Conhecimento e cidadania:
performances de raça e gênero
Dra. Joselina da Silva
(UFC)
Coordenadora do N´BLAC- Núcleo Brasileiro, Latino
Americano e Caribenho de estudos em relações
raciais, gênero e movimentos sociais
“A dificuldade de acesso a
estatísticas que documentam
diferenças raciais, particularmente a
situação de meninas e mulheres
negras, tem contribuído para a
impressão generalizada de que
racismo – bem como as formas
específicas de subordinação da
mulher negra – não é um problema
no Brasil. As estatísticas oficiais
poucas vezes são desagregadas por
raça e quase nunca por raça e sexo”
(Reichman, 1995: 503).
“É provável, por um efeito
de inércia cultural que
Bourdier (1995) analisando o
continuamos tomando
ambiente da educação como
o sistema escolar como
veículo de ascensão social das um fato de mobilidade
social segundo a
diferentes classes, busca
ideologia da “escola
problematizar o entendimento
libertadora, quando ao
generalizado que vê no sistema contrário, tudo tende a
mostrar que ele é um
escolar um promotor de
dos fatores mais
igualdade social. O autor
de
desenvolve sua análise a partir eficazes
conservação social,
da idéia de que a escola com
pois fornece a
aparência de
sua ação homogenizante
legitimidade às
contribui para aprofundar as
sociais e
desigualdades trazidas por cada desigualdades
sanciona a herança
educando ao longo de sua vida. cultural e o dom social
e dom natural”
(Bourdier, 1995:41).
Composição da PEA (População Economicamente Ativa)
feminina por raça/cor segundo escolaridade
( Fonte: Atlas Racial Brasileiro- PNUD , 2005)
• de estudos
Anos
0
1a3
4a7
8 a 10
11 a 14
15 e
mais
Anos de estudos
0
1a3
4a7
8 a 10
11 a 14
15 e
mais
Brancas
10,59
14,75
33,40
14,02
20,08
7,15
Negras
31,56
21,59
28,87
8,48
8,23
1,28
Brancas
3,26
8,54
26,09
19,21
31,48
11,42
Negras
8,36
15,83
32,37
18,48
21,92
3,06
1980
2000
Total de docentes por titulação máxima:
Doutora
do
58.618
Fonte: Base SINAES
Mestrad Especiali
o
zação
86.294
70.554
Graduaçã
o
27.289
Notório
Saber
40
Total de docentes por titulação
máxima segundo o sexo
Doutor
ado
Mestra Especializ
do
ação
Gradua
ção
Notó Total
rio
Sab
er
Feminino
23.644
42.077
32.512
10.316
18
108.567
Masculino
34.202
43.917
37.864
16.903
22
132.908
Não
Informado
772
300
178
70
0
1.320
Fonte: Base SINAES
José Jorge de Carvalho, pesquisando
na USP, UFRJ, UNICAMP, UnB,
UFRGS, UFSCAR e UFMG, aponta que
num total de 18.330 professores,
somente 70 eram negros.
Embora a pesquisa não haja inserido a
variável gênero, o percentual de
professores negros – mulheres e
homens- perfazem um total de apenas
0,4%.
Fonte: Revista Pade
Docentes por sexo com nível do curso de titulação máxima igual a
doutorado segundo cor/raça
(Fonte: Base SINAES)
Cor/Raça
Fem.
Mas.
Não informado
Total
Amarela
345
503
0
848
Branca
15.854
21.662
1
37.517
Indígena
52
92
0
144
Não
Informada
5.830
9.457
771
16.058
Negra
251
374
0
625
Parda
1.312
2.114
0
3.426
•
Docentes por titulação máxima com cor/raça igual a negra
segundo o sexo ( Fonte: Base SINAES)
•Sexo
Douto
rado
Mestra Especiali
do
zação
Femini
no
251
658
Masculi
no
374
792
572
756
Gradua
ção
177
296
Notó
rio
saber
1
0
Total
1.659
2.218
• Queiroz (2006)
procurou analisar
as desigualdades
raciais e de gênero
na UFBA, a partir
dos alunos
entrantes, num
período anterior à
implantação do
sistema de cotas.
• Seus achados
demonstraram que
as mulheres
negras (agregados
os dados para
pardas e pretas)
encontravam-se
nos cursos de
menor prestígio
social e com
menores
oportunidades no
mercado, além de
estarem mais
presentes nos
cursos tidos como
do âmbito do
feminino.
