SBS Norte 2010 1 Modelo Juruti Sustentável – Fabio Abdala II Encontro da Sociedade Brasileira de Sociologia da Região Norte 13 a 15 de setembro de 2010, Belém (PA) Grupo de Trabalho 01 - Estado, mercado e meio ambiente Título: Modelo Juruti Sustentável: um caso em busca de governança negociada entre comunidades, empresas e poder público no “faroeste” paraense. Fabio Abdala, cientista político, doutor em relações internacionais ([email protected]) SBS Norte 2010 2 Modelo Juruti Sustentável – Fabio Abdala INTRODUÇÃO O Juruti Sustentável propõe-se como Figura 1 - Localização do Município de Juruti /Pará modelo de implementação de uma agenda de sustentabilidade para o Município de Juruti, localizado no extremo Oeste do Estado do Pará, face à instalação pela Alcoa da Mina de Bauxita de Juruti, um empreendimento de mineração de grande porte na região (ALCOA, 2009). Tal modelo pode ser entendido como um experimento de governança pluralista ao promover processos decisórios com múltilplos atores, do local ao global, que buscam realizar planos de desenvolvimento baseados em novos paradigmas de sustentabilidade. Tais sistemas de governança são exigentes em capacidades de análise sistêmica, de mobilização e facilitação de grupos, bem como habilidades para moderação conflitos, geração de agendas positivas e solução de controvérsias, em meio a um processo intenso de conflitos de interesses e de projetos políticos. O presente trabalho resulta, sobretudo, da observação participante deste autor; olhar sobre qual se buscou mediar com a breve análise bibliográfica. Portanto, há o risco do pouco distanciamento do autor frente ao objeto de análise. Por outro lado, conta com a vantagem do pesquisador participante, engajado no experimento de inovação por sustentabilidade na mineração. Destaca-se também que este trabalho é de inteira responsabilidade do autor e não representa posicionamento da empresa Alcoa. CONTEXTO DA INSTALAÇÃO DA MINA: AFLORAM RISCOS E CONFLITOS A Mina de Juruti constitui um dos principais projetos de crescimento da Alcoa na área de mineração globalmente, cujo investimento anunciado foi de R$ 2,9 bilhões. Localizada em área com reservas Figura 2 - Localização da Mina de Juruti SBS Norte 2010 3 Modelo Juruti Sustentável – Fabio Abdala estimativas de 700 milhões toneladas de bauxita, a Mina é formada por três estruturas principais: 1) área de lavra e Juruti Rio Amazonas PA Socó beneficiamento primário; 2) ferrovia; e 3) porto, cuja capacidade produtiva inicial é de 2,6 milhões toneladas, Porto Ferrovia Rodovia anualmente. Posiciona-se como plataforma estratégica para produção de bauxita, destacando a capacidade potencial da área em geração Lavra e Beneficiamento PAE Juruti Velho de energia e logística favorável para futuras plantas das cadeias de alumina e alumínio. Empreendimentos minerários de grande porte na Amazônia são desafiados a superar os passivos sociais e ambientais históricos, onde o caso do colapso da Serra do Navio, após uma fase de 45 anos de boom econômico e de bem estar resultante da explotação de manganês no Amapá, tornou-se símbolo de insustentabilidade da mineração de grande porte (TOSTES, 2007). Sob o impacto dos novos paradigmas de desenvolvimento, a mineração enfrenta novos desafios: 1) a licença social é um elemento-chave para sua sustentabilidade, para além do requerido no processo formal de licenciamento ambiental; e 2) no longo prazo, os empreendimentos não se sustentariam como enclave, isto é, com "ilha de prosperidade" convivendo em um ambiente de pobreza e precariedade institucional. Requer-se a geração e distribui de múltiplos benefícios (ENRIQUEZ, 2007). Até 2006, o município contava com uma população de 25 mil habitantes, 60% em área rural (IBGE, 2007), com baixo Índice Desenvolvimento Humano, o 10º. pior IDH do Pará (PNUD,2000), ou seja, convivendo com baixa renda, e sem acesso a serviços sociais básicos (saúde e educação). Somava-se a isso a vulnerabilidade do ambiente amazônico, tanto pela fragilidade dos ecossistemas florestais, quanto pela ausência dos poderes públicos. Além disso, o empreendimento se instalou em área de acentuada instabilidade fundiária sobrepondo reivindicações da