Impacto do suicídio da pessoa idosa em suas famílias Ana Elisa Bastos Figueiredo Claves/ENSP/FIOCRUZ Raimunda Magalhães da Silva UNIFOR Impacto do suicídio da pessoa idosa em suas famílias Ciências & Saúde Coletiva: 17(8), 1993-2002, 2012. Ana Elisa Bastos Figueiredo Raimunda Magalhães da Silva Raimunda Matilde do Nascimento Mangas Luiza Jane Eyre de Souza Vieira Herla Maria Jorge Furtado Denise Machado Duran Gutierrez Girliani Silva de Sousa O suicídio tem conseqüências impactantes nos grupos sociais mais próximos das pessoas que se matam. Grupo Familiar Grupo que mais sofre os efeitos de diversas naturezas, os quais se prolongam no curto, médio e longo prazo Suicídio como uma realidade da qual ninguém sai ileso (Mitty e Flores, 2008). Dinâmica Familiar Condutas e ações sustentadas em uma normatividade estabelecida, que permeia a vida cotidiana dos membros de um grupo (Bronfman, 1993). Estrutura Familiar Padrão organizado dentro do qual os membros da família interagem (Nicholcs e Schwartz, 2007). Lacuna na literatura da correlação Impacto na família - suicídio de idosos Revisão – fevereiro de 2012 (Medline e PuMed) 12 artigos – serviços de saúde para idosos, suicídio, família e autópsias 0 – correlação entre impacto na família e suicídio de idosos TRAJETÓRIA METODOLÓGICA Abordagem qualitativa Perspectivas teóricas da antropologia Perspectivas teóricas da sociologia Autópsias psicossociais Embricamento - perspectiva sociológica e subjetiva. Histórias contadas pelos familiares dos idosos e importante: compreender a atmosfera em que ocorreu o ato suicida mostrar as fraturas que ficam entre os familiares Escolaridade nível superior completo a nenhuma Moradia zona rural procedente dela Ocupação servidores públicos funcionários de empresa privada, agricultores autônomos (carpinteiro, pedreiro,sapateiro, mecânico, caminhoneiro, vendedor ambulante trabalhadores rurais Perfil dos familiares Religião católica espírita evangélico sem credo 1. Sentimento de culpa pelo ato suicida do familiar idoso; 2. Isolamento social e suas manifestações na saúde; Núcleos de sentidos 3. Estigma, preconceito social e crença na improbabilidade do ato; 4. Raiva e sofrimento familiar; 5. Superação e atenção aos familiares Sentimento de culpa Primeiro que aflora - forma explícita ou velada "Comecei a me sentir culpada.“ Mais forte e menos elaborado quanto maior o vínculo afetivo Culpa não traduz sentimentos de raiva ou de revolta – projetada para outras situações “A culpa fica em todo mundo, por não estar presente no momento" Não foram capazes de valorizar certos diálogos ou episódios Isolamento social e manifestações na saúde “Esses dias estava com começo de depressão" Desesperança Perda de entusiasmo Tristeza Vontade de não sair de casa “Nunca mais tive gosto pela vida!" Apego ao ambiente físico Tratamento psiquiátrico não relacionado com a perda • negação do ato • diversidade dos sentimentos envolvidos • fraca abordagem dos profissionais de saúde “Ele não consegue dormir [...] está tomando remédio para dormir [...] é porque a gente trabalha muito”. Sofrimento psíquico – fechar-se em si mesmo – elemento facilitador Dor se multiplica – potencializa “Nos primeiros dias ela [a mãe] ficou bem sentida, não queria nem conversar. Mudou muita coisa na nossa vida, hoje eu tenho problema...” Movimento em direção à autonomia – busca compensação emocional – retração – deslealdade Lealdade inquestionável ou dependência extrema de Mito da “casa maldita” • norteia as relações familiares • integra-se ao contexto perceptivo da família • recentra as modalidades internas da relação familiar • reorganiza novos esquemas de referência • casa perde sentido de habitat acolhedor – transformase em ambiente ameaçador “Depois que o papai morreu a minha mãe vendeu a casa. Não conseguiu mais morar lá. Eu também saí de lá, mudei até de bairro”. Estigma, preconceito social e crença na improbabilidade do ato Vergonha - sentimento que predomina nas famílias • consequência de posturas externas ao núcleo familiar - amigos e vizinhos se afastam • pode exacerbar conflitos intra-familiares "Passei um ano me escondendo das pessoas, pessoas amigas que queriam dar um apoio, mas eu me escondia com vergonha” Minimizar os sinais manifestados pelo idoso – repetição das expressões de desistência da vida, isolamento, tristeza “quem vai se matar não avisa” ameaça de suicídio como forma de manipulação Ele deu as roupas novas dele todas, quando eu fui procurar para preparar o corpo (para vesti-lo para o velório) cadê? Não tinha nenhuma, ele me levou no Banco e abriu uma conta no meu nome e colocou o dinheiro dele todo. Ele vivia falando: 'eu não presto mais para nada, eu só presto para morrer‘ Raiva e sofrimento familiar Raiva - interpretada • gesto agressivo • desprezo, ingratidão – não pensou na família • traição “Eu reajo mal até hoje, depois de quarenta anos juntos, eu estendi as minhas mãos para ele, fui amiga, fui companheira, fui esposa, me sinto traída por tudo que ele me fez”. Repercute na saúde mental dos familiares: • mais próximos • mais vulneráveis • com dificuldades adversas de adaptação a situações “O impacto na família foi demais! Passamos mais de uma semana sem comer, ainda hoje sinto muita falta dele, todo dia me lembro dele”. Superação e atenção aos familiares Religião • o inexplicável, no plano material - transferido para o espiritual “Eu prefiro acreditar que ele fez por amor por mim. E entregar o que não entendo para Deus. Deitei no chão do quarto, teve uma coisa que aconteceu: eu senti como se fosse ele”. • instrumento de ressignificação – experiência místico-religiosa • familiares próximos e afetados promovem processo de superação - paradoxal Atenção do setor saúde • 2/3 ou + de idosos que cometeram suicídio estavam em atendimento em serviços de atenção primária nos últimos 30 dias e até meia semana antes de cometerem o ato (Martinez e Parra, Conwell et al, Luoma et al) • serviços de atenção primária serem adequados ainda não transpuseram a assistência individual e medicalizante – assistência que inclua necessidades da família como unidade de cuidados Estratégia Saúde da Família efetivada como política de estado, pois um dos seus mais singulares princípios consiste em "abraçar" a família como o alvo de sua atuação, comprometendose com ela em todos os episódios que afetam sua integridade física e mental ou possa preveni-los: “A gente não tem nada de saúde perto, tudo é longe, É tudo dificultoso, um caso desses, era para ter um apoio pelo menos para a família, é difícil vir alguém da saúde, não tem apoio de ninguém para conversar, dar uma palavra amiga, é muito difícil, muito difícil, não custava nada uma visitinha” Considerações Finais 1. Intervenções dos Sistemas de Saúde e de assistência social de diferentes modalidades. 2. Os familiares costumam se desintegrar quando existem conflitos financeiros 3. A lembrança do ato suicida destrói planos de vida. 4. Familiares mergulham em dor e tristeza, sem forças para se reerguer. 5. O sentimento de culpa na descrença do ato suicida 6. Problemas de saúde física e mental nos membros da família. 7. Isolamento social, o afastamento de amigos e vizinhos são motivos de sofrimento. 8. Culpa, vergonha e recusa de ajuda no período imediato ao suicídio Recomendações • Intensificar programas de atenção ao idoso e seus familiares no sistema de saúde; • Fortalecer os programas sociais e psicológicos entre os familiares; • Capacitar profissionais em todos os níveis de atenção, principalmente, atenção básica, para dar suporte aos idosos e suas famílias; • Desvelar o mito do suicídio entre os diversos atores que mantém vínculo com o idoso. [email protected] [email protected]