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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ
CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
CURSO DE PEDAGOGIA
VANDERLEIA PANDINI
– “PROF, AMANHÃ EU VENHO,
NEM PRECISA PASSAR NO QUARTO PRA CHAMAR!”
AS CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA NO ESPAÇO HOSPITALAR
São José
2011
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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ
CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
CURSO DE PEDAGOGIA
VANDERLEIA PANDINI
– “PROF, AMANHÃ EU VENHO,
NEM PRECISA PASSAR NO QUARTO PRA CHAMAR!”
AS CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA NO ESPAÇO HOSPITALAR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como
requisito de formação do curso de Pedagogia pelo
Centro Universitário Municipal de São José.
Orientadora: Profa. Msc. Elisiani Cristina de Souza
de Freitas Noronha
São José
2011
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VANDERLEIA PANDINI
“PROF, AMANHÃ EU VENHO,
NEM PRECISA PASSAR NO QUARTO PRA CHAMAR!”
AS CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA NO ESPAÇO HOSPITALAR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito de formação do curso de
Pedagogia pelo Centro Universitário Municipal de São José – USJ avaliado pela seguinte
banca examinadora:
Orientadora:
Prof ª. Msc. Elisiani Cristina de Souza de Freitas Noronha
___________________________________
Prof ª. Msc Vera Regina Lucio.
___________________________________
Membro examinador
Prof ª. Msc. Wanderléa Pereira Damásio Maurício.
___________________________________
Membro examinador
São José, 21 de novembro de 2011.
3
Dedico este trabalho a meus pais, Arlete e Valcir,
motivos da minha existência, razões da minha vida!
4
AGRADECIMENTOS
Não é possível dizer-te sempre coisas novas, nem te é necessário ouvi-las.
O que importa é que sejas sempre novo, que te desprendas cada dia do homem-velho,
e que cada dia tornes a nascer, a crescer e a progredir.
(SANTO AGOSTINHO)
Agradeço primeiramente a Deus, que colocou a pedagogia em meu caminho. Durante
minha graduação compreendi o quanto este curso me completa. Hoje vejo o quanto cresci
como pessoa através de todas as minhas vivências e estudos de cunho teórico e prático, foram
experiências que agregaram a minha formação tanto pessoal quanto profissional. Lembro-me
dos dizeres de Rubem Alves (s.d.): “não havíamos marcado hora, não havíamos marcado
lugar. E, na infinita possibilidade de lugares, na infinita possibilidade de tempos, nossos
tempos e nossos lugares coincidiram. E deu-se o encontro”. Nesta passagem, Alves fala de
coincidência, mas prefiro reportar-me ao destino, pois acredito que por mais que nunca
houvesse almejado alçar voos em direção à Pedagogia, por vários momentos ela esteve diante
de mim e por fim nos encontramos e me sinto realizada por isso.
Agradeço a minha família. Deus me proporcionou uma linda dádiva, a de nascer nesta
família de pessoas incríveis e com um valor inestimável. Devo a vocês todas as minhas
conquistas. Serei eternamente grata por tudo, pois sou o que sou, estou onde estou, por causa
de vocês. Obrigada mãe, pai, mano e sobrinha. Amo muito vocês!
Agradeço ao Vitor, meu noivo, por estar presente durante esta etapa tão importante de
minha formação, acreditando em mim quando eu não mais acreditava, incentivando-me com
palavras e enchendo-me de amor e carinho. A cada dia que passa, tenho mais certeza que és a
pessoa com quem quero dividir minha vida. Te amo!
Agradeço a minha professora orientadora Elisiani, que me fez sentir sempre à vontade
em sua companhia. Acompanhou e ouviu, incansavelmente, meus anseios. Instigou sempre
em mim o desejo de almejar meu melhor, fez sentir-me sempre capaz, encorajando-me a cada:
- “Calma, tudo dará certo!”. Obrigada por todos os momentos de aprendizagem, amizade e
auxílio. Descobri em você grande parte do que quero procurar ser.
Agradeço às crianças que encontrei durante este percurso, cada uma delas me ajudou a
perceber o quão importante é esta profissão e, por muitas vezes, me fizeram relembrar da
minha infância, período em que me recordo com extremo carinho, pois sempre tive verdadeira
5
paixão por ser criança. Temos o dever de proporcionar às nossas crianças, momentos
inesquecíveis de dedicação, de sensibilidade, de possibilidades e trocas.
Agradeço aos adultos com quem tive contato na EJA, pessoas incríveis que
proporcionaram momentos maravilhosos em um período marcado pelo nervosismo e angústia.
Agradeço à Marilândes Mól Ribeiro de Melo, Rejane Fontes, Neusa Amorim, Carlos
Henrique Kessler, Elizete Lucia Moreira Matos, Tania Maria Fiorini Geremias por terem
respondido aos contatos feitos por mim e por terem se colocado à disposição para auxiliar-me
neste estudo.
Agradeço aos professores que estiveram presentes ao logo de minha vida acadêmica e
mais precisamente aos professores que participaram de minha graduação, proporcionando
conversas, momentos de ressignificação e contribuições imensamente necessárias a minha
formação como um todo.
Agradeço a todos os meus amigos que souberam me acalentar, suportaram meus
momentos de angústias e minhas ausências. Verdadeiros anjos que me ajudaram a não perder
a força de vontade. Obrigada Eduardo, Fernanda, Gabriela, Juliana, Mayara, Oésle, Roberta...
“galerinha do fundão” por todo companheirismo, auxílio, cafés, caronas e descontração nestes
quatro anos de caminhada.
Agradeço, especialmente, a Jennifer Tâmara Linhague, minha amiga e companheira de
estágios. Obrigada pelos conselhos, puxões de orelha, carinho, pela força, descontração, pela
sua amizade.
Agradeço às crianças, aos acompanhantes, à pedagoga e à sessão pedagógica do
Hospital Infantil Joana de Gusmão que contribuíram para a conclusão deste trabalho.
Agradeço a todos que direta ou indiretamente auxiliaram-me a chegar até aqui.
Tenho desejo de seguir em frente, acredito que podemos sempre crescer mais, agregar novos
saberes aos quais já possuímos e compactuo aqui com as palavras de Barcelos (2006, p.24)
quando afirma que os saberes são algo inerente à vida, saberes “são as viagens que realizei,
são os livros e revistas que li, a música que me tocou, as amizades, as paixões e amores que
vivi, o ódio que senti (se senti), as conversas de que participei. Enfim, é aquilo que forma meu
acervo de conhecimentos. É o conteúdo misterioso deste baú chamado memória”.
6
"[...]
Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
[...]
Mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida [...]"
(Milton Nascimento).
7
RESUMO
O tema central deste estudo é a Pedagogia Hospitalar, modalidade da Educação Especial,
garantida por lei às crianças e adolescentes, porém, ainda pouco discutida no meio acadêmico.
Nele, serão apresentados os aspectos inerentes à prática pedagógica hospitalar, destacando-se:
a importância da Pedagogia Hospitalar para o desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo dos
escolares internados; a elaboração dos planejamentos pedagógicos; as relações entre os
profissionais de diferentes áreas; a contribuição da pedagogia para a humanização hospitalar;
e as leis que asseguram a referida prática, perpassando por estes pontos específicos, busquei
conhecer o cotidiano pedagógico no Hospital Infantil Joana de Gusmão. Para responder a
questão norteadora deste trabalho: Como ocorre a prática pedagógica hospitalar do Hospital
Infantil Joana de Gusmão? Foi realizada uma pesquisa de cunho qualitativo que contou com
observações junto ao atendimento pedagógico, realizado tanto nos leitos quanto na Classe
Hospitalar dos Anos Iniciais, do Hospital Infantil Joana de Gusmão, com entrevista não
estruturada com a pedagoga da Classe Hospitalar, além do levantamento bibliográfico e
documental. Os dados obtidos permitiram tornar as vivências significativas, proporcionando
uma clara visão das contribuições da pedagogia no contexto hospitalar.
Palavras-chave: Pedagogia Hospitalar. Anos Iniciais. Humanização.
8
LISTA DE SIGLAS
AEH – Atendimento Escolar Hospitalar
AVOS - Associação de Voluntários de Saúde do Hospital Infantil Joana de Gusmão
CEP – Comitê de Ética em Pesquisas
CONANDA - Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
ECA – Estatuto da Criança e Adolescente
HIJG – Hospital Infantil Joana de Gusmão
LDB – Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC – Ministério da Educação e Cultura
ONU - Organização das Nações Unidas
PNHAH - Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
SED - Secretaria de Estado da Educação
TCC – Trabalho de Conclusão de Curso
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização
das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura)
UTI – Unidade de Tratamento Intensivo
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................
11
2 A PRÁTICA PEDAGÓGICA EM AMBIENTE HOSPITALAR...................
15
2.1 RESPALDO LEGAL QUE REGE A PEDAGOGIA HOSPITALAR .......
16
2.2 LITERATURA ESPECIALIZADA RECENTE ...............................................
21
2.3 A IMPORTÂNCIA DAS CLASSES HOSPITALARES PARA O
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E SÓCIO-AFETIVO DAS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES HOSPITALIZADOS................................
24
2.4 A HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR: LIDANDO COM EMOÇÕES E
SENTIMENTOS..............................................................................................
29
2.5 O PEDAGOGO NO CONTEXTO HOSPITALAR: REFLEXÕES SOBRE A
PRÁTICA PEDAGÓGICA E AS RELAÇÕES NESTE ESPAÇO..................
31
2.6 PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO HOSPITALAR .......................................
33
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................................................
37
3.1 PERCURSOS METODOLÓGICOS ................................................................. 37
3.2 RECURSOS METODOLÓGICOS ...................................................................
38
3.3 COLETA DE DADOS ......................................................................................
40
3.4 A PRÁTICA PEDAGÓGICA NO HOSPITAL INFANTIL JOANA DE
GUSMÃO ......................................................................................................... 42
4 ANÁLISES DA PESQUISA...............................................................................
44
4.1 A CAMINHADA: OBSERVAÇÕES EM CAMPO .........................................
44
4.2 DIÁRIOS DE CAMPO ....................................................................................
46
4.2.1 Primeira observação (27 de setembro de 2011)
Foco – Planejamento Pedagógico Hospitalar ............................................
46
4.2.2 Segunda observação (28 de setembro de 2011)
Foco - Prática pedagógica hospitalar e as relações neste espaço
hospitalar ....................................................................................................... 50
10
4.2.3 Terceira observação (29 de setembro de 2011)
Foco – Desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo das crianças
hospitalizadas................................................................................................
54
4.2.4 Quarta observação (30 de setembro de 2011).............................................
56
4.2.5 Em foco: o que foi observado ....................................................................... 58
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................
60
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 63
ANEXOS ................................................................................................................. 70
11
1 INTRODUÇÃO
Ser “diferente” e, por isso, ter de ficar “de fora” é muito doloroso; vencer
os obstáculos impostos pela doença, ao contrário, é vitória, aprendizagem e
desenvolvimento.
(CECCIN; FONSECA, apud ALMEIDA, 2009, p. 82)
Antes de começar a frequentar o Curso de Pedagogia, eu pensava que a educação
acontecia somente nas escolas. Durante meus estudos acadêmicos li e ouvi a respeito de
outros locais onde o pedagogo poderia atuar – os chamados contextos não escolares. Desde
então, esta temática despertou em mim uma grande curiosidade, levando-me a pesquisar sobre
os locais não formais de educação e a procurar conhecer um pouco mais sobre outros espaços
em que o docente pode atuar.
Dentre os diferentes contextos educacionais que conheci – eventos, empresas e
hospitais – encantei-me com o trabalho pedagógico realizado nas instituições hospitalares e
passei a admirar os docentes que atuam nesse espaço. Questionava-me sobre como esses
profissionais se preparavam para trabalhar com a alta rotatividade de seus alunos, seja pelo
falecimento ou pela alta hospitalar e sobre como ocorria a prática em seu cotidiano.
É motivador vê-los proporcionar às crianças e adolescentes hospitalizados o direito de
continuar seus estudos. Pois, dependendo dos tratamentos aos quais estes são submetidos,
ficam muitas vezes privados, por um longo período, da vida externa ao hospital, fato que
compromete também, a sua vida estudantil. Ceccin (1999, p. 42) esclarece:
O ensino e o contato da criança hospitalizada com o professor no ambiente
hospitalar, através das chamadas classes hospitalares, podem proteger o seu
desenvolvimento e contribuir para a sua reintegração à escola após a alta,
além de protegerem o seu sucesso nas aprendizagens.
Através das leituras que realizei, pude perceber a confusão que eu fazia entre o
trabalho realizado pelos chamados “Terapeutas da alegria” e a prática pedagógica hospitalar.
Talvez a minha confusão tenha sido ocasionada pelo fato de o trabalho voluntário dos
“Terapeutas” ser mais divulgado na mídia que o da Classe Hospitalar, ainda pouco discutida e
exposta à sociedade. Os “Terapeutas da alegria” são voluntários que visitam os leitos com
vestimentas coloridas e rostos pintados, buscando divertir e distrair o internado, sem intenção
pedagógica, pois não possuem vínculo com instituições de ensino, diferenciando-se da
Pedagogia Hospitalar, que busca dar continuidade aos estudos dos internados, mantendo
12
contato com a escola de onde a criança é advinda, além de estar vinculada ao sistema de
educação (BRASIL, 2002).
Outro ponto que contribuiu para que eu escolhesse a Pedagogia Hospitalar como tema
do trabalho de conclusão de curso foi que as vezes em que estive no Hospital Infantil Joana de
Gusmão (HIJG), sempre me deparei com um lugar acolhedor: as paredes brancas eram
decoradas com desenhos e quadros divertidos, os corredores amplos e frios eram preenchidos
com móbiles que desciam em longos fios do teto, tornando-o, de certa forma, um ambiente
agradável. Cada vez que eu ali chegava, indagava-me sobre quem seria(m) o(s)
responsável(is) por dar ao hospital aquele ar acolhedor. Descobri, durante este estudo, que
esse trabalho é realizado pelos voluntários que atuam no hospital há 35 anos.
A partir das leituras, também passei a acreditar na necessidade de se abordar mais
sobre este assunto durante a graduação, seja para aguçar o interesse de novos profissionais ou
simplesmente para que haja uma melhor formação e qualificação dos futuros docentes.
Darela (2007, p.16) ratifica este pensamento quando afirma que:
Este universo é ainda pouco conhecido e explorado nas instâncias
educacionais, seja na formação de educadores, seja nas escolas regulares.
Poucos são os cursos de graduação (pedagogia e licenciaturas) que
apresentam os diferentes cenários educativos como possíveis locais de
trabalho e de aprendizagem, esquecendo-se de que a educação não está
circunscrita aos muros da escola, que não existem mais fronteiras para a
ação do professor. Muitas destas ações estão assumindo características
peculiares, sem, contudo, deixarem de conservar elementos que são
próprios do fazer pedagógico.
Conhecer outros locais onde se pode atuar expande as alternativas dos profissionais da
educação que não desejam trabalhar dentro de uma escola. Além de todos os motivos citados
acima, que me levaram a aprofundar os meus conhecimentos sobre a Pedagogia Hospitalar,
tanto os de ordem pessoal quanto os da relevância social deste estudo, gostaria de salientar
que a legislação1 assegura o direito à educação de crianças e adolescentes quando em situação
impeditiva de frequentar a escola. Ou seja, além da importância da Classe Hospitalar ao
internado, da pouca visibilidade social da Pedagogia Hospitalar e da necessidade de abordar
mais esta temática durante a graduação, há documentos e leis que asseguram o atendimento
pedagógico às crianças e adolescentes em tratamento médico que impede a sua frequência
1
Algumas das leis que garantem às crianças e adolescentes o direito à educação são: Resolução CNE/CEB
2/2001 Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica; Leis de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional 9.394/96; Documento Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e
orientações de 2002; entre outras.
13
diária à instituição escolar e ao meio externo do hospital, impossibilitando-os de estarem
presentes no meio social.
No Brasil essa modalidade educacional surgiu em 1950, no Rio de Janeiro, e desde
então a sua existência e o seu crescimento vêm sendo garantidos através de políticas públicas.
Segundo a Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina/SED-SC, há
atualmente 12 municípios que oferecem Classe Hospitalar no estado. O maior e mais
conhecido é o HIJG, onde o programa foi criado em 1999 (SANTA CATARINA, 2005).
