0 PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ CURSO DE PEDAGOGIA VANDERLEIA PANDINI – “PROF, AMANHÃ EU VENHO, NEM PRECISA PASSAR NO QUARTO PRA CHAMAR!” AS CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA NO ESPAÇO HOSPITALAR São José 2011 1 PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ CURSO DE PEDAGOGIA VANDERLEIA PANDINI – “PROF, AMANHÃ EU VENHO, NEM PRECISA PASSAR NO QUARTO PRA CHAMAR!” AS CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA NO ESPAÇO HOSPITALAR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito de formação do curso de Pedagogia pelo Centro Universitário Municipal de São José. Orientadora: Profa. Msc. Elisiani Cristina de Souza de Freitas Noronha São José 2011 2 VANDERLEIA PANDINI “PROF, AMANHÃ EU VENHO, NEM PRECISA PASSAR NO QUARTO PRA CHAMAR!” AS CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA NO ESPAÇO HOSPITALAR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito de formação do curso de Pedagogia pelo Centro Universitário Municipal de São José – USJ avaliado pela seguinte banca examinadora: Orientadora: Prof ª. Msc. Elisiani Cristina de Souza de Freitas Noronha ___________________________________ Prof ª. Msc Vera Regina Lucio. ___________________________________ Membro examinador Prof ª. Msc. Wanderléa Pereira Damásio Maurício. ___________________________________ Membro examinador São José, 21 de novembro de 2011. 3 Dedico este trabalho a meus pais, Arlete e Valcir, motivos da minha existência, razões da minha vida! 4 AGRADECIMENTOS Não é possível dizer-te sempre coisas novas, nem te é necessário ouvi-las. O que importa é que sejas sempre novo, que te desprendas cada dia do homem-velho, e que cada dia tornes a nascer, a crescer e a progredir. (SANTO AGOSTINHO) Agradeço primeiramente a Deus, que colocou a pedagogia em meu caminho. Durante minha graduação compreendi o quanto este curso me completa. Hoje vejo o quanto cresci como pessoa através de todas as minhas vivências e estudos de cunho teórico e prático, foram experiências que agregaram a minha formação tanto pessoal quanto profissional. Lembro-me dos dizeres de Rubem Alves (s.d.): “não havíamos marcado hora, não havíamos marcado lugar. E, na infinita possibilidade de lugares, na infinita possibilidade de tempos, nossos tempos e nossos lugares coincidiram. E deu-se o encontro”. Nesta passagem, Alves fala de coincidência, mas prefiro reportar-me ao destino, pois acredito que por mais que nunca houvesse almejado alçar voos em direção à Pedagogia, por vários momentos ela esteve diante de mim e por fim nos encontramos e me sinto realizada por isso. Agradeço a minha família. Deus me proporcionou uma linda dádiva, a de nascer nesta família de pessoas incríveis e com um valor inestimável. Devo a vocês todas as minhas conquistas. Serei eternamente grata por tudo, pois sou o que sou, estou onde estou, por causa de vocês. Obrigada mãe, pai, mano e sobrinha. Amo muito vocês! Agradeço ao Vitor, meu noivo, por estar presente durante esta etapa tão importante de minha formação, acreditando em mim quando eu não mais acreditava, incentivando-me com palavras e enchendo-me de amor e carinho. A cada dia que passa, tenho mais certeza que és a pessoa com quem quero dividir minha vida. Te amo! Agradeço a minha professora orientadora Elisiani, que me fez sentir sempre à vontade em sua companhia. Acompanhou e ouviu, incansavelmente, meus anseios. Instigou sempre em mim o desejo de almejar meu melhor, fez sentir-me sempre capaz, encorajando-me a cada: - “Calma, tudo dará certo!”. Obrigada por todos os momentos de aprendizagem, amizade e auxílio. Descobri em você grande parte do que quero procurar ser. Agradeço às crianças que encontrei durante este percurso, cada uma delas me ajudou a perceber o quão importante é esta profissão e, por muitas vezes, me fizeram relembrar da minha infância, período em que me recordo com extremo carinho, pois sempre tive verdadeira 5 paixão por ser criança. Temos o dever de proporcionar às nossas crianças, momentos inesquecíveis de dedicação, de sensibilidade, de possibilidades e trocas. Agradeço aos adultos com quem tive contato na EJA, pessoas incríveis que proporcionaram momentos maravilhosos em um período marcado pelo nervosismo e angústia. Agradeço à Marilândes Mól Ribeiro de Melo, Rejane Fontes, Neusa Amorim, Carlos Henrique Kessler, Elizete Lucia Moreira Matos, Tania Maria Fiorini Geremias por terem respondido aos contatos feitos por mim e por terem se colocado à disposição para auxiliar-me neste estudo. Agradeço aos professores que estiveram presentes ao logo de minha vida acadêmica e mais precisamente aos professores que participaram de minha graduação, proporcionando conversas, momentos de ressignificação e contribuições imensamente necessárias a minha formação como um todo. Agradeço a todos os meus amigos que souberam me acalentar, suportaram meus momentos de angústias e minhas ausências. Verdadeiros anjos que me ajudaram a não perder a força de vontade. Obrigada Eduardo, Fernanda, Gabriela, Juliana, Mayara, Oésle, Roberta... “galerinha do fundão” por todo companheirismo, auxílio, cafés, caronas e descontração nestes quatro anos de caminhada. Agradeço, especialmente, a Jennifer Tâmara Linhague, minha amiga e companheira de estágios. Obrigada pelos conselhos, puxões de orelha, carinho, pela força, descontração, pela sua amizade. Agradeço às crianças, aos acompanhantes, à pedagoga e à sessão pedagógica do Hospital Infantil Joana de Gusmão que contribuíram para a conclusão deste trabalho. Agradeço a todos que direta ou indiretamente auxiliaram-me a chegar até aqui. Tenho desejo de seguir em frente, acredito que podemos sempre crescer mais, agregar novos saberes aos quais já possuímos e compactuo aqui com as palavras de Barcelos (2006, p.24) quando afirma que os saberes são algo inerente à vida, saberes “são as viagens que realizei, são os livros e revistas que li, a música que me tocou, as amizades, as paixões e amores que vivi, o ódio que senti (se senti), as conversas de que participei. Enfim, é aquilo que forma meu acervo de conhecimentos. É o conteúdo misterioso deste baú chamado memória”. 6 "[...] Mas é preciso ter força É preciso ter raça É preciso ter gana sempre [...] Mistura a dor e a alegria Mas é preciso ter manha É preciso ter graça É preciso ter sonho sempre Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania De ter fé na vida [...]" (Milton Nascimento). 7 RESUMO O tema central deste estudo é a Pedagogia Hospitalar, modalidade da Educação Especial, garantida por lei às crianças e adolescentes, porém, ainda pouco discutida no meio acadêmico. Nele, serão apresentados os aspectos inerentes à prática pedagógica hospitalar, destacando-se: a importância da Pedagogia Hospitalar para o desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo dos escolares internados; a elaboração dos planejamentos pedagógicos; as relações entre os profissionais de diferentes áreas; a contribuição da pedagogia para a humanização hospitalar; e as leis que asseguram a referida prática, perpassando por estes pontos específicos, busquei conhecer o cotidiano pedagógico no Hospital Infantil Joana de Gusmão. Para responder a questão norteadora deste trabalho: Como ocorre a prática pedagógica hospitalar do Hospital Infantil Joana de Gusmão? Foi realizada uma pesquisa de cunho qualitativo que contou com observações junto ao atendimento pedagógico, realizado tanto nos leitos quanto na Classe Hospitalar dos Anos Iniciais, do Hospital Infantil Joana de Gusmão, com entrevista não estruturada com a pedagoga da Classe Hospitalar, além do levantamento bibliográfico e documental. Os dados obtidos permitiram tornar as vivências significativas, proporcionando uma clara visão das contribuições da pedagogia no contexto hospitalar. Palavras-chave: Pedagogia Hospitalar. Anos Iniciais. Humanização. 8 LISTA DE SIGLAS AEH – Atendimento Escolar Hospitalar AVOS - Associação de Voluntários de Saúde do Hospital Infantil Joana de Gusmão CEP – Comitê de Ética em Pesquisas CONANDA - Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente ECA – Estatuto da Criança e Adolescente HIJG – Hospital Infantil Joana de Gusmão LDB – Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC – Ministério da Educação e Cultura ONU - Organização das Nações Unidas PNHAH - Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar SED - Secretaria de Estado da Educação TCC – Trabalho de Conclusão de Curso TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura) UTI – Unidade de Tratamento Intensivo 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11 2 A PRÁTICA PEDAGÓGICA EM AMBIENTE HOSPITALAR................... 15 2.1 RESPALDO LEGAL QUE REGE A PEDAGOGIA HOSPITALAR ....... 16 2.2 LITERATURA ESPECIALIZADA RECENTE ............................................... 21 2.3 A IMPORTÂNCIA DAS CLASSES HOSPITALARES PARA O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E SÓCIO-AFETIVO DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES HOSPITALIZADOS................................ 24 2.4 A HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR: LIDANDO COM EMOÇÕES E SENTIMENTOS.............................................................................................. 29 2.5 O PEDAGOGO NO CONTEXTO HOSPITALAR: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA E AS RELAÇÕES NESTE ESPAÇO.................. 31 2.6 PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO HOSPITALAR ....................................... 33 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................... 37 3.1 PERCURSOS METODOLÓGICOS ................................................................. 37 3.2 RECURSOS METODOLÓGICOS ................................................................... 38 3.3 COLETA DE DADOS ...................................................................................... 40 3.4 A PRÁTICA PEDAGÓGICA NO HOSPITAL INFANTIL JOANA DE GUSMÃO ......................................................................................................... 42 4 ANÁLISES DA PESQUISA............................................................................... 44 4.1 A CAMINHADA: OBSERVAÇÕES EM CAMPO ......................................... 44 4.2 DIÁRIOS DE CAMPO .................................................................................... 46 4.2.1 Primeira observação (27 de setembro de 2011) Foco – Planejamento Pedagógico Hospitalar ............................................ 46 4.2.2 Segunda observação (28 de setembro de 2011) Foco - Prática pedagógica hospitalar e as relações neste espaço hospitalar ....................................................................................................... 50 10 4.2.3 Terceira observação (29 de setembro de 2011) Foco – Desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo das crianças hospitalizadas................................................................................................ 54 4.2.4 Quarta observação (30 de setembro de 2011)............................................. 56 4.2.5 Em foco: o que foi observado ....................................................................... 58 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 60 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 63 ANEXOS ................................................................................................................. 70 11 1 INTRODUÇÃO Ser “diferente” e, por isso, ter de ficar “de fora” é muito doloroso; vencer os obstáculos impostos pela doença, ao contrário, é vitória, aprendizagem e desenvolvimento. (CECCIN; FONSECA, apud ALMEIDA, 2009, p. 82) Antes de começar a frequentar o Curso de Pedagogia, eu pensava que a educação acontecia somente nas escolas. Durante meus estudos acadêmicos li e ouvi a respeito de outros locais onde o pedagogo poderia atuar – os chamados contextos não escolares. Desde então, esta temática despertou em mim uma grande curiosidade, levando-me a pesquisar sobre os locais não formais de educação e a procurar conhecer um pouco mais sobre outros espaços em que o docente pode atuar. Dentre os diferentes contextos educacionais que conheci – eventos, empresas e hospitais – encantei-me com o trabalho pedagógico realizado nas instituições hospitalares e passei a admirar os docentes que atuam nesse espaço. Questionava-me sobre como esses profissionais se preparavam para trabalhar com a alta rotatividade de seus alunos, seja pelo falecimento ou pela alta hospitalar e sobre como ocorria a prática em seu cotidiano. É motivador vê-los proporcionar às crianças e adolescentes hospitalizados o direito de continuar seus estudos. Pois, dependendo dos tratamentos aos quais estes são submetidos, ficam muitas vezes privados, por um longo período, da vida externa ao hospital, fato que compromete também, a sua vida estudantil. Ceccin (1999, p. 42) esclarece: O ensino e o contato da criança hospitalizada com o professor no ambiente hospitalar, através das chamadas classes hospitalares, podem proteger o seu desenvolvimento e contribuir para a sua reintegração à escola após a alta, além de protegerem o seu sucesso nas aprendizagens. Através das leituras que realizei, pude perceber a confusão que eu fazia entre o trabalho realizado pelos chamados “Terapeutas da alegria” e a prática pedagógica hospitalar. Talvez a minha confusão tenha sido ocasionada pelo fato de o trabalho voluntário dos “Terapeutas” ser mais divulgado na mídia que o da Classe Hospitalar, ainda pouco discutida e exposta à sociedade. Os “Terapeutas da alegria” são voluntários que visitam os leitos com vestimentas coloridas e rostos pintados, buscando divertir e distrair o internado, sem intenção pedagógica, pois não possuem vínculo com instituições de ensino, diferenciando-se da Pedagogia Hospitalar, que busca dar continuidade aos estudos dos internados, mantendo 12 contato com a escola de onde a criança é advinda, além de estar vinculada ao sistema de educação (BRASIL, 2002). Outro ponto que contribuiu para que eu escolhesse a Pedagogia Hospitalar como tema do trabalho de conclusão de curso foi que as vezes em que estive no Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), sempre me deparei com um lugar acolhedor: as paredes brancas eram decoradas com desenhos e quadros divertidos, os corredores amplos e frios eram preenchidos com móbiles que desciam em longos fios do teto, tornando-o, de certa forma, um ambiente agradável. Cada vez que eu ali chegava, indagava-me sobre quem seria(m) o(s) responsável(is) por dar ao hospital aquele ar acolhedor. Descobri, durante este estudo, que esse trabalho é realizado pelos voluntários que atuam no hospital há 35 anos. A partir das leituras, também passei a acreditar na necessidade de se abordar mais sobre este assunto durante a graduação, seja para aguçar o interesse de novos profissionais ou simplesmente para que haja uma melhor formação e qualificação dos futuros docentes. Darela (2007, p.16) ratifica este pensamento quando afirma que: Este universo é ainda pouco conhecido e explorado nas instâncias educacionais, seja na formação de educadores, seja nas escolas regulares. Poucos são os cursos de graduação (pedagogia e licenciaturas) que apresentam os diferentes cenários educativos como possíveis locais de trabalho e de aprendizagem, esquecendo-se de que a educação não está circunscrita aos muros da escola, que não existem mais fronteiras para a ação do professor. Muitas destas ações estão assumindo características peculiares, sem, contudo, deixarem de conservar elementos que são próprios do fazer pedagógico. Conhecer outros locais onde se pode atuar expande as alternativas dos profissionais da educação que não desejam trabalhar dentro de uma escola. Além de todos os motivos citados acima, que me levaram a aprofundar os meus conhecimentos sobre a Pedagogia Hospitalar, tanto os de ordem pessoal quanto os da relevância social deste estudo, gostaria de salientar que a legislação1 assegura o direito à educação de crianças e adolescentes quando em situação impeditiva de frequentar a escola. Ou seja, além da importância da Classe Hospitalar ao internado, da pouca visibilidade social da Pedagogia Hospitalar e da necessidade de abordar mais esta temática durante a graduação, há documentos e leis que asseguram o atendimento pedagógico às crianças e adolescentes em tratamento médico que impede a sua frequência 1 Algumas das leis que garantem às crianças e adolescentes o direito à educação são: Resolução CNE/CEB 2/2001 Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica; Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96; Documento Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações de 2002; entre outras. 