ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA AULA 06: DECISÕES DE FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO TÓPICO 02: CUSTO DE CAPITAL PRÓPRIO Os custos do endividamento e das ações são baseados nos retornos que os investidores exigem sobre esses ativos financeiros. Da mesma forma, o custo dos lucros retidos ( -- parte dos lucros correntes não pagos em dividendos e, portanto, disponíveis para reinvestimento na empresa) constitui a taxa de retorno que os acionistas/proprietários cotistas exigem sobre o capital social que a empresa obtém retendo os lucros. O motivo pelo qual devemos designar um custo de capital para os lucros retidos envolve o princípio do Custo de oportunidade. LUCROS PÓS-IMPOSTOS Os lucros pós-impostos da empresa literalmente pertencem a seus acionistas. Os detentores de dívida são compensados pelos pagamentos de juros e os detentores de ações preferenciais (conferem ao titular prioridade na distribuição de dividendo, fixo ou mínimo, e no reembolso do capital. Estas ações não dão direito a voto ao acionista na Assembleia Geral da empresa ou restringem o exercício desse direito), pelos dividendos preferenciais, mas os lucros remanescentes depois dos juros e dos dividendos preferenciais pertencem aos detentores de ações ordinárias (tipo de ação que confere ao titular os direitos essenciais do acionista, especialmente participação nos resultados da companhia e direito a voto nas assembleias da empresa) e destinam-se a compensar os acionistas pelo uso de seu capital. A administração poderá pagar os lucros na forma de dividendos ou retêlos e reinvesti-los na empresa. Se a administração decide reter os lucros, há um custo de oportunidade envolvido - os acionistas poderiam ter recebido os lucros como dividendos e investido esse dinheiro em outras ações, em títulos, imóveis ou em qualquer outra coisa. Assim, a empresa deveria ganhar sobre seus lucros retidos pelo menos tanto quanto seus acionistas poderiam ganhar sobre os investimentos alternativos de risco comparável. Primeiramente, assumimos que as ações estão normalmente em um mercado em equilíbrio, com as taxas de retorno esperadas e exigidas sendo iguais: . Podemos presumir que os acionistas esperam ganhar um retorno de sobre seu dinheiro. Se a empresa não puder investir os lucros retidos e ganhar pelo menos , ela deveria pagar esses recursos a seus acionistas e deixá-los investir diretamente em outros ativos que proporcionem esse retorno. Enquanto o endividamento e as ações preferenciais constituem não é fácil de obrigações contratuais com custos facilmente determinados, medir. Para começar, sabemos que, se uma ação está em equilíbrio (que é a situação típica), sua taxa de retorno exigida, também é igual à sua taxa de retorno esperada, . Ademais, seu retorno exigido é igual à taxa de juros livre de risco, , mais um prêmio de risco, d, enquanto o retorno esperado sobre uma ação de crescimento constante é igual à taxa de retorno de dividendos da ação, mais sua taxa de crescimento esperada, g. Taxa de retorno exigida = Taxa de retorno esperada Já que as duas devem ser iguais, podemos estimar : A literatura apresenta três métodos comumente empregados para encontrar o custo dos lucros retidos: modelo de Gordon, abordagem CAPM e abordagem do título mais o prêmio pelo risco. MODELO DE GORDON Custo das ações ordinárias e preferenciais pelo modelo Gordon No caso de uma sociedade anônima, que obtém capital junto a seus proprietários através da emissão de ações e/ou retendo os lucros acumulados durante os exercícios em que opera, o fluxo de caixa prometido, em contrapartida ao fornecimento de capital, é uma série de dividendos em dinheiro a serem pagos no futuro. Para uma empresa de capital fechado, como as empresas LTDA, tem-se o custo de manutenção das cotas (exemplo de uma empresa que apresenta 4 sócios, cada um detendo 25% de empresa e, portanto, cotas iguais de participação). Neste sentido, pode-se determinar que as cotas dos proprietários são equivalentes a ações de uma empresa S.A, diferenciando-se apenas na sua não negociação no mercado de bolsa. Sobretudo e independente da forma societária da empresa, assume-se que os empresários cotistas, tanto quanto os acionistas, exigirão pagamentos de dividendos regulares. Além disso, a série de dividendos não tem data prevista de término, perdurando enquanto a própria empresa sobreviver. Assume-se que o valor de uma ação ou cota é igual ao valor presente dos dividendos futuros esperados: Onde: Fazendo as hipóteses de que (1) os dividendos por ação ou dividendos por cota em uma empresa LTDA crescem à taxa g por período, (2) as taxas e g são constantes, (3) e (4) que a série de recebimentos de dividendo convergem para uma perpetuidade (confira em Matemática