................................ 151 indantrona.............................49 isatina..........155, 156, 157, 167 Indantrona Azul RS ..............47 Isatis ...................148, 149, 151 indeno .................................177 Isatis tinctoria............ 148, 149 HOMO74, 82, 86, 97, 98, 108, 110, 132, 256 Indian Dyestuffs....................65 ISO......................216, 217, 302 Indian Yellow.....................215 isoindolinas........................ 229 homoconjugação ..................92 indicador26, 35, 72, 85, 116, 124, 127, 154, 184, 271, 276 isopurpurina......................... 34 Hofmann17, 18, 19, 21, 22, 23, 24, 25, 31, 35, 39, 43, 56, 129, 337, 341 Holliday25, 40, 43, 49, 52, 60, 63, 66, 338 homogeneização244, 248, 249, 278 Höpfner ..............................222 Hückel .... 91, 95, 102, 108, 132 Hudson River Aniline ...........45 indicador ácido-base85, 271 116, indicadores .................121, 129 índice de refração .......220, 231 hue.............................. 215, 305 Índigo ML&B .....................165 Hue..................... 215, 298, 306 Indigo rein BASF................161 Hue Vermilion....................215 Huguenin.................. 42, 60, 62 Hunter ........................ 285, 298 ICC.....................................306 ICI23, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 168, 187, 339, 340 ICT .....................................107 IG Farben57, 58, 60, 61, 62, 63, 68, 139, 146, 165 indigocarmim .....................271 indigocarmin.......................147 Indigofera tinctoria150, 207 205, indigóides .............63, 165, 169 indigorubi ...........................152 indigotina......................14, 152 Indigotina ...147, 264, 265, 271 indirubina .............................14 indoanilina..........202, 203, 204 iluminação14, 38, 233, 282, 284, 285, 286, 287, 288, 289, 290, 292, 293, 294, 304, 306, 308 indofenóis ...........................133 iluminante288, 289, 290, 294, 303, 308, 309 indoxil ........150, 151, 158, 164 imidazol..............................132 imidoéster...........................188 Industria Nazionale Colori di Anilina .............................50 impedimento de simetria ......75 inferno de anilina................159 impedimento de sobreposição .........................................76 influenza .............................163 Imperial Chemical Industries .........................................56 inibidores....................252, 253 impressoras ........................209 incrementos 100, 101, 102, 112 indaminas ...........................133 indofenol ....................202, 203 indol............132, 155, 156, 157 indulina.................................26 Ingrain Blue 1.....................133 INS .............................264, 267 interferência........230, 231, 232 internal conversion ...............76 intersystem crossing .............76 isotrópico ............................. 78 Jablonski ...................... 77, 233 Jade ............................. 53, 143 Jahn-Teller ........................ 107 James Robinson ................... 52 Japan Tar Industries............ 64 Japanese Dyestuff Manufacturing ................ 52 Japanese Dyestuffs ........ 61, 64 Java.....................150, 153, 154 jeans 10, 68, 121, 167, 168, 171 Judd ................................... 298 Julius ........................... 56, 149 juntura................................ 210 Kahn .................................. 163 Kalle .....................48, 163, 165 Karst .................................... 55 Kasha ............................. 81, 82 Kayacelon .......................... 194 Keith .................................... 21 Kekulé...............26, 29, 37, 155 Kermes11, 12, 125, 335, 348, 349 Kern ..................................... 42 Kerria Lacca...................... 125 Knietsch ............................... 47 Knoevenagel ...................... 276 Kolbe ........................... 24, 341 Kuhlmann56, 60, 61, 65, 66, 71 Küpenfarbstoffe ................. 136 Kyung-In.............................. 70 338 A. Isenmann CORANTES La Fucsine...................... 26, 30 luminescentes .............215, 233 mercaptanos................. 95, 259 laca28, 123, 125, 126, 226, 269 luminosidade233, 282, 295, 300, 301, 302, 303, 305 mercerizado ....................... 202 lacaínicos............................125 lacas ........... 216, 226, 236, 240 lactona ................................116 Laire............................. 