A Pedagogia Hospitalar é uma modalidade da Educação Especial, e como já foi citado
anteriormente, é garantida por lei às crianças e adolescentes hospitalizados. Porém, ainda é
pouco conhecida e discutida, fato que pode ser percebido pela quantidade de autores que
pesquisam este tema. Diante dessa carência de conhecimento, divulgação e da gradativa
expansão das classes hospitalares busquei, com este estudo, responder a indagação inicial:
Como ocorre a prática pedagógica hospitalar no Hospital Infantil Joana de Gusmão?
Perpassando pelos objetivos específicos, que são: destacar a importância da Pedagogia para o
desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo de crianças e adolescentes em tratamento de saúde;
verificar como são elaborados os planejamentos pedagógicos; identificar a legislação que rege
a Pedagogia Hospitalar, destacando os direitos das crianças e adolescentes hospitalizados;
identificar a contribuição da Pedagogia para a humanização hospitalar, como ocorre a prática
pedagógica e as relações nesse espaço.
Esta pesquisa contou com levantamento bibliográfico e documental, com quatro
observações no cotidiano da seção de pedagogia do HIJG e com entrevista não estruturada
realizada junto à pedagoga responsável pela Classe Hospitalar do 1º ao 5º ano.
No segundo capítulo, encontra-se o referencial teórico que apresenta o cotidiano das
classes hospitalares contemplando: os aspectos legais que alicerçam a Pedagogia Hospitalar
nos âmbitos internacionais, nacionais e regionais; um estudo sobre as escritas recentes de
autores que se dedicam a pesquisar tal temática e as principais abordagens das respectivas
obras; a importância dessa prática para a continuação do desenvolvimento cognitivo e sócioafetivo de crianças e adolescentes hospitalizados; a humanização hospitalar; as características
da prática pedagógica e as relações dos profissionais de diferentes segmentos inclusos no
contexto hospitalar; e informações sobre o planejamento pedagógico hospitalar.
O terceiro capítulo, intitulado “Procedimentos metodológicos”, traz a metodologia
utilizada e todos os processos percorridos por esta pesquisa bem como instrumentos e
características escolhidas para coleta e análise dos dados.
14
No quarto capítulo, denominado “Análises de dados”, encontram-se os diários de
campo e as reflexões feitas a partir do confronto entre o referencial teórico e os dados da
pesquisa.
No quinto capítulo, estão algumas considerações e em seguida encontram-se todas as
referências utilizadas na escrita deste trabalho.
15
2 A PRÁTICA PEDAGÓGICA EM AMBIENTE HOSPITALAR
Vislumbrar novos caminhos, portanto, é de extrema necessidade e se traduz
em liberdade, criatividade e plasticidade, canalizadas para a fiel percepção
da realidade em realce.
(MATOS; MUGIATTI, 2011, p.22)
A prática pedagógica no espaço hospitalar tem chamado atenção de novos
pesquisadores que lutam com intuito de garantir tal prática, expondo sua importância nos mais
diversos aspectos bem como as características comuns dessa modalidade educacional. Matos
e Mugiatti (2011, p. 37) realçam
[...] que a Pedagogia Hospitalar é um processo alternativo de educação
continuada que ultrapassa o contexto formal da escola, pois levanta
parâmetros para o atendimento de necessidades especiais transitórias do
educando, em ambiente hospitalar e/ou domiciliar. Trata-se de nova
realidade multi/inter/transdisciplinar com características educativas.
O papel dos profissionais da educação que atuam no contexto hospitalar, segundo
Darela e Geremias (2009, p. 603) é o de “auxiliar na manutenção dos vínculos escolares
durante o período de hospitalização, bem como o acompanhamento da vida escolar do aluno,
com o objetivo de possibilitar a continuidade do desenvolvimento das capacidades cognitivas
e psicomotoras”.
Melo e Cardoso (2010, p.188) comentam que:
Mesmo havendo certo reconhecimento da importância de existir uma Classe
Hospitalar, dentro de uma instituição hospitalar, percebemos por outro lado
um campo ainda novo que busca se consolidar não só por meio do fazer
pedagógico, mas também pelo desenvolvimento de estudos científicos que
fortalecem os pilares teóricos sobre os quais o campo se sustenta.
De acordo com Darela (2007, p.20), “essa modalidade de atendimento educacional se
fortalece no âmago da luta pelo direito à educação e pela humanização no atendimento
hospitalar”.
A seguir, serão abordados alguns aspectos da Pedagogia Hospitalar, visando à
compreensão do funcionamento e da importância desta modalidade de ensino. Iniciando com
a apresentação de documentos e leis que garantem o atendimento pedagógico em hospitais, e
que datam a partir de meados dos anos de 1990.
16
2.1 RESPALDO LEGAL QUE REGE PEDAGOGIA HOSPITALAR
Construir a CH como campo de direito depende do reconhecimento
por parte da sociedade e da efetivação de políticas públicas
destinadas ao setor.
(MELO; CARDOSO, 2010, p.192).
Segundo o Art. 205, da seção I da Constituição de 1988:
A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988).
Seguindo essa linha, as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/LDB – Lei
9.394/96 no Art. 2º, o Estatuto da Criança e Adolescente/ECA (1990) Art. 4º, a Organização
das Nações Unidas/ ONU por meio do Art. 26° da Declaração Universal dos Direitos
Humanos (1948), enfatizam, assim como a Constituição de 1988, que a educação é dever da
família e do Estado, deixando claro que em quaisquer circunstâncias a educação é um direito
de todos.
Muitos países implantaram as classes hospitalares antes do Brasil e elaboraram,
primeiro também, documentos e leis para regulamentar a prática pedagógica em hospitais.
Um desses documentos é a “Carta Européia das Crianças Hospitalizadas” – EACH (European
Association for Children in Hospital) – que foi aprovada pelo Parlamento Europeu em 1986 e
“consiste numa listagem dos direitos da Criança antes, durante e depois de um internamento
hospitalar.” (EACH, 1988, s.p.). Essa carta garante às crianças e aos adolescentes internados o
Direito a prosseguir a sua formação escolar durante o período de
hospitalização, tirando proveito do pessoal docente e do material didáctico
posto à disposição pelas autoridades escolares, em particular no caso de
hospitalização prolongada, desde que a referida actividade não acarrete
prejuízo para o seu bem-estar e/ou impedimento aos tratamentos em curso.
(EACH, 1986, s.p.).
Em Leiden, no ano de 1988, a “Carta Européia das Crianças Hospitalizadas” foi
adaptada, resumindo e reafirmando os direitos das crianças internadas. Sobre a educação a
carta diz que “o Hospital deve oferecer às crianças um ambiente que corresponda às suas
necessidades físicas, afetivas e educativas, quer no aspecto do equipamento, quer no do
pessoal e da segurança” (EACH, 1988, s.p.).
17
A Pedagogia Hospitalar surgiu no
rasil em 1950 no Rio de Janeiro
(VASCONCELOS, 2010), mas somente na década de 1990 que começaram a ser criadas leis
específicas para este atendimento educacional, fazendo com que a sociedade voltasse os olhos
para a necessidade e importância da sua existência.
A Pedagogia Hospitalar está intimamente relacionada á inclusão de crianças e
adolescentes hospitalizados no processo educativo. Barros (1999, p.92) esclarece esse fato
com a seguinte fala:
Num primeiro plano, crianças e adolescentes internados em um hospital de
qualquer especialidade são considerados portadores de necessidades
educativas
especiais
porque,
encontrando-se
hospitalizados
e
impossibilitados de se integrarem ao seu cotidiano e acima de tudo terem
acesso adequado a revistas, livros, materiais didáticos diversos, bem como
terem oportunidade de vivenciar experiências culturais, artísticas e de lazer,
correm o risco, mais do que outras crianças, de sofrerem fracasso escolar.
Sendo assim, a modalidade é amparada por documentos e leis que se voltam para a
Educação Especial.
A Política Nacional de Educação Especial de 1994, foi o primeiro documento
elaborado e divulgado pelo Ministério da Educação e Cultura /MEC em que as classes
hospitalares2 são citadas – e as definiu como uma modalidade da Educação Especial, que
segundo Menezes (apud SANDRONI, 2007, p.14) “é uma modalidade da educação escolar
que busca em sua prática, apresentar encaminhamentos adequados às realidades humanas que
exigem diferenciações nos atos pedagógicos”.
A resolução nº 41, de 13 de outubro de 1995, do Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente (CONANDA) em seu artigo 9º reconhece às crianças e aos
adolescentes o “direito a desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para
a saúde, acompanhamento do curriculum escolar, durante sua permanência hospitalar.”
(BRASIL, 1995).
Sobre a Educação Especial, a LDB, no capítulo V, Art. 58 explana:
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços
especializados, sempre que, em função das condições específicas dos
alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino
regular. (BRASIL, 1996)
2
Durante este estudo, encontrei diversas nomenclaturas diferentes para designar a prática pedagógica hospitalar.
Optei por utilizar o termo classe hospitalar, por ser a denominação utilizada pelo MEC. Cabe ressaltar que será
mantida a nomenclatura utilizada pelo(a) autor(a) quando este for citado.
18
Em 2001 as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica
(2001), resolução CNE/CEB Nº 2, instituiu no Art. 13:
Os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde,
devem organizar o atendimento educacional especializado a alunos
impossibilitados de freqüentar as aulas em razão de tratamento de saúde que
implique internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência
prolongada em domicílio.
§ 1o As classes hospitalares e o atendimento em ambiente domiciliar devem
dar continuidade ao processo de desenvolvimento e ao processo de
aprendizagem de alunos matriculados em escolas da Educação Básica,
contribuindo para seu retorno e reintegração ao grupo escolar, e desenvolver
currículo flexibilizado com crianças, jovens e adultos não matriculados no
sistema educacional local, facilitando seu posterior acesso à escola regular.
(BRASIL a, 2001).
A Declaração de Salamanca – documento elaborado na Conferência Mundial de
Educação Especial em Salamanca na Espanha em 1994, para organizar princípios e práticas
na área das necessidades educativas especiais – esclarece que:
• toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a
oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem,
• toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de
aprendizagem que são únicas,
• sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais
deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta
diversidade de tais características e necessidades,
• aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola
regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na
criança, capaz de satisfazer a tais necessidades,
• escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios
mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades
acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação
para todos; além disso, tais escolas provêem uma educação efetiva à maioria
das crianças e aprimoram a eficiência e, em última instância, o custo da
eficácia de todo o sistema educacional. (UNESCO, 1994, p.1).
Em 2002 a Secretaria da Educação Especial do Ministério da Educação publicou um
documento intitulado “Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e
orientações”, o qual reafirma o direito das crianças e adolescentes a ter acesso ao atendimento
pedagógico, visando à continuação do processo educacional. Esse documento foi elaborado
“com o objetivo de estruturar ações políticas de organização do sistema de atendimento
educacional em ambientes hospitalares e domiciliares” ( RASIL, 2002, p. 3). Nesse mesmo
documento encontram-se as definições dos espaços físicos, instalações, equipamentos,
19
recursos e instrumentos didático-pedagógicos que devem estar disponíveis na sala destinada à
Classe Hospitalar.
As classes hospitalares existentes ou que venham a ser criadas deverão estar
em conformidade com o preconizado pela Lei de Diretrizes e Bases da
Educação e pelas Diretrizes Nacionais da Educação Especial na Educação
Básica. (BRASIL, 2002, p.25).
A sala destinada ao atendimento pedagógico deve ter, além de um mobiliário
adequado, uma bancada com pia (são exigências mínimas), sendo recomendáveis instalações
sanitárias próprias espaço ao ar livre para atividades físicas e lúdico-pedagógicas bem como
recursos audiovisuais. (BRASIL, 2002).
As Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, e a do Distrito Federal, devem
fazer o acompanhamento das classes hospitalares e do atendimento pedagógico domiciliar,
considerando
[...] o cumprimento da legislação educacional, a execução da proposta
pedagógica, o processo de melhoria da qualidade dos serviços prestados, as
ações previstas na proposta pedagógica, a qualidade dos espaços físicos,
instalações, os equipamentos e a adequação às suas finalidades, a
articulação da educação com a família e a comunidade. (BRASIL, 2002,
p.19).
Ainda de acordo com esse documento, os professores das classes hospitalares devem
ter formação pedagógica, preferencialmente em Educação Especial, Pedagogia ou
Licenciaturas, e cabe aos sistemas de ensino criar oportunidades para a formação continuada
desses profissionais (BRASIL, 2002).
Em Santa Catarina, atualmente há doze municípios que oferecem a Classe Hospitalar,
são eles: Florianópolis, Lages, Rio do Sul, Curitibanos, Ituporanga, Xanxerê, Concórdia,
Ibirama, Tubarão, Chapecó, Joaçaba e São Lourenço do Oeste. Esses hospitais estão
vinculados à unidade escolar estadual mais próxima ao hospital – esse vínculo permite que
professores dessas escolas trabalhem nas classes hospitalares – e atendem crianças e
adolescentes “regularmente matriculados no Ensino Fundamental na rede de ensino estadual,
municipal e particular, que estejam internados em hospital conveniado” (SANTA
CATARINA b, 2010, s.p.). Cada Classe Hospitalar implantada no estado é autorizada por
meio de uma portaria. A portaria que há mais tempo oficializa esse atendimento está vigente
desde março de 2001 e a mais recente é de abril de 2011 – (SANTA CATARINA b, 2010,
s.p.).
20
O programa de atendimento escolar hospitalar regularizado pela SED-SC tem por
objetivo:
Possibilitar o acompanhamento pedagógico-educacional e garantir a
continuidade do processo de desenvolvimento escolar de crianças e
adolescentes do ensino regular, assegurando a manutenção do vínculo com a
escola de origem através de um currículo flexibilizado e/ou adaptado, a
regularização e reconhecimento oficial de seus estudos, quando retornam as
suas unidades escolares. (SANTA CATARINA b, 2010, s.p.).
A SED/SC orienta, através de normativas, como devem ocorrer os procedimentos
para o atendimento escolar hospitalar e também o atendimento domiciliar, que consiste no
acompanhamento pedagógico na casa do escolar quando este ainda está incapaz de voltar a
frequentar o espaço escolar.
De acordo com o documento de Orientações para Educação Básica e Profissional da
Rede Pública Estadual:
O programa tem como finalidade atender às crianças de todas as redes de
ensino, auxiliando-as na recuperação de sua saúde, estimuladas pelas trocas
de experiências e afetividade, com a diminuição da repetência escolar. Suas
principais ações são:
* acesso a Classe Hospitalar de crianças pequenas que não estão
matriculadas em instituições de ensino;
* inclusão de crianças ao sistema de ensino quando constatado que tem idade
para frequentar o ensino fundamental e não estão vinculadas a nenhuma
escola;
* possibilidade de avanço no processo de apropriação do conhecimento do
educando, referente à série em que se encontra matriculado;
* atendimento ao leito de crianças/adolescentes que não tem condições de
deslocar-se até o espaço destinado “sala de aula” do hospital. (SANTA
CATARINA, 2005, p.57).
Contudo é possível dizer que “o número de Classes Hospitalares ainda é pouco, em
relação à demanda. Nem em todos os hospitais há esse segmento e, portanto, são poucas as
crianças que usufruem desse benefício” (AMORIM, 2011, p.40). Aspecto que evidencia a
necessidade de divulgar tal ação para que a sociedade, ao conhecê-la, possa lutar por políticas
públicas e pela efetivação dos direitos que já são pertinentes às crianças e adolescentes
hospitalizados.
Ainda são poucos os autores que focam seus estudos no âmbito da Pedagogia
Hospitalar, apesar de ser notório o aumento recente de pesquisas. A seguir apresento alguns
destes autores e produções literárias as quais tive acesso.
21
2.2 LITERATURA ESPECIALIZADA RECENTE
Tudo que está no plano da realidade já foi sonho um dia.
(LEONARDO DA VINCI).
