Rute Josgrilberg- Linguagem e Argumentação - UNIGRAN
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Aula 04
REVISANDO SOBRE PARÁGRAFOS
Prezado(a) aluno(a),
Verificamos que ainda há, por parte de alguns acadêmicos, dificuldade para redigir textos,
assim como para elaborar parágrafos. Lembre-se de que isso é comum entre os estudantes, conforme comentamos na introdução das aulas. O importante é tentar superar tais dificuldades.
Para saber escrever é preciso saber construir parágrafos. Quem não consegue elaborálo, não consegue produzir um texto coerente. O que você acha, então, de revisarmos orientações
importantes para que consigamos produzir parágrafos que atendam aos requisitos necessários
para um texto bem estruturado?
Sempre que produzimos um texto em prosa, independente de ser descritivo, narrativo,
expositivo ou argumentativo, ele se constitui de unidades menores que se denominam parágrafos.
Segundo Othon M. Garcia, em Comunicação em Prosa Moderna, “O parágrafo é uma
unidade de composição, constituída por um ou mais de um período em que desenvolve determinada idéia central, ou nuclear, a que se agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas
pelo sentido e logicamente decorrentes dela.” Sua extensão é variada, existindo parágrafos curtos
e longos, visto que são determinados pela unidade temática, pois cada um deles representa a
exposição de uma idéia.
Se as idéias forem complexas, poder-se-ão apresentar em dois ou até mais parágrafos. É
importante esclarecer, também, que estamos explicando o parágrafo-padrão, que estruturalmente
é o “mais comum e eficaz” e que apresenta:
a) Introdução ou tópico frasal: apresenta a idéia-núcleo em um ou dois períodos curtos;
b) Desenvolvimento: expande a idéia principal ou idéia-núcleo;
c) Conclusão: fechamento da idéia.
Observe o exemplo a seguir:
Introdução ou tópico frasal: {“O povoamento do sul do Brasil processou-se de dois
modos diferentes:} Desenvolvimento da idéia-núcleo: {no litoral, pela vinda de colonos açoria47
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nos, que chegavam com algumas ferramentas, sementes, um pouco de dinheiro; no interior, pela
chegada de famílias paulistas, que seguiam os caminhos do altiplano.} Conclusão: {O duplo
aspecto do povoamento dará lugar a dois tipos de sociedade e dois tipos de economia”.} (Roger
Bastide, Brasil: Terra de Contrastes).
De acordo com Soares & Campos (1981, p. 86):
É preciso lembrar que nem todos os parágrafos obedecem à estruturação em fases de
introdução desenvolvimento e conclusão. Hwá parágrafos que apresentam as duas
primeiras fases; ou as duas últimas; ou apenas a segunda. Às vezes, cada frase individualmente apresenta matéria para parágrafos próprios. Contudo, é desejável que se
organize o parágrafo, estruturando-o em introdução, desenvolvimento e conclusão,
quando o assunto exige um desenvolvimento extenso, quando são intrincadas as relações
entre as informações; quando a complexidade do assunto a ser desenvolvido torna a
redação trabalhosa; quando se pretende controlar com mais cuidado a organização do
assunto para facilitar a recepção do leitor; enfim, quando a pessoa que escreve impõe
a si mesma o exercício lógico de estruturação do pensamento.
Há núcleos de parágrafos explicativos e argumentativos que se fazem por meio de uma
“determinada idéia”, os de narrativos, por “incidentes”, ou seja, episódios de pequena extensão
e os de descritivos que se apresentam como um “quadro”.
Garcia (1995: 208) esclarece que o tópico frasal, que manifesta o resumo do pensamento,
pode se apresentar como:
a) Declaração inicial (quando afirma ou nega alguma coisa);
b) Definição;
c) Divisão.
Há, ainda, segundo ele, outras maneiras de iniciar o parágrafo sem ser pelo tópico frasal
como por alusão histórica, interrogação etc.
De acordo com o referido autor, para finalizar o assunto, apresentamos, ainda, para
melhor compreensão, as principais maneiras de se desenvolver um parágrafo com alguns exemplos.
GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna. In: RIBEIRO, M. P.
Gramática aplicada da língua portuguesa. 17. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio
Vargas, 1995. p. 405-407.
Maneiras de se desenvolver um parágrafo
1 – Enumeração ou descrição de detalhes –
“A tarde ia morrendo¬O sol declinava no horizonte e deitava-se sobre as grandes florestas, que iluminava com seus últimos raios.
A luz frouxa e suave do ocaso, deslizando pela verde alcatifa, enrolava-se como onda
de outro e de púrpura sobre a folhagem das árvores.” (ALENCAR, José de. O Guarani).
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A primeira frase é o tópico frasal. A seguir vem o desenvolvimento dessa idéia, que
deveria encontrar-se após a introdução, sem necessidade de abrir novo parágrafo. Mas lembre-se
de que o escritor goza de ampla liberdade de expressão.
2 – Confronto – Estabelece-se um confronto entre idéias, seres, coisas, fatos ou
fenômenos.¬”Os estudos gramaticais estabelecem oposição entre dois termos modificadores dos
nomes: adjunto adnominal e complemento nominal. O primeiro indica especificação, determinação de um nome, uma “qualidade” essencial dele, como em “caderno de anotações”. O segundo é
paciente de uma ação, ao passo que o adjunto é o agente: A invenção da máquina (a máquina foi
inventada: o termo é paciente, recebe a ação) x A invenção de Carlos (Carlos inventou: o termo
é agente). “¬A idéia-núcleo (tópico frasal) está na primeira frase. A seguir, faz-se o confronto
entre os dois termos, desenvolvendo-se essa idéia.