União, do Município, do Estado, de títulos SBS Norte 2010 4 Modelo Juruti Sustentável – Fabio Abdala privados e comunidades, cujos conflitos têm sido objeto de processos administrativos e judiciais de alta complexidade. Com a implantação da Mina de Juruti as fragilidades sociais e institucionais se explicitaram de forma contundente. A empresa, por sua vez, não estava devidamente preparada para lidar com conflitos sociais e ambientais que eclodiam sob a liderança de comunidades e órgãos públicos, inclusive colocando em risco a licença para se instalar e operar. Em 2006 e 2007 o MPE já promovia ação civil pública contra o empreendimento. No mesmo período as relações com a Prefeitura Municipal se deterioravam, e as comunidades realizaram diversos protestos contra o empreendimento, inclusive passeatas promovidas pelo Movimento 100% Juruti com o jargão "Fora Alcoa". A economia crescia junto com os problemas ambientais e urbanos decorrentes da Mina, e os críticos questionavam: o que fazer com a renda mineral produzida pela instalação da Mina? Como esta renda seria investida em setores estratégicos do desenvolvimento local e como beneficiaria as comunidades? Vão explorar a bauxita, deixar um buraco e ir embora? Qual seria a sustentabilidade de Juruti com a Mina, isto é, qual legado seria deixado para as futuras gerações? Perguntas com respostas precárias ou incompletas. Notava-se a falta de um espaço de diálogo entre as partes interessadas no desenvolvimento local, assim como percebia-se a ausência de "massa crítica" para dar rumo ao que aflorava. Com a implantação do tripé de sustentabilidade as partes interessadas investiram no dialogo e na geração de consensos, passaram a organizar as idéias na forma de planos de ação orientados para a sustentabilidade econômica, social e ambiental, assim como criaram meios para implementar as ações. PREMISSAS E TRIPÉ DE INTERVENÇÃO No modelo Juruti Sustentável, três premissas norteiam a construção da agenda de desenvolvimento local (MONZONI, 2008): SBS Norte 2010 5 Modelo Juruti Sustentável – Fabio Abdala 1. A concepção de espaços de articulação social, possibilitando a participação ampla e democrática da sociedade na construção da agenda, rumo a um futuro comum. 2. A abordagem de território, que considera o município hospedeiro como um pólo gerador de desenvolvimento nessa região. 3. O diálogo com a realidade, que molda a agenda frente às demandas locais, que customiza a agenda frente às políticas públicas regionais e que contextualiza a agenda dentro de iniciativas globais e empresariais voltadas à sustentabilidade. O modelo baseia-se em um tripé de intervenção que promove parcerias multiinstitucionais (poderes públicos, comunidades, organizações civis, empresas): Quadro 1 – Tripé do Modelo Juruti Sustentável Os componentes e finalidades deste tripé são os seguintes: 1. Conselho Juruti Sustentável: espaço permanente de diálogo e ação coletiva entre sociedade, governo e empresas, que discute o futuro comum de interesse público, prioriza ações e formula uma agenda de longo prazo. 2. Indicadores de Sustentabilidade: instrumentaliza o monitoramento do desenvolvimento de Juruti e entorno e alimenta o Conselho com informações qualificadas para tomada de decisões SBS Norte 2010 6 Modelo Juruti Sustentável – Fabio Abdala 3. Fundo Juruti Sustentável: complementa os financiamentos locais às ações de desenvolvimento a partir dos Indicadores priorizados pelo Conselho, e mobiliza recursos para gerar patrimônio financeiro para as presentes e futuras gerações. Segundo seus idealizadores, este modelo foi pensado e desenhado a partir do desafio central que se apresenta em Juruti: “a inserção de um empreendimento de grande porte em uma região de alta biodiversidade, organização social e poder público despreparados para enfrentar um horizonte de grandes e rápidas mudanças, e a falta de recursos financeiros para atender as demandas da população. Nesse cenário, tal inserção traz repercussões potencialmente expressivas e de longo prazo sobre uma ampla gama de atores, com enormes diferenças sociais, econômicas, políticas e históricas, bem como sobre o meio ambiente” (MONZONI, 2008: 8). Ao lado dos impactos