UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
INSTITUTO QUALITTAS DE PÓS-GRADUAÇÃO
CURSO LATU-SENSU DE CLÍNICA MÉDICA E CIRURGICA DE PEQUENOS
ANIMAIS
ERLIQUIOSE CANINA - RELATO DE CASO
Gleizer Lopes de Campos dos Santos Matias
Rio de Janeiro
2012
GLEIZER LOPES DE CAMPOS DOS SANTOS MATIAS
Aluno de Pós-Graduação do Instituto Qualittas
ERLIQUIOSE CANINA - RELATO DE CASO
Trabalho de monografia de conclusão do
curso de Clínica Médica e Cirúrgica de
Pequenos Animais (TCC), apresentado ao
Instituto Qualittas de Pós-Graduação para
obtenção do título de Especialização Lato
sensu em Clínica Médica e Cirúrgica de
Pequenos Animais sob a orientação da Profa.
Dra. Simone Salles Pontes Xavier.
Rio de Janeiro
2012
ERLIQUIOSE CANINA - RELATO DE CASO
Gleizer Lopes de Campos dos Santos Matias
Aluno do Curso Qualittas de Pós-graduação em Clínica Médica e Cirúrgica de
Pequenos Animais
Foi analisado e aprovado com
grau:.......................................
Rio de Janeiro, 15 de Março de 2012
________________________________
Membro
________________________________
Membro
________________________________
Membro Presidente
Rio de Janeiro, Mar. 2012
ii
Dedico este trabalho aos meus pais,
Mario e Eliane, que sempre me
motivaram
estudos.
iii
e
incentivaram
meus
Agradecimentos
À minha noiva Mariana pelo carinho e
confiança;
À Professora Doutora Simone Pontes Xavier
Salles, minha orientadora pelo carinho e por
acreditar na realização deste trabalho;
Aos meus amigos que me ajudaram nos
momentos de difículdades.
iv
MATIAS, Gleizer Lopes de Campos dos Santos.
Erliquiose Canina - Relato de caso
RESUMO
A Erliquiose canina é uma doença infecciosa grave que acomete os cães,
causada pela Rickettsia Ehrlichia canis. As manifestações clínicas variam de doença
aguda, subclínica e crônica. O agente causador é visto raramente no citoplasma de
leucócitos, na forma de mórulas. Os sinais progridem comumente de agudo a crônico
e é uma doença de difícil diagnóstico. A resposta ao tratamento geralmente é
satisfatória. A gama de medicamentos que podem ser utilizados é grande, como a
tetraciclina, doxiciclina e o dipropionato de imidocarb, sendo que a recuperação
depende da intensidade do caso clínico e do período em que se inicia a medicação.
Palavras-chave: Erliquiose. Ehrlichia. Cães.
v
MATIAS, Gleizer Lopes de Campos dos Santos
Canine Ehrlichiosis – A Case Report
ABSTRACT
The Canine Ehrlichiosis is a serious infectious disease that affects dogs,
caused by the rickettsia Ehrlichia canis. Clinical manifestations vary from acute,
subclinical and chronic. The causative agent is rarely seen in the cytoplasm of
leukocytes, as morula. Signs of progress commonly acute to chronic and is a difficult
disease to diagnose. Response to treatment is generally satisfactory. The range of
drugs that can be used is big, such as tetracycline, doxycycline and imidocarb
dipropionate, and the recovery depends on the intensity of the case history and the
period during which the medication begins.