Financeira o Valor presente de uma série perpétua), GORDON e SHAPIRO obtiveram a seguinte expressão simplificada para o valor de uma ação ou valor de uma cota de uma LTDA. Onde: Supondo que a ação da empresa esteja sendo negociada pelo seu valor teórico, dado pela equação (4), poderemos rearranjar a equação e reescrevê-la: onde poderia ser interpretado como "taxa exigida de retorno para investimento em ações da empresa ou cotas de participação em uma empresa LTDA". Conseqüentemente, conhecendo a cotação da ação, tendo projetado o próximo dividendo por ação e tendo estimado a taxa g de crescimento, disporíamos de uma estimativa de mercado para o custo de capital próprio da empresa. EXEMPLO Por exemplo, se , então, como por ação , e : E se o capital próprio for proveniente de novas emissões de ações, há alguma modificação no cômputo do seu custo? Sim, porque, no caso de novas emissões, devem ser incluídas as despesas de emissão de novas ações, que seriam inexistentes quando esse mesmo capital é conseguido com a retenção de lucros. Esta última forma não gera custos operacionais para empresa, ao passo que a emissão de novas ações gera despesas com corretoras de valores para organização da venda, registro das ações na CVM e entre outras. Imaginando que as despesas de emissão (ou " underwriting") atinjam 5% do preço bruto de emissão, que seria igual a , o custo de capital próprio da empresa, se obtido com a emissão de novas ações, alcançaria: GORDON, M. J., e SHAPIRO, E. "Capital Equipment Analysis: The Required Rate of Profit", Management Science, Vol. 3, Outubro de 1956, pp. 102-110. onde, = custo de capital próprio obtido com a emissão de novas ações; E = proporção do preço bruto, representando as despesas de emissão; Perceba que a empresa recebe, em termos líquidos, . Em casos especiais, não se espera qualquer crescimento dos dividendos por ação, apresentando g = 0. Em particular, para ações preferenciais com pagamento de dividendo fixo essa hipótese seria apropriada, obtendo-se a expressão: ABORDAGEM CAPM Custo das ações ordinárias pela abordagem do CAPM O modelo de formação de preços de ativos (CAPM) descreve a relação entre o retorno exigido, , e o risco não diversificável da empresa, medido pelo coeficiente beta, . O modelo CAPM é dado por: onde: O uso do CAPM indica que o custo de capital próprio é o retorno exigido pelos investidores como recompensa pelo risco não-diversificável da empresa, medido pelo beta. EXEMPLO A empresa FORTE MAIS deseja calcular seu custo de capital próprio, , usando o modelo CAPM. Os assessores de investimento da empresa e as análises realizadas indicam que a taxa livre de risco, , é igual a 8%; que o beta da empresa, b, é igual a 1,5; e que o retorno do mercado, , é igual a 28,97%. Inserindo esses valores na equação a empresa estima o custo de capital próprio, , em: O custo de capital próprio da empresa representa o retorno exigido pelos investidores em ações FORTE MAIS. Como você pode notar, é o mesmo valor que foi encontrado com o modelo de avaliação com crescimento. Cabe ressaltar que, embora os dois métodos tenham apresentados resultados iguais, na prática tal semelhança não se verifica necessariamente. ABORDAGEM DO TÍTULO MAIS O PRÊMIO PELO RISCO Abordagem do rendimento de títulos mais prêmio pelo risco Embora seja um procedimento essencialmente específico e subjetivo, os analistas frequentemente estimam o custo das ações ordinárias de uma empresa acrescentando um prêmio pelo risco, subjetivamente, em pontos percentuais à taxa de juros da própria dívida de longo prazo da empresa. É lógico pensar que as empresas com dívidas mais arriscadas e, consequentemente, com altas taxas de juros, também terão ações próprias arriscadas e de alto custo e o procedimento de basear o custo de capital próprio em custo da dívida prontamente observável utiliza esse preceito. EXEMPLO Por exemplo, se uma empresa extremamente forte tem títulos que rendem 9%, seu custo de capital poderia ser estimado da seguinte forma assumindo uma taxa arbitrária e subjetiva de compensação pelo risco de 7%: = Rendimento do título + Prêmio pelo risco = 9% + 7% = 16%. A dívida mais arriscada de uma companhia poderia propiciar um rendimento de 12%, tomando seu custo estimado de capital igual a 19%: = = 12% + 7% = 19%. Já que o prêmio pelo risco, arbitrado subjetivamente, de 7% é uma estimativa opinativa, o valor estimado de também é opinativo. Os trabalhos práticos nos últimos anos sugerem que o prêmio pelo risco sobre o rendimento do próprio título da empresa geralmente tem variado, de forma que esse método provavelmente não produzirá um custo preciso do capital. FONTES DAS IMAGENS Responsável: Prof. Sérgio César de Paula Cardoso Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual