Revista Hórus – Volume 5, número 1 – Jan-Mar, 2011 ARTIGO ORIGINAL ANÁLISE DA CINÉTICA DE POTÊNCIA DE MEMBROS SUPERIORES E MEMBROS INFERIORES DURANTE ETAPA DO CAMPEONATO PAULISTA DE HANDEBOL DE AREIA Clodoaldo José Dechechi1 RESUMO O presente estudo tem por objetivo avaliar a cinética de potência de MMSS e MMII de jogadores de Handebol de Areia participantes da 1° etapa do Campeonato Paulista de Handebol de Areia de 2009. Para este estudo foram avaliados 71 jogadores, sendo 36 do sexo feminino e 35 do sexo masculino, num total de 11 equipes, todos participantes do mesmo torneio. Os instrumentos de avaliações utilizados foram o Arremesso de medicine ball de 1kg e o salto triplo em extensão alternado. Estes testes juntamente com pesquisa bibliográfica fizeram com que fosse verificado que um torneio com esses moldes pode afetar a performance de jogadores de handebol de areia para uma capacidade física determinante, como é a potência. Palavras-chave: handebol de Areia. Potencia de Membros Superiores. Potencia de Membros Inferiores ABSTRACT This study aims to evaluate the kinetic power of upper and lower limbs of players Handebol de Areia participants of the 1st Tournament Paulista of Handebol de Areia 2009. For this study we evaluated 71 players, 36 were female and 35 males, a total of 11 teams, all participants in the same tournament. The instruments used were the ratings Shot 1 kg medicine ball and triple jump in alternate extension. These tests along with literature made it finds that a tournament with these patterns can affect the performance of the handball players of sand to a physical capacity, factor as is the power. Keywords: Beach Handball. Upper Limb Power. Lower Limb Power INTRODUÇÃO O handebol de areia é conhecido mundialmente como Beach Handball, surgiu em 1992, quando em uma pequena ilha da Itália o então presidente do Sequax, Gianni Butarelli e Franco Schiano, conceberam a idéia do que eles chamavam de “handballbeach”. O primeiro torneio desta modalidade foi realizado em Ponza na praia de San Antonio, com a participação de cinco equipes. No mesmo ano Butarelli e Schiano da Federação Italiana de Handebol (FIGH) criam o Comitê Organizador de Handebol de Areia (COHB) (GEHRER, 2004) De acordo com Guerrero (2004) em 1996, a Federação Internacional de Handebol (IHF) publica o manual “Handebol de Areia – Rules of the Game” que foi apresentado no congresso da IHF em Hilton Island (USA). A Federação Européia de 1 Bacharel em Treinamento Esportivo UNICAMP – Campinas-SP. Mestre em Bioquímica do Exercício UNICAMP – Campinas-SP. Docente do Curso de Educação Física FAESO – Ourinhos-SP [email protected] 125 Revista Hórus – Volume 5, número 1 – Jan-Mar, 2011 ARTIGO ORIGINAL Handebol (EHF) promove o Seminário dos Especialistas em Handebol de Areia da EHF em Marsala (Itália), onde seus objetivos eram como desenvolver o Handebol de Areia, discutir suas regras e torneios e atividades futuras. No decorrer dos anos são realizados inúmeros eventos para se discutir e aprimorar o Handebol de Areia, cursos para árbitros, técnicos. A evolução se torna algo iminente, vários campeonatos em todo mundo, inclusive no Brasil. O presidente da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb), professor Manoel Luiz Oliveira, participou do XXV Congresso da IHF e apresentou o Handebol de Areia ao Brasil. O esporte ganhou credibilidade e começou a ser praticado dentro das regras. Em 1995 foi realizado, I Mundialito de Handebol de Areia, e no ano seguinte é realizado no Brasil, de 26 a 28 de janeiro o "II Mundialito de Handebol de Areia" durante o Festival Olímpico de Verão, com as seleções do Brasil, Itália, Cuba e Canadá. Depois de vários campeonatos o esporte ganha um número grande de adeptos do então Handebol de Praia, num dos eventos da CBHB foi declarado a mudança de nome da modalidade no país de Handebol de Praia para Handebol de Areia com o objetivo de difundir o esporte para ser praticado em todo território nacional e não somente no litoral como acontecia freqüentemente. No Brasil, o Handebol de areia chegou através do professor Manoel Luiz Oliveira, Presidente da CBHb, quando em sua viagem à Holanda para participar do XXV Congresso da Federação Internacional de Handebol (IHF), conhece o Handebol de areia através de uma exibição das Federações da Holanda e Itália. De volta ao Brasil, muito interessado, o professor Manoel Luiz Oliveira sugere ao Presidente do Comitê Olímpico, Carlos Arthur Nuzman, a inserção do Handebol de areia no festival Olímpico de Verão de 1995 (RIBEIRO e RIBEIRO, 2007). Caracterização do Handebol de Areia Segundo Caria (2007), a partida de handebol de areia é disputada em uma quadra retangular de 27 metros de comprimento por 12 metros de largura, contém duas áreas de gol, com uma baliza ao final de cada uma. A área de jogo possui 15 metros de comprimento por 12 metros de largura. As linhas que delimitam a quadra serão marcadas por uma fita ou corda, sendo necessariamente colorida. Os maiores lados da quadra são chamados linhas laterais e os lados menores são chamados linhas de fundo 126 Revista Hórus – Volume 5, número 1 – Jan-Mar, 2011 ARTIGO ORIGINAL (nos dois lados da baliza) e linha de gol (entre os postes da baliza) (RIBEIRO e RIBEIRO, 2007). O jogo inicia-se com os árbitros fazendo o sorteio para determinar a escolha da quadra e da área de substituição. Após o primeiro tempo, as equipes trocam de quadra, mas não da área de substituição. Para iniciar a partida, os jogadores se posicionam em qualquer lugar da quadra, e só começa a movimentação ao sinal do árbitro (RIBEIRO e RIBEIRO, 2007). A partida é realizada em dois tempos de 10 minutos, com intervalo de cinco minutos entre os tempos. Os resultados de cada tempo são computados separadamente, então, a equipe vencedora do jogo é aquela que ganhar dois tempos. Em caso de empate, a disputa vai para o Shoot Out (um jogador contra o goleiro). Se ocorrer empate no final de um meio tempo, a decisão vai para o Gol de Ouro, onde a equipe que marcar o primeiro gol será a vencedora (RIBEIRO e RIBEIRO, 2007). A partida é encerrada com o sinal de termino automático do placar mural público ou do cronometrista. Caso o sinal não seja dado, os árbitros apitam para indicar que o jogo acabou (RIBEIRO e RIBEIRO, 2007). O time out é uma decisão do árbitro e pode ocorrer nas seguintes situações: desqualificação ou expulsão; tempo técnico de equipe; tiro de seis metros; sinal de apito do cronometrista ou do delegado técnico, e; exclusão de um oficial (RIBEIRO e RIBEIRO, 2007). Cada equipe tem direito a um tempo técnico, em cada tempo de jogo. O tempo técnico é de um minuto e só pode ser pedido quando a sua equipe estiver com a posse de bola (RIBEIRO e RIBEIRO, 2007). Existem poucos estudos acerca das capacidades físicas do handebol de areia. Um estudo de Dechechi et. al (2009) que objetivou avaliar um treinamento físico específico de 12 sessões sobre as capacidades físicas de potência de membros superiores e inferiores, velocidade de sprint e resistência de sprints de 15 metros. A amostra foi constituída por 12 atletas da seleção brasileira de Handebol de areia do sexo feminino que estavam treinando e competindo regularmente. As capacidades físicas (resistência, força, potência muscular e velocidade) foram avaliadas através de testes físicos (arremesso de medicine ball, salto triplo horizontal alternado, teste de sprints consecutivos de 15 metros com 10 segundos de pausa). Ao final das sessões, a equipe 127 Revista Hórus – Volume 5, número 1 – Jan-Mar, 2011 ARTIGO ORIGINAL apresentou melhora significativa (p< 0,05) em todas as capacidades físicas avaliadas, ou seja, o treinamento conseguiu atingir adaptações positivas esperadas. O desempenho atlético é determinado por vários fatores, tais como físico (condição física geral e específica), psicológica (personalidade e motivação), técnico e tático (técnica e tática do jogo) e corporal (características morfológicas) (BAYER, apud VASQUES et. al, 2007). As características morfológicas mantêm estreita relação com o desempenho esportivo em diferentes modalidades (VASQUES et. al, 2008). Com isso, elas influenciam cada vez mais na escolha dos atletas, proporcionando melhores condições para o treinamento das qualidades físicas (McARDLE, KATCH e KATCH, 2008) O presente estudo tem por objetivo avaliar a cinética de potência de Membros Superiores e Inferiores em jogadores de Handebol de Areia masculino e feminino durante a 1° etapa do Campeonato Paulista de Handebol de Areia de 2009. MATERIAIS E MÉTODOS Caracterização dos Sujeitos Participaram do presente estudo 71 jogadores, sendo 36 do sexo feminino e 35 do sexo masculino, com idade variando entre 17 e 25 anos, todos participantes da 1° Etapa do Campeonato Paulista de Handebol de Areia. Todos os jogadores foram informados dos testes que foram aplicados e participaram voluntariamente das coletas de dados. Caracterização do Campeonato O Campeonato Paulista de Handebol de Areia 2009 foi realizado ao longo do segundo semestre deste ano. É constituído por etapas, realizadas a cada 30 ou 40 dias entre as mesmas. A etapa é realizada em único dia para cada categoria, tendo início por volta de 09:00. Na categoria adulta as equipes são divididas em duas chaves na fase classificatória, e para a categoria adulto feminino, as duas equipes que vencerem suas respectivas chaves, disputam a final da etapa. E para a categoria adulto masculino, as duas equipes melhores classificadas em suas chaves, disputam as semifinais da etapa, na forma de chaveamento cruzado (1° colocado grupo A x 2° colocado grupo B; 1° 128 Revista Hórus – Volume 5, número 1 – Jan-Mar, 2011 ARTIGO ORIGINAL colocado grupo B x 2° colocado grupo A), e as equipes que vencerem os respectivos jogos, disputam as finais da etapa. As equipes com mais pontos acumulados ao longo das etapas disputam a etapa final do Campeonato Paulista de Handebol de Areia 2009 Metodologia Instrumentos de Avaliação Arremesso de medicine ball de 1kg Objetivo: avaliar a potência de membros superiores (VASSEN et al, 2000; LIDOR et al, 2005). Metodologia: O teste é feito com o atleta sentado com a parte posterior da coluna posicionada na tela de proteção da quadra de jogo. Com a bola posicionada na altura do esterno, o atleta deve arremessar a bola sem retirar as costas da parede. É medida a distância do lançamento da bola entre o ponto inicial até o ponto onde a medicine ball toca o chão. Foram realizadas três tentativas para cada arremesso, com intervalo aproximado de 30 segundos entre cada uma, sendo considerado o melhor resultado de cada arremesso. Salto triplo em extensão alternado. Objetivo: avaliar a potencia de membros inferiores (SPURRS, MURPHY e WATSFORD, 2003). Metodologia: Consiste numa medição de salto a partir de um local pré-determinado com três passadas consecutivas com a máxima extensão percorrida possível. É mensurada a distância total do salto com uma trena. Era medido o local na areia marcado pela pisada. Foram realizadas três tentativas de saltos, com intervalo aproximado de 3 minutos entre cada uma, sendo considerado o melhor resultado de cada atleta. Durante a etapa, as coletas de dados eram realizadas da seguinte maneira: • Baseline: anteriormente a 1° partida de cada equipe • Logo após cada partida. 129 Revista Hórus – Volume 5, número 1 – Jan-Mar, 2011 ARTIGO ORIGINAL ANÁLISE ESTATÍSTICA Para a análise estatística foi utilizado o teste de normalidade de KolmogorovSmirnov, com valor de referência p>0,1. Quanto a diferença entre as médias, foi utilizado o teste Ttest bicaudal, com valor de referência significativa p<0,05. RESULTADOS A tabela I apresenta os resultados coletados para o teste de potência de MMSS e MMII com as equipes femininas. Foram observados diferença significativa para a potência de MMII entre as coletas do jogo 2 em relação as coletas do jogo 1. Tabela I. Valores médios (m) e desvio padrão (entre parênteses) dos testes de potência de MMSS e MMII das equipes participantes da I etapa do Campeonato Paulista de Handebol de Areia. ¥ p<0,05 em relação ao Jogo 1. Feminino 1 Feminino 2 Feminino 3 Feminino 4 Feminino 5 MÉDIA MMSS MMII MMSS MMII MMSS MMII MMSS MMII MMSS MMII MMSS MMII Baseline Média (dp) 5.24 (0.89) 5.08 (0.58) 4.18 (0.50) 4.33 (0.27) 4.92 (0.49) 5.06 (0.55) 4.54 (0.75) 4.81 (0.38) 5.41 (0.13) 5.11 (0.48) 4.86 (0.50) 4.88 (0.33) Jogo 1 Média (dp) 4.85 (0.70) 4.94 (0.52) 4.10 (0.48) 4.39 (0.46) 5.14 (0.70) 5.06 (0.42) 4.87 (0.63) 4.77 (0.28) 5.23 (0.43) 5.46 (0.44) 4.84 (0.44) 4.92 (0.39) Jogo 2 Média (dp) 4.96 (0.55) 4.81(0.56) 4.27 (0.66) 4.49 (0.49) 4.71 (0.45) 4.85 (0.41) 4.78 (0.74) 4.82 (0.41) 5.15 (0.39) 5.13 (0.44) 4.57 (0.33) 4.82(0.22) ¥ Jogo 3 Média (dp) 4.95 (0.66) 4.86 (0.35) 5.07 (0.57) 5.21 (0.40) 5.01 (0.09) 5.03 (0.24) A Figura 1 apresenta os dados normalizados em relação ao baseline do teste de medicine ball de 1 kg com as equipes femininas. 130 Revista Hórus – Volume 5, número 1 – Jan-Mar, 2011 ARTIGO ORIGINAL Figura 1: resultados normalizados do teste de arremesso de medicine ball de 1 kg com as equipes do sexo feminino Já a Figura 2 apresenta os resultados normalizados em relação ao baseline para o teste de salto triplo horizontal alternado para as equipes femininas. Figura 2: resultados normalizados do teste de salto triplo horizontal alternado com as equipes do sexo feminino. Em relação as equipes da categoria masculino, foi observada diferença significativa (p<0,05) para a capacidade física de potência de MMSS entre baseline e o jogo 2, entre o jogo 1 e o jogo 2. A Tabela II apresenta os valores médios de cada equipe. 131 Revista Hórus – Volume 5, número 1 – Jan-Mar, 2011 ARTIGO ORIGINAL Tabela II. Valores médios (m) e desvio padrão (entre parênteses) dos testes de potência de MMSS e MMII das equipes participantes da I etapa do Campeonato Paulista de Handebol de Areia. ¥ p<0,05 em relação a jogo2; § p<0,05 em relação ao jogo 2. MMSS Masculino 1 MMII MMSS Masculino 2 MMII MMSS Masculino 3 MMII MMSS Masculino 4 MMII MMSS Masculino 5 MMII MMSS Masculino 6 MMII MMSS MÉDIA MMII Baseline Média (dp) 7.17 (1.28) 5.41 (0.51) 9.03 (1.43) 5.61 (0.56) 6.81 (0.97) 6.34 (0.68) 7.63$ (1.13) 5.88 (0.68) 7.44 (0.86) 5.91 (0.63) 8.08 (0.83) 6.44 (0.83) 7.68 (0.78)¥ 5.93 (0.40) Jogo 1 Média (dp) 7.21 (1.09) 5.64 (0.93) 8.80 (1.37) 5.74 (0.40) 6.73 (0.90) 6.02 (0.82) 7.16 (1.02) 5.92 (0.48) 7.31 (0.70) 5.76 (0.41) 8.62 (1.29) 6.81 (0.81) 7.64 (0.85)§ 5.97 (0.40) Jogo 2 Média (dp) 7.22 (1.08) 5.73 (0.80) 8.62 (1.14) 5.63 (0.49) 6.45 (0.82) 5.77 (0.67) 6.82 (1.18) 6.18 (0.51) 6.73 (0.69) 5.70 (0.36) 8.13 (1.05) 6.81 (0.77) 7.33 (0.86) 5.97 (0.46) Jogo 3 Média (dp) 7.09 (1.02) 5.56 (0.58) 8.46 (1.56) 5.55 (0.45) 7.35 (1.35) 6.17 (0.51) 6.43 (0.54) 5.92 (0.43) 8.56 (0.79) 6.97 (0.74) 7.58 (0.91) 5.97 (0.47) Jogo 4 Média (dp) Jogo 5 Média (dp) - - - - - - - - 6.59 (0.80) 5.78 (0.50) 6.99 (1.41) 5.87 (0.57) 7.24 (0.59) 5.84 (0.50) 8.60 (0.93) 6.72 (0.81) 7.35 (0.87) 6.05 (0.45) 6.89 (0.09) 5.92 (0.61) 8.31 (0.89) 6.85( 0.76) 7.60 (1.00) 6.38 (0.65) A Figura 3 apresenta os dados normalizados em relação ao baseline do teste de medicine ball de 1 kg com as equipes masculina 132 Revista Hórus – Volume 5, número 1 – Jan-Mar, 2011 ARTIGO ORIGINAL Figura 3: resultados normalizados do teste de arremesso de medicine ball de 1 kg com as equipes do sexo masculino Já a Figura 4 apresenta os resultados normalizados em relação ao baseline para o teste de salto triplo horizontal alternado para as equipes masculinas. Figura 4: resultados normalizados do teste de salto triplo horizontal alternado com as equipes do sexo masculino. DISCUSSÃO O presente estudo teve como objetivo verificar a possibilidade desse tipo de campeonato interferir no desempenho dos atletas. Com isso realizamos dois diferentes 133 Revista Hórus – Volume 5, número 1 – Jan-Mar, 2011 ARTIGO ORIGINAL testes nas em seis equipes masculinas e cinco femininas estudadas durante a execução deste trabalho. Analisando a cinética da potência de membros superiores nas equipes femininas, observamos que duas equipes (Feminino 1 e Feminino 2) apresentaram queda de performance desta capacidade após o primeiro jogo, com melhora após o segundo jogo. Já uma equipe sempre (Feminino 5) apresentou performance abaixo do seu baseline, com apenas um pequeno aumento no ultimo jogo. Já uma equipe (Feminino 3) apresentou aumento após o primeiro jogo, mas após o segundo jogo ocorreu uma queda brusca de performance, e uma única equipe (Feminino 4) apresentou cinética de aumento de performance desta capacidade ao longo do torneio, oscilando entre queda e aumento de performance mas sempre acima do seu baseline. Assim, observamos a estrutura do jogo de handebol de areia, onde no Brasil em jogos de alto nível de rendimento e com as equipes sendo compostas por 10 atletas, apenas uma atleta, participa do jogo tanto no ataque quanto na defesa por set, dois atletas de linha atuam apenas na defesa, e dois atuam apenas no ataque, além do goleiro, que é substituído quando sua equipe está de posse de bola pelo chamado “especialista”. Desta forma, como a equipe Feminino 2 atuou com muitas atletas no campeonato, podemos inferir portanto que esse tipo de campeonato não só não promoveu fadiga em potência de membros superiores como auxiliou no aumento da velocidade de recrutamento de Unidades Motoras, promovendo o aumento da performance ao longo do campeonato. Um ponto que deve ser ressaltado é que, salvo as atletas que participam de fases de treinamento da Seleção Brasileira de Handebol de Areia Feminino e das atletas da equipe Feminino 5, mais nenhuma jogadora tinha familiarização com o teste, o que pode influenciar nos ganhos, ou mesmo na diminuição das perdas desta capacidade física por estas jogadoras. Em relação a potência de membros superiores com as equipes masculinas, duas equipes (Masculino 2 e Masculino 3) apresentaram queda de performance, não obtendo aumento da mesma, estando sempre abaixo do seu baseline. Uma equipe (Masculino 1) apresentou pequeno aumento de performance após o primeiro jogo, com queda da mesma após o segundo jogo. Nota-se que estas equipes que disputaram menos partidas durante o campeonato, ou seja, as equipes que foram eliminadas na primeira fase foram as que apresentaram a mesma cinética de queda constante de performance ao longo das 134 Revista Hórus – Volume 5, número 1 – Jan-Mar, 2011 ARTIGO ORIGINAL partidas disputadas, sendo portanto as que não se prepararam adequadamente para a disputa do torneio. Já as equipes que disputaram o jogo final (Masculino 5 e Masculino 6) apresentaram cinéticas distintas, uma equipe (Masculino 5) apresentou queda brusca de performance no primeiro e segundo jogos, porém com aumento após o terceiro jogo e terminando o campeonato novamente em queda de performance. Analisando os resultados desta equipe com a quantidade de atletas que coletaram os dados, notamos que esta equipe foi a que era composta pelo menor número de atletas, indicando que não havia tantas substituições entre ataque e defesa, e assim mais atletas participavam de toda a partida, proporcionando assim mais fadiga por parte dos jogadores. Já para o teste de salto triplo alternado com as equipes femininas, verificou-se que três (Feminino 1, Feminino 3 e Feminino 4) das cinco equipes apresentaram aumento da performance de membros inferiores após o jogo1. Isso denota que as jogadoras podem não iniciado a primeira partida com aquecimento adequado, que representasse um melhor preparo da performance de membros superiores para atuação na partida. Já uma equipe (Feminino 1) sempre esteve abaixo do seu baseline, apresentando queda constante de desempenho, e com uma equipe (Feminino 4) ocorreu uma pequena queda após o primeiro jogo, mas após o segundo já ocorreu aumento no seu desempenho. Analisando a cinética de performance desta capacidade física ao longo do campeonato, verificamos que a performance tende a se estabilizar, ou mesmo a uma tendência de queda ao longo do campeonato. Essa mesma cinética foi identificada nas equipes masculinas, onde a variação, tanto negativa quanto positiva, não apresentou grandes modificações. Apenas uma equipe (Masculino 3) teve queda constante de desempenho, não tendo aumento de performance em momento algum do campeonato. Já uma equipe (Masculino 2) apresentou aumento de performance após o primeiro jogo, mas terminando a sua participação no campeonato em queda de performance. As demais equipes (Masculino 1, Masculino 4 e Masculino 5) oscilaram entre queda e aumento de performance ao longo do campeonato. Isso pode ocorrer devido a uma característica peculiar no handebol de areia no Brasil, onde todos os jogadores são oriundos do handebol de quadra, e nenhum pratica exclusivamente o handebol de areia. Com isso temos que leva em consideração que os esforços praticados na areia comparada a superfícies sólidas do handebol de quadra, resultam em uma maior degradação na potencialização de energia elástica e reduz a eficiência do complexo 135 Revista Hórus – Volume 5, número 1 – Jan-Mar, 2011 ARTIGO ORIGINAL músculo – tendão (MORGAN e PROSKE, 1997). Em estudo recente de Davies e Mackinnon (2006), monitorando as respostas fisiológicas da caminhada na areia e no piso firme, observou-se que a freqüência cardíaca, o consumo de oxigênio, o gás carbônico exalado e o consumo de oxigênio relativo apresentaram valores significativamente maiores para a caminhada na areia. ZAMPARO et al (1992) relataram uma redução na re-utilização de energia elástica como também perda de energia. Essas condições biomecânicas e fisiológicas têm sido consideradas as causas pelo maior gasto de energia na areia em relação a superfícies firmes na corrida (MURAMATSU et al, 2006). Alguns estudos relataram que a caminhada em areia apresenta um gasto energético de 1,8 a 2,7 vezes maior em relação a superfícies firmes (LEJEUNE et al, 1997, ZAMPARO et al, 1992), enquanto as corridas em areia apresentam um gasto energético de 1,2 a 1,6 vezes superior em relação a superfícies firmes (LEJEUNE et al, 1997, ZAMPARO et al, 1992, PINNINGTON e DOWSON, 2001). Outra possível causa pode ser explicada devido a, no handebol tanto de quadra quanto de areia, o jogador realiza muito mais esforços com os membros inferiores em relação aos membros superiores. O atleta realiza muito mais saltos, sprints e deslocamentos pela quadra do que passes e arremessos. Com isso, o nível de desgaste de membros inferiores ao longo da partida também é menor (DECHECHI et al, 2009). Com isso, mesmo que a potência de membros superiores tenha apresentado aumento, é justificável que a potência de membros inferiores tenha apresentado maior queda de performance. O desempenho de um atleta é determinado por vários fatores, que tem uma considerável queda em boa parte dos casos neste tipo especifico de campeonato, esse excesso pode interferir em sua condição física geral e especificas, psicológica, no trabalho técnico e tático, tendo então como base estudos diretos em equipes que praticam este tipo de competição interferem de maneira considerável o rendimento dos integrantes da equipe, o seja, sua performance oscila muito e é variável entre um membro e outro do grupo em questão, por mais que esteja preparada, a musculatura de um atleta sofre durante as partidas, considerando que a freqüência do esforço a cada jogo faz com que seu desempenho diminua. Podemos então avaliar o que este modo de competição provoca ao rendimento do atleta, quais seus prós e contras, se baseando nos testes aplicados nestas equipes. 136 Revista Hórus – Volume 5, número 1 – Jan-Mar, 2011 ARTIGO ORIGINAL CONCLUSÃO Tendo como base todos os testes aplicados, juntamente com os estudos pesquisados pode se concluir que um torneio com esses moldes pode afetar a performance de jogadores de handebol de areia para uma capacidade física determinante, como é a potência. Com esses resultados, verificamos que durante os treinamentos a comissão técnica não pode deixar de trabalhar a capacidade física de resistência anaeróbica, de modo a auxiliar os atletas a manterem sua performance ao longo de todo o torneio. Além disso, deve ser dada ênfase para o desenvolvimento desta capacidade física para jogadores que atuam tanto no ataque quanto na defesa. Além disso, pelos resultados observados, notificamos as equipes que realizem aquecimentos que sejam mais benéficos para aumentar a velocidade de recrutamento de Unidades Motoras dos jogadores, e assim eles poderem apresentar bons índices desta capacidade física desde o começo da partida. Entendemos também que são necessários mais estudos com o handebol de areia, de modo a melhor caracterizar a modalidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS CARIA, P. F. A relação entre a impulsão e o gol espetacular (giro de 360°) no handebol de areia. Trabalho de Conclusão de Curso da Faculdade de Americana. Americana, 2007. DECHECHI, C. J., NASCIMENTO, C. M., ALMEIDA, A. G., MACEDO, D. V. EFFECTS OF 12 PHYSICAL TRAINING SESSIONS ON A FEMALE HANDEBOL DE AREIA TEAM PERFORMANCE. European Handball Federation Web Periodical, 2009. DECHECHI, C. et. al. Análise dos efeitos do treinamento físico da Seleção Brasileira de Handebol Feminino para a disputa do II World Handebol de Areia Champioship. 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