UNIVERSIDADE FEDERAL VALE DO SÃO FRANCISCO CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA Grace Barbosa dos Santos DETECÇÃO DE Ehrlichia canis e Anaplasma platys EM CÃES TROMBOCITOPÊNICOS DOMICILIADOS NA CIDADE DE RECIFE-PE Petrolina - PE 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA Grace Barbosa dos Santos DETECÇÃO DE Ehrlichia canis e Anaplasma platys EM CÃES TROMBOCITOPÊNICOS DOMICILIADOS NA CIDADE DE RECIFE-PE Trabalho apresentado a Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, Campus Ciências Agrárias, como requisito do título de médico veterinário. Orientador: Prof.º Dr. Mateus Matiuzzi da Costa Co-orientador: Prof°. Dr. Maurício Claúdio Horta Petrolina, PE 2011 Santos, Grace Barbosa dos S237d Detecção de Ehrlichia canis e Anaplasma platys em cães trombocitopênicos domiciliados na cidade de Recife-PE / Grace Barbosa dos Santos. -- Petrolina, PE, 2011. 57 f.: il. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Medicina Veterinária) - Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus de Ciências Agrárias, Petrolina, PE, 2011. Orientador: Prof. Dr. Mateus Matiuzzi da Costa. Co-orientador: Prof. Dr. Maurício Claúdio Horta 1. Cão - Doença. 2. Erliquioses Caninas. 3. Anaplasma - Imunização Cão. I. Título. II. Universidade Federal do Vale do São Francisco. CDD 636.708 96 Ficha Catalográfica elaborada pelo Sistema Integrado de Biblioteca SIBI/UNIVASF Bibliotecário: Lucídio Lopes de Alencar Dedico... ... principalmente à minha querida mãe, ao meu esposo, aos meus amados irmãos, aos amigos, professores e colegas e as minhas meninas (Sofia, Pucca, Nanda e Cherry) que são sinônimos de grande felicidade e que encantam a minha vida... AGRADECIMENTOS Acima de todas as coisas, agradeço ao meu Deus, pelo grande amor com que sempre me amparou, ainda que eu não mereça. A minha mãe Ana Rita, não existem palavras que possam expressar, tudo que faço é por ti, aos meus irmãos Bruno, Laila, Meire, Juliana, Jussara e Daiane, a minha querida vó Nevinha e a toda a minha família. Ao meu amado marido Luís Fernando, obrigada pela paciência e incentivo, grande felicidade é ter você ao meu lado. Ao Prof.º Mateus Matiuzzi, pela amizade, confiança e orientação. Aos amigos Gilmária, Juciêne, Duilson, Gilga Mirelly, Carol, Alice, Aninha, Lídio, Auricléia (in memoriam) e a toda a minha turma da faculdade, jamais vos esquecerei. A todos do Laboratório de Microbiologia e Imunologia Animal, especialmente a Gisele, Carina, Ceiça, Welighton, Chirles, Luciana, Keidy e Milka que me ajudaram diretamente. Ao Prof.º Marcelo Teixeira pela oportunidade concedida e a todos do Hospital Veterinário Harmonia pelo grande apoio e carinho. Aos veterinários: Drª. Cíntia, Elaine, Pâmela, Lorena, Juliana, Marco Granja, Thaygo, Ricardo, Bruno, Edson, Magno. A todos os funcionários e estagiários que dividiram comigo esta experiência. A todos do LABORVET (Paola, Marcelinho e Maria), obrigada por me agüentar perturbando vocês o tempo todo. Ao pessoal do Laboratório de Doenças Parasitárias da UFRPE, especialmente ao professor Léucio e a Rafael pela grande colaboração. Aos professores: Durval, Catarina, Flaviane, Aldrin, Salviano, Ana Amélia, Fernando Zocche, João Alves, Adriana, Seldon, e demais professores que de alguma forma colaboraram com o meu aprendizado. Ao professor Maurício Claúdio Horta, pela contribuição prestada no desenvolvimento deste trabalho, pelos primers cedidos e pela orientação. A Auxiliadora e a Joelma, obrigada por tudo que sempre fizeram por mim. A UNIVASF, pela oportunidade de realizar um sonho. “Se eu puder ver adiante, será por estar sobre os ombros de gigantes” Isaac Newton “Nós seres humanos estamos na natureza para auxiliar o progresso dos animais, na mesma proporção que os anjos estão para nos auxiliar. Portanto, quem chuta ou maltrata um animal é alguém que não aprendeu a amar” Chico Xavier Santos, G. B. Detecção de Ehrlichia canis e Anaplasma platys em cães trombocitopênicos domiciliados na cidade de Recife-PE. 2011. 57f. Monografia (Trabalho de conclusão de curso em Medicina Veterinária) – Colegiado de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina, 2011. RESUMO As erliquioses caninas estão entre as mais graves doenças infecciosas que acometem os cães, cuja prevalência tem aumentado significativamente em várias regiões do Brasil. São causadas por bactérias gram negativas estritamente intracelulares, pertencentes à Ordem Rickettsiales, Família Anaplasmataceae, Gêneros Ehrlichia e Anaplasma, transmitidas pelo carrapato Riphicephalus sanguineus e consideradas potencialmente fatais. Os sinais clínicos observados são conseqüências da resposta imunológica frente à infecção. O sucesso do tratamento depende da precocidade do diagnóstico, realizado através de esfregaços sanguíneos, testes sorológicos, Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) e cultivo celular. Várias drogas são utilizadas no tratamento da erliquiose sendo que a doxiciclina é o antibiótico de escolha no tratamento desta infecção. O presente trabalho teve como objetivo determinar a freqüência da infecção por Ehrlichia canis e Anaplasma platys em cães com trombocitopenia atendidos em um hospital veterinário da cidade de Recife-PE, através do diagnóstico direto como também por meio da PCR. Durante o período de março a abril de 2011 foram avaliados 70 cães trombocitopênicos. A erliquiose foi diagnosticada através da pesquisa de mórulas de Ehrlichia canis e Anaplasma platys em esfregaços de sangue total, onde foi possível verificar que 6% (04/70) dos animais foram positivos para E. canis e 24% para A. platys (17/70). Dentre os sinais clínicos observados nos animais com infecção, apatia, inapetência, febre e vômito, foram os que ocorreram com maior freqüência e dentre as alterações hematológicas foi possível evidenciar a presença principalmente de anemia, leucocitose por neutrofilia e linfopenia. Foram selecionadas 45 amostras sanguíneas dos animais que apresentavam trombocitopenia mais acentuada para extração de DNA visando à amplificação do gene dsb característico do gênero Ehrlichia através da PCR, a qual confirmou a infecção em 29% dos animais avaliados (13/45) mostrando-se mais sensível quando comparada ao diagnóstico direto. Foi possível concluir que as alterações clínicas e hematológicas observadas nos cães com erliquiose são bastante inespecíficas, como também que a trombocitopenia é um achado característico, mas não exclusivo da doença, indicando a importância dos testes laboratoriais no diagnóstico desta enfermidade. Palavras chave: Erliquiose, anaplasmose, veterinária, PCR. Santos, G. B. Detection of Ehrlichia canis and Anaplasma platys in thrombocytopenic dogs domiciled in Recife-PE. 2011. 57f. Monograph (Working completion in Veterinary Medicine) - College of Veterinary Medicine, University of Vale do Sao Francisco, Petrolina, 2011. ABSTRACT The canine ehrlichiosis are among the most serious infectious diseases that affect dogs and its prevalence has increased significantly in several regions of Brazil. These diseases are caused by strictly intracellular Gram negative bacteria belonging to the Order Rickettsiales, Anaplasmataceae family, genera Ehrlichia and Anaplasma, transmitted by ticks Riphicephalus sanguineus and considered life threatening. Clinical signs observed are consequences of the immune response to infection. Successful treatment depends on early diagnosis, performed by blood smears, serologic methods, molecular biology approaches and cell culture. Several drugs are used in the treatment of ehrlichiosis but doxycycline is considered the antibiotic of choice to this infection. This study aimed to determine the frequency of Ehrlichia canis and Anaplasma platys infection in dogs with thrombocytopenia treated at a veterinary hospital in Recife-PE. During the period from March to April, 2011 70 thrombocytopenic dogs were evaluated. Canine ehrlichiosis were diagnosed by the presence of Ehrlichia canis and Anaplasma platys morulae in blood smears and it was found that 6% (4/70) of the animals were positive to E. canis and 24% (17/70) to A. platys. Among the clinical signs observed in infected animals, apathy, poor appetite, fever and vomiting occurred more frequently and among hematological changes it was possible to demonstrate mainly the presence of anemia, leukocytosis, neutrophilia and lymphopenia. 45 blood samples from animals with thrombocytopenia more pronoucend were submitted to DNA extraction and the amplification of dsb gene, characteristic for Ehrlichia genera, was done by PCR. PCR reaction confirmed the infection in 29% (13/45) of the animals evaluated, becoming more sensitive than direct diagnosis. It was concluded that clinical and hematological findings in dogs with ehrlichiosis are rather nonspecific, but also that thrombocytopenia is a characteristic finding, but not exclusive of the disease, indicating the importance of laboratory tests in the diagnosis of this disease. Key-words: Ehrlichiosis, anaplasmosis, veterinary, PCR. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 01 2. REVISÃO DE LITERATURA ERLIQUIOSE EM CÃES............................................................................................................. 03 2.1 Principais Erliquioses em Cães 2.1.1 Erliquiose Monocítica Canina (EMC)................................................................................. 03 2.1.2 Erliquiose Granulocítica Canina (EGC)............................................................................ 03 2.1.3 Erliquiose Trombocítica Canina (ETC)............................................................................. 04 2.2 Etiologia............................................................................................................................... 05 2.3 Epidemiologia...................................................................................................................... 07 2.4 Infecção e Doença............................................................................................................... 08 2.5 Patogenia............................................................................................................................. 10 2.6 Sinais Clínicos..................................................................................................................... 11 2.7 Diagnóstico.......................................................................................................................... 15 2.7.1 Hemograma e contagem de plaquetas.............................................................................. 16 2.7.2 Identificação Direta do Parasito........................................................................................ 20 2.7.3 Diagnóstico Indireto........................................................................................................... 22 2.7.4 Reação em Cadeia da Polimerase (PCR)......................................................................... 23 2.7.5 Cultivo Celular................................................................................................................... 25 2.8 Diagnóstico Diferencial........................................................................................................ 27 2.9 Tratamento............................................................................................................................ 27 2.10 Prevenção........................................................................................................................... 30 2.11 Aspectos Zoonóticos.......................................................................................................... 31 3. MATERIAL E MÉTODOS....................................................................................................... 32 3.1 Local e Período...................................................................................................................... 32 3.2 Análises Clínicas................................................................................................................... 32 3.3 Avaliação Hematológica........................................................................................................ 48 3.4 Diagnóstico Direto.................................................................................................................. 48 3.5 Extração de DNA................................................................................................................... 49 3.6 Reação em Cadeia da Polimerase........................................................................................ 49 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................................. 50 5. CONCLUSÕES....................................................................................................................... 57 6. REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 58 1 1- INTRODUÇÃO Diversas doenças transmitidas por carrapato têm assumido importância tanto em saúde pública, quanto animal. A erliquiose canina é uma doença causada por micro-organismos estritamente intracelulares, dentre estes a Ehrlichia canis e o Anaplasma platys são os organismos riquetsiais mais importantes. A E. canis tem tropismo por monócitos e neutrófilos e o A. platys por plaquetas, existindo a possibilidade de infecções concomitantes tendo inclusive o mesmo vetor, o carrapato Rhipicephalus sanguineus que é o principal responsável pela transmissão da infecção. O gênero Ehrlichia atualmente compreende cinco espécies válidas: Ehrlichia canis, E. chaffeensis, E. ewingii, E. muris e E. ruminantium. No Brasil, a espécie descrita com maior freqüência é E. canis, responsável pela erliquiose monocítica canina, doença considerada endêmica principalmente nas áreas urbanas, onde abundam populações do carrapato Rhipicephalus sanguineus. O agente A. platys, pertencente ao gênero Anaplasma, é responsável pela transmissão da erliquiose trombocítica canina (anaplasmose trombocitica canina) causando um quadro clínico denominado de trombocitopenia infecciosa cíclica canina, que caracteriza-se pela parasitemia cíclica das plaquetas seguida por trombocitopenia e generalizada linfadenomegalia. A erliquiose compreende três fases: aguda, subclínica e crônica, e a depender da fase em que o animal se encontra, este pode vir a apresentar manifestações clínicas tais como: apatia, anorexia, febre, palidez de mucosas, sinais de distúrbio de coagulação como epistaxe, petéquias, sufusões, melena, hematúria, hifema, dentre outros. As principais alterações hematológicas incluem: a anemia que pode ser regenerativa na fase aguda da doença ou arregenerativa na fase crônica devido à supressão da medula óssea; trombocitopenia, neutropenia, monocitose, linfocitose, como também pode ocorrer pancitopenia. A trombocitopenia é um achado consistente com todas as fases da infecção, e dentre as alterações apresentadas, esta é a que ocorre com maior freqüência, de modo que a plaquetometria é utilizada como um teste de triagem em cães clinicamente suspeitos de erliquiose canina. 2 O método de diagnóstico laboratorial de rotina é feito normalmente pela demonstração microscópica direta de inclusões intracitoplasmáticas em preparações coradas de esfregaço sanguíneo ou papa leucocitária. Melhorias nas técnicas de biologia molecular levaram ao desenvolvimento da detecção de DNA de E. canis e A. platys por PCR (reação em cadeia da polimerase), que tem proporcionado um diagnóstico sensível, específico e confiável, permitindo também a detecção precoce da infecção. O tratamento para esta enfermidade consiste na administração de antibióticos. As tetraciclinas são utilizadas como primeira opção, sendo a doxiciclina o fármaco de eleição. A erliquiose tem sido motivo de grande interesse tanto para pesquisas em medicina veterinária quanto para saúde pública, em decorrência das recentes descobertas de infecção em humanos. Portanto, diante da importância desta enfermidade na rotina clínica veterinária, da alta casuística da doença em hospitais veterinários e na população canina, o presente trabalho teve o propósito de verificar a ocorrência da infecção por E. canis e A. platys em cães domiciliados na cidade de Recife-PE. 3 2- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1- PRINCIPAIS ERLIQUIOSES EM CÃES 2.1.1- ERLIQUIOSE MONOCÍTICA CANINA (EMC) A erliquiose é uma hemoparasitose infecto-contagiosa, causada pela Ehrlichia canis, parasitas intracelulares obrigatórios de células hematopoiéticas maduras ou imaturas, que formam agrupamentos intracelulares chamados mórulas (MENDONÇA et al., 2005). O carrapato marrom do cão, Rhipicephalus sanguineus, é o principal vetor transmissor da Ehrlichia canis, o qual é de grande importância pela sua distribuição cosmopolita e pelo fato da sua presença ter relação direta com a incidência da doença (MARSÍLIO et al., 2006). A infecção do cão sadio se dá após o repasto do carrapato contendo E. canis nos hemócitos e na glândula salivar, o qual inocula o agente no hospedeiro através da picada durante a alimentação (ETTINGER e FELDMAN, 2004, RODRIGUEZVIVAS et al., 2005). De acordo com Ettinger e Feldman (2004), a infecção pode ocorrer também através da transfusão sanguínea a partir de cães cronicamente infectados, o que ocorre especialmente em regiões endêmicas. 2.1.2- ERLIQUIOSE GRANULOCÍTICA CANINA (EGC) A E. ewingii é o principal agente erliquial que infecta os granulócitos de cães (neutrófilos e eosinófilos), possui como possíveis vetores o carrapato Amblyomma americanum e o Otobius megnini. Ela causa doença moderada a grave, com claudicação, trombocitopenia e edema articular. Além da E. ewingii, a E. equi (Anaplasma phagocytophilum) também causa erliquiose granulocítica canina, seus hospedeiros naturais incluem o cão, o homem, eqüinos e lhamas e dentre os hospedeiros experimentais, incluem-se os muares, ovinos, caprinos, gatos e primatas não humanos. O vetor conhecido é o carrapato Ixodes ricinus. No cão pode também ser transmitida pelo R. sanguineus, causando doença clínica moderada com trombocitopenia (DAGNONE; MORAIS; VIDOTTO, 2001). 4 A E. ewingii através da análise da seqüência do gene 16S rRNA, apresenta grande semelhança genética com o agente da erliquiose granulocítica humana (EGH) (Anaplasma phagocytophilum) (CHEN et al., 1994), porém a semelhança é maior com a E. chaffeensis. O agente da erliquiose granulocítica humana (EGH), tem como hospedeiros naturais os cães, seres humanos, equinos e ratos do pé branco e experimentais ratos e cervos. O principal vetor conhecido é o Ixodes scapularis. A distribuição do A. phagocytophilum é definida pela amplitude de distribuição do carrapato Ixodes, sendo mais comumente encontrada na Califórnia, Wisconsin, Minnesota e nos estados da região nordeste dos Estados Unidos, como também em outros lugares do mundo com esse gênero de carrapato, incluindo Europa, Ásia e África. A disseminação de carrapatos infectados é facilitada através de aves, apresentando estas também um papel importante como reservatórios. A infecção por A. phagocytophilum parece ser essencialmente uma doença aguda em cães, apresentando sinais inespecíficos como febre, letargia e inapetência mais frequentemente, porém rigidez e claudicação compatíveis com dor musculoesquelética também são comuns de ocorrer, sendo este agente associado à poliartrite. Comumente é detectado em neutrófilos, sendo o hemograma importante no diagnóstico, encontrando-se normalmente linfopenia e trombocitopenia, com contagem de neutrófilos em valores normais. Diversos antibióticos são eficazes no tratamento desta enfermidade, sendo a doxiciclina o mais recomendado. A. phagocytophilum infecta pessoas, bem como cães, sendo também considerado um agente zoonótico (NELSON; COUTO, 2010). 2.1.3- ERLIQUIOSE TROMBOCÍTICA CANINA (ETC) Anaplasma platys, anteriormente Ehrlichia platys, é uma bactéria que infecta apenas plaquetas de cães induzindo a trombocitopenia cíclica. O agente é visualizado como inclusões basofílicas em esfregaços corados com corante Giemsa ou Panótico. O vetor carrapato conhecido é o Riphicephalus sanguineus, entretanto, tentativas de transmitir o agente experimentalmente falharam (INOKUMA et al., 2000; SOUZA et al., 2004). 5 A evolução da anaplasmose trombocítica canina varia de leve a severa no cão (DUMLER et al., 1995; FERREIRA et al., 2008). É caracterizada por trombocitopenia cíclica com parasitemia inicial onde um grande número de plaquetas são parasitadas. Alguns dias após a infecção há diminuição brusca no número de plaquetas e o agente causal desaparece da circulação. A contagem plaquetária retorna a valores próximos aos de referência em aproximadamente quatro dias (INOKUMA et al., 2000; GASPARNI et al., 2008). A doença também é conhecida como trombocitopenia cíclica canina, uma vez que a parasitemia e trombocitopenia subseqüentes tendem a ocorrer periodicamente em intervalos de uma a duas semanas. Com a diminuição do número de plaquetas infectadas, a trombocitopenia pode continuar severa ou diminuir de intensidade. Após um período de incubação de oito a quinze dias, os sinais clínicos começam a ocorrer com alguns sinais digestivos (vômito e/ou diarréia), anorexia e distúrbios hemostáticos (HARVEY, 2006; GASPARNI et al., 2008). 2.2- ETIOLOGIA As erliquioses clínicas em caninos podem ser causadas por infecção de uma variedade de agentes erliquiais. As espécies em caninos infectados naturalmente compreendem a E. canis, Neorickettsia risticii, E. chaffeensis, E. ewingii, Anaplasma platys e Anaplasma phagocytophilum (LAPPIN, 2006). O gênero Ehrlichia atualmente compreende cinco espécies válidas: E. canis, E. chaffeensis, E. ewingii, E. muris e E. ruminantium (DUMLER, et al., 2001). São bactérias pleomórficas gramnegativas, parasitas intracelulares obrigatórias, que infectam leucócitos circulantes de várias espécies de animais domésticos e silvestres inclusive o homem (COHN, 2003). São microrganismos encontrados em áreas temperadas quentes e tropicais mundialmente, e são transmitidos entre cães susceptíveis através de vetores artrópodes (WOODY; HOSKINS, 1991). No Brasil, a única espécie descrita em cães até o momento é Ehrlichia canis, responsável pela erliquiose monocítica canina, doença considerada endêmica principalmente nas áreas urbanas, onde abundam populações do carrapato vetor Rhipicephalus sanguineus (LABRUNA; PEREIRA, 6 2001), também conhecido como carrapato castanho, carrapato marrom ou carrapato vermelho do cão. O parasito E. canis recebeu inicialmente o nome de Rickettsia canis (HUXSOLL, 1976). Em 1945, a nomenclatura foi retificada para E. canis, em homenagem a Paul Ehrlich, bacteriologista alemão (McDADE, 1990). Uma classificação mais objetiva tem utilizado a seqüência homóloga do RNA ribossômico (RNAr) em genes, para determinar o parentesco genético de vários organismos, que têm sido reclassificados e dirigidos para outros grupos genéricos e distribuídos dentro das famílias Anaplasmataceae e Ricketisiaceae (DUMLER et al., 2001). A única espécie conhecida da família Ehrlichieae que infectava humanos naquela época, era a Neorickettsia (Ehrlichia) sennetsu, agente causal da febre do Sennetsu, doença descrita pela primeira vez no Japão em 1954. Inicialmente denominada de Rickettsia sennetsu, foi renomeada para E. sennetsu, pois apresentava inúmeras semelhanças com a E. canis, mas atualmente está incluída no gênero Neorickettsia (DUMLER et al., 2001). A infecção por espécies do gênero Ehrlichia era anteriormente considerada hospedeiro-específica, de forma que se acreditava que E. canis infectava apenas cães e E. chaffeensis infectava humanos e veados (BREITSCHWERDT, 1995). Na Venezuela há um relato recente de pelo menos seis casos clínicos de erliquiose humana causada por Ehrlichia canis, indicando que este agente pode causar infecções zoonóticas (AGUIAR et al., 2007). Recentemente houve uma reorganização de todos os gêneros nas famílias Rickettsiaceae e Anaplasmataceae e todos os membros dos grupos Ehrlichieae e Wolbachieae foram transferidos para a família Anaplasmataceae, na qual constam os três gêneros Ehrlichia, Anaplasma e Neorickettsia (DUMLER et al., 2001). Com base na semelhança entre as seqüências do RNA ribossômico 16S três grupos distintos do gênero Ehrlichia foram identificados. São eles: a) genogrupo Ehrlichia canis, incluindo o patógeno humano Ehrlichia chaffeensis, os patógenos caninos E. canis e E. ewingii, esta última que também infecta humanos; o patógeno murino Ehrlichia muris, e Ehrlichia (Cowdria) ruminantium, espécie causadora de hidropericárdio em ruminantes; b) genogrupo Ehrlichia phagocytophilum, que foi denominada Anaplasma, incluindo A. phagocytophilum, A. platys, e também A. 7 marginale; c) genogrupo Ehrlichia sennetsu, que foi denominada Neorickettsia, incluindo N. sennetsu, N. risticci e N. helminthoteca (ALLSOPP; ALLSOPP, 2001; COHN, 2003). 2.3- EPIDEMIOLOGIA No Brasil, a EMC é de ampla ocorrência, principalmente em áreas urbanas, devido à alta prevalência do Rhipicephalus sanguineus (AGUIAR et al., 2007). Em Belo Horizonte, Costa et al. (1973) relataram pela primeira vez a doença no Brasil, posteriormente, foi relatada acometendo aproximadamente 20% dos cães atendidos em hospitais e clínicas veterinárias de estados das regiões Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste (MOREIRA et al., 2003). A maior prevalência ocorre na região Nordeste (43%) e a menor na região Sul do país (1,70%) (BRITO, 2006). A incidência da doença é maior nos meses mais quentes onde há um maior desenvolvimento do carrapato, podendo ser diagnosticada todo o ano, além disso, não existe uma predileção etária para a erliquiose. Fatores epidemiológicos relacionados às condições climáticas, distribuição do vetor, população sob estudo, comportamento animal e habitat, assim como a metodologia empregada na investigação do agente podem afetar os níveis de prevalência da erliquiose canina no Brasil (DAGNONE et al., 2001). Com relação ao parasito A. platys, este foi descrito primeiramente por Harvey et al., em 1978, na Flórida, em plaquetas de um cão trombocitopênico. São poucos os estudos epidemiológicos direcionados a este, mas acredita-se que sua distribuição geográfica se assemelhe a de outras espécies de riquétsias. A. platys já foi descrito nos EUA, na Grécia, França, Itália, Israel, China, Japão, Tailândia e Venezuela. A infecção por este microorganismo vem sendo descrita em cães de várias regiões do Brasil, havendo a possibilidade de infecção concomitante com E. canis e B. canis, podendo o Rhipicephalus sanguineus ser o vetor destas três espécies. O DNA de A. platys já foi detectado também em carrapatos das espécies Ixodes ovatus e Haemophysalis flava. Devido à possibilidade da transmissão de vários hemoparasitas por carrapatos, a presença de diferentes espécies infectando o mesmo animal é freqüente. Dessa forma, infecções simultâneas podem ocorrer 8 como resultado da transmissão de múltiplos organismos pelo mesmo carrapato ou como resultado de transmissões independentes em tempos diferentes, por carrapatos diferentes, de modo que já foi relatado infecção simultânea por A. platys, E. canis e Babesia sp. em um mesmo animal. Também já foram observadas inclusões sugestivas de A. platys em um gato no Brasil, porém não se obteve sucesso numa tentativa de infecção experimental em gato (VELHO, 2007). 2.4- INFECÇÃO E DOENÇA A Erlichia canis, micro-organismo intracelular obrigatório, pode ser encontrado isolado em colônias compactas ou formando mórulas em leucócitos mononucleares (BULLA et al., 2004). Seu desenvolvimento possui três estágios sendo: corpúsculo elementar, corpúsculo inicial e mórula. Individualmente a Ehrlichia é denominada corpúsculo elementar, com aspectos cocóide ou elipsóide não móveis, porém o pleomorfismo é notado com freqüência (ALMOSNY, 1998; MCDADE, 1990). O número de corpúsculos elementares em cada vacúolo é variável, de 2 a 40 corpúsculos elementares, os quais se multiplicam por fissão binária (HILDEBRANDT et al., 1973). A primeira fase do ciclo é caracterizada pela penetração de corpúsculos elementares em células mononucleares (DAVOUST et al. 1993). Após ocorre a multiplicação da rickéttsia dentro do fagossomo de células mononucleares, onde se desenvolve em mais dois estágios, corpúsculo inicial e mórula (MCDADE, 1990). De acordo com Nyindo et al. (1971) os corpúsculos elementares aumentam em número e se agrupam formando os corpúsculos iniciais. Nos sete a doze dias posteriores ocorre a multiplicação dos corpúsculos e formação de mórulas. As mórulas são estruturas com coloração semelhante a dos corpúsculos iniciais e são constituídas por um a três vacúolos contendo de um a quarenta corpúsculos elementares, que podem estar compactos ou difusos em seu interior (DAVOUST, 1993; BEAUFILS et al., 1997). Após 12 a 18 dias de incubação, as mórulas se dissociam do citoplasma e podem liberar corpúsculos iniciais ao se romperem, que irão infectar outras células sanguíneas (NYINDO et al., 1971). O parasito se localiza nas células reticuloendoteliais do fígado, baço, e nódulos 9 linfáticos, onde ocorre a replicação primária em macrófagos mononucleares e linfócitos (SWANGO et al., 1989). Entre animais, o principal mecanismo de transmissão da infecção natural ocorre pela picada do R. sanguineus em qualquer estágio. A infecção dos hospedeiros ocorre quando os carrapatos contaminados se alimentam e sua secreção salivar é inoculada no local da picada (ALMOSNY, 2002). A transmissão da rickéttsia entre carrapatos ocorre de forma transestadial sem que haja passagem transovariana. A multiplicação de E. canis ocorre nas glândulas salivares e nas células intestinais do R. sanguineus, mas não foi encontrado nenhuma evidência ou estrutura de E. canis nos ovários do carrapato (GROVES et al., 1975). A passagem de E. canis para o carrapato ocorre duas a três semanas após o cão ser inoculado com a bactéria, em casos crônicos é pouco provável a transmissão do agente para o seu vetor biológico (WOODY & HOSKINS, 1991). Os fatores que podem afetar a severidade clínica e a progressão da doença nos cães podem estar ligados a raça, diferenças individuais na resposta imune, carga infectante e a patogenicidade da linhagem (RIKIHISA et al., 1991). Além disso, deve se levar em consideração a idade e a possibilidade de doença concomitante (WOODY & HOSKINS, 1991). O quadro clínico do animal pode ser agravado com co-infecções, que podem ocorrer com Anaplasma platys, Babesia canis, Hepatozoon canis (MATTHEWMAN et al., 1993). O agente A. platys pode aparecer isolado, em pares ou em grupos, dentro de vacúolos. Através da realização de fissões binárias sucessivas formam inclusões compactas denominadas mórulas. Podem medir de 350 a 1250 nm de diâmetro e as plaquetas infectadas podem ter de um a três vacúolos contendo de um a oito microorganismos cada. Ainda não se conhece o mecanismo de penetração e saída do parasito, mas provavelmente a entrada na plaqueta ocorre por meio de endocitose, devido à propriedade fagocítica da mesma, sendo a membrana do vacúolo proveniente da membrana externa dessa célula (HARVEY, 1990). 10 2.5- PATOGENIA A patogenia da EMC envolve um período de incubação de oito a vinte dias, seguido por uma fase aguda, subclínica e muitas vezes crônica (COUTO, 2003). A fase aguda da doença inicia-se de uma a três semanas após a infecção e é variável quanto à duração (duas a quatro semanas) e a severidade (suave a severa). Durante este período, o microrganismo multiplica-se dentro das células mononucleares circulantes e dos tecidos fagocitários mononucleares (fígado, baço e linfonodos). Isso leva à linfadenomegalia e à hiperplasia linforreticular do fígado e do baço. As células infectadas são transportadas pelo sangue para outros órgãos do corpo, especialmente pulmões, rins e meninges, e aderem-se ao endotélio vascular, induzindo vasculite e infecção tecidual subendotelial. O consumo, o seqüestro e a destruição das plaquetas parecem contribuir para a trombocitopenia durante a fase aguda. As contagens de leucócitos são variáveis, e a anemia regenerativa, relacionada à supressão da produção de eritrócitos e à destruição acelerada dessas células, desenvolve-se progressivamente durante a fase aguda (ALMOSNY, 2002; ETTINGER e FELDMAN, 2004). Após seis a nove semanas de incubação segue-se a fase subclínica caracterizando-se pela persistência da trombocitopenia, leucopenia variável, e anemia na ausência de sinais clínicos (BREITSCHWERDT, 1995). A forma subclínica persiste por até cinco anos em cães naturalmente infectados. Apesar de alguns cães eliminarem o microrganismo durante a fase subclínica, ele persiste de forma intracelular na maioria das vezes, resultando na fase crônica da infecção (LAPPIN, 2006). A fase crônica ocorre quando o sistema imune é ineficaz e não consegue eliminar o organismo. O resultado é uma enfermidade vaga e crônica, perda de peso e disfunção da medula óssea (COUTO, 2003). Muitas das alterações clínicas e patológicas que se desenvolvem durante esta fase originam-se das reações imunes contra o microrganismo intracelular (LAPPIN, 2006). A principal característica da fase crônica é o aparecimento de hipoplasia medular levando a anemia aplástica, monocitose, linfocitose e leucopenia (GREGORY et al., 1990). Quanto a ETC, o período de incubação da doença varia de oito a quinze dias. Durante a fase aguda da infecção há uma alta porcentagem de plaquetas infectadas 11 no sangue circulante, de modo que em alguns dias ocorre um decréscimo do número de plaquetas circulantes e a contagem pode chegar a valores como 20.000 plaquetas/µL ou menos, tornando-se mínimas as chances de visualização do parasita nesse momento. A plaquetometria volta ao normal em três ou quatro dias após o desaparecimento do microorganismo, e em sete a quatorze dias após o primeiro episódio ocorre outra parasitemia na qual, o número de plaquetas decresce novamente. Com o tempo e juntamente com o processo de cronificação da doença, a natureza cíclica das trombocitopenias e das parasitemias tende a diminuir, resultando em esporádicas aparições do parasito e trombocitopenias moderadas. Pode-se supor que o mecanismo inicial da trombocitopenia esteja relacionado à proliferação do parasito e que as trombocitopenias subseqüentes sejam determinadas por mecanismos de remoção imunomediados. A presença de inclusões em megacariócitos ou qualquer outra célula precursora na medula óssea, não foi evidenciada durante a parasitemia (VELHO, 2007). 2.6- SINAIS CLÍNICOS A doença clínica resultante da infecção erliquial pode ocorrer em qualquer cão, mas a gravidade varia de acordo com o organismo, fatores imunológicos do hospedeiro e presença de co-infecção. De forma que acredita-se que a virulência varie de acordo com as diferentes cepas de E. canis. Cães que apresentam depressão da imunidade celular desenvolvem a doença grave, no entanto, cães jovens experimentalmente infectados por E. canis não desenvolvem imunossupressão nos primeiros meses da infecção (HESS et al., 2006). As manifestações clínicas nos cães infectados com E. canis variam de acordo com a evolução da infecção, a qual ocorre em três estágios, identificando-se três fases clínicas (Tabela 01). Após a picada do carrapato, isto é, o período de incubação, a doença pode apresentar-se de forma assintomática, subclínica a formas graves como, por exemplo, a pancitopenia tropical canina, ocorrendo à disseminação do patógeno pelo sangue, caracterizando a fase aguda ou de disseminação, quando o microorganismo se multiplica dentro dos monócitos circulantes e no sistema monocítico fagocitário do baço, fígado e linfonodos, 12 causando linfadenomegalia e hepatoesplenomegalia, durando aproximadamente de duas a quatro semanas, consistindo de sinais clínicos moderados a graves (BREITSCHWERDT, 1995). Dentre os sinais clínicos e os achados do exame físico incluem-se anorexia, pirexia, depressão, perda de peso, vômitos, petéquias, sufusões, epistaxe, linfadenomegalia e esplenomegalia hiperplásicas, dispnéia ou intolerância ao exercício (GLAUS; JAGGY, 1992), edema de membros, hidrocele, além de sinais do sistema nervoso central (SNC) que podem ser atribuídos a hemorragias, vasculite e extensa infiltração plasmocítica das meninges (BREITSCHWERDT, 1995; ACCETTA, 2008). Várias estruturas oculares podem estar comprometidas, petéquias e equimoses conjuntivais ou na íris podem ocorrer, além de uveíte anterior, panuveíte, ceratite, hifema, glaucoma secundário, hemorragia retiniana e descolamento de retina (ACCETTA, 2008). Estes sinais duram de dois dias a três semanas e podem ser acompanhados de pancitopenia. Geralmente a trombocitopenia na fase aguda não é grave o suficiente para causar sangramento espontâneo; logo, este pode ocorrer principalmente devido à vasculite e à diminuição da função plaquetária (NELSON; COUTO, 2010). A fase subclínica está associada com persistência do antígeno ocorrendo após a fase de disseminação, inicia-se seis a nove semanas após a inoculação e ocorre trombocitopenia persistente, leucopenia variável, mas geralmente os animais são assintomáticos, podendo durar meses ou anos e antes do desenvolvimento da fase crônica, o cão imunocompetente ainda consegue eliminar o parasita (BREITSCHWERDT, 1995). Caracteriza-se laboratorialmente por hiperplasia linforreticular, citopenias e hiperglobulinemia. Na ausência de sinais clínicos, trombocitopenia, leucopenia variável e anemia podem persistir. Os sinais começam um a quatro meses após a inoculação, são variáveis em gravidade e incluem perda de peso, palidez, evidência de defeitos hemostáticos primários, linfoadenomegalia generalizada, esplenomegalia hiperplásica com hematopoiese extramedular, alterações oculares como coriorretinite, uveíte anterior, hifema, hemorragias retinianas, opacidade de córnea devido à deposição de precipitados celulares e/ou edema (WOODY; HOSKINS, 13 1991), edema dos membros e eventualmente manifestações nervosas como ataxia, paraparesia, déficits dos nervos cranianos e convulsões (MEINKOTH; HOOVER; COWELL, 1989). As hemorragias oculares têm sido associadas com trombocitopenia, mas também com elevação da pressão oncótica, vasculite e disfunção plaquetária, tudo isso devido à hiperglobulinemia, que leva a distúrbios da coagulação e à síndrome da hiperviscosidade (HARRUS et al., 1998). Tabela 01. Anormalidades clínicas associadas à infecção por Ehrlichia canis. Estágio da infecção Aguda Manifestações clínicas Febre Corrimento oculonasal seroso ou purulento Anorexia Perda de peso Dispnéia Linfadenomegalia Subclínica Geralmente sem anormalidades clínicas Crônica Depressão Perda de peso Mucosas pálidas Dor abdominal Evidência de hemorragia: epistaxes, petéquias, etc Linfadenomegalia Esplenomegalia Dispnéia, creptação úmida Ocular: retinite perivascular, hifema, descolamento de retina, uveíte anterior, ceratite Sistema nervoso central: meningite, paresia, convulsões Hepatomegalia Arritmias Rigidez e inchaço, dor articular Fonte: adaptado NELSON; COUTO, 2010. 14 Ao ingressarem na fase subclínica os animais apresentam-se clinicamente saudáveis, entretanto, os valores hematológicos permanecem em níveis abaixo dos normais. Durante esta fase o peso do cão se normaliza, a febre desaparece, embora as anormalidades laboratoriais como trombocitopenia moderada e hiperglobulinemia persistam e os títulos de anticorpos continuem crescendo (ACCETTA, 2008). A fase crônica corresponde ao estágio final da erliquiose, podendo estar associada com manifestações moderadas ou graves. São considerados indicadores de erliquiose crônica sinais clínicos inespecíficos, tais como fraqueza, depressão, anorexia, perda crônica de peso, mucosas pálidas, febre e edema periférico (RISTIC; HOLLAND, 1993), além de tendências hemorrágicas, linfadenomegalia, esplenomegalia, sinais oculares e alterações secundárias como pneumonia, glomerulonefrite e artrite (GREENE, 1995). As manifestações graves da doença podem resultar de anemia arregenerativa, trombocitopenia, diátese hemorrágica, poliartrite (COWELL et al., 1988), desordens neurológicas, doença renal e problemas reprodutivos, tais como sangramento estral prolongado, incapacidade de concepção, abortos e mortes neonatais (HOSKINS, 1991). Entre diferentes regiões geográficas ou ainda dentro da mesma região, pode ocorrer uma grande variação dos sinais clínicos da erliquiose. A variação da cepa infectante, dose do microorganismo inoculado, raça e idade do cão, imunocompetência do hospedeiro, doenças concomitantes ou infecção por outros parasitos transmitidos por carrapatos são fatores que aparentemente afetam a gravidade da sintomatologia e a evolução da doença (ACCETTA, 2008). No que se refere à anaplasmose trombocítica canina, como já citado anteriormente, esta é responsável pelo aparecimento de um quadro clínico denominado trombocitopenia cíclica. Freqüentemente os animais infectados naturalmente por A. platys não apresentam evidências de doença clínica, no entanto, dentre os sinais clínicos mais comuns podemos citar anorexia, letargia, perda de peso, depressão e manifestações hemorrágicas em decorrência de severa trombocitopenia. Ainda pode-se observar diminuição na contagem total de leucócitos e volume globular com discreta hipoalbuminemia e hiperglobulinemia em alguns casos. Durante a infecção crônica as plaquetas parasitadas e a trombocitopenia 15 diminuem, resultando em raras plaquetas parasitadas no esfregaço sangüíneo (MACHADO, DAGNONE, SILVA, 2010). Em estudos experimentais, durante a parasitemia inicial pode-se observar uma discreta hipertermia como também hematoquezia em pacientes com trombocitopenia. No entanto, há relatos de animais que apresentaram anorexia, letargia, depressão, perda de peso, descarga nasal mucopurulenta, linfadenomegalia, mucosas pálidas e febre. Nos casos em que ocorre associação de A. platys a outros hemoparasitas, a doença clínica é potencializada, o que dificulta o diagnóstico e o manejo terapêutico dos cães doentes (VELHO, 2007). Em Israel, um caso foi descrito no qual uma cadela apresentava anorexia, apatia, febre e achados laboratoriais que eram sugestivos de infecção por E. canis como anemia, leucopenia e trombocitopenia. Definiu-se o diagnóstico através da pesquisa em esfregaço sangüíneo, pois foram encontradas apenas mórulas em plaquetas. O animal apresentava sorologia positiva para A. platys e negativa para E. canis, mas a possibilidade de infecção conjunta não foi completamente descartada pelo autor (WANER, 1993). 2.7- DIAGNÓSTICO A erliquiose é uma “zoonose emergente”, cujo reconhecimento precoce é importante. As técnicas de diagnóstico utilizadas são as mesmas para todas as espécies conhecidas até o momento. Com base na história clínica e no exame físico de um paciente pode-se suspeitar de erliquiose (GREENE; HARVEY, 1984). No entanto, quanto aos aspectos clínicos, torna-se muito difícil diferenciar a fase inicial ou de disseminação, da fase crônica da doença, já que durante estas fases a apresentação clínica e os achados laboratoriais podem ser semelhantes (WADDLE; LITTMAN, 1988). Pode-se confirmar a suspeita clínica da doença através da identificação do microrganismo nos esfregaços de sangue periférico ou capa leucocitária e nas amostras citológicas de linfonodos, baço ou medula óssea; por métodos sorológicos, como a Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) e kits comerciais (SNAP 4DX); 16 através de técnicas de biologia molecular, como a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) e através do cultivo celular. 2.7.1 Hemograma e contagem de plaquetas Na investigação laboratorial, o primeiro exame a ser solicitado é o hemograma, o qual deve ser sempre acompanhado da contagem de reticulócitos, para definir se a anemia é secundária à diminuição de produção ou aumento de destruição dos glóbulos vermelhos. Dentre as suas utilizações, este pode ser empregado para monitorar a resposta à terapia, para avaliar a gravidade de uma doença, ou como um ponto de partida para formular uma lista de diagnósticos diferenciais. Sua interpretação pode ser dividida em três seções: avaliação dos eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Cada um destes parâmetros pode ser interpretado individualmente; entretanto, para fechar um diagnóstico mais preciso é importante a integração desses dados (BARGER, 2003). A espécie de Ehrlichia, a gravidade da síndrome e a duração da infecção irão determinar as alterações hematológicas, que consistem em anemia, leucopenia e trombocitopenia, como também aumento da sedimentação eritrocitária, associada com hipoalbuminemia e hipergamaglobulinemia. A anemia, caracterizada ao exame laboratorial por redução do número de eritrócitos e/ou concentração de hemoglobina, pode ser classificada segundo critérios morfológicos (aspecto dos eritrócitos), grau ou intensidade e aspectos etiopatológicos (base fisiopatológica) (SPORRI; STUNZI, 1977). O conceito mais atual considera especialmente a atividade da medula óssea em resposta ao estado anêmico, classificando as anemias em regenerativas e não regenerativas (BATISTAFILHO, 2008). A classificação morfológica leva em consideração o diâmetro das hemácias (macrocítica, microcítica e normocítica) e sua concentração em hemoglobina das células (hipocrômica e normocrômica). O tamanho das células é refletido no volume corpuscular médio (VCM): se as células forem menores que o normal, é dito que a anemia é microcítica; se elas têm tamanho normal, normocítica; se são maiores que o tamanho normal, é macrocítica. Quanto aos mecanismos etiopatológicos 17 (etiopatogênicos), a anemia está relacionada à perda de sangue (hemorrágica aguda ou crônica), ao excesso de destruição de eritrócitos (hemolítica) e às deficiências de produção de eritrócitos na medula óssea (hipoproliferativa) primária (carencial e aplástica) ou secundária (CARVALHO; BARACAT; SGARBIERI, 2006). A classificação funcional de anemia concebida a partir da contagem dos reticulócitos e a morfologia dos glóbulos vermelhos pode ser usada como um guia de leitura dos resultados de determinações clínicas. A presença de reticulócitos em quantidades reduzidas ou normais indica anemia hipoproliferativa ou alteração na maturação dos glóbulos vermelhos, sugerindo um quadro arregenerativo. Se a produção de reticulócitos estiver elevada, o mais provável é hemólise, com conseqüente processo regenerativo (BATISTA-FILHO, 2008). Em cães com erliquiose a diminuição dos componentes sanguíneos celulares começa a ocorrer durante a fase de incubação e progride até a fase febril. Anemia normocítica normocrômica é considerada uma alteração comum na erliquiose canina, observando-se quadros anêmicos geralmente arregenerativos durante a fase crônica da doença, com diminuição da resposta medular diante dos estímulos eritropoiéticos, provavelmente em decorrência do comprometimento orgânico importante, com diminuição acentuada da resposta medular. A anemia poderá ser regenerativa nos quadros agudos da doença, quando houver babesiose concomitante ou ocorrer hemorragia intensa (ACCETTA, 2008). Nelson e Couto (2010) relatam que trombocitopatias provenientes da hiperglobulinemia potencializam o sangramento em alguns cães com erliquiose crônica que é classicamente associada com a pancitopenia, mas pode ocorrer qualquer combinação de neutropenia, trombocitopenia e anemia. Alterações nas linhagens celulares da medula óssea relacionadas à erliquiose variam de hipercelularidade (fase aguda) a hipocelularidade (fase crônica). Plasmocitose de medula óssea é comum em cães na fase subclínica e crônica da erliquiose e a doença pode ser confundida com mieloma múltiplo, particularmente em cães com gamopatias monoclonais. A hipoalbuminemia na fase aguda é provavelmente causada pelo seqüestro de albumina nos tecidos devido à vasculite, ao passo que na fase crônica da doença é causada pela perda glomerular decorrente da deposição de imunocomplexos ou 18 da imunoestimulação crônica (gamopatia monoclonal ou policlonal). Azotemia prérenal pode ocorrer nas fases aguda ou crônica da erliquiose, azotemia renal se desenvolve em alguns cães com grave glomerulonefrite decorrente da cronicidade da doença. A combinação de hiperglobulinemia e hipoalbuminemia é compatível com a erliquiose subclínica ou crônica. É mais comum a ocorrência de gamopatias policlonais, mas também podem ocorrer as gamopatias monoclonais (p. ex., imunoglobulina G) (NELSON; COUTO, 2010). A alteração hematológica mais comum em todas as fases da erliquiose canina é a trombocitopenia. A contagem de plaquetas nem sempre está correlacionada com a extensão ou gravidade do sangramento, e um tempo de coagulação aumentado pode ser observado devido à inibição da agregação plaquetária (HARRUS et al., 1996). As plaquetas fazem a hemostasia primária, ou seja, logo que ocorre a lesão elas formam o tampão ou “plug” provisório, que procura evitar o agravamento da hemorragia, enquanto a fibrina se forma (GARCIA-NAVARRO, 2005). Para o desempenho de certas atividades fisiológicas relevantes relacionadas à hemostasia, o número de plaquetas no sangue, a plaquetometria, deve ser mantido em valores adequados (MEYER et al., 1995). A trombocitopenia ocorre por distúrbios na produção, na distribuição ou na destruição de plaquetas. Os defeitos na produção podem ser causados por hipoplasia das células hematopoéticas primordiais, substituição da medula normal e trombocitopoese ineficaz. A destruição de plaquetas pode ser aumentada por distúrbios imunológicos ou ainda doenças não imunológicas. Assim como esses distúrbios, problemas na distribuição de plaquetas ou decorrentes de uma transfusão podem ocasionar trombocitopenia (REBAR et al., 2003; THRALL, 2007). Os animais com trombocitopenia têm tendência a sangramentos mucocutâneos, em geral por muitas vênulas ou capilares, que ocasionam pequenas hemorragias puntiformes em todos os tecidos corporais denominadas petéquias; e ainda podem apresentar púrpura (coleções de sangue na pele); equimoses (são características de desordens plaquetárias e representam coleções subcutâneas maiores, devido à perda sangüínea de vênulas e pequenas arteríolas), e hematomas (são mais profundos e palpáveis que as equimoses, sendo comuns em pacientes com defeitos de plaquetas) (REBAR et al., 2003). 19 Na avaliação laboratorial das plaquetas é essencial a análise do hemograma completo, é preciso estabelecer se a trombocitopenia é um achado isolado ou se está associada com anemia e leucopenia. Se a trombocitopenia for aparentemente um achado isolado, deve-se repetir a contagem para a confirmação. O esfregaço de sangue periférico deve ser avaliado quanto à morfologia das plaquetas, quando microplaquetas predominam sugerem um evento imunomediado precoce (trombocitopenia imunomediada), já as macroplaquetas sugerem liberação de plaquetas jovens na circulação e são frequentemente observadas nas trombocitopenias regenerativas (REBAR et al., 2003). A causa para a diminuição do número de plaquetas pode estar relacionada à produção anormal de plaquetas, que normalmente vem acompanhada de outra citopenia como anemia e/ou neutropenia, e são causadas por etiologias auto-imunes ou infecciosas (erliquiose), por fármacos ou intoxicações (estrógenos, sulfadiazina e antiinflamatórios não esteroidais), e reações pós-vacina em cães após a vacina contra cinomose e parvovirose (FERREIRA NETO et al., 1981). Outra causa de trombocitopenia é a remoção acelerada de plaquetas, pela trombocitopenia imunomediada primária, que tem predisposição racial, acomete mais cães das raças Cocker, Old English Sheepdog, Pastor Alemão e Poodle e está associada com a presença de anticorpos anti-plaquetários, que causam destruição acelerada de plaquetas pelos macrófagos do sistema mononuclear fagocitário; e a trombocitopenia imunomediada secundária, que é a causa mais comum de trombocitopenia em cães, está associada a condições de base, dentre as quais doenças auto-imunes sistêmicas como o lúpus eritematoso sistêmico, a anemia hemolítica imunomediada, a artrite reumatóide e o pênfigo; neoplasias hematógicas ou metastáticas; doenças infecciosas; infecções por protozoários (leishmaniose e babesiose); dirofilariose e histoplasmose (FERREIRA NETO et al., 1981). A trombocitopenia pode ainda ser causada também pelo seqüestro de plaquetas pelo baço. O baço pode armazenar cerca de 75% das plaquetas circulantes, e em condições de esplenomegalia, pode ocorrer trombocitopenia transitória, assim como em casos de stress. A endotoxemia pode causar acúmulo de plaquetas no baço. (FERREIRA NETO et al., 1981). 20 Segundo Rebar et al. (2003), o estabelecimento do diagnóstico é feito por exclusão. Deve-se descartar a pseudotrombocitopenia decorrente da agregação plaquetária, que produz uma falsa contagem baixa de plaquetas. A presença de esplenomegalia sugere a existência de um processo secundário, já a anemia sugere a presença de doença concomitante, devem ser ainda consideradas a exposição a fármacos, infecção, vacinação recente, neoplasias ou transfusão sangüínea. A inoculação experimental de E. canis não desenvolve sempre a trombocitopenia. Nenhum dos nove cães inoculados com a cepa brasileira de E. canis desenvolveu trombocitopenia durante quatorze semanas de observação por Almosny (1998), considerando que trombocitopenia se desenvolveu em quatro semanas em quatro cães inoculados com uma cepa brasileira diferente de E. canis por Castro et al. (2004). 2.7.2 Identificação direta do parasito A identificação dos microorganismos em preparados citológicos ocorre em baixa freqüência, e as mórulas ou inclusões intracitoplasmáticas de E. canis (figura 01) aparecem mais comumente na fase aguda ou de disseminação da doença, sendo encontradas apenas durante as duas primeiras semanas após a infecção, e algumas vezes, a proporção de células infectadas, chega a ser menor do que 1%. Pode-se definir o diagnóstico com base no achado de inclusões em células mononucleares do sangue de animais infectados sendo difícil algumas vezes demonstrar a forma típica da mórula uma vez que o parasita está presente em pequeno número no sangue, o que pode levar a resultados falso negativos. A identificação de mórulas intracelulares documenta a infecção por Ehrlichia, mas não é comum nas cepas monocitotrópicas, uma vez que o nível de infecção dos monócitos do sangue é baixo, sendo as espécies de erlíquias que causam a EMC observadas com menor freqüência (ACCETTA, 2008). Mais comumente são visualizados os corpúsculos de inclusão do que as mórulas em cães infectados, na fase febril. Os microrganismos são raramente encontrados durante a fase de portador, tornando difícil o diagnóstico, se não impossível. Este também é dificultado devido à semelhança de grânulos 21 citoplasmáticos que geralmente estão presentes em leucócitos não parasitados com corpúsculos elementares solitários, através da coloração de Giemsa. Logo, recomenda-se que sejam feitos esfregaços finos, de preferência de sangue capilar das margens das orelhas, havendo uma maior freqüência de células infectadas na borda da extensão sanguínea, estando às inclusões geralmente presentes em monócitos, podendo também ser encontradas em neutrófilos, linfócitos ou eosinófilos, a depender da cepa envolvida. Uma única célula pode conter múltiplas mórulas em vários estágios de desenvolvimento, mas dificilmente estas são encontradas na fase crônica da doença (ACCETTA, 2008). Normalmente o diagnóstico da infecção de A. platys é realizado pela detecção de inclusões basofílicas dentro de plaquetas em esfregaços de sangue total (figura 01) ou de papa de leucócitos. Entretanto, maior atenção deve ser dada a este tipo de diagnóstico, uma vez que corpúsculos de inclusão de E. canis podem ser observados em plaquetas (DAGNONE et al., 2004; SOUZA et al., 2004). É importante ressaltar também a ocorrência cíclica de plaquetas parasitadas por A. platys (CHANG et al., 1996). B A Figura 01. Esfregaço sanguíneo para diagnóstico de hemoparasitoses. Em (A) inclusões intracitoplasmáticas de A. platys em plaquetas de um cão; em (B) mórula de E. canis em linfócito de um cão. Fonte: Laboratório de Doenças Parasitárias da UFRPE, 2011. 22 2.7.3 Diagnóstico indireto A infecção por E. canis resulta no desenvolvimento de anticorpos específicos, e a maior parte dos testes laboratoriais comerciais e kits comerciais para diagnóstico utiliza reagentes que detectam anticorpos contra E. canis no soro e são usados geralmente como procedimento de triagem em animais suspeitos de erliquiose. Quatro métodos de detecção sorológica para diagnóstico de erliquiose canina foram comparados e determinou-se a Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) como o melhor ensaio (BÉLANGER et al., 2002). Desde a sua descrição por Ristic et al. em 1972, a RIFI tem sido o método sorológico mais amplamente utilizado para o diagnóstico da erliquiose canina e é considerado o teste padrão ouro, indicando exposição à Ehrlichia spp. (RISTIC et al., 1972; WANER et al., 2001). O Grupo de estudos doenças Infecciosas do Colégio Americano de Veterinários Especializados em Medicina Interna (ACVIM) sugere que títulos de anticorpos anti-E. canis testados por RIFI que estão entre 1:10 e 1:80 devem ser retestados em duas a três semanas, uma vez que grande é a chance de o teste ter fornecido um resultado falso positivo. Caso sejam detectados anticorpos séricos contra E. canis em um cão apresentado sintomatologia compatível com com erliquiose, o diagnóstico presuntivo deve ser realizado e o tratamento apropriado deve ser iniciado. No entanto, o estabelecimento do diagnóstico de infecção erliquial não deve ser estabelecido somente com base na detecção de anticorpos, uma vez que pode ocorrer reação cruzada e porque alguns cães podem estar subclinicamente infectados. Os resultados negativos do teste não excluem completamente a erliquiose da lista dos diagnósticos diferenciais, uma vez que pode-se detectar a doença clínica antes da soroconversão, como também pelo fato de que nem todas as Ehrlichia spp. induzem anticorpos que são consistentemente detectados nos ensaios para pesquisa e E. canis (NELSON; COUTO, 2010). Apesar de a RIFI ser um teste sensível e específico, não apresentando reação cruzada com A. platys e R. rickettsii, a reação cruzada com as outras espécies do gênero Ehrlichia pode representar um sério problema na interpretação dos resultados, além de não permitir a diferenciação da espécie de Ehrlichia infectante, particularmente entre aquelas do mesmo genogrupo (NEER et al., 2002). 23 Cães sadios inoculados experimentalmente com E. canis apresentaram sinais clínicos, conversão sorológica e presença de antígenos erliquiais 15 a 20 dias após a inoculação (WANER et al., 1996). Assim como outras técnicas sorológicas, a RIFI não permite identificar a fase da doença na qual o animal se encontra, de forma que um título positivo apenas demonstra que o cão foi exposto ao agente em algum momento (WOODY; HOSKINS, 1991). Como para E. canis, as técnicas sorológicas são bastante utilizadas para o diagnóstico da Anaplasmose, entretanto a inabilidade de se distinguir infecção ativa de infecções anteriores é um dos maiores empecilhos deste tipo de diagnóstico. Anticorpos séricos podem ser identificados por RIFI, a chance de ocorrer reação cruzada com E. canis é mínima, mas anticorpos para A. platys podem ser detectados em ensaios sorológicos para A. phagocytophilum. Em casos agudos, os resultados dos testes de anticorpos podem ser falsamente negativos e então, pode ser necessário repetir o teste após duas a três semanas para confirmar a exposição (NELSON; COUTO, 2010). Além da RIFI, outras técnicas sorológicas como dot Elisa - Imunocomb, Elisa utilizando antígeno recombinante e immunoblotting, têm sido desenvolvidas e podem ser úteis na determinação de imunoglobulinas, no entanto, deve-se ter o cuidado de realizar uma interpretação adequada (ACCETTA, 2008). 2.7.4 Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) A PCR está facilitando o diagnóstico das doenças erliquiais e tem auxiliado na classificação taxonômica destes e de outros agentes infecciosos. É um método eficaz e extremamente sensível para detectar a presença de Ehrlichia spp. em animais infectados, auxilia na identificação de carrapatos ou outros artrópodes que podem servir de vetores para as doenças erliquiais (PANCHOLI et al., 1995); distingue quais pacientes permanecem com infecção persistente, e quais animais com altos títulos na imunofluorescência, foram tratados com sucesso (BREITSCHWERDT et al., 2004; SUKASAWAT et al., 2000). A PCR também auxilia na detecção de novas cepas ou variantes de espécies (BAKKEN et al., 1994) e permite a detecção precoce de infecção. 24 Como existem reações cruzadas em exames sorológicos dentro do mesmo genogrupo e, potencialmente entre genogrupos, a identificação da espécie pode não ser estabelecida na maioria dos estudos clínicos que utilizem apenas a sorologia. O teste sorológico também não é capaz de distinguir entre infecção aguda e exposição prévia. A identificação de espécies através da PCR é importante, porque permite determinar a espécie presente, bem como a presença de co-infecção por duas ou mais espécies (SUKASAWAT et al., 2000). De acordo com um estudo conduzido por Harrus et al. (1998) foi demonstrado que o DNA extraído de aspirados esplênicos é a melhor fonte para uma amostra para PCR, afim de diagnosticar o estado portador de E. canis durante a erliquiose subclínica. Pode-se obter um resultado positivo na PCR a partir de quatro dias pósinfecção (PI), o que indica infecção, ao contrário de um resultado positivo na RIFI, que apenas indica exposição prévia (NEER et al., 2002). A PCR é um teste altamente sensível e específico para a detecção de níveis muito baixos de E. canis (IQBAL; RIKIHISA, 1994), sendo este método mais sensível do que o isolamento em cultivo celular (McBRIDE et al., 1996). Um novo isolado de A. platys usando microscopia eletrônica e PCR foi caracterizado por Mathew et al. (1997) que indicaram em seus resultados que a PCR pode ser uma ferramenta útil no diagnóstico da infecção por A. platys e ainda verificaram nas avaliações hematológicas diárias um alto grau de trombocitopenia imediatamente após o pico da parasitemia. No entanto, os resultados dos testes com anticorpos e da PCR isoladamente, não podem ser utilizados para comprovação da doença clínica associada à infecção por A. platys, uma vez que a maior parte dos cães infectados apresentam infecção subclínica e as síndromes associadas à infecção possuem diversas outras causas (NELSON; COUTO, 2010). Os ensaios de PCR estão atualmente disponíveis comercialmente e podem ser utilizados para detectar o DNA específico do organismo a partir de sangue periférico, podendo também ser realizados nos fluidos articulares, humor aquoso, líquor e amostras de tecido. No entanto, semelhante à sorologia não existe ainda nenhuma padronização entre os laboratórios e o controle de qualidade insuficiente pode levar a resultados positivos falsos ou negativos falsos, logo, o Grupo de Estudos de Doenças Infecciosas do ACVIM sugere o uso da PCR em conjunto com 25 a sorologia, e não em substituição da mesma. Resultados negativos na PCR do sangue podem ocorrer em decorrência de tratamento com antibióticos em um curto espaço de tempo, dessa forma, as amostras de sangue devem ser retiradas para o teste antes do tratamento e colocadas em tubos contendo ácido etilenodiamino tetraacético (EDTA) (GAL et al., 2008). 2.7.5 Cultivo celular As erlíquias de uma forma geral são de difícil cultivo (RIKIHISA et al., 1991). Ehrlichia canis pode ser cultivada in vitro em linhagem de células monocíticas oriundas de seus hospedeiros naturais ou em linhagens de células de outros mamíferos. A partir de células de um cão com histiocitose maligna foi estabelecida a linhagem contínua de células caninas DH82 (cepa Oklahoma) e é a linhagem utilizada nos testes de RIFI. Desde o desenvolvimento de um método in vitro para cultivar Ehrlichia canis, por Nyindo et al. (1971), vários relatos têm sido feitos por outros autores. O objetivo do cultivo celular consiste em amplificar o número de corpúsculos erliquiais em um espaço de tempo relativamente curto. Contudo, na rotina clínica, o isolamento por cultivo é laborioso e impraticável nos laboratórios de microbiologia clínica, pois leva de 14 a 34 dias para fornecer resultados, tendo baixa produtividade, além de requerer ambientes e técnicas de cultivo apropriadas, e consistir em um procedimento caro. Para que se obtenha sucesso com esta metodologia torna-se necessário que se leve em consideração alguns requisitos, como o estágio de infecção em que se encontra o animal, a presença de linhagens de células específicas ou a necessidade de lavagens peritoniais repetidas, a fim de se obter as células infectadas. São igualmente susceptíveis a infecção por E. canis. tanto macrófagos de cães obtidos através de lavagens peritoniais sucessivas quanto monócitos de sangue periférico, podendo-se detectar as células infectadas 60 horas após a inoculação, e a replicação se torna evidente dos 12 aos 18 dias (ACCETTA, 2008). As principais anormalidades laboratoriais observadas em cães com infecção por E. canis encontram-se resumidas na Tabela 02. 26 Tabela 02. Anormalidades laboratoriais associadas à infecção por Ehrlichia canis. Estágio da infecção Anormalidade Aguda Trombocitopenia Leucopenia seguida de leucocitose por neutrofilia e monocitose Mórula Anemia regenerativa ou arregenerativa Títulos de Ehrlichia variáveis PCR positivo Subclínica Hiperglobulinemia Trombocitopenia Neutropenia Linfocitose Monocitose Título positivo de Ehrlichia PCR positivo Crônica Monocitose Linfocitose Trombocitopenia Anemia não regenerativa Hiperglobulinemia Hipoceluraridade de medula óssea Plasmocitose de medula óssea/baço Hipoalbuminemia Proteinúria Gamopatia policlonal ou monoclonal de imuonoglobulina G Pleocitose de células mononucleares de fluido cefalorraquidiano Poliartrite supurativa não séptica Título positivo de Ehrlichia PCR positivo Fonte: adaptado NELSON; COUTO, 2010. 27 2.8- DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL A infecção por E. canis e A. platys desencadeiam sinais clínicos parecidos e bastante inespecíficos, tais como febre, apatia, anorexia, palidez de mucosas petéquias e equimoses. Dessa forma, diversas enfermidades podem mimetizar o quadro comumente observado na erliquiose canina. Logo, deve-se ter o cuidado de realizar o diagnóstico diferencial de doenças imunomediadas de natureza idiopática, secundária a drogas (corticóides), infecciosas (cinomose, leishmaniose visceral), outras hemoparasitoses (babesiose, hepatozoonose, febre maculosa das montanhas rochosas), neoplasias (mielomas múltiplos), intoxicação por estrógenos, reação vacinal, dentre outras. 2.9- TRATAMENTO A localização intracelular de alguns microrganismos é um fator limitante na eficácia da terapia anti-bacteriana dificultando a erradicação destes patógenos de hospedeiros infectados Entre as drogas eficazes no tratamento para erliquioses, as tetraciclinas e as tetraciclinas semi-sintéticas (doxiciclina) estão entre as que têm maiores probabilidades de eliminar o agente (AMYX et al., 1971; BREITSCHWERDT et al., 2004) e são utilizadas na terapia tanto de seres humanos como de animais. A resposta clínica ao tratamento com doxiciclina na fase aguda é rápida. Assim como outras ciclinas, esta exibe uma atividade bacteriostática se ligando aos ribossomos bacterianos, danificando a síntese protéica. As bactérias exigem a proteína com a finalidade de inibir a fusão fagolisossomal dentro dos monócitos contaminados (BROUQUI; RAOULT, 1991). A atividade bacteriostática depende da duração em que as concentrações da droga permanecem acima da concentração inibitória mínima (DAVOUST et al., 2005). A tetraciclina (22 mg/kg, três vezes ao dia, por 14 dias, via oral) ou doxiciclina (10 mg/kg por dia, por 14 dias, via oral) representa o tratamento de escolha para erliquiose (BREITSCHWERDT, 2004), mas alguns autores dizem que esta duração do tratamento pode não ser suficiente, principalmente na fase crônica, e sugerem até oito semanas de tratamento (WOODY; HOSKINS, 1991). Em um estudo 28 realizado em cães infectados experimentalmente, os carrapatos conseguiram adquirir a E. canis ao parasitarem animais previamente tratados com 14 dias de doxiciclina (SCHAEFER et al., 2007). O Grupo de Estudos de Doenças Infecciosas do ACVIM atualmente recomenda o uso da doxiciclina (10mg/kg VO) a cada 24 horas durante pelo menos 28 dias, e o monitoramento da resolução da trombocitopenia e da hiperglobulinemia como marcadores da eliminação terapêutica do organismo, uma vez que os sinais clínicos e a trombocitopenia devem ser rapidamente resolvidos. Se as alterações clínicas não se resolverem em sete dias, outro diagnóstico diferencial deve ser considerado. Não se sabe ainda se a infecção erliquial é totalmente eliminada após o tratamento e quanto à utilização da PCR no monitoramento do tratamento recomenda-se que sejam tomadas algumas medidas, dentre elas: duas semanas após o término do tratamento o teste de PCR deve ser repetido, se o animal ainda estiver positivo, o tratamento deve ser mantido por mais quatro semanas e o teste deve ser refeito; caso os resultados da PCR ainda estejam positivos após dois ciclos do tratamento, uma droga alternativa anti-Ehrlichia deve ser usada; se os resultados da PCR forem negativos, deve-se repetir o teste após oito semanas e caso permaneçam negativos, provavelmente a terapêutica utilizada conseguiu eliminar o agente (NELSON; COUTO, 2010). O dipropionato de imidocarb é eficaz no tratamento da erliquiose, principalmente em casos de co-infecção de duas ou mais erlíquias em cães ou com infecção concomitante por Babesia spp (HARRUS et al., 1997). Alguns trabalhos demonstraram que não há diferença de respostas clínicas entre cães tratados com doxiciclina (10 mg/kg/dia por 28 dias), ou com imidocarb (5 a 7 mg/kg IM ou SC em duas injeções com 15 dias de intervalo), ou com ambas as drogas simultaneamente, apesar das contagens de plaquetas terem levado mais tempo para se normalizarem nos cães que receberam imidocarb, quando comparados com os tratados com doxiciclina (SÁINZ et al., 1996). Sousa et al. (2004) concluíram ser desnecessário utilizar doxiciclina e imidocarb em conjunto para o tratamento da erliquiose canina. Após a administração do imidocarb alguns pacientes desenvolvem dor no local de inoculação da injeção, salivação, corrimento oculonasal, diarréia, tremores e dispnéia. As quinolonas (ex: enrofloxacina, norfloxacina, ciprofloxacina) não são 29 eficazes para o tratamento da infecção por E. canis em cães. Embora as coinfecções possam comumente ocorrer, a presença de agentes como A. phagocytophilum, A. platys e Leishmania infantum não interferem negativamente na resposta terapêutica (MYLONAKIS et al., 2004). Em um estudo conduzido por Breitschwerdt; Hegarty; Hancock (1998), cães infectados experimentalmente e não tratados eliminaram a infecção espontaneamente, ou no mínimo ocorreu uma redução da erliquemia, a ponto do microrganismo não ser detectado por cultivo celular, PCR ou mesmo em animais transfundidos com o sangue destes cães. Um resultado positivo no teste de RIFI exclui o cão de ser doador de sangue e todos os esforços devem ser feitos a fim de eliminar o estado de portador. Os cães doadores devem ser soro-negativos em duas amostras, com um mês de intervalo, repetindo o exame sorológico anualmente (WOODY; HOSKINS, 1991). O prognóstico de infecções por E. canis é bom para cães com erliquiose aguda e para aqueles que apresentam erliquiose crônica este é de variável a reservado, a supressão da medula óssea nesta fase da infecção pode não ser responsiva por semanas a meses, ou não responder de nenhuma forma. Podem ser administrados esteróides anabólicos assim como outros estimulantes da medula óssea (ex: decanoato de nandrolona, oximetolona), no entanto, a probabilidade de serem eficazes é baixa, pois geralmente há falta de células precursoras. Nos casos agudos frequentemente a sintomatologia de febre, petéquias, vômito, diarréia, epistaxe e trombocitopenia se resolve em poucos dias após o inicio da terapia. Devido aos eventos imunomediados que resultam na destruição das hemácias ou de plaquetas que geralmente ocorrem na erliquiose, recomenda-se a administração de anti-inflamatórios ou de doses imunossupressoras de glicocorticóides para animais agudamente afetados. Nesses casos a administração de prednisona (2,2 mg/kg VO dividida a cada 12 horas durante os primeiros 3 a 4 dias após o diagnóstico) pode trazer benefícios (NELSON; COUTO, 2010). Mesmo após o tratamento, o título de anticorpos contra E. canis pode permanecer alto por vários meses e até anos. Animais tratados com sucesso podem ser susceptíveis a uma nova infecção. O tratamento da trombocitopenia cíclica segue as mesmas diretrizes do tratamento para E. canis. A grande maioria dos clínicos recomenda o uso de 30 doxiciclina, administrada em doses de 5-10 mg/Kg VO a cada 12-24 horas durante pelo menos 10 dias, mas ainda não se sabe da necessidade da administração desta droga por 28 dias, a não ser nos casos onde houver co-infecção com E. canis. Podese fazer uso das tetraciclinas na dose de 22 mg/kg a cada 8 horas, sendo recomendado este tratamento por um período de 2 a 3 semanas (NELSON; COUTO, 2010). 2.10- PREVENÇÃO A prevenção deve ser feita principalmente através do controle de carrapatos. Os proprietários devem ser alertados do risco em potencial do parasitismo por carrapatos, vetores de várias doenças, sendo por isso necessário seu constante controle. Devido à grande especificidade de hospedeiro, R. sanguineus está completamente adaptado ao ambiente do cão, sendo freqüentemente encontrado na casinha do animal e nos orifícios das paredes (DAGNONE; MORAIS; VIDOTTO, 2001). Como a transmissão do agente para o carrapato não ocorre de forma transovariana, a eliminação deste nas próximas gerações de carrapatos deve ser realizada através do controle dos carrapatos no ambiente ou pelo tratamento de todos os cães. O Rhipicephalus somente pode transmitir a E. canis por aproximadamente 155 dias, logo, se não for possível a realização de um controle eficaz sugere-se tratar os cães com tetraciclina (6,6 mg/kg VO diariamente por 200 dias), pois durante este período os cães infectados não infectarão novos carrapatos, e os carrapatos previamente infectados perderão a habilidade de transmitir o organismo (NELSON; COUTO, 2010). Atualmente os cães são mais facilmente tratados através da prevenção pela aplicação tópica de fipronil, membro de uma classe relativamente nova de inseticidas que revelou-se um excelente meio de prevenir este tipo de infestação. É aprovado sob a forma de spray a 0,29% (Frontline Spray®) para utilização em cães e gatos adultos e filhotes, como também spot-on (Frontline Top Spot®). Outros produtos tópicos incluem as piretrinas e as permetrinas. Outra opção consiste na utilização de colares contendo amitraz, clorpirifós, diazinon, metilcarbamato, naled 31 ou tetraclorvinfós. Quanto ao controle do R. sanguineus nas instalações, pode-se realizar a aplicação de spray com diazinon (BOWMAN et al., 2006). Encontra-se em progresso o trabalho para produzir vacinas contra carrapatos que induzem o hospedeiro a produzir anticorpos que ao serem ingeridos pelo carrapato durante o repasto tem a função de promover a lesão do intestino do carrapato que se alimenta. Estas vacinas serão mais amplamente utilizadas à medida que tornarem-se disponíveis para utilização em bovinos, cães e gatos (WILLADSEN et al., 1995). 2.11- ASPECTOS ZOONÓTICOS Sabe-se atualmente que a erliquiose é uma zoonose, que caracteriza-se por febre, cefaléia, mal estar, trombocitopenia, leucopenia e aumento das enzimas hepáticas. Casos fatais ocorrem em aproximadamente 5% dos pacientes humanos com erliquiose monocítica (E. chaffeensis) e em 10% daqueles com a erliquiose granulocítica. O reconhecimento de infecções com diferentes agentes etiológicos ocorrendo simultaneamente é muito importante, uma vez que podem ter sinais clínicos diferentes e não responder a terapia da forma esperada. Principalmente nos casos em que a doença não é diagnosticada precocemente, o que retarda o início da terapia adequada, a erliquiose pode ser fatal. Quase todas as espécies de erlíquias podem acometer o homem e causar alguma sintomatologia. Também podem ocorrer infecções por múltiplos agentes, podendo levar a uma sintomatologia atípica e de difícil diagnóstico (DAGNONE; MORAIS; VIDOTTO, 2001). Os cães e os seres humanos são infectados por E. canis, E. ewingii e E. chaffeensis (BULLER et al., 1999). Além do R. sanguineus, poucas espécies de carrapatos parasitam o cão no Brasil. Nas regiões endêmicas para a Febre Maculosa brasileira (Rickettsia rickettsii) o Amblyomma cajennense é a espécie predominante (DE LEMOS et al., 1997). Embora não seja habitual, o carrapato R. sanguineus tem sido descrito, recentemente, parasitando humanos no Uruguai, (VENZAL et al., 2003), Venezuela (PEREZ et al., 2006), e Brasil (DANTAS-TORRES et al., 2006). Infecções por E. canis (PEREZ et al., 2006) e o encontro de inclusões plaquetárias semelhantes a A. 32 platys (TAMI; TAMI-MAURY, 2004), é comum tanto em pessoas imunocomprometidas, devido à infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), quanto em indivíduos imunocompetentes. No entanto, quanto à infecção por Anaplasma platys, Nelson; Couto (2010) relatam que não existe risco conhecido para a saúde humana. 3- MATERIAL E MÉTODOS 3.1- LOCAL E PERÍODO Durante o período de março a abril de 2011, foram obtidas amostras de sangue venoso em EDTA de diversos cães de diferentes raças, ambos os sexos e de diferentes faixas etárias, mediante solicitação médica, atendidos no Hospital Veterinário Harmonia (HVH), localizado na cidade de Recife-PE, independentemente destes apresentarem sinais clínicos sugestivos de hemoparasitoses. As amostras de sangue foram direcionadas a realização de hemograma com pesquisa de hematozoários pelo laboratório veterinário LaborVet vinculado HVH. As atividades tiveram continuidade no Laboratório de Microbiologia e Imunologia Animal do campus de Ciências Agrárias da UNIVASF. 3.2- ANÁLISES CLÍNICAS Durante a consulta médica e exame clínico dos animais, estes eram observados quanto aos sinais clínicos apresentados, como também se havia infestação por ectoparasitas. 3.3- AVALIAÇÃO HEMATOLÓGICA No hemograma, foram avaliadas as séries eritrocitárias, leucocitárias e plaquetárias de acordo com Mayer et al (1995). Foram consinderados trombocitopênicos os animais que apresentaram valores inferiores a 200.000/µL plaquetas. Os níveis plasmáticos de proteína total foram determinados por refratometria. 33 3.4- DIAGNÓSTICO DIRETO Dos cães encaminhados ao HVH, foram selecionados 70 animais que apresentaram trombocitopenia. Esfregaços sanguíneos foram confeccionados através da extensão do sangue total em superfície de lâmina seguida de coloração por panótico rápido, as quais foram analisadas para o diagnóstico direto de Ehrlichia canis e Anaplasma platys. As lâminas foram analisadas através de microscopia óptica utilizando objetiva de imersão para visualização de corpúsculos de inclusão ou mórulas em leucócitos e/ou plaquetas. A diferenciação das espécies de hemoparasitos encontradas nas lâminas de esfregaço sanguíneo foi baseada no tipo de célula parasitada e também na sua morfologia (MAYER et al.,1995). 3.5- EXTRAÇÃO DO DNA Dentre os animais selecionados (n=70), 45 amostras de sangue foram submetidas à extração de DNA. Estes animais foram os que apresentaram trombocitopenia mais acentuada. O DNA foi extraído a partir de alíquotas de 200µL de sangue total, utilizando o QIAmp DNA Blood Mini Kit (Qiagen ®), de acordo com as instruções do fabricante. O DNA obtido foi utilizado como molde, visando à realização do diagnóstico molecular do gênero Ehrlichia através da Reação em Cadeia da Polimerase. 3.6- REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE A amplificação do gene dsb característico do gênero Ehrlichia, utilizou os oligonucleotídeos descritos na Tabela 03. As reações foram preparadas em volume total de 25 μL, contendo 10 mM de Tampão de PCR 10X, 3 mM MgCl2, 0,4 mM de cada deoxynucleotídeo, 2,5 U Taq DNA polimerase (Fermentas®), 0,6 µM de cada primer, 40 ηg de DNA-amostra e água ultra-pura qsp para completar o volume final da reação. O esquema de amplificação obedeceu à seguinte seqüência térmica e de tempo: 95 °C por 3 minutos, seguido por 35 ciclos de desnaturação a 95 °C por 15 segundos, anelamento a 50 °C por 30 segundos e extensão a 72 °C por 30 34 segundos, com uma etapa de extensão final a 72 °C por 5 minutos. Os produtos amplificados foram submetidos à eletroforese em gel de agarose a 1,5% corado com brometo de etídeo e observados sob UV. As imagens das amplificações foram registradas em aparelho para fotodocumentação (MBS). Tabela 03. Iniciadores utilizados para detecção do gênero Ehrlichia. Sequência 5’-3’ Primer Dsb-330 GATGATGTTTGAAGATATSAAACAAAT Dsb-720 CTATTTTACTTCTTAAAGTTGATAWATC Pares de base (pb) 800 4- RESULTADOS E DISCUSSÃO Dentre os animais avaliados por meio do diagnóstico direto, ou seja, através do exame de esfregaço sanguíneo, em apenas 6% das amostras (04/70) foram observadas estruturas compatíveis com corpúsculos iniciais, elementares ou mórulas de Ehrlichia spp em leucócitos (Figura 02). É importante considerar que a visualização microscópica de mórula de Ehrlichia spp. no interior de leucócitos ocorre durante a fase aguda da doença e em aproximadamente 4% dos casos (WANER E HARRUS, 2000), como também que a detecção de mórula de E. canis é mais eficiente em esfregaço de sangue periférico (Castro, 1997), o que pode justificar os resultados obtidos. Em 24% dos cães (17/70) observou-se mórulas de A. platys em plaquetas, em 1% (01/70) pôde-se evidenciar ainda a presença de merozoítos de B. canis no interior das hemácias e em 68% dos animais (48/70) não foram encontrados tais estruturas, não sendo evidenciada infecção concomitante por estes agentes. 