A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO UMA ANÁLISE DA LUTA PELA MORADIA EM CAMPO GRANDE MS: O CASO DA FAVELA CIDADE DE DEUS JOÃO PAULO MUNIZ MARIN1 MARIA JOSÉ MARTINELLI SILVA CALIXTO2 Resumo Morar é condição necessária à reprodução humana, o direito de propriedade não poderia estar acima dessa condição fundamental, todavia ele está. Nesse sentido, a luta pela moradia ganha uma dimensão mais ampla, que é a luta pela própria vida. A configuração urbana é defina na relação com a diferença, com a alteridade, cuja constituição se dá cada vez menos pelo homogêneo-único, mas pela junção de processos heterogêneos e, nesse contexto, as favelas são vistas como um resíduo que permanece e resiste. Nessa perspectiva, faz-se presente uma situação de fronteira que se expressa por intermédio do conflito de estar fisicamente na cidade e não usufruir de sua plenitude, uma vez que a necessidade de uso está submetida às condições de apropriação imposta pela lógica da propriedade privada. Essa lógica, por sua vez, diferencia o acesso à cidade e determina a necessidade de habitar um lugar, redefinindo, de forma mais ampla, o próprio sentido da vida. Palavras-chave: Favela; Cidade; Fronteira, Identidade Abstract Living is a condition necessary for human reproduction, the right of private property could not be above this fundamental condition, however it is. Therefone, the struggle for housing gains a wider dimension, the struggle for life. The urban area is defined relative to difference and otherness, whose constitution is given less and less by the unique-homogenous, but by the junction of heterogeneous processes and in this context, the favela are seen as a residue that remais and resist. From this perspective, there exists a borderland situation that is expressed through the conflict of phisically being in the city and not taking full advantage of it, since the need to use is subject to the appropriation of conditions imposed by the logic of private property. The logic, in turn, twists the access to the city and determines the need to inhabit a place, redefining in a broader sense the very meaning of life. Keywords: Favela; City; Border; Identity 1 Acadêmico do programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail de contato: [email protected] 2 Professora da Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail de contato: [email protected] 2403 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 1 - Introdução Tomando como recorte territorial para análise uma ocupação “irregular” 3 localizada na porção sudoeste da cidade de Campo Grande-MS, denominada Favela Cidade de Deus, o presente texto visa contribuir para o entendimento do processo de apropriação do espaço urbano e seus desdobramentos socioespaciais, assim como fornecer elementos para se pensar à questão da fronteira, aqui considerada na perspectiva do conflito, entre as diferentes classes sociais em seus diferentes interesses. O conflito se estabelece, na medida em que as relações de propriedade impõem limites de uso e, dentro desta lógica, os moradores das ocupações “irregulares” ou favelas, são vitimados pela violência de serem atropelados pela instituição jurídica da propriedade privada da terra. Nessa perspectiva, faz-se presente uma situação de fronteira que se expressa por intermédio do conflito de estar fisicamente na cidade e não usufruir de sua plenitude, uma vez que a necessidade de uso está submetida às condições de apropriação ditadas pela lógica da propriedade privada. Essa lógica, por sua vez, diferencia o acesso à cidade e determina a necessidade de habitar um lugar, redefinindo, de forma mais ampla, o próprio sentido da vida. Antes de levar a discussão a um plano mais particular, e considerando que a presente pesquisa está em andamento, mostra-se importante desenvolver algumas considerações acerca de aspectos gerais que envolvem a temática, visando resgatar elementos que possam contribuir com a abordagem do objetivo de análise. 3 Neste texto, o termo irregular será apresentado entre aspas, uma vez que a chamada irregularidade está ligada ao aspecto jurídico, ou seja, a ocupação considerada irregular ou favela, se refere-se à ocupação de determinada área sem título de propriedade, caracterizando uma posse “ilegal” do ponto de vista jurídico. Contudo, se partimos do pressuposto de que é uma maneira de assegurar a possibilidade do uso do espaço urbano ou de garantir o direito a cidade, a questão não pode ser reduzida apenas ao seu caráter jurídico. 2404 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 2 – O uso do espaço urbano e as relações mercadológicas: a fronteira da/na cidade A princípio, destaco que, as questões referentes às “ocupações irregulares” ou favelas, serão pensadas aqui, a partir da perspectiva de seu uso e não somente por determinações de ordem jurídica, pois, o sentido da cidade, ocorre pelo uso, embora a propriedade privada imponha limites a esse uso. Para Carlos (2004, p. 21): “...o uso se revela enquanto modo da reprodução da vida, através dos modos de apropriação do espaço – colocando a noção de reprodução no centro da análise” e continua: “...a cidade revela-se concretamente, e através do uso que dá sentido à vida é no uso (como ato e atividade) que a identidade se realiza como atividade prática que sustenta a memória, assim se revela o conteúdo da prática socioespacial”( p. 31). Neste contexto, o direito de vivenciar a cidade e a vida urbana, considerando todas as suas dimensões, incluindo o direito ao trabalho, a moradia, a cultura, a saúde, a educação, ao lazer e ao descanso, estão pautados por relações mercadológicas, restringindo as condições de uso. É o mundo da mercadoria que ao se reproduzir, reproduz o espaço e as condições de vida, e nesse âmbito, a vida é ameaçada pelo monopólio jurídico da propriedade privada da terra. Morar é condição básica e necessária à reprodução humana, o direito de propriedade não poderia estar acima dessa condição fundamental de reprodução. Nesse sentido, a luta ganha dimensão mais ampla, a luta pela vida. O morador das “ocupações irregulares” ou favelas encontra-se subjugado por uma lógica que se pauta no valor de troca em detrimento do valor de uso, colocando em confronto um direito garantido juridicamente (a propriedade) e um valor essencial: a necessidade morar, ou num sentido mais amplo, a necessidade de reprodução humana, a própria existência. 2405 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Nesta perspectiva, a configuração urbana é defina na relação com a diferença, cuja constituição se dá cada vez menos pelo homogêneo-único, mas por processos heterogêneos. E, nesse contexto, as “ocupações irregulares” ou favelas são vistas como um resíduo que permanece e resiste. A configuração urbana, enquanto espaço que se redefine continuamente, expressa a lógica que move o processo de apropriação diferenciada do espaço, ou seja, expressa uma lógica que reduz as relações sociais, dilacera e condena. Essas relações são marcadas por: “(...) Temporalidades que aparentemente se combinam, mas que de fato também se desencontram, na prática dos que foram lançados pelas circunstâncias da vida numa situação social em que o conflito sai de seus ocultamentos, inclusive ideológicos, e ganha visibilidade e eficácia dramática na própria vida cotidiana...” (MARTINS, 1997, p. 15) O presente texto busca uma breve leitura das facetas da situação de fronteira que se estabelece, a partir da análise da denominada Favela Cidade de Deus. Contudo, vale ressaltar que a fronteira aqui não é considerada apenas a partir de uma concepção físico-territorial, mas também, a partir da perspectiva do conflito, que reflete em diferentes arranjos socioespaciais. Assim, a reflexão a cerca da questão da fronteira, não se restringirá a um fato materialmente delimitado. Buscará transcender a concepção físico-territorial, a partir de uma relação contraditória, reveladora de conflitos sociais marcados por temporalidades que se encontram e se desencontram, imprimindo no espaço, a concretude das diferenças. A situação de conflito social é de suma importância para se caracterizar e definir a fronteira. Para Martins: “...a fronteira é essencialmente o lugar da alteridade. É isso que faz dela uma realidade singular. A primeira vista é o lugar do encontro dos que por diferentes razões são diferentes entre si...” (...) Mas o conflito faz com que 2406 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO a fronteira seja essencialmente, a um só tempo, um lugar de descoberta do outro e de desencontro.” (1997, p. 150) Já para Raffestin, devido às conotações implícitas, a: “... fronteira não é somente um fato geográfico, mas também é um fato social de uma riqueza considerável...” (2006, p 10) E continua: “... até mesmo o limite materializado é revestido de importância, na medida em que ele assume além de um traço sobre o solo a presença da ordem, sua manifestação, de alguma forma, para o outro, é muito marcante...” (2006, p. 11). “(...) Quando os limites não materiais não podem ser modificados por razões múltiplas, o risco de se tentar modificar as fronteiras materiais do dispositivo territorial aumenta. “(2006, p. 13) Buscando, dentro dessa lógica se estabelecer algumas definições para a problemática da fronteira, Raffestin argumenta que: “A fronteira, na condição de variável estrutural ubíqua, é grande reveladora da necessidade que as sociedades tem de serem inventoras dos modos de diferenciação no contexto espaço-temporal, modos que condicionam a seguir toda uma ordem vivente, definida tanto biologicamente com culturalmente...” (2005, p. 12). “(...) A fronteira não é uma linha, a fronteira é um dos elementos da comunicação biossocial que assume uma função reguladora. Ela é a expressão de um equilíbrio dinâmico que não se encontra somente no sistema territorial, mas em todos os sistemas biossociais”. (2005, p. 13) A existência da Favela Cidade de Deus marca uma realidade objetiva, concreta, construída através das relações sociais, em forma de organização que contesta os padrões estabelecidos e logo a produção social, ou o mundo real, produzido socialmente, se revela nas diferenças e nas contradições. Sendo assim, o surgimento das “ocupações Irregulares” ou favelas deve ser visto como um 2407 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO desdobramento do processo de apropriação das melhores localizações na cidade e o resultado do processo constante da luta no e pelo espaço urbano. Em linhas gerais e com base em Rodrigues (1988), pode-se afirmar que surgimento das favelas resulta da conjunção de algumas dinâmicas, dentre as quais vale citar: a exploração da força de trabalho no campo (levando à migração rural-urbano); o processo de empobrecimento da classe trabalhadora e, sobretudo, do preço da terra urbana. Logo, a determinação da realidade objetiva, vem permeada por múltiplos fatores e, nesse processo, a terra tornou-se uma mercadoria acessível apenas aos que podem pagar por ela. Assim, a questão assume diferentes desdobramentos, uma vez que a necessidade de uso passa a ser submetida às condições de apropriação, ditada pela lógica da propriedade privada. Os múltiplos territórios da cidade expressam diferentes formas de apropriação, que por sua vez, acabam por afastar parcela significativa da população da possibilidade de uso. Cada área ocupada revela uma concretude de situações e expressa uma territorialidade que contém a diferença, pois a cidade é, antes de tudo, o espaço onde as relações sociais se desenrolam em todas as suas dimensões. 3 – A trajetória e a realidade socioespacial da favela cidade de Deus A referida Favela está localizada, mais precisamente, em uma área próxima ao bairro Dom Antonio, região sudoeste da cidade e as margens da BR 262 (Figura 01), e foi ocupada aos poucos, e de forma mais intensa a partir do ano de 2010. Nesse período muitos ocupantes foram beneficiados por programas de habitação do Governo Federal, contando com parceria também da Prefeitura Municipal de Campo Grande, que por sua vez, teve influência nos sorteios das casas populares. Com a remoção de alguns ocupantes, a partir dos programas habitacionais, abriu-se espaço para que outros chegassem, em vista que nem todos foram 2408 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO beneficiados e permaneceram na ocupação, e assim a favela persiste até os dias atuais, contando atualmente com centenas de moradores. Assim, a área revela traços que apontam para a necessidade de investigação, conforme nos aponta Demo (1990): “ Teoria e prática detém a mesma relevância científica e constituem no fundo um todo só. Uma não substitui a outra e cada qual tem sua lógica própria (...) Não se pode realizar prática criativa sem retorno constante a teoria, bem como não se pode fecundar a teoria sem confronto com a prática”. A favela é alvo freqüente da mídia e sua aparência simples e sua persistência acabou por instigar a necessidade de aproximação da análise ou, tentar conhecer os determinantes que desencadeiam a fronteira entre: morar e habitar, ser considerado ou não cidadão. Figura 01 – Localização da Favela Cidade de Deus – Campo Grande – MS Fonte de dados: Google Earth (2015) – acessado em Julho de 2015 Organização: Marin e Saldanha (2015) 2409 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Os casebres são construídos a partir de diferentes tipos de materiais, tais como: lonas, madeiras, plástico, tijolos, entre outros; Esse fato leva a questão da auto-construção, comum em ocupações, principalmente aquelas que não persistem por muito, assumindo um caráter de acampamento, algo temporário. Mesmo assim muitos dos casebres são bem estruturados, construídos com material de alvenaria e alguns improvisos. Os desdobramentos referentes à persistência da favela são constantes desde sua formação a partir do ano de 2010. Em 2011 ocorreu uma tentativa de desocupar toda à área por parte da Emha4, sendo estabelecido um prazo para que moradores deixassem a favela. Na época foi disponibilizado apenas um caminhão pela prefeitura, para auxiliar no transporte da mudança. As famílias, cuja documentação necessária fora aceita, foram beneficiadas com moradias populares no residencial José Teruel Filho, que fica ao lado da ocupação e que foi entregue no dia 02 de setembro de 2011. As famílias que não conseguiram as casas, sem ter para onde ir, acabaram por resistir e permaneceram no local, alegando falta de condições para pagar aluguel. A fronteira dentro da cidade, que parece ser distante, ou até irreal, mostra-se de fato no momento que vizinhos são “beneficiados” com casas populares e, o indivíduo se vê ainda morando na ilegalidade, por falta de alguns documentos e comprovantes necessários para a máquina que move a burocracia. No final do ano de 2014 o MPF (Ministério Público Federal) e a prefeitura da capital entraram com pedido de reintegração de posse da área ocupada, considerando “transferir” toda a comunidade para um terreno localizado na Vila Noroeste, localizado a oeste da cidade, distante mais de 20 km da atual ocupação, e que nunca contou com nenhuma infraestrutura habitacional. 4 Agência Municipal de Habitação de Campo Grande/MS. Fundada no ano de 1990. 2410 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A idéia não agradou parte dos moradores que sempre são atentos para a falta de condições básicas como casas, posto de saúde, escolas e acesso a emprego, uma vez que esse novo local não suportaria a demanda de procura pelos serviços citados. Os ocupantes prometeram na época resistir, caso fossem transferidos no prazo determinado, o que gerou tensão e o medo da violência por parte da polícia, uma vez que mulheres, crianças e idosos compõem boa parte das famílias. Atualmente, muitas famílias ainda estão na ocupação e é ali que desenvolvem suas atividades e sua ligação com a cidade. Uma parcela significativa dos ocupantes atua na coleta seletiva de materiais recicláveis, dada a proximidade com o lixão da cidade. A luta é diária, assim, as formas de reprodução da vida se revelam nas relações de vizinhança, nas relações de solidariedade que se fortalecem. Ou seja, seus ocupantes compartilham solidariamente e fisicamente várias situações, incluindo a atuação de lideranças a algumas regras para a convivência coletiva. A situação de carência, ausência de assistência médica adequada, de empregos com baixa remuneração e, conseqüentemente, de necessidades básicas e imediatas, faz com que se agrave a condição de miserabilidade e de baixa escolaridade, lançando os ocupantes da área em uma dramática adversidade com o próprio limite ou fronteira do humano. Neste sentido, a vida se reproduz reproduzindo a diferença e o distanciamento, uma vez que os ocupantes da favela não compartilham, com os demais habitantes da cidade, o mesmo território urbano ou a mesma concepção de cidade. Essa realidade intensifica as contradições, fazendo com que a configuração urbana se redefina, uma vez que a lógica que determina a diferenciação socioespacial está relacionada as formas de apropriação do espaço, as quais mediam e, sobretudo, negam o direito de uso. Se considerarmos a “ocupação irregular” ou favela uma forma de tentar assegurar o direito de uso, veremos que 2411 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO representa uma resistência e um desafio á lógica que reduz o direito e a necessidade de morar à imposição e garantia da propriedade privada. Vale destacar que a prefeitura municipal vem “negociando” uma proposta de remoção com os ocupantes do local e, essa possibilidade, tem revelado uma pluralidade de situações. A grande maioria aceitaria uma mudança, desde que seja para uma casa própria, e não para outro local, sem estrutura nenhuma, como a proposta feita a eles em 2014. O mesmo local citado também afastaria a maioria dos ocupantes de seus empregos, seja ele formal ou informal, devido a grande distância relacionada ao local atual. Considerações finais Por mais difícil que seja viver nas difíceis condições da Favela Cidade de Deus, para alguns, o lugar tem um significado inestimável. É ali que todas as relações se dão, relações com a vizinhança, as brincadeiras das crianças (que marca a vida do indivíduo). É ali que as relações cotidianas se manifestam, dando sentido e significado ao lugar. É ali que se constrói cotidianamente a identidade com a própria existência. Para Carlos: “A vida, no plano do cotidiano do habitante, constitue-se no lugar produzido para esta finalidade, e nesta direção, o lugar da vida constitui uma identidade habitante-lugar. Assim o lugar se liga de modo inexorável à realização da vida enquanto condição e produto de relações reais.” (2004, p. 47) Assim, apesar das dificuldades vivenciadas cotidianamente, a possibilidade de remoção para outra área, se coloca como desestruturante das relações estabelecidas a partir do lugar. No processo de luta pelo direito a cidade, ou na busca de uma possibilidade/alternativa de uso do espaço urbano, ainda sonham com uma moradia digna ou a casa própria. Considerando essas premissas, o presente texto busca, tendo essa pesquisa ainda em andamento, contribuir para o entendimento do processo de luta 2412 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO no e pelo espaço urbano, levantando elementos para se discutir o papel da propriedade privada, enquanto mediadora das relações socioespaciais e oferecendo uma contribuição na abordagem da questão da fronteira, a partir da problemática da moradia e das “ocupações irregulares” ou favelas. Bibliografia consultada SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. Reflexões sobre a natureza da segregação espacial nas cidades contemporâneas. Revista de Geografia, Dourados, AGB, n. 4, p. 71-85, 1996. CALIXTO, Maria José Martinelli. Produção, apropriação e consumo do espaço urbano. 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