Keywords: Ehrlichiosis. Ehrlichia. Dogs.
vi
SUMÁRIO
Página
RESUMO ................................................................................................ v
ABSTRACT ........................................................................................... vi
LISTA DE ILUSTRAÇÕES .................................................................... viii
Partes
1. INTRODUÇÃO .................................................................................. 9
1.1 Problema ..................................................................................... 9
1.2 Justificativa ................................................................................. 10
1.3 Objetivos ...................................................................................... 10
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................... 10
2.1 Mecanismos de Infecção ............................................................. 10
2.2 Manifestação da Doença ............................................................. 10
2.3 Achados Laboratoriais ................................................................. 12
2.4 Diagnóstico e Diagnóstico Diferencial ......................................... 12
2.5 Tratamento e Profilaxia................................................................ 13
3. RELATO DO CASO ........................................................................... 14
4. DISCUSSÃO ..................................................................................... 18
5. CONCLUSÃO .................................................................................... 20
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 21
vii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 ..................................................................................................... 14
FIGURA 2 ..................................................................................................... 15
FIGURA 3 ..................................................................................................... 15
FIGURA 4 ..................................................................................................... 16
Tabela 1........................................................................................................ 17
Tabela 2........................................................................................................ 20
viii
9
1. INTRODUÇÃO
1.1 Problema
A Erliquiose canina é uma doença infecciosa grave que acomete os cães (NELSON; COUTO,
2001), causada pela Rickettsia Ehrlichia canis. É de ocorrência mundial (BREITSCHWERDT, 2004;
CORREA & CORREA, 1992) e foi descrita pela primeira vez na Argélia em 1935 e relatada pela primeira
vez nos Estados Unidos em 1963 (BREITSCHWERDT, 2004). O gênero Ehrlichia atualmente
compreende cinco espécies válidas: Ehrlichia canis, E. chaffeensis, E. ewingii, E. muris e E.
ruminantium. (DUMLER et al. 2001). No Brasil, a única espécie descrita até o momento é E. canis,
responsável pela erliquiose monocítica canina, doença considerada endêmica principalmente nas áreas
urbanas, onde abundam populações do carrapato Rhipicephalus sanguineus (LABRUNA, PEREIRA,
2001).
As manifestações clínicas variam de doença aguda, subclínica e crônica. O agente causador é
visto raramente como colônias de corpúsculos cocoides no citoplasma de leucócitos, na forma de
mórulas. Afetam os monócitos mais frequentemente, embora algumas cepas possam afetar apenas
neutrófilos, eosinófilos, ou ambos (URQUHART et al., 1998).
Os sinais progridem comumente de agudo a crônico, variando conforme a cepa e a imunidade
do hospedeiro (ANDEREG; PASSOS, 1999) e os achados patológicos incluem edema e enfisema
pulmonares, ascite, glomerulonefrite, esplenomegalia, hepatomegalia e linfadenopatia. Podem ser
encontradas hemorragias no sistema urogenital, intestinos e narinas. Pode haver a presença de
petéquias na gengiva, conjuntiva ocular, bucal e nasal (CORRÊA & CORRÊA, 1992).
É uma doença de difícil diagnóstico, pois mimetizam outras patologias. Porém o diagnóstico se
baseia no histórico de carrapato, sinais clínicos, exames laboratoriais, identificação das mórulas
citoplasmáticas (através de coleta de sangue, testes sorológicos para identificar anticorpos para erliquia,
através da cadeia de reação da polimerase (PCR) ou por meio de anticorpos por imunofluorescência
indireta (BREITSCHWERDT, 2004). A resposta ao tratamento geralmente é satisfatória, exceto nos
casos crônicos, nos quais a resposta ao tratamento é mínima. A gama de medicamentos que podem ser
utilizados é grande, como a tetraciclina, doxiciclina e o dipropionato de imidocard, sendo que a
recuperação depende da intensidade do caso clínico e do período em que se inicia a medicação (TROY
& FORRESTER, 1990).
Evidências sorológicas indicam que a Ehrlichia canis ocorre em seres humanos,
que
se
infectam a partir da exposição a carrapatos. Os sinais clínicos incluem febre, dor de cabeça, mialgia,
dor ocular e desarranjo gastrintestinal (BARR, 2003). A doença então é uma zoonose transmitida ao
homem da mesma forma que é transmitida para o cão, tendo, portanto, importância relevante na saúde
humana (TROY & FORRESTER, 1990).
10
1.2 Justificativa
Por ser uma doença de grande importância e muito comumente encontrada na Clínica Médica
Veterinária, este trabalho relata um caso de sucesso no tratamento da doença.
