Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
1º Relatório de Progresso:
ESTUDO DE SEGUIMENTO VIA SATÉLITE DE
ÁGUIAS DE BONELLI
NO NORDESTE TRANSMONTANO
- Avaliação demográfica e Preparação das capturas -
Foto José Jambas
Relatório Progresso
Mogadouro, Dezembro 2007
Instituto para a Conservação da Natureza e da Biodiversidade
EDP – Distribuição S.A.
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
Relatório elaborado para ICNB adaptado de “ESTUDO DE SEGUIMENTO VIA
SATÉLITE DE ÁGUIAS DE BONELLI NO NORDESTE TRANSMONTANO ORIOLUS (estudos ambientais) , 2007 (texto e fotos José Jambas e Bárbara Fráguas)
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
1 – ENQUADRAMENTO E OBJECTIVOS
No âmbito do “2º Protocolo relativo à minimização dos impactes resultantes da
interacção entre linhas eléctricas de alta e média tensão e a avifauna”, estabelecido
entre o ICN, EDP- Distribuição S.A, SPEA e Quercus, previa-se a realização de um
estudo de dispersão de aves prioritárias, que contemplaria o seguimento via satélite de
6-8 aves adultas de águia de Bonelli no Nordeste de Portugal.
O principal objectivo desse estudo consta de:
- avaliação de interacções entre a população de Águia de Bonelli e a rede de linhas
eléctricas no Nordeste de Portugal.
O estudo tem uma duração aproximada de 24 meses (de Agosto de 2007 a Agosto de
2009) e decorre dentro do Parque Natural do Douro Internacional.
Para alcançar este objectivo foram estabelecidos 4 grupos de acções:
- monitorização da população reprodutora de Águia de Bonelli (censos e seguimento
do processo nidificante);
- captura de exemplares adultos (fêmeas) e colocação de PTTs– envolve trabalhos
intensivos prévios de identificação de cada um dos indivíduos dos vários casais
territoriais da região, e trabalhos preparatórios (alimentação arificial) para avaliação do
comportamento das vês e seleccionar o sistema de captura;
- o seguimento via satélite através do uso de PTTs equipados com GPS (envolve a
recepção de dados, sua integração em Sistema de Informação Geográfico,
determinação de áreas vitais e interacção com linhas eléctricas, estudo de
perigosidade, acompanhamento no terreno)
- recaptura das aves e remoção de equipamento (12 meses depois da captura)
O presente relatório refere-se aos trabalhos de monitorização da nidificação da águia
de Bonelli no Parque Natural do Douro Internacional durante 2007, e preparação das
capturas (através de um programa intensivo de alimentação suplementar), que
decorreu no período de Setembro a Dezembro de 2007. Esta tarefa visou preparar a
captura para marcação com emissores de satélite (PTT) que decorrerá no decurso da
próxima época de reprodução (2008), e posterior seguimento via satélite dos
indivíduos marcados.
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
II - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo está inserida na parte Norte do Parque Natural do Douro
Internacional (ver FIG. 1) e este, por sua vez,
localiza-se no extremo nordeste de Portugal na
província de Trás-os-Montes e Beira Alta,
ocupando nesta última apenas uma pequena
parte. Situado a este/sudoeste do distrito de
Bragança inclui partes dos concelhos de
Miranda do Douro, Mogadouro e Freixo de
Espada à Cinta, e parte do concelho de
Figueira de Castelo Rodrigo no distrito da
Guarda. Toda esta área protegida situa-se na
fronteira
com
Espanha,
prolongando-se para este país
através do Parque Natural de los
Arribes del Duero.
FIG 1: Área de estudo – Nordeste
de Portugal
O Parque Natural do Douro
Internacional ocupa uma área de 85
150 ha, abrangendo uma área
fronteiriça de cerca de 120km de
extensão ao longo do vale do rio
Douro e vale do rio Águeda.
