FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO Eulália Moreno CHAVES A BIBLIOTECONOMIA: a importância da mulher no contexto profissional São Paulo 2014 Eulália Moreno CHAVES A BIBLIOTECONOMIA: a importância da mulher no contexto profissional Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, como requisito à obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia e Ciência da Informação, sob coordenação da Profª Maria Ignês Carlos Magno. Orientadora: Profª Evanda Verri Paulino São Paulo 2014 C512b Chaves, Eulália Moreno. A Biblioteconomia : a importância da mulher no contexto profissional / Eulália Moreno Chaves. – São Paulo, 2014. 85 f. ; 30 cm. Orientadora: Evanda Verri Paulino. Coordenadora: Maria Ignês Carlos Magno. Trabalho de conclusão de curso (bacharelado) – Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação – FESPSP – Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. 1. Biblioteconomia. 2. Mulher 3. Profissão I.Paulino, Evanda Verri, orient. II. Maria Ignês Carlos Magno III. Título. CDD 020.9 Eulália Moreno CHAVES A Biblioteconomia: a importância da mulher no contexto profissional Conceito: Banca examinadora: Professor(a) Assinatura: ________________________________________________________ Professor(a) Assinatura: ________________________________________________________ Professor(a) Assinatura: ________________________________________________________ Data da Aprovação: ____/____/________ Dedico a Deus, Pai de todas as coisas, minha fortaleza em todos os momentos da vida. A meus pais (in memorian), José e Catharina, exemplos de amor e dedicação sempre presentes em minha vida. A meu esposo (in memorian), companheiro, amigo e minha fonte de inspiração inesquecível. A meu querido filho, Biratan, amor e orgulho da minha vida. Ao pequeno Vinícius, com todo o amor e carinho da vovó. Luz que chega às nossas vidas com a promessa de um futuro melhor. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pelo dom da vida e pelo amparo divino em todos os momentos da vida. À minha orientadora, Profª Evanda Verri Paulino, por guiar-me na confecção deste trabalho. Agradeço por sua ajuda, pela paciência, pela compreensão e pelo respeito aos meus limites. Aos meus irmãos, José, Carlos, Ana Maria e Sérgio, como forma de registrar meu carinho e amor fraterno. Aos meus colegas de trabalho que por meio de palavras de estímulo me fizeram crer ainda mais em minha capacidade. A todos os professores do Curso de Biblioteconomia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo que desde os primeiros dias de aula até o final do curso transmitiram-me sabedoria e competência, deixando importantes marcas e lições para a minha vida. A todos os colegas de turma, mesmo aqueles que não puderam nos acompanhar até o final deste curso, todos os companheiros nesta jornada. Agradeço pelas demonstrações de amizade, de carinho e de respeito. A todos os profissionais de Biblioteconomia, pela colaboração, pelo empenho e pelo brilhantismo na construção e evolução do conhecimento humano. Em especial, às novas gerações de estudantes e de profissionais de Biblioteconomia, para que possam contribuir de forma dinâmica e persistente para o progresso e valorização da profissão. A todas as pessoas que contribuíram comigo no período desta trajetória exercitando a paciência nos momentos de dificuldades e crises, me apoiando e incentivando, mesmo nos momentos em que não pude lhes dedicar mais atenção e com quem agora compartilho a felicidade da realização de um sonho transformado em realidade. RESUMO O trabalho apresenta breve retrospectiva histórica para entender o contexto sócio-cultural do início do século XX, quando a maioria das mulheres era relegada à margem da educação e do trabalho remunerado. Traça o panorama de quase um século de importantes transformações culturais e sociais e de empenho pelo reconhecimento da igualdade de direitos das mulheres inseridas em uma sociedade patriarcal. Mostra os diversos campos de atuação profissional em que a mulher foi se destacando e sua chegada profissionalmente na área da Biblioteconomia. Apresenta dados numéricos e cronológicos que marcam a participação feminina na Biblioteconomia no Brasil, destacando bibliotecárias que atuaram em diferentes segmentos, provando a natureza criativa e empreendedora de mulheres que deixaram para as gerações futuras, exemplos de perseverança, competência, dedicação e de trabalho na área da Biblioteconomia no Brasil. Palavras-chave: Biblioteconomia; Mulher; Profissão ABSTRACT This work presents a succinct historic retrospective to understand the socialcultural context in the begin of the XX century when most of woman was relegated from education and wage labor. Makes a overview of almost one century of important cultural and social transformations and of commitment for equal rights of woman in the patriarchal society. Shows the various fields of professional performance in which woman was standing out her professional beginning inlibrarianship. Presents numerical and chronological data that marked the feminine participation in librarianship in Brazil, highlighting librarians that acting in different segments, proving the creative and entrepreneurial nature of woman which to the future generations examples of perverance, skill, dedication and work in Brazil’s librarianship. Keywords: Librarianship; Woman; Profession SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10 2 OBJETIVOS .......................................................................................................... 13 2.1 Objetivo geral ...................................................................................................... 13 2.2 Objetivos específicos .......................................................................................... 13 3 METODOLOGIA ................................................................................................... 14 4 A CHEGADA DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO ............................. 17 4.1 Breve contexto histórico ...................................................................................... 17 4.2 Costumes ............................................................................................................ 19 5 A MULHER E AS PROFISSÕES .......................................................................... 24 5.1 Educação ............................................................................................................ 24 5.2 Enfermagem ........................................................................................................ 29 5.3 Outros rumos profissionais .................................................................................. 33 5.4 Biblioteconomia ................................................................................................... 35 6 A BIBLIOTECONOMIA NO BRASIL .................................................................... 38 6.1 O gênero feminino na Biblioteconomia ................................................................ 42 7 BIBLIOTECÁRIAS: DESTAQUES NA BIBLIOTECONOMIA BRASILEIRA........ 52 7.1 Múltiplos Caminhos ............................................................................................. 53 7.2 Roteiro de Entrevistas ......................................................................................... 62 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 70 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 73 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ......................................................................... 77 APÊNDICES ............................................................................................................. 79 10 1 INTRODUÇÃO Desde que os primeiros homens passaram a registrar suas ideias, suas descobertas, seu cotidiano, surgiu a necessidade da organização dessa produção documental, tanto pela própria organização quanto para a transmissão do conhecimento. Desse modo, a informação registrada adquiriu o caráter de preservação dos costumes e da memória humana podendo ser transmitida através dos tempos, contribuindo para a evolução do conhecimento de futuras gerações e para a compreensão de como foi, como é e de como será a evolução intelectual e social da humanidade. Historicamente, a Biblioteconomia acompanhou as mudanças ocorridas na sociedade, desempenhando fundamental papel na democratização da informação. Houve o tempo em que os conteúdos informacionais e os próprios documentos já não podiam continuar restritos a uma classe minoritária da sociedade, a qual detinha o poder da informação, privando, dessa forma, o acesso ao conhecimento de grande parte da população formada por trabalhadores, donas de casa, crianças e jovens. As transformações sociais trouxeram a necessidade de mudanças no comportamento profissional daqueles que atuam na área da Biblioteconomia, de Documentação e, mais recentemente, no campo da Ciência da Informação. O considerável crescimento na produção de conteúdos informacionais impulsionou sobremaneira a demanda por profissionais interessados e capacitados nesta área de atuação. A figura feminina marcou sua presença e desponta firmemente na condução e no desenvolvimento de projetos e ações na área da Biblioteconomia objetivando tornar mais democrático, ágil e eficiente o acesso à informação. Este trabalho apresentará em seus três primeiros capítulos as partes iniciais como introdução, objetivos e a metodologia utilizada para a elaboração do mesmo. Em seu quarto capítulo este trabalho trará o relato do contexto social, político e cultural que marcou a história entre o final do século XIX e início do século XX, principalmente nas questões envolvendo as mudanças no modo de vida das 11 mulheres, que tinham seus direitos ao estudo e ao trabalho cerceados pelo domínio masculino. Algumas questões são levantadas na literatura, por exemplo, a respeito dos ganhos salariais das mulheres, sobre quais as atividades seriam consideradas mais adequadas para elas ou ainda sobre as influências que o trabalho feminino provocou nas relações familiares e sociais, reforçando a ideia de que a igualdade de direitos entre homens e mulheres foi e continua sendo uma reflexão sempre necessária. No quinto capítulo será apresentada uma etapa mais recente nas mudanças sociais e profissionais, já em pleno século XX. Este período compreendido entre as grandes guerras mundiais foi marcado pela escassez de mão-de-obra masculina, possibilitando o surgimento de novas oportunidades profissionais, em diferentes ramos de atuação. O século XX foi considerado então, segundo Stelmachuk (2012, p. 18) “cenário da inserção em massa das mulheres no mercado formal de trabalho, realidade que afetou não só a classe operária, mas também a maioria dos setores das sociedades desenvolvidas.” O sexto capítulo irá abordar a questão em especial da Biblioteconomia, área profissional na qual a mulher chegou pela compatibilidade com outra profissão que já despertava considerável interesse feminino, o magistério. Neste capítulo faz-se uma reflexão sobre a superioridade numérica das mulheres que ingressaram na Biblioteconomia no Brasil, com os dados obtidos junto aos órgãos de classe. Complementando este capítulo será feita uma análise reflexiva sobre a situação atual da profissão no Brasil com base em depoimentos de profissionais atuantes em diferentes segmentos da Biblioteconomia. O sétimo capítulo encerrará a parte central deste trabalho trazendo a trajetória de importantes bibliotecárias brasileiras, pioneiras em suas áreas de atuação, em diferentes segmentos da Biblioteconomia. Mulheres que criaram formas inovadoras de trabalho, possuindo alta representatividade para a valorização das práticas biblioteconômicas e exemplar produção científica. Profissionais que se destacaram na criação de modelos pioneiros de bibliotecas, contribuindo significativamente para a evolução da Biblioteconomia no Brasil. Complementando este capítulo serão apresentadas entrevistas com três profissionais atuantes em Biblioteconomia, em 12 diferentes segmentos da profissão e que opinaram sobre pontos importantes para a reflexão sobre o tema abordado e contribuindo qualitativamente com a elaboração deste trabalho. 13 2 OBJETIVOS Apresento a seguir o objetivo geral e os objetivos específicos que serão abordados neste trabalho. 2.1 Objetivo geral ● Apontar a importância da atuação profissional das mulheres na área da Biblioteconomia no Brasil, com destaques para personalidades que construíram fortes pilares para o desenvolvimento de diferentes campos de atuação. 2.2 Objetivos específicos ● Contextualizar historicamente a mulher no mercado de trabalho. ● Identificar bibliotecárias que colaboraram para a evolução da Biblioteconomia no Brasil. ● Apresentar as opiniões de bibliotecárias atuantes em diferentes segmentos a respeito de questões voltadas para o tema do trabalho. 14 3 METODOLOGIA A escolha do tema deste trabalho originou-se quando da realização de uma pesquisa para a Disciplina Introdução a Teoria da Comunicação, ministrada pela docente Profª Tânia Callegaro, no 4º semestre do presente curso de Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Naquela oportunidade, realizando um levantamento bibliográfico sobre “A mulher na Sociedade”, tema escolhido para o trabalho em grupo para a referida disciplina, surgiu interesse particular a respeito das condições e dos fatos que marcaram a relevância da participação das mulheres na área da Biblioteconomia. Dessa maneira, este trabalho foi inspirado a partir dos materiais obtidos para a tarefa disciplinar acima descrita, dentre eles, a resenha de uma obra da historiadora Michelle Perrot sobre a história das mulheres em cujo conteúdo são apresentados estudos que apontam as lutas e pioneirismos da mulher na sociedade e principalmente, na sua auto-afirmação profissional, e que foram relatados em ÁVILA (2009). A partir da bibliografia deste e de outros artigos foram realizadas pesquisas cujos resultados foram considerados relevantes para a fase inicial deste trabalho. Utilizou-se ainda uma série de materiais oriundos de pesquisas realizadas em sites como do Conselho Regional de Enfermagem em São Paulo - COREN /SP, sites institucionais, blogs e outras fontes de informações a respeito de diferentes áreas de atuação profissional, como Nutrição, Fisioterapia e Serviço Social, além de artigos publicados em revistas e para a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência SBPC, todos com conteúdos referentes às diversas atividades profissionais desempenhadas pelas mulheres. O passo seguinte foi realizar uma pesquisa bibliográfica voltada, sobretudo, para a literatura que retrata o contexto histórico da Biblioteconomia no Brasil, ressaltandose o desenvolvimento da profissão e a participação feminina nesse processo evolutivo. Foram feitas buscas ao acervo da Biblioteca da FESPSP sobre obras de cunho histórico a respeito da Biblioteconomia e de publicações da área. Outro recurso usado na elaboração deste trabalho e que representa grande parte dos documentos utilizados nesta fase foi a pesquisa exclusivamente em ambiente 15 digital, em que foram aplicadas como principais palavras-chave: Biblioteconomia, Mulher, Profissão, Brasil e a combinação desses termos. Assim a partir dessas pesquisas foram obtidos artigos de periódicos eletrônicos, trabalhos acadêmicos, teses, dissertações, e-books, sites, blogs, banco de dados, entre outros. Nas buscas eletrônicas feitas privilegiou-se materiais significativos para a elaboração deste trabalho, evitando-se ao máximo os materiais dispersos da temática central a que esta pesquisa se destina. Utilizou-se os buscadores Bing.com, Internet Explorer, mas principalmente o buscador Google. Foram acessadas Bases de Dados importantes para pesquisas acadêmicas, tais como, Scientific Eletronic of Library Online - SciELO, Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES, a Base de Dados Referencial de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação - BRAPCI, Data Grama Zero - DGZ, a Base de Dados de Teses e Dissertações da Universidade de São Paulo, a Base de Dados do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - IBICT. Foram acessadas também bases de Dados de Universidades: Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade de Brasília, Universidade Federal de São Carlos, além dos sites do Conselho Federal de Biblioteconomia - CFB e dos Conselhos Regionais de Biblioteconomia. Para o embasamento e a comprovação a respeito do número de profissionais registrados e ativos em nível nacional, da quantidade de mulheres que atuam na profissão e da relação quantitativa existente entre os profissionais masculinos e femininos na área da Biblioteconomia brasileira, foram enviadas mensagens por correio eletrônico a cada um dos Conselhos Regionais de Biblioteconomia (ANEXO A). As respostas de 6 Conselhos Regionais de Biblioteconomia que responderam à solicitação, entre os 14 CRBs contatados, foram compiladas e analisadas para compor graficamente um panorama sobre a atual situação numérica dos profissionais. Complementando, foram elaboradas perguntas a respeito de questões ligadas ao tema do trabalho, as quais compuseram as entrevistas realizadas com profissionais escolhidas em diferentes áreas de atuação (ANEXO B). As questões foram enviadas por correio eletrônico para as entrevistadas, originariamente, pela orientadora deste 16 trabalho. Posteriormente as respostas foram reencaminhadas eletrônicamente para a autora deste trabalho (ANEXOS C, D, E, F, G e H), colaborando para a compreensão e reflexão sobre a atual situação dos profissionais de Biblioteconomia no Brasil. 