Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 1º Relatório de Progresso: ESTUDO DE SEGUIMENTO VIA SATÉLITE DE ÁGUIAS DE BONELLI NO NORDESTE TRANSMONTANO - Avaliação demográfica e Preparação das capturas - Foto José Jambas Relatório Progresso Mogadouro, Dezembro 2007 Instituto para a Conservação da Natureza e da Biodiversidade EDP – Distribuição S.A. Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 Relatório elaborado para ICNB adaptado de “ESTUDO DE SEGUIMENTO VIA SATÉLITE DE ÁGUIAS DE BONELLI NO NORDESTE TRANSMONTANO ORIOLUS (estudos ambientais) , 2007 (texto e fotos José Jambas e Bárbara Fráguas) Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 1 – ENQUADRAMENTO E OBJECTIVOS No âmbito do “2º Protocolo relativo à minimização dos impactes resultantes da interacção entre linhas eléctricas de alta e média tensão e a avifauna”, estabelecido entre o ICN, EDP- Distribuição S.A, SPEA e Quercus, previa-se a realização de um estudo de dispersão de aves prioritárias, que contemplaria o seguimento via satélite de 6-8 aves adultas de águia de Bonelli no Nordeste de Portugal. O principal objectivo desse estudo consta de: - avaliação de interacções entre a população de Águia de Bonelli e a rede de linhas eléctricas no Nordeste de Portugal. O estudo tem uma duração aproximada de 24 meses (de Agosto de 2007 a Agosto de 2009) e decorre dentro do Parque Natural do Douro Internacional. Para alcançar este objectivo foram estabelecidos 4 grupos de acções: - monitorização da população reprodutora de Águia de Bonelli (censos e seguimento do processo nidificante); - captura de exemplares adultos (fêmeas) e colocação de PTTs– envolve trabalhos intensivos prévios de identificação de cada um dos indivíduos dos vários casais territoriais da região, e trabalhos preparatórios (alimentação arificial) para avaliação do comportamento das vês e seleccionar o sistema de captura; - o seguimento via satélite através do uso de PTTs equipados com GPS (envolve a recepção de dados, sua integração em Sistema de Informação Geográfico, determinação de áreas vitais e interacção com linhas eléctricas, estudo de perigosidade, acompanhamento no terreno) - recaptura das aves e remoção de equipamento (12 meses depois da captura) O presente relatório refere-se aos trabalhos de monitorização da nidificação da águia de Bonelli no Parque Natural do Douro Internacional durante 2007, e preparação das capturas (através de um programa intensivo de alimentação suplementar), que decorreu no período de Setembro a Dezembro de 2007. Esta tarefa visou preparar a captura para marcação com emissores de satélite (PTT) que decorrerá no decurso da próxima época de reprodução (2008), e posterior seguimento via satélite dos indivíduos marcados. Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 II - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A área de estudo está inserida na parte Norte do Parque Natural do Douro Internacional (ver FIG. 1) e este, por sua vez, localiza-se no extremo nordeste de Portugal na província de Trás-os-Montes e Beira Alta, ocupando nesta última apenas uma pequena parte. Situado a este/sudoeste do distrito de Bragança inclui partes dos concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro e Freixo de Espada à Cinta, e parte do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo no distrito da Guarda. Toda esta área protegida situa-se na fronteira com Espanha, prolongando-se para este país através do Parque Natural de los Arribes del Duero. FIG 1: Área de estudo – Nordeste de Portugal O Parque Natural do Douro Internacional ocupa uma área de 85 150 ha, abrangendo uma área fronteiriça de cerca de 120km de extensão ao longo do vale do rio Douro e vale do rio Águeda. O vale do rio Douro com um acentuado declive apresenta uma altitude média de 550m no limite norte (Agroconsultores & Coba, 1991). No que concerne à rede hidrográfica secundária é constituída por vales bastante encaixados quando a proximidade com o Douro é maior. Estes vales com um determinado tipo de habitat albergam uma importante comunidade de vertebrados terrestres, onde podem ocorrer algumas das espécies mais emblemáticas da fauna portuguesa: a águia-real (Aquila chrysaetos), a águia de Bonelli (Hieraaetus fasciatus), o grifo (Gyps fulvus), o britango (Neophron percnopterus), o falcãoperegrino (Falco peregrinus), o bufo-real (Bubo bubo) e a cegonha-negra (Ciconia nigra). Em termos biogeográficos a área de estudo localiza-se na Região Mediterrânica, Província Carpetano-Ibérico-Leonesa, Sector Salamantino, Superdisitrito da Terra Quente e Superdistrito de Miranda-Bornes-Ansiães. Esta região é caracterizada por possuir um clima em que as chuvas no Verão são escassas, podendo haver excesso nas outras estações. Podem-se distinguir três classes climáticas: a Terra Fria de Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 Planalto com Invernos frios, prolongados e Verões curtos e quentes, a Terra Quente com Invernos mais suaves, e por último a Terra de Transição com características intermédias entre os dois tipos anteriores (Agroconsultores & Coba, 1991). O coberto geológico é dominado pelas rochas siliciosas câmbricas e pré-câmbricas sobressaindo os xistos e granitos. Surgem também áreas significativas de rochas básicas e ultrabásicas e afloramentos de origem calcária, havendo associado a este tipo de coberto geológico uma importante comunidade florística de endemismos ibéricos. A temperatura média anual varia entre os 10 e os 16º C, e os valores de precipitação anual variam entre os 400 e os 800 mm (D.G.A., 1995). No que se refere aos aspectos fito-ecológicos, a área de estudo reparte-se por dois grandes agrupamentos florísticos, o domínio ibero-mediterrâneo relacionado com o carvalho negral e a azinheira (Associação Quercetum pyrenaicae x Quercetum rotundifoliae), e o domínio submediterrâneo relacionado com a azinheira (Quercetum rotundifoliae) (Agroconsultores & Coba, 1991). O domínio fito-geográfico iberomediterrâneo relaciona-se com a Terra Fria planáltica interior (Meseta Ibérica) e envolve a região de Miranda - Mogadouro e a sub-região ocidental de Bragança (Agroconsultores & Coba, 1991), e é caracteristicamente representado pela azinheira (Quercus rotundifolia) e pelo carvalho negral (Quercus pyrenaica), ocorrendo em alguns locais o carvalho cerquinho (Quercus faginea) (Agroconsultores & Coba, 1991). Na zona ocupada por matos destacam-se o rosmaninho (Lavandula pedunculata), o tomilho (Thymus mastichina), a esteva (Cistus ladanifer), a carqueja (Chamaespartium tridentatum), o sanganho (Cistus salvifolius), as roseiras bravas (Rosa canina e Rosa micrantha) e as giestas (géneros Cytisus e Genista). A azinheira (Quercus rotundifolia) é a espécie mais frequente, encontrando-se ainda regularmente, o carvalho cerquinho (Quercus faginea), o zimbro (Juniperus oxicedrus) e, por vezes, o zambujeiro (Olea europaea). Como elementos característicos do sub-bosque destacam-se o piorno (Lygos shaerocarpa), a cornalheira (Pistacia terebinthus), o lentisco (Phyllirea angustifolia), a esteva (Cistus ladanifer), o rosmaninho (Lavandula pedunculata), o tomilho (Thymus mastichina), o trovisco (Daphne gnidium). Nas orlas ribeirinhas de toda a região aparecem as seguintes espécies típicas destes espaços: o amieiro (Almus glutinosa), o freixo (Fraxinus angustifolius), o ulmeiro (Ulmus spp.), o choupo (Populus spp.), o salgueiro (Salix spp.), o lódão (Celtis australis), o sanguinho bastardo (Frangula alnus) e a salgueirinha (Lythrum salicaria). Em termos agrícolas, esta zona apresenta grandes extensões de culturas cerealíferas de Inverno (centeio e trigo), na maior parte do planalto, e importantes zonas de olivais, em alguns casos em associação com vinhas. Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 FIG 2: Vários aspectos da paisagem transmontana. A pecuária ovina e caprina domina grande parte da área de estudo, bem como algumas criações de gado bovino principalmente na zona fronteiriça de Espanha onde são explorados em regime não estabulado. Estes animais apresentam-se como uma fonte importante de alimento para a comunidade de aves necrófagas. Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 A actividade cinegética é, sem dúvida, importante na região, sendo a quase totalidade dos concelhos abrangida por zonas de caça do Regime Cinegético Especial. As espécies cinegéticas para as quais a caça se encontra particularmente dirigida são o coelho (Oryctolagus cuniculus), a perdiz (Alectoris rufa), a lebre (Lepus capensis), o javali (Sus scrofa), e os tordos (Turdus spp.) Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 III - MONITORIZAÇÃO DOS CASAIS REPRODUTORES III – 1 casais considerados No 2º semestre de 2007 considerámos apenas 5 casais de Águia de Bonelli (metade Norte do PNDI) por considerarmos serem os casais com mais condições para este estudo. Fig 3 – Localização dos territórios de águia de Bonelli localizados dentro do parque Natural do douro internacional. Casais escolhidos: Miranda do Douro HF-MI-10 Picote HF-BE-10 Urrós HF-BE-20 Bemposta HF-AL-10 Lagoaça HF-SA-10 Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 III – 2 Metodologia Os trabalhos de monitorização dos casais de águia de Bonelli a capturar, tiveram início no mês de Setembro e prolongaram-se até ao presente. A metodologia aplicada na monitorização dos casais baseou-se na observação directa dos casais conhecidos nos seus territórios, que correspondiam a casais referenciados noutros trabalhos. Dentro de cada território foram seleccionados alguns pontos fixos, a partir dos quais se consegue observar quase a totalidade do território de cada casal. A partir destes pontos, a possibilidade de seguimento dos indivíduos em voo e a camuflagem durante o tempo de permanência no local foram tidos em conta. As visitas aos pontos foram realizadas principalmente no início e no final de cada dia, por ser neste período que a espécie tem maior actividade. Estes pontos fixos tinham como objectivo poder-se seleccionar as zonas de maior utilização espacial por parte do casal. Sempre que eram observados indivíduos eram registados os seus comportamentos e direcção de voo, posteriormente esta informação era transferida para um SIG. A observação dos indivíduos foi auxiliada com recurso a binóculos Leica ®10x42 e telescópio Leica® com zoom 20x60. III – 3 Resultados Da aplicação da metodologia anterior foi possível confirmar a presença de alguns casais de águia de Bonelli no seu territorio, bem como representar a área mais utilizada pelos memos. Assim serão representados os casais individualmente por território e utilizados os códigos aplicados pelo Parque Natural do Douro Internacional (PNDI). Miranda do Douro HF-MI-10 O casal HF-MI do território de Miranda nunca foi observado durante o período de prospecção realizado no âmbito deste trabalho. A 1 de Fevereiro de 2007 foi observada uma fêmea adulta neste território (J.Jambas, com. pess.). É importante referir que durante a prospecção deste território foi observado por várias vezes um casal de águia-reail em voo e pousado em locais onde anteriormente era frequentemente visto o casal de águia de Bonelli (J.Jambas, com. pess.). Ainda neste local foi observado um casal de falcão-peregrino. Picote HF-BE-10 No âmbito deste trabalho, o casal de Picote foi observado várias vezes. Com aplicação da metodologia anteriormente descrita, foi possível determinar uma área de utilização mais frequente, posteriormente transferida para SIG. Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 FIG 4: Área utilizada com maior frequência pelo casal Com observação exaustiva dos indivíduos do casal e recorrendo a trabalhos anteriores do autor, nomeadamente fotoindentificação, foi possível confirmar que pelo menos a fêmea do casal foi substituída por outra, já que a anterior tinha uma plumagem mais clara que a actual. A fêmea actual, tal como a anterior, tem aplicado no dorso um emissor convencional e também está anilhada com anilha metálica. A única diferença detectada foi a ausência de tem anilha de PVC, que a anterior fêmea tinha. No entanto, sabe-se que este tipo de anilhas, tal como as metálicas (ver FIG 7 anilha metálica semi-aberta) são de fácil remoção para esta espécie. Só com recurso à comparação de fotografias anteriores com as actuais é que foi possível confirmar que a fêmea anterior havia sido substituída por outra, já que quase todas as características pareciam ser idênticas. Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 FIG 5 Fêmea do casal alimentando-se onde é visível o emissor no dorso. No interior da área utilizada pelo casal foi seleccionado um local para se proceder à alimentação suplementar. Urrós HF-BE-20 Este casal é facilmente observado pousado num pináculo de cimento, na margem portuguesa, no monte denominado “Cabeçudo”. Trata-se de um casal com uma área de movimentação aparentemente bastante restrita, que está bastante confinada ao território em torno dos ninhos existentes nas duas margens. Para este casal não foi seleccionada nenhuma área de maior utilização, já que não se pretende alimentar nem capturar. No entanto, continuaram a registar-se registar os movimentos e comportamentos mais relevantes para este estudo. Bemposta HF-AL-10 O casal do território de Bemposta está presente e é observado com frequência. Com base nas observações efectuadas in situ foi possível desenhar em SIG uma área de maior utilização. Dentro desta área e à semelhança da metodologia aplicada no casal HF-BE-10, foi também seleccionada uma área de maior utilização e dentro desta um local para se proceder à alimentação suplementar. Com base nas observações realizadas e na fotoidentificação tudo parece indicar que os dois indivíduos do casal são os mesmos do ano anterior, (J.Jambas, com pess) Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 FIG 6 Área utilizada com maior frequência pelo casal Lagoaça HF-SA-10 Este casal situado a jusante da barragem de Aldeiadávila é observado com grande frequência. Assim e tal como sucedeu nos casais anteriores, foi possível delimitar uma área de maior utilização e seleccionar um local para se proceder à alimentação suplementar com base nas observações realizadas. Com suporte nos dados obtidos a partir da observação directa e em fotografia foi possível confirmar que a fêmea deste casal tem uma anilha na pata direita. Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA FIG 7 Área utilizada com maior frequência pelo casal FIG 8 Fêmea com anilha na pata direita semi-aberta (Foto José Jambas) 1 Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 IV – PREPARAÇÃO DAS CAPTURAS (ALIMENTAÇÃO SUPLEMENTAR) IV-1 Metodologia Para se proceder à selecção do local onde se irá proceder à alimentação, é conveniente conhecer comportamentos e hábitos da espécie e indivíduo a alimentar. Assim sendo, este método é iniciado depois de algum tempo de observação do casal para que se possa estruturar todo o processo. Com base nas observações realizadas foram seleccionados alguns possíveis locais para futuramente se realizar as acções de alimentação mas também tendo em conta outros critérios importantes: - Na localização conhecida do ninho utilizados em anos anteriores ou no presente ano, e em cujas imediações haveria maior probabilidade de ocorrência das águias; - Na informação adquirida em anos anteriores, zonas frequentadas e direcção mais predominante de saídas das aves para caçar ou simplesmente voar; - Na exclusão de alguns locais potencias, devido à maior probabilidade de presença de outros utilizadores da zona (nomeadamente caçadores, avaliando as características do relevo e a possibilidade de locomoção na zona, ou seja, quanto mais acidentada for a zona menos utilizada pelos caçadores). Assim, obedecendo a estes requisitos, foram seleccionados alguns locais para se iniciar o processo de alimentação suplementar. A alimentação suplementar consiste na colocação de um pombo doméstico no local seleccionado. É escolhido o pombo por se tratar de uma espécie conhecida como uma das principais presas da águia de Bonelli. O pombo é amarrado através de um arnês peitoral a um ponto fixo no solo, permitindo ao mesmo uma grande mobilidade e algum “conforto” enquanto não é predado, e assegurando também a incapacidade de se libertar e impossibilidade das águias o retirarem, obrigando-as a comer no local. No início da alimentação é conveniente a utilização de pombos claros para facilitar a detecção dos mesmos por parte das águias. No arnês colocado na ave, é preso um destorcedor que por sua vez está amarrado a um fio com o máximo de 40cm de comprimento, (suficientemente resistente para que não permita a rotura por parte das águias). O outro extremo do fio está amarrado na argola de uma estaca metálica com cerca de 40cm de comprimento (o tamanho da estaca metálica dependa das características do solo) enterrada no solo. A função do destorcedor é evitar o enrodilhar da ave no fio, evitando a sua morte por asfixia. No local onde o pombo estava amarrado foi colocado um recipiente com água e em toda a área de mobilidade do pombo foi espalhada comida, obrigando-o a movimentarse e facilitando assim a detectabilidade por parte das águias de Bonelli. Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 O pombo era colocado todos os dias antes ao amanhecer, e retirado no final do dia se não fosse comido. No dia seguinte o pombo utilizado no dia anterior ficava no pombal e era trazido outro em melhores condições físicas. Nos primeiros dias de alimentação o observador não permanecia no local, para evitar qualquer tipo de perturbação, uma vez que a águia iria capturar uma presa numa situação completamente anormal e artificial. Após se ter verificado o desaparecimento do pombo (após 4 a 5 dias de alimentação) o observador, com recurso a binóculos Leica® 10x42 e telescópio Leica® com zoom 20-60x, observava que predador capturava o pombo. Caso se verificasse a aproximação de outros predadores, que não as águias de Bonelli, a colocação da presa naquele local era interrompida pelo, com o objectivo de evitar a habituação desses predadores ao local. A partir do momento em que a ave já se encontra habituada a capturar e a comer o pombo num dos locais seleccionados torna-se possível iniciar o processo de mudança de presa a colocar. Por este motivo, é importante habituar a águia a comer o pombo no local seleccionado. Este processo tem de decorrer de forma gradual, e consiste na troca do pombo a que a águia foi inicialmente habituada por um coelho doméstico recentemente morto. Ao trocar-se de presa tenta-se fornecer uma maior biomassa por cada acção de alimentação suplementar. Desta forma, e numa fase intermédia, o coelho é colocado no local em simultâneo com o pombo, de forma a que a águia continue a ser atraída pelo movimento da ave. A águia rapidamente se aperceberá que existe outra presa disponível e por isso, também a consumirá. A partir da sessão em que a águia se comece a alimentar naturalmente do coelho disponibilizado, passará a ser colocado apenas este. Esta transição deverá ser sempre acompanhada de vigilância ao local, a partir de um esconderijo colocado em local estratégico. Com este procedimento, pretende-se observar qual o comportamento da águia face a uma nova presa que lhe é disponibilizada, qual a seu reacção e determinar o momento a partir do qual a águia passa a alimentar-se deste naturalmente. IV-2 Resultados Picote HF-BE-10 Depois de seleccionado o local de alimentação do casal, deu-se início ao processo, que começou na segunda quinzena do mês de Novembro. Este casal contrariamente ao sucedido nos outros, começou a ser alimentado posteriormente ao início deste projecto, uma vez que estava ser alimentado artificialmente pelos técnicos do Parque Natural Arribas del Duero. Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 O pombo foi inicialmente colocado com maior frequência sendo depois reduzido o número de dias por semana em que era aí colocado (calendário de alimentação em anexo). Uma vez que se pretende capturar o macho deste casal a presa não foi substituída por coelho. O facto de se estar alimentar com pombo leva a que a biomassa diária fornecida seja inferior, obrigando-as a caçar e tornando-os mais dependentes do alimento, o que irá facilitar a posterior a captura. . FIG 9: Local de alimentação Bemposta HF-AL-10 Este casal esteve dado como desaparecido durante cerca de um ano aproximadamente. Ainda numa data anterior ao início deste trabalho este casal começou a ser alimentado. Mais tarde, com este projecto, foi aplicado um esforço acrescido para tentar compreender alguns dos seus movimentos e comportamentos, já que o seu desaparecimento poderia estar relacionado com a escassez de alimento. A rapidez com que o casal captura a presa logo após a sua colocação poderá indicar uma baixa disponibilidade alimentar associada a este território. Neste momento o casal encontra-se a comer dois coelhos por semana desde o inicio do projecto (calendário de alimentação em anexo). Lagoaça HF-SA-10 Este casal, tal como o anterior, está a ser alimentado desde o início do projecto. Os resultados obtidos com a colocação do pombo e sua predação foram bastante satisfatórios desde o início do processo. O processo de transição para coelho não teve sucesso. O casal capturava o pombo mas não tinha qualquer comportamento predatório relativamente ao coelho colocado ao lado. Foram utilizados vários coelhos de tamanhos e de cores diferentes mas sem qualquer resultado positivo. Perante tal Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 situação o casal continuou a ser alimentado com pombo, sendo fornecidos dois pombos por sessão, ou seja quatro por semana (calendário de alimentação em anexo). FIG 10 Captura da presa. Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 V - CONSIDERAÇÕES FINAIS De quatro territórios monitorizados no Parque Natural do Douro Internacional verificase que: - o território de Miranda HF-MI-10 se encontra aparentemente vazio; - o território de Picote HF-BE-10 está ocupado por dois indivíduos adultos, tendo ocorrido substituição da fêmea; - o território de Urrós HF-BE-20 está ocupado por dois indivíduos adultos; - o território de Bemposta HF-AL-10 está ocupado por dois indivíduos adultos; - o território de Lagoaça HF-SA-10 está ocupado por dois indivíduos adultos. Salienta-se que os trabalhos de monitorização do território de Miranda continue, uma vez que se tem vindo a observar assiduamente um casal de águia-real com comportamento de defesa de território. Isto parece indicar que existe a possibilidade deste território vir a ser ocupado em breve por esta espécie. Com o processo de alimentação suplementar, os casais parecem estar mais ligados aos núcleos dos seus territórios, uma vez que é aí que são alimentados. Além deste comportamento, verifica-se também que parece haver uma maior agressividade relativamente a outras espécies, facto que poderá estar relacionado com uma melhor condição física e uma maior ligação e sentido de defesa do seu território. Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA 1 BIBLIOGRAFIA Cheylan, G., Ravayrol, A., Cugnasse, J.-M., Billet, J.-M. & Joulot, C., 1996. Dispersion des Aigles de Bonelli Hieraaetus fasciatus juveniles bagués en France. Alauda, 64: 413-419. Ferrer, M., 2001. The Spanish Imperial Eagle. Barcelona. Lynx Edicions. Fráguas, B., 1999. A população de águia de Bonelli Hieraaetus fasciatus no Nordeste de Portugal. Situação actual, Biologia da Reproduçã, Ecologia e Conservação da População. Dissertação de Mestrado em Ecologia Aplicada. 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