Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 - www.rbft.com.br Artigos Perfil do trabalhador acidentado atendido pela fisioterapia no Centro de Referência em Reabilitação Anderson Gomes de Freitas em Betim/ MG, no período de outubro de 2004 a outubro de 2005 Aspectos da Biomecânica Ocupacional e Abordagem Preventiva da Fisioterapia Aplicação da planilha RULA em colaboradores de uma unidade de atendimento ao público do governo do Estado de Goiás O perfil dos carteiros dos municípios do Vale do Rio do Sinos e sua percepção de conforto do calçado utilizado durante suas atividades laborais A identificação do estresse em operadores de telemarketing Importância da antropometria para análise e adequação de um posto de trabalho específico Ginástica laboral para operador de telemarketing: Beneficios relacionados a dor e estilo de vida Programa de Ginástica Laboral no setor administrativo da Prefeitura Municipal de Nova Mutum Frequência de lombalgia em trabalhadores da construção civil num canteiro de obras em Salvador / Bahia Termografia pericial Ginástica laboral e envelhecimento: revisão sistemática Matérias Dia Mundial e Nacional Sobre Segurança e Saúde no Trabalho Estariam as LER/DORT superadas?A Atuação do Profissional Fisioterapeuta nas Constatações de Incapacidade Física e de Nexo de Causalidade Até quando teremos que aguentar??? É hora da virada! Empresa no Paraná premia funcionários que cuidam da saúde Fisioterapeuta recebe comenda pelos feitos aos Fisioterapeutas do Trabalho Sentença a favor de Fisioterapeuta Entrevista Dr. Ricardo Wallace das Chagas Lucas PRODUTO COM ESTUDO CIENTÍFICO Cinturões Benefícios das cintas lombares Reduz a força sobre a coluna vertebral. Restringe o movimento de flexão anterior do tronco. Restringe a flexão lateral. Restringe a rotação do tronco. Disco Vertebra L5 Vertebra S1 Nervos Cintas lombares aumentam a rigidez do tronco e assim reduzem a exigência de forças musculares, aumentam a eficácia da pressão abdominal e aliviam as forças sobre as cavidades de movimentos dorsais e restringem a mobilidade do tronco e assim forçam o indivíduo a assumir uma postura correta durante o levantamento e manuseio de cargas. 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Nossa missão, após a publicação de quase 40 artigos científicos e entrevistas importantes para quem atua ou deseja atuar na saúde ocupacional, é permanecer como o maior publicador de artigos científicos de fisioterapia do trabalho, integrar os conceitos, esclarecer atuações e demonstrar novos cenários e perspectivas de atuação. Nessa edição, a de número três, trazemos 13 artigos, além de entrevistas importantes com o presidente da ABFF – Associação Brasileira de Fisioterapia Forense, Dr. Ricardo Wallace das Chagas Lucas e dois outros fisiotera- peutas peritos, que comentam as vitórias no segmento. A fisioterapia forense demanda de esclarecimentos, já que muitos pensavam ser ela domínio exclusivo de nossa classe, o que certamente não é. Confiram na matéria. A partir de agora, nossa publicações serão sempre nos meses de outubro – fevereiro – maio – agosto , totalizando 4 edições por ano. Esperamos em breve poder ter nossa primeira edição impressa, mas continuaremos com a plataforma online para os assinantes, onde podem participar de fóruns, debater os artigos, interagir com os outros quase 200 assinantes. Em outubro desse ano, os artigos publicados serão reeditados para a publicação do livro “Cenários e Perspectivas de Atuação em Fisioterapia do Trabalho”. Aguardem e boa leitura. Saudações Prevencionistas, Paz e Bem, Prof. Henrique Alves CREFITO 83.121 www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 3 A Revista Brasileira de Fisioterapia do Trabalho é um periódico técnico científico voltado à atualização acadêmica e profissional nas áreas relacionadas com a saúde do trabalhador, ergonomia e higiene ocupacional. | EXPEDIENTE Editor: José Henrique Alves: CREFITO2 29.121F É dirigida a todos os atores sociais com ela envolvidos: fornecedores de equipamentos, empresas de cursos, clínicas, acadêmicos, profissionais e clientes. [email protected] Editoração: Dirley Iglesias (e-vix Comunicação) [email protected] Impressão: Walprint Gráfica e Editora | ÍNDICE (21) 22091717 Conselho Editorial: ARTIGOS Perfil de Dor e Desconforto Muscular em Fisioterapeutas que Atuam em Fisioterapia Aquática Faça você parte do conselho editorial da Revista Brasileira de Fisioterapeuta do Trabalho. 06 Estudo da relação entre a sobrecarga de uso de membros superiores e as queixas de dor e desconforto nos trabalhadores de uma empresa do segmento elétrico/mecânico/agroindustrial de Panambi/RS 10 Projeto de ergonomia análise ergonômica da substituição efetiva das baixelas de alimentação para pacientes no hospital ana costa da cidade de Santos Perfil do trabalhador acidentado atendido pela fisioterapia no Centro de Referência em Reabilitação Anderson Gomes de Freitas em Betim/ MG, no período de outubro de 2004 a outubro de 2005 16 26 Aspectos da Biomecânica Ocupacional e Abordagem Preventiva da Fisioterapia 32 Aplicação da planilha RULA em colaboradores de uma unidade de atendimento ao público do governo do Estado de Goiás 38 O perfil dos carteiros dos municípios do Vale do Rio do Sinos e sua percepção de conforto do calçado utilizado durante suas atividades laborais 42 Mande um e-mail para: [email protected] MATÉRIAS Dia Mundial e Nacional Sobre Segurança e Saúde no Trabalho 93 Estariam as LER/DORT superadas? 94 A Atuação do Profissional Fisioterapeuta nas Constatações de Incapacidade Física e de Nexo de Causalidade 98 48 56 Até quando teremos que aguentar??? 100 É hora da virada! 100 60 68 74 Empresa no Paraná premia funcionários que cuidam da saúde 102 Fisioterapeuta recebe comenda pelos feitos aos Fisioterapeutas do Trabalho 102 RELATO HISTÓRICO: A Fisioterapia do Trabalho Mostra sua Força 103 Termografia pericial 82 Sentença a favor de Fisioterapeuta 104 Ginástica laboral e envelhecimento: revisão sistemática 88 Entrevista Dr. Ricardo Wallace das Chagas Lucas 105 A identificação do estresse em operadores de telemarketing Importância da antropometria para análise e adequação de um posto de trabalho específico Ginástica laboral para operador de telemarketing: Beneficios relacionados a dor e estilo de vida Programa de Ginástica Laboral no setor administrativo da Prefeitura Municipal de Nova Mutum Frequência de lombalgia em trabalhadores da construção civil num canteiro de obras em Salvador / Bahia 4 www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Outubro de 2010 EGROUP SESMT PREVENIR ACIDENTES É UM ATO DE CIDADANIA Fundado em 08 de janeiro de 2001 XVIII ENCONTRO PRESENCIAL DO GRUPO SESMT São Paulo, 12 de agosto de 2011 http://br.groups.yahoo.com/group/sesmt/ www.conscienciaprevencionista.com.br 1 Perfil de Dor e Desconforto Muscular em Fisioterapeutas que Atuam em Fisioterapia Aquática Artigo de Revisão Bibliográfica Autores: Helfensteller, V.* ; Striebel, V.L.** Data da última atualização: 01/01/2006 Data de envio para Revista FisioBrasil : 20/01/2006 E-mail para correspondência: [email protected] * Aluna do curso de fisioterapia do Centro Universitário Metodista IPA – Porto Alegre, RS ** Profª do curso de fisioterapia do Centro Universitário Metodista IPA – Porto Alegre, RS Resumo Objetivos: descrever, embasado em pesquisas prévias, o perfil de dor e desconforto muscular de fisioterapeutas e questionar, já que nenhuma pesquisa foi encontrada com esta relação, qual seria o efeito da água, como meio de trabalho influenciando neste perfil, na rotina e ambiente de trabalho destes profissionais que atuam na área de fisioterapia aquática. Métodos: foi pesquisado, a partir de banco de dados da CAPES e busca por artigos originais ou de revisão que constassem as palavras chaves. A partir destes dados foi feita uma revisão. Resultados e Discussão: a incidência de doenças ortopédicas relacionadas ao trabalho em fisioterapeutas é grande, de 85% a 91%. As áreas mais atingidas são coluna lombar, mãos e punhos, coluna cervical, pescoço e ombros. Os fisioterapeutas que atuam em fisioterapia aquática estão expostos a tensões estáticas musculares para a manutenção do equilíbrio a fim de poder se realizar trabalho resistidos e isométricos com seus membros superiores. Esta situação seria um fator determinante de dor nestes profissionais. Conclusão: a fisioterapia é uma profissão bastante desgastante que exige muita força muscular e posturas diferentes e cansativas. Isto gera, em todas as especialidades desta profissão, uma queixa significativa de doenças ocupacionais. É sugerida futura pesquisa a fim de se determinar se a água, como meio de trabalho na fisioterapia aquática, teria influências sobre estas queixas se comparadas a de fisioterapeutas que trabalham com outras especialidades. Palavras-chave: fisioterapeutas, perfil de dor, doenças relacionadas ao trabalho, prevalência em fisioterapeutas, ergonomia. Perfil de Dor e Desconforto Muscular em Fisioterapeutas que Atuam em Fisioterapia Aquática Introdução Diversos estudos têm comprovado altas incidências de desordens musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho em fisioterapeutas que atuam em diversas áreas. Porém, nenhuma pesquisa foi encontrada envolvendo o trabalho na fisioterapia aquática. Surge então o interesse em analisar se a água, como meio de trabalho neste caso, teria influência sobre as queixas de dor / desconforto muscular do fisioterapeuta que atua em fisioterapia aquática e relacionar com as queixas e achados de fisioterapeutas que atuam em outras áreas. A água poderia ser um fator de aumento destas desordens, considerando que a mesma exige do fisioterapeuta que trabalhe apenas em ortostase e com os braços elevados, realizando o trabalho todo nesta posição, exigindo da musculatura dorsal alta, escapular, cervical, peitoral e de membros superiores uma carga estática e isométrica capaz de provocar dores. Por outro lado, sabe-se que o meio aquático é relaxante, alivia o estresse e pode ter efeito sedativo, além de proporcionar um ambiente diferente do trabalho fisioterapêutico hospitalar ou clínico. Este estudo tem por objetivo investigar e revisar as doenças ortopédicas relacionadas ao trabalho, bem como queixas de dor e demais queixas relevantes sobre o trabalho do fisioterapeuta em diversas áreas a fim de se sugerir, através da revisão de princípios de fisioterapia aquática, uma possível relação entre estas áreas. Métodos Este estudo se caracteriza por ser uma pesquisa de revisão bibliográfica. Todos os dados foram retirados de artigos e bibliografia recente (1989 – 2005). Os mesmos foram extraídos de periódicos da CAPES ou em busca manual em revistas científicas, buscando por artigos originais ou de revisão que constassem as palavras perfil de fisioterapeutas, doenças ocupacionais em fisioterapeutas, queixas de dor em fisioterapeutas, fisioterapia aquática, dor em fisioterapeuta ou hidroterapia. Após a análise destes, foi feita uma revisão traçando relações entre doenças ocupacionais em fisioterapeutas e hidroterapia. Resultados e Discussão O uso da água como um meio de cura data de muitos séculos, embora o seu uso original não coincida exatamente com a nossa percepção presente do seu uso para finalidades de reabilitação. Não foi senão na última parte dos anos de 1890 que a reabilitação aquática passou de uma modalidade passiva para uma que envolvia a participação ativa do paciente (RUOTI et al., 1997). Através de toda a história, o nome empregado para denotar o conceito do uso da água para finalidades de cura e reabilitação mudou muitas vezes. Alguns desses “títulos” foram usados como sinônimos: hidroterapia, hidrologia, hidrática, hidroginástica, terapia pela água, terapêutica pela água e www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 exercício na água. Os termos mais comumente usados hoje em dia são “reabilitação aquática” ou “fisioterapia aquática” (RUOTI et al., 1997). A unicidade da água está principalmente no seu empuxo, que alivia o estresse sobre as articulações sustentadoras de peso e permite que se realize movimentos em forças gravitacionais reduzidas; dessa forma, as atividades que não sustentam peso podem ser iniciadas antes mesmo de serem possíveis no solo (CAMPION, 2000). A expansão do uso da hidroterapia está evidenciada pela proliferação de novas dependências e programas de hidroterapia. Embora tradicionalmente a hidroterapia fosse utilizada no tratamento do deficiente físico e mental e basicamente nos problemas neurológicos, ela agora está sendo usada basicamente nos problemas de controle da dor crônica, no tratamento de pacientes pós mastectomia, na reabilitação cardíaca, e cada vez mais no meio ortopédico (KOURY, 2000). A medicina esportiva, o condicionamento físico, a artroplastia articular e os programas de reabilitação da coluna estão entre as muitas áreas da ortopedia nas quais a hidroterapia pode promover a pronta restauração da função. A hidroterapia é benéfica quando se deseja pouca ou nenhuma sustentação de peso ou quando há inflamação, dor, retração e espasmo muscular e limitação da amplitude de movimento (ADM), que podem de maneira isolada ou conjunta diminuir a função normal. A hidroterapia também é uma opção para pacientes que estejam incapacitados de realizar exercícios no solo em razão de cirurgia recente, lesão neuromuscular ou ortopédica aguda, doença reumatológica ou deficiência neurológica. A água proporciona um ambiente controlável para a reeducação de músculos enfraquecidos e desenvolvimento de habilidades (KOURY, 2000). Como parte da equipe de reabilitação interdisciplinar, o fisioterapeuta, segundo Bates e Hanson, (1998), tem o papel de avaliar o paciente e decidir os detalhes do tratamento e traçará os objetivos a serem alcançados com o paciente. O hidroterapeuta deve ter conhecimento das alterações avaliadas, cuidados com a prática da hidroterapia e conhecimento dos métodos a serem utilizados para que com isso, consiga alcançar seus objetivos de reabilitação e ou adaptação funcional do paciente. De uma forma geral, estudos comprovam que a incidência de doenças ocupacionais nos trabalhadores da saúde é alta e que, atividades que envolvem contato com paciente estão mais relacionadas com estas doenças nos profissionais da área da saúde (HOLDER et al., 1999). Segundo Holder et al., (1999) e Hignett, (1995), a prática da fisioterapia requer a performance de muitas tarefas laborais intensas relacionadas aos cuidados com o paciente. Da mesma forma, segundo um estudo de Glover, (2002), os fisioterapeutas estão suscetíveis às desordens musculoesqueléticas em razão da natureza de seu trabalho, que pode ser repetitivo e intenso. Sendo assim, confirmando a pesquisa de Scholey, (1989), a fisioterapia é uma profissão estressante em termos de presença de fatores ocupacionais associados a dor. Bork et al., (1995) e Scholey & Hair observaram que o co- 7 Perfil de Dor e Desconforto Muscular em Fisioterapeutas que Atuam em Fisioterapia Aquática nhecimento dos fisioterapeutas não garante a eles imunidade de Desordens Musculoesqueléticas Relacionadas ao Trabalho (DMRT). Uma inaceitável ironia se dá quando os fisioterapeutas estão acostumados a tratar doenças musculoesqueléticas e estes são vulneráveis a este mesmo tipo de doença. Muitos fisioterapeutas têm ou já tiveram contato com Desordens Musculoesqueléticas Relacionadas ao Trabalho (DMRT) neles mesmos (BORK et al., 1995). A importância dessas desordens para a profissão de fisioterapeuta foi indicada por Cromie et al., (2000), mostrando que 1 em 6 fisioterapeutas australianos trabalhando em todas as áreas de fisioterapia fizeram uma mudança da área de carreira em conseqüência dessas doenças. Holder et al., (1999), relatam que o tipo mais comum de doença mencionada por fisioterapeutas foi a tensão muscular e 70% daqueles que afirmavam ter doença musculoesquelética relacionada ao trabalho afirmaram que seus sintomas exacerbavam com a prática clínica. O profissional que trabalha imerso na água, neste caso, talvez estivesse menos exposto a estas tensões musculares porque, como citado anteriormente, o simples fato de se estar em um ambiente com água aquecida, já ocorre um relaxamento, alívio da dor e espasmos musculares (CAMPION,2000). Embora muitos autores têm relatado a prevalência de dor lombar relacionada ao trabalho em fisioterapeutas (GLOVER, 1995; HAIR, 1989), a prevalência de desordens em outras áreas anatômicas não tem sido investigada em uma escala ampla. Os três fatores de risco primordiais que têm sido associados a DMRT são movimentos repetitivos, má posturas e altos níveis de força. Os fisioterapeutas podem também rotineiramente realizar atividades como transferência de pacientes dependentes, dar assistência na marcha destes, promover resistência manual, etc. Estas tarefas colocam os terapeutas em risco para tanto desordens agudas como acumulativas (BORK et al., 1995). No trabalho com fisioterapia aquática existe a técnica de Bad Ragaz, que é muito conhecida e utilizada, utilizando-se exercícios resistidos manualmente pelo fisioterapeuta. O paciente é mantido deitado sobre a água com auxílio de flutuadores e o profissional tenta estabilizar-se em pé dentro d’água a fim de proporcionar esta resistência manual adequada no paciente (RUOTI et al., 1997). Esta carga estática exigida para se manter o equilíbrio necessário para a manutenção desta postura exige bastante da musculatura de todo o corpo do terapeuta pela sucessão ascendente de desequilíbrios controlados pela musculatura tônica (BIENFAIT, 1993). Portanto, não apenas este trabalho com tensão estática geral mas também a força isométrica da musculatura de tronco superior e membros superiores (na maioria das vezes em elevação) é necessária para aplicar a resistência específica e podem gerar lesões musculares por manutenção da contração muscular. Cromie et al. (1999) mostrou que a prevalência de DMRT era de 91% nos fisioterapeutas entrevistados enquanto Özcan et al., (2004), encontrou esta prevalência em 85% dos profissionais da Turquia e Molumphy et al. (1985) achou que a maioria dos fisioterapeutas tinham o primeiro episódio de 8 dor lombar ocupacional nos primeiros quatro anos trabalhando como fisioterapeuta, assim como relatou Cromie et al., (2000), que a maioria dos pesquisadores concordam que os primeiros episódios das desordens ocorriam nos primeiros anos de prática ou entre fisioterapeutas jovens. As maiores prevalências de DMRT dados pelo estudo de Bork et al., (1995), foram nas seguintes áreas anatômicas: região baixa da coluna (45%), pulso/mãos (29,6%), região alta da coluna (28,7%) e pescoço (24,7%). De forma semelhante, Özcan et al., (2004) encontrou que estas lesões, em fisioterapeutas da Turquia ocorriam na maioria em coluna lombar (26%), mãos e punhos (18%), ombros (14%) e pescoço (12%). Não acham-se relatos a respeito dessas desordens especificamente relacionadas ao fisioterapeuta que atua em fisioterapia aquática, mas sabe-se que além das atividades e tarefas que estes executam seguirem basicamente os mesmos princípios da fisioterapia convencional, Campion, (2000), refere que o ambiente em que se realizam as atividades aquáticas possui uma relação considerável com todos os usuários da piscina e que os principais fatores a serem considerados são: design e dimensões da piscina; tipo, formato, profundidade, piso e entrada; temperaturas e ventilação; equipamentos; instalações, etc. que precisariam também ser analisados e comparados com o aumento ou diminuição de queixas de dor. Quando se considerar a profundidade da piscina, é importante levar em conta o equilíbrio vertical do usuário: o nível de dois terços da altura de uma pessoa, o que corresponde à extremidade distal do externo, torna o equilíbrio vertical decisivo. Nesse ponto neutro de flutuabilidade é possível estabilizar o corpo. Sugere-se que a profundidade ideal é aquela que varia de 0,84m até 1,42m (CAMPION, 2000). A temperatura da água estabelece o tom da sessão da piscina. A água aquecida estimula o relaxamento; temperaturas mais baixas são revigorantes. Há pouco concenso sobre a temperatura apropriada da água para hidroterapia (KOURY, 2000). Skinner & Thompson (1983) defenderam uma média entre 35,5ºC e 36,6ºC. Enquanto a aceitação de tais temperaturas irá variar de acordo com as diferentes doenças tratadas e de acordo com os fatores ambientais locais, Bolton & Goodwin, (1974), sugeriram que a temperatura da água deve estar entre 34,4ºC e 37,8ºC. O trabalho de Finnerty & Corbitt (1960) mostra que a temperatura de 33,3ºC é neutra e possui efeito sedativo. Whitelock & Barefoot (1993) afirmam que a água da piscina deve ser aquecida a uma temperatura entre 32ºC e 35ºC, mas não superior a esse valor (CAMPION, 2000). Para o fisioterapeuta, altas temperaturas de água diminuem a habilidade de realizar tratamentos efetivos e diminuem o tempo de permanência dentro da água. É aconselhado dividir em sessões o tempo passado dentro da água. Skinner & Thomson, (1983), sugerem que o tempo adequado para a recuperação de uma sessão de uma hora e meia é de vinte a trinta minutos. Individualmente, os fisioterapeutas possuem reações variadas à água e à sua temperatura, mas nenhuma pessoa deve permanecer períodos mais longos na água do que aqueles citados anteriormente. Quando a temperatura da água for alta, o que significa acima de 35ºC, e www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Perfil de Dor e Desconforto Muscular em Fisioterapeutas que Atuam em Fisioterapia Aquática caso o fisioterapeuta permaneça mais que duas horas por dia na água, pode haver o desenvolvimento de fadiga e cansaço (CAMPION, 2000). Comprovou-se no estudo de Pivetta et al., (2005), que o acometimento de distúrbios ortopédicos relacionados ao trabalho em fisioterapeutas aumenta progressivamente com o aumento da carga horária de trabalho. Conclusão Pode-se concluir, com esta revisão da literatura atual, que a prática da fisioterapia e sua especialização crescente gera problemas musculoesqueléticos e a maneira como o fisioterapeuta trabalha (desde tempo de profissão, jornada de trabalho, especialidade,área que mais atua) está intimamente ligada com a sua probabilidade de doença. O fisioterapeuta que atua especificamente em fisioterapia aquática, poderia estar relativamente imune a estes tipos de doença por tensão muscular visto que o ambiente aquático aquecido proporciona um relaxamento global e uma diminuição da fadiga e espasmos. Porém, na maioria das vezes, estes profissionais não trabalham apenas nesta área e carregam uma carga de desconforto muscular de outros locais de trabalho. Além disso, a rotina de trabalho em fisioterapia aquática normalmente não tem um intervalo adequado proposto pela literatura, aumentando a probabilidade de fadiga e cansaço. A temperatura da água e profundidade da mesma, influencia na capacidade deste de manter-se equilibrado sem muito esforço e sem promover um aumento da contração muscular geral pela baixa temperatura da água. A carga estática e o trabalho de força isométrica exigido da musculatura de costas altas, peito e membros superiores neste tipo de trabalho é muito alta. Então este é um profissional exposto, supostamente, também às dores e desconfortos musculares laborais. A fim de se estabelecer uma real evidência sobre a influência do meio aquático neste tipo de trabalho e quais as diferenças, se existem, dos profissionais que atuam nesta área com os outros, sugere-se uma pesquisa com a proposta de se investigar o perfil de dor apenas de fisioterapeutas que atuam em fisioterapia aquática e comparar estes dados com os das pesquisa aqui citadas. Como continuação desta revisão de literatura, o estudo sugerido já está em andamento com a proposta citada e de mesma autoria deste artigo. Referências BIENFAIT, Marcel.. Os Desequilíbrios Estáticos. 2ª edição. Summus Editorial. São Paulo, 1993. BORK, Byron E. e col.. Work-Related Musculoskeletal Disorders Among Physical Therapists. Physical Therapy. V.76, n.8, p.827-835, aug.1996. ca. 1.ed. São Paulo: Manole, 1998. SCHOLEY, M. e col.. Back Pain in Physiotherapists Involved in Back Care Education. Ergonomics. V.32, n 2, p. 179-190, 1989. CROMIE, Jean E. e col.. 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Hidroterapia: princípios e prátiwww.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 9 Estudo da relação entre a sobrecarga de uso de membros superiores e as queixas de dor e desconforto nos trabalhadores de uma empresa do segmento elétrico/mecânico/ agroindustrial de Panambi/RS Autoras: Sabrina Dallepiane, Fisioterapeuta, Especialista em Saúde do Trabalhador; Lenita Albuquerque Bauer, Educadora Física, Especialista em Saúde do Trabalhador. Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande Do Sul - Unijuí. Rua São Francisco, 501 CP 560, Bairro São Geraldo, Ijuí/RS 98700-000 Fone: 553332. 0200/ Fax: 3332. 9100. Autora Responsável: Sabrina Dallepiane. Rua Leão Vercelino, n. 105, Bairro Elizabeth. Ijuí/RS. Fone: 553332. 8657. E-mail: [email protected] Estudo desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso do Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Saúde do trabalhador, pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, apresentado em dezembro de 2005. Sabrina Dallepiane1 Lenita Albuquerque Bauer1 Simone Eickhoff Bigolin2 Estudo desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso do Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Saúde do trabalhador 1 Fisioterapeuta/Educadora Física, autoras do estudo 2 Docente do DCSa/Unijuí, orientadora do estudo Resumo Este estudo objetiva investigar a relação entre a sobrecarga de uso de membros superiores e as queixas de dor e desconforto nos trabalhadores da Unidade Polímeros de uma empresa do segmento elétrico/ mecânico/agroindustrial da cidade de Panambi/RS. Baseia-se em uma pesquisa realizada com 7 colaboradores do Setor Injetoras desta Unidade. Os resultados observados quanto a presença de dor foi referida por 86% dos pesquisados, sendo verificado através do Check-list de Couto a existência de três diferentes graus de risco de desenvolvimento de LER/DORT nos trabalhadores desta empresa (moderado, alto e altíssimo risco). Fazendo a relação entre os resultados encontrados, percebe-se que os colaboradores apresentam sintomas de dores musculoesqueléticas devido a sobrecarga das estruturas dos membros superiores. Mediante estas condições, a Fisioterapia e a Educação Física destacam-se como possibilidades para atuar na prevenção, educação em saúde e na reabilitação destes trabalhadores acometidos por alguma forma de dor ou desconforto no cotidiano laboral. Palavras-chave: sobrecarga, membros superiores, dor. Estudo da relação entre a sobrecarga de uso de membros superiores e as queixas de dor e desconforto nos trabalhadores de uma empresa do segmento elétrico/mecânico/agroindustrial de Panambi/RS Introdução A forma e o processo de trabalho vem se modificando nas últimas décadas. Com a industrialização surgiram as novas tecnologias que favoreceram o aprimoramento dos processos produtivos e tornaram as condições de trabalho sensivelmente melhores que antigamente. No entanto, esta nova realidade no mundo do trabalho determina algumas conseqüências, em especial para o trabalhador. Pelo trabalho, a humanidade, ao longo do seu processo de transformação, desenvolveu experiências, conhecimentos e tecnologias que poderiam resolver a maioria dos problemas sociais. Mas, concentrados nas mãos de poucos e instrumentalizados, prioritariamente, em função do capital e do lucro, o conhecimento adquirido acaba por agravar ainda mais alguns problemas, ao invés de resolvê-los. A organização do trabalho na atualidade determina situações como dupla jornada, repouso insuficiente, repetitividade de movimentos, a pressão por qualidade e produção, inadequações no mobiliário, a urgência em executar tarefas, execução de atividades em posturas inadequadas, perda da identidade com o trabalho, além da sobrecarga psicológica, pela preocupação excessiva e as incertezas com relação ao futuro. Todos estes fatores podem provocar alterações, tanto físicas como psicológicas levando ao adoecimento do trabalhador. Desta forma, se o trabalho produz o próprio homem, então ele deve ser o centro de nossa preocupação, pois aquilo que os homens são depende do que e de como produzem sua vida material. Neste contexto, há necessidade de rever os conceitos e as relações entre o homem e seu trabalho para combater essa epidemia que cresce de forma assustadora em quase todos os postos que envolvem o homem em seu papel laborativo. As Lesões por Esforços Repetitivos/ Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/ DORT) são, na atualidade, importantes agravos que perturbam a saúde do trabalhador e a sua capacidade produtiva. Portanto, é preciso chamar a atenção para a relação existente entre a organização do trabalho e as doenças relacionadas a ela. Mesmo que alguns procurem descaracterizar as LER/DORT seja pelo motivo que for, o fato é que ela existe, e acomete milhares de trabalhadores a cada ano. As queixas são inúmeras e os sintomas são diferentes de um trabalhador para outro. Essas patologias musculoesqueléticas costumam ocorrer nos indivíduos na fase mais produtiva de sua vida, e para se obter sucesso no diagnóstico e tratamento, é necessário a análise e eliminação de fatores desencadeadores do quadro, ou seja, é preciso estudar o ambiente do trabalho, a organização do processo de trabalho, as características fisiológicas do trabalhador, a adequação ergonômica, para aplicar medidas corretivas e preventivas. No entanto a eficácia de qualquer medida preventiva depende de sua capacidade em atingir, eliminar ou minimizar os fatores promotores do distúrbio. A realização do componente curricular Vivências Teórico-Práticas na Atenção à Saúde do Trabalhador, da Pós Graduação em Saúde do Trabalhador, oportunizou uma visita a uma empresa do setor metal-mecânico, na cidade de Panambi. Esta visita chamou atenção para o seu processo fabril, o qual instigou a realização desta pesquisa. Assim, o presente www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 estudo busca relacionar a sobrecarga de uso de membros superiores coma as queixas de dor e desconforto nos trabalhadores da Unidade Polímeros do Setor Injetoras de uma empresa do segmento elétrico/mecânico/agroindustrial. A avaliação do risco de desenvolvimento de lesões de membros superiores é uma ação pertinente e relevante pois o profissional envolvido na prevenção pode avaliar e quantificar determinada situação e atuar preventivamente, priorizando as soluções a serem adotadas. Torna-se importante também esta avaliação para a definição do nexo causal com o trabalho e por fim, em processos periciais de indenização pelo dano, para se verificar se a condição de trabalho pode ter sido/ não deve ter sido a causadora de determinada lesão (COUTO, 1998, p. 299). Apresentaremos a seguir a metodologia utilizada na pesquisa, bem como os resultados encontrados com a aplicação do Diagrama de Dor e Desconforto e do Check-list de Couto. A análise aconteceu através do cruzamento dos diversos dados obtidos com o questionário aplicado, relacionando-se os mesmos e discutindo sobre os resultados, com o auxílio de literaturas sobre o assunto. Para melhor visualização e compreensão, os dados são apresentados através de tabelas e gráficos. Material e Métodos O estudo foi realizado na Unidade Polímeros, Setor Injetoras, de uma empresa do segmento elétrico/mecânico/ agroindustrial da cidade de Panambi/RS. Participaram deste estudo 07 trabalhadores, sendo 03 do gênero feminino e 04 do gênero masculino, com idade média de 28,85 10,94. Estes colaboradores atuam no chão de fábrica da Unidade Polímeros da linha de produção de identificadores para rastreabilidade de animais. O tamanho da amostra representa o total de colaboradores do setor estudado, sendo que o mesmo foi escolhido pelo seu trabalho diferenciado dentro da unidade. Esta Unidade conta com 60 colaboradores, destes, 20 realizam atividades de escritório e 40 trabalham no chão de fábrica, desempenham suas atividades em máquinas injetoras, máquinas laser e hot stamping. Para a coleta de dados foram utilizados três instrumentos de pesquisa: uma Anamnese Clínico-Ocupacional, o Diagrama de Dor e Desconforto das partes do corpo e o Check-list de Couto. A anamnese foi elaborada pelas pesquisadoras, com questões fechadas. O Diagrama de Desconforto foi preenchido pelo trabalhador, sendo que o critério de pesquisa permitia que este apontasse mais de uma opção. O uso de check-list tem sido uma ferramentas muito utilizada na avaliação do risco de LER/DORT. O check-list tem duas grandes vantagens: a de possibilitar que todos os pontos importantes de uma análise de trabalho sejam vistos, evitando-se a omissão de algum aspecto, geralmente existente nas análises qualitativas; e possibilitar o mapeamento rápido da empresa, obtendo-se assim uma espécie de visão panorâmica do risco de lesões de membros superiores dos diversos postos e tarefas ali existentes. (COUTO, 1998, p. 305). O check-list de Couto avalia 6 itens relacionados ao ambiente de trabalho: (1) sobrecarga física; (2) força com as mãos; (3) postura no trabalho; (4) posto de trabalho; (5) repetitividade e organização do trabalho; (6) ferramenta de 11 Estudo da relação entre a sobrecarga de uso de membros superiores e as queixas de dor e desconforto nos trabalhadores de uma empresa do segmento elétrico/mecânico/agroindustrial de Panambi/RS trabalho. Os colaboradores foram convidados a participar da pesquisa, sendo explicitado o propósito da mesma e a concordância com a participação no estudo foi formalizada com a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Após realizou-se a anamnese clínico-ocupacional e o preenchimento do diagrama de dor e desconforto das partes do corpo. Na seqüência, as pesquisadoras observaram os trabalhadores em suas funções para o preenchimento do check-list. Através destas observações percebeu-se que neste setor da indústria havia quatro tipos diferentes de máquinas injetoras. Assim foi realizado a avaliação pelo check-list nas quatro máquinas, pois existiam diferenças no modo operacional entre elas. Análise e discussão dos resultados O grupo pesquisado realiza sua atividade laboral em máquinas injetoras, num total de sete máquinas, ou seja, uma máquina para cada trabalhador. A empresa possui aproximadamente 800 colaboradores, distribuídos por unidades de atividades diferentes entre si. Observa-se que do universo de 7 colaboradores pesquisados, 4 são do sexo masculino (57,1%) e 3 do sexo feminino (42,8%), com idade variando entre 19 e 45 anos. O turno de trabalho dos participantes é manhã e tarde, sendo sua carga horária semanal de 44 horas e o seu tempo de trabalho na empresa varia entre 2 e 5 anos. Os resultados do diagrama de desconforto das partes do corpo apontam que os processos dolorosos são freqüentes, envolvendo quase a totalidade dos pesquisados. Deste grupo de trabalhadores, 6 (86%) sentem dores, e somente 1 (14%) não sente dor. Os dados superam o que Dias (apud CAÑETE, 2001, p. 64) afirma com relação aos trabalhadores em geral, em que “um terço das pessoas sempre sente dor e trabalha com dor”. Com relação à localização da dor, pode-se observar que a maior prevalência está na coluna cervical, indicada por 5 (83,3%) dos colaboradores que sentem dor, seguida da lombar 4 (66,6%), braços 4 (66,6%), coluna torácica 3 (50%), ombros 2 (33,3%) e tornozelos, 2 (33,3%). Destaca-se pela análise destes dados que os trabalhadores apresentam dor em mais de uma região do corpo. As LER/DORT atingem principalmente a região cervical, escapular e membros superiores, isto porque são as regiões mais sobrecarregadas durante o desempenho de uma atividade, seja ela na posição sentada ou em pé. (NASCIMENTO E MORAES, 2000). Percebe-se que há prevalência de dor forte entre as mulheres (100%), sendo que um homem indicou sentir dor forte (25%). Nos homens a maior prevalência é de dor moderada (50%). Salienta-se que um homem (25%) refere não sentir dor. Segundo Nascimento e Moraes (2000), as LER/DORT atingem ambos os sexos em variada faixa etária, porém sua maior incidência é nas mulheres, na fase profissional mais produtiva. Alguns fatores podem desencadear o processo, como o somatório das tarefas do lar mais profissão (dupla jornada de trabalho), os postos de trabalho são projetados e 12 baseados nos padrões masculinos, e sabe-se que as mulheres são cerca de 12 centímetros menores que os homens. A resistência muscular da mulher é equivalente a 70% do homem em quesito força, outro fator importante é a queda do nível do hormônio progesterona em seu ciclo menstrual, podendo desencadear irritabilidade, tensão, depressão, dores, entre outros sintomas. Isto porém, não pode ser usado como fator discriminante, porque esses sintomas são fisiológicos, ou seja, fazem parte da natureza da mulher. O check-list de Couto, usado na presente pesquisa tem como objetivo a avaliação simplificada do risco de tenossinovites e distúrbios musculoesqueléticos de membros superiores relacionados ao trabalho. Foram observadas 4 tipos diferentes de máquinas injetoras e conseqüentemente, diferentes exigências ao trabalhador. Assim foram aplicados 4 check-lists, um para cada tipo de injetora. O primeiro item observado na análise do ambiente de trabalho foi a sobrecarga física. A sobrecarga física sofrida pelos trabalhadores do setor injetoras está diretamente relacionada a inexistência de pausas para descanso durante os ciclos ou por hora de trabalho. Os colaboradores executam por quatro horas seguidas a mesma função, e com a mudança de turno, há o rodízio de tarefas, mas destaca-se que as tarefas são muito semelhantes, todas exigindo demasiadamente dos membros superiores. As pausas durante a jornada de trabalho são extremamente importantes para a recuperação do músculo fadigado, e consequentemente para a eficiência e eficácia do desempenho de sua função. Durante a realização de um esforço físico, a existência de uma pausa ajuda a prevenir lesões por três motivos: a) durante a pausa, se estiver havendo um esforço muscular estático, com produção de ácido lático, haverá o fluxo normal de sangue que irá “lavar” o ácido lático do músculo, prevenindo possíveis lesões; b) durante a pausa, se estiver havendo alta repetitividade de um mesmo movimento, haverá o tempo suficiente para que os tendões voltem a sua estrutura natural, uma vez que eles são viscoelásticos, e demoram um certo tempo a readquirirem a conformação natural; c) durante a pausa ocorre a lubrificação dos tendões pelo líquido sinovial ( uma espécie de óleo existente entre o tendão e sua bainha sinovial), evitando-se, assim, o atrito entre as duas estruturas (COUTO, 1998, p. 69). Os membros superiores dos trabalhadores com funções que exigem alta repetitividade de movimentos, com a ausência de pausas são altamente propensos a lesões. A preservação da integridade ou lesão dos tecidos irá depender da possibilidade dos mecanismos de reparação compensarem a velocidade dos mecanismos de lesão. O emprego de força com as mãos na realização das atividades foi o segundo item a ser analisado. O trabalho nas máquinas injetoras exige muito dos membros superiores, além dos movimentos repetitivos, o uso de força é bastante freqüente durante os ciclos de trabalho. Aparentemente as mãos fazem muita força, para apertar botões, teclas ou componentes, para montar ou inserir ou para exercer compressão digital. Segundo Couto (1998), força excessiva, alta repetitividade www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Estudo da relação entre a sobrecarga de uso de membros superiores e as queixas de dor e desconforto nos trabalhadores de uma empresa do segmento elétrico/mecânico/agroindustrial de Panambi/RS de um mesmo padrão de movimento e postura incorreta são importantes fatores determinantes de sofrimento ao sistema musculoesquelético. Existe, porém, uma predominância de algum dos fatores sobre os outros, dependendo da área dos membros superiores. Assim, as disfunções da coluna cervical e da cintura escapular decorrem da má postura, do esforço excessivo e da repetitividade. Na origem das lesões de ombro, repetitividade e má postura são os fatores predominantes, enquanto que a força não se mostra importante; já pra os cotovelos, o fator crítico é a força excessiva – é bem conhecida a relação direta de esforço físico com epicondilite. Para o desenvolvimento das tendinites e tenossinovites de punho, os três fatores, força excessiva, alta repetitividade e posturas incorretas mostram-se importantes. Com relação a postura adotada pelos colaboradores durante a execução de suas funções, terceiro item avaliado, alguns fatores chamaram a atenção. O esforço estático da mão ou do antebraço, bem como do braço e do pescoço é evidenciado na execução de alguns movimentos por tempo bastante prolongado. Segundo Nascimento e Moraes (2000), o esforço estático exige a contração constante de grupos musculares durante a manutenção da postura, levando a um débito circulatório pelo aumento da pressão interna, o que provoca uma diminuição do calibre do capilar, conseqüentemente o sangue deixa de circular nos músculos contraídos, o que os fadiga rapidamente. Quando os movimentos das mãos exigem ainda alta demanda de força e de precisão, como é o caso dos trabalhadores pesquisados, o esforço estático se torna ainda maior. A maioria dos autores usa o termo “estático” para contrações que durem de trinta a sessenta segundos (COUTO, 1998). Conforme o mesmo autor, tanto as sobrecargas estáticas como as dinâmicas, contribuem para a instalação das lesões tendíneas. Alem do trabalho estático foi observada a realização de movimentos de abdução do braço acima de 45 graus e elevação do mesmo acima do nível dos ombros. Qualquer movimento dos membros superiores acima do nível dos ombros deve ser evitado, bem como os movimentos de extensão dessa região, pois essas situações exigem demasiadamente dos músculos ao redor da cintura escapular, ocasionando fadiga e favorecendo o aparecimento de sintomas álgicos. Preferencialmente, a amplitude de movimento do ombro durante a realização de atividades laborais deve ser neutra, permanecendo próximo ao eixo vertical do corpo. A movimentação do membro superior com o ombro abduzido entre 8 e 23 graus, cotovelo ao redor de 90 graus e antebraço e punho em posições neutras, possibilitam melhor desempenho para atividades manuais que exijam velocidade de execução (Grandjean apud DELIBERATO, 1988, p. 141). O trabalho estático, associado a movimentos de elevação e abdução de braços, é responsável pela incidência de patologias do ombro e coluna cervical, devendo ser, quando possível, evitados ou compensados com pausas e alongamentos. O quarto item observado foi o posto de trabalho, se o mesmo permitia flexibilidade quanto ao posicionamento www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 de dispositivos, componentes e ferramentas e se estava adequado ao trabalhador. Sabe-se que fatores do posto de trabalho influenciam no aparecimento de doenças e podem gerar desconforto ao trabalhador. O posto deve ser planejado de tal forma que permita uma boa postura durante o desenvolvimento da atividade e que a movimentação necessária seja realizada sem uma excessiva movimentação do corpo. Nesta observação evidenciou-se que a altura dos postos de trabalho do setor avaliado não são reguláveis, ou seja, não se adapta a individualidade fisiológica de cada trabalhador. Segundo Codo e Almeida (1995), a altura do posto de trabalho tem um impacto muito grande sobre o desempenho do trabalho e o aparecimento de problemas musculoesqueléticos. Se o plano de trabalho estiver muito elevado, os braços ficam posicionados muito longe do corpo e os ombros ficam levantados, isto pode causar dores nos ombros e cervical. Se o plano de trabalho estiver muito baixo o trabalhador tem que se curvar para realizar a atividade, o que pode causar dores na cervical e nas costas. A altura ideal do posto de trabalho depende principalmente da altura do cotovelo do trabalhador e da natureza da atividade realizada. Atividades que exigem aplicação de forças requerem um plano de trabalho mais baixo, atividades de manipulação fina requerem que o plano de trabalho esteja bem próximo da altura do cotovelo. Muitas vezes projetos inadequados de máquinas, acentos ou bancadas de trabalho obrigam o trabalhador a usar posturas inadequadas que, mantidas por muito tempo, podem provocar fortes dores localizadas naquele conjunto de músculos solicitados para a conservação dessas posturas. Outro item analisado foi a repetitividade e organização do trabalho, em que foi observado que os ciclos de trabalho são menores do que 30 segundos, percebendo-se sinais de estar o colaborador com o tempo apertado pra realizar a sua tarefa. Conforme Codo e Almeida (1995), trabalhos em que o ciclo de tempo é menor que 30 segundos ou onde mais de 50% do ciclo de tempo corresponde ao mesmo tipo de ciclo fundamental são classificados como de alta repetitividade. Nesta unidade avaliada o rodízio de funções ocorre de quatro em quatro horas. O objetivo de rotacionar os trabalhadores de uma tarefa para outra é reduzir a duração da exposição de um determinado trabalhador a uma única atividade que requer movimentos repetitivos de mãos e braços, posturas desconfortáveis ou aplicação de força. O último item a ser observado está relacionado as ferramentas de trabalho, que no setor pesquisado são muito pouco utilizadas, não fazendo parte da rotina das funções. Após a observação do trabalhador e sua função nas máquinas injetoras e análise dos seis itens do check-list de Couto, verificamos a existência de três diferentes graus de risco de desenvolvimento de lesões de membros superiores nos trabalhadores desta empresa. As máquinas 1 e 3 apresentam risco moderado de LER/ DORT, a máquina 2 apresenta alto risco e a máquina 4 altíssimo risco. Nas máquinas 1 e 3 o processo de trabalho é praticamente automatizado, com menor exigência de força e de repetitividade de movimentos, tendo os colaboradores 13 Estudo da relação entre a sobrecarga de uso de membros superiores e as queixas de dor e desconforto nos trabalhadores de uma empresa do segmento elétrico/mecânico/agroindustrial de Panambi/RS maior flexibilidade para a realização de suas tarefas. Na máquina injetora 2 o risco é moderado pois exige demasiada força com as mãos, seu ciclo de trabalho menor, e assim menor flexibilidade ao colaborador. Além disso, as funções exigem contração muscular estática, com movimentos de rotação de tronco e abdução de braço. A máquina injetora 4 é a que apresenta altíssimo risco de desenvolvimento de lesões, pois além dos riscos citados acima, não há rodízio de tarefas nessa máquina, ou seja, um único trabalhador realiza a mesma atividade durante 8 horas diárias, além do trabalho exigir força com as mãos, com movimentos de preensão e pinça. Fazendo a relação dos resultados do diagrama de dor e desconforto com os resultados do check-list percebeu-se que os colaboradores apresentam sintomas de dores musculoesqueléticas devido a sobrecarga das estruturas dos membros superiores. Os resultados evidenciados pelo check-list, apontam a possibilidade dos colaboradores desenvolverem LER/DORT pois as funções exercidas no setor injetoras exigem demasiadamente da musculatura do trabalhador. Considerações finais Com a evolução do processo de trabalho, as atividades de força, foram substituídas pela automatização. A mesma trouxe a diminuição do esforço físico intenso, mas aumentou o trabalho repetitivo, com a utilização do mesmo grupo muscular para a execução das mesmas atividades, sem o repouso devido à musculatura solicitada. As hipóteses biológicas sustentam que os quadros dolorosos crônicos são concretos, e se restringem a fadiga muscular e são decorrentes de esforços repetitivos, que produzem microtraumas cumulativos, sendo o uso excessivo ou inadequado de segmentos corporais a principal causa de origem dos distúrbios osteo-músculo-ligamentares. A pesquisa empírica apontou a presença de dor na quase totalidade dos 7 colaboradores pesquisados, somente um participante referiu não sentir dores. Os resultados do check-list apontam moderado, alto e altíssimo risco dos trabalhadores em desenvolverem patologias nos membros superiores. Os dados encontrados são indicativos de que grande parcela dos colaboradores da empresa do estudo estão prejudicando sua saúde devido a forma e organização de trabalho. Sabe-se que a melhor maneira de prevenir as LER/DORT é trabalhar de forma preventiva com medidas de controle como, reciclagem ou treinamento em novas formas de realizar as atividades, diminuindo assim o número de vezes que o trabalhador se coloca em uma postura desconfortável do corpo, mãos, punhos, braços, ombros, cervical e costas. Modificar o posto de trabalho e que o mesmo seja flexível, com vários itens ajustáveis, para que possa se adaptar ao trabalhador. Orientar o trabalhador quanto ao uso da força aplicada na realização da tarefa, fazer o uso de combinações de funções, resseqüenciar a movimentação dentro de um determinado ciclo, redefinir funções reduzindo assim seu ciclo. Elaborar micropausas a cada hora, naqueles momentos em que a tensão e a fadiga muscular estiverem ultrapas- 14 sando a sua capacidade de concentração, e para que ocorra oxigenação a nível muscular. Destaca-se que todo esse trabalho é extremamente facilitado pela ajuda do próprio trabalhador que poderá oferecer subsídios sobre os fatores críticos no seu posto de trabalho. Tendo em vista que as atividades laborais, sem um perfeito equilíbrio na relação homem e trabalho, podem determinar sérias conseqüências ao corpo do ser humano, investir nesse ambiente de trabalho é importante, tanto para a instituição, quanto para os trabalhadores. Entre as ferramentas que podem ser utilizadas para proporcionar uma melhor qualidade de vida no trabalho, destacam-se as ações que o profissional Fisioterapeuta e Educador Físico podem desempenhar através de programas terapêuticos e preventivos que visam o tratamento e a prevenção dos distúrbios osteomusculares relacionados com o trabalho. A Fisioterapia e a Educação Física são integrantes importantes no processo de humanização do local de trabalho, dispondo do conhecimento necessário para promover ações que zelem pela integridade dos sujeitos enquanto realizam suas atividades produtivas. Faz-se importante a presença destes profissionais atuando dentro do local de trabalho, acompanhando o cotidiano dos trabalhadores e conhecendo mais a fundo a estrutura e as condições oferecidas pelo ambiente. Dessa forma, eles irão conhecer a empresa como se fosse seu paciente, sendo capaz de identificar fatores que promovem acometimentos ocupacionais e assim, desenvolver um trabalho que contribua para qualidade de vida dos trabalhadores. Necessário se faz, cada vez mais, o trabalho conjunto entre diversos profissionais, o fisioterapeuta junto ao educador físico, com a contribuição da psicologia, nutrição, técnico em segurança do trabalho, enfermeira do trabalho, engenheiro do trabalho, médico do trabalho e de outras áreas preocupadas com a saúde e com o bem-estar dos trabalhadores. A saúde é responsabilidade de todos, mas os profissionais da saúde tem a missão de proteger e zelar pela integridade das pessoas. Referências CAÑETE, Ingrid. Humanização: desafio da empresa moderna: a ginástica laboral como um caminho. São Paulo: Ícone, 2001. CODO, Wanderley; ALMEIDA, Maria Celeste C. G. L.E.R.: lesões por esforços repetitivos. Rio de Janeiro: Vozes, 1995. COUTO, Hudson de Araújo; NICOLETTI, Sérgio José; LECH, Osvandré. Como Gerenciar a Questão das L.E.R/D.O.R.T. Lesões por esforços repetitivos/doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho. Belo Horizonte: Ergo, 1998. DELIBERATO, Paulo César Porto. Fisioterapia Preventiva: fundamentos e aplicações. São Paulo: Manole, 2002. NASCIMENTO, Nivalda M.; MORAES, Roberta, A. S. Fisioterapia nas Empresas. 