5 Estrutura macromolecular do silicato solúvel, polissiloxonato Este curso revisita uma antiga indústria, a do silicato solúvel (waterglass), um ingrediente químico geopolimérico básico. Envolve: • História dos silicatos solúveis (waterglass), fabricação; • Estrutura macromolecular de silicatos vítreos de sódio ou potássio; • Hidrólise, despolimerização de silicatos sólidos; • Estrutura das soluções de silicato solúvel, o polissiloxonato; • Espectroscopia de RMN, estrutura macromolecular, identificação de espécies solúveis; • Densidade, viscosidade, pH, silicatos alcalinos em pó; Após a conclusão deste curso, você será capaz de compreender as diferenças entre os silicatos de sódio e os silicatos de potássio e como aplicar esse novo conhecimento na concepção de alta qualidade dos produtos geopoliméricos. http://www.geopolymer.com.br Estrutura macromolecular do silicato solúvel, polissiloxonato com Si:Al = 1:0 Estudaremos a estrutura macromolecular do silicato solúvel, designado polissiloxonato, onde a relação Si:Al=1:0. Composição química dos silicatos solúveis A fórmula química para o silicato solúvel é xSiO2:M2O:zH2O; M2O sendo óxido de sódio, óxido de potássio e óxido de lítio. Chamamos esse silicato de (Na, K)-polissiloxonato. Fabricação dos silicatos Mecanismo químico A alcalinização do SiO2 é um ataque químico da cadeia polissiloxo por álcalis, que é a quebra da ligação Si-O, obtendo duas moléculas separadas. Figura 5.1 - Alcalinização do SiO2 xSiO2 : M2O : zH2O M2O = Na2O, K2O, Li2O Processos de produção (Na, K) - (Si-O-Si-O)n (Na, K) - Polissiloxonato Silicatos comerciais são caracterizados por dois números: o primeiro é o módulo, que é a razão em massa (RW) do SiO2:M2O e o segundo a razão molar (RM) SiO2:M2O, essa é a relação molar que usamos neste curso. Para obtermos a razão molar quando temos a relação em massa provida pelo fornecedor, temos para o silicato de sódio RM = 1,032 x RW e para o silicato de potássio RM = 1,568 x RW. xSiO2 : M2O : zH2O Módulo = RW = razão em massa SiO2:M2O RM = razão molar SiO2:M2O Existem 4 processos de produção; um que é usado atualmente em escala industrial, envolve a areia de SiO2 e carbonato alcalino, obtemos o silicato alcalino, emissão de CO2 e isso ocorre a 1400-1500°C. nSiO2 + M2CO3 => M2O.nSiO2 + CO2 1400-1500°C O segundo, apesar de não usado, foi baseado em SiO2 e sulfato de sódio com adição de carbono, você será capaz de entender que por causa da emissão de SO2 (isso produz ácido sulfúrico na atmosfera), não está mais autorizado. nSiO2 + Na2SO4 + C => Na2O.SiO2 + SO2 + CO Na-silicato: RM = 1,032 RW K-silicato: RM = 1,568 RW A relação molar para os silicatos comerciais é definida para o ortossilicato de sódio de 0,5; metassilicato de sódio 1,0; dissilicato de sódio 2,0; polissilicato de sódio 3,0 ou 3,3. O terceiro e o quarto são através do método hidrotérmico, que é realizado em autoclave, temos o SiO2 reagindo com o hidróxido alcalino, e atualmente temos vários laboratórios que fabricam o silicato de sódio através da reação da sílica ativa com NaOH ou KOH. Tabela 5.1 - Razão molar dos silicatos comerciais http://www.geopolymer.com.br nSiO2 + 2MeOH => M2O.nSiO2 + H2O autoclave ou < 100°C com sílica ativa 52 Estrutura macromolecular do silicato solúvel, polissiloxonato com Si:Al = 1:0 Processos industriais Processo em forno Temos dois processos de fabricação das soluções de polissiloxonato solúveis: o processo em forno e o processo hidrotérmico. No processo em forno, a areia e o carbonato de sódio