Boas práticas de prevenção e redução da PAIR – Perda Auditiva Induzida por Ruído Elisabeth Mendes Vieira – [email protected] Prof. Rui Francisco Martins Marçal. Doutor – [email protected] Prof. João Luiz Kovaleski. Doutor – [email protected] Ivonei Afonso Vieira – [email protected] RESUMO O presente artigo visa demonstrar a importância da saúde auditiva, assim como a utilização de boas práticas de prevenção e redução da PAIR – Perda Auditiva Induzida por Ruído. O ruído é um agente nocivo à saúde humana, causando danos irreversíveis na audição e está presente principalmente no ambiente de trabalho. A PAIR é caracterizada pela perda gradual da audição que está relacionada com o tempo de exposição e a níveis elevados de ruídos. Através de um estudo de caso, foi possível demonstrar que a adaptação de máquinas e equipamentos trouxe resultados positivos diminuindo o nível de ruído de uma Central de Bombeamento de Vernizes. Palavras-chave: Ruído, Perda auditiva, prevenção. 1. Introdução A exposição excessiva a níveis de ruídos traz danos tanto para a audição como prejudica a saúde e a vida social do ser humano. Causa irritação, cefaléia, estresse, dentre outros males, como também interfere diretamente na comunicação. Segundo o Ministério da Saúde estima-se que 25% da população trabalhadora exposta sejam portadoras de Perda Auditiva Induzida por Ruído - PAIR em algum grau, reforçando a importância de monitorar a audição dos trabalhadores através de exames audiométricos e incentivar o uso de Equipamentos de Proteção Individual – EPIs. Igualmente, é importante se manter um ambiente de trabalho saudável e livre de agentes prejudiciais tais como o ruído, iluminação inadequada, temperaturas extremas, ventilação inadequada, sendo esta atribuição uma responsabilidade legal e moral da empresa. Chiavenato (2004) afirma que “um ambiente de trabalho agradável pode melhorar o relacionamento interpessoal e a produtividade, bem como reduzir acidentes, doenças, absenteísmo e rotatividade de pessoal”. Esforços não devem ser poupados para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, procurando extinguir todos os agentes nocivos à saúde física e mental dos trabalhadores. 2. Breve História de Acidente de Trabalho Até o inicio do século XIX, o trabalhador no Brasil era explorado e estava entregue na mão dos que detinham o poder, não existiam leis para a proteção dos trabalhadores. Aos poucos os trabalhadores foram conquistando alguns direitos que se concretizaram através de lei. Segundo Campos (2006) em 1919 surgiu a primeira Lei de Acidentes de Trabalho no Brasil, com o Decreto Legislativo nº. 3.724, de 15 de janeiro de 1919. A lei era restrita, mas já representava uma grande conquista para os trabalhadores. Daí por diante, houve grandes evoluções e aprimoramento da legislação que hoje procura garantir ao trabalhador a integridade da saúde física e mental, trazendo maior conforto e tranqüilidade no trabalho. Dela Coleta (1991) argumenta que, mesmo com a evolução da legislação os índices de acidentes de trabalho no Brasil ainda são alarmantes, causando mortes, ocasionando seqüelas graves aos trabalhadores, perdas materiais para as organizações, acarretando encargos para a Previdência Social e dor as famílias das vítimas. A Lei nº. 8.213 define em seu art. 19: “Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”. 3. Perda Auditiva Induzida por Ruídos - PAIR A audição é importante para o desenvolvimento humano e o ambiente de trabalho deve proporcionar condições adequadas para manter a audição em perfeito estado. O local de trabalho deve atuar de forma positiva na qualidade de vida das pessoas, proporcionando um ambiente sadio e agradável. A audição é um canal fundamental, pois é a porta de entrada das informações que levará a pessoa a entender e compreender o que está sendo transmitido. Segundo Knobel a audição normal é quando uma pessoa é capaz de ouvir sons tão fracos quanto –10 a 0 dB e tolerar sem desconforto, sons de 90 dB, desde que por um período curto de tempo. Sons de 130 dB chegam a provocar dor. O ruído ambiental traz sérias conseqüências para o homem tais como estresse, desconforto no trabalho, perturbação do descanso, do sono e do lazer, além de cefaléia, tontura, irritabilidade e problemas digestivos. Chiavenato (2004) define estresse como “um conjunto de reações físicas, químicas e mentais de uma pessoa decorrente de estímulos ou estressores que existem no ambiente”. “O ruído é um agente de risco potencialmente estressor. Pode trazer