CONTEXTO HISTÓRICO VERSUS RESPONSABILIDADE SOCIAL: A CONTRIBUIÇÃO DA UNIGRAN PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Elizabete Velter Borges. Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN. [email protected]. Contexto Histórico - Educação de Jovens e Adultos – Responsabilidade Social A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino que visa a educação ao longo da vida, com as pessoas que não tiveram acesso a escolarização em idade própria, valorizando o contexto no qual o educando está inserido. Dessa forma, para se compreender esta modalidade é necessário conhecer o contexto histórico não somente da educação de jovens e adultos, mas principalmente da educação como um todo. Para que, a partir dessa contextualização se possa estimar todo o trabalho de responsabilidade social que vem sendo desenvolvido pelo Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN, visando assim contribuir com a Educação de Jovens e Adultos. Partindo deste pressuposto, esta pesquisa pretende dar respaldo as seguintes inquietações: qual o contexto histórico da educação, principalmente em relação à Educação de Jovens e Adultos – EJA? Quando foi criado o Programa da EJA UNIGRAN e como este vem sendo desenvolvido ao longo destes anos? Quais objetivos foram alcançados? Que dificuldades foram encontradas? Qual a porcentagem de alunos que continuam no projeto de um ano para o outro? Os alunos estão procurando o CEEJA para dar continuidade aos seus estudos? Quais deles deram continuidade aos seus estudos no Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos – CEEJA? Sendo assim, objetivou-se descrever o contexto histórico da educação, principalmente, em relação à Educação de Jovens e Adultos num âmbito geral, enfocando a contribuição da UNIGRAN para com esta modalidade de ensino, realizando o levantamento estatístico para análise e compreensão no desenvolvimento deste Projeto, procurando apontar caminhos para melhor adequação da pesquisa a fim de que os educandos possam ser incentivados a dar continuidade aos seus estudos visando uma qualidade de vida melhor e construção da cidadania. A metodologia da pesquisa utilizada possui características de um tipo de estudo documental (fontes primárias); estudos bibliográficos (fontes secundárias) como também de 1 pesquisa de campo por meio de quatro visitas realizadas no Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos – CEEJA para pesquisar sobre a continuidade ou não dos alunos que participaram do Projeto EJA UNIGRAN neste local. Assim, a metodologia seguiu estes parâmetros devido à singularidade acerca do contexto histórico da Educação de Jovens e Adultos - EJA e do Programa EJA da UNIGRAN. Segundo Lakatos (2006, p. 178-179), a pesquisa documental refere-se a fonte de coleta de dados restritamente ligada a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias, que podem ser feitas no momento em que o fato ocorre ou depois (como é o caso desta pesquisa). Assim, os registros ou a documentação se refere a livros e artigos sobre o contexto histórico da Educação como também da Educação de Jovens e Adultos, além de arquivos particulares, como relatórios, da Instituição de Ensino Superior - UNIGRAN. Também teve como intuito fazer um levantamento estatístico e documental sobre o quantitativo de pessoas que participaram do Projeto e se os alunos estão dando continuidade de seus estudos no CEEJA. O tratamento dos dados foi através do método estatístico que tem como finalidade fornecer uma descrição quantitativa do objeto de pesquisa, definindo e delimitando os diversos aspectos possíveis de pesquisa, tabulação e registro, ressaltando assim, sua importância, variação, ou qualquer outro atributo quantificável que possa contribuir para o melhor entendimento e análise da situação pesquisada. Desta forma, o estudo pretendeu não somente demonstrar o contexto histórico da Educação de Jovens e Adultos, mas também evidenciar como a UNIGRAN colabora com esta modalidade de ensino, de forma responsável, envolvendo assim, pesquisa, ensino e extensão como Instituição de Ensino Superior que vem contribuindo para diminuir com o analfabetismo em nosso município e propiciando melhor satisfação pessoal destas pessoas por meio da aquisição do conhecimento. Sendo assim, o modo como é organizado a sobrevivência humana, o comportamento e o pensamento, tem muitas ligações com a história de vida do homem do passado. Portanto, quando se estuda o passado histórico, não o faz apenas para conhecê-lo, mas também para descobrir os caminhos que foram trilhados pelos homens na construção do desenvolvimento da humanidade e a cultura