Dissertação de Mestrado Poder de Mercado do Café Brasileiro nos EUA Abordagem via Demanda Residual Gabriel Godofredo Fiuza de Bragança 1 EPGE - Fundação Getulio Vargas Orientador: Afonso Arinos de Melo Franco (EPGE / FGV-RJ) 1 [email protected] Resumo O objetivo deste trabalho é avaliar a competitividade do grão de café brasileiro no mercado americano. Diante das características particulares do mercado de grão de café verde, da variedade de possíveis interações estratégicas entre os competidores e da escassez de observações de qualidade, procura-se demonstrar neste estudo que a abordagem da demanda residual é a técnica mais adequada para atingir este fim. Estimamos a elasticidade da curva de demanda residual dos principais exportadores de café para os EUA através dos métodos de mínimos quadrados ordinários, mínimos quadrados dois estágios, mínimos quadrados três estágios e SUR. Observa-se, a partir dos resultados obtidos, poucos indícios de que o grão de café verde brasileiro, tanto do tipo arabica quanto dos demais, tenha um grau de competitividade significativo no mercado americano. Conteúdo 1 Introdução 1 2 Modelo Teórico 2.1 Métodos Tradicionais de Mensuração de Poder de Mercado 2.2 Novos Métodos e a Demanda Residual . . . . . . . . . . . 2.2.1 Nova Organização Industrial Empírica (NOIE) . . . 2.2.2 Demanda Residual . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3 Formulação do modelo Genérico . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.1 Relação entre a demanda residual e o mark-up . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 Estudo de Caso: Poder de Mercado do Café Verde Brasileiro 3.1 Breve Histórico da Cultura Cafeeira . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1.1 Descoberta, Difusão e Desenvolvimento . . . . . . . . . . 3.1.2 Regulamentação e Desregulamentação . . . . . . . . . . 3.2 Descrição do Produto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.1 Cadeia Produtiva e Barreira Tarifária . . . . . . . . . . . 3.3 Mercado Importador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4 Exportadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4.1 México . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4.2 Colômbia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4.3 Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Estimação e Resultados 4.1 Estimação da Elasticidade da Demanda 4.2 Descrição dos Dados . . . . . . . . . . 4.3 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . 4.3.1 Arabica . . . . . . . . . . . . . 4.3.2 NESOI . . . . . . . . . . . . . . 4.3.3 Elasticidades de Longo Prazo . 5 Conclusão Residual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 3 4 4 5 6 10 nos EUA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 12 12 13 14 14 16 18 18 19 20 . . . . . . 23 23 25 27 28 32 35 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 1 Agradecimentos Agradeço aos meus familiares, pelo incondicional apoio e orientação. Ao professor Afonso Arinos de Melo Franco, pela orientação e suporte ao longo de todo o trabalho. Ao professor João Victor Issler pelos comentários e elucidações. À minha namorada Roberta Santos Carvalho de Castro pela tolerância e compreensão. Aos meus amigos, em especial à Aldo Henrique Treu Ramos, André Soares, Bernardo de Sá Mota, Fernando Tavares Camacho, Frederico Estrella Carneiro Valladares e Marcelo de Sales Pessoa, tanto pelas conversas como pelas sugestões. À Lourenço Senne Paz pelo interesse no tema. Aos professores da EPGE, pela preocupação em desenvolver um centro de excelência acadêmica. Aos meus colegas de turma da EPGE de 2000. À CAPES pelo apoio financeiro ao longo do curso. Aos meus colegas de trabalho, em especial a Fabio Guimarães Rocha, pelo apoio. I 1 Introdução O objetivo desta dissertação é contribuir para o estudo da competitividade do café brasileiro através de uma abordagem quantitativa. Este trabalho focaliza, em particular, o mercado importador americano de grãos de café verde na década de 90. Ao longo desta década, vários trabalhos analisaram a competitividade do café brasileiro no mercado internacional. Dentre eles, podemos citar Coutinho(93), IBRE(98), Ormond(99) e Coutinho(2002). Em adição aos autores anteriormente citados, Fitter&Kaplinsky(2001) e Calfat&Flores(2002) forneceram uma importante contribuição para o entendimento da estrutura de mercado do setor. De todos estes trabalhos, emana o consenso de que se trata de uma indústria com estrutura organizacional complexa. Observou-se ainda, nas últimas décadas, uma grande mudança na participação de mercado dos exportadores de café. Desde a criação do AIC (Acordo Internacional do Café) em 1962, houve drástica diminuição da participação brasileira em contrapartida ao aumento da participação dos rivais e ao surgimento de inúmeros novos concorrentes. Atualmente, o equilíbrio de forças muda de mercado importador para mercado importador. A análise econométrica da inserção brasileira em um mercado com ambiente organizacional complexo e muitos participantes possui um complicador em especial. A estimativa direta das curvas de oferta e demanda exige a correta especificação e estimação de sistemas com inúmeras equações e particularidades1 . Neste contexto, Goldberg&Knetter(99) desenvolveu a metodologia proposta por Baker&Bresnahan(88) e sugeriu um enfoque mais simples através da abordagem da demanda residual defrontada pelos países exportadores no comércio internacional. Conforme será exposto no primeiro capítulo, a elasticidade da demanda residual oferece uma proxy precisa do poder de mercado defrontado por um determinado país exportador em um determinado mercado importador. O segundo capítulo descreve o âmbito do estudo de caso. Neste capítulo justifica-se a adequação do mercado americano de grãos de café verde nos anos 90 para os objetivos do estudo através de três aspectos básicos. Primeiro, os dados deste mercado são detalhados e amplamente disponíveis. Segundo, os EUA são o maior mercado mundial importador e consumidor de grãos de café, com um número pequeno de importantes fornecedores (Brasil, Colômbia e México). Terceiro, a política comercial americana para o setor foi francamente aberta ao longo dos anos noventa. Além de não haver sistemas de cotas, a política tarifária 1 Para uma análise econométrica dos Acordos Internacionais do Café ver Marinho(93). 1 foi branda e igualitária no período de interesse. O terceiro capítulo constitui o cerne deste trabalho, incluindo a estimação da curva de demanda residual para as exportações brasileiras. Discute-se, primeiramente, a especificação econométrica do modelo e a metodologia de estimação utilizada com especial ênfase na escolha dos instrumentos. Na etapa seguinte, descreve-se a base de dados e são abordadas questões relacionadas à procedência e qualidade das variáveis. A última etapa do capítulo corresponde à discussão, interpretação e testes dos resultados obtidos. Com base nestes resultados, serão indicadas direções de política para o setor cafeeiro de grãos. A dissertação finaliza sugerindo novas aplicações para as técnicas empregadas. 2 2 Modelo Teórico Segundo Landes&Posner(81), do ponto de vista econômico, uma firma (ou grupo de firmas agindo coletivamente) possui poder de mercado se a entidade é capaz de aumentar lucrativamente o preço via redução do produto. O ramo da economia que estuda a organização industrial sempre esteve preocupado com a determinação do grau de competição existente em um dado mercado. Como bem salienta Kenneth S. Corts (1999): “The competitiveness of a market — where it falls in the mysterious realm between perfect competition and monopoly — determines the extent to wich prices and costs diverge...”2 . Neste contexto, uma medida natural do poder de mercado que uma firma exerce é a relação entre preço e custo marginal. Mais especificamente, há poucas discordâncias de que o índice de Lerner3 nos forneça uma medida confiável de poder de mercado. Para obter estimativas deste índice, a Organização Industrial empírica desenvolveu, ao longo do tempo, um grande número de ferramentas. O objetivo deste primeiro capítulo é analisar os prós e contras dos principais métodos, ressaltar as vantagens da técnica da demanda residual e formular o modelo genérico de demanda residual aplicado ao comércio internacional apresentado em Goldberg e Knetter(99). 2.1 Métodos Tradicionais de Mensuração de Poder de Mercado A análise de índices de concentração é, talvez, a forma mais imediata e mais utilizada de mensuração do grau de competitividade vigente em um mercado. Vale notar que esta é apenas uma maneira indireta de se extrairem indicações acerca do índice de Lerner dos concorrentes. Normalmente, assocíasse à participação no mercado ao poder de mercado. Ou seja, mercados onde uma firma apenas tenha uma grande participação no mercado, ou onde haja uma indústria concentrada, são considerados suscetíveis ao exercício do poder de mercado. Entretanto, conforme salientado em Baker&Bresnahan (92), esta asserção pode não ser correta por várias razões. Convém destacar três delas. Em primeiro lugar, se a entrada no 2 Corts (99), página 227. Lerner (34) definiu um índice L = custo marginal 3 (P −CMG) , P onde P é o preço do produto e CMG corresponde ao seu 3 mercado é fácil, nenhuma firma pode exercer poder de mercado, não importando o tamanho da sua participação. Em segundo lugar, um produtor pode ter uma grande participação no mercado porque vende um produto homogêneo com custos menores. Por último, há a questão da definição de mercado relevante. A definição do conjunto de ofertantes do mercado leva em consideração produtos com diferentes graus de substituição. A análise de índices de concentração envolve necessariamente uma escolha arbitrária do âmbito do mercado (ou do grau de substitubilidade limite definido). Desta forma, este tipo de análise parece não reconhecer o impacto na dos produtos considerados fora do mercado na demanda dos produtos considerados dentro do mercado. Outro conjunto de técnicas de uso bastante tradicional é a utilização de dados contábeis para inferir o poder de mercado 4 . Entretanto, este tipo de abordagem também tem deficiências. Altos lucros ou margens podem tanto indicar eficiência quanto falta de competitividade no mercado. Além disso, os dados contábeis têm aplicação bastante questionável no que se refere à mensuração do índice de Lerner. A possibilidade de diferimento dos custos no tempo e os ajustes nos valores dos ativos por depreciação dificultam o cálculo economicamente consistente deste índice. Como resposta ao desafio de mensurar o índice de Lerner sem recorrer aos dados contábeis, desenvolveu-se um conjunto de métodos econométricos que a literatura convencionou chamar de Nova Organização Industrial Empírica (NOIE), sintetizada em Bresnahan(89). 