são misturados, colocados no forno e fundidos. Essa mistura é enviada para outra companhia que dissolvem o material e misturam em água ou processam reaglomerando para produzir o silicato em pó. O silicato é então dissolvido em autoclave e misturado com outros ingredientes O processo em forno fornece somente três produtos: o silicato de sódio neutro com razão molar em torno de 3,4; o silicato de sódio alcalino com razão molar entre 2,1-2,2 e o silicato de potássio que tem razão molar de quase quatro. ou com outros álcalis para produzir o silicato de sódio disponível comercialmente. No processo hidrotérmico, usamos areia e a soda cáustica em autoclave, obtemos um licor, que é evaporado através de 3 a 4 processos diferentes. Tabela 5.2: Processo em forno. Precisamos saber porque a indústria escolheu estes três produtos e não outros. Para entender essa escolha, analisaremos os diagramas de fases da fusão e cristalização para os sistemas Na2O-SiO2 e K2O-SiO2. Abaixo o diagrama de fases do sistema sódio-silício. Figura 5.3 - Diagrama de fases do sistema Na2O.SiO2 Temos no processo de fusão as fases que são obtidas durante a cura: fase I, Na2O; II, ortossilicato; Fig. 5.2 - Fluxograma de produção para polissiloxonatos solúveis, silicatos alcalinos solúveis (processo em forno e hidrotermal). III, metassilicato; IV, dissilicato; V, cristobalita; VI, tridimita e VII, quartzo. Isto é óbvio, pois aprendemos que o quartzo se transforma em tridimita e a tridimita em cristobalita em altas http://www.geopolymer.com.br 53 Estrutura macromolecular do silicato solúvel, polissiloxonato com Si:Al = 1:0 temperaturas. Vemos diferentes pontos eutéticos. No processo industrial seriam nesses pontos eutéticos que as misturas seriam produzidas. O ponto eutético entre 75-77% em peso de SiO2 corresponde a relação molar de 3,3 e o ponto eutético entre 63-64% correspondendo a relação molar de 2. Abaixo o diagrama de fases do sistema potássiosilício. fase (III), que é o tetrassilicato. É uma molécula pura do tetrassilicato de potássio. - silicato de sódio neutro (76,5% em peso SiO2): fases βIV + VII (dissilicato de sódio + quartz0); - silicato de sódio alcalino (66% em peso SiO2): fases III e βIV (metassilicato + dissilicato); - silicato de potássio (71% em peso SiO2): fase III (tetrassilicato). O processo hidrotérmico é usado somente para produzir o metassilicato (MR=1), porque é a melhor forma de obter o metassilicato puro, pois pelo processo em forno é mais difícil. Vamos agora estudar a estrutura dos silicatos obtidos pelo processo em forno. Faremos isso através da espectroscopia de ressonância magnética nuclear do silício. Fig. 5.4 - Diagrama de fases do sistema K2O.SiO2 Para o silicato de potássio as fases são ortossilicato, dissilicato e tetrassilicato. E, obtemos um ponto eutético usado para a produção do silicato de potássio que é por volta de 72-73% e representa uma relação molar de 4 no grau industrial escolhido para o silicato de potássio. Então, temos o silicato de sódio neutro (77% em massa de SiO 2), que é a mistura de dois elementos, dissilicato de sódio e quartzo. Lembre que o quartzo está sempre nos silicatos de sódio. O silicato de sódio alcalino (66% em massa de SiO2), a combinação de 2 fases (III e βIV), fase III é o metassilicato e a βIV é o dissilicato, esse silicato é a mistura sólida de dois silicatos diferentes. E o silicato de potássio (71% em massa de SiO2), uma Temos na Figura 5.5 a distribuição das diferentes espécies que estão presentes no silicato