Índice
ÍNDICE JUNHO
A GUILHOTINA
Coletivo Guilhotina
Índice
04. Editorial
Segurem as cabeças – Coletivo Guilhotina
05. Cultura
Revista A Guilhotina.
Todos os direitos reservados © 2015
Expediente
Editores: Henri Sardou e Hebert Terra
Gaban
Conselho Editorial: Emerson Rodrigues;
Fábio De’Rose e Juan Araújo
Cooltura – O início de tudo – Luis Fosc
06. Pensamentos
Sem Cartola – Combinamos alguma coisa antes daqui? – Ben Ludmer;
Paul sem Jack - Código Cultural – Paul Friedericks;
As Visões de RA – Ego do mágico – Ramon Amaral;
Eu acho que eles escutam – Juan Araújo;
Palavras Mágicas - Quem é a mágica brasileira? – Rossini
Percepção em Perspectiva - “Convencer” e “Acreditar” – Guilherme Ávila
Realimágica - Palestras mágicas. Moda ou opção de carreira? – Janderson Santos;
Lâminas de Criatividade - Se alimentar de mágica – Emerson Rodrigues;
15. Capa
Uri Geller: fato ou flexão – Coletivo Guilhotina;
Entrevistamos – Uri Geller Chegou Lá – Fábio De’Rose;
27. Divagações
Perguntas impossíveis, respostas bem prováveis. – Juan Araújo;
30. História - Do fundo da Cartola
A GUERRA DAS VARINHAS – Rivalidades históricas entre os mágicos. –
Leonardo Glass;
33. Academia – Passo a Passe
May the force be with you – Daniel Prado;
Reflexo 2.0 – Emerson Rodrigues;
36. Avaliamos – Na ponta dos dedos
Automata, por Gary Jones e Chris Congreave. – Emerson Rodrigues;
Tom Wright Stand Up Magic. – Emerson Rodrigues;
Split Second, por Nicholas Lawrence – Emerson Rodrigues;
39. Acontecimentos – Eu fui
O dia em que não fui ver o Quik Marduk – Henri Sardou
40. Acontecimentos – Fakes
Relatos e Boatos – G. massimo;
41. Cruzadas
42. Humor - Tirinhas
Diagramação: Leonardo Correia
Projeto Gráfico: Coletivo Guilhotina
Foto da capa: Mark Hemsworth
Redação: [email protected]
Departamento comercial: comercial@
aguilhotina.com Assinaturas: assine@
aguilhotina.com.
As opiniões expressas pelos colaboradores
não necessariamente refletem a opinião
editorial da revista.
Recado da Rainha
Coletivo Guilhotina
SEGUREM AS
CABEÇAS
Você está sendo convidado a participar de uma conspiração.
Uma inconfidência em favor da arte mágica, especificamente.
Mas não na acepção negativa da palavra, que é traição.
Ao contrário. Inconfidente no sentido daquele que não
confidencia, entretanto expõe sua opinião, intenção, ou trama
contra algo por um ideal coletivo. Nesse caso tramamos
contra os ignorantes. Os que não lêem, que não aprendem,
os pequenos. Os que só fazem repetir, replicar, copiar e
não percebem que assim estão diminuindo uma arte que
é imensa, se não for a maior, pois une várias vertentes
artísticas numa coisa só: Ilusão.
Pensamos em criar uma revista nova para mágicos, mas
sem apresentar mais do mesmo. Uma publicação orientada
para o conteúdo e voltada para a correção de vícios e
problemas que infelizmente relegam a mágica hoje a um
patamar desvalorizado no campo das artes. Precisamos
de cada vez mais mágicos com apuro estético e vocação
artística, que tenham emoções a transmitir, pensem,
proponham. Não que sejam replicantes disputando espaço
com animadores de festa, brigando pra ver quem tem
o show mais barato da cidade. Somente assim teremos
chances de sermos respeitados pela mágica que fazemos
aqui no Brasil.
Uma guilhotina é um espetáculo que vai do horror à
gargalhada. Dá medo, sua lâmina mata, mas também diverte
se estiver nas mãos de um bom artista. É, ainda, um dos
símbolos da Revolução francesa, servindo bem ao que nós,
abnegados, estamos nos propondo a fazer daqui em diante:
uma revolução. Não pegaremos em armas, mas usaremos
a melhor munição que existe: a informação. Papel, tinta,
megabytes, e uma torrente de ideais.
Dentro disso, A Guilhotina será um apanhado de
pensamentos, acontecimentos e comentários do cotidiano
da mágica, escrita de uma forma moderna, apelando para
o bom-senso, algumas vezes de maneira séria, outras
com irreverência e ironia, mas sempre com propriedade e
isenção. A partir de agora estaremos aqui para lutar contra
a ignorância e a barbárie na Arte Mágica, informando,
entretendo e clamando por cabeças.
Você vem conosco?
04
EDITORIAL JUNHO
A GUILHOTINA
COOLTURA
CULTURA JUNHO A GUILHOTINA
Luiz Fosc
Abertura Promenade
O início de tudo
Desde que soube do {re}surgimento da revista “A
Guilhotina” e tive o convite para compor este projeto com
a sessão cultural, ideias borbulharam em minha mente com
relação à gênese, ao início, o “algo novo” surgindo. Afinal,
a revista é uma ideia completamente inovadora nas terras
tupiniquins, e não posso negar que é bastante audaciosa
também. Fiquei filosofando por um breve momento,
imaginando o que seria uma matéria de abertura ideal para
este projeto tão especial para a Arte Mágica. Pensei uma
maneira legal de dar as “boas vindas” aos leitores, e também
cativar a atenção de todos com
este novo projeto...
e tentar focar no “inicio” de tudo. Este pensamento me
remeteu a uma peça que tive o prazer de assistir 2 vezes:
ambas as apresentações foram para abrir a temporada
de concertos de 2012 e 2015, respectivamente. A peça é
intitulada “Abertura Promenade”, de John Corigliano, e
desta vez tive a plena convicção de que se tratava sim de
uma peça que retrata “o início”: o palco se inicia vazio,
apenas com o maestro regendo o “nada”, e ainda nas coxias,
os metais anunciam o início dos trabalhos. Os músicos vão
adentrando o recinto enquanto tocam seus instrumentos e
aos poucos o cenário vai se compondo, e a orquestra vai se
completando. Original, não é mesmo? Diria que sim, se não
fosse a obra na qual foi inspirada...
Este pensamento, no entanto, me trouxe uma
lembrança: um concerto de música clássica que fui há uns 2
anos. Este, ironicamente, encerrou com a música “Abertura
Solene 1812” (Overture 1812 – op. 49) do fabuloso
Tchaikovsky. Sentado na plateia, naquele momento, confesso
ter estranhado um concerto ter em seu encerramento uma
música de abertura. Mas à medida que a música ia se
desenvolvendo, pude perceber a genialidade do compositor
em “dissertar” sobre este paradoxo que tanto me assolava:
afinal, é o início ou o fim? Aqueles pensamentos estavam
cada vez mais latentes em minha mente no decorrer de
toda a apresentação, e a todo o momento percebia os
elementos da “gênese” não como “início”, mas sim como
um “renascimento”, os quais me fizeram refletir ainda mais...
Corigliano se inspirou no compositor Haydn,
na obra intitulada “Sinfonia do Adeus”, que geralmente é
escolhida para encerrar um concerto, uma vez que, durante
o último movimento, os músicos vão deixando o palco
gradualmente, restando apenas 2 violinos para terminar
a música em um palco vazio. Mas ainda assim estava
convencido de que a música de Corigliano deveria ser
analisada de forma independente, e apesar da inspiração, não
invalida o fato de ela ser “o início”. Mas mal sabia eu que
os primeiros acordes executados pelos metais de Corigliano
eram na realidade os últimos 5 compassos da “Sinfonia do
Adeus” de Haydn de trás para a frente... Genial, para não se
dizer o contrário.
Curiosamente, esta peça de Tchaikovsky foi
composta para a abertura da Exposição Universal das
Artes, realizada em Moscou no ano de 1882. Se for levar
em consideração que a mágica, bem como é chamada, é
“a rainha das artes”, esta música seria sua trilha sonora.
E desta vez não digo que seria apenas a trilha sonora de
abertura, mas sim do seu ciclo enquanto arte: a abertura da
exposição coincidiu com o aniversário de coroação do Czar e
consagração da Nova Catedral em 1882 {início}, erigida para
comemorar o fracasso da invasão de Napoleão Bonaparte
à Rússia, em 1812 {fim}. Ou seja, uma nova era, um novo
começo, repaginando e reinventando o que outrora era
inadmissível (a obra contrapõe o hino da Rússia e o hino da França, com fragmentos do folclore russos temas religiosos).
E a contraposição é mais que evidente (e, aparentemente
“contraditória”) inclusive em seu título, visto que a “Abertura
Solene 1812” foi criada para um evento em
1882, e o que era o início passa a ser o final,
e o ciclo se completa...
De toda forma, me esforcei para “superar” os
canhões ao final dessa belíssima obra de Tchaikovsky,
Sendo assim meus caros amigos e leitores, fico confuso
com o que devo chamar de “inicio” e como dar as boasvindas a este novo projeto. Afinal, esta revista seria uma
repaginação do que já existe ou o “renascimento” de algo
que supostamente ainda não foi inventado?
De toda forma, devo finalizar meu texto (ou inicia-lo) com
uma simples reflexão: Abram a cabeça para novas artes e
culturas! Metanóia já! A mágica é um ciclo completo, pois
engloba todas as artes. As melhores ideias mágicas provem
de reflexões advindas de outras artes como a música, o
teatro, o cinema, etc. E por causa disso eu digo que “A
Guilhotina” veio para ficar! Hoje a mágica brasileira ganha
um presente do mais alto padrão, de modo que uma nova
era se inicia: analisar a arte mágica com o respeito que ela
merece, de modo a não fazermos apenas “truques”. E devo
dizer que me sinto honrado em desfrutar disso com
vocês, meus caros amigos leitores, e espero que vocês se
deleitem com a preciosidade de conhecimento contido
nesta revista tanto quanto eu o farei... Pensar fora da
caixa, isto é, cooltura! Um grande abraço a todos!
Fosc
Luiz Fosc, é amante de um bom vinho, magica,
música e cinema...
05
SEM CARTOLA
PENSAMENTOS JUNHO A GUILHOTINA
Ben Ludmer
Combinamos alguma coisa antes daqui? Não?
Então bem que a gente podia combinar de fazer
umas piadas mais originais... Mas o humor, caros colegas,
é a nova igreja evangélica, é a nova palestra, é o novo
Herbalife. É a falsa promessa do sucesso, é a resolução dos
seus problemas. E 98% dos mágicos brasileiros hoje se
vendem como humoristas, comediantes, improvisadores e
a lista segue. Muito louvável. Só falta um detalhe mínimo,
como que chama mesmo? É algo religioso, que muitos
rezam pra alcançar. Ah sim, graça! Mas onde consegue
isso? Será que tem no Seiji? Ah, qualquer coisa eu peço
pra um amigo do primo do meu vizinho mormon que mora
em Utah comprar na Penguin e mandar pra mim. Espero
que não tenha muito imposto na alfândega, será? Mas deve
custar mais de 50 dólares, não vejo muita gente com esse
gimmick por aí. Tem até um pessoal que deve ter comprado
no Ali, mas parece que o gimmick é grande demais pras
mãos, parece uma roupa de tamanho diferente.
Perdão, do que falávamos? Ah sim, o humor. E a
graça. Acabei de ler um artigo que está proibida a venda
da graça. Muito menos de graça. A graça custa caro.
Custa horas de estudo, horas de palco, e pra usar bem é
necessário ter um hold out, que precisa de movimentos
orgânicos e precisos, se não prende na manga. Parece
técnico, mas não é. É natural. Já vi uns caras que tem isso,
Mac King usa no show, Tamariz usa bastante, o Max Maven
não gosta muito, mas tem, acho que o nome é carisma.
Ah, mas acabei de ler aqui, também não está a venda. Que
pena, queria muito colocar no meu número de mentalismo
religioso para shows em festa de criança.
Na verdade eu não faço mentalismo, e também não
faço show em festa de criança. Religioso? Também não. Mas
tenho minhas cartas na manga, literalmente. Baralho em festa
de criança é tiro certo. Essa crianças de hoje adoram funk,
também devem beber, fumar e jogar. Não posso decepcionar
meus clientes que me viram fazendo mágica pra minha
família na formatura do ensino fundamental da minha prima
de segundo grau, finalmente consegui distribuir 12 cartões de
visita. Quando me ligaram ontem eu nem acreditei, e o show
é daqui a dois dias, então ainda tenho bastante tempo para
me preparar e fazer umas mágicas novas.
Vou fazer mentalismo com bolas de espuma, e quero fazer
aquele lá das facas debaixo dos copos, mas como é festa
infantil vou usar facas de plástico. Onde que dá pra aprender
umas gags religiosas? Ah já sei, vou ver uns stand ups
no youtube e usar as piadas, afinal eu sou mágico, não
comediante, então dá pra dizer que nesse contexto as piadas
são originais. E antes que eu me esqueça... Quanto dá pra
cobrar nesse show?
Ben Ludmer é mágico, ator, comediante, humorista
e fã da Disney.
06
PAUL SEM JACK
PENSAMENTOS JUNHO A GUILHOTINA
Paul Friedericks
Código Cultural
Queridos colegas infectados pelo misterioso vírus da Arte
Mágica. É com a maior honra do universo, que decido
participar e embarcar nesse ousadíssimo projeto chamado
Revista A Guilhotina. Simplesmente, amei este nome!
Guilhotina me remete à França, no século XVII, período de “O
Grande Medo”, com milhares de cabeças sendo decapitadas
por julgamentos de calúnia, inveja e “safadezas”.
Enfim! Falando do passado, não vejo a hora de meus
filhos começarem a estudar a medíocre versão europeia da
história por mim desconhecida do nosso país (fui alfabetizado
justamente na França, e estudei a nossa história do lado de
lá do Oceano Atlântico). Gosto do clichezão: “Olhar para o
passado e tentar prever o futuro.” Quero voltar a estudar com
meus filhos para tentar decifrar mais algum enigma do tão
sonhado código cultural artístico do nosso país.
“Paul... Chega de blá, blá, blá.
Chega desse papinho todo coxinha
para um primeiro artigo. E me
fale sobre close-up, criatividade e
marketing para mágico.”
Respire fundo, meu amigo. Isso tem absolutamente
tudo a ver com mágica, criatividade e, principalmente,
marketing. Tudo!
O Código Cultural é um dos melhores livros
que já tive o prazer de ler. Seu autor, Dr. Clotaire Rapaille
(multimilionário), presta serviço a grandes empresas de todo
planeta, para decodificar o código cultural de determinados
países. Com isso, essas corporações conseguem adaptar os
seus produtos e filosofias à cultura da região, com muito mais
foco e precisão. Essa estratégia, por exemplo, me permitiu
acrescentar em meus espetáculos personagens caricatos
(Brasil, país do Carnaval, com referências fortíssimas de multi
personagens na televisão brasileira: Chico Anysio Show, Viva o
Gordo, Os Trapalhões, etc.).
Observei, imediatamente, um sucesso no resultado do
meu show. Os espectadores se sentiam mais animados, mais
familiarizados com esse humor caricato adicionado às mágicas.
Infelizmente, ainda hoje vejo mágicos sendo decapitados
em nosso país com vestimentas de outra era (fraque),
apresentando efeitos defasados, textos dramáticos e que não
tem a menor conexão com o público brasileiro.
Convido você, caro leitor mágico brasileiro, a
primeiramente observar atentamente o país em que vivemos:
- Quais atributos, além de
futebol, novela, praia, samba e
carnaval, possuímos?
- Quais peças de teatro ou
programas de televisão fazem
mais sucesso, e porquê?
- E, finalmente, quais macro
adaptações você poderia fazer
em seu show que, possivelmente,
refletiriam no sucesso
do seu espetáculo?
Paul Friedericks é mágico integrante da dupla “Paul
e Jack”, Palestrante e em 2014 ganhou o Prêmio
Julio Lipan de Excelência em Artes Mágicas.
07
AS VISÕES DE RA
PENSAMENTOS JUNHO A GUILHOTINA
Ramon Amaral
Ego do mágico
Há quem diga que livrar-se da vaidade é impossível.
Outros dizem que a maior arrogância possível é dizer que
já se livrou completamente dela. Não estou falando sobre
ir ao salão de beleza e fazer as unhas. Em uma publicação
sobre mágica, penso ser pertinente colocarmos este assunto
em pauta, porque o mágico, com sua aparência de superpoderes, assume uma das figuras mais vaidosas possíveis.
Dizem que primeiro o performer ganha a “pose”, só depois,
às vezes, faz por merecê-la. Os mágicos representam
“espertalhões”, homens que dominam as leis naturais, que
controlam o comportamento de outras pessoas e influenciam
suas escolhas. Peço que não leia este texto como uma
análise definitiva sobre o assunto, até porque se eu tivesse
este desejo, isso seria muita prepotência minha. Minha
intenção é provocar reflexões sobre este tema que tanto me
agrada e que tenho prazer em pesquisar o que os grandes
pensadores da história deixaram registrado. O desejo de
brincar de Deus. Talvez seja esse o princípio básico que
leva uma pessoa a querer se tornar um mágico. Que criança
não teve vontade de voar como o Super-Homem? Quando
o David Copperfield voa, a maioria dos mágicos gostaria de
estar no lugar dele. A ânsia pelo poder, talvez revele o motivo
de muitos terem virado mágicos.
O ser humano é competitivo por natureza. Esporte,
carreira e relacionamento, são áreas que mostram bem isso.
Na arte mágica, existe uma competição, mesmo que não
revelada, entre mágico e plateia. Nos remete aos gladiadores
que precisavam provar que são mais poderosos que a
maioria para sobreviver e, até mesmo, para justificar suas
presenças na arena. Quem se arrumaria e sairia de casa para
assistir uma pessoa comum fazendo coisas comuns? No
circo, os artistas desafiam os limites humanos demonstrando
força, destreza e controle quase impossíveis aos olhos
do leigo. Isso fascina. Fascinação pode ser interpretada
como: dominar por encantamento; atrair irresistivelmente;
deslumbrar; seduzir. A maior vaidade do ser humano é a
inteligência, porque ela nos diferencia dos outros seres
vivos. O mágico desafia a inteligência do público. Sabemos
que muitos mágicos sentem uma satisfação oculta em
iludir, quase como vilões. Temos que admitir que o discurso
de levar alegria e encantar de forma totalmente altruísta,
é bonito, mas esconde malícias ocultas inerentes ao ser
humano. Mesmo que isso seja verdade, levar alegria também
faz bem para quem apresenta e, em alguma interpretação,
isso poderia ser considerado um comportamento egoísta.
A mágica cria um nó na garganta, deception (engano), que
mesmo erroneamente traduzo como decepção. Quem gosta
de ser enganado? Muitos de nós. “Me engana que eu gosto”.
Ser enganado na vida real é duro, mas quando o assunto é
arte performática, quando há consentimento, é agradável.