17 4 A CHEGADA DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO Toda reflexão sobre a história da mulher e sobre a sua trajetória na sociedade mostra o predomínio dos momentos de exclusão, de exploração e de privação de direitos, abrangendo todas as idades e em todas as partes do mundo. As mulheres passaram por inúmeros momentos de lutas para que tivessem seus talentos intelectuais e aptidões profissionais reconhecidos. [...] veremos que se trata de uma história de resistência e lutas para eliminar preconceitos e discriminações, recuperar posições perdidas, garantir direitos, transformar a vida e garantir o florescimento como ser humano, igual, autônomo e digno. (ALAMBERT, 2004, p. 26). 4.1 Breve contexto histórico O Renascimento pode ser considerado como o período histórico em que a cultura e a moral clássicas começam a provocar mudanças que se refletiram na produção artística e intelectual; chegando mesmo a ser declarado o direito das mulheres à instrução, no entanto somente um número reduzido de mulheres, aquelas mais influentes e ricas, é que obtinham alguns privilégios, pois, [...] a proposta iluminista de levar instrução a todas as classes excluía evidentemente o mundo dos escravos. E, também deixava de contemplar as mulheres, o que fortalecia a exigência da sociedade imperial que atribuía a elas, o mundo de casa, sob o domínio do patriarca.(RODRIGUES; MARQUES)”. ([20??]/ não paginado). Por isso, para a maioria das mulheres, que pertenciam às classes média e baixa, continuava vetado o acesso à cultura, ao conhecimento e às artes. Somente com a chegada do Capitalismo Pré-Industrial, marcado pelo progresso industrial, que novos inventos, inovações no sistema de trabalho e crescimento vertiginoso da produção industrial, acontecem nos movimentos e revoluções sociais que vão proporcionar às mulheres, a possibilidade de demonstrar a sua capacidade de lutar por seus direitos de igualdade, de liberdade, de educação e de trabalho. De acordo com Alambert, (2004, p. 32) “o século XVIII pode ser considerado o século das revoluções e, 18 portanto, o século que marca a intensa participação das massas nos acontecimentos e também das mulheres.” A compreensão do estado de submissão em que a maioria das mulheres vivia ainda no século XIX, faz com que imaginemos as lutas e os obstáculos que elas tiveram que ultrapassar até serem reconhecidas como “seres” capazes de obter instrução e de atingir o progresso intelectual, social e profissional. Apesar disso, no século XIX era considerado desnecessário que a mulher frequentasse escolas e cursos, pois os mesmos estavam voltados para os homens que detinham a oportunidade de acesso ao conhecimento, ficando as mulheres destinadas às funções do lar e da família. Essa condição de submissão e de domínio masculino perdurou por vários séculos, passando por inúmeras situações em que as mulheres eram consideradas inúteis intelectualmente, tanto no aspecto da educação, como também nas atividades de trabalho e da vida profissional. Apesar disso as mulheres sempre trabalharam e mesmo não tendo sua mão de obra valorizada ou remunerada, elas continuavam a realizar um trabalho considerado “invisível”. De acordo com Pinsky (2007, sem paginação) a história, ainda recente, sobre as atividades e as profissões reconhecidas e remuneradas nas quais a figura feminina se viu inserida, traz a questão da existência da desigualdade social e econômica frente aos homens, dessa forma a autora ressalta o fato de o trabalho feminino ainda estar “[...] longe de igualar-se ao dos homens em termos de valorização social e ganhos salariais.” As mudanças não pararam de acontecer e aquelas de natureza social, política e intelectual ocorridas no mundo ocidental, no período correspondente ao terceiro quarto do século XX, traziam a ideia de que tudo que ocorrera no mundo, anteriormente a essa época, passou a ser irrelevante ou considerado em segundo plano. Os países considerados desenvolvidos, pertencentes à Europa Central e Ocidental e à América do Norte, já usufruíam a um tempo das mudanças tecnológicas e culturais. Em contrapartida, era diferente a situação que se apresentava no restante da população mundial, como afirma Hobsbawm, (2008, p. 283), “para 80% da 19 Humanidade, a Idade Média acabou de repente em meados da década de 1950; ou talvez melhor, sentiu-se que ela acabou na década de 60.” De todas as transformações sociais ocorridas neste período e que pode ser considerado o marco limítrofe entre o campesinato e a industrialização, devido à sua significância e abrangência, é a mudança no “modus vivendi” da sociedade, que gradativamente deixa de viver exclusivamente do trabalho no campo, da pesca e da pecuária. O êxodo rural ocasionado por essas mudanças acaba provocando outra transformação, ainda segundo Hobsbawn (2008, p.289) Quase tão dramático quanto o declínio e queda do campesinato, e muito mais universal, foi o crescimento de ocupações que exigiam educação secundária e superior. A educação primária universal, isto é, a alfabetização básica, era na verdade a aspiração de todos os governos[...] A enorme transformação provocada por essa “corrida” pela alfabetização, mesmo que não de maneira igualitária entre os países e mesmo nas sociedades, gerou o aumento extraordinário de busca por vagas para a educação secundária e superior, tornando-se bem evidente essa efervescência estudantil no início da década de 1950 com a formação de mais de 100 mil professores universitários. Ainda segundo Hobsbawm (2008), a necessidade de especialistas técnicos, de administradores, de professores era evidente para os governos, frente às questões da economia moderna. Neste sentido, a educação superior passa a ser considerada, como um bem que os pais, à custa de muitos sacrifícios, podiam proporcionar aos seus filhos, e com isso alimentavam as expectativas de garantir um futuro promissor, visando ascensão econômica e social. 4.2 Costumes Nesse contexto histórico, vale relembrar que as mulheres estavam sujeitas, até meados do século XX, às funções e obrigações consideradas de menor importância intelectual, como as tarefas domésticas, o cuidado com os filhos e o marido ou ainda, a vida em família com os pais, no caso de solteiras. Seguindo esse 20 pensamento, o trabalho no campo era visto também, como uma forma da mão-deobra feminina ser “usada”, como força produtiva, provendo o bem estar e a subsistência da família. Contudo, o advento da industrialização e a mudança para as cidades fizeram com que as mulheres fossem se adequando e desenvolvendo habilidades e colocando em prática seu potencial intelectual e profissional frente aos recentes interesses da sociedade. Durante o século XX as mudanças sociais e comportamentais foram surgindo de forma a acompanhar às novas exigências da revolução social e cultural que se operava; com isso, essa época foi marcada como “[...] cenário da inserção em massa das mulheres no mercado formal de trabalho, realidade que afetou não só a classe operária, mas também a maioria dos setores das sociedades desenvolvidas” (STELMACHUK, 2012, p.18). A classe trabalhadora rural que na época feudal era constituída por famílias como um todo, sem definição ou divisão sexual de tarefas entre homens, mulheres e crianças, tem a partir da revolução industrial e do despontar da era moderna, esse novo modelo de produção e divisão do trabalho entre homens e mulheres, e mesmo no Brasil isso não aconteceu de forma diferente. Dessa forma, muitas foram as mulheres que se destacaram em atividades que eram tradicionalmente consideradas masculinas e mesmo quando desempenhando as funções consideradas como “papeis familiares”, essas mulheres participaram de importantes processos sociais e empreendedores nas regiões em que viviam. A história das mulheres trabalhadoras do início deste século, [...] mostra que ocuparam os diversos espaços de trabalho possíveis, como o doméstico, o rural, o operário e outros, em meios urbanos e em todas as classes sociais. As oriundas das elites e camadas médias, mais frequentemente, exerceram profissões de nível universitário, bem como cargos em instituições culturais. (STELMACHUK, 2012, p. 23). O aumento demográfico nas cidades alavancou a demanda de novos serviços e de profissionais com diferentes qualificações e formações, que atendessem às necessidades, sobretudo a respeito da educação e do ensino, já que existia, assim afirma Martucci (1996, p. 230), “uma confiança generalizada na instrução: é ela que assegurará a igualdade entre os cidadãos, o triunfo de uma nova sociedade, a libertação dos espíritos da ignorância e das superstições [...]”. 21 O magistério foi, dessa forma, uma das áreas que abriu oportunidades para a evolução intelectual e profissional feminina e que acabou, como ressalta Martucci (1996, p.234-235), “[...] suplantando os homens neste setor, até então tradicionalmente masculino, até o ponto de serem elas confundidas com a atividade [...]”, sendo motivo até hoje, para inúmeros estudos e discussões sobre as razões por que e como esse fenômeno ocorreu e suas consequências sociais e culturais. O fato é que, seja por causa da saída dos homens dessas áreas de atuação para outras oportunidades, ou porque essas áreas possibilitaram que as mulheres pudessem conciliar suas atividades profissionais com as tarefas domésticas, ou ainda, porque eram áreas que melhor se adequavam à mulher, do ponto de vista de menores salários, o que se pode compreender com esse fenômeno é que, já no século XX, o trabalho feminino não podia “[...]ser pensado como uma decisão individual, mas como um reflexo do mercado de trabalho disponível” (MARTUCCI, 1996, p.237). Segundo a análise da autora, os valores sociais e culturais, como os ligados à imagem de mãe e mestra-mãe acabam direcionando algumas carreiras profissionais como femininas e mesmo depois de transcorridas várias décadas a feminização do magistério ainda existe, “[...] apesar de já existirem possibilidades concretas de escolha e opções por outras carreiras profissionais, especialmente nos centros urbanos.” A luta das mulheres pela escolarização e emancipação social é um fenômeno que aconteceu de maneira semelhante em diferentes partes do mundo. Na Europa, especificamente na França, em 1900, deu-se a formação da primeira mulher em um curso de Direito e, a partir de 1950, houve a inclusão maciça das mulheres nas universidades. Um marco da ascensão intelectual e profissional feminina foi o surgimento de novas profissões, “[...] como vendedoras, secretárias, enfermeiras, tidas como boas para as mulheres, a inserção no magistério e feminização da educação infantil [...]” (ÁVILA, 2009, p.251). Foram processos lentos e complexos que marcaram a luta das mulheres pela igualdade de direitos contribuindo para que elas assumissem novas posições na sociedade. Há de se considerar que o século passado foi marcado por dois momentos significativos, as Duas Grandes Guerras, que abalaram e transformaram 22 radicalmente os sistemas de dominação e poder, até então predominantemente masculino. A perda de mão-de-obra masculina para as frentes de batalha abriu oportunidades para que as mulheres pudessem assumir as funções e responsabilidades que antes lhes eram negadas, transformando, dessa forma, o modo de vida desta e de futuras gerações. (ÁVILA, 2009, p.252-253). Estudando a História do Brasil é possível perceber que desde a era colonial, a educação e o comportamento feminino também sofriam variações de acordo com a classe social a que a mulher pertencia, o que segundo Monteiro e Gati, (2012, 3080), impossibilita a formação de um “estereótipo comum de mulher para todo o país e todas as épocas.” Contudo, sendo ama ou criada, negra, indígena ou branca, elas não tinham acesso livre e irrestrito ao ensino da leitura e da escrita. Havia aquelas que se dedicavam a tarefas pesadas como agricultura e mineração e aquelas tidas como de classe superior que se dedicavam às tarefas domésticas e aprendiam sobre boas maneiras. A alfabetização era permitida para poucas mulheres que desejassem realizar leituras bíblicas e de cunho moral, dessa maneira, a Igreja e os costumes conservadores da época direcionavam as formas de educação da mulher, como afirmam os autores. Um exemplo dessas influências é o que aparece no texto da primeira Lei de Instrução Pública do Brasil datada de 1827. O texto dessa lei promulgada por D. Pedro I, mostra no seu Artigo 12, a distinção entre o ensino aplicado para meninas e para os meninos no ensino elementar gratuito, recém instituído no Brasil. Nesse artigo, o ensino de Geometria e Aritmética Avançada era excluído da grade curricular para as meninas, contribuindo para que a profissão docente fosse se construindo “com características muito voltadas para a educação moral e religiosa”, com maior valorização dos costumes e do método do que para os conteúdos, sobrepondo-se os aprendizados de natureza moral àqueles direcionados às competências e formação intelectuais. (MONTEIRO; GATI, 2012, p. 3088). Nas primeiras décadas do século XX no Brasil, as meninas, as jovens e as mulheres adultas podiam ser alfabetizadas em cursos regulares e almejar o aprendizado de algumas carreiras profissionais, desde que não fossem “inadequadas” de acordo com os costumes e a moral religiosa e conservadora da época. No entanto, as 23 mulheres foram conquistando gradativamente seu espaço nos mais diversos campos de atuação profissional, a princípio, em correspondência aos interesses liberais e positivistas, pois segundo Almeida, (2000, p. 8)“[...] o novo estado que se delineava após a queda do regime monárquico exigia cidadãos aptos a fazerem a nação crescer e a desenvolver-se”, e ainda mais no caso das mulheres, já que segundo esses interesses, ainda de acordo com a autora,“[...] a educação possibilitaria que repousasse em mãos adequadas o destino dos futuros homens que se incumbiriam dessa tarefa nacionalista”. Embora possa parecer que a mulher tenha evoluído profissionalmente e intelectualmente, somente segundo os interesses masculinos predominantes na época, é importante considerar-se a superação dos obstáculos e dos preconceitos alcançados através da educação e da instrução. Estes caminhos de lutas e reivindicações trilhados pela mulher podem ser considerados as principais vias de acesso para a libertação feminina da discriminação por que passavam, impulsionando-as para a vivência e a realidade das atividades e saberes de natureza pública. Dessa forma, ao se fazerem ouvidas, as mulheres mostraram a capacidade criativa e inovadora que as tornaram parte importante do sistema produtivo intelectual, profissional e cultural. 24 5 A MULHER E AS PROFISSÕES A história das mulheres em sociedade é repleta de episódios de lutas e de superação em busca de seus direitos sociais, políticos e principalmente intelectuais, como o acesso à escolarização, à formação e à profissionalização. No início do período republicano a educação passa a ser mais valorizada e difundida, com isso de acordo com Monteiro e Gati (2012, p. 3090) “[...] essa perspectiva de difusão de instrução se torna mais forte, inicialmente, a necessidade de educar a mulher, vinculando-a não só à modernização da sociedade, mas também à construção da cidadania dos jovens e à higienização da família”, assim a cada ano que passava aumentava a freqüência de meninas nas escolas. Apesar das influências da Igreja e dos padrões morais da época, as mulheres, particularmente pertencentes ao mundo ocidental, defendiam que a educação escolar fosse aplicada de forma igualitária para ambos os sexos, assim afirma Almeida (2007, p. 198) As grandes defensoras do sistema co-educativo nos países ocidentais foram as mulheres, notadamente aquelas que puderam ter oportunidade de obter uma educação esmerada, embora tradicional e de acordo com os paradigmas sociais vigentes. Excluídas da escolaridade por séculos pelo fato de estarem impedidas de frequentar escolas destinadas em sua maioria exclusivamente ao sexo masculino, engajaram-se nas lutas por maiores direitos educacionais. 