III Congresso Internacional de Atualização em Neurociência Einstein e Cleveland Clinic A Genética das Distonias Patricia de Carvalho Aguiar Instituto do Cérebro IIEP – Hospital Israelita Albert Einstein Dep. De Neurologia e Neurocirurgia- Universidade Federal de São Paulo Distonias: formas geneticamente definidas Tipos de Distonia Herança Lócus Gene/ Proteína DYT1 DYT2 DYT3 DYT4 DYT5 Distonia generalizada de início precoce Distonia generalizada de início precoce Distonia-Parkinsonismo lidada ao X; Lubag Distonia não ligada ao DYT1 Distonia Dopa-responsiva (Segawa) AD AR XR AD AD 9q34 ? Xq13.1 ? 14q22.1- q22.2 DYT1/ Torsina A ? TAF1/TAF1 ? GCHI /GTP ciclo-hidrolase I DYT6 DYT7 DYT8 DYT9 Distonia de fenótipo misto (adolescência) Distonia focal (adulto) PNKD CSE AD AD AD AD 8p11.21 18p 2q33-q35 1p21 THAP1/ THAP1 ? PNKD1/ MR1 ? DYT10 DYT11 DYT12 DYT13 DYT14 DYT15 DYT16 DYT17 DYT18 DYT19 DYT20 TH PKD Distonia-Mioclonia Distonia-Parkinsonismo de início rápido Distonia crânio-cervical Distonia Dopa-responsiva Distonia-mioclonia Distonia- Parkinsonismo de início precoce Distonia primária AR Distonia paroxística induzida por exercício PKD2 ? PNKD2? Distonia Dopa-responsiva AD AD AD AD AD AD AR AR AD 16p11.2 - q12.1 7q21 19q13 1p36.32-p36.13 14q13? 18p11 2q31.2 20p11.2-q13.12 1p31.3–p35 16q13-q22.1 2q31 11p15.5 ? SGCE/ epsilon sarcoglicana ATP1A3/ ATPase Na,K alfa 3 ? ? ? PRKRA/ PRKRA ? SLC2A1/ GLUT1 ? ? TH/ Tirosina hidroxilase AR Distonias primárias Distonias plus Distonia parkinsonismo Distonia mioclonia Distonias – plus Distonias com parkinsonismo DYT3: distonia parkinsonismo ligada ao X (Lubag) DYT5: distonia dopa- responsiva DYT12: distonia- parkinsonismo de início rápido DYT16: distonia- parkinsonismo de início precoce Distonia e mioclonia DYT11: distonia-mioclonia sensível ao álcool DYT15: distonia-mioclonia sensível ao álcool DYT5 - distonia dopa responsiva Distonia dopa-responsiva (Segawa) Herança: AD; penetrância variável ( 87% dos casos são mulheres ) Idade de início: primeira década de vida Distonia; flutuação diurna; parkinsonismo; hiperreflexia Ótima resposta à levodopa Atraso no diagnóstico Distonia dopa responsiva DYT5 - distonia dopa responsiva Espectro clínico se expandiu: parkinsonismo na idade adulta distonia com remissão espontânea distonia oromandibular espasticidade com RDNPM hipotonia generalizada com fraqueza proximal DYT5 - distonia dopa responsiva Lócus 14q22.1-q22.2 Gene: GCH1 (Ichinose et al, 1994). Proteína: GTP ciclohidrolase I Cerca de uma centena de mutações descritas: heterozigotos; heterozigotos compostos; homozigotos. 30-40% dos casos são negativos para mutações neste gene. SÍNTESE DE DOPAMINA Patricia A. Lawlor and Matthew J. During. Expert Reviews in Molecular Medicine Vol. 6; Issue 5; 2 March 2004 DYT5- Diagnóstico diferencial Parkinsonismo Juvenil (PARK2) Outras formas de distonia dopa-responsiva Deficiência de Tirosina Hidroxilase (AR): a mais comum dentre as formas AR. Cursa com encefalopatia infantil progressiva. Outras formas de hiperfenilalaninemia (convulsões, RDNPM, hipertonia dos membros, hipotonia do tronco, movimentos involuntários). DYT11- Distonia mioclonia sensível ao álcool DYT11- Distonia mioclonia sensível ao álcool Distonia-Mioclonia Lócus: 7q21 (um segundo lócus foi descrito no 18p11- DYT15) Gene: SGCE (Zimprich et al, 2001). Proteína: epsilon sarcoglicana. Herança: AD; penetrância variável (imprinting materno?). DYT11- Distonia mioclonia sensível ao álcool Início: primeira ou segunda década de