socioambientais e econômicos do empreendimento mineral, a promoção do Juruti Sustentável seria uma estratégia de geração de benefícios mútuos para todas as partes interessadas: social, público e privado. EXPECTATIVAS DE BENEFÍCIOS Haveria benefícios para as empresas na medida em que se reduzem as tensões com comunidades, governos (local e regional) e outras partes interessadas, contribuindo para a licença de operação. Igualmente haveria benefícios para a imagem e reputação da empresa, do nível local ao global, identificando-a como líder de um modelo inovador que busca a sustentabilidade. Haveria benefícios sociais para a presente geração na medida em que participa das decisões estratégicas sobre a alocação dos investimentos socioambientais das empresas, conectando-os com os do poder público, que por sua vez se beneficiaria dos investimentos em desenvolvimento institucional e dos instrumentos de planejamento e participação social, providos pelo Conselho e Indicadores. Haveria benefícios ambientais derivados dos investimentos em conservação e uso sustentável dos recursos naturais, por meio do Fundo. SBS Norte 2010 7 Modelo Juruti Sustentável – Fabio Abdala Haveria benefícios para gerações futuras na medida em que parte da renda mineral seria destinada a um fundo patrimonial, gerando um legado financeiro (poupança) para além daquilo que é investido no curto prazo. GOVERNANÇA E MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO A governança do modelo se assenta na parceria entre organizações da sociedade civil, comunidades, governamentais e empresas, cujo Conselho Juruti Sustentável (CONJUS) é o espaço institucional privilegiado. Criado em 2008, trata-se de um espaço permanente de diálogo e ação coletiva entre parceiros orientados para o desenvolvimento sustentável de Juruti. O Colegiado diretor do CONJUS é formado por quinze membros, quais sejam: Social 1. Colônia Pescadores Z42 2. Pastoral da Criança 3. Conselho Tutelar 4. Sindicato dos Trabalhadores Rurais 5. Associação de Mulheres 6. Associação Comercial e Empresarial 7. Sindicato dos Produtores Rurais 8. Associação dos Deficientes de Juruti 9. Sind. Trabalhadores na Indústria da Construção Governo 10.Prefeitura 11.Câmara Municipal 12.Emater Empresas 13.Alcoa 14.GRSA 15.Hotel Garcia Quadro 2 – Colegiado Diretor do Conselho Juruti Sustentável O Conselho é caracterizado pelo pluralismo e diversidade de participantes. Está organizado em oito Câmaras Temáticas que tratam de temas-chave do município: Segurança, Questão Fundiária, Produção, Direitos, entre outros. Atualmente o CONJUS está em processo de elaboração da Agenda 21 de Juruti a partir dos resultados do diagnóstico gerado nos primeiros resultados dos Indicadores de Sustentabilidade (CONJUS, 2010). Os Indicadores de Sustentabilidade são resultado do sistema de monitoramento das dinâmicas de desenvolvimento de Juruti e entorno. Este sistema é realizado em parceria da Alcoa, com a Prefeitura e organizações civis locais, com apoio técnico da SBS Norte 2010 8 Modelo Juruti Sustentável – Fabio Abdala FGV, por meio do qual são registrados como era o município antes da chegada da Mina de Juruti bem como as recentes transformações, compondo uma espécie de “termômetro”, uma ferramenta para gestão do município. Para a FGV, por meio deste instrumento “é possível conhecer parte da história passada e presente do município. E principalmente, discutir o seu futuro. Os indicadores têm sido discutidos nos conselhos, nas escolas, nas comunidades, nas instituições, pelos governos e empresas, e se espera contribuir no planejamento das ações e dos investimentos públicos e privados no município” (FGV,2009: 7). O objetivo final é ajudar a população a ter conhecimento das transformações pelas quais ela vem passando, definir coletivamente os rumos desejados e avaliar os caminhos percorridos: reforçando as boas ações em curso ou, se necessário, corrigindo os rumos do seu desenvolvimento. Os primeiros resultados já estão publicados em livro de forma que os indicadores possam ser entendidos de forma didática. O sistema de informações também está 100% disponível para consulta na internet. Os Indicadores de Sustentabilidade permitem ao CONJUS orientar as linhas de ação do Fundo Juruti Sustentável (FUNJUS), que também constitui parceria entre a Prefeitura, organizações civis locais, a Alcoa (primeiro patrocinador) e o Banco do Pará, com apoio técnico do FUNBIO. O FUNJUS é ferramenta de financiamento de longo prazo orientado para o desenvolvimento sustentável do território incentivando a criação de valor em quatro capitais da sustentabilidade: humano, social, ambiental e produzido (econômico). Tratase de um agente promotor e catalisador, uma alavanca para o desenvolvimento local. Complementa e não substitui o poder público como financiador de políticas públicas. Diante das recentes transformações do município, considera impactos, desequilíbrios e perspectivas de estabilidade de Juruti (FUNBIO, 2010). Em fase piloto de implementação, no final de 2009, foi lançado o primeiro edital do FUNJUS por meio do qual está financiando 21 projetos comunitários, mobilizando R$ 550 mil, de um montante global atual de R$ 2 milhões. SBS Norte 2010 9 Modelo Juruti Sustentável – Fabio Abdala RESULTADOS INICIAIS Por meio do Conselho Juruti Sustentável foi possível iniciar a parceria social-públicoprivada como um espaço de cooperação e de busca de soluções conjuntas. Em 2008 elegeu-se a colegiado-diretor entre a Prefeitura, a Alcoa e o Movimento 100% Juruti. O nível de conflito entre a Mina de Juruti, as comunidades e o governo local foi reduzido, e além disso se estabeleceu um lugar para solucionar controvérisas, dar transparência aos interesses e gerar acordos entre as partes. Os Indicadores (mais 80 itens, nas áreas humanas, sociais, ambiental e econômica) permitiram às partes um diálogo mais qualificado, buscando equilibrar os interesses sociais e institucionais com as informações técnicas. Para chegar a estes resultados foram realizadas oficinas técnicas, reuniões comunitárias, consulta na internet e audiência pública, que mobilizaram mais 600 participantes de 115 comunidades e 71 instituições, com 90 contribuições pela web. Neste processo os fatores mais destacados pelos participantes estão expressos na figura ao lado. Diante de tais resultados, as partes passaram a formular um plano de sustentabilidade local ÁGUA AGRICULTURA SAÚDE CREDITO E ASSISTÊNCIA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EDUCAÇÃO SEGURANÇA baseado na Agenda 21, com responsabilidades comuns, mas diferenciadas: as empresas contribuem, mas não substituem o papel do TRANSPORTE COMUNICAÇÃO ENERGIA ELÉTRICA LIXO governo e da sociedade. O Fundo que se inicia busca demonstrar a viabilidade de novas formas de produzir (pescados, hortaliças, serviços), de conservar a natureza (acordos de pesca e manejo de lagos) e desenvolver a sociedade (educação ambiental, assistencia integral para jovens em situaçào de risco). Hoje já são implementados 21 projetos nas áreas urbana e rural, que mobilizam cerca de R$ 550 mil, conforme quadro abaixo: Quadro 3 - Projetos Financiados pelo FUNJUS – 1º.Edital 2009/2010 1. 2. 3. Proponente APROFASP Ass. Produtores de São José CTPJ Projetos Tipo 1 – Associações Comunitárias sem CNPJ – Até R$ 10mil Projeto Objetivos Cheiro Verde Melhorar estrutura das hortas dos produtores Reformar e ampliar o aviário para criação de Apoio aos Avicultores galinha caipira Estruturação e Adequação de Casa de Construção de casa de farinha com estrutura SBS Norte 2010 10 Modelo Juruti Sustentável – Fabio Abdala Farinha Criação de Abelhas Nativas Geração de renda para a produção Familiar Rural através da criação de galinha poedeira. para produção de derivados de mandioca de qualidade melhorada Fortalecer a atividade produtiva através da implantação de horta comunitária e regularização da associação Criação de tambaqui em tanques-rede (200 kg de pescado) Implantação da criação de abelhas nativas da Amazônia Gerar renda com a produção familiar rural através da criação de galinha poedeira caipira Amarrando Sonhos "100% Adelinos Criação de Tambaqui em Tanques-Rede Geração de renda através do artesanato e o extrativismo para a sustentabilidade familiar Criação de tambaqui em tanques-rede (200 kg de pescado) 100% CURUPIRA - Criação de Tambaqui em Tanques-Rede Criação de tambaqui em tanques-rede (200 kg de pescado) Consolidação e Fortalecimento de Associações na Região do Planalto Consolidação e Fortalecimento de Associações na Região do Lago Juruti Velho Estruturação de Hortas Familiares das Comunidades da Região do Santo Hilário Consolidação e fortalecimento da APROFASP, APROSEIS e ASPRUFARSHI Consolidação e fortalecimento das associações CTPJ, ASPROFAGU, ASPEFANGE 4. Ass. Produtores Araçá Preto Apoio aos Produtores de Hortaliças Orgânica 5. 6. 7. 8. APROSEIS Ass. Produtores São Braz Ass. Produtores de São Pedro Ass. Comunidade de São Benedito 9. 10. 11. 12. 13. ASPROFAGU Ass. Produtores Nova Galiléia e Nova Esperança Ass. Produtores Santa Terezinha e Lago Preto Ass. Produtores Grupo Unidos Ass. Produtores do Santo Hilário 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. Melhorar a estrutura das hortas dos produtores Projetos Tipo 2 – Associações Comunitárias e Civis com CNPJ – Até R$ 50mil Projeto Objetivos Acordo de Pesca Lago Desenvolver e implementar Planos Comunitários de Manejo de MOPEBAM Grande e Curuai pesca Puxirum dos Curumins - I Ass. PróEncontro do Clubinho da Tartarugas Tartaruga Realizar o 1º encontro do Clubinho da Tartaruga Capacitar os sócios para execução do Projeto por meio de cursos que contribuirão para o desenvolvimento de habilidade e competências dos envolvidos, afim de garantir o sucesso do negócio APRAPAEB Projeto Juruti Pescados de criação de peixe e comercialização Pesca Milagrosa - Criação de Tambaqui em APRAPAEVID Tanques-Rede Criação de tambaquis em tanques-rede Criar a cultura da Qualidade Total através da implantação do Programa 5S (sensos da Utilização, Ordenação, Limpeza, Saúde e ACEJ Programa 5S - Juruti Higiene e Autodisciplina) em trinta empresas em Juruti Ass. Comunitária Resgatar crianças e adolescentes do bairro de Santa Rita e demais Bairro Santa bairros através da anuência do conselho tutelar, para integrarem o Rita Da rua à Cultura projeto da Rua a Cultura Ass. Promocional Construindo e Proporcionar aos alunos da Escola Rosa de Saron, o atendimento Bom Alimentando com com qualidade na distribuição de merenda, por meio da construção Samaritano Qualidade de um refeitório e cozinha Ass. Artesãos de Capacitar artesão e estruturar a montagem de um espaço para Juruti Tucumã confecção de biojóia Proponente 14. Criação de Tambaqui em Tanques-rede SBS Norte 2010 11 Modelo Juruti Sustentável – Fabio Abdala O modelo Juruti Sustentável é exigente em termos de: 1) qualificação de lideranças para o diálogo, utilizando tecnologias sociais adequadas, 2) equipe e recursos dedicados, e 3) operação do empreendimento mineral capaz de adaptação às demandas sociais e institucionais. Os benefícios podem ser internos e externos ao empreendimento. São exemplos internos: antecipação, gestão e (por conseqüência) redução de riscos sociais e institucionais decorrentes de conflitos gerados pelo empreendimento; fortalecimento da licença para operar; satisfação dos colaboradores em fazer parte de uma empresa reconhecida positivamente pela sociedade e seus pares no mercado; fortalecimento da marca e reputação da empresa no mercado. Exemplos externos: investimento social privado e responsabilidade corporativa alinhados com os objetivos de desenvolvimento local estabelecidos pela sociedade e governo locais, gerando convergências e ganhos de escala; espaço de diálogo direto de stakeholders com a empresa, transparente, sem clientelismo; criação de legado institucional e financeiro gerado pela renda mineral para além do fechamento da mina. Os impactos e benefícios deste tipo de abordagem corporativa, em parceria com comunidades e governos, podem ser observados no curto prazo, mas serão mais consistentes e duráveis no médio e longo prazos. Como resultados de curto prazo se pode destacar: redução de conflitos, aumento de confiança entre empresas, sociedade e governo, e mecanismo para solução de controvérsias; promoção de iniciativas conjuntas e mobilização de parcerias (públicas e privadas, locais, regionais e nacionais) em favor da sustentabilidade local; aumento da responsabilidade social corporativa e do investimento social privado; aumento da transparência pública sobre os investimentos privados, orçamento e uso de recursos públicos; encaminhamento das demandas sociais por serviços públicos aos órgãos de governo, permitindo direcionar investimento social privado de forma complementar e estratégica. No médio e longo prazos se destacam: governança participativa do território; aumento da qualidade de vida e dos níveis de desenvolvimento institucional e social; maior presença do Estado, com aumento do controle, fiscalização e serviços; retirada SBS Norte 2010 12 Modelo Juruti Sustentável – Fabio Abdala progressiva dos investimentos do empreendimento mineral no provimento de serviços públicos (típicos de Estado); inclusão social e econômica de comunidades; desenvolvimento de cadeias de valor locais (agroindustriais, florestal e de serviços), com maior autonomia local em relação à cadeia mineral; estabelecimento de unidades de conservação de proteção integral e uso sustentável; fundo patrimonial para investimentos no desenvolvimento local; fechamento de minas sem gerar colapso na sociedade local. O MODELO JURUTI SUSTENTÁVEL COMO EXPERIMENTO DE GOVERNANÇA PLURALISTA Krahman (2003) distingue os conceitos de governo e de governança como dois tiposideais relativos a concentração e a fragmentação da autoridade política, respectivamente. Como conceito geral descreve governança como “estruturas e processos que permitem atores governamentais e não-governamentais coordenar suas necessidades e interesses interdependenpentes por meio da formulação e implementação de políticas diante da ausência de uma autoridade unificada”1. A governança seria distinta de governo na medida em que resulta da constituição de arranjos para decisão política compostos de atores para além dos setores governamentais, conduzindo a crescente inclusão e empoderamento de atores privados e civis na provisão de serviços para o público, com vistas a incrementar a eficácia e eficiência na regulação social e econômica. Certamente esta difusão da autoridade política está associada a fatores externos e internos ao Estado. Por um lado a ascensão de OSC, corporações e diversos grupos de interesses na política é resultado de um processo de fortalecimento econômico e institucional destes atores, próprios de uma cultura política que desenvolveu estratégias para constituição de espaços públicos não-estatais de ação coletiva, e de uma cultura econômica que tende a superar barreiras fronteiriças na busca de maximização de interesses, e que têm sido crescentemente bem sucedidas tanto local quanto globalmente. Por outro lado é relacionada a uma dupla crise do Estado: 1) limitações do aparato estatal em prover bem estar social de forma autônoma e auto1 Segundo a autora tal fragmentação da autoridade política pode ser demonstrada por meio das seguintes dimensões: geografia, funções, recursos, interesses, normas, processo decisório e implementação política. SBS Norte 2010 13 Modelo Juruti Sustentável – Fabio Abdala centralizada para o conjunto da população, e de acordo com as demandas de setores econômicos hegemônicos; e 2) limitações na responsabilidade social do Estado, de sua capacidade de prestar contas ao público e conseqüente perda de legitimidade social. Ambos os fatores resultam em redução de desempenho e efetividade das ações exclusivas de Estado, e motivam o surgimento de alternativas políticas concorrentes a ele que emergem nos campos civis e no mercado. As bases ideológicas desta concepção de governança ressalta as características liberais em termos de empoderamento civil, e neoliberais do ponto de vista da introdução de princípios de mercado nas práticas governamentais e de administração pública. Entre seus principais vetores destacam-se as demandas por mais eficiência, qualidade e transparência nos serviços prestados pelo Estado; racionalização de atividades, adoção de gestão por projeto, foco em resultados e no consumidor dos serviços, em contraponto às práticas burocráticas que focalizam mais os processos e departamentalizam a gestão; redução do aparato estatal, terceirização, privatizações e parcerias público-privado para produção de bens e serviços públicos. A constituição de governança pode ser orientada tanto por uma abordagem elitista quanto pluralista do processo decisório (CLEMONS & MCBETH, 2001; Mc COOL, 1995; ALFORD & FRIEDLAND, 1992). Na vertente elitista uma minoria de atores (a elite) comandaria as decisões, concentrando recursos, impondo seus valores e interesses sobre uma maioria (massa) de indivíduos, ainda que mantivesse certa responsabilidade para com a maioria, uma vez que dela dependeria para manter o poder. Para alguns autores, o processo decisório mesmo em democracias liberais tenderia a estar concentrado em um triângulo de atores formado por elites governamentais (inclusive burocratas), legislativas e empresariais com o poder suficiente para determinar as decisões e atividades do Estado, direta ou indiretamente. A governança de políticas de sustentabilidade tende a se aproximar de uma praxis pluralista do processo político, onde o sistema de decisões é permeado por um conjunto mais amplo de atores e grupos de interesses. No longo prazo, para organizar e coordenar diferenças entre atores políticos seria necessário envolver mais diretamente as forças que conformam os conflitos sociais e a cooperação, SBS Norte 2010 14 Modelo Juruti Sustentável – Fabio Abdala incorporando diferentes interesses, identidades, instituições e valores. Pressupõe que processos decisórios elitistas e centralizados, planejamentos de larga escala e estruturas burocráticas rígidas encontram dificuldades para operar na nova conjuntura de diversidades e complexidades de governança para sustentabilidade. Nesta abordagem a governança implica em reunir diferentes grupos, com diversos níveis de necessidades, desacordos e conflitos, em um processo de coordenação, inclusive levando em conta os interesses dos menos empoderados, em busca de benefícios mútuos, equidade e efetividade. Atores envolvidos em formação de acordos seriam mais capazes de gerar cooperação quando podem ajustar suas estratégias tanto em resposta aos interesses dos demais participantes, quanto em função dos aprendizados gerado no relacionamento, podendo então alterar suas políticas e condições de participação em ações coletivas. A governança pluralista implicaria na realização de processos consultivos, negociação e colaboração, gestão de conflitos e aprendizado coletivo. Consistiria, portanto, em um tipo coordenação com foco em regimes de acomodação, acordos, regulação e cooperação. Tais regimes podem ser temporários e incrementais, supondo que não superam necessariamente conflitos, mas busca-se minimizá-los, e seu processo decisório é interativo, no qual os atores continuamente se movem em diferentes níveis de acordo e desacordo, produzem ajustes, novos problemas e oportunidades de ação coletiva (WOLLENBERG, ANDERSON & LOPEZ, 2005). A abordagem pluralista pode ser entendida também como uma estratégia de empoderamento de atores e estruturas não-estatais de gestão, considerando que as práticas civis e empresariais implicariam em maior flexibilidade, eficiência, efetividade e responsabilidade. Pode-se identificar nesta abordagem certo grau de despolitização do processo decisório no sentido de reduzir a importância de fatores estatais, bem como repartir sua autoridade com atores privados e comunidades. Porém, no caso de Juruti, as estratégias de sustentabilidade não podem prescindir do provimento de bens e serviços públicos normalmente promovidos pelo Estado. SBS Norte 2010 15 Modelo Juruti Sustentável – Fabio Abdala BIBLIOGRAFIA ABDALA, Fabio in: Governança Global sobre Florestas – Tese de Doutorado – IREL/UNB, Brasília/DF, 2007. ABDALA, Fabio in “Juruti Sustentável: proposta de modelo para mineração e desenvolvimento local” - Texto apresentado no 6o. Congresso Brasileiro de Mineração (CBMINA2010), Belo Horizonte, 05/08/2010. Alcoa in: Mina de Bauxita de Juruti: Balanço de Ações e Resultados Socioambientais – Juruti/PA, setembro – 2009. Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional in: Agenda 21 Brasileira – Brasília, MMA 2002. Enríquez, Maria Amélia Rodrigues da Silva in: Mineração: Maldição ou Dádiva? Os dilemas do desenvolvimento sustentável a partir de uma base mineira - Tese de Doutorado – CDS/UNB - Brasília – DF, agosto – 2007. 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