A formação docente e a proposição de um centro de filosofia na região serrana de Santa Catarina Resumo A formação docente para o ensino de filosofia se faz mister, uma vez que implica nesse quesito a qualidade das abordagens, do nível do debate, da possibilidade de alcance para os objetivos propostos nos Orientações Curriculares no que trata da Filosofia — “[...] III – domínio dos conhecimentos de Filosofia [...] necessários ao exercício da cidadania.” Assim, partindo dessa compreensão, fez‐se uma pesquisa nas Gerências Regionais de Lages e de Curitibanos, região Serrana de Santa Catarina, a fim de diagnosticar o cenário referente à formação dos Professores que lecionam Filosofia. A priori constatou‐se uma grande problemática a ser exposta e levada às instâncias maiores a fim de que se tome as devidas providências. De um total de 49 professores lecionando filosofia em sala de aula, tem‐se 37 sem formação em filosofia, ou seja, 75% não recebeu formação, porém leciona a disciplina, num número de 43 escolas nas duas regionais que oferecem formação de Ensino Médio chegando a um total de 12842 alunos. A questão que emerge é — qual o norte para o trabalho dessa disciplina, uma vez que a maioria dos professores não receberam formação em filosofia?? Palavras‐chave: formação de professor; ensino de filosofia; região serrana. José Antunes de Souza Pomiecinski [email protected] X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.1
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A formação docente e a proposição de um centro de filosofia na região serrana de Santa Catarina José Antunes de Souza Pomiecinski 1 Introdução No decorrer da história da Educação brasileira, ao tratar do que diz respeito ao ensino de Filosofia, sabe‐se que, devido à reforma tecnicista advinda da ditadura militar, esta disciplina foi retirada do currículo nacional. Em seu lugar, foram inseridas disciplinas de cunho formativo‐tecnicista, como Preparação para o Trabalho (PPT), Educação Moral e Cívica (EMC), que atendiam ao ideário do sistema político da época. Na década de 1990, com a Lei de Diretrizes e Bases1 (LDB) e com a definição dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), surgiram novamente discussões sobre uma reforma curricular que ofertasse formação cidadã, democrática, reflexiva e que superasse a limitação do senso comum. Segundo Rocha, os documentos de orientações educacionais falam do “domínio de conhecimentos e habilidades que supõem a boa realização da alfabetização em sentido restrito e que incluem habilidades metaconceituais [...] alfabetização científica, alfabetização cultural, letramento crítico, pensamento crítico (2008, p. 23). A inclusão da Filosofia no currículo escolar, portanto, parte de uma concepção de Educação pautada na criticidade, na dialogicidade, em outras palavras, no desenvolvimento humano. Assim, este estudo tem a intenção de compreender e expressar a importância da inclusão da Filosofia no Ensino Médio a partir do conhecimento das orientações curriculares estabelecidas pelo Ministério da Educação, partindo inicialmente do sentido da Educação para o desenvolvimento humano, e mais especificamente da reforma do Ensino Médio com a proposta dos PCNEM em relação à abordagem da Filosofia, acentuando a necessidade da formação docente na disciplina em questão, assim partindo dos dados em real déficit e propondo possíveis soluções. Para Gallo (2008), o Ensino Médio “é uma fase de consolidação do jovem, de sua personalidade, de seus anseios”, uma vez que eles estão numa fase de aprendizado e desenvolvimento – o “hipotético‐dedutivo” denominado por Piaget (1973) –, onde 1
O artigo 36, sobre o currículo do Ensino Médio, observa, como diretriz, que os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que ao final do Ensino Médio o educando demonstre domínio dos conhecimentos de Filosofia [...] necessários para o exercício da cidadania. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.2
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A formação docente e a proposição de um centro de filosofia na região serrana de Santa Catarina José Antunes de Souza Pomiecinski sobressai o exercício e a reflexão a partir dos questionamentos sobre si e sobre o mundo. É uma fase de formação geral, e não apenas específica, conforme se vê a seguir: Propõe‐se, no nível do Ensino Médio, a formação geral, em oposição à formação específica; o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações, analisá‐las e selecioná‐las; a capacidade de aprender, criar, formular, ao invés do simples exercício de memorização (BRASIL, 2000, p. 5, grifo nosso). Esta constatação/intenção demarca uma nova forma de encarar a Educação e a razão de ser da Filosofia, configurando a proposta de uma