vida. Distonia e/ou mioclonia membros superiores e região cervical; melhora com álcool. Sintomas psiquiátricos. Epilepsia não é mais critério de exclusão. Brasil: casos descritos com mutação nova e mutação de novo (Borges et al, Mov Disord 2007 Jun 15;22(8):1208-9.) Distonia mioclonia M-D family displaying reduced penetrance associated with maternal inheritance * * * * * * * * * * * ** Distonias primárias DISTONIAS PRIMÁRIAS DYT1: distonia primária de início precoce DYT2: distonia primária de início precoce AR DYT4: disfonia sussurrante DYT6: distonia de fenótipo misto da adolescência DYT7: distonia focal do adulto DTT13: distonia craniocervical DYT17: distonia primária AR Distonias Primárias Faixa etária x Distribuição corporal Número de pacientes 80 60 40 20 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Idade de início (anos) Focal Segmentar Generalizada New York Neurological Institute (Bressman) DYT1- Distonia primária de início precoce Distonia de torção primária AD de início precoce Herança: AD; penetrância 30 a 40 %. Prevalência: 1:160000 na população geral (até 1:2000 entre judeus Ashkenazi) Idade de início: média de 13- 14 anos. Distribuição: início focal em um dos membros (86 a 90% dos casos) com generalização (70% dos casos). Acometimento crânio-cervical não é frequente. Distonia primária – DYT1 DYT1- Distonia primária de início precoce Lócus: DYT1 na região 9q34. Gene: TOR1A/ DYT1 (Ozelius, 1997). Proteína: Torsina A (ATPase) Mutação principal: deleção GAG no éxon 5. Heterogeneidade Genética: estima-se que 2/3 dos indivíduos com fenótipo típico apresentam esta mutação. Marcadores BR 40-G BR 40-F - - 22 14 3 6 2 2 18 8 4 3 BR 40-E D9S159 D9S2160 D9S2161 D9S63 D9S2162 (18 16) 5 7 1 3 0 18 3 5 BR 40-A 14 5 5 2 2 - 14 6 2 8 3 14 5 5 2 2 BR 40-B - + 14 6 2 8 3 (18 16) 5 5 1 2 0 10 3 6 BR 40 BR 40-C + 18 14 5 6 1 2 0 8 3 3 BR 40-D + 18 14 5 5 1 5 0 8 3 2 D. de Parkinson Coreoatetose Distonia primária Não-afetado DYT1 Anatomopatológico: ausência de neurodegeneração ou outros achados significativos. Estudos bioquímicos: sugerem que o sistema nigro-estriatal esteja intacto, mas que haveria um aumento do metabolismo dopaminérgico. PET: aumento da atividade metabólica nos núcleos lentiformes, no cerebelo e na AMS nos portadores da mutação (sintomáticos ou não). Redução da densidade de receptores D2 no caudado e no putamen. DYT1 Penetrância de 30 a 40%: Fatores modificadores genéticos e/ou ambientais? Risch et al, Am J Hum Genetics 2007;80:1188Polimorfismo D216H: 216H – efeito protetor 216D em cis com a mutação: manifestação clínica Torsina A Membro da superfamília das ATPases AAA+, que formam anéis oligoméricos e funcionam com chaperonas. Localização intracelular: envelope nuclear e no RE. Pode mudar quando submetida ao estresse oxidativo e no caso de mutações. Imunoreatividade: não se observou diferença entre os cérebros de mutantes e não mutantes. Em cérebros de parkinsonianos há intensa imunoreatividade nos corpúsculos de Lewy e uma forte associação com alfa-sinucleína. Torsina A Modelo animal C. elegans: efeito neuroprotetor Camundongo transgênico: Interferência no transporte ou liberação DA Provável efeito dominante-negativo. Potencial utilização terapêutica de RNAi para silenciar a molécula com mutação. DYT6- Distonia primária de fenótipo misto Distonia AD de fenótipo misto Herança AD; penetrância 60%. Inicialmente descrita em famílias Amish-Menonitas. Idade de início: média = 16 anos ( varia de 5 a 62 anos). DYT6- Distonia primária de fenótipo