ANA CAROLINA DE ALMEIDA AZEVEDO AVALIAÇÃO DO PERFIL DE SUSCEPTIBILIDADE A FLUCONAZOL E VORICONAZOL FRENTE A ISOLADOS DE Candida spp. PELO MÉTODO DE DISCO-DIFUSÃO Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, para obtenção do Título de Mestre em Ciências. SÃO PAULO 2005 ANA CAROLINA DE ALMEIDA AZEVEDO AVALIAÇÃO DO PERFIL DE SUSCEPTIBILIDADE A FLUCONAZOL E VORICONAZOL FRENTE A ISOLADOS DE Candida spp. PELO MÉTODO DE DISCO-DIFUSÃO Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, para obtenção do Título de Mestre em Ciências. Orientador: Colombo São Paulo 2005 ii Prof. Dr. Arnaldo Lopes UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE MEDICINA Chefe do Departamento: Profa. Dra. Emília Inoue Sato Coordenador do Curso de Pós-Graduação: Prof. Dr. Arnaldo Lopes Colombo Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório Especial de Micologia, da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, aprovado pelo Comitê de Ética (0735/02), contando com o apoio financeiro da Coordenação e Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). iii Ana Carolina de Almeida Azevedo AVALIAÇÃO DO PERFIL DE SUSCEPTIBILIDADE A FLUCONAZOL E VORICONAZOL FRENTE A ISOLADOS DE Candida spp. PELO MÉTODO DE DISCO-DIFUSÃO Presidente da banca: Prof. Dr.: Arnaldo Lopes Colombo ________________________________________________________________________ BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Sydney Hartz Alves Profa. Dra. Mariceli Araújo Ribeiro Dr. Patrício Godoy Martinez SUPLENTE Prof. Dr. Zoilo Pires de Camargo iv Dedicatória Aos meus pais, Antonio de Almeida Azevedo e Maria Aparecida Azevedo que com todo amor e carinho me ensinaram a cultivar valores importantes como os da amizade, caráter, respeito e amor. Princípios que dinheiro nenhum no mundo compram. Amo vocês. Ao meu irmão, Victor Hugo de Almeida Azevedo, por me mostrar exemplo de caráter e determinação. Meu amor e admiração. v Ao Xinho, Sergio Bachini Pereira Júnior, Por sempre me apoiar nos momentos em que mais precisei e por me fazer feliz. Meu carinho e amor. À Natasha Bachini Pereira Que sempre me incentivou a finalizar mais esta etapa da minha vida. vi Ao meu irmão de coração, Patrício Godoy Martinez, Por sempre me estender a mão nos momentos mais turbulentos da minha vida, por nunca me julgar pelos meus erros, tendo sempre uma palavra sábia de consolo para que eu pudesse me erguer. Amigo como você é muito difícil encontrar. Minha eterna amizade e respeito. vii Agradecimentos Por mais que esta caminhada seja árdua, aprendemos no final das contas que na verdade o que nos faz grande não é a concretização desta tese, e sim tudo que aprendemos com ela, principalmente as inúmeras pessoas que contribuem para a realização de mais este sonho. Este espaço é dedicado a vocês. À Deus; por colocar pessoas tão especiais em minha vida e sempre me dar força para concretizar mais esta etapa. Ao Prof. Dr. Arnaldo Lopes Colombo, pela orientação para o aprimoramento dos longos passos destinados a realização deste trabalho, e pela oportunidade do grande desenvolvimento profissional e pessoal que me foi oferecida ao longo neste estudo. À Daniel Archimedes da Matta que me deu a oportunidade de iniciar minha jornada científica, sempre tendo paciência com minhas teimosias, minha eterna amizade e admiração. Á Thomas Chagas, que se mostrou uma pessoa amiga e pronta a ajudar em todos os momentos que precisei. Sem você talvez esta tese demoraria muito mais para sair. Minha eterna gratidão. À secretária Joseli que sempre foi uma pessoa amiga, me ajudando no que fosse necessário e sempre dividindo comigo suas frutinhas. Fico feliz por Deus ter colocado uma pessoa especial no meu caminho. viii À Sarah Gonçalves e Vagner, que apesar do pouco tempo que nos conhecemos, estiveram sempre me dando força e auxiliando no que fosse necessário. Minha eterna amizade e gratidão. À Paty Girl, amiga que apesar de não conviver mais diretamente com sua alegria, mora em meu coração. À Edméa Helena, que sempre teve uma palavra amiga para me ajudar nos momentos difíceis, agradeço pela atenção e carinho. A todos os amigos do LEMI que compartilharam comigo toda a tragetória da minha tese e que de alguma forma me ajudaram a realizar este sonho: Thelma Alves, Thaís Guimarães, Vinicius Ponzio, Leila Paula, Viviane Reis, Cledja Amorim, Zelinda Nakagawa e Analy Sales. Á Miriam Amaral e André por todo apoio oferecido durante a elaboração desta tese. Á Maria, por toda ajuda prestada nas horas em que precisei. Á Nilva Franco, comadre que sempre me meu força para lutar pelos meus sonhos. A todos aqueles que em algum momento passaram pela minha vida e puderam contribuir para aquilo que sou hoje. Muito Obrigada .... ix “Na nossa busca, devemos superar obstáculos, superar provas. Isso nos assusta. Devemos transitar pela escuridão com fé, crendo que uma mão nos leva enquanto vamos tateando o caminho. De repente, a luz se faz. Então, reconhecemos que valeu a pena ser valentes e atravessar um terreno desconhecido”. (Paulo Coelho) x SUMÁRIO Dedicatória ............................................................................................................ v Agradecimentos .................................................................................................... viii Listas ..................................................................................................................... xi Resumo ................................................................................................................. xvii 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 1 1.1 Testes de susceptibilidade a antifúngicos: a padronização do método de diluição em caldo ...................................................................................... 2 1.1.1 EUCAST: a padronização européia para ensaios de microdiluição.......... 6 1.1.2 Sensititre Yeast-One: sistema colorimétrico para ensaios de diluição em caldo.......................................................................................................... 9 Testes de susceptibilidade a antifúngicos – avanços em métodos de ágar difusão............................................................................................... 13 1.2.1 Ensaios com E-test.................................................................................... 13 1.2.2 Ensaios com disco-difusão........................................................................ 17 1.3 Resistência a amostras de Candida spp. no Brasil................................... 25 2 OBJETIVOS........................................................................................... 29 3 MATERIAL E MÉTODOS................................................................... 31 3.1 Seleção de microrganismos....................................................................... 32 3.2 Identificação de leveduras......................................................................... 3.2.1 Análise de micromorfologia das colônias................................................... 33 3.2.2 Perfil bioquímico........................................................................................ 33 3.3 Teste de susceptibilidade a antifúngicos: disco-difusão (NCCLS M44-A) .............................................................................................................. 35 3.3.1 Preparo do meio........................................................................................ 35 3.3.2 Preparo do inóculo .................................................................................... 36 3.3.3 Ensaio de disco-difusão ............................................................................ 36 1.2 xi 32 3.3.4 Leitura e interpretação dos resultados ...................................................... 37 3.3.5 Interpretação dos halos inibitórios: definição qualitativa de susceptibilidade das leveduras ................................................................. 38 3.3.6 Interpretação dos halos inibitórios: definição quantitativa de susceptibilidade das leveduras aos antifúngicos ...................................... 40 3.4 Análise dos dados...................................................................................... 41 4 RESULTADOS.......................................................................... 42 4.1 Microrganismos.......................................................................................... 43 4.2 Distribuição das amostras de Candida spp. avaliadas em ensaios de disco-difusão com fluconazol ................................................................... 43 Controle de qualidade dos ensaios de disco-difusão com fluconazol utilizando a cepa-controle C. albicans (ATCC 90028) ............................. 46 4.3 4.4 Apresentação dos resultados qualitativos do método de disco-difusão com discos de fluconazol ................................................................................. 47 4.5 Análise de resultados quantitativos de susceptibilidade com discos de fluconazol gerados pelo software do sistema Biomic ................................... 51 4.5.1 Análise comparativa do perfil de susceptibilidade a fluconazol em amostras testadas em dois períodos diferentes ............................................ 53 4.6 Distribuição das amostras de Candida spp. avaliadas em ensaios de disco-difusão com voriconazol ......................................................................... 55 Controle de qualidade dos ensaios de disco-difusão com voriconazol utilizando a cepa-controle C. albicans (ATCC 90028) .............................. 56 4.7 4.8 Apresentação dos resultados qualitativos do método de disco-difusão com discos de voriconazol ............................................................................... 58 4.9 Análise de resultados quantitativos de susceptibilidade com discos de voriconazol gerados pelo software do sistema Biomic ................................ 61 5 DISCUSSÃO ............................................................................ 63 6 CONCLUSÕES ........................................................................ 76 7 ANEXOS 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................ 81 9 Abstract .............................................................................. 78 xii 94 Listas de tabelas Tabela 1. Distribuição de 4.625 isolados de Candida spp. identificados em diferentes culturas de materiais biológicos avaliados no período de 1998 a 40 2003..................................................................................................................... Tabela 2. Análise dos resultados da média e mediana dos diâmetros dos halos inibitórios para discos de fluconazol referentes a amostras testadas no período de 1998 a 2003................................................................................. 44 Tabela 3. Média dos diâmetros dos halos inibitórios (mm) com discos de fluconazol frente a 4.625 isolados de Candida spp. identificados em diferentes culturas de materiais biológicos obtidos de pacientes hospitalizados no período de 1998 a 2003................................................................................ 45 Tabela 4. Interpretação do perfil de susceptibilidade a fluconazol em categorias: susceptível, SDD e resistente frente a amostras de Candida spp. obtidas no período de 1998 a 2003........................................................................... 46 Tabela 5. Resultados quantitativos do perfil de susceptibilidade a fluconazol de 4.625 amostras de Candida spp............................................................................. 48 Tabela 6. Interpretação das categorias de susceptibilidade a fluconazol dos organismos testados pelo método de disco-difusão em dois períodos: de 1998 a 2000 e 2001 a 2003.......................................................................... 50 Tabela 7. Distribuição de 2.793 isolados de Candida spp. identificados em diferentes culturas de materiais biológicos avaliados no período de 2001 a 2003 ....... 51 Tabela 8. Análise dos resultados de média e mediana dos diâmetros dos halos inibitórios (mm) para discos de voriconazol referentes a amostras testadas no período de 2001 a 2003 ................................................................................... 54 Tabela 9. Média dos diâmetros dos halos inibitórios (mm) com discos de voriconazol frente a 2.793 isolados de Candida spp. identificados em diferentes culturas de materiais biológicos obtidos de pacientes hospitalizados no período de 2001 a 2003................................................................................ 55 Tabela 10. Comparação do perfil de susceptibilidade a 2.793 isolados de Candida spp. frente a discos de fluconazol e voriconazol em ensaios realizados no período de 2001 a 2003 ............................................................................... 57 xiii Lista de figuras Figura 1. Distribuição das cinco principais espécies de Candida identificadas em diferentes fluídos biológicos ao longo do estudo ........................................ 41 Figura 2. Avaliação da reprodutibilidade na leitura dos diâmetros dos halos inibitórios obtidos com discos de fluconazol utilizando a cepa-controle ATCC 90028 (C. albicans) .......................................................................... 42 Figura 3. Avaliação da reprodutibilidade na leitura dos diâmetros dos halos inibitórios obtidos com discos de voriconazol utilizando a cepa-controle ATCC 90028 (C. albicans) .......................................................................... 47 xiv Lista de abreviaturas e símbolos A Aprovado aids “Acquired Immunodeficiency Syndrome” ATCC “American Type Culture Collection” o Graus Celcius C C Meio de assimilação de carbono CIM Concentração inibitória mínima CIM50 CIM de antifúngico capaz de inibir o crescimento de 50% dos isolados CIM90 CIM de antifúngico capaz de inibir o crescimento de 90% dos isolados CQ Controle de qualidade et al. E outros EUA Estados Unidos da América EUCAST European Committe on Antimicrobial Susceptibility Testing FDA “Food and Drug Administration” g Gramas g/L Gramas por litro HAART Terapia anti-retroviral de alta potência h Hora (s) µg Micrograma µL Microlitro LEMI Laboratório Especial de Micologia MHA Mueller-Hinton ágar mm Milimetro mL Mililitro MOPS Ácido morfolinopropanosulfônico NaCl Cloreto de sódio NCCLS National Committee for Clinical Laboratory Standards nm Nanômetro No Número P Proposta pH Potencial hidrogeniônico R Resistente ® Marca registrada xv S Susceptível SHDM Shadomy S-DD Susceptibilidade-dose dependente SENTRY Programa Internacional de Vigilância das Infecções da Corrente Sanguínea spp. Espécies T Tentativa UFC Unidade formadora de colônia x Vezes ≤ Menor do que ou igual a ≥ Maior do que ou igual a % Por cento 5-FC 5-Fluorocitosina xvi Resumo Introdução: Em 2004, o NCCLS padronizou a técnica de disco-difusão para ensaios com fluconazol. Este teste permite a análise de grande número de amostras com custo reduzido, resultado rápido e de fácil interpretação, não exigindo equipamento especial, sendo assim de grande utilidade em estudos de vigilância de resistência a fluconazol e voriconazol. Objetivos: 1) Avaliar a distribuição de espécies de Candida identificadas em diferentes materiais biológicos obtidos de pacientes hospitalizados. 2) Descrever o perfil de susceptibilidade pelo método de disco-difusão para as diferentes amostras de Candida spp. frente a fluconazol e voriconazol. 