08
A diversão supera os meios usados para alcançála. O ser humano médio é movido pela ânsia em obter
prazer e por evitar a dor. Muitas vezes, na mágica, o
prazer do encantamento supera a dor da dúvida. Muitos
mágicos desejam fazer parte do “seleto grupo dos
mágicos famosos” para conquistar vantagens e para
“tirar uma ondinha”, talvez por ter tido o ego ferido em
algum momento, seja por bullying ou por insatisfação
com a própria realidade. Alguém que anseia aplausos e
reconhecimento da opinião pública tem propensão ao
egocentrismo. O termo “massagem no ego” é percebido
como algo bom por muitos. A expressão “ego inflado”
corresponde a uma ilusão em acreditar ser maior do que
de fato é. Segundo a psicologia podemos descrever o ego
como o aspecto racional da personalidade responsável pelo
controle dos instintos. Eu, humildemente, interpreto o “eu”
como uma espécie de entidade fictícia, criada por opiniões
alheias, cultura, criação, fatores sociais e identificadas como
reais pela própria pessoa. Existe a defesa que somos o
observador, a presença. Quando nos libertamos dos nossos
pensamentos (meditação), neste momento somos, de fato,
nós mesmos. Nesta era de exposição massiva e julgamentos
alheios, o que no passado seria invasão de privacidade
tornou-se evasão de privacidade. A fama está mais
desejada do que nunca. Quem não é visto não é lembrado.
O criminoso some por um tempo até a poeira baixar. O
artista quer mais é levantar poeira, já dizia a Ivete Sangalo.
O psicoterapeuta e autor de best-sellers Wayne W. Dyer,
propõem alguns comportamentos interessantes:
5. Liberte-se da sua
necessidade de ter mais. O
mantra do ego é mais. Nunca
está satisfeito.
6. Deixe de se identificar
com base nas suas
realizações. Este pode
ser um conceito difícil se
1. Pare de se sentir ofendido. você pensar que é as suas
O comportamento dos outros realizações.
não é uma razão para ser
7. Liberte-se da sua
imobilizado.
reputação. A sua reputação
2. Liberte-se da sua
necessidade de vencer. O
ego adora dividir-nos em
vencedores e perdedores.
3. Liberte-se da sua
necessidade de ter razão.
O ego é a fonte de imensos
conflitos e dissensões
porque o empurra na direção
de fazer dos outros errados.
4. Liberte-se da sua
necessidade de ser superior.
A verdadeira nobreza não
tem a ver com ser melhor do
que ninguém.
não está localizada em si.
Ela reside na mente dos
outros. Portanto, você não
tem controle total sobre ela.
Eu, modestamente, enumero: gratidão,
contemplação da natureza, observação sem julgamento,
autocomplacência e humildade para entendermos que não
somos melhores do que ninguém, nem piores. Somos parte
de um sistema onde estamos todos ligados e que as nossas
ações refletem no grupo, seja por questões místicas ou
naturais, tanto faz. Acreditem em mim! Aceitem tudo que
escrevi! Engulam sem mastigar! Quem vos escreve não é
apenas um mágico, e sim, a personificação do Deus Ra.
Ramon Amaral é um profissional multidisciplinar. Além
de ilusionista, ele é ator, diretor artístico, analista de RH,
palestrante, visagista e consultor de segurança pública.
09
EU ACHO QUE...
Juan Araújo
Eles escutam
Eu acho que muitas vezes nós não percebemos o
poder que nossas palavras podem ter enquanto estamos
apresentando mágica. Alguns anos atrás eu estava participando
do espetáculo Mágicos do Sul que apresentamos todos os
anos durante um festival de teatro aqui em Porto Alegre.
No final, quando estávamos recebendo os
cumprimentos e conversando com alguns espectadores, uma
mulher que estava junto com sua filha de aproximadamente
10 anos me disse o seguinte: “Aquilo que você falou me fez
pensar, porque hoje eu tenho um trabalho onde ganho muito
bem, mas não era isso que eu queria fazer da minha vida, não
era meu sonho, eu tenho uma tranquilidade financeira, mas
não me sinto feliz no que faço. E não quero isso para minha
filha, quero que ela faça o que realmente a deixe feliz.” Em
primeiro lugar devo confessar que assim que ouvi “Aquilo
que você falou me fez pensar...” eu já tive o impulso de sair
procurando pelos meus colegas Eric Chartiot ou David Medina,
porque ela só podia estar fazendo confusão, afinal nada
que eu falo em minha apresentação tem esse objetivo,
fazer alguém pensar.
Como eu estava fazendo o papel de Mestre de
Cerimônias não consegui identificar imediatamente a que
momento ela estava se referindo, mas deixando ela falar mais,
percebi que era por causa de uma rotina onde falo de como
decidi me tornar mágico. É uma história totalmente fictícia e
não tem nada no texto que almeje algo nobre ou profundo,
como falar da beleza de uma criança descobrindo a mágica, ou
da busca pela minha vocação. Nada disso, apenas precisava
de algo para falar e que arrancasse algumas risadas enquanto
estaria lá cortando e restaurando um pedaço de corda, essa
é a verdade. Mas para aquela mulher naquele dia, a história
tocou em um ponto importante da vida dela. Não planejei isso,
não busquei isso, mas admito que achei fascinante perceber
esse poder que podemos exercer. Pois é, pelo visto as pessoas
muitas vezes realmente nos escutam e refletem sobre o que
falamos. Quem diria não é mesmo? E agora o que fazer com
essa grande descoberta? Em primeiro lugar tomar consciência
e refletir sobre o que nossas palavras e ações no palco
podem representar e se é isso mesmo que estamos querendo
transmitir. Não estou falando aqui de transmitir alguma
mensagem, ser filosófico, nada disso, só de nos preocuparmos
se nossas palavras são coerentes com a imagem que achamos
que passamos aos outros. Por exemplo: “Ei mágico, você faz
aparecer dinheiro?” Ou então “Diz aí quais são os números que
vão sair na mega sena?”, levanta a mão quem já respondeu
perguntas desse tipo com “Se eu fizesse isso mesmo não
estaria aqui trabalhando”. Ah vamos lá, entra na brincadeira,
levanta a mão aí amigo. Eu já, muitas vezes. Eu odeio meu
trabalho de mágico e estou ali por que não tenho outra
alternativa? É essa a imagem que quero realmente transmitir? 10
PENSAMENTOS JUNHO A GUILHOTINA
Já sei, é só uma piada, e as pessoas percebem isso,
não vão levar a sério. Sinceramente, acho que cada pequeno
detalhe de nossa apresentação vai reforçando aos poucos a
maneira como nossos espectadores nos percebem, mesmo
que essa percepção seja “é alguém totalmente perdido,
incoerente, que não decide que tipo de personagem é”.
Nada que você diga e faça durante uma
apresentação é neutro, ou tem impacto positivo em relação
à ideia que pretende transmitir ou tem um impacto negativo.
Então fica óbvio que antes de mais nada precisamos saber
que imagem queremos projetar para nosso público. Quem é
seu personagem? Do que ele gosta, por que ele faz mágica?
Como é a relação com o público? Essa consciência vai
influenciar totalmente no que você fará e dirá em cena. Seu
personagem é um cara alegre, simpático e gentil? Ótimo,
haja assim então. Mas tem aquela piada “Pode ficar do lado
da estrela. Eu sou a estrela” que é garantia de risadas, difícil
deixar de usar, não é? Eu também detesto ter que deixar
de usar aquela resposta para as perguntas de aparição de
dinheiro e números da mega-sena, mas é uma escolha que
temos que fazer. Deixando claro que em nenhum momento
quero dizer que piadas como essas não deveriam ser
usadas (na verdade não deveriam mesmo, mas por outros
motivos alheios a este texto). Alguém pode interpretar um
personagem para o qual essas piadas seriam perfeitas,
Harry Anderson seria um exemplo que me vem à cabeça
rapidamente, cada caso é um caso.
apenas falando um texto para acompanhar as suas ações
enquanto faz sua mágica. E depois disso, mudou muito a
apresentação das minhas mágicas? Quase nada, como eu
disse, é muito mais fácil falar do que fazer, até hoje tento
aos poucos dizer algo, mas por algum motivo quando temos
a ajuda da mágica para nos escondermos por trás dela
temos a tendência a ficar nessa posição confortável. É um
processo lento, em meu caso muito lento. Mas pelo menos
é reconfortante saber que quando estivermos dispostos e
consigamos dizer algo através de nossa mágica, as pessoas
estarão lá para escutar, e com muita atenção.
A parte mais difícil é realmente saber que imagem
você quer projetar, tendo essa consciência fica muito fácil
ser sincero com você mesmo e saber que ações e textos lhe
ajudarão a transmitir isso, e mais importante, não atrapalhar
em seu objetivo. Bom, mas sabendo desse poder que temos
à disposição, de que as pessoas realmente nos escutam,
parece até um desperdício não aproveitarmos melhor não
é verdade? Passada a fase que não iremos falar e/ou fazer
nada que vá contra o que pensamos ou contra a imagem que
projetamos em cena, poderia chegar o momento de usar isso
para falarmos algo realmente.
Eu sei, é muito mais fácil falar do que fazer, eu que
o diga. Alguns anos atrás eu me aventurei a fazer Stand Up
Comedy por um tempo, falhei miseravelmente, mas deixando
esse pequeno detalhe de lado vamos ao que tirei de positivo
dessa experiência.
No momento em que não tinha como me esconder
atrás das cartinhas e da cordinha cortada me senti com a
real necessidade de falar algo, algo verdadeiro, não reclamar
de viagens de avião e falar sobre relacionamentos (é, os
“standapeiros” também têm suas cartinhas e cordinhas
cortadas) e foi uma experiência muito interessante perceber
que as pessoas estão dispostas a ouvir. Ok, no meu caso
elas pareciam dispostas apenas a ouvir mesmo e não a rir, o
que não ajudou muito a minha breve carreira de comediante
Stand Up. Mas isso me fez perceber como é muito mais
gratificante estar no palco dizendo algo mesmo, em vez de
Juan Araújo é mágico profissional e Presidente da
Associação dos Mágicos do RS.
11
PALAVRAS MÁGICAS
PENSAMENTOS JUNHO A GUILHOTINA
Rossini
Quem é a mágica brasileira?
Um artigo com esse título poderia ter várias
abordagens. Poderíamos traçar uma longa linha
de períodos e influências... Elementos que foram se
agregando e amalgamando até os dias atuais...
Poderíamos procurar mostrar como as
principais escolas e influências da mágica em cada período
dialogaram, interagiram e intercambiaram com o Brasil
e através de quais veículos. E seria sem dúvida um tema
interessante para um livro ou dois; um dos quais já em
elaboração. Dar a conhecer ao leitor brasileiro desde o
ambiente cultural colonial e dos mágicos aqui atuantes,
a forma com a qual interagiam com a sociedade, os
formatos de espetáculos da época imperial e suas
claras conexões, felizmente muito bem documentadas.
Embora pouco pesquisadas.
Como tudo isso se amalgamou no que havia
no início do século XX e fins do século XIX e dialogou
com um ambiente cultural da mágica profundamente
internacionalizado. Dar a saber sobre Janus Bartl, De Vere,
Herrman, os grandes espetáculos teatrais e circenses.
Um universo que muito poucos conhecem, mas que é
maravilhoso quando mergulhamos em sua busca. Herrmann
e a inserção de seus postulados no Brasil, primeiro por
sua própria presença e depois pela obra literária, dentro
da corrente filosófica pela literatura de Costa Brito. As
interações internacionais de Peixoto e a forma que não
apenas o seu empreendedorismo gerou frutos no Brasil,
mas sobretudo também no exterior, algo muito pouco
conhecido, porém de grande relevância para o panorama
mundial da mágica nos tempos atuais. Poderíamos ainda
nos debruçarmos a criticar colegas de profissão, nossa
coletividade, nosso legado. Isso em um discurso niilista e
que se pode fundamentar em muitas coisas, inclusive em
desconhecimento sobre o legado de nossos antepassados.
O legado de nossos mestres nascidos ou não no
Brasil. Mas que aqui atuaram e deixaram as suas marcas
e influências. Afinal “para que” aprender com o legado de
nossos queridos mestres, quando alguém se julga superior
a aqueles que protagonizaram uma realidade mágica no
Brasil diferente: Na qual o mágico era respeitado e admirado
como um cavalheiro. Um tipo de artista identificado com
a sofisticação, a educação o refinamento, o respeito, o
encanto e o bom gosto? Que espaço existe para isso na
abordagem de quem despreza o legado de mestres de uma
era onde isso não era um objetivo distante a ser perseguido,
mas sim a realidade que presenciaram e protagonizaram
aqueles artistas?
Poderíamos ainda, abordar aspectos de mercado, conteúdo,
formatos, perspectivas e até mesmo comparações ou
12
julgamentos de valor, desempenho cênico dos artistas que
aqui estão e resultados daqueles que, com coragem,
mostram a mágica brasileira no exterior. E a receptividade e
reconhecimento que acabam por encontrar. E assim traçar
um retrato contemporâneo. Todavia o que podemos chamar
de mágica “brasileira” face a universalidade da arte? E o
que é a mágica “brasileira” face às diferenças que não
são apenas regionais na cultura de nosso país? Ou nas
diferentes culturas... Mas que vão muito além disso:
Repousam nas características do trabalho de cada artista.
Sim... o artista. Chegamos no ponto.
Comumente vejo ou leio discursos salvíficos.
Pessoas, acreditando-se capazes de uma missão
redentora... Tal como anjos com uma espada flamejante
apontada para o que supõem ser os defeitos só
encontrados aqui e chamando-os de “a mágica brasileira”
ou “os mágicos brasileiros”. A mágica, por sua natureza,
não é uma arte que se move com maledicências verbais. A
boa notícia é que ela se move com ações corpóreas, físicas,
artísticas e amparadas pelo intelecto positivo a serviço
dessas ações práticas.
A mágica queira chamá-la de brasileira, universal
ou de qualquer outra coisa é uma arte de ato. Uma arte de
ações corpóreas sem as quais todo pensamento se reduz a
nada. Portanto mexa-se! Você não vai se tornar um mágico
melhor falando mal de seus colegas de profissão. Você
jamais se tornará um melhor representante da mágica que
você entende como brasileira sem fazer, você mesmo,
algo muito bom. Algo que te coloque em um grau de
excelência não somente entre seus colegas brasileiros, mas
eu um patamar artístico que possa falar ao coração e às
emoções do Ser Humano, seja ele brasileiro, vietnamita,
alemão ou senegalês. Lembre-se: A arte é universal.
Brasileiro pode ser você. Leon Tolstói, o universal escritor
nos ensina: Se queres ser universal, começa por pintar a
tua aldeia. Chaplin, o universal palhaço e ator nos ensina:
A persistência é o caminho do êxito. A vida é maravilhosa
se não se tem medo dela. Shakespeare afirma: Deixar para
amanhã, acaba mal. Stanislavski nos diz: Ame a Arte que há
em você. Não você na Arte. A pergunta é: O que você está
esperando? Vá no espelho e se olhe. Estude, crie e
trabalhe seus movimentos. Procure a arte que há em você...
A arte é universal... Você talvez seja brasileiro... Talvez
não... Mas entenda que o espírito humano não
tem fronteiras. Entenda que o mundo é muito grande
e ao mesmo tempo muito pequeno. E as pessoas estão
ávidas por contemplar o belo, o intrigante, o curioso, o
engraçado e não importa que nacionalidade elas tenham. E
acima de tudo: Não devem ser idolatradas e nem tampouco
diminuídas por serem de um país ou de outro.
Ouça os mestres independente do país que tenham
nascido inclusive se esse país se chamar Brasil. Aprendi
muito mais aqui do que a maioria pode imaginar. Desde
a girada de cordas de Travessoni, ao sonoro de cartas de
Pinter, as histórias de Yang a respeito de Carbel e seus
números assim como a era dos cassinos e do Teatro de
Revista. Aprendi com mestres mágicos daqui muito da
estética de aparelhagens das melhores casas europeias da
primeira metade do século XX.
As técnicas de joalheria e relojoaria a serviço da
mágica. Conhecimentos de repuxamento e moldagem de
metais. As grandes sacadas teóricas e práticas do Professor
Reis. Uso de materiais que eu sequer sonhava existirem com
Sesiom. Aqui eu pude ver em cena, e mais tarde adquirir em
um leilão, aquela Urna dos Dados Viajantes, desenvolvida
ao limite por Leony, e que alguém pode procurar o mundo
inteiro e não vai encontrar uma mais intrigante, mais
completa e nem com mais possibilidades. O interesse pela
história e memória da mágica com Bob Ricardo, Enio Finochi,
com os registros de Conde Ramsés e em tantos baús de
memórias de grandes mágicos que nos precederam. A
teatralidade e poder criativo a serviço da mágica, até os dias
atuais com Yago.
Olhe-se no espelho... olhe a qualidade do seu
trabalho. A mágica brasileira que está melhor ou pior que
outrora, melhor ou pior do que a que a de um digno
prosseguidor do legado mágico local e universal, pode ser
justamente a que está em você. E no seu caso é.
Então pare de buscar defeitos nos trabalhos de
seus pares. Prefira buscar suas próprias qualidades e ajudar
a quem precisa. Melhorando a si mesmo a mágica irá te
agradecer ; Pois a mágica é arte. que reside em você e que
se projeta no teu público. E perante essa desafiadora, frontal
e encantadora realidade, a mágica brasileira, nesse momento,
se é que pode-se colocar fronteira em uma arte, será
unicamente você e o trabalho que tem a mostrar.
E com ele também a luta incansável pela mágica,
na qual tenho como exemplo também o incansável, valoroso
e combativo Paladino. A elegância simples e misteriosa de
Vanick, a grandiosidade cênica de Zino nos picadeiros do
Circo Garcia. Os mágicos caracterizados como orientais que
povoavam nossos circos na minha infância na década de
setenta e que até hoje não me esqueço de seus números
maravilhosos... E a cada vez que lembro mais e mais nomes,
e de momentos de intensa contemplação cênica, vou me
sentindo mais e mais injusto por tantos outros mestres que
me foram fundamentais e que deixo com enorme injustiça
de mencionar aqui. Então olhe ao seu redor; mas olhe para
si. Busque sua verdade em cena; mas converse e acima de
tudo aprenda com os mestres. Faça com que a mágica seja
respeitada em seu ato cênico. Faça
com que a mágica progrida em seu universo e no que estiver
ao seu alcance. Seja um bom mágico.
Muito bom se conseguir...
Excelente se puder.
Pretender salvar uma arte que é universal, é bela, te deixou
um legado maravilhoso, caso queira estudá-lo e não
precisa de salvadores, pode ser uma tarefa muito além de
suas capacidades. Mas fazê-la cada vez melhor em cena
quase sempre estará ao seu alcance. Então que
tal começar pelo mais fácil? Melhore... E tudo ao seu redor
irá melhorar.
Vá... melhore-se; não deixe para amanhã... Vá agora mesmo
como ensina Shakespeare. Não tenha medo; como ensina
Chaplin.... Ame a arte que há em você, não você na arte;
como ensina Stanislavski... E acima de tudo, antes de tudo,
vá pintar a sua aldeia, como ensina Tolstói. Pois isso te fará
um bem muito maior do que pode imaginar
Rossini é mágico e pesquisador da Arte Mágica.