22, 340 Lambert-Beer ............... 79, 257 Lanaset............... 193, 201, 202 LUMO74, 82, 86, 97, 98, 108, 132, 256 Lustron .................................53 Luteína................................269 Luxol Fast Blue ..................133 luz especular.......................292 mercúrio47, 137, 142, 144, 164, 166, 215, 224, 263 merocianinas........................ 93 Mersey Chemical Works ...... 48 metabolismo ...................... 263 metalografia....................... 249 luz monocromática ...............79 metameria290, 306, 307, 308, 309 maceração...........................151 metilantraquinona .............. 137 macerar ...............................181 metilenos duplo-ativados ... 179 metoxiacetofenona............. 276 Lauth ...... 24, 26, 337, 338, 348 magenta23, 25, 26, 36, 43, 45, 129, 222, 269, 303, 337, 340, 341, 343 lawsona ................................14 Magnetita............................225 lei RCRA............................145 Maillard......................279, 280 leis de Grassmann ..............282 malaquita 36, 37, 212, 213, 222 Leitch....................................52 maltol..................................279 Lesser ............................. 43, 45 malva ....................................21 leuco36, 117, 121, 136, 147, 152, 170, 171, 226, 251 Manchester´s Claus..............50 lapis lazuli..........................213 lapis lázuli..........................148 Laske ..................................185 látex220, 235, 236, 239, 240, 241, 242, 243, 246, 247 Levafix.. 69, 122, 194, 198, 199 Levantine..............................21 Levinstein23, 25, 40, 41, 48, 49, 50, 51, 52, 54, 66, 71 Licopeno ............................268 Liebermann29, 30, 33, 45, 155, 338 Mao ....................................167 mapeamento de gama .........306 Marco Polo.........................150 Marking blue ......................223 marrom de Bismarck ............39 Marrom de Bismarck ....26, 313 marrom de enxofre ...............44 Liebig ......... 14, 17, 24, 25, 155 Marrom FK.........................273 Lightfoot......... 24, 26, 337, 341 Marrom HT ........................273 Lightness ............................306 Martius25, 26, 35, 39, 133, 337, 341, 342, 343, 348 limonita ..............................225 linhaça ................ 219, 237, 254 liocel...................................195 lipócromos..........................122 líquenes .......... 13, 20, 335, 336 líquido-cristalinos.................72 litografia .............................249 Lombarda.............................61 Longworth Bill.....................52 lote ............... 21, 245, 249, 250 luminescência.....................209 mascarada ...........................198 masterbatches .....................216 May.......................................67 McAdams....................297, 298 MDF ...................................237 MDI ....................................239 medicina35, 124, 150, 154, 338 Meister Lucius & Brüning.161, 164 Meister Lucius & Co ............25 melamínica .................237, 238 metoxianilina ..................... 162 México63, 64, 71, 153, 214, 335 Meyer......................... 156, 160 mica ....................231, 234, 241 Michael...................... 117, 190 micronizador...................... 248 microondas ...........77, 198, 200 Microperle ........................... 71 Mitscherlich......................... 17 Mitsubishi ...........61, 64, 65, 70 Mitsui..........52, 61, 64, 71, 168 moagem ......149, 244, 245, 249 Moffat .................................. 43 Moisés................................ 168 molibdato........................... 219 molibdatos ................. 218, 243 molusco ..................... 168, 335 moluscos .............168, 169, 212 momento de transição .......... 74 Monastral ...................... 56, 57 monoazo .................... 131, 226 monoclorotriazina68, 70, 122, 194 Montecatani................... 61, 65 Montecatani Aziende Colori 61 Montedison Group............... 65 Mordant Blue 10................ 134 Mordant Blue 14........ 124, 134 339 A. Isenmann CORANTES Mordant Blue 3 ..................124 Negro brilhante NB ............272 Mordant Blue 32 ................127 negro de alizarina .................27 Mordant Blue 45 ................134 negro de anilina24, 25, 26, 42, 43, 44 Mordant Red 11 ......... 127, 222 Mordant Red 3 ........... 124, 127 mordaz.. 