3) Avaliar a prevalência de isolados de Candida spp. resistentes a fluconazol. Material e Métodos: Foram incluídas todas as amostras de Candida spp. isoladas de diversos materiais biológicos, provenientes de dois hospitais terciários da cidade de São Paulo, entre janeiro de 1998 a dezembro de 2003. Após triagem de Candida albicans, utilizando-se meio cromogênico CHROMagar- Candida, os isolados de Candida não-albicans foram identificados por análise do perfil bioquímico pelo método comercial ID-32C, complementados por análise de microcultivo. O perfil de susceptibilidade das amostras frente a fluconazol e voriconazol foi realizado pelo método de disco-difusão, de acordo com a normatização do documento do NCCLS M44-A (2004). A determinação dos diâmetros dos halos inibitórios foi realizada utilizando de um sistema automatizado de leitura de placas para análise das imagens - BIOMIC. Resultados: Avaliou-se 4.625 isolados clínicos de Candida spp., incluindo 2.393 cepas de C. albicans (51,7%), 658 de C. tropicalis (14,2%), 503 de C. glabrata (11%), 495 de C. parapsilosis (10,8%), 292 de C. rugosa (6,3%), 195 de C. guilliermondii (4,2%), 53 de C. krusei (1,1%) e 36 de Candida spp. Na análise dos resultados qualitativos de susceptibilidade a fluconazol as amostras de C. albicans, C. parapsilosis e C. tropicalis apresentaram diâmetro dos halos inibitórios maiores, resultado este que sugere alta susceptibilidade destas cepas a fluconazol. Para os isolados de C. glabrata, C. krusei e C. rugosa os halos obtidos apresentaram menores diâmetros, dado compatível com susceptibilidade reduzida destas espécies a fluconazol. Em relação a voriconazol, os isolados de C. albicans, C. parapsilosis, C. glabrata e C. tropicalis apresentaram diâmetros dos halos inibitórios maiores. Para as amostras de C. krusei e C. rugosa, os halos apresentaram menor diâmetro em relação as espécies mais susceptíveis. Na análise dos resultados quantitativos de susceptibilidade a fluconazol as taxas de SDD/R para os isolados avaliados foram de 2,0 e 5,8%, respectivamente, sendo visto maior porcentagem de SDD/R com C. glabrata, C. krusei e C. rugosa. Com exceção das amostras de C. rugosa, todas as amostras testadas com voriconazol apresentaram valores de CIM90 ≤ 0,5µg/mL. Conclusão: 1. Em nosso estudo, das 4.625 espécies de Candida testadas, C. albicans foi a espécie prevalente em todos os fluídos biológicos avaliados. 2. Entre as leveduras de Candida não-albicans, as espécies mais freqüentes foram C. tropicalis, C. glabrata e C. parapsilosis em ambos os períodos avaliados. 3. Susceptibilidade dose-dependente (SDD) e resistência a fluconazol foram pouco freqüentes, ocorrendo em apenas 2,0 e 5,8% das amostras, respectivamente. As espécies com maior porcentagem de isolados SDD/R para fluconazol foram C. glabrata, C. krusei e C. rugosa. 4. Voriconazol apresentou melhor atividade in vitro comparado a fluconazol, mesmo em cepas fluconazol-resistentes. 5. Não houve aumento de resistência a fluconazol e voriconazol nas amostras de Candida spp. testadas ao longo do período avaliado. xvii Azevedo, Ana Carolina de Almeida Avaliação do perfil de susceptibilidade a fluconazol e voriconazol frente a isolados de Candida spp. pelo método de disco-difusão. / Ana Carolina de Almeida Azevedo. – São Paulo, 2005. xvii 94f. Tese (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Infectologia. Título em inglês: Evaluation of the fluconazole and voriconazole susceptibility profile of yeasts clinical isolates for disk diffusion method. 1. Disco-difusão. 2. Candida spp. 3. Fluconazol . 4. Voriconazol. 5. Resistência a fluconazol. xviii 1. INTRODUÇÃO __________________________________ INTRODUÇÃO 2 1.1 Testes de susceptibilidade a antifúngicos: a padronização do método de diluição em caldo O desenvolvimento de métodos de susceptibilidade a antifúngicos tem sua história vinculada aos avanços obtidos na quimioterapia antibacteriana. Assim sendo, a utilização de testes de susceptibilidade in vitro envolvendo princípios das metodologias conhecidas como difusão em ágar e diluição em caldo foi inicialmente realizado por Flemming, durante a investigação do potencial terapêutico da penicilina. Rapidamente, com o advento de novos antimicrobianos, bem como o reconhecimento de bactérias resistentes à penicilina, inúmeros laboratórios de microbiologia passaram a realizar testes de susceptibilidade a antimicrobianos (Sherris, 1989). A quimioterapia de doenças fúngicas apresentava, até um passado recente, grande disparidade em relação à terapêutica antibacteriana. Até o advento dos antifúngicos azólicos na década de 70, apenas a anfotericina-B e a 5-fluorocitosina (5-FC) encontravam-se disponíveis para o tratamento de micoses sistêmicas. Atualmente, no Brasil, são encontrados comercialmente diversas drogas antifúngicas para uso sistêmico, incluíndo anfotericina-B desoxicolato e formulações lipídicas, fluconazol, itraconazol, cetoconazol, 5-FC e recentemente, voriconazol e caspofungina (Dismukes, 2001; Groll et al., 2002; Colombo et al., 2003; Datry, Bart Delabesse, 2005). Além do lançamento de voriconazol e caspofungina, outras três drogas encontram-se em fase avançada de investigação clínica: ravuconazol, posaconazol e micafungina (Arikan, Rex, 2002; Ostrosky-Zeichner, 2003; Espinel-Ingroff et al., 2003; Groll et al., 2005). INTRODUÇÃO 3 Se por um lado, temos hoje maior número de opções de drogas antifúngicas, por outro, há crescente preocupação com o aumento da resistência a estas drogas. Estudos de vigilância de resistência a antifúngicos no mundo todo mostram a emergência de leveduras de Candida não-albicans como causa de infecções superficiais e invasivas, sendo que muitas destas espécies apresentam menor susceptibilidade a anfotericina-B e/ou azólicos (Pfaller et al., 2002; Krcmery, Barnes, 2002; Colombo, 2003a; Hajjeh et al., 2004; Almirante et al., 2005). Diante deste fato, aumentou o interesse da comunidade científica no aperfeiçoamento de testes de susceptibilidade para auxiliar na escolha mais adequada na terapêutica antifúngica como também, da indústria farmacêutica para utilizar essa ferramenta no desenvolvimento de novas drogas (Rex et al., 2001; Pfaller et al., 2002; Bedout et al., 2003). No final da década de 80, como parte da estratégia para obter um método de alta reprodutibilidade, o National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS) conduziu vários estudos multicêntricos para definir as condições ideais de realização de ensaios de diluição em caldo. Neste sentido, as variáveis que foram objeto de padronização incluíram a definição do método e preparação de inóculo, a composição e o pH do meio a ser utilizado, a temperatura, o tempo de incubação e determinação dos critérios de leitura do teste (NCCLS, 1992; Pfaller, Rinaldi, 1993; Rex et al., 1993). Pfaller et al. (1988) realizaram estudo com o objetivo de padronizar o inóculo a ser utilizado no ensaio, comparando a técnica de espectrofotometria com três outros testes. A partir dos resultados obtidos, concluíram que a espectrofotometria foi a metodologia com melhor reprodutibilidade e fácil execução para o teste de susceptibilidade a antifúngicos. Verificaram também que as leveduras avaliadas apresentaram INTRODUÇÃO 4 crescimento mais rápido quando incubadas à 35oC do que à 30oC (Pfaller et al., 1990). Fromtling et al. (1993) desenvolveram trabalho multicêntrico envolvendo 13 laboratórios diferentes para otimizar a correlação interlaboratorial dos resultados do método de microdiluição em caldo, testando três classes de drogas antifúngicas frente a 100 isolados de Candida spp.. Foram comparados dois tamanhos de inóculo (5x104 e 2-5x103 UFC/mL) e dois tempos de leitura (24h e 48h de incubação). Houve maior reprodutibilidade nos ensaios que utilizaram menor concentração do inóculo (2-5x103 UFC/mL) e leitura de 48h, mostrando assim melhor correlação interlaboratorial dos resultados obtidos. Estes trabalhos foram fundamentais para a padronização do teste de susceptibilidade a antifúngicos pelo NCCLS que ocorreu após 15 anos de trabalhos colaborativos possibilitando a publicação de normas e técnicas envolvendo os documentos M27-P (proposta - 1992), M27-T (tentativa - 1995), M27-A (aprovado - 1997) e, mais recentemente a versão M27A-2 (2002) (NCCLS, 1992; NCCLS, 1995; NCCLS, 1997; Rex et al., 2001; NCCLS, 2002). Estes documentos fundamentaram a metodologia de diluição em caldo (macrodiluição ou microdiluição em caldo como técnica equivalente) como padrão ouro para testes de susceptibilidade a antifúngicos. Desta forma, o NCCLS estabeleceu a utilização do meio de cultura RPMI -1640 com Lglutamina, sem bicarbonato e tamponado com ácido morfolinopropanosulfônico (MOPS) com pH 7,0; o tamanho do inóculo de 0,5 à 2,5 X 103 UFC/mL utilizando espectrofotometria, a temperatura de incubação de 35°C com períodos variando de 48h para isolados de Candida spp. e 72h para Cryptococcus neoformans. O critério de leitura dos ensaios com azólicos e 5-FC foi definido como a menor concentração capaz de gerar inibição significativa (50% para microdiluição e 80% para macrodiluição). Para anfotericina-B, a concentração inibitória mínima INTRODUÇÃO 5 (CIM) foi definida como a menor concentração capaz de inibir qualquer crescimento visível (Pfaller et al., 1988; Pfaller et al., 1990; Espinell-Ingroff et al., 1992; Fromtling et al., 1993; Pfaller, Rinaldi, 1993; Rex et al., 1993; Rex et al., 2001; NCCLS, 2002). A correlação clínico-laboratorial dos valores das CIMs gerados pelo método de microdiluição em caldo foi avaliada em diversos estudos em pacientes com aids, portadores de candidíase orofaríngea. Dados obtidos por vários autores mostraram que valores mais elevados das CIMs frente a fluconazol para isolados de Candida albicans originários da cavidade oral de pacientes com aids, correlacionaram-se com falência terapêutica. De forma complementar, aqueles isolados cujos valores das CIMs foram baixos, correlacionaram-se com êxito à terapêutica antifúngica (Rex et al.,2001; Pfaller et al., 2004). Após a revisão dos dados de correlação clínico-laboratorial obtidos por diversos trabalhos, o NCCLS publicou uma proposta para a interpretação dos valores das CIMs de fluconazol e itraconazol, dividindo as amostras testadas em três categorias: susceptível, susceptibilidade dosedependente (SDD) ou resistente (Rex et al., 1997, Martin-Mazuelos et al.,1999). INTRODUÇÃO 6 1.1.1 EUCAST: a padronização européia para ensaios de microdiluição Paralelamente aos esforços do NCCLS para o aprimoramento de testes de susceptibilidade, a comunidade científica européia se organizou na realização de estudos para otimização destes ensaios. Recentemente, a entidade responsável pela normatização de técnicas de laboratório clínico na Europa, o European Committe on Antimicrobial Susceptibility Testing (EUCAST), designou um subcomitê para elaborar uma proposta alternativa em relação a padronização do teste de microdiluição em caldo para leveduras fermentadoras, baseada no documento NCCLS M27-A (1997). Esta metodologia incorporou algumas modificações no teste padrão do NCCLS, sendo as principais a utilização do meio RPMI suplementado com 2% de glicose, para suportar melhor crescimento de leveduras fermentadoras, o aumento no tamanho do inóculo para 0,5-2,5x105 UFC/mL, possibilitando menor tempo de incubação do ensaio de 48h para 24h e, finalmente, a leitura dos testes por espectrofotometria, para eliminar a subjetividade da leitura visual do ensaio (Cuenca-Estrella et al., 2002; Chryssanthou et al., 2002; CuencaEstrella et al., 2003). Cuenca-Estrella et al. (2002) avaliaram a correlação dos resultados obtidos entre dois métodos de microdiluição em caldo: NCCLS M27-A (1997) versus EUCAST. Foram avaliadas um total de 109 amostras de Candida spp. isoladas de hemoculturas obtidas de um programa de vigilância de resistência a antifúngicos em Baltimore, Connecticut. Foram utilizadas as seguintes drogas antifúngicas: anfotericina-B, fluconazol, 5-FC e itraconazol. A leitura dos ensaios do EUCAST foi realizada após 24h de incubação e a metodologia do NCCLS, após 48h de incubação. O índice de correlação entre as CIMs geradas pelos dois métodos foi de 92%. Para ensaios com anfotericina-B houve boa concordância entre todas as amostras testadas: Candida glabrata (95,3%), Candida parapsilosis (95,1%), Candida albicans (94,5%) e Candida tropicalis (93,1%). Houve também boa concordância para 5-FC em todos os isolados INTRODUÇÃO 7 avaliados (100%). Em relação a fluconazol houve boa correlação para todas as amostras: C. parapsilosis (94,6%), C. albicans (93,9%), C. glabrata (93,8%) e C. tropicalis (88,5%). Entretanto, para itraconazol houve menor concordância em ensaios envolvendo C. glabrata (81%), C. parapsilosis (80,7%), C. albicans (80,4%) e C. tropicalis (78,8%). Pode-se concluir que em relação as amostras avaliadas, houve maior correlação entre os ensaios envolvendo isolados de C. albicans e C. parapsilosis e menor correlação para as amostras de C. tropicalis. Já para as drogas testadas, houve concordância maior em ensaios envolvendo anfotericina-B, fluconazol e 5-FC, sendo menor para itraconazol. De forma geral, os autores concluíram que a concordância entre os dois métodos foi bastante significativa, havendo vantagem de leitura após 24h para os ensaios do EUCAST. Em estudo realizado por Chryssanthou et al. (2002) foi analisada a concordância entre os valores das CIMs para voriconazol e caspofungina em relação a dois diferentes ensaios: o método de microdiluição em caldo padronizado pelo NCCLS M27-A (1997) e a proposta do EUCAST. Foram avaliadas 102 amostras de leveduras isoladas de vários materiais biológicos provenientes de pacientes admitidos no Hospital Karolinska, Suécia. A correlação entre os resultados das CIMs obtidas pelas duas metodologias para leitura de 24h foi boa para ambas as drogas testadas: voriconazol (99%) e caspofungina (98%). Já a correlação entre as leituras de 24h para o EUCAST e 48h para o NCCLS foi maior para caspofungina (96%) e menor para voriconazol (87%). Em ensaios com leitura de 48h para ambas as metodologias, a concordância foi boa para as duas drogas testadas: voriconazol (97%) e caspofungina (100%). Os autores concluíram que a leitura de 24h pelo método EUCAST oferece excelente performance e permite a divulgação dos resultados com maior antecedência. INTRODUÇÃO 8 Cuenca-Estrella et al. (2003) realizaram estudo multicêntrico avaliando a reprodutibilidade de dois métodos de microdiluição em caldo: EUCAST e NCCLS M27-A2 (2002). Participaram deste trabalho nove laboratórios, sendo testados 60 isolados clínicos de Candida spp. frente a três drogas antifúngicas (fluconazol, itraconazol e 5-FC). A correlação entre as leituras de 24h para ambos os métodos foi de 99,2% e após 48h foi de 96,4%. A leitura de 24h do EUCAST possibilitou concordância maior que 95% para a grande maioria das drogas e para as espécies de leveduras testadas. Apenas ensaios realizados com isolados de C. glabrata apresentaram menor concordância e reprodutibilidade. Estes dados confirmam que a leitura de 24h do EUCAST oferece melhores resultados, devendo-se realizar leitura de 48h apenas para amostras com limitado crescimento após curto período de incubação. Espinel-Ingroff et al. (2005) compararam as CIMs de fluconazol, itraconazol, posaconazol e voriconazol obtidas segundo duas metodologias: EUCAST e NCCLS M27-A2 (2002). Foram selecionados 421 isolados de Candida spp. de seis diferentes centros. A concordância entre as duas metodologias para leitura de 24h em ambos os métodos foi boa em todas as drogas avaliadas: fluconazol (95%), voriconazol (94%), posaconazol (91%) e itraconazol (90%). A leitura de 48h não aumentou a concordância entre os métodos avaliados. Entretanto, os autores verificaram que os resultados das CIMs do EUCAST em relação a azólicos foram consistentemente menores que os dados obtidos com o método padrão do NCCLS. Sendo assim, é possível que os pontos de corte para a susceptibilidade a azólicos sugeridos pelo NCCLS M27-A2 não sejam aplicáveis à metodologia do EUCAST. INTRODUÇÃO 9 1.1.2 Sensititre Yeast-One: sistema colorimétrico para ensaios de diluição em caldo Devido à necessidade de métodos de susceptibilidade a antifúngicos que pudessem gerar resultados com maior rapidez e praticidade, auxiliando a rotina de laboratórios clínicos, vários sistemas comerciais foram desenvolvidos para a avaliação in vitro de drogas antifúngicas. Dentre eles, destaca-se o sistema comercial Sensititre Yeast-One, consistindo numa placa de microdiluição contendo diferentes concentrações de cinco agentes antifúngicos: anfotericina-B, fluconazol, 5-FC, itraconazol e cetoconazol. Essa placa contém um indicador colorimétrico (azul de alamar) que permite visualizar mudança de pH frente à multiplicação das células fúngicas. Desta forma, este sistema colorimétrico desencadeia uma reação de óxido-redução com conseqüente mudança de cor azul para vermelho nos poços onde há crescimento do inóculo. Essa reação facilita a identificação do ponto de leitura das CIMs, na transição de mudança de cor. As vantagens desse método comercial incluem não apenas as facilidades operacionais, (visto que as drogas já se apresentam prontas na placa de leitura), como também a rápida liberação de resultados (leitura de 24h) e interpretação do ponto de leitura por mudança de cor (Tiballi et al., 1995; Espinel-Ingroff et al., 1999; Chryssanthou, 2001; Morace et al., 2002). No estudo conduzido por Davey et al. (1998) foram comparados os seguintes métodos de microdiluição em caldo: Sensititre Yeast-One e NCCLS M27-A (1997) para determinar a susceptibilidade de 180 isolados de Candida spp. em relação a quatro drogas antifúngicas: anfotericina-B, fluconazol, itraconazol e cetoconazol. Houve