de sódio. Eu acredito que você se lembre dos vários tipos de Q: Q0, Q1, Q2, Q3 e Q4. Temos a porcentagem da composição do silicato e várias relações molares já estudadas. Figura 5.5 - Estrutura molecular de soluções de silicatos de sódio em função da razão molar http://www.geopolymer.com.br 54 Estrutura macromolecular do silicato solúvel, polissiloxonato com Si:Al = 1:0 Temos na Figura 5.6 o mesmo silicato de potássio, e as duas curvas são praticamente idênticas. representação da estrutura que razoavelmente corresponde a essa distribuição de Q4, Q3 e Q2, e temos o sistema Q2, Q3 e Q4, que aqui é uma molécula tipo laço. • Razão molar 2 para o silicato de potássio Figura 5.6 - Estrutura macromolecular de soluções de silicato de potássio em função da razão molar Vamos tentar explicar que tipo de estrutura obtemos nos silicatos. Vamos escolher algumas das relações molares, e veremos se são capazes de fornecer informações plausíveis sobre as misturas encontradas nesses silicatos. • Razão molar de 3 para o silicato de potássio. Figura 5.8 Praticamente 85% de Q3, e menos de 10% de Q2 e Q4; isso resulta em um sistema que pode ser a mistura de 8 espécies de Q3, uma de Q4 e uma de Q2, consiste em uma estrutura em laço (Q2, Q3 e um Q4) que induz de fato a uma estrutura tridimensional entre esses laços. • Razão molar 1 para o silicato de potássio Figura 5.7 A razão molar é composta por 33-34% de Q4 e 66% de Q3, isso significa 2Q3 para 1Q4, temos uma pequena porcentagem de Q2; então escrevemos (0,1Q 2 + 2Q 3 + 1Q 4 ), e tentamos fazer uma http://www.geopolymer.com.br Figura 5.9 55 Estrutura macromolecular do silicato solúvel, polissiloxonato com Si:Al = 1:0 Para a relação molar igual a 1 teremos 85% de Q 2, 10% de Q 3 e 5% de Q 1 correspondendo aproximadamente a (1Q1 + 17Q2 + 2Q3). É uma estrutura linear que pode ser representada com Q1 no fim da cadeia linear, Q2 e o Q3, como segmentos do sistema. Isso é bom, mas não é o que realmente ocorre nos silicatos, é mais complicado. E é mais complicado porque esquecemos de uma coisa. Nós esquecemos que começamos com o quartzo e o carbonato de sódio ou potássio, e que todo o ataque foi realizado a 400°C. Vimos que o quartzo é transformado em tridimita e cristobalita a essa temperatura, portanto não é o quartzo que é o elemento inicial do nosso sistema; que é despolimerizado e atacado por álcalis, mas sim, a tridimita. Lembre-se de que isso foi a transição de quartzo em tridimita e cristobalita (Figura 5.10), por isso estamos praticamente sempre abaixo de 1400-1700°C na mistura, então podemos afirmar que o ataque alcalino está acontecendo na estrutura da tridimita. Você deve se lembrar que a estrutura do quartzo é formada por ligações cruzadas de várias cadeias lineares; de fato uma cadeia espiral, a tripla hélice. E essa tripla hélice está em ligação cruzada no quartzo, e provê uma estrutura compacta densa. Figura 5.11 Nós temos a tridimita com uma estrutura mais aberta formada por anéis hexagonais cíclicos, que estão abertos e vazios entre os tubos e anéis. Figura 5.12 - Estrutura da β-tridimita Nós sabíamos que a transformação da tripla hélice do quartzo em tridimita pode ser explicada pela transformação em espiral alongada de cadeias do tipo da wollastonita. Figura 5.10 Figura 5.13 http://www.geopolymer.com.br 56 Estrutura macromolecular do silicato solúvel, polissiloxonato com Si:Al = 1:0 Se olharmos a estrutura da tridimita, podemos supor também que ao invés da cadeia do tipo da wollastonita, o que temos é a