11, 124, 126, 127, 263 mordente11, 16, 21, 41, 118, 120, 123, 124, 125, 126, 182, 185, 210, 226, 337, 338 Mordente ............................127 mordentes11, 12, 52, 123, 124, 125, 182 morfologia........................9, 73 Morris ..................................10 Morton...................... 49, 54, 66 Müller....................... 24, 26, 44 Müller-Pack ................... 24, 26 Mullikan...............................81 Munsell....................... 301, 305 murex....................................13 Murex ................. 168, 207, 335 murexida .................. 14, 15, 20 Murexida ..............................15 NACCO .......................... 51, 61 N-acilaminas ......................132 Nacional Aniline .......... 51, 137 naftaleno18, 19, 24, 29, 34, 38, 39, 47, 50, 64, 108, 136, 141, 144, 166, 177 observadores padrões284, 286, 288, 291 ocra .................................... 222 Ocras.................................. 212 Negro de anilina ...................43 Oeconomides ....................... 62 negro de fumo.....220, 241, 256 Oehler.................................. 24 Negro Direto.........44, 338, 339 off-set................................. 249 Negro direto E ....................184 olho humano normal.......... 282 Negro Direto E ...................184 olho normal........................ 284 Negro do Sudã B ................122 ombro........................... 92, 105 Negro Erie GXOO................44 One pot reaction ................ 178 Negros de enxofre ..........52, 62 opacidade212, 219, 220, 229, 306 Neon ...................................233 Nero....................................168 Nicholson..21, 22, 23, 340, 341 Nippon Kagaku.....................70 Nippon Senryo Seizo Kabushiki Kaisha..............................52 Nitração ........................14, 241 nitrato da celulose...............240 nitratos................................173 nitrito ............................24, 173 nitroanilina .........185, 229, 338 nitrobenzaldeído .................326 nitrobenzeno ...........17, 23, 144 nitrocelulose ...............237, 240 nitrofenol ....106, 107, 162, 163 operações unitárias10, 31, 161, 244 Opermento ......................... 224 Organic Chemical ............... 68 orpimento........................... 224 Ostacolor ............................. 68 Otto Fischer......................... 36 Oxalanilidas....................... 257 oxazinas ..................... 133, 134 óxido de ferro18, 218, 222, 224, 231, 241 220, Oxley Dyes........................... 52 Pabjanicer ........................... 61 Páprica ............................... 207 nitroprussiato........................37 pararosanilina118, 120, 129, 130 naftazarina............................38 nitrosil ........................172, 173 pararosanina....................... 129 naftilaminas........................180 Nobel ............................36, 155 Para-vermelho.................... 185 naftóis................. 132, 180, 213 Nogueira ...............................12 Pardo 1............................... 144 naftol123, 132, 162, 182, 204, 226, 338, 341 norbornadieno.......................92 pastel11, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 155, 334, 335 Naftol AS ... 123, 174, 184, 185 naftotiona ...........................183 NaNO2 ................................178 Napoleão .............. 13, 153, 337 Natural Black 1 .... 16, 124, 126 Natural Red 25 ........... 125, 126 Natural Red 3 .....................125 Natural Red 4 .....................125 Natural Yellow 6 ................126 nucleófugos ........................188 número de ondas...........87, 281 Nylomine ..............................70 Oakes & Rathbone ...............43 Obrien ..................................13 observador230, 281, 282, 285, 286, 287, 288, 289, 290, 291, 292, 294, 298, 304, 308 observador padrão285, 291, 292, 298 287, Pasteur............................... 154 pau-brasil11, 12, 15, 16, 50, 205, 335 Pauli .............................. 87, 88 PbCO3 .........212, 213, 222, 225 PbCrO4....................... 221, 222 PCUK .................................. 66 Pechiney .............................. 65 películas............................. 245 340 A. Isenmann CORANTES 197, 198, 199, 200, 201, 202, 338, 339, 340 Pellicier................................50 Platt ......................................81 Pelouze........................... 