união que jamais pode ser separada do processo de desenvolvimento humano. O currículo, enquanto instrumentação da cidadania democrática, deve contemplar conteúdos e estratégias de aprendizagem que capacitem o ser humano para a realização de atividades nos três domínios da ação humana: a vida em sociedade, a atividade produtiva e a experiência subjetiva, visando à integração de homens e mulheres no tríplice universo das relações políticas, do trabalho e da simbolização subjetiva (BRASIL, 2000, p. 15). Por entender a relevância da Filosofia para a formação dos cidadãos, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou parecer estabelecendo a disciplina como obrigatória para o currículo do Ensino Médio. As diretrizes curriculares que norteiam esta formação são apresentadas pelos PCNs2 de Ciências Humanas e suas Tecnologias, tendo capítulo específico sobre Filosofia. Tal compromisso dado à Filosofia prescinde a capacitação daquele que vai estar à frente de tal propósito — a figura do professor. Sua formação vai ser determinante para o sucesso ou insucesso das abordagens, ela vai determinar se as aulas de filosofia vão ser instigantes, de conhecimento, de debates, de pesquisa esclarecedora ou apenas de cumprimento de horário escolar em sala de aula, com alunos fantasticamente sentados em suas salas de aula, sem incomodar com bagunça, questionamentos etc. 2
Parâmetros Curriculares Nacionais. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.3
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A formação docente e a proposição de um centro de filosofia na região serrana de Santa Catarina José Antunes de Souza Pomiecinski 2 Planejamento metodológico mínimo para ensino de filosofia A Filosofia no Ensino Médio vem somar com o conjunto de experiências que, conforme o planejamento, têm o papel de oferecer/ajudar os alunos a, cada um em sua individualidade, alcançar os objetivos de aprendizado mediante suas capacidades. Seu histórico de retirada e reinserção se expressa em: [...] contexto de implantação da LDB 9.394/96 e dos PCNEM (Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Médio), perseverou um grupo de profissionais da área de Filosofia que, também inspirados pela leitura da nova LDB, reivindicavam à disciplina um lugar definido no Ensino Médio, ou seja, sua presença na condição de disciplina, com papel e conteúdos definidos. Essa proposta transformou‐se em Projeto de Lei (n. 3178/97) formulado pelo Deputado Roque Zimmermann, que acabou sendo aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado (sob o nº. 009/2000, de responsabilidade do Senador José Fogaça), porém, vetada pelo então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. A disciplina de Filosofia, entretanto, permaneceu em alguns estabelecimentos de Ensino Médio e, certamente, terá possibilidade de retornar com mais força se os profissionais do ensino de Filosofia retomarem a ideia do projeto (PECHULA, 2005, p. 488). Surge então a necessidade de organizar conteúdos, métodos para se abordar a Filosofia no ambiente de Ensino Médio. Sendo apenas duas horas por semana, deve‐se planejar não como nas universidades, mas sim para uma nova realidade. O Professor Sérgio Embirussu Barreto3, em material didático para a Especialização em Metodologia do Ensino de Filosofia e Sociologia, da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), propõe que a Educação contemporânea esteja baseada nos quatro pilares da UNESCO, elaborados pela Comissão Internacional para a Educação do Século XXI, que são: 
Aprender a conhecer: envolve a capacidade de manusear os conhecimentos, aprender a buscá‐los e a significá‐los, não apenas assimilá‐los (abordagem do caráter filosófico); 
Aprender a fazer: saber aplicar o conhecimento, operar com eles na vida pessoal, profissional e social (atitudes); 3
EMBIRUSSU, K.N. & BARRETO, S.E. Metodologia do Ensino de Filosofia para o Ensino Médio. 2008. [Desenvolvimento de material didático ou instrucional ‐ Material didático]. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.4
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A formação docente e a proposição de um centro de filosofia na região serrana de Santa Catarina José Antunes de Souza Pomiecinski Aprender a viver juntos: consiste na aprendizagem de lidar com o outro, preocupar‐se com o coletivo, o bem comum (interação Eu‐Tu de Martin Buber, onde se tem a compreensão de aceitar o outro como semelhante, não como utilidade); 
