JURUTI SUSTENTÁVEL: UMA PROPOSTA DE MODELO PARA MINERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL Universidade Federal do Pará Curso de Direito - Prática de Processo Ambiental Auditório José Acúrcio Cavaleiro de Macedo Belém, 24 de agosto de 2010 FABIO ABDALA Cientista Político, PhD em Relações Internacionais Gerente de Sustentabilidade – Negócios de Mineração, Alcoa AL&C O que é? Um modelo de implementação de uma agenda de desenvolvimento local sustentável face à instalação da Mina de Bauxita de Juruti/ Pará. Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Sumário • Localização do Município e Mina de Juruti • Contexto da Implantação da Mina • Questões-chave de sustentabilidade • Expectativas • Modelo Juruti Sustentável: visão geral • Conselho Juruti Sustentável • Indicadores de Sustentabilidade • Fundo Juruti Sustentável • Resultados Iniciais, Benefícios, Impactos • Desafios Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Juruti Rio Amazonas Porto PA Socó Ferrovia Rodovia Lavra e Beneficiamento PAE Juruti Velho Município de Juruti – Oeste Pará Mina de Juruti Área: 8.304 km2 (IBGE) População: 34.338 habitantes (IBGE/2007) – 65% rural (150 comunidades), 35% urbana Mina de Juruti: Porto, Ferrovia (55km) e Beneficiamento de Bauxita. Reserva: 700 milhões ton. Um dos principais projetos de crescimento da Alcoa. 55 comunidades na Área de Influência Direta Renda per capita: R$ 55,18 (PNUD) Localização: região com alta capacidade de geração de energia e logística favorável. IDH: 0,63 – 10º pior no Pará (PNUD, 2000). Plataforma potencial para produção. Base econômica: agricultura de subsistência (mandioca), pesca, pecuária e extrativismo. Capacidade produtiva inicial: 2,6 milhões toneladas, anualmente. Investimento na Mina de Juruti: R$ 2,9 Bilhões. Instabilidade Fundiária: PAs e PAEs Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Contexto da Implantação da Mina Tensão comunidade-empreendedor-governo local Implantação da Mina de Juruti fragilidades sociais e institucionais se explicitaram de forma contundente; Vulnerabilidades: fragilidade dos ecossistemas florestais, ausência e limites dos poderes públicos. Mineradora não estava devidamente preparada para lidar com conflitos sociais e ambientais que eclodiam sob a liderança de comunidades e orgãos públicos Risco à licença para se instalar e operar Ausência de espaços de diálogo, negociação, solução de controvérsias; Risco de judicialização: Ação Civil Pública, MPE ; Movimento “Fora Alcoa” liderado pela sociedade civil; Crise no relacionamento com a Prefeitura e Câmara Limitada “massa crítica” coletiva para dar rumo ao que aflorava “Vão explorar a bauxita, deixar um buraco e ir embora?” Quê fazer com a renda mineral produzida pela instalação da Mina? Como esta renda seria investida em setores estratégicos do desenvolvimento local e como beneficiaria as comunidades? Qual legado seria deixado para as futuras gerações? Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Questões-chave • Como evitar o legado “Boom-Colapso”? : municípios que experimentaram décadas de boom econômico e de bem estar resultante da explotação mineral, colapsaram após o fechamento da mina, gerando passivos socioambientais e tornando-se símbolo de insustentabilidade da mineração de grande porte; “Boom-Colapso move a fronteira e catalisa o desmatamento e a degradação ambiental na Amazônia. Para enfrentar esse ciclo é preciso “políticas de grande alcance” para ordenar o território e mudar a base da economia. Solução requer: economia de mercado forte pró sustentabilidade, capacidade de negociação e forte presença do Estado brasileiro.” (VERISSÍMO, Imazon, 2009) •Trajetória boom-colapso • Trajetória com governança. • Licença Social é um elemento-chave para sustentabilidade da operação; • Longo prazo: empreendimentos não mais se viabilizam mais como enclave: "ilha de prosperidade" convivendo em um ambiente de pobreza e precariedade institucional. É preciso, portanto, gerar múltiplos benefícios; • Modelo Juruti Sustentável: pensado e desenhado a partir do desafio central que se apresenta em Juruti: “ “ (...) a inserção de um empreendimento de grande porte em uma região de alta biodiversidade, organização social e poder público despreparados para enfrentar um horizonte de grandes e rápidas mudanças, e a falta de recursos financeiros para atender as demandas da população. Nesse cenário, tal inserção traz repercussões potencialmente expressivas e de longo prazo sobre uma ampla gama de atores, com enormes diferenças sociais, econômicas, políticas e históricas, bem como sobre o meio ambiente” (MONZONI, FGV 2008). Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Expectativas Geração de benefícios mútuos para partes interessadas: social, público e privado Benefícios para as empresas: • Reduzem as tensões com a comunidades, os governos (local e regional) e outras partes interessadas, contribuindo para a licença de operação; • Positivo para marca e reputação da empresa, do nível local ao global, identificando-a como líder de um modelo inovador que busca a sustentabilidade. Benefícios sociais para a presente geração: • Participação em decisões estratégicas sobre a alocação dos investimentos socioambientais das empresas, conectando-os com os do poder público, que por sua vez se beneficiaria dos investimentos em desenvolvimento institucional e dos instrumentos de planejamento e participação social, providos pelo Conselho e Indicadores; Benefícios ambientais derivados dos investimentos em conservação e uso sustentável dos recursos naturais, por meio do Fundo. Benefícios para gerações futuras: parte da renda mineral seria destinada a um fundo patrimonial, gerando um legado financeiro (poupança) para além daquilo que é investido no curto prazo. Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Modelo Juruti Sustentável Premissas (conceituais): O modelo baseia-se em um tripé de intervenção: 1. A concepção de espaços de articulação social, possibilitando a participação ampla e democrática da sociedade na construção da agenda, rumo a um futuro comum. 2. A abordagem de território, que considera o município hospedeiro como um pólo gerador de desenvolvimento nessa região. 3. O diálogo com a realidade, que molda a agenda frente às demandas locais, que customiza a agenda frente às políticas públicas regionais e que contextualiza a agenda dentro de iniciativas globais e empresariais voltadas à sustentabilidade. Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 COLEGIADO 15 CONSELHEIROS Criado em 2008 “Espaço permanente de diálogo e ação coletiva entre organizações civis, poder público e empresas orientadas para o desenvolvimento sustentável de Juruti.” ASSEMBLÉIA GERAL Conferências das Partes (Empresas, Poderes Públicos e Organizações Civis) COORDENAÇÃO & SECRETARIA EXECUTIVA Pluralismo e Diversidade Foco em temas-chave: CTs. Agenda 21 em curso: Carta Juruti Sustentável, maio, 2010. DESENVOLVIMENTO RURAL, ECONOMIA & TRABALHO Comiitê de Ética EDUCAÇÃO SAÚDE CULTURA & TURISMO Rede de Bases Comunitárias AMBIENTE Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 SEGURANÇA INFRAESTRUTURA & SANEAMENTO CIDADANIA & DIREITOS COLEGIADO Sociedade Civil Titulares Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Juruti - STTR Suplentes Pastoral da Criança Colônia de Pescadores Z-42 Associação Beneficente do Bom Samaritano da Assembléia de Deus Associação de Mulheres Trabalhadoras de Juruti - AMTJU Cooperativa Mista dos Profissionais de Embarcações Marítimas do Lago Juruti Velho - CMPEMJV Conselho Tutelar Associação Comercial e Empresarial de Juruti - ACEJ APRAPANE – Associação dos Produtores Rurais do Assentamento Nova Esperança APRAS – Associação dos Produtores Rurais do Assentamento Socó I ACOGLEC – Associação Comunitária da Gleba Curumucuri Associação Amiga das Crianças e Adolescentes - ACA Sindicato dos Produtores Rurais - SPR Em Substituição. Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Pesada e Afins do Município de Juruti - SINTCOPEMJ Em Substituição. Associação dos Deficientes de Juruti Em Substituição. Prefeitura Municipal Câmara Municipal Emater Alcoa GRSA Hotel Garcia Poder Público Polícia Militar Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará - ADEPARÁ Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio Empresas JNS Em Substituição. CONJUR Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Confiança é alma do negócio. – Antecedentes críticos: ambiente belicoso e conflitivo; – Confiança é o que permite o diálogo, que por sua vez é a base da cooperação e ação coletiva. Cooperação, Motivação e Transparência são fundamentais para o sucesso do modelo Juruti Sustentável; – Metodologias participativas, colaboração, interação. – Cooperação não elimina conflitos • Organiza as diferenças • Endereça soluções que sejam positivas para as diversas partes interessadas: objetivo é o jogo onde todos ganham. – Transparência: • Acesso a informações qualificadas sobre os planos do empreendimento; • Comunicação: ir além da mera divulgação empresarial. Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Necessário aprender a lidar com novas culturas, diversidades e temporalidades; – Tempo do caboclo X tempo da obra; – Cultura empresarial X comunidades tradicionais, ribeirinhas; – Respeito às “visões de mundo” locais; Coerência entre intenções e gestos – Conexões entre projetos derivados do licenciamento e iniciativas voluntárias, com os planos locais de desenvolvimento e políticas públicas. – Alinhamento dos fornecedores e cadeia de valor como o modelo proposto Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Indicadores de Sustentabilidade oficinas + reuniões comunitárias + consulta internet + audiência pública Presencial: ~ 600 participantes de 115 comunidades e 71 instituições Internet: + 90 contribuições Primeiros Resultados Outubro, 2009 Acesse: www.fgv.br/ces/juruti/sistema Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Indicadores: aspectos socioambientais Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Indicadores: impactos na geração de renda Questão-chave: Qualidade do uso da renda mineral: • Investimentos Estratégicos •Poupança e Patrimônio Modelo Juruti Sustentável Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Fundo Juruti Sustentável: Formação de Capitais Humano, Social, Econômico e Natural Ferramenta de financiamento de longo prazo. Agente promotor e catalisador: alavanca para o desenvolvimento local; Complementa, não substitui, o poder público como financiador de políticas públicas; Considera impactos, desequilíbrios e perspectivas de estabilidade de Juruti. Fundo dispõe de R$ 2 milhões, doados pela Alcoa (seed money). Primeiro Edital 2009/2010 – 21 projetos financiados, R$ 550 mil. Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Primeiro Edital: 2009/2010 - TIPO 1 – até R$ 10 mil 1. 2. Cheiro Verde; Apoio aos Avicultores da Comunidade de São José do Curumucuri 3. Estruturação e Adequação de Casa de Farinha (Juruti Velho); 4. Apoio aos Produtores de Hortaliças Orgânica da Comunidade de Araçá-Preto; 5. Criação de Tambaqui em Tanques-rede (Juruti Velho); 6. Geração de renda para a produção Familiar Rural através da criação de galinha poedeira da comunidade de São Pedro 7. Criação de Abelhas Nativas da comunidade de São Brás; 8. Transformando Linhas em Idéias Concretas ; 9. Viva Vida:Corte, costura e Fabricação de Redes; 10. Amarrando Sonhos. Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Primeiro Edital: 2009/2010 - TIPO 2 – até R$ 50 mil 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Acordo de Pesca Lago Grande e Curuaií MOPEBAM; Puxirum dos Curumins - I Encontro do Clubinho da Tartaruga – PRÓ-TARTARUGA; Juruti Pescados – ASS. PAE BALAIO; Pesca Milagrosa:Criação de Tambaqui em Tanques-Rede – ASS. PAE N. ESPERANÇA; Programa 5S - ACEJ; Juruti Da rua à Cultura – ASS. BAIRRO STA. RITA; Construindo e Alimentando com Qualidade – ASS. ASSEMBLEIA DE DEUS; Tucumã - ASS. ARTESÃOS. Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Resultados • Conselho • Indicadores • Fundo Cooperação, Diálogo e Articulação Conhecimento, Massa Crítica Projetos-Piloto • Os impactos e benefícios deste tipo de abordagem corporativa, em parceria com comunidades e governos, podem ser observados no curto prazo, mas serão mais consistentes e duráveis no médio e longo prazos. Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Benefícios Os benefícios podem ser internos e externos ao empreendimento. Internos: • antecipação, gestão e (por conseqüência) redução de riscos sociais e institucionais decorrentes de conflitos gerados pelo empreendimento; fortalecimento da licença para operar; • satisfação dos colaboradores em fazer parte de uma empresa reconhecida positivamente pela sociedade e seus pares no mercado; • fortalecimento da marca e reputação da empresa no mercado; Externos: • Investimento social privado e responsabilidade corporativa alinhados com os objetivos de desenvolvimento local estabelecidos pela sociedade e governo locais, gerando convergências e ganhos de escala; • Espaço de diálogo direto de stakeholders com a empresa, transparente, sem clientelismo; c • Criação de legado institucional e financeiro gerado pela renda mineral para além do fechamento da mina. Resultados de curto prazo • Redução de conflitos, aumento de confiança entre empresas, sociedade e governo, e mecanismo para solução de controvérsias; • Promoção de iniciativas conjuntas e mobilização de parcerias (públicas e privadas, locais, regionais e nacionais) em favor da sustentabilidade local; • Aumento da responsabilidade social corporativa e do investimento social privado; • Aumento da transparência pública sobre os investimentos privados, orçamento e uso de recursos públicos; • Encaminhamento das demandas sociais por serviços públicos aos órgãos de governo, permitindo direcionar investimento social privado de forma complementar e estratégica. Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Impactos No médio e longo prazos se destacam: • Governança participativa do território; • Aumento da qualidade de vida e dos níveis de desenvolvimento institucional e social; • Maior presença do Estado, com aumento do controle, fiscalização e serviços públicos; • Retirada progressiva dos investimentos do empreendimento mineral no provimento de serviços públicos típicos de Estado; • Inclusão social e econômica de comunidades; • Desenvolvimento de cadeias de valor locais (agroindustriais, florestal e de serviços), com maior autonomia local em relação à cadeia mineral; • Estabelecimento de unidades de conservação de proteção integral e uso sustentável; • Fundo patrimonial para investimentos no desenvolvimento local; • Fechamento de minas com menor impacto na sociedade local. Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Desafios: 1 - Fortalecer e ampliar parcerias social-público-privada Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Desafios: 2 – Modelo Juruti Sustentável – – – – Consolidação do Tripé: mais do que projeto, é processo. Ausência do Poder Público. Fragilidades Institucionais: poder público e sociedade local. Temas-chave: Energia e Cidadania. Desafios: 3 – Sustentabilidade da Mina – Respeito aos princípios e práticas de sustentabilidade: • Mudanças na cultura empresarial: negociações com comunidades tradicionais, alinhamento com planos de locais de desenvolvimento • Alinhamento de práticas das empresas contratadas Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010 Informações Adicionais Conselho Juruti Sustentável: www.conjus.org.br; Fundo Juruti Sustentável: www.funbio.org.br; Indicadores de Juruti: www.fgv.br/ces/juruti/sistema/; E-mail: [email protected] Grato pela oportunidade de apresentar este trabalho para vocês! Juruti Sustentável Abdala UFPA/Direito 24/08/2010