cadeia do piroxênio. Lembre-se da repetição dos elementos “di” e que estas são cadeias do tipo piroxênio que podem ser submetidas à alcalinização e a várias clivagens. É isso que imagino que acontece no forno, temos a clivagem da estrutura da tridimita em elementos menores definidos. A clivagem acontece na borda de uma pequena partícula tridimensional, que pode ser o início da formação do silicato alcalino. potássio, temos 50% de Q4 e 50% de Q3. Qual estrutura corresponde a distribuição de Q4 e Q3? É um tetrassilicato que corresponde a distribuição de 12 Q4 e 12 Q3, neste caso essa molécula realmente existe no silicato. Para entender se existe ou não, temos que voltar para o diagrama de fases (Figura 5.16), lembre que na relação molar 4, temos para Na-Si a distribuição de SiO2 de 80% em massa, 20% de Na2O, que corresponde a relação molar de 4. É a mistura βIV, que é o dissilicato e quartzo. Assim, a suposição de que temos uma única molécula de tetrassilicato para o silicato de sódio com razão molar de 4, não está correta, porque de fato ela é uma solução sólida de silicato e quartzo. Figura 5.14 Vamos escolher a relação molar de 4 para o sódio e o potássio. Figura 5.16 E sobre o potássio? Figura 5.15 Na relação molar de 4, vemos que para o sódio temos 50% de Q4 e 50% de Q3; esses são sistemas tridimensionais avançados, mesmo para o Para o potássio a relação molar de 4 é exatamente no ponto eutético. A relação molar de 4 é justamente o tetrassilicato, então podemos afirmar que esta estrutura possa existir para o tetrassilicato, e é o que obtemos no silicato. Se continuarmos com a despolimerização e a degradação dessa estrutura, então teremos outra, entramos em uma http://www.geopolymer.com.br 57 Estrutura macromolecular do silicato solúvel, polissiloxonato com Si:Al = 1:0 relação molar menor, a relação molar de 3. Verificamos que isto não existe no sistema de sódio,e nem no sistema de potássio, porque o dissilicato e o tetrassilicato é uma mistura da espécie II e da espécie III, portanto essa molécula não existe. Figura 5.17 A relação molar de 3 para o sódio, temos a distribuição de 38-40% de Q4, 60% de Q3 e 2,5% de Q2. O mesmo, praticamente para o potássio e isso poderia ser designado para outra estrutura, que é previamente despolimerizada, que é formada por 6 Q4 e 12 Q3. Figura 5.19 Figura 5.20 E se continuarmos a degradação da estrutura tridimensional da tridimita, obtemos a relação molar de 2 (Figura 5.21). A relação molar de 2 contém 75% de Q3, 10% de Q4 e 10% de Q2 para o sódio, e 85% de Q3 e menos de 10% de Q4 e Q2 para o potássio. Figura 5.18 Para verificar sua validade, voltamos ao sistema de fases (Figura 5.19 e Figura 5.20) e para a relação molar de 3 alcançamos o ponto eutético. E, de fato temos a mistura de βIV e VII, que é o dissilicato e de novo o quartzo. Isto poderia ser uma estrutura mais simples, temos praticamente somente Q3, se não levarmos em consideração dessa forma, nós saberemos o que teremos, mas isso corresponde a relação molar de 2, baseado em dodecaedro e unidades de silício. http://www.geopolymer.com.br 58 Estrutura macromolecular do silicato solúvel, polissiloxonato com Si:Al = 1:0 Vamos continuar a despolimerização e o ataque alcalino, temos a relação molar de 1,5. Temos 64-65% de Q3, 30% de Q2 e praticamente nenhum Q4, e para o potássio 65% de Q3, 33% de Q2 e praticamente 0 de Q4 e outras espécies. Poderia ser esse hexassilicato, que corresponde a relação molar 1,5 e é formado por 4 Q3 e 2 Q2. Figura 5.21 No sistema