FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA FLAVIANNY TIEMI OTOMURA SUICÍDIO – A DECISÃO PELA MORTE CUIABÁ-MT 2009 FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA SUICÍDIO – A DECISÃO PELA MORTE FLAVIANNY TIEMI OTOMURA Monografia de conclusão de curso de graduação em bacharelado e licenciatura em Filosofia Prof. Dr. Silas Borges Monteiro Orientador CUIABÁ-MT 2009 Resumo: O presente trabalho trata do suicídio, na perspectiva de situar a morte voluntária como uma decisão individual de morrer. Para isso tensiona com a medicina, a psiquiatria e a sociologia. Essas áreas do conhecimento adotam noções e explicações para o suicídio enquanto patologia e fenômeno social. Construiu-se, historicamente, uma indisposição social para o suicídio e uma recusa em aceitar a morte voluntária como uma decisão livre do arbítrio humano. O trabalho situa o suicídio como uma questão filosófica, moral, de avaliação de uma conduta. É uma tentativa de retirar a interdição social ao ato, que condena os suicidas à doença, à anormalidade, ao silêncio ou à literatura. Os seres humanos se matam, eis uma constatação. O homem que deseja morrer prepara sua própria morte e o faz deliberadamente. Palavras – chave: suicídio – morte – loucura – doença Sumário 1. Introdução_____________________________________________4 2. Medicalização da morte voluntária __________________________9 3. A loucura associada ao suicídio___________________________14 4. O suicídio como problema moral___________________________23 5. A filosofia trágica e a decisão pela morte____________________28 6. Referências bibliográficas________________________________35 4 I – Introdução Ao decidir estudar o suicídio, elaborei algumas perguntas que, a meu ver, iam desvendar o tema e me levariam à compreensão e também a superar um mal-estar pessoal que me acompanhava quando me deparava com a notícia de um suicídio, seja por noticiários ou conversas nos círculos de amizade. O suicídio me causava uma espécie de silêncio na alma, um sentimento de vazio, a ausência de resposta a pergunta primeira que é: por qual motivo alguém se determina a tirar a própria vida pelas próprias mãos? Meu intuito primeiro era responder a essa questão – era, pois no decorrer da pesquisa percebi que procurar um motivo, uma causa única, seria estabelecer uma pretensa verdade e não efetivamente compreender o que é o suicídio. O ato de morrer voluntariamente denuncia algumas coisas, responde a algumas questões, nos colocam outras, mas o motivo, a causa é enterrada com quem pratica o ato. Na tentativa de responder a essa questão, fui pesquisar as respostas nas áreas de saúde, sociologia, história e filosofia. Ensaiei respostas, mas quando me convenci da impossibilidade, abandonei este questionamento ao perceber que não faz sentido perguntar os motivos, afinal as respostas são muitas e são de acordo com verdades estabelecidas, sejam elas pressupostos morais, divinos ou sociais. Assim comecei a elaborar outras, que foram surgindo diante a partir das leituras. O tratamento dado ao suicídio é quase sempre como um problema a ser resolvido, como um ato que não deveria acontecer, mas que, quando acontece, tem algo de errado, de anormal. A pergunta do motivo, da causa, é um sintoma desse pressuposto moral, que constrói uma aversão natural ao ato ao indagarmos sobre. A partir disso, as perguntas que tentei responder nesse trabalho foram: como se construiu essa aversão ao suicídio, que nos leva ao silêncio? Que discurso, qual prática, estão postos, velados, encobertos, quando nos deparamos com a morte voluntária? Ao esboçar respostas, fui primeiramente definir o que é o suicídio – suicídio é o ato de dar a morte a si mesmo, de matar-se por vontade própria (morte voluntária), é o aniquilamento do próprio corpo. A noção de corpo é importante, em primeiro lugar, porque exclui a possibilidade do suicídio 5 como uma morte metafórica em que a pessoa escolhe por “vegetar”, onde a morte é metafórica, onde a morte não é do organismo, mas da “alma”. Em segundo, porque é no corpo que se inscreveu a história de um tipo de humano denominado suicida, é através do corpo que vai se construir um saber, um discurso sobre, é efetivamente no corpo que se objetiva a morte. Ao iniciar a pesquisa bibliográfica sobre o tema, averigüei a ocorrência de inúmeros trabalhos na área de saúde (medicina, psiquiatria, psicologia), que é a área que detém o conhecimento do corpo do homem e suas relações com o ambiente. E no caso da sociologia que trata do corpo social, do conjunto dos corpos individualizados. Nesses textos está posta a perspectiva de cura e de doença, de harmonia e desequilíbrio, ou de normalidade e anormalidade. Nesses textos é recorrente a abordagem fortemente moralizada, que é construída a partir da noção de doença, da anormalidade e tem o interdito “é proibido matar-se” como um pressuposto – enunciado que tem suas raízes na doutrina cristã, que condena o ato, pois a vida do homem não lhe pertence, é doada por Deus, portanto não é admissível aniquilar algo que não é seu. Será um condenado eterno, pois rejeitou em vida o seu corpo. Mas é nas ciências humanas (médica e social) que a noção do suicídio como uma doença vai se estabelecer, juntamente com o estabelecimento da loucura como doença. O suicídio passa a ser doença da alma, doença do corpo, doença da mente, doença social. Para fazer o contraponto, utilizei como base os olhares do Foucault sobre a medicina, a psiquiatria, a invenção da doença e da loucura, construindo a partir disso uma trajetória para tentar demonstrar como os discursos sobre o suicídio são bem marcados no tempo. Como já dito a noção de corpo é importante na construção desse trabalho, pois o suicídio, como já apontei, é uma ação humana, que se efetua com o aniquilamento do corpo por voluntariedade. Não é, portanto, um “suicídio filosófico” ou mesmo idealizado, mas efetivo. Efetividade que se dá com a morte do corpo vivo. Foucault nos traz uma noção do que é o corpo: O corpo: superfície de inscrição dos acontecimentos 6 (enquanto que a linguagem os marca e as idéias os dissolvem), lugar de dissociação do eu (que supõe a quimera de uma unidade substancial), volume em perpétua pulverização. A genealogia, como análise da proveniência, está, portanto no ponto de articulação do corpo com a história. Ela deve mostrar o corpo inteiramente marcado de história e a história arruinando o corpo. (FOUCAULT, 2003, p. 22) É no corpo que estão inscritos os acontecimentos passados, e é nesse corpo que estão contidos todos os conflitos e experiências do presente. É na manipulação desse corpo, através dos cuidados com o corpo vivo e morto, seus rituais de preparação para a morte, através das práticas funerárias e também das práticas ligadas ao corpo do suicida que vamos descobrindo com se construiu esse saber, essa experiência que culminou numa indisposição cultural. Há uma indisposição cultural para o suicídio e uma tirania da sociedade, que obriga à vida. A indisposição cultural é conseqüência da construção do suicídio como doença. A tirania se encontra no discurso da manutenção da vida, na obrigatoriedade