REDUZINDO AS QUEBRAS ATRAVÉS DA MANUTENÇÃO PROFISSIONAL Luiz Rodrigo Carvalho de Souza (1) RESUMO O alto nível de competitividade exige que as empresas alcancem um nível de excelência na gestão de seus processos, eliminando os imprevistos a fim de assegurar a sua permanência no mercado. Dessa maneira, os comitês diretivos das companhias buscam programas de otimização da manufatura com o objetivo de identificar e reduzir as perdas, diminuindo o custo de transformação, aumentando o faturamento da corporação. O programa WCM (Manufatura de Classe Mundial), visa através do desdobramento de custos, identificar as perdas da fábrica e definir dentre os dez pilares técnicos do programa, qual é o mais indicado para a redução da perda encontrada. A Case New Holland de Curitiba adotou esse programa e áreas de trabalho foram priorizadas de acordo com o valor das perdas de cada fábrica, tratores e colheitadeiras, da planta. Em ambas as fábricas, a quebra dos maquinários foi uma das perdas mais significativas. Com base nisso e de acordo com os causais desta perda, a manutenção profissional é acionada para atacar as maiores criticidades com a implantação dos sete passos do pilar. A consolidação desses passos visa à obtenção da quebra zero para as máquinas selecionadas. O presente trabalho visa demonstrar a aplicação da metodologia da manutenção profissional sobre as máquinas da Case New Holland, passo a passo, bem como os grandes resultados obtidos em relação à redução do número de quebras e dos custos de manutenção em apenas um ano de implantação do programa. 1- INTRODUÇÃO Todas as empresas de modo geral têm um objetivo em comum: a maximização de seus lucros. Dessa forma, procuram reavaliar todos os seus processos de manufatura, atacando as perdas identificadas. Porém, um problema muito comum é justamente a identificação dessas perdas. Muitos simplesmente não conseguem enxergar as perdas de seus processos produtivos, e isto ocorre devido a fatores que estão intrínsecos na política de trabalho da empresa e na cultura das pessoas. O WCM neste caso propõe a mudança da cultura e a definição de um novo padrão de trabalho de forma que ao longo de sua implementação, as pessoas e o sistema sejam capazes de identificar e atacar cada vez mais as perdas embutidas no custo de transformação da empresa. O custo de transformação é estratificado de tal forma com o auxílio do WCM que possibilita um nível melhor sobre gerenciamento dos custos, garantindo grandes ganhos para a companhia já no primeiro ano de implantação. (1) COMAU do Brasil Indústria e Comércio Ltda; Analista de Tecnologia Industrial Demonstraremos no decorrer deste trabalho, a implantação do pilar de manutenção profissional na Case New Holland de Curitiba, suportado pela empresa Comau do Brasil, que gerou grandes benefícios em relação à redução do número de quebras dos maquinários. 2 – A MANUTENÇÃO PROFISSIONAL (PM) O quinto pilar da metodologia WCM, o PM (Professional Maintenance), tem como objetivo principal a obtenção da quebra zero sobre as áreas selecionadas. Esse objetivo é alcançado através da aplicação dos 7 passos deste pilar. São eles: FIGURA I: Os sete passos da manutenção profissional A eliminação da quebra de uma máquina é tecnicamente possível. A grande questão é como obter este resultado de maneira econômica. Os sete passos da manutenção profissional são o guia para a realização desta tarefa. Começando com ferramentas básicas nos primeiros passos e avançando no decorrer da implementação, conseguimos reduzir as quebras das máquinas e obter no período de um ano um retorno superior ao investimento realizado. Isto se torna possível devido à forma como as máquinas modelo são escolhidas, que é totalmente baseada no custo gerado pelas quebras dessas máquinas. As maiores criticidades em relação a custo de manutenção baseada na quebra, são escolhidas para o início do trabalho da manutenção profissional, justamente para a garantia de ganho e retorno do investimento que será realizado. 3 – A IMPLANTAÇÃO DOS TRÊS PRIMEIROS PASSOS 3.1 – ATIVIDADES PRELIMINARES DA MANUTENÇÃO PROFISSIONAL Esta primeira etapa, titulada como passo “0” pela metodologia, consiste em realizar atividades que antecedem os projetos de manutenção profissional. Tratase da realização de algumas atividades básicas iniciais, para se obter um bom gerenciamento das atividades de manutenção em uma planta. Dentre as principais atividades deste passo, destacam-se: 1. Definição dos fluxos de trabalho de manutenção. Ex: Fluxo da manutenção baseada na quebra, fluxo da manutenção preventiva e etc; 2. Gerenciamento dos lubrificantes; 3. 5S no armazém de peças; 4. 5S nas áreas de manutenção; 5. 5S nos desenhos dos equipamentos; 6. Definição das máquinas modelo da manutenção profissional; 7. Treinamento abordando os sete passos da manutenção profissional. 3.2 – PASSO 1: ELIMINAÇÃO DA DETERIORAÇÃO FORÇADA E PREVENÇÃO DA DETERIORAÇÃO ACELERADA Uma das atividades deste passo consiste em restaurar os pontos anômalos da máquina. Estes pontos são identificados através de etiquetas que possuem como principal objetivo, destacar a anomalia. Após esta restauração a máquina está pronta para ser entregue ao operador, que a partir deste ponto começará a realizar atividades básicas de limpeza, inspeção, lubrificação e reaperto. Trata-se da manutenção autônoma. Através de calendários e rotas de manutenção, os operadores realizam essas atividades periodicamente, garantindo a manutenção das condições básicas de funcionamento da máquina. Uma boa gestão visual desse processo é fundamental, visando trazer à tona qualquer anomalia, permitindo dessa forma um maior nível de participação e envolvimento dos operadores. Outra atividade importante deste passo é a construção do “livro máquina”. Este é um documento que possui desde a estratificação da máquina em subconjuntos e componentes até o controle, por componente, das quebras, causas raízes, contramedidas, desenhos e etc. Este documento, depois de finalizado, possibilita aos mantenedores um entendimento abrangente da máquina, inclusive em alguns aspectos, de forma mais clara que o próprio manual do fabricante. Abaixo algumas imagens deste documento: Registro da Máquina Capítulo 1 Desenho dos Componentes Capítulo 4 Estratificação dos Subconjuntos Capítulo 2 Lista de Componentes por Subconjunto Capítulo 3 Mapa das Atividades de Manut. Autônoma Capítulos 5 e 6 Mapa das Quebras (Componentes) Capítulo 7 FIGURA II: Livro Máquina de um Centro de Usinagem O suporte que a manutenção profissional fornece para a implantação da manutenção autônoma na máquina é fundamental neste passo. No passo 1 da manutenção profissional são realizados os 3 primeiros passos da manutenção autônoma, outro pilar do programa WCM. Esse suporte consiste além do auxílio no treinamento dos operadores nas atividades básicas de manutenção, na eliminação de áreas de difícil acesso da máquina e também das fontes de contaminação. Essas atividades tratam-se de melhorias realizadas na máquina, geralmente registradas como Kaizens, que possibilitam a redução do tempo despendido pelo operador para a realização da limpeza e inspeção da máquina. 3.3 – PASSO 2: ANALISAR AS QUEBRAS A importância nesta fase da metodologia é o entendimento das quebras. É a reflexão da seguinte questão: por que os equipamentos falham? Através de uma ferramenta de análise de quebras sugerida pela metodologia, conseguimos determinar as causas raízes de cada quebra. Essas são classificadas após a análise em tipologias de causa raiz. Com a aplicação desta ferramenta, descobrimos que podemos associar qualquer falha a uma das seis tipologias de causa raiz existentes, e dessa forma determinar uma contramedida definitiva para o problema. As seis tipologias são: 1. Influências externas (qualidade das peças de reposição, matéria-prima e etc); 2. Erros humanos; 3. Fragilidade do projeto; 4. Manutenção insuficiente; 5. Não observação das condições operacionais; 6. Falta de manutenção das condições básicas. Como nível de expansão das atividades de passo 2 para planta como um todo, afim de obter informações que auxiliaram na execução dos 7 passos de PM em outras máquinas, a análise de quebras pode ser expandida para um número mais abrangente de máquinas de acordo com o planejamento estratégico de cada empresa. E para cada expansão definida, uma regra deve ser seguida: para toda quebra ocorrida, uma análise para encontrar a causa raiz deverá ser realizada. 37 40 35 30 25 20 15 10 5 0 9 2 1Q 2008 12 15 5 2Q 2008 3Q 2008 4Q 2008 1Q 2009 2Q 2009 Machines GRÁFICO I: Evolução das máquinas cobertas com análises de quebra. 3.4 – PASSO 3: ESTABELECIMENTO DE PADRÕES DE MANUTENÇÃO Com base nas lições aprendidas nos passos anteriores, principalmente com as análises da quebras, somos capazes de gerar um plano de manutenção preventiva mais consistente, que vai muito além do plano de manutenção proposto pelo fabricante do equipamento. Isto por que neste passo, os mantenedores já adquiriram um conhecimento maior sobre a máquina de trabalho, e são capazes, levando em consideração as contramedidas determinadas nas análises de falhas e o detalhamento da máquina e suas funções realizadas no passo 1, de elaborar um plano de manutenção preventiva que garantirá a funcionalidade da máquina. Ou seja, se os passos foram aplicados corretamente até esta fase, a tendência é obter zero quebra na máquina a partir deste ponto. Uma atividade muito importante neste passo, também é a realização dos procedimentos padrões de manutenção, que são o “como fazer” de cada atividade de manutenção. Para a conclusão deste passo, todas as atividades de manutenção preventiva de uma máquina, sem exceção, devem conter um procedimento padrão de manutenção. Todos os mantenedores que atuam naquela determinada máquina, também devem ser treinados neste procedimento numa ação preventiva contra possíveis erros humanos. Um sistema visual para monitoramento da execução da manutenção preventiva e também de sua eficácia é disposto ao lado da máquina, para que o operador e a fabricação como um todo possam auxiliar a equipe de manutenção neste tipo de gestão. 4 – RESULTADOS OBTIDOS A aplicação do WCM trouxe ganhos consideráveis para ambas as empresas, Comau do Brasil e CNH. Alguns destes intangíveis como a confiança do cliente na Comau, deixando-a responsável por um dos pilares do programa, no caso, a manutenção profissional. Com a implantação dos 3 primeiros passos deste pilar, conseguimos reduzir consideravelmente as quebras das máquinas classificadas como críticas, que totalizam um número de 37 na planta. Nos gráficos II e IV abaixo, conseguimos visualizar a grande redução obtida em relação ao número de quebras da máquina modelo e das 37 máquinas respectivamente. No gráfico V, temos o exemplo da redução de 90% do tempo de limpeza de uma máquina de corte a laser através das melhorias realizadas na mesma junto ao pilar de manutenção autônoma. GRÁFICO II: Redução do número de quebras de uma máquina de corte a laser. Dados de janeiro de 2008 até abril de 2009. GRÁFICO III: Redução do número de quebras, de uma máquina de corte a laser, por tipologia de causa raiz. Dados de janeiro de 2008 até abril de 2009. NÚMERO DE QUEBRAS MÁQUINAS CRÍTICAS – 2008/2009 GRÁFICO IV: Redução do número de quebras das máquinas críticas. Total de 37 máquinas na planta. GRÁFICO V: Redução do tempo de limpeza, de uma máquina de corte a laser, realizada pelo operador (atividade de manutenção autônoma). 5 – CONCLUSÃO Com base na implementação dos 3 passos da manutenção profissional em duas máquinas modelos, com a identificação, abertura e execução de novos projetos e com a expansão das lições aprendidas nessas máquinas em outras similares, percebemos que o programa WCM é capaz de transformar a empresa e as pessoas que nela trabalham, gerando grandes resultados. Isso se torna possível uma vez que todos os níveis da organização são envolvidos para a implantação deste programa. A manutenção profissional dentro da metodologia WCM, conta com o apoio de todos os pilares do programa, principalmente manutenção autônoma, melhoria focada e desenvolvimento de pessoas. Também encontra suporte das gerências e diretoria da empresa, que se envolvem inclusive nas atividades do pilar, dando credibilidade e força ao programa.