3 – Analogia e comparação – Na comparação, as semelhanças são reais, expressas por
palavras como do que, como, que, tal qual, tão, tanto, ou por verbos como lembrar, parecer,
assemelhar, dar uma idéia. Na analogia, as semelhanças são apenas imaginárias. Por meio da
analogia, procura-se explicar o desconhecido pelo conhecido. Ex.: Aquele homem, por seu
grande cavanhaque, parecia um bode. A semelhança é parcial, pois, evidentemente, há muitas
diferenças entre os dois.
Beleza e opulências do Brasil
“Em nenhuma outra região se mostra o céu mais sereno, nem madruga mais bela a
aurora: o sol em nenhum outro hemisfério tem os raios tão dourados, nem os reflexos noturnos
tão brilhantes; as estrelas são as mais benignas e se mostram sempre alegres; os horizontes, ou
nasça o sol, ou se sepulte, estão sempre claros: as águas ou se tomem nas fontes pelos campos,
ou dentro das povoações nos aquedutos, são as mais puras; é, enfim, o Brasil, terrenal paraíso
coberto, onde têm nascimento e curso os maiores rios; domina salutífero clima; influem benignos
astros e respiram auras suavíssimas, que o fazem fértil e povoado de inúmeros habitadores, posto
que, por ficar debaixo da tórrida zona, o desacreditassem e dessem por inabitável Aristóteles,
Plínio e Cícero... “ (ROCHA PITA, História da América Portuguesa).
4 – Razões e conseqüências – É tipo muito comum, mas, muitas vezes, os motivos,
razões ou justificativas aparecem disfarçados sob várias formas, nem sempre introduzidas por
expressões ou partículas causais ou explicativas. Vejamos o exemplo citado em Comunicação
em prosa moderna, p. 208:
“É sina de minha amiga penar pela sorte do próximo, se bem que seja um penar jubiloso
(tópico frasal). Explico-me. Todo sofrimento alheio a preocupa e acende nela o facho da ação,
que a torna feliz. Não distingue entre gente e bicho, quando tem de agir, mas, como há inúmeras
sociedades (com verbas) para o bem dos homens, e uma só, sem recurso, para o bem dos animais,
é nesta última que gosta de militar. Os problemas aparecem-lhe em cardume, e parece que a escolhem de preferência a outras criaturas de menor sensibilidade e iniciativa (...)”. (ANDRADE,
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Carlos Drummond. Fala, amendoeira).
Há uma declaração inicial (tópico frasal) fundamentada por duas razões seguintes: o
sofrimento alheio que a preocupa, em virtude de todo sofrimento alheio preocupá-la e (em virtude de) não distinguir gente de bicho.¬A seguir, o autor define as conseqüências: “os problemas
aparecem-lhe em cardume, e parece que a escolhem de preferência a outras criaturas”.
5 – Causação e motivação – A rigor, só fenômenos físicos ou fatos têm causa; os atos e
atitudes do homem têm motivos, razões ou explicações. Fatos ou fenômenos têm efeitos. Atos e
atitudes apresentam conseqüências. A palavra causa serve para explicar fatos da área das ciências
exatas e também da área das ciências naturais ou físico-químicas, além das ciências sociais ou
humanas (sociologia, história, política etc.). Daí, as causas históricas ou políticas.
6 – Divisão e explanação de idéias em cadeia – O autor divide a idéia-núcleo em duas
ou mais partes, discutindo cada uma de per si. As idéias se vão desenvolvendo, umas com apoio
em outras, alargando e aprofundando a exposição.
“De várias espécies são as condições susceptíveis de influir sobre a literatura. Podemos
mencionar quatro ordens principais de condições desse gênero – geográficas, biológicas, psicológicas e sociológicas”.
A seguir, o autor desenvolve cada uma dessas condições.
7 – Definição – Pode envolver a descrição de detalhes, exemplos e confrontos ou
paralelos. É muito comum na exposição didática:
“A retórica ou arte de bem falar não é muito prestigiada atualmente. Na sua origem (que
remonta ao século V a.C.), consistia num conjunto de técnicas destinadas a regrar a organização
do discurso, segundo os objetivos a serem atingidos. Era um meio de chegar ao domínio da arte
verbal”.
A retórica ensina a compor e organizar o discurso verbal e para tanto faz distinção entre
vários tempos. Num primeiro, tem-se como tarefa encontrar o que se vai dizer (argumentos);
num segundo, procura-se dispor o que se encontrou numa ordem que depende do objetivo traçado (informar, demonstrar, convencer, emocionar; cada uma dessas operações conduz a uma
organização particular dos elementos do discurso). Em suma, é preciso construir um plano e, em
especial, cuidar da elaboração do começo e do fim do discurso. Num terceiro tempo, a tarefa é a
de atentar para o modo de apresentação dos argumentos, recorrendo-se às figuras. Finalmente,
no quarto tempo, o trabalho constitui-se em dizer o discurso, utilizando-se os recursos vocais
(dicção) e os gestuais”.
(Apud VANOYE, Francis. Usos da linguagem, 1987, p. 47).
Agora que já revisamos como redigir parágrafos, você poderá ainda acessar os seguintes
sites para ampliar seu conhecimento:
Por trás das letras – A estruturação do parágrafo. Disponível em: http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=redacao/teoria/docs/topicofrasal. Acesso realizado em:
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10/03/2007.
Portal do Espírito - Existem regras de parágrafo? Disponível em: http://www.espirito.
org.br/portal/palestras/klickeducacao/actr12.html. Acesso realizado em: 10/03/2007.
Os 10 mandamentos para a redação de um bom parágrafo. Disponível em: http://www.
espirito.com.br/portal/artigos/ednilsom-comunicacao/10-mandamentos-redacao.html. Acesso
realizado em: 10/03/2007.
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