UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS NÚCLEO DE PESQUISAS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS E PROCESSOS DISPLÁSICOS DO COLO DO ÚTERO E SUA RELAÇÃO COM O PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) EM ADOLESCENTES E MULHERES JOVENS Roberta Grain Barreto Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas do Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto, como parte integrante dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Ciências Biológicas, área de concentração: Biologia Molecular a Orientadora: Prof. Dra. Cláudia Martins Carneiro Co-orientador: Prof. Dr. Elio Hideo Babá Ouro Preto, março de 2007 Roberta Grain Barreto ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS E PROCESSOS DISPLÁSICOS DO COLO DO ÚTERO E SUA RELAÇÃO COM O PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) EM ADOLESCENTES E MULHERES JOVENS Ouro Preto, março de 2007 TÍTULO BARRETO, R.G. Dedicatória Dedico este trabalho.... Aos meus pais, Roberto e Vilma, pelo exemplo de família e que com muito amor, carinho, estímulo constante e fé, deram-me tudo de que necessitei para chegar até aqui; À minha irmã, Fernanda, pela sua amizade, companheirismo e por sempre acreditar em mim; Ao Danilo, pelo amor e compreensão em todos os momentos. i BARRETO, R.G. Agradecimentos A Deus, o maestro da vida, pois sem Ele nada é possível; À Professora Cláudia Martins Carneiro por ter me ensinado as maravilhas da Citologia Ginecológica e, principalmente, por aceitar ser minha orientadora, mostrando-se uma verdadeira mestra, com brilhantismo, competência, disponibilidade e dinamismo; Ao Professor Elio Hideo Babá pela co-orientação e auxílio nesse trabalho; Ao Professor Luiz Fernando de Medeiros Teixeira pelos ensinamentos de Microbiologia; À Professora Renata Guerra de Sá pela colaboração durante a realização das PCRs; Aos Professores Elísio Evangelista e Maria Lúcia Pedrosa pela harmoniosa convivência no Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular; Aos Professores do NUPEB, que muito me ensinaram durante esses anos; Aos amigos do mestrado pelo constante apoio, em especial a Lizziani, Cláudia, Yara e Girley; Aos amigos do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular pelo carinho, convívio repleto de aprendizado e valiosa ajuda na realização das PCRs; Ao Ezequiel Pereira, que com muito carinho cuida do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular; A Cida, secretária do NUPEB, pela amizade e competência no auxílio aos alunos; ii BARRETO, R.G. Agradecimentos Aos funcionários da Escola de Farmácia, em especial ao Maurício Guimarães, pelo auxílio e cooperação; À Dra Maria Dalva Gonçalves e demais funcionários do Centro de Apoio à Saúde do Adolescente pela disposição e colaboração inestimáveis; Ao Juber Pereira de Souza pela ajuda no início deste trabalho; Aos meus familiares pelas orações e palavras de ânimo durante essa jornada; A Théa Nobre Pereira pela amizade e oportunidades de aprendizado em Citologia Ginecológica; Aos queridos amigos, Amanda, Michela, Diogo, Luiz Fernando, Flávia, Edson, Aluir e Felipe, que apesar de distantes, nunca deixaram de me incentivar; À “família” Pronto Socorro por dividir comigo momentos especiais; Ao José Padula, Lurdinha e familiares pela acolhida em Ouro Preto. .............e com carinho, às adolescentes que permitiram que os exames e as informações dos seus prontuários se transformassem nesta obra. Muito obrigada! iii BARRETO, R.G. Lista de Figuras Figura 1 - Representação esquemática do genoma do HPV..................................... 11 Figura 2 - A) Fosforilação da proteína Rb pelo complexo ciclina/cdk inibindo a atividade repressora de pRb. A oncoproteína E7 liga-se à forma hipofosforilada da proteína Rb, o que interrompe o complexo formado por pRb e o fator E2F, liberando esse fator o que leva a célula à fase S do ciclo celular. B) Dano ao DNA induz a ativação da p53 levando à interrupção no ciclo celular para reparo do DNA ou à apoptose. A oncoproteína E6 liga-se à E6AP mediando ubiquitinação e rápida degradação via proteassoma da proteína p53. .......................................... 12 Figura 3 - Relação entre incidências de infecção pelo HPV, lesões précancerosas e câncer. ............................................................................ 16 Figura 4 - Seqüência do gene L1 do HPV 16 (sentido 5′ → 3′). Região de anelamento do par de primers MY09 e MY11............................................. 31 Figura 5 - Fotomicrografias dos esfregaços de Papanicolaou confeccionados de acordo com a técnica convencional. A - Inflamatório; B - Células atípicas de significado indeterminado (ASC-US); C a H - Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL). Papanicoloau, 1000X. ........................... 43 Figura 6 - Fotomicrografias dos esfregaços de Papanicolaou confeccionados a partir de material colhido em meio líquido. A - Normal; B - Células atípicas de significado indeterminado (ASC-US); C a F - Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL). Papanicolaou, 1000X...... 44 Figura 7 - Gel de agarose representativo da padronização da reação de PCR. Análise das reações de PCR: conforme descrito em materiais e métodos, 20µL das amostras foram analisados em gel de agarose a 1,5%, corado com brometo de etídio. Canaleta 1: Padrão de Peso Molecular (bandas variam de 100 em 100 pb). Canaletas 2, 4, 6, 8 e 12: Ausência de banda do HPV. Canaletas 3, 5, 7, 9, 11, 13 e 15: Banda da β-actina (390pb). Canaletas 10 e 14: Banda do HPV (449pb). Canaleta 16: Ausência de banda no controle negativo. ............................................. 51 Figura 8 - A - Gel de agarose representativo de cinco amostras (1, 3 e 5: HPV negativo; 2, 4, 6 e 8: β-actina positivo; 7: HPV positivo; 9 e 10: amostra insatisfatória); B - Gel de agarose de cinco amostras (1: HPV negativo; 2, 4, 6, 8 e 10: β-actina positivo; 3, 5, 7 e 9: HPV positivo); C - Média da razão das densitometrias (HPV/β-actina) nas amostras negativas ou positivas para lesões na citologia convencional......................................... 54 iv BARRETO, R.G. Lista de Tabelas Tabela 1 - Seqüências dos primers para detecção do HPV e da β-actina. ............. 31 Tabela 2 - Distribuição das mulheres por idade cronológica e idade ao início da atividade sexual, em anos. ....................................................................... 37 Tabela 3 - Distribuição das mulheres por idade cronológica e tempo de atividade sexual, em anos. ............................................................................ 38 Tabela 4 - Distribuição das mulheres de acordo com as características ginecológicas.................................................................................................... 39 Tabela 5 - Distribuição das mulheres de acordo com a citologia convencional e em meio líquido. ........................................................................................ 42 Tabela 6 - Distribuição das mulheres segundo o resultado da avaliação microbiológica na citologia convencional e em meio líquido. ........... 46 Tabela 7 - Resultados do exame a fresco do conteúdo vaginal obtido ao exame especular........................................................................................................... 47 Tabela 8 - Resultados do exame corado pelo Gram do conteúdo vaginal obtido ao exame especular.............................................................................................. 48 Tabela 9 - Concordância entre os diagnósticos de vaginose bacteriana, candidíase vaginal e tricomoníase pelo Gram frente ao exame a fresco, citologia convencional e em meio líquido. ................................................................... 49 Tabela 10 - Sensibilidade, especificidade e valores preditivos positivos (VPP) e negativos (VPN) dos diagnósticos de vaginose bacteriana, candidíase vaginal e tricomoníase pelo Gram frente ao exame a fresco, citologia convencional e em meio líquido. ................................................................... 50 Tabela 11 - Distribuição das mulheres segundo a detecção do DNA-HPV pela técnica da PCR de acordo com os resultados citopatológicos obtidos na avaliação da citologia convencional e em meio líquido............................. 53 Tabela 12 - Prevalência de infecção pelo HPV de acordo com as características ginecológicas.................................................................................................... 56 v BARRETO, R.G. Lista de Abreviaturas AIDS: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ASCUS: Atypical Squamous Cells Undetermined Significance (Células Escamosas Atípicas de Significado Indeterminado) CASA: Centro de Apoio à Saúde do Adolescente CC: Citologia Convencional CDC: Center of Disease Control and Prevention CML: Citologia em Meio Líquido DIP: Doença Inflamatória Pélvica E: Early Region (Região Precoce) HPV: Papilomavírus Humano HSIL: High Grade Squamous Intra-epitelial Lesion (Lesão Intra-epitelial Escamosa de Alto Grau) HSV-1: Vírus Herpes Simples Tipo 1 HSV-2: Vírus Herpes Simples Tipo 2 IARC: International Agency for Research on Cancer IC: Intervalo de Confiança IST: Infecção Sexualmente Transmissível JEC: Junção Escamo-Colunar L: Late Region (Região Tardia) LCR: Long Control Region (Região Reguladora) LSIL: Low Grade Squamous Intra-epitelial Lesion (Lesão Intra-epitelial Escamosa de Baixo Grau) NIC: Neoplasia Intra-epitelial Cervical NIC 1: Neoplasia Intra-epitelial Cervical Grau 1 NIC 2: Neoplasia Intra-epitelial Cervical Grau 2 NIC 3: Neoplasia Intra-epitelial Cervical Grau 3 ORF: Open Reading Frame pb: Pares de Bases PCR: Polymerase Chain Reaction (Reação em Cadeia da Polimerase) SIL: Squamous Intra-epitelial Lesion (Lesão Intra-epitelial Escamosa) Taq: Thermophilus Aquaticus TE: Tris EDTA VB: Vaginose Bacteriana WHO: World Health Organization vi BARRETO, R.G. Sumário 1 - INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 1 1.1 - CÂNCER DO COLO DO ÚTERO E SUA PREVENÇÃO ............................................................................. 2 1.2 - INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS E OUTRAS INFECÇÕES DO TRATO GENITAL FEMININO INFERIOR ............................................................................................................. 5 1.3 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DO HPV E SUA PARTICIPAÇÃO NA CARCINOGÊNESE CERVICAL....... 10 2 - JUSTIFICATIVA................................................................................................................................ 20 3 - OBJETIVOS ......................................................................................................................................... 23 3.1 - OBJETIVO GERAL .............................................................................................................................. 24 3.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................................................. 24 4 - METODOLOGIA................................................................................................................................. 25 4.1 - CASUÍSTICA ...................................................................................................................................... 26 4.1.1 - Critérios de inclusão......................................................................................................... 27 4.1.2 - Critérios de exclusão........................................................................................................ 27 4.2 - COLETA DE DADOS E PROCEDIMENTOS .......................................................................................... 27 4.2.1 - Colpocitologia ..................................................................................................................... 28 4.2.1.1 - Convencional ............................................................................................................................... 28 4.2.1.2 - Meio líquido.................................................................................................................................. 28 4.2.1.3 - Avaliação citopatológica .......................................................................................................... 29 4.2.2 - Exame a fresco................................................................................................................... 29 4.2.3 - Gram ...................................................................................................................................... 29 4.2.4 - Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) .................................................................. 30 4.2.4.1 4.2.4.2 4.2.4.3 4.2.4.4 4.2.4.5 4.2.4.6 - Coleta das amostras ................................................................................................................. 30 Seleção dos primers ................................................................................................................. 30 Padronização das condições da PCR................................................................................... 31 Preparo das amostras após padronização........................................................................ 32 Amplificação do DNA-HPV e da β-actina ........................................................................... 33 Análise da reação de PCR ....................................................................................................... 33 5 - RESULTADOS..................................................................................................................................... 35 5.1- CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA....................................................................................................... 36 5.2 - EXAME CITOLÓGICO: CONVENCIONAL E MEIO LÍQUIDO ................................................................ 40 5.3 - EXAME A FRESCO.............................................................................................................................. 47 5.4 - GRAM ................................................................................................................................................ 48 5.5 - CONCORDÂNCIA DOS DIAGNÓSTICOS MICROBIOLÓGICOS ........................................................... 49 5.6 - DETECÇÃO DO DNA-HPV PELA PCR............................................................................................. 51 5.7 - TAXA DE DETECÇÃO DO DNA-HPV E AS ALTERAÇÕES CELULARES SEGUNDO ALGUMAS CARACTERÍSTICAS GINECOLÓGICAS ................................................................................................ 55 6 - DISCUSSÃO ........................................................................................................................................ 58 6.1 - EXAME DE PAPANICOLAOU .............................................................................................................. 59 6.2 - DIAGNÓSTICO CITOPATOLÓGICO .................................................................................................... 60 6.3 - ACHADOS CITOPATOLÓGICOS ......................................................................................................... 61 6.4 - ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS ........................................................................................................ 62 6.5 - DIAGNÓSTICO MOLECULAR DO VÍRUS HPV ................................................................................... 65 6.6 - CARACTERÍSTICAS GINECOLÓGICAS E DIAGNÓSTICO MOLECULAR DO HPV ............................... 67 7 - CONCLUSÕES .................................................................................................................................... 69 8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................... 71 9 - ANEXOS ................................................................................................................................................ 90 vii BARRETO, R.G. Sumário vii BARRETO, R.G. Resumo Este trabalho teve como objetivo determinar a prevalência da infecção genital por Papilomavírus Humano (HPV) e das anormalidades citológicas cervicais em adolescentes e mulheres jovens e investigar a associação entre fatores ginecológicos e a detecção do DNA-HPV. Foram avaliadas 166 mulheres de 14 a 23 anos de idade, atendidas pelo Centro de Apoio à Saúde do Adolescente (CASA), sediado em Itabirito, Minas Gerais, caracterizando amostragem por conveniência. Todas as mulheres responderam a um questionário referente às características ginecológicas e assinaram termo de consentimento livre e esclarecido. A seguir, foram submetidas a exame clínico e ginecológico. Amostras cervicais foram coletadas para a realização do exame a fresco, Gram, citologia convencional (CC) e citologia em meio líquido (CML) e para a detecção do DNAHPV através da Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). A qualidade dos esfregaços da CC foi melhor quando comparada à CML sendo a detecção de esfregaços normais e inflamatórios semelhante entre os dois métodos. Por outro lado, a detecção de lesões intra-epiteliais escamosas foi superior na CC. A infecção cérvico-vaginal de maior prevalência foi a vaginose bacteriana (21,7%), seguida pela candidíase (7,2%) e tricomoníase (1,8%). A prevalência do diagnóstico de lactobacilos e de Candida sp foi superior na CC. Não houve diferença entre as duas técnicas para o diagnóstico de cocos, bacilos, Gardnerella vaginalis e Trichomonas vaginalis. A concordância entre os diagnósticos microbiológicos no exame a fresco, Gram, CC e CML, tendo como padrão-ouro o Gram, variou de boa a muito boa, com alta especificidade e alto valor preditivo positivo. A sensibilidade variou de 80,5% a 100%, com exceção do diagnóstico de Candida sp realizado pela CML em que a sensibilidade foi de 61,5%. A prevalência de DNA-HPV na população estudada foi de 20,1%, sendo 16,5% associados a esfregaços normais ou inflamatórios e 3,6% associados a células escamosas atípicas de significado indeterminado e lesões intra-epiteliais escamosas de baixo grau, detectadas pela CC. A idade de início, bem como o tempo de atividade sexual e o uso de anticoncepcional foram associados à presença do DNA-HPV. viii BARRETO, R.G. Abstract The prevalence of Human Papillomavirus (HPV) and cervical cytological abnormalities in adolescents and young women and the association between gynecological factors and HPV-DNA detection were investigated. After inclusion and exclusion criteria, 166 women from 14 to 23 years old were included in this project. The general personal information and medical history was completed by questionaire folder. The cervical samples were collected to perfomed wet smear, Gram stain, conventional (CC) and liquid based cytopathology (LBC) and HPV DNA PCR detection. Descriptive analysis was made for the association between HPV-DNA and cytology results. CC smears was better when compared to CML to detect normal/inflammatory smears and low scamous intraepithelial lesion (LSIL). The main prevalence of cervicovaginal infection was from bacterial vaginosis (21.7%), followed by Candida sp (7.2%) and Trichomonas vaginalis (1.8%). The prevalence of lactobacillus and Candida sp was higher in CC than LBC. No difference was observed between CC and LBC to detect cocos, bacillus, Gardnerella and Trichomonas. The concordance among Gram stain and others microbiological detection varied of good to very good, with high specificity and high positive preditive value. The sensitivity was from 80,5 to 100%, with exception of the diagnosis of Candida sp that sensitivity was 61,5% when performed by CML. HPV-DNA has been detected in 20,1% of the patients, which 16.5% was associated to normal or inflammatory smears and 3.6% to atypical scamous cells and LSIL, detected by the CC. The age of the first sexual intercourse as well as period of time of sexual activity, and the use of oral contraceptive had been associated to the presence of the DNA-HPV. ix BARRETO, R.G. Abstract ix xi 1 - Introdução BARRETO, R.G. Introdução 1.1 - Câncer do colo do útero e sua prevenção O câncer é, ainda hoje, um problema de saúde pública mundial sendo, atualmente, a segunda causa de morte por doença na maioria dos países, depois, apenas, das causas cardiovasculares. O câncer do colo do útero é o segundo mais comum entre mulheres no mundo (cerca de 500 mil casos novos) e o risco de sua incidência aumenta, progressivamente, até atingir seu pico, geralmente, na faixa etária de 45 a 49 anos. Quase 90% dos casos novos ocorrem em países em desenvolvimento onde, em algumas regiões, é o câncer mais comum entre as mulheres (WHO, 2005a). A mortalidade pelo câncer do colo do útero é, substancialmente, menor do que a incidência. Em países desenvolvidos, a sobrevida média estimada em cinco anos, varia de 59% a 69%. Nos países em desenvolvimento, os casos são encontrados em estágios avançados e, conseqüentemente, a sobrevida média é de cerca de 49% após cinco anos (Ferlay et al., 2001; BRASIL, 2005). O número de casos novos de câncer do colo do útero esperado para o Brasil em 2006 era de 19.260, com um risco estimado de 22 casos a cada 100 mil mulheres. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer do colo do útero é o mais incidente na região Norte (23/100.000). Nas regiões Sul (31/100.000), Centro-Oeste (23/100.000), Sudeste (22/100.000) e Nordeste (18/100.000) representa o segundo tumor mais incidente (BRASIL, 2005). É a terceira neoplasia maligna mais comum entre as mulheres e a quarta causa de morte por câncer em mulheres, causando sérios reflexos socioeconômicos decorrentes de sua expressiva morbidade e mortalidade em nosso meio. Tal problema adquire mais relevância quando se considera tratar de um tipo de câncer evitável e curável e, portanto, com grandes chances de êxito de seu controle (Kligerman, 1998). Frente à importância do câncer do colo do útero para a saúde da mulher, essa neoplasia tem sido objeto de inúmeros estudos, que procuram elucidar a sua história natural, bem como testar medidas preventivas e novas alternativas terapêuticas. 2 BARRETO, R.G. Introdução Um marco importante no conhecimento da história natural desse tipo de câncer foi o estudo de Papanicolaou e Traut (1941), que analisando esfregaços citológicos cérvico-vaginais, demonstraram a presença de células atípicas sem características evidentes de malignidade, mas que julgaram ser modificações malignas incipientes. A partir desse momento, foi possível estabelecer o diagnóstico e o estudo das formas iniciais da neoplasia do colo do útero, uma vez que, até aquele momento, praticamente, só se diagnosticava o carcinoma invasor clinicamente manifesto. A origem dessa neoplasia é no epitélio da cérvice uterina, que apresenta alterações citológicas características que, eventualmente, podem evoluir de forma progressiva e silenciosa até o carcinoma invasor. Segundo o estudo de Östör (1993), a proporção de evolução para a invasão é de 1% para as neoplasias intraepiteliais cervicais de grau 1 (NIC 1, atualmente, LSIL: lesão intra-epitelial escamosa de baixo grau); 5% para as neoplasias intra-epiteliais cervicais de grau 2 (NIC 2, atualmente, HSIL: lesão intra-epitelial escamosa de alto grau) e cerca de 12% para as neoplasias intra-epiteliais cervicais de grau 3 (NIC 3, atualmente, HSIL: lesão intra-epitelial escamosa de alto grau). A ectocérvice é a parte do colo do útero que tem como limites laterais as paredes vaginais e como limite medial o orifício externo do colo e está revestida por epitélio escamoso estratificado não-ceratinizado. A endocérvice ou canal cervical é revestida por um epitélio cilíndrico, simples, mucossecretor. A junção desses epitélios é conhecida como junção escamo-colunar (JEC). A localização da JEC depende da idade e das condições hormonais, paridade, cervicites e outras variáveis. A mucosa constituída pelo epitélio cilíndrico, quando localizada na ectocérvice, fica exposta a um meio ácido e séptico. Essa exposição, freqüentemente, acarreta uma série de alterações celulares decorrentes dos processos adaptativos, que podem originar a metaplasia, constituindo a zona de transformação, de importância na rotina de prevenção do câncer do colo do útero, uma vez que a maioria das lesões neoplásicas é originada nessa região (Burghardt & Östör, 1983). 3 BARRETO, R.G. Introdução Estudos epidemiológicos mostraram que as lesões precursoras e as lesões invasoras desenvolvem-se no mesmo ambiente e possuem fatores de risco semelhantes (Syrjänen, 1997; Syrjänen & Syrjanen, 1999). Portanto, torna-se evidente a necessidade da detecção precoce dessas lesões. Em países onde os programas de rastreamento são bem estruturados, notou-se uma queda na incidência do câncer invasor do colo do útero de 70 a 90%, com a utilização do método de Papanicolaou (Papanicolaou, 1963; Elovainio, Nieminen & Miller, 1997; Liu et al., 2001). Esse fato, aliado à praticidade do exame, tanto na coleta quanto na execução e leitura dos achados, proporcionou seu status internacional como método preventivo (Papanicolaou & Traut, 1941; Sigurdsson, 1999). Apesar da importância do exame de Papanicolaou para a prevenção do câncer cervical, ele apresenta limitações como: a qualidade da distribuição do material colhido sobre a lâmina e a presença de vários elementos no esfregaço, que podem prejudicar a avaliação celular, como: leucócitos, muco, sangue e, principalmente, a sua baixa sensibilidade. Em um estudo de metanálise realizado por Mccrory et al. (1999), a especificidade encontrada para a citologia oncótica foi de 98% e a sensibilidade de 51% para a detecção de qualquer NIC. Para as lesões de alto grau, a sensibilidade seria maior, atingindo 70% a 80% (Schroeder, 2003). Essas limitações da citologia convencional (CC) estimularam o desenvolvimento de novas tecnologias para a prevenção do câncer cervical, entre elas, a citologia em meio líquido (CML). Na CML, a escova utilizada para a coleta da amostra cervical é colocada em um líquido conservante, obtendo-se, assim, uma suspensão de células. Essa suspensão é, posteriormente, utilizada para o preparo da lâmina, que pode ser feito através de diferentes processos, de acordo com o sistema utilizado. Entre as vantagens descritas para a CML incluem-se esfregaços cervicais de melhor qualidade, que conteriam uma amostra mais representativa dos epitélios em estudo, células melhor preservadas, menor sobreposição celular e menor contaminação com sangue, leucócitos e muco. Além disso, a suspensão de células permite a realização de lâminas adicionais e pode 4 BARRETO, R.G. Introdução ser utilizada para testes moleculares, otimizando os recursos para a avaliação de agentes infecciosos como o Papilomavírus Humano (HPV), Chlamydia trachomatis e gonococos. Em relação ao desempenho da CML, tem-se observado que essa metodologia parece diminuir a freqüência de amostras insatisfatórias, apresentar maior sensibilidade na detecção das lesões intra-epiteliais escamosas (SIL) e diminuir o tempo necessário para a interpretação da citologia. Por outro lado, é uma metodologia de custo elevado, que exige treinamento técnico e citológico adequados, não sendo conhecido, até o momento, o impacto de sua utilização na detecção das lesões pré-neoplásicas e neoplásicas da cérvice uterina (Payne et al., 2000; BRASIL, 2005). Muito embora o teste de Papanicolaou tenha sido preconizado, fundamentalmente, para o reconhecimento das alterações epiteliais neoplásicas ou pré-neoplásicas do colo do útero, por meio dele, apesar de não ser o ideal, pode-se sugerir a presença de certos agentes infecciosos com alta correlação aos testes considerados como padrão-ouro. Dessa forma, a identificação morfológica ou a suspeita diagnóstica de determinados vírus, bactérias, fungos e protozoários são informes adicionais do exame citopatológico (Adad et al., 2001). 1.2 - Infecções sexualmente transmissíveis e outras infecções do trato genital feminino inferior As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) são processos infecciosos causados por um grupo heterogêneo de agentes, agrupadas devido à significância epidemiológica do contato sexual, embora esse não seja, necessariamente, o único meio de transmissão (Reese & Betts, 1991). Entre as ISTs consideradas pela Organização Mundial da Saúde como de transmissão essencialmente sexual estão: gonorréia, sífilis, cancro mole e linfogranuloma venéreo e as de freqüente transmissão: donovanose, herpes genital, condiloma acuminado, tricomoníase, candidíase, uretrite não-gonocócica, uretrite e endocervicite causadas por C. trachomatis, hepatite B, pitiríase, pediculose e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) (WHO, 2005b). 5 BARRETO, R.G. Introdução De acordo com a WHO, dez a 12 milhões de brasileiros contraem alguma IST a cada ano, comprovando que o combate a essas doenças continua sendo um desafio real para as políticas de saúde no Brasil. Porém, o número de casos notificados está muito abaixo da estimativa, compreendendo cerca de 200 mil casos/ano. Esse fato pode ser explicado pela notificação das ISTs não ser compulsória (exceto AIDS e sífilis congênita) e como a maioria das pessoas busca tratamentos em farmácias e outros estabelecimentos não-oficiais, essas doenças são sub-notificadas. Tão importante quanto diagnosticar e tratar, precocemente, os portadores sintomáticos das ISTs é realizar a detecção dos portadores assintomáticos, haja vista que esses se comportam como elos fundamentais na cadeia de transmissão dos agentes infecciosos. Além disso, aumentam a chance de contaminação pelo HIV em pelo menos dez vezes (Carret et al., 2004). As mulheres têm risco duas vezes maior do que os homens de adquirir alguma IST de um parceiro infectado do que o inverso. Assim, os efeitos dessas doenças nas mulheres são muito mais severos e as seqüelas resultantes dessas infecções são, significativamente, mais sérias (Sciarra, 1997). Classicamente, as vulvovaginites encontram-se entre as causas mais freqüentes que motivam as mulheres às consultas ginecológicas (Telles, 1994, Simões, 1995). A candidíase, a vaginose bacteriana (VB) e a tricomoníase são responsáveis por mais de 90% dos casos de vulvovaginites infecciosas (Linhares, Bagnoli & Halbe, 1993). Essas vulvovaginites geram sintomas como: corrimento, prurido, dispareunia, disúria, desconforto vaginal e vulvar, entre outros, levando, freqüentemente, à necessidade do tratamento das mulheres com antimicrobianos e antifúngicos (Sobel, 1990; Aldrighi & Bueno, 1996). As vulvovaginites podem estar associadas a outros estados inflamatórios ginecológicos decorrentes de diversas causas, como: infecções inespecíficas, irritações, alergias e doenças sistêmicas. Os efeitos de vários fatores (idade, paridade, idade precoce ao início da atividade sexual, número de parceiros sexuais, infecções prévias) sobre o risco de desenvolvimento das várias ISTs variam segundo os estudos e as regiões geográficas, gerando perfis epidemiológicos diversificados para as pacientes com 6 BARRETO, R.G. Introdução ISTs (Koutsky et al., 1992; Becker et al., 1994; Bornstein et al., 1995). O número de parceiros sexuais e a idade precoce ao início da atividade sexual são dois fatores de risco que medem, indiretamente, a exposição aos agentes de transmissão sexual. Isso é, especialmente, importante no período da adolescência, quando a primeira metaplasia cervical ocorre, aumentando a vulnerabilidade do epitélio cervical a agentes oncogênicos (Bornstein et al., 1995). A tricomoníase é causada pelo Trichomonas vaginalis, um protozoário flagelado, unicelular, oval ou piriforme, que infecta o trato geniturinário tanto das mulheres quanto o dos homens. Os homens com tricomoníase não manifestam, habitualmente, sintomas e entre as mulheres, cerca de metade dessas infecções são assintomáticas. Quando presentes, o sintoma mais comum nas mulheres é a secreção vaginal bolhosa de cor amarela ou esverdeada e de odor fétido. Disúria, prurido, ardor e irritação da mucosa também são freqüentes. O exame clínico dos epitélios vaginal e cervical evidencia pequenas hemorragias puntiformes, as quais produzem o aspecto em “morango” desses epitélios (Schwebke & Burgess, 2004). Embora a cultura seja o método mais sensível de diagnóstico, é o mais dispendioso. O mais prático é o exame a fresco com adição de soro fisiológico a 0,95% a uma alíquota de fluxo vaginal homogeneizada entre lâmina e lamínula e vista ao microscópio, procurando-se identificar o T. vaginalis. Esse teste apresenta sensibilidade de 50% a 75% e especificidade superior a 99% (Lewis, 1997). Nos esfregaços cérvico-vaginais, o T. vaginalis pode ser identificado como uma estrutura arredondada ou ovalada, muitas vezes de forma irregular. Um pequeno núcleo excêntrico é visível nos parasitas bem preservados, sendo fundamental para o diagnóstico citopatológico (Hillier & Arko, 1997; Nazário et al., 1997; Iglesias et al., 2000; WHO, 2000). A Candida albicans é o fungo que mais produz quadros infecciosos na vulva, vagina e, raramente, no colo do útero, ocorrendo em geral, em pacientes predispostas a um crescimento exacerbado da sua própria flora cérvico-vaginal. Esse fungo é responsável por cerca de 85% das infecções, sendo que o restante, deve-se, principalmente, à C. glabrata e, em menor freqüência, a outras espécies como a C. tropicalis e C. krusei (WHO, 2000). 7 BARRETO, R.G. Introdução A C. albicans ocorre em forma de levedura e de micélio. As leveduras são ovais e em amostras vaginais reproduzem-se assexuadamente, formando brotos. Esses, continuando a se formar e alongar, sem se desprender entre si, formam as pseudo-hifas. Em aproximadamente 20% das mulheres, a simples presença do fungo não produz sintomas. Nas sintomáticas, o prurido é o sintoma mais relatado, seguido de secreção espessa branca e sem odor, hiperemia da mucosa cérvico-vaginal, disúria e dispareunia. O diagnóstico da candidíase, freqüentemente, é feito em microscopia a fresco com adição de hidróxido de potássio a 10%, ou através da coloração, pelo método de Gram, do fluido cérvico-vaginal e são os diagnósticos mais sensíveis. A cultura, também, é um método bastante sensível e pode ser muito útil para os casos em que há sintomas e a microscopia é negativa ou ainda nos casos de candidíase recidivante (Hillier & Arko, 1997; Iglesias et al., 2000; WHO, 2000). O herpes genital, na maior parte dos casos, é ocasionado pelo HSV-2, sendo 15% das infecções produzidas pelo HSV-1. A infecção primária pode ser assintomática ou originar febre, mialgia e cefaléia, precedendo o aparecimento das lesões. As lesões cutâneo-mucosas aparecem de dois a sete dias após a exposição, com dor local e prurido e, geralmente, são múltiplas. Começam com vesículas ou pápulas que se difundem, rapidamente, e após a ruptura dessas vesículas, aparecem ulcerações que coalescem. Se não ocorrerem infecções secundárias, as úlceras cicatrizam em cinco a dez dias, com reepitelização. Disúria, leucorréia e linfoadenopatia regional são sintomas freqüentes. Após a infecção inicial, o vírus permanece inativo nos gânglios (Steben, 2005; Cunningham et al., 2006). A C. trachomatis é uma bactéria Gram-negativa e intracelular obrigatória. Produz uma grande variedade de manifestações clínicas, dependendo do sorotipo envolvido (Panuco et al., 2000). Em mulheres, a C. trachomatis está envolvida em casos de doença inflamatória pélvica (DIP) e gravidez ectópica (Chan et al., 2000). Apesar de 50% dos casos serem assintomáticos, essa infecção pode gerar danos 8 BARRETO, R.G. Introdução irreparáveis às trompas de Falópio, levando à infertilidade (Paler et al., 2000; Carvalho, Angeli & Krajden, 2004). Várias metodologias têm sido descritas para o diagnóstico da infecção pela C. trachomatis, mas um resultado confiável está diretamente associado a uma coleta representativa da região infectada, no caso, a JEC e o epitélio endocervical, que são os locais mais acometidos (Moraes Filho & Longatto Filho, 2000). Nos esfregaços cérvico-vaginais, a primeira alteração observada no citoplasma é o aparecimento de numerosos e diminutos corpos cocóides, circundados por zonas claras. Nos estágios mais avançados, os corpúsculos cocóides se fundem formando densas inclusões localizadas no interior de vacúolos maiores. A VB pode ser conceituada como uma síndrome clínica envolvendo o trato genital inferior, caracterizada pela diminuição da flora lactobacilar normal e crescimento excessivo de bactérias anaeróbias ou facultativas, como a Gardnerella vaginalis, Mobiluncus sp e Mycoplasma hominis (Aroutcheva et al., 2001). A VB é a causa mais freqüente de corrimento vaginal em mulheres na idade reprodutiva, podendo ocorrer em 9,2% a 40,0% das mulheres atendidas em clínicas ginecológicas (Nazário et al., 1997; Sampaio Neto et al., 1997; Davis et al., 1997; Lamont et al., 2000; Adad et al., 2001; Avilés et al., 2001; Riedner et al., 2003, Yen et al., 2003). Porém, aproximadamente, 50% das mulheres não apresentam sintomas (Amsel et al., 1983). As manifestações clínicas, quando ocorrem, caracterizam-se por corrimento homogêneo amarelado ou acinzentado, com odor de peixe, aderente às paredes vaginais e às vezes, bolhoso. Prurido vaginal não é comum. Os esfregaços cérvico-vaginais evidenciam numerosas bactérias em forma de bastão, que podem estar parcial ou totalmente aderidas à superfície das células escamosas, chegando a recobrir essas células, que são denominadas clue cells ou “células-alvo”. Segundo os critérios de Amsel (Amsel et al., 1983), o diagnóstico da VB é firmado diante de três, entre os quatro seguintes sinais: corrimento fino e 9 BARRETO, R.G. Introdução homogêneo, odor espontâneo ou após adição de hidróxido de potássio (KOH) a 10%, pH vaginal > 4,5 e células-alvo (pelo menos uma em cinco células epiteliais). A coloração pelo Gram é considerada o melhor e mais simples exame para o diagnóstico da VB. Esse método é preferível à cultura porque é mais específico e disponível em todos os laboratórios (WHO, 2000). Apresenta elevada sensibilidade, especificidade e valor preditivo positivo e possui as vantagens de padronização, se utilizados critérios como o de Nugent e/ou de Spiegel. O primeiro critério quantifica os morfotipos correspondentes a bacilos Grampositivos grandes (Lactobacillus sp), Gram-negativos pequenos (G. vaginalis) e Gram variáveis curvos (Mobiluncus spp). Esse critério tem uma pontuação que varia de zero a dez, atribuindo maior valor à baixa presença de bacilos Grampositivos e elevada presença de bacilos pequenos Gram-negativos e Gram variáveis. Uma amostra é diagnosticada com a VB, quando a pontuação é maior ou igual a sete. Pontuação de quatro a seis corresponde a um estado intermediário e pontuação de zero a três, a uma amostra normal (Joesoef et al., 1991; Nugent et al., 1991; Hillier & Arko, 1997; Tam et al., 1998; Navarrette et al., 2000; Delaney & Onderdonk, 2001; Forsum et al., 2002). No critério mais simples, de Spiegel (Spiegel, Amsel, & Holmes, 1983), os esfregaços cérvico-vaginais são classificados conforme a presença ou ausência de bactérias, com base nas quantidades relativas de Lactobacillus sp e G. vaginalis, não pela presença ou ausência de outros tipos de bactérias. Apresenta sensibilidade de 62,5% a 100% e especificidade de 73% a 100% (Hillier & Arko, 1997). Acrescentando-se a observação de células-alvo eleva-se sua reprodutibilidade interobservador (Lin et al., 2002). 1.3 - Características gerais do HPV e sua participação na carcinogênese cervical Recentemente, a nova taxonomia dos Papilomavirus foi reconhecida pela Internacional Council on the Taxonomy of Viruses como um vírus pertencente à família Papillomaviridae, gênero papilomavirus Alfa, Beta, Gama, entre outros. O 10 BARRETO, R.G. Introdução gênero Alfa-papillomavirus contém todos os tipos de HPV associados às lesões da mucosa ano-genital (De Villiers et al., 2004). O HPV é um vírus não-envelopado, com peso molecular de 5x106 daltons e forma icosaédrica. Apresenta tropismo pela pele e membranas mucosas, podendo causar uma grande variedade de lesões proliferativas. Possui uma única molécula de DNA dupla fita, com formato circular e, aproximadamente, 8.000 pares de bases, envolta por um capsídeo. Esse é formado por 72 subunidades (capsômeros) e tem cerca de 55nm de diâmetro. O genoma dos HPV (Figura 1), contém oito ORFs (Open Reading Frames), também conhecidas como unidades de tradução e é organizado em três regiões: região precoce (E - early), região tardia (L - late) e região reguladora (LCR - long control region) (Münger, 2004; Longworth & Laimins, 2004; Jo & Kim, 2005). Figura 1 - Representação esquemática do genoma do HPV. Fonte: Jo, H., Kim, J. W. Implications of HPV infection in uterine cervical cancer. Cancer Therapy, 3: 419-434, 2005. Há seis ORFs na região precoce denominadas E1, E2, E4, E5, E6 e E7, correspondendo a 45% do genoma viral. As proteínas E1 e E2 são necessárias para a replicação viral do DNA e formam um complexo em torno da origem de replicação. A E2, também, atua como controle no mecanismo de transcrição viral. A proteína E4 interage com a citoqueratina e talvez seja responsável pela 11 BARRETO, R.G. Introdução alteração da arquitetura celular, conhecida como coilocitose. A função do gene E5 não está bem clara, mas parece codificar uma proteína membranal com atividade transformadora fraca. Os genes E6 e E7 codificam, além dos produtos para a replicação viral, oncoproteínas que têm um papel fundamental na imortalização e transformação da célula hospedeira. Isso se deve à capacidade das proteínas E6 e E7 se ligarem às proteínas celulares codificadas pelos genes supressores tumorais p53 e retinoblastoma (Rb), respectivamente, inativando-as (Figura 2). Dano ao DNA Apoptose Fase S Ubiquitinização Degradação A B Degradação Figura 2 - A) Fosforilação da proteína Rb pelo complexo ciclina/cdk inibindo a atividade repressora de pRb. A oncoproteína E7 liga-se à forma hipofosforilada da proteína Rb, o que interrompe o complexo formado por pRb e o fator E2F, liberando esse fator o que leva a célula à fase S do ciclo celular. B) Dano ao DNA induz a ativação da p53 levando à interrupção no ciclo celular para reparo do DNA ou à apoptose. A oncoproteína E6 liga-se à E6AP mediando ubiquitinação e rápida degradação via proteassoma da proteína p53. Fonte: Jo, H., Kim, J. W. Implications of HPV infection in uterine cervical cancer. Cancer Therapy, 3: 419-434, 2005. O segmento L representa 40% do genoma e possui dois genes L1 e L2. A proteína L1 forma o capsídeo viral e a L2 empacota o DNA viral com os outros produtos gênicos (Figura 1). A região LCR (Figura 1), que constitui 15% do genoma do HPV, é a única que não contém ORFs, mas concentra seqüências reguladoras importantes na replicação e transcrição viral (Sonnex, 1998; Reichman, 2001; Stoler, 2003). 