No início desta pesquisa dediquei-me a reunir o maior número possível de materiais –
livros, trabalhos acadêmicos, artigos, documentos e leis – que abordassem a Pedagogia
Hospitalar, através da busca e das leituras destes materiais, pude perceber que muitos deles
enfatizam alguns aspectos em especial, como, por exemplo, humanização, auxílio na cura e
formação docente (VASCONCELOS, 2010). Ainda são escassas as referências sobre essa
modalidade educacional, porém, nota-se um aumento nas publicações relacionadas a este
tema nos últimos anos, inclusive, com autores que se dedicam a explanar os objetivos, a
importância, os direitos – assegurados por lei às crianças e adolescentes internados. Fonseca
(1999, p.7) esclarece que
A insuficiência de teorias e estudos desta natureza em território brasileiro
gera, tanto na área educacional, quanto na área de saúde, o desconhecimento
desta modalidade de atendimento tanto para viabilizar a continuidade da
escolaridade àquelas crianças e adolescentes que requerem internação
hospitalar, quanto para integralizar a atenção de saúde e potencializar o
tratamento e o cuidado prestados à criança e ao adolescente.
Os principais autores brasileiros que abordam esta temática são: Fonseca (1999),
Ceccim (1999), Matos (2008; 2009), Matos e Mugiatti (2011), Fontes (2005), entre outros.
Sendo que a partir destes, outros autores passaram a apresentar algumas reflexões e/ou
focaram seus estudos diante deste assunto.
Uma das principais questões levantadas por esses autores é a importância da prática
pedagógica hospitalar para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente enfermo e
para a continuação dos seus estudos após a alta médica, evitando a evasão escolar pelo não
acompanhamento dos educandos que passam longos períodos sem comparecer à escola.
A maioria dos artigos, periódicos, livros e principalmente trabalhos acadêmicos datam
a partir do ano 2000, havendo poucas exceções que em datas anteriores. Isto revela o quanto
este tema tem aguçado o interesse de novos pesquisadores que consideram necessários os
trabalhos pedagógicos e acreditam ser esta uma ferramenta importante para a humanização do
hospital.
22
O Centro de Estudos sobre Recreação, Escolarização e Lazer em Enfermarias
Pediátricas (CERELEPE), disponibiliza grande parte das publicações sobre esta temática. No
site deste centro (http://www.cerelepe.faced.ufba.br/index_pt.php), é possível encontrar
artigos, trabalhos acadêmicos, livros, filmes e vídeos. Alguns destes materiais são
disponibilizados para download, outros, como livros, apenas para conhecimento da sua
referência.
Ceccin (1999) traz, em um de seus artigos, diversos aspectos relevantes da prática
pedagógica hospitalar, destacando sua diferença da ação lúdica e recreativa bem como sua
importância para proteção do desenvolvimento da criança e do adolescente hospitalizados.
Fontes (2005) alerta para a necessidade de se repensar a formação do pedagogo, pois
este se forma para atuar na escola, entretanto há muitas outras possibilidades e contextos para
a atuação deste profissional, um deles é o hospital. A autora apresenta a Pedagogia Hospitalar
como algo que vai além da escolarização, na medida em que propicia à criança e ao
adolescente hospitalizados – por meio de atividades lúdicas – a compreensão das intervenções
e do espaço que passam a ser submetidas para, a partir daí, trabalhar a escolarização, que deve
seguir uma proposta diferenciada das escolas, pois o espaço e os tempos são outros, exigindo
assim, um planejamento que leve em conta as especificidades do contexto hospitalar, como as
necessárias intervenções médicas, rotatividade de educandos, multisseriação e bem estar da
criança.
O Caderno Cedes, intitulado “Educação da Criança Hospitalizada: as várias faces da
Pedagogia no contexto hospitalar”, organizado por Paula e Matos (2007), reúne artigos
elaborados por educadores que trabalham e lutam pela prática educativa hospitalar, trazendo
cenários de diferentes regiões do país, sendo possível através dessa leitura, conhecer melhor o
trabalho realizado por educadores em hospitais proporcionando reflexões, propostas e
importantes contribuições desse novo espaço de atuação para o pedagogo.
Darela (2007) aborda, de uma maneira sensível, as relações entre a escola e o hospital.
Evidencia a importância da prática pedagógica no espaço hospitalar propiciando às crianças e
adolescentes, inseridos neste espaço, um atendimento integral através da abordagem
humanística, protegendo o desenvolvimento e o acompanhamento de seus estudos quando
reinserido no espaço escolar após a alta hospitalar.
Arosa e Schilke (2008) organizaram um livro com artigos de diversos autores, que
trazem aspectos fundamentais sobre o trabalho pedagógico no hospital. De acordo com os
autores que trataram sobre a temática: currículo e planejamento pedagógico, estes devem ser
articuláveis, significativos e acompanhados de avaliação que ocorre durante todo o processo
23
através de registros. Há uma considerável discussão sobre a avaliação da aprendizagem no
hospital bem como sobre o currículo da escola no hospital em que estes devem ser diferentes
do contexto escolar propriamente dito.
Moura e Ferreira (2008) trazem as contribuições do atendimento da Classe Hospitalar
para a redução do estresse da criança hospitalizada. Considera-se que a doença e a
hospitalização podem ser experiências traumatizantes e estressantes para as crianças. A
pesquisa aconteceu em hospitais do Rio de Janeiro e a conclusão foi que o atendimento na
Classe Hospitalar reduziu o estresse nos fatores físico e psicológico das crianças.
No livro organizado por Matos (2009), os autores abordam a prática pedagógica
hospitalar, trazendo características e enfatizando o processo de humanização dentro de
hospitais, no qual a Pedagogia Hospitalar tem grande participação. Os autores também
apresentam alguns dos programas e projetos realizados nos hospitais do estado do Paraná
acerca da escolarização hospitalar.
Nowiski et al (2009) apresentam uma pesquisa realizada com acadêmicos do curso de
licenciatura de uma universidade do Paraná, procurando saber destes o significado da
Pedagogia Hospitalar, as funções desempenhadas pelo pedagogo hospitalar, como obtiveram
esse conhecimento entre outras questões. Através das repostas, as autoras concluíram que o
tema ainda é pouco discutido no curso de graduação, pois a maioria dos acadêmicos afirmou
conhecer a Pedagogia Hospitalar através dos colegas que participavam do curso de extensão
existente na universidade, as respostas mostraram ainda que há interesse e procura por
informações sobre esta modalidade educacional. As autoras relatam que no Projeto Político
Pedagógico de 2006 do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa/UEPG
consta a disciplina optativa intitulada “Educação em Espaços Não Formais”, na qual um dos
temas é a Pedagogia Hospitalar, porém justificam que nem todos os acadêmicos têm
oportunidade de conhecer melhor essa prática.
Geremias (2010) traz, em sua dissertação de mestrado, as significações construídas
pelas crianças que frequentam os Anos Iniciais do atendimento escolar hospitalar do HIJG,
através de diferentes narrativas (depoimentos – escritos e gravados, desenhos, entre outros),
sendo então, uma das poucas pesquisas acerca deste tema, que mostra como as crianças veem
a Classe Hospitalar. Uma das conclusões da autora é que mesmo conciliando o atendimento
escolar hospitalar com a recreação, para as crianças o brincar se destacava, entretanto elas não
deixavam de frequentar a classe.
Matos e Mugiatti (2011) descrevem o contexto das práticas pedagógicas no ambiente
hospitalar, trazendo abordagens interessantes com características, conceitos e importância
24
desta modalidade de ensino, como também da formação do professor, em que docentes e
médicos devem trabalhar juntos para um atendimento integral da criança e adolescente
internado. As autoras ainda descrevem projetos e práticas pedagógicas desenvolvidos em
parcerias entre hospitais e universidades.
Percebe-se diferentes direcionamentos de foco de estudo acerca da temática principal:
Pedagogia Hospitalar. Contribuições de extrema relevância para quem busca inserir-se nesse
espaço de trabalho e pesquisa, pois permite reflexões e re-significações sobre a prática
educacional em ambiente hospitalar.
No item a seguir serão apontadas algumas contribuições em relação ao
desenvolvimento e a aprendizagem do sujeito dando enfoque à importância das classes
hospitalares para a continuação do desenvolvimento integral de crianças e adolescentes
hospitalizados.
2.3 A IMPORTÂNCIA DAS CLASSES HOSPITALARES PARA O DESENVOVIMENTO
COGNITIVO
E
SÓCIO-AFETIVO
DAS
CRIANÇAS
E
ADOLESCENTES
HOSPITALIZADOS
O trabalho realizado na CH traz benefícios para as crianças
e adolescentes atendidos por tal programa, por promover a manutenção dos
vínculos escolares, e permitir a retomada de certa rotina escolar, que é
imprescindível ao desenvolvimento da criança.
(MELO; CARDOSO, 2010, p.193)
O direito de todos à educação é muito citado em leis nacionais, como o ECA (1990), a
LDB (1996) e a Constituição Federal (1988), principalmente quando se fala em diferentes
contextos educacionais.
As crianças e adolescentes hospitalizados também têm esse direito, porém como citam
Matos e Mugiatti (2011, p. 60-61), há um problema: “[...] existe uma nítida contradição entre
o necessário tratamento hospitalar e a necessária freqüência escolar, uma vez que ambos
exigem o mesmo espaço temporal”. As autoras consideram ainda que “sob diversos aspectos,
pode se constituir em irreversíveis lacunas no processo de aprendizagem e de socialização,
considerando que a etapa escolar representa o próprio desenvolvimento de potencialidade e da
capacidade de comunicação” (MATOS; MUGIATTI, 2011, p.27).
O CONANDA, resolução nº. 41, de 13 de outubro de 1995 (BRASIL, 1995), foi o
marco inicial para garantir a inserção da educação no contexto hospitalar. Haja vista que
25
muitas crianças e adolescentes, devido a tratamentos de saúde e internações, passam longos
períodos sem frequentar a escola e, foi nesse sentido, de evitar as consequências negativas
trazidas pelas necessidades de afastamento, tais como o atraso e/ou o não retorno à escola
após a alta hospitalar, que a Pedagogia Hospitalar surgiu.
Sobre aspectos inerentes ao desenvolvimento, o Art. 3º do ECA dispõe que:
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
(BRASIL, 1990).
De acordo com Matos e Mugiatti “a enfermidade acaba, quase sempre, por atingir os
aspectos – cognitivo, psicológico e social – da criança (ou adolescente) hospitalizada, e isso
se reporta a um momento de atendimento especial em sua vida” (2011, p.104). Seguindo esse
raciocínio, Vasconcelos (2010, p.12) fala que a Pedagogia Hospitalar
Trabalha o cognitivo deixando o educando ativo percebendo sua capacidade,
com atendimento individual e personalizado, assim estimulando a
continuidade dos estudos nas classes dos hospitais, casas de apoio ou na
própria casa do educando para que não perca o ano letivo e não volte
desmotivado pela defasagem dos conteúdos.
Corroborando com esse pensamento, Ceccin (1999, p.43) escreve sobre a importância
da Pedagogia Hospitalar para o desenvolvimento de crianças e adolescentes hospitalizados.
O professor deve estar no hospital para operar com os processos afetivos de
construção da aprendizagem cognitiva e permitir aquisições escolares às
crianças. O contato com o professor e com uma "escola no hospital"
funciona, de modo importante, como uma oportunidade de ligação com os
padrões da vida cotidiana do comum das crianças, como ligação com a vida
em casa e na escola. A educação no hospital integraliza o atendimento
pediátrico pelo reconhecimento e pelo respeito às necessidades intelectuais
e sócio-interativas que tornam peculiar o desenvolvimento da criança.
Ceccim (1999) acredita que o ensino, o contato da criança e do adolescente
hospitalizados com o professor no ambiente hospitalar, pode proteger o desenvolvimento,
garantir a reintegração à escola e o sucesso nas aprendizagens. Para esse autor, o poder
estudar, significa para a criança hospitalizada como um bem da criança sadia.
26
Não se pode esquecer que as crianças e adolescentes que estão passando por um
tratamento de saúde muitas vezes estão aptas a exercerem outras atividades. De acordo com
Castro (2009, p.49) “o corpo, pode estar doente, no entanto, a mente é sã” e o cotidiano
hospitalar precisa dar espaço para que outros profissionais desenvolvam e estimulem a mente
das crianças para propiciar-lhes benefícios. Segundo Gil e Paula “para a criança enferma, a
rotina hospitalar é estressante, porque está privada do convívio com os amigos e familiares,
sendo que esse tipo de privação pode interferir no seu quadro clínico” (1999, p.137).
Kessler et al diz que:
A educação constitui o mais potente agenciamento da sociabilidade e
subjetividade (excluída a família) na sociedade contemporânea e a
manutenção do encontro pedagócico-educacional favorece a construção
subjetiva de uma estabilidade de vida, como continuidade e segurança
diante dos laços sociais da aprendizagem. (1996, p.112).
Sendo assim, a Pedagogia Hospitalar é indiscutivelmente relevante e Ceccin (1999,
p.44) esclarece ao dizer que “o principal efeito do encontro educação e saúde para uma
criança hospitalizada é a proteção do seu desenvolvimento e a proteção dos processos
cognitivos e afetivos de construção dos aprendizados”. Ratificando essa importância, Melo e
Cardoso (2010, p.211) afirmam que:
A continuidade dos estudos dentro de condições pertinentes ao
internamento revigora a vitalidade da criança agindo como estímulo
motivador, que possibilita a participação e a interação com o meio
produzindo constantes ações, que atuarão como fatores preponderantes e
desencadeadores de sua recuperação. Tal fato integra e promove a
participação social ativa e entusiasma a criança por mantê-la ligada à
realidade externa.
A Classe Hospitalar mostra-se imprescindível em diversos aspectos, podendo, além de
contribuir para a continuação dos estudos, fazer com que a criança e o adolescente obtenham
melhoras em seu quadro clínico através do convívio social evitando o stress e o sentimento de
“abandono”. Enfatizando essa relevância Calegari (2003, p.79) diz que:
O contato com outras crianças, contribui para seu desenvolvimento social.
Em muitos casos, a enfermidade é esquecida. Isto demonstra que a
criança, mesmo doente, pode ter outros interesses e se "desligar" do
problema. Tal fato contribui para seu melhor ajustamento hospitalar e
recuperação.
27
Para a mesma autora, “o trabalho profissional de Classe Hospitalar é o de restaurar os
laços com o cotidiano escolar (característico das vivências infantis em sociedades
escolarizadas) e operar pedagogicamente com o desenvolvimento psíquico e cognitivo destas
crianças e adolescentes” (CALEGARI, 2003, p.79).
Vygostky é um dos principais autores que falam sobre o desenvolvimento do
indivíduo.
Fonseca e Ceccin (1999, p.26) afirmam que “segundo a pedagogia do
desenvolvimento de Vygotsky (1935), o campo das construções cognitivas é campo de
atualização de afetos e elaboração das aprendizagens complexas”.
[...] propõe que são as condições concretas de vida que determinam
diretamente o desenvolvimento do psique de uma criança, o que nos
faz constatar que é justamente o que oferecemos à criança, enquanto
prática real, que vai determinar o seu desenvolvimento, dessa forma,
é importante pensar o hospital enquanto um espaço de aprendizagem e
de desenvolvimento infantil. (VYGOTSKY apud CALEGARI, 2003, p.5152).
Oliveira (2008, p. 58) completa esta ideia quando afirma que
[...] desenvolvimento e aprendizagem são processos intimamente
relacionados: imerso em um contexto cultural que lhe fornece a “matériaprima” do funcionamento psicológico, o indivíduo tem seu processo de
desenvolvimento movido por mecanismos de aprendizagem acionados
externamente. Por outro lado, embora processos de aprendizagem ocorram
constantemente na relação do indivíduo com o meio, quando existe a
intervenção deliberada de aprendizagem passam a fazer parte de um todo
único, indissociável, envolvendo quem ensina, quem aprende e a relação
entre essas pessoas.
Ainda sobre desenvolvimento e aprendizagem, Oliveira (2008) aponta aspectos, a
partir das concepções de Vygotsky, importantes ao ensino escolar, que “o desenvolvimento
psicológico deve ser olhado de maneira prospectiva, isto é, para além do momento atual, com
referência ao que está por acontecer na trajetória do indivíduo” (OLIVEIRA, 2008, p.58-59,
grifos no original).
Vasconcelos traz contribuições acerca
do desenvolvimento que
pode
ser
proporcionado aos escolares hospitalizados através do atendimento pedagógico.
