IVO CORRÊA FAUSTI EXAMES MÉDICOS PERIÓDICOS DE SAÚDE EM UMA EMPRESA DE PRODUÇÃO AÇUCAREIRA SOCIEDADE UNIVERSITÁRIA ESTÁCIO DE SÁ ASSOCIAÇÃO MÉDICA DE MATO GROSSO DO SUL 1º CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MEDICINA DO TRABALHO CAMPO GRANDE, MS, MARÇO DE 2002 IVO CORRÊA FAUSTINO EXAMES MÉDICOS PERIÓDICOS DE SAÚDE EM UMA EMPRESA DE PRODUÇÃO AÇUCAREIRA Monografia apresentada como requisito parcial à conclusão do curso de Pós-Graduação em Medicina do Trabalho, para obtenção do título de Especialista em Medicina do Trabalho pela Faculdade Estácio de Sá. Orientadora: Frida Maciel Pagliosa. SOCIEDADE UNIVERSITÁRIA ESTÁCIO DE SÁ ASSOCIAÇÃO MÉDICA DE MATO GROSSO DO SUL 1º CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MEDICINA DO TRABALHO CAMPO GRANDE, MS, MARÇO DE 2002 IVO CORRÊA FAUSTINO EXAMES MÉDICOS PERIÓDICOS DE SAÚDE EM UMA EMPRESA DE PRODUÇÃO AÇUCAREIRA CAMPO GRANDE, MARÇO DE 2002 PARECER: _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ CONCEITO: _____________________ ____________________________________ Sebastião Ivone Vieira Presidente ____________________________________ Frida Maciel Pagliosa Membro ____________________________________ Ivo Medeiros Reis Membro ____________________________________ Jorge da Rocha Gomes Membro A Deus todo poderoso por nossa existência. A minha família pelo apoio e incentivo ao curso. Aos heróicos trabalhadores na empresa de localização rural, principalmente do ambulatório médico. Aos mestres da Faculdade Estácio de Sá, pela dedicação. EXAMES MÉDICOS PERIÓDICOS DE SAÚDE EM UMA EMPRESA DE PRODUÇÃO AÇUCAREIRA RESUMO Esta monografia tem como objetivo identificar os riscos à saúde dos cortadores de cana-de-açúcar de uma empresa localizada em Mato Grosso do Sul. Por estarem expostos a produtos agrotóxicos, ruídos, calor intenso e posturas inadequadas, esses trabalhadores são submetidos a exames médicos periódicos, como os de dosagem de colinesterase, audiométricos, laboratoriais/alimentação e clínicos gerais. O presente trabalho apresenta os resultados desses exames e sugestões de procedimentos à empresa. Os dados e as informações foram obtidos por meio de pesquisa bibliográfica e de arquivos da própria empresa cujos cortadores de cana e trabalhadores da indústria são objeto de estudo. Palavras-chave: Cortador de cana-de-açúcar, trabalhador na indústria, ruídos, Medicina do Trabalho, Ergonomia. PERIODIC MEDICAL EXAMINATIONS OF HEALTH IN A COMPANY OF SUGAR PRODUCTION ABSTRACT This monograph has as its main goal to identify the risks to sugarcane cutters' health in a company in Mato Grosso do Sul. Due to long exposure to products like pesticides, to noisy disturbance, to intense heat and inadequate postures, those workers are submitted to periodic medical examinations, such as the colinesterase dosage, audio metrical, laboratorial / nutritional and general clinic. The present work shows the results of those exams and gives suggestions of procedures to the company. The data and the information were gotten through both bibliographical research and files of the company itself whose cane cutters and industrial workers are the object of study . Keywords: Sugarcane cutter - sugarcane industry, worker of the industry, Health and Care Medicine, noisy disturbance, ergonomics. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................................1 REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................................5 1 - O TRABALHADOR RURAL............................................................. 5 1.1 PROCEDÊNCIA .......................................................................... 5 1.2 HÁBITOS E COSTUMES ........................................................... 5 1.3 INFLUÊNCIA DO MEIO AMBIENTE ....................................... 6 1.4 TRANSPORTE ............................................................................ 6 1.5 MORADIA................................................................................... 6 1.6 ALIMENTAÇÃO......................................................................... 6 1.7 ATENÇÃO À SAÚDE ................................................................. 7 1.8 ACIDENTES................................................................................ 8 1.9 RETORNO ................................................................................... 8 1.10 IMPACTO SOCIAL ................................................................... 8 2 - OS TRABALHADORES NA INDÚSTRIA ....................................... 9 3 - EXAMES PERIÓDICOS .................................................................. 11 3.1 OBJETIVOS DO EXAME PERIÓDICO ................................... 11 3.2 TIPOS DE EXAMES EFETUADOS PELA EMPRESA ............ 12 3.2.1 DOSAGEM DE COLINESTERASE (FITOSSANITÁRIOS) ................................................... 13 3.2.1.1 Programa de prevenção de intoxicação ............... 20 3.2.2 EXAMES AUDIOMÉTRICOS ....................................... 21 3.2.2.1 Audiometria tonal linear...................................... 25 3.2.2.2 Tipos de EPIs utilizados na empresa ................... 26 3.2.2.3 Recomendações à empresa.................................. 29 3.2.3 Exames laboratoriais/alimentação .................................... 30 3.2.4 Exames clínicos gerais ..................................................... 31 3.3 RECOMENDAÇÕES À EMPRESA .......................................... 