O vale do rio Douro com um
acentuado declive apresenta uma
altitude média de 550m no limite
norte (Agroconsultores & Coba,
1991). No que concerne à rede
hidrográfica secundária é constituída
por vales bastante encaixados quando a proximidade com o Douro é maior. Estes
vales com um determinado tipo de habitat albergam uma importante comunidade de
vertebrados terrestres, onde podem ocorrer algumas das espécies mais emblemáticas
da fauna portuguesa: a águia-real (Aquila chrysaetos), a águia de Bonelli (Hieraaetus
fasciatus), o grifo (Gyps fulvus), o britango (Neophron percnopterus), o falcãoperegrino (Falco peregrinus), o bufo-real (Bubo bubo) e a cegonha-negra (Ciconia
nigra).
Em termos biogeográficos a área de estudo localiza-se na Região Mediterrânica,
Província Carpetano-Ibérico-Leonesa, Sector Salamantino, Superdisitrito da Terra
Quente e Superdistrito de Miranda-Bornes-Ansiães. Esta região é caracterizada por
possuir um clima em que as chuvas no Verão são escassas, podendo haver excesso
nas outras estações. Podem-se distinguir três classes climáticas: a Terra Fria de
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
Planalto com Invernos frios, prolongados e Verões curtos e quentes, a Terra Quente
com Invernos mais suaves, e por último a Terra de Transição com características
intermédias entre os dois tipos anteriores (Agroconsultores & Coba, 1991).
O coberto geológico é dominado pelas rochas siliciosas câmbricas e pré-câmbricas
sobressaindo os xistos e granitos. Surgem também áreas significativas de rochas
básicas e ultrabásicas e afloramentos de origem calcária, havendo associado a este
tipo de coberto geológico uma importante comunidade florística de endemismos
ibéricos.
A temperatura média anual varia entre os 10 e os 16º C, e os valores de precipitação
anual variam entre os 400 e os 800 mm (D.G.A., 1995).
No que se refere aos aspectos fito-ecológicos, a área de estudo reparte-se por dois
grandes agrupamentos florísticos, o domínio ibero-mediterrâneo relacionado com o
carvalho negral e a azinheira (Associação Quercetum pyrenaicae x Quercetum
rotundifoliae), e o domínio submediterrâneo relacionado com a azinheira (Quercetum
rotundifoliae) (Agroconsultores & Coba, 1991). O domínio fito-geográfico iberomediterrâneo relaciona-se com a Terra Fria planáltica interior (Meseta Ibérica) e
envolve a região de Miranda - Mogadouro e a sub-região ocidental de Bragança
(Agroconsultores & Coba, 1991), e é caracteristicamente representado pela azinheira
(Quercus rotundifolia) e pelo carvalho negral (Quercus pyrenaica), ocorrendo em
alguns locais o carvalho cerquinho (Quercus faginea) (Agroconsultores & Coba, 1991).
Na zona ocupada por matos destacam-se o rosmaninho (Lavandula pedunculata), o
tomilho (Thymus mastichina), a esteva (Cistus ladanifer), a carqueja (Chamaespartium
tridentatum), o sanganho (Cistus salvifolius), as roseiras bravas (Rosa canina e Rosa
micrantha) e as giestas (géneros Cytisus e Genista). A azinheira (Quercus rotundifolia)
é a espécie mais frequente, encontrando-se ainda regularmente, o carvalho cerquinho
(Quercus faginea), o zimbro (Juniperus oxicedrus) e, por vezes, o zambujeiro (Olea
europaea). Como elementos característicos do sub-bosque destacam-se o piorno
(Lygos shaerocarpa), a cornalheira (Pistacia terebinthus), o lentisco (Phyllirea
angustifolia), a esteva (Cistus ladanifer), o rosmaninho (Lavandula pedunculata), o
tomilho (Thymus mastichina), o trovisco (Daphne gnidium).
Nas orlas ribeirinhas de toda a região aparecem as seguintes espécies típicas destes
espaços: o amieiro (Almus glutinosa), o freixo (Fraxinus angustifolius), o ulmeiro
(Ulmus spp.), o choupo (Populus spp.), o salgueiro (Salix spp.), o lódão (Celtis
australis), o sanguinho bastardo (Frangula alnus) e a salgueirinha (Lythrum salicaria).
Em termos agrícolas, esta zona apresenta grandes extensões de culturas cerealíferas
de Inverno (centeio e trigo), na maior parte do planalto, e importantes zonas de olivais,
em alguns casos em associação com vinhas.