misto DYT6- Distonia primária de fenótipo misto Quadro misto: Início em um dos membros (50%) ou na região crâniocervical (50%). Início no MID é raro. Generaliza em 50% dos casos. Disfonia é importante. Inicialmente descrita em Amish Menonitas, atualmente identificada em diversos grupos étnicos. Mennonite/Amish Family DYT6 Ozelius DYT6- Distonia primária de fenótipo misto •Lócus: 8p11.21 • Gene: THAP1 (Fuchs et al, 2009) • Mutação em 3 famílias Amish-Menonitas: inserção de 5pb seguida de uma deleção de 3bp no éxon 2 (efeito fundador). • Atualmente mais de 45 mutações descritas em diferentes etnias. DYT6- Distonia primária de fenótipo misto Brasil: um caso descrito, fenótipo muito semelhante ao DYT1, com início precoce e generalização. Distonia – DYT6 DYT6- Distonia primária de fenótipo misto THAP1: função pouco conhecida ( possui um domínio de ligação de DNA, poderia interferir na transcrição de diversos genes). Redução da densidade de receptores D2 no caudado e no putamen. É provável que este gene venha a ter uma importância igual ou superior ao DYT1 na etilologia das distonias (identificado em 25% dos casos típicos e 1% nas distonais em geral). 301 401 403 404 405 406 504 505 507 509 511 513 515 516 517 302 408 519 o o 409 410 411 4005 o + 5015 + + 4011 416 306 418 557 546 307 419 308 420 309 421 549 550 422 552 + + o 553 o o ? 4015 + ? + ? 4012 4013 4014 + 4016 4017 4018 4019 40204021 + + ? + ? 50175019 5020 50215022 B01 415 538 541 ? 4008 4009 4010 ? 5007 5010 5012 5013 Heterogeneidade genética 305 3014 o 40064007 + 500150035005 414 528 530 ? 4004 304 412 413 521 524 525 526 + ? 4003 ? 211 303 3013 4002 ? 210 ? ? 5032 5033 201 B02 301 402 C01 C02 C03 D12 D13 E16 D19 E18 E25 E26 E27 E28 D20 E29 E30 D21 D22 E31 E32 E33 403 302 405 406 202 303 409 411 412 413 D25 E36 D26 D27 E37 E38 D28 E39 D29 D30 D31 E40 E41 D32 D33 F07 F08 F09 F10 F11 F12 F13 F14 307 308 421 422 423 426 429 309 310 427 428 E42 E43 E44 E45 E46 o E47 + 309 F15 o + 429 o 430 + 201 416 305 204 D34 310 F06 304 203 C04 D23 D24 E34 E35 ? 102 + ? 5023 5024 50255026 50275028502950305031 ? 101 431 + + + 432 433 + + o + 434 o + 436 + + + + o 435 + 472 + 437 + 438 o + + 439 + o 440 o 441 + 442 + 443 474 + + + 538 562 563 564 568 525 526 527 528 529 530 531 532 533 534 535 536 537 + 308 + 429 + 430 + 412 413 309 + 414 416 + + 420 421 528 529 + 508 511 + 513 444 + + 202 524 121 473 + 621 422 423 534 542 + 530 622 424 + 531 123 + 640 533 + 623 532 + 628 + + 630 122 + 631 535 + 632 541 624 536 625 425 + 540 + + 626 537 + 629 538 Laurie Ozelius 570 571 Tratamento O arsenal terapêutico ainda é extremamente limitado. Farmacológico Levodopa:DDR Anticolinérgicos Benzodiazepínicos Baclofeno Toxina botulínica Fisioterapia Fonoterapia Cirúrgico (DBS)> GPi bilateral Testes genéticos Atualmente apenas o teste para DYT1 vem sendo empregado na prática clínica para aconselhamento genético e pré-implantação de embriões. Outros genes: interesse científico. Possíveis mecanismos moleculares TOR1A é um alvo direto de THAP1, mostrando uma via comum entre dois tipos de distonia primária. Possíveis mecanismos moleculares D.C. Bragg et al. / Neurobiology of Disease (2010) Conclusões Embora raras, as distonias primárias são o terceiro distúrbio do movimento mais comum. A identificação de vias funcionais comuns aos diversos modelos poderá proporcionar a descoberta de novos alvos terapêuticos, beneficiando inclusive outras formas de distonia. Rede brasileira para o estudo das distonias Apoio FAPESP [email protected]