33 CONCLUSÃO .................................................................................................................................36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 37 ANEXOS ANEXO A - Estudo dos valores de colinesterase encontrados em dez trabalhadores rurais nos meses de fevereiro e agosto de 2001.................................................................................. 39 ANEXO B - Taxa de elevação da colinesterase em 6 meses de manipulação dos fitossanitários. ....................................... 40 ANEXO C – Resultado (em %) dos exames audiométricos. ................... 41 ANEXO D – Resultados dos exames audiométricos............................... 42 ANEXO E – Fotografias dos equipamentos de proteção individual, dos cortadores de cana-de-açúcar em atividade e dos equipamentos causadores de ruídos. ................................. 43 INTRODUÇÃO Os exames médicos periódicos foram regulamentados pelas Normas de Segurança e Saúde no Trabalho, que estão contidos na Portaria 3214, de 08 de junho de 1978, que desde a sua instituição vem se modificando e atualizando, atualmente são 29 Normas Regulamentadoras (NRs) que procuram regular os procedimentos preventivos, em face dos diversificados riscos a que se expõem os trabalhadores diante da função que realizam. O Ministério do Trabalho emitiu a Portaria nº 3067 de 12/04/88 (D.O.U. – Diário Oficial da União de 13/04/88), dando nova denominação à Norma Regulamentadora 7 (NR – 7), emitiu também Portaria nº 24 (D.O.U de 30.12.94) reestruturando a NR – 7. Mais recentemente publicou Portaria nº 17, de 15.05.2001, divulgada para consulta pública, por meio do D.O.U. 107-E de 4 de junho de 2001, que contém propostas de alterações das Normas Regulamentadoras Rurais (NRR) que trata entre outros assuntos, dos exames médicos ocupacionais, onde se inclui o exame 2 periódico, meu objetivo de estudo dentro da prática da Medicina do Trabalho numa empresa de localização rural. Foram efetuados exames periódicos em vários trabalhadores em convênio com o SESI e exames audiométricos, pela primeira vez, naqueles profissionais exclusivamente da zona rural, que atuam em atividades cujos ruídos são constantes tais como: oficina mecânica, máquinas pesadas etc. Também foram efetuados exames em trabalhadores da indústria, sendo que nestes últimos como já de rotina em alguns anos, nos administrativos, como telefonistas, nestas realizados semestralmente e nos demais anualmente. Os “Cortadores de Cana”, que são a maioria, não se submetem a esse exame pelo fato de que são safristas contratados temporariamente, entre 6 e 9 meses apenas. Porém é uma preocupação da Empresa viabilizar o exame nesta categoria de trabalhadores. Além da Audiometria, são realizados ainda exames clínicos e laboratoriais quando necessários, por exemplo, a dosagem semestral de colinesterase em manipuladores de inseticidas usados no cultivo da cana de açúcar. Na cantina e refeitório são realizados exames específicos já normatizados, cujos detalhes serão analisados na seqüência do trabalho. 3 A produção Agro Industrial requer trabalho árduo, braçal e também de máquinas pesadas, ambos causadores de efeitos nocivos à saúde dos operários, se não forem observados atentamente algumas normas que visam à proteção dos mesmos. A safra em nosso Estado, demora de 6 a 9 meses, muitos trabalhadores braçais deixam as suas famílias em busca de realização econômica, deixando para trás um grande impacto social, alguns devendo retornar às pressas por vários motivos. O recrutamento é feito por agentes treinados, os chamados “gatos”, e todos são submetidos a exame clínico admissional. Depois de aprovados passam por reuniões setoriais chamadas de Integração, onde participam: o ambulatório médico da empresa com os seus auxiliares de enfermagem, assistente social, psicólogas, técnicos em segurança e um médico. Os exames médicos periódicos são determinados pela área de Recursos Humanos juntamente com o médico do trabalho que já presta o seu serviço como coordenador do PCMSO, também participam os médicos do corpo clínico do qual fazemos parte, em todas as fases. Os proprietários da Empresa, que formam um grande grupo, na tentativa de expandir os seus negócios, encontraram em Mato Grosso do Sul solo propício à 4 cultura da Cana de Açúcar (massapé), como é chamado no Nordeste, adquirindo uma grande área rural, que antes fazenda de criação de gado, agora transformada em empresa de produção. Há cerca de dez anos o serviço médico na empresa era muito precário, mas, com insistente tentativa de normatizar a produção de gêneros, tão importantes ao consumo no País e também na exportação, foi criado o ambulatório médico dentro da empresa, contando com quatro profissionais médicos, um especializado em Medicina do Trabalho e os demais prestando assistência tanto Clínica como específica. Conta também com Odontólogo e a assistente social que é a encarregada pela organização dos serviços junto ao setor de recursos humanos. Dentro da Política de Saúde Ocupacional foi criada a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), atuante em contribuição com o programa de saúde. 5 REVISÃO DE LITERATURA 1 - O TRABALHADOR RURAL 1.1 PROCEDÊNCIA A maioria vem da região Nordeste do País, 3.000 e 4.000 km, região onde a atividade açucareira é bem desenvolvida. Os trabalhadores já têm vasta experiência em comparação com outras regiões, como a Centro Oeste, onde a principal atividade é a pecuária, não possuindo mão de obra específica em cana de açúcar. 1.2 HÁBITOS E COSTUMES Apesar de anualmente se deslocarem e conviver temporariamente em Mato Grosso do Sul, seus modos, atitudes e costumes são poucos alterados já que o tempo é absorvido quase que totalmente pelo trabalho, ficando o lazer e o descanso semanal a critério individual. 6 1.3 INFLUÊNCIA DO MEIO AMBIENTE Os trabalhadores sofrem alterações na resistência orgânica, freqüentemente são acometidos por infecções das vias aéreas superiores devido a variações climáticas incomuns em suas regiões. 1.4 TRANSPORTE As viagens com duração aproximada de três dias e três noites, são feitas em ônibus comerciais, fretados exclusivamente para este fim. Durante o percurso sentindo o efeito da diferença climática existente entre os estados, muitos já chegam com a saúde abalada, apresentando sintomas de alterações de níveis pressóricos e sistema nervoso. 1.5 MORADIA A empresa disponibiliza alojamentos contendo camas beliches com um ou dois andares, muitos não adequados ao descanso, espaçamentos pequenos entre eles, sanitários e chuveiros coletivos, alguns já contendo água quente. 1.6 ALIMENTAÇÃO Recebem alimentação, tanto na lavoura através de recipientes térmicos, como no próprio refeitório em bandeijões fornecidos por empresa terceirizada e 7 com supervisão de nutricionista que procura adequá-la aos seus costumes. Porém, ainda se verificam constantes reclamações digestivas, devido à diferença de hábitos. 1.7 ATENÇÃO À SAÚDE O atendimento médico é realizado no ambulatório da empresa durante 04 dias na semana, ficando os demais dias sob supervisão de auxiliares de enfermagem, treinados para emergências e remoção quando necessários. O ambulatório possui uma ambulância bem equipada que realiza o deslocamento de pacientes até a cidade mais próxima, para atendimento hospitalar. O atendimento Odontológico é feito uma vez por semana em gabinete próprio. É prestada assistência aos dependentes que residem na própria empresa, em casas com infraestrutura básica cedidas para aqueles funcionários contratados em regime permanente que fazem parte da manutenção de setores especializados. O ambulatório contém ainda sala para a assistente social, que é a coordenadora dos serviços, secretaria, recepção, garagem, sala para pequenas cirurgias e curativos, consultório médico e odontológico com ar condicionado e demais equipamentos necessários, um banheiro para funcionários e outro coletivo, material de expedientes adequados. É mantido convênio com algumas especialidades médicas como: ortopedia, que é essencial pelo tipo de atividade exercida. 8 1.8 ACIDENTES Os acidentes do trabalho, não são objeto de nosso estudo, mas, como podem ocorrer a qualquer momento, apesar de todo o aparato existente com a finalidade de prevenção, alguns são detectados e causam transtornos aos trabalhadores e a empresa, devido à perda na produtividade pelos dias parados. Em casos de lesões graves, que acarretam inatividade por mais de 15 dias, estes são encaminhados para o INSS que se responsabiliza pelos mesmos, implicando o envolvimento da Justiça do Trabalho, e em final de safra o trabalhador fica impedido de retornar ao seu local de origem. 1.9 RETORNO O final da Safra em Mato Grosso do Sul acontece nos meses de novembro ou dezembro, dependendo do contrato firmado. Há uma grande festa de confraternização entre todos, que após se submeterem ao exame demissional, retornam pelo mesmo meio de transporte pelo qual vieram, deixando uma esperança de retorno no próximo ano. 1.10 IMPACTO SOCIAL Problemas sociais começam a surgir desde a triagem feita pelos chamados “gatos” (pessoas que são remuneradas para recrutar trabalhadores para as empresas) que sem qualificação adequada, não observam detalhes importantes no 9 tipo físico desses trabalhadores, onde alguns apresentam problemas de saúde incompatíveis com a função a ser desenvolvida, e após reprovados no exame admissional o que acarreta o seu retorno imediato individualmente, custeado pela empresa. Muitos pais deixam para trás os familiares apreensivos, movidos pelo sonho do emprego com carteira assinada e bom salário, o que não é comum em nosso País. Alguns trabalhadores rurais conseguem mandar certa quantia em dinheiro mensalmente para seus familiares, sendo esta renda a única fonte de sustento do lar. Outros não conseguem ao menos equilibrar suas despesas, gastando em aventuras sexuais e bebidas alcoólicas e outras fontes o que é freqüente nesse tipo de população onde o nível intelectual e social é baixo. Existem ainda aqueles que conseguem trazer seus familiares e permanecer por longos períodos, dentro da empresa, inclusive sendo promovidos para funções melhores devido ao desempenho em suas atividades para as quais recebem treinamentos. 2 - OS TRABALHADORES NA INDÚSTRIA Apesar do convívio entre ambos, há uma nítida diferença entre níveis culturais. Os trabalhadores na produção são aqueles que já tiveram algum treinamento, ou seja, experiência em outra empresa; pertencem a uma classe de maior ganho e, portanto com melhores chances de ascensão profissional. A maioria destes já tem família constituída, morando na vila da própria empresa, 10 onde há 205 habitações, ou tem suas propriedades na cidade mais próxima e deslocam-se de ônibus diariamente, e outros se utilizam de outro meio de transporte próprio. A atividade destes requer exames médicos periódicos regulamentares, pelo fato de que estes ficam expostos freqüentemente a altas temperaturas, ruídos intensos, situações constantes de risco. Isto se dá devido ao ambiente em que os trabalhadores são sujeitos a trabalhar, onde ficam próximos a turbinas, caldeiras, máquinas, produtos químicos etc. São submetidos a exames de audiometria, dosagens de colinesterase e exames clínicos anuais. Muitos trabalhadores rurais são aproveitados nestas funções e passam a receber os mesmos cuidados, já que o período de exposição é também maior. Pela legislação as NRR (Normas Regulamentadoras Rurais), atualizadas no DOU, já citado, além de regulamentar, dispõem sobre os benefícios previdenciários, da obrigatoriedade da comunicação do acidente de trabalho: auxílios, aposentadorias, reabilitação e custeio no caso de sinistro. 11 3 - EXAMES PERIÓDICOS 3.1 OBJETIVOS DO EXAME PERIÓDICO Todo programa deve ter uma meta clara, cujos resultados são esperados a curto e médio prazo. É importante que seja bem definido e divulgado junto aos Trabalhadores o que se quer atingir com tais exames: ? Atuar visando essencialmente a promoção da saúde dos trabalhadores; ? Buscar, com os meios disponíveis, a melhor adaptação do trabalho ao homem e eliminação ou controle dos riscos existentes no trabalho. ? Decidir com total independência profissional e moral, com relação à Empresa e ao trabalhador. ? Analisar os ambientes e as condições do trabalho dos operários, agindo com adequado desempenho nos exames ocupacionais e demais atribuições dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) da empresa. 12 ? Atentar, nos exames periódicos aos portadores de afecções ou deficiências físicas, para que as mesmas não sejam agravadas pela atividade laborativa e não exponha o trabalhador à continuidade dos riscos. ? Informar a inaptidão e os motivos das mesmas ao trabalhador. ? Informar e orientar a empresa para mudança de função de empregado com doença ocupacional. ? Comunicar à empresa a existência de riscos ambientais sem as devidas medidas de proteção coletiva e individual dos trabalhadores. ? Orientar os médicos responsáveis pela assistência ao trabalhador, sempre que surgirem dados epidemiológicos de relevância na população sob seus cuidados. ? Tornar compatível a aptidão do trabalhador, do ponto de vista médico, ao trabalho a ser executado. 3.2 TIPOS DE EXAMES EFETUADOS PELA EMPRESA Os exames realizados pela empresa foram: dosagem de colinesterase (fitossanitários); exames audiométricos; exames laboratoriais/alimentação; exames clínicos gerais. 13 3.2.1 DOSAGEM DE COLINESTERASE (FITOSSANITÁRIOS) A colinesterase é uma enzima que aparece em muitos casos de intoxicação por diversos tipos de produtos, apesar de não serem específicas, nos dão um parâmetro para afastarmos ou não um manipulador de agrotóxico ou outro produto fitossanitário, do contado direto com o seu corpo, seja por via inalatória, cutânea ou digestiva. O uso dos agrotóxicos foi regulamentado e atualizado pela NR – 7 mais recentemente pela portaria nº 17, de 15/05/2001, publicada no DOU nº 107-e, no dia 04/06/2001, que trata das transformações e entre outros assuntos contidos nas Normas Regulamentadoras Rurais (NRR). Agrotóxicos são os produtos químicos destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de flores, nativas ou implantadas e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimulantes e inibidores do crescimento. Existem produtos afins, que são os agentes de processos físicos e biológicos que têm a mesma finalidade, bem como outros químicos, físicos e 14 biológicos, utilizados na defesa fitossanitária, domissanitária e ambiental não enquadrados como agrotóxicos. As fórmulas mais freqüentemente utilizadas são: pó molhável, concentrado emulcionável, grânulos, pó seco, aerossol e ultrabaixo volume (UBV). O tipo de formulação é importante pela maior ou menor probabilidade, combinada com o tempo de exposição, vias de penetração e demais condições de segurança, podendo causar ou agravar a intoxicações. Desta forma, é valido relacionarmos alguns desses produtos fitossanitários e sua área de atuação no manuseio da cana de açúcar: ? Veipar: herbicida, usado em braquiárias; ? Sinerge: herbicida, utilizado em colonião; ? Ametrina: herbicida/braquiária. Foram analisados os resultados obtidos da colinesterase em dez trabalhadores, num intervalo de tempo de cerca de seis meses de contato. Os resultados estão nos Anexos A e B. Valores normais considerados entre 6 e 12 U/L (parâmetro/laborativo). As características sobre o uso de fitossanitários e afins na empresa são: 15 ? A Toxicidade varia de acordo com: Espécie Biológica; Concentração; Componentes Presentes. ? O Efeito Tóxico pode ser Agudo, Retardado ou Crônico e agir no Organismo Humano dependendo de: Idade; Estado Nutricional; Condições de Saúde; Via de Penetração; Quantidade Absorvida ou Ingerida; Tempo de Exposição. ? Os riscos na manipulação podem ser diretos e indiretos. Como riscos diretos, estão descritos alguns e principais fatores que isoladamente ou em conjunto, contribuem de maneira direta para a contaminação/intoxicação dos usuários e/ou população virtualmente expostas. Os riscos diretos são os seguintes: ? Inobservância das Recomendações do Fabricante; ? Utilização de Super Dosagens; ? Inobservância do Prazo de Carência; ? Contaminação Ambiental, Alimentar e de Nascentes/Cursos D'água; ? Exposição Excessiva/Ininterrupta, Agravada pela maior toxicidade; 16 ? Presença de Estranhos/Terceiros no Local, durante a Manipulação/Aplicação; ? Falta de Medidas de Higiene/Limpeza, após o Trabalho com Produtos Tóxicos; ? Aplicação/Manipulações em Ambientes Fechados ou sob Condições Climáticas Adversas; ? Aplicações/Manipulações sem adoção de Medidas de Segurança, Higiene e Proteção Adequadas ao Grau de Risco; ? Aplicações/Manipulações com Vestimenta, Utensílios e Equipamentos Contaminados; ? Trabalho/Reentrada em Áreas/Ambientes Recentemente Tratados/Pulverizados; ? Utilização/Reaproveitamento de Embalagens de Produtos Tóxicos para Gêneros Alimentícios, Água, etc; ? Guarda Insegura de Produtos Tóxicos; ? Transferência de Produtos Tóxicos ou Sobras dos Mesmos para Outras Embalagens; 17 ? Descarte Irracional de Produtos/Sobras/Embalagens; ? Transporte Inseguro e/ou Junto a Gêneros Alimentícios/Pessoas; ? Equipamentos/Componentes de Aplicação Inadequados/Impróprios /Danificados/Irregulares/Sem manutenção; ? Hábito de Comer, Beber ou Fumar Durante o Trabalho e/ou Sem as Necessárias Medidas Higiênicas; ? Exposição Indevida de Portadores de Problemas de Saúde, de Menores, de Idosos de Mulheres Grávidas; ? Aplicação/Manipulação Simultânea ou Num Curto Período, de Inúmeros Produtos Tóxicos; ? Pagamento do Aplicador por Produtividade/Quantia Aplicada; ? Falta de Acompanhamento Médico/Exames Periódicos; ? Ausência de Noções básicas de Primeiros Socorros; ? Insistência por Parte dos Aplicadores/Manipuladores em Continuar o Trabalho, Intoxicação. mesmo Diante dos Primeiros Sinais/Sintomas de 18 Como riscos indiretos, aqui serão citados alguns e principais fatores de que determinam o maior consumo de agrotóxicos e/ou sua manipulação/aplicação de maneira indevida e irracional. Tais fatores poderão interferir isoladamente ou, como tem sido observado com maior freqüência, de maneira associada, os quais passarão a ser descritos: ? Utilização, sem Assistência/Orientação Técnica; ? Utilização sem Receituário Agronômico; ? Inobservância do Nível de Dano Econômico; ? Responsabilidade pela Manipulação/Aplicação a Cargo do Usuário; ? Usuários Despreparados e/ou com Baixo Grau de Instrução; ? Imperativos Técnicos e Econômicos como Prioridade; ? Desconhecimento/Não Utilização de Métodos Alternativos para Controle de Pragas, Moléstias e Ervas Daninhas; ? Desequilíbrio Biológico Causado, Principalmente, pelo uso excessivo e Continuado, pelas Monoculturas e pelos Desmatamentos; 19 ? Desconhecimento Generalizado, por Parte dos Usuários, quanto aos Riscos Toxicológicos; ? Crescente Resistência de Pragas e Moléstias aos Produtos; ? Inexistência de “Fichas de Segurança”; ? Fiscalização de Uso quase Inexistente e/ou Ineficaz; ? Expressiva quantidade de Princípios Ativos e Marcas Comerciais; ? Inexistência de Controle Sistemático de Resíduos em Alimentos, Água, etc; ? Utilização, para determinada Cultura, de Produtos não Permitidos/Registrados para a mesma; ? Eficiência do Agrotóxico Normalmente Associado a maior Toxicidade do mesmo; ? Difícil Leitura/Interpretação, por parte dos Usuários, das Informações Contidas nos Rótulos/Embalagens/Bulas; ? Inexistência de EPI's Adequados e/ou Eficiência Duvidosa dos mesmos; 20 ? Elevada Pressão de Venda/Propaganda. 3.2.1.1 Programa de prevenção de intoxicação Qualquer programa de prevenção de intoxicações que tenha como objetivo básico a eliminação/diminuição dos riscos, somente será possível mediante a adoção de inúmeras medidas corretivas entre as quais destacam-se, obrigatoriamente: ? Diminuição do tempo de exposição dos aplicadores/manipuladores; ? Diminuição da toxicidade dos produtos, buscado-se, quando realmente necessário, para o mesmo alvo, alternativas menos comprometedoras; ? Adoção de medidas gerais e específicas de segurança, de higiene e de proteção. É oportuno ressaltar que, quanto mais fatores de riscos puderem ser neutralizados/minimizados, menores serão as possibilidades de intoxicações. Do exposto podemos verificar que em apenas seis meses foram detectados níveis elevados em alguns manipuladores, pelo fato de que estes tinham condições que favorecessem isto, dessa forma cabe ressaltar que dentre estes estão: ? Já manipulavam em anos anteriores; 21 ? Vieram de outras empresas onde também exerciam a mesma função; ? Uso indevido dos EPIs, alguns não usavam corretamente as máscaras, luvas ou as vestimentas; ? A procura por melhores salários, sem a devida importância a saúde própria; ? Falta de melhores fiscalizações por parte dos órgãos competentes; ? Utilização dos produtos em climas desfavoráveis. A estratégia da alta rotatividade funciona quando são testados os níveis de colinesterase acima de 11,5, considerado como 12. Parâmetro: o trabalhador é automaticamente afastado desta atividade pelo departamento de Medicina do Trabalho, sendo este reaproveitado em outra função até que se chegue ao final da safra, quando será decidido o destino deste indivíduo. 3.2.2 EXAMES AUDIOMÉTRICOS A anatomia do ouvido humano pode ser esquematizada conforme a Figura 1. O Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva, órgão interdisciplinar composto por membros indicados pela Associação Nacional de 22 Medicina do Trabalho (ANAMT), e pelas Sociedades Brasileiras de Acústica (SOBRAC), Fonoaudiologia (SBF) e Otorrinolaringologia (SBORL), definiu e caracterizou a Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR) relacionada ao trabalho com o objetivo de apresentar o posicionamento oficial da comunidade científica brasileira sobre o assunto. FIG. 1 - Anatomia do ouvido humano. Ouvido externo Ouvido Médio Ossículo Ouvido Interno Pavilhão da Orelha Canal Auditivo Tímpano Martelo Bigorna Estribo Trompa de Eustáquio Labirinto Ducto coclear Nervos Vestibular Facial Coclear Dentro desta ótica o Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva, a perda auditiva induzida pelo ruído relacionada ao trabalho, diferentemente do trauma acústico, é uma diminuição gradual da acuidade auditiva, decorrente da exposição continua a níveis elevados de ruído. As características principais da Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR), são: 23 ? É sempre neurossensorial, em razão do dano causado às células do Órgão de Corti; ? Uma vez instalada, a PAIR é irreversível e quase sempre similar bilateralmente; ? Raramente leva a perda auditiva profunda, pois, geralmente, não ultrapassa os 40 dB(NA), nas baixas freqüências e os 75 dB(NA) nas freqüências altas; ? Manifesta-se, primeira e predominantemente, nas freqüências de 6, 4 ou 3 KHz e, como o agravamento da lesão, estende-se às freqüências de 8, 2, 1, 0,5 e 0,25 Hz, as quais levam mais tempo para serem comprometidas; ? Tratando-se de uma patologia coclear, o portador da PAIR pode apresentar intolerância a sons intensos, zumbidos, alem de ter comprometida a “inteligibilidade” da fala, em prejuízo do processo de comunicação; ? Não deverá haver progressão da PAIR uma vez cessada a exposição ao ruído intenso; 24 ? A instalação da PAIR é, principalmente, influência pelos seguintes fatores: características físicas do ruído (tipo, espectro e nível de pressão sonora), tempo de exposição e susceptibilidade individual; ? A PAIR não torna a orelha mais sensível às futuras exposições a ruídos intensos. À medida que os limiares auditivos aumentam, a progressão da perda torna-se mais lenta; ? A PAIR geralmente atinge o seu nível Maximo para as freqüências de 3, 4 e 6 KHz, nos primeiros 10 a 15 anos de exposição sob condições estáveis de ruídos. O diagnóstico nosológico a PAIR só pode ser estabelecido através de um conjunto de procedimentos que envolvam análise clínica, história ocupacional, exame físico, avaliação audiológica e, se necessário, testes complementares. Pesquisas sugerem que a PAIR pode ser agravada através da exposição simultânea do trabalhador a ruídos intensos e outros agentes, tais como produtos químicos e vibrações. Da mesma forma, o trabalhador que ingere ototóxicos ou é portador de algumas doenças, pode ter sua susceptibilidade ao ruído aumentada. A PAIR é um comprometimento auditivo passível de prevenção e pode acarretar ao trabalhador alterações importantes que interferem na sua qualidade de vida. São elas: a incapacidade auditiva (hearing disability) e a desvantagem 25 (handicap). A incapacidade auditiva refere-se aos problemas auditivos experimentados pelo indivíduo com relação à percepção da fala em ambiente ruidoso, televisão, rádio, cinema. Teatro, sinais sonoros de alerta, música e sons ambientais. A desvantagem, por sua vez, relaciona-se às conseqüências não auditivas da perda, influenciada por fatores psicossociais e ambientais. Dentre elas destacam-se estresse, ansiedade, isolamento e auto-imagem pobre, as quais comprometem as relações do indivíduo na família, no trabalho e na sociedade, prejudicando o desempenho de suas atividades de via diária. 3.2.2.1 Audiometria tonal linear A Audiometria Tonal pode ser definida como sendo “a medida da audição mínima dos ouvidos, por vias aéreas ou ósseas”. Esse tipo de exame só pode ser feito por um médico otorrinolaringologista ou por um fonoaudiólogo. Foram realizados 545 exames audiométricos distribuídos nas mais diferentes áreas de trabalho, abrangendo trabalhadores rurais e da indústria. O grupo é orientado realizar repouso auditivo pelo período de 16 horas, para evitar fadiga do músculo auditivo. 26 Os laudos foram fornecidos por fonoaudióloga, e estes vêm acompanhados de cores para uma melhor classificação das patologias. Foram usadas as seguintes cores: ? Verde: limiares dentro dos padrões de normalidade, ou seja, 25 dB; ? Amarelo: limiares entre 25 dB a 60 dB denominada, assim perdas moderadas (leves); ? Vermelha: limiares acima de 60 dB perdas profundas e severas; ? Azul: denominadas Perdas Auditivas Induzidas por Ruídos (PAIR). Que englobam as amarelas e vermelhas. Apenas as perdas severas foram mais bem avaliadas, já que era esse o objetivo do estudo (Anexos C e D). 3.2.2.2 Tipos de EPIs utilizados na empresa Nas diferentes áreas, são usados: ? Abafadores de Ruído do Tipo Concha (NRR 27 e 30 dB): Mecânico Industrial; Operador de Casa de Força; Encanadores; Trabalhador na Vinhaça; Serviços Gerais; Pesquisa e Desenvolvimento; Serviços Administrativos; Colheita Mecanizada; Chefe de Mecanização 27 Agrícola; Fiscal de Cultivo; Motorista; Encarregado de Carregamento; Encarregado de Transporte; Encarregado de Colheita Mecanizada; Mecânico Líder (Tratores/Máquinas); Mecânico Líder (Caminhões/Autos); Eletricistas; Mecânicos; Comboista; Controller; Zelador; Caldereiro; Lubrificador; Torneiro Mecânico; Auxiliar de Mecânico; Auxiliar em Aprendizagem; Soldador; Borracheiro; Supervisor de Oficina Agrícola; Técnico Agrícola; Gerente Agrícola; Engenheiro-Agrônomo de Planejamento; Engenheiro-Agrônomo Trados Culturais; Administrador Geral; Encarregado do Escritório Agrícola; Gerente de Recursos Humanos; Técnico de Segurança do Trabalho; Engenheiro de Segurança do Trabalho; Supervisora de Recursos Humanos. ? Abafadores de Ruído do Tipo Plug (NRR 28 e 29 dB): Destilador; Eletricista; Lubrificador; Mecânico Industrial; Operador de Caldeira; Preparador de Caldeira; Operador de Centrífuga Destilaria; Operador de Centrífuga da Fábrica; Soldador; Torneiro Mecânico; Fermentador; Caldeireiro e Ajudante de Caldeireiro; Operador da Casa de Força; Operador de Moenda; Operador de Filtro; Operador de Vácuo; Operador de Enxofreira; Analista de Laboratório; Motorista; Fiscal de Campo; Tratorista; Guincheiro; Operador de Maquinas; Encarregado 28 de Carregamento; Operador de Evaporador; Auxiliar de Serviços gerais. No restaurante, são usados os seguintes EPIs: Bota de PVC Uniforme Cozinheira e Auxiliar de Cozinheira Touca Avental de PVC Máscaras Botas Externos Luvas Botas Pessoal de Limpeza Luvas Internos Touca Máscara O Anexo E (Figuras 1 a 6) mostra os EPIs e trabalhadores em atividades na empresa analisada. 29 3.2.2.3 Recomendações à empresa Devido à ocorrência de vários casos de Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR), entre os trabalhadores examinados, mesmo com a rotatividade existente em torno de 8 horas e sabendo que muitos já vêm para a empresa com patologia auditiva, em alguns setores deveria ser exigida audiometria no exame de admissional, evitando , assim, transtornos, quando no periódico forem detectadas perdas auditivas se muito tempo de exposição na safra atual, provocando mudanças ou demissões injustas. A emitir ou não o Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT). Esta decisão é muito complexa porque a Legislação Trabalhista e Previdenciária é que determinam as condutas, antagônicas e de difícil entendimento, além de gerar certo desconforto entre médicos e empresa. Do ponto de vista desta, o Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT), significa expor para fora de seus muros a ocorrência de algum acidente ou doença ocupacional. Acidentes típicos devem ser informados, mas quando a doença causada pela exposição ao ruído ocupacional. A prevalência da mesma é alta, se considerarmos os limiares audiométricos de 25 dB, em todas freqüências, como limite máximo aceita. 30 3.2.3 Exames laboratoriais/alimentação A empresa possui um restaurante industrial terceirizado que fornece alimentação para todos os trabalhadores rurais residentes nos alojamentos desta, e para alguns que se deslocam diariamente da cidade onde moram para a mesma. São fornecidas em média cerca de 1000, refeições do tipo bandeijão e 500, em marmitas térmicas que são levadas para a lavoura. Esta por sua vez possui ao todo 18 funcionários, assim distribuídos: 1 Nutricionista; 1 Administrador de restaurante; 1 cozinheira; 3 ajudantes práticos de cozinha; 12 Auxiliares de serviços diversos. Os exames periódicos são realizados em todas as funções, a cada 2 anos, para os funcionários que tenham idade entre 18 a 45 anos. Nesta faixa etária os exames são os seguintes: Parasitológico de Fezes; Parcial de Urina; Coprocultura. Estes trabalhadores do sexo masculino são rigorosamente examinados clinicamente e os do sexo feminino realizam ainda o exame preventivo ginecológico anual. 31 3.2.4 Exames clínicos gerais Estes exames são de grande importância na avaliação do desempenho de cada trabalhador, dependendo da atividade, são passivas de mudanças na função ou até mesmo de demissões por diminuição da produtividade. São também úteis na prevenção de riscos acidentais, que muitas vezes os trabalhadores não percebe algum sintoma, temendo perder o emprego, então, o médico deve ficar atento, sabendo que sua principal função dentro de uma empresa é a de evitar acidentes ou doenças ocupacionais. Na agroindústria, avaliada por nós, trabalham cerca de 1.500 pessoas. Especificamente, no início da safra de 2001, contava com 1.183, sendo 905 rurais e 258 na indústria, e, no final da safra, em novembro de 2001, os números de 1.185 trabalhadores rurais e 291 na indústria. Destes, só não fizeram exames periódicos, os cortadores de cana safristas que permanecem apenas de 6 a 9 meses no trabalho, depois voltam para suas cidades de origem, no nordeste do País. Estes exames são distribuídos esquematicamente nos meses de abril a março e de junho a agosto com participação do médico do trabalho e também dos clínicos que prestam serviço. Resultando em uma média de 236 mensais e 59 semanais, como tem quatro profissionais, é possível fazer um bom exame clínico com real avaliação. 32 Toda e qualquer alteração encontrada são imediatamente tratadas. Embora sendo solicitados tanto exames quanto as consultas clinicas são custeadas pela empresa agroindustrial. Não havendo quase riscos de contágios pelo fato de terem seus exames admissionais, são supervisionados pelo medico do trabalho e também pelos clínicos. Cabe ressaltar que os exames são efetuados por setores, dessa forma é mais fácil fazer a catalogação destes exames. Desta forma iremos citar alguns destes setores e os exames realizados tanto para os trabalhadores rurais quantos para os da industria. Para os trabalhadores na indústria o exame clínico geral é efetuado nos seguintes setores: Empacotamento, Habitacional, Fabricação de Açúcar, Fabricação de Álcool, Preparação de Cana, Ensacamento, Serviços de Transporte, Oficinas Agrícolas, Moto Mecanização Industrial, Educacional, Segurança Patrimonial, Manutenção Elétrica, Segurança do Trabalho, Administração Industrial, Treinamento e Formação Profissional, Casa Linha e Força, Gerência/Recursos Humanos, Gerência/Adm. Controlador, Oficina Mecânica Elétrica, Laboratório Sacarosa, Caldeiras, Casa de Hóspedes, Moenda. Já para os trabalhadores Rurais o exame clínico geral é efetuado nos seguintes setores: Gerência de Recursos Humanos, Serviços de Transporte, 33 Serviços de Tratores, Administração Agrícola, Pesquisa desenvolvimento de Lavouras, Carregadores de Cana, Oficina Agrícola, Gerência/Adm. Controlador, Aplicação de Vinhaça, Assistência Social Diversos, Habitacional, Caldeiras, Médico Hospitalar, Motorista de Colheitadeira. 3.3 RECOMENDAÇÕES À EMPRESA São as seguintes: ? Que a triagem a distância seja feita por médico contratado pela empresa, assim haverá maior responsabilidade, evitando transtornos nos casos de inaptidão ao trabalho. ? Tentar junto a órgãos governamentais estimular os trabalhadores braçais da nossa região para que esses possam executar os serviços nas lavouras canavieiras evitando os problemas de adaptação ao meio ambiente, bem como, costumes alimentares comuns aos nordestinos que aqui vêm trabalhar e também para diminuir o índice de desemprego em nosso Estado. ? Melhorar os alojamentos propiciando mais conforto nas camas, colocando chuveiro em todos banheiros. 34 ? Adaptar a alimentação aos costumes de origem e não somente os nossos. ? Reformar o ambulatório médico construindo mais banheiros e separando por sexo. Fazer reformas no telhado, pois, quando chove causa muitos transtornos aos que ali trabalham. ? Contratar médico ortopedista, para que o mesmo atenda pelo menos uma vez por semana no ambulatório da empresa. Evitando o deslocamento de lesionados mais graves, já que os problemas observados por nos são na maioria desta especialidade. ? Selecionar melhor os Equipamentos de Proteção Individual (EPI's), como luvas, pois, este ano houveram muitos casos de dermatites nas mãos. Por contato com o equipamento. ? Batalhar junto aos políticos da região, a execução de asfalto no trecho de 20 km, da BR que liga a empresa a cidade mais próxima, facilitando o transporte tanto de trabalhadores que moram na cidade e que vêm todos os dias para a empresa para trabalhar, tanto quanto para o escoamento da produção. ? Melhorar as anotações médicas nos prontuários e Exames de Saúde Ocupacional (ESO). 35 ? Melhorar a estatísticas do PCMSO. Um exemplo e que tive muitas dificuldades para obter alguns dados, prejudicando meu estudo em alguns setores. 36 CONCLUSÃO Em uma empresa de grande porte, que produz cerca de quatorze mil toneladas de açúcar por safra e ainda alguns milhares de litros de álcool combustível, devido às várias situações contrárias encontradas, pude perceber a real importância dos exames periódicos. O serviço médico existente na empresa atende à uma grande parte das necessidades, mas o fator produção com serviços mais especializados ainda é deficiente na área médica, talvez por se tratar de área rural, não foi possível manter o profissional da saúde em período integral, considerando os turnos diurno e noturno. Durante a safra há necessidade freqüente de remoções de acidentados para as cidades mais próximas cerca de 50 a 100 km. Os exames periódicos dependem diretamente dos admissionais e demissionais. Os problemas encontrados como perdas auditivas, níveis altos de intoxicações e patologias osteomiotendíneas poderiam ser melhor identificados se houvessem arquivos atualizados eletronicamente. 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, O. J. Noções de primeiros socorros. Rio de Janeiro: Associação Brasileira para a Prevenção de Acidentes, 1984. BRASIL. Portaria n. 17, de 15 de maio de 2001. Diário Oficial da União, 107-E, 4 jun. 2001. ELLIOT, P. E. First aid organization. In: ENCICLOPAEDIA OF OCCUPATIONAL HEALTH AND SAFETY. Geneve: ILO,1983. FRANÇA, G. V. Direito médico. São Paulo: Bye-Procienx, 1982. MANUAIS DE LEGISLAÇÃO. Segurança e medicina do trabalho. São Paulo: Atlas, 1998. ______. ______. Lei nº 6.514, 22 dez. 1977. 47 ed. São Paulo: Atlas, 2000. MENDES, R. Patologia do trabalho. São Paulo: Atheneu, 1995. SERRANO, M. Isto é PCMSO. Belo Horizonte: Do Autor, 1997. VIEIRA, S. I. Medicina básica do trabalho. Curitiba, 1999. v. 4. 38 ANEXOS 39 ANEXO A - Estudo dos valores de colinesterase encontrados em dez trabalhadores rurais nos meses de fevereiro e agosto de 2001. Trabalhadores Resultado em u/l Ordem Inicial 6 meses após Porcentagem de aumento (%) 0001 6.741 7.362 9,21 0002 7.641 8.387 9,76 0003 7.681 7.965 3,70 0004 8.310 9.901 19,14 0005 8.413 9.134 8,57 0006 8.881 10.089 13,60 0007 9.116 11.109 21,86 0008 9.234 9.372 1,49 0009 10.398 11.205 7,76 0010 11.112 11.260 1,33 Fonte: Arquivo do PCMSO da Empresa. 40 ANEXO B - Taxa de elevação da colinesterase em 6 meses de manipulação dos fitossanitários. Inicial Final Taxa de Elevação (%) 25 20 15 10 5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 41 ANEXO C – Resultado (em %) dos exames audiométricos. Tipos de exames Pacientes (nº) Porcentagem (%) Verdes 286 39,29 Vermelhos 67 9,20 Amarelos 192 26,37 Azuis 183 25,14 Total 728 100 Fonte: PCMSO da empresa em estudo. 42 ANEXO D – Resultados dos exames audiométricos. PAIR - Perdas Auditivas pelos Ruídos 25% Perdas Moderadas entre 25 e 60 dB 26% Fonte: Arquivo do PCMSO da Empresa. Limiares Auditivos dentro do padrão de Normalidade 25 dB 40% Perdas Severas acima de 60 dB 9% 43 ANEXO E – Fotografias dos equipamentos de proteção individual, dos cortadores de canade-açúcar em atividade e dos equipamentos causadores de ruídos. Figura 1 Este personagem chamado “Bonitinho” está mostrando os equipamentos de proteção individual do cortador de cana e seus instrumentos de trabalho chamado Podão. São eles: Luvas, Caneleiras, Roupão, Goro e Óculos Especiais. 44 Figura 2 Porém nesta foto, mostra o real cortador o qual está sem as luvas, sem os óculos, caneleiras o que o leva a correr os riscos de corte, lesões oculares e dermatológicas nas mãos. 45 Figura 3 Aqui mostra um campo de trabalho, onde a cana de açúcar já queimada , provocam o surgimento de fuligem e pó das folhas. Também mostra a postura rotineira, causadora das lombalgias, tão freqüente neste tipo de serviço. Figura 4 Um trabalhador entre um caminhão e uma máquina carregadeira sendo manobrada manualmente. O trabalhador ali visualizado está sem os devidos equipamentos de proteção individual (EPI), que são capacete, luvas, e protetor auricular. Ele está exposto aos ruídos, calor solar intenso e riscos mecânicos. 46 Figura 5 Um guincheiro dentro da cabine com a porta aberta. Teoricamente este veículo teria ar condicionado. Ele está exposto ao calor e a ruídos intensos, durante a jornada de trabalho. 47 Figura 6 Na industria observamos a fonte principal de ruídos, apesar de conter inúmeros avisos em placas verdes, foi notado que alguns funcionários deste setor não estavam utilizando os protetores constantemente. Riscos: Ruídos e Calor.