Aprender a ser: envolve o autoconhecimento, a auto percepção, aprender a lidar com suas emoções, suas fragilidades e suas potencialidades (uma das maiores questões filosóficas, o “Ser” – existencialismo, fenomenologia etc.). Esta amplitude impressa na Educação desvela4 (alethéia) a possibilidade de uma formação possivelmente mais completa, à medida que envolve várias dimensões humanas. Partindo deste pressuposto, é imprescindível que todos os elementos constitutivos do trabalho pedagógico estejam bem articulados à concepção de Educação que o mundo atual tem exigido. Para Rocha, “pode‐se dizer que nenhuma outra disciplina tem as mesmas condições dela [Filosofia] para ser um ponto de ligação entre os saberes e práticas escolares, sem prejuízo de sua especificidade” (2008, p. 78). Nesta concepção, justifica‐se dizer que os objetivos, a metodologia de ensino e a avaliação da aprendizagem precisam dar subsídio e atender a esta demanda, tendo como referência os quatro pilares da UNESCO5. Como o professor de Filosofia pode oferecer/garantir um trabalho pedagógico que contemple os pilares sugeridos pela UNESCO? As situações de aprendizagem promovidas pelo professor devem ultrapassar a mera exposição teórica sobre o conteúdo, a aula expositiva não participada. Cada aula deve buscar contemplar, em suas estratégias de aprendizagem, atividades que exercitem os pilares já referenciados. Seguem algumas dicas abaixo: 4
Em Platão, o desvelamento do Ser, isto é, descobrimento daquilo que estava oculto, retirada do véu. Na ontologia de Heidegger, o desvelamento significa a ideia segundo a qual a coisa se desvela, manifesta‐se nas condições mesmas de seu aparecer, de seu “fenômeno”; a verdade nada mais seria do que a manifestação do ente, enquanto ele deixa de ser ocultado pelas preocupações da vida cotidiana, e do caráter aberto do ser (JAPIASSU, 2006, p. 70/1). 5
Compreensão extraída de: DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. 2. ed. São Paulo: Cortez; Brasília: MEC/UNESCO, 2003. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.5
PILARES ESTRATÉGIAS Aprender a conhecer Aulas expositivas dialogadas X Anped Sul
A formação docente e a proposição de um centro de filosofia na região serrana de Santa Catarina José Antunes de Souza Pomiecinski Projetos de pesquisa Estudo do meio Leitura com roteiro de questões Leitura fílmica Aprender a fazer Estudo de caso Relatórios com opiniões fundamentadas Dramatização Análise de texto Tempestade de ideias Aprender a viver juntos Dramatização Dinâmicas de grupos Grupo de observação e verbalização (G.V./G.O.) Painel integrado Debates em pequenos grupos com posições diferentes Desenhos e outras produções artísticas em grupo Aprender a ser Vivências com temas relacionados ao autoconhecimento Debates sobre valores Desafios envolvendo problemas éticos A prática do trabalho pedagógico dirigido nos pilares tende a desenvolver atividades diversificadas, que se iniciam na apresentação dialogada do professor até à expressão do aluno, que será incitado à autonomia e criticidade6. Segundo Ghedin : 6
Criticidade hoje não mais vista como apenas tarefa da disciplina de Filosofia, por isso a importância de um trabalho interdisciplinar. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.6
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A formação docente e a proposição de um centro de filosofia na região serrana de Santa Catarina José Antunes de Souza Pomiecinski [...] tão importante quanto o processo de filosofar é fazer que os alunos encontrem sentido no conteúdo filosófico a eles proposto, pois dessa construção de sentido depende o sucesso da aprendizagem (2009, p. 117, grifo nosso). Tal pressuposto e importância determinará o resultado esperado com a reinserção da disciplina no currículo de Ensino Médio, isto é, a possibilidade de formação de um cidadão consciente de seus deveres e conhecedor de seus direitos: A ideia é poder compreender a Filosofia como uma práxis que nos proporcione o entendimento de que a democracia depende da cidadania tanto quanto a Filosofia depende de seu processo de filosofar. Desse ponto de vista, a tarefa da Filosofia no ensino é assumir seu compromisso público – portanto, político – com os destinos da cidade (GHEDIN, 2009, p. 144, grifo nosso). Esta proposição de plano metodológico para o ensino de filosofia caracteriza‐se como mínima, certamente que a relação conceitual, que acabou não sendo abordada aqui por não ser o objeto para o momento deve ser orientado pelos PCNs, pela Proposta Curricular7 em vigência, a título de ilustração será usado a de Santa Catarina, porém sem se deter a discuti‐la, uma vez que o objeto maior é o cenário da formação do professor de filosofia na região serrana. 3 A formação do professor de filosofia na região serrana de santa catarina. Partindo dos dados iniciais em que se expressou alguns dos pontos principais tirados da pesquisa realizada no início desse ano de 2014 nas Gerências Regionais de Lages e de Curitibanos. O objetivo inicial foi levantar o número de professores que 7
PROPOSTA DE CONTEÚDO PROGRAMÁTICO. FILOSOFIA ‐ UNIDADE I: A ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA. TEMAS: a‐ A origem da Filosofia; b‐ Objeto, método e linguagem da Filosofia; c‐ As diferenças e as relações entre a Filosofia e as demais formas de conhecimento: o senso comum, a ciência, a religião e a arte. UNIDADE II: A HISTÓRIA DA FILOSOFIA. TEMAS: a‐ A historicidade da Filosofia; b‐ Os grandes períodos da História da Filosofia e suas centralidades temáticas; c‐ A Filosofia Antiga; d‐ A Filosofia Medieval; e‐ A Filosofia Moderna; f‐ A Filosofia Contemporânea; g‐ A Filosofia no Brasil e na América Latina. UNIDADE III: A FILOSOFIA E SEUS GRANDES PROBLEMAS. TEMAS: a‐ A concepção de mundo ou o problema ontológico; b‐ A questão do ser ou do fundamento; c‐ Essência e existência; d‐ As soluções idealistas, materialistas e existencialistas; e‐ O materialismo histórico e dialético; f‐ A concepção de conhecimento ou problema epistemológico; g‐ Aspecto epistemológico; h‐ A relação sujeito‐objeto. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.7
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A formação docente e a proposição de um centro de filosofia na região serrana de Santa Catarina José Antunes de Souza Pomiecinski lecionam tal disciplina frente a um cenário de 43 escolas de ensino médio, chegando a um número de 12842 alunos que frequentam os anos finais da formação básica. Assim, na gerência de Curitibanos se deu os seguintes dados: 1‐ Número de professores formados que lecionam filosofia na gerência: 16; 2‐ Número de professores efetivos em filosofia: 07; 3‐ Número de professores ACTs8 em filosofia: 09; 4‐ Número de professores em sala de aula com licenciatura e especialização em filosofia: 06; 5‐ Número de professores que lecionam, mas não são licenciados em filosofia: 07; 6‐ Número de alunos do ensino médio: 3188; 7‐ Número de escolas com ensino médio: 10. Revelando tais números vê‐se que há um importante déficit em relação ao número de professores com formação filosófica em sala de aula, atuando como protagonistas do conhecimento, da reflexão, do indagar socrático, do duvidar cartesiano. Embora tenha em seu quadro um número relativamente satisfatório de professores com licenciatura e efetivos, ou seja, professores que dão continuidade ao trabalho da filosofia nas mesmas escolas a cada ano que passa, professores que receberam formação adequada e possuem conhecimento para melhor trabalha‐los em sala de aula, o cenário já se pede atenção, pois são 7 professores lecionando filosofia sem a formação na disciplina. Sendo 7 efetivos, são 9 que todo ano trocam de escolas, levando a interromper a continuidade filosófica iniciada. Isso pode atrapalhar o aprendizado e o desenvolvimento do aluno, com essa área tão cara à formação do cidadão pleno. O número de alunos em relação ao de professores que expõe a filosofia se dá em 199 para 1, sendo que para cada licenciado — 455 para 1. Levando em consideração que a formação do professor pode oferecer maior sucesso de aprendizado aos alunos o quadro está preocupante, uma vez que esses professores licenciados em sua maioria concentram‐se nas escolas maiores, havendo escolas com 2 efetivos, enquanto que os 8
Professores contratados temporariamente. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.8
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A formação docente e a proposição de um centro de filosofia na região serrana de Santa Catarina José Antunes de Souza Pomiecinski não formados vagueiam por diversas escolas espalhando, tudo, e certamente com grande dificuldade a reflexão filosófica. O número de 10 escolas com a necessidade de 16 professores de filosofia, sendo 7 efetivos, com escolas próprias e contínuas, com 9 que intercalam o número de aulas excedentes ou vinculadas que estão sem o professor titular em sala de aula. Revela‐se um cenário digno de atenção, pois a qualidade do ensino deve ser a preocupação principal e se a demanda de alunos vem aumentando, faz‐se necessário que seja ofertado formação a mais professores das variadas disciplinas e em especial em filosofia. Partindo para a Gerência Regional de Lages, tem‐se os seguintes dados: 1. Número de professores formados que lecionam filosofia na gerência: 33; 2. Número de professores efetivos em filosofia: 03; 3. Número de professores ACTs em filosofia: 30; 4. Número de professores em sala de aula com licenciatura e especialização em filosofia: 03; 5. Número de professores que lecionam, mas não são licenciados em filosofia: 30; 6. Número de alunos do ensino médio: 9654; 7. Número de escolas com ensino médio: 33. Números alarmantes esses desse cenário em Lages. 90% dos professores de filosofia em sala de aula não possuem formação em filosofia. Sendo que esse mesmo número é o de professores que são efetivos, ou seja, esses podem dar continuidade ao processo de ensinar e aprender em suas escolhas em que são lotados, os demais podem variar, serem substituídos por outros, revelando um processo de grande dificuldade de desenvolver o pensamento filosófico. A relação de professor de filosofia e aluno nas escolas chega a uma proporção de 292 quando no total, contando o número dos que estão em sala sem a formação devida, X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.9