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
FIG 2: Vários aspectos da paisagem transmontana.
A pecuária ovina e caprina domina grande parte da área de estudo, bem como
algumas criações de gado bovino principalmente na zona fronteiriça de Espanha onde
são explorados em regime não estabulado. Estes animais apresentam-se como uma
fonte importante de alimento para a comunidade de aves necrófagas.
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
A actividade cinegética é, sem dúvida, importante na região, sendo a quase totalidade
dos concelhos abrangida por zonas de caça do Regime Cinegético Especial. As
espécies cinegéticas para as quais a caça se encontra particularmente dirigida são o
coelho (Oryctolagus cuniculus), a perdiz (Alectoris rufa), a lebre (Lepus capensis), o
javali (Sus scrofa), e os tordos (Turdus spp.)
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
III - MONITORIZAÇÃO DOS CASAIS REPRODUTORES
III – 1 casais considerados
No 2º semestre de 2007 considerámos apenas 5 casais de Águia de Bonelli (metade
Norte do PNDI) por considerarmos serem os casais com mais condições para este
estudo.
Fig 3 – Localização dos territórios de águia de Bonelli localizados dentro do
parque Natural do douro internacional.
Casais escolhidos:
Miranda do Douro HF-MI-10
Picote HF-BE-10
Urrós HF-BE-20
Bemposta HF-AL-10
Lagoaça HF-SA-10
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
III – 2 Metodologia
Os trabalhos de monitorização dos casais de águia de Bonelli a capturar, tiveram início
no mês de Setembro e prolongaram-se até ao presente.
A metodologia aplicada na monitorização dos casais baseou-se na observação directa
dos casais conhecidos nos seus territórios, que correspondiam a casais referenciados
noutros trabalhos.
Dentro de cada território foram seleccionados alguns pontos fixos, a partir dos quais se
consegue observar quase a totalidade do território de cada casal. A partir destes
pontos, a possibilidade de seguimento dos indivíduos em voo e a camuflagem durante
o tempo de permanência no local foram tidos em conta. As visitas aos pontos foram
realizadas principalmente no início e no final de cada dia, por ser neste período que a
espécie tem maior actividade. Estes pontos fixos tinham como objectivo poder-se
seleccionar as zonas de maior utilização espacial por parte do casal.
Sempre que eram observados indivíduos eram registados os seus comportamentos e
direcção de voo, posteriormente esta informação era transferida para um SIG.
A observação dos indivíduos foi auxiliada com recurso a binóculos Leica ®10x42 e
telescópio Leica® com zoom 20x60.
III – 3 Resultados
Da aplicação da metodologia anterior foi possível confirmar a presença de alguns
casais de águia de Bonelli no seu territorio, bem como representar a área mais
utilizada pelos memos.
Assim serão representados os casais individualmente por território e utilizados os
códigos aplicados pelo Parque Natural do Douro Internacional (PNDI).
Miranda do Douro HF-MI-10
O casal HF-MI do território de Miranda nunca foi observado durante o período de
prospecção realizado no âmbito deste trabalho. A 1 de Fevereiro de 2007 foi
observada uma fêmea adulta neste território (J.Jambas, com. pess.). É importante
referir que durante a prospecção deste território foi observado por várias vezes um
casal de águia-reail em voo e pousado em locais onde anteriormente era
frequentemente visto o casal de águia de Bonelli (J.Jambas, com. pess.). Ainda neste
local foi observado um casal de falcão-peregrino.
Picote HF-BE-10
No âmbito deste trabalho, o casal de Picote foi observado várias vezes. Com aplicação
da metodologia anteriormente descrita, foi possível determinar uma área de utilização
mais frequente, posteriormente transferida para SIG.
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
FIG 4: Área utilizada com maior frequência pelo casal
Com observação exaustiva dos indivíduos do casal e recorrendo a trabalhos anteriores
do autor, nomeadamente fotoindentificação, foi possível confirmar que pelo menos a
fêmea do casal foi substituída por outra, já que a anterior tinha uma plumagem mais
clara que a actual. A fêmea actual, tal como a anterior, tem aplicado no dorso um
emissor convencional e também está anilhada com anilha metálica. A única diferença
detectada foi a ausência de tem anilha de PVC, que a anterior fêmea tinha. No
entanto, sabe-se que este tipo de anilhas, tal como as metálicas (ver FIG 7 anilha
metálica semi-aberta) são de fácil remoção para esta espécie. Só com recurso à
comparação de fotografias anteriores com as actuais é que foi possível confirmar que
a fêmea anterior havia sido substituída por outra, já que quase todas as características
pareciam ser idênticas.
