UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL GABRIELA FONTANA OS BENEFÍCIOS DO NEUROMARKETING PARA AS MARCAS NO ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR CAXIAS DO SUL 2014 GABRIELA FONTANA OS BENEFÍCIOS DO NEUROMARKETING PARA AS MARCAS NO ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Trabalho de Conclusão de Curso, requisito necessário para a aprovação na disciplina Monografia II da Universidade de Caxias do Sul, Curso de Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda. Orientador Prof. Me. Eduardo Luiz Cardoso CAXIAS DO SUL 2014 GABRIELA FONTANA OS BENEFÍCIOS DO NEUROMARKETING PARA AS MARCAS NO ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Trabalho de Conclusão de Curso, requisito necessário para a aprovação na disciplina Monografia II da Universidade de Caxias do Sul, Curso de Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda. Aprovado (a) em __/__/__ Banca Examinadora _____________________________________ Prof. Me. Eduardo Luiz Cardoso (Orientador) Universidade de Caxias do Sul – UCS _____________________________________ Profa. Dra. Ivana Almeida da Silva Universidade de Caxias do Sul – UCS _____________________________________ Profa. Me. Maria Goréte do Amaral Gedoz AGRADECIMENTOS Todos os objetivos que alcanço em minha vida conto com pessoas essenciais que transformam o percurso em segurança, conhecimento, compreensão e companheirismo. Por isto, agradeço a quatro pilares que traduziram estas palavras durante a concretização deste trabalho. À minha família, agradeço a minha mãe Suzana Fontana, ao meu pai Nestor Fontana e a minha irmã Caroline Fontana, que desde os primeiros aprendizados estiveram me orientando sobre a importância do estudo e a grandeza do conhecimento. Segurança. Ao Prof. Mestre Eduardo Luiz Cardoso, agradeço por durante este ano ter dedicado seu conhecimento para a realização de um trabalho qualificado, apresentando as alternativas possíveis para enriquecê-lo e me incentivando a cada desafio. Conhecimento. Ao meu namorado Vinícius Camello, que durante este período esteve torcendo, me apoiando e me parabenizando a cada etapa concluída. Compreensão. Às minhas amigas, Ariela Martins, Elisa Sacchet, Luana Soga e Nicole Sacchet, que participam da minha caminhada acadêmica e pessoal, compartilhando comigo os momentos de preocupação, felicidade e comemoração. Companheirismo. Agradeço a estes pilares por contribuírem para a minha graduação. “A revolução não acontece quando a sociedade adota novas ferramentas. Acontece quando a sociedade adota novos comportamentos.” Clay Shirky RESUMO O propósito deste trabalho é apresentar o neuromarketing como uma nova técnica de pesquisa de marketing, a fim de detalhar seus benefícios para as marcas no estudo do comportamento do consumidor. O trabalho aborda sobre as marcas e sua relação com os consumidores, detalhada a partir do brand equity, sobre as pesquisas de marketing, tipos e aplicações, bem como as suas vantagens e desvantagens e investiga o conceito de neuromarketing, suas técnicas, aplicações e implicações, identificando as possíveis variáveis do comportamento do consumidor e os benefícios para as marcas. A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica descritiva, focando nos principais autores sobre as questões analisadas, que são: Aaker (2005), Keller e Machado (2006), Malhotra (2001), Mattar (1998 e 2005), McDaniel e Gates (2003), Pradeep (2012), Lindstrom (2009), Camargo (2013) e Morin (2011). Após o levantamento dos dados, conclui-se que o neuromarketing traz benefícios para as marcas no estudo do comportamento do consumidor, mas por ser uma técnica nova, que está em fase de aperfeiçoamento e descobertas, não é considerada substituta das pesquisas tradicionais de marketing. Palavras-chave: Marcas. Pesquisa de Marketing. Comportamento do Consumidor. Neuromarketing. ABSTRACT The purpose of this project is presenting neuromarketing as a new marketing research technique in order to detail its benefits for brands on consumer behavior studies. This project focuses on brands and their relationship with consumers, which will be detailed from the brand equity. It also explores marketing research, types and applications, as well as their advantages and disadvantages and investigates neuromarketing concept, techniques, applications and implications, identifying the possible consumer behavior variables and benefits for brands. The methodology used is descriptive literature focusing on major authors on the issues analyzed, which are Aaker (2005), Keller and Machado (2006), Malhotra (2001), Mattar (1998 and 2005), McDaniel and Gates (2003) Pradeep (2012), Lindstrom (2009), Campbell (2013) and Morin (2011). After the survey data, it is possible to conclude that neuromarketing is beneficial for the brands in the study of consumer behavior, however it is a new technique that is undergoing improvements and discoveries, therefore is not considered a substitute for traditional marketing research. Keywords: Brands. Marketing Research. Consumer Behavior. Neuromarketing. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Brand Equity ............................................................................................. 20 Figura 2 – Modelo de BrandAsset Valuator ............................................................... 23 Figura 3 – Modelo de Pirâmide BrandDynamics ....................................................... 24 Figura 4 – Modelo de Pirâmide de Ressonância da marca ....................................... 24 Figura 5 – Iceberg humano: o consumidor é como um iceberg................................. 34 Figura 6 – As múltiplas facetas do novo consumidor ................................................ 37 Figura 7 – O papel da pesquisa de marketing ........................................................... 40 Figura 8 – Classificação de pesquisas de marketing ................................................ 43 Figura 9 – Classificação de dados de pesquisa de marketing .................................. 47 Figura 10 – Capa da Revista Forbes......................................................................... 60 Figura 11 – Crescimento das pesquisas em neuromarketing ................................... 61 Figura 12 – Principais partes do cérebro ................................................................... 68 Figura 13 – Painel de Atividade Cerebral .................................................................. 72 Figura 14 – Máquina de Ressonância Magnética Funcional ..................................... 74 Figura 15 – Eletroencefalograma .............................................................................. 75 Figura 16 – Magnetoencefalografia ........................................................................... 76 Figura 17 – Mapeamento ocular................................................................................ 77 Figura 18 – Ciclo de desenvolvimento do produto .................................................... 79 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Critérios de mensuração dos pilares do Brand Equity ............................ 22 Quadro 2 – Arquétipos Emocionais ........................................................................... 30 Quadro 3 – Exemplos de marcas com almas de marca ............................................ 32 Quadro 4 – Fatores que influenciam a tomada de decisão ....................................... 35 Quadro 5 – Tipos de pesquisa .................................................................................. 44 Quadro 6 – Resumo dos tipos de pesquisa .............................................................. 45 Quadro 7 – Técnicas de mensuração fisiológica ....................................................... 52 Quadro 8 – Vantagens e desvantagens dos métodos de pesquisa .......................... 57 Quadro 9 – Variáveis do neuromarketing para as marcas ........................................ 93 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12 2 A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA MARCA ........................................................ 15 2.1 MARCAS ............................................................................................................. 15 2.2 BRAND EQUITY ................................................................................................. 18 2.3 ASPECTOS INTANGÍVEIS DA MARCA ............................................................. 25 2.3.1 Imagem de marca ........................................................................................... 26 2.3.2 Personalidade ................................................................................................. 28 2.3.3 Emoção das marcas ....................................................................................... 29 2.4 QUEM É O CONSUMIDOR DA MARCA? ........................................................... 33 3 PESQUISA DE MARKETING ................................................................................ 38 3.1 O DESENVOLVIMENTO DAS PESQUISAS DE MARKETING........................... 38 3.2 TIPOS DE PESQUISAS E APLICAÇÕES ........................................................... 42 3.2.1 Métodos de coletas de dados ....................................................................... 46 3.2.1.1 Grupos de foco .............................................................................................. 48 3.2.1.2 Entrevistas de profundidade .......................................................................... 48 3.2.1.3 Técnicas projetivas ........................................................................................ 49 3.2.1.4 Survey ........................................................................................................... 50 3.2.1.5 Observacional ............................................................................................... 51 3.2.1.6 Experimental ................................................................................................. 53 3.3 VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS PESQUISAS DE MARKETING .......... 53 4 NEUROMARKETING ............................................................................................. 58 4.1 O QUE É NEUROMARKETING? ........................................................................ 58 4.2 PRIMEIROS ESTUDOS DE NEUROMARKETING ............................................. 63 4.3 CÉREBRO X CONSUMO.................................................................................... 66 4.4 TÉCNICAS E APLICAÇÕES DO NEUROMARKETING ..................................... 73 4.4.1 Implicações do neuromarketing ................................................................... 81 5 ANÁLISE................................................................................................................ 84 6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 94 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 97 ANEXOS ................................................................................................................. 103 12 1 INTRODUÇÃO O prefixo neuro está complementando algumas palavras já consolidadas e conhecidas do universo das marcas, como o marketing. Neste trabalho, será apresentado o neuromarketing, termo que surgiu em 2002 e que apresenta desenvolvimento constante nas últimas décadas. O contexto do seu aperfeiçoamento está baseado em como o consumidor interage, percebe e se relaciona com os estímulos de marketing aplicados pelas marcas. Segundo Fugate (2008), o neuromarketing utiliza informações sobre as funções cerebrais para ajudar a explicar o que acontece dentro da “caixa preta”, traduzindo as reações relacionadas ao que está sendo exposto para o consumidor. A partir da necessidade das marcas em analisar aspectos específicos das suas estratégias de marketing como, por exemplo, novos produtos e comerciais publicitários, é que estão situadas as pesquisas de marketing, que têm por objetivo, contribuir para as decisões do planejamento de marketing das marcas. No decorrer da transformação tanto do marketing, quanto das marcas e dos consumidores, tipos de pesquisas foram desenvolvidas e segmentadas para diferentes aplicações no estudo do comportamento do consumidor. Nesta perspectiva de evolução é que o neuromarketing se apresenta como uma técnica que visa contestar o que até então é descoberto pelas pesquisas tradicionais de marketing através de perguntas ao consumidor. O que este estudo contraria é a capacidade do consumidor consciente expressar seus reais motivos de escolha e suas emoções, o que pode acarretar à mentira e, consequentemente, ocasionar investimentos equivocados pelas marcas, além de estratégias fracassadas. De acordo com esta técnica, o inconsciente pode ser a chave para algumas respostas referentes às marcas e os consumidores. É em torno destes questionamentos que o trabalho se desenvolve, a fim de explorar diferentes abordagens para que as marcas encontrem alternativas de análise do protagonista do consumo. Estas alternativas são aliadas para as marcas não manterem a estimativa de que 80% de todos os produtos lançados fracassam nos três primeiros meses (LINDSTROM, 2009). Sendo assim, as marcas precisam afastar-se da zona de conforto para perceberem o que está acontecendo com a sua relação com os consumidores e terem conhecimento das técnicas disponíveis para esta aproximação. 13 Com base no desenvolvimento desta técnica chamada neuromarketing é que se conduzem as análises deste trabalho, com o propósito de responder quais são os benefícios do neuromarketing para as marcas. Para responder esta questão, os objetivos apresentados visam fundamentar e detalhar as teorias relacionadas à construção e manutenção das marcas, as pesquisas de marketing e os novos métodos destas pesquisas. Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho é identificar, sob a ótica do neuromarketing, possíveis variáveis do comportamento do consumidor que podem ser verificadas nas pesquisas de marketing em benefício das marcas. Os objetivos específicos são: (a) verificar teoria sobre as marcas e a relação entre marca e consumidor; (b) estudar os tipos de pesquisas de marketing, seus objetivos, bem como o que agregam para as marcas e; (c) analisar a importância do desenvolvimento do neuromarketing, suas técnicas e diferenciação de outros métodos. Para o desdobramento destas questões, a coleta de dados para a pesquisa monográfica se dará por meio da pesquisa bibliográfica, sendo que, a pesquisa bibliográfica, segundo Gil (1999), tem como base materiais já elaborados e se caracteriza, principalmente, pela consulta em livros e artigos científicos. Este tipo de pesquisa enquadra-se ao principal objeto de estudo deste trabalho, o neuromarketing, que não permite, sem conhecimento científico e acesso a laboratórios, realizar pesquisas de marketing e analisar os resultados. A partir da pesquisa descritiva de levantamento de dados secundários, serão selecionadas as bibliografias mais adequadas para o problema, a fim de realizar uma análise detalhada em fontes atuais e especializadas. A análise será qualitativa com o propósito de cruzar os dados bibliográficos pesquisados para identificar os benefícios do neuromarketing para as marcas. O trabalho será dividido em quatro partes principais diretamente relacionadas aos objetivos deste trabalho. Na primeira parte, será detalhado o que é o brand equity, a importância dos valores associados a esta construção e os métodos de pesquisa sugeridos para a mensuração dos seus pilares. Na segunda parte as pesquisas de marketing serão aprofundadas, a fim de apresentar os tipos disponíveis e identificar suas vantagens e desvantagens para a aplicação das marcas. A terceira parte tem o objetivo de pesquisar o neuromarketing e apresentá-lo como uma pesquisa de marketing para as marcas, para, a partir destes levantamentos, responder na análise o objetivo geral deste trabalho. Na quarta parte será apresentada a conclusão do estudo monográfico. 14 Lindstrom (2009) destaca que o problema das empresas é ainda não saberem responder perguntas como, por exemplo, o porquê de determinadas escolhas dos consumidores, visto que, as pesquisas tradicionais alcançam uma parte superficial e consciente dos processos cerebrais do consumidor. Neste contexto, o desenvolvimento do neuromarketing, que será detalhado neste trabalho, pode contribuir para novas descobertas nas pesquisas de marketing já aplicadas e, consequentemente, para o estudo do comportamento do consumidor. 15 2 A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA MARCA Um produto, serviço ou empresa diferem-se por características técnicas, design, qualidade e atendimento, mas, além disto, há uma marca por trás deste conjunto de informações que significa mais do que a simples identificação. Com esta constatação, este capítulo irá se desenvolver a partir da explanação do conceito de brand equity, abordado por Aaker (2005). Após a definição, serão detalhados os critérios que formam o brand equity e a construção do seu valor a partir do comportamento do consumidor. Os aspectos intangíveis das marcas, que envolvem os consumidores nas suas decisões, serão abordados para a observação deste fenômeno e consequentemente para o estudo deste consumidor. 2.1 MARCAS A necessidade de encontrar uma maneira de diferenciação dos outros produtores e identificação das suas mercadorias levou os fabricantes dos séculos passados a pensarem em uma técnica que pudesse protegê-los de cópias, assegurando qualidade para o produto que realmente produziam. Pinho (1996) detalha que desde a Antiguidade existiam registros que ajudavam a promover as mercadorias como, por exemplo, selos, siglas e símbolos, que nesta época, indicavam a procedência do produto agrícola ou manufaturado e atestavam a sua qualidade. Desta forma, o comprador também estava protegido, pois conseguia identificar o produtor. Com o aumento desta preocupação por parte das corporações, surgiram no século XVI as marcas registradas. Segundo Tavares (1998), a partir deste século e nos seguintes, os selos, siglas e símbolos foram substituídos pelos nomes dos produtores, com o objetivo de que a associação por parte do consumidor se tornasse mais fácil e consequentemente houvesse uma maior diferenciação da concorrência. O primeiro uso de marca como elemento de diferenciação ocorreu na Escócia, em 1835, com a criação da marca Old Smuggler, para nomear uma linha de uísque que utilizava um processo de destilação especial (PINHO, 1996). A concorrência se intensificou a partir dos avanços da Revolução Industrial, onde as marcas precisavam buscar seu espaço e conquistar o mercado em 16 crescimento, devido a isto, é neste período, que surgem os primeiros cartazes publicitários. De acordo com Pinho (1996), foi somente após a Segunda Guerra Mundial que se iniciou uma nova era do marketing. Esta nova era introduz as marcas para o foco na diferenciação e valorização. Estratégias começam a ser desenvolvidas com base nas ferramentas de marketing, grandes marcas iniciam a sua trajetória mercadológica e, é dentro deste contexto, que o conceito central de marca estrutura-se e evolui a partir das novas demandas do mercado. De acordo com David Aaker: Uma marca é um nome diferenciado e/ou símbolo (tal como um logotipo, marca registrada, ou desenho de embalagem) destinado a identificar os bens ou serviços de um vendedor ou de um grupo de vendedores e a diferenciar esses bens e serviços daqueles dos concorrentes. Assim, uma marca sinaliza ao consumidor a origem do produto e protege, tanto o consumidor quanto o fabricante, dos concorrentes que oferecem produtos que pareçam idênticos (AAKER, 2005, p. 7). Complementando o conceito, Kotler e Keller (2012) afirmam que as marcas permitem que os consumidores atribuam o desempenho positivo ou negativo de um produto a determinado fornecedor, além de, avaliarem produtos idênticos de formas diferentes a partir de como a marca está estabelecida no mercado. Na mesma linha de contextualização de Aaker (2005), segundo o dicionário da American Marketing Association1 [ca. 1990], uma marca é definida como “um nome, termo, design, símbolo ou qualquer outra característica que identifique os produto ou serviços de um fornecedor a fim de diferenciá-lo da concorrência”. Keller e Machado (2006) afirmam, a partir desta definição, que qualquer criação de nome, logotipo ou símbolo para um produto caracteriza-se como uma marca, sendo que estes componentes que as identificam e diferenciam são chamados de elementos de marca. Ainda segundo os autores, os principais elementos da marca são: nomes, domínios na Internet, logotipos, símbolos, personagens, slogans, jingles e embalagens. Uma correta análise e escolha destes elementos pelos profissionais de marketing podem aumentar a lembrança da marca, facilitar a formação de associações de marcas fortes e proporcionar sentimentos e julgamentos positivos sobre a marca. 1 Tradução literal: Associação Americana de Marketing. 17 Neste mesmo contexto, Kotler e Keller (2012), apresentam seis critérios na escolha dos elementos da marca: Os três primeiros – ser de fácil memorização, significativo e cativante – podem ser caracterizados como “construtores de marca”. Os três últimos – ser transferível, adaptável e protegido – têm caráter “defensivo” e ajudam a alavancar e preservar o brand equity2 contra ameaças (KOTLER E KELLER, 2012, p. 266). Tavares (1998) já havia mencionado outro cenário, no qual a marca deve estar vinculada à criação e manutenção do valor percebido pelo consumidor, desta forma, através dela, é possível destacar valores superiores aos do mercado, diferenciar ofertas e atender as expectativas dos consumidores. Keller e Machado (2006) apresentam tipos de diferenciações que apoiam as marcas no contexto da competitividade. As diferenças funcionais, racionais ou tangíveis, que estão diretamente ligadas ao produto e as diferenças simbólicas, emocionais ou intangíveis, relacionadas ao que a marca representa para o consumidor. Grynberg (2014), em matéria publicada no jornal Meio & Mensagem, faz uma análise referindo-se ao tempo como essencial para o desenvolvimento das marcas. Apple não muda nosso jeito de falar ao telefone ou de ouvir música em dois anos. Sadia e Nestlé, Procter e Gamble, Unilever, Nike, Budweiser não seriam o que são hoje se não tivessem tido o tempo que tiveram para construir suas histórias, suas credibilidades, seus mantras e posicionamentos (GRYNBERG, abril de 2014). As marcas desempenham, cada vez mais, importante papel na escolha do consumidor e consequentemente, são grandes aliadas para o desempenho e ciclo de vida dos produtos. São inúmeros os exemplos de concorrentes que desenvolvem a mesma tecnologia, com valores semelhantes e a diferenciação ocorre pelo reconhecimento da marca. Construir marcas fortes significa garantir que as expectativas dos consumidores sejam atendidas, proporcionar experiências adequadas com os produtos ou serviços, contato positivo com os esforços de marketing e, além disto, definir a essência da marca que será transmitida em todas as vendas (KOTLER e KELLER, 2012). 2 Brand Equity é o conceito que será abordado no próximo subcapítulo. 