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PERCEPÇÃO EM PERSPECTIVA
PENSAMENTOS JUNHO A GUILHOTINA
Guilherme Ávila
“Convencer” e “Acreditar”
Um conceito importante e muito mencionado em
outros estudos teóricos da Arte Mágica é a distinção entre
“alguém estar convencido” e “alguém ter acreditado”. Em
obras escritas em língua inglesa, os termos usados são
convince someone e deceive someone respectivamente.
Penso que seja a base para a compreensão do papel
fundamental do mágico. No vocabulário cotidiano, esses
dois termos ---”alguém estar convencido” e “alguém ter
acreditado” --- provavelmente sejam quase sinônimos:
se você convenceu alguém de alguma coisa, você o fez
acreditar em alguma coisa. Quando se trata de mágica,
a semântica é distinta. Ao ler minha explicação, parecerá
uma diferença ínfima, porém na prática ela é enorme. Vou
procurar ser o mais claro e objetivo possível. Em 1969,
Henning Nelms, em seu livro Magic and Showmanship,
trouxe para o campo da mágica um conceito importante da
Teoria da Literatura, introduzido no século XIX por Samuel
Taylor Coleridge: Suspension of Disbelief. Traduzido ao pé
da letra, seria algo como Suspensão da Descrença. É tudo o
que um efeito mágico precisa fazer. Não se trata de fazer a
plateia acreditar naquilo que viu, mas parar de desacreditar;
parar de resistir, parar de se opor, para se deixar levar. Não
é que o espectador passe a “acreditar” que uma moeda
sumiu e sim que ele passe a se envolver a ponto de, naquele
momento, se deixar levar e se “convencer” de que viu a
moeda sumir. Lembre que não estou usando a palavra
convencer como sinônimo de “acreditar”. Aqui, “deixar-se
convencer” significa permitir-se o envolvimento e deixar-se
levar. A atmosfera mágica, como diria Arturo de Ascanio, é
extremamente importante para criar essa condição. Por outro
lado, ”acreditar” é bem diferente. O público “acredita” no
fenômeno quando ele realmente crê que o mágico é capaz
de fazer aquilo. Para ser mais claro, o público “acredita” na
mágica quando crê, incondicionalmente, que tudo que ele
viu é real e que o mágico possui, de fato, alguns poderes
paranormais. Nesse sentido, “alguém ter acreditado” é um
estado mais forte do que ``alguém estar convencido’’.
Diversas artes --- como o teatro, o cinema e a
ficção literária --- se baseiam em “convencer” sem fazer
“acreditar”. Ao ler um poema ou um romance, não estamos
acreditando fielmente na história que está se passando.
Estamos apenas convencidos do enredo que o autor criou,
isto é, deixamos de desacreditar que aquilo é tudo falso e
nos envolvemos na história. Nenhum adulto “acredita” que
o Homem Aranha existe. Ao ver o filme, porém, estamos
convencidos da existência do personagem. Estamos
convencidos que o Homem-Aranha sobe paredes e lança
teia pelas mãos. Deixamos de desacreditar que o superherói não existe, Suspensão da Descrença. Uma criança,
por outro lado, facilmente confunde esses conceitos e
passa a “acreditar” que o Homem Aranha existe. Se dizer
ao público que os mágicos são paranormais e possuem
14
poderes extrassensoriais é charlatanismo e antiético, então
isso significa que na Arte Mágica precisamos apenas do
conceito de “convencer” e podemos ignorar o conceito de
“acreditar”? Na verdade, não. Os dois termos devem ser
cuidadosamente aplicados em um ato mágico. Por um lado,
o mágico deve fazer as pessoas acreditarem que não existem
mecanismos secretos; por outro, deve apenas convencê-las
do fenômeno de sua mágica. O espectador deve ter certeza
incondicional de que o mágico não está utilizando nenhuma
aparelhagem secreta, nenhum movimento falso, nenhum
objeto especialmente fabricado. Essa é a parte em que ele
deve acreditar. Quanto ao fenômeno, ao efeito, o espectador
deve apenas se “convencer” e se deixar levar por ele. Assim,
quando se trata do segredo (que é o método), a plateia
deve “acreditar” que não existe nenhum. Quando se trata
do fenômeno, ela deve estar apenas “convencida” de sua
existência. Em outras palavras, o mágico deve ser capaz
de simular a inexistência total de qualquer artifício secreto
que possa provocar o fenômeno. Deve ser capaz de fazer
a plateia não duvidar do efeito e muito menos questionar
sua falsidade. Porém, em momento algum, a plateia deve
crer na veracidade dos poderes simulados e “acreditar”
que o mágico é uma espécie de paranormal. Fazer a plateia
“acreditar” no fenômeno seria aproveitar-se da ignorância do
público leigo quanto às técnicas de ilusionismo.
O papel fundamental do mágico
Apesar da expressão “alguém ter acreditado” ser
um estado mais forte do que “alguém estar convencido”, o
primeiro não é condição suficiente para o segundo, isto é,
não é verdade que se a plateia “tiver acreditado” que não
existe método vai, necessariamente, “estar convencida” do
fenômeno. Podem ocorrer casos em que o método funciona,
mas o efeito falha, e a plateia simplesmente deduz como
o mágico fez determinada coisa. Em um exemplo simples,
porém razoável, o mágico executa uma transferência falsa de
uma moeda da mão direita para a mão esquerda. A plateia
pode “acreditar” que não houve nenhum movimento falso
e que a moeda está, de fato, na mão esquerda. Porém, no
momento em que o mágico abre a mão esquerda e revela a
desaparição da moeda, a plateia pode supor que, na verdade,
a moeda está ainda na mão direita. A plateia não sabe
como o mágico verdadeiramente fez --- ela “acreditou” que
o mágico não fez uso de artifícios ---, mas deixa de “estar
convencida” do fenômeno por ter conseguido uma explicação
alternativa. Dessa forma, é função do mágico garantir que
a plateia não saiba como o fenômeno foi verdadeiramente
executado e que não tenha outras alternativas para explicar
como aquilo pode ser executado. Ou seja, o mágico deve
fazer com que a plateia, sempre, não apenas “acredite” que
não foi utilizado um método, mas também “se convença” da
veracidade do fenômeno.
Guilherme Ávila é mágico, empresário e autor do
livro “A Arte Mágica: A Percepção em Perspectiva”
URI GELLER: FATO OU FLEXÃO?
Coletivo Guilhotina
Uri
Geller:
fato ou flexão
CAPA JUNHO A GUILHOTINA
Piada Improvável
Se você é um eremita que vive sob uma rocha
dentro de uma geladeira em Urano (Em termos modernos:
Se você não acessa a internet para saber qual é a última
novidade do métier artístico), é justificável não saber
da novidade.
Não que seja algo surpreendente, dada a época em
que vivemos, onde parece que vale tudo por um “Like”, virar
“Meme” ou para ser o próximo “Viral” de uma internet cada
vez mais apelativa. Em tempos onde cada vez mais veículos
de comunicação suficientemente sérios precisam explicar
que “Não é matéria do Sensacionalista (um site de humor
e notícias fictícias, e com frequência bastante plausíveis,
inspirado no americano The Onion)”, fica difícil acreditar
quando você se depara com uma peça de vídeo muito bem
produzida de ninguém menos do que Uri Geller convidandonos para prestigiar o FISM 2015, a ser realizado em Rimini,
na Itália. Para males dos pecados, isso ocorreu na mesma
semana do “Dia da Mentira”.
Oras, só pode ser brincadeira. Geller é um caso
onde boa parte de suas declarações enquanto figura pública
põem o espectador em xeque: Com uma biografia permeada
de brilhantes atos de violência contra tudo que é lógico e
coerente, Geller se vê com frequência na privilegiada
posição de quem fala algo que é absurdo demais para ser
verdade, e, todavia, plausível demais para ser uma simples
e jocosa piada interna entre amigos que sabem que ele
só está brincando. Eis aqui o grande trunfo do auto-intitulado
“Paranormal”, que é seu domínio da fina arte do sarcasmo:
O Ilusionista, e que jamais nos esqueçamos disso, redefiniu
todos os conceitos do que é ser “cara-de-pau” de tal forma
que no final das contas não é a colher quem dobra – somos
nós que viramos a cabeça de lado e, por um momento
pensamos “Ei, será que ele está falando sério mesmo...? ”.
que já desperdiçaram oxigênio neste planeta, fazer gente sã
considerar desistir da humanidade já não satisfaz o desejo
de ver o circo pegar fogo: Geller sabe, e nós sabemos,
que há de existir alguém que vai cair nas suas esparrelas.
Sempre haverá alguém que ofusca a linha entre a inocência
e a burrice que vai jurar de pés juntos que toda a prataria da
sua casa se curvou à vontade do “Paranormal” durante uma
aparição do mesmo no “Fantástico”, em uma era onde a TV e
a Audiência, ambos ainda em sua “adolescência”,compreensi
velmente careciam de informação. O tempo
passou, a Internet veio e com ela as pessoas têm cada vez
mais acesso a e menos desculpas para dizer “Eu não sabia”.
E ainda hoje, em pleno 2015, o número de pessoas que
ainda hoje brindam validação a charlatães como Uri Geller é
imperdoavelmente alto.
As estratégias empregadas por Geller em suas
artimanhas midiáticas são, como previsto, tão absurdas
que funcionam perfeitamente, tendo como base o modus
operandi da célebre Fraude 419, vulgo “O Golpe do
Príncipe Nigeriano”, cujas incontáveis variações modernas e
aplicadas por e-mail têm em comum as premissas sempre
grandiloquentes e o uso propositalmente errado da língua
inglesa. De forma quase paradoxal, essa é uma das maneiras
mais efetivas de filtrar vítimas em potencial, reduzindo o
número de falsos positivos. E a lógica é simples: Qualquer
pessoa cujo “Desconfiômetro” não entre em colapso ao
deparar-se com uma premissa absurda (um príncipe da
Nigéria escolheu você como único herdeiro / um ser humano
com “poderes paranormais” é capaz de entortar colheres),
transmitida através de meios improváveis (a caixa de “Spam”
do seu e-mail / “ondas mentais” através da TV) e com uma
argumentação que, no mínimo, levanta sérias suspeitas (o
uso criativo do idioma) claramente não é o público-alvo
da fraude em questão. É notável, portanto, que o primeiro
filtro de suscetibilidade depende única e exclusivamente
das motivações internas da vítima, sejam estas guiadas por
ganância, curiosidade ou pelo simples desejo de acreditar
no sobrenatural.
There Is No Phone
Golpe de Mestre
Para um humilde faixa preta da Ironia Competitiva,
causar essa dúvida já seria o suficiente. Saudosos são os
tempos dos “Semeadores da Discórdia”, que no falecido
Orkut elevaram o “trolling” a um estado de arte. Fazer com
que pessoas perfeitamente racionais se descabelassem,
horrorizadas com argumentos malucos, ainda que
plausíveis, era o suficiente. Rendia algumas boas risadas,
e ninguém saía ferido. Já para um dos maiores charlatães
16
Tome-se como exemplo o auge da polêmica do
#Bendgate: Não tardou até que Geller alegasse, com uma
seriedade beirando a psicopatia, que o então recém-lançado
iPhone 6+ estava entortando nos bolsos dos usuários
devido a ondas mentais geradas pela histeria coletiva em
torno do tão aguardado lançamento da Apple, e não pelas
características físicas e do aparelho, que é muito alto, muito
fino e com corpo em alumínio. Desnecessário apontar que
muita gente acreditou, e diversos jornais e veículos de mídia
na internet replicaram a informação (ainda que em tom de
neutralidade ou troça) enquanto Geller preparava a cereja
do bolo: Uma falsa entrevista em vídeo onde ele novamente
aclara o populacho sobre o porquê de seus gadgets feitos
de alumínio superfino entortarem misteriosamente dentro
dos bolsos apertados de suas calças jeans, parodiando a
situação e as suas próprias declarações de outrora. Na peça
CAPA JUNHO
em questão, que novamente “viralizou”, Geller faz uma
demonstração “real” (mantidas as devidas proporções)
de flexão de metais, e ao final tira sarro da situação como
um todo, ao “entortar” um iPhone através dos poderes da
manipulação de efeitos especiais em vídeo. E ainda assim,
não faltam copiosos exemplos, nas seções de comentários
dos inúmeros locais onde foi veiculado o vídeo, de pessoas
que juram de pés juntos que se tratava de uma façanha real.
Os Riscos da
Auto-Ajuda Esquizotérica
Ora, seria então de se esperar que Mágicos e afins
abominassem a menor menção ao nome de Uri Geller,
visto que o mesmo presta o que alguns consideram um
desserviço à Arte Mágica ao fazer um uso da mesma para
fins no mínimo altamente questionáveis e os exemplos são
abundantes e também utilizados pelo próprio Geller como
forma de promover seus supostos poderes parapsicológicos.
De cristais mágicos, cromoterapia e auto-ajuda new age
a colheres tortas que podem “ajudar a parar de fumar” e
“ajudam nos acordos entre Israel e Palestina” (citações
diretas do seu website oficial), as alegações dos poderes de
Uri Geller podem parecer inocentes em primeira instância,
porém há de se lembrar que não há como desassociar a
figura e o Mito chamado Uri Geller de situações que se
entrelaçam, e prejudicam a todos os envolvidos. Eis um
exemplo que aos mágicos interessa: os supostos “poderes”
de Uri Geller já foram copiosamente desmentidos, e seria
chover no molhado mencionar seu uso de um compêndio
técnico que, em um mundo ideal, estaria restrito ao seu uso
secreto aplicado ao Entretenimento em diversas vertentes
da Arte Mágica, com uma óbvia e maior frequência no
Mentalismo. Sabemos que se trata de um Mágico, e o
público em geral também o sabe. Isto posto, é notável a
impossibilidade de desassociação do conceito “Uri Geller”
do conceito “Arte Mágica”, e isso é nocivo em diversas
ocasiões: Desde o mais inocente, onde um espectador
comum associa “Mágica” a “Poderes” até o mais ofensivo,
onde o mesmo espectador pode associar “Mágicos” a
A GUILHOTINA
“Charlatães” e podendo chegar ao patamar do absurdo,
onde uma pessoa pode associar “Mágico” a “Poderes
Paranormais” e depositar na figura do Artista um peso de
alguém com poderes “de verdade”. Ou vai dizer que você
nunca pensou “Puxa vida, com um pouco de Leitura Fria
e um deck de Tarot eu ganharia uma boa grana” ou afins?
Admita: É uma ideia, uma tentação que já passou em
diversos graus pela cabeça de muitos, e à qual infelizmente
uma parcela destes se rendeu, alimentando desta forma
um ciclo de ignorância e desinformação que pode causar
danos irreparáveis.
Pois a missão do Mágico é criar a efêmera certeza
de uma realidade que, fechadas as cortinas da ilusão, se
diluirá nas águas da memória, tingindo-as em tons de
dúvida. Penso que um bom Mentalista é capaz de criar no
imaginário da audiência uma ilusão de dúvida plausível,
e ainda que alguns levantem de seus assentos com
quaisquer certezas, um bom e ético artista não usa destas
para alimentar esperanças nos desamparados, como por
exemplo, ao alegar ser capaz de despertar Ariel Sharon
de um coma ou afirmar categoricamente que a modelo
húngara Helga Farkas, sequestrada em 1992, estava bem de
saúde e em segurança quando, se descobriu mais tarde ela
havia sido assassinada por seus captores. Imagine o quão
ludibriadas se sentiram as famílias de Farkas e de Sharon. E
pensar que alguém que alimenta tanta dor e sofrimento de
forma egoísta e psicótica está irrevogavelmente atrelado
à profissão do Mágico.
Duas Gerações,
Duas Opiniões
17
Para o Mentalista Kardini, fã declarado desde a
década de 70 e que considera um privilégio tê-lo assistido
e conhecido em pessoa, Uri Geller é alguém digno de
admiração “por sua extrema criatividade (...) e também
por suas perfeitas e convincentes apresentações, as quais
chegaram a confundir renomados cientistas”. Kardini também
afirma, com o know-how de quem atua profissionalmente
como Mentalista há mais tempo que muitos outros
renomados praticantes do gênero têm de vida, que “Nenhum
artista mágico ou mentalista, reproduzindo seus feitos com
melhores recursos o conseguiu igualar ou superar”. Já
para Nicolas, Mágico premiado e autor da série de DVDs
Neuromágicas, não coincidentemente com forte apelo
ao Mentalismo, a contratação de Uri Geller para compor
o prestigioso elenco da FISM 2015 é “um contra-senso
histórico”, já que “grandes mágicos, como Houdini e James
Randi dedicaram suas vidas a desmascarar charlatães”
e indaga o que vai acontecer se Randi e Geller, inimigos
declarados, se cruzarem nos corredores durante o evento em
Rimini, na Itália. Bastante incisivo, Nicolas lembra quesempre
que um suposto “paranormal” se apresenta na TV, os
mágicos são os primeiros a denunciar suas
falcatruas e provoca, chamando de “hipócritas” aqueles
que “se posicionam contra alguém que faz cirurgias
espirituais na TV e agora acham normal Uri Geller ser
atração da FISM”. Pesado.
deveria ser, que Uri Geller é Showmanship em pessoa. Tal
como Chung Ling Soo, ele jamais sai do personagem e
chegou em um ponto, após quarenta anos de uma carreira
inigualável (em diversos aspectos), em que criador e
criatura, Dr. Jekyll e Mr. Hyde, se fundiram em alguém quase
difícil de considerar um personagem por si só, tamanha
a complexidade das muitas camadas que compõem uma
figura polêmica e deveras influente. De tão poucas pessoas,
é possível dizer que alguém “Chegou lá”. Rigorosamente
desmistificado, Uri Geller continua a ser assunto em qualquer
metiér e mantém intacto seu status de verdadeiro ícone da
Cultura Pop. Aquela cena da colher (que não existe) em
“Matrix”? De certo há influência dele ali. Thomaz Green
Morton, “O Homem do Rá”? Influência direta e evidente.
Nosso Uri Geller tupiniquim.
Entre magos e profanos, é difícil encontrar alguém
que não o conheça ou a suas façanhas. Qualquer pessoa
que não viveu em Marte, principalmente entre os anos 70 e
90, tem alguma história para contar ou alguma lembrança
envolvendo a inutilização proposital de talheres inocentes. Uri
Geller chegou lá, é verdade. Mas a que custo?
Enfim, Uma Verdade
Incontestável
Todavia atentemos a um fato inegável: Uri Geller
atingiu o inabalável status de Mito. Sua fama extrapolou
a de Copperfield e o levou aos quatro cantos do planeta e
além. Quantos artistas performáticos, excluindo músicos,
transcenderam gerações e alcançaram essa imortalidade?
Poucos, e Geller tem assento VIP em uma lista privilegiada
por natureza. Sua influência e o arsenal que o Ilusionista
(e que jamais nos esqueçamos disso), tem e teve à sua
disposição, seja de forma inata ou adquirida, e do qual fez
e faz um uso maestral são lições, boas lições inclusive, que
qualquer artista que almeje tornar-se uma figura pública de
facto deve ter em mente. Uri Geller é a personificação do
carisma, e qualquer um que o tenha encontrado em pessoa
concorda com tal afirmação, atestando que ele é uma figura
de simpatia irresistível. O olhar penetrante, o sorriso fácil
e aparentemente sincero, aliados ao seu grande poder de
argumentação e impostação pessoal de uma forma jamais
agressiva - mesmo quando ferozmente questionado por
James Randi e afins - transformam em meros coadjuvantes
quaisquer técnicas de Ilusionismo aplicadas em seus jogos.
Há quem diga que, em termos estritamente
técnicos, a Torção de Metais executada por Geller não é
mais que mediana. Então por que funciona tão bem? O
“Paradoxo Machadiano da Mulher Bonita e Coxa” aplicado
ao Mentalismo: Dá um bom título de TCC, e a resposta
deste suposto enigma tem mais perguntas que soluções.
Onde, exatamente, é que termina a técnica per se e começa
o carisma? E qual a percentagem deste que é inata, qual
que foi aprendida? Não é segredo algum, ou ao menos não
18
Coletivo Guilhotina é formado pelo conselho editorial d’A
Guilhotina e colaboradores afinados com o propósito
da publicação. Os conteúdos assinados dessa forma
expressam a opinião da revista.
Entrevista com Uri Geller
Demorei para processar a informação do “De’Rose, conseguimos”. Após longas negociações e
tentativas de aumentar nosso QI (O famoso “Quem Indica”), o Coletivo Guilhotina celebrou em segredo a
conquista: Uri Geller estava disposto a nos conceder uma entrevista... No dia seguinte. A ficha demorou
uns minutos para cair – era por volta das cinco da manhã e eu sofria de uma insônia que logo se
converteria em ansiedade. Munido de uma lista de perguntas que já havíamos elencado, assisti vários
documentários, li entrevistas e declarações de e sobre nosso sabatinado. Não queria correr o risco de
perguntar coisas que ele já cansou de responder, nem tampouco de ousar demasiado – É o Uri Geller,
afinal de contas.
Desde que me conheço por “Mágico”, conheço Geller e sua (in) fama. Cético e confessamente
radical em alguns pontos, entrevistá-lo foi um exercício de distanciamento das minhas próprias crenças
(ou ausência das mesmas) e opiniões - Eu estaria ali para ouvir, e não para falar. Já entrevistei outros
artistas, em outras ocasiões… Só que ali eu estava pisando em um terreno delicado. Depois de conferir
umas setecentas e quinze vezes se meu telefone estava funcionando corretamente, se o gravador estava
em ordem e respirar bem fundo - e eu jamais teria acreditado se alguém me contasse que um dia eu
diria as palavras a seguir... telefonei para a casa de Uri Geller para dar início a mais uma conversa do
que entrevista propriamente dita. Sua simpatia e carisma me desarmaram não apenas da ansiedade,
como também das pedras que eu, mesmo sem querer, poderia estar segurando.O resultado, você pode
ler a seguir. Em meio a uma relação de amor e ódio quanto à figura de Uri Geller, pode ter certeza de
que fiz o possível e fiz com muita admiração. Ressalvas, sim… Mas essas, eu guardei para mim.
GUILHOTINA: Bom dia, Sr. Geller! Como vai?
UG: Bom dia, Fábio. E por favor, pode me chamar de Uri. Sem
esse negócio de “Mr. Geller” (risos).
GUILHOTINA: Primeiramente, Uri, muito obrigado pela honra
desta entrevista! Aqui na Guilhotina somos todos grandes fãs
do seu trabalho.
UG: Obrigado, o prazer é meu em conversar com vocês.
GUILHOTINA: Recentemente foi anunciada sua contratação
para o próximo FISM, que ocorrerá na Itália. A notícia pegou
boa parte do mundo mágico de surpresa, então eu gostaria
de saber como estão os preparativos - certamente será
uma oportunidade única para que muitos mágicos possam
conhecê-lo e aprender com sua fantástica experiência no
Show Business. Haverá novas surpresas para os mágicos?
UG: Bem, deixe-me primeiramente voltar no tempo um pouco.
Você sabe que durante a maior parte da minha carreira, eu
me mantive afastado do métier mágico; E o que isso significa
é que eu nunca me envolvi de forma alguma com outros
mágicos, associações, círculos [. Referindo-se ao Magic
Circle, especificamente ] e eventos… Então eu sempre estive
de certa forma sozinho em tudo o que eu fiz e em tudo que
ainda faço.
E isso aborreceu muitos mágicos, pois vários deles diziam
que o que eu digo e o que eu faço de certa forma engana, ou
enganou o mundo quando eu dizia ter poderes de verdade,
enquanto eles [os mágicos] não acreditaram em mim.
GUILHOTINA: É compreensível.
UG: Sim. E isso obviamente me tornou alguém extremamente
controverso. E controvérsia é algo incrível de se ter à sua
volta! Controvérsia é algo que você não compra em uma loja,
simplesmente… É como o carisma. Ninguém pode comprar
carisma. Quando eu me dei conta, no início da minha carreira,
e foi algo que me surpreendeu bastante é que quanto mais
me atacavam, mais pessoas vinham assistir meu show. Então
eu soube que havia algo de bom e positivo em meio à essa…
aura, a esse ambiente envolto em controvérsia.
GUILHOTINA: Uau!
UG: Em todos esses anos eu nunca li um livro de mágica
sequer. E tampouco jamais assisti um show de mágica, exceto
em uma ocasião onde perdi um vôo de conexão em Las
Vegas, e acabei assistindo Siegfried & Roy. Foi a única vez na
vida em que assisti a um show de mágica.
GUILHOTINA: Incrível!
UG: Pois é. Em todos esses anos, sempre houve rumores e
histórias sobre Uri Geller, especialmente no mundo mágico.
As pessoas constantemente falavam sobre mim, conspiravam,
fofocavam sobre a minha pessoa… Foram ditas coisas boas
sobre mim, e também coisas más. Quando me mudei para
a Inglaterra há alguns anos, acabei ficando amigo de David
20
“jamais assisti um show de mágica,
exceto em uma ocasião onde perdi um
vôo de conexão em Las Vegas, e acabei
assistindo Siegfried & Roy.”
Berglas, que você deve conhecer. E ele até me deu um
prêmio por promover a Arte Mágica. Fui então convidado a
ministrar uma Conferência, acredito que foi na Flórida, para
cerca de mil mágicos. E qual não foi minha grande surpresa
quando os vi levantar e receber os seus aplausos!
GUILHOTINA: Dada a situação, deve ter sido uma grata
surpresa para você.
UG: Com certeza. Eu sempre tive a ideia de que, em geral, os
mágicos odiavam Uri Geller… E eles provaram que eu estava
errado. Eu percebi que na verdade eu era muito admirado
entre os mágicos por ter trazido ao mundo algo muito novo.
GUILHOTINA: Isso é verdade.
UG: Ainda hoje, eu jamais digo que sou um Mágico.
Permaneço no escuro, em uma área cinza… Eu caminho
sobre uma linha muito fina. Não estou aqui, nem tampouco
lá. Pois, por que eu aceitei participar da FISM? Veja que
eu não tenho um empresário, não faço uso de agentes,
de Relações Públicas ou de alguém que cuide da minha
imagem. Há algum tempo conheci um rapaz chamado Walter
Rulto, e acabamos nos tornando bons amigos. Um dia ele
me perguntou “Uri, você toparia participar da FISM?”, e
eu aceitei. Foi basicamente como aconteceu. No que tange
os preparativos que você mencionou, na verdade não há
nenhum em especial. Apenas será uma questão de subir no
palco e fazer o meu trabalho. Ainda assim, eu definitivamente
vou surpreender muita gente na FISM.
CAPA JUNHO
GUILHOTINA: Você diria que há nisso um gostinho de vitória,
por assim dizer, sobre os Mágicos?
UG: Sabe, esta é uma excelente pergunta. Eu já rodei o
mundo incontáveis vezes, e fui visto por milhões de pessoas.
Centenas de milhões, talvez…
GUILHOTINA: E inclusive no Brasil.
UG: Exatamente. Conhecer o Brasil foi uma experiência
inesquecível. Fiz muitos shows em locais enormes, em
estádios de futebol… Inclusive há um jogador de futebol no
Brasil com meu nome, você o conhece?
GUILHOTINA: Sim. O “nosso” Uri Geller é bem famoso
(refere-se ao ponta-esquerda do Flamengo nos anos 70 e 80,
que “entortava” os adversários).
“Inclusive há um jogador de futebol no
Brasil com o meu nome”
UG: Pois bem. É imperativo traçar uma linha agora entre dois
tipos de público. Entre a pessoa comum, que assiste o Uri
Geller em casa, e o membro da Fraternidade Mágica. Quando
eu pela primeira vez me senti bem-vindo entre os Mágicos,
pensei comigo mesmo: “Uau! Isso é realmente incrível. Após
tantos anos sem jamais me envolver com os mágicos, eu de
repente estou me vendo… Não sei, honrado, respeitado”.
Então respondendo finalmente à sua pergunta, acredito que
sim. É uma sensação bem especial.
GUILHOTINA: Faço uma pequena ideia.
UG: Mas não se esqueça de algo. Há nove anos atrás eu
criei um programa de TV chamado The Next Uri Geller (“O
Próximo Uri Geller”, em tradução literal). Ele foi exibido em
dezoito países, e em breve terá sua primeira edição na China.
E a maioria dos performers que participam do programa
são Ilusionistas, Mágicos e Mentalistas. Alguns deles, talvez
sejam Médiuns. Eu honestamente não sei, e nem me importo
em saber como esses artistas executam suas performances.
A GUILHOTINA
Quero dar atenção unicamente ao “Fator Entretenimento”.
Quero que as pessoas em casa gritem “UAU! Como eles
fazem essas coisas?!”. Há alguns anos, nos Estados Unidos,
Criss Angel participou do meu programa. Ele foi meu coapresentador, e em algumas ocasiões ele [CA] me chamava
de canto e cochichava no meu ouvido o segredo dos truques
feitos no palco. E eu lhe dizia “Criss, por favor não me conte.
Eu não quero saber [do método]! ” (risos).
GUILHOTINA: Esta é uma excelente “Filosofia”. Possivelmente
a melhor maneira de manter-se um verdadeiro admirador
da Mágica, do Mentalismo e essencialmente do Mistério
inerente às formas de arte. Com relação a programas de
TV que tiveram sua participação, tais como The Next Uri
Geller e Phenomenon, gostaria de saber sua opinião, e
nisso me refiro especificamente ao chamado “público leigo”,
sobre uma possível nova percepção que eles possam vir a
ter sobre o seu trabalho. Sendo este o cerne da questão:
Você se preocupa que um leigo, após dar-se conta do seu
envolvimento com Mágicos e Mentalistas, pode passar a
pensar que o que você faz é Mágica, isto é, essencialmente
truques, e/ou por outro lado que o que os Mágicos fazem
são o que nós podemos chamar neste contexto de “Poderes
Reais”?
UG: Fantástica pergunta. E a resposta é “Não”. Eu não me
preocupo. E se um leigo vier à FISM e assistir ao meu show
de uma hora e meia de duração não terá uma resposta
definitiva, nem para uma suposição ou para outra. A sua
percepção não irá pender para a esquerda nem para a direita.
Um jovem mágico que vá lá para me assistir, no entanto,
certamente sairá altamente surpreendido com o que eu
pretendo ensinar, isto é, como tornar-se um dos grandes,
como “chegar lá” e tornar-se um artista célebre. A propósito,
durante todos esses anos eu busquei ser extremamente
cauteloso, e minha participação na FISM não é como assumir
que durante todo o tempo eu fui um Mágico. Se você ler
[essa afirmação] em algum lugar, trata-se de uma mentira
ou de alguém que usou palavras minhas fora de contexto.
Se algum dia você ouvir que Uri Geller se assumiu como um
Mágico, isso será uma inverdade.
GUILHOTINA: É interessante saber disso, pois não é
incomum hoje em dia ver Mágicos fazendo esse tipo de
comentário, dizendo coisas como “Oh, então ele finalmente
admitiu”.
UG: Pois é, e isso não é verdade. Alguém por acaso ouve
algo, e comenta com outra pessoa. E essa pessoa distorce
um pouco o que lhe foi dito, e repassa a outra, que repassa
a outra… De repente você tem uma história totalmente falsa
sobre Uri Geller. É assim que a Mídia funciona. Isto posto,
a verdade é que no final das contas não importa se o que
eu faço é através de um truque de mágica ou do poder da
mente. Realmente não importa. No mundo da Mágica... E,
aliás, o que é mágica? A Mágica é o Mistério. É o Assombro.
A Mágica é algo que te faz querer maravilhar-se perante um
fenômeno incrível. E é por isso que eu não quero saber como
um truque funciona. Esse aspecto não me interessa - Se é
mágica, se é truque, se é poder mental… Não faz diferença
no final das contas.
21
“A Mágica é o Mistério. É o Assombro.
A Mágica é algo que te faz
querer maravilhar-se perante um
fenômeno incrível.”
GUILHOTINA: Excelente ponto de vista.
UG: E agora, respondendo à sua questão sobre o público
leigo. A mente humana é uma espécie de computador, sabe?
Quando ela sofre um bombardeio de informação non-stop,
é impossível associar cem por cento de tudo que vemos,
ouvimos e sentimos. A vida corre rápido, e diariamente
somos bombardeados com novidades: Seja através de
jornais, TV ou das Redes Sociais, Internet, etecetera, somos
constantemente expostos a demasiada informação. E a
capacidade humana de foco e atenção é bastante curta. Você
se dá conta de que as pessoas não se lembram exatamente
de tudo aquilo que ouviram ou leram sobre Uri Geller. O
que eles se lembram, todavia, é do meu nome. E é por isso
que eu realmente não me importo com o que as pessoas
falam sobre mim, contanto que elas escrevam meu nome
corretamente.
GUILHOTINA: (risos). Eis uma maneira genial de encarar a
vida!
UG: Eu nunca leio o que escrevem sobre mim. Em vez
disso, eu meço. O que quero dizer com isso é que eu olho
para um artigo e penso o quão grande, o quão extenso é
isso que falaram sobre mim. Para mim, é tudo publicidade,
é ter meu nome na boca do povo. Esta é a forma como
tenho visto essas situações ao longo da vida.
GUILHOTINA: Uma boa filosofia.
UG: Agora suponhamos... vamos apenas chutar um número
qualquer. Digamos que eu tenha… 10 Milhões de fãs,
ok? Quantos desses você acha que sabem que vou atuar
na FISM? Dentre esses dez milhões, quantos não apenas
sabem disso, como também se importam com o fato de
que eu darei uma palestra lá? Esta é a verdadeira percepção
de ser um indivíduo, uma pessoa que atua e tem algo a
dizer para o público leigo. Então as pessoas podem não
necessariamente se recordar do que você fez ou faz, porém
continuam se importando com você.
GUILHOTINA: Faz muito sentido. Você diria que, citando o
antigo ditado, toda publicidade é boa publicidade?
UG: Sim, definitivamente. E eu aprendi essa lição nos
Estados Unidos ao ser convidado para o programa do
Johnny Carson [www.youtube.com/watch?v=TNKmhv9uoiQ],
onde eu fui vítima de uma armadilha. Fiquei sentado
ali durante vinte e dois minutos, e fui completamente
humilhado. A colher não entortou o suficiente, e eles tiveram
aquele lance com James Randi… Enfim. Durante aqueles
22 minutos eu estive suando, e a única coisa que passava
pela minha cabeça era “Uri Geller, sua carreira acaba aqui e
agora. É o seu fim. Faça suas malas e volte para Tel-Aviv”.
22
No dia seguinte, eu estava desmoralizado. Estava fazendo
minhas malas e só conseguia pensar no meu monumental
fracasso no programa do Johnny Carson, uma das maiores
celebridades televisivas dos EUA. De repente o telefone
do meu quarto tocou, e eu me lembro como se tivesse
acontecido ontem! A operadora me disse “Senhor Geller,
tenho Merv Griffin na linha e ele quer falar com o senhor”.
Tenha em mente que Merv Griffin era tão grande quanto
Johnny Carson na época. E ele [Merv] me disse “Uri, eu
vi você ontem no Johnny Carson. E eu quero que você
participe do meu programa essa semana”. E foi quando eu
me dei conta de que realmente não existe nada chamado:
“má publicidade”.
GUILHOTINA: Deve ter sido um choque para você. Muitos
provavelmente teriam, no seu lugar, pensado que a
situação no programa do Johnny Carson significaria a ruína
instantânea da sua carreira.
UG: Exatamente. Foi uma surpresa enorme para mim,
porque foram 22 minutos muito, muito longos para
mim. E o efeito, contrariando qualquer expectativa, foi o
exato oposto do imaginado. Agora, é importante lembrar
que desde o início da minha carreira em Israel eu fui
severamente atacado. As pessoas, os cientistas de lá me
chamavam de fraudulento, de truqueiro, diziam que eu usava
raios laser, ou produtos químicos… Eu estava nas capas
de revistas que me chamavam de charlatão e barato. Então
eu já havia tido essa experiência, essa percepção de que
notas negativas na imprensa não afetavam negativamente as
vendas de ingressos para os meus shows.
GUILHOTINA: Pelo contrário. Até mesmo impulsionaram
essas vendas.
UG: Sim. Porém nos EUA era uma situação diferente para
mim. Aquilo era Televisão. Era enorme! E também foi um
longo tempo exposto ali… Mas foi uma grande lição na
minha vida. Eu cheguei à conclusão de que se estão falando
sobre você, e lhe dando publicidade gratuita… A sua
carreira terá grande longevidade.
GUILHOTINA: Você menciona a participação de James Randi
nesse episódio em particular. A mídia em geral sempre
tentou criar uma ideia de que vocês dois são arqui-inimigos,
sempre acentuando as opiniões fervorosas de Randi contra
você, e frequentemente se recorda o fatídico episódio
no Johnny Carson sobre o qual falávamos. Como você
descreveria seu relacionamento com Randi hoje? Como
um verdadeiro rival, ou apenas um “bom inimigo”, isto é,
alguém com quem se compartilha publicidade mútua?
UG: Você sabe que houve um filme feito sobre James
Randi recentemente [Nota do Editor: O Documentário se
chama “An Honest Liar”]. Os produtores me contataram,
perguntando se eu aceitaria participar. Eles queriam muito
me entrevistar. E é claro que o que quer que fosse feito
desse filme, no que se referisse a mim seria algo negativo.
Naturalmente James Randi diria “Oh, Uri não passa de um
mágico”, mas tudo bem, eu aceitei ser entrevistado para a
obra. E sabe… ele [Randi] sempre foi, e na minha opinião
CAPA JUNHO
ainda é absolutamente obcecado com Uri Geller. Desde o
início da minha carreira Randi tentou destruir-me, e se você
fizer uma breve pesquisa irá encontrar incontáveis palestras
e artigos onde ele diz coisas terríveis sobre a minha pessoa.
Mas ele foi, para mim, um publicista gratuito.
GUILHOTINA: (risos)
UG: Se eu tivesse de pagar um especialista em publicidade
para me fornecer, em igual teor, o que James Randi me
conseguiu de graça ao longo dos últimos quarenta anos,
eu teria de desembolsar por volta de 2.5 a 3.5 milhões de
dólares. A publicidade grátis com a qual Randi me brindou
é de fato nessa escala. Então eu só tenho a admirá-lo e
agradecer-lhe! Quero lhe enviar buquês de flores por manter o
Mistério em torno da figura de Uri Geller. Ele essencialmente
criou a lenda de Uri Geller. Não sei quantas vezes encontrei
com ele… Talvez umas três ou quatro? Mas há uma ocasião
em especial da qual me recordo bem. Foi em um encontro
com David Blaine em Nova York, onde Randi também estava
presente. Lembro-me de ter pensado “Ora, vejam. James
Randi está aqui! Que excelente oportunidade de apertar sua
mão e lhe dizer ‘Que tal colocarmos toda a rivalidade para
trás? ’”, e foi o que eu fiz. Dirigi-me até Randi, e quando
estiquei meu braço lhe disse “Randi, vamos fazer as pazes.
Eis a minha mão, para que você a aperte”. Ele se recusou,
impassível, e eu lhe perguntei “Por que você não aperta
minha mão, Randi?”, ao que ele respondeu “Por que eu te
odeio. Odeio suas entranhas”. E isso meio que diz tudo, sabe?
Eu acabei me tornando o tipo de pessoa que realmente não
odeia ninguém. Esse episódio em particular me mostrou que
Randi é o tipo de homem que provavelmente jamais irá gostar
de mim, jamais irá apertar minha mão. Então, hoje em dia,
se você me perguntar o que eu penso sobre James Randi, eu
vou dizer que, bem, eu usei o cara e só tenho a agradecer por
tudo que ele me fez. E eu o quero bem, sabe. De verdade. Ele
é um senhor idoso hoje em dia, e não sei como ele está de
saúde. Mas realmente desejo que ele esteja bem e siga uma
vida longeva.
“Se eu tivesse de pagar um especialista
em publicidade para me fornecer, em
igual teor, o que James Randi me
conseguiu de graça ao longo dos últimos
quarenta anos, eu teria de desembolsar
por volta de 2.5 a 3.5 milhões de dólares.”
GUILHOTINA: E que aconteceria se por acaso vocês se
cruzassem nos corredores da FISM?
UG: Oh, eu certamente me dirigiria a ele e diria “Veja, Randi.
Me chamaram para participar do seu filme, e eu participei.
Que tal apertar minha mão hoje? Você não precisa ser meu
amigo, mas vamos deixar toda a animosidade no passado”, é
isso o que eu diria. E certifique-se, Fábio, de que quando
você escrever o seu artigo, deixar bem claro que essa é a
minha opinião.
A GUILHOTINA
GUILHOTINA: Certamente!
UG: É que vai que um dia Randi diga que isso não é
verdade… Eu não sei o que ele pensa sobre mim hoje em
dia. Eu só sei que durante os últimos quarenta anos, aliás,
mais de quarenta anos, ele vem me provendo com muita
publicidade grátis.
GUILHOTINA: De fato. É uma das demonstrações que ao
longo da sua carreira não houve nada a chamar de “má
publicidade”, pois tudo lhe serviu de alguma forma. Com
todas as polêmicas, é possível dizer até mesmo que você
se alimenta de controvérsia. E por falar em controvérsia,
durante os anos 1970 você foi arduamente estudado e
testado pela NASA e eles concluíram, à época, que você era
o que podemos chamar de um “verdadeiro paranormal”, ou
um “médium real” ou, no mínimo, como uma pessoa cujas
habilidades a ciência ainda não podia explicar. Se você fosse
convidado hoje para ser novamente testado pela NASA, com
a tecnologia atual, você aceitaria?
“Eu usei poderes reais. Ninguém
sabe, nem você, nem Randi,
nenhum Mágico ou Leigo sabe como
eu produzi aqueles fenômenos.”
UG: Veja bem. Nos anos 70 quando eu fiz todos aqueles
testes, e foram muitos… Estas são as minhas palavras, que
inclusive estão no meu website [www.urigeller.com] e você
pode citá-las ipsis verbis: O que eu fiz com os cientistas
foi real. Quer você goste de ouvir isso ou não, aquilo foi
real. Sim, naquela época eu me intitulava “Médium”, e
posteriormente mudei meu título para “Paranormalista”, e
como você sabe hoje em dia me chamo de “Mistificador”. E
se você me perguntasse “Uri, mas quando você fez aqueles
testes você usou poderes de verdade, ou nada passou de
uma série de truques? ”, a resposta seria: Eu usei poderes
reais. Ninguém sabe, nem você, nem Randi, nenhum Mágico
ou Leigo sabe como eu produzi aqueles fenômenos. E é aí
onde está o misterioso, o místico e o interessante. O fato
de eu ter passado em todos aqueles testes foi, para os
cientistas, algo incrível. Inacreditável, até. E foi tudo real. Se
hoje você me propusesse algum teste dessa natureza, eu
recusaria… Simplesmente porquê eu já o fiz no passado.
GUILHOTINA: O que é bastante compreensível,
a bem da verdade.
UG: O que se sabe sobre mim, e sobre o que eu fiz,
cientificamente falando, só se sabe uns 15, no máximo
20 por cento ainda hoje. E eu odiava aquilo tudo. Mas
era importante que eu tivesse aprovação da ciência. Ter a
validação de que meus poderes eram verdadeiros.
GUILHOTINA: Ainda nesse tema, há um episódio da época
que se menciona em um documentário da BBC, onde
você fora instruído a tentar parar o coração de um porco
utilizando seus poderes. Essa situação teria lhe causado
grande ojeriza pelos cientistas, e há quem diga que seria
23
esse o motivo pelo qual você não gostaria de ser
testado hoje em dia, porquê supostamente você teria
passado a acreditar que a ciência não é feita apenas de
boas e investigativas intenções. O que você teria a dizer
sobre o caso?
UG: Esse experimento com o porco, que me foi proposto por
alguém que não irei revelar, ocorreu basicamente assim: Me
levaram a uma sala onde havia um porco, e me pediram para
fazer o coração dele parar. É por isso que até mesmo surgiu,
alguns anos depois, um filme com George Clooney onde
espiões paranormais tentam parar o coração de uma cabra,
sabe qual é?
GUILHOTINA: The Men Who Stare At Goats (No Brasil, “Os
Homens Que Encaravam Cabras”)?
UG: Sim. Nesse filme Clooney me interpreta, e aliás é
uma coincidência divertida ele [Clooney] recentemente ter
comprado uma casa ao lado da minha (risos), achei bem
curioso. Havia um grupo de cientistas que efetivamente não
se importavam em como você fazia as coisas que fazia,
contanto que trouxesse os resultados que eles queriam.
E isso era realmente… Bem, eu recomendo que você
leia o livro The Secret Life of Uri Geller, pois ele é bem
interessante. Eu não o escrevi, aliás. Nele há muitas histórias
sobre como a CIA, o FBI, o MI5, a Mossad… E tantas outras
Agências de Espionagem e Inteligência, sobre como eles se
importavam unicamente com a Informação. Realmente não
importava em que forma, maneira ou circunstância você
obtivesse a informação que eles desejavam, desde que você
conseguisse fazê-lo, e que fosse algo que eles pudessem
verificar e validar como sendo algo legítimo. Foi o que
eu fiz durante muitos e muitos anos por diversas
Agências Governamentais.
GUILHOTINA: Muito interessante. Voltando um pouco ao
tema da Mágica e do Mentalismo, é sabido e notório que
você influenciou gerações inteiras de performers e de autointitulados “Paranormais”. Nos anos 80 surgiu no Brasil um
cara chamado Thomas Green Morton, o chamado “Homem
do Rá”. Ele fez grande sucesso, mas foi rapidamente
desmascarado pela mídia local por usar truques de mágica
e efeitos especiais. Qual a sua opinião sobre pessoas que
tentam se aproveitar do seu sucesso e emular a sua figura
para obter lucro?
UG: Deixe-me responder sua pergunta de uma maneira
diferente. Eu não fico nem um pouco contente com esses
verdadeiros charlatães, que tomam o dinheiro das pessoas
ao primeiramente alegarem ser curandeiros, capazes de curar
enfermidades. Eu recebo por volta de trezentos e-mails por
dia, e muitos deles são de pessoas doentes. Eles me pedem
ajuda, e sempre a primeira coisa que lhes digo é: Olha, eu
não sou um curandeiro. Eu não opero milagres,
e eu recomendo fortemente que você se dirija
imediatamente a um consultório médico. Há muitas pessoas
por aí alegando ser capazes de curar doenças e pegando o
dinheiro de doentes, e isso é errado. É algo que eu jamais
faria. Há inúmeros cultos por aí, geridos por auto-intitulados
24
paranormalistas, que querem dinheiro das pessoas, algo a
que eu me oponho completamente. Se você é um Mágico,
um Mentalista que alega ter poderes de verdade… Não
tem problema, desde que você seja um entertainer. Se
você faz essas coisas com fins de entreter as pessoas,
então tudo bem. Eu tenho sido um entertainer desde o
dia em que iniciei minha carreira… Só que eu não tenho
como controlar pessoas que por ventura tentem ligar seus
supostos poderes paranormais, seus atos à minha história.
Emular minha persona, como você mencionou. Como eu
poderia controlar isso? Seria similar a me perguntar “Uri,
o que você pensa sobre mágicos que entortam colheres?
”, e sobre eles eu acho fantástico! Fico muito honrado que
tantos Mágicos imitem e copiem Uri Geller, realmente acho
ótimo. Jamais me aborreci com quem quisesse me copiar,
e muito ao contrário, fico honrado. É fantástico que alguém
possa traçar uma carreira no Entretenimento baseado em
algo que viu Uri Geller fazer e que lhe trouxe inspiração. Isto
posto, é claro que há linhas que eu devo traçar, sabe? Dizer
que tal coisa é OK, e já tal coisa não é OK.
Olha, eu não sou um curandeiro. Eu
não opero milagres, e eu recomendo
fortemente que você se dirija
imediatamente a um consultório médico.”
GUILHOTINA: Nas últimas décadas você atingiu um grau
de celebridade facilmente comparável ao de artistas como
Elvis, Madonna, Michael Jackson - que inclusive foi um
grande amigo seu em vida -, e ainda hoje você está na boca
do povo. Seja para o bem ou para o mal, as pessoas ainda
falam sobre Uri Geller. Você acredita que algum dia terá um
verdadeiro sucessor? Ou por vivermos em uma
época onde a fama e a celebridade são tão efêmeras
isso seria impossível?
UG: Sabe, eu fico realmente lisonjeado que ainda hoje as
pessoas falem sobre mim. Recentemente Clint Eastwood
mencionou meu nome em alguma coletiva de imprensa.
Ontem mesmo o Primeiro-Ministro do Japão, [Shinzō] Abe,
disse algo positivo sobre mim. Eu sei disso pois utilizo o
sistema de Alertas do Google, que envia um alerta ao meu
Blackberry toda vez em que alguém menciona meu nome.
E é algo muito raro que líderes de estado como Abe, que é
meu amigo, façam declarações públicas sobre celebridades
ou pessoas famosas em geral. O próprio Primeiro-Ministro
de Israel, Benjamin Netanyahu, já falou todas essas coisas
gentis sobre mim, algo que me deixa muito contente.
Agora quando você me pergunta se na minha opinião
ainda haverá alguém no mesmo nível de fama que eu
alcancei… Sabe, Fábio, há muitas pessoas no mundo da
Mágica mais famosas do que eu. David Copperfield, por
exemplo, é muito maior do que Uri Geller. Criss Angel é
maior do que Uri Geller. Há mágicos mais jovens, como
por exemplo David Blaine… Que eu considero mais famoso
do que eu. E isso é fantástico! Há muitos mágicos que eu
adoro, que eu realmente admiro e quero ver fazendo cada
vez mais sucesso. O tempo passa! E eu não nutro nenhum
sentimento de inveja contra essas pessoas. Muito pelo
CAPA JUNHO
contrário, inclusive. Quero cada vez que mais mágicos jovens
surjam e fiquem conhecidos, pois eu tenho a consciência de
que em algum grau, em algum momento do passado eu tive
alguma influência em seu sucesso.
“Há mágicos mais jovens, como por
exemplo David Blaine... que eu considero
mais famoso do que eu.”
GUILHOTINA: De fato, e notoriamente no mundo do
Mentalismo você tem sido uma influência enorme, tendo
basicamente criado uma nova vertente dessa arte, isto é,
a Flexão de Metais. Ver alguém criar um estilo de Mágica
totalmente novo é algo muito raro de se ver.
Neste ponto da Entrevista, Uri propõe uma inversão nos papéis
e me pergunta sobre a minha vida pessoal e profissional,
demonstrando grande interesse em conhecer melhor o seu
interlocutor. Quando mencionei meu recente aniversário de
casamento, até arriscou uma previsão: Rindo e sem sair do
personagem, me recomendou a viver na Europa por alguns
anos pois segundo um “pressentimento”, eu terei filhos em
breve e mencionou sentir saudades das praias do Rio de
Janeiro. Quando eu disse ter ressalvas sobre viver na Europa,
Uri disse “Não hesite, jamais. O Universo não gosta de atrasos
ou enrolação. Se você quer algo, vá buscar”.
GUILHOTINA: Última pergunta, Uri. Qual seria sua dica, sua
sugestão para quem ainda está se encontrando na Mágica ou
no Mentalismo? Qual a sua mensagem para quem lhe tem
como uma referência majoritária dentro e fora da Arte e do
Show Business?
UG: Meu conselho para jovens mágicos que buscam destacarse na cena seria, para primeiramente, abandonar o visual de
antigamente e o senso de Mágica de antigamente. Não se vista
como um Mágico. Vista-se cool - Armani, Versace… Uma
camisa preta de boa qualidade.
Segundo: Use seu carisma. Ative seu carisma, sua
personalidade e seu personagem. Todos temos essas
idiossincrasias, e a alguns só lhes falta saber ativá-las.
Você não precisa ser um cara bonitão ou charmoso, ou uma
mulher linda para ter sucesso na vida. O que atrai o olhar das
pessoas é efetivamente o seu carisma.
Terceiro: Sorria. Seja gentil com as pessoas à sua volta, e
tenha sempre tempo para ouvir o que elas têm a dizer. E no
que se relaciona à Mágica: Busque ser criativo. Crie sempre
novas ideias e novas coisas. O segredo do sucesso está na
originalidade. Sim, realmente pode até não haver nada de
novo na Mágica ultimamente, mas você possui a capacidade
de criar isso, e basta usar seu cérebro. Tudo começa com o
raciocínio: “O que eu posso fazer que ainda não foi feito, e que
pode atrair a atenção dos outros? ”. E também é importante
executar façanhas, como David Blaine por exemplo. Coisas
esquisitas, bizarras mesmo. Coisas estranhas que vão te fazer
ser desejado pela TV, Revistas e Jornais. Isso de ficar fazendo
Mágica em Bar-Mitzvahs, Aniversários e Confraternizações de
Empresas não vai te levar a lugar algum. Você precisa sair da
caixa e criar algo estranho! Algo que faça as pessoas pensarem
A GUILHOTINA
“Hey, veja só o que esse cara está fazendo! ”.
Outro fator: Networking é algo muito importante.
Networking significa conhecer sempre novas pessoas que
possam te levar a novos lugares, e manter contato com
elas. Ter seus cartões de visita sempre à mão. Anotar
números de telefone e e-mails das pessoas que você
conhece. Uma vez, duas vezes ao ano você os envia um
cartão de aniversário, um telefonema de feliz-ano novo…
Porquê pode ser que um dia alguma dessas pessoas
estejam em uma posição onde vai poder te ajudar a subir.
“Não se vista como um Mágico.”
GUILHOTINA: Excelentes conselhos!
UG: Outra coisa. Sempre esteja limpo e bem-cuidado.
Invista em uma Colônia pós-barba de qualidade e tenha
suas unhas sempre impecáveis. Se você seguir esses
passos, o sucesso será uma consequência natural. E por
último, esforce-se. Pressione a si mesmo, pois ninguém
senão você mesmo vai te impulsionar rumo ao topo.
GUILHOTINA: No máximo, vão tentar puxá-lo para trás,
infelizmente.
UG: Pois é, e isso é triste. No mundo da Mágica há muita
inveja e ciúmes. Esta é uma das razões pelas quais eu
sempre procurei me manter afastado desse meio. Não que
isso seja algo ruim, pois somos animais… É natural sentir
inveja de alguém que tem mais sucesso do que você. Por
que essa pessoa conquistou mais e eu menos? O negócio
é que você também é capaz disso, e basta impulsionar a
si mesmo sem medo, sem vergonha ou pudores. Há uma
palavra em Hebreu para isso, Chutzpah. Isso significa
que você tem de ser ousado, sem-vergonha. Significa ser
alguém que dá a cara a tapa e quando se depara com uma
porta fechada, arromba essa porta e continua na implacável
busca do seu alvo.
GUILHOTINA: São conselhos realmente esclarecedores.
Conceitos que podem até mesmo ser aplicados de forma
universal, seja por Mágicos quanto por outros Artistas, pois
são ideias que transcendem simples truques ou habilidades
manuais
UG: Mágicos jovens, principalmente, tendem a focar
demais na questão das suas habilidades e nos truques,
e acabam esquecendo de pensar na imagem pessoal, na
sua persona e personalidade. Na conta final, são esses os
fatores decisivos para que alguém seja desejado. Se há um
mágico na TV que transmite uma personalidade agradável,
que se veste bem e fala bem… É por isso que o público
vai se sentir atraído, e o truque se torna algo secundário.
É por isso que quando eu apresento meu programa The
Next Uri Geller, a primeira coisa na qual eu reparo é na
personalidade sobre o palco, no seu carisma. Ali [no
programa] eu busco presença cênica, primeiramente.
Depois de tudo isso é que eu me preocupo com a
performance do truque em si.
25
Sempre nutri opiniões bem fortes a respeito
de Uri Geller. Seria hipocrisia da minha parte negar o
legado que ele criou para a Mágica (para o bem ou para
o mal, que fique claro), e devo confessar que após nossa
conversa permeada do distanciamento “forçado” e exigido
pelo papel de “jornalista”, se é que posso emprestar
momentaneamente o título, eu passei a observá-lo sob
um prisma um pouco diferente. Passei a compreendê-lo
melhor, e entender seus motivos. Tirei boas lições disso,
como imagino que o leitor também tenha tirado.
Passei a nutrir um respeito maior por ele e pelo
que ele representa e me dou nessas últimas linhas uma
breve liberdade de dizer parte dessa renovada percepção
pessoal que tenho por Geller: Por mais que possa
parecer lero­lero New Age, o ponto que ele levanta sobre
essencialmente, não alimentar sentimentos negativos sobre
ninguém, é uma prática, no mínimo, deveras saudável.
Exercitemos, pois.
Fábio De’Rose é Mágico, Poliglota Autodidata e Autor do
livro Cartosophia. É de Áries, não acredita em horóscopo e
detesta falar de si mesmo em terceira pessoa.
26
CAPA JUNHO
PERGUNTAS IMPOSSÍVEIS,
RESPOSTAS BEM PROVÁVEIS
A GUILHOTINA
AUTOR: JUAN ARAÚJO
As entrevistas desta coluna são fictícias, porém baseadas em textos sobre os entrevistados
e/ou escritos por eles próprios.
TOMMY WONDER (29/11/1953 - 26/06/2006)
(A guilhotina) MUITO OBRIGADO POR ACEITAR SER NOSSO
PRIMEIRO ENTREVISTADO PARA ESSA SEÇÃO DA REVISTA
(Tommy Wonder) É um prazer poder contribuir de
alguma maneira.
(A.G.) EU ME LEMBRO QUE NA ÉPOCA DO LANÇAMENTO
DE SEUS VIDEOS (VISIONS OF WONDER) LI UM
COMENTÁRIO SOBRE SUA ROTINA DE CUPS & BALLS
DIZENDO QUE ERA TÃO BEM CONSTRUÍDA QUE VOCÊ
PODERIA VER A MESMA ROTINA MOMENTOS DEPOIS E
MESMO SABENDO O QUE ACONTECERIA NÃO PERCEBERIA
NENHUM DAS CARGAS QUE ACONTECEM. NA MESMA
HORA PENSEI SER UM EXAGERO, QUE A PESSOA APENAS
ESTAVA QUERENDO SER GENTIL. MAS REALMENTE FOI O
QUE ACONTECEU DEPOIS QUE TIVE A OPORTUNIDADE DE
ASSISTI-LÁ. O QUE VOCÊ PODE NOS FALAR SOBRE O USO
DA MISDIRECTION, QUE É UMA FERRAMENTA TÃO BEM
USADA POR VOCÊ?
(T.W.) Em primeiro lugar acho que o uso do termo
“Misdirection” é um grande erro. Quer dizer direção errada,
significa que a atenção deve ser desviada a outra direção,
e não deveria ser assim. O melhor termo a usar seria
“Direction”, porque focamos em dirigir a atenção a um lugar
e não em desviá-la, pode parecer um detalhe, mas faz toda
a diferença. Se você quer empalmar uma carta com a mão
direita, todos seus esforços são dirigidos a desviar a atenção
dessa mão e assim sua mente se foca nisso, na mão direita.
É difícil esquecer-se dessa mão, isso transparece para o
público, e podem acabar como você. Agora imagine que
você se concentre em usar a mão esquerda para deslocar
uma taça em cima da mesa, toda sua a atenção está nessa
ação, e enquanto faz isso empalma uma carta com a outra
mão. É uma dinâmica totalmente diferente.
Outro problema é que a técnica é usada de maneira errada,
para corrigir problemas em uma rotina. É como construir um
barco, notar que está cheio de furos e então usar algo para
remendá-los. Não seria melhor já construir o barco sem o
problema? Eu sempre tento construir minhas rotinas para,
a todo momento, controlar o foco de atenção para onde
desejo, e assim fica mais fácil identificar os momentos onde
posso realizar as ações secretas necessárias.
(T.W.) Umas das maiores dificuldades no uso da
“Misdirection” (vamos seguir usando esse termo para
facilitar) para encobrir alguma parte do segredo consiste em
ser praticamente impossível conseguir isso se falta confiança
em seu poder. Vamos supor que você vai apresentar pela
primeira vez um efeito que requer o poder da “misdirection”
para ocultar o método. É completamente compreensível
que você esteja nervoso, e essa falta de confiança pode
fazer com que seu controle de atenção não funcione. Esse
fracasso irá minar sua confiança no poder da “misdirection”.
Assim, na próxima vez que for apresentar esse efeito sua
confiança será ainda menor, e esse ciclo continuará até que
você acabe concluindo que tudo relacionado a “misdirection”
não serve para você, e acabará deixando de lado uma das
ferramentas mais poderosas que um mágico pode ter a seu
dispor. Então para evitar isso o ideal é encontrar maneiras
de experimentar esse poder sem a possibilidade de fracasso.
O primeiro efeito do meu livro é um exemplo disso: nele
um ovo aparece na mesa com o mágico a 1m de distância.
O método é puro controle de atenção, mas esse não é o
efeito final da rotina, então se no momento exato você
percebe que alguém está vendo você deixar o ovo na mesa,
simplesmente age normalmente como se estivesse fazendo
aquilo abertamente sem tentar esconder e segue com a
rotina, que culmina com uma carta aparecendo no interior
do ovo. Mas é um assunto muito complexo para eu tentar
explicar em detalhes aqui, em meu livro explico tudo que sei
sobre “misdirection” e como a aplico em meu trabalho.
(A.G.) QUAIS DICAS VOCÊ DARIA PARA AQUELES QUE
QUEREM EXPLORAR TODO O PODER DA MISDIRECTION?
27
(A.G.) O QUE VOCÊ ACHA DA FRASE DO AL BAKER “NÃO
CORRA SE NINGUÉM ESTIVER LHE PERSEGUINDO”?
QUERENDO DIZER QUE NÃO SE DEVE FICAR TENTANDO
PROVAR DEMAIS ALGUMA COISA, SE AS PESSOAS NEM
ESTÃO PENSANDO NAQUILO.
(T.W.) Faz todo sentido e digo mais, acho que uma vez que
essa “corrida” é iniciada não tem como sairmos vencedores,
“correr” mais que eles é impossível. Você não pode se
dar ao luxo de sequer entrar numa corrida dessas, por
isso acho que precisamos fazer nossas corridas antes que
alguém esteja nos perseguindo. Temos que pensar em
tudo que for possível, toda estratégia, toda sutileza, todo
ardil disponível para dirigir a atenção em direção ao efeito
distanciando-a do método. Esse “correr” durante a etapa de
construção da rotina garante que não haverá perseguições
durante a apresentação. Temos que usar a estrutura do
efeito para provar tudo que pudermos, para que na hora da
apresentação não precisemos provar quase nada.
(A.G.) E O QUE FAZER COM ESPECTADORES QUE NÃO SE
DEIXAM LEVAR POR NOSSA APRESENTAÇÃO, QUE SÓ
QUEREM DESCOBRIR O SEGREDO?
PARA OS MÁGICOS DE AUTO-ILUDIREM EM RELAÇÃO AO
SEU SUCESSO?
(T.W.) Existe uma coisa muito interessante sobre o público,
que pode nos dar uma impressão errônea sobre nosso
sucesso. Os espectadores são muito sensíveis ao nível de
profissionalismo do artista, sua impressão não se baseia
apenas no repertório do mágico e no quão bem ele o
apresenta, mas também no ambiente em que trabalha, na
atitude, na confiança, na maneira como se veste, na idade,
em suas aparições mais ou menos freqüentes na televisão,
e outros diversos fatores. É importante para um iniciante
saber que as pessoas o tratam diferente de acordo como
ele é percebido. Quando alguém não é reconhecido como
um profissional experiente, quase sempre os espectadores
são mais indulgentes. As pessoas assistirão com menor
atenção e estarão dispostos a perdoar mais coisas. Não
estou dizendo que vão descobrir o segredo dos números e
fingirão que não perceberam por educação, mas justamente
por a atenção ser menor, muitas coisas que de outra maneira
detectariam e criticariam no trabalho de um profissional,
passarão despercebidas. Quanto maior a experiência do
profissional, mais impiedoso será o público.
(T.W.) A primeira coisa a fazer é verificar se algum elemento
de sua apresentação incentiva o público a fazer isso. Pode
ser um detalhe pequeno e sutil. Procure por qualquer coisa
que possa sugerir “sou mais esperto que vocês”. A melhor
maneira de impedir que o público assuma o papel de
detetive é ter certeza de que sua mágica desperta muito mais
interesse do que um simples enigma.
(A.G.) MAS VOCÊ NÃO ACHA QUE MESMO NUMA
APRESENTAÇÃO QUE NÃO TENHA NENHUM DESSES
ELEMENTOS DE DESAFIO PODEM SURGIR ESPECTADORES
ASSIM, QUE SÓ TEM INTERESSE EM DESCOBRIR OS
SEGREDOS?
(T.W.) Claro que é possível, algumas pessoas estão
condicionadas a no momento quem vêem um mágico
focarem toda sua energia para descobrir o segredo. Não
é muito inteligente pensar que com sua personalidade e
apresentação você conseguirá sempre transportar todos
os membros do público a um mundo de sonhos onde eles
deixarão de lado sua incredulidade de maneira voluntária. Os
que pensam assim dão a impressão de nunca terem atuado
perante um público real. Quando nos depararmos com um
espectador desse tipo, é preciso de alguma maneira tirá-lo
de sua posição de apenas observador. Temos que fazer com
que participem fisicamente, pedindo que emprestem algum
objeto, que segurem alguma coisa ou que façam algo. Uma
vez que tenham entrado no jogo e recebido o impacto do
primeiro efeito, na maioria das vezes não voltam ao papel de
detetive imparcial.
(A.G.) DEPOIS DE VER A QUANTIDADE DE ESFORÇO E
PENSAMENTO QUE VOCÊ COLOCA EM SUA MÁGICA,
MUITOS MÁGICOS PODER SE PERGUNTAM SE É
PRECISO REALMENTE TODO ESSE TRABALHO, AFINAL DE
CONTAS JÁ CONSEGUEM GRANDES REAÇÕES EM SUAS
APRESENTAÇÕES. POR QUE VOCÊ ACHA QUE É TÃO FÁCIL
28
(A.G.) PERCEBO QUE OUTRO FATOR QUE CONTRIBUI
PARA ESSA ACOMODAÇÃO É QUE OS MÁGICOS TÊM
UMA TENDÊNCIA A SEREM POUCO CRÍTICOS COM SEUS
COLEGAS, A QUE VOCÊ ATRIBUI ISSO?
(T.W.) É muito cultivada a ideia de que a mágica é uma
grande família, onde todos somos irmãos em função de
nosso interesse em comum. Isso é muito bonito e tem
seu aspecto positivo claro, mas também causa alguns
problemas, como esse citado por você. Eu fico realmente
revoltado quando vejo mágica ruim ser aplaudida e
incentivada apenas por conta dessa ideia de que a mágica
deve ser uma fraternidade onde tudo é perfeito e lindo.
Esse conceito de “grande família” muitas vezes incentiva
os mágicos a se acomodarem, com a amizade sendo mais
importante do que a busca pela boa mágica. Claro que
podemos ser amigos, mas isso não pode interferir no
estímulo à mágica de qualidade. Já vi muitas organizações
mágicas defenderem que a amizade e fraternidade são os
aspectos mais importantes da mágica. Essas organizações
fariam um bem maior se promovessem a boa mágica, e
deixassem o desenvolvimento da amizade para os
indivíduos envolvidos.
CAPA JUNHO
(A.G.) VOCÊ ACHA QUE QUALQUER PESSOA PODE
FAZER MÁGICA, OU É PRECISO NASCER COM TALENTO
PARA ISSO?
(T.W.) Acho que é necessário que tenha um talento natural.
Mas esse talento é como um diamante bruto, que precisa ser
polido para que toda sua beleza apareça. Não adianta nada
ter talento e não desenvolvê-lo, é preciso muito trabalho para
tirar proveito disso.
(A.G.) MAS ESSA IDEIA, DE QUE SEM UM TALENTO
NATURAL É IMPOSSÍVEL ALGUÉM SE TORNAR UM BOM
MÁGICO, NÃO É UM POUCO PESSIMISTA, E ATÉ ELITISTA?
(T.W.) Pode parecer, mas por outro lado eu acredito que
a grande maioria das pessoas possuem algum talento.
Talvez não muito, mas um minúsculo diamante polido até
a perfeição é muito mais belo que um grande diamante
bruto. Então não é preciso se desesperar ao notar que seu
diamante bruto não é muito grande, mesmo assim sua
mágica pode ser admirável. Mas como eu já disse, é preciso
muito trabalho para isso. Eu percebo que muitas vezes a
expressão “falta de talento” é usada como desculpa para
“falta de trabalho”.
(A.G.) E QUAL A MELHOR MANEIRA DE
“POLIR ESSE DIAMANTE”?
(T.W.) Praticando e apresentando mágica o máximo que
você puder. Quanto mais você a fizer, mais experiência
acumulará e mais desenvolverá um sentido para perceber o
que cai bem para você, um tipo de intuição. Com o tempo
apenas se imaginando apresentando algo você será capaz de
saber se aquilo combina com seu estilo ou não.
A GUILHOTINA
(A.G.) BOA PARTE DOS 2 VOLUMES DE SEU LIVRO
SÃO DEDICADOS À TEORIA. MUITOS MÁGICOS DEFENDEM
QUE TEORIA É BONITA NO PAPEL, MAS NÃO TEM
MUITA APLICAÇÃO PRÁTICA. O QUE VOCÊ TEM A
DIZER SOBRE ISSO?
(T.W.) Primeiro preciso dizer que a intuição que
desenvolvemos depois de muito trabalho é a melhor
ferramenta que temos à disposição para desenvolver nossa
mágica. Esse feeling é um critério muito melhor e muito
mais seguro para tomar decisões do que qualquer análise
teórica. Claro que essa intuição dependerá do seu talento
natural e o quanto você a desenvolveu.
(A.G.) PARA QUE SERVE A TEORIA ENTÃO?
(T.W.) Depois que a intuição lhe mostrar o caminho, a teoria
poderá ajudá-lo muito.
A intuição é uma peça chave para a criação de boa mágica,
mas por si só é pouco provável que alcance o potencial
máximo das ideias que ela produziu. Essa é a tarefa da
análise teórica. Mas por outro lado, aplicar teoria sem esse
primeiro passo intuitivo pode produzir uma verdadeira
porcaria. A principal função da teoria é solidificar e refinar os
frutos de nossa intuição. Primeiro vem intuição, depois teoria
e análise. Essa progressão é essencial.
(A.G.) E SE A PESSOA NÃO TEM ESSA INTUIÇÃO
DESENVOLVIDA?
(T.W.) Se você não confia em sua intuição, deve aprender
a desenvolvê-la, a trabalhar e ter fé nela. Se sua intuição
se mostra errada repetidas vezes, só significa que
ainda não está desenvolvida, ou que simplesmente falta
talento. Relembrando, o tamanho do talento não pode ser
aumentado, mas a pessoa deve continuar trabalhando, e
chegará o momento em que descobrirá que pode confiar
nessa intuição cada vez mais.
(Continua
na edição de Julho)
29
DO FUNDO DA CARTOLA
HISTÓRIA JUNHO A GUILHOTINA
Leonardo Glass
A Guerra das Varinhas
A RIVALIDADE ENTRE MÁGICOS
Quem assistiu ao filme “O Grande Truque” viu a que ponto pode chegar a rivalidade entre dois mágicos. No
mundo real, rivalidades também aconteceram, e muitas delas entraram para a história.
Alexander Herrmann x Carl Herrmann –
Irmãos dividindo o mundo
X
Seria um exagero dizer que Carl e Alexander eram
rivais. Carl e Alexander eram irmãos e Carl (cujo nome
verdadeiro era Compars) servia de inspiração ao irmão
mais novo. Carl largou os estudos em medicina e resolveu
dedicar-se integralmente à mágica. Sendo um grande
fã do irmão mais velho, Alexander começou a copiar o
irmão e a demonstrar interesse na mágica. Precisando
de ajuda e percebendo o interesse do irmão mais novo,
Carl “sequestrou” Alexander – que à época tinha apenas
oito anos – e o levou para uma turnê pelo Leste Europeu.
Alexander servia ao irmão como assistente de palco. Ele
levitava no palco apoiado em bastão e atuava como médium
vendado. Alexander ainda tomava lições de manipulação,
para a qual demonstrou grande afinidade. Após a turnê,
Carl “devolveu” o irmão aos seus pais. Alexander mostrou
ao seu pai, Samuel (o qual já era um renomado físico – ou
seja, um mago cientista) o que havia aprendido com o
irmão. Samuel viu o potencial do garoto e permitiu anos
mais tarde que Alexander acompanhasse o irmão. Aos
11 anos Alexander mudou-se de Paris para Viena para
trabalhar ao lado do irmão.
A cada ano a habilidade de Alexander aumentava
e ele se tornava parte maior do show. Aos 17 anos,
Alexander e Carl vieram para a América. Já era patente que
a habilidade de Alexander rivalizava com a do irmão. Isso
deixou Carl ciumento, porém, ele continuava sendo a estrela
do show e Alexander continuava sendo o médium vendado.
Os irmãos fizeram seu tour pela América e logo decidiram
se separar. Enquanto Alexander permaneceu na América,
tornando-se “O” Herrmann, Carl voltou para a Europa e por
lá excursionava. Assim o mundo ficou dividido entre dois
Hermmanns: Carl ficou com a Europa e Alexander com a
América. A rivalidade entre os irmãos não era declarada,
mas é fato que ambos competiam para ver quem levaria o
nome Herrmann mais longe. E, embora rivais, eles ainda
eram irmãos.Quando Carl faleceu em 1887, Alexander ficou
profundamente triste e para um jornal declarou que tudo o
que ele era, devia ao irmão.
30
Chung Ling Soo x Ching Ling Foo – A
batalha pelo original
X
O original não se desoriginaliza ou, ao menos, não
deveria. Mas e quando a cópia sobrepuja o original? Essa é
a história de Chung Ling Soo e Ching Ling Foo. Ching Ling
Foo (nascido Zhu Liankui) era um mágico chinês, nascido
em Pequim, versado nas artes ilusionistas orientais. Tendo
alcançado grande prestígio na China, resolveu tentar a sorte
no Ocidente, empreitada essa que foi bem sucedida; Foo
foi o primeiro mago oriental a fazer sucesso no ocidente.
Dentre seus truques estavam a produção de uma enorme
tigela cheia d’água e a decapitação de um garoto (coisa
que nem Dedi fez, mas divago...). Num ato de publicidade,
Ching desafiou qualquer pessoa a reproduzir o seu número
da tigela de água. A recompensa era de US$ 1.000,00
(aproximadamente R$ 30.000,00 em valores atuais).
Foi então que um mágico do Brooklyn chamado William
Robinson arriscou reproduzir o truque. Foo repeliu o
desafiante, recusando-se até mesmo à assistir à tentativa
de Will. Ficou claro, então, para Will que Foo não daria
o prêmio a ninguém, independentemente da realização
do truque. A vingança de William foi única. Aproveitando
uma oportunidade de trabalho que requeria um ilusionista
chinês, William emulou praticamente todo o show de Ching.
O próprio nome artístico foi uma cópia quase fiel do rival.
Assim, em 1900, nascia Chung Ling Soo. O toque de gênio
foi o slogan criado por ele: “O conjurador chinês original”.
De acordo com a biografia fictícia de Chung, ele era filho de
um missionário americano e mãe cantonesa. Ficou órfão de
pai e mãe aos 13 anos e foi então adotado por Arr Hee, um
mágico chinês versado também nos truques “europeus”.
Após a morte de seu mestre, Soo partiu pelo mundo em
carreira solo e chegou à América.
Robinson manteve-se no papel de forma plena e
integral. Raramente falava inglês no palco e quando falava
era um inglês fortemente carregado de sotaque. Entrevistas,
só com o suporte de intérpretes. Logo, Soo (Robinson)
se tornou o mágico oriental mais popular do ocidente,
sobrepujando inclusive o próprio Foo (Liankui). Não tardou
para que Liankui desafiasse seu simulacro.
CAPA JUNHO
A GUILHOTINA
Em 1905 os dois mágicos estavam em Londres,
Foo (Liankui) se apresentando no Empire Theatre e Soo
no Hipódromo. À essa altura Foo já sabia da verdadeira
identidade de Soo e que ele havia emulado o seu show.
Como um golpe publicitário, Foo (Liankui) foi à público e
anunciou que Soo (Robinson) era uma fraude e se propôs
a replicar, pelo menos, metade do show de Soo, provando
assim que ele era o verdadeiro ilusionista chinês. Sem se
abalar Soo aceitou o desafio e concordou em se encontrar
com Foo no escritório da “The Weekly Dispatch”, um jornal
londrino da época.
O problema para Foo é que a imprensa estava mais
interessada na disputa entre números de mágica do que na
real identidade de Soo, o que foi um baque para Liankui.
Dessa forma, Liankui se recusou a aparecer na conferência
de imprensa e retirou o desafio. O episódio causou um
embaraçamento público para Foo a ponto de seu show no
Empire Theatre ter durado apenas quatro semanas, enquanto
o show de rival ficou em cartaz por cerca de três meses.
Em 1918 Soo (Robinson) morreu tragicamente
durante um show enquanto executava o truque de pegar a
bala. Sua morte causou dupla comoção: pelo modo como
aconteceu, e por finalmente fazer a verdade sobre sua
identidade vir à tona. Já a morte de Foo, 4 anos depois,
permanece ainda hoje um mistério.
da assistente e, em seguida, serrada ao meio com um serrote.
As seções eram separadas e o torso da assistente mostrado.
Na versão de Goldin, a caixa ficava na horizontal e a assistente
entrava dentro da caixa. Seus pés, mãos e cabeça eram
postos para fora por aberturas feita na caixa e a assistente
presa por grilhões. A caixa então era serrada ao meio e em
seguida eram inseridas folhas de metal nas bordas cortadas
e as metades separadas. A primeira apresentação de Goldin
não foi das mais exitosas. Seu número apresentou inúmeras
deficiências que não trouxeram o assombro esperado.
Ainda mais em se considerando que foi apresentado para
os membros da Sociedade Americana de Mágicos. Mas um
dos espectadores viu o potencial do truque e se prontificou
em ajudar Goldin a desenvolvê-lo. Howard Thurston então
indicou Harry Janses, seu engenheiro de equipamentos que
refinou o número. Nesse ponto, Goldin acabou registrando
e patenteando o número, o que impediu que outros mágicos
pudessem executar esse número. Assim, por 17 anos, Goldin
teve o monopólio do número, tanto que, até hoje, algumas
pessoas creditam a ele a invenção desta ilusão. Goldin ainda
enfrentou alguns processos judiciais por conta do segredo
do número e de sua revelação. Quanto à Selbit, ele voltou
para a Inglaterra onde continuou trabalhando e tentando
criar números tão bons quanto o da mulher serrada ao meio.
Muitos de seus números fizeram muito sucesso como o
“The Million Dollar Mystery” apresentado, entre outros, por
Carter, o Grande; Mas nenhum deles atingiu o mesmo grau de
sucesso da mulher serrada ao meio.
Horace Goldin x P.T. Selbit –
O número da discórdia
Houdini x Thurston –
O Ying-Yang da mágica
X
Goldin era um mágico polonês que migrou para a
América ainda adolescente. Seu sucesso veio em 1921 ao
apresentar e patentear o número da mulher serrada ao meio.
O problema é que este truque foi criado por PT Selbit,
um mágico inglês, o qual foi assistido por Goldin meses
antes de ele dar entrada na patente do número da mulher
serrada ao meio.
Selbit apresentou seu número oficialmente em
janeiro de 1921, meses antes, portanto, de Goldin. Há
registros que já em dezembro de 1920 Selbit havia feio
pequenas exibições privadas para alguns donos de teatro a
fim de avaliar a qualidade do seu número.
Havia pequenas diferenças entre os números:
no de Selbit a caixa ficava na vertical e a assistente ficava
com braços e pernas abertos. Era amarrada com cordas
pelos pés e mãos por voluntários da plateia. A seguir eram
inseridas duas placas de vidro na caixa, na altura do torso
X
Dois grandes mágicos que não poderiam ser
mais contrastantes. Não se odiavam, mas também não
se amavam. Não obstante, Jim Steinmeyer dedicou um
livro inteiro para contar a história de rivalidade entre Harry
Houdini e Howard Thurston. Thurston foi vice-presidente
da Sociedade de Mágicos Americanos; Houdini foi o
presidente. Thurston era um ex-golpista que revisou a sua
biografia para vender a imagem de um homem religioso e
de intenções nobres; Houdini era filho de um rabi judeu e
forjou uma identidade falsa na qual havia se associado à
criminosos. Aliás, Thurston era reconhecidamente um polido
gentleman, enquanto Houdini era visto como arrogante e
cheio de si. Apesar de famoso pelas suas grandes ilusões,
a grande virada de Thurston veio quando aprendeu o
“backhand palm” com T. Nelson Downs; Houdini, apesar de
se proclamar o “O rei das cartas” era pífio na cartomagia e
o causo onde foi enganado por Dai Vernon tornou-se uma
lenda no meio mágico.
31
O grande número de Thurston foi “A Levitação
da Princesa Karnac”, número que herdou de Harry Kellar;
o grande número de Houdini foi criado por ele mesmo,
mas não envolvia mágica, mas sim escapismo (“The
Water Torture Cell”). Aliás, Thurston foi o sucessor natural
de Harry Kellar, o maior ilusionista nativo americano até
então. Houdini era muito amigo de Kellar, praticamente um
discípulo, mas não o seu sucessor natural.
O show de Thurston fazia jus ao título de “O Show
mais Maravilhoso do Universo”: dançarinas, um automóvel
que desaparecia no palco, transformações, truques com
água, cartas, patos, coelhos... O show de Houdini incluía,
além de algum ato de mágica, escapismo e uma lição sobre
os falsos médiuns. Steinmeyer definiu a rivalidade entre
os dois de forma absoluta e brilhante: “Enquanto Thurston
buscava se tornar o melhor mágico do mundo, Houdini
lutava para se tornar uma lenda”. No fim das contas, cada
um obteve o seu quinhão.
David Copperfield x Herbert Becker –
Batalha nos tribunais
X
David Copperfield já se envolveu em inúmeros
processos, a grande maioria de natureza trabalhista. Mas um
caso em especial entrou para o hall de causos curiosos da
arte. Em 1993 Herbert Becker estava escrevendo um livro
sobre a vida de grandes mágicos e revelando alguns de
seus truques mais famosos, quando David Copperfield se
aproximou de Becker e pediu para ser incluído no livro. Os
dois trabalharam juntos e Becker incluiu em seu livro, além
de fatos sobre a vida de Copperfield, a revelação de alguns
de seus truques.
Mais tarde Copperfield moveu um processo contra
Becker com o intuito de parar a publicação do livro sob
pretexto de que “Becker estaria revelando os truques de
Copperfield”. David perdeu o processo, mas quando o livro
foi publicado em 1995 este saiu da gráfica SEM o capítulo
sobre David Copperfield. Um capítulo inteiro simplesmente
desapareceu do livro. Becker buscou tomar satisfações da
editora mas estes se recusaram a comentar sobre o ocorrido.
Em 1997 Becker processou a editora e David Copperfield
alegando um conluio entre eles que culminou em uma quebra
de contrato da Editora com Becker. Becker saiu vencedor
deste processo;
Poucas semanas depois de ser processado por
Becker, Copperfield entrou com um processo contra a revista
Paris Match por difamação. Segundo a revista, o encontro de
David Copperfield e Claudia Schiffer teria sido armado e o seu
casamento um mero arranjo de interesses, e que ela sequer
32
gostava de David. David alegou que Becker era a fonte por
trás da história e o acusou de ser um mágico fracassado e
invejoso. Becker negou a acusação e disse que Copperfield
era realmente terrível com as mulheres e que só
queria fama e atenção.
Independentemente se Becker era ou não a fonte
por trás da notícias, o fato é que David e Becker resolveram
as suas diferenças e Becker, antes citado no processo por
Copperfield, acabou testemunhando em defesa do outrora
rival. E o testemunho de Becker foi decisivo para que em
1999 David Copperfield saísse vencedor do processo contra
a revista francesa, a qual, além de pagar a indenização, se
retratou publicamente.
E hoje?
Atualmente a rivalidade entre artistas é menos
patente, embora ainda exista. Porém, ao invés de resolver o
problema nos palcos, eles tem sido decidido nos tribunais.
Em 2012 Teller moveu um processo contra o
mágico holandês Gerard Bakardy por suposta quebra de
direitos autorais. Bakardy assistiu a uma apresentação
de Penn & Teller em Las Vegas e quando viu o número
“Shadows” de Teller, no qual Teller projetava a sombra de
uma rosa em um fundo branco e, ao cortar a sombra da
rosa com uma faca, a rosa caia no palco. Bakardy então
criou o seu próprio método para o efeito e o colocou à
venda por US$ 3.000.
O problema é que esse truque havia sido
patenteado por Teller em 1983. Teller ainda tentou um
acordo com Bakardy para comprar a sua versão, mas
não houve acordo. O caso foi parar nos tribunais e em
2014 Teller saiu vitorioso. O caso tornou-se emblemático
pois abriu a discussão sobre a aplicação da lei de direitos
autorais para números de mágica como um todo, e não
apenas para o aparato. Hoje os mágicos convivem com
uma nova realidade: as redes sociais que permitem críticas
mais mordazes e o nascimento de inimizades entre artistas
mágicos, muitas vezes ainda antes da fama. Parafraseando
um rabino do século I d.C. “(...) é inevitável que
hajam escândalos; mas ai daquele homem por quem
o escândalo vem.”
Leonardo Glass é cartomago amador, mentalista
incipiente e fortiano convicto.
PASSO A PASSE
ACADEMIA
JUNHO A GUILHOTINA
Daniel Prado
Olá caros leitores, é com enorme satisfação que
inauguro esta coluna onde vocês poderão não só aprender
números novos e originais, como também clássicos da
mágica em diversos segmentos. Todos nós sabemos que
sem a transmissão de informação nosso ofício certamente
morreria. A divulgação de uma ideia é fundamental para que
esta floresça, ganhe notoriedade e por fim, saia do mundo
das ideias e passe a pertencer ao mundo dos fatos. Um
bom mágico não deveria se conter apenas em encantar seu
público, mas também em provê-lo de material novo, fresco,
mesmo que adaptando, a seu modo, um número antigo.
A criação de técnicas e efeitos é, sem dúvida, uma
engrenagem importante no desenvolvimento de uma cultura
mágica mais coesa e estimular este processo é nosso dever!
Aqui você terá acesso a ideias originais e clássicas explicadas
em detalhes, para que você possa colocá-las em prática o
mais rapidamente possível. Bem-vindos ao Passo a Passe!
Modus Operandi
A ideia é uma variação do Cull Force e se apresenta
da seguinte forma:
Culling é a técnica para se “separar” uma carta
durante a abertura (spread) das cartas nas mãos. O cull mais
conhecido é o Hofzinser Spread Cull. No entanto, recomendo
fortemente o DVD Roadrunner Cull de Kostya Kimlat, que é,
mais especificamente, o cull que utilizo. O cartão apresentado
tem em seu verso o desenho de uma carta ou o nome da
carta escrito. Este cartão deve ser deixado com o desenho
pra baixo sem nenhuma ênfase de que há algo escrito nele.
Para efeito didático, a carta desenhada será o 7 de Copas.
Após o espectador misturar bastante as cartas do
baralho, no momento em que você abrir as cartas com
as faces para cima para comentar sobre a ordem única,
procure o 7 de Copas
May The Force Be With You - Daniel Prado
Descrição do efeito:
O mágico apresenta seu cartão de visitas e o deixa
em destaque em cima da mesa. Apresenta um baralho ao
espectador e pede para que ele seja embaralhado. São
mostradas as faces das cartas, lembrando ao espectador que
o baralho agora se encontra em uma ordem única, a qual ele
não mais tem qualquer controle.
O mágico então explica que ele tem uma carta em
mente e pede para que o espectador coloque seu cartão de
visitas onde ele quiser no meio do baralho. Começa então
a abrir as cartas nas mãos, com as faces para baixo e pede
para que o espectador coloque este cartão onde quiser,
especificando se quer que o cartão fique acima, ou abaixo da
carta que o mágico está pensando. O cartão é posicionado e o
baralho é fechado e entregue de volta ao espectador.
Explica-se que a mágica é como uma substância que permeia
o universo. Ninguém sabe exatamente o que é ou como ela
funciona, mas que todos nós estamos sujeitos aos seus
poderes e qualquer um pode controlá-la. Ele, o mágico,
transferiu esta habilidade ao espectador por alguns segundos
sem que ele soubesse, de forma que o espectador possa
experimentar a sensação de controlar essa energia. Ele pede
então que o espectador vá abrindo as cartas até encontrar
seu cartão e assim que encontrar, verificar qual carta está na
posição. O espectador olha então a carta e verifica que é um 7
de Copas. O mágico sorri satisfeito e diz: “Esta era exatamente
a carta que eu estava pensando!” É claro que neste momento
não há mágica nenhuma, afinal, que prova o espectador
tem de que esta era exatamente a carta que estava em seu
pensamento? O mágico pede para o espectador olhar o verso
do cartão. Nele há um desenho de uma carta: 7 de Copas!
e faça um cull nele.
Vá até o final e, conte quatro cartas a partir do topo.
33
Posicione o 7 de Copas na quinta posição (considerando o
baralho virado com as faces para baixo)
Feche o baralho, vire-o com a face para baixo, peça para
o espectador pegar seu cartão de visitas e comece a abrir
o baralho nas mãos, com as faces das cartas para baixo
e imediatamente faça um cull na 5ª carta (7 de Copas).
Mantendo o 7 de Copas “separado”.
Se ele disser ABAIXO, apenas coloque o macete da mão
direita acima do cartão e a carta escolhida será imediatamente
a carta acima do cartão.
Peça para ele ver qual é a carta.
e logo após se referir à prova de que aquela era a carta na
qual estava pensando, peça para que ele veja o verso do
cartão.
Peça para o espectador apontar onde quer colocar o cartão
e corte o baralho naquela posição. Peça para o espectador
colocar o cartão acima do macete da mão esquerda. Pergunte
a ele se quer o cartão ACIMA ou ABAIXO da carta. Se ele
escolher ACIMA, “carregue” o 7 de Copas, que agora é a
última carta do macete da mão direita, abaixo do cartão e
feche o baralho.
Pensamentos Finais
Se você preferir, você pode pedir para o espectador
embaralhar as cartas e ao abrir o baralho (em faixa, em
uma mesa, por exemplo) você nota a 5ª carta (do topo para
a boca) e a partir daí, faz uma previsão no seu cartão de
visitas. Sempre que elaboro um efeito ou técnica, penso em
diversas aplicações para ela que não caberiam neste espaço.
Sugiro que, como exercício, você pense em outras aplicações
para o mesmo princípio.
Até a próxima!
Daniel Prado é louco, não confie nele!
34
CAPA JUNHO
A GUILHOTINA
Reflexo 2.0
Criado e descrito por Emerson Rodrigues
Na primeira edição da “Convenção de Mágicos em
Oz” compartilhei em minha conferência o efeito “Reflexo” um
dos meus efeitos favoritos, mas que devido ao formato da
“foto/previsão” foi levantada uma objeção sobre a orientação
da foto (sobre a foto estar ou não de cabeça para baixo).
Agora a orientação é reforçada pelas palavras escritas na
foto, desde que visualizei este efeito eu queria que ele fosse
algo que eu pudesse fazer “em qualquer momento e qualquer
lugar” (O que não é tão prático usando-se 2 baralhos) por
isso mudei os objetos, que agora além de fazerem mais
sentido entre si, todos podem ser facilmente carregados em
sua carteira e serem usados em qualquer lugar, eu acredito
também que o fato de usar dinheiro como um dos objetos
atrai mais interesse e adiciona drama à trama.
Efeito:
O mágico abre a carteira. Retira uma foto de dentro
e a deposita sobre a mesa, em seguida ele retira uma nota de
dinheiro enrolada por um elástico e propõe uma aposta, uma
chance de o espectador ganhar dinheiro, retira o elástico da
nota e entrega estes dois objetos para o espectador (uma nota
dobrada e o elástico), ele diz que independente das ações do
espectador, na foto em que ele pôs sobre a mesa ele tem “um
reflexo perfeito de suas escolhas”, ”caso a previsão não reflita
as suas escolhas você pode ficar com o dinheiro” ele pede
para que o espectador troque os objetos de uma mão para
outra rapidamente e pare quando ele quiser. Independente
de qual objeto estiver na mão esquerda ou direita a previsão
estará sempre correta.
Materiais
1 elastico,1 nota de dinheiro e 1 uma foto editada.
Preparação
A foto contém a imagem de um mágico (Apenas as
mãos) emoldurada em um espelho (representando o reflexo)
segurando dois objetos, um elástico em sua mão esquerda e
o dinheiro em sua mão direita, abaixo de sua mão direita esta
escrito “Dinheiro” e embaixo da sua mão esquerda está escrito
“Elástico”. Abra a nota de dinheiro e escreva: “Obrigado por se
deixar levar pelo meu poder de indução e deixar a nota em sua
mão esquerda e o elástico em sua mão direita” Dobre a nota
algumas vezes e a enrole com o elástico. Guarde tudo na sua
carteira, e quando alguém te disser: “Você é MÀGICO?
Faz uma mágica para mim???!!!” E você estiver sem o seu
baralho, você já tem o que apresentar!
Explicação
O roteiro é muito importante para o sucesso deste
efeito “Independente de suas ações aqui eu tenho um reflexo
perfeito de suas escolhas”. Esta frase tem duplo sentido,
já que em sua previsão você tem a imagem de um reflexo
no espelho e como sabemos quando estamos na frente de
um espelho nossa imagem fica invertida, ou seja, de acordo
com a posição dos objetos, posso mostrar a foto de maneira
diferente.
Resultado 1: Se o dinheiro estiver na mão esquerda de
seu espectador e o elástico estiver por consequência na
mão direita, você apresentara a foto de frente para ele
representando um espelho, ou seja, um reflexo perfeito. Para
reforçar que isto não é apenas uma coincidência e que você
tinha total certeza das escolhas de seu espectador você abre
a nota de dinheiro e lê o que está escrito em seu interior
“Obrigado por se deixar levar pelo meu poder de indução
e deixar a nota em sua mão esquerda e o elástico em sua
mão direita”.
Resultado 2: Se o dinheiro estiver na mão direita de seu
espectador e o elástico estiver por consequência na mão
esquerda, você apresenta a foto ao lado do seu espectador
e mostra que realmente na foto você está segurando o
Dinheiro com a mão direita e o Elástico com a mão esquerda,
e para salientar o fato de que não é apenas uma coincidência,
você explica: “eu tinha tanta certeza de que você acabaria
com o dinheiro na mão direita e o elástico na mão esquerda
que eu não escolhi estes objetos por acaso”; então, você
salienta o fato de que dinheiro começa com a letra D de
“direita” e elástico começa com a letra “E” de esquerda,
assim como está escrito na foto (As letras iniciais das
palavras “Dinheiro” e “Elástico” tem coloração diferente
para salientar isto).
Creditos: Efeito inspirado no efeito “The Blocks of the Yogi”
publicado no livro “Dunninger’s Complete Enciclopedia of
Magic” de 1967. Dunninger usava dois blocos de madeira
de cores diferentes, e um gimmick para identificar a
posição dos blocos dentro do bolso esquerdo ou direito do
espectador, outro efeito que provavelmente me influenciou
no funcionamento da previsão foi o efeito “Rubik Predicted”
de Mark Elsdon.