na qual está inserida. Segundo Dantas (1985), o homem realizava dura luta pela sobrevivência na Terra, utilizando a Natureza como fonte de trabalho ou produção para adquirir os produtos que 2 necessitava para sobreviver. É por meio desta, que realizava a caça de animais e a coleta de produtos vegetais; utilizava o solo para produção agrícola; extraía mineral da Natureza e com eles fabricava seus instrumentos de trabalho; utilizava a água dos rios, lagos e mares, para a pesca, transporte, irrigação de terras e produção de eletricidade; enfim, é assim que a Natureza constituiu-se para o homem, como fonte de recursos naturais e de vida. O desenvolvimento cultural do homem, desde os povos primitivos, está ligado à produção de sua própria existência, pois diante de tantas dificuldades que encontrava naquela época para sobreviver, e não encontrando a caça, pintava nas cavernas os animais que desejava caçar, e está arte ficou conhecida como arte rupestre. Sabe-se que o homem se distingue fundamentalmente do animal pelo trabalho, pois, o trabalho é a ação transformadora, dirigida por finalidade consciente, a partir do qual ele produz sua própria existência, tendo em vista suas necessidades, onde esta ação transformadora não é solitária, mas social, de maneira que os homens se relacionam para produzirem a própria existência. Conforme afirma Aranha (1989, p. 12), “[...] o homem reconstrói a história a partir do seu presente, e cada novo fato o faz reinterpretar a experiência vivida”. A autora argumenta também que o surgimento da escrita foi um fator importante na evolução do homem, enquanto ser social, pois desde 3500 a.C. os egípcios já faziam inscrições em hieróglifos (termo que literalmente significa “escrita sagrada”). Essa escrita denomina-se de pictográfica, ou seja, representa figuras e não sons como a escrita fonética. Além das inscrições nas pedras de túmulos e monumentos, os egípcios usavam a madeira e o papiro para o registro das atas administrativas, da justiça, bem como do comércio, com importantes anotações contábeis. Mais tarde, por volta de 1500 a.C. os fenícios inventaram o alfabeto, onde são criados 22 sinais que representam sons diferentes e, reunidos, permitem as mais diferentes combinações, o que torna mais prático o uso e a aprendizagem da escrita. Com a invenção do alfabeto os negociantes fenícios facilitaram os registros e leituras às transações comerciais, se destacando como bons navegadores e excelentes comerciantes. Assim, o fenômeno educacional está inserido dentro de um contexto social, econômico, político e histórico onde quem tem o poder e/ou domínio é a classe dominante e, mesmo que a escola tente planejar e seguir seus próprios princípios educativos, desarticulados dos objetivos e finalidades impostos por esta sociedade dominante, não conseguirá se manter em funcionamento por muito tempo, pois quem está no poder tem dificuldade em aceitar ser contrariado muito menos, questionado ou que as pessoas começam a refletir sobre a situação 3 atual. Então, para não perder o poder e nem para ser “fechada” a escola ou o fenômeno educacional necessita expor que não é neutro e nem apolítico. Apolítico é dizer que não se envolve ou não tem interesse em política. Mas a educação, por si só, já é um ato político, onde pessoas (comunidade escolar: professores e alunos) se reúnem para dialogar, refletir, socializar conhecimento, aprender, ensinar, dentre outras funções, buscando assim, uma transformação cotidiana por meio de uma sociedade mais justa, igualitária e humana. Conforme argumenta Gadotti: “Pela educação, queremos mudar o mundo, a começar pela sala de aula, pois as grandes transformações não se dão apenas como resultantes dos grandes gestos, mas de iniciativas cotidianas, simples e persistentes”. (GADOTTI, 2001, p. 65). Assim, percebe-se a importância do educador como um mediador do conhecimento, aquele que faz parte também “com” o educando do processo de ensino e aprendizagem. Boa parte das reflexões sobre a função social da escola no Brasil foi canalizada em torno do debate acerca das tendências pedagógicas, porque a escola tinha o papel de apenas cumprir uma clássica função da transmissão da cultura e do saber sistematizado, preparar o intelectual e moral do aluno para assumir sua posição na sociedade. Tendo como base à leitura do texto “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre (1993), escritor pernambucano, morador de Apipucos, no Recife, descendente de senhores de engenho e conhecedor dos casarões, pode-se destacar as características presentes naquela época, onde os senhores da Casa Grande tinham o poder, condições