13 diária à instituição escolar e ao meio externo do hospital, impossibilitando-os de estarem presentes no meio social. No Brasil essa modalidade educacional surgiu em 1950, no Rio de Janeiro, e desde então a sua existência e o seu crescimento vêm sendo garantidos através de políticas públicas. Segundo a Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina/SED-SC, há atualmente 12 municípios que oferecem Classe Hospitalar no estado. O maior e mais conhecido é o HIJG, onde o programa foi criado em 1999 (SANTA CATARINA, 2005). A Pedagogia Hospitalar é uma modalidade da Educação Especial, e como já foi citado anteriormente, é garantida por lei às crianças e adolescentes hospitalizados. Porém, ainda é pouco conhecida e discutida, fato que pode ser percebido pela quantidade de autores que pesquisam este tema. Diante dessa carência de conhecimento, divulgação e da gradativa expansão das classes hospitalares busquei, com este estudo, responder a indagação inicial: Como ocorre a prática pedagógica hospitalar no Hospital Infantil Joana de Gusmão? Perpassando pelos objetivos específicos, que são: destacar a importância da Pedagogia para o desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo de crianças e adolescentes em tratamento de saúde; verificar como são elaborados os planejamentos pedagógicos; identificar a legislação que rege a Pedagogia Hospitalar, destacando os direitos das crianças e adolescentes hospitalizados; identificar a contribuição da Pedagogia para a humanização hospitalar, como ocorre a prática pedagógica e as relações nesse espaço. Esta pesquisa contou com levantamento bibliográfico e documental, com quatro observações no cotidiano da seção de pedagogia do HIJG e com entrevista não estruturada realizada junto à pedagoga responsável pela Classe Hospitalar do 1º ao 5º ano. No segundo capítulo, encontra-se o referencial teórico que apresenta o cotidiano das classes hospitalares contemplando: os aspectos legais que alicerçam a Pedagogia Hospitalar nos âmbitos internacionais, nacionais e regionais; um estudo sobre as escritas recentes de autores que se dedicam a pesquisar tal temática e as principais abordagens das respectivas obras; a importância dessa prática para a continuação do desenvolvimento cognitivo e sócioafetivo de crianças e adolescentes hospitalizados; a humanização hospitalar; as características da prática pedagógica e as relações dos profissionais de diferentes segmentos inclusos no contexto hospitalar; e informações sobre o planejamento pedagógico hospitalar. O terceiro capítulo, intitulado “Procedimentos metodológicos”, traz a metodologia utilizada e todos os processos percorridos por esta pesquisa bem como instrumentos e características escolhidas para coleta e análise dos dados. 14 No quarto capítulo, denominado “Análises de dados”, encontram-se os diários de campo e as reflexões feitas a partir do confronto entre o referencial teórico e os dados da pesquisa. No quinto capítulo, estão algumas considerações e em seguida encontram-se todas as referências utilizadas na escrita deste trabalho. 15 2 A PRÁTICA PEDAGÓGICA EM AMBIENTE HOSPITALAR Vislumbrar novos caminhos, portanto, é de extrema necessidade e se traduz em liberdade, criatividade e plasticidade, canalizadas para a fiel percepção da realidade em realce. (MATOS; MUGIATTI, 2011, p.22) A prática pedagógica no espaço hospitalar tem chamado atenção de novos pesquisadores que lutam com intuito de garantir tal prática, expondo sua importância nos mais diversos aspectos bem como as características comuns dessa modalidade educacional. Matos e Mugiatti (2011, p. 37) realçam [...] que a Pedagogia Hospitalar é um processo alternativo de educação continuada que ultrapassa o contexto formal da escola, pois levanta parâmetros para o atendimento de necessidades especiais transitórias do educando, em ambiente hospitalar e/ou domiciliar. Trata-se de nova realidade multi/inter/transdisciplinar com características educativas. O papel dos profissionais da educação que atuam no contexto hospitalar, segundo Darela e Geremias (2009, p. 603) é o de “auxiliar na manutenção dos vínculos escolares durante o período de hospitalização, bem como o acompanhamento da vida escolar do aluno, com o objetivo de possibilitar a continuidade do desenvolvimento das capacidades cognitivas e psicomotoras”. Melo e Cardoso (2010, p.188) comentam que: Mesmo havendo certo reconhecimento da importância de existir uma Classe Hospitalar, dentro de uma instituição hospitalar, percebemos por outro lado um campo ainda novo que busca se consolidar não só por meio do fazer pedagógico, mas também pelo desenvolvimento de estudos científicos que fortalecem os pilares teóricos sobre os quais o campo se sustenta. De acordo com Darela (2007, p.20), “essa modalidade de atendimento educacional se fortalece no âmago da luta pelo direito à educação e pela humanização no atendimento hospitalar”. A seguir, serão abordados alguns aspectos da Pedagogia Hospitalar, visando à compreensão do funcionamento e da importância desta modalidade de ensino. Iniciando com a apresentação de documentos e leis que garantem o atendimento pedagógico em hospitais, e que datam a partir de meados dos anos de 1990. 16 2.1 RESPALDO LEGAL QUE REGE PEDAGOGIA HOSPITALAR Construir a CH como campo de direito depende do reconhecimento por parte da sociedade e da efetivação de políticas públicas destinadas ao setor. (MELO; CARDOSO, 2010, p.192). Segundo o Art. 205, da seção I da Constituição de 1988: A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988). Seguindo essa linha, as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/LDB – Lei 9.394/96 no Art. 2º, o Estatuto da Criança e Adolescente/ECA (1990) Art. 4º, a Organização das Nações Unidas/ ONU por meio do Art. 26° da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), enfatizam, assim como a Constituição de 1988, que a educação é dever da família e do Estado, deixando claro que em quaisquer circunstâncias a educação é um direito de todos. Muitos países implantaram as classes hospitalares antes do Brasil e elaboraram, primeiro também, documentos e leis para regulamentar a prática pedagógica em hospitais. Um desses documentos é a “Carta Européia das Crianças Hospitalizadas” – EACH (European Association for Children in Hospital) – que foi aprovada pelo Parlamento Europeu em 1986 e “consiste numa listagem dos direitos da Criança antes, durante e depois de um internamento hospitalar.” (EACH, 1988, s.p.). Essa carta garante às crianças e aos adolescentes internados o Direito a prosseguir a sua formação escolar durante o período de hospitalização, tirando proveito do pessoal docente e do material didáctico posto à disposição pelas autoridades escolares, em particular no caso de hospitalização prolongada, desde que a referida actividade não acarrete prejuízo para o seu bem-estar e/ou impedimento aos tratamentos em curso. (EACH, 1986, s.p.). Em Leiden, no ano de 1988, a “Carta Européia das Crianças Hospitalizadas” foi adaptada, resumindo e reafirmando os direitos das crianças internadas. Sobre a educação a carta diz que “o Hospital deve oferecer às crianças um ambiente que corresponda às suas necessidades físicas, afetivas e educativas, quer no aspecto do equipamento, quer no do pessoal e da segurança” (EACH, 1988, s.p.). 17 A Pedagogia Hospitalar surgiu no rasil em 1950 no Rio de Janeiro (VASCONCELOS, 2010), mas somente na década de 1990 que começaram a ser criadas leis específicas para este atendimento educacional, fazendo com que a sociedade voltasse os olhos para a necessidade e importância da sua existência. A Pedagogia Hospitalar está intimamente relacionada á inclusão de crianças e adolescentes hospitalizados no processo educativo. Barros (1999, p.92) esclarece esse fato com a seguinte fala: Num primeiro plano, crianças e adolescentes internados em um hospital de qualquer especialidade são considerados portadores de necessidades educativas especiais porque, encontrando-se hospitalizados e impossibilitados de se integrarem ao seu cotidiano e acima de tudo terem acesso adequado a revistas, livros, materiais didáticos diversos, bem como terem oportunidade de vivenciar experiências culturais, artísticas e de lazer, correm o risco, mais do que outras crianças, de sofrerem fracasso escolar. Sendo assim, a modalidade é amparada por documentos e leis que se voltam para a Educação Especial. A Política Nacional de Educação Especial de 1994, foi o primeiro documento elaborado e divulgado pelo Ministério da Educação e Cultura /MEC em que as classes hospitalares2 são citadas – e as definiu como uma modalidade da Educação Especial, que segundo Menezes (apud SANDRONI, 2007, p.14) “é uma modalidade da educação escolar que busca em sua prática, apresentar encaminhamentos adequados às realidades humanas que exigem diferenciações nos atos pedagógicos”. A resolução nº 41, de 13 de outubro de 1995, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) em seu artigo 9º reconhece às crianças e aos adolescentes o “direito a desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do curriculum escolar, durante sua permanência hospitalar.” (BRASIL, 1995). Sobre a Educação Especial, a LDB, no capítulo V, Art. 58 explana: § 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. (BRASIL, 1996) 2 Durante este estudo, encontrei diversas nomenclaturas diferentes para designar a prática pedagógica hospitalar. Optei por utilizar o termo classe hospitalar, por ser a denominação utilizada pelo MEC. Cabe ressaltar que será mantida a nomenclatura utilizada pelo(a) autor(a) quando este for citado. 18 Em 2001 as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (2001), resolução CNE/CEB Nº 2, instituiu no Art. 13: Os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde, devem organizar o atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados de freqüentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em domicílio. § 1o As classes hospitalares e o atendimento em ambiente domiciliar devem dar continuidade ao processo de desenvolvimento e ao processo de aprendizagem de alunos matriculados em escolas da Educação Básica, contribuindo para seu retorno e reintegração ao grupo escolar, e desenvolver currículo flexibilizado com crianças, jovens e adultos não matriculados no sistema educacional local, facilitando seu posterior acesso à escola regular. (BRASIL a, 2001). A Declaração de Salamanca – documento elaborado na Conferência Mundial de Educação Especial em Salamanca na Espanha em 1994, para organizar princípios e práticas na área das necessidades educativas especiais – esclarece que: • toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem, • toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas, • sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e necessidades, • aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades, • escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além disso, tais escolas provêem uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo o sistema educacional. (UNESCO, 1994, p.1). Em 2002 a Secretaria da Educação Especial do Ministério da Educação publicou um documento intitulado “Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações”, o qual reafirma o direito das crianças e adolescentes a ter acesso ao atendimento pedagógico, visando à continuação do processo educacional. Esse documento foi elaborado “com o objetivo de estruturar ações políticas de organização do sistema de atendimento educacional em ambientes hospitalares e domiciliares” ( RASIL, 2002, p. 3). Nesse mesmo documento encontram-se as definições dos espaços físicos, instalações, equipamentos, 19 recursos e instrumentos didático-pedagógicos que devem estar disponíveis na sala destinada à Classe Hospitalar. As classes hospitalares existentes ou que venham a ser criadas deverão estar em conformidade com o preconizado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação e pelas Diretrizes Nacionais da Educação Especial na Educação Básica. (BRASIL, 2002, p.25). A sala destinada ao atendimento pedagógico deve ter, além de um mobiliário adequado, uma bancada com pia (são exigências mínimas), sendo recomendáveis instalações sanitárias próprias espaço ao ar livre para atividades físicas e lúdico-pedagógicas bem como recursos audiovisuais. (BRASIL, 2002). As Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, e a do Distrito Federal, devem fazer o acompanhamento das classes hospitalares e do atendimento pedagógico domiciliar, considerando [...] o cumprimento da legislação educacional, a execução da proposta pedagógica, o processo de melhoria da qualidade dos serviços prestados, as ações previstas na proposta pedagógica, a qualidade dos espaços físicos, instalações, os equipamentos e a adequação às suas finalidades, a articulação da educação com a família e a comunidade. (BRASIL, 2002, p.19). Ainda de acordo com esse documento, os professores das classes hospitalares devem ter formação pedagógica, preferencialmente em Educação Especial, Pedagogia ou Licenciaturas, e cabe aos sistemas de ensino criar oportunidades para a formação continuada desses profissionais (BRASIL, 2002). Em Santa Catarina, atualmente há doze municípios que oferecem a Classe Hospitalar, são eles: Florianópolis, Lages, Rio do Sul, Curitibanos, Ituporanga, Xanxerê, Concórdia, Ibirama, Tubarão, Chapecó, Joaçaba e São Lourenço do Oeste. Esses hospitais estão vinculados à unidade escolar estadual mais próxima ao hospital – esse vínculo permite que professores dessas escolas trabalhem nas classes hospitalares – e atendem crianças e adolescentes “regularmente matriculados no Ensino Fundamental na rede de ensino estadual, municipal e particular, que estejam internados em hospital conveniado” (SANTA CATARINA b, 2010, s.p.). Cada Classe Hospitalar implantada no estado é autorizada por meio de uma portaria. A portaria que há mais tempo oficializa esse atendimento está vigente desde março de 2001 e a mais recente é de abril de 2011 – (SANTA CATARINA b, 2010, s.p.). 20 O programa de atendimento escolar hospitalar regularizado pela SED-SC tem por objetivo: Possibilitar o acompanhamento pedagógico-educacional e garantir a continuidade do processo de desenvolvimento escolar de crianças e adolescentes do ensino regular, assegurando a manutenção do vínculo com a escola de origem através de um currículo flexibilizado e/ou adaptado, a regularização e reconhecimento oficial de seus estudos, quando retornam as suas unidades escolares. (SANTA CATARINA b, 2010, s.p.). A SED/SC orienta, através de normativas, como devem ocorrer os procedimentos para o atendimento escolar hospitalar e também o atendimento domiciliar, que consiste no acompanhamento pedagógico na casa do escolar quando este ainda está incapaz de voltar a frequentar o espaço escolar. De acordo com o documento de Orientações para Educação Básica e Profissional da Rede Pública Estadual: O programa tem como finalidade atender às crianças de todas as redes de ensino, auxiliando-as na recuperação de sua saúde, estimuladas pelas trocas de experiências e afetividade, com a diminuição da repetência escolar. Suas principais ações são: * acesso a Classe Hospitalar de crianças pequenas que não estão matriculadas em instituições de ensino; * inclusão de crianças ao sistema de ensino quando constatado que tem idade para frequentar o ensino fundamental e não estão vinculadas a nenhuma escola; * possibilidade de avanço no processo de apropriação do conhecimento do educando, referente à série em que se encontra matriculado; * atendimento ao leito de crianças/adolescentes que não tem condições de deslocar-se até o espaço destinado “sala de aula” do hospital. (SANTA CATARINA, 2005, p.57). Contudo é possível dizer que “o número de Classes Hospitalares ainda é pouco, em relação à demanda. Nem em todos os hospitais há esse segmento e, portanto, são poucas as crianças que usufruem desse benefício” (AMORIM, 2011, p.40). Aspecto que evidencia a necessidade de divulgar tal ação para que a sociedade, ao conhecê-la, possa lutar por políticas públicas e pela efetivação dos direitos que já são pertinentes às crianças e adolescentes hospitalizados. Ainda são poucos os autores que focam seus estudos no âmbito da Pedagogia Hospitalar, apesar de ser notório o aumento recente de pesquisas. A seguir apresento alguns destes autores e produções literárias as quais tive acesso. 