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A formação docente e a proposição de um centro de filosofia na região serrana de Santa Catarina José Antunes de Souza Pomiecinski mas quando se proporciona formados e alunos chega‐se a 3218 para cada professor licenciado em filosofia. Num contexto em que 30 são itinerantes, ou seja, cada ano podem mudar de escola devido a classificação ou a disponibilização de aula excedentes ou vinculadas a continuidade do processo de ensinar e aprender filosofia chega‐se ao parâmetro de nulo, ou pouco considerável frente aos quadros esperados. Num total de 33 escolas como número igual de professores, porém com 90% sem a formação necessária, faz‐se necessário a intervenção da figura educacional maior que ofereça alguma solução, ou seja, a necessidade de criar um centro de formação em filosofia para a região serrana, com urgência. 4 A proposição da criação de um centro de filosofia na região serrana de Santa Catarina. A filosofia precisa ter lugar na região central de Santa Catarina, pois atualmente está no oeste9 (Chapecó) e no litoral10 (Florianópolis), há também a presença de cursos a distância, porém não evidenciam um centro de referência em filosofia. A posição geográfica exige formação filosófica de qualidade. É extremamente necessário. Ser ponto de referência filosófica para toda a região central do Estado. Neste ano de 2014 foi aberto uma turma de licenciatura em Filosofia na Uniasselvi – Centro Universitário Leonardo Da Vinci, onde acorreu e acorre um número significativo de alunos, já professores há anos, para obterem a formação como licenciados em Filosofia, uma vez que desde o início de suas carreiras lecionaram tal disciplina. A formação que se intenciona oferecer presencialmente visa qualificar o aluno com propriedade de conteúdo, aulas ministradas por Professores formados e pesquisadores em Filosofia. Proporcionar pesquisa acadêmica, participação em eventos de filosofia no Brasil e fora do país, sempre que possível, produção acadêmica com publicação constante, podendo ser a princípio com site, mas preferencialmente chegando a revista periódica. 9
UFFS – Universidade Federal Fronteira Sul UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina. 10
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A formação docente e a proposição de um centro de filosofia na região serrana de Santa Catarina José Antunes de Souza Pomiecinski O egresso do curso de Licenciatura em Filosofia terá a capacidade de pesquisar, lecionar, palestrar, escrever e desenvolver projetos de pesquisa na área de filosofia e educação. A intenção maior é que tal centro seja totalmente voltado para o ensino e a pesquisa, por isso a necessidade de disciplinas extensas de práticas de ensino, porém com especial acento na disciplina de epistemologia onde se terá uma visão geral da Filosofia, talvez em 4 módulos ou que acompanhe o curso todo, do primeiro ao último semestre para se dar um alcance maior. A escolha para o professor que lecionar tal disciplina deve ser bem apurada. Também na parte de Metafísica, onde se discute o além da física, além da concentricidade, onde a razão entra na pesquisa e reelaboração conceitual, a filosofia deve inventar a razão, como atesta Châtelet, por isso deve ser dado especial atenção a tal área. Algo que não deve incorrer é torná‐la de linhas; exemplo, alemã, contemporânea, deve ser de abrangência maior, que vise a capacitação do aluno e não a realização de projetos pessoais de professores. Isso de ser descartado com veemência. A filosofia é livre e abrangente, conforme Descartes – ‘filosofia é um perfeito conhecimento de todas as coisas’, ou da maioria das linhas de pensamento, não se pode limitar, isolar, prestigiar uma em detrimento de outra. A programação das disciplinas deve ser acompanhada por uma equipe formada e com produção em filosofia, deve ser analisada por todos e feito as devidas considerações, não pode se trabalhar o que quiser, deve se ter os objetivos bem claros e estar aberto a mudanças ou reelaboração. O planejamento será feito pela equipe com o professor para a disciplina em tempo hábil para ser reconstruído, se necessário, antes da data de início. Ficará em aberto 25% da programação da disciplina para que o professor organize suas atividades em sala com as turmas, porém previamente, apresentado o plano à coordenação e aprovado. Seminários acadêmicos, apresentações dos alunos somente a partir do segundo semestre e estes não devem tomar mais que 40% da disciplina, uma vez que a proposição é ensinar para que então, semestres adiante eles [alunos] apliquem nas disciplinas de pesquisa, de produção e de prática docente. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.11