1.3 Objetivos
Este estudo teve como objetivo relatar um caso clínico de Erlichiose, evidenciando os sinais
clínicos, exames laboratoriais e tratamento. Concomitantemente alertar aos clínicos veterinários sobre a
importância desta doença que vem crescendo nos últimos anos no Brasil.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 MECANISMOS DE INFECCÇÃO
O carrapato Rhipicephalus sanguineus é o vetor primário e reservatório do microorganismo e
sua ocorrência está relacionada à distribuição do carrapato (ANDEREG; PASSOS, 1999). A infecção
canina provavelmente ocorre quando as secreções salivares do carrapato contaminam o ponto de
fixação durante a ingestão de um repasto sanguíneo. Como não há transmissão transovariana de E.
canis em carrapatos, as larvas de R. sanguineus não são importantes na transmissão, porém podem se
infectar pelo agente, mantendo a infecção até o estágio adulto. Esse carrapato encontra-se
preferencialmente em regiões urbanas do país, porém também em menores densidades nas áreas rurais
e provavelmente, em todo o território nacional (UENO et al.,2009).
A infecção também pode ser
introduzida em cães durante transfusões sanguíneas (FRASER, 1996; BREITSCHERDT, 2004).
2.2 MANIFESTAÇAO DA DOENÇA
A incubação da erliquiose pode levar de 8 a 20 dias após a infecção, durando de 2 a 4
semanas. A recuperação espontânea pode ocorrer, ficando o animal, portador por vários meses
(ANDEREG; PASSOS, 1999; STILES, 2000; URQUHART et al., 1998). A erliquiose causa nos cães,
quadro clínico severo, com manifestações clínicas em vários sistemas, variando sua intensidade
conforme as fases da doença: aguda, assintomática e crônica (BREITSCHERDT, 2004).
A fase aguda, que dura, aproximadamente quatro semanas, o microorganismo se multiplica
dentro das células leucocitárias circulantes e dos tecidos fagocitários de fígado, baço e linfonodos,
levando a linfadenomegalia, e hiperplasia do fígado e baço. As células infectadas podem se aderir no
endotélio vascular, causando vasculite (BREITSCHWERDT, 2004). A fase aguda é comum em áreas
11
enzoóticas e rara em outras regiões, durando aproximadamente de duas a quatro semanas, consistindo
de sinais clínicos moderados a graves, secundários à hiperplasia linfóide, febre e citopenias (CODNER;
ROBERTS; AINSWORTH, 1985; GLAUS; JAGGY, 1992 apud ACCETTA, 2008). Os sinais clínicos que
ocorrem geralmente são depressão, fraqueza, anorexia, perda de peso, edema periférico, anemia, febre,
sangramento devido à diminuição de plaquetas, infecções bacteriológicas secundárias, pneumonia,
glomerulonefrite, artrite, problemas de reprodução, sinais neurológicos e alterações oculares (ORIÁ et al,
2004), relutância ao andar, edema de membros, tosse e dispneia (FRASER, 1996).
O diagnóstico é feito observando a mórula em leucócitos durante esta fase, porém em pequeno
número e por um curto espaço de tempo (STILES, 2000; URQUHART et al., 1998).
A fase assintomática ocorre normalmente de seis a nove semanas após infecção e se
caracteriza pela persistência variável da trombocitopenia, em decorrência do sequestro e destruição das
plaquetas durante a fase aguda, sem apresentação de sinais clínicos. Os cães quando entram em fase
subclínica e não apresentam sintomas e voltam a ganhar peso, parecendo estar saudáveis (ANDEREG;
PASSOS, 1999; STILES, 2000). Quase todas as infecções em cães são assintomáticas; pesquisas
indicam que de 11 a mais de 50% dos cães possuem anticorpos anti-E. canis (JONES et al.,
2000).Podem ficar infectados por um longo período, eliminar o parasita caso sejam imunocompetentes, e
se curam espontaneamente ou desenvolvem a fase crônica da doença, com piora do quadro caso essa
resposta não seja eficaz contra o microorganismo (BREITSCHERDT, 2004; HARRUS et al., 1998),
podendo o animal apresentar sangramento pelas mucosas e conjuntivas, devido à lise plaquetária e
supressão medular (ANDEREG; PASSOS, 1999; STILES, 2000).