18 2.2 BRAND EQUITY Para as empresas desenvolverem e manterem marcas fortes, como as mencionadas por Grynberg (2014), é necessário um planejamento a longo prazo e constante gerenciamento do seu valor. É dentro deste contexto que está o chamado brand equity. O brand equity é desenvolvido a partir das estratégias de branding que, segundo Martins (2006), são as ações que possibilitam que as marcas transcendam o significado econômico, passando a fazer parte da cultura e influenciando a vida das pessoas. Resumindo esta definição, Kotler e Keller (2012), afirmam que “branding significa dotar bens e serviços com o poder de uma marca” (KOTLER E KELLER, 2012, p. 259). Ainda segundo os autores, para que as estratégias de branding tenham sucesso e criem o valor da marca, os consumidores precisam se convencer que existem diferenças significativas entre produtos da mesma categoria. É neste contexto que o brand equity ganha espaço e agrega valor para a marca. Segundo Aaker (2005), brand equity é entendido como um conjunto de ativos e passivos relativos a uma marca, que se somam ou se subtraem do valor desempenhado por um produto ou serviço. Isto quer dizer que, além do valor proporcionado pelo produto ou serviço, conforme descrito acima, existem outras estratégias relacionados às marcas que agregam valor para os consumidores. Este valor, segundo Kotler e Keller (2012), interfere em como o consumidor pensa, sente e age, resultando, por exemplo, na participação de mercado e lucratividade atingida pela marca. As estratégias referem-se aos esforços do marketing em desenvolver o brand equity para acompanhar o desempenho da marca e o comportamento do consumidor em relação a ela. Aaker (2005), divide os ativos e passivos, que são base para o desenvolvimento de brand equity, em cinco categorias, conforme a Figura 1, que são: Lealdade à marca: está diretamente ligada a experiência de uso, pois não pode existir sem a compra prévia. O aumento à lealdade da marca proporciona a diminuição da vulnerabilidade dos consumidores à ação da concorrência. A lealdade pode ser medida através de hábitos comportamentais como por exemplo, taxas de recompra. Outra maneira fortemente utilizada, é a partir da satisfação/insatisfação dos clientes, com o objetivo de descobrir quais as razões para 19 possíveis mudanças. O gosto pela marca também tem papel importante para medir a lealdade, visto que, engloba questões relacionadas aos sentimentos por ela. Conhecimento do nome: é a capacidade que um possível consumidor tem de reconhecer ou se lembrar de uma marca que pertence a determinada categoria de produtos. Este conhecimento é representado por três níveis crescentes na mente dos consumidores (reconhecimento da marca, lembrança da marca e Top of Mind). O desconhecimento da marca também é uma realidade presente em determinadas categorias de produtos, inferior ao primeiro nível – reconhecimento da marca. A diferença entre eles está relacionada a necessidade ou não do consumidor receber estímulos para ocorrer o conhecimento do nome. Para que uma marca comunique com eficácia seus atributos, o ideal é que o nome esteja estabelecido o suficiente para permitir uma associação. Qualidade percebida: o consumidor percebe a marca a partir da qualidade geral ou da superioridade de um produto ou serviço pretendido por ele, baseado nas outras alternativas disponíveis. É o conhecimento sobre determinada qualidade agregado aos julgamentos que são importantes para este consumidor, de modo que, as prioridades podem não coincidir entre todos os consumidores, devido a um conjunto diferente de critérios de escolha e de dimensões que serão analisadas no contexto inserido. Associações à marca em acréscimos à qualidade percebida: as associações estão relacionadas a uma imagem criada na mente do consumidor. Uma associação pode com mais facilidade desenvolver um caminho de assimilação por parte do consumidor, ou seja, pode influir na recordação, na diferenciação de classes de produtos, na razão-de-compra, servir como base para extensões e para a criação de atitudes e sentimentos positivos como, por exemplo, a marca Coca-Cola que é associada à felicidade de compartilhar bons momentos. Outros ativos do proprietário da marca: estes ativos podem ser exemplificados como patentes, trademarks (marcas registradas), relação com os canais de distribuição e outros que agreguem vantagens competitivas para a marca. 20 Figura 1 - Brand Equity Fonte: AAKER, 2005, p. 18. Estas categorias são construídas e sustentadas a partir de análises de como os consumidores percebem e se relacionam com a marca, a fim de criar uma cultura de compreensão e, assim, desenvolver estratégias compatíveis com o que é verificado. Desta forma, o brand equity proporciona valor tanto para os clientes, quanto para a empresa, que saberá como manter ou alterar seus esforços de marketing. De acordo com Keller e Machado (2006) a força de uma marca pode ser interpretada pelo que fica na mente dos consumidores, ou seja, o que eles aprenderam, sentiram, viram e ouviram sobre ela. 21 Dentro deste contexto, o brand equity baseado no cliente refere-se à influência que uma marca pode ter sobre as respostas do consumidor nas decisões de compra. Sendo assim, uma marca possui brand equity positivo se o produto divulgado com a marca é melhor aceito do que quando a marca não é identificada, uma consequência do conhecimento que o consumidor acumula sobre ela (KOTLER E KELLER, 2012). A construção do brand equity está baseada nos esforços de marketing a longo prazo que visam engajar e compreender as atitudes dos consumidores a fim de impulsionar o aperfeiçoamento dos recursos que geram valor. Este modelo baseado no cliente, segundo Keller e Machado (2006), proporciona uma orientação para a construção do brand equity, de modo que é possível mensurar se os esforços de marketing estão atingindo positivamente ou negativamente os consumidores e, consequentemente, alcançando os objetivos da marca. A ferramenta de medida proposta no Quadro 1, é considerada pelos autores, um guia para possíveis pesquisas de marketing, além de avaliar os seis pilares para construção de brand equity propostos pelos autores, que diferem e/ou se somam as categorias apresentadas por Aaker (2005). 22 Quadro 1 – Critérios de mensuração dos pilares do brand equity De que marcas desta categoria de produto ou serviço você lembra? 1. Proeminência Você já ouviu falar destas marcas? Com que frequência você pensa nesta marca? Em comparação com as outras marcas disponíveis, quão bem esta marca desempenha as funções básicas da categoria de produto ou serviço? Até que ponto esta marca tem características especiais? 2. Desempenho Até que ponto esta marca é confiável? Quão solícitos são os prestadores de serviços desta marca? Comparada com outras marcas disponíveis, os preços desta marca mudam mais frequentemente, menos frequentemente ou com mais ou menos a mesma frequência? 3. Imagens Até que ponto as pessoas que você admira e respeita usam esta marca? Quão bem as seguintes palavras descrevem esta marca: simples, honesta, audaciosa, na moda, confiável, de sucesso, de classe superior, charmosa, esportiva? Até que ponto pensar nesta marca evoca memórias agradáveis? Que lugares são apropriados para comprar esta marca? Esta é uma marca que você pode usar em várias situações diferentes? 4. Julgamentos Qualidade Credibilidade Consideração Qual a sua avaliação da qualidade do produto/serviço desta marca? Até que ponto esta marca satisfaz completamente suas necessidades de produto? Até que ponto os fabricantes desta marca são conhecidos? Até que ponto você confia nos fabricantes desta marca? Até que ponto você estaria propenso a recomendar esta marca a outras pessoas? Até que ponto esta marca é relevante para você? Superioridade Quão exclusiva é esta marca? Até que ponto esta marca oferece vantagens que outras marcas não podem oferecer? Esta marca lhe traz um sentimento de ternura? 5. Sentimentos Esta marca lhe traz um sentimento de segurança? Esta marca lhe traz um sentimento de aprovação social? Esta marca lhe traz um sentimento de autoestima? 6. Ressonância Fidelidade Adesão Senso de comunidade Engajamento Eu me considero fiel a esta marca. Eu compro o máximo que posso desta marca. Eu realmente adoro esta marca. Eu realmente sentiria falta desta marca se ela deixasse de existir. Eu realmente me identifico com as pessoas que usam esta marca. Sinto como se eu e os outros usuários desta marca pertencêssemos a um mesmo grupo. Eu realmente gosto de falar desta marca para outros. Eu me interessaria por outros produtos com esta marca. Fonte: quadro adaptado de KELLER E MACHADO, 2006, p. 59 e 60. 23 Kotler e Keller (2012) apresentam os três modelos mais aceitos de mensuração de brand equity, desenvolvidos a partir de diferentes dimensões que possibilitam a avaliação para a construção e manutenção das marcas. Segundo os autores, o BrandAsset Valuator3 foi moldado pela agência de publicidade Young & Rubicam, a partir de uma pesquisa realizada com quase 800 mil consumidores em 51 países. Esta pesquisa se baseia em comparações de brand equity de diversas marcas, que foram examinadas utilizando-se um questionário com 32 itens. Figura 2 - Modelo de BrandAsset Valuator Fonte: KOTLER E KELLER, 2012, p. 262. O segundo modelo apresentado pelos autores é chamado Brandz de força de marca, criado por duas consultorias de pesquisa de marketing, Millward Brown e WPP. Neste modelo, os consumidores entrevistados são inseridos, a partir das suas respostas, em um nível da pirâmide denominada BrandDynamics. Uma constatação relevante deste modelo de pesquisa é que a maioria dos consumidores estão localizados nos níveis inferiores da pirâmide, o que desafia os profissionais de marketing. 3 Tradução pelo autor: avaliador de ativo de marca. 24 Figura 3 – Modelo de Pirâmide BrandDynamics Fonte: KOTLER E KELLER, 2012, p. 264. O último modelo sugerido por Kotler e Keller (2012) é denominado Ressonância da Marca, representado por uma pirâmide com quatro etapas, que foram detalhadas na Quadro 1, apresentada por Keller e Machado (2006). De acordo com os autores, o modelo se caracteriza pela intensidade do vínculo psicológico dos consumidores com a marca, ou seja, se estão em sintonia com a marca como, por exemplo, os consumidores da Apple. Figura 4 – Modelo de Pirâmide de Ressonância da marca Fonte: KOTLER E KELLER, 2012, p. 265. Neste contexto, Tavares (1998) afirma que é o consumidor quem confere à marca um valor, a partir dos esforços da empresa e da interação entre ambos. Keller 25 (1993) também compartilha esta ideia, segundo ele, os programas de marketing são projetados para melhorar a conscientização da marca e estabelecer associações favoráveis e fortes na memória destes consumidores. Ao longo do estudo sobre brand equity, é possível verificar diferentes propostas de modelos para a sua construção, baseadas em pilares e etapas que guiam as marcas e que são fontes para avaliações dos esforços de marketing. Independente do modelo desenvolvido, os autores apresentados concordam que são os programas de marketing que favorecem o relacionamento do consumidor com a marca. De acordo com Keller e Machado (2006), os elementos da marca (símbolo, logotipo, slogans e etc.) são importantes para o brand equity, mas são os programas de marketing a fonte principal para a sua construção. Tavares (1998) afirma que estes programas têm como objetivo, a longo prazo, tornar o consumidor familiarizado com a marca, a partir da definição de preços, alternativas de mídia, identificação dos benefícios do produto, campanhas publicitárias, entre outros. Pode-se dizer então, conforme Keller (1993), que construir valor de marca requer a criação de uma marca forte, com associações únicas que precisam ser alimentadas na mente dos consumidores. O brand equity é construído a partir do conhecimento da marca pelo mercado-alvo, refletido em percepções, preferências e comportamento, de modo que, a compreensão deste consumidor é um importante determinante para o sucesso de uma marca. Uma marca forte, segundo Keller e Machado (2006), traz vários benefícios, como um alto nível de conhecimento, imagem de marca positiva e consequentemente, brand equity relevante. 2.3 ASPECTOS INTANGÍVEIS DA MARCA As marcas possuem ativos intangíveis muito valiosos. Segundo Martins (2006) um ativo intangível não é associado à marca em um curto prazo, é necessário tempo para a construção destes valores que estão diretamente relacionados ao sucesso das marcas. Kotler (2003) afirma que “80% do valor de uma empresa moderna decorre de seus ativos intangíveis, embora os livros contábeis nada mostrem a esse respeito” (KOTLER, 2003, p. 20). Neste subcapítulo serão apresentados três ativos intangíveis de uma marca que contribuem para a percepção que o consumidor tem a seu respeito. 26 2.3.1 Imagem de marca De acordo com Keller e Machado (2006) “o conjunto de imagens de uma marca reflete como as pessoas pensam na marca abstratamente, e não o que pensam que a marca realmente faz” (KELLER E MACHADO, 2006, p. 53). Tavares (1998) abrange o conceito para as diversas relações possíveis entre a marca e seus consumidores, o que resulta em diferentes percepções para a formação da imagem. Devido a estas diferenças, não é possível atribuir a marca uma única imagem, talvez uma se sobressaia, mas existirá outras percepções relevantes que dependem de quem é o seu consumidor. A imagem está diretamente conectada com um conjunto de associações. De acordo com Keller (1993), imagem de marca é definida como as percepções construídas por estas associações na memória do consumidor. O autor apresenta tipos de associações que estão relacionadas aos atributos, benefícios e as atitudes do consumidor em relação à marca. Desta forma, a imagem decorreria da favorabilidade, força e exclusividade destas associações. Os atributos podem estar ou não relacionados ao produto, ou seja, ao seu desempenho ou ao posicionamento da marca e experiência de uso respectivamente. Já os benefícios, são associados às necessidades que o produto atende para determinado consumidor ou para um grupo de consumidores, desta forma, determinados benefícios podem ser mais importantes para alguns e menos para outros. A atitude é uma consequência dos atributos e benefícios já analisados, traduzidos em aceitação positiva ou negativa pelo consumidor. Já Martins (1999, p. 35), diz que “o trabalho de construção de imagem da marca consiste em reestabelecer o elo perdido na consciência, entre a matéria e seu elo emocional com o universo”. O autor defende que a preferência do consumidor é despertada por imagens que estão no inconsciente coletivo, desta forma, a preferência de compra está associada às imagens/fotos que representam a marca, ou seja, a emoção que está por trás da escolha e que é transformada e relacionada com a marca e seus produtos. Dentro deste contexto, Keller e Machado (2006) afirmam que as associações podem ser formadas diretamente a partir das experiências do consumidor ou indiretamente, com a representação através da propaganda ou até mesmo informações boca-a-boca. Está explanação pode ser complementada com a afirmação de Aaker (2005), que diz que além da imagem de marca ser um conjunto de associações, representa 27 as percepções que podem ou não refletir a realidade, desta forma, uma imagem de competência para um consumidor, pode se basear, por exemplo, na aparência de um consultório médico e no comportamento dos atendentes, diferente da imagem baseada na saúde dos pacientes já tratados. Ainda segundo o autor, a imagem pode ser categorizada em diferentes tipos, o que para as marcas pode ser interessante, visto que, é possível identificar os pontos específicos de cada categoria a fim de direcionar o esforço necessário para mantê-la ou melhorá-la. As categorias são: 1) Imagem corporativa: conceituada como a imagem que os vários públicos têm da empresa como um todo. Pode-se dizer que é um resumo de todas as impressões, percepções, experiências que as pessoas possuem da empresa. 2) Imagem da classe de produto: está relacionada ao que o consumidor pensa sobre o produto que consome, independente da marca, apenas baseado em sua função. Estes produtos atendem a mesma classe de necessidades. Exemplo: bebidas alcoólicas. 3) Imagem de marketing: é baseada na relação do consumidor com os esforços de marketing da empresa, ou seja, o que as estratégias empregadas estão transmitindo para os consumidores e como eles percebem estes esforços. 4) Imagem de marca: são as características de uma marca que as distinguem de outras, especialmente quando há poucas funções para distinguir os produtos. A imagem de marca é estabelecida pelos esforços de marketing que alimentam a percepção do consumidor em relação a ela e quando estabelecida é um diferencial. 5) Imagem do produto: está relacionada a aspectos funcionais, simbólicos (aceitação pelo grupo) e sensoriais do produto. Percebe-se que a imagem depende da relação estabelecida entre os públicos envolvidos e a marca. Neste trabalho, a imagem estará diretamente associada ao consumidor, mas existem outros públicos, como funcionários e fornecedores, por exemplo, que também podem ser consumidores, mas que analisam a marca por outro ponto de vista. Estas relações são observadas por todas as partes envolvidas, a fim de consolidar percepções e criar associações positivas a longo prazo que se tornem um diferencial para a decisão. 28 2.3.2 Personalidade Harley-Davidson é uma marca que traduz o significado de intangível por várias características que são ressaltadas por Aaker (2001, p.154) “é uma experiência, uma atitude, um estilo de vida e um veículo para se expressar quem se é”. Esta descrição da marca Harley-Davidson é denominada personalidade da marca, um aspecto intangível que identifica e cria associações para uma marca a longo prazo. Neste contexto, ainda segundo Aaker (2001), a personalidade de uma marca pode ser exemplificada a partir de um conjunto de características humanas que são associadas a ela. Estas características podem ser relacionadas a gênero, idade e classe socioeconômica, como também a carinho, interesse e sentimentalismo. Para Keller e Machado (2006), a personalidade reflete o que as pessoas pensam sobre ela, como se sentem em relação ao que a marca transmite. Segundo os autores, a publicidade é um dos principais esforços de marketing para a sua construção, pois possibilita a identificação do consumidor com a situação de uso ou com os usuários apresentados na peça publicitária, desta forma, a publicidade pode afetar a personalidade da marca a partir da maneira como a representa, pelos personagens utilizados, estilo de criação e pelas emoções ou sentimentos. Segundo Engel, Blackwell e Miniard (2000), os consumidores quando adquirem produtos desejam, além dos atributos funcionais e tangíveis, uma experiência emocional do uso do produto, que traduzem características que as marcas construíram e que se transformam na cabeça do consumidor, como apropriadas ou não para o seu consumo. Nesta mesma linha de pensamento, Gobé (2002), afirma que “muitas empresas têm logotipos mas não tem espírito. Nesses casos, um logotipo é um elemento visual sem propósito e sem força de visão de uma empresa” (GOBÉ, 2002, p. 196). Um estudo denominado EPM (Escala da Personalidade da Marca), desenvolveu e testou uma escala, tanto para avaliar quanto para estruturar a personalidade. De acordo com Aaker (2001), a partir deste estudo, cinco fatores (intitulados Cinco Grandes) de personalidade foram identificados: sinceridade (prática, honesta, íntegra e alegre), emoção (ousada, corajosa, criativa e atualizada), competência (confiável, inteligente, bem-sucedida), sofisticação (elitista e fascinante) e robustez (voltada para o ar livre e valente), que traduzem a percepção dos consumidores em relação às marcas. Baseado neste estudo, é possível dizer que uma 29 marca pode possuir uma personalidade complexa, que abrange os cinco fatores, ou também, pode ser classificada em apenas dois fatores, por exemplo. Estas percepções auxiliam as marcas a identificarem quais características estão relacionadas a elas e, consequentemente, analisar se os esforços de comunicação estão adequados com o que a marca construiu perante os consumidores. Neste contexto, segundo Martins (1999), a personalidade da marca está diretamente ligada a sua composição, formada por: espírito da marca, alma, produto ou serviço e conceito. Isto porque existe uma forte relação entre os atributos emocionais da marca e as características do produto, que juntos formam a personalidade na mente do consumidor. Desta forma, o autor afirma que o consumidor pensa sobre o produto e os conceitos da marca, sentindo a sua alma emocional e o seu espírito, ou seja, quando o consumidor está diante de duas marcas onde existe pouca diferença nos produtos, a personalidade da marca é determinante na escolha. Jadon (2014) apresenta um exemplo desta relação através de um executivo brasileiro que coleciona motocicletas, na verdade, coleciona Harley-Davidson. Ele poderia colecionar qualquer marca de motocicleta se é um colecionador, como sugere a matéria, que no decorrer apresenta a sua paixão pelas trinta motos Harley-Davidson que possui e conta como o executivo descreve dois modelos da sua coleção: as mais carismáticas da marca. 2.3.3 Emoção das marcas A palavra emoção traz consigo diversos estudos psicológicos, interpretações e análises que também despertam interesse dos profissionais de publicidade e marketing. A relação das marcas com a emoção é um assunto que, a partir da intensa concorrência, ganhou destaque nas estratégias das marcas e é um diferencial na relação marca-consumidor. De acordo com Lavareda: Emoções são reações complexas, imediatas diante de estímulos variados, em um processo extremamente rápido que não requer esforço consciente. Elas engajam nossas mentes e nossos corpos. São reações subjetivas (como raiva ou medo) e neurofisiológicas (sudorese, tensão muscular, batimentos cardíacos acelerados, contração do estômago, dilatação da pupila, sorriso, náusea, entre outras). Essa é a visão predominante nos dias correntes (LAVAREDA, 2011, p. 124). Dentro deste contexto, Gobé (2002) confirma a afirmação e cita que é o elemento emocional que possibilita que a marca desenvolva estratégias voltadas para 30 o consumidor, proporcionando a oportunidade para que ele aprecie com satisfação o mundo da marca. Este mundo, pode ser exemplificado pela marca Starbucks, que oferece experiências para seus clientes através de uma cultura voltada para as pessoas. A mensagem da Starbucks é transmitida por um ambiente em que as pessoas podem interromper o dia e parar por alguns minutos. Ainda segundo o autor, emocional traduz-se como uma marca que emprega na sua comunicação com os consumidores, sentidos e emoções, criando uma conexão profunda. Martins (1999) apresenta os arquétipos emocionais, que conceitua como padrões que estão presentes na cultura humana como estados de espírito ou formas de percepção do mundo. Sendo assim, uma marca pode transmitir um sentimento universal, ultrapassando barreiras culturais e então conquistar o mercado globalizado. O autor realizou um estudo em que identifica as emoções básicas do ser humano, que foram traduzidas em trezentas e sessenta pelos consumidores, a partir de associações de imagens e produtos. O objetivo deste estudo foi classificar as emoções em grupos, que formam os arquétipos emocionais e que são caracterizados como sendo de: instinto, razão, ego e espírito, conforme o Quadro 2: Quadro 2 – Arquétipos Emocionais Instinto Fluxo de energia Lúdico Raiz Posse Guerreiro Socialização Ego Autoestima O Íntimo Rebelde Iam a Star Equilíbrio Estético Exaltação dos Sentidos Jogo do Poder Espírito A Busca do Inconsciente Idealismo Expansão Expressão Liderança Visionária Tribo Global Sentimento Cósmico Sensibilidade Força de Humanidade Razão Cenas do Cotidiano Formalização Grande Meta Fonte: quadro adaptado de MARTINS, 1999, p. 45. Racionalização União da 31 As marcas traduzem os arquétipos através de sua imagem, sendo que o conjunto de emoções que está relacionado a ela tem o poder de valorizá-la, orientála para a publicidade, criar uma diferenciação e consequentemente fidelidade. A marca Gap, por exemplo, usa como imagem o arquétipo expressão, que traduz a pluralidade e a singularidade de personalidades (MARTINS, 1999). De acordo com Martins (1999), as marcas possuem uma personalidade independente. O autor afirma que descobrir qual entre as trezentas e sessenta emoções humanas que traduzem o seu valor potencializam sua construção e consequentemente a comunicação com os consumidores que entende as características emocionais da marca como um diferencial competitivo: a marca de roupas e acessórios Benetton carrega na sua essência emocional a solidariedade humana. A criação de marcas emocionais vai ao encontro das aspirações do século XXI, onde o consumidor não é passivo e é o elemento principal das estratégias. Este consumidor é de diferente etnias, valores, gerações e culturas e espera que as marcas lhes apresentem o produto que desejam e que se preocupem em entender quem ele é. Conforme afirma Marc Gobé: O conhecimento das necessidades emocionais e dos desejos das pessoas é, na realidade, agora mais do que nunca, a chave do sucesso. As organizações devem tomar o passo decisivo no estabelecimento de conexões mais fortes e relacionamentos que identifiquem seus clientes como parceiros (GOBÉ, 2002, p. 19). Ainda segundo o autor, criar uma marca sem escutar as pessoas exclui as possibilidades de desenvolver conexões com elas e, assim, apresentar soluções de melhoria de vida nos diferentes contextos em que vivem. Segundo Aaker (2001), sentimentos e emoções podem estar associados à personalidade da marca, ou seja, esta personalidade pode proporcionar o surgimento de emoções. Neste contexto encontra-se o que Keller e Machado (2006) definem como alma da marca, ou seja, a sua essência. Conforme os autores, a alma da marca traduz o que ela deve representar em relação ao posicionamento e valores para os consumidores, orientando todos os esforços de marketing de maneira que os programas refletem os valores centrais definidos internamente. Para as marcas, a alma deve comunicar, a partir de uma frase curta, o que a marca é e o que ela não é. 32 Os autores sugerem três etapas para a elaboração da alma da marca: modificador emocional, modificador descritivo e funções da marca. A seguir no Quadro 3, uma exemplificação com duas marcas de grande destaque que possuem almas de marcas bem elaboradas: Quadro 3 – Exemplos de marcas com almas de marca Marca Modificador emocional Modificador descritivo Funções da marca Nike Autêntico Atlético Desempenho Disney Diversão Família Entretenimento Fonte: quadro adaptado de KELLER E MACHADO, 2006, p. 84. Para o desenvolvimento de uma marca emocional, Gobé (2002), apresenta quatro pilares que são a base para as estratégias de construção destas marcas. Relacionamento: estar em constante contato com os possíveis clientes, buscar entendê-los e acompanhar as rápidas mudanças das sociedades, tanto em relação a expansão de mercados e gerações, quanto em atitudes e comportamentos. Experiências sensoriais: proporcionar aos consumidores experiências sensoriais é um diferencial e uma importante maneira de conseguir um espaço na sua memória. Imaginação: desenvolver inovações nos produtos, embalagens, lojas e publicidade para que o consumidor seja surpreendido emocionalmente de uma forma nova. Visão: significa as direções que as marcas definem e renovam constantemente para guiar o seu ciclo de vida e analisar as estratégias escolhidas, para que a conexão emocional com os consumidores seja de longo prazo. A partir do desenvolvimento das marcas emocionais, outros fatores relacionados a estas construções surgem para compor o universo da conexão entre consumidor e marca. De acordo com Martins (1999), a explicação de questionamentos sobre as decisões de compra dos consumidores está na emoção. Um exemplo clássico descrito pelo autor reflete esta afirmação “Por que as pessoas pagam cinco vezes mais por uma camiseta branca da Calvin Klein do que por um produto da mesma qualidade sem marca?” (MARTINS, 1999, p. 24). 