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
FIG 5 Fêmea do casal alimentando-se onde é visível o emissor no dorso.
No interior da área utilizada pelo casal foi seleccionado um local para se proceder à
alimentação suplementar.
Urrós HF-BE-20
Este casal é facilmente observado pousado num pináculo de cimento, na margem
portuguesa, no monte denominado “Cabeçudo”. Trata-se de um casal com uma área
de movimentação aparentemente bastante restrita, que está bastante confinada ao
território em torno dos ninhos existentes nas duas margens. Para este casal não foi
seleccionada nenhuma área de maior utilização, já que não se pretende alimentar nem
capturar. No entanto, continuaram a registar-se registar os movimentos e
comportamentos mais relevantes para este estudo.
Bemposta HF-AL-10
O casal do território de Bemposta está presente e é observado com frequência. Com
base nas observações efectuadas in situ foi possível desenhar em SIG uma área de
maior utilização.
Dentro desta área e à semelhança da metodologia aplicada no casal HF-BE-10, foi
também seleccionada uma área de maior utilização e dentro desta um local para se
proceder à alimentação suplementar.
Com base nas observações realizadas e na fotoidentificação tudo parece indicar que
os dois indivíduos do casal são os mesmos do ano anterior, (J.Jambas, com pess)
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
FIG 6 Área utilizada com maior frequência pelo casal
Lagoaça HF-SA-10
Este casal situado a jusante da barragem de Aldeiadávila é observado com grande
frequência. Assim e tal como sucedeu nos casais anteriores, foi possível delimitar uma
área de maior utilização e seleccionar um local para se proceder à alimentação
suplementar com base nas observações realizadas.
Com suporte nos dados obtidos a partir da observação directa e em fotografia foi
possível confirmar que a fêmea deste casal tem uma anilha na pata direita.
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
FIG 7 Área utilizada com maior frequência pelo casal
FIG 8 Fêmea com anilha na pata direita semi-aberta (Foto José Jambas)
1
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
IV – PREPARAÇÃO DAS CAPTURAS (ALIMENTAÇÃO SUPLEMENTAR)
IV-1 Metodologia
Para se proceder à selecção do local onde se irá proceder à alimentação, é
conveniente conhecer comportamentos e hábitos da espécie e indivíduo a alimentar.
Assim sendo, este método é iniciado depois de algum tempo de observação do casal
para que se possa estruturar todo o processo. Com base nas observações realizadas
foram seleccionados alguns possíveis locais para futuramente se realizar as acções de
alimentação mas também tendo em conta outros critérios importantes:
- Na localização conhecida do ninho utilizados em anos anteriores ou no
presente ano, e em cujas imediações haveria maior probabilidade de ocorrência das
águias;
- Na informação adquirida em anos anteriores, zonas frequentadas e direcção
mais predominante de saídas das aves para caçar ou simplesmente voar;
- Na exclusão de alguns locais potencias, devido à maior probabilidade de
presença de outros utilizadores da zona (nomeadamente caçadores, avaliando as
características do relevo e a possibilidade de locomoção na zona, ou seja, quanto
mais acidentada for a zona menos utilizada pelos caçadores).
Assim, obedecendo a estes requisitos, foram seleccionados alguns locais para se
iniciar o processo de alimentação suplementar.
A alimentação suplementar consiste na colocação de um pombo doméstico no local
seleccionado. É escolhido o pombo por se tratar de uma espécie conhecida como uma
das principais presas da águia de Bonelli.
O pombo é amarrado através de um arnês peitoral a um ponto fixo no solo, permitindo
ao mesmo uma grande mobilidade e algum “conforto” enquanto não é predado, e
assegurando também a incapacidade de se libertar e impossibilidade das águias o
retirarem, obrigando-as a comer no local.