como efeitos nocivos à saúde, não só os problemas auditivos, mas toda uma gama de sintomatologia relacionada ao estresse, e que faz parte dos chamados efeitos não-auditivos”. MINISTÉRIO DA SAÚDE (2006) Segundo Souza (1998) o ruído possui duas características: intensidade e freqüência. • A intensidade – pode ser definida como a quantidade de energia vibratória que se propaga nas áreas próximas, a partir da fonte emissora, podendo ser expressa em termos de energia (watt/m2) ou em termos de pressão (N/m2 ou Pascal). • A freqüência – é representada pelo número de vibrações completas em um segundo, sendo sua unidade de medida expressa em hertz (Hz). Área Período Decibéis (dB) Zona de hospitais Diurno 45 Noturno 40 Diurno 55 Noturno 50 Centro da Cidade (negócios, Diurno comércio, administração) Noturno 65 Área predominantemente Diurno industrial Noturno 70 Zona residencial urbana 60 65 TABELA 1 - Níveis toleráveis de poluição sonora segundo as normas da ABNT n. 10.151 Uma das seqüelas dos sons intensos e moderados no organismo é a PAIR. Os sons intensos são de fácil percepção, pois provocam o desconforto e mal estar. Já os sons moderados são toleráveis e aparentemente adaptáveis pela audição humana devido à exposição que são submetidos no dia-a-dia e que acabam se incorporando às nossas vidas como se fosse algo natural. A NR-15 – Atividades e Operações Insalubres - Anexo 1, estabelece que o tempo de exposição aos níveis de ruído não devem exceder os limites de tolerância. Nível de ruído dB (A) 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 98 100 102 104 105 106 108 110 112 114 Máxima exposição permissível 8 horas 7 horas 6 horas 5 horas 4 horas e 30 min 4 horas 3 horas e 30 min 3 horas 2 horas e 40 min 2 horas e 15 min 2 horas 1 hora e 45 min 1 hora e 15 min 1 hora 45 min 35 min 30 min 25 min 20 min 15 min 10 min 8 min diária 115 7 min TABELA 2 - Limites de Tolerância Para Ruído Contínuo Ou Intermitente Segundo Nascimento et al. (2007) A PAIR é uma doença que se caracteriza pela perda progressiva e irreversível da audição, pela lesão das células ciliares do órgão de Corti (pertencente ao aparelho auditivo). “O ruído intenso e a exposição continuada, em média 85 dB (A) por oito horas por dia, provocam alterações estruturais na orelha interna, que determinam a ocorrência da PAIR, sendo o agravo mais freqüente à saúde do trabalhador, estando presente em diversos ramos de atividade, principalmente siderurgia, metalúrgica, gráfica, têxteis, papel e papelão, vidraria, entre outros”. MINISTÉRIO DA SAÚDE (2006). 4. Como prevenir a Perda Auditiva Induzida por Ruído - PAIR A utilização de boas práticas de gestão de saúde e segurança no trabalho no âmbito da empresas contribui para a proteção contra os riscos presentes no ambiente de trabalho, prevenindo e reduzindo acidentes e doenças e diminuindo consideravelmente os custos. SEBRAE (2005) De acordo com Sebrae (2005) é importante fazer uma análise preliminar das condições de trabalho verificando os riscos que o trabalhador está exposto, observando que a fonte de perigo pode ser um equipamento, uma máquina, um instrumento ou qualquer condição de trabalho perigosa. Alguns meios de prevenção para a PAIR são: análise do ambiente, uso adequado de EPIs (protetor auricular ou outros aparelhos) quando estiver num local barulhento, treinamento adequado e supervisão. É fator importante a conscientização da empresa desde os colaboradores até a alta administração. Vale citar um experimento, entre muitos, a adaptação de máquinas e equipamentos com a finalidade de diminuir ruídos nocivos para a audição. No item 5 relata-se um estudo de caso feito em uma Indústria de Embalagens Metálicas com resultados satisfatórios em relação a diminuição de ruídos nocivos a saúde. 5. O estudo de caso O presente estudo de caso foi elaborado em uma Indústria de Embalagens Metálicas pelo Engenheiro Mauricio Fuga responsável pelo gerenciamento da Manutenção. O estudo demonstrou alguns aspectos relevantes que indicam a necessidade de melhoria no ambiente de trabalho em relação à prevenção da PAIR. O Caso O ambiente: Central de bombeamento de vernizes, composta de 08 bombas pneumáticas verticais de movimento alternativo. • O nível de intensidade sonora medido na área da central de bombeamento é de 83 decibéis. As fontes desta intensidade sonora são: o escape de um volume de ar comprimido no momento da inversão do movimento alternativo e o contato do corpo da bomba através da fixação da mesma no bocal de tambores de 200 litros. • Os ruídos se propagavam da seguinte forma: som agudo para o ar comprimido e som grave para o contato do corpo da bomba no tambor de 200 litros. A solução: A solução iniciou-se através da investigação ergonômica da área foco Central de vernizes: 1. Análise da distribuição dos tambores e possível enclausuramento da área; 2. Medição da intensidade sonora; 3. Verificação do processo de substituição dos tambores vazios por cheios; 4. Avaliações dos diferentes tipos de vernizes bombeados. Em função das diferentes formas dos ruídos, agudos e graves, objetivou-se tratar diferentemente cada tipo. Para a redução dos ruídos agudos: Desenvolveu-se um sistema de capa cilíndrica em material de PVC com o seu interior revestido com espuma acústica. A capa cilíndrica é de fácil instalação, dispensando o uso de ferramentas e sendo montada e desmontada pelo próprio operador. Para a redução dos ruídos graves: Desenvolveu-se um sistema de suporte através de cavaletes para a instalação da bomba. Com este suporte o bombeamento é efetuado por meio de mangueiras que são inseridas no interior dos tambores. FIGURA 1 - Sistema de suporte através de cavaletes para a instalação da bomba FIGURA 2 - Sistema de capa cilíndrica em material de PVC com o seu interior revestido com espuma acústica Sistema Antigo Sistema Novo Intensidade sonora (dB) 83 62 Tempo gasto na limpeza da bomba (min) 45 20 TABELA 3 - Vantagens do enclausuramento individual das bombas Sistema Antigo – Sem enclausuramento e com bomba acoplada no tambor. Sistema Novo – Com enclausuramento individual e com bomba instalada no cavalete. Conclusão O presente artigo demonstra ser possível diminuir o nível de ruído em uma indústria buscando a aplicação do senso de proatividade, isto é, prever antes de reagir. É importante nesse caso, um bom gerenciamento do ambiente interno de qualquer empresa, dessa forma começa por uma análise de riscos em todos os setores, onde se procura encontrar agentes nocivos dos mais variados, desde poeiras, clima, ruídos, iluminação inadequada, layout, fluxo de matéria prima, produção, manutenção, fluxo de produto acabado, expedição etc., após esta análise encontra-se o que mais causa problemas, de acordo com o objetivo do estudo, no caso a PAIR. Assim pode-se concluir que é possível reduzir ruídos causadores da PAIR através da adequação de máquinas e equipamentos, sendo também importante a utilização de equipamentos proteção – EPIs, estimular a criatividade e motivar os colaboradores para que a higiene do ambiente de trabalho não seja de responsabilidade de apenas um e sim trabalho de equipe. Observou-se também que se deve estimular os departamentos, para que eles através de seus responsáveis nas áreas de projetos de produtos, engenharia de produção e manutenção procurem meios para que as máquinas e equipamentos se adequem as exigências das leis que combatem o desrespeito a saúde humana em todos seus aspectos, para que se possa evitar doenças provenientes do exercício do trabalho sem os devidos cuidados com os agentes de risco. Enquanto muitos procuram medidas mirabolantes, a criatividade e a postura profissional e científica é que tem dado resultados satisfatórios (Exemplo: o Estudo de Caso constante desse artigo). Dessa forma a conclusão é clara basta optar pela criatividade, pela ciência e pelas boas práticas operacionais na busca de um ambiente sadio e produtivo. Referências CAMPOS, Armando. CIPA: Comissão Interna de Prevenção de Acidentes: uma Nova Abordagem. 7a. ed. São Paulo: 2006, SENAC CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas. 2ª ed. Rio de Janeiro: 2004. Campus DELA COLETA, José Augusto. Acidentes de Trabalho. São Paulo: Atlas, 1991. KNOBEL, Keila A. Baraldi. Fonoaudiologia e Saúde. www.fonoesaude.org/audicao.htm acessado em 01/05/2007 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Perda Auditiva Induzida por Ruído – PAIR. Série: Normas e Manuais Técnicos, 1a ed. 2006 Brasília – DF. NASCIMENTO, R. G. et al. Avaliação da Poluição Sonora na Unicamp. Revista Ciência do Ambiente Online, fevereiro, 2007, volume 3, número 1. SEBRAE – Dicas de Prevenção de Acidentes e Doenças no trabalho. SESI-SEBRAE – Saúde e Segurança no Trabalho. Brasília, 2005. SOUZA, Hilda Maria Montes Ribeiro de. Análise experimental dos níveis de ruído produzido por peça de mão de alta rotação em consultórios odontológicos: possibilidade de humanização do posto de trabalho do cirurgião dentista. (Doutorado) Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, 1998, 107 p.