21 2.2 LITERATURA ESPECIALIZADA RECENTE Tudo que está no plano da realidade já foi sonho um dia. (LEONARDO DA VINCI). No início desta pesquisa dediquei-me a reunir o maior número possível de materiais – livros, trabalhos acadêmicos, artigos, documentos e leis – que abordassem a Pedagogia Hospitalar, através da busca e das leituras destes materiais, pude perceber que muitos deles enfatizam alguns aspectos em especial, como, por exemplo, humanização, auxílio na cura e formação docente (VASCONCELOS, 2010). Ainda são escassas as referências sobre essa modalidade educacional, porém, nota-se um aumento nas publicações relacionadas a este tema nos últimos anos, inclusive, com autores que se dedicam a explanar os objetivos, a importância, os direitos – assegurados por lei às crianças e adolescentes internados. Fonseca (1999, p.7) esclarece que A insuficiência de teorias e estudos desta natureza em território brasileiro gera, tanto na área educacional, quanto na área de saúde, o desconhecimento desta modalidade de atendimento tanto para viabilizar a continuidade da escolaridade àquelas crianças e adolescentes que requerem internação hospitalar, quanto para integralizar a atenção de saúde e potencializar o tratamento e o cuidado prestados à criança e ao adolescente. Os principais autores brasileiros que abordam esta temática são: Fonseca (1999), Ceccim (1999), Matos (2008; 2009), Matos e Mugiatti (2011), Fontes (2005), entre outros. Sendo que a partir destes, outros autores passaram a apresentar algumas reflexões e/ou focaram seus estudos diante deste assunto. Uma das principais questões levantadas por esses autores é a importância da prática pedagógica hospitalar para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente enfermo e para a continuação dos seus estudos após a alta médica, evitando a evasão escolar pelo não acompanhamento dos educandos que passam longos períodos sem comparecer à escola. A maioria dos artigos, periódicos, livros e principalmente trabalhos acadêmicos datam a partir do ano 2000, havendo poucas exceções que em datas anteriores. Isto revela o quanto este tema tem aguçado o interesse de novos pesquisadores que consideram necessários os trabalhos pedagógicos e acreditam ser esta uma ferramenta importante para a humanização do hospital. 22 O Centro de Estudos sobre Recreação, Escolarização e Lazer em Enfermarias Pediátricas (CERELEPE), disponibiliza grande parte das publicações sobre esta temática. No site deste centro (http://www.cerelepe.faced.ufba.br/index_pt.php), é possível encontrar artigos, trabalhos acadêmicos, livros, filmes e vídeos. Alguns destes materiais são disponibilizados para download, outros, como livros, apenas para conhecimento da sua referência. Ceccin (1999) traz, em um de seus artigos, diversos aspectos relevantes da prática pedagógica hospitalar, destacando sua diferença da ação lúdica e recreativa bem como sua importância para proteção do desenvolvimento da criança e do adolescente hospitalizados. Fontes (2005) alerta para a necessidade de se repensar a formação do pedagogo, pois este se forma para atuar na escola, entretanto há muitas outras possibilidades e contextos para a atuação deste profissional, um deles é o hospital. A autora apresenta a Pedagogia Hospitalar como algo que vai além da escolarização, na medida em que propicia à criança e ao adolescente hospitalizados – por meio de atividades lúdicas – a compreensão das intervenções e do espaço que passam a ser submetidas para, a partir daí, trabalhar a escolarização, que deve seguir uma proposta diferenciada das escolas, pois o espaço e os tempos são outros, exigindo assim, um planejamento que leve em conta as especificidades do contexto hospitalar, como as necessárias intervenções médicas, rotatividade de educandos, multisseriação e bem estar da criança. O Caderno Cedes, intitulado “Educação da Criança Hospitalizada: as várias faces da Pedagogia no contexto hospitalar”, organizado por Paula e Matos (2007), reúne artigos elaborados por educadores que trabalham e lutam pela prática educativa hospitalar, trazendo cenários de diferentes regiões do país, sendo possível através dessa leitura, conhecer melhor o trabalho realizado por educadores em hospitais proporcionando reflexões, propostas e importantes contribuições desse novo espaço de atuação para o pedagogo. Darela (2007) aborda, de uma maneira sensível, as relações entre a escola e o hospital. Evidencia a importância da prática pedagógica no espaço hospitalar propiciando às crianças e adolescentes, inseridos neste espaço, um atendimento integral através da abordagem humanística, protegendo o desenvolvimento e o acompanhamento de seus estudos quando reinserido no espaço escolar após a alta hospitalar. Arosa e Schilke (2008) organizaram um livro com artigos de diversos autores, que trazem aspectos fundamentais sobre o trabalho pedagógico no hospital. De acordo com os autores que trataram sobre a temática: currículo e planejamento pedagógico, estes devem ser articuláveis, significativos e acompanhados de avaliação que ocorre durante todo o processo 23 através de registros. Há uma considerável discussão sobre a avaliação da aprendizagem no hospital bem como sobre o currículo da escola no hospital em que estes devem ser diferentes do contexto escolar propriamente dito. Moura e Ferreira (2008) trazem as contribuições do atendimento da Classe Hospitalar para a redução do estresse da criança hospitalizada. Considera-se que a doença e a hospitalização podem ser experiências traumatizantes e estressantes para as crianças. A pesquisa aconteceu em hospitais do Rio de Janeiro e a conclusão foi que o atendimento na Classe Hospitalar reduziu o estresse nos fatores físico e psicológico das crianças. No livro organizado por Matos (2009), os autores abordam a prática pedagógica hospitalar, trazendo características e enfatizando o processo de humanização dentro de hospitais, no qual a Pedagogia Hospitalar tem grande participação. Os autores também apresentam alguns dos programas e projetos realizados nos hospitais do estado do Paraná acerca da escolarização hospitalar. Nowiski et al (2009) apresentam uma pesquisa realizada com acadêmicos do curso de licenciatura de uma universidade do Paraná, procurando saber destes o significado da Pedagogia Hospitalar, as funções desempenhadas pelo pedagogo hospitalar, como obtiveram esse conhecimento entre outras questões. Através das repostas, as autoras concluíram que o tema ainda é pouco discutido no curso de graduação, pois a maioria dos acadêmicos afirmou conhecer a Pedagogia Hospitalar através dos colegas que participavam do curso de extensão existente na universidade, as respostas mostraram ainda que há interesse e procura por informações sobre esta modalidade educacional. As autoras relatam que no Projeto Político Pedagógico de 2006 do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa/UEPG consta a disciplina optativa intitulada “Educação em Espaços Não Formais”, na qual um dos temas é a Pedagogia Hospitalar, porém justificam que nem todos os acadêmicos têm oportunidade de conhecer melhor essa prática. Geremias (2010) traz, em sua dissertação de mestrado, as significações construídas pelas crianças que frequentam os Anos Iniciais do atendimento escolar hospitalar do HIJG, através de diferentes narrativas (depoimentos – escritos e gravados, desenhos, entre outros), sendo então, uma das poucas pesquisas acerca deste tema, que mostra como as crianças veem a Classe Hospitalar. Uma das conclusões da autora é que mesmo conciliando o atendimento escolar hospitalar com a recreação, para as crianças o brincar se destacava, entretanto elas não deixavam de frequentar a classe. Matos e Mugiatti (2011) descrevem o contexto das práticas pedagógicas no ambiente hospitalar, trazendo abordagens interessantes com características, conceitos e importância 24 desta modalidade de ensino, como também da formação do professor, em que docentes e médicos devem trabalhar juntos para um atendimento integral da criança e adolescente internado. As autoras ainda descrevem projetos e práticas pedagógicas desenvolvidos em parcerias entre hospitais e universidades. Percebe-se diferentes direcionamentos de foco de estudo acerca da temática principal: Pedagogia Hospitalar. Contribuições de extrema relevância para quem busca inserir-se nesse espaço de trabalho e pesquisa, pois permite reflexões e re-significações sobre a prática educacional em ambiente hospitalar. No item a seguir serão apontadas algumas contribuições em relação ao desenvolvimento e a aprendizagem do sujeito dando enfoque à importância das classes hospitalares para a continuação do desenvolvimento integral de crianças e adolescentes hospitalizados. 2.3 A IMPORTÂNCIA DAS CLASSES HOSPITALARES PARA O DESENVOVIMENTO COGNITIVO E SÓCIO-AFETIVO DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES HOSPITALIZADOS O trabalho realizado na CH traz benefícios para as crianças e adolescentes atendidos por tal programa, por promover a manutenção dos vínculos escolares, e permitir a retomada de certa rotina escolar, que é imprescindível ao desenvolvimento da criança. (MELO; CARDOSO, 2010, p.193) O direito de todos à educação é muito citado em leis nacionais, como o ECA (1990), a LDB (1996) e a Constituição Federal (1988), principalmente quando se fala em diferentes contextos educacionais. As crianças e adolescentes hospitalizados também têm esse direito, porém como citam Matos e Mugiatti (2011, p. 60-61), há um problema: “[...] existe uma nítida contradição entre o necessário tratamento hospitalar e a necessária freqüência escolar, uma vez que ambos exigem o mesmo espaço temporal”. As autoras consideram ainda que “sob diversos aspectos, pode se constituir em irreversíveis lacunas no processo de aprendizagem e de socialização, considerando que a etapa escolar representa o próprio desenvolvimento de potencialidade e da capacidade de comunicação” (MATOS; MUGIATTI, 2011, p.27). O CONANDA, resolução nº. 41, de 13 de outubro de 1995 (BRASIL, 1995), foi o marco inicial para garantir a inserção da educação no contexto hospitalar. Haja vista que 25 muitas crianças e adolescentes, devido a tratamentos de saúde e internações, passam longos períodos sem frequentar a escola e, foi nesse sentido, de evitar as consequências negativas trazidas pelas necessidades de afastamento, tais como o atraso e/ou o não retorno à escola após a alta hospitalar, que a Pedagogia Hospitalar surgiu. Sobre aspectos inerentes ao desenvolvimento, o Art. 3º do ECA dispõe que: A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (BRASIL, 1990). De acordo com Matos e Mugiatti “a enfermidade acaba, quase sempre, por atingir os aspectos – cognitivo, psicológico e social – da criança (ou adolescente) hospitalizada, e isso se reporta a um momento de atendimento especial em sua vida” (2011, p.104). Seguindo esse raciocínio, Vasconcelos (2010, p.12) fala que a Pedagogia Hospitalar Trabalha o cognitivo deixando o educando ativo percebendo sua capacidade, com atendimento individual e personalizado, assim estimulando a continuidade dos estudos nas classes dos hospitais, casas de apoio ou na própria casa do educando para que não perca o ano letivo e não volte desmotivado pela defasagem dos conteúdos. Corroborando com esse pensamento, Ceccin (1999, p.43) escreve sobre a importância da Pedagogia Hospitalar para o desenvolvimento de crianças e adolescentes hospitalizados. O professor deve estar no hospital para operar com os processos afetivos de construção da aprendizagem cognitiva e permitir aquisições escolares às crianças. O contato com o professor e com uma "escola no hospital" funciona, de modo importante, como uma oportunidade de ligação com os padrões da vida cotidiana do comum das crianças, como ligação com a vida em casa e na escola. A educação no hospital integraliza o atendimento pediátrico pelo reconhecimento e pelo respeito às necessidades intelectuais e sócio-interativas que tornam peculiar o desenvolvimento da criança. Ceccim (1999) acredita que o ensino, o contato da criança e do adolescente hospitalizados com o professor no ambiente hospitalar, pode proteger o desenvolvimento, garantir a reintegração à escola e o sucesso nas aprendizagens. Para esse autor, o poder estudar, significa para a criança hospitalizada como um bem da criança sadia. 26 Não se pode esquecer que as crianças e adolescentes que estão passando por um tratamento de saúde muitas vezes estão aptas a exercerem outras atividades. De acordo com Castro (2009, p.49) “o corpo, pode estar doente, no entanto, a mente é sã” e o cotidiano hospitalar precisa dar espaço para que outros profissionais desenvolvam e estimulem a mente das crianças para propiciar-lhes benefícios. Segundo Gil e Paula “para a criança enferma, a rotina hospitalar é estressante, porque está privada do convívio com os amigos e familiares, sendo que esse tipo de privação pode interferir no seu quadro clínico” (1999, p.137). Kessler et al diz que: A educação constitui o mais potente agenciamento da sociabilidade e subjetividade (excluída a família) na sociedade contemporânea e a manutenção do encontro pedagócico-educacional favorece a construção subjetiva de uma estabilidade de vida, como continuidade e segurança diante dos laços sociais da aprendizagem. (1996, p.112). Sendo assim, a Pedagogia Hospitalar é indiscutivelmente relevante e Ceccin (1999, p.44) esclarece ao dizer que “o principal efeito do encontro educação e saúde para uma criança hospitalizada é a proteção do seu desenvolvimento e a proteção dos processos cognitivos e afetivos de construção dos aprendizados”. Ratificando essa importância, Melo e Cardoso (2010, p.211) afirmam que: A continuidade dos estudos dentro de condições pertinentes ao internamento revigora a vitalidade da criança agindo como estímulo motivador, que possibilita a participação e a interação com o meio produzindo constantes ações, que atuarão como fatores preponderantes e desencadeadores de sua recuperação. Tal fato integra e promove a participação social ativa e entusiasma a criança por mantê-la ligada à realidade externa. A Classe Hospitalar mostra-se imprescindível em diversos aspectos, podendo, além de contribuir para a continuação dos estudos, fazer com que a criança e o adolescente obtenham melhoras em seu quadro clínico através do convívio social evitando o stress e o sentimento de “abandono”. Enfatizando essa relevância Calegari (2003, p.79) diz que: O contato com outras crianças, contribui para seu desenvolvimento social. Em muitos casos, a enfermidade é esquecida. Isto demonstra que a criança, mesmo doente, pode ter outros interesses e se "desligar" do problema. Tal fato contribui para seu melhor ajustamento hospitalar e recuperação. 27 Para a mesma autora, “o trabalho profissional de Classe Hospitalar é o de restaurar os laços com o cotidiano escolar (característico das vivências infantis em sociedades escolarizadas) e operar pedagogicamente com o desenvolvimento psíquico e cognitivo destas crianças e adolescentes” (CALEGARI, 2003, p.79). Vygostky é um dos principais autores que falam sobre o desenvolvimento do indivíduo. Fonseca e Ceccin (1999, p.26) afirmam que “segundo a pedagogia do desenvolvimento de Vygotsky (1935), o campo das construções cognitivas é campo de atualização de afetos e elaboração das aprendizagens complexas”. [...] propõe que são as condições concretas de vida que determinam diretamente o desenvolvimento do psique de uma criança, o que nos faz constatar que é justamente o que oferecemos à criança, enquanto prática real, que vai determinar o seu desenvolvimento, dessa forma, é importante pensar o hospital enquanto um espaço de aprendizagem e de desenvolvimento infantil. (VYGOTSKY apud CALEGARI, 2003, p.5152). Oliveira (2008, p. 58) completa esta ideia quando afirma que [...] desenvolvimento e aprendizagem são processos intimamente relacionados: imerso em um contexto cultural que lhe fornece a “matériaprima” do funcionamento psicológico, o indivíduo tem seu processo de desenvolvimento movido por mecanismos de aprendizagem acionados externamente. Por outro lado, embora processos de aprendizagem ocorram constantemente na relação do indivíduo com o meio, quando existe a intervenção deliberada de aprendizagem passam a fazer parte de um todo único, indissociável, envolvendo quem ensina, quem aprende e a relação entre essas pessoas. Ainda sobre desenvolvimento e aprendizagem, Oliveira (2008) aponta aspectos, a partir das concepções de Vygotsky, importantes ao ensino escolar, que “o desenvolvimento psicológico deve ser olhado de maneira prospectiva, isto é, para além do momento atual, com referência ao que está por acontecer na trajetória do indivíduo” (OLIVEIRA, 2008, p.58-59, grifos no original). Vasconcelos traz contribuições acerca do desenvolvimento que pode ser proporcionado aos escolares hospitalizados através do atendimento pedagógico. A aprendizagem é desenvolvida e constitui-se dos aspectos cognitivos, sociais, culturais e afetivos. Portanto, o aluno mesmo que hospitalizado tem que ser visto como um todo e não só como um paciente, ou mesmo um doente que está impossibilitado de estar na sua vida cotidiana normal e que tem que estar somente nos cuidados dos médicos e enfermeiros. O 28 pedagogo hospitalar para assegurar o desenvolvimento e mediar intervenções para o desenvolvimento global do educando deve começar pela escuta pedagógica que é o levantamento de dados sobre a vida do educando, porém o caráter do diagnóstico não se trata de referencial clínico, mas sim dados que serão observados os aspectos que mencionados antes para uma elaboração e planejamento de ações a ser realizadas com esse educando, fazendo isso o professor diminui o risco de agir sem obter resultados positivos. Entender para atender, assim o pedagogo hospitalar para conseguir atingir seus objetivos e fazer a ponte da escola com o hospital, verdadeiramente ensinar e reinserir o aluno na escola e na sociedade faz um resgate da subjetividade do educando em seu sentido particular, à sua trajetória cultural e singular, a qual ele deixa de perceber quando está inadaptado e dentro do ambiente pesado que se mostre o hospital, a visão de que é uma criança ou um adolescente igual as outras da mesma idade que as suas, se vendo apenas como um paciente a mais que precisa da ação médica para sobreviver, sem sentir emoções positivas, esperança, e que ainda são capazes como todos. (VASCONCELOS, 2010, p.16-17). As citações expostas acima reforçam a relevância das classes hospitalares para o desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo das crianças e adolescente hospitalizados. É importante deixar de perceber pessoas hospitalizadas como meros pacientes, expressão que “designa aquele que espera, que tem paciência e aguarda” (VAZ et al, 2009, p.171), pois Ser paciente hospitalar significa mais do que simplesmente esperar pacientemente, lidar com as condições nesta espera pela recuperação da saúde. Isso inclui, de forma geral, a vivência de uma série de separações marcadas, frequentemente, por experiências de fragmentação e perda de autonomia sobre o próprio corpo. (VAZ et al, 2009, p.171). A não interrupção do contato com crianças, pessoas, conteúdos escolares são aspectos que auxiliam na continuação do desenvolvimento como um todo destes que necessitam em um determinado momento “trocar” de ambiente de convívio e assim tornar esse processo menos doloroso. Ross ao relatar que geralmente, “os pacientes reagem com uma admiração quase exagerada por quem cuida deles e lhes dedica um pouco de tempo. Ficam privados de tais gentilezas num mundo atarefado, de números e aparelhos, e não é de estranhar que um toque leve de humanidade provoque uma reação tão positiva.” (ROSS, 1996 apud AMORIM, 2011, p.41), reforça os benefícios de uma atenção voltada ao ser e aos seus sentimentos. Ceccin (1999, p.42) chama essa atenção de “escuta pedagógica”, Matos e Mugiatti (2011, p.69) também mencionam que 29 [...] a atenção pedagógica, mediante a comunicação e diálogo, é essencial para o ato educativo e se propõe a ajudar a criança (ou adolescente) hospitalizado para que, imerso na situação negativa que atravessa no momento, possa se desenvolver em suas dimensões possíveis de educação continuada, como uma proposta de enriquecimento pessoal. A humanização vem alcançando um importante espaço no ambiente hospitalar e a Pedagogia é uma das áreas que auxiliam nesse processo. O subitem a seguir aborda esse aspecto no cotidiano hospitalar vinculado à prática pedagógica. 2.4 A HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR: LIDANDO COM EMOÇÕES E SENTIMENTOS O saber técnico é fundamental para desenvolver um bom trabalho, porém, sem o saber humano não se permite um olhar que alcance o outro em toda a sua dimensão. (DARELA, 2007, p.26) Em 2001, o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) que “propõe um conjunto de ações integradas que visam mudar substancialmente o padrão de assistência ao usuário nos hospitais públicos do Brasil, melhorando a qualidade e a eficácia dos serviços hoje prestados por estas instituições” (BRASIL b, 2001, p.7). Vasconcelos mostra que a Pedagogia Hospitalar “como prática educacional inovadora tem muito a informar e mostrar às pessoas sua importância, necessidade e beleza como também prática humanizadora” (VANCONCELOS, 2010, p.5). Em relação ao caráter humanizador, pode-se dizer que há um consenso entre vários autores, tais como: Darela (2007), Moura e Ferreira (2008), Fonseca e Ceccin (1999) que falam sobre a importância da prática pedagógica hospitalar para o processo de humanização dentro do hospital. Humanizar significa “[...] colocar a cabeça e o coração na tarefa a ser desenvolvida, entregar-se de maneira sincera e leal ao outro e saber ouvir com ciência e paciência as palavras e os silêncios” (OLIVEIRA, apud JESUS, 2009, p.85). Matos e Mugiatti trazem como um indicador negativo à situação do doente hospitalizado a priorização no atendimento ao enfermo, do aspecto físico e material da enfermidade esquecendo que “a doença é também revestida de características psicossociais. Trata-se do atendimento a uma pessoa, em todas as suas dimensões, e não, simplesmente, da atenção a uma determinada doença” (MATOS e MUGIATTI, 2011, p.20). A humanização vem para lembrar que “[...] não se está diante de 30 uma enfermidade, mas diante de uma pessoa doente [...]” (MATOS; MUGIATTI, 2011, p.109). Darela contribui significativamente com essa ideia ao expor que [...] assim como tradicionalmente a escola é vista como um espaço em que se educa, cabe ao hospital cuidar de doenças (nem sempre associada à promoção da saúde). No entanto, esta visão vem se modificando à medida em que profissionais de outras áreas se inserem neste contexto. Esta inserção tem buscado maior qualidade nos serviços de saúde, como proposto nos Programas de Humanização, com a possibilidade de um novo modelo de atenção, a partir de uma nova maneira de se relacionar com o sofrimento e com a vida, tanto na sua dimensão individual quanto coletiva. Tais aspectos têm contribuído para que outros interesses aflorem, modificando práticas organicistas existentes na área médica que priorizam a doença e não o doente, tratando-os de forma impessoal, objetivisante e descompromissada. (DARELA, 2007, p.18). Neste sentido, “[...] os aspectos emocionais e de desenvolvimento da criança hospitalizada devem receber cuidado especial em face da hospitalização” (FONSECA; CECCIN, 1999, p.26). A prática pedagógica [...] traz mudanças significativas na rotina do hospital, pois este deixa de ser lugar de injeção, seringa, solidão, sofrimento, para ser também lugar do caderno, do lápis, do livro, do brinquedo, do jogo, da diversão, da alegria, trazendo consigo a força pela vida que se alimenta, principalmente, destes ingredientes. (DARELA, 2007, p.20). Para Vasconcelos (2010, p.16): Todo ser em contato com o outro é capaz de regenerar-se e ter força para lidar e lutar em tais situações, quando distantes do meio social as chances de agir dessa forma diminui abalando seu psicológico, comprometendo muitas vezes em aspectos físicos e biológicos, por isso esse educando hospitalizado necessita mais do que apenas tratamento médico, logicamente que é o essencial. No entanto, existem outras coisas de qual sobrevive o ser humano, principalmente o amor do seu próximo. Por isso “é preciso buscar maior preparo profissional, mas também, sensibilidade pessoal para perceber até onde o “científico” alcança, e a partir de onde, o afetivo torna-se fundamental” (TOMAZINI, 2008, p.130). Isto é humanizar, é estar atento ao ser hospitalizado por inteiro, pois antes de ser doente ele é um ser humano com sentimentos, anseios e expectativas que precisam ser supridas, contemplando o bem estar psico-sócio-afetivo. Atualmente, diante da relevância apresentada sobre o caráter humanizador dentro das instituições hospitalares, é possível encontrar pessoas que visam expandir essa característica 31 através de trabalhos voluntários, como por exemplo: apresentações de grupos de palhaços, organizações que prestam trabalhos diários atendendo aos pais e as crianças visando dar atenção, carinho e tudo que esteja ao seu alcance, respeitando a vontade do outro, neste caso, internados, acompanhantes e até mesmo profissionais que atuam na instituição. A inserção de profissionais de outras áreas – como o pedagogo, os voluntários entre outros – no contexto hospitalar traz mudanças benéficas ao processo de tratamento de saúde, porém deve haver uma preocupação para que as relações multiprofissionais ocorram de maneira saudável e entrelaçada. É sobre a relação entre profissionais da saúde e profissionais da educação, bem como a prática pedagógica, que o item a seguir discorrerá. 2.5 O PEDAGOGO NO CONTEXTO HOSPITALAR: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA E AS RELAÇÕES NESTE ESPAÇO Não se pode estar preso a um mundo em que não seja possível escutar outras vozes e olhar de diferentes lugares permitindo-se cruzar experiências, compartilhando caminhos, abrindo para o que é diferente, descobrindo novas coisas, pessoas, situações. (DARELA, 2007, p. 34) O desconhecimento da importância do trabalho pedagógico pelos profissionais da saúde pode fazer com que estes vejam o professor como um intruso ou apenas como um recreador. Fontes (2005, p.25) comenta que “Enfermeiros, médicos e nutricionistas, em geral, vêem professores/pedagogos como recreadores, aqueles que promovem brincadeiras com a criança para “matar” o tempo ou para fazer com que ela não dê trabalho”. A entrada dos profissionais que, geralmente, não fazem parte do contexto hospitalar causa estranheza e má compreensão do trabalho realizado, principalmente se essa inserção não estiver sendo mediada e trabalhada dentro da instituição hospitalar. Atualmente profissionais da educação vêm ganhando atenção e respeito dentro dos hospitais que oferecem a Pedagogia Hospitalar e, aos poucos “os médicos passam a ver as atividades educacionais como auxiliares do tratamento de saúde” (GIL; PAULA, 1999, p. 143). É importante que haja um estreitamento nas relações dos profissionais da educação e saúde, para que um fortaleça o trabalho do outro e juntos possam transformar o hospital em um ambiente mais humanizado. Matos (2008, s.p.) revela essa necessidade ao relatar que: 32 A finalidade da Pedagogia Hospitalar é integrar educadores, equipe médica e família, num trabalho em conjunto que permite ao enfermo, mesmo em ambiente diferenciado, integrar por meio de ações lúdicas, recreativas e pedagógicas novas possibilidades e maneiras de dar continuidade a sua vida escolar e, com isso, beneficiar sua saúde física, mental e emocional. As contribuições dos profissionais da educação e saúde são extremamente significativas e é neste sentido que Matos e Mugiati (2011, p.46-47) colocam que: A Pedagogia Hospitalar, por suas peculiaridades e características, situa-se numa inter-relação entre os profissionais da equipe de saúde e a educação. Tanto pelos conteúdos da educação formal, como para a saúde e para a vida, como pelo modo de trazer continuidade do processo a que estava inserida de forma diferenciada e transitória a cada enfermo. Seguindo o raciocínio dessas autoras, a integração entre ambos os profissionais só vem a beneficiar a criança ou o adolescente hospitalizado e, segundo o Ministério da Educação e Cultura (MEC) [...] compete ao sistema educacional e serviços de saúde, oferecerem assessoramento permanente ao professor, bem como inseri-lo na equipe de saúde que coordena o projeto terapêutico individual. O professor deve ter acesso aos prontuários dos usuários das ações e serviços de saúde sob atendimento pedagógico, seja para obter informações, seja para prestá-las do ponto de vista de sua intervenção e avaliação educacional. (BRASIL, 2002, p.18-19). Matos e Mugiatti (2011, p.73) denominam o pedagogo como “agente de mudança”, pois por estarem precisando de cuidados médicos, os escolares necessitam, não só da escolarização, mas também de “ajuda para vencer as conseqüências de sua própria hospitalização”. Kessler et al (1996, p.113) também contribuem dizendo que A análise do processo de desenvolvimento cognitivo e das condições clinicas dessas crianças, mostra a necessidade de sofisticação das modalidades de ensinar que se diferenciam, com profundidade, do trabalho escolar comum, porque os espaços e tempos da aprendizagem seguem outra regularidade e intensidade. E além de estar atento às diferenças do âmbito hospitalar e do ensino regular, o pedagogo deve atuar [...] com diferença em seu modo de agir, intervir é muito importante transpor de uma ética profissional muito elevada, pois trabalhar em 33 conjunto com outros profissionais significa respeitar a prática de cada um em seu tempo certo e no momento certo, não só os médicos, mas também enfermeiros, psicólogos, parentes e o próprio educando hospitalizado. Adequar situação de ensino aprendizagem nesse contexto requer conhecer todos os aspectos que envolvem o hospital e muitas vezes o pedagogo acaba por cair no empirismo por trabalhar da mesma forma que na escola de ensino regular. (VASCONCELOS, 2010, p.19). Os profissionais da educação que atuam no espaço hospitalar assim como “os profissionais mais próximos das práticas de cuidado também deverão se informar sobre o processo de adoecimento do doente e sobre a doença em questão. Enfim, os dois têm como objetivo o ser humano doente – os caminhos é que são inversos” (FERREIRA, 2005, p.116). Corroborando com esse pensamento, Darela e Geremias (2009, p.606) dizem que: Conjuntamente com o enfoque da humanização do atendimento em saúde, a interdisciplinaridade é uma das bases da tarefa do profissional da educação que atua em hospitais, propiciando uma prática integradora tendo como foco a totalidade dos aspectos inter-relacionados a saúde e a doença. Assim, no hospital, o profissional da educação deve transpor os limites de sua área, mantendo contato com outros profissionais, possibilitando outros olhares ao mesmo problema. A sociedade ainda pouco conhece esse trabalho, Fontes comenta que “nem mesmo os pais, no início, têm clareza do que seja a Pedagogia Hospitalar. Com o desenrolar das atividades, eles passam a vê-la de uma forma terapêutica, não de forma pedagógica” (FONTES, 2005, p. 25). Seja no âmbito escolar ou no hospitalar, a prática pedagógica deveria ocorrer de maneira a garantir a eficácia do processo ensino-aprendizagem, para isso o educador deve pensar e repensar sua prática bem como em todo o processo educacional, sendo o planejamento pedagógico algo de estrema necessidade nesse processo, o próximo item discorrerá sobre este tema. 2.6 PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO HOSPITALAR [...] não existe lugar especifico para haver ensino-aprendizagem, basta que os envolvidos estejam dispostos a ensinar e a aprender. (AMORIM, 2011, p.40) O planejamento pedagógico é uma ação importante para o pleno andamento do cotidiano escolar e isso não é diferente em outros espaços onde se trabalha com a educação. 34 Planejar, segundo Ostetto (2007, p. 177), significa: [...] traçar, projetar, programar, elaborar um roteiro para empreender uma viagem de conhecimento, de interação, de experiências múltiplas e significativas para com o grupo de crianças. Planejamento pedagógico é atitude crítica do educador diante de seu trabalho docente. Por isso não é uma fôrma! Ao contrário, é flexível e, como tal, permite ao educador repensar, revisando, buscando novos significados para sua prática pedagógica. É necessário que o professor se dedique a pensar e elaborar estratégias, pois a organização da práxis docente é o que torna o processo ensino-aprendizagem significativo. Traçar objetivos, estratégias e recursos assegura ao educador um ponto de partida sem esquecer que todo o planejamento pode e deve ser modificado caso o educando ou o próprio processo expressem tal necessidade. A organização e reorganização da práxis docente permitem que o trabalho seja aprimorado, melhorado e compreendido. Turra et al complementam ao dizer que: Nunca devemos pensar num planejamento pronto, imutável e definitivo. Devemos antes acreditar que ele representa uma primeira aproximação de medidas adequadas a uma determinada realidade, estas medidas favorecem a passagem gradativa de uma situação existente para uma situação desejada. (TURRA et al, s.d., p.13) O documento “Classe Hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar” esclarece que “compete ao professor adequar e adaptar o ambiente às atividades e os materiais, planejar o dia-a-dia da turma, registrar e avaliar o trabalho pedagógico desenvolvido” ( RASIL, 2002, p.22). Para Gil e Paula “os planejamentos das atividades realizadas nos hospitais requerem criatividade e flexibilidade” (1999, p.144). Compactuando com esses pensamentos, Adam et al dizem que “o trabalho desenvolvido pelos profissionais das diversas áreas, precisa ser integrado, dinâmico, capaz de perceber as diferenças da rotina da internação pediátrica” (s.d., p.5). Por meio desses aspectos o planejamento bem como um projeto pedagógico adequado para o cotidiano hospitalar devem estar associados à inserção do pedagogo no espaço hospitalar (MATOS; MUGIATTI, 2011). Referente ao currículo, Amorim (2011, p.73) diz que “o homem, como agente de sua cultura, não se adapta, mas faz com que o meio se adapte à suas necessidades”, seguindo esse pressuposto a Declaração de Salamanca diz no item 26 que o currículo deve ser adaptado às necessidades da criança e não o contrário (UNESCO, 1994). 35 O pedagogo precisa tomar ciência das diferenças da prática educacional no contexto hospitalar e que ele também “[...] é um professor diferente daquele da sala de aula, porque não está na escola, não está trabalhando com crianças „saudáveis‟, que podem fazer tudo a qualquer tempo” (FONTES, 2005, 26) e, por isso, deve estar atento “a necessidade de se adequar os conteúdos, assim como as metodologias e propostas educativas a fim de atender estes alunos conforme suas necessidades e possibilidades, observando seus limites” (AMORIM, 2011, p.50). Sendo assim “a pedagogia hospitalar não é apenas um espaço de sala de aula dentro do hospital, vai muito além, por ter características próprias, público específico, profissionais e conteúdos multidisciplinares, enfim um atendimento pedagógico especializado” (AMORIM, 2011, p.18). De acordo com Matos e Mugiatti (2011, p.26) O educador, o assistente social, o psicólogo e os demais profissionais afins, devem buscar em si próprios o verdadeiro sentido de “educar”, devem ser o exemplo vivo dos seus ensinamentos e converter suas profissões numa atividade cooperativa do engrandecimento da vida. Para isso, deverão pesquisar, inovar e incrementar seus conhecimentos e expandir sua cultura geral e procurar conhecer e desenvolver novos espaços socioeducacionais que possam, de certa forma, evidenciar uma sociedade mais harmônica em suas diversidades. Matos (2008, s.p.) comenta que a formação do profissional que pretende trabalhar na educação hospitalar deve ser diferenciada, deve ser uma formação que “desenvolva suas habilidades e competências, bem como um trabalho emocional qualificado que o beneficie diante de determinadas situações”. Complementando essas falas, Linheira (2006, p.30) diz que: Para a atuação adequada o professor precisa estar capacitado para lidar com as mudanças constantes nos planos adequando-os a cada situação. É preciso ter criatividade e sensibilidade para lidar com situações diversas e delicadas. Ainda são poucos os cursos de graduação e pós-graduação com ênfase em educação hospitalar ou pedagogia hospitalar. De acordo com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva: Para atuar na educação especial, o professor deve ter como base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no atendimento educacional especializado, aprofunda o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional especializado, 36 nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação superior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de educação especial. (BRASIL, 2007, p.11). Ainda de acordo com a formação do pedagogo para atuação em diferentes contextos educacionais, Mattos e Mugiatti esclarecem que a Pedagogia Hospitalar é uma área especializada da Pedagogia e faz parte de propostas curriculares de várias instituições de ensino superior [...] as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia, sob o processo 23001. 000188/2005-02, aprovado pelo parecer do CBE/CP 5/2005, de 13/12/05 [...] o qual inclui a formação também em contextos não escolares, destacando inclusive preparação e prática em ambiente hospitalar para atendimento sob aspectos pedagógicos” (MATTOS; MUGIATTI, 2011, p. 32). O planejamento pedagógico hospitalar necessita então de uma atenção especial dos profissionais da educação, levando em conta as limitações do espaço e das condições de saúde da criança e adolescentes hospitalizados. Assim como o planejamento, a formação do professor precisa ser direcionada, para que o profissional compreenda todo o contexto hospitalar e esteja preparado para a flexibilidade que sua atuação exige. No próximo capítulo encontra-se uma breve cronologia da história da Classe Hospitalar no HIJG, instituição onde a pesquisa foi realizada. 37 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar. É melhor tentar, ainda que em vão que sentar-se, fazendo nada até o final. Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias frios em casa me esconder. Prefiro ser feliz embora louco, que em conformidade viver. (MARTIN LUTHER KING) 3.1 PERCURSOS METODOLÓGICOS Este estudo é um trabalho de conclusão do curso de Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ e, como tal, envolve uma pesquisa. Segundo Minayo, pesquisa é “a atividade básica da Ciência na sua indagação e construção da realidade [...]. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação” (2004, p.17). Para desenvolver qualquer tipo de pesquisa é necessário definir os procedimentos metodológicos através dos quais “o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade” (MINAYO, 2004, p. 16) são traçados. Iniciei meu percurso com a definição do tema. Por ser uma área que aguçava meu interesse não foi difícil optar pela Pedagogia Hospitalar. Santos (1999, p.50) diz que o [...] gosto pessoal, preparo técnico e tempo disponível – Um tema preferência do pesquisador gera empatia e favorece a perseverança. formação cultural e a vivência pessoal garantirão o início bem sucedido processo de busca; o tempo para a dedicação garantirá continuidade processo até o ponto necessário/desejado. da A do do Ao mesmo tempo em que procurava produções literárias acerca desta temática, fui em busca do campo a ser pesquisado. Meu primeiro contato com o HIJG foi no final do mês de fevereiro de 2011 e soube então que, para obter autorização para a realização da pesquisa no HIJG, seria necessário encaminhar meu projeto para ser analisado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do referido hospital. Como meu projeto ainda estava sendo elaborado, precisei finalizá-lo para depois encaminhá-lo ao comitê. No final do mês de junho, já com o projeto em mãos, fui até o comitê e lá fui informada de que outros documentos deveriam ser entregues juntamente com o projeto. Um desses documentos solicitava a autorização e a assinatura da chefia da Seção de Pedagogia. Então, entrei em contato com o referido setor e marquei um horário para 38 apresentar o projeto e a metodologia para as professoras. A professora do 1º ao 5º ano – a qual iria acompanhar o trabalho – e a chefia da seção de pedagogia autorizaram a realização da pesquisa no setor. Para entrar no CEP do HIJG, foi necessário providenciar mais alguns documentos, a reunião na qual o projeto de pesquisa seria analisado ocorreu no dia 1º de setembro de 2011. Logo em seguida, entrei em contato com o hospital e mais alguns documentos foram solicitados. Novamente, providenciei os documentos e aguardei mais alguns dias e apreensiva, pois a defesa de TCC já estava marcada para o dia 21 de novembro mais uma vez, outro documento foi solicitado e diante do exposto pelo comitê, foi providenciado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (vide anexo J). O projeto desta pesquisa foi analisado e aprovado pelo CEP-HIJG, através do protocolo 038/2011. As observações na terça-feira, dia 27 de setembro. Estas ocorreram durante quatro dias consecutivos (27, 28, 29 e 30 de setembro). Nos três primeiros dias a observação foi realizada no período matutino e vespertino, pois pela manhã acontece o acompanhamento das crianças e adolescentes no leito e à tarde na sala da pedagogia. Porém, no último dia, a pedido da chefia, a observação aconteceu apenas no período matutino. Vale ressaltar que todo o rigor ético exigido para permitir a realização da pesquisa revelou-se de grande valia. Apesar do excesso de documentos, esse processo de idas e vindas foi necessário e demonstrou a seriedade e compromisso do hospital para com seus pacientes, e a leitura atenta ao projeto, levou ao aprimoramento. Como pesquisadora, assumi o compromisso ético e de obediência às normas do HIJG com a Resolução CNS/MS 196/96 que expõe os deveres do pesquisador quando a pesquisa envolve seres humanos. 3.2 RECURSOS METODOLÓGICOS Durante esta pesquisa, de cunho qualitativo e exploratório, optei por utilizar como recursos: a observação, o diário de campo escrito, entrevistas não estruturadas e análise de documentos e da literatura especializada. A pesquisa exploratória é definida por Neves como a “obtenção de dados descritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo” (1996, p.1). Minayo (2004, p.21-22) afirma que a pesquisa qualitativa: 39 [...] se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. [...] o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. O estudo in loco se deu, principalmente, pela observação participante que é o “contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos” (DESLANDES, 2004, p.59). De acordo com Lüdke e André (2007, p.30) “[...] o observador inicia a coleta de dados buscando sempre manter uma perspectiva de totalidade, sem se desviar demasiado de seus focos de interesse”. Um dos recursos metodológicos utilizados foi o diário de campo escrito, cujas situações vivenciadas e informações que contemplavam os objetivos da pesquisa foram registradas através de anotações escritas. De acordo com Santos (1999, p.87) “a anotação com finalidade de redação posterior de um texto próprio, como é o caso da anotação que se faz em pesquisas, deve ser feita em função dos objetivos específicos da investigação”. Organizei os diários de campo através de pontos de observações visando sempre contemplar as indagações iniciais como conhecer o cotidiano do trabalho pedagógico, perpassando por pontos específicos. No primeiro dia de observação, optei por conhecer melhor o planejamento pedagógico hospitalar, no segundo dia o ponto de observação foi as relações no espaço hospitalar, no terceiro dia o foco do meu olhar voltou-se para a importância deste atendimento educacional para o desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo das crianças e adolescentes em tratamento e no quarto dia foram observados diversos aspectos como, por exemplo, instalações físicas, cotidiano e trabalho da pedagoga. Acompanhei o trabalho da pedagoga tanto nos leitos quanto na Classe Hospitalar, por este motivo, o ponto principal a ser observado durante os dias em que estive no hospital serviram como um guia e não como algo limitador, pois, como sugere Geremias (2010, p. 117) [...] tudo está carregado de significados, é crucial estar atenta ao que é dito, às expressões corporais, aos gestos, aos olhares, ao próprio silêncio, quem fala ou deixa de falar, quem se expõe mais. E não basta só observar, mas tentar interpretar o que não ficou esclarecido, tentar confirmar as informações e se necessário, rever a metodologia adotada. A sensibilidade e a abertura do pesquisador, munidas pela teoria, é que permitirão essa flexibilidade necessária, pois durante a pesquisa ocorre sempre um processo de transformação, de aprendizagem; o pesquisador se ressignifica no campo. Outra abordagem adotada para a coleta de dados foi a entrevista não estruturada “[...] onde o informante aborda livremente o tema proposto” (NETO, 2004, p.58), essa abordagem 40 se deu por meio de conversas com a pedagoga, nas quais procurei saber mais da formação e atuação da mesma e quais eram as atividades cotidianas da Pedagogia Hospitalar. Participaram da pesquisa as crianças que frequentavam os Anos Iniciais do Ensino Fundamental que participaram das ações pedagógicas – tanto nos leitos quanto na sala – do HIJG nos dias em que as observações foram realizadas. 3.3 COLETA DE DADOS O objeto de estudo desta pesquisa centrou-se no cotidiano das classes hospitalares. E para realizá-la foi “[...] preciso promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele” (LÜDKE; ANDRÉ, 2007, p.1), para tanto foi realizada pesquisa bibliográfica, documental e in loco. De acordo com Gil (1999), pesquisa bibliográfica é o estudo das contribuições de diversos autores sobre determinado assunto, e a na pesquisa documental estão incluídos “[...] desde leis e regulamentos, normas, pareceres, cartas, memorandos, diários pessoais, autobiografias, jornais, revistas, discursos, roteiros de programas de rádio e televisão até livros, estatísticas e arquivos escolares.” (LÜDKE; ANDRÉ, 2007, p.38). Assim “partindo da construção teórica do objeto de estudo, o campo torna-se um palco de manifestações de intersubjetividades e interações entre pesquisador e grupos estudados, proporcionando a criação de novos conhecimentos.” (DESLANDES, 2004, p.54). Ao iniciar o segundo semestre de 2011, juntamente com a retomada da elaboração do TCC, foi elaborado um cronograma, a fim de organizar os períodos de elaboração de cada capítulo e cada etapa da pesquisa. Segundo Santos “[...] fazer um cronograma é relacionar as atividades ao tempo disponível, isto é, planejar o tempo em função das atividades previstas para a conclusão do trabalho proposto” (1999, p.72). Com o cronograma feito, retomei a pesquisa sobre os materiais publicados acerca do tema bem como a leitura do que já estava disponível. De acordo com Gonsalves (2007), após o levantamento da bibliografia, deve-se organizar o material através de resenhas, resumos e fichamentos. Optei por fazer fichamentos de todo o material que li. Fichei as partes que julgava ser mais importantes e que poderiam ser agregadas ao meu trabalho. Estes fichamentos foram digitados juntamente com as suas referências e, posteriormente, impressos para várias releituras. Essa maneira de organizar todo o material lido auxiliou-me muito durante todo o período de escrita deste trabalho. 41 A produção das informações iniciou-se, como sugere Santos (1999), na fase exploratória, segundo este mesmo autor [...] explorar é tipicamente a primeira aproximação de um tema e visa criar maior familiaridade em relação a um fato ou fenômeno. Quase sempre busca-se esta familiaridade pela prospecção de material que possam informar ao pesquisador a real importância do problema, o estágio em que se encontram as observações já disponíveis a respeito do assunto, e até mesmo, revelar ao pesquisador novas fontes de informação. (SANTOS, 1999, p.26). A coleta de dados foi realizada por meio do levantamento bibliográfico e das pesquisas de campo por meio de entrevistas não estruturadas e de observações. De acordo com Santos (1999, p.74) “coletar dados é juntar as informações necessárias ao desenvolvimento dos raciocínios previstos nos objetivos. O período de pesquisa in loco ocorreu durante quatro dias seguidos, na última semana do mês de setembro de 2011. Os dias e os horários foram os seguintes: terça-feira (27), quarta-feira (28) e quinta-feira (29) das 8h30min às 11h e das 13h30min às 16h e na sextafeira das 8h30min às11h. O lócus da pesquisa foi o Atendimento Escolar Hospitalar3 (AEH) do HIJG, que é vinculado à EEB Padre Anchieta, da Secretaria Estadual de Educação, situada no bairro Agronômica, em Florianópolis, estado de Santa Catarina. A pesquisa contou com quatro observações no leito (atendimento que acontece no período matutino) e três na Classe Hospitalar (atendimento que acontece no período vespertino). Enquanto acompanhava a pedagoga no atendimento escolar hospitalar tanto no leito quanto na sala, me apresentava às crianças e aos acompanhantes, expondo o motivo da minha presença de maneira clara e objetiva. Nesse mesmo instante, apresentava o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), para que pudessem autorizar (ou não) a minha observação. Garantindo que a não autorização ou desistência da autorização concedida não geraria nenhum dano ao atendimento da criança ou adolescente. Com o auxílio do diário de campo, relatarei as vivências das observações, sem utilização de imagens e gravações de áudio. Os nomes dos colaboradores não serão divulgados e somente as pessoas diretamente relacionadas à pesquisa terão acesso aos dados. Todas as informações serão mantidas em segredo e somente serão utilizadas para este estudo, cujo objetivo é a conclusão do curso de Pedagogia. Também foram assegurados aos 3 Nomenclatura utilizada pelo setor de pedagogia hospitalar do Hospital Infantil Joana de Gusmão para referir-se a classe hospitalar. 42 participantes a privacidade e confidencialidade dos dados, através da não divulgação de nomes e imagens. Todos autorizaram a minha presença nos quatro dias de observação. A quantidade de crianças variou durante minha observações, por diversos motivos como alta hospitalar, realização de exames e internação de novas crianças, mas a média de crianças nas classes foi de quatro, com idades entre 7 e 10 anos. As análises dos dados foram feitas por meio da interpretação dos diários de campo. Como sugere Silva e Karkotli (2011, p.157) “em confronto com a bibliografia examinada e com os objetivos do projeto, se deve fazer a interpretação das informações”. Sendo relacionadas situações vividas com estudos bibliográficos. No próximo capítulo, busquei compreender e esclarecer as situações vivenciadas e fundamentá-las na literatura especializada dando ênfase àquelas que respondam as indagações iniciais, o foco deste estudo. 3.4 A PRÁTICA PEDAGÓGICA NO HOSPITAL INFANTIL JOANA DE GUSMÃO O programa da Classe Hospitalar oferecido pela equipe pedagógica do HIJG iniciou em 1999, por meio de uma parceria com a Secretaria de Estado da Educação (SED-SC) e por meio da portaria nº 30 de 05/03/2001 a SED-SC oficializou a implantação do atendimento educacional dessa instituição hospitalar, ficando a mesma vinculada à EEB Padre Anchieta, localizada próximo ao hospital (DARELA et al, 2007). O HIJG apresenta atualmente alguns programas educacionais desenvolvidos pela equipe pedagógica do hospital, equipe que conta com pedagogos, professores, recreadores e estagiários. Os programas são: Ambulatório - triagem - diagnóstico, orientação e acompanhamento escolar para crianças com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e com dificuldades na aprendizagem; Atendimento Pedagógico em Equipe Multidisciplinar - atendimento nas unidades viabilizando a interação entre equipe multidisciplinar do hospital e o processo escolar; Atendimento Escolar Hospitalar (ATEH) - continuidade da escolaridade formal, mantendo a sistematização da aprendizagem, promovendo o desenvolvimento e contribuindo para a reintegração à escola após alta hospitalar; Recreação - oportuniza o brincar como proposta terapêutica, possibilitando através do brinquedo e brincadeiras, reelaborar as manifestações de alegria e do lazer, resgatando a vitalidade e autoconfiança; 43 Estimulação essencial - para crianças de 0 a 6 anos com atraso no Desenvolvimento Neuropsicomotor. (SANTA CATARINA a, 2011, s.p.). Por ser um hospital referência em diversas especialidades, o HIJG atende crianças e adolescentes entre 0 e 15 anos de todo o estado catarinense, a Classe Hospitalar desse hospital tem como objetivos: Proporcionar experiências e vivências de aprendizagem; Fortalecer a manutenção dos vínculos escolares, mantendo o elo entre o aluno e sua escola de origem; Promover um espaço prazeroso de interação social; Favorecer a reinserção escolar após a hospitalização, prevenindo a evasão escolar; Oferecer campo de ensino e pesquisa. (SANTA CATARINA a, 2011, s.p.). As crianças atendidas pela seção pedagógica do HIJG vão até o espaço externo onde ficam as classes. Duas salas dividem a seriação, uma é destinada às crianças do 1º ao 5º Ano e a outra atende crianças e adolescentes do 6 º ao 9º Ano. Quando a vinda das crianças e adolescentes até á classe não é possível, devido às suas condições de saúde ou intervenções médicas, as pedagogas vão até eles proporcionando o atendimento no leito, sempre respeitando a vontade e o estado de saúde desses educandos. O pedagogo, ao promover experiências vivenciais dentro de um hospital – brincar, pensar, criar, trocar – estará favorecendo seu desenvolvimento, que não deve ser interrompido em função de uma hospitalização. (SANTA CATARINA a, 2010, s.p.). No capítulo a seguir encontram-se, detalhadas, as abordagens metodológicas utilizadas durante o processo de pesquisa e coleta de dados para este estudo. 44 4 ANÁLISES DA PESQUISA A experiência não é o que acontece a um homem. É o que um homem faz com o que lhe acontece. (THOMAS JEFFERSON) 4.1. A CAMINHADA: OBSERVAÇÕES EM CAMPO Durante a pesquisa para a elaboração deste trabalho de conclusão de curso, acabei conhecendo o trabalho da Associação de Voluntários de Saúde do Hospital Infantil Joana de Gusmão (AVOS), fundada em agosto de 1975, por um grupo de amigas e atua no HIJG. Procurei informações, me inscrevi e comecei a participar do grupo. Essa experiência proporcionou-me muitas vivências importantes. Durante o período em que participei do voluntariado, passei a maior parte do tempo no ambulatório onde, juntamente com outras duas voluntárias, realizava as atividades que consistiam, principalmente, na disposição de desenhos, lápis e jogos para as crianças se entreterem enquanto aguardavam para serem consultadas e/ou internadas. Colocávamos mesas e cadeiras plásticas infantis e disponibilizávamos materiais necessários para que as crianças pudessem desenhar, colorir e interagir umas com as outras. Algumas vezes, até mesmo os acompanhantes solicitavam os desenhos para espairecerem, pois ficavam por horas no hospital, aguardando para serem atendidos. Geralmente vinham de regiões mais distantes. Frequentei o grupo AVOS por cerca de três meses do decorrente ano (de junho a agosto/2011). Ao conhecer o trabalho do voluntariado, descobri que as voluntárias são as responsáveis pelas decorações do hospital – quadros infantis, decorações de datas comemorativas – vestem-se com guarda-pós amarelos para diferenciar-se de médicos e enfermeiros. Estes, muitas vezes utilizam detalhes diferenciados em seus jalecos, como bordados de desenhos infantis. Matos e Mugiatti (2011, p.70) falam sobre algumas medidas simples que servem para atenuar as impressões causadas pelo hospital, como por exemplo, “pintar as paredes de cores variadas (tons pastéis) e usar roupas de cores diferentes, tanto as crianças como o pessoal assistente”, pois são estas ações juntamente com a caracterização do ambiente conforme as datas comemorativas, como Páscoa, festa junina, Natal tão comuns ao universo infantil que podem apaziguar sentimentos de estranheza e desconforto. 45 O trabalho voluntário dentro do hospital mostra-se, também, de suma importância para o aspecto humanizador. As voluntárias se dividem pelas unidades do hospital com intuito de interagir, brincar, conversar com as crianças e familiares que se sentem visivelmente bem com a presença do voluntário. O grupo AVOS também foi responsável pela construção das salas destinadas à Classe Hospitalar, pois através de ações sociais arrecada dinheiro para melhoria do hospital e atualmente para a construção da casa lar que fica bem próximo ao hospital. Meu primeiro contato com a Classe Hospitalar foi como voluntária. Fiquei por algumas horas nesse espaço. As vivências me remeteram às leituras realizadas sobre o tema, permitindo-me fazer ligações entre os fatos vividos e os contextos conhecidos através das bibliografias. Nessa tarde havia três crianças na classe, cada uma desenvolvia uma atividade, pois tinham diferentes níveis de escolaridade. Esta é uma das características do atendimento pedagógico hospitalar: a multiseriação. De acordo com Amorim (2011, p.30) “na classe hospitalar as atividades aplicadas aos alunos devem condizer com as que o mesmo estaria realizando caso não estivesse hospitalizado, e corresponder também à faixa-etária do aluno”. Para trabalhar com os diferentes níveis de escolaridade são utilizadas atividades impressas e trabalha-se individualmente com cada criança. Durante a realização das atividades, elas sorriam e conversavam, parecendo esquecer, mesmo que momentaneamente, os aparatos indispensáveis que os acompanhavam até a classe, como sonda, soro, angústia e dor. Nas palavras de Calegari (2003, p.79) O contato com outras crianças, contribui para seu desenvolvimento social. Em muitos casos, a enfermidade é esquecida. Isto demonstra que a criança, mesmo doente, pode ter outros interesses e se "desligar" do problema.Tal fato contribui para seu melhor ajustamento hospitalar e recuperação. Após as crianças terminarem as atividades, a professora indagou-as para saber o que gostariam de fazer e diante do desejo de brincarem um pouco, a professora pegou um jogo no armário. Nós cinco jogamos algumas vezes, o jogo exigia atenção, rapidez e percepção, pois consistia em encontrar em um tabuleiro com diversas imagens de objetos, algumas figuras. As crianças se divertiram, numa leve disputa, fizeram brincadeiras entre si, chegando às prazerosas gargalhadas até o jogo “perder a graça”. Para Souza (2007, p. 4706) “o brincar é uma forma de expressão natural da criança; enquanto brinca ela desloca a sua atenção da dor e sofrimento para uma outra situação de prazer e alegria que pode minimizar o seu sofrimento”. Corroborando com essa fala, Behrens (2009, p.17) diz que: 46 Os momentos que os alunos hospitalizados estão brincando podem servir de alívio do stress e da angústia de ficar impedido de conviver nas suas casas e com seus familiares. A própria brincadeira possibilita a aproximação de crianças que estavam nos leitos sem conversar e sem ter contato com outras crianças. Na realidade, são momentos privilegiados para quem está atravessando um período difícil em sua vida. A pedagoga mostrou-se muito atenta, procurando certificar-se sempre de que as crianças estavam se sentindo bem, além de respeitar as vontades delas. Em um determinado momento, um dos meninos disse que estava se sentindo cansado e quis voltar para o leito, a pedagoga ofereceu-se para acompanhá-lo, mas ele disse que não era necessário. Segundo Amorim (2011, p.37) “o professor que atua em classe hospitalar precisa se importar com o aluno além do âmbito educativo, conhecer seus limites e possibilidades físicas e cognitivas observando atitudes, sintomas, movimentos e seus apelos silenciosos”. Em suma, foram muitas as percepções positivas tidas nesse primeiro olhar presencial na atuação pedagógica. Durante as conversas e situações vivenciadas pude observar na prática muito do que encontrei na teoria sobre este tema como também, diante das interações entre as crianças e a professora reportei-me a ações cotidianas rotineiras em uma sala de aula convencional, como as conversas, os risos e as trocas de ideias. 4.2. DIÁRIO DE CAMPO Ninguém é tão grande que não possa aprender, e ninguém é tão pequeno que não possa ensinar. (AUGUSTO CURY). 4.2.1 Primeira observação (27 de setembro de 2011) Foco – Planejamento Pedagógico Hospitalar Primeiro fui até a sala da chefia da seção de pedagogia do HIJG para marcar os dias e horários em que realizaria as observações. Em seguida, fui, juntamente com a professora, à sala destinada às aulas do 1º ao 5º ano. Na sala, a professora me explicou como ocorre o trabalho nos leitos. Mostrou um programa (Micromed) em que a professora acessa com seu login e senha, as informações sobre as crianças que estão internadas nas diferentes unidades 47 Em relação ao planejamento a professora falou que a equipe da Classe Hospitalar trabalha com projetos. Neste ano o tema escolhido foi o meio ambiente e o título do projeto é “Por um planeta onde a vida não se acabe: a criança plantando o futuro”. O planejamento é realizado semanalmente, sendo abordados temas específicos, como dia da árvore e início da primavera. No plano semanal são traçados objetivos e desenvolvimento. As atividades são planejadas para começarem e terminarem no mesmo dia, pois é possível que o paciente não possa participar da atividade do dia seguinte devido a fatores como a obtenção da alta, piora no quadro clínico ou realização de algum exame (ALMEIDA, 2009). Utilizam-se atividades sistemáticas, como cruzadinhas, caça-palavras, sendo grande o uso de materiais impressos. De acordo com a professora, o planejamento é flexível visando o bem estar e a participação da criança. Em um caderno particular, a professora anota/relata situações diárias, bem como as atividades realizadas ou as pendências como, por exemplo, uma atividade que uma criança não tenha conseguido finalizar – quando possível esta é levada para ser concluída no leito. Souto-Maior (2007, p.65) deixa nítida a importância do registro quando diz: "observar, anotar e refletir – isso tudo ajuda a compreender o que foi vivenciado para melhor avaliar e planejar o dia seguinte". Em suma, o planejamento do atendimento escolar do Hospital infantil Joana de Gusmão, é feito por meio de um tema central através de projetos. O plano é desenvolvido semanalmente e as atividades são propostas para iniciarem e serem concluídas na mesmo dia. Como há uma rotatividade característica deste atendimento pedagógico, pois muitas crianças recebem alta e/ou são internadas, o planejamento visa ser flexível de maneira que possa ser adaptado às diferentes séries, realidades socioculturais e estado de saúde dos escolares hospitalizados. Após checar as informações sobre as crianças internadas no programa a professora prepara e separa os materiais a serem levados aos leitos, como giz de cera, lápis de escrever e atividades diferenciadas para ser entregue às crianças que ainda não podem frequentar a Classe Hospitalar. Acompanhei a professora nas visitas aos leitos e em cada quarto, apesar de as histórias serem diferentes, a manifestação ao ver a professora era sempre a mesma: o sorriso no rosto. Quando a professora perguntava às crianças que já frequentavam a classe se elas iriam até lá à tarde, sempre respondiam positivamente e quando o convite era feito às novas crianças, a mesma resposta era dada. 48 Quando uma nova criança é internada no hospital, a professora se informa com a equipe de enfermagem da unidade em que a criança está hospitalizada sobre a possibilidade dela se deslocar até a sala do atendimento escolar e, dependendo da resposta do profissional da saúde, o convite é feito à criança e ao acompanhante. Quando a locomoção não é possível, a professora deixa atividades para serem feitas quando estiverem se sentindo bem. Enquanto acompanhei a professora em sua rotina diária, me apresentei aos acompanhantes e às crianças, expliquei-lhes o porquê da minha presença e apresentei o TCLE, que ao ser assinado permitiria a minha presença, reforçando a não identificação das crianças e garantindo a não obrigatoriedade da autorização sem oferecer qualquer tipo de dano. No entanto, todos permitiram. Em um dos quartos os quais visitei, havia um adolescente que, mesmo sendo do 9º ano, série que não compete à professora, recebeu a sua atenção, além de alguns gibis e livros. O atendimento escolar hospitalar realizado no leito trata-se então do convite às crianças para irem até a sala no período vespertino e do acompanhamento pedagógico realizado pela professora através da proposição de atividades e desenhos com as crianças e adolescentes que não podem se deslocar até as salas. Posteriormente esse material é entregue para a professora que o cola em um caderno e, após a alta, todas as atividades realizadas durante o período em que frequentam a Classe Hospitalar são entregues para a criança. É visível o contentamento dos acompanhantes que, geralmente, são familiares próximos as crianças, quando sabem do atendimento pedagógico. É uma relação de respeito e carinho recíproco, a professora se mostra atenciosa com o bem estar da criança e dos acompanhantes antes de qualquer intervenção pedagógica e estes se mostram à vontade, acolhidos e gratos pelo trabalho oferecido. Trabalho que é muitas vezes desconhecido por muitos dos que ali estão. Fato que pode ser constatado durante o convite e explicação do trabalho realizado pelo atendimento escolar hospitalar feito a mãe de um menino que havia passado por uma cirurgia. Esta agradeceu várias vezes pela presença da professora, mostrouse surpresa e disse ser um trabalho muito bom para as crianças. Falou também que seu filho adora estudar tanto que respondeu positivamente ao convite da professora, demonstrando estar contente com a possibilidade de continuar suas atividades educativas. Porém, alguns minutos depois, passamos novamente em frente ao seu quarto e o vimos sentado na cama com uma expressão de dor. Fomos conversar com ele e, diante da impossibilidade do menino de se deslocar até a classe, a professora deixou com o garoto alguns livros e atividades para ele fazer no leito e, quando se sentisse melhor, poderia ir até a classe. 49 Quando a criança está indisposta, como o caso de uma menina que estava prestes a entrar na sala de cirurgia, a professora não intervém com atividades pedagógicas, neste caso, a professora dedicou um tempo para conversar com o pai e com a menina, que lhe mostraram fotos de familiares no notebook, contaram histórias, deixando a menina, visivelmente mais a vontade. No período vespertino aconteceu o atendimento escolar hospitalar no espaço destinado a essa prática pedagógica. Algumas crianças chegaram com seus acompanhantes, que aguardaram alguns instantes até se retirarem, garantindo que a criança estivesse se sentindo bem. Geralmente, os acompanhantes aproveitam esse período para tomar banho, lavar roupas e descansar um pouco, pois a maioria está no hospital há, mais ou menos, uma semana. Com a chegada da primavera, a professora planejou atividades relacionadas a esta estação. Preparou a sala disponibilizando sobre as mesas figuras, revistas, cola, tesoura e cartolina, propondo a montagem de, como um dos meninos presentes chamou, um cenário, expondo “O mundo que queremos” (em referência ao tema do projeto adotados pela Classe Hospitalar do Hospital infantil Joana de Gusmão para o ano de 2011). Durante a realização da atividade, as crianças interagiram e se mostraram à vontade, não apresentando mal estar ou dor, aspectos que a professora dava bastante atenção, certificando-se sempre do bem estar físico e psicológico da criança. Uma das meninas presentes precisava tomar um suplemento alimentar, porém ela relutou um pouco, pois estava enjoada da vitamina. A mãe e a professora descontraidamente falaram que era necessário que ingerisse o suplemento e, durante o período em que esteve na classe, a menina foi tomando aos poucos, esvaziando a garrafinha, para a alegria da mãe e da professora. Ao redor da mesa, enquanto recortavam, desenhavam e colavam, muitas histórias e causos foram sendo contados, como peripécias que quase sempre terminavam em boas risadas, mostrando que as crianças através da interação social, aparentemente, se sentiam mais “saudáveis”, esquecendo, mesmo que por alguns instantes, do motivo que as trouxeram ao hospital. Quando indaguei se gostavam das aulas, alguns timidamente acenavam positivamente com a cabeça enquanto outros disseram -“Eu gosto!”, ou, -“Eu não gosto... eu adoro!”. Aos poucos, os acompanhantes foram chegando para buscar as crianças. O atendimento escolar hospitalar vai das 13h30min até as 16h ou 16h30min, dependendo da atividade e disposição das crianças. Muitas crianças, antes de irem embora, foram até o espaço da sala onde ficam os livros de história e escolheram alguns para lerem no quarto. A 50 professora comentou que depois do atendimento escolar, algumas crianças vão até a sala de recreação. Esta sala é um espaço destinado a brinquedos e brincadeiras. Lá, há uma pedagoga que desenvolve as atividades recreativas. A sala dispõe de computadores com internet, vídeo game, brinquedos, jogos. Funciona no período matutino e vespertino, havendo horários determinados e quando em funcionamento as crianças podem frequentar quando desejarem. Ao sair da sala uma das crianças disse à professora -“Prof, amanhã eu venho, nem precisa passar no quarto pra chamar!” referindo-se ao momento em que a professora passa nos leitos para fazer o atendimento pedagógico das crianças que não podem deslocar-se e também para convidar àquelas que podem, para irem até a sala. A fala desta criança, exprime o contentamento e desejo de participarem das atividade pedagógicas. 4.2.2 Segunda observação (28 de setembro de 2011) Foco - O Pedagogo no contexto hospitalar: reflexões sobre a prática pedagógica e as relações neste espaço. Enquanto a professora organizava o material e esperava dar o horário para iniciar a visita aos leitos (por volta das 9h da manhã), explicou-me um pouco mais sobre o cotidiano do atendimento escolar hospitalar. Falou que nas visitas ao leito, leva as fichas de cadastro para serem preenchidas com os dados das crianças. Através da ficha, ela pode conhecer um pouco mais sobre a criança e obter informações importantes, como a escola em que a criança está matriculada. Há um caderno à disposição da professora com os nomes e telefones de todas as escolas do estado para o contato que deverá ser feito pelas pedagogas após o terceiro dia de internação. Através desse contato, a professora informa à instituição escolar que a criança está recebendo atendimento escolar no hospital, solicita material para ser trabalhado com a criança e se informa sobre os conteúdos que estão sendo trabalhados nas diferentes disciplinas. Justi, Fonseca e Souza (apud AMORIM, 2010, p.47) ressaltam a importância da troca de informações entre a Classe Hospitalar e a escola, na qual a criança e/ou adolescente internado estudam, os autores afirmam que “É necessário estabelecer uma ação conjunta de atenção integral entre a família do escolar hospitalizado, a escola do hospital e a escola de origem” e Amorim, seguindo esta linha de raciocínio, diz que “este vínculo torna-se essencial para socializar informações acerca do aluno, tais como os conteúdos já estudados, as dificuldades e nível de aprendizado deste aluno complementa esse pensamento”. Após a alta da criança, a professora envia, pelo correio, um relatório para a escola, informando de maneira descritiva o acompanhamento pedagógico realizado, bem como 51 aspectos inerentes à criança. É solicitado à instituição um feedback sobre como foi a volta da criança ao contexto escolar regular. De acordo com Darela (2007, p.32) “um parecer da escola não deixa de ser favorável para que se possa avaliar e incrementar o trabalho realizado no hospital, sendo que para isto é necessário que sejam estabelecidos canais de comunicação entre estas esferas durante e após a hospitalização”. A professora relatou que em um dos feedbacks dado por uma escola, a instituição expressou que a criança demonstrou mais interesse e até mesmo melhora comportamental após sua passagem pelo atendimento escolar hospitalar. Santos e Souza (2009, p.116) dizem que: [...] a melhora do rendimento costuma ser duradoura, durando o ano todo, quando não pelo resto da vida escolar, gerando dividendos em progressão geométrica, justificando os investimentos públicos já existentes e induzindo nossas autoridades da educação a que dediquem mais e mais tempo, pessoas e recursos a esta indispensável atividade que é educação em ambiente hospitalar. A professora da Classe Hospitalar do 1º ao 5º ano do HIJG trabalha há aproximadamente 20 anos com a educação. É formada em Pedagogia com habilitação em Séries Iniciais e Educação Especial. É concursada pelo estado e mora em Florianópolis há quatro anos. Fez mais um curso em Educação Especial e soube do atendimento escolar hospitalar quando trabalhava na escola vinculada ao hospital através de uma professora que já havia trabalhado na seção de pedagogia do HIJG. Atua há dois anos no atendimento escolar hospitalar do HIJG, com carga horária de 40 horas semanais e se diz realizada com a atual atividade. Essa professora se preocupa constantemente em refletir sobre sua prática, assim como realizar leituras sobre o atendimento escolar e o cotidiano hospitalar, buscando sempre melhorar a qualidade de seu trabalho. Fontes (2005, p.26) esclarece que “o professor precisa ser um pesquisador da sua prática, principalmente na Pedagogia Hospitalar, onde há uma pequena produção literária sobre o assunto. Precisa refletir, construir, escrever, para conceituar essa prática”. A professora relatou que sente que as crianças a aguardam ansiosas, tomam banho cedo e no período vespertino essa satisfação com a “escolinha”, como as crianças chamam carinhosamente o espaço da Classe Hospitalar, se demonstra com a chegada das crianças antes do horário. Elas começam a chegar por volta das 13h e ficam nos arredores da sala. Às vezes estão tão envolvidas na atividade que não querem interrompê-la, como foi o caso de um 52 menino que recebeu visita e não quis sair da sala, então a mãe e a visita vieram até a sala e acompanharam um pouco a criança. Os acompanhantes revelam que as crianças demonstram-se desanimadas e preocupadas com as faltas na escola e quando sabem da existência da Classe Hospitalar se alegram mais com a possibilidade de realizar atividades pedagógicas enquanto internadas. A professora comentou sobre a importância do respeito e valorização do trabalho para um bom relacionamento com todos os profissionais envolvidos no contexto hospitalar. Disse que sua relação com os profissionais da saúde é boa e saudável, fato que pode ser percebido durante as visitas realizadas aos leitos e nos encontros pelos corredores do hospital. Henrique (2009, s.p) contribui ao citar a ética como essencial para o trabalho no meio hospitalar, para a autora: [...] o convívio e o diálogo entre pacientes e os profissionais das diferentes áreas, necessitam imprescindivelmente serem prezados, respeitando assim, o direito de privacidade das informações referentes a cada paciente, assim sendo, não se fere a relação de confiabilidade entre os sujeitos citados. A educadora relatou que certa vez um médico lhe falou que acredita que esse vínculo entre escola e saúde contribui, em grande parte, na recuperação da criança. Matos (2008, s.p.) ratifica o pensamento do médico quando afirma que “o afastamento do internado de sua família, da escola e dos amigos acaba alterando sua auto-estima, criando ansiedade, medo, desânimo, depressão e tornando lenta sua recuperação”. Para Kohn (2010, p.15-16) a [...] Pedagogia Hospitalar como um processo alternativo que trabalha o indivíduo na sua integralidade e não considera o atendimento escolar como provisório e sim como a parte do trabalho de fazer a criança entender e aceitar seu cotidiano hospitalar e, consequentemente, contribuir para a recuperação de sua saúde, pois uma criança ou um adolescente quando perde o medo, a angústia do internamento e da doença, automaticamente começa a trabalhar em favor de sua melhora. Paula et al (2009, p.136) contribuem dizendo que: Diferentes estudos tem demonstrado que o enfermo tende a reagir melhor quando é estimulado no hospital. Psicologicamente, sabe-se que as cores da parede influenciam de forma significativa o inconsciente do ser humano, ao mesmo tempo que a graça de um palhaço estimula o riso, a descontração e o prazer que a leitura de um livro faz. 53 Acompanhei a professora na visita à unidade de queimados. Ao adentrarmos nesse espaço, sentimos um cheiro forte devido aos procedimentos de esterilização. Antes de entrarmos nos leitos colocamos um avental e uma touca que ficam em um armário. Há um cuidado todo especial, necessário para evitar maiores complicações aos internados. Na unidade de queimados conheci uma menina (8 anos de idade) que, segundo a professora, vem constantemente ao hospital desde os seus quatro anos, quando sofreu a queimadura. Ela foi alfabetizada dentro do hospital. A professora trabalhou com ela no leito, pois a menina não podia sair da unidade, realizou atividades de multiplicação. É possível perceber o carinho que há entre a professora e a menina. Fonseca e Ceccin (1999, p.26) falam que “segundo a pedagogia do desenvolvimento de Vygotsky (1935), o campo das construções cognitivas é campo de atualização de afetos e elaboração das aprendizagens complexas”. Durante nossas visitas aos leitos encontramos um dos meninos que havia frequentado a Classe Hospitalar no dia anterior, fazendo algumas atividades que trouxe para fazer no quarto. A mãe do garoto disse que ele estava preocupado em não conseguir terminar as atividades para a próxima aula. A professora conversou com ele e lhe disse para ficar tranqüilo, que não tinha necessidade de ter pressa, pois poderia levar o material para finalizar na sala, mas ainda sim ele continuou a desenvolvê-las. No período vespertino, a professora organizou os materiais (pincéis, tintas, alguns moldes de papel feitos de recortes) e forrou a mesa com papel pardo, pois a atividade seria com tinta guache. A maioria das crianças iniciou a atividade utilizando os moldes, mas preferiram partir para o desenho livre com a utilização de muitas cores. Uma das crianças entregou para a professora uma cartinha e a abraçou demonstrando afeto e gratidão. A professora se mostrou surpresa e encantada com tal atitude, agradecendo-a com um abraço. Há um menino que é pontual na sua chegada e desenvolve as atividades com vontade e criatividade, mas, no entanto, não quer frequentar a escola regular. A professora conversou com a mãe do menino para ela não deixá-lo sem estudar, para ir atrás de outra escola (aparentemente o problema do menino é com a escola em que frequentava). Ele trouxe uma atividade realizada na recreação no dia anterior, que era uma caixa feita com folha A4 e quando as crianças finalizaram suas pinturas ele mostrou como fazê-la, e foi uma verdadeira festa. Entre histórias, risos, sonhos e conversas, que partiam para o que iriam fazer assim que saíssem do hospital, ficavam evidenciados os sentimentos, desejos e situações que propiciam à criança elevar seu pensamento, desejando melhorar o seu estado de saúde. 54 4.2.3 Terceira observação (29 de setembro de 2011) Foco – Desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo das crianças hospitalizadas. Há muitos materiais à disposição da professora, como jogos, livros didáticos e de histórias. A sala conta com uma televisão e um aparelho de DVD/vídeo. Alguns dos materiais são enviados pelo governo do Estado e outros são referentes a doações. Enquanto a professora organizava os materiais, um pai veio até a sala perguntar se seu filho poderia vir à classe. A professora disse que ele poderia vir às 13h30min, mas que lhe daria alguns desenhos para levar para o menino. O pai agradeceu e disse que este atendimento pedagógico destinado às crianças fortalece, também, os acompanhantes, pois quando vem ao hospital muitas vezes sentem-se perdidos. Fomos aos leitos e cerca de três crianças que estavam sendo atendidas na Classe Hospitalar tiveram alta. Quando chegamos ao quarto de um menino que frequenta a sala no período vespertino, a professora perguntou se ele iria à tarde e ele lhe respondeu que não sabia, pois iria fazer uma caligrafia. Sua mãe não estava junto e nós ficamos confusas, até concluirmos que se tratava de uma tomografia. Em um dos quartos encontramos outro menino que não podia fazer esforço físico devido sua cirurgia. Ele se mostrava muito cabisbaixo e desanimado, a professora disse que ainda não era o momento de intervir pedagogicamente, então levou um joguinho mais simples. O menino, ao ver a professora e o joguinho, abriu um lindo sorriso. Rodacoski e Forte (2009, p.69) dizem que quando é “garantida a estabilidade emocional, torna-se possível estimular a capacidade cognitiva da criança e de seu acompanhante, com os projetos de humanização que sistematizam a intervenção na busca por aproximar educação e saúde”. Após terminar as visitas nos leitos a professora entrou em contato com a psicóloga solicitando que ela fosse conversar com o garoto. No entanto, a psicóloga disse que já havia conversado com o menino e relatou que ele presenciou a morte de uma criança enquanto estava na UTI e que isso o chocou muito. À tarde, na sala, a professora preparou o material para as crianças construírem um mosaico com pedaços de folhas de EVA. Recortou cores diferentes de EVA e distribuiu desenhos e cola. A sala estava cheia, havia cerca de seis crianças. O aparelho de uma das crianças apitava quase sempre, a professora que entendia o que fazer clicava na máquina que silenciava, mas logo voltava a apitar novamente e de imediato uma das crianças dizia tapando 55 os ouvidos: -“Acabou o medicamento!”, mas não se tratava disto e sim de um alerta para o nível baixo de gotejamento do soro. Durante a atividade, uma das meninas que frequentava a classe pela primeira vez, exclamou com seu jeitinho espontâneo: -“Ai, não aguentava mais ficar trancada naquele quarto!”