BIOQUÍMICA BÁSICA: AMINOÁCIDOS FEVEREIRO DE 2012 AMINOÁCIDOS São ácidos orgânicos, compostos por aminas e ácidos. A nomenclatura dos aminoácidos deve obedecer às regras da Iupac (União Internacional de Química Pura e Aplicada). Assim, a numeração dos carbonos da cadeia principal deve iniciar pelo grupo carboxila; ou, então, devendo nomear tais carbonos com letras gregas a partir do carbono vizinho a carboxila. O ...C5 – C4 – C3 – C2 – C1 ᵟ ᵧ β α OH Todos os aminoácidos têm uma estrutura básica similar: um átomo de carbono central liga-se a um átomo de hidrogênio, a um grupo amina (-NH2), a um grupo carboxila (-COOH) e a um grupo de átomos designados como “R” (cadeia lateral) que é diferente em cada um dos aminoácidos. Os grupos R diferem no seu tamanho, forma e capacidade de formar pontes de hidrogênio ou íons. Em função do diferentes grupos R, cada um dos diferentes tipos de aminoácidos reage com outra molécula de modo único. Quando dois aminoácidos associam-se um ao outro, o grupo amina de um liga-se ao grupo carboxila do outro. Deste modo, muitas moléculas podem ligar-se, formando longas cadeias com mais de cem aminoácidos. Se existirem dois a nove aminoácidos em cadeia, a molécula é denominada peptídeo. Uma cadeia de dez a cem aminoácidos é denominada polipeptídeo. Uma cadeia com mais de 100 aminoácidos, é denominada proteína. O radical (R) representa um radical orgânico, diferente em cada molécula de aminoácido encontrado na matéria viva. Os aminoácidos possuem caráter anfótero, ou seja, quando em solução podem funcionar como ácidos ou como bases. Existem vinte aminoácidos diferentes na natureza, que fazem parte das proteínas e peptídeos. Os vegetais têm a capacidade de fabricar os vinte aminoácidos necessários para a produção de suas proteínas, já as células animais não sintetizam todos eles, sendo que alguns devem ser ingeridos com o alimento. Assim, os aminoácidos podem ser classificados em dois tipos: Prof. Helder B. Maia Página 1 BIOQUÍMICA BÁSICA: AMINOÁCIDOS FEVEREIRO DE 2012 -Essenciais - são aqueles que não podem ser sintetizados pelos animais. -Não essenciais - são aqueles que podem ser sintetizados pelos animais. É importante ressaltar que, para os vegetais, todos os aminoácidos são não essenciais. Fica claro que classificar um aminoácido em não essencial ou essencial depende da espécie estudada; assim certo aminoácido pode ser essencial para um animal e não essencial para outro. Tabela mostrando os aminoácidos não essenciais e essenciais para o homem: Não Essenciais Glicina Alanina Serina Cisteína Tirosina Arginina Ácido aspártico Ácido glutâmico Histidina Asparagina Glutamina Prolina Essenciais Fenilalanina Valina Triptofano Treonina Lisina Leucina Isoleucina Metionina histidina e a arginina Os aminoácidos são unidades estruturais dos peptídeos e das proteínas. Funcionam como sistema tampão, ou seja, atuam no controle do pH das células. Existem também alguns aminoácidos que não ocorrem nas proteínas mas que possuem importantes funções fisiológicas. Estes incluem a homocisteína, um aminoácido que contém enxofre e que ocorre normalmente em nosso corpo, mas quando em excesso está relacionado a doenças cardiovasculares; ácido gama aminobutírico ou GABA, uma substância química sintetizada pelos neurônios; e creatina, uma molécula que armazena energia quando ligada a um grupo fosfato. Principais funções dos aminoácidos essenciais Metionina: fortalecer o cabelo e as unhas, melhorando, simultaneamente, a saúde da pele; é igualmente benéfico para a degradação das gorduras, evitando sua acumulação no fígado e nas artérias, melhorando assim o funcionamento do coração, dos rins, do fígado e do cérebro. Valina: Possui um efeito estimulante e a sua carência pode resultar num desequilíbrio de nitrogénio no corpo. Permite melhorar o metabolismo muscular e a regeneração de tecidos. Isoleucina: Estabiliza e regula os níveis de açúcar no sangue e os níveis de energia. É fundamental para a produção de hemoglobina. Metabolizada no tecido muscular, as carências de isoleucina podem originar sintomas muito idênticos aos da hipoglicemia. Leucina: Á semelhança da isoleucina, a leucina pode evitar estados de fadiga crónica. Por outro lado, é fundamental para a regeneração dos ossos, do tecido muscular e da pele. Fenilalanina: a fenilalanina estimula o funcionamento da tiróide e a preservação dos vasos sanguíneos. Eficaz no controle da dor, principalmente para quem sofre de artrite, pode ajudar os doentes com Parkinson, e reduz o apetite. Tripofano: Conhecido pelas suas propriedades calmantes, o triptofano ajuda a controlar a hiperactividade em crianças, alivia o stress e é benéfico para o coração. Lisina: É fundamental para o adequado crescimento e desenvolvimento ósseo nas crianças, uma vez que potencia a absorção do cálcio. Intervém na produção de anticorpos, hormônios e enzimas, bem como na formação de colágeno e na regeneração dos tecidos. A lisina exerce, ainda, uma influência benéfica na redução de triglicérides no sangue. Prof. Helder B. Maia Página 2 BIOQUÍMICA BÁSICA: AMINOÁCIDOS FEVEREIRO DE 2012 Treonina: Importante para a produção de colágeno e elastina, a treonina melhora o funcionamento hepático. Encontra-se presente no coração, sistema nervoso central e músculoesquelético. A histidina e a arginina são também aminoácidos essenciais, todavia apenas durante a infância, sendo que mais tarde passam a ser sintetizados pelo nosso organismo. A forma mais importante dos aminoácidos, os alfa-aminoácidos, que formam as proteínas, tem, geralmente, como estrutura um carbono central (carbono alfa, quase sempre quiral) ao qual se ligam quatro grupos: o grupo amina (NH2), grupo carboxílico (COOH), hidrogênio e um substituinte característico de cada aminoácido. A assimetria do carbono alfa resulta em dois isômeros opticamente ativos (quirais) denominados aminoácidos D (dextrogiro) e L (levogiro). A forma L é exclusiva de proteínas, enquanto a forma D compõe paredes celulares de bactérias e alguns antibióticos. L – alanina D - alanina Os aminoácidos se unem através de ligações peptídicas, formando os peptídeos e as proteínas. Para que as células possam produzir suas proteínas, elas precisam de aminoácidos, que podem ser obtidos a partir da alimentação ou serem fabricadas pelo próprio organismo. Os aminoácidos podem ser classificados nutricionalmente, quanto ao radical e quanto ao seu destino. É o grupo R que distingue um aminoácido de outro, sendo ele o responsável pelas propriedades físico-químicas de cada aminoácido; existem aminoácidos hidrofóbicos e aminoácidos hidrofílicos. Os aminoácidos hidrofílicos podem ser divididos em polares com carga positiva, polares com carga negativa e polares com carga nula a pH fisiológico (pH 6-7). QUANTO À CADEIA LATERAL A classificação quanto à cadeia lateral pode ser feita em: Aminoácidos apolares Apresentam grupos químicos de hidrocarbonetos apolares ou hidrocarbonetos modificados, exceto a glicina (que possui um átomo de hidrogênio como cadeia lateral). São hidrófobos. Glicina: H-CH(NH2) -COOH Alanina: CH3-CH(NH2) -COOH Leucina: CH3(CH3)-CH2-CH(NH2)-COOH Valina: CH3-CH(CH3)-CH(NH2)-COOH Prof. Helder B. Maia Página 3 BIOQUÍMICA BÁSICA: AMINOÁCIDOS FEVEREIRO DE 2012 Isoleucina: CH3-CH2-CH (CH3)-CH(NH2)-COOH Prolina:-CH2-CH2-CH2- ligando o grupo amino ao carbono alfa Fenilalanina: C6H5-CH2-CH(NH2)-COOH Triptofano: R aromático-CH(NH2)-COOH Metionina: CH3-S-CH2-CH2-CH(NH2)-COOH Aminoácidos polares neutros Apresentam grupos químicos que tendem a formar ligações de hidrogênio. Serina: OH-CH2-CH(NH2)-COOH Treonina: OH-CH (CH3)-CH(NH2)-COOH Cisteina: SH-CH2-CH(NH2)-COOH Tirosina: OH-C6H4-CH2-CH(NH2)-COOH Asparagina: NH2-CO-CH2-CH(NH2)-COOH Glutamina: NH2-CO-CH2-CH2-CH(NH2)-COOH Aminoácidos ácidos Apresentam grupos carboxilato. São hidrófilos. Ácido aspártico: HCOO-CH2-CH(NH2)-COOH Ácido glutâmico: HCOO-CH2-CH2-CH(NH2)-COOH Aminoácidos básicos Apresentam grupos amino. São hidrófilos. Arginina: HN=C(NH2)-NH-CH2-CH2-CH2-CH(NH2)-COOH Lisina: NH2-CH2-CH2-CH2-CH2-CH(NH2)-COOH Histidina: H-(C3H2N2)-CH2-CH(NH2)-COOH QUANTO AO DESTINO Essa classificação é dada em relação ao destino tomado pelo aminoácido quando o grupo amina é excretado do corpo na forma de uréia (mamíferos), amónia (peixes) e ácido úrico (aves e répteis). Destino cetogênico Quando o álcool restante da quebra dos aminoácidos vai para qualquer fase do ciclo dos ácidos tricarboxílicos sob a forma de acetil-coenzima A ou outra substância. Destino glicogênico Quando o álcool restante da quebra dos aminoácidos vai para a glicólise. Prof. Helder B. Maia Página 4 BIOQUÍMICA BÁSICA: AMINOÁCIDOS FEVEREIRO DE 2012 NOMENCLATURA E SIMBOLOGIA Na nomenclatura dos aminoácidos, a numeração dos carbonos da cadeia principal é iniciada a partir do carbono do grupo carboxilato. Nome vulgar Símbolo (3 letras) Símbolo (1 letra) Nome sistemático Glicina ou Glicocola Gly G Ácido 2-aminoacético ou ácido 2-amino-etanóico Alanina Ala A Ácido 2-aminopropiónico ou ácido 2-aminopropanóico Leucina Leu L Ácido 2-aminoisocapróico ou ácido 2-amino-4metil-pentanóico Valina Val V Ácido 2-aminovalérico ou ácido 2-amino-3-metilbutanóico Isoleucina Ile I Ácido 2-amino-3-metil-n-valérico ou ácido 2-amino3-metil-pentanóico Prolina Pro P Ácido pirrolidino-2-carboxílico Fenilalanina Phe F Ácido 2-amino-3-fenil-propiônico ou ácido 2-amino3-fenil-propanóico Serina Ser S Ácido 2-amino-3-hidroxi-propiónico ou ácido 2amino-3-hidroxi-propanóico Treonina Thr T Ácido 2-amino-3-hidroxi-n-butírico Cisteína Cys C Ácido 2-bis-(2-amino-propiónico)-3-dissulfeto ou ácido 3-tiol-2-amino-propanóico Tirosina Tyr Y Ácido 2-amino-3-(p-hidroxifenil)propiónico ou paraidroxifenilalanina Asparagina Asn N Ácido 2-aminossuccionâmico Glutamina Gln Q Ácido 2-aminoglutarâmico Aspartato ou ácido aspártico Asp D Ácido 2-aminossuccínico ou ácido 2-aminobutanodióico Glutamato ou ácido glutâmico Glu E Ácido 2-aminoglutárico Arginina Arg R Ácido 2-amino-4-guanidina-n-valérico Lisina Lys K Ácido 2,6-diaminocapróico ou ácido 2,6diaminoexanóico Histidina His H Ácido 2-amino-3-imidazolpropiónico Triptofano Trp W Ácido 2-amino-3-indolpropiónico Metionina Met M Ácido 2-amino-3-metiltio-n-butírico Prof. Helder B. 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