concordância superior a 90% entre os métodos para ensaios envolvendo anfotericina-B e fluconazol em relação a todas as cepas avaliadas. Em ensaios envolvendo itraconazol e cetoconazol os índices de concordância para a maioria das amostras avaliadas foi boa (91%), com exceção de ensaios envolvendo isolados de C. tropicalis (75%). Através deste estudo, pode-se concluir que a concordância entre as INTRODUÇÃO 10 duas metodologias foi maior com testes envolvendo fluconazol e anfotericina-B, tendo menor concordância para amostras de C. tropicalis em relação a antifúngicos azólicos. Espinel-Ingroff et al. (1999) avaliaram a concordância do método comercial Sensititre Yeast-One em relação ao método padronizado pelo NCCLS M27-A (1997), em três diferentes laboratórios, testando 1.176 isolados clínicos de espécies de Candida. Os resultados das CIMs do método comercial em relação aos cinco agentes antifúngicos (anfotericina-B, fluconazol, 5-FC, itraconazol e cetoconazol) foram comparados após 24h de incubação para o teste colorimétrico, e 48h para o método do NCCLS. A concordância entre as duas metodologias variou de 90 a 98% para todas as espécies avaliadas. Os dados sugerem que a placa Sensititre Yeast-One tem uso potencial em laboratórios de rotina por sua facilidade de execução e concordância com o NCCLS. Chryssanthou et al. (2001) conduziram estudo comparando o sistema Sensititre Yeast-One com o método de macrodiluição em caldo frente a anfotericina-B, fluconazol, itraconazol e 5-FC. Foram selecionadas para o estudo 233 espécies de Candida isoladas de hemoculturas na Suécia. A concordância entre as leituras de 24h para o teste colorimétrico e 48h para o método do NCCLS foi de 87%. Houve concordância maior para anfotericina-B (97%), 5-FC (94%), fluconazol (93%) e menor para itraconazol (70%) quando avaliadas amostras de C. albicans. Já para as espécies de Candida nãoalbicans, houve concordância maior apenas para anfotericina-B (82%), sendo menor para fluconazol (78%), 5-FC (75%) e itraconazol (44%). Os autores concluíram que houve discrepância de resultados entre as espécies avaliadas, sendo que para ensaios com isolados de C. albicans houve boa correlação em quase todas as drogas avaliadas, exceto para itraconazol. Em relação as amostras de Candida não-albicans, principalmente C. glabrata, C. krusei e C. parapsilosis apresentaram baixa correlação de resultados para quase todas as drogas avaliadas, exceto para anfotericina-B. Devido a esta inconsistência, faz- INTRODUÇÃO 11 se necessária a confirmação dos resultados com o método de referência para os resultados do teste de susceptibilidade a azólicos frente aos isolados de C. glabrata, C. krusei e C. parapsilosis. Morace et al. (2002) determinaram a susceptibilidade de fluconazol através de seis metodologias, dentre estas o comercial Sensititre Yeast-One e NCCLS M27-A (1997), sendo testadas 800 amostras clínicas de Candida spp. A concordância entre os métodos avaliados foi de 81,4%. Houve maior correlação em ensaios com fluconazol para isolados de C. parapsilosis (88,9%), C. albicans (88,4%), C. tropicalis (83,1%) e menor em amostras de C. krusei (66,7%) e C. glabrata (50,8%). Através deste estudo, os autores concluíram que os resultados do teste colorimétrico para os isolados de C. krusei e C. glabrata apresentaram baixa correlação com o método de referência. Isto pode ser devido as dificuldades de adaptação a diferença de curva de crescimento para amostras de C. glabrata e C. krusei em diferentes condições na realização do teste de susceptibilidade a antifúngicos. Trabalhos mais recentes têm avaliado a eficácia deste sistema comercial com novas drogas antifúngicas como: voriconazol, posaconazol e ravuconazol. No estudo de Pfaller et al. (2004b) foi avaliado o sistema Sensititre Yeast-One, comparando os resultados do teste com o NCCLS M27A2 (2002). Foram avaliados 300 isolados clínicos de C. albicans, C. parapsilosis, C. krusei, C. lusitaniae, C. tropicalis e C. glabrata frente a fluconazol, voriconazol, posaconazol e ravuconazol. A concordância entre os resultados dos métodos avaliados foi de 95,4%. Em relação a fluconazol, ravuconazol, voriconazol e posaconazol houve boa correlação para todas as espécies testadas (98%, 96%, 95,3% e 92,3%, respectivamente). No trabalho citado acima, foram obtidos melhores resultados para o sistema comercial Sensititre Yeast-One envolvendo azólicos quando comparados aos estudos de Chyssanthou et al., (2001) e Morace et al., (2002). INTRODUÇÃO 12 Após vários anos de pesquisas avaliando o sistema comercial Sensititre Yeast-One, pode-se concluir que este método apresenta boa reprodutibilidade e acurária significativa comparado ao NCCLS M27-A2 (2002). Entretanto, os resultados parecem depender da combinação entre espécies de Candida e as drogas testadas. Estes estudos levaram à aprovação deste sistema pelo “Food and Drug Administration” (FDA) nos EUA. Contudo, por se tratar de um método com custo elevado, torna-se limitante a utilização em laboratórios de rotina em nosso meio. INTRODUÇÃO 13 1.2 Testes de susceptibilidade a antifúngicos – avanços em métodos de ágar difusão 1.2.1 Ensaios com E-test Apesar dos métodos de diluição em caldo representarem um importante avanço no desenvolvimento de testes de susceptibilidade a antifúngicos, seja por suas características de reprodutibilidade e boa correlação clínica observada, tratam-se de métodos laboriosos e de difícil execução em laboratórios de rotina. Por estes motivos, vários pesquisadores tiveram a necessidade de desenvolver ensaios mais adequados à rotina de laboratórios clínicos, cujos resultados fossem equivalentes àqueles gerados pelo método de referência (Martin-Mazuelos et al., 1999; Koc et al., 2000; Laverdiere et al., 2002). Na tentativa de encontrar ensaios que pudessem ser utilizados em laboratórios de rotina para obter maior rapidez e praticidade, foram desenvolvidos métodos alternativos de difusão em ágar, como o teste de discodifusão e o E-test, com a finalidade de determinar in vitro a susceptibilidade de leveduras frente a várias classes de antifúngicos (Colombo et al.,1995; Koc et al., 2000; Matar et al., 2003; Maxwell et al., 2003; Hospenthal et al., 2004). O E-test (AB Biodisk, Solna, Suécia) é um teste de difusão em ágar, que fornece valores quantitativos referentes à CIM do antifúngico para o microrganismo em estudo. Este método consiste numa fita plástica contendo droga em diferentes concentrações expressas no reverso da tira. Uma vez colocada na superfície do meio solidificado, a droga contida na fita difunde-se rapidamente para o meio, mantendo por longo tempo um gradiente fixo de concentração em torno da fita. A difusão da droga a partir da fita para o ágar INTRODUÇÃO 14 inibe o crescimento do microrganismo inoculado no meio, gerando área de inibição em formato de elipse. A CIM é lida como sendo a concentração da droga superior àquela expressa na fita no ponto em que a tira de E-test intercepta a borda da zona de inibição. Deste modo, este método reúne a vantagem na simplicidade de execução de testes de difusão em ágar, com as informações quantitativas fornecidas pelos ensaios de diluição (Baker et al., 1991; Sanchez, Jones, 1993; Colombo et al., 1995). Colombo et al. (1995) analisaram a concordância de dois métodos: E-test e NCCLS M27-T (1992). Foram avaliados 100 isolados de Candida spp. frente a fluconazol, cetoconazol e itraconazol. A correlação entre as metodologias para fluconazol foi maior em ensaios envolvendo as amostras de C. glabrata (95%) e C. albicans (84%), sendo menor para os isolados de C. tropicalis e C. parapsilosis (53%). Em ensaios envolvendo cetoconazol a correlação foi maior entre as amostras de C. albicans (88%) e C. parapsilosis (87%), tendo menor correlação para isolados de C. tropicalis (73%) e C. glabrata (45%). Em relação a itraconazol, houve maior concordância em relação as amostras de C. glabrata (100%) e C. parapsilosis (87%), tendo menor concordância entre os isolados de C. albicans (76%) e C. tropicalis (33%). Em conclusão, o E-test apresentou correlação variável com o método de referência, com maior acurácia em ensaios com itraconazol e fluconazol e menor para cetoconazol. Entre as espécies testadas houve menor performance apenas para amostras de C. tropicalis. Em estudo desenvolvido por Martin-Mazuelos et al. (1999) foi avaliada a utilização do E-test em relação ao teste padronizado pelo NCCLS M27-A, (1997) para ensaios com fluconazol e itraconazol. Foram testadas 102 amostras de Candida spp. isoladas da cavidade orofaríngea de pacientes admitidos no Hospital da Universidade de Sevilla, Espanha. A concordância entre as metodologias avaliadas foi de 74,5%. A concordância para ensaios com fluconazol foi maior nos testes envolvendo amostras de C. tropicalis (88,2%), C. parapsilosis (85,7%), sendo menor para C. albicans (74,7%) e C. INTRODUÇÃO 15 glabrata (66,6%). Em relação a itraconazol, a correlação foi maior entre os isolados de C. glabrata (88,8%) e C. tropicalis (82,3%), apresentando menor correlação para C. albicans (60,5%) e C. parapsilosis (42,9%). Koc et al. (2000) avaliaram a concordância do E-test com o teste de microdiluição em caldo frente a anfotericina-B, fluconazol, itraconazol e cetoconazol. Foram selecionados para o estudo 102 isolados de Candida spp.. A concordância entre as metodologias para anfotericina-B foi boa em relação a todas as amostras avaliadas: C. parapsilosis (100%), C. albicans (96,7%), C. tropicalis (90%) e C. glabrata (87,5%). Em ensaios com fluconazol e itraconazol houve maior concordância entre as amostras de C. albicans (83,3%) e C. tropicalis (80%) e menor para C. parapsilosis e C. glabrata (75%). Ensaios envolvendo cetoconazol foram similares a fluconazol e itraconazol, mudando apenas em relação aos isolados de C. albicans (86,7%). Sendo assim, pode-se concluir que houve maior concordância entre as metodologias nos ensaios envolvendo anfotericina-B, sendo menor com azólicos. Entre as espécies analisadas houve menor correlação para as amostras de C. glabrata quando testadas com azólicos. Laverdiere et al. (2002) determinaram a susceptibilidade a anfotericina-B, fluconazol, itraconazol e caspofungina através de dois métodos: E-test e NCCLS M27-A (1997). Foram testadas 178 amostras de Candida spp. isoladas de hemoculturas, provenientes de dois centros canadenses. A correlação entre as duas metodologias com a variação de até duas diluições para as espécies avaliadas variou de 81% à 97%. A correlação para anfotericina-B foi boa para todas as amostras avaliadas: C. albicans, C. glabrata, C. tropicalis (100%) e C. parapsilosis (90%). Em relação a fluconazol houve maior correlação entre as amostras de C. parapsilosis (90%), C. albicans (87%), C. glabrata (80%), sendo menor para isolados de C. tropicalis (73%). INTRODUÇÃO 16 Em relação a itraconazol houve maior correlação para C. tropicalis (86%), C. parapsilosis (85%) e C. albicans (84%), sendo menor para C. glabrata (77%). Já para caspofungina, houve boa correlação em relação a todas as amostras testadas: C. tropicalis (100%), C. parapsilosis (90%), C. albicans (88%) e C. glabrata (85%). Em conclusão, os autores confirmaram que apesar da correlação satisfatória entre os dois métodos, há variáveis de concordância conforme a droga e espécie avaliada. Maxwell et al. (2003) avaliaram a performance do E-test para fluconazol e voriconazol frente aos resultados das CIMs determinadas pelo método NCCLS M27-A (2002). Foram avaliadas 279 amostras de Candida spp. isoladas de hemoculturas, obtidas de 68 diferentes laboratórios. A concordância entre os resultados das metodologias avaliadas em ensaios com fluconazol foi boa para todas as espécies testadas. Já em relação a voriconazol houve maior concordância para C. lusitaniae e C. rugosa (100%), sendo menor para amostras de C. guilliermondii (79%). Os autores concluíram que houve boa correlação para as duas drogas avaliadas, tendo baixa correlação para os isolados de C. guilliermondii quando testado voriconazol. O E-test pareceu ser um método alternativo para determinar a susceptibilidade de espécies incomuns de Candida. Os resultados dos vários estudos demonstram que o E-test apresenta significativa concordância com o método padronizado pelo NCCLS M27-A2 (2002). Conseqüentemente, este teste também foi aprovado pelo FDA para utilização em laboratórios de rotina. Deve-se mencionar que vários autores sugerem que E-test gera maior variação de valores das CIMs para anfotericina-B quando comparado ao NCCLS. Esta qualidade permite maior poder discriminatório para o E-test na identificação de espécies resistentes a anfotericina-B (Koc et al., 2000; Peyron et al., 2001, Pfaller et al., 2004c). INTRODUÇÃO 17 1.2.2 Ensaios com disco-difusão O método de disco-difusão, descrito por Anderson e modificado por Kirby e Bauer, vem sendo empregado com sucesso na bacteriologia desde 1966, com a finalidade de determinar a susceptibilidade de bactérias a antimicrobianos, apresentando ótima correlação clínico-laboratorial. Tendo em vista sua simplicidade operacional e bons resultados obtidos na bacteriologia é de extrema importância a tentativa de adaptar esta metodologia para os ensaios com antifúngicos (Bauer et al., 1966; Jorgensen et al., 1977; NCCLS, 1993; ). Nas décadas de 70 e 80, vários autores trabalharam com o método de disco-difusão em micologia utilizando discos de 5-FC, anfotericinaB, miconazol e clotrimazol. Entretanto, os trabalhos foram realizados com diferentes metodologias, sendo difícil a comparação entre seus resultados. Da mesma forma, não houve preocupação dos autores no desenvolvimento de estudos que possibilitassem a padronização de diferentes variáveis fundamentais para garantir consistência e reprodutibilidade nos ensaios (Marks, Eickhoff, 1970; Utz, Shadomy, 1977; Grendahl, Sung, 1978; Saubolle, Hoeprich, 1978; Casals, 1979; Torres-Rodríguez et al., 1990). Na década de 90, após a padronização do método de microdiluição em caldo, o NCCLS designou um subcomitê para padronizar o teste de disco-difusão frente a leveduras, onde vários estudos foram realizados analisando as variáveis mais importantes na acurácia dos ensaios, incluindo o meio a ser utilizado, a temperatura, o tempo de incubação, o disco contendo antifúngico e a determinação dos critérios de leitura do teste (Pfaller et al., 1992; Sandven et al., 1993; Barry, Brown, 1996). INTRODUÇÃO 18 O meio de cultura a ser utilizado no teste de disco-difusão deve ser capaz de suportar crescimento adequado dos microrganismos a serem testados, sem causar qualquer interação com a atividade das drogas utilizadas no ensaio. Têm sido preconizados meios de composição química completamente definida, para viabilizar a reprodutibilidade dos ensaios (Hoeprich et al.,1970; Hoeprich, Finn,1972; Radetsky, 1986). Barry, Brown (1996) propuseram estudo com o método de discodifusão utilizando o meio RPMI-1640 com 2% glicose e 1,5% de ágar, levando em conta os bons resultados deste meio nos ensaios de microdiluição em caldo padronizados pelo NCCLS M27-T (1995). Neste estudo, os autores observaram que o meio RPMI parece não ser apropriado para testar algumas espécies de leveduras que apresentam pobre crescimento nesse meio, como foi visto para amostras de C. glabrata e C. krusei, que apresentaram crescimento satisfatório somente após 48h de incubação. Estudos posteriores foram realizados a fim de encontrar um meio mais adequado para o teste de disco-difusão na rotina de laboratórios clínicos. Barry et al. (2002) avaliaram a utilização de dois meios para o método de discodifusão a fluconazol, testando 495 isolados de Candida spp.: meio MuellerHinton ágar (MHA) suplementado com glicose e azul de metileno e o meio RPMI-1640 ágar suplementado com glicose. Os resultados do teste de discodifusão para os dois meios foram comparados com os resultados do método de referência (microdiluição em caldo). A correlação dos resultados para os dois meios avaliados foi maior para a leitura de 24h com MHA (96,9%), sendo menor com o meio RPMI (93,6%). Já em relação a leitura de 48h, houve menor concordância para ensaios com ambos os meios testados: MHA (93,3%) e RPMI (93,5%). Pode-se verificar que com a utilização do meio RPMI as amostras de C. glabrata apresentaram pobre crescimento, necessitando de INTRODUÇÃO 19 tempo maior (48h) para a leitura do teste. Também houve problemas com três isolados de C. krusei e duas amostras de C. albicans. Para ensaios com o meio MHA suplementado com glicose e azul de metileno houve melhor crescimento para todos os isolados de diferentes espécies testadas e melhor definição do halo de inibição, respectivamente. Os