No início da alimentação é conveniente a utilização de pombos claros para facilitar a
detecção dos mesmos por parte das águias.
No arnês colocado na ave, é preso um destorcedor que por sua vez está amarrado a
um fio com o máximo de 40cm de comprimento, (suficientemente resistente para que
não permita a rotura por parte das águias). O outro extremo do fio está amarrado na
argola de uma estaca metálica com cerca de 40cm de comprimento (o tamanho da
estaca metálica dependa das características do solo) enterrada no solo. A função do
destorcedor é evitar o enrodilhar da ave no fio, evitando a sua morte por asfixia.
No local onde o pombo estava amarrado foi colocado um recipiente com água e em
toda a área de mobilidade do pombo foi espalhada comida, obrigando-o a movimentarse e facilitando assim a detectabilidade por parte das águias de Bonelli.
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
O pombo era colocado todos os dias antes ao amanhecer, e retirado no final do dia se
não fosse comido. No dia seguinte o pombo utilizado no dia anterior ficava no pombal
e era trazido outro em melhores condições físicas.
Nos primeiros dias de alimentação o observador não permanecia no local, para evitar
qualquer tipo de perturbação, uma vez que a águia iria capturar uma presa numa
situação completamente anormal e artificial.
Após se ter verificado o desaparecimento do pombo (após 4 a 5 dias de alimentação)
o observador, com recurso a binóculos Leica® 10x42 e telescópio Leica® com zoom
20-60x, observava que predador capturava o pombo.
Caso se verificasse a aproximação de outros predadores, que não as águias de
Bonelli, a colocação da presa naquele local era interrompida pelo, com o objectivo de
evitar a habituação desses predadores ao local.
A partir do momento em que a ave já se encontra habituada a capturar e a comer o
pombo num dos locais seleccionados torna-se possível iniciar o processo de mudança
de presa a colocar. Por este motivo, é importante habituar a águia a comer o pombo
no local seleccionado.
Este processo tem de decorrer de forma gradual, e consiste na troca do pombo a que
a águia foi inicialmente habituada por um coelho doméstico recentemente morto. Ao
trocar-se de presa tenta-se fornecer uma maior biomassa por cada acção de
alimentação suplementar.
Desta forma, e numa fase intermédia, o coelho é colocado no local em simultâneo com
o pombo, de forma a que a águia continue a ser atraída pelo movimento da ave. A
águia rapidamente se aperceberá que existe outra presa disponível e por isso,
também a consumirá.
A partir da sessão em que a águia se comece a alimentar naturalmente do coelho
disponibilizado, passará a ser colocado apenas este.
Esta transição deverá ser sempre acompanhada de vigilância ao local, a partir de um
esconderijo colocado em local estratégico. Com este procedimento, pretende-se
observar qual o comportamento da águia face a uma nova presa que lhe é
disponibilizada, qual a seu reacção e determinar o momento a partir do qual a águia
passa a alimentar-se deste naturalmente.
IV-2 Resultados
Picote HF-BE-10
Depois de seleccionado o local de alimentação do casal, deu-se início ao processo,
que começou na segunda quinzena do mês de Novembro. Este casal contrariamente
ao sucedido nos outros, começou a ser alimentado posteriormente ao início deste
projecto, uma vez que estava ser alimentado artificialmente pelos técnicos do Parque
Natural Arribas del Duero.
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
O pombo foi inicialmente colocado com maior frequência sendo depois reduzido o
número de dias por semana em que era aí colocado (calendário de alimentação em
anexo). Uma vez que se pretende capturar o macho deste casal a presa não foi
substituída por coelho. O facto de se estar alimentar com pombo leva a que a
biomassa diária fornecida seja inferior, obrigando-as a caçar e tornando-os mais
dependentes do alimento, o que irá facilitar a posterior a captura.
.
FIG 9: Local de alimentação
Bemposta HF-AL-10
Este casal esteve dado como desaparecido durante cerca de um ano
aproximadamente. Ainda numa data anterior ao início deste trabalho este casal
começou a ser alimentado. Mais tarde, com este projecto, foi aplicado um esforço
acrescido para tentar compreender alguns dos seus movimentos e comportamentos, já
que o seu desaparecimento poderia estar relacionado com a escassez de alimento. A
rapidez com que o casal captura a presa logo após a sua colocação poderá indicar
uma baixa disponibilidade alimentar associada a este território.
Neste momento o casal encontra-se a comer dois coelhos por semana desde o inicio
do projecto (calendário de alimentação em anexo).
Lagoaça HF-SA-10
Este casal, tal como o anterior, está a ser alimentado desde o início do projecto. Os
resultados obtidos com a colocação do pombo e sua predação foram bastante
satisfatórios desde o início do processo. O processo de transição para coelho não teve
sucesso. O casal capturava o pombo mas não tinha qualquer comportamento
predatório relativamente ao coelho colocado ao lado. Foram utilizados vários coelhos
de tamanhos e de cores diferentes mas sem qualquer resultado positivo. Perante tal
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
situação o casal continuou a ser alimentado com pombo, sendo fornecidos dois
pombos por sessão, ou seja quatro por semana (calendário de alimentação em
anexo).
FIG 10 Captura da presa.
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
V - CONSIDERAÇÕES FINAIS
De quatro territórios monitorizados no Parque Natural do Douro Internacional verificase que:
- o território de Miranda HF-MI-10 se encontra aparentemente vazio;
- o território de Picote HF-BE-10 está ocupado por dois indivíduos adultos, tendo
ocorrido substituição da fêmea;
- o território de Urrós HF-BE-20 está ocupado por dois indivíduos adultos;
- o território de Bemposta HF-AL-10 está ocupado por dois indivíduos adultos;
- o território de Lagoaça HF-SA-10 está ocupado por dois indivíduos adultos.
Salienta-se que os trabalhos de monitorização do território de Miranda continue, uma
vez que se tem vindo a observar assiduamente um casal de águia-real com
comportamento de defesa de território. Isto parece indicar que existe a possibilidade
deste território vir a ser ocupado em breve por esta espécie.
Com o processo de alimentação suplementar, os casais parecem estar mais ligados
aos núcleos dos seus territórios, uma vez que é aí que são alimentados. Além deste
comportamento, verifica-se também que parece haver uma maior agressividade
relativamente a outras espécies, facto que poderá estar relacionado com uma melhor
condição física e uma maior ligação e sentido de defesa do seu território.
Estudo de dispersão de aves prioritárias – 2º Protocolo EDP/ICNB/QUERCUS/SPEA
1
BIBLIOGRAFIA
Cheylan, G., Ravayrol, A., Cugnasse, J.-M., Billet, J.-M. & Joulot, C., 1996. Dispersion
des Aigles de Bonelli Hieraaetus fasciatus juveniles bagués en France. Alauda,
64: 413-419.
Ferrer, M., 2001. The Spanish Imperial Eagle. Barcelona. Lynx Edicions.
Fráguas, B., 1999. A população de águia de Bonelli Hieraaetus fasciatus no Nordeste
de Portugal. Situação actual, Biologia da Reproduçã, Ecologia e Conservação da
População. Dissertação de Mestrado em Ecologia Aplicada. Faculdade de
Ciências da Universidade do Porto.
Monteiro A., Gonzalo J., Formariz J. & M. Alonso, 1998. “Arribes del Duero – Douro
Internacional, colaboración entre Castilla y León en el seguimiento y
conservación de la avifauna”. Medio Ambiente en Castilla y León, ano V: 10-12
Rodríguez , M y Palacios, J. (1997) “Censos de Fauna de Zamora entre 1988 y 1996. Junta de
Castilla y León. Sin publicar.
Sanz- Zuasti, J, 2000. Radioseguimiento del águila perdicera en Vicente, J. L,
Palacios, J Martínez, A y Rodríguez, M “Arribes del Duero el hogar del águila
perdicera y de la cigüeña negra. Edita Junta de Castilla y León
Tucker G. M. & M. F. Heath, 1994. Birds in Europe: their conservation status.
Cambridg, U.K.: BirdLife International (BirdLife Conservation Series nº. 3).
Vicente, J. L, Palacios, J Martínez, A y Rodríguez, M (2000)“Arribes del Duero el
hogar del águila perdicera y de la cigüeña negra. . Edita Junta de Castilla y
León
Download

1º Relatório de Progresso: