A SANTA CEIA Rev. Silvio F. da Silva Filho Vila Velha - ES Hino 257 1. Amoroso, nos convida Cristo para a Comunhão e oferece o pão da vida para a nossa salvação. 2. Teu amável chamamento vem a nós por teu favor. Dá-nos força e crescimento, ó Jesus, na fé, no amor. 3. Por tão grande benefício cumpre-nos te agradecer. Oh! recebe em sacrifício nossa vida e nosso ser. 4. Nesta mesa prometemos sempre em tua Lei viver e fiéis a ti seremos, bom Jesus, até morrer. INTRODUÇÃO Com humildade e alegria, confessamos que só podemos receber a verdadeira compreensão da santa ceia, quando o Espírito Santo diariamente abrir o nosso entendimento para compreendermos as Escrituras. Esse foi o caminho que conduziu Lutero na compreensão do Sacramento. Não há outro caminho para nós. OS TEXTOS Mateus 26.26-30 Marcos 14.22-26 Lucas 22.19,20 1 Coríntios 11.17-26 Mc 14 22E, enquanto 26Enquanto comiam, comiam, tomou Jesus tomou Jesus um pão e, um pão, e, abençoando- abençoandoo, o partiu, e o o, o partiu e lhes deu, deu aos dizendo: discípulos, Tomai, isto é o dizendo: Tomai, comei; meu corpo. isto é o meu corpo. Mt 26 Lc 22 19E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. 1 Co 11 17Nisto, porém, que vos prescrevo, não vos louvo, porquanto vos ajuntais não para melhor, e sim para pior. 18Porque, antes de tudo, estou informado haver divisões entre vós quando vos reunis na igreja; e eu, em parte, o creio. Mc 14 23A seguir, 27A seguir, tomou Jesus tomou um um cálice e, cálice e, tendo dado tendo dado graças, o deu graças, o deu aos seus aos discípulos; e discípulos, todos dizendo: beberam Bebei dele dele. todos; Mt 26 Lc 22 20Semelhan temente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós. 1 Co 11 19Porque até mesmo importa que haja partidos entre vós, para que também os aprovados se tornem conhecidos em vosso meio. 20Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis. Mc 14 24Então, lhes 28porque isto é o meu disse: Isto é o meu sangue, sangue, o o sangue da sangue da [nova] [nova] aliança, aliança, derramado derramado em favor de em favor de muitos, para muitos. remissão de pecados. Mt 26 1 Co 11 21Todavia, a 21Porque, ao mão do traidor comerdes, cada está comigo à um toma, mesa. antecipadament 22Porque o e, a sua própria Filho do ceia; e há quem Homem, na tenha fome, ao verdade, vai passo que há segundo o que também quem está determinado, se embriague. Lc 22 mas ai daquele por intermédio de quem ele está sendo traído! Mt 26 29E digo-vos que, desta hora em diante, não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de meu Pai. Mc 14 25Em verdade vos digo que jamais beberei do fruto da videira, até àquele dia em que o hei de beber, novo, no reino de Deus. Lc 22 23Então, começaram a indagar entre si quem seria, dentre eles, o que estava para fazer isto. 1 Co 11 22Não tendes, porventura, casas onde comer e beber? Ou menosprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto, certamente, não vos louvo. Mc 14 30E, tendo 26Tendo cantado um cantado um hino, saíram hino, saíram para o monte para o monte das das Oliveiras. Oliveiras. Mt 26 Lc 22 1 Co 11 23Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; 24e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Mt 26 Mc 14 Lc 22 1 Co 11 24e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. 25Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. 26Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. Mt 26 Mc 14 Lc 22 1 Co 11 27Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. 28Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; 29pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. 30Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem. Mt 26 Mc 14 Lc 22 1 Co 11 31Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. 32Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo. 33Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros. 34Se alguém tem fome, coma em casa, a fim de não vos reunirdes para juízo. Quanto às demais coisas, eu as ordenarei quando for ter convosco. OS ELEMENTOS VISÍVEIS DA SANTA CEIA A palavra de Deus e os elementos são a essência do sacramento. Podemos traçar um paralelo entre os elementos visíveis da santa ceia e o do batismo. Nós não temos o direito de questionar se a água deve ser usada no batismo, ou se podemos substituí-la. As Confissões não especificam o tipo de pão ou vinho. Jesus usou o pão sem fermento, ou asmo, que tinha disponível naquela ceia. Não há uma ordem específica de Jesus para usar aquele tipo de pão sem fermento. O texto bíblico simplesmente diz que ele tomou o pão. O copo continha o “fruto da videira” (Mt 26.29). Devido a época, isto exclui qualquer outro produto não fermentado. A palavra “há quem se embriague”, (1 Co 11.21), mostra que se tratava de vinho. Vinho é, pois, legitimamente, o referente para a expressão “fruto da videira” Usar suco de uva no mínimo torna incerta a validade do sacramento. Intinção A intinção, como alteração do comer e do beber, foge do padrão do uso instituído. Mesmo que possam ser listados vários motivos, tais como a impossibilidade de tomar vinho, racionamento de vinho ou, o que é mais problemático, a crença de que, derramando o vinho, se estaria derramando o sangue de Cristo que teria surgido de uma transubstanciação, tal prática não se justifica. O mesmo parecer da CTRE é de que nenhum dos motivos supracitados justifica a prática da intinção, pois a santa ceia não é o único meio da graça. Não é a sua falta que condena, mas o seu desprezo, o que seria o mesmo que desprezar o evangelho. Onde não há vinho, ou mesmo onde se entende que não se deva tomar vinho por motivos clínicos, não haverá santa ceia. 5. DOUTRINAS ACERCA DA SANTA CEIA: 5.1- Doutrina Católica: Há na Ceia unicamente corpo e sangue de Cristo; na “eucaristia” o pão e o vinho transformam-se (transubstanciam-se) em corpo e sangue de nosso Senhor. Também pregam a comunhão sob uma espécie, isto é, a proibição do cálice aos leigos. Concomitância: Juntamente com a hóstia consagrada recebe-se o corpo e o sangue de Cristo. Vejamos o que diz Mt 26.27, Mc 14.23, 1 Co 11.25 5.2- Doutrina Reformada: Afirmam que estão presentes no sacramento pão e vinho naturais. Tomam as palavras da instituição em sentido figurado, afirmando que pão e vinho apenas significam ou representam o corpo e sangue de Cristo. As palavras “Isto é o meu corpo” não podem ser tomadas em sentido figurado, e neste sentido diz Paulo em 1 Co 11.27 que o comungante indigno é réu não do sinal ou símbolo do corpo de Cristo, mas do próprio corpo e sangue de Cristo. Isso seria impossível se não tivesse recebido o verdadeiro corpo e sangue de Cristo. 5.3- Doutrina Bíblica (pregada pela IELB): Estão presentes na Ceia, por virtude da instituição Divina, o pão, vinho, corpo e sangue de Cristo. O comungante recebe os dois elementos visíveis (pão e vinho) de forma oral e também os elementos celestes (corpo e sangue) de maneira sobrenatural, incompreensível à nossa limitada razão! Sob o pão e o vinho recebemos o corpo que Cristo deu por nós e o sangue que derramou por nós. A COMUNHÃO FECHADA Martinho Lutero Quem recebe dignamente esse sacramento? Jejuar e preparar-se corporalmente é, sem dúvida, boa disciplina externa. Mas verdadeiramente digno e bem preparado é aquele que tem fé nestas palavras: “dado em favor de vós” e “derramado para remissão dos pecados”. Aquele, porém, que não crê nessas palavras ou delas duvida, é indigno e não está preparado, pois as palavras “por vós” exigem corações verdadeiramente crentes”. Isso é tudo o que precisamos saber? O professor Joel Biermann, diz que “A explanação de Lutero no Catecismo Menor provê parte da resposta – mas não toda a resposta”. “Comunhão funcionalmente aberta”. É a prática de deixar nas mãos do indivíduo a decisão se ele pode ou não participar da santa ceia, sem se preocupar com a confissão daquela pessoa. O professor Gerson Linden, nos ajuda a compreender o assunto, dizendo que “A ceia é “do Senhor”. Não é um direito dos homens; é dádiva. São convidados aqueles que o Senhor convida. Por isso, a participação na santa ceia não deve ser vista como um “direito” do visitante, quando este se sente adequadamente preparado. Sendo do Senhor, a ceia é administrada pelo povo do Senhor. Que a Igreja tem não só o direito, mas o dever de desempenhar este papel, fica claro pelos imperativos apostólicos, referentes ao tratamento da Igreja com indivíduos membros (1 Co 5.9-13; 11.19; 2 Co 2.5-11; 2 Ts 3.14,15)” A instrução na doutrina cristã é importante para que a pessoa que pretende participar do sacramento esteja em efetiva união confessional com o povo de Deus reunido. Divisão na confissão estabelece divisão no sacramento. Em 1 Co 10.16,17 Paulo vincula a união com os irmãos à união no sacramento. Além disso, a comunhão fechada traz consigo um aspecto de proteção ao “visitante”. O participar indignamente, a falta do “examinar-se” e de “discernir o corpo”, que estão ligados à instrução na fé, trazem ao participante juízo, ao invés de bênção. Não estaria um visitante, alguém que não pertence a congregação, melhor preparado que um membro da congregação? Só Deus conhece os corações. Por isso, a Igreja e os ministros não têm o direito de julgar a fé “interior” daqueles que a confessaram, segundo o correto ensino, negando-lhes o sacramento, a menos que seus atos (frutos) deponham contra sua integridade. Da mesma forma, Igreja e ministros não têm o direito de julgar os que não foram devidamente instruídos e examinados, considerando-os aptos a participarem da Ceia, sem que tenham confessado sua fé. Mas, agindo assim, não estaríamos nós, luteranos, insistindo que apenas nós somos cristãos verdadeiros e que apenas nós vamos para o céu? A prática da comunhão fechada não implica considerar somente os participantes como “verdadeiros cristãos”. Pastor David Karnopp Quando negamos a santa ceia para pessoas de outras denominações, não estamos dizendo que elas não sejam cristãs ou que não tenham fé. Em muitas igrejas, prega-se a palavra de Deus de forma suficiente para que pessoas possam chegar à fé em Cristo. Assim, pela fé em Cristo são nossos irmãos. Mas é preciso lembrar que santa ceia requer unidade de doutrina e confissão. O Professor Joel Biermann diz que: O administrador dos mistérios de Deus precisa educar seu povo sobre a importância do sacramento em muitos níveis e particularmente precisa enfatizar os aspectos corporativos e confessionais do sacramento que estão presentes junto com a comunhão individual com Cristo. Basicamente, o alvo é ajustar a cultura da igreja da forma que pessoas gentis sejam aptas a reconhecer que uma pessoa não deveria esperar comungar em todo e qualquer altar onde ele porventura esteja presente. Um visitante presente numa cerimônia de batismo certamente não iria pensar que fosse apropriado trazer seu próprio filho imediatamente a pia batismal para que ele também pudesse participar nas atividades da comunidade, e nem o pastor e os que estivessem sentados próximos ao visitante o encorajariam para que fizesse isso. Esse processo de reeducação, necessariamente, progredirá lenta e sensivelmente, onde despenseiros fiéis estão honrando o chamado do Senhor. Trivializam essa função de despenseiro e a reduzem a tarefa de contar cálices ou hóstias para garantir que não haverá faltas embaraçosas durante a distribuição. Por outro lado, a função de despenseiro pode ser entendida como encontrar formas criativas para “agilizar” a liturgia sacramental e a distribuição, para que possa ser feita mais eficientemente e dentro dos limites da sagrada “regra dos 60 minutos”. Paulo Gehrard Pietzsch A participação na santa ceia está, de algum modo, ligada à profissão de fé. A IELB não admite a participação de pessoas de outras denominações da santa ceia, prática essa denominada de “comunhão fechada”. Em defesa da comunhão fechada, Mueller argumenta: Assim fez Cristo: deixou que a pregação fosse multidão adentro sobre cada um, bem como depois também os apóstolos, de sorte que todos a escutaram, crentes e incrédulos; quem a apanhava, apanhava-a. Assim também devemos nós fazer. Todavia não se deve atirar o sacramento multidão adentro. Ao pregar o evangelho, não sei a quem atinge; aqui, porém, devo ter para mim que atingiu aquele que vem ao sacramento; aí não devo ficar em dúvida, mas ter certeza de que aquele, a quem dou o sacramento, aprendeu e crê corretamente o evangelho . Segundo Koehler, a santa ceia foi instituída para cristãos, para seus discípulos, não para o público em geral. Mueller insiste que a igreja cristã não deve praticar comunhão livre, mas privativa, visto que é da vontade de Deus que só crentes se aproximem da Mesa do Senhor. Enquanto que o santo Evangelho deve ser pregado indiferentemente a crentes e incrédulos (Mc 16.15,16), a Santa Ceia se destina somente aos regenerados, conforme comprovam as palavras da instituição de Cristo e a praxe normativa dos apóstolos (1 Co 10.16; 11.26-34). A santa ceia, bem como o culto todo, não tem a finalidade primeira de ser evangelística. É verdade que toda a vida do cristão quer ser um testemunho da fé em Jesus. Sob esse prisma, o culto também é. Mas acima disso, o culto tem a finalidade de receber os fiéis para fortalecê-los na fé, através da palavra e sacramentos e renová-los no perdão, no amor e na graça de Deus e na decisão de servir ao Senhor com alegria. A evangelização é decorrente do culto e não exatamente direcionada ao culto. É a partir do culto que os filhos de Deus manifestam a sua confissão de fé e o seu ensino cristão ao mundo. Como exemplo, podemos dizer que quando nos sentamos à mesa para fazer uma refeição, não estamos ali realizando o trabalho do dia-a-dia, mas sendo fortalecidos para o trabalho que vem a seguir. A Santa Ceia tem a finalidade de fortalecer os fiéis no amor de Deus, e que, firmados neste amor, dêem testemunho da verdade. Dos cristãos: a - aqueles que já são batizados, e, portanto, receberam a fé cristã; b - que têm condições de se examinarem a si mesmos a respeito de sua fé; c - os que crêem que na Santa Ceia receberam o verdadeiro corpo e verdadeiro sangue de Cristo em, com e sob o pão e o vinho para perdão de seus pecados; d - os que querem viver a sua fé em amor . Por isso, a igreja não tem a liberdade de dar a santa ceia para quem a receberia para juízo (1 Co 11.29). Para termos uma celebração abençoada da santa ceia, a igreja pratica a comunhão privativa e não uma comunhão aberta. Com o costume da inscrição para a santa ceia, onde a comungante anuncia ao seu pastor ou outra pessoa consignada, com antecedência, a sua intenção de participar da santa ceia, a igreja procura evitar que pessoas inelegíveis e pessoas fora da igreja participem da mesa do Senhor. Hino 256 1. Oh! Pão celeste, doce bem, mais excelente que o maná! Minha alma vida nele tem e eternamente exultará. 2. Oh! Nova aliança do Senhor no sangue desta Comunhão! Reconciliando o pecador, lhe traz em Cristo a salvação. 3. Sedento na alma, venho a ti, aumenta a fé, ó Salvador; arrependido estou aqui, buscando o teu perdão, Senhor. 4. Ó Ceia, que és o manancial que me sustenta e dá vigor, vem dar-me a vida e paz real e a comunhão em santo amor. A SANTA CEIA E O CUIDADO PASTORAL A quem devemos convidar para o altar? Quem devemos admitir? A quem devemos negar? João Crisóstomo (CA XXIV, 36), que disse que o pastor está diariamente no altar, convidando alguns para a santa ceia e deixando outros de fora. Lutero diz: Esse cuidado e distinção estão ao encargo dos pastores, chamados precisamente para essa função. Em resumo... apavora-me ouvir que nas igrejas dum mesmo grupo, ou junto ao altar de um mesmo grupo, ambos os partidos pegam e recebem o sacramento desse um partido, e que um grupo deve acreditar que está recebendo mero pão e vinho enquanto o outro grupo acredita que está recebendo o verdadeiro corpo e sangue de Cristo. Pergunto-me muitas vezes se é crível que um pregador ou Seelsorger possa ser tão calejado e perverso a ponto de conservar silêncio sobre este assunto e permitir que venham ambos os grupos, cada um com sua ilusão de que pode receber sua própria espécie de sacramento conforme sua própria crença.... Por isso, qualquer que tem tais pregadores ou que deles possa esperar tal coisa, que esteja advertido quanto a eles, como sobre o próprio diabo encarnado! Numa sociedade que celebra o indivíduo, desconsidera a função da comunidade e age com uma mentalidade do direito, oferecer uma decisão como essa ao indivíduo é razoável e fácil. É um pensamento comum: ‘Deixa cada um decidir. Isso é assunto entre o visitante e Deus. Eu estou apenas ministrando o evangelho, apenas entregando as hóstias’. Errado. O pastor é o mordomo. É sua a responsabilidade convidar pessoas ao altar, excluir aqueles que não deveriam comungar e, claro, até mesmo recusar a comunhão àqueles que se apresentam de forma inapropriada. Isto não é fácil e nem divertido. Praticar a supervisão e administrar o sacramento pode ser desconfortável e ter um alto grau de exigência. O pastor faria bem, então, em relembrar aqueles profetas antigos que freqüentemente se viam executando tarefas desagradáveis e impopulares, não por causa de sua escolha pessoal ou suas preferências, mas pela vontade do Senhor que os chamou e a quem eles eram compelidos a responder. Assim acontece com os servos do Senhor no século XXI, ou pelo menos assim deveria ser. O corretivo para isto não é pastores agindo como ditadores, mas como despenseiros responsáveis, administrando diligentemente os meios da graça de Deus, a fim de que o quebrantado seja curado e o impenitente seja admoestado. Como despenseiros, os pastores cuidarão também para que a santa ceia, a refeição que alimenta e liga a igreja a Cristo e um ao outro na unidade de sua confissão, seja celebrada por aqueles a quem ela é prometida: aos membros da igreja naquele lugar. Aqueles que não fazem parte daquela comunidade de fé específica, mas que estão presentes na celebração do sacramento, deveriam aprender a perceber sua participação como privilégio e não como um direito. Eles deveriam pressupor que esta celebração não os inclui a não ser que eles sejam especificamente convidados a participar—vem daí o antigo costume, agora, porém, tipicamente desconsiderado, da prática de falar com o pastor antes da celebração. Para deixar mais claro ainda, supondo que essa conversa ocorra, é imperativo que o pastor não perpetue a noção errada de que se o visitante “crê em Jesus e na presença real”, então ele é bem-vindo. Há muito mais envolvido nisso. Ao pastor foi confiado pelo seu Senhor esta responsabilidade e o sacerdócio naquele lugar. Ele deverá prestar contas por sua prática na administração do Sacramento Professor Linden diz: A ceia do senhor, como dádiva de perdão e vida para a Igreja, faz parte do pastoreio... As Confissões Luteranas afirmam o papel do ministério pastoral na administração da ceia do senhor. CA XIV; XXVIII 5; Ap XXIV 80. Especialmente as palavras do artigo XIV da CA são pertinentes: “Da ordem eclesiástica se ensina que sem chamado regular ninguém deve publicamente ensinar ou pregar ou administrar os sacramentos na igreja.” Questões concernentes ao ministério pastoral estão, pois, no contexto do estudo sobre a administração da santa ceia... Constitui-se parte da administração fiel do sacramento, por parte do ministro, “convidar uns à comunhão e a outros proibir que se aproximem” (CAXXIV 36 - texto alemão). Note-se que isto é reconhecido não como novidade na igreja, mas algo que existe “na igreja desde tempos antigos” (CA XXIV 40 - texto alemão). Os confessores luteranos reconheceram o papel do ministério, de modo que “conserva-se entre nós o costume de não dar o sacramento àqueles que não foram previamente examinados e absolvidos.” Um pastor cristão honesto jamais deve agir de tal modo que ofereça e administre o precioso tesouro da ceia do Senhor àqueles que sobre a mesma não pensam e acreditam de modo correto. Em prova do que digo que eu mesmo tenho esta opinião que na eternidade jamais deva ante Deus ser responsabilizado por ter dado a santa ceia do Senhor Jesus Cristo a alguém que zomba das palavras do Senhor Jesus Cristo e deseja dar cabo da minha confissão e doutrina e lutar contra elas. Wittemberg cita Lutero, quando este diz: Pelo que sempre foi, e ainda é, nossa convicção firme que do recebimento da ceia do Senhor não se deve fazer um brinquedo, de tal maneira que alguém confessasse uma coisa por sua participação na ceia do Senhor, e ainda mantivesse em seu coração algo outro. Por essa razão, quero deixar expresso aqui, tanto a mim mesmo como a todos os pastores e pregadores, o meu pedido insistente, fraternal e muito sério: Junto comigo, zelem com dedicação a esse respeito pelo povo, que Deus adquiriu como propriedade sua, através do sangue de Seu Filho, tendo-o chamado e trazido para o batismo e o seu Reino, e no-lo encomendou, de sorte que sobre ele se exigirá de nós rigorosa prestação de contas, como o sabemos muito bem. Será que se pode ir a santa ceia sob a aparência de unidade e ainda assim estar desunido na ceia? Será que quando não se enxerga outras diferenças como sendo um impedimento para uma comunhão de altar, no mínimo, uma diferença de opinião sobre a ceia não devia ser um impedimento? Não pode haver nada mais indigno do que um “sim” e um “não” ante o mesmo altar, isto é, uma divisão quanto ao sacramento diante do sacramento! É indigno – e é pecado! Pecado contra Verba de Cristo. Pecado contra a Santa Refeição. Pecado contra a igreja que foi moldada em seu caráter singular primeiramente através de sua luta pela ceia, que perde tudo que é seu quando ela perde seu precioso tesouro... Um pecado contra as congregações que nesta trilha foram tornadas incapazes de chegar a qualquer espécie de apreço pela santa ceia, visto que esta trilha não conduz para uma distinção. Um pecado contra os heterodoxos que, desta forma carecem do testemunho correto a respeito da santa ceia, e não o podem receber. Um pecado contra nossas próprias pobres almas visto que, sem muito prejuízo de nossas almas, não podemos permanecer em tantos pecados depois que chegamos a saber o que estamos fazendo. Penso que somente seremos capazes de enfrentar, com uma visão promissora do futuro, os problemas e as necessidades de hoje, se nossos passos iniciais forem tomados com toda a seriedade, agindo como Seelsorger – isto é, se agirmos de modo firme e conservarmos a coragem e a força para atuar fielmente junto à família de Deus. Uma coisa (entre outras) que Wolfram von Krause enfatizou de modo incansável dentro da estrutura do circulo dos irmãos luteranos, foi que a ceia de Jesus não é a propriedade das “amadas almas;” antes ela foi dada e continua sendo dada à igreja com este motivo especial: porque é Coena DOMINI. O assunto tem um enfoque evangélico. Os luteranos mantém a confissão, não por causa da enumeração de pecados, mas “por causa da absolvição - que é sua parte principal e mais importante - para consolo das consciências aterrorizadas” (CA XXV 13 - texto alemão). Portanto, a função de “cura d’almas” se manifesta também na administração da Santa Ceia. Santa Ceia é evangelho. Quando o ensino da palavra de Deus ocupa espaço na vida da congregação, aqueles que se juntam a nossa congregação irão conhecer a maravilhosa dádiva da graça de Deus no sacramento, e irão, então, tratar o sacramento com o respeito que lhe é devido. Uma contínua pregação sobre a santa ceia irá criar e sustentar continuamente a reverência de coração naqueles que estão se achegando a congregação, assim que eles continuarão em penitência e, assim, na digna recepção do sacramento. CONCLUSÃO “A santa ceia é o Evangelho” “De fato, se este estudo teve um pouco de sucesso em persuadir, mesmo que seja um só leitor, da séria importância da doutrina correta para uma prática correta, então seu propósito foi alcançado. A doutrina da igreja tem tudo a ver com a vitalidade da igreja e sua fidelidade. Não podemos nos permitir o esquecimento desta verdade em nossa consideração da teologia e prática da Ceia do Senhor”.