2.ed. Rio de Janeiro: Taba Cultural, 2000. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Projeto de ergonomia análise ergonômica da substituição efetiva das baixelas de alimentação para pacientes no Hospital Ana Costa da cidade de Santos Autores: Elizabeth Andozzio Vida José Luís Guedes Paione Escrito em 15 de novembro de 2005. Revisado em 28 de setembro de 2006. Data de envio para revista Fisiobrasil: 04 de outubro de 2006 UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA FACULDADE DE FISIOTERAPIA E-mail: [email protected] [email protected] Endereço: Rua Osvaldo Cruz, 384/124 - Boqueirão-Santos-SP - Cep: 11045-100 Resumo O objetivo deste estudo foi analisar ergonomicamente a substituição de baixelas de alimentação para pacientes dando enfoque às características físicas das baixelas, características da organização do trabalho, desconfortos músculo esqueléticos e posturas adotadas no trabalho pelas copeiras do Setor de Nutrição e Dietética do Hospital Ana Costa de Santos. Realizou-se entrevistas com 80% das copeiras do Hospital, através de questionários antes e após a intervenção ergonômica. Foram realizadas análises visuais in loco (análise da tarefa) como também foram feitos registros fotográficos com o intuito de verificar as posturas no ambiente de trabalho. Estes procedimentos foram realizados em duas épocas, que foram denominados como períodos pré intervenção onde ainda eram utilizadas as baixelas de inox e pós intervenção ergonômica quando passou-se a utilizar as baixelas de ABS. Foram obtidos dados, através do setor de medicina do trabalho do HAC, referentes à acidentes de trabalho e afastamentos (INSS). A partir da análise dos resultados obtidos neste projeto de pesquisa, foi possível verificar uma série de fatores que levariam o funcionário a desenvolver LER/DORT, além dos desconfortos músculo esqueléticos. Os resultados indicaram que as copeiras tiveram uma diminuição de dores pelo corpo, apesar de dores crônicas terem persistido, houve também redução de acidentes de trabalho, absenteísmo e afastamentos por provável causa ocupacional, além disso, a satisfação gerada com a aquisição das novas baixelas para o trabalho ficou bastante evidente. O manuseio de cargas foi diminuído significativamente em 64%. Considerando os resultados deste estudo, é possível observar que a redução da força exercida e da temperatura manuseada durante as tarefas parece ter recebido maior impacto na redução dos desconfortos e absenteísmos, em relação direta as LER/DORT, do que outros fatores, como ritmo de trabalho, pausas, horas extras, movimentos repetitivos e manutenção de posturas inadequadas, os quais mantiveram-se nas mesmas condições anteriores à intervenção ergonômica. Palavras-Chave: ergonomia, análise ergonômica, LER/ DORT, baixelas de alimentação, copeiras. Projeto de ergonomia análise ergonômica da substituição efetiva das baixelas de alimentação para pacientes no hospital ana costa da cidade de Santos Introdução Segundo Iida, 1990 a operação de um hospital moderno é tão complexa quanto à de uma empresa industrial. Há diversos tipos de sofisticados equipamentos que não podem parar, suprimentos de vários materiais, o envolvimento de diversos tipos de profissionais em turnos de trabalho contínuo, programações de tratamento e acompanhamento individual de cada paciente. De acordo com a prioridade de intervenção, foi escolhido o Setor de Nutrição e Dietética (SND) do Hospital Ana Costa de Santos (HAC), o qual vinha passando por um período de reformulação e compra de material. As nutricionistas responsáveis pelo SND, haviam feito um levantamento juntamente com a médica do trabalho do hospital e constataram problemas que ocorriam com os funcionários que utilizavam as baixelas de inox, tais como: excesso de peso, temperatura elevada do material e dificuldade no manuseio. Com base nestes dados, a nutricionista supervisora relatou a necessidade de troca das baixelas de inox por baixelas de material plástico (ABS). Objetivo Este projeto de pesquisa teve como objetivo analisar ergonomicamente a substituição das baixelas de alimentação para pacientes no HAC. O projeto foi dividido em dois períodos. Um primeiro período, pré intervenção ergonômica, quando ainda eram utilizadas as baixelas de inox e um segundo período, pós intervenção ergonômica quando já eram utilizadas as baixelas de ABS. A análise abrangeu a percepção de desconfortos físicos, organização do sistema de trabalho, posturas adotadas no trabalho e principalmente em relação à utilização das baixelas de alimentação; além disso, foram correlacionados os dados de afastamentos e absenteísmo, para verificar os efeitos sobre o trabalho das copeiras do HAC. Ergonomia Definição A ergonomia tem uma data oficial de nascimento: 12 de julho de 1949, ao contrário de muitas outras ciências cujas origens se perdem no tempo e no espaço. Nesse dia, reuniram-se, pela primeira vez, na Inglaterra, um grupo de cientistas e pesquisadores interessados em discutir e formalizar a existência desse novo ramo de aplicação interdisciplinar da ciência. Na segunda reunião do grupo, ocorrida em 16 de fevereiro de 1950, foi proposto o neologismo ergonomia, formado dos termos gregos ergo, que significa trabalho e nomos, que significa regras, leis naturais. Funda-se assim no início da década de 50, na Inglaterra, a Ergonomics Research Society. (Iida, 1990). www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Algumas definições para ergonomia: Couto, 2002 define ergonomia em 5 palavras: adaptação do trabalho às pessoas. Para Wisner, 1987 a ergonomia é o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácia. O Hospital Ana Costa (HAC) Em 1957, o médico João de Azevedo Lage, sentindo a deficiência da cidade de Santos no atendimento de Pronto-Socorro e tendo como parceiro o amigo Jorge Armando de Oliveira, também médico e com experiência como administrador, funda no dia 27 de julho, na cidade de Santos-SP, o Pronto-Socorro Ana Costa. A meta seguinte seria construir um hospital para dar continuidade aos atendimentos do Pronto-Socorro. A nova diretoria, presidida por Aloísio Fernandes, sabia do desafio que tinha pela frente, no entanto, em 12 de novembro de 1966, inaugurava o Hospital Ana Costa, como hospital geral, com 200 leitos e com 4.554 metros quadrados de área construída. (Fernandes, 2002). O Setor de Nutrição e Dietética (SND) Por definição é o serviço encarregado de fornecer alimentação aos pacientes internados, aos acompanhantes, aos médicos de plantão e aos funcionários, obedecendo a normas técnicas. O SND do HAC descreve onze funções para o serviço e cada qual com sua função respectiva, são eles: 56 copeiras, 1 cozinheiros-chefe, 2 cozinheiros, 3 nutricionistas, 4 técnicos de nutrição, 4 ajudantes prático de cozinha, 1 despenseiro, 4 serviçais de cozinha e 4 lactaristas, somando, no total, 89 funcionários. É o local onde se produz 100% das refeições diárias aos pacientes do hospital, onde são utilizadas as baixelas em análise duas vezes ao dia, no almoço e no jantar; todos os funcionários descritos acima trabalham com as baixelas de alguma forma, porém, as copeiras são as mais exigidas, pois, elas de fato trabalham com a baixela na maior parte do tempo. Quanto ao número de refeições servidas em 2000, só em Santos foram 532.781, ou seja, 1.455 por dia. (Fernandes, 2002). Setor de Medicina do Trabalho do HAC A medicina do trabalho tem como finalidade promover e manter o mais alto nível de bem estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas as profissões, prevenir todo dano causado a saúde destes pelas condições de seu trabalho; protegê-los no emprego contra os riscos resultantes de agentes nocivos a sua saúde. Colocar e manter o trabalhador em um emprego adequado as suas aptidões fisiológicas e psicológicas e, em resumo adaptar o trabalho ao homem e cada homem a sua tarefa (Marano, 2001). 17 Projeto de ergonomia análise ergonômica da substituição efetiva das baixelas de alimentação para pacientes no hospital ana costa da cidade de Santos Lesões Por Esforços Repetitivos (LER) / Distúrbios Osteomusculares Relacionados Ao Trabalho (DORT) Definição Considerando que o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) é a responsável pelos pagamentos aos beneficiários com relações a acidentes de trabalho e afastamentos de trabalho, neste sentido, A Ordem de Serviço (OS nº 606/98) do INSS define como: DORT - Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – é uma Síndrome Clínica caracterizada por dor crônica acompanhada ou não por alterações objetivas e que se manifesta principalmente no pescoço, cintura escapular e/ou membros superiores em decorrência do trabalho. LER - Lesões por Esforços Repetitivos, são afecções de origem ocupacional que atingem os membros superiores, região escapular e pescoço, resultantes do desgaste muscular, tendinoso, articular e neurológico provocado pela inadequação do trabalho ao ser humano, e decorrem, de forma combinada ou não, da manutenção de postura inadequada e do uso repetido e/ou forçado de grupos musculares. (Assunção, 1995). Segundo Gaigher (2001), diversos fatores causais para tais patologias, hoje estão consensados: Fatores de natureza ergonômica » padrões de movimentos repetitivos, posturas incorretas dos membros superiores, posturas estáticas mantidas por longos períodos, utilização de força excessiva, entre outros. Fatores de natureza organizacional » horas extras de trabalho, ausência de pausas necessárias, entre outros. Fatores de natureza psicossocial » pressão exercida para obtenção de resultados, ambiente tenso de trabalho, relacionamento interpessoal com problemas. Características físicas das baixelas de inox e ABS Baixela de INOX A baixela de aço inoxidável era utilizada no HAC desde sua inauguração, em 1966. Foram 38 anos de utilização desta para servir 2 (duas) refeições diárias, almoço e jantar, à pacientes internados nas dependências do hospital. No ano de 2004 constatou-se que o HAC de Santos dispunha de 193 baixelas de inox no tamanho para adultos e 38 baixelas de inox de tamanhos menores destinadas ao setor de pediatria, totalizando 231 baixelas de inox. Características da baixela de inox Esta baixela apresenta alta durabilidade por ser de material aço inoxidável bastante resistente à quedas, à altas temperaturas, à higienização, à desgastes provocados por talheres, entre outros. O tamanho da baixela térmica de inox para adultos em centímetros quadrados é de aproximadamente 707cm2, a capacidade de seu reservatório é de aproximadamente 3 litros e o seu peso com tampa é de 2.137Kg (reservatório vazio e sem alimentos), enquanto que o tamanho da baixela térmica de inox destinada à crianças é de aproximadamente 452cm2, a capacidade de seu reservatório é de aproximadamente 1 litro e o seu peso com tampa é de 1.123Kg (reservatório vazio e sem alimentos). A baixela térmica de acondicionamento de alimentos para adultos, sem a tampa pesa 1.624Kg, apresenta superiormente 4 divisões para colocação dos alimentos da dieta e uma abertura para o reservatório de água, que se localiza lateralmente, onde é despejada a água fervida (93ºC) que mantém os alimentos quentes (banho-maria) por um período de aproximadamente de 30 a 40 minutos. Lateralmente encontram-se as alças para manuseio da baixela de alimentação. A tampa da baixela térmica de alimentos para adultos pesa 513 gramas, tem a função de ajudar a manter a temperatura adequada dos alimentos e impedir a possível contaminação externa, assim como permitir o empilhamento das mesmas. A baixela térmica de acondicionamento de alimentos para crianças, sem a tampa pesa 819g, apresenta superiormente 3 divisões para colocação dos alimentos da dieta e uma abertura para o reservatório de água, que se localiza inferiormente, onde é despejada a água fervida (93ºC) que mantém os alimentos quentes (banho-maria) por um período de aproximadamente de 30 a 40 minutos. Lateralmente encontram-se as alças para manuseio da baixela de alimentação. A tampa da baixela térmica de alimentos para crianças pesa 300 gramas, tem a função de ajudar a manter a temperatura adequada dos alimentos e impedir a possível contaminação externa, assim como permitir o empilhamento das mesmas. Situações analisadas: Pega da baixela de inox: também fabricada em aço inoxidável, o qual é bastante forte e resistente, porém, não apresenta conforto para as mãos por ter uma pega estreita e fina e ser um material condutor de calor, quando está com o reservatório com água quente. Temperatura da baixela de inox: por ser constituída de material aço inoxidável, altamente condutor de calor, a água que é colocada no reservatório de banho-maria a uma temperatura de aproximadamente 93º C, para conservar a refeição aquecida acaba aquecendo rapidamente a baixela, ocorrendo uma troca de calor para as mãos das copeiras. O peso da baixela de inox sem alimento, sem água no reservatório e com a tampa para adulto pesa 2.137Kg e para criança pesa 1.123 Kg. Quando está somente com a quantidade média de água no reservatório de banho-maria que é colocado pelas copeiras, aproximadamente 600 mililitros de água, equivalente a 600 gramas, na baixela tamanho adulto e 300 mililitros de água equivalente a 300 gramas na baixela tamanho infantil, seu peso com tampa fica 2.737 Kg e 1.423 Kg, respectivamente. Aliado a isso em média são colocados 400 gramas de alimento Projeto de ergonomia análise ergonômica da substituição efetiva das baixelas de alimentação para pacientes no hospital ana costa da cidade de Santos independente da dieta prescrita, então temos: a baixela + tampa + alimento + água do reservatório de banho-maria, num total de 3.037 Kg para baixela adulto e 1.723 Kg para baixela infantil. Uma bandeja de inox que pesa 1.060 Kg, com dimensões de 49cm de largura por 33cm comprimento é utilizada para transportar a baixela de inox, juntamente com um kit composto por prato raso de porcelana + cumbuca para sopa + talheres de aço inox (3) + guardanapo + sobremesa e suco se houver prescrição, este kit pesa 1.045 Kg, sem o suco por ser um item opcional. Somando estes dados coletados, cada refeição servida pelas copeiras tem um peso estimado em 5.142 Kg para refeições servidas para adultos e 3.828 Kg para refeições servidas para crianças. Baixela de ABS A baixela de ABS foi implantada no HAC no dia 16/02/05, com cerca de 200 baixelas para adultos e 50 no tamanho menor para servir a pediatria, totalizando 250 baixelas de ABS. ABS (Acrilonitrila Butadieno Estireno) é um tipo de resina que foi introduzida comercialmente na década de 40. Apresenta excelentes propriedades como: brilho, resistência ao impacto, estabilidade térmica e química, bem como uma boa processabilidade. As baixelas adquiridas pelo HAC são da marca ALBAN. Características da baixela de ABS A Bandeja Térmica para adultos tem superiormente 5 divisões o que acomoda uma refeição completa, tem também um compartimento para sobremesa, um para talheres e guardanapo e outro para o suco. Sua base e tampa são isolados com espuma para retenção térmica das refeições quentes e frias, por um período de 01 hora. É fabricada com material atóxico o que não altera o sabor dos alimentos. Deve-se fazer a utilização do descartável o que torna a refeição mais apresentável e higiênica. Suas dimensões em cm são: 7,6 alt. x 35,6 larg. x 36,2 comp. E tem capacidade para 1490 ml e o seu peso com tampa é de apenas 1,260Kg. A Bandeja Pediátrica tem superiormente 3 divisões o que oferece a opção de ter 03 modelos de descartáveis permitindo um conveniente preparo pessoal para a refeição. Sua base e tampa são isolados com espuma para retenção térmica das refeições quentes, por um período mínimo de 01 hora. É produzida em material atóxico que não altera o sabor dos alimentos. Suas dimensões em cm são: 9,1 alt. x 27,2 larg. x 29,8 comp. Com capacidade para 1000 ml e o seu peso com tampa é de apenas 820g. Situações analisadas: Pega da baixela de ABS: a baixela é circunscrita por uma estreita e fina borda (1 cm), provavelmente utilizada como pega, o que não apresenta conforto e segurança para o manuseio. Temperatura da baixela de ABS: por ser fabricada em resina ABS, que é um material isolante térmico não ocorre www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 transferência de calor do alimento para as mãos das copeiras. O peso da baixela de ABS sem alimento, com a tampa para adulto pesa 1,260 Kg e para criança pesa 0,820 Kg, aliado a isso em média são colocados 400 gramas de alimento independente da dieta prescrita, então temos: a baixela + tampa + alimento, num total de 1,660 Kg para baixela adulto e 1,220 Kg para baixela infantil. Por fim acrescentam-se os talheres descartáveis + guardanapo + sobremesa + suco quando prescrito, em média somam-se 0,200Kg. Somando estes dados coletados, cada refeição servida pelas copeiras tem um peso estimado em 1,860 Kg para refeições servidas para adultos e 1,420 Kg para refeições servidas para crianças. Reduziu-se em 64% o peso manuseado pelas copeiras diariamente com a substituição das baixelas de inox pelas baixelas de ABS, tanto adulto como infantil. Materiais e Métodos O presente estudo foi desenvolvido no setor de nutrição e dietética do HAC de Santos. Participaram do estudo 45 de um total de 56 copeiros efetivos do hospital. Sendo 44 mulheres e somente 1 homem. O predomínio quanto à faixa etária dá-se dos 31 aos 40 anos, 39% dos participantes. Este projeto foi dividido em dois períodos. O primeiro período consistiu numa análise pré intervenção ergonômica, quando ainda eram utilizadas as baixelas de inox. Para essa etapa foi aplicado 1 (um) questionário (Pré Intervenção). Os funcionários foram então informados quanto ao objetivo do presente questionário sendo ressaltada a importância da fidelidade das respostas, e que a identidade deles seria necessária apenas para controle e organização de quais funcionários foram entrevistados, para que os mesmos fossem entrevistados no questionário pós intervenção, após a substituição das baixelas de inox. A aplicação do questionário se deu em grupos de copeiras variando de uma a duas copeiras, conforme a disponibilidade durante o turno de trabalho, em 5 dias alternados nas datas: 08/01/05, 09/01/05, 12/01/05, 13/01/05, 17/01/05 no período das 9:00hs às 11:30hs para o turno vespertino e das 19:00hs às 21:30hs para o turno noturno. Fazem parte deste questionário pré intervenção, 29 questões fechadas e 01 questão aberta, onde as copeiras tiveram liberdade para relatar algum fato que julgavam importante e que não havia sido perguntado nas questões fechadas. As questões fechadas do questionário pré intervenção foram quanto: I. Dados do funcionário II. Questões relacionadas à organização do trabalho III. Questões relacionadas à postura IV. Questões relacionadas à saúde V. Questões relacionadas à baixela de inox Num segundo período, após a substituição das baixelas 19 Projeto de ergonomia análise ergonômica da substituição efetiva das baixelas de alimentação para pacientes no hospital ana costa da cidade de Santos de inox, por baixelas de ABS, quando já haviam se passado aproximadamente 8 meses de utilização das baixelas de ABS, foi aplicado 1 (um) outro questionário (Pós Intervenção), em 4 dias alternados, nas datas: 28/09/05, 29/09/05, 07/10/05, 08/10/05 no período das 9:00hs às 11:30hs para o turno vespertino e das 19:00hs às 21:30hs para o turno noturno. Fazem parte deste questionário pós intervenção, 13 questões fechadas e 01 questão aberta onde as copeiras tiveram liberdade para relatar algum fato que julgavam importante e que não havia sido perguntado nas questões fechadas. As questões fechadas do questionário pós intervenção foram quanto: I. Dados do funcionário II. Questões relacionadas à postura III. Questões relacionadas à saúde IV. Questões relacionadas à baixela de ABS Foram também realizadas análises visuais in loco (análise da tarefa), para observar as situações de inadequação a que as copeiras estão expostas, bem como foram feitos registros fotográficos com o intuito de verificar as posturas no ambiente de trabalho, situações do cotidiano e materiais utilizados pelas copeiras. Utilizou-se uma câmera digital Sony com definição de 5.1 megapixels. Em relação às baixelas, tanto as antigas de inox quanto as novas de ABS, foram analisados os dados obtidos nos 2 (dois) questionários, e comparados afim de proporcionar dados reais sobre a troca efetiva das baixelas no HAC, além da análise ergonômica em termos de: peso, temperatura, pegas, dimensões e aparência. Foram utilizados uma balança marca Filizola modelo L com capacidade 3Kg, uma fita de medidas antropométricas marca SECA e um termômetro para refrigeração e laticínios da marca INCOTERM. Foram obtidos dados, através do setor de medicina do trabalho do HAC, referentes à acidentes de trabalho e afastamentos (INSS). Resultados Resultados referentes à organização do trabalho Ao analisar o questionário pré intervenção constatou-se que 100% das copeiras entrevistadas relataram que há apenas 1 (uma) pausa durante um período de 12 horas de trabalho, que esta tem duração de 1 hora e que é destinada à refeição, seja para almoço ou jantar dependendo do turno da copeira. Fica evidente que apenas uma pausa durante a longa jornada de trabalho de 12 horas, não é suficiente para permitir recuperação muscular e alívio da fadiga para proporcionar um desempenho eficaz no período de trabalho. Outra questão em que se obteve unanimidade foi quanto ao turno de trabalho; nesta questão, 100% das entrevistadas relataram que trabalham em turno de 12 x 36 horas, isto quer dizer, 12 horas de trabalho para 36 20 horas de descanso (folga). Independente se a copeira é diurna ou noturna. O número de copeiras que relatam que realizam horas extras é menor do que aquelas que não realizam, isto refere-se a cobertura de atrasos, folgas ou atestados e situações que ocorram inesperadamente. O funcionário que realiza horas extras acaba sendo mais sobrecarregado em relação ao tempo excessivo de trabalho, prejudicando a recuperação do seu corpo e mente, para a próxima jornada de trabalho. Resultados referentes à postura e percepção do corpo durante o trabalho Observa-se que dentre as questões relacionadas à postura, 100% das entrevistadas relataram que trabalham em pé e andando durante a maior parte do período de trabalho, o que torna a jornada de trabalho ainda mais exaustiva. Na copa, relataram que há 1 (uma) cadeira destinada somente para fazerem anotações, visto que não há tempo para descanso ou pausas. Estas copeiras relataram que seguem a mesma rotina de trabalho diariamente, fazendo movimentos repetitivos, podendo ser um agravante para sintomas dolorosos. É possível observar a comparação de dados referentes a sintomas de dores pelo corpo no período pré e pós intervenção ergonômica. Estas dores pelo corpo, poderiam estar relacionadas com qualquer situação ou causa e em qualquer hora do dia, independente se o indivíduo está no trabalho ou não. Nota-se que do total de 24 copeiras que relataram dor no período pós intervenção, 23 apresentaram dores no período pré intervenção, alegando que essas dores são de caráter crônico, julgando que provavelmente a causa seria o longo período de utilização das baixelas de inox, juntamente com a rotina de trabalho imposta e apenas 1 copeira não havia relatado dor no período pré intervenção. Como observa-se acima, houve uma diminuição nas dores apresentadas antes de chegarem ao trabalho, durante o trabalho houve uma igualdade e após o trabalho, ou melhor, quando o funcionário chega em casa, teve um pequeno aumento em relação aos sintomas de dores. Observa-se que o número de queixas de dores nos MMSS no período pré intervenção equivale a 50% de todas as queixas de dores, no mesmo período. Isto mostra que os MMSS são extremamente solicitados durante a jornada de trabalho. No período pós intervenção este valor reduziu-se pela metade, provavelmente está relacionado com a mudança do material utilizado bem como, com a alteração da rotina de trabalho. A manutenção dos valores de dor, apresentados na região da coluna vertebral, provavelmente está relacionada à utilização de posturas inadequadas para a realização das tarefas exigidas durante o trabalho. A redução de dor nos MMII no período pós intervenção, provavelmente se deu em relação ao peso carregado que foi bastante reduzido, aliviando assim a sobrecarga para os MMII. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Projeto de ergonomia análise ergonômica da substituição efetiva das baixelas de alimentação para pacientes no hospital ana costa da cidade de Santos Nota-se uma redução da quantidade de dores em relação ao membro acometido, sendo este em MMSS e/ou MMII. Nota-se que não houve variação no número de copeiras que relataram dores na coluna vertebral, tanto no período pré intervenção quanto no período pós intervenção, apenas 8 copeiras relataram queixas. Porém, observa-se que houve redução no número de queixas por regiões da coluna vertebral. As queixas na região cervical no período pós intervenção foram significativamente diminuídas. Na região torácica mostrou-se também evidente diminuição de queixas, contudo na região lombar observa-se menor redução de queixas. Provavelmente relacionando-se pela manutenção de posturas inadequadas durante a execução da tarefa, visto que não houve intervenção neste sentido. Nota-se que 22 copeiras relataram sentir dor em alguma região dos MMSS no período pré intervenção e apenas 11 copeiras relataram sentir dor em alguma região dos MMSS no período pós intervenção. A redução a que se deve estes resultados pós intervenção, dar-se-á em relação a diminuição do peso carregado diariamente pelas copeiras, que atingia diretamente os MMSS. Resultados referentes à análise das questões relacionadas à saúde, obtidos através dos questionários Observa-se com estes dados, que durante o longo período de utilização das baixelas de inox, a maioria das doenças apresentadas provavelmente tinha origem ocupacional, já no período pós intervenção, quando se passou a utilizar as baixelas de ABS, 100% delas relataram que as doenças que tiveram não eram de origem ocupacional, isto leva a crer, que a causa das patologias apresentadas anteriormente pelas funcionárias tinham relação direta com a utilização das baixelas de inox. Os dados pré intervenção são referentes a longos anos de utilização das baixelas de inox pelas copeiras, por esta razão, 92% das copeiras foram afastadas do trabalho por provável causa ocupacional, em contrapartida 100% delas foram afastadas no período pós intervenção por causa não ocupacional. Nota-se observando esses dados, que poucas copeiras iniciaram a prática de alguma atividade física no período pós intervenção e dentre aquelas que já praticavam atividade física, foi relatado a prática física irregular e inespecífica para possíveis minimizações de suas dores. Nota-se que mesmo num curto período de tempo utilizando as baixelas de ABS, já se tem uma redução de dores em relação às copeiras que se queixavam no período pré intervenção, principalmente em se tratando daquelas que trabalham como copeiras a mais de 10 anos, pressupondo-se que estas apresentam dores de caráter crônico. Os resultados apresentados a seguir são referentes aos aspectos físicos das baixelas de INOX e das baixelas de ABS Nota-se uma grande discrepância em relação a comparação dos dados obtidos nestes 2 questionários, pois, havia uma insatisfação unânime de se trabalhar com a www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 baixela de inox, enquanto que o contrário acontece em se tratando da baixela de ABS. Quanto às pegas da baixela de inox e da baixela de ABS, foi perguntado para as copeiras se são ótimas, boas, ruins ou péssimas para a rotina de trabalho. Conforme observado, as copeiras consideram a pega da baixela de ABS ótima ou boa, em relação a comparação com a baixela de inox, há uma certa divergência de opiniões tendendo para o ruim e péssima. Quanto ao peso da baixela de inox e da baixela de ABS, sem alimentos, foi perguntado para as copeiras se é suportável, médio ou não suportável para o dia-a-dia de trabalho. Verifica-se através destas respostas que o peso da baixela de inox era insuportável para se trabalhar mesmo nas situações em que se apresentava vazia, enquanto que a baixela de ABS é aceitável por todas as copeiras entrevistadas em relação ao seu peso vazia. Quando as baixelas de inox e as baixelas de ABS estão prontas para serem servidas aos pacientes (acrescentando o alimento + bebida + sobremesa + talheres + água no reservatório e bandeja de inox, quando era utilizada a baixela de inox), foi perguntado as copeiras se é suportável, médio ou não suportável para o dia-a-dia de trabalho. Nota-se uma extrema discrepância em relação à comparação destes dados, pois quando prontas para serem servidas aos pacientes, a baixela de inox era insuportável, enquanto a baixela de ABS é 100% suportável para trabalhar. Quanto à limpeza e higienização das baixelas de inox e das baixelas de ABS, foi perguntado se são difíceis, médio ou fáceis de lavar e secar. Em relação a estas respostas, durante a limpeza e higienização da baixela de inox, além de ser pesada para mantê-la em isometria com os MMSS, seu material para dar brilho e mostrar higiene, exigia que fosse areada diariamente. Enquanto que as baixelas de ABS são servidas com descartáveis, que são desprezados após o uso, facilitando ainda mais a lavagem. Quanto à temperatura para o manuseio das baixelas de inox e das baixelas de ABS foram classificadas como: alta, média ou baixa. De acordo com as respostas obtidas, nota-se que a temperatura das baixelas de inox, apresentava um grande desconforto para o manuseio, pois, quando esta encontrava-se com água quente (93ºC) no reservatório, por condução de calor, o trabalhador tinha uma dificuldade maior em manuseá-la, já a baixela de ABS não apresenta problemas em relação a isso, pois seu material térmico impede a condução de calor do alimento para as mãos das copeiras. A baixela de inox representava uma ferramenta de trabalho do ponto de vista das copeiras, insatisfatório. Em relação a baixela de ABS, houve uma aceitação altamente considerável pelas copeiras, sendo na maioria das respostas definindo-a como ótima. 21 Projeto de ergonomia análise ergonômica da substituição efetiva das baixelas de alimentação para pacientes no hospital ana costa da cidade de Santos Os resultados apresentados a seguir são referentes às questões abertas dos dois questionários Apenas 11 (onze) copeiras se propuseram a relatar algo durante o período pré intervenção, destas 8 relataram que já haviam se queimado enquanto utilizavam a baixela, 2 relataram associar suas dores pelo corpo ao trabalho com a baixela e apenas 1 relatou que a baixela de inox era excelente e que adorava trabalhar com ela. Trata-se de uma das mais antigas copeiras do hospital, que pode ter adotado uma posição conservadora. Durante o questionário pós intervenção, 11 copeiras se propuseram a relatar algo na questão aberta, destas 3 relataram que a baixela de ABS é excelente para trabalhar; 4 disseram que suas dores, principalmente em MMSS melhoraram muito depois que começaram a trabalhar com a baixela de ABS; 2 relataram que tem que ter mais cuidados em lidar com o material, por este ser mais frágil e sugeriu que se utilizasse material não cortante para comer na baixela, para melhor conservá-la e 2 relataram ser os cantinhos da baixela difícil de secar. Os resultados apresentados a seguir são referentes aos acidentes de trabalho e afastamentos de trabalho Conforme os dados obtidos pelo setor de Segurança do Trabalho do Hospital Ana Costa de Santos em relação à acidentes de trabalho (AT´s) que inclui problemas como queimadura, contusão, queda, trajeto, corte, agulha e ferimento, segue-se: O número de AT’s sofridos pelas copeiras no período que compreendeu os anos de 2001, 2002, 2003, 2004, até agosto de 2005, totalizou 170 dias de afastamento para 37 AT’s, relatados pelo setor de Segurança de Trabalho. Observa-se que houve durante estes anos um predomínio de queimaduras e contusões sofridas pelas copeiras, totalizando 53% dentro de todas os AT,s. Com relação ao número de dias de afastamento no mesmo período citado acima, o número expressivo de 136 dias de afastamento causados pelas contusões se dá ao fato de uma copeira no ano de 2002 ter sido afastada por um período de 135 dias consecutivos. Deste total foram separados os AT’s por ano e foram classificados conforme os dados obtidos pelo setor. No ano de 2001 foram registrados 5 AT’s, totalizando 7 dias de afastamento do trabalho). No ano de 2002 foram registrados 7 AT’s, totalizando 146 dias de afastamento do trabalho. No ano de 2003 foram registrados 8 AT’s, totalizando 6 dias de afastamento de trabalho. No ano de 2004 foram registrados 6 AT’s, totalizando 6 dias de afastamento de trabalho. No período de janeiro à agosto do ano de 2005, foram registrados 11 AT’s, totalizando 5 dias de afastamento do trabalho. De todos os AT´s, notou-se que as queimaduras eram de fato de alta incidência quando comparados com os outros tipos de AT´s, por este motivo foi correlacionado estes dados referentes às queimaduras, com os dados obtidos através dos relatos das copeiras, onde relataram que sofriam queimaduras quando utilizavam a baixela de inox. Podemos afirmar que estas queimaduras eram importantes, pois, as mesmas geraram dias de afastamentos no período pré intervenção (2001 a 2004), neste período foram 9 queimaduras para 27 dias de afastamento, enquanto que os casos de queimaduras ocorridos no período pós intervenção não foram de grande importância, pois, não geraram dias de afastamento, neste período foram 2 queimaduras para nenhum dia de afastamento. A seguir será mostrada a relação dos afastamentos das copeiras. Os dados obtidos compreendem o período de novembro de 2004 à setembro de 2005. Foi separado o absenteísmo das copeiras de novembro de 2004 até janeiro de 2005 do HAC de Santos, período este em que ainda eram utilizadas as baixelas de inox. Destes foram separadas apenas as patologias que podem ser relacionadas ao trabalho, segundo referência do CID (Código Internacional das Doenças), dando um total de 4 atestados para 36 dias de dispensa. Os dados apresentados a seguir são referentes ao absenteísmo das copeiras de fevereiro de 2005 até setembro de 2005, período no qual já estavam sendo utilizadas as baixelas de ABS. Nota-se que nos últimos 3 meses de utilização das baixelas de inox, o número de dias de afastamentos somaram um total de 36 dias, mostrando-se superior ao período de 8 meses de utilização das baixelas de ABS, que teve um total de 30 dias de afastamentos, isto mostra que a gravidade das patologias no período pré intervenção são mais relevantes que no período pós intervenção, ou seja, mesmo apresentando um número de atestados maior no período pós intervenção, houveram menos dias de afastamentos. A seguir serão apresentados os dados sobre o absenteísmo de novembro de 2004 até setembro de 2005. Patologias segundo o CID, que podem ser relacionadas à causas de origem ocupacional, somente das copeiras. Estes dados serão correlacionados com todos os absenteísmos que ocorreram no Hospital Ana Costa Santos, no mesmo período. Com relação aos absenteísmos de novembro de 2004 até setembro de 2005 do HAC de Santos, incluindo todos os funcionários (Geral), relacionando patologias diversas e somente das copeiras, relacionando também patologias diversas, os seguintes resultados: os atestados referentes as patologias de provável causa ocupacional, representam 30% de todos os atestados dados as copeiras no período de novembro de 2004 até setembro de 2005, enquanto que o número de dias de afastamentos referentes as patologias de provável causa ocupacional representam 47,1%, do total de dias de afastamentos cedidos as copeiras em relação as patologias diversas. Estes dados se mostram altamente relevantes quando comparados ao universo do HAC geral. Os atestados referentes as patologias de provável causa ocupacional, Projeto de ergonomia análise ergonômica da substituição efetiva das baixelas de alimentação para pacientes no hospital ana costa da cidade de Santos representam apenas 8%, de todos os atestados dados aos funcionários no período de novembro de 2004 até setembro de 2005, enquanto que o número de dias de afastamentos referentes as patologias de provável causa ocupacional representam 10,6%, do total de dias de afastamentos cedidos aos funcionários em relação as patologias diversas. Discussão A partir da análise dos resultados obtidos neste projeto de pesquisa, foi possível verificar uma série de fatores que levariam o funcionário a adquirir LER/DORT, além de desconfortos músculo esquelético. Ainda não há conhecimento pleno dos mecanismos de geração e perpetuação das DORT, que representam um enorme custo econômico para o trabalhador, sistema de saúde e sociedade. A ergonomia é então, justificada como meio de prevenção. As empresas começam a tomar consciência da importância desta prevenção, uma vez que com esta atitude reduz-se gastos com afastamento e aposentadoria precoce. (Greve et al., 1999). Considerando-se que as posturas extremas e a força excessiva são aceitos como importantes disparadores de DORT, os mesmos deveriam ser levados em conta em qualquer intervenção ergonômica que busque aumentar conforto e reduzir disfunções ocupacionais (Oliveira et alii, 1998). De acordo com a pausa durante o período de trabalho, nota-se que apesar das mudanças no conteúdo da tarefa, não houve alteração na quantidade de pausas, além disso, o funcionário que realiza horas extras acaba sendo mais sobrecarregado em relação ao tempo excessivo de trabalho. O que se pode dizer, do ponto de vista ergonômico é que as jornadas superiores a 8 ou 9 horas diárias de trabalho são improdutivas, as pessoas que são obrigadas a trabalhar além disso, costumam reduzir o seu ritmo durante a jornada normal, acumulando reservas de energia para suportar as horas extras. Além disso, há uma correlação direta do volume de horas extras com problemas como doenças e absenteísmos (Lida, 1998). Complementando ainda, as jornadas de trabalho de 10 horas ou mais são possíveis apenas para homens e mulheres jovens que não tem uma carga doméstica e moram nas proximidades do seu emprego. (Wisner, 1987). Ao analisar o questionário, verificou-se que as funcionárias permanecem durante o tempo todo na postura em pé e andando (aproximadamente 11 horas de trabalho) e para isto, recomenda-se a alternância das posturas em pé e sentada no trabalho, como alívio aos sintomas de dores apresentados, principalmente em MMII. (Grandjean, 1998). Em relação aos movimentos repetitivos, vários pesquisadores consideram como movimento de alta repetitividade aqueles que possuem um ciclo básico de menos de 30 segundos e/ou atividades em que mais do que 50% do www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 tempo total do ciclo ocorrer a repetição de parte desse ciclo; por isso são indicadas pausas durante a realização da tarefa e exercícios compensatórios de alongamento das estruturas relacionadas. (Couto, 1998). Força e repetitividade de movimentos estão positivamente correlacionados ao aparecimento de lesões por esforços repetitivos nas mãos e nos punhos e a combinação da aplicação de forças elevadas e alta repetitividade aumenta a magnitude da associação com a lesão mais do que qualquer um dos fatores isoladamente (Silverstein et alii, 1986). Atualmente, grande parte das entrevistadas apresentam dores de caráter crônico, distribuídas pelo corpo todo, julgando que provavelmente a causa dessas dores seriam os longos anos de utilização das baixelas de inox, juntamente com a rotina de trabalho imposta; dessa forma, Dejours (1987) apud Iida (1998), defende a teoria de que uma rigidez excessiva na organização do trabalho, com a imposição de um ritmo artificial, neutraliza a vida mental durante o trabalho, tornando o trabalhador mais suscetível à doenças. Quando os trabalhadores têm certa liberdade em organizar o seu próprio trabalho, eles o fazem de maneira peculiar, cada um promovendo pequenos ajustes, de acordo com as necessidades de sua personalidade, e isso proporcionaria maior equilíbrio psicossomático. Neste momento, será discutido sobre os aspectos físicos das baixelas. Em relação às pegas, segundo Eastman Kodak Co. apud Das et al, 2002, o ideal seria que a forma do manuseio fosse cilíndrica e o diâmetro da alça baseada em medidas antropométricas o que é recomendado com 4.0 cm. O material dessa pega pode ser feito em material sintético ou borracha dura e resistente. Isto minimizará o estresse sofrido pelas mãos. Conforme analisado no capítulo 5, foi visto que nem as baixelas de inox e nem as baixelas de ABS apresentam tal recomendação. Quanto ao peso para transportar as baixelas, as mulheres tem uma capacidade muscular de aproximadamente dois terços do homem. O limite para levantamento de peso e carregamento manual, para as mulheres, deve ser fixado em 20 Kg, no máximo. (Iida, 1998). A substituição das baixelas de material inox por ABS reduziu significativamente o peso no qual as copeiras tem que carregar diariamente. Quanto à temperatura, vale lembrar que a queimadura na pele depende da temperatura e do tempo em que o tecido ficou exposto ao calor. Em temperaturas abaixo de 44º C não ocorrerá danos tissulares, a não ser que o tempo de exposição seja prolongado. Em temperaturas entre 44º C e 51º C a taxa de morte celular duplica com cada grau de aumento da temperatura e tempos de exposição curtas já causam danos. E temperaturas acima de 51º C o tempo de exposição necessário para lesar o tecido é extremamente curto. (STALEY & RICHARD apud O’SULLIVAN, 2004). Conforme visto nos resultados, a 23 Projeto de ergonomia análise ergonômica da substituição efetiva das baixelas de alimentação para pacientes no hospital ana costa da cidade de Santos temperatura das baixelas de inox era extremamente alta devido ao reservatório de banho-maria, no qual era colocada água fervente à aproximadamente 93º C, que aquecia a baixela e conseqüentemente as mãos das copeiras no manuseio. Este procedimento não é mais necessário, visto a praticidade e capacidade de manutenção de temperatura das novas baixelas. Cabem aqui algumas considerações pertinentes sobre os acidentes de trabalho. Segundo Heinrich (1959) apud Lida (1998), existem 5 eventos encadeados que levariam à lesão do trabalhador, este modelo bastante difundido é chamado de “dominó” do acidente e é composto por: personalidade, falhas humanas, causas de acidentes (condições inseguras e atos inseguros), acidente e lesão. Para essa teoria, a prevenção, deveria ser feita pela remoção das causas de acidentes, para evitar a propagação da queda dos “dominós”. Essa teoria é muito contestada, porque existem certos traços da personalidade (insegurança, irresponsabilidade, teimosia, valentia) o que tornaria algumas pessoas mais suscetíveis a acidentes e isso não tem comprovação prática. Com relação aos AT´s, foi observado que com a utilização das baixelas de ABS, houve uma redução significativa principalmente das situações de queimaduras e conseqüentemente com os dias de afastamento. Em relação aos afastamentos, os dados mostraram-se mais evidentes quando comparados com o universo geral de funcionários do HAC, onde verificou-se que dentro do universo das copeiras elas apresentavam na maioria das vezes doenças de provável origem ocupacional, enquanto que na totalidade dos funcionários do HAC, o inverso ocorre, sendo então, afastados por doença de provável origem não ocupacional. É importante salientar que nessas intervenções ergonômicas também devem ser considerados os fatores psicológicos, como conteúdo mental das tarefas, grau de flexibilidade da ação do trabalhador, pressão em relação à produção e qualidade da comunicação entre empregadores e chefia (Codo et al., 1997). Com base nisto e juntamente com todas as informações colhidas e situações observadas, foi verificado uma enorme satisfação com a substituição das baixelas. As copeiras relataram o tempo todo durante o período pós intervenção, a grande melhoria na rotina de trabalho modificada com a implantação das baixelas de ABS. Conclusão Tendo em vista que as baixelas de inox, de acordo com análises realizadas, traziam problemas às copeiras, entre eles, dores pelo corpo, principalmente LER/DORT, além de uma rotina de trabalho mais desgastante e problemas de segurança que muitas vezes levavam a funcionária a sofrer algum tipo de AT e afastamentos, conclui-se então, que a substituição das baixelas de inox por baixelas de ABS foi realmente necessária e eficaz. 24 Dentro de vários aspectos analisados, a redução significativa do peso carregado (64%) durante a jornada de trabalho mostrou-se realmente eficaz produzindo uma expressiva redução de queixas de dores em MMSS (50%) e MMII (43%), na região de tronco não houve alterações dessas queixas, pois não foram feitas modificações e nenhum tipo de intervenção no que se diz respeito às posturas adotadas no trabalho. Com relação a isso, teve-se grande diminuição de afastamentos ligados à problemas de provável origem ocupacional. A extinção do procedimento de banho-maria e a diminuição da temperatura para o manuseio reduziu significativamente o número de AT´s que envolviam estas trabalhadoras e sem contar na grande satisfação que as copeiras sentem ao trabalhar com o novo material. Todas essas modificações ocorreram num período curto de tempo de utilização das baixelas de ABS (8 meses), no entanto, parece aconselhável que haja um acompanhamento ao longo do tempo para um melhor dimensionamento dos fatores que interferem na substituição das baixelas, tanto fatores fisiológicos como organizacionais do sistema de trabalho. A identificação e a correção de fatores que desencadeiam os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho são fundamentais para a elaboração de uma proposta ergonômica eficaz, minimizando custos ergonômicos e cargas cognitiva, psíquica e física do trabalhador, otimizando o desempenho da tarefa, o rendimento do trabalho e a produtividade. Fica evidente a necessidade do perfeito conhecimento das características físicas e socioculturais dos usuários de ferramentas e equipamentos, pois considerando as ferramentas como extensões do próprio homem para executar o seu trabalho com o máximo de eficiência e conforto, isto só será possível se na concepção destas o usuário for analisado e considerado. A importância desta pesquisa mostra que na implantação ou aquisição de novos acessórios para utilização por qualquer funcionário é necessário e recomendável a pesquisa e análise, para que se possa adquirir acessórios adequados e que atendam realmente as necessidades exigidas para a execução da tarefa, bem como resguardando a saúde de quem as utiliza. Referências Bibliográficas Assunção, AA. Sistema Músculo Esquelético: Lesões por Esforços Repetitivos (LER), In: Mendes, R. Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro: Editora Atheneu, 1995. Codo, W. & Almeida, MCCG. LER. 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A mais completa linha de produtos para adequar todos os ambientes de sua empresa à NR17. - Linha de produção industrial; - Escritórios; - Hospitais; - Call centers; - Recepções; - Balcões de atendimento. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Tel.: 55 (12) 3939-1561 www.ergomais.com.br 25 Perfil do trabalhador acidentado atendido pela fisioterapia no Centro de Referência em Reabilitação Anderson Gomes de Freitas em Betim/ MG, no período de outubro de 2004 a outubro de 2005 Autoras: Soraya Diniz Gonçalves Prof. de Fisioterapia Preventiva e Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva da PUC Minas/ Betim. Mestranda em Ciências da Saúde: Infectologia e Medicina Tropical pela UFMG. Márcia Colamarco Ferreira Resende Prof. de Ergonomia da PUC Minas/Betim. Mestranda em Saúde Pública - UFMG Nádia Januzzi Lima Dilma Jardim Ramos Janaína Lasarino de Abreu Juliana Cristina Nogueira Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, campus Betim. Endereço para correspondência: [email protected] Rua Souza Magalhães, 130 apto 201 Barreiro - BH/MG - CEP 30640570 Elaboração do artigo: 01/06/2006 Data de envio: 26/10/2006 Resumo Os acidentes de trabalho necessitam de maior preocupação por parte das políticas públicas, devido aos altos custos gerados para trabalhadores, empresas e Estado. Estratégias de prevenção dependem do estudo dos fatores causais e de risco. O conhecimento do perfil dessa população auxiliaria na criação dessas estratégias. O objetivo desse estudo foi descrever o perfil dos trabalhadores acidentados atendidos no Centro de Referencia em Reabilitação, na cidade de Betim, MG. Foram identificados 61 pacientes vitimados por acidente de trabalho típico, sendo que 29 responderam ao questionário. Os seguintes resultados foram obtidos: 92% são do sexo masculino, 44% trabalham no ramo do comércio, com a média de idade de 36 anos. A causa predominante dos acidentes foi a queda com 36%, sendo a mão a parte do corpo mais lesada. Informações como essas podem se constituir em importante fonte de dados para um melhor conhecimento e caracterização da população dos acidentados do trabalho. Palavras-chave: Acidentes do Trabalho, Sistemas de Informação, Perfil Ocupacional Perfil do trabalhador acidentado atendido pela fisioterapia no Centro de Referência em Reabilitação Anderson Gomes de Freitas em Betim/ MG, no período de outubro de 2004 a outubro de 2005 Introdução O acidente de trabalho (AT) é definido como aquele que ocorre pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa, causando lesão corporal, sendo assim identificado como acidente típico. É também considerado típico o acidente de trajeto entre a casa e o trabalho e vice-versa, sendo excluídas da definição de acidente típico as doenças ocupacionais ou relacionadas ao trabalho(Santana et alii., 2003). A alta incidência dos acidentes de trabalho no Brasil que em 2003 ultrapassou 340.000 acidentes (MTE, Brasil, 2005) chegando a um custo de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial (OIT, 2005) – tem levado a uma maior preocupação em relação às políticas públicas para o setor de saúde do trabalhador (Wunsh Filho, 1999; OIT, 2005; Krug et al., 2004; Silva, 2004; Wunsh Filho,2004). A partir do conhecimento dos fatores causais e de risco, Cordeiro et alii,(2005), assinala que é possível determinar a previsibilidade e atuar na prevenção dos acidentes. Para que isso ocorra, é necessária uma fonte de dados que traduza a realidade da situação desses trabalhadores. Essa fonte de dados, na atual política de saúde do trabalhador, é oriunda da Comunicação de Acidentes do Trabalho (CAT), a qual se refere apenas aos trabalhadores com contrato formal de trabalho, ou seja, aqueles que possuem Carteira do Trabalho e Previdência Social (CTPS) com as devidas anotações, nos termos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), sendo excluídos os trabalhadores do setor informal (os que não possuem CTPS com as devidas anotações), os autônomos, funcionários públicos, empregados domésticos e os empresários (Santana et alii., 2003; Cordeiro et alii., 2005; Binder et al., 1997; Conceição et alii., 2003). No Brasil há cerca de 40% de trabalhadores sem carteira assinada, o que indica o alto índice de subnotificação (Oliveira et al., 1992; Silveira et alii., 2005). Compreender a extensão das conseqüências dos AT auxilia na necessidade da transformação do papel reabilitador da política nacional, buscando a elaboração de um modelo em que o direito à saúde seja o ponto primordial, encontrando então soluções que não mais privilegiem a compensação e sim a prevenção (Oliveira et al., 1992; Fayad et alii., 2003). Uma equipe multidisciplinar atuante – podendo a Fisioterapia ser parte integrante dessa equipe – tem um papel importante na prevenção, conseqüentemente diminuindo os custos relativos aos acidentes (Siqueira et alii., 2005). O atendimento ao trabalhador acidentado normalmente é feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Existindo incapacidade, é necessário adequar esse trabalhador à função e orientar nova ocupação se for o caso, sendo muitas vezes necessário que ocorram modificações ergonômicas no local de trabalho (Silva, 2004). É pertinente ressaltar que o conhecimento do perfil dos trabalhadores acidentados, além dos fatores causais e de risco possibilita a elaboração de estratégias de prevenção, tendo como instrumento de efetividade a fiscalização dos ambientes de trabalho através da Vigilância (Silva, 2004). www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Dessa forma, o objetivo desse estudo foi determinar o perfil dos pacientes vitimados por acidentes de trabalho, que receberam atendimento fisioterápico no Centro de Referência em Reabilitação “Anderson Gomes de Freitas” em Betim/ MG, no período de outubro de 2004 a outubro de 2005. Metodologia Foi realizado um estudo transversal, em que foram incluídos todos os pacientes que sofreram acidente de trabalho típico e que foram atendidos pela Fisioterapia na unidade do Centro de Referência em Reabilitação, pertencente ao SUS, na localidade de Betim, Minas Gerais, Brasil, no período de outubro de 2004 a outubro de 2005. Os dados iniciais (nome, endereço e telefone) foram coletados do prontuário padrão do SUS, no referido Centro; já os outros dados foram obtidos por meio de um questionário complementar, estruturado e auto-aplicável que considerou 35 perguntas, subdivididas nos seguintes tópicos: dados pessoais; diagnóstico clínico; dados profissionais; aspectos relacionados ao acidente; segurança no trabalho e reinserção ao trabalho e à sociedade. Um projeto piloto foi realizado para verificar a aplicabilidade do questionário, do qual participaram quatro pacientes. Todos os pacientes foram convidados por carta ou telefone – sendo imediatamente informados do teor do estudo - e aqueles que aceitaram participar da pesquisa, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido quando do comparecimento ao local previamente designado pelas pesquisadoras. Após a assinatura foi distribuído o questionário para que os participantes o respondessem. Durante esse processo as pesquisadoras não puderam fornecer nenhuma explicação, para que não houvesse influencia sobre os resultados. Todavia, para os participantes analfabetos ou que estavam impossibilitados de preencher o questionário devido a alguma incapacidade, este era lido e/ou preenchido com o auxílio das pesquisadoras. Para aqueles que não puderam ser contatados, alguns dados clínicos e demográficos foram obtidos dos prontuários. São eles: sexo, idade, mecanismo de lesão, parte do corpo atingida e diagnóstico clínico. Os dados obtidos passaram por um processo de informatização e análise no programa Excel, onde foi realizada uma análise estatística descritiva, considerando os valores da média, mediana, desvio padrão, freqüência e porcentagem das variáveis. De posse dos referidos dados foi traçado o perfil dos trabalhadores. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, sob o número de registro CAAE 75272. Resultados Identificaram-se 61 pacientes vitimas de acidentes típicos do trabalho. Desses, 29 responderam ao questionário, sendo que 4 participaram do projeto piloto, tendo sido 27 Perfil do trabalhador acidentado atendido pela fisioterapia no Centro de Referência em Reabilitação Anderson Gomes de Freitas em Betim/ MG, no período de outubro de 2004 a outubro de 20052005de 2005 feita a análise de 25. Dos 32 restantes, 28 não puderam ser contatados por inexistência de endereço e/ou telefone e 4 se recusaram a participar do projeto. Portanto, a análise desses 28 pacientes foi feita apenas com os dados existentes nos prontuários. Dos dados retirados apenas dos prontuários, verificou-se que 71% dos pacientes eram do sexo masculino, sendo o principal ramo de atividade a indústria (45%). A região mais acometida foi a mão com 45%, sendo que o mecanismo de lesão mais comum foi a queda com 38%. Os resultados daqueles que responderam ao questionário são os descritos a seguir. Cerca de 92% dos acidentados eram do sexo masculino, com a média de idade de 36 anos, de raça não branca (84%), com ensino fundamental incompleto (28%). A tabela 1 mostra os resultados sócio-demográficos. Tabela 1 - Distribuição das variáveis sócio-demográficas - Centro de Referência em Reabilitação “Anderson Gomes de Freitas” – Betim/MG - outubro/ 2004 a outubro/ 2005 n % Sexo Masculino Feminino 23 02 92 08 Raça Branco Não branco 04 21 16 84 Estado civil Casado Solteiro Separado/divorciado 12 09 04 48 36 16 Escolaridade Analfabeto Alfabetizado Fundamental incompleto Fundamental completo Médio incompleto Médio completo Faixa salarial 1 a 3 salários mínimos 3 a 6 salários mínimos 6 a 9 salários mínimos 02 03 07 03 04 06 23 01 01 08 12 28 12 16 24 92 04 04 O principal ramo de atividade era o do comércio (44%). A faixa salarial foi de 1 a 3 salários mínimos para 92% desses trabalhadores, sendo que 82% deles faziam hora extra e 50% tinham a jornada de trabalho de 8 horas diárias. Com relação ao tempo de trabalho na empresa, cerca de 32% já trabalhavam há pelo menos 3 anos quando ocorreu o acidente, sendo que 46% deles exerciam a mesma função há mais de 3 e menos de 8 anos e 77% deles relatam que trabalhavam na função que estava registrada na carteira de trabalho. 28 Em relação ao tempo de afastamento da função, 41% ficaram afastados de 3 a 6 meses, sendo que o tempo de tratamento fisioterápico foi de 1 a 3 meses para 44% deles. A CAT foi emitida para todos os pacientes que se enquadravam na obrigatoriedade de sua emissão. A maior parte dos entrevistados afirmou existir EPI’s no local de trabalho, porém só 64% deles receberam treinamento para sua correta utilização. A necessidade do uso de EPI’s para desenvolver suas atividades foi relatada por 86% desses entrevistados. No momento do acidente, 64% dos entrevistados relataram que foi prestado atendimento por parte da empresa. Sessenta e oito por cento (68%) dos participantes afirmam não existir projeto para prevenção de acidentes dentro da empresa, embora 41% deles terem relatado a existência de um setor responsável pela segurança do trabalho. Observou-se que o acidente ocorreu no início da jornada de trabalho em quase metade dos casos (46%). A jornada do trabalhador à época do acidente foi caracterizada como normal por 55% dos trabalhadores, ou seja, não foi considerada cansativa. Outros funcionários que exerciam a mesma função dos entrevistados também já haviam se acidentado, segundo a resposta de 46% dos entrevistados. A região do corpo onde mais ocorreu lesão foi a mão com 28%. A causa do acidente foi considerada ocasional para 52% dos participantes, sendo a queda o mecanismo mais comum dessas lesões com 36%. As variáveis clínicas estão inseridas na tabela 2. Tabela 2 - Variáveis clinicas – Centro de Referência em Reabilitação “Anderson Gomes de Freitas” – Betim/MG- outubro/2004 a outubro/2005 n % Tempo de afastamento 3 a 6 meses 7 a 10 meses 10 a 12 meses mais de 12 meses 09 05 02 06 41 23 10 27 Mecanismo de lesão corte corte e esmagamento queda queda e compressão compressão esmagamento 04 01 09 03 05 03 16 04 36 12 20 12 Região do corpo mais lesada Braços Mão Perna Pé Coluna Mão e perna Perna e coluna 04 07 05 03 01 01 01 16 28 20 12 08 04 04 www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Perfil do trabalhador acidentado atendido pela fisioterapia no Centro de Referência em Reabilitação Anderson Gomes de Freitas em Betim/ MG, no período de outubro de 2004 a outubro de 20052005de 2005 Dos trabalhadores acidentados, 73% já haviam retornado ao trabalho. Desses, 68% continuavam na mesma função que exerciam antes do acidente e 62% deles na mesma empresa. A maior parte desses trabalhadores relata que não houve modificação no posto de trabalho (76%) nem na empresa (80%) após o acidente, sendo que 48% apresentam dificuldade ou restrição na realização das atividades laborais, com dificuldade em pegar um objeto sendo relatado por 24% dos pacientes. È interessante ressaltar que todos os entrevistados são residentes na cidade de Betim. Discussão No presente estudo observou-se que os acidentes do trabalho ocorrem mais com trabalhadores do sexo masculino, de raça não branca, com idade média de 36 anos, com baixa remuneração e que possuem ensino fundamental incompleto. Lima et alli (1999) enfatizam que o risco de acidentes é aproximadamente duas vezes maior para pessoas não brancas. Figueiredo (2004), aponta que a maioria dos trabalhadores que sofre AT é considerada semi-qualificada ou sem qualificação. Interessante observar também, que a unidade do SUS analisada neste estudo presta atendimento tanto para o trabalhador do comércio quanto para o da indústria. No comércio, o principal mecanismo apontado como causa do acidente foi a queda, sendo que, nesse setor, as quedas de altura e aquelas originadas pelos acidentes no trânsito tiveram maiores índices. O mesmo mecanismo causador foi encontrado também na indústria, atingindo quase metade dos trabalhadores. São necessários estudos posteriores para investigar as causas intrínsecas e extrínsecas dessas quedas, o que propiciaria aos setores responsáveis a busca de soluções eficazes de prevenção. Mais de 70% dos entrevistados responderam que o AT ocorreu no período diurno e na jornada inicial de trabalho, sendo que a grande maioria realizava hora-extra. Apesar disso, a maior parte dos entrevistados declarou que a causa do acidente foi ocasional. Souza et al (2002) relataram que quase 9 em cada 10 acidentes ocorrem durante o período diurno e que o cansaço, a desconcentração, o tipo de atividade ou algum outro motivo relacionado a horas trabalhadas podem propiciar a ocorrência do acidente, fato esse que o trabalhador não consegue correlacionar A região do corpo mais acometida foi o membro superior, ressaltando o que foi observado por Figueiredo (2004), que constatou que a freqüência de AT por trauma envolvendo o membro superior chega a representar metade do total de acidentes. Temos que ressaltar a importância funcional das mãos, aspecto esse que a diferencia das demais regiões do corpo, e essa prevalência aumentada de acidentes pode estar relacionada com a sua função de órgão de defesa em casos de quedas e agressões. A grande maioria dos trabalhadores retornou para a mesma função que exercia quando ocorreu o acidente, www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 mas nenhuma modificação foi constatada em suas atividades ou no local de trabalho, embora vários entrevistados relatarem que apresentavam seqüelas físicas devido ao acidente. Esta situação pode explicar a dificuldade na realização de atividades laborais apresentadas por vários trabalhadores acidentados. Mantendo-se esse quadro, o risco de demissões e de novos acidentes não está descartado. Neste estudo, algumas variáveis merecem atenção, como o fato de quase a metade dos entrevistados relatarem que outros funcionários da mesma empresa terem se acidentado ao desenvolver a mesma função que eles. A grande maioria desses entrevistados relatou também que necessita de EPI para a realização de suas atividades laborais. Apesar desses EPI’s serem fornecidos pela empresa e ser dado um treinamento prévio, os trabalhadores relataram que existe uma carência de setores responsáveis por promover a segurança no local de trabalho. A ocorrência desse grande número de acidentes, apesar do uso de equipamentos de proteção e de treinamento para sua correta utilização, reflete a necessidade de um questionamento quanto à causa desses acidentes, sendo necessário realizar análises mais apuradas para se ter uma resposta dessa dicotomia. Outro fato relevante diz respeito à ocorrência do acidente para trabalhadores com mais de três anos na função, o que pode ser reportado como necessidade de treinamentos periódicos para a prevenção de acidentes, incluindo também o uso correto de EPI’s. Dessa forma, com uma educação permanente, os riscos do trabalhador vir a sofrer acidentes possivelmente seriam reduzidos. Pôde-se observar por esse estudo que não houve subnotificação para aqueles que se enquadram na obrigatoriedade de emissão de CAT. A subnotificação ocorreu apenas para aqueles do setor informal, diferentemente do que diz o estudo de Conceição et alii (2003), que encontrou 54,5% de subnotificação entre os acidentados com carteira de trabalho assinada. É´ importante lembrar, que para se obter uma estimativa total do número de acidentes do trabalho no Brasil é de suma importância a elaboração de sistemas de informações capazes de captar com maior precisão a ocorrência de acidentes. Além disso, o conhecimento do perfil dos trabalhadores em um determinado local pode ser o ponto de partida para a criação de medidas que visem à melhoria dos aspectos que se associam a um risco maior de acidentes do trabalho. Conclusâo Neste estudo, pôde-se constatar que o trabalhador atendido pela fisioterapia teve a queda como principal fator causador da lesão. Para realizar propostas preventivas é necessário investigar as causas intrínsecas e extrínsecas desse agravo e promover a educação e conscientização desses trabalhadores e também dos empregadores com o objetivo de preveni-lo. 29 Perfil do trabalhador acidentado atendido pela fisioterapia no Centro de Referência em Reabilitação Anderson Gomes de Freitas em Betim/ MG, no período de outubro de 2004 a outubro de 20052005de 2005 Observa-se também que os trabalhadores têm pouca escolaridade e baixa remuneração, são provenientes da indústria e do comércio, tendo retornado ao mesmo posto de trabalho, sem nenhuma modificação do mesmo. Todos esse fatos devem ser levados em conta para tomadas de decisão em relação às políticas públicas que realmente interfiram na ocorrência dos acidentes de trabalho. Referências bibliográficas Binder, Maria Cecília Pereira.; Cordeiro, Ricardo. Sub-registro de acidentes do trabalho em localidade do Estado de São Paulo, 1997. 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End.: Rua Perminio de Souza, 1186 B. cirurgia/ CEP.:49055-530/ Aracaju/ Sergipe E-mail:[email protected] Tel.: (79) 9139-1816 Data da última atualização: 09/12/2006 Data do envio do artigo: 19/12/2006 Resumo As transformações ocorridas no século XX, principalmente a revolução tecnológica na industria e a informatização dos serviços, desencadearam mudanças, especialmente, no âmbito laboral emergindo uma nova relação entre o homem e ambiente de trabalho, onde vários fatores se interagiram desencadeando processos patológicos nocivos à saúde dos trabalhadores. Nessa perspectiva, surgiu o interesse de se estudar a revisão da literatura referente aos aspectos relacionados à biomecânica ocupacional adotada pelos funcionários que executam tarefas de longa duração, com posturas incorretas, alta repetitividade e postos de trabalho inadequados, enfocando a abordagem fisioterapêutica preventiva diante das causas do desenvolvimento dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Palavras-Chave: Biomecânica ocupacional, Doenças ocupacionais, Ergonomia, Fisioterapia preventiva, LER/DORTs. Abstract The occured transformations in century XX, mainly the technological revolution in the industry and the computerization of the services, had unchained changes, especially, in the labor scope emerging a new relation between the man and environment of work, where some factors if had interacted unchaining harmful pathological processes to the health of the workers. In this perspective, appeared the interest of if ahead studying the revision of referring literature to the occupational biomechanics adopted by the employee, who execute tasks of long duration, with incorrect positions, high repetitividade and inadequate ranks of work, focusing the preventive physiotherapy boarding of the causes of the development of the related riots osteomusculares to the work. Keywords: Occupational biomechanics, Occupational illnesses, Ergonomic, Preventive physiotherapy, LER/DORTs. Aspectos da Biomecânica Ocupacional e Abordagem Preventiva da Fisioterapia Introdução As interações entre o trabalho e o homem são bases de pesquisa da biomecânica ocupacional, na qual se analisam, essencialmente, a aplicação de forças e tensões a que os grupos musculares são mantidos durante uma determinada postura no desempenho das atividades laborais. Esse comportamento postural adotado pelos trabalhadores, resumidamente, é influenciado pelas características da tarefa e pelo meio ambiente de trabalho, estes fatores podem desenvolver sobrecargas e aumento do gasto energético, com conseqüente produção de tensões nos músculos, ligamentos e articulações resultando em desconfortos e dores, que são precedentes de doenças ocupacionais. A abordagem da fisioterapia cresce a cada dia, principalmente pela descoberta da importância do investimento em ações preventivas no combate aos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. É interessante iniciar o programa com a desmistificação do processo patológico e o estímulo da consciência postural do funcionário perante os utensílios de trabalho, inclui-se também campanhas educacionais, implantação dos princípios ergonômicos no ambiente de trabalho e desenvolvimento de técnicas de alongamento e relaxamento através da cinesioterapia laboral. O objetivo desta pesquisa está no constituinte dos aspectos biomecânicos ocupacionais, visto que, neste se percebe a escassez de referências bibliográficas, o mesmo já não ocorre quando relacionado a abordagem da fisioterapia preventiva na esfera laboral. Trata-se de um tema com grande relevância social, pretendendo atingir uma melhor compreensão das características do processo saúde/doença das atividades laborais, visando uma melhoria das condições profissionais, e conseqüentemente poder contribuir para uma boa qualidade de vida no trabalho. Metodologia Esta pesquisa foi realizada a partir do levantamento bibliográfico sobre o tema, foram consultados diversos artigos em português, obtidos durante o período de 1990 a 2005. Parte da consulta foi conseguida em dados científicos disponibilizados nas páginas eletrônicas da Internet, como: Bireme/OPAS/WHOLIS/OMS - Sistema Integrado de Informações do Centro Latino-Americano de Informações; www.eps.ufsc.br - Página de base de dados da Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina; www.usp.br - Página de bases de dados de Pós-graduação da Universidade de São Paulo. www.scielo.br/scielo.php - Página de dados em página eletrônica. O restante foi pesquisado em livros, periódicos e www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 publicações de tese de doutorado e dissertações de mestrado. As palavras chaves utilizadas na pesquisa foram: biomecânica ocupacional, fisioterapia preventiva, doenças ocupacionais, LER/DORT e ergonomia. Desenvolvimento Ergonomia Siqueira & Queiroz (2001) evidenciam que os avanços tecnológicos e a necessidade de competir no mercado acabaram por determinar transformações constantes no ambiente de trabalho e nos processos de produção. Abrahão & Pinho (2002) corroboram que tais avanços evidenciam um novo paradigma de organização das relações econômicas, sociais e políticas e se apóiam na conjugação de abertura de mercados e no desenvolvimento acelerado da tecnologia microeletrônica. Nesse sentido, a evolução tecnológica presente em todas as esferas da produção provocam alterações na dinâmica laboral desenvolvidas nas empresas e indústrias, interferindo sistematicamente na organização do trabalho e na ampliação dos fatores que podem provocar agravos à saúde dos trabalhadores como aqueles relacionados às DORTs - Distúrbios Osteomusculoligamentares Relacionados ao Trabalho. Na realidade, como afirma Pereira (1998) o homem no seu processo evolutivo sempre buscou aprimorar suas ferramentas de trabalho com o intuito de transformar tarefas árduas em atividades práticas e menos agressivas à sua constituição fisiológica. Lima (2003) confirma que a influência dos processos de globalização, a competitividade desenfreada do mercado financeiro, a quebra progressiva dos vínculos trabalhistas, a busca de resultados considerados inatingíveis, as novas tecnologias exigindo dos profissionais uma constante reciclagem e o excesso de oferta de trabalho, para as empresas, têm provocado mudanças estruturais na sua organização do trabalho, influenciando diretamente a qualidade de vida dos trabalhadores. Com esta perspectiva, coloca-se em análise a adaptação das ferramentas e do ambiente de trabalho ao homem, constituindo o enfoque de estudo da ergonomia. Em uma abordagem concisa Dul & Weerdmeester (1995) conceituam a ergonomia como uma ciência que estuda o relacionamento entre o homem e seu ambiente de trabalho, reunindo os conhecimentos da antropometria, fisiologia e psicologia, e das ciências vizinhas aplicadas ao trabalho humano, na perspectiva de uma melhor adaptação dos métodos, meios e ambientes de trabalho ao homem. Em seu prefácio, Grandjean (1998) relata a ergonomia como sendo a ciência da configuração de trabalho adaptado ao homem. A partir dessa perspectiva diversos autores tornam claro a importância de se considerar as questões psicofisiológicas e biomecânica do ambiente de trabalho, bem como seu modo organizacional. 33 Aspectos da Biomecânica Ocupacional e Abordagem Preventiva da Fisioterapia Oliveira (1998) ressalva a importância da ergonomia comprometida eticamente com o ser humano, visando ao funcionamento harmônico e seguro dos sistemas homem-máquina. Já Dejours (1995) afirma essa contribuição como sendo incomensurável e as conseqüências sobre a abordagem do fator humano, ainda não foram assumidas. O que torna vivo o descaso por parte dos empresários relativo a saúde e a qualidade de vida do trabalhador no ambiente laboral. Segundo Abrahão (2000) as contribuições da ergonomia no âmbito das melhorias nas condições de trabalho, se dão pela busca da compreensão as atividades dos indivíduos em diferentes circunstâncias de trabalho com vista à sua transformação. SERRANO, 1990, defende que a área de trabalho, os equipamentos e as ferramentas devem ser bem projetados para que sejam evitadas solicitações excessivas e desnecessárias da atividade muscular, adaptando-as às características psico-fisiológicas-antropométricas e biomecânicas humanas. Deste modo, enfoca-se a situação de trabalho inserida em um contexto sociotécnico, a fim de configurar as lógicas de funcionamento e suas repercussões, tanto para a qualidade de vida no trabalho, quanto para o desempenho da produção. Fornasari et al. (2000) interpreta a imposição dos ritmos de trabalho intensos e jornadas prolongadas, atreladas a posturas incorretas e ambientes ergonomicamente inadequados ao trabalhador como causa do comprometimento da sua saúde e da sua destreza nas tarefas habituais, predispondo-o ao desenvolvimento de doenças ocupacionais. Chiavegato Filho & Pereira (2003) retratam a etiologia das LER/DORT em várias casuísticas interligadas, como fatores psicológicos, biológicos e sociológicos envolvidos na gênese desses distúrbios. Inicialmente eram decorrentes preponderantemente das condições de trabalho, mas com o aumento explosivo da incidência entre várias categorias profissionais, surgiram novas correntes explicativas que se deparam em busca de uma compreensão quanto o aspecto etiológico, diversos pesquisadores convergem para uma etiologia multifatorial, com clinicas variadas, o que torna mais difícil a sua identificação. Em meio a esta casuística surge no Brasil, a Norma Regulamentadora - NR17 de 23/11/90, da Portaria n. 3.214/78 da Secretaria de Segurança e Saúde do Trabalhador, do Ministério do Trabalho e Emprego, que visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar o máximo de conforto, segurança e eficiência das atividades desempenhadas (BARBOSA, 2002). tive Strain Injury). Através de estudos e verificações constatou-se que esse termo estava sendo insuficiente para designar as formas clínicas que começaram a aparecer por conseqüência de atividades ocupacionais, por traduzir um mecanismo de lesão único e abrangente. Adotou-se então, a partir da década de 90, o termo DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) que permitiu ampliar os mecanismos de lesões, não só restritos aos movimentos repetitivos (SANTOS et al., 2005). Desta forma, diversos pesquisadores investigam, segundo Lima (2003) as doenças ocupacionais através de dois ângulos observacionais: o primeiro de acordo com a escola anglo-saxônica que ampara a causa da biomecânica como responsável pelo surgimento dos sintomas relacionados aos mecanismos, tentando esclarecer a sua origem através de movimentos com emprego de força, repetitividade, compressão mecânica e posturas inadequadas, ambos agravados pela diminuição das pausas e pela velocidade elevada das atividades laborais. A outra Escola preconiza os fatores psicossociais como causas dos sintomas osteomusculares ligado aos membros superiores. Auxiliada pelas escolas francesas e belgas, para as quais os elementos relacionados ao sistema organizacional e ao método de trabalho se devem pela progressiva marginalização dos trabalhadores no processo industrial, pela insatisfação profissional e pela busca desenfreada do lucro. Esta duas escolas buscam, através de vertentes diferentes, justificar o surgimento das LER/DORTs e se complementam na sua essência ao cogitarmos que os métodos de trabalho tratam-se da interação entre o meio e o homem. As bases da biomecânica ocupacional são constituídas, segundo a afirmativa de Lida (1995) através de um estudo complexo na qual a interação entre o trabalho e o homem, são observadas nas atividades músculo-esqueléticas envolvidas em neste processo e bem como suas conseqüências. Analisam-se predominantemente posturas no trabalho e a aplicação de forças determinada pela natureza da atividade laboral desempenhada pelo indivíduo. Para se realizar qualquer postura ou um movimento, é preciso a organização dos diferentes segmentos corporais no espaço, sendo essencial à sincronia entre grupos musculares, ligamentos e articulações. Resumidamente a postura é influenciada pelas características e exigências da tarefa, pelas condicionantes internas como as formas fisiológicas e biomecânicas de manutenção do equilíbrio e pelas características do meio ambiente de trabalho. Biomecânica Ocupacional Doenças Ocupacionais O primeiro termo a surgir no Brasil, na tentativa de definir as afecções musculoesqueléticas decorrentes do trabalho, foi LER (Lesões por Esforços Repetitivos), baseado na tradução da sigla australiana RSI (Repeti34 O comportamento postural adotado pelos trabalhadores é motivado pela fuga do desconforto, contudo esta atitude tende a aumentara a solicitação e o gasto energético de grupos musculares desnecessários causando o desenvolvimento de sintomas com dor, formiwww.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Aspectos da Biomecânica Ocupacional e Abordagem Preventiva da Fisioterapia gamento, câimbras entre outros. Lima (2003) ressalva que a adaptação muscular no padrão postural refere-se à capacidade de os músculos se adaptarem às funções que vivenciam. Nenhuma postura de trabalho é neutra. Nenhuma “má postura” é adotada “livremente” pelo sujeito, mas é resultado de um compromisso entre os pontos citados. Uma postura inadequada causa tensões mecânicas nos músculos, ligamentos e articulações, resultando em dores no pescoço, costas ombros, punhos e outras partes do sistema músculo-esquelético (DUL; WEERDMEESTER, 1995). De acordo com Smith & Lehmkuhl (1997), “postura é um termo definido como uma posição ou atitude do corpo, a disposição relativa das partes do corpo para uma atividade específica, ou uma maneira característica de sustentar o próprio corpo”. O corpo pode assumir muitas posturas buscando melhor conforto, quando ocorre um desconforto postural por contração muscular contínua, tensão ligamentar, compressão ligamentar ou oclusão circulatória, normalmente procura-se uma nova atitude postural. Quando não se alteram tais posições podem ocorrer lesões teciduais, limitação de movimentos, deformidades ou encurtamentos musculares restringindo as atividades de vida diária. Kendall (1995) definiu postura como “o arranjo característico que cada indivíduo encontra para sustentar o seu corpo e utilizá-lo na vida diária, envolvendo uma quantidade mínima de esforço e sobrecarga, conduzindo à eficiência máxima do corpo”. Para PERES, 2002, a grande interação entre as musculaturas estática e dinâmica é evidenciada entre os vários autores, quando se referem a qualquer atividade corporal, onde a postura dinâmica está associada a execução de tarefas numa soma de vários movimentos articulares que permitem realizar as atividades de trabalho, enquanto que a postura estática associa-se à manutenção do tônus dando base necessária à estabilização das estruturas centrais do corpo. Para a Academia Americana de Ortopedia citada em 1983 por Knoplich, “postura é um arranjo relativo das partes do corpo e, como critério de boa postura, o equilíbrio entre suas estruturas de suporte (músculos e ossos), que as protegem contra uma agressão por trauma direto ou deformidade progressiva por alterações estruturais. Já a má postura é aquela onde há falha no relacionamento das várias partes do corpo, induzindo ao aumento de agressão às estruturas de suporte produzindo um desequilíbrio nas bases de suporte corporal”. Postura inadequada exigirá maiores forças internas para a execução de uma tarefa, e consequentemente maior gasto energético, enquanto que a postura correta promove boas condições biomecânicas, o que leva um maior rendimento com relação à energia localizada. Segundo Brandimiller (1999) há vários motivos pelo qual uma posição se torna incômoda após algum tempo: 1) pela compressão de partes do corpo (nádegas, coxas e fossa poplítea), contra o assento; 2) pela contração prolongada dos músculos posteriores do tronco www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 que mantêm esta posição (pescoço, dorso e região lombar); 3) pela diminuição da circulação sanguínea, causada tanto pela compressão de algumas partes do corpo, quanto pela contração permanente dos músculos posturais. A dor nas costas, decorrente de posturas inadequadas no ambiente de trabalho, é uma das desordens ocupacionais mais encontradas pelos pesquisadores e, segundo Couto (1995), é identificada por estudos epidemiológicos e análises biomecânicas. A adoção de posturas inadequadas na realização de determinadas funções, associadas a outros fatores de risco existentes no posto de trabalho, como sobrecarga imposta à coluna vertebral, vibrações e manutenção de uma postura por tempo prolongado constitui as maiores causas de afastamento do trabalho e de sofrimento humano. As posturas ocupacionais podem ser desenvolvidas na posição ortostática, na posição sentada ou ainda na posição deitada. O trabalho em pé exige dos membros inferiores uma atividade muscular estática para manter essa posição na qual é altamente fatigante, pois exige grande trabalho estático da musculatura envolvida nesta postura. De acordo com Santos & Dutra (2001) na posição em pé ocorre um aumento da pressão hidrostática do sangue nas veias das pernas com acúmulo de líquidos tissulares nas extremidades inferiores promovendo a diminuição da circulação sanguínea, a dilatação das veias das pernas, edema tecidual do tornozelo e fadiga muscular dos músculos da panturrilha. Além disso, encontramos nas literaturas que tempo prolongado durante a realização de tarefas na posição em pé promovem fadiga muscular na região das costas e pernas que piora com a inclinação do tronco e da cabeça, provocando dores na região cervical e torácica. Kapandji (2000), descreve que na posição ortostática com apoio simétrico dos membros inferiores, a coluna lombar se apresenta em curvatura anterior, a lordose lombar. Já num apoio assimétrico sobre um membro inferior, a coluna lombar apresenta uma concavidade para o lado do apoio, devido à báscula da pelve, para isso a coluna dorsal adota uma postura produzindo uma concavidade para o lado do membro sem carga. Já a coluna cervical adota uma curvatura para o lado da curvatura lombar, isto é, de concavidade para o lado de apoio. Rio & Pires (2001) concluíram que, sob o ponto de vista biomecânico, por melhor que seja, a postura sentada impõe carga significativa sobre os discos intervertebrais, cerca de 50% (COUTO, 1995), principalmente da região lombar, e se mantida estaticamente por período prolongado pode produzir fadiga muscular e conseqüentemente dor. Devemos lembrar que os discos intervertebrais são estruturas praticamente desprovidas de nutrição sanguínea e que o aumento em sua pressão interna reduz a nutrição do mesmo promovendo uma degeneração desta estrutura, seu comprometimento estrutural é menor quando comparado a postura em pé. Grandjean (1998) descreve com clareza 35 Aspectos da Biomecânica Ocupacional e Abordagem Preventiva da Fisioterapia que as vantagens da postura sentada são o alívio dos membros inferiores, baixo consumo energético, menor sobrecarga ao corpo e alívio à circulação sanguínea. Porém, pesquisadores como Nachemson e Anderson citado por Grandjean (1998), demonstram através de métodos precisos, que na postura sentada, a mecânica da coluna vertebral é perturbada produzindo desgastes e conseqüentemente lesões nos discos intervertebrais, pela pressão que essas estruturas sofrem nesta postura, principalmente por tempo prolongado. Já na posição sentada, em relação à posição de pé, apresenta grande vantagem por ser menos cansativo para os membros inferiores devido à menor carga nas articulações do quadril, joelho e tornozelos, desde que esta esteja posicionada de maneira correta possuindo apoio para a região da coluna e dos pés. Segundo Brandimiller (1999) mesmo na posição sentada é preciso um trabalho continuo dos músculos das costas para evitar que esta desabe. A mudança de postura durante a atividade de trabalho é de grande importância para a saúde do sistema músculo-esquelético, possibilitando, além da redução de cargas estáticas e variação da utilização de estruturas articulares e musculares. A postura semi-sentada tem sido proposta para algumas situações de trabalho, porém não como única alternativa para o trabalhador durante sua jornada de trabalho, pois esta postura ainda não apresenta conclusões definitivas podendo ser utilizada apenas por pequenos períodos (RIO e PIRES, 2001). Segundo Chiavegato Filho & Pereira Jr. (2003) as abordagens das LER/DORTs que restringem a sua etiologia a um único tipo de fator causal, não estão encontrando respostas suficientes em relação ao seu diagnóstico, tratamento e à cura. Pode-se constatar que elas não se enquadram em um paradigma médico de interpretação do processo saúde-doença, baseado na mera casualidade unidimensional, e sim multifatorial abrangendo aspectos biomecânicos, cognitivos, afetivos entre outros, da atividade desenvolvida pelos pacientes, dificultando então a atuação dos profissionais da saúde. Fisioterapia Preventiva Para as empresas, existem inúmeras vantagens de investir em programas de ergonomia, em primazia destacam-se as melhorias na qualidade de vida do trabalhador, propiciando a redução de gastos com assistência médica por doenças ocupacionais e conseqüentes afastamentos, diminuição do absenteísmo e da rotatividade do quadro de empregados na empresa, e conseguinte aumento na eficiência do trabalho. Para os empregados, proporcionaria a redução da fadiga muscular e do desconforto físico, com conseqüente redução do estresse psicológico, a diminuição do gasto energético na execução das tarefas e do acometimento de DORTs (POZZOBON et al., 2001). Martins e Duarte (2000), apud Lima (2003) ressaltam 36 a necessidade da análise ergonômica no trabalho, pois sem a qual as sessões de alongamento seriam apenas um mero paliativo momentâneo, hajam visto que alguns minutos dessa prática não atuariam com eficácia sobre a má postura ocasionada por mobiliários antiergonômicos ou mesmo tarefas exaustivas desempenhadas por período prolongado. Conclusão Podemos concluir que as relações entre trabalho e a saúde dos trabalhadores nem sempre é benéfica, a maioria dos empregados são expostos a locais de trabalho antiergonômicos, jornadas prolongadas, ritmos excessivos, entre outros fatores que acabam por colocar em risco o desempenho de suas atividades laborais e domésticas. A qualidade de vida no trabalho nestes casos é comprometida. A ergonomia, por ser uma ciência multidisciplinar, estuda vários aspectos relacionados com a organização do trabalho, componentes do posto, condições ambientais, características psicossociais e características física do trabalhador. A análise do atrelamento destes requisitos transfere o ponto de vista para a biomecânica ocupacional desenvolvida pelo trabalhador como fator predisponente ao desenvolvimento das doenças ocupacionais, visto que a má postura no local de trabalho proporciona o surgimento de quadro doloso. Em síntese, a biomecânica ocupacional é a aplicação dos princípios da mecânica da física ao corpo humano, noções de força, peso e tensões a que os grupos musculares são mantidos durante uma determinada postura ou um movimento o que podem desenvolver sobrecargas e aumento do gasto energético, com conseqüente produção de tensões nos músculos, ligamentos e articulações resultando em dores. A busca por programas preventivos atua sobre o enfoque dos fatores tidos como desencadeadores da sintomatologia das DORTs. No âmbito da fisioterapia, a desmistificação do processo patológico é a base inicial do programa preventivo, inclui-se campanhas educacionais, implantação dos princípios ergonômicos no ambiente de trabalho e desenvolvimento de técnicas de alongamento e relaxamento através da cinesioterapia laboral. A previa análise das atividades desempenhadas pelos funcionários durante a jornada de trabalho direcionaria este programa na qual será embasado num conjunto de atividades ligadas a prevenção de doenças ocupacionais, onde pretende-se desenvolver uma consciência individual e coletiva de cada funcionário participante, a fim de se evitar a instauração do quadro sintomatológico e em alguns episódios, como nos casos iniciais da patologia, o tratamento imediato garante a cura total. É constatado que a reincidência dos sintomas se devem ao não retorno gradativo da função desempenhado pelo funcionário, não basta o afastamento durante o tratamento medicamentoso e fisioterapêutico, mas www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Aspectos da Biomecânica Ocupacional e Abordagem Preventiva da Fisioterapia que este retorno a suas atividades laborais sejam orientadas por um fisioterapeuta profissional capacitado para que reabilite funcionalmente o membro afetado do paciente. Este acompanhamento deve ser incluso no programa preventivo a fim de se evitar o regresso do quadro patológico. Na esfera laboral, o fisioterapeuta pode se unir a uma equipe multidisciplinar dentro da empresa para garantir o retorno gradativo do funcionário às atividades laborais, pode desenvolver um ambiente de trabalho mais ergonômico adequando-o ao seu usuário, pode realizar o tratamento fisioterapêutico dentro da empresa afim de evitar o deslocamento do funcionário para um clinica especializada, economizando assim o tempo. n.spe Natal 2002. Psic.: Teor. e Pesq. [online]. jan./abr. 2000, vol.16, no.1 [citado 21 Fevereiro 2006], p.49-54. Disponível na World Wide Web: ABRAHAO, Júlia Issy. Reestruturação produtiva e variabilidade do trabalho: uma abordagem da ergonomia. Psic.: Teor. e Pesq. [online]. jan./abr. 2000, vol.16, no.1 [citado 21 Fevereiro 2006], p.49-54. Disponível na World Wide Web: FORNAZARI, C. A.; SILVA, G. A.; NISHIDE, C.; VIEIRA, E. R. Postura viciosa. Revista Proteção, São Paulo, v. 13, ed. 99, mar. 2000. KAPANDJI, A. I. Fisiologia Articular - Tronco e coluna vertebral. 5ª ed. 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Foi observado que a maioria dos sujeitos adota posturas incorretas. Conclui-se que é necessária uma intervenção ergonômica e orientações posturais aos colaboradores. Palavras chave: Avaliação, RULA e ergonomia. Abstract The purpose of this study was to evaluate the incorrect positions adopted in a group of workers. The subjects included were in number of 30, male and female evaluated accorded to RULA program. The information was collected by the observation of the subject during the job. It was noticed that major of them were in incorrect positions. We concluded that it is necessary an ergonomic intervention and position orientation to them. Key words: Evaluation, RULA, ergonomics Aplicação da planilha RULA em colaboradores de uma unidade de atendimento ao público do governo do Estado de Goiás ergonômico do trabalho do carteiro: relação entre carregamento de peso e alterações posturais Introdução A ergonomia desenvolveu-se durante a Segunda Guerra Mundial quando, pela primeira vez na história, houve uma conjugação sistemática de esforços entre a tecnologia e as ciências humanas, pois nessa situação de conflito máximo exacerbaram-se as incompatibilidades entre o desenvolvimento humano e o desenvolvimento técnico, já que os equipamentos produzidos para a guerra exigiram dos operadores decisões rápidas e execução de novas atividades em situações críticas (Deliberato,2002). A palavra ergonomia deriva do grego (ergo: trabalho e nomos: leis ou regras) e, podemos sintetizá-la como as leis que regem o trabalho. A definição mais comumente encontrada na literatura é a proposta por Wisner (1987), que confere ao termo ergonomia o significado de um conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficiência (Deliberato,2002). Para a ergonomia, as condições de trabalho são representadas por um conjunto de fatores interdependentes, que atuam direta ou indiretamente na qualidade de vida das pessoas e nos resultados do próprio trabalho e que o homem e que o homem, a atividade e o ambiente são os elementos componentes da condição de realização do mesmo (Marcon,2004). Na literatura encontramos diversas formas de avaliar as condições ergonômicas do trabalhador. O método RULA (Rapid Upper Limb Assessment) foi criado para detectar posturas de trabalho ou fatores de risco que mereçam uma atenção especial e permite fazer uma avaliação inicial rápida de um grande número de trabalhadores. É um método ergonômico que avalia a exposição de indivíduos a posturas, forças e atividades musculares podendo contribuir para o desenvolvimento de LER/DORT. Proporciona uma rápida avaliação dos constrangimentos sobre os membros superiores e desta forma, é possível conhecer as influências sobre antebraços, nuca e punhos. O método foi desenvolvido por Mc Atamney e Corlett, em 1993 (Amaral, 2004) (Casarotto,2006). O presente estudo tem como objetivo avaliar as posturas dos colaboradores utilizando a planilha RULA para que através desta possamos descrever as posturas inadequadas utilizadas e promover ações que vão de encontro à solução deste problema ergonômico. Metodologia O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva quantitativa. O estudo foi desenvolvido em uma unidade de atendimento ao público do Governo do Estado de Goiás, no período de setembro a outubro do ano de 2006. No presente estudo foram incluídos 30 (trinta) sujeitos de ambos os sexos que trabalhavam em uma unidade de atendimento ao publico no Estado de Goiás. Esses sujeitos executavam sua função no período vespertino entre www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 13:00 e 19:00 horas. Suas atribuições incluíam ouvir a solicitação do cliente e registrar a mesma em computador. Para isso os sujeitos trabalhavam na posição sentada. Não foram considerados os aspectos raça, idade ou doença pré existente. Critérios de exclusão: indivíduos que trabalham em outros horários e indivíduos que trabalham na postura de pé. Os dados foram coletados através da observação dos sujeitos durante a execução da sua atividade. Antes de iniciado a coleta dos dados os colaboradores receberam orientações quanto à postura adequada durante o trabalho e a adaptação correta do mobiliário que incluiu postura dos ombros, cotovelos e punho; grau de flexão de tronco, joelhos e apoio de pés. Os aspectos observados seguiram a planilha RULA de acompanhamento do funcionário. Nessa planilha o funcionário é avaliado quanto à postura de ombro, antebraço, punho, pescoço, tronco e pernas. Além da postura são observados o uso de força muscular, a manutenção de postura estática ou a execução de movimentos repetitivos. Ao final da observação é obtido um valor numérico que varia de 1 a 7 onde 1 e 2 representam uma postura aceitável se não for mantida ou repetida durante longos períodos, 3 e 4 representam necessidade de investigar e requerer mudanças, 5 e 6 representam necessidade de requerer mudanças rapidamente e 7 mudanças imediatas. Os colaboradores receberam e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, onde autorizaram a divulgação das informações colhidas e a eles foi garantida a impessoalidade da pesquisa. Após a coleta dos dados, os indivíduos foram separados quanto ao sexo, foi realizada a somatória dos escores da planilha RULA e a análise das posturas mais utilizadas. Os dados foram inseridos no Programa Microsoft Excel, versão 2000, elaborados gráficos e tabelas dos resultados. Resultados No período de setembro a outubro de 2006 foram observados 30 indivíduos de acordo com a planilha RULA. Destes 23 (76,67%) eram do sexo feminino enquanto 7 (23,33) eram do sexo masculino. 39 Aplicação da planilha RULA em colaboradores de uma unidade de atendimento ao público do governo do Estado de Goiás ergonômico do trabalho do carteiro: relação entre carregamento de peso e alterações posturais inferiores tivemos como resultados o seguinte: 100% dos indivíduos assumem uma postura estática, com carga inferior a 2kg durante a atividade. Entre os colaboradores do sexo feminino a grande maioria 69,57% trabalha com membros inferiores não apoiados, entre os colaboradores do sexo masculino esse número cai para 57,14%. Discussão Avaliando as posturas de membros superiores obtivemos os seguintes resultados: Todos os indivíduos observados adotavam postura de cotovelo em flexão de 90 graus ou maior e executavam ação repetitiva ou mantinham postura estática com carga menor do que 2 kg. Quando observada a postura de punho tivemos os seguintes resultados: Ainda analisando a postura do punho, entre as mulheres observou-se que 52,17% trabalham com desvio radial ou ulnar do mesmo, e entre os colaboradores dos sexo masculino essa porcentagem é de 28,57%. Quando foi observada a postura de tronco e membros 40 Nessa unidade de atendimento do Governo do Estado de Goiás houve uma prevalência dos indivíduos nos scores 3 e 4 e 5 e 6, o que indica a necessidade de se realizar mudanças, atingindo o objetivo de detectar posturas de trabalho ou fatores de risco que mereçam uma atenção especial. Pegatin, no ano de 2004, realizou um trabalho sobre análise ergonômica em um posto de trabalho numa fábrica de calçados. Foram utilizadas três ferramentas de análise, dentro destas a planilha RULA. As possíveis agressões, de acordo com as determinadas regiões corporais a partir da análise proposta foram: pescoço, posição estática durante grande parte da jornada de trabalho, ombros, posição estática durante grande parte da jornada de trabalho (leve flexão e abdução além de 45 graus); punho, leve flexão e desvio ulnar por grandes períodos de tempo; mãos, preensão pulpar (uso de força e repetitividade de movimentos); coluna trabalho em posição sentada, porém sem apoio adequado ao encosto, ângulo inadequado tronco-quadril. Pernas e pés, altura e dimensões da bancada não adaptadas e reguláveis; tornozelo; trabalho repetitivo de flexo extensão. No estudo feito por Marcon (2004), foram observadas as condições de trabalho dos funcionários que atuam na tarefa de sexagem em um incubatório de aves, para que se pudessem identificar os riscos das condições de trabalho para possibilitar sua análise, correlacionar os riscos com as condições de trabalho e propor recomendações e sugestões para a melhoria do trabalho, em contraposição os riscos detectados. Foram realizadas várias formas de avaliação dos profissionais, dentre elas o Método RULA, onde se obteve um escore final igual a 3, que , de acordo com o método, indica que a situação deve ser investigada. De acordo com Silva, 2001, é importante salientar que o fato de uma equipe trabalhar sentada não é suficiente para diminuir o desgaste físico do trabalhador, no caso do seu estudo, o dentista. Muitas vezes os esforços são maiores e os movimentos tornam-se mais cansativos. Assim, não é correto acreditar que a execução dos procedimentos em posição sentada seja o único fator para racionalizar o trabalho. É fundamental que a equipe, ao sentar-se mantenha postura ergonômica, ou seja, deve trabalhar com as costas relativamente retas e apoiadas no encosto, as coxas paralelas ao chão e formando um ângulo de 90º com as pernas, os pés apoiados no chão, manter os cotovelos junto ao corpo e apoiados em local que esteja nivelado, mantendo um ângulo de 90º de cotovelos. A necessidade de orientação postural e adequação do posto de trabalho se faz necessária quando observa-se a www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Aplicação da planilha RULA em colaboradores de uma unidade de atendimento ao público do governo do Estado de Goiás ergonômico do trabalho do carteiro: relação entre carregamento de peso e alterações posturais pontuação final dos indivíduos e a análise da postura adotada durante o trabalho nas articulações analisadas que por sua vez são as mais predominantemente envolvidas em lesões ocupacionais. Conclusão A análise das posturas adotadas durante as atividades dos colaboradores em uma unidade de atendimento ao público do governo do estado de Goiás feita através do método RULA, revelou que a maioria das pessoas observadas adota posturas inadequadas no posto de trabalho. Essas posturas podem acarretar danos como sobrecarga articular, fadiga muscular e conseqüente desenvolvimento de patologias ocupacionais, que levam à diminuição da produtividade, aumento do índice de insatisfação com o trabalho e um maior número de afastamentos. Estas posturas inadequadas podem ser amenizadas de várias formas dentre elas a orientação postural e a adaptação ergonômica do mobiliário. É necessário que além da aquisição de material ergonomicamente adequado seja realizada também a orientação com relação ao uso do mesmo. Este trabalho se faz importante na medida em que chama atenção pra os problemas existentes e para a necessidade mudança. O mesmo pode ser associado em estudos futuros à existência previa de doença ocupacional e fatores como idade e jornada dupla de trabalho. Bibliografia AMARAL, G. F. NAVIERO, R, M. Revisão dos Métodos de Análise Ergonômica aplicados ao estudo dos DORT em trabalho de montagem manual. Revista produto e produção v. 07 n. 01 2004. CASAROTTO, R. A. ÉQUI, M.B. Avaliação do desconforto www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 e da sobrecarga músculo-esquelética em trabalhadores de cozinha industrial através do método rula e mapa de desconforto postural. Universidade de São Paulo | Centro Universitário Capital. Abergo, 2006. Curitiba PR. Universidade de São Paulo | Centro Universitário Capital. DELIBERATO, C. P. Fisioterapia Preventiva: Fundamentos e aplicações. Ed. Manole, 1ª Ed; 2002; pág. 122 e 123. MARCON, C.L.Análise das condições de trabalho em um incubatório de aves o caso do setor de sexagem Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, campus de Florianópolis, como requisito parcial à obtenção do grau Mestrado em Ergonomia. Orientador: Prof. Antônio Renato Pereira Moro, Florianópolis 2004. MARZIOLE, M.H.P. CARVALHO, E. C. 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Florianópolis, 22 de outubro de 2001. 41 O perfil dos carteiros dos municípios do Vale do Rio dos Sinos e sua percepção de conforto do calçado utilizado durante suas atividades laborais Autores: Lívia R. da Rosa, fisioterapeuta, e-mail: [email protected]; R: Osvaldo Aranha, 445 ap 101. Pátria Nova, Novo Hamburgo/RS Cep: 93410060; Profª Ms. Magali P. M. da Silva, do Centro Universitário Feevale/RS; Data atualização: 05/08/2006; Data de envio: 21/02/2007; Resumo O presente estudo teve como objetivo principal avaliar a percepção dos carteiros do Vale do Sinos (V.S.) em relação a adequação e conforto dos calçados utilizados em suas atividades laborais. A amostra deste estudo foi constituída de 74 carteiros pedestres do sexo masculino. Variaveis apresentadas: média de idade 33,6 anos; IMC 22 a 24 Kg/m²; média 14,07km percorridos diariamente; 55,4% não trocavam seu calçados periodicamente e destes, 48,79% não a realizavam porque não recebiam o calçado da empresa dos correios; dos que realizavam a troca periódica dos calçados, a faziam de 6 em 6 meses; 52,77% consideraram a palmilha adequada; 63,51% não referiram dor e/ou desconforto nos pés; 55,4% da amostra considerou o seu calçado normal; encontramos diferenças entre os comprimentos e larguras dos pés dos carteiros para um mesmo calce. Palavras-chave: Calçado, Percepção, Conforto. O perfil dos carteiros dos municípios do Vale do Rio dos Sinos e sua percepção de conforto do calçado utilizado durante suas atividades laborais Introdução Atualmente todos conhecemos a importância de utilizarmos calçados adequados às nossas atividades e às nossas características individuais. É uma tendência que cada vez mais os fabricantes de calçados estejam atentando aos critérios de conforto para fabricarem seus calçados com qualidade. Mas apesar do interesse crescente dos fabricantes de calçados em relação à importância da biomecânica na confecção dos calçados – para adaptá-los às necessidades funcionais dos diferentes grupos de populações, ainda não se aplica verdadeiramente este conceito (isso devido à ausência de conhecimentos suficientes sobre a influência do calçado na modificação das cargas mecânicas que atuam sobre o aparelho locomotor durante o desenvolvimento das atividades humanas; às diferenças estruturais e funcionais dos pés da população – dificultando o estabelecimento de normas e padrões; e à dificuldade de transferir os conhecimentos procedentes da investigação biomecânica do tipo prático como as que necessitam os modelistas) (MANFIO, 2001). O objetivo geral deste trabalho foi avaliar a percepção dos carteiros do Vale do Rio do Sinos em relação a adequação e conforto do calçado utilizado em suas atividades laborais (fornecido como uniforme pela empresa dos correios). Os objetivos específicos foram verificar o nível de satisfação dos carteiros quanto a utilização dos calçados fornecidos; Identificar quais locais de dor ou desconforto na região do pé são mais comumente acometidos entre os carteiros pedestres e verificar se os carteiros efetuam as trocas de calçados providas pela empresa dos Correios, a cada seis meses. Metodologia Este estudo foi desenvolvido nas agências dos correios de cidades do Vale do Rio do Sinos (RS). Os colaboradores desta pesquisa forma os carteiros pedestres, do sexo masculino, que trabalhassem há pelo menos 6 meses na profissão e que aceitassem participar da pesquisa. Este estudo contou com a colaboração de 74 carteiros. A escolha da amostra foi composta feita a partir de um estudo prévio do número de agências existentes no V.S. e verificado junto à comissão estatística do Centro Universitário Feevale o n° de carteiros necessários para que a amostra fosse significativa cientificamente. O estudo tratou-se de uma análise quantitativa, com pesquisa de caráter observacional descritivo. Os instrumentos utilizados para aferição das variáveis pesquisadas foram um paquímetro e uma fita métrica, além do questionário de dor e desconforto da região do pé (onde os carteiros mensuraram sua algia numa escala de 0 a 10, onde 0 representou ausência de dor e 10 máxima dor ). Também utilizamos a tabela de avaliação adaptada para níveis de percepção de dor e desconforto, elaborado segundo normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) – NBR 14840, de março de 2002. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Após a realização da coleta de dados, estes foram tabulados e classificados para que fosse realizada a análise estatística. Realizamos média para demonstrar as variáveis, as diferenças tiveram suas significâncias testadas através de Combinação de Anova e também Correlação de Pearson. Foi utilizado sistema S.P.S.S para “WINDOWS versão 12.0”. O trabalho também foi aprovado pela comissão de ética em pesquisa do Centro Universitário FEEVALE. 1 - PERFIL DOS CARTEIROS a) Idade: Dos 74 carteiros, a média de idade obtida para o grupo foi de 33,6 anos, sendo que 55,4% do total da amostra tem 32 ou mais anos e 5,4% tem menos de 22 anos, com mínimo de idade de 20 anos e máximo de idade de 54 anos. b) Índice de Massa Corporal (IMC): Os dados obtidos demonstraram que a maior porcentagem da amostra, ou seja, 25,7 % (19 carteiros) apresentam IMC de 22 a 24 Kg/ m² (normal); 21,6% da amostra (16 carteiros) apresentou IMC de 24 a 26 Kg/m² (dados considerados entre normal e acima do peso); 20,3% da amostra (15 carteiros) apresentaram IMC de 26 a 28 Kg/m² (considerados acima do peso); 1,40% dos carteiros (01 carteiro) apresentaram índices de IMC de 30 Kg/m² ou mais (obeso), ficando os restante da amostra em valores não expressivos. Este carteiro perfazia a menor quilometragem média diária da amostra, ou seja, menos de 6 km. Então, a média de IMC encontrada foi 23,4 Kg/m², ou seja, IMC normal. Henning (2004), revelou que quando estão em bipedestação, os indivíduos de peso adequado têm pressões 1,4 vezes menor que a dos obesos. Disso conclui-se que sempre que há aumento de peso do corpo aumenta também a pressão sobre as estruturas dos pés. Normalmente pessoas com sobrepeso têm dores nos pés. A maior mudança acontece no médio-pé. Os obesos por conseqüência do peso excessivo, reduzem a altura de seu arco plantar, ocorrendo um aumento de 3,6 vezes na pressão do pé nessa região em relação à de indivíduos com peso normal do sexo masculino. Estes dados são compatíveis com os encontrados nesta pesquisa, pois o carteiro que encontrava-se na classificação obeso referiu ter dor no médio-pé. c) Quilometragem (km) média diária percorrida pelos carteiros: 72,9% dos carteiros (54 carteiros) caminham mais de 12km diários, com média de 14,07km percorridos. 01 carteiro percorre 6km diários. Notou-se através de relatos que os carteiros que trabalham nos centros das cidades percorrem menores distâncias que os que trabalham nas periferias. Rodriguez et al (2001) obteve em pesquisa média de 4,2km diários. Talvez isso ocorra na diferença de km percorridos entre os carteiros que trabalham nos centros das cidades e carteiros que trabalham nas periferias. Grau (2004) confirma um maior n° de lesões quando as pessoas correm / caminham maiores distâncias. 43 O perfil dos carteiros dos municípios do Vale do Rio dos Sinos e sua percepção de conforto do calçado utilizado durante suas atividades laborais 2 - CARACTERÍSTICAS DO CALÇADO DOS CARTEIROS Do total da amostra, 81% apresentou calce entre n° 3942, sendo que 25,7% tem calce n° 40 (maioria da amostra). 3 - TROCA PERIODICA DO CALÇADO A empresa dos correios deveria fornecer aos seus empregados novos pares de calçados a cada 6 meses. Neste caso, 44,6% relataram trocar seus calçados periodicamente e 55,4% relataram não realizar a troca periódica dos calçados, ou seja, mais da metade dos carteiros não realizavam a troca, o que nos leva ao seguinte questionamento: a empresa dos correios estaria realmente efetuando a distribuição dos calçados aos seus empregados, a cada 6 meses? CTCCA (1994) afirma que não se deve usar o mesmo par de sapatos, dia após dia, sem descanso. É preciso dar-lhe tempo para respirar, ou seja, para permitir que a transpiração acumulada durante o uso possa ser liberada para o exterior. 4 - TEMPO DE TROCA DO CALÇADO Apenas 34 carteiros faziam uma troca periódica do calçado utilizado. Ao serem questionados quanto ao tempo de troca, a maioria (14 carteiros ou 42,43%) respondeu que o faz de 6 em 6 meses. Segundo CTCCA (1994) a vida útil de um calçado, excetuando-se uma comprovada falha na fabricação, depende da compra certa e dos cuidados de conservação. 5 - PORQUE NÃO REALIZAM A TROCA PERIODICA DO CALÇADO Dos 41 carteiros que faziam a troca periódica de seus calçados, 48,78% (20 cart.) não realizavam porque não recebiam o calçado da empresa dos correios e 24,39% (10 carteiros) relataram que o calçado demora para se desgastar, então só realizavam a troca quando ele estava bem desgastado. 9,75% relataram costume com os pares velhos e 7,31% apontaram que demoram para se adaptar aos pares novos. 02 carteiros relataram que os calçados novos machucavam os pés e 01 carteiro que o calçado novo provocava edema no pé. Segundo CTCCA (1994) deve-se consertar os calçados ao 1° sinal de desgaste pois, por exemplo, sola finas ou furadas, além de permitirem a penetração da umidade externa, também farão com que o calçado se torne muito flexível, permitindo a ocorrência de lesões músculo-esqueléticas que poderiam ser evitadas. que a palmilha escorrega dentro do calçado, ficando acumulada na parte anterior do calçado. 03 carteiros observaram que esse problema acaba por precipitar bolhas nos artelhos. 4,17% apontaram que é a palmilha quem promove o maior aquecimento dos pés dentro do calçado, nos dias mais quentes. 01 carteiro respondeu que a palmilha é muito fina e se desgasta facilmente. Mascarenhas (1994) explica que a palmilha promove conforto ao pé e participa em grande porcentagem da sensação de conforto do calçado utilizado. 7 - DOR E/OU DESCONFORTO Do total de 74 carteiros, 27 (36,49%) sentiu alguma dor/ desconforto nos pés e 47 carteiros (63,51%) não sentiram. Os dados encontrados por Grau (2004) e Covanagh & Rodgers (1987) relacionam-se com esta pesquisa pois em esportistas (ou pessoas que fazem da marcha seu instrumento de trabalho) há inexistência de dores conjuntamente com anomalias enormes, talvez devido às agressões diárias sofridas pelas estruturas podais. 8 - MÉDIA DE DOR E/OU DESCONFORTO Para esta mensuração foi utilizado o Mapa da Dor/ Desconforto. Este resultado expressou a média de dor por local e não pelo n° de carteiros: o local que mais apresentou algia e/ou desconforto foi o local 3 (média de 8,33), seguido do local 5, com média de 7,5. O local que apresentou que menos apresentou algia/desconforto foi o local 10 (com média de 3,5), seguido do local 4 ( com 4,6). Henning (2004) em seu estudo sobre a sensibilidade de diferentes áreas dos pés, relatou que as regiões que servem para suportar o peso são menos sensíveis , assim como o Tendão de Aquiles. Mais sensíveis são os artelhos/ médio pé plantar/ calcaneo lateral e calaneo medial. 9 - PERCEPÇÃO DO CALCE Aqui foi determinada a média dos níveis de percepção de conforto do calce conforme norma adaptada da ABNT NBR 14840:2002. Constatamos que 55,4% dos carteiros consideraram o calçado normal; 28,38% consideram o calçado confortável; 16,22% acharam o calçado desconfortável. Nenhum dos carteiros considerou o calçado muito confortável ou muito desconfortável. Ao contrário do que constatamos nesta pesquisa, Avila e col. (2001), afirma que os testes de percepção do calce mostraram níveis de percepção excelente. 10 - NÚMERO DO CALCE X COMPRIMENTO DO PÉ 6 - NÍVEL DE SATISFAÇÃO Qualidade da Palmilha: Ao serem questionados quanto a considerarem a palmilha adequada, 52,77% relataram que a palmilha utilizada é de boa qualidade. Para 29,16% a palmilha é muito dura. 11,11% (08 carteiros) relataram 44 Para este dado, realizamos as medições dos diferentes comprimentos dos pés dos carteiros que utilizam um mesmo calce. As maiores discrepâncias para o pé direito foram encontradas no calce 44 (diferença de 3,2 cm entre o carteiro com o pé de menor comprimento que calça 44 www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 O perfil dos carteiros dos municípios do Vale do Rio dos Sinos e sua percepção de conforto do calçado utilizado durante suas atividades laborais e o carteiro com pé de maior comprimento que calça o mesmo n°); a menor diferença obtida para o pé direito, ou seja, 1,8cm foi encontrada nos calces 43 e 42. Para o pé esquerdo, a maior diferença encontrada (3,4cm) foi no calce 39; a menor diferença obtida para o pé esquerdo (1,3cm) encontra-se no calce 42. Dados semelhantes foram encontrados por Peneiro & Costa (2001) e Manfio (2001) em seus estudos: apesar de utilizarem a mesma numeração, os indivíduos estudados apresentaram comprimentos totais dos pés bastante variados. 11 - NÚMERO DO CALCE X LARGURA DO PÉ Mais uma vez, para este estudo, realizamos a mensuração das diferentes larguras dos pés dos carteiros que utilizam um mesmo calce. Podemos constatar neste estudo que a diferença máxima de largura encontrada para o pé direito (3,3cm) foi encontrado no calce 41; a menor diferença obtida (0,3cm) foi encontrada no calce 44; Para o pé esquerdo foi encontrado 2,2cm (calces 41 e 42) e a menor diferença obtida (0,7cm) foi encontrada no calce 43. Peneiro & Costa (2001) afirmam que um importante dado de seu estudo é o fato de encontrar sujeitos que, apesar de usarem uma mesma numeração, apresentam comprimentos totais dos pés bastante variados, sugerindo que a largura é mais relevante para a seleção da numeração do calçado a ser utilizado, pois a largura não variou tanto de um indivíduo para o outro. CONCLUSÃO As informações fornecidas neste estudo revelaram a importância da pesquisa para o desenvolvimento de calçados mais confortáveis. Provavelmente, o mais importante benefício que esse trabalho ofereceu é a prevenção de lesões associadas ao mau uso do calçado e associadas ao uso de calçados inadequados. Pudemos constatar que o perfil dos carteiros que trabalham no Vale do Rio dos Sinos é composto por carteiros com mais de trinta anos, com Índice de Massa Corporal de 22Kg/m² a 24 Kg/m² (dados considerados normais), que percorrem mais de 16 km diários, com calce número 40. Destacamos que, para a confecção de calçados adequados, faz-se necessário analisar o ser humano como um todo, integrando os profissionais das mais diversas áreas na confecção destes. Pesquisas acerca do conforto do calçado utilizado nas atividades laborais são de extrema necessidade para a saúde não apenas dos pés dos trabalhadores, mas também para a saúde do corpo como um todo. Para tanto, faz-se necessário um trabalho interdisciplinar de diferentes profissionais na confecção dos calçados e sua relação com o indivíduo que irá utilizá-lo. Inclui-se aqui o fisioterapeuta, que poderá atuar e colaborar no estudo da ergonomia, tão importante para se obter um calçado de qualidade. O calçado promove a interação do indivíduo com seu www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 meio ambiente, por isso, o calçado deve ser apropriado ao indivíduo que o utiliza. Quando o calçado não interage adequadamente com o indivíduo, podem surgir, como resultado desconforto e/ou lesões, que podem ser agravados, principalmente em indivíduos que fazem do calçado seu instrumento de trabalho. A maior porcentagem de carteiros não realizava a troca periódica de seus calçados, talvez porque não fossem informados da importância de se fazer esta troca e também porque a empresa dos correios não fornecia novos pares de calçados com periodicidade. Para 52,7% dos carteiros o calçado não foi adequado para as diversas estações do ano, pois este não protege da umidade nos dias de chuva e aquece muito os pés no verão. Muitos carteiros (52,77%) consideraram a palmilha adequada para o calçado e para a sua utilização. Apesar de estarem predispostos a lesões, 63,51% dos carteiros não apresentava dor e/ou desconforto para realizar suas atividades. Daqueles que referiram dor e/ou desconforto, a maior intensidade desta foi apresentada no local 3 do Mapa da Dor e/ou Desconforto (Anexo), local que representa a região do hálux. Os indivíduos estudados consideraram o seu calçado Normal, não referindo que o calçado é muito desconfortável e nem que o calçado é muito confortável. As assimetrias observadas entre os pés dos indivíduos que calçam uma mesma numeração, sugerem que se repense os meios de confecção dos calçados, oferecendo diferentes larguras para um mesmo calce. Deveriam ser confeccionados calçados com diferentes larguras para uma mesma numeração, como já é feito em outros países do mundo (EUA e em países da Europa). Sugerimos novas pesquisas através da análise dinâmica da marcha, relacionando o caminhar humano com o calçado utilizado, objetivando observar se o calçado modifica a marcha. Sem dúvida alguma os resultados de uma pesquisa como esta seriam de grande valor para que fossem confeccionados calçados mais confortáveis. Concluímos que as pesquisas são importantes para obtermos informações prospectivas que podem auxiliar na prevenção de lesões causadas, não só nas atividades laborais, assim como durante as atividades de vida diária. Futuros trabalhos e pesquisas científicas podem utilizar esta pesquisa, dando continuidade à ela e vislumbrando novos caminhos para o profissional fisioterapeuta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Grau, Stefan. Lesões mais comuns em homens e mulheres. Revista Tecnicouro, Novo Hamburgo, v. 25, n. 03, p. 132-42, abr. 2004. Henning, Edwald. Bipedalismo Iniciou Há Cerca de 3,7 Milhões de Anos. Revista Tecnicouro, Novo Hamburgo, v. 25, n. 03, p. 132-42, abr. 2004. Avila, Aluísio Otávio Vargas. In: Guia de Design do 45 O perfil dos carteiros dos municípios do Vale do Rio dos Sinos e sua percepção de conforto do calçado utilizado durante suas atividades laborais Calçado Brasileiro: Agregando Valor ao Calçado. Ilse Guimarães e Carla Mª Neves Ferreira (Coord). Ministério do desenvolvimento, indústria e comércio externo. Brasília/ DF, 2003. Geib, Fernando O. Relação dos parâmetros dos pés com a forma e o calçado segundo critérios de conforto. Florianópolis: 1999. Dissertação de mestrado (Ciências do Movimento Humano) - UDESC, 1999. Mascarenhas, Felipe R. Estudo dos Calçados de Segurança. Disponível em <www.sapato.org > Acessado em 10/11/2003. Bevilaqua, Fernando. et al. Manual do Exame Clínico. 11. ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 1997. Manfio, Eliane Fátima. Estudo de Parâmetros Antropométricos do Pé. Santa Maria/ RS: 2001. Tese de Doutorado – UFSM, 2001. Peneiro, Germano P.; Costa, Paula H. Lobo da. Estudo Ergonômico dos Calçados de Carteiros Pedestres: Conforto e Adequação à Atividade Profissional. Revista Tecnicouro. Porto Alegre,Vol. 22 n° 05, junho 2001, P. 49- 54. 46 CTCCA, O Pé e a Forma. Centro Tecnológico do Couro, Calçados e Afins – Novo Hamburgo: CTCCA; SEBRAE. Série Couro Calçados e Afins, vol. 6, 1994, 34 pg. Cavanagh, P.R. The biomechanics of running and running shoe problems. In Segesser, B. & Pförringer, W. (ed.). The shoe in sport. Year Book Medical Publishers, Inc. Chicago, 1989. P. 271. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Softwares para Fisioterapia w w w. c t s i n f o r m a t i c a . c o m . b r Fisimetrix avaliação postural e ortopédica FisiMetrix é um software específico para Fisioterapia que tem como objetivo facilitar o cotidiano do terapeuta disponibilizando Avaliação Postural e Ortopédica, incluindo mensurações de forma prática e precisa, utilizando imagem fotográfica. FisiMetrix disponibiliza as seguintes funcionalidades: Cadastro de Cliente Anamnese Exame Físico Diagrama da Dor Dermátomos Amplitude de Movimento Retrações Musculares Perimetria Exame Postural demonstrativo em: www.ctsinformatica.com.br Objetivo e Programa Dicas e Orientações Exercícios (vídeos que podem ser reproduzidos em DVD ou CD-ROM) EM BREVE! análise ergonômica e avaliação ocupacional Em breve estaremos lançando um software para auxiliar no programa de Gestão em Ergonomia nas Empresas, composto de Análise Ergonômica e Avaliação Fisioterapêutica Ocupacional. Elaborado com metodologia que permite a análise de cada função individualmente. Utiliza de ferramentas e checklist reconhecidos mundialmente, questionários de levantamento de dados, avaliação ambiental, organizacional e biomecânica, dentre outros aspectos visando resultados eficazes e confiáveis. O software tem como objetivo ser uma ferramenta completa e moderna no campo da ergonomia, sendo de fácil manuseio e compreensão. (46) 3225 4340 www.ctsinformatica.com.br [email protected] A identificação do estresse em operadores de telemarketing The identification of the stress in telemarketing operators Autores: Raymundo, Georgia Fisioterapeuta graduada pela Universidade de Santo Amaro - UNISA/SP. Meira, Paula Cristina Gissoni Fisioterapeuta graduada pela Universidade de Santo Amaro - UNISA/SP. Dias, Silvia Forte Psicóloga graduada pela Universidade de Santo Amaro - UNISA/SP. Ollay, Claudia Dias Orientadora e Professora responsável pela disciplina de Fisioterapia do Trabalho do curso de Fisioterapia da Universidade de Santo Amaro - UNISA /SP. End.: Rua Santa Adélia, 295 - Bangú - Santo André - Cep: 09210-170 – SP - Tel: (11) 4997-6916. E-mail: [email protected] Data de atualização: 19 de novembro de 2010. Data de envio para revista: 11 de fevereiro de 2007. Resumo O objetivo desse estudo foi traçar um perfil de estresse dos operadores de telemarketing de uma empresa de cosméticos de São Paulo. Participaram desta pesquisa 30 operadores, 17 no período da manhã e 13 a tarde. Para avaliar o estresse ocupacional foi aplicado o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) e foi utilizado o Mapa de Desconforto Corporal para analisar os locais com desconfortos. Esses questionários foram aplicados antes da jornada de trabalho de cada turma, e dúvidas foram esclarecidas antes da aplicação do questionário. Os resultados mostram que 50% dos operadores estão estressados, e esses 50% apresentam desconfortos corporais. Dentre várias opções, as partes mais referidas foram o ombro direito e o pescoço. Conclui-se a necessidade da intervenção de profissionais qualificados, dentre eles, o fisioterapeuta do trabalho. Palavras chaves: Dor, Estresse, Estresse Ocupacional, Operador de Telemarketing, Prevenção. Abstract The main objective of this study was to trace a stress profile of the telemarketing operators who work in a Cosmetic Company in São Paulo. In this research, 30 operators had participated, being that 17 from the morning period and 13 from the afternoon period. To evaluate the occupational stress, the Symptoms of Stress for Adult’s Inventory from Lipp (ISSL) were applied and the Corporal Discomfort Map was used to analyze all places of discomfort. These questionnaires were applied before the hours of working of each group, and doubts were clarified before the application of the questionnaire. The results show that 50% of the operators are stressed, these 50% have corporal discomfort. Amongst some options, the more related parts were the right shoulder and the neck. There is a relation between occupational stress and the corporal discomfort, a bigger importance in the intervention of a health’s professional in the work stations is noticed, from modifications in the organization and ergonomics approaching in the employee’s health. Key Words: Pain, Stress, Occupational Stress, Telemarketing Operator, Prevention. A identificação do estresse em operadores de telemarketing Introdução Na sociedade atual, os trabalhadores são constantemente forçados a se adaptarem às novas tecnologias, na tentativa de se atualizarem perante um mercado de trabalho cada vez mais restritivo e competitivo e garantir assim a sua empregabilidade (SANTOS et alli, 2005). Além de o trabalhador ter que se adaptar a novas situações, o mercado de trabalho também sofre profundas transformações, com impactos decisivos sobre a saúde dos trabalhadores. Com isso há o aumento da carga de trabalho, responsabilidade, complexidades e redução de direitos adquiridos pelo trabalhador (SINTRATEL, 2001). Uma série de aspectos de situação de trabalho e extra trabalho podem atuar de forma conjunta no desencadeamento de transtornos mentais (GLINA et alli, 2001). O transtorno mais comum entre os trabalhadores é o estresse. Seu conceito ainda é indefinido, mas essa palavra é usada para descrever ameaças ou desafios (MYERS, 1998). Fisiologicamente o estresse tem sido explicado como resposta adaptável que prepara o organismo ou o adapta a diversas situações (ELIOT, 1988). Grandes pesquisadores sobre estresse foram Walter Cannon (1929) e Hans Selye (1936, 1976), que através de suas pesquisas descobriu-se que o organismo se adapta ao estresse dando o nome de síndrome de adaptação geral (GAS= General Adaptation Syndrome). Sendo constituída por três fases (I- Alarme, II- Resistência, III – Exaustão) (Walter Cannon (1929), Hans Selye (1936, 1976) apud MYERS, 1998). E mais recentemente foi descoberta mais uma fase por Marilda E. N. Lipp que seria a fase de quase exaustão. As grandes empresas estão buscando a prevenção e o tratamento dos efeitos negativos do estresse, utilizando questionários para medir o nível de estresse dos trabalhadores (PUSTIGLIONE et al., 1999). Se esse fato for ignorado, os resultados refletirão no descontentamento do trabalhador, aumento do número de absenteísmo, custos maiores com tratamentos, diminuição da produtividade, inabilidades e até morte prematura dos indivíduos (SINTRATEL, 2001) Com isso, esta pesquisa visa identificar, através de um questionário específico, a fase de estresse que os operadores de telemarketing de uma empresa de São Paulo encontram-se, para assim depois de diagnosticado alguma alteração, ressaltar a importância de uma intervenção na saúde dos operadores. Nota-se que cada vez mais a prevenção vem tomando lugar na vida das pessoas e das empresas seja pelo fato de que é mais trabalhoso lidar com a doença e a incapacidade, como também por sentirem a necessidade da informação e da conscientização em busca da qualidade de vida. (MIYAMOTO, et alli, 1999). A fisioterapia é, com certeza, um contribuidor em potencial nesse processo tão antigo, mas ao mesmo tempo tão atual, que é a prevenção (MIYAMOTO, et alli, 1999). Nasce então, a fisioterapia do trabalho, que, busca promover ações terapêuticas preventivas a instalações de processos que levam a incapacidade funcional no trabalho, www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 e o tratamento desses distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho, além de analisar os fatores ambientais, contributivos ao conhecimento de distúrbios funcionais laborativos. Como ferramentas necessárias para conseguir alcançar tais objetivos temos, a Ginástica Laboral, Programa de Orientação ergonômica músculo-articular (COFITTO, 2005), análises ergonômica, antropométrica, organizacional e o fisioterapeuta do trabalho pode também criar; organizar e, ou participar de palestras informativas e preventivas sobre doenças (NUNES et al., 2003). Dentre varias profissões uma delas que precisam de uma intervenção fisioterápica é a profissão de operador de telemarketing, pois teve um enorme crescimento nos últimos 20 anos e a perspectiva é de que continue crescendo, mas em um ritmo menos acelerado (SINTRATEL, 2001). Os meios de trabalho são semelhantes ao de um trabalho de escritório. Usam telefone (head-fone) e computadores que são acoplados a um banco de dados, em bancadas com vários operadores sentados um ao lado do outro e um em frente do outro, em salas fechadas e climatizadas (SINTRATEL, 2001). A profissão pode ser dividida em ativa ou receptiva, ou ser uma combinação de ambas (SINTRATEL, 2001). Esses trabalhos complexos com operações interativas do computador-telefone envolvem movimentos repetitivos, posturas fixas, necessidades para habilidades interpessoais, monitoração elevada das demandas da produtividade, a indireta e a direta do desempenho, da responsabilidade e do treinamento a longo prazo (FERREIRA et.al, 2002) As exigências físicas recaem sobre o sistema osteomuscular, mais precisamente sobre os membros superiores, pescoço e coluna (SINTRATEL, 2001). Enquanto que problemas de origem emocional de longa duração podem levar a sérias desordens orgânicas associadas a mudanças físicas, que são chamadas psicossomáticas, profundamente ligadas ao estresse. Quando nossos recursos fisiológicos esgotam e o estresse passa a ser acumulativo o indivíduo torna-se candidato a enfermidades (BAUK, 1985). Devido às exigências e decorrência dos conteúdos de trabalho, e precariedade de suas relações com clientes e supervisores, temos o estresse ocupacional (por ser um distúrbio relacionado à organização de trabalho) (MURTA, 2004). Pode afetar a satisfação, o desempenho e produtividade do empregado. E isso gera custos para as empresas, pois está interligado a salário, estilo de supervisão, inter-relações, condições físicas e segurança no ambiente de trabalho (PUSTIGLIONE et al., 1999). Entende-se então que o estresse psíquico pode ocasionar alguns distúrbios músculos esqueléticos, devido às exigências e inadequações dos fatores ambientais, organizacionais e humanos do ambiente de trabalho. Como, quando o operador encontra-se tenso, sob uma condição de estresse, os músculos ficam prontos para reagir. Com isso, decorre uma dificuldade em relaxar e provoca-se dor (FEIX et alli, 1998). A partir deste contexto, o interesse sobre o tema surgiu pelo fato do estresse ser um fator importante e citado na causa de dores e desconfortos corporais para os 49 A identificação do estresse em operadores de telemarketing operadores de telemarketing, desta forma influenciando diretamente na qualidade de vida desses profissionais, conseqüentemente interferindo no rendimento e perspectivas com relação à profissão. Objetivo Consiste em verificar quais são as fases de estresse na amostra selecionada e sua influencia em dores e desconfortos corporais apontados em avaliação específica pelos operadores de Telemarketing de uma empresa de cosméticos de São Paulo. Materiais e Metodos Para o êxito dessa pesquisa foi realizado um estudo bibliográfico e de campo. Esse estudo de campo, que pode ser definido como observacional e transversal (já que tem como propósito avaliar e identificar o estresse em operadores), foi realizado em uma empresa que já atua no mercado há 24 anos e é responsável pela fabricação de cosméticos. Seu sistema de venda se baseia no revendedor autônomo que faz o pedido do cliente, que recebe os produtos em casa. Esse sistema se encontra ativo há seis meses, desde sua implantação. Esse trabalho foi baseado em artigos e livros pesquisados nas Bibliotecas de Saúde Publica e da Faculdade Unisa (Campus I e II) e pesquisado em alguns sites da internet, como, Bireme, Lilacs, Scielo, Google e Yahoo. Amostra é composta por 30 operadores de Telemarketing em atuação, 17 no período matutino (8h às 14h) e 13 no período vespertino (14h às 20h), seis dias trabalhados por semana. Porém no dia da pesquisa (12 de Setembro de 2006), foram excluídos do estudo os que haviam faltado nesse dia. Os operadores são organizados em ilhas, cada uma contendo quatro posições. Elas se encontram instaladas na sala, cujo espaço é pequeno, e sem uma ergonomia adequada (como por exemplo, a altura da cadeira abaixo do ideal; sem apoio para o monitor, não atingindo assim, a altura dos olhos do operador, entre outros). As estruturas físicas destinadas ao descanso e à convivência social na empresa não se encontram adequadas para atenderem aos operadores. A empresa se encontra em um período de mudanças e crise, não sabendo ao certo se mudará de endereço. Os operadores de Telemarketing são subordinados aos supervisores e a empresa possui um sistema de que a cada fim de ciclo ocorra um novo treinamento com eles. Esses ciclos são ciclos promocionais em relação ao seu produto. Os trabalhadores sempre são bonificados, individualmente, quando conseguem atingir metas estipuladas pelos supervisores. Existe um supervisor para cada turno. Todos os dias é realizada a Ginástica Laboral Preparatória (no inicio da jornada de trabalho). Um fisioterapeuta responsável passa uma série de exercícios, uma vez por mês, a dois operadores. Esses são encarregados em estar liderando o exercício para seus colegas. Para a pesquisa foi utilizado o Inventario de Sintomas 50 de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) , que visa identificar de modo objetivo a sintomatologia que o paciente apresenta, avaliando se este possui sintomas de stress, o tipo de sintoma existente (se somático ou psicológico) e a fase que se encontra. É um modelo quadrifásico que se baseou num modelo trifásico de Selye (1984), com relação aos efeitos do stress que se manifestam tanto na área somática como na cognitiva, aparecendo em seqüência e gradação de seriedade à medida que suas fases do stress se agravam. Na primeira fase, a do Alerta, que é essencial para a preservação da vida, o organismo se prepara para a reação de luta ou fuga. Se o stress continua presente por um tempo indeterminado a fase de resistência é iniciada, pois o organismo esta tentando se adaptar a uma homeostase interna. Nessa fase, os sintomas iniciais desaparecem dando lugar a uma sensação de desgaste e cansaço. Se o fator estressante continuar e o individuo não possuir estratégias para se defender, o organismo gasta toda sua reserva de energia adaptativa e então a fase de exaustão se manifesta, podendo ocorrer doenças mais sérias. (LIPP, 2005) Devido à complexidade da analise de seus resultados, se recorreu a ajuda de uma psicóloga em atuação para maiores esclarecimentos. O ISSL é de fácil aplicação. Fornece uma medida objetiva da sintomatologia do stress em jovens acima de 12 anos e adultos. Os jovens não precisam ser alfabetizados, pois o questionário pode ser lido para a pessoa. Sua aplicação leva aproximadamente dez minutos e pode ser realizada em grupos de até vinte pessoas, ou individualmente. Consiste em três quadros que se referem às quatro fases do stress. No total inclui 37 sintomas de natureza somática e 19 de caráter psicológico distribuídos pelos três quadros. O primeiro quadro refere-se às últimas 24 horas, o segundo a última semana, e o terceiro ao último mês. Os resultados são conferidos pelas tabelas de avaliação que definirão a fase de stress em que se encontra o indivíduo (LIPP, 2005). Para a correção e interpretação do ISSL, foi adotado o seguinte procedimento: somou-se separadamente todos os sintomas físicos e psicológicos dos quadros 1, 2 e 3. Verificou-se o score dos quadros para o diagnóstico de stress e não stress (a partir da tabela de sinais de stress ). Após essa analise, é obtida uma pontuação de cada sujeito com o resultado positivo de stress. Foi analisado em que fase o sujeito pertencia. E finalmente, foi verificado se o stress era de predominância de sintomas físicos ou psicológicos. Outro instrumento utilizado foi o mapa de desconforto corporal, que consiste em um desenho de corpo humano segmentado em partes (ombros, braços, região dorsal, etc) e que é apresentado aos sujeitos. Caso esses relatem algum desconforto ou dor musculoesquelética, deverá marcar no mapa a região corporal referida. Ele pode apresentar desconforto em uma ou mais regiões, caso esse sintoma abrangesse mais de um local. Também foi entregue um termo de consentimento livre ao responsável legal dos operadores, no caso o gerente, para que os operadores fossem informados dos objetivos da pesquisa, da participação voluntária e além de garantir o sigilo duwww.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 A identificação do estresse em operadores de telemarketing rante o estudo. A aplicação do questionário foi realizada em somente um dia no mês de Setembro, primeiro no período da manhã e posteriormente no período da tarde, ambos antes do inicio da jornada de trabalho. Foram entregues tanto o Inventário de Stress como o Mapa de Desconforto Corporal aos operadores, que desciam em grupos pequenos (de cinco pessoas) até o ambulatório, para com calma poderem estar respondendo á pesquisa. Cada um era responsável por suas respostas, sem poder se comunicar com o colega ao lado. Só podiam fazer perguntas às alunas responsáveis pelo trabalho, caso tivessem alguma dúvida sobre palavras ou até mesmo sobre questões. Demoraram cerca de 10 a 15 minutos para responder. Após sua aplicação, foi realizada a tabulação, interpretação dos dados colhidos através da construção de gráficos e tabelas no Microsoft Excel. Resultados Nesta seção serão apresentados os resultados, com base nas divisões e subdivisões por assunto, descritas no questionário aplicado. Resultados quanto às características do Trabalhador Com relação ao sexo, a amostra foi constituída de 10% (n= 3) do sexo masculino e 90% (n= 27) do sexo feminino. Com relação à faixa etária, verificou-se que os entrevistados tem entre 20-25 anos, 56,67% (n= 17) entre 26-30 anos, 36,67%, (n=11) entre 31-35anos, 6,67%, (n=2). A maioria dos operadores de Telemarketing dessa empresa são solteiros com 53% (n= 16) e 47%, (n=14) são casados. As cargas horárias dos operadores são de seis horas diárias, tendo seu inicio, no período da manhã, das 8h às 14h, e no período da tarde, das 14h às 20h, seis dias trabalhados por semana. Sua maioria já trabalha há seis meses na área de Telemarketing, sendo que somente 2 operadores estão há um mês. Dentro deste período de trabalho, foi observado (Tabela 1) que somente 20%, (n= 6) estavam parcialmente satisfeitos com o que faziam e 80%, (n= 24) estavam satisfeitos. Satisfação quanto ao trabalho Opinião (f) % sim 24 80,00% Parcialmente 6 20,00% não 0 0,00% Total 30 100,00% Tabela 01. Distribuição em termos de freqüências absolutas (f) e percentuais (%) quanto a satisfação com a profissão. de pausa, em seu ambiente de trabalho, aparecem logo depois. Principal fator estressante no trabalho (f) % nenhum 2 6,67% Trabalho repetitivo 4 13,33% Falta de informação/comunicação 2 6,67% Colegas de trabalho 1 3,33% Posição estática do trabalho 2 6,67% Clientes estressados 3 10,00% Trabalhar com pessoas nervosas 1 3,33% Paciência 1 3,33% Trabalhar de sábado 1 3,33% Telefonia ruim 1 3,33% Pouco tempo de pausa 2 6,67% outros 10 33,33% Total 30 100,00% Tabela 02. Distribuição em termos de freqüências absolutas (f) e percentuais (%) quanto aos principais fatores estressantes. Resultados quanto ao Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL): Os dados coletados no ISSL mostram que 50%, (n=15) dos operadores apresentam sintomas de stress (Tabela 3). E 93,33%, (n= 14) se encontram na Fase de Resistência e 6,67%, (n= 1) na Fase de Quase Exaustão. Não houve nenhum caso nessa amostra, para a Fase de Alerta e Exaustão. Os sintomas de stress, apresentados pela amostra, têm como resultante que, 73,33%, (n= 11) é predominantemente psicológico, e 13,33%, (n= 2) físico. A partir dos próximos resultados, será constatado somente a análise de metade da amostra, isto é, aquela em que se foi diagnosticado o stress, tanto na Fase de Resistência como na Fase de Quase Exaustão. Da amostra que referiu os sintomas de stress, observou-se que 80%, (n= 12) das mulheres se encontram mais estressadas que os homens, 20% , (n= 3). Foi feita a correlação entre a satisfação de trabalho entre os operadores que foram diagnosticados com stress, e constatou-se que 60%, (n= 9) se encontram satisfeito contra 40%, (n=6) parcialmente insatisfeitos. Através do ISSL, da amostra que obteve como resultante o stress, observando mais detalhadamente esses resultados, foi citado em maior numero, em relação aos sintomas físicos, mudança de apetite e sensação de desgaste físico ambos com 20%, seguido de cansaço constante com 18% e de boca seca e problemas com memória, ambos com 16% (Gráfico 1). Nessa pesquisa, conseguiu identificar que o principal fator estressante (Tabela 2), dentre outros, foi o trabalho repetitivo, isto é, repetir várias vezes a sua fala, enfim, ter sempre a mesma rotina. Seguido de, sempre se relacionar com clientes estressados. Posições estáticas, bem como a falta de comunicação e informação, e pouco tempo www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 51 A identificação do estresse em operadores de telemarketing Analisando esses resultados mais precisamente, temos que nas ultimas 24 horas o sintoma físico mais citado pelos operadores com stress foi à mudança de apetite 43%, (n= 10). Em relação à última semana temos a sensação de desgaste físico com 37%, (n= 10) da citação. E por fim no ultimo mês, temos como o sintoma físico mais citado a insônia, com 100%, (n=15). Resultados quanto ao Mapa de Desconforto Corporal: Em operadores que se encontram com os sintomas de stress pode se notar que a região do corpo que eles mais referiram desconforto foi o ombro direito (tabela 4) e pescoço também (tabela 5). Partes do corpo (f) % Ombro direito 3 19% Ombro esquerdo 2 13% Punho direito 2 13% Tórax superior 2 13% Antebraço direito 1 6% Antebraço esquerdo 1 6% Braço esquerdo 1 6% Coxa direita 1 6% Coxa esquerda 1 6% Pescoço 1 6% Punho esquerdo 1 6% Total 16 100% Tabela 04. Distribuição em termos de freqüências absolutas (f) e percentuais (%) quanto as regiões do corpo citados com dor – vista anterior. Partes do corpo (f) % Pescoço 9 29% Costas inferior 4 13% Costas superior 3 10% Antebraço esquerdo 2 6% Ombro direito 2 6% Ombro esquerdo 2 6% Perna direita 2 6% Quadril 2 6% Antebraço direito 1 3% Costas médio 1 3% Perna esquerda 1 3% Punho direito 1 3% Punho esquerdo 1 3% Total 31 100% Tabela 5. Distribuição em termos de freqüências absolutas (f) e percentuais (%) quanto as regiões do corpo citados com dor – vista posterior. 52 Discussão Diante do mercado de trabalho cada vez mais restritivo e competitivo, a profissão de operador de telemarketing é um exemplo de grandes índices de estresse. Esse fato é decorrente ao aumento da carga horária de trabalho, responsabilidade, precariedade de suas relações com os clientes, monotonia diante de sua função, rígida supervisão, entre outros (SINTRATEL, 2001). O índice de participação desse estudo foi consideravelmente bom (83,3%). Não houve obstáculos da parte dos operadores em responderem à pesquisa. Dos resultados obtidos nesse estudo, 90% dos operadores eram do sexo feminino e 10% do sexo masculino, onde cerca de 53% são solteiros; e a idade principal foi entre 20 e 30 anos (73,34%). Esses dados são confirmados pela pesquisa realizada por SINTRATEL, 2001, que afirma que a maioria das pessoas que se encontra nessa área está entre 18 e 30 anos e é do sexo feminino. Em relação ao tempo de profissão, constatou-se que 93,33% dos operadores se encontram há seis meses na empresa, enquanto que 6,67% estão somente há dois meses; e sua carga horária é de 6 horas diárias, seis vezes por semana. Resultado esperado, tendo em vista que de acordo com a lei a carga horária passou para seis horas diárias (MERCOSUR, 2006). Quando questionados sobre a satisfação com a profissão, obteve-se 20% parcialmente satisfeitos e 80% satisfeitos. Analisando os operadores com estresse, 60% deles disseram estar satisfeitos. Esse foi um dado incomum apresentado pela amostra. Grande parte da literatura diz que a maioria dos trabalhadores com estresse ocupacional estão insatisfeitos com a profissão por diversas causas organizacionais (PARAGUAY, 1990). Com esses dados pode-se considerar que os funcionários estariam com receio de expor a opinião, mesmo sem identificação. Já na questão sobre os principais fatores estressantes no trabalho, a resposta mais citada foi o trabalho repetitivo (13,33%). Esse “trabalho repetitivo” é um modo de organização freqüentemente utilizado em serviços de telemarketing. (SINTRATEL, 2001). O maior interesse é no que os funcionários produzirão para a empresa (OLIVEIRA, 2003). Com esse pensamento, é ignorado o fato de que o operador pode vir a adoecer, pois a repetitividade dos movimentos e a monotonia do serviço limitam a natureza humana. Assim, é condicionada uma situação de estresse, manifestada na forma de doenças musculoesqueleticas (BITTAR et alli, 2004). A empresa desconhece a extensão e evolução desses quadros patológicos. Sendo assim, não sabe até que ponto compromete, temporária ou definitivamente, a capacidade de trabalho do operador (SINTRATEL, 2001). Através da análise do ISSL foi revelado que 50% dos profissionais sofriam desse mal. Desses 50% que se encontram em estado de estresse, 93,33% estão na Fase de Resistência e 6,67% na Fase de Quase Exaustão. Deve-se ter atenção, pois em todas as fases o cuidado com a saúde é de extrema importância. Se a homeostase não for reeswww.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 A identificação do estresse em operadores de telemarketing tabelecida e os fatores estressantes (que no caso dessa amostra é o trabalho repetitivo) não forem eliminados, os seguimentos mais afetados nessa situação passarão a mostrar não só sinais de desconfortos, como evoluir para uma doença. Será a fase final do stress, a da exaustão (LIPP, 2005). O stress psicológico é o mais apresentado entre os operadores, totalizando 73,33% dos pesquisados. Nota-se semelhança entre o nível de estresse psicológico indicado pelos operadores dessa amostra e a tendência apontada pela literatura. Nela, observa-se entre os operadores de telemarketing alto nível de estresse psicológico. Isso ocorre devido ao trabalho possuir altas cargas, repetitividade, baixo controle sobre suas atividades, monotonia e diversos contextos organizacionais (FERNANDES et alli, 2000). Constatou-se a partir do questionário a dominância dos sintomas físicos que são; boca seca e mudança de apetite; problemas com memória; sensação de desgaste físico constante, tensão muscular, cansaço constante e insônia. Mais precisamente, através do ISSL conseguiu-se verificar em que período esses sintomas apareceram e acontecem com os operadores. Nas 24 horas anteriores a pesquisa, a “mudança de apetite” (43%) era o sintoma que mais os incomodava. Em relação a semana anterior, citam o “desgaste físico” (37%) e por fim, no último mês, a insônia (100%). Esses sintomas psicopatológicos são característicos do estresse ocupacional de uma população trabalhadora. Se analisada as características reais de trabalho, como atividade mental importante, repetitividade e rapidez de movimentos, um trabalho rígido e monótono, pode-se descobrir tais manifestações (PARAGUAY, 1990). Analisando os resultados obtidos pelo mapa de desconforto corporal, o ombro direito (19%, vista anterior) e o pescoço (29%, vista posterior), foram os desconfortos mais citados pelos operadores que apresentam estresse. Isso se deve ao risco ergonômico aparente da profissão, que utiliza movimentos repetitivos, postura sentada estática e prolongada; e a monotonia do serviço. São fatores que causam dor e desconforto corporais (FERREIRA, 2002). Devido a automação eletro-eletronica, os operadores diminuíram o uso da força muscular e o gasto calórico no trabalho. Porém partes das estruturas e funções do sistema osteo-muscular passam a ser mais exigidas e sujeitas aos fatores agravantes do trabalho. Assim, pode causar doenças como as LER (SINTRATEL, 2001). Outra literatura semelhante aos resultados alcançados por essa amostra, em relação aos desconfortos mais citados pelos operadores, diz que esses são sintomas (desconforto em ombro direito e pescoço) de stress. Isso porquê quando um indivíduo se prepara para um “ataque físico”, conseqüentemente, passa a apresentar dores nos ombros, na coluna, pescoço e cefaléias tensionais, entre outros (BAUK, 1985). Conclusão De acordo com este estudo e as revisões bibliográficas, o estresse ocupacional ocorre devido há uma falha de www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 adaptação humana as alterações dos fatores organizacionais, biológicos e ergonômicos, o que pode desencadear prejuízos a saúde do trabalhador, podendo resultar em diversos sinais e sintomas. Com essa pesquisa, foi possível diagnosticar que há um índice significativo de sintomas que podem levar ao estresse ocupacional, devido a possível ausência de intervenções ergonômicas e insuficiente atenção da empresa para o bem estar físico de seus funcionários. Constatou-se que há uma prevalência de estresse na amostra estudada, compreendendo em 50% dos casos positivos sendo que, em sua maioria encontra-se na fase de Resistência e uma minoria encontra-se na fase de Quase Exaustão. É extremamente importante enfatizar que pelo fato da amostra possuir um número relativamente pequeno e que trabalha na empresa há poucos meses, se faz necessário a realização de constantes investigações no processo de adoecimento dos operadores de telemarketing, com objetivo de rápido diagnóstico e imediato plano de ação preventivo. Conclui-se a necessidade da intervenção de profissionais qualificados, dentre eles, o fisioterapeuta do trabalho, que busca promover ações preventivas a instalações de doenças que levam a incapacidade funcional. Como meios, é importante citar a Análise Ergonômica do Trabalho, Ginástica Laboral e Práticas de Educação em Saúde, como por exemplo palestras, orientações personalizadas, campanhas e treinamentos sobre assuntos diversos ligados a saúde e qualidade de vida. Em relação à amostra estudada, todos esses procedimentos preventivos são essenciais, para que não ocorra a evolução da “Fase de Resistência” e “Fase de Quase Exaustão”, para a “Fase de Exaustão”; onde o trabalhador passa a se encontrar vulnerável a doenças, e assim, resta-lhe apenas o tratamento. Referências Bibliográficas BAUK, Douglas Alberto. STRESS. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, n 50, v. 13, p. 28-36, abr./ maio/ jun, 1985. 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[email protected] Data atualização: 05/03/2007 Data de envio: 08/03/2007 Resumo Objetivos: Apresentar a importância de dados antropométricos em análise ergonômica do trabalho do abastecedor de rocas de fibra de vidro cujas fibras passam por um processo em que são picadas para a venda, a fim de se evitar problemas músculo-esqueléticos. Métodos: Utilizando-se materiais próprios para análise antropométrica (balança mecânica, estadiômetro, paquímetro, fita métrica e trena) e, a partir de referências corporais delineadas pela literatura, foram avaliados 51 trabalhadores. Considerou-se percetil 95,0 para análise. A partir de filmagens e fotografias, além de entrevistas com os trabalhadores, foi realizada a avaliação da estação de trabalho. Resultados: As alturas de dois diferentes níveis dos boliches (prateleiras) (0,15 e 0,61 m) não permitem postura adequada dos trabalhadores durante o abastecimento de rocas, o que exige muita flexão de tronco devido à estatura da população avaliada (173,06 ± 7,72 m). Os pontos mais altos dos boliches (1,49 m) também se mostrou determinante de situação desconfortável, visto que a medida de ombro ao solo (143,22 ± 7,01 cm) é mais baixa e exige flexão e abdução de ombros acima de 90º na maior parte do tempo de trabalho. As discrepâncias verificadas entre antropometria e medidas de mobiliário correlacionam positivamente com as queixas dos trabalhadores. Conclusões: Para a atividade específica de abastecimento das rocas, mostrou-se necessidade de mudanças do espaço e mobiliário, a fim de diminuir as posturas inadequadas. Não é possível qualquer planejamento para melhorias no layout dos postos e conseqüente redução da carga física sem o prévio conhecimento da antropometria dos trabalhadores. Palavras-chaves: antropometria; abastecimento de rocas; DORT. Abstract Aim: To present the importance of anthropometrics data in an ergonomic analysis of the work of the supplier of drum of fibre glass whose staple fibres pass for a process where they are pricked for sale, in order to prevent muscleskeletal disorders. Methods: We used special material for anthropometric analysis (scale mechanics, estadiometer, paquimeter, metric ribbon). From corporal references delineated by literature, 51 workers had been evaluated. We considered percetil 95.0 for analysis. From filmings and photographs, beyond interviews with the workers, the evaluation of the work station was carried through. Results: The heights of two different levels of the bowlings (shelves) (0.15 and 0.61 m) they do not allow adequate position of the workers during the supplying of drum, what it demands much bending of trunk due to stature of the evaluated population (173.06 ± 7.72 m). The points highest of the bowlings (1.49 m) also revealed determinative of both situation, since the measure of shoulder to the ground (143.22 ± 7.01) is lower and demands bending of trunk and opening of shoulders above of 90º for the most part of the work time. The discrepancies verified between anthropometry and measures of furniture correlate positively with the complaints of the workers. Conclusions: For the specific activity of supplying of drum, one revealed to necessity of changes of the space and furniture, in order to diminish the inadequate positions. It is not possible any planning for improvements in the layout of the ranks and consequence reduction of the physical load without the previous knowledge of the anthropometry of the workers Importância da antropometria para análise e adequação de um posto de trabalho específico Introdução No cotidiano das empresas, condições inadequadas de trabalho têm gerado desconforto físico e mental ao trabalhador e, conseqüentemente, aumentam a quantidade de doenças ocupacionais. Os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) têm-se tornado cada vez mais populares (Don Raney, 2000; Sato; Gil Coury, 2005). De acordo com Couto (2002) os impactos organizacionais decorrentes das LER/DORT atingem várias áreas dentro das mais diversas empresas, alterando a economia por geração de gastos e diminuição do ganho econômico, no que se refere à redução da produtividade, ao aumento dos custos, aumento no absenteísmo médico, com comprometimento da capacidade produtiva das áreas operacionais, menor qualidade de vida ao trabalhador, aposentadorias precoces e indenizações. Gherin et al. (2001) afirmam que as principais causas destes tipos de problemas estão na inadequação do trabalho às características humanas, o que inclui determinados fatores individuais, como refere Moraes et al. (2002): obesidade, vida sedentária, posturas inadequadas, força muscular, tabagismo, condições socioeconômicas, fatores psicológicos, entre outros, que também são fatores determinantes ao que se refere às lesões osteomusculares relacionadas ao trabalho. Como a ergonomia tem por objetivo o conhecimento científico relativo ao homem, necessário para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácea, a análise ergonômica torna-se essencial, tendo em vista um melhor âmbito fisico para a com os trabalhadores e suas funções (Wisner, 1994; Couto, 1996; Grandjean, 1998). A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) conjuga à tarefa todas as ações físicas, cognitivas e sociais da atividade desenvolvida pelos trabalhadores. Desta conjugação formulam-se hipóteses sobre a carga de trabalho, numa relação entre as condicionantes da situação de trabalho e as determinantes de cada indivíduo. Dentre as determinantes de cada indivíduo, a antropometria trata das medidas físicas do corpo. Derivada das palavras antropo (homem) e metro (medida), esta atividade está relacionada à observação, quantificação e análise das medidas do homem, utilizadas com o objetivo da normalização dos postos de trabalho, conforto e melhor mobilidade de acordo com o biótipo de um indivíduo ou de um determinado grupo, através de uma média resultante de seus valores antropométricos (Panero; Zelnik, 1996; Chaffin et al., 1999; Petroski, 1999). As diferenças étnicas, de sexo, idade de um determinado grupo, raça ou país geram diferentes estudos na análise ergonômica, pela diferença antropométrica de cada um, por isto é praticamente impossível caracterizar um elemento padrão a com as medidas antropométricas (Iida, 1995), exigindo por sua vez pesquisas específicas a cada montante da pessoa ou grupo analizado (Petroski, 1999; Iida, 1995). www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 É importante salientar que as sujestões ergonômicas baseadas na antropometria, não podem deixar de levar em consideração o comportamento, as exigências específicas e opinião pessoal de cada trabalhador, de certo modo, visando a capacidade individual. Se a área do trabalho é muito alta, frequentimente os ombros são erguidos para compensar, e se é muito baixa as costas são sobrecarregadas pelo excesso de curvatura do tronco (Gandjean, 1998). Neste estudo, foi dada, propositalmente, especial atenção à carga física implícita na atividade do abastecedor de fibras, que seriam picadas, para que se pudesse enfocar o aspecto físico da antropometria do trabalhador, levando em consideração que este tipo de trabalho é relizado predominantemente em pé exigindo diferentes posturas de acordo com o nível (altura) do objeto a ser pego. Assim, propôs-se utilizar a antropometria como uma ferramenta de trabalho, procurando demonstrar sua importância numa Análise Ergonômica do Trabalho não somente do abastecedor de rocas de fibra de vidro, cujas fibras passam por um processo onde são picadas para a venda, quanto de qualquer outra ocupação econômica que envolve mobilário, ferramentas de auxílio e materiais com peso elevado. Materiais e Métodos O trabalho foi realizado em uma indústria de fabricação de fibras de vidro em uma cidade no interior do estado de São Paulo, onde foi avaliado o setor de abastecimento de fibras para serem picadas. Neste setor trabalham três grupos de 19 funcionários cada, em revezamento de 2 turnos. Foram avaliados 90% dos trabalhadores. A cada trabalhador foi apresentado um termo de consentimento livre e esclarecido, que foi assinado por ele, identificando o objetivo da análise. Em uma ficha de avaliação constava o registro de dados pessoais (nome, idade, sexo, biótipo e peso), e as medidas antropométricas (estatura altura do trocanter ao solo, altura do acrômio ao solo, circunferência da coxa e etc.) em situações sentadas e em pé, divididas em 19 tópicos. Os instrumentos utilizados foram: balança mecânica, estadiômetro, paquímetro, fita métrica, trena. Um questionário foi apresentado para cada trabalhador a fim de identificar sua percepção de desconforto para cada região corporal em cada momento de sua tarefa. A partir de dados gerais da população estudada, seguiu-se a distribuição de Gauss para a análise antropométrica, considerando a média e o desvio padrão, percentil 95,0, para análise de 57 trabalhadores, divididos em dois turnos. As medidas foram feitas pessoalmente, e sob duas óticas: antropometria estática e direta, realizada pelo pesquisador no ambulatório da empresa e a antropometria dinâmica realizada nos postos de trabalho durante a AET, com bases biomecânicas para um sinônimo de conforto. Os resultados foram analisados de forma descritiva, sempre procurando relacionar as medidas dos trabalhadores com as medidas dos mobiliários utilizados no setor. 57 Importância da antropometria para análise e adequação de um posto de trabalho específico Resultados A partir da análise, verificou-se que a tarefa do abastecedor resume-se a: 1 - Ir até o setor das estufas, e trazer um dos carrinhos prontos até a área das fibras picadas; 2 - Retirar as rocas do carrinho de transporte e colocar no boliche de forma a que se desloquem pela inclinação do mesmo para o outro extremo; 3 - Ainda no boliche, preparar os fios das rocas seguindo a ordem: retirar os tubetes (parte interna confeccionada de papelão) e preparar as pontas dos fios; 4 - Colocar as rocas nas cântaras; 5 - Amarrar os fios de uma seqüência de rocas, formando uma mecha, e passa-los através dos alinhadores; 6 - Levar as pontas das mechas ao pente da máquina picadora; 7 - Manter a seqüência dos fios, trocando as rocas nas cântaras, de acordo com o esvaziamento do conteúdo de cada uma; 8 - Manter a limpeza da máquina, no acúmulo de resíduos; 9 - Manter a limpeza da área do posto e das gavetas de resíduos (repartições onde caem os resíduos do processo de picar as fibras); 10 - Dar destino diferenciado aos resíduos aproveitáveis que são retirados das gavetas; 11 - Esvaziar tambores: Todas as partes das rocas que são desprezadas, tanto com sobra nas cântaras quanto em resíduos no solo, deverão ser colocadas em recipientes plásticos colocados nas proximidades da linha, e estes quando cheios deverão ser esvaziados em caçambas específicas da área. O mobiliário e suas medidas apresentavam variações dependendo de sua linha de fabricação e origem, sendo que foram encontrados 6 linhas diferentes. Os valores de altura dos níveis estão apresentados na Tabela 1. acordo com a linha de produção, sendo que nas linhas antigas necessitam escadas para os reabastecimentos nos seus pontos altos (Figura 1). A profundidade de pega da roca no boliche = 0,20 cm, e da roca na Cântara = 0,20 cm, ficam aquém da distância para deslocamento entre boliche/cântara = 1,55 m (Figura 2). Verificou-se que a iluminação artificial, ruído e temperatura estão dentro das normas técnicas, segundo laudos específicos. Figura 1: Boliche da linha 1, com os três níveis Figura 2: À direita um BOLICHE com dois níveis, e à esquerda uma CANTARA com quatro níveis, com as rocas colocadas Tabela 1: Alturas da Linha 1(em relação ao solo) Discussão Através da comparação e observação entre as medidas de mobiliários e antropometria coletadas (Tabela 2), verificou-se o que o trabalhador adota posturas inadequadas. Esse fato ocorre também durante a limpeza da máquina, que apresenta situação desconfortável visto que a medida de ombro ao solo (143,22 ± 7,01) é mais baixa e exige flexão e abdução de ombros acima de 90º na maior parte do tempo de trabalho. As discrepâncias verificadas entre antropometria e medidas de mobiliário correlacionam positivamente com as queixas dos trabalhadores. Tabela 2: Idade e valores antropométricos da população avaliada O mobiliário apresenta variações entre seus níveis de 58 A projeção ergonômica através da AET aplica-se a vários setores industriais e econômicos. Dentre eles, os que mais necessitam mudanças e organização são setores de risco, que implicam a postura, amplitude de movimento e movimentos repetitivos como, por exemplo, onde há controles, ferramentas ou peças que estejam fora do alcance dos funcionários (Serrano, 1996; Santos, 1997). Também, em trabalhos com acesso a diferentes níveis, trabalhos realizados em espaços reduzidos se comparados com as medidas dos funcionários, onde as dimensões de ferramentas são incompatíveis ou inadequadas para a pega, onde existem campos de visão altos em relação a funcionários baixos, e vice-versa, trabalhos que exigem instrumentos de apoio, esforço e/ou desvios posturais acentuados. A inadequação na execução da atividade laboral e dos postos de trabalho à população de trabalhadores, constitui problema social preocupante com reflexos em suas questões de requalificação, saúde e produtividade (Ferreira, 1990; Wisner, 1994; Abrahão, 2000). No Brasil, devido à variabilidade étnica, torna-se imprescindível uma pesquisa própria para cada caso. Um dos www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Importância da antropometria para análise e adequação de um posto de trabalho específico levantamentos mais recentes, consiste sobre a população trabalhadora brasileira, publicado pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT) em 1995, apresentando uma amostra de 3100 trabalhadores do sexo masculino, ocupados na produção da indústria do Rio de Janeiro em estabelecimentos de 500 ou mais empregados, nos quais foram feitas 42 medidas antropométricas e três variáveis biomecânicas. Um dos resultados foi a constatação de discrepância das alturas entre trabalhadores de origem nordestina (5%), que apresentavam média de 156,5 cm, e trabalhadores provenientes do Rio de Janeiro (95%) com média 182,0 cm (INT, 1995). Quando se analisa a população do ponto de vista regional, cabe às empresas adequarem seu mobiliário e ferramental de acordo com os dados obtidos, o que não deve seguir, portanto, os padrões pré-estabelecidos para todas suas filiais. Ainda, há que se levar em consideração as variabilidades anatômicas, principalmente no que tange às medidas estáticas, como a ântero-posterior, por exemplo. Através de medições simples, é possível o desenho e redesenho de um posto de trabalho de forma a possibilitar que o trabalhador tenha livre acesso sem prejudicar suas estruturas físicas. De acordo com os dados coletados neste trabalho, as sugestões ergonômicas foram: boliches e cântaras com distâncias entre os mesmos, deverão respeitar o limite mínimo de 1,30 m do seu início ao seu final, e deverão estar em relação ao solo a: nível 1= 0,52 m, nível 2= 0,96 m e nível 3= 1,40m. Também em sua profundidade, as cântaras deverão ser reduzidas em 0,04 m; para as novas cântaras deverá ser utilizado o sistema de orifício para apoio das rocas, mas com pequeno anteparo ao seu lado para impedir que as tortas rolem nas prateleiras; para as máquinas antigas, a operação dos “pentes” por onde são conduzidas as mechas de fios, devem ser posicionados 0,20 m mais alto; deverá ser implantado um sistema de rodízio entre os abastecedores; para o trabalho de limpeza das máquinas e gavetas, sugeriu-se um funcionário de baixa estatura especificamente; os boliches deverão estar ao lado da cântara e os latões de resíduos deverão obrigatoriamente ter “pegas” bilaterais, e sempre serem despejados por dois funcionários. Para o posto do abastecedor de rocas, e para todos que utilizam estantes semelhantes, as alterações são simples mas relevantes para a prevenção de disfunções músculo-esqueléticas. Conclusão Em uma tarefa onde as principais ações se dão com deslocamento de matérias entre diferentes níveis, não é possível qualquer planejamento para melhorias no layout dos postos e conseqüente redução da carga física e postural sem o prévio conhecimento da antropometria dos funcionários. Verifica-se que, através de metodologia simples é possível realizar coleta de dados específicos de um local de trabalho, o que possibilita o planejamento de melhorias ao trabalhador. Referencias ABRAHÃO, J.I. Reestruturação produtiva e variabilidade do trabalho: uma abordagem da ergonomia. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v.16, n.1, p.1-12, jan/abri. 2000. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 CHAFFIN, D.B.;Anadersson,G.B.J.; MARTIN, B.J. Biomecânica ocupacional, Belo Horizonte: Ed.Ergo, 1999. COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho: manual técnico da máquina humana. Belo Horizonte: Ed.Ergo, 1996. COUTO, H. A. Como implantar ergonomia na empresa. Belo Horizonte, Ed.Ergo, 2002. 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Elis Cristiane Silva1, Mara Cristine Lopes da Silva1, Simone Martins do Carmo1 Graduandas do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Capital – UNICAPITAL/SP. 2. Fisioterapeuta (UNICID/SP); Especialização em Ergonomia de Sistemas de Produção (USP/POLI), Promoção de Saúde (USP/FSP); Ergonomista Certificada (ABERGO). Professora responsável pela disciplina de Fisioterapia Preventiva do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Capital – UNICAPITAL/SP. Endereço para correspondência: Claudia D. Ollay, Rua Santa Adélia, 295 Bangu 09210-170 Santo André – SP, Tel: (11) 4997-6916, E-mail: [email protected], Elis Cristiane Silva, Rua Garcia Flores, 64 Jardim Ipê 06036-110 Osasco SP, Tel: (11) 3682-9368, E-mail: [email protected] Data de atualização: 23/04/2007. Data de envio para revista: 25/04/2007 Resumo O trabalho teve como objetivo conhecer o perfil dos operadores de telemarketing e detectar as regiões corporais em que relataram dor ou desconforto para a implantação de um programa de ginástica laboral e avaliação de seus benefícios quanto a diminuição de dor e melhora do estilo de vida. Foram utilizados o mapa de desconforto postural e questionário sobre qualidade de vida a 21 trabalhadores, sendo que destes somente 15 participaram efetivamente da pesquisa. Estes instrumentos foram aplicados no início e ao término do trabalho para que pudesse haver uma 60 comparação sobre os benefícios da ginástica laboral. Os resultados obtidos através da comparação do questionário sobre qualidade de vida e do mapa de desconforto postural da pesquisa demonstram uma melhora no estilo de vida e que houve uma diminuição de dor. De acordo com todo o exposto podemos concluir que a ginástica laboral traz como benefícios, além da diminuição da dor ou desconforto, o estímulo para a adoção de um estilo de vida mais saudável. Palavras-chaves: operador de telemarketing, estilo de vida, dor, consciência corporal, ginástica laboral. www.rbft.com.br Ano0101- -Edição Ediçãonºnº0103- -Março Maio de 2011 Ano 2010 Ginástica laboral para operador de telemarketing: Beneficios relacionados a dor e estilo de vida Introdução Nos dias atuais as pessoas tendem a ter um estilo de vida pouco favorável à saúde. LALONDE (1974 apud COLOMBO e AGUILLAR, 1997) define estilo de vida como um conjunto de decisões individuais que afetam a saúde e sobre os quais se pode exercer certo grau de controle. As decisões e os hábitos pessoais que são maus para a saúde, criam riscos originados pelo próprio indivíduo. Quando estes riscos resultam em enfermidade ou morte se pode afirmar que o estilo de vida contribuiu ou causou a enfermidade ou disfunção. Propõe uma estrutura mais abrangente envolvendo entre os seus componentes dados referentes não só à biologia humana, como aqueles relacionados ao meio ambiente, à organização da atenção à saúde e dados referentes ao estilo de vida. (LALONDE, 1974 apud COLOMBO e AGUILLAR, 1997) Ultimamente, é possível perceber uma mudança nestes valores, devido à maior conscientização da população sobre a importância em melhorar seu estilo de vida e conseqüentemente sua qualidade de vida. Para tanto, o indivíduo passa a procurar uma alimentação mais equilibrada, realizar atividades que lhe tragam prazer, iniciando ou retornando à prática de atividade(s) física(s) regular. Desta forma, é possível prevenir enfermidades psicossomáticas. (SOUZA e VENDITTI JR., 2004) Essas mudanças vêm atingindo vários profissionais, inclusive os Operadores de telemarketing, que segundo BAUK (1985) tendem a apresentar problemas de origem emocional de longa duração que podem levar a sérias desordens orgânicas associadas a mudanças físicas. Quando nossos recursos fisiológicos esgotam, o indivíduo torna-se candidato a enfermidades. O método estático e altamente repetitivo, como ocorre na profissão dos operadores de telemarketing, não permitindo uma maior movimentação, têm a desvantagem de exigir sempre a contração dos mesmos grupos musculares e a utilização das mesmas posturas, possibilitando dessa forma uma intensa sobrecarga física, cognitiva e psíquica em tais profissionais (ASSUNÇÃO, 2003) Devido às condições de grande estresse, movimentos repetitivos (...), o operador de telemarketing acaba sentindo dores que, geralmente, se originam desses fatores. Como agravante, o estilo de vida destes trabalhadores, submetidos à uma rotina de trabalho estafante e insalubre acaba adquirindo hábitos alimentares inadequados que, aliados ao sedentarismo, acabam por aumentar as condições de estresse e problemas físicos, gerando dores que limitam e tornam sua atividade laboriosa exaustiva (FISIOTRAB, 2003) Segundo CAMARGO FILHO (2004), A falta de reconhecimento precoce da dor, que deveria ser uma reação normal do trabalhador, através da percepção orgânica do corpo, pode ter ocorrido por causa de uma interferência no processo de reconhecimento.O trabalhador necessita ter o reconhecimento do sofrimento provocado pela situação de trabalho, para que o sujeito saiba lidar com a situação. Ou seja, esse reconhecimento é necessário para que o sujeito aprenda, que a organização do ambiente de trabalho não está adequada, para desenvolver aquela atiwww.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 vidade específica sem dor, e fazer com que elabore estratégias de defesa para se prevenir do desenvolvimento da sintomatologia. Atualmente as empresas podem contar com o recurso de implantação da ginástica laboral para favorecer a diminuição da dor, estimular o funcionário a praticar atividades físicas, diminuindo sedentarismo e melhorando sua disposição para o trabalho, que de acordo com PULCINELLI (1994) apud MENDES (2000), foi implantada pela primeira vez no Japão em 1928 sendo praticada por trabalhadores do correio nipônico. A ginástica laboral pode efetuar um processo de reeducação, através da prática de atividade física orientada, que pode contribuir para melhoria do estilo de vida desses profissionais.Como essas atividades são feitas em grupo favorecem também o trabalho em equipe e o relacionamento interpessoal, FREITAS et al (2005) confirma que a Ginástica Laboral é um meio de valorizar e incentivar a prática de atividade como instrumento de promoção da saúde e do desempenho profissional. Através da implantação de um Programa de Ginástica Laboral pode–se prevenir ou combater dores que surgem no desempenho da tarefa do operador de telemarketing, diminuindo o aparecimento de lesões osteomusculares e também pode levá–lo ao melhor estilo de vida, motivando–o a praticar atividades físicas e a ter melhor disposição para o trabalho, e segundo MARTINS (2001), o incentivo ao estilo de vida ativo faz com a qualidade da vida do individuo possa melhorar ou manter-se em níveis adequados. Revisão de literatura O trabalho do operador de telemarketing O Código Brasileiro de Ocupações (CBO), versão 2002, agrupa e classifica as ocupações de teleatendimento sob o termo “Operadores de Telemarketing” com a seguinte descrição: “Atendem usuários, oferecem serviços e produtos, prestam serviços técnicos especializados, realizam pesquisas, fazem serviços de cobrança e cadastramento de clientes, sempre via teleatendimento...” (BRASIL, MTE, 2002). O trabalho do operador de telemarketing normalmente é realizado em seis horas por dia, fazendo e atendendo ligações, ouvindo reclamações ou tentando conquistar um novo cliente. Existem empresas mais organizadas nas quais os agentes de telemarketing passam por uma bateria intensa de treinamento para oferecer um trabalho de qualidade, de acordo com as características de cada uma das empresas que visa atender (SILVA e ASSUNÇÃO, 2005). São ambientes de trabalho dos operadores de telemarketing os “Call centers” nos quais a principal atividade é conduzida via telefone, utilizando-se simultaneamente terminais de computador. O termo inclui partes de empresas dedicadas a essa atividade em centrais internas de atendimento, tanto quanto empresas especificamente voltadas para essa atividade (HSE, 2001). Com relação à organização do trabalho e a saúde do trabalhador, o método estático e altamente repetitivo, como ocorre na profissão dos operadores de telemarketing, não permitindo uma maior movimentação, têm a desvantagem de exigir sempre a contração dos mesmos 61 Ginástica laboral para operador de telemarketing: Beneficios relacionados a dor e estilo de vida grupos musculares e a utilização das mesmas posturas, possibilitando dessa forma uma intensa sobrecarga física, cognitiva e psíquica em tais profissionais (ASSUNÇÃO, 2003). O estilo de vida do operador de telemarketing A saúde está relacionada diretamente à nossa atividade física. Pessoas com hábitos sedentários possuem menor aptidão física, isto é, menor capacidade para executar movimentos adequados, exercícios físicos e atividades que exijam das mesmas. No contexto das sociedades industrializadas e em desenvolvimento, o estilo de vida tem sido, cada vez mais, um fator decisivo na qualidade de vida, existindo sólida evidência dos efeitos do comportamento individual sobre a saúde (BITTENCOURT et al., 2005). A promoção da saúde, a prevenção de algumas enfermidades, ou pelo menos, seu aparecimento mais tardio, poderiam ser alcançados por meio da redução da prevalência destes fatores, que são, teoricamente, passíveis de modificação (Rose, 1992). Em pesquisa por amostragem realizada por Bittencourt et al. (2005), abrangendo vinte profissionais da equipe multidisciplinar formada por médicos, fisioterapeutas, psicólogos, educadores físicos, assistentes sociais e profissionais de enfermagem, concluiu-se que desenvolver atividade em saúde do trabalhador exige organização, dedicação, entusiasmo, motivação, e, para que os mesmos disponham de tais aspectos é necessária a adoção de um estilo de vida mais ativo e saudável principalmente nos quesitos da atividade física, alimentação e equilíbrio do tempo destinado ao trabalho e ao lazer, estabelecendo a coerência entre o conhecer, querer e agir (BITTENCOURT et al., 2005). Por falta de estímulos, basicamente educacionais, os indivíduos crescem adquirindo vícios dos mais diversos, só retornando suas preocupações em relação à saúde na terceira idade, quando se encontram frente a doenças e seqüelas; muitas delas evitáveis através da adoção de uma postura mais saudável durante a juventude e seu período laboral (SOUZA e VENDITTI JR., 2004). O operador de telemarketing e a consciência corporal O trabalhador que não tem uma consciência corporal bem definida seria incapaz de identificar corretamente os elementos necessários para elaborar suas estratégias de defesa para a prevenção da sintomatologia do DORT. A falta de reconhecimento precoce da dor, que deveria ser uma reação normal do trabalhador, através da percepção orgânica do corpo, pode ter ocorrido por causa de uma interferência nesse processo de reconhecimento. Essa interferência pode ser a mentalização da obrigatoriedade, obediência à norma burocrática da organização, de permanecer com o seu corpo naquela situação até a tarefa estar terminada. Pode ser a tentativa de conservar a boa imagem que diz que o bom trabalhador deve terminar o seu trabalho, agüentando, como um profissional eficiente, um certo sofrimento em seu corpo. Enfim, tanto em um caso quanto no outro, fazem parte da percepção social do corpo, que o trabalhador construiu durante a sua 62 vida profissional (CAMARGO FILHO, 2004). Em pesquisa apresentada ao Instituto de Psicologia (IP) da USP, a fisioterapeuta Carla Oda (2003) verificou que a maioria dos operadores de telemarketing consultados tinham sintomas de estresse ou depressão, como desânimo, ansiedade e nervosismo, além disso, tinham dores no pescoço e nos ombros, e apresentavam sintomas fisiológicos, como dores no estômago, zumbido no ouvido, e rouquidão - a voz seria a principal afetada. Segundo a pesquisadora, os operadores ficam muito mais fadigados no fim do expediente, considerando posturas bem mais inadequadas no fim do período de trabalho (ODA, 2003). Há ainda uma pressão muito grande, devido à competitividade entre os operadores, o fator tempo e a presença do supervisor. É como se eles estivessem sendo observados o tempo todo. Além disso, eles têm de ser gentis, mesmo com as muitas reclamações que se pode receber e a carga intensa de trabalho. Conforme a pesquisadora, uma das formas de exteriorizar essa tensão seria a dor, mas cada um tem sua forma de expressão (ODA, 2003). O reconhecimento do sofrimento provocado pela situação de trabalho é fundamental, para que o sujeito saiba lidar com a situação. Ou seja, esse reconhecimento é necessário para que o sujeito aprenda, que a organização do ambiente de trabalho não está adequada, para desenvolver aquela atividade específica sem dor. e fazer com que elabore estratégias de defesa para se prevenir do desenvolvimento da sintomatologia (CAMARGO FILHO, 2004). Parece não bastar apenas o ensino regular de fisiologia, de anatomia do corpo humano, de ginástica laboral ou de outra técnica ligada à percepção orgânica do corpo, para que o trabalhador se conscientize da importância de cuidar de si mesmo, não deixando desenvolver, ao longo dos anos, os sintomas dolorosos, que está associado aos ambientes laborais. Mas, da mesma maneira, parece ser necessário que lhe seja ensinado, num processo de aprendizagem diferenciado, sobre como se processa as informações no fenômeno humano da percepção social do corpo. Esse conhecimento deverá contribuir para a aprendizagem e a elaboração de estratégias de defesa mais eficientes (CAMARGO FILHO, 2004). Benefícios da ginástica laboral A Fisioterapia do Trabalho visa promover ações terapêuticas preventivas a instalações de processos que levam a incapacidade funcional laborativa, analisar os fatores ambientais, contributivos ao conhecimento de distúrbios funcionais laborativos e desenvolver programas coletivos, contributivos à diminuição dos riscos de acidente de trabalho. (COFFITO, 2005) A implantação da ginástica laboral traz ganhos para todos os envolvidos. O trabalhador absorve conhecimentos para a continuação da prática da atividade física no seu meio familiar e social. Entre os benefícios reais proporcionados pela ginástica laboral estão as melhorias da saúde ocupacional e geral dos trabalhadores; a valorização das boas relações no trabalho e a responsabilidade social corporativa. Isso se dá em razão de uma diminuição das faltas www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Ginástica laboral para operador de telemarketing: Beneficios relacionados a dor e estilo de vida por motivos médicos e também a redução dos acidentes de trabalho (SOUZA e VENDITTI JR., 2004). Através da Ginástica Laboral na Empresa pretende-se estimular os trabalhadores a adotarem um estilo de vida mais ativo e saudável, através da prática de exercícios físicos realizados de forma contínua, lúdica, preventiva, voluntária e coletiva, no tempo e local de trabalho” (COELHO, 2006). Existem basicamente três tipos de Ginástica Laboral oferecidos atualmente: Preparatória; Compensatória; Relaxamento (ZILLI, 2002). A Ginástica Preparatória ou de Aquecimento visa “ativar” (despertar/ aquecer) o trabalhador para a jornada de trabalho, sendo assim esta é realizada logo no início do expediente, despertando e tornando o indivíduo mais atento durante suas atividades, evitando assim acidentes e contusões ao longo de todo período. Outro tipo de Ginástica Laboral é a de Compensação (compensatória) ou de Distensionamento, geralmente realizada no meio do período de trabalho, provocando uma pausa ativa no trabalhador, aumentando assim radicalmente seu poder de concentração. A Ginástica de Relaxamento é feita ao final do expediente e prioriza recuperar o trabalhador ao final da jornada de trabalho, diminuindo assim seu desgaste físico e psicológico ao retornar ao seu convívio pessoal (SOUZA e VENDITTI JR., 2004). OBJETIVO Avaliar os benefícios de um programa de Ginástica Laboral relacionados a dor e estilo de vida dos Operadores de Telemarketing de uma empresa do ramo eletroeletrônico localizada na região da grande São Paulo. Materiais e métodos tipo de pesquisa: Trata-se de uma pesquisa de campo de caráter exploratório, utilizando como base revisão de literatura a partir de material já publicado, datados a partir de 1990, e constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e com material disponibilizado na Internet, todos relacionados com o tema da pesquisa, cujas palavras-chave principais foram: operador de telemarketing, dor, estilo de vida. Local: A pesquisa foi realizada em uma empresa fabricante de produtos eletroeletrônicos, localizada na região da grande São Paulo. Amostra: A amostra é composta por 21 teleoperadores que trabalham na empresa de segunda a sexta-feira, no período das 7:30 as 13:30 h e das 10:00 as 16:00 h, no atendimento de ligações (operadores receptivos), esclarecendo dúvidas e/ou dando informações a respeito de produtos e/ou serviços. Critério de exclusão: Devido a amostra não se apresentar de forma tão significante, o não preenchimento ou a não devolução do termo de consentimento e dos questionários foi usado como único critério de exclusão. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Instrumentos de pesquisa: Foram aplicados um Termo de Consentimento ao gerente responsável pelo NAC. Já aos Operadores de Telemarketing foram aplicados um Termo de Consentimento, um instrumento constituído por questões fechadas e abertas do tipo semi-estruturado e um Mapa de Dor e Desconforto, visando adquirir maior entendimento dos aspectos relacionados ao trabalho desses profissionais e como forma de obterem-se subsídios para o planejamento das aulas do Programa de Ginástica Laboral. 1. Termo de consentimento (para a empresa) Foram respeitados os aspectos éticos que são definidos na Resolução 196/96 do CONEP (Conselho Nacional de Ética em Pesquisa), através da distribuição do termo, onde ocorreu o esclarecimento sobre a pesquisa e posterior consentimento do sujeito em consentir a execução da pesquisa. 2. Termo de consentimento livre e esclarecido (para os operadores de telemarketing) Foram respeitados os aspectos éticos que são definidos na Resolução 196/96 do CONEP (Conselho Nacional de Ética em Pesquisa), através da distribuição do termo anexado ao questionário, onde ocorreu o esclarecimento sobre a pesquisa e posterior consentimento do sujeito em fornecer os dados solicitados à pesquisa. 3. Mapa de dor e desconforto Mapa de Dor e Desconforto (Corlett, 1976) onde consta um desenho do corpo humano na posição anatômica, com vistas anterior e posterior e divide o corpo em regiões para que seja assinalada a(s) região(ões) onde a dor ou o desconforto se faz presente . 4. Questionário Qualidade de Vida Questionário Qualidade de Vida (Polito & Bergamasch, 2003), contendo 21 questões relacionadas a trabalho e lazer, cada uma delas com cinco alternativas. Das 21 questões constituintes do questionário, todas foram preenchidas porém sete foram consideradas as mais relevantes a pesquisa pois a abordagem está voltada diretamente para estilo de vida. Para este instrumento não há uma interpretação pré-definida, partiu-se então para o desenvolvimento da interpretação na qual os critérios são sempre, freqüentemente, às vezes, raramente e nunca, diante disto, criamos três alternativas, unindo as opções sempre e freqüentemente, às vezes e raramente e a opção nunca ficou como a terceira alternativa. Procedimento: Esta etapa da pesquisa se dividiu em quatro fases: 1ª. Contato junto a empresa: Um dos pesquisadores realizou o contato junto à empresa através do gerente responsável pelo Núcleo de Atendimento ao Cliente (NAC). Ele foi informado sobre o interesse em realizar a pesquisa, após a liberação cedida pelo mesmo, foi solicitada uma autorização da empresa para que os pesquisadores pudessem ter acesso ao NAC, para a aplicação dos instrumentos. 2ª. Aplicação dos instrumentos: Os três instrumentos (Termo de Consentimento, Mapa de Dor ou Desconforto, Questionário Qualidade de Vida) foram entregues para 63 Ginástica laboral para operador de telemarketing: Beneficios relacionados a dor e estilo de vida que os Operadores de Telemarketing dispostos a participarem da pesquisa os respondessem no mesmo dia. O material foi entregue a 21 Operadores de Telemarketing que receberam orientações quanto ao preenchimento e devolução deste material, que deveria ser depositado, ao final do expediente, em uma pasta colocada sobre uma mesa próxima à saída. 3ª. Tabulação de dados e implantação do Programa de Ginástica Laboral: Após aplicação dos instrumentos foi realizada a tabulação e interpretação dos dados coletados através da construção de gráficos e tabelas no Microsoft Excel, para o planejamento das aulas do Programa de Ginástica Laboral. Para melhor aproveitamento do Programa, foi sugerido que os exercícios fossem realizados em horário pré-determinado com os Operadores, durante a jornada de trabalho, pois, nesse período, é que acontecem as maiores sobrecargas físicas, psicológicas e cognitivas, logo optamos pela Ginástica Laboral Compensatória/ Distensionamento/ Pausa. Iniciou-se o Programa da Ginástica Laboral com exercícios aplicados de forma coletiva, duas vezes por semana, as terças e quintas–feiras, entre 08h e 11h, tendo uma duração de 10 minutos, totalizando 14 aulas no período de sete semanas, onde cada aula teve o alongamento modificado(tabela 1). 4ª. Reaplicação dos instrumentos e Avaliação do Programa: Os instrumentos (Mapa de Dor e Desconforto e Questionário Qualidade de Vida) foram entregues aos operadores, que receberam uma explicação sucinta de como preenchê-los, pois os mesmos procedimentos já haviam sido feitos ao início da pesquisa. Também como na primeira aplicação, foi solicitado que respondessem aos instrumentos e os depositassem em uma pasta colocada sobre uma mesa próxima à saída, ao final do expediente de trabalho. Os instrumentos foram retirados por um dos pesquisadores no dia seguinte. Após aplicação dos instrumentos foi realizada a tabulação e interpretação dos dados coletados através da construção de gráficos e tabelas no Microsoft Excel. Resultados Resultado quanto às características dos trabalhadores: Obtivemos com relação ao gênero que 80% dos Operadores pesquisados eram do gênero masculino e 20% do gênero feminino. Quanto ao estado civil obtivemos que 53% são casados, 40% solteiros e 7% outros. Estes dados não sofreram modificações após a aplicação do Programa de Ginástica Laboral. 64 RESULTADOS INICIAIS E FINAIS DO QUESTIONÁRIO DE QUALIDADE DE VIDA (Polito e Bergamaschi, 2003): 1. Atividade Física Quando perguntados no inicio da pesquisa (Antes da Ginástica Laboral) sobre a prática de atividade física verificou–se que 53% dos Operadores de Telemarketing sempre/ freqüentemente praticavam atividades físicas, 40% às vezes /raramente e 7% nunca praticavam atividades físicas. Depois da ginástica verificou–se que 60% sempre/ freqüentemente praticavam atividades físicas, 33% às vezes/raramente e 7% nunca praticavam atividades físicas (tabela 3). 2. Dificuldades para realizar o trabalho Perguntados no início da pesquisa sobre as dificuldades para realizar o trabalho, verificou–se que 0% sempre/ freqüentemente possuíam dificuldades para realizar o trabalho, 40% as vezes/raramente e 60% nunca possuíam dificuldades para realizar o trabalho. Porém após a ginástica laboral os resultados foram: 0% sempre/freqüentemente, 33% às vezes/raramente e 67% nunca possuem dificuldades para realizar o trabalho. 3. Disposição para realizar o trabalho Com a primeira aplicação do questionário observou-se que a disposição para realizar o trabalho era de: 100% sempre/freqüentemente possuíam disposição para realizar o trabalho, 0% as vezes/raramente e 0% nunca. Os resultados após a ginástica laboral quanto a disposição para realizar o trabalho permaneceram sem alterações. 4. Disposição para realizar atividades extras no trabalho www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Ginástica laboral para operador de telemarketing: Beneficios relacionados a dor e estilo de vida Indagados (Antes da Ginástica Laboral), sobre a disposição para realizar atividades extras no trabalho, 53% responderam sempre/freqüentemente ter disposição, 47% as vezes/raramente e 0% nunca ter disposição para essas atividades. Ao final (depois da Ginástica Laboral), obtiveram–se os seguintes resultados: 60% sempre/ freqüentemente, 40% as vezes/raramente e 0% nunca possuem disposição para realizar atividades extras no trabalho. 5. Motivação para a prática de atividade física Quando questionados no inicio (Antes da Ginástica Laboral) sobre se sentirem motivados para a prática de atividades físicas os resultados apresentados foram: 60% sempre/freqüentemente possuíam motivação para pratica de atividades físicas, 33% às vezes/raramente e 7% nunca possuem motivação. Porém após a ginástica laboral os resultados obtidos foram 60% sempre/freqüentemente, 40% às vezes/raramente e 0% dos funcionários nunca apresentam motivação para prática de atividade física. 6. Preocupação com lazer pessoal e familiar Antes da Ginástica Laboral os Operadores foram solicitados a responderem questões sobre preocupação com lazer pessoal e familiar, os quais obtivemos como resultados: 80% sempre/freqüentemente se preocupam, 13% as vezes/raramente e 7% nunca se preocupavam com o lazer pessoas e familiar. Após a ginástica laboral os resultados foram: 87 sempre/freqüentemente, 13% às vezes/ raramente e 0% nunca se preocupam com o lazer pessoal e familiar. 7. Participação em atividades extras fora do trabalho Indagados, inicialmente (Antes da Ginástica Laboral), sobre participação em atividades extras fora do trabalho, 33% sempre/freqüentemente têm participação, 53% as vezes/raramente e 13% nunca. Ao final da ginástica laboral, obtiveram–se os seguintes resultados: 53% sempre/ freqüentemente, 40% as vezes/ raramente e 7% responderam nunca possuir participação em atividades extras fora do trabalho. Resultados iniciais e finais do mapa de desconforto postural (corlett, 1976): Com relação aos resultados do Mapa de Dor e Desconforto Postural (Corlett, 1976), o gráfico abaixo demonstra que houve diminuição nos quadros álgicos quando relacionados a região do pescoço, punhos, costas e abdome. Mantiveram-se as mesmas queixas com relação a ombros, braços, antebraços, mãos, tórax e pernas www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Discussão Na questão relacionada a disposição para realizar o trabalho, 100% dos Operadores se apresentaram motivados, e com relação a disposição para realizar atividade extra no trabalho, observou-se aumento da porcentagem dos dispostos a realizarem esta atividade, o mesmo aconteceu com relação a participação em atividades extras fora do trabalho, onde o número de Operadores de Telemarketing que participavam dessas atividades (sempre / freqüentemente) aumentou. Segundo MOURA R. ”o trabalhador que reserva alguns minutos da semana para exercitar-se terá mais disposição e seu serviço irá render muito mais”. (SOUZA & VENDITTI JR. 2004) afirmam que através da Ginástica Laboral é possível estimular a diminuição do sedentarismo e levar indivíduos cada vez mais à prática de atividades físicas, uma vez que a mesma se insere no ambiente de trabalho. Houve diminuição nos quadros álgicos relatados pelos Operadores de Telemarketing relacionados a pescoço, punhos, costas e região de abdome. E de acordo com esta pesquisa após implantação do Programa de Ginástica Laboral e diminuição dos quadros álgicos houve maior preocupação dos Operadores de Telemarketing com o lazer pessoal e familiar. Conforme (BARROS et al apud Paffenbarger et al, 1986, Blair et al, 1989) não a dúvida, que a adesão a programas de atividades físicas, esportes e exercícios físicos traz benefícios tanto físicos quanto mentais. A competitividade das empresas acaba por afetar diretamente à saúde do trabalhador que, muitas vezes, é submetido às horas intensas de trabalho estressante e, como agravante, com equipamentos de trabalho e estilo de vida que não cooperam para a manutenção da sua saúde. Segundo RANGEL (2001), após a implantação de um Programa de Ginástica Laboral em uma empresa privada de informática com aproximadamente 150 funcionários, sendo a principal atividade sentada com uso de microcomputador e as principais queixas estavam relacionadas com os membros superiores. Os resultados obtidos após a implantação foram bastante positivos, pois 71% dos funcionários relataram melhora da postura de trabalho, 62% referiram redução do desconforto muscular, 75% dos funcionários melhoraram a flexibilidade e 58% relataram melhora na disposição para o trabalho. Nesta pesquisa obteve-se um maior numero de Operadores de Telemarketing motivados a prática de atividade física, conforme Blank (2000), o aumento da preocupação com a saúde, pelos trabalhadores de uma indústria têxtil se deu após a sua participação em Programas de Ginástica Laboral. No citado estudo constatou-se que 75% dos trabalhadores aumentaram os cuidados com a saúde após participação no Programa. E outro ponto que nos chama a atenção quanto a um Programa de Ginástica Laboral se refere ao fator motivacional. A Ginástica Laboral vem contribuir para que estas diretrizes possam ser agregadas com maior facilidade, pois “A Ginástica Laboral é um programa que intensifica a ligação do trabalhador com a empresa, valorizando o significado do seu trabalho, já que a série de exercício é baseada na função exercida” (LIMA, 2003). Ao final deste estudo verificou-se que houve diminuição no número de Operadores que sentiam dificuldades para realizar seu trabalho, onde segundo SOUZA & VENDITTI JR. (2004) através de questionários individuais e observações sobre o clima organizacional é possível perceber uma enorme mudança neste sentido. Possivelmente isso se dá por uma melhora no estado geral de saúde e principalmente por uma mudança na rotina. 65 Ginástica laboral para operador de telemarketing: Beneficios relacionados a dor e estilo de vida Conclusão Considerando que o Operador de Telemarketing normalmente tem uma jornada de trabalho estressante, as pausas e os períodos de descanso que proporcionem relaxamento e cuidados com o corpo físico e mental promoverão um incentivo para a adoção de bons hábitos de saúde, que refletirão em todas as instâncias da vida do trabalhador. Em suma, as empresas que proporcionam que os Operadores de Telemarketing possam participar de atividades de ginástica laboral, assim como outras orientações a respeito da melhoria do estilo de vida desses trabalhadores dão um grande passo em direção ao aumento da qualidade nos serviços prestados. Do questionário aplicado sobre Qualidade de Vida ressaltamos as sete questões consideradas mais relevantes e com correlação direta ao estilo de vida do trabalhador para abordagem dos resultados. O questionário apresentou-se de difícil interpretação, já que não foi estabelecido critério único quanto aos itens expostos, assim dificultando a precisão das informações contidas. Com os teleoperadores participantes desta pesquisa houve diminuição de dor e melhora do estilo de vida em um curto intervalo de tempo, o que nos sugere que com maior tempo de duração do Programa de Ginástica Laboral, maiores seriam os benefícios obtidos. Ressaltamos a importância de se averiguar as informações de forma individual para observarmos as origens das queixas apresentadas e assim saber a real ação e eficácia do Programa de Ginástica Laboral. Pode-se concluir que a Ginástica Laboral é, portanto, um dos fatores promotores de um bom estilo de vida, sendo também importante na adoção de hábitos saudáveis e na busca de uma consciência corporal, de forma que o trabalhador aprenda a reconhecer os sinais que o próprio corpo fornece quando algo não vai bem, como dores e outros desconfortos, sejam estes físicos ou mentais. Referências bibliográficas ABT - Associação Brasileira de Telemarketing - Código de Ética - Disponível em . Acesso em: 10 set. 2003. ASSUNÇÃO, Ada Ávila. Uma contribuição ao debate sobre as relações saúde e trabalho. Ciênc. Saúde coletiva v.8 n.4 Rio de Janeiro 2003. ANDERSON, BOB - Alongue-se no Trabalho: Exercícios de Alongamento para Escritórios. Ed. Summus V. 011998. BARROS, Mauro V G de; NAHAS, Markus V. 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Estudo de Caso: Análise das www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 67 Programa de Ginástica Laboral no setor administrativo da Prefeitura Municipal de Nova Mutum Autoras: Letícia Freitas Magon CBES [email protected] Rua dos Eucaliptos, 592-n Bairro Jardim 2 Nova Mutum – MT CEP: 78450-000 Lisie Tocci Justo Luvizutto CBES [email protected] Rua Paulo Franco, n. 230, apto. 114, Vila Leopoldina, CEP: 05305-030. São Paulo/SP Data de atualização: 13 de maio de 2008 Data de envio: 13 de maio de 2008 Resumo O objetivo deste trabalho foi verificar a efetividade da aplicação de um Programa Ginástica Laboral quanto aos desconfortos músculo-esqueléticos em colaboradores do setor administrativo da Prefeitura Municipal de Nova Mutum. A amostra foi de dez colaboradores que responderam um questionário inicial referente às informações dos mesmos e suas atividades laborais. E para a obtenção dos resultados foi aplicado um questionário final abordando dados relativos após a implantação do programa. Em ambos os questionários, foi inserido o Diagrama de Corlett que indica as regiões do corpo, para a localização dos desconfortos. Realizou-se o programa durante três meses, por quinze minutos, três vezes por semana. Eles também freqüentaram palestras mensais e foram expostos a dicas semanais sobre atividade física, saúde e postura. Por meio da análise estatística descritiva, constatou-se que o Programa de Ginástica Laboral e as orientações trouxeram benefícios para os colaboradores, diminuindo os desconfortos músculo-esqueléticos, na maioria dos segmentos corporais. Palavras Chaves: DORT, desconforto músculo-esquelético, ginástica laboral Programa de Ginástica Laboral no setor administrativo da Prefeitura Municipal de Nova Mutum Introdução A velocidade dos processos de industrialização, informatização e automação ocorridas no Brasil nas últimas décadas têm requerido uma sobrecarga de atividades em colaboradores, sendo que estas atividades não se limitam à atividade mental, mas também física e cognitiva (Justo, 2004). Então, fatores como o aumento do ritmo de trabalho, alta velocidade de produção, movimentos repetitivos, stress, posturas inadequadas, entre outros, faz com que o colaborador a cada jornada de trabalho sofra de dores e/ou desconfortos músculo-esqueléticos em diversos segmentos corporais. Os desconfortos músculo-esqueléticos de natureza ocupacional são um sério problema de saúde a ser enfrentado. Segundo Ferreira (2001) o “desconforto músculo-esquelético é uma impressão desagradável ou penosa, proveniente de lesão, contusão ou estado orgânico anômalo”. Porém sabe-se que é partir do mesmo que se podem originar os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). Com o intuito de prevenir a situação exposta anteriormente e melhorar a saúde do colaborador, algumas empresas estão investindo em programas de prevenção, tendo como um dos focos, exercícios de alongamento, aquecimento ou relaxamento com a finalidade de diminuir os danos causados pela profissão, são exercícios realizados no próprio ambiente de trabalho. Essa seqüência de exercícios diários que visam normalizar capacidades e funções corporais para o desenvolvimento do trabalho, diminuindo a possibilidade de comprometimentos da integridade do corpo foi denominada por Baú (2002) de ginástica laboral. E, Oliveira, (2004), complementa que a ginástica laboral (GL), é apresentada como mecanismo de prevenção de distúrbios músculo-esqueléticos e estresse do trabalho. Desta forma, o estudo justifica-se porque a ginástica laboral, adaptada às características organizacionais do trabalho, podendo possibilitar aos colaboradores condições de suportarem as sobrecargas físicas, cognitivas e psíquicas da profissão, minimizando e/ou anulando a ação dos fatores de risco inerentes às suas tarefas profissionais e, assim, proporcionar melhoria nas condições de trabalho e na qualidade de vida desses profissionais. Objetivo Verificar a efetividade da aplicação de um Programa Ginástica Laboral quanto aos desconfortos músculo-esqueléticos em colaboradores do setor administrativo da Prefeitura Municipal do município de Nova Mutum. Método Para cumprir os objetivos propostos, foi realizada uma pesquisa de campo, com intervenção em dez colaboradores do setor administrativo da Prefeitura Municipal de Nova Mutum, situada na Avenida Mutum, nº 1250-n, Cenwww.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 tro, no município de Nova Mutum – Mato Grosso. Para tanto todos foram selecionados os colaboradores que estiveram legalmente contratados pela Prefeitura, e que realizaram suas atividades no setor selecionado. Excluiu os colaboradores que estiveram de licença, que mudaram de setor ou que apresentaram qualquer problema que interfira na compreensão da pesquisa. Para o procedimento da pesquisa, foi obtido um pedido de autorização para a Prefeitura Municipal de Nova Mutum, onde o responsável assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para Empresa e o projeto foi encaminhado para o Comitê de Ética em Pesquisa do CBES. Posteriormente a estas etapas os colaboradores da prefeitura foram esclarecidos quanto ao objetivo do estudo e convidados a participar da pesquisa. Aqueles que aceitaram a participação, receberam e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participantes. Cada trabalhador recebeu um questionário inicial referente às informações sobre os colaboradores e suas atividades laborais contendo perguntas relativas aos dados pessoais (sexo, idade, etnia, estado civil e escolaridade), descrição da atividade laboral (profissão/ocupação, tempo de trabalho nessa profissão, em quantos locais trabalha, tempo no setor, horas trabalhadas por dia, postura adotada durante o trabalho, atividades desenvolvidas, tipo de trabalho mais desenvolvido, demanda de trabalho, pausas, e posição que trabalha), dados quanto à saúde (sintomas apresentados, quando surgem, se sente alguma dor e/ou desconforto músculo-esquelético – como é, há quanto tempo, e em qual região do corpo, e na opinião do trabalhador o que causa o sintoma que sente) e dados quanto à ginástica laboral (se conhece a ginástica laboral e seus benefícios, se participaria se tivesse na sua empresa e comentar sobre o que sabe sobre a ginástica laboral). Com os dados desse primeiro questionário foi elaborado o Programa de Ginástica Laboral (PGL), que ocorreu no local de trabalho, com duração de 15 minutos, três vezes por semana, que segundo Lima, (2003), sugere que se aplique a ginástica laboral pelo menos 3 vezes por semana para obter melhora significante. Foi no período vespertino e durante o expediente de trabalho, portanto foi realizada a ginástica laboral de pausa, com exercícios apropriados aos colaboradores. Segundo Mendes e Leite (2004), GL no início do expediente de trabalho é chamada de preparatória, no meio do expediente é chamada compensatória e, ao final do expediente, é chamada relaxante. Lima (2003) apresenta um entendimento similar, tendo em vista que classifica a GL como de aquecimento ou preparatória, compensatória ou de pausa, de relaxamento ou final. Este Programa teve a duração de três meses. Ao término desses três meses os colaboradores receberam um questionário final que abordou dados relativos após a aplicação do Programa de Ginástica Laboral (se houve alteração na dor e/ou desconforto músculo-esquelético, na fadiga muscular, se o programa influenciou a adoção de hábitos posturais mais saudáveis (ergonômicos) durante o trabalho, a perceber a tensão muscular, 69 Programa de Ginástica Laboral no setor administrativo da Prefeitura Municipal de Nova Mutum relaxar e continuar a tarefa; se houve efeitos (mudanças) durante e após a ginástica laboral no seu trabalho, se trouxe benefícios para na sua atividade profissional e se colaborador é favor da continuidade do programa de ginástica laboral). Em ambos os questionários, inicial e final, possuíam o Diagrama de Corlett que indica as regiões do corpo onde possam se localizam os desconfortos (Corlett & Manenica apud Iida, 2003) tais como: pescoço, ombros, cotovelos, punhos e mãos, região dorsal, lombar e cervical, quadril, coxas, joelhos, tornozelos e pés, sentidos nos últimos sete dias e nos últimos seis meses. Em complemento a esse diagrama foi utilizada a Escala Analógica Visual (EVA) para mensurar o desconforto. Para o preenchimento da EVA (figura 1) o trabalhador deve marcar suas respostas cortando perpendicularmente a reta (15cm), de acordo com a região afetada, tendo, no início da reta a “ausência de desconforto” correspondente a zero, e no final o “desconforto insuportável”, conforme observado na ilustração abaixo. As respostas foram quantificadas de acordo com a distância entre a origem da reta e a intersecção feita pelo colaborador. Caso houvesse alguma dúvida em relação às questões, a pesquisadora estava presente para o devido esclarecimento. Os dados obtidos do preenchimento dos questionários foram compilados e analisados estatisticamente no programa Microsoft Excel 2000. Resultados e discussão Um total de 10 colaboradores foram entrevistados e encontrou-se a idade média de 30 anos com desvio padrão de ± 8 anos, de ambos os sexos, 90% de etnia branca, 60% casado e 40% com ensino superior completo (tabela 1). Todos os colaboradores têm a ocupação de agente administrativo, com tempo de trabalho de 64 meses, com desvio padrão de ± 48 meses, tendo apenas um colaborador com dois empregos. A média de tempo de atividade encontrada no setor foi de 37 com desvio padrão de ± 47 meses. E, a média de horas trabalhadas por dia ficou em 8 70 horas, exceto um colaborador que possui dois empregos que trabalha em média 13 horas/dia. A maioria dos trabalhadores fica sentado (70%) para executar suas atividades e outros alternam suas posturas de sentado para em pé (30%). Todos possuem uma demanda constante de trabalho e não realizam pausa durante o mesmo. As atividades mais desenvolvidas neste setor são de digitação (100%), que segundo a Norma Regulamentadora Nº 17 (NR17) o número máximo de toques reais exigidos pelo empregador não deve ser superior a 8 (oito) mil por hora trabalhada, sendo considerado toque real, para efeito desta NR, cada movimento de pressão sobre o teclado; uso do mouse (30%) e atendimento ao telefone (10%), além de outras atividades tais como, atender o público, perfurar, grampear, escrever, utilizar a calculadora, ler, carimbar, cortar papéis, dobrar papéis. Nas atividades de digitação o segmento corporal mais envolvido para realização da mesma, são movimentos repetitivos dos dedos das mãos. Baseado em alguns estudos, é interessante notar que os fatores contributivos mais importantes dos LER/DORT são: repetição, força, velocidade e movimentos, como digitação, cálculos, escrita, atendimento ao telefone, entre outros segundo Fornasari et al. (2000). Pode-se notar que todos os colaboradores sentem alguma dor e/ou desconforto músculo-esquelético, prevalecendo em membros superiores o sintoma de cansaço muscular. De acordo com a figura abaixo (figura 2) os sintomas mais referidos antes da implantação do programa de Ginástica Laboral foi o cansaço muscular, tanto nos membros superiores (7) quanto nos membros inferiores (4) conforme figura 1. Esses dados foram de encontro aos estudos de Gutiérres e cols (2000) que em uma pesquisa de implantação de esquema de pausas durante o trabalho acompanhado de exercícios compensatórios também identificaram os sintomas do uso excessivo dos membros superiores como prevalentes. Pode-se notar também que todos os colaboradores apresentam algum desconforto em membros superiores que conforme o estudo de Prezysienzny (2000) este também foi identificado em digitadores. Os sintomas dos desconfortos músculo-esqueléticos surgiram de entre 1 e menos de 5 anos (60%), com intenwww.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Programa de Ginástica Laboral no setor administrativo da Prefeitura Municipal de Nova Mutum sidade leve (70%), principalmente após o trabalho (40%) (tabela 2). Conforme o quadro abaixo (quadro 1) os desconfortos músculo-esqueléticos reduziram após a implantação do programa de ginástica laboral (GL) principalmente no ombro direito que apresentou uma redução de 2,88 e pescoço com 2,54 pontos na escala analógica visual para dor. Proença e cols (1998) relataram que em servidores públicos de uma secretaria do estado do Paraná, após um programa de exercícios, houve uma redução das dores em todas as partes do corpo e aumento da sensação de bem estar dos participantes. Alves (1999) também verificou diminuição das dores corporais em trabalhadores que realizaram a GL em comparação aos trabalhadores que não realizaram a GL, em um estudo com trabalhadores de uma empresa federal de Curitiba que adota um programa de atividade física. o mesmo. Com relação aos comentários sobre a GL 50% não responderam e outros 50% relataram que “a ginástica laboral é fundamental no trabalho e são técnicas de alongamento, ou seja, são exercícios específicos aplicados conforme as funções desempenhadas, sobre partes do corpo que mais são exigidas, servindo para melhorar a postura e desconfortos e dores corporais, assim como o desempenho dos colaboradores promovendo o bem estar e melhorando a qualidade de vida”. A Ginástica Laboral proporciona benefícios, tanto para o trabalhador, quanto para a empresa. Além de prevenir a LER/DORT, ela tem apresentado resultados mais rápidos e diretos com a melhora do relacionamento interpessoal e o alívio das dores corporais segundo Oliveira, (2006); Guerra, (1995); Mendes, (2000). Um estudo de caso descritivo, com 42 trabalhadores, desenvolvido por Martins (2005), analisou a repercussão de um programa de Ginástica Laboral nem um escritório, verificando que estes programas repercutiram positivamente na qualidade de vida dos funcionários influenciando, inclusive, em suas comunidades. Conclusão Apesar do Programa de Ginástica Laboral ser apenas uma faceta dentro de um programa de prevenção de Desconforto Músculo Esquelético Relacionado ao Trabalho, neste estudo, pode-se perceber que apesar das limitações do mesmo, a Ginástica Laboral junto com orientações semanais sobre atividade física, saúde e postura, contribuíram para a melhora dos desconfortos músculo-esqueléticos percebidos na maioria dos segmentos corporais. Referências bibliográficas Alves, J. H. F. Ginástica Laborativa: método para prescrição de exercícios terapêuticos no trabalho. Revista Fisioterapia Brasil, v. 1, n. 1, p. 19-22, set./out. 2000. Baú, L.M.S. Fisioterapia do trabalho: ergonomia, legislação e reabilitação. Curitiba: Clãdosilva. 2002. Brasil. Ministério do Trabalho. Norma Regulamentadora Nº 17. Acessado em: 11 de maio de 2008. . Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001. Na opinião dos colaboradores as causas do surgimento dos sintomas são 70% postura inadequada e uso incorreto do mouse e 10% LER, 10% problemas na coluna e 10% tendinite ombros. Em relação à ginástica laboral, 60% dos colaboradores possuíam conhecimento, sobre o assunto e 50% relataram conhecer os benefícios do programa de ginástica laboral e todos responderam que participariam de um programa de ginástica laboral se a empresa implantasse www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Fornasari C.A, Silva G.A., Nishide C., Vieira E.R. Postura viciosa. Revista Proteção. 2000. Guerra M.K. Ginástica na empresa: corporate e fitness. Âmbito Medicina Desportiva. 1995. Gutiérrez, M; apud, E; Neira, S. Prevecion de Transtornos por uso Excessivo de Extremidad Superior: Esquema de trabajo-pausa. Cuad. Méd. Soc. XLI. 2000. 71 Programa de Ginástica Laboral no setor administrativo da Prefeitura Municipal de Nova Mutum Iida, Itiro. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo, Edgard Blucher. 1990. 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Disponível em: htpp://www.eps.ufsc.br/ergon/ revista/artigos/distúrbios.PDF www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Frequência de lombalgia em trabalhadores da construção civil num canteiro de obras em Salvador / Bahia Autoras: Isabel Bispo Almeida Faculdade de Fisioterapia, Universidade Católica do Salvador (UCSAL) E-mail: [email protected] Verena Loureiro Galvão Mestrado em medicina e saúde humana pela Fundação Bahiana para o Desenvolvimento das ciências, FBDC, Brasil (2008) Professor assistente da Universidade Católica do Salvador, (UCSAL) Brasil E-mail: [email protected] Correspondência para: Isabel Bispo Almeida Rua Jardim Oliveira B, 297, Engomadeira - Cabula CEP: 41.200-100, Salvador, Bahia, Brasil Tel: (71) 3433-1411/ (71) 8651-9906 E- mail: [email protected] Escrito em março de 2009 Atualizado em junho de 2010 Enviado a Revista FisioBrasil em julho de 2010 Resumo O presente estudo objetivou estimar a freqüência de lombalgia em trabalhadores da construção civil num canteiro de obras da capital baiana. Foi realizado um estudo descritivo de corte transversal com operários civis. Utilizou-se como instrumento de investigação um questionário e escala visual analógica de dor. Participaram 106 trabalhadores. Da amostra selecionada 34% referiram lombalgia sendo a dor manifestada no repouso, com surgimento durante o trabalho da obra. A maior prevalência foi evidenciada em operários adultos jovens masculinos, cor não-branco, a qual exercia atividade laboral de intenso esforço físico, em postura antiergonômica. Observou-se tratamento prévio e história de afastamento do trabalho. Os resultados encontrados demonstraram a necessidade de introduzir ações educativas, medidas preventivas com programa de fisioterapia laboral, orientações posturais e correções ergonômicas. Tais políticas são relevantes para melhoria da qualidade de vida e preservação da saúde ocupacional dos operários civis. Palavras chaves: Lombalgia; Saúde do trabalhador; Ergonomia Abstract: This study aimed to estimate the frequency of low back pain in construction workers on a construction site in the capital of Bahia. A cross sectional study with workers was conducted. It was used as a research tool a questionnaire and an analog visual scale of pain . Participants 106 workers. From the selected sample, 34 % reported only lumbalgia, according to the analogue visual scale, with pain being manifested at home, beginning during their work at the site. The highest prevalence was found in young adults, male,The labor activity which exerted intense physical effort in anti ergonomic posture. There was a previous treatment and history of absence from work. The results demonstrated the need to introduce educational, preventive measures with a physiotherapy program at work, ergonomic posture guidance and correction. Such policies are relevant to improving the quality of life and preservation of the occupational health of construction workers. Key words: Low back pain; Occupational Health; Ergonomics Frequência de lombalgia em trabalhadores da construção civil num canteiro de obras em Salvador / Bahia Introdução As alterações na região lombar são caracterizadas por eventos álgicos que podem ser agudos ou crônicos, ocasionados por desordem funcional e pela mobilidade que a coluna exerce predispondo a desgaste das vértebras. O desequilíbrio biomecânico modifica os movimentos da coluna lombar, enfraquece a musculatura e conduz à dor e restrição de movimentos. (Pereira et al., 2006; Mendes, 2005;Toscano et al., 2001) A lombalgia é uma disfunção osteomuscular muito comum entre os indivíduos sendo um dos fatores desencadeante de incapacidade funcional é considerada um problema de saúde pública. Possui grande importância clínica e epidemiológica, sendo o grande motivo de absenteísmo na vida dos trabalhadores. (Picoloto, Khouri et al., 2008; Mendes, 2005; Ferreira, Rosa et al., 2000) Estimativas internacionais apontam que a dor lombar tem alcançado padrões epidêmicos onde aproximadamente 70 a 85% da população mundial refere essa dor em alguma fase da vida. (Almeida et al.,2008; Azevedo 2008; Toscano et al., 2001; Greve et al.,1999) A elevada prevalência da sintomatologia músculosquelética que ocorre em várias categorias profissionais, tem semelhança com dados estimados concernente ao operário civil devido à maneira incorreta de manusear carga, executar movimentos repetitivos e permanecer em posturas inadequadas no trabalho. (Santana et al., 2004) A soma destas ações na coluna provocam micro traumas mecânicos por esforço físico excessivo e também por diversos tipos de tensão psicológica que levam ao estresse associado à falta de condições ergonômicas enfrentados pelos trabalhadores no canteiro de obras. (Reis et al., 2007; Santana et al., 2004; Walsh et al., 2004) Dentre as doenças de alto risco, as principais relacionadas ao trabalho na construção civil ocorrem comumente por movimentos de repetição, posturas viciosas, manuseio inadequado e sobrecarga em demasia que causam lesões e provocam distúrbios osteomusculares. Conseqüentemente, as lesões adquiridas pelos operários civis decorrente do estresse físico exercido nas atividades, desenvolvem as lombalgias, hérnias discais e desvios posturais1 que levam ao afastamento do trabalho e custos para o sistema de saúde, com aumento de gastos para o governo. (Vicentini, 2009; Reis et al., 2007; Santana et al., 2004; Ferreira e Rosa, 2000) Fatores ergonômicos, pessoais, ocupacionais, clínicos e psicológicos analisados em pesquisas, apresentaram relação significativa com a capacidade de o trabalhador exercer sua função sem relatos de dor lombar associada à sobrecarga do aparelho locomotor. (Pereira et al., 2006; Santana et al., 2004) Alguns pesquisadores tais como Toscano 2001, Khouri e Reis et al., 2008, preconizaram que as lombalgias ocorrem mais comumente em pessoas sedentárias, com isso a vulnerabilidade do sistema musculosquelético, promove maior disposição para disfunção na coluna, que geralmente se desenvolve durante desempenho da atividade laboral. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 O trabalho da construção civil se caracteriza no âmbito nacional, como um dos setores de maiores índice de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais1 pelos perigos expostos aos operários, essencialmente de origem ergonômica, na qual se desenvolvem ao levantar e transportar cargas e executar constantes movimentos de repetição. (Vicentini, 2008; Santana et al., 2004) Os estudos sobre disfunção lombar têm aumentado a fim de aprimorar prevenção, causa e tratamento pelo fato da elevada prevalência na população e pelo importante impacto sócio-econômico de efeito negativo. (Khouri et al., 2008) Por ser uma das queixas mais freqüentes pelos pacientes, a busca por atendimento médico tem crescido em hospitais e clínicas para tratamento das afecções lombares. (Greve et al., 1999) As evidências científicas sugerem que a resolução da dor apenas de forma medicamentosa torna-se ineficaz . É importante incorporar medidas educativas e ações promotoras de saúde no campo de trabalho para conscientizar os trabalhadores, prevenir os distúrbios lombares e ofertar bem estar na execução da atividade profissional. (Picoloto et al., 2008; Arcanjo et al., 2007; Reis et al., 2007) Alguns setores de produção industrial têm aplicado sistema de orientação ergonômica bem como fisioterapia laboral para assegurar melhoria no ambiente profissional com saúde e qualidade de vida. Essas medidas vêm crescendo devido exigência do Ministério do Trabalho às empresas para que doenças ocupacionais no trabalhado sejam evitadas. (Reis et al., 2007; Falcão et al 2006;Toscano et al., 2001) O contexto apresenta suma importância no cotidiano do operário civil sendo fundamental para o sistema empresarial proporcionar segurança no trabalho. Considera-se importante verificar a ocorrência de alterações funcionais na região lombar para sugerir mudanças de ordem ergonômicas no ambiente laboral dos operários civis, com instruções educativas e programa de fisioterapia laboral para garantir vida saudável no trabalho. Assim, o presente estudo objetivou estimar a freqüência de lombalgia referida por trabalhadores da indústria civil na cidade do Salvador, Bahia. Material e métodos Trata-se de um estudo descritivo transversal realizado com trabalhadores de uma empresa de médio porte de construção civil, localizado na cidade de Salvador, Bahia. Foi considerado como critério de inclusão estar trabalhando na obra durante o período de coleta de dados. Os dados primários foram obtidos por meio da aplicação de formulário no canteiro de obras da construtora. O instrumento de coleta foi elaborado pelas autoras contendo dados sócio econômico, demográficos, ocupacionais e clínicos. A escala visual analógica de dor também foi utilizada. O instrumento foi calibrado com estudo piloto com alguns indivíduos no canteiro de obras e estes não foram considerados como população de estudo. O projeto foi encaminhado à diretoria da empresa e após a análise do engenheiro civil com os diretores a 75 Frequência de lombalgia em trabalhadores da construção civil num canteiro de obras em Salvador / Bahia pesquisa foi autorizada. Os dados foram coletados dentro do canteiro de obras pela autora do estudo no período de março a maio de 2009 em dias alternados no turno matutino. Após esclarecer a importância da pesquisa, era feita a coleta dos dados entrevistando individualmente cada trabalhador. As variáveis sócio-demográficas foram nome, sexo (masculino ou feminino); idade (em anos), estado civil (solteiro, casado/união estável ou viúvo); cor da pele (branco, pardo, preto); Peso (em quilogramas), altura (em metros), IMC (definido pela divisão da altura pelo quadrado do peso). Grau de escolaridade baixo – até ensino fundamental incompleto, médio – até ensino médio completo e alto – até nível superior completo, renda baixa até um salário mínimo, média até dois salários mínimo e alta acima de dois salários mínimos. As variáveis ocupacionais foram definidas como profissão/função na obra (pedreiro, ajudante de pedreiro, instalador/montador de andaime e elevador, pintor, eletricista, carpinteiro, encanador, servente e outras); a postura adotada durante o trabalho (sentado, de pé, agachado), manuseio de carga, dor devido trabalho, jornada de trabalho em horas, única fonte de renda, atividade física e outra ocupação. As variáveis clínicas relativas à dor musculosquelética também foram questionadas como o local da dor, o tipo de dor, início da dor, o período de dor, o momento em que a dor piora, afastamento do trabalho, atendimento médico, se fez tratamento, interferência nas AVD’s, patologia associada, conhecimento sobre causa e prevenção de dor lombar. O banco de dados foi formulado no software Excel XP, onde foram analisados possíveis erros de consistência e tabulação dos dados. As informações foram apresentadas em forma de tabelas de modo a permitir melhor visualização e interpretação dos dados encontrados no estudo. O programa estatístico utilizado foi o SPSS versão 13.0. A verificação da associação entre as variáveis estudadas foi feita através do teste T-student. Foram consideradas como estatisticamente significantes as associações com o p-valor menor que 0,05. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Tecnologia e Ciência protocolo Nº 0771. Para participar da pesquisa todos os sujeitos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido baseado na resolução 196/96, o qual continha os objetivos do estudo, os procedimentos e a segurança do anonimato absoluto, a confidencialidade das informações obtidas, respeitando-os em sua autonomia e que os interesses envolvidos seria tratada de forma ética, além de previamente ser acordado com os diretores e engenheiro da construtora. Resultados Foram localizados 122 trabalhadores no canteiro de obras e 106 preencheram os critérios de inclusão que representou um percentual de 87%. Houve perda de 16 trabalhadores que não quiseram participar da pesquisa formando uma taxa percentual de 13%. A justificativa da 76 não participação foi interesse em não parar o trabalho para evitar atraso na obra. As características sociais econômicas e demográficas da população estudada foram dispostas na Tabela 1. Observa-se que dos indivíduos 96 (90,6%) eram predominantemente do sexo masculino, 75 (70,8%) com idade de até 35 anos, 59 (55,7%) tinham peso a partir de 70 kg, 84 (79,2%) com altura acima de 1,65, (56,7%) apresentaram IMC normal compatíveis a peso ideal, sendo que havia 13 (12,2%) operários com obesidade. Com relação à situação conjugal 60 (56,6%) considerados solteiros, cor da pele verificou-se que 94 (88,7%) deles eram não-brancos. Renda considerada baixa de até um salário mínimo foi evidenciada para 71 (67%) trabalhadores. Foi identificada escolaridade baixa em 58 (54,7%) operários e 101 (95,3%) eram naturalizados da capital baiana. Ao analisar as características sócio demográficas da tabela 1 não foi observado associação significativa em peso, altura, IMC com presença de lombalgia entre os operários. Entretanto, observou-se associação significativa entre sexo, idade, cor da pele, escolaridade, renda e situação conjugal. Tabela 1. Características sócio-econômicas dos operários da construção civil, na cidade de salvador, Bahia no período de março a maio 2009. Variáveis N=106 % Valor de p Masculino Feminino 96 10 90,6 9,4 ,046 Menor ou igual que 35 anos Maior ou igual que 35 anos 75 31 70,8 29,2 ,029 Menor ou igual que 70 kg Maior que 70 kg 47 59 44,3 55,7 Ns Menor ou igual que 1,65 Maior que 1,65 22 84 20,8 79,2 Ns 60 33 13 56,7 31,1 12,2 Ns 60 46 56,6 43,4 ,048 12 94 11,3 88,7 ,031 71 35 67,0 33,0 ,050 58 45 3 54,7 42,5 2,8 ,048 101 05 95,3 4,7 Ns Sexo Idade Peso Altura IMC Normal Acima do peso Obesidade Situação conjugal Solteiros Casados/união estável Cor da pele Branca Pardo/negro Renda Até um salário mínimo Até dois salários mínimo Escolaridade Até ensino fundamental incompleto Até ensino médio completo Até ensino superior completo Naturalidade Salvador Região Metropolitana de Salvador* *cidades adjacentes à Salvador Na Tabela 2 apresentam-se as características referentes ao exercício do trabalho na população estudada sendo que 33 (31,1%) operários afirmaram manusear carga no trabalho. Foi observado que em relação à postura no trabalho 74 (69,8%) exerciam sua função apenas em uma postura (sentado, de pé ou agachado) e 32 trabalhadores desenvolviam sua função em duas ou mais posição. Referente à queixa de dor 50 (47,2%) confirmaram sentir dor devido o trabalho que exerce, dos entrevistados 35 (33,0%) afirmaram desempenhar outra atividade laboral. Foi observado que 71 (67,0%) possuíam apenas o emprego na obra como fonte de renda, com relação à atividade física 33 (31,1%) disseram praticar ocasionalmente. Quanto à ocupação no canteiro de obras foram encontrados 09 (8,5%) trabalhadores que exerciam função considerada de www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Frequência de lombalgia em trabalhadores da construção civil num canteiro de obras em Salvador / Bahia leve esforço físico (assistente administrativo, engenheiro civil, apontador, almoxarife, técnico de segurança e porteiro), 43 (40,6%) profissionais que executavam tarefas de moderado esforço físico (carpinteiros, pedreiros, eletricistas, pintores, encarregados, gesseiro e vidraceiro) e 54 (50,9%) operários que desenvolviam atividades de intenso esforço físico (ajudantes prático, operadores de máquina, serventes e encanadores). Quanto ao tempo de profissão 79 (74,5%) trabalhadores tinham até 10 anos de serviço e 27 (25,5%) trabalhadores relataram ter acima de 10 anos de profissão. Com referência a jornada de trabalho obteve uma média de 8,3 (DP=0,9). Ao realizar correlação com as atividades laborais foram encontradas associações significativas entre manuseio de carga, postura no trabalho, outra ocupação, atividade física e dor devido o trabalho. Porém, observou-se ausência de associação significativa entre única fonte de renda, função na obra e tempo de serviço. Tabela 2. Características atividade ocupacional dos profissionais da construção civil, na cidade de salvador, Bahia de março a maio 2009 Variáveis Manuseio de c arga Sim Não Postura durante trabalho Apenas em uma Duas ou mais Dor devido ao trabalho Sim Não Outra atividade laboral Sim Não Única fonte de renda Sim Não Atividade física Sim Não Função na obra Leve esforço físico Moderado esforço físico Intenso esforço físico Tempo de serviço Até 10 anos Acima de 10 anos Variável Carga horária N=106 alor de p 33 73 31,1 68,9 ,045 74 32 69,8 30,2 ,045 50 56 47,2 52,8 ,049 35 71 33,0 67,0 ,046 71 35 67,0 33,0 Ns 33 73 31,1 68,9 ,045 09 43 54 8,5 40,6 50,9 Ns 79 27 Média 8,3 74,5 25,5 DP 0,9 Ns Na Tabela 3 estão dispostas as informações relacionadas com as características das queixas de dor nos trabalhadores civis e mostra que 34 (32,1%) referiram sentir apenas dor lombar, outra parte 16 (15,1%) alegaram dor lombar associada à coluna torácica e/ou cervical bem como algia correlacionada com os membros pernas e/ou braços. Segundo os resultados dos entrevistados 35 (33,1%) dos operários classificaram a sintomatologia álgica sendo do tipo localizada, 24 (22,6%) afirmaram que essas dores se manifestam em repouso, 29 (27,3%) afirmaram sentir dor há mais de 12 meses. Em relação ao início da dor 30 (28,3%) disseram ter surgido após trabalhar na construção civil, 17 (16,1,0%) afirmaram que a dor interfere nas AVD’s e 11 (10,4%) relataram que já se afastaram do trabalho por causa da dor. Com relação à assistência médica 17 (16,1%) afirmaram ter procurado atendimento médico www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 sendo que 36 (34,0%) não fizeram tratamento. A aplicação da EVA (escala visual analógica) apresentou um resultado de 3 com desvio-padrão de 3,0 revelando quadro de dor relativamente suportável. Dos entrevistados 05 (4,7%) disseram ter alguma patologia associada. Tabela 3. Características clínicas dos profissionais da construção civil de março a maio 2009 na cidade de salvador, Bahia Variável Presença de dor Sem algia Lombalgia Outras algias Tipo da dor Sem algia Localizada Irradiada Surgimento da dor Sem algia Em atividade Em repouso Ambos Tempo de dor Sem algia Menos de 12 meses Mais de 12 meses Inicio do sintoma Sem dor Antes do trabalho Depois do trabalho Afastamento por dor Sem dor Sim Não Interferência nas Avd's Sem dor Sim Não Assistência médica Sem dor Sim Não Tratamento Sem dor Realizou Não realizou Patologias associadas Sem dor Sim Não Variável Escala visual Analógica N % 56 34 16 52,8 32,1 15,1 56 35 15 52,8 33,1 14,1 56 20 24 06 52,8 18,9 22,6 05,7 56 21 29 52,8 19,9 27,3 56 20 30 52,8 18,9 28,3 56 11 39 52,8 10,4 36,8 56 17 33 52,8 16,1 31,1 56 17 33 52,8 16,1 31,1 56 14 36 52,8 13,2 34,0 56 05 45 52,8 04,7 42,5 M DP 3,0 3,0 A Tabela 4 apresenta a associação referente à análise da presença de dor lombar de acordo com as variáveis estudadas e demonstra que as queixas álgicas estavam relacionada em 21 (61,8%) operários com idade menor ou igual que 35 anos, 30 (88,3%) eram do sexo masculino, 30 (88,3%) não branco, sendo 19 (55,9%) solteiros, 16 (47,1%) apresentaram IMC acima do peso, 19 (55,9%) com ensino fundamental incompleto, 21 (61,8%) com renda de até 2 salários mínimos, 17 (50%) desenvolviam tarefas dispendiosa com intenso esforço físico, 23 (67,7%) exerciam a função apenas em uma postura, o tempo de profissão foi menor que 10 anos em 27 (79,4%), surgimento das dores ocorreram depois do trabalho na obra em 30 77 Frequência de lombalgia em trabalhadores da construção civil num canteiro de obras em Salvador / Bahia (88,3%) operários, 24 (70,6%) dos operários já realizaram tratamento e necessitaram de afastamento do trabalho. Tabela 4 - Fatores associados para ocorrência de lombalgia em operários da construção civil em Salvador, Bahia, 2009. Presença de dor Variável N % 21 13 61,8 38,2 30 04 88,3 11,7 04 30 11,7 88,3 19 15 55,9 44,1 15 16 03 44,2 47,1 8,7 19 15 55,9 44,1 11 21 02 32,3 61,8 5,9 01 16 17 02,9 47,1 50,0 23 11 67,7 32,3 27 07 79,4 20,6 04 30 11,7 88,3 10 24 29,4 70,6 10 24 29,4 70,6 Idade Menor ou igual que 35 anos Maior que 35 anos Sexo Masculino Feminino Cor da pele Branca Pardo/preto Situação conjugal Solteiros Casados/união estável IMC Normal Acima do peso Obesidade Escolaridade Até ensino fundamental incompleto Até ensino médio completo Renda mensal Até um salário mínimo Até dois salários mínimos Acima de dois salários mínimos Intensidade da função que executa na obra Atividade leve Atividade moderada Atividade intensa Postura no trabalho Apenas uma Mais que uma Tempo de profissão Menor ou igual que10 anos Maior que 10 anos Surgimento da dor Antes de trabalhar na obra Depois de trabalhar na obra Tratamento médico Realizou Não realizou Afastamento temporário do trabalho Sim Não Na Figura 1 encontram-se os dados de 32,1% de freqüência de lombalgia entre os trabalhadores civis observa-se que 15,1% com outras algias no segmento da coluna lombar, torácica e/ou cervical associado a algum membro concomitante. Figura 1. . Distribuição do percentual de dor referida pelos trabalhadores da construção civil em Salvador, Bahia, no período de março a maio de 2009. Discussão A freqüência de lombalgia entre trabalhadores da indústria civil em um específico canteiro de obras na cidade de Salvador, Bahia foi elevada e os principais fatores associados foram ser do sexo masculino, ter idade adulta jovem, ter renda considerada média e baixa escolaridade apresentando IMC elevado. Observa-se também que manusear carga de forma inadequada, permanecer em apenas uma postura durante 78 execução da função, desenvolver tarefa de intenso esforço físico, geram queixas álgicas que podem surgir depois do trabalho da construção. Evidenciou-se que os sintomas foram freqüentes inclusive para aqueles que já buscaram assistência médica e já se afastaram do trabalho temporariamente. Os resultados do presente estudo são semelhantes com os estudos de Falcão et al., 2006, onde evidenciaram a incidência de lombalgia em aplicadores de cola no sexo masculino ao executar movimentos repetitivos em membros superiores e tronco na postura ortostática. No estudo de Silva et al., 2004, foi encontrado risco elevado para dor lombar crônica no sexo feminino, pelo fato da mulher desempenhar dupla jornada de trabalho e pelas características anatômicas e funcionais que favorecem as lombalgias. Entretanto, Rosa et al., 2000, ao estudar operários civis encontrou elevada incidência de lombalgia em trabalhadores que exerciam as funções de maior gasto energético como pedreiros, armadores de ferragens, operador de máquina, eletricistas e servente de pedreiros. De acordo a função que o trabalhador executa no canteiro de obras seja de pintor, encanador, pedreiro ou outra, é necessário manter o corpo em determinada postura por algum tempo. Com isso ocorre maior dispêndio de energia para manter o equilíbrio, a coordenação e a postura no cumprimento da tarefa. Essas atividades desenvolvidas requerem elevado esforço físico ao manusear cargas e equipamentos, geralmente conduz ao comprometimento de estruturas articulares e musculares. (Rosa et al., 2000) No presente estudo a freqüência de lombalgia foi identificada em operários adultos jovens em idade produtiva. Os achados nessa faixa etária podem estar relacionados com a intensa execução da atividade laboral. Já Loney et al., 1999, num estudo populacional evidenciou a prevalência de lombalgia crescente em indivíduos com faixa etária de 40 a 60 anos. Almeida et al., Azevedo et al., 2008, correlacionaram no seus estudos, a prevalência de lombalgia com o avanço da idade, na qual sucede do desgaste natural das estruturas articulares e sistêmicas e pelo surgimento ao longo do tempo de patologias crônicas como doenças reumáticas. Picoloto et al., 2008, contextualizaram a baixa escolaridade como um fator de risco para queixas álgicas, pois em geral os trabalhadores com baixo nível de instrução, conseguem mais oportunidade de trabalho na atividade de produção, a qual solicita do corpo maior esforço físico. Na população estudada houve um número significativo de operários com baixa escolaridade, esta situação pode estar relacionada com dor lombar. Este estudo revela que os sujeitos que relataram sentir dor lombar, grande parte estava acima do peso, um discreto número com obesidade grau I de acordo o IMC e um elevado percentual de operários não praticavam atividade física. Pesquisadores como Domínwww.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Frequência de lombalgia em trabalhadores da construção civil num canteiro de obras em Salvador / Bahia guez et al., 2002, em estudo num centro universitário, atribuiu queixa de lombalgias por sedentarismo em alguns entrevistados, porém, Azevedo et al., 2008, observaram a prevalência de lombalgia em indivíduos com peso normal e acima do peso, essa informação demonstra a multifatoriedade do problema. Isso denota que o sobre peso assim como o sedentarismo foram considerados fatores que provocam disfunção lombar podendo estar associados. Esta condição além de desencadear alterações emocionais favorece a busca por assistência médica a fim de reduzir os sintomas álgicos. Pesquisadores como Vicentini, 2008, Picoloto et al., 2008 ao realizarem estudos com trabalhadores metalúrgicos e operários civis respectivamente, concordaram no que diz respeito à carga horária diária de 9 horas de trabalho. No presente estudo, foi verificado que diversos operários trabalhavam continuamente, realizavam horas extras e muitas vezes dormiam no canteiro de obras, por exigência de chegar cedo ao trabalho e pela demanda da atividade que exercia. Dessa forma, faz-se necessário que sejam introduzidas pequenas pausas a cada turno pelo intenso ritmo de atividades laborais. Nesse estudo, os operários entrevistados no canteiro de obras relataram manusear carga e equipamentos, não sabendo especificar em quilogramas a quantidade equivalente. Reis et al., 2007 e Guimarães et al., 2001, nos seus estudos sobre a análise do transporte manual de carga entre operários civil, confirmaram alteração biomecânica devido à sobrecarga no aparelho locomotor e consideraram que o peso manuseado era desproporcional à massa corporal do indivíduo. Araújo et al., 1996 ao avaliarem riscos ergonômicos num canteiro de obra onde ocorre o freqüente manuseio de areia, brita, cimento, ferragens, madeira, tijolos dentre outros, identificaram a necessidade de implementar medidas adequadas para que os operários sejam informados das técnicas corretas para levantar e transportar cargas. Porquanto os mesmos não recebiam dos dirigentes treinamentos e/ou instruções referente a cuidados posturais. Esses autores ainda relataram a necessidade de estabelecer limites para que o manuseio de carga não exceda a capacidade física do operário. A percepção dos pesquisadores em relação ao transporte de carga é concordante com o presente estudo, na qual questiona sobre o excesso de peso e a forma inadequada de manusear ser um fator favorável, para desencadear lesões osteomusculares e algias que comprometem a saúde do trabalhador. Dentre os trabalhadores da construção civil, grande parte desempenha suas funções laborais em postura ortostática, por muitas horas e sem intervalo, os mesmos referiram dores lombares após o trabalho. No estudo de Ribeiro et al., 2005, com gesseiros foi relatado dor lombar e desconforto muscular, após jornada de trabalho pela permanência em postura anti ergonômica, já Picoloto et al., 2008, afirmaram www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 que a atividade contínua na postura sentada causa tensão na coluna e elevada pressão intervertebral favorecendo lombalgia. O trabalho por várias horas sentado favorece má postura, fraqueza dos músculos abdominais e exaustão dos paravertebrais, essa condição favorece dor lombar. Levangie et al.,1999, nos seus estudos, notaram que o índice de massa corpórea e o nível de atividade exercida várias horas sentado ou em pé diariamente não foram fatores de risco importantes para desenvolver lombalgia demonstrando uma fraca associação positiva para essa afecção. No entanto, Siqueira et al., 2008, no estudo com fisioterapeutas, constataram entre a maioria dos profissionais, a permanência em postura inadequada no trabalho durante horas. A afirmativa revela um importante fator que favorece algias na coluna lombar com a sobrecarga imposta aos músculos posturais sustentado por longo tempo. Verificou-se neste estudo, um percentual pequeno de operários que relataram afastamento do trabalho por conta da dor. Esses dados justificam um possível quadro álgico suportável, podendo ser tolerável sem necessitar de afastamento temporário. Rosa et al., 2000, evidenciaram entre os operários, uma fração de licença médica por motivo de lombalgia. Todavia, Gurgueira et al., 2003, ao investigarem a presença de sintomas osteomusculares em profissionais de enfermagem constataram que a lombalgia foi a queixa principal, e consideraram como causa primária que geralmente leva ao absenteísmo de curto a longo período. Entretanto, Walsh et al., 2004, afirmaram que, os longos períodos de afastamentos do trabalho por causa da evolução das lesões músculo-esqueléticas, com sintomas intensos de parestesias e fraqueza muscular, limitam o trabalhador para exercício de suas atividades diárias e ocupacionais, que pode comprometer sua capacidade funcional e laboral e gerar custos para o sistema de saúde. Mendes, 1988 há décadas, manifestou questionamentos concernentes às conseqüências da lombalgia como causa de incapacidade e/ou invalidez para o trabalhador, e enfatizou a necessidade do setor de saúde prevenir e não apenas tratar. No estudo de Rosa et al., 2000, com operários da construção civil foi considerado alta incidência de lombalgia, e foi identificado que os sujeitos pesquisados não procuravam serviços médicos para solução da dor. Vicentini 2008, revelou em seu estudo que, grande parte dos trabalhadores com lombalgias não buscavam atendimento médico, e para alívios das dores faziam uso inadequado de automedicação. Esse fato concorda com os achados deste estudo, porém a categoria mais acometida pelos sintomas álgicos eram os pedreiros, serventes de pedreiros, eletricista, encanadores e pintores. No presente estudo, dos operários que referiram dor lombar apenas um pequeno percentual já buscaram atendimento médico para tratamento da dor. 79 Frequência de lombalgia em trabalhadores da construção civil num canteiro de obras em Salvador / Bahia Ao investigar prevalência de lombalgia em transportadores de sacos de café, Pereira et al., 2006, utilizaram a escala visual analógica (EVA) para identificar a presença de limitação funcional, encontraram grande percentual de trabalhadores que graduou a intensidade momentânea da dor. Os achados foram semelhantes com o presente estudo, onde os trabalhadores graduaram com um número a sua dor. Os resultados numéricos da EVA foram subjetivos, pois indicaram que, o número referente à dor pode variar de indivíduo para indivíduo de acordo o quadro álgico, quer seja agudo ou crônico. Entretanto, foi possível identificar os trabalhadores que efetivamente precisavam de terapêutica correta para disfunções lombares como também, outros que necessitavam receber orientações, medidas profiláticas e conscientizar-se a fim de evitar o desenvolvimento da lombalgia ocupacional. Brandão et al., 2005, num estudo com bancários evidenciaram que a ocorrência de algias aconteciam mais na posição sentada, com trabalho em ritmo acelerado e pela postura adotada no desenvolvimento da tarefa. De acordo com a função que o trabalhador exerce, Domínguez et al., 2002, afirmaram no seu estudo que, o trabalhador que realiza sua função muito tempo sentado, de pé, transportando carga e repetindo movimentos tem predisposição para lombalgias. Esses autores confirmaram na pesquisa a prevalência de lombalgia também em coletores de lixo, fisioterapeutas, enfermeiros, motoristas e cobradores de ônibus, professores e várias outras ocupações. Foi enfatizado no estudo de Santana et al., 2004, que na indústria de construção civil existia um importante problema de saúde pública por acidentes de trabalho não fatais, que são as doenças ocupacionais. Considera-se relevante que, políticas de saúde pública sejam elaboradas e introduzidas efetivamente no canteiro de obras para assegurar a saúde do operário civil. O presente estudo encontrou um reduzido nível de conhecimento dos operários civis em relação ao manuseio de carga, postura adequada e perigos expostos no ambiente que conduzem para disfunções essencialmente lombares. Todavia, Medeiros et al., 2007, ao investigarem riscos na indústria civil e o conhecimento do operário sobre essa questão, verificaram a necessidade de um intensivo trabalho educativo e preventivo com diálogo e caixa de sugestões para possibilitar que os operários percebam e opinem sobre os verdadeiros riscos existente no canteiro de obras. Este estudo apresentou vantagens por ter sido uma pesquisa de baixo custo e de fácil acesso. Em relação às limitações, este estudo teve uma reduzida amostragem de conveniência onde os resultados possam não ser essencialmente significativos, devido à totalidade existente de trabalhadores da indústria civil. O estudo limitou-se por analisar a situação do trabalho civil em apenas um canteiro de obras, sendo 80 que, é importante averiguar diferentes empresas do ramo de indústria civil para traçar o nível de saúde dos operários. O fato de o desenho do estudo ser transversal baseado apenas em sintomas relatados pelos trabalhadores, uma vez que a expressão de uma mesma dor não é igual para todos. Com isso, os resultados desta pesquisa poderão ser benéficos ao ser utilizados por novos pesquisadores, auxiliando em ações de prevenção dessa sintomatologia com vistas à manutenção da saúde desses trabalhadores. Conclusão Este estudo demonstra um grave problema de saúde pública e aponta uma elevada prevalência de lombalgia que tem acometido um percentual significante de operários civis. Os resultados sugerem associação de dor lombar com sexo, idade, manuseio de carga e postura inadequada no trabalho. Os dados apresentados podem ser aproveitados e contribuir de maneira positiva para benefício do trabalhador civil. Com base nas informações adquiridas neste estudo é possível que haja compromisso por parte do sindicato dos trabalhadores, bem como dos órgãos competentes e empresariado, com a finalidade de consolidar medidas de políticas públicas saudáveis de natureza preventiva e terapêutica para favorecer e garantir saúde no trabalho e proporcionar melhor qualidade de vida. Recomenda-se que novos estudos sejam feitos envolvendo maior número amostral de trabalhadores civis para possibilitar melhor entendimento da problemática existente nesta classe trabalhista. 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Membro do Associação Brasileira de Anestesiologia Dr. Eduardo Adratt Médico Pediatra, mestre em Tecnologia em Saúde pela PUC-PR Cristiane Laibida Acadêmica do curso de Medicina PUC-PR Endereço para correspondência: Hospital 9 de Julho – Rua Peixoto Gomide, 613, 8º andar, ala D – Cerqueira Cezar – São Paulo/SP – CEP 01409-002 Fone: (41) 3362-0623 – e-mail: [email protected] Trabalho realizado com auxílio do CNPq Atualizado em: 06/04/2011 Enviado em: 06/04/2011 Resumo O nexo de causalidade entre as lesões desenvolvidas pelo acidentado no exercício do trabalho a serviço de sua empresa deve sempre levar em conta os critérios médico-legais topográfico, cronológico, quantitativo, de continuidade sintomática e de exclusão, bem como os 82 recomendados pelo CFM. A termografia infravermelha é um método complementar previsto na AMB que pode auxiliar o perito na avaliação do trabalhador com síndrome dolorosa. Palavras-Chave: LER/DORT, Termometria cutânea, Pericia médica. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Termografia pericial Introdução As lesões por esforços repetitivos, também denominados distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/DORT) abrangem diversas enfermidades, sendo dentre as mais conhecidas as tendinites, tenossinovites e epicondilites, que comprometem milhares de trabalhadores. As LER/DORT prejudicam o trabalhador no auge de sua produtividade e experiência profissional, com maior incidência na faixa etária de 30 à 40 anos, sendo as mulheres mais freqüentemente acometidas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). A abordagem preventiva é o meio ideal de lidar com as LER/DORT, e deve incluir aspectos multifatoriais relacionados ao ambiente de trabalho, uma vez que estas afecções costumam se associar com riscos ergonômicos oriundos de movimentos repetitivos excessivos e posturas inadequadas. Como são múltiplos os fatores envolvidos na etiologia das LER/DORT existe um consenso de que uma avaliação biopsicossocial, a mais completa possível, é a forma mais adequada de tratar esta questão (TURK et al., 2002). No entanto, em certas ocasiões, mesmo com tratamento medicamentoso ou não mesmo que corretamente instituído, depara-se com situações de difícil julgamento quanto ao retorno ao trabalho por uma queixa persistente de não melhora dos sintomas ou quando associado a outras comorbidades, como síndrome fibromiálgica (HELFENSTEIN, 2006). Esta avaliação se constitui fundamental para a Previdência Social em nosso país, pois se discute muito a necessidade da diferenciação entre fatores relacionados a ganhos secundários e a permanência da invalidez. O que torna imprescindível ao perito lançar mão de todos os recursos que os avanços médicos colocam a sua disposição. Partindo da necessidade de se estabelecer um diagnóstico diferencial entre LER/DORT, síndrome fibromiálgica e outras doenças reumatológicas, tem se discutido a utilização de alguns parâmetros clínicos e exames complementares que concorrem para um diagnóstico mais preciso (HELFENSTEIN, 2006). A termometria cutânea por termografia infravermelha é um método relativamente novo em perícia médica (HODGE,1993; ROSENBLUM et al., 2008) e tem contribuído na avaliação neuromusculoesquelética de pacientes com dores crônicas, é auxiliar precioso no estudo da dor, em relação a sua identificação etiológica e seguimento, especialmente em doenças dos tecidos moles onde o método está mais indicado (BRIOSCHI et al.,2002; THOMAS et al.,1990). a) Método de termografia infravermelha Para as imagens infravermelhas (IR) da superfície cutânea do corpo humano, o paciente permanece em pé e despido e durante o período em que fica em posição ortostática não pode tocar com as mãos em qualquer superfície cutânea, deixando os braços estendidos ao longo do corpo. As imagens termográficas são efetuadas em diversas incidências: anterior, posterior, laterais, oblíquas do corpo www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 inteiro e hemicorpo superior e inferior, bem como regiões de interesse (ROI) qual região lombar, cervical, antebraços, punhos, mãos, joelhos, tornozelos e pés. A temperatura do laboratório deve ser mantida constante em 20oC e umidade do ar em 55%, durante todo o procedimento. Por meio de cuidado de portas e janelas cerradas e movimento reduzido em torno do paciente, é mantida a velocidade do ar menor que 0,2 m/s, controlada por anemômetro digital, para se evitar evaporação e conseqüente perda térmica cutânea por convecção forçada. Antes de captar as imagens os pacientes aguardaram 15 minutos para estabilizar a temperatura do corpo com o clima do laboratório. As imagens térmicas são captadas por um sensor infravermelho ultrasensível de alta resolução, na faixa espectral do infravermelho longo (8-14 µm) para estudo dinâmico (30 Hz). A câmera é posicionada horizontalmente a uma distância de 1 metro e verticalmente ajustada à linha mediana da região de interesse a ser avaliada. É considerado emissividade de 97,8% para estudo do corpo humano (BRIOSCHI et al., 2007). Por se tratar de método que mensura a radiação infravermelha, é utilizado os termos hiper-radiação para indicar o aquecimento devido aumento do fluxo sanguíneo cutâneo local e hiporradiação no caso de esfriamento pela diminuição do fluxo sanguíneo. Evitam-se os termos hipertermia e hipotermia, pois se referem às alterações da temperatura central de natureza exclusivamente clínica (respectivamente, >40oC e <35oC) e não da temperatura da superfície da pele e também por trabalhar com mudanças térmicas não limites da sensibilidade humana, isto é, menor que 2oC. Pelo mesmo motivo, o uso do termo imagem infravermelha (IR) ao invés da antiga denominação teletermografia. É utilizada sensibilidade térmica de 0,1oC por tom de cor, utilizando-se escala colorimétrica (palete de cores), onde as cores vão da mais quente para a mais fria: branco, rosa, vermelho, laranja, amarelo, verde claro, verde escuro, azul claro, azul escuro, roxo e preto, segundo programa específico. As cores indicam indiretamente o grau de distribuição da perfusão sanguínea cutânea local. Todas as imagens devem ser expostas com a palete ao lado da imagem para facilitar a avaliação. Figura 1. Imagens termográficas de pacientes com distúrbio neuromusculoesquelético durante perícia de infortunística. Avaliação quanto ao nexo de causalidade em casos de LER/DORT. 83 Termografia pericial b) Avaliação do padrão térmico Concorre para o diagnóstico termográfico das alterações a intensidade, tamanho, forma, distribuição e margem, além da diferença térmica entre os pontos dolorosos e presença de assimetria térmica comparado com lado oposto segundo critérios de Brioschi et al (HODGE, 1993). Uma diferença de pelo menos 0,3oC entre a área de interesse e seu ponto simétrico é considerada como assimetria térmica. Avaliam-se não só sinais flogísticos, mas também disfunção do sistema neurovegetativo vasomotor relacionada às neuropatias, vasculopatias (síndrome de Raynaud) e síndromes dolorosas miofasciais (BRIOSCHI et al., 2002; THOMAS et al., 1990). Para avaliação termográfica da síndrome fibromiálgica (SFM) utilizam-se critérios modificados de Biasi (1994) e Ammer (2008) onde o somatório dos dados fornece a probabilidade do paciente ter SFM, previamente validado por meio de um índice (BRIOSHI, 2008). Aplicação da termografia em medicina ocupacional As alterações térmicas têm direta correlação com os achados clínicos evidenciados em perícia neuromusculoesquelética de Infortunística e quanto ao tempo de retorno às atividades, segundo critérios de número de lesões, natureza etiológica, diferencial térmico e índice termográfico para síndrome fibromiálgica (BRIOSHI et al., 2009). Os pacientes com recomendação de aposentadoria por invalidez apresentam maior número de alterações termográficas por exame realizado em relação aqueles que retornam ao trabalho ou reabilitação. Corroborando assim, num contexto de casos mais complexos classificados como lesão permanente (BRIOSHI et al., 2009). Dentre as alterações, à síndrome dolorosa miofascial é a mais comum (BRIOSHI et al., 2007). Ocorre, entretanto, que a freqüência diminui em relação às outras alterações à medida que o paciente se encontra em estado de maior gravidade, isto é, encaminhado para maior tempo de reabilitação ou aposentadoria. A cronicidade de síndromes dolorosas costuma levar a mudança do padrão de acometimento muscular, tendo como substrato neurofisiológico a ampliação do campo receptivo, deste modo, é razoável aceitar-se que nos casos mais graves o acometimento seja difuso. As lesões situadas em nervos periféricos se constituem em alterações mais incapacitantes e de maior tempo de reabilitação, quando não, necessárias medidas cirúrgicas. Estas alterações incidem especialmente nos grupos mais graves, em que é indicado 6 meses de afastamento para tratamento ou nos encaminhados a aposentadoria. As alterações inflamatórias como, tendinopatias e bursites, podem apresentar fases de reagudização ao longo do tratamento ou quando o aconselhado retorno ao trabalho é inadequado, em ambiente sem correção ergonômica (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). No entanto, devido sua característica subaguda passageira e de terapêutica eficaz com antiinflamatórios e reabilitação física, pode explicar o fato de ser encontrada mais significativamente nos traba84 lhadores que são afastados por pelo menos 60 dias para reabilitação, tempo na maioria dos casos suficiente para este tipo de tratamento (BRIOSHI et al., 2009). A síndrome fibromiálgica (SFM), diversamente das síndromes dolorosas miofasciais, é muito mais incapacitante e de difícil controle devido sua característica difusa e crônica, especialmente quando associada a outras enfermidades inflamatórias e neuropáticas. Esta doença é encontrada significativamente nos grupos mais graves, que necessitam de maior tempo de reabilitação (6 meses) e nos encaminhados a aposentadoria. Estes apresentam as maiores pontuações no índice termográfico para SFM, reforçando assim, a indicação deste índice em avaliações periciais (BRIOSHI et al., 2009). Apesar de considerá-la discutível doença de risco ocupacional, a SFM predomina nos trabalhadores que tem afastamento por 6 meses para reabilitação ou que tem aposentadoria por invalidez. A associação da LER/DORT com a SFM traz prejuízos na reabilitação destes pacientes, sendo importante nestes casos o possível diagnóstico concomitante de SFM pelos meios disponíveis. A prevenção desta ocorrência deve ser objetivo de políticas de abordagem global técnico-organizacionais do ambiente de trabalho corrigindo ergonomicamente as condições em que os trabalhadores efetuam suas atividades (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). Revisão de literatura, realizada por Riberto (2004), comparando pacientes com SFM traumática e não-traumática observou, que tanto traumas físicos como emocionais, têm sido relacionados com o aparecimento de dor generalizada em relatos esporádicos da literatura, isto é, SFM secundária. Não é raro que pacientes relacionem seus sintomas a situações específicas de estresse emocional ou de sobrecarga do aparelho locomotor, quando são submetidos a esforços, repetições, posturas inadequadas ou lesões diretas dos ossos e de partes moles. Segundo Reilly (1993), esta enfermidade complexa e multifatorial pode estar associada ao contexto do trabalho, apesar desta apreciação não ser unanimidade entre todos os autores (HELFENSTEIN, 2006). Ou mesmo predispor uma pessoa à ocorrência de LER/ DORT, se exposta a fatores de risco, desta forma considerada, SFM primária (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). Porém, as alterações encontradas na termometria cutânea por termografia infravermelha, bem como sua intensidade e índice termográfico para SFM, tem elevado valor prognóstico quanto à avaliação da incapacidade ao trabalho de pacientes acometidos por LER/DORT. A literatura tem demonstrado alta correlação positiva entre a termografia e outros exames complementares utilizados na avaliação neuromusculoesquelética (THOMAS et al., 1990; GOMES et al., 1990). O método é valioso para confirmação do diagnóstico clínico excluindo desta análise critérios subjetivos e pessoais. A avaliação clínica segundo critérios científicos em conjunto com a termografia permite documentar alterações de tecidos moles em pacientes afastados que alegam piora progressiva e irreversibilidade de suas lesões teciduais. Roseblum et al (2008) demonstraram que o exame www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Termografia pericial não é examinador-dependente. Em um estudo com 318 pacientes não houve diferença entre a proporção de casos com alteração e sem alteração termográfica, relacionados e não relacionados com infortunística, isto é, o fato do paciente estar envolvido com litígio trabalhista não aumentou o número de casos positivos. A experiência subjetiva da dor é associada com mudanças de perfusão sanguínea cutânea na área afetada do corpo. O exame termográfico registra a distribuição térmica anormal e as diferenças de temperatura destas alterações de circulação, diferentemente da avaliação subjetiva da dor por parte do clínico. a) O acidente de trabalho As lesões podem resultar de acidente-tipo, doença profissional ou doença das condições do trabalho, na qual o legislador entende que estão equiparadas. A lesão relacionada a um acidente-tipo, o trabalho determina, por si mesmo, o infortúnio sendo deste, portanto, a causa, que deve sempre ser oficialmente comunicado a Previdência. Numa segunda eventualidade, as lesões são resultantes das condições em que o trabalho foi realizado. Não mais o trabalho em si, mas das condições que o cercam. O acidente-tipo costuma ter como causa um trauma súbito, perfeitamente reconhecível no tempo e no espaço e ao qual se poderão ligar os efeitos, posteriormente verificados. As doenças do trabalho reconhecem como causa, circunstância ou condições em que o trabalho foi realizado. Essas causas agem pouco a pouco, vencendo as resistências físicas ou psíquicas, até que por fim se manifeste a doença. Pode-se ter uma terceira eventualidade que é uma associação de acidente-tipo agravado por doença do trabalho culminando ou não com procedimentos cirúrgicos. A termografia pode ser utilizada tanto na avaliação do acidente-tipo quanto da doença do trabalho, porém nesta última de forma preditiva na identificação precoce de microtraumatismos ou disfunções cumulativas. b) O nexo de causa e efeito em acidentes do trabalho O acidente indenizável é todo aquele que ocorrer pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando o efeito danoso para a pessoa do empregado. O trabalho, em si mesmo, não gera o acidente; necessário se faz que mais um fator, estranho ou anormal, venha a condicionar a resultante danosa. O trabalho determina apenas o risco subjetivo, isto é, a exposição do operário a ação da causa do acidente, e não o risco objetivo, isto é, a morte, lesão ou perturbação. O trabalho não deve e não pode ser considerado causa direta do acidente. O trabalho seria somente o meio, o terreno, o campo, em que a influência externa e violenta de potencial se converte em atual. E para que isto assim possa vir a acontecer, mister se faz, obviamente, haja o exercício profissional. É normal que em muitas e muitas eventualidades tornar-se-á o nexo causal uma equação, cuja incógnita exigirá, para sua decifração, muito estudo, muita meditação e o mais sereno equilíbrio. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Em certas condições a ligação se impõe incontestável. Em outras, porém, deve o raciocínio agir, porque nem sempre os critérios etiológicos são estáveis, mas convencionais. Nem sempre é fácil tarefa essa determinação. Muitas vezes a ação do médico perito será apenas provar a possibilidade de uma lesão ou doença ser produzida pelo trabalho, aceitando a probabilidade de uma alegação. A autoridade caberá firmar seu juízo, lançando mão de outros elementos para organizar o seu conjunto de provas. Mas, em que elementos e princípios devem-se basear o perito para concluir subjetivamente na existência ou não de nexo causal? As conclusões não podem ser meramente pessoais, sem estudo, meditação ou muito menos sereno equilíbrio. Existem diversas formas de se apresentar um acidente do trabalho, nem sempre é de fácil conclusão, como da maneira concentrada de agir, como no caso em que há o exercício profissional, contendo o fator danoso estranho ou anormal condicionador do infortúnio, ajustando-se perfeitamente ao efeito danoso recebido pelo empregado, mediante o nexo causal que em ambos se encadeia exatamente – nexo de causa efeito manifesto. O nexo pode ser de caráter mais desintegrado, mais difícil de precisar, dada a existência de uma forma diluída da ação danosa. Pode-se ter, por exemplo, uma ação concentrada súbita e violenta de origem externa (acidente-tipo) quanto associada com uma evolução em forma diluída da ação danosa (doença do trabalho) causando prejuízo por uma lesão orgânica. Insiste-se; outrossim, em que não se crê necessária uma demonstração cabal, no caso de causalidade diluída, para a admissão deste nexo: é suficiente, apenas, a verificação de uma veemência etiológica. Afora estas modalidades gerais da variação do nexo causal, ainda esta relação entre o evento e os males observados apresenta modalidades diversas em referência ao tempo, ao espaço e às mais diversas circunstâncias. Felizmente, a nova lei evita controvérsias e esforços de interpretação no que se refere ao acidente ocorrido par le fait du travail ou à l´occasion du travail, que a legislação francesa (e outros estatutos, inclusive o brasileiro de 1919) inscrevia no seu articulado. Houve exercício do trabalho? E pode-se admitir que esse exercício provocou o efeito danoso? Então, aí está configurado o acidente indenizável. O exercício profissional, provocando o infortúnio ou podendo receber a imputação de ter, quando menos, contribuído para a sua eclosão, assumirá situação jurídica semelhante em face da interpretação do texto legal. Ainda neste passo, a aludida interpretação se aproxima da atitude assumida no Código Penal no que tange à caracterização do dolo em que, quer o direto quer o eventual, são ambos plenamente equiparados (Art. 15). Também o exercício profissional, quer provoque diretamente o resultado (acidente-tipo) quer determine excepcionalmente o efeito danoso, conduz sempre às mesmas consequências quanto à proteção legal. Proteger o acidente e não proteger a moléstia profissional seria o mesmo que punir a ação violenta de um assassino e não punir a ação daquele que envenena lentamente. 85 Termografia pericial A doença do trabalho, minando pouco a pouco a saúde do operário, vai-lhe reduzindo paralelamente a capacidade profissional. A termografia é um meio objetivo de documentar as alterações relacionadas a LER/DORT antes de elas se manifestarem impedindo assim a doença do trabalho propriamente dita. c) O diagnóstico e critérios médico-legais de causalidade médico-legal Quanto ao diagnóstico, no ponto de vista médico-legal, em Infortunística, interessa classificar a síndrome, sem necessidade de um diagnóstico anatômico propriamente dito. Todo perito deve considerar os critérios científicos obrigatórios para negar ou afirmar a causalidade de uma LER/ DORT ou doença ocupacional. Para estabelecer com precisão a causalidade de uma ação lesiva em relação a uma determinada conseqüência patológica, se deve ter em conta diversos critérios, cuja conjunção se desprenderá ao juízo médico-legal em relação à etiologia traumática da enfermidade. Os critérios são: 1- Critério topográfico: se embasa em estabelecer uma relação entre a região afetada pelo traumatismo e a queixa do paciente. A relação mais simples é quando há coincidência topográfica de ambas as regiões. Porém, esta relação de coincidência não é excludente, pode haver efeitos de contragolpe e efeitos à distância. A termografia documenta por imagem as alterações dolorosas facilitando a correlação queixa com o local afetado, bem como o estudo das cadeias musculares comprometidas, envolvidas ou não com o movimento realizado pelo funcionário durante sua jornada de trabalho. 2- Critério cronológico: Tanto dados experimentais quanto de observação clínica demonstram que muitos processos patológicos passam por um período de latência ou de incubação antes de se tornarem aparentes. Um trauma pode agir agora, mas o seu efeito só vir a ser reconhecido muito mais tarde, isto é, forma diluída da ação danosa. Mas também, demonstram que estes períodos cronológicos oscilam entre limites determinados, próprios de cada processo, que nunca são ultrapassados. Isto é, as manifestações se determinam certo tempo depois dentro do razoável aceito pela Medicina. Seu conhecimento constitui a base fundamental para admitir ou recusar uma relação de causa e efeito. As doenças do trabalho reconhecem como causa, circunstâncias peculiares ou inerentes a determinados ramos de atividade ou condições especiais ou excepcionais em que o trabalho for realizado. Mas essa causa age pouco a pouco, cronicamente, vencendo paulatinamente as resistências físicas e psíquicas até que, por fim, se manifesta a soma final, revelada na doença. A termografia é um meio de monitorar estas alterações podendo-se evitar o desenvolvimento da doença ocupacional. 3- Critério quantitativo: Ou seja, tomar em consideração neste juízo de causalidade a intensidade do fator traumático, relacionando-o com a gravidade do dano produzido. Relação que não pode ser simples e linear, senão variável, em dependência da qualidade do traumatismo, 86 da natureza do dano e a duração do período de latência. Por ser um método quantitativo, a termografia permite a correlação da intensidade dos sintomas com a intensidade da radiação emitida pela área acometida. Diversos estudos já demonstraram direta correlação entre a intensidade da dor e temperatura. 4- Critério de continuidade sintomática: Em certas seqüelas pós-traumáticas que se manifestam certo tempo depois do traumatismo, em conseqüência a um mecanismo patógeno de certa complexidade, a paciente deve apresentar certas manifestações sintomáticas, denominadas sintomas ponte, que traduzem aquele mecanismo e estabelecem a relação causal entre a violência lesiva e a seqüela à distância. A ausência de manifestações sintomáticas ponte pode ser suficiente para excluir o juízo de causalidade. Uma termografia simétrica e normal, i.e., sem alterações, realizada tempos após a recuperação de um específico acidente-tipo, é um meio objetivo de documentar a ausência de sintomas ponte como explicado acima. Na eventualidade de outro acidente-tipo ficará registrado que não há conexão com o primeiro acidente. 5- Critério de exclusão: O último critério na valorização médico-legal de causalidade consiste em excluir no caso em questão, todas as outras possíveis causas de danos sofridos pela paciente. Contudo, em função da doutrina de equivalência de causas, a exclusão deve ser total. A outra possível causa do dano deve ser plena e única, pois, se ambas as causas concorrerem para sua produção, serão igualmente responsáveis por esta. Esta limitação dá lugar para que o critério de exclusão poucas vezes facilite qualquer elemento de juízo como válidos na valorização da causalidade e das enfermidades traumáticas. Devido sua capacidade de avaliar com alta sensibilidade multissistemas (miofascial, neuropático, vascular, osteoarticular, inflamatório) do corpo inteiro de uma única vez, a termografia se presta como exame para investigação destes critérios de exclusão (artrite reumatóide soro-negativa, vasculites, neuropatias compressivas ou não e outras enfermidades). Ainda quanto aos princípios básicos médico-legais para o estabelecimento do nexo causal entre os transtornos de saúde e as atividades do trabalhador, o art. 2º da RESOLUÇÃO do CFM nº 1.488/98, traz que além do exame clínico (físico e mental) e os exames complementares, quando necessários, deve o médico considerar: I - a história clínica e ocupacional, decisiva em qualquer diagnóstico e/ou investigação de nexo causal; II - o estudo do local de trabalho; III - o estudo da organização do trabalho; IV - os dados epidemiológicos; V - a literatura atualizada; VI - a ocorrência de quadro clínico ou subclínico em trabalhador exposto a condições agressivas; VII - a identificação de riscos físicos, químicos, biológicos, mecânicos, estressantes e outros; VIII - o depoimento e a experiência dos trabalhadores; IX - os conhecimentos e as práticas de outras disciplinas e de seus profissionais, sejam ou não da área da saúde. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Termografia pericial d) A avaliação psicológica Esta deve ser completa, levando em conta o acidente sofrido. E não uma ferramenta de descaracterização especialmente no caso de pacientes com disfunções apenas funcionais, porém relacionadas ao trabalho. Para um indivíduo que só pode ganhar sua vida com o trabalho braçal, o acidente determina um choque emocional violento, em virtude de se ver privado, mesmo temporariamente, da fonte essencial de sua subsistência. Isto justifica a crise psicológica, em que paulatinamente ingressam, e que se torna sempre maior à medida que se vêem difícil sua recuperação profissional. Tornando assim fundamental o papel do psicólogo na readaptação adequada do profissional e não como um mero descaracterizador de nexo sem nada contribuir com a readaptação ao trabalho. O não reconhecimento da efetiva causa geradora da dor é responsável por numerosos diagnósticos errôneos e insucessos terapêuticos, de sintomas dolorosos crônicos, perda da produtividade e conseqüente incapacidade biopsicossocial. Em virtude disso, muitos doentes com dor crônica são considerados simuladores, hipocondríacos e neuróticos, apresentando anormalidades psicossomáticas ou transtornos psíquicos. Porém, a termografia documenta as disfunções muito antes de elas se apresentarem como lesão anatômica propriamente dita. Conclusão A prática médica pericial nos casos de litígio que envolve síndromes dolorosas trata-se de um procedimento complexo, que exige o suporte do conhecimento de vários profissionais de saúde e especialidades médicas. Bem como, de novos métodos diagnósticos que possam vir apoiar decisões tomadas pelos médicos peritos muitas vezes calcados apenas em resultados clínicos subjetivos e na sintomatologia dor. A termografia cutânea por termografia infravermelha é um método complementar útil e objetivo no apoio a avaliação pericial das síndromes dolorosas e das variáveis que interferem na capacidade para o trabalho, desde sua validade e em grau máximo a incapacidade. Por se tratar de método não invasivo, sem efeitos colaterais e expressiva sensibilidade diagnóstica, merece atenção dos órgãos públicos, especialmente quanto sua instituição como método auxiliar objetivo nesta complexa avaliação. Referências Ammer K. Thermal imaging: a diagnostic aid for fibromyalgia? Thermology International 18(2):45-50, 2008. Biasi G, Fioravanti A, Franci A, Marcolongo R. The role computerized telethermography in the diagnosis of fibromyalgia syndrome. Minerva Med 85:451-4, 1994. Brioschi ML, Portela PC, Colman D et al. Infrared thermal imaging in patients with chronic pain in upper limbs. J Korean Med Therm. 2002; 2(1):73-73. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Brioschi ML, Yeng LT, Pastor EHP, Colman D, Silva FMRM, Teixeira MJ. Documentação da síndrome dolorosa miofascial por imagem infravermelha. Acta Fisiatr. 2007; 14(1): 41-48. Brioschi ML, Yeng LT, Pastor EHP, Colman D, Teixeira MJ. Utilização da imagem infravermelha em reumatologia. 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New York: The Guilford Press; 2002. p. 3-29. 87 Ginástica laboral e envelhecimento: revisão sistemática Gymnastics and aging: a systematic review Autoras: Aline Eufrásio Alves[1], Marilene Romão Gonçalves[2], Mariluce Ferreira Romão[3] [1] Fisioterapeuta Especialista pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, graduada em Fisioterapia pelo Centro Universitário Izabela Hendrix. [2] Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Desportiva e Reabilitação Músculo Esquelética, graduada em Fisioterapia pela FAFISIO / UNICERP [3] Mestre em Ciências Veterinárias com enfoque em Morfologia pela Universidade Federal de Uberlândia, Especialista em Ciências do Exercício físico, resistido e aeróbio na promoção da saúde, graduada em Educação Física – Licenciatura e Bacharelado, pelo Centro Universitário de Patos de Minas, professora de pós graduação lato sensu no Instituto Máximo - Passo 1 e UNIPAM Contato: e-mail: [email protected] Local de realização do estudo: Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais Resumo Tendo em vista a transição demográfica e epidemiológica atual, conjetura-se uma posição mundial de destaque à população idosa. Este estudo teve como objetivo demonstrar a importância da manutenção das capacidades funcionais no envelhecimento através da ginástica laboral. Foi realizada uma revisão sistemática, analítica e randomizada, em periódicos indexados, e fontes bibiliográficas, visando elucidar que a execução de um programa adequado de ginástica laboral aos trabalhadores ativos, pode auxiliar na diminuição dos efeitos pecuniários ao envelhecimento, melhorando a qualidade de vida no momento de sua aplicação, bem como, na manutenção por um período extensivo. A promoção da saúde no trabalho é um dos aspectos fundamentais na manutenção da capacidade para o trabalho, e que com a aplicação correta dos programas de Ginástica Laboral nas empresas, pode vir a contribuir para amenizar os efeitos deletérios do processo do envelhecimento, aumentando, portanto o tempo da capacidade laborativa, de cada indivíduo após sua aposentadoria. Palavras-chave: Trabalho. Envelhecimento. Ginástica laboral. Abstract Given the demographic and epidemiological transition current conjecture is a worldwide position of prominence to the elderly. This study aimed to demonstrate the importance of maintaining functional abilities in aging through gymnastics. We conducted a review systematic, analytical, and randomized in indexed journals, and sources bibiliográficas aiming to clarify that the implementation of an appropriate program gymnastic active workers, can help pecuniary effects decreased with aging, improving quality of life at the time of application, as well as the maintenance for a period extensivo. Health promotion in work is a key aspect in maintaining the ability to work, and that with the correct application of the programs Gymnastics Employment in business, could help to mitigate the effects deleterious effects of the aging process, thus increasing the time of working capacity of each individual after his retirement. Keywords: Work. Aging. Gymnastics laboral. Ginástica laboral e envelhecimento: revisão sistemática Introdução Tendo em vista a transição demográfica e epidemiológica atual, conjetura-se uma posição mundial de destaque à população idosa. Vale ressaltar que a conseqüência desta crescente população implica em aumento das demandas sociais, e um grande desafio político global, sugerindo a implantação de programas de saúde em todas as áreas de trabalho (Faro, 1996). Com o aumento da longevidade, há constatações de maiores prevalências na verificação de doenças degenerativas e crônicas, que são ou se tornam incapacitantes, trazendo conseqüências econômicas e sociais. Neste âmbito, nota-se um aclive na implantação de programas de atividades físicas em todo o mundo, como forma de promoção de hábitos saudáveis. Espera-se que até 2025, o país (Brasil) tenha a sexta maior população de idosos do mundo, ou seja, mais de 32 milhões de pessoas com sessenta anos de idade ou mais. Por esse motivo, tornam-se necessários programas voltados à qualidade de vida dos idosos, nos quais, as equipes multiprofissionais, possam atuar com o intuito de alcançar metas que melhorem não só a saúde, mas também a qualidade do vivente (Benedetti, 2008). É impreterível a importância da busca e manutenção de um estilo de vida saudável, a fim de que as pessoas consigam alcançar o seu bem-estar. É fato, que as doenças progressivas podem ser minimizadas com cuidados específicos com a saúde. Além disso, um indivíduo em pleno gozo de suas atividades poderá produzir mais no seu trabalho, entretanto é preciso evitar afirmar que o estilo de vida, somente, garante a saúde do trabalhador. É um desafio para as empresas a capacitação para o oferecimento de programas, produtos e sistemas que efetivamente ajudem as pessoas a mudarem seus comportamentos (CONFEF, 2005). Qualidade de vida não deve ser considerada somente sinônimo de saúde ou ausência de doença, como também, extensiva à sensação de bem estar em todas as faixas etárias, seja no trabalho, com amigos, ou com a família. A relevância dos bons hábitos diários para as organizações e para a sociedade são apresentados através de vários números relativos à doenças crônicas, excesso de peso e fumantes, a partir de estatísticas da OMS (Organização Mundial da Saúde) e estudos realizados na Europa e Estados Unidos além de números do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e do Ministério da Saúde (Lima, 2003; OMS, 2010). No Brasil, as primeiras manifestações de atividades físicas entre funcionários foram em 1901, mas a ginástica laboral teve sua proposta inicial publicada em 1973. Algumas empresas começaram a investir em empreendimentos com opção de lazer e esporte para os seus funcionários, como a Fábrica de Tecidos Bangu a pioneira e o Banco do Brasil, com a posterior criação da Associação Atlética do Banco do Brasil (OMS, 2010). O presente estudo objetivou demonstrar a importância da manutenção das capacidades funcionais no envelhecimento através da ginástica laboral. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Materiais e métodos Foi realizada uma revisão sistemática, analítica e randomizada, em periódicos indexados, e fontes bibiliográficas, visando elucidar que a execução de um programa adequado de ginástica laboral aos trabalhadores ativos, pode auxiliar na diminuição dos efeitos pecuniários ao envelhecimento, melhorando a qualidade de vida no momento de sua aplicação, bem como, na manutenção por um período extensivo. Envelhecimento sistemático O envelhecimento na condição de um processo bilateral é resultado da soma de vários processos correlatos, envolvendo aspectos biopsicososciais, visto que o ser humano sofre tanto alterações decorrentes aos esforços, aos quais é submetido, como do processe degenerativo natural (Meirelles, 1997). Naturalmente, envelhecer indica mudanças estruturais no corpo e, por essa razão, tanto modifica algumas funções, quanto altera outras. Inerente a todos os seres vivos, no homem, esse período assume dimensões além do ciclo biológico, com enfoque na importância do pensamento estratégico e ações correlatas, que por sua vez, são capazes de minimizar os efeitos deletérios desta fase, permitindo melhores condições de vida (Okuma, 2002; OMS, 2010). Na terceira idade, a saúde precária encontra-se associada a altos níveis de depressão, angústia, e pouca satisfação geral. As dificuldades do idoso em realizar as atividades diárias, devido aos problemas físicos, ocasionam decadência nas relações sociais, e na manutenção da autonomia, sinalizando prejuízos emocionais. Não obstante, a maior parte destas pessoas permanece sedentária (Marques, 1996; Borges et al., 2004; Neri,2004 ). O ganho de força, mobilidade, flexibilidade, entre outros benefícios dos exercícios físicos, é de extrema importância para o indivíduo com idade mais avançada, visto que suas capacidades estão diretamente associadas à independência e à autonomia, principalmente nas atividades funcionais. Portanto, o indivíduo ativo fisicamente, tem condições de aprimorar a sua qualidade de vida, melhorando o relacionamento social, além de elevar a capacidade de trabalho, modificando e interferindo no grau de declínio ativo do organismo. Vale ressaltar que o resultado da interação multidimensional entre saúde física e mental, independência, integração social, assim como suporte familiar, é sinônimo de envelhecer com “dignidade”. A atividade física tem sido apontada como fator de proteção para problemas mentais nos idosos (Kuwano et al., 2002; Okuma, 2002). No processo de envelhecimento, as capacidades físicas, as modificações anatomo-fisiológicas, assim como as alterações psicossociais e cognitivas, regridem no decorrer naturalmente. Em relação às capacidades Físicas observa-se uma diminuição de coordenação motora grossa e fina, habilidades, equilíbrio, esquema corporal, visão e 89 Ginástica laboral e envelhecimento: revisão sistemática audição. Nas modificações anatomo-fisiológicas ocorre hipotrofia cerebral e muscular, redução da elasticidade vascular e muscular, concentração de tecido adiposo, tendência à perda de cálcio pelos ossos, desvios de coluna, perda gradual da mobilidade articular, altura, densidade óssea, volume respiratório, resistência cardiopulmonar, freqüência cardíaca máxima, débito cardíaco, consumo máximo de oxigênio e mecanismos de adaptação (hemodinâmicos, termorreguladores,imunitários e hidratação), e insuficiência cardíaca. A função cognitiva expressa pela velocidade de processamento das informações, assim influenciadas pela quantificação da motivação, torna-se decadente, se o estímulo não for satisfatório. E, contudo, as alterações psicossociais ocasionam prejuízos à sociabilidade, propensão à depressão, mudanças no controle emocional, ebaixa auto-estima, devido a aposentadoria, dificuldade auditiva, visual e motora, síndrome do “ninho vazio” (saída dos filhos, de casa), impotência sexual, dentre outras situações (Silva, 1999; Krasevec, 2000; Pires, et al., 2010; Powers, et al., 2000). Através da implantação da Ginástica Laboral, a empresa se beneficia em alguns fatores já comprovados, entre eles a diminuição dos problemas de saúde do trabalhador e com isso um aumento na produtividade da empresa. Isso se dá em razão de uma diminuição das faltas por motivos médicos e também a redução dos acidentes de trabalho. O trabalhador também recebe benefícios, pois grande parte dos exercícios que são executados durante a jornada de trabalho, visando a redução do impacto e o estresse muscular sofrido ao longo do período. Isso significa que não só trabalhadores “braçais” ou funcionários da linha de produção necessitam de tal benefício, mas também os trabalhadores administrativos (digitadores, secretárias, etc.) e externos (motorista, vendedores, entregadores, etc.). Os últimos tipos de trabalho citados trazem sérios problemas posturais, musculares e visuais (Zilli, 2002). nervoso simpático, levando a secreção de hormônios, principalmente adrenalina (epinefrina) e a norepinefrina. Esses hormônios atingem a corrente sanguínea alterando reações bioquímicas e funções orgânicas. Outrora, a pressão arterial e freqüência cardíaca aumentam, a energia é mobilizada para os músculos e o tempo de coagulação sanguínea diminui. Se tal ocorrência for rotineira, certamente acarretará problemas à saúde (Sharkey, 1998). Quadro 1 – O alarme das reações emocionais do indivíduo com estresse Agitação Medo ou preocupação com algo Apatia Desânimo Tristeza, vazio e cansaço não identificado Facilidade para se irritar com pequenas coisas Falta de disposição para fazer qualquer coisa Preocupação excessiva com coisas sem importância Sensação de incapacidade falta de sentido na vida. Expectativa que algo ruim vai Acontecer Choro por pequenas coisas sem Motivo Falta de paciência, explosão por Sonolência Isolamento qualquer coisa Insônia Fonte : (MASCI, 2000) Quadro 2 – O alarme das alterações fisiológicas do indivíduo com estresse Vegetativos Disfunção intestinal Musculares Tensão muscular Suores frios Dores nas costas, principalmente nos ombros e nuca Sensação de calor intercalada com frio Dores de cabeça Mãos geladas Sensação de peso nas pernas e Transpiração abundante braços Aumento dos batimentos cardíacos Respiração rápida e curta Má digestão Fonte : (MASCI, 2000) Ginástica laboral e longevidade O paradoxo de bem-estar e sobrecarga tensional tem demonstrado ser uma ferramenta vital na qualidade de vida. As designações “críticas” na vida do trabalhador, na atualidade representam fatores diferenciais entre as empresas, no tocante à competição por produtividade, qualidade e visão de empreendedorismo. Dentre os fatores utilizados na busca da melhoria de qualidade de vida, a Ginástica Laboral tem sido destaque em vários segmentos privados e públicos, e não mais, exclusivamente, entre as empresas de origem oriental, como aconteceu há três décadas. Tal programa é tido como uma nova alternativa para humanizar o meio empresarial e reviver doenças ocupacionais, desde que implantado de forma adequada. Sobretudo é preciso que seja feito um planejamento lícito, a escolha do publico alvo, as necessidades, a definição dos exercícios e horários, e posteriormente, a avaliação final do programa (Brasil, 2008). Situações que expõem o indivíduo, em qualquer idade, ao estresse, podem provocar reações no sistema 90 Basicamente existem três tipos de Ginástica Laboral: preparatória; compensatória, e o relaxamento. A primeira também chamada de aquecimento é realizada logo no início das atividades ativas, visando despertar e ou aquecer o indivíduo para o exercício. A segunda é comumente realizada entre o período inicial e final das atividades, em caráter compensatório, contribuindo com a qualidade da concentração. A terceira, respectivamente, de relaxamento, é feita ao final, priorizando a recuperação (Zilli, 2002; Takahazhi, 2004). A Ginástica Laboral pode ainda ser classificada quanto ao seu objetivo, sendo Ginástica Corretiva ou Postural, associada ao equilíbrio dos músculos agonistas/antagonistas, isto é, alongamento dos músculos mais sobrecarregados e fortalecimento dos músculos em desuso, ou em pouca atividade. Sua execução pode durar entre 10 e 12 minutos, todos os dias, ou três vezes por semana. A Ginástica de Compensação objetiva evitar vícios posturais e o aparecimento da fadiga, principalmente por posturas extremas, estáticas ou unilaterais. Podem ser realizados www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 Ginástica laboral e envelhecimento: revisão sistemática movimentos simétricos de alongamento dentro do próprio setor ou ambiente de trabalho entre 5 a 10 minutos (Addley, 2001; Souza, 2004). Dentre os diversos efeitos positivos obtidos com a introdução de um programa de Ginástica Laboral, destaca-se a melhora na condição de saúde geral e produção dos indivíduos; maior adaptação aos encargos; diminuição de queixas relativas à dor, além de menor procura ambulatorial, e menos afastamento por lesões por esforços repetitivos. Dois mecanismos eficientes na prevenção da LER são a pausa no exercício, citada anteriormente, como período de compensação, e a rotatividade nas atividades gerais e específicas, viabilizando o retorno à normalidade no fluxo sangüíneo e viscosidade dos tendões musculares, diminuindo não só as concentrações de ácido lático, como também, possíveis irritações nas terminações nervosas livres (Franchi, 2005; Maciel, 2005). Quadro 3 – Os benefícios da ginástica laboral Fisiológicos Psicológicos Sociais Favorece a mudança da Desperta o surgimento de Provoca o aumento de circulação sanguínea ao rotina e promove um clima novas lideranças nível da estrutura motivacional favorável no muscular, melhorando a trabalho Favorece o contato pessoal oxigenação dos músculos e tendões e diminuindo o Reforça a auto-estima Favorece o sentido de acúmulo de ácido lático grupo Mostra a preocupação da Melhora a mobilidade e empresa com seus Promove a integração flexibilidade músculo funcionários social articular Melhora a capacidade de Melhora o relacionamento Diminui as inflamações e concentração no trabalho e traumas convívio sociais Melhora a postura Diminui a tensão muscular desnecessária Diminui o esforço na execução de tarefas diárias Facilita a adaptação ao posto de trabalho Melhora a condição do estado de saúde geral Fonte: (ZILLI, 2002) É importante fazer a distinção entre atividade física no local de trabalho ou fora dele e Ginástica Laboral, pois essas duas práticas têm objetivos diversos e diferem significativamente nos meios e instrumentos que utilizam. Os programas de atividade física consistem em incentivos à prática de esportes ou atividades que levem a um maior dispêndio energético e movimentação da musculatura. Em geral, recomenda-se a prática de um esporte ou atividade física pelo menos três vezes na semana, com uma duração de aproximadamente uma hora por sessão. Para isso existem as academias e outros centros esportivos, em geral, fora dos locais de trabalho. A ginástica laboral tem por objetivo principal a prevenção de doenças ocupacionais, é realizada nos locais de trabalho, três vezes por semana, ou diariamente, por períodos que variam de 8 a 12 minutos, durante a jornada de trabalho (Masci, 2000; Martins, 2000; Silveira, 2002). Quanto à especificidade dos exercícios proposto durante a Ginástica Laboral, também considerada ergonômica, os alongamentos, massagens e relaxamento (físico e psicológico), excluindo-se os exercícios intencionais de www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 força, parecem ser suficientes para promover alterações psicofisiológicas em indivíduos em processo natural de desenvolvimento biológico (Matsudo, 2000; Safons, 2003; Goncalves, 2007; Petry, 2009). Conclusão Conclui-se através dos resultados do presente estudo que a promoção da saúde no trabalho é um dos aspectos fundamentais na manutenção da capacidade para o trabalho, e que com a aplicação correta dos programas de Ginástica Laboral nas empresas, pode vir a contribuir para amenizar os efeitos deletérios do processo do envelhecimento, aumentando, portanto o tempo da capacidade laborativa, de cada indivíduo após sua aposentadoria. Referências Addley, K. et al. 