22, 37 pó fino ................................210 Pentaceno ...........................108 Pointer..................................50 peptização ..........................312 Poirrier.....................25, 38, 66 Pequena IG Farben...............48 polarons ................................99 percloratos..........................173 poli-acetileno ........................98 perilenos..................... 229, 241 poli-anilina ...........................98 Perkin11, 16, 18, 19, 20, 21, 23, 24, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 54, 66, 68, 72, 337, 338, 340, 350 polienos ..............92, 93, 94, 98 prova ao processo de lavagem ...................................... 123 poliéster70, 71, 121, 234, 237, 239, 248, 339, 340 pseudo-halogênio............... 173 Permafix...............................69 perolizantes ................ 231, 232 Pfleger................ 160, 164, 171 Phenacetina ........................163 pico Z .................................100 pícrico .... 14, 15, 133, 337, 341 Piemontese Colori................61 Pigment Red 83..................127 Pigment Violet 15 ..............223 poliisocianatos............239, 240 polimetinos .....................92, 98 poliolefinos...........................92 poli-p-fenileno ......................98 poli-pirrol .............................98 poli-tiofeno ...........................98 poliuretânicos .............236, 239 poliuretano..........................121 Polygonum..........................151 Pigment Violet 19 ........ 28, 313 Ponceau264, 265, 266, 270, 343, 345, 346, 350 pigmento branco211, 212, 220, 255 Ponsol.................................137 pigmento colorido ..............211 pigmento de brilho .............230 Pigmento Red 1..................213 Pigmento Red 122................28 Pigmentos de efeito ............241 Pigmentos inorgânicos .......241 Pigmentos orgânicos225, 226, 229, 241 ponte iônica ........................120 porcelana ............................219 porfirinas ..............................98 potencial de Morse ...............90 precipitação ........................186 Preiss....................................45 prensa quente......................121 pré-preparados....................216 pigmentos policíclicos 226, 229 preto de marfim ..................221 ping-pong ...........................240 primer .................................246 piolhos................................125 primers........................236, 239 pirazol ................................187 primulina ........................42, 55 pirazolona...........................179 Primulina ........................41, 42 pirrogalol............................166 problemas de triagem .........162 pirróis .................................177 processo de contato ..............47 pKa ......................... 15, 84, 177 Prochazka.............................45 placas de trânsito ................233 Procinyl ................................69 Planck ........................ 281, 289 Procion57, 68, 69, 70, 119, 122, 187, 193, 194, 196, plaquinhas .......... 230, 231, 234 Procion Amarelo R .............. 68 Procion azul 3G................... 68 Procion brilliant GS ........... 187 Procion Brilliant Red........... 68 Procion MX ..70, 197, 198, 199 Pullar................................... 21 Pullars of Perth ................... 20 purple line.......................... 296 púrpura20, 83, 158, 168, 169, 204, 207, 213, 222, 334, 335 purpura aperta................... 169 purpura lapillus ................. 169 purpurato de amônio............ 15 purpurina ................13, 14, 154 purpurita ............................ 223 PVD ................................... 231 Pyosa ............................. 64, 71 quenching ............................ 78 quercitron..................... 13, 336 quinacridona .......214, 222, 241 quinazirina ......................... 140 quinina ..........18, 19, 20, 21, 29 quinóide22, 28, 31, 116, 127, 129, 132, 202, 203, 260 quinolina ............................ 169 Quinolina ................... 267, 312 quinonas......115, 116, 243, 259 quinoniminas ..................... 133 radioativos ......................... 234 raio X................................. 157 raios de espúria .................. 212 Rathien................................. 47 Reação de Bohn-Schmidt ... 166 Reactive dye black 5............ 72 Read Holliday23, 41, 48, 49, 52 reagente de Saltzmann 322, 323 341 A. Isenmann rearranjo17, 162, 176, 178, 183, 279 rearranjo de Hofmann...........17 Reativo a frio......................123 Red BNPC ............................71 Red CBN...............................71 reduton ....................... 