Na fase crônica, os sinais clínicos associados são discretos e ausentes em alguns cães e
graves em outros. Não é difícil encontrar em áreas endêmicas, alterações hematológicas decorrentes da
infecção por E. canis em cães saudáveis que estejam sendo avaliados para a terapia contra dirofilárias.
A trombocitopenia não-encontrada nesses cães pode potencializar a gravidade da hemorragia pulmonar
associada ao tromboembolismo. Facilidades para o sangramento, palidez em decorrência de anemia,
perda de peso acentuada, debilidade, sensibilidade abdominal, uveíte anterior, hemorragias retinais e
sinais neurológicos compatíveis com meningoencefalite, caracterizam cães que desenvolvem
manifestações de doença durante a fase crônica. Em decorrência da imunossupressão, infecções
bacterianas podem ser comprovadas (BREITSCHWERDT, 2004).
Hepatomegalia, esplenomegalia e linfadenopatia são mais detectadas nessa fase (NELSON;
COUTO, 2001). A trombocitopenia severa pode causar frequentemente diátese hemorrágica. Em
dolicocefálicos, torna-se comum a epistaxe; hematúria, melena e petéquias, e equimoses ocorrem em
todas as raças (FRASER, 1996).
12
2.3
ACHADOS LABORATORIAIS
Alterações laboratoriais graves podem contribuir para o índice de suspeita da doença, como
pancitopenia, anemia aplásica, neutropenia ou trombocitopenia, seriam compatíveis com infecção pelo
parasita. A trombocitopenia é a alteração hematológica mais consistente, tanto na fase aguda como na
fase crônica da doença. Alterações laboratoriais séricas como azotemia pré-renal pode ocorrer durante a
fase aguda ou crônica; a azotemia renal desenvolve-se em alguns cães cem consequência de
glomerulonefrite grave, causada pela doença crônica (LAPPIN, 2001).
Leucopenia, hipergamaglobulinemia, com aumento dos níveis de gamaglobulinas e
glicoglobulina no soro, também são achados clínicos observados na doença numa fase mais avançada
(JONES et al. 2000). O aumento da fosfatase alcalina, bilirrubina total e AST são encontradas com
menor frequência (BREITSCHWERDT, 2004).
Anemia normocítica normocrômica é considerada uma alteração comum na erliquiose canina
(ALMOSNY et al., 2002; MACHADO, 2004). Os quadros anêmicos observados na doença tendem a ser
arregenerativos, com diminuição da resposta medular diante dos estímulos eritropoiéticos (ALMOSNY et
al., 2002), provavelmente em decorrência do comprometimento orgânico importante, com diminuição
acentuada da resposta medular, mesmo diante destes estímulos (OLIVEIRA et al., 2000).
Trombocitopenia é a alteração hematológica mais comum em todas as fases da erliquiose canina (TROY
et al., 1980 apud DAGNONE et al., 2003)
2.4
DIAGNÓSTICO E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
O diagnóstico laboratorial vem sendo realizado como rotina para identificação direta das
mórulas de E. canis em amostras de sangue periférico disposto em lâminas, através de inprint, e
corados, consorciada aos exames hematológicos (NAKAGHI et al., 2008) se confirmando pela
demonstração do microorganismo no interior dos leucócitos, ou por uma combinação de sinais clínicos.
A técnica do anticorpo fluorescente indireto (IFI) ou análise imunoabsorvente ligada à enzima (ELISA)
estão disponíveis para a detecção dos anticorpos contra espécies de Ehrlichia. A resposta ao tratamento
também chega como uma forma de diagnóstico caso não seja possível a realização dos métodos
anteriores. Como a trombocitopenia é um achado relativamente consistente, a contagem de plaquetas se
torna um teste de triagem importante (BREITSCHWERDT, 2004; FRASER, 1996). Uma identificação dos
organismos (mórulas) em citologia de aspiração com agulha fina do baço, dos linfonodos e dos pulmões,
em leucócitos nos líquidos cérebro-espinhal e articular, ou em leucócitos no sangue periférico, é
confirmatória, mas é demorada e difícil (BIRCHARD E SHERDING, 2003).
Recentemente, visando aumentar a sensibilidade e a especificidade do diagnóstico laboratorial,
vem sendo utilizada a detecção molecular de E. canis (DAGNONE et al., 2003; BULLA et al., 2004;
13
MACIEIRA et al., 2005). Entretanto, na rotina clínica, o diagnóstico ainda é firmado com base na
associação entre os sinais clínicos e os resultados de exames hematológicos.
O diagnostico diferencial inclui outras causas de febre e linfadenopatia, como febre maculosa,
brucelose e endocardite; doenças imunomediadas, intoxicação (FRASER, 1996). O diagnóstico
diferencial inclui ainda o Mieloma Múltiplo, Linfoma, Leucemia Linfocítica Crônica, Lúpus Eritematoso
Sistêmico, Trombocitopenia Imunomediada e Cinomose. (CORRÊA & CORRÊA, 1992).
2.5
TRATAMENTO E PROFILAXIA
Cuidados de suporte devem ser fornecidos quando indicados, assim, deve-se corrigir a
desidratação com fluidoterapia e as hemorragias devem ser compensadas pela transfusão sangüínea.
Terapia a base de glicocorticóides e antibióticos pode também ser utilizada nos casos em que a
trombocitopenia for importante e nos casos de infecções bacterianas secundárias, respectivamente
(NELSON; COUTO, 2001; PASSOS et al., 1999).
A droga de escolha é a tetraciclina na dose 22mg/kg, trez vezes ao dia durante quatorze dias
ou doxiciclina na dose de 5mg/kg a cada doze horas durante 21 dias (BREITSCHERDT, 2004). Na
literatura, existem várias indicações de dosagens e tempo de duração do tratamento da Erliquiose
utilizando-se a doxiciclina. Os critérios para o tratamento variam de acordo com a precocidade do
diagnóstico, da severidade dos sintomas clínicos e da fase da doença que o paciente se encontra
quando do início da terapia, recomenda-se nas fases agudas, a dosagem de 5mg/kg, duas vezes por
dia, via oral, durante sete a dez dias e, nos casos crônicos 10mg/kg, via oral, durante sete a vinte e um
dias (WOODY et al., 1991).
O dipropionato de imidocarb (5mg/kg, por via intramuscular) administrado uma ou duas vezes
durante duas semanas, foi usado para tratar com sucesso a erliquiose canina (NELSON; COUTO, 2001).
O prognóstico para erliquiose canina em geral é bom. Uma melhora clínica espetacular ocorre
comumente dentro de 24 a 48 horas após início do tratamento na fase aguda ou crônica moderada da
doença. Muitas vezes uma melhora clínica é notada em cães cronicamente infectados; porém, pode ser
necessário até um ano para a completa recuperação hematológica. A presença de hemorragia pode
colaborar para o óbito desses animais, apesar do inicio do tratamento. Atualmente, nenhuma vacina
contra a doença está disponível (BREITSCHERDT, 2004).
O controle do R. sanguineus é realizado com pulverizações de carrapaticidas e manutenção
das condições de higiene perfeitas (CORRÊA & CORRÊA, 1992).
14
3. RELATO DO CASO
Em Janeiro de 2011, um cão, macho, da raça Labrador, de onze anos de idade, foi atendido
no Consultório Veterinário 18 Q’Late em Barra do Piraí, RJ, com histórico de apatia, anorexia e
infestação de carrapatos, com relatos do proprietário de que o animal se encontrava quieto e deprimido
nos últimos dias (FIGURA 1).
Figura 1: animal se mostrando prostrado durante correção hídrica.
Ao exame físico, o animal apresentava-se prostrado, com membranas mucosas e escleras
ictéricas (FIGURA 2 e 3), epistaxe (FIGURA 4), tempo de preenchimento capilar (TPC) de 5 segundos,
grau de desidratação de aproximadamente 10%, normotermico (37,8°C) e frequência cardíaca de 148
BPM. O proprietário relatou que o animal tem acesso à rua e a outros cães, que segundo ele, não tem
dono.
15
Figura 2: mucosa peniana completamente ictérica
Figura 3: porção interna da orelha com coloração ictérica
16
Figura 4: sangue coagulado proveniente da cavidade nasal (epistaxe)
A colheita de sangue foi efetuada, após consentimento do proprietário, por punção da veia
cefálica. A amostra de sangue foi colocada em tubos de vidro , identificada e mantidas sob refrigeração
até a chegada ao laboratório, Os exames solicitados foram hemograma completo com contagem de
plaquetas, pesquisa de hematozoário, glicose, ALT, ureia e creatinina. Posteriormente, foi iniciado o
tratamento a base de fluidoterapia com solução de cloreto de sódio 0,9%, glicose a 50% e vitaminas do
complexo B.
Após o resultado do hemograma, representado na Tabela 1, o animal foi encaminhado pra
internação para tratamento e acompanhamento hematológico. Durante a internação o animal foi tratado
com fluidoterapia de solução de cloreto de sódio 0,9%, glicose 50%, corticosteroide, vitaminas do
complexo B, furosemida e doxiciclina injetável na dose de 10 mg/Kg.
Uma dose de dipropionato de imidocarb foi feita por via subcutânea no animal no terceiro dia, na
dose de 5 mg /Kg e o proprietário, por motivos pessoas preferiu levar o animal. Como protocolo
terapêutico, de responsabilidade do proprietário realizar, foi instituído doxiciclina na dose de 10mg/kg a
cada 12 horas, via oral, durante 28 dias, complexo B associado a ferro, via oral, totalizando dois mL a
cada 24 horas, durante 30 dias e prebiótico com probiótico.
17
TABELA 1: Exames laboratoriais realizados no dia da consulta e nos outros dois dias consecutivos para
avaliação hematológica e bioquímica
Valor
Valor
Valor
apresentado
apresentado
apresentado
Dia 1
Dia 2
Dia 3
2,80 milhões
3,08 milhões
4,20 milhões
5,5-8,5 milhões
Hemoglobina
5,6 g/dL
6,2 g/dL
8,5 g/dL
12,0-18,0 g/dL
Hematócrito
16,4 %
17,9 %
23,4 %
37-55 %
VGM
58,6 micra³
58,1 micra³
55,7 micra³
60,0-75,0 micra³
HGM
20,0 pg
20,1 pg
20,2 pg
19,5-26 pg
CHGM
34,2 %
34,6 %
36,3 %
31,0-37,0
27.000/mm³
62.000/mm³
116.000/mm³
200.000-500.000/mm³
Leucócitos
8100
14900
13700
6.000-17.000
Eosinófilos
03 % (243)
04 % (596)
02 % (274)
2-10 %
Bastões
07 % (567)
06 % (894)
05 % (685)
0-3 %
Segmentados
64 % (5184)
74 % (11026)
71 % (9727)
60-77 %
Linfócitos
24 % (1944)
14 % (2086)
17 % (2329)
12-30 %
Monócito
02 % (162)
02 % (298)
5 % (685)
3-10 %
83 mg/dL
92 mg/dL
89 mg/dL
60-110 mg/dL
ALT
80 UI/L
74 mg/dL
78 mg/dL
10-88 UI/L
Ureia
414 mg/dL
354 mg/dL
145 mg/dL
12-25 mg/dL
Creatinina
6,20 mg/dL
4,43 mg/dL
1,56 mg/dL
0,5-1,5 mg/dL
Positiva para
Positiva para
Negativa para
Ehrlichia
Ehrlichia
Ehrlichia
Eritrograma
Eritrócitos
Plaquetas
Valor de referência
Leucograma
Bioquímica
Glicose
Pesquisa de
Hematozoários
*Valores de referência segundo Viana (2007)
Nos dois dias consecutivos o hemograma com contagem de plaquetas, pesquisa de
hematozoário, ureia e creatinina foi repetido, conforme verificado na Tabela 1 e foi realizada uma
ultrassonografia abdominal, no qual foi evidenciado um aumento do baço.
18
4. DISCUSSÃO
O proprietário retornou com o animal três semanas depois para a revisão. O cão apresentava
significativa melhora, segundo o proprietário estava se alimentando bem, ativo e com ganho de peso. Foi
coletado sangue para mais um hemograma (TABELA 2) e o proprietário foi orientado a continuar o
tratamento conforme receitado. Considerando os limites mínimos de hematócrito e hemoglobina para
realização de uma transfusão, no cão, hematócrito menor que 15%, o procedimento não foi indicado.
Pelos resultados laboratoriais dos dias 1, 2 e 3 verificou-se uma anemia microcítica normocrômica
Avaliando o perfil renal observou-se um aumento de ureia e creatinina. Essa elevação sérica
de ureia e creatinina podem estar relacionadas à azotemia pré-renal, principalmente nos animais com
desidratação severa, que foi o caso deste animal com um grau de desidratação estimado de 10% ao
exame clínico.
A alanina aminotransferase (ALT) se encontrou elevada, possivelmente dano hepático ou de
estresse sistêmico provocado pela doença (ALMOSNY, 2002).
No presente caso, o animal apresentou epistaxe, sugerindo um prognóstico desfavorável devido
ao quadro grave de trombocitopenia observado nos exames laboratoriais (Tabela 1). De acordo com
Corrêa & Corrêa (1992) esse quadro hemorrágico é relatado em 35% dos animais com a doença e
raramente se observa quadros de icterícia, mas quando se apresenta indica que o animal pode estar
concomitantemente com Babesiose. Nos exames laboratoriais realizados não foi visualizado a mórula de
Babesia sp .
A terapia realizada com Doxiciclina é a de eleição nos tratamentos da Erliquiose em todas as
suas fase, sua vida média no soro de cães é de 10 a 12 horas, sendo absorvida com rapidez quando
administrada por via oral. É mais lipossolúvel e penetra nos tecidos e fluídos corporais melhor que o
cloridrato de tetraciclina e a oxitetraciclina. A eliminação da doxiciclina se dá primariamente através das
fezes por vias não biliares, na forma ativa. Sendo assim, a mesma não se acumula em pacientes com
disfunção renal e por isso pode ser usada nesses animais sem maiores restrições como foi no presente
estudo devido ao comprometimento renal com a elevação da ureia e creatinina (WOODY et al., 1991).
Na literatura, existem várias indicações de dosagens e tempo de duração do tratamento da
Erliquiose utilizando-se a doxiciclina. Os critérios para o tratamento variam de acordo com a precocidade
do diagnóstico, da severidade dos sintomas clínicos e da fase da doença que o paciente se encontra
quando do início da terapia, recomenda-se nas fases agudas, a dosagem de 5mg/kg, duas vezes por
dia, via oral, durante sete a dez dias e, nos casos crônicos 10mg/kg, via oral, durante 7 a 21 dias
(WOODY et al., 1991).
O dipropionato de imidocard (IMIZOL®), administrado em dosagem de 5 mg/kg, via subcutânea,
e repetido em quinze dias, é altamente efetivo em cães com Erliquiose refratária e em cães com
19
infecções mistas por Ehrlichia canis e a Babesia canis segundo Couto (1998). Desta forma, se o animal
estivesse com babesiose, a recuperação é justificada pelo uso deste fármaco.
Outras drogas possam ser utilizadas como tetraciclinas, cloranfenicol, oxitetraciclinas. De acordo
com Troy & Forrester (1990) o prognóstico é mais favorável com o uso de Dipropionato de imidocard.
quando o tratamento é iniciado precocemente.