de fases, a relação molar de 2 para o sódio corresponde a 66% de SiO2, essa é exatamente a molécula número IV, é o dissilicato de sódio, portanto essa molécula pode existir no silicato de sódio. Figura 5.24 No diagrama de fases, nós vemos que corresponde a relação em massa, que é de fato a fase número III e número IV; este é o metassilicato e o dissilicato, e essa estrutura não existe em silicatos. Figura 5.22 E sobre o silicato de potássio, nós vemos que a relação de mistura não corresponde a uma molécula individual, é composta pelas fase II e III, a fase II é o dissilicato, a fase III é o tetrassilicato. Figura 5.25 Figura 5.23 E para o potássio (Figura 5.26), a estrutura denominada de dissilicato corresponde exatamente ao ponto ótimo. Nós temos um problema. O problema é que a distribuição da espectroscopia http://www.geopolymer.com.br 59 Estrutura macromolecular do silicato solúvel, polissiloxonato com Si:Al = 1:0 de ressonância magnética nuclear fornece uma relação molar de 1,5, e aqui a determinação da fase é um dissilicato. Temos que resolver esse problema, e talvez seja o problema esteja no diagrama de fases que pode estar incorreto. hexâmero, RM=1, isso corresponde a 6 Q2. E se continuarmos a despolimerização e o ataque, nós temos a relação molar de 0,75, que poderia ser expressada pelo trímero Q 1 e Q 3, mas se continuarmos com 0,66, temos um dímero somente com Q1, e o último, o ortossilicato, RM=0,5 e 1 Q0. Figura 5.26 Se continuarmos a despolimerização e o ataque, nós temos a relação molar de 1. Figura 5.28 Mecanismo de formação e estruturas Agora podemos estudar o mecanismo de formação do silicato solúvel que ocorre em autoclave quando o silicato é colocado em água e dissolvido a 140-150°C. Nós estudamos a hidrólise e despolimerização do silicato. Tabela 5.3 - Solubilização a 25°C Figura 5.27 Para o sódio 70% de Q2, 10% de Q3 e 15% de Q1 e para o potássio, também, 85% de Q2, 5% de Q1 e 10% de Q3 e isso poderia corresponder a essas três unidades moleculares diferentes para o silicato de sódio ou potássio. É um anel tetraédrico com ramificações Si-O, que corresponde a 2 Q3, 2 Q2 e 2 Q1, isso corresponde a RM=1. Temos um trímero individual, 3 Q2, que corresponde a RM=1 e um Os três graus comerciais do silicato têm diferentes solubilidades em água a 25°C, por exemplo, o silicato de sódio com relação molar de 3,3, dissolve 50% após 60 horas e praticamente nenhuma dissolução após. O silicato de sódio de relação molar de 2, que é mais alcalino, precisa de 10 http://www.geopolymer.com.br 60 Estrutura macromolecular do silicato solúvel, polissiloxonato com Si:Al = 1:0 horas para dissolver 50% em massa, 70 horas para atingir 75%, mas não consegue atingir 100%. O silicato de potássio com relação molar de 4, 50% são dissolvidos a 25°C em 1 hora, 75% após 7,5 horas e é totalmente dissolvido após 48 horas. Existe uma grande diferença entre silicato de sódio e silicato de potássio. O silicato de potássio é realmente uma molécula de tetrassilicato; em contrapartida o silicato de sódio é a mistura de dissilicato e quartzo. Então, o que vemos é que temos na relação 3,3 muito quartzo e menos quartzo para a relação 2 e um longo tempo para dissolver, mas sabemos que o quartzo não é solúvel em água, e isso explica porque leva mais tempo para ser atacado em solução. Seguiremos o processo de dissolução e a estrutura das moléculas dissolvidas graças à ressonância magnética nuclear. A dissolução acontece em água devido à ação do sódio que ataca a matriz de