2.2 2.2.1 Novos Métodos e a Demanda Residual Nova Organização Industrial Empírica (NOIE) Um típico modelo da NOIE é, antes de tudo, um modelo econométrico de uma única indústria5 . A primeira característica da NOIE é que a relação preço-custo marginal das firmas é admitida como sendo não observável. Mais especificamente, parte-se do pressuposto de que o custo econômico não pode ser diretamente observado. Em geral, os autores desta literatura adotam algum dos seguintes procedimentos: Inferem o custo marginal a partir do comportamento dinâmico da firma, usam as diferenças entre mercados bastante relacionados para traçar os efeitos de mudanças no custo marginal ou, 4 Para uma descrição do uso histórico de dados contábeis na inferência de poder de mercado ver Elzinga (89). 5 Bresnahan(89), pág 1013. 4 alternativamente, estabelecem alguma outra forma de quantificação de poder de mercado sem a necessidade de medir o custo marginal. Outra característica importante da NOIE é o fato de que os aspectos particulares de indústrias individuais e os detalhes institucionais ao nível da indústria afetam a conduta da firma. Como consequência disto, os autores são céticos com relação ao uso de estática comparativa entre indústrias e/ou mercados, que revelaria apenas o quanto um determinado mercado é vinculado ao outro. Uma última característica metodológica é que a conduta da firma e da indústria dependem de um conjunto de parâmetros desconhecidos a serem estimados. Dito de outra forma, busca-se estimar os parâmetros de equações comportamentais, pelas quais as firmas determinam seus preços e quantidades. Na Nova Organização Industrial Empírica os procedimentos de inferência do poder de mercado geralmente explicitam o conjunto de hipóteses alternativas considerado em cada caso analisado. Na maioria das vezes, a hipótese alternativa de não interação estratégica, ou seja, a hipótese de competição perfeita, pode ser claramente articulada6 . 2.2.2 Demanda Residual A grande vantagem do enfoque da demanda residual confrontada por uma simples firma, apresentado por Baker&Bresnahan(88), sobre os demais é a economia dos requisitos de dados e hipóteses. A metodologia conceitual da NOIE envolve, genericamente, a estimação de sistemas de equações de oferta e demanda para cada uma das firmas do mercado. A formulação direta de tais modelos exige a especificação de muitas formas funcionais e, ainda, a estimação de um grande número de parâmetros. O custo deste empreendimento, em termos de detalhamento, quantidade e qualidade dos dados, é extremamente elevado. Em contraste, conforme veremos adiante na formulação do modelo, a derivação da demanda residual envolve uma simplificação do sistema de ofertas e demandas que reduz em muito o número de parâmetros e a necessidade de dados. A contrapartida é que, ao derivarmos o modelo, ocorre perda informacional sobre vários parâmetros das curvas originais7 . Entretanto, como também veremos, a elasticidade 6 Fiuza (2001) tece uma resenha sobre os estudos econométricos em organização industrial no Brasil. A estimativa de um modelo oligopolístico totalmente especificado nos fornece uma quantidade enorme de informações. Além das informações acerca da firma de interesse, desvenda-se a elasticidade demanda do mercado, as elasticidades preço-cruzadas, os parâmetros de conduta e o custo marginal de todas as outras 7 5 da demanda residual nos fornece uma proxy bastante eficiente para o poder de mercado desta firma. A estimativa da elasticidade-preço da demanda residual mede conjuntamente a sensibilidade da demanda do comprador e a sensibilidade da oferta dos rivais, resumindo a capacidade de uma firma (ou grupo de firmas) de aumentar preços via redução da oferta. O aspecto central da técnica consiste em se identificar variáveis que deslocam o custo de um determinado agente sem influenciar os custos dos demais. Em um certo sentido, isto corresponde a isolar eventos em que uma determinada firma tenha incentivo a aumentar seus preços sem que as demais sofram deste mesmo incentivo. Goldberg-Knetter(99) transportaram este método, tipicamente de organização industrial e política anti-truste, para o universo do comércio internacional. Sob as hipóteses adotadas, as vantagens da técnica da demanda residual tornam-se ainda mais marcantes neste caso. Goldberg e Knetter propõem uma analogia pela qual cada país é um fornecedor de um produto diferenciado em concorrência com outros países, para um determinado mercado importador. Existem duas conveniências claras. A primeira refere-se à disponibilidade maior de dados relacionados às exportações e importações de países do que relacionados às transações de uma determinada firma em particular. A segunda é que, em indústrias com diferenciação de produtos, as técnicas genéricas da NOIE requerem uma quantidade ainda maior de informações. São necessários dados relativos aos preços e quantidades, assim como variáveis que deslocam o custo e a demanda, de todas as firmas atuantes no mercado analisado. Se informações com este nível de detalhamento são encontradas em raras indústrias, transações e preços de exportações são dados amplamente disponíveis para muitos países e mercados. Convém, antes de aplicarmos esta técnica ao mercado de interesse, analisarmos cuidadosmante as premissas e a formulação do modelo em questão. 2.3 Formulação do modelo Genérico A hipótese fundamental do modelo é que os produtos exportados provenientes de cada país de origem são substitutos prefeitos entre si. No entanto, os bens produzidos por países diferentes podem ser substitutos perfeitos ou imperfeitos8 . firmas do mercado. 8 Goldberg-Knetter(99), pág 34. 6 Seja Pex o preço do produto exportado em unidade monetária do país de destino e Qex a quantidade total exportada do país de origem para o país de destino. Consideremos ainda P1 ,...,Pn como sendo os preços dos produtos dos países competidores. Seja Z um vetor de variáveis que deslocam a demanda do país importador. As funções de demanda do país importador pelo conjunto de produtos importados podem ser expressas da seguinte forma9 : (1) P ex = Dex (Qex , P 1 , ..., P n , Z) (2) P k = Dk (Qk , P j , P ex , Z) onde j = 1, ..., n e j 6= k. Cada firma exportadora i do país de origem resolve o seguinte problema de maximização dos lucros: maxqiex Qex i = P ex qiex − eCiex Onde e é a taxa de câmbio (unidade monetária do país de destino em relação à moeda do país exportador) e Ciex é o custo em unidades monetárias do país exportador. A condição de primeira ordem para o exportador i implica que o custo marginal iguala a receita marginal, isto é: P ex =e· MCiex − qiex · D1ex à 1+ P ∂qjex j6=i ∂qiex !µ 1+ P ∂Dex k ∂P k · ∂Dk ∂P ex ¶ Onde MCiex é o custo marginal na moeda do país de origem e D1ex denota a derivada parcial da função demanda com respeito ao seu primeiro argumento. O primeiro termo em parênteses, denotado por θex i , captura o comportamento estratégico existente entre as firmas pertencentes ao país exportador. O segundo termo entre parênteses que será denotado por φex , captura a interação estratégica entre as firmas do país de origem e os demais competidores estrangeiros. A partir desta notação, podemos reescrever a condição de primeira ordem da seguinte forma: 9 ex P ex = e · MCiex − qiex · D1ex θex i ·φ Conforme posto por Goldberg(99) esta notação segue a convenção de Bresnahan(89), página 1048. 7 Esta condição revela como a receita marginal do exportador depende tanto da interação estratégica das firmas de dentro do próprio país exportador como da interação existente entre o país exportador e os seu competidores estrangeiros. Estimar esta equação requer dados específicos de cada uma das firmas. Dados, portanto, difíceis de se obter. Para lidar com este problema, ao invés de se usar hipóteses agregadoras (tais como simetria das firmas), convém interpretar os parâmetros como médias da indústria. Estas médias corresponderiam a médias ponderadas pela participação no mercado de cada uma das firmas do país de origem. Em particular, multiplicando-se a condição de primeira ordem pela participação no mercado si , de cada uma das firmas exportadoras do país de origem, e P P P ex = i si · e · MCiex − i si · qiex · D1ex somando-as, obtemos a seguinte condição: i si · P P ex ex ex θex i ·φ . Manipulando esta equação, levando-se em consideração que i si = 1 e qi = si ·Q , obtemos uma versão transformada da condição de primeira ordem. Esta nova versão, ao contrário da anterior, pode ser estimada utilizando-se dados menos detalhados,ao nível do mercado. Esta nova equação é dada por: (3) P ex = e · MC ex − Qex · D1ex θex · φex P P 2 ex Onde MC ex = i si · MCiex e θex = i si · θ i Similarmente, os países competidores têm a seguinte condição de primeira ordem: (4) P k = ek · MC k − Qk · D1k ·ϑk onde ϑk = θk · φk e k = 1, ..., n Convém observar a generalidade obtida até este ponto. As curvas de demanda são arbitrárias, portanto, os produtos de países competidores podem ser substitutos perfeitos ou não. Da mesma forma, as curvas de oferta são gerais. Os parâmetros de conduta θk e φk , que capturam as interações estratégicas entre as firmas, podem variar de zero (competição perfeita com preço igual ao custo marginal) até valores que representem um cartel perfeito. Além disso, nenhuma hipóteses é feita acerca do formato da curva de custos. Custos marginais podem ser constantes ou funções das quantidades produzidas. A metodologia genérica da NOIE avalia o poder de mercado através da estimação do sistema de equações (1)-(4). Bresnahan(89) fornece uma discussão detalhada dos métodos utilizados na literatura de organização industrial para estes fins10 . 10 Isto geralmente envolve especificar forma funcionais particulares para estas equações. A partir daí, estima-se a demanda, o custo e os parâmetros de conduta. Geralmente, aplicam-se técnicas de estimação de equações simultâneas utilizando-se dados ao nível da indústria. 