DOUTORAS NEGRAS POR ÁREA DE ATUAÇÃO
0,41%
10,62%
Ciências Humanas
5%
Ciências Exatas e da Terra
39,80%
10,62%
Ciências Biológicas
Ciências Agrárias
8,51%
Ciências sociais Aplicadas
6%
9,52%
9,52%
Linguistica, Letras e Artes
Ciências da Saúde
Engenharias
Relações Internacionais
Pensares conclusivos
Relatório Nacional Brasileiro à Convenção sobre a Eliminação de Todas as
formas de Discriminação contra à mulher (2002) / (CEDAW)
• Cumpre ressaltar a precariedade, e até a
ausência de dados estatísticos e
informações, agregados por sexo e por
raça/etnia, que permitiriam traçar diagnósticos
fidedignos sobre as situações desses
seguimentos, de maneira a permitir a
elaboração de políticas públicas que produzam
mudanças na situação e nas relações desses
segmentos, monitorar e acompanhar a
implementação dessas políticas e, de modo
especial, de medidas afirmativas, permitindo
processos de avaliação qualificados
III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, à discriminação racial, à xenofobia e
formas correlatas de intolerância ( Durban, 2001)
Expressamos nossa profunda preocupação
quando o indicador nas áreas da educação,
emprego, saúde, moradia mortalidade
infantil e expectativa de vida para muitos
povos revelam uma situação de
desvantagem, particularmente quando os
fatores que para isto contribuem incluem
racismo, discriminação racial, xenofobia e
intolerância correlata
III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, à discriminação racial, à
xenofobia e formas correlatas de intolerância
( Durban, 2001)
Insta os estados a coletarem,
compilarem, analisarem, disseminarem
e a publicarem dados estatísticos
confiáveis em níveis local e nocional e a
tornarem todas as outras medidas
necessárias para avaliarem
periodicamente a situação de indivíduos
grupos que são vítima de racismo,
discriminação racial, xenofobia e
intolerância correlata.
III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, à discriminação
racial, à xenofobia e formas correlatas de intolerância ( Durban, 2001)
Convida os estados, as organizações
governamentais e não-governamentais, as
instituições acadêmicas e o setor privado a
aperfeiçoarem os conceitos e métodos de
coleta e analise de dados, a promoverem
pesquisas, intercâmbio de experiências e de
praticas bem sucedidas e a desenvolverem
atividades promocionais nesta área, a
desenvolverem indicadores de progresso e de
participação de indivíduos e dos grupos em
sociedade que estão sujeitos ao racismo,
discriminação racial, xenofobia e intolerância
correlata.
Relatório Nacional Brasileiro à Convenção sobre a Eliminação de Todas as
formas de Discriminação contra à mulher (2002) / (CEDAW)
• Cumpre ressaltar a precariedade, e até a
ausência de dados estatísticos e
informações, agregados por sexo e por
raça/etnia, que permitiriam traçar diagnósticos
fidedignos sobre as situações desses
seguimentos, de maneira a permitir a
elaboração de políticas públicas que produzam
mudanças na situação e nas relações desses
segmentos, monitorar e acompanhar a
implementação dessas políticas e, de modo
especial, de medidas afirmativas, permitindo
processos de avaliação qualificados
• A variável gênero é um determinante crucial quando
nos propomos a analisar os dados referentes à
educação no Brasil, como já apontado no profícuo
trabalho realizado pelo INEP intitulado Mulher no
ensino superior.
• Resta saber se as mulheres negras que iniciam um
curso universitário conseguem complementar a
tríade ingresso, permanência e sucesso.
• Pleiteamos a produção de indicadores que nos
subsidiem a respeito do percentual das ingressantes,
os dados sobre as concluintes além de informações
sobre sua inserção no mercado de trabalho, entre
outros.
Referências :
BOURDIEU, Pierrre. A Escola Conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura.
In: Escritos de Educação. Editora Vozes, Petrópolis, 1995.
DF&PA, Declaração final e Plano de Ação de Durban, Prefeitura Municipal de São Paulo,
2002.
HASENBALG, Carlos Alberto. Discriminação e desigualdades Raciais no Brasil. Rio
de Janeiro: Graal, 1979
JACCOUD, Luciana de Barros. Desigualdades raciais no Brasil: um balanço da intervenção
governamental. Brasília: Ipea, 2002.
LIMA, Márcia. Trajetória educacional e Realização socioeconômica das Mulheres Negras.
In: Revista Estudos Feministas. Vol. 3N. 2. IFCS/ UFRJ, 1995
QUEIROZ, Delcele M. Ações afirmativas na universidade brasileira e acesso de mulheres
negras. Salvador: Uneb, 2006, (mimeo).
REICHMAN, Rebeca. A Mulher Negras Brasileira: um retrato. In: Revista Estudos
Feministas. Vol. 3N. 2. IFCS/ UFRJ, 1995
Revista Pade
Site:http:www.publicacoesacademicas.uniceub.br/index/pade/article/viewfile/144/133
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Mulheres Negras na Educação Superior: variáveis a serem