. Essa fala explana a grande importância do atendimento escolar hospitalar, que garante a interação e a continuação do desenvolvimento como um todo da criança. Esta menina ficava no leito, na unidade de queimados rabiscando grosseiramente folhas em branco e, de acordo com os enfermeiros da unidade, por inúmeras vezes se mostrava agitada. Já na sala da classe, seu trabalho foi um dos mais belos, cheios de cor e detalhes. Darela (2007, p. 16) corrobora com tal vivência ao dizer que: Ao propiciar consolo e conforto, retiro-a de seu lugar de solidão diante da doença. A educação vem ao encontro do resgate da saúde orgânica e também da dignidade social no momento em que as ações estão voltadas para o desenvolvimento integral do ser humano. Observa-se a grande contribuição da Classe Hospitalar diante do desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo das crianças e adolescentes hospitalizados, principalmente quando se leva em conta as contribuições de Vygotsky. O autor, que desenvolveu a teoria sócio-histórica e interacionista, “defende serem as condições de vida que determinam diretamente o desenvolvimento da criança, atribuindo uma grande importância aos processos sociais na formação dos processos cognitivos, afetivos e psicológicos do ser humano” (apud Kohn, 2010, p.74), sendo que: Vygotsky (1994) defende que o indivíduo não existe isolado, ele se constrói e constrói o outro na interação. Por isso, o desenvolvimento humano é visto como um empreendimento conjunto e não individual. A aquisição de conhecimento é um processo construído pelo indivíduo durante toda sua vida, não estando pronto ao nascer, nem sendo adquirido passivamente graças às ações do meio. (apud KOHN, 2010, p.76). Diante da aparente indisposição de uma das crianças, a professora questionou se estava tudo bem. De início a criança disse que sim, mas em seguida a professora percebeu que ela estava passando mal e imediatamente chamou um enfermeiro da unidade onde a criança estava internada. A pressão da criança baixou de repente, fazendo-a ficar tonta e com dor de cabeça. Vasconcelos (2010, p.19) diz que: 56 A ética profissional do pedagogo hospitalar exige que seja humano antes de tudo, respeitando limites, fortalecendo a individualidade de cada um e não intervindo na ação médica, entretanto colaborando muitas vezes ao diagnosticar certas indisposições que surgem no momento da atuação pedagógica como mal estar, no decorrer do tempo perceber o início de uma deficiência intelectual adquirida pela doença e que interfere em sua aprendizagem, dentre outros aspectos que um professor costuma analisar no educando enquanto um ser que aprende e que se modifica. Diante da experiência vivida e da fala da autora é incontestável a importância do olhar atento da professora durante o atendimento escolar hospitalar. No caso presenciado, foi possível perceber que, inicialmente, a criança não quis expor seu mal estar por não querer sair do espaço da sala, aspecto que necessita da constante contribuição do profissional da educação ao dizer que assim que possível a criança pode retornar, se assim desejar. Enquanto as crianças faziam seus trabalhos eu li uma história, com o consentimento da professora. O livro intitulado “A lágrima de Felipe” de Mariette da Silveira (2004) conta a história da lágrima que cai na terra, faz a planta crescer, evapora, cai em forma de chuva, ou seja, conta o ciclo realizado pela água. Após a leitura, conversamos um pouco sobre o que a história tratava. As crianças aparentaram gostar muito desse momento. Percebi nesse dia a necessidade de ter mais pedagogos atuando no hospital, já que o atendimento nos leitos exige muito tempo, pois os acompanhantes necessitam conversar e sentem-se confortáveis com a presença da professora. 4.2.4 Quarta observação (30 de setembro de 2011) No último dia de observação, acompanhei o trabalho da professora apenas no período matutino, no atendimento aos leitos. Passamos nas unidades e, como de costume, a professora atendeu às crianças, deixou algumas atividades e fez o convite às crianças que poderiam se deslocar até a sala para frequentar a Classe Hospitalar. A Pedagogia Hospitalar do HIJG conta com instalações específicas inaugurada em março de 2010. Esse espaço educativo foi construído e mobiliado pela AVOS, para oferecer o atendimento pedagógico. Fica localizado em uma área externa, conhecida como área de sol. A sala da chefia do setor de pedagogia, a sala de estímulo essencial, a sala para atender ao publico de 6º ao 9º ano, a sala destinada ao 1º e 5º ano, ficam uma ao lado da outra e a sala de recreação fica em um outro espaço. Nesse espaço externo há também um local coberto onde são feitas apresentações, festas e recreação. Segundo Barros (1999, p. 85): 57 A vantagem de um ambiente de uso exclusivo para a finalidade de escolarização é que este mantém uma atmosfera própria, onde, por exemplo, tarefas produzidas anteriormente podem ficar afixadas e serem comparadas com as dos colegas da enfermaria e com outras ao longo do seu processo de aprendizagem. A sala destinada à classe é um ambiente claro e arejado, tem estantes com diversos livros e matérias didáticos; dois computadores com acesso à Internet; um armário de cor clara, onde ficam os jogos, lápis e outros materiais pedagógicos; um quadro branco e ao lado do quadro a uma pia com sabonete líquido para manter a higiene necessária; dispõe também de um banheiro onde fica uma cadeira de rodas para eventuais necessidades; as paredes são decoradas com o alfabeto; há um espaço onde ficam livros infantis, que podem ser levados pelas crianças até o leito para leituras; e no centro da sala fica uma mesa retangular com seis lugares onde todos trabalham juntos. Durante uma conversa, questionei a professora se no tempo em que trabalha na Classe Hospitalar, alguma criança que ela atendia havia falecido. Diante da resposta afirmativa, perguntei como lidou/lida com essas perdas, pois é algo que particularmente, me comove muito. A professora relatou que no início ficava muito chocada, até porque muitas crianças saíam do hospital bem e de repente voltavam com o quadro agravado. Quanto às perdas, ela relatou que com o passar do tempo foi se “habituando” com todo esse contexto hospitalar. Castro (2009, p.43-44) diz que “o professor neste ambiente deve ter clara a noção da perda, dos conflitos sociais, as questões socioeconômicas e culturais; o professor necessita manter o equilíbrio psicológico frente às diversas circunstâncias dos tratamentos”, complementando tal pensamento Matos (2008, s.p.) fala que O profissional que tem a intenção de atender a essa educação hospitalizada necessita de uma formação diferenciada que desenvolva suas habilidades e competências, bem como um trabalho emocional qualificado que o beneficie diante de determinadas situações. É possível perceber o carinho da professora com as crianças que atende. Muitas vezes ela traz adesivos e materiais, comprados por conta própria, para presentear as crianças ou trabalhar pedagogicamente. Através destas observações, pude conhecer mais de perto o cotidiano do trabalho pedagógico realizado no HIJG bem como correlacionar a prática com a teoria. Estas vivências fortaleceram a importância dessa modalidade de ensino, pois contribui significativamente para 58 a continuação desenvolvimento de escolares hospitalizados já que a “trajetória acadêmica de muitos desses pacientes é permeada pela evasão, pelo ingresso tardio ou pela exclusão promovida pelo próprio sistema educacional” ( ARROS, 1999, p.88). 4.2.5 Em foco: o que foi observado As observações tiveram olhares com focos específicos visando responder aos objetivos da pesquisa. No primeiro dia, o foco de observação foi o planejamento. No HIJG, o planejamento se dá por meio de projetos anuais e planejamentos diários onde as atividades devem iniciar e terminar no mesmo dia devido à alta rotatividade de educandos no atendimento pedagógico hospitalar. A flexibilidade, criatividade, respeito e sensibilidade são alguns fatores que possibilitam maior significação no processo ensino-aprendizagem em todos os contextos educacionais e principalmente no hospitalar, onde as limitações de espaço e de saúde precisam ser levadas em consideração a todo instante. Após três dias de internamento da criança, a pedagoga entra em contato com a escola para informar que ela está participando das atividades pedagógicas. Geralmente, neste mesmo contato, a escola informa sobre os conteúdos que podem ser trabalhados e a própria pedagoga prepara o material. Quando a criança recebe alta hospitalar a pedagoga envia um relatório descritivo relatando as vivências e atividades realizadas pela criança, bem como outras informações que possam ser importantes. É solicitado à escola, um feedback sobre o retorno da criança ao cotidiano escolar. Esta troca de informações é um ponto bastante importante para que o trabalho pedagógico hospitalar seja analisado e melhorado. No segundo dia, observei o pedagogo no contexto hospitalar, considerando a prática pedagógica e as relações existentes neste espaço. A pedagoga diz estar sempre refletindo sobre sua prática e estudando sobre as situações deste contexto, visando sempre, melhorar sua atuação e proporcionar um ambiente em que o processo ensino-apredizagem seja significativo para todos os envolvidos neste processo. Ela afirmou também, em uma de nossas conversas, que tem um bom relacionamento com os profissionais da saúde, aspecto que pude perceber durante os atendimentos nos leitos. Esta integração entre os profissionais de diferentes áreas inseridos no espaço hospitalar é de suma importância, pois a um interesse me comum entre eles: o bem estar da criança. No terceiro dia, observei aspectos sobre o desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo das crianças hospitalizadas. Uma das falas que mais me chamou a atenção, foi a de uma 59 menina que participava pela primeira vez da classe hospitalar. Ela disse: -“Ai, não aguentava mais ficar trancada naquele quarto!”. Tal narrativa esboça o bem que a Pedagogia Hospitalar proporciona por meio das interações sociais, brincadeiras, atividades, laços que se tornam possíveis e contribuem significativamente para o desenvolvimento destas crianças e adolescentes, uma vez que as experiências estimulam o cognitivo, o social e o afetivo. 60 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor, mas lutamos para que o melhor fosse feito. (MARTIN LUTHER KING) Desde o início desta caminhada me senti entusiasmada pela possibilidade de aprofundar os estudos acerca de um tema de meu interesse: a Pedagogia Hospitalar. A cada tropeço (pois claro, eles existiram) percebi que era necessário parar, respirar e levantar para seguir adiante, afinal concretizar um sonho nem sempre é uma tarefa fácil. A Pedagogia Hospitalar integra educação e saúde proporcionando à continuidade dos estudos da criança e do adolescente em tratamento hospitalar. Essa modalidade educacional encontra-se amparada pela Secretaria de Educação Especial, pois, visa a inclusão destes escolares, que necessitam ausentar-se por longos ou esporádicos períodos das escolas, evitando prejuízos ao desenvolvimento e a evasão escolar após as altas hospitalares. Por meio das experiências vivenciadas dentro do HIJG, instituição que oferece a Pedagogia Hospitalar, e das leituras sobre este tema, pude observar, conhecer e constatar como essa prática educacional beneficia àqueles que encontram-se hospitalizados. Durante os quatro dias em que acompanhei o cotidiano da Classe Hospitalar do HIJG, o que inclui o trabalho da pedagoga junto às crianças do 1º ao 5º Ano, tanto na sala quanto nos leitos, chamou-me a atenção a afetividade envolvida nessas relações, no sorriso da criança ao ver a pedagoga entrar no quarto ou nas chegadas a sala bem antes da hora de iniciar a classe; da gratidão, respeito e acolhimento demonstrado pelos acompanhantes; do trabalho realizado com carinho e respeito pela pedagoga a cada chegada ou partida das crianças. Enfim, todos os laços comuns à escola se mostraram presentes na Classe Hospitalar, talvez com mais delicadeza ou reconhecimento. A Seção Pedagógica do HIJG, conta como uma parceria com a Secretaria de Estado da Educação, e é oficializada através da portaria nº 30 de 05/03/2001. A Escola de Educação Básica Padre Anchieta, por localizar-se próximo ao hospital é a escola que está vinculada com o programa pedagógico desta instituição hospitalar. Além do Atendimento Escolar Hospitalar a equipe pedagógica oferece outros serviços como estímulo essencial, recreação entre outros. O Atendimento Escolar Hospitalar acontece diariamente, é dividido em atendimento no leito durante a manhã (geralmente das 08h30min até as 11h30min) e na sala, durante a tarde (das 13h30min até as 16h ou 16h30min). O planejamento é feito a partir de projetos anuais e são realizados diariamente. 61 O planejamento pedagógico hospitalar é feito de maneira flexível, moldando-se às necessidades do escolar hospitalizado e ocorre por meio de projetos com propostas diárias, pois há grande rotatividade de educandos. Logo após a criança receber alta, a pedagoga responsável pelo seu atendimento envia à instituição escolar de origem um relatório descritivo, informando as atividades que foram realizadas bem como as dificuldades ou eventuais situações que julga ser importante relatar, visando sempre o bom retorno da criança no espaço escolar. É nítido o contentamento dos acompanhantes e das crianças ao saberem da possibilidade de realizar atividades pedagógicas, afinal, significa um pedacinho do cotidiano acompanhando a criança dentro do hospital. As atividades pedagógicas e as interações sociais proporcionadas pela Classe Hospitalar propiciam um visível bem-estar às crianças, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo destas, por meio da manutenção dos vínculos sociais e escolares. As relações entre os profissionais das diferentes áreas do HIJG tendem a ser de respeito e cooperação, afinal, há objetivos em comum entre eles: a saúde, o bem estar e o desenvolvimento da criança. Isso contribui para a efetivação da humanização, uma das mais recentes preocupações do Ministério da Saúde nos hospitais, e visa à melhora na qualidade e eficácia dos atendimentos prestados pela instituição e para isto necessita do bom relacionamento, que compreende o entendimento do trabalho desenvolvido pelos profissionais tanto da saúde como da educação – entre outros –, assim como o respeito às limitações de sua atuação. A Pedagogia Hospitalar é garantida por lei, entretanto ainda são escassas as instituições hospitalares que oferecem tal atendimento atrelado ao tratamento de saúde. É possível observar, em pesquisas e leis, a visibilidade crescente dada aos benefícios que a intervenção pedagógica proporciona às crianças e adolescentes hospitalizados. Mas ainda há muito por fazer, principalmente no âmbito acadêmico, onde essa modalidade de ensino é pouco mencionada e são escassos os cursos direcionados a essa prática. A prática pedagógica em espaço hospitalar é inegavelmente profícua à sociedade, pois permite a não interrupção do contato dos internados com conteúdos escolares e com características comuns ao meio social – interação com outras pessoas, conversas, brincadeiras etc. – assume um importante papel na formação do indivíduo uma vez que o desenvolvimento da criança e adolescente nos aspectos cognitivo, social e afetivo continua a ser estimulado. Sendo perceptível a relevância para a continuação do desenvolvimento da criança e do adolescente como um todo. 62 A sociabilidade é uma característica importante para o desenvolvimento do ser humano, pois vivemos em sociedade. Através das interações proporcionadas pelas classes hospitalares (entre as crianças, entre elas e os pedagogos) é possível “trazer” essa vivência, a princípio deixada no lado de fora para dentro do hospital. Em algumas situações presenciadas durante minhas observações in loco, é quase possível garantir que as crianças “esqueciam” onde estavam ou que estavam sentindo. Na experiência que tive foi possível observar, durante a permanência das crianças no atendimento escolar hospitalar, uma cumplicidade entre professor-aluno que se dava através de brincadeiras, conversas e na satisfação de poder estar recebendo esse atendimento traduzido na alegria em ver a professora chegar ao leito ou na quase tristeza em voltar para o quarto após o término da Classe Hospitalar. Como pedagoga que estou prestes a ser, digo com convicção que acredito na educação nos mais variados contextos. Percebo ainda, que há muito por fazer tanto em políticas públicas quanto em formação profissional para que não haja exclusão de nenhum individuo independentemente do local em que este se encontra. Esta pesquisa proporcionou-me inúmeras aprendizagens, aprendi a importância da organização para realizar uma pesquisa, dos fichamentos de tudo que foi lido, pois facilitaram a minha escrita e a elaboração das análises e das intensas leituras. Aprendi também a superar a dor, a acreditar, a buscar, sempre, uma maneira de fazer melhor. Aprendi que nada é fácil, mas compensador ao final, estou feliz por finalizar esta etapa e levo comigo o grande desejo de seguir adiante. 63 REFERÊNCIAS ADAM, Adilaine Aparecida Barbieri. Et al. Pedagogia em ambientes clínicos: alguns aspectos didático-pedagógicos no processo de hospitalização. Disponível em <http://www.proec.ufpr.br/enec/download/pdf/3ENEC/educacao/PEDAGOGIGA%20EM%2 0AMBIENTES%20CL%CDNICOS%20ALGUNS%20ASPECTOS%20DID%C1TICOPE.pdf>. Acesso em: 3 fev. 2011. ALMEIDA, Érica Cristina Silva. Práticas pedagógicas em ambientes hospitalares: Potencializando a saúde através da educação. Pedagogia em Ação. 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