158, 260 CORANTES roseina ..................................23 Scottish Dyes ............49, 52, 53 Rosetti.............................11, 12 secador................141, 144, 145 rotação ................77, 78, 88, 89 Sehlbach .............................. 45 rotogravura .................249, 250 seleneto .............................. 224 Roussin .................................37 Semet-Solvay........................ 51 Rowe.....................................56 semicondutor ....................... 99 Royal College of Chemistry.19, 21, 24, 31 semicondutores .................... 72 reflexão73, 78, 211, 217, 230, 231, 232, 255, 287, 290, 292, 294, 303, 304, 307, 308, 309 rúbia......................................12 reflexão especular ...... 230, 232 rubiaceae ..............................14 regeneração ........................186 rubiadina...............................14 regra da alavanca................296 Rubi-litol ............................269 regra de Laporte ...................75 ruiva........11, 12, 154, 222, 338 rei dos corantes136, 163, 166, 167 Rumpff ..................................43 Rei dos corantes ........... 46, 147 Reichsmark ................ 164, 165 Remazol68, 69, 70, 122, 194, 197, 198, 199, 202 Renards ........ 22, 23, 25, 38, 43 reseda lutea ..........................12 Rubia Tinctorium................127 Runge............................17, 337 rutil .............................218, 309 Sabracron...................197, 201 sais de diazônio24, 95, 123, 132, 160, 172, 173, 174 sal de diamante ...................137 resíduos perigosos ...... 144, 145 sal de diazônio117, 172, 173, 174, 177, 178, 185, 186 Resopal...............................237 sal duplo .............................173 retardantes ..........................253 sal prateado.........................137 revelação ...... 57, 155, 184, 205 Sandmeyer 10, 42, 47, 160, 175 revelação direta ..................184 Sandoz42, 49, 60, 62, 63, 65, 67 Revenue Act..........................50 revestimento145, 231, 234, 235, 236, 237, 241, 242, 243, 245, 248 Reyon .................................183 RGB ........................... 303, 306 Riboflavina................. 265, 267 Roberts ............. 24, 25, 37, 156 Roberts, Dale & Co.. 24, 26, 37 Robinson .............. 16, 276, 277 Rodamina B ................. 42, 338 Rodaminas..........................135 rodopsinas ..........................282 Rohner..................................60 romanos........ 13, 149, 168, 335 Sangier .................................50 sanguine..............................222 Saronnio ...............................61 saturação.............211, 232, 298 Saturation ...........................306 Saunders...............................55 Scarlet SF .............................71 Schiemann ..........................175 Schiff...................................129 Schoellkopf ...............44, 50, 51 Schultz ..................................56 Schützenberger ...................154 Scotish Dyes .........................56 Scott....................................100 sensibilização....................... 78 Sequestro ........................... 255 SET.................................... 253 Sharp Ltd ............................. 53 Shellac ....................... 125, 351 Shore...................135, 194, 199 Shuman ................................ 43 sicativo....................... 243, 254 Siebert................................ 269 Sienna .........214, 222, 224, 225 silk-screen.......................... 249 simetria dos orbitais....... 75, 76 simetria impar ...................... 75 Simpson, Maule & Nicholson .............................21, 22, 66 Sirius Red F3B .................. 120 sistema de Michael ............ 159 sistema rígido....................... 92 sistemas conjugados .......... 211 SM&N .......................22, 23, 25 Sociedad Espanola de Productos Quimicos........ 50 Sociedade de Química Alemã ........................................ 18 Societé Colorantes et Produits Chimiques ....................... 50 Société des Produits et Matières Colorantes ....... 56 Société Industrielle de Mulhouse ........................ 13 Societé La fucsine ................ 25 Society of Dyers and Colourists42, 59, 135, 294, 310 soda.............153, 196, 201, 337 Soft Drink Caramel............ 278 342 A. Isenmann CORANTES sola de sapato .....................295 sulfito............22, 176, 272, 278 tiazina ................................ 