silício, então nós temos grupos silanol produzindo álcalis que reagem no sistema e atacam a ligação de siloxo produzindo Si-OH e outros núcleos de sódio, impedindo a ponte de oxigênio, e assim por diante sendo atacado e produzindo o silanol, Si-OH. Figura 5.29 Isso é o que temos sob espectroscopia de ressonância magnética nuclear do silício. Figura 5.30 O espectro RMN do 29Si do silicato de sódio líquido com razão molar de 2,10 apresenta picos agudos do Q0, Q1, Q2 e Q3 localizados em torno de -72, -80, -87 e -96 ppm respectivamente, juntamente com uma ressonância ampla em -110 ppm decorrentes da amostra do tubo de vidro (Q4). Após a adição de NaOH ao silicato de sódio (relação molar de 1,6), a quantidade de Q3 diminui, indicando que o NaOH é capaz de quebrar algumas espécies Q3, aumentando a atividade do silicato.Vamos ver o que acontece quando adicionamos o NaOH para então degradar o silicato em solução. Nós temos o NaOH e obtemos uma relação molar de 1,6. Vemos que a quantidade de Q2 aumentou e a quantidade de Q3 diminuiu, o mesmo para o Q1 que aumentou e o mesmo para o Q0. Então temos a despolimerização de espécies maiores em estruturas moleculares menores de silicato. Nós podemos obter uma visão clara do formato das moléculas que são dissolvidas no sistema do silicato de sódio graças à espectroscopia de ressonância magnética nuclear do silício (Figura 5.31). Nós isolamos agora vários oligômeros. Temos o monômero do ortossialato, o dímero, o trímero (linear ou cíclico), o tetrâmero (linear, cíclico e trímero com ramificação de silicato), o pentâmero (cíclico com ligação interna e o tetrâmero com ramificação http://www.geopolymer.com.br 61 Estrutura macromolecular do silicato solúvel, polissiloxonato com Si:Al = 1:0 lateral de Si-O), o hexâmero (tem estrutura tridimensional e este com uma estrutura quadrada estranha) e ainda o octômero que é uma molécula cúbica. Nós temos o vidro com relação molar de 1, com relação molar de 1,33, com relação molar de 2 e com relação molar 3,2. Visualizamos melhor no gráfico a seguir. Essas moléculas são encontradas em vários silicatos de sódio produzidos industrialmente e vendidos como silicato de sódio. Figura 5.32 Em 1,0, no vidro nós temos bastante Q2 e em 1,0 em solução nós temos menos, a quantidade de Q1 está aumentando, a quantidade de Q0 está aumentando e a quantidade de Q3 desapareceu. Com a relação 1,3, no vidro, nós temos também o Q3 praticamente dissolvido, temos o Q2, Q1 e Q0. Figura 5.31 Nós podemos acompanhar a transição entre as moléculas de Si no silicato em solução graças a distribuição das espécies Q0, Q1, Q2, Q3, Q4 (Tabela 5.4). Tabela 5.4 Na relação molar de 2 para o vidro temos essencialmente Q3, o Q4 está ausente, foi totalmente destruído, então temos um pouco de Q3, bastante Q2 e Q1. Na relação molar 3,3 nós temos muito Q4, lembrese que o Q 4 é quartzo, e esse quartzo está presente mesmo após a dissolução em autoclave. O Q3 resulta da degradação do quartzo, e alguns se transformaram em Q2, em Q1 e em Q0. Vamos dar uma olhada nas estruturas que obtemos, supondo que a relação molar é 3,3 e isso é o que deveríamos ter no vidro, 12 Q3 e 9 Q4 (Figura 5.33). Temos uma mistura de dissilicato e quartzo, e a dissolução e degradação em autoclave fornecerá a formação de três tipos de http://www.geopolymer.com.br 62 Estrutura macromolecular do silicato solúvel, polissiloxonato com Si:Al = 1:0 hexâmeros em solução, que correspondem a distribuição de 2 Q1, 6 Q2, 10 Q3 e 1 Q4 e a molécula número 6a. sólido é uma solução sólida de um trímero (trissiloxonato) e um hexâmero (hexassiloxonato), em dissolução obtemos a mesma estrutura (praticamente não foi destruída) mais alguns monossilicatos (ortossilicato), alguns Si-Si-O (dissilicato) e o tetrassilicato. Aqui também o metassilicato é formado por pelo menos 5 espécies diferentes, não é um sistema formado por uma única molécula, não é um sistema constituído de um silicato de sódio individual. Figura 5.33 Se obtivermos a relação molar 2 (Figura 5.34), nós sabemos que no vidro temos uma mistura do mesmo dissilicato (dodecassiloxonato de sódio), hexassiloxonato mais quartzo. Quando submetido a dissolução, obtivemos vários hexâmeros e trímeros, então nós vemos em RM=2 no silicato de sódio é de fato formado por 5 moléculas diferentes que têm diferentes volumes. Figura 5.35 Então nós aprendemos a diferença entre silicato de sódio e silicato de potássio, isso também pode ser mostrado pela viscosidade (Figura 5.36). Figura 5.36 Figura 5.34 Na relação molar de 1 (Figura 5.35) temos o metassilicato. O metassilicato em silicato de sódio Lembre que o silicato de sódio contém grandes moléculas, às vezes quartzo, então é óbvio que a viscosidade do silicato de sódio será maior que a do silicato de potássio, que é composto por moléculas individuais. No tetrassilicato e no http://www.geopolymer.com.br 63 Estrutura macromolecular do silicato solúvel, polissiloxonato com Si:Al = 1:0 dissilicato que são facilmente desagregados e despolimerizados em espécies menores, a viscosidade do silicato de potássio é dez vezes menor que a do silicato de sódio, e nós obtemos isso sempre em função da temperatura, como ilustrado no gráfico (Figura 5.36) abaixo de 120 MPa.s e 1000 MPa.s . O pH da solução de silicato de sódio depende da concentração, obviamente, quanto mais Na2O maior o pH, que alcança valores muito altos. moléculas menores e a RM=1 é formada por moléculas menores que as outras, mas não é muito solúvel em água a 20°C, para alcançar a solubilidade tem que ser aquecido até 70°C e isso é um sinal que devido ao processo industrial de produção do metassilicato em pó, às vezes o que obtemos não são moléculas menores na teoria, mas moléculas agregadas que se polimerizaram novamente durante a evaporação produzindo o pó hidratado em vários fornos que são usados para esse propósito. Figura 5.37 - Gráfico do pH em função da concentração em % de Na2O Às vezes o silicato não é fornecido em solução, mas em pó, são sempre pós de silicato hidratado e temos quatro graus comerciais (Tabela 5.5). Tabela 5.5 - Silicato hidratado em pó Temos na Tabela 5.5 o dissilicato de sódio com relação molar de 2, o trissilicato com relação molar de 3, outro dissilicato de sódio (produzido de uma maneira diferente) de relação molar 2 e o dissilicato de potássio que tem relação molar de 3,12. Figura 5.38 O metassilicato hidratado em pó é produzido por processo hidrotérmico (Figura 5.39), e você observa que eles são de diferentes graus e produtos diferentes, que são fabricados ou por cristalização contínua ou cristalização rotativa ou secagem por pulverização, isso influenciará na formação molecular do produto e em suas propriedades. É interessante observar a solubilidade dos três graus comerciais do pó hidratado. Na Figura 5.38 temos a variação da solubilidade pela temperatura. A curva abaixo corresponde a RM=3,3 (obviamente menos solúvel que os outros); RM=2 é a curva que tem melhor solubilidade, já que tem http://www.geopolymer.com.br Figura 5.39 64