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O grande objetivo da comemoração é promover a conscientização sobre a importância da segurança e saúde no trabalho.. Anualmente cerca de 2 milhões e meio de pessoas morrem vitimas de acidentes e doenças relacionados aos trabalho destas algo em torno de 22 mil são crianças. Estima-se que 270 milhões de acidentes do trabalho ocorram anualmente e que as doenças do trabalho estejam na casa de 160 milhões. No Brasil os números relativos ao assunto - mesmo que não correspondendo a realidade - são também assustadores e aos demais problemas sociais junta-se também o problema da falta de segurança e saúde no trabalho. Para os mais atentos e que não se deixam levar apenas pelo pais mostrado pelas coloridas imagens da TV - hoje já é possivel encontrar nas ruas com alguma facilidade pessoas que tiveram suas vidas mudadas em razão de acidentes e doenças no trabalho. Ao descaso com a vida humana - tão comum em nossa terra - devemos juntar o desencanto e desespero de milhares de pessoas que buscando a sobrevivência encontraram a invalidez - quando não a morte - das incontáveis famílias que deixaram de ter futuro para conviverem com a amarga realidade causada pela irresponsabilidade de alguns e pela total ausência de respeito aos direitos - porque não dizer - humanos. A questão do acidente e doença do trabalho vai muito além do que a grande maioria consegue ver. Muito distante das folclóricas campanhas de prevenção e muito além das imensas pilhas de programas e coisas do gênero - muito mais feitas para darem aparência do que para resolverem problemas - encontra-se um universo deplorável de relações que embora possam parecer legitimas há muito deixaram de ser devido ao desrespeito com quais alguns insistem em tratar a vida. E em meio a uma sociedade onde a violência impera em cada pedaço de terra deste país - a violência de trocar a vida pelo sustento mostra-se sutil mas nem por isso menos sórdida. Por fim, que aprendamos de vez por todas que só podemos falar em PAÍS, quando aprendermos a pensar coletivamente, que hastear uma bandeira e cantar um hino sem motivações patrióticas e ações práticas em favor do país é um ato sem qualquer sentido que devemos zelar - como cidadãos-especialistas - para que o tema seja tratado distantes dos interesses medíocres - e distanciando do centro das decisões os que assim pensam distantes dos feudos e baias de alguns poucos - mas trazendo o assunto para centro da sociedade - e principalmente distante das minimizações que aprendemos a ter com os problemas que aprendemos a ver como sendo dos outros - pois um pais só pode ser bom - quando entendemos que os problemas são de todos. Que o verde de nossa bandeira - seja o verde da prevenção e que o Brasil que todos queremos - seja construído com muito trabalho seguro e saudável. Cosmo Palasio Moraes Junior Técnico de segurança do trabalho, fundador e moderador do e-mailgroup SESMT Também possui vários artigos publicados em revistas de SST Indicadores mundiais • Todos os dias morrem em média 6.000 pessoas devido a acidentes ou doenças ocupacionais, totalizando mais de 2,2 milhões de mortes relacionadas ao trabalho por ano. Dessas, mais de 1,7 milhão são resultado de doenças ocupacionais. • A cada ano, aproximadamente 270 milhões de trabalhadores são vitimas de acidentes de trabalho que ocasionam ausências durante três ou mais dias de trabalho. Outros 160 milhões são vítimas de acidentes que originam doenças relacionadas ao trabalho. • Perde-se aproximadamente 4% do produto interno bruto mundial com os custos relativos a lesões, mortes e doenças como resultado dos dias de trabalho perdidos. • As substâncias perigosas matam cerca de 438.000 trabalhadores por ano, e 10% dos cânceres de pele são atribuídos à exposição a substâncias perigosas no local de www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 trabalho. • O amianto é responsável por cerca de 100.000 mortes/ano e este número não pára de crescer. Embora a produção mundial de amianto tenha diminuído desde os anos 70, o número de trabalhadores que morrem nos EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha e outros países industrializados, em conseqüência da exposição às poeiras de amianto, vem aumentando. • A silicose - doença mortal causada pela exposição às poeiras de sílica - ainda afeta dezenas de trabalhadores no mundo. Na América Latina, 37% dos mineiros foram atingidos, de algum modo, por esta doença, que alcançou uma taxa de 50% nos mineiros com mais de 50 anos. Na Índia, mais de 50% dos trabalhadores da ardósia e 36% dos trabalhadores da pedra têm silicose. 93 | MATÉRIA Estariam as LER/DORT superadas? Por Maria Maeno* Foi-me solicitado um texto pela FETEC-SP sobre Lesões por Esforços Repetitivos/ Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT). Diante da emergência de transtornos psíquicos em vários ramos econômicos, muitas pessoas têm se perguntado se as LER/DORT estariam superadas, se seriam um problema do século passado. Tomemos o setor financeiro que presumivelmente sempre teve muitos trabalhadores acometidos por LER/ DORT como um caso a ser analisado. Uma unanimidade em nosso país é o fato de que esse setor passou por uma profunda reestruturação. Para alguns, as transformações significaram dinamização do setor, informatização, eficiência, qualidade total, flexibilização organizacional e das relações trabalhistas, e têm um significado muito positivo, relacionado a um senso comum de que expressam a modernidade, e tudo o que é moderno é bom. Para outros, as mudanças, sobretudo a partir dos anos 80 e 90, têm significados diversos e negativos, como segmentação da clientela por faixas de renda, diminuição de postos de trabalho, intensificação do trabalho, sobrecarga física e psíquica, pressão para cumprimento de metas inatingíveis, especialização em vendas de produtos independentemente das necessidades reais dos clientes, terceirização e precarização do trabalho. (1, 2, 3, 4). Como em outros segmentos de trabalhadores, a saúde e as doenças que acometem de forma significativa os bancários refletem suas condições de trabalho e suas lutas. Na primeira metade do século XX, os bancários eram acometidos por tuberculose e por transtornos psíquicos denominados na época “psiconeurose bancária”, que fundamentou a redução de jornada do bancário para 6 horas diárias. Na década de 80, em decorrência, sobretudo, da automação do sistema, da fragmentação das tarefas, da sobrecarga de trabalho e das jornadas prolongadas, começaram a se disseminar entre os trabalhadores bancários, dentre outros, os quadros clínicos de dor do sistema musculoesquelético. Inicialmente diagnosticados como tendinites e tenossinovites, a partir de 1986 passaram a ser reconhecidos em seu caráter ocupacional pelos órgãos de Estado. Tanto no órgão segurador como no sistema de saúde, seu reconhecimento como um agravo relacionado ao trabalho foi gradativo e objeto de vários dispositivos normativos e legais, inicialmente pelo então Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) e posteriormente pelo Sistema Único de Saúde, processo que teve a ativa participação de profissionais da saúde, particularmente os dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador e do movimento sindical(5). Atualmente, as LER/DORT, abrangem dezenas de diagnósticos além das tendinites e tenossinovites, entre os quais, as síndromes do túnel do carpo, as síndromes miofasciais, as fibromialgias, as cervicobraquialgias. Constam das listas de agravos ocupacionais do Ministério da Saúde e do Ministério da Previdência Social, dispostas respectivamente na Portaria/MS 1.339/99(6) e no Decreto 3.048/99(7), fazem parte do Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde do Ministério da Saúde(8), são objeto de protocolo do Ministério da Saúde(9), são de notificação compulsória ao Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN)(10), o mesmo sistema de notificação dos tétanos e das dengues, dentre outras ocorrências previstas em dispositivo legal. Motivaram, juntamente com os transtornos psíquicos, o Ministério do Trabalho e Emprego a elaborar dois anexos da Norma Regulamentadora 17, da Ergonomia, especificamente para os trabalhadores caixas de supermercados(11) e de teleatendimento(12). Ao longo desses anos, foram objeto de discussão em congressos científicos especializados, como os de dor e fisiatria, de reumatologia, de recursos diagnósticos por imagem, de acupuntura, de ortopedia, de psicologia, de cirurgia de mão, de fisioterapia, em outros tempos alheios às doenças que atingiam os trabalhadores. Inúmeros de seus aspectos foram estudados em pesquisas acadêmicas, de serviços, em dissertações de mestrado e teses de doutorado. Passaram a figurar nas estatísticas da Previdência Social como aqueles agravos ocupacionais que mais motivavam afastamentos prolongados do trabalho e essa situação se mantém, a despeito da conhecida sub-notificação desses dados. A categoria bancária particularmente desponta como uma das mais atingidas. Segundo a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD) de 2008, suplemento saúde, há uma estimativa de que no país, 69.192 trabalhadores ocupados no momento da pesquisa, do setor financeiro, entre os quais os bancários (aproximadamente 8,2% do total desses trabalhadores) tenham tido diagnóstico de tendinite ou tenossinovite feito por um médico ou profissional de saúde. Do ponto de vista do risco, esses trabalhadores do ramo financeiro apresentam maior possibilidade de terem tendinite ou tenossinovite do que o conjunto de trabalhadores ocupados de outros ramos de atividade. É preciso lembrar que as tendinites e tenossinovites são apenas duas das expressões clínicas de afecções do sistema musculoesquelético relacionadas ao trabalho. Considero esse dado bastante relevante. Por outro lado, quanto aos números da Previdência Social, de 2005 a 2008, foram concedidos 1.480 benefícios por incapacidade tendo como causa afecções do sistema musculoesquelético a trabalhadores de 7 grandes bancos, ou seja, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú, Real, Santander e Real. Esse número reflete apenas aqueles que foram incapacitados pelo Instituto Nacional de Seguro Social. Muitos podem ter tentado um afastamento e podem não ter conseguido. E muitos outros devem estar nos ambientes de trabalho apesar de doentes. Um outro aspecto que tem chamado a atenção dos dirigentes sindicais dentro dos bancos é a inundação dos transtornos psíquicos e o uso de medicações “tarja preta”. Assim como ocorreu com as LER/DORT nos anos 80 e 90, os transtornos psíquicos, que antes acompanhavam os trabalhadores com dores, agora se destacam em “carreira solo”. E aí, merece atenção nesta breve conversa a interface entre a ocorrência de LER/DORT e os transtornos psíquicos. Ambas os grupos dessas manifestações clínicas são expressões de um processo de desgaste relacionado às exigências do trabalho, que no caso dos bancários, se materializam na existência de metas que sobem de patamar a cada vez que os trabalhadores conseguem atingi-las, nas múltiplas funções que devem exercer, na sobrecarga de trabalho operacional e mental, nos constrangimentos que sofrem ao implorar aos clientes que comprem os produtos, nas humilhações pelas quais passam quando não conseguem ter o desempenho esperado, no isolamento e discriminação por que passam ao se aperceberem de que não conseguem mais manter o ritmo e no medo de passar pelo mesmo por que passaram colegas na mesma situação. É importante ressaltar é que ambas os grupos de manifestação clínica estão relacionados entre si e não há possibilidades de real controle de sua ocorrência separadamente. É preciso diagnosticar os pilares da organização do trabalho bancário para que sejam modificados, e nesse sentido, me parece acertada a estratégia das entidades de classe que têm centrado suas lutas contra as metas abusivas e contra a violência psicológica no trabalho, sendo uma de suas expressões o assédio moral. No entanto, é preciso que os trabalhadores estejam atentos para o fato de que assim como as LER/DORT, os transtornos psíquicos são manifestações individuais resultantes de um processo de trabalho que atinge o coletivo. A avaliação individualizada cabe no tocante aos aspectos clínicos para que um programa terapêutico interdisciplinar seja definido, com diversos recursos aplicados de forma individual e/ou grupal. Mas, quando se trata de eliminar ou controlar as condições desencadeantes ou agravantes de dor musculoesquelética ou transtornos psíquicos, é preciso que o foco seja na organização do trabalho. Me- didas isoladas e restritas a cada caso dificilmente terão o alcance necessário para a conquista de uma nova forma de trabalhar, que seja promotora da saúde e não fator de desgaste físico e psíquico. Esta conversa ficaria incompleta se não fizesse alguns breves comentários sobre a atuação que o Estado deveria ter para enfrentar essa situação de sofrimento e desgaste de milhares de trabalhadores e seus familiares. Um indicador de que essa situação é preocupante é o fato da PNAD, em convênio com o Ministério da Saúde, ter incluído no seu suplemento saúde perguntas sobre a existência de diagnóstico de tendinite ou tenossinovite, doença de coluna ou costas e depressão num rol de perguntas sobre 12 doenças. No entanto, o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não tem conseguido acolher adequadamente os trabalhadores adoecidos por LER/ DORT e por manifestações psíquicas, tanto no tocante à agilidade necessária como à qualidade desse acolhimento, que privilegiem a abordagem interdisciplinar, a articulação da assistência e da vigilância à saúde e a identificação do caráter ocupacional com a devida notificação ao SINAN, conforme previsto em dispositivos legais(13, 14). A capilaridade que o SUS tem ainda não foi utilizada de forma suficiente para que haja sistemas de referência e contra-referência efetivos. Tampouco os planos de saúde e convênios privados oferecem uma abordagem adequada, sempre de forma fragmentada, desarticulada entre as diversas especialidades e recursos terapêuticos, em geral se limitando aos mais tradicionais, sem efetividade. Quanto ao acolhimento dos trabalhadores incapacitados para o trabalho e segurados do INSS, inúmeros são os casos que aos olhos da perícia médica daquele órgão estão capacitados para o trabalho e não fazem jus a qualquer benefício por incapacidade temporária ou definitiva. Não têm sido episódicas e isoladas as discrepâncias entre as avaliações de médicos assistentes e especialistas e o corpo pericial do INSS, o que tem gerado conflitos freqüentes nas agências da Previdência Social entre os segurados e os peritos, alguns com destaque na mídia. Há que se ressaltar que no caso das LER/DORT e transtornos psíquicos, após a introdução do nexo técnico epidemiológico (NTEp), em 2007(19), que considera o critério epidemiológico para a concessão de benefício acidentário, o reconhecimento de LER/DORT e de transtornos psíquicos relacionados ao trabalho se deu de maneira expressiva, o que fez com que houvesse um aumento dos benefícios acidentários. Esse importante passo para diminuir a sub-notificação, porém, não deve nos obnubilar a visão para um fato preocupante, que é a diminuição dos benefícios em geral, acidentários e previdenciários. Se de 2006 para 2010, o número de benefícios acidentários para afecções do sistema musculoesquelético passou de 19.956 para 88.270 (lembrando que em 2008 houve 117.353 benefícios acidentários e em 2009 houve 98.420), por outro lado o total de benefícios para esse mesmo grupo de doenças passou de 683.829 em 2006 para 448.028 em 2010.(20) Houve um decréscimo de aproximadamente 34,5%! A mesma tendência se repetiu para os transtornos psíquicos. Em minha opinião, a análise desse quadro deve passar pela existência da “alta programada”, como é popularmente conhecida a Cobertura Previdenciária Estimada (COPES), cujo objetivo de repassar o ônus de uma prorrogação de benefício ao segurado foi explicitado por um pesquisador do IPEA21 em 2006 e pela elaboração de diretrizes seguidas pelos peritos do INSS nas áreas de ortopedia e psiquiatria, até hoje inacessíveis à sociedade. É urgente que o acolhimento humanizado seja a tônica a ser perseguida no INSS, sob pena de se aumentar processo crônico de injustiças sociais em nosso país. Para ilustrar com um fato recente, no dia 23 de fevereiro do corrente ano, na cidade de Palhoça, Santa Catarina, uma segurada considerada incapacitada para o trabalho por médicos assistentes, esperou durante 5 meses a realização de perícia, permanecendo todo esse tempo sem salário e sem benefício. Na perícia foi considerada apta para o trabalho, o que significa que não receberá qualquer pagamento referente a esses meses. Desesperada, perdeu o controle de seu comportamento e danificou equipamentos de informática da agência previdenciária. Foi detida pela Polícia Federal e para ser liberada teve que pagar uma fiança. Será processada por ter causado danos patrimoniais à União. E à União, que submeteu uma trabalhadora doente por 5 meses à privação de qualquer provento, o que acontecerá? (22). Por fim, encerro esta conversa salientando que temos que perseguir incansavelmente a defesa do trabalhador e de sua saúde pelo Estado brasileiro. Enquanto o crescimento econômico continuar sendo prioritário em detrimento da saúde dos que trabalham, continuaremos apenas acolhendo e recolhendo os mortos e feridos desta guerra em que a maioria da sociedade perde, com os acidentes, as doenças e o sofrimento. Temos que aproveitar as datas como o dia 28 de fevereiro, Dia Internacional de Combate às LER/DORT, para tornar público e chamar a sociedade para que se cumpra a Constituição Federal, que determina o direito à saúde e ao trabalho. Referências bibliográficas * JINKINGS, N. _Trabalho e resistência na fonte misteriosa: os bancários no_ _mundo da eletrônica e do dinheiro_. Campinas: Editora Unicamp; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002; 402 p. 96 * SEGNINI, L.R.P. Reestruturação nos bancos do Brasil: desemprego, subcontratação e intensificação do trabalho. _Educação & Sociedade_, ano XX, nº 67, agosto/99. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 * SOBOLL, L.A.P. _Violência psicológica e assédio moral no trabalho bancário_. USP, 2006. Tese de doutorado • Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 2006. * CARNEIRO, R., MARCOLINO, L.C. _Sistema financeiro e desenvolvimento_. _Do_ _plano real à crise financeira_. 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Portaria nº 104, de 25 de janeiro de 2011. Disponível em http://bvsms.saude.gov. br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt0104_25_01_2011.html [6] > Acesso em 22/02/201 www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 97 | MATÉRIA A Atuação do Profissional Fisioterapeuta nas Constatações de Incapacidade Física e de Nexo de Causalidade Por Thaísio da Costa Feliz* Diversos setores e órgãos tanto da esfera pública quanto da esfera privada são dependentes de constatações de incapacidade física, para que depois de constatado o grau de acometimento seja dado continuidade aos feitos. Temos como exemplos, o pagamento de um prêmio de seguro, uma indenização trabalhista, um benefício Previdenciário (auxílio doença, auxílio acidente ou aposentadoria por invalidez) uma causa cível, etc. É obstante que o cerne da questão não é presença ou ausência de doença (art.20§ 1º da lei 8213/91), mas sim o reflexo da entidade morbidade (doença) no sistema locomotor, uma vez que sua presença da já é subentendida, pois a pessoa só irá pleitear um benefício por uma perda funcional quando acometida por algum distúrbio, sendo o objetivo único de avaliação, em diversos casos, as alterações do movimento. A atuação do profissional fisioterapeuta, nesses casos, depende puramente dos seus conhecimentos em cinesiologia, biomecânica, anatomia, fisiologia. Na prática deve-se aplicar esse conhecimento de acordo com o 98 objetivo do setor que solicita a nossa intervenção, podendo assim, ser o fisioterapeuta de suma importância em diversos setores públicos ou privados. Temos como exemplo, um indivíduo que pleiteia uma aposentadoria por invalidez na justiça, o interesse do Juizo não é saber a doença, mas sim se esta pessoa poderá ou não realizar as suas atividades laborais habituais, ou qualquer outra atividade que lhe garanta subsistência, outro caso seria uma causa trabalhista, onde é solicitada uma indenização causada por uma omissão da empresa, por dolo ou culpa, para tal é necessário saber o grau de incapacidade expressa em percentual (para que o cálculo de indenização seja proporcional a perda) e a presença ou ausência de nexo de causa/concausa (nexo é a relação entre a atividade e a doença, ou seja, quando uma atividade laborativa causou a doença ou contribuiu para o agravo temos a figura do nexo de causa ou nexo de concausa respectivamente). A legislação atual, tanto federal quanto em âmbito de conselhos (COFFITO e Crefito) normatizam e induwww.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 zem para a nossa atuação nesse seguimento, temos o Decreto 3040/99 em seus quadros 6, 7 e 8 que tratam de redução de amplitude de movimentos (onde se faz necessário a goniometria) encurtamento de seguimentos corporais e força muscular (constatação com o uso de resistência manual) respectivamente para concessão de auxílio acidente, a resolução do conselho nacional de educação (Resolução CNE/CES Nº 4, de 19 de Fevereiro de 2002) que dita no seu artigo 3º:” “Art. 3º O profissional Fisioterapeuta ou Terapeuta ocupacional, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor científico e intelectual. Detém visão ampla e global, respeitando os princípios éticos/bioéticos, e culturais do indivíduo e da coletividade. Capaz de ter como objeto de estudo o movimento humano em todas as suas formas de expressão e potencialidades, quer nas alterações patológicas, cinético-funcionais, quer nas suas repercussões psíquicas e orgânicas”. (resumo e grifo meus), a resolução COFFITO 80 trata ainda no seu capítulo I artigo 3º traz a seguinte redação: Art. 3º - Constituem atos privativos do Fisioterapeuta e do terapeuta ocupacional prescrever, ministrar e supervisionar terapias físicas, que objetive preservar, manter, desenvolver ou restaurar a integridade de órgãos e sistema e função do corpo humano.(resumo e grifo meus), dentre outros instrumentos legais existentes no nosso arcabouço jurídico. Atualmente existe uma resolução, que foi elaborada por iniciativa do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 7ª Região ,em conjunto com outros profissionais, onde tive a honra de participar efetivamente na elaboração final que está aguardando a sua publicação pelo COFFITO, e que em seu corpo vem a competência para a elaboração de constatação e quantificação de incapacidades físicas e de nexo de causalidade. Com essa resolução do Conselho Federal de Fisioterapia e terapia Ocupacional será possível pleitear a inclusão do profissional Fisioterapeuta nos concursos públicos e em órgãos públicos como INSS, TRT, Justiça estadual, Ministério do Trabalho, como já aconteceu em alguns órgãos públicos em tempos remotos, porém, agora com força legal e com diversos estudiosos na área, fazendo com que desta forma a nossa atuação, além de força legal tenha o embasamento científico a nosso favor, consubstanciando ainda mais a importância da nossa atuação. *O prof. Thaísio da Costa Feliz é graduado pela Universidade Monte Serrat (Santos) especialista em Anatomia e Histologia, métodos de ensino e pesquisa pela UEM (Maringá-PR) mestrando em Bioengenharia pela UNIVAP (São José dos Campos-SP) proprietário administrador do Centro Integrado de Ensino-Colégio Técnico José Pardine (SP), docente em Perícia e assistência Técnica Judicial e saúde do trabalhador em 11 estados do Brasil, atua como perito e assistente técnico Judicial Cível e Trabalhista, possui mais de 250 atuações efetivamente como perito nas cidades de Rosana-SP, Teodoro Sampaio-SP. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 99 | MATÉRIA Até quando teremos que aguentar??? Relato de um colega: Muito bom dia caros colegas, alunos e companheiros da ABRAFIT. Gostaria de relatar que no dia 28 de Setembro de 2010, terça-feira, fui chamado à DELEGACIA DE POLÍCIA DE RIO CLARO, ATRAVÉS DE INTIMAÇÃO (CARTA PRECATÓRIA) a prestar DECLARAÇÕES sobre Boletim de Ocorrência feito pelo CREF sobre meu nome, alegando PRÁTICA ILEGAL DE PROFISSÃO em uma empresa em que tenho uma PROFISSIONAL FISIOTERAPEUTA, PÓS-GRADUADA EM FISIOTERAPIA DO TRABALHO (REGISTRADA), atuando num PROGRAMA DE PAUSAS PARA ALONGAMENTOS. IMPORTANTE: a empresa em questão também foi visita em comunicada deste B.O. em meu nome (Razão Social de minha empresa). Sou Fisioterapeuta pioneiro na Ginástica Laboral em minha cidade (Rio Claro/SP) atuando comprovadamente há 15 anos na área e SENTI-ME muito prejudicado tanto moralmente como profissionalmente. Sou PROFESSOR em pós-graduações em Fisioterapia do Trabalho e meus alunos sabem de minha LUTA PELA PROFISSÃO: alguns de meus Projetos de “Ginástica Laboral” na verdade são uma forma de minha empresa estar presente em Empresas e dar oportunidade de trabalho a Fisioterapeutas. Graças a Deus, atualmente não dependo mais destes projetos em questões financeiras. Fui Vice-Presidente da ABRAFIT e meus colegas conhecem minha luta por aquela que chamo de VERDADEIRA SEGUNDA GERAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO BRASIL. DESTA FORMA, CONVOCO TODOS A ESCREVEREM, TELEFONAREM AO CREFITO PARA QUE ME APOIEM, POIS (vocês me conhecem), não vou deixar esta ofensa profissional passar em branco. VAMOS AGORA SIM À LUTA. Marcos Augusto Domaneschi - Crefito 3 1236-F É hora da virada! Por Renato Pelizzari Esta é a situação do momento!!! É preciso unir, juntar e somar forças, fazer algo que a nossa classe pouco se interessou, principalmente no âmbito das nossas atividades profissionais. Quando uma atividade promissora e, com diversas repercussões como a Perícia Judicial para Fisioterapeutas está em voga, é necessário acima de tudo identificar e reconhecer o mercado de trabalho, verificar quem está a mais tempo e fazer o melhor para se sobressair, saber lidar com preconceitos, interesses políticos e principalmente saber agir contra o lobby de uma classe que não pretende trabalhar em equipe, tampouco pensa em qualificar outras profissões, por medo de perder espaço no mercado de trabalho, tão vasto e carente como este. Resoluções são normas jurídicas destinadas a assuntos do interesse da sociedade, para que possa nos dar caminho e limites para nossa atuação, servindo inclusive para reconhecer a nossa atividade como Perito Judicial, como a 381 do COFFITO de 03 de Novembro de 2010: Artigo 1º - O Fisioterapeuta no âmbito da sua atuação profissional é competente para elabo- 100 rar e emitir parecer, atestado ou laudo pericial indicando o grau de capacidade ou incapacidade funcional, com vistas a apontar competências ou incompetências laborais (transitórias ou definitivas), mudanças ou adaptações nas funcionalidades (transitórias ou definitivas) e seus efeitos no desempenho laboral em razão das seguintes solicitações: a) demanda judicial; b) readaptação no ambiente de trabalho; c) afastamento do ambiente de trabalho para a eficácia do tratamento fisioterapêutico; d) instrução de pedido administrativo ou judicial de aposentadoria por invalidez (incompetência laboral definitiva); e) instrução de processos administrativos ou sindicâncias no setor público (em conformidade com a Lei 9.784/99) ou no setor privado; f) e onde mais se fizerem necessários os instrumentos referidos neste artigo. ... Artigo 4º - Laudo Pericial trata-se de documenwww.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 to contendo opinião/parecer técnico em resposta a uma consulta, decorrente de controvérsia submetida a alguma espécie de demanda. É um documento redigido de forma clara, objetiva, fundamentado e conclusivo. É o relatório da perícia realizada pelo autor do documento, ou seja, é a tradução das impressões captadas por este, em torno do fato litigioso, por meio dos conhecimentos especiais que detém em face do grau de capacidade ou incapacidade funcional, com vistas a apontar as competências ou incompetências (transitórias ou definitivas) de um indivíduo ou de uma coletividade e mudanças ou adaptações nas funcionalidades (transitórias ou definitivas) e seus efeitos no desempenho laboral. Esta resolução só veio fundamentar e esclarecer aqueles que ainda tinham dúvidas sobre a atuação do Fisioterapeuta como Perito Judicial, é de principal importância este reconhecimento não ficar apenas para os Fisioterapeutas, precisamos cada vez mais convencer e demonstrar para Juízes, Desembargadores, Advogados, entre outros profissionais com militância na área do Direito, que somos competentes e capazes, para que em um futuro breve possamos, evitar conflitos e tenhamos cada vez mais Jurisprudências ao nosso favor. Ocorre que o lobby médico, a cada dia que passa é mais forte, ora através de ato médico, ora através de jurisprudências ou mesmo através da própria tradição, impedindo e articulando nos bastidores que façamos o nosso trabalho com decência, visto que os mesmos impedem a nossa permanência durante uma perícia, mesmo quando estamos como Assistente Técnico, com a seguinte alegação, sigilo médico, oras somos profissionais da saúde, e estamos constatando a condição de saúde do reclamante (autor do processo), não estamos ali para discutir ou mesmo impedir que este profissional realize o seu trabalho com ética e sabedoria. O perito é uma pessoa apta, especializada em determinada matéria, na qual necessariamente possa atuar munido de certidão do órgão profissional em que está inscrito. É habilitado segundo regulamento legal e visto como um auxiliar da justiça. O significado da palavra perícia vem do latim “peritia”, que representa a destreza ou habilidade. As perícias no âmbito judicial, em comunhão com outras provas que compõem os processos, objetivam fornecer ao julgador subsídios para uma criteriosa decisão nas questões jurídicas. Não necessariamente o juiz é obrigado a acolher os termos contidos no laudo técnico. O assistente técnico é um crítico ao laudo do perito. Deve observar aspectos considerados ambíguos ou improcedentes frentes a perícia. Vale salientar que o perito e o assistente técnico não poderão ter qualquer vínculo passado ou presente com as partes. Isso os impossibilitaria de participarem do caso. Há uma demanda de casos de LER/DORT relacionados à Justiça do Trabalho no Brasil que não é prontamente www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 atendida em virtude de fatores que incluem o despreparo dos setores que cuidam da saúde das empresas, a falta de profissionais de saúde capacitados a avaliar os trabalhadores reclamantes de LER/DORT e estabelecer a existência de nexo causal, o desconhecimento da parte de alguns magistrados de que o fisioterapeuta é um profissional habilitado a exercer avaliações em pacientes com LER/DORT e elaborar pareceres ou laudos técnicos. O fisioterapeuta, no âmbito da sua atividade profissional, está qualificado e habilitado para prestar serviços de auditoria, consultoria e assessoria especializada, contribuindo para a promoção da harmonia e da qualidade assistencial no trabalho em equipe e a ele integrar-se, sem renunciar a sua independência ética e profissional. Considerando as atribuições próprias do fisioterapeuta e uma vez adquirido o conhecimento especifico da prática da perícia, este terá a plena capacitação para prestar serviços de perícia cinesiológica funcional à Justiça, auxiliando na investigação do nexo causal. Portanto, faz-se necessária a maior inserção desta categoria no auxílio à Justiça do trabalho. O Fisioterapeuta é profissional de confiança de muitos Juízes, especialmente da Justiça do Trabalho, sendo nomeados como Peritos Oficiais em perícias trabalhistas acabam por nomear Fisioterapeutas disponíveis, sendo que alguns são deveras competentes nessa missão, pois conhecem o tema através da prática da fisioterapia, em especial nos distúrbios osteomusculares, onde são muito requisitados e atuam com grande eficiência nessas técnicas fisioterápicas, além de dominarem, com a prática e orientação necessária, as técnicas forenses cartorárias e processuais. Tenho constatado que na prática, alguns Juízes se mostram muito satisfeitos com as atividades de alguns Peritos Fisioterapeutas, mas também tenho visto o outro lado, ou seja, a baixa eficiência de outros, concluindo sem base técnica e extrapolando seus conhecimentos e os fatos técnicos que os casos encerram, apesar de que, isto também ocorre com muito Médicos que atuam como Peritos Judiciais. Diante de todas estas informações, vamos corroborar para cada vez mais aprimorar os nossos conhecimentos, abrir novas fronteiras e acima de tudo, vamos nos unir e enfrentar as situações que surgem como barreiras quase que intransponíveis, passando pelas dificuldades com sabedoria e inteligência, porque agora é a hora da virada. Boa sorte a todos. São Paulo, 06 de Abril de 2011 Dr. Renato Vagner Pelizzari Pereira CREFITO- 3: 86.071-F [email protected] 101 | MATÉRIA Empresa no Paraná premia funcionários que cuidam da saúde Quem faz exercícios e vai ao médico regularmente pode ganhar até 600 reais a mais no salário. Depois dessa iniciativa, o lucro da empresa subiu 20%. Carolina Wolf - Piraquara, PR Em pleno horário de trabalho a enfermeira Stela Maris Wolff faz academia. O programa do Hospital Universitário da PUC, em Curitiba, libera o funcionário uma hora antes do fim do expediente, até três vezes por semana, pra fazer ginástica e ir ao nutricionista. Stela se animou e, em menos de um ano, perdeu 26 quilos. “Minha autoestima está bem lá em cima, o pessoal fica elogiando. Trabalho no setor de emergência e lá tem que fazer tudo rápido. A agilidade está bem melhor”, diz a enfermeira. Em outra empresa que importa pneus, quem se cuida ganha um dinheiro extra da diretoria. Para receber o prêmio, além de fazer exercícios e ir regularmente ao médico e ao dentista, os funcionários têm que fazer avaliação física uma vez ao mês. Eles se pesam, tiram as medidas, fazem teste de força e de peso e flexibilidade. Se o resulta- do não é bom, são encaminhados a uma consulta médica. Na consulta, Jeferson descobriu que estava com gordura no fígado. “Se não tratado, pode ser caso de transplante no fígado”, diz. Com o incentivo da empresa , emagreceu 12 quilos. Bom para o funcionário, melhor ainda para a empresa. De cada 100 trabalhadores, apenas cinco faltam ao serviço durante o ano. A média de faltas no mercado de trabalho é quatro vezes maior. O prêmio para manter a forma vai passar de 300 reais pra 600 reais por mês. A funcionária da limpeza Maria Dirce de Amarante gostou da notícia. Agora ela vai ao médico e ao dentista a cada seis meses e nunca falta à academia. “Por mais que às vezes você levante de manhã com aquela preguicinha, aí você lembra que tem uma aula e você vai perder um dinheirinho”, explica. Fisioterapeuta recebe comenda pelos feitos aos Fisioterapeutas do Trabalho O Dr. Ruy Gallart de Menezes, ex-presidente do COFFITO de várias gestões, recebeu dia 9 de novembro de 2011, A Comenda de Honra ao Mérito de Segurança e Saúde no Trabalho. O Dr. Ruy possui um extenso currículo ligado ao desenvolvimento político-histórico das profissões e seu ensino, em especial à de sua formação, Fisioterapia. Foi presidente do Crefito 2 e posteriormente do COFFITO, sucedendo a Dra. Sônia Gusman neste. À frente de um grupo de dirigentes do COFFITO, dr. Ruy ensinou para quem quis aprender os caminhos para um exercício profissional pleno e independente, longe das amarras suseranas que pautavam a Fisioterapia em geral. Deve-se também a ele o modelo da “Fisioterapia Brasileira” deste século, intervenção social relevante e motor de políticas públicas de saúde, modelo para a profissão no mundo. Ao Dr. Ruy Gallart de Menezes, nessa homenagem, 102 receba também o reconhecimento dos que lutam desinteressadamente pela saúde funcional do povo brasileiro. A Comenda de Honra ao Mérito de Segurança e Saúde no Trabalho é concedida aos profissionais com atuação destacada há mais de 30 anos na área, com o reconhecimento das mais conceituadas entidades do setor prevencionista e dos atuais Comendadores de SST. O Dr. Ruy, em sua última deliberação enquanto presidente do COFFITO, criou a Resolução 259, que reconhece a atuação de fisioterapeutas na saúde do trabalhador, chamada Fisioterapia do Trabalho. Como ex-presidente da SOBRAFIT, ex-conselheiro da ABRAFIT, parabenizo o colega por mais esta conquista, digna de homens públicos, que colocam os interesses da coletividade acima de tudo!!! Henrique Alves. Revista Brasileira de Fisioterapia do Trabalho www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 | RELATO HISTÓRICO www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 103 | MATÉRIA Sentença a favor de Fisioterapeuta Redação RBFT Trata-se de ação de indenização por danos morais promovida por Rômulo Bruno Roriz de Paiva em face de Robson Paixão de Azevedo, partes qualificadas. Dispensado o relatório, nos termos do art. 38 da Lei 9.099/95. Decido. O requerido alega preliminar de incompetência do Juizado, pois o autor pediu indenização em valor superior ao teto dos Juizados Especiais. No dispositivo do pedido feito pelo autor ele requereu indenização no importe mínimo de 40 salários mínimos. O valor de R$30.000,00 foi descrito para efeitos fiscais. Consoante o disposto no artigo 3º, inciso II, da Lei 9099/95, a opção por este procedimento importará em renúncia ao crédito excedente a este limite. Rejeito a preliminar arguida. Presentes os pressupostos processuais e condições da ação. Passo ao exame do mérito. Neste caso, o autor alega que foi contratado pelo senhor José Bispo dos Santos Filho para ser assistente do mesmo em uma perícia de ação de indenização de acidente de trabalho, todavia, no momento da perícia o requerido manifestou-se dizendo que não aceitaria o autor durante a realização dos trabalhos alegando que tratava-se de ato médico. Ainda, afirma que o réu determinou que se o autor permanecesse não realizaria a perícia. O reclamado não nega que não permitiu a presença do autor no momento da perícia, mas sustenta em seu depoimento que a perícia trata-se de ato médico e, conforme orientação do Conselho, os médicos permitem somente a presença de pessoas que entendam necessárias com intuito de garantir o sigilo das informações. No depoimento da testemunha José Bispo dos Santos filho, pessoa que contratou o autor para ser assistente na perícia, ele informa que havia uma assistente do INSS e o requerido não pediu que ela saísse, somente o autor. Restou provado que a assistente era médica e por isso foi aceita. Por fim, o depoimento das testemunhas trazidas pelo reclamado confirmam a posição dele e citam resoluções do Conselho. Cumpre salientar que é imprescindível a análise da orientação do Conselho Federal de Medicina acerca da controvérsia que embasa o pedido de indenização do autor , bem como, a legislação que trata da figura do assistente técnico. 104 Primeiramente, verifica-se que o autor foi contratado como assistente técnico em perícia médica de ação de indenização por acidente de trabalho movida por José Bispo dos Santos Filho em face do INSS. O parecer nº9/2006 do Conselho Federal de Medicina (disponível na íntegra no site da entidade) trata das perícias realizadas no âmbito dos processos administrativos perante o INSS, para concessão de benefício previdenciário, em que não são aplicáveis as regras do processo judicial (mais especificamente, o CPC), inexistindo a figura do assistente técnico das partes litigantes. Vale transcrever a orientação do Conselho: “ O exame médico-pericial é um ato médico. Como tal, por envolver a interação entre o médico e o periciando, deve o médico perito agir com plena autonomia, decidindo pela presença ou não de pessoas estranhas ao atendimento efetuado, sendo obrigatórias a preservação da intimidade do paciente e a garantia do sigilo profissional, não podendo, em nenhuma hipótese, qualquer norma, quer seja administrativa, estatutária ou regimental, violar este princípio ético fundamental.” Observa-se que a orientação não menciona norma legal e nem poderia, pois orientação do Conselho não revoga lei e nem sobrepõe- se a ela. O autor foi contratado como assistente técnico para perícia de processo de indenização por acidente de trabalho e não para perícia no âmbito administrativo do INSS. Aliás, no processo em comento este órgão era parte requerida. O art. 421, § 1º, inciso I, do Código de Processo Civl assegura às partes o direito de indicar assistentes técnicos para acompanhar a perícia, possibilitando-lhes a apresentação de parecer após a conclusão do laudo (art. 433, parágrafo único, do CPC). Na mesma linha, dispõe o art. 422 do CPC que “os assistentes técnicos são de confiança da parte”. Diante desse contexto, não se justifica a proibição de o assistente técnico indicado pela parte autora no processo 200301668142, feita pelo reclamado para acompanhar a inspeção pericial realizada por ele. Vale ressaltar que não existe vedação legal de ser a perícia acompanhada por profissional de área distinta da do perito judicial. Ainda, no caso, impõe-se considerar que o autor é fisioterapeuta, com formação na área de fisioterapia do trabalho (o que é incontroverso), ou seja, possui relação direta com a doença objeto da perícia da qual foi impedido de participar como assistente pelo requerido. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 O paciente não se opunha à presença do autor durante a perícia, aliás queria-a, pois contratou-o como seu assistente. A julgar pela postura do réu ele não aceitaria nenhuma pessoa acompanhando seus pacientes nas consultas, mas reconhece que isto é comum e aceita acompanhantes. Alíás, é costume no Brasil as pessoas irem se consultar acompanhadas de terceiros, familiares ou não. No caso em questão não havia questão sigilosa. Era perícia ortopédica. Além disto, tinha conhecimento o réu do despacho do magistrado, padrão em casos como este, facultando às partes fazerem-se acompanhar por assistentes. Tanto é que a perícia não foi considerada por este motivo e nomeado outro perito judicial. O art. 927 do Código Civil Brasileiro preconiza que: “Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Para que se configure o ato ilícito indenizável, será imprescindível que haja, segundo a ilustre professora Maria Helena Diniz: “a) Fato lesivo voluntário, causado pelo agente, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência; b) ocorrência de um dano patrimonial ou moral, sendo que pela súmula 37 do Superior Tribunal de Justiça serão cumuláveis as indenizações por dano material e moral decorrentes do mesmo fato; c) nexo de causalidade entre o dano e comportamento do agente. Ajuizando a ação, propõe o autor a provar os requisitos da responsabilidade civil, subordinando-se ao velho aforismo - onus probandi incumbit ei qui dicit, non qui negat. Dispõe o artigo 333 do Código de Processo Civil que o ônus da prova incumbe: ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito e ao réu, quanto a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Segundo Moacyr Amaral Santos, “Comentários”, Forense, “compete, em regra, a cada uma das partes fornecer a prova das alegações que fizer”. O requerido não só ofendeu o autor em sua honra e dignidade quando o impediu de acompanhar a perícia, mas também infrigiu a lei, tanto é que a perícia foi anulada, conforme documentos nos autos. Sua conduta foi extremamente discriminatória em relação aos profissionais fisioterapeutas. O autor foi humilhado perante seu cliente. Evidente que estão configurados os elementos que ensejam reparação de ato ilícito. Rui Stoco escreveu a respeito da pertinência da indenização a título de dano moral: “A composição do dano moral causado pela dor, ou o encontro do pretium dolores há de representar para a vítima uma satisfação, igualmente moral, ou seja, psicológica, e uma compensação pela perda de um bem insubstituível. Há de ter correspondência pecuniária, em valor fixo ou tarifado, a ser pago de uma só vez. O estabelecimento do quantum debeatur deve ser entregue ao prudente arbítrio do juiz, ante a falta de parâmetros, salvo aqueles estabelecidos no Código Brasileiro de Telecomunicações www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 e na Lei de Imprensa” (Aut. cit. - Responsabilidade Civil e sua Interpretação jurisprudencial - pg. 558). Aguiar Dias leciona: “Em presença dos danos extrapatrimoniais, ocorre a discriminação, quando possível a restituição das coisas ao status quo, isto é, em face da reparação natural, como nos exemplos de lesão corporal curável, ou das conseqüências exteriores da injúria ou da calúnia, etc...Mas a reparação se tem de fazer em dinheiro, avultam os pontos de contato entre a indenização e apenas, porque também esta pode empregar-se na satisfação do prejudicado, porporcionando-lhe solucium apaziguamento, e conseguindo alteração dos sentimentos e da vontade. Essa função oferece satisfação à consciência de justiça à personalidade do lesado, a indenização pode desempenhar um papel múltiplo, de pena, de satisfação e de equivalência”(Da Responsabilidade Civil, pág. 336). Ao exposto, pelas considerações retrodelineadas, julgo PROCEDENTE em parte o pedido inicial e condeno o reclamado Robson Paixão de Azevedo a pagar ao autor a quantia de R$3.500,00 (três mil e quinhentos reais) como indenização pelos danos morais a ele causados, corrigida pelo INPC e com juros legais a partir desta data. Transitada em julgado esta sentença, fica o Requerido desde já intimado a pagar o valor da condenação, no prazo de 15 dias, sob pena de acréscimo de multa de 10%, nos termos do artigo 475, J, do CPC. Sem custas processuais e sem honorários advocatícios, nos termos da Lei 9.099/95, em caso de não interposição de recurso. INTIMEM-SE. Goiânia, 15 de abril de 2.011. ROBERTA NASSER LEONE JUÍZA DE DIREITO 105 | ENTREVISTA Entrevista Dr. Ricardo Wallace das Chagas Lucas Por Henrique Alves Fisioterapeuta formado pela Universidade Castelo Branco, do Estado do Rio de Janeiro, Especialista em Treinamento Desportivo pela UFPR e Ergonomia pela Universidade Federal do Estado de Santa Catarina, com mestrado em Ciência do Movimento Humano pela Universidade do Estado de Santa Catarina, autor do livro Fisioterapia Forense (primeira Edição Esgotada), Fisioterapia Bariátrica, além de diversos outros em diversas áreas, criador do Método STS em Musculação Terapêutica, o Dr Ricardo Wallace das Chagas Lucas foi entrevistado pela RBFT no ano de 2010, quando de sua passagem por Vitória-ES, para ministrar treinamento de seu método para uma rede de academias de pilates da cidade. Presidente da ABFF, Wallace comenta que a mesma deveria ter sido criada em 2000, quando atendia a juízes da região de Curitiba-PR, com a mente mais evoluída, percebendo a necessidade de fisioterapeutas em campos jurídicos que envolviam não apenas ações trabalhistas, mas que se pleiteava algo em função de uma lesão ou incapacidade adquirida, pela possibilidade de quantificação e qualificação da capacidade residual deste indivíduo. Onde houver necessidade de um laudo fisioterapêutico para fins de utilização em um sistema justiça cível, criminal ou mesmo 106 eleitoral, área onde também já atuou, haverá a presença de um fisioterapeuta forense, que poderia identificar esta incapacidade. A Associação tem o aspecto de orientadora, esclarecedora e de suporte, além de apoio jurídico a quem deseje trabalhar nessa área de pareceres, exames, laudos periciais com ferramentas mais eficazes. No início houve dúvidas, pela confusão em se pensar que as perícias seriam apenas na área trabalhista, o que não é verdade e pode ser visto, por exemplo, em necessidades de laudo para fins de aquisição de um automóvel adaptado com isenção de IPI, caracterização de incapacidade de pessoas que sofreram mastectomia, recebimento do seguro DPVAT, acidentes em geral, erros de conduta com lesão de pacientes, esportes, processos contra planos de saúde, tratamentos mal sucedidos, etc. A confusão pode ter acontecido devido à grande quantidade de litígios trabalhistas, o que induzia ao pensamento errôneo, diz Wallace. A ABFF pretende realizar seu evento no segundo semestre de 2011. Já existe a Pós-Graduação em Fisioterapia Forense. Mais informações no site da ABFF. (fisioterapiaforense.com.br). www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 03 - Maio de 2011 107 9 a 12 de outubro Vem aí Centro Sul FISIOTERAPIA: DA ESPECIALIDADE À INTEGRALIDADE XIX Congresso Brasileiro de FISIOTERAPIA AFB 2011 FLORIANÓPOLIS ACESSE O SITE E CONFIRA O PRAZO PARA ENVIO DE TEMAS LIVRES. www.afbfloripa2011.com.br Categorias Até 01/08/11 Até 30/09/11 No evento Associados AFB R$ 330,00 R$ 365,00 R$ 400,00 Não associados R$ 470,00 R$ 505,00 R$ 540,00 Estudante de Graduação R$ 275,00 R$ 305,00 R$ 340,00 Outros profissionais R$ 490,00 R$ 520,00 R$ 560,00 Curso (inscrito) R$ 120,00 R$ 150,00 R$ 180,00 Só curso (não inscrito) R$ 450,00 R$ 500,00 R$ 550,00 Realização Apoio A cada grupo de 10 inscrições pagas a 11ª será gratuita. Cerimônia de Abertura ! BALLET BOLSHOI Secretaria Executiva Tel.: (21) 2286-2846 [email protected] www.jz.com.br Apoio Conheça nossos outros apoiadores no site do evento. CREFITO10