8 A técnica da demanda residual se destaca em um aspecto central. Nesta abordagem, estima-se apenas uma equação: uma forma reduzida da curva de demanda agregada do grupo de exportadores do país de interesse. Conforme foi dito, este enfoque não é capaz de estimar cada uma dos parâmetros de interesse. Para derivarmos a curva de demanda residual defrontada pelas firmas do país exportador, devemos manipular (1)-(4) de forma a obter apenas uma equação. Para isto, resolve-se o sistema de equações definido por (2) e (4) para os preços e quantidades dos n países competidores. Em geral, o custo marginal para o competidor k, MC k , será função da quantidade produzida Qk , e um vetor de variáveis que deslocam a curva de custos W k . Portanto, a condição de primeira ordem será escrita da seguinte forma: P k = e · MC k (Qk , W k ) −Qk · D1k (Qk , P j , P ex , Z) ·ϑk ; j 6= k Depois de resolver o sistema de 2n equações definidas por (2) e (4), é possível obter os preços dos produtos competidores como funções de variáveis que deslocam o custo e a demanda de cada um dos n produtos e da quantidade (ou preço) do bem exportado Qex . Seja W N a união de todos as variáveis que deslocam a curva de custos específicas de cada firma, excluindo o grupo de exportadores de interesse e ϑN a união de todos os parâmetros de conduta para k = 1, ..., n. Desta forma obtemos: (5) P k = P k∗ (Qex , W N , Z, ϑN ), k = 1, ..., n Cada P k∗ representa uma forma parcial-reduzida. A única variável endógena que aparece do lado direto da equação é Qex . Para obter a demanda residual do grupo exportador, substituimos as n expressões definidas por (5) em (1). Desta forma eliminamos o preço dos produtos competidores de (1) e obtemos: (6) P ex = Dex (Qex , P 1∗ (.)...P n∗ (.), Z) = DR.ex (Qex , W N , Z, ϑN ). Portanto, a demanda residual tem três argumentos observáveis: a quantidade produzida pelo grupo exportador, variáveis que deslocam a demanda e variáveis que deslocam os custos dos competidores. A sua inclinação nos dá a inclinação da curva de demanda confrontada 9 pelo grupo exportador levando-se em conta a interação estratégica de todas as outras firmas do mercado. Para estimarmos econométricamente um modelo, é preciso saber se este é identificado. Verificamos que este requisito é atendido ao compararmos (6) com a equação de equilíbrio da oferta do país exportador (3). A equação (3) contém o custo marginal do país exportador MC ex que será uma função das variáveis que deslocam a oferta específica do grupo exportador (W ex ). Estas variáveis, entretanto, são excluídas de (6). Apenas as variáveis que deslocam o custo das firmas competidoras W N entram na curva de demanda residual. Esta é precisamente a restrição de exclusão que nos permite identificar a demanda residual. Goldberg-Knetter (99) ressaltam ainda que a taxa de câmbio é um candidato natural a ser utilizado como instrumento. Conforme os autores, a taxa de câmbio entre o país de origem e o país de destino é exatamente o tipo de variável que deve ser incluída em W ex . As oscilações no câmbio movem o custo relativo das exportações de um dado país exportador sem o aumento do custo dos demais competidores. Conforme foi adiantado, torna-se claro que muita informação foi perdida ao substituirmos (5) em (1). No entanto, vale frisar novamente que podemos, a partir de (6), derivar uma medida confiável do poder de mercado do grupo exportador de interesse. O entendimento desta última afirmação, envolve a compreensão de como podemos inferir o índice de Lerner a partir da demanda residual. 2.3.1 Relação entre a demanda residual e o mark-up Para entender a relação entre a elasticidade da demanda residual e o mark-up, diferenciamos a versão logarítimica de (6) com respeito a Qex . Fazendo isto, obtemos a seguinte fórmula para a elasticidade da demanda residual η ex : η ex = ∂ ln DRex ∂ ln Qex = ∂ ln Dex ∂ ln Qex k∗ + P ∂ ln Dex k ∂ ln P k∗ · ∂ ln P k∗ ∂ ln Qex P As derivadas ∂∂ ln correspondem à sensibilidade dos preços dos competidores à ln Qex mudanças na quantidade exportada pelo grupo exportador. Portanto, η ex mede a elasticidade da curva de demanda residual que o país exportador se defronta. Pela condição de primeira ¡ ex ex ¢ ordem (3), a elasticidade η ex é igual ao mark-up P −MC se e somente se a curva de P ex demanda residual coincide com a conjectural11 . 11 Entende-se por demanda residual conjectural quando uma determinada firma exerce uma demanda como 10 Existem vários casos onde esta condição é satisfeita trivialmente12 . No entanto, mencionarei dois casos que são bastante relevantes para esta dissertação: competição perfeita e diferenciação de produtos extensiva. Se o mercado é perfeitamente competitivo, o preço de uma determinada firma é determinado pelo preço dos competidores e a elasticidade da demanda residual é zero. Da mesma forma. o mark-up relativo é zero pois as firmas estabelem os preços como sendo iguais aos custos marginais. Portanto, neste caso,as duas medidas de poder de mercado coincidem. No caso de diferenciação de produtos, a distinção entre variações conjecturais e funções de reação tornam-se menos relevantes na medida que a substitutibilidade entre os produtos das firmas competidoras diminuem. Intuitivamente, se uma firma tem poder de mercado devido ao fato de que seus produtos são diferentes das demais o aspecto de interação estratégica é menos importante. Nem todos os modelos formais de oligopólio proporcionam uma correspondência exata entre o índice de Lerner e a elasticidade da demanda residual estimada. Entretanto, é razoável supor que curvas de demanda residual mais inclinadas indiquem maior poder sobre o preço13 . Intuitivamente, a elasticidade da demanda residual incorpora dois elementos: a elasticidade da demanda e a elasticidade da oferta dos competidores. Portanto, em casos onde o índice de Lerner é difícil de ser computado diretamente, a estimação da elasticidade da demanda residual é a segunda melhor opção. se ela estivesse se defrontando com a mesma. 12 Ver Bresnahan(88). 13 Lerner (1934) e Landes&Posner (1981) fornecem uma discussão extensa da aplicabilidade do conceito de demanda residual nestes casos. 11 3 Estudo de Caso: Poder de Mercado do Café Verde Brasileiro nos EUA 3.1 3.1.1 Breve Histórico da Cultura Cafeeira Descoberta, Difusão e Desenvolvimento A palavra café tem origem no termo turco kahue, que significa força. Possivelmente os árabes já tomavam café no século XV. A península arábica constituiu-se importante ponto de difusão do cafezal e o comércio de café espalhou-se rapidamente pelo Egito, Síria, Turquia e todo o Oriente. A divulgação do café na Europa ocorreu em 1592 através do alemão Leonardo Rauwoff. No início do século XVII, os navios da Companhia das Indias Orientais já faziam o transporte de grande quantidade de café entre os países muçulmanos do oriente, e em 1637 já era hábito o seu consumo na Alemanha e nos países baixos. Os holandeses foram cruciais na propagação do consumo do café como bebida por toda a Europa. No início do século XVIII, o café já era um importante produto nos mercados internacionais dos países do Ocidente, estimulando, desta forma, a sua cultura nas colônias européias da América e da Ásia. O café foi introduzido no Brasil em 1727 por Francisco Mello Palheta. As primeiras sementes e mudas foram plantadas em Belém em seguida no Maranhão. Em 1760 vieram do Maranhão para o Rio de Janeiro, expandindo-se pela encosta da Serra do Mar e atingindo em 1780 o vale do Paraíba. Até 1860, o sul do Rio de Janeiro manteve a hegemonia da economia cafeeira. A partir desta data, São Paulo se torna o principal centro produtor de café do país. Até 1820, o Brasil ainda não se tornara um grande exportador de café. Durante o século XVIII, a economia do país se baseava na mineração e a cana-de-açúcar e o algodão ainda eram os principais produtos agrícolas. Devido à perda de competitividade internacional dos produtos anteriormente citados, às condições naturais favoráveis para o plantio de café e ao desenvolvimento do mercado americano após a sua independência, o Brasil se tornou um grande exportador de café. Com a independência , iniciou-se, de fato, a era do café no Brasil. No início do século XIX, o café já era o maior artigo de exportação brasileiro. A partir de meados do século XIX, a lavoura de café concentrou toda a riqueza do país 12 durante mais de 70 anos. A importância desta cultura para o Brasil é inquestionável. Sua influência foi não apenas econômica, mas também social e política. Os mais importantes fatos políticos do país originaram-se a partir desta lavoura. Os fazendeiros de café foram, por muitos anos, a elite social brasileira. 3.1.2 Regulamentação e Desregulamentação O mercado de café tem uma longa história de regulamentação, que se iniciou no começo do século XIX. Na época, o Brasil, que detinha três quartos da produção mundial e dependia basicamente do produto para suas receitas cambiais, deu início a uma política sistemática de sustentação de preços do café. Antes da constituição do primeiro Acordo Internacional do Café (AIC) em 1962, o governo brasileiro atuava diretamente no processo de formação dos preços externos com o intuito de maximizar as receitas provenientes deste produto. Para isto, o Brasil fazia uso do seu poder de monopólio e administrava a oferta ao mercado externo. Esta iniciativa gerava, consequentemente, escassez artificial do produto. O AIC representou uma grande virada na cenário internacional do setor cafeeiro. Nas palavras de Bertone14 , “As cláusulas econômicas do Acordo Internacional do Café (AIC) formam um mecanismo de estabilização de seus preços internacionais mediante o controle da oferta de cada país produtor através de cotas de importação.” Este acordo vigorou até grande parte dos anos 80. As exceções foram os anos de 1986 e 1987. Nestes anos, a quebra de safra brasileira tornou desnecessária a regulação de mercado através de cotas. A estratégia adotada pelo Brasil durante o período de vigência do AIC é, sem dúvida, um dos elementos que explicam o declínio da participação brasileira no mercado mundial de café. Mantendo preços artificialmente elevados, muitos países produtores expandiram suas áreas cultivadas, pressionando a cota brasileira. No início de 1989, a pressão sobre os preços internacionais e a hesitação brasileira em abastecer o mercado através da utilização de seus estoques, cumprindo sua cota, levaram os países consumidores a fazer exigências para renovar as cláusulas econômicas do Acordo Internacional. Estes países exigiam a redução da cota brasileira e a criação de um mercado universal, em contrapartida ao mercado dividido entre membros e não membros15 . Além 14 Bertone,1992:6 Um aspecto central do AIC foi a formação de um mercado paralelo de países que não pertenciam ao AIC (não membros) que burlavam as regras do Acordo. Estes países compravam ou vendiam por um preço inferior ao praticado pelos países membros e valiam-se, portanto, de vantagem no mercado. 15 13 disso, os países consumidores ainda propunham a criação de critérios de seletividade entre as várias qualidades de café (cota por qualidade). Desta forma, não se chegou a um acordo e as cláusulas econômicas foram imediatamente suspensas. O que se vê, a partir de então, é uma contínua liberalização do mercado associada à profundas transformações institucionais. O arcabouço institucional existente na década de 90, no plano dos principais países exportadores de café para os EUA, será objeto de estudo de seções posteriores. 3.2 Descrição do Produto A planta do café é membro da família dos Rubiceae, que inclui mais de seis mil espécies, a maioria delas arbustos tropicais. Existem pelo menos 25 espécies importantes, todas originárias da África e de algumas ilhas do Oceano Índico. Do ponto de vista econômico, as duas espécies mais importantes cultivadas no mundo são a arábica e a robusta ou Conillon. A diferença entre ambas está no número de genes. A variedade arábica é mais complexa, possui 44 cromossomos e a robusta 22, como as demais plantas. O café Arabica cresce normalmente em altitudes superiores a 1000 metros, produz grãos de qualidade superior e responde por cerca de 80% da produção mundial total de café verde. o café Robusta, por outro lado, pode crescer em menores altitudes, possui lavouras mais produtivas, é mais resistente a doenças mas, no entanto, produz grãos de qualidade inferior. O Robusta não possui sabores variados nem refinados como o Arábica. Por apresentar mais sólidos solúveis, é de grande utilização nas indústrias de cafés solúveis. 3.2.1 Cadeia Produtiva e Barreira Tarifária Basicamente, o café pode ser comercializado de duas formas: industrializado ou não industrializado. O café não industrializado é normalmente chamado de café verde, seja ele do tipo arabica ou robusta. Já o café industrializado pode ser torrado ou solúvel, isto é, provém de empresas torrefadoras ou solubilizadoras. A produção de café verde envolve um primeiro estágio de processamento da cereja (fruto do arbusto de café). Este primeiro processamento é feito para evitar a fermentação do fruto e pode ser feito, basicamente, por via seca ou úmida. O primeiro processo é bastante utilizado na cafeicultura brasileira. O fruto é colocado para secar em locais planos, denominados 14 terreiros, sem a retirada da casca, podendo passar ou não por lavadores para separação dos grãos. A via úmida é um sistema também utilizado no Brasil mas predominantemente utilizado na Colômbia, no México e em alguns países da América Central. O café colhido é colocado em tanques de água onde permanecem por períodos de 18 a 24 horas. Este processo produz um café mais ácido. Devido à natureza predominatemente nacional das distinções tecnológicas da produção de café verde, é razoável supor que, para cada tipo particular de café verde (por exemplo arábica), valha a hipótese fundamental do modelo formulado. Isto não significa que não existam diferenças entre os grãos de café verde exportados por diferentes firmas de um determinado país de origem. Entretanto, a diferenciação por país de origem é reconhecidamente mais importante neste mercado. Dito de outra forma, é bastante plausível a hipótese de que haja perfeita substitutibilidade entre produtos oriundos de um mesmo país e que haja, ou não, imperfeita substitutibilidade ao compararmos os produtos de um determinado exportador com os seus concorrentes. O segundo processamento sofrido pela cereja de café (etapa industrial), pode ser realizado por duas indústrias distintas. De um lado temos a indústria torrefadora que é caracterizada por uma baixa barreira à entrada de novas firmas. Isto ocorre pois trata-se de uma indústria com poucas restrições tecnológicas e com pequeno capital mínimo exigido. Por outro lado, temos a indústria de café solúvel que emprega uma planta sofisticada. Isto faz com que a estrutura desta indústria seja bem mais concentrada do que a da anterior. Frisa-se que a mesma tecnologia utilizada neste segundo processamento pode ser utilizada para processar grãos oriundos de qualquer um dos países de origem. Há até mesmo em alguns casos, possibilidade de substituição de arábica por robusta com pequenas alterações da tecnologia empregada. Descarta-se, desta forma, a existência de mercados industrializados completamente distintos para produtos de origem diferentes. A opção deste estudo por focalizar exclusivamente o café verde explica-se também por dois aspectos adicionais. Em primeiro lugar, não há barreiras à entrada deste produto tanto no mercado americano quanto no mercado europeu. Isto não ocorre com o café torrado ou solúvel. No caso do café torrado, a entrada no mercado internacional exige uma série de pré-requisitos que dificultam a exportação. No caso do café solúvel existem barreiras tarifária desiguais entre os países concorrentes. Diante disto, a análise de poder de mercado ficaria obscurecida por questões de políticas tarifárias preferenciais. Em segundo lugar, o café verde é o principal componente das exportações brasileiras 15 de café. Levando-se em conta a classificação da FAO (Foreign Agriculture Organization)16 , a composição do total das exportações brasileiras de café, ao longo da década de 90, está ilustrada no gráfico abaixo: Exportação Brasileira 4.000.000 Coffee, Green Coffee Extracts Coffee Roasted 3.500.000 US$ mil 3.000.000 2.500.000 2.000.000 1.500.000 1.000.000 500.000 0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Fonte: FAO Gráfico 1 O resultado é que o mercado de café verde, além de mais relevante, se presta melhor para a utilização da técnica da demanda residual. 3.3 Mercado Importador Conforme vimos no capítulo anterior, a técnica de demanda residual restringe-se ao estudo isolado de um determinado mercado. A escolha do mercado americano como objeto de estudo se deu por três motivos principais. O primeiro é que os Estados Unidos são o maior importador e consumidor global. A participação americana no total de importações de grãos de café verde tem correspondido a cerca de 18% do total mundial após 1995. Em 2000, cerca de 26% do consumo mundial de café estava concentrado nos EUA17 . O segundo motivo refere-se à distribuição das importações americanas por país de origem. É interessante notar que, ao considerarmos o participação média no valor total das 16 Coffee, Green corresponde ao café verde de todos os tipos: arabica, robusta ou liberica. Coffee, Roasted corresponde ao café tostado com ou sem cafeína, moído ou não. Coffee, Extracts corresponde a essências e concentrados, incluindo café instantâneo, chicórias torradas e outros substitutos de café e outros tipos de extratos e essências. 17 International Trade Center (2001). 16 importações americanas no período de 1990 a 2000, os três maiores exportadores respondem por quase 50% do mercado. Os demais consumidores, com a exceção da Guatemala, têm participação residual. Estas informações estão ilustradas na tabela 1: Participação no Mercado Americano na Década de 90 Países Market Share Médio (1990-2000) MEXICO BRASIL COLOMBIA GUATEMALA COSTA RICA INDONESIA PERU VIETNAM EL SALVADOR HONDURAS RESTO DO MUNDO TOTAL 17,03% 16,10% 15,90% 10,95% 3,70% 2,83% 2,81% 2,71% 2,59% 2,50% 22,90% 100% Fonte: United States Department of Agriculture (USDA) Tabela 1 Além disso, conforme podemos observar no Grafico 2, esta relação de concentração tem se mantido razoavelmente constante ao longo do tempo. Evolução da Concentração de Mercado 100,1 TOP MARKET TOP 4 MARKETS TOP 8 MARKETS 90,1 80,1 70,1 60,1 50,1 40,1 30,1 20,1 10,1 0,1 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Fonte: United States Department of Agriculture (USDA) Gráfico 2 Nesta dissertação, apenas os três maiores exportadores para o mercado norte americano terão a sua demanda residual estimada. A Guatemala foi excluída deste estudo por dois 17 motivos. Em primeiro lugar, não há informações a priori de que este país desempenhe um papel estratégico relevante neste mercado. Em segundo lugar, economiza-se em número de parâmetros a serem estimados. Um número maior de parâmetros, levando-se em conta a quantidade de observações disponíveis, reduziria demasiadamente os graus de liberdade da estimação via equações simultâneas. Ou seja, se por um lado perde-se informação ao não estimar os parâmetros de um competidor menor, ganha-se precisão dos parâmetros estimados. O passo seguinte é analisar o perfil de cada um destes agentes. 3.4 3.4.1 Exportadores México A pressão do México e de outros países centro-americanos pela revisão das cotas, foi, talvez, o principal estopim do rompimento do último AIC. Gerou-se no país um clima de otimismo ditado pela agressividade na desmobilização de estoques e o incremento nas receitas cambiais. Segundo Coutinho(93), este país apresentou, no início da década de 90, uma postura nitidamente favorável às reivindicações dos países consumidores, sobretudo dos EUA, por evidentes interesses comerciais. Em 1993, o governo mexicano liberalizou o setor cafeeiro e substituiu o INMECAFE(Instituto Mexicano de Cafe) pelo CMC (Consejo Mexicano de Café) que se tornou responsável pela execução da política cafeeira nacional. O CMC é composto pelos secretários do Ministério da Agricultura, de Finanças e Créditos públicos (SHCP), de Economia (SE) e de Desenvolvimento Social, além dos governadores dos principais estados produtores de café, dos presidentes do BANRURAL, FIRA e de várias organismos setoriais. O objetivo principal do CMC é formular e propor políticas de modernização do setor cafeeiro e representar o café mexicano nos mercados nacionais e internacionais. Estes objetivos são atingidos através do financiamento à pesquisa e da coordenação das cerca de 16 associações de produtores existentes.18 18 Um exemplo destas associações é a CNOC (Coordinadora Nacional de Organizaciones Cafetaleras). A CNOC é uma rede nacional autônoma de 126 organizações camponesas regionais que representam 75.000 pequenos cafeicultores. A CNOC, que é membro do comitê executivo do CMC, representa cerca de 15% da produção mexicana total de café. Por meio desta associação, os produtores apropriam-se de cada estágio do processo de produção 18 O café representou, em 1996 e 1997, cerca de 0,7% da balança comercial. Este produto gerou, neste mesmo período, o maior volume de exportações entre todos os produtos agrícolas exportados. A participação no total de exportações agrícolas foi em torno de 20%. Observa-se na economia cafeeira mexicana uma estrutura bastante concentrada no setor exportador. Em 1997 haviam 230 firmas envolvidas com exportação de café, sendo que 15 delas respondiam por quase 70% das exportações totais de café no período. Cabe salientar que mais de 75% do café exportado vai para o mercado americano. Segundo dados da FAO, o México é o quarto exportador mundial de café respondendo, em 2000, por quase 6% do total das exportações mundiais. Para se ter uma idéia da importância econômica e social do setor cafeeiro, basta dizer que o café é cultivado em aproximadamente 760.000 hectares, distribuídos por cerca de 282.000 produtores. No total, mais de 3 milhões de pessoas são dependentes da economia cafeeira. O café é a principal atividade econômica para mais de 4500 comunidades em 12 estados mexicanos19 . 3.4.2 Colômbia O gerenciamento do café colombiano é feito, desde 1927, pela Federacafé (Federacion Nacional de Cafeteros de Colombia). A Federacafé comanda o FNC (Fondo del Café), que, além de financiar pesquisas e projetos de desenvolvimento regional, é utilizado como instrumento de estabilização dos preços. Através dos recursos do FNC, a Federacafé garante aos produtores um preço mínimo, agindo como comprador de último recurso20 . O preço pago aos produtores é determinado pelo governo em conjunto com representantes da federação. Leva-se em consideração aspectos de custos de produção, preços no mercado futuro e estratégia comercial. do café: cultivo, processamento, comercialização e financiamento. O café produzido é exportado através de um escritório próprio chamado: Promotora Comercial de Cafés Suaves Mexicanos. 19 Os dados desta seção constam em ICO(99). O fundo é financiado através de ganhos com exportações e através de alíquotas conhecidas com contribuição do café. Durante o período de declínio do preço do café, entre o colapso de 89 até 94, o fundo financiou-se através do pagamento ao produtor na forma de títulos. Para se ter uma idéia da margem, o preço médio pago ao produtor na década de 90 tem correspondido a aproximadamente 75% do preço de exportação. Pode-se encontrar uma discussão mais ampla da agricultura colombiana na década de 90 em Arguello(2000). 20 19 A participação média do café no total de exportações colombianas no período compreendido entre 1995 e 1999 foi de, aproximadamente, 17%21 . A Colômbia é o segundo maior exportador mundial de café. Segundo dados da FAO, a Colômbia respondeu, em 2000, por cerca de 12,7% do total mundial de exportações de café verde. A Federacafé desempenha um papel crucial na coordenação destas exportações. Em conjunto com o setor privado, gerencia um estoque considerável que é frequentemente utilizado para regular o nível anual de exportações. Em 1996, somente a Federação foi responsável por 40% do café exportado. Além disso, todas a exportações de café são submetidas a um estrito controle de qualidade aplicado pela Federacafé. Cerca de aproximadamente 940.000 hectares são dedicados ao cultivo de café na Colômbia. A indústria cafeeira colombiana responde por cerca de 800.000 empregos diretos, que representam aproximadamente 36% do emprego rural no país. Cerca de 3 milhões de pessoas são dependentes, em algum grau, do café22 . 3.4.3 Brasil O IBC (Instituto Brasileiro de Café), criado em 1952, regulou durante muitos anos a política cafeeira do país. Entre outras coisas, o IBC gerenciava estoques acumulados a partir de um sistema de garantia de preços e estabelecia o preço mínimo de exportação. Devido à importância do café décadas atrás, em vários momentos, as diretrizes deste poderoso instituto confundiram-se com diretrizes macroeconômicas de cunho nacional. Em linha com a tendência internacional de liberalização do setor, iniciada com o rompimento do AIC em 89, o Instituto Brasileiro de Café foi extinto em 1990. A sua extinção levou a uma desestabilização temporária da indústria.Após este fato, a intervenção estatal na economia cafeeira na década de 90 restringiu-se ao gerenciamento e venda de estoques públicos e a concessão de crédito para o cultivo, colheita e processamento final do café. A partir da extinção do IBC, o arcabouço institucional do setor cafeeiro sofreu profundas mutações. Em 1991, entidades representativas dos diversos setores da economia cafeeira formaram o Comitê Brasileiro do Café (CBC). Este órgão, no qual os principais representantes do setor passaram a debater os assuntos da cafeicultura de maneira conjunta, passou a ser o interlocutor com o governo. 21 22 Fitter&Kaplinsky(2001), página 8. Fonte: ICO(97). 20 Em 1993, visando negociar um acordo de cotas na Organização internacional do Café (OIC), os países centro-americanos e a Colômbia passaram a ser mais agressivos nas vendas, pois a performance de cada um seria vital nessas negociações. Como resultado, os preços cairam novamente. Na OIC as negociações resultaram em total fracasso e os países produtores, com a liderança do Brasil começaram a articular para um programa unilateral de sustentação dos preços . A partir de então, o governo brasileiro recriou o Ministério da Índústria e do Comércio e montou o Departamento Nacional de Café (DENAC), que passou a coordenar as ações governamentais, antes atribuídas a vários órgãos. Paralelamente, os países produtores de café criaram no âmbito internacional a Associação de Países Produtores de Café (APPC). Estes fatos coincidiram com um aumento no preço internacional do café. No ano seguinte, em 1994, acusado de não cumprir o programa da Associação de Países Produtores de Café (APPC), o governo brasileiro lançou o financiamento de retenção utilizando-se dos estoques das cooperativas brasileiras. Em 1996 instalou-se oficialmente a ”Comissão Especial da Auto Gestão do Funcafé”, formada na Câmara dos Deputados, com a incumbência de institucionalizar um novo modelo de gestão da cafeicultura brasileira. Neste mesmo ano, foi criado o Conselho Deliberativo da Economia Cafeeira (CDPC). Este Conselho é composto paritariamente por seis representantes do governo e da iniciativa privada, sendo presidido pelo titular da pasta da Indústria, Comércio e Turismo. Dentro de suas atribuições, destacam-se basicamente quatro. Cabe a este conselho a aprovação de planos de safra, a aprovação de políticas de estocagem, a administração dos armazéns de café e a aprovação da proposta orçamentária referente aos recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (FUNCAFÉ). Em 1999, criou-se o Conselho dos Exportadores de Café Verde do Brasil (CECAFÉ). Esta entidade tem por objetivo aumentar a margem do setor através da congregação e da representação das empresas que exportam café verde. O Brasil ocupa, historicamente, a posição de maior produtor e exportador mundial de café. As exportações brasileiras representaram cerca de 18,5% do total mundial em 200023 . Apesar do declínio de sua participação na composição da balança comercial brasileira, o café ainda é um importante produto agrícola de exportação e respondeu por, aproximadamente, 5% do total de exportações em 1998. Ao longo da década de 90, o número de empresas exportadoras variou em torno de 200 empresas. Em 2001, as cinco maiores empresas 23 Fonte FAO. 21 responderam por cerca de 36% do total de café verde exportado24 . A importância social da economia cafeeira também é grande no Brasil. Estima-se que existam cerca de 221.000 fazendas de café. O emprego gerado a partir desta cultura corresponde a cerca de 5% da mão de obra do país, isto é, 3,5 milhões de pessoas25 . 24 Haviam 150 firmas em 1996, 218 firmas em 1998, 166 firmas em 2000 e 158 em 2001. Com alguma variação no decorrer da década, a participação das 5 maiores empresas corresponderam a 29% do mercado tanto em 1991 quanto em 2000. Fonte: Cecafé e Coutinho(2002). 25 Fonte ICO(99). 22 4 Estimação e Resultados 4.1 Estimação da Elasticidade da Demanda Residual O objetivo desta seção é fornecer o arcabouço necessário para estimar a elasticidade da demanda residual defrontada por um grupo de exportadores. A eq. (6) derivada no capítulo inicial indica as variáveis que serão incluídas na demanda residual. Isto é, a quantidade exportada por um dos grupos exportadores analisados (por exemplo Brasil) Qex , as variáveis do mercado de destino (EUA) que deslocam a demanda Z e variáveis que deslocam o custo dos principais competidores W N (por exemplo México e Colômbia). Entretanto, enquanto a teoria nos guia através da escolha das variáveis a serem utilizadas na estimação, ela não nos dá nenhuma pista acerca da forma funcional que deve ser escolhida para a demanda residual. Seguindo a alternativa adotada por Goldberg-Knetter (99) e Carter-MacLaren-Yilmaz (1999), estimarei a eq.(6) na forma funcional Log-Log. Esta opção se deve ao fato de que, desta forma, os coeficientes podem ser diretamente interpretados como elasticidades. A equação que será estimada tem a seguinte forma genérica: 0 0 N ln Ptex = λ + η ln Qex t + α ln Zt + β ln Wt + ²t Onde ²t é um termo de erro independente e identicamente distribuído (i.i.d), α0 e β 0 denotam os vetores de parâmetros a serem estimados. O vetor Zt denota as variáveis que deslocam a demanda americana (nosso mercado de destino). Enquanto que o vetor WtN consiste nas variáveis que deslocam o custo dos n competidores com os quais o grupo exportador se defronta no mercado importador de destino. Vale notar que WtN não inclui nenhuma variável que desloca os custos do próprio grupo exportador. O preço recebido pelo grupo exportador Ptex e as variáveis que deslocam a demanda americana são expressos em dólares (moeda do país de destino). O parâmetro de interesse é η que, conforme posto, pode ser diretamente interpretado como a elasticidade da demanda residual. A existência de competição perfeita significaria um parâmetro estimado igual a zero. Esta situação indicaria que o grupo exportador se defronta com uma demanda perfeitamente elástica, ou seja, o preço do produto exportado não dependeria da quantidade exportada. Dito de outra forma, neste caso, o preço seria completamente determinado pelos custos dos outros produtores. Quanto maior η em valor absoluto, maior será o desvio do preço em relação ao custo marginal e maior será, portanto, 23 o poder que este determinado grupo exportador exerce sobre os preços. As variáveis que deslocam a demanda Zt podem ser constituídas por variáveis tais como tendência no tempo, renda nominal e estoques mantidos pelo país de destino. As variáveis que deslocam o custo dos n competidores devem incluir variáveis que desloquem os preços dos insumos. Estas variáveis podem ser decompostas em duas partes. A primeira, expressa na moeda do país exportador, não varia de acordo com o mercado de destino. A segunda, que varia de acordo com o mercado de destino, é a taxa de câmbio do país exportador vis-à-vis o mercado de destino (EUA). Para ilustrar a utilidade da taxa de câmbio como variável que desloca os custos é interessante formular um exemplo mais detalhado. Suponha que estejamos analisando o caso das exportações brasileiras. Os competidores, México e Colômbia, serão denotados pelos sobreescritos 1 e 2, respectivamente. Suponhamos que, além disso, cada um destes competidores possui duas variáveis que deslocam os custos: salário (L) e preço de matéria prima (M). Neste caso, a equação a ser estimada toma a seguinte forma: 1 2 1 1 1 1 1 2 2 0 ln Ptex = λ + η ln Qex t + α ln Zt + β ln (et · Lt ) + γ ln (et · Mt ) + β ln (et · Lt ) + γ 2 ln (e2t · Mt2 ) + ²t Onde e1t e e2t são as taxas de câmbio dos países competidores 1 e 2, respectivamente, vis-à-vis o mercado de destino. Dado que os termos envolvendo as taxas de câmbio são logarítimos de produtos, podemos reescrever a equação acima isolando os termos referentes aos câmbio. Isto é feito da seguinte forma: 1 2 1 1 1 1 1 2 2 2 0 ln Ptex = λ + η ln Qex t + α ln Zt + ω ln et + β ln Lt + γ ln Mt + ω ln et + β ln Lt + γ 2 ln Mt2 + ²t Uma vantagem adicional da utilização de taxas de câmbio como variáveis que deslocam os custos é a sua volatilidade. Estas taxas apresentaram variação substancial, em todos os países analisados, ao longo da década 90. Esta volatilidade move os custos relativos dos exportadores de grãos de café para os EUA, mesmo quando os fatores de custo domésticos de um determinado país não tenham se movido de maneira independente dos demais. Vale observar que a quantidade Qex é endógena e, portanto, deve ser instrumentalizada. Os instrumentos naturais neste contexto são as variáveis que deslocam os custos do grupo de exportadores do país de interesse. Isto ocorre pois, além destas variáveis terem sido 24 excluídas da equação a ser estimada, elas são, em virtude da condição de primeira ordem, correlacionadas com a quantidade. Desta forma, a taxa de câmbio entre o país exportador e o mercado de destino é, em adição às demais variáveis que deslocam os custos do país exportador, um importante candidato a instrumento. 4.2 Descrição dos Dados Utilizou-se nesta dissertação séries trimestrais com um período amostral compreendido entre janeiro de 1991 e dezembro de 2000. Este período foi escolhido por dois motivos. Em primeiro lugar, existe uma certa dificuldade para obtenção de dados mais antigos, sobretudo referentes ao México e à Colômbia. Em segundo lugar, a utilização de dados anteriores a 1989, por exemplo, estaria certamente contaminada pelo sistema de cotas vigente, prejudicando, sem dúvida, a interpretação dos resultados. Vale agora descrever as variáveis consideradas na estimação. Em primeiro lugar serão analisadas as variáveis endógenas, ou seja, o logaritmo dos preços e quantidades exportadas de grãos de café verde para o mercado americano. Seguindo a metodologia do HTS26 (Harmonized Tariff Schedule) , optou-se por levantar as séries de preços de grãos de café não tostado e não descafeinado dos tipos Arabica e NESOI (Not Elsewhere Specified or Indicated). Vale salientar que tratam-se de séries de 10 dígitos, ou seja, séries com um grau de detalhamento bastante satisfatório. Especificamente, coletou-se as quantidade e os valores importados27 pelos EUA de cada um dos principais países exportadores de café através do site do FAS (Foreign Agricultural 26 O Harmonized Tariff Schedule é um sistema de classificação. O seu maior objetivo é fornecer um método de padronização dos bens transacionados. Como qualquer outro sistema de classificação, o HTS tem vários níveis de detalhamento. Os códigos com menos dígitos representam grupos de produtos. Códigos com mais dígitos cujos números iniciais correspondam aos mesmos números de um determinado grupo de produtos significa que eles pertencem ao mesmo. Exemplo: O número 09 (2 dígitos) representa café, mate, chá e outras especiarias. 0901 (4 dígitos) representa café. 0901.11.00 (oito dígitos) representa café não tostado e não descafeinado. Detalhando ainda mais, os códigos 0901.11.0010 e 0901.11.0090 (10 dígitos) representam, respectivamente, os tipos Arabica e NESOI (todos os demais). 27 O os valores importados utilizados seguem o critério de CIV (Customs Import Value). Este é geralmente definido como o valor realmente pago pela mercadoria quando vendida como exportação para os EUA. Este critério exclui as tarifas de importação (quando houver), fretes, seguros e outros encargos relacionados à entrega do produto para os EUA. 25 Service). Através da divisão do valor importado pela quantidade obteve-se o preço médio. Vale frisar que esta alternativa indireta para obtenção das séries de preços de exportação foi a única disponível diante da insuficiência de dados dos países exportadores. Usando o processo descrito acima, foram construídas as seguintes séries: Variáveis Endógenas Séries PABRA PACOL PAMEX QABRA QACOL QAMEX PNBRA PNCOL PNMEX QNBRA QNCOL QNMEX Descrição Logaritmo do preço do café não tostado e não descafeinado do tipo Arabica exportado pelo Brasil Logaritmo do preço do café não tostado e não descafeinado do tipo Arabica exportado pela Colômbia Logaritmo do preço do café não tostado e não descafeinado do tipo Arabica exportado pelo México Logaritmo da quantidade de café não tostado e não descafeinado do tipo Arabica exportado pelo Brasil Logaritmo da quantidade de café não tostado e não descafeinado do tipo Arabica exportado pela Colômbia Logaritmo da quantidade de café não tostado e não descafeinado do tipo Arabica exportado pelo México Logaritmo do preço do café não tostado e não descafeinado do tipo NESOI exportado pelo Brasil Logaritmo do preço do café não tostado e não descafeinado do tipo NESOI exportado pela Colômbia Logaritmo do preço do café não tostado e não descafeinado do tipo NESOI exportado pelo México Logaritmo da quantidade de café não tostado e não descafeinado do tipo NESOI exportado pelo Brasil Logaritmo da quantidade de café não tostado e não descafeinado do tipo NESOI exportado pela Colômbia Logaritmo da quantidade de café não tostado e não descafeinado do tipo NESOI exportado pelo México Tabela 2 A série trimestral do logaritmo do câmbio nominal médio brasileiro, colombiano e mexicano foi também construída a partir de dados extraídos do site do departamento de agricultura norte-americano (USDA). As demais variáveis que deslocam os custos dos países exportadores foram obtidas de fontes relacionadas a cada um dos países separadamente. Os dados relacionados aos fatores de custos brasileiros foram obtidos a partir da base de dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A partir deste, foi levantado o índice de preços de fertilizantes. As séries de variáveis que deslocam o custo das exportações colombianas de café foram retiradas da abertura do índice de preços ao produtor divulgado pelo banco central colombiano (Banco de La Republica). Dele foram extraídos os índices de preços de transportes e de maquinaria. Por último, os dados Mexicanos foram extraídos da Secretaria de Economia, onde foi obtido o índice de preços de fertilizantes. Utilizou-se duas variáveis que deslocam a demanda. A série do PIB nominal americano e a série dos Estoques de café verde em poder dos EUA. A primeira foi conseguida a partir do departamento de comércio americano (U.S. Department of Commerce). A segunda é disponibilizada no site da Organização Internacional do Café (International Coffee Organization — ICO). O resumo das siglas dos logaritmos dos componentes de custo e demanda descritos acima encontra-se abaixo: 26 Variáveis Exógenas Séries EBRA ECOL EMEX WFERBRA WTRACOL WMAQCOL WFERMEX ZGDPUSA ZESTUSA Descrição Logaritmo do câmbio nominal R$/US$ Logaritmo do câmbio nominal peso colombiano/US$ Logaritmo do câmbio nominal peso mexicano/US$ Logaritmo do índice de preços de fertilizantes agrícola no Brasil em R$ Logaritmo do índice de preços de equipamentos e materiais de transportes na Colômbia em pesos colombianos Logaritmo do índice de preços de maquinaria e equipamentos não elétricos na Colômbia em pesos colombianos Logaritmo do índice de preços de fertilizantes no México em pesos mexicanos Logaritmo do PIB nominal americano em US$ Logaritmo da quantidade de sacas de grãos de café verde estocadas pelos EUA Tabela 3 4.3 Resultados Com o intuito de garantir uma maior robustez dos resultados, estimou-se o sistema de demandas residuais através de três métodos de estimação diferentes. Em primeiro lugar, estimou-se as regressões através do método de mínimos quadrados em dois estágios (2SLS). Este método trata cada uma das equações isoladamente, corrigindo o problema de endogeneidade dos regressores através de instrumentos. O modelo SUR pode ser visto como uma extensão dos mínimos quadrados ordinários padrão (OLS). Através de um estimador de mínimos quadrados generalizados (GLS), o SUR leva em consideração as possíveis correlações existentes entre os erros das diversas equações de um sistema. O 3SLS é um método que incorpora os aspectos positivos dos dois métodos anteriores. Ele estima cada uma das equações por 2SLS e posteriormente estima o sistema como um todo da mesma forma que o SUR. Comparando os diversos métodos, observamos que o SUR é mais eficiente que o OLS assim como o 3SLS é mais eficiente que o 2SLS. Entretanto, vale ressaltar que, em métodos de estimação do sistema como um todo, a má especificação de uma equação é propagada para todo o restante do sistema. Isto não ocorre, no entanto, em métodos como o 2SLS, que estima as equações isoladamente28 . Para examinar a validade dos instrumentos e fazer testes de exogeneidade, utilizou-se, da mesma forma que em Goldberg-Knetter (99), o teste de Wu-Hausman. Serão analisados agora, os resultados obtidos para cada um dos tipos de café verde analisados nesta dissertação. 28 A análise detalhada de cada um destes métodos de estimação consta em Greene(90) capítulos 17 e 19. 27 4.3.1 Arabica Analisando o café do tipo arabica, observou-se a não significância dos componentes de custos locais (WFERBRA,WMAQCOL,WTRACOL e WFERMEX). Pelo princípio da parcimônia optou-se por não levá-los em consideração nas regressões a seguir. Conforme dito, instrumentalizou-se a quantidade exportada por cada um dos países, através do câmbio do país tratado. Vale dizer que o teste de exogeneidade de Wu-Hausman, mencionado anteriormente, foi aplicado, através de regressões artificiais, exclusivamente à quantidade exportada29 . Definido o arcabouço, voltemos nossas atenções, primeiramente, para os resultados mexicanos. Exportações mexicanas de grãos de café arábica para o mercado americano. Variável dependente: PAMEX. Período da amostra: 1991:01-2000:04. Método de Estimação 2 R Estatística h de Durbin Estatística Hausman-WU SUR 0.891056 1.335773 - 2SLS 0.866367 0.721417 1.900924 3SLS 0.881813 0.739712 - (P-value=0,07) C PAMEX(-1) QAMEX EBRA ECOL ZGDPUSA -21.010730 (5.620981) 0.637675 (0.074131) -0.031157 (0.017066) -0.000841 (0.010975) -1.397397 (0.304475) 3.504277 (0.865404) -30.518450 (10.620000) 0.628409 (0.101633) -0.123820 (0.058327) 0.003110 (0.020038) -1.887406 (0.514156) 5.047603 (1.618085) -30.014100 (9.766248) 0.575448 (0.090265) -0.096596 (0.052233) 0.004543 (0.018422) -1.910900 (0.472709) 4.986344 (1.488115) Desvios padrões em parênteses. A variável C corresponde a constante. Instrumentos: Todas as variáveis independentes mais ENOMMEX. SUR e 3SLS foram obtidos estimando conjuntamente as equações do Brasil e Colômbia Tabela 4 Conforme podemos observar, em adição a quantidade exportada para o mercado americano, utilizou-se como regressores uma constante, o preço do café arabica mexicano defasado um período, a taxa de câmbio Real/US$ e a taxa de câmbio peso colombiano/US$. Utilizou-se como instrumentos o câmbio peso mexicano/dólar além das demais variáveis independentes. O R2 alto da tabela 4 indica que a especificação escolhida explica uma fração bastante considerável das variações nos dados. O coeficiente de maior interesse nesta tabela está relacionado ao QAMEX: a elasticidade da demanda residual. O valor 29 Para a elaboração do teste, utilizou-se a abordagem tratada em Johnston(97) pág 338-342. 28 absoluto deste coeficiente corresponde a um valor aproximado do mark-up sobre o custo marginal. Aplicando o teste de Wu-Hausman, observamos que, ao nível de significância de 90%, podemos rejeitar a hipótese de que a quantidade exportada é exógena. Com relação aos parâmetros estimados, observamos que todos os três métodos de estimação fornecem elasticidades da demanda residual com o sinal esperado, isto é, com sinal negativo. O valor desta elasticidade, em todos os métodos de estimação utilizados, é, no entanto, relativamente baixo. O resultado obtido analisando as equações isoladamente via 2SLS é de -0.124. Ao estimarmos o sistema como um todo, através dos métodos SUR e 3SLS, observamos um viés de simultaneidade razoável. Este é traduzido na diferença entre os valores estimados para a elasticidade da demanda residual entre nos dois métodos. O valor encontrado passou de -0.031 através do SUR para -0.097 através do 3SLS. Este último aponta para um parâmetro diferente de zero com um nível de significância de 90%. Com relação as demais variáveis estimadas, vale observar a não significância do câmbio brasileiro e a grande significância do câmbio colombiano e do PIB americano. O sinal encontrado nestas duas últimas variáveis é esperado e bastante intuitivo. O sinal negativo do câmbio colombiano equivale a dizer que quando a taxa peso/US$ cai, isto é, o peso colombiano se valoriza, aumenta o custo do país concorrente e o preço mexicano pode aumentar. Dito de outra forma, a estrutura de custos colombiana tem um efeito considerável na determinação do preço mexicano. O caso colombiano é interessante e reflete um aspecto crucial deste mercado, qual seja: o poder de mercado colombiano é diferenciado. Os resultados do caso colombiano encontra-se na tabela 5. 29 Exportações colombianas de grãos de café arábica para o mercado americano. Variável dependente: PACOL. Período da amostra: 1991:01-2000:04. Método de Estimação R2 Estatística h de Durbin Estatística Hausman-WU SUR 0.923786 0.688281 2SLS 0.830855 * 2.278449 3SLS 0.867803 * - (P-value=0,03) C T PACOL(-1) QACOL EBRA EMEX ZGDPUSA ZESTUSA -101.470400 (26.798100) -0.165505 (0.045479) 0.764257 (0.082266) -0.223970 (0.053926) 0.039812 (0.009863) -0.263568 (0.151351) 12.065970 (3.109661) -0.175064 (0.044275) -190.555300 (76.676410) -0.310495 (0.128786) 0.637773 (0.212339) -0.863305 (0.456051) 0.051417 (0.021750) -0.373689 (0.345322) 23.119410 (9.164897) -0.350642 (0.159329) -184.476100 (65.323300) -0.302388 (0.108969) 0.605274 (0.186250) -0.736501 (0.373429) 0.055210 (0.018625) -0.325616 (0.284584) 22.273010 (7.829292) -0.337529 (0.136248) Desvios padrões em parênteses. As variáveis C e T correspondem a constante e tendência. Instrumentos: Todas as variáveis independentes mais ENOMCOL e QACOL(-1). SUR e 3SLS foram obtidos estimando conjuntamente as equações do Brasil e México. * A grande variância do parâmetro estimado para PACOL(-1) não permite a aplicação do teste h de Durbin Tabela 5 A estrutura desta regressão é a mesma da regressão anterior, exceto pela inclusão da linha de tendência30 e do estoque de café verde em poder dos EUA. Verificamos novamente um bom ajuste do modelo (R2 alto e h de Durbin não significante). Notamos ainda, pelo teste de Wu-Hausman, que rejeita-se fortemente a hipótese de exogeneidade da quantidade exportada. Observa-se que o p-value encontrado é próximo de zero. A magnitude do viés de simultaneidade também é grande. A elasticidade da demanda residual muda de -0.27 estimando via OLS para -0.86 por 2SLS. Ao considerarmos o sistema como um todo, a elasticidade muda de -0.22 via SUR para -0.74 por 3SLS. O alto valor desta elasticidade é um grande indicativo do poder de mercado colombiano. Dito de outra forma, a Colômbia tem uma grande capacidade de influenciar os preços praticados neste mercado. Tanto o câmbio Real/Dólar quanto o câmbio peso mexicano/dólar são não significantes, embora este último apresente o sinal esperado. Isto pode ser um sinal de pouco importância do deslocamento de custos dos oponentes na determinação do preço colombiano. Com relação às variáveis que deslocam a demanda americana, também chega-se 30 A linha de tendência foi incluída pois observamos, ao plotarmos o gráfico do preço contra o tempo, que há uma tendência de decréscimo do preço. 30 a resultados intuitivos. O PIB americano é significante e tem um impacto positivo extremamente grande no preço. O estoque americano, por outro lado, também é significativo e tem efeito contrário. O Brasil, surpreendentemente haja vista o seu market share, não possui evidências de poder de mercado de acordo com a especificação estimada. Os resultados da tabela 6 refletem claramente este resultado. Exportações brasileiras de grãos de café arábica para o mercado americano. Variável dependente: PABRA. Período da amostra: 1991-2000 Método de Estimação 2 R Estatística h de Durbin Estatística Hausman-WU SUR 0.907589 1.4089842 - 2SLS 0.914591 1.0215644 0.73554 3SLS 0.911307 1.0862239 - (P-value=0,47) C -20.532300 (4.519058) 0.817615 (0.080027) -0.046763 (0.028903) -0.297121 (0.131288) -1.009375 (0.234808) 3.207086 (0.667895) PABRA(-1) QABRA EMEX ECOL ZGDPUSA -31.032520 (7.209778) 0.888331 (0.116783) -0.095053 (0.113914) -0.588266 (0.221674) -1.340754 (0.339538) 4.744164 (1.003415) -30.119570 (6.594140) 0.833143 (0.098660) -0.113867 (0.104029) -0.507823 (0.195615) -1.375960 (0.307358) 4.678400 (0.918794) Desvios padrões em parênteses. A variável C corresponde a uma constante. Instrumentos: Todas as variáveis independentes mais ENOMBRA. SUR e 3SLS foram obtidos estimando conjuntamente as equações da Colômbia e México. Tabela 6 Observamos a partir da tabela acima, que não podemos rejeitar a hipótese de exogeneidade. Chama a atenção o fato de que a elasticidade da demanda residual é insignificante em todos os casos considerados. Dito de outra forma, não podemos rejeitar a hipótese de que o Brasil pratique preços competitivos neste mercado. As elasticidades de -0.047, -0.096 e -0.114 estimadas, respectivamente, via SUR, 2SLS e 3SLS ilustram bem este aspecto. Do lado da demanda, o PIB americano, como aconteceu com os demais concorrentes, impacta positivamente o preço do café brasileiro. Do lado dos custos dos oponentes, como era de se esperar, as variáveis são fortemente significantes. Tanto a valorização da moeda mexicana quanto da moeda colombiana impactam favoravelmente o preço do café brasileiro. Este quadro sugere que, ao contrário do que intuitivamente imaginamos, o café brasileiro é tão somente refém de variáveis exógenas. A sua real capacidade de afetar o preço pago pelos EUA, via redução de exportações, é bastante baixa. 31 4.3.2 NESOI A metodologia utilizada neste caso é a mesma do caso anterior. Assim como no caso do café do tipo arabica, não foi verificada significância dos componentes locais de custo. Isto é, novamente não verificamos a significância das seguintes variáveis: WFERBRA,WMAQCOL,WTRACOL e WFERMEX. Conforme veremos, a estrutura deste mercado difere claramente da estrutura encontrada na subseção anterior. O resultados encontrados para o México (tabela 7) já demonstram esta proposição: Exportações mexicanas de grãos de café NESOI para o mercado americano. Variável dependente: PNMEX. Período da amostra: 1991:01-2000:04. Método de Estimação R2 Estatística h de Durbin Estatística Hausman-WU SUR 0.860045 1.053511 - C -6.640308 (6.423551) 0.694470 (0.092487) 0.005974 (0.020172) 0.026504 (0.015185) -0.739755 (0.331379) 1.344310 (0.961958) 2SLS 0.624884 * 1.701798 3SLS 0.813882 * - (P-value=0,10) PNMEX(-1) QNMEX EBRA ECOL ZGDPUSA -33.050080 (23.709170) 0.875947 (0.277775) 0.229752 (0.227089) -0.001664 (0.003743) -1.957541 (1.055381) 4.992826 (3.257351) -11.450980 (20.888390) 0.821083 (0.250547) 0.104403 (0.206573) 0.025761 (0.033322) -0.911722 (0.917593) 1.901991 (2.850209) Desvios padrões em parênteses. A variável C corresponde à constante. Instrumentos: Todas as variáveis independentes mais ENOMMEX. SUR e 3SLS foram obtidos estimando conjuntamente as equações do Brasil e Colômbia * A grande variância do parâmetro estimado para PNMEX(-1) não permite a aplicação do teste h de Durbin Tabela 7 Conforme nos é mostrado pela tabela acima, O R2 é alto, sobretudo nos métodos de estimação do sistema como um todo, e a estatística h de Durbin é razoável. Nota-se um p-value baixo (0.10) no teste de exogeneidade de Hausman-Wu. Isto é um indício de endogeneidade da quantidade exportada31 . Nota-se que a elasticidade da demanda residual não é significativamente diferente de zero neste mercado (O sinal é inclusive o contrário do esperado). A quantidade não é significativa em nenhum dos métodos de estimação. Analisando a oferta dos concorrentes, notamos, novamente, uma independência do preço do café mexicano em relação ao câmbio brasileiro. Também da mesma forma, o câmbio 31 O motivo pelo qual a quantidade exportada é usualmente endógena no modelo de demanda residual confrontada por uma única firma, foi tratado com a devida atenção no capítulo 2. 32 colombiano continua afetando o preço mexicano. Do lado da demanda, notamos um alto desvio padrão do PIB americano. O sinal, entretanto, aponta na direção correta. É no caso colombiano que encontramos a maior diferença com relação ao café arabica. Os valores apresentados na tabela 8 ilustram nitidamente este fato: Exportações colombianas de grãos de café NESOI para o mercado americano. Variável dependente: PNCOL. Período da amostra: 1991:01-2000:04. Método de Estimação R2 Estatística h de Durbin Estatística Hausman-WU SUR 0.875691 0.611247 - 2SLS 0.879659 -0.519245 0.431395 3SLS 0.882751 -0.276665 - (P-value=0,67) C T PACOL(-1) QNCOL EBRA EMEX ZGDPUSA -54.059040 (37.305130) -0.094957 (0.063924) 0.783955 (0.103351) -0.043314 (0.047969) 0.040300 (0.016012) -0.007390 (0.167042) 6.330687 (4.306584) -91.953730 (53.969060) -0.156204 (0.092557) 0.843021 (0.147474) -0.059577 (0.176035) 0.046191 (0.033076) -0.067398 (0.261752) 10.727030 (6.284467) -91.612990 (43.261360) -0.155576 (0.074146) 0.835286 (0.126797) 0.010747 (0.138479) 0.055206 (0.026740) -0.062041 (0.222735) 10.611790 (5.034389) Desvios padrões em parênteses. As variáveis C e T correspondem à constante e tendência. Instrumentos: Todas as variáveis independentes mais ENOMCOL e QNCOL(-1) SUR e 3SLS foram obtidos estimando conjuntamente as equações do Brasil e México. Tabela 8 A especifição utilizada é quase a mesma que foi utilizada para o caso arabica. A única diferença é que o estoque de café americano mostrou-se desprezível neste caso e foi, pelo princípio da parcimônia, retirado. Encontramos novamente R2 elevado e estatística h de Durbin insignificante. Observamos, no entanto, que não podermos rejeitar,desta vez, a exogeneidade da quantidade exportada de café (estatística Wu-Hausman baixa). Além disso a elasticidade da demanda residual estimada por todos os métodos revelou-se desprezível. Este é um indício de que, ao contrário do caso anterior, não há evidência de que a Colômbia desfrute de qualquer tipo de controle sobre os preços no mercado em questão. As demais variáveis comportam-se da mesma forma que no caso do arabica. Os custos dos oponentes revelam-se não significativos e o PIB americano mostra-se, como sempre, relevante e com um grande impacto positivo sobre os preços. Finalmente, o caso brasileiro não traz nada de novo. Não há indício, também neste mercado, de poder de mercado do café brasileiro. A tabela 9 evidencia este aspecto: 33 Exportações brasileiras de grãos de café NESOI para o mercado americano. Variável dependente: PNBRA. Período da amostra: 1991-2000 Método de Estimação 2 R Estatística h de Durbin Estatística Hausman-WU SUR 0.916099 0.389468 - 2SLS 0.902391 0.001439 1.41349 3SLS 0.897631 0.323693 - (P-value=0,17) C -24.392530 (5.843685) 0.759727 (0.105164) -0.053052 (0.035107) -0.320865 (0.184827) -1.287891 (0.305663) 3.872286 (0.860783) PNBRA(-1) QNBRA EMEX ECOL ZGDPUSA -33.645710 (7.709728) 0.893617 (0.146942) 0.080152 (0.099809) -0.508229 (0.240960) -1.518696 (0.385101) 4.965525 (1.096525) -30.167040 (6.978459) 0.910323 (0.133480) 0.091745 (0.088798) -0.464531 (0.220738) -1.322302 (0.344413) 4.400356 (0.989507) Desvios padrões em parênteses. A variável C corresponde a uma constante. Instrumentos: Todas as variáveis independentes mais ENOMBRA e QNBRA(-1). SUR e 3SLS foram obtidos estimando conjuntamente as equações da Colômbia e México. Tabela 9 O R2 e o h de Durbin são excelentes. Além disso, o p-value encontrado no teste de Hausman-Wu é moderadamente baixo (0.17). Este aspecto aponta uma grande possibilidade de não exogeneidade da quantidade. Novamente, o valor estimado para a demanda residual não foi significativamente diferente de zero. Isto é, não podemos, novamente, rejeitar a hipótese de comportamento competitivo do café brasileiro. As estimativas das demais variáveis geram os resultados esperados. Isto é, Influência positiva do aumento do custo dos oponentes no preço médio dos tipos de café que compõe a categoria NESOI. Do lado da demanda, o PIB teve a relevância usual. Apesar do ainda considerável market share brasileiro no mercado americano de importação de grãos de café não tostados e não descafeinados, observamos que, de acordo com os resultados descritos, não rejeitamos a hipótese de que o Brasil desempenha um comportamento meramente competitivo. Por outro lado, a Colômbia revelou um grande poder no café do tipo arabica que não se repete no caso do tipo NESOI. Sendo esta categoria uma cesta de diversos tipos de café, alguns resultados podem ser obscurecidos pela agregação. Entretanto, vale lembrar, estamos tratando do maior nível de detalhamento disponível (10 dígitos). 34 4.3.3 Elasticidades de Longo Prazo Os resultados obtidos na seção anterior tornam-se ainda mais evidentes levando-se em conta o comportamento dinâmico da demanda. Para isto, estimou-se a elasticidade preço de longo ∧ prazo da demanda η LP . Consideremos as curvas de demanda residual estimadas nas duas seções imediatamente anteriores: ∧ ex ∧ ∧ ∧0 ∧ ∧0 ex ln P t = λ + ρ ln Pt−1 + η ln Qex t + ω ln et + α ln Zt Assumindo os mesmos parâmetros estimados para os n períodos seguintes obtemos as seguintes equações: ∧ ex ∧ ∧ ∧ ex ∧ ∧ ∧ ex ∧ ∧ ∧0 ∧ ∧0 ln P t+1 = λ + ρ ln Ptex + η ln Qex t+1 + ω ln et+1 + α ln Zt+1 ∧0 ∧ ∧0 ex ln P t+2 = λ + ρ ln Pt+1 + η ln Qex t+2 + ω ln et+2 + α ln Zt+2 .. . ∧ ∧0 ∧0 ex + η ln Qex ln P t+n = λ + ρ ln Pt+n−1 t+n + ω ln et+n + α ln Zt+n Substituindo na última equação temos: ∧ ex ∧n ∧ ∧n ∧n−1 ln P t+n = ... + ρ ln Ptex + η(ρ ln Qex t +ρ ex ln Qex t+1 + ... + ln Qt+n ) + ... ∗ex ex Fazendo n → ∞, e levando-se em conta que no longo prazo Qex para t = Qt+n = Qt todo n, a equação fica da seguinte forma: ∧ ex ∧n ∧ ∧n−1 ln P t+n = ...η(1 + ρ + ρ ∧ ex ln P t+n = ... ∧ η ∧ 1− ρ + ...) ln Q∗ex ..., que é igual a: ln Q∗ex ... Deriva-se, portanto, que: ∧ η LP = ∧ η ∧ 1− ρ ∧ A hipótese nula de que η LP = 0 pode ser testada através do teste de Wald32 . Os resultados obtidos para ao café Arabica encontram-se na tabela 10. 32 Para maiores detalhes deste teste ver Greene(90), pág. 128-133. 35 Elasticidades de Longo Prazo - ARABICA Método de Estimação Mexico SUR -0.09 2SLS -0.33 3SLS -0.23 Wald statistic p-value 3.0428 0.0811 3.8020 0.0597 3.4355 0.0638 -0.95 -2.38 -1.87 Wald statistic p-value 6.6948 0.0097 4.3314 0.0458 5.6752 0.0172 -0.26 -0.85 -0.68 Wald statistic p-value 2.2872 0.1304 0.6099 0.4404 1.2344 0.2666 Colombia Brasil Tabela 10 Da mesma forma que no caso da elasticidade de curto prazo, observamos um poder de mercado brasileiro insignificante. Por outro lado, ao nível de significância de 90%, tanto a Colômbia quanto o México apresentaram elasticidade de longo prazo da demanda residual significativamente diferente de zero. Nota-se ainda, em todos os métodos de estimação considerados, grande magnitude da elasticidade de longo prazo colombiana. Este é mais um indício do poder de mercado diferenciado praticado por este país no mercado americano. Elasticidades de Longo Prazo - NESOI Método de Estimação Mexico SUR 0.02 2SLS 1.85 3SLS 0.58 Wald statistic p-value 0.0846 0.7712 0.1073 0.7453 0.0991 0.7530 -0.20 -0.38 0.07 Wald statistic p-value 0.7714 0.3798 0.1370 0.7137 0.0057 0.9397 -0.22 0.75 1.02 Wald statistic p-value 2.0584 0.1514 0.1970 0.6601 0.2209 0.6383 Colombia Brasil Tabela 11 No caso NESOI, os resultados também são similares aos encontrados no curto prazo. Não há evidência de poder de mercado praticado por nenhum dos países competidores. 36 5 Conclusão Depreende-se deste trabalho que, em indústrias com estrutura de mercado complexa, a completa especificação e estimação do sistema de ofertas e demandas destas indústrias pode ser uma tarefa excessivamente árdua quando se tem interesse, tão somente, no poder de mercado desempenhado por cada um dos principais ofertantes. Nestas circunstâncias, o enfoque da elasticidade da demanda residual torna-se uma alternativa interessante. Em especial, as transações do comércio internacional possuem características que favorecem particularmente a sua implantação. O mercado americano de café verde na década de 90, além ser o maior mercado global de café verde e de ter o Brasil como importante participante, possui outras características interessantes para a implantação da técnica apresentada por Bresnahn(88) e desenvolvida por Goldberg-Knetter(99). Existe neste mercado ampla base de dados disponível e não praticou-se nenhum tipo de barreira comercial explícita no período analisado. Estimando-se as curvas de demanda residual do Brasil, México e Colômbia, observou-se que, apesar dos três países possuirem paticipação média de mercado similar na década de 90, há evidências de que praticam, no caso do café arabica, poderes de mercado diferentes. Conclui-se que o Brasil possui atuação meramente competitiva no mercado americano de café verde arabica, em contraposição ao alto poder de mercado desempenhado pela Colômbia, tanto no curto quanto no longo prazo. Vale notar que para esta modalidade de café, o México também possui elasticidade da demanda residual significativa, apesar de pontualmente pequena em magnitude. As conclusões obtidas através da análise do café NESOI, apesar de menos consistentes, indicam ausência de poder de mercado de todos os três ofertantes. Em síntese, a política cafeeira nacional deve levar em conta que o Brasil é, atualmente, um mero tomador de preços no mercado americano e que pouco adianta tentar, através de coordenação privada ou estatal, alterar a quantidade vendida com o intuito de manipular o preço cobrado pelos EUA. A diferença de poder de mercado entre o Brasil e seus principais concorrentes evidencia a importância primordial de elaborar ações que tenham como foco a mudança de percepção do consumidor americano. Futuros trabalhos podem tornar mais clara e a ligação entre o processo de diferenciação de commodities, através de criações de marcas tais como Café da Colômbia, e o poder de mercado praticado. Finalizo a dissertação sugerindo a aplicação da abordagem da demanda residual a um número maior de indústrias e mercados importadores de produtos chaves. Produtos tais 37 como soja, carne, ferro, cerveja são possíveis candidatos. As prováveis dificuldades são a existência de barreiras comerciais e/ou dificuldade de obtenção de base de dados confiável em muitos destes mercados. 38 Referências [1] ARGUELLO, R. A. Survey on Colombian Agriculture during the 1990’s. Universida del Rosario. Borradores de Investigación no 6, 2000. [2] BAKER, J., BRESNAHAN, T. Estimating the Residual Demand Curve Facing a Single Firm. International Journal of Industrial Organization 6, 1988. [3] _________________. Empirical Methods of Identifying and Measureing Market Power. Antitrust Law Journal 61, 1992. [4] BERTONE,M.V.F. Anotações sobre o Acordo Internacional do Café, GARCAFÉ, 1992. [5] BRESNAHAN, T. Empirical Studies of Industries with Market Power. Handbook of Industrial Organization vol.2 North Holland, Amsterdam, pp. 1011-1057, 1989. [6] CALFAT, G., FLÔRES, R. Government Actions to Support Coffee Producers - An Investigation of Possible Measures from the European Union Side, 2002. [7] CARTER, C.A., MACLAREN, D.,YILMAZ, A. 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