sociais, políticas e econômicas favoráveis, com grandes luxos, os homens não trabalhavam, mas somente executavam ordens aos negros escravos. As mulheres eram prendadas com os afazeres pequenos de bordados, tricô e outros, sua fecundidade era somente para gerar o herdeiro do poder. Os filhos dos senhores da Casa Grande tinham oportunidades de estudos como sendo privilegiados, e também podiam estudar nas cidades grandes para serem “doutores” formados. Ao passo que, para os negros escravos ficavam as mãos-de-obra pesadas nos engenhos. As escravas também precisavam executar os serviços domésticos nas Casas Grandes para as mulheres dos senhores, como sendo reprodutoras para o aumento do rebanho humano da senzala. Seus filhos aprendiam mediante convivência entre os negros da senzala, principalmente a trabalhar desde cedo. A cultura afro-brasileira do negro era forte e marcante; sua linguagem, seu modo de vida, seu canto, música e dança tornavam a Casa-Grande mais alegre, e na religião conviviam a cultura do senhor e a do negro. Hoje, essas características estão presentes na cultura brasileira, de maneira que o afro-descendente ainda mantém sua cultura, seus costumes, dança e música afro-brasileira, enquanto que os “senhores da casa 4 grandes” se mantêm numa mistura de culturas, aproveitando-se também da mão-de-obra “ainda escrava” e barata dos negros e/ou menos favorecidos. Era necessário o conhecimento da mão-de-obra escrava (na agricultura e nos engenhos), benéfico para os senhores feudais. A escola neste contexto era de interesse dos senhores da casa grande, onde seus filhos tinham maiores condições financeiras, privilégios e oportunidades de estudos, e se encaminhavam para a Europa a fim de completar os estudos, principalmente na Universidade de Coimbra, e com isto deveriam voltar letrados. Os ensinamentos referentes à educação elementar eram ministrados pelos padres jesuítas, para toda população índia e branca (salvo as mulheres). Os ensinamentos dos jesuítas tinham como intenção “salvar almas”, mas para que todos pudessem ler o evangelho precisavam aprender o básico da leitura e da escrita. A educação média e a educação superior sacerdotal eram ministradas somente para os homens da classe dominante. A educação no texto “Casa Grande e Senzala” retrata os ensinamentos transmitidos a todos: brancos e índios, pela Companhia de Jesus. Os primeiros educadores foram os padres jesuítas. A partir do momento em que chegaram ao Brasil (em 1549, com o governador Tomé de Sousa), fundaram numerosas escolas elementares, onde ensinavam tanto brancos como índios, a leitura, escrita, aritmética e música. Como praticamente não havia livros, os mestres copiavam as lições para seus alunos. Além das escolas elementares (correspondente ao atual nível primário), os jesuítas fundaram vários colégios no Brasil. Todavia, tais instituições correspondiam apenas ao nível secundário, não chegando a proporcionar ao aluno o Ensino Superior. Como o governo portugûes jamais instalou uma universidade no Brasil, os estudantes que almejavam formar-se em Medicina ou Direito, por exemplo, precisavam viajar para a Europa. Em 1759, o marquês de Pombal, primeiro ministro do rei D. José I, decidiu expulsar os jesuítas de Portugal e de todas as suas colônias, pois estes criticavam a Companhia de Jesus como um obstáculo à tarefa de modernização burguesa de Portugal e seus domínios. Essa medida provocou a imediata decadência do ensino no Brasil, pois os jesuítas eram praticamente os únicos professores existentes naquela época. A educação ficou praticamente estagnada num período de 1759 a 1808. Para remediar este fato, as autoridades coloniais começaram a criar novas escolas, entregando também as escolas antigas para outros professores. Surgindo então, as escolas tradicionais, marcada pela ausência de recursos materiais e, principalmente, pela escassez de professores que pudessem assumir as atividades 5 de ensino e que possibilitava um expressivo impulso no sentido de expandir os serviços educacionais. Porém, partindo dessas limitações, o movimento „escolanovismo‟ criou um ambiente educacional muito mais rico, contribuindo para o incentivo à pesquisa educacional, a diversificação dos recursos didáticos, bem como a massificação da discussão das técnicas de ensino, a difusão da literatura pedagógica, dentre outras melhorias no sistema educacional. A educação escolar, nesta época, estava inserida num contexto social, político, econômico e cultural pós-guerra, onde quem dominava grande parte da sociedade ainda eram os senhores de engenho (mão-de-obra escrava / mão-de-obra barata), justificando-se a existência de uma educação tradicionalista onde o saber estava centralizado somente na elite, e grande parte dos brasileiros e escravos estrangeiros, que tinham acesso à educação tinham o professor como sendo o “dono do saber”. Suas informações teriam que ser acatadas sem indagações, pois não podia haver nenhum tipo de diálogo entre professor e aluno. Os moldes didáticos propostos por Comenius (ensinar tudo a todos) citado por Almeida (2006) foram revolucionários onde direcionava a educação para um número maior de crianças na escola, tendo ainda um único professor para ensinar todos os conteúdos. Mas a rigidez das salas de aulas e sua organização sistemática voltada apenas para uma concepção tradicional da educação fizeram com que surgissem novas idéias pedagógicas, criadas em 1924 pela Associação Brasileira de Educação, onde com o manifesto dos pioneiros, Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira e Lourenço Filho entre outros, defendiam: a democracia, liberalismo e qualidade. E, criticavam também a educação tradicional, se opondo ao humanismo religioso e científico e a substituição do modelo tradicional. O “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, redigido por Fernando de Azevedo e assinado por vinte e seis intelectuais em 1932, consolidava a visão de um segmento da elite intelectual que, embora com diferentes posições ideológicas, vislumbra a possibilidade de interferir na organização da sociedade brasileira do ponto de vista da educação. Ao ser lançado, em meio ao processo de reordenação política resultante da Revolução de 1930, o documento se tornou o marco inaugural do projeto de renovação educacional do país, pois além de constatar a desorganização do aparelho escolar, propunha que o Estado organizasse um plano geral de educação e também defendia a existência de uma escola única, pública, laica, obrigatória e gratuita. A escola integral e única proposta pelo Manifesto eram defendidas em oposição à escola existente, chamada de tradicional. 6 A educação nova assume uma característica mais humana, como função social, preparando-se para formar a hierarquia democrática pela hierarquia das capacidades, que tem por objetivo o desenvolvimento natural e integral do ser humano em cada uma das etapas de seu crescimento. Desta forma, os educadores se propuseram a um programa de política educacional amplo e integrador da organização do ensino e dos sistemas escolares. Seus princípios eram voltados para um novo homem e uma nova escola, baseados filosoficamente no humanismo moderno, centrado no sujeito que aprende, valorizando suas características individuais de cada aluno, onde o professor é um auxiliar essencial do desenvolvimento livre e espontâneo da criança. A sociedade ainda estava sofrendo as conseqüências da Segunda Guerra Mundial e neste momento histórico é imposto um regime ditatorial por Getúlio Vargas, então os debates educacionais que persistiram até 1945, são paralisados e os educadores se condicionam as diferentes posições políticas. Com o processo de redemocratização do Estado brasileiro, após 1945, a educação de adultos passou a ganhar vantagens dentro da preocupação geral com a universalização da educação elementar, pois foi nesse período que conseguiu definir sua identidade como forma de campanha nacional de massa. Esta Campanha de Educação de Adultos lançada em 1947 alimentou a reflexão e o debate em torno do analfabetismo no Brasil. Nesta ocasião, o analfabetismo era visto como causa e não efeito da situação econômica, social e cultural do país e, essa concepção validava a visão do adulto analfabeto como incapaz e marginal, sendo identificado psicológica e socialmente como criança. Várias críticas à Campanha de Educação de Adultos, começaram a serem feitas no final da década de 1950, quanto às deficiências administrativas e financeiras referente a orientação pedagógica desta campanha. Criticava a metodologia inadequada que era aplicada a população adulta, como o aprendizado leviano adquirido no curto período de alfabetização. O pensamento pedagógico de Paulo Freire, assim como suas propostas para a alfabetização de adultos inspiraram os principais programas de alfabetização e educação popular que se realizaram no país no início dos anos 1960. Esses programas foram empreendidos por intelectuais, estudantes e católicos engajados numa ação política junto aos grupos populares. Em janeiro de 1964, foi aprovado o Plano Nacional de Alfabetização, que previa a disseminação por todo Brasil de programas de alfabetização orientados pela proposta de Paulo Freire. 7 Sendo que um dos pressupostos de seu método, é a idéia de que ninguém educa ninguém e ninguém se educa sozinho. A educação deve ser um ato coletivo, solidário, um ato de amor; não pode ser algo imposto, porque educar é uma interação entre pessoas: professor e aluno. Partindo de uma reflexão que o homem começa a fazer sobre sua própria capacidade de refletir, sua posição na sociedade, seu trabalho, seu poder de transformar o mundo. O método de alfabetização sugerido por Freire (1987), faz parte de um círculo de cultura, por meio da prática do diálogo, onde o educador imagina um dia poder existir no círculo do mundo, entre todos os homens, surgindo a ideia de conscientização, que é a base nuclear para ele, pois o homem que se conscientiza, é aquele que aprende a pensar a partir da prática vivenciada. Mas com o golpe militar de 1964, os programas de alfabetização e educação popular que se haviam expandido no período entre 1961 e 1964, foram considerados como uma grave ameaça para a sociedade e acabaram sendo reprimidos. O governo passou então a permitir somente a realização de programas de alfabetização de adultos assistencialistas e conservadores, até que em 1967, ele mesmo assumiu o controle dessa atividade lançando o Mobral – Movimento Brasileiro de Alfabetização. Este movimento era a resposta do regime militar para grave situação do analfabetismo no país, constituindo-se como organização autônoma em relação ao Ministério da Educação. Em 1969, foram criadas grandes campanhas em benefício à alfabetização, em que foram instaladas as Comissões Municipais, que se responsabilizavam pela execução das atividades, mas a orientação e supervisão pedagógica ainda eram centralizadas. Durante a década de 1970, o Mobral expandiu-se por todo o território nacional, diversificando sua atuação. Sendo que, paralelamente a este movimento, grupos dedicados à educação popular continuaram a realizar experiências pequenas e isoladas de alfabetização de adultos com propostas mais críticas, desenvolvendo os métodos de Paulo Freire. Já em 1980, essas pequenas experiências foram se ampliando, construindo canais de troca, reflexão e articulação. Desacreditados nos meios políticos e educacionais, o Mobral foi extinto em 1985 e em seu lugar foi criado a Fundação Educar, passando a apoiar diretamente as iniciativas do governo, entidades civis e empresas conveniadas, referente às questões financeiras e tecnológicas. Nesse período de reconstrução democrática, muitas experiências de alfabetização obtiveram consistência, desenvolvendo os pressupostos de alfabetização conscientizadora criado por Paulo Freire. Em 1990, a Fundação Educar foi extinta, e o governo federal foi a principal instância de apoio e articulação das iniciativas de educação de jovens e adultos. A educação de jovens e 8 adultos se encontra na década de 1990, reclamando a consolidação de reformulações pedagógicas em todo o processo de ensino. Esta situação ressalta o grande desafio pedagógico que este segmento social (educação de jovens e adultos) vem sofrendo por meio das esferas sócio-econômica e educacional, é de garantir o acesso dos educandos numa cultura letrada, possibilitando também uma participação mais ativa no mundo do trabalho, da política e da cultura. Conforme Ribeiro (2002), a Educação de Jovens e Adultos atualmente, vem ao encontro a cumprir com o objetivo de suprir uma lacuna que foi deixada em aberto, a fim de proporcionar melhores condições de vida, como também a inserção desse educando num mundo letrado, que inconscientemente e/ou conscientemente acaba sendo excluído da sociedade por ser leigo no mundo letrado. Em 1990, o Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN, como Instituição de Ensino Superior conceituada na região de Dourados/MS, resolve implantar o Projeto de Extensão Universitária com o título “Educação de Jovens e Adultos”, tendo a finalidade de contribuir com a alfabetização de pessoas jovens e adultas que não tiveram acesso a escolarização em idade própria. O projeto iniciou com duas turmas e as aulas eram na própria Instituição de Ensino, e os próprios professores dos Cursos de Licenciatura eram os professores e os estagiários destes cursos os auxiliares. Devido a parcerias realizadas inclusive com a Prefeitura Municipal de Dourados, como Associações, Igrejas, Empresas, dentre outros locais, o Projeto foi se expandido por vários pólos na própria cidade. E, hoje conta com 16 turmas de alfabetização em vários bairros de Dourados/MS, sobretudo, em bairros periféricos. O projeto de extensão de “Educação de Jovens e Adultos” é o mais antigo da UNIGRAN, pois desde 1990 está funcionando consecutivamente, com a perspectiva de contribuir para a construção da cidadania como também para a valorização pessoal e profissional das pessoas que participam do projeto. Assim, o Programa de Educação de Jovens e Adultos do Centro Universitário da Grande Dourados - UNIGRAN foi implantado em 1990 e inicialmente, teve como coordenadora, a diretora das Faculdades Integradas de Dourados, professora Rosa Maria D‟Amato De Déa, atual reitora da UNIGRAN. Iniciou o primeiro ano com uma turma na própria instituição (UNIGRAN); logo depois, havia quatro turmas, onde iniciou o trabalho em parceria com outras instituições, pois três destas turmas já realizavam aulas fora da UNIGRAN, ou seja, nas instituições parceiras, chegando a onze turmas, neste primeiro ano. 9 Atuava no projeto um grupo de professoras e acadêmicas dos cursos de licenciaturas oferecidos pela UNIGRAN. As aulas aconteciam aos sábados, das 13 às 17h. As aulas de alfabetização, ou seja, o processo de ensino e aprendizagem passou a ser realizado após o ano de 1991, pelas próprias acadêmicas dos cursos de Licenciaturas da Faculdade de Educação, que objetivam desenvolver um trabalho de responsabilidade social como também a realização do Estágio Supervisionado por hora aula de atividades complementares. Em 2004, esta iniciativa foi ampliada de Projeto para Programa, englobando o próprio Projeto de Extensão, que envolve a comunidade num compromisso de responsabilidade social por parte da Instituição de Ensino Superior. O Projeto de Pesquisa, aprovado pela FUNDECT, coordenado pela atual Pró-reitora de Ensino e Extensão Universitária, profª Drª Terezinha Bazé de Lima, intitulado Educação de Jovens e Adultos: Processo de Letramento e Formação Docente, que tem como meta principal, trazer contribuições teórico-práticas para a formação do(a) professor(a) da EJA/UNIGRAN, como também propor indicativos para construção de um proposta pedagógica específica para a Educação de Jovens e Adultos. E o Projeto de Ensino, que se refere às aulas ministradas nos pólos, ou seja, nas Instituições Parceiras. Assim, durante esses dezesseis anos de existência do Programa EJA/UNIGRAN procurou propiciar ao cidadão da região de Dourados uma melhor qualidade de vida como também, a construção da cidadania por meio da elevação de seus estudos e conhecimentos. Segundo pesquisas atuais, mostram que são necessários mais de quatro anos de escolarização bem-sucedida para que um cidadão seja considerado plenamente alfabetizado, na sociedade contemporânea. Isso quer dizer que aproximadamente, metade da população jovem e adulta brasileira, encontra-se na categoria de analfabeto funcional. O perfil do estudante da EJA vem se modificando; começou a identificar uma gradual substituição do analfabeto absoluto, por aquele que se chama de analfabeto funcional, tendo em vista que lê, escreve e faz cálculos precariamente. De fato, na metade dos anos de 1990, pode-se constatar que aproximadamente, 15% de jovens e adultos são analfabetos absolutos, ao passo que, em 1996, quase um terço da população com mais de 14 anos não tinha concluído os anos iniciais do ensino fundamental e mais, aqueles que não concluíram o ensino fundamental, representavam mais de dois terços da população nessa faixa etária. Esses dados demonstram que o grande desafio da Educação de Jovens e Adultos na atualidade, não se concentra somente na população que jamais foi à escola, mas naquela que 10 freqüentou e não obteve aprendizagens suficientes para uma participação plena da vida econômica, política e cultural do país para continuar aprendendo ao longo da vida. A operacionalização do programa vem contando com a atuação do grupo de 15 acadêmicos(as)/monitores(as) da UNIGRAN ligados aos Cursos de Formação de Professores (Licenciaturas, especialmente do Curso de Pedagogia) que vêm alfabetizando e oferecendo aos jovens e adultos a oportunidade de ter contato com o conhecimento formal, levando em conta o conhecimento prévio adquirido por meio das experiências de vida destes educandos. Como a procura de acadêmicos(as) interessados(as) em participar do programa vem crescendo significativamente, foi instituído, a partir de 2005, a função de monitor(a) auxiliar, que participa de todas as atividades com o(a) monitor(a) regente, o que o(a) qualifica na prática, para a continuidade do trabalho desenvolvido, com a saída do(a) monitor(a) regente, no momento da conclusão de seu curso, por exemplo. No ano de 2006, haviam monitores auxiliares nas 15 turmas, algumas, inclusive, com mais de um acadêmico(a). Em 2006, foi avaliado que os(as) acadêmicos(as) que atuam no Projeto precisam estar lendo e estudando