12 BARRETO, R.G. Introdução Há mais de 200 tipos de HPV descritos e cerca de 100 já foram identificados, com seus genomas inteiros, isolados e completamente seqüenciados (Bernard, 2005). Entretanto, através da detecção de fragmentos parciais do genoma, presume-se que existam vários outros tipos do vírus. Tipos distintos do HPV apresentam diferenças superiores a 10% na seqüência do DNA na região L1 do genoma. Subtipos do HPV apresentam diferenças entre 2% a 10% e variantes dos tipos apresentam diferenças inferiores a 2% nessa mesma região do genoma (De Villiers et al., 2004). Aproximadamente, 40 tipos de HPV podem infectar o trato ano-genital e são classificados como tipos de baixo ou alto risco oncogênico. Os HPV 6, 11, 40, 42, 43, 44, 54, 61, 70, 72, 81 e CP6108 pertencem ao primeiro grupo e estão associados a LSIL e, raramente, são encontrados em lesões cancerosas. Já o segundo, é formado pelos HPV 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 68, 73 e 82, que se associam, comumente, a HSIL e ao câncer cervical. Entretanto, para outros tipos, observam-se divergências na sua classificação, sendo eles, algumas vezes, considerados como HPV, provavelmente, de alto risco oncogênico no caso dos tipos 26, 53 e 66. Esses, embora estejam associados a HSIL, são, raramente, detectados em carcinomas invasores. Enquanto os HPV 34, 57 e 83 são analisados como tipos de risco indeterminado (Munoz et al., 2003). A transmissão do HPV requer um contato direto com o tecido epitelial. A exposição ao vírus, durante o contato sexual com um parceiro infectado representa a via de infecção mais comum. O HPV infecta as células basais da região de metaplasia do colo do útero. A perda da integridade da pele ou da mucosa do trato ano-genital facilita o acesso viral a essas células. Estudos revelaram um risco estimado em 60% a 80% de se adquirir o HPV através de um único contato entre pessoas com lesões genitais (Oriel, 1971; Barrasso et al., 1987; Boon et al., 1988; Malek et al., 1993), sendo o número de parceiros sexuais um importante fator de risco (Tortolero-Luna, 1999). Embora, as relações sexuais com penetração sejam importantes na transmissão, admite-se que a aquisição do HPV possa ocorrer, também, através de contatos sexuais sem penetração, 13 BARRETO, R.G. Introdução fômites, por auto-inoculação ou perinatal (Marrazo et al., 2001; Schiffman & Kjaer, 2003; Winer et al., 2003). Após a exposição ao HPV, a infecção pode se manifestar de três formas: 1 - infecção latente: o DNA viral encontra-se na forma epissomal, aparentemente, não-funcional e replica-se apenas uma vez a cada ciclo celular. Nessa forma de infecção, o DNA-HPV é diagnosticado através de técnicas moleculares, não existindo evidências clínicas ou morfológicas nos epitélios do trato ano-genital; 2 - infecção clínica: partículas virais intactas são formadas através de replicação vegetativa do genoma do HPV e se manifesta através da proliferação das células do epitélio escamoso, o que determina a formação de lesões benignas como as verrugas genitais e os condilomas; 3 - infecção persistente: o genoma do HPV sofre replicação e expressão e pode tornar-se integrado ao genoma do hospedeiro. A integração viral resulta na expressão aumentada dos oncogenes E6 e E7, pela perda dos mecanismos de regulação mediados por E2, determinando o desenvolvimento de lesões cancerosas (Ferenczy et al., 1997; Stoler, 2003). Os primeiros sinais de transcrição do genoma viral aparecem cerca de quatro semanas após a infecção. O período de incubação pode variar de três a dezoito meses e a persistência das lesões pode ser avaliada em semanas, meses ou anos. A relação causal entre HPV, câncer cervical e suas lesões precursoras já está bem definida (IARC, 1995; Schiffman & Burk, 1997; Walboomers et al., 1999) e depende, fundamentalmente, do tipo e carga viral, persistência da infecção e integração com a célula hospedeira (Syrjänen & Syrjänen, 1999). Vários estudos sugerem que a infecção pelo HPV é necessária, mas que fatores adicionais estão envolvidos na progressão das lesões precursoras (Herrerro et al., 1990; Cuzick et al., 1994; Schiffman & Brinton, 1995; Ho et al., 1998; Southern & Herrington, 1998). Múltiplos parceiros sexuais, parceiros sexuais promíscuos, início precoce da atividade sexual (Gontijo et al., 2005), outras ISTs, paridade, uso de anticoncepcionais orais, fatores dietéticos, imunossupressão e tabagismo têm sido 14 BARRETO, R.G. Introdução implicados como potenciais fatores de risco para o carcinoma cervical (Syrjänen & Syrjänen, 1999; Atalah et al., 2001). Considerando, especificamente, as adolescentes, a metaplasia cervical pode ser um importante fator, aumentando a suscetibilidade do epitélio às infecções pelas ISTs (Singer, 1975). No modelo proposto para a história natural do câncer cervical (Figura 3), a partir do momento em que a mulher inicia a sua atividade sexual ela pode adquirir a infecção pelo HPV. Essa pode regredir, espontaneamente, ou levar ao aparecimento da LSIL, cuja progressão subseqüente resultaria na HSIL e, eventualmente, no câncer cervical invasor. Entretanto, admite-se, também, a progressão direta da infecção pelo HPV para a HSIL. A evolução das lesões intraepiteliais cervicais não é um processo irreversível, sendo possível sua regressão espontânea (Bosch et al., 2002; Schiffman & Castle, 2003). As lesões precursoras e o câncer do colo do útero acometem, principalmente, mulheres adultas. Contrariando esse paradigma, observa-se aumento no risco de NIC em adolescentes com início precoce da atividade sexual (Kahn et al., 1999). 15 BARRETO, R.G. Introdução Câncer de colo do útero Cérvice normal Infecção pelo HPV Persistência viral e progressão Regressão Lesão précancerosa Invasão Câncer Incidência Incidência HPV Pré-câncer 15 30 Câncer 45 Idade (anos) Figura 3 - Relação entre incidências de infecção pelo HPV, lesões précancerosas e câncer. Fonte: Adaptado de Schiffman M.; Castle P.E. The promise of global cervical-cancer prevention. New England Journal of Medicine, 353(20):2101-2103, 2005. A infecção genital pelo HPV é uma das ISTs mais comuns e sua prevalência em mulheres varia de 15% a 40%. A prevalência da infecção em mulheres com idade inferior a 30 anos é superior a 30% e declina para níveis de 4% a 5% em mulheres com mais de 45 anos (Schiffman et al., 2000; Ferenczy et al., 2002; Abba et al., 2003). Estudos conduzidos no Brasil, Colômbia, Paraguai e Peru mostram taxas de prevalência do HPV entre 15% e 20% em mulheres sexualmente ativas. A maior parte dos casos concentra-se em duas faixas etárias: a com idade inferior a 25 anos, com destaque para as adolescentes, e a com idade entre 35 e 45 anos (Munoz et al., 2003). Mais de 50% das adolescentes e adultas jovens adquirem o HPV dentro de quatro ou cinco anos após a primeira experiência sexual, com desenvolvimento de LSIL em mais de 25% (Moscicki et al., 2001). Entretanto, a maioria das infecções pelo HPV é transitória. Em torno de 90% a 95% das infecções regridem e 95% das LSIL também, com o vírus tornando-se indetectável em um a dois anos, por 16 BARRETO, R.G. Introdução eliminação completa da infecção ou pelo estabelecimento de uma infecção latente (Ho et al., 1998; Schiffman & Kjaer, 2003). Adicionalmente, novas infecções são constantes, criando ondas sobrepostas de aquisição e regressão, o que explica as baixas taxas de LSIL (<1%) e mais baixas ainda de doença invasiva (< 0,001%) (Mount & Papillo, 1999). De acordo com o conhecimento atual, a imunidade humoral é responsável pela inativação das partículas do HPV e pode até impedir a transmissão e disseminação viral, enquanto a imunidade celular é responsável pela destruição das células infectadas e pela regressão das lesões HPV-induzidas (Wu, 1994; Malejczyk, Malejczyk & Jablonska, 1997; Wang & Hildesheim, 2003). Há várias técnicas moleculares para a detecção do DNA-HPV, dentre as quais, destacam-se quatro: Hibridização in situ, Southern Blot, Captura Híbrida e a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). A maior parte da utilização desses testes está restrita à pesquisa. A técnica de PCR é a mais sensível de que se dispõe, na atualidade, para verificar a presença do DNA-HPV em amostras biológicas (Lörincz, 1996; Lancellotti et al., 2000; Van Doorn et al., 2001). Em revisão recente de diversos estudos que avaliaram o desempenho do teste de identificação do DNA-HPV na prevenção primária do câncer do colo do útero, Franco (2003) estimou que a citologia teria, em média, sensibilidade de 60% e especificidade de 95%, enquanto que o teste para o DNA-HPV teria, em média, sensibilidade de 85% e especificidade de 84%. Em mulheres na faixa de 30-35 anos o teste para o DNA-HPV teria um desempenho melhor (sensibilidade de 89% e especificidade de 90%) devido, provavelmente, a menor freqüência de infecções transitórias nessa faixa etária. O teste para o DNA-HPV e a citologia, se utilizados em combinação, teriam sensibilidade e valor preditivo negativo bastante elevados - e de quase 100% para as lesões de alto grau (Ratnam et al., 2000; Franco, 2003; Sherman et al., 2003). Considerando os demais fatores envolvidos na gênese das lesões do colo do útero, Wright & Riopelle (1984) analisaram a idade ao início da atividade sexual e a idade ao diagnóstico em 747 mulheres com NIC. O estudo sugere que o tempo 17 BARRETO, R.G. Introdução de atividade sexual pode ser utilizado como parâmetro normativo para o rastreamento do câncer do colo do útero. No Brasil, Zeferino (1994) concluiu que o tempo de atividade sexual está associado ao risco da neoplasia do colo do útero, mas não varia em função da idade ao início da atividade sexual. É fato que a quase totalidade das normas dos programas de rastreamento utiliza a idade cronológica para definir quando as mulheres devem iniciar os controles. O controle anual é proposto por dois anos consecutivos, a partir dos 25 anos de idade e se esses controles forem negativos, a cada três anos até os 60 anos (WHO, 1988). Todavia, com base nos estudos citados anteriormente (Wright & Riopelle, 1984; La Vecchia et al., 1986; Herrero et al., 1990; Zeferino, 1994), uma mulher com 25 anos de idade e que iniciou a atividade sexual aos 15 teria maior risco de desenvolver câncer do colo do útero que uma mulher também com 25 anos, mas que iniciou atividade sexual aos 20, o que demonstra que a idade cronológica não seleciona, homogeneamente, as mulheres que devem iniciar os controles. Ferguson (1961) publicou estudo pioneiro demonstrando a importância da coleta sistemática da citologia oncótica em adolescentes sexualmente ativas. Em sua casuística de 1500 esfregaços cérvico-vaginais alterados, jovens com idade inferior a 19 anos representavam 5% dos achados anormais. Sadeghi et al. (1984) realizaram amplo estudo prospectivo avaliando 194.069 pacientes entre 15 e 19 anos e detectaram citologia oncótica alterada em 1,9% das pacientes (lesões displásicas e carcinoma in situ). Entre 10.296 exames de Papanicolaou de adolescentes com 10 a 19 anos de idade realizados em New England-EUA, observou-se que 70,0% foram normais, 9,7% tiveram diagnóstico de ASCUS e 3,7% diagnóstico de LSIL. As SIL foram mais freqüentes entre mulheres com 20 a 24 anos de idade, seguida pela faixa etária de 15 a 19 anos (Mount & Papillo, 1999). Em Nova York-EUA, entre 271 mulheres de 13 a 22 anos de idade e atendidas em uma clínica de ISTs, a freqüência de exames de Papanicolaou anormais foi de 20,7%, sendo que 12,2% foram ASCUS, 7,7% LSIL e 0,7% HSIL. Os exames de Papanicolaou anormais foram mais freqüentes no grupo das adolescentes em comparação ao das mulheres adultas. Entre essas mulheres, 18 BARRETO, R.G. Introdução 13,2% apresentavam alterações na citologia, sendo que 9,9% foram ASCUS, 2,5% LSIL, 0,6% HSIL e 0,2% tinham carcinoma invasor (Edelman et al., 1999) Utagawa et al. (1998) analisando os resultados da CC obtidos entre 1987 e 1995, pelo programa de prevenção do câncer cervical do Serviço Público de Saúde do Estado de São Paulo, encontraram um aumento na freqüência de citologias anormais, durante esse período, em mulheres com menos de 22 anos de idade. De acordo com esse estudo, entre as 9.681 citologias examinadas em 1995, 2,02% tiveram diagnóstico de LSIL e 0,07% teve diagnóstico de HSIL. Longatto Filho et al. (2003), também, analisaram os resultados da CC obtidos pela Rede Pública de Saúde do Estado de São Paulo, porém em período posterior (1996 a 2001). Esses autores observaram, igualmente, aumento na freqüência de citologias anormais em mulheres com menos de 22 anos de idade, sendo que, nesse grupo, 4,2% das citologias examinadas tiveram diagnóstico de SIL. Também no Brasil, Tacla et al. (2000) descreveram o resultado de estudo retrospectivo abrangendo a análise de 3.483 esfregaços cérvico-vaginais de adolescentes entre 11 e 19 anos. Verificaram ainda que 4,4% das amostras apresentavam citologias oncóticas alteradas. Em relação aos resultados alterados, 93% corresponderam a LSIL e 7%, a HSIL. Outro estudo, conduzido nos EUA, observou maior freqüência de exames de Papanicolaou anormais entre adolescentes de 13 a 17 anos de idade (29%) do que em mulheres com 18 anos ou mais (23%). Nesse estudo, entre as 528 adolescentes de 13 a 17 anos de idade, as prevalências de ASCUS, LSIL e HSIL foram de 16%, 13% e 0,2%, respectivamente. Já nas mulheres com 18 anos ou mais, as prevalências de ASCUS, LSIL, HSIL e carcinoma de células escamosas foram de 15%, 7%, 1,2% e 0,1%, respectivamente (Simsir et al., 2002). Considerando que o Ministério da Saúde preconiza, para o Brasil, ações de detecção precoce dirigidas às mulheres na faixa etária de 25 a 59 anos de idade, através do Programa Viva Mulher e os dados descritos acima, ressalta-se a importância da inclusão das adolescentes nos programas de rastreamento das lesões precursoras do câncer do colo do útero. 19 2 - Justificativa BARRETO, R.G. Justificativa A prevalência da infecção pelo HPV está relacionada à incidência do câncer cervical, principalmente, nos países em que os programas de rastreamento são deficientes ou inexistentes, o que pode ser comprovado pelas altas taxas de incidência, relacionadas às populações com altas prevalências da infecção pelo HPV (IARC, 2001; Bosch & De Sanjose, 2003; Shin et al., 2003). Assim, apesar do câncer cervical ser um evento raro em mulheres jovens, conhecer a prevalência do principal fator responsável por esse câncer contribuirá para o planejamento de estratégias de prevenção da doença. Em relação aos fatores associados à infecção pelo HPV, observa-se que a idade precoce da primeira relação sexual é, freqüentemente, identificada como um fator de risco para a infecção. Entretanto, a associação entre essa infecção e outros fatores comportamentais, sócio-demográficos e reprodutivos, não tem sido tão consistente e estudos conduzidos em diversos grupos populacionais têm encontrado diferentes fatores determinantes da infecção pelo HPV (Bauer et al., 1993; Hildesheim et al., 1993; Franco et al., 1995; Munoz et al., 1996; TortoleroLuna, 1999; Sellors et al., 2000; Giuliano et al., 2001; Lazcano-Ponce et al., 2001; Peyton et al., 2001; Molano et al., 2002; De Sanjose et al., 2003; Matos et al., 2003; Pham et al., 2003). Então, a investigação de fatores associados à infecção pelo HPV e a avaliação da distribuição das taxas de prevalência em mulheres jovens, com infecções subclínicas e lesões iniciais, correlacionando-as aos diferentes aspectos comportamentais e ginecológicos poderá contribuir para um melhor conhecimento da história natural da doença nesse grupo. Vê-se, portanto, que a expressão da doença pode ser ampla e a evolução imprevisível. De um lado pode ocorrer a cura espontânea e do outro, constantes recidivas mediadas por inúmeros fatores e situações. O conhecimento de técnicas moleculares, como a PCR, pode contribuir para um melhor diagnóstico, facilitando o raciocínio terapêutico e prognóstico, porém não é suficiente para estabelecer, com clareza, qual será a evolução da doença. Assim, os testes moleculares e morfológicos permitem traçar o perfil epidemiológico da prevalência da infecção pelo HPV e das lesões por ele induzidas. 21 BARRETO, R.G. Justificativa Além disso, apesar do câncer cervical ser um importante problema de saúde no Brasil, em revisão da literatura, encontram-se poucos estudos sobre a infecção pelo HPV em mulheres brasileiras que tenham utilizado técnicas moleculares para identificação do HPV. Igualmente, poucos estudos abordaram a ocorrência de anormalidades citológicas cervicais em mulheres brasileiras com a utilização da CML. Neste trabalho, os resultados de um estudo realizado em adolescentes e mulheres brasileiras jovens são relatados, correlacionando dados ginecológicos às diferentes metodologias para avaliação da flora cérvico-vaginal, o desempenho da CC e CML e a detecção do DNA-HPV pela PCR. 22 3 - Objetivos BARRETO, R.G. Objetivos 3.1 - Objetivo geral Avaliar a prevalência de processos inflamatórios e displásicos em adolescentes e mulheres jovens, e correlacionar esses achados com a presença do DNA-HPV detectado pela PCR. 3.2 - Objetivos específicos 3.2.1 - Comparar o desempenho do exame citológico de esfregaços coletados e confeccionados pela técnica da CC e pela técnica da CML. 3.2.2 - Comparar os diagnósticos microbiológicos obtidos entre as diferentes técnicas (Gram, a fresco, CC e CML). 3.2.3 - Determinar a prevalência do DNA-HPV na população estudada. 3.2.4 - Determinar a associação dos fatores de risco ginecológicos em relação às alterações citológicas associadas ou não ao DNA-HPV. 24 4 - Metodologia BARRETO, R.G. Metodologia 4.1 - Casuística Este estudo foi realizado no Centro de Apoio à Saúde do Adolescente (CASA), Organização Não-Governamental, sediada em Itabirito, Minas Gerais; na Escola de Farmácia e no Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto. Itabirito tem uma população estimada de 42.195 habitantes (IBGE, 2006). Desses, 7.550 estão na faixa etária de 10 a 19 anos, período, cronologicamente, estabelecido como adolescência e 3.666 estão na faixa etária de 20 a 24 anos sendo considerados adultos jovens (IBGE, 2004; WHO, 1998). O CASA atua na proteção integral ao adolescente através de apoio sócio-educativo em meio aberto e de atendimento biopsicossocial em caráter preventivo. Desde a sua fundação, em 2000, prestou atendimento a 3670 adolescentes (meninos e meninas). Semanalmente, em torno de 400 adolescentes participam das atividades e a cada dia novos adolescentes são cadastrados, encaminhados pelos pais, conselho tutelar, escolas, rede de saúde, judiciário etc. Esse trabalho é desenvolvido por uma equipe interdisciplinar, formada por médicos (generalista, ginecologistaobstetra, pediatra e hebiatra), psicólogos, assistente social, terapeuta ocupacional, naturólogo e pedagogo. Na clínica ginecológica, foi constatado que a maior demanda de atendimentos para as adolescentes foi gravidez não-planejada e ISTs e o trabalho do CASA reduziu o número de internações por gravidez/parto, de 63% em 2002, para 59,6% em 2004. Durante a realização deste trabalho foram avaliadas 166 mulheres jovens com idade variando de 14 a 23 anos atendidas pelo CASA, cujas amostras foram encaminhadas à Escola de Farmácia da UFOP, caracterizando amostragem por conveniência, entre fevereiro e dezembro de 2005, tendo sido respeitados os critérios de inclusão e exclusão previamente definidos. Todas as participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 1). O protocolo previa que os resultados da citologia estariam 26 BARRETO, R.G. Metodologia disponíveis para as pacientes e que seria responsabilidade do ginecologista comunicar esses resultados às participantes. Um resultado anormal na citologia seria explicado à participante, que teria acompanhamento adequado. Os resultados da PCR para o HPV, também, foram fornecidos. O sigilo foi respeitado em relação às informações coletadas e em momento algum a paciente foi identificada. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética, estando de acordo com as atribuições da Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) 196/96 . 4.1.1 - Critérios de inclusão • Mulheres adolescentes e adultas jovens de 14 a 23 anos de idade; • Termo de consentimento, devidamente, assinado (ANEXO 1) e • Útero intacto. 4.1.2 - Critérios de exclusão • Administração crônica (definida como mais de 14 dias) de imunossupressores ou outras drogas modificadoras da imunidade nos últimos seis meses; • Defeitos congênitos importantes ou enfermidade crônica grave; • Anormalidade aguda ou crônica, clinicamente significante, das funções pulmonar, cardiovascular, hepática ou renal, como determinado pelo exame clínico e • Recusa na assinatura do termo de consentimento. 4.2 - Coleta de dados e procedimentos A assinatura do termo de consentimento foi solicitada (ANEXO 1) após o esclarecimento sobre a pesquisa, às pacientes e indagado o desejo em participar. 27 BARRETO, R.G. Metodologia Todas as participantes completaram um questionário contendo perguntas relacionadas aos seus dados pessoais e história sexual, contraceptiva e reprodutiva, com o auxílio de um membro da equipe do estudo (ANEXO 2). A seguir, as pacientes foram encaminhadas para exame ginecológico, em mesa apropriada, submetendo-as à introdução de espéculo de Collins, suavemente, com a inspeção do colo do útero, atentando-se para suas características e observando-se se havia friabilidade cervical e presença de muco. 4.2.1 - Colpocitologia 4.2.1.1 - Convencional Foram utilizadas espátulas de Ayre para coleta da amostra ectocervical e escovas (Cytobrush®) para a coleta da amostra endocervical. A espátula e a escova com o material colhido foram passadas em uma lâmina de vidro, devidamente, identificada com as iniciais da paciente e o número de protocolo, produzindo um esfregaço que foi, rapidamente, fixado em álcool 95%. Todos os frascos contendo os esfregaços foram encaminhados ao Laboratório de Citologia da Escola de Farmácia para procedimento de coloração (ANEXO 3). 4.2.1.2 - Meio líquido Para a realização dessa técnica, introduziu-se uma escova específica (Digene®) no canal endocervical, de modo que as cerdas maiores tocassem a região ectocervical sob leve pressão. A escova foi girada cinco vezes (360º) no sentido horário e, em seguida, a ectocérvice foi escovada. Após a coleta, a escova foi colocada dentro do frasco contendo o meio líquido e desconectada do cabo. O frasco foi fechado e agitado por, aproximadamente, trinta segundos para homogeneizar a amostra. Todos os frascos contendo o meio líquido com a escova 28 BARRETO, R.G. Metodologia foram encaminhados ao Laboratório de Citologia da Escola de Farmácia para processamento. No laboratório, cada tubo foi homogeneizado, individualmente, em alta velocidade por vinte segundos. Foram pipetados 200 µL de cada amostra, dispensando-as, uniformemente, sobre a membrana de policarbonato. A seguir, a tampa do Prepgene® foi fechada, as laterais travadas durante dez segundos, para impressão das células às lâminas. Posteriormente, os esfregaços foram fixados por quinze minutos em álcool 95% e submetidos à coloração de Papanicolaou (ANEXO 3). 4.2.1.3 - Avaliação citopatológica As lâminas da CC e da CML foram coradas pelo método de Papanicolaou (ANEXO 3) e avaliadas com base no Sistema de Bethesda 2001 (Solomon & Nayar, 2005) para relato de diagnósticos citológicos cervicais (ANEXO 4). 4.2.2 - Exame a fresco Parte da secreção, coletada com a espátula e a escova, foi colocada em uma lâmina de vidro, devidamente, identificada, acrescido soro fisiológico e realizada a leitura em microscópio com aumento de 100X e 400X, procurando-se identificar a flora bacteriana predominante, T. vaginalis e esporos ou pseudo-hifas de Candida sp. 4.2.3 - Gram A espátula (ectocérvice) e escova (endocérvice) foram utilizadas para a confecção de dois esfregaços distintos. Esses esfregaços foram fixados em chama e, posteriormente, corados pelo método do Gram (ANEXO 5). As lâminas 29 BARRETO, R.G. Metodologia foram avaliadas com aumento de 1000X para determinação da flora bacteriana, de acordo com método de Spiegel e de possíveis agentes infecciosos. 4.2.4 - Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) 4.2.4.1 - Coleta das amostras Durante a consulta ginecológica, foram realizados raspados da ecto e endocérvice, com o auxílio de uma escova (Cytobrush®) que foi colocada em tubos eppendorfs, contendo 1 mL tampão T.E. (Tris-HCl 10 mM pH 8,0, EDTA 1 mM), previamente, identificados. As amostras foram refrigeradas (entre 2°C e 10°C) e encaminhadas ao Laboratório de Imunopatologia da UFOP, onde foram armazenados a -70ºC para posterior realização da PCR. 4.2.4.2 - Seleção dos primers Neste trabalho, para amplificar o DNA-HPV, foram utilizados os oligonucleotídeos MY09/MY11 que flanqueiam uma seqüência conservada da região L1 do genoma viral de 449 pb. Esses primers são degenerados em algumas posições; assim, o anelamento é possível a mais de um nucleotídeo, durante a reação da PCR, permitindo a amplificação de um grande espectro de HPV (Schiffman et al., 1991; Qu et al., 1997). O gene da β-actina humana, com os primers BAR/BAF, foi amplificado como controle interno da reação. Esse procedimento teve a finalidade de verificar a integridade e suficiência de DNA das amostras para amplificação. Esses primers foram confeccionados utilizando-se o programa Gene Runner. O número de acesso do gene da β-actina no Gen Bank é XR 019608. 30 BARRETO, R.G. Metodologia Tabela 1 - Seqüências dos primers para detecção do HPV e da β-actina. Número de Código nucleotídeos Seqüência MY09 20 CGTCCCAGGGGATACTGATC MY11 20 GCCCAGGGTCATAATAATGG BAF 24 TGGAATCCTGTGGCATCCATGAAC BAR 25 TAAAACGCAGCTCAGTAACAGTCCG Figura 4 - Seqüência do gene L1 do HPV 16 (sentido 5′ → 3′). Região de anelamento do par de primers MY09 e MY11. 4.2.4.3 - Padronização das condições da PCR Com o objetivo de obter uma amostra adequada para a realização da PCR foram testados vários protocolos. Inicialmente, foi realizada uma preparação incluindo a digestão com incubação de 4 horas a 550C com proteinase K, seguida de purificação com fenol:clorofórmio. Em uma segunda etapa, foi testada uma incubação de 6 horas a 500C e tratamento com fenol:clorofórmio. Após essas 31 BARRETO, R.G. Metodologia tentativas, testou-se, também, a incubação com proteinase K, excluindo o tratamento com fenol:clorofórmio. Essas últimas condições permitiram a obtenção, de forma simplificada e rápida, de uma amostra de qualidade adequada para a realização da PCR. Para a otimização da reação de PCR, foram utilizadas inicialmente amostras comprovadamente positivas e negativas para a presença do DNA-HPV. Assim, foram testadas várias condições em relação à PCR: temperatura de “anelamento”, ciclagem e concentrações de dNTPs, de cloreto de magnésio e de Taq polimerase. Temperatura de “anelamento”: 500C a 550C com variação de 10C. Número de ciclos: 35 e 40 ciclos. Concentração de dNTPs total: 5 e 10 mM. Cloreto de magnésio: 2mM e 4 mM. Taq polimerase: 2,5 unidades e 5 unidades por reação. 4.2.4.4 - Preparo das amostras após padronização As amostras acondicionadas em tubos eppendorfs foram homogeneizadas com auxílio de um vortex por 20 segundos. Em seguida, 200 µL da amostra foram transferidos para um tubo eppendorf de 500 µL. A solução foi centrifugada a 10.000 r.p.m. por 10 minutos. O sobrenadante foi descartado e o pellet, ressuspendido em 40 µL de solução de digestão contendo 10mM Tris-HCl pH 8,0, EDTA 1mM e 0,5 % Tween 20 e 4,0 µL de proteinase K (20µg/mL). A solução foi homogeneizada e incubada a 50ºC, em banho-maria, durante 6 horas. Após o período da digestão enzimática, os tubos foram colocados em um banho a 95ºC, por 10 minutos para inativar a proteinase K. Logo após, os tubos foram centrifugados a 10.000 r.p.m. por 5 minutos. O sobrenadante foi recolhido em novo tubo eppendorf e estocado a -20ºC para posterior realização da reação de amplificação. 32 BARRETO, R.G. Metodologia 4.2.4.5 - Amplificação do DNA-HPV e da β-actina A reação de amplificação foi realizada em um volume final de 25 µL composto por 10 µL da solução contendo o DNA extraído anteriormente, 2 µL da solução de dNTPs a 10 mM, 3,0 µL do tampão da Taq DNA Polimerase 10x concentrado, 2 µL de cloreto de magnésio 50mM, 1,0 µL da enzima Taq DNA Polimerase (Platinum Taq DNA Polymerase, Invitrogen) a 5 U/µL, 6,0 µL de água mili-Q e 1,0 µL de cada primer MY09/11 ou 1,0 µL de cada primer BAF/BAR a 50 picomol/µL. Para cada bateria de amplificação pela PCR, foi utilizado um controle negativo constituído pelas mesmas concentrações e pelos mesmos reagentes da reação de amplificação, exceto o DNA. Os sistemas de amplificação contendo os primers MY09/11 e BAF/BAR foram realizados, separadamente, em tubos eppendorf de 200µL e foram transferidos para o termociclador. O programa de PCR utilizado consistiu das seguintes etapas: desnaturação inicial por 5 minutos a 95ºC, seguida por 35 ciclos de amplificação (95ºC a 1 minuto; 53ºC a 1 minuto e 72ºC a 1 minuto), uma etapa de extensão final a 72ºC durante 5 minutos e posterior manutenção a 4ºC (Schiffman et al., 1991; Qu et al., 1997). 4.2.4.6 - Análise da reação de PCR Ao produto final amplificado foram adicionados 3,0 µL de loading buffer (Promega). Para cada amostra, o volume total obtido da reação de amplificação para os primers do HPV e da β-actina foram aplicados, seqüencialmente, em gel de agarose a 1,5%, o qual foi submetido à corrente eletroforética, em cuba horizontal, a 90V durante 90 minutos, utilizando-se TBE 0,5x como tampão de corrida. O gel foi corado com brometo de etídio (0,5 mg/mL) e os fragmentos amplificados foram visualizados através de um transluminador com luz ultravioleta e, posteriormente, fotografados para análise do tamanho dos fragmentos de DNA obtidos. O resultado foi considerado positivo para DNA viral quando duas bandas foram visualizadas sendo uma com 449 pb, correspondente ao DNA-HPV e a 33 BARRETO, R.G. Metodologia outra com 290 pb, ao gene da β-actina (Figura 4). Se apenas a banda de 290 pb foi visualizada, o resultado foi considerado negativo para DNA-HPV. Foram excluídas da análise as amostras negativas para o gene da β-actina. A intensidade das bandas foi avaliada utilizando-se o software Quantity One (Bio Rad), conforme instrução do manual do fabricante. O produto da razão das bandas obtidas com primers específicos para HPV e β-actina foram expressos em unidade arbitrária de densitometria. 4.3 - Processamento e Análise dos Dados Todas as fichas foram ordenadas, numericamente, para arquivamento e os resultados dos exames foram codificados para se criar um banco de dados. Todas as informações foram digitadas no programa Excel®. Após a digitação, foram realizadas tabelas descritivas para verificação da consistência dos dados para cada variável do estudo. Os formulários foram submetidos a uma revisão. Eventuais erros, inconsistências ou lacunas foram corrigidos, recorrendo-se aos prontuários originais. Primeiramente, foi realizada análise descritiva das características da amostra através de medidas de freqüência e porcentagem. Posteriormente, cruzamentos entre os resultados obtidos para o DNA-HPV foram realizados no intuito de observar o percentual de concordância entre eles. Para verificar a significância estatística das diferenças entre os grupos, utilizou-se o teste do χ2, adotando-se como significância estatística o valor inferior a 5% (p<0,05). Para avaliação de concordância utilizou-se o índice Kappa, que varia de -1 (discordância total) a +1 (concordância perfeita) e classifica a concordância como ruim quando < 0,00; fraca entre 0,00 e 0,20; sofrível entre 0,21 e 0,40; regular entre 0,41 e 0,60; boa entre 0,61 e 0,80; ótima entre 0,81 e 0,99 e perfeita quando igual a 1,00. As prevalências da infecção pelo HPV e das lesões identificadas na citologia cervical foram calculadas com seus respectivos intervalos de confiança de 95%. 34 5 - Resultados BARRETO, R.G. Resultados 5.1- Caracterização da amostra No período de janeiro a dezembro de 2005, 175 pacientes foram atendidas pelo CASA em Itabirito, Minas Gerais. Dessas, 166 preencheram os critérios de inclusão e ingressaram neste estudo. Nove pacientes foram excluídas porque não assinaram o termo de consentimento. A Tabela 2 apresenta a distribuição das pacientes de acordo com a idade no dia do exame e ao início da atividade sexual. A idade média foi de 17,8±1,9 anos, oscilando entre 14 e 23 anos, com idade prevalente de 17. Entre as 166 mulheres, 99,4% eram sexualmente ativas e, apenas, uma paciente de 16 anos (0,6%) relatou nunca ter tido atividade sexual. Das 165 pacientes sexualmente ativas, 113 (68,7%) iniciaram atividade sexual antes dos 15 anos, 49 (29,5%) entre os 16 e 17 anos e apenas 3 pacientes (1,8%) aos 18 anos (Tabela 2). A Tabela 3 apresenta a distribuição das pacientes de acordo com o tempo de atividade sexual, em anos. Verificou-se que 29,5% das pacientes tinham entre um e dois anos de atividade sexual, 45,2% entre três e cinco anos e 24,7% com mais de cinco anos de atividade sexual. A Tabela 4 apresenta a distribuição das pacientes de acordo com algumas características ginecológicas selecionadas. Como método de anticoncepção, 3,6% eram usuárias de DIU, 31,3% de anticoncepcional oral e 56% alegaram utilizar método de barreira. Quando solicitada informação a respeito de gravidez, 3,6% tinham por motivo da consulta ginecológica, o esclarecimento sobre possível gravidez, 13,3% encontravam-se grávidas e 83,1% não. Quanto à paridade, 16,9% tinham um ou dois filhos e, apenas, 1,8% acima de três filhos. Apesar do colo, macroscopicamente, ter se apresentado alterado em 18,7% das pacientes, apenas, 4,8% apresentavam características clínicas sugestivas de ISTs. O teste de Schiller foi positivo em 17,5% das pacientes, não sendo observada correlação do teste positivo aos achados citológicos. A presença de secreção com aspecto distinto do fisiológico foi verificada em 44,6% das pacientes. 36 BARRETO, R.G. Resultados Tabela 2 - Distribuição das mulheres por idade cronológica e idade ao início da atividade sexual, em anos. Idade ao início da atividade sexual Idade N/% virgem 12 13 14 15 16 17 18 14 1/0,6% - - 1 - - - - - 15 11/6,6% - - 3 6 2 - - - 16 29/17,5% 1 - 5 5 13 5 - - 17 42/25,3% - 8 8 - 12 10 4 - 18 30/18,1% - - 3 10 7 9 1 - 19 18/10,1% - - 4 3 2 2 7 - 20 18/10,1% - - - 8 4 4 2 - 21 8/4,8% - - 3 - 3 - 2 - 22 6/3,6% - 1 - 1 1 - 2 1 23 3/1,8% - - - - - - 1 2 TOTAL 166/100% 1/0,6% 9/5,4% 27/16,3% 33/19,9% 44/26,5% 30/18,1% 19/11,4% 3/1,8% 37 BARRETO, R.G. Resultados Tabela 3 - Distribuição das mulheres por idade cronológica e tempo de atividade sexual, em anos. Tempo de atividade sexual (anos) Idade atual N/% 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 14 1/0,6% - - 1 - - - - - - - - - 15 11/6,6% - 2 6 3 - - - - - - - - 16 29/17,5% 1 5 13 5 5 - - - - - - - 17 42/25,3% - 4 10 12 - 8 8 - - - - - 18 30/18,1% - - 1 9 7 10 3 - - - - - 19 18/10,1% - - 7 2 2 3 4 - - - - - 20 18/10,1% - - - - 2 4 4 8 - - - - 21 8/4,8% - - - - - 2 - 3 - 3 - - 22 6/3,6% - - - - - 1 2 - 1 1 - 1 23 3/1,8% - - - - - - 2 1 - - - - TOTAL 166 1 11 38 31 16 28 23 12 1 4 0 1 100% 0,6% 6,6% 22,9% 18,7% 9,6% 16,9% 13,9% 7,2% 0,6% 2,4% 0% 0,6% 38 BARRETO, R.G. Tabela 4 - Distribuição das características ginecológicas. Resultados mulheres de acordo com as Freqüência Porcentagem Sim Não Uso de anticoncepcional oral 6 160 3,6 96,4 Sim Não Grávidas 52 114 31,3 68,7 Sim Não Não sabe Realização de Papanicolaou 22 138 6 13,3 83,1 3,6 Primeira vez Já fizeram Número de gestações 60 106 36,1 63,9 0 1-2 ≥3 IST 135 28 3 81,3 16,9 1,8 Suspeita Não Aspecto macroscópico do colo 8 158 4,8 95,2 Colo alterado Colo normal Colo não-visualizado Teste de Schiller 31 134 1 18,7 80,7 0,6 Positivo Negativo Secreção 29 137 17,5 82,5 92 74 55,4 44,6 Usuárias de DIU Fisiológica Não-fisiológica 39 BARRETO, R.G. Resultados 5.2 - Exame citológico: convencional e meio líquido A qualidade dos esfregaços foi semelhante entre as duas técnicas, sendo considerados satisfatórios em 100% das amostras da CC e em 97,5% das amostras da CML. Quatro esfregaços (2,5%) foram considerados insatisfatórios na CML devido à baixa celularidade (Tabela 5). Epitélio metaplásico foi identificado em 30,7% da CC e em 13,9% da CML. A presença de células metaplásicas mostrou uma correlação moderada (Índice Kappa= 0,5; IC= 0,34-0,67, p<0,05). As células endocervicais estavam presentes em 72,3% dos esfregaços confeccionados pela CC e em 62,4% da CML, mostrando uma boa correlação, de acordo com análise de concordância (Índice Kappa= 0,64; IC= 0,51-0,77, p<0,05). Portanto, a ausência de células endocervicais/metaplásicas foi mais freqüente na CML (Tabela 5). As células metaplásicas imaturas foram visualizadas em 4,2% da CC e em 0,6% da CML. Células endometriais foram observadas apenas na CC (1,8%). A prevalência dos diagnósticos citológicos foi semelhante entre os dois métodos, sendo observados 48,8% de exames citológicos com diagnóstico normal (Figura 6A) na CC e 46,8% na CML (Índice Kappa= 0,88; IC= 0,81-0,96). O diagnóstico de processo inflamatório (Figura 5A) foi observado em 47% da CC e em 51,3% da CML (Índice Kappa= 0,99; IC= 0,96-1,01). O diagnóstico de lesões pré-neoplásicas mais prevalente foi LSIL nos dois grupos. Não foi detectada a presença de HSIL, carcinoma invasor ou lesões glandulares no material avaliado. A avaliação da CC (Figura 5) mostrou a presença de um caso de ASC-US (0,6%, Figura 5B) e seis de LSIL (3,6%, Figuras 5C-H). Coilócitos, binucleação, disceratose e aumento do tamanho nuclear acompanhado de hipercromasia foram observados em quatro dos seis esfregaços com diagnóstico de LSIL, sugerindo a presença do HPV. Na CML (Figura 6), foi identificado um caso de ASC-US (0,6%, Figura 6B) e apenas dois de LSIL (1,3%, Figuras 6C e D), sem características citológicas sugestivas da presença do HPV (Tabela 5). A concordância entre esses 40 BARRETO, R.G. Resultados diagnósticos frente aos dois métodos foi moderada (Índice Kappa= 0,59; IC= 0,190,99). Dos seis esfregaços com diagnóstico de LSIL na CC, dois, também, receberam esse diagnóstico na CML. Os outros quatro foram classificados como esfregaços inflamatórios. A avaliação posterior desses quatro esfregaços mostrou a presença de raras células com características de LSIL com infecção pelo HPV (Figuras 6E e F) em duas amostras. Nas outras duas, o diagnóstico de processo inflamatório foi mantido. 41 BARRETO, R.G. Resultados Tabela 5 - Distribuição das mulheres de acordo com a citologia convencional e em meio líquido. Convencional (n=166) Meio líquido (n=158) Freqüência Porcentagem Freqüência Porcentagem 0 166 0,0 100,0 4 154 2,5 97,5 166 120 51 100,0 72,3 30,7 154 96 22 100 62,4 14,3 Células endometriais 3 1,8 0 0,0 Células metaplásicas imaturas 7 4,2 1 0,6 Citólise 24 14,5 13 8,4 Normal 81 48,8 72 46,8 Inflamatório 78 47 79 51,3 51 27 30,7 16,3 47 32 30,5 20,8 ASC-US 1 0,6 1 0,6 LSIL sem HPV com HPV 6 2 4 3,6 1,2 2,4 2 2 0 1,3 1,3 0 Amostra Insatisfatória Satisfatória Presença de epitélios Escamoso Glandular Metaplásico Específico Inespecífico 42 BARRETO, R.G. Resultados A B C D E F G H Figura 5 - Fotomicrografias dos esfregaços de Papanicolaou confeccionados de acordo com a técnica convencional. A - Inflamatório; B - Células atípicas de significado indeterminado (ASC-US); C a H - Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL). Papanicoloau, 1000X. 43 BARRETO, R.G. Resultados A B C D E F Figura 6 - Fotomicrografias dos esfregaços de Papanicolaou confeccionados a partir de material colhido em meio líquido. A - Normal; B - Células atípicas de significado indeterminado (ASC-US); C a F - Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL). Papanicolaou, 1000X. 44 BARRETO, R.G. Resultados A Tabela 6 apresenta os resultados da avaliação da flora bacteriana na CC e na CML. Na CML, foi observado maior percentual de flora escassa 7,8% (p<0,05) e menor capacidade de diagnóstico de Candida sp e lactobacilos. De modo geral, a infecção do trato genital inferior de maior prevalência, na população estudada, foi a VB. Apenas 12 casos apresentaram Candida sp e outros três, T. vaginalis. A presença de C. trachomatis, Actinomyces ou Vírus Herpes simples não foi observada nos esfregaços avaliados (Tabela 6). A detecção de T. vaginalis foi idêntica nos dois métodos corados pelo Papanicolaou (3 diagnósticos). Porém, quando se compara o exame a fresco, que identificou cinco amostras com T. vaginalis, tanto o Gram quanto a CC e a CML, foram menos eficientes na detecção desse protozoário (p<0,05). Por outro lado, a detecção de G. vaginalis foi menos eficiente nos exames a fresco (19,9%), quando comparados aos esfregaços de Papanicolaou (CML= 22,8% ou CC= 21,7%) e Gram (24,7% - p<0,05) - Tabelas 6, 7 e 8. 45 BARRETO, R.G. Resultados Tabela 6 - Distribuição das mulheres segundo o resultado da avaliação microbiológica na citologia convencional e em meio líquido. Diagnóstico citológico Convencional (n=166) Meio líquido (n=154) Freqüência Porcentagem Freqüência Porcentagem Lactobacilos 89 53,6 68 44,1 Bacilos 16 9,6 19 12,4 Cocos 1 0,6 0 0,0 Cocos + Bacilos 8 4,8 8 5,3 Gardnerella vaginalis 36 21,7 36 23,4 Candida sp 12 7,2 8 5,2 Candida + Bacilos 3 1,8 4 2,6 Candida + Lactobacilos 6 3,6 2 1,3 Candida + Lactobacilos + Bacilos 1 0,6 1 0,6 Candida + Cocos + Bacilos 2 1,2 1 0,6 Trichomonas vaginalis 3 1,8 3 1,9 TV + Bacilos 2 1,2 2 1,3 TV + Bacilos + Cocos 1 0,6 1 0,6 1 0,6 12 7,8 166 100,0 154 100,0 Flora escassa TOTAL 46 BARRETO, R.G. Resultados 5.3 - Exame a fresco Analisando-se o conteúdo cérvico-vaginal ao exame a fresco, constatou-se a presença de lactobacilos em 89 (53,6%) amostras, anormalidade em 49 (29,5%), resultado inconclusivo em 12 (7,2%) e 16 amostras (9,6%) não foram avaliadas no exame a fresco. Dentre as pacientes com conteúdo vaginal anormal, os achados foram: G. vaginalis em 33 (19,9%), esporos ou pseudo-hifas de Candida sp em 11 (6,6%), dos quais dois (1,2%) associados às células-alvo (clue cells); T. vaginalis em 5 (3,0%), dos quais 2 (1,2%) associados às células-alvo (Tabela 7). Tabela 7 - Resultados do exame a fresco do conteúdo vaginal obtido ao exame especular. Resultados do exame a fresco Frequência Porcentagem Lactobacilos 89 53,6 Gardnerella vaginalis 33 19,9 Candida sp (Esporos ou pseudo-hifas) 11 6,6 + Lactobacilos 7 4,2 + Gardnerella vaginalis 2 1,2 + Bacilos + Cocos 1 0,6 + Bacilos 1 0,6 5 3,0 + Gardnerella vaginalis 2 1,2 + Bacilos + Cocos 2 1,2 + Bacilos 1 0,6 Inconclusivo 12 7,2 Não realizado 16 9,6 TOTAL 166 100 Trichomonas vaginalis 47 BARRETO, R.G. Resultados 5.4 - Gram A bacterioscopia das lâminas coradas pelo método de Gram empregando o critério de Spiegel, associado às células-alvo para o diagnóstico de VB, revelou esfregaço normal em 97 (58,3%), presença de T. vaginalis em 3 (1,8%), esporos ou pseudo-hifas de Candida sp em 13 (7,8%) e achados de VB em 41 (24,7%) pacientes (Tabela 8). Flora escassa foi observada em 5,4% das pacientes. Diferenças no diagnóstico da amostra coletada da ecto ou endocérvice não foram observadas. Tabela 8 - Resultados do exame corado pelo Gram do conteúdo vaginal obtido ao exame especular. Freqüência Porcentagem Lactobacillus G+ 67 40,3 Lactobacillus G- 16 9,6 Bacilos G+ 11 6,6 Cocos G+ 3 1,8 Gardnerella vaginalis 41 24,7 Candida sp (Esporos ou pseudo-hifas) 13 7,8 Lactobacilos G+ 5 3,0 Lactobacilos G- 2 1,2 Bacilos G+ e G- 4 2,4 Cocos G+ 2 1,2 3 1,8 Bacilos + Cocos 1 0,6 Bacilos G+ 2 1,2 Flora Escassa (inconclusivo) 9 5,4 Não realizado 3 1,8 166 100 Resultados do exame corado pelo Gram Trichomonas vaginalis TOTAL 48 BARRETO, R.G. Resultados 5.5 - Concordância dos diagnósticos microbiológicos A Tabela 9 apresenta as concordâncias da bacterioscopia pelo Gram e os exames a fresco, CC e CML nos diagnósticos de VB, candidíase vaginal e tricomoníase, enquanto a Tabela 10, os resultados da análise estatística para esses parâmetros. Tabela 9 - Concordância entre os diagnósticos de vaginose bacteriana, candidíase vaginal e tricomoníase pelo Gram frente ao exame a fresco, citologia convencional e em meio líquido. GRAM G. vaginalis Candida sp. T. vaginalis presente ausente presente ausente presente ausente Exame a fresco Presente 33 0 11 0 3 2 Ausente 8 125 2 153 0 161 Total 41 125 13 153 3 163 Citologia convencional Presente 36 0 12 0 3 0 Ausente 5 125 1 153 0 163 Total 41 125 13 153 3 163 Citologia em meio líquido Presente 36 0 8 0 3 0 Ausente 5 113 5 141 0 151 Total 41 113 13 141 3 151 49 BARRETO, R.G. Resultados Tabela 10 - Sensibilidade, especificidade e valores preditivos positivos (VPP) e negativos (VPN) dos diagnósticos de vaginose bacteriana, candidíase vaginal e tricomoníase pelo Gram frente ao exame a fresco, citologia convencional e em meio líquido. GRAM G. vaginalis Candida sp. T. vaginalis Sensibilidade 80,5 84,6 100,0 Especificidade 100,0 100,0 98,8 VPP 100,0 100,0 60,0 VPN 94,0 98,7 100,0 Índice Kappa 0,86 0,91 0,74 Sensibilidade 87,8 92,3 100,0 Especificidade 100,0 100,0 100,0 VPP 100,0 100,0 100,0 VPN 96,2 99,4 100,0 Índice Kappa 0,92 0,96 1,0 Sensibilidade 87,8 61,5 100,0 Especificidade 100,0 100,0 100,0 VPP 100,0 100,0 100,0 VPN 95,8 96,6 100,0 Índice Kappa 0,91 0,75 1,0 Exame a fresco Citologia (Convencional) Citologia (meio líquido) 50 BARRETO, R.G. Resultados 5.6 - Detecção do DNA-HPV pela PCR A Figura 7 ilustra um gel de agarose realizado utilizando amostras, sabidamente, positivas e negativas para o DNA-HPV, já tendo sido submetidas às condições ótimas de reação. 500pb 449pb 390pb Figura 7 - Gel de agarose representativo da padronização da reação de PCR. Análise das reações de PCR: conforme descrito em materiais e métodos, 20µL das amostras foram analisados em gel de agarose a 1,5%, corado com brometo de etídio. Canaleta 1: Padrão de Peso Molecular (bandas variam de 100 em 100 pb). Canaletas 2, 4, 6, 8 e 12: Ausência de banda do HPV. Canaletas 3, 5, 7, 9, 11, 13 e 15: Banda da β-actina (390pb). Canaletas 10 e 14: Banda do HPV (449pb). Canaleta 16: Ausência de banda no controle negativo. Após a padronização das condições ótimas para realização da PCR, foram processadas 166 amostras, das quais 159 foram viáveis e sete não permitiram amplificação do DNA da β-actina (Tabela 11). O par de primers MY09/11 detectou DNA-HPV em 20,1% das amostras (32 pacientes). O DNA-HPV foi detectado em 100% das pacientes com ASC-US e LSIL. Na CC (um ASC-US e seis LSIL) e na CML (um ASC-US e dois LSIL). A sensibilidade do diagnóstico citológico para ASC-US e LSIL na CC frente à positividade do DNA-HPV foi de 21,9%, especificidade e valor preditivo positivo de 100% e valor preditivo negativo de 83,6%. Entretanto, o coeficiente Kappa foi de 0,31 (IC= 0,060,56) indicando uma fraca concordância. Porém, frente a um diagnóstico de ASC- 51 BARRETO, R.G. Resultados US ou LSIL, há uma probabilidade de predizer positividade para DNA-HPV de 100%. Considerando a CML, a sensibilidade do diagnóstico citológico de ASC-US e LSIL frente à positividade do DNA-HPV foi menor, 9,4%, especificidade e valor preditivo positivo de 100% e valor preditivo negativo de 79,9%. Nesse caso, o coeficiente Kappa foi de 0,14 (IC= -0,14 a 0,42) indicando uma pobre concordância. Porém, frente a um diagnóstico de ASC-US ou LSIL na CML, também há uma probabilidade de predizer positividade para DNA-HPV de 100%. Das pacientes negativas para lesão na avaliação citopatológica, ou seja, pacientes com esfregaços normais e inflamatórios na CC (152) e na CML (144), 25 (16,5%) e 29 (20,1%), respectivamente, apresentaram DNA-HPV. 52 BARRETO, R.G. Resultados Tabela 11 - Distribuição das mulheres segundo a detecção do DNA-HPV pela técnica da PCR de acordo com os resultados citopatológicos obtidos na avaliação da citologia convencional e em meio líquido. Resultado da citologia Convencional (n=159) Meio líquido (n=147) Resultado da PCR PCR Negativo (n=127) Normal n % Inflamatório n % ASC- US n % LSIL n % 61 48 66 52 0 0 0 0 PCR Positivo (n=32) 7 21,9 18 56,3 1 3,1 6 18,8 PCR Negativo (n=115) 60 52,1 55 47,9 0 0 0 0 PCR Positivo (n=32) 8 25 21 65,6 1 3,1 2 6,25 53 BARRETO, R.G. Resultados A avaliação da densitometria das bandas da β-actina e do HPV nos subgrupos pacientes DNA-HPV positivo/citologia negativa e pacientes DNA-HPV positivo/citologia positiva (Figura 8) não mostrou distinção entre os dois grupos. A 500pb 449pb 390pb P 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 B 449pb 500pb 390pb P 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Densidade de banda 2,5 C 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 Pacientes HPV+ Citologia – n=25 Pacientes HPV+ Citologia + n=7 Figura 8 - A - Gel de agarose representativo de cinco amostras (1, 3 e 5: HPV negativo; 2, 4, 6 e 8: β-actina positivo; 7: HPV positivo; 9 e 10: amostra insatisfatória); B - Gel de agarose de cinco amostras (1: HPV negativo; 2, 4, 6, 8 e 10: β-actina positivo; 3, 5, 7 e 9: HPV positivo); C - Média da razão das densitometrias (HPV/β-actina) nas amostras negativas ou positivas para lesões na citologia convencional. 54 BARRETO, R.G. Resultados 5.7 - Taxa de detecção do DNA-HPV e as alterações celulares segundo alguns fatores de risco ginecológicos A Tabela 12 relaciona a prevalência da infecção pelo HPV de acordo com as características ginecológicas. Não foram observadas diferenças significativas em relação ao uso de DIU, gravidez, realização anterior de Papanicolaou, número de gestações, ISTs, aspecto macroscópico do colo, teste de Schiller, aspecto da secreção, nessa amostra populacional, entre os grupos de mulheres positivas ou negativas para o DNA-HPV. A idade de início, bem como o tempo de atividade sexual, e o uso de anticoncepcional foram, significativamente, associados à detecção do DNA-HPV (p=0,04, p=0,037 e p=0,003). 55 BARRETO, R.G. Resultados Tabela 12 - Prevalência de infecção pelo HPV de acordo com as características ginecológicas. HPV negativo n % HPV positivo n % Idade (anos) 14 - 19 126 97 61,0 29 18,2 20-23 33 30 18,9 3 1,9 159 127 79,9 32 20,1 0-3 79 68 42,8 11 6,9 4-7 75 54 34,0 21 13,2 8 - 11 5 5 3,1 0 0,0 159 127 79,9 32 20,1 Sim 6 5 3,1 1 0,6 Não 153 122 76,7 31 19,5 Anticoncepcional oral 50 31 19,5 19 11,9 Método de barreira 109 97 61,0 12 7,5 Sim 22 18 11,3 4 2,5 Não 131 103 64,8 28 17,6 6 6 3,8 0 0,0 0 130 106 66,7 24 15,1 1-2 27 19 11,9 8 5,0 ≥3 2 2 1,3 0 0,0 TOTAL Atividade sexual (anos) TOTAL Usuárias de DIU Anticoncepção Gravidez Não sabe Número de gestações 56 BARRETO, R.G. Resultados HPV negativo HPV positivo n % n % Papanicolaou Primeira vez 60 45 28,3 15 9,4 Já fizeram 99 82 51,6 17 10,7 Suspeita 7 5 3,1 2 1,3 152 122 76,7 30 18,9 Alterado 29 21 13,2 8 5,0 Normal 129 105 66,0 24 15,1 1 1 0,6 0 0,0 Positivo 27 18 11,3 9 5,7 Negativo 132 109 68,6 23 14,5 Fisiológica 89 68 42,8 21 13,2 Não-fisiológica 70 59 37,1 11 6,9 IST Não Aspecto macroscópico do colo Não-visualizado Teste de Schiller Secreção 57 6 - Discussão BARRETO, R.G. Discussão 6.1 - Exame de Papanicolaou Todas as amostras avaliadas pela CC foram satisfatórias, sendo verificada a presença de células glandulares e metaplásicas em 72,3% e 30,7%, das amostras respectivamente. Considerando as células metaplásicas imaturas, essas foram vistas em 4,2%, enquanto as endometriais em apenas 1,8% das amostras colhidas pela CC. Por outro lado, nos esfregaços preparados de acordo com a técnica da CML, 4 amostras (2,5%) apresentaram baixa celularidade. Nas demais, foram visualizadas células glandulares endocervicais em 60,8% e metaplásicas em 13,9%. Células endometriais não foram encontradas nesse preparado e metaplásicas imaturas em uma amostra apenas. Neste trabalho, diferente do relatado por outros autores (Pereira et al., 2003; Kirschner, Simonsen & Junge, 2006), não foi observada melhora na qualidade da amostra da CML, quando comparada à CC. Pelo contrário, encontraram-se amostras paucicelulares, especificamente, na CML. Provavelmente, esse fato deve relacionar-se à coleta do material, assim como, à menor freqüência de células glandulares e metaplásicas, também, pode ser explicada por esse motivo à semelhança do observado por Obwegeser & Brack (2001) e Monsonego et al. (2001). Esse é um aspecto importante, pois a JEC é a sede preferencial das lesões displásicas e neoplásicas do colo do útero (Luzzatto & Boon, 1996). Na CC, a escova utilizada (Cytobrush) parece ser superior à utilizada na CML (Digene) na amostragem das células do canal endocervical, uma vez que a área de contato com o epitélio glandular é maior. Esse fato pode explicar o porquê da redução do número de células endocervicais nos esfregaços preparados a partir da CML. Nesse caso, utilizou-se apenas a escova contida no kit da DIGENE, enquanto, na CC, a espátula de Ayre, associada a cytobrush em todos os casos. No estudo de Obwegeser & Brack (2001), os autores discutem que o problema da CC não estaria na fixação e preparo da lâmina, mas sim na coleta. No nosso trabalho, foram tomados inúmeros cuidados durante a coleta do material e, possivelmente, são os responsáveis pela melhor qualidade da CC frente 59 BARRETO, R.G. Discussão àqueles preparados a partir da CML. Ou seja, na rotina elevada do dia-a-dia, talvez, a CC seja prejudicada em termos de qualidade da amostra ainda no momento da coleta. Não se pode deixar de concordar que, realmente, a coleta, o material usado, o treinamento do profissional e todos os procedimentos que antecedem a fixação e a preparação da lâmina são fatores relevantes para um bom resultado citológico. Como esses mesmos cuidados foram tomados em relação à coleta da CML, isso reforça, mais uma vez, a deficiência desse método em relação à CC, pelo menos em relação à faixa etária estudada. 6.2 - Diagnóstico citopatológico Diversos estudos compararam o desempenho da CML ao da CC e as conclusões são variadas. Grande parte relata a diminuição do número de esfregaços insatisfatórios e aumento na sensibilidade para detecção das alterações displásicas com a utilização da CML (Sanches-Ramos & Ndubisi, 2001; Obwegeser & Brack, 2001). Muitos estudos sugeriram a superioridade da CML no diagnóstico citológico das SIL e relataram diminuição do diagnóstico de ASC, pois presumiram que a homogeneização e a filtração da amostra permitiram melhor avaliação das células, facilitando o diagnóstico citológico. No nosso trabalho o diagnóstico de esfregaços normais ou inflamatórios, tanto aqueles da CC, quanto aqueles preparados a partir da CML, não apresentaram diferenças significativas. Porém, o diagnóstico de lesão intraepitelial escamosa (ASC-US e LSIL) foi maior no material da CC (3,6%) em relação a CML (2,4%) sugerindo que a CC foi melhor no diagnóstico das lesões pré-malignas, à semelhança do demonstrado por outros autores (Hutchinson et al.,1999). Corroborando esses dados, ainda em 2002, frente à grande utilização da CML, Mosely & Paget (2002) afirmaram que os dados existentes, comparando as duas técnicas, não eram suficientes para justificar a sua implantação no rastreamento do câncer do colo do útero em detrimento da CC. Além disso, há que se considerar o alto custo da CML frente à CC. Posteriormente, em 2006, Davey et al. realizaram um grande estudo de metanálise e concluíram que a CML 60 BARRETO, R.G. Discussão não é melhor que a CC, pois eles não verificaram diferenças significativas nas porcentagens dos esfregaços insatisfatórios entre essas técnicas. Como agravante, os diagnósticos de HSIL foram mais freqüentes na CC e os de ASC menos freqüentes, sugerindo que a performance da CC ainda é superior a CML. 6.3 - Achados citopatológicos Entre os critérios morfológicos utilizados na realização dos diagnósticos citopatológicos, a coilocitose e a disceratose são considerados sinais clássicos da presença do HPV e como sinais não-clássicos: binucleação, citomegalia, halo perinuclear, escamas córneas e núcleos hipercromáticos. A atipia coilocitótica é considerada o maior critério morfológico usado pelos citopatologistas para o diagnóstico de infecção pelo HPV. Pode-se destacar que esse não é o critério mais freqüentemente encontrado nos esfregaços citológicos. Cerca de um terço das infecções pelo HPV podem passar desapercebidas citologicamente se o diagnóstico for baseado somente no encontro dessas alterações. A coilocitose apresenta-se como o quarto, nono e sexto critério mais observado nos trabalhos de Jordão et al., (2003), Kaneshima et al., (2003) e Silveira et al., (2005), respectivamente. Neste estudo, a coilocitose associada a sinais não-clássicos da infecção pelo HPV foi observada em quatro casos (66,6%). Diversos autores mostraram que a multinucleação, binucleação e mitoses atípicas estiveram, significativamente, associadas com a positividade para DNAHPV, sendo confiáveis para a detecção da infecção (Roteli-Martins et al., 2001; Jordão et al., 2003; Kaneshima et al., 2003; Silveira et al., 2005). Neste trabalho, a binucleação e a hipercromasia mostraram-se como os critérios não-clássicos predominantes no diagnóstico citológico de infecção pelo HPV. Neste estudo, encontro de atipia coilocitótica, disceratose ou núcleos aumentados e hipercromáticos associados à binucleação mostraram-se presentes nos casos positivos para o DNA-HPV. Dessa forma, este trabalho reafirma que os dados morfológicos há muito tempo conhecidos e valorizados, são fortes 61 BARRETO, R.G. Discussão indicadores da infecção viral, com alto valor preditivo quanto à presença do HPV, como foi demonstrado pela PCR. Os esfregaços, tanto da CC quanto da CML, que citologicamente apresentaram-se normais ou inflamatórios, porém com DNA-HPV detectado pela técnica da PCR, foram reavaliados (dados não mostrados). No entanto, sinais clássicos ou não-clássicos, sugestivos da infecção pelo HPV, não foram observados, permanecendo válidos os diagnósticos anteriores. 6.4 - Aspectos microbiológicos O trato genital feminino inferior e sua microflora representam um ecossistema balanceado (Pybus & Onderdonk, 1999). Esse ecossistema é dinâmico, com alterações na estrutura e composição influenciadas pela idade, menarca, fase do ciclo menstrual, gravidez, infecções, métodos contraceptivos, freqüência de relações sexuais, número de parceiros sexuais e duchas vaginais (Schwebke et al., 1999; Eschenbach et al., 2000; Burton & Reid, 2002; Clarke et al., 2002; Ness et al., 2002). Desde o primeiro estudo microbiológico (Döderlein, 1892), os lactobacilos têm sido descritos como membros predominantes da microflora vaginal normal (Hillier et al., 1993; Antonio, Hawes & Hillier, 1999) desempenhando um importante papel na manutenção do ecossistema vaginal normal, prevenindo o crescimento exacerbado de bactérias e de outros organismos oportunistas, através da produção de ácido láctico, peróxido de hidrogênio, bacteriocinas e outras substâncias antimicrobianas (Hillier, 1998; Sobel, 1999a; Donders et al., 2000). Porém, outras bactérias, em pequeno número, como Staphylococcus, Ureaplasma, Corynebacterium, Streptococcus, Peptostreptococcus, Gardnerella, Bacterioides, Mycoplasma, Enterococcus, Escherichia, Veillonella, Bifidobacterium e fungos como a Candida sp (Redondo-Lopez et al., 1990; Larsen & Monif, 2001; Marrazzo et al., 2002) podem estar presentes. No Brasil, a alta prevalência de agentes bacterianos, fúngicos e protozoários na cérvice uterina tem sido relatada, apresentando variações ao 62 BARRETO, R.G. Discussão longo do tempo. A incidência da candidíase tem aumentado, significativamente, representando 20% a 25% dos corrimentos genitais de natureza infecciosa, (Almeida Filho, Passos & Fonseca, 1990; Aleixo Neto, Hamdan & Souza, 1999; Adad et al., 2001; Corsello et al., 2003), de forma semelhante ao observada para a G. vaginalis, enquanto a tricomoníase apresenta-se em curva descendente. Freqüentemente, a G. vaginalis tem sido relatada em associação a infecções pelo HPV (Adad et al., 2001; CDC 2005). No exame de Papanicolaou, o diagnóstico dos agentes microbiológicos é de importância secundária, pois a sua finalidade é a identificação precoce de lesões precursoras do câncer do colo do útero. Porém, o diagnóstico de alguns agentes, é possível e foi mantido pelo Sistema de Bethesda revisado em 2001 (Solomon & Nayar, 2005). Neste trabalho, avaliamos, comparativamente, o método do exame a fresco, Gram, CC e CML para a detecção da flora cérvico-vaginal. Neste trabalho, a flora de padrão lactobacilar foi identificada em 53,6%, 49,9%, 53,6% e 44,1% das amostras avaliadas no exame a fresco, Gram, CC e CML, respectivamente. Apenas, quando se comparou o diagnóstico microbiológico da CML aos demais métodos, foi verificada diferença, sugerindo que a determinação de lactobacilos por esse método tende a ser prejudicada. De acordo com Alves et al. (2004), a CML apresenta desempenho diagnóstico similar à CC. Esse autor ressalta que a CC é mais precisa na identificação da flora lactobacilar e de cocos, enquanto a CML tem um melhor desempenho na identificação da G. vaginalis. Essa característica da CML é importante e pode ser explicada pela homogeneização e filtragem da amostra como dito anteriormente, facilitando a identificação das clue cells, as quais confirmam o diagnóstico de G. vaginalis. Estes aspectos também podem explicar o maior percentual de flora escassa na CML quando comparada a CC. Neste trabalho, a G. vaginalis foi identificada em 19,9%, 24,7%, 21,7% e 23,4% das amostras avaliadas no exame a fresco, Gram, CC e CML respectivamente. Como era esperado, dado a necessidade da visualização de clue cells para o diagnóstico da vaginose, tanto no exame a fresco, quanto na CC e CML, o percentual de diagnóstico foram semelhantes. Por outro lado, a 63 BARRETO, R.G. Discussão identificação de G. vaginalis pelo método do Gram mostrou-se superior, refletindo a sua denominação de padrão-ouro para o diagnóstico da vaginose bacteriana. No entanto, a especificidade do exame de Papanicolaou, seja na CC ou na CML, foi elevada. Além disso, a diferença no percentual entre o Gram e o Papanicolaou residiu no diagnóstico de cocos ou cocos e bacilos no Papanicolaou frente ao diagnóstico de G. vaginalis no Gram. O exame a fresco apresenta-se, segundo Cavalcante, Miranda & Portugal (2005), como o melhor método para o diagnóstico da candidíase, quando comparado ao Gram e Papanicolaou. Neste trabalho, verificamos 6,6%, 7,8% e 7,2% quando utilizado o exame a fresco, Gram e CC respectivamente, o que está de acordo com os dados da literatura. Por outro lado, o Papanicolaou, utilizando a CML, identificou, apenas, 5,2% de amostras positivas para o fungo. Esses resultados sugerem que a CML dificulta a visualização desse microorganismo. Os achados, quanto à concordância diagnóstica do Gram, exame a fresco, CC e CML do conteúdo cérvico-vaginal para tricomoníase, estão coerentes com a literatura, uma vez que o exame a fresco apresentou maior sensibilidade para tricomoníase do que os métodos de coloração pelo Gram e Papanicolaou. Isso pode estar relacionado à perda da motilidade do T. vaginalis nas amostras já fixadas (Gram, CC e CML), o que faz com que sua forma se confunda com outras estruturas presentes no esfregaço. Uma outra explicação possível para a maior detecção do T. vaginalis no exame a fresco pode ser o pequeno número desse protozoário na amostra, facilmente identificado em movimento e, dificilmente, quando fixado, imóvel. Por outro lado, quando comparada a CC à CML, Alves et al. (2004) sugeriram que o T. vaginalis é mais visualizado na CC, provavelmente, pela maior familiarização dos observadores com essa técnica. No entanto, neste trabalho, houve concordância da CC e da CML, muito provavelmente pelo treinamento ao qual foram submetidos os avaliadores responsáveis pela análise microscópica deste trabalho. De uma maneira geral, a baixa detecção de T. vaginalis na atualidade, possivelmente, está relacionada à alta detecção da vaginose bacteriana, que é 64 BARRETO, R.G. Discussão tratada intensa e aleatoriamente, provocando uma quase erradicação do protozoário, pois esse, também, é sensível aos fármacos utilizados no tratamento da VB. Esse fato é notado por outros pesquisadores, que ressaltam, ainda, que as campanhas de prevenção da AIDS com a disseminação do uso de métodos de barreira estão colaborando para o decréscimo dessa infecção, pois, diferentemente, da candidíase e da VB, a tricomoníase está mais relacionada à transmissão sexual (Lossick et al., 1991; Petrin et al., 1998; Sobel, 1999b). 6.5 - Diagnóstico molecular do HPV A freqüência de SIL (3,6%) neste trabalho foi menor do que a de pacientes portadoras do vírus HPV (20,1%) no diagnóstico pela PCR. Nossos dados demonstraram fraca concordância entre a presença do HPV e o diagnóstico de SIL, o que significa dizer que HPV positivo nem sempre quer dizer SIL, podendo haver infecções que não se manifestaram ou não produziram alteração morfológica. Por outro lado, todas as SIL mostraram positividade para o DNAHPV, ou seja, diante de um diagnóstico de SIL na presente amostra, há uma chance de 100% de positividade para o DNA-HPV. A detecção do DNA-HPV, pelas técnicas moleculares, em mulheres com citologia oncótica dentro dos limites da normalidade, sugere latência clínica. Mesmo com resultado de Papanicolaou na CC dentro dos limites da normalidade, 16,5% (25/159) das participantes deste estudo estavam infectadas pelo HPV. Estudos demonstram que os HPV podem ser encontrados em parcela significativa de mulheres sexualmente ativas, em estado de latência clínica. Para Villa (1995), o percentual de mulheres nessa situação oscila entre 10% a 40%, sendo os maiores índices encontrados nas mais jovens; já, para Perez e Crum (2000), 80% das mulheres podem estar infectadas por esses vírus, em algum período de sua vida sexual, embora, somente, uma parcela reduzida daquelas infectadas pelo HPV desenvolverá lesões displásicas na cérvice uterina. 65 BARRETO, R.G. Discussão É importante considerar que, em adolescentes e mulheres jovens, a maioria das infecções pelo HPV e das LSIL é transitória e regride espontaneamente (Ho et al., 1998; Moscicki et al., 1998; Moscicki, 1999; Saslow et al., 2002), admitindo-se, portanto, para adolescentes com LSIL, uma abordagem mais conservadora. Para esse grupo etário, a Sociedade Americana de Colposcopia e Patologia Cervical considera a repetição da citologia com seis e 12 meses ou a pesquisa do DNAHPV após 12 meses como alternativas aceitáveis para a abordagem de uma LSIL, não sendo necessária a realização imediata da colposcopia (Wright et al., 2002). Considerando esses aspectos, o diagnóstico de SIL é tão importante quanto o de infecção pelo HPV. Por um lado, sabe-se que a maioria das LSIL regride espontaneamente (Solomon, Schiffman & Tarone, 2001) e por outro, que a simples presença e persistência do DNA do HPV aumenta em 100 vezes a chance do aparecimento do câncer cervical em relação às mulheres livres da infecção (BOSCH, 2001). Esses dados mostram a importância de estudos que avaliem a prevalência de infecção pelo HPV e lesões pré-neoplásicas em adolescentes e mulheres jovens, principalmente se esses estudos são desenvolvidos ao longo do tempo com o mesmo grupo de pacientes. Neste estudo mostramos que 20,1% das mulheres jovens apresentaram infecção pelo HPV. Essa taxa é compatível com a literatura, em que a prevalência em mulheres jovens varia de 15% a 40% (Schiffman et al., 2000; Ferenczy et al., 2002; Abba et al., 2003; Lazcano-Ponce et al., 2001; Molano et al., 2002; Matos et al., 2003; Ferlay et al., 2001; Kotloff et al., 1998; Bauer et al., 1991; Sellors et al., 2000; Melkert et al., 1993; Jacobs et al., 2000). Por outro lado, sabe-se que, embora, a prevalência da infecção pelo HPV seja maior em mulheres jovens, quando comparadas às mulheres com mais de 30 anos, a maioria dessas infecções se resolverá dentro de um período de aproximadamente 24 meses, sendo consideradas infecções sem o desenvolvimento de SIL, provavelmente, devido à resposta imune da paciente (Meijer et al., 2000). Corroborando esses dados, nossos resultados mostraram que mesmo com essa taxa de 20,1% de infecção pelo HPV, 78,1% das amostras positivas apresentaram resultados citológicos negativos para lesões pré-neoplásicas. 66 BARRETO, R.G. Discussão Portanto, a citologia permanece como método diagnóstico extremamente necessário visto que, a presença do HPV sem a detecção de lesão, tem pouco ou nenhum significado clínico, apenas conduz ao acompanhamento, fato esse que, tradicionalmente, já seria contemplado pelas consultas anuais. Vale a pena ressaltar que esse acompanhamento visa a detecção daquelas pacientes em que o HPV persiste e, ainda, leva ao desenvolvimento de lesões. Por outro lado, é importante considerar que estudos acompanhando essas pacientes HPV positivas e com resultado citológico dentro dos limites da normalidade são fundamentais para o conhecimento da história natural do câncer do colo do útero. Esses dados reafirmam que outros fatores precisam ser levados em consideração quando se analisa o risco do desenvolvimento das lesões préneoplásicas. A detecção isolada do DNA-HPV é insuficiente e outros aspectos devem ser analisados conjuntamente. Dentre esses fatores, a história natural da infecção pelo HPV, incluindo o desenvolvimento de infecção persistente, a eliminação espontânea do vírus e a interação com o sistema imunológico, devem ser avaliados, simultaneamente, a fim de se avaliar o risco de lesões préneoplásicas. 6.6 - Fatores de risco ginecológicos e diagnóstico molecular do HPV No presente estudo, as mulheres que apresentaram entre quatro e sete anos de atividade sexual e ainda na faixa etária da adolescência (14 a 19 anos) apresentaram maior chance de infecção pelo HPV que as mulheres que haviam iniciado a vida sexual há mais tempo. Isso pode ser explicado porque quanto maior o tempo de atividade sexual maior a probabilidade de aquisição de imunidade para alguns tipos de HPV. Em revisão sistemática da literatura, Green et al. (2003) concluíram que não existem evidências sugerindo uma associação negativa ou positiva entre o uso de anticoncepcionais orais e as infecções prevalentes por HPV. Entretanto, na faixa etária avaliada neste trabalho houve associação do uso de anticoncepcional à presença do HPV. Tal fato pode ser explicado pela maior exposição a parceiros 67 BARRETO, R.G. Discussão infectados pelo HPV sem o uso de preservativos uma vez que as adolescentes têm uma preocupação real com gravidez, mas não com as ISTs. Assim, o uso de anticoncepcional fornece a elas uma idéia de proteção falsa. A idade das mulheres que compõem este estudo e a associação entre HPV e câncer do colo do útero sugerem que elas deverão ser acompanhadas com cuidado. Deve-se observar, no entanto, que a tipificação do HPV (não realizada neste estudo) ajudaria a identificar as mulheres sob maior risco de desenvolver lesões displásicas. Por outro lado, cumpre ressaltar que a presença do HPV em mulheres com resultado citológico normal permitiria uma investigação mais apurada, mas nunca intervenção terapêutica (reservada àquelas com alterações morfológicas). A maior incidência do câncer do colo do útero acomete mulheres com idades entre 40 e 60 anos, sendo menos freqüente antes dos 30 anos. Isso pode ser explicado pelo longo período de evolução da infecção pelo HPV no início da atividade sexual, passando pelas lesões pré-neoplásicas até o câncer da cérvice uterina. Entretanto, esse quadro vem se modificando e o aparecimento de anormalidades citopatológicas em adolescentes sexualmente ativas tem aumentado, progressivamente, alterando-se de 3%, na década de 70, para 20%, na década de 90 (Mount & Papillo, 1999; Wright et al., 2005). Fatores de risco, como o início cada vez mais precoce da atividade sexual, multiplicidade de parceiros e fatores biológicos, geram maior vulnerabilidade a essa faixa etária. Diante disso, justifica-se a inclusão do exame de Papanicolaou como rotina laboratorial em mulheres jovens, não como instrumento para rastrear o câncer do colo do útero, já que a doença é rara nessa faixa etária, mas, sim, como ferramenta para preservação da saúde e prevenção de futuras lesões, uma vez que elas têm um longo período de desenvolvimento que se inicia, a partir do contato com HPV. As pacientes detectadas como portadoras do HPV, neste trabalho, permanecem em acompanhamento para que a manutenção/eliminação do vírus seja avaliada, assim como as características citológicas verificadas nesse primeiro momento. 68 7 - Conclusões BARRETO, R.G. Conclusões A qualidade dos esfregaços confeccionados com a CC foi melhor do que a CML. A detecção de esfregaços normais e inflamatórios foi semelhante entre os dois métodos enquanto de lesões intra-epiteliais escamosas, foi superior na CC. A infecção cérvico-vaginal de maior prevalência foi a vaginose bacteriana (21,7%), seguida pela candidíase (7,2%) e tricomoníase (1,8%). A prevalência do diagnóstico de lactobacilos e de Candida sp foi superior na CC. Não houve diferença entre as duas técnicas para o diagnóstico de cocos, bacilos, G. vaginalis e T. vaginalis. A concordância entre os diagnósticos microbiológicos no exame a fresco, na CC e na CML, tendo como padrão-ouro o Gram, variou de boa a muito boa, com alta especificidade e alto valor preditivo positivo. A sensibilidade variou de 80,5% a 100%, com exceção do diagnóstico de Candida sp. realizado pela CML onde a sensibilidade foi de 61,5%. A prevalência de DNA-HPV na população estudada foi de 20,1%, sendo 16,5% associados a esfregaços normais ou inflamatórios e 3,6% associados a lesões intra-epiteliais escamosas de baixo grau, detectadas pela CC. Não houve correlação da presença do DNA-HPV com os agentes microbiológicos. A idade de início, bem como o tempo de atividade sexual e o uso de anticoncepcional foram associados à presença do DNA-HPV. 70 8 - Referências Bibliográficas BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas ABBA, M.C.; MOURÓN, M.A.; GOMEZ, F.N.; DULOUT, C.D.; GOLIJOW, C.D. Association of human papillomavirus viral load with HPV 16 and high grade lesion. Int J Gynecol Cancer, 13:154-158, 2003. ADAD, S.J.; DE LIMA, R.V.; SAWAN, Z.T.; SILVA, M.L.; DE SOUZA, M.A.; SALDANHA, J.C.; FALCO, V.A.; DA CUNHA, A.H.; MURTA, E.F. Frequency of Trichomonas vaginalis, Candida sp and Gardnerella vaginalis in cervical-vaginal smears in four different decades. Sao Paulo Med J, 119(6):200-205, 2001. ALDRIGHI, J.M.; BUENO, J.G. Imunologia da vagina. JAMA/GO, 4:301-308, 1996. ALEIXO NETO, A.; HAMDAN J.S.; SOUZA, R.C. Prevalência de Candida na flora vaginal de mulheres atendidas num serviço de planejamento familiar. RGBO, 21:441-445, 1999. ALMEIDA FILHO, G.L.; PASSOS, M.R.L.; FONSECA, C.G. Candidíase, DST. J Bras Doenças Sex Transm, 2:56-60, 1990. ALVES, V.A.F.; CASTELO FILHO, A.; NAMIYAMA, G.; LONGATTO FILHO, A.; AMSEL, R.; TOTTEN, P.A.; SPIEGEL, C.A.; CHEN, K.C.S.; ESCHENBACH, D.A.; HOLMES, K.K. Nonspecific vaginitis: diagnostic criteria and microbial and epidemiologic associations. Am J Med, 74:14-22, 1983. ANTONIO, M.A., HAWES, S.E.; HILLIER, S.L. The identification of vaginal Lactobacillus species and the demographic and microbiologic characteristics of women colonized by these species. J Infect Dis 180:1950-1956, 1999. AROUTCHEVA, A.; GARITI, D.; SIMON, M.; SHOTT, S.; FARO, J.; SIMÕES, J.A., GURGUIS, A.; FARO, S. Defense factors of vaginal lactobacilli. Am J Obstet Gynecol, 185:375-379, 2001. ATALAH, E.S.; URTEAGA, C.R.; REBOLLEDO, A.A.; VILLEGAS, R.A.; MEDINA, E.L.; CSENDES, A. Alimentación, tabaquismo e historia reproductiva como factores de riesgo del cancer de cuello del útero. Rev Méd Chile, 129:597-603, 2001. AVILÉS, A.G.; ZARAGOZA, C.O.; BARRERA, L.T.; VASQUEZ, R.M.; ROSAS, R.P. Es útil la tincion de Papanicolaou como auxiliar Del diagnóstico de algunas infecciones de transmisión sexual? Atención Primaria, 27:222-226, 2001. BARRASSO, R.; DE BRUX, J.; GROISSANT, O.; ORTH, G. High prevalence of papillomavirus-associated penile intraepithelial neoplasia in sexual partners of women with cervical intraepithelial neoplasia. N. Engl. J. Med. 317:916-923, 1987. BAUER, H.M.; HILDESHEIM, A.; SCHIFFMAN, M.H.; GLASS, A.G.; RUSH, B.B.; SCOTT, D.R.; CADELL D.M.; KURMAN R.J.; MANOS M.M. Determinants of 72 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas genital human papillomavirus infection in low-risk women in Portland, Oregon. Sex Transm Dis, 20(5):274-278, 1993. BAUER, H.M.; TING, Y.; GREER, C.E.; CHAMBERS, J.C.; TASHIRO, C.J.; CHIMERA, J.; REINGOLD, A.; MANOS, M.M. Genital human papillomavirus infection in female university students as determined by a PCR-based method. Jama, 265(4):472-477, 1991. BECKER, T.M.; WHEELER, C.M.; McCOUGH, N.S.; PARMENTER, C.A.; JORDAN, S.W.; STIDLEY, C.A.; McPHERSON, R.S.; DORIN, M.H. - Sexually transmitted diseases and other risk factors for cervical dysplasia among southwestern hispanic and non-hispanic white women. JAMA, 271:1181-1188, 1994. BERNARD, HU. The clinical importance of the nomenclature, evolution and taxonomy of human papillomaviruses. J Clin Virol, 32 (Suppl) 1:S1-6, 2005. BERNSTEIN, S.J.; SANCHEZ-RAMOS, L.; NDUBISI, B. Liquid-based cervical cytologic smear study and conventional Papanicolaou smears: a metaanalysis of prospective studies comparing cytologic diagnosis and sample adequacy. Am J Obstet Gynecol, 185(2):308-317, 2001. BOON, M.E.; SCHNEIDER, A.; HOGEWONING, C.J.A.; KWAST, T.; BOLHUIS, P.; KOK, L.P. Penile studies and heterosexual partners: peniscopy, cytology, histology, and immunocytochemistry. Cancer, 61:1652-1659, 1988. BORNSTEIN, J.; RAHAT, M.A.; ABRAMOVICI, H. Etiology of cervical cancer: current concepts. Obstet Gynecol Survey, 50:146-154, 1995. BOSCH, F.X.; DE SANJOSE, S. Chapter 1: Human papillomavirus and cervical cancer-burden and assessment of causality. J Natl Cancer Inst Monogr, 31:3-13, 2003. BOSCH, F.X.; LORINCZ, A.; MUNOZ, N.; MEIJER, C.J.; SHAH, K.V. The causal relation between human papillomavirus and cervical cancer. J Clin Pathol, 55(4):244-265, 2002. BOSCH, F.X., INTERNATIONAL PAPILLOMAVIRUS CONFERENCE, 09, 2001, Costão do Santinho, Florianópolis, SC, Brazil. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional de Câncer - INCA. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2006: Incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2005, 94p. BURGHARDT, E.; ÖSTÖR, A.G, - Site and origin of squamous cervical cancer: a histomorphologic study. Obstet. Gynecol, 62:117-127, 1983. 73 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas BURTON, J.P.; REID, G. Evaluation of the bacterial vaginal flora of 20 postmenopausal women by direct (nugent score) and molecular (polymerase chain reaction and denaturing gradient gel electrophoresis) techniques. J Infect Dis 186, 1770–1780, 2002. CARRET, M.L.; FASSA, A.G.; da SILVEIRA, D.S.; BERTOLDI, A.D.; HALLAL, P.C. Sintomas de doenças sexualmente transmissíveis em adultos: prevalência e fatores de risco. Revista de Saúde Pública, 38(1):76-84, 2004. CARVALHO, N.S.; ANGELI, R.; KRAJDEN, M. Prevalência dos agentes de cervicite: análise da literatura. J bras Doenças Sex Transm, 16(4):56-60, 2004. CAVALCANTE, V.L.N.; MIRANDA, A.T.; PORTUGAL, G.M.P. Rastreamento de candidose vaginal durante a prevenção do câncer cérvico-uterino. J bras Doenças Sex Transm; 17(1): 44-48, 2005. CDC - Centers for Disease Control. Division of STD Prevention. Other Sexually Transmitted Diseases - Sexually Transmitted Disease Surveillance, 2005. CHAN, E.L.; BRANDT, K.; STONEHAM, H.; ANTONISHYN, N.; HORSMAN, G.B. Comparasion of the effectiveness of polimerase chain reaction and enzyme immuno-assay in detecting Chlamydia trachomatis in different female genitourinary specimens. Archives of Pathology & Laboratory Medicine, Chicago, v. 124, 2000. CLARKE, J.G.; PEIPERT, J.F.; HILLIER, S.L.; HEBER, W.; BOARDMAN, L.; MOENCH, T.R.; MAYER, K. Microflora changes with the use of a vaginal microbicide. Sex Transm Dis 29, 288-293, 2002. CORSELLO, S.; SPINILLO, A.; OSNENGO, G.; PENNA, C.; GUASCHINO, S.; BELTRAME, A.; BLASI, N.; FESTA, A. An epidemiological survey of vulvovaginal candidiasis in Italy. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol, 110(1):66-72, 2003. CUNNINGHAM, A.L.; DIEFENBACH, R.J.; MIRANDA-SAKSENA, M.; BOSNJAK, L.; KIM, M.; JONES, C.; DOUGLAS, M.W. The cycle of human herpes simplex virus infection: virus transport and immune control. J Infect Dis. 15:11-18, 2006. CUZICK, J.; TERRY, G.; HO, L.; HOLLINGWORTH, T.; ANDERSON, M. Typespecific human papillomavirus DNA in abnormal smears as a predictor of highgrade cervical intraepithelial neoplasia. Br J Cancer, 69:167-171, 1994. DAVEY, E.; BARRAT, A.; IRWIG, L.; CHAN, S.F.; MACASKILL, P.; MANNES, P.; SAVILLE, A.M. Effect of study design and quality on unsatisfactory rates, cytology classifications, and accuracy in liquid-based versus conventional cervical cytology: a systematic review. Lancet, 14(367):122-132, 2006. 74 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas DAVIS, J.D.; CONNOR, E.E.; CLARK, P.; WILKINSON, E.J.; DUFF, P. Correlation between cervical cytologic results and Gam stain as diagnostic tests for bacterial vaginosis. Am J Obstet Gynecol, 177:532-535, 1997. DE SANJOSE, S.; ALMIRALL, R.; LLOVERAS, B.; FONT, R.; DIAZ, M.; MUNOZ, N.; CATALA, I.; MEIJER, C.J.; SNIJDERS, P.J.; HERRERO, R.; BOSCH, F.X. Cervical human papillomavirus infection in the female population in Barcelona, Spain. Sex Transm Dis, 30(10):788-793, 2003. DE VILLIERS, E.M.; FAUQUET, C.; BROKER, T.R.; BERNARD, H.U.; ZUR HAUSEN, H. Classification of papillomaviruses. Virology, 324(1):17-27, 2004. DELANEY, M.L.; ONDERDONK, A.B. Nugent score related to vaginal culture in pregnant women. Obstet Gynecol, 98(1): 79-84, 2001. DÖDERLEIN, A. Das scheidensekret und seine bedeutung fur puerperalfieber. Zbl Bakteriol 11, 699,1892. DONDERS, G.G.G.; BOSMANS, E.; DEKKERSMAECKER, A.; VERECKEN, A.; BULCK, B.V.; SPITZ, B. Pathogenesis of abnormal vaginal bacterial flora. Am J Obstet Gynecol,182, 872-878, 2000. EDELMAN, M.; FOX, A.S.; ALDERMAN, E.M.; NEAL, W.; SHAPIRO, A.; SILIVER, E.J.; SPIGLAND, I.; SUHRLAND, M. Cervical Papanicolaou smear abnormalities in inner city Bronx adolescents: prevalence, progression and immune modifiers. Cancer, 87(4):184-189, 1999. ELOVAINIO, L.; NIEMINEN, P.; MILLER, A.B. Impact of cancer screening on women`s health, 58, 137-147, 1997. ESCHENBACH, D.A.; THWIN, S.S.; PATTON, D.L.; HOOTON, T.M.; STAPLETON, A.E.; AGNEW, K.; WINTER, C.; MEIER, A.; STAMM, W.E. Influence of the normal menstrual cycle on vaginal tissue, discharge, and microflora. Clin Infect Dis, 30, 901-907, 2000. FERENCKY, A.; KOSS, L.; SHERMAN, M.; MCGOOGAN, E.; HAKAMA, M.; MONSONEGO, J. Cervical pap smears: advantages, limitations and optimization. In: Monsonego JE, Franco E. (eds). Eirogin - Who International joint meeting. Cervical cancer control, general sttements and guidelines, 1997. p.20-3. FERENCZY, A.; FRANCO, E.L.; RATNAM, S. Human papillomavirus testing for primary screening of cervical cancer precursors. Cancer Epidemiol Biom Prevention, 945-51, 2002. FERGUSON, J.H. Positive cancer smears in teenage girls. JAMA, 178:91-94, 1961. 75 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas FERLAY, J.; BRAY, F.; PISANI, P.; PARKIN, D.M. Globocan 2000: Cancer Incidence, Mortality and Prevalence Worldwide, Version 1.0. IARC CancerBase No. 5. Lyon, IARCPress. 2001. FORSUM, U.; JAKOBSSON, T.; LARSSON, P.G.; SCHMIDT, H.; BEVERLY, A.; BJORNEREM, A.; CARLSSON, B.; CSANGO, P.; DONDERS, G.; HAY, P.; ISON, C.; KEANE, F.; MCDONALD, H.; MOI, H.; PLATZ-CHRISTENSEN, J.J.; SCHWEBKE, J. An international study of the interobserver variation between interpretations of vaginal smear criteria of bacterial vaginosis. APMIS, 110(11):811-818, 2002. FRANCO, E.L. Chapter 13: Primary screening of cervical cancer with human papillomavirus tests. J Natl Cancer Inst Monogr, (31):89-96, 2003. FRANCO, E.L.; VILLA, L.L.; RUIZ, A.; COSTA, M.C. Transmission of cervical human papillomavirus infection by sexual activity: differences between low and high oncogenic risk types. J Infect Dis, 172(3):756-763, 1995. GIULIANO, A.R.; PAPENFUSS, M.; ABRAHAMSEN, M.; DENMAN, C.; DE ZAPIEN, J.G.; HENZE, J.L.; ORTEGA, L.; BROWN DE GALAZ, E.M.; STEPHAN, J.; FENG, J.; BALDWIN, S.; GARCIA, F.; HATCH, K. Human papillomavirus infection at the United States-Mexico border: implications for cervical cancer prevention and control. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev, 10(11):1129-1136, 2001. GONTIJO, R.C.; DERCHAIN, S.F.M.; MONTEMOR, E.B.L.; SARIAN, L.; SERRA, M.M.P.; ZEFERINO, L.C.; SYRJÄNEN, K.J. Citologia oncológica, captura de híbridos II e inspeção visual com ácido acético no rastreamento de lesões cervicais. Cad Saude Publica, 21(1):141-149, 2005. GREEN, J.; BERRINGTON DE GONZALEZ, A.; SMITH, J.S.; FRANCESCHI, S.; APPLEBY, P.; PLUMMER, M. Human papillomavirus infection and use of oral contraceptives. Br J Cancer, 88(11):1713-1720, 2003. HERRERO, R.; BRINTON, L.A.; REEVES, W.C.; BRENES, M.M.; TENORIO, F.; BRITTON, R.C.; GAITAN, E.; GARCIA, M.; RAWLS, W.E. Sexual behavior, venereal diseases, hygiene practices, and invasive cervical cancer high- risk population. Cancer, 65:380-386, 1990. HILDESHEIM, A.; GRAVITT, P.; SCHIFFMAN, M.H.; KURMAN, R.J.; BARNES, W.; JONES, S.; TCHABO, J.G.; BRINTON, L.A.; COPELAND, C.; EPP, J. Determinants of genital human papillomavirus infection in low-income women in Washington, D.C. Sex Transm Dis, 20(5):279-285, 1993. HILLIER, S.; ARKO, R. Infecções Vaginais. In: MORSE, S.A.; MORELAND, A.A.; HOLMES, K.K. Atlas de doenças sexualmente transmissíveis e AIDS. 2ed. Porto Alegre: Artes Médicas. 1997. p.149-164. 76 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas HILLIER, S.L. Diagnostic microbiology of bacterial vaginosis. Am J Obstet Gynecol, 169:455-459, 1993. HILLIER, S.L. The vaginal microbial ecosystem and resistance to HIV. AIDS Res Hum Retroviruses, 14 (Suppl. 1):17-21, 1998. HO, G.Y.; BIERMAN, R.; BEARDSLEY, L.; CHANG, C.J.; BURK, R.D. Natural history of cervicovaginal papillomavirus infection in young women. N Engl J Med, 338(7):423-8, 1998. HUTCHINSON, M.L.; ZAHNISER, D.J.; SHERMAN, M.E.; HERRERO, R.; ALFARO, M.; BRATTI, M.C.; HILDESHEIM, A.; LORINCZ, A.T.; GREENBERG, M.D.; MORALES, J.; SCHIFFMAN, M. Utility of Liquid- Based cytology for cervical carcinoma screening. Cancer Cytopathol, 87:48-55, 1999. IARC. Biennial report 2000-2001.Lyon: IARC, 2001. 163p. IARC Working Group. Human papillomaviruses. IARC Monographs on the Evaluation of Carcinogenic Risks to Humans, 64:279-282, 1995. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. www.ibge.gov.br IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Resultados da Amostra do Censo Demográfico 2000 - Malha municipal digital do Brasil: situação em 2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. IGLESIAS, E. A.; ALDERMAN, E.; FOX, A. S. Use of wet smears to screen for sexually transmitted diseases. Infect Med, 17: 175-185, 2000. JACOBS, M.V.; WALBOOMERS, J.M.; SNIJDERS, P.J.; VOORHORST, F.J.; VERHEIJEN, R.H.; FRANSEN-DAALMEIJER, N. Distribution of 37 mucosotropic HPV types in women with cytologically normal cervical smears: the age-related patterns for high-risk and low-risk types. Int J Cancer, 87(2):221-227, 2000. JO, H.; KIM, J.W. Implications of HPV infection in uterine cervical cancer. Cancer Therapy, (3):419-434, 2005. JOESOEF, M.R.; HILLIER, S.L.; JOSODIWONDO, S.; LINNAN, M. Reproducibility of a scoring system for Gram stain diagnosis of bacterial vaginosis. J Clin Microbiol, 29(8):1730-1731, 1991. JORDÃO, A.V.; RUGGERI, L.S.; CHIUCHETA, G.I.R.; Importância da aplicação de critérios morfológicos não-clássicos para o diagnóstico citopatológico de papilomavírus humano. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, 3(1):81-89, 2003. 77 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas KAHN, J.A.; CHIOU, V.; ALLEN, J.D.; GOODMAN, E.; PERLAM, S.E; EMANS, S.J. Beliefs about Papanicolaou smears and compliance with Papanicolaou smear follow-up in adolescents. Arch Pediatr Adolesc Med, 153:1046-1054,1999. KANESHIMA, E.N.; SUZUKI, L.E.; IRIE, M.M.T.; YOSHIDA, C.S.; SILVA, S.F.M.; CONSOLARO, E.L. Importância da aplicação de critérios morfológicos nãoclássicos para o diagnóstico citopatológico de Papillomavírus Humano (HPV) previamente detectado por PCR. Revista Brasileira de Análises Clínicas, 35(1): 29-33, 2003. KIRSCHNER, B.; SIMONSEN, K.; JUNGE, J. Comparison of conventional Papanicolaou smear and SurePath liquid-based cytology in the Copenhagen population screening programme for cervical cancer. Cytopathology, 17:187-194, 2006. KLIGERMAN, J. A assistência oncológica no SUS. Rev Brás Cancerol, 44:6-9, 1998. KOTLOFF, K.L.; WASSERMAN, S.S.; RUSS, K.; SHAPIRO, S.; DANIEL, R.; BROWN, W.; FROST, A.; TABARA, S.O.; SHAH, K. Detection of genital human papillomavirus and associated cytological abnormalities among college women. Sex Transm Dis, 25(5):243-250, 1998. KOUTSKY, L.A.; HOLMES, K.K.; CRITCHLOW, C.W.; STEVENS, C.E.; PAAVONEN, J.; BECKMANN, A.M.; DeROUEN, T.A.; GALLOWAY, D.A.; VERNON, D.; KIVIAT, N.B. - A cohort study of the risk of cervical intraepithelial neoplasia grade 2 or 3 in relation to papillomavirus infection. N. Engl. J. Med, 327:1272-1278, 1992. LA VECCHIA, C.; FRANCESCHI, S.; DECARLI, A.; FASOLI, M.; GENTILE, A.; PARAZZINI, F.; REGALLO, M. Sexual factors, venereal diseases, and the risk of intraepithelial and invasive cervical neoplasia. Cancer, 58:935-941, 1986. LAMONT, R.F.; MORGAN, D.J.; WILDEN, S.D.; TAYLOR-ROBINSON, D. Prevalence of bacterial in women attending one of three general practices for routine cervical cytology. Int J STD AIDS, 11:495-498, 2000. LANCELLOTTI, C.L.P.; LEVI, J.E.; SILVA, M.A.L.G.; SCHWARZSCHILD, M.; NICOLAU, S.M. Diagnóstico laboratorial - Citologia, histologia, imunohistoquímica, microscopia eletrônica, biologia molecular. In: CARVALHO, J.J.M. & OYAKAWA, N. - I Consenso Brasileiro de HPV. São Paulo: B. G. Cultural, 2000. p.45-60. LARSEN, B.; MONIF, G.R. Understanding the bacterial flora of the female genital tract. Clin Infect Dis, 32:69-77, 2001. 78 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas LAZCANO-PONCE, E.; HERRERO, R.; MUNOZ, N.; CRUZ, A.; SHAH, K.V.; ALONSO, P.; HERNANDEZ, P.; SALMERON, J.; HERNANDEZ, M. Epidemiology of HPV infection among Mexican women with normal cervical cytology. Int J Cancer, 91(3):412-420, 2001. LEWIS, J.S. Seleção e validação de testes e controle de qualidade. In: Atlas de doenças sexualmente transmissíveis e AIDS. 2ed. Porto Alegre: Artes Médicas. 1997. p.319-324. LIN, D.P.; PAN, B.J.; FUH, J.C.; HUANG, T.H. Improving Gram-stained reproducible result by further adding clue cells in diagnosing bacterial vaginosis. Kaohsiung J Med Sci, 18(4): 164-170, 2002. LINHARES, I.M.; BAGNOLI, V.R.; HALBE, H.W. Vaginose bacteriana, candidose e tricomoníase. In: HALBE, H.W. - Tratado de ginecologia. 2ed. São Paulo: Roca, 1993. p. 875-881. LIU, S.; SEMENCIW, R.; PROBERT, A.; MAO, Y. Cervical cancer in Canada: changing patterns in incidence and mortality. Int. J. Gynecol. Cancer, 11:24-31, 2001. LONGATTO FILHO, A.; ETLINGER, D.; GOMES, N.S.; CRUZ, S.V.; CAVALIERI, M.J. Frequency of abnormal uterine cervix smears from adolescents and adult women: review of 308,630 cases. Rev Inst Adolfo Lutz, 62(1):31-34, 2003. LONGWORTH, M.S.; LAIMINS, L.A. Pathogenesis of Human Papillomaviruses in differentiating epithelia. Microbiology and Molecular Biology, 68(2):362-372, 2004. LÖRINCZ, A.T. Molecular methods for the detection of human papillomavirus infection. Obstet Gynecol Clin North Am, 23:707-730, 1996 . LOSSICK, J.G.; KENT, H.L. Trichomoniasis: trends in diagnosis and management. Am J Obstet Gynecol, 165:1217-1222, 1991. LUZZATTO, R.; BOON, M.E. - Contribution of the endocervical cytobrush sample to the diagnosis of cervical lesions. Acta Cytol, 40:1143-1147, 1996. MALEJCZYK, J.; MALEJCZYK,S.; JABLONSKA, S. Cellular immunity in cutaneous and genital HPV infections. Clin Dermatol, 15:261-274, 1997. MALEK, R.S.; GOELLNER, J.R.; SMITH, T.F.; ESPY, M.J.; CUPP, M.R. - Human papillomavirus infection and intraepithelial, in situ, and invasive carcinoma of penis. Urology, 42:159-170, 1993. MARRAZZO, J.M.; KOUTSKY, L.A.; ESCHENBACH, D.A.; AGNEW, K.; STINE, K.; HILLIER, S.L. Characterization of vaginal flora and bacterial vaginosis in women who have sex with women. J Infect Dis, 185:1307-1313, 2002. 79 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas MARRAZZO, J.M.; KOUTSKY, L.A.; KIVIAT, N.B.; KUYPERS, J.M.; STINE, K. Papanicolaou test screening and prevalence of genital human papillomavirus among women who have sex with women. Am J Public Health, 91(6):947-952, 2001. MATOS, E.; LORIA, D.; AMESTOY, G.M.; HERRERA, L.; PRINCE, M.A.; MORENO, J.; KRUNFLY, C.; VAN DEN BRULE, A.J.; MEIJER, C.J.; MUÑOZ, N.; HERRERO, R.; Proyecto Concordia Collaborative Group. Prevalence of human papillomavirus infection among women in Concordia, Argentina: a populationbased study. Sex Transm Dis, 30(8):593-599, 2003. MCCRORY, D.C.; MATCHAR, D.B.; BASTIAN, L.; DATTA, S.; HASSELBLAD, V.; HICKEY, J.; MYERS, E.; NANDA, K. Evaluation of cervical cytology. Evid Rep Technol Assess, 5:1-6, 1999. MEIJER, C.J.; SNIJDERS, P.J.; VAN DEN BRULE, A.J. Screening for cervical cancer: should we test for infection with high-risk HPV? Cmaj, 163(5):535-538, 2000. MELKERT, P.W.; HOPMAN, E.; VAN DEN BRULE, A.J.; RISSE, E.K.; VAN DIEST, P.J.; BLEKER, O.P.; HELMERHORST, T.; SCHIPPER, M.E.; MEIJER, C.J.; WALBOOMERS, J.M. Prevalence of HPV in cytomorphologically normal cervical smears, as determined by the polymerase chain reaction, is agedependent. Int J Cancer, 53(6):919-923, 1993. MOLANO, M.; POSSO, H.; WEIDERPASS, E.; VAN DEN BRULE, A.J.; RONDEROS, M.; FRANCESCHI, S.; MEIJER, C.J.; ARSLAN, A.; MUNOZ, N.; HPV Study Group. Prevalence and determinants of HPV infection among Colombian women with normal cytology. Br J Cancer, 87(3):324-333, 2002. MONSONEGO, J.; AUTILLO-TOUATI, A.; BERGERON, C.; DACHEZ, R.; LIARAS, J.; SAUREL, J.; ZERAT, L.; CHATELAIN, P.; MOTTOT,C. Liquid-based cytology for primary cervical cancer screening: a multi-centre study. Br. J. Cancer, 84:360366, 2001. MORAES FILHO, A. ; LONGATTO FILHO, A. Colo Uterino & Vagina. Processos inflamatórios. Aspectos histológicos, citológicos e colposcópicos. Rio de Janeiro: Revinter, 2000. 209p. MOSCICKI, A.B.; HILLS, N.; SHIBOSKI, S.; POWELL, K.; JAY, N.; HANSON, E.; MILLER, S.; CLAYTON, L.; FARHAT, S.; BROERING, J.; DARRAGH, T.; PALEFSKY, J. Risks for incidence human papillomavirus infection and low-grade squamous intraepithelial lesion development in Young females. JAMA, 285:29953002, 2001. 80 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas MOSCICKI, A.B. Human papillomavirus infection in adolescents. Pediatr Clin North Am, 46(4):783-807, 1999. MOSCICKI, A.B.; SHIBOSKI, S.; BROERING, J.; POWELL, K.; CLAYTON, L.; JAY, N.; DARRAGH, T.M.; BRESCIA, R.; KANOWITZ, S.; MILLER, S.B.; STONE, J.; HANSON, E.; PALEFSKY, J. The natural history of human papillomavirus infection as measured by repeated DNA testing in adolescent and young women. J Pediatr, 132(2):277-284,1998. MOSELY, R.P.; PAGET, S. Liquid-based cytology: isthis the way forward fot cervical cancer screening? Cytopathology, 13:71-82, 2002. MOUNT, S.L.; PAPILLO, J.L. A study of 10,296 pediatric and adolescent Papanicolaou smear diagnoses in northern New England. Pediatrics, 103(3):539545, 1999. MÜNGER, K.; BALDWIN, A.; KIRSTEN, M.E.; HAYAKAWA, H.; NGUYEN, C.L.; OWENS, M.; GRACE, M. Mechanisms of Human Papillomavirus-induced oncogenesis. Journal of Virology, 78(21):11451-11460, 2004. MUNOZ, N.; BOSCH, F.X.; DE SANJOSE, S.; HERRERO, R.; CASTELLSAGUE, X.; SHAH, K.V.; SNIJDERS, P.J.; MEIJER, C.J.; International Agency for Research on Cancer Multicenter Cervical Cancer Study Group. Epidemiologic classification of human papillomavirus types associated with cervical cancer. N Engl J Med, 348(6):518-527, 2003. MUNOZ, N.; KATO, I.; BOSCH, F.X.; ELUF-NETO, J.; DE SANJOSE, S.; ASCUNCE, N.; GILI, M.; IZARZUGAZA, I.; VILADIU, P.; TORMO, M.J.; MOREO, P.; GONZALEZ, L.C.; TAFUR, L.; WALBOOMERS, J.M.; SHAH, K.V. Risk factors for HPV DNA detection in middle-aged women. Sex Transm Dis, 23(6):504-510, 1996. NAVARRETE, W.P.; DOMÍNGUEZ, Y.M.; CASTRO, I.E.; ZEMELMAN, Z.R. Elavuatión de los critérios de Nugent y Amsel para el diagnóstico de vaginosis bacteriana. Rev Méd Chile, 128(7):767-71, 2000. NAZÁRIO, A.C.P.; NICOLAO, S.M.; BARACAT, E.C.; LIMA, G.R.; BRUM, R.L.; KADRE, P.A.S.; HARRY, S.; RODRIGUES, E.B.N.; GIULIANO, L.M.P. Prevalência de algumas infecções genitais baixas femininas em população de baixo risco. Rev Bras Doenças Sex Transm, 2(1):9-16, 1997. NESS, R.B.; HILLIER, S.L.; RICHTER, H.E.; SOPER, D.E.; STAMM, C.; MCGREGOR, J.; BASS, D.C.; SWEET, R.L.; RICE, P. Douching in relation to bacterial vaginosis, lactobacilli, and facultative bacteria in the vagina. Obstet Gynecol, 100:765-772, 2002. 81 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas NUGENT, R.P.; KROHN, M A.; HILLIER, S.L. Reliability of diagnosing bacterial vaginosis is improved by a standardized method of Gram stain interpretation. J Clin Microbiol, 29(20):297-301, 1991. OBWEGESER, J.H.; BRACK, S. Does Liquid-Based technology really improve detection of cervical neoplasia? A prospective, randomized trial comparing the ThinPrep Pap Test with the conventional Pap Test, including follow-up of HSIL cases. Acta Cytol, 45:709-714, 2001. ORIEL, J.D. Natural history of genital warts. Br J Vener Dis, 1971; 47:1-13. ÖSTÖR, A.G. Natural history of cervical intraepithelial neoplasia: A critical review. Int J Gynecol Pathol, 12:186-192, 1993. PALER, R.J.; SIMPSON, D.R.; KAYE, A.M.; GUNN, S.; FELIX, J.C. The relationship of inflammation in the Papanicolaou smear to Chlamydia trachomatis infection in high-risk population. Contraception, 61:231-234, 2000. PANÚCO, C.A.B.; RODRÍGUEZ, I.D.; MÉNDEZ, J.T.H.; GUZMÁN, L.A.M.; FIERRO, D.A.; MURILLO, J.M.; MALDONADO, E.R. Detection of Chlamydia trachomatis in pregnant women by the Papanicolaou technique, enzyme immunoassay and polymerase chain reaction. Acta Cytologica, 44(2):114-123, 2000. PAPANICOLAOU, G.N. Atlas of exfoliative cytology. The Commonwealth Fund. Cambridge, MA. Harvard University Press, 1963. PAPANICOLAOU, G.N. & TRAUT, H.F. The diagnostic value of vaginal smears in carcinoma of the uterus. Am J Obstet Gynecol, 42:193-206, 1941. PARK, I.A.; LEE, S.N.; CHAE, S.W.; PARK, K.H.; KIM, J.W.; LEE, H.P. Comparing the accuracy of ThinPrep Pap Test and Conventional Papanicolaou Smears on the basis of the histologic diagnosis. Acta Cytologica, 45:525-531, 2001. PAYNE, N.; CHILCOTT, J.; MCGOOGAN, E. Liquid-based cytology in cervical screening: a rapid and systematic review. Health Technol Assess, 4(18):1-73, 2000. PEREIRA, S.M.M.; UTAGAWA, M.L.; PITTOLI, J.E.; AGUIAR, L.S.; MAEDA, M.Y. S.; LONGATTO FILHO, A.; LORETO, C.; ROTELI- MARTINS, C.; GALVANE, J.O.; WOLF, C.M.; FIGUEIREDO, S.F.; SYRJÄNEN, K. Avaliação da celularidade citológica em preparados de base líqüida. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 62(1):35-39, 2003. 82 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas PEREZ, A.P.; CRUM, C.P. Natural history of cervical neoplasia: defining progression and its consequence. Clinical Obstetrics and Gynecology, 43(3): 352-362, 2000. PETRIN, D.; DELGATY, K.; BHATT, R.; GARBER, G. Clinical and microbiological aspects opf Trichomonas vaginalis. Clin Microbiol Rev, 11:300-317, 1998. PEYTON, C.L.; GRAVITT, P.E.; HUNT, W.C.; HUNDLEY, R.S.; ZHAO, M.; APPLE, R.J., WHEELER, C.M. Determinants of genital human papillomavirus detection in a US population. J Infect Dis,183(11):1554-1564, 2001. PHAM, T.H.; NGUYEN, T.H.; HERRERO, R.; VACCARELLA, S.; SMITH, J.S.; NGUYEN THUY, T.T.; NGUYEN, H.N.; NGUYEN, B.D.; ASHLEY, R.; SNIJDERS, P.J.; MEIJER, C.J.; MUNOZ, N.; PARKIN, D.M.; FRANCESCHI, S. Human papillomavirus infection among women in South and North Vietnam. Int J Cancer, 104(2):213-220, 2003. PYBUS, V.; ONDERDONK, A.B. Microbial interactions in the vaginal ecosystem, with emphasis on the pathogenesis of bacterial vaginosis. Microbes Infect, 1:285292, 1999. QU, W.; JIANG, G.; CRUZ, Y.; CHANG, C.J.; HO, G.Y.F.; KLEIN, R.S.; BURK, R.D. PCR detection of Human Papillomavirus: Comparasion between MY09/MY11 and GP5+/GP6+ primer systems. Journal of Clinical Microbiology, 35(6):13041310, 1997. RATNAM, S.; FRANCO, E.L.; FERENCZY, A. Human papillomavirus testing for primary screening of cervical cancer precursors. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev, 9(9):945-951, 2000. REDONDO-LOPEZ, V., COOK, R.L.; SOBEL, J.D. Emerging role of lactobacilli in the control and maintenance of the vaginal bacterial microflora. Rev Infect Dis, 12, 856-872, 1990. REESE, R.E.; BETTS, R.F. A practical approach to infectious diseases. Boston: Little, Brown and Company, 1991. REICHMAN, R.C. Human papillomaviruses. In: BRAUNWALD, E.; FAUCI, A.S.; KASPER, D.L.; HAUSER, S.L.; LONGO, D.L.; JAMESON, J.L. Harrison's principles of internal medicine on cd-rom. McGraw-Hill, 2001. RICHARDSON, H.; FRANCO, E.; PINTOS, J.; BERGERON, J.; ARELLA, M.; TELLIER, P. Determinants of low-risk and high-risk cervical human papillomavirus infections in Montreal University students. Sex Transm Dis, 27(2):79-86, 2000. RIEDNER, G.; RUSIZOKA, M.; HOFFMANN, O.; NICHOMBE, F.; LYAMUYA, E.; MMBANDO, D.; MABOKO, L.; HAY, P.; TODD, J.; HAYES, R.; HOELSCHER, M.; 83 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas GROSSKURTH, H. Baseline survey of sexually transmitted infections in a cohort of female bar workers in Mbeya Region, Tanzania. Sex Transm Infect, 79(5):382387, 2003. ROTELI-MARTIN, C.M.; DERCHAIN, S.F.; MARTINEZ, E.Z.; SIQUEIRA, S.A.; ALVES, V.A.; SYRJÄNEN, K.J. Morphological diagnosis of HPV lesions and cervical intraepithelial neoplasia (CIN) is highly reproducible. Clin Exp Obstet Gynecol, 28(2):78-80, 2001. SADEGHI, S.B.; HSIEH, E.W.; GUNN, S.W. Prevalence of cervical intraepithelial neoplasia in sexually active teenagers and young adults. Am J Obstet Gynecol, 148:726-729,1984. SAMPAIO NETO, L.F.; CANÇADO, R.R.; FARIA, M.; FERREIRA, JÚNIOR., J.A.; REIS, E.; EPIPHANIO, M.G. CAETANO, M.E.P.; ALVARENGA, M.C. Estudo da prevalência de doenças transmissíveis em grupos de alto risco. Jornal Brasileiro Doenças Transmissíveis, 2(1):23-32, 1997. R.M.V.; DIAS ARAÚJO, E.; sexualmente Sexualmente SASLOW, D.; RUNOWICZ, C.D.; SOLOMON, D.; MOSCICKI, A.B.; SMITH, R.A.; EYRE, H.J.; SASLOW, D.; RUNOWICZ, C.D.; SOLOMON, D.; MOSCICKI, A.B.; SMITH, R.A.; EYRE, H.J.; COHEN, C.; American Cancer Society. American Cancer Society guideline for the early detection of cervical neoplasia and cancer. CA Cancer J Clin, 52(6):342-362, 2002. SCHIFFMAN, M.H. & BRINTON, L.A. The epidemiology of cervical carcinogenesis. Cancer, 76:1888-1901, 1995. SCHIFFMAN, M.H.; BAUER, H.M.; LORINCZ, A.T.; MANOS, M.M.; BYRNE. J.C.; GLASS, A.G.; CADELL, D.M.; HOWLEY, P.M. Comparasion of Southern Blot Hybridization and Polymerase Chain Reaction methods for the detection of Human Papillomavirus DNA. Journal of Clinical Microbiology, 29(3):573-577, 1991. SCHIFFMAN, M.; CASTLE, P. E. Human papillomavirus: epidemiology and public health. Arch Pathol Lab Med, 127(8):930-934, 2003. SCHIFFMAN, M.; CASTLE, P.E. The promise of global cervical cancer prevention. N Engl J Med, 353(20):2101-2104, 2005. SCHIFFMAN, M.; HERRERO, R.; HILDESHEIM, A.; SHERMAN, M.E.; BRATTI, M.; WACHOLDER, S.; ALFARO, M.; HUTCHINSON, M.; MORALES, J.; GREENBERG, M.D.; LORINCZ, A.T. HPV DNA testing in cervical cancer screening: results from women in a high-risk province of Costa Rica. JAMA, 283(1):87-93, 2000. 84 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas SCHIFFMAN, M.; KJAER, S. K. Chapter 2: Natural history of anogenital human papillomavirus infection and neoplasia. J Natl Cancer Inst Monogr,(31):14-19, 2003. SCHIFFMAN, M.H.; BURK, R.D. Human papillomaviruses. In: EVANS, A. & KASLOW, R. - Viral infection of humans, epidemiology and control. Part III. Viral infections and malignant diseases. New York: Plenum,1997. p.983-1023. SCHROEDER, B.M. ACS updates guideline for the early detection of cervical neoplasia and cancer. American Cancer Society. Am Fam Physician, 67(9):20112016, 2003. SCHWEBKE, J.E.; BURGESS, D. Trichomoniasis. Clinical Microbiology Reviews, 17(4):794-803, 2004. SCHWEBKE, J.R., RICHEY, C.M.; WEISS, H.L. Correlation of behaviors with microbiological changes in vaginal flora. J Infect Dis, 180:1632-1636, 1999. SCIARRA, J.J. Sexually transmitted diseases: global importance. Int J Gynecol Obstet, 58:107-119, 1997. SELLORS, J.W.; MAHONY, J.B.; KACZOROWSKI, J.; LYTWYN, A.; BANGURA, H.; CHONG, S.; LORINCZ, A.; DALBY, D.M.; JANJUSEVIC, V.; KELLER, J.L. Prevalence and predictors of human papillomavirus infection in women in Ontario, Canada. Survey of HPV in Ontario Women (SHOW) Group. CMAJ,163(5):503508, 2000. SHERMAN, M.E.; LORINCZ, A.T.; SCOTT, D.R.; WACHOLDER, S.; CASTLE, P.E.; GLASS, A.G.; MIELZYNSKA-LOHNAS, I.; RUSH, B.B.; SCHIFFMAN, M. Baseline cytology, human papillomavirus testing, and risk for cervical neoplasia: a 10-year cohort analysis. J Natl Cancer Inst, 95(1):46-52, 2003. SHIN, H.R.; LEE, D.H.; HERRERO, R.; SMITH, J.S.; VACCARELLA, S.; HONG, S.H.; JUNG, K.Y.; KIM, H.H.; PARK, U.D.; CHA, H.S.; PARK, S.; TOUZE, A.; MUNOZ, N.; SNIJDERS, P.J.; MEIJER, C.J.; COURSAGET, P.; FRANCESCHI, S. Prevalence of human papillomavirus infection in women in Busan, South Korea. Int J Cancer, 103(3):413-421, 2003. SIGURDSSON, K. Cervical cancer, Pap smear and HPV testing: an update of the role of organized Pap smear screening and HPV testing. Acta Obstet Gynecol Scand, 78(6):467-477, 1999. SILVEIRA, L.M.S.; SILVA, H.A.; PEREIRA, I.P.; PINHEIRO, V.M.F. Critérios citomorfológicos para o diagnóstico de HPV e sua relação com a gravidade da neoplasia intra-epitelial cervical. Revista Brasileira de Análises Clínicas, 37(2): 129-134, 2005. 85 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas SIMÕES, J.A.; GIRALDO, P.C., RIBEIRO FILHO, A.D.; FAÚNDES, A. Prevalência e fatores de risco associados às infecções cérvico-vaginais durante a gestação. RBGO, 18(5):459-467, 1996. SIMÕES, J.A . Estudo da prevalência e fatores de risco das infecções cervicovaginais em gestantes normais. Campinas, 1995. [Tese - Mestrado FCM/UNICAMP]. SIMSIR, A.; BROOKS, S.; COCHRAN, L.; BOURQUIN, P.; IOFFE, O.B. Cervicovaginal smear abnormalities in sexually active adolescents. Implications for management. Acta Cytol, 46(2):271-276, 2002. Singer A. The uterine cervix from adolescence to the menopause. Br J Obstet Gynecol, 82:81-99, 1975. SOBEL, J.D. Is there a protective role for vaginal flora? Curr Infect Dis Rep, 1:379-383, 1999a. SOBEL, J.D. Vulvovaginitis in healthy women. Compr Ther, 25:335-346, 1999b. SOBEL, J.D. Vaginal infections in adult women. Med Clin North Am, 74:100, 1990. SOLOMON, D.; NAYAR, R. Sistema Bethesda para Citopatologia Cervicovaginal - Definições, Critérios e Notas Explicativas. 2ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2005. 192p. SOLOMON, D.; SCHIFFMAN, M.; TARONE, R. Comparasion of three management strategies for patients with atypical squamous cells of undetermined significance: baseline results from a randomized trial. J Natl Cancer Inst, 93(4):293-299, 2001. SONNEX, C. Human papillomavirus infection with particular reference to genital disease. J Clin Pathol, 51(9):643-648, 1998. SOUTHERN, S.A.; HERRINGTON, C.S. Molecular events in uterine cervical cancer. Sex. Transm. Infect., 74:101-119, 1998. SPIEGEL, C.A.; AMSEL, R.; HOLMES, K.K. Diagnosis of bacterial vaginosis by direct Gram stain of vaginal fluid. J Clin Microbiol, 18(1):170-177, 1983. STEBEN, M. Genital herpes simplex virus infection. Clin Obstet Gynecol, 48(4):838-844, 2005. STOLER, M.H. Human papillomavirus biology and cervical neoplasia: implications for diagnostic criteria and testing. Arch Pathol Lab Med, 127(8):935-939, 2003. 86 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas SYRJÄNEN K.J.; SYRJANEN S.M. HPV typing as an adjunct to cervical cancer screening. Invited review. Cytopathol, 10:8-15, 1999. SYRJÄNEN, K. Biological behaviour of cervical intraepithelial neoplasia. In: FRANCO, E.; MONSONEGO, J. - New developments in cervical cancer screening and prevention. London: Blackwell Science, 1997. p.93-108. TACLA, M.; TUBAKI, M.E.; SCHWARZSCHILD, M.M.S.; LUCA, P.D.; MENICONI, M.C.; BARRUECO, A.K.; LOPES, E.A.; DUARTE, M.I. Abnormal pap smear in adolescence. In: XVI FIGO World Congress of Gynecology and Obstetrics, Washington D.C., 2000. Proceedings. Washington D.C., 2000. p.80. TAM, M.T.; YONGBLUTH, M.; MYLES, T. Gram stain method shows better sensitivity than clinical criteria for detection of bacterial vaginosis in surveillance of pregnant lowincome women in a clinical setting. Infect Dis Obstet Gynecol, 6(5): 204-208, 1998. TELLES, E.P.B. - Prevalência, acurácia do diagnóstico clínico e fatores associados a infecções do trato genital feminino. Campinas, 1994. [Tese Doutorado - FCM/UNICAMP]. TORTOLERO-LUNA, G. Epidemiology of genital human papillomavirus. Hematol Oncol Clin North Am, 13(1):245-257, 1999. UTAGAWA, M.L.; PEREIRA, S.M.; CAVALIERE, M.J.; MAEDA, M.Y.; SHIH, L.W.; SHIRATA, N.K. Cervical intraepithelial neoplasia in adolescents: study of cytological findings between 1987 and 1995 in Sao Paulo State-Brazil. Arch Gynecol Obstet, 262(1-2):59-64, 1998. VAN DOORN, L.J.; KLETER, B.; QUINT, W.G.V. Molecular detection and genotyping of human papilomavírus. Expert Rev Mol Diagn, 4:394-402, 2001. VIANNA, M.R.; TAROMARU, E.; DÔRES, G.B. Citologia de Base-Líquida pelo sistema DNA-Citoliq (DCS) - Eficácia na identificação da microbiota vaginal. J bras Doenças Sex Transm, 16(4):27-31, 2004. VILLA, L.L. Papilomavírus humano e câncer de colo do útero. Laes&Haes 10:6267, 1995. WALBOOMERS, J.M.; JACOBS, M.V.; MANOS M.M.; BOSCH, F.X.; KUMMER, J.A.; SHAH, K.V.; SNIJDERS, P.J.; PETO, J.; MEIJER, C.J.; MUNOZ, J. Human papillomavirus is a necessary cause of invasive cancer worldwide. J Pathol, 189: 12-19, 1999. WANG S.S.; HILDESHEIM, A. Chapter 5: Viral and host factors in human papillomavirus persistence and progression. J Natl Cancer Inst Monogr, (31):3540, 2003. 87 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas WINER, R.L.; LEE, S.K.; HUGHES, J.P.; ADAM, D.E.; KIVIAT, N.B.; KOUTSKY, L.A. Genital human papillomavirus infection: incidence and risk factors in a cohort of female university students. Am J Epidemiol, 157(3):218-226, 2003. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Comprehensive Cervical Cancer Control A guide to essential practice. Geneva: WHO, 2005a, 282 p. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Sexually transmitted reproductive tract infections. Geneva: WHO, 2005b, 191p. and other WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global prevalence and incidence of selected curable sexually transmitted infections overview and estimates. Geneva: WHO, 2001, 42p. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Laboratory transmitted diseases. Geneva: WHO, 2000, 141p. diagnostic of sexually WORLD HEALTH ORGANIZATION. The second decade: improving adolescent health and development. Programme brochure. Department of Child and Adolescent Health and Development, Geneva: WHO, 1998. WORLD HEALTH ORGANIZATION - Cytological screening in the control of cervical cancer: technical guidelines. Geneva, WHO, 1988, p.52. WRIGHT, J.D.; DAVILA, R.M.; PINTO, K.R.; MERRITT, D.F.; GIBB, R.K.; RADER, J.S.; MUTCH, D.G.; GAO, F.; POWELL, M.A. Cervical dysplasia in adolescents. Obstet Gynecol, 106:115-120, 2005. WRIGHT, T.C.Jr.; COX, J.T.; MASSAD, L.S.; TWIGGS, L.B.; WILKINSON, E.J. 2001 Consensus Guidelines for the management of women with cervical cytological abnormalities. Jama, 287(16):2120-2129, 2002. WRIGHT, V.C.;RIOPELLE, M.A. Age at beginning of coitus versus chronologic age as a basis for Papanicolaou smear screening: An analysis of 747 cases of preinvasive disease. Am J Obstet Gynecol., 149: 824-830, 1984. WU, T.C. - Immunology of the human papilloma virus in relation to cancer. Curr Opin Immunol, 6:746-754, 1994. YEN, S.; SHAFER, M.A.; MONCADA, J.; CAMPBELL, C.J.; FLINN, S.D.; BOYER, C.B. Bacterial vaginosis in sexually experienced and non-experienced young women entering the military. Am J Obstet Gynecol, 102:927-933, 2003. ZEFERINO, L.C. - Influência da idade ao início da atividade sexual e do número de parceiros sexuais da mulher na história natural da neoplasia do 88 BARRETO, R.G. Referências Bibliográficas colo uterino. Campinas 1994. [Tese – Doutorado -. Faculdade de Ciências Médicas Universidade Estadual de Campinas]. 89 9 - Anexos BARRETO, R.G. Anexos ANEXO 1 - Termo de consentimento livre e esclarecido Título do Projeto: Alterações inflamatórias e processos displásicos do colo do útero em adolescentes e mulheres jovens e sua relação com o vírus do papiloma humano (HPV) Observação: Este documento lhe dará [e a seus pais]* as informações necessárias para ajudá-la a decidir se você deseja participar ou não desse estudo. Ele permitirá uma compreensão completa, mas simples, acerca das razões científicas desse estudo, bem como sobre seus direitos e responsabilidades no caso de decidir participar. Objetivo do Estudo: Muitos estudos científicos demonstraram uma forte correlação entre as infecções genitais causadas por determinados grupos de vírus e o desenvolvimento de câncer do colo do útero anos mais tarde. Esses vírus, do grupo do Papilomavírus Humano (HPV), são adquiridos, geralmente, durante as relações sexuais. Nós planejamos um estudo que tem como principal enfoque a identificação e o acompanhamento de mulheres portadoras do HPV bem como de outras lesões associadas presentes no colo uterino. Por isso, convidamo-la a fazer parte desse estudo, cujos objetivos, procedimentos, riscos e benefícios estão descritos a seguir. Participação no Estudo: Se você decidir participar nesse estudo, o primeiro passo será uma entrevista com um profissional da saúde que lhe explicará [e para seu pai/mãe/responsável] o estudo detalhadamente. Você deverá [você e seu pai/mãe/responsável deverão] antes consentir com a participação no estudo. Pediremos que você responda um questionário contendo perguntas sobre dados pessoais tais como: escolaridade, saúde reprodutiva, história sexual e práticas sexuais. Suas respostas não serão reveladas a ninguém, nem mesmo a seus pais. Também, durante a visita ao local do estudo serão realizados os seguintes procedimentos: 91 BARRETO, R.G. Anexos • Uma entrevista médica e um exame físico limitado que o médico realizará para verificar se você se encontra saudável e • Um exame pélvico interno no qual: - O médico verificará se seu colo do útero apresenta alguma anormalidade. - Uma escovinha plástica e espátula serão utilizados para retirar algumas células do seu colo do útero para exames microbiológicos, de citologia cervical (Papanicolaou) e um exame de DNA de HPV. Riscos associados com o estudo: Esse estudo não implica na aplicação de nenhuma vacina ou remédio. Os procedimentos usados para a coleta de amostras durante o exame pélvico são os padronizados, normalmente, realizados em mulheres [adolescentes ou adultas]. Uma coleta de raspado cérvico-vaginal será efetuada. Os riscos associados a esse procedimento são mínimos pois, não se trata de procedimento invasivo. Além disso, será realizado por profissional médico altamente qualificado e devidamente, habilitado, para realizar esse procedimento. Você será informada de qualquer nova descoberta que houver durante o período dessa pesquisa. Participação voluntária: A sua participação é voluntária. Negar-se a tomar parte ou continuar o estudo não implica nenhuma punição ou perda de benefícios ou de atenção que lhe sejam devidos por seu prestador de saúde. Você tem direito a receber uma cópia assinada desse formulário. Confidencialidade e acesso aos dados: Sua participação no estudo será tratada com absoluto sigilo. Seu nome não será mencionado nos informes do estudo e a sua identidade não será revelada a nenhuma pessoa. Direito a fazer perguntas e/ou retirar-se do estudo: Você pode fazer perguntas sobre o estudo. Apesar de apreciarmos o seu apoio contínuo, você tem direito de retirar-se do estudo quando quiser e não estará obrigada a outras coletas de amostras. Se você tiver alguma pergunta, por favor entre em contato com: Prof.a Cláudia Martins Carneiro ([email protected], 031 35591694, 031 88974347) 92 BARRETO, R.G. Anexos Consentimento Livre e Esclarecido (Adultos) Os objetivos e procedimentos desse estudo foram explicados de forma clara e eu li e compreendi a informação fornecida. Concordo em fazer parte do estudo. Entendo que tenho o direito de não tomar parte no estudo e que posso retirar-me dele quando quiser e por qualquer motivo, sem que por isso haja conseqüências na atenção à minha saúde, presente ou futura, e ao atendimento que recebo de meu prestador de saúde. Fui informada sobre meu direito de acessar e pedir que meus dados pessoais sejam corrigidos. Informo que recebi uma cópia desse formulário para referência. Eu, (Nome e sobrenome da pessoa) ____________________________________________, por esse meio e de livre e espontânea vontade, dou o meu consentimento para participar desse estudo. Assinatura da participante: Endereço da participante: Telefone da participante: Data: Consentimento Livre e Esclarecido (Adolescente) O estudo foi-me explicado de forma clara e eu li e compreendi a informação fornecida. Eu concordo em ser incluída no estudo. Entendo que tenho o direito de não tomar parte no estudo e que posso retirar-me dele quando quiser e por qualquer motivo, sem que, por isso, haja conseqüências na atenção à minha saúde presente ou futura e ao atendimento que recebo de meu prestador de saúde. Fui informada sobre meu direito de acessar e pedir que meus dados pessoais sejam corrigidos. Informo que recebi uma cópia desse formulário para referência. Eu, (Nome e sobrenome da pessoa) ______________________________________________, por esse meio e de livre e espontânea vontade, dou o meu consentimento para participar desse estudo. Nome do Participante: Assinatura da participante (quando for aplicável): 93 BARRETO, R.G. Anexos Consentimento dos responsáveis O estudo foi-me explicado de forma clara e eu li e compreendi a informação fornecida. Concordo que a minha filha/tutelada faça parte do estudo. Entendo que minha filha tem o direito de não tomar parte no estudo e de retirar-se dele quando quiser e por qualquer motivo, sem que, por isso, haja conseqüências na atenção à sua saúde, presente ou futura, e ao atendimento que ela recebe de seu prestador de saúde. Fui informado sobre seu direito de acessar e pedir que seus dados pessoais sejam corrigidos. Informo que recebi uma cópia desse formulário para referência. Eu, (nome e sobrenome do pai/mãe/responsável) ____________________________________, por esse meio e de livre e espontânea vontade, dou o meu consentimento para que minha filha, (nome da filha/tutelada) __________________________ participe desse estudo. Nome do pai/mãe/responsável: Assinatura do pai/mãe/responsável: Grau de relação/parentesco com a participante: Endereço da participante: Telefone da participante: Data: 94 BARRETO, R.G. Anexos ANEXO 2 - 95 BARRETO, R.G. Anexos ANEXO 3 - Coloração de Papanicolaou modificada • Água destilada............................................................................... 3 minutos • Hematoxilina de Harris................................................................... 1 minuto • Água corrente................................................................................. 1 minuto • Álcool 95% ..................................................................................... 10 imersões • Álcool 95% ..................................................................................... 10 imersões • Orange G ....................................................................................... 30 segundos • Álcool 95% ..................................................................................... 10 imersões • Álcool 95% ..................................................................................... 10 imersões • EA 36.............................................................................................. 7 minutos • Álcool 95% ..................................................................................... 10 imersões • Álcool 95% ..................................................................................... 10 imersões • Deixar secar a temperatura ambiente • Xilol ................................................................................................ 3 minutos • Montar a lâmina com Entellan e cobrir com lamínula 96 BARRETO, R.G. Anexos ANEXO 4 - Emissão do laudo de acordo com o Sistema de Bethesda 2001 1. TIPOS DA AMOSTRA Citologia: Convencional Em meio líquido 2. AVALIAÇÃO PRÉ-ANALÍTICA Amostra rejeitada por: Ausência ou erro de identificação da lâmina e/ou do frasco; Identificação da lâmina e/ou do frasco não coincidente com a do formulário; Lâmina danificada ou ausente; Causas alheias ao laboratório (especificar); Outras causas (especificar). 3. ADEQUABILIDADE DA AMOSTRA Satisfatória Insatisfatória para avaliação oncótica devido ao: Material acelular ou hipocelular (< 10% do esfregaço) Leitura prejudicada (> 75% do esfregaço) por presença de: sangue; piócitos; artefatos de dessecamento; contaminantes externos; intensa superposição celular; outros (especificar). Epitélios representados na Amostra: Escamoso; Glandular; Metaplásico. 97 BARRETO, R.G. Anexos 4. DIAGNÓSTICO DESCRITIVO Dentro dos limites da normalidade, no material examinado; Alterações celulares benignas Inflamação; Reparação; Metaplasia escamosa imatura; Atrofia com inflamação; Radiação; Outras (especificar), por exemplo: Presença de células endometriais (na pós-menopausa ou acima de 40 anos, fora do período menstrual). Atipias celulares Células atípicas de significado indeterminado: Escamosas: Possivelmente não neoplásicas (ASC-US); Não se pode afastar lesão intra-epitelial de alto grau (ASC-H). Glandulares: Possivelmente não neoplásicas; Não se pode afastar lesão intra-epitelial de alto grau. De origem indefinida: Possivelmente não neoplásicas; Não se pode afastar lesão intra-epitelial de alto grau. Em células escamosas: Lesão intra-epitelial de baixo grau (compreendendo efeito citopático pelo HPV e neoplasia intra-epitelial cervical grau I); Lesão intra-epitelial de alto grau (compreendendo neoplasias intra-epiteliais cervicais graus II e III); Lesão intra-epitelial de alto grau, não podendo excluir micro-invasão; Carcinoma epidermóide invasor. Em células glandulares: Adenocarcinoma in situ Adenocarcinoma invasor: Cervical Endometrial Sem outras especificações Outras neoplasias malignas (especificar) 98 BARRETO, R.G. Anexos 5. MICROBIOLOGIA Lactobacillus sp; Bacilos supracitoplasmáticos (sugestivos de Gardnerella/Mobiluncus); Outros bacilos; Cocos; Candida sp; Trichomonas vaginalis; Sugestivo de Chlamydia sp; Actinomyces sp; Efeito citopático compatível com vírus do grupo Herpes; Outros (especificar). 99 BARRETO, R.G. Anexos ANEXO 5 - Coloração de Gram • Cristal violeta ................................................................... 1 minuto • Água corrente, retirando o excesso do corante • Lugol ................................................................................ 1 minuto • Água corrente, retirando o excesso do corante • Descoloração com éter-acetona ...................................... 5 segundos ou até que a violeta coloração não desprenda • Água corrente • Fucsina ............................................................................ 30 segundos • Água corrente • Deixar secar a temperatura ambiente • Examinar ao microscópio 100 se BARRETO, R.G. Anexos 101