de viver bem e feliz, ainda que não se queira, ainda que se tenham esgotado todas as possibilidades. Para subsidiar essa indisposição e essa tirania social, temos o primado da razão, que coloca o suicídio como uma des-razão, como uma anormalidade. Essa indisposição na Idade Média se faz notar pela condenação e punição do cadáver, da família e da alma. O sétimo círculo do inferno dantesco nos ilustra essa condenação eterna e Minois lista as condenações ao corpo do cadáver que vai de suplício, enforcamento, arrastar o corpo em público, queimá-lo ou esquartejá-lo, ou seja, o suicídio passa a ser criminalizado e o corpo e família dos suicidas sofrem as sanções a partir do século II, mas é na Idade Média que a penalização do cadáver e da família se consolida. É no final do século XVIII, juntamente com a medicalização da loucura e, por conseqüência, do suicídio, que este deixa de ser punido no 7 corpo. Outro tipo de interdição está posta, que é a da des-razão, da imoralidade racional do ato. É nesse contexto das Luzes que surgem os bilhetes suicidas, justificando, desculpando-se, explicando a ação, marcando a eliminação do diabo. Deles, Minois diz: As notas de suicídio acabam com a secularização da morte voluntária dado inscrevendo-o que numa eliminam tentativa o papel racional, do diabo, humanamente explicável. O público acostuma-se a ler essas cartas, a tomar conhecimento do suicídio como um fato normal, um caso “diferente”, e não já como um ato criminoso. Mas por ser uma afirmação do individualismo e da liberdade, ou mesmo uma forma de acção sobre a sociedade, o bilhete a explicar o suicídio é característico do espírito das Luzes. (MINOIS, 1998, p. 357) Entre a punição e a descriminalização do ato, está a questão da responsabilização ou não do ato, o que coloca o suicídio como uma possibilidade de ação de humano, o homem e sua liberdade de decidir sobre a sua própria vida. Sempre houve quem formulasse a questão, como aponta Minois (1998, p. 111), mas foi Shakespeare na peça Hamlet quem nos trouxe a pergunta decisiva: “Ser ou não ser? – eis a questão”. Ao elaborar essa pergunta, situa o suicídio no campo da decisão individual, da liberdade humana, e muitos filósofos e literatos, em épocas distintas, enumeraram razões que levam a uma ou outra resposta. Nesse texto, faço uma tentativa de situar o suicídio como uma questão moral, portanto filosófica, e individual, privada, onde se decide, voluntariamente, por morrer, como aponta Camus em O Mito de Sísifo. Circunscrevendo como questão moral, aquela que diz respeito à conduta, à ação e está suscetível de avaliação. Essa decisão por morrer, que trata da conduta da própria vida, Foucault chama de governo de si e problematiza na governabilidade. Governo de si para Foucault é o “governo de si mesmo, que diz respeito a 8 moral”. (FOUCAULT, 2000, p. 280) Não pretendo avaliar o ato, condenar ou incitar, nem ao menos responder se “a vida vale a pena”. Como maior desafio, pretendo com esse texto retirar dos suicidas uma condenação que lhes é imputada, com interditos velados. A principal afirmação é que aquele que se mata, decide por morrer. Essa decisão por morrer, traz à tona a pergunta trágica, exposta por Anaximandro, Shakespeare, Nietzsche, Camus: o que dá valor a existência, se tudo que existe irá perecer? Qual é o sentido da vida? 9 II – A medicalização1 da morte voluntária A Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou no ano de 2000 um documento destinado à prevenção do suicídio. Baseado no texto da OMS, no ano de 2006, o Ministério da Saúde lançou um manual e distribuiu aos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) por todo país. O conteúdo do manual aborda o ato como um problema de saúde pública. De acordo com o documento, o aumento do número de suicídios ocorridos nos últimos anos alerta para a necessidade de desenvolver ações que visem diminuir o número de mortes voluntárias. Embora este documento admita que seja um problema complexo que envolve fatores biológicos, genéticos, psicológicos, culturais, sociais e ambientais, traz como enfoque privilegiado a abordagem dos transtornos mentais, pois, são eles, uns dos mais “[...] importantes fatores de risco para o suicídio [...]”. (BERTOLE, 2004, p. 193-4). Ainda que não seja classificado como transtorno mental, as possíveis causas apontadas – psicose, esquizofrenia, melancolia e depressão – estão classificadas como transtornos mentais e exigem a intervenção, o tratamento. Foi essa compreensão que apontou para a necessidade de uma política de prevenção e situou a morte voluntária, atualmente, como um problema de saúde pública. Os profissionais da área de saúde2 dividem a conduta suicida em várias categorias: suicídio consumado, tentativa de suicídio, ideação suicida, ameaça de suicídio, gesto suicida (desprovido da intenção de morte), equivalente suicida (conduta auto-destrutiva), suicídio crônico (alcoolismo e drogadição) e propensão suicida (exposição a situações de risco). (COUTINHO, 2001) Os estudos e pesquisas realizadas na área da saúde têm, em geral, 1 Medicalização é a apreensão de todos os fenômenos da vida/saúde pelo olhar, saber, po- der dos médicos. Fonte: Drª Laura Filomena dos Santos Araújo (explicação oral). 2 Utilizo o termo para abranger, para além da medicina, os campos de saber relacionados, como a psiquiatria, psicologia, serviço social e enfermagem. 10 o intuito de prevenir o ato, acompanhar a família e tratar os “possíveis” suicidas. São estudos diversos que descrevem o ato, no caso do suicídio consumado, registrando sua forma: enforcamento, ingestão de venenos e remédios, arma de fogo, local, mensagens deixadas, sexo, idade, composição familiar e condição econômica. No caso das tentativas e ideações, os estudos vão apontar a atitude das pessoas diante da vida, como vivem e o que as levou a tentarem se matar, possibilitando a prevenção e a reintegração, a convivência familiar e social. É desta forma que se elaboram estatísticas que permitirão a construção de uma “personalidade suicida” e do “comportamento suicida”, bem como de uma etiologia, construindo “saberes” sobre o suicida. É a partir da análise desses dados que se afirma que: homens se matam mais do que mulheres, mas que entre elas as tentativas são mais freqüentes; a faixa etária mais atingida varia entre 15 e 35 anos; as pessoas que vivem sozinhas estão mais vulneráveis ao ato; o desemprego aparece como fator associado (GRÜNSPUN, 1991). O comportamento suicida é um indicador de possível consumação do ato. Segundo o manual da OMS, a pessoa que deseja se matar expressa e comunica essa vontade para os outros de algumas formas, é preciso identificar e acompanhar os grupos de risco. Os indicadores desses grupos são: estresse, desemprego, perda de alguém próximo, irritabilidade, ansiedade, pânico, sentimentos de culpa, solidão, desesperança, vontade de morrer, mudança de hábito alimentar e idéia fixa de morte. É a partir desses fatores intrínsecos e extrínsecos que se criam indicadores de risco suicida, através do qual é possível chegar a um modelo de prevenção ao ato. A psiquiatria biológica relaciona o comportamento suicida com a alteração no sistema serotoninérgico3; neste caso, a causa é orgânica, e vai influenciar nos estados psíquicos dos indivíduos (CORREA, 2004). Contudo, na maioria das explicações há uma associação de diversas 3 A serotonina é uma substância química que atua na transmissão de impulsos de terminação nervosa. 11 áreas para se compreender o suposto problema. Para Cassorla, é fuga de uma situação insuportável onde a morte é a solução. Porém, o indivíduo não quer morrer e, sim, fugir do sofrimento, seja para buscar uma outra vida (sobrenatural), ou para se vingar de “inimigos reais ou fantasiados” visualizando o sofrimento do outro, ou, ainda, para se punir por sentimentos de culpa (CASSORLA, 1991). A melancolia, psicose, luto, depressão e narcisismo aparecem como possíveis causas. Ou seja, nem todo suicida é melancólico ou psicótico, mas uma das conseqüências da melancolia e da psicose é o suicídio. Knobel, afirma que o “[...] ato suicida é uma manifestação de psicose clínica [...]” (KNOBEL, 1991, p. 19), agressão violenta que leva à autoaniquilação. Ele classifica como suicídio melancólico aquele que quer se redimir de culpa; de psicopático quando quem se mata quer que os demais se sintam culpados; de maníaco aqueles que se matam para a imortalidade, para uma outra vida; e de esquizofrênico aqueles que o fazem sem motivos aparentes, inesperadamente. Para ele, o suicídio é conseqüência de uma “[...] conduta que invade patologicamente nossas estruturas psicosociais [...]” (KNOBEL, 1991, p. 20), ou seja, é uma resposta aos conflitos psíquicos (internos) e sociais (externos), que se consuma na aniquilação do organismo, sendo, por isso, patológico. O suicídio aparece associado para a área médica à anormalidade, a estados de frustração, fuga da realidade e auto-agressão, ou seja, relacionado a doença4. O que a área de saúde pretende é trazer esse indivíduo que tenta se matar de volta à realidade, ao estado de normalidade. Para aqueles que consumaram o ato, a terapêutica também está voltada para a família que se fragmenta e se desestabiliza. A medicina e a psiquiatria afirmam o suicídio como doença psíquica ou patológica, como um problema que exige solução. Seguem, afirmando, indiretamente, o ato como um “mal” que se evidencia nas formas como o problema é apreendido, como os saberes são construídos e as práticas em 4 Utilizo o termo doença no sentido comum da palavra, conforme estabelece o dicionário:“denominação genérica de qualquer desvio do estado normal”. 12 saúde são engendradas, assim como nos modos que suicidas e famílias são abordados e tratados. Desta forma, deseja-se prevenir, curar, tratar, extinguir o suicídio. No discurso da prevenção, tratamento e cura, está velada uma proibição. Há um interdito: é proibido matar-se! Essa proibição é acompanhada pelo argumento de que tirar a própria vida está contra a natureza humana. A conseqüência imediata desse argumento é que contraria uma lei da natureza5. Há um saber, neste caso médico, que estabelece um parâmetro para afirmar o que é normal ou anormal e assim elaborar um retorno à normalidade, ao natural. Ainda que durante a modernidade se tenha estabelecido que há uma moralidade na natureza humana, fundamentada na razão, há uma impossibilidade de afirmar ou refutar que existe uma lei natural que impede o homem de morrer voluntariamente. Ainda que se analise esse argumento pela perspectiva biológica, nascer e morrer são fenômenos da vida. O humano planeja o nascimento de outro ser da própria espécie, pois é capaz de cultura. Assim, planejar a morte deveria ser também examinado como uma possibilidade do humano, mas há um mal-estar que acompanha essa decisão. Portanto, é um imperativo moral que subsidia todo o discurso da prevenção, tratamento e cura. Há desaprovação do ato. Imperativo que se constrói como um saber validado pela ciência médica que produz verdades validadas pela sua própria produção. A morte voluntária se apresenta como uma doença vergonhosa, como um desvio da normalidade que carrega um sentimento de humilhação e desonra. E é como doença vergonhosa que o suicídio chega até os dias de hoje. A medicina ocidental foi quem muito contribuiu para que isso ocorresse. Os sentimentos de vergonha, humilhação e desonra se objetivam na indisposição cultural que há para o suicídio. Esta indisposição é mediada e produzida em discursos mais ou menos velados, nos silêncios que 5 Uma regra que define as relações constantes que existem entre os fenômenos naturais 13 condenam, nas práticas cotidianas médicas e de enfermagem, nos atendimentos aos suicidas nas emergências dos hospitais e nas violências implícitas e explícitas que se expressam nestes atendimentos, nos textos médicos, jurídicos e nos demais locais nos quais o suicídio possa ser problematizado (MINOIS, 1998). Lopes questiona como a medicina transformou todos os que se mataram em doentes mentais. E aponta que existe um caminho até a medicina se apropriar do suicídio enquanto objeto de estudo e tratamento e transformar este em doença (LOPES, 2003). É através da loucura que as ciências médicas começam a produzir um saber sobre o suicida, conforme nos indica Foucault. As associações entre loucura e suicídio surgem no final da Idade Média, mas a loucura deve ser entendida de forma diversa à dada pela medicina a partir do século XVIII. Pois esta, na Idade Média poderia ser vista “[...] como religiosa, moral ou médica, divina ou diabólica, boa ou má [...]” (POTTER, 1987, p. 21). A loucura é entendida como um combate espiritual entre o bem e o mal que causa desajuste e incapacidade de obediência às normas sociais vigentes. Se a loucura é entendida como doença da mente, é por que é na mente que se objetiva o combate espiritual. 14 III – A loucura associada ao suicídio Segundo Minois, a morte voluntária teve uma maior tolerância na antigüidade, no período clássico na Grécia e em Roma, mas em nenhum momento passou despercebido. Maior tolerância não quer dizer ser favorável, mas o tratamento dado era distinto. Segundo ele, várias escolas filosóficas possuíam uma posição particular, “desde a oposição categórica dos pitagóricos à aprovação benevolente dos epicuristas e dos estóicos” (MINOIS, 1998, p. 60). Platão e Aristóteles também eram contrários ao suicídio, como está em Fédon e na Ética, respectivamente. Na antigüidade, o tratamento dado ao suicídio era como uma questão filosófica de decisão individual. Se existiam aqueles que condenavam, existiam aqueles que defendiam, estava no campo da liberdade: [...] o pensamento grego colocou a questão fundamental do suicídio filosófico. Os cirenaicos, os cínicos, os epicuristas e os estóicos reconhecem todos o valor supremo do indivíduo, cuja liberdade reside no poder de decidir por si próprio da sua vida e sua morte. [...] (MINOIS, 1998, p. 61) À exceção de alguns rituais isolados gregos arcaicos para purificação da alma através da mutilação do corpo suicida, não há qualquer interdição legal ou religiosa na Grécia e Roma antiga ao corpo ou ao ato suicida para os cidadãos livres. Em dois casos, por motivos econômicos e patrióticos, é proibido se matar: aos escravos – pois é um crime contra a propriedade privada, pois o corpo do escravo não pertence a ele e sim ao seu senhor – e aos soldados – por estar em defesa da pátria, numa função nobre. Nesses dois casos, segundo Minois, aparecem registros de punição ao cadáver. (MINOIS, 1998, p. 66) É a partir do século II d.C., com o declínio do estoicismo e para que as pessoas que se matam não fujam de sua condenação – seja de ordem fiscal, civil ou criminal –, que a morte voluntária passa a ser criminalizada, ou 15 seja, passa a ser uma transgressão à ordem social vigente e, portanto, passa a ser punido aquele que transgredir: [...] as autoridades civis, [...], desejando pôr termo às evasões fiscais dos suspeitos que se matam antes da própria acusação, reforçam o controle do estado sobre o livre direito de morrer. Os suicídios no exército são reprimidos mais severamente e uma lei da época de António considera o suicídio dos suspeitos como uma declaração de culpa que desencadeia a confiscação dos bens. A partir do século III, o suicídio sem uma razão válida pode ser motivo de sanções e aquele que casar com a viúva de suicida será punido por infâmia. (MINOIS, 1998, p. 74) Contudo é com a ascensão do cristianismo na Idade média que as medidas punitivas se intensificam e começam a ser imputadas penas severas. Há um julgamento do caso, são acionados dispositivos jurídicos, médicos e religiosos para se identificar às causas e estabelecer a punição. É a constituição moral da legalidade. As punições são sancionadas ao corpo do defunto, a confiscação dos bens e a condenação da alma. Minois descreve alguns tipos de punições imputadas ao cadáver: Adapta ao tipo de suicídio cometido: uma ponta de madeira é enfiada no crânio se a morte ocorreu com um punhal; é enfiado na areia a uns cinco pés da borda de água se morreu por afogamento; é enterrado num monte com três grandes pedras sobre a cabeça, o ventre e os pés se a morte foi provocada por queda [...] depois de arrastado pela lama, o cadáver é pendurado e deixado a apodrecer, e quase sempre o corpo é colocado na posição inversa, arrastado e pendurado de cabeça para baixo. (MINOIS, 1998, p. 49) 16 A confiscação dos bens poderia ser sobre móveis e imóveis, ou parte dos bens ou ainda “pratica-se o costume de ‘recuperar’, que consiste em abrir e desmantelar as paredes da frente da casa do suicida, queimar os prados, cortar as vinhas e as árvores à altura de um homem”. (MINOIS, 1998, p. 50) Para a alma e corpo suicida não se fornece sepultura, ou ritos funerários cristão, não há perdão para o suicida. O suicídio é um ato diabólico que consome a alma fraca do homem no momento de desespero, onde o indivíduo se afasta da misericórdia divina e fica suscetível à ação do demônio. A Divina Comédia, de Dante, retrata a condenação eterna do suicida: 91. [...] quando homem violento, dominado pelo furor, voluntariamente apaga sua vida, é atirado por Minos ao sétimo círculo. Cai, ao acaso, no meio da floresta, qual semente germina e se faz árvore, cuja fronde serve de pasto às Harpias, as quais provocando a dor, a esta abrem a janela que são nossos gritos. No dia do juízo final, como os demais iremos procurar nossos corpos sem que deles possamos jamais revestir-nos, pois não é justo recuperar o que em vida se rejeitou. Serão arrastados para aqui e permanecerão pendentes dos galhos da árvore na qual a alma está reclusa. (ALIGHIERI, p. 64). Não há possibilidade de salvação. É considerado um dos mais horrendos atos, a rejeição da própria vida. Por isso, a punição é inevitável. Entretanto, alguns suicidas – cadáveres e alma – conseguiam escapar à punição, como os do clérigo e dos nobres, e para que isso ocorresse era necessário provar que o indivíduo não se matou para fugir das suas responsabilidades, mas por puro desgosto à vida, ou seja, por que não desejava mais viver. Quando a “causa” identificada é o desgosto à vida, a explicação 17 utilizada é a loucura – do modo como é entendido na Idade Média –, pois é inconcebível afirmar que a vida não vale a pena ser vivida; a vida é um dom e negá-la é uma loucura, pois uma alma sadia jamais dará a morte a si mesma. Segundo Minois, é por volta de 1265 que Brunetto Latini utiliza a explicação da “loucura” como doença orgânica para alguns casos, onde o suicídio passa a ser conseqüência do estado melancólico em que o indivíduo se encontra. O suicídio poderia ser conseqüência da melancolia, que é a condição de ter bile negra, um humor negro (MINOIS, 1998). O suicídio associado à loucura é uma das muitas discussões acerca da morte voluntária, que a partir do final do século XIV vai ser problematizada pela filosofia, literatura, artes. O retorno aos clássicos da Antigüidade (Renascimento) vai enfraquecendo os valores cristãos. Os questionamentos em torno do ato abordam a decisão individual, a validade da existência, a obrigatoriedade em viver os sofrimentos humanos (Minois, 1998). Quando a Loucura toma a palavra, na obra de Erasmo de Roterdam em “Elogio da Loucura”, denuncia a miséria da vida humana e diz que é ela quem permite o amor à vida, pois só a loucura pode fazer com que os homens desejem uma vida miserável. Deixa a mensagem de que a morte voluntária é um ato de sanidade, de sabedoria: [...] já sei que logo compreendereis de como o mundo duraria pouco, se a sabedoria fosse comum entre os mortais. Sou mesmo da opinião de que, em breve, haveria necessidade de uma nova argila e um novo Prometeu (ROTERDAM, 1969, p. 12). Nunca, segundo Minois, se falou tanto sobre a morte voluntária. Isso não implica em uma maior tolerância ao suicídio, pois se por um lado o debate ocorreu, por outro, é neste ambiente que a loucura juntamente com a morte voluntária vai se tornar objeto das ciências e se construir enquanto 18 uma doença, uma patologia (MINOIS, 1998). Foucault narra, na História da Loucura, como foi sendo construído um saber sobre a loucura e como a psiquiatria se constituiu enquanto ciência. Se em determinado momento a (des)razão circulava pela sociedade, ela foi gradativamente banida, isolada, internada, juntamente com os vagabundos, libertinos e outros, e transformou-se em doença no final do século XVIII. Doença a ser curada. Trata-se o louco no corpo físico para retornar a mente à normalidade, à conduta moral (FOUCAULT, 1995). É quando o suicida deixa de ter o corpo dominado por Satã e passa a ser visto como um doente. Está no domínio da (des)razão, e aqueles que tentaram e não conseguiram se matar são enjaulados e amarrados. O suicida não é só uma vergonha, mas um doente. (FOUCAULT, 1995). Esse é o argumento que vai ser utilizado para dar indulgência ao cadáver no século XVIII e internar os propensos suicidas para tratamento. Não se mata mais o suicida frustrado. Não se suplicia mais o corpo do defunto, não se confiscam os bens da família. Não é o argumento divino que impede o suicídio, é a própria racionalidade. O divino torna-se insuficiente, mas a razão ordena o que é normal ou anormal, o que está no campo da razão ou da desrazão. A razão foi invocada durante o século das Luzes como um despertar das crenças e superstições que povoavam o mundo, mas no submundo desse esclarecimento nasceram as prisões dos corpos e das almas dos homens. Na Idade Média o homem não tinha domínio de si, sua alma não lhe pertencia. Seu corpo, sua vida, foram doados por um ser bondoso e, pela sua incapacidade de realizar o bem por si mesmo – pois sua natureza não permite, o homem é decaído –, suas ações eram determinadas por dever e obediência às leis do soberano do céu e da terra. O Deus. A razão desperta os humanos desse mundo celestial e estes passam a questionar essa força sobrenatural que os guia. O homem começa a se emancipar. Ela, a razão, permite a investigação sobre a natureza humana, sobre a ação moral. A verdade não está mais no ser externo ao humano, na 19 força sobrenatural, mas na própria razão, que conduzirá o homem à emancipação. Substitui-se Deus pela razão. A busca pela verdade e universalidade continua presente em todas as práticas desse humanismo esclarecido. É a ordenação racional, segundo Lopes, que irá transformar a loucura em doença mental, em objeto de conhecimento, em patologia e principal causa do suicídio. É a divisão entre loucura e razão que permitiu que surgisse uma nova questão acerca do suicídio, a “[...] responsabilidade ou não sobre o ato. Com essa questão e dúvida, tornaram-se necessários novos olhares e constantes diagnósticos [...]” (LOPES, 2003). Para precisar a responsabilidade ou não do ato, esta cientificidade estava no saber médico, que aos poucos vai circunscrevendo o suicídio como objeto de estudo da medicina social do século XIX. Nesse momento, as ciências médicas começam a produzir um saber sobre os indivíduos e a psiquiatria se institui enquanto ciência. Nas práticas de isolamento, internação, terapias, registros, relatórios, vai se construindo “o suicida”. Os relatórios jurídicos e médicos fornecem informações de quem foi, como aconteceu e o que pensa esse indivíduo, para produzir as normas de conduta suicida, situações de risco, ou seja, a produção de verdade acerca do suicídio. Essas verdades são afirmadas ou negadas apenas por aqueles que detêm o saber científico, que detêm as informações. Este saber impôs o silêncio para o suicídio, para bani-lo dos nossos olhos, assim como a morte foi banida do cotidiano da vida. Fenômeno que é preciso isolar, dar um lugar longe da vida cotidiana, para que a produção e a utilidade dos corpos e mentes não sejam afetadas. A isso Foucault chama de biopoder (FOUCAULT, 2003). A área de saúde herda suas técnicas e procedimentos desse momento e constrói, a partir desses registros, um conhecimento sobre o suicídio. Esconde atrás do discurso científico uma proibição moral fortemente marcada pela moral cristã. Inverte Deus pela razão e mantém-se a verdade. A validade dessas “verdades” se justifica por seus registros, por suas técnicas. O suicídio caminha da proibição religiosa para a proibição 20 “científica” ou racional. O tratamento deixa de ser espiritual para se tornar corpóreo, físico. A medicina e a psiquiatria não só vão produzir registros e saberes sobre o suicídio, como vão normalizar comportamentos que são suicidas. Ao traçar perfil dos suicidas – como se comportam, o que dizem, como se movimentam – criam-se normas de comportamento e se produzem tipos6 de suicida. A partir disso, se estabelece quem são as pessoas que estão em um grupo de risco, com tendências suicidas. Nesse processo se determina quando e como se deve morrer. Com esse saber, a medicina aciona o poder de vida e morte sobre corpos dos indivíduos, que anteriormente, na Idade Média, era o soberano7 quem detinha. Para Foucault são as técnicas disciplinares da Idade Clássica que vai permitir a construção desse saber pela medicina. Essas técnicas disciplinares vão produzir regulamentos. Esses dispositivos aliados a outra tecnologia que é o biopoder, vão produzir as normas, a sociedade normalizada (FOUCAULT, 2003). O biopoder vai complementar as técnicas disciplinares, pois o foco de sua atuação, não será mais o corpo do indivíduo, como nas disciplinas, mas a população, o conjunto social, a vida da espécie humana, o homem enquanto espécie. Se num determinado momento se produziu saber sobre indivíduos, sobre corpos individuais, com o biopoder – que atua na massa de indivíduos, na coletividade, na espécie humana, na vida desses indivíduos enquanto uma população – se produzem saberes, como as estatísticas, os índices de desenvolvimento social, taxa de natalidade etc. É o poder de “fazer viver e deixar morrer” (FOUCAULT, 2003). O biopoder quer preservar a vida em última instância e, ao fazer isso, 6 Identificação de características atribuídas a indivíduos que podem ser considerados suicidas. 7 Soberano rei, poder político da terra proveniente do soberano Deus, poder divino do céu. Foucault diz que o soberano detinha o poder de “causar a morte ou deixar viver”, e esse “direito” foi substituído por um poder de “causar a vida e devolver a morte” (FOUCAULT, 2003, p. 131) 21 cria, aliadas às normas disciplinares, as normas de regulamentação, a sociedade de normalização que tomou posse da vida. A medicina é um desses mecanismos de “[...] saber-poder que incide ao mesmo tempo sobre o corpo da população, sobre o organismo e sobre os processos biológicos e que vai, portanto, ter efeitos disciplinares e regulamentadores [...]” (FOUCAULT, 2003). É esse poder que gere a vida, que vai estabelecer como se vive, como se deve morrer e em que momento. O discurso sobre o valor da vida, sua manutenção e prolongamento, o discurso do “como viver bem” é suscitado em todas as esferas públicas e sociais, e a morte está cada vez mais escondida e ausente dos espaços públicos, dos discursos, das instituições. Não é sobre a morte que o poder atua como diz Foucault, mas sobre a mortalidade: [...] a grande ritualização pública da morte desapareceu, ou em todo caso foi-se apagando, progressivamente, desde o fim do século XVIII até agora. A tal ponto que, agora a morte – deixando de ser uma daquelas cerimônias brilhantes da qual participavam os indivíduos, a família, o grupo, quase a sociedade inteira – tornou-se, ao contrário, aquilo que se esconde; ela se tornou a coisa mais privada e vergonhosa [...] agora a morte vai ser, ao contrário, o momento que o indivíduo escapa a qualquer poder, volta e se ensimesma, de certo modo, em sua parte mais privada. O poder já não conhece a morte. No sentido estrito, o poder deixa a morte de lado. (FOUCAULT, 2002, p. 295-6) O suicídio torna-se algo repugnante para esse poder que quer fazer viver, pois este escapa ao controle social e coloca a morte sob o domínio do próprio homem. Agora é sobre a vida e ao longo de todo o seu desenrolar que o poder estabelece seus pontos de fixação; a morte é o secreto da existência, o mais “privado”. Não se deve surpreender que o suicídio – outrora crime, pois era um 22 modo de usurpar o direito de morte que somente os soberanos, o daqui debaixo ou do além, tinham o direito de exercer – tenha-se tornado no decorrer do século XIX, uma das primeiras condutas que entraram no campo da análise sociológica; ele fazia aparecer, nas fronteiras e nos interstícios do poder exercido sobre a vida, o direito individual e privado de morrer. Essa obstinação em morrer, tão estranha e, contudo tão regular, tão constante em suas manifestações, portanto tampouco explicável pelas particularidades ou acidentes individuais, foi uma das primeiras surpresas de uma sociedade em que o poder político acabava de assumir a tarefa de gerir a vida. (FOUCAULT, 2003, p. 131)8 8 O grifo é meu. 23 IV – Suicídio enquanto problema moral Foucault nos remete ao tratado sociológico de Durkheim, intitulado de “O Suicídio. Estudo Sociológico”. Essa obra tem por objetivo pesquisar o suicídio enquanto fenômeno social. O que pretende é determinar a natureza das causas sociais do suicídio, seus efeitos e sua relação com os estados individuais dos fenômenos suicidas, demonstrando como esse ato se relaciona com outros fatores sociais e buscando meios para a intervenção sobre o ato. A sociedade torna-se objeto, onde são aplicados os procedimentos das ciências naturais. O suicídio é um fato a ser analisado no conjunto social e não no indivíduo, são as estatísticas e gráficos que classificam a data, o local, o sexo e as possíveis causas e a partir disso identificam as “leis” que existem no fenômeno em questão. A observação, registros, análises, as técnicas e dispositivos que construíram o homem enquanto objeto, irão constituir a sociedade enquanto objeto. A partir disso é possível estabelecer uma taxa de suicídio, que irá permitir o controle social da mortalidade. Isso implica – na nossa sociedade – em políticas públicas, em normas de conduta, em campanhas para prevenção do ato. Para Durkheim, toda sociedade humana, povo, força coletiva, tem uma predisposição para o suicídio, porque o que determina o suicídio é a condição moral, os valores da sociedade. Para o autor, existem três tipos de causas sociais para o suicídio, que estão relacionados com os valores morais da sociedade. O suicídio egoísta – quando o homem não encontra mais laços sociais que o mantêm inserido no tecido social; suicídio altruísta – que é por dever, porque é honroso para o indivíduo perante a sociedade, pois há um reconhecimento do todo pelo ato em determinadas circunstâncias; e o suicídio anômico – que se dá pelas rápidas transformações sociais, onde as normas sociais, as crenças, estão em mudanças e em conflito com o estabelecido ou o novo a se estabelecer (DURKHEIM, 1973). 24 Independentemente das causas sociais do ato, o suicídio é sempre um ato imoral, pois, para Durkheim, o homem constitui a sociedade ao mesmo tempo em que esta lhe determina, determinando também seus valores. Ao se matar o indivíduo destrói a si mesmo, lesa a sociedade, nega o humano e o ideal de humanidade. A morte voluntária é posta como um problema moral. A moralidade é entendida como conduta humana disciplinada por normas que prescrevem e regulam a vida das sociedades em conformidade com os costumes e hábitos. Tem por objetivo último a vida coletiva. O homem que se mata desestrutura a sociedade. Desestrutura aquilo que faz a sociedade permanecer e faz com que a vida coletiva possa ser possível: o contrato. Ao se matar o indivíduo rompe com as prescrições sociais, mas não pode ser punido pelo ato, ele escapa. Parece–me que a indisposição cultural para o suicídio surge desta ausência de possibilidade de punir aquele que não cumpre as regras, trazendo uma insegurança para todos os vivos em relação à possibilidade de se viver em sociedade, porque a punição às transgressões de uma “lei moral” é a única segurança que temos de uma vida comum. A afirmação sobre a imoralidade do suicídio se consolida nos argumentos de que transgride a um dever9 ou para com um Deus – a vida é doada por um Deus e não pertence ao homem decidir sua morte, mas ao deus criador – ou para com a sociedade – contraria uma lei social, destrói o ideal de humanidade e põe em risco o contrato social e a manutenção da sociedade – ou ainda para conosco – contraria a uma lei da natureza humana, a qual todos nós estamos submetidos, pois somos inclinados à vida e não à morte. O dever é sempre uma obrigação que temos que cumprir. Conservar a própria vida é um dever, ou seja, temos que viver em conformidade com uma obrigação moral, que pode ser entendida como uma obrigação social, ou seja, de cumprimento das regras impostas pela coletividade, ou pela própria razão. 9 Um dever é uma obrigação a um preceito moral ou legal que o homem se submete. 25 Kant foi um desses grandes expoentes do século das Luzes que afirmou a imoralidade do suicídio fundamentada nas leis da razão. O autor ilustra a diferença entre uma ação por dever e uma ação por inclinação imediata, que pode ou não estar em conformidade com o dever. Conservar a própria vida é uma ação para a qual temos inclinação imediata, ou seja, somos movidos a essa ação sem mediação da razão. Uma ação realizada por inclinação, embora possa estar em conformidade com o dever, não tem valor moral, já que não é uma regra da razão que a determina. Para que uma ação seja por dever, a máxima que determina a ação deve ser uma lei prática da razão. “Dever é a necessidade de uma ação por respeito à lei” (KANT, 1989, p. 114). Assim, podemos dizer que uma ação é por dever quando ela obedece incondicionalmente a uma lei da razão – lei enquanto regras universais, princípios determinados pela razão, essas leis são a priori e constroem o princípio objetivo do querer, as leis práticas – há uma subordinação da vontade a essa lei, sem que haja outros motivos que a determinem. Kant Ilustra essa diferença dizendo [...] quando as contrariedades e o desgosto sem esperança roubaram totalmente o gosto de viver, quando o infeliz com fortaleza de alma, mais enfadado do que desalentado ou abatido deseja a morte e conserva, contudo a vida, sem amor, não por inclinação, mas por dever, então sua máxima tem conteúdo moral [...] (KANT, 1989, p.113). A lei prática é o princípio objetivo do querer. Ela não pode expressar nada de particular, pois deve ser válido para todos os seres racionais. Expressa-se com forma, como uma fórmula. Essa lei deve determinar o princípio subjetivo do querer, a máxima da ação. A máxima de uma ação se expressa da seguinte forma: “devo proceder sempre de maneira que eu possa querer também que a minha máxima se torne uma lei universal” (KANT, 1989, p. 115). 