35 Figura 02. Percentual de animais positivos para Ehrlichia spp. e Anaplasma spp. através do diagnóstico direto. O diagnóstico laboratorial tem sido rotineiramente realizado através da identificação direta destas estruturas morfologicamente compatíveis com mórulas de E. canis e A. platys em amostras de sangue periférico associada a exames hematológicos (NAKAGHI et al., 2008). Apesar da facilidade de execução, baixo custo e rapidez de resultados (HARRUS et al., 1997), esse método diagnóstico tem apresentado uma baixa sensibilidade. Recentemente, Mylonakis et al. (2003) compararam o diagnóstico direto para E. canis a partir de diferentes tecidos, como sangue periférico, capa leucocitária, aspirados de medula óssea e linfonodo, e concluíram que o diagnóstico, a partir de sangue periférico, é o que apresenta a menor sensibilidade quando comparado aos demais tecidos, desestimulando, portanto, a utilização dessa técnica para diagnóstico. Porém, na rotina clínica em animais de companhia, o diagnóstico ainda é firmado com base na associação entre os sinais clínicos e os resultados de exames hematológicos. Dos cães com infecção, 11 eram machos e 10 eram fêmeas. Com relação à faixa etária, 02 tinham menos de um ano de idade, 10 entre um a quatro anos, 05 entre quatro a oito anos e 04 tinham idade superior a oito anos (Figura 03). Em um estudo realizado por Ueno et al. (2009) foi constatado uma maior freqüência de infecção em cães com idade até 12 meses (65%), justificando-se por um maior risco dos animais adquirirem a infecção nessa faixa etária e apresentarem o agente 36 circulante, os quais possivelmente apresentavam-se na fase aguda da doença, sendo acometidos geralmente em decorrência de uma alta contaminação ambiental por carrapatos ocasionando exposição ao agente ainda nos primeiros meses de vida. No entanto, Baneth et al. (1996) descreve maior prevalência em cães adultos e idosos, associando ao fato de maior tempo de exposição destes ao hospedeiro invertebrado e maior suscetibilidade para os cães idosos, o que realmente deve ocorrer uma vez que, os resultados obtidos neste experimento corroboram com os observados pelo autor. Figura 03. Número de animais positivos para Ehrlichia spp. e Anaplasma spp. de acordo com a faixa etária. Os cães selecionados para o experimento foram de diferentes raças. Dentre os que encontravam-se parasitados o maior número foi representado por 05 cães da raça Yorkshire (24%), seguidos por 03 animais da raça Pastor Alemão (14%), das raças Poodle, Rottweiler e Pinscher com 02 representantes cada (10%), seguidos das raças Pastor Branco, Pastor Belga, Dálmata, Labrador, Basset hound e Boxer representados por um integrante cada (5%) e um animal sem definição racial (SRD). Segundo Harrus et al. (1997) os cães da raça Pastor Alemão apresentam maior gravidade clínica quando infectados, no entanto, não são mais predispostos a infecção. Os três cães desta raça com erliquiose não apresentaram sinais clínicos severos. Jiménez – Coelho et al. (2008) ao realizarem um estudo com cães sem definição racial, sugeriram o desenvolvimento de uma resistência destes animais a 37 infestação por carrapatos, infecção por erlíquia, e outros agentes erliquiais, devido a menor exposição ao R. sanguineus nas ruas, uma vez que são parasitos bem adaptados a ambientes internos. Oito cães (38%) apresentavam infestação por carrapato no momento da consulta veterinária, e treze (62%) apresentaram essa infestação anteriormente. A prevalência de E. canis e A. platys é altamente dependente da distribuição do vetor R. sanguineus, que possui grande ocorrência no Brasil (HOSKINS, 1991; LABRUNA; PEREIRA, 2001), por ser um país com diversas áreas tropicais onde a condição ambiental favorece a sobrevivência do vetor (COCCO et al., 2003). O parasitismo por este agente tem sido apontado como principal fator de risco para a EMC (TRAPP et al., 2006). Dentre os principais sinais clínicos observados nos animais que apresentavam infecção por E. canis e A. platys, verificou-se sinais clínicos inespecíficos, tais como apatia, inapetência, hipertermia, vômito e diarréia (Figura 04). Hipertermia é observada em cães infectados em virtude do aumento na produção de interleucinas (IL-1 e IL-6) pelas células apresentadoras de antígenos e pelas células B ou pela presença de pirógenos exógenos produzidos pela bactéria (HARRUS et al., 1998; CASTRO et al., 2004). Também foram evidentes nos animais mucosas pálidas, que sugerem anemia, assim como manifestações hemorrágicas (petéquias, equimoses, sufusões), que ocorrem secundariamente à trombocitopenia, disfunções plaquetárias e presença de vasculites em múltiplos locais (LAKKAWAR et al., 2003), além de esplenomegalia, concordando com os descritos por Harrus et al. (1997). 38 Figura 04. Principais sinais clínicos observados nos 21 cães com mórulas de mórulas de Erhlichia spp. e Anaplasma spp. Na avaliação hematológica, conforme pode ser verificado na figura 05, anemia foi observada em 33% dos cães parasitados (07/21), sendo 86% do tipo normocítica normocrômica (06/07) e 14% do tipo macrocítica normocrômica (01/07). Estes dados corroboram com a observação de Almosny et al. (2000), de que a anemia normocítica normocrômica é considerada uma alteração comum na erliquiose canina, sendo que estes quadros anêmicos tendem a ser arregenerativos, com diminuição da resposta medular diante dos estímulos eritropoiéticos, o que se deve à supressão das séries eritróide, mielóide e megacariocítica na medula óssea, principalmente na fase crônica da erliquiose canina, o que acarretaria baixa ou nenhuma produção desses tipos celulares (BREITSCHWERDT, 1995). Observou-se também leucocitose por neutrofilia e linfopenia em 33% das amostras analisadas (07/21), leucopenia e linfocitose em 14% destas (03/21) e monocitose em 19% dos animais infectados (04/21). De acordo com Harrus et al. (1997) e Bulla et al. (2004), tais variações no eritrograma e leucograma ocorrem de acordo com a fase da doença. Segundo Castro et al. (2004) as alterações leucocitárias podem não ser bem evidenciadas até a quarta semana de infecção, quando a leucopenia começa a ser importante, em virtude da supressão medular, e 39 embora a leucopenia tenha sido relatada como uma das alterações mais comuns nos animais acometidos por Ehrlichia spp. no presente estudo essa alteração não foi tão significante. Figura 05. Principais alterações hematológicas evidenciadas nos 21 animais com mórulas de Erhlichia spp. e Anaplasma spp. Na análise da concentração protéica dos cães com infecção, observou-se hiperproteinemia em 12 cães (57%), resultado similar aos observados na literatura, que enfatizam que a hiperproteinemia ocorre em função de uma hipergamaglobulinemia, alteração comum na fase subclínica da erliquiose, quando a titulação de globulinas se encontra elevada. Segundo Gould et al. (2000), esse aumento da fração gama, induz uma hiperviscosidade sérica e exacerbação hemorrágica por interferência física com as plaquetas e fatores da coagulação, além de causar danos ao endotélio vascular e venoestase. Todos os animais avaliados apresentavam trombocitopenia (plaquetas < 200.000/μL), principal achado hematológico freqüente em todas as fases da EMC como também em animais que apresentam ETC, corroborando com as pesquisas desenvolvidas por Moreira et al. (2003) e Gasparne et al. (2008) respectivamente, sendo citado em muitos trabalhos na literatura que indicam a importância desta variável hematológica para o diagnóstico presuntivo da doença em áreas endêmicas (DAGNONE et al., 2003, MACIEIRA et al., 2005; BULLA et al., 2004). 40 A trombocitopenia canina é uma alteração comum nos achados laboratoriais de cães parasitados por ectoparasitas, estando relacionada principalmente à destruição de plaquetas por mecanismos auto-imunes, com diminuição da sobrevida e da capacidade de agregação (MENDONÇA et al., 2005). No entanto, não deve ser considerada um achado específico para a detecção da infecção por E. canis e/ou A. platys, e mesmo em uma área geográfica de alta prevalência não pode ser utilizada como único fator determinante no diagnóstico de erliquiose canina (MACIEIRA et al., 2005). Em dois dos cães com infecção por E. canis e em três por A. platys, foi visualizado a presença de macroplaquetas, condizente com os achados de Harrus (1997) que avaliou cães com trombocitopenia cíclica, comprovando que apesar da tendência à trombocitopenia, há uma trombocitopoeise ativa. No entanto, a preponderância de plaquetas grandes com granulações esparsas sugere aumento da produção e liberação de plaquetas na circulação, sendo achadas ocasionalmente em animais normais (JAIN, 1993). Dos 45 cães avaliados através da PCR, em 13 (29%) foi constatada a presença de DNA compatível com o gênero Ehrlichia no sangue total. Destes, em apenas 04 amostras houve a observação de mórulas de E. canis no esfregaço sanguíneo (figura 04), podendo-se observar a maior sensibilidade da PCR em relação ao exame direto. Em 09 amostras positivas não foi evidenciada a presença de inclusões intracitoplasmáticas através do esfregaço sanguíneo, o que possibilita confirmar que a PCR tem demonstrado alta sensibilidade e especificidade em animais infectados, mesmo em baixas concentrações do micro-organismo na circulação sanguínea (McBRIDE et al., 1996). Em 03 amostras positivas na PCR havia a presença de mórulas de A. platys, o que pode significar a infecção concomitante por estes microorganismos. Co-infecções por A. platys e E. canis têm sido relatadas em diferentes regiões do mundo, como China (HUA et al., 2000), Caribe (YABSLEY et al., 2008), Venezuela (SUKSAWAT et al., 2001) e Brasil (SANTOS et al., 2009). A aplicação de técnicas moleculares é importante, pois permite determinar a espécie presente e co-infecções transmitidas pelos carrapatos (INOKUMA et al., 2003). Dentre estas técnicas, a PCR (gene dsb) e a nested-PCR (16S rRNA), realizadas por Labruna et al. (2007) e Nakaghi et al. (2008), demonstraram ser as 41 duas adequadas ao diagnóstico da EMC; no entanto, a nPCR é a única capaz de diferenciar as espécies de Ehrlichia spp. A freqüência de cães positivos pela PCR obtida neste estudo pode ter sido subestimada, uma vez que a amostra analisada (sangue total) não é adequada para cães que se encontram na fase subclínica da doença, devido à baixa bacteremia. Ao avaliarem concomitantemente a sensibilidade desta técnica com amostras de diferentes órgãos, tais como baço, medula óssea e sangue, Harrus et al. (2004) constataram maior sensibilidade da técnica quando utilizadas amostras esplênicas, o que pode ser explicado pelo fato de o baço ser o órgão que alberga o parasito antes de sua eliminação do organismo. Dessa forma, mesmo com uma sensibilidade reduzida em amostras de sangue total a PCR aumentou consideravelmente a sensibilidade de detecção de Ehrlichia spp. quando confrontada aos resultados observados através do diagnóstico direto (Tabela 04), e do ponto de vista prático o diagnóstico realizado através do sangue apresenta maior praticidade quando comparada com as amostras dos demais tecidos. Bulla et al. (2004) confirmaram através da PCR que 84,1% dos cães com trombocitopenia eram positivos para E. canis, enquanto que Macieira et al. (2005) encontraram uma freqüência de 32,1% de positividade em cães trombocitopênicos do Rio de Janeiro, resultado semelhante ao observado neste estudo e ao obtido por Dagnone et al. (2003), onde apenas 19,7% dos cães com trombocitopenia apresentaram-se positivos para E. canis através deste método de diagnóstico. Tabela 04. Correlação entre as provas de detecção em lâmina e na PCR para diagnóstico de Ehrlichia spp. PCR Diagnóstico direto Total Total Positivo Negativo Positivo 04 00 04 Negativo 09 32 41 13 32 45 42 M 1 2 3 4 5 6 7 800 pb Figura 04. Amplificação por PCR do gene dsb em amostras de sangue total obtido de cães trombocitopênicos atendidos no HVH em Recife-PE. Onde: M: marcador de massa molecular 100 pares de base (Ludwig biotecnologia); Linha 1: controle positivo para Ehrlichia spp.; Linha 2-5: cães positivos para Ehrlichia spp.; Linha 6: cão negativo; Linha 7: controle negativo. 43 5- CONCLUSÕES Este trabalho permitiu concluir que as alterações clínicas e hematológicas observadas nos cães com infecção por E. canis e A. platys são bastante inespecíficas, assim como não há predisposição etária, sexual ou racial. Manifestações clínicas como apatia, anorexia, letargia e febre devem ser consideradas na suspeita da erliquiose canina, assim como de outras enfermidades. Pôde-se observar que a trombocitopenia é um achado freqüente, mas não exclusivo da doença, podendo aparecer em diversos quadros nosológicos, indicando, portanto, a necessidade de um exame mais detalhado do paciente. A realização do diagnóstico direto desses parasitos através de esfregaço sanguíneo realizado preferencialmente a partir de sangue periférico, deve ser realizado, mas com bastante critério, devido à possibilidade de confusão com inclusões intracelulares inespecíficas, mostrando-se menos sensível que a PCR, que conforme os dados aqui apresentados indicam ser uma importante ferramenta no diagnóstico da erliquiose. A presença dos sintomas aliado à avaliação laboratorial pode nos direcionar, possibilitando um diagnóstico correto da doença e um tratamento eficaz. 44 6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, D.M. et al. Diagnóstico sorológico de erliquiose canina com antígeno brasileiro de Ehrlichia canis. Ciência Rural, Santa Maria, v.37, n.3, p.796-802, 2007. 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