A aprendizagem é desenvolvida e constitui-se dos aspectos cognitivos,
sociais, culturais e afetivos. Portanto, o aluno mesmo que hospitalizado tem
que ser visto como um todo e não só como um paciente, ou mesmo um
doente que está impossibilitado de estar na sua vida cotidiana normal e que
tem que estar somente nos cuidados dos médicos e enfermeiros. O
28
pedagogo hospitalar para assegurar o desenvolvimento e mediar
intervenções para o desenvolvimento global do educando deve começar
pela escuta pedagógica que é o levantamento de dados sobre a vida do
educando, porém o caráter do diagnóstico não se trata de referencial clínico,
mas sim dados que serão observados os aspectos que mencionados antes
para uma elaboração e planejamento de ações a ser realizadas com esse
educando, fazendo isso o professor diminui o risco de agir sem obter
resultados positivos. Entender para atender, assim o pedagogo hospitalar
para conseguir atingir seus objetivos e fazer a ponte da escola com o
hospital, verdadeiramente ensinar e reinserir o aluno na escola e na
sociedade faz um resgate da subjetividade do educando em seu sentido
particular, à sua trajetória cultural e singular, a qual ele deixa de perceber
quando está inadaptado e dentro do ambiente pesado que se mostre o
hospital, a visão de que é uma criança ou um adolescente igual as outras da
mesma idade que as suas, se vendo apenas como um paciente a mais que
precisa da ação médica para sobreviver, sem sentir emoções positivas,
esperança, e que ainda são capazes como todos. (VASCONCELOS, 2010,
p.16-17).
As citações expostas acima reforçam a relevância das classes hospitalares para o
desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo das crianças e adolescente hospitalizados. É
importante deixar de perceber pessoas hospitalizadas como meros pacientes, expressão que
“designa aquele que espera, que tem paciência e aguarda” (VAZ et al, 2009, p.171), pois
Ser paciente hospitalar significa mais do que simplesmente esperar
pacientemente, lidar com as condições nesta espera pela recuperação da
saúde. Isso inclui, de forma geral, a vivência de uma série de separações
marcadas, frequentemente, por experiências de fragmentação e perda de
autonomia sobre o próprio corpo. (VAZ et al, 2009, p.171).
A não interrupção do contato com crianças, pessoas, conteúdos escolares são aspectos
que auxiliam na continuação do desenvolvimento como um todo destes que necessitam em
um determinado momento “trocar” de ambiente de convívio e assim tornar esse processo
menos doloroso.
Ross ao relatar que geralmente, “os pacientes reagem com uma admiração quase
exagerada por quem cuida deles e lhes dedica um pouco de tempo. Ficam privados de tais
gentilezas num mundo atarefado, de números e aparelhos, e não é de estranhar que um toque
leve de humanidade provoque uma reação tão positiva.” (ROSS, 1996 apud AMORIM, 2011,
p.41), reforça os benefícios de uma atenção voltada ao ser e aos seus sentimentos. Ceccin
(1999, p.42) chama essa atenção de “escuta pedagógica”, Matos e Mugiatti (2011, p.69)
também mencionam que
29
[...] a atenção pedagógica, mediante a comunicação e diálogo, é essencial
para o ato educativo e se propõe a ajudar a criança (ou adolescente)
hospitalizado para que, imerso na situação negativa que atravessa no
momento, possa se desenvolver em suas dimensões possíveis de educação
continuada, como uma proposta de enriquecimento pessoal.
A humanização vem alcançando um importante espaço no ambiente hospitalar e a
Pedagogia é uma das áreas que auxiliam nesse processo. O subitem a seguir aborda esse
aspecto no cotidiano hospitalar vinculado à prática pedagógica.
2.4 A HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR: LIDANDO COM EMOÇÕES E SENTIMENTOS
O saber técnico é fundamental para desenvolver um bom trabalho,
porém, sem o saber humano não se permite um olhar que alcance o
outro em toda a sua dimensão.
(DARELA, 2007, p.26)
Em 2001, o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de Humanização da
Assistência Hospitalar (PNHAH) que “propõe um conjunto de ações integradas que visam
mudar substancialmente o padrão de assistência ao usuário nos hospitais públicos do Brasil,
melhorando a qualidade e a eficácia dos serviços hoje prestados por estas instituições”
(BRASIL b, 2001, p.7).
Vasconcelos mostra que a Pedagogia Hospitalar “como prática educacional inovadora
tem muito a informar e mostrar às pessoas sua importância, necessidade e beleza como
também prática humanizadora” (VANCONCELOS, 2010, p.5).
Em relação ao caráter
humanizador, pode-se dizer que há um consenso entre vários autores, tais como: Darela
(2007), Moura e Ferreira (2008), Fonseca e Ceccin (1999) que falam sobre a importância da
prática pedagógica hospitalar para o processo de humanização dentro do hospital.
Humanizar significa “[...] colocar a cabeça e o coração na tarefa a ser desenvolvida,
entregar-se de maneira sincera e leal ao outro e saber ouvir com ciência e paciência as
palavras e os silêncios” (OLIVEIRA, apud JESUS, 2009, p.85). Matos e Mugiatti trazem
como um indicador negativo à situação do doente hospitalizado a priorização no atendimento
ao enfermo, do aspecto físico e material da enfermidade esquecendo que “a doença é também
revestida de características psicossociais. Trata-se do atendimento a uma pessoa, em todas as
suas dimensões, e não, simplesmente, da atenção a uma determinada doença” (MATOS e
MUGIATTI, 2011, p.20). A humanização vem para lembrar que “[...] não se está diante de
30
uma enfermidade, mas diante de uma pessoa doente [...]” (MATOS; MUGIATTI, 2011,
p.109). Darela contribui significativamente com essa ideia ao expor que
[...] assim como tradicionalmente a escola é vista como um espaço em que se
educa, cabe ao hospital cuidar de doenças (nem sempre associada à
promoção da saúde). No entanto, esta visão vem se modificando à medida
em que profissionais de outras áreas se inserem neste contexto. Esta inserção
tem buscado maior qualidade nos serviços de saúde, como proposto nos
Programas de Humanização, com a possibilidade de um novo modelo de
atenção, a partir de uma nova maneira de se relacionar com o sofrimento e
com a vida, tanto na sua dimensão individual quanto coletiva. Tais aspectos
têm contribuído para que outros interesses aflorem, modificando práticas
organicistas existentes na área médica que priorizam a doença e não o
doente, tratando-os de forma impessoal, objetivisante e descompromissada.
(DARELA, 2007, p.18).
Neste sentido, “[...] os aspectos emocionais e de desenvolvimento da criança
hospitalizada devem receber cuidado especial em face da hospitalização” (FONSECA;
CECCIN, 1999, p.26). A prática pedagógica
[...] traz mudanças significativas na rotina do hospital, pois este deixa de ser
lugar de injeção, seringa, solidão, sofrimento, para ser também lugar do
caderno, do lápis, do livro, do brinquedo, do jogo, da diversão, da alegria,
trazendo consigo a força pela vida que se alimenta, principalmente, destes
ingredientes. (DARELA, 2007, p.20).
Para Vasconcelos (2010, p.16):
Todo ser em contato com o outro é capaz de regenerar-se e ter força para
lidar e lutar em tais situações, quando distantes do meio social as chances de
agir dessa forma diminui abalando seu psicológico, comprometendo muitas
vezes em aspectos físicos e biológicos, por isso esse educando hospitalizado
necessita mais do que apenas tratamento médico, logicamente que é o
essencial. No entanto, existem outras coisas de qual sobrevive o ser humano,
principalmente o amor do seu próximo.
Por isso “é preciso buscar maior preparo profissional, mas também, sensibilidade
pessoal para perceber até onde o “científico” alcança, e a partir de onde, o afetivo torna-se
fundamental” (TOMAZINI, 2008, p.130). Isto é humanizar, é estar atento ao ser hospitalizado
por inteiro, pois antes de ser doente ele é um ser humano com sentimentos, anseios e
expectativas que precisam ser supridas, contemplando o bem estar psico-sócio-afetivo.
Atualmente, diante da relevância apresentada sobre o caráter humanizador dentro das
instituições hospitalares, é possível encontrar pessoas que visam expandir essa característica
31
através de trabalhos voluntários, como por exemplo: apresentações de grupos de palhaços,
organizações que prestam trabalhos diários atendendo aos pais e as crianças visando dar
atenção, carinho e tudo que esteja ao seu alcance, respeitando a vontade do outro, neste caso,
internados, acompanhantes e até mesmo profissionais que atuam na instituição.
A inserção de profissionais de outras áreas – como o pedagogo, os voluntários entre
outros – no contexto hospitalar traz mudanças benéficas ao processo de tratamento de saúde,
porém deve haver uma preocupação para que as relações multiprofissionais ocorram de
maneira saudável e entrelaçada. É sobre a relação entre profissionais da saúde e profissionais
da educação, bem como a prática pedagógica, que o item a seguir discorrerá.
2.5 O PEDAGOGO NO CONTEXTO HOSPITALAR: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA
PEDAGÓGICA E AS RELAÇÕES NESTE ESPAÇO
Não se pode estar preso a um mundo em que não seja possível escutar
outras vozes e olhar de diferentes lugares permitindo-se cruzar
experiências, compartilhando caminhos, abrindo para o que é diferente,
descobrindo novas coisas, pessoas, situações.
(DARELA, 2007, p. 34)
O desconhecimento da importância do trabalho pedagógico pelos profissionais da
saúde pode fazer com que estes vejam o professor como um intruso ou apenas como um
recreador. Fontes (2005, p.25) comenta que “Enfermeiros, médicos e nutricionistas, em geral,
vêem professores/pedagogos como recreadores, aqueles que promovem brincadeiras com a
criança para “matar” o tempo ou para fazer com que ela não dê trabalho”. A entrada dos
profissionais que, geralmente, não fazem parte do contexto hospitalar causa estranheza e má
compreensão do trabalho realizado, principalmente se essa inserção não estiver sendo
mediada e trabalhada dentro da instituição hospitalar. Atualmente profissionais da educação
vêm ganhando atenção e respeito dentro dos hospitais que oferecem a Pedagogia Hospitalar e,
aos poucos “os médicos passam a ver as atividades educacionais como auxiliares do
tratamento de saúde” (GIL; PAULA, 1999, p. 143).
É importante que haja um estreitamento nas relações dos profissionais da educação e
saúde, para que um fortaleça o trabalho do outro e juntos possam transformar o hospital em
um ambiente mais humanizado. Matos (2008, s.p.) revela essa necessidade ao relatar que:
32
A finalidade da Pedagogia Hospitalar é integrar educadores, equipe médica
e família, num trabalho em conjunto que permite ao enfermo, mesmo em
ambiente diferenciado, integrar por meio de ações lúdicas, recreativas e
pedagógicas novas possibilidades e maneiras de dar continuidade a sua vida
escolar e, com isso, beneficiar sua saúde física, mental e emocional.
As contribuições dos profissionais da educação e saúde são extremamente
significativas e é neste sentido que Matos e Mugiati (2011, p.46-47) colocam que:
A Pedagogia Hospitalar, por suas peculiaridades e características, situa-se
numa inter-relação entre os profissionais da equipe de saúde e a educação.
Tanto pelos conteúdos da educação formal, como para a saúde e para a vida,
como pelo modo de trazer continuidade do processo a que estava inserida
de forma diferenciada e transitória a cada enfermo.
Seguindo o raciocínio dessas autoras, a integração entre ambos os profissionais só vem
a beneficiar a criança ou o adolescente hospitalizado e, segundo o Ministério da Educação e
Cultura (MEC)
[...] compete ao sistema educacional e serviços de saúde, oferecerem
assessoramento permanente ao professor, bem como inseri-lo na equipe de
saúde que coordena o projeto terapêutico individual. O professor deve ter
acesso aos prontuários dos usuários das ações e serviços de saúde sob
atendimento pedagógico, seja para obter informações, seja para prestá-las
do ponto de vista de sua intervenção e avaliação educacional. (BRASIL,
2002, p.18-19).
Matos e Mugiatti (2011, p.73) denominam o pedagogo como “agente de mudança”,
pois por estarem precisando de cuidados médicos, os escolares necessitam, não só da
escolarização, mas também de “ajuda para vencer as conseqüências de sua própria
hospitalização”. Kessler et al (1996, p.113) também contribuem dizendo que
A análise do processo de desenvolvimento cognitivo e das condições
clinicas dessas crianças, mostra a necessidade de sofisticação das
modalidades de ensinar que se diferenciam, com profundidade, do trabalho
escolar comum, porque os espaços e tempos da aprendizagem seguem outra
regularidade e intensidade.
E além de estar atento às diferenças do âmbito hospitalar e do ensino regular, o
pedagogo deve atuar
[...] com diferença em seu modo de agir, intervir é muito importante
transpor de uma ética profissional muito elevada, pois trabalhar em
33
conjunto com outros profissionais significa respeitar a prática de cada um
em seu tempo certo e no momento certo, não só os médicos, mas também
enfermeiros, psicólogos, parentes e o próprio educando hospitalizado.
Adequar situação de ensino aprendizagem nesse contexto requer conhecer
todos os aspectos que envolvem o hospital e muitas vezes o pedagogo acaba
por cair no empirismo por trabalhar da mesma forma que na escola de
ensino regular. (VASCONCELOS, 2010, p.19).
Os profissionais da educação que atuam no espaço hospitalar assim como “os
profissionais mais próximos das práticas de cuidado também deverão se informar sobre o
processo de adoecimento do doente e sobre a doença em questão. Enfim, os dois têm como
objetivo o ser humano doente – os caminhos é que são inversos” (FERREIRA, 2005, p.116).
Corroborando com esse pensamento, Darela e Geremias (2009, p.606) dizem que:
Conjuntamente com o enfoque da humanização do atendimento em saúde, a
interdisciplinaridade é uma das bases da tarefa do profissional da educação
que atua em hospitais, propiciando uma prática integradora tendo como foco
a totalidade dos aspectos inter-relacionados a saúde e a doença. Assim, no
hospital, o profissional da educação deve transpor os limites de sua área,
mantendo contato com outros profissionais, possibilitando outros olhares ao
mesmo problema.
A sociedade ainda pouco conhece esse trabalho, Fontes comenta que “nem mesmo os
pais, no início, têm clareza do que seja a Pedagogia Hospitalar. Com o desenrolar das
atividades, eles passam a vê-la de uma forma terapêutica, não de forma pedagógica”
(FONTES, 2005, p. 25).
Seja no âmbito escolar ou no hospitalar, a prática pedagógica deveria ocorrer de
maneira a garantir a eficácia do processo ensino-aprendizagem, para isso o educador deve
pensar e repensar sua prática bem como em todo o processo educacional, sendo o
planejamento pedagógico algo de estrema necessidade nesse processo, o próximo item
discorrerá sobre este tema.
2.6 PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO HOSPITALAR
[...] não existe lugar especifico para haver ensino-aprendizagem, basta que
os envolvidos estejam dispostos a ensinar e a aprender.
(AMORIM, 2011, p.40)
O planejamento pedagógico é uma ação importante para o pleno andamento do
cotidiano escolar e isso não é diferente em outros espaços onde se trabalha com a educação.
34
Planejar, segundo Ostetto (2007, p. 177), significa:
[...] traçar, projetar, programar, elaborar um roteiro para empreender uma
viagem de conhecimento, de interação, de experiências múltiplas e
significativas para com o grupo de crianças. Planejamento pedagógico é
atitude crítica do educador diante de seu trabalho docente. Por isso não é
uma fôrma! Ao contrário, é flexível e, como tal, permite ao educador
repensar, revisando, buscando novos significados para sua prática
pedagógica.
É necessário que o professor se dedique a pensar e elaborar estratégias, pois a
organização da práxis docente é o que torna o processo ensino-aprendizagem significativo.
Traçar objetivos, estratégias e recursos assegura ao educador um ponto de partida sem
esquecer que todo o planejamento pode e deve ser modificado caso o educando ou o próprio
processo expressem tal necessidade. A organização e reorganização da práxis docente
permitem que o trabalho seja aprimorado, melhorado e compreendido. Turra et al
complementam ao dizer que:
Nunca devemos pensar num planejamento pronto, imutável e definitivo.
Devemos antes acreditar que ele representa uma primeira aproximação de
medidas adequadas a uma determinada realidade, estas medidas favorecem a
passagem gradativa de uma situação existente para uma situação desejada.
(TURRA et al, s.d., p.13)
O documento “Classe Hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar” esclarece que
“compete ao professor adequar e adaptar o ambiente às atividades e os materiais, planejar o
dia-a-dia da turma, registrar e avaliar o trabalho pedagógico desenvolvido” ( RASIL, 2002,
p.22). Para Gil e Paula “os planejamentos das atividades realizadas nos hospitais requerem
criatividade e flexibilidade” (1999, p.144). Compactuando com esses pensamentos, Adam et
al dizem que “o trabalho desenvolvido pelos profissionais das diversas áreas, precisa ser
integrado, dinâmico, capaz de perceber as diferenças da rotina da internação pediátrica” (s.d.,
p.5). Por meio desses aspectos o planejamento bem como um projeto pedagógico adequado
para o cotidiano hospitalar devem estar associados à inserção do pedagogo no espaço
hospitalar (MATOS; MUGIATTI, 2011).
Referente ao currículo, Amorim (2011, p.73) diz que “o homem, como agente de sua
cultura, não se adapta, mas faz com que o meio se adapte à suas necessidades”, seguindo esse
pressuposto a Declaração de Salamanca diz no item 26 que o currículo deve ser adaptado às
necessidades da criança e não o contrário (UNESCO, 1994).
35
O pedagogo precisa tomar ciência das diferenças da prática educacional no contexto
hospitalar e que ele também “[...] é um professor diferente daquele da sala de aula, porque não
está na escola, não está trabalhando com crianças „saudáveis‟, que podem fazer tudo a
qualquer tempo” (FONTES, 2005, 26) e, por isso, deve estar atento “a necessidade de se
adequar os conteúdos, assim como as metodologias e propostas educativas a fim de atender
estes alunos conforme suas necessidades e possibilidades, observando seus limites”
(AMORIM, 2011, p.50). Sendo assim “a pedagogia hospitalar não é apenas um espaço de sala
de aula dentro do hospital, vai muito além, por ter características próprias, público específico,
profissionais
e
conteúdos
multidisciplinares,
enfim
um
atendimento
pedagógico
especializado” (AMORIM, 2011, p.18).
De acordo com Matos e Mugiatti (2011, p.26)
O educador, o assistente social, o psicólogo e os demais profissionais afins,
devem buscar em si próprios o verdadeiro sentido de “educar”, devem ser o
exemplo vivo dos seus ensinamentos e converter suas profissões numa
atividade cooperativa do engrandecimento da vida. Para isso, deverão
pesquisar, inovar e incrementar seus conhecimentos e expandir sua cultura
geral e procurar conhecer e desenvolver novos espaços socioeducacionais
que possam, de certa forma, evidenciar uma sociedade mais harmônica em
suas diversidades.
Matos (2008, s.p.) comenta que a formação do profissional que pretende trabalhar na
educação hospitalar deve ser diferenciada, deve ser uma formação que “desenvolva suas
habilidades e competências, bem como um trabalho emocional qualificado que o beneficie
diante de determinadas situações”. Complementando essas falas, Linheira (2006, p.30) diz que:
Para a atuação adequada o professor precisa estar capacitado para lidar com
as mudanças constantes nos planos adequando-os a cada situação. É preciso
ter criatividade e sensibilidade para lidar com situações diversas e delicadas.
Ainda são poucos os cursos de graduação e pós-graduação com ênfase em
educação hospitalar ou pedagogia hospitalar.
De acordo com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva:
Para atuar na educação especial, o professor deve ter como base da sua
formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da
docência e conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a
sua atuação no atendimento educacional especializado, aprofunda o caráter
interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular,
nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional especializado,
36
nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação superior, nas
classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços
e recursos de educação especial. (BRASIL, 2007, p.11).
Ainda de acordo com a formação do pedagogo para atuação em diferentes contextos
educacionais, Mattos e Mugiatti esclarecem que a Pedagogia Hospitalar é uma área
especializada da Pedagogia e faz parte de propostas curriculares de várias instituições de
ensino superior
[...] as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia, sob o
processo 23001. 000188/2005-02, aprovado pelo parecer do CBE/CP
5/2005, de 13/12/05 [...] o qual inclui a formação também em contextos não
escolares, destacando inclusive preparação e prática em ambiente hospitalar
para atendimento sob aspectos pedagógicos” (MATTOS; MUGIATTI, 2011,
p. 32).
O planejamento pedagógico hospitalar necessita então de uma atenção especial dos
profissionais da educação, levando em conta as limitações do espaço e das condições de saúde
da criança e adolescentes hospitalizados. Assim como o planejamento, a formação do
professor precisa ser direcionada, para que o profissional compreenda todo o contexto
hospitalar e esteja preparado para a flexibilidade que sua atuação exige.
No próximo capítulo encontra-se uma breve cronologia da história da Classe
Hospitalar no HIJG, instituição onde a pesquisa foi realizada.
37
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar.
É melhor tentar, ainda que em vão que sentar-se,
fazendo nada até o final.
Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias frios em casa me
esconder.
Prefiro ser feliz embora louco, que em conformidade viver.
(MARTIN LUTHER KING)
3.1 PERCURSOS METODOLÓGICOS
Este estudo é um trabalho de conclusão do curso de Pedagogia do Centro Universitário
Municipal de São José – USJ e, como tal, envolve uma pesquisa. Segundo Minayo, pesquisa é
“a atividade básica da Ciência na sua indagação e construção da realidade [...]. Portanto,
embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação” (2004, p.17). Para
desenvolver qualquer tipo de pesquisa é necessário definir os procedimentos metodológicos
através dos quais “o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade”
(MINAYO, 2004, p. 16) são traçados.
Iniciei meu percurso com a definição do tema. Por ser uma área que aguçava meu
interesse não foi difícil optar pela Pedagogia Hospitalar. Santos (1999, p.50) diz que o
[...] gosto pessoal, preparo técnico e tempo disponível – Um tema
preferência do pesquisador gera empatia e favorece a perseverança.
formação cultural e a vivência pessoal garantirão o início bem sucedido
processo de busca; o tempo para a dedicação garantirá continuidade
processo até o ponto necessário/desejado.
da
A
do
do
Ao mesmo tempo em que procurava produções literárias acerca desta temática, fui em
busca do campo a ser pesquisado. Meu primeiro contato com o HIJG foi no final do mês de
fevereiro de 2011 e soube então que, para obter autorização para a realização da pesquisa no
HIJG, seria necessário encaminhar meu projeto para ser analisado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) do referido hospital.
Como meu projeto ainda estava sendo elaborado, precisei finalizá-lo para depois
encaminhá-lo ao comitê. No final do mês de junho, já com o projeto em mãos, fui até o
comitê e lá fui informada de que outros documentos deveriam ser entregues juntamente com o
projeto. Um desses documentos solicitava a autorização e a assinatura da chefia da Seção de
Pedagogia. Então, entrei em contato com o referido setor e marquei um horário para
38
apresentar o projeto e a metodologia para as professoras. A professora do 1º ao 5º ano – a qual
iria acompanhar o trabalho – e a chefia da seção de pedagogia autorizaram a realização da
pesquisa no setor.
Para entrar no CEP do HIJG, foi necessário providenciar mais alguns documentos, a
reunião na qual o projeto de pesquisa seria analisado ocorreu no dia 1º de setembro de 2011.
Logo em seguida, entrei em contato com o hospital e mais alguns documentos foram
solicitados. Novamente, providenciei os documentos e aguardei mais alguns dias e
apreensiva, pois a defesa de TCC já estava marcada para o dia 21 de novembro mais uma vez,
outro documento foi solicitado e diante do exposto pelo comitê, foi providenciado o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (vide anexo J). O projeto desta pesquisa foi
analisado e aprovado pelo CEP-HIJG, através do protocolo 038/2011. As observações na
terça-feira, dia 27 de setembro. Estas ocorreram durante quatro dias consecutivos (27, 28, 29 e
30 de setembro). Nos três primeiros dias a observação foi realizada no período matutino e
vespertino, pois pela manhã acontece o acompanhamento das crianças e adolescentes no leito
e à tarde na sala da pedagogia. Porém, no último dia, a pedido da chefia, a observação
aconteceu apenas no período matutino.
Vale ressaltar que todo o rigor ético exigido para permitir a realização da pesquisa
revelou-se de grande valia. Apesar do excesso de documentos, esse processo de idas e vindas
foi necessário e demonstrou a seriedade e compromisso do hospital para com seus pacientes, e
a leitura atenta ao projeto, levou ao aprimoramento.
Como pesquisadora, assumi o compromisso ético e de obediência às normas do HIJG
com a Resolução CNS/MS 196/96 que expõe os deveres do pesquisador quando a pesquisa
envolve seres humanos.
3.2 RECURSOS METODOLÓGICOS
Durante esta pesquisa, de cunho qualitativo e exploratório, optei por utilizar como
recursos: a observação, o diário de campo escrito, entrevistas não estruturadas e análise de
documentos e da literatura especializada.
A pesquisa exploratória é definida por Neves como a “obtenção de dados descritivos
mediante contato direto e interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo” (1996,
p.1). Minayo (2004, p.21-22) afirma que a pesquisa qualitativa:
39
[...] se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não
pode ser quantificado. [...] o que corresponde a um espaço mais profundo
das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis.
O estudo in loco se deu, principalmente, pela observação participante que é o “contato
direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade
dos atores sociais em seus próprios contextos” (DESLANDES, 2004, p.59). De acordo com
Lüdke e André (2007, p.30) “[...] o observador inicia a coleta de dados buscando sempre
manter uma perspectiva de totalidade, sem se desviar demasiado de seus focos de interesse”.
Um dos recursos metodológicos utilizados foi o diário de campo escrito, cujas
situações vivenciadas e informações que contemplavam os objetivos da pesquisa foram
registradas através de anotações escritas. De acordo com Santos (1999, p.87) “a anotação
com finalidade de redação posterior de um texto próprio, como é o caso da anotação que se
faz em pesquisas, deve ser feita em função dos objetivos específicos da investigação”.
Organizei os diários de campo através de pontos de observações visando sempre
contemplar as indagações iniciais como conhecer o cotidiano do trabalho pedagógico,
perpassando por pontos específicos. No primeiro dia de observação, optei por conhecer
melhor o planejamento pedagógico hospitalar, no segundo dia o ponto de observação foi as
relações no espaço hospitalar, no terceiro dia o foco do meu olhar voltou-se para a
importância deste atendimento educacional para o desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo
das crianças e adolescentes em tratamento e no quarto dia foram observados diversos aspectos
como, por exemplo, instalações físicas, cotidiano e trabalho da pedagoga.
Acompanhei o trabalho da pedagoga tanto nos leitos quanto na Classe Hospitalar, por
este motivo, o ponto principal a ser observado durante os dias em que estive no hospital
serviram como um guia e não como algo limitador, pois, como sugere Geremias (2010, p. 117)
[...] tudo está carregado de significados, é crucial estar atenta ao que é dito,
às expressões corporais, aos gestos, aos olhares, ao próprio silêncio, quem
fala ou deixa de falar, quem se expõe mais. E não basta só observar, mas
tentar interpretar o que não ficou esclarecido, tentar confirmar as
informações e se necessário, rever a metodologia adotada. A sensibilidade e
a abertura do pesquisador, munidas pela teoria, é que permitirão essa
flexibilidade necessária, pois durante a pesquisa ocorre sempre um processo
de transformação, de aprendizagem; o pesquisador se ressignifica no campo.
Outra abordagem adotada para a coleta de dados foi a entrevista não estruturada “[...]
onde o informante aborda livremente o tema proposto” (NETO, 2004, p.58), essa abordagem
40
se deu por meio de conversas com a pedagoga, nas quais procurei saber mais da formação e
atuação da mesma e quais eram as atividades cotidianas da Pedagogia Hospitalar.
Participaram da pesquisa as crianças que frequentavam os Anos Iniciais do Ensino
Fundamental que participaram das ações pedagógicas – tanto nos leitos quanto na sala – do
HIJG nos dias em que as observações foram realizadas.
3.3 COLETA DE DADOS
O objeto de estudo desta pesquisa centrou-se no cotidiano das classes hospitalares. E
para realizá-la foi “[...] preciso promover o confronto entre os dados, as evidências, as
informações coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a
respeito dele” (LÜDKE; ANDRÉ, 2007, p.1), para tanto foi realizada pesquisa bibliográfica,
documental e in loco. De acordo com Gil (1999), pesquisa bibliográfica é o estudo das
contribuições de diversos autores sobre determinado assunto, e a na pesquisa documental
estão incluídos “[...] desde leis e regulamentos, normas, pareceres, cartas, memorandos,
diários pessoais, autobiografias, jornais, revistas, discursos, roteiros de programas de rádio e
televisão até livros, estatísticas e arquivos escolares.” (LÜDKE; ANDRÉ, 2007, p.38). Assim
“partindo da construção teórica do objeto de estudo, o campo torna-se um palco de
manifestações de intersubjetividades e interações entre pesquisador e grupos estudados,
proporcionando a criação de novos conhecimentos.” (DESLANDES, 2004, p.54).
Ao iniciar o segundo semestre de 2011, juntamente com a retomada da elaboração do
TCC, foi elaborado um cronograma, a fim de organizar os períodos de elaboração de cada
capítulo e cada etapa da pesquisa. Segundo Santos “[...] fazer um cronograma é relacionar as
atividades ao tempo disponível, isto é, planejar o tempo em função das atividades previstas
para a conclusão do trabalho proposto” (1999, p.72).
Com o cronograma feito, retomei a pesquisa sobre os materiais publicados acerca do
tema bem como a leitura do que já estava disponível. De acordo com Gonsalves (2007), após
o levantamento da bibliografia, deve-se organizar o material através de resenhas, resumos e
fichamentos. Optei por fazer fichamentos de todo o material que li. Fichei as partes que
julgava ser mais importantes e que poderiam ser agregadas ao meu trabalho. Estes
fichamentos foram digitados juntamente com as suas referências e, posteriormente, impressos
para várias releituras. Essa maneira de organizar todo o material lido auxiliou-me muito
durante todo o período de escrita deste trabalho.
41
A produção das informações iniciou-se, como sugere Santos (1999), na fase
exploratória, segundo este mesmo autor
[...] explorar é tipicamente a primeira aproximação de um tema e visa criar
maior familiaridade em relação a um fato ou fenômeno. Quase sempre
busca-se esta familiaridade pela prospecção de material que possam informar
ao pesquisador a real importância do problema, o estágio em que se
encontram as observações já disponíveis a respeito do assunto, e até mesmo,
revelar ao pesquisador novas fontes de informação. (SANTOS, 1999, p.26).
A coleta de dados foi realizada por meio do levantamento bibliográfico e das
pesquisas de campo por meio de entrevistas não estruturadas e de observações. De acordo
com Santos (1999, p.74) “coletar dados é juntar as informações necessárias ao
desenvolvimento dos raciocínios previstos nos objetivos.
O período de pesquisa in loco ocorreu durante quatro dias seguidos, na última semana
do mês de setembro de 2011. Os dias e os horários foram os seguintes: terça-feira (27),
quarta-feira (28) e quinta-feira (29) das 8h30min às 11h e das 13h30min às 16h e na sextafeira das 8h30min às11h.
O lócus da pesquisa foi o Atendimento Escolar Hospitalar3 (AEH) do HIJG, que é
vinculado à EEB Padre Anchieta, da Secretaria Estadual de Educação, situada no bairro
Agronômica, em Florianópolis, estado de Santa Catarina.
A pesquisa contou com quatro observações no leito (atendimento que acontece no
período matutino) e três na Classe Hospitalar (atendimento que acontece no período
vespertino). Enquanto acompanhava a pedagoga no atendimento escolar hospitalar tanto no
leito quanto na sala, me apresentava às crianças e aos acompanhantes, expondo o motivo da
minha presença de maneira clara e objetiva. Nesse mesmo instante, apresentava o termo de
consentimento livre e esclarecido (TCLE), para que pudessem autorizar (ou não) a minha
observação. Garantindo que a não autorização ou desistência da autorização concedida não
geraria nenhum dano ao atendimento da criança ou adolescente.
Com o auxílio do diário de campo, relatarei as vivências das observações, sem
utilização de imagens e gravações de áudio. Os nomes dos colaboradores não serão
divulgados e somente as pessoas diretamente relacionadas à pesquisa terão acesso aos dados.
