LITERATURA HISPANO-AMERICANA
AULA 9: A NOVA NARRATIVA HISPANO-AMERICANA.
Tendências da narrativa contemporânea na América
Hispânica.
LITERATURA HISPANO-AMERICANA
Conteúdo Programático desta aula:
• A nova narrativa HispanoAmericana;
• Tendências e características;
• Inovações;
• A Literatura Fantástica;
• Júlio Cortázar;
• Leitura: Continuidade dos parques
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LITERATURA HISPANO-AMERICANA
A NOVA NARRATIVA HISPANO-AMERICANA: El boom.
A década de sessenta ofereceu ao mundo o triunfo da narrativa
dos novelistas hispano-americanos. O velho continente foi
obrigado a ver e ler aqueles escritores que com um desenfado
absoluto e uma falta de respeito saudável, observava um novo
modo de conceber a narrativa.
Rompendo e destroçando costumes e tradições, formam um
grupo cuja ousadia e frescura de ideias eram tais que
provocavam e causavam delírios nos mais tradicionais.
El boom dava a conhecer uma nova realidade que
ratificava a grandiosidade da América Hispânica e
introduzia novas temáticas conflituosas.
A literatura surge como uma imposição. A imposição que
apresenta outras realidades, talvez mais real e dolorosa,
como uma indagação serena e reflexiva.
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Desaparecem os disfarces e o corpo se oculta em um jogo
de sugestões e indicações infinitas.
Em cada romance há agora outro romance, e também uma
narração da narração. O narrador cria o seu mundo.
São quatro os escritores que especialmente fundam este
momento: Julio Cortázar, Vargas Llosa, García Márquez,
Carlos Fuentes.
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TENDÊNCIAS E CARACTERÍSTICAS:
A característica mais destacada do novo romance é a
sublevação que representa contra a velha tradição
realista, o que alguns críticos chamam de passagem do
mimético ao simbólico. Os escritores buscam ascender a
um nível de realidade menos evidente. Há a ideia de
Borges de que não sabemos o que é a realidade. A partir
da negação do realismo tradicional, há:
•O desaparecimento do velho romance “criollista”, de
tema rural.
•O desaparecimento do romance comprometido e a
emergência do romance metafísico. Em vez de mostrar a
injustiça e desigualdade sociais com o propósito de
criticá-las, o romance
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tende a explorar a condição humana e a angústia do
homem contemporâneo, em busca de novos valores. “Todo
bom romance”, afirma Gabriel Garcia Márquez, “é uma
adivinhação do mundo”.
•Há a tendência a subordinar a observação à fantasia
CRIADORA E A MITIFICAÇÃO DA REALIDADE.
•A tendência a enfatizar os aspectos ambíguos, irracionais
e misteriosos da realidade e da personalidade,
desembocando no absurdo como metáfora da existência
humana.
•Tendência a desconfiar do conceito de amor como
suporte existencial e de enfatizar, em troca, a
incomunicabilidade e a solidão do indivíduo. Há então o
anti-romantismo do novo romance/narrativa.
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•Tendência a não valorizar a morte em si, já que a vida se
basta por infernal.
•Rebelião contra toda forma de tabus morais, sobretudo os
relacionados com a religião e a sexualidade. Tendência a
explorar o que Elizondo chamou de “visões demenciais,
através das quais a riqueza oculta do mundo se manifesta a
nós na tenebrosa magnitude de nossa vida secreta.”
(ELIZONDO, S. El grafólogo. México. 1972, p. 67).
•Humor e erotismo- Não é fácil analisar as diferentes
formas de humor que surgiram no novo romance.
Principalmente porque formas diferentes tendem a
coexistir dentro de uma mesma obra.
•Mas é possível estabelecer três categorias:
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•O Humor satírico: mais tradicional e familiar. “Los
funerales de la mamá grande”, de Gabriel García Márquez.
•O Humor trágico: Para Cortázar, as coisas mais graves
podem ser exploradas mediante o humor.
•Humor puramente lúdico: humor puro, isento de toda
preocupação social ou existencial e que brota diretamente
da livre fantasia.
•Outra importante característica deste novo romance é o
exasperado erotismo: estuda-se a sexualidade normal e
outras formas de comportamento
sexual que
convencionalmente tem sido considerado aberrantes. E, ao
contrário do que ocorria no romance tradicional, o
erotismo passa a ser visto no contexto da orfandade
espiritual do homem.
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É inegável, por exemplo, o tema do incesto em Pedro
Páramo (Juan Rulfo), Cem anos de solidão (G.G.Márquez)
e Sobre heróis e tumbas (Ernesto Sábado).
Em vários autores se observa o lançar mão do erotismo
para atacar certos aspectos da sociedade burguesa ou
simbolizar a degradação de uma sociedade que privilegia
o machismo brutal e a agressão sexual.
Há a sublevação contra toda tentativa de apresentação
unívoca da realidade, quer a exterior dos personagens,
quer a realidade interior, psicológica.
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Houve sempre na América Hispânica o propósito supremo do
autor de conscientizar seus leitores, de cumprir com o dever
cívico do romancista, que consistia em empregar o seu
talento como arma de combate contra a opressão e a
injustiça.
Sobrevive ainda o conceito de escritor como parte da
consciência de seu país e da literatura como elemento de
subversão da ordem político-social imperante.
Entretanto, entre os romancistas predominou a ideia de que
verdadeiramente revolucionário é desorganizar as ideias
habituais dos leitores, realizar o que Elizondo chama de
“subversões interiores”, mais que atacar de frente as
estruturas de um poder público.
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Nesta concepção, o romance ideal, seria aquele
absolutamente livre, que não só inquiete por seu conteúdo
político e social, mas por seu poder de penetração na
realidade: e melhor ainda, se é capaz de virar a realidade
ao revés para mostrar como é do outro lado.
Assim, considera-se que qualquer romance tem a obrigação
de mudar os hábitos perceptivos do leitor.
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AS INOVAÇÕES TÉCNICAS NO NOVO ROMANCE:
•Tendência a abandonar a estrutura linear, ordenada e lógica,
típica do romance tradicional e que concebia um mundo
ordenado, compreensível.
•Tendência a subverter o conceito de tempo cronológico,
linear;
•Tendência a abandonar os cenários realistas, substituindo por
espaços imaginários;
•Tendência a substituir o narrador onisciente, por narradores
múltiplos e ambíguos;
•emprego maior de elementos simbólicos.
(SHAW, Donald. Nueva narrativa hispano-americana.
http://pt.scribd.com/doc/75064195/Nueva-narrativahispanoamericana-de-Donald-Shaw)
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http://pt.scribd.com/doc/30669543/NUEVA-NARRATIVAHISPANOAMERICANA
http://pt.scribd.com/doc/8388254/EL-BOOMLATINOAMERICANO
http://pt.scribd.com/doc/8406692/Monografia
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A LITERATURA FANTÁSTICA:
A literatura gauchesca e a literatura fantástica representam
duas estéticas diferentes que caracterizam muito bem o fazer
literário genuinamente hispano-americano.
Correspondem a dois sistemas literários que resumem os elos
significativos da história política e cultural da América
Hispânica.
Para entender a literatura Fantástica é preciso observar seus
textos principalmente sob dois aspectos:
•O tipo dos acontecimentos que narram;
•E como estes acontecimentos são apresentados.
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Segundo a escritora e crítica Ana María Barrenechea, as
obras
fantásticas
são
aquelas
que
oferecem,
simultaneamente, acontecimentos relacionados aos campos
do “normal” e do “anormal”, segundo o código natural de
interpretação humana.
A narrativa fantástica estrutura-se em uma tensão dialética
entre a realidade e a desrealização.
Instala um novo mundo com realidade, palavras e
pensamentos deste mundo.
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JULIO CORTÁZAR
Julio Cortázar nasceu em Bruxelas (Bélgica) em 1914, mas
passou a sua infância em Buenos Aires.
Foi Docente, participou da Revista Literária Sur e da
estética do Fantástico, como matriz de representações
literárias, junto com outros importantes escritores (como
Jorge Luis Borges e Bioy Casare).
Seu livro “Bestiário” (1951) inaugura sua escrita fantástica.
Com “Rayuela” Cortázar se converte no escritor mais
importante do chamado Boom latino-americano.
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Foi um anti-peronista militante e se radicou em Paris no ano
de 1951. Aderiu à revolução cubana e à nicaraguense, o que
identifica sua posição de intelectual comprometido.
Cortázar denunciou com dignidade tanto na sua literatura,
como na vida pública, os horrores dos anos difíceis na
Argentina.
Morreu em Paris, em 1984. Entre suas principais obras,
destacamos: Bestiario (1951), Final del juego (1956), Las
armas secretas (1959), Historias de cronopios y de famas
(1962), Todos los fuegos el fuego (1966), 62- Modelo para
amar (1968) e Octaedro (1974).
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“Continuidade dos Parques", de Julio Cortázar
(Relato publicado no segundo volume de contos Las armas
secretas (1956). Tradução ao português de Idelber Avelar.
Havia começado a ler o romance uns dias antes. Abandonouo por negócios urgentes, voltou a abri-lo quando regressava
de trem à chácara; deixava interessar-se lentamente pela
trama, pelo desenho dos personagens. Essa tarde, depois de
escrever uma carta ao caseiro e discutir com o mordomo
uma questão de uns aluguéis, voltou ao livro com a
tranquilidade do gabinete que dava para o parque dos
carvalhos. Esticado na poltrona favorita, de costas para a
porta que o teria incomodado como uma irritante
possibilidade de intrusões, deixou que sua mão
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esquerda acariciasse uma e outra vez o veludo verde e
começou a ler os últimos capítulos.