33 Para exemplificar a explanação sobre a emoção das marcas é relevante destacar a segunda edição do estudo Marcas Mais Amadas, realizado em abril de 2014. O presidente da Officina Sophia, responsável pela pesquisa, Paulo Secches, destaca que o consumidor precisa perceber que o portfólio da empresa foi feito para ele, desta forma, salienta que “é preciso desenvolver essa relação afetiva com o consumidor, mas claro que tudo deve estar lastreado por produtos e serviços de qualidade, porque amor de marca é algo individualista” (SECCHES apud DONATO, 2014, p. 25). Roberts (2005, p.42) afirma que “os seres humanos são movidos pela emoção, não pela razão”, uma prova disto, segundo o autor, é que caso o centro da emoção no cérebro sofra uma lesão, perde-se a capacidade de tomar decisões. O contexto do estudo realizado pela Officina Sophia apresenta as chamadas Lovemarks (Marca de Amor). Roberts (2005) concorda com Secches (2014) quando ele diz que as Lovemarks são pessoais, e complementa afirmando que estas marcas são carismáticas e têm na sua essência o mistério (grandes histórias, exploração de sonhos, mitos e ícones), a sensualidade (cinco sentidos) e a intimidade (compromisso, empatia e paixão), conexões que fazem com que as pessoas as amem e as protejam para que sobrevivam. Comprova-se que a orientação para o consumidor e seus desejos é uma questão essencial para as marcas no século XXI. As marcas emocionais têm por objetivo conectar a satisfação material com a realização emocional do consumidor, para possivelmente resultar em uma motivação de compra e uma relação de amor. 2.4 QUEM É O CONSUMIDOR DA MARCA? O consumidor está no centro das atenções. Na economia atual este é o foco, em conjunto com a criação de marcas e diferente da orientação anterior, voltada para a fabricação de produtos e produção. Samara e Morsch (2005) comparam o consumidor com um iceberg, uma metáfora que busca esclarecer algumas questões específicas sobre o comportamento humano diante de decisões. A partir disto, os autores afirmam que a ponta do iceberg pode ser traduzida, por exemplo, pelo o que é possível visualizar no consumidor quando observado no mercado. Nesta análise, as suas reais intenções, motivações e atitudes permanecem ocultas, pois cada consumidor possui crenças, valores, necessidades e desejos 34 diferentes que os estimulam e que são influenciados por fatores culturais, demográficos, psicológicos ou situacionais. Figura 5 - Iceberg humano: o consumidor é como um iceberg Fonte: SAMARA E MORSH, 2005, p. 5. Esta metáfora vai ao encontro dos estudos deste capítulo, ou seja, as marcas e seus profissionais de marketing precisam estar preocupados em se aprofundar nas pesquisas do comportamento do consumidor para evitar que seus estudos sejam superficiais e não traduzam as possíveis influências que impulsionam as decisões e escolhas por determinadas marcas. O consumidor pode ser a explicação para o sucesso ou fracasso de produtos e marcas. Kotler (2000) compartilha desta explanação e afirma que os consumidores não têm consciência de suas reais motivações, são camaleões, ou seja, mudam de ideia e podem expressar uma vontade e fazer outra. Segundo o autor, é tarefa do profissional de marketing entender o consciente do consumidor a partir dos estímulos externos que está exposto até a decisão de compra. Kotler (2000) é um dos autores que segmenta os principais fatores que influenciam o comportamento de compra. Desta forma, afirma que os consumidores são influenciados por fatores culturais, sociais, pessoais e psicológicos. Solomon (2002) apresenta os consumidores como indivíduos, com enfoque para as questões psicológicas e pessoais do seu comportamento; os consumidores como tomadores de decisão, englobando questões relacionadas às influencias sociais e; os consumidores e sua relação com os fatores culturais. Nesta mesma linha de pensamento, Engel, 35 Blackwell e Miniard (2000) também destacam variáveis que moldam a tomada de decisão do consumidor, sendo elas: diferenças individuais, influências ambientais e processos psicológicos, conforme Quadro 4: Quadro 4 – Fatores que influenciam a tomada de decisão Diferenças Individuais Influências Ambientais Processos Psicológicos - Recursos do consumidor - Cultura - Informação em processamento - Conhecimento - Classe social - Aprendizagem - Atitudes - Influência pessoal - - Motivação - Família comportamento - Personalidade, Valores e - Situação Mudança de atitude e Estilo de Vida Fonte: extraído de ENGEL, BLACKWELL E MINIARD, 2000. É a partir destes fatores que busca-se compreender o porquê de determinadas escolhas do consumidor. Realizam-se pesquisas de marketing para mensurar e analisar cada variável específica, a fim de obter respostas que possam orientar e desenvolver as marcas em seus esforços de marketing destinados ao consumidor. Com este objetivo é que desenvolveu-se o campo de pesquisa do consumidor, a fim de, segundo Schiffman e Kanuk (2000), estudar o comportamento de compra que está cada vez mais segmentado e com necessidades diferentes. Engel, Blackwell e Miniard (2000, p. 335) apresentam uma questão interessante que intitula-se “bilhões em anúncios esquecíveis”. Esta afirmação referese à publicidade esquecida pelos consumidores, ou seja, os anúncios e marcas a que são expostos diariamente e, de uma maneira geral, dificilmente são lembrados no dia seguinte. De acordo com Mowen e Minor (2003), a memória desempenha um importante papel no processamento de informação pelo consumidor, influenciando cada um dos estágios da percepção: exposição, atenção e compreensão. A partir de uma informação armazenada, o consumidor pode escolher, de maneira seletiva, se quer se expor e receber estímulos de determinada marca, via publicidade, por exemplo. A memória atua também no processo de atenção no momento em que orienta o sistema sensorial a se concentrar em um estímulo específico, determinado por ela. Já a compreensão é influenciada pelos significados que os estímulos encontrados evocam na memória. 36 Ainda segundo os autores, os consumidores possuem diferentes redes semânticas de memória, ou seja, lembranças que se conectam e indicam as associações existentes para uma marca, produto ou determinada palavra, criando “nós” de memória. Os cinco tipos de informações de consumo que podem ser armazenadas na rede de memória são: nome da marca, a publicidade sobre as características da marca, anúncios sobre a marca, tipo de produto e reações que avaliam a marca e a publicidade. A memória é uma importante aliada das marcas e compreender as motivações de compra, que despertam a memória do consumidor, é o primeiro passo no processo de reconhecimento das necessidades humanas que resultam na decisão de compra. Segundo Engel, Blackwell e Miniard (2000), uma necessidade é ativada quando há uma lacuna entre o estado desejado ou preferido e o estado real. Desta forma, a partir do aumento desta lacuna, ativa-se uma condição chamada impulso, que visa satisfazer o desejo e que consequentemente gera um comportamento. O estudo do comportamento do consumidor e os esforços de marketing precisam evoluir junto com os consumidores, que atualmente estão mais atentos e bem informados sobre os produtos e marcas que consomem, através de suas experiências e a troca delas. Além disso, o consumidor não é mais passivo, pois pode interagir constantemente com as marcas através das plataformas digitais e também não se fecha tão facilmente apenas para uma marca, as opções estão escancaradas para quem quiser consultar (SAMARA E MORSH, 2005; IBOPE MÍDIA, 2008). Segundo pesquisa realizada em 2008 pelo Ibope Mídia, o consumidor do século XXI é o protagonista do consumo, visto que atua no co-desenvolvimento de produtos, conhece seus direitos e exige a satisfação. Conforme destacado, o marketing também precisa se adequar a estes novos perfis e conforme Doty (2014), o momento das marcas repensarem o jeito de fazer marketing é agora, pois anúncios isolados não são mais convincentes. Talvez esta procura esteja na interação. Para Samara e Morsh (2005), o novo consumidor possui múltiplas facetas, ou seja, ele está aberto para um mercado global de consumo, é consciente de seus direitos e utiliza a internet diariamente, conforme constatou a pesquisa Ibope Mídia realizada em 2008. Ainda segundo os autores, este consumidor se preocupa em satisfazer o seu desejo, não estando fortemente bloqueado por barreiras de fatores culturais, sociais, idade e renda, além de estarem atentos a segmentação e personalização de produtos e serviços. 37 Figura 6 - As múltiplas facetas do novo consumidor Fonte: SAMARA E MORSH, 2005, p. 247. É assim que se desenha o perfil deste novo consumidor que está em constante evolução. Pode-se concluir que não há características fixas e permanentes que definam o consumidor da marca e suas decisões, mas sim, possíveis fatores que os influenciam e que podem guiar as marcas no aprofundamento de estudos para a identificação de seus desejos. As marcas precisam estar atentas para as mudanças de comportamento e expectativas para que suas estratégias de brand equity, imagem, personalidade e emoção estejam entre as opções do consumidor. 38 3 PESQUISA DE MARKETING Após explanação sobre como as marcas podem se diferenciar na construção de marcas fortes através de esforços que transmitam a sua essência e que estejam alinhados com o consumidor, suas expectativas e satisfação, este capítulo tem por objetivo analisar como as pesquisas de marketing estão presente na identificação das necessidades do consumidor e como contribuem para que as marcas direcionem seus esforços de marketing, saibam o que o consumidor pensa sobre ela e se está no caminho para o seu sucesso. Serão apresentadas as necessidades das marcas que resultaram no desenvolvimento e no constante aprimoramento das pesquisas, os tipos existentes e suas aplicações, bem como a participação dos consumidores para o levantamento dos dados. Posterior a estes detalhamentos, serão discutidos os problemas enfrentados pelas pesquisas de marketing na compreensão deste consumidor. 3.1 O DESENVOLVIMENTO DAS PESQUISAS DE MARKETING A pesquisa de marketing origina-se da sua necessidade de orientar os profissionais para a correta tomada de decisões. Dentro deste contexto, o marketing tem um importante papel na construção de marcas fortes e de uma base de clientes fiéis, ativos e que consequentemente contribuem para o valor da marca. A partir do trabalho do marketing, novos produtos são lançados no mercado com o objetivo de facilitar e melhorar a vida das pessoas (KOTLER E KELLER, 2012). O marketing é desafiado pelo século XXI, que apresenta uma concorrência acirrada, consumidores conectados, atentos ao mercado e à atuação das marcas. Segundo Aaker, Kumar e Day (2004), o conceito de marketing objetiva a satisfação do cliente, ou seja, a organização voltada para o consumidor visa entender suas necessidades para que esta satisfação seja alcançada de forma rápida e eficaz, sendo benéfica para ambas as partes, consumidor e empresa. As aliadas para estas buscas são as pesquisas de marketing. A relação entre marketing e pesquisa é de longa data. De acordo com Mattar (1998), a pesquisa de marketing evoluiu à medida que o conceito de marketing também evoluiu, com foco no consumidor. A primeira pesquisa ocorreu em 1840, em Londres, quando dois pesquisadores visitaram bairros de trabalhadores de Londres 39 com o objetivo de reunir dados sobre as condições de vida destas pessoas. Segundo o autor, é entre 1910 e 1920 que a pesquisa de marketing foi reconhecida formalmente, surgindo assim a primeira empresa de pesquisa nos Estados Unidos. Em uma definição atual e que se aplica aos desafios do marketing, McDaniel e Gates (2003) comprovam a importância e utilidade da pesquisa de marketing para organizações que visam direcionar seu mix de marketing e, consequentemente, efetuar as mudanças necessárias. Pesquisa de marketing “é o planejamento, a coleta e a análise de dados relevantes para a tomada de decisões de marketing e para a comunicação dos resultados dessa análise à administração” (MCDANIEL E GATES, 2003, p. 9). Samara e Barros (2007) complementam as definições afirmando que “a pesquisa de marketing consiste em projetos formais que visam a obtenção de dados de forma empírica, sistemática e objetiva para a solução de problemas ou oportunidades específicas relacionadas ao marketing de produtos e serviços” (SAMARA E BARROS, 2007, p. 17). Ainda segundo os autores, a pesquisa é importante para diagnosticar, no processo de decisão de compra, como o consumidor se comporta nas diferentes fases do processo, bem como, para o conhecimento e avaliação de componentes da atitude, que permitem a percepção e a avaliação do ambiente pelo consumidor e consequentemente as suas respostas em relação a ele. Mattar (2005) situa a pesquisa de marketing dentro do sistema de informação de marketing (SIM)4 da empresa, afirmando que o seu objetivo é coletar dados importantes para transformá-los em informações que visam orientar os executivos de marketing na solução de problemas específicos, com informações que não estão disponíveis nos registros do SIM. Malhotra (2001) apresenta visualmente, conforme Figura 7, qual o papel da pesquisa de marketing e exemplifica de que forma ela proporciona informações relevantes a respeito das variáveis de marketing, do meio ambiente e dos consumidores. Desta forma, pode-se verificar que os profissionais de marketing isolados não conseguem identificar e relacionar essas variáveis, pois há falta de informação, sendo assim, podem tomar uma decisão incorreta. 4 O sistema de informação de marketing monitora os resultados da empresa, o ambiente externo, analisa, interpreta, busca, seleciona e dissemina informações externas e internas relevantes para a tomada de decisões em marketing da empresa (MATTAR, 2005). 40 Figura 7 – O papel da pesquisa de marketing Fonte: MALHOTRA, 2001, p. 44. Aaker, Kumar e Day (2004) complementam o papel da pesquisa de marketing proposto por Malhotra (2001). Os autores afirmam que a pesquisa tem um importante papel em cada uma das quatro etapas do planejamento de marketing: análise da situação, desenvolvimento da estratégia, desenvolvimento do programa de marketing e implementação. A pesquisa, além de esclarecer e resolver questões, fornece alternativas, por exemplo, na etapa desenvolvimento do programa de marketing, sendo utilizada para decisões sobre o produto e canal e comunicação. A importância da pesquisa de marketing está confirmada pelos autores, mas segundo eles, também é preciso verificar se é o melhor caminho para a empresa, visto que a pesquisa não é a solução para todos os problemas gerenciais. É preciso analisar determinados fatores para decidir se a pesquisa é necessária ou não para a situação. Os fatores são: relevância, tipo e natureza da informação buscada, momento, disponibilidade de recursos e análise custo-benefício (AAKER, KUMAR E DAY, 2004). Após ser definido que a pesquisa será realizada, Malhotra (2001) apresenta seis etapas que são executadas no processo de pesquisa de marketing. As etapas são: 41 1) Definição do Problema: esta etapa consiste em definir o problema, ou seja, qual é o motivo para a execução da pesquisa. Para esta definição, o pesquisador precisa entender quais são as informações necessárias e como serão utilizadas pela empresa, isto através de discussões com os responsáveis pelas decisões e análise de dados secundários, por exemplo. 2) Elaboração de uma Abordagem do Problema: esta etapa tem por objetivo a formulação de uma estrutura objetiva ou teórica, modelos analíticos, perguntas de pesquisa, hipóteses e a identificação de características ou fatores que serão capazes de influenciar a concepção da pesquisa. Se munir de informações para que a pesquisa alcance o sucesso. 3) Concepção da Pesquisa: esta etapa detalha os procedimentos que serão necessários para o levantamento das informações, defini os métodos que serão utilizados para a obtenção dos dados, é preparado o questionário e um plano de amostragem para a seleção dos entrevistados. Os passos que estão presentes nesta etapa são: análise de dados secundários, pesquisa qualitativa, métodos de coleta de dados quantitativos, procedimentos de medição e escalonamento, criação do questionário, processo de amostragem e tamanho da amostra e plano de análise dos dados. 4) Trabalho de Campo ou Coleta de Dados: esta etapa defini a equipe que estará no campo realizando as entrevistas pessoais ou por internet. Uma boa seleção, treinamento e supervisão desta equipe minimizam os erros da coleta. 5) Preparação e Análise dos Dados: a edição, codificação, transcrição e verificação dos dados são realizadas nesta etapa. Cada questionário ou formulário é inspecionado para que os dados sejam transcritos e repassados para o computador com precisão. 6) Preparação e Apresentação do Relatório: esta é a fase final do processo de pesquisa de marketing. O projeto é documentado em um relatório que expõe as perguntas realizadas, descreve a abordagem, a concepção da pesquisa, a coleta de dados, os procedimentos para a análise destes dados, os resultados alcançados e as principais constatações. Neste trabalho a nomenclatura tipos de pesquisa será destinada aos tipos de pesquisas de marketing que podem ser realizados para as marcas e não se refere em como estas informações serão obtidas, por exemplo, através de pesquisa exploratória, pesquisa descritiva ou pesquisa causal. 42 Constata-se, a partir das informações descritas, que as pesquisas de marketing proporcionam para as marcas diferentes possibilidades de análise se aplicadas a partir de processos corretos e profundas verificações de utilidade para as futuras decisões. As pesquisas possuem diversos enfoques que são definidos conforme as necessidades da marca. Estes enfoques e suas aplicações serão apresentados no subcapítulo seguinte. 3.2 TIPOS DE PESQUISAS E APLICAÇÕES Os tipos de pesquisa de marketing são segmentados de diferentes formas pelos autores e cada pesquisa é utilizada para encontrar respostas que satisfaçam uma necessidade específica da marca, que procura o auxílio das pesquisas para uma análise detalhada de determinada situação. Malhotra (2001) apresenta duas razões para o desenvolvimento das pesquisas de marketing: para identificar e resolver problemas de marketing. Neste contexto, a pesquisa para identificação de problemas é realizada para identificar problemas que não são evidentes ou tão facilmente percebidos, mas que existem ou irão surgir no futuro como, por exemplo, uma pesquisa que diagnostica o potencial de mercado em declínio, indica que a empresa terá problemas para atingir suas metas de crescimento. Ainda segundo o autor, após a identificação do problema, realiza-se a pesquisa para solução de problemas, que constata quais as melhores soluções para problemas específicos de marketing, conforme ilustra a Figura 8. As pesquisas não são dependentes, mas podem fazer parte de um mesmo projeto. 43 Figura 8 – Classificação de pesquisas de marketing Fonte: MALHOTRA, 2001, p. 46. Samara e Barros (2007) utilizam uma classificação diferente para segmentar os tipos de pesquisa: pesquisa de oportunidades de vendas e pesquisas de organização de vendas, conforme observa-se no Quadro 5. De acordo com os autores, as pesquisas de oportunidades de vendas fornecem informações sobre o mercado e novos negócios, bem como para produtos ou serviços atuais ou futuros. Já as pesquisas de organização de vendas objetivam avaliar a eficiência das ações de marketing, ou seja, comunicação, distribuição e estrutura de vendas. 44 Quadro 5 – Tipos de pesquisa Organização de vendas Oportunidade de vendas Tipos de Pesquisa Objetivos Pesquisa de mercado ou segmentação Identificar preferências, hábitos e costumes, imagem de marca, intenções de compra, participação de mercado, perfil socioeconômico do consumidor, mercado potencial, tendências de negócios, Pesquisa de produto Diferenciais competitivos, aceitação e o potencial para novos produtos, teste de produtos, análise de preços, características do produto (qualidade, sabor, embalagem), fidelidade a marca, imagem de marca. Pesquisa de distribuição Melhores canais de distribuição para o acesso dos consumidores, avaliação de venda e pós-venda pelo canal, desempenho e eficiência dos canais, identificação de canais alternativos, preferências por canais. Pesquisa de comunicação Avaliação de campanhas publicitárias e peças promocionais, pesquisas de recall que visam obter níveis de memorização, identificação dos melhores veículos e meios de divulgação, efetividade da publicidade, estratégias de promoção de vendas. Pesquisa de análise de vendas Verificar atuação da equipe de vendas, detectar a melhor divisão geográfica do território de vendas, fatores motivacionais para a equipe de vendas, previsão de vendas, comportamento do consumo. Fonte: quadro adaptado de SAMARA E BARROS, 2007, p. 33. Mattar (2005) apresenta seis classificações para as pesquisas de marketing, que são: comunicação, distribuição, cenários, preço, mercado e produtos e seus componentes. A partir desta classificação, o autor expõe quais abordagens podem ser realizadas pelas marcas para auxiliar no desenvolvimento do planejamento de marketing. Por exemplo, o bloco de comunicação agrupa pesquisas relacionadas à imagem, eficácia da publicidade, já o bloco preço, agrupa pesquisas que visam verificar a sensibilidade dos consumidores ao preço e, o bloco produtos e seus componentes é destinado as pesquisas sobre marca, embalagem, conceito do produto e demais características. O Quadro 6 apresenta os diferentes tipos de pesquisas considerados pelos três autores mencionados neste subcapítulo, Malhotra (2001), Samara e Barros (2007) e Mattar (2005). 