Kant e a Crítica da Razão
Pura
Neste livro Kant tenta responder três
questões fundamentais da filosofia e da teoria
do conhecimento: Que podemos saber? Como
podemos conhecer?
► “Não
se pode duvidar de que todos os nossos
conhecimentos começam com a experiência,
porque, com efeito, como haveria de exercitar-se a
faculdade de se conhecer, se não fosse pelos
objetos que, excitando os nossos sentidos, de uma
parte, produzem por si mesmos representações, e
de outra parte, impulsionam a nossa inteligência a
compará-los entre si, a reuni-los ou separá-los, e
deste modo à elaboração da matéria informe das
impressões sensíveis para esse conhecimento das
coisas que se denomina experiência?”
► Mas
se é verdade que os conhecimentos derivam
da experiência, alguns há, no entanto, que não
têm essa origem exclusiva, pois poderemos
admitir que o nosso conhecimento empírico
seja um composto daquilo que recebemos
das impressões e daquilo que a nossa
faculdade cognoscitiva lhe adiciona
(estimulada somente pelas impressões dos
sentidos); aditamento que própria mente não
distinguimos senão mediante uma longa prática
que nos habilite a separar esses dois elementos.
► Surge
desse modo uma questão que não se
pode resolver à primeira vista: será possível um
conhecimento independente da experiência e
das impressões dos sentidos? Tais
conhecimentos são denominados “a priori”, e
distintos dos empíricos, cuja origem e a
posteriori”, isto é, da experiência.
As Intuições Puras: O Espaço
►
O espaço não é um conceito, porque o espaço não cobre uma espécie
ou um gênero dos quais multidão de pequenas espécies sejam os
indivíduos; não há muitos espaços; não há mais do que um só espaço;
o espaço é único. Sem dúvida, falamos de vários espaços, mas quando
falamos de vários espaços, quando nos referimos aos espaços siderais
ou dizemos que em um edifício complicado há muitos espaços (cada
sala contém um espaço); quando dizemos isso, é uma maneira literária
de falar, porque na realidade sabemos muito bem que cada um desses
espaços particulares não é mais do que uma parte do espaço universal,
do único espaço. O espaço não é, por conseguinte, um conceito que
cobre uma multidão indefinida de objetos, mas antes, é um só espaço,
um espaço único, e por isso eu o conheço por intuição. Quando tenho
a intuição de um sistema de coordenadas de três dimensões, tenho a
intuição do único espaço que há, de todo o espaço. Por conseguinte,
meu conhecimento do espaço é intuitivo, e o espaço não é um
conceito mas uma intuição.
As Intuições Puras: O Tempo
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A exposição sobre o tempo encaminha-se a mostrar: primeiro, que o
tempo é a priori, ou seja, independente da experiência: segundo, que
o tempo é uma intuição, ou seja, não uma coisa entre outras coisas
mas uma forma pura de todas as coisas possíveis.
Comprova-se isto com o ensaio mental que nos convida a realizar Kant,
e é que podemos pensar muito bem, conceber muito bem, o tempo
sem acontecimentos, porém não podemos de maneira alguma
conceber um acontecimento sem o tempo (do mesmo modo que ao
falar do espaço dizíamos que podemos conceber o espaço sem coisas
nele, porém não podemos conceber coisa alguma que não esteja no
espaço).
Depois de mostrado que o tempo é a priori ou independente da
experiência, resta por mostrar que o tempo é também intuição. Que
quer isto dizer? Quer dizer que não é conceito. Já disse ao falar do
espaço que conceito é uma unidade mental que compreende uma
multiplicidade de coisas.
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