No presente estudo, optou-se por administrar a doxiciclina duas a três horas antes ou após a
alimentação para que não ocorram alterações na absorção durante 28 dias. Estudos relizados por
Woody et al. (1991) sugerem que o tratamento pode ter duração de três a quatro semanas nos casos
agudos e até oito semanas nos casos crônicos.
Frequentemente deverá ser fornecido um tratamento de suporte, principalmente nos casos
crônicos e corrigir a desidratação com fluidoterapia no intuito de evitar complicações renais como
evidenciadas nesse caso clínico. As hemorragias severas causadas pela trombocitopenia devem ser
compensadas pela transfusão sanguínea, porém essa decisão deve ser tomada pelo veterinário após o
exame clínico juntamente com avaliação de parâmetros hematológicos tais como hematócrito,
hemoglobina e contagem de reticulócitos Felizmente não foi necessário neste estudo. Terapia a base
de glicocorticóides e antibióticos pode também ser utilizada nos casos em que a trombocitopenia for
importante e nos casos de infecções bacterianas secundárias, respectivamente (PASSOS et al., 1999).
Como nos cães anoréxicos, podem-se utilizar vitaminas do complexo B como estimulantes
inespecíficos do apetite ou diazepam, intravenoso ou oral, antes de oferecer o alimento. Hormônios
androgênicos como o Stanozolol® (metilandrostenol) e o Oxymethalone® (hidróxi-metil diostrano) podem
ser utilizados para estimular a medula óssea (CORRÊA & CORRÊA, 1992). A terapia com
glicocorticóides por um curto período de dois a sete dias pode ser de grande valor no início do
tratamento, quando estiver ocorrendo trombocitopenia, já que um mecanismo imunomediado pode ser a
causa dessa queda plaquetária. Pode ser utilizado também em casos de poliartrite crônica (TROY &
FORRESTER, 1990).
20
TABELA 2: Exame laboratorial realizado após 21 dias de tratamento.
Eritrograma
Valor apresentado
Valor de referência
Eritrócitos
5,80 milhões
5,5-8,5 milhões
Hemoglobina
13,2 g/dL
12,0-18,0 g/dL
Hematócrito
38,6 %
37-55 %
VGM
66,5 micra³
60,0-75,0 micra³
HGM
22,7 pg
19,5-26 pg
CHGM
34,2 %
31,0-37,0
Plaquetas
286.000/mm³
200.000-500.000/mm³
Leucócitos
11.700
6.000-17.000
Eosinófilos
04 % (468)
2-10 %
Bastões
02 % (234)
0-3 %
Segmentados
67 % (7839)
60-77 %
Linfócitos
24 % (2808)
12-30 %
Monócito
3 % (351)
3-10 %
ALT
38 UI/L
10-88 UI/L
Ureia
22 mg/dL
12-25 mg/dL
Creatinina
1,5 mg/dL
0,5-1,5 mg/dL
Pesquisa de Hamatozoário
Negativa para Ehrlichia
Leucograma
*Valores de referência segundo Viana (2001)
5. CONCLUSÃO
Deste estudo pode-se concluir que o exame clínico apurado juntamente com o diagnóstico
precoce da doença é fundamental para o sucesso terapêutico.
Tendo em vista a melhora do quadro do paciente, frente aos dados de anamnese fornecidos pelo
proprietário, exames clínicos e complementares realizados, pôde-se chegar ao diagnóstico de erliquiose
canina.
Quadro clínico de anorexia, pirexia, esplenomegalia, hemorragias e presença de carrapato em
conjunto com anemia e trombocitopenia são na maioria das vezes diagnosticados como Ehrlichiose,
embora a presença do parasito e avaliação do hemograma completo seja essencial para o diagnóstico.
A terapêutica com doxiciclina e dipropionato de imidocarb foi satisfatória para o tratamento da
Erliquiose e o controle de carrapato no cão e no ambiente é essencial na profilaxia da doença.
21
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ERLIQUIOSE CANINA - RELATO DE CASO