45 Quadro 6 – Resumo dos tipos de pesquisa Tipos de Pesquisa Estratégia de Marketing Malhotra (2001) Mercado Samara e Barros (2007) Pesquisa de mercado ou segmentação Pesquisa de participação de mercado Mattar (2005) Pesquisa de potencial de mercado, oferta e demanda Pesquisa de segmentação Pesquisa de características do mercado Pesquisa de comportamento de compra Pesquisa de previsão Pesquisa para a construção de cenários Pesquisa de potencial de mercado Pesquisa de tendências de negócios Pesquisa de segmentação Pesquisa de produto Pesquisa de produto Pesquisa de marca Pesquisa de conceito Pesquisa de preços Produto Pesquisa de produto Pesquisa de qualidade percebida Pesquisa de sensibilidade a preços Pesquisa de embalagem Pesquisa promocional Pesquisa em propaganda Pesquisa de imagem Comunicação Pesquisa de imagem Pesquisa de posicionamento e reposicionamento Pesquisa de promoção de vendas Pesquisa da motivação Pesquisa da eficácia da propaganda Pesquisa de força de vendas Vendas Pesquisa de distribuição Pesquisa de análise de vendas Pesquisa de distribuição Pesquisa de distribuição Fonte: quadro elaborado pela aluna. Os autores mencionados no Quadro 6 apresentam diferentes detalhamentos para os tipos de pesquisa. Enquanto Mattar (2005) subdivide os tipos de pesquisa em grupos menores, Samara e Barros (2007) e Malhotra (2001) utilizam classificações mais enxutas e abrangentes. Observa-se, devido ao enfoque deste estudo monográfico em marcas, no Quadro 5, que Samara e Barros (2007) enquadram pesquisa de imagem de marca e fidelidade à marca em pesquisas de mercado e produto, bem como Malhotra (2001), que inclui o posicionamento e reposicionamento da marca na macro divisão pesquisa de produto. Mattar (2005) também classifica pesquisa de marca em produto, ao contrário da pesquisa de imagem que está em comunicação. Desta forma, cada tipo de pesquisa descrito possui um objetivo específico, definido através das necessidades da empresa. Os tipos de pesquisa foram inseridos em classificações macros para análise e agrupamento de conceitos: mercado, produto, comunicação ou vendas, pois seus resultados serão utilizados para decisões diretamente relacionadas com estes fins e, consequentemente, importantes para as quatro etapas já mencionadas do planejamento estratégico: análise da situação, desenvolvimento da estratégia, desenvolvimento do programa de marketing e implementação. Verifica-se que há diferentes abordagens e nomenclaturas para os tipos de pesquisas de marketing. Para definir qual a melhor pesquisa a ser aplicada as marcas 46 necessitam executar o processo de pesquisa de marketing descrito no subcapítulo 3.1 para que seja possível, na primeira etapa, a definição do problema e consequentemente o objetivo da pesquisa. No subcapítulo 3.2.1 serão expostos quais os métodos de coleta de dados disponíveis para a realização das pesquisas de marketing. 3.2.1 Métodos de coletas de dados A coleta de dados é uma etapa que exige seleção, treinamento e a supervisão das pessoas que a executa, independente se for realizada no campo ou a partir de uma base, telefone, e-mail, por exemplo. Segundo Mattar (2005), os dados em pesquisas de marketing são classificados em dois grandes grupos: dados primários e secundários. Os dados primários, conforme o autor, são aqueles que não foram antes coletados e que ainda estão em posse das pessoas que serão pesquisadas. Estes dados buscam satisfazer as necessidades específicas do problema de pesquisa e não são encontrados em outras fontes pois serão desenvolvidos para este fim. Diferente dos dados secundários, que já foram coletados e, em alguns casos, até analisados, estando disponíveis para acesso. As principais fontes de dados secundários são: a própria empresa, publicações, governos, instituições não governamentais e serviços padronizados de informações de marketing. Dificilmente os dados secundários serão suficientes para os objetivos da pesquisa, mas serão importantes para contribuir com parâmetros e novas informações para a coleta de dados primários. Malhotra (2001) complementa as explanações de Mattar (2005) sobre os dados primários e secundários, afirmando que os dados primários podem ser qualitativos ou quantitativos, conforme ilustra a Figura 9. 47 Figura 9 – Classificação de dados de pesquisa de marketing Fonte: MALHOTRA, 2001, p. 155. De acordo com McDaniel e Gates (2003), a pesquisa qualitativa proporciona um estudo profundo do contexto do problema. A partir de amostras pequenas tem o objetivo de analisar atitudes, sentimentos e motivações dos consumidores, sem quantificar. Já a pesquisa quantitativa utiliza análises matemáticas, com coleta de dados estruturada que revela estatísticas com base em uma amostra grande mas com perguntas de profundidade limitada. Os resultados da pesquisa quantitativa são generalizados para a população-alvo. A pesquisa qualitativa apresenta métodos menos estruturados e mais intensivos que as entrevistas padronizadas baseadas em questionário, sendo possível desenvolver um relacionamento maior e mais flexível com o entrevistado. Desta forma, os dados resultantes fornecem um contexto mais detalhado para a pesquisa, que exploram o problema, mas não substituem o estudo de campo em grande escala, que proporciona dados representativos da população (AAKER, KUMAR E DAY, 2004). De acordo com Malhotra (2001), a pesquisa qualitativa pode ter uma abordagem direta onde os entrevistados são informados do objetivo do projeto, como os grupos de foco e entrevistas em profundidade, ou uma abordagem indireta, que disfarça o objetivo do projeto como, por exemplo, as técnicas projetivas. Dentro destas duas divisões macros é que se desenvolvem os métodos de pesquisa qualitativa: 48 Direto: Grupos de foco e entrevistas em profundidade. Indireto: Técnicas projetivas – técnicas de associação, de completamento, de construção e expressivas. Os métodos serão analisados separadamente com base nos autores já apresentados neste subcapítulo. 3.2.1.1 Grupos de foco Segundo Malhotra (2001), um pequeno grupo de respondentes participam de uma entrevista (8 a 12 membros), não estruturada, realizada por um moderador que lidera a discussão e instiga os entrevistados, que foram selecionados a partir de determinadas especificações e que tiveram uma experiência com o problema em discussão. De acordo com McDaniel e Gates (2003), a discussão é em uma sala que pode ou não possuir espelho-espião para o acompanhamento externo. Gravadores de voz e vídeo são utilizados e o moderador possui um guia de discussão com assuntos que devem ser abordados durante a reunião. O moderador tem o papel central neste tipo de abordagem, visto que deve estabelecer relação com o grupo, ser bom ouvinte tanto para ouvir o que está sendo dito quanto para identificar o que não está sendo falado, ter boa capacidade de observação e interpretação da linguagem corporal. É ampla a possibilidade de aplicações dos grupos de foco, pois pode ser utilizado tanto para entender as preferências e comportamento do consumidor em relação a uma categoria de produto, impressões de preço e peças publicitárias, quanto para definir um problema com maior precisão ou gerar hipóteses que possam ser testadas quantitativamente (MALHOTRA, 2001). 3.2.1.2 Entrevistas de profundidade Conforme Aaker, Kumar e Day (2004) entrevistas individuais em profundidade são aquelas realizadas frente a frente com o entrevistado, o que possibilita explorar com detalhes o assunto da pesquisa, a fim de revelar motivações, crenças, atitudes e sentimentos. Malhotra (2001) e Aaker, Kumar e Day (2004) apresentam três técnicas de entrevista de profundidade, nomeadas por Malhotra (2001) de: progressão, onde o questionamento progride de características do produto pesquisado à sua importância 49 para o usuário; problema oculto, em que as perguntas são focadas em valores pessoais mais profundos e não em estilos de vidas gerais e; análise simbólica, técnica que analisa o significa simbólico de objetos em comparação com seus opostos, ou seja, o pesquisador busca saber o que o objeto não é. Segundo Mattar (2005), esta pesquisa é pouco utilizada em marketing, pois envolve custos elevados e pode ser comparada negativamente com os grupos de foco, o que gera aplicações bem específicas. 3.2.1.3 Técnicas projetivas Mattar (2005) afirma que estas técnicas compreendem a criação de uma circunstância que deixe os participantes a vontade para falar sobre suas crenças, sentimentos, personalidade, emoção e também conflitos interiores, sem que percebam que estão expondo. Nestes testes, as respostas não são analisadas por seu conteúdo aparente, mas com base na conceituação psicológica preestabelecida para a interpretação das respostas. De acordo com Aaker, Kumar e Day (2004), determinados questionamentos causam bloqueios nas respostas, assim, as pessoas podem não ter consciência de seus sentimentos e opiniões, ou ocultam certas situações que possam ferir seus princípios e autoimagem, transmitindo, a partir disto, respostas socialmente aceitáveis. Esta técnica possibilita a aplicações de diferentes métodos que estão principalmente relacionados com a análise de estímulos incompletos propostos. As técnicas projetivas propostas por McDaniel e Gates (2003) são: testes de associação de palavras, complementação de sentenças ou histórias, testes de cartum, associação de fotografias, desenhos de clientes em relação a um objeto, contar histórias e técnica de terceira pessoa. Segundo Malhotra (2001), estas técnicas não são tão aplicadas quanto os métodos diretos, mas devem ser usadas quando a informação desejada não puder ser obtida com precisão pelos métodos diretos. A associação de palavras é aplicada principalmente para testar nomes de marcas. Como pode-se observar, a pesquisa qualitativa apresenta métodos que utilizam amostras pequenas e coleta de dados não estruturada, o que possibilita o aprofundamento das perguntas e respostas que podem revelar situações emocionais dos participantes. No subcapítulo 3.3 serão abordadas questões em relação as vantagens e desvantagens enfrentadas nos métodos qualitativos e quantitativos. 50 Conforme já mencionado, o outro grupo de métodos de pesquisa de marketing são desenvolvidos a partir da pesquisa quantitativa, que tem por objetivo quantificar os dados coletados e generalizar para a população-alvo de determinada marca. Os dados quantitativos, segundo Malhotra (2001), são coletados através de métodos de survey, observacionais e experimentais. O autor apresenta o método survey a partir de quatro tipos de entrevistas, realizadas com base em um questionário estruturado e amostra representativa, que busca informações específicas dos entrevistados: entrevistas telefônicas, entrevistas pessoais, entrevistas pelo correio e entrevistas eletrônicas. Os autores McDaniel e Gates (2003) utilizam a nomenclatura pesquisa de levantamento para se referir a este método e o dividem em seis tipos de entrevistas, que são: entrevistas porta-a-porta, entrevista de interceptação em shopping center, entrevistas por meio de centrais telefônicas, questionários auto administrados, questionários pelo correio e questionários pela internet. Cada entrevista possui características específicas e utilizam métodos diferentes para a coleta de dados, que podem ser classificados a partir do questionário que é aplicado, ou seja, a entrevista eletrônica aplica o questionário via e-mail ou internet, por exemplo. 3.2.1.4 Survey De acordo com Malhotra (2001), o método survey disponibiliza dados confiáveis. As respostas são limitadas às possibilidades mencionadas no questionário, ou seja, são alternativas fixas para que o entrevistado faça sua escolha a partir de um conjunto pré-selecionado de respostas. Dois pontos importantes sobre o questionário são detalhados por McDaniel e Gates (2003): tamanho e grau de estrutura do questionário. O tamanho refere-se ao tempo médio que o entrevistado leva para concluir um levantamento, visto que este tipo de pesquisa não pode ser comparada com um grupo de foco, por exemplo, que pode ter duração de até três horas. De acordo com os autores, o telefone, a intercepção em shopping e para praticamente todos os demais métodos de levantamento, os consumidores não têm uma hora livre para uma entrevista. A estrutura do questionário é um fator relevante para determinar qual método será melhor aproveitado, desta forma, um questionário pode ser estruturado, com uma sequência fixa e perguntas de múltipla escolha, diferente de um questionário não estruturado, adequado para entrevistas pessoais porta-a-porta. 51 3.2.1.5 Observacional Os métodos de observação diferenciam-se dos métodos survey principalmente pelo fato do entrevistador não ter contato com o entrevistado. Como o nome sugere, o método de observação, segundo Mattar (2005), “consiste no registro de comportamentos, fatos e ações relacionados com o objetivo da pesquisa, sem que haja comunicação com os pesquisados e não envolvam questionamentos e respostas, verbais ou escritas” (MATTAR, 2005, p. 194). Conforme Aaker, Kumar e Day (2004), os métodos de observação são divididos em dois grandes grupos: observação direta ou simulada. A observação direta subdivide-se em estruturada e não estruturada, desta forma, na observação estruturada o pesquisador define os comportamentos que serão observados e faz o registro detalhado em um formulário, já na observação não estruturada o pesquisador busca por fenômenos relevantes para o problema, sem antes estabelecer critérios. Malhotra (2001) complementa esta explanação afirmando que este tipo de observação é adequada quando o problema ainda precisa ser formulado com precisão, pois a possibilidade de ocorrer inferências subjetivas do observador é muito grande, sendo assim, os resultados desta observação devem ser tratados como hipóteses a serem comprovadas. A observação simulada, segundo Aaker, Kumar e Day (2004), é realizada a partir de um ambiente construído para os entrevistados, que são colocados em uma situação simulada de observação em que os participantes são orientados para as atividades. O contrário disto, seria a observação natural, descrita por McDaniel e Gates (2003) como uma situação em que o observador não exerce nenhum papel no comportamento que está sendo monitorado e as pessoas não sabem que estão sendo observadas. McDaniel e Gates (2003) apresentam outras abordagens de pesquisa de observação, que completam as duas propostas por Aaker, Kumar e Day (2004). As abordagens de observação, segundo McDaniel e Gates (2003), variam em cinco dimensões: 1) Observação natural x observação simulada. 2) Observação disfarçada x não disfarçada. 3) Observação estruturada x não estruturada. 4) Observação pessoal x observação mecânica. 5) Observação direta x observação indireta. 52 Para Malhotra (2001), cada método de observação pode ser: estruturados ou não estruturados, diretos ou indiretos e natural ou planejado. Os métodos de observação são classificados conforme a sua aplicação: observação pessoal, mecânica, auditagem, análise de conteúdo e análise de traços. Neste contexto, o método de observação pessoal tem um grau de estrutura baixo, se comparado com a análise de conteúdo de uma mensagem publicitária, por exemplo. Destaca-se neste subcapítulo do trabalho a observação mecânica, que utiliza dispositivos mecânicos para registrar o que está sendo observado. Esta aplicação se diferencia das demais pois, além da pesquisa de observação já não ter contato através de perguntas com o pesquisado, neste caso, a observação não é feita por um pesquisador, mas sim por máquinas. Como parte da observação mecânica, McDaniel e Gates (2003) apresentam as mensurações fisiológicas, que consistem, por exemplo, em medir o nível de ativação do cérebro de uma pessoa através de um produto ou anúncio. Segundo os autores, quando ocorre a ativação, há um aumento no processamento da informação. As técnicas de mensurações fisiológicas estão descritas no Quadro 7, de acordo com McDaniel e Gates (2003). Quadro 7 – Técnicas de mensuração fisiológica Mensuração Fisiológica Técnica Aplicação Equipamento Eletroencefalograma (EEG) Avaliar a atenção do consumidor a um anúncio, a intensidade de suas reações emocionais e sua compreensão do anúncio. Resposta galvânica da pele (GSR) Eletrodos enviam uma pequena corrente elétrica de intensidade Medir respostas de estímulos a constante à pele através do lado palmar anúncios, comerciais e é utilizado com dos dedos. A mudança de voltagem frequência em pesquisa de embalagem. entre os eletrodos indicam o nível de estímulo. Pupilômetro O aumento do tamanho da pupila reflete atitudes positivas, interesse e ativação em relação a um anúncio ou outro estímulo que está exposto em uma tela. Análise do tom de voz Examina as mudanças na frequência de vibração da voz para medir a emoção. Quanto maior o desvio do tom normal, Mede as alterações do tom da voz. maior é a intensidade emocional da reação da pessoa a um estímulo. Fonte: extraído de MCDANIEL E GATES, 2003, p. 173 e 174. Mede as flutuações rítmicas no potencial elétrico do cérebro. Mede as alterações na dilatação da pupila enquanto a claridade e a distância da tela são mantidas constantes. 53 3.2.1.6 Experimental O último método quantitativo apresentado é o experimental. Segundo Samara e Barros (2007), os estudos experimentais visam estabelecer uma relação de causa e efeito entre variáveis. Mattar (2005, p.108) afirma que “um experimento consiste em uma ou mais variáveis independentes serem conscientemente manipuladas e (ou) controladas pelo pesquisador, e seus efeitos sobre a variável ou variáveis dependentes serem medidos”. Neste contexto, McDaniel e Gates (2003) relatam o importante papel do pesquisador, que é um participante ativo no processo. De acordo com Aaker, Kumar e Day (2004), este processo ocorre a partir de mudanças nas variáveis X e Y, por exemplo, “se uma mudança em X causa uma mudança em Y de acordo com uma hipótese, então podemos dizer que X causa Y” (AAKER, KUMAR E DAY, 2004, p. 326). A variedade de métodos de pesquisa de marketing comprovam que as marcas precisam analisar com cuidado qual a melhor maneira para desenvolver a pesquisa e entender como estes métodos e técnicas podem contribuir para a análise do problema que desencadeou o estudo. Cada método, tanto qualitativo quanto quantitativo, possui vantagens e desvantagens que são percebidas a partir do objetivo da pesquisa e qual é a sua aplicação. Estas abordagens serão explanadas no subcapítulo 3.3. 3.3 VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS PESQUISAS DE MARKETING De acordo com Schiffman e Kanuk (2000), o marketing tem como objetivo, primeiro identificar as necessidades do consumidor para depois desenvolver produtos e serviços para satisfazer estas necessidades. Esta é a premissa que é aplicada no planejamento de marketing para decisões sobre produto, preço, praça e promoção a partir dos diversos métodos de pesquisa. Dentro deste contexto, de acordo com Kotler (2000), é preciso entender o comportamento do consumidor e, para isto, apresenta considerações que compartilham os desafios deste estudo. O autor afirma que os consumidores podem responder uma coisa e fazer outra, como também podem não ter consciência de suas motivações mais profundas e, além disso, receber influências que o façam mudar de ideia de um minuto para o outro. Conforme já explorado neste capítulo, a principal divisão das pesquisas ocorre em pesquisa qualitativa e quantitativa. A respeito desta divisão, Malhotra (2001) e 54 McDaniel e Gates (2003) compartilham a mesma informação, as pesquisas, em muitos casos, podem ser combinadas, ou seja, a qualitativa aplicada depois da quantitativa ou na ordem inversa. Desta forma, os dados obtidos por ambas se enriquecem com o acréscimo de informações, a qualitativa, por exemplo, oferece maior compreensão sobre as motivações, sentidos e intenções dos consumidores, melhorando a eficiência da posterior pesquisa quantitativa, ou também, segundo Malhotra (2001), a pesquisa qualitativa pode ser utilizada para explicar os resultados obtidos pela quantitativa. Outros fatores como tempo e recursos disponíveis precisam ser analisados, conforme descreve Aaker, Kumar e Day (2004), há casos em que deve-se revisar a amostragem ou substituir a coleta em campo por laboratório. Completando a informação de Aaker, Kumar e Day (2004), McDaniel e Gates (2003) expõem que, de forma geral, a pesquisa qualitativa requer um investimento muito menor do que a quantitativa. As vantagens das pesquisas qualitativas são exploradas pelos autores através da sua capacidade de compreender, com maior detalhes, as motivações e sentimentos dos consumidores a partir das suas reações e opiniões sobre o que está sendo discutido sobre determinada marca. Segundo Malhotra (2001), a utilização de métodos puramente estruturados dificulta a coleta de informações sobre questões mais íntimas ou que reflitam algum comportamento social que cause desconforto, desta forma, as respostas verdadeiras não são expostas pelos participantes que, inconscientemente, ativam seus mecanismos de defesa, disfarçando valores, emoções e motivações. Os métodos qualitativos, com o auxílio dos pesquisadores e de suas técnicas de discussão, visam obter informações mais sinceras que podem ser reveladas com perguntas direcionadas e de diferentes enfoques, conforme descreve o autor: Por exemplo, uma pessoa pode ter comprado um carro esporte muito caro para superar sentimentos de inferioridade. Entretanto, se lhe perguntarem “por que comprou este carro esporte”, ela poderá responder “ganhei muito”, “meu carro velho estava caindo aos pedaços”, ou “preciso impressionar meus fregueses e clientes” (MALHOTRA, 2001, p. 155). Por outro lado, a pesquisa qualitativa tem suas limitações. De acordo com Aaker, Kumar e Day (2004), muitas vezes as marcas tendem a utilizar os resultados destas pesquisas, que trabalham com pequenas amostras, como suficientes para seus objetivos, sendo que, estes dados não podem ser projetados para uma amostra maior. Dentro deste contexto, McDaniel e Gates (2003) afirmam que a população pesquisada, não representa necessariamente a população que interessa à marca e, 55 além disso, para que a pesquisa resulte em uma análise produtiva, o pesquisador precisa ser hábil durante a discussão, mantendo o assunto de interesse em foco. Aaker, Kumar e Day (2004) ressaltam que com a flexibilidade características destes métodos subjetivos, o pesquisador pode interpretar os comentários e opiniões a partir das suas próprias ideias, por isto, corrobora com as afirmações de Malhotra (2001) e McDaniel e Gates (2003), a pesquisa qualitativa deve ser usada para obterse perspectivas e hipóteses dos consumidores para pesquisas posteriores. A pesquisa quantitativa é um dos tipos mais utilizados em marketing. De acordo com Mattar (2005), estas pesquisas possuem objetivos bem definidos e estruturados, desta forma, o pesquisador precisa saber exatamente o que pretende com a pesquisa, quem e (ou) o que deseja medir, quando e onde o fará, como o fará e por que deverá fazê-lo. McDaniel e Gates (2003) expõem as principais vantagens das pesquisas quantitativas, que são: amostras representativas, ou seja, alta capacidade de replicação das respostas, a análise é realizada por estatística, não havendo a interpretação de um pesquisador e o uso de perguntas de resposta fixa reduz a variabilidade nos resultados. Por outro lado, as perguntas têm profundidade limitada, o que resulta em respostas fechadas e restritas as alternativas mencionadas. Determinados métodos da pesquisa quantitativa possibilitam uma maior flexibilidade na coleta de dados, como as entrevistas pessoais a domicílios ou em shoppings, em que o entrevistador interage com o participante e, neste caso, como na pesquisa qualitativa, também pode ocorrer tendenciosidade do entrevistador, com o registro de respostas incorretas ou incompletas (MALHOTRA, 2001). Dentro do contexto de desenvolvimento das pesquisas de marketing, pode-se destacar, segundo Mattar (2005), erros que ocorrem em diferentes etapas da pesquisa, os quais, cabe ao pesquisador minimizar sua ocorrência. Além dos erros como definição errada do problema e da população-alvo, que são classificados como não amostrais, pois não estão relacionados ao tamanho da amostra, ocorrem erros relacionados a não resposta dos selecionados, por ignorância, esquecimento ou por não conseguirem articulá-la, instrumentos de coleta de dados, que refere-se às perguntas elaboradas de forma inconsistente e opções de respostas que possam não estar completas, erros de escalas, entrevistadores com nível inadequado para a pesquisa, sem orientação, desonestos, que possam influenciar as respostas dos entrevistados ou até mesmo responder por eles. Em relação aos entrevistados, os 56 erros ocorrem por diferentes motivos como, por exemplo, a não reposta, conforme já exposto, responder de forma incorreta, insincera ou incompleta, estar preocupado com outros assuntos, o assunto abordado é considerado confidencial ou os expõem socialmente, não ter memória do que lhe é perguntado e falta de empatia com o entrevistador, favorecem as omissões. Outros erros mencionados pelo autor referemse às inferências causais impróprias, processamento de dados, análises e interpretação dos dados. A partir das explanações através dos autores mencionados neste subcapítulo, Malhotra (2001), McDaniel e Gates (2003), Aaker, Kumar e Day (2004) e Mattar (2005), destaca-se no Quadro 8, as principais vantagens e desvantagens das técnicas de pesquisa de marketing apresentadas neste estudo. 