sobre a Educação de Jovens e Adultos – EJA continuamente. Por esse motivo, foi decidido vincular as bolsas de extensão universitária também ao trabalho de iniciação científica, onde todos(as) os(as) monitores(as) precisam comprometer-se em associar seu Trabalho de Conclusão de Curso da Graduação à pesquisa na área de EJA. Nesse ano, a pesquisa teve como finalidade maior, fazer o levantamento e análise de projetos e/ou ações que discutam teoria e prática da Educação de Jovens e Adultos, com vistas à organização e elaboração de material didático com orientações metodológicas para os(as) professores(as) que atuam junto às classes de Educação de Jovens e Adultos. A UNIGRAN, por meio de seu Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA), ao longo desses dezesseis anos de efetivo exercício já atendeu mais de dois mil, quatrocentos e sessenta jovens e adultos, sendo que mais de mil e quatrocentos e quarenta e dois provavelmente foram alfabetizados, conforme demonstra o quadro abaixo: QUADRO I – UNIGRAN contribuindo com a EJA no município de Dourados/MS. ANOS MATRICULADOS ALFABETIZADOS DESISTENTES OU NÃO ALFABETIZADOS 101 55,8% 1990 181 80 44,2% 1991 154 79 51,2% 75 48,8% 1992 205 148 72,2% 57 27,8% 1993 140 74 52,9% 66 47,1% 1994 91 40 44,0% 51 56% 11 1995 97 49 50,5% 48 49,5% 1996 76 53 69,7% 23 30,3% 1997 74 36 48,6% 38 51,4% 1998 86 45 52,3% 41 47,7% 1999 87 46 52,8% 41 47,1% 2000 85 50 58,8% 35 41,2% 2001 72 42 58,3% 30 41,7% 2002 97 55 56,7% 42 43,3% 2003 109 62 67,6% 47 51,2% 2004 293 191 65,2% 102 34,8% 2005 270 152 56,3% 118 43,7% 2006 343 240 70,0% 103 30,0% Total Geral 2460 1442 58,6% 1018 41,4% Fonte: Relatório do projeto da EJA/UNIGRAN Com relação ao quadro acima, pode-se constatar que não foi possível eliminar o problema do analfabetismo no município de Dourados/MS, pois na Educação como um todo, principalmente em relação à Educação de Jovens e Adultos há muita desistência e evasão nas turmas de alfabetização, mas a UNIGRAN tem procurado sistematizar linhas de atuação efetiva e diversificada para o seu atendimento, o que permite constatar sua contribuição para o equacionamento do problema na comunidade na qual está inserida. De acordo com Freire apud Gadotti (2001), o grande número de analfabetismo, com faixa etária elevada pode ser explicado por vários problemas, tais como: a concepção pedagógica e problemas metodológicos detectados em sala de alfabetização. Assim, a EJA está no contexto social e político em busca de melhorias para a qualidade de vida dos educandos, visando à inserção de milhares de pessoas numa sociedade de direitos, onde de um lado, busca-se a compreensão e superação das discriminações de classe, gênero, raça e como também de idade, resultado de um modelo econômico, social e político. Mas, por outro lado, em uma sociedade guiada pelo sistema capitalista, observa-se que a exigência da EJA está abrangendo devido às formas de organização do mercado de trabalhos que estão presentes nas rotinas de sobrevivências dessa população. Dentro desse contexto, começamos a constatar que muitos alunos(as) do Programa de Educação de Jovens e Adultos da UNIGRAN vinham ultrapassando o processo da alfabetização, dando continuidade à aprendizagem dos conteúdos essenciais/básicos, referentes às séries iniciais do Ensino Fundamental. Nesse sentido, em 2004, a UNIGRAN efetuou parceria com o Centro de Educação de Jovens e Adultos de Dourados (CEJAD), hoje 12 Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos de Dourados (CEEJA – Dourados), instituição que tem como suporte a Educação de Jovens e Adultos, com autonomia para certificar os alunos na conclusão de seus estudos. Os(as) alunos(as), que conseguem chegar a esta etapa, são avaliados por uma prova (avaliação diagnóstica) dividida em áreas de conhecimentos específicos, como Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ciências e Artes. Mediante um resultado satisfatório, o CEEJA reconhece o trabalho desenvolvido, matriculando os alunos do projeto EJA/UNIGRAN na 5ª Série do Ensino Fundamental, e assim, os mesmos podem continuar seu estudos no ano seguinte. Conforme a introdução deste artigo, não foi possível responder a inquietação referente ao número de educandos que dão continuidade aos seus estudos no CEEJA de Dourados/MS, pois segundo a Diretora e a Coordenadora Pedagógica deste Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos, há muita procura por parte dos alunos do Projeto EJA/UNIGRAN para se matricularem nesta Instituição com o intuito de dar continuidade aos seus estudos, mas devido à distância de suas casas até este local, acabam preferindo fazer uma avaliação diagnóstica na Escola próximo a suas residências, deixando de frequentar o CEEJA. Porém, já houve alunos que se matricularam neste Centro, dando continuidade aos estudos, mas não foi possível identificar quem são estes alunos, uma vez que o CEEJA não possui um controle ou uma pasta específica dos alunos matriculados do Projeto da UNIGRAN. Assim, a continuidade do trabalho que vem sendo desenvolvido ao longo desses anos pela UNIGRAN é de fundamental importância para a sociedade douradense, porque está empenhada em garantir a concretização do atendimento às necessidades de jovens e adultos com um universo de experiências tão diversificado e, ao mesmo tempo, com histórias de negação de direitos tão semelhantes. É preciso, enquanto instituição de Ensino Superior, comprometida ideologicamente com o exercício de superação do olhar em relação aos alunos da EJA, no sentido de não enxergar apenas sua trajetória de fracasso escolar, mas com uma visão comprometida com um projeto de inclusão do povo, como sujeito de direitos. Trata-se de reconhecer que na sua trajetória humana de negatividades e positividades, esse aluno, cidadão brasileiro, que retorna à escola com um acúmulo de formação e aprendizagens. Portanto, a Educação de Jovens e Adultos deve ser uma educação multicultural, uma educação que desenvolva o conhecimento e a conexão na heterogeneidade cultural. Como afirma Gadotti (2001), precisa ser uma educação para a compreensão mútua, contra a exclusão por motivos de raça, sexo, cultura ou outras formas de discriminação e, para isso, o 13 educador deve conhecer bem o próprio contexto do educando, pois somente conhecendo e utilizando realidade desses jovens e adultos é que haverá uma educação de qualidade. A educação no Brasil passou por momentos de desenvolvimento e de conflitos até chegar nos dias atuais, com modelos propostos por pensadores onde buscavam em sua meta principal uma escola modelo, de universidade que realmente formassem profissionais capacitados para atuar num mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo. Dentro do Art. 43, p.22 do IV capítulo da LDB nº. 9394 de 1996, estão relacionadas às finalidades das Instituições de Ensino Superior distribuídos em sete itens na qual menciona que as I.E.S. devem estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico como também do pensamento reflexivo, procurando formar indivíduos capazes para atuar em diversas áreas do conhecimento promovendo ações de extensão por meio de projetos a fim de contribuir para a inclusão da população menos favorecida e a conscientização da sociedade para a necessidade de desenvolver projetos que tenham a responsabilidade social (Grifo nosso) despertando no educando a vontade de aprender fazendo sempre por meio de pesquisas científicas envolvendo teoria e prática. Sendo assim, a UNIGRAN, como Instituição de Ensino Superior vem atuando ao longo de dezesseis anos com um Programa de Educação de Jovens e Adultos que visa proporcionar aos acadêmicos universitários espaços para atuarem nos projetos de ensino, extensão e pesquisa, contribuindo para a valorização do educando que participa do projeto de alfabetização de jovens e adultos propiciando aos mesmos, condições por meio dos estudos, a obter uma elevação de sua própria auto-estima, construção da cidadania e também melhor condição de vida, tornando cidadãos conscientes e críticos, com autonomia própria e compreensão da sociedade através da interação com o outro no ambiente escolar mediante aquisição do conhecimento formal. Desta forma, podemos destacar a importância do Programa de Educação de Jovens e Adultos da UNIGRAN, que vem desenvolvendo atividades de aprendizagens diferenciadas, promovendo a integração com o outro e com o meio social, contribuindo para o desenvolvimento cultural e profissional do seu educando, demonstrando os projetos e ações de responsabilidade social que vem sendo desenvolvidos por esta Instituição ao longo dos seus trinta anos de atuação por meio da pesquisa, ensino e extensão, principalmente em relação à Educação de Jovens e Adultos do município de Dourados/MS. 14 REFERÊNCIAS: ALMEIDA, Iuderce Michelan de. Didática no Ensino Superior: temas essenciais. Dourados: UNIGRAN, 2006. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. São Paulo: Moderna, 1989. AZEVEDO, Fernando. Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932. Disponível em: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br. Acesso em 02 de julho de 2012. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é método Paulo Freire? São Paulo: Ed. 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