134 Solacet..................................63 Sulfonação..........................137 tiazinas............................... 133 Solanthrene ..........................66 Sulphur black 1.....................72 Tibérius.............................. 168 Soledon........................... 56, 66 Sumafix ..............................194 Ticiano............................... 215 solidez53, 124, 219, 226, 229, 339 Sumifix Supra .......................70 TICT .................................. 107 Sumitomo........................64, 70 tingimento direto ............... 120 Sun Chemical........................64 Tingimento direto .............. 120 Sundour Fabrics...................49 tingimento em anel .... 121, 200 Sunset .........................265, 268 tingimento substantivo....... 120 supercondutor .......................99 tingir e amassar.................. 198 tintas em pó.242, 246, 247, 248 solvente apolar ...................122 superfície73, 121, 230, 235, 241, 251, 254, 255, 259, 265, 266, 287, 292, 293 solventes clorados ..............144 Supracet................................63 Solway Blue..........................49 suspensão....................118, 210 Solway Dyes Company.........49 Swiss IG....................60, 61, 62 Spectraflash........................295 Synthesia ..............................68 spin do elétron......................75 tampão ................178, 192, 201 Spolek....................... 62, 63, 68 tanino..................................182 staining.................................16 taninos ..11, 125, 226, 277, 278 Standard Aniline Products ...51 tartrazina.....................187, 263 Sterling Products..................50 Tartrazina ...........264, 265, 267 Stiles........................... 297, 298 tatajuba ...................16, 50, 336 Stone washed .....................121 Tatajuba..........................12, 13 Strauss................................167 tatuagens.............................229 Strecker ..............................280 tautomeria...........179, 257, 259 substantividade...................121 TDI .....................................239 Substantividade ..................121 temperatura de cor211, 306 Solubilização......................170 solvatocromia ............... 86, 115 Solvent Black 3 ..................122 Solvent Blue 38..................133 Solvent Red 23 ...................122 Solvent Red 24 ...................122 Solvent Red 27 ...................122 substituição nucleofílica....163, 188 subtrativa205, 209, 302, 303, 304, 305, 309 suco de limão .....................169 Sudan III..................... 122, 351 Sudan IV ............ 122, 345, 351 sulfato ferroso ....................153 sulfatoetilsulfona................194 sulfatoetilsulfonamida ........194 sulfeto de arsênio ....... 152, 224 sulfeto de cádmio ....... 223, 224 210, 247, 256, 273, 217, 248, 257, 285, Tintas imobiliárias ............. 235 tinting system..................... 216 tiocarbanilida ..................... 160 289, Tencel .................................195 Teoria de grupos...................81 teoria quinonóide..................40 teoria tricromática ..............283 termo-convertíveis..............248 Tetraceno............................108 tetraflouroborato.................175 tetraflúoroboratos ...............173 tetrakisazo ..........................131 Tioflavina T ....................... 134 tioíndigo..................... 165, 169 tipografia ........................... 249 titânio212, 215, 217, 218, 220, 222, 224, 225, 231, 241, 246, 273 tixotropia ................... 220, 243 todos os fins............... 121, 197 Tofa...................................... 61 tolueno18, 23, 39, 46, 64, 137, 262 toluenossulfônico............... 174 toluidina................25, 241, 337 tonalidade11, 16, 124, 152, 169, 212, 215, 219, 231, 244, 264, 267, 277, 298, 300, 301, 305 tons brilhantes.................... 195 Tóquio Gás .......................... 52 tornassol............................. 276 tosila .................................. 174 toxicidade ...122, 196, 219, 220 Trading with the Enemy Act 51 Trafford Chemical ............... 60 transferência de carga76, 106, 107, 211 tetraterpenos .......................268 transição proibida75, 76, 94, 108 Thomas Holliday ..................23 transições proibidas ..... 76, 105 sulfita..................................170 343 A. Isenmann CORANTES translúcidas ........ 241, 245, 256 vat dye ........................136, 151 vinílicos ............................. 