autores verificaram que ensaios de disco-difusão utilizando o meio MHA apresentaram maior compatibilidade com os resultados da microdiluição, suportando melhor o crescimento para as diferentes espécies de leveduras avaliadas. Além disso, os resultados gerados pelo teste de disco-difusão após 24h de incubação apresentaram maior reprodutibilidade que aqueles obtidos após 48h de incubação. Rubio et al. (2003) desenvolveram estudo para avaliar a performance de três meios em relação ao teste de disco-difusão: meio MHA suplementado com dextrose e azul de metileno, meio RPMI-1640 com glicose e o meio Shadomy (SHDM). Foram selecionados 150 isolados de Candida spp. provenientes de pacientes admitidos no Hospital Universitário Lozano Blesa, Espanha. Os resultados do teste de disco-difusão para os três meios avaliados foram comparados com os resultados do método de microdiluição em caldo (NCCLS M27-A2). A correlação dos resultados após 24h de incubação foi maior para o meio MHA (95,3%), sendo um pouco menor para os meios RPMI (94%) e SHDM (92,6%). Em relação as leituras de 48h também houve maior correlação com o meio MHA (94,6%), sendo menor para os meios SHDM (91,3%) e RPMI (75,3%). O crescimento de microcolônias dentro do halo de inibição foi comum para os meios RPMI (63,4%) e SHDM (64,7%), sendo infrequente para o meio MHA (8,7%). O meio MHA apresentou um halo de inibição claro e definido em 91,3% dos testes de disco-difusão. Com este estudo, os autores concluíram que o meio MHA parece ser o meio ideal para o método de disco-difusão devido à menor ocorrência de crescimento de microcolônias dentro do halo de inibição, facilitando a leitura do teste e minimizando qualquer subjetividade. Da mesma forma, o MHA apresentou melhores índices de equivalência com os resultados gerados pelo método de referência NCCLS M27-A2 (2002). INTRODUÇÃO 20 Barry et al. (2003) propuseram trabalho colaborativo internacional envolvendo oito instituições para definir os limites do halo de inibição para as cepas-controle a serem utilizadas nos testes de disco-difusão com fluconazol, em meio MHA suplementado com glicose e azul de metileno. As oito instituições avaliaram em dez dias distintos, três cepas-controle como controle de qualidade (CQ) para definir o tamanho do halo de inibição: C. albicans (ATCC 90028), C. parapsilosis (ATCC 22019), C. tropicalis (ATCC 750). Os resultados gerados pelas cepas-controle foram: C. albicans variaram de 28 a 39mm, para C. parapsilosis variaram de 22 a 33mm e para C. tropicalis variaram de 26 a 37mm. Os autores concluíram que houve maior reprodutibilidade com leitura de 24h de incubação em todos os ensaios. Os resultados mostraram também que a adição de azul de metileno ao meio MHA define melhor o halo de inibição, produzindo um halo de inibição com razoável grau de precisão quando avaliadas as cepas-controle C. albicans (ATCC 90028), C. parapsilosis (ATCC 22019) e C. tropicalis (ATCC 750). Pfaller et al. (2004d) realizaram estudo similar ao citado anteriormente, mas para determinar os resultados de leitura para o controle de qualidade no teste de disco-difusão a voriconazol com o meio MHA suplementado com glicose e azul de metileno. Foram utilizadas três cepascontrole no ensaio: C. albicans (ATCC 90028), C. parapsilosis (ATCC 22019) e C. krusei (ATCC 6258). Assim como no teste para fluconazol, foram realizadas leituras de 24h e 48h para determinar o impacto do tempo de incubação nas leituras para este método. Os resultados gerados pelas cepas-controle foram: ATCC 90028 – (31 a 42mm), ATCC 22019 - (28 a 37mm) e ATCC 6258 – (16 a 25mm). Os autores concluíram que, assim como reportado para os testes com fluconazol, houve melhor performance dos resultados com leitura de 24h de incubação para voriconazol. Pode-se também estabelecer a confiabilidade das cepas-controle como parâmetros para interpretação dos testes: C. albicans (ATCC 90028), C. parapsilosis (ATCC 22019) e C. krusei (ATCC 6258). INTRODUÇÃO 21 Os trabalhos de Barry et al. (2003) e Pfaller et al. (2004d) avaliando as cepas-controle foram fundamentais para consolidar a leitura de 24h como melhor parâmetro de leitura para o teste de disco-difusão, como também para permitir o uso de cepas-padrão no controle de qualidade destes ensaios em laboratórios de rotina. Uma vez definida a melhor condição de realização do método de disco-difusão, foi importante avaliar qual a sua correlação com o método referência de diluição em caldo do NCCLS M27A-2 (2002), na categorização dos isolados como: susceptível, SDD ou resistente. Barry et al. (2002) compararam os métodos de disco-difusão e microdiluição em caldo para avaliar o perfil de susceptibilidade a antifúngicos frente a 495 isolados de Candida spp.. Através de uma curva de regressão linear os autores correlacionaram o tamanho do halo inibitório do teste de disco-difusão com os valores das CIMs gerados pelo método de microdiluição. Todas as espécies avaliadas para a susceptibilidade foram interpretadas frente a três categorias: isolado susceptível - se observado valores das CIMs de ≤ 8µg/mL ou diâmetro do halo de ≥19mm; amostra SDD - se observado valores das CIMs de 16 a 32µg/mL ou diâmetro do halo de 15 a 18mm; isolado resistente - se observado valores das CIMs de ≥ 64µg/mL ou diâmetro do halo de ≤ 14mm. Os resultados do teste de microdiluição em caldo tiveram uma concordância de 97% com o método de disco-difusão. A correlação entre as duas metodologias foi realizada frente a três resultados de discrepância: erro gravíssimo (a espécie testada apresenta susceptibilidade para o teste de discodifusão e resistência para o método de microdiluição em caldo); erro grave (a espécie avaliada apresenta resistência para o teste de disco-difusão, sendo susceptível para o método de microdiluição); e erro leve (a espécie apresenta SDD para um teste e susceptível ou resistente para o outro método). Os resultados mostraram erro gravíssimo somente para uma amostra de C. krusei, não apresentando ocorrência de erro grave. Houve a presença de 14 erros leves envolvendo oito isolados de C. krusei, três isolados de C. parapsilosis, INTRODUÇÃO 22 duas amostras de C. glabrata e um isolado de C. albicans. Os autores concluíram que os resultados do teste de susceptibilidade a fluconazol pelo método de disco-difusão tiveram boa equivalência com o método de microdiluição em caldo, tendo aplicação potencial em laboratórios de rotina para a triagem de amostras resistentes a fluconazol. Matar et al. (2003) avaliaram a concordância do método de discodifusão com o teste de microdiluição em caldo padronizado pelo NCCLS M27A2 (2002) frente a fluconazol e voriconazol. Foram avaliadas 400 amostras de Candida spp. isoladas de hemocultura. Os diâmetros dos halos de inibição foram interpretados com base no estudo prévio de Barry et al. (2002). A concordância entre as categorias de susceptibilidade a fluconazol, considerando resultados gerados pelo teste de disco-difusão e microdiluição em caldo, foi de 88,8% para leitura de 24h. Erro gravíssimo foi observado em 15 amostras testadas, não ocorrendo erro grave. Houve a presença de 14 erros leves para os isolados testados. Em relação a voriconazol, como ainda não foram definidos os pontos de corte de susceptibilidade, foi realizada apenas análise descritiva dos resultados dos métodos de microdiluição e teste de disco-difusão após 24h de incubação. Esses dados sugerem que apesar da boa equivalência entre os métodos, o teste de disco-difusão tem melhor performance na identificação de amostras susceptíveis e algumas limitações no reconhecimento de amostras resistentes. Finquelievich et al. (2003) conduziram estudo para avaliar o teste de disco-difusão para fluconazol comparando os resultados com o método de microdiluição em caldo padronizado pelo NCCLS M27-A2 (2002), sendo testados 290 isolados de Candida spp. A concordância entre as duas metodologias foi de 90%. Foram identificadas 258 amostras susceptíveis para o método de microdiluição, em contrapartida com 245 isolados para o teste de INTRODUÇÃO 23 disco-difusão, com concordância de categoria de 99,6%. Houve 13 amostras SDD para o teste de microdiluição e 21 isolados para o método de discodifusão. Em relação a resistência, houve 19 amostras para o teste de microdiluição e 21 isolados para o método de disco-difusão. Não ocorreu erro gravíssimo na correlação dos dois métodos. Entretanto, erro grave ocorreu em 1,03% dos isolados testados e erro leve em 8,97% das espécies avaliadas. Os resultados sugerem que o método de disco-difusão tem boa correlação com o teste de referência para determinar amostras susceptíveis a fluconazol. Já a menor correlação entre as duas metodologias para SDD e resistência pode ter ocorrido devido ao fenônemo in vitro conhecido como “trailing”, sendo caracterizado pelo crescimento reduzido mais persistente de alguns isolados de Candida spp. na presença de drogas fungistáticas. Este fenômeno pode prejudicar a leitura e, por conseguinte, o resultado final do ensaio de discodifusão. Pfaller et al. (2004e) avaliaram a acurácia dos resultados do teste de disco- difusão comparado ao método de microdiluição em caldo a fluconazol dos laboratórios participantes do projeto ARTEMIS. Foram selecionados 2.949 isolados de Candida spp. com significância clínica nos sítios de infecção (sangue e sítios estéreis) causando infecção invasiva em pacientes de diversos hospitais sentinela da América do Norte, América Latina, Europa, África e Ásia. Estas amostras foram posteriormente enviadas para o laboratório central em Iowa (EUA) para comparação dos resultados obtidos entre as duas metodologias. Através de uma curva de regressão linear foram correlacionados o tamanho do halo inibitório do teste de disco-difusão com os valores das CIMs gerados pelo método de microdiluição. Foi realizado monitoramento do diâmetro do halo do disco relatado em 54 diferentes centros médicos entre 2001 e 2002. A concordância entre as metodologias avaliadas foi maior para o laboratório referência (92,8%), sendo menor entre os laboratórios participantes INTRODUÇÃO 24 (87,4%). A concordância entre as metodologias foi maior para amostras de C. albicans (97,7%) não apresentando erro gravíssimo, ocorrência de 1,4% dos isolados com erro grave e 0,9% das amostras com erro leve. Para ensaios com C. tropicalis houve concordância de 87,7%, apresentando erro gravíssimo em 7,3% dos isolados, 3,4% das amostras com erro grave e 0,6% de erro leve. A concordância para isolados de C. parapsilosis foi de 85,5%, apresentando erro gravíssimo em 9,7% dos isolados, 4,8% das amostras com erro grave e nenhum erro leve. Houve menor concordância para os isolados de C. glabrata (60,6%), com ocorrência de erro gravíssimo em 31,3% dos isolados, erro grave para 7,4% das amostras e erro leve para 0,7% dos isolados. Este estudo foi de grande importância para validação da performance do teste de disco-difusão de acordo com o NCCLS M44-A (2004), no programa de vigilância antifúngica entre os laboratórios participantes e o centro de referência em Iowa. Baseado nos resultados mencionados anteriormente, o NCCLS padronizou o método de disco-difusão através do documento M44-A (2004), utilizando o meio MHA suplementado com dextrose e azul de metileno, o tamanho do inóculo de 0,5 a 2,5x103 UFC/mL preparado com o auxílio de espectrofotometria, a temperatura de incubação de 35oC e com tempo de leitura de 24h. O teste de disco-difusão proporciona um resultado rápido, de baixo custo, não exigindo equipamento especial, proporcionando resultados qualitativos de fácil interpretação, podendo assim ser utilizado em laboratórios de rotina avaliando a susceptibilidade de espécies de Candida para discos de fluconazol e voriconazol. Entretanto, é necessário cautela na interpretação de resultados de disco-difusão em ensaios envolvendo amostras de C. glabrata e C. krusei, onde o crescimento inadequado da espécie testada pode ocasionar resultado de falsa susceptibilidade. INTRODUÇÃO 25 1.3 Resistência a amostras de Candida spp. no Brasil No Brasil, são poucos os estudos disponíveis na detecção de resistência a azólicos envolvendo um número significativo de amostras clínicas de Candida spp.. Nos anos 90, alguns autores destacaram a ocorrência de espécies de Candida resistentes a azólicos em pacientes com aids. Na era préHAART (terapia anti-retroviral de alta potência), cerca de 50 a 90% dos pacientes evoluíam com candidíase oral recorrente necessitando de uso prolongado de azólicos e, conseqüentemente, a seleção de isolados resistentes. Milan et al. (1998) conduziram o primeiro trabalho para determinar resistência a azólicos frente a 109 pacientes com aids apresentando cultura de cavidade oral positiva para isolados de Candida spp.. Os autores concluíram que 21 (19%) dos pacientes avaliados apresentavam isolados SDD ou resistentes a um ou mais azólicos, sendo que 18 destes isolados pertenciam a espécies de Candida não-albicans. Na era pós-HAART, Sant’Anna et al. (2002) realizaram estudo multicêntrico para avaliar o perfil de susceptibilidade a azólicos de 142 amostras de Candida spp. isoladas de 130 pacientes com aids apresentando candidíase oral. Os resultados deste estudo demostraram redução de 19% para 11% na porcentagem de espécies de Candida apresentando SDD ou resistência a azólicos comparado ao estudo de Milan et al. (1998). No ambiente hospitalar, há crescente preocupação com a emergência de cepas resistentes a fluconazol, particularmente nos EUA e Europa (Pfaller et al., 1998, Diekema et al., 2002; Ostrosky-Zeichner et al., 2003; Almirante et al., 2005). Estudo multicêntrico conduzido por Godoy et al. (2003) foi avaliado o perfil de susceptibilidade a antifúngicos envolvendo pacientes internados em cinco hospitais terciários da América Latina, reunindo 103 amostras de Candida spp. isoladas de hemocultura. Neste estudo, apenas um isolado de C. albicans mostrou resistência a 5-FC, porém isolados de Candida não-albicans apresentaram valores das CIMs elevadas a azólicos, mas com INTRODUÇÃO 26 susceptibilidade preservada a anfotericina-B. Pode-se concluir que os isolados de C. glabrata desta casuística apresentaram valores das CIMs menores para fluconazol, o que se justifica pelo menor uso de fluconazol nos países da América Latina, em contrapartida com os EUA e Europa. Colombo et al. (2003b) determinaram a susceptibilidade a antifúngicos frente a 200 espécies de Candida isoladas de hemocultura de cinco hospitais terciários. Em relação a fluconazol foi observado resistência somente para duas amostras de C. krusei e nove de C. glabrata, Apenas uma amostra de C.albicans e um isolado de C. guilliermondii apresentaram SDD. Em relação a itraconazol, apenas uma amostra de C. glabrata apresentou resistência e 13 isolados (6,5%) exibiram SDD. Em ensaios com 5-FC, 3% dos isolados foram resistentes. Para anfotericina-B foi observada resistência em 2,5% dos isolados (duas amostras de C. albicans e C. parapsilosis e um isolado de C. krusei). Através deste estudo os autores concluíram que é necessário realizar vigilância periódica no perfil de susceptibilidade para detectar resistência a drogas antifúngicas. Antunes et al. (2004) avaliaram a susceptibilidade a antifúngicos, selecionando 120 isolados de Candida spp. provenientes do Complexo Hospitalar da Santa Casa, Porto Alegre. Para as drogas antifúngicas testadas, fluconazol apresentou SDD em 1,6% das amostras testadas. Já para ensaios com itraconazol foi observado SDD em 14,2% das espécies avaliadas. Não foi encontrada resistência aos antifúngicos testados, possivelmente devido ao baixo consumo de fluconazol neste hospital. Devido ao aumento da incidência de candidemias, vários programas de vigilância têm sido implantados nos Estados Unidos da América (EUA) para analisar a epidemiologia das infecções fúngicas, incluindo o Programa Internacional de Vigilância das Infecções da Corrente Sanguínea (SENTRY) e o Programa de Susceptibilidade Antifúngica Global Ártemis (Pfaller et al.,1998; Pfaller et al., 2001). INTRODUÇÃO 27 O programa de vigilância SENTRY utiliza um laboratório central para monitorar variação da susceptibilidade antifúngica e resistência em 74 hospitais sentinelas em 11 países. Desde 1997, um dos principais objetivos deste programa é realizar vigilância de resistência antifúngica entre espécies de Candida causando infecções na corrente sanguínea nos EUA, Canadá, América Latina e Europa (Pfaller et al., 2001; Pfaller et al., 2002; Antunes et al., 2004; Hajjeh et al., 2004). TrabaIhos envolvendo o SENTRY, em centros nos EUA, Canadá e América do Sul relataram que 2,4% das amostras de Candida spp. originadas da América do Sul foram resistentes a fluconazol. Entretanto, o número de cepas analisadas nos cinco centros da América do Sul que participaram deste estudo foi muito pequeno (n=42) e, portanto, não foi representativo da realidade epidemiológica destes países. Outro dado a ser citado é que o estudo SENTRY não coleta nem analisa dados clínicos e epidemiológicos dos pacientes dos quais os isolados são obtidos (Pfaller et al., 1998, Pfaller et al., 2001). O programa Artemis foi iniciado em 2001, contando com a participaçäo de mais de 80 laboratórios em 35 países, incluíndo o Brasil, promovendo monitoramento dos resultados de vigilância a fluconazol e voriconazol frente a isolados de Candida spp. com relevância clínica. Além disso, este programa auxilia na continuidade no desenvolvimento e validação de vários testes de susceptibilidade, dentre eles o teste de disco-difusão. Os isolados coletados nestes programas são enviados ao laboratório de referência central em Iowa, sendo utilizados como ferramenta importante na detecção de resistência principalmente com fungos emergentes. Claramente, os resultados gerados por tais programas de vigilância servem como base para o tratamento antifúngico empírico de diferentes grupos de risco (Pfaller et al., 2003; Hazen et al.,2003; Pfaller et al., 2004e). INTRODUÇÃO 28 As publicações referentes a estes programas não permitem análise acurada do fenômeno de resistência no Brasil, pois os resultados são avaliados em conjunto com outros países da América Latina. No Artemis, apesar de haver algum detalhamento de Brasil, não há informações sobre as diferentes espécies de Candida e materiais biológicos. Sendo assim, estes estudos sugerem que resistência a fluconazol em pacientes atendidos na comunidade e no ambiente hospitalar ainda é pouco freqüente, e particularmente relacionada a amostras de C. glabrata e C. krusei. Tendo em vista o crescente uso de azólicos em esquemas de profilaxia e terapêutica empírica, é fundamental a realização contínua de estudos de vigilância para detecção de amostras resistentes a estes antifúngicos no sentido de otimizar as opções terapêuticas em diferentes cenários clínicos. 2. OBJETIVOS __________________________________ OBJETIVOS 30 A presente investigação tem por objetivos: I – Estabelecer e correlacionar a distribuição de espécies de Candida identificadas com relação a diferentes materiais biológicos obtidos de pacientes hospitalizados. II - Descrever o perfil de susceptibilidade pelo método de disco-difusão para as diferentes amostras de Candida spp. frente a discos de dois antifúngicos triazólicos: fluconazol e voriconazol. III - Avaliar a prevalência de isolados de Candida spp. resistentes a fluconazol. 3. MATERIAL E MÉTODOS __________________________________ MATERIAL E MÉTODOS 32 3.1 Seleção de microrganismos Foram incluídas no estudo amostras de Candida spp. provenientes de dois hospitais terciários (Hospital São Paulo e Hospital e Maternidade Santa Marcelina), sendo encaminhadas ao Laboratório Especial de Micologia (LEMI) durante o período de janeiro de 1998 a dezembro de 2003. Estas culturas foram originadas de diversos materiais biológicos, incluíndo amostras de sangue, secreção vaginal, urina, cavidade oral, lavado broncoalveolar e trato gastrointestinal. Estes isolados foram encaminhados ao Laboratório Especial de Micologia (LEMI) da Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo, sendo todas as amostras submetidas a identificação quanto à espécie e análise do perfil de susceptibilidade a antifúngicos. 3.2 Identificação das leveduras Uma vez no laboratório, as amostras foram semeadas em meio cromogênico seletivo CHROmagar Candida® (Microbiology Paris), para certificação da pureza do cultivo e viabilidade das colônias. Após 48h de incubação a 37oC, foram selecionadas colônias de mesma cor, sendo em seguida semeadas em ágar Sabouraud dextrose para posterior identificação. MATERIAL E MÉTODOS 33 As colônias de coloração verde foram consideradas sugestivas de C. albicans e tiveram sua identificação confirmada por microcultivo para pesquisa de clamidoconídios e teste hipertônico para diferenciação de C. dubliniensis. Colônias de outras cores foram consideradas como leveduras de Candida não-albicans, sendo re-isoladas em Sabouraud, para posterior identificação com base na micromorfologia e perfil bioquímico (Warren, Hazen, 1995; Baumgartner et al.,1996). 3.2.1 Análise de micromorfologia das colônias Cada amostra foi semeada, com o auxílio de agulha de níquelcromo, em três estrias paralelas sobre a superfície de meio contendo ágar fubá com Tween-80, preparado previamente em placa de Petri de 90mm. As estrias foram cobertas com lamínula e, em seguida, as placas foram incubadas a 30oC, durante 48-72h. Posteriormente, as colônias foram avaliadas ao microscópio óptico, através de objetiva com aumento de 10x e 40x, para pesquisa das seguintes estruturas: blastoconídios, clamidoconídios, hifas, pseudo-hifas e artroconídios. 3.2.2 Perfil bioquímico As provas bioquímicas para identificação das leveduras foram realizadas pelo sistema comercial ID32C (bioMérieux, Marcy-I’Étoile, França). A solução padrão de inóculo foi preparada a partir de um cultivo de 24-48h da levedura a ser testada, consistindo de uma suspensão do microrganismo em água destilada esterilizada, com turbidez ajustada ao padrão no 2 da escala McFarland. MATERIAL E MÉTODOS 34 Foram aspirados 250µL desta suspensão, inoculando-os na ampola com o meio C, sendo esta delicadamente homogeneizada. Finalmente, alíquotas de 135µL do conteúdo da ampola foram distribuídas em cada cúpula da galeria do sistema ID32C. Uma vez preparada, as galerias foram posicionadas na câmara úmida e incubadas durante 72h, a 30oC. A avaliação das provas bioquímicas foi realizada diariamente, com leitura final de 72h, sendo a positividade do teste indicada pela cúpula que apresentou turvação superior aquela do controle negativo (Fricker-Hidalgo et al., 1996). A identificação das amostras foi obtida pela definição de código numérico gerado pela presença ou ausência de crescimento em cada substrato, sendo a interpretação final realizada com a ajuda de Software Analítico enviado pelo fabricante (bioMérieux, Marcy-I’Étoile, França). MATERIAL E MÉTODOS 35 3.3 Teste de susceptibilidade aos antifúngicos: método de disco-difusão (NCCLS M44-A) A susceptibilidade dos isolados em estudo foi realizada pelo método de disco difusão frente a fluconazol e voriconazol. A metodologia utilizada foi aquela sugerida por Barry, Brown (1996), sendo posteriormente normatizado pelo documento NCCLS M44-P (2003) e M44-A (2004). Os discos contendo 25µg/mL de fluconazol e 1µg/mL de voriconazol (Becton Dickinson, MD) foram gentilmente cedidos pela Pfizer Inc. (New York, USA) e estocados em um dissecador a 4oC, para posterior uso. Foram observadas as datas de validade informadas pelo fabricante. Importante observar que, no período de janeiro de 1998 a dezembro de 2000, não havia disponível discos de voriconazol no laboratório, visto tratar-se de um triazólico recentemente desenvolvido pela Pfizer. Sendo assim, as amostras coletadas no período citado acima foram testadas apenas para fluconazol e a partir de janeiro de 2001, as cepas foram testadas para ambas as drogas. 3.3.1 Preparo do meio O meio utilizado no teste de disco-difusão foi o MHA (Difco), sendo re-hidratado em água destilada esterilizada, na concentração de 38g/L, suplementado com 2% de glicose e 0,5µg/mL de azul de metileno. Para realização do ensaio, alíquotas de 30mL do meio foram distribuídas em placas de Petri de 90mm, de modo a obter-se quantidade suficiente para 4mm de espessura. MATERIAL E MÉTODOS 36 3.3.2 Preparo do inóculo Todas as cepas a serem testadas tiveram um cultivo recente realizado em ágar Sabouraud, por técnica de esgotamento, sendo incubado em estufa a 35oC, por 24h. No dia do ensaio, o inóculo foi preparado selecionando-se cinco colônias distintas, de aproximadamente 1mm de diâmetro, que foram suspensas em 4mL de solução salina esterilizada (8,5g/L NaCl; 0,85% salina) em tubo de vidro com rosca. A suspensão da levedura foi agitada em vortex, por 15 segundos, sendo sua turbidez ajustada na escala 0,5 de McFarland, correspondente a 90% de transmitância a 530nm, em espectrofotometria. Ao final deste procedimento, obteve-se uma suspensão de leveduras com inóculo apresentando concentração variando entre 1-5x106 células/mL. 3.3.3 Ensaio de disco-difusão Amostras de cada inóculo previamente preparados no dia do ensaio, foram homogeneamente distribuídas sobre a superfície do meio MHA (Difco), com o auxílio de swab de algodão, semeando a levedura em três direções diferentes, de modo a permitir a semeadura sobre toda a superfície do ágar. As placas semeadas ficaram em descanso por cerca de 5-10 minutos, permitindo completa absorção do inóculo pela superfície do meio. MATERIAL E MÉTODOS 37 Posteriormente, os discos contendo fluconazol e voriconazol foram distribuídos de forma eqüidistante na superfície do meio de cultivo, utilizando-se pinça esterilizada. Para evitar prejuízos na interpretação das zonas de inibição de crescimento gerados pelos discos, os mesmos foram distribuídos na superfície do meio MHA, observando-se uma distância de 20 a 24mm entre eles e de 15 a 20mm entre cada disco e a borda da placa de Petri. Cada disco foi pressionado, suavemente, sobre a superfície do ágar com a ponta da pinça esterilizada. É importante ressaltar que os discos não foram movidos após a sua colocação, evitando assim prejuízos na leitura do teste. As placas foram invertidas e incubadas por 24h a 35oC, em estufa microbiológica. Os isolados com crescimento insuficiente após 24h de incubação, permaneceram na estufa até 48h de incubação. Foi incluída em cada dia de ensaio uma cepa-controle C. albicans (ATCC 90028). Para controle de qualidade dos testes foram utilizados os valores dos halos de inibição sugeridos pelo NCCLS M44-A para esta cepa, a saber: diâmetros de 28-39mm para fluconazol e 31-42mm para voriconazol. 3.3.4 Leitura dos resultados A leitura do ensaio foi realizada com o auxílio de um sistema informatizado de leitura BIOMIC (Giles Scientific Inc., Santa Bárbara). Este sistema consiste de uma torre contendo uma câmera de alta resolução acoplada ao computador, capaz de capturar a imagem dos testes, realizando automaticamente as leituras dos diâmetros de zonas de inibição gerados pelo teste de disco difusão. MATERIAL E MÉTODOS 38 As placas foram retiradas da estufa, após 24h de incubação, para realização da leitura dos ensaios. Para armazenamento adequado dos resultados, os dados epidemiológicos referentes a cada isolado foram cadastrados no programa ARTEMIS (Pfizer). Entre os dados solicitados pelo programa podemos destacar: número de registro do LEMI, sítio de coleta, setor de internação do paciente e identificação do microrganismo. Após este cadastro, as placas foram colocadas no aparelho leitor BIOMIC, sempre com o disco de fluconazol voltado para o pólo superior da placa, para padronizar a leitura. A imagem capturada pelo leitor BIOMIC foi então digitalizada, processada e transferida para um software específico no computador acoplado ao sistema. Este software permite o delineamento preciso, através de movimentos do mouse, dos diâmetros de zonas de inibição gerados pelos ensaios. Estes diâmetros foram medidos no limite do ponto de transição onde há decréscimo abrupto do padrão de crescimento das cepas semeadas no meio MHA. Posteriormente, os resultados qualitativos foram disponibilizados, sendo armazenados para análise dos dados obtidos. 3.3.5 Interpretação dos halos inibitórios: definição qualitativa de susceptibilidade das leveduras aos antifúngicos Considerou-se para análise qualitativa de susceptibilidade das leveduras aos antifúngicos testados as dimensões dos diâmetros dos halos inibitórios gerados por cada uma das drogas. Utilizou-se como parâmetros os halos inibitórios gerados nos diferentes ensaios, os valores sugeridos pelo NCCLS no documento M44-A (2004). MATERIAL E MÉTODOS 39 As categorias de interpretação do ponto de corte para análise de susceptibilidade foram classificadas como: • Susceptível ao fluconazol as cepas que apresentam halo de inibição >19mm. • Susceptibilidade dose-dependente administrada (SDD): isolados que demonstram halos entre 15 e 18mm. • Resistente a fluconazol os isolados que apresentam halo de inibição < 14mm. Em relação a voriconazol, não há definições seguras estabelecidas para as categorias de susceptibilidade/resistência. Sendo assim, foi realizada apenas uma análise descritiva dos halos inibitórios encontrados em diferentes espécies de leveduras. MATERIAL E MÉTODOS 40 3.3.6 Interpretação dos halos inibitórios: definição quantitativa de susceptibilidade das leveduras aos antifúngicos Através do software disponível no sistema BIOMIC-ARTEMIS pode-se transformar os valores obtidos com halos inibitórios em valores das CIMs através de uma curva padrão de regressão linear concebida pelo fabricante, utilizando dados gerados em estudos anteriores (Barry et al., 2002; Pfaller et al., 2004). Nesta conversão, os halos inibitórios são transformados em valores das CIMs, permitindo inferência de resultados quantitativos do perfil de susceptibilidade aos antifúngicos testados. Vale salientar que o diâmetro do halo de inibição é inversamente proporcional à CIM do antifúngico testado, ou seja, quanto maior o diâmetro do halo, menor a CIM, e vice-versa. MATERIAL E MÉTODOS 41 3.4 Análise dos dados A) Apresentou-se de forma descritiva a distribuição de espécies de Candida das amostras testadas em função dos seus respectivos sítios de isolamento. B) Demonstrou-se de forma qualitativa a variação dos diâmetros dos halos inibitórios obtidos com ensaios de disco-difusão para fluconazol e voriconazol frente aos isolados de Candida spp.. C) Exibiu-se de forma quantitativa os resultados das CIMs frente a discos de fluconazol e voriconazol para os diferentes isolados de Candida spp. obtidos de amostras clínicas de pacientes com infecções hospitalares. A distribuição dos valores das CIMs para fluconazol e voriconazol foi apresentada como: 1. CIM50, definida como a concentração inibitória mínima de antifúngico capaz de inibir o crescimento de 50% dos isolados testados. 2. CIM90, definida como a concentração inibitória mínima de antifúngico capaz de inibir o crescimento em 90% dos isolados testados. D) Identificou-se a prevalência das amostras de Candida spp. resistentes a fluconazol em função de dois períodos diferentes: de 1998 a 2000 e 2001 a 2003. 4. RESULTADOS __________________________________ RESULTADOS 43 4.1 Microrganismos Foram selecionados para o estudo 4.625 isolados clínicos de leveduras que foram encaminhados ao LEMI, Disciplina de Infectologia da UNIFESP, durante o período de janeiro de 1998 até dezembro de 2003. As leveduras foram obtidas de diversas culturas de materiais biológicos, a saber: sangue, secreção vaginal, urina, cavidade oral, lavado broncoalveolar e trato gastrointestinal de pacientes internados no Hospital São Paulo e Hospital e Maternidade Santa Marcelina. Importante observar que, os discos de voriconazol tornaram-se disponíveis no laboratório apenas em janeiro de 2001, visto tratar-se de um triazólico recentemente desenvolvido pela Pfizer®. Sendo assim, as amostras coletadas no período de janeiro de 1998 até dezembro de 2000 foram testadas apenas com discos de flucozanol, e a partir de 2001, as cepas foram testadas para ambas as drogas. 4.2 Distribuição das amostras de Candida spp. de acordo com origem do material clínico e período avaliado A distribuição de espécies do total de 4.625 cepas avaliadas neste estudo incluiu: 2.393 cepas de C. albicans (51,7%), 658 de C. tropicalis (14,2%), 503 de C. glabrata (11%), 495 de C. parapsilosis (10,8%), 292 de C. rugosa (6,3%), 195 de C. guilliermondii (4,2%), 53 de C. krusei (1,1%), 36 de Candida spp. (0,7%) (ver Tabela1). RESULTADOS 44 Tabela 1. Distribuição de 4.625 isolados de Candida spp. identificados em culturas de diferentes materiais biológicos avaliados no período de 1998 a 2003 Espécies / No * Sangue Urina T. R. * S. V.* T.G.I. * Outros C. albicans (2.393) 448 532 632 81 20 680 C. tropicalis (658) 234 189 106 3 5 121 C. glabrata (503) 42 187 109 9 4 152 C. parapsilosis (495) 271 102 61 1 4 56 C. rugosa (292) 42 65 21 1 0 163 C. guilliermondii (195) 140 15 22 0 0 18 C. krusei (53) 13 16 11 4 0 9 Candida spp. (36) 14 1 15 1 0 5 1.204 1.107 977 100 33 1.204 Total (4.625) Legenda: Candida spp.: C. lusitaniae (15), C. kefyr (11), C. famata (5), C. lipolytica (3), C. norvegensis (1), C. pelliculosa (1); No - total de amostras; S.V. - amostras biológicas obtidas de secreção vaginal; T.R. - amostras biológicas obtidas de trato respiratório; T.G.I. - amostras biológicas obtidas de trato gastrointestinal A distribuição de espécies de Candida identificadas em diferentes materiais biológicos de pacientes admitidos no Hospital São Paulo e Hospital e Maternidade Santa Marcelina foi detalhada na tabela 1. De forma geral, podese observar o predomínio dos isolados de C. albicans em todos os sítios biológicos, representando 51,7% das amostras avaliadas. C. tropicalis e C. glabrata foram as espécies de Candida não-albicans mais freqüentes, com prevalências de 14,2% e 11%, respectivamente. C. parapsilosis respondeu por 10,8% das amostras, seguida por C. rugosa (6,3%), C. guilliermondii (4,2%) e C. krusei (1,1%). RESULTADOS 45 Vale ressaltar que, apesar do predomínio de isolados de C. albicans em todos os fluídos biológicos, ocorreu pequena variação no perfil de espécies de Candida não-albicans nos sítios avaliados. No sangue houve a presença de 771 isolados de Candida não-albicans, tendo a prevalência de 271 amostras de C. parapsilosis (35,8%) e 234 de C. tropicalis (30,9%). Na urina foi observado um total de 575 isolados de Candida não-albicans, com a prevalência de 189 amostras de C. tropicalis (32,8%) e 187 de C. glabrata (32,5%). Já em outros materiais biológicos houve a ocorrência de 524 isolados de Candida não-albicans, com prevalência de 163 isolados de C. rugosa (31,1%). Figura 1. Distribuição das cinco principais espécies de Candida identificadas Jul. 03 – Dez. 03 Jan. 03 – Jun. 03 Jul. 02 – Dez. 02 Jan. 02 – Jun. 02 Jul. 01 – Dez. 01 Jan. 01 – Jun. 01 Jul. 00 – Dez. 00 Jan. 00 - Jun. 00 Jul. 99 - Dez. 99 Jan. 99 - Jun. 99 Jul. 98 – Dez. 98 Jan. 98 – Jun. 98 Porcentagem de isolados em diferentes fluídos biológicos ao longo do estudo A figura 1 ilustra a distribuição de amostras de Candida spp. no período de janeiro de 1998 a dezembro de 2003. Pode-se observar a prevalência de isolados de C. albicans ao longo de todo o período em estudo. As demais espécies avaliadas apresentaram ocorrência constante ao longo do período, exceto para amostras de C. glabrata que registraram aumento na incidência no período de 2002, havendo um decréscimo em 2003. RESULTADOS 46 4.3 Controle de qualidade dos ensaios de disco-difusão com fluconazol utilizando a cepa-controle C. albicans (ATCC 90028) A cepa-padrão C. albicans (ATCC 90028) foi incluída em todos os dias de ensaio para controle de qualidade do método de disco-difusão. Os resultados gerados por esta amostra em diferentes experimentos realizados ao longo do projeto, encontram-se na figura 2. Os valores dos halos inibitórios da cepa-controle apresentaram variação de 28 a 41mm. Verificou-se que 98% dos resultados tiveram halos inibitórios dentro dos valores recomendados pelo documento do NCCLS M44-A (2004), variando de: 28 a 39mm. Os ensaios cujos valores de controle de qualidade estavam fora do recomendado foram repetidos. Figura 2. Avaliação da reprodutibilidade na leitura do diâmetro dos halos de inibição obtidos com discos de fluconazol utilizando a cepa-controle ATCC 90028 (C. albicans) No de Testes CQ Variação CQ Total N: 70 Halo inibitório (mm) Legenda No - número de amostras testadas; Variação CQ – variação dos resultados do controle de qualidade obtidos com a cepa-controle ATCC 90028 (C. albicans); mm - milímetro RESULTADOS 47 4.4 Apresentação dos resultados qualitativos do método de disco-difusão obtidos com discos de fluconazol Durante o período de janeiro de 1998 a dezembro de 2003 foram avaliados os resultados qualitativos do teste de disco-difusão frente a fluconazol para as amostras de Candida spp. analisadas. Foram apresentados os valores de média e mediana dos halos inibitórios gerados com as amostras testadas, sendo os resultados detalhados em função dos diferentes fluídos biológicos e espécies de Candida avaliadas. Foi realizada também a interpretação do perfil de susceptibilidade das cepas a fluconazol em três categorias: susceptível, SDD e resistente. Estes resultados foram detalhados nas tabelas 2, 3 e 4. Avaliando-se os resultados dos halos inibitórios médio e mediano, pode-se observar que as amostras de C. albicans, C. parapsilosis, C. tropicalis e C. guilliermondii apresentaram halos inibitórios variando de 36 a 30,7mm. Os isolados de C. glabrata apresentaram halos inibitórios entre 29,2 a 26,3mm. Finalmente, em relação aos isolados de C. krusei e C. rugosa foram observados halos inibitórios entre 17,1 a 13mm. Ensaios realizados com cepas de C. albicans, C. parapsilosis e C. tropicalis apresentaram pequena variação na média dos halos inibitórios em função do sítio de isolamento. Em relação a isolados de C. rugosa, C. krusei, C. glabrata e C. guilliermondii houve alguma variação de média dos halos em função dos fluídos, mas esta variação foi sempre inferior àquela esperada para as leituras obtidas com a cepa-controle. RESULTADOS 48 A concordância entre os valores de halos inibitórios préestabelecidos pelo método de referência e aqueles obtidos com os isolados de C. albicans, C. parapsilosis e C. tropicalis observou-se que todas estas cepas foram susceptíveis a fluconazol. Amostras de leveduras com halos inibitórios menores, apresentaram maior ocorrência com cepas SDD/R. Em relação aos isolados de C. glabrata, houve ocorrência de 2,2% de SDD e 5,6% de cepas resistentes a fluconazol. Para ensaios com amostras de C. krusei houve presença de SDD em 41,5% das amostras e resistência em 26,4% dos isolados. Amostras de C. rugosa apresentaram 7,2% de SDD e 57,9% de resistência a fluconazol. Apesar dos ensaios envolvendo isolados de C. guilliermondii terem apresentado diâmetros de halos inibitórios médio e mediano > 30mm, houve amostras com perfil de susceptibilidade SDD (6,2% dos isolados) e resistentes (4,1% dos isolados). Tabela 2. Análise dos resultados da média e mediana dos diâmetros dos halos inibitórios para discos de fluconazol referentes a amostras testadas no período de 1998 a 2003 No Halo médio Halo mediano (%) dos isolados (mm) (mm) C. albicans 2.393 (51,7) 35,6 36,0 C. tropicalis 658 (14,2) 33,7 34,0 C. glabrata 503 (11,0) 29,2 30,0 C. parapsilosis 495 (10,8) 35,2 34,0 C. rugosa 29 (26,3) 16,9 13,0 195 (4,2) 30,7 33,0 C. krusei 53 (1,1) 17,1 17,0 Candida spp. 36 (0,7) 33,1 35,0 Espécies C. guilliermondii Legenda: Candida spp.: C. lusitaniae (15), C. kefyr (11), C. famata (5), C. lipolytica (3), C. norvegensis (1), C. pelliculosa (1); No – número de amostras testadas. RESULTADOS 49 Tabela 3. Média dos diâmetros dos halos inibitórios (mm) com discos de fluconazol frente a 4.625 isolados de Candida spp. identificados em diferentes culturas de materiais biológicos obtidos de pacientes hospitalizados no período de 1998 a 2003 Espécies / No Sangue Urina T. R. S. V. T.G.I. Outros (1.204) (1.107) (977) (100) (33) (1.204) (mm) C. albicans (2.393) 35,3 35,1 37,4 34,8 32,6 34,8 C. tropicalis (658) 33,4 33,5 34,7 35,0 31,2 32,5 C. glabrata (503) 26,2 29,3 29,3 29,9 24,5 29,7 C. parapsilosis (495) 35,2 35,7 36,9 42,0 29,5 33,3 C. rugosa (292) 13,5 19,4 15,2 17,0 0 17,0 C. guilliermondii (195) 32,0 23,7 28,1 0 0 29,9 C. krusei (53) 14,3 15,1 21,1 21,8 0 18,0 Candida spp. (36) 32,8 36,5 26,0 0 0 38,0 Total 33,0 32,4 35,2 33,7 31,0 31,4 (4.625) Legenda: Candida spp.: C. lusitaniae (15), C. kefyr (11), C. famata (5), C. lipolytica (3), C. norvegensis (1), C. pelliculosa (1); No - número de amostras testadas; S.V. - amostras biológicas obtidas de secreção vaginal; T.R. - amostras biológicas obtidas de trato respiratório; T.G.I. - amostras biológicas obtidas de trato gastrointestinal; mm - milímetro RESULTADOS 50 Tabela 4. Interpretação do perfil de susceptibilidade a fluconazol em categorias: susceptível, SDD e resistente frente a amostras de Candida spp. obtidas no período de 1998 a 2003 Espécies No (%) dos isolados S (%) SDD (%) R (%) C. albicans 2.393 (51,7) 98,0 0,6 1,4 C. tropicalis 658 (14,2) 98,3 1,4 0,3 C. glabrata 503 (11,0) 92,2 2,2 5,6 C. parapsilosis 495 (10,8) 97,2 1,0 1,8 29 (26,3) 34,9 7,2 57,9 195 (4,2) 89,7 6,2 4,1 C. krusei 53 (1,1) 32,1 41,5 26,4 Candida spp. 36 (0,7) 100,0 0 0 92,2 2,0 5,8 C. rugosa C. guilliermondii Total 4.625 (100) Legenda: Candida spp.: C. lusitaniae (15), C. kefyr (11), C. famata (5), C. lipolytica (3), C. norvegensis (1), C. pelliculosa (1); No – número de amostras testadas; S (%) – porcentagem de isolados susceptíveis; SDD (%) – porcentagem de isolados com susceptibilidade-dose dependente; R (%) – porcentagem de isolados resistentes RESULTADOS 51 4.5 Análise de resultados quantitativos de susceptibilidade com discos de fluconazol gerados pelo software do sistema Biomic Os resultados de susceptibilidade a fluconazol foram avaliados pelo sistema informatizado Biomic, cujo software utiliza uma curva de regressão linear padrão que transforma valores de halos inibitórios em CIMs (Sales Manager, Giles Scientific). Sendo assim, todas as amostras avaliadas em função de seus resultados qualitativos oferecidos pelo método de discodifusão tiveram conversão para os dados quantitativos de susceptibilidade, referentes aos valores das CIMs gerados pelo software. Na tabela 5, pode-se avaliar os resultados quantitativos do perfil de susceptibilidade das amostras de Candida spp. frente a fluconazol. Houve significativa diferença no padrão de susceptibilidade para as espécies de leveduras testadas. Pode-se notar que os isolados de C. albicans, C. tropicalis e C. parapsilosis apresentaram valores das CIMs menores, sendo classificados como susceptíveis a fluconazol. Em ensaios envolvendo amostras de C. glabrata, C. rugosa e C. krusei, foram observados valores das CIMs maiores, variando em SDD/resistentes a fluconazol. Vale mencionar que a maioria dos dados apresenta concordância anteriormente (tabelas 2, 3 e 4). com os valores qualitativos descritos RESULTADOS 52 Tabela 5. Resultados quantitativos do perfil de susceptibilidade a fluconazol de 4.625 amostras de Candida spp. Espécies No CIM (µg/mL) (%) dos isolados CIM50 CIM90 C. albicans 2.393 (51,7) 0,32 2,37 C. tropicalis 658 (14,2) 0,53 2,37 C. glabrata 503 (11,0) 1,44 17,44 C. parapsilosis 495 (10,8) 0,53 5,00 C. rugosa 29 (26,3) 100,12 ≥165 C. guilliermondii 195 (4,2) 0,68 28,73 C. krusei 53 (1,1) 36,88 ≥165 Candida spp. 36 (0,7) 0,41 5,00 Legenda: Candida spp.: C. lusitaniae (15), C. kefyr (11), C. famata (5), C. lipolytica (3), C. norvegensis (1), C. pelliculosa (1) No – número de isolados testados CIM50 - CIM do antifúngico capaz de inibir o crescimento de 50% dos isolados testados CIM90 - CIM do antifúngico capaz de inibir o crescimento de 90% dos isolados testados µg/mL – micrograma por mililitro RESULTADOS 53 4.5.1 Análise comparativa do perfil de susceptibilidade a fluconazol em amostras testadas em dois períodos diferentes A tabela 6 ilustra o padrão de susceptibilidade a fluconazol dos isolados de Candida spp. testados em dois períodos: janeiro de 1998 a dezembro de 2000 e janeiro de 2001 a dezembro de 2003. Pode-se notar que não houve variação significativa no perfil de susceptibilidade para a maioria das amostras avaliadas ao longo dos períodos em questão. Analisando-se exclusivamente as espécies com menor susceptibilidade a fluconazol (C. glabrata e C. krusei) foi possível observar algumas diferenças nas taxas de ocorrência de SDD/R. Em relação a C. krusei, vale mencionar que o número testado nos dois períodos foi pequeno, sendo que somando-se cepas SDD e resistentes obteve-se porcentagem semelhante de cepas com reduzida susceptibilidade a fluconazol nos dois períodos: período 1 : 20 cepas (71,4%) e período 2 : 16 cepas (64%). Já para as amostras de C. glabrata houve significativa redução na porcentagem de cepas SDD/R. Entretanto, vale mencionar que no período 1 foram testadas apenas 93 amostras desta espécie, sendo que no período 2 o universo ampliou-se para 410 isolados. Para as amostras de C. rugosa, esta análise não foi realizada visto que não houve dados referentes ao período 1. RESULTADOS 54 Tabela 6. Interpretação das categorias de susceptibilidade a fluconazol dos organismos testados pelo método de disco-difusão em dois períodos: de 1998 a 2000 e 2001 a 2003 Espécies No de isolados C. albicans (1135 - 1288) S (%) Per. 1 Per. 2 Per. 1 N (%) Per. 2 R (%) Per. 1 N (%) Per. 2 N (%) 1093 (95,8) 1283 (99,6) 10 (1,0) 4 (0,3) 32 (3,2) 1 (0,1) 263 (97,8) 362 (98,7) 4 (1,5) 5 (1,3) 2 (0,7) 0 75 (80,6) 384 (94,9) 6 (6,5) 5 (1,2) 12 (12,9) 16 (3,9) 197 (99,0) 280 (95,9) 1 (0,5) 4 (1,4) 1 (0,5) C. tropicalis (269 - 367) C. glabrata (93 - 405) C. parapsilosis (199 - 292) C. rugosa (0 - 291) C. guilliermondii (89 - 102) C. krusei (28 - 25) Candida spp. (19 - 23) Total SDD (%) (1.832 – 2.793) ... 101 (34,9) ... 21 (7,2) ... 8 (2,7) 169 (57,9) 85 (95,5) 86 (84,9) 1 (1,1) 11 (10,4) 3 (3,4) 5 (4,7) 8 (28,6) 9 (36,0) 11(39,3) 11 (44,0) 9 (32,1) 5 (20) 23 (100) 0 0 0 33 61 59 19 (100) 1.740 2.528 Legenda: Candida spp.: C. lusitaniae (15), C. kefyr (11), C. famata (5), C. lipolytica (3), C. norvegensis (1), C.pelliculosa (1) No - número de amostras testadas S (%) - porcentagem dos isolados susceptíveis a fluconazol SDD (%) - porcentagem de isolados com susceptibilidade-dose dependente a fluconazol R (%) - porcentagem dos isolados resistentes a fluconazol Per. 1 - período de 1998 a 2000 Per. 2 - período de 2001 a 2003 ... - ausência de amostras referentes a esta espécie no período 1. 0 204 RESULTADOS 55 4.6 Distribuição das amostras de Candida spp. avaliadas em ensaios de disco-difusão com voriconazol A distribuição de espécies do total de 2.793 cepas avaliadas neste estudo incluiu: 1.288 cepas de C. albicans (46,3%) 405 de C. glabrata (14,5%), 367 de C. tropicalis (13,1%), 292 de C. parapsilosis (10,4%), 291 de C. rugosa (10,4%), 102 de C. guilliermondii (3,6%), 25 de C. krusei spp. (0,9%) e 23 de Candida spp. (0,8%). (ver Tabela 7). Tabela 7. Distribuição de 2.793 isolados de Candida spp. obtidos de diferentes culturas de materiais biológicos avaliados no período de 2001 a 2003 Espécies / no * Sangue Urina T. R. * S. V.* T.G.I.* outros C. albicans (1.288) 220 268 279 78 20 423 C. glabrata (405) 22 145 100 9 4 125 C. tropicalis (367) 139 94 73 3 5 53 C. parapsilosis (292) 171 43 34 1 4 39 C. rugosa (291) 42 65 21 1 0 162 C. guilliermondii (102) 62 15 18 0 0 7 C. krusei (25) 7 5 8 4 0 1 Candida spp. (23) 3 0 12 1 0 7 666 635 545 97 33 817 Total (2.793) Legenda: Candida spp.: C. kefyr (10), C. lusitaniae (6), C. famata (4), C. lipolytica (2), C. norvegensis (1) No - número de amostras testadas; S.V. - amostras biológicas obtidas de secreção vaginal; T.R. - amostras biológicas obtidas de trato respiratório; T.G.I. - amostras biológicas obtidas de trato gastrointestinal RESULTADOS 56 A distribuição de amostras de Candida spp. identificadas em diferentes materiais biológicos obtidas do Hospital São Paulo e Hospital e Maternidade Santa Marcelina foi detalhada na tabela 7. Houve a prevalência de isolados de C. albicans, em todos os materiais biológicos, sendo esta espécie responsável por 46,3% das amostras testadas. C. glabrata e C. tropicalis foram as amostras de Candida não-albicans mais frequentes, com prevalências de 14,5 e 13,1%, respectivamente. C. parapsilosis e C. rugosa responderam a 10,4% das amostras, seguida de C. guilliermondii (3,6%) e C. krusei (0,9%). Pode-se notar que apesar de C. albicans ser a amostra prevalente em todos os materiais biológicos, houve alguma variação na ocorrência de isolados de Candida não-albicans nos sítios avaliados. No sangue houve a presença de 479 isolados de Candida não-albicans, com predomínio de 171 isolados de C. parapsilosis (35,7%) e 139 amostras de C. tropicalis (29%). Na urina foi observado um total de 367 amostras de Candida não-albicans, com prevalência de 145 amostras de C. glabrata (39,5%) e 94 isolados de C. tropicalis (25,6%). Já em outros materiais biológicos houve a ocorrência de 394 amostras de Candida não-albicans, com prevalência de 162 isolados de C. rugosa (41,1%). 4.7 Controle de qualidade dos ensaios de disco-difusão com voriconazol utilizando a cepa-controle C. albicans (ATCC 90028) A cepa-padrão C. albicans (ATCC 90028) foi incluída em todos os dias de ensaio para controle de qualidade do método de disco-difusão. Os resultados gerados por estas amostras encontram-se na figura 3. Os valores dos halos inibitórios da cepa-controle apresentaram variação de 30 a 42mm. Verificou-se que 99% dos resultados tiveram halos inibitórios dentro dos valores recomendados pelo documento do NCCLS M44-A (2004), que apresentam variação de 31 a 42mm. Os ensaios cujos valores de controle de qualidade estavam fora do recomendado foram repetidos. RESULTADOS 57 Figura 3. Avaliação da reprodutibilidade na leitura dos diâmetros dos halos inibitórios obtidos com discos de voriconazol utilizando a cepa-controle ATCC 90028 (C. albicans) No de Testes CQ Variação CQ Total N: 68 Halo inibitório (mm) Legenda: No - número de amostras testadas; Variação CQ – diâmetros dos halos inibitórios obtidos com a cepa-controle ATCC 90028 (C. albicans); mm - milímetro RESULTADOS 58 4.8 Apresentação dos resultados qualitativos do teste de disco-difusão obtidos com discos de voriconazol No período de janeiro de 2001 a dezembro de 2003 foram analisados os resultados qualitativos gerados pelo método de disco-difusão para os isolados de Candida spp.. Foram apresentados os valores de média e mediana dos halos de inibição gerados com as amostras testadas, sendo os resultados detalhados em função dos diferentes fluidos biológicos e espécies de Candida avaliadas. Estes resultados foram detalhados nas tabelas 7 e 8. Avaliando-se os resultados dos halos inibitórios médio e mediano, pode-se observar que os isolados de C. albicans, C. parapsilosis, C. glabrata e C. tropicalis apresentaram halos inibitórios variando de 34,9 a 30,6mm. Em ensaios envolvendo C. guilliermondii, C. krusei e C. rugosa apresentaram halos inibitórios entre 29,1 a 21,5mm. Ensaios realizados com cepas de C. albicans, C. parapsilosis e C. tropicalis apresentaram pequena variação na média dos halos inibitórios em função do sítio de isolamento. Em relação a isolados de C. guilliermondii, C. krusei, C. glabrata e C. rugosa houve também variação de média dos halos em função dos fluídos, mas esta variação foi sempre inferior àquela observada na variação esperada para as leituras obtidas com a cepa-controle. Não foi possível realizar a interpretação do perfil de susceptibilidade a voriconazol em categorias, visto que ainda não foram definidos os pontos de corte para este antifúngico. RESULTADOS 59 Tabela 8. Análise dos resultados de média e mediana dos diâmetros dos halos inibitórios (mm) para discos de voriconazol referentes a amostras de Candida spp. testadas no período de 2001 a 2003 No Halo médio Halo mediano (%) de isolados (mm) (mm) C. albicans 1.288 (46,3) 34,9 35,0 C. glabrata 405 (14,5) 31,0 32,0 C. tropicalis 367 (13,1) 30,6 31,0 C. parapsilosis 292 (10,4) 32,0 32,0 C. rugosa 291 (10,4) 21,5 18,0 C. guilliermondii 102 (3,6) 28,7 28,5 C. krusei 25 (0,9) 27,6 27,0 Candida spp. 23 (0,8) 29,9 28,0 Espécies Legenda: Candida spp.: C. kefyr (10), C. lusitaniae (6), C. famata (4), C. lipolytica (2), C. norvegensis (1); No – número de amostras testadas; mm – milímetro. RESULTADOS 60 Tabela 9. Média dos diâmetros dos halos inibitórios (mm) com discos de voriconazol frente a 2.793 isolados de Candida spp. identificados culturas de diferentes materiais biológicos obtidos de pacientes hospitalizados no período de 2001 a 2003 Espécies / No Sangue Urina T. R. S. V. T. G.I. Outros (666) (635) (545) (97) (33) (817) (mm) C. albicans (1.288) 33,0 35,2 35,2 38,0 32,7 35,7 C. glabrata (405) 27,6 31,5 30,7 30,6 29,3 31,2 C. tropicalis (367) 29,8 30,7 31,2 36,0 30,8 31,2 C. parapsilosis (292) 31,4 32,3 33,3 43,0 30,0 33,1 C. rugosa (291) 16,2 24,2 20,3 21,0 0 21,9 C. guilliermondii (102) 29,2 26,4 28,2 0 0 30,6 C. krusei (25) 25,0 27,6 28,8 29,3 0 30,0 Candida spp. (23) 28,4 33,5 0 0 0 35,0 Total 30,5 32,2 32,7 35,4 31,7 31,6 (2.793) Legenda: Candida spp.: C. kefyr (10), C. lusitaniae (6), C. famata (4), C. lipolytica (2), C. norvegensis (1) No - total de amostras testadas; S.V. - amostras biológicas obtidas de secreção vaginal; urina amostras biológicas obtidas de trato respiratório; T.R. - amostras biológicas obtidas de trato urinário; T.G.I. - amostras biológicas obtidas de trato gastrointestinal; mm - milímetro RESULTADOS 61 4.9 Análise dos resultados quantitativos de susceptibilidade com discos de voriconazol gerados pelo software do sistema Biomic Os resultados de susceptibilidade a voriconazol foram avaliados pelo sistema informatizado Biomic, cujo software contém uma curva de regressão linear padrão que transforma valores de halos inibitórios em valores das CIMs (Sales Manager, Giles Scientific). Sendo assim, todas as amostras avaliadas em função de seus resultados qualitativos oferecidos pelo teste de disco-difusão tiveram conversão dos dados quantitativos de susceptibilidade, referentes aos valores das CIMs gerados pelo software. Na tabela 10 foi realizada a comparação do perfil de susceptibilidade a 2.793 isolados de Candida spp. frente a discos de fluconazol e voriconazol, em ensaios realizados no período de 2001 a 2003. Com exceção das amostras de C. rugosa, todas as demais espécies testadas exibiram alta susceptibilidade, apresentando valores das CIMs ≤ 0,5µg/mL. Pode-se observar significativa diferença no padrão de susceptibilidade para discos de fluconazol e voriconazol. Os valores das CIM50 e CIM90 foram menores em relação a voriconazol para quase todas as amostras avaliadas. Excetuando-se os isolados de C. rugosa todos os valores das CIM50 e CIM90 para voriconazol foram < 1µg/mL. RESULTADOS 62 Tabela 10. Comparação do perfil de susceptibilidade a 2.793 isolados de Candida spp. frente a discos de fluconazol e voriconazol em ensaios realizados no período de 2001 a 2003 Espécies No isolados CIM (µg/mL) CIM (µg/mL) Fluconazol Voriconazol CIM50 CIM90 CIM50 CIM90 C. albicans (1.288) 0,53 1,84 0,02 0,06 C. glabrata (405) 0,87 10,58 0,10 0,42 C. tropicalis (367) 0,87 2,37 0,05 0,18 C. parapsilosis (292) 0,87 9,41 0,04 0,22 100,12 >165 0,76 3,25 C. guilliermondii (102) 3,04 36,88 0,09 0,51 C. krusei (25) 36,88 146,76 0,12 0,37 Candida spp. (23) 1,44 7,79 0,10 0,22 C. rugosa (291) Legenda: Candida spp.: C. kefyr (10), C. lusitaniae (6), C. famata (4), C. lipolytica (2), C. norvegensis (1) No – número de amostras testadas CIM50 – CIM do antifúngico capaz de inibir o crescimento de 50% dos isolados testados. CIM90 - CIM do antifúngico capaz de inibir o crescimento de 90% dos isolados testados. µg/mL – micrograma por mililitro 5. DISCUSSÃO __________________________________ DISCUSSÃO 64 Em nossa casuística, C. albicans foi o isolado prevalente em todos os fluídos biológicos, respondendo por 2.393 (51,7%) das 4.625 amostras avaliadas. Contudo, similar aos relatos no mundo todo sobre a emergência de espécies de Candida não-albicans como causa de infecções superficiais e invasivas, essas apresentaram 48,3% dos casos avaliados. Entre as leveduras de Candida não-albicans mais freqüentes, houve o predomínio de 658 isolados de C. tropicalis (14,2%), 503 de C. glabrata (11%), 495 de C. parapsilosis (10,8%) e 292 de C. rugosa (6,3%). Vale mencionar que, a alta prevalência de amostras de C. rugosa deve-se ao surto ocorrido em pacientes admitidos no Hospital e Maternidade Santa Marcelina, sendo que a fonte das infecções por este agente desconhecida. Esta espécie de levedura têm sido raramente isolada de amostras clínicas, sendo sua freqüência de isolamento no presente estudo muito diversa em relação a casuísticas de outros serviços (Colombo, 2000; Krcomery, Barnes, 2002; Colombo et al., 2003c). Houve diferença na prevalência de espécies de Candida nãoalbicans nos diferentes fluídos biológicos estudados. Entre as 771 amostras de leveduras isoladas de hemoculturas, houve predomínio de C. parapsilosis, respondendo por 271 isolados (35,8%), seguida por 234 amostras de C. tropicalis (30,9%). Estes dados estão em concordância com informações obtidas em séries publicadas anteriormente (Colombo et al.,1999; Costa et al., 2000; Pfaller et al., 2001; Godoy et al., 2003; Colombo et al., 2003d; Antunes et al., 2004). No Brasil, poucos trabalhos têm avaliado a distribuição de espécies relacionadas a candidemias. Colombo et al. realizaram estudo multicêntrico de candidemia, envolvendo seis hospitais localizados nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, entre 1995 e 1996, onde foram avaliados 145 casos de candidemia. Pode-se observar prevalência de 63% das espécies de Candida não-albicans, com maior ocorrência de cepas de C. parapsilosis (25%), seguido por C. tropicalis (24%). DISCUSSÃO 65 Costa et al. (2000) analisaram todas as fungemias provenientes do Hospital das Clínicas, São Paulo, no período de 1995 a 1996. Pode-se concluir que dos 86 casos de fungemia avaliados, 97% ocorreram pelo gênero Candida, sendo C. albicans a espécie responsável por 50% dos episódios. Dentre as espécies de Candida não-albicans encontradas, C. parapsilosis foi a espécie prevalente (17%), seguida por C. tropicalis (12%) e C. guilliermondii (10%). Em 2004, Antunes et al. realizaram trabalho para determinar a distribuição de 120 espécies de Candida associadas a candidemia, provenientes da Santa Casa Complexo Hospitalar, Porto Alegre. Os resultados mostraram que C. albicans foi a amostra prevalente (48,3%). Entre as espécies de Candida não-albicans predominantes, pode-se observar a ocorrência de isolados de C. parapsilosis (25,8%), seguido por amostras de C. tropicalis (13,3%). Pfaller et al. (2001) conduziram estudo analisando a distribuição das espécies de Candida isoladas em UTI no programa de vigilância internacional Sentry, coletando amostras dos EUA, Canadá, América Latina e Europa no período de 1997 a 1999. Os autores observaram prevalência de 55% a 60% de amostras de C. albicans na América do Norte e Europa, respectivamente, e 45% na América Latina. Em relação as amostras de Candida não-albicans, C. parapsilosis foi o primeiro agente com maior ocorrência na América Latina, Canadá e Europa. A segunda espécie mais frequentemente recuperada de hemoculturas na América Latina foi C. tropicalis, ocupando o quarto lugar nas outras regiões estudadas. Amostras de C. glabrata foram o segundo isolado mais prevalente nos EUA (21%), sendo o terceiro lugar no Canadá (12%) e Europa (10%), tendo apenas o quarto lugar na América Latina (6%). DISCUSSÃO 66 Em estudo prospectivo multicêntrico, Godoy et al. (2003) avaliaram 103 episódios de candidemia, envolvendo pacientes internados em cinco hospitais localizados em quatro países da América Latina, no período de 1999 a 2000. Neste estudo, pode-se notar a prevalência das amostras de C. albicans (42%), seguida por isolados de C. tropicalis (24%) e C. parapsilosis (21%). Colombo et al. (2003a) analisaram a distribuição de espécies de Candida provenientes de estudo multicêntrico com caspofungina, sendo incluídos 210 pacientes com fungemia. Neste estudo, houve isolamento de 3% de amostras de C. glabrata na América Latina, 8% na Europa e 18% nos EUA. Em relação a C. parapsilosis, a distribuição foi de 30% na América Latina, 18% na Europa e 11% nos EUA. Da mesma forma, C. tropicalis também foi a espécie mais freqüente na América Latina (25%) quando comparados aos EUA (14%) e Europa (8%). Através dos diversos trabalhos citados anteriormente, pode-se concluir que no Brasil e América Latina as espécies de Candida não-albicans associadas a candidemia são representadas basicamente por amostras de C. tropicalis e C. parapsilosis. Este achado não coincide com a realidade da Europa e dos EUA onde ocorre maior prevalência de amostras de C. glabrata em relação aos isolados de C. tropicalis e C. parapsilosis (Pfaller et al., 2001; Diekema et al., 2002; Cuenca-Estrella et al., 2002b; Colombo et al., 2003b; Krcmery et al., 2002; Almirante et al., 2005). DISCUSSÃO 67 Em relação à participação de cepas de Candida não-albicans em outros fluídos biológicos, houve diferença na distribuição de espécies. Para as amostras de urina avaliadas nesse estudo houve isolamento de 575 cepas de Candida não-albicans, incluíndo 189 amostras de C. tropicalis (32,8%) e 187 isolados de C. glabrata (32,5%). Estes dados guardam semelhança aos achados de outros autores avaliando o perfil etiológico de candidúria no Brasil e outros países, onde há maior prevalência de amostras de C. tropicalis e C. glabrata na urina entre as espécies de Candida não-albicans (Febré et al., 1999; Oliveira et al., 2001; Kobayashi et al., 2004). Febré et al. (1999) estudaram 70 pacientes internados em UTI provenientes do Hospital São Paulo, para determinar a incidência de candidúria nosocomial, no período de junho de 1995 a janeiro de 1996. Os autores analisaram pequeno número de amostras (13), sendo que entre as espécies de Candida não-albicans houve o predomínio de C. glabrata (30,77%), seguida por isolados de C. krusei (7,7%). Em 2001, Oliveira et al. avaliaram a distribuição de espécies de Candida spp. em 166 pacientes internados que desenvolveram candidúria, todos provenientes do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, São Paulo. Entre as espécies de Candida não-albicans, C. tropicalis foi a espécie prevalente, respondendo por 53% dos isolados avaliados. A segunda espécie mais isolada foi C. glabrata respondendo por 8% dos casos. Em estudo conduzido por Kobayashi et al. (2004) foi avaliada a ocorrência de candidúria nosocomial em 205 pacientes hospitalizados no Hospital de Goiânia, Goiás, durante 1 ano. Os resultados demonstraram que C. tropicalis foi a espécie mais comum entre as espécies de Candida nãoalbicans, respondendo por 22,2% dos isolados. Em relação a outras espécies, DISCUSSÃO 68 C. parapsilosis foi isolada em 11,1% e C. glabrata respondeu por 8,9% dos casos avaliados. Os estudos mencionados nos parágrafos anteriores mostram que no Brasil as espécies de Candida não-albicans relacionadas a candidúria são representadas basicamente por amostras de C. tropicalis e C. glabrata. Esta realidade parece ser semelhante aos achados de hospitais dos EUA. Em estudo multicêntrico conduzido por Kauffman et al. (2000) foram avaliados 861 episódios de fungúria. Observou-se que 48,2% destes casos foram por espécies de Candida não-albicans, sendo C. tropicalis e C. glabrata as mais prevalentes. A distribuição de espécies em outros materiais biológicos como secreção vaginal, trato respiratório e trato gastrointestinal também tiveram padrão semelhante aos previamente observados em outras séries (Ribeiro et al., 2000; Saporiti et al., 2001; Dorko et al., 2002; Ruiz-Sanchez et al., 2002; Sobel et al., 2003; Erden et al., 2003; Reide, Bruce, 2003; Barenfanger et al., 2003; Sheviakov et al., 2003; Lopez Consolaro et al., 2004; Thorpe et al., 2004). A única diferença observada nestes materiais foi a maior ocorrência de C. rugosa, aspecto este já discutido anteriormente. Ao avaliar-se as tendências de isolamento das cinco principais espécies encontradas em diferentes materiais biológicos ao longo do nosso estudo, observou-se que não houve mudança na freqüência de ocorrência das cinco principais espécies de Candida: C. albicans, C. tropicalis, C. glabrata, C. parapsilosis, e C. krusei. Em relação aos períodos avaliados, pode-se notar que as amostras de C. glabrata mostraram transitório aumento na freqüência em 2002, mas retornou aos níveis basais na casuística de 2003. Apesar de diversos estudos nos EUA registrarem maior incidência de infecções por C. glabrata nos hospitais devido ao aumento do consumo de azólicos, esta parece DISCUSSÃO 69 ainda não ser a realidade observada em nossos hospitais (Pfaller et al., 2003; Pfaller et al., 2002; Pfaller et al., 2004a, Sanguinetti et al., 2005). Tendo em vista as vantagens operacionais dos ensaios de discodifusão pudemos avaliar o perfil de susceptibilidade a fluconazol e voriconazol de um universo bastante significativo de cepas. Este é o maior estudo já realizado em nosso meio utilizando metodologia padronizada pelo NCCLS M44-A (2004) para avaliar a ocorrência de resistência de espécies de Candida frente a azólicos. Os resultados dos ensaios de disco-difusão com fluconazol e voriconazol utilizando a cepa-controle C. albicans (ATCC90028) obtidos neste estudo mostraram excelente reprodutibilidade em relação a técnica utilizada, sendo os resultados dos halos inibitórios obtidos compatíveis com aqueles sugeridos pelo documento do NCCLS M44-A (2004). Estes achados comprovam que os testes foram realizados em ensaios bem padronizados, com confiabilidade nos padrões de qualidade. No presente estudo, houve variação significativa dos resultados qualitativos de susceptibilidade a fluconazol em função das espécies avaliadas. As amostras de C. albicans, C. parapsilosis e C. tropicalis apresentaram diâmetro dos halos inibitórios maiores, resultado este que sugere alta susceptibilidade destas cepas a fluconazol. Já, para os isolados de C. glabrata, C. krusei e C. rugosa os halos obtidos apresentaram menores diâmetros, dado compatível com susceptibilidade reduzida destas espécies a fluconazol. Estes achados são compatíveis com os resultados obtidos na maioria das séries avaliadas (Meis et al., 2000; Colombo et al., 2002; Rubio et al., 2003; Matar et al., 2003; Bedout et al., 2003). DISCUSSÃO 70 Meis et al. (2000) realizaram estudo para determinar o perfil de susceptibilidade a fluconazol pelo método de disco-difusão de 20.900 isolados clínicos de Candida spp. provenientes de 40 hospitais em 26 países. Os resultados mostraram que os isolados mais susceptíveis a fluconazol pertenciam as espécies de C.albicans, C. parapsilosis e C. tropicalis. Já em relação as amostras de C. glabrata, C. rugosa e C. krusei foi verificado menor susceptibilidade a fluconazol. Em estudo de vigilância de resistência desenvolvido por Colombo et al. (2002) foi avaliado o perfil de susceptibilidade a fluconazol pelo método de disco-difusão de 1.784 isolados clínicos de Candida spp. provenientes do Hospital São Paulo e Hospital e Maternidade Santa Marcelina, Brasil. Através deste trabalho pode-se observar que as amostras de C. albicans (994), C. tropicalis (273) e C. parapsilosis (200) foram susceptíveis a fluconazol. Já os isolados de C. glabrata e C. krusei apresentaram maiores taxas de SDD/R a fluconazol. Rubio et al. (2003) analisaram a susceptibilidade a fluconazol pelo método de disco-difusão frente a 150 isolados clínicos de Candida spp. provenientes do Hospital Clínico em Lozano Blesa (Espanha) através do Programa Biomic. Entre os isolados avaliados, foi observado que C. albicans, C. parapsilosis e C. tropicalis apresentaram susceptibilidade a fluconazol. Em relação as amostras de C. glabrata e C. krusei, pode-se notar menor susceptibilidade a fluconazol. Matar et al. (2003) determinaram estudo para avaliar a susceptibilidade a fluconazol pelo método de disco-difusão testando 400 isolados de Candida spp.. Os autores observaram que as amostras de C. albicans (205), C. tropicalis (56) e C. parapsilosis (66) apresentaram susceptibilidade a fluconazol. Para os isolados de C. glabrata (39) e C. krusei (24) houve susceptibilidade reduzida a este antifúngico. DISCUSSÃO 71 Em estudo de Bedout et al. (2003) foram avaliadas 2.139 amostras de Candida spp. pelo teste de disco-difusão a fluconazol através do Programa Biomic, em hospitais da Colômbia, Equador e Venezuela. Os resultados mostraram que as 1.233 amostras de C. albicans, 206 de C. parapsilosis e 163 de C. tropicalis foram susceptíveis a fluconazol. Para os 53 isolados de C. glabrata e 33 de C. krusei houve menor susceptibilidade a fluconazol. Através dos resultados dos trabalhos citados anteriormente, pode-se observar concordância com os dados obtidos no presente estudo, havendo maior susceptibilidade frente a isolados de C. albicans, C. parapsilosis e C. tropicalis, em contrapartida com as amostras de C. glabrata, C. rugosa e C. krusei que apresentaram menor susceptibilidade a fluconazol. Em relação aos resultados quantitativos do perfil de susceptibilidade a fluconazol referentes ao nosso estudo, pode-se verificar que as amostras de C. albicans, C. parapsilosis e C. tropicalis apresentaram valores de CIM90 ≤ 5µg/mL. Os isolados de C. glabrata apresentaram valores de CIM90 ≤ 28,73 µg/mL. Já as amostras de C. rugosa e C. krusei demonstraram valores de CIM90 ≥ 64 µg/mL. Estes achados são compatíveis com os valores obtidos em séries anteriores. Através dos resultados obtidos neste estudo, é possível afirmar que as taxas de SDD/R para C. albicans, C. tropicalis e C. parapsilosis em nosso estudo foram de 0,6%/1,4%, 1,4%/0,3% e 1,0%/1,8%, respectivamente. Estes dados são compatíveis com as demais séries, onde as taxas de SDD/R para estas três espécies foram sempre ≤ 2% (Colombo et al., 2003b; Pfaller et al., 2002; Pfaller et al., 2003; Goldani, Mario, 2003). DISCUSSÃO 72 A porcentagem de SDD/R para amostras de C. glabrata foram de 2,2%/5,6%, sendo que nos demais estudos há variação do perfil de susceptibilidade dependendo da região analisada. Nos EUA e Europa as taxas de SDD/R para este isolado atingem 31%/9% (Ostrosky-Zeichner et al., 2003; Rajjeh et al., 2004; Pfaller et al., 2004f; Sanguinetti et al., 2005). Isolados de C. krusei apresentaram taxas de SDD/R de 41,5%/26,4% e 7,2%/57,9% sendo nas demais séries de 45%/30% (Bille et al.,1997; Resende et al., 1999; Ostrosky-Zeichner et al., 2003; Pfaller et al., 2003). Na tentativa de avaliar mudanças de comportamento no perfil de susceptibilidade a fluconazol ao longo de 6 anos, comparou-se a prevalência de cepas SDD/R a fluconazol em dois períodos diferentes: de 1998 a 2000 e 2001 a 2003. Nesta análise notou-se diminuição aparente de resistência a fluconazol para as amostras de C. krusei e C. glabrata no período em estudo. Entretanto, mais do que mudança real no padrão de susceptibilidade a estes agentes, acreditamos que esta mudança esteja relacionada a limitações do tamanho amostral destas cepas, já que para C. krusei o número testado nos dois períodos foi pequeno (período 1 – 28 cepas, período 2 - 25 cepas). Em relação a C. glabrata, houve diferença significativa no número de amostras nos dois períodos avaliados: 93 amostras no período 1 versus 405 isolados no período 2. Pfaller et al. (2004a) desenvolveram estudo de 10 anos para avaliar o perfil de susceptibilidade a fluconazol frente a 6082 isolados de hemoculturas provenientes de 250 centros médicos em 32 países no período de 10 anos. Pode-se observar que as amostras de C. albicans, C. parapsilosis e C. tropicalis apresentaram baixa variação de susceptibilidade, mantendo-se susceptíveis de todo o período de estudo, com taxa de resistência sempre inferior a 3%. Em relação a amostras de C. glabrata os autores observaram redução nos níveis de resistência entre 1999 e 2000, com retorno a taxas de resistência de 7% em 2001. Diferente da realidade dos EUA e Europa, os dados obtidos em nosso estudo não apontam para maior ocorrência de resistência a C. glabrata. Em análise recente realizada por Hazen et al. (2003) DISCUSSÃO 73 avaliando a susceptibilidade a fluconazol frente a 22.111 amostras de Candida spp. do Brasil, foi observado estabilidade dos níveis de resistência ao longo do período de 1997 a 2001. Voriconazol faz parte de uma nova classe de antifúngicos azólicos, apresentando amplo espectro de ação sobre patógenos tais como Aspergillus spp., Candida spp. incluíndo cepas de C. krusei e C. glabrata resistentes a fluconazol e também Cryptococcus spp. (Johnson, Kauffman, 2003; Ostrosky-Zeichner et al., 2003; Greer, 2003; Kullberg et al., 2005). Em relação aos resultados qualitativos frente a voriconazol, houve também variação significativa de susceptibilidade em relação as amostras testadas. Os isolados de C. albicans, C. parapsilosis, C. glabrata e C. tropicalis apresentaram diâmetros dos halos inibitórios maiores. C. krusei e C. rugosa apresentaram menores diâmetros de halo, em relação às espécies mais susceptíveis. Estes resultados são similares aos dados encontrados na literatura (Pfaller et al., 2004a; Pfaller et al, 2005). Pfaller et al. (2002) avaliaram 6970 isolados clínicos de Candida spp. provenientes de 200 centros médicos no mundo todo, incluíndo 80% dos isolados recuperados de hemoculturas realizados entre 1993 a 2001. Os autores concluíram que 90% das amostras avaliadas foram inibidas por voriconazol na concentração de até 0,25µg/mL. Vale ressaltar que 92% dos isolados de C. glabrata e 99% de C. krusei também foram inibidos por este antifúngico até a concentração de 1,0 µg/mL. Pfaller et al. (2003) determinaram a susceptibilidade a voriconazol pelo teste de disco-difusão a voriconazol frente a 1.586 isolados de Candida spp. provenientes de centros monitorados pelo Programa Artemis. Os autores observaram que as amostras de C. albicans, C. parapsilosis e C. tropicalis DISCUSSÃO 74 apresentaram perfil susceptível a voriconazol. Em amostras de C. glabrata foram observados 93% de cepas susceptíveis e para isolados de C. krusei ocorreram 100% de cepas susceptíveis a este antifúngico. Pfaller et al. (2005) desenvolveram estudo de vigilância para avaliar o perfil de susceptibilidade a voriconazol pelo método de disco-difusão de 2.934 isolados de Candida spp. provenientes de 54 centros participantes do projeto Artemis na América Norte, América Latina, Europa, África e Ásia. Os autores observaram que as amostras de C. albicans, C. parapsilosis e C. tropicalis demonstraram alta susceptibilidade a voriconazol. Em relação a C. glabrata apenas 1,5% das amostras foram SDD e 2,2% resistentes a este antifúngico. C. krusei apareceu com 1,2% de cepas SDD, não sendo detectada resistência a voriconazol. Comparando-se os dados de susceptibilidade das amostras de Candida spp. obtidas em ensaios realizados com fluconazol e voriconazol é substancial e relevante a diferença encontrada entre os antifúngicos avaliados. Com exceção das amostras de C. rugosa, todas as demais espécies avaliadas apresentaram valores de CIM90 ≤ 0,5µg/mL para voriconazol. Já em relação a fluconazol pode-se observar que todas as amostras apresentaram valores de CIM90 ≥ 1,8µg/mL, sendo que os isolados de C. glabrata e C. parapsilosis apresentaram CIM90 ≥ 9,4µg/mL, para as amostras de C. guilliermondii foram observados CIM90 ≥ 36,9µg/mL e finalmente para as amostras de C. krusei e C. rugosa foram apresentados valores de CIM90 ≥ 146,8 µg/mL. Através deste trabalho pode-se concluir que voriconazol apresentou melhor atividade in vitro que fluconazol nas amostras de Candida spp avaliadas. Este dado é compatível com vários estudos prévios, onde foi encontrado melhor atividade antifúngica a voriconazol frente a espécies de Candida, quando comparado a fluconazol (Cuenca-Estrella et al., 2002b; Duran et al.,2003; Hajeh et al.,2004). DISCUSSÃO 75 Este estudo permite sugerir que a grande maioria das infecções fúngicas por espécies de Candida em diferentes fluídos biológicos é causada por C. albicans ou espécies de Candida não-albicans susceptíveis a fluconazol. Apesar de alguma variação na prevalência de diferentes espécies de Candida não-albicans em diferentes fluídos biológicos, a ocorrência de resistência a fluconazol foi restrita a apenas 5,8% do total de amostras avaliadas. Não houve mudanças significativas no comportamento de distribuição de espécies e ocorrência de resistência a fluconazol no período de 1998 a 2003. Ao final, verificou-se que voriconazol apresentou maior atividade in vitro em relação a fluconazol, mesmo em cepas fluconazol resistentes. Apesar dos dados apresentados sugerirem que fluconazol ainda é droga segura para terapêutica da maioria dos casos de candidíase superficial e/ou invasiva, é fundamental que estudos de vigilância epidemiológica sejam realizados continuamente para surpreender mudanças no perfil microbiológico em função das práticas terapêuticas. 6. CONCLUSÃO __________________________________ CONCLUSÕES 77 1. Em nosso estudo, das 4.625 espécies de Candida testadas, C. albicans foi a espécie prevalente em todos os fluídos biológicos avaliados. 2. Entre as leveduras de Candida não-albicans, as espécies mais freqüentes foram C. tropicalis, C. glabrata e C. parapsilosis em ambos os períodos avaliados. Entretanto, houve alguma diferença no predomínio de espécies de Candida não-albicans nos diferentes fluídos biológicos avaliados. Entre os isolados de hemoculturas testados ocorreu prevalência de isolados de C. parapsilosis, seguido por C. tropicalis. Já na urina houve a prevalência de C. tropicalis, seguido por C. glabrata. 3. Isolados com susceptibilidade dose-dependente (SDD) e resistência a fluconazol foram pouco freqüentes, ocorrendo em apenas 2,0 e 5,8% das amostras, respectivamente. As espécies com maior porcentagem de isolados SDD/R foram C. glabrata, C. krusei e C. rugosa. 4. Voriconazol apresentou melhor atividade in vitro comparado a fluconazol, mesmo em cepas fluconazol-resistentes. 5. Não houve aumento de resistência a fluconazol e voriconazol nas amostras de Candida spp. testadas ao longo do período avaliado. 7. ANEXOS __________________________________ ANEXOS Anexo 1. Ensaios de disco-difusão com discos de voriconazol frente a amostras de Candida spp. 35mm 79 fluconazol e 36mm Fig 4. Ensaio de disco-difusão com discos de fluconazol e voriconazol frente a amostra de C. albicans apresentando diâmetros dos halos inibitórios com perfil susceptível aos antifúngicos testados 15mm 21mm Fig 5. Ensaio de disco-difusão com discos de fluconazol e voriconazol frente a amostra de C. glabrata apresentando diâmetro dos halos inibitórios com perfil de susceptibilidade dose-dependente (SDD) aos antifúngicos testados ANEXOS 80 10mm 12mm Fig 6. Ensaio de disco-difusão com discos de fluconazol e voriconazol frente a amostra de C. rugosa apresentando diâmetros dos halos inibitórios com perfil resistente aos antifúngicos testados 6mm 13mm Fig 7. Ensaio de disco-difusão com discos de fluconazol e voriconazol frente a amostra de C. krusei apresentando diâmetros dos halos inibitórios com perfil resistente aos antifúngicos testados 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 82 Almirante B, Rodriguez D, Park BJ, Cuenca-Estrella M, Planes AM, Almela M, Mensa J, Sanchez F, Ayats J, Gimenez M, Saballs P, Fridkin SK, Morgan J, Rodriguez-Tudela JL, Warnock DW, Pahissa A. Barcelona Candidemia Project Study Group. Epidemiology and predictors of mortality in cases of Candida bloodstream infection: results from population-based surveillance, Barcelona, Spain, from 2002 to 2003. J Clin Microbiol. 2005; 43(4):1829-1835. Antunes AG, Pasqualato AC, Diaz MC, d’Azevedo PA, Severo LC. 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Objectives: 1) Evaluate the distribution of Candida species identified in different biological materials obtained from hospitalized patients in 2 tertiary hospitals. 2) Describe the antifungal susceptibility profile of different Candida species by the disk diffusion technique, using fluconazole and voriconazole disks. 3) Assess the prevalence of fluconazole resistant Candida spp. isolates. Methods: All clinical samples of Candida species originated from various types of biological material, between January 1998 to December 2003 in 2 tertiary hospitals in São Paulo were evaluated in this study. After initial screening for Candida albicans in chromogenic medium CHROMagar® Candida, the samples of non-albicans Candida species were identified by analysis of their biochemical profiles in the commercial system ID 32C and supplemented with microcultive. In vitro susceptibility to fluconazole and voriconazole were evaluated by according to the NCCLS M44-A disk diffusion method that was determination of inhibition diameters was read and interpreted automatically by the BIOMIC® image-analysis plate reader system. Results: A total of 4,625 yeast isolates were tested, including the following species: 2,393 C. albicans (51,7%), 658 C. tropicalis (14,2%), 503 C. glabrata (11%), 495 C. parapsilosis (10,8%), 292 C. rugosa (6,3%), 195 C. guillermondii (4,2%), 53 C. krusei (1.1%) e 36 Candida spp. The analyses of the qualitative results of susceptility profile to fluconazole, C. albicans, C. parapsilosis and C. tropicalis showed large inhibition zones diameters, suggesting high susceptibility of these strains to this antifungal. Isolates of C. glabrata, C. rugosa and C. krusei exhibited smaller diameters, compatible with the reduced susceptibility of these species to fluconazole. Regarding voriconazole, the isolates of C. albicans, C. parapsilosis, C. tropicalis and C. glabrata showed large inhibition zones diameters. However, C. krusei and C. rugosa isolates generated smaller inhibition zones diameters than other species more susceptible. In the analyses of the quantitative results of susceptility profile to fluconazole, a percentage of SDD/R to the isolates evaluated were 2,0% and 5,8%, respectively. The species that exhibited the highest rate of DDS/R were C. glabrata, C. krusei and C. rugosa. Regarding voriconazole, the majority of all yeast isolates tested showed CIM90 ≤ 0,5 µg/mL, except the samples of C. rugosa. Conclusion: 1. Among 4,625 yeast cultures evaluated, C. albicans was the species with the greatest frequency in all biological materials evaluated. 2. Among non-albicans Candida species, C. tropicais, C. glabrata and C. parapsilosis were most frequently in both the period assess. 3. DDS/R were low frequency, occurring in 2,0% and 5,8% of the samples, respectively. The incidence of species judged as DDS/R to fluconazole was C. glabrata, C. krusei and C. rugosa. 4. Voriconazole exhibited better activity in vitro than fluconazole, even in isolates resistant-fluconazole. 5. The resistance of fluconazole and voriconazole did not increase in the isolates of Candida spp. during the evaluated period.