Sua memória retinha sem esforço os nomes e as imagens
dos protagonistas; a ilusão romanesca ganhou-o quase
imediatamente. Gozava do prazer quase perverso de ir
descolando-se linha a linha daquilo que o rodeava e de
sentir ao mesmo tempo que sua cabeça descansava
comodamente no veludo do alto encosto, que os cigarros
continuavam ao alcance da mão, que mais além das
janelas dançava o ar do entardecer sob os carvalhos.
Palavra a palavra, absorvido pela sórdida disjuntiva dos
heróis, deixando-se ir até as imagens que se combinavam e
adquiriam cor e movimento, foi testemunha do último
encontro na cabana do monte.
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Antes entrava a mulher, receosa; agora chegava o amante,
com a cara machucada pela chicotada de um galho.
Admiravelmente ela fazia estalar o sangue com seus beijos,
mas ele recusava as carícias, não tinha vindo para repetir as
cerimônias de uma paixão secreta, protegida por um mundo
de folhas secas e caminhos furtivos. O punhal se amornava
contra seu peito e por baixo gritava a liberdade refugiada.
Um diálogo desejável corria pelas páginas como riacho de
serpentes e sentia-se que tudo estava decidido desde
sempre. Até essas carícias que enredavam o corpo do amante
como que querendo retê-lo e dissuadi-lo desenhavam
abominavelmente a figura de outro corpo que era necessário
destruir. Nada havia sido esquecido: álibis, acasos, possíveis
erros. A partir dessa hora cada instante tinha seu emprego
minuciosamente atribuído.
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O duplo repasso sem dó nem piedade interrompia-se apenas
para que uma mão acariciasse uma bochecha. Começava a
anoitecer.
Já sem se olhar, atados rigidamente à tarefa que os
esperava, separaram-se na porta da cabana. Ela devia
continuar pelo caminho que ia ao norte. Da direção oposta
ele virou um instante para vê-la correr com o cabelo solto.
Correu, por sua vez, apoiando-se nas árvores e nas cercas,
até distinguir na bruma do crepúsculo a alameda que levava
à casa. Os cachorros não deviam latir e não latiram. O
mordomo não estaria a essa hora, e não estava. Subiu os
três degraus da varanda e entrou. Do sangue galopando nos
seus ouvidos chegavam-lhe as palavras da mulher: primeiro
uma sala azul, depois uma galeria, uma escada carpetada.
No alto, duas portas. Ninguém no primeiro quarto, ninguém
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no segundo. A porta do salão, e depois o punhal na mão, a luz
das janelas, o alto encosto de uma poltrona de veludo verde,
a cabeça do homem na poltrona lendo um romance.
http://www.idelberavelar.com/archives/2005/04/continuida
de_do.php
Sugestão de leituras:
Ficciones- El Aleph, de Jorge Luis Borges.
Aura, de Carlos Fuentes.
Bestiario, Julio Cortázar.
O beijo da mulher aranha, Manuel Puig.
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EXPLORANDO O TEMA:
1) Casa Tomada- Julio Cortázar:
http://www.releituras.com/jcortazar_casa.asp
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/r
esumos_comentarios/c/casa_tomada
2) Realismo mágico:
http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtre
e&task=viewlink&link_id=314&Itemid=2
3)A nova narrativa:
http://www.shvoong.com/humanities/477826-novanarrativa-hispanoamericana-boom-posboom/
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4) ENTREVISTA DE JULIO CORTÁZAR:
http://www2.uol.com.br/entrelivros/multimidia/entrevista_d
e_julio_cortazar.html
5) JULIO CORTÁZAR E A LITERATURA FANTÁSTICA:
http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2012/02/24/asobrevaloracao-de-julio-cortazar-no-brasil-um-capitulo-denossa-ignorancia-sobre-os-vizinhos/
http://www.releituras.com/jcortazar_menu.asp
http://www.pgletras.uerj.br/palimpsesto/num10/estudos/pal
impsesto10_estudo03.pdf
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http://www.fecilcam.br/nupem/anais_v_epct/PDF/lingui
stica_letras_artes/09_SILVA_LOUREN%C3%87O.pdf
http://escritoriodocentes.educ.ar/datos/460.html
Los funerales de la mamá grande:
http://www.biografiasyvidas.com/reportaje/garcia_marq
uez/funerales.htm
http://www.garciamarquezparatodos.com/index.php?opti
on=com_content&view=article&id=14:los-funerales-de-lamama-grande&catid=13:obras-de-gabo&Itemid=116
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