Todas as informações serão mantidas em segredo e somente serão utilizadas para este estudo,
cujo objetivo é a conclusão do curso de Pedagogia. Também foram assegurados aos
3
Nomenclatura utilizada pelo setor de pedagogia hospitalar do Hospital Infantil Joana de Gusmão para referir-se
a classe hospitalar.
42
participantes a privacidade e confidencialidade dos dados, através da não divulgação de
nomes e imagens. Todos autorizaram a minha presença nos quatro dias de observação. A
quantidade de crianças variou durante minha observações, por diversos motivos como alta
hospitalar, realização de exames e internação de novas crianças, mas a média de crianças nas
classes foi de quatro, com idades entre 7 e 10 anos.
As análises dos dados foram feitas por meio da interpretação dos diários de campo.
Como sugere Silva e Karkotli (2011, p.157) “em confronto com a bibliografia examinada e
com os objetivos do projeto, se deve fazer a interpretação das informações”. Sendo
relacionadas situações vividas com estudos bibliográficos.
No próximo capítulo, busquei compreender e esclarecer as situações vivenciadas e
fundamentá-las na literatura especializada dando ênfase àquelas que respondam as indagações
iniciais, o foco deste estudo.
3.4 A PRÁTICA PEDAGÓGICA NO HOSPITAL INFANTIL JOANA DE GUSMÃO
O programa da Classe Hospitalar oferecido pela equipe pedagógica do HIJG iniciou
em 1999, por meio de uma parceria com a Secretaria de Estado da Educação (SED-SC) e por
meio da portaria nº 30 de 05/03/2001 a SED-SC oficializou a implantação do atendimento
educacional dessa instituição hospitalar, ficando a mesma vinculada à EEB Padre Anchieta,
localizada próximo ao hospital (DARELA et al, 2007).
O HIJG apresenta atualmente alguns programas educacionais desenvolvidos pela
equipe pedagógica do hospital, equipe que conta com pedagogos, professores, recreadores e
estagiários.
Os programas são:
Ambulatório - triagem - diagnóstico, orientação e acompanhamento escolar
para crianças com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e com
dificuldades na aprendizagem;
Atendimento Pedagógico em Equipe Multidisciplinar - atendimento nas
unidades viabilizando a interação entre equipe multidisciplinar do hospital e
o processo escolar;
Atendimento Escolar Hospitalar (ATEH) - continuidade da escolaridade
formal, mantendo a sistematização da aprendizagem, promovendo o
desenvolvimento e contribuindo para a reintegração à escola após alta
hospitalar;
Recreação - oportuniza o brincar como proposta terapêutica, possibilitando
através do brinquedo e brincadeiras, reelaborar as manifestações de alegria e
do lazer, resgatando a vitalidade e autoconfiança;
43
Estimulação essencial - para crianças de 0 a 6 anos com atraso no
Desenvolvimento Neuropsicomotor. (SANTA CATARINA a, 2011, s.p.).
Por ser um hospital referência em diversas especialidades, o HIJG atende crianças e
adolescentes entre 0 e 15 anos de todo o estado catarinense, a Classe Hospitalar desse hospital
tem como objetivos:

Proporcionar experiências e vivências de aprendizagem;

Fortalecer a manutenção dos vínculos escolares, mantendo o elo entre
o aluno e sua escola de origem;

Promover um espaço prazeroso de interação social;

Favorecer a reinserção escolar após a hospitalização, prevenindo a
evasão escolar;

Oferecer campo de ensino e pesquisa. (SANTA CATARINA a, 2011,
s.p.).
As crianças atendidas pela seção pedagógica do HIJG vão até o espaço externo onde
ficam as classes. Duas salas dividem a seriação, uma é destinada às crianças do 1º ao 5º Ano e
a outra atende crianças e adolescentes do 6 º ao 9º Ano. Quando a vinda das crianças e
adolescentes até á classe não é possível, devido às suas condições de saúde ou intervenções
médicas, as pedagogas vão até eles proporcionando o atendimento no leito, sempre
respeitando a vontade e o estado de saúde desses educandos.
O pedagogo, ao promover experiências vivenciais dentro de um hospital –
brincar, pensar, criar, trocar – estará favorecendo seu desenvolvimento, que
não deve ser interrompido em função de uma hospitalização. (SANTA
CATARINA a, 2010, s.p.).
No capítulo a seguir encontram-se, detalhadas, as abordagens metodológicas utilizadas
durante o processo de pesquisa e coleta de dados para este estudo.
44
4 ANÁLISES DA PESQUISA
A experiência não é o que acontece a um homem.
É o que um homem faz com o que lhe acontece.
(THOMAS JEFFERSON)
4.1. A CAMINHADA: OBSERVAÇÕES EM CAMPO
Durante a pesquisa para a elaboração deste trabalho de conclusão de curso, acabei
conhecendo o trabalho da Associação de Voluntários de Saúde do Hospital Infantil Joana de
Gusmão (AVOS), fundada em agosto de 1975, por um grupo de amigas e atua no HIJG.
Procurei informações, me inscrevi e comecei a participar do grupo. Essa experiência
proporcionou-me muitas vivências importantes. Durante o período em que participei do
voluntariado, passei a maior parte do tempo no ambulatório onde, juntamente com outras duas
voluntárias, realizava as atividades que consistiam, principalmente, na disposição de
desenhos, lápis e jogos para as crianças se entreterem enquanto aguardavam para serem
consultadas e/ou internadas. Colocávamos mesas e cadeiras plásticas infantis e
disponibilizávamos materiais necessários para que as crianças pudessem desenhar, colorir e
interagir umas com as outras. Algumas vezes, até mesmo os acompanhantes solicitavam os
desenhos para espairecerem, pois ficavam por horas no hospital, aguardando para serem
atendidos. Geralmente vinham de regiões mais distantes.
Frequentei o grupo AVOS por cerca de três meses do decorrente ano (de junho a
agosto/2011). Ao conhecer o trabalho do voluntariado, descobri que as voluntárias são as
responsáveis pelas decorações do hospital – quadros infantis, decorações de datas
comemorativas – vestem-se com guarda-pós amarelos para diferenciar-se de médicos e
enfermeiros. Estes, muitas vezes utilizam detalhes diferenciados em seus jalecos, como
bordados de desenhos infantis.
Matos e Mugiatti (2011, p.70) falam sobre algumas medidas simples que servem para
atenuar as impressões causadas pelo hospital, como por exemplo, “pintar as paredes de cores
variadas (tons pastéis) e usar roupas de cores diferentes, tanto as crianças como o pessoal
assistente”, pois são estas ações juntamente com a caracterização do ambiente conforme as
datas comemorativas, como Páscoa, festa junina, Natal tão comuns ao universo infantil que
podem apaziguar sentimentos de estranheza e desconforto.
45
O trabalho voluntário dentro do hospital mostra-se, também, de suma importância para
o aspecto humanizador. As voluntárias se dividem pelas unidades do hospital com intuito de
interagir, brincar, conversar com as crianças e familiares que se sentem visivelmente bem com
a presença do voluntário. O grupo AVOS também foi responsável pela construção das salas
destinadas à Classe Hospitalar, pois através de ações sociais arrecada dinheiro para melhoria
do hospital e atualmente para a construção da casa lar que fica bem próximo ao hospital.
Meu primeiro contato com a Classe Hospitalar foi como voluntária. Fiquei por
algumas horas nesse espaço. As vivências me remeteram às leituras realizadas sobre o tema,
permitindo-me fazer ligações entre os fatos vividos e os contextos conhecidos através das
bibliografias.
Nessa tarde havia três crianças na classe, cada uma desenvolvia uma atividade, pois
tinham diferentes níveis de escolaridade. Esta é uma das características do atendimento
pedagógico hospitalar: a multiseriação. De acordo com Amorim (2011, p.30) “na classe
hospitalar as atividades aplicadas aos alunos devem condizer com as que o mesmo estaria
realizando caso não estivesse hospitalizado, e corresponder também à faixa-etária do aluno”.
Para trabalhar com os diferentes níveis de escolaridade são utilizadas atividades impressas e
trabalha-se individualmente com cada criança.
Durante a realização das atividades, elas sorriam e conversavam, parecendo esquecer,
mesmo que momentaneamente, os aparatos indispensáveis que os acompanhavam até a classe,
como sonda, soro, angústia e dor. Nas palavras de Calegari (2003, p.79)
O contato com outras crianças, contribui para seu desenvolvimento social.
Em muitos casos, a enfermidade é esquecida. Isto demonstra que a criança,
mesmo doente, pode ter outros interesses e se "desligar" do problema.Tal
fato contribui para seu melhor ajustamento hospitalar e recuperação.
Após as crianças terminarem as atividades, a professora indagou-as para saber o que
gostariam de fazer e diante do desejo de brincarem um pouco, a professora pegou um jogo no
armário. Nós cinco jogamos algumas vezes, o jogo exigia atenção, rapidez e percepção, pois
consistia em encontrar em um tabuleiro com diversas imagens de objetos, algumas figuras. As
crianças se divertiram, numa leve disputa, fizeram brincadeiras entre si, chegando às
prazerosas gargalhadas até o jogo “perder a graça”. Para Souza (2007, p. 4706) “o brincar é
uma forma de expressão natural da criança; enquanto brinca ela desloca a sua atenção da dor e
sofrimento para uma outra situação de prazer e alegria que pode minimizar o seu sofrimento”.
Corroborando com essa fala, Behrens (2009, p.17) diz que:
46
Os momentos que os alunos hospitalizados estão brincando podem servir de
alívio do stress e da angústia de ficar impedido de conviver nas suas casas e
com seus familiares. A própria brincadeira possibilita a aproximação de
crianças que estavam nos leitos sem conversar e sem ter contato com outras
crianças. Na realidade, são momentos privilegiados para quem está
atravessando um período difícil em sua vida.
A pedagoga mostrou-se muito atenta, procurando certificar-se sempre de que as
crianças estavam se sentindo bem, além de respeitar as vontades delas. Em um determinado
momento, um dos meninos disse que estava se sentindo cansado e quis voltar para o leito, a
pedagoga ofereceu-se para acompanhá-lo, mas ele disse que não era necessário. Segundo
Amorim (2011, p.37) “o professor que atua em classe hospitalar precisa se importar com o
aluno além do âmbito educativo, conhecer seus limites e possibilidades físicas e cognitivas
observando atitudes, sintomas, movimentos e seus apelos silenciosos”.
Em suma, foram muitas as percepções positivas tidas nesse primeiro olhar presencial
na atuação pedagógica. Durante as conversas e situações vivenciadas pude observar na prática
muito do que encontrei na teoria sobre este tema como também, diante das interações entre as
crianças e a professora reportei-me a ações cotidianas rotineiras em uma sala de aula
convencional, como as conversas, os risos e as trocas de ideias.
4.2. DIÁRIO DE CAMPO
Ninguém é tão grande que não possa aprender,
e ninguém é tão pequeno que não possa ensinar.
(AUGUSTO CURY).
4.2.1 Primeira observação (27 de setembro de 2011)
Foco – Planejamento Pedagógico Hospitalar
Primeiro fui até a sala da chefia da seção de pedagogia do HIJG para marcar os dias e
horários em que realizaria as observações. Em seguida, fui, juntamente com a professora, à
sala destinada às aulas do 1º ao 5º ano.
Na sala, a professora me explicou como ocorre o trabalho nos leitos. Mostrou um
programa (Micromed) em que a professora acessa com seu login e senha, as informações
sobre as crianças que estão internadas nas diferentes unidades
47
Em relação ao planejamento a professora falou que a equipe da Classe Hospitalar
trabalha com projetos. Neste ano o tema escolhido foi o meio ambiente e o título do projeto é
“Por um planeta onde a vida não se acabe: a criança plantando o futuro”. O planejamento é
realizado semanalmente, sendo abordados temas específicos, como dia da árvore e início da
primavera. No plano semanal são traçados objetivos e desenvolvimento. As atividades são
planejadas para começarem e terminarem no mesmo dia, pois é possível que o paciente não
possa participar da atividade do dia seguinte devido a fatores como a obtenção da alta, piora
no quadro clínico ou realização de algum exame (ALMEIDA, 2009). Utilizam-se atividades
sistemáticas, como cruzadinhas, caça-palavras, sendo grande o uso de materiais impressos. De
acordo com a professora, o planejamento é flexível visando o bem estar e a participação da
criança.
Em um caderno particular, a professora anota/relata situações diárias, bem como as
atividades realizadas ou as pendências como, por exemplo, uma atividade que uma criança
não tenha conseguido finalizar – quando possível esta é levada para ser concluída no leito.
Souto-Maior (2007, p.65) deixa nítida a importância do registro quando diz: "observar, anotar
e refletir – isso tudo ajuda a compreender o que foi vivenciado para melhor avaliar e planejar
o dia seguinte".
Em suma, o planejamento do atendimento escolar do Hospital infantil Joana de
Gusmão, é feito por meio de um tema central através de projetos. O plano é desenvolvido
semanalmente e as atividades são propostas para iniciarem e serem concluídas na mesmo dia.
Como há uma rotatividade característica deste atendimento pedagógico, pois muitas crianças
recebem alta e/ou são internadas, o planejamento visa ser flexível de maneira que possa ser
adaptado às diferentes séries, realidades socioculturais e estado de saúde dos escolares
hospitalizados.
Após checar as informações sobre as crianças internadas no programa a professora
prepara e separa os materiais a serem levados aos leitos, como giz de cera, lápis de escrever e
atividades diferenciadas para ser entregue às crianças que ainda não podem frequentar a
Classe Hospitalar.
Acompanhei a professora nas visitas aos leitos e em cada quarto, apesar de as histórias
serem diferentes, a manifestação ao ver a professora era sempre a mesma: o sorriso no rosto.
Quando a professora perguntava às crianças que já frequentavam a classe se elas iriam até lá à
tarde, sempre respondiam positivamente e quando o convite era feito às novas crianças, a
mesma resposta era dada.
48
Quando uma nova criança é internada no hospital, a professora se informa com a
equipe de enfermagem da unidade em que a criança está hospitalizada sobre a possibilidade
dela se deslocar até a sala do atendimento escolar e, dependendo da resposta do profissional
da saúde, o convite é feito à criança e ao acompanhante. Quando a locomoção não é possível,
a professora deixa atividades para serem feitas quando estiverem se sentindo bem.
Enquanto acompanhei a professora em sua rotina diária, me apresentei aos
acompanhantes e às crianças, expliquei-lhes o porquê da minha presença e apresentei o
TCLE, que ao ser assinado permitiria a minha presença, reforçando a não identificação das
crianças e garantindo a não obrigatoriedade da autorização sem oferecer qualquer tipo de
dano. No entanto, todos permitiram.
Em um dos quartos os quais visitei, havia um adolescente que, mesmo sendo do 9º
ano, série que não compete à professora, recebeu a sua atenção, além de alguns gibis e livros.
O atendimento escolar hospitalar realizado no leito trata-se então do convite às crianças para
irem até a sala no período vespertino e do acompanhamento pedagógico realizado pela
professora através da proposição de atividades e desenhos com as crianças e adolescentes que
não podem se deslocar até as salas. Posteriormente esse material é entregue para a professora
que o cola em um caderno e, após a alta, todas as atividades realizadas durante o período em
que frequentam a Classe Hospitalar são entregues para a criança.
É visível o contentamento dos acompanhantes que, geralmente, são familiares
próximos as crianças, quando sabem do atendimento pedagógico. É uma relação de respeito e
carinho recíproco, a professora se mostra atenciosa com o bem estar da criança e dos
acompanhantes antes de qualquer intervenção pedagógica e estes se mostram à vontade,
acolhidos e gratos pelo trabalho oferecido. Trabalho que é muitas vezes desconhecido por
muitos dos que ali estão. Fato que pode ser constatado durante o convite e explicação do
trabalho realizado pelo atendimento escolar hospitalar feito a mãe de um menino que havia
passado por uma cirurgia. Esta agradeceu várias vezes pela presença da professora, mostrouse surpresa e disse ser um trabalho muito bom para as crianças. Falou também que seu filho
adora estudar tanto que respondeu positivamente ao convite da professora, demonstrando
estar contente com a possibilidade de continuar suas atividades educativas. Porém, alguns
minutos depois, passamos novamente em frente ao seu quarto e o vimos sentado na cama com
uma expressão de dor. Fomos conversar com ele e, diante da impossibilidade do menino de se
deslocar até a classe, a professora deixou com o garoto alguns livros e atividades para ele
fazer no leito e, quando se sentisse melhor, poderia ir até a classe.
49
Quando a criança está indisposta, como o caso de uma menina que estava prestes a
entrar na sala de cirurgia, a professora não intervém com atividades pedagógicas, neste caso, a
professora dedicou um tempo para conversar com o pai e com a menina, que lhe mostraram
fotos de familiares no notebook, contaram histórias, deixando a menina, visivelmente mais a
vontade.
No período vespertino aconteceu o atendimento escolar hospitalar no espaço destinado
a essa prática pedagógica. Algumas crianças chegaram com seus acompanhantes, que
aguardaram alguns instantes até se retirarem, garantindo que a criança estivesse se sentindo
bem. Geralmente, os acompanhantes aproveitam esse período para tomar banho, lavar roupas
e descansar um pouco, pois a maioria está no hospital há, mais ou menos, uma semana.
Com a chegada da primavera, a professora planejou atividades relacionadas a esta
estação. Preparou a sala disponibilizando sobre as mesas figuras, revistas, cola, tesoura e
cartolina, propondo a montagem de, como um dos meninos presentes chamou, um cenário,
expondo “O mundo que queremos” (em referência ao tema do projeto adotados pela Classe
Hospitalar do Hospital infantil Joana de Gusmão para o ano de 2011).
Durante a realização da atividade, as crianças interagiram e se mostraram à vontade,
não apresentando mal estar ou dor, aspectos que a professora dava bastante atenção,
certificando-se sempre do bem estar físico e psicológico da criança.
Uma das meninas presentes precisava tomar um suplemento alimentar, porém ela
relutou um pouco, pois estava enjoada da vitamina. A mãe e a professora descontraidamente
falaram que era necessário que ingerisse o suplemento e, durante o período em que esteve na
classe, a menina foi tomando aos poucos, esvaziando a garrafinha, para a alegria da mãe e da
professora.
Ao redor da mesa, enquanto recortavam, desenhavam e colavam, muitas histórias e
causos foram sendo contados, como peripécias que quase sempre terminavam em boas
risadas, mostrando que as crianças através da interação social, aparentemente, se sentiam mais
“saudáveis”, esquecendo, mesmo que por alguns instantes, do motivo que as trouxeram ao
hospital. Quando indaguei se gostavam das aulas, alguns timidamente acenavam
positivamente com a cabeça enquanto outros disseram -“Eu gosto!”, ou, -“Eu não gosto... eu
adoro!”.
Aos poucos, os acompanhantes foram chegando para buscar as crianças. O
atendimento escolar hospitalar vai das 13h30min até as 16h ou 16h30min, dependendo da
atividade e disposição das crianças. Muitas crianças, antes de irem embora, foram até o
espaço da sala onde ficam os livros de história e escolheram alguns para lerem no quarto. A
50
professora comentou que depois do atendimento escolar, algumas crianças vão até a sala de
recreação. Esta sala é um espaço destinado a brinquedos e brincadeiras. Lá, há uma pedagoga
que desenvolve as atividades recreativas. A sala dispõe de computadores com internet, vídeo
game, brinquedos, jogos. Funciona no período matutino e vespertino, havendo horários
determinados e quando em funcionamento as crianças podem frequentar quando desejarem.
Ao sair da sala uma das crianças disse à professora -“Prof, amanhã eu venho, nem
precisa passar no quarto pra chamar!” referindo-se ao momento em que a professora passa
nos leitos para fazer o atendimento pedagógico das crianças que não podem deslocar-se e
também para convidar àquelas que podem, para irem até a sala. A fala desta criança, exprime
o contentamento e desejo de participarem das atividade pedagógicas.
4.2.2 Segunda observação (28 de setembro de 2011)
Foco - O Pedagogo no contexto hospitalar: reflexões sobre a prática pedagógica e
as relações neste espaço.
Enquanto a professora organizava o material e esperava dar o horário para iniciar a
visita aos leitos (por volta das 9h da manhã), explicou-me um pouco mais sobre o cotidiano
do atendimento escolar hospitalar. Falou que nas visitas ao leito, leva as fichas de cadastro
para serem preenchidas com os dados das crianças. Através da ficha, ela pode conhecer um
pouco mais sobre a criança e obter informações importantes, como a escola em que a criança
está matriculada. Há um caderno à disposição da professora com os nomes e telefones de
todas as escolas do estado para o contato que deverá ser feito pelas pedagogas após o terceiro
dia de internação. Através desse contato, a professora informa à instituição escolar que a
criança está recebendo atendimento escolar no hospital, solicita material para ser trabalhado
com a criança e se informa sobre os conteúdos que estão sendo trabalhados nas diferentes
disciplinas. Justi, Fonseca e Souza (apud AMORIM, 2010, p.47) ressaltam a importância da
troca de informações entre a Classe Hospitalar e a escola, na qual a criança e/ou adolescente
internado estudam, os autores afirmam que “É necessário estabelecer uma ação conjunta de
atenção integral entre a família do escolar hospitalizado, a escola do hospital e a escola de
origem” e Amorim, seguindo esta linha de raciocínio, diz que “este vínculo torna-se essencial
para socializar informações acerca do aluno, tais como os conteúdos já estudados, as
dificuldades e nível de aprendizado deste aluno complementa esse pensamento”.
Após a alta da criança, a professora envia, pelo correio, um relatório para a escola,
informando de maneira descritiva o acompanhamento pedagógico realizado, bem como
51
aspectos inerentes à criança. É solicitado à instituição um feedback sobre como foi a volta da
criança ao contexto escolar regular. De acordo com Darela (2007, p.32) “um parecer da escola
não deixa de ser favorável para que se possa avaliar e incrementar o trabalho realizado no
hospital, sendo que para isto é necessário que sejam estabelecidos canais de comunicação
entre estas esferas durante e após a hospitalização”. A professora relatou que em um dos
feedbacks dado por uma escola, a instituição expressou que a criança demonstrou mais
interesse e até mesmo melhora comportamental após sua passagem pelo atendimento escolar
hospitalar. Santos e Souza (2009, p.116) dizem que:
[...] a melhora do rendimento costuma ser duradoura, durando o ano todo,
quando não pelo resto da vida escolar, gerando dividendos em progressão
geométrica, justificando os investimentos públicos já existentes e induzindo
nossas autoridades da educação a que dediquem mais e mais tempo, pessoas
e recursos a esta indispensável atividade que é educação em ambiente
hospitalar.
A professora da Classe Hospitalar do 1º ao 5º ano do HIJG trabalha há
aproximadamente 20 anos com a educação. É formada em Pedagogia com habilitação em
Séries Iniciais e Educação Especial. É concursada pelo estado e mora em Florianópolis há
quatro anos. Fez mais um curso em Educação Especial e soube do atendimento escolar
hospitalar quando trabalhava na escola vinculada ao hospital através de uma professora que já
havia trabalhado na seção de pedagogia do HIJG. Atua há dois anos no atendimento escolar
hospitalar do HIJG, com carga horária de 40 horas semanais e se diz realizada com a atual
atividade.
Essa professora se preocupa constantemente em refletir sobre sua prática, assim como
realizar leituras sobre o atendimento escolar e o cotidiano hospitalar, buscando sempre
melhorar a qualidade de seu trabalho. Fontes (2005, p.26) esclarece que “o professor precisa
ser um pesquisador da sua prática, principalmente na Pedagogia Hospitalar, onde há uma
pequena produção literária sobre o assunto. Precisa refletir, construir, escrever, para
conceituar essa prática”.
A professora relatou que sente que as crianças a aguardam ansiosas, tomam banho
cedo e no período vespertino essa satisfação com a “escolinha”, como as crianças chamam
carinhosamente o espaço da Classe Hospitalar, se demonstra com a chegada das crianças
antes do horário. Elas começam a chegar por volta das 13h e ficam nos arredores da sala. Às
vezes estão tão envolvidas na atividade que não querem interrompê-la, como foi o caso de um
52
menino que recebeu visita e não quis sair da sala, então a mãe e a visita vieram até a sala e
acompanharam um pouco a criança.
Os acompanhantes revelam que as crianças demonstram-se desanimadas e
preocupadas com as faltas na escola e quando sabem da existência da Classe Hospitalar se
alegram mais com a possibilidade de realizar atividades pedagógicas enquanto internadas.
A professora comentou sobre a importância do respeito e valorização do trabalho para
um bom relacionamento com todos os profissionais envolvidos no contexto hospitalar. Disse
que sua relação com os profissionais da saúde é boa e saudável, fato que pode ser percebido
durante as visitas realizadas aos leitos e nos encontros pelos corredores do hospital. Henrique
(2009, s.p) contribui ao citar a ética como essencial para o trabalho no meio hospitalar, para a
autora:
[...] o convívio e o diálogo entre pacientes e os profissionais das diferentes
áreas, necessitam imprescindivelmente serem prezados, respeitando assim, o
direito de privacidade das informações referentes a cada paciente, assim
sendo, não se fere a relação de confiabilidade entre os sujeitos citados.
A educadora relatou que certa vez um médico lhe falou que acredita que esse vínculo
entre escola e saúde contribui, em grande parte, na recuperação da criança. Matos (2008, s.p.)
ratifica o pensamento do médico quando afirma que “o afastamento do internado de sua
família, da escola e dos amigos acaba alterando sua auto-estima, criando ansiedade, medo,
desânimo, depressão e tornando lenta sua recuperação”. Para Kohn (2010, p.15-16) a
[...] Pedagogia Hospitalar como um processo alternativo que trabalha o
indivíduo na sua integralidade e não considera o atendimento escolar como
provisório e sim como a parte do trabalho de fazer a criança entender e
aceitar seu cotidiano hospitalar e, consequentemente, contribuir para a
recuperação de sua saúde, pois uma criança ou um adolescente quando perde
o medo, a angústia do internamento e da doença, automaticamente começa a
trabalhar em favor de sua melhora.
Paula et al (2009, p.136) contribuem dizendo que:
Diferentes estudos tem demonstrado que o enfermo tende a reagir melhor
quando é estimulado no hospital. Psicologicamente, sabe-se que as cores da
parede influenciam de forma significativa o inconsciente do ser humano, ao
mesmo tempo que a graça de um palhaço estimula o riso, a descontração e o
prazer que a leitura de um livro faz.
53
Acompanhei a professora na visita à unidade de queimados. Ao adentrarmos nesse
espaço, sentimos um cheiro forte devido aos procedimentos de esterilização. Antes de
entrarmos nos leitos colocamos um avental e uma touca que ficam em um armário. Há um
cuidado todo especial, necessário para evitar maiores complicações aos internados. Na
unidade de queimados conheci uma menina (8 anos de idade) que, segundo a professora, vem
constantemente ao hospital desde os seus quatro anos, quando sofreu a queimadura. Ela foi
alfabetizada dentro do hospital. A professora trabalhou com ela no leito, pois a menina não
podia sair da unidade, realizou atividades de multiplicação. É possível perceber o carinho que
há entre a professora e a menina. Fonseca e Ceccin (1999, p.26) falam que “segundo a
pedagogia do desenvolvimento de Vygotsky (1935), o campo das construções cognitivas é
campo de atualização de afetos e elaboração das aprendizagens complexas”.
Durante nossas visitas aos leitos encontramos um dos meninos que havia frequentado
a Classe Hospitalar no dia anterior, fazendo algumas atividades que trouxe para fazer no
quarto. A mãe do garoto disse que ele estava preocupado em não conseguir terminar as
atividades para a próxima aula. A professora conversou com ele e lhe disse para ficar
tranqüilo, que não tinha necessidade de ter pressa, pois poderia levar o material para finalizar
na sala, mas ainda sim ele continuou a desenvolvê-las.
No período vespertino, a professora organizou os materiais (pincéis, tintas, alguns
moldes de papel feitos de recortes) e forrou a mesa com papel pardo, pois a atividade seria
com tinta guache. A maioria das crianças iniciou a atividade utilizando os moldes, mas
preferiram partir para o desenho livre com a utilização de muitas cores.
Uma das crianças entregou para a professora uma cartinha e a abraçou demonstrando
afeto e gratidão. A professora se mostrou surpresa e encantada com tal atitude, agradecendo-a
com um abraço.
Há um menino que é pontual na sua chegada e desenvolve as atividades com vontade e
criatividade, mas, no entanto, não quer frequentar a escola regular. A professora conversou
com a mãe do menino para ela não deixá-lo sem estudar, para ir atrás de outra escola
(aparentemente o problema do menino é com a escola em que frequentava). Ele trouxe uma
atividade realizada na recreação no dia anterior, que era uma caixa feita com folha A4 e
quando as crianças finalizaram suas pinturas ele mostrou como fazê-la, e foi uma verdadeira
festa.
Entre histórias, risos, sonhos e conversas, que partiam para o que iriam fazer assim
que saíssem do hospital, ficavam evidenciados os sentimentos, desejos e situações que
propiciam à criança elevar seu pensamento, desejando melhorar o seu estado de saúde.
54
4.2.3 Terceira observação (29 de setembro de 2011)
Foco – Desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo das crianças hospitalizadas.
Há muitos materiais à disposição da professora, como jogos, livros didáticos e de
histórias. A sala conta com uma televisão e um aparelho de DVD/vídeo. Alguns dos materiais
são enviados pelo governo do Estado e outros são referentes a doações.
Enquanto a professora organizava os materiais, um pai veio até a sala perguntar se seu
filho poderia vir à classe. A professora disse que ele poderia vir às 13h30min, mas que lhe
daria alguns desenhos para levar para o menino. O pai agradeceu e disse que este atendimento
pedagógico destinado às crianças fortalece, também, os acompanhantes, pois quando vem ao
hospital muitas vezes sentem-se perdidos.
Fomos aos leitos e cerca de três crianças que estavam sendo atendidas na Classe
Hospitalar tiveram alta. Quando chegamos ao quarto de um menino que frequenta a sala no
período vespertino, a professora perguntou se ele iria à tarde e ele lhe respondeu que não
sabia, pois iria fazer uma caligrafia. Sua mãe não estava junto e nós ficamos confusas, até
concluirmos que se tratava de uma tomografia.
Em um dos quartos encontramos outro menino que não podia fazer esforço físico
devido sua cirurgia. Ele se mostrava muito cabisbaixo e desanimado, a professora disse que
ainda não era o momento de intervir pedagogicamente, então levou um joguinho mais
simples. O menino, ao ver a professora e o joguinho, abriu um lindo sorriso. Rodacoski e
Forte (2009, p.69) dizem que quando é “garantida a estabilidade emocional, torna-se possível
estimular a capacidade cognitiva da criança e de seu acompanhante, com os projetos de
humanização que sistematizam a intervenção na busca por aproximar educação e saúde”.
Após terminar as visitas nos leitos a professora entrou em contato com a psicóloga solicitando
que ela fosse conversar com o garoto. No entanto, a psicóloga disse que já havia conversado
com o menino e relatou que ele presenciou a morte de uma criança enquanto estava na UTI e
que isso o chocou muito.
À tarde, na sala, a professora preparou o material para as crianças construírem um
mosaico com pedaços de folhas de EVA. Recortou cores diferentes de EVA e distribuiu
desenhos e cola.
A sala estava cheia, havia cerca de seis crianças. O aparelho de uma das crianças
apitava quase sempre, a professora que entendia o que fazer clicava na máquina que
silenciava, mas logo voltava a apitar novamente e de imediato uma das crianças dizia tapando
55
os ouvidos: -“Acabou o medicamento!”, mas não se tratava disto e sim de um alerta para o
nível baixo de gotejamento do soro.
Durante a atividade, uma das meninas que frequentava a classe pela primeira vez,
exclamou com seu jeitinho espontâneo: -“Ai, não aguentava mais ficar trancada naquele
quarto!”. Essa fala explana a grande importância do atendimento escolar hospitalar, que
garante a interação e a continuação do desenvolvimento como um todo da criança. Esta
menina ficava no leito, na unidade de queimados rabiscando grosseiramente folhas em branco
e, de acordo com os enfermeiros da unidade, por inúmeras vezes se mostrava agitada. Já na
sala da classe, seu trabalho foi um dos mais belos, cheios de cor e detalhes. Darela (2007, p.