235 transmissão73, 294, 304, 305, 309 Vat Green 1 ..........................53 vinilsulfona70, 122, 189, 190, 196, 197, 198 Travis ..................... 10, 73, 146 triângulo83, 295, 296, 297, 298 triângulo das cores 83, 295, 296 triantrimida do pardo.........141 triarilmetano ............... 127, 130 triarilmetanos ............. 128, 131 triazina................................187 Triazinas.............................257 tricloropirimidina ...............194 trifenilmetano36, 50, 52, 66, 130, 263, 271, 272 trifenilmetanos ........... 129, 264 Triglicerídeos .....................122 Tríplice Aliança....................48 tristímulos .. 284, 286, 287, 302 Ts 174 Tyndall ...............................257 Ugine.............................. 65, 66 ultramar ..............................215 ultramarino45, 213, 215, 217, 218, 220, 221, 222 Ultramarino ........ 211, 215, 222 umber .................................222 Umber ........................ 214, 225 United Dye Corporation ......15 United Indigo & Chemical Co .........................................15 Unverdorben ................ 17, 154 urina149, 151, 153, 168, 212, 215, 226 urucum ...............................268 Urucum ..............................207 valores colorimétricos normalizados . 283, 286, 287 Van Eyck ............................213 Van Gieson.........................120 vanadato ............. 219, 221, 312 Vasco da Gama ..................152 Vat Blue 20 ................ 138, 143 Vat Brown 1 ....... 138, 139, 140 Vat Orange 1 ..............138, 142 Vat Orange 15 ............138, 142 Vat Yellow 2..............138, 141 Vat Yellow 4 ......138, 141, 142 vatting.................................170 veículo 121, 193, 210, 219, 250 Venkataraman ......................62 Venuleth......................141, 145 Verband der Chemischen Industrie...........................39 violantrona......................... 143 Violantrona ........................ 143 Virginia................................ 13 viridian............................... 222 viridiano............................. 223 visão noturna ............. 100, 283 Viscose ...................... 183, 338 Vitamina A ........................ 261 vitamina C ................. 158, 260 Verde de cuba 1..................143 vitamina E.......................... 261 verde de malaquita ...............36 vitaminas ................... 254, 261 verde de Paris .....................222 vitriol ................................. 153 verde de Rinmann...............218 VOC................................... 246 Verde rápido.......264, 265, 272 von Heyden .......................... 47 verdete ................................222 Vondelingenplaat................. 62 vermelhão ...........................222 Waldman.............................. 45 Vermelhão ..........................215 Weizmann ............................ 42 Vermelhão genuíno ............215 wetfast ................................. 70 Vermelho 40.......264, 265, 270 Williams & Ekin Brentford .. 44 vermelho de metila ...............39 Williams Bros ...................... 53 Vermelho de óleo O ...........122 Williamson......................... 228 Vermelho de Pará ...............213 Winnica................................ 61 Vermelho de Tioíndigo ......165 Witt ...........37, 38, 40, 182, 338 vermelho do Congo ..............41 Wöhler ......................... 14, 156 Vermelho do Congo41, 183, 184, 338 Woodward ......................... 100 120, verniz de cor .......................182 vernizes187, 210, 235, 245, 250, 251 Veronal.................................36 Xantenos ............................ 135 xantofila..................... 268, 269 Yorkshire Chemicals............ 65 Yorkshire Dyeware ........ 16, 65 vestae clavatae ...................168 Yorkshire Dyeware & Chemical Co ............. 16, 65 vibração77, 78, 87, 88, 89, 104, 105 Yorkshire Pat-Chem ............ 66 vidro21, 209, 210, 213, 231, 240, 256, 278, 303 Young......................... 282, 283 zarcão......................... 222, 224 vinil-acrílicas..............240, 246 Zeaxantina ......................... 269 vinil-acrílicos......................235 zinco17, 147, 155, 156, 173, 185, 212, 222, 225, 233 vínílicas ..............................246 vinílico................................240 zinco em pó...17, 147, 155, 156 Zinnser................................. 67 344 A. Isenmann Zitscher ..............................185 CORANTES ZnS .....................................233 β-naftol .................64, 185, 338 345