GAEP - UTRIÇÃO HUMAA GRUPO DE APOIO A UTRIÇÃO ETERAL E PARETERAL FERADA DE CARVALHO VIDIGAL DEFICIÊCIA DE VITAMIA B12 E ÁCIDO FÓLICO E SUA RELAÇÃO COM A ATEROSCLEROSE BELO HORIZOTE MIAS GERAIS - BRASIL 2010 FERADA DE CARVALHO VIDIGAL DEFICIÊCIA DE VITAMIA B12 E ÁCIDO FÓLICO E SUA RELAÇÃO COM A ATEROSCLEROSE Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Latu Senso em Nutrição Clínica do GANEP - Nutrição Humana, Grupo de Apoio a Nutrição Enteral e Parenteral, orientada pela Profa. Renata Cristina Campos Gonçalves, como parte das exigências para obtenção do título de Especialista em Nutrição Clínica. BELO HORIZOTE MIAS GERAIS - BRASIL 2010 FERADA DE CARVALHO VIDIGAL DEFICIÊCIA DE VITAMIA B12 E ÁCIDO FÓLICO E SUA RELAÇÃO COM A ATEROSCLEROSE Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Latu Senso em Nutrição Clínica do GANEP - Nutrição Humana, Grupo de Apoio a Nutrição Enteral e Parenteral, orientada pela Profa. Renata Cristina Campos Gonçalves, como parte das exigências para obtenção do título de Especialista em Nutrição Clínica. Belo Horizonte, 05 de abril de 2010. Renata Cristina Campos Gonçalves Professor Orientador Renata Cristina Campos Gonçalves Professor Examinador Dedico este trabalho a todos os pacientes que depositam sua confiança em nós, profissionais da área de saúde, para que coloquemos em prática todo o nosso conhecimento e experiência clínica em prol do seu bem estar e qualidade de vida. ii "...Compreendi que todas as flores por Ele criadas são belas, e que o esplendor da rosa e a brancura do lírio não tiram o perfume da humilde violeta, nem a simplicidade encantadora da margarida... Compreendi que se todas as flores quisessem ser rosas, a natureza perderia seu enfeite primaveril e os campos já não seriam salpicados de florzinhas...” (Santa Teresinha do Menino Jesus) iii AGRADECIMETOS “Tudo posso nAquele que me fortalece.” Filipenses 4:13 A Deus pelo dom da vida e por guiar os meus passos nesta busca pelo conhecimento e crescimento pessoal e profissional. Aos meus pais Fernando e Dorcelina (In memorian) por todo amor, apoio, força e por me ensinarem os verdadeiros valores da vida. Ao meu irmão Daniel por todo apoio, carinho e companheirismo. À minha querida família, em especial ao Geraldo, à Paula e à Sofia, que me acolheram com carinho durante todo este ano em que estive em Belo Horizonte para realização do Curso de Especialização em Nutrição Clínica do GANEP - Nutrição Humana. Aos meus amigos e colegas do Curso de Especialização em Nutrição Clínica do GANEP - Nutrição Humana, em especial Maria Carolina Mendes, Geórgia Pena, Míriam Zaidan, Helena Gabriela, Deborah Abrão e Cristina Pacheco pela convivência e troca de conhecimento durante todos esses meses. Aos professores do Curso de Especialização em Nutrição Clínica do GANEP - Nutrição Humana, que contribuíram para o aprimoramento de nossa formação profissional, com suas experiências práticas e conhecimentos compartilhados. À nutricionista Renata Cristina Campos Gonçalves pela orientação neste trabalho. A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. iv ÍDICE LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS..................................................... vii RESUMO.......................................................................................................... viii ABSTRACT...................................................................................................... ix 1 - ITRODUÇÃO.......................................................................................... 1 2 - OBJETIVOS............................................................................................... 3 2.1 - Objetivo geral......................................................................................... 3 2.2 - Objetivos específicos............................................................................. 3 3 - MÉTODO................................................................................................... 4 4 - REVISÃO DE LITERATURA................................................................. 5 4.1 - ATEROSCLEROSE............................................................................ 5 4.2 - VITAMIA B12................................................................................... 7 4.2.1 - Fontes alimentares..................................................................... 7 4.2.2 - Funções..................................................................................... 7 4.2.3 - Metabolismo.............................................................................. 7 4.2.4 - Sinais e sintomas de deficiência................................................. 8 4.2.5 - Causas de deficiência................................................................. 8 4.2.6 - Toxicidade................................................................................. 8 4.3 - ÁCIDO FÓLICO................................................................................. 8 4.3.1 - Fontes alimentares..................................................................... 9 4.3.2 - Metabolismo.............................................................................. 9 4.3.3 - Sinais e sintomas de deficiência................................................. 9 4.3.4 - Causas de deficiência................................................................. 9 4.3.5 - Toxicidade.................................................................................. 9 4.4 - HOMOCISTEÍA............................................................................... 10 4.4.1 - Metabolismo.............................................................................. 10 4.4.2 - Níveis plasmáticos de homocisteína.......................................... 10 4.4.3 - As vitaminas e o metabolismo da homocisteína........................ 11 v 4.5 - DEFICIÊCIA DE VITAMIA B12 E ÁCIDO FÓLICO versus 13 ATEROSCLEROSE: ESTUDOS COM HUMAOS............................... 5 - COCLUSÃO............................................................................................ 17 6 - REFERÊCIAS......................................................................................... 18 vi LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AHA American Heart Association HOPE The Heart Outcomes Prevention Evaluation IC Intervalo de confiança IDL Intermediate density lipoprotein LDL Low density lipoprotein mcg Microgramas mg Miligramas MRFIT Multiple Risk Factor Intervention Trial MTHFR Metilenotetrahidrofolato redutase OMS Organização Mundial da Saúde PLP Fosfato de piridoxal PROCAM Munster Heart Study RDA Recommended Dietary Allowances VLDL Very low density lipoprotein vii RESUMO VIDIGAL, Fernanda de Carvalho. GANEP - Nutrição Humana, Grupo de Apoio a Nutrição Enteral e Parenteral, abril de 2010. Deficiência de vitamina B12 e ácido fólico e sua relação com a aterosclerose. Orientadora: Renata Cristina Campos Gonçalves. O presente trabalho teve como objetivo verificar a relação existente entre a deficiência de vitamina B12 e ácido fólico e a aterosclerose. Realizou-se levantamento bibliográfico nas bases científicas Scielo, Science Direct e Pubmed. Artigos referenciados em outros artigos também foram consultados. Utilizaram-se os seguintes descritores: vitamina B12, deficiência de vitamina B12, cianocobalamina, ácido fólico, deficiência de ácido fólico, folato, homocisteína e aterosclerose e, seus equivalentes em inglês. As expressões de pesquisa foram construídas combinando dois ou mais descritores ou utilizando-os de forma isolada. Selecionaram-se artigos publicados nos últimos 10 anos, além da utilização de trabalhos clássicos referentes ao tema publicados anteriormente. A partir dos trabalhos analisados, verificou-se que a maioria dos estudos demonstrou que níveis aumentados do aminoácido sulfurado homocisteína estão associados com o maior risco de desenvolver aterosclerose. Este aumento nos níveis de homocisteína é muitas vezes causado pela deficiência de vitamina B12 e ácido fólico. Apesar disto, não existem evidências científicas para a suplementação de vitamina B12 e ácido fólico com o objetivo de prevenir o processo da aterosclerose. Aconselha-se o consumo de uma alimentação saudável e balanceada, rica em frutas, hortaliças e grãos integrais, de forma a fornecer a ingestão adequada de todos os macro e micronutrientes, em especial de vitaminas. Palavras-chave: ácido fólico, aterosclerose, homocisteína, vitamina B12. viii ABSTRACT VIDIGAL, Fernanda de Carvalho. GANEP - Nutrição Humana, Grupo de Apoio a Nutrição Enteral e Parenteral, April, 2010. Vitamin B12 and folic acid deficiency and its relationship with atherosclerosis. Adviser: Renata Cristina Campos Gonçalves. This study had as goal to assess the relationship between vitamin B12 and folic acid deficiency and atherosclerosis. Took place in the scientific literature Scielo, Science Direct and Pubmed. Articles referenced in other articles were also consulted. We used the following keywords: vitamin B12, vitamin B12 deficiency, cyanocobalamin, folic acid, folic acid deficiency, folate, homocysteine and atherosclerosis. The search expressions were constructed by combining two or more descriptors or using them in isolation. Articles published in the last 10 years were selected, besides the use of classical works on the subject published earlier. From the studies analyzed, it was found that most studies have shown that increased levels of sulfur-containing amino acid homocysteine are associated with greater risk of developing atherosclerosis. This increase in homocysteine levels is often caused by deficiency of vitamin B12 and folic acid. Despite this, there is no scientific evidence for supplementation of vitamin B12 and folic acid in order to prevent the process of atherosclerosis. We recommend the consumption of a healthy, balanced diet rich in fruits, vegetables and whole grains in order to provide adequate intake of all macro and micronutrients, especially vitamins. Keywords: folic acid, atherosclerosis, homocysteine, vitamin B12. ix 1 - ITRODUÇÃO A doença aterosclerótica é uma doença multifatorial, sendo a principal causa de mortalidade no Brasil. Faz parte de sua prevenção a identificação e o controle, não só das dislipidemias, mas do conjunto dos fatores de risco (1). Em 2005 as doenças do aparelho circulatório (31,46% e 32,67%) foram as principais causas de mortalidade, no Brasil e em Minas Gerais, respectivamente (2). Estima-se que em 2020, as doenças crônicas serão responsáveis por quase ¾ de todas as mortes no mundo, e que 71% das mortes devido à doença isquêmica coronariana e 75% das mortes devido à acidente vascular cerebral ocorrerão em países em desenvolvimento (3). Obesidade, hipercolesterolemia, tabagismo e hipertensão têm sido reconhecidos como os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, entretanto não explicam completamente sua patogênese e causalidade (4). Uma nova classe de fatores de risco emergentes para doenças cardiovasculares é o nível plasmático de homocisteína (5), que é um aminoácido sulfurado que resulta como um produto intermediário da via de degradação da metionina. O estilo de vida e defeitos genéticos, tais como deficiência nos níveis de ácido fólico, vitamina B12 ou vitamina B6 podem desempenhar o papel de co-fatores que aumentam os níveis de homocisteína (6). Portanto, níveis sanguíneos aumentados de homocisteína refletem deficiência de folato, vitamina B12 e/ou vitamina B6 (4). Em estudo de meta-análise, Boushey et al. (6) verificaram que até 10% dos eventos coronários podem ser atribuídos ao aumento dos níveis de homocisteína. Outros estudos têm mostrado uma correlação negativa entre os níveis de homocisteína e os níveis plasmáticos de ácido fólico, vitamina B12 e vitamina B6 (7, 8). Todavia, em estudo de Garcia et al. (4) não foi encontrada correlação entre os níveis de vitamina B12 e os de homocisteína. Verifica-se que há controvérsias sobre essa relação, e que os hábitos alimentares podem influenciar muito os níveis plasmáticos de vitamina B12 (9). A deficiência de folato está ligada a doenças cardiovasculares (8). Essas associações são provavelmente devido aos efeitos da alteração do metabolismo do folato sobre a remetilação da homocisteína, e síntese e metilação do DNA. A redução na remetilação da homocisteína pode resultar em concentrações plasmáticas elevadas deste aminoácido, que é um fator de risco independente para doenças cardiovasculares (10). 1 Atualmente, há evidências de que modificações do estilo de vida e redução de fatores de risco podem retardar o desenvolvimento da doença coronariana e outras formas de manifestação da aterosclerose (11). Diante do exposto, destaca-se que a melhor estratégia para redução da morbidade e mortalidade devido a doenças cardiovasculares é a prevenção. A terapia nutricional é a primeira conduta a ser adotada, por meio de ações da medicina preventiva aliada à atuação da equipe multiprofissional de saúde que cuida de pacientes em todas as áreas: hospitalar, saúde pública ou serviços ambulatoriais e privados. Para isto, os pacientes devem ser informados sobre a importância da adesão a dieta e a necessidade de mudança de estilo de vida (11). 2 2 - OBJETIVOS 2.1 - Objetivo geral: Verificar a relação existente entre a deficiência de vitamina B12 e ácido fólico e a aterosclerose. 2.2 - Objetivos específicos: Definir o conceito de aterosclerose e discorrer sobre os fatores de risco envolvidos em sua gênese; Verificar a influência de elevados níveis séricos de homocisteína na ocorrência de eventos cardiovasculares; Apresentar estudos que relacionam a deficiência de vitamina B12 e ácido fólico com a aterosclerose. 3 3 - MÉTODO Realizou-se levantamento bibliográfico, com consulta a periódicos nacionais e internacionais indexados nas bases científicas Scielo, Science Direct e Pubmed. Artigos referenciados em outros artigos também foram consultados. Os descritores utilizados para a busca dos artigos foram: vitamina B12 (vitamin B12), deficiência de vitamina B12 (vitamin B12 deficiency), cianocobalamina (cyanocobalamin), ácido fólico (folic acid), deficiência de ácido fólico (folic acid deficiency), folato (folate), homocisteína (homocysteine) e aterosclerose (atherosclerosis). As expressões de pesquisa foram construídas combinando dois ou mais descritores ou utilizando-os de forma isolada. Foram selecionados artigos publicados nos últimos 10 anos (entre 2000 e 2010), além da utilização de trabalhos clássicos referentes ao tema publicados previamente. 4 4 - REVISÃO DE LITERATURA 4.1 - ATEROSCLEROSE Durante os últimos trinta anos verificou-se redução razoável da mortalidade por causas cardiovasculares em países desenvolvidos, enquanto elevações relativamente rápidas e consideráveis têm ocorrido em países em desenvolvimento, inclusive no Brasil. Segundo projeções da Organização Mundial de Saúde (OMS), esta tendência de elevação na doença cardiovascular tende a persistir, o que agrava ainda mais o quadro de morbidade e mortalidade elevadas nestes países (12). A aterosclerose é uma doença inflamatória crônica de origem multifatorial que ocorre em resposta à agressão endotelial, acometendo principalmente a camada íntima de artérias de médio e grande calibre. Apresenta atributos de reparação tecidual, sendo caracterizada por disfunção endotelial, inflamação vascular e presença de estrias gordurosas, constituídas de lipídios, cálcio e restos celulares dentro da íntima das paredes dos vasos (1, 12, 13). A formação da placa aterosclerótica (Figura 1) inicia-se com a agressão ao endotélio vascular devido a diversos fatores de risco como, elevação de lipoproteínas aterogênicas (low density lipoprotein - LDL, intermediate density lipoprotein - IDL, very low density lipoprotein - VLDL, remanescentes de quilomícrons), hipertensão arterial ou tabagismo (12). Figura 1 - Placa aterosclerótica. 5 Estudos como o de Framingham e o Multiple Risk Factor Intervention Trial (MRFIT), nos Estados Unidos, e o Munster Heart Study (PROCAM), na Europa, demonstraram o indiscutível papel das dislipidemias, LDL elevado e HDL diminuído, hipertensão arterial sistêmica, tabagismo, idade e diabetes mellitus como fatores de risco independentes para o desenvolvimento da aterosclerose e suas complicações (11). No Brasil, estudo realizado por Avezum et al. (14) demonstrou que esses fatores de risco clássicos são os responsáveis pelo aparecimento do infarto agudo do miocárdio, principal manifestação clínica da doença arterial coronariana. Dietas ricas em calorias, sódio, gorduras saturadas e trans, além do tabagismo e inatividade física mantêm uma importante relação com a doença coronariana nas populações e são fatores contribuintes para o desenvolvimento e progressão da aterosclerose (11). A partir do dano vascular, ocorre a expressão de moléculas de adesão que mediarão a entrada de monócitos e linfócitos para a camada íntima. Induzidos por proteínas quimiotáticas, os monócitos migram para o espaço subendotelial onde se diferenciam em macrófagos, que por sua vez captam lipoproteínas modificadas (predominantemente LDL oxidadas), originando as células espumosas (macrófagos repletos de lípides). As células espumosas são o principal componente das estrias gordurosas, lesões macroscópicas iniciais da aterosclerose (12, 15). O depósito de lipoproteínas na parede arterial, processo-chave no início da aterogênese, ocorre de maneira proporcional à concentração dessas lipoproteínas no plasma. Diferentes mediadores inflamatórios são liberados, perpetuando e ampliando o processo, levando finalmente à formação da placa aterosclerótica (Figura 1) (12, 15). As placas ateroscleróticas podem ser divididas em estáveis ou instáveis. As primeiras caracterizam-se por predomínio de colágeno, organizado com capa fibrosa espessa, escassas células inflamatórias e núcleo lipídico menos proeminente. As últimas apresentam atividade inflamatória intensa, especialmente nas suas bordas laterais, com grande atividade proteolítica, núcleo lipídico proeminente e capa fibrótica tênue (16). A ruptura desta capa expõe material lipídico altamente trombogênico, levando à formação de um trombo sobrejacente. Este processo, também conhecido por aterotrombose, é um dos principais determinantes das manifestações clínicas da aterosclerose (12). Ao longo da vida, pequenas rupturas/tromboses parecem ocorrer, determinando remodelamento das placas, frequentemente sem manifestações clínicas. Entretanto, o grau de trombose sobreposta à placa rompida determinará a magnitude do evento cardiovascular (17). 6 O papel da adventícia tem sido revisto na aterogênese, a partir de observações histopatológicas, demonstrando a presença de células inflamatórias e de agentes infecciosos que poderiam migrar para o espaço intimal (18). 4.2 - VITAMIA B12 Vitamina B12 - Cianocobalamina A vitamina B12 é a mais complexa das vitaminas, contém um microelemento, o cobalto que, na B12 purificada, está ligado a um grupo cianeto, o que lhe confere a denominação de cianocobalamina. Constitui um co-fator e uma coenzima em muitas reações bioquímicas, como síntese de DNA, síntese de metionina a partir da homocisteína e conversão do propionil em succinil coenzima A, a partir do metilmalonato (19, 20). 4.2.1 - Fontes alimentares As principais fontes alimentares de vitamina B12 são carne bovina, aves, peixes, ostra, ovos, leite, queijo, fígado e cereais prontos fortificados (21). 4.2.2 - Funções A vitamina B12 inclui a cianocobalamina na sua forma livre e mais duas coenzimas: 5-deoxiadenosilcobalamina e a metilcobalamina, das quais o cobalto faz parte. É essencial para o metabolismo das proteínas, carboidratos e lipídios. Juntamente com o ácido fólico, participa do processo de síntese do DNA e síntese de mielina (22). 4.2.3 - Metabolismo Cinquenta porcento da ingestão oral são absorvidos no íleo. Depende de fatores intrínsecos (fator R salivar e fator intrínseco gástrico) para ser absorvida. É transportada no sangue, pelas transcobalaminas I, II (principal) e III, até o fígado, onde é armazenada (50-90%). Os rins, coração, músculo, pâncreas, cérebro, sangue, baço e medula óssea também são órgãos de estoque desta vitamina. Suas reservas são lentamente depletadas. É excretada por meio da urina e da bile e reabsorvida através da circulação ênterohepática. Sintetizada pelas bactérias intestinais (22). 7 4.2.4 - Sinais e sintomas de deficiência A deficiência dessa vitamina pode ocasionar transtornos hematológicos, neurológicos e cardiovasculares, estando ela diretamente relacionada com a hiperhomocisteinemia, um fator independente de risco cardiovascular e de danos neuronais (23). Além disso, pode ocorrer anemia megaloblástica acompanhada de macrocitose, leucopenia e trombocitopenia, anorexia, constipação, glossite, e alterações neurológicas como parestesia periférica (mãos e pés), perda da memória, diminuição do senso de posição, confusão mental, depressão e pscicose (22). 4.2.5 - Causas de deficiência O uso de drogas (colchicina, neomicina e contraceptivos orais) e de álcool reduz a absorção da vitamina B12. Pacientes com síndromes de má-absorção, bypass gástricos, submetidos a grandes ressecções intestinais, especialmente do íleo, e pacientes gastrectomizados totais são candidatos a desenvolver deficiência desta vitamina (22). 4.2.6 - Toxicidade Não relatada (22). 4.3 - ÁCIDO FÓLICO Vitamina B9 - Ácido Fólico, Folato, Folacina O ácido fólico é a vitamina B9 do complexo B, abundante nas folhas verdes (daí o nome fólico). Folato é um termo genérico para os compostos que têm atividade vitamínica similar a do ácido pteroilglutâmico e é a forma da vitamina naturalmente encontrada nos alimentos (24). O ácido fólico é a forma sintética do folato, encontrada em suplementos vitamínicos e alimentos fortificados (25). Sua importância foi descoberta há cerca de 70 anos, quando foi verificado que a anemia gestacional podia ser tratada com extrato de levedura. Nele foi identificado o folato, que mais tarde foi extraído das folhas do espinafre (26). O folato age como coenzima em várias reações celulares fundamentais e é necessário na divisão celular devido ao seu papel na biossíntese de bases nucléicas, purinas e pirimidinas, e na transferência de carbonos no metabolismo de ácidos nucléicos, DNA e RNA, e no metabolismo protéico (aminoácidos). Em geral, o 8 crescimento rápido e as multiplicações celulares, aspecto central do desenvolvimento fetal, requerem um suprimento adequado de folato (22, 24). 4.3.1 - Fontes alimentares As principais fontes alimentares de folato são espinafre, feijão branco, ervilha, aspargos, hortaliças de folha verde escura, couve de Bruxelas, soja e derivados, laranja, melão, maçã, brócolis, gema de ovo, fígado, peixes, gérmen de trigo, salsinha, beterraba crua, amendoim, grãos integrais, castanhas e cereais prontos fortificados. O cozimento prolongado dos alimentos pode destruir até 90% do seu conteúdo em ácido fólico (21, 26-28). 4.3.2 - Metabolismo Cinquenta porcento da ingestão oral são absorvidos no intestino delgado. Circula livremente ou ligado às proteínas no organismo, sendo estocado principalmente no fígado. Excretado minimamente por meio das fezes e da urina, uma vez que a maior parte do folato alimentar absorvido é reabsorvida via circulação êntero-hepática. Também pode ser sintetizado pelas bactérias intestinais (22). O ácido fólico é ainda essencial no metabolismo da homocisteína, mantendo seus níveis normais. A elevação dos níveis de homocisteína pela deficiência de folato é associada a risco cardiovascular (29). 4.3.3 - Sinais e sintomas de deficiência Anemia megaloblástica ou macrocítica, leucopenia, anorexia, diarréia, glossite, perda de peso, alterações dermatológicas (dermatite, acne e eczema), irritabilidade e demência (22). 4.3.4 - Causas de deficiência Alcoólatras, pacientes em uso de drogas (anticonvulsivantes, antituberculose e contraceptivos orais), portadores de hepatopatias, queimaduras, câncer, anemia hemolítica crônica e doença inflamatória intestinal, bem como as mulheres durante a gravidez e lactação podem apresentar deficiências (22). 4.3.5 - Toxicidade Reações alérgicas têm sido relatadas (22). 9 4.4 - HOMOCISTEÍA A homocisteína é um aminoácido sulfurado intermediário, formado durante o metabolismo da metionina, um aminoácido essencial. A metionina, logo após ser ativada, cede seu grupamento metil em uma reação catalisada pela enzima metiltransferase e tem seu lugar ocupado pela S-adenosilhomocisteína, a qual é quebrada por hidrólise da adenosina, obtendo-se a homocisteína em sua forma livre (30). 4.4.1 - Metabolismo A homocisteína é metabolizada por duas possíveis vias: Remetilação Depende da aquisição de um grupo metil doado pelo N5metiltetrahidrofolato, e em reação catalisada pela metionina sintetase, tornando a vitamina B12 um co-fator essencial para esta reação. Quando há excesso de metionina ou a síntese de cisteína é necessária, ocorre a via de transulfuração (30, 31); Transulfuração A metionina, somada a serina, forma a cistationa, em reação catalisada pela cistationa β-sintetase, tendo como co-fator essencial a vitamina B6. A cistationa, após ser hidrolisada para formar cisteína, pode ser incorporada a glutationa ou metabolizada para sulfato e excretada na urina (30, 31). Para o metabolismo normal da homocisteína, é necessária a ingestão adequada de ácido fólico, vitamina B12 e vitamina B6. A recomendação diária de ácido fólico para adultos é de 400 mcg (32), vitamina B12 é de 2,4 mcg (RDA) e vitamina B6 é de 1,3 a 1,7 mg (RDA). Uma dieta nutricionalmente balanceada, com quantidades adequadas de hortaliças, frutas, grãos e carnes magras, supre tais recomendações (1, 33, 34). 4.4.2 - íveis plasmáticos de homocisteína Níveis elevados de homocisteína podem ser um indicativo de deficiência de vitamina B6, vitamina B12, ácido fólico e riboflavina. Níveis aumentados também podem ser encontrados no uso de medicamentos como, ciclosporina, corticóides, fenitoína, metotrexato, trimetoprim, na insuficiência renal crônica, no hipotireoidismo e na homocistinúria (30). 10 Elevações desse aminoácido têm sido associadas à disfunção endotelial, trombose e à maior gravidade da aterosclerose (doença coronariana, carotídea, vascular periférica e trombose) (30, 35). Além de favorecer a instalação de placas de ateroma nas artérias elásticas e musculares, também pode acometer vasos de todos os calibres com tromboses tanto arteriais quanto venosas (36). A sua associação com aterosclerose prematura também é descrita (30, 35). Aumento de duas vezes, ao risco de infarto agudo do miocárdio, sem diferenças raciais, foi descrito por Giles et al. (37). Embora a literatura não seja ainda conclusiva sobre o fato de a homocisteína ser considerada fator de risco independente, a elevação deste aminoácido pode ser um possível marcador para o desenvolvimento de doença vascular e para um pior prognóstico dos indivíduos com aterosclerose (38, 39). Corroborando com estes achados, Nygard et al. (40), examinaram prospectivamente a relação entre os níveis plasmáticos de homocisteína total e mortalidade em 587 pacientes com doença arterial coronária angiograficamente confirmada e, verificaram que os níveis plasmáticos totais de homocisteína foram um forte preditor de mortalidade em pacientes com doença arterial coronária angiograficamente confirmada. A interpretação dos valores plasmáticos de homocisteína deve ser realizada com cautela, considerando-se que fatores como baixos níveis plasmáticos de albumina e de vitaminas (ácido fólico, B12 e B6) podem, respectivamente, interferir na sua dosagem ou provocar a sua elevação no plasma. Portanto, a elevação da homocisteína poderia ser apenas um indicador de deficiência nutricional. Outro fator importante a ser considerado é o de que alguns indivíduos têm polimorfismos de enzimas que participam do metabolismo da metionina como a metilenotetrahidrofolato redutase (MTHFR), que participa da conversão do homocisteína a metionina nos tecidos extra-hepáticos. Alguns polimorfismos, mesmo em sua forma heterozigota, podem predispor a elevações de homocisteinemia (1). 4.4.3 - As vitaminas e o metabolismo da homocisteína Vitaminas do complexo B (vitaminas B6, B9 e B12) estão presentes no metabolismo da homocisteína. A vitamina B6 está em forma de fosfato de piridoxal (PLP) e atua como co-fator no processo de regeneração do ácido N5metiltetrahidrofolato. A vitamina B9 está na forma de N5-metiltetrahidrofolato e serve como fonte de grupo metil para a formação de metilcobalamina. A vitamina B12, sob forma de metilcobalamina, é doadora direta do grupo metil à homocisteína, atuando, portanto, no processo de remetilação desse aminoácido, transformando-o em metionina 11 (41). Isso significa que qualquer alteração nos níveis plasmáticos dessas vitaminas pode interferir no metabolismo da homocisteína, podendo levar a diversas complicações metabólicas. É importante, portanto, ingerir essas vitaminas de acordo com as recomendações diárias. Gebara e Matioloi (21) sugerem que seria recomendável para 10 a 30% das pessoas acima de 50 anos que absorvem de forma inadequada a vitamina B12 de fontes alimentares, que consumam principalmente alimentos fortificados em B12 ou suplementos vitamínicos que contenham essa vitamina. Pietrzik e Bronstrup (41) em seus experimentos chegaram à conclusão de que o folato é o responsável pela via mais importante que determina a concentração de homocisteína em indivíduos saudáveis com idade acima de 60 anos. A American Heart Association (AHA) ainda não considera a hiperhomocisteinemia (elevados níveis plasmáticos de homocisteína) como o principal fator de risco para doenças cardiovasculares. A AHA não recomenda o uso generalizado de suplementos de ácido fólico e vitaminas do complexo B para reduzir o risco de doenças cardiovasculares e acidente vascular cerebral (32, 42). Recomenda-se uma dieta saudável e balanceada, rica em frutas e hortaliças, grãos integrais, produtos lácteos desnatados, e pobre em gordura. Desde janeiro de 1998, a farinha de trigo tem sido fortificada com ácido fólico para adicionar uma quantidade estimada de 100 mcg por dia para a dieta média. Os suplementos vitamínicos só devem ser utilizados quando a dieta não fornece o suficiente (32). Até agora, nenhum estudo controlado demonstrou que a suplementação com ácido fólico reduz o risco de aterosclerose ou que o consumo desta vitamina interfere no desenvolvimento ou recorrência das doenças cardiovasculares. Os pesquisadores estão tentando descobrir qual a quantidade necessária de ácido fólico, vitamina B6 e/ou vitamina B12 é necessária para reduzir os níveis de homocisteína (32). Embora sejam necessárias maiores evidências a favor dos benefícios da redução dos níveis de homocisteína, pacientes com alto risco para doenças cardiovasculares devem ser aconselhados a verificar se as quantidades diárias necessárias de ácido fólico, vitamina B6 e vitamina B12 estão sendo alcançadas em sua dieta (32). 12 4.5 - DEFICIÊCIA DE VITAMIA B12 E ÁCIDO FÓLICO versus ATEROSCLEROSE: ESTUDOS COM HUMAOS Garcia et al. (4), em estudo caso-controle realizado com 50 pacientes portadores de síndrome coronariana aguda e 50 pacientes ambulatoriais sem síndrome coronariana, verificaram que as concentrações plasmáticas médias de homocisteína foram significativamente diferentes entre os casos (12,4 µmol/l ± 6,0) e os controles (9,7 µmol/l ± 2,4) (p = 0,01). Os níveis de ácido fólico dos casos foram menores que os dos controles (respectivamente 10,5 ng/ml ± 3,5 e 12,6 ng/ml ± 3,6; p=0,01). Foi observada relação inversa entre os níveis de folato e os de homocisteína. Não houve relação entre os níveis de vitamina B12 e os de homocisteína. A razão das chances para hiperhomocisteinemia na síndrome coronariana aguda foi de 4,45 (intervalo de confiança (IC) 95%: 1,5 - 13,3). Toole et al. (43), verificaram que concentrações plasmáticas elevadas de homocisteína em pacientes indianos, em comparação a controles europeus brancos, foram explicadas por uma baixa concentração de folato e vitamina B12 naqueles pacientes. O folato plasmático, em particular, é um forte determinante da concentração de homocisteína, sendo que os níveis de homocisteína estão inversamente relacionados com o consumo de folato, atingindo-se um nível basal estável quando a ingestão de folato ultrapassa 400 mcg por dia (10). Wald et al. (8) realizaram uma meta-análise que demonstrou uma forte evidência de que a associação entre homocisteína e doença cardiovascular é causal, e que a diminuição da concentração de homocisteína em 3 µmol/l por meio da ingestão de ácido fólico reduziria o risco de doenças cardiovasculares (doença cardíaca isquêmica, trombose venosa profunda e acidente vascular cerebral) em 16% a 38%. Pesquisadores do grupo The Heart Outcomes Prevention Evaluation (HOPE) distribuíram de forma aleatória 5.522 pacientes com idade igual ou superior a 55 anos que tiveram doença cardiovascular ou diabetes mellitus entre o grupo tratamento, os quais receberam uma combinação de 2,5 mg de ácido fólico, 50 mg de vitamina B6 e 1 mg de vitamina B12, ou grupo placebo, durante uma média de 5 anos. O desfecho primário era composto por causas de morte cardiovascular, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral. O primeiro evento ocorreu em 519 pacientes (18,8%) do grupo tratamento e em 547 (19,8%) do grupo placebo (risco relativo = 0,95; IC 95%, 0,84 a 1,07; p = 0,41). Em comparação com o placebo, o tratamento não diminuiu 13 significativamente o risco de morte por causas cardiovasculares. Verifica-se, portanto neste estudo, que suplementos de ácido fólico combinado com as vitaminas B6 e B12 não reduzem o risco de eventos cardiovasculares em pacientes com doença cardiovascular (9). Em concordância com estes achados, outro estudo distribuiu aleatoriamente 650 pacientes em estágio final da doença renal em hemodiálise, em 2 grupos: tratamento, no qual os indivíduos receberam 5 mg de ácido fólico, 50 mcg de vitamina B12 e 20 mg de vitamina B6 (tratamento ativo); ou 0,2 mg de ácido fólico, 4 mcg de vitamina B12 e 1 mg de vitamina B6 (placebo) administradas 3 vezes por semana por uma média de 2 anos. Este estudo tinha como objetivo reduzir os níveis de homocisteína, por meio da suplementação destas vitaminas e, portanto, reduzir eventos cardiovasculares e mortalidade total. No entanto, o aumento da ingestão de ácido fólico, vitamina B12 e vitamina B6 não reduziu a mortalidade total e não teve nenhum efeito significativo no risco de eventos cardiovasculares nos pacientes avaliados (44). Revisão realizada por Brattström e Wilcken (45) sugere que o declínio da função renal sozinho causa elevação das concentrações plasmáticas de homocisteína (e cisteína). Estas observações sugerem que a hiperhomocisteinemia leve pode muitas vezes ser um efeito e não uma causa da doença aterosclerótica. Tucker et al. (46) conduziram um estudo randomizado duplo-cego com 189 voluntários de 50 a 85 anos, os quais foram distribuídos em 2 grupos: um grupo consumia uma xícara de cereal fortificado com 440 mcg de ácido fólico, 4,8 mcg de vitamina B12 e 1,8 mg de vitamina B6, e outro grupo que recebia um cereal placebo, durante 12 semanas. Após o consumo de 1 xícara de cereal fortificado, as concentrações plasmáticas de homocisteína foram significantemente menores e as concentrações de vitaminas do complexo B foram significantemente maiores no grupo tratamento em relação ao placebo (p < 0,001). Estudo realizado por Deshmukh et al. (47) verificou que a suplementação oral diária com doses fisiológicas de vitamina B12 (cápsulas de 2 ou 10 mcg) foi uma intervenção efetiva para reduzir as concentrações plasmáticas de homocisteína. Já a suplementação com ácido fólico (200 mcg por dia) não mostrou nenhum benefício adicional, nem teve qualquer efeito negativo. Enquanto Wolters et al. (48) avaliando 220 mulheres idosas saudáveis (60 a 91 anos) verificaram que a suplementação de doses fisiológicas de ácido fólico (400 mcg), vitamina B12 (9 mcg) e vitamina B6 (3,4 mg) durante 6 meses foi capaz de melhorar as concentrações destas vitaminas e reduzir as concentrações plasmáticas de homocisteína. 14 Uma meta-análise indicou que a suplementação com uma alta dose de ácido fólico (≥ 5000 mcg por dia) pode melhorar a função endotelial medida por meio de dilatação mediada pelo fluxo sanguíneo, após 4 semanas de suplementação, e que este efeito parece ser independente da redução da concentração plasmática de homocisteína. Função endotelial restaurada em indivíduos com doenças cardiovasculares pode no curto prazo, não prevenir outro evento cardiovascular. No entanto, uma dilatação mediada pelo fluxo sanguíneo otimizada pode ser crucial para evitar o primeiro evento cardiovascular (49). De acordo com Williams et al. (50) o ácido fólico é um suplemento seguro e eficaz que tem como alvo artérias rígidas de grande calibre e pode prevenir hipertensão sistólica isolada. Estudo caso-controle, com 130 pacientes hospitalizados devido ao primeiro infarto agudo do miocárdio e com 118 controles, verificou que a quantidade fornecida pela dieta e os níveis plasmáticos de vitamina B6 e ácido fólico foram menores nos casos que nos controles, e que estas vitaminas foram inversamente associadas com o risco de infarto do miocárdio, independente de outros potenciais fatores de risco. Já a vitamina B12 não mostrou claramente associação com infarto do miocárdio. Comparando os níveis médios de vários metabólitos da homocisteína entre os casos e os controles, os autores encontraram que a insuficiência da remetilação da homocisteína (dependente de ácido fólico e vitamina B12) foi a causa predominante de elevados níveis de homocisteína nos casos. Nesta população, o ácido fólico foi o determinante mais importante das concentrações plasmáticas de homocisteína, mesmo em indivíduos com aparentemente adequado estado nutricional desta vitamina (51). Meta-análise realizada por Bleys et al. (52) não mostrou nenhuma evidência de um efeito protetor com a suplementação de antioxidantes ou vitaminas do complexo B na progressão da aterosclerose, fornecendo assim uma explicação mecanicista por sua ausência de efeito em eventos cardiovasculares clínicos. Siri et al. (53) verificaram que indivíduos no menor quartil de níveis de vitamina B12 apresentaram maior risco de aterosclerose coronariana (odds ratio: 2,91; IC 95%: 1,10 - 7,71) em comparação com aqueles no maior quartil. A odds ratio e o IC 95% para baixos níveis de vitamina B6 e baixos níveis de ácido fólico foram 0,86 (IC 95%: 0,33 – 2,22) e 0,58 (IC 95%: 0,23 - 1,48), respectivamente. Baixas concentrações de vitamina B12 foram associadas com risco aumentado de aterosclerose coronariana, em parte, independentemente da concentração de homocisteína total. Embora baixos níveis de ácido fólico tenham sido um forte determinante das concentrações elevadas de 15 homocisteína total, estes não foram associados ao maior risco de aterosclerose coronariana. Diferenças nas características da população estudada, como hábitos alimentares, uso de suplementos vitamínicos ou diferenças étnicas, poderiam explicar os resultados contraditórios apresentados por diferentes estudos (54, 55). Além disso, existe alguma evidência de que a concentração média de homocisteína varia entre os países. Diferenças genuínas nas características das populações estudadas podem ser responsáveis por diferentes resultados dos diversos estudos (4). 16 5 - COCLUSÃO A vitamina B12 e o ácido fólico participam como co-fatores no metabolismo da homocisteína. O baixo consumo de alimentos fonte de vitamina B12 e de ácido fólico e/ou defeitos genéticos podem levar a deficiências destas vitaminas, o que pode resultar em um aumento dos níveis plasmáticos de homocisteína. Diversos estudos têm demonstrado que elevações deste aminoácido estão relacionadas ao maior risco de aterosclerose. Portanto, níveis elevados de homocisteína seria o elo entre a deficiência de vitamina B12 e ácido fólico e a aterosclerose. No entanto, não existem evidências científicas para a suplementação de vitamina B12 e ácido fólico com o objetivo de prevenir o processo da aterosclerose. Recomenda-se consumir uma alimentação saudável e balanceada, rica em frutas, hortaliças e grãos integrais, de modo a garantir o suprimento adequado de todos os macro e micronutrientes, em especial de vitaminas. 17 6 - REFERÊCIAS 1. Sociedade Brasileira de Cardiologia. 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