16) corrobora com tal vivência ao dizer que:
Ao propiciar consolo e conforto, retiro-a de seu lugar de solidão diante da
doença. A educação vem ao encontro do resgate da saúde orgânica e também
da dignidade social no momento em que as ações estão voltadas para o
desenvolvimento integral do ser humano.
Observa-se a grande contribuição da Classe Hospitalar diante do desenvolvimento
cognitivo e sócio-afetivo das crianças e adolescentes hospitalizados, principalmente quando se
leva em conta as contribuições de Vygotsky. O autor, que desenvolveu a teoria sócio-histórica
e interacionista, “defende serem as condições de vida que determinam diretamente o
desenvolvimento da criança, atribuindo uma grande importância aos processos sociais na
formação dos processos cognitivos, afetivos e psicológicos do ser humano” (apud Kohn,
2010, p.74), sendo que:
Vygotsky (1994) defende que o indivíduo não existe isolado, ele se constrói
e constrói o outro na interação. Por isso, o desenvolvimento humano é visto
como um empreendimento conjunto e não individual. A aquisição de
conhecimento é um processo construído pelo indivíduo durante toda sua
vida, não estando pronto ao nascer, nem sendo adquirido passivamente
graças às ações do meio. (apud KOHN, 2010, p.76).
Diante da aparente indisposição de uma das crianças, a professora questionou se
estava tudo bem. De início a criança disse que sim, mas em seguida a professora percebeu que
ela estava passando mal e imediatamente chamou um enfermeiro da unidade onde a criança
estava internada. A pressão da criança baixou de repente, fazendo-a ficar tonta e com dor de
cabeça. Vasconcelos (2010, p.19) diz que:
56
A ética profissional do pedagogo hospitalar exige que seja humano antes de
tudo, respeitando limites, fortalecendo a individualidade de cada um e não
intervindo na ação médica, entretanto colaborando muitas vezes ao
diagnosticar certas indisposições que surgem no momento da atuação
pedagógica como mal estar, no decorrer do tempo perceber o início de uma
deficiência intelectual adquirida pela doença e que interfere em sua
aprendizagem, dentre outros aspectos que um professor costuma analisar no
educando enquanto um ser que aprende e que se modifica.
Diante da experiência vivida e da fala da autora é incontestável a importância do olhar
atento da professora durante o atendimento escolar hospitalar. No caso presenciado, foi
possível perceber que, inicialmente, a criança não quis expor seu mal estar por não querer sair
do espaço da sala, aspecto que necessita da constante contribuição do profissional da
educação ao dizer que assim que possível a criança pode retornar, se assim desejar.
Enquanto as crianças faziam seus trabalhos eu li uma história, com o consentimento da
professora. O livro intitulado “A lágrima de Felipe” de Mariette da Silveira (2004) conta a
história da lágrima que cai na terra, faz a planta crescer, evapora, cai em forma de chuva, ou
seja, conta o ciclo realizado pela água. Após a leitura, conversamos um pouco sobre o que a
história tratava. As crianças aparentaram gostar muito desse momento.
Percebi nesse dia a necessidade de ter mais pedagogos atuando no hospital, já que o
atendimento nos leitos exige muito tempo, pois os acompanhantes necessitam conversar e
sentem-se confortáveis com a presença da professora.
4.2.4 Quarta observação (30 de setembro de 2011)
No último dia de observação, acompanhei o trabalho da professora apenas no período
matutino, no atendimento aos leitos.
Passamos nas unidades e, como de costume, a professora atendeu às crianças, deixou
algumas atividades e fez o convite às crianças que poderiam se deslocar até a sala para
frequentar a Classe Hospitalar.
A Pedagogia Hospitalar do HIJG conta com instalações específicas inaugurada em
março de 2010. Esse espaço educativo foi construído e mobiliado pela AVOS, para oferecer
o atendimento pedagógico. Fica localizado em uma área externa, conhecida como área de sol.
A sala da chefia do setor de pedagogia, a sala de estímulo essencial, a sala para atender ao
publico de 6º ao 9º ano, a sala destinada ao 1º e 5º ano, ficam uma ao lado da outra e a sala de
recreação fica em um outro espaço. Nesse espaço externo há também um local coberto onde
são feitas apresentações, festas e recreação. Segundo Barros (1999, p. 85):
57
A vantagem de um ambiente de uso exclusivo para a finalidade de
escolarização é que este mantém uma atmosfera própria, onde, por exemplo,
tarefas produzidas anteriormente podem ficar afixadas e serem comparadas
com as dos colegas da enfermaria e com outras ao longo do seu processo de
aprendizagem.
A sala destinada à classe é um ambiente claro e arejado, tem estantes com diversos
livros e matérias didáticos; dois computadores com acesso à Internet; um armário de cor
clara, onde ficam os jogos, lápis e outros materiais pedagógicos; um quadro branco e ao lado
do quadro a uma pia com sabonete líquido para manter a higiene necessária; dispõe também
de um banheiro onde fica uma cadeira de rodas para eventuais necessidades; as paredes são
decoradas com o alfabeto; há um espaço onde ficam livros infantis, que podem ser levados
pelas crianças até o leito para leituras; e no centro da sala fica uma mesa retangular com seis
lugares onde todos trabalham juntos.
Durante uma conversa, questionei a professora se no tempo em que trabalha na Classe
Hospitalar, alguma criança que ela atendia havia falecido. Diante da resposta afirmativa,
perguntei como lidou/lida com essas perdas, pois é algo que particularmente, me comove
muito. A professora relatou que no início ficava muito chocada, até porque muitas crianças
saíam do hospital bem e de repente voltavam com o quadro agravado. Quanto às perdas, ela
relatou que com o passar do tempo foi se “habituando” com todo esse contexto hospitalar.
Castro (2009, p.43-44) diz que “o professor neste ambiente deve ter clara a noção da perda,
dos conflitos sociais, as questões socioeconômicas e culturais; o professor necessita manter o
equilíbrio psicológico frente às diversas circunstâncias dos tratamentos”, complementando tal
pensamento Matos (2008, s.p.) fala que
O profissional que tem a intenção de atender a essa educação hospitalizada
necessita de uma formação diferenciada que desenvolva suas habilidades e
competências, bem como um trabalho emocional qualificado que o beneficie
diante de determinadas situações.
É possível perceber o carinho da professora com as crianças que atende. Muitas vezes
ela traz adesivos e materiais, comprados por conta própria, para presentear as crianças ou
trabalhar pedagogicamente.
Através destas observações, pude conhecer mais de perto o cotidiano do trabalho
pedagógico realizado no HIJG bem como correlacionar a prática com a teoria. Estas vivências
fortaleceram a importância dessa modalidade de ensino, pois contribui significativamente para
58
a continuação desenvolvimento de escolares hospitalizados já que a “trajetória acadêmica de
muitos desses pacientes é permeada pela evasão, pelo ingresso tardio ou pela exclusão
promovida pelo próprio sistema educacional” ( ARROS, 1999, p.88).
4.2.5 Em foco: o que foi observado
As observações tiveram olhares com focos específicos visando responder aos objetivos
da pesquisa.
No primeiro dia, o foco de observação foi o planejamento. No HIJG, o planejamento
se dá por meio de projetos anuais e planejamentos diários onde as atividades devem iniciar e
terminar no mesmo dia devido à alta rotatividade de educandos no atendimento pedagógico
hospitalar. A flexibilidade, criatividade, respeito e sensibilidade são alguns fatores que
possibilitam maior significação no processo ensino-aprendizagem em todos os contextos
educacionais e principalmente no hospitalar, onde as limitações de espaço e de saúde
precisam ser levadas em consideração a todo instante.
Após três dias de internamento da criança, a pedagoga entra em contato com a escola
para informar que ela está participando das atividades pedagógicas. Geralmente, neste mesmo
contato, a escola informa sobre os conteúdos que podem ser trabalhados e a própria pedagoga
prepara o material. Quando a criança recebe alta hospitalar a pedagoga envia um relatório
descritivo relatando as vivências e atividades realizadas pela criança, bem como outras
informações que possam ser importantes. É solicitado à escola, um feedback sobre o retorno
da criança ao cotidiano escolar. Esta troca de informações é um ponto bastante importante
para que o trabalho pedagógico hospitalar seja analisado e melhorado.
No segundo dia, observei o pedagogo no contexto hospitalar, considerando a prática
pedagógica e as relações existentes neste espaço. A pedagoga diz estar sempre refletindo
sobre sua prática e estudando sobre as situações deste contexto, visando sempre, melhorar sua
atuação e proporcionar um ambiente em que o processo ensino-apredizagem seja significativo
para todos os envolvidos neste processo. Ela afirmou também, em uma de nossas conversas,
que tem um bom relacionamento com os profissionais da saúde, aspecto que pude perceber
durante os atendimentos nos leitos. Esta integração entre os profissionais de diferentes áreas
inseridos no espaço hospitalar é de suma importância, pois a um interesse me comum entre
eles: o bem estar da criança.
No terceiro dia, observei aspectos sobre o desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo
das crianças hospitalizadas. Uma das falas que mais me chamou a atenção, foi a de uma
59
menina que participava pela primeira vez da classe hospitalar. Ela disse: -“Ai, não aguentava
mais ficar trancada naquele quarto!”. Tal narrativa esboça o bem que a Pedagogia Hospitalar
proporciona por meio das interações sociais, brincadeiras, atividades, laços que se tornam
possíveis e contribuem significativamente para o desenvolvimento destas crianças e
adolescentes, uma vez que as experiências estimulam o cognitivo, o social e o afetivo.
60
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor,
mas lutamos para que o melhor fosse feito.
(MARTIN LUTHER KING)
Desde o início desta caminhada me senti entusiasmada pela possibilidade de
aprofundar os estudos acerca de um tema de meu interesse: a Pedagogia Hospitalar. A cada
tropeço (pois claro, eles existiram) percebi que era necessário parar, respirar e levantar para
seguir adiante, afinal concretizar um sonho nem sempre é uma tarefa fácil.
A Pedagogia Hospitalar integra educação e saúde proporcionando à continuidade dos
estudos da criança e do adolescente em tratamento hospitalar. Essa modalidade educacional
encontra-se amparada pela Secretaria de Educação Especial, pois, visa a inclusão destes
escolares, que necessitam ausentar-se por longos ou esporádicos períodos das escolas,
evitando prejuízos ao desenvolvimento e a evasão escolar após as altas hospitalares.
Por meio das experiências vivenciadas dentro do HIJG, instituição que oferece a
Pedagogia Hospitalar, e das leituras sobre este tema, pude observar, conhecer e constatar
como essa prática educacional beneficia àqueles que encontram-se hospitalizados. Durante os
quatro dias em que acompanhei o cotidiano da Classe Hospitalar do HIJG, o que inclui o
trabalho da pedagoga junto às crianças do 1º ao 5º Ano, tanto na sala quanto nos leitos,
chamou-me a atenção a afetividade envolvida nessas relações, no sorriso da criança ao ver a
pedagoga entrar no quarto ou nas chegadas a sala bem antes da hora de iniciar a classe; da
gratidão, respeito e acolhimento demonstrado pelos acompanhantes; do trabalho realizado
com carinho e respeito pela pedagoga a cada chegada ou partida das crianças. Enfim, todos os
laços comuns à escola se mostraram presentes na Classe Hospitalar, talvez com mais
delicadeza ou reconhecimento.
A Seção Pedagógica do HIJG, conta como uma parceria com a Secretaria de Estado da
Educação, e é oficializada através da portaria nº 30 de 05/03/2001. A Escola de Educação
Básica Padre Anchieta, por localizar-se próximo ao hospital é a escola que está vinculada com
o programa pedagógico desta instituição hospitalar. Além do Atendimento Escolar Hospitalar
a equipe pedagógica oferece outros serviços como estímulo essencial, recreação entre outros.
O Atendimento Escolar Hospitalar acontece diariamente, é dividido em atendimento no leito
durante a manhã (geralmente das 08h30min até as 11h30min) e na sala, durante a tarde (das
13h30min até as 16h ou 16h30min). O planejamento é feito a partir de projetos anuais e são
realizados diariamente.
61
O planejamento pedagógico hospitalar é feito de maneira flexível, moldando-se às
necessidades do escolar hospitalizado e ocorre por meio de projetos com propostas diárias,
pois há grande rotatividade de educandos. Logo após a criança receber alta, a pedagoga
responsável pelo seu atendimento envia à instituição escolar de origem um relatório
descritivo, informando as atividades que foram realizadas bem como as dificuldades ou
eventuais situações que julga ser importante relatar, visando sempre o bom retorno da criança
no espaço escolar.
É nítido o contentamento dos acompanhantes e das crianças ao saberem da
possibilidade de realizar atividades pedagógicas, afinal, significa um pedacinho do cotidiano
acompanhando a criança dentro do hospital. As atividades pedagógicas e as interações sociais
proporcionadas pela Classe Hospitalar propiciam um visível bem-estar às crianças,
contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo destas, por meio da
manutenção dos vínculos sociais e escolares.
As relações entre os profissionais das diferentes áreas do HIJG tendem a ser de
respeito e cooperação, afinal, há objetivos em comum entre eles: a saúde, o bem estar e o
desenvolvimento da criança. Isso contribui para a efetivação da humanização, uma das mais
recentes preocupações do Ministério da Saúde nos hospitais, e visa à melhora na qualidade e
eficácia dos atendimentos prestados pela instituição e para isto necessita do bom
relacionamento, que compreende o entendimento do trabalho desenvolvido pelos profissionais
tanto da saúde como da educação – entre outros –, assim como o respeito às limitações de sua
atuação.
A Pedagogia Hospitalar é garantida por lei, entretanto ainda são escassas as
instituições hospitalares que oferecem tal atendimento atrelado ao tratamento de saúde. É
possível observar, em pesquisas e leis, a visibilidade crescente dada aos benefícios que a
intervenção pedagógica proporciona às crianças e adolescentes hospitalizados. Mas ainda há
muito por fazer, principalmente no âmbito acadêmico, onde essa modalidade de ensino é
pouco mencionada e são escassos os cursos direcionados a essa prática.
A prática pedagógica em espaço hospitalar é inegavelmente profícua à sociedade, pois
permite a não interrupção do contato dos internados com conteúdos escolares e com
características comuns ao meio social – interação com outras pessoas, conversas, brincadeiras
etc. – assume um importante papel na formação do indivíduo uma vez que o desenvolvimento
da criança e adolescente nos aspectos cognitivo, social e afetivo continua a ser estimulado.
Sendo perceptível a relevância para a continuação do desenvolvimento da criança e do
adolescente como um todo.
62
A sociabilidade é uma característica importante para o desenvolvimento do ser
humano, pois vivemos em sociedade. Através das interações proporcionadas pelas classes
hospitalares (entre as crianças, entre elas e os pedagogos) é possível “trazer” essa vivência, a
princípio deixada no lado de fora para dentro do hospital. Em algumas situações presenciadas
durante minhas observações in loco, é quase possível garantir que as crianças “esqueciam”
onde estavam ou que estavam sentindo. Na experiência que tive foi possível observar, durante
a permanência das crianças no atendimento escolar hospitalar, uma cumplicidade entre
professor-aluno que se dava através de brincadeiras, conversas e na satisfação de poder estar
recebendo esse atendimento traduzido na alegria em ver a professora chegar ao leito ou na
quase tristeza em voltar para o quarto após o término da Classe Hospitalar.
Como pedagoga que estou prestes a ser, digo com convicção que acredito na educação
nos mais variados contextos. Percebo ainda, que há muito por fazer tanto em políticas
públicas quanto em formação profissional para que não haja exclusão de nenhum individuo
independentemente do local em que este se encontra.
Esta pesquisa proporcionou-me inúmeras aprendizagens, aprendi a importância da
organização para realizar uma pesquisa, dos fichamentos de tudo que foi lido, pois facilitaram
a minha escrita e a elaboração das análises e das intensas leituras. Aprendi também a superar a
dor, a acreditar, a buscar, sempre, uma maneira de fazer melhor. Aprendi que nada é fácil,
mas compensador ao final, estou feliz por finalizar esta etapa e levo comigo o grande desejo
de seguir adiante.
63
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ANEXOS
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PANDINI, Vanderleia. -“Prof, amanhã eu vou, nem precisa