57 Quadro 8 – Vantagens e desvantagens dos métodos de pesquisa Pesquisa Qualitativa Métodos Grupos de Foco Vantagens Interação entre os convidados estimula novos pensamentos e ideias. Não há perguntas específicas, as respostas podem ser espontâneas e não convencionais. Sessões são gravadas para a análise. Flexibilidade e profundidade nos tópicos abrangidos. Realização rápida. Entrevistado pode revelar suas mais sinceras sensações e não aquelas mais aceitáveis. Entrevistas de Profundidade Maior flexibilidade para a exploração de comentários. Discussão de tópicos confidenciais, delicados ou embaraçosos. Técnicas Projetivas Desvantagens Resultados suscetíveis às inclinações do cliente e do pesquisador. Moderador sem habilidades desejáveis. Respostas não estruturadas dificultam a análise e interpretação. Resultados não representativos da população geral e não projetáveis. Entrevistadores habilidosos são caros e raros no mercado. Resultados suscetíveis à influência do entrevistador. Difícil análise dos dados, em muitos casos é necessário a intervenção de psicólogos. Tempo da entrevista e custo. Investigar além da superfície das respostas motivações, crenças e atitudes. Entrevistadores treinados. Aumentar a validade das respostas disfarçando o Resultados suscetíveis à influência do entrevistador. objetivo do estudo. Entrevistados interpretam o comportamento de outros Intérpretes qualificados para analisar as respostas. e indiretamente projetam para a situação suas próprias motivações. Revelação de informação subconsciente. Pesquisa Quantitativa Métodos Vantagens Desvantagens Survey (levantamento) Dados confiáveis. Pouca variabilidade nos resultados. Maioria das aplicações ocorrem com perguntas e respostas estruturadas. Dados consolidados de forma eletrônica. Pouca flexibilidade na coleta de dados. Dificuldade dos participantes darem respostas precisas quando o questionamento envolve fatores motivacionais. Dificuldade em formular adequadamente as perguntas. Observacionais Observadores veem o que de fato as pessoas fazem, em vez de depender do que elas dizem. Não há tendenciosidade de relato e a tendenciosidade causada pelo entrevistador/entrevista é eliminada ou reduzida. Pode ser realizada em um ambiente natural ou planejado. Somente características física e pessoal podem ser examinados. Pesquisador não tem conhecimento sobre motivos, atitudes, intenções ou sentimentos. Somente o comporamento público é observado. Experimentais Análise de relações causais. Identificação de variáveis de causa e efeito. Verifica se uma variável encontrada gera ou determina o valor de outra. Longa duração. Alto custo dos experimentos. Inevitável a exposição do experimento ao mercado e consequentemente aos concorrentes. Fonte: extraído de AAKER, KUMAR E DAY, 2004; MALHOTRA 2001; MCDANIEL E GATES 2003. 58 4 NEUROMARKETING Em busca de estratégias que possibilitem diferentes abordagens para as marcas na compreensão do comportamento do consumidor, profissionais de marketing, pesquisadores e laboratórios, estão desenvolvendo e aperfeiçoando técnicas que utilizam a neurociência para aprofundar os estudos do cérebro consumista. Conforme explanado no capítulo três, o principal objetivo das pesquisas de marketing é contribuir para decisões no planejamento de marketing e é a partir da necessidade de, cada vez mais, revelar informações dos consumidores que novas técnicas de pesquisa de marketing são desenvolvidas, como o neuromarketing, que será apresentado neste capítulo. O neuromarketing será discutido como uma alternativa de pesquisa para as marcas no século XXI. Dentro deste contexto, o seu conceito será detalhado, quais são as técnicas aplicadas, os objetivos destas técnicas no estudo do consumidor, as diferenças verificadas perante as pesquisas tradicionais de marketing e como as marcas podem utilizá-lo para os novos desafios do consumidor. 4.1 O QUE É NEUROMARKETING? Oswaldo Paleo5 (2013) no curso Neurociência aplicada ao processo decisório, ministrado na Escola Superior de Propaganda e Marketing, citou o escritor e inventor Arthur C. Clarke, com a frase: “Se nosso cérebro fosse simples o bastante para ser compreendido, não seríamos inteligentes o bastante para compreendê-lo” (CLARKE apud PALEO, 2013). A partir desta citação apresenta-se o neuromarketing, pesquisa que mapeia as zonas do cérebro mais estimuladas diante de experiências de consumo. Fisher et al. (2010) afirma que antes da palavra neuromarketing adquirir o prefixo neuro, a relação do marketing com a ciência já era estudada. Camargo (2013) complementa esta afirmação quando destaca que o médico Gerald Zaltman, no final dos anos noventa, na Universidade de Harvard, utilizou a ressonância magnética para identificar 5 Doutorando em Engenharia de Produção, Mestre em Administração e Mestre em Marketing, Pósgraduado em Custos e Orçamento e em Engenharia Econômica. Ministra o curso de férias Neurociência aplicada ao processo decisório na Escola Superior de Propaganda e Marketing. 59 os produtos e as marcas preferidas dos indivíduos, registrando a patente: neuroimagem como ferramenta de marketing. Este foi um dos primeiros estudos acadêmicos de neuromarketing. Outro método patenteado por Zaltman, neste período, foi chamado de ZMET (Zaltman Metaphor Elicitation Method – Método de Elicitação Metafórica de Zaltman) que não utiliza a tecnologia por imagem, mas sim metáforas, que procuram compreender as escolhas do consumidor através de representações dos seus pensamentos e sentimentos inconscientes. Zaltman acreditava que as escolhas do consumidor por produtos e marcas ocorrem inconscientemente e que 95% ou mais da sua atividade mental se processa abaixo dos níveis conscientes. Fisher et al. (2010) apresentam o primeiro registro da palavra neuromarketing em uma reportagem referente à agência de publicidade BrightHouse, de Atlanta, Estados Unidos. A matéria, veiculada em junho de 2002, destacava a agência como a primeira empresa de pesquisa que utilizaria a neuroimagem para desvendar a mente do consumidor. BrightHouse preenche a lacuna entre negócio e ciência, oferecendo aos seus clientes uma visão sem precedentes da mente consumista. A empresa pretende mudar o mundo do marketing usando a ciência para observar e entender os verdadeiros motores do comportamento do consumidor. A equipe usa ressonância magnética funcional (fMRI), uma técnica segura e não invasiva para identificar padrões de atividade cerebral que revelam como o consumidor realmente avalia um produto, objeto ou anúncio (PRWEB, 2002). Ainda segundo o autor, a Universidade Emory, em Atlanta, se associou as pesquisas com a participação de um professor, bem como a utilização de suas instalações de IRMf (Imagem por ressonância magnética funcional). De acordo com o projeto NESSHI6, também em 2002, o professor Ale Smidts, da Universidade Erasmus de Roterdão, na Holanda, dedicou sua aula inaugural ao comportamento do consumidor e a neurociência, intitulando o tema como neuromarketing (LEVALLOIS, [ca. 2011]). Segundo Boricean (2009), Ale Smidts é considerado o “pai” do neuromarketing e o responsável pela patente do termo. A neurociência, conforme Xerez (2006), estuda os processos mentais geradores de expressão, aprendizado, memória e comportamento e qual a relação do sistema nervoso central com estes processos. Compreender o que acontece em 6 Projeto europeu que envolve parceiros do Reino Unido, Holanda, Alemanha e França. Foi iniciado em junho de 2011 com o objetivo de fornecer uma visão da transformação das disciplinas ciências sociais e humanas sob a influência da neurociência (LEVALLOIS, 2011). 60 regiões específicas do cérebro e como ocorre a atividade cerebral é o desafio da neurociência. Segundo Camargo (2013), a ciência é utilizada em muitos campos de estudo diferentes, como a economia e o comportamento de consumo, que está relacionado com o marketing. O desenvolvimento da tecnologia usada em diagnósticos por imagem visa descobrir onde os mais variados comportamentos humanos se processam e qual a parte cerebral que controla cada um deles. A revista Forbes, conforme Figura 10, publicou uma matéria que detalhava os objetivos do neuromarketing, informando que os estudos estavam sendo realizados em diferentes países, com novas tecnologias e com apoio acadêmico e empresarial (WELLS, 2003). A partir deste momento, o neuromarketing destacou-se em outros veículos de comunicação e o interesse pelo assunto se consolidou. Figura 10 – Capa da Revista Forbes Fonte: disponível em <http://www.clementlevallois.net/sandbox/timeline/index.html#3>. Acesso em 30 de setembro de 2014. De acordo com Plassmann, Ramsøy e Milosavljevic (2012), a aplicação da neurociência em estudos do consumidor ganhou popularidade ao longo da última década, tanto no número de publicações acadêmicas quanto no mundo dos negócios. Segundo os autores, as referências no Google sobre este assunto cresceram 61 exponencialmente acompanhadas pela quantidade de empresas de neuromarketing que foram fundadas, conforme evolução apresentada na Figura 11. Figura 11 - Crescimento das pesquisas em neuromarketing Visitas Google Artigos publicados Empresas de Neuromarketing Fonte: PLASSMANN, RAMSØY E MILOSAVLJEVIC, 2012, p.2. Dentro deste contexto de desenvolvimento, o projeto chamado NeuroStandards Collaboration, iniciado em 2010 e finalizado em 2011, foi desenvolvido pelo órgão regulatório de pesquisa americano ARF - The Advertising Research Foundation7 e teve como propulsor os métodos de pesquisas utilizados pelos fornecedores de técnicas de neuromarketing. O objetivo foi revisar os diferentes métodos oferecidos pelos fornecedores e analisar a validade das conclusões, a fim de desenvolver regras para a utilização das técnicas e criar processos para a validação dos resultados (PRNEWSWIRE, 2011). O conceito de neuromarketing é definido por Boricean (2009) como um novo segmento no cenário do marketing. A partir dos resultados de técnicas neurocientíficas, tem por objetivo uma melhor identificação e compreensão dos mecanismos cerebrais que fundamentam o comportamento do consumidor para, consequentemente, aumentar a eficácia das ações das marcas. De acordo com a autora, o neuromarketing originou-se da interdisciplinaridade dos diferentes campos da neurociência: neuroanatomia, neurologia, neuropsicologia, neuroendocrinologia, neurociência cognitiva e neuroeconomia. 7 Tradução literal: Fundação de Pesquisas em Publicidade. 62 Morin (2011) complementa a explanação de Boricean (2009), segundo ele, as técnicas de neuromarketing permitem que as empresas analisem o cérebro dos consumidores, a fim de obter informações sobre processos subconscientes que podem explicar porque um comercial pode ser bem ou mal sucedido. A combinação de neuro e marketing resultou da fusão de dois campos de estudo: neurociência e marketing. Madan (2010) apresenta o neuromarketing como um campo interdisciplinar em desenvolvimento, que conecta psicologia, neurociência e economia, com o propósito de estudar, através de técnicas de neuroimagem, como o cérebro reage as estratégias de marketing. Para Lee, Broderick e Chamberlain (2007), o neuromarketing não é somente a aplicação de neuroimagem para o estudo do comportamento do consumidor em relação às marcas e à publicidade. Segundo os autores, o neuromarketing é um campo de estudo que visa aplicar métodos neurocientíficos para a análise e compreensão do comportamento humano frente aos mercados e ao marketing, bem como a sua utilização para interesses não comerciais como, por exemplo, pesquisas inter e intraorganizacionais. Com este conceito, os autores defendem que a literatura acadêmica se encarrega de apresentar as amplas possibilidades de pesquisas que podem ser aplicadas através do neuromarketing. Camargo (2013) sustenta outra visão do neuromarketing e afirma que a técnica é somente para benefício comercial, diferente de estudos acadêmicos em neurociência do comportamento do consumidor, que visam analisar reações do comportamento de consumo e divulgar resultados científicos, sem objetivos comerciais. Segundo o autor, as pesquisas inter e intraorganizacionais, sugeridas por Lee, Broderick e Chamberlain (2007), também possuem objetivos relacionados aos negócios. Além disto, o autor situa o neuromarketing como uma área da neuroeconomia, que estuda a localização das regiões estimuladas no cérebro humano e as respostas deste a uma informação de marketing. As definições explanadas confirmam que o neuromarketing visa mapear o cérebro através de diferentes equipamentos de coletas de dados, a fim de verificar cientificamente como os consumidores reagem a determinados estímulos, ou seja, como o cérebro analisa estes estímulos, que podem ser anúncios, embalagens, marcas, produtos e outros fatores de marketing. 63 4.2 PRIMEIROS ESTUDOS DE NEUROMARKETING Dentro deste contexto, a primeira pesquisa desenvolvida e reconhecida pelo uso do neuromarketing foi realizada pelo professor Read Montague, da Faculdade Baylor de Medicina, localizada no Texas. De acordo com Lindstrom (2009), a pesquisa foi aplicada a partir dos resultados de uma experiência realizada pela Pepsi, em 1975, chamada “Desafio Pepsi”. A experiência consistia em distribuir dois copos iguais, um contento Pepsi e outro Coca-Cola, em shoppings e supermercados onde a equipe da Pepsi estava alocada. Perguntava-se qual bebida as pessoas preferiam com o objetivo de verificar se a Pepsi poderia atacar a Coca-Cola em sua dominação no mercado de refrigerantes norte-americano. Ainda segundo o autor, os resultados surpreenderam a Pepsi, que foi a preferida para mais da metade dos voluntários, mas isto, não se refletia nas vendas. Em 2003 Read Montague resgatou estes resultados para análise e reaplicou a pesquisa a partir das técnicas de neuromarketing. Segundo Morin (2011), o estudo foi aplicado da seguinte forma: um grupo de sessenta e sete pessoas bebiam Pepsi ou Coca-Cola, sem saber a marca, enquanto seus cérebros eram escaneados em uma máquina de ressonância magnética (IRMf). Mesmo com voluntários diferentes, os resultados foram praticamente os mesmos da experiência original, a preferência pela Pepsi se manteve e uma justificativa não pode ser apresentada apenas com esta análise. Registrou-se que a região putâmen ventral8 do cérebro foi ativada. Lindstrom (2009) apresenta a segunda parte da experiência. Nesta etapa os pesquisados sabiam, antes de provarem, se estavam bebendo Pepsi ou Coca-Cola. Além de 75% dos pesquisados terem respondido que preferiam a Coca-Cola, foi possível observar uma mudança na localização da atividade cerebral, ou seja, o putâmen ventral e o córtex pré-frontal9 foram ativados. No momento de indecisão, as emoções se manifestaram e duas áreas do cérebro se desafiaram, pensamento racional e emocional. O pensamento emocional se sobressaiu e, devido a isto, a CocaCola venceu. 8 Região estimulada quando as pessoas gostam de determinado sabor (LINDSTROM, 2009). Esta região é responsável, entre outras funções, pelo raciocínio, discernimento e decisões (LINDSTROM, 2009). 9 64 Todas as associações positivas que os pesquisados tinham em relação à Coca-Cola – história, logomarca, cor, design e aroma; suas próprias lembranças de infância que remetiam à Coca-Cola, os anúncios na televisão e na mídia impressa ao longo dos anos, a indiscutível, inexorável, inelutável emoção ligada à marca Coca-Cola- derrotaram sua preferência racional e natural pelo sabor da Pepsi. Por quê? Porque é por meio das emoções que o cérebro codifica as coisas que têm valor, e uma marca que nos cativa emocionalmente – pense em Apple, Harley-Davidson e L’Oréal, só para início de conversa – vencerá todos os testes (LINDSTROM, 2009, p. 32). Outro estudo de destaque foi idealizado por Lindstrom em 2004 e envolveu mais de 2.000 voluntários vindos dos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Japão e China. Segundo Lindstrom (2009), o objetivo do estudo foi analisar através da IRMf e do eletroencefalograma TEE (topografia de estado estável) quais as reações cerebrais dos fumantes ao visualizarem as imagens de advertências inseridas atrás das embalagens dos maços de cigarros. Na primeira etapa do estudo foi perguntado para os pesquisados se as imagens de advertência funcionavam para inibir ou diminuir o fumo e alertá-los sobre as graves doenças provenientes, a maioria respondeu sim. Após a análise do rastreamento do cérebro dos voluntários, os resultados constataram, de acordo com Lindstrom (2009), que as imagens de advertência não causaram nenhum efeito na supressão do desejo dos fumantes, pelo contrário, segundo os pesquisadores, as advertências informando sobre o risco de contrair enfisema, doenças cardíacas e uma série de outros problemas, estimularam uma área do cérebro chamada nucleus accumbens, ou ponto de desejo, acendida quando o corpo deseja álcool, drogas, tabaco ou apostas. O que ficou comprovado com este estudo, segundo o autor, são traduzidos em dois pontos principais: por acreditarem que aquela fosse a resposta certa, o que os pesquisadores queriam ouvir ou então, para não se sentirem culpados, os voluntários responderam que as imagens de advertência funcionavam. Constata-se com a pesquisa que as imagens que visavam limitar o fumo, reduzir a incidência de câncer e salvar vidas, são, na verdade, instrumentos de marketing para a indústria do tabaco. Nesta linha de pensamento, Hilke Plassman realizou em 2008 um estudo nos mesmos moldes do “Desafio Pepsi”, aplicado por Montague em 2003. O estudo consistiu em apresentar o mesmo vinho em garrafas com preços diferentes e perguntou-se qual a preferência dos pesquisados, que optaram pela garrafa de valor mais elevado, apesar do vinho ser o mesmo. Neste caso, observou-se através da ressonância magnética, que ao consumir o vinho mais caro, o córtex orbitofrontal 65 medial foi mais ativado do que ao consumirem a garrafa de menor valor, sendo que, esta área do cérebro está associada ao prazer (LEVALLOIS, [ca. 2011]). Martins e Blecher (1996) resgatam o fracasso da fórmula da New Coke, em 1985, destacando que antes de ser lançada, foi aprovada por cerca de cento e noventa mil consumidores. Ainda segundo os autores, a pesquisa de opinião sobre o que o consumidor quer ou não, pode apresentar distorções relevantes a partir da análise do que eles querem, o que acham que querem, o que podem e o que de fato vão comprar. De acordo com Keller e Machado (2006), o teste de sabor comprovou a preferência pela nova fórmula, mas após a queda nas vendas, a Coca-Cola anunciou o retorno do sabor clássico. Os autores afirmam que a imagem de marca da CocaCola já havia criado laços emocionais e culturais com os consumidores, o que fundamenta que a reação psicológica a uma marca pode ser tão importante quanto a reação fisiológica. Um estudo realizado pela Universidade de Michigan e a Universidade de Harvard descobriu, segundo Camargo (2013), com o uso da ressonância magnética, que as marcas se enganam quando associam suas marcas com características humanas, a fim de aproximar o consumidor e influenciá-lo na decisão. O estudo revelou que os mesmos adjetivos usados para descrever pessoas e produtos ativavam diferentes regiões cerebrais, ou seja, se as características são processadas em locais diferentes, certamente têm significados diferentes. O autor afirma que não há como humanizar produtos no cérebro humano, visto que o consumidor separa pessoas e suas características de produtos e suas características. As pesquisas realizadas através das técnicas de neuromarketing, possibilitam, segundo Brain Scam (2004), analisar a atividade cerebral para mensurar como as pessoas se sentem em relação a um produto, por exemplo, visto que, as respostas declaradas podem não refletir os seus padrões de compra, além de ser difícil uma pesquisa tradicional capturar razões emocionais ocultas de preferência do consumidor. Lindstrom (2009) afirma que as empresas investem anualmente bilhões de dólares em pesquisas tradicionais, ou seja, em pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa. Dentro deste contexto, o autor apresenta a estatística que oito em cada dez novos produtos fracassam nos três primeiros meses, visto que o que as pessoas dizem nas pesquisas e discussões de grupo não afeta realmente o comportamento delas. 66 Nesta mesma linha de pensamento, Morin (2011) afirma que inúmeras campanhas publicitárias não atraem a atenção do consumidor e não impactam com sucesso o banco de memória. Ignorar a neuroimagem como uma alternativa para entender o comportamento do consumidor pode ser comparado com astrônomos que não usam telescópios (MORIN, 2011). A diversidade de comportamentos, o desenvolvimento tecnológico e a proatividade dos consumidores no século XXI, exige que as marcas estejam atentas para explorar e identificar o que motiva a escolha. Cabe aos profissionais de marketing analisarem as melhores alternativas na busca da compreensão do consumidor para que os esforços de marketing realmente tragam ganhos para as marcas. Segundo Costa (2014), as técnicas de neuromarketing aumentam em até 59% a efetividade de comerciais quando comparadas com outras ferramentas de pesquisa. Este dado foi divulgado pela ARF – The Advertising Research Foundation. 4.3 CÉREBRO X CONSUMO O caminho para questões relacionadas ao cérebro humano há décadas vem sendo investigado e, a cada nova descoberta, oportunidades para outras áreas do conhecimento são exploradas. De acordo com Fugate (2007), a história de desdobramento do neuromarketing teve antecedentes como Platão, René Descartes, Adam Smith e o trio Engel, Kollat e Blackwell, que promoviam o foco na razão ao invés do pensamento emocional e tomada de decisão. O autor destaca que a relevância dos estudos do cérebro iniciaram com o filósofo Platão, que utilizou uma metáfora para explicar o comportamento. Desta forma, ele comparou a alma humana a uma carruagem puxada por dois cavalos: razão e emoção. Para ele, o comportamento humano tem claramente um elemento emocional. Ainda segundo Fugate (2007), o neuromarketing tem a capacidade de demonstrar, através de análises cerebrais, que o pensamento emocional e racional são codependentes. Dentro deste contexto, Martins (1999) afirma que estudos comprovaram que lesões no lado do cérebro que controla as emoções10 afetam a capacidade de tomar decisões pessoais. Segundo o autor, as decisões, por mais racionais que sejam, ocorrem sob influência de emoções inconscientes. Fugate (2007) 10 O cérebro é composto pelos hemisférios esquerdo e direito. O direito é analógico, associativo, intuitivo, inconsciente, criativo, ou seja, relacionado às emoções humanas (PERUZZO, 2013). 67 afirma que as pessoas podem ser míopes, ou seja, o córtex pré-frontal é ativado para tomar decisões, mas a perspectiva de recompensas imediatas ou punições ativam o sistema límbico do cérebro, associado às emoções. O estudo destacado por Martins (1999) é apresentado por Damásio (2005) a partir do acidente com o americano Phineas Gage no século XIX. Gage trabalhava na construção civil de uma estrada de ferro e era considerado o funcionário mais eficiente e capaz, visto que o trabalho requeria tanto destreza física quanto concentração. O autor descreve que em uma tarde, quando Gage estava preparando a detonação nas rochas, uma explosão aconteceu antes do momento certo e ele foi atingido por uma barra de ferro que atravessou o seu crânio. Descreve-se esta história para apresentar, segundo Damásio (2005), as mudanças que ocorreram na personalidade de Gage após o acidente, que foi dispensado do trabalho pouco tempo depois de ter regressado devido ao seu comportamento nervoso, indisciplinado e incapaz de tomar decisões acertadas. Ainda segundo o autor, o que aconteceu com Gage é explicado a partir de estudos neurológicos do comportamento humano. Até então, os lóbulos frontais eram desconsiderados na relação com o comportamento. Através de técnicas de neuroimagem, Damásio e outros pesquisadores reconstruíram o crânio e o trajeto da barra de ferro para descobrir quais áreas do cérebro tinham sido atingidas. O lobo frontal esquerdo foi afetado causando déficits nos processos de decisão racional e controle das emoções. Desta forma, concluiu-se que quando uma decisão é tomada, a emoção está sempre presente, mesmo que a pessoa tente se justificar racionalmente. Fugate (2007) afirma que o neuromarketing é uma confirmação do complexo funcionamento do cérebro nos processos de decisão do consumidor. Estes processos apresentam a importância das emoções e uma desconexão entre o raciocínio consciente e a preferência interna. Conforme já exposto por Camargo (2013), 95% ou mais das informações processadas estão no inconsciente do consumidor, situado no sistema límbico. Pradeep (2012) complementa esta explanação afirmando que se as pessoas não souberem o que as leva a tomar certas decisões, não poderão explicar o porquê, desta forma, baseando-se somente no que elas dizem que gostam e não gostam a probabilidade de erro é aparente. O desafio dos profissionais é identificar os reais motivos das escolhas, que segundo Morin (2011), estão no cérebro do consumidor, ou seja, nos seus processos cognitivos que não são expressados. 68 Lindstrom (2009) apresenta os neurônios-espelho, um fenômeno que faz o consumidor imitar involuntariamente os comportamentos de consumo de outras pessoas, agindo em conjunto com a dopamina, uma das substâncias químicas associadas ao prazer. A explicação para isto está no conceito de imitar, já que quando o indivíduo observa ou lê a respeito de alguém que está fazendo algo, mentalmente executa esta ação, pois as mesmas regiões corticais do cérebro se ativam, isto foi o que estudos através da ressonância magnética funcional verificaram. Neste contexto, Lindstrom (2009, p.62) exemplifica: “vemos os atraentes televisores de LCD ou os telefones Bang & Olufsen de nossos amigos e, pelo amor de Deus, queremos um igual”. O autor afirma que os profissionais de marketing cada vez mais pesquisarão os neurônios-espelho a fim de descobrir maneiras de utilizá-los para guiar a mente e fazer o consumidor comprar. O cérebro é anatomicamente divido em diferentes partes, responsáveis por processos interdependentes que orientam o comportamento humano, corpo e mente. De acordo com Pradeep (2012), o córtex cerebral é formado por quatro grandes regiões: lobo occipital, lobo temporal, lobo parietal e lobo frontal, conforme Figura 12. Funções como visão, audição e linguagem falada estão distribuídas nessas regiões. Figura 12 – Principais partes do cérebro Fonte: PRADEEP, 2012, p. 54. Ainda segundo o autor, o córtex cerebral desempenha funções intelectuais superiores, como pensamento, planejamento e resolução de problemas. A memória 69 está relacionada ao hipocampo e o tálamo é uma estação retransmissora para quase todas as informações que chegam ao cérebro, expelindo ordens para o corpo. Renvoisé e Morin (apud PERUZZO, 2013) apresentam três cérebros para o consumidor: o novo cérebro, responsável pelas informações racionais e lógicas, o cérebro intermediário, que realiza o processamento das emoções e sentimentos e o velho cérebro, responsável pela decisão. De acordo com Peruzzo (2013), há momentos em que o potencial cerebral é mais voltado para um destes três estados, mas a mudança de um para o outro ocorre em milionésimos de segundos. Dentro deste contexto, Pradeep (2012) elenca algumas estratégias para que as marcas consigam envolver o cérebro humano a partir dos seus estímulos de marketing, são elas: 1) Facilidade de processamento da mensagem. Um anúncio complicado que exige recursos cognitivos provavelmente será ignorado pelo cérebro. Designers de embalagens perceberam que os modelos que seguem padrões de simplicidade como, por exemplo, a Apple, exercem maior apelo ao cérebro já que consomem menos recursos cognitivos. Envolver o cérebro primitivo (velho cérebro) através da interação rápida, clara e interessante é primordial para o engajamento. 2) Utilizar a emoção para conquistar os consumidores. Descobrir quais os principais desencadeantes emocionais que um produto inspira e identificá-los na sua mensagem. 3) Não expor uma quantidade excessiva de informações na mensagem. Quando isto acontece, o cérebro tende a colocá-las intencionalmente em segundo plano. 4) A marca deve procurar ativar áreas de prazer/recompensa a partir de imagens fortes dos elementos de recompensa emocional. Quando o cérebro encontra um comportamento gratificante, libera uma grande quantidade de dopamina como recompensa que tende a motivar a repetição. A partir da aplicação do neuromarketing, segundo Fugate (2008), é possível verificar se estímulos diferentes estão associados ou não a mesma região do cérebro. Um exemplo destacado pelo autor, relacionado às regiões cerebrais, é a possibilidade do desenvolvimento de estratégias de preços mais eficazes, visto que, pesquisas já revelaram que as respostas do cérebro à riquezas de curto prazo ocorrem em grande parte, no sistema límbico, região que regula as emoções, já recompensas futuras são associadas no córtex pré-frontal, responsável pelo planejamento, que não prevalecerá 70 sobre a região límbica e a recompensa imediata. Ainda segundo o autor, isto pode ser um problema para os produtos ou serviços que não apresentam recompensas imediatas, como seguros e serviços de proteção para casas, que recebem prioridade relativamente baixa de processamento pois não traduzem muito envolvimento emocional. A atenção do consumidor é disputada por milhares de marcas que desenvolvem esforços de marketing e criam relacionamentos com o objetivo de que o consumidor faça associações positivas e codifiquem as suas informações. Os investimentos em publicidade visam despertar esta atenção, mas a memória seletiva dos consumidores filtra apenas aquilo com que eles se identificam e sentem que precisam. O cérebro constantemente coleta e filtra estas informações, algumas são armazenadas na memória, mas a maior parte se tornará esquecida (LINDSTROM, 2009). Dentro deste contexto, Plassmann, Ramsøy e Milosavljevic (2012) afirmam que a atenção baseia-se em características visuais: cores, luminosidade, orientação, tamanho, forma, movimento entre outros. Estes fatores têm forte influência sob os movimentos oculares quando os consumidores estão expostos a estímulos. Estas características são combinadas no cérebro sendo possível identificar um mapa das regiões do campo visual que são mais importantes e quais características mais facilmente serão processadas. Segundo Camargo (2013), a atenção do ser humano é limitada e focalizada, ou seja, não consegue se concentrar em vários pontos ao mesmo tempo, por isso, ao dividir a atenção em um ponto de venda, que armazena muita informação, como sinalização, sonorização ambiente e cartazes promocionais, por exemplo, a ação dos recursos cognitivos, que alimentam a codificação, é dificultada. Desta forma, a redução dos recursos cognitivos atrapalha a codificação e consequentemente a memória e o resgate da informação. Ainda segundo o autor, esta não memorização irá afetar as respostas verbalizadas para um pesquisador, que terá mínima probabilidade de ter uma resposta exata sobre esta situação. Além disso, a informação deve ser relevante para aquele sujeito pesquisado, caso contrário não é acessível e portanto não pode ser verbalizada. Lindstrom (2009) apresenta um estudo realizado pela Neuroco para o estúdio de cinema 20th Century Fox, que corrobora como o rastreamento da atividade cerebral traduz informações que comprovam a dificuldade de captar atenção através de estímulos visuais. A atividade cerebral elétrica e os movimentos oculares dos 71 voluntários foram medidos a partir de comerciais inseridos em um videogame, como anúncios em cartazes, pontos de ônibus, a fim de analisar o que chamava a atenção deles. O resultado de toda a saturação visual foram apenas olhos embaçados e não um aumento de vendas. O que o autor quer destacar com este exemplo é que as marcas e as agências de publicidade investem há muito tempo em guiar e motivar os consumidores visualmente, mas a visão é mais eficaz e memorável quando está associada a outro sentido. Esta foi a conclusão deste estudo. Lindstrom (2009) comprova esta afirmação com o caso do talco para bebês Johnson & Johnson combinado com o seu aroma tradicional com traços de baunilha. Nesta combinação, o córtex orbitofrontal medial direito, região associada à percepção de algo agradável ou gostoso é ativada, pois o consumidor vê e sente o cheiro ao mesmo tempo de algo que gosta, diferente de quando uma marca está mal combinada com uma fragrância como, por exemplo, shampoo para bebês Johnson & Johnson e aroma de cereja. Neste caso, o córtex orbitofrontal lateral esquerdo é ativado, região associada com a aversão ou repulsa. Verificou-se com este estudo que as mesmas regiões ativadas pela imagem de um produto são ativadas através do cheiro, ou seja, as marcas capturariam nosso interesse com a mesma eficácia apelando para o olfato e para combinações imagem-fragrância. Dentro deste contexto, de acordo com Pradeep (2012), se as marcas ativarem diversos sentidos que atuam de forma sinérgica, a interação sensorial criará maior envolvimento com o consumidor. Com a utilização das técnicas disponíveis no estudo do neuromarketing é possível verificar cada ponto que foi destacado neste subcapítulo, atenção, emoção e memória, que são analisados em cada segundo de um comercial com o objetivo de diagnosticar segmentos eficazes ou ineficazes e consequentemente detectar que elementos estão faltando no comercial e anúncios (PRADEEP, 2012). Estes parâmetros, conforme já detalhados neste trabalho, são essenciais e determinantes para que o consumidor tenha comportamentos positivos em relação à marca, produto ou serviço. A empresa de neuropesquisa Sands Research, localizada nos Estados Unidos, aplica desde 2008 estudos de neuromarketing, tendo como principal case a análise por eletroencefalograma dos comerciais exibidos durante o Super Bowl. Através do sistema de pontuação próprio, intitulado NES (Neuro-Engagement Score), é verificado o índice de engajamento neural do consumidor a partir do estímulo exposto, conforme Figura 13. A partir deste método é verificado em que ponto a 72 publicidade começa a provocar envolvimentos e quanto tempo este envolvimento permanece ativo na mente do espectador. Uma NES superior equivale a um nível de engajamento maior, em uma escala de um a cinco. A NES é divido em sete métricas de análise: emoção, cognição, atenção, ativação visual, movimentos planejados, memória e reconhecimento, que são identificadas nas regiões cerebrais (SANDS RESEARCH, [200-]). Dias (2012) afirma: Os dados são então correlacionados com resultados qualitativos de uma maneira não divulgada, tal como faz o MSW LAB (método Neuro-trace), que igualmente omite qualquer informação capaz de propiciar uma visão minimamente compreensiva sobre a metodologia utilizada (DIAS, 2012, p. 186). A Sands Research (2009) verificou em seus estudos que uma história envolvente, que mantém a atenção durante todo o comercial, fornece respostas engajadas do cérebro e uma melhor mensuração da opinião favorável à marca. Figura 13 – Painel de Atividade Cerebral Fonte: disponível em <http://www.sandsresearch.com/VW_Darth1.aspx>. Acesso em 13 de outubro de 2014. De acordo com a Sands Research (2011), o painel superior esquerdo identifica a mídia que está sendo analisada e um mapa de calor de rastreamento ocular. No segundo painel, abaixo da mídia, é exposto a pontuação NeuroEngagement (NES). Abaixo está o escore emocional positivo e negativo. O terceiro painel ilustra seis pontos de vista do cérebro: esquerda, direita, frente, trás, superior 73 e inferior. A atividade cerebral é indicada por uma escala de temperatura, sendo que amarelo refere-se a maior atividade e preto menor atividade. As empresas de pesquisa em neuromarketing utilizam diferentes métodos para as análises cerebrais. 4.4 TÉCNICAS E APLICAÇÕES DO NEUROMARKETING Marcas renomadas utilizam o neuromarketing nas suas estratégias de marketing com o objetivo de analisar as reações positivas ou negativas do cérebro dos consumidores perante as suas propostas para o mercado, já que há uma dificuldade do indivíduo verbalizar o que está sentindo ou pensando. Conforme Camargo (2013), os verdadeiros motivos que justificam as ações humanas são de fundo emocional. Buscando esta aproximação do inconsciente do consumidor, marcas como, por exemplo, Christian Dior, Microsoft e Unilever, aplicam as técnicas em seus produtos. A Christian Dior testou a fragrância J’ adore com a ressonância magnética, avaliando aroma, cor e anúncios. Lindstrom (2009) ressalta que o perfume foi um dos lançamentos de maior sucesso da marca. De acordo com Camargo (2013, p.124), “o neuromarketing não se diferencia nos seus métodos pela análise somente, mas fundamentalmente pelos diferentes e inéditos modos de coleta de dados, motivo pelo qual usam-se equipamentos de diagnóstico por imagem”. Segundo Pradeep (2012), existem três elementos que sustentam o desenvolvimento das técnicas de neuromarketing no estudo do comportamento do consumidor: tecnologia digital para o uso das metodologias, conhecimento neurológico e a grande necessidade de respostas mais precisas, confiáveis e aplicáveis. Conforme afirma Lindstrom (2009), as pesquisas tradicionais conseguem alcançar uma parte muito pequena dos processos cerebrais que estão por trás da tomada de decisão inconsciente do consumidor. A partir disto, apresentam-se as principais tecnologias utilizadas para o mapeamento cerebral: Ressonância magnética funcional (IRMf): de acordo com Ariely e Berns (2010), esta técnica utiliza um escâner de ressonância magnética para medir o fluxo sanguíneo e o nível de oxigenação em determinadas áreas cerebrais, ou seja, detecta a atividade cerebral em determinado local do cérebro a partir de um estímulo usualmente audiovisual. Segundo Camargo (2013), quando há a execução de alguma atividade 74 mental, a região do cérebro ativada aumenta o consumo de ATP (trifosfato de adenosina), que gera maior demanda de oxigênio e glicose e, consequentemente, aumento do fluxo sanguíneo para suprir a demanda de oxigênio, identificando as áreas mais ativadas do cérebro. Ainda segundo o autor, este fenômeno é chamado de efeito BOLD11 e é capturado pelas imagens de ressonância magnética. É o mais novo e popular método de exames neuronais. A desvantagem desta tecnologia, segundo Pradeep (2012), é em relação ao tempo para que o aumento de fluxo sanguíneo atinja a área ativada pelo estímulo. O cérebro pode responder instantaneamente, mas pode levar até cinco segundos para atingir a área específica, desta forma, há falta de precisão temporal entre o estímulo exato e à indicação da resposta cerebral. Figura 14 – Máquina de Ressonância Magnética funcional Fonte: disponível em <http://www.forebrain.com.br/serie-tecnicas-da-neurociencia-aplicadas-noneuromarketing-ressonancia-magnetica-funcional-fmri/>. Acesso em 13 de outubro de 2014. Eletroencefalograma (EGG): Ariely e Berns (2010) definem a técnica EGG como o uso de eletrodos aplicados sobre o couro cabeludo para registrar as atividades elétricas dos neurônios. Esta técnica capta a resposta do cérebro em milissegundos, detectando eventos cerebrais com precisão temporal, no momento exato do estímulo, 11 Blood Oxygenation Level Dependent Effect. Tradução literal: Nível dependente de sangue oxigenado. 75 diferente da IRMf. Ainda segundo as autores, quanto maior for o número de eletrodos, melhor será a resolução espacial, visto que, o EGG tem pouca sensibilidade para detectar estruturas cerebrais profundas, não sendo possível precisar ao certo em qual área específica do cérebro a atividade está se originando. Segundo Pradeep (2012), o ideal é abranger todo o cérebro com eletrodos para que seja identificado com exatidão que regiões estão operando simultaneamente e em conjunto em resposta a determinado estímulo. De acordo com o autor, os eletrodos são sensíveis a ruídos como, por exemplo, o piscar de olhos, que podem aumentar em até cem vezes a voltagem elétrica. Estes ruídos precisam ser identificados e eliminados para que somente os dados puros da atividade cerebral sejam analisados. A empresa brasileira de neuromarketing detalha que os potenciais elétricos (ERPs) investigados são nomeados pela sua polaridade, ou seja, negativos ou positivos e pela quantidade de milissegundos consumidos para serem detectados após o estímulo (FOREBRAIN, 2012). Segundo Camargo (2013), o equipamento é portátil, isto significa que poderá ser usado em locais não controlados, o que vai ajudar a analisar o comportamento humano na situação objeto. Além disto, o investimento é mais baixo e próximo de um estudo focus group. Figura 15 – Eletroencefalograma Fonte: disponível em <http://www.forebrain.com.br/serie-tecnicas-da-neurociencia-aplicadas-noneuromarketing-eletroencefalografia-eeg-parte-3/>. Acesso em 13 de outubro de 2014. Magnetoencefalografia (MEG): de acordo com Camargo (2013), esta técnica, que está em desenvolvimento para o uso no neuromarketing, segue os sinais magnéticos que os neurônios expelem ou transmitem entre si, permitindo verificar como as redes 76 de neurônios transmitem sinais ou informações em tempo real. A MEG consegue ter uma melhor resolução espacial do que o EGG, mantendo a alta resolução temporal. Segundo Ariely e Berns (2010), o investimento para este estudo é aproximadamente de dois milhões de dólares. Figura 16 – Magnetoencefalografia Fonte: disponível em <http://www.nimh.nih.gov/health/publications/neuroimaging-and-mental-illness-awindow-into-the-brain/index.shtml>. Acesso em 14 de outubro de 2014. Eye Tracking: segundo Page (2010), os movimentos oculares indicam o foco da atenção visual com mais detalhes e precisão do que respostas faladas, mas o método não revela porque uma área particular chama atenção. O rastreamento fornece evidências realistas do que as pessoas tendem a olhar. Dentro deste contexto, Pradeep (2010) sugere a combinação do método EGG com o monitoramento eye tracking, sendo possível assim, correlacionar atenção, emoção e memória com a área foco dos olhos no mesmo milissegundo. De acordo com Camargo (2013), é a técnica mais barata que analisa os locais do anúncio, marca ou embalagem que o consumidor olha, em que momento e por quanto tempo fixa a sua atenção em determinado ponto. Ainda segundo o autor, o método também é utilizado com exames de ressonância magnética para respostas mais abrangentes. Forebrain (2011) afirma que os movimentos oculares são controlados, na maioria das vezes, por características emocionais dos objetos. 77 Figura 17 – Mapeamento ocular Fonte: disponível em <http://www.ipdois.com/index.php?option=com_content&view=article&id=130:eye-tracking-empropagandas-filmes-e-videos-em-geral&catid=70:analise-de-comunicacao-de-marketing&Itemid=95>. Acesso em 15 de outubro de 2014. Biometria: Pradeep (2012) apresenta este termo genérico para exemplificar a mensuração das respostas fisiológicas no organismo, ou seja, não diretamente no cérebro, mas por meio dos sentidos. Os exemplos de estudos biométricos, destacados pelo autor, são: frequência cardíaca, respiratória, resposta galvânica cutânea (RGC), movimento dos músculos faciais e movimentos corporais. Os movimentos oculares também são inclusos neste grupo. Ainda segundo o autor, alguns destes parâmetros têm pouca utilidade para as pesquisas de marketing, visto que não medem diretamente a atividade cerebral primária pois o cérebro pode dar ordem ao corpo 78 muito antes de o efeito fisiológico ter ocorrido. Para ele, estas técnicas não são indicadores confiáveis de emoção ou cognição. Segundo Camargo (2013), as técnicas mais utilizadas nas pesquisas de neuromarketing são a ressonância magnética funcional, o eletroencefalograma e o eye tracking. Ainda segundo o autor, sozinhas elas fornecem algumas respostas, mas integradas têm um potencial maior para a verificação dos estímulos de marketing. Existem outros instrumentos para pesquisas cerebrais que não são referidos e tratados como métodos de neuromarketing como, por exemplo, um scanner cerebral desenvolvido pela Hitachi12 que pode ser vestido pelo indivíduos, por isto, é portátil e permite que seja usado durante as atividades rotineiras. O scanner usa topografia óptica para medir as mudanças no fluxo sanguíneo nas diferentes áreas do cérebro e, segundo Camargo (2013), seria uma maneira de avaliar o merchandising, já que, é móvel para os locais de venda. Os métodos destacados anteriormente são aplicados para diversas análises dos esforços de marketing, mas com o mesmo objetivo, que é, de acordo com Pradeep (2012), fornecer dados de pesquisa que antes eram impossíveis de se obter devido à dificuldade dos consumidores em expressar o real motivo de suas escolhas. Ainda segundo o autor, a linguagem do cérebro é universal, o que permite a elaboração de descobertas globais. A dificuldade em expor os reais motivos, de acordo com Camargo (2013), está relacionada com a ideia de que as pessoas realmente acham que estão comprando um produto porque é prazeroso ou porque lhes gera economia, isto quer dizer, estão sempre justificando com uma resposta racional, sendo que 70% das compras são irracionais e ligadas à emoção. Camargo (2013, p.44) afirma que “se a mentira é algo inerente e inato, não se pode simplesmente desconsiderá-la ao fazer uma pesquisa qualitativa”. Segundo o autor, a racionalidade gira em torno da poupança e não do gasto, sendo assim, por mais dinheiro que um consumidor tenha, jamais compraria carros absurdamente caros. A mentira pode ser identificada pelas técnicas de neuromarketing, visto que áreas diferentes do cérebro são ativadas com mais intensidade quando o indivíduo está contando uma mentira proposital, mas de acordo com o neurocientista Emilio 12 Empresa que desenvolve equipamentos de diagnóstico por imagem. Disponível em <http://www.hitachi-medical.co.jp/english/globalnetwork/index.html>. Acesso em 10 de outubro de 2014. 79 Bizzi (apud CAMARGO, 2013), tem-se pouca base para usar o mapeamento cerebral para este fim. As técnicas mais utilizadas para esta finalidade são as biométricas, que captam as manifestações automáticas do organismo, como a sudorese e batimentos cardíacos. Dentro do contexto de aplicações, Ariely e Berns (2010) destacam o ciclo de desenvolvimento do produto, em que a ressonância magnética funcional está presente em duas fases, no processo de design, em que as respostas neurais são utilizadas para refinar o produto antes de ser lançado e após a concepção do produto, normalmente para mensurar campanhas publicitárias com o objetivo de aumentar as vendas. Ainda segundo os autores, está última aplicação confirma que existe envolvimento neural com a publicidade mas não sugere que uma maior atividade em determinada região do cérebro resulta em mais vendas. Figura 18 – Ciclo de desenvolvimento do produto Fonte: figura traduzida pela aluna do artigo ARIELY e BERNS, 2010, p. 286. Fugate (2007) explora também o uso da IRMf para análise das marcas. Neste caso, quando o consumidor é exposto a um logotipo é possível fazer relações entre este logo e as regiões afetadas do cérebro devido ao aumento de fluxo sanguíneo. O córtex pré-frontal medial é ativado sugerindo que o indivíduo se identifica com tal 80 marca, o cérebro acessa esta marca para determinar se tem relevância pessoal ou importância para a pessoa. Para este contexto foi apresentada no subcapítulo, o que é neuromarketing?, a pesquisa realizada pelo professor Read Montague referente às marcas Pepsi e Coca-Cola. Segundo Forebrain (2012), o eye tracking é aplicado em diversas estratégias de marketing como, por exemplo, páginas da internet, programas de televisão, filmes, comerciais, veículos impressos e embalagens. A internet é um campo com alta aplicabilidade desta técnica já que é possível gravar toda a interação do usuário com a página, acessando informações que traduzem a eficiência do site. Anúncios veiculados na televisão, mídia impressa e publicidade online, também são amplamente analisados a partir deste método, frequentemente com o objetivo de verificar a visibilidade da marca na campanha ou comercial. Beard (2013), diretor global da empresa de pesquisa Nielsen, explica que o eletroencefalograma é a técnica mais avançada para entender como o consumidor responde à publicidade, pois capta estímulos cerebrais em frações de segundo. Ainda segundo Beard (2013), o EEG mensura, de maneira satisfatória, se o consumidor presta atenção ao anúncio, se é armazenado na memória de longo prazo e se estimula resposta emocional positiva. Estas três medidas são fundamentais para anúncios eficazes. Além do que já foi apresentado, Lee, Broderick e Chamberlain (2007) afirmam que questões relacionadas a preço também são exploradas através da neuroimagem como, por exemplo, o motivo pelos quais os valores R$ 1,99 são percebidos como mais baratos do que R$ 2,00. Outro ponto verificado é que produtos básicos como o açúcar agregam valores diferentes do que um produto notável como um tênis Nike, por isto, há mudanças na localização da atividade cerebral quando os preços são visualizados ao lado de suas associações. A aplicação destas técnicas precisam estar adequadas com a amostra necessária para as pesquisas de neuromarketing. De acordo com Pradeep (2012), por estas pesquisas produzirem resultados mais embasados cientificamente e confiáveis, requerem amostras muito menores que as pesquisas tradicionais, que precisam de um número considerável de participantes para uma possível generalização. Neste contexto, embora o cérebro humano tenha diferenças entre homens e mulheres, crianças e idosos, ainda possui mais semelhanças, o que 81 possibilita utilizar uma amostra com 10% do número de participantes das pesquisas tradicionais. 4.4.1 Implicações do neuromarketing Para Ariely e Berns (2010) ainda não está claro se a neuroimagem fornece dados melhores do que outros métodos de pesquisa, mas confirmam que através das técnicas de neuromarketing é possível verificar informações mais profundas dos consumidores. Segundo os autores, em um ambiente universitário, uma pesquisa custa em média US$ 500,00 por hora, em laboratórios comerciais o investimento é ainda maior. Os autores afirmam que se o neuromarketing quer competir com as abordagens convencionais de marketing, os custos com mão de obra e despesas gerais precisam ser reduzidos. Camargo (2013) complementa que não é correto atribuir aos fatores internos do consumidor, como a fisiologia cerebral, destacada neste capítulo, toda a responsabilidade por comportamentos específicos, visto que, os fatores externos interagem com os internos para gerarem atitudes de compra. Ainda segundo o autor, o cérebro é muito complexo para a afirmação de que um aumento de fluxo sanguíneo em determinada área significa o comportamento ou ação exata do consumidor. O que é possível verificar com a aplicação das técnicas, são os locais de maior atividade neuronal a partir de determinada marca ou comercial e assim analisar se o consumidor teve uma reação positiva ou negativa perante o estímulo. É claro que a imagiologia cerebral vem ajudar, e muito, nas pesquisas de comportamento humano em relação ao consumo, mas essas novas técnicas não nos dizem exatamente o que devemos fazer, mas simplesmente o que o indivíduo sentiu ou como ele percebeu o fato (CAMARGO, 2013, p. 150). Dentro deste contexto, Lindstrom (2009) afirma que o neuromarketing, por ser uma ciência recente, ainda está limitado à compreensão restrita do cérebro humano. Segundo Pradeep (2012), o que sabe-se hoje sobre o cérebro é só a ponta do iceberg. Devido as técnicas coletarem informações não-verbais através do conhecimento neurológico, o neuromarketing possui um código de ética específico, apresentado pela NMSBA (Neuromarketing Science & Business Association – Associação de ciência e negócios em neuromarketing) que define como a pesquisa deve ser aplicada, bem como, deveres de ambas as partes, pesquisado e pesquisador. Ainda segundo ao autor, a participação nos projetos de neuromarketing sempre será voluntária, ou seja, 82 não é permitido oferecer retribuições em dinheiro aos pesquisados. Camargo (2013) destaca que existem, principalmente nos Estados Unidos, grupos, ONG’s e outras organizações que protestam contra as pesquisas deste gênero, o que pode prejudicar novas descobertas no campo de estudo. Outro ponto que Camargo (2013) explana é em relação a mobilidade das técnicas. Segundo o autor, mesmo com os equipamentos wireless já desenvolvidos para que seja possível a aplicação da pesquisa em ambiente real, ainda não é algo natural, o que atrapalha os estudos e não traduz a mesma reação que teria se não estivesse monitorado. Furtado (2012) compartilha desta preocupação, visto que o ambiente laboratorial, com máquinas, fios e computadores, onde as pesquisas são conduzidas, não favorecem para que o consumidor produza reações cerebrais iguais às de uma situação de consumo real. Desta forma, afirma que o neuromarketing não tornará obsoletas as demais metodologias de pesquisa, mas sim, contribui, através de técnicas inovadoras, para novas descobertas de pesquisas do comportamento do consumidor. Segundo Furtado (apud PENTEADO, 2012), os dados coletados possuem um grande grau de subjetividade, isto porque, o professor não compartilha com a afirmação de que uma região específica do cérebro é dedicada exclusivamente para o amor, desejo e aversão, por exemplo. Em pesquisa realizada por Colaferro (2011) em que questiona acadêmicos e instrumentistas que desenvolvem estudos sobre as limitações do neuromarketing, verificou-se citações frequentes nos quesitos: Ser um estudo laboratorial, ou seja, não promove situações reais de comportamento; Campo ainda pouco explorado por publicações científicas; Problemas amostrais – representar a população; Falta de protocolos acordados e aceitos sobre as ferramentas de captura e escalas de interpretação. Vale destacar que a pesquisa realizada por Colaferro (2011) contou com a participação de 13 indivíduos e para os quesitos mencionados acima, 40% responderam. De acordo com Pradeep (2012), muitos avanços já estão em andamento e métodos estatísticos tradicionais se combinarão com o neuromarketing, a fim de 83 disponibilizar indicadores mais confiáveis das preferências e tendências através de informações verbais e dados neurais. 84 5 ANÁLISE A evolução tecnológica de equipamentos, softwares e estudos baseados nestes desenvolvimentos, agregam conhecimento para diversas áreas e possibilitam o avanço de estratégias para melhor adequação de verbas e esforços das empresas. Estas evoluções atingem a economia, o varejo, a indústria, a troca de informações entre os indivíduos e, consequentemente, a comunicação, que precisa estar alinhada com as expectativas, linguagem e desejos destes indivíduos consumidores. Neste cenário, as pesquisas de marketing são a ponte entre marca e consumidor. Conforme foi apresentado nos capítulos deste trabalho, a necessidade de estarem conectadas, no amplo sentido da palavra, com os clientes, é parte essencial das estratégias de marketing das marcas, que dependem exclusivamente do consumidor para o sucesso ou fracasso de qualquer produto ou material publicitário produzido. Para isto, é preciso diagnosticar como o consumidor se relaciona com esta marca baseado em experiências com produtos, campanhas publicitárias, imagem de marca e demais estímulos que tragam informações sobre o que deseja-se compreender. Neste contexto, esta análise será explorada a partir de três embasamentos teóricos: o neuromarketing como uma nova técnica de pesquisa de marketing, as suas vantagens em relação as pesquisas tradicionais e os benefícios desta aplicação para as marcas no desenvolvimento das estratégias de marketing. O diagnóstico do consumidor só é possível através de técnicas de pesquisa de marketing que forneçam informações detalhadas sobre o seu comportamento diante de situações e simulações, que venham à agregar conhecimento para que a decisão correta seja alcançada pela marca. As ferramentas estão disponíveis para aplicação, cabe aos profissionais de marketing analisarem, cada vez mais, a partir da concorrência do mercado em que estão inseridos, como os dados coletados irão contribuir para a manutenção e aperfeiçoamento do brand equity. As pesquisas de marketing, de acordo com os estudos e metodologias apresentadas, são divididas em duas vertentes, as pesquisas tradicionais e o neuromarketing, ambas partes dos processos de marketing. O neuromarketing, desenvolvido a partir de novas técnicas, é um tipo de pesquisa que se diferencia pelo modo de coleta de dados, mas não deixa de ser uma pesquisa de marketing. Dentro do contexto de desenvolvimento do neuromarketing, os autores classificam esta pesquisa a partir de diferentes nomenclaturas, como foi apresentado 85 no capítulo quatro. Alguns autores como Lee, Broderick e Chamberlain (2007) e Madan (2010) o apresentam como campo de estudo, já Morin (2011) e Camargo (2013) traduzem como uma técnica. Camargo (2013) também situa o neuromarketing como uma área, um ramo da neuroeconomia, visto que, foi a partir dela que começou a se questionar os métodos tradicionais da economia e consequentemente do comportamento do consumidor. Apesar das diferentes classificações, neste trabalho, o neuromarketing será analisado como uma técnica de pesquisa de marketing em comparação com as demais técnicas tradicionais aplicadas e disponíveis na literatura para o estudo do comportamento do consumidor. A principal diferença entre o neuromarketing e as pesquisas tradicionais está na forma de coleta de dados, ou seja, na primeira ocorre o mapeamento cerebral através de estímulos, na segunda ocorre a fala e a linguagem corporal através de perguntas e observação. Desta forma, com a afirmação de Pradeep (2012) de que as pessoas não sabem porque tomam certas decisões, devido ao índice de 95% das informações processadas estarem no inconsciente, conforme exposto por Camargo (2013), não é possível explicar através de respostas faladas o que realmente as motivou. Sendo assim, qualquer alternativa de resposta das pesquisas tradicionais, estruturada ou não, não conseguirá traduzir os reais motivos da escolha e isso se reflete nas vendas. O neuromarketing vem desafiando e questionando os métodos tradicionais, como o focus group, por exemplo, principalmente nos quesitos relacionados à emoção presente nas escolhas e na ligação com as marcas. Se os seres humanos são movidos pela emoção, não pela razão, conforme explorado no subcapítulo emoção das marcas por Roberts (2005), verificar se ela foi ativada no consumidor é essencial para o sucesso de uma marca e seus esforços de marketing. A pesquisa tradicional depende da manifestação do consumidor para identificar esta variável, da interpretação do pesquisador e, além disto, há os mecanismos de defesa dos participantes que disfarçam valores, emoções e motivações. A fórmula da New Coke13 é um exemplo de fracasso de pesquisa tradicional por teste cego relacionada à esta situação. Estudos de neuromarketing apresentados, como a experiência Pepsi x Coca-Cola realizada por Lindstrom (2009), também revelaram lacunas nos testes cegos, isto porque, o consumidor escolhia outro produto quando sabia a sua marca. 13 Ver Martins e Blecher (1996), p. 65. 86 O motivo foi traduzido com a aplicação das técnicas de neuromarketing que, a partir das regiões cerebrais ativadas, comprova que a emoção prevaleceu. Desde a comprovação de que as emoções são fortes mediadoras no processamento das mensagens, compreensão e modelagem das respostas cognitivas, o ato de desenvolver mensagens é um desafio para as marcas. De acordo com Morin (2011), antes do neuromarketing as marcas baseavam-se principalmente na capacidade de relato dos consumidores em descrever seus próprios processos cognitivos, sendo que, conforme já explorado, muitas respostas estão no inconsciente, e, desta forma, os consumidores também não têm consciência de que não estão expressando uma real motivação que acontece no seu cérebro. Com base nesta análise, uma pesquisa tradicional realizada através de perguntas ao consumidor, traduzirá uma parte minúscula dos processos cerebrais que estão por trás da tomada de decisão (LINDSTROM, 2009). Segundo Fugate (2007), o pensamento emocional e racional são codependentes, sendo assim, a partir desta concepção, a técnica que não possibilita a manifestação destes dois pensamentos não conseguirá apresentar os verdadeiros estímulos dos consumidores, mas sim uma identificação superficial. Neste contexto, verifica-se que respostas puramente racionais têm uma correlação pobre ou pouco correspondente com a real causa do comportamento humano, ou seja, o consumidor responde racionalmente às pesquisas e, consequentemente, não emiti o que sente pela dificuldade em verbalizar o emocional. A experiência do vinho, realizada com o auxílio da ressonância magnética, verificou que a área do cérebro associada ao prazer foi ativada quando o consumidor consumiu o vinho indicado com o valor mais elevado. Em uma pesquisa tradicional o mesmo experimento poderia ser realizado através do teste cego, que baseia-se na escolha a partir do produto testado, neste caso, com o conhecimento do valor de um vinho e outro. A opção pelo vinho de maior valor poderia se manter pela associação consciente de que o vinho mais caro é tradicionalmente melhor, mas a marca não saberia o que o preço apresentado estimulou no consumidor ao escolher o vinho, que na verdade tinha o mesmo sabor. Neste contexto, o consumidor busca respostas racionais para explicar porque o vinho escolhido é melhor, quando na verdade, conforme Camargo (2013) e Lindstrom (2009), a resposta está no seu inconsciente expressado nas regiões cerebrais ativadas. 87 É possível comparar esta experiência com a afirmação de Lindstrom (2009) quando o autor apresenta uma situação de compra que envolve um alto valor agregado, uma consumidora da marca Louis Vuitton. Segundo o autor, a maioria das pessoas não consegue expressar o real motivo de ter adquirido um produto, neste caso uma bolsa “comprei aquela bolsa Louis Vuitton porque ela agradou a minha vaidade e quero que minhas amigas saibam que também posso comprar uma bolsa de quinhentos dólares” (LINDSTROM, 2009, p. 171). Esta resposta não será expressada por uma consumidora, por mais que seja real. Combinadas com a emoção, estão a memória e a atenção, variáveis que possibilitam às marcas mapearem as informações resgatadas pelos consumidores durante uma pesquisa de marketing. Se o consumidor não armazena na memória um estímulo de marketing que lhe foi apresentado, não é possível que ele verbalize em pesquisas uma resposta exata sobre a situação que lhe é perguntada. Com a análise de um comercial através de técnicas do neuromarketing é possível verificar se o consumidor está prestando atenção no anúncio e consequentemente se irá armazenálo na memória de longo prazo, conforme sugere Beard (2013). Desta forma, as técnicas apontam os elementos eficazes ou não do estímulo que, não sendo verbalizado através do resgate da informação, não resultará em uma ação do consumidor. Sabe-se que oito em cada dez novos produtos não resistem aos três primeiros meses de lançamento e segundo Lindstrom (2009), o motivo está nas situações já detalhadas nesta análise, as respostas dos consumidores não refletem no seu comportamento de compra. No contexto de desenvolvimento do produto, o neuromarketing é indicado em duas fases, mas para a situação de fracasso apresentada, a mais importante ocorre no processo de design e refinamento do produto, de acordo com Ariely e Berns (2010). A aplicação da técnica é uma alternativa para reduzir este índice e consequentemente o prejuízo das marcas, a partir da melhor análise do produto através do mapeamento cerebral. Nas pesquisas tradicionais, conforme apresentado no capítulo três, a pesquisa de produto é um tipo específico que é aplicado através de pesquisas qualitativas e quantitativas, baseadas no objetivo da marca. Entre as técnicas de análise de produtos, a única que não utiliza questionários, ou seja, a resposta verbalizada, é a observação, que é suscetível a interpretação do pesquisador que está analisando os consumidores. Algumas técnicas de observação mecânica, 88 denominadas mensurações fisiológicas, vão ao encontro do neuromarketing como, por exemplo, o enquadramento do eletroencefalograma nesta pesquisa, o que podese observar que as pesquisas consideradas tradicionais apresentam esta alternativa de detalhamento e evolução, mas não situada como técnica de neuromarketing. Este equipamento é um dos primeiros instrumentos de pesquisa em neurociência, de acordo com Camargo (2013), além disto, é considerado não invasivo e é aplicado a partir de um investimento mais baixo que as demais técnicas, o que podem ser os motivos de estar entre as técnicas de observação. Segundo Camargo (2013), as técnicas de neuromarketing possibilitam que as marcas verifiquem se são processadas com menos esforços cerebrais e estímulos emocionais positivos, marcas fortes, ou se apresentam maiores níveis de esforços de ativação em áreas da memória e resposta emocional negativa, marcas fracas. Desta forma, as marcas traçam um balanço do grau de lembrança e envolvimento com o consumidor, o que resulta em avaliações e análises da eficácia publicitária, imagem de marca e posicionamento. São nestes pontos que a pesquisa tradicional é questionada pelos pesquisadores do neuromarketing. Segundo Page (2010), métodos qualitativos e de survey são vulneráveis a distorção quando envolvem a revelação de informações particulares ou sensíveis, por isto, os métodos que não dependem de questões explícitas, como o neuromarketing, podem revelar atitudes não declaradas de forma mais eficaz. Dentro deste contexto, um obstáculo para tomadores de decisão em relação à pesquisa tradicional qualitativa está na amostra. Conforme exposto no capítulo três, as técnicas qualitativas trabalham com amostras pequenas que não devem ser generalizadas, visto que, não é este o objetivo da pesquisa. Já as técnicas quantitativas são aplicadas em amostras representativas o que possibilita a replicação das respostas, mas requer um maior investimento das marcas. O neuromarketing, em comparação com estas técnicas, pesquisa amostras muitos menores em razão da análise ser resultado de mapeamentos cerebrais que podem ser transferidos aos demais consumidores devido à semelhança entre o cérebro humano, ou seja, o consumidor pode agir culturalmente de maneira diferente, mas a região do prazer é a mesma para todos. Desta forma, segundo Camargo (2013), o neuromarketing é capaz de identificar padrões do processamento cerebral em cada cultura. 89 A pesquisa qualitativa é o principal alvo de crítica dos pesquisadores da nova técnica, pois além da amostra não representativa ser utilizada por muitas marcas como suficientes para seus objetivos, conforme abordado no capítulo três, há ainda a questão da interpretação de dados, que difere das técnicas quantitativas baseadas em análises estatísticas, survey, que fornecem dados confiáveis devido às respostas serem estruturadas e, na maioria dos métodos, sem intervenções do pesquisador. Destaque-se esta análise, devido ao fato de que a interpretação dos dados, em consequência de respostas subjetivas que visam revelar informações mais sinceras, depende do pesquisador, que pode direcionar os comentários com base nas suas próprias convicções e entendimentos. Além disto, em ambas as pesquisas tradicionais, o consumidor pode mentir e esconder racionalmente sua real opinião sobre o que está sendo questionado pelos inúmeros motivos já explorados nos capítulos anteriores, que irão distorcer as futuras análises das marcas sobre o comportamento do consumidor. O mapeamento cerebral se distancia destas técnicas por buscar respostas no inconsciente, que não são verbalizadas. No contexto de implicações do neuromarketing, Fugate (2007) afirma que a técnica não pode ser considerada conclusiva em relação a atividade cerebral interna e o comportamento externo, ou seja, apresenta questionamentos sobre quais os motivos do estímulo apresentado ter ativado certa região cerebral resultando em uma associação positiva ou negativa. Por este motivo, o comportamento não depende só do cérebro, mas também de muitas outras variáveis para explicar uma ação, entre elas o ambiente externo, conforme explica Camargo (2013). Outras críticas em relação as respostas do neuromarketing para as atividades cerebrais também são apontadas por pesquisadores. Segundo Dr. Knight (apud SINGER, 2010), o neuromarketing pode distinguir se a resposta emocional de uma pessoa é positiva ou negativa, mas não se a resposta positiva é de admiração ou diversão. Questiona-se como o neuromarketing irá comprovar e explicar se as respostas cerebrais para os estímulos resultarão no comportamento de compra do consumidor. Até o momento sabe-se que ao estar diante de uma marca, produto ou comercial, o consumidor terá reações que resultarão em atividades cerebrais em determinadas regiões já estudadas pela neurociência, por isto é possível afirmar que o córtex orbitofrontal medial está associado ao prazer, mas não pode-se afirmar que por ter ativado esta região ele irá escolher o determinado produto no momento da 90 decisão e consequentemente resultará em mais vendas. O neuromarketing não é um leitor da mente e de acordo com Dr. Knight "Nós só podemos medir se você está prestando atenção" (SINGER, 2010, não paginado). A partir dos estudos realizados no projeto NeuroStandards Collaboration14, Horst Stipp, responsável pela divisão de estratégia global de negócios do ARF - The Advertising Research Foundation, recomenda que o neuromarketing deve ser empregado como um complemento, mas não um substituto para os métodos das pesquisas tradicionais (PRNEWSWIRE, 2011). Keller (apud VENKATRAMAN et al., 2012) destaca que o conjunto de ferramentas da neurociência pode melhorar e complementar a eficiência das pesquisas de marketing através da identificação de processos implícitos, mas não substituir as abordagens tradicionais para a compreensão das necessidades dos consumidores. Pode-se observar também que a maioria das técnicas de neuromarketing têm limites de aplicabilidade, como afirmam Venkatraman et al. (2012), ou seja, alguns segmentos de produtos que são experimentados antes de comprados como, por exemplo, sofá e roupas, não podem ser facilmente testados, mas ainda assim, são analisados através de apresentações visuais e representações com o objetivo de melhorar as campanhas e segmentar os potenciais consumidores. A concorrência é inevitável em todos os segmentos no século XXI. Os consumidores diariamente são expostos a inúmeras marcas, produtos e publicidades, sendo assim, as marcas precisam buscar alternativas para estarem cada vez mais em sintonia com as suas expectativas. Desta forma, o diferencial é percebido através da relação emocional com a marca, que é comprovado pelos estudos do comportamento do consumidor. Dentro deste contexto, conforme já explorado, é que estão as aplicabilidades e benefícios do neuromarketing. Os dados afirmam, segundo Lindstrom (2009), que vinte e uma mil novas marcas são lançadas por ano no mundo e isto resulta no insucesso de quase todas um ano depois. Segundo o autor, a neuroimagem pode verificar produtos e marcas com possibilidades de sucesso, identificar os centros de recompensas dos consumidores e revelar se os estímulos de marketing são atraentes, memoráveis ou esquecíveis. 14 Ver NeuroStandards Collaboration, p. 61. 