OBS: Para receber o arquivo da foto editada, basta enviar
um e-mail para: [email protected] com o assunto:
Reflexo 2.0.
35
NA PONTA DOS DEDOS
AVALIAMOS JUNHO A GUILHOTINA
Emerson Rodrigues
Automata por Gary Jones e Chris Congreave
Revisado por Emerson Rodrigues
bem criativo, o único problema é achar o tipo de alfinete que
ele usa, que é uma espécie de alfinete tamanho jumbo.
Free Phone: Uma versão bem bacana de Corbuzier’s Free
Will,usando uma mensagem de texto no celular como previsão.
A mensagem indica as escolhas do espectador entre 3 objetos.
Poker cheat: O espectador dá as cartas, mas você sempre
vence. Para quem gosta de números com o toma Poker é uma
boa pedida e não requer habilidade.
Titulo: Automata por Gary Jones e Chris Congreave
Tipo: DVD
Fabricado por: Full 52 Productions
Lingua: Inglês
Faixa de Preço:$22,40 (Dolares)
Automata é um DVD com nove rotinas intituladas pelo texto
de propaganda como “self-working” (Automáticas). Existem
duas rotinas que no meu ponto de vista não se encaixam
nesta premissa, mas isso não significa que sejam efeitos
difíceis de se executar. Em sua maioria são efeitos de fácil
execução e bem profissionais, este é um DVD feito com o
Worker (mágico profissional) em mente.
Conteúdo: Metal Sheep
É uma transposição múltipla de moedas. Na verdade se
trata de uma variação do clássico números das ovelhas,
muitas vezes apresentado com bolinhas de papel, aqui ele é
apresentado com moedas e com um gimmick que deixa o
efeito mais limpo.
Card 2 Matchbox: É uma versão de carta na caixinha de
fósforos automática. Oprocesso de escolha é um pouco
demorado, mas tudo é feito pelo espectador, no final duas
cartas são somadas indicando assim a carta escolhida, o
mágico então retira a varinha mágica (palito) de dentro da
caixa de fósforo, pede para que o espectador bata com ele
no baralho e depois novamente na caixinha, ele então abre
a caixinha e revela a carta escolhida. Para apresentar de
mesa em mesa eu aceleraria o processo de escolha, com
um force comum e usaria apenas a aparição, que usa uma
sutileza inteligente.
Kingpins: Um anel preso dentro de um alfinete marcado,
passa visualmente para o outro sem marca. O método é
36
Thirty Four: O melhor efeito do DVD na minha opinião. Quatro
colunas de cartas numeradas de 01 a 16 são distribuídas na
mesa, uma carta de cada coluna é escolhida colocando-se uma
moeda sobre elas, no final a soma dos números escolhidos é
a mesma do valor das moedas, além disso o mágico mostra
que o valor já estava escrito dentro do envelope de onde foram
retiradas as cartas,ele então mostra o outro lado das cartas
eliminadas mostrando se tratar do nome de vários mágicos
conhecidos, com exceção das 4 cartas escolhidas que tem o
seu nome e o lugar aonde você está trabalhando, um efeito
muito forte e com múltiplos clímaxes.
Birthday Card: A carta escolhida é encontrada enquanto o
espectador canta “Parabéns pra você”. Acredito que este efeito
foi colocado no DVD apenas para preencher espaço.
Princess Redux: É uma variação muito bacana do Clássico
“Princess card trick” (aquele efeito que viralizou na internet
aonde o espectador pensa em uma carta entre 5 e depois de
misturada as cartas você vê apenas 4 e a sua está faltando).
Você vai precisar de algumas cartas extras para montar este
jogo, mas vale a pena.
Fireballs: É uma rotina de Cups and Balls feita com copos de
metal bem pequenos e bolinhas de flash papper,no final surge
um pequeno load. O manuseio é bem básico e bem prático,o
difícil é achar o tamanho certo dos copinhos por aqui,e para
fazer de mesa em mesa acredito ser mais recomendável investir
em um Chop Cup.
A qualidade do DVD é boa, bem produzido e bem editado
como a maioria dos produtos da Full 52. Contém performances
ao vivo e em estúdio, todas as performances ao vivo foram
realizadas para as mesmas pessoas uma dupla de moças
simpáticas em um bar. Devem ter tido uma overdose de mágica
naquele dia, mas reagiram bem naturalmente aos efeitos, eu
gostaria de ver mais variedade entre os espectadores, mas nada
que prejudique a qualidade das performances e das explicações
,que são bem claras e explicadas por Gary e Chris ao
mesmo tempo.
CAPA JUNHO
A GUILHOTINA
Tom Wright Stand Up Magic
Revisado por Emerson Rodrigues
Titulo: Tom Wright Stand up Magic
Tipo: DVD
Fabricado por: World Magic Shop
Lingua: Inglês
Faixa de Preço: $48,80 (Dolares)
Ao contrário do que aparenta o título do DVD, não se trata
de um DVD sobre Stand-Up Comedy e Mágica, ou sobre
mágica em pé estilo salão, se trata sobre uma abordagem
diferente e única de se fazer mágicas de mesa em mesa,
o grande ponto de venda deste DVD é a filosofia de Tom
sobre esta forma de apresentação. Ele dá uma palestra de
30 minutos falando diretamente com a câmera, ou seja,
como se estivesse falando diretamente com você, sobre
quais as vantagens de usar este método de apresentação.
Na realidade não se trata apenas de um DVD e sim de dois.
Um somente com as performances, realizadas em um
Jantar e outro com as explicações realizadas em estúdio.
As performances ao vivo são filmadas na integra, e depois
ele as repete em estúdio antes de cada explicação, o que é
bom, porque dá para apreciar a rotina de diferentes ângulos
e ver como ela funciona com uma plateia de verdade.
Como eu disse anteriormente o grande ponto de venda
destes DVDs é esta maneira nova de se apresentar, pois os
efeitos ensinados aqui são clássicos, ou seja não espere
aprender efeitos novos neste DVD. O proveitoso deste
DVD é ver como as rotinas foram construídas e como
você pode adaptar o seu repertório a esta nova forma de
se apresentar. Mesmo assim ele explica passo a passo 6
rotinas clássicas:
Bottle Production: Produção de garrafa com um lenço e
moeda, finalizando com a produção de um sapato, estilo o
Tom Stone. A pequena sequência com a moeda no início da
rotina ajuda a atrair a atenção dos espectadores, ele sempre
usa esse efeito como número de abertura.
Chop Cup Game Show:
Uma das rotinas de Chop Cup mais divertidas que eu já vi,5
minutos de entretenimento e a apresentação que prende.
Card from Mouth: Produção de cartas da boca, explicadas
brevemente. Ele usa mais como uma gag do que como um
efeito propriamente dito.
Card in Mouth: Um manuseio diferente para a clássica carta na
boca (dobrada em quatro)
Bottle Penetration: É o efeito de atravessar a mesa com uma
garrafa, achei um efeito bem ousado para ser apresentado de
mesa em mesa, mas que funciona surpreendentemente bem
usando este novo método de performance.
Ring On Rope: É uma rotina bônus de várias fases utilizando
uma corda e um aro (mais ou menos do tamanho de um mini
aro chinês)
O novo método de apresentação abordado neste DVD consiste
em pedir para que os espectadores se levantem durante o
tempo que você está se apresentando, parece simples, mas
este simples ato, tem vários benefícios que são descritos em
detalhe nos DVDs. Vale a pena tanto pelas rotinas como pelo
workshop sobre “Stand Up Magic”
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Split Second por Nicholas Lawrence
Revisado por Emerson Rodrigues
Titulo: Split Second por Nicholas Lawrence
Tipo: Gimmick acompanha DVD
Fabricado por: Sans Minds
Lingua: Inglês
Faixa de Preço: $29.95 (Dolares)
O Trailer deste produto não é 100% verdadeiro, existem
algumas imagens que levam o consumidor a crer que o
efeito é mais limpo do que realmente é. Infelizmente a
Sans Minds peca constantemente neste aspecto, em seus
trailers, algo infelizmente desnecessário já que eles têm
uma linha enorme de produtos de qualidade.
Efeito: Uma única nota de dinheiro é retirada de sua
carteira e em um giro ela se transforma em um maço de
cartas.
Metodos: No efeito principal (em que você retira uma
única nota da carteira) o método não é dos melhores com
relação a ângulos. O segundo método, em que a nota sai
diretamente do seu bolso, é mais prático e garantido.
Existe uma seção extra no DVD que explica como aplicar
o gimmick em diferentes objetos, como por exemplo para
transformar a nota em uma embalagem de chicletes.
Você tem que fornecer, o seu baralho e a sua nota de
dinheiro para construir o gimmick junto com os materiais
fornecidos. Este efeito não funciona com todas as notas de
Real, devido às variações nos tamanhos das notas
Os materiais fornecidos são de boa qualidade e acredito
terem uma boa durabilidade. O DVD é muito bem
produzido, gravado em alta qualidade e profissionalmente
editado como de costume nos produtos da SansMinds.
38
Envie-nos por email sugestões de
produtos, livros e DVDs para avaliarmos:
[email protected]
EU FUI...
ACONTECIMENTOS JUNHO A GUILHOTINA
Henri Sardou
O Dia em que não fui ver
o Quique Marduk.
Chovia, eu estava sem carro, e minha mulher tinha
feito planos para essa noite, enfim…Não que eu tenha
cagado para o evento, ao contrário, ia até fazer uma resenha
para A Guilhotina, mas não deu. Quique Marduk, pela
segunda vez veio ao Rio e eu não fui ver.
Então resolvi escrever uma coluna sobre uma das
muitas conferências que não vou, mas que me arrependo
fortemente de não ter ido. Talvez muitos mágicos fiquem se
perguntando como e onde obter informações e novidades
para incorporar nos seus shows e resposta é bem simples:
em livros, vídeos e, principalmente, conferências.
Isso porque além de você estar aprendendo ao
vivo ali com quem domina o assunto, você pode trocar
experiências e interagir depois com quem viu também, o
que é, além de saudável, desejável. É no mesão que rola
depois que se discutem as coisas mais cabeludas de forma
descontraída, é ou não é? Para quem nem sabe, Quique
Marduk é um mágico argentino de meia idade, que durante
os últimos 15 anos foi “só” o dono da loja que vende
artigos de mágica mais importante da América do Sul: o
“Bazar da Magia”.
Além disso, as atividades profissionais de Marduk
são shows para eventos empresariais, lançamentos de
produtos e convenções, tanto no palco ou em close-­up
para recepções. Uma de suas especialidades é criar efeitos
mágicos para empresas que usam logotipos de produtos ou
material de merchandising. Durante oito anos, ele trabalhou
para a Disney em shows ao vivo, realizando magica com
efeitos especiais pirotécnicos indoor, criados especialmente
para essas ocasiões. Seu show tem mágica, comédia e
humor, além da participação da plateia, em números de
pickpocket, uma de suas habilidades e a que lhe dá mais
fama e notoriedade, inclusive. Pois é.
Nada justifica você deixar um mestre da mágica
passar pela sua cidade e fazer uma conferência na AMARJ
por módicos R$30,00 e ficar indiferente. Isso é imperdoável.
Ainda que não fosse uma conferência inédita, mesmo assim
sempre se aprende uma coisa nova. É como a Filarmônica
de Berlim, fazer um concerto aberto ao público de graça e
você não ir...Ai talvez você nem saiba que teve e fique se
lamentando agora que sabe que aconteceu.
Não sei o que é pior.
Não ir porque não deu ou não quis ou não ir porque
não soube que ia ter.
Não chega a ser esse o caso, mas também tenho uma certa
preguiça de conferências que você tem que fazer força para
saber onde vai ser, quando e quanto e quando fica sabendo
bum, já passou.
As artes geralmente são ruins, seu feed fica
tomado por gatos e fotos de comida e você quase não vê,
ou se vê não se interessa. Seu e-mail cheio de spam
oferecendo produtos para aumento peniano, ou coisas
mais prosaicas. Os produtores nesse ponto ainda dão
muito mole na divulgação.
Mas nada disso justifica, eu sei. E por isso vou me
penitenciar assistindo uns vídeos do Dynamo no youtube.
O que me consola, é que sempre tem um amigo disposto a
mandar a nota de conferência inbox.
Mas é isso aí, além de ser vacilo, já é papo
para outra coluna...
E eu mais uma vez não vi um dos mestres do
pickpocket passar seus ensinamentos, vivencias e técnicas,
numa conferência de uma hora e quinze minutos, incluindo
vários números do seu repertório.
Não vi suas dicas preciosas sobre pickpocket, nem sua visão
em dividir os lados do espectador furtado em zona clara
e zona escura ­para o lado da plateia e para o lado oposto
à ela . Também não vi sua apresentação do saco do ovo
do Malini, usado até hoje com muito sucesso, por alguns
outros mágicos. Tampouco vi suas ideias para mentalismo
corporativo, rotinas comerciais adaptadas para trabalho em
empresas, etc. Nem mesmo vi sua versão de roleta russa.
Até tinha motivos para não ter ido, mas não justifica.
Henri Sardou é um mágico cara de pau,
mas de madeira nobre.
39
ACONTECIMENTOS JUNHO A GUILHOTINA
Por G. Massimo - Colaborou o Coletivo Guilhotina.
RELOADED
Após um longo recesso, voltamos a publicar Fakes, agora
em forma de coluna, dentro da revista A Guilhotina. Mas
isso não significa que estamos fora de forma, ao contrário.
Voltamos mais afiados que nunca e com carta branca para
guilhotinarmos ou laurearmos quem merecer. Prometemos
isenção de imparcialidade nos relatos e alguns boatos...
MÃO DE FERRO
Depois do imbróglio envolvendo a troca da administração
do grupo e um festival de banimentos decorrentes, o
Mágicos Brasileiros, no Facebook, agora é comandado com
firmeza por outro administrador. Ele tem se mostrado pouco
tolerante aos temas polêmicos ou que envolvam discussão
entre os membros.
PEDIGREE
Pepe Volkane, filho do Volkane, fez seu debùt na mágica,
apresentando-se em público pela primeira vez no Programa
Truques & Ilusões, do Karpes. Mostrou
que é de pequeno que se torce o pepino e encarou
uma participação ao vivo para todo o Brasil. O garoto
tem futuro...
MÁGICO IRRITANTE
Foi aflitivo assistir ao vivo à participação do mágico Renner
no programa Mais Você, mês passado. O apresentador
André Marques estava irritado e não escondeu isso durante
a performance do Renner. Somente no final deu o braço a
torcer quando o mágico revelou a carta corretamente. Mas
também Renner levou quase 9 minutos pra executar um
Cardiographic, vai ver foi por isso…
Aliás, Renner deve ser o mágico brasileiro que usa a maior
taxa de gags kibadas por minuto.
40
Pepe Volkane, tadinho, foi flagrado num momento
de tédio, após ouvir durante 27 minutos uma lista de
aniversariantes no Programa Truques & Ilusões.
SEM PASSAPORTE
Dani DaOrtiz esteve em turnê pelo Brasil com seu workshop,
mas não fez escala do Rio de Janeiro. Ainda bem, porque
senão seria fácil descobrir o motivo do sumiço de seu
passaporte. O artista teve que adiar sua volta por causa do
imprevisto, mas tudo se resolveu
bem no final.
DESAFIO REVELADO
Está desfeito o mistério envolvendo o desafio que o mágico
Andrély alardeou na internet. Trata-se de uma série diária de
videos inéditos com mágicas diferentes que serão postados
ao longo de 365 dias. Projeto semelhante já foi executado
pelo mágico canadense Eric Leclerc em 2011, com o
nome de “Project 365”. Quem quiser acompanhar a versão
brasileira do desafio deve se inscrever no seu canal no
Youtube. Vamos ver o que de diferente vem por aí...
MITOMAGIA
Acabou de ser desmascarado mais um mágico mitômano
- que tem compulsão por mentir. Formação em marketing,
trabalho em cruzeiros no exterior e um currículo de dar
inveja, foi tudo desmentido pela própria companheira do
colega, que estava farta desse mundo de fantasias.
SEM BRAZUCAS NA FISM?
Foram divulgados os nomes dos concorrentes ao FISM 2015
e para surpresa geral não tinha nenhum brasileiro. Mas tudo
não passou de um erro da produção, que legendou Gustavo
Vierini e Caio Ferreira com sendo da Espanha. Erro corrigido,
vamos torcer por eles!
BIOGRAFADO EM VIDA
Dia 23 de maio foi lançada, com direito a coquetel em
Belo Horizonte, a biografia do mágico Kellys intitulada
“SANGUE, SUOR & MÁGICA”. Escrito por sua filha, Kênia
Colares, o livro é uma homenagem ao mágico, fabricante,
dealer e mestre. Henri Vargas, Carlos Hilsdorf, Rick Thibau,
Rubadel, dentre outros estiveram no evento prestigiando o
lançamento, além de amigos e familiares.
VAMOS VAIAR
VAMOS APLAUDIR
O novo spider ao contrário: a hipnose. Assim
como foi com a ventriloquia e o pickpocket, a nova
moda é o mágico inserir hipnose no show. Isso
porque seria mais fácil demonstrar poderes via
hipnotismo do que através do talento? Vamos
acompanhar…
G. Massimo já foi o segredo mais bem guardado da mágica brasileira...
O Karpes que tem o programa sobre mágica mais
longevo do Brasil, apresentado terças, às 21h, na TV
Cinec. Karpes, aliás, está preparando também uma
revista a ser lançada em breve...
Envie sua opinião e sugestão de nota para [email protected]
CRUZADAS JUNHO A GUILHOTINA
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5
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91
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17
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HORIZONTAIS
VERTICAIS
3 - Único rei que não tem bigode no baralho.
5Forma de teatro popular que surgiu no século XV, na Itália, e se
desenvolveu na França.
9Banda de hard rock dos Estados Unidos, formada por Gene
Simmons.
11 - Any Card At Any Number.
15 - Palavra mágica usada pelo paranormal brasileiro Thomas Green Morton.
17 Nome completo de J.Peixoto.
18 Sobrenome do Penn, da dupla Penn & Teller.
19 "Sangue Suor e..." Título do livro sobre a carreira do mágico
Kellys.
20 Mão usada por Renè Lavand.
1Capacidade de mover fisicamente objetos com a força psíquica.
2Problema no pulmão que levou Tommy Wonder a óbito.
4Artista Holandes que pintou o quadro "O Prestidigitador".
6Nacionalidade de Victor Voitko.
7Termo usado por Tamariz para a súbita e crescente percepção, por
parte do espectador, do quão impossível é o efeito final de um número.
8Mágico canadense, naturalizado americano, que é famoso pelo
ceticismo e desafio às alegações de paranormalidade.
10 Movimento artístico que surgiu na França no final do século XIX.
12 Um dos autores da música tema do filme "Missão Impossível".
13 Falso movimento usado para enganar ou distrair a atenção do
espectador.
14 Sigla que denomina o Estado Islâmico da Síria e Iraque.
16 Nome do personagem que é mágico na série americana
"Arrested Development".
HUMOR
42
JUNHO A GUILHOTINA
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Ego do mágico - A Guilhotina