5.1 Educação Analisando o cenário ocidental, mais especificamente no Brasil, podemos perceber a existência de vários modelos familiares em diversas fases históricas e culturais por que passou a sociedade havendo a impossibilidade, conforme afirma Monteiro e Gati (2012, p. 3080) “[...] de se estabelecer um estereótipo comum de mulher para todo o país e todos os períodos”. Havia o modelo de família patriarcal no qual o poder estava todo concentrado nas mãos do homem, que a tudo e a todos dominava, mantendo a esposa em estado de submissão. Esse fato, no entanto, não impedia que ela interviesse nas questões administrativas e políticas, mesmo que de forma indireta ou em situações de afastamento ou morte do patriarca da família. No 25 período colonial fatores como a classe social, a econômica e a racial determinavam a educação e o comportamento das mulheres, assim, mulheres que pertenciam a diferentes condições e classes econômicas, sociais ou raciais não tinham acesso à arte de ler e escrever. (MONTEIRO e GATI, 2012) A Assembleia Constituinte de 1823, logo após a Independência, trouxe para a educação muitas influências das ideias liberais que se refletiram no estudo e na elaboração de uma legislação específica, pois a educação segundo as autoras “passou a ser compreendida como um direito do cidadão e um dever do Estado”. Houve o surgimento de métodos para a preparação de professores, um deles denominado lancasteriano, que consistia na utilização de discípulos mais avançados auxiliando aqueles com menor aproveitamento. Dessa forma, a docência era passada de maneira prática, sem nenhum embasamento teórico. Além disso, este modelo não obteve os resultados esperados, devido à falta de materiais didáticos, de prédios adequados e de profissionais capacitados, subsistindo até meados do século XIX em muitas províncias brasileiras. Novas providências foram implantadas a partir da Reforma Constitucional de 1834, como o Ato Adicional que representou mudanças mais duradouras e amplas para a política de ensino nas Escolas Normais no Brasil, dessa forma, [...] além da tarefa de prover à instrução elementar, as províncias ficaram com a difícil tarefa de preparar pessoal docente para as escolas que se criassem. A primeira iniciativa foi da Província do Rio de Janeiro que, em 1835, fundou a Escola Normal de Niterói. A ela, seguiram-se, em 1836, as escolas normais da Bahia, em 1845, as do Ceará, e em 1846, as de São Paulo. Instituições semelhantes foram sendo criadas em outras Províncias, com existência efêmera e funcionamento irregular. (PERES, [2005], p. 12). A escola popular e a gratuidade do ensino primário obrigatório eram consideradas como uma inovação dos tempos modernos, com possibilidade de proporcionar ensino renovado voltado, sobretudo, para o progresso do país. Em 1879, um decreto implantou nas escolas de primeiro e segundo graus na cidade do Rio de Janeiro novas regras sobre carga horária, idade dos alunos e alunas e novas disciplinas curriculares, surgindo em seguida, também no Rio de Janeiro em 1888, um novo 26 modelo de ensino que ofereceu a instrução completa para meninas seguindo a estrutura de ensino americano e dividindo em, conforme explica Peres ([2005], p.19)“[...] curso primário de primeiro e segundo graus, curso secundário e curso superior, incluindo pedagogia para as interessadas no magistério”, esse modelo, ainda de acordo com a autora, serviu de referência para a reforma educacional brasileira proposta por Rui Barbosa em 1882. As lutas deflagradas no início do século XX, sobretudo, pelos movimentos feministas originários na Europa e nos Estados Unidos e com grande repercussão na América Latina, terminavam com o conceito ultrapassado segundo o qual, afirma Almeida (2000, p.10) “a educação feminina como contaminadora de sua consciência, perigosa para a pureza de seu corpo e da sua alma”. O magistério foi o elo entre a necessidade de instrução e educação da mulher para além das prendas domésticas, possibilitando sua auto-suficiência financeira e acentuando a importância das reivindicações feministas em um período que conforme afirma Almeida (2000, p.10) [...] se apelava pela igualdade de direitos, o repúdio à infância abandonada e à prostituição, o acesso à cidadania e ao trabalho, a denúncia da opressão masculina, o direito à educação e instrução, a profissionalização e a liberdade, ao direito de votar e serem votadas, porém sem perder de vista o papel de esposas e mães. Desde os primeiros momentos de implantação do ensino para mulheres até a atualidade, o número de alunas e de profissionais da área de Educação mantém-se em maior quantidade do que o número de homens que se dedicam a essa área profissional o que pode ser observado pelos estudos realizados pelo Ministério da Educação- (MEC) baseados no Censo Escolar de 2007, representado no gráfico a seguir, 27 Gráfico 1- Índices percentuais de profissionais segundo o sexo e diferentes fases de aprendizado 100 97,2 96,1 91,2 74,4 80 64,4 60 46,7 40 25,6 20 0 2,1 3,9 53,3 35,6 8,8 Feminino Masculino Fonte: Mec/Inep, 2007 A análise destes dados mostra que a superioridade numérica das mulheres inseridas nesta área profissional somente é ultrapassada em menos de 10% pelos profissionais masculinos a partir do Ensino Médio. No entanto, é essencial que além da superioridade numérica, a atuação profissional feminina seja analisada qualitativamente frente à significativa atuação em diferentes segmentos da educação. Dessa forma, podemos encontrar uma grande quantidade de nomes importantes nessa área, os quais se destacam pela valiosa contribuição em diferentes frentes de atividades, cumprindo com maestria e esmero as funções e objetivos para as quais se prepararam e focando principalmente no bem-estar dos aprendizes e na propagação do conhecimento. Um desses nomes é o da Professora e Educadora Êda Luiz que é atualmente (2014), Coordenadora Pedagógica do Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (Cieja), situado no bairro de Campo Limpo, região Sul da cidade de São Paulo. Formada em Pedagogia (antigo Magistério) em 1965 é um exemplo de dedicação à educação e à inclusão social. Os resultados para seus incansáveis esforços na coordenação desta escola podem ser sentidos dentro e fora das aulas, pois seu trabalho busca integrar a escola, os profissionais, os alunos, as famílias, ou seja, toda a comunidade escolar e do entorno. Extremamente preocupada e atenta a novas possibilidades para a concretização de outros modelos educacionais, a 28 professora afirma, segundo Santos (2011, não paginado) que, “[...] esse é o meu maior desafio, fazer com que as pessoas acreditem em outras possibilidades”. Outro nome de destaque para a educação, dentre os incontáveis existentes, é o da Professora e Doutora em Educação Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva que, após uma produtiva passagem pela docência e coordenação pedagógica na Educação Básica pública e particular de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, buscou a Especialização e Doutorado, estagiando na University of South Africa em Pretória na África do Sul e lecionando na Universidad Autonoma Del Estado de Morelo, no México. Atualmente é Docente Emérita da Universidade Federal de São Carlos e pesquisadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB/UFSCar), além de militar em diversos grupos do Movimento Negro. O início de sua carreira foi dedicado à docência de Línguas e Literatura Portuguesa e Francesa, durante o período de 04/1965 a 07/1989, contudo esta educadora ampliou largamente seu campo de atuação tornando-se representante da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros perante o World Education Research Association e da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), dentre muitos outros grupos de pesquisa. A professora Petronilha é participante ativa na produção de conhecimentos seguindo duas linhas de pesquisa, a linha das Relações ÉtnicoRaciais e Educação e a linha das Práticas Sociais e Processos Educativos. Como pesquisadora apresenta vasta participação em projetos de pesquisa e publicação de estudos, artigos e livros representativos para questões sócio-educacionais. Esses trabalhos refletem a preocupação e o empenho da educadora na construção de políticas públicas para o reconhecimento e combate à discriminação relacionada ao negro e ao indígena. Evidentemente, este trabalho é insuficiente para contemplar a imensa contribuição social prestada por estas profissionais e tantas outras que anonimamente se dedicam com esmero para a inclusão e integração social através da educação. As personalidades escolhidas para este estudo refletem vivências e realidades diversas apresentando, no entanto, pontos relevantes em comum, a significativa capacidade intelectual e a dedicação às causas que visem o bem comum e a evolução social. A comprovação da superioridade numérica feminina nessa área profissional, tanto pelas estatísticas como pela literatura, ressalta a importância que a área profissional 29 da educação tem para a sociedade e o papel que a figura feminina representa neste contexto. 5.2 Enfermagem Os estudos e reflexões presentes na literatura a respeito das conquistas e mudanças sociais em diferentes épocas e contextos revelam a importância que a atuação profissional feminina representa para a construção e evolução de diversas áreas de trabalho, entre elas a Enfermagem, uma atividade voltada principalmente para o bem estar e o cuidar das pessoas. No Brasil a profissionalização das atividades ligadas aos cuidados da saúde fundamenta-se principalmente na influência vinda da Europa no século XIX, com a transformação do sistema de trabalho na saúde, fazendo com que as tarefas praticadas nos hospitais e realizadas principalmente por religiosos fossem exercidas a partir de então, conforme explica Lopes e Leal (2005, p. 109) “[...] por mulheres leigas, adequadas ao novo perfil exigidos e ideais do ponto de vista das qualidades do sexo.” A Enfermagem, vinculada basicamente aos processos de organização dos serviços de saúde prestados pelas instituições religiosas, edificou seu ensino e sua prática a partir de novas exigências que suprissem a demanda por mão-de-obra qualificada. Os serviços prestados pelas instituições de saúde, que eram em sua maioria administradas por entidades religiosas, passam a exigir pessoas com conhecimentos e habilidades cada vez mais específicos. Segundo Lopes e Leal (2005) o processo de profissionalização e relações de trabalho da Enfermagem intensificou-se a partir dos avanços e descobertas no campo da Medicina e Microbiologia, com a aplicação de novas técnicas e procedimentos. Dessa maneira as relações trabalhistas, alteradas com as transformações provocadas pela Revolução Industrial e somadas às novas exigências técnico-profissionais, colaboraram para a consolidação e o reconhecimento da Enfermagem como um amplo campo de trabalho, propício aos crescentes anseios femininos em busca de consolidação e reconhecimento social, cultural e profissional. No início da Enfermagem no Brasil sua principal característica era ser de cunho prático, razão pela qual não eram exigidos requisitos e conhecimentos mais 30 apurados no exercício das funções de enfermeira. Segundo Nauderer e Lima (2005), esta situação estendeu-se até o início do século XX quando os que exerciam essa profissão não tinham formação técnica e formal. O primeiro curso sistematizado de Enfermagem ocorreu em 1923, no Rio de Janeiro, com a fundação da Escola de Enfermagem Ana Neri, onde segundo as autoras, eram ministrados ensinamentos, técnicas e normas de acordo com o modelo nightingaleano e sob a responsabilidade de enfermeiras americanas. O processo de profissionalização da Enfermagem passou por momentos críticos, como, por exemplo, a desvalorização da carreira no início do século XX; foi somente a partir 1961, segundo Nauderer e Lima (2005, p.75) que “por força de legislação, que a formação de enfermeiras no Brasil foi incluída no sistema educacional universitário, estabelecendo-se como pré-requisito para ingresso o curso secundário completo ou equivalente”. A partir de então, o exercício da Enfermagem e suas funções auxiliares evoluíram consideravelmente, de maneira que as atribuições e as práticas profissionais expandiram em outras atividades e conhecimentos técnicos que iam além daqueles ligados meramente aos problemas básicos de saúde e aos de caráter preventivo. Por mais de meio século a Escola de Enfermagem Ana Néri manteve a tradição da Enfermagem como uma profissão feminina formando 13 enfermeiras na sua primeira turma (1923-1925) dentre as 27 alunas inscritas. Até o ano de 1937 o curso já havia formado 245 enfermeiras. Tyrrel e Santos (2007) afirmam que a inclusão feminina na profissão continua majoritária, se considerarmos que os formados nessa escola até meados de 2006 somam 4.208 mulheres e 254 alunos do sexo masculino. O grande número de profissionais femininas inseridas nos cursos de todos os níveis, nas atividades e na produção acadêmica pertinentes à Área da Enfermagem, comprova a importância social e intelectual exercidas pelas mulheres na profissão. Desde o início da história da mulher na Enfermagem até os dias atuais são encontrados inúmeros exemplos de dedicação e competência. A escolha de personalidades representativas para esta classe profissional torna-se, portanto, uma tarefa difícil. É incontável a quantidade de profissionais destacadas nos diferentes ramos e nas atividades ligados á saúde e ao bem estar do ser humano, confirmando 31 a determinação e capacidade intelectual destas profissionais. Como exemplos de personagens pioneiras na história da Enfermagem foram escolhidos os nomes de Florence Nightingale e Ana Néri, devido à imensa contribuição, direcionamento e princípios básicos incorporados à profissão. Florence Nightingale nasceu em uma família inglesa, no ano de 1820 em Florença na Itália. Aos 17 anos começou a demonstrar interesse pela Enfermagem, atividade que era praticada na época, somente por homens e religiosas. Sua família não considerava que essa atividade fosse adequada para ela, porquanto esperava que Florence se casasse e vivesse como uma mulher normal de classe alta. No entanto, era tão forte sua determinação que seus pais cederam. Dessa forma ela partiu para a Alemanha em 1851, já com 31 anos, com o objetivo de participar de um curso de treinamento com duração de três meses, tornando-se após dois anos de sua formação, superintendente de um hospital de damas em Harley Street na Inglaterra. Florence destacou-se nas atividades de ajuda e cuidados às vítimas na Guerra da Crimeia, conflito envolvendo vários países europeus que lutaram entre 1853 e 1856, contra a expansão russa pelos Balcãs, região do Mar Negro, gravando para sempre seu nome na história da Enfermagem. Demonstrando seu espírito de pioneirismo e coragem, aceitou supervisionar uma equipe de enfermeiros nos hospitais militares da Turquia e ainda assumiu a liderança de 38 mulheres na gestão de um hospital caserna em Scutari. Nessas atividades Florence e sua equipe, tomaram contato com as precárias condições sanitárias ali existentes, fazendo com que em 1860, após retornar à Inglaterra, ela criasse uma escola de enfermagem, onde foram aplicados os ensinamentos e conhecimentos adquiridos por ela nos hospitais de campanha e nas regiões destruídas pela guerra. Florence Nightingale é reconhecida como a criadora da Enfermagem Moderna em todo o mundo, tendo seu nome valorizado e reconhecido pelas ações ligadas ao heroísmo e à dedicação ao bem comum, da mesma forma que serve de referência para o rompimento dos preconceitos existentes na época, a respeito das mulheres trabalharem no Exército. Sendo assim, segundo Costa et al (2009, não paginado) 32 O grande mérito de Florence Nightingale foi dar voz ao silêncio daqueles que prestavam cuidados de enfermagem, que provavelmente não percebiam a importância dos rituais que seguiam, que já indicavam uma prática profissional organizada. Ao institucionalizar a enfermagem como profissão, ela produziu um significado no silêncio que havia na prática de enfermagem, que até então era envolta em regulamentos e correspondências internas às instituições de cuidado, executadas por aquelas que faziam parte de associações, geralmente religiosas, cujo espírito era servir ao próximo, por amor a Deus. A importância do trabalho e determinação de Florence Nightingale representa não somente para a área profissional da Enfermagem, mas serve de parâmetro para mulheres de diferentes profissões, frente às lutas e reivindicações pelo reconhecimento e valorização de seus direitos ao trabalho formal, ao ensino e à capacitação técnico-profissional. No Brasil, o destaque pela contribuição e pelo pioneirismo na área da Enfermagem é para a brasileira Ana Justina Ferreira Néri ou como ficou mais conhecida, Ana Néri. A dedicação e amor ao próximo aliado à coragem e determinação fizeram com que ela fosse reconhecida como a “Mãe dos brasileiros” e “símbolo da Enfermagem nacional”. (Nauderer e Lima, 2005, p. 75). Nasceu na cidade de Cachoeira do Paraguaçu, na Bahia, no ano de 1814, e aos 23 anos casou-se com o capitão de fragata da Marinha brasileira, Isidoro Antonio Néri, de quem ficou viúva com três filhos pequenos para educar e formar. No ano de 1865, durante a Guerra do Paraguai, seus filhos são convocados pelo Exército brasileiro indo para os campos de batalha. Alegando o desejo de permanecer próxima a seus filhos, Ana Néri lutou de todas as formas, inclusive junto às autoridades da Província da Bahia, para poder ingressar como enfermeira voluntária nos quadros do exército brasileiro. Aos 51 anos, segundo Vainsencher (2008, não paginado) “[...] viaja para o Rio Grande do Sul, e lá aprende as primeiras noções de enfermagem com as irmãs de caridade de São Vicente de Paulo”, depois segue para os campos de batalha juntamente com outros voluntários ficando conhecida como a primeira mulher enfermeira no Brasil. 33 5.3 Outros rumos profissionais Os caminhos traçados pelas transformações sociais e culturais e as lutas pelo reconhecimento e pela emancipação feminina são componentes que mostram a própria história da evolução intelectual, profissional e pessoal feminina. A cada tempo, em cada lugar e em cada contexto, essas novas necessidades e demandas exigiram iniciativas e atitudes que correspondessem às expectativas profissionais mais coerentes e produtivas. Dessa forma, a possibilidade de novas funções, atividades e profissões abriram para o público feminino, diferentes oportunidades de inserção no mercado de trabalho formal. Assim como na área da Educação e da Enfermagem, outros segmentos profissionais tornaram-se carreiras atrativas e prenunciadoras de evolução econômica e social para as mulheres. É o caso, por exemplo, da Nutrição, do Serviço Social, da Fisioterapia, dentre outras. Na história de cada uma dessas profissões percebe-se a presença feminina de forma marcante, ficando evidenciada a alta capacidade intelectual e determinação feminina. Algumas dessas profissões apresentam pontos em comum, estando interligadas por se tratarem de atividades afins. Aperibense e Barreira (2008, não paginado) afirmam que “os cuidados com a alimentação já eram objeto de preocupação de Florence Nightingale”. Em 1933 surge na Argentina o primeiro curso formador de profissionais especializados em dietas. No Brasil, o primeiro curso criado foi o da Universidade de São Paulo em 1939, mas foi no período compreendido entre 1950-1975 que ocorreu a ampliação de cursos de Nutrição, do número de profissionais e da regulamentação da profissão. Vasconcelos e Calado (2011, não paginado) revelam que em 2005 a porcentagem de profissionais femininas na área da Nutrição era de 96,5%, denotando, portanto, ser a Nutrição “uma profissão predominantemente feminina, característica inerente às origens históricas desse profissional no Brasil e que continua se reproduzindo nos dias atuais.” A profissão de fisioterapeuta é outro segmento profissional ligado à área da Saúde, tendo sido regulamentada legalmente no Brasil em 1969. De acordo com Badaró e Guilhem (2011, não paginado) originariamente a Fisioterapia buscava auxiliar a 34 Medicina, sobretudo na reabilitação motora dos pacientes, evoluindo “para uma profissão autônoma, com inserção nas diversas áreas clínicas e com espaços ampliados na prevenção e na promoção de saúde”. O profissional passa a partir dessa evolução a atuar em diferentes áreas como, por exemplo, na educação, na indústria, no trabalho, entre outras, contribuindo para o desenvolvimento da profissão. O aumento no número de cursos de graduação foi gradativo e de acordo com Badaró e Guilhem (2011, não paginado) eles eram seis em 1970 e chegavam a 505 cursos em 2008, ainda de acordo com os autores, “tradicionalmente, a Fisioterapia é uma profissão predominantemente feminina, e estudos apontam um percentual de 70% a 80% de mulheres no exercício da profissão.” O Serviço Social é uma área de atuação profissional moldada a partir de um contexto político, cultural, social e econômico no qual se encontra inserido, refletindo dessa maneira um determinado momento histórico. A formação dessa profissão pode ser compreendida a partir do panorama sócio-cultural na qual está imersa, refletindo as interferências e os processos sociais em constante mutação. Craveiro e Machado (2011, não paginado) afirmam que o momento histórico do surgimento do Serviço Social como profissão “se encontra na passagem do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista” e ainda de acordo com os autores, o Estado passou a interferir nas questões sociais a partir de políticas sociais, utilizando-se do Assistente Social para o cumprimento dessas políticas. A respeito da feminização na profissão as autoras afirmam que A questão de ser a profissão do Serviço Social composta por mulheres encontra-se vinculada em toda a trajetória histórica desta profissão, desde as suas protoformas aos dias atuais. Contudo, a predominância do sexo feminino dentro do âmbito profissional, não é uma especificidade somente da profissão de Serviço Social que possui em seu contexto histórico essa característica, mas, esse aspecto se encontra também inserido historicamente em outras profissões. O Serviço Social se estabiliza como profissão no Brasil desde que o Governo, o Empresariado e a Igreja Católica a utilizam como recurso e suporte “na perspectiva 35 do enfrentamento e regulação da questão social, a partir dos anos de 1930” e desde seu surgimento é observado forte predomínio feminino na profissão. 5.4 Biblioteconomia O entendimento sobre o surgimento da Biblioteconomia e suas práticas e atividades está diretamente ligado aos processos culturais por que passaram a sociedade, pelas mudanças de ambiente, pelos eventos sociais, é assim que, segundo Martucci (1996, p 226) percebe-se que ao final do século XVIII, “o desenvolvimento dos sistemas escolares estatizados e a difusão do livro pela impressão tipográfica são condições para o desenvolvimento da função docente e da função bibliotecária.” Especificamente devido ao significativo aumento na produção e na difusão de livros ocorrida na Europa a partir deste século, a leitura passa a ser caracterizada como extensiva, dessa maneira, com a redução do preço e da facilidade de manuseio dos formatos pequenos, que surgiram, conforme afirma Martucci (1996, p. 229), “[...] o leitor consome impressos numerosos e diversos, com avidez e velocidade e exerce uma atividade crítica.” No século XIX, a Europa foi caracterizada por novos aspectos da vida política que nortearam tanto as relações individuais como as relações estatais, trazendo conceitos como o de democracia e de nacionalismo. A independência e a expansão de muitas nações que deixaram de ser colônias e a procura por novos mercados foram pontos importantes para novos investimentos, sendo consideradas a características principais do período expansionista da Revolução Industrial. (MARTUCCI, 1996). Marcada por muitas transformações sociais relacionadas às novas formas de trabalho, essa época que era caracterizada por atividades estritamente manufatureiras e sem ganhos financeiros, passa então, a ter um caráter industrial com a prática do trabalho assalariado. A sociedade que era basicamente rural vai se transformando em uma sociedade urbana, descobrindo novos valores e novas necessidades sociais, como a escolarização e a educação. A instrução passa a ser vista como “sinônimo de superioridade social”e o surgimento de bibliotecas de acesso público foi impulsionado, esperando-se que elas, conforme comenta Martucci 36 (1996, p.230) “contribuíssem para a ordem social e o progresso nacional,proporcionando ao povo acesso à boa literatura e a formação do hábito e gosto pela boa leitura”. No século XIX as bibliotecas eram consideradas de diferentes formas, na Inglaterra, como um meio de manter a ordem social e nos Estados Unidos elas representavam uma forma democrática de disseminar a educação. O reconhecimento da educação como prioridade para a sociedade, deu-se a partir do momento em que a inteligência humana transferiu seus interesses para além dos conceitos religiosos tradicionais da época, expandindo-os em outras direções. A ciência rompe as barreiras da universidade aliando-se, conforme comenta Martucci (1996, p.229), “à indústria, ao comércio, às artes, à religião e à política”. A valorização e a busca por educação, pelo ensino e pela escolarização reflete a ideia generalizada na época, de que sem instrução não haveria igualdade entre os homens e nem evolução da sociedade, sendo assim, segundo a autora, os professores eram considerados “apóstolos da civilização”. Nesse contexto social e cultural, no qual estão inseridos os interesses voltados para o desenvolvimento econômico e industrial, a leitura era vista como uma ferramenta de baixo custo, capaz de garantir o equilíbrio e o controle sobre os operários, daí o surgimento em caráter emergencial das bibliotecas públicas, com a intenção de suprir uma demanda cada vez maior. Dessa forma, a biblioteca pública com sua origem aliada à educação da população de classe baixa e estabelecendo critérios de controle sobre os materiais de leitura a serem oferecidos, incentivava e orientava os leitores às leituras que promovessem melhoria intelectual e de vida. Assim como fizeram os docentes que buscaram a organização e a regulamentação de sua profissão, por meio da criação e da implantação de cursos de formação, com as Escolas Normais, a Biblioteconomia seguiu no século XIX os mesmos passos em busca da profissionalização. Foram criados os primeiros cursos de formação de bibliotecários: em 1821, na França, a Ècole Nationale des Chartres, e em 1887, nos Estados Unidos, a Columbia University School of Library Service. (MARTUCCI, p.231). Neste século, a biblioteca pública trabalhava praticamente em conjunto com 37 a educação, cumprindo seu papel social e demonstrando a aproximação entre professores e bibliotecários. No século XVI, na Bahia, surgem as bibliotecas ligadas aos colégios e aos conventos de diversas ordens religiosas, como as dos jesuítas integrantes da Companhia de Jesus que chegaram ao Brasil em 1549 e tinham como incumbência a conversão dos indígenas ao Cristianismo. A partir de 1585, outras ordens religiosas chegaram ao país, como os Franciscanos, Carmelitas e Beneditinos que possuíam conhecimentos mais antigos sobre bibliotecas; por isso, segundo Almeida (2012, p.27) “[...] contribuíram para a inserção de livros e das bibliotecas no Brasil Colonial.” Ainda de acordo com a autora, houve a vinda de ordens religiosas no século XVII, como por exemplo, os Capuchinos, os Mercedários e os Oratorianos instalados no Maranhão, na Amazônia e em Pernambuco e Bahia, respectivamente, que trouxeram consigo seus acervos, contribuindo também para a proliferação de bibliotecas. O século XIX foi marcado pela inauguração das primeiras bibliotecas públicas no Brasil, entre elas a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro em 1810, a Biblioteca Pública da Bahia em 1811. Almeida (2012, p. 28) afirma que as bibliotecas foram se espalhando por outros estados: como Sergipe (1851), Pernambuco (1852), Espírito Santo (1855), Ceará (1867) e Rio Grande do Sul (1871), entre outros. Desse modo, as bibliotecas foram se transformando e deixaram de ser subordinadas exclusivamente à Igreja Católica e às suas ordens religiosas. A administração de bibliotecas passa a ser exercida por intelectuais e profissionais de renome pertencentes ás áreas do Direito, da Medicina, do Jornalismo, entre outros. Com o passar das décadas, as transformações sociais e o surgimento de novas necessidades de mão de obra para suprir vagas de trabalho, em diversos setores profissionais, entre os quais a Biblioteconomia, possibilitou o aumento de oportunidades de trabalho que gradativamente foram sendo difundidas e praticadas. 38 6 A BIBLIOTECONOMIA NO BRASIL A Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro é considerada o marco do início formal da Biblioteconomia brasileira. Segundo Castro (2000, p. 43) ela é “[...] remanescente da Biblioteca Real da Ajuda, criada por D. João I, rei de Portugal [...]” e ainda de acordo com o autor, o numeroso e rico acervo chegou ao Brasil nos porões dos navios que traziam a família real portuguesa refugiada das perseguições das tropas francesas na Europa. Semelhante às outras bibliotecas existentes no Brasil na época, esta também, foi administrada por religiosos em suas primeiras décadas e só em 1814, seis anos após sua chegada, foi aberta ao público. Posteriormente, a Biblioteca Nacional passou a ser dirigida por diferentes pessoas, havia as que eram ligadas à Igreja, aos profissionais liberais e aos intelectuais da época. A partir dessas diferentes gestões ocorreram várias mudanças, sobretudo na organização, nos regulamentos, nos horários, e conforme afirma Castro (2000, p. 48) o surgimento de “[...] concursos públicos para preenchimento de cargos, em especial de bibliotecários.” Quando em 1897 assume o cargo de diretor da biblioteca o Dr. Manuel Cícero Peregrino da Silva, inicia-se uma nova etapa não somente para a Biblioteca Nacional, mas também para a Biblioteconomia brasileira. A partir das reformas por ele implantadas, na organização e na estruturação bibliotecária foi possível a criação do primeiro curso de Biblioteconomia no Brasil que seguia a linha de ensino, segundo Almeida (2012, p.44) “[...] influenciada pela escola francesa “École dés Chartes” com forte característica humanística.” Além disso, esse curso tinha por objetivo a formação de profissionais para o trabalho na própria biblioteca exigindo como pré-requisito, que os candidatos possuíssem basicamente cultura geral, abrangendo conhecimento de idiomas, conhecimentos gerais, literatura, entre outros. Funcionando regularmente até 1922, o curso da BN foi reformulado passando a ser um curso de dois anos e formado por oito disciplinas distribuídas entre três instituições, a Biblioteca Nacional, o Arquivo Nacional e o Museu Histórico Nacional. No ano de 1931 teve início, segundo o autor, a segunda fase do curso a partir do Decreto nº 20.673 de 17 de Novembro que regulamentava e justificava de maneira 39 clara e objetiva a importância do ensino da Biblioteconomia, enfatizando a necessidade das bibliotecas contarem com a existência de profissionais capacitados tecnicamente para a organização e remodelação de seus acervos. Em São Paulo, as bibliotecas seguiam o mesmo modelo das existentes no país até o século XVIII, com acervos formados por obras históricas, clássicas e crônicas que serviam para a formação de seminaristas. Segundo Castro (2000, p. 63) em 1825 foi criada “a primeira Biblioteca Pública Oficial de São Paulo” que mais tarde foi anexada à Faculdade de Direito (atualmente Faculdade de Direito da USP). Até o fim do século XIX foram fundadas as bibliotecas do Mackenzie (1886), da Escola Politécnica (1894) e a Biblioteca do Estado (1895). A Instituição de Ensino Mackenzie criada em 1870, representava a inovação para o ensino em São Paulo, impactando os padrões tradicionais seguidos na época por outros colégios. Dessa forma, seguindo o modelo de educação americano é criado em São Paulo o ensino de Biblioteconomia, com a vinda para o país da bibliotecária norte-americana Dorothy Murriel Gropp, cuja missão era organizar o acervo e capacitar profissionalmente funcionários e professores por meio de um Curso Elementar de Biblioteconomia. Os Estados Unidos sempre tiveram muito interesse pela Biblioteconomia nos países latino-americanos, fornecendo bolsas de estudo para diversas bibliotecárias, como aconteceu com a professora brasileira Adelpha Rodrigues Figueiredo. O encerramento das atividades do curso de Biblioteconomia do Mackenzie foi marcado pela criação do curso ligado ao Departamento de Cultura pela Prefeitura Municipal de São Paulo em 1936. Segundo Castro (2000, p. 71) este curso “[...] criado por Rubens Borba de Moraes consolidou, sistematizou e normalizou as atividades de ensino, informais e assistemáticas [...]”. Em São Paulo, o curso da Escola Livre de Sociologia Política de São Paulo surgiu quando do encerramento do curso da Prefeitura de São Paulo, ocorrido em 1939 por decisão do Prefeito Prestes Maia, conforme afirma Almeida, (2012, p. 46) “por questões políticas e com alegações de não reconhecer a utilidade e a viabilidade do Curso de Biblioteconomia, cancelou a subvenção dada ao curso”. Com esta ruptura e sob as influências de Rubens Borba de Moraes e Adelpha Figueiredo, o curso foi reinstalado em maio de 1940. O ensino de Biblioteconomia em São Paulo seguia o 40 padrão tecnicista americano, priorizando dessa forma, a formação de profissionais, conforme descreve Almeida (2012, p. 48) “especialistas em conservação, classificação e catalogação de coleções valiosas” A década de 40 foi um período de mudanças significativas para o ensino da Biblioteconomia no país, principalmente em relação aos novos conteúdos pedagógicos. Foi nessa década que as oportunidades de acesso ao ensino da Biblioteconomia foram mais bem disponibilizadas, principalmente, de acordo com Castro (2000, p. 79) “[...] a partir da criação do Curso da Escola Livre de Sociologia Política em 1940 e com a reforma do curso da Biblioteca Nacional em 1944.” O curso ministrado em São Paulo foi responsável pela formação de profissionais que contribuíram para que fossem criados outros cursos espalhados em diversas localidades brasileiras, como Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, etc. Conforme descreve Almeida, (2012, p. 51) [...] havia seis cursos de Biblioteconomia no Brasil: no Estado do Rio de Janeiro (Biblioteca Nacional); no Rio Grande do Sul (Universidade do Rio Grande do Sul); em Pernambuco (Centro de Documentação e Cultura da Prefeitura); na Bahia (Universidade Federal da Bahia) e dois cursos no Estado de São Paulo (Pontifícia Universidade Católica de Campinas e na Escola de Sociologia e Política). No Rio de Janeiro, os cursos da Biblioteca Nacional tinham inicialmente um caráter de formação e de capacitação de pessoas que já exerciam funções em bibliotecas. De acordo com o quadro a seguir, que representa a evolução no número de alunos matriculados nos cursos da Biblioteca Nacional no período 1940/1943, fica demonstrado a existência da superioridade numérica feminina na profissão. 