91 A maior parte do cérebro é dominada por processos automáticos, e não por pensamentos conscientes. Boa parte do que acontece no cérebro é emocional, e não cognitivo (LOEWENSTEIS apud LINDSTROM, 2009, p. 34). A partir da constatação de que aproximadamente 95% do comportamento de consumo é insconsciente, o neuromarketing apresenta-se como uma técnica de imersão no inconsciente dos consumidores. Conforme já abordado, o ser humano acredita, em muitos casos, que está expondo o seu real comportamento, o que segundo Camargo (2013), são respostas conscientes, associadas somente à explicações racionais. Esta análise sugere que as marcas estão coletando, através das pesquisas tradicionais, respostas superficiais relacionadas com a tomada de decisões, cabíveis de mentira e autoengano. Isto pode resultar no aumento da estatística de produtos que fracassam nos três primeiros meses de venda. De acorco com Damásio (2005), as emoções, localizadas no sistema límbico, estão sempre presentes nas decisões. Esta afirmação não pode ser ignorada pelas marcas, que através do neuromarketing, tem a possibilidade de verificar se, por exemplo, determinado comercial ativou a região responsável pelas emoções, sendo possível identificar por cenas, as reações positivas e negativas que resultarão em alterações no estímulo e, consequentemente, em uma campanha mais eficiente. Outras variáveis como níveis de atenção e memória também são analisados pelas técnicas o que complementa o engajamento do cérebro do consumidor, pois segundo Morin (2011), campanhas que não despertam atenção, não são armazenadas na memória e consequentemente não participam das decisões. Com a utilização do neuromarketing é possível lançar produtos mais úteis e que atendam as necessidades dos consumidores, isto porque, conforme exposto por Ariely e Berns (2010), pode-se analisar o processo de design do produto para futuras adequações ou não, com base no que foi mapeado, o preço sugerido e após o lançamento, mensurar as campanhas publicitárias relacionadas a este desenvolvimento antes de estarem na mídia, o que pode evitar, segundo Lindstrom (2009), investimentos milionários em publicidade que contam com a sorte e que podem causar desperdícios de verba ou uma aversão por parte do público. De acordo com Zurawicki (2010), o neuromarketing apresenta para as marcas o que está funcionando e o que não está como, por exemplo, analisar o custobenefício da publicidade em determinados horários televisivos, visto que, os investimentos em espaços publicitários na televisão são altos. Neste caso, conforme 92 detalhado no estudo dos comerciais do Super Bowl, é possível verificar se os níveis de atenção, concentração, memória e envolvimento emocional dos comerciais transmitidos pela manhã geram mais efeitos nestas variáveis do que à noite, ou viceversa, além de identificar se o anúncio tem o mesmo impacto independente do horário e contexto da programação em que é exposto. Esta verificação também é cabível para os veículos que visam adequação de valores de publicidade a partir dos programas com que coincidem. Os dados coletados nas pesquisas de neuromarketing não envolvem a interpretação e observação das respostas pelo pesquisador, como na pesquisa qualitativa, por exemplo, que pode variar a partir da análise e dos diferentes pesquisadores. Através dos equipamentos que registram as imagens do cérebro ou que monitoram os sentidos, os neurocientistas identificam as áreas ativadas e relacionam com as descobertas já registradas do cérebro humano e da fisiologia, o que beneficia as marcas em uma análise mais profunda das reações reais positivas ou negativas do cérebro ao estímulo. O neuromarketing, destaca Costa (2013), possibilita o resgate de aspectos implícitos no comportamento de compra o que torna esta análise mais tangível. Além disto, combinado com as metodologias tradicionais, minimiza os riscos das decisões empresariais e maximiza o atendimento às demandas dos consumidores, visto que, para construir o desejado engajamento do consumidor, as marcas precisam investigálo profundamente e entender como seus cérebros são impactados pelas suas ações. Segundo Camargo (2013), com a utilização do neuromarketing, as marcas têm a oportunidade de remover a subjetividade de um depoimento, a aplicação de questionários que não conseguem articular questões-chaves para o sucesso do desdobramento da pesquisa, a possibilidade da mentira por motivos de defesa ou para agradar o pesquisador, isto porque, uma máquina pode minimizar o falseamento fotografando as emoções e evitar interpretações convenientes ou com base em crenças e valores. Além disto, as técnicas de neuromarketing podem ser aplicadas em diferentes estratégias de marketing. Fugate (2007) apresenta uma série de possibilidades que compartilham com o que já foi detalhado neste capítulo: teste de eficiência da publicidade, apelo do produto, apoio de celebridades, seleção de marca e seleção de mídia, sendo assim, nesta questão, a marca não está limitada ao optar por esta pesquisa. O crescimento de fornecedores também é notável nos últimos 93 anos, conforme exposto por Plassmann, Ramsøy e Milosavljevic (2012), o que possibilita avaliações dos métodos e alternativas para as marcas. Cavaco (2010) ressalta duas contribuições, a partir da aplicação das técnicas de neuromarketing, que traduzem os principais pontos destacados nesta análise: aprimorar as campanhas publicitárias e, consequentemente, favorecer o aumento dos lucros e contribuir para melhorar a compreensão sobre o comportamento do consumidor. As marcas precisam evoluir com o consumidor, se eles estão mais ativos, conectados e interessados em satisfazer seus desejos, com barreiras menores em relação a fatores culturais e renda, além de atentos aos produtos e serviços oferecidos, é necessário investir para entender esta evolução do comportamento e para se manterem ativas na sua mente a partir do controle da mensagem transmitida e de ações de marketing mais embasadas. Quadro 9 – Variáveis do neuromarketing para as marcas Variáveis do neuromarketing para as marcas 1) Mapear as reações ocultas aos estímulos através da imersão no inconsciente. 2) Mensurar o engajamento do cérebro consumidor (atenção, emoção e memória). 3) Embasar decisões estratégicas de marketing no mapeamento cerebral - análise mais profunda. Benefícios 4) Identificar o envolvimento emocional, presente na tomada de decisão e sua relação com o estímulo apresentado. 5) Maior eficiência no desenvolvimento e adequação de campanhas, produtos, embalagens e demais ações, tornando-as mais envolventes. 6) Aplicações variadas e adaptadas para diferentes estratégias: teste de eficiência da publicidade, apelo do produto, apoio de celebridades, seleção de marca e seleção de mídia. 7) Evitar interpretações convenientes das respostas dos consumidores ou com base em crenças e valores do pesquisador. 1) Não conclusivo quanto a atividade cerebral interna e a relação com o compotamento externo do consumidor. 2) Pode distinguir se a resposta é positiva ou negativa, mas não o tipo exato de emoção - admiração ou diversão. 3) Comprovar se as respostas cerebrais resultarão no comportamento de compra. Implicações 4) Limites de aplicabilidade e mobilidade para segmentos que são experimentados. Exemplo: sofás e roupas. 5) Alto investimento. 6) Questões éticas de aplicabilidade. 7) Ambiente laboratorial não favorece para que o consumidor produza reações cerebrais iguais às de uma situação de consumo real. Fonte: quadro desenvolvido pela aluna. 94 6 CONCLUSÃO As mudanças fazem parte da evolução do mundo há milhares de anos, podese dizer que são elas as responsáveis por isto. Desta forma, pessoas, lugares, marcas e produtos que não percebem a mudança, dificilmente se enquadrarão ao momento presente e ao futuro, construído cada vez mais por transformações. Após os capítulos explorados neste trabalho, constata-se que o neuromarketing é uma mudança presente no universo das pesquisas de marketing e, consequentemente, para quem faz uso delas, as marcas. Neste contexto, sabe-se que tudo que é novo precisa ser analisado, só assim, é possível identificar seus benéficos e expor aos interessados. Os principais benefícios do neuromarketing para as marcas, aplicáveis ao estudo do comportamento do consumidor, foram traduzidos em sete, sendo eles: (1) mapear as reações ocultas aos estímulos através da imersão no inconsciente, visto que, é o protagonista das pesquisas de neuromarketing; (2) mensurar o engajamento do cérebro consumidor (atenção, emoção e memória), principais variáveis possíveis de serem identificadas; (3) embasar decisões estratégicas de marketing no mapeamento cerebral, para análise mais profunda do consumidor; (4) identificar o envolvimento emocional, presente na tomada de decisão, e sua relação com o estímulo apresentado; (5) maior eficiência no desenvolvimento e adequação de campanhas, produtos, embalagens e demais ações, tornando-as mais envolventes; (6) aplicabilidade variada e adaptável para diferentes estratégias como, por exemplo, teste de eficiência da publicidade e apelo do produto, além de ser possível, com as técnicas de neuromarketing; (7) evitar interpretações convenientes das respostas dos consumidores ou com base em crenças e valores do pesquisador. Com base nos levantamentos realizados neste estudo, pôde-se elencar os benefícios do neuromarketing para as marcas e comprovar que eles existem e são aplicáveis às estratégias de marketing, a fim de contribuírem para a identificação das variáveis do comportamento do consumidor, que é a peça principal do quebra-cabeça das marcas. Conforme detalhado, este consumidor não tem consciência das suas reais motivações de compra e, desta forma, não consegue traduzi-las em palavras. É nesta questão que o neuromarketing está compreendendo e complementando as pesquisas tradicionais no diagnóstico do que está por trás dos sucessos e fracassos das marcas. 95 A partir da principal diferença entre o neuromarketing e as pesquisas tradicionais, os métodos de coleta de dados, foi verificado através de autores como Pradeep (2012), que com a aplicação da técnica é possível identificar variáveis como atenção, emoção e memória, que fornecem informações sobre como os estímulos expostos estão sendo processados pelos consumidores e o que ativaram em seus cérebros, visto que, mesmo que a pessoa tente se justificar racionalmente, a emoção está presente na sua decisão. Sendo assim, para analisar a importância do desenvolvimento do neuromarketing, foi explorado, primeiramente, os elementos que constroem as marcas e os processos de gerenciamento do seu valor. Neste contexto, foi apresentado o brand equity relativo à marca, mensurado a partir do comportamento do consumidor, como consequência das estratégias das marcas. Para elas analisarem esta relação, é necessário a aplicação de pesquisas de marketing, pois só através de conhecimento é possível compreender como o novo consumidor percebe, interage e decide por determinada marca. Os tipos de pesquisas foram explorados e segmentados segundo os autores pesquisados, sendo possível verificar vantagens e desvantagens sobre os métodos, o que mostrou-se ser crucial para o sucesso de uma pesquisa e, consequentemente, para uma estratégia, estímulo e relação entre marca e consumidor. Uma pesquisa pode ser aplicada para diferentes objetivos e etapas do planejamento de marketing. Com esta informação, foi possível verificar que pesquisas tradicionais estão apresentando problemas quando pensa-se em novos produtos, marcas e variáveis do comportamento do consumidor, por isso, o desenvolvimento do neuromarketing como uma técnica de pesquisa de marketing está cada vez mais eminente. Portanto, foi possível verificar os benefícios do neuromarketing para as marcas, mas também elencar suas implicações de aplicações e avanços, por se tratar de um estudo em atualização permanente de descobertas e que está relacionado com o desenvolvimento comportamental do ser humano. Conclui-se, com base nos autores apresentados, que o neuromarketing está evoluindo constantemente com o objetivo de compreender algumas lacunas do cérebro humano e, consequentemente, contribuir cada vez mais para as marcas no estudo do comportamento do consumidor e sua relação emocional com ele. Destaca-se que o neuromarketing não é considerado um substituto das pesquisas tradicionais, mas sim, um avanço que traduz informações implícitas que complementam a eficiência das pesquisas de marketing. 96 Diversos questionamentos existem sobre os tipos de análises que realmente resultarão em compra. Evidencia-se a partir deste trabalho monográfico, a dificuldade de obter embasamento teórico sobre o assunto apresentado, já que, a literatura nacional é escassa e o acesso a literatura estrangeira é restrito. Além disto, os recentes estudos realizados com a técnica não são divulgados, o que possibilita apenas detalhar pesquisas macros que foram aplicadas e publicadas há anos atrás por neurocientistas, o que para uma técnica em constante desenvolvimento e atemporal, torna-se uma variável limitante ao pesquisador. Devido às técnicas utilizadas pelo neuromarketing, uma pesquisa prática com o consumidor não pôde ser realizada, visto que, para isto ocorrer, seriam necessários equipamentos e altos investimentos. Sugere-se que o estudo seja aprofundado a partir do contato com neurocientistas e laboratórios de pesquisas que aplicam estas técnicas, a fim de aprofundar os benefícios do neuromarketing para as marcas e explanar outras questões relacionadas à sua contribuição para o marketing. O futuro do neuromarketing se desenvolve no presente devido a sede pelo progresso na compreensão dos processos de preferência e escolha do consumidor. 97 REFERÊNCIAS AAKER, David A. Marcas: Brand Equity gerenciando o valor da marca. 8.ed. São Paulo: Negócio, 2005. 309 p. ______. Criando e administrando marcas de sucesso. 3.ed. São Paulo: Futura, 2001. 745 p. AAKER, David A.; KUMAR, V.; DAY, George S. Pesquisa de marketing. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2004. 745 p. AMERICAN MARKETING ASSOCIATION. Dictionary, [199-]. Disponível em: <https://www.ama.org/resources/Pages/Dictionary.aspx?dLetter=B>. Acesso em: 14 de agosto de 2014. ARIELY, Dan; BERNS, Gregory S. Neuromarketing: the hope and hype of neuroimaging in business. Nature reviews Neuroscience, v. 11, p. 284-292, abril 2010. BEARD, Randall. Consumer Neuroscience - based advertising: making: 15 the new: 30, 2013. Disponível em: <http://www.nielsen.com/us/en/insights/news/2013/consumer-neuroscience-basedadvertising--making--15s-the-new--30.html>. Acesso em: 14 out. 2014. BORICEAN, Veronica. Brief history of neuromarketing. In: THE INTERNATIONAL CONFERENCE ON ECONOMICS AND ADMINISTRATION, 2009. Faculty of Administration and Business, University of Bucharest, Romania, p. 119-121. BRAIN, scan. Nature Neurosciense, v. 7, p. 683, 2004. CAMARGO, Pedro. Como a maçã conseguiu furar o olho do refri? Neurobranding, 2013. Disponível em: <http://pedrocamargo.co/como-a-macaconseguiu-furar-o-olho-do-refri-neurobranding-1/>. Acesso em: 23 out. 2014. ______. Neuromarketing: a nova pesquisa de comportamento do consumidor. São Paulo: Atlas, 2013. 200 p. CAVACO, Nanci Azevedo. Consumismo é coisa da sua cabeça - O poder do Neuromarketing. Rio de Janeiro: Ferreira, 2010. COLAFERRO, Claudia Almeida. A contribuição do neuromarketing para o estudo do comportamento do consumidor. 2011. 164 p. Dissertação (Mestrado em Administração) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12139/tde-27012012-185906/>. Acesso em: 22 out. 2014. COSTA, Carlos Augusto. Neuromarketing: sonho ou realidade. Revista Negócios da Comunicação Online, 62. ed. São Paulo: Nacional, 2013. Disponível em: <https://www.magtab.com/leitor/878/edicao/8687>. Acesso em: 24 out. 2014. 98 ______. A pesquisa de marketing que veio para ficar. Meio & Mensagem, São Paulo, 31. mar. 2014. DAMÁSIO, António Rosa. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. 2.ed. São Paulo: Cia. das Letras, 2005. 330 p. DIAS, Álvaro. Das ‘Neurociências Aplicadas ao Marketing’ ao ‘Neuromarketing Integrativo’. Ciências & Cognição, v. 17, p. 178-189, 30. abr. 2012. DONATO, Gisele. Para viver um grande amor. Revista Consumidor Moderno, 190. ed. São Paulo: Plural, abr. 2014. DOTY, Carlton. O consumidor não acredita em anúncios. Tradução de Bruna Molina. Meio & Mensagem, São Paulo, 02 mai. 2014. Disponível em: <http://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/noticias/2014/05/02/Oconsumidor-nao-acredita-em-anuncios.html>. Acesso em: 28 ago. 2014. ENGEL, James F; BLACKWELL, Roger D; MINIARD, Paul W. Comportamento do consumidor. 8.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. xix, 641 p. FISHER, Carl Erik et al. Defining Neuromarketing: Practices and Professional Challenges. Harvard Review Psychiatry, New York, p. 230–237, 2010. FOREBRAIN. Dez técnicas utilizadas em estudos de neuromarketing, 2011. Disponível em: <http://www.forebrain.com.br/10-tecnicas-utilizadas-em-estudos-deneuromarketing/>. Acesso em: 13 out. 2014. FOREBRAIN. Técnicas da neurociência aplicadas no neuromarketing: Eyetracking, 2012. Disponível em: <http://www.forebrain.com.br/serie-tecnicas-daneurociencia-aplicadas-no-neuromarketing-eye-tracking/>. Acesso em: 13 out. 2014. FOREBRAIN. Técnicas da neurociência aplicadas no neuromarketing: Eletroencefalografia – EEG, 2012. Disponível em: <http://www.forebrain.com.br/serie-tecnicas-da-neurociencia-aplicadas-noneuromarketing-eletroencefalografia-eeg-parte-3/>. Acesso em: 13 out. 2014. FUGATE, Douglas L. Neuromarketing: a layman’s look at neuroscience and its potential application to marketing practice. Journal of Consumer Marketing, USA, v. 24, n. 7, p. 385–394, 2007. ______. Marketing services more effectively with neuromarketing research: a look into the future. Journal of Consumer Marketing, USA, v. 22, n. 2, p. 170–173, 2008. FURTADO, Pedro Calabrez. Neuromarketing: vantagens e desvantagens, 2012. Disponível em: <http://www.revistamarketing.com.br/materia.aspx?m=966>. Acesso em: 17 out. 2014. 99 GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1999. 206 p. GOBÉ, Marc. A emoção das marcas: conectando marcas às pessoas. Rio de Janeiro: Negócio, 2002. 396 p. GRYNBERG, Alexandre. Marcas dos Fundos. Meio & Mensagem, São Paulo, 11 abr. 2014. Disponível em: <http://www.meioemensagem.com.br/home/comunicacao/ponto_de_vista/2014/04/1 1/Marcas-dos-Fundos.html>. Acesso em: 18 ago. 2014. INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO E ESTATÍSTICA - IBOPE. Consumidor do Século XXI, 2008. Disponível em: <http://www4.ibope.com.br/Consumidor/>. Acesso em 15 set. 2014. JADON, Juliana. O colecionador. Revista Consumidor Moderno, 190. ed. São Paulo: Plural, abr. 2014. KELLER, Kevin L. Conceptualizing, Measuring, and Managing Customer-Based Brand Equity. Journal of Marketing, v. 57, n. 1, p. 1-22, 1993. KELLER, Kevin Lane; MACHADO, Marcos Fernandes. Gestão estratégica de marcas. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. xx, 289 p. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de marketing. 14.ed. São Paulo: Pearson, 2012. 765 p. ______. Administração de marketing. 10.ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000. 764 p. ______. Marketing de A a Z: 80 conceitos que todo profissional precisa saber. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003, 256 p. LAVAREDA, Antonio. Neuropolítica: o papel das emoções e do inconsciente. REVISTA USP, São Paulo, n.90, p. 120-146, jun/ago 2011. LEE, N.; BRODERICK, L.; CHAMBERLAIN, L. What is ‘neuromarketing’? A discussion and agenda for future research. International Journal of Psychophysiology, p. 199-204, 2007. LEVALLOIS, CLEMENT. Neuromarketing: the first years, [ca. 2011]. Disponível em: <http://www.clementlevallois.net/sandbox/timeline/index.html#0>. Acesso em: 15 set. 2014. ______. NESSHI is launched: When neuroscience meet the social sciences and humanities, 2011. Disponível em: <http://neurobusiness.wordpress.com/2011/06/15/nesshi-is-launched-whenneuroscience-meet-the-social-sciences-and-humanities/>. Acesso em 16 set. 2014. 100 LINDSTROM, Martin. A lógica do consumo: verdades e mentiras sobre por que compramos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. 207 p. MADAN, Christopher R. Neuromarketing: the next step in Market research? Eureka Journal, Universidade de Alberta, Canadá, p. 34-42, 2010. MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3.ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. xi, 720 p. MARTINS, José. A natureza emocional da marca: como encontrar a imagem que fortalece sua marca. São Paulo: Negócio, 1999. 208 p. ______. Branding: um manual para você criar, gerenciar e avaliar marcas. 3. ed. São Paulo: Copyright, 2006. 312 p. MARTINS, José Roberto; BLECHER, Nelson. O império das marcas. São Paulo, SP: Marcos Cobra, 1996. 278 p. MATTAR, Fauze Najib. Pesquisa de marketing. 2.ed. São Paulo: 1998. Atlas, 2 v. ______. Pesquisa de marketing. 6.ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2005. 2 v. MCDANIEL JR., Carl; GATES, Roger. Pesquisa de marketing. São Paulo: Thomson, c2003. xxv, 562 p. MORIN, Christophe. Neuromarketing: The New Science of Consumer Behavior. Journal Society, v. 48, p. 131-135, 2011. MOWEN, John C.; MINOR, Michael S.; LIMEIRA, Tania Maria Vidigal. Comportamento do consumidor. São Paulo: Prentice Hall, 2003. x, 403 p. PAGE, Graham. Neuroscience: A New Perspective, 2010. Disponível em: <http://www.millwardbrown.com/globalnavigation/insights/insights?searchQuery=Neuroscience%3a+A+New+Perspective>. Acesso em 08 out. 2014. PALEO, O. S. Curso Neurociência aplicada ao processo decisório. Apresentação impressa de Power Point, ESPM, Porto Alegre, jul 2013. PENTEADO, Claudia. Neuromarketing mapeia consumidor, 2012. Disponível em: <http://propmark.uol.com.br/mercado/39282:neuromarketing-mapeia-consumidor>. Acesso em: 17 out. 2014. PERUZZO, Marcelo. As três mentes do neuromarketing. Curitiba: IP2 Marketing de resultado, 2013. 264 p. PINHO, José Benedito. O poder das marcas. 2.ed. São Paulo: Summus, 1996. 143 p. 101 PLASSMANN H.; RAMSØY T.Z; MILOSAVLJEVIC, M. Branding the brain: A critical review and outlook. Journal of Consumer Psychology, p. 1-19, 2012. PRADEEP, A. K. Measuring the buying brain, 2010. Disponível em: <http://www.nielsen.com/us/en/insights/news/2010/measuring-the-buyingbrain.html>. Acesso em: 13 out. 2014. ______. O cérebro consumista: conheça os segredos mais bem guardados para vender para a mente subconsciente. São Paulo: Pensamento-Cultrix, 2012. 296 p. PRNEWSWIRE. Advertising Research Foundation Develops Standards for Neuromarketing Research, 2011. Disponível em: <http://www.prnewswire.com/news-releases/advertising-research-foundationdevelops-standards-for-neuromarketing-research-118423879.html>. Acesso em: 24 out. 2014. PRWEB. Brighthouse Institue for thought sciences launches first neuromarketing research company, 2002. Disponível em: <http://www.prweb.com/releases/2002/6/prweb40936.htm>. Acesso em: 16 set. 2014. ROBERTS, Kevin. Lovemarks: o futuro além das marcas. São Paulo: M. Books, c2005. 221 p. SAMARA, Beatriz Santos; MORSCH, Marco Aurélio. Comportamento do consumidor: conceitos e casos. São Paulo: Pearson, 2005. xvii, 267 p. SAMARA, Beatriz Santos; BARROS, José Carlos. Pesquisa de marketing: conceitos e metodologia. 4.ed. São Paulo: Pearson, c2007. xiv, 273 p. SANDS RESEARCH. Sands Research 2009 Super Bowl Neuromarketing study matches creative arts emmy awards. Texas, 15. set. 2009. Disponível em: <http://www.sandsresearch.com/PressRelease_EmmySB.aspx>. Acesso em: 13 out. 2014. ______. Learning to Interpret the Neuromedia Results, 2011. Disponível em: <http://www.sandsresearch.com/InterpretNM2.aspx>. Acesso em: 13 out. 2014. ______. The Sands Research Neuro Engagement ScoreTM (NES), [200-]. Disponível em: <http://www.sandsresearch.com/Neuro_Engagement_Score.aspx>. Acesso em: 13 out. 2014. SCHIFFMAN, Leon G; KANUK, Leslie Lazar. Comportamento do consumidor. 6.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. xiv, 475 p. SINGER, Natasha. Making Ads That Whisper to the Brain. The New York Times, 2010. Disponível em: <http://www.nytimes.com/2010/11/14/business/14stream.html?module=Search&mab Reward=relbias%3Aw%2C%7B%222%22%3A%22RI%3A13%22%7D&_r=2&>. Acesso em: 23 out. 2014. 102 SOLOMON, Michael R. O comportamento do consumidor: comprando, possuindo e sendo. 5.ed. Porto Alegre: Bookman, 2002. ix, 446 p. TAVARES, Mauro Calixta. A força da marca: como construir e manter marcas fortes. São Paulo: Harbra, 1998. XVII, 220 p. VENKATRAMAN V. et al. New scanner data for brand marketers: How neuroscience can help better understand differences in brand preferences. Journal of Consumer Psychology, v. 22, p. 143-153, 2012. XEREZ, Eduardo. Neurociência: uma nova modalidade de pesquisa em comportamento do consumidor. 2006. 21 p. Faculdade de Administração, PUC, Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www.pucrio.br/pibic/relatorio_resumo2006/relatorio/CCS/Adm/ADM_06_Eduardo_Paiva%20.p df>. Acesso em: 03 out. 2014. ZURAWICKI, Leon. Neuromarketing: Exploring the Brain of the Consumer. Springer, 2010, 273 p. WELLS, Melanie. In Search of the Buy Button, 2003. Disponível em: <http://www.forbes.com/forbes/2003/0901/062.html>. Acesso em: 15 set. 2014. 103 ANEXOS 104 ANEXO A – PROJETO DE MONOGRAFIA