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A formação docente e a proposição de um centro de filosofia na região serrana de Santa Catarina José Antunes de Souza Pomiecinski Leitura de livro comum para todo o curso a cada semestre. Com evento que discuta o conteúdo do livro com o curso todo, inclusive o professorado que nele atua naquele semestre. A importância da presença de um curso de Licenciatura em Filosofia na Uniplac é grandiosa, pois Universidades sem filosofia em sua programação correm o risco de empobrecer seu nível conceitual de debates, de posicionamento crítico perante o sistema. O nível de discussão será elevado. Vender diplomas não pode ser fator determinante. Deve‐se pensar muito além de mercado para tal curso, deve‐se pensar na possibilidade de aumento de qualidade da própria Universidade. Captação de recursos para o curso com oferta de bolsas para os alunos — FUMDES11, PARFOR12. Considerações finais O ensino curricular deve ir muito além da presença física e um professor em sala de aula, aquele que ali está para lecionar deve ser capacitado em conhecimento, em práticas para desenvolver os mais variados aspectos que cada disciplina apresenta em suas especificidades. Para tal, a necessidade de um processo de formação inicial, com toda a oferta de acesso ao conhecimento, e além de acesso o aprendizado por parte desse que vai propor aos demais [alunos] a busca pelo saber. E um contínuo processo de formação filosófica, pois não se deve pensar que há um modo correto e único, isso castraria a compreensão de filosofia que é essencialmente, ciência que adentra todos os campos de discussões. Para a região serrana de Santa Catarina será a oportunidade de reverter esse quadro preocupante em relação à qualidade da discussão filosófica na região, e também a oportunidade, cada vez mais clara de emancipar o ser pensante presente em cada aluno da educação básica, bem como os das formações superiores elevando consideravelmente o nível intelectual da região. 11
Fundo de Apoio à Manutenção e ao Desenvolvimento da Educação Superior. 12
Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica – PARFOR. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.12
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A formação docente e a proposição de um centro de filosofia na região serrana de Santa Catarina José Antunes de Souza Pomiecinski Referências bibliográficas ARANHA, M.L.A & MARTINS, M.H.P. Filosofando: introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1993. BORNHEIM, G. Introdução ao filosofar. São Paulo: Globo, 1989. BRASIL. Ministério da Educação. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Diário Oficial da União, 1996, p. 27849. ______. Parâmetros curriculares nacionais do Ensino Médio. Parte IV – Ciências Humanas e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEF, 2000. CARMINATI, C.J. Professores de Filosofia: crise e perspectivas. Itajaí: Universidade do Vale do Itajaí, 2006. CERLETTI A. Ensino de Filosofia e Filosofia do ensino filosófico. In: GALLO, S.; CORNELLI, G. & DANELON, M. (orgs.). Filosofia do ensino de Filosofia. Petrópolis: Vozes, 2003. ______. O ensino filosófico e a reflexão sobre o presente. In: KOHAN, W.O. & LEAL, B. (orgs.). Filosofia para crianças. Petrópolis: Vozes, 1999. CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2004. ______. Convite ao filosofar. São Paulo: Ática, 1997. DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. 2. ed. São Paulo: Cortez; Brasília: MEC/UNESCO, 2003. EMBIRUSSU, K.N. & BARRETO, S.E. Metodologia do ensino de Filosofia para o Ensino Médio. 2008 [Desenvolvimento de material didático ou instrucional – material didático]. FACHIN, O. Fundamentos da metodologia. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. GALLO, S. A Filosofia e seu ensino: conceito e transversalidade. In: SILVEIRA, R.J.T. & GOTO, R. Filosofia no Ensino Médio: temas, problemas e propostas. São Paulo: Loyola, 2007, p. 15‐16. GALLO, S. & KOHAN, W. Filosofia no Ensino Médio. Petrópolis: Vozes, 2000. GHEDIN, E. Ensino de Filosofia no Ensino Médio. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2009. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.13
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