41 Gráfico 1 - Candidatos ao curso da Biblioteca Nacional entre 1940/1943 300 262 240 250 200 150 202 174 162 167 139 160 100 50 28 23 7 22 0 1940 1941 Total Feminino 1942 1943 Masculino Fonte: Castro (2000, p. 84) O reconhecimento oficial da Biblioteconomia junto aos órgãos públicos e à sociedade brasileira teve início a partir da década de 50, mais precisamente em 1958 com a Portaria nº162 do Ministério do Trabalho que incluía a profissão de bibliotecário no grupo das profissões liberais. Mas foi com a Lei nº 4.084, aprovada no ano de 1962, que a Biblioteconomia brasileira foi regulamentada quanto ao exercício regular da profissão e ao estabelecimento das exigências aos portadores de diplomas de Biblioteconomia no país. O estabelecimento de currículo mínimo para o ensino da Biblioteconomia, a fixação da duração do curso em três (3) anos e a obrigatoriedade de 12 disciplinas a serem ministradas, foram pontos importantes fixados pela Resolução nº 3261, pelo Conselho Federal de Educação. Também em 1962, já era delineada a criação de um Conselho Federal que pudesse coordenar as entidades regionais ligadas à Biblioteconomia no Brasil. Esse fato se concretizou a partir da publicação da Portaria nº 585 do Ministério do Trabalho e Previdência Social em outubro de 1965 e da eleição da primeira Diretoria do Conselho Federal de Biblioteconomia - CFB. Em fevereiro de 1966 tomava posse então, a primeira gestão do Conselho Federal de Biblioteconomia (triênio 1966-1969). Essa primeira diretoria foi composta pelas bibliotecárias: Laura Garcia Moreno Russo (Presidente); Alice Camargo Guarnieri (1ª secretária); Maria Dorothea Barbosa (2ª secretária); Heloísa de Almeida Prado (Tesoureira) e mais 11 bibliotecárias entre Conselheiras efetivas e Suplentes, segundo informações coletadas junto ao site oficial do 42 Conselho Federal de Biblioteconomia e aos Conselhos Regionais de Biblioteconomia. Existem atualmente 42 cursos superiores ligados à área de Biblioteconomia, considerando-se ainda, as diferentes nomenclaturas: Documentação, Ciência da Informação, Gestão de Unidades de Informação, Gestão da Informação, os quais se encontram distribuídos entre os 21 estados brasileiros e o Distrito Federal. Conforme informações coletadas junto ao site da Faculdade de Biblioteconomia - FABIB da Universidade Federal do Pará, 29 desses cursos pertencem a Instituições educacionais públicas de competências estaduais e federais e os demais pertencem a Instituições de caráter privado. Os dados oficiais disponibilizados pelos Conselhos Regionais de Biblioteconomia trazem o panorama geral dos profissionais inscritos e de profissionais ativos e estão demonstrados graficamente a seguir; Gráfico 1 – Profissionais Ativos e Inscritos no Brasil 36% Inscritos 64% Ativos Fonte: Adaptado de CRB1, CRB3, CRB5, CRB6, CRB8, CRB10, 2014. 6.1 O gênero feminino na Biblioteconomia A presença feminina na Biblioteconomia é altamente expressiva, como acontece de forma semelhante em outras profissões, sendo o século XIX considerado, conforme afirma (Martucci, p. 234) “[...] um marco de importantes conquistas pela mulher, colocando-a em evidência como trabalhadora, com reconhecimento, ainda que parcial, de sua capacidade como força de trabalho”. Essa realidade ampliou-se com 43 a intensificação da participação feminina no mercado de trabalho remunerado e formal, confirmando a capacidade intelectual e a determinação feminina em diferentes atividades e profissões. Especialmente em relação à Biblioteconomia, os dados estatísticos e numéricos são importantes para a comprovação da superioridade numérica feminina, proporcionando condições para uma avaliação quantitativa sobre a evolução profissional da mulher nessa área. Para isso foram contatados todos os 14 Conselhos Regionais de Biblioteconomia existentes e listados a seguir, porém, somente os CRB1, CRB3, CRB5, CRB6, CRB8 e CRB10 enviaram dados referentes aos profissionais inscritos e ativos, além de informações quanto ao gênero de profissionais em seus respectivos Conselhos Regionais. Esses órgãos de classe são compostos alguns por vários estados brasileiros e outros respondem a um único Estado do país. Considerando-se a natureza deste trabalho que pretende mostrar a história da evolução da Biblioteconomia no Brasil, outro aspecto importante é a representação numérica sobre a situação dos profissionais em relação aos anos e décadas passadas. Contudo, não foram obtidos todas as informações esperadas, dessa maneira, este levantamento representa basicamente o panorama geral da atualidade, referente a parte dos profissionais de Biblioteconomia a nível nacional. As mensagens por correio eletrônico foram enviadas para todas as instituições de classe elencadas abaixo e nelas constou a identificação da autora da pesquisa, da Instituição de Ensino e da Professora Orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso. O conteúdo textual das mensagens versou basicamente sobre questões objetivas que proporcionassem um levantamento de informações para o embasamento e reflexão sobre o tema desta pesquisa. Todos os contatados foram indagados sobre a existência do número maior de mulheres na Biblioteconomia, sobre os dados numéricos a respeito dessas profissionais e sobre as estatísticas a respeito da relação entre profissionais masculinos em comparação com profissionais femininas em cada uma das Instituições de classe consultadas (APÊNDICE A). As respostas foram analisadas e representadas pelos gráficos a seguir. Além disso, as informações foram complementadas a respeito da composição geográfica de cada Conselho Regional de Biblioteconomia, suas localizações, os dados sobre a criação de cada uma delas e sobre a presidência da atual gestão correspondente ao 44 período 2012/2014, informações estas obtidas junto aos sites oficiais das instituições em questão. CRB-1 Estados: Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul Localização: CNL 407 Bloco D Loja 30 – CEP 70555-540 – Brasília - DF Histórico: Criado através da Resolução nº 4 de 12 de Julho de 1966. Presidente Gestão 2012/2014: Antônio José Oliveira Silva – CRB – 1/2226 Bibliotecários inscritos: 1668 Bibliotecários ativos: 1668 Gráfico 2 – Profissionais Inscritos e Ativos 17% Feminino 83% Masculino Fonte: Adaptado de CRB1, 2014. CRB-2¹ Estados: Amapá, Pará e Tocantins Localização: Rua 15 de Novembro, 226 sala 1510, - CEP 66013-060 Belém – PA Histórico: Criado pela Resolução nº 4 de 12 de Junho de 1966. Presidente Gestão 2012/2014: Marly Jorge Brito – CRB- 2/866 ¹Não há gráfico porque não foram enviados os dados. 45 CRB-3 Estados: Ceará e Piauí Localização: Av. Santos Dumont, 1687 2ºandar –salas 207/208 Ed. Santos Dumont Center – CEP 60150-160 Fortaleza - CE Histórico: em fase de pesquisa Presidente Gestão 2012/2014: Maria Herbênia Gurgel Costa – CRB-3/424 Bibliotecários inscritos: 931 Bibliotecários ativos:882 Gráfico 3 – Dados do CRB3 Gráfico 4 – Dados do CRB3 Profissionais Inscritos 11% Profissionais Ativos 11% 89% Feminino Masculino 89% Feminino Masculino Fonte: Adaptado de CRB3, 2014. CRB-4 ² Estados: Pernambuco e Alagoas Localização: Rua Gervásio Pires, 674 Boa Vista – CEP 50050-070 Recife – PE Histórico: Criado pela Lei 4084 de 30 de Junho de 1962 Presidente Gestão 2012/2014: Aderilson de Oliveira e Santos ²Não há gráfico porque não foram enviados os dados. 46 CRB-5 Estados: Bahia e Sergipe Localização: Rua Miguel Calmon, nº 40 Ed. Conde dos Arcos sala 101, Comércio – CEP 40015-010 Salvador – BA Histórico: Criado pela Resolução nº 4 de 12 de Junho de 1966 Presidente Gestão 2012/2014: Marcos Paulo Viana – CRB-5/1617 Profissionais Inscritos: 1816 Profissionais Ativos: 922 Gráfico 5 – Dados do CRB Profissionais Inscritos 9% Gráfico 6 – Dados do CRB5 Profissionais Ativos 12% 88% 91% Feminino Masculino Feminino Masculino Fonte: Adaptado de CRB5, 2014. CRB-6 Estado: Minas Gerais e Espírito Santo Localização: Av. Afonso Pena, nº 867/1112 Centro – CEP 30130-002 Belo Horizonte – MG Histórico: Criado pela Resolução nº4 de 12 de Julho de 1966 Presidente Gestão 2013: Antônio Afonso Pereira Júnior Profissionais Inscritos: 3.023 Profissionais Ativos: 1.752 47 Gráfico 7 – Dados do CRB6 Profissionais Inscritos 11% Gráfico 8 – Dados do CR6 Profissionais Ativos 15% 89% Feminino Masculino 85% Feminino Masculino Fonte: Adaptado de CRB6, 2014. CRB-7³ Estado: Rio de Janeiro Localização: Av. Rio Branco, nº 277 sala 710 – CEP 20040-009 Rio de Janeiro – RJ Histórico: Criado pela Resolução nº4 de 12 de Julho de 1966 Presidente Gestão 2012/2014: Marcos Luiz Cavalcanti de Miranda CRB-8 Estado: São Paulo Localização: Rua Maracajú, nº 58 Vila Mariana – CEP04013-020 São PauloSP Histórico: Constituído em 16 de Agosto de 1966 Presidente Gestão 2012/2014: Cristiane Camizão Rokicki CRB- 8/6256 Profissionais Inscritos: 4.999 Profissionais Ativos: 1.752 ³Não há gráfico porque não foram enviados os dados. 48 Gráfico 9 – Dados do CRB8 Gráfico 10 – Dados do CRB8 Profissionais Ativos Profissionais Inscritos 14% 15% 86% Feminino 85% Masculino Feminino Masculino Fonte: Adaptado de CRB8, 2014. O Conselho Regional de Biblioteconomia 8ª Região - CRB8 é o órgão de classe que tem por jurisdição o Estado de São Paulo. Importante destacar os dados enviados pelo CRB8 que apresentam a evolução da participação feminina desde sua constituição por décadas apresentados no quadro abaixo. Gráfico11 – Dados sobre profissionais femininos e masculinos por décadas 2500 2276 2133 2000 1679 1500 1000 1336 935 691 403 500 92 62 87 245 138 0 1967-69 1970-79 1980-89 Feminino Fonte: Adaptado de CRB8, 2014. 1900-99 Masculino 2000-09 2010-14 49 CRB-94 Estado: Paraná Localização: Praça Zacarias, nº 80, 3º andar Conj. 301/303 Centro – CEP 80020-928 Curitiba-PR Histórico: Constituída em 16 de Agosto de 1966 Presidente Gestão 2012/2014: Maria Marta Sienna CRB-9/759 CRB-10 Estado: Rio Grande do Sul Localização: Rua José de Alencar, nº630, sala 401- CEP 90880- 480 Porto Alegre-RS Histórico: Constituído em 16 de Agosto de 1966 Gestora 2012/2014: Clarisse Olga Arend CRB-10/2021 Profissionais Inscritos: 2.330 Profissionais Ativos: 1.177 Gráfico 11 – Dados do CRB10 Gráfico 12 – Dados do CRB10 Profissionais Inscritos 9% Profissionais Ativos 12% 88% 91% Feminino Masculino Feminino Masculino Fonte: Adaptado de CRB10, 2014. CRB-115 Estados: Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima Localização: Travessa Padre Ghisland (antiga Rua Saldanha Marinho), nº140 Centro – CEP 69010-043 Manaus-AM Histórico: em fase de pesquisa Presidente Gestão 2012/2014: Thaís Lima Trindade 4 5 Não há gráfico porque não foram enviados os dados. Não há gráfico porque não foram enviados os dados. 50 CRB-136 Estado: Maranhão Localização: Rua da Alegria, nº395 Centro – CEP 65020-010 São Luiz-MA Histórico: Instituído provisoriamente em 23 de Setembro de 1983 e criada a diretoria a partir de Dezembro do mesmo ano. Presidente Gestão 2012/2014: Silvelene da Silva Evangelista CRB-147 Estado: Santa Catarina Localização: Rua João Pinto, nº30, sala 207 Ed. Joana de Gusmão – Centro – CEP 88010-420 Florianópolis-SC Histórico: em fase de pesquisa Presidente Gestão 2012/2014: Gyance Carpes CRB-14/843 CRB-158 Estados: Paraíba e Rio Grande do Norte Localização: João Pessoa-PB Histórico: Criado pela Resolução nº84 de 31 de Outubro de 2007 Presidente Gestão 2012/2014: Severina Sueli da Silva Oliveira CRB-15/225 6 Não há gráfico porque não foram enviados os dados. 7 Não há gráfico porque não foram enviados os dados. 8 Não há gráfico porque não foram enviados os dados. 51 A partir das informações acima ilustradas, referentes aos profissionais de Biblioteconomia que constam como inscritos e os que se encontram em atividade nas suas funções profissionais no Brasil, podemos comprovar que a profissão é exercida majoritariamente por mulheres. Mesmo se tratando de dados nacionais parciais, já que nem todos os Conselhos Regionais de Biblioteconomia responderam à consulta feita, podemos considerar que esta superioridade numérica na profissão está presente em todo o país. Complementando, foi feita uma análise qualitativa sobre a participação feminina nesta área científica e profissional, destacando nomes de bibliotecárias responsáveis por ações inovadoras que contribuíram para o desenvolvimento da Biblioteconomia brasileira. Por fim, serão apresentadas as entrevistas na íntegra (Tópico 7.2), com profissionais que atuam em alguns dos principais segmentos da área. Com isso, os dados estatísticos acima expostos tornam-se mais coerentes e representativos a respeito do panorama atual dos profissionais da Biblioteconomia no Brasil. 52 7 BIBLIOTECÁRIAS: DESTAQUES NA BIBLIOTECONOMIA BRASILEIRA Ao estudar a respeito da história da Biblioteconomia brasileira encontramos inumeráveis exemplos de intelectuais, de estudiosos e de profissionais atuantes em diferentes áreas e em vários segmentos da sociedade, que colaboraram e que ainda colaboram sobremaneira para o desenvolvimento e reconhecimento da Biblioteconomia, como meio para a construção e evolução do conhecimento humano. Autores como Castro (2000) em seu livro História da Biblioteconomia brasileira, Almeida (2012) em sua Dissertação de Mestrado intitulada Biblioteconomia no Brasil: análise dos fatos históricos da criação e do desenvolvimento do ensino, ou ainda Almeida; Baptista (2013) no artigo escrito ao Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documento e Ciência da Informação com sede em Florianópolis, foram fontes importantes de consulta e de inspiração para a elaboração deste estudo. Além disso, durante o curso de Biblioteconomia e Ciência da Informação que agora finalizamos, obtivemos a oportunidade de inúmeras leituras e ensinamentos a respeito da construção e do desenvolvimento da profissão e de seus profissionais através dos tempos. Dessa forma, podemos compreender e reconhecer que as mudanças e os avanços, ocorridos com o passar das décadas, acompanharam a própria história da sociedade demonstrando a natureza engajada da Biblioteconomia e de seus profissionais. O princípio básico da Biblioteconomia sinaliza para a prioridade do desenvolvimento social e cultural, dessa forma [...] o bibliotecário trabalha com um dos mais poderosos instrumentos de desenvolvimento das potencialidades humanas, que é a informação, é pertinente que ele se volte para desempenhar a sua função social como um agente democratizador da informação, por meio da sua ação mediadora com a sociedade. Agindo como um educador liberal contribuindo no processo de aprendizagem dos indivíduos através das mais diversas formas da lei. SILVA; LENDENGUE (2010, p. 94) 53 Assim, os profissionais da área necessitam acima de qualquer atributo, apresentar vontade de contribuir para a evolução do ser humano, a partir da disponibilização e facilitação de acesso à informação. Além disso, é muito importante que esses profissionais possuam qualidades como determinação e visão inovadora para acompanharem as necessidades e demandas sempre em constante transformação. 7.1 Múltiplos Caminhos A Biblioteconomia brasileira é resultado de uma construção constante e crescente, envolvendo profissionais com diversas visões e objetivos, a respeito da atuação e da valorização dessa área, em prol da sociedade e da própria classe. Por isso, para a confecção deste tópico, foram escolhidas profissionais reconhecidas como inovadoras no campo da Biblioteconomia, entre a inumerável quantidade de profissionais competentes existentes no Brasil. O critério para a escolha dessas profissionais obedeceu aos segmentos de atuação em que elas estão vinculadas, os quais simbolizam o progresso e evolução da profissão por meio de suas contribuições. No decorrer deste curso de Biblioteconomia, tivemos a oportunidade de conhecer algumas das inumeráveis histórias e exemplos de profissionais competentes e dedicadas à Biblioteconomia e à construção do conhecimento humano. Além disso, outra fonte de consulta importante para a elaboração deste tópico foi a Revista publicada em 2011 pelo Conselho Regional de Biblioteconomia 8ª Região intitulada Biblioteconomia Paulista: construindo caminhos. Esta publicação apresenta um esmerado elenco de profissionais, personagens como os das bibliotecárias Laura Russo, Adelpha Figueiredo, Etelvina Lima, Maria Luísa Monteiro da Cunha, May Brooking, Lenyra Fraccaroli, Neusa Dias de Macedo, Bernadete Campelo, dentre inúmeras, foram destacadas neste tópico por terem no pioneirismo, no estudo e no trabalho suas principais características que muito influenciaram o desenvolvimento da Biblioteconomia brasileira e de seus profissionais. No Brasil, a partir da década de 50, acentuam-se as questões sobre o reconhecimento e regulamentação da profissão, intensificando-se as ações e o empenho para que a Biblioteconomia fosse adequadamente valorizada pela 54 sociedade e pelos órgãos governamentais. A bibliotecária Laura Russo desempenhou nesse processo, papel essencial para o reconhecimento profissional, a partir da criação e da aprovação de legislação, de regulamentos e normas éticas que garantiram a evolução profissional da categoria. Sendo assim, em 1958 a profissão foi incluída na lista de profissões liberais com a Portaria 162 do Ministério do Trabalho e da Previdência Social. No ano de 1962, a aprovação da Lei 4.084 contemplou os esforços de Laura Garcia Moreno Russo que juntamente com várias outras bibliotecárias, lutavam pelo reconhecimento da profissão e pelos direitos trabalhistas, vigentes até os dias de hoje. Cumpre ressaltar que a Biblioteconomia apresenta-se como uma área em crescente transformação, acompanhando as mudanças de necessidades, de demandas e de recursos. A valorização profissional, a institucionalização de direitos e dos deveres é, dessa forma, de extrema importância para que os profissionais possam sentir-se apoiados e seguros quanto a seus anseios profissionais. Os reflexos dessa valorização podem, dessa forma, serem sentidos na melhoria, na evolução e no desempenho da profissão. Neste mesmo segmento, cumpre citar a bibliotecária Regina Céli de Sousa, atual Presidente do Conselho Federal de Biblioteconomia e que esteve à frente do Conselho Regional 8ª Região – CRB8, em São Paulo, em três gestões, 11ª, 12ª e 14ª. Entre suas principais conquistas para a classe bibliotecária podemos ressaltar: a iniciativa para a inserção do Dia do Bibliotecário no Calendário Oficial de Eventos do Município de São Paulo, Lei 14.552 do Vereador Goulart, a criação do Prêmio de Biblioteconomia Paulista Laura Russo e a criação da Revista CRB-8 Digital, ações estas que oferecem grande visibilidade e valorização ao profissional bibliotecário. Na esfera federal, seu trabalho se concentra na divulgação do próprio Conselho Federal de Biblioteconomia, por meio de visitas e palestras a diversas instituições de ensino e bibliotecas pelo Brasil, demonstrando dessa maneira, sua atuação contínua em prol do fortalecimento da classe bibliotecária e do desenvolvimento do profissional da informação perante a sociedade. Além disso, desempenha as funções de intensificação, mediação e reivindicação junto aos órgãos políticos e governamentais como forma de agregar apoio, parcerias e o reconhecimento da importância da implantação de bibliotecas. 55 Outro segmento a ser considerado também de grande importância para a Biblioteconomia brasileira foi a criação, a implantação e o reconhecimento de seus cursos. Nessa função a bibliotecária Adelpha Figueiredo é considerada no Brasil, um exemplo de pioneirismo e de poder transformador. Incentivadora ativa dos movimentos pela evolução e participação social, Adelpha Figueiredo foi a primeira mulher no Brasil a se formar bibliotecária em curso no exterior. Algumas iniciativas por ela desempenhadas contribuíram para a implantação, regulamentação e valorização do ensino de Biblioteconomia no Brasil, como por exemplo, a sua participação na fundação do curso de Biblioteconomia da Prefeitura de São Paulo. Depois de sua permanência nos Estados Unidos, onde conclui o curso de Biblioteconomia, Adelpha volta ao Brasil e retoma suas atividades docentes. Tornou-se, porém, a principal fonte de disseminação de idéias inovadoras no Brasil, sobretudo a respeito da organização e da disponibilização dos acervos de bibliotecas, contribuindo ainda com o planejamento, a organização e a direção do Serviço de Bibliotecas Ambulantes da Prefeitura de São Paulo. Adelpha desempenhou papel de relevante importância através de suas ações. Em mais de 40 anos de docência, 30 dos quais dedicados ao ensino de Biblioteconomia, colaborou para a construção de novos caminhos para esta área do conhecimento. O curso da Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP) ampliou o acesso ao ensino da Biblioteconomia em São Paulo a partir da década de 40, inclusive com a inclusão de bolsistas de outros Estados. Dessa forma, este curso entre outros, “contribuíram para a fundação de Escolas de Biblioteconomia, por diversas localidades do país” como afirma (Castro, 2000, p. 80). Entre as bibliotecárias formadas na ELSP e que se destacaram no ensino de Biblioteconomia destaca-se Etelvina Lima, que ao regressar a sua terra natal, Minas Gerais, fundou a Escola de Biblioteconomia em Belo Horizonte, na qual participou ativamente desde sua fundação em 1950, como professora e diretora do primeiro curso de Biblioteconomia voltado para professores primários. Em 1953, o curso já tinha a duração de dois anos e passou a se chamar Escola de Biblioteconomia de Minas Gerais, sendo dirigida no período de 1954-1963 por Etelvina Lima. Outra profissional de destaque foi a bibliotecária e docente Maria Luisa Monteiro da Cunha, formada em 1940 pela Escola Livre de Sociologia e Política e que assumiu a 56 disciplina de Catalogação lecionando nesta Escola até 1969 tendo participação marcante nas discussões junto a American Library Association– ALA,a respeito da necessidade de padronização na catalogação de nomes brasileiros. Assumiu em 1949 a Chefia da Biblioteca Central ligada à Reitoria da Universidade de São Paulo tendo visitado segundo explica Rosetto (2011, p. 47) “inúmeras bibliotecas e instituições culturais européias a fim de estabelecer contatos e ampliar intercâmbios institucionais” desenvolvendo nesta instituição também inumeráveis atividades que de acordo com o autor, a colocam como uma profissional de alta importância para os serviços biblioteconômicos, tanto em nível nacional e internacional. Colaborou com a tradução de obras e normas internacionais para o idioma português, publicou obras voltadas à organização e à gestão de informações bibliográficas. Seu nome é referência para a Catalogação, pelo pioneirismo no ensino e pelo desenvolvimento de conteúdos normativos. Além disso, o Curso de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, em 1966, foi criado em parte graças ao empenho e dedicação de Maria Luisa Monteiro da Cunha. Além de suas atuações como docente, bibliotecária e acadêmica, desempenhou ainda funções junto às instituições de classe como, Associação Paulista de Bibliotecários (APB), Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), Federação Internacional de Associações de Bibliotecários (IFLA), entre outras. Atualmente, os cursos seguem orientações definidas pela Associação Brasileira de Educação em Ciência da Informação (ABECIN) e do Ministério da Educação (MEC). Fundada em 2001, a ABECIN é uma sociedade civil, sem fins lucrativos composta por Entidades e Profissionais ligados a Educação Superior de Graduação de Ciência da Informação. Seus principais objetivos são a promoção de cursos, os treinamentos, realização de seminários e o intercâmbio dos educadores, entre outras, ações estas direcionadas à Ciência da Informação. Criado em 1930, o MEC, é um órgão de administração federal direta que tem poder e competência sobre: política universitária, o magistério e avaliações, entre outras ações. Na história da Biblioteconomia no Brasil existem inúmeros exemplos de mulheres que se destacam em diversos campos de atuação, em diferentes segmentos e em vários tipos de bibliotecas, as quais foram sendo criadas e desenvolvidas com objetivos primordiais de contribuir para a disseminação de informação contemplando 57 um variado e vasto público de leitores. A priorização e especialização das bibliotecas é produto de ações e processos pioneiros, sendo que muitas dessas realizações devem-se em grande parte à dedicação e visão inovadora de profissionais que marcam as atividades e o desenvolvimento da Biblioteconomia em níveis nacional e internacional. O trabalho desenvolvido por esses profissionais de destaque tem como principal compromisso a construção do conhecimento por meio do amplo compartilhamento de informações. No Brasil, um país de dimensões continentais e de imensa diversidade, com incontáveis dificuldades sociais e com barreiras geográficas, encontra nas bibliotecas públicas um elo entre os usuários e o imenso mundo do saber. O desejo do compartilhamento de conhecimento é um dos principais requisitos para quem atua na área de bibliotecas públicas e esta sempre foi uma característica presente na vida e nas atitudes da bibliotecária May Brooking Negrão. Destacada por sua contribuição ao desenvolvimento e modernização das bibliotecas públicas de São Paulo, trabalhou em 1975, junto ao Sistema de Bibliotecas do Município. May Brooking participou ativamente da implantação de bibliotecas que desempenhassem seu papel de centro cultural, modelo este utilizado atualmente no Centro Cultural São Paulo. As viagens que fazia ao exterior serviam de aprendizado e inspiração para aplicar no Brasil, modelos e ideias novas que proporcionassem aos usuários melhores condições de acesso à informação, dessa forma, abrangendo um público bastante diversificado e numeroso. Sua vida profissional foi marcada pelas lutas e pelas conquistas na evolução e na valorização da Biblioteconomia brasileira. O conceito de que a biblioteca deveria ter um caráter multidisciplinar a acompanhou pela vida profissional e mesmo depois de aposentada em 1991, May Brookig Negrão dedica-se voluntariamente à biblioteca comunitária da localidade onde reside, demonstrando dessa forma, a capacidade e a dedicação que sempre marcaram sua carreira profissional. A biblioteca infantil é o segmento de biblioteca que mais se aproxima da educação básica, fornecendo apoio didático aos professores e alunos. Nesse contexto surge o nome de Lenyra Camargo Fraccaroli, formada no antigo curso Normal foi trabalhar como professora substituta no Instituto Caetano de Campos. Nessa mesma instituição cursou Administração e juntamente com o professor Antonio D’Ávila 58 colocou em prática um projeto que trazia consigo desde que chegara ao Instituto. Reaproveitando móveis em desuso e espaço ocioso organizou a Semana do Livro, evento que se tornou um sucesso, promovendo a biblioteca e tornando-a um ambiente de desenvolvimento humano, social e cultural. Fazendo uso de atividades diversas, como leitura de contos, exibições de filmes, empréstimo de livros, entre outras, inovou as funções da biblioteca dinamizando e contribuindo para seu melhor aproveitamento. Formada em Biblioteconomia em 1940, Lenyra Fraccaroli foi responsável juntamente com seu amigo Monteiro Lobato a organizar, instalar e administrar a primeira biblioteca infantil do Brasil, atualmente a Biblioteca Monteiro Lobato. Essa ação pioneira originou em 1950 a Divisão de Bibliotecas InfantoJuvenis de São Paulo, por ela chefiada, surgindo a partir daí, o desenvolvimento da rede de bibliotecas voltadas para o público infantil e juvenil, distribuídas pelos bairros da capital paulista. Sempre interessada na melhoria da leitura por crianças e jovens, cumpriu ainda, com funções de caráter administrativo e acadêmico junto ao Comitê Interamericano de bibliotecas Infanto-Juvenis para a América Latina, a Academia Brasileira de Literatura Infantil e a Associação Paulista de Bibliotecários. Em reconhecimento à sua colaboração em prol da criação e evolução de bibliotecas infantis foi homenageada pela Prefeitura de São Paulo, com seu nome para a biblioteca infanto-juvenil da Vila Manchester, situada na Região Leste da cidade. Devido a sua característica de vinculação direta com o ensino, as bibliotecas escolares desempenham importante papel para o aprendizado, ao incentivo à leitura e ao apoio didático e paradidático aos professores e alunos. Nesse segmento de biblioteca se destaca a bibliotecária Neusa Dias de Macedo, formada pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo em 1950, em vários momentos de sua vida exerceu as funções de professora e bibliotecária em instituições como, Faculdade de Farmácia e Odontologia e Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, ambas pertencentes à Universidade de São Paulo e no Curso de Biblioteconomia da Universidade de Brasília. Participante ativa de cargos administrativos em diversos órgãos de classe, sendo responsável ainda, pela elaboração e apresentação de trabalhos científicos e boletins na Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação da qual foi diretora e redatora-chefe e na Revista Comunicações de Artes da ECA-USP, entre outras atribuições. Dentre suas produções acadêmicas consta a organização do livro “Biblioteca Escolar Brasileira em Debate - da memória 59 profissional a um fórum virtual”, cujo conteúdo trata basicamente de dois componentes, a biblioteconomia e a educação. Atualmente o destaque no segmento de biblioteca escolar é para a bibliotecária e professora Bernadete Santos Campello, Mestre em Biblioteconomia e Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Sua atuação na área da Biblioteconomia dá-se principalmente no segmento de biblioteca escolar com foco em aprendizagem, em competência informacional ligada ao ensino básico, em fontes de informação e educação em Biblioteconomia. Entre seus projetos de pesquisa constam temas como, Letramento informacional: desafios para formar pessoas competentes no uso de informações, Documentando o conhecimento sobre biblioteca escolar no Brasil: diagnósticos, pesquisas e legislação e A universalização de bibliotecas nas escolas: a Lei 12244 e os desafios para uma educação de qualidade. Bernadete Campello é também, autora de inúmeros livros, artigos de periódicos científicos, trabalhos apresentados em simpósios e congressos, entre outros. Estas produções tratam em sua maioria, de temas como: biblioteca escolar, educação, aprendizagem, recursos informacionais e o papel dos profissionais da informação como educadores. Dessa forma, Bernadete Santos Campello simboliza na atualidade da Biblioteconomia brasileira, o destaque profissional ligado essencialmente a questões como as práticas bibliotecárias como ferramentas para a evolução e construção da educação. Desempenhando um importante papel na inovação e pesquisa científica e acadêmica, as bibliotecas universitárias compõem mais um dos segmentos ligados diretamente às instituições de ensino. Oferecendo suportes de apoio e de desenvolvimento intelectual e cultural ao corpo docente, aos alunos e aos pesquisadores da instituição. Os profissionais de Biblioteconomia desta área necessitam suprir as necessidades específicas de usuários, em busca de informações e materiais de natureza especializada e em cada uma das especialidades ou vertentes do conhecimento humano. O bibliotecário precisa tornar-se um agente especializado, em assuntos e conteúdos que satisfaçam as necessidades informacionais de seu público, de forma eficiente e eficaz. As ações inovadoras e pioneiras fazem parte do perfil e dos fazeres biblioteconômicos desses profissionais que se dedicaram e se dedicam até hoje, nesta importante área da 60 Biblioteconomia. Um excelente exemplo de profissional é o da bibliotecária Terezine Arantes Ferraz, cuja atuação como diretora da Seção de Documentação Odontológica, nome dado à Biblioteca da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, entre o período de 1962-1972, marca até os dias de hoje os procedimentos de orientação bibliográfica de usuários de bibliotecas universitárias. Nesse contexto a bibliotecária Terezine Arantes desenvolveu o primeiro curso de Orientação Bibliográfica no Brasil, nos anos 70, o qual serviu de parâmetro para a implantação de cursos análogos em outras bibliotecas universitárias e em outras áreas do conhecimento. Esse modelo de capacitação bibliográfica é aplicado atualmente, em grande parte das bibliotecas universitárias junto aos seus alunos, professores e pesquisadores, facilitando o acesso e a busca de documentos e informações, proporcionados pelo melhor entendimento sobre a estrutura e a organização informacional da biblioteca. A bibliotecária Terezine Arantes foi também docente da Faculdade de Sociologia e Política de São Paulo, na disciplina de Documentação. Além disso, é autora de livros que tratam de temas ligados a duas importantes áreas do conhecimento, Biomedicina e Tecnologia Nuclear, demonstrando sua dedicação e principal enfoque profissional, voltado principalmente, para bibliotecas universitárias especializadas. Após a realização de vários cursos no exterior à convite da UNESCO e visitas realizadas em bibliotecas dos principais Centros de Estudos nucleares nos Estados Unidos, foi convidada em 1972 para atuar como gestora da Biblioteca do IEA, atualmente, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – IPEN, a convite do superintendente do Dr. Rômulo R. Pierone. Sob sua coordenação estavam 16 bibliotecários, entre outros funcionários, que conseguiram sob suas ordens, realizar a automatização de todos os processos técnicos e do acervo da biblioteca. Em 1978 foi considerada uma ação pioneira das bibliotecas brasileiras e atualmente a biblioteca do Instituto apresenta o nome de Biblioteca Terezine Arantes Ferraz, em homenagem e reconhecimento ao profissionalismo, à dedicação e ao importante legado deixado por esta bibliotecária, que soube acima de tudo e através de seu trabalho, criar um novo modelo de organização, servindo de padronização para outras bibliotecas brasileiras. As inovações tecnológicas, direcionadas particularmente à informação e à comunicação, transformaram as formas e os conceitos sobre os fazeres biblioteconômicos e sobre as competências e habilidades esperadas dos 61 profissionais de Biblioteconomia. A sociedade em fase de constante e crescente transformação prioriza o tempo e o espaço em que a informação acontece, ou seja, o acesso e a interatividade nos múltiplos conteúdos informacionais e em tempo real, são exigências dessa nova sociedade. Essas contínuas mudanças atingem os procedimentos e as atividades ligadas à organização, ao armazenamento e à disponibilização de informações, com isso, essas mutações buscam contribuir para a satisfação das necessidades e expectativas informacionais de um novo público usuário, mais livre para escolher, definir e julgar não somente a quantidade mas também, a qualidade da informação. Frente a todas essas transformações são geradas situações instáveis em relação à estrutura da informação, às novas maneiras como elas fluem e principalmente, como o novo profissional precisa desenvolver competências e interesses específicos para alcançar o sucesso nas novas atribuições e nas demandas informacionais. Inúmeros são os profissionais engajados no aperfeiçoamento e na atualização diante das inovações tecnológicas e das novas exigências e necessidades dos usuários de informação. O nome da bibliotecária Regina Fazioli se destaca nesse segmento da Biblioteconomia, atuando com maestria nessa nova realidade de atuação dos profissionais de informação, a biblioteca digital. Graduada em Biblioteconomia em 1977 e Especialista em Gerência de Sistemas e Serviços de Informação em 2000, ambos pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Regina Fazioli é também Mestre em Tecnologia: Gestão e Desenvolvimento da Formação Tecnológica pelo Centro Paula Souza (CEETPS) em 2010. Exerce a docência junto ao curso de Biblioteconomia do Centro Universitário Nossa Senhora da Assunção (UNIFAI) e ao curso de Pós-Graduação em Gestão da Informação Digital pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, como docente convidada. Atua como vice-diretora da Associação Brasileira de Profissionais da Informação (ABRAINFO) e na Comissão de Avaliação e Seleção do Prêmio Boa Práticas e Inovação em Bibliotecas Públicas da Fundação Biblioteca Nacional. O destaque nesta nova vertente da Biblioteconomia e Ciência da Informação deve-se, sobretudo, à sua brilhante atuação como idealizadora e coordenadora da Biblioteca Virtual do Governo do Estado de São Paulo. O Grupo Técnico sob sua coordenação tem como principais metas, a adequação e a integração de informações fornecidas pela Administração Direta e Indireta do Estado – Rede CIAPP e pela Rede de Integração dos Centros de Informação da 62 Administração Pública Paulista. Suas principais linhas de pesquisa concentram-se em temas voltados para o Serviço de Informação, a Gestão do Conhecimento e Biblioteca Virtual, possuindo diversos trabalhos publicados em Anais de Congressos que abordam essas temáticas. As contribuições profissionais nas diversas áreas e nos diferentes tipos de bibliotecas acima descritas oferecem uma visão panorâmica a respeito dos valores intelectuais e das responsabilidades sociais altamente arraigados às personalidades escolhidas para representarem neste trabalho, esta importante classe profissional. São exemplos de mulheres que brilham com destaque por sua determinação, pela competência, pelo pioneirismo e por ações inovadoras, colaborando para a evolução da Biblioteconomia e principalmente para a construção do conhecimento a partir da disseminação de conteúdos informacionais. Este tópico mostra claramente a significativa importância que as profissionais femininas têm para a construção da Biblioteconomia e da Ciência da Informação, que através do tempo e das mudanças sociais, econômicas, políticas, culturais e tecnológicas demonstram toda sua capacidade e vontade em contribuir com o crescimento e progresso intelectual e social das pessoas, das instituições e do país. 7.2 Roteiro de Entrevistas O enriquecimento e confirmação ao que já foi exposto, foi concretizado por meio de algumas entrevistas com profissionais da atualidade, em diferentes vertentes da Biblioteconomia. Essas profissionais foram definidas a partir de critérios discutidos com a orientadora deste trabalho, compreendendo três significativas áreas de atuação, entre os vários segmentos importantes no campo da Biblioteconomia, uma representante de entidade de classe, outra profissional ligada à área acadêmica e uma terceira voltada para uma atuação mais moderna da Biblioteconomia. Foram escolhidos os nomes de Regina Céli de Sousa, como a representante de entidade de classe, atual Presidente do Conselho Federal de Biblioteconomia- CFB, órgão criado em 1966 e que tem como principal missão fiscalizar o exercício da profissão, juntamente com os Conselhos Regionais. Além disso, o CFB é responsável pela regulamentação da profissão e pela divulgação de normas e 63 códigos referentes às responsabilidades e direitos profissionais. A importância das funções exercidas pela bibliotecária Regina Céli de Sousa favoreceu sua escolha para contribuir com opiniões e ponderações a respeito do tema deste trabalho. O nome definido pela representatividade na área acadêmica foi da bibliotecária Asa Fujino, Mestre e Doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes – ECA. Atuante como pesquisadora da Universidade de São Paulo e integrante do Grupo de Pesquisas em Produção Científica e Tecnologia. Entre as várias atribuições de Asa Fujino constam a docência no Departamento de Biblioteconomia e Documentação e coordenação do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Como pesquisadora, suas linhas de produção científica são: Informação e Saúde, Gestão da Propriedade Intelectual, Gestão dos Serviços de Informação, Avaliação da produção científica e tecnológica e Formação e capacitação profissional, coordenando projetos de pesquisa voltados para estas temáticas. Ganhadora de diversos prêmios e títulos oferecidos por órgãos de classe e pela classe acadêmica, a bibliotecária Asa Fujino reúne centenas de produções que englobam artigos de periódicos científicos, livros organizados, capítulos de livros, artigos de jornais e revistas, trabalhos e resumos publicados em Anais de Congresso, Apresentações de Trabalhos, Produções bibliográficas, etc. As inovações tecnológicas provocaram mudanças significativas nas atividades exigindo novas competências dos profissionais, por isso essas atuações podem ser consideradas modernas, por acompanharem as tendências atuais de acesso e busca de informação. Nesse sentido, as bibliotecas digitais e virtuais significam a vertente mais atual da Biblioteconomia e da Ciência da Informação, sendo representadas neste tópico pela bibliotecária Regina Fazioli, cujo perfil foi delineado no tópico 7.1 deste trabalho, devido a seu importante trabalho, desenvolvido junto a diversas funções ligadas à Biblioteconomia, mas principalmente, devido a seu empenho, competência e dedicação na transmissão de informações nesse novo modelo de biblioteca. Regina Fazioli é responsável pela idealização e pela coordenação da Biblioteca Virtual do Estado de São Paulo. Esses foram os segmentos e suas respectivas representantes, definidas para responderem a algumas questões elaboradas em comum acordo entre a autora deste trabalho e sua orientadora. Todas as profissionais receberam as mesmas questões por meio 64 eletrônico (APÊNDICE B) sendo respondidas pelas entrevistadas. As perguntas e suas respostas foram transcritas na íntegra a seguir, adotando-se a ordem das devolutivas para esta apresentação. A análise, comentários e considerações produzidas a partir destas entrevistas serão apresentados no Capítulo 8 deste trabalho, considerando-se também os dados levantados junto à pesquisa bibliográfica e aos órgãos de classe consultados. A seguir as questões e as respostas enviadas por correio eletrônico à bibliotecária Regina Céli de Sousa. 1)A busca por esta profissão é numericamente muito inferior quando comparadas às profissões regulamentadas. Em sua opinião, qual seria a razão para a baixa adesão a esta área de atuação em que tem a informação e o conhecimento como matéria prima? R: Pessoalmente, acredito que é uma profissão desconhecida por ser muito pouco divulgada na mídia. Agrega-se, ainda, a ausência de bibliotecas escolares em escolas públicas e, em grande parte, de escolas particulares no Brasil. Assim, potenciais interessados na área, não têm o interesse despertado, bem como não desenvolvem uma cultura de uso de biblioteca e de contato com profissionais bibliotecários. Adicione-se a deficiência histórica nas políticas públicas para o desenvolvimento de bibliotecas escolares e bibliotecas públicas no país. Além disso, há o fator histórico, pois há pouco mais de 215 anos que se teve liberada a existência de impressora e de produção de livros no Brasil. Desde sua colonização, a educação e a leitura estiveram por séculos ausentes da maioria da população. Assim, há um conjunto de fatores que contribui direta ou indiretamente no desconhecimento da profissão. De outro lado, bibliotecário nunca foi a profissão do personagem de destaque em novela da TV Globo. 2)De acordo com as pesquisas realizadas neste trabalho de graduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação junto aos Conselhos Regionais de Biblioteconomia, 80% dos profissionais registrados são mulheres. Em sua opinião, quais seriam os principais fatores que levam as mulheres a escolherem esta profissão mais do que os homens? 65 R: Sob este aspecto, seria interessante olhar para algumas outras profissões regulamentadas que têm maior adesão feminina. Caso da Enfermagem, Nutrição, Letras e Pedagogia. Inicialmente, cabe ressaltar que na população brasileira há mais mulheres que homens, o que quantitativamente se reflete na adesão feminina maior em várias áreas profissionais. Historicamente, o primeiro curso profissional criado para formação de bibliotecários, criado por Melville Louis Kossuth Dewey (18511931), em 1889 sob a denominação “Escola de Economia em Bibliotecas”, admitia mulheres em seus cursos pelas mesmas razões que as empregava nas bibliotecas – para rebaixar a profissão. Para subsidiar reflexões sobre o questionamento da revista, recomenda-se consultar o livro “Battles, M. A conturbada história das bibliotecas. São Paulo: Planeta, 2003”. Outro aspecto, histórico no Brasil, em especial em São Paulo, a profissão começou ocupada pelas filhas da alta burguesia Paulistana, que via nas bibliotecas existentes espaços de segurança para suas filhas, e o tipo de trabalho mais reservado ao contato humano. Por outro lado, com a evolução social e tecnológica, as bibliotecas ampliaram oportunidade de ascensão social e, na medida em que as mulheres vão conquistando espaços no mercado de trabalho, as bibliotecas acabam por oferecer novas oportunidades de atuação e inserção social feminina. 3)Se a participação masculina na Biblioteconomia fosse maior numericamente, equiparando-se à participação feminina, em sua opinião, haveria influências e/ou conseqüências nesta área de atuação? R: O desenvolvimento da profissão independe de questão de gênero. Como mencionado acima, na medida em que as mulheres conquistam seus espaços sociais e de mercado de trabalho não será o gênero masculino determinante para fortalecer qualquer profissão. É de conhecimento que as mulheres ainda ganham menos que os homens, ainda que desempenhando a mesma função. O que a profissão necessita é de pessoas que tenham consciência cidadã, consciência de seus direitos sociais, e que tenham vocação e paixão pela profissão bibliotecária, dedicando um pouco de seu tempo em promovê-la, fortalecer sua inserção social, contribuir para atualizá-la, em conformidade com as expectativas da sociedade. Para uma compreensão sobre tais aspectos, seria interessante consultar no site da IFLA o documento: “Hans Prins. Prestigio, image y reputación de la profesión de 66 bibliotecário: resultado de um estúdio empírico. La hay: Departamento de Investigación de la Biblioteca y Centro da Lectura de Holanda, mayo 1991 (Proyecto Status RTMLA)”, que trata da imagem profissional. Há também o estudo ”Walter, MTMT. Bibliotecários no Brasil: representação de uma profissão. Brasília, 2008. http://goo.gl/iJxJcB”. A questão de maior número de homens na profissão foi um questionamento muito debatido nos anos de 1970, hoje já é uma questão secundária. Certamente, a tecnologia atraiu muitos homens para a área, mas a maior adesão masculina não melhorou a propagação da profissão na sociedade. Continuamos com pouca adesão na mobilização dos profissionais na defesa de ações, políticas e benefícios para a área e com baixa representatividade social e ações coletivas de trabalhos em prol da comunidade brasileira. 4)Você acha que existe tratamento igualitário ou desigual para homens e mulheres no trabalho em biblioteconomia? R: Acredito que a resposta possa ser dada com outra questão: - existe tratamento igualitário para homens e mulheres no mercado de trabalho? De certa forma, o mesmo resultado encontrado no mercado se vê refletido no universo bibliotecário. Onde o profissional sabe se impor e conquistar seu espaço e sua valorização, a desigualdade tende a amenizar, mas certamente a bibliotecária terá que apresentar um desempenho muito maior e uma personalidade e competência profissional acima da média. Espírito de liderança, a pessoa nasce ou se esforça muito para adquirir. A escola de biblioteconomia não tem como formar líderes, mas pode estimular os bibliotecários a buscarem. Agora o profissional precisa desejar conquistar novos desafios profissionais. A seguir as questões e as respostas enviadas por correio eletrônico à bibliotecária Asa Fujino. 1)A busca por esta profissão é numericamente muito inferior quando comparadas às profissões regulamentadas. Em sua opinião, qual seria a razão para a baixa adesão a esta área de atuação em que tem a informação e o conhecimento como matéria prima? R: Visão equivocada sobre a profissão. 67 2)De acordo com as pesquisas realizadas neste trabalho de graduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação junto aos Conselhos Regionais de Biblioteconomia, 80% dos profissionais registrados são mulheres. Em sua opinião, quais seriam os principais fatores que levam as mulheres a escolherem esta profissão mais do que os homens? R: Fatores sócio-culturais: a imagem da profissão ficou associada a ambientes tradicionais como bibliotecas públicas que, supostamente uniria emprego estável, baixa demanda por viagens ou horários extras, baixo nível de stress, etc. 3)Se a participação masculina na Biblioteconomia fosse maior numericamente, equiparando-se à participação feminina, em sua opinião, haveria influências e/ou conseqüências nesta área de atuação? R: Muitos estudos mostram que a inserção das novas tecnologias de Informação e Comunicação aumentaram a participação masculina na profissão e, com isso, maior valorização da profissão, com aumento de salário médio para bibliotecários. No entanto, estudos também mostram que em situação funcional igual, homens são melhor remunerado que mulheres. 4)Você acha que existe tratamento igualitário ou desigual para homens e mulheres no trabalho em biblioteconomia? R: Pessoalmente acho que o tratamento deveria ser igualitário, mas estudos comprovam que não. Por ser profissão considerada feminina, existe valorização da participação masculina em detrimento da valorização do profissional em geral. A seguir as questões e as respostas enviadas por correio eletrônico à bibliotecária Regina Fazioli. 1)A busca por esta profissão é numericamente muito inferior quando comparadas às profissões regulamentadas. Em sua opinião, qual seria a razão para a baixa adesão a esta área de atuação em que tem a informação e o conhecimento como matéria prima? R: A profissão é valorizada, pois é evidente a necessidade de organização de informações / dados / conhecimentos em empresas públicas e privadas, Instituições 68 de ensino, ou, de uma forma geral, qualquer organização que lide ou tenha informações. Algumas causas podem ser levantadas sobre este assunto que se resumem em uma palavra: DESCONHECIMENTO. Desconhecimento da necessidade do profissional pelo mercado em geral, ou seja, de uma certa forma as organizações não sabem que precisam deste profissional, pois não imaginam o que o bibliotecário é capaz de realizar; Desconhecimento do próprio profissional das verdadeiras possibilidades e expansões do “fazer bibliotecário”, principalmente em novas áreas de atuação como p.ex. Arquitetura da Informação, Redes Sociais, entre outras; Desconhecimento da formação, ou seja, não são todos que sabem que para se “guardar” livros, ou melhor, “recuperar informações”, é necessária formação superior. Mas atente que este desconhecimento não acontece há pouco tempo, existe desde sempre, ou pelo menos desde que estudei, e olhe que me formei em 1977! O tão falado “Biblio o quê?” se escuta há muito tempo e cabe a nós, profissionais da informação, bibliotecários, ou independente da denominação que tenhamos, tomarmos o problema em nossas mãos e divulgarmos o fazer do profissional, em todas as suas cores! 2)De acordo com as pesquisas realizadas neste trabalho de graduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação junto aos Conselhos Regionais de Biblioteconomia, 80% dos profissionais registrados são mulheres. Em sua opinião, quais seriam os principais fatores que levam as mulheres a escolherem esta profissão mais do que os homens? R: Na cultura mundial a maioria das mulheres exerce profissões em áreas de ciências humanas. Existem várias iniciativas para mudar este cenário, porém isso se dará a longo prazo, incluindo a vontade política e aculturamento da sociedade para este novo cenário, com auxílio de implantação de políticas públicas e de incentivo à incorporação destes valores na formação dos estudantes. Por outro lado a origem da biblioteca pública está ligada à educação: seu papel social era o de educar as classes mais baixas, preservando valores sociais da época. Suas responsabilidades eram controlar o material de leitura oferecido, ajudar a elevar a qualidade de vida e 69 formar e manter o gosto pela leitura. Como o magistério tem uma tradição identificada como profissão feminina, se deu esta aproximação. Existe uma relação histórica de conexão entre o ensino e o sexo feminino, pois era considerada uma das atividades fora de casa que o pensamento dos chefes de família da época antiga aceitavam para mulheres. E chega-se a explicação: o profissional bibliotecário foi considerado um professor informal, que exercia sua função de educador fora do espaço formalizado do ensino, chegando enfim a união da imagem da mulher com a imagem do profissional bibliotecário, além do que nossa profissão foi considerada “adequada a natureza feminina” (Botassi, 1984). Atualmente nota-se um acréscimo de profissionais do sexo masculino à profissão, mas este número ainda está longe de se igualar ao número de mulheres. 3)Se a participação masculina na Biblioteconomia fosse maior numericamente, equiparando-se à participação feminina, em sua opinião, haveria influências e/ou consequências nesta área de atuação? R: Sim, acredito que seria uma das determinantes de mudanças substanciosas de nossa profissão, pois em um mundo machista é de maior valor o fazer de uma pessoa do sexo masculino do que do sexo feminino, o que discordo totalmente, mas em nossos tempos é uma infeliz realidade. 4)Você acha que existe tratamento igualitário ou desigual para homens e mulheres no trabalho em biblioteconomia? R: Existem diferenças no tratamento entre homens e mulheres, de uma maneira geral, em todas as profissões e na biblioteconomia não é diferente, infelizmente. Apenas com a transformação da cultura é que este cenário se modificará. Acredito que a carreira deve romper com as afirmações pré-concebidas de que mulher é profissional inferior na sociedade e no mercado de trabalho. Observe na formação profissional onde o estudante é condicionado a tratar a informação e o cliente com passividade, cuja consequência no exercício profissional seria a não atuação como seres pensantes, com papel indiferente e dependente das regras da instituição. 70 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base no que foi apresentado nos capítulos anteriores, apresento a seguir minhas considerações a respeito do tema e dos objetivos propostos por este trabalho. Ao escolher este tema, não imaginava a grande quantidade de informações que seriam coletadas, e a partir das quais todas as descobertas e novas reflexões a respeito do assunto, o que nos remete à conclusão de que estas discussões não podem se encerrar com este trabalho. Pelo contrário, este trabalho significa tão somente, uma parcela para o entendimento geral sobre os impactos que as transformações sociais, culturais, econômicas e políticas exerceram ao longo dos séculos, e ainda exercem, sobre a Biblioteconomia e seus profissionais. Como acontece com outros segmentos profissionais, não podemos analisar isoladamente os motivos que provocaram a entrada maciça de mulheres nesta área do conhecimento e do trabalho. Os processos de transformação por que passam as sociedades influenciam e por vezes, determinam os rumos profissionais na sociedade. Dessa forma, tanto os homens como as mulheres, as crianças, os idosos, de todas as raças, crenças ou classes sociais, acabam participando mesmo indiretamente nesse processo. Mais especificamente, analisando sob o aspecto profissional da Biblioteconomia, percebeu-se que o interesse e a inserção feminina nessa área profissional ocorreram basicamente por ações de adequação e transformação social e cultural, já que esta área do conhecimento era considerada tradicionalmente uma atividade de domínio masculino. Os pontos levantados pelas entrevistas sinalizam para algumas reflexões como, por exemplo: quais seriam os motivos para a baixa procura pela profissionalização na área, sobre quais seriam as razões que contribuíram para que nesta profissão houvesse um número maior de profissionais femininas, sobre quais seriam os impactos na profissão se houvesse a atuação de um maior número de profissionais masculinos atuando na profissão ou ainda, sobre a existência de tratamento diferenciado entre profissionais femininas e profissionais masculinos na área da Biblioteconomia. A desinformação e a falta de divulgação sobre a importância do trabalho dos bibliotecários parecem ser os grandes vilões para o desinteresse na 71 procura por esta área profissional. Os próprios profissionais são apontados como responsáveis por essa situação perante a sociedade, pois fica clara a necessidade de que os profissionais de Biblioteconomia se preocupem com a promoção da profissão junto ao público e aos governantes. De forma mais participativa e atuante, estes profissionais precisam empenhar-se em ressaltar a importância que sua atuação representa para a construção e transformação da sociedade. Quanto à questão abordada e comprovada pelos dados estatísticos que mostram a existência de mais profissionais femininas do que masculinos na profissão, as opiniões convergem a respeito dos motivos que as teriam levado a escolher esta profissão mais do que os homens. Considerando-se o gênero na adesão à profissão, os fatores sócio-culturais são apontados como as causas prováveis para as mudanças ocorridas no novo perfil dos profissionais de Biblioteconomia. A profissão que era vista, num primeiro momento como uma atividade exercida por homens, ajusta-se aos padrões morais e culturais da época, sendo considerada adequada socialmente, ao perfil feminino, principalmente para as mulheres da elite. As mudanças políticas, sociais e econômicas advindas com as guerras, foram de certa forma, as principais razões que provocaram a inserção significativa das mulheres em várias profissões, entre elas a Biblioteconomia. No entanto, essa superioridade numérica de profissionais femininas na Biblioteconomia, não garante a melhoria dos salários, por exemplo, porque em muitos casos considerando o exercício nas mesmas funções, ainda são os homens melhor remunerados. A questão do gênero, na Biblioteconomia, não pode ser considerada a única razão determinante para a valorização financeira da profissão, pois infelizmente, ainda persistem na cultura e nos costumes de vários campos profissionais, as desigualdades, principalmente em relação a questões como cargos e funções, por exemplo. A maior parte das mulheres, até mesmo em funções iguais, ainda recebem menos do que os homens e a elas compete lutar para a mudança desse estado de coisas. A partir de diferenciais profissionais como, um desempenho maior, personalidade própria e marcante e competência profissional, as mulheres têm forte potencial e capacidade para reverter este quadro social e cultural. 72 No estudo sobre a evolução da Biblioteconomia brasileira, conhecemos histórias de mulheres que trabalharam incansavelmente para a melhoria e construção do conhecimento humano. Por meio de ações pioneiras, muito estudo e determinação, essas primeiras profissionais da Biblioteconomia, além de desbravar um campo profissional considerado tradicionalmente masculino, enriqueceram-no com suas idéias transformadoras visando o crescimento e valorização da profissão e principalmente, o cumprimento das funções e preceitos básicos imputados aos bibliotecários. O papel que os bibliotecários desempenham está sempre em constante mudança e construção frente aos novos interesses de usuários em busca de informação e conhecimento. Os profissionais necessitam de capacidade de adequação e de muita vontade para acompanhar e evoluir com as novas demandas e recursos tecnológicos, com isso suprindo as necessidades informacionais dos usuários. Dessa forma, junto às preocupações profissionais como: a disseminação, a facilitação e o aprendizado dos usuários, devem existir também, forte motivação e valorização profissional, por meio de reivindicações, de lutas e de conscientização dos profissionais pela igualdade e justiça dos deveres e dos direitos. Essas conquistas independem de gênero, de classe social, de raça, de religião, ou seja, livre de qualquer que seja o rótulo sócio-cultural existente. Considero este trabalho uma oportunidade para a continuação das discussões frente aos vários pontos de vista em relação ao tema proposto. Científicamente e intelectualmente essas reflexões são salutares para o entendimento e para a construção do conhecimento, aliás, que se apresenta como uma das intenções da autora na confecção deste trabalho. No entanto, a principal motivação na escolha desta temática é o desejo de retratar e trazer ao conhecimento das pessoas, uma parte da história da Biblioteconomia, contada a partir das ideias e das realizações profissionais, de mulheres que representam brilhantemente uma importante classe profissional. Além disso, algumas questões e situações atuais são tratadas neste trabalho, a partir da apresentação e do questionamento a algumas dessas profissionais, exemplos em destaque, pela força, pela competência, pela determinação e pela forma como buscam o progresso profissional, a evolução pessoal e o desenvolvimento da Biblioteconomia brasileira. 73 REFERÊNCIAS ALAMBERT, Zuleika. A mulher na História. A História da mulher. Fundação Astrojildo Pereira, Brasília, DF. 2004, 188 p. 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Neste trabalho estou pesquisando sobre o tema da importância das mulheres na Biblioteconomia, mais precisamente sobre a superioridade numérica da mulher na profissão. Portanto, necessito de informações oficiais para comprovar as questões levantadas pelo trabalho: - existem mesmo mais mulheres nesta profissão? - quantas são? - qual é a relação entre os profissionais masculinos e femininos? Espero que seja possível obter estas informações para assim complementar meu trabalho. Com isso, pretendo colaborar para a valorização da Biblioteconomia e contribuir de alguma forma, para a comprovação do que é relatado na produção literária da área e conhecido pelas evidências do senso comum. Dessa forma, agradeço a atenção, ficando no aguardo de ter minha solicitação atendida. Fico à disposição para quaisquer dúvidas ou esclarecimentos. Atenciosamente 81 APÊNDICE B – Perguntas feitas às três entrevistadas 1)A busca por esta profissão é numericamente muito inferior quando comparadas às outras profissões regulamentadas. Em sua opinião, qual seria a razão para a baixa adesão a esta área de atuação que tem a informação e o conhecimento como matéria prima? 2)De acordo com as pesquisas realizadas neste trabalho de graduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação junto aos Conselhos Regionais de Biblioteconomia, 80% dos profissionais registrados são mulheres. Em sua opinião, quais seriam os principais fatores que levam as mulheres a escolherem esta profissão mais do que os homens? 3)Se a participação masculina na Biblioteconomia fosse maior numericamente, equiparando-se à participação feminina, em sua opinião, haveria influências e/ ou conseqüências nesta área de atuação? 4)Você acha que existe tratamento igualitário ou desigual para homens e mulheres no trabalho em Biblioteconomia? 82 APÊNDICE C – Mensagem encaminhada pelo CRB1 com os dados solicitados Mensagem original De: [email protected] Para: Eulália Moreno Chaves Cópia: [email protected] Assunto: RES:RES: Informações específicas Data: 11/09/2014 13h18min CONSELHO REGIONAL DE BIBLIOTECONOMIA - 1ª REGIÃO Bom dia Eulália, Seguem as informações solicitadas: Nº de profissionais inscritos e ativos = 1668 Nº de profissionais inscritos e ativos do sexo masculino = 277 Nº de profissionais inscritos e ativos do sexo feminino = 1391 Colocamo-nos aos seu dispor. Att, SECRETARIA DO CRB-1 83 APÊNDICE D – Mensagem encaminhada pelo CRB3 com os dados solicitados Mensagem original De: [email protected] Para: Eulália Moreno Chaves Cópia: Assunto: RES: Informações específicas Data: 12/09/2014 11h59min Eulália, boa tarde! A jurisdição do CRB-3 é composta por 02 Estados Ceará e Piauí, seguem os dados que solicitou, coloquei os números por Estado: Ceará: 663 Mulheres – 065 Homens Piauí: 123 Mulheres – 031 Homens Atenciosamente, Silvia Nunes Funcionária CRB-3 Matricula 003 85-3224.3518 / 8802.7024 84 APÊNDICE E – Mensagem encaminhada pelo CRB5 com os dados solicitados Mensagem original De: [email protected] Para: Eulália Moreno Chaves Cópia: Assunto: CRB-5: Informações específicas sobre Biblioteconomia Data: 11/09/2014 12h03min Sra. Eulália, bom dia! Seguem os dados do CRB-5 Bahia-Sergipe. Sexo masculino feminino Att, Jaci Alvim 71 – 3322-1330 Inscritos 161 1655 Ativos 111 811 85 APÊNDICE F – Mensagem encaminhada pelo CRB6 com os dados solicitados Mensagem original De: [email protected] Para: Eulália Moreno Chaves Cópia: [email protected] Assunto: RES: Informações específicas Data: 11/09/2014 14h48min image001.jpg 3.44 KB Estatística... .pdf 27.67 KB Estatística... .pdf 17.30 KB Prezada Eulália, Primeiramente, venho lhe cumprimentar pela iniciativa de pesquisar um tema tão interessante e que geram vários discursos para a classe bibliotecária. O nosso sistema de cadastro de profissionais disponibiliza um relatório em que demonstra a localidade atual do profissional (estado e cidade) e distingue se esses são profissionais são do sexo masculino ou feminino. Gerei o relatório em duas versões: o primeiro com todos os profissionais inscritos na jurisdição do CRB-6. O segundo relatório demonstra apenas os profissionais ativos. Esperamos ter ajudado na construção do seu trabalho acadêmico. O CRB-6 possui interesse também em conhecer o resultado da pesquisa desenvolvida e divulgá-lo para a classe bibliotecária, com a sua devida permissão. Para maiores informações ou esclarecimentos, estamos à disposição. Atenciosamente, Mário Diógenes Garrido Eva Assistente de Diretoria|Conselho Regional de Biblioteconomia 6ª Região Telfax.: (31) 3222-4087| 3224-8355 | 3213-5644 86 APÊNDICE G – Mensagem encaminhada pelo CRB8 com os dados solicitados Mensagem original De: [email protected] Para: Eulália Moreno Chaves Cópia: Assunto: Informações específicas Data: 03/10/2014 17h26min Ofício Sec.... .pdf 121.58 KB Prezada Eulália Segue anexo documento em resposta a sua solicitação. Grata, Lucy Clélia Araújo Castor Coordenadora de Secretaria [email protected] (11) 5082-1404 87 APÊNDICE H – Mensagem encaminhada pelo CRB10 com os dados solicitados Mensagem original De: [email protected] Para: Eulália Moreno Chaves Cópia: Assunto: RES: Informações Data: 11/09/2014 13h09min Boa tarde Eulália, Temos prazer em auxiliá-la. O Conselho Regional de Biblioteconomia da 10ª Região tem 1.177 profissionais ativos, destes apenas 145 são do sexo masculino. Se levarmos em conta o total de registrados, isto é, entre os ativos, licenciados, cancelados, etc., temos 2.330 profissionais e, destes 220 são do sexo masculino. Esperamos ter contribuído. Clarisse Arend Conselho Regional de Biblioteconomia da 10ª Região (CRB-10) Rua José de Alencar, 630/401, Porto Alegre, RS 51-3232-2856 / 3232-2880 www.crb10.org.br www.facebook.com/crbdez http://crb10.blogspot.com.br Informativo Eletrônico do CRB-10 http://br.groups.yahoo.com/group/crb10