26 Para ser lei universal, o princípio deve ser objetivo, pois deve valer para todos os seres racionais; esse princípio objetivo se expressa pelo imperativo categórico com a seguinte forma: “age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal” (KANT, 1989, p.129). Para saber se sua ação está em conformidade com a lei moral, segundo a lei máxima, deve-se universalizar a máxima da ação retirando dessa qualquer condição que a justifique como um fim externo a ela mesma. Kant exemplifica da seguinte maneira: Uma pessoa, por uma serie de desgraças, chegou ao desespero e sente tédio da vida, mas está ainda bastante em posse da razão para poder perguntar a si mesma se não será talvez contrário ao dever para consigo mesma atentar contra a própria vida. E procura agora saber se a máxima da sua ação se poderia tornar em lei universal da natureza. A sua máxima, porém é a seguinte: por amor de mim mesmo, admito como princípio que, se a vida, prolongando-se, me ameaça mais com desgraças do que me promete alegrias, devo encurtá-la. Mas pergunta-se agora se esse princípio do amor de si mesmo se pode tornar lei universal da natureza. Vê-se então em breve que uma natureza, cuja lei fosse destruir a vida em virtude do mesmo sentimento cujo objetivo fosse a sua conservação, se contradiria a si mesma e, portanto, não existiria na natureza. Por conseguinte, aquela máxima não poderia de forma alguma dar-se como lei universal da natureza, e, portanto é absolutamente contrária ao princípio supremo de todo o dever (KANT, 1989, p. 130). Expressar-se através desse imperativo prático, de que a minha máxima é legisladora universal e deve legislar sobre mim e sobre toda a humanidade. Minhas ações devem ter sempre como princípio que tanto eu quanto toda humanidade não podemos ser usados arbitrariamente por uma vontade. 27 Para Kant, uma ação moral é aquela que é prescrita pela razão, sem inclinações naturais, pois as inclinações humanas naturais são patológicas. O que está posto pelo autor é a imoralidade do suicídio, pois contraria uma lei da razão, e a razão é quem deve determinar o querer. O homem kantiano tem uma razão e um corpo, onde a razão deve determinar as ações desse corpo. Aqui se percebe a manutenção do argumento de que o homem é decaído, seu corpo sofre das paixões do instinto e, portanto, algo pode salvá-lo: ou Deus – como querem os cristãos – ou a razão – como querem os modernos. O suicídio foi construído enquanto uma doença moral, pois transgride a um dever, contraria leis sociais e essa construção, enquanto doença moral, desencadeia o processo de “naturalização” da cultura. Naturalizar é transformar aquilo que é cultural, produzido pelo homem, em algo que se realiza sem a intervenção do humano. No caso do suicídio, significa “patologizar” o ato, como se esse ato não dependesse da vontade humana, como se fosse causado por uma deficiência biológica do próprio organismo, da própria vida. 28 V – A filosofia trágica e a decisão pela morte Os filósofos trágicos, como Nietzsche quer, tinham um estilo de vida filosófico. Ter um estilo de vida filosófico é ser marcado por uma tonalidade, uma nota que ressoa no filósofo, procedente do som forte e estridente que há no mundo. “O filósofo busca fazer ressoar em si mesmo o clangor total do mundo e tirá-lo de si para expor em conceitos” (NIETZSCHE, 1995, p. 31) Os filósofos trágicos buscaram expressar pela palavra (logos) a origem (gene) daquilo que brota da terra (physis). O que os sábios queriam era ouvir o logos da physis, a palavra que vem da natureza. De alguma maneira podemos entender que logos, em princípio, é “colher” e tornar-se: o resultado da ação que é expresso pelo verbo, a palavra. “‘Expor em conceitos’ é professar de maneira fecunda, aquilo que foi colhido e saboreado, [...] uma faculdade penetrante de saborear e conhecer as coisas, uma aptidão notável de discernimento, constitui, então, segundo a consciência do povo, a arte genuína do filósofo.” (NIETZSCHE, 1995, p. 30) Para Nietzsche, Anaximandro foi um desses filósofos trágicos, que viveu como escreveu: “[...] falava de maneira tão solene como se vestia, levantava a mão e pousava o pé como se esta vida fosse uma tragédia, na qual tivesse sido predestinado a fazer o papel de herói [...]” (NIETZSCHE, 1995, p. 36). Anaximandro identificou o movimento constante que há no mundo, ao afirmar: [...] de onde as coisas tiram a sua origem, aí devem também seu perecer, segundo necessidade, pois elas têm que expiar e ser julgadas pelas suas injustiças, de acordo com a ordem do tempo [...] agora com Anaximandro todo devir como uma emancipação criminosa do ser eterno, como uma iniqüidade que tem de ser expiada com a ruína. Tudo o que uma vez entrou no devir torna a perecer, quer pensemos na 29 vida humana, quer na água, ou no calor e no frio [...] (NIETZSCHE, 1995, p. 33-34) E foi o primeiro a expor o mais profundo problema moral. Não tratando o [...] problema da origem do mundo como um problema puramente físico [...], se ele se apercebeu, na pluralidade das coisas vindas à existência, de uma soma de injustiças a expiar, foi o primeiro entre os gregos a captar como ousadia o núcleo do mais profundo problema moral [...] (NIETZSCHE, 1995, p. 35) e perguntar: Como algo que tem direito à existência pode perecer? De onde vem esse incessante devir e parturir, de onde procede essa contracção dolorosa no rosto da natureza, essa lamentação fúnebre infindável que ressoa através de todas as esferas da existência? [...] qual o valor da vossa existência? E se nada vale porque existis? (NIETZSCHE, 1995, p. 35). Aqui está exposta a pergunta trágica da existência humana. Trágico é aquilo contra qual não é possível vencer, o terrível, o fúnebre, o destino. E aquilo que não é possível vencer é justamente o vir-a-ser constante a que tudo está submetido. É a fatalidade, o destino, que é fiado, enrolado e cortado pelas Moiras. O inevitável da vida, a morte. O absurdo movimento, de vir a ser e perecer a que toda a existência está submetida e para o homem que tem a consciência desse movimento que ele não pode fixar – e para conhecer é preciso fixar – é aterrorizante. Tudo se torna fugaz e momentâneo, mas ao mesmo tempo, belo, porque é através do reconhecimento dessa tragédia da vida que o homem se afirma 30 enquanto um homem que deve ultrapassá-la, encarar seu destino e afirmar a sua existência como um herói que deve enfrentar, ainda que saiba que irá perder. De outro modo Camus faz a mesma pergunta e traz o suicídio enquanto um problema filosófico, uma questão moral. Uma questão moral é aquela que diz respeito à conduta, à ação e está suscetível de avaliação. O que Camus propõe como um problema filosófico é justamente essa avaliação de uma conduta: a de continuar ou não, vivendo. “Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida, é responder a uma questão fundamental da filosofia [...]” (CAMUS, p. 13). Julgar é avaliar algo, para avaliar tenho que estabelecer a partir de que perspectiva se avalia. Para Camus, responder se a vida tem sentido – ter sentido, é ter uma direção, um fim, uma finalidade que justifique, no caso, a existência – é saber se ela merece ou não ser vivida. Depois dessa resposta, a vida passa a ser resultado de uma avaliação, e não mais um hábito. Aquele que se mata, confessa com seu ato que “a existência não vale a pena”, confessa que a vida não tem sentido. É absurda. O que Camus pretende investigar é se o suicídio é conseqüência obrigatória do absurdo. O absurdo é a ausência de sentido na vida, que diante da crueza do mundo ficamos expostos a nascer e morrer, sem razão, explicação ou lógica qualquer. E a vida, o que é? É o impensável, onde a tentativa de uma resposta final fica em suspenso. O absurdo é essa clareza inumana, sem paixões, crua, onde se evidencia esse movimento de nascimento e perecimento sem trégua a qual estamos submetidos e com o qual nos revoltamos, pois buscamos insaciavelmente o conhecimento, a razão, a coerência. “Um mundo conhecido, nos é um mundo familiar” (Camus, p. 16). É desse divórcio entre o homem e o mundo que nasce o sentimento de absurdo. O absurdo é a constatação de que o mundo não é racional e para entendê-lo seria preciso humanizá-lo. 31 Tudo que se pode dizer é que esse mundo não é razoável em si mesmo. Mas o que é absurdo é o confronto desse irracionalismo e desse desejo desvairado de clareza, cujo apelo ressoa no mais profundo do homem [...] (CAMUS, p. 34) Para Camus, viver é um hábito, e adquirimos o hábito de viver antes do de pensar. É esse hábito que faz com que o corpo recue diante do aniquilamento. É a pulsão pela vida, ainda que miserável. Morrer voluntariamente implica reconhecermos o carácter irrisório desse hábito, a ausência de qualquer razão profunda de viver, o carácter insensato dessa agitação cotidiana e a inutilidade do sofrimento [...] (CAMUS, p. 16) Mas Camus escapa ao suicídio pela revolta. Viver o absurdo é viver na revolta. Ser consciente do absurdo do mundo, da vida e da morte, pois há ausência de racionalidade na vida e na morte, mas viver instalado na revolta. A revolta é a negação da racionalidade do mundo e é a afirmação da vida absurda. Para se afirmar o absurdo do mundo é preciso viver, mesmo sabendo que é inútil. É uma defesa do humano, é a afirmação da condição humana de estar condenada à morte, ao aniquilamento, mas viver porque é a única possibilidade de ser humano possível, já que a morte é a opção pelo nada. “Que é o homem revoltado? Um homem que diz não. Mas se ele recusa, não renuncia: é também um homem que diz sim, desde seu primeiro movimento [...]” (CAMUS, p. 25) A revolta é a recusa em morrer. O suicídio, a renúncia de viver. Ao recusar a viver, “o suicídio resolve à sua maneira o absurdo” (CAMUS, p. 70). É a revolta que dá à vida o seu valor. E o homem revoltado morre “[...] irreconciliado e não de bom grado [...] O contrário do suicida é, precisamente, o condenado à morte [...]” (CAMUS, p. 71) 32 Camus responde à pergunta fundamental da filosofia, mas o que nos interessa aqui é tensionar a decisão individual de morrer com a obrigatoriedade de viver. Todos nós estamos condenados à morte, mas há uma outra inversão possível. Ser condenado à vida. Ser obrigado a viver, ainda que se tenham esgotado todas as possibilidades. Ao considerar o suicídio como uma conduta, que envolve uma decisão individual, de um ser, afirmo a voluntariedade dessa decisão. Vontade é uma força vital que deseja. O suicídio é um querer (vontade, desejo) que se afirma no aniquilamento do corpo. Não é o aniquilamento de um indivíduo abstrato, universal, retirado do corpo. Mas o aniquilamento do corpo, onde o pensamento está mergulhado na vida. Decidir por morrer é ser consumido por um desejo que vai se apossando do indivíduo, no coração do homem, no lugar em que metaforicamente se aloja a pulsão de vida, o movimento vai se dando até a determinação pela própria morte e consumação do ato. “[...] um gesto como esse prepara-se, tal como acontece numa grande obra, no silêncio do coração [...]” (CAMUS, p. 14). É uma decisão preparada, ninguém se mata de repente, de uma hora para outra. Há uma trajetória, um percurso que o suicida realiza. Decidir o método, escolher o ambiente, a hora solitária, adquirir os instrumentos. Não importa as causas infindas que o movem a isso, que são inumeráveis. Não nos importa valorar essas causas, já que metrificar a dor do outro nos é impossível. O que nos importa é a decisão individual que é acompanhada de um silêncio lúcido. E morrer por quê? A pergunta que sempre acompanha aqueles que ficam é: por quê? Quais os motivos? Ainda que as “mensagens do adeus”10 possam nos trazer ressonâncias das pretensas razões, elas nos parecem inúteis. Se há algo de impenetrável no suicídio, são suas causas. O motivo que leva ao ato é coberto com flores, juntamente com a terra molhada que São as mensagens dos suicidas que Dias organizou e publicou em um trabalho intitulado de “Testemunhos do Adeus”. 10 33 cobre os corpos. E se a vida não tem sentido qualquer, para viver ou morrer não há razões. Posso dizer sim ou não. E não há razões para uma ou outra decisão. Se decido viver, afirmo o meu querer – a decisão é uma afirmação do meu querer. Se decido morrer, também afirmo o meu querer. As razões que justificam o ato, viver ou morrer, são apenas argumentos para que os outros possam avaliar o ato. O suicida, ao decidir, decide por fazer cessar, se as causas que o levam nos soam banais ou heróicas, não nos importa. São apenas argumentos que justificam para aqueles que ficam que o ato não foi em vão, ou que tinha um motivo que nos faça compreender e nos familiarizar com o mundo e nos harmonizar. Se foi por amor, por tristeza, por felicidade, por pobreza, pelo próximo, o que podemos dizer é que: não é mais possível continuar, esgotaram-se as possibilidades. Werther11 em um diálogo com Alberto12 sobre o suicídio argumenta contra o senso comum que afirma o suicídio como uma covardia ou coragem, dizendo [...] – A natureza humana – prossegui – é limitada: ela suporta a alegria, a tristeza, a dor, até certo ponto; se o ultrapassar, sucumbirá. A questão não é saber, pois, se um homem é forte ou fraco, mas se pode aturar a medida do sofrimento, moral ou físico, não importa, que lhe é imposta. Neste caso, acho tão absurdo dizer que um homem é covarde por haver dado cabo da própria vida, como seria absurdo chamar de covarde o que corre de uma febre maligna [...] (GOETHE, 2000 p. 60,61) É assim, não há como universalizar o ato, nem achar razões iguais Personagem de Goethe em “Os sofrimentos do jovem Werther”, obra em que o protagonista Werther se suicida pois se envolveu com uma jovem comprometida. 11 12 Personagem de Goethe em “Os sofrimentos do jovem Werther”, que desposa da jovem pela qual Werther é apaixonado. 34 para todos os suicidas, nem ao menos prevenir o ato. As políticas de prevenção acabam se tornando tirania social e moral. Quando alguém se determina a morrer, é porque algo nele transborda, há um excesso que não é possível mais carregar, a vida torna-se um peso que ele não suporta. Termino esse texto com uma frase que me acompanha há algum tempo: “o suicídio é belo”, e explico: belo por que é um ato humano que denuncia o trágico da existência, o esgotamento de todas as possibilidades do humano e, ao mesmo tempo, é a ação decisiva de um ser que toma pra si sua própria vida e se recusa a ser um condenado. É aquele que definitivamente quer morrer. Para além de incitar ao ato, enxergar a morte voluntária por outros olhos é libertar os suicidas das frondes das árvores, da condenação eterna que nossa sociedade os encerrou. É retirar daqueles que ficam, uma culpa, uma vergonha que os acompanha. 35 VI – Referências bibliográficas ALIGHIERI, Dante. A divina comédia; tradução Hernani Donato. São Paulo: Abril Cultural, 1979. BERTOLE, José Manuel. O suicídio e a sua prevenção. In MELEIRO, Alexandrina Maria A. Silva; TENG, Chei Tung; WANG, Yuan Pang. Suicídio: Estudos Fundamentais. São Paulo; Segmento Farma, 2004. p.193- 205 CAMUS, Albert. O Homem Revoltado. 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