2
CONSTRUÇÃO LÉXICA DA TRAJETÓRIA DA ATIVIDADE FÍSICA NA
EMPRESA: Ginástica Laboral no Brasil em Abordagem de Gestão do
Conhecimento
POR
HEGLISON CUSTÓDIO TOLEDO
____________________________________
TESE APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
EDUCAÇÃO FÍSICA DA UNIVERSIDADE GAMA FILHO COMO REQUISITO
PARCIAL A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE DOUTOR EM EDUCAÇÃO FÍSICA
JULHO, 2010
3
CONSTRUÇÃO LÉXICA DA TRAJETÓRIA DA ATIVIDADE FÍSICA NA
EMPRESA: Ginástica Laboral no Brasil em Abordagem de Gestão do
Conhecimento
HEGLISON CUSTÓDIO TOLEDO
APRESENTA A TESE
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________
PROF. Dr. LAMARTINE PEREIRA DaCOSTA
- ORIENTADOR___________________________________________________
PROF. Dr. FRANCISCO EDUARDO DA FONSECA DELGADO
-CO-ORIENTADOR___________________________________________________
PROF. Dr. RENATO MIRANDA
-EXAMINADOR___________________________________________________
PROF. Dr. MAURÍCIO GATTÁS BARA FILHO
-EXAMINADOR___________________________________________________
PROFa. Dra. EDNA HERNANDEZ MARTIN
-EXAMINADOR-
JULHO, 2010
4
Dedico ao meu saudoso pai Oswaldo de Melo Toledo e
minha mãe Leny Lopes de Melo Toledo pelos exemplos
de determinação, esforço e inquietude em sua trajetória.
Dedico também a minha esposa Alesandra que me
ajudou a transformar este sonho em realidade, seu auxílio
reforçou minha confiança na execução de um projeto de
vida construído a dois, a você, minha eterna e calorosa
gratidão. Aos meus filhos Hugo e Yuri por serem a minha
maior alegria
5
AGRADECIMENTOS
Ao meu pai in memorian, por me ensinar ir à luta.
À minha mãe, por sua dedicação incondicional.
À minha esposa, Alesandra Toledo, pelo amor, carinho, empenho e por ser
meu suporte em todas as dificuldades da vida.
Aos meus filhos, Hugo e Yuri, por serem o motivo da minha dedicação.
A minha irmã, Lilian, por me ensinar o gosto pelo estudo.
A minha irmã, Adriana e minha sobrinha Liana, por todo o apoio e incentivo.
Ao meu irmão Saulo, por ser um parceiro para todas as horas e saber que
sempre posso contar.
Ao meu cunhado Douglas, pela disponibilidade irrestrita.
Ao meu sogro Iran e minha sogra Dionéia, pelo apoio e constantes
colaborações.
Ao meu orientador Prof. Dr. Lamartine, pela sabedoria e ensinamentos.
Ao meu co-orientador Prof. Dr. Francisco, pelo empenho dedicado.
Ao Prof. Renato Miranda, por ser uma referência em minha vida.
Ao Prof. Maurício Gattás Bara Filho, pela amizade e colaboração.
A Profa. Dra. Edna Hernandez Martin, pela preciosa colaboração.
Ao Prof. Giuliano Pimentel, pela grande colaboração na reunião dos autores
estudados.
Ao amigo Leonardo Beire, pela amizade e auxílio nos momentos difíceis.
A amiga Gláucia Sartori, pela amizade e incentivo.
Ao amigo Moacir Marocolo Jr., pela amizade e companhia.
Ao amigo Daniel Schimitz, pela amizade e colaboração.
Aos amigos Marcus Paulo e Jaqueline Fam, pela força e apoio constantes.
6
Ao amigo Everson Ciccarini, pela construção de uma nova amizade.
Ao amigo Robson Aguiar, pela amizade e companheirismo.
Aos amigos do doutorado, Tadeu Correa, Hamilton, Bernardo, Marcus Bechara,
Paulo Rodrigo, Elaine, Dirce, Rose e Lilian, por contribuírem em minha
formação.
A Floripes e Vilma, pelo apoio e encorajamento.
Ao Gilberto e Danilo Carvalho Esteves, pela confiança e compreensão em meu
empenho.
A Anna Marcella Neves Dias, pelo apoio e confiança em minha dedicação.
Ao Prof. Antônio Bara Miguel, por me dar a primeira oportunidade de
aprendizado e experiência na Ginástica Laboral.
Aos colegas, Coordenadores da Universidade Presidente Antônio Carlos, pelo
companheirismo e apreço.
Aos Colegas, professores da Universidade Presidente Antônio Carlos, pelo
encorajamento e colaboração em todo meu doutoramento.
A todos os Funcionários da Universidade Presidente Antônio Carlos, pelo apoio
e auxílio em minhas licenças funcionais por meu doutoramento.
Aos Colegas da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer de Juiz de Fora, pelo
companheirismo, colaboração e amizade.
Aos meus alunos, por serem o motivo de meu aperfeiçoamento constante.
À Universidade Gama Filho, por fazer parte de toda minha história acadêmica.
Aos Funcionários da Pós-Graduação da Universidade Gama Filho, Antônio e
Denise, pelo constante auxilio na rotina acadêmica.
A todos aqueles que me ajudaram direta e indiretamente, meus sinceros
agradecimentos.
7
TOLEDO, H. C. CONSTRUÇÃO LÉXICA DA TRAJETÓRIA DA ATIVIDADE
FÍSICA NA EMPRESA: Ginástica Laboral no Brasil em Abordagem de
Gestão do Conhecimento (TESE DE DOUTORADO). Rio de Janeiro:
PPGEF/ UGF, 2010.
Orientador: Prof. Dr. Lamartine Pereira DaCosta
RESUMO
A Ginástica Laboral e Atividade Física na empresa têm uma prática
representativa no Brasil desde a década de 70. O presente trabalho teve como
objetivo
analisar
significados,
desvios,
desequilíbrios
e
impactos
do
conhecimento produzido. A pesquisa de caráter qualitativo descritivo se
estabeleceu a partir da análise de 21 trabalhos captados a partir da chamada
pública realizada em junho de 2007. Para a análise, foi utilizado o software
SPHINX LEXICA & EURECA® V. 5., na qual permitiu a revisão e análise do
conteúdo. Foi verificado as estruturas léxicas e as relações feitas na
construção das obras e materiais compilados para a tese. A análise qualitativa
dos dados foi realizada através da Análise Fatorial de Correspondência (AFC)
que teve por objetivo, analisar uma tabela de contingência formada pelas
freqüências de objetos (autores-focos-notas), não considerando os valores
absolutos, mas as correspondências entre caracteres. Analisando os padrões
de freqüências relativas (probabilidades) a partir do cálculo dos autovetores da
matriz de variâncias-covariâncias. A análise permitiu avaliar que o fenômeno
estudado, apesar de se apresentar como um arcabouço capaz de formação e
construção do conhecimento, nos últimos anos não está gerando novos
conhecimentos
a
partir
da
interação
dos
conhecimentos
tácitos
e
conhecimentos explícitos.
Palavras-chave: Ginástica Laboral; Atividade Física na Empresa; Gestão do
Conhecimento.
8
TOLEDO, H. C. LEXICAL CONSTRUCTION OF WORKSITE PHYSICAL
ACTIVITY TRAJECTORY: work site exercises in Brazil in boarding of
knowledge management (THESIS OF DOCTORATE). Rio de Janeiro:
PPGEF/ UGF, 2010.
Orientador: Prof. Dr. Lamartine Pereira DaCosta
ABSTRACT
The worksite exercise and Physical Activity has one practical representation in
Brazil since 1970. The current study ained to analyzey meanings, and impacts
of the produced knowledge. A descriptive qualitative research was established
from the analysis of 21 works through public call in June 2007. For the analysis
was used the software SPHINX LEXICA; EURECA® V. 5. , in which it allowed
the revision and analysis of the content. It was verified the lexical structures and
the relations made in the construction of the workmanships and materials
compiled for this thesis. The data qualitative analysis was done using Factorial
Analysis (AFC) that it had as objective, analyze a schedule of contingency
formed from the object frequencies (author-focus-notes), not considering the
absolute values, but the correspondences among characters. Analyzing the
relative frequencies standards (probabilities) from the calculation of the of
matrix (variances-co variances). The analysis allowed to evaluate that the
phenomenon studied, although presented as one knowledge capable to create
and construct, in last years not generating new knowledge from the interaction
of the tacit and explicit knowledge.
Key-words: work site exercise; Physical Activity in the company; knowledge
management.
9
SUMÁRIO
VOLUME I
Apresentação..............................................................................................
10
Capítulo I.....................................................................................................
12
1. Introdução................................................................................................. 12
1.2 Problema................................................................................................
17
1.3 Questões a investigar.............................................................................
20
1.4 Objetivos da Pesquisa............................................................................
21
1.4.1 Objetivo Geral...................................................................................... 21
1.4.2 Objetivos Específicos..........................................................................
21
1.5 Justificativa/ Relevância do Estudo........................................................
22
Capítulo II....................................................................................................
24
Revisão de Literatura.................................................................................... 24
2.1 Homem e Trabalho.................................................................................
24
2.2 História do Trabalho...............................................................................
27
2.3 Idade Moderna........................................................................................ 31
2.4 Idade Contemporânea............................................................................
33
2.5 Evolução do Capitalismo........................................................................
34
2.6 Novas Dimensões do Trabalho..............................................................
37
2.7 A Era do Bem Estar................................................................................
41
2.8 Transformações e Gestão – Impactos no Trabalho...............................
49
2.9 Cibercultura............................................................................................
56
2.10 Gestão do Conhecimento.....................................................................
60
2.11 Ginástica Laboral Através dos Tempos................................................ 67
Capítulo III...................................................................................................
74
3.1 Metodologia............................................................................................
74
3.2 Análise Estatística..................................................................................
80
3.3 Resultados e Discussão ........................................................................
82
3.4 Considerações Finais.............................................................................
91
3.5 Referências ............................................................................................ 92
10
VOLUME II
SEÇÃO I – Práticas da Ginástica Laboral no Brasil
A Ginástica Laboral e a Importância da Atividade Física para os
Trabalhadores............................................................................................... 105
Dimensões da Qualidade de Vida no Local de Trabalho: perspectiva
ecológica para a integração de fatores pessoais, ambientais e
organizacionais............................................................................................. 114
O Profissional de Educação Física e sua Atuação na Ginástica Laboral
123
Ginástica Laboral Integrada e Biomecânica Ocupacional............................
139
Programa de Ginástica Laboral (GL): etapas de Implantação.....................
148
Ginástica Laboral no Rio Grande do Sul......................................................
157
O Berço da Ginástica Laboral no Brasil: a experiência do Centro
Universitário Feevale....................................................................................
167
Ginástica Laboral e Promoção da Saúde como Extensão Universitária: A
Experiência Da Ufscar..................................................................................
177
Trajetória dos Estudos sobre Ginástica Laboral........................................... 191
SEÇÃO II – Pesquisas Realizadas em Ginástica Laboral e Atividade
Física na Empresa no Brasil
Efetividade da Ginástica Laboral..................................................................
202
Informações Provenientes de um Programa de Ginástica Laboral na
Promoção da Qualidade de Vida do Trabalhador e de sua Comunidade....
216
Efeitos da Ginástica Laboral na Qualidade de Vida de Trabalhadores........
231
Ginástica Laboral e Controle da Ansiedade em Telefonistas....................... 238
SEÇÃO III – Impressões, Relatos e Ensaios da Ginástica Laboral no
Brasil
Um Panorama da Ginástica Laboral no Brasil.............................................. 250
Ginástica Laboral: relato de uma prática fundamentada.......................
263
Qualidade de Vida no Trabalho: estudos do grupo gestão de recursos
humanos para o ambiente produtivo............................................................
272
Ginástica Laboral: breve retrospectiva e tendências para o curso de
Educação Física da Universidade Federal de Viçosa..................................
289
Cases sobre Ginástica Laboral..................................................................... 292
11
Ginástica Laboral na Escola: programa de promoção de saúde.................. 322
A Visão das Empresas Gaúchas sobre as Atividades Físico-Desportivas
na Empresa..................................................................................................
333
Reflexões sobre a Educação Física e o mundo do Trabalho.......................
336
Perspectiva de Mercado de Trabalho em Ginástica Laboral........................ 338
12
LISTA DE FIGURA
Figura 1 - Proporção de trabalhadores da Indústria que referiram
oferecimento do Programa Ginástica na Empresa, por porte da empresa.... 69
Figura 2 – Proporção de trabalhadores da indústria que referiram não
participar do Programa Ginástica na Empresa, por região e gênero............. 70
Figura 3 – Proporção de trabalhadores da indústria que relataram não
participar do Programa de Ginástica na Empresa......................................... 71
13
LISTA DE GRÁFICOS
VOLUME I
CAPÍTULO III
Gráfico 1 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras
e suas abordagens focais.............................................................................
Gráfico 2 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras
e suas abordagens focais.............................................................................
Gráfico 3 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras
e suas abordagens focais.............................................................................
Gráfico 4 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras
e suas abordagens focais.............................................................................
Gráfico 5 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras
e suas abordagens focais.............................................................................
Gráfico 6 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras
e suas abordagens focais.............................................................................
Gráfico 7 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras
e suas abordagens focais.............................................................................
Gráfico 8 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras
e suas abordagens focais.............................................................................
Gráfico 9 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras
e sua abordagem no foco 1..........................................................................
Gráfico 10 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras
e sua abordagem no foco 2..........................................................................
Gráfico 11 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras
e sua abordagem no foco 3..........................................................................
Gráfico 12 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras
e sua abordagem no foco 4..........................................................................
Gráfico 13 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras
e sua abordagem no foco 5..........................................................................
Gráfico 14 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras
e sua abordagem na nota 1..........................................................................
Gráfico 15 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras
e sua abordagem na nota 2..........................................................................
Gráfico 16 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras
e sua abordagem na nota 3..........................................................................
VOLUME II
SEÇÃO II - CAPÍTULO IX
Gráfico 1 - Média do questionário SF-36 pré e pós a interferência de 3
meses de ginástica laboral. n=10. *p<0,05...................................................
SEÇÃO II – CAPÍTULO XII
Gráfico 1 – Média (em pontos) do nível de ansiedade-estado de
mulheres trabalhadoras............................................................................
85
86
87
88
89
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
100
237
247
14
LISTA DE QUADRO
VOLUME II
SEÇÃO I – CAPÍTULO V
Quadro 1 - Características dos PGL desenvolvidos no período de 20012006..............................................................................................................
SEÇÃO II – CAPÍTULO IX
Quadro 1- Classificação em porcentagem de funcionários praticantes e
não-praticantes da GL nos estágios de prontidão. Média e desvio padrão
da QdV dos dois grupos...............................................................................
Quadro 2 - Porcentagem das respostas para cada adjetivo.......................
Quadro 3 - Média e desvio-padrão dos dados antropométricos e da
preensão manual com braço direito e esquerdo, com participantes sem
dor e com dor...............................................................................................
SEÇÃO III – CAPÍTULO XVII
Quadro 1 – Características específicas dos colaboradores........................
Quadro 2 - Fatores relacionados à diminuição da taxa de participação
em programas de atividade física................................................................
Quadro 3 - Razões apresentadas por colaboradores para não participar
em programas de atividades físicas.............................................................
167
210
213
216
306
313
314
15
LISTA DE TABELAS
VOLUME II
SEÇÃO II – CAPÍTULO IX
Tabela 1 - Médias  dp dos valores da flexibilidade, coordenação,
agilidade e força...........................................................................................
Tabela 2 - Valores médios e desvio-padrão de RMSSD e pNN50, nos
dois tempos analisados, para os dois protocolos de teste (com GL e sem
GL)...............................................................................................................
.
SEÇÃO II – CAPÍTULO XI
Tabela 1- Freqüência cardíaca antes, durante (7 minutos) e 1 minuto
após o final dos 15 minutos de ginástica laboral apresentados em média
e desvio padrão...........................................................................................
Tabela 2- Diversos domínios do questionário SF-36 pré e pós a
interferência de 3 meses de ginástica laboral apresentados em média e
desvio padrão.n=10.....................................................................................
SEÇÃO II – CAPÍTULO XII
Tabela 1 – Dados gerais da amostra......................................................
214
215
237
237
246
16
VOLUME I
17
APRESENTAÇÃO
A tese em apresentação é fruto de um esforço conjunto do autor
Heglison Toledo e dos professores Lamartine Pereira DaCosta e Giuliano
Pimentel, que reuniram autores que produzem ou produziram informações
sobre Ginástica Laboral e Atividade Física na Empresa. A referida tese se
desenvolveu a partir do planejamento do livro sobre “Atividades Físicas no
Trabalho e Ginástica Laboral no Brasil”, a ser lançado, tendo os profissionais
de Educação Física Giuliano Pimentel (PR), Heglison Toledo (MG) e Lamartine
DaCosta (RJ) para desenvolver a produção da obra, atuando como editores.
O livro planejado terá propósitos técnico-científicos, sobretudo voltados
para o inventário de seu tema central tendo em vista os últimos 50 anos, desde
que foi introduzido e aperfeiçoado por professores de Educação Física e
profissões correlatas no Brasil, atendendo a solicitações das áreas de lazer,
terapêuticas, fisiológicas e segurança do trabalho. Cabe também destacar que
a elaboração da tese se iniciou a partir da reunião do conteúdo disponibilizado
pelos autores voluntários a participar do projeto.
A tese está formatada em dois volumes, o primeiro volume se refere ao
conteúdo da pesquisa propriamente dito, em que se buscou verificar uma da
análise criteriosa dos textos disponíveis para a confecção do livro, baseado na
gestão do conhecimento e na utilização do software SPHINX®. A tese contém
três capítulos, sendo que o primeiro trata da introdução, problema da pesquisa,
questões a investigar, objetivos, justificativa e relevância do estudo. O segundo
capítulo aborda a revisão de literatura em que envolve o homem e o trabalho, a
evolução do capitalismo e a gestão do conhecimento e o capítulo três finaliza
com a metodologia adotada, a análise estatística, discussão, resultados e
considerações finais.
No volume dois, o presente trabalho apresenta toda a reunião dos
estudos e relatos dos participantes do projeto do livro a ser publicado e que
serviu de fonte para o estudo feito para a confecção da tese em apresentação.
O volume dois foi dividido em três seções com um total de vinte e um capítulos.
Sendo a primeira seção o agrupamento dos trabalhos que apresentam as
práticas desenvolvidas no Brasil em Ginástica Laboral e Atividade Física na
18
Empresa, organizados em oito capítulos. A segunda seção revela as pesquisas
realizadas em ginástica laboral e atividade Física na Empresa no Brasil,
reunidas em quatro capítulos. Finalizando, a seção três apresenta as
impressões, relatos e ensaios da Ginástica Laboral e Atividade Física na
Empresa no Brasil.
19
CAPÍTULO I
1. INTRODUÇÃO
Estudar o trabalho é um desafio intenso para o pesquisador pela
dificuldade e densa complexidade das inúmeras tendências, diversidade e
óticas que o estudo permite. O presente estudo busca a compreensão de um
fenômeno, que acontece particularmente no Brasil, de uma grandeza e
envolvimento de pessoas e de um amplo cabedal de conhecimentos, que é a
ginástica laboral e a atividade física na empresa.
Neste sentido, o entendimento da trajetória da ginástica laboral e
atividade física na empresa torna-se uma importante ferramenta para a
compreensão dos diferentes fenômenos e espaços de atuação que a educação
física e outros conhecimentos tornam-se capazes de desenvolver.
A gestão do conhecimento é uma disciplina que permite que o
conhecimento seja o resultado de experiências vividas pelo indivíduo, como
elemento observador de seu mundo em diversos cenários. É neste referencial,
que o estudo se estrutura para um tipo de conhecimento incorporado que por
vezes sequer temos consciência de sua existência (Melo, 2003). Considerando
que a Ginástica Laboral se desenvolveu no país como conhecimento explícito,
ou seja, toda a carga de informação digerida e analisada por indivíduos, que
por meio de técnicas estruturadas, permite a sua disseminação.
Assim esta tese tem o objetivo de analisar significados, desvios,
desequilíbrios e impactos do conhecimento produzido em Ginástica Laboral e
Atividade Física na Empresa no Brasil. Para isto, uma importante revisão da
trajetória do trabalho desde seu primórdio até os dias atuais e a compreensão
da inserção da ginástica neste contexto laboral permitirão uma análise mais
acurada da trajetória histórica deste fenômeno.
Assim, para o entendimento da evolução histórica e o impacto da
construção léxica da trajetória da atividade física na empresa, a ginástica
laboral no Brasil, em abordagem de gestão do conhecimento, permitirá uma
profunda análise da produção científica e empírica da Ginástica Laboral/
20
Atividade Física na Empresa que apresentam consistência histórica-social em
seu arcabouço textual e que pautam a prática da Ginástica Laboral/ Atividade
Física na Empresa, como também, a produção de conhecimento sobre
ginástica laboral/ Atividade Física na Empresa e sua prática mercadológica,
centrada nos cuidados primários de saúde, o que permite apontar os
significados, desvios, desequilíbrios e impactos do conhecimento produzidos
na prática da ginástica laboral/ Atividade Física na empresa.
O presente estudo busca a compreensão do problema de pesquisa que
é a crescente evolução da ginástica laboral e sua construção teórica-científica
consolidada pela abordagem da gestão do conhecimento que trata da
construção dos paradoxos e legitimização das contradições existentes nesta
máquina de processamento de informações, que é a Ginástica Laboral/
Atividade Física na Empresa.
É notório saber que a atividade física traz benefícios à saúde humana,
no entanto, diversas atividades e modelos específicos de intervenção vêm
sendo criados para potencializar a capacidade humana de se beneficiar da
atividade física e em consequência melhorar a qualidade de vida e o estado de
saúde.
A preocupação com a saúde do trabalhador vem crescendo nas últimas
décadas em especial, já que a velocidade das informações, o avanço da
tecnologia vêm de forma geral impactando a saúde e o bem-estar do
trabalhador.
No início do século XX, as empresas esboçavam uma preocupação
com a saúde do trabalhador, em virtude da melhoria na produção, pautada no
aspecto da produção em série e em quantidade. Por outro lado, neste início do
século XXI, pode-se perceber que há uma preocupação não somente com a
saúde do trabalhador como também com sua capacidade de trabalhabilidade e
empregabilidade.
A discussão teórica sobre o assunto vem se desenvolvendo em várias
linhas de investigação. A saúde mental é retratada em estudos, envolvendo o
adoecimento psicológico do trabalhador, assim como a preocupação com a
saúde física do indivíduo, tendo como auxílio teórico ciências ligadas ao
21
escopo da Educação Física, Fisioterapia, Medicina do Trabalho, Psicologia e
Ergonomia.
A partir deste pressuposto, desafios inerentes ao comportamento
humano são apontados, principalmente, relacionados à conduta e intervenção
laboral, visto que as trocas, o aparelhamento, a informatização solidificam-se
cada vez mais na estrutura do trabalho, forçando o homem a uma adaptação
constante na sua perspectiva de ação no mundo laboral.
Ao traçar a evolução do trabalho, percebe-se que sua história é
marcada por fatos que tendem da opressão à liberdade, da dor à alegria, da
crueldade ao gesto de amor, da barbárie à civilidade (Oliveira, 1999; Saul,
2001).
A história do trabalho nos mostra uma trajetória oriunda da
necessidade de organização social, desde os tempos do escravismo, passando
por uma evolução tecnológica (instrumental), caminhando para o Feudalismo,
no momento seguinte, o Renascimento constituído de novas formas de vida e
consequentemente com o encontro de novas culturas, direcionam o homem a
encontrar-se consigo mesmo.
Como afirma Oliveira (1999), “a história humana é essencialmente a
história do trabalho”. Nesse sentido, é importante compreender a essência do
comportamento laboral para refletir sobre as questões éticas e morais. Já que,
de acordo com a trajetória humana o trabalho e seus significados vêm se
transformando e sendo redirecionados à funcionalidade humana.
Ao se resgatar a História pode-se perceber a existência de um
dualismo na qualificação do trabalho, visto que, no mundo ocidental, desde a
Grécia antiga, o trabalho manual era considerado desprovido de dignidade.
Pautando este pensamento, Xenofonte (apontado por Oliveira, 1999) dizia que
“o trabalho é a redistribuição da dor mediante a qual os deuses nos vendem os
bens”.
Em relação à afirmação deste pensamento da época, Bataglia (apud Oliveira,
1999) relata o seguinte:
Os homens livres devem desprezar o trabalho, elevandose deste modo aos deuses enquanto contemplam e
22
gozam. A produção das coisas materiais da vida é
confiada aos seres não livres, abjetos, aos escravos. O
homem livre que trabalha se avilta, perde a liberdade. O
exercício da política e das armas é vocação do homem
livre: magistrado ou soldado deve servir a pátria; portanto,
se deseja, pode elevar-se à ciência desinteressada e
penetrar a essência e o destino seu e do mundo, ou ser
pensador ou homem religioso. Mas, de qualquer modo,
jamais deve ser trabalhador, pois sua dedicação às
coisas, ao que está fora de nós, é subalterna e deve
deixar-se a seres não livres, ao operário e ao escravo.
Nesse sentido, ficam claros o dualismo e a grande diferença nos
comportamentos e percepções do trabalho, tendo nos dias atuais a valorização
do trabalho enquanto meio de dignificação do Homem, como também o seu
bem estar, manutenção da saúde e redução de fatores psicofisiológicos
negativos.
A evolução humana caminha pari passu à evolução do trabalho, o que
justifica a denominação atual de nossa sociedade como a sociedade do
conhecimento. As transformações alinham-se com a perspectiva da valorização
humana e consequentemente com a valorização do trabalho, nesse aspecto,
as inversões de valores relacionadas ao capital, energia e matéria-prima para o
conhecimento tornam-se uma característica presente em nossa sociedade,
visto que, modifica-se o modelo de mão-de-obra para cérebro-de-obra.
Dentro desse referencial, indicam-se modelos paradigmáticos quanto à
melhoria das condições de trabalho, nesta tendência, apontamentos históricos
nos mostram que a prática de ginástica em ambientes de trabalhos são
realizadas desde 1925, na Polônia, alguns anos depois foi introduzida na
Holanda, o que era chamado de ginástica de pausa; já na década de 60,
registros revelam o início da prática na Alemanha, Suécia, Bélgica, Japão e em
1968 os Estados Unidos adotaram a ginástica laboral (DaCosta, 1991).
Conforme o documento coordenado pelos professores Lamartine
Pereira DaCosta, Paulo Pegado e José Carlos Grando, os fundamentos do
lazer e esporte na empresa indicam registros de que a manifestação de
atividades físicas na empresa é tradicionalmente antiga no Brasil. Dacosta
(1991) distingue três momentos das manifestações de atividades físicas nas
23
empresas, o que para o autor, é denominado como surtos: sendo o primeiro
nos anos 30-40, caracterizado como surto corporativo-assistencialista; o
segundo nos anos 40-70, como assistencialista e, nos anos 70-80, surto de
reordenamento das relações internas na empresa.
A ginástica laboral no Brasil ganhou bastante destaque na década de
90, em virtude de um novo comportamento empresarial e de percepções do
trabalho, além disso, houve o avanço da medicina do trabalho, que em
consequência ativou práticas alternativas visando à saúde do trabalhador. O
trabalho realizado pelo Ministério da Saúde, em 1991, deu um novo fôlego para
as atividades e estudos relacionados à ginástica laboral, atividade física na
empresa, esporte e lazer, provocando um aumento nas discussões acadêmicas
relacionadas ao assunto.
Em virtude desse fato, a produção acadêmica-científica relacionada à
ginástica laboral e à atividade física na empresa vem crescendo a cada ano,
isso pode ser percebido com o número de trabalhos apresentados em
congressos, artigos científicos publicados e livros especializados, além da
procura sempre crescente de cursos de extensão que abordam tal temática.
Um ponto importante a ser destacado é que a produção científica na
área vem se desenvolvendo em diferentes frentes de investigação, e em
diferentes regiões no nosso país. Percebendo a necessidade de se realizar um
inventário da temática central da ginástica laboral e atividade física na
empresa, e atendendo a uma demanda acadêmica nas áreas do lazer, da
segurança do trabalho, aspectos fisiológicos e terapêuticos, o CONFEF, em
2007, decretou o ano da ginástica laboral a fim de celebrar tal data, assim
como incentivou a elaboração de uma obra que pudesse reunir os principais
trabalhos relacionados à ginástica laboral e a assuntos correlatos.
Portanto, o estudo que se segue contou com as participações dos
professores Lamartine Pereira DaCosta e Giuliano Pimentel que iniciaram o
processo de captação e seleção dos trabalhos realizados no Brasil sobre o
tema e que é parte fundamental da pesquisa ora apresentada com o intuito de
realizar uma varredura nos documentos, a fim de ilustrar a construção de todo
o espaço da Ginástica Laboral no Brasil.
24
1. 2 PROBLEMA
O processo de industrialização avançado nas últimas décadas parece
ter priorizado o instrumental, o maquinário e os métodos de produção. Nota-se,
no entanto, que com o tempo, esta forma de conduzir o processo tem se
mostrado inadequada, pois ao ser colocado mediante as exigências do meio
produtivo, a máquina “homem” deu os primeiros sinais de inadaptabilidade,
desorganização, surgindo, portanto, distúrbios ocupacionais na saúde do
trabalhador (Jesus, 1999).
A partir dos anos 70 iniciou-se no Brasil uma preocupação científica a
respeito do tema Ginástica de Pausa como foi apontado no artigo publicado na
Revista Brasileira de Educação Física em março/abril de 1974 de Mario Ribeiro
Cantarino Filho e Ewerton Negri Pinheiro. Nesse contexto, a evolução do
conhecimento se mostrou relativamente estática, tendo em vista que as obras
sobre o tema ginástica laboral não se destacam por um poder científico sólido,
no entanto, se mostram como um importante nicho mercadológico.
A ginástica laboral e atividade física na empresa surgem a partir da
necessidade de melhoria da saúde do trabalhador e das condições de trabalho.
A evolução temática imprime uma discussão acadêmica em torno da qualidade
de vida, desde as ações necessárias para oferecer condições de atingir tal
qualidade até ferramentas capazes de minimizar e/ou maximizar as
potencialidades de qualidade de vida. Nesse paralelo, discussões acerca da
promoção da saúde, tende a justificar as ações e o crescimento da área de
atuação e intervenção na saúde do trabalhador. Outrossim, a problematização
epistemológica da saúde cria elementos de que não há possibilidade de se ter
qualidade de vida, promoção da saúde e humanização do trabalho sem
atividade física (Bagrichevsky, Estevão & Palma, 2006).
A ginástica laboral ao longo do tempo se desenvolveu no Brasil a partir
de uma base teórica e modelos científicos, entretanto, nos últimos tempos o
crescimento se mantém, porém não tem a mesma consolidação científica.
Portanto, a gestão do conhecimento é uma disciplina que permite e demonstra
25
que a criação do conhecimento não passa somente pela via teórica-científica e
sim pela complexidade da criação do conhecimento na valorização da prática
do indivíduo e criação de conhecimento através desta prática (Filho & Pinheiro,
1974; Silva, 2002).
O modelo deste problema de pesquisa segue na direção da
sistematização da criação do conhecimento a partir da compreensão do
conhecimento tácito e conhecimento explícito. O conhecimento tácito se baseia
nas raízes das ações e experiências corporais do indivíduo, não somente,
contém uma importante dimensão cognitiva, que consiste nas crenças, valores
e emoções. O conhecimento explícito é aquele que é transmitido rapidamente
aos indivíduos de maneira formal e sistemática (Melo, 2003, Nonaka e
Takeuchi, 2008; Bukowitz & Williams, 2002; Silva, 2002).
Conforme Nonaka e Takeuchi (2008), a passagem da sociedade
industrial para sociedade do conhecimento nos induz a uma nova perspectiva
de enxergarmos o paradoxo, que contextualiza toda a formação e criação do
conhecimento, antes se buscava a eliminação desse paradoxo, hoje se tenta a
compreensão por meio da gestão do conhecimento, na qual a ginástica laboral
está engajada, e na construção do conhecimento, a partir da aceitação dos
paradoxos existentes (Melo, 2003; Karpinski & Stefano, 2008).
Portanto, o modelo de Nonaka e Takeuchi (2008) demonstra como os
conhecimentos tácitos e explícitos são amplificados tanto em qualidade como
em quantidade, no modelo SECI a conversão de conhecimento se dá pela
socialização, externalização, combinação e internalização. Este modelo
consolida a problematização deste estudo por combinar a prática da ginástica
laboral em uma aboradagem da gestão do conhecimento, tendo em vista a
evolução e comportamento da Ginásica Laboral no Brasil, como uma entidade
criadora de conhecimento através do modelo SECI, ou seja, Socialização: de
indivíduo para indivíduo; Externalização: de indivíduo para o grupo;
Combinação: do grupo para a organização e Internalização: da organização
para o indivíduo.
A ginástica laboral ao longo do tempo se mostra uma disseminadora de
conhecimentos tácitos e explícitos, por ser por vezes, uma prática empírica e
26
com bases científicas frágeis. A gestão do conhecimento traz uma capacidade
de entendimento do fenômeno da expansão e solidificação da ginástica laboral,
por apresentar um importante modelo que cria e utiliza o conhecimento,
convertendo o conhecimento tácito em explícito e vice-versa.
27
1. 3 QUESTÕES A INVESTIGAR
A
problematização
da
presente
investigação
nos
remete
a
questionamentos, tendo como foco o aspecto prático de intervenção a ser feita
pelos profissionais ligados à prática da Ginástica Laboral/ Atividade Física na
Empresa.
Os pressupostos obtidos na literatura sobre o tema em investigação
nos fornecem uma riqueza de informações, as quais permitem inúmeros
desdobramentos e direções em relação ao estudo proposto. A conduta prática
observada no mercado impõe uma série de dúvidas e questões a cerca do
modelo praticado.
As publicações e o vasto campo de atuação têm em sua trajetória
inúmeras direções no campo da Ginástica Laboral, desde os aspectos médicos
até as atitudes empreendedoras. Com o desenvolvimento de ações ligadas a
um estilo próprio de “fazer negócio” ou à oferta de um produto como ferramenta
de gestão, com objetivos na saúde do trabalhador, bem como considerando o
contexto histórico-social da Ginástica Laboral, as seguintes questões a
investigar são sugeridas:
(1) A produção científica e empírica da Ginástica Laboral/ Atividade
Física na Empresa apresentam consistência histórica-social em seu
arcabouço textual que pautem a prática da Ginástica Laboral/
Atividade Física na Empresa?
(2) Como a produção de conhecimento sobre Ginástica Laboral/
Atividade
Física
na
Empresa
se
coaduna
com
a
prática
mercadológica e de cuidados primários de saúde?
(3) Quais os significados, desvios, desequilíbrios e impactos do
conhecimento produzidos na prática da Ginástica Laboral/ Atividade
Física na empresa?
28
1.4 OBJETIVOS DA PESQUISA
1.4.1 OBJETIVO GERAL
Analisar
significados,
desvios,
desequilíbrios
e
impactos
do
conhecimento produzido em Ginástica Laboral e Atividade Física na
Empresa no Brasil.
1.4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Verificar o impacto da produção lexical na prática da Atividade Física na
Empresa/ Ginástica Laboral representada por textos técnicos, científicos
e informacionais.
Investigar a relação da trajetória da Ginástica Laboral/ Atividade Física
na Empresa com sua base científica, através da produção lexical.
Analisar o conhecimento da Ginástica Laboral e Atividade Física na
Empresa produzido no Brasil, através do uso de software apoiado na
Gestão do Conhecimento.
29
1. 5 JUSTIFICATIVA/ RELEVÂNCIA DO ESTUDO
Sob a ótica da Gestão do Conhecimento, o presente empreendimento
científico justifica-se pelo entendimento dos conceitos emergentes desta nova
área epistemológica sobre as práticas e estudos realizados no âmbito da
Ginástica Laboral/ Atividade Física na Empresa.
Para viabilizar a construção do conhecimento, a investigação será
realizada a partir da produção técnica-científica de vários autores atuantes no
cenário da Ginástica Laboral/ Atividade Física na Empresa, buscando analisar
o
constructo
de
argumentação
e
suas
contribuições
efetivas
no
desenvolvimento da temática em pauta.
Considerando que a literatura sobre o tema é abrangente e está nos
dias atuais, pautada no conhecimento prático, a análise das produções
científicas e empíricas sobre ginástica laboral e atividade física permitirá
realizar um retrato do comportamento de nicho mercadológico que se tornou
esta área. Do ponto de vista científico e pilar para elaboração desta tese, a
análise léxica da construção da trajetória da ginástica laboral no Brasil,
baseada na abordagem da gestão do conhecimento, permitirá uma
compreensão do paradoxo existente entre o campo prático e de mercado e a
produção científica sobre o tema.
Sinalizando a necessidade de investimento científico no campo em
questão, a pesquisa tem sua relevância não só por apresentar uma obra capaz
de reproduzir todo o conhecimento produzido sobre a Ginástica Laboral/
Atividade Física na Empresa no Brasil, como também por realizar um
importante e inédito estudo meta-analítico na área pautado na Gestão do
Conhecimento. Os pontos estudados na pesquisa caminham pelas práticas da
Ginástica Laboral no Brasil, pesquisas realizadas em Ginástica Laboral e
Atividade Física na empresa até impressões, relatos e ensaios da ginástica
laboral e atividade física na empresa, no Brasil.
Os temas estudados nesta tese transitam na importância da atividade
física para os trabalhadores e na qualidade de vida no local de trabalho,
através da perspectiva ecológica. O profissional de educação física e sua
atuação na ginástica laboral, a ginástica laboral integrada e biomecânica
30
ocupacional. O programa de ginástica laboral e suas etapas de implantação, o
histórico da ginástica laboral no Brasil. A ginástica laboral como ferramenta da
promoção da saúde, estudos sobre ginástica laboral e sua efetividade. Os
efeitos da ginástica laboral na qualidade de vida de trabalhadores, além do
controle da ansiedade. Proposta da ginástica laboral na escola como meio de
promoção a saúde e o mercado de trabalho em ginástica laboral.
A relevância da pesquisa é impactante, tanto na perspectiva prática
quanto na perspectiva teórica, a Ginástica Laboral e Atividade Física na
empresa apresentam ao longo dos anos um saber-fazer que está pautado no
empirismo, no qual, a evolução do campo em estudo demanda de uma análise
aprofundada deste fenômeno para uma compreensão com o olhar científico
que paute a prática em questão. Para isso, a gestão do conhecimento é uma
base teórica capaz de descortinar novos olhares para o fato, tendo em vista
que a pesquisa, ora apresentada, remete a uma condição de analisar de forma
pontual as produções de informações e conhecimento e apontar as direções
das categorias de interpretação e intervenção da Ginástica Laboral e Atividade
Física na empresa.
31
CAPÍTULO II
REVISÃO DE LITERATURA
2.1 HOMEM E TRABALHO
Pensar o trabalho permite amplas considerações, compreender a
constituição e superação do ser social, refletir sobre as categorias de produção
e reprodução, orgânicas e inorgânicas em suas faces do labor.
Conforme Marx, o processo de trabalho é a atividade orientada a um
fim para produzir valores de uso, apropriação do natural para a satisfação das
necessidades, comum a todas as formas sociais. O trabalho é produção de
valores de uso, no entanto, enquanto modo organizado pelo capital, com vistas
à acumulação de riquezas pela energia humana e depositada na mercadoria,
assim o desgaste da fonte humana requer cuidados para a continuidade e
geração de valor (Aquino, 2010).
O ser humano é envolvido por uma das mais expressivas atividades
essenciais de sua complexidade: o trabalho. Muitas definições apontam o
trabalho como uma atividade consciente de transformação da relação do
Homem com a natureza. A explicação do surgimento do trabalho está em
concomitância ao desenvolvimento humano (Ornellas: Monteiro, 2006).
Tendo em vista a construção humana, parte-se do desenvolvimento do
trabalho. Várias definições aproximam o conceito do trabalho à transformação
da natureza, um meio de inserção do ser à sociedade, um caminho à
realização pessoal, construção religiosa, política e social. O processo histórico
do trabalho parte do período de transumância humana, em que a ausência da
percepção de propriedade permite ao homem manter um comportamento de
coletor, nesse período as atividades do homus sapiens caracterizavam-se em
caça, pesca e coletas (Borges, 1999; Ornellas: Monteiro, 2006).
O surgimento do homem se dá na era Cenozóica. Os estudos de
Darwin demonstram que o Homem é descendente de um ancestral que habitou
32
a Terra há 7 milhões de anos, desde seu surgimento, a relação HomemNatureza aperfeiçoa-se em seus limites. O trabalho representa a construção,
experiência e vivência humana em todas as suas dimensões. A busca
constante na compreensão da condição humana revela um intrigante contexto
sócio-filosófico nas atribuições do trabalho em sua trajetória, na evolução do
Homem, da sociedade e da significação do ser (Almeida et al., 2009; De Toni et
al., 2004).
Muito se tem procurado definir o trabalho nos mais diversos âmbitos,
seja sociológico, filosófico, antropológico, organizacional, econômico, religioso
e político (Borges, 1999). A prática transformadora da existência humana
potencializa as capacidades do ser e contextualiza a vida em sociedade, neste
intuito de realização, o homem materializa sua condição ontológica na
dependência e domínio da natureza (De Toni et al., 2004).
A compreensão da evolução do trabalho caminha pari passu a
evolução da sociedade, que, nesse caso, permite uma construção dialética no
que tange o envolvimento do homem ao trabalho e sua relação com o mundo.
Na tentativa de compreender a evolução e desenvolvimento histórico do
homem, partimos de sua natureza nômade, exploradora, coletora da natureza,
usufruindo dos seus ambientes e benefícios (Huberman, 1981).
A era em que a atividade humana e sua relação com a natureza se
mostram de modo exploratório, coletor, caracteriza o primórdio da concepção
de trabalho a qual conhecemos. Nessa dinâmica, a organização humana
intensifica sua prática e significação (Almeida et al., 2009).
A evolução humana diretamente ligada a sua práxis informa em sua
história que o trabalho é condizente com sua existência. Nesse sentido, a
construção
da
sociedade
que
conhecemos
parte
de
sua
evolução
comportamental e de sua transformação de coletor-nômade, ou seja, o trabalho
humano estava envolvido com a coleta e exploração da natureza em seu
espaço habitacional. O homem transforma-se em sua característica primária
que era a de ser coletor e caçador. Nesse aspecto, sua atividade resumia-se
ao extrativismo para seu sustento, por meio da coleta de raízes e frutos
33
silvestres, da caça e da pesca, posteriormente, do pastoreio e da agricultura
(Albornoz, 1986; Almeida et al., 2009).
Neste momento histórico, a agricultura demonstra-se em uma
ferramenta de grande impacto nas ações humanas e na organização da
sociedade, já que as ações humanas e seu trabalho característico estão
envoltos com a agricultura, e neste caso o trabalho humano amplia sua
dimensão, pois não somente o esforço físico está presente mas também sua
condição cognitiva, já que o domínio das técnicas da agricultura demanda a
compreensão do comportamento da natureza, logo o Homem passa de coletor
e explorador do espaço, a desbravador de novas ocupações, no caso do
comportamento nômade (Carvalho, 2007).
A
dimensão
de
agricultor
e
agente
transformador
tornam
a
compreensão da relação Homem/ terra e Homem/trabalho diferente. Aponta-se
que a descoberta da agricultura foi por acaso, assim como, se supõe que as
mulheres tenham principiado o desenvolvimento inicial da agricultura, ou até
mesmo, a superação do nomadismo tenha surgido a partir das mulheres que
estavam grávidas, ou com crianças de colo (Albornoz, 1986; Carvalho, 2007).
É nesta direção que o ser humano desenvolve e evolui até o status
atual de sociedade e trabalho, conforme é conhecido nos dias de hoje. A partir
do momento em que o Homem descobre que é possível dominar algumas
técnicas de agricultura, adestrar alguns animais para alimentação e/ou auxílio
nas tarefas de manipulação da terra, percebe que não há mais a necessidade
de transferir-se de local, de ambiente ou de habitat.
Então, o desenvolvimento de outra percepção torna-se eminente, na
qual o ser humano passa a ter a noção de propriedade, ou seja, torna-se dono,
proprietário do território. Os historiadores destacam como importante, nesse
período de fixação do homem em terras férteis, o processo de sedentarização,
pois o desenvolvimento da agricultura permite ampliar o potencial de
criatividade humana, permitindo, assim, a criação de engenhosidades, que
facilitariam os esforços humanos para a exploração da terra.
A organização humana, que antes era em bandos, tribos ou grupos,
passa a ter a representação de local, de território, de espaço e de estado.
34
Neste tempo, o comportamento reprodutor também se modifica, pois a ideia de
território é instaurada, o Homem cria a concepção de propriedade, logo a ideia
de território é desenvolvida, o que fornece a dimensão de monogamia, para
que justamente possa arraigar sua dimensão de posse, de propriedade,
permitindo, portanto, a transferência de seu poder para seus herdeiros.
A instauração desta conduta permite a construção da vida em
sociedade. Nasce a concepção de manejo da terra frente aos desejos
humanos. Nessa ordem, o desenvolvimento de tecnologias e a racionalização
das ações e do trabalho humano conduzem para o surgimento do excesso de
alimentos ou volumes para além das necessidades de consumo. Nesse
cenário, a organização da vida em sociedade permite o intercâmbio, a troca, a
permuta entre as grandezas e volumes construídos.
É nessa relação que o Homem amplia suas capacidades e sua
organização enquanto sociedade. A transformação do Homem em sua
estrutura nômade, coletora, revoluciona sua forma de vida e sua ligação com a
natureza. O ser humano transcende sua base de conexão e exploração da
natureza para a vida em sociedade e exploração numa outra esfera
organizacional e cultural, pautada numa estrutura econômica.
A partir do domínio da agricultura, há o crescimento das atividades de
intercambio, permuta ou mesmo comércio. Com a redução da característica
humana de desbravador, a instalação em espaços restritos, localizações,
logradouros, configura-se um cenário de novos elementos e delineiam um novo
contexto nas relações humanas e nas relações de trabalho.
2.2 HISTÓRIA DO TRABALHO
Ao analisar o trabalho a partir da Grécia antiga, percebem-se distinções
entre o esforço do trabalho e a atividade livre do cidadão que estava envolvido
com os problemas de sua comunidade e buscava soluções a partir de
discussão e conversas entre os pares.
A divisão do trabalho, na antiguidade grega, estava caracterizada em
duas vertentes básicas: uma relacionada à nobreza, ou seja, elites dominantes
35
que se, ocupavam exclusivamente dos trabalhos intelectuais, e a outra vertente
que se ocupava de funções consideradas subalternas e penosa, que ficava a
cargo dos escravos, oriundos das guerras de conquista (Ornellas & Monteiro,
2006).
Para os gregos, o trabalho tinha um significado ligado ao valor e ao
prestígio, pois o trabalho atrelado à terra, era estabelecido como um elo com as
divindades, que controlavam a fertilidade e os ciclos naturais. A vida humana
se desenvolvia na esfera íntima e na esfera pública, e o trabalho doméstico
eram atividades específicas que aproximavam o homem dos animais (Lima,
2008).
Por outro lado, o trabalho público consolidava o espaço da polis, em
que os negócios eram realizados, no entanto, a vida era estabelecida a partir
do sentimento de liberdade. Neste sentimento, a liberdade era conquistada a
partir da superação da sujeição às necessidades vitais, permitindo assim o
direito no envolvimento, na participação da vida pública da polis (Almeida,
2008; Woleck, 2010).
O ideal grego estava na transcendência da atividade de labor (trabalho
doméstico), pois a liberdade era o meio pelo qual o homem se tornava cidadão.
Neste entendimento, o homem não tinha o direito de participar dos negócios do
mundo, pois sem ser proprietário de sua casa não havia no homem algo que
lhe fosse significativo.
Nesse contexto histórico, o mundo greco-romano era estabelecido no
modelo escravagista de produção, desta forma, as propriedades cresciam e os
trabalhos eram realizados por escravos. Na cultura da época, a condição de
escravo era por um fator político e não por uma condição econômica. O
trabalho era percebido como uma adaptação à natureza, sendo assim, a classe
dirigente se abstinha de maneira radical de qualquer forma de trabalho, seja na
esfera agrícola ou na esfera artesanal (Ornellas & Monteiro, 2006).
Para os gregos, as necessidades de manutenção da vida estavam
envolvidas por atividades de natureza servil e que neste cenário, a escravidão
se justificava, pois neste período histórico, a escravidão era uma tentativa de
excluir o trabalho das condições da vida humana (Callegaro, 2009).
36
Nesse sentido, o trabalho estava envolvido por significados atrelados à
escravidão, pois nesta época a escravidão, ou o regime escravagista era
inerente às condições humanas (Arendt, 2007).
Com a expansão habitacional, a conquista de novas áreas de cultivo e
plantio, o Homem desenvolve a noção de propriedade e excedente. Com o
excesso, gradativamente foi-se criando uma camada de ociosidade, e neste
contexto, estabelecem-se níveis de evolução do direito da propriedade do
ocioso.
Assim, a prática da guerra oferece outra perspectiva que transforma os
povos conquistados em operadores da produção, tendo a entrega de seus
excedentes aos donos da terra. Logo, o desenvolvimento da economia se
pauta na distribuição e produção dos bens, pois estes somente tinham valor
pela sua utilização.
As atividades agrícolas estabelecidas continuaram sendo a ocupação
predominante, no entanto, com o desenvolvimento do Império Romano, o
desenvolvimento do comércio passa a ser uma tônica. A instalação do
comércio permite uma nova concepção do labor, havendo, então, a evolução
de uma diversificação das atividades laborais, perdurando até o final da Idade
Antiga.
O trabalho tem em sua trajetória uma associação à idéia de punição,
maldição, maus tratos. No pensamento bíblico é encontrada uma passagem
que mostra que o trabalho é duro, impiedoso e doloroso. Em Genesis (3, 19),
“comerás o pão com o suor de teu rosto”. Este princípio bíblico impregna a
idéia de obrigação, dever, exaustão, transformando-se assim na idéia do
trabalho.
A concepção do trabalho transmitido na Bíblia requer um esforço para
conquistar uma aproximação com Deus, pois somente através do trabalho, o
homem estará livre da tentação. A prática da ideia ora et labora teve um
impacto importante na transmissão do pensamento e na negação do trabalho
como forma de prazer (Oliveira, 1999).
A Idade Média é considerada um período de grandes transformações,
principalmente no que tange ao estilo de vida do Homem, após um período de
37
exploração e produção escravagista, inicia-se nesta época uma organização da
sociedade em feudos, neste caso, a relação do trabalho se modifica,
estabelecendo-se uma relação servil de trabalho.
O trabalho humano se situava na produção das necessidades, o que se
constituía em um sistema de produção para o uso, logo não havia excedente, e
em consequência não havia uma relação de troca ou comércio. O pensamento
da época se traduzia na ideologia da servidão, ou seja, o trabalho era feito para
servir ao senhor.
A organização da sociedade no período da Idade Média ou período
feudal se compunha em classes, que se dividiam em sacerdotes, guerreiros e
trabalhadores (servos).
O papel da Igreja estava na orientação espiritual, o que lhe permitiu um
enriquecimento através da posse de terras e poder. Na Idade Média o sentido
da riqueza estava enraizado na posse da terra, pois era através dela que era
possível extrair tudo de que se necessitava. Os guerreiros eram representados
pela nobreza e sua preocupação estava voltada para a proteção e conquista de
mais terras.
Por outro lado, os trabalhadores cultivavam a terra e serviam aos
senhores feudais, para a busca da proteção espiritual e também militar. Nesse
sentido, o trabalho se mostrava cada vez mais fortalecido como a chave da
vida (Hubermann, 1981).
No período histórico da Idade Média, o desenvolvimento do regime
feudal contribui para as relações de poder e de trabalho, e neste cenário
destacam-se a evolução e a influência da Igreja, o que permite seu
enraizamento nas relações de poder. O Feudalismo é apontado como a base
para as formações capitalistas.
Com o avanço das Cruzadas, patrocinadas pela Igreja, o comércio tem
início, principalmente, por que se procuravam mercadorias as quais teriam tido
acesso durante as viagens. Em decorrência deste comportamento, os hábitos
de consumo forçam o início de um novo mercado e o acesso das pessoas aos
produtos, fortalecendo assim, a idéia do surgimento do Capitalismo e o
desenvolvimento de novas tecnologias (Lima & Seconi, 2010).
38
2.3 IDADE MODERNA
O período que compreendeu os séculos XVI ao século XVIII permitiu o
desenvolvimento de pequenas manufaturas, que têm sua origem nos artesãos
independentes da Idade Média. Com o declínio desses artesãos, surgem os
assalariados, cada vez mais capazes de criar e atender as demandas daquele
período, e neste caso emerge a dependência do capitalismo, do mercado e do
empreendedorismo (Huberman, 1981).
O desenvolvimento destas características envolve diversas iniciativas
peculiares do trabalho e da natureza humana, pois de posse de uma ampla
capacidade de controle e domínio da agricultura e de uma nova organização
societária, emerge uma revolução agrária, na qual precipita o crescimento
industrial e em consequência o desenvolvimento das potencialidades humanas.
Paralelo a este cenário, o trabalho ganha um fôlego em relação as
suas observâncias na cultura da época. Os movimentos ocorridos no mundo
revigoram transformações importantes no cenário do labor. O novo período
denominado como Renascimento transmite uma nova capacidade de
percepção do trabalho e suas relações humanas.
Na Idade Média, o trabalho era visto como impuro, penoso e não
recomendável, sofre uma transformação que consolida valores éticos e morais,
desmoronando todo o preceito do mundo antigo, baseado nas doutrinas da
Igreja, principalmente na Europa.
O trabalho revisto e revalorizado pelos pensamentos Lutero-calvinistas,
possibilita revoluções liberal-democráticas que passam a redefinir um novo
espectro social. Neste novo período, conhecido como Era Moderna, indicou-se
uma era de novos valores, principalmente, ligados ao trabalho.
O ócio passa a ter outra conotação, o homem, por intermédio do
trabalho, torna-se o centro do mundo. Na doutrina Lutero-calvinista, o trabalho
deixa de ser uma punição ou pecado e transpõe-se como uma dádiva de Deus,
logo, o ato de trabalhar não transmite mais a ideia de pagar pecados e sim,
permite o regaste de sua dignidade (Oliveira, 1999).
39
As transformações oriundas dos avanços e a ruptura com as ideias
antigas do trabalho; a Revolução Industrial inicia-se no último terço do século
XVIII, e concretiza uma das maiores transformações do Homem em sua
história e consequentemente na história do trabalho.
O avanço da economia permite uma nova organização social e o
avanço da burguesia, que processa um comportamento ilimitado de acúmulo
de capital, tendo o poder humano, circunscrito na ideologia de propriedade
crescente, fundamentada num dinamismo de nova classe social que é
absolutamente afetada pela idéia de poder balizada pela economia de
fornecimento de bens e serviços demandados pela sociedade (Arendt, 2007).
A transferência do trabalho manual para a máquina, do atelier para a
fábrica gera no dia-a-dia uma transformação na mentalidade das pessoas, na
cultura e em diversos setores da vida. Não obstante, o surgimento de novos
trabalhos, novos serviços aprimoram o setor de prestação de serviços,
desenvolvendo a economia e a ideia capitalista.
É a partir do século XVIII, que o trabalhador, camponês, de índole
servil, torna-se parte do mundo burguês, em que a fábrica, passa a ser
pensada a partir das máquinas e não a partir do homem, caminhando para
cisão entre a concepção do trabalho e a execução do trabalho.
Em consequência à evolução histórica do trabalho, à cooperação
simples à manufatura e à grande indústria surgem nas fábricas, no início do
século XX, esforços direcionados à racionalização do trabalho. No século XX, o
trabalhador se torna um operador de motores, ou empregado de escritório. O
desenvolvimento do trabalho assalariado impõe um significado e uma nova
visão do mundo do trabalho.
Neste contexto, o trabalho torna-se um processo consciente, no qual o
Homem se apropria da natureza para transformá-la em bens materiais,
elementos úteis para a própria vida, fundamentalmente, o homem produz sua
própria existência (Gorz, 2007).
Em síntese, as características da sociedade moderna permitem o
desenvolvimento crescente das forças produtivas, aumento nas conquistas da
natureza, crescente satisfação das necessidades socialmente construídas e,
40
finalmente, o estabelecimento de novas necessidades e novas aspirações
(Silva, 1997).
2.4 IDADE CONTEMPORÂNEA
Na trajetória do século XX, o mercado e a sociedade transformam-se
em uma fonte de valores do Homem. Nesse momento, trabalho e ocupação
tornam-se indistintos, o trabalho é a prática de um esforço inerente à sua
realização pessoal, culminando numa ideia material da vida.
Nesse sentido, a sociedade de mercado, o lazer se apresenta como
atividade fora do trabalho e da ocupação, assim, torna-se sinônimo do ócio, o
que até então não era entendido como tal. O homem moderno toma a sua
atividade como caminho para felicidade, o trabalho nesta era está ligado a uma
atividade compulsiva, na qual a servidão torna-se liberdade e a liberdade tornase servidão.
O homem entende neste momento que o tempo livre é escasso ou até
mesmo inexiste. Nesse caso, a diversão, o lazer, o tempo livre é apenas o
prolongamento do trabalho, logo, o trabalho perpassa a cultura, o esporte e até
mesmo a intimidade, sendo assim, o trabalho ultrapassa sua dimensão e se
apodera das esferas da vida e da existência humana (Silva, 2000).
No avanço histórico do trabalho e da produção, o mundo centrado no
mercado permite uma evolução da produção econômica, produzindo um
embate em relação ao crescimento econômico e ao progresso da sociedade. A
ascensão do comércio, do artesanato, a formação de riquezas configura-se
sobremaneira em um novo contexto nas relações de trabalho. O surgimento e
desenvolvimento do comércio criam a base da revolução industrial na qual irá
eclodir um novo estilo de vida.
Esse novo estilo de vida demanda numa nova organização social, com
estruturas políticas institucionalizadas, com uma nova base cultural, iniciada
por uma nova era cultural. Assim, a relação de trabalho do homem tem uma
nova conotação, uma (re)significação e (re)estruturação de um novo sujeito.
41
Nesse contexto, o trabalho tem um fator estruturante de uma organização
econômica, política e social.
2.5 EVOLUÇÃO DO CAPITALISMO
Com o avanço do mundo do trabalho, e a nova ordem social instalada
no mundo, diversos intelectuais refletiram em relação à reforma protestante,
que influenciou de maneira significativa a organização social e sua visão do
trabalho. Max Weber foi um dos principais autores que discutia a ética
protestante e o espírito capitalista. A contribuição calvinista e luterana consagra
o trabalho a partir de sua influência na reforma protestante (Lima & Seconi,
2010).
Com este panorama, o desenvolvimento do capitalismo se deu de
forma mais acentuada pelo avanço dos mercados e da revolução industrial,
principalmente pela invenção do motor a vapor, que permite a produção em
escala e contribui para o progresso econômico.
No entanto, as relações conflituosas entre capital e trabalho revelam a
sociedade e o indivíduo. O surgimento do dinheiro não necessariamente partiu
da operacionalização da troca, do escambo. No início do uso do dinheiro, os
valores eram pautados na necessidade humana e naquilo que o homem
percebia como válido pelo seu esforço laboral.
Para Smith (2006), desde que a sociedade se estabeleceu na divisão
do trabalho, o homem satisfaz suas necessidades exercendo a troca de seus
produtos supérfluos. Então, o exercício do comércio é estabelecido, criando o
que chamamos de sociedade comercial.
Conforme demonstra Smith (2006), o uso do dinheiro é iniciado com
vários produtos, como metais, bois, ovelhas, sal ou ferro. A necessidade da
troca, do comércio era inerente ao cumprimento das necessidades humanas,
logo, estabeleceu-se um instrumento comum para permitir o comércio entre
diferentes povos.
A partir da relação econômica entre os povos e o comércio
estabelecido, impulsionou o modelo capitalista de organização societária.
42
Neste campo, desembocam inúmeras discussões e reflexões acadêmicas,
econômicas e políticas para o pensar do trabalho e o envolvimento do homem
nesta dinâmica.
As energias políticas e ideológicas encontradas no período inicial do
capitalismo contextualizam o arranjo societário do ocidente. A busca moderna
do fundamento ético faz surgir os conservadores liberais, o que permite um
encontro com a eficiência do capitalismo pautado no indivíduo autocentrado e
indiferente ao bem comum, e é neste campo que se estabelecem a “cultura da
indiferença” (Garlipp, 2006).
O crescimento do “mundo novo” coaduna com o livre comércio e com o
crescimento exponencial do livre mercado. Assim, a convicção do fundamento
neoliberal caminha para a reconciliação da humanidade com a natureza
(Garlipp, 2006). O crescente cenário novo implica numa nova ordem do
trabalho, de ocupação e da economia. Conforme aponta Garlipp (2006), o
princípio da concorrência cria uma maior mobilidade do capital produtivo e
financeiro, impactando na flexibilização e nas relações de trabalho, além das
limitações dos direitos econômicos e sociais dos mais fracos. Logo, a economia
do século XX apresenta uma capacidade de minimizar a vida social, afetando
também no cenário político.
Entendendo a relação humana no cenário da evolução capitalista, a
existência da relação homem/natureza necessita de um restabelecimento,
tendo em vista, que com o crescimento da sociedade industrial, o homem
passou a se sentir cada vez menos parte da natureza. O avanço da
globalização
garante
uma
expansão
da
tecnologia,
culminando
em
transformações econômicas e sociais (Almeida et al., 2009).
O capitalismo e sua evolução imperam um panorama de uma
revolução, iniciada pela sua transformação dos modelos de trabalho, ocupação
e desemboca numa noção de emprego e serviços. As transformações do labor
transbordam aos ideais humanos, no entanto, a capacidade de transformação
e adaptação faz do trabalho a condição da existência humana.
As interpretações do mundo laboral geram uma diversidade de análises
as quais permeiam o trabalho, suas formas de realização e ocupação, que são
43
inerentes à existência humana. Conforme retrata Eric Hobsbawm, o século XX
foi o berço do processo de globalização, e neste local encontra-se um
paradoxo do trabalho, que o historiador chamou de a Era dos Extremos. Para
Hobsbawm (1995), o século XX foi um período de estruturação, sendo que as
duas décadas finais ilustram uma transição de um novo tempo.
O resultado de um conjunto de fatores originou um desenvolvimento
econômico sem precedentes na história, o mercado internacional ganhou um
dinamismo próprio, assim efetivou os fluxos de capitais, permitindo uma grande
expansão de empresas transnacionais. Neste contexto, apesar de ter iniciado
no século XIX, é no século XX que ocorre a grande aceleração da expansão do
capital em diversos mercados, assim denominada de a era da globalização
(Ataide, 2001).
O processo de globalização aglutina transformações complexas,
reunindo aspectos econômicos e tecnológicos e que envolvem relações sociais
e culturais, conforme Ianni (2000):
Os
diversos
aspectos
do
processo
de
transnacionalização,
mundialização
ou,
mais
propriamente, globalização, logo se torna necessário
reconhecer que ele leva consigo também a
ocidentalização do mundo. Algo que ocorre desde os
inícios dos tempos modernos, parece adquirir novos
desenvolvimentos na época da globalização (p. 93).
A
transculturação
remete
a
uma
reflexão
de
que
há
uma
ocidentalização do mundo, no século XX, abrindo as possibilidades de ruptura
histórica de grandes proporções. É neste caminho, que finda o século XX e
inicia o século XXI com desafios que a globalização irá permitir ao rebuscar o
passado, se empenhando para conhecer o presente e imaginar o futuro (Ianni,
2000).
Portanto, a compreensão da trajetória percorrida na organização social,
a cultura do tripalium e a qualidade de vida são condições primárias para se
entender o processo de transculturação. Processo este que, conforme Ianni
(2000), resulta num processo em que ambas as partes da equação são
modificadas.
44
A respeito da transculturação Ianni (2000) entende que:
Transculturação expressa melhor as diferentes fases do
processo transitivo de uma cultura a outra, porque este
não consiste somente em adquirir uma cultura distinta,
que é o que a rigor indica a expressão inglesa
aculturation, mas que o processo implica também e
necessariamente a perda ou o desenraizamento de uma
cultura precedente, o que se poderia denominar
deculturação; e, além disso, significa a conseqüente
criação de novos fenômenos culturais que se poderiam
denominar de neoculturação a criatura sempre tem algo
de ambos os progenitores, mas também sempre é distinta
de cada um dos dois. Em conjunto, o processo é uma
transculturação e este vocábulo compreende todas as
fases de sua parábola.
2.6 NOVAS DIMENSÕES DO TRABALHO
As transformações do trabalho ao longo da história registram inúmeros
significados em vários períodos. Desde o período primata até os dias atuais,
correspondem às atividades que estão inseridas no contexto humano. O
trabalho se mostra uma medida de valor tanto de ordem individual, quanto de
ordem coletiva (Jardim, 1997).
O modo de intervenção do homem sobre a natureza é uma questão
cultural e também uma questão histórica. Várias são as configurações em torno
do trabalho, a simbologia que representa uma sociedade traz consigo uma
marca ideológica que apresenta o trabalho como uma atividade repugnante. O
ócio na antiguidade grega era considerado uma virtude. Já no império romano,
em que houve a instalação do comércio, o labor apresenta uma nova
concepção (Csikszentmihalyi, 1999).
O trabalho sofre uma transformação radical a partir do século XVIII em
que o trabalho, pautado na energia muscular, se torna uma atividade primitiva.
O desenvolvimento da máquina a vapor, da eletricidade, revoluciona os meios
de produção e em consequência a organização do trabalho. Através das ideias
calvinistas e luteranas, uma percepção diferente ao trabalho se instala. O
pensamento da ética do trabalho e as contribuições filosóficas permitem
45
reverter a ideia de que o trabalho estava ligado ao sofrimento, ao esforço, à
luta e à dor.
As evoluções tecnológicas impregnadas ao trabalho trazem um
resultado de que as atividades especializadas são uma manifestação da
genialidade e criatividade humana, assim, a avaliação clássica do trabalho de
que só através da atividade produtiva podemos realizar todo potencial humano,
torna-se inválida (Csikszentmihalyi, 1999).
O trabalho tem uma dimensão que vai além do simples esforço e da
transformação da natureza em bens úteis. O trabalho está impregnado de
significados, pois a relação do homem com o trabalho se tornou uma atividade
que vai além da mera necessidade de sobrevivência. Com a industrialização, o
avanço do capitalismo, a oferta de produtos e serviços, o aspecto de
sobrevivência não está na dimensão vida e morte e sim, na dimensão
sociológica. Tendo em vista que a sobrevivência humana está arraigada de
sentidos e significados na vida em sociedade.
A ideia de trabalho, que antes estava numa plataforma Sujeito-Objeto,
hoje pertence a uma plataforma Sujeito-Objeto-Significado, pois o sujeito
transforma o objeto e se transforma. O trabalho, recheado de significado,
transforma, transcende e imortaliza o sujeito trabalhador (Soratto & OlivierHeckler, 1999).
A partir da revolução industrial, a preocupação estava pautada na
produção, logo, o tempo e produção estavam intimamente ligados. Assim, o
trabalho estava numa esfera de desumanização, em que os trabalhadores
eram submetidos às mais inóspitas formas de degradação humana. O ideal do
trabalho impactava na crença humana de dignidade, pois as condições
insalubres às quais os trabalhadores eram submetidos iam de encontro com os
ideais de dignidade.
Com a introdução da máquina, o início do capitalismo é demarcado e
em consequência o aumento da produção e a relação da mais valia são
instalados. A economia cresce em abundância, em virtude da produtividade e
da exploração da força de trabalho. Para Adam Smith, o trabalho era
diferenciado em produtivo e improdutivo, conforme relata Borges e Yamamoto
46
(2004), o pensamento de Smith estava pautado na distinção entre produtivo e
improdutivo e no que se refere à produção, agrega valor, e à improdução não
agrega valor em nada.
Assim, o trabalho, considerado como mercadoria, impunha uma
instrumentalidade à economia do trabalho, nessa visão, o trabalho estava num
patamar que extrapolava a compreensão de quem produzia e sim para quem
era o detentor do capital, o qual buscava a máxima lucratividade. O novo modo
de produção trouxe uma série de mudanças, seja no aspecto da organização,
seja nos conceitos, seja na compreensão de vida em sociedade.
No trâmite da economia, com a intensificação do desenvolvimento e o
crescimento das cidades revela-se uma mudança nos rumos da sociedade, em
que o êxodo rural implica na aglomeração das cidades e na vida em torno da
fábrica. Com a ideia advinda da reforma protestante, quanto mais se trabalhava
mais se era merecedor da graça divina, além do entendimento de que a
riqueza era o resultado de trabalho duro (Borges & Yamamoto, 2004).
O trabalhador livre, para vender sua força de trabalho, tornou-se uma
engrenagem ligada à máquina na qual dita o ritmo e o nível de produção que
atendia a necessidade de acúmulo de capital, retirado do máximo
aproveitamento dos equipamentos e da força de trabalho das pessoas.
Neste cenário, configura-se uma transição na construção ideológica,
que inicia na exploração do trabalho às lutas para melhoria das condições de
trabalho, quanto a isto Borges & Yamamoto (2004) assinala:
Sem dúvida, o desenvolvimento de uma ideologia que
enfatizava a importância do trabalho durante todo século
XVIII, a partir das formulações econômicas de Adam
Smith, apoiadas mais diretamente no protestantismo,
resulta, entretanto, em uma exploração radical da classe
trabalhadora. A história do desenvolvimento capitalista é,
também, a história da resistência dos trabalhadores. Os
embates em torno da regulamentação da jornada de
trabalho, nas leis fabris da segunda metade do século XIX
são exemplos da luta do proletariado impor um limite à
exploração capitalista (p. 32).
47
As jornadas longas de trabalho, os ambientes extremamente
desfavoráveis eram incompatíveis com a saúde humana, logo, a presença do
médico no território laboral torna-se apropriado. Visto que este fosse o agente
recuperador do trabalhador para retornar o mais breve possível ao seu local de
produção. Instaurava-se assim o que seria uma das características da Medicina
do Trabalho, mantida, até hoje, na forma tradicional, sob uma visão
eminentemente biológica e individual, no espaço restrito da fábrica (MinayoGomes & Thedim-Costa, 1997).
Karl Marx e outros pensadores relutavam por uma estruturação social
diferente a que este período histórico se apresentava. O capitalismo, a
industrialização eram considerados um mal para a sociedade e o trabalho
estava num patamar que o homem enquanto ser não valorava.
Historicamente, o mundo do trabalho foi marcado por inúmeras lutas
por direitos e melhores condições de trabalho (Bara Filho & DaCosta, 2002). É
importante lembrar que a história do trabalho é marcada por fatos que tendem
da opressão à liberdade, da dor à alegria, da crueldade ao gesto de amor, da
barbárie à civilidade (Oliveira, 1999).
Nos tempos antigos, ocorre a não valorização do trabalho, sendo
conquistada a sua sistematização através do tripalium, escravização,
exploração e sofrimento. Nesse sentido, ficam claros o dualismo e a grande
diferença nos comportamentos e percepções do trabalho, tendo nos dias atuais
a valorização do trabalho enquanto meio de dignificação do Homem, como
também o seu bem estar, manutenção da saúde e redução de fatores
psicofisiológicos negativos.
Diversas discussões foram impostas para a melhoria das condições de
trabalho, a luta sindical foi um dos grandes avanços da nova era, conquistando
direitos que imperam até os dias atuais. Um novo cenário se constrói, a partir
da luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho. A luta se mostra
como uma nova revolução de costumes, esta se baseando em três elementos
intimamente relacionados: a diminuição das horas de trabalho; o aumento das
horas livres e melhoria do salário.
48
A história do trabalho nos mostra uma trajetória oriunda da
necessidade de organização social, desde os tempos do escravismo, até os
tempos de feudalismo, no momento seguinte, o Renascimento constituído de
novas formas de vida e consequentemente com o encontro de novas culturas,
direcionam o homem a encontrar-se consigo mesmo.
Neste encontro, o homem se estabelece e se dignifica através do
trabalho, no entanto, com os avanços e novo cenário laboral, o trabalhador se
torna um agente produtor. No aspecto da produção, a sua aceleração, com o
aporte de novas tecnologias provoca uma demasiada exigência o que acarreta
numa patologização do trabalhador.
Assim, o campo de estudo da Saúde do Trabalhador é abrangente, e a
ação desenvolvida para resgatar a condição do homem no trabalho é através
da compreensão da relação saúde-doença, construída no espaço entre os
interesses e direitos dos próprios atores sociais (Palma, 1998; Bagrichevsky,
Estevão & Palma, 2006).
2.7 ERA DO BEM ESTAR
Os modelos de organização do trabalho impunham um novo
contingente de necessidades, o agente produtor, o dono do capital, o industrial,
o empresário, o comerciante, o escriturário estabelecem uma nova rota de
consumo e, em consequência, uma política de remuneração pautada em
cargos e especialidades.
Este modelo revela um comportamento do trabalhador orientado ao
consumo, seguindo as premissas do capitalismo e da economia estabelecida.
Este panorama cria outros desdobramentos tanto para o trabalhador quanto
para o dono do capital, representado pelo industrial, empresário, comerciante,
trabalhador liberal, entre outros ramos.
Assim, a preocupação no mundo do trabalho se desenrola pelo modelo
da saúde, que não embota somente a ideia do trabalhador saudável para
produzir mais, mas também pelo impacto que as mazelas ocasionadas pelo
trabalho sejam reduzidas, portanto, as políticas do bem estar são postas,
49
gerando um cenário voltado para políticas de saúde, epidemiologia, bem estar
e qualidade de vida.
Ao correlacionar a evolução do trabalho com o homem, seu
comportamento, estilo de vida e consequentemente qualidade de vida,
oportuniza-se uma série de observações em relação ao processo de produção
e confecção de produtos, desde a época da produção artesanal, até os dias
atuais, os quais se qualificam como um período de abertura de mercado e de
produção, ocorrem avanços significativos nas inovações e tecnologias e com
este perfil, o mundo laboral afeta de forma direta e indireta a saúde do
trabalhador.
O período de produção artesanal caracterizava-se, basicamente, pela
qualidade dos produtos e baixa quantidade de oferta, entretanto, o trabalho era
rico desde seu processo de fabricação até a venda, tendo em vista que o
fabricante dominava todo o processo, desde a busca de matéria-prima até o
acabamento. O processo criativo estava instalado em todas as fases de
produção, assim, o próprio artesão ditava o ritmo de trabalho e gerenciava seu
tempo. Nesta formatação, não havia muita necessidade de supervisão, pois as
ferramentas eram de simples manuseio, além de o trabalhador ter autonomia
de todos os processos de fabricação e poder amplo de seu próprio trabalho
(Zilli, 2002).
Com a industrialização, ocorre a mudança da mão-de-obra humana por
maquinários e a revolução industrial permite a criação de mercado tanto no
âmbito nacional quanto no âmbito internacional, assim, a modificação da matriz
trabalhadora individual para matriz de grupos e, posteriormente, para produção
em massa, contribuiu para uma série de mudanças, desde os aspectos
salariais, aumento na jornada de trabalho até a exploração de mulheres,
crianças e adolescentes.
Ao final do século XIX e início do século XX, a população mundial
assistia a grandes transformações, principalmente, relacionada à revolução
industrial. No Brasil, surgiram avanços sociais e econômicos similares ao
mundo em desenvolvimento acelerado. Este fato permitiu um crescimento em
infra-estrutura ligado à energia, transporte e equipamentos, no Brasil
50
especificamente, estradas são construídas, fábricas instaladas, aparato
estrutural com hidrelétricas permitem um avanço tecnológico, produção em
massa e mudança social (Toledo & DaCosta, 2006).
Neste ambiente, a economia cresceu apoiada na difusão da indústria
de índole fordista, com o aumento do maquinário e o fim dos problemas
relacionados à infra-estrutura ligados à energia, transporte e equipamentos,
explode a produção em massa e cria-se um mercado consumidor, levando a
um consequente aumento na produtividade.
Com o avanço nas modificações do cenário laboral, principalmente no
aspecto organizacional, inicia-se, então, a preocupação da organização
científica cunhada pelo taylorismo e fordismo, em que os princípios básicos
caracterizavam-se pelo tempo certo para cada serviço.
A contribuição do norte-americano Frederick Winslow Taylor está
relacionada à distribuição e organização do trabalho, suas contribuições
ficaram conhecidas como taylorismo ou administração científica. Esta nova
ordem do labor é um sistema de divisão de tarefas, cujo objetivo é obter o
máximo de resultado e o mínimo de atividades e de tempo. Entretanto, seu
sistema se caracterizava em divisão de tarefas, especialização do trabalhador,
treinamento e preparação do trabalhador, otimização do trabalho, redução de
custos, recompensas salariais, supervisão humana no controle do processo e
eliminação do improviso (Botelho, 2008).
Já no fordismo ou sistema de produção criado pelo também norteamericano Henry Ford, a característica de fabricação se baseava na produção
em massa, dentro de um sistema de linha de montagem. Neste sistema, o
principal objetivo estava centrado na redução máxima dos custos de produção
para consequentemente reduzir o custo do produto, assim atingindo maior
número de consumidores. Outra característica central deste sistema era a
baixa capacitação do trabalhador, tendo em vista, a execução de uma única
tarefa dentro de um sistema de produção (Botelho, 2008).
Assim,
tanto
o
taylorismo
quanto
o
fordismo
marcaram
significativamente o sistema capitalista e econômico do mundo, principalmente
ligado à estrutura do trabalho e aos trabalhadores, promovendo novos
51
comportamentos e organização social. Neste status, os sistemas referidos
foram muito positivos para os donos de capital, por outro lado, para os
trabalhadores instalou-se um amplo cenário de adoecimento gerado pelo
trabalho, neste período, a percepção social era de que o trabalhador era
sugado e depois desprezado.
Desta forma, a evolução do mercado, da economia e em paralelo a
globalização geraram um cenário extenso de consequências para saúde do
trabalhador, sendo gerada uma série de doenças desenvolvidas de forma
direta e indireta ao trabalho, tanto na estrutura física do trabalhador quanto na
estrutura psíquica, neste caso inicia-se um aumento significativo de
ferramentas e processos que auxiliem na prevenção, tratamento e melhoria na
saúde do trabalhador.
Para Greuel (1999), o trabalho é um sistema de constante estresse e
os sinais negativos do estresse são vinculados ao acúmulo de atividades e
pressões ocupacionais, assim o sacrifício emocional imposto pelas repressões
e demandas do trabalho é um fator preponderante nas doenças relacionadas
ao estresse originado pelo trabalho. È fundamental apontar que os aspectos
psicofisiológicos influenciam na capacidade para o trabalho, ou seja, sem
possuir uma alta capacidade psíquica não há como possuir uma alta
capacidade física para a labuta (Miranda, 2000).
No século XX, percebe-se que o mundo do trabalho intensificou-se de
forma impactante, passando por várias modificações, transformações e
inovações, acarretando portanto uma nova dinâmica nas relações do trabalho,
nos objetivos trabalhistas e nas concepções de funcionamento das empresas.
Essas novas concepções tiveram o seu início a partir das tecnologias
desenvolvidas, desde os tempos da Revolução Industrial, dos processos de
produção, da qualidade dos produtos, da preocupação mercantilista, até
chegarem aos tempos atuais. Pode-se perceber que estamos numa nova era,
ou mesmo numa outra Revolução Industrial, melhor dizendo, numa Revolução
Tecnológica, advindo assim novas tecnologias e consequente ampliação do
mercado.
52
Com
isto,
concepções,
transformações,
objetivos
e
novas
preocupações passaram a fazer parte do cotidiano do trabalhador. No entanto,
as modificações sofridas nas relações de trabalho caminham para o aumento
da qualificação, do conhecimento, das experiências e da globalização, fazendo
com que o trabalhador, para se manter no mercado de trabalho, necessite
aumentar o seu nível de empregabilidade.
Neste sentido, no mundo atual, o trabalhador pode perceber sua
capacidade de empregabilidade ou até mesmo a sua capacidade de
trabalhabilidade ser aumentada, por meio de sua qualificação profissional.
Desta forma, isso pode ser considerado um grande fator e um dos indicadores
do estado de patologização do trabalhador.
O mundo do trabalho envolve uma série de fatores, entre os quais está
a pressão exercida pelo mercado, o estresse ocorrido pelo desgaste
psicofisiológico, além do acúmulo de funções que o processo de globalização
desencadeia. Por sua vez, a empresas passaram a se preocupar com a saúde
do seu trabalhador, com qualidade de vida no local de trabalho e com o bem
estar físico e emocional de seus empregados. Aparecem, então, várias
iniciativas para levar ao trabalhador subsídios que amenizem todas as
pressões exercidas sobre ele no seu dia-a-dia, é crescente o número de
publicações, sejam revistas, jornais ou periódicos científicos, voltados para esta
temática.
Conforme Palma (1998), o caso da saúde do trabalhador não deve se
tratado apenas como um clichê sócio-político-econômico, mas sim deve-se
tratar da saúde do trabalhador não como um problema semântico, e sim como
uma questão importante para a superação do quadro hegemônico que associa
as pessoas ao conjunto de recursos.
A preocupação com um dos aspectos psicofisiológicos no trabalho está
evidenciada na reportagem de Anna Paula Buchalla na revista Veja do dia 14
de junho de 2000, sob o título “Risco no batente – Trabalho tem limite e seu
corpo também”, esta reportagem mostra o levantamento feito pela CPH –
Tecnologia em Saúde, sobre os distúrbios sofridos pelos trabalhadores devido
o excesso de estresse.
53
Outro exemplo de utilização dos princípios psicofisiológicos no trabalho
é o artigo publicado por Mônica Martins na revista Banas Qualidade de agosto
de 2000, relatando o exemplo da empresa “zen”. É identificada neste artigo a
preocupação das empresas com o bem estar dos seus funcionários, já que
nesta empresa existe uma variedade de profissionais ligados à melhoria da
qualidade de vida no trabalho, atuando, portanto, profissionais da área
alternativa como, instrutores de ikebana, massagistas, instrutores de shiatsu,
aplicadores de técnicas de relaxamento, musicoterapia, acupuntura, meditação
e uma série de outras técnicas, com o mesmo objetivo.
Estudos psicofisiológicos estão sendo feitos também na Universidade
de Kuopio, na Finlândia, através da Profa. Dra. Helli Toivanen. Os estudos da
Professora Toivanen focalizam os efeitos psicofisiológicos do estresse
ocupacional em mulheres trabalhadoras. O estudo feito em 1994 foi realizado
em bancárias, donas de casa e enfermeiras.
O homem é por si só um ser em movimento, isto nos faz refletir que a
preocupação com a qualidade de vida ou meios que permitem tal melhoria é
condizente com o nosso tempo. O desenvolvimento da sociedade, a busca
incessante de novas tecnologias faz com que haja um retrocesso no
comportamento humano e consequentemente uma mudança no estilo de vida
do ser humano.
A psicologia do movimento nos ajuda a compreender todo este
processo de sedentarização do homem, visto que a qualidade de vida tem um
papel equilibrador, fazendo com que haja um entendimento melhor, a partir do
seu desenvolvimento humano, definido dentro de objetivos totais e integrados
da pessoa.
Desenvolver é uma condição sine qua non da qualidade de vida e da
funcionalidade do ser humano, por conseguinte é de fundamental importância o
desenvolvimento, este é uma forma psicológica de ter coerência entre os
objetivos existentes na forma estrutural de uma entidade e sua relação final das
potencialidades.
Entender qualidade de vida é compreender o homem através de um
prisma holístico, o qual percebe o ser humano dentro de uma complexidade
54
psicofisiológica, a qual analisa os fenômenos psicológicos e fisiológicos
simultaneamente (Toledo & Ribeiro, 2000; Miranda, 2000). Portanto, qualidade
de vida não é somente boa condição financeira, status social, bom emprego,
gozar de tempo para família, mas sim de ter um estilo de vida que permita estar
em harmonia com o universo, evitando o sedentarismo físico e mental, ou seja,
sedentarismo psicofisiológico (Bara Filho, DaCosta & Ribeiro, 1998; Miranda,
2000).
Neste aspecto, podemos dizer também que o ser humano é uma
estrutura em constante processo de equacionamento com a complexidade do
meio ambiente em que vive, e que o homem é um sistema com a finalidade de
eficácia, de dar certo, portanto as emoções, a inteligência e a vontade são
consideradas como atribuições de valores e significados que estão caminhando
pari passu com as vivências humanas (Bara Filho & DaCosta, 2002; Feijó, 1992).
Na vida diária do Homem, estes significados permitem um papel de
prognóstico do nosso comportamento. Qualidade de vida é, nos dias de hoje, o
reflexo da funcionalidade, e funcionalidade é a solução de problemas, o que
nada mais é do que emoções inteligentes. De acordo com Feijó(1998):
Qualidade de vida é resolver problemas pessoais com
eficácia(com o máximo de resultado e o mínimo de
desgaste), se inteligência é a função de resolver
problemas novos e se a natureza dos valores e
significados propiciada pelas emoções pode bloquear o
processo equacionador, qualidade de vida só poderá advir
quando a pessoa cultivar valores construtivos e positivos
no seu mundo interior.
Podemos inferir a respeito de um dos novos fenômenos do mundo do
trabalho o atleta corporativo. Este termo foi inicialmente utilizado por James
Campbell Quick (professor de comportamento organizacional da Universidade
do Texas). Quick et al. (2002) afirmam que para o indivíduo obter sucesso
profissional é necessário ser um atleta corporativo, ou seja, estar munido de
instrumentos capazes de favorecer a manutenção da saúde, o bem estar psícofísico e ser aderente a um programa de exercício físico.
55
Pode-se perceber que há uma transculturação no campo do trabalho e
que o esporte é um fator preponderante nesta transformação. Esta tendência é
confirmada por Bara Filho & Da Costa (1998), para os autores o esporte
demonstra ser um fenômeno social de grande magnitude e complexidade,
tendo ainda o poder de influenciar positiva ou negativamente o comportamento
da pessoa. Os autores complementam afirmando que este comportamento
pode atingir tanto a classe trabalhadora quanto a sociedade como um todo,
tornando-se um importante meio na promoção de ideais educacionais,
democráticos e de paz mundial.
Partindo-se de um enfoque descritivo, qualidade de vida passa
necessariamente por qualidade corporal e pela preocupação com a
manutenção dessa qualidade. A melhoria da sanidade do corpo e de suas
possibilidades é o momento em que a prática do exercício encontra o conceito
de Wellness (Saba, 2001).
Portanto, vários programas de ginástica laboral relatam que é um
instrumento que permite a melhoria de qualidade de vida no trabalho, como
também é um instrumento motivador na modificação do comportamento e do
estilo de vida da pessoa, desencadeando, por conseguinte, satisfação pessoal
e melhoria da qualidade de vida do indivíduo.
Contudo, a atividade de lazer, a atividade física, a auto-percepção e
percepção de saúde são variáveis importantes para induzir à satisfação
pessoal. Ao pensarmos em qualidade de vida, em termos concretos, temos que
enfatizar a qualidade de vida que só irá ocorrer com um estilo de vida
adequado, proporcionando um estado de Wellness, fazendo com que o
indivíduo adquira a aderência necessária que irá mantê-lo em programas,
sejam eles de atividade física, recreação ou lazer, permitindo assim a aquisição
da qualidade de vida.
56
2.8 TRANSFORMAÇÕES E GESTÃO – IMPACTOS NO TRABALHO
A característica da sociedade ocidental se dá pela grande capacidade
de transformação e permanente permeabilidade à mudança, entretanto,
quando as transformações, alterações e modificações se tornam um padrão
cultural, a adaptação se torna um problema e uma dificuldade de ampliação
para futuro.
A mudança na maneira como os negócios são geridos, passando de
uma ideia departamental e de operações para uma visão de processos é
necessária e imposta a todas as empresas (Chalhoub, & Sciammarella, 2002).
Diante das transformações que o mundo vive de forma muito dinâmica,
as manifestações comportamentais, tanto do ponto de vista dos trabalhadores
quanto do ponto de vista das empresas, implicam numa série de modificações
nas relações sociais, nas relações de trabalho e nas características que
impactam na vida em sociedade. Diante de todas as transformações
tecnológicas, os ajustamentos na base técnica de produção representam
modificações qualitativas e quantitativas no trabalho humano (Silva, 1997).
Nesta lógica, os modelos de gestão e administração se modificaram ao
longo do tempo, e essas modificações interferem de maneira significativa na
vida do ser humano. Já que, desde seus primórdios a atividade laboral é
inerente à sobrevivência, assim, as configurações entre o mundo do trabalho e
o trabalhador manifestam-se diante de uma evolução das necessidades que
muitas vezes são naturalmente desenvolvidas e outras que são criadas, diante
de uma nova formatação da demanda.
Nesse sentido, o impacto da gestão atua de maneira significativa na
trajetória do trabalho, logo, as cobranças, as pressões do mercado, oriundas da
evolução econômica onde o mundo ocupacional se instaurou, refletem na
saúde do trabalhador. Portanto, a entrada da medicina no universo do trabalho
cria dispositivos sólidos dos quais emanam preocupações para a vida do
trabalhador, em consequência a busca de diferentes ferramentas para
57
minimizar os efeitos deletérios do trabalho fomenta diversas especialidades
voltadas para a saúde do trabalhador e melhoria do processo de trabalho.
De acordo com Borges e Yamamoto (2004), o início da fuga
espontânea dos trabalhadores insatisfeitos com a monotonia do trabalho, com
as exigências pesadas, a aceleração do ritmo do trabalho e o não atendimento
de suas expectativas econômicas, inicia-se com um processo de uma série de
manifestações sociais pautadas no cenário laboral, como o absenteísmo, a
rotatividade e o aumento de refugos.
A medicina do trabalho, a ergonomia, a ginástica laboral, a psicologia
do trabalho, terapias ocupacionais, fisioterapias, entre outras especialidades se
fazem necessárias nos tempos atuais, estimuladas pela preocupação pautada
na saúde do trabalhador, na engrenagem de produção, nas consequências
sindicais, oriundas das lutas dos trabalhadores por melhores condições de
trabalho e no impacto econômico que este agente social gera. As modificações
do universo laboral, principalmente com o advento do sistema capitalista,
introduziram profundas transformações na organização social do trabalho,
principalmente a partir do surgimento de movimentos como os tayloristas e
fordistas, no século XX.
Além desses movimentos mais a contribuição da globalização, a
inserção de novas tecnologias e a reestruturação produtiva provocaram
mudanças significativas na organização social do trabalho, sendo responsáveis
por um aumento da produtividade com redução dos custos de produção,
possibilitando o acesso de uma parcela cada vez maior da população aos bens
de consumo. Em contrapartida, verificou-se que a forma de trabalho instituída
resultou numa perda de autonomia do trabalhador e de sua relação com o
trabalho, de modo que se constituiu uma fonte de sofrimento para o indivíduo,
culminando na deterioração de sua qualidade de vida (Descanio & Lunardelli,
2007).
O artigo de Descanio & Lunardelli (2007) relata que, nos anos 30 e 40,
houve uma rápida conscientização dos trabalhadores e um aumento das
mobilizações sindicais que motivaram a realização de pesquisas que
enfocavam os elementos que afetam a satisfação dos trabalhadores e sua
58
produtividade. A origem do movimento de qualidade de vida no trabalho
remonta a 1950, na Inglaterra, a partir dos estudos de Eric Trist e
colaboradores, do Tavistock Institute, que pretendiam analisar a relação entre
indivíduo, trabalho e organização.
Com os avanços oriundos desta nova perspectiva e desse novo olhar
para o trabalho, a preocupação se virou para a qualidade vida e em especial à
qualidade de vida no trabalho. Outro aspecto que tem uma significativa
interferência são as tecnologias e a nova organização mundial relacionada ao
trabalho, economia e recursos na ótica da globalização. As inovações
tecnológicas e organizacionais vêm causando importantes mudanças no
mundo do trabalho, seja na produção, seja na sociedade como um todo, com
repercussões que parecem ser bastante profundas.
A introdução de novas tecnologias representa um incremento
significativo de produtividade no trabalho com suposta eliminação de tarefas
penosas ou pesadas, levando a uma nova relação homem/máquina. Esta nova
relação faz surgir novos riscos para a saúde dos trabalhadores. Dessa forma,
estes riscos mais sutis para a saúde não podem ser compreendidos com base
na ótica estreita da Medicina do Trabalho, que busca sempre uma conexão
direta com acidentes e doenças profissionais (Oliveira, 1997).
Especificamente no Brasil, os modelos de gestão estão baseados na
compreensão e na relação do trabalho e produtividade com lucro. Baseado no
modelo japonês, o Brasil se caracteriza por implantar programas de qualidade
total. As inovações tecnológicas e organizacionais traduziram-se basicamente,
nos últimos anos programas que trazem em sua concepção a qualificação dos
trabalhadores, a crescente intervenção no processo produtivo e a interferência
nos programas de qualidade total.
Tais mudanças pressupõem uma maior participação e envolvimento do
trabalhador, criando uma identificação dele com os objetivos da empresa. A
pressão da modernidade pela qualidade atinge toda a sociedade, que por sua
vez, também atinge os trabalhadores, gerando, então consequências para a
saúde física e mental e, neste caso, o trabalhador, em todos os momentos da
vida, passa a viver e a pensar na empresa (Oliveira, 1997).
59
Contudo, as tendências revestidas pelos apelos da gestão convergem
para a compreensão de que as exigências do mercado ganharam uma
velocidade que não pode ser ignorada, assim como a qualidade, sendo assim,
a sobrevivência de uma empresa pauta-se em cinco dimensões no mundo
contemporâneo que são: qualidade do produto; custo; eficiência na entrega;
satisfação e segurança dos empregados; usuários e comunidade (Oliveira,
2007).
Nos anos 80, ocorreu a apologia da dedicação exaustiva, workaholics,
com a prioridade para o trabalho e a abdicação do lazer e do prazer. Cada vez
mais trabalhadores se queixam de uma maior rotina de trabalho, de condições
de trabalho inadequadas, muitas vezes até desumanas. A qualidade de vida no
trabalho surge como esforço, no sentido da humanização do trabalho.
De fato, observa-se que a forma de estruturação do trabalho e das
organizações impõem a necessidade de adequação do indivíduo aos
parâmetros organizacionais, sem considerar os seus interesses e desejos. A
abordagem da qualidade de vida no trabalho vem, então, incorporar algumas
preferências humanas no desenho e na gestão de sistemas organizacionais,
buscando torná-los mais satisfatórios ao indivíduo e contribuir para a qualidade
de vida geral.
Assim, a qualidade de vida no trabalho pode ser definida como uma
forma de pensamento que envolve pessoas, trabalho e organizações, em que
se destacam dois aspectos importantes: a preocupação com o bem-estar do
trabalhador e com a eficácia organizacional; e a participação dos trabalhadores
nas decisões e problemas do trabalho (Descanio & Lunardelli, 2007).
As transformações em curso na sociedade brasileira, decorrentes das
mudanças técnico-organizacionais no mundo do trabalho, estão fazendo
ressurgir em todos aqueles que se preocupam com as questões relativas ao
trabalho
humano
e
às
suas
metamorfoses,
expressões
tais
como:
"qualificação", "competência", "formação profissional". Tais expressões ocupam
lugar de destaque nos discursos e documentos dos diferentes agentes e
instituições sociais (Manfredi, 1999).
60
É a partir deste panorama, que as transformações e metamorfoses
sociais aplicam uma diversidade de ações que trazem uma adequação e uma
adaptação do trabalho aos modelos de gestão. As inovações tecnológicas
imbuídas e significados ligados à melhoria da produção, condição de trabalho e
preocupação na saúde do trabalhador promovem também uma aceleração na
transmissão e propagação das informações e conhecimento, o que também
transforma o trabalho e sua ocupação, nascendo, então, uma nova categoria
de trabalhador que é o trabalhador do conhecimento.
Conforme Davenport (2006) o aumento do trabalho do conhecimento
foi previsto há muitos anos, muito em virtude da automação das fábricas
ocorridas há mais de um século, com isto liberou grande parte da mão-de-obra
das tarefas físicas no trabalho. Na última metade do século passado, os
computadores e a presença penetrante da informação desenvolveram um novo
tipo de ocupação, na qual os funcionários deveriam ser capazes de, em
primeiro lugar, produzir informações e, em seguida, extrair seus significados,
para então agir a respeito.
Diante deste paradigma, Davenport (2006) complementa informando
que:
No início do século XX, era provável que entre um quarto
e a metade dos trabalhadores nas economias avançadas
fossem trabalhadores do conhecimento cujas tarefas
principais envolviam a manipulação de conhecimento e
informações (p. 4).
Em contato com este novo preceito, as crescentes metamorfoses nas
organizações, os trabalhadores do conhecimento tendem a obter um
crescimento paralelo ao da empresa, logo, sem os trabalhadores do
conhecimento, não haveria novos produtos e serviços, tampouco crescimento.
Contudo, no século XXI, a importância do trabalhador do conhecimento tem um
aspecto importante no desenvolvimento da economia e avanços no mundo do
trabalho, principalmente na saúde do trabalhador.
Drucker (1995) foi um dos primeiros autores a descrever os
trabalhadores do conhecimento, para o autor tornar o trabalhador do
conhecimento produtivo será a grande missão deste século, assim como tornar
61
produtiva a mão-de-obra braçal foi o principal desafio do século passado. O
Autor ainda afirma que os trabalhadores do conhecimento e sua produtividade
são tão importantes para economia mundial quanto a fabricação de produtos e
serviços.
A produtividade do conhecimento e de seus trabalhadores
não será o único elemento competitivo na economia
mundial. Entretanto, é provável que se torne o fator
decisivo, pelo menos para a maior parte dos setores dos
países desenvolvidos (Drucker, 1995, p. 52).
No roteiro evolutivo das organizações emana um complexo cenário de
mudanças, tendo em vista que, as alterações no perfil do trabalhador, as
ocupações, as necessidades e, principalmente, as demandas da vida cotidiana
se alternam, pois as mudanças tecnológicas provocam uma ebulição na
aproximação das pessoas, no transporte das informações e na aquisição do
conhecimento devido principalmente pela caracterização da aldeia global em
que vivemos.
A percepção da importância do conhecimento nas atividades que uma
organização deve realizar, bem como o fato de que se trata de uma habilidade
inerentemente ligada a pessoas, faz parte do pensamento administrativo. Nos
anos 80, este tema tornou-se mais presente, devido ao advento das
abordagens
teóricas
relacionadas
à
sociedade
do
conhecimento,
ao
aprendizado organizacional e às competências essenciais na gestão.
Nos dias atuais, o impacto causado pela acentuada evolução da
tecnologia da informação na sociedade, bem como as modificações resultantes
de um modelo econômico que prega uma competitividade intensa, tem
causado significativas mudanças na forma com que as organizações devem se
estruturar e trabalhar com o conhecimento para desenvolver novos produtos,
novos processos e novas formas organizacionais (Silva, 2002).
Um atributo de suma importância neste cenário globalizado é a internet
e a capacidade de relações que ela permite, tanto na aproximação das
pessoas quanto na funcionalidade de realização de negócios, portanto, esta
aldeia global, conectada, tem uma nova configuração na economia e
62
principalmente, uma nova economia que está em um ambiente de rápidas
transformações e novos tipos de negócios.
A principal característica seria a quantidade de informações a serem
processadas por uma organização, que cresceu muito quando comparada ao
montante que se processava há alguns anos. O advento da Internet e a
possibilidade de realizar negócios de formas diversas fizeram surgir uma
preocupação quanto ao processamento de informações necessárias à tomada
de decisões no ambiente de negócios da empresa, impactando diretamente na
saúde do trabalhador (Cohen, 2002).
A contribuição da evolução tecnológica assentou perfeitamente no
universo econômico da globalização onde as condições de realização do
trabalho estariam experimentando radical transformação em obediência a
circunstâncias novas que se verificavam no terreno da produção, derivadas
estas últimas de uma nova configuração do mercado mundial (Saul, 2001).
Nessa perspectiva, as origens do modelo atual de trabalho estão
vinculadas à terceira revolução tecnológica, à revolução cibernética. A raiz do
problema do sistema capitalista, que utiliza uma versão determinística de
ciência como um véu cultural para investir na tecnologia e na ciência, para
“conquistar” a natureza em nome de um inevitável e inquestionável progresso
científico, torna-se a condição fundamental para uma transformação no mundo
do conhecimento que está intrinsecamente vinculado a uma transformação do
sistema mundial (Saul, 2001).
O ingresso da terceira revolução tecnológica implica num cenário novo
de profundas transformações, a revolução cibernética aponta para uma
adaptação estrutural, tanto na dimensão sociológica organizacional quanto
laboral. O atual curso dos acontecimentos converge para a constituição de um
novo meio de comunicação, de pensamento e de trabalho para a sociedade
humana (Levy, 2003).
Nesse
sentido,
a
velocidade
dos
avanços
tecnológicos
tem
proporcionado impactos significativos no funcionamento das organizações. A
ampla disponibilização de tecnologia de informação de alto desempenho
permite
o
aumento
da
eficiência
da
comunicação
interpessoal
e
63
interorganizacional através do meio eletrônico, além disso, possibilita tratar
massas de dados com muita rapidez e armazenar informações de forma
organizada e controlada, de maneira que estas se tornam facilmente
acessíveis, recuperáveis e reutilizáveis (Cardoso, Cameira & Proença, 2001).
Os computadores substituíram os maquinários pesados, e esses
funcionam como extensões da memória humana, tornando-se a ferramenta
básica para um novo tipo de trabalhador, que precisa de informações
oportunas e precisas para tomar decisões e criar. No mesmo sentido, ao passo
que a tecnologia avança, a complexidade do trabalho humano nas
organizações aumenta. Isto ocorre tanto porque os novos dispositivos de
automação substituem as atividades puramente “musculares” e/ou lógicas,
empurrando as pessoas para atividades mais inteligentes, quanto porque as
atividades inteligentes são acrescidas de inovações mais frequentemente,
ampliando a sofisticação do conhecimento necessário para executá-las
(Cardoso, Cameira & Proença, 2001).
2.9 CIBERCULTURA
O mundo atual caracteriza-se por um processo de globalização das
relações sociais, geográficas, econômicas e políticas (Hobsbawn, 1995). As
transformações ocorridas na história da humanidade apontam para uma maior
valorização do homem, mais particularmente, nos dias atuais. Este fato apóiase na perspectiva de que um ser globalizado reconhece a construção do
conhecimento
e,
por
conseguinte,
prima
pela
sua
capacidade
de
armazenamento, transformação e compartilhamento das informações.
As transformações ocorridas no último século permitem inferir sobre a
necessidade de gerir e gerenciar o conhecimento, tendo em vista a grande
capacidade de produção e acesso às informações, visto que produzimos mais
dados e informações do que somos capazes de sintetizar e assimilar. Ao
analisar a história, percebe-se que a terra e o capital foram fatores decisivos de
produção, na atualidade, o fator decisivo é cada vez mais o homem, já que o
64
conhecimento hoje é a moeda de troca nas relações humanas, definindo-se
assim, a sociedade do conhecimento (Melo, 2003).
A partir desse pressuposto, desafios inerentes ao comportamento
humano são apontados, principalmente, relacionados à conduta e à
intervenção laboral, visto que as trocas, o aparelhamento, a informatização
solidificam-se cada vez mais na estrutura do trabalho, forçando o homem a
uma adaptação constante na sua perspectiva de ação no mundo laboral.
O espaço do trabalho, dentro de um contexto global, insere diversas
conotações e relações aparentemente novas entre o indivíduo e seu espaço de
relação, assim, o sujeito, dentro de um espaço rico em informações e trocas de
conhecimento, se estabelece por uma série de ações e reações que conduzem
o alicerce de uma nova prática na troca do conhecimento e da informação.
Neste paradigma, o labor se insere numa constante troca de
informações que, por vezes, pode se situar num instante de descanso ou de
lazer, pois na sociedade do conhecimento, a resignificação do trabalho está
diretamente ligada ao mundo da informação, e pode-se dizer que as
informações e troca de conhecimento se situam num ambiente amplo, sem
limites, no qual o lazer e o trabalho podem se misturar.
Diante desta perspectiva, recorre-se ao que Pierry Levy aponta: o
chamado ciberespaço. Este mundo, tanto do trabalho quanto das relações
sociais, busca uma resignificação, pautada em infovias nas quais o
comportamento e as relações estabelecem um caráter lúcido de aprendizado
constante em todas as dimensões e direções. De acordo com Levy (2003), foi a
partir dos anos 80 que a comunicação informatizada surgiu como um fenômeno
econômico e cultural, em que redes mundiais de universitários, empresários,
pesquisadores criaram comunidades virtuais se desenvolvendo como uma
base de acesso direto aos dados.
Para Levy (2003), a rede das redes se transforma numa cooperação
anarquista de milhares de centros de informação, em que a internet se
transforma num meio transfronteiriço, heterogêneo o qual se designa como
Ciberespaço.
65
A significação do ciberespaço emerge da nova postura mundial de
troca de informações, de saberes, esta conduta cria, dimensiona e resignifica o
trabalho, desde sua base rústica até seu modelo mais sofisticado, e recorre ao
pensamento e ao apontamento de Levy sobre a inteligência coletiva. A
evolução deste contexto, ainda sensível a transformações reflete um
desenvolvimento de infovias, multimídias, as relações transbordam ao papel do
trabalho em sua concepção histórica.
Ainda em conformidade com Levy (2003), a forma e o conteúdo do
ciberespaço são especialmente indeterminados, pois a não existência de um
determinismo tecnológico ou econômico pausa em estruturas políticas e
culturais que se abrem para os atores econômicos, os cidadãos. O trabalho no
contexto da informação é prática social, na vivência do espaço urbano e na
forma de produzir e consumir informação. A cibercultura solta as amarras e
desenvolve-se de forma onipresente, fazendo com que não seja mais o usuário
que se desloca até a rede, mas a rede que passa a envolver os usuários e os
objetos numa conexão generalizada (Lemos, 2004; Santaella, 2004).
A internet é um fenômeno muito maior a que simplesmente o aspecto
tecnológico possa responder. A sociedade encontra diferentes formas de
utilização da rede, o que torna um fenômeno social intrigante. Poucas foram as
invenções que influenciaram a humanidade com tamanha rapidez, forjando
novos padrões de comportamento e efetivamente, alterando a forma como as
pessoas executam tarefas diárias e vivem suas vidas, pois a nova revolução da
reorganização da informática, o comércio eletrônico, a troca de informações,
trarão o trabalho para dentro dos lares e, assim, uma nova organização prática
da existência humana (Davenport, 2005; De Masi, 2000; Terra, 2009).
Para Levy (2003):
A prosperidade das nações, das regiões, das empresas e
dos indivíduos depende de sua capacidade de navegar no
espaço do saber. A força é conferida de agora em diante
pela gestão ótima dos conhecimentos, sejam eles
técnicos, científicos, da ordem da comunicação ou
derivem da relação ética com o outro (p. 19).
Logo se materializa a relação do homem com o mundo, homem com o
trabalho e seu vigor laboral se mantém por uma formidável infra-estrutura
66
epistêmica, pois o continuum do saber-fazer se desloca para uma flexibilidade,
vitalidade das redes de produção, comércio e troca de saberes (Levy, 2003;
Terra, 2009; Gardner, Csikszentmihalyi & Damon, 2004).
Nessa evolução histórica da humanidade, as competências adquiridas
por um indivíduo em seu percurso profissional ficarão ultrapassadas ao final de
sua carreira. Por outro lado, a nova natureza do trabalho, cuja a transmissão de
conhecimentos não para de crescer renova seu modo laboral, pois trabalhar
significa cada vez mais aprender, transmitir saberes e produzir conhecimentos.
Assim, o ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que amplificam e
modificam numerosas funções cognitivas humanas, e essas tecnologias
favorecem novas formas de acesso e novos estilos de raciocínio e
conhecimento (Levy, 1999).
Portanto, na era do conhecimento, a economia planificada, organizada
de forma burocrática se mostra incapaz de seguir as transformações impostas
pela evolução contemporânea das técnicas e da organização do trabalho.
Logo, a interpretação do trabalho, do lazer e da cultura se torna um novo
cenário envolto de subjetividade e essa subjetividade é a principal atividade
econômica neste mundo contemporâneo.
No regime assalariado, o sujeito vende sua força de trabalho de modo
quantitativo, facilmente mensurável, sendo que na perspectiva da cibercultura a
valorização se dá pelas suas competências qualitativamente diferenciadas. Em
adição, a competição em um espaço econômico mundializado, as interações
cooperativas no ciberespaço internacional se darão através da redefinição das
identidades do labor. O novo horizonte da nossa civilização requer um domínio
triplo de velocidade, envolvimento das massas e criação de novas ferramentas
que geram consequências diárias sobre a vida cotidiana e o trabalho (Levy,
1993; 1999; 2003, Davenport, 2006).
O modelo da cibercultura nos permite entender a nova concepção de
comportamento humano, sua condição de lidar com o universo de informação e
conhecimento. O conhecimento se transforma a partir da inter-relação com o
outro, assim, a cibercultura proporciona esta condição, no entanto, a
necessidade de organização, produção, interação, assimilação requer uma
67
capacidade de gerenciamento e de gestão capazes de conduzir benefícios as
atividades humanas e em consequência ao trabalho, portanto, o caminho
tendenciado no século XXI está pautado na base teórica da gestão do
conhecimento.
2.10 GESTÃO DO CONHECIMENTO
As mudanças no mundo organizacional têm revelado um papel
transformador no comportamento de gestores em todos os setores. Tais
mudanças são captadas nas informações e na maneira como as informações
são disseminadas e trabalhadas. As organizações públicas têm percebido
também que a solidez governamental está pautada em resultados, sendo
assim, os resultados se apresentam a partir de uma gestão baseada nas
informações e nas políticas de disseminação de tais informações.
Os conflitos encontrados entre as organizações atuais
e as
antepassadas estão na discrepância entre a operacionalização dos comandos
e construção de políticas voltadas para os interesses da sociedade. As
organizações do século passado se caracterizavam pela burocracia, ocupação
especialista, centralização das decisões, hierarquia rígida de autoridade, além
de uma interação vertical e comportamento introspectivo. Entretanto, as
organizações atuais se mostram estáveis e flexíveis, adaptáveis, tendo cargos
continuamente modificados, além de dar ênfase ao relacionamento humano
aberto e extrovertido.
Portanto, a gestão do esporte, exercício físico, ginástica laboral,
atividade
física
na
empresa,
sociedade
e
poder
público
passam
necessariamente pela compreensão das características e demandas do
ambiente e da sociedade e, também, pelo entendimento das necessidades
tanto individuais quanto coletivas, alicerçadas pelos processos legítimos do
esporte, exercício físico, Ginástica laboral, atividade física na empresa
enquanto educação.
Nesse
panorama,
permanentemente
ações
o
que
desafio
a
provoquem
ser
enfrentado
transformações
é
produzir
diante
da
68
complexidade crescente da sociedade, utilizando o esporte, exercício físico,
Ginástica laboral, atividade física na empresa como ferramenta para que as
empresas concentrem esforços não somente em alguns poucos indivíduos,
áreas ou regiões. A importância de canalizar os esforços em ações e
articulações deve estar estruturada em um viés não imediatista, e toda a
gestão deve estar voltada para um cientificismo sólido, capaz de retratar de
fato a realidade do fenômeno social, que é o esporte, o exercício físico, e a
ginástica laboral, e a atividade física na empresa.
Nesse sentido, organizações como associações esportivas são uma
fonte de processos criativos, que demandam uma motivação intrínseca de
interação com os outros, combinada de múltiplas perspectivas e experiências,
que são capazes de gerir diretrizes apoiadas na naturalidade cultural, na
ampliação das condições de prática e governança, permitindo assim, que
políticas públicas sejam desenvolvidas a partir de uma visão compartilhada
com a empresa alicerçada na sociedade.
Ao examinar os arquivos pessoais do prof. Dr. Lamartine Pereira
DaCosta,
defronta-se com
documentos de
caráter experimentais, de
organização e mobilização da comunidade acadêmica e empresarial,
apontando os direcionamentos para as políticas e ações voltadas para saúde e
qualidade de vida, como o exemplo do Banco Nacional, que, estruturou
iniciativas com preocupações de perdas e ganhos, iniciadas em 1987. Outro
exemplo de grande relevância para a compreensão de que associações são
fontes de processos criativos, está retratado no periódico da Volvo, de nome O
Viking, o qual traz informações e estímulos para a prática de hábitos e atitudes
saudáveis. Nesse contexto, a Gestão do Conhecimento representa um esforço
para reparar prejuízos anteriores e uma política de segurança contra a perda
de memória organizacional no futuro (Bukowitz: Williams, 2002; Botelho:
Monteiro & Valls, 2007).
A Gestão do Conhecimento (GC) pode ser definida como a criação de
um contexto organizacional favorável à criação, uso e compartilhamento de
informações, de modo a reunir e integrar pessoas e/ou organizações que
compartilham dados e saberes, construindo conhecimentos por meio de suas
69
interações ou desenvolvimento individual e grupal (DaCosta, 2007). Entretanto,
a GC se manifesta por trabalhos em redes sociais – internas ou externas a uma
determinada instituição ou grupo - as quais são caracterizadas pelo seu
direcionamento múltiplo: cada membro e cada unidade podem em princípio,
aprender com todos os outros.
A primeira discussão a ser inserida é a definição de conhecimento.
Conforme Platão argumenta na citação de Nonaka e Takeuchi (1995), o
conhecimento genuíno é uma “crença verdadeira justificada”. Este pensamento
de origem na antiguidade clássica permanece atualizado e é amplamente
aceito na comunidade acadêmica (Lessa, 2004).
Essa rede concentra seus esforços na eficiência organizacional e na
reutilização do conhecimento existente, como também no desenvolvimento
científico e tecnológico, sobretudo com base em computadores e seus metasistemas. Em termos epistemológicos, a Gestão do Conhecimento é inovadora,
sobretudo por incorporar conhecimento tácito, nem sempre produto de
fundamentação científica. Este reconhecimento surgiu no meio das empresas
em que práticas de resultados eficientes foram aceitas mesmo sem explicações
teóricas (DaCosta, 2009).
Nessa linha Melo (2003) apresenta que a gestão do conhecimento é
uma disciplina que objetiva democratizar o acesso aos conhecimentos obtidos
por indivíduos, seja qual for o meio escolhido pelo gestor, organizando,
classificando e criando dispositivos para sua disseminação, conforme o
interesse e propósito de um grupo. Além disso, os projetos de gestão do
conhecimento têm como característica a ausência de metodologia que auxilie
na construção dos modelos.
A gestão do conhecimento revela o paradoxo das contradições e
dilemas que a criação do conhecimento é capaz de promover. O conhecimento
é formado por dois componentes dicotômicos e opostos: o conhecimento tácito
e o conhecimento explícito. O conhecimento explícito pode ser rapidamente
disseminado e divulgado aos indivíduos de maneira formal e sistemática. O
conhecimento tácito está profundamente enraizado nas ações e na experiência
70
corporal do indivíduo, nos valores, crenças e emoções que incorpora (Nonaka:
Takeuchi, 2008).
Nesse disposto, a apresentação do homem e sua relação com a
máquina inauguram uma série de processos que desencadeiam novas
perspectivas, que se podem chamar de Tecnologia, assim, o envolvimento do
Homem
dentro
de
sua
intenção-avaliação;
especificação-interpretação;
execução-percepção torna sua capacidade ampla de inovação e renovação,
contudo, a capacidade humana na construção do conhecimento torna-se
potencializada com a Tecnologia da Informação (TI), logo, a interface entre um
conhecimento e um novo conhecimento é a linguagem utilizada.
Portanto, as Tecnologias de Informação objetivam aproximar e otimizar
os dados e informações disponibilizadas na World Wide Web (WWW) para
dinamizar e possibilitar a construção do conhecimento, viabilizada pela
constante busca da informação. O grande avanço das tecnologias da
informação (TI) nos torna cientes de que as mesmas conduzem a um aumento
da capacidade de compartilhamento da informação e do conhecimento.
Percepções apontam que o uso de TI é um fenômeno social, que resultam em
produtos de dimensão material e social, sua natureza constituída – a TI é o
produto social da ação humana subjetiva dentro de contextos culturais e
estruturais específicos. Seu papel constitutivo – a TI é simultaneamente um
conjunto de regras e recursos objetivos envolvidos na mediação (facilitação e
restrição) da ação humana e, portanto, contribui para a criação, recriação, e
transformação destes contextos (Orlikowski: Robey, 1991).
A tecnologia tem rituais que se impõe em interfaces; plataformas;
organização; linguagem e infra-estrutura. A tecnologia da World Wide Web,
incute na valorização da base remota, permitindo uma atualização perene das
informações, pesquisa e análise dos dados real-virtual. Assim, a gestão do
conhecimento permite criar uma ambiência capaz de induzir uma modificação
cultural e tecnológica, favorável à criação, compartilhamento, organização e
aplicação de conhecimento para o pleno alcance de sua missão e de seus
objetivos estratégicos (Lessa et al., 2004).
71
Sendo a interface, o motor das operações, os dados; as informações
potencializam o conhecimento tácito em conhecimento explícito, sendo o
conhecimento tácito o resultado de experiências vividas pelo indivíduo, como
elemento observador de seu mundo em diversos cenários, a partir das
interações humanas em rede e sua evolução em sistemas, já o conhecimento
explícito entende-se como toda a carga de informação digerida e analisada por
um indivíduo, que por meio de técnicas estruturadas permite a sua
disseminação (Takeuchi: Nonaka, 2008).
Todavia, hospedar uma nova tecnologia enseja uma redefinição de
identidades, tanto por parte daqueles que hospedam a tecnologia como desta
em si, pois a tecnologia pode ser mudada, adaptada e reformulada pelos
usuários, adquirindo um novo significado, aplicação e identidade (Saccol:
Reinhard, 2006).
A arquitetura organizacional permite à instituição ter uma capacidade
de vencer as dificuldades, visto que, uma organização flexível, baseada numa
visão compartilhada, liberta a gestão da empresa para fazer coisas apropriadas
com as circunstancias atuais e futuras (Souza: Caulliaux, 2002).
Assim, o esporte, exercício físico, Ginástica laboral, atividade física na
empresa e lazer se apresentam sob vários aspectos, a representação do
esporte como fenômeno social, sua influência na vida das pessoas e as ações
que a humanidade tem tomado para divulgar e promover o esporte em todos os
seus níveis e representações na sociedade embutem uma necessidade de
gestão capaz de atender este cenário de manifestação e demanda, cabe então,
um entendimento capaz de gerir e atuar de maneira inovadora, pautada nos
princípios de gestão para resultados.
De acordo com DaCosta (2007), um marco no esporte nacional foi a
publicação do Atlas do Esporte no Brasil, que traz inúmeras informações e
características do esporte no país. A partir dele, percebeu-se que o retrato
esportivo nacional deixou de ser um instrumento de manipulação das pessoas
pautado em ideologias políticas que, muitas vezes, foram propagadas pela
mídia e aceitas por várias camadas da sociedade e, consequentemente,
utilizadas pelo poder público para a construção de políticas ligadas ao esporte.
72
As informações contidas no Atlas mostram que há um aumento
acentuado da prática esportiva, assim como, produtos e serviços ligados a
essa cultura. Tal perspectiva desencadeia uma crescente qualificação e
especialização profissional, o que corrobora com o perfil das organizações do
século XXI (Senge, 2004). As organizações atuais apresentam um modelo
gerencial que se caracteriza pela responsabilidade e pela autonomia aliadas à
compreensão dos riscos e das incertezas.
O caso da Ginástica Laboral/ Atividade Física na Empresa incorpora a
gestão do conhecimento em virtude de retratar a própria natureza da
organização o que contribui também para o aumento do volume de dados e
informações tratados, pois ela responde formalmente a múltiplos stakeholders
(Empresários, Diretores, Executivos, Agentes, Colaboradores, entre outros),
requerendo um controle apurado de todas as suas decisões e operações.
Portanto, também neste caso, requer um ambiente informático de alto nível,
muitas vezes apoiado nas mais recentes tecnologias disponíveis no mercado,
para dar conta de toda complexidade de seus fluxos de conhecimento explícito
de maneira eficiente e eficaz (Lessa et al., 2004; Silva et al., 2005; Terra,
2009).
A Gestão do Conhecimento concebe-se em três aspectos base: foco
no fator humano (capital intelectual), a transformação da gestão de paradoxos
em uma gestão do conhecimento, ou seja, conhecimento explícito é aquele que
incentiva e cria mecanismos que ajuda os empregados (capital humano) com o
compartilhamento de seus conhecimentos. Ao contextualizar a ginástica laboral
com a gestão do conhecimento, além de ser um ativo importante na promoção
da saúde e qualidade de vida pode ser um importante disseminador de
conhecimento explícito (Intangível) (Terra, 2009; Botelho: Monteiro & Valls,
2007).
Na categoria “informação” e, apesar de poderem ser intensivos em
conhecimento, ou seja, terem uma grande quantidade e/ou qualidade de
conhecimento passíveis de serem interpretados e assimilados por seres
humanos, não são capazes de induzir seus detentores à ação inteligente por si
próprio. Ou seja, entre o que está explícito (informações e modelos) e a ação
73
inteligente,
sempre
haverá
uma
avaliação
mental
mediadora
para
contextualizar o primeiro, transformando-o em conhecimento propriamente dito,
para que presida a ação em si. O conhecimento tácito, por sua vez,
caracteriza-se por sua capacidade de ser aplicado de acordo com o contexto
em que o seu detentor se encontra.
A importância da gestão do conhecimento na área esportiva tem um
caráter embrionário como estratégia para gestão do esporte, pois seu
desenvolvimento vem ganhando espaço para a criação de centros/ redes/
sistema em âmbito nacional (Botelho: Monteiro & Valls, 2007).
Além deste avanço no setor da gestão esportiva, a gestão do
conhecimento tem a função de reconhecer e desenvolver mecanismos que
privilegiam a transformação do conhecimento tácito em explícito, permitindo
fazer fluir a espiral do conhecimento, característico desta disciplina (Nonaka:
Takeushi, 2008; Botelho: Monteiro & Valls, 2007, Terra, 2010).
A gestão do conhecimento guarda o potencial de tornar as
organizações realmente vivas (De Geus, 1998), capazes de perdurarem no
tempo e de se renovarem para sobreviver a diferentes ambientes „ecológicos‟.
Só terá sucesso, entretanto, se integrar suas abordagens „humanística‟ e
„tecnológica‟ (Cardoso, Cameira & Proença, 2001).
74
2.11 GINÁSTICA LABORAL ATRAVÉS DOS TEMPOS
O trabalho desde os primórdios representa a sobrevivência humana e
sua relação com a natureza. A evolução dos tempos imprimiu uma diversidade
de fenômenos que afligem o mundo laboral. Entretanto, ao entender a evolução
do trabalho, as mudanças do perfil do trabalhador e o avanço tecnológico,
percebe-se que existe um esforço para minimizar os efeitos que o trabalho
provoca, sejam eles de cunho físico, emocional ou psíquico.
A linha histórica do trabalho parte desde a característica nômade,
coletora, até o avanço enquanto ser explorador e consumidor de sua própria
evolução. O período em que o trabalho e principalmente a saúde do
trabalhador se estabelece como preocupação das autoridades e do mundo
acadêmico, é consequência de uma época que a partir da revolução industrial
se primou pela exploração do trabalho e aumento de capital.
A partir desse período, o estilo de vida dos trabalhadores mudou muito
desde a sua característica agrícola até se transformar num modus vivendi
industrial. O ser humano passou de uma vida fisicamente ativa para uma
predominantemente sedentária. A automação das tarefas diárias na empresa e
na indústria somada à tecnologia dos computadores na era atual tem
dispensado, muitas vezes, as tarefas físicas mais intensas. Por outro lado, não
se imaginava que, com a industrialização e a consequente mudança de uma
vida rural para uma vida urbana, ocorressem aumentos significativos de
doenças que, muitas vezes estão relacionadas ao trabalho, como distúrbios
mentais, afecções cardiovasculares, alterações das gorduras sangüíneas,
problemas com drogas, álcool e doenças nutricionais e osteoarticulares
(Militão, 2001).
Diversos aspectos estão presentes na sociedade moderna, como
questões relacionadas às condições de trabalho, o mercado altamente
competitivo, o grau de trabalhabilidade, de empregabilidade e outras
dificuldades do dia-a-dia fazem os trabalhadores vivenciarem cada vez mais
situações estressantes no ambiente de trabalho e fora dele. As condições
gerais de vida, assim como as condições de trabalho, contribuem para tornar
75
muitos trabalhadores incapazes de responder as demandas diárias de
atividade laboral e cotidianas (Pinto, 2003; Benavides et al., 2008; MartinezLopez & Saldarriaga-Franco, 2008).
Várias são as tentativas de se criar ferramentas e procedimentos para
minimizar os efeitos do trabalho à saúde. Assim como, várias são as linhas de
investigação que buscam soluções capazes de reduzir os diversos danos à
saúde que o trabalhador de diferentes setores apresentam. Com o
desenvolvimento de uma série de recursos voltados para a saúde do
trabalhador, programas de promoção da saúde são instituídos desde o início da
vida laboral, a partir da revolução industrial, seja pelo ponto de vista da
produtividade, seja pela redução da fuga de trabalhadores, seja pela melhoria
das condições de trabalho e, até os dias atuais, pela preocupação com a saúde
e qualidade de vida do trabalhador (Casas & Klijn, 2006; Descanio & Lunardelli,
2007).
Em relatório publicado em 2009, o Serviço Social da Indústria (SESI),
apresentou o perfil de estilo de vida e hábitos de lazer dos trabalhadores da
indústra abrangendo 2.775 empresas e 47.886 trabalhadores no período de
2006 a 2008. Nesse relatório, foram apresentados dados que permitem a
gestão nos estilos de vida dos trabalhadores fundamentada nas demandas de
longevidade saudável e força produtiva.
Na figura a seguir, demonstra-se o quantitativo de oferecimento de
programas de ginástica na empresa em relação ao tamanho da empresa. No
caso apresentado, observa-se uma desigualdade regional na proporção de
trabalhadores ao não oferecimento do Programa Ginástica na Empresa (SESI,
2009).
76
Figura 1 – Proporção de trabalhadores da Indústria que referiram o
oferecimento do Programa Ginástica na Empresa, por porte da empresa
Fonte: Relatório Geral – Lazer Ativo (SESI, 2009)
Apesar das ofertas de programas e ferramentas que auxiliem na
melhoria das condições de saúde dos trabalhadores e estímulos para a prática
de hábitos e atitudes saudáveis, como o exercício físico, no relatório é
apresentada a proporção de trabalhadores da indústria que relataram não
participar do Programa de Ginástica na Empresa. Na Figura 2, são
apresentados a proporção por região e gênero em todo o país.
77
Figura 2 – Proporção de trabalhadores da indústria que referiram não
participar do Programa Ginástica na Empresa, por região e gênero.
Fonte: Relatório Geral – Lazer Ativo (SESI, 2009)
O relatório realizado pelo SESI mostra a participação dos homens e
mulheres, a relação entre a idade e a participação em programas de ginástica,
o estado civil, escolaridade, renda familiar e o tamanho da empresa de
pequeno, médio ou grande porte, conforme indicado na Figura 3.
78
Figura 3 – Proporção de trabalhadores da indústria que relataram não
participar do Programa de Ginástica na Empresa
Fonte: Relatório Geral – Lazer Ativo (SESI, 2009)
O nível de prática de atividades físicas em diferentes populações está
muito aquém da real necessidade dos indivíduos, mesmo em populações
teoricamente mais esclarecidas. Bara Filho et al.(2000) e Silva et al. (2007)
analisaram a prática regular de atividade física através de questionários
aplicados em graduados e mestres em Educação Física e verificaram que
atividade física não é um hábito corriqueiro na maioria dos profissionais em
questão.
A relação entre qualidade de vida e saúde tem uma relação vazia de
significado, tal afirmativa se revela ao encontrar um sentido teórico e
epistemológico fora do marco referencial do sistema médico, culminando numa
prática do campo da saúde pública, portanto como afirma Minayo, Hartz &
Buss, (2000):
79
Qualidade de vida é uma noção eminentemente humana,
que tem sido aproximada ao grau de satisfação
encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e
à própria estética existencial. Pressupõe a capacidade de
efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que
determinada sociedade considera seu padrão de conforto
e bem-estar.
Sem perder de vista a ideia da melhoria do trabalho, a preocupação
com a saúde e a qualidade de vida, o panorama da economia mundial, a
globalização e as tecnologias evoluindo, os parâmetros de valorização do
trabalho têm modificado e com isto a organização e ambiente do trabalho estão
diretamente ligados à saúde do trabalhador. Dentre os aspectos, destaca-se a
preocupação de diversos programas de saúde do trabalhador em que estão
embutidos programas de atividade física e ginástica laboral (Descanio &
Lunardelli, 2007; Vasconcelos, 2001; Moretti, 2010).
Dentro da realidade do trabalhador, uma empresa que oferece
programas diretamente elaborados para seus trabalhadores pode gerar
diversos benefícios tanto para a empresa como para seus empregados,
gerando um aumento do bem-estar e contribuindo para a melhoria da
qualidade de vida dos trabalhadores, viabilizando um uso sadio do tempo livre
fora da empresa. A prática da atividade física no local de trabalho e dentro do
expediente pode com seu crescimento transformar-se numa nova tendência e
possibilidade de exercícios físicos e lazer aos trabalhadores: suprindo
problemas da atualidade como a falta de tempo e local adequado (Ruiz-Frutos,
2007; Martinez & Latorre, 2008).
Entre os benefícios da atividade física na empresa, conforme DaCosta
& Pegado (1990), pode-se destacar:

Melhoria e promoção da saúde;

Maior benefício e segurança social;

Humanização do local de trabalho atingindo a sociedade;

Melhoria do desempenho profissional;

Diminuição de acidentes de trabalho, rotatividade e absenteísmo;

Aumento da produtividade e qualidade do trabalho;
80

Controle do “stress”;

Melhoria da Qualidade de Vida.
Além disso, Andrade et al. (1993) afirmam que a aptidão física dos
indivíduos é um dos principais indicadores da saúde de um país, levando-nos a
concluir que um programa de atividades físicas é um elemento importante na
promoção da saúde da população. No ambiente empresarial, a promoção da
saúde através de atividades físicas, pode ser justificado numa perspectiva de
saúde pública, acarretando melhoria na qualidade de vida da população
(Lovato, Green e Stainbrook, 1995, Martins, 2001).
A partir dos anos 70, iniciou-se no Brasil uma preocupação científica a
respeito do tema Ginástica de Pausa como foi apontado no artigo publicado na
Revista Brasileira de Educação Física em março/abril de 1974 de Mario Ribeiro
Cantarino Filho e Ewerton Negri Pinheiro. Nesse contexto, a evolução do
conhecimento se mostrou relativamente estática, tendo em vista que as obras
sobre o tema ginástica laboral não se destacam por um poder científico sólido,
no entanto, se mostram como um importante nicho mercadológico.
A história da atividade física dentro da empresa no Brasil começou no
Rio de Janeiro em 1901, em uma empresa chamada Fábrica de Tecidos
Bangu. Conforme DaCosta (1990), as manifestações de esporte e lazer nas
empresas são retratadas em forma de “surtos”, através dos quais são
apresentados registros históricos e uma caracterização da história brasileira de
ginástica na empresa semelhante à história internacional.
A busca sócio-política-filosófica identifica propósitos para os quais
caminham as atividades de lazer e esporte nas empresas brasileiras. DaCosta
ainda relata que houve um “surto Corporativo-Assistencialista” nos anos 30-40
e que o esporte nas empresas consistia num setor corporativo filiando-se a
clubes, federações, ligas, entre outros. Entretanto, nos anos 40-70, um novo
“surto” assistencialista ocorre, influenciado por modelos externos, é possível
que no caso brasileiro as influências ocorram a partir dos modelos americanos
e europeus e que não seja um produto genuinamente brasileiro. Ainda nos
anos 70-80, ocorreu o “surto de reordenamento das relações internas na
81
empresa”, a retrospectiva histórica mostra que este surto aconteceu
simultaneamente ao ocorrido nos Estados Unidos.
Mais recentemente no Brasil, uma empresa de influência nipônica, a
Ishikawagima do Brasil (Ishibras) iniciou um programa com dois tipos de
atividades: uma atividade no início da Jornada de trabalho e outra ginástica
compensatória nas pausas ocorridas na empresa durante a jornada,
envolvendo 4300 funcionários. Iniciada a partir desta experiência, o SESI
desenvolveu o seu programa através dos seus vários Departamentos
Regionais, utilizando uma metodologia própria e adaptada às realidades locais,
tendo uma denominação de “Ginástica na Empresa(GE)”. Em 1978, um de
seus Departamentos Regionais participou, durante 7 meses, de um projeto de
ginástica laboral compensatória, em parceria com a Escola de Educação Física
da Federação dos Estabelecimentos de Ensino Superior de Novo Hamburgo –
Feevale (Schimitz, 1981).
Com o intuito de se revelar a observação histórica a respeito das
tendências da ginástica laboral a partir das construções teóricas e científicas,
foi verificado que comercialmente existem apenas sete obras que revelam as
intervenções práticas e teóricas da ginástica laboral.
O desenvolvimento da Ginástica laboral no Brasil se caracterizou por
um produto capaz de beneficiar a saúde do trabalhador, entretanto, os estudos
relacionados ao tema ainda têm uma série de comprometimentos que
impactam na relevância científica, e na sua importância no meio acadêmico
(Fonseca, 2006). De acordo com Toledo (2008) em um levantamento feito na
base de dados do LILACS apenas 16 trabalhos foram publicados no período de
1985 a 2007, tendo como foco de investigação a saúde do trabalhador,
ergonomia, alimentação, qualidade de vida e adesão a programas de Ginástica
Laboral.
Toledo & Delgado (2009) realizaram um levantamento através da
análise lexical das obras publicadas no Brasil e disponíveis no mercado, e
observaram que a literatura investigada apresenta um desdobramento teórico
ainda limitado, apesar de ser uma temática que se estabelece historicamente
no Brasil há mais de 30 anos, observações iniciais apontam para o fenômeno
82
desde o início do século XX. A evolução histórica da temática não se apresenta
cientificamente sólida, tendo em vista uma caracterização doutrinária a respeito
do tema, impedindo talvez evoluções no campo epistemológico e científico que
possam esclarecer as transformações reais a partir da intervenção do homem
no mundo do trabalho.
A Ginástica Laboral e Programas de Atividade Física na Empresa são
temas de preocupação acadêmica, tendo em vista o número expressivo de
teses e dissertações sobre a temática e que relacionam a ginástica laboral,
qualidade de vida e saúde do trabalhador (Martins, 2005; Martins 2000; Militão,
2001; Alvarez, 2002; Pinto, 2003; Logen, 2003).
Atualmente, o crescimento na procura e o interesse por empresas de
diversos ramos de atuação, para atuar em programas de qualidade de vida e
atividade física, evolui significativamente, este fato ocorre em função de alguns
apontamentos terem indicado que funcionários sedentários custam mais em
despesas com saúde do que funcionários não sedentários.
Uma das estratégias utilizadas pelas empresas é a implantação de
programas de ginástica laboral, com o objetivo de melhorar variáveis da
aptidão física geral como força muscular e flexibilidade, nível de atividade
física, além de colaborar para o nível de satisfação dos funcionários (Lima,
2007). Estas ofertas que várias empresas apresentam ainda não estão
cientificamente comprovadas, em virtude da produção acadêmica e a
envergadura dos trabalhos e pesquisas apresentadas até então.
A ginástica laboral é divulgada e informada como um meio eficiente de
incentivo e valorização da prática de atividades físicas por atuar como um
instrumento de promoção da saúde, no entanto, a solidificação em termos
científicos e metodológicos ainda não apresenta materiais disponíveis e não há
um estado da arte no tema que defina que a ginástica laboral contribua para
um melhor desempenho profissional. A diminuição do sedentarismo, o controle
do estresse, a melhora da qualidade de vida, o aumento do desempenho são
atribuições dadas à ginástica laboral, não há pesquisas com metodologia
robusta que possa afirmar tais benefícios, por outro lado, a cultura e a
83
popularização criam um ambiente que talvez seja capaz de beneficiar alguns
destes atributos.
Partindo dessa visão, um Programa de Ginástica Laboral (PGL) pode
apresentar-se como um dos programas que compõe o leque de opções
voltadas para melhorar a Qualidade de Vida (QV) e Qualidade de Vida no
Trabalho (QVT). A ginástica laboral (GL) pode ser definida como uma pausa
ativa realizada no ambiente de trabalho, cuja duração média é de cinco
minutos, quando efetuada na fábrica e quinze minutos quando executada no
escritório, efetuada através de exercícios de alongamento e demais atividades,
que apresentam os objetivos principais de prevenir os DORT (Distúrbios Ósteomusculares Relacionados ao Trabalho) e reduzir o distresse psicológico
(Martins, 2005).
A Ginástica Laboral (GL) tem se tornado no decorrer das últimas
décadas uma ferramenta muito importante para as empresas. Atualmente, a
discussão realizada em relação ao tema está pautada na forma de execução,
implantação e sua manutenção (Lima, 2004; Zilli, 2002; Mendes & Leite, 2008;
Polito & Bergamaschi, 2006; Oliveira, 2006; Lima, 2007).
A Ginástica Laboral tem em sua metodologia três momentos ou fases
de aplicação: a ginástica aplicada antes da jornada de trabalho é denominada
de fase 1 ou ginástica laboral preparatória, a ginástica aplicada durante a
jornada de trabalho é denominada de fase 2 ou Ginástica Laboral
Compensatória e a fase 3 é composta pela ginástica laboral de relaxamento
pois é aplicada após a jornada de trabalho (Lima, 2004; Zilli, 2002; Mendes &
Leite, 2008; Polito & Bergamaschi, 2006; Oliveira, 2006; Lima, 2007).
84
CAPÍTULO III
3.1 METODOLOGIA
No presente estudo, a metodologia utilizada visa ilustrar a estrutura de
investigação e intervenção capaz de informar as diretrizes teóricas que
envolvem a construção da pesquisa como um todo. A estrutura do estudo tem
por finalidade elucidar diferentes percepções à luz da tecnologia e uso de
software.
O presente estudo contou com a captação de trabalhos cujo propósito
técnico-científico é, sobretudo, voltar-se para o inventário do tema central dos
últimos 50 anos, desde que foi introduzido e aperfeiçoado por professores de
Educação Física e profissionais de áreas correlatas no Brasil, atendendo as
demandas nas áreas de lazer, terapêuticas, fisiológicas e segurança do
trabalho. Os trabalhos já publicados ou em andamento, que apresentaram
significado de memória ou de avanço científico sobre o tema do livro, nas
últimas cinco décadas, também foram considerados para análise da pesquisa.
A pesquisa de caráter qualitativo descritivo se estabeleceu a partir da
análise de 21 trabalhos captados a partir da chamada pública realizada em
junho de 2007. Os procedimentos foram o recolhimento e leitura de todas as
obras apresentadas, análise críticas e triagem para o tema específico. No
segundo momento, os trabalhos selecionados e caracterizados passaram por
uma leitura crítica e reflexiva para se definir os elementos de investigação com
a construção dos focos e em sequência as notas críticas da investigação.
Portanto, a chamada pública de autores e pesquisadores na temática a
fim de captar e reunir os agentes produtores e interventores de informação
sobre a ginástica laboral e atividade física na empresa, para poder retratar a
realidade da produção acadêmica no Brasil nos últimos anos sobre a temática
citada. Permitiu a compilação da produção reunida de autores de várias regiões
do país, incidindo na confecção de um Livro em Ginástica Laboral e Atividade
Física na Empresa, de acordo com a análise e revisão do conteúdo, que serviu
de constructo para a elaboração da tese.
85
A análise e revisão do material coletado foram realizadas a partir da
leitura e organização das temáticas, seguidas da interpretação e crítica do
conteúdo, em outro momento, foi analisada também a estrutura lexical do
conteúdo, sendo plotada em uma matriz, construindo um banco de dados pela
tabulação e codificação dos dados, utilizando o software MS Excel©, em que
foram separados por colunas, os autores e títulos das obras, organizados em
focos 1; 2; 3; 4 e 5, complementados por notas 1; 2; e 3 de cada obra,
observados pelo autor das análises.
A análise teve também a verificação do material a partir de obras
literárias disponíveis no mercado, sendo levantadas a partir da utilização da
ferramenta de busca Google Book Search, estabelecendo as obras que fizeram
parte da análise. Além da análise e interpretação das obras, foi realizada a
metanálise dos artigos e produções feitas a partir do material captado pela
chamada pública, em que as análises foram confeccionadas cruzando os focos
temáticos com as notas emitidas pelo analisador.
Para a análise, foi utilizado o software SPHINX LEXICA & EURECA®
V. 5. de origem francesa que permitiu a revisão e análise do conteúdo,
podendo ser verificadas as estruturas léxicas e as relações feitas na
construção das obras e materiais compilados para a tese. A análise foi feita
também não somente pela análise lexical do conteúdo como também a análise
de correlação múltipla do conteúdo.
É importante citar que o uso de dados qualitativos permite identificar ou
até mesmo antecipar oportunidades e problemas de forma bem mais pontual e
precisa. As ideias de complementariedade, recorrência e sequencialidade do
uso da análise léxica e de conteúdo
atribuem diferentes aspectos
metodológicos para exploração mais criteriosa da análise qualitativa (Santos,
2004).
Este tipo de análise se configura como o estudo científico do
vocabulário, com aplicações de métodos estatísticos para a descrição do
vocabulário: ela permite identificar com maior detalhe as citações dos
participantes, utilizando indicadores que relacionam aspectos relativos às
citações e às palavras (Freitas & Moscarola, 2000). Além disso, este tipo de
86
análise contribui para a interpretação das questões abertas ou textos, a partir
da descrição objetiva, sistemática e quantitativa do seu conteúdo. A análise de
conteúdo como um método de pesquisa utiliza um conjunto de procedimentos
para tornarem válidas inferências a partir de um texto, assim foi necessário um
esforço de desvendamento, conduzindo à lucidez das informações (Santos,
2004).
Do ponto de vista da análise qualitativa, portanto com um grau de
subjetividade no estudo, é lúcido afirmar que a subjetividade é que vai permitir
explicar ou compreender as verdadeiras razões do comportamento ou
preferência de um certo grupo de dados, logo a preparação e análises de
dados passam pela identificação e categorização adequada de seus
conteúdos, na busca pela produção de conhecimentos e identificação de
relações que permite avançar na compreensão dos fenômenos investigados.
Segundo Santos (2004), o rigor científico afere-se pelo rigor das
medições, o que não é quantificável é cientificamente irrelevante, já que a
natureza teórica do conhecimento decorre dos pressupostos epistemológicos,
assim, as leis da ciência moderna são um tipo de causa formal que privilegia o
como funciona das coisas, em função de qual o agente ou qual o fim das
mesmas.
Santos (2004) completa; o mundo que o racionalismo cartesiano torna
cogniscível, a ideia homem-máquina é de tal força que a ordem e a
estabilidade do mundo são pré-condição da transformação tecnológica do real.
Entretanto, Prigogine (1996) ilustra que a manutenção da ótica contemporânea
da ciência constrói certezas temporárias e que a ciência, a subjetividade e a
cultura, podem ser vistas por um prisma multidimensional e transformativo,
relatando que os fenômenos podem ser examinados, inseridos nos campos
científicos e culturais emergentes.
Para o autor, as leis da natureza não são estáveis, e o pensamento
atual está relacionado a uma estabilidade científica, e a argumentação centrase em leis, sendo que a natureza não está obrigada a seguir certas leis. Na
sequência, Prigogine (1996) argumenta que esta ideia de que o mundo está
sujeito a certas leis surgiu no pensamento do ocidente. Não obstante, dentro de
87
seu pensamento, a vida da sociedade como um todo não pode esperar
alcançar certezas, a história é instável, ao contrário, se supunha que a
natureza era estável e que a ciência iria alcançar a certeza, entretanto, nos
dias atuais, esta suposição não é válida.
O autor põe à luz a discussão dos erros gerados pelas generalizações,
principalmente, na área da preditibilidade. Para tanto, o propósito é mostrar que
temos que revisar os nossos conceitos de leis da natureza para incluir a
probabilidade e a irreversibilidade. Consequentemente, para o autor estamos
somente começando na ciência, pois na verdade estamos chegando ao final da
ciência convencional, já que este momento é um momento que surge uma
nova perspectiva da natureza (Schnitman, 1996).
Nesta perspectiva, há uma nova referência, o descobrimento da
instabilidade dinâmica, ou seja, o Caos, termo este que corresponde às
consequências temporais irregulares. Em seus pensamentos conclusivos, Ilya
Prigogine crê que o tempo é real e que a irreversibilidade cumpre na natureza
um papel construtivo fundamental. O autor segue dizendo que não podemos
aceitar que o tempo é uma ilusão, a história do conceito do tempo é um
excelente exemplo da criatividade científica. Deste modo, a teoria de Prigogine
recupera inclusivamente conceitos de potencialidade e virtualidade que a
revolução científica permite.
A escolha pelo método de investigação recai na ideia de que a ciência
moderna faz erguer sobre si uma nova ordem científica, que o sentido global da
revolução da ciência passa pela reconceituação em condições epistemológicas
e metodológicas do conhecimento científico (Santos, 2004). Ainda Geertz
(1989) refere-se às ciências através de analogias humanísticas e restringe o
uso das ciências às ciências de cunho social, por acreditar que as categorias
de inteligibilidade são universais.
Por outro lado, as ciências matemáticas têm brindado com as ciências
de linguagem lógico-formal para expressar, analisar e compreender múltiplos
fenômenos e teorias. O uso do computador ou softwares abre novas
linguagens que ampliam a capacidade de expressar uma explicação e
88
contribuição indispensável para estudar e entender fenômenos em quase todos
os âmbitos do conhecimento (Boden, 1994).
O computador é capaz de realizar processos mais complexos que o
homem, tendo em vista que a relação homem-máquina é carregada de
intenção, especificação, execução, avaliação, interpretação e percepção, o
Homem é o motor de operações e a interface na relação Homem-máquina. A
evolução tecnológica nos últimos anos avançou de forma rápida, enquanto que
a evolução humana não esteve na mesma aceleração deste desenvolvimento
(Orlikowski & Robey, 1991; Freitas, Janissek-Muniz & Moscarola, 2005; Weber,
1990; Freitas & Moscarola, 2000).
Portanto, a escolha do método se faz necessária não somente pela
capacidade de informações, mas também pela amplitude conceitual, como de
fato, impõe um novo modelo de investigação para análises de textos e
construções históricas temporais e atemporais, dentro de um marco
investigativo. Logo, a análise léxica consiste em se passar da análise do texto
para análise do léxico (conjunto de todas as palavras encontradas no texto
analisado), além da análise de conteúdo que consiste em uma leitura
aprofundada, codificando-se cada uma obtêm-se uma idéia sobre o todo.
A análise qualitativa dos dados foi realizada através de procedimentos
de estatística multivariada. Para tanto, os dados serão processados em
software estatístico sendo utilizado o pacote SPHINX LEXICA & EURECA® V.
5.
Foi realizada Análise Fatorial de Correspondência (AFC) que tem por
objetivo analisar uma tabela de contingência formada pelas frequências de
objetos (autores-focos-notas) que possui a característica da linha i e da coluna
k, não considerando os valores absolutos, mas as correspondências entre
caracteres, isto é, os valores relativos cuja soma é igual a 1. Analisando os
padrões de freqüências relativas (probabilidades) a partir do cálculo dos
autovetores da matriz de variâncias-covariâncias entre as linhas (ou as
colunas) (Benzécri, 1969; Benzécri, 1973).
A compreensão do um mapa geográfico é realizada através da
observação das distâncias menores entre categorias-linha e categorias-coluna
em que representam associações mais fortes, enquanto que distâncias maiores
89
representam dissociações (repulsões) entre estas categorias (Lagarde, 1995;
Moscarola, 1991). A análise proporcionada pelo mapa de Análise Fatorial de
Correspondências Múltiplas (AFCM) permitem que associações múltiplas
fossem identificadas simultaneamente em duas (ou mais) dimensões, com
distâncias
geradas
subjetivamente
pelos
respondentes
(sem
que
as
similaridades fossem diretamente avaliadas por estes), conforme sugerem
Hoffman & Franke, (1986).
A AC é uma técnica que visa a redução da quantidade de dados a
serem analisados pelo pesquisador, a partir de procedimentos de estatística
multivariada, de forma que este possa analisar um número maior de
variáveis/categorias simultaneamente a partir de um espaço com dimensões
reduzidas, com o mínimo de perda de informação possível.
A partir da identificação das categorias que mais se afastavam do
centro do gráfico (quando o interesse foi o de se buscar características
específicas), permitiu-se a observação das representações mais originais e que
caracterizavam as dependências existentes. As categorias próximas ao centro
do gráfico demonstram estar associadas a um grande número, senão a todas,
de categorias de uma linha e de uma coluna, representando um
comportamento médio das tendências de foco no que se refere a estas
categorias. Quanto mais afastadas do centro encontravam-se as categorias de
autores e/ou focos, e quanto mais próximas entre si, mais características
daquelas categorias-linha (autores) serão aquelas das categorias coluna
(focos).
Adicionalmente,
depreende-se
que
as
categorias-coluna
mais
afastadas das categorias-linha representam não serem características umas
das outras (Lagarde, 1995; Moscarola, 1991; Moscarola, 1996; Green, Shaffer
& Patterson, 1988).
A metodologia deste estudo partiu de uma necessidade de avaliar e
verificar a trajetória da ginástica laboral no Brasil. Para cumprir com os
objetivos buscou-se, através de uma chamada pública de todos os autores,
pesquisadores e agentes atuantes em ginástica laboral, captar os diversos e
diferentes textos sobre a temática.
90
Além da chamada pública, a metodologia utilizada neste estudo foi a
realização de uma revisão e análise sistemáticas de seis obras literárias (livros)
publicadas e disponíveis no mercado sobre ginástica laboral, a partir do
sistema de buscas Google Book Search, que se constituiu em ordenar
logicamente as ideias dos autores, formando um sistema conexo, em que cada
idéia para ser examinada particularmente com vistas a ser mais bem
compreendida e caracterizada (Lakatos: Marconi, 1992).
Este estudo constituiu na realização de uma revisão e análise
sistemáticas de seis obras literárias (livros) publicadas e disponíveis no
mercado sobre ginástica laboral, que se estruturou em ordenar logicamente as
ideias dos autores. As obras analisadas foram: 1) Ginástica Laboral: Teoria e
prática de Eliane Polito; Elaine Cristina Bergamaschi; 2) Ginástica laboral:
Metodologia de implantação de programas com abordagem ergonômica, autor:
Deise Guadalupe de Lima; 3) Ginástica Laboral custos e orçamentos na
implantação de programas, autor: Deise Guadalupe de Lima; 4) A prática da
Ginástica Laboral, autor: João Ricardo Gabriel de Oliveira; 5) Ginástica Laboral
atividade física no ambiente de trabalho, autor: Valquíria de Lima; 6) Ginástica
laboral princípios e aplicações práticas, autor: Ricardo Alves Mendes e Neiva
Leite.
Após a referida análise, foi realizado um resumo crítico de cada obra e,
em seguida, foi construído um banco de dados pela tabulação e codificação
dos dados utilizando o software MS Excel© em que foram separados por
colunas, os autores e títulos das obras, organizados em focos 1; 2; 3; 4 e 5,
complementados por notas 1; 2; e 3 de cada obra observado pelo autor das
análises.
91
3.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA
O gráfico obtido foi interpretado como um mapa geográfico, onde
distâncias menores entre categorias-linha e categorias-coluna representavam
associações mais fortes, enquanto que distâncias maiores representavam
dissociações (repulsões) entre estas categorias (Lagarde, 1995; Moscarola,
1991).
92
3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O mapa geográfico (Gráfico-1) exibe as posições, as categorias e as
coordenadas das observações (autores-foco). 49.99% da variância é explicada
pelos dois eixos representados. As não-respostas foram ignoradas. 3
categorias não foram consideradas (freqüência nula). Cada observação é
representada por um ponto.
Gráfico 1 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e
suas abordagens focais
Eixo 2 (24.99%)
ASPECTOS EMPREENDEDORES NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL
ELIANE POLITO_
BREVE REVISÃO HISTÓRICA
DEISE GUADALUPE DE LIMA
JOÃO RICARDO GABRIEL DE OLIVEIRA
ASPECTO EMPREENDEDOR APLICADO A PROGRAMAS DE GINÁSTICA LABORAL
Eixo 1 (24.99%)
ASPECTO EMPREENDEDOR COM PLANO DE NEGÓCIO E PLANO DE MARKETING
ASPECTO EMPREENDEDOR
ABORDADO
RICARDO ALVES MENDES E NEIVA LEITE
ELAINE CRISTINA BERGAMASCHI_
Os resultados obtidos neste estudo apontam para uma associação em
correspondência entre as abordagens focais dos autores Deise Guadalupe de
Lima e João Ricardo Gabriel de Oliveira, no que tange aos aspectos
empreendedores relacionados à ginástica laboral, contudo, evidenciou-se
também que a autora Deise Guadalupe enfoca preponderantemente atuação
do profissional e o autor João Ricardo Gabriel os programas de ginastica
laboral como um todo.
93
No mapa geográfico a seguir (grafico 2), observa-se a análise das
correspondências múltiplas, relacionando autores com o foco 1, neste mapa
exibe as posições das 11 categorias e as coordenadas das observações,
sendo que 44,44% da variância é explicada pelos eixos representados, as nãorespostas foram ignoradas e 3 categorias não foram consideradas, lembrando
que cada observação é representada por um ponto.
Gráfico 2 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e
suas abordagens focais
Eixo 2 (22.22%)
MONTAGEM DE EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS EM GINÁSTICA LABORAL
REVISÃO RELACIONADA A LER E DORT
JOÃO RICARDO GABRIEL DE OLIVEIRA
DEISE GUADALUPE DE LIMA
ABORADAGEM ERGONÔMICA COM UMA SÍNTESE HISTÓRICA
Eixo 1 (22.22%)
RICARDO ALVES MENDES E NEIVA LEITE
ELAINE CRISTINA BERGAMASCHI_
ELIANE POLITO_
AMPLA REVISÃO SOBRE VÁRIAS TEMÁTCAS
BASE CIENTÍFICA MAIS SÓLIDA
ASPECTOS DA SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA
No gráfico 2, observa-se que as obras analisadas têm uma correlação
lexical abordando a prestação de serviços com abordagem ergonômica, tendo
um distanciamento de eixo, mas matendo a estrutura lexical, o aspecto da
prestação de serviço em virtude da LER e DORT, na obra de João Ricardo. Os
autores Ricardo Alves, Neiva Mendes e Eliane Polito e Elaine Cristina se
relacionam com a abordagem voltada para saúde e o impacto científico mais
sólido.
A análise das correspondencias múltiplas, com as variáveis autores e
foco 2, o mapa 3 exibe as posições de 10 categorias e as coordenadas das 6
94
observações, em que 43,72% da variancia é explicada pelos dois eixos
representados, lembrando que as não-respostas foram ignoradas.
Gráfico 3 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e
suas abordagens focais
Eixo 2 (18.73%)
CALCULO DO VALOR DO SERVÇO
DEISE GUADALUPE DE LIMA
ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL, NUTRIÇÃO, YOGA, MASSAGEM E REEDEUCAÇÃO CORPORAL
ADOECIMENTO DO TRABALHADOR
ARGUMENTAÇÕES NA PROMOÇÃO DA SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA
Eixo 1 (24.99%)
PRINCIPAIS PATOLOGIAS
ELAINE CRISTINA BERGAMASCHI_
RICARDO ALVES MENDES E NEIVA LEITE
ELIANE POLITO_
JOÃO RICARDO GABRIEL DE OLIVEIRA
Nesta análise, observa-se que três autores se correlacionam quanto a
abordagem ligada à promoção da saúde, havendo um distanciamento entre os
autores João Ricardo e Deise Guadalupe, por outro lado, estes autores se
alinham em termos de abordagem, no que tange aos aspectos comercais do
programa Ginástica Laboral e atividade física na Empresa.
A análise das correspondencias múltiplas, relacionando os autores e o
foco 3, exibe as posições das 11 categorias e as coordenadas das 6
observações, em que 44,44% da variancia é explicada pelos eixos
representados, cada observação é representada por um ponto.
95
Gráfico 4 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e
suas abordagens focais
Eixo 2 (22.22%)
BASE TEÓRICA DO COMPORTAMENTO SAUDÁVEL E ATITUDES SAUDÁVEIS NO TRABALHO
DEISE GUADALUPE DE LIMA
ELAINE CRISTINA BERGAMASCHI_
PRINCIPAIS PATOLOGIAS
ELIANE POLITO_
ELEMENTOS DE FORMAÇÃO DE PREÇOS
Eixo 1 (22.22%)
PROCEDIMENTOS ALTERNATIVOS E SUGESTIVOS PARA IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMAS DE GINÁSTICA LABORAL
APONTAMENTOS RELATIVOS AO TRATAMENTO E ESTATÍSTICA DAS INTERVENÇÕES
RICARDO ALVES MENDES E NEIVA LEITE
JOÃO RICARDO GABRIEL DE OLIVEIRA
COMPREENSÃO COMERCIAL DO PRODUTO GINÁSTICA LABORAL
A Análise das correspondências múltiplas com as variáveis autores e
foco 4 permite exibir as posições das 10 categorias e as coordenadas das 6
observações. Em que 50.00% da variância é explicada pelos dois eixos
representados. As não-respostas foram ignoradas. 3 categorias não foram
consideradas (frequência nula). Cada observação é representada por um
ponto.
96
Gráfico 5 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e
suas abordagens focais
Eixo 2 (25.00%)
ASPECTO EMPREENDEDOR EM DESTAQUE
ELAINE CRISTINA BERGAMASCHI_
DEISE GUADALUPE DE LIMA
IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMAS DE GINÁSTICA LABORAL
Eixo 1 (25.00%)
CUSTOS E DESPESAS FIXAS E CUSTOS DO SERVIÇO
ABORADAGEM ERGONÔMICA
JOÃO RICARDO GABRIEL DE OLIVEIRA
RICARDO ALVES MENDES E NEIVA LEITE
PROPÕE ÁREAS DE ATUAÇÃO COMO GINÁSTICA LABORAL ESCOLAR E RECREAÇÃO OCUPACIONAL
ELIANE POLITO_
97
Análise das correspondências múltiplas no gráfico 6 apresenta as
variáveis autores e foco 5, na qual o mapa exibe as posições das 9 categorias
e as coordenadas das 5 observações. 42.83% da variância é explicada pelos
dois eixos representados. As não-respostas foram ignoradas. 4 categorias não
foram consideradas (frequência nula). Cada observação é representada por um
ponto.
Gráfico 6 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e
suas abordagens focais
Eixo 2 (14.26%)
PLANOS DE NEGÓCIO E PLANO DE MARKETING
JOÃO RICARDO GABRIEL DE OLIVEIRA
RICARDO ALVES MENDES E NEIVA LEITE
APONTA BENEFÍCIOS EMPRESARIAIS COM O PORGRAMA
ASPECTO EMPREENDEDOR COM EXEMPLOS DE PROJETOS DE IMPLANTAÇÃO E DIAGNÓSTICO
DEISE GUADALUPE DE LIMA
Eixo 1 (28.57%)
ELIANE POLITO_
ASPECTOS EMPREENDEDORES NA FORMAÇÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS DE GINÁSTICA LABORAL
FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA
Neste gráfico também se observa a tendência da aplicação da
ginástica laboral com o viés empreendedor, situando os aspectos na formação
de preços, projetos de implantação, benefícios empresariais e planejamento de
marketing.
Nos Gráficos 7 e 8 as análises das correspondências múltiplas adotam
as variáveis autores, nota 1 e nota 3. O mapa exibe as posições das 10
98
categorias e as coordenadas das 6 observações. 37.48% da variância é
explicada pelos dois eixos representados no gráfico 7 e 0,0% no gráfico 8. As
não-respostas foram ignoradas. 3 categorias não foram consideradas
(frequência nula), para o mapa 7 e 5 categorias não foram consideradas para o
mapa 8. Cada observação é representada por um ponto.
Gráfico 7 – Mapa fatorial de coorespondencia entre os autores das obras
e suas abordagens focais
Eixo 2 (24.99%)
REVISÃO DE LITERATURA SUPERFICIAL
JOÃO RICARDO GABRIEL DE OLIVEIRA
NENHUM APROFUNDAMENTO TEÓRICO SOBRE GINÁSTICA LABORAL
ABORDAGEM PRÁTICA COM VIÉS ERGONÔMICO
DEISE GUADALUPE DE LIMA
Eixo 1 (12.49%)
ABORDAGEM PRÁTICA
ELIANE POLITO_
ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL
RICARDO ALVES MENDES E NEIVA LEITE
ELAINE CRISTINA BERGAMASCHI_
99
Gráfico 8 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e
suas abordagens focais
Eixo 2 (0.00%)
ELAINE CRISTINA BERGAMASCHI_
ELIANE POLITO_
ELAINE CRISTINA BERGAMASCHI_
ELIANE POLITO_
VALQUÍRIA DE LIMA
RICARDO ALVES MENDES E NEIVA LEITE
Eixo 1 (0.00%)
PROMOÇÃO NA SAÚDE DO TRABALHADOR
PROMOÇÃO NA SAÚDE DO TRABALHADOR
ESTRUTURAÇÃO DE PROGRAMAS COM ABORDAGEM ERGONÔMICA
PROPOSTA DE ATUAÇÃO EM TEMÁTICAS POUCO EXPLORADAS NO CAMPO CIENTÍFICO
ESTRUTURAÇÃO DE PROGRAMAS COM ABORDAGEM ERGONÔMICA
Não resposta
PROPOSTA DE ATUAÇÃO EM TEMÁTICAS POUCO EXPLORADAS NO CAMPO CIENTÍFICO
Os resultados representam a caracterização da ginástica Laboral no
final da década de 90 e início do século 21 como um negócio, diante da
demanda apresentada pelas empresas para oferecer condições de melhoria e
manutenção da saúde conforme vários estudos apontaram para necessidade
de políticas para melhoria da qualidade de vida e hábitos saudáveis (Descaino
& Lunardelli, 2007; Martinez & Latorre, 2008; Ruiz-Frutos et al., 2007;
Trierweiler & Silva, 2007; Vasconcelos, 2001;
Casas & Klijn, 2006; Lipp &
Tanganelli, 2002; Shimazu et al., 2003; Gitanjali & Ananth, 2003; Oliveira et al.,
1997; Borges, 2001; Moretti, 2010).
Esses resultados se coadunam com a trajetória histórica indicada por
Dacosta (1990) em que o desenvolvimento histórico da ginástica laboral e
100
atividade física na empresa foi estruturado por surtos iniciando com uma
característica sócio-política-filosófica atrelada às atividades físicas de lazer e
esporte nas empresas brasileiras, já a autora Elaine Cristina centra suas ideias
nos aspectos empreendedores ligados a planos de negócios e planos de
marketing, em que aparentemente se torna este espaço de atuação como um
nicho de mercado. Contudo, os resultados apontados estão afinados com o
levantamento de Fonseca (2006) em que os estudos de Ginástica Laboral
estão agregados às ideias organizacionais e sociais, retomando, então, o viés
sócio-político-filosófico em que se desenvolveu a temática nos anos 70.
Gráfico 9 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e
sua abordagem no foco 1
Eix o 2 (0 .00 %)
GL ve m pas sa ndo por uma f as e de c res cime nto ca da ve z ma is e vidente em todo o país
A VISÃ O DA S EMPR ESAS GAÚ CH AS SOB RE AS A TIVID AD ES FÍSIC O- DESPOR TIVAS N A EMPR ESA
A G IN ÁSTIC A LA BO RAL E A IMPOR TÂ NC IA DA A TIVID AD E FÍSICA PAR A OS TR ABA LH AD ORES
impac t os prov enient e da gl na sa úde do t rabalhador
Para rea liza r uma int erve nçã o no ambie nt e de t rabalho é ne ce ss ário c onhe c er e rec onhe ce r a sua c ent ra lida de na s organiza çõe s soc ia is moderna s e cont e mporânea s
DIMEN SÕES D A QU ALIDAD E D E VID A NO LO CAL DE TRA BA LHO : PER SPECTIVA ECOLÓG ICA PARA A INTEG RAÇ ÃO D E FATORES PESSOAIS, A MB IENTAIS E OR GA NIZA CION AIS
c ompree ns ão do socia l nã o pe rma ne ce a me s ma qua ndo a ela se junt a o ima ginário
Efe itos da G iná st ica La bora l na Qua lida de de Vida de Tra ba lha dore s
EFETIVID AD E DA GINÁ STICA LABO RA L
implanta çã o de um progra ma de G L junt o à s e mpre sa s
GIN ÁSTICA LA BOR AL E CO NTROLE D A AN SIEDAD E EM TELEFONISTA S
A giná st ica laboral ( GL) t e m sido a dota da por empres as que pos suem um progra ma de qualidade de vida no t rabalho ( QVT)
import ância do Prof iss ional de Educa çã o Físic a
GIN ÁSTICA LA BOR AL E PR OMOÇÃ O DA SA ÚDE COMO EXTEN SÃ O UN IVERSITÁR IA : A EXPERIÊNCIA D A UFSCAR
his t órico da Giná st ic a La boral
TRAJ ETÓR IA DO S ESTUDO S SOBR E G IN ÁSTIC A LA BO RAL
Ginás t ic a Labora l ( PGL) pode a pres e nt ar- se como um dos programas que c ompõem opções volt a da s para melhorar a Q ua lida de de Vida ( QV) e Q ua lida de de Vida no Tra ba lho ( QVT)
rela to his tóric o de progra ma de condiciona me nt o f ísic o e m tra ba lha dore s
UM PA NOR AMA DA G INÁSTIC A LA BO RAL NO B RA SIL
Eix o 1 (4 .99 %)
profis siona l da Educ aç ão Fís ic a um s ta t us oc upac ional ma is de um ex ec utor do que o de um pe ns a dor, e m f unçã o do c arát e r e mine nt e me nt e prát ico de s ua at uaç ão
a tiv ida de s des envolvidas pe lo Programa de G inás t ica La bora l
GIN ÁSTICA LA BOR AL N A ESC OLA : Progra ma de Promoç ão de Sa úde
GIN ÁSTICA LA BOR AL IN TEGR ADA E BIO MECÂN ICA O CUPAC IO NA L
O indiv íduo pre cis a s er educ ado para a dot ar um es tilo de v ida sa udáv el des de a e sc ola
GIN ÁSTICA LA BOR AL: rela to de uma prá t ic a Fundame nta da
GIN ÁSTICA LA BOR AL N O RIO GRA NDE DO SUL
Ginás t ic a Labora l Int egra da e B iome câ nic a O cupa ciona l
inc remento na inc idê nc ia da s doe nç a s do t ra ba lho, como a s le sões por e sf orç o re pe tit ivo (LER ) e dis túrbios os t eomusc ula re s re la ciona dos a o t rabalho ( DO RT)
PERSPECTIVA DE MER CA DO D E TR AB ALHO EM GIN ÁSTICA LAB OR AL
PROG RAMA D E GIN ÁSTICA LAB OR AL ( GL) : ETA PA S DE IMPLAN TA ÇÃ O
inf luê ncia da a t iv ida de fís ica no cont role dos nív eis de a nsieda de -e st a do em mulheres t ra ba lha dores
QU ALIDAD E D E VID A NO TRA BA LH O
c onhe cime nto no âmbit o da sa úde do t rabalhador
Re f le x õe s s obre a Educa çã o Físic a e o mundo do Tra ba lho
O PRO FISSION AL D E EDU CAÇ ÃO FÍSICA E SUA A TU AÇÃ O NA GINÁ STICA LAB ORA L
e fe itos da giná st ica laboral na s aúde dos t ra balha dores
múltiplas dime nsões da qualida de de vida e da s aúde dos t rabalhadore s
O B ER ÇO D A GINÁ STICA LAB ORA L N O BR ASIL: A EXPERIÊNCIA DO C EN TRO UNIVER SITÁRIO FEEVALE
gra u de c onhe cimento dos ges t ores empres a ria is ac erc a do papel que a s a t iv ida de s f ísic as
INFOR MAÇ ÕES PROVEN IEN TES DE UM PRO GR AMA DE G INÁSTIC A LA BO RAL NA PRO MO ÇÃO DA Q UALIDA DE D E VID A DO TR ABA LH AD OR E DE SUA C OMUNID ADE
A G iná st ica La bora l no Comba t e a o Sedenta rismo
Ginás t ic a Labora l: B re ve re t rospec t iva e t endê nc ias pa ra o c urso de Educ a çã o Fís ica da Univ ers ida de Fe de ra l de Viç os a
No Gráfico 9, foi realizada a verificação das correlações entre os títulos
e o foco 1, dado pelo autor, nas análises dos textos estudados, indicando que
as associações entre as variáveis não mostrou nenhuma novidade ou
pensamento inovador.
101
Gráfico 10 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras
e sua abordagem no foco 2
Eixo 2 (0.00%)
GL representa uma fatia do mercado de trabalho em ascendência e expansão
implantação da Ginástica Laboral nas empresas
A GINÁSTICA LABORAL E A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA PARA OS TRABALHADORES
profissionais despreparados para enfrentar toda a diversidade de situações que ocorrem durante a intervenção nesse segmento
A VISÃO DAS EMP RESAS GAÚCHAS SOBRE AS ATIV IDADES FÍS ICO-DESPORTIVAS NA EMPRESA
qualidade de vida sócio-ambiental contém o pensamento de or dem que resume uma am bição civilizacional
Efeitos da Ginástica Laboral na Qualidade de Vida de Trabalhadores
EFETIV IDADE DA GINÁSTICA LABORAL
etapas adotadas para implantar e desenvolver um programa de ginástica laboral (GL)
GINÁS TICA LABORAL E CONTROLE DA ANSIEDADE E M TELEFONISTAS
ações praticadas pelas empresas nos program as de QVT
GINÁS TICA LABORAL INTEGRADA E BIOMECÂNICA OCUPACIONAL
GINÁS TICA LABORAL NA ESCOLA: Programa de Prom oção de Saúde
viés em preendedor
GINÁS TICA LABORAL NO RIO GRANDE DO SUL
GINÁS TICA LABORAL E PROMOÇÃO DA S AÚDE COMO EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: A EX PERIÊNCIA DA UFSCAR
Ginástica Laboral conceitos e benefícios
GINÁS TICA LABORAL: relato de uma prática Fundamentada
difusão de ensinamentos pelo trabalhador esteve associada à carga de trabalho e aderência semanal à GL
Ginástica Laboral: Breve retrospectiva e tendências para o curso de Educação Física da Universidade Federal de V içosa
Eixo 1 (5.00%)
prepar ação profissional espelham em sua grade curricular a ênfase dada às disciplinas orientadas para as atividades em comparação às de abordagens teóricas
qualidade de vida e Ginástica Labor al
INFORMAÇÕES PROVENIENTE S DE UM P ROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL NA PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR E DE SUA COMUNIDADE
O estilo de vida adotado pela população potencializou o aumento de doenças hipocinéticas em todas as faixas etárias, atingindo na escola tanto os escolares, como os professores e os funcionários
estabelecer condutas éticas da interação profissional como também das diretrizes de intervenção na área da saúde ocupacional
O BERÇO DA GINÁSTICA LABORAL NO BRASIL: A EXP ERIÊNCIA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO FEEVALE
O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA ATUAÇÃO NA GINÁSTICA LABORAL
registr os da prática da Ginástica Laboral
PERS PECTIVA DE MERCADO DE TRABALHO EM GINÁSTICA LABORAL
PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL (GL): ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO
GL realizado em em presas sobre os níveis de ansiedade-estado tanto no am biente de trabalho quanto no dia-a-dia de mulheres trabalhadoras
Reflexões sobre a E ducação Física e o mundo do Trabalho
QUALIDADE DE V IDA NO TRABALHO
sessões de GL são efetivas em promover mudanças nos estágios de prontidão e se os funcionários atendem as recomendações do CDC
TRAJE TÓRIA DOS ESTUDOS S OBRE GINÁSTICA LABORAL
UM PANORAMA DA GINÁSTICA LABORAL NO BRASIL
atividade física pode contribuir par a melhora na saúde de trabalhadores em diversos setores
ginástica laboral com o objeto de investigação sob múltiplas abordagens no Curso de Educação Física
interação entre as pessoas, o ambiente e a sociedade
empresas que incentivavam a prática de atividades físicas para seus colaboradores o faziam em função dos aspectos socializadores e integrativos da prática
A Ginástica Laboral no contexto pr eventivo às LE R/DORT
DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA NO LOCAL DE TRABALHO: PERSPECTIVA ECOLÓGICA PARA A INTEGRAÇÃO DE FATORES PESS OAIS, AMBIE NTAIS E ORGANIZACIONAIS
O Gráfico 10 também apresenta uma formatação semelhante ao
gráfico anterior, porém com análise relacionando as variáveis títulos e foco 2 de
interpretação da pesquisa.
102
Gráfico 11 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras
e sua abordagem no foco 3
Eix o 2 (0 .00 %)
e nfoq u e e rg on ômico emba sa nd o o pr og r ama d e GL na empr es a
A G IN ÁSTIC A LA BO RAL E A IMPO RTÂNC IA DA ATIVIDA DE FÍSICA PA RA O S TRAB ALHA DOR ES
A VISÃ O DA S EMPRESAS GA ÚCH AS SO BRE AS ATIVIDA DES FÍSICO- D ESPO RTIVAS NA EMPRESA
c on he cimen to s n a á r ea de En ge nh ar ia d e Pro d uç ão
Efe itos da G iná st ica La boral na Qualida de de Vida de Tra balha dores
EFETIVID AD E DA GINÁ STICA LAB ORA L
o rg an iza çã o d e p es qu isa d or es foc ad os em e s tu d os d ir ig ido s à qu alid ad e d e v id a e qu alid ad e d e v id a n o tr ab a lh o
GIN ÁSTICA LA BOR AL E CO NTROLE D A AN SIEDA DE EM TELEFON ISTAS
imp lan taç ão da gin ás tic a la bo ra l é a lte r na tiv a p ar a o r es ga te d a u nião do tra ba lho co m o la z er .
GIN ÁSTICA LA BOR AL IN TEGR ADA E B IO MECÂ NICA O CU PA CION AL
GIN ÁSTICA LA BOR AL NA ESC OLA: Programa de Promoçã o de Saúde
c re sc ime nto p a ra a GL a s er ex p lo r ad o p elo s p ro fiss io n ais d a á r ea n a s mic ro e p eq ue n as emp r es as
GIN ÁSTICA LA BOR AL E PROMOÇÃ O D A SA ÚD E CO MO EXTENSÃ O U NIVERSITÁ RIA: A EXPER IÊNC IA DA UFSCA R
c on he cimen to s e s pe cífico s e in teg r an do - se c o m ou tra s á r ea s q ue co mp õe m a d inâ mic a d a g in á stica lab or al
r ela to s d e G L n a FEEVALE
e stud o s o br e a de r ên cia a pr o gr ama g l
A g iná stic a lab o ra l es tu d ad a a tu a n a p r ev en çã o e no co mb ate a o e str e ss e
inte ra ç ão en tr e un ive rs ida de e c omun ida de
Eix o 1 (5 .26 %)
g in ás tica no lo c al de tra ba lho co mo fo r ma pr ev en tiva e ter a pê utic a po r me io de ex er c íc ios
GIN ÁSTICA LA BOR AL NO R IO GRA ND E DO SU L
GIN ÁSTICA LA BOR AL: re la t o de uma prát ica Fundament ada
O p ro g ra ma de GL p od e s e r imp lan tad o e m ins titu içõ es de en sin o, c omo for ma de pr e ve nç ão e p ro mo çã o d e s aú d e no ambie nte es co lar
INFOR MAÇ ÕES PROVENIEN TES D E UM PR OGR AMA DE GINÁ STICA LAB ORA L N A PR OMOÇÃ O DA QUA LID ADE DE VIDA DO TRA BALHA DO R E D E SUA C OMU NIDA DE
for ma ç ão de r e cu r so s h uman os
O B ER ÇO D A GIN ÁSTICA LAB OR AL N O BR ASIL: A EXPER IÊNC IA DO CEN TR O UN IVERSITÁ RIO FEEVA LE
O PRO FISSION AL DE EDU CAÇ ÃO FÍSIC A E SUA ATU AÇ ÃO N A GIN ÁSTICA LA BOR AL
g in ás tica La bo r al e p ro mo ç ão d a s aú d e c omo ex ten sã o u n iv er s itá r ia
PERSPEC TIVA DE MER CA DO D E TRAB ALHO EM G IN ÁSTIC A LA BO RAL
PROG RA MA D E GIN ÁSTICA LA BOR AL (G L) : ETAPA S D E IMPLA NTAÇ ÃO
c on sid er ad a u m mec an ismo me dia do r d o e str e ss e d o tr ab alh o me smo q ua nd o h á u ma du pla jo r na da oc up ac ion a l, c as o c omum e ntr e a s mulh er e s tra b alha d or as
TRAJ ETÓR IA DO S ESTUD OS SOB RE G INÁSTIC A LABO RA L
QU ALIDAD E D E VID A NO TR ABA LH O
Gin ás tica La bo ra l é u ma a tivid ad e físic a n a q ua l a p re se nta co nd içõ es de po de r c o ntr ib u ir n a me lho ra do es tad o p sic oló gic o d os pr atic an tes
UM PA NOR AMA DA G INÁ STIC A LABO RA L NO BRA SIL
inte rfe r ên cia d e tr ê s me se s d e g l na q u alida de de vid a d e fu nc io n ár ios em u ma ind ús tria me ta lúr g ic a
Ginás t ic a Labora l: B re ve ret ros pe ct iva e t endê ncias pa ra o c urs o de Educa çã o Físic a da Unive rsidade Federa l de Viçosa
q ua lid ad e d e v ida no lo c al de tra ba lho
DIMEN SÕ ES D A Q UALIDA DE D E VID A N O LO CA L DE TR ABA LH O: PERSPECTIVA ECO LÓ GICA PA RA A IN TEGR AÇÃ O DE FA TO RES PESSO AIS, A MBIENTAIS E OR GAN IZA CION AIS
mo da lida de s d e a tivida d es fís ica s a do tad as ca ra c te r iz a va m- se po r jo go s e sp or tivo s c ompe titiv os atr av é s de co mp etiç õe s e xte rn as ( to r ne ios e c amp e on ato s) e jog o s e sp or tivo s r ec r ea tiv os
Gin ás tica La bo ra l pa ra a Aptid ão Físic a R ela cio na da à Saú de
O Gráfico 11 apresenta uma configuração semelhante aos anteriores,
porém com uma sutil variação dos elementos em análise e correlacionados. A
correlação entre as variáveis títulos e foco 3 aponta que, apesar de apresentar
uma sutil variância, porém, não significativa, a produção textual da ginástica
laboral e atividade física na empresa no Brasil estão dentro de um molde
textual que não foi modificado e não apresenta uma inovação no pensamento
desta área, culminando na estagnação da retórica sobre a temática.
103
Gráfico 12 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras
e sua abordagem no foco
4
E ixo 2 (0.00% )
emprego eficaz na prevenção das chamadas doenças ocupacionais
A GIN ÁS TICA LA B OR AL E A IMP OR TÂ NC IA DA A TIV IDA DE FÍS IC A P AR A OS TRA BA LH AD OR E S
A V IS ÃO DA S EMP RE SA S GAÚ CH A S SOB RE A S A TIV ID AD E S FÍS ICO-D ES P OR TIV A S NA E MPR ES A
padronizaç ão dos exercícios para todos os postos de trabalho
D IMEN SÕE S DA QU ALIDA D E DE V IDA N O LOCA L D E TR AB A LHO: P ER SP EC TIVA E C OLÓGIC A PA RA A IN TEGR AÇ ÃO DE FA TORE S PE S SOAIS , AMBIEN TA IS E OR GA NIZA CION A IS
E FETIVID AD E DA GINÁ STIC A LAB ORA L
Gestão de Pessoas e Qualidade de Vida no A mbiente P rodutivo, Trabalho e Lazer
GIN ÁS TIC A LA BOR AL E C ON TROLE D A AN S IE DA D E EM TE LE FON IS TA S
GIN ÁS TIC A LA BOR AL E P ROMOÇÃ O D A S AÚ DE C OMO E XTEN SÃ O U NIVE R SITÁR IA : A E XP E RIÊN CIA D A UFSC AR
implantação da GL foram às melhorias da qualidade de vida, bem-estar geral e s aúde, diminuições da fadiga muscular, estresse e fadiga mental, bem como, maior integração com os colegas de trabalho
GIN ÁS TIC A LA BOR AL NO RIO GR A ND E DO SU L
GIN ÁS TIC A LA BOR AL IN TE GR AD A E B IOMEC ÂN IC A OCU PA C IONA L
conscientização dos empresários de sua viabilidade e benefícios alcançados tanto para a empresa quanto para os seus funcionários.
diferencial do P rofis sional de E ducação Física atuando nas aulas de Ginástica Laboral
informações provenientes de um PGL, advindas de informaç ões semanais para a promoção da QV e de conversas informais com o professor de GL, é eficaz à prevenção aos DOR T para os trabalhadores que participavam das aulas, comparados aos trabalhadores que não
E ixo 1 (7.14% )
conteúdos necessários à aplic ação da Ginástica Laboral
Modelos de aplicações de GL em empresas
P ER SP E CTIVA D E MER C AD O DE TRA BA LH O EM GINÁ STIC A LAB ORA L
Ginástica Laboral, C orreção Funcional e Promoção da Saúde
O P ROFIS S IONA L DE E DU C AÇ ÃO FÍS IC A E S UA A TU AÇ ÃO NA GIN Á STICA LAB OR A L
P ROGR A MA D E GIN ÁS TIC A LA BOR AL (GL): ETA PA S D E IMP LAN TAÇ Ã O
benefícios psicofisiológicos apresentados, a maioria das trabalhadoras (mesmos as não participantes) consideraram que houve melhoria do ambiente profissional
QUA LID A DE D E V ID A NO TRA BA LH O
TR AJE TÓRIA DOS E STU D OS S OB R E GINÁ S TIC A LA BORA L
poucos estudos verificam as respostas fisiológicas durante ou após as aulas de Ginástica Laboral
U M PA NOR AMA D A GINÁ S TIC A LA BORA L NO B RA S IL
programas baseados numa perspectiva ecológica que considera os amplos aspectos que compõem a qualidade de vida das pess oas
Os horários que se valiam os funcionários para a prática das atividades físicas situavam-s e preferencialmente no período vespertino (após o horário de trabalho) e nos fins de semana
melhorar variáveis c omo força muscular e flexibilidade, nível de atividade física e o nível de satisfação dos funcionários para com a empresa
INFORMA ÇÕES P R OV EN IEN TES D E U M P ROGR AMA D E GIN ÁS TIC A LA BOR AL NA P R OMOÇ Ã O DA QU ALIDA D E DE V IDA D O TR AB ALH A DOR E D E SU A C OMUN IDA DE
Da análise do Gráfico 12, é possível constatar que, para a totalidade
das correlações entre as variáveis títulos das obras e foco 4, para cada um dos
itens, as diferenças registradas entre os grupos não tiveram diferenças
estatísticas significativas. Na comparação dos elementos, a dependência não é
significativa entre os significados e que todos têm uma associação entre as
variáveis, no entanto, não houve nenhuma novidade entre os aspectos
analisados.
104
Gráfico 13 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras
e sua abordagem no foco 5
Eixo 2 (0.00%)
não se pode implantar a Ginástica Laboral sem estar trabalhando com a Abordagem Ergonômica.
grupo de pesquisa está trabalha na elaboração de um instrumento de pesquisa que visa à leitura da qualidade de vida, sobretudo do trabalhador, e toma como base as estruturas de tempo e ocupações
DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA NO LOCAL DE TRABALHO: PERSPECTIVA ECOLÓGICA PARA A INTEGRAÇÃO DE FATORES PESSOAIS, AMBIENTAIS E ORGANIZACIONAIS
PPST/PGL pode ser capaz de repercutir positivamente na QVT do trabalhador
GINÁSTICA LABORAL INTEGRADA E BIOMECÂNICA OCUPACIONAL
QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
Eixo 1 (20.00%)
EFETIVIDADE DA GINÁSTICA LABORAL
TRAJETÓRIA DOS ESTUDOS SOBRE GINÁSTICA LABORAL
atividade física no local de trabalho, aliada à ergonomia e à biomecânica ocupacional
INFORMAÇÕES PROVENIENTES DE UM PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL NA PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR E DE SUA COMUNIDADE
Ginástica Laboral combate as DORTs, porém são necessários instrumentos eficientes para avaliação dos funcionários
avaliar os Domínios Físico, Psicológico, Social e do Ambiente relacionados com a saúde e a qualidade de vida de uma população de trabalhadores no seu local de trabalho
No Gráfico 13, é apresentada a correlação entre os títulos analisados e
o foco 5. As variáveis em observação não apresentaram uma dependência
significante, entretanto, todos os aspectos à esquerda estão relacionados ao
quadrante inferior do mapa, assim como, todos os aspectos posicionados à
direita estão relacionados aos aspectos do quadrante superior. Todas as
construções léxicas estão correlacionadas e descorrelacionadas, indicando a
estagnação do pensamento e da produção de conhecimento sobre o tema
estudado.
105
Gráfico 14 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras
e sua abordagem na nota 1
Eix o 2 (0 .00 %)
a pr es en ata çã o d o p an or a ma d a g iná stic a lab o ra l
A G IN ÁSTIC A LA BO RAL E A IMPOR TÂ NC IA DA A TIVID AD E FÍSICA PAR A OS TR ABA LH AD ORES
A VISÃ O DA S EMPR ESAS GAÚ CH AS SOB RE AS A TIVID AD ES FÍSIC O- DESPOR TIVAS N A EMPR ESA
r ela to da tra jetó ria pr ofis sio na l d o a uto r e gin ás tic a la bo ra l
Efe itos da G iná st ica La bora l na Qua lida de de Vida de Tra ba lha dore s
GIN ÁSTICA LA BOR AL E CO NTROLE D A AN SIEDAD E EM TELEFONISTA S
p re pa r aç ão do pr ofis sion a l d e Edu ca çã o Físic a p ar a a tua r n o lo ca l d e tr ab alh o
EFETIVID AD E DA GINÁ STICA LABO RA L
e xp os içã o d o n ov o c on te x to do mu nd o d o tr ab alh o
Ginás t ic a Labora l: B re ve re t rospec t iva e t endê nc ias pa ra o c urso de Educ a çã o Fís ica da Univ ers ida de Fe de ra l de Viç os a
GL co mo pr od u to de ve nd a
GIN ÁSTICA LA BOR AL IN TEGR ADA E BIO MECÂN ICA O CUPAC IO NA L
GIN ÁSTICA LA BOR AL N A ESC OLA : Progra ma de Promoç ão de Sa úde
foc o n a g iná stic a lab or a l e nq ua n to pr o du to
a rg umen tos so br e b en efíc ios d a g iná stic a lab o ra l
GIN ÁSTICA LA BOR AL E PR OMOÇÃ O DA SA ÚDE COMO EXTEN SÃ O UN IVERSITÁR IA : A EXPERIÊNCIA D A UFSCAR
r ela to his tór ico da gin ás tic a la bo ra l no Br as il
QU ALIDAD E D E VID A NO TRA BA LH O
Re f le x õe s s obre a Educa çã o Físic a e o mundo do Tra ba lho
c or re laç ão en tr e gin ás tica la bo r al e q ua lida de de vid a
UM PA NOR AMA DA G INÁSTIC A LA BO RAL NO B RA SIL
TRAJ ETÓR IA DO S ESTUDO S SOBR E G IN ÁSTIC A LA BO RAL
r ela to his tór ico da gin ás tic a la bo ra l
Eix o 1 (5 .00 %)
r ela to de pr á tic a u niv er sitá ria em g iná stic a lab o ra l
r ela to s d e a plic aç õe s d e G in ás tica La bo ra l
PERSPECTIVA DE MER CA DO D E TR AB ALHO EM GIN ÁSTICA LAB OR AL
PROG RAMA D E GIN ÁSTICA LAB OR AL ( GL) : ETA PA S DE IMPLAN TA ÇÃ O
p ro po sta de impla nta çã o d e g in á stica lab or al e m ambie nte es co lar
GIN ÁSTICA LA BOR AL: rela to de uma prá t ic a Fundame nta da
GIN ÁSTICA LA BOR AL N O RIO GRA NDE DO SUL
for ma ç ão d e p r ofiss ion ais
INFOR MAÇ ÕES PROVEN IEN TES DE UM PRO GR AMA DE G INÁSTIC A LA BO RAL NA PRO MO ÇÃO DA Q UALIDA DE D E VID A DO TR ABA LH AD OR E DE SUA C OMUNID ADE
r ela to de pr o gr ama d e e xtn sã o u nive r sitár ia e m g iná stica La bo r al
influ ên cia s d e v ar iáv eis p s ic ofis iológ ica s n a s aú de do tra ba lha do r
O B ER ÇO D A GINÁ STICA LAB ORA L N O BR ASIL: A EXPERIÊNCIA DO C EN TRO UNIVER SITÁRIO FEEVALE
a rg umen taç ão pa ra efe tiv ida de da gin ás tic a la bo r al
O PRO FISSION AL D E EDU CAÇ ÃO FÍSICA E SUA A TU AÇÃ O NA GINÁ STICA LAB ORA L
r ela to de pe sq u is a c ien tífic a e b e ne fíc ios da gin ás tic a L ab or a l
Ava lia çã o d e v ar iav e is ps ico lóg ica s e s oc iais a p ar tr d e e stu do s q ua lita tiv o s
o s r es ultad o s d a pe s qu is a mos tra r am a gin ás tica la bo r al er a d e sc on he cid a p ar a muitos empr e sá rio s
e stud o r e la c io n an do ativid ad e físic a e Giná stic a L ab or al
DIMEN SÕES D A QU ALIDAD E D E VID A NO LO CAL DE TRA BA LHO : PER SPECTIVA ECOLÓG ICA PARA A INTEG RAÇ ÃO D E FATORES PESSOAIS, A MB IENTAIS E OR GA NIZA CION AIS
No cruzamento dos títulos e notas emitidas pelo pesquisador, retomase a 100% de associação entre as variáveis indicando, conforme mostrado no
gráfico 14, que não houve nenhuma novidade ou novo conhecimento na
trajetória da construção léxica da ginástica laboral e atividade física na
empresa. O gráfico representa o mapa geográfico capaz de apontar alta
precisão na informação da correlação dos títulos e nota 1 analisada.
106
Gráfico 15 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras
e sua abordagem na nota 2
Eixo 2 (0.00%)
argumento da ginástica laboral pautado na ergonomia
A GINÁSTICA LABORAL E A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA PARA OS TRABALHADORES
A VISÃO DAS EMPRESAS GAÚCHAS SOBRE AS ATIVIDADES FÍSICO-DESPORTIVAS NA EMPRESA
base científica para implantação da ginástica laboral há a melhora da qualidade de vida na organização empresarial
A organização curricular dos cursos de Educação Física não apresenta todos os conteúdos específicos relacionados ao mundo do trabalho
GINÁSTICA LABORAL E PROMOÇÃO DA SAÚDE COMO EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: A EXPERIÊNCIA DA UFSCAR
GINÁSTICA LABORAL INTEGRADA E BIOMECÂNICA OCUPACIONAL
caracterização do mundo tecnológico e novo perfil de trabalhador
GINÁSTICA LABORAL NO RIO GRANDE DO SUL
GINÁSTICA LABORAL NA ESCOLA: Pr ogr ama de Pr om oção de Saúde
proposta de implementação de um programa de atividade física no ambiente do trabalho
expansão de mercado e ocupação de nicho mercadológico
GINÁSTICA LABORAL: r elato de um a pr ática Fundamentada
importância do profissional de educação física na ginástica laboral
INFORMAÇÕES PROVENIENTES DE UM PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL NA PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR E DE SUA COMUNIDADE
pesquisa em ginástica laboral com perfil multidisciplinar
O BERÇO DA GINÁSTICA LABORAL NO BRASIL: A EXPERIÊNCIA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO FEEVALE
O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA ATUAÇÃO NA GINÁSTICA LABORAL
eliminação de tarefa única, através de rotação de tarefas_
Ginástica Labor al: Breve r etrospectiva e tendências para o curso de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa
Eixo 1 (5.26%)
EFETIVIDADE DA GINÁSTICA LABORAL
GINÁSTICA LABORAL E CONTROLE DA ANSIEDADE EM TELEFONISTAS
estratégia de prevenção destas lesões deve estar ligada a vários fatores: mudanças da organização do trabalho_
PERSPECTIVA DE MERCADO DE TRABALHO EM GINÁSTICA LABORAL
PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL (GL): ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO
argumentação pautada nos benefícios a saúde
proposta curricular de ginástica laboral para ensino superior
melhorias dos locais de trabalho e das condições ergonômicas_
Reflexões sobre a Educação Física e o mundo do Trabalho
TRAJETÓRIA DOS ESTUDOS SOBRE GINÁSTICA LABORAL
QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
relação de programas de atividade física e redução da aniedade
ginástica laboral como ferramenta de aprendizagem a extensão universitária
UM PANORAMA DA GINÁSTICA LABORAL NO BRASIL
apontamentos para implantação de programa curricular em educação física
correlação entre prática da ginástica laboral e evidências científicas
corelação entre programas de ginástica e saude e capacidade para o trabalho
o valor das pausas de compensação durante o trabalho ou mesmo os diferentes tipos de ginástica de compensação revelou sérias e preocupantes deficiências na concepção acerca dos benefícios das atividades físicas no ambiente de trabalho
relação entre dores e Ginástica Laboral
DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA NO LOCAL DE TRABALHO: PERSPECTIVA ECOLÓGICA PARA A INTEGRAÇÃO DE FATORES PESSOAIS, AMBIENTAIS E ORGANIZACIONAIS
107
Gráfico 16 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras
e sua abordagem na nota 3
Eixo 2 (0.00%)
apresentação de caminhos para ginástica laboral como meio de empreender para o mercado e enquanto produto
argumentação para ginástica laboral enquanto tema na engenharia de produção
A GINÁSTICA LABORAL E A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA PARA OS TRABALHADORES
A VISÃO DAS EMPRESAS GAÚCHAS SOBRE AS ATIVIDADES FÍSICO-DESPORTIVAS NA EMPRESA
relação entre trabalho e lazer e novas dimensões desta relação
GINÁSTICA LABORAL E CONTROLE DA ANSIEDADE EM TELEFONISTAS
EFETIVIDADE DA GINÁSTICA LABORAL
implantação da Ginástica Laboral satisfação dos trabalhadores com a empresa e produtividade, diminuições das doenças ocupacionais, absenteísmo, afastamentos do trabalho por doenças ocupacionais e acidentes de trabalho
GINÁSTICA LABORAL E PROMOÇÃO DA SAÚDE COMO EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: A EXPERIÊNCIA DA UFSCAR
GINÁSTICA LABORAL INTEGRADA E BIOMECÂNICA OCUPACIONAL
relatos de vários estudos em ginpastica laboral e seus benefícios na saúde, flexibilidade, dor, estado emocional, ergonomia
GINÁSTICA LABORAL NO RIO GRANDE DO SUL
GINÁSTICA LABORAL: r elato de um a pr ática Fundamentada
realização e divulgação de pesquisas científicas que retratem o impacto de diferentes PPSTs no trabalhador
ação aputada nos conhecimentos prévios e divulgados no setor da ginástica laboral
Eixo 1 (7.14%)
argumentação para intervernção multidisciplinar
INFORMAÇÕES PROVENIENTES DE UM PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL NA PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR E DE SUA COMUNIDADE
pesquisas em perfil antropométrico, imc, flexibilidade, estado de saúde, força
O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA ATUAÇÃO NA GINÁSTICA LABORAL
PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL (GL): ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO
análise da efetividade de um programa de ginástica laboral como redução de ansiedade
QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
TRAJETÓRIA DOS ESTUDOS SOBRE GINÁSTICA LABORAL
base científica como argumento da prática da ginástica laboral
UM PANORAMA DA GINÁSTICA LABORAL NO BRASIL
relatos de investigaçõe realizadas de 2001 a 2006 sobre ginástica labora e resultados positivos
relação entre a prática de atividade física realizada no ambiente laboral e a percepção subjetiva da qualidade de vida quanto aos aspectos específicos de dor e desconforto, energia e fadiga, e capacidade de trabalho
visão do empregador a cerca da atividade física na empresa ginástica laboral
implantação de programas que objetivem a prevenção e a diminuição das dores corporais, que são indicadores do surgimento de doenças relacionadas ao trabalho como as LER e os DORT
DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA NO LOCAL DE TRABALHO: PERSPECTIVA ECOLÓGICA PARA A INTEGRAÇÃO DE FATORES PESSOAIS, AMBIENTAIS E ORGANIZACIONAIS
Nos Gráficos 15 e 16, a configuração dos resultados demonstra grande
semelhança por não haver uma dependência significativa entre os aspectos em
análise. A associação entre as variáveis não apresentou nenhuma novidade,
no entanto, todos os aspectos estão correlacionados, ou seja, dentro de um
molde de significados, os quais não consistem numa reformulação do
pensamento, apresentando, então uma estagnação nas reflexões a cerca dos
léxicos analisados.
Diante dos resultados apresentados, pode-se dizer que as observações
realizadas se coadunam com a literatura em que se apresentam uma
redundância das informações e uma repetição do conhecimento (Fonseca,
2006; Pegatin et al., 2007; Lima, Reis & Moro, 2010; Filho, Witt & Firmino,
2007; Almeida, 2010).
No que tange ao envolvimento da ginástica laboral e atividade física na
empresa com a gestão do conhecimento, os resultados apresentados não
108
ofereceram uma condição de criação do conhecimento, já que a criação do
conhecimento depende de uma fluidez de forma espiralada para a conversão
do conhecimento em novo conhecimento.
Conforme aponta Takeuchi e Nonaka (2008), o conhecimento contém
uma importante dimensão cognitiva na qual estão contidas crenças,
percepções, ideais, valores, emoções e modelos mentais, no entanto, no
material analisado não foi possível averiguar a espiral do conhecimento a ser
amplificada, a partir de distanciamentos entre as estruturas léxicas, as quais
permitiriam combinações ontológicas, gerando um caminho para a fluidez da
espiral do conhecimento.
109
3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Ginástica Laboral é uma atividade que se desenvolveu no Brasil há
mais de 30 anos. Este fenômeno se desenvolveu particularmente no Brasil
como um programa de ginástica de pausa, com uma metodologia própria que
caracteriza hoje a Ginástica Laboral. Em vários países como Canadá, Japão,
Estados Unidos, entre outros desenvolvem-se programas para a melhoria das
condições de saúde do trabalhador.
Este fenômeno, que se desenvolveu no Brasil, tomou grandes
proporções no envolvimento de praticantes, adeptos e usuários de tais
programas. O cenário que se apresenta no Brasil se caracteriza como uma
prática comum a vários estados e regiões do país, embora apesar de ser
representativa, ainda requer um cabedal de conhecimentos científicos para que
a referida prática tenha sustentação teórica.
O delineamento desta pesquisa permitiu uma ampla revisão e análise
dos conhecimentos produzidos na área, de forma que acolhesse diferentes
manifestações da prática da Ginástica laboral e Atividade Física na Empresa.
Com o objetivo de analisar os significados, desvios, desequilíbrios e impactos
do conhecimento produzido em Ginástica Laboral e Atividade Física na
Empresa no Brasil, buscou-se também verificar o impacto da produção lexical
na prática da atividade física na empresa/ Ginástica Laboral representada por
textos técnicos, científicos e informacionais, tendo em vista que estes materiais
representam de forma clara a produção real que acontece no Brasil sobre a
temática.
Ao se investigar a relação da trajetória da Ginástica Laboral/ Atividade
Física na Empresa com sua base científica, através da produção lexical,
permitiram-se descortinar cenários que até então estavam mascarados pelas
campanhas e apelos de mercado sobre os benefícios da ginástica laboral e
atividade física na empresa no Brasil. O estudo mostrou que a ginástica laboral
apresenta um repertório variado de conhecimento tácito, mas ainda não
conseguiu transformar este benefício em conhecimento explícito e em
110
consequência gerar conhecimento novo, conforme a gestão do conhecimento
preconiza.
Então, ao analisar o conhecimento da Ginástica Laboral e Atividade
Física na Empresa produzido no Brasil, através do uso de software apoiado na
Gestão do Conhecimento, imprimiu-se uma condição clara de capacitar as
informações distribuídas sobre o tema para que se possa compreender as
condutas e comportamentos gerados até então. Para a disciplina Gestão do
Conhecimento, os dados, as informações se concentram de forma que se
possa transitar numa espiral de conhecimento, capaz de gerar novos
conhecimentos. O software permitiu uma análise dentro de um mapa
geográfico o qual deu condições para a preparação e análises de dados,
identificação e categorização adequada de seus conteúdos, busca pela
produção de conhecimentos e identificação de relações o que permitiu avançar
na compreensão dos fenômenos investigados.
A análise léxica consistiu em se passar da análise do texto para análise
do léxico (conjunto de todas as palavras encontradas no texto analisado). A
análise de conteúdo consistiu, por sua vez, em uma leitura aprofundada,
codificando-se cada uma, obtendo, portanto, uma idéia sobre o todo. Desta
forma, a redução da quantidade de dados a serem analisados, a partir de
procedimentos de estatística multivariada permitiu analisar um número maior
de variáveis/categorias simultaneamente, a partir de um espaço com
dimensões reduzidas, com o mínimo de perda de informação possível.
Assim, criou-se um ambiente de soluções que indicam que a ginástica
laboral se desenvolveu por crenças e afirmações, no entanto, tem uma grande
dificuldade de confirmar tais afirmações através do contexto científico, por outro
lado, a gestão do conhecimento traz uma capacidade de situar os elementos
de produção de conhecimento que o ambiente da ginástica laboral incorpora.
As crenças são compartilhadas, as pesquisas impõem verdades, nas quais a
reunião das crenças verdadeiras com as crenças justificadas torna-se
conhecimento.
Entretanto, a redundância é a existência de informação que vai além
das exigências operacionais imediatas, neste caso, a redundância aumenta a
111
quantidade de informação o que pode levar a um grau extremo de informações.
Conforme a gestão do conhecimento o conhecimento, não existe somente na
cognição da pessoa e sim no espaço, tempo e relacionamento, o conhecimento
não é criado no vácuo, necessita ser significante, interpretado para se
transformar em conhecimento.
Logo, a gestão do conhecimento é uma metodologia precisa de
sistematização de dados, informações e conhecimento, o que permite o
mapeamento dos dados transformando-os em processos de formação do
conhecimento, sendo uma eficaz ferramenta para tomada de decisões.
Através do referido estudo, pode-se perceber que a trajetória da
Ginástica laboral e Atividade Física na Empresa está sem capacidade de
inovar, de criar novos produtos e serviços, mas por outro lado tem um mercado
muito grande tendo em vista a preocupação constante pela melhoria das
condições de saúde da população.
A Ginástica Laboral e Atividade Física na Empresa representam a
alternativa capaz de beneficiar grande número de pessoas, mas desde que se
consiga estruturar ações de sucesso apoiadas na gestão do conhecimento,
como o desenvolvimento de projetos que não sejam de um indivíduo, mas sim
da organização; desenvolver uma definição de conhecimento na área; criar
ambientes para que o mercado de conhecimentos possa florescer (incentivado
pela confiança e reconhecimento); dar a mesma importância ao conhecimento
em diferentes formatos; incentivar o aprendizado e a criatividade; focalizar o
passado/ presente e também o futuro; reconhecer a importância da
experimentação; dar a mesma importância para a interface humana e
tecnológica; procurar formas de avaliação das iniciativas de conhecimento
realizadas, tanto pela mensuração quantitativa como qualitativa, além de criar
uma plataforma de produção de conhecimento e sistematização deste
conhecimento para a transmissão, disseminação e ampliação da espiral do
conhecimento.
Contudo, ao analisar os significados, desvios, desequilíbrios e impactos
do conhecimento produzido em Ginástica Laboral e Atividade Física na
Empresa no Brasil, o presente trabalho permitiu avaliar, interpretar e subsidiar
112
conhecimento a partir de um amplo cenário de informações. A partir da tese ora
apresentada, surge uma possibilidade de criação de ambiente teórico
sustentável, para auxiliar na criação, transformação, disseminação e tomada de
decisão para a manifestação humana que se tornou a Ginástica Laboral e
atividade física na empresa.
113
3.5 REFERÊNCIAS
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VOLUME II
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SEÇÃO I
PRÁTICAS DA GINÁSTICA
LABORAL NO BRASIL
126
CAPÍTULO I
A GINÁSTICA LABORAL E A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA PARA
OS TRABALHADORES
Valquíria de Lima
Cynara Cristina Pereira
Juliana Romero
1. A Ginástica Laboral no Combate ao Sedentarismo
O estilo de vida sedentário representa um dos principais fatores de
risco para o desenvolvimento de diversas doenças crônicas degenerativas
como doenças cardiovasculares, diabetes, osteomusculares e alguns tipos de
cânceres. Por outro lado, a prática regular de atividade física já é bem
conhecida como um instrumento poderoso na prevenção das doenças
crônicas. Atualmente, a recomendação mínima para a prática de atividade
física para a promoção da saúde é de ao menos cinco dias na semana, 30
minutos ao dia, com intensidade de leve a moderada e de forma contínua ou
acumulada (PATE et al., 1995).
Atualmente, tem crescido o interesse e a procura, por empresas de
diversos ramos de atuação, por programas de qualidade de vida e atividade
física, em função de alguns apontamentos terem indicado que funcionários
sedentários custam mais em despesas com saúde do que funcionários não
sedentários.
Uma das estratégias utilizadas pelas empresas é a implantação de
programas de ginástica laboral, com o objetivo de melhorar variáveis da
aptidão física geral como força muscular e flexibilidade, nível de atividade
física, além de colaborar para o nível de satisfação dos funcionários para com a
empresa.
A ginástica laboral é um meio eficiente de incentivo e valorização da
prática de atividades físicas por atuar como um instrumento de promoção da
saúde, o que acaba contribuindo para um melhor desempenho profissional.
Assim, diminuindo o sedentarismo, controlando o estresse e melhorando a
127
qualidade de vida, o aumento do desempenho profissional acaba ocorrendo
naturalmente.
O conceito de “trabalho” vem sofrendo alterações ao longo dos anos
devido às mudanças dos processos de produção. Cada vez menos as funções
atuais de trabalho exigem dos indivíduos tarefas envolvendo a atividade física.
As atividades sentadas substituíram a posição em pé e diminuiu os
movimentos durante a jornada de trabalho, representando a transição da
sociedade industrial para a sociedade da comunicação e da informação,
baseada, sobretudo na utilização de computadores. A sociedade atual
apresenta um crescimento enorme no número de pessoas que trabalham
sentadas.
Em 1717, Doutor Ramazzini, ao descrever sobre os que trabalhavam
sentados, citou “aqueles que levam a vida sedentária, e são chamados por
isso, de artesãos de cadeira, como os sapateiros, os alfaiates e os notários,
sofrem doenças especiais, decorrentes de posições viciosas e da falta de
exercícios” (MILLANDER, LOUIS & SIMMONS, 1992).
Os processos mecanizados e parcialmente automatizados tornaram
mais leve o trabalho, mas resultou no aumento da regularidade dos
movimentos físicos com atividade concentrada localmente, além de aumentar a
velocidade. O uso repetido ou a manutenção de postura inadequada resulta
em alteração músculo-esquelético (SAKATA & ISSY, 2003).
Em um estudo realizado por Lima et al. (2006), com amostra composta
por 323 funcionários administrativos de uma indústria farmacêutica na cidade
de São Paulo, foi observada uma diferença estatística significativa (X 2=4,739)
entre as proporções, demonstrando que os funcionários que participaram do
programa de ginástica laboral foram mais ativos quando comparados aos
funcionários que não participaram do programa (p<0,029). Nesse ponto, podese dizer que há 1,67 vezes mais chance de um funcionário ser ativo quando
participa da ginástica laboral.
Concluiu-se, portanto, que a prática regular de ginástica laboral no
ambiente de trabalho tem um papel fundamental para incrementar o nível de
128
atividade física dos funcionários e estimular a adoção de comportamentos para
um estilo de vida mais ativo e saudável.
1.2 A Ginástica Laboral no contexto preventivo às LER/DORT
A partir de uma perspectiva atual da ergonomia, torna-se clara a
importância
de
se
considerarem
também
as
questões
fisiológicas,
biomecânicas, do ambiente físico e da organização do trabalho, para minimizar
tanto o sofrimento físico quanto mental de trabalhadores acometidos por lesões
ocupacionais.
As dores corporais são importantes manifestações da inadequação das
estruturas corporais frente às exigências do trabalho e representam um
relevante
sintoma
de
caracterização
de
males
como
as
Doenças
Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT). Trabalhadores em fase
de maior produtividade estão sendo impossibilitados de seguir o percurso
traçado para a sua vida profissional, familiar e social, devido a essas doenças.
No Brasil, essa expansão começou no início dos anos 80, no setor de
processamento de dados, sendo que, atualmente, é possível encontrar casos
em quase todo tipo de atividade (Merlo, 1999). Existem muitas queixas na
saúde pública e privada referente à saúde do trabalhador, que colocam os
DORT em destaque em relação à demanda, representando hoje 65% do total
dos acidentes de trabalho. Essa porcentagem leva atualmente a gastos de 1,2
bilhões de reais por ano e atinge dois bilhões de reais quando unidas a outras
doenças (Previdência Social, 2001). Todo esse dinheiro poderia ser revertido
para a prevenção, ao contrário do que acontece hoje, com os pagamentos de
benefícios por afastamentos e aposentadorias por invalidez, que trazem muitos
prejuízos para a Previdência Social, sem resolver o problema.
Baseado nesse emblema, Pereira (2005) publicou um estudo com 263
trabalhadores, cujo objetivo foi comparar a proporção de dores corporais entre
funcionários de setores administrativos e fabris. Após a análise dos dados
estabeleceu-se que 71,1% dos funcionários para a amostra total relataram
sentir algum tipo de dor corporal, enquanto 77,2% dos funcionários do setor
129
administrativo e 65,4% do setor fabril relataram sentir dores corporais. Houve
diferença estatística significante na proporção de funcionários do setor
administrativo que relataram sentir dores corporais em comparação com os
funcionários do setor fabril.
Os resultados encontrados reforçam a importância da implantação de
programas que objetivem a prevenção e a diminuição das dores corporais, que
são indicadores do surgimento de doenças relacionadas ao trabalho como as
LER e os DORT.
1.3 A Contribuição da Ginástica Laboral para a Aptidão Física
Relacionada à Saúde
A Ginástica Laboral destaca-se como uma atividade de auxílio à
prevenção de lesões no ambiente de trabalho, pois, anatomicamente, visa
melhorar a flexibilidade e a mobilidade articular, diminuir a fadiga – decorrente
de tensão e repetitividade que acometem tendões, músculos, fáscias e nervos
– e beneficiar a postura do indivíduo diante de seu posto e rotina de trabalho.
Um estilo de vida pouco ativo e a falta de exercícios de alongamentos
geralmente levam à incapacidade para execução de movimentos amplos e
globais, em virtude da diminuição da amplitude articular (Lima, 2007).
Os exercícios de alongamento, quando realizados com freqüência,
podem auxiliar os trabalhadores a manterem ou aumentarem sua amplitude
articular, minimizando o encurtamento muscular e a utilização de outras
estruturas para compensar a falta de amplitude e as situações de estresse.
Avaliar a flexibilidade possibilita verificar se há correlações com a
profilaxia de lesões, percepção de dor, recuperação e melhora do desempenho
do atleta, independência de movimentos na terceira idade, entre outros,
identificando os grupos músculo-articulares com insuficiência de flexibilidade,
possibilitando a ênfase nestas regiões com exercícios de alongamento e
relaxamento (Achour Jr., 2004).
A flexibilidade é uma importante variável da aptidão física que pode
promover adaptações físicas que contribuem para a melhora da mobilidade
130
articular, alívio de cansaço, diminuição da tensão e do encurtamento muscular,
além de corrigir vícios de postura, minimizando os riscos de lesões no
ambiente de trabalho. Por isso, os programas de ginástica laboral têm
fundamental importância para a melhoria dos níveis de flexibilidade, garantindo
assim, melhor mobilidade articular e amplitude de movimento (LIMA, 2007).
Lima (2001) realizou um estudo com 47 trabalhadores, com o objetivo
de observar os efeitos de um programa de ginástica laboral sobre os níveis de
flexibilidade, após 60 dias de intervenção, houve uma evolução de 15,62%,
demonstrando que, mesmo em um período curto (dois meses), os exercícios
ministrados nas aulas de ginástica laboral podem ocasionar mudanças
significativas nos níveis de flexibilidade.
Outro estudo realizado por Lima e Ceschini (2005), com 375
colaboradores da área administrativa de uma empresa do setor bancário da
cidade de São Paulo, teve como objetivo verificar o impacto de um programa
de doze meses de ginástica laboral sobre a flexibilidade, de acordo com o
gênero. No início do programa (pré-intervenção) o valor médio de flexibilidade
de tronco para a amostra total foi de 18,3 cm. Para o gênero masculino foi 14,2
cm e para o gênero feminino 17,7 cm. Quando foram comparados os valores
médios de flexibilidade, houve diferença estatística significativa entre a pré e a
pós-intervenção para a amostra total e também para ambos os gêneros, sendo
que os valores apresentaram evolução de 30,6% para a amostra total, 28,2%
para o gênero masculino e 33,8% para o gênero feminino, demonstrando que
os valores de flexibilidade aumentaram significativamente após o período de 12
meses do programa.
É fato que, a cada dia, as empresas necessitam de novos recursos de
diagnóstico, prevenção e tratamento para os mais diferentes tipos de
enfermidades e situações relacionadas à saúde. Nos casos em que há
necessidade de fortalecimento de estruturas enfraquecidas, pode-se propor um
programa complementar ao de ginástica laboral, fora do expediente de
trabalho, visando o condicionamento físico geral.
Sendo a resistência muscular a capacidade de um segmento do corpo
de realizar e sustentar um movimento por um determinado período, os
131
exercícios resistidos adaptados para aulas de ginástica laboral podem ser
englobados na série de exercícios de prevenção para melhorar a resistência,
como forma de melhor suportar determinados esforços, sem comprometer a
saúde. Os exercícios também podem ser desenvolvidos de forma progressiva.
Nessa variação, o funcionário deverá iniciar o exercício resistido com um
esforço mínimo e, a cada aula, progredir para maior resistência.
Lima et al. (2004) demonstraram em um estudo, realizado com 272
trabalhadores do setor bancário, que participaram regularmente de um
programa de ginástica laboral por um período de doze meses, que houve, além
de melhora significativa da variável flexibilidade, aumento de 24,66% (delta
percentual) na força de preensão manual, fato que pode estar relacionado com
o aumento no nível de atividade física, também encontrado nesse estudo.
1.4 Integração, Motivação e Percepção de Saúde
A saúde social, que por algum tempo cedeu espaço para a saúde
profissional e intelectual, é formalizada na ginástica laboral como um meio de
estar entre as pessoas. As relações saudáveis no ambiente de trabalho
facilitam a comunicação, transformam o ambiente, proporcionam maior
interação e disposição para o trabalho. Os ambientes organizacionais
apresentam um contexto social onde os afetos e as emoções manifestam-se e
se inter-relacionam. Ao mesmo tempo, o contexto profissional exige que os
indivíduos sejam racionais e que se foquem nas estratégias e nos resultados.
Esse conflito aumenta a demanda de energia psíquica e física nas interações
de trabalho, podendo gerar um processo de estresse, com prejuízo ao bemestar dos trabalhadores.
O programa de ginástica laboral favorece um maior convívio social por
sua capacidade de integração, possibilitando às pessoas conhecerem-se
melhor por meio da comunicação ativa expressa pelo corpo, pela cooperação
nas atividades e dinâmicas de grupo. Dentre os benefícios da ginástica laboral
pode-se destacar a melhora da coordenação motora, do autoconhecimento do
corpo, da percepção corporal e da saúde.
132
Romero et al. (2005) realizaram um estudo com o objetivo de comparar
a percepção da saúde de trabalhadores administrativos, de acordo com a
participação em um programa de ginástica laboral. Foram entrevistados 308
colaboradores de uma empresa do setor farmacêutico na cidade de São Paulo.
Houve diferença estatística significativa quando os valores de percepção da
saúde em relação à participação nas aulas de ginástica laboral foram
comparados, demonstrando que os funcionários que participaram das aulas
regularmente apresentaram melhor percepção da saúde do que os que não
participaram.
133
1.5 Indicações Conclusivas
A articulação entre o trabalho, a saúde e a doença dos trabalhadores
tem sido objeto da observação e reflexão dos homens há séculos, e estão
registradas, ao longo dos tempos, nas obras de historiadores, filósofos,
escritores, médicos, cientistas sociais e artistas, de forma diversificada,
segundo as lentes utilizadas para “olhar” o mundo (Mendes & Dias, 1999).
O programa de ginástica laboral é um grande desafio para o
Profissional de Educação Física que, com qualidade na prestação de serviço,
embasamento técnico e científico, integra-se cada vez mais nas equipes
interdisciplinares de Promoção da Saúde nos ambientes corporativos.
Apesar do impacto preventivo da ginástica laboral nas LER/DORT não
ter sido completamente elucidado do ponto de vista científico, sua prática nas
empresas parece colaborar para uma maior integração psicossocial, com
momentos de descontração e relaxamento, que podem funcionar como
"pausas" bem-vindas, além de diminuírem a percepção de fadiga e dores
musculares ao longo da jornada de trabalho.
Os programas de Ginástica Laboral bem estruturados têm apontado
ainda resultados importantes, como a melhora de variáveis da aptidão física
relacionada à saúde, que levam a um aumento da mobilidade articular, alívio
de cansaço, diminuição da tensão e do encurtamento muscular, além de
auxiliarem na correção de vícios posturais.
REFERÊNCIAS
Achour Júnior, A. Exercícios de Alongamento: saúde e bem-estar. Barueri:
Manole, 2004.
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ed. São Paulo: Phorte Editora, 2007.
Lima, V.; Andrade, D. R.; Oliveira, L. C.; Brasil, F. K.; Ribeiro, M. A.; Correa, E.
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Internacional de Ciências do Esporte. São Paulo, 2001. p. 146.
Lima, V.; Ceschini, F. L. Impacto de um programa de ginástica laboral sobre os
níveis de flexibilidade em trabalhadores do setor administrativo. In: 9º
Congresso Paulista de Educação Física. Anais do 9º Congresso Paulista de
Educação Física. Jundiaí, 2005. v. 3. p. 113-115.
134
Lima, V.; Ceschini, F. L.; Romero, J. Nível de atividade física de acordo com a
participação em programa de ginástica laboral. Anais do 29º Simpósio
Internacional de Ciências do Esporte – A Globalização do Esporte e da
Atividade Física. São Paulo, 2006. p. 43-43.
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trabalhadores do setor administrativo. Atividade Física: da ciência básica para
ação efetiva. Anais do 27º Simpósio Internacional de Ciências do Esporte.
São Paulo, 2004. p. 182.
Mendes, R.; Dias, E. C. Saúde dos Trabalhadores. In: Epidemiologia &
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Ministério da Saúde do Brasil. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de
procedimentos para os serviços de saúde: organizado por Elizabeth Costa
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Simpósio Internacional de Ciências do Esporte – Atividade Física e Esporte
no Ciclo da Vida. São Paulo, 2005. v. 13, p. 264.
Romero, J.; Lima, V.; Ceschini, F. L. Impacto da ginástica laboral na percepção
da saúde em funcionários do setor administrativo. Anais do 28º Simpósio
Internacional de Ciências do Esporte – Atividade Física e Esporte no Ciclo
da Vida. São Paulo, 2005. v. 13, p. 266.
Sakata, R. K. ; Issy, A. M. Lesão por esforço repetitivo (LER) / Doença
osteomuscular relacionada. Rev Bras Med. São Paulo, v. 60(NE), p. 77-83,
dez. 2003.
135
CAPÍTULO II
DIMENSÕES
DA
QUALIDADE
DE
VIDA
NO
LOCAL
DE
TRABALHO:
PERSPECTIVA ECOLÓGICA PARA A INTEGRAÇÃO DE FATORES PESSOAIS,
AMBIENTAIS E ORGANIZACIONAIS
Roberto Vilarta
Gustavo Luis Gutierrez
A atividade física tem sido reconhecida como um eficiente recurso de
intervenção na promoção da saúde dos trabalhadores. Nas duas últimas
décadas, a aplicação de programas de saúde dos funcionários tem sido
estruturada pelo oferecimento de práticas isoladas como as sessões de
ginástica laboral ou acompanhamento dos perfis glicêmico e lipídico no sangue.
Mais recentemente, vê-se ampliada a abordagem integrada de
programas baseados numa perspectiva ecológica que considera os amplos
aspectos que compõem a qualidade de vida das pessoas. Nesta nova
abordagem, os programas focam as respostas individuais de cada trabalhador
e também a análise sobre os vários fatores ambientais e organizacionais que
possam influenciar, por exemplo, a sensibilização para as questões da saúde,
o envolvimento com as novas práticas e a manutenção dos comportamentos
(O‟DONNELL, 1989).
Dentre as condições facilitadoras que contribuem para o êxito destes
programas, considera-se, em especial, a atitude dos empregadores para
encorajar sua implantação e, também, que as atividades sejam amplas o
suficiente para atingir as múltiplas dimensões da qualidade de vida e da saúde
dos trabalhadores, entre elas a física, a emocional e a que considera o
ambiente social e intelectual (CHENOWETH, 1998).
No entanto, na prática, os programas de atividade física aplicados no
local de trabalho atingem sucesso modesto sobre a melhoria das condições de
qualidade de vida dos trabalhadores. Isto pode estar relacionado às próprias
peculiaridades organizacionais da empresa, da inadequação da estrutura física
do ambiente de trabalho e da falha para suprir as necessidades específicas de
136
classes de trabalhadores, especialmente os idosos (LINNAN & MARCUS,
2001).
Assim, compreender a qualidade de vida e influenciá-la no local de
trabalho exige a definição de objetivos, formas de abordagem, observação de
resultados e interpretações apropriadas ao contexto no qual é estudada ou
aplicada. Cabe, hoje, valorizar as formas de interação entre as pessoas, o
ambiente e a sociedade, com uma análise adequada, segundo diferentes
épocas, culturas, classes sociais, posse de bens materiais, valores e padrões
éticos (VILARTA & GONÇALVES, 2004).
A Qualidade de Vida, enquanto área de pesquisa, apresenta a
possibilidade de levar a reflexão sobre o bem-estar das pessoas a um novo
patamar. Uma de suas mais importantes inovações está na ênfase da
dimensão pessoal da percepção das condições de vida, ou seja, não se trata
simplesmente da melhoria expressa em indicadores objetivos, mas também da
forma pela qual a evolução geral é subjetivizada desde a perspectiva individual
das pessoas.
Nesse sentido, tanto a reflexão no campo, como as práticas e
intervenções apresentam um alto grau de dificuldade e complexidade. A partir
de um referencial de origem multidisciplinar, é necessário considerar aspectos
que vão desde a percepção pessoal do ambiente em que o sujeito atua, até as
questões macro da economia, política, e cultura.
Tendo em vista pesquisas em Qualidade de Vida, Saúde Coletiva e
Atividade Física da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, têm-se
procurado desenvolver pesquisas e orientar trabalhos levando em conta a sua
complexidade inerente. Ao lidar especificamente com a questão da qualidade
de vida no local de trabalho consideram-se fundamental ter presente alguns
aspectos diferenciadores:

Todos os ambientes em que o ser humano atua possuem algum grau de
especificidade, como a família, o lazer, a escola ou a política. O local de
trabalho não é uma exceção. É preciso, portanto, ao pensar a questão
da qualidade de vida em ambientes corporativos não perder de vista
algumas das suas características fundamentais como, por exemplo, a
137
lógica da eficiência e da produtividade, a relação concreta com a
produção e comercialização de algum produto ou serviço, e a existência
de um ambiente interno fortemente competitivo que, ao mesmo tempo,
não pode prescindir de algum grau de cooperação e de alianças entre
seus membros.

As pessoas em geral, assim como as instituições e os meios de
comunicação, quase nunca têm uma postura neutra com relação às
empresas. Fruto das lutas e conflitos que surgem no século XIX e
atravessa todo o século seguinte, qualquer atuação em parceria com as
empresas desperta um grau de indagação e questionamento.
As
intervenções em qualidade de vida nos ambientes corporativos
constituem uma manifestação sincera de preocupação com o bem-estar
dos membros ou, pelo contrário, é uma forma de manipulação e
engodo? São intervenções que, de fato, levam a uma melhoria na
qualidade de vida ou trata-se antes de uma maquiagem, já que a
pressão e concorrência do ambiente corporativo geram muitos mais
malefícios do que as intervenções podem vir a minorar? Estas questões
vão depender, para serem esclarecidas, de trabalhos empíricos e
pontuais nas organizações. As mesmas intervenções podem ter sentidos
muito diferentes dependendo do ambiente em que são implementadas,
ou até mesmo do momento em que ocorrem. O que deve ser levado em
conta, sem nenhuma dúvida, é que neste momento, independente das
suas verdadeiras intenções, apenas uma minoria das empresas
demonstra preocupação com a implementação de programas e políticas
voltadas para a qualidade de vida de seus membros. Ou seja, dentro
das opções de política de recursos humanos que todas as empresas
dispõem, estas organizações optam por manifestar interesse e dispor de
recursos, com diferentes graus de envolvimento, numa linha de atuação
que procura, senão necessariamente privilegiar, pelo menos colocar em
destaque o aspecto de bem-estar das pessoas que atuam nelas.
138
A discussão sobre qualidade de vida é complexa e multifacetada. Seu
desenvolvimento e implantação no ambiente corporativo vêm somar um grau
de controvérsia e tensão inerente ao ambiente empresarial. É importante ter
presente esta realidade ao lidar com as iniciativas, de forma a aumentar as
possibilidades de sucesso e desenvolver intervenções mais próximas da
realidade em questão, dos interesses e necessidades dos grupos humanos
envolvidos, e da disponibilidade de recursos existentes.
2.1 Práticas de Avaliação da Qualidade de Vida em Ambientes
Corporativos
Programa recentemente aplicado em empresa de produtos eletrônicos
de alta tecnologia na região de Campinas/SP teve por objetivo avaliar os
Domínios Físico, Psicológico, Social e do Ambiente relacionados com a saúde
e a qualidade de vida de uma população de trabalhadores no seu local de
trabalho, utilizando instrumento padronizado e desenvolvido pela OMS, o
WHOQOL Abreviado.
Tratou-se de estudo de tipo qualitativo, de desenho transversal, que
avaliou aspectos da qualidade de vida utilizando amostra voluntária de ambos
os sexos, entre 164 trabalhadores dos 1200 que trabalham na área de
montagem, na manufatura de produtos eletrônicos, nos três turnos de trabalho
(turno 1 – matutino; turno 2 - vespertino e turno 3 - noturno). Foram
pesquisados também aspectos sócio-demográficos (sexo, renda familiar, idade,
escolaridade e tempo de empresa).
Dentre os principais resultados observou-se que o Domínio Ambiente
demonstrou ser o que impacta negativamente a qualidade de vida desta
população, em especial as facetas relacionadas à “satisfação com os aspectos
financeiros” e “lazer”. O Domínio Físico foi o que apresentou diferença,
estatisticamente significante (P<= 0,05), entre os turnos (turnos 2 e 3), na
faceta “sono”. Ainda no Domínio Físico, observou-se que as facetas, que
avaliam “dor” e “capacidade para o trabalho”, contribuem positivamente para a
qualidade de vida do grupo.
139
No Domínio Psicológico, a faceta “sentido da vida” foi a que mais
contribuiu positivamente para a qualidade de vida. No Domínio Social, a faceta
“suporte social” contribuiu menos para a qualidade de vida neste grupo e
significativamente diferente entre os turnos 1 e 3. Partindo do constructo de
que qualidade de vida compreende uma dimensão holística e multifacetada, o
questionário da OMS, WHOQOL - versão abreviada – permitiu demonstrar
quais os domínios (físico, emocional, social e ambiente) impactam a Qualidade
de Vida desse grupo de trabalhadores.
A ferramenta mostrou-se bastante satisfatória nessa avaliação,
fornecendo subsídios para a implementação e manutenção de programas e
ações na empresa. O diagnóstico desenvolvido com essa metodologia
demonstrou haver aspectos positivos da qualidade de vida tais como a baixa
incidência da dor, pouca demanda por tratamento médico, boa mobilidade e a
capacidade para o trabalho, demonstrando a efetividade dos programas já
estabelecidos pela área de Segurança e Saúde Ocupacional.
Por outro lado, sobre o Domínio Ambiente, ações como treinamento em
planejamento financeiro pessoal, bem como consultoria individualizada nesta
área, devem ser intensificadas para melhora deste aspecto. Da mesma forma,
as ações voltadas ao lazer podem ser incentivadas e intensificadas na
empresa, entre elas as políticas de férias, programas de incentivo ao lazer,
redução de horas extras. Ações educativas relacionadas à melhoria da
qualidade do sono dos trabalhadores do terceiro
turno devem
ser
estabelecidas, assim como melhorias no ambiente físico e na disponibilidade
de informações1.
Uma dissertação de mestrado, recentemente defendida em na linha de
pesquisa supracitada, considerou que a dor e a fadiga são, atualmente, as
maiores queixas do trabalhador, influenciando negativamente a sua capacidade
de trabalho e a sua qualidade de vida. Estruturou-se, então, o desenvolvimento
de um programa focado na discussão da importância da atividade física como
agente protetor e preventivo em relação a essas queixas.
1
Consultar Banco de Teses da UNICAMP in: Telma Terezinha Ribeiro da Silva, 2008.
140
O trabalho teve por objetivo investigar a relação entre a prática de
atividade física realizada no ambiente laboral e a percepção subjetiva da
qualidade de vida quanto aos aspectos específicos de dor e desconforto,
energia e fadiga, e capacidade de trabalho. Para isso, foram selecionados dois
grupos, cada um composto por 25 trabalhadores de fábrica do setor
metalúrgico, independente de gênero, sendo o primeiro grupo formado por
Praticantes de Exercícios Físicos no local de trabalho (PEF) e o segundo, por
indivíduos
sedentários.
Todos
preencheram
o
questionário
WHOQOL
Abreviado e as questões específicas dos aspectos de dor e desconforto,
energia e fadiga e capacidade de trabalho do instrumento WHOQOL-100.
A análise estatística dos dados mostrou que o grupo PEF possui
melhores índices de qualidade de vida, principalmente nos Domínios Físico,
Psicológico e Ambiental, quando comparado com os sedentários, não sendo
encontrada a mesma diferença no Domínio Social. Mostra, também, que o
grupo PEF possui índices mais baixos de dor e fadiga, assim como um melhor
índice de capacidade de trabalho, se comparado aos sedentários.
Existe uma relação positiva entre a prática de exercícios físicos no
trabalho e a qualidade de vida dos trabalhadores que pode ser alterada pelos
exercícios. Apesar dos grupos serem compostos por uma população pequena
e em faixas etárias dispersas, observou-se nesse estudo que os Domínios
Físico, Psicológico, Ambiental e os aspectos de dor e desconforto, energia e
fadiga, e capacidade de trabalho apresentaram melhores índices para o grupo
de trabalhadores que fazem exercícios físicos no local de trabalho, quando
comparado ao grupo de sedentários.
O Domínio Social, provavelmente por ser inespecífico para essa
avaliação, não apresentou diferenças entre os grupos. Esses dados são
indicativos para a recomendação que as empresas interessadas em melhorar
os índices de qualidade de vida de seus trabalhadores, bem como
preocupadas com os aspectos de dor e fadiga e melhora da capacidade de
trabalho, utilizem um programa bem estruturado de prática de exercícios físicos
realizados nas instalações da própria empresa.
141
Os resultados observados no aspecto da energia e fadiga mostram que
o trabalhador que pratica exercícios no local de trabalho não fica cansado com
facilidade e, quando o fica, não se sente incomodado por ele. Possui mais
energia para o dia-a-dia e está mais satisfeito com a disposição que tem,
quando comparado a um trabalhador sedentário. A capacidade de trabalho
segue a mesma disposição dos outros dois aspectos verificados, ou seja, o
grupo PEF possui melhores índices se comparados aos sedentários. Uma
pessoa com menos dor se sentirá mais capaz de realizar suas atividades
diárias, bem como seu trabalho, pois não possui um fator físico de limitação. O
mesmo acontece com a fadiga, pois aqueles que consideram possuir maior
energia e disposição se sentirão mais capazes2.
A dissertação de mestrado “Esporte e qualidade de vida: reflexão
sociológica”
influência
3
traz à tona uma análise sobre questões sociais que exercem
sobre
a
qualidade
de
vida
dos
indivíduos
na
sociedade
contemporânea. Nesse trabalho, o esporte é tido como um dos inúmeros
objetos de interferência sobre a percepção de vida dos sujeitos.
Tal análise tem como base os conceitos de condição, modo e estilo de
vida que permeiam o acesso das pessoas a bens de consumo e a forma com
que elas os incorporam e adotam hábitos em seu cotidiano. A reflexão defende
que o esporte pode ser um fator de melhoria da qualidade de vida dos sujeitos
que com ele se relacionam desde que esteja inserido de forma apropriada ao
ambiente em que se manifesta. Isso envolve desde o sentido adotado, até a
modalidade e a condição de acesso, prática e consumo dos sujeitos
envolvidos.
Esses conceitos podem ser aplicados ao ambiente corporativo, para
melhoria das condições de saúde e produtividade dos trabalhadores. É
possível afirmar que tais atividades não garantem a melhoria de qualidade de
vida de forma direta, mas que colaboram de forma positiva quando somadas a
outros fatores. A principal contribuição deste trabalho para a reflexão sobre as
2
Consultar Banco de Teses da UNICAMP in: Ricardo Martineli Massola, 2007.
3
Consultar Banco de teses da UNICAMP in: Renato Francisco Rodrigues Marques, 2007.
142
intervenções em qualidade de vida no ambiente corporativo está no alerta à
necessidade de re-significar práticas de atividade física e esporte de acordo
com as necessidades, expectativas e possibilidades dos sujeitos envolvidos,
em sintonia com outros programas e políticas de melhoria das condições de
vida dos funcionários e facilitação do acesso a práticas e informações voltadas
a um estilo de vida saudável.
Finalmente, com os trabalhos em andamento cujos dados ainda não
estão suficientemente sistematizados, cabe destacar uma dissertação de
mestrado que objetiva conhecer e avaliar as características específicas da
qualidade de vida dos trabalhadores de cooperativas de trabalho organizadas
na forma de autogestão, procurando perceber sua especificidade e apontar
diferenças e coincidências com aspectos das empresas de gestão tradicional,
na qual se procura desenvolver uma análise que leve em conta também
aspectos de bem-estar psicológico e de saúde mental. Tem-se também
procurado incentivar análises comparativas de políticas e intervenções em
qualidade de vida entre diferentes organizações.
2.2 Desafios e Práticas Inovadoras Integradas à Responsabilidade Social
das Empresas
Programas e avaliações como os aqui descritos, baseados na
percepção dos trabalhadores sobre os domínios e facetas da qualidade de
vida, podem trazer à tona novos desafios aos profissionais de recursos
humanos e saúde. Condição de vida, estilo de vida e modo de vida podem ser
melhorados a partir das iniciativas da empresa frente a estes determinantes.
Do ponto de vista conceitual, sugere-se que as práticas de gestão que
envolvem a qualidade de vida devem estar relacionadas à atividade física e
promoção da saúde, responsabilidade social e fadiga organizacional. Procurase assim, de acordo com o que foi apontado no início, atuar dentro de um
amplo leque de alternativas que englobe a totalidade do ambiente corporativo,
ou pelo menos grande parte da sua realidade, indo desde questões muito
concretas e específicas, cuja abordagem utiliza com sucessos indicadores
143
quantitativos, a exemplo da LER, hipertensão ou tabagismo, até questões de
fundo organizacional e ético, a exemplo do assédio moral e sexual, sofrimento
no trabalho e auto-estima.
Destacam-se aqui também as oportunidades de valorização de práticas
relacionadas à responsabilidade social. Em decorrência da retração do Estado
em atender às demandas sociais, cresce a consciência dos setores
empresariais sob a responsabilidade para com as ações de recuperação das
condições de vida em geral (GUTIERREZ, GONÇAVES e VILARTA, 2005).
A aplicação do WHOQOL, utilizado como uma ferramenta de estudo e
diagnóstico da qualidade de vida em um grupo de trabalhadores, permite
demonstrar quais as áreas em que se deve atuar para a melhoria da qualidade
de vida, levando em consideração o constructo multifacetado deste termo.
Ações estabelecidas estrategicamente pela área de Recursos Humanos e
Saúde podem contemplar aspectos da condição de vida, modo de vida e estilo
de vida da população de trabalhadores, direcionando ações para a melhoria
das facetas que impactam negativamente a qualidade de vida do grupo e, do
mesmo modo, reforçar a importância dos programas e ações estabelecidos que
impactem positivamente sobre o bem-estar do trabalhador.
REFERÊNCIAS
Chenoweth, D.H. Worksite health promotion. Champaign, Human Kinetics,
1998, 186 p.
Gutierrez, L.G.; Gonçalves, A.& Vilarta, R. Planejamento de projetos de
qualidade de vida na empresa. In: Gonçalves, A.; Gutierrez, L.G.; & Vilarta, R
(orgs.) Gestão da qualidade de vida na empresa. Campinas, IPES Editorial,
2005.
Linnan, L.A. & Marcus, B. Worksite-based physical activity programs and older
adults: current status and priorities for the future. J.Aging Physical Activity, v.
9; S59-S70, 2001.
O´Donnell, M.P. Definition of health promotion: Part III: Expanding the definition.
Am. J. Health Promotion, v.3, n. 3: 5, 1989.
Vilarta, R. & Gonçalves, A.. Qualidade de vida e o mundo do trabalho. In:
Gonçalves, A.& Vilarta, R. (orgs.) Qualidade de vida e atividade física:
explorando teoria e prática. Barueri, Manole, 2004. p 103-139.
144
CAPÍTULO III
O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA ATUAÇÃO NA
GINÁSTICA LABORAL
Fabiane Maria Zat
Adriana Klein da Rosa Fredrich
A Ginástica Laboral (GL) tem se tornado no decorrer das últimas
décadas uma ferramenta muito importante para as empresas. Atualmente, a
discussão realizada em relação ao tema está pautada na forma de execução e
implantação e sua manutenção.
Para Lima (2004, p.20) a GL pode ser definida como:
A prática de exercícios físicos, realizada
coletivamente durante a jornada de trabalho,
prescrita de acordo com a função exercida
pelo trabalhador, tendo como finalidade a
prevenção
de
doenças
ocupacionais,
promovendo o bem-estar individual por
intermédio da consciência corporal: conhecer,
respeitar, amar e estimular o seu próprio
corpo.
A prática da GL vem sendo desenvolvida por Profissionais de algumas
áreas, principalmente por Professores de Educação Física. A discussão que se
pauta está na importância do Profissional de Educação Física, especificamente
nesta área do mercado de trabalho, em relatar vivências, conhecimento
construído e resultados obtidos.
A vivência na GL desde 1999 permite uma percepção que tanto os
profissionais quanto os trabalhadores enxergam a GL como sessões de
alongamento, porém tem ocorrido um amadurecimento relativo a esta questão.
Atualmente os Profissionais de Educação Física estão se especializando, além
de estarem constituindo um saber fazer, além de estabelecerem um viés
empreendedor de certa forma sofisticado, atuando assim como pessoa jurídica;
145
aperfeiçoando-se também em conhecimentos específicos e integrando-se com
outras áreas que compõem a dinâmica da ginástica laboral, como exemplo a
ergonomia.
Segundo Couto (2002, p. 11), a ergonomia pode ser definida da
seguinte forma:
Ergonomia pode ser definida como o trabalho
interprofissional que, baseado num conjunto
de ciências e tecnologias, procura o ajuste
mútuo entre ser humano e seu ambiente de
trabalho de forma confortável e produtiva,
basicamente procurando adaptar o trabalho
ao homem. (Grifos do autor)
Ter condições de identificar situações inadequadas nos postos de
trabalho e efetuar ajustes nos mesmos tem contribuído muito com os bons
resultados na GL. Pode-se considerar que a GL tem sua função na preparação
e compensação da musculatura e o trabalhador que permanece durante toda
sua jornada de trabalho em postura inadequada, ou exposto a altas
temperaturas, ruídos, má iluminação, entre outras condições, a ergonomia
unicamente não poderá obter resultados significativos, ao passo que, se forem
desenvolvidos de forma conjunta, a ergonomia poderá melhorar as condições
dos postos de trabalho e a GL, por ter uma frequência semanal o Professor
poderá acompanhar e orientar os trabalhadores, quanto às pausas, posturas e
comportamentos.
O diferencial do Profissional de Educação Física atuando nas aulas de
GL está na sua capacidade técnica de desenvolver junto com o alongamento,
atividades lúdicas e recreativas, as quais são fundamentais para tornar este
momento atrativo para o trabalhador e, atuar também como uma forma de
integração entre os colaboradores. Obviamente, o professor qualificado deverá
ter coerência de como e quando implantará este tipo de atividade.
146
3.1 Estudos Realizados e Resultados Obtidos:
Em trabalho realizado nas agências do Banco do Estado do Rio
Grande do Sul – BANRISUL e unidades de atendimento do Sistema de Crédito
Cooperativo – SICREDI, UNIMED ALTO JACUÍ, empresas de METALURGIA,
SUPERMERCADOS, ESCRITÓRIOS na região do Planalto Médio do sul do
país, pode-se obter resultados interessantes em algumas pesquisas realizadas.
Nas avaliações realizadas nos locais supracitados, percebeu-se que a
GL auxilia principalmente na redução de dores e melhora dos níveis de
flexibilidade, dados estes confirmados através de investigações realizadas no
ano de 2003. O trabalho em que se buscou verificar o Efeito do Exercício
Laboral na Pressão Sangüínea e na Qualidade de Vida de Pacientes
Assintomáticos (ZAT, NUNES, 2003) caracterizou-se da seguinte forma:
 Características do Estudo:
Este estudo foi desenvolvido a partir do curso de especialização em
Atividade Física e Qualidade de Vida (UPF) e que, posteriormente, foi
publicado no “Congreso Sudamericano FIEP/03 y Octava Jornada de
Educacion Física Del Mercosur”, realizado em Córdoba, Argentina.
O estudo apresenta característica quali-quantitativa, foi realizado com
dois grupos participantes do Programa de Ginástica Laboral (PGL), divididos
em: Grupo I, Agências bancárias do Banrisul (das cidades gaúchas, Colorado,
Selbach e Ibirubá) e unidade de atendimento do Sicredi (Colorado), sendo
participantes do PGL há no mínimo seis (6) meses), Grupo II, composto de
unidades de atendimento iniciantes no PGL, do Sicredi (Selbach, Tapera e
Lagoa dos Três Cantos).
Os materiais e instrumentos utilizados partiram da anamnese e da reavaliação (contendo questões relacionadas aos níveis de dor, estado
emocional, entre outros aspectos), entrevista para investigar o histórico de
saúde familiar, além da aplicação do teste de flexibilidade (FLEXITESTE –
ARAÚJO E PÁVEL, 1980) e utilizando o esfigmomanômetro digital marca
“MARK of FITNESS”.
147
 Resultados Obtidos:
Incidência de Dor e Estado Emocional:
Quando foi implantado o PGL nas Agências Bancárias que compõem o
Grupo I: 38,48% dos funcionários sentiam dores frequentemente. Em seis
meses, houve uma redução de 27,08% (apenas 11,50% dos funcionários
permanecem com dor). Já no Grupo II, os níveis de dor reduziram de 18, 25%
com dores regulares no início do PGL, para apenas 2,27%, mantendo o
percentual dos que sentiam dores esporádicas (de 55,5% para 56,99%) e
aumentando o percentual dos que não sentem dores (de 26,25% para 40,74%).
Constatou-se, então, melhora significativa quanto ao estado emocional e grau
de amplitude articular.
Pode-se observar, através dos resultados, que o PGL contribui
sensivelmente para o aumento do grau de amplitude articular (flexibilidade). No
início do PGL, o GRUPO I apresentava 36,89 graus (considerado Médio Fraco
(M-)), em seis meses passou para 45,83 graus, em 8 meses 47,03 graus, em 1
ano e 2 meses 50,87 graus, 1 ano e 11 meses depois 51 graus. Observa-se
que houve evolução gradativa, sendo mais acentuada no início e estabilizandose no final. O GRUPO II iniciou em um nível de amplitude articular mais
elevado 42,59 graus (M+) e em seis meses 47,83 graus (M+). Quanto aos
níveis de Pressão Arterial e batimentos cardíacos de repouso mantiveram-se
sem alterações estatisticamente significativas, durante os seis (6) meses em
que a pesquisa foi desenvolvida.
3.1.2- Ergonomia e Ginástica Laboral: Mecanismos de Melhoramento e
Humanização no Trabalho (DIOGO; MAIDANA; ZAT, 2006):
A apresentação do estudo seguinte foi oriunda da Monografia
apresentada no Trabalho de Conclusão de Curso, da Faculdade de Educação
148
Física, Universidade Católica Dom Bosco - UCDB, pelos então acadêmicos
Emerson Silva Diogo e Gledson da Silva Maidana.
 Características do Estudo:
Este estudo foi realizado durante o ano de 2006, em uma gráfica de
Campo Grande – MS, tendo como objetivo investigar as condições
ergonômicas dos postos de trabalho. Os participantes do estudo foram seis
trabalhadores do sexo masculino com idade que variava entre 30 e 50 anos,
tendo uma média de 38 anos, dos setores de impressão, corte e acabamento
(blocagem).
O instrumento de pesquisa foi o método REBA (Rapid Entire Body
Assessment), de Hignett & McAtamney (2000), que tem por objetivo avaliar as
posturas em cada posto de trabalho através de imagens fotográficas,
analisando então os segmentos corporais e suas respectivas angulações, para
desenvolver um sistema de análise postural sensível aos riscos músculoesqueléticos em várias tarefas, sendo estáticas e/ou dinâmicas, ressalta-se
ainda a sua simples execução, pois necessita apenas de imagens fotográficas
e as tabelas fornecidas pelo método.
149
Resultados Obtidos:
Setor: Impressão II
Foto 01: Funcionário realização checagem da qualidade de
impressão.
Função: O funcionário está realizando a
conferência do material, ou seja, analisando se
as cores estão bem distribuídas e seus registros
(traços no canto do papel) estão se encaixando,
para isso ele tem o auxílio de um objeto
chamado “conta fio”, o qual aumenta a imagem
em dez vezes, essa função é praticada o tempo
todo no processo de impressão.
Resultados: Tabela A (Cervical, Perna, Tronco):
09 Pontos. Tabela B (Antebraço, Punho, Braço):
10 Pontos e Tabela C (A e B): 12 Pontos.
Nível de risco- Muito alto. Intervenção imediata.
Intervenção: O grande malefício dessa função é a necessidade de realizar por diversas vezes ao dia, com
um alto grau de flexão cervical, o que acarreta em uma relevante tensão muscular localizada, além da
aderência há uma má postura. Sendo assim, recomenda-se uma estrutura plana com uma altura
regulável e com uma inclinação de aproximadamente 45°, para ser posto o material que irá ser
analisado com o propósito de diminuir a flexão da coluna, principalmente na região cervical, gerando
menos dores musculares e proporcionando melhores condições de trabalho.
Setor: Corte I
Foto 02: Funcionário realizando corte de
Função:
Esta é outra etapa que ocorre no processo gráfico do
papel.
setor de produção, o corte do papel. O mesmo é realizado em
diversos formatos, neste caso trata-se do maior que se utiliza
na gráfica, (65.8 X 47.8cm advindo de um formato com 66.0 X
96.0cm), ele começa cortando o papel ao meio e depois refila
(corte de mm realizados nos quatro cantos do papel para que
todas as folhas fiquem do mesmo tamanho), após o corte é
retirado o papel da guilhotina e transportados manualmente
para o impressor pré-definido.
Resultados: Tabela A (Cervical, Perna, Tronco): 08 Pontos. Tabela B (Antebraço, Punho, Braço): 06
Pontos e Tabela C (A e B): 3 Pontos.
Nível de risco- Muito Alto. Intervenção imediata.
Intervenção: O grande complicador desta função é o alto grau de flexão de tronco combinado com o
peso do papel, que dependendo pode pesar mais que 15 kg, o mesmo só não é pior pelo auxilio do
colchão de ar (diversos forames na mesa da máquina, que soltam ar contra o papel diminuindo assim
seu peso), porém auxiliam somente durante o corte e não na sua entrada e retirada da máquina,
momento de maior tensão na coluna vertebral principalmente na região lombar. Neste caso há duas
variáveis a serem analisadas no intuito de amenizar esta combinação, uma é a altura do funcionário e a
outra é a altura da mesa da máquina. A partir dessa observação, sugere-se a construção de uma
150
bancada posta embaixo da guilhotina para assim diminuir a flexão de tronco do funcionário, lembrando
que na intervenção da altura deve-se trabalhar dentro da média, pois se acontecer trocas de funcionário
não se perde a bancada. Para amenizar o peso, o trabalhador deverá tanto retirar como colocar o papel
na máquina por etapas, dessa forma pode-se obter uma menor flexão, combinada a uma carga mais
leve resultando em uma menor tensão muscular e evitando uma possível adoção da má postura cifótica.
Setor: Acabamentos (Blocagem)
Foto 3: Funcionária realizando o acabamento
Função: Esta é uma etapa final no processo gráfico, onde o
funcionário realiza diversas funções, por exemplo: dobras,
intercalações, colagens entre outras. Neste caso o mesmo
está fazendo apenas uma dobra no centro do papel casando
com imagem no fundo.
Resultado: Tabela A (Cervical, Perna, Tronco): 3
Pontos.Tabela B (Antebraço, Punho, Braço): 4 Pontos e
Tabela C (A e B): 5 Pontos.
Nível de Risco- médio. Intervenção necessária.
Intervenção: O fator mais preocupante neste processo é o movimento repetitivo que de acordo com
nossa revisão bibliográfica é a variável determinante no aparecimento da LER/DORT, porém, é uma
situação complicada, pois não tem como evitar esse movimento, desta forma, recomenda-se a criação
de um sistema de rodízio na blocagem, em que os funcionários deste setor alternem as funções entre
eles a cada hora, porém, acontece de ter serviços com apenas uma fase, neste caso o mais viável seria a
realização de pausas de 10 min a cada 1hora de repetição. Outro ponto analisado é em relação à
postura do funcionário, sugere-se então, a troca do acento por outro com a mesma altura, mas com
encosto na região lombar e a retirada das caixas situadas a baixo da mesa proporcionando que o mesmo
fique com as pernas num ângulo aproximadamente de 90° melhorando desta forma a circulação dos
membros inferiores.
151
6.1.3 Análise Ergonômica de um Posto de Trabalho em uma Fábrica de
Aerogeradores (FEITOSA, FIGUEIREDO, ZAT, SANTOS, 2007):
O referente estudo foi realizado em virtude da conclusão do curso de
Especialização em Ergonomia (UGF), pelos profissionais de Educação Física
Edson Alves Feitosa e Fabiane Maria Zat, pela Fisioterapeuta Mirian Cristina
Figueiredo, sob orientação da Professora Doutoranda Alda Paulina dos Santos.
 Características do Estudo: O Estudo tem característica descritiva e de
caráter qualitativo, o qual se realizou em uma multinacional que fabrica e
instala aerogeradores (para usinas de energia eólica), o setor
investigado foi o de fabricação de longarias4.
4
Estruturas de reforço que compõe uma pá (alicerce estrutural da hélice do aerogerador), composta de vários feixes de
tecidos de lã de vidro impregnados com resina de secagem rápida.
152
Realizou-se avaliação pré e pós intervenção ergonômica realizada pelo
setor de engenharia da própria empresa. Utilizando-se como protocolo de
avaliação o Método REBA (Rapid Entire Body Assessment), de Hignett &
McAtamney (2000).
 Resultados Obtidos:
A primeira imagem analisada é do posto de trabalho antes da
intervenção ergonômica.
Resultados das avaliações, de acordo com o Método REBA:
Análise Pré-Intervenção:
Foto 4: funcionário com postura
inadequada
Resultados: Tabela A (Cervical, Perna, Tronco): 05 Pontos.
Tabela B (Antebraço, Punho, Braço): 07 Pontos. Tabela C (A e
B): 08 Pontos.
Nível de Risco e Ação: Nível: 03
Pontuação: 08 - 10 (08 Pontos)
Nível de Risco: Alto
Intervenção: Necessário em breve
Ao se realizar uma análise mais aprofundada sobre o posto de trabalho
avaliado e com o resultado obtido com o Método REBA, observa-se que a
pontuação obtida foi oito (08), considerado um nível de Risco Alto, sendo a
intervenção
necessária
e
breve.
Pôde-se
perceber
que
o
colaborador
realiza
um esforço muito elevado para poder empurrar o suporte com o rolo de manta
de lã de vidro, além de ficar em uma postura inadequada, pois é forçado a
realizar
flexão
lateral
de
tronco.
Ou
seja,
permanece
em
postura
estática
de tronco e realiza trabalho repetitivo, pois realiza a mesma tarefa durante
toda jornada de trabalho. Levando em consideração a NR-17, íten 17.2 (17.2.6):
O transporte e a descarga de materiais feitos por
impulsão ou tração de vagonetes sobre trilhos, carros de
mão ou qualquer outro aparelho mecânico deverão ser
executados de forma que o esforço físico realizado pelo
153
trabalhador seja compatível com sua capacidade de força
e não comprometa a sua saúde ou a sua segurança.
Preocupados
com
este
aspecto
e
devido
à
incidência
de
queixas
por
5
parte dos colaboradores , o departamento de engenharia da empresa desenvolveu um carrinho
motorizado, o qual transporta os rolos de manta de lã de vidro, como mostra a imagem a seguir.
Análise Pós-Intervenção:
Foto 02: Trabalhador conduzindo o equipamento.
120°
Ombro elevado a
mais de 90°.
Apoio unilateral.
Resultados: Tabela A (Cervical, Perna, Tronco): 02 Pontos. Tabela B (Antebraço, Punho, Braço): 06
Pontos. Tabela C (A e B): 05 Pontos.
Nível de Risco e Ação: Nível 02
Pontuação: 04 – 07 (05 Pontos)
Nível de Risco: Médio
Intervenção: Necessária.
Ao comparar este posto de trabalho, pós-intervenção ergonômica e o
anterior, observou-se que houve melhoras significativas, pois no anterior
obteve-se uma pontuação oito (08) considerada de risco alto e necessário
intervenção em breve. Após as intervenções, reduziu-se a pontuação para
cinco (05) e o risco para médio, porém ainda são necessárias intervenções de
melhoramento.
O carrinho projetado auxiliou consideravelmente, pois os colaboradores
não precisam realizar esforços excessivos para empurrá-lo, porém percebe-se
que ainda existem posturas de trabalho inadequadas, observa-se ainda que o
5
Não tivemos acesso aos percentuais de queixas, lesões e afastamentos.
154
braço do trabalhador está elevado a 120 graus, no momento em que ele aciona
a chave de partida do carrinho, sendo considerada uma postura extremamente
favorável para o desenvolvimento de lesões, principalmente bursites.
Observou-se a necessidade dos ajustes no carrinho:
 Existem fios soltos enquanto este se movimenta (o carrinho ao andar vai
arrastando a fiação elétrica à qual ele é ligado), podendo laçar alguém
que esteja próximo derrubando-o. A proposta seria colocar fiação aérea
ou embaixo do molde com dispositivo de acompanhamento do carrinho;
 Também colocar um contrapeso no lado oposto da plataforma para que
não tombe, quando o operador estiver em cima;
 Além de melhorar os suportes para a tesoura elétrica e manual;
 As chaves estão em locais inadequados, sendo um muito alto (obrigando
assim a elevação do ombro) e outra muito baixa (sendo necessário fazer
flexão de tronco). Estas chaves poderiam estar em uma bancada,
posicionada um pouco abaixo da linha do cotovelo, a frente do
colaborador;
 O acelerador do carrinho, obriga o trabalhador a ficar em apoio
unilateral, podendo perder o equilíbrio, além de poder apresentar
problemas posturais, devido o quadril ficar desalinhado. Sugere-se,
então, que este acelerador seja manual, projetado em cima da bancada
que foi mencionada anteriormente, pois assim o trabalhador poderá
realizar sua tarefa com o antebraço apoiado;

Também sugere-se que seja adotado um banco semi-sentado para o
trabalhador, podendo assim permanecer com uma postura mais
adequada, evitando assim fadiga.
155
4
3
5
2
1
Foto 05: Imagem do posto de trabalho, pós intervenção e
apontando as recomendações de adequação.
3.1.4- Estudo IV – Ginástica Laboral e Ergonomia Aplicada a Profissionais
de Odontologia (CASTRO, ZAT, 2007):
Estudo realizado a partir da Monografia apresentada no Trabalho de
Conclusão de Curso, da Faculdade de Educação Física, Universidade Católica
Dom Bosco - UCDB, pela então acadêmica, Priscila Castro.
 Características do Estudo:
Buscando comprovar a eficácia da ginástica laboral e da ergonomia
aplicada aos profissionais de odontologia. O presente estudo qualitativo foi
aplicado a um odontólogo em clínica particular, utilizando os seguintes métodos
de avaliação: questionário de anamnese, escala de Corllet (mensuração de
dor) e método REBA (avaliação das posturas de trabalho). Foram adotados os
seguintes procedimentos: observação, anamnese inicial, aplicação da escala
de Corllet (e re-avaliação) avaliação das posturas de trabalho através do
método REBA e aplicação de sessões de GL e alongamentos para serem
realizados antes da jornada de trabalho. Seguindo procedimentos éticos,
156
utilizou-se
o
termo
de
consentimento
livre
esclarecido
e
termo
de
consentimento de uso da imagem.
As sessões de ginástica laboral (compensatória) foram realizadas do
dia 01 de agosto a 14 de setembro de 2007, sendo feitas três (03) vezes na
semana (segundas, quartas e sextas das 16:00h às 16:20h), totalizando 19
sessões, os grupos musculares mais trabalhados foram os que através dos
testes apresentaram maior índice de dor, sendo eles: costas-superior(dorsal),
costas-médio (cintura), ombro direito, braço direito, punho direito e joelho
direito.
 Resultados Obtidos:
As posturas de trabalho do investigado, foram avaliadas através do
método REBA, também foi aplicada a Escala de Corllet para mensurar os
níveis de dor, antes de iniciar as sessões de GL e após dezenove sessões,
obtendo-se os seguintes resultados:
Escala de Corllet:
1
Pré-teste
Nível 3
2
3
4
5
Pós-teste
Nível 3
157
Como se pôde perceber e já mencionado, houve redução de
dor/desconforto passando do nível 03, para 02, nos seguintes segmentos:
ombro direito, punho direito, joelho direito, costas-médio (cintura) e costassuperiores (dorsal).
Após as sessões de ginástica laboral, foram visíveis as melhoras
conseguidas, enfatizando o quanto a ginástica laboral e a ergonomia podem
sim fazer a diferença na qualidade de vida dos odontólogos. Apesar do pouco
tempo em que foram desenvolvidas, as sessões de GL auxiliaram
consideravelmente na redução de dores, fazendo lembrar também que o
cuidado com a postura e a sequência dada aos alongamentos, conforme foi
indicado, foi alguns dos requisitos que também ajudaram no importante
resultado conseguido, além da consciência do investigado, o qual tem uma vida
ativa, pois quanto menor o nível de sedentarismo melhor os resultados que as
sessões de GL e as intervenções ergonômicas trarão.
3.1.5- Estudo V - Ginástica Laboral na Empresa: Relato de Experiência
(GALVÃO, ZAT, 2007):
Estudo realizado a partir da Monografia apresentada no Trabalho de
Conclusão de Curso, da Faculdade de Educação Física, Universidade Católica
Dom Bosco - UCDB, pela então acadêmica Ducymar Martins Galvão.
 Características do Estudo:
Esta pesquisa é de caráter qualitativo cujo o objetivo foi investigar a GL
para colaboradores de uma empresa de águas, na cidade de Campo
Grande/MS, na qual já é realizada a GL. Foram aplicados questionários a três
colaboradores do setor de atendimento personalizado e três do setor “call
center”, também foram colhidos depoimentos sobre a GL.
158
 Resultados Obtidos:
Pode-se perceber que a GL, nesta empresa tem caráter obrigatório,
segundo a literatura (LIMA, V., 2003) deve ser uma prática voluntária. E muitas
vezes as sessões são repetitivas, não tendo novos estímulos. Também se
constatou que não são feitos trabalhos de motivação e de orientação e
alterações ergonômicas.
Acredita-se que a GL realmente deve contribuir com a melhora das
condições de trabalho, com o ambiente ocupacional e não ser mais uma tarefa
a ser cumprida. Percebe-se que grande parte dos bons resultados vem das
questões de humanização e motivação encontradas nas sessões de GL
(CAÑETE, 1996).
A participação do trabalhador, com sugestões, depoimentos sobre o
seu entendimento do trabalho, além do desgaste físico e psíquico gerado
(GUARESCHI, GRISCI, 1993), poderá contribuir para um aumento dos
benefícios da GL.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A GL é uma ferramenta do mundo empresarial que possibilita ao
trabalhador compreender melhor a sua atividade laboral. Incorporar o trabalho
dentro do universo de uma empresa é, no mínimo, desafiador. Deve-se ter
cuidado e respeitar o ambiente empresarial, observando a forma de
comunicação, as roupas utilizadas para a aula, o trato com as pessoas, enfim à
adaptação a realidade da empresa deve ser sempre observada. É necessário o
discernimento dos colaboradores no sucesso dessa empresa, sem interferir no
sistema gerencial, e sim, agregar valor a ele através do trabalho. Os
profissionais de Educação Física que atuam na GL têm que ter claro que esse
processo, estruturado, mensurado, executado com excelência técnica leva à
valorização do ser humano e sua relação com o trabalho e a valorização da
profissão.
159
Deve-se pautar o trabalho no ser humano Integral. Ver os alunos
colaboradores das empresas, como pessoas que pensam, sentem dor, ficam
tristes e felizes dentro de sua jornada de trabalho e também na sua vida
pessoal. Levar alternativas coerentes e seguras para aliviar suas angustias
físicas, emocionais, sociais é parte da responsabilidade de um programa de
GL.
Referências:
ARAÚJO, C. G. S., Pável, R. C., PINA-ALMEIDA A. Flexiteste-análise
preliminar de sua objetividade e confiabilidade. In: Congresso Regional
Brasileiro de Ciências do Esporte. Volta Redonda, 1980.
CAÑETE, I. Humanização: desfio da empresa moderna, a ginástica laboral
como um caminho. Porto Alegre: Foco editorial, 1996.
COUTO, H. A. Ergonomia Aplicada ao Trabalho em 18 Lições. Ilustradao
por Ricardo Sá, Ergo, Belo Horizonte, 2002.
GUARESCHI, P. A.; GRISCI, C. L. I. A fala do trabalhador. Petrópolis/SP:
Vozes, 1993.
HIGNETT, MCATAMNEY. Rapid Entire Body Assessment, 2000.
LIMA, Deise Guadelupe de. Ginástica laboral: metodologia de implantação
de programa com abordagem ergonômica. Jundiaí/SP: Fontura, 2004.
LIMA, Valquíria de. GINÁSTICA LABORAL: ATIVIDADE FÍSICA NO
AMBIENTE DE TRABALHO. Phorte: São Paulo, 2003.
NR – 17 www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr17.htm - 54k.
160
CAPÍTULO IV
GINÁSTICA LABORAL INTEGRADA E BIOMECÂNICA OCUPACIONAL
José Marques Novo Júnior
Este capítulo trata dos valores e dos princípios norteadores nos quais o
Projeto de Extensão denominado “Programa de Ginástica Laboral Integrada e
de Biomecânica Ocupacional”-(GLiBO) tem se baseado em suas condutas e
práticas, tanto na contribuição à formação de recursos humanos na área da
Educação Física como nas ações de pesquisa científica. Concebido em 2003,
está registrado na Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Juiz
de Fora em 2005, com o objetivo de agregar tanto a característica generalista
da formação do profissional de Educação Física como a multiplicidade de
opções de sua intervenção profissional, razões pelas quais justificam a
identificação do projeto como atividade INTEGRADA, embasada nos conceitos
e métodos da BIOMECÂNICA OCUPACIONAL.
O projeto tem contribuído para que os acadêmicos das áreas da saúde
tenham a oportunidade de vivenciar um ambiente multiprofissional com ações
interdisciplinares, visando estabelecer condutas éticas da interação profissional
como também das diretrizes de intervenção na área da saúde ocupacional,
comprometendo-se a melhorar a qualidade de vida e do ambiente de trabalho,
promovendo ações de humanização do trabalho, interação e integração,
socialização, contribuindo às recomendações de atividade física diária,
minimizando
os
efeitos
deletérios
ao
sistema
músculo-esquelético,
cardiovascular e psicológico.
Um dos principais objetivos do projeto tem sido o contínuo investimento
na formação de recursos humanos, uma consequência desse esforço foi a
implantação, na reforma curricular, de disciplinas que contemplassem os
conteúdos necessários à aplicação da Ginástica Laboral.
Considerando a tendência atual que a doença ocupacional vem
assumindo, são muito comuns as referências às LER/DORT (Lesões por
Esforços Repetitivos/Doenças Osteomusculares Relacionadas com o Trabalho)
161
e às situações geradoras de stress emocional no dia a dia, cuja busca
constante da maior produção tem sido priorizada em detrimento da saúde,
física ou mental. A intensificação do trabalho, causando sofrimento na
execução de tarefas, realizadas muitas vezes por movimentos repetitivos, com
posturas inadequadas, trabalho muscular estático, conteúdo pobre de tarefas,
monotonia e sobrecarga mental, associadas a relações interpessoais
conflituosas afetam diretamente a vida dos indivíduos, seu ambiente de
trabalho e suas relações sociais. Tais situações podem gerar afastamentos do
trabalho e inclusive evoluir para a incapacidade parcial ou permanente e
aposentadorias por invalidez.
Assim, a atividade física no local de trabalho, aliada à ergonomia e à
biomecânica ocupacional, tem sido uma das opções para aliviar e/ou eliminar o
sofrimento dos trabalhadores, que vivenciam dores musculares. Trata-se de um
procedimento que pode reduzir consideravelmente os índices de acidente de
trabalho, os afastamentos devido a doenças ocupacionais e as faltas motivadas
pelas dores, cansaço excessivo e stress.
Os bons resultados estão
relacionados com os efeitos de relaxamento, descontração, aumento da
disposição e redução ou eliminação das dores e sintomas físicos.
Logo, busca-se, pela Ginástica Laboral, a melhoria da saúde dos
trabalhadores dentro e fora do seu ambiente de trabalho, a melhoria das
condições para se cultivar hábitos saudáveis, a promoção de um melhor
condicionamento físico, bem como o estímulo ao convívio salutar no ambiente
de trabalho.
Nota-se que pela ampla variedade de fatores que envolvem a saúde
ocupacional, é inconcebível que a Ginástica Laboral seja abordada apenas
como um simples projeto dentro das empresas. Ela deve ser parte de um
programa efetivo de saúde ocupacional e de bem estar dos trabalhadores.
Sendo assim, a GL deve ser INTEGRADA ao ambiente corporativo, envolvendo
tanto os setores da administração como da produção, juntamente com a equipe
responsável pela organização, planejamento e execução da Ginástica Laboral
Integrada (GLi).
162
Desse modo, evidencia-se a importância da GL INTEGRADA aos
departamentos de Segurança do Trabalho, de Medicina Ocupacional, de
Recursos Humanos, de produção, da Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes (CIPA), e de outros setores administrativos, cujo sucesso se fará
pela parceria e cumplicidade na promoção da saúde e qualidade de vida no
ambiente de trabalho. Essa INTEGRAÇÃO, sob vários aspectos, deverá
contribuir para identificar:
1. Os
fatores
de
risco
para
pré-disposição
de
doenças
cardiovasculares, muitas delas assintomáticas (hipertensão e
diabetes, por exemplo) e que, dependendo do caso, trariam
impedimento do colaborador à participação das aulas de GLi;
2. Os distúrbios do aparelho locomotor que levariam aos desconfortos
e dores musculares nas execuções das tarefas, levando às más
posturas que proporcionariam as LER/DORT;
3. Os níveis de desajustes nas relações interpessoais e profissionais
no ambiente de trabalho, que desencadeariam processos de
estresse psicológico;
4. Os aspectos ergonômicos das ferramentas e do ambiente de
trabalho;
5. O grau de conhecimento dos colaboradores sobre as características
e limites de seu corpo;
6. As relações trabalhistas no contexto da missão da empresa e dos
objetivos dos serviços por ela prestados.
Tem sido evidenciado em muitas situações que o sucesso das
implantações de um programa de GLiBO só é alcançado pela integração dos
setores acima descritos, numa ação conjunta e parceira, desde a concepção
até a execução do programa, em conjunto e dependendo do grau de
necessidade e dos objetivos, outras técnicas poderão ser aplicadas nas aulas
de GLi como ioga, massagem, exercícios chineses e sessões de relaxamento.
Assim posto, e considerando-se a reforma curricular pela qual passou o
curso de Educação Física da Universidade Federal de Juiz de Fora, definiu-se
algumas disciplinas eletivas específicas que possibilitam ao acadêmico
163
pesquisar e entender o ambiente corporativo bem como absorver parte do
conhecimento de outras áreas da saúde que complementam o Programa
GLiBO.
As
principais
disciplinas
são:
1)na
Graduação,
“Biomecânica”,
“Exercício Físico e Doenças Crônicas Não-Transmissíveis”, “Ginástica Laboral
Integrada”, “Biomecânica Experimental”, 2)na Pós-Graduação, “Métodos e
Técnicas de Avaliação Biomecânica” (lato sensu) e “Biomecânica Ocupacional”
(stricto sensu). Há de se considerar que tais disciplinas apenas complementam
a formação do acadêmico, que tem à sua disposição um conjunto de conceitos
que satisfazem o seu perfil para atuar em GLiBO: anatomia e fisiologia,
ergonomia e riscos ambientais, biomecânica e avaliação postural, avaliação
morfo-funcional e condicionamento físico, normas de segurança e qualidade de
vida no trabalho, psicofisiologia e estresse ocupacional, dinâmica de grupo e
recursos humanos, promoção da saúde e triagem de risco.
Além desses aspectos técnicos e formativos, é característica do
profissional de Educação Física a sua capacidade de observação e de
motivação tão necessária à interação com os funcionários da empresa. Além
disso, é sua função atuar na prevenção e por isso é de sua responsabilidade a
triagem de risco cardiovascular, identificando fatores de risco tais como:
sedentarismo, tabagismo, hipertensão, diabetes, dentre outros.
Em se tratando das LER/DORT, é necessário conhecimento sobre a
postura e sobrecarga do aparelho locomotor, aliando os conceitos da
ergonomia
e
da
biomecânica,
utilizando
de
métodos
de
avaliação
antropométrica e de esforços musculares, e de identificação das características
psico-fisiológicas relacionadas aos ritmos circadianos e à influência do
ambiente físico.
Têm-se aqui dois campos do conhecimento humano em destaque: a
Ergonomia e a Biomecânica. Ambos, apesar de mencionados em resoluções
do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), sejam a do Código de
Ética ou a das competências e campos de atuação profissional, não definem as
prováveis
vertentes
e
especificidades.
Torna-se
necessário,
portanto,
contextualizar tais campos de conhecimento no tema da Ginástica Laboral,
164
escopo deste livro. A Ergonomia busca entender e explicar como determinadas
variáveis afetam o desempenho humano no trabalho, ou seja, seu foco é sobre
o trabalho e as ações ocupacionais.
A Biomecânica, por sua vez, disponibiliza diversos métodos e técnicas
de quantificação do movimento humano em diversas situações, desde as
ações esportivas de alto rendimento às situações de avaliação funcional. É
nesse caso que a Biomecânica adquire uma especificidade denominada
Biomecânica Ocupacional, cujo objetivo central é a investigação de diversos
fatores nos movimentos corporais em situações de trabalho.
É imprescindível, no entanto, a identificação dos limites desses dois
campos, no sentido de viabilizar e valorizar toda proposta de GLi. Na
Ergonomia, pode-se verificar a sua preocupação com o ser humano, na
vertente que investe na melhoria das condições específicas do trabalho
humano,
juntamente
com
a
higiene
e
a
segurança
do
trabalho,
independentemente das linhas de atuação ou das estratégias e dos métodos
que possa utilizar.
Nota-se, nessas afirmações, um indício do que identificou-se como
“Integrada” em nossa proposta de GL. A Ergonomia torna-se eficiente nos seus
propósitos a partir da consideração de outros fatores, tais como hábitos
saudáveis e aspectos de segurança. Quando se visa à prevenção das
LER/DORT e se o objeto principal é o homem, na sua condição de agente no
ambiente de trabalho, devem-se considerar também alguns conceitos
importantes no entendimento dessas lesões/distúrbios. Nesse sentido, é
importante considerar também que as lesões provenientes de situações
ocupacionais, baseadas em evidências científicas, têm sido sustentadas por
diversas teorias. Apesar das causas serem multifatoriais, é comum a todas as
lesões ou às desordens músculo-esqueléticas, a influência biomecânica por
natureza.
Partindo desse princípio, uma lesão significa rompimento mecânico de
tecidos que resulta em dor. Todo evento traumático, tal como os das
LER/DORT, significa que a integridade do tecido envolvido foi corrompida e
que sua organização mecânica foi alterada. Como consequência, há a geração
165
de desconforto e dificuldade de empregar as mesmas estruturas biológicas na
realização das tarefas ocupacionais.
Pode-se dizer que, se um programa de GL pretende satisfazer a
necessidade da empresa na redução e/ou prevenção das LER/DORT, é
preciso cautela nesse entendimento, pois se torna necessária, em primeiro
lugar, a identificação dos fatores de risco que podem desencadear tais lesões e
em segundo lugar, planejar a GL de modo que tais fatores possam ser
reduzidos e/ou eliminados. Fatores de risco à estrutura músculo-esquelética
proveniente de ações/tarefas ocupacionais, relacionadas ao trabalho, podem
ser agrupados em quatro categorias: genética, morfológica, psicofisiológica e
biomecânica.
As características inerentes a essas categorias têm sido muito
exploradas em vários estudos sobre as LER/DORT. Mas daí, extrapolar as
ações de GL justificando sua aplicação na prevenção direta das mesmas
requer muita pesquisa científica cuidadosa e com metodologia adequada.
Infelizmente, poucos estudos têm abordado o controle de tais fatores para o
entendimento das lesões músculo-esqueléticas. Pode-se verificar que são
fatores
não-manipuláveis
os
morfológicos
e
genéticos;
restando
os
biomecânicos e os psicofisiológicos, que podem ser manipulados e
controlados.
Para uma GL que se proponha potencialmente prevenir as LER/DORT,
é preciso entender as bases biomecânicas das lesões músculo-esqueléticas.
As atividades laborais são cinesiologicamente complexas, envolvendo grande
número de biomateriais tais como músculos, ossos, tendões, ligamentos,
cartilagens, líquido sinovial e articulações. Todos esses biomateriais, que são
tecidos vivos, possuem comportamentos e características específicas quando
atuam na realização de movimento.
Algumas teorias têm sido propostas para descrever (ou categorizar) os
processos das lesões:

Teoria de interação multivariada, pela qual fatores morfológicos,
genéticos, psicofisiológicos e biomecânicos são responsáveis, em
166
conjunto, pelo desencadeamento das lesões ao sistema músculoesquelético;

Teoria da fadiga diferencial, na qual as atividades ocupacionais são
planejadas para a produção e não na otimização da compatibilidade
biológica, contemplando valores industriais e econômicos, tornandose atividades com movimentos repetitivos;

Teoria da carga cumulativa, apoiada nas características mecânicas
dos biomateriais, cuja estrutura e composição são passíveis de
deformação e adaptação, mas que sob cargas prolongadas e/ou
repetitivas podem sofrer alterações que, se crônicas, podem implicar
em deformações permanentes;

Teoria da sobrecarga, que justifica as lesões a partir da excessiva
solicitação das estruturas para o movimento e a manipulação
durante as tarefas laborais (sejam de carga, tempo de esforço,
repetitividade de movimento, interação postura e movimento).
Verifica-se desse modo que, tanto a Biomecânica Ocupacional como a
Ergonomia, são disciplinas de grande importância na formação do profissional
de Educação Física, juntamente com o perfil já tradicional da área: formação
didático-pedagógica, biológica e antropológica.
Além disso, o projeto de extensão “Programa de Ginástica Laboral
Integrada e de Biomecânica Ocupacional” da Faculdade de Educação Física e
Desportos da UFJF tem investido na formação de recursos humanos capazes
de interação multiprofissional, construindo uma prática de atividades laborais,
que visam o aprimoramento dos colaboradores perante os meios de produção,
dando-lhes condições para melhoria dos hábitos de vida através de ações
preventivas, conscientizadoras e educacionais.
Nossa prática tem sido exaustivamente aplicada nos vários ambientes
da universidade (transporte, vigilância, parques e jardins, hospital universitário),
com o objetivo de identificar as possibilidades de adaptação e integração entre
os
vários
setores
produtivos
e
de
seus
objetivos
específicos.
Metodologicamente, a ação conjunta dos alunos de Educação Física,
167
fisioterapia, serviço social, medicina e enfermagem tem consolidado as
diretrizes de um trabalho em equipe, juntamente com a administração superior.
Tem-se obtido sucesso nas ações, primeiro porque o investimento no
programa é focado nos recursos humanos, e segundo, porque há grande
liberdade de identificação dos diversos fatores que causam o absenteísmo,
insatisfação com o trabalho, sedentarismo e doenças cardiovasculares. Uma
característica fundamental de nosso programa é a não utilização de
facilitadores, o que promove níveis de adesão mais evidentes e o envolvimento
mais responsável e espontâneo dos trabalhadores, num processo de
cumplicidade com nossa equipe.
A
Pró-Reitoria
de
Recursos
Humanos
e
suas
coordenações
possibilitam a análise dos periódicos médicos, dos prontuários dos funcionários
e da execução de avaliações morfo-funcionais durante os exames periódicos.
O nosso protocolo baseia-se em análise ergonômica do ambiente de trabalho e
as relações com as funções ali exercidas.
As intervenções de Gli são elaboradas em conjunto com os
trabalhadores, respeitando-se o mesociclo de intervenção sob a forma de
planos de aula. Não necessariamente as atividades são exclusivamente
corporais, com exercícios de alongamento ou de flexibilidade. Por vezes,
dinâmicas de grupo, jogos empresariais, lazer ativo e o circuito de minipalestras sobre assuntos ligados à saúde e bem-estar têm produzido bons
efeitos. São aplicados questionários psicossociais e morfo-funcional, além
daqueles que possam identificar fatores de risco cardiovascular. A avaliação
semestral de todo o trabalho realizado completa o mesociclo das intervenções.
Vale ressaltar a importância que o nosso projeto de extensão possui
enquanto ambiente para discussão de temas relevantes, compartilhamento de
conhecimento e de suporte às pesquisas científicas. O desenvolvimento de
estudos desse nível tem o suporte do Laboratório de Avaliação Física,
localizado no Centro de Atenção à Saúde do Hospital Universitário da UFJF, o
qual possui equipamentos de última geração para a avaliação dos esforços
musculares em atividades ocupacionais.
168
Com o uso de um sistema portátil de avaliação muscular quantitativa
(dinamometria, extensiometria e eletromiografia), da cinemetria (registro e
análise dos movimentos através de filmagem) e de técnicas de análise
estatístico-matemática para interpretação dos dados, os projetos a serem
desenvolvidos no próprio local de trabalho, visam identificar os níveis de fadiga
muscular, as correlações entre força e desempenho na realização de tarefas,
os ajustes cardiovasculares durante o trabalho, e análise postural estática e
dinâmica.
Os resultados a serem obtidos visam identificar parâmetros que
possam efetivamente auxiliar na definição dos procedimentos adequados de
técnicas e de atividades nas aulas de Gli, específicas ao perfil do trabalhador e
das atividades ocupacionais requeridas no desempenho de suas tarefas.
REFERÊNCIAS
ABERGO. Regimento dos grupos técnicos da ABERGO-Associação
Brasileira de Ergonomia. Assembléia Geral Ordinária da ABERGO de 4 de
setembro de 2002, Recife, Pernambuco. 2003, 14p.
BINI, Isabel Cristina. Elaboração de programa de prevenção e verificação
dos fatores de risco para as coronariopatias. Dissertação de mestrado.
Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção, 2004, 97p.
CONFEF. Resolução CONFEF No.046: sobre a Intervenção do Profissional de
Educação Física e respectivas competências e define os seus campos de
atuação profissional.. Conselho Federal de Educação Física, 2002.
CONFEF. Resolução CONFEF No.056: sobre o Código de Ética dos
Profissionais de Educação Física registrados no Sistema CONFEF/CREFs.
Conselho Federal de Educação Física, 2003.
KUMAR, Shrawan. Theories of musculoskeletal injury causation. Ergonomics,
vol.44, n.1, p.17-47, 2001.
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Brasil. LER / DORT - Protocolo de Investigação,
diagnóstico, Tratamento e Prevenção de LER/DORT. Secretaria de Políticas
de Saúde, Departamento de Gestão de Políticas Estratégicas, Coordenação de
Saúde do Trabalhador. 2002, 10p.
MINISTÉRIO DA SAÚDE, BRASIL. Lesões por esforços repetitivos (LER)/
Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho(DORT). Secretaria de
Políticas de Saúde, Departamento de Gestão de Políticas Estratégicas,
Coordenação de Saúde do Trabalhador. 2000, 38p.
MORAES, Anamaria de. Ergonomia: conceitos e aplicações / Anamaria de
Moraes, Cláudia Mont‟Alvão, Rio de Janeiro: A. de Moraes, 2003, 140p. ISBN
85-902862-4-X.
169
CAPÍTULO V
PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL (GL): ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO
Ricardo Alves Mendes
Neiva Leite
Este capítulo apresenta a síntese da produção científica dos
pesquisadores, professores Mestre Ricardo Alves Mendes e Doutora Neiva
Leite sobre ginástica laboral (GL) e saúde do trabalhador, em conexão com as
experiências práticas como: profissionais, pesquisadores da área da saúde
ocupacional, professores universitários, professores de educação física e
instrutores de ginástica laboral.
Metodologicamente serão utilizadas a Dissertação de Mestrado de
Ricardo Alves Mendes intitulada “Ginástica Laboral: implantação e benefícios
nas indústrias da Cidade Industrial de Curitiba (CIC)”, bem como o livro
“Ginástica Laboral: princípios e aplicações práticas”, dos dois pesquisadores,
dos artigos publicados nos anais do Primeiro Encontro de Ergonomia, Saúde e
Trabalho da Universidade Federal do Paraná (UFPR), também escrito pelos
dois pesquisadores, trabalhos realizados e apresentados pelos pesquisadores,
juntamente com os bolsistas do Núcleo de Pesquisa em Qualidade de Vida
(NQV) da UFPR e monografias de graduação e pós-graduação orientadas
pelos mesmos.
5.1 PRÉ-REQUISITOS PARA PROPOSTA DE GL JUNTO ÀS EMPRESAS
Antes de o profissional propor a implantação de um programa de GL
junto às empresas, sugere-se aos iniciantes estudo aprofundado na área de GL
e conhecimento detalhado sobre o funcionamento da empresa para a
elaboração de projeto. A avaliação pré-projeto inclui as tarefas realizadas pelos
trabalhadores, horários dos turnos para facilitar o planejamento da proposta de
implementação de um programa de atividade física no ambiente do trabalho.
170
O profissional de educação física, ao propor a implantação de
programa de GL, precisa saber que a empresa ao realizar investimento, deseja
conhecer as perspectivas de retorno. Cabe a esse profissional da
GL
ressaltar
que, em curto prazo, os resultados e os benefícios encontrados são mais
relevantes para os trabalhadores participantes do programa. Os resultados
mais significativos para as empresas são atingidos em longo prazo.
5.2 Resultados dos estudos científicos com GL
Conhecer e divulgar os resultados e os benefícios associados, à prática
da GL tanto para as empresas e trabalhadores é elemento imprescindível para
justificar a implementação de um programa de GL junto aos empresários.
Muitas empresas programam a GL pelo objetivo de prevenção e
reabilitação de doenças ocupacionais, alcançando resultados significativos
para a saúde dos trabalhadores e, consequentemente, para empresa. De forma
didática, as doenças ocupacionais podem ser agrupadas em dois grandes
grupos, ou seja, os Distúrbios Osteomusculares Relacionados com o Trabalho
(DORT) e os Distúrbios Psicológicos Relacionados com o Trabalho (DPRT).
Quando se menciona os DORT, ressaltam-se as lesões como: a
tendinite e a tenossinovite dos músculos dos antebraços, a compressão dos
nervos ulnar e radial, a síndrome da tensão cervical, a lombalgia e as bursites
de ombro e cotovelo ocasionados nos trabalhadores a partir de esforços
repetitivos e cumulativos ocorridos com nexo causal com o trabalho. Os DPRT
agrupam as doenças como o estresse organizacional, a fadiga mental, a
síndrome de Burnout, a depressão e outras doenças psicológicas que ocorrem
nos trabalhadores por causa do trabalho moderno e competitivo.
Os resultados mais relevantes encontrados nas indústrias, após
implantação da GL foram o aumento da satisfação dos trabalhadores com a
empresa
e
produtividade,
diminuições
das
doenças
ocupacionais,
absenteísmo, número de horas de afastamentos do trabalho por doenças
ocupacionais e acidentes de trabalho (MENDES, CASAGRANDE e LEITE,
2001).
171
Os resultados mais relevantes encontrados nos trabalhadores, após a
implantação da GL foram às melhorias da qualidade de vida, bem-estar geral e
saúde, diminuições da fadiga muscular, estresse e fadiga mental, bem como,
maior integração com os colegas de trabalho (MENDES, 2000).
Podem-se apresentar outros resultados e benefícios, a partir de
estudos realizados pelos integrantes do Núcleo de Pesquisa em Qualidade de
Vida (NQV/ UFPR):
1. Aumento significativo da flexibilidade em todas articulações
avaliadas(p<0,01) e da flexibilidade do teste sentar-alcançar
(p<0,0033) (MENDES, COLPANI, DONINI e LEITE, 2005);
2. Diminuição significativa das algias em todas partes do corpo de
57% para 14% (p<0,01) (PROENÇA, MENDES e LEITE, 1998);
3. Diminuição dos encurtamentos musculares do músculo peitoral
menor (p<0,05) PROENÇA, MENDES e LEITE, 1998);
4. Diminuição significativa das queixas de insônia, distúrbios do sono
(p< 0,005) e do mau humor (p<0,001) (ALVES,1999).
Atualmente o programa de ginástica laboral é considerado um
programa de qualidade de vida e, por isso, a GL sendo implantada com o
objetivo de melhorar a qualidade de vida de seus praticantes tem alcançado
vários benefícios para os trabalhadores dentro e fora do ambiente de trabalho.
5.3 ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE GL
Existem algumas etapas imprescindíveis que devem ser adotadas para
implantar e desenvolver um programa de ginástica laboral (GL) com sucesso.
Após vários anos de estudo e experiência prática na área da saúde
ocupacional, percebeu-se que para iniciar uma proposta de GL junto às
empresas há necessidade de ultrapassar cinco etapas principais.
A primeira etapa é o conhecimento que o profissional de GL deverá ter
para demonstrar aos diretores, empresários e à chefia da empresa para
convencê-los da importância de investir no capital humano. Muitas empresas
172
não possuem programa de
GL
pela falta de informação, por valorizar mais a
tecnologia que o ser humano, por não achar importante investir na qualidade
de vida e na promoção da saúde de seus trabalhadores.
Exemplo disso vem de um estudo realizado junto às 257 indústrias na
Cidade Industrial de Curitiba (CIC), em que somente oito (3,11%) possuíam
programa de GL (MENDES, 2000). Outro estudo realizado na CIC em 2004
mostrou que houve um aumento para 20 indústrias que possuíam programa de
ginástica laboral, mas o número de indústrias aumentou para 511, logo o
percentual de indústrias com GL aumentou para 3,91%(DONINI, 2004).
Estes percentuais demonstraram que houve aumento de programas de
GL, mas este aumento ainda é muito pequeno. Existe um grande mercado a
ser explorado, talvez pelo desconhecimento dos benefícios da GL por parte dos
empresários, pela carência de profissionais especializados na área da saúde
ocupacional e da ginástica laboral denotando propostas de implantação com
baixa qualidade.
A segunda etapa para a implementação e manutenção do programa de
GL
é a associação da
GL
com os setores de recursos humanos (RH), medicina
ocupacional e/ou segurança do trabalho (Serviço especializado em segurança
e medicina do trabalho - SESMT), sendo aplicada em conjunto com os outros
programas de promoção de saúde e QV desenvolvidos pela empresa.
A
massagem
corporal,
relaxamento,
academia
de
ginástica,
musculação e dança oferecida pelas empresas e voltada somente para os
trabalhadores são considerados programas de qualidade de vida e/ou
programas de promoção de saúde realizados no ambiente do trabalho. Os
resultados desses programas juntamente com a GL devem ser divulgados
dentro da empresa e também pela mídia, pelo profissional de GL através de
trabalhos científicos em congressos de Educação Física e em outros eventos
científicos que forem possíveis de serem apresentados.
O profissional responsável pela
GL
deverá verificar se existem outros
programas de qualidade de vida, além do programa
GL,
pois certamente um
será o complemento do outro e dará consistência aos benefícios alcançados
pelos trabalhadores e pela empresa.
173
A terceira etapa da implantação é o planejamento das atividades
físicas, tão preconizadas nos programas de ginástica laboral, em forma de
plano de aula, de planejamento mensal, semestral e anual. Planejar é a melhor
forma de objetivar e alcançar os benefícios compatíveis às duas classes
trabalhistas. Dessa forma, haverá uma maior aceitação do programa de
GL
pela
empresa e consequentemente uma maior adesão dos trabalhadores e
empresários.
A falta de planejamento e seleção das atividades físicas, na maioria
das vezes, é uma característica dos profissionais que trabalham com ginástica
laboral, mas que não são da área da educação física. Muitos profissionais
ainda fazem confusão na prescrição dos exercícios de ginástica laboral, ou
seja, selecionam somente exercícios de alongamentos e, muitas vezes,
repetem sempre os mesmos exercícios. Essa distorção restringe os objetivos e
os resultados esperados das atividades da
GL
junto aos trabalhadores e
empresários.
A diversidade das atividades aplicadas garante o sucesso da GL. As
atividades selecionadas no planejamento podem envolver exercícios de
fortalecimento, coordenação, alongamento, atividades lúdica-recreativas e
relaxamento. Os materiais disponíveis à prática de GL incluem bolas de
diferentes tamanhos e texturas, bandas de borrachas, bastões, bambolês,
cordas, bexigas coloridas, fitas, halteres, entre outros equipamentos.
A quarta etapa na implantação de um projeto de
GL
está relacionada
com a participação efetiva dos trabalhadores e dos empresários no programa
de ginástica laboral. A falta de participação dos trabalhadores e da chefia
significa a falta de comprometimento. Isso é uma situação crítica e, muitas
vezes, de difícil solução. Somente com o exemplo de participação e de
comprometimento da chefia é que os trabalhadores entenderão a importância
da GL.
Além disso, a falta de obrigatoriedade na participação do referido
programa torna as sessões dependentes da vontade individual. O interesse em
praticar atividades físicas varia de acordo com as aprendizagens motoras
prévias, bem como com o estilo de vida de cada um. A modificação do hábito
174
sedentário arraigado na cultura exige uma mudança no comportamento interno
(individual) e também da sociedade atual. Para algumas pessoas, o exercício
físico é percebido como um fator estressor negativo, logo é necessário um
trabalho paralelo de reeducação do comportamento das pessoas frente à
proposta da GL.
Sugere-se, então, que a
GL
seja obrigatória por um período de quatro a
seis meses, até que se faça uma reavaliação e se verifiquem os resultados.
Esse período é suficiente para que os instrutores realizem um trabalho de
educação e/ou reeducação corporal e ressaltem a importância da saúde do
trabalhador. O comprometimento de todos auxilia a obtenção de resultados
significativos. Então, a partir desse momento, poderia ser implantada uma
GL
de participação não-obrigatória e/ou voluntária.
O instrutor deverá estimular e despertar a motivação da prática da
GL
com diferentes estratégias, por exemplo, ao planejar atividades e o uso de
materiais de apoio, tanto para os praticantes, como para aquelas pessoas que
ainda não participam do programa.
A quinta etapa está associada à manutenção do programa de
GL.
Essa
fase avalia o grau de comprometimento de todos os participantes no processo,
desde a coordenação, instrutor, trabalhadores e empresários. A reavaliação
constante do programa de GL, agregado ou não a outros programas que
promovam saúde, qualidade de vida e educação dos trabalhadores, revela
resultados que, divulgados dentro da empresa, funcionam como retroalimentação e uma forma de continuidade do programa. Quanto maior o grau
de formação e informação dos participantes maior será o grau de consciência
dos mesmos, e isso aumenta a possibilidade do programa de GL ter sucesso.
A fase de manutenção divulga resultados para os trabalhadores e para
as organizações que possuem a ginástica laboral. Se os trabalhadores
estiverem com boa qualidade de vida, dentro e fora da empresa, conseguirão
se preocupar com a qualidade do produto, do processo, da matéria-prima e dos
demais itens relacionados à implantação e desenvolvimento de programa de
qualidade total.
175
A divulgação dos resultados deve ser de forma clara e objetiva. Às
vezes, os resultados não podem ser mensurados, como um simples aumento
de produtividade. Na maioria das vezes, é difícil de medir a produtividade e
apresentá-la de forma numérica e direta aos empresários. Nesse caso, é mais
seguro ressaltar que a imagem da empresa melhorará perante seus clientes e,
provavelmente, isso aumentará a venda de seus produtos. A
GL
entrará como
um valor agregado ao produto, ou seja, as pessoas, ao saberem que a
empresa oferece benefícios para seus empregados, comprarão mais produtos
por causa dessa boa imagem.
A adesão dos participantes às atividades da GL depende também de
estarem saciadas as necessidades básicas dos trabalhadores como a sede,
fome, sono, organização no ambiente familiar e ocupacional. Após atingir essas
necessidades, o ser humano poderá buscar outros anseios importantes e
imprescindíveis para a qualidade de vida, como a auto-estima, a auto-imagem
e a auto-realização.
5.4 PARADIGMAS ORGANIZACIONAIS
No velho paradigma, o empresário investia nas máquinas, nos
equipamentos, enfim, investia somente na tecnologia, e se esquecia totalmente
do ser humano, da sua saúde e do seu bem-estar. Atualmente, os empresários
chegaram à conclusão de que, para aumentar sua produtividade e seus lucros,
deverão investir tanto na tecnologia como no capital humano. Nesse contexto,
a implantação da ginástica laboral e de outros benefícios que as empresas têm
oferecido para os trabalhadores é alternativa para o resgate da união do
trabalho com o lazer.
O novo paradigma de administração preconiza que as empresas
devem criar planos para colocar as pessoas certas nos lugares certos,
trabalhar a motivação, o treinamento do capital humano e estabelecer a divisão
dos lucros e/ou incentivos por meio de prêmios, como a criação e promoção de
uma gestão participativa. Infelizmente, muitas empresas não oferecem
facilidades para os seus colaboradores, como programas de educação e
176
saúde, porque a classe patronal possui o receio de que se o trabalhador
aumentar muito o seu conhecimento aumentará o seu poder.
A GL deve ser um momento de descontração, relaxamento, distração e
forma de se exercitar, com isso, ela promove a interação entre os funcionários
e proporciona um momento para que o indivíduo seja um ser mais integral,
deixando o ambiente de trabalho mais descontraído. A ginástica laboral mesmo
sendo praticada no horário de trabalhado foi considerada por 74%
trabalhadores que a praticam como um momento de lazer (MENDES, 2000).
A
GL
deve ser amplamente divulgada entre os funcionários antes e
durante a sua implementação. A decisão da implantação da
GL
não pode ser
uma determinação de cima para baixo, da chefia para os funcionários. O ideal
é envolver, no mínimo, os representantes dos trabalhadores, para que a
decisão sirva para o interesse de todos. Talvez a GL seja um caminho para
humanizar as organizações, e as evidências pesquisadas e observadas na
prática mostram esse direcionamento. Com isso, juntos o trabalhador e a
empresa só têm a ganhar.
5.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O profissional da promoção da saúde que trabalha com ginástica
laboral quando consegue alcançar as cinco etapas de implantação da
GL,
pode
avaliar os resultados e os benefícios e divulgá-los à empresa e aos
trabalhadores. Mas deve ressaltar que os resultados da GL normalmente
extrapolam o ambiente de trabalho e vão para a vida do trabalhador.
Sugere-se às empresas e aos profissionais que ministram as aulas de
GL, que estão envolvidos com a implantação e com a manutenção da
realizem
uma
revisão
constante
das estratégias
de
GL,
que
envolvimento
e
comprometimento dos responsáveis pela empresa com a prática, a
implantação e o desenvolvimento da
GL.
Isso garantirá um melhor apoio e uma
maior manutenção do programa.
A promoção da saúde nas empresas não deve se limitar apenas ao
atendimento médico. Todo programa implantado em uma organização, que
177
visa à prevenção da saúde das pessoas, é considerado um programa de
promoção de saúde e consequentemente de qualidade de vida dos
trabalhadores. A ginástica laboral, por suas características intrínsecas, é
considerada um programa de prevenção de saúde e qualidade de vida que, por
meio do exercício físico, favorece as pessoas, a empresa e a sociedade como
um todo.
REFERÊNCIAS
ALVES, Evanise Angela. A ginástica laboral relacionada a aspectos da
qualidade de vida e dores corporais. Curitiba, 1999. Monografia (Graduação
em Educação Física). Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do
Paraná.
DONINI, Humberto Délio. Ginástica laboral: resultados e benefícios para as
indústrias e para os trabalhadores na visão dos coordenadores de
programas na cidade industrial de Curitiba (CIC). Curitiba, 2004. Monografia
(Licenciatura em Educação Física) Setor de Ciências Biológicas, Universidade
Federal do Paraná.
MENDES, Ricardo Alves. Ginástica laboral (GL): implantação e benefícios
nas indústrias da Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Curitiba, 2000.
Dissertação (Mestrado em Tecnologia). Programa de Pós graduação em
Tecnologia, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná.
MENDES, Ricardo Alves; CASAGRANDE, Cláudia; LEITE, Neiva . A ginástica
laboral na visão dos representantes das indústrias. Rev. Bras. Med. Esp., 7
(3):103, 2001.
MENDES, R.A.; LEITE, N. Ginástica Laboral: princípios e aplicações
práticas. Barueri (SP): Manole, 2004, 208 p.
MENDES, R.A.; COLPANI, F; DONINI, H.D. LEITE, N. A ginástica laboral e a
flexibilidade em trabalhadores administrativos. Revista Brasileira de Ciência e
Movimento,v13, n.4, p.48, 2005.
PROENÇA, L. J. L.; MENDES, R. A. & LEITE, N. Os efeitos de um programa de
ginástica implantado no ambiente de trabalho. Anais do II Congresso Sul
Brasileiro e II Congresso Paranaense de Medicina Desportiva. Curitiba,
SMDP, 1998, p.29
178
CAPÍTULO V
GINÁSTICA LABORAL NO RIO GRANDE DO SUL
Débora Rios Garcia
5.1 INTRODUÇÃO
Relata-se neste trabalho as atividades desenvolvidas pelo Programa de
Ginástica Laboral (PGL), no período de 2001 a 2006, junto às empresas no Rio
Grande do Sul, mais especificamente situadas nas cidades de Porto Alegre,
Bento Gonçalves, Caxias do Sul, São Leopoldo e Farroupilha. Essas empresas
envolveram-se no PGL com a finalidade de proporcionarem a seus
trabalhadores condições de melhoria de saúde como fator indispensável para a
qualidade de vida.
Notadamente, a vida moderna tem apresentado aos cidadãos
situações estressantes que provocam um desequilíbrio entre o físico, o
psicológico e o social, acarretando mudanças no metabolismo do indivíduo.
Não só na circunstância do trabalhador, mas também nas que lhe estão
circunscritas: a pressa para chegar na hora, um salário que deve atender suas
necessidades, uma vida sem lazer, atraso do ônibus cheio, etc. Esses fatores
somados aos períodos longos de trabalho estático ou com movimentos cíclicos,
curtos e repetitivos podem provocar má postura, lesões musculares, redução
do nível de flexibilidade e diminuição da aptidão física, promovendo,
possivelmente, um deficiente nível na qualidade de vida. O reflexo desta
situação está diretamente ligado a um dos maiores problemas, hoje enfrentado
pelo setor de recursos humanos das empresas, que se refere às queixas
frequentes de dores, provenientes de todas as classes profissionais, gerando
pedidos de afastamentos e licenças-saúde e até, em muitos casos, à
aposentadoria precoce e por invalidez no desempenho de funções.
Considerando-se que o ser humano passa a metade de sua vida ativa
trabalhando em condições que não lhe permitem desenvolver-se, nem
179
psicologicamente nem fisicamente, é lícito reconhecer os efeitos nefastos que
daí advém. Observa-se que na maior parte das vezes ele está preocupado
unicamente
em
obter
uma
maior
produtividade,
sem
considerar
as
necessidades, as possibilidades e as limitações do ser humano.
A natureza do trabalho nos dias de hoje proporciona meios de conforto
e facilidade na execução de funções, favorecendo uma vida sedentária e,
muitas vezes, provocando posturas inadequadas e movimentos repetitivos.
Baseando-se na premissa de que o homem passa parte de sua vida ativa
envolvido com o trabalho, é necessário que ações sejam desenvolvidas a fim
de que diminuam os efeitos causados pelo desempenho inadequado das
atividades laborais.
Entre as ferramentas utilizadas na procura desta melhoria de qualidade
de vida, está a Ginástica Laboral, que tem tomado lugar de destaque em vários
segmentos e não mais somente entre as empresas de origem oriental, como
era comum há duas décadas (GARCIA, 1999).
Dentro deste enfoque, a Ginástica Laboral tem merecido destaque no
Brasil nos últimos anos, sendo utilizada pelas empresas como importante
ferramenta no conjunto de medidas que visam prevenir o aparecimento das
Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares
Relacionados ao Trabalho (DORT). A principal vantagem da ginástica no local
de trabalho é atuar de forma preventiva e terapêutica, por meio de exercícios
que
podem
apresentar
características
preparatórias,
compensatórias,
terapêuticas, relaxantes e, assim, contribuir para a promoção do bem estar do
trabalhador.
A prática corporal estimula o indivíduo ao seu autoconhecimento e o
estimula a buscar continuidade dessas atividades, em situações externas ao
ambiente de trabalho. Genericamente falando, a prática da ginástica regular é
extremamente importante para todas as pessoas, desde que respeitados os
limites físicos de cada um. No entanto, isoladamente, não é uma técnica de
prevenção das LER/DORT. Uma política de prevenção de LER/DORT deve
considerar fatores organizacionais do trabalho, que se não estudados e
alterados, continuarão sendo fatores de risco. A experiência em vários
180
trabalhos demonstra que, entre populações expostas a determinadas
condições de trabalho, a incidência de quadros dolorosos causadores de
limitações funcionais é alta (BRASIL, 2001).
Pesquisas revelam que o maior número de acidentes de trabalho
ocorre nas primeiras duas horas de trabalho, quando o trabalhador não está
totalmente desperto, e nas duas últimas, quando há diminuição da
concentração e do reflexo em consequência da fadiga muscular. Os próprios
trabalhadores e os responsáveis pelos recursos humanos nas empresas
devem estar atentos aos primeiros sinais característicos das LER ou DORT,
tais como: dores nas extremidades superiores, com queixas de grande
incapacidade funcional, uma vez que os membros superiores são utilizados em
tarefas que envolvam movimentos repetitivos ou posturas forçadas (GARCIA
2004); dores geradas por aspectos ergonômicos incorretos que provocam
afastamentos por licença médica; fadiga e cansaço durante a jornada de
trabalho, em que há um desgaste diário orgânico, mental, emocional e físico.
Deve-se estar atento aos sintomas citados e propor uma mudança no
cotidiano da empresa através da atividade especializada de Ginástica Laboral,
ao mesmo tempo em que deve ocorrer acompanhamento da implantação das
mudanças, avaliação contínua dos resultados, de forma conjunta com os
trabalhadores e ajuste de medidas necessárias. Nem sempre os resultados
obtidos são os esperados e é preciso estar atento a isso, não se jogando a
responsabilidade de “insucessos” sobre os trabalhadores.
5.2 Modelos de Aplicações de PGL em Empresas
São descritos a seguir os trabalhos que foram desenvolvidos e
publicados de 2001 a 2006 por profissionais da área de Educação Física
6
As contribuições previstas nestes projetos são: melhorar a postura dos
funcionários, prevenir e reduzir acidentes de trabalho, reduzir o estresse,
prevenir e diminuir as LER/DORT. Foi prioritário nestes projetos traçar
propostas de prevenção e/ou reabilitação o mais precocemente possível,
6
Importante salientar que todos os participantes das pesquisas estiveram de acordo com a resolução 196/96
do Conselho Nacional de Saúde.
181
contribuir para a integração dos funcionários, e consequentemente gerar um
aumento de produtividade e minimizar os afastamentos.
Outro aspecto importante é o de informar à comunidade quanto a
importância da minimização da dor visando uma melhoria da vida do
funcionário. Com base nisso, a atuação do profissional de Educação física é de
primordial importância no sentido de reabilitar e integrar da melhor maneira
possível essas pessoas na sociedade.
As aulas foram realizadas diariamente com duração entre 10 a 15
minutos, compostas por exercícios respiratórios, alongamento, relaxamento
muscular e mobilidade articular.
5.3 Os projetos desenvolvidos foram:
Câmara de Vereadores de Porto Alegre: em 2001, o PGL diminuiu a
incidência das LER/DORT em Taquígrafas da Câmara de Vereadores de Porto
Alegre. Para a coleta de dados foram utilizados dois instrumentos: questionário
e a escala analógica de dor (GARCIA, 2001). Após a análise estatística,
evidenciou-se a associação entre Escala de McGill e a maioria dos dados:
diminuição das LER/DORT, redução do estresse, redução dos acidentes de
trabalho, tendo como consequência a melhoria da qualidade de vida e a
integração das participantes. Os resultados demonstraram que o PGL diminui a
incidência das LER/DORT, as dores, as licenças e as idas ao ambulatório,
contribuindo sensivelmente para a promoção do bem-estar das profissionais,
(GARCIA, 2001). Através de relatos das taquígrafas esses resultados
refletiram, também, na melhoria das relações interpessoais.
Junta Comercial do Rio Grande do Sul: em 2002, um PGL diminui a
incidência das LER/DORT no Setor de Planilhamento da Junta Comercial do
Rio Grande do Sul. A amostra foi composta por oito homens e seis mulheres,
com uma jornada de trabalho de 8h diárias. Os resultados demonstraram que
os participantes do PGL diminuíram a LER/DORT em 64,3%, contribuindo
sensivelmente para a promoção do bem-estar dos funcionários, (57,1%)
182
refletindo na melhoria das relações interpessoais, (92,9%) destacando um
elevado nível de satisfação por ter participado do programa (GARCIA, 2002a).
Escritório de advocacia na cidade de Porto Alegre: foi investigada a
eficácia de um PGL em trabalhadores de um escritório de advocacia na cidade
de Porto Alegre. Os resultados obtidos sugerem que 83,4% dos trabalhadores
obtiveram melhora no seu estado físico; 16,6% permaneceram estáveis; 100%
dos trabalhadores sentiram-se mais relaxados ao fazerem ginástica; 50% dos
trabalhadores melhoraram a disposição para o trabalho;
em 50% de
trabalhadores houve redução de dores; 100% dos trabalhadores responderam
que o referido programa auxiliou na melhoria do bem estar diário, por fim 100%
dos trabalhadores aprovaram o programa (GARCIA, 2002b).
Empresa metalúrgica de Caxias do Sul: Dal‟agnol et al. (2005a)
avaliaram o sobrepeso e a obesidade de um grupo de funcionários praticantes
de Ginástica Laboral de uma empresa metalúrgica de Caxias do Sul. A amostra
foi composta por 87 funcionários sendo 38 homens e 49 mulheres. Para a
avaliação do sobrepeso e da obesidade foi utilizada a escala do IMC, que é
reconhecido como padrão internacional pela OMS, tendo como resultado entre
25 a 29,9 considerado sobrepeso, 30 a 34,9 obesidade grau 1, 35 a 39,9
obesidade grau II e acima de 40 obesidade grau III. Para a verificação das
medidas antropométricas foram utilizados os protocolos propostos por
Fernandes Filho (1999), 32% dos homens apresentaram sobrepeso, 5%
obesidade grau 1, 5% obesidade grau 2, 3% obesidade em grau III. Em relação
às mulheres, verificou-se que 27% estavam com sobrepeso, 8% obesidade
grau 1, 2% obesidade grau II. O estudo demonstrou um elevado índice de
sobrepeso e obesidade, pois, somados apresentam 45% dos homens e 37%
das mulheres com excesso de peso. Com isso a necessidade de implantar um
programa de atividade física fora do programa de Ginástica Laboral se fez
necessário, a fim de diminuir os índices de sobrepeso e da obesidade dos
trabalhadores do grupo.
Empresa metalúrgica de Caxias do Sul: Tieppo et al. (2005) analisaram
um grupo de 71 funcionários, sendo 27 homens e 44 mulheres de uma
empresa metalúrgica de Caxias do Sul, com o objetivo de verificar a diminuição
183
da intensidade das dores musculares. Para esta avaliação foi aplicado um
questionário e, posteriormente, tabulados os dados com a utilização do
programa Excel for Windows 1998. Foram aplicadas duas avaliações num
intervalo de 90 dias para os participantes do PGL. Obtiveram-se os seguintes
resultados: houve uma diminuição de dores de 59% dos homens e 77% das
mulheres. Permaneceu sem alterações em 15% nos homens e 9% nas
mulheres. Os autores concluíram que, através do PGL, obtiveram um resultado
positivo em relação à diminuição da intensidade de dores nos funcionários.
Escritório de contabilidade na cidade de Farroupilha: Garcia et
al.(2005a) investigaram a eficácia de um PGL em trabalhadores de um
escritório de contabilidade na cidade de Farroupilha, interior do Rio Grande do
Sul. A amostra foi composta por 18 mulheres e dois homens. Os resultados
apontaram que 80% dos trabalhadores obtiveram melhora no seu estado físico,
enquanto 20% permaneceram estáveis; 96% dos trabalhadores perceberam
maior relaxamento durante o dia inteiro, enquanto 4% apenas em horário de
trabalho; 31% responderam que melhoraram a disposição para o trabalho; 24%
responderam que houve redução de dores e 45% sentiram-se mais relaxados
quando praticavam a ginástica e 100% dos trabalhadores aprovaram o PGL.
Indústria metalúrgica da cidade de Caxias do Sul/RS: Marcon et
al.(2005) verificaram a prevalência de queixas de dores e a prática de
atividades físicas em 32 funcionários de uma indústria metalúrgica da cidade
de Caxias do Sul/RS. Utilizou-se, como instrumento, uma planilha contendo os
dados pessoais, percepção do esforço e modelo de silhueta proposto por
Corlett (1992). Foi realizada estatística descritiva para análise dos dados. A
correlação entre a prática de atividade física e a queixa de dor, observou-se
através do teste de Spermann, (p<0,05). Não foram verificadas diferenças com
relação à queixa de dor entre os grupos praticantes ou não de atividades
físicas fora do trabalho.
Hospital na cidade de Caxias do Sul: Garcia et al (2005b) investigaram
a eficácia de um PGL em trabalhadores de um hospital na cidade de Caxias do
Sul, no interior do Rio Grande do Sul.
A amostra foi composta por 57
funcionários (13 homens e 44 mulheres) com uma jornada de trabalho de 8h
184
diárias. Os resultados obtidos sugerem que 93% sentiram alguma melhora
física desde que o PGL foi implantado, enquanto 7% não observaram melhora;
21% sentiram que a melhora ocorreu no início da jornada, 56% no meio da
jornada e 16% que a melhora ocorreu no final da jornada de trabalho. A
aceitabilidade do PGL foi de 100%, pois consideraram que as atividades
proporcionam não apenas momentos de relaxamento, mas também de
descontração e a consequente disposição para realização das tarefas.
Empresa metalúrgica de Caxias do Sul/RS: Dal‟Agnol et al. (2005b)
verificaram o nível de flexibilidade dos colaboradores de uma empresa
metalúrgica de Caxias do Sul/RS. A amostra foi composta por 69
colaboradores (43 mulheres e 26 homens) e para a avaliação da flexibilidade
foi utilizado o protocolo proposto por Aahperd (1980). Os resultados obtidos
demonstraram que 6% da amostra apresentaram flexibilidade alta, 14%
intermediária e 80% baixa, sendo que os homens apresentaram 15% alta, 27%
intermediária e 58% baixa e as mulheres com 7% intermediária e 93% baixa.
Setor administrativo de uma empresa alimentícia na cidade de Bento
Gonçalves: Meletti et al.(2005) investigaram a eficácia de um PGL em
trabalhadores do setor administrativo de uma empresa alimentícia na cidade de
Bento Gonçalves, RS. A amostra foi composta por cinco mulheres e seis
homens com uma jornada de trabalho de 8h diárias. Os resultados obtidos
sugerem que 100% dos trabalhadores observaram melhora no seu estado
físico, 83,4% dos trabalhadores sentiram-se mais relaxados quando faziam a
ginástica e 16,6% dos trabalhadores melhorou a disposição para o trabalho;
83,4% dos trabalhadores responderam que o referido programa auxiliou na
melhoria do bem estar diário, e 100% dos trabalhadores aprovaram o PGL.
Restaurante de uma Universidade de São Leopoldo: em 2006 Garcia,
investigou os motivos e sentimentos que levaram as funcionárias do
restaurante de uma universidade de São Leopoldo a realizar o PGL. A amostra
foi composta por 31 mulheres que trabalhavam regularmente no restaurante.
Os resultados obtidos sugerem que 37% das funcionárias sentiram-se mais
relaxadas ao realizar a ginástica; 33,3% observaram que diminuíram as lesões
do sistema músculo-esquelético; 22,2% relataram que a ginástica lhes evitou
185
dores; 14,8% sentiram-se mais despertas e aquecidas para a atividade
profissional que desempenham; 14,8% sentiram alívio do estresse e 11,1%
apontaram melhora na saúde. Das entrevistadas, 27% apontaram que o
programa auxiliou no relaxamento do corpo; 53% sentiram o corpo leve e
alongado e por fim, 100% das funcionárias aprovaram o PGL.
Para facilitar a leitura dos dados dos PGL desenvolvidos pela equipe o
Quadro 1 identifica: ano, público-alvo, instrumentos, distribuição das aulas e
participantes das amostras. Esclarece-se que todos os trabalhadores dos 11
projetos tinham uma jornada de 8h diárias e as aulas eram compostas por
exercícios respiratórios, alongamento, relaxamento muscular e mobilidade
articular.
NNº Público-alvo
Instrumentos
2001 Taquigrafas
Questionário
e
analógica da dor
Questionário
2002 Setor
planilhamento
2002 Advogados
2005 Metalúrgicos
2005 Metalúrgicos
Duração
Frequência Amostra
das aulas
(min)
escala 10
Diária
Mulheres
10
Questionário
10
Escala do IMC e medidas 15
antropométricas
Diária
Questionário
Diária
15
2005 Escritório
de Questionário
10
contabilidade
2005 Metalúrgicos
Planilha com dados pessoais, 15
percepção do esforço e
modelo de silhueta (Corlett.)
2005 Funcionários de Questionário
10
um Hospital
2005 Metalúrgicos
2005 Setor
administrativo
Protocolo (Aahperd)
15
20
2x por dia
Diária
8 homens e 6
mulheres
Homens e mulheres
87
funcionários,
sendo 38 homens e
49 mulheres.
71
funcionários
sendo 27 homens e
44 mulheres
18 mulheres e 2
homens
32 funcionários
4x
por 57 funcionários (13
semana
homens
e
44
mulheres)
Diária
69 funcionários (43
mulheres e 26
homens)
Diária
5 mulheres e 6
homens
Questionário
2006 Funcionárias de Questionário
15
2x por dia
31 mulheres
um restaurante
Quadro 1: Características dos PGL desenvolvidos no período de 2001-2006.
186
5.4 CONCLUSÃO
Conclui-se que todos os PGL atingiram seus objetivos: geraram
integração e disposição trazendo ao trabalhador maior satisfação na realização
das tarefas, trouxeram melhoria na qualidade de vida e aumento da
produtividade. A estratégia de prevenção destas lesões deve estar ligada a
vários fatores: mudanças da organização do trabalho; melhoria dos locais de
trabalho e das condições ergonômicas; eliminação de tarefa única, através de
rotação de tarefas; descanso intercalado durante a jornada de trabalho;
condicionamento físico, e trabalho das qualidades físicas. Sendo assim,
recomenda-se que empresas e instituições estabeleçam propostas de
prevenção ou reabilitação o mais precocemente possível, através dos PGL. Em
geral, a empresa necessita de especialistas que auxiliem no diagnóstico da
situação e na construção de alternativas. Mas um ponto é fundamental: eles
não podem nunca agir sozinhos, descolados da empresa e dos trabalhadores.
REFERÊNCIAS
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Internacional de Ciências do esporte, 28, 2005, São Paulo. Revista Brasileira
de Ciência e Movimento, São Paulo, v. 13, p. 304, 2005.
188
CAPÍTULO VI
O BERÇO DA GINÁSTICA LABORAL NO BRASIL: A EXPERIÊNCIA DO
CENTRO UNIVERSITÁRIO FEEVALE
Magale Konrath
Francisco Carlos Lemes de Menezes
6.1 Introdução
A Ginástica Laboral é uma prática de exercício físico que foi concebida
para prevenção da fadiga muscular durante a jornada de trabalho e de todos os
males decorrentes da atividade laboral. Discute-se muito sobre a verdadeira
origem da Ginástica Laboral. No início da década de 1960, surgiram os
primeiros programas de atividade física em empresas na Bulgária, Alemanha,
Suécia e Bélgica, embora o Japão afirme ser o pioneiro na consolidação e
obrigatoriedade da Ginástica Laboral Compensatória, com a implantação de
sessões de exercícios no Correio Japonês em 1928 (CAÑETE, 1996).
No Brasil, o primeiro estudo ocorreu entre 1978 e 1979, como uma
experiência pioneira que tem como berço o Curso de Educação Física do
Centro Universitário Feevale. Tratou-se de uma pesquisa cuja proposta era
baseada em análises biomecânicas dos trabalhadores em seu ambiente de
trabalho e serviu de suporte para a elaboração do Projeto de Educação Física
Compensatória e Recreação. O trabalho iniciou com uma sondagem na região,
contatando com as empresas interessadas em contribuir para o estudo. Após,
foram realizadas filmagens nas diferentes seções de cada indústria para
verificar detalhadamente o tipo de movimento e a tarefa efetuada por cada
operário. Numa outra etapa, a equipe de professores e acadêmicos analisava e
diagnosticava os grupos musculares mais ativos, os tipos de contração e os
grupos musculares antagonistas para compensação. De acordo com
levantamentos realizados, identificando horários de fadiga e acidentes de
trabalho, ficaram estabelecidos os momentos de aplicação da prática. Cinco
empresas participaram do projeto, confirmando os objetivos propostos e
189
alcançando os resultados esperados (KOLLING, 1982). Não foi dada
continuidade a este projeto na ocasião, em virtude dos custos para contratação
de profissionais, e a Ginástica Laboral caiu no esquecimento por cerca de uma
década.
Nos anos 90, impulsionada pela explosão de programas do tipo
“Qualidade Total”, “Reengenharia” e apoiada em novas formas de gestão
empresarial, a ginástica laboral é retomada e ganha um novo impulso que a
projeta de modo crescente até os dias atuais (CAÑETE, 1996).
Embora hoje tenhamos uma visão mais humanizada7 sobre a Ginástica
Laboral e toda a gama de benefícios que ela apresenta, logo no seu
surgimento ela serviu aos interesses da classe dominante e do Estado, assim
como a Educação Física num todo. No que se refere à Educação Física
propriamente dita, isto ocorreu a partir do Estado Novo (1937-1945) e durante o
período da ditadura militar (1964-1985). Esta disciplina era vista como um meio
para desenvolver pessoas mais saudáveis para gerar uma nação mais
saudável, na qual a concepção militarista de formar homens fortes, capazes,
eficientes, obedientes e mais produtivos teve influência marcante. Assim, essa
visão da Educação Física também foi passada para a Ginástica Laboral,
conforme observamos no depoimento da socióloga Maria Isabel de Souza
Lopes (BRUHNS, 2001, p.91) “o perigo desta prática de Educação Física é
concebê-la como um torno que molda seres humanos para servirem às
máquinas que os próprios homens criaram e fabricaram para servir a eles”.
Mesmo decorrido um bom tempo, quebradas as barreiras e a rigidez
dos quartéis, podemos ainda encontrar alguns indivíduos que carregam
resquícios desta época e olham a Ginástica Laboral como forma de disciplina e
para obter maior produtividade no trabalho. O que propomos hoje é um
enfoque que se contrapõe a este ultrapassado modo de pensar. Ao invés de
controle, rigidez, obediência e treinamento visando unicamente produtividade,
acreditamos nos benefícios gerados em termos de consciência corporal, bemestar físico e social, prevenção de doenças decorrentes do trabalho e ganhos
7
Compreendemos a visão mais humanizada da ginástica laboral, como sendo aquela que realmente se preocupa com o
bem-estar dos trabalhadores e não apenas objetiva prepará-los melhor para o trabalho, incrementando a produtividade.
190
para a saúde num âmbito geral, o que acarreta em uma melhor qualidade de
vida.
6.2 Ginástica Laboral – conceitos e benefícios
A Ginástica Laboral é uma atividade que está em expansão sendo um
novo campo de trabalho para os acadêmicos e profissionais da área. Para um
bom entendimento do assunto é importante esclarecermos um pouco o que
significa esta prática.
A Ginástica Laboral é uma prática realizada no próprio ambiente de
trabalho com o objetivo de amenizar os impactos nocivos do trabalho sobre o
indivíduo8. Tem como meta principal atuar de forma preventiva, tanto em
relação aos acidentes de trabalho, quanto nas situações de estresse, agindo
também no aumento do bem-estar e na disposição das pessoas, promovendo o
relacionamento e a cooperação entre os diversos colaboradores. Pode-se
afirmar, ainda, que as bases para a construção de um ambiente propício à
criatividade, à inovação e à aprendizagem estão na auto-estima, na empatia e
na afetividade. Sem esses elementos, não se estabelece a comunicação nem o
entendimento (CAÑETE, 1996).
Para Fontes (apud LIMA, 2003), a Ginástica Laboral é uma atividade
física diária, realizada no local de trabalho, com exercícios de compensação
para movimentos repetidos, para ausência de movimentos e para posturas
incorretas no local de trabalho.
A Ginástica Laboral pode ser classificada das seguintes formas:
 Ginástica Laboral de aquecimento ou preparatória: realizada no início do
expediente de trabalho, visando preparar o indivíduo para as atividades.
Aquece e prepara os músculos, ativa a circulação geral e o aparelho
8
Os impactos nocivos do trabalho sobre o indivíduo podem ser exemplificados pelas condições anti-ergonômicas dos
equipamentos e mobiliários; o ritmo intenso das máquinas, que desconsidera as limitações individuais; a longa jornada de
trabalho na qual se está exposto a tudo isto, além de outras situações associadas ao trabalho que podem desencadear
conseqüências nocivas ao indivíduo.
191
respiratório, aguça os reflexos, reduz a formação de vícios posturais e,
consequentemente, a diminuição das doenças da coluna.
 Ginástica Laboral Compensatória ou de pausa: realizada durante a
jornada de trabalho, com exercícios específicos para promover a compensação
dos grupamentos musculares utilizados e quebrar a monotonia do trabalho,
evitando acidentes. Relaxa, dispersa tensões e renova energias para
prosseguir na atividade.
 Ginástica de relaxamento ou no final de expediente: encontrada
também, embora com menor frequência, visa relaxar e oxigenar as estruturas
musculares envolvidas na execução do trabalho, bem como propiciar um
momento de reflexão ao término do período trabalhado.
Para Cañete (1996) e Lima (2003), a Ginástica Laboral objetiva,
principalmente, prevenir a fadiga muscular, diminuir o índice de acidentes de
trabalho, corrigir vícios posturais, prevenir os distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho (D.O.R.T.), aumentar a disposição do trabalhador e
promover o bem-estar individual, entre outros.
Entende-se que a Ginástica Laboral vai muito além do que simples
exercícios físicos. Ela serve também como meio de incentivar e valorizar a
promoção da saúde, diminuindo o sedentarismo e o estresse, além de
favorecer a consciência corporal e o relacionamento interpessoal de seus
praticantes. Alguns estudos estão sendo realizados, apontando positivamente
nesse sentido. Dentro desta nova proposta, buscamos compreender o ser
humano com vontades e aspirações, nos cercando de diferentes olhares e
contemplando a complexidade dos aspectos que concorrem para sua saúde,
numa abordagem interdisciplinar (TAMAYO, 2004).
Observa-se
entre
os
praticantes
uma
melhora
importante
na
socialização, interação e no clima organizacional, em virtude da promoção de
atividades que consideram tais aspectos.
Sob o aspecto social, Lima (2003, p. 12) contribui reforçando esta tese
de que “As relações saudáveis no ambiente de trabalho facilitam a
comunicação, transformam o ambiente, proporcionam maior interação e
aumentam a disposição para o trabalho”. A autora complementa afirmando:
192
O programa de Ginástica Laboral estabelece um
convívio social diário, sendo também um encontro
marcado com a saúde, integrando as pessoas, de
forma que se conheçam, através de uma
comunicação ativa, expressada pelo corpo e pela
cooperação nas atividades em duplas e dinâmicas
em grupo (LIMA, 2003, p.12).
Desta forma, podemos afirmar que os benefícios da Ginástica Laboral
vão muito além dos aspectos físicos, ultrapassando o objetivo inicial dos
primeiros estudos realizados.
6.3 Projeto “Ginástica Laboral Feevale” – passado e presente
Como explicitou-se anteriormente, a Feevale é considerada pioneira no
Brasil na prática da Ginástica Laboral. Os primeiros estudos foram realizados
em 1973, mas apenas em 1978 implantou-se o Projeto de Ginástica Laboral
Compensatória em convênio com o SESI/RS. Após aval do SESI Nacional
iniciou-se uma sondagem junto às empresas da região do Vale do Rio dos
Sinos que resultou na adesão de cinco empresas. Definidas as empresas,
foram esclarecidas as metas do trabalho aos empresários e contatou-se com
os técnicos da empresa a fim de obter dados estatísticos para embasamento
do trabalho, tais como: índices de acidente de trabalho e horários de maior
incidência, além da produção individual e setorial. Com metodologia bem
definida e bastante aprofundada, foi realizada análise biomecânica através de
fotografias, filmagens e observações, a fim de estabelecer com exatidão os
exercícios a serem ministrados. Antes de iniciar a prática, os trabalhadores
foram motivados e tiveram palestras de esclarecimento com vistas a sua
participação no projeto. Ao mesmo tempo em que o projeto era implantado
nestas cinco empresas, os funcionários da própria Feevale puderam ser
beneficiados,
contribuindo
(KOLLING, 1982).
no
processo com
sugestões de
melhorias
193
Após este período, três das cinco empresas participantes mantiveram a
prática por mais alguns meses até interromperem a Ginástica Laboral alegando
corte de custos.
Em 2001, o Centro Universitário Feevale resolveu reiniciar os estudos
com a Ginástica Laboral, implantando nos setores da própria Instituição.
Próximo de completar sete anos, desde que foi retomado, o projeto “Ginástica
Laboral Feevale” segue consolidando-se cada vez mais.
Esta é uma atividade de extensão que possui entrelaçado os aspectos
referentes à relevância social e identidade institucional, pois atinge e beneficia
o público interno da Instituição, impactando na saúde e qualidade de vida dos
mesmos. Além disso, pela sua relevância histórica, marca presença e possui
significação junto à região como Instituição de referência no assunto.
Apresenta como objetivo geral promover a saúde e qualidade de vida
no trabalho dos colaboradores do Centro Universitário Feevale e como
objetivos específicos: Prevenir e amenizar os efeitos do trabalho sobre os
indivíduos, principalmente no que se refere aos Distúrbios Ósteo-musculares
Relacionados ao Trabalho (DORT);
 Produzir conhecimentos sobre a Ginástica Laboral e sua contribuição
para os indivíduos;
 Contribuir para o aumento do grau de satisfação junto à Instituição;
 Despertar o interesse por um estilo de vida sadio e ativo;
 Propiciar uma maior consciência corporal;
 Melhorar o relacionamento interpessoal e
 Criar um espaço de pesquisa e estudo para que os acadêmicos de
Educação Física possam vivenciar a prática além da sala de aula.
Atualmente a Ginástica Laboral é uma das ações do “Projeto QVT
Feevale” que a cada ano reestrutura-se com a aderência de novos cursos
participando com interesse na promoção da saúde e da qualidade de vida dos
colaboradores desta importante instituição de ensino.
194
6.4 Metodologia
O projeto vem sendo desenvolvido em ambos os Campi do Centro
Universitário Feevale, atendendo 65 setores e mais de 500 colaboradores.
Os grupos de Ginástica Laboral estão divididos, de tal forma que os
indivíduos participem de pelo menos duas sessões coletivas semanais, com
dez minutos de duração em média. De início, é aplicada uma entrevista para
verificar a situação de cada indivíduo e dar a devida atenção e
encaminhamento ao Serviço de Medicina e Segurança do Trabalho, quando
necessário. A cada novo grupo o procedimento se repete. As atividades são
planejadas para cada setor, de acordo com as funções exercidas e os tipos de
movimentos realizados.
6.5 Resultados
Os frutos deste trabalho são vistos através das avaliações. Para
demonstrar isto, temos como resultados a última avaliação realizada em 2007.
Dentre os participantes, 100% dos colaboradores responderam sentir melhora
com a prática da Ginástica Laboral (100%), embora 77,78% ainda
apresentassem certo tipo de desconforto/dor em algum momento esporádico.
Em relação a exercícios físicos, 44,44% praticam regularmente, sendo que
40% destes iniciaram após a adesão à Ginástica Laboral. Outro item
importante refere-se a cuidados com hábitos de vida: 67,41% dos participantes
passaram a ter algum tipo de mudança, seja controlando a alimentação,
observando a postura adequada ou realizando alongamentos em outros
momentos do dia, inclusive em casa.
Além dos índices quantitativos, os comentários dos participantes
reforçam os resultados positivos desta prática. Os indivíduos sentem alteração
no seu desempenho durante o trabalho após a realização da Ginástica Laboral;
comentam que até melhoram seu bem-estar como um todo; acabam
descobrindo-se como capazes, que podem tanto dar e receber, sendo úteis de
195
forma integral; aumentam sua auto-estima, sua consciência corporal e o que é
ainda melhor, o relacionamento interno dos setores é alterado, ficando mais
harmônico. Vale lembrar que indivíduos saudáveis são mais felizes, trabalham
melhor e têm consciência do seu potencial como seres formadores da
sociedade onde vivem.
Sabendo que a Instituição tem por objetivo ser um centro de
excelência, busca também o bem-estar dos seus funcionários, os quais se
sentem "à vontade" e trabalhando melhoram seu atendimento para com as
pessoas que solicitam os serviços. Logo, contribuem de forma direta para o
crescimento da imagem da Instituição.
Observa-se a importante contribuição no sentido de educar e
conscientizar para uma vida mais ativa e sadia, procurando realizar pequenas
mudanças de atitude em busca de alterações mais globais. A mudança de
atitudes com a conscientização do quanto é primordial darmos atenção ao
nosso corpo completam o rol de aspectos que determinam a importância da
Ginástica Laboral na relação do indivíduo com o trabalho. Acreditamos que um
indivíduo de bem com seu corpo pode relacionar-se melhor com sua atividade
laboral. De acordo com Cañete (1996, p.82) “a Ginástica Laboral é um
excelente agente de mudanças e de prevenção no campo da saúde e bemestar do ser humano. [...] Mas não faz milagres”. A Ginástica Laboral pode ser
uma das estratégias, uma das ferramentas ou uma das ações adotadas pelas
empresas, que certamente surtirá efeitos, mas que pode ser potencializada por
outras estratégias e ações.
No que diz respeito às relações sociais e afetivas entre os praticantes
de Ginástica Laboral, observou-se que as mesmas são expressivas para o
grupo. Todos os participantes afirmaram que o momento da prática propicia o
encontro, a interação e a descontração, já que é a única oportunidade em que
estão todos reunidos de fato. O entrosamento, a união, a amizade, o clima
descontraído e de brincadeira resumem bem o que representam estas relações
sociais e afetivas, refletindo na socialização que também é propiciada pela
Ginástica Laboral (KONRATH, 2006).
196
É importante ressaltar a integração entre os setores da Instituição, pois
somente trabalhando em conjunto é que se obtêm os resultados esperados.
Exemplo mais forte disso é a integração que se tem com o Setor de Medicina
do Trabalho da FEEVALE, encaminhando as demandas que necessitem de
maior atenção, evitando a instalação de situações danosas ao indivíduo e
atuando de forma mais preventiva possível. Outro ponto que vem sendo
atacado mais fortemente diz respeito às melhorias ergonômicas. Desta forma,
obteve-se uma análise mais completa e resultados mais efetivos em nosso
objetivo principal.
Além disso, preocupada com a indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão, vários estudos foram realizados envolvendo a temática,
tanto na Feevale, quanto em outras empresas. Inclui-se no rol de produções
três trabalhos de conclusão de curso, quatro artigos e duas dissertações de
mestrado, sem considerar os demais quatorze TCC‟s realizados em outras
empresas, mas cujo interesse surgiu a partir da observação do projeto.
6.6 Considerações finais
Percorrendo a bibliografia pertinente ao tema, bem como demais
pesquisas existentes na área, obteve-se a certeza de que a prática da
Ginástica Laboral agrega importantes benefícios para o indivíduo e para a
organização a qual ele pertence. No Centro Universitário Feevale, não poderia
ser diferente, prova disto são os resultados obtidos até o momento e que
continuarão sendo buscados. Em boa hora, o resgate deste projeto beneficia a
todos que dele participam, assim como possibilita o retorno da Instituição ao
seu lugar de destaque dentro da história dos cursos de Educação Física do
país.
Como já dito anteriormente, a Ginástica Laboral ganhou novo impulso e
demonstra estar num caminho sem volta. Isto significa dizer que a prática só
tende a se disseminar e crescer. As perspectivas futuras são muito boas, com
a adesão cada vez maior de organizações que valorizam seus colaboradores e
se preocupam com a saúde e qualidade de vida destes. Nesse contexto, as
197
universidades, no momento que reestruturam seus cursos de graduação,
contemplam nos novos currículos a disciplina que aborda todos os aspectos
conceituais e metodológicos desta prática. Cabe aos profissionais de Educação
Física realizar seu trabalho com seriedade, empenho e valorização. Ainda há
uma grande carência de materiais e bibliografias que tratem do assunto com
cientificidade. Mas, com o comprometimento de profissionais, acadêmicos e
pesquisadores, poder-se-á ocupar esta lacuna encontrada e projetar cada vez
mais esta prática.
REFERÊNCIAS
CAÑETE, Ingrid. Humanização: desafio da empresa moderna – a ginástica
laboral como um caminho. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1996. 200p.
KOLLING, Aloysio. Estudo sobre os efeitos da ginástica laboral
compensatória em grupos de operários de empresas industriais. Porto
Alegre: 1982. 116 p. Dissertação (Pós-Graduação em Educação) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1982.
KONRATH, Magale. As representações sociais do trabalho entre um grupo
de praticantes de ginástica laboral: um estudo de caso no Centro
Universitário FEEVALE. São Leopoldo: 2006. 131 f. Dissertação (PósGraduação em Ciências Sociais Aplicadas) - UNISINOS
LIMA, Valquiria de. Ginástica Laboral – atividade física no ambiente de
trabalho. São Paulo: Phorte editora, 2003. 240p.
TAMAYO, Álvaro. Cultura e saúde nas organizações. Porto Alegre, RS:
Artmed, 2004. 255p.
198
CAPÍTULO VII
GINÁSTICA LABORAL E PROMOÇÃO DA SAÚDE COMO EXTENSÃO
UNIVERSITÁRIA: A EXPERIÊNCIA DA UFSCAR
Ana Cláudia Garcia de Oliveira Duarte
Selva Maria Guimarães Barreto
Bárbara Ellen Martinez
As exigências atuais da divisão do trabalho profissional impõem aos
trabalhadores em geral regras de conduta racional e especializada,
normalmente vinculadas ao ritmo rotineiro do trabalho. Desta forma, as tarefas
mecânicas e automatizadas realizadas pelos trabalhadores podem conduzi-los
à inércia e ao isolamento, gerando problemas agudos em sua estrutura
biológica, advindos da hiper e hipoatividade muscular e funcional geradas pelas
exigências impostas pela, e para, a realização do trabalho.
A nova forma de organização do trabalho resultante das exigências da
produção, da qualidade e quantidade do trabalho promove uma sobrecarga
física e psíquica no trabalhador que, somadas à ausência ou tempo insuficiente
de pausa para a recuperação das sobrecargas físicas e/ou psíquicas e às
inadequadas condições físico-espaciais do local do trabalho, têm gerado um
incremento na incidência das doenças do trabalho, como as lesões por esforço
repetitivo (LER) e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho
(DORT).
Aliado aos fatores acima, o sedentarismo e/ou a utilização de alguns
tipos de movimentos considerados ineficientes e lesivos, impostos pela divisão
do trabalho, têm tornado o quadro de saúde do trabalhador comprometido.
Estimativas da Organização Mundial da Saúde e do Trabalho indicam
que um grande número de pessoas é acometido anualmente por problemas
posturais e desordens na execução dos movimentos funcionais e que, por
estes motivos, afastam-se do trabalho por longos períodos ou reduzem sua
produção.
199
Desta forma, se defende a estruturação e aplicação de um programa
físico-motor
específico
às
necessidades
destes
trabalhadores,
a
ser
implementado no próprio local de trabalho e que objetiva a melhoria da
qualidade de vida destes.
Sob
estas
considerações,
a
Educação
Física,
pelas
suas
especificidades enquanto campo profissional pode subsidiar a elaboração de
estratégias que possibilitem o desenvolvimento de uma atitude positiva do
trabalhador
em
relação
aos
seus
hábitos
corporais
diários.
Concomitantemente, associada a outras áreas de conhecimentos, estimula a
proposição de alternativas que incentivam a incorporação no quotidiano do
trabalhador, da prática física consciente e adequada às suas necessidades e
potencialidades, dando-lhe condições para estabelecer parâmetros de seus
limites, seja ele físico-motor-psíquico, já que a atividade motora sistematizada
pode contribuir positivamente para que o trabalhador perceba seu corpo e suas
limitações-potencialidades em favor de sua qualidade de vida, dentro e fora do
trabalho.
Quando assumida coletivamente pelos trabalhadores, consciente de
seus problemas físicos adquiridos no desempenho de suas funções pode
contribuir de forma significativa para a superação das dificuldades encontradas
e orientar na criação de alternativas concretas na relação saúde/trabalho.
A incorporação do hábito da prática regular de atividades físicas,
associada à adoção de cuidados quanto à alimentação, à redução do uso do
cigarro, do álcool e do stress, entre outros, representam um conjunto de
mudanças de atitude frente à qualidade de vida do indivíduo com implicações
importantes dentro e fora do ambiente de trabalho.
Assim, os profissionais da Educação Física, ao atuarem na promoção
da saúde do trabalhador, identificam problemas na relação entre sobrecarga e
capacidade de trabalho e elaboram estratégias para o restabelecimento de um
equilíbrio destas relações, de forma a coibir o surgimento de problemas
músculo-esqueléticos, dores e outros males.
200
7.2 A Ginástica Laboral
Reconhecendo que o trabalho ocupa um espaço muito importante na
vida de todo indivíduo, e que, muitas vezes, é gasto mais horas dentro do local
ocupacional do que nas residências, e que tal fato resulta na necessidade da
criação de propostas diferenciadas para melhoria e incentivo da saúde e
qualidade de vida do trabalhador ativo, entende-se como Ginástica Laboral a
realização de exercícios físicos orientados, no local de trabalho, dentro do
expediente, para promover a saúde dos funcionários e evitar lesões de
esforços repetitivos e doenças ocupacionais. Tem como objetivo principal
melhorar a condição física do indivíduo em seu trabalho, buscando um melhor
condicionamento
e
desempenho
físico,
concentração
e
um
melhor
posicionamento frente aos postos de trabalho.
Os primeiros registros da prática da Ginástica Laboral são de 1925, na
Polônia. Era chamada de Ginástica de Pausa e destinada a operários. Existem
relatos que na Rússia 5 milhões de operários em 150 mil empresas passaram a
praticar ginástica de pausa, adaptada a cada ocupação. Até o inicio dos anos
60, movimentos isolados ocorreram na Bulgária, Suécia, Alemanha Oriental e
Bélgica. No entanto, foi no Japão que a preocupação com ginástica no
ambiente de trabalho consolidou-se, tornando-a obrigatória em todas as
indústrias e serviços. Nos Estados Unidos, desde 1974, cerca de 50 mil
empresas estão envolvidas em programas diários de ginástica durante a
jornada de trabalho. A partir dos anos 70, a prática começou a ser difundida no
Brasil, a partir de uma experiência de sucesso que aconteceu no Rio de
Janeiro nos estaleiros da ISHBRAS. Em 1978, a Federação de Ensino Superior
– FEEVALE, em parceira com o SESI, desenvolveu um projeto que ajudou a
divulgar a ginástica laboral no Brasil. Mas o que se vê é que, somente a partir
dos anos 90, a prática da ginástica laboral vem sendo aceita e principalmente
procurada pelos empresários e funcionários das empresas.
201
7.3 A Ginástica Laboral na UFSCar
Considerando: o contexto anteriormente exposto, a demanda pela
ginástica Laboral e promoção da saúde por Empresas de São Carlos e a
necessidade de consolidação das três atividades afins da Universidade:
ensino-pesquisa-extensão,
uma
equipe
formada
por
professores
do
Departamento de Educação Física e alunos do curso de graduação em
Educação Física estruturou um Projeto de Extensão, com a finalidade de
aplicar a Ginástica Laboral na Electrolux do Brasil – planta São Carlos,
vislumbrando:
 Consolidar o ensino sobre o tema aplicado na graduação;
 Possibilitar a efetivação de estágios curriculares de forma sistematizada
e funcional;
 Confrontar a realidade pelo processo de prestação de serviços;
 Coletar dados da experiência com a possibilidade de propor novas
ações diferenciadas e baseadas em pesquisas sedimentadas;
 Produção de novos conhecimentos da realidade.
7.3.1 Projeto de Extensão “Ginástica Laboral, Correção Funcional e
Promoção da Saúde”
Desta forma, desde o início de 2000 executa-se este projeto através de
um convênio estabelecido entre a Universidade e a Empresa e apresentamos
como justificativas relevantes para a sua realização:
 Os casos de L.E.R. estão se tornando cada vez mais comuns nos
ambientes de trabalho, principalmente nos postos de trabalho em que há
repetição de movimentos e sobrecarga física.
 É uma nova área que pode ser explorada pelo profissional de Educação
Física, desempenhando o papel importante da prevenção.
 Está intimamente ligado à disciplina “Educação Física para Populações
Especiais” do curso de EFMH da UFSCar, e com optativas como
Ginástica Corretiva.
202
 Os dados coletados na empresa podem ser divulgados e referenciados
como fonte de pesquisa.
 A possibilidade de atuação direta de profissionais na Empresa , tratando
de assuntos de saúde pública e coletiva, que envolve o trabalhador das
linhas de produção pode promover a produção de conhecimento na
melhoria da qualidade de vida e funcional destes trabalhadores.
7.3.2 Objetivos do Projeto
Este projeto vem sendo executado com os seguintes objetivos:
 Auxiliar na prevenção da LER e DORT nos trabalhadores que possuem
uma função de esforço repetitivo;
 Promover a aplicação de um treinamento físico e corretivo que visem à
adequação das posturais dos indivíduos durante e no seu ambiente de
trabalho;
 Resgatar as possibilidades do uso de ações motoras com objetivos de
maior produção muscular aliada a um menor desgaste físico e mental e
preservando assim as necessidades básicas da saúde do trabalhador;
 Propiciar a ação de atendimento individualizado para funcionários
afastados ou com dores, com auxílio na reinserção profissional,
 Caracterizar a população de trabalhadores desta fábrica, para que se
possa identificar as atividades físicas espontâneas e complementares
que melhor se adequariam a todos os funcionários, com o objetivo de
pensar também na atividade física como promotora de saúde.
 Visa
promover a atuação direta de futuros profissionais da área de
Educação Física e Motricidade Humana no Mercado de Trabalho,
oferecendo, portanto uma oportunidade real para alunos da graduação
relacionarem teoria e prática.
 Dar fomento à extensão universitária.
203
7.4 Pressupostos Conceituais
Faz-se necessária a estruturação de um processo informativo e
formativo do trabalhador, a fim de capacitá-lo para assumir a iniciativa da
mudança de hábitos, bem como para reconhecer-se autônomo na manutenção
de práticas corporais diárias saudáveis, com vistas a uma melhor qualidade de
vida.
O processo formativo requer a participação dos trabalhadores em
programas sistematizados de atividades físicas orientadas, a fim de
desenvolverem o gosto e o prazer pela prática regular de atividades físicas,
incorporando os benefícios destas à saúde e qualidade de vida.
O processo informativo deve conscientizar os indivíduos de que a
inatividade física é um importante fator de risco para o acometimento de
doenças da vida moderna como o tabagismo e a hipertensão. Este processo
envolve ainda a transferência de conhecimentos acerca dos benefícios da
prática regular de atividades físicas, do abandono de um estilo de vida
sedentário, de cuidados com a alimentação e com as práticas corporais da vida
diária, além da importância do envolvimento em atividades de lazer, enfim do
reconhecimento do papel da atividade física como parte de um estilo de vida
saudável.
Nesse sentido, há que se realizar uma primeira etapa diagnóstica da
situação da empresa que identifique atividades, atitudes, políticas, bem como
eventuais demandas existentes atualmente em relação à promoção da
qualidade de vida e melhora na função do trabalhador.
7.5 Ações Realizadas:
Este projeto vem se desenvolvendo por meio da aplicação de um
programa de atividades físicas, pelos alunos estagiários do Projeto, atividades
estas regulares, sistemáticas e motivadoras, que buscam o desenvolvimento
das capacidades físicas, ligadas ao sistema cardio-vascular, músculo-
204
esquelético e respiratório, facilitando a integração social e o auto-conhecimento
de capacidades e limites individuais. São realizadas atividades diárias com os
trabalhadores de toda a Empresa, que são elaboradas após a avaliação dos
funcionários, conhecimento do trabalho e aplicação de princípios ergonômicos.
Tem servido de base e suporte também para a elaboração de monografias e
pesquisas na área.
As ações se baseiam em intervenções diárias, de aproximadamente 10
minutos, no próprio local de trabalho e durante o expediente, da prática de
atividades motoras aplicando-se o treinamento corretivo postural (TCP)®, no
qual os proponentes utilizam-se de movimentos naturais e exercícios de
alongamento visando promover um fortalecimento muscular que permita aos
trabalhadores manter uma postura adequada, bem como o desenvolvimento
das capacidades para o trabalho e a manutenção de uma vida saudável. Nas
intervenções também são introduzidos conceitos básicos de saúde, qualidade
de vida e os princípios científicos do treinamento físico, conscientizando a
população alvo da importância da atividade física para a manutenção de uma
vida saudável.
Cada linha de produção é dividida em células, com 10 colaboradores
em média, e, normalmente os setores são atendidos separadamente, para
melhor atender as necessidades específicas de cada setor. O estagiário vai
então percorrendo os setores e aplicando um trabalho mais qualificado para
cada grupo.
É necessário acrescentar que antes da intervenção, questionários por
nós denominados de Questionário de Percepção Subjetiva de Esforço no
Trabalho e Caracterização da Saúde da População Envolvida são aplicados
aos trabalhadores, e cuja aplicação é feita visando subsidiar as ações que
serão propostas e somadas às queixas (ambulatório)/ Nexo Causal) dos
funcionários e das observações coletadas a respeito das funções e ações
motoras realizadas pelos trabalhadores, além da realização de observações
sistemáticas do comportamento dos indivíduos em cada célula atendida.
A adesão à ginástica laboral não é obrigatória e depende normalmente
da permissão por parte dos superiores, foi iniciado, então, o projeto em dois
205
setores da empresa, atuando somente com 30 funcionários e com 2 alunos
estagiários.
Ainda com o entendimento de que a Ginástica Laboral é uma das
possibilidades da Educação Física na promoção da saúde e que o
desenvolvimento da saúde na Empresa deve ser considerado como um
processo paralelo à Ginástica Laboral são desenvolvidas ações educativas em
parceria com o setor médico, de segurança do trabalho e comitê de ergonomia,
como a confecção de folhetos rápidos de caráter promocional das atividades e
de cadernos completos de orientações sobre condutas corporais relacionadas
às atividades de trabalho e da vida diária, a realização de palestras com temas
relacionados ao trabalho, como a pausa ativa, denominada de “Paradinha da
Saúde”.
Outra ação educativa desenvolvida foi o “Arrastão da Ergonomia”, com
identificação dos postos de trabalho mais desconfortáveis e possíveis soluções
para a sua modificação.
Avaliações Físicas para caracterização da População, e Avaliação do
Programa de Ginástica Laboral são realizadas sistematicamente.
7.6 Recursos Humanos Envolvidos
Atualmente, o Projeto envolve dois professores do Departamento de
Educação Física e Motricidade Humana, seis bolsistas remunerados, alunos da
graduação em Educação Física, que são responsáveis pela execução das
atividades na empresa, além de quatro alunos que participam do Projeto para
cumprir a carga horária de estágio profissional.
7.7 Resultados e Discussão
Acredita-se que, ainda que de maneira processual, houve resultados
positivos, uma vez que os objetivos propostos têm sido atingidos. Apresentamse então como resultados:
206
 A ampliação da GL, uma vez que a Ginástica Laboral hoje é aplicada em
toda a empresa, o que nos remete para a consideração de que a
população trabalhadora desta empresa é mais ativa atualmente.
 Pôde-se constatar, ao longo destes anos, nos setores em que a GL foi
aplicada uma redução em cerca de 50% nas visitas dos funcionários ao
Ambulatório, uma redução em cerca de 60% nas queixas com relação a
dores durante o trabalho e um aumento de 100% na disposição para o
trabalho, fatos não observados nas demais células, o que nos
possibilitou inferir que as atividades de alongamento, fortalecimento e
relaxamento
apresentaram-se
eficientes
quanto
aos
resultados
esperados em sua forma de aplicação.
 O principal objetivo acadêmico do Projeto que é permitir a atuação
profissional dos alunos do Curso, sobre orientação e coordenação de
professores (estágio remunerado), fora do âmbito escolar, vem sendo
atingido, uma vez que o Projeto e o seu dinamismo na troca de
informações entre a experiência profissional e a relação teórica
envolvida no processo de ensino são discutidas nos laboratórios e salas
de aula da UFSCar.
 Uma das novidades do projeto foi introduzir a Ginástica Laboral sem
paradas, com a utilização dos facilitadores e a participação de grupos
reduzidíssimos, quase com atividade física personalizada. Para que isso
acontecesse, foi necessária a contratação de mais um bolsista,
exclusivo para aquela linha de produção.
 A partir dos resultados alcançados por este Projeto, novos projetos
foram elaborados e também estão em execução, como é o caso do
Projeto de Extensão “Ginástica Laboral, Correção Funcional e Promoção
da Saúde na Husqvarna- planta São Carlos”, outra empresa da cidade.
A real integração das atividades de pesquisa e desenvolvimento
tecnológico na formação de alunos da graduação, envolvidos no trabalho, têm
levado este tema para trabalhos de pesquisa e de iniciação científica.
207
Buscando aumentar a relação das atividades extensionistas com a
pesquisa, todas as atividades desenvolvidas têm sido registradas e os dados
coletados têm gerado publicações.
Finalizando, evocar as mazelas provenientes das ações no trabalho é
sempre mais fácil e comumente realizado do que propor e aplicar ações que
promovam a melhoria da qualidade de vida do trabalhador. Intentou-se, com
essa exposição, alterar esta realidade.
7.8 Publicações Geradas
NETTO, J.S.O.; BARRETO,S.M.G.; DUARTE,A.C.G.O. Avaliação da Saúde
analisando Pressão Arterial, Índice de Massa Corporal, Gordura Corporal e
Flexibilidade nos funcionários da Electrolux do Brasil S.A. – São Carlos. In:
XXVII Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, 2004, São Paulo. Edição
Especial da Revista Brasileira de Ciência e Movimento, p.176.
OLIVEIRA, P.H.Z..; VIOLA, V.R.; PEREIRA,V.C.A.; BARRETO,S.M.G.;
DUARTE,A.C.G.O. Incidência de Desconforto Físico em Trabalhadores da
Linha de Produção da Electrolux do
Brasil S.A. – São Carlos . In: XXVII
Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, 2004,
São Paulo. Edição
Especial da Revista Brasileira de Ciência e Movimento, p.167.
PEREIRA, V.C.A.; OLIVEIRA,P.H.Z.; VIOLA,V.R.;. BARRETO, S.M.G.;
DUARTE, A.C.G.O. Análise dos Índices de Força, Flexibilidade e Massa
Corporal em Trabalhadores da Husqvarna
– São Carlos . In: XXVII
Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, 2004, São Paulo. Edição
Especial da Revista Brasileira de Ciência e Movimento, p.167.
OLIVEIRA, P.H.Z.; VIOLA, V.R.; PEREIRA,V.C.A.; BARRETO,S.M.G.; OKABE,
M. B.; OLIVEIRA NETTO, J.S.; DUARTE,A.C.G.O. Efeitos da Prática de
Ginástica Laboral sobre parâmetros antropométricos, composição corporal,
flexibilidade e força. In: IV Congresso Internacional de Educação Física e
Motricidade Humana, Rio Claro. Motriz – Revista de Educação Física –
UNESP, v.11 nº 1, 2005, Supl. Jan /Abril. p. S131.
OKABE, M. B.; OLIVEIRA NETTO, J.S.; OLIVEIRA, P.H.Z.; DUARTE,A.C.G.O.
Análise da Incidência de Dor em Funcionários do Setor de Cortes da Linha de
Produção da Empresa Electrolux -São Carlos. In: IV Congresso Internacional
de Educação Física e Motricidade Humana, Rio Claro. Motriz – Revista de
Educação Física – UNESP, v.11 nº 1, 2005, Supl. Jan /Abril. p.S127.
208
OLIVEIRA NETTO, J.S.; DUARTE,A.C.G.O. A ginástica Laboral como solução
de Problemáticas. In: IV Congresso Internacional de Educação Física e
Motricidade Humana, Rio Claro. Motriz – Revista de Educação Física –
UNESP, v.11 nº 1, 2005, Supl. Jan /Abril. p.S127.
PASCHOALINO Jr, L.C.; DUARTE,A.C.G.O. A Academia Corporativa e a
Qualidade de Vida na Empresa. In: IV Congresso Internacional de Educação
Física e Motricidade Humana, Rio Claro. Motriz – Revista de Educação
Física – UNESP, v.11 nº 1, 2005, Supl. Jan /Abril. p.S134.
OKABE, M. B.; OLIVEIRA NETTO, J.S.; OLIVEIRA, P.H.Z.; DUARTE,A.C.G.O.
Variação da Incidência de Dor em Programa de Ginástica Laboral. In: Anais do
XIII Congresso de Iniciação Científica - UFSCar, 2005.
OKABE, M.B.; OLIVEIRA NETTO, J.S.; OKADA, G.; CEZARINO, R.;
VIOLA.V.R.; OLIVEIRA, P.H.Z.; DUARTE,A.C.G.O. “Semana da Saúde” na
Electrolux -São Carlos. In: Anais do XIII Congresso de Iniciação Científica UFSCar, 2005.
OKADA, G. T.; OKABE, M.B.; OLIVEIRA NETTO, J.S.; VIOLA.V.R.;
DUARTE,A.C.G.O. Caracterização e Análise da Percepção de Esforço de
Funcionários da Linha de Produção do Fogão na Electrolux do Brasil /São
Carlos. In: XXVII Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, 2005, São
Paulo. Edição Especial da Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v.3
nº 4,supl.,p.344.
VIOLA.V.R.; OLIVEIRA, M.G.; LEITE,C.S.; DUARTE,A.C.G.O. Perfil do estilo
de Vida dos Colaboradores da Empresa Husqvarna de São Carlos/SP. In:
Anais do 5º Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde, 2005,
Florianópolis. p.86.
OKADA, G.T.; OKABE, M.B.; OLIVEIRA NETTO, J.S.; CEZARINO, R.;
DUARTE,A.C.G.O. Efeito da Ginástica Laboral na Fábrica da Electrolux do
Brasil Ltda da cidade de São Carlos. In: Anais do 5º Congresso Brasileiro de
Atividade Física e Saúde, 2005, Florianópolis. p.133.
DUARTE, A.C.G.O.; VIOLA.V.R.; OKABE, M.B.; OLIVEIRA, M.G.; LEITE,C.S.
Efeito da Prática de Ginástica Laboral sobre o IMC, Percentual de Gordura e
Flexibilidade em Colaboradores da Husqvarna / São Carlos. In: Anais do 5º
Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde, 2005, Florianópolis.
p.131.
209
OKABE, M.B.; OLIVEIRA NETTO, J.S.; DUARTE,A.C.G.O. Efeito da Ginástica
Laboral sobre a Flexibilidade. In: Anais do 5º Congresso Brasileiro de
Atividade Física e Saúde, 2005, Florianópolis. p.87.
PASCHOALINO Jr, L.C. A Academia Corporativa e a Qualidade de Vida na
Empresa. Monografia de Conclusão do Curso de Bacharel em Educação
Física, UFSCar/2005. Orientador: Ana Cláudia Garcia de Oliveira Duarte.
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Física - UNESP, 2005. v. 11. p. S131-S131.
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210
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211
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212
CAPÍTULO VIII
TRAJETÓRIA DOS ESTUDOS SOBRE GINÁSTICA LABORAL
Deise Guadelupe de Lima
8.1 Apresentação
Com a globalização econômica e seus impactos nas práticas
administrativas vivenciadas pelas organizações empresarias nas últimas
décadas, vários questionamentos se fazem, principalmente no que diz respeito
a paradigmas estabelecidos ao longo do desenvolvimento da Administração
Científica
com
relação
aos
métodos
de
gestão
das
organizações,
fundamentados na separação entre o planejamento e execução e na divisão do
trabalho e especialização, práticas estas que se constituíram em ações
instrumentais da manutenção do modo de produção capitalista.
A evolução tecnológica, bem como sua disseminação ocorrida nas
últimas décadas entre os diversos países e, também na Economia
Internacional, obrigou as organizações empresariais a se adequarem a esta
nova dinâmica tendo que diminuir de tamanho para ser mais flexível e ágil a fim
de responder mais rapidamente às exigências do mercado. Para tanto, práticas
de gerenciamento tradicionais estão sendo revistas para que a organização
possa se tornar mais competitiva, tendo respostas positivas no quesito
qualidade.
As exigências de certificação (ISO 9000 e família, ISO 14000) e das
diretrizes da ISO 18000 estão fazendo com que as empresas tenham um
controle mais efetivo em seus processos produtivos e seus impactos
ambientais, além de ter a preocupação com os impactos sociais que estas
organizações tendem a causar no meio em que estão inseridas.
Diante destas transformações, novos nichos de trabalho apareceram;
profissões que antes apontavam para um enfoque, agora aparecem com
vários, como é o caso do Profissional de Educação Física. Nesse sentido, em
1990 o ingresso no curso de Economia permitiu entender melhor a nova
213
dinâmica econômica e, entender os impactos dela proveniente na saúde do
trabalhador.
Em 1994, já no último ano do curso, foi protelado término do curso de
ergonomia para dar início ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGEP-UFSC), na área
de concentração em Ergonomia, onde foi defendido o título de mestre em 1997
com o trabalho intitulado “Qualidade de Vida na Organização Empresarial
(QVO) e Macroergonomia: validação de um instrumento de avaliação da QVO”
9;10
. Este tema foi abordado, quando do estudo da implantação da Ginástica
Laboral nas empresas, havia dificuldades em levantar dados para entender a
sobrecarga e solicitações exigidas na execução das tarefas laborais. Desse
modo, criou-se um instrumento para verificar a percepção da QVO pelos
trabalhadores e, associado à metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho
(AET), mais os métodos de avaliação da Educação Física (antropometria,
biomecânica, nível de aptidão física relacionada à saúde), obteve-se, então,
mais fidedignidade nos relatórios emitidos junto à empresa, permitindo maior
confiança ao prescrever o Programa de Ginástica Laboral ou indicação de
Programas de Exercícios Físicos na Empresa.
No ano seguinte, o engajamento do pesquisador no doutorado
credenciou a continuidade do estudo sobre a questão da saúde do trabalhador.
Uma questão importante que foi percebida na época, foi a dificuldade da
obtenção de dados sobre a Saúde e Segurança do Trabalho (SST).
Dentro desta perspectiva, desenvolveu-se o trabalho intitulado: “Modelo
de alianças estratégicas entre a sociedade civil e o setor público na gestão da
segurança e saúde no trabalho”11, em que o título de doutorado no PPGEPUFSC, em 2005 foi obtido.
Durante o desenvolvimento da tese de doutorado, muitas ideias
surgiram, entre elas as de sistematizar procedimentos metodológicos na
implantação de Programas de Ginástica Laboral o que resultou na produção de
9
Texto completo disponível em http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/1147.pdf
LIMA, D. G. Qualidade de vida na organização empresarial (qvo) e macroergonomia: validação de um instrumento de
avaliação da qvo. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, Londrina, v. 4, n. 1, p. 72-72, 1999.
11
Texto completo disponível em http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/3828.pdf
10
214
um livro12 e, em seguida, o convite por parte do senhor Ricardo Fontoura
(Editora Fontoura), de ministrar um curso sobre formação de preço do
Programa de Ginástica Laboral, na cidade de Jundiaí, uma vez que havia a
procura por este curso devido a dificuldade dos profissionais em estabelecer
preço neste serviço. Este curso também resultou na produção de um livro13. O
lançamento dos mesmos foi no ano de 2004.
8.2 Pontos de reflexão
No ano de 1994, a Ginástica Laboral era pouco discutida, praticamente
não havia publicações, excetuando-se o livro, que é considerado o marco da
ginástica laboral, escrito por uma estudante do Mestrado de Administração,
senhora Ingrid Cañete14. Nele, a autora defende a idéia de que com a
implantação da ginástica laboral há a melhora da qualidade de vida na
organização empresarial e o auxilio numa melhor gestão dos recursos
humanos da empresa.
Iniciou-se, a partir deste marco, a trajetória com relação a uma
participação mais efetiva da categoria de profissionais de Educação Física
nesta área, já que não havia material científico suficiente, tendo um número
significativo de profissionais de Educação Física no Programa de Mestrado em
Engenharia de Produção da UFSC (seis profissionais), o que possibilitou o
início de discussão, com base de conhecimento em Educação Física e
Ergonomia, através do Núcleo de Pesquisa em Atividade Física e Saúde –
NuPAF da UFSC, tendo o enfoque da atividade física e saúde dentro das
empresas.
Questões sobre a Ginástica Laboral:
1. Parte conceitual: Ginástica de pausa? Ginástica
compensatória? Ginástica no trabalho? Ginástica
12
LIMA, D. G. Ginástica Laboral - metodologia de implantação de programas com abordagem ergonômica. Jundiaí:
Editora Fontoura, 2004. v. 01. 120 p.
13
LIMA, D. G. Ginástica Laboral - custos e orçamentos na implantação e implementação de programas com abordagem
ergonômica. 1ª. ed. Jundiaí: Editora Fontoura, 2004. v. 01. 72 p.
14
CAÑETE, I. Humanização - Desafio da empresa moderna. Porto Alegre: Artes & Ofícios, 1996.
215
laboral? Não havia definição do que era e adoção
de um conceito.
2. Definição
do
Programa:
conteúdo
da
que
trabalhar
O
prescrição
junto
do
aos
trabalhadores? De que forma? Como proceder na
avaliação?
O
que
avaliar?
Não
havia
uma
metodologia desenvolvida para se implantar um
Programa de Ginástica Laboral e nem definição das
variáveis
de
avaliação
pertinentes
para
este
programa.
3. Planilha de custos: Quando se inicia o trabalho de
consultoria junto às empresas, dificuldade em
estabelecer preços justos ao serviço.
4. Suporte ao cliente: Há uma diferenciação da
implantação pois, nesta, há um estudo mais
demorado em que são identificados os problemas
daquele setor, há o envolvimento de uma equipe
qualificada
em
várias
áreas
para
que,
posteriormente, se possa estabelecer o programa.
Na implementação, os custos são outros, pois não
se necessita da participação de profissionais de
várias áreas como na implantação. Contudo, havia
a necessidade de se elaborar escalas, definir os
profissionais que iriam atuar, definir o processo de
controle, tendo que se estabelecer vários itens para
melhor gerir o Programa, respondendo junto ao
corpo diretivo da empresa, quando do surgimento
de algum problema.
216
8.3 Metodologia utilizada
No início, a Ginástica Laboral era baseada em uma sugestão de
atividades produzida pela equipe do SESI. Era uma cartilha que continha uma
avaliação da empresa (nome, número de empregados, tipo de atividades
desenvolvidas e sugestões de exercícios, padronizados).
Em contato com conhecimentos na área de Engenharia de Produção,
buscou-se a proposta inicial que havia sobre ginástica laboral e, vários
aspectos foram indagados, tais como: padronização dos exercícios para todos
os postos de trabalho (dever-se-ia ter um estudo das cargas e solicitações das
tarefas); para isso, havia necessidade de se saber levantar estas informações e
sistematizá-las a fim de que se pudessem conhecer quais eram os problemas
oriundos: do posto de trabalho; da condição física do trabalhador; do nível de
estresse e a sua somatização; que controle adotar para justificar a
implementação do programa, do custo do programa e da melhoria da QVO e
da produtividade.
Após estas reflexões, chegou-se a um entendimento: não se pode
implantar a Ginástica Laboral sem estar trabalhando com a Abordagem
Ergonômica. Isto significa que o Profissional de Educação Física que não
entende o mundo do trabalho, as implicações deste sobre o organismo
humano, os aspectos fisiológicos do trabalho, não poderá elaborar uma
proposta adequada que venha atender as necessidades daquela empresa ao
se implantar um Programa de Ginástica Laboral.
A metodologia, adotada para a implantação de um Programa de
Ginástica Laboral, segue as seguintes fases:
1. Contato com a empresa
2. Diagnóstico da QVO
3. AET (análise da demanda, análise da tarefa
prescrita, análise da tarefa realizada, diagnóstico,
caderno de encargos e recomendações)
4. Relatório final de recomendações
5. Proposta do Programa de Ginástica Laboral
217
6. Prescrição dos exercícios
7. Palestras de sensibilização
8. Implantação do projeto piloto
9. Relatório do projeto piloto
10.Implantação final
A proposta junto ao corpo diretivo da empresa deve ser: objetiva; haver
a identificação das necessidades (inclusive a necessidade de mudança);
solução adequada a estas necessidades; verificação da adequação desta
necessidade e, assegurar que a necessidade seja satisfeita.
Assim, nasceu o conceito de Ginástica Laboral com Abordagem
Ergonômica e, ao nosso ver, a Ergonomia anda e andará sempre junta com o
Profissional de Educação Física, em se tratando de atividades físicas na
empresa.
8.4 Projeções em discussões práticas e acadêmicas
Uma vez discutidas as práticas metodológicas, apresentaram-se outros
problemas. Talvez eles sempre estivessem presentes, mas não foram notados
devido a necessidade urgente de se discutir a parte metodológica e conceitual.
Uma vez realizados os ajustes, Caminhou-se para fase da implementação e,
com estes, surge o problema da adesão ao programa.
No caso de se desenvolver o programa em instituição pública, ainda
pairam muitas dúvidas na metodologia de implementação, além da falta de
conhecimento sobre o nível de percepção dos benefícios da ginástica laboral
pelos servidores. Nesse sentido, foi realizado um estudo na Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, no setor de manutenção, para verificar a
adesão e percepção dos benefícios da ginástica laboral pelos servidores15.
É obrigatório? Deve-se sensibilizar o trabalhador quanto a importância
de sua participação no programa? E o que dizer das chefias que não
entendendo do objetivo do programa, levantam vários problemas de modo a
15
LIMA, D. G. e PEREIRA, G. N. Benefícios do programa de ginástica laboral no setor de manutenção da universidade
federal de mato grosso do sul. In: Pesquisa em educação física. Paula Fontoura (org.). Jundiaí: Fontoura, 2007.
218
comprometer a eficiência e a eficácia dos mesmos? O que fazer? Como
devemos nos comportar?
Deparou-se com novos problemas tão importantes quanto a definição
de uma metodologia de implantação do programa: conduta ética.
Há uma inclinação para que esta participação venha por livre e
expontânea vontade, por intermédio de uma sequência de ações frente a este
grupo de indivíduos: palestras de sensibilização inicial, palestras sobre
informações em saúde e trabalho; elaboração de jornais e informativos a serem
disponibilizados em lugares que estes trabalhadores tenham acesso.
Houve várias discussões sobre o assunto em cursos, listas de
discussão onde se cogitava a “obrigatoriedade da participação” dos
funcionários no programa. Diante deste problema, procurou-se argumentar que
a obrigatoriedade da participação pela empresa poderia reverter em fator
negativo para o trabalhador.
Também verificou-se se, no Congresso Nacional havia algum projeto
de lei que tratasse sobre o assunto, uma vez que as estatísticas que dizem
respeito sobre doenças como Distúrbio ósteo-muscular relacionado ao trabalho
– DORT vêm aumentando consideravelmente, sendo um problema para a
sociedade brasileira, que acaba suprindo o afastamento destes trabalhadores
debilitados (pagando para eles estarem afastados) e, para a economia de um
modo geral, onde o fator da repetitividade das tarefas associado às mudanças
ocorridas na sociedade com relação ao aumento da participação da mulher e,
das exigências da qualidade e produtividade, contribuiu vertiginiosamente para
este aumento.
O assunto no workshop promovido no 11° Congresso Paulista de
Educação Física, em Jundiaí, no ano de 2007, procurou apresentar os
aspectos legais da Ginástica Laboral. Nele foram apresentadas as reflexões
sobre a participação do trabalhador ao programa apresentado, num primeiro
momento, sobre o por quê desta discussão. No contexto atual são pertinentes
as dúvidas apresentadas pelos profissionais de Educação Física sobre este
assunto principalmente por aqueles que querem garantir qualidade no serviço
219
prestado e salvaguardar a sua empresa e/ou a pessoa física de ações
trabalhistas que possam surgir.
Nos
aspectos
legais,
atualmente,
verifica=se
que
não
há
a
obrigatoriedade da participação dos trablhadores no programa. Porém, na
Norma Regulamentadora 17 – Ergonomia (NR-17) - há a obrigatoriedade da
empresa, em caso do ambiente laboral propiciar o aparecimento da DORT, que
sejam propostos programas de melhorias e, neste caso, o Programa de
Ginástica Laboral é enquadrado. Sendo assim, caso o trabalhador venha a se
recusar a participar, ele estará sujeito a sanções disciplinares estabelecidas no
regimento interno da empresa. Seria algo similar como “não utilizar um
equipamento de proteção individual – EPI”.
Também constatam-se alguns projetos de lei que estão tramitando na
Câmara dos Deputados Federais.
São eles:
PL 4347/98 – Deputado Walter Pinheiro: Obriga as
empresas públicas e privadas que desenvolvem atividades
com esforços físicos repetitivos a criar programas de
ginástica laboral.
PL 6213/05 – Deputado Fernando Sabino: Obriga as
empresas públicas e privadas que desenvolvem atividades
com esforços físicos repetitivos a criar programas de
ginástica laboral.
PL1897/99 – Deputado Luiz Bittencourt (apense-se ao PL
4347/98): Acrescenta seção ao Capítulo III da CLT, a fim de
estabelecer a jornada de trabalho em atividades que exigem
esforços repetitivos.
PL 317/07 – Deputado Fábio Souto: Acrescenta à
Consolidação das Leis do Trabalho para dispor sobre a
Ginástica Laboral nas empresas.
Como pôde-se observar, a Ginástica Laboral há dez anos atrás era um
assunto sem muita expressão; “desnecessária” aos olhos dos gerentes
220
empresariais e que, atualmente, ganhou forças para a sua obrigatoriedade
devido as mudanças do contexto empresarial sendo que a presença do
Profissional de Educação Física está sendo a cada dia mais solicitada.
Entretanto, este para desenvolver um Programa de Qualidade, deve ter
um controle em todas as etapas; apresentar relatórios periodicamente;
Sensibilizar constantemente os trabalhadores para adesão ao programa e, ter
conhecimento dos aspectos laborais (Ergonomia), da fisiologia do trabalho e
dos aspectos legais pertinentes.
8.5 Considerações Finais
No início da participação na Implantação de Programas de Ginástica
Laboral, tinha-se muito cuidado devido a fragilidade da falta de conhecimento
sobre o assunto.
Podem-se pesquisar fontes em outras áreas (fisiologia do trabalho;
Ergonomia; Teoria Científica da Administração; Engenharia da Produção) para
que o conhecimento fosse elaborado nesta área; contribuímos com o
desenvolvimento de metodologia para implantação da Ginástica Laboral em um
período em que não se tinha praticamente nada sistematizado; vimos os
problemas decorrentes da não adesão ao programa e procuramos apresentar
soluções,
trabalhando
na
perspectiva
da
participação
consciente
do
trabalhador; em nossas consultorias nas listas de discussão16, quando os
questionamentos
chegavam,
pode-se
verificar
vários
problemas
de
conhecimentos básicos na área e outros que são barreiras que devemos
superar, entre elas os aspectos legais (quem deve desenvolver os programas
de Ginástica Laboral? A questão das adesões; os projetos de lei sobre o
assunto).
Isso nos dá satisfação, pois podemos acompanhar o crescimento da
Ginástica Laboral no Brasil e, sabemos que com ampla discussão e estudos
científicos esta área tende a ser muito importante na Gestão dos Recursos
Humanos nas Empresas.
16
Ver CDOF http://www.cdof.com.br/gl5.htm
221
Espera-se que nossos colegas venham a discutir a possibilidade de se
realizar o I° Fórum sobre Atividades Físicas nas Empresas, iniciando com a
Ginástica Laboral, onde poder-se-á sintetizar o conhecimento sobre o assunto,
além de traçar o perfil da Ginástica Laboral no Brasil. A partir destas
discussões, poderemos traçar “A Qualidade de Programa de Ginástica Laboral”
com requisitos mínimos para implantação, a fim de se promover a saúde no
trabalho.
222
SEÇÃO II
PESQUISAS REALIZADAS EM
GINÁSTICA
LABORAL
ATIVIDADE
FÍSICA
NA
EMPRESA NO BRASIL
223
CAPÍTULO IX
EFETIVIDADE DA GINÁSTICA LABORAL
Priscila M. Nakamura
Camila B. Papini
Natália Varela González
Thatiany Brienza Hebling
Silvia Deutsch
Na atual dimensão da atividade física e suas contribuições no campo
da saúde e qualidade de vida, o Núcleo de Atividade Física, Esporte e Saúde
(NAFES) da Universidade Estadual Paulista de Rio Claro busca dinamizar a
produção do conhecimento nesta área, desenvolvendo pesquisas que
contribuam com a construção de um corpo teórico sólido que visa esclarecer as
diversas manifestações da saúde do trabalhador.
Nesse sentido, o capítulo que se segue tem a intenção de demonstrar
e divulgar os esforços realizados na área para o desenvolvimento do
conhecimento no âmbito da saúde do trabalhador, em que as pesquisas
realizadas se distinguem em compreender o comportamento dos trabalhadores
pautado no modelo transteorético (MTT), além de buscar uma compreensão do
comportamento em relação à atividade física e a ginástica laboral. Na
sequência, outro estudo realizado pelo NAFES está relacionado com a análise
do estágio de prontidão e intensidade de trabalho ocupacional.
No Brasil, existem cerca de 140 milhões de pessoas que permanecem
aproximadamente 8 horas por dia no local de trabalho. Desses, 50% são
classificados como sedentários (Silva e Marchi, 1997) o que contribui para o
aumento na incidência das Doenças de Agravos Não Transmissíveis (DANTs).
Desse modo, o local de trabalho é reconhecido como um importante meio de
intervenção para a promoção de um estilo de vida fisicamente ativo.
O Center Disease Control and Prevention (CDC), já inclui no seu
programa de metas (Health People 2010) a prática de atividades físicas no
224
trabalho. O objetivo é atingir 75% dos empregados das indústrias, sendo que
no ano de 1999 essa marca atingia 34% das empresas com mais de 50
funcionários. No Brasil, há um movimento significativo de empresas que
buscam intervenções para a redução da inatividade física, logo, a promoção de
um estilo de vida ativo, entre várias manifestações se destaca a ginástica
laboral por indicar benefícios psicológicos, sociais e físicos na saúde do
trabalhador.
Para obter bons resultados frente a uma intervenção é necessário
adotar estratégias para mudança de comportamento que sejam efetivas. O
modelo transteorético sugerido por Prochaska e Diclemente (1983) é um
importante instrumento que auxilia na análise do estilo de vida fisicamente ativo
e que pode contribuir na intervenção de estratégias que visam a mudança do
estilo de vida.
Esse modelo sugere, para que uma mudança de comportamento seja
bem sucedida, as intervenções devem ser adaptadas ao estágio atual da
pessoa, adotando-se intervenções adequadas para cada estágio de prontidão.
Esses estágios são classificados em:
 Pré-contemplativo: indivíduos que não estão participando de nenhuma
atividade física (AF) e não tem intenções futuras de fazê-la;
 Contemplativo: indivíduos que não estão participando de nenhuma AF,
porém pensam em realizá-la nos próximos seis meses;
 Preparação: indivíduos que pretendem iniciar a participação em AF
regular nos próximos seis meses e iniciaram pequenas mudanças em
seu comportamento para AF;
 Ação: indivíduos que realizam AF, menos de seis meses;
 Manutenção: indivíduos que realizam AF, mais de seis meses.
Segundo Taylor e Miller (2003), as estratégias para os estágios précontemplativo, contemplativo e preparação (Fase de antecedentes) devem ser
de: a) Informação: é o primeiro fator que influencia a mudança. Deve ser
apresentada de forma simples e clara utilizando uma linguagem compreensível.
A informação sobre os benefícios proporcionados pela mudança, em vez dos
225
riscos devidos à ausência de qualquer mudança, pode ser enfatizada para
conseguir mais impacto; b) Instruções: quando a instrução é fornecida por
uma pessoa de autoridade constitui um poderoso antecedente para a mudança
comportamental. O público considera os profissionais de assistência à saúde
como a fonte de informação mais digna de confiança; c) Modelos de papéis:
sejam modelos de família, amigos ou outras fontes dignas de confiança podem
facilitar a mudança por permitir que o participante veja como os outros
indivíduos fizeram essa mudança, reagiram à mudança, generalizaram a
mudança para diferentes tipos de situações e lidam com as situações difíceis
de forma a apresentar os hábitos saudáveis e d) Experiência prévia: é o
principal fator que determina o início de um novo hábito relacionado à saúde. É
mais provável que as pessoas repitam um comportamento se o mesmo foi útil
no passado.
Para a fase de adoção, a estratégia é fazer com que os participantes
estabeleçam metas e identifiquem as áreas em que é necessária mais
assistência. Para a última fase, de manutenção, existem quatro estratégias: a)
Monitoramento: deve ser simples e conveniente. Um relatório espontâneo, um
diário, alguns dados fisiológicos e outros tipos de monitoramento são úteis para
manter a mudança de comportamento e ajudar os profissionais do exercício a
determinar o progresso; b) Reforço: tornar a atividade tão satisfatória quanto
possível. Muitos estímulos ambientais, tais como alimento, água, atividade
sexual e calor, são elementos naturais de reforço. Os reforçadores sociais e/ou
simbólicos incluem atenção, aplauso, dinheiro e prêmios. O reconhecimento
por partes dos companheiros ou os jogos e a competição podem ajudar a
manter um comportamento; c) Prevenção da recaída: antecipação da recaída
ou das interrupções e d) Contratos: assumir um compromisso formal. Os
contratos por escrito são extremamente úteis para preservar uma mudança e
ajudar com a manutenção. Como a mudança de comportamento é dinâmica, os
objetivos devem ser avaliados, atualizados e revisados conforme necessário.
Contudo, para as pessoas obterem melhora na saúde, não basta
apenas mudar de comportamento. Segundo recomendações do CDC é
necessário realizar uma AF moderada com uma duração maior que 150
226
minutos semanais, realizar duas vezes por semana atividades de flexibilidade e
força muscular e pelo menos 60 minutos de atividades vigorosas semanais.
Com isso, é importante verificar se as sessões de GL são efetivas em
promover mudanças nos estágios de prontidão e se os funcionários atendem
às recomendações do CDC. Nesta intenção, Nakamura et al. (2005) realizaram
um estudo com trinta e três funcionários de ambos os gêneros com idade de 39
(± 11 anos), pertencentes a postos de saúde da cidade de Rio Claro (13), a um
restaurante universitário (10) e a uma micro-empresa (10) os quais eram
atendidos pelos estagiários do projeto de extensão da Universidade Estadual
Paulista no câmpus de Rio Claro (UNESP-RC). Todos eram praticantes da
Ginástica Laboral há mais de dois meses. A GL Preparatória foi realizada três
vezes por semana, durante 30 minutos, no próprio local de trabalho e os
funcionários recebiam informações sobre alimentação e benefícios da prática
de AF. Os funcionários responderam o questionário do Modelo Transteorético
logo após uma sessão de aula.
Para a análise dos dados, as respostas foram avaliadas por
porcentagem. Os resultados demonstraram que dos trinta e três indivíduos, 6%
estavam no Pré-contemplativo, 0% no Contemplativo, 12% Preparação, 24%
Ação e 58% Manutenção, porém 73% das pessoas que praticavam AF não
atendiam as recomendações do CDC, sendo apenas 27% dos funcionários
sendo classificados como ativos, conforme recomendação do CDC. Esses
dados indicam que há um grande número de funcionários que praticam AF,
porém a grande maioria não satisfaz a relação frequência e/ou duração mínima
sugerida pela CDC. Desse modo, foi verificado que os funcionários necessitam
de mais informações sobre as recomendações mínimas de AF para que
possam obter benefícios para sua saúde.
Papini et al. (2006) realizaram um estudo com quarenta e dois
funcionários (35  11,4 anos) de ambos os gêneros, pertencentes a diferentes
empresas e ocupações profissionais de empresas do município de Rio Claro,
os quais foram divididos em dois grupos: G1 (n=21) praticantes da GL há mais
de seis meses e G2 (n=21) funcionários de empresas que não oferecem GL.
227
Foram aplicados: “Questionário de Atividade Física Diária” (QAFD),
“Estágio de Prontidão” e o “SF-36”. O QAFD avalia a quantidade de atividade
física realizada na vida diária, o questionário de estágio de prontidão avalia a
pré-disposição das pessoas a praticarem atividade física e o SF-36 avalia a
percepção da qualidade de vida.
O QAFD foi analisado, segundo dois critérios: classificação no MTT
(Manutenção e Antecedentes + Ação) e atendimento à recomendação do CDC.
Os dados foram comparados através da Razão de Odds e teste T- Student. Os
resultados do estudo estão ilustrados na Tabela 1.
Quadro 1- Classificação em porcentagem de funcionários praticantes e não-praticantes da GL nos
estágios de prontidão. Média e desvio padrão da QdV dos dois grupos.
MTT
Critério
CDC
Classificação
Manutenção
Antecedentes+
Ação
G1
81%
19%
57%
43%
82  13
G2
42%
58%
38%
63%
83  9
Razão de Odds (IC 95%)
2,00 (1,41:22,76)
Ativos
Inativos
QdV
2,00 (0,63:7,44)
O estudo acima apontado corrobora com os achados de Nakamura et
al. (2005) que também verificaram que os praticantes de GL foram
classificados nos estágios de manutenção e ação, porém não atendem à
recomendação mínima preconizada pelo CDC. Esses resultados também
verificaram que não houve diferença na QdV entre o G1 e G2, porém pode-se
especular que as pessoas que praticam a GL sejam mais criteriosas quando
avaliam a sua QdV devido ao maior conhecimento sobre o assunto.
Conforme indica a Organização Mundial de Saúde (OMS), Qualidade
de Vida (QdV) é a “percepção do individuo de sua posição na vida, no contexto
da cultura e sistemas de valores nos quais vive e em relação aos seus
objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Para Nahas (2003), a QdV é
diferente de pessoa para pessoa, tende a mudar ao longo da vida de cada um
228
e admite a combinação de múltiplos fatores determinantes que moldam e
diferenciam o cotidiano do ser humano. Esses fatores, que podem ser
classificados em parâmetro sócio-ambientais e individuais, compreendem:
estado de saúde, longevidade, lazer, relações familiares, disposição, prazer,
espiritualidade, satisfação no trabalho e remuneração.
Pires (1996) acredita que os funcionários sacrificam as horas de lazer e
cuidados com a saúde devido à cobrança para uma maior produção na
empresa, acarretando uma piora na QdV. Porém, durante os últimos anos, um
número crescente de empresas vem investindo cada vez mais no
aprimoramento do bem-estar e do condicionamento físico de seus funcionários,
sejam estes alto executivos ou operários. Essas empresas descobriram que a
saúde dos funcionários não pode ser dissociada do próprio equilíbrio da
empresa e o investimento feito em programas de AF acaba resultando em uma
qualidade melhor de trabalho (Papini, 2006).
Papini et al. (2007) realizaram um estudo com duzentos funcionários
(32,19 ± 10,46 anos) com diferentes ocupações, dos quais cento e vinte e nove
são mulheres (32,19 ± 10,46 idade) e setenta e um homens (31,60±10,27
idade). Todos os participantes responderam o questionário de AF diária e o SF36.
Para a análise estatística foi utilizado Anova-One Way para cada
componente de QdV e MTT. Post-Hoc de Tukey foi utilizado para identificar as
diferenças. Os resultados demonstraram que os componentes vitalidade, saúde
mental, saúde física total e saúde mental total são influenciados pelo MTT e
indicam que a QdV total pode ser influenciada pelo MTT, porém necessita de
novos estudos que possam certificar tal observação.
Anova One-Way apontou diferença para QdV total entre os estágios do
MTT, porém o Post-Hoc de Tukey não identificou as diferenças, porém existe
uma tendência da QdV do estágio de manutenção ser melhor do que o de ação
e antecedentes e o de ação ser pior do que os antecedentes. Desse modo, é
possível assumir que a GL é capaz de melhorar a QdV dos funcionários, pois
os que praticam GL se encontram em sua grande maioria nos estágios de
manutenção e ação.
229
Papini et al (2006) verificaram se severidades ocupacionais (carga
horária, horas extras, frequência semanal e intensidade ocupacionais) se
relacionam com os estágios de prontidão em trabalhadores. Participaram do
estudo cem funcionários (33±11anos), de ambos os gêneros, pertencentes a
cargos e trabalhos distintos de empresas do município de Rio Claro. Foram
aplicados questionários de Identificação Ocupacional e de Estágio de
Prontidão.
A análise estatística dos dados foi realizada através do Qui-Quadrado.
Para isso, os estágios de prontidão foram agrupados em dois grupos: a)
Manutenção e Ação; b) Preparação, pré-contemplativo e contemplativo. O teste
Qui-Quadrado (2x2) com 1 grau de liberdade (gl) (x2= 6,63; p<0,01) não
revelou diferença entre estágio de prontidão, horas de trabalho, frequência
semanal e horas extras. O Qui-Quadrado (3x3) com 12 gl (x2 = 23,21; p<0,01)
não revelou diferença entre estágio de prontidão e intensidade de trabalho
ocupacional. Desse modo, as severidades ocupacionais parecem não interferir
no estágio de prontidão, podendo ter ocorrido falha do questionário utilizado
devido à falta de validação do instrumento, necessitando de mais estudos e
instrumentos capazes de avaliar essas variáveis.
A Ginástica Laboral é uma atividade física que apresenta condições de
poder contribuir na melhora do estado psicológico dos praticantes, conforme
Frazier
e
Nagy
(1989),
pesquisas
foram
realizadas
com
amostras
diagnosticadas clinicamente, que suportam a hipótese de que a depressão é
diminuída e a auto-estima aumentada através de exercícios.
Através dos
estados de ânimo, é possível perceber o estado psicológico do praticante e a
influência da atividade física nessa variável.
Os estados de ânimo são estados subjetivos cuja duração e
intensidades são determinadas com a situação vivida naquele momento e que
são capazes de desencadear uma série de reações orgânicas. Miranda (2001)
afirma que os estados de ânimo podem ser avaliados imediatamente após uma
sessão única de atividade física, pois são fenômenos de curta duração que
podem ser claramente relacionados com o exercício, porém avaliações de
longo prazo apresentam uma mudança de difícil interpretação.
230
No estudo realizado por González et al. (2005) foi verificado o efeito de
uma sessão de Ginástica Laboral no estado de ânimo em 29 (vinte e nove)
funcionários, de ambos os gêneros, com idade 36,45 ( 11,13 anos) todos
participantes da Ginástica Laboral há mais de dois meses do projeto de
extensão da UNESP-RC. Foi aplicado o questionário LEA – RI (Lista de
Estados de Ânimo – Reduzida e Ilustrada) para identificar os estados de ânimo
antes e após uma aula de alongamento de Ginástica Laboral preparatória, com
duração de 20 minutos. O resultado do estudo está ilustrado na Quadro 2.
Quadro 2. Porcentagem das respostas para cada adjetivo
MELHOROU (%)
FELIZ, ALEGRE
58,6*
PESADO,CANSADO
38
AGRADÁVEL
38
TRISTE
20,7
ESPIRITUAL
38
LEVE, SUAVE
58,6*
CHEIO DE ENERGIA
55,1*
ATIVO,ENERGÉTICO
58,6*
AGITADO,NERVOSO
34,5
DESAGRADÁVEL
20,7
CALMO,TRANQUILO
48,2*
INÚTIL, APÁTICO
10,4
TÍMIDO
34,5
COM MEDO
10,4
* Adjetivos que apresentaram melhora
MANTEVE (%)
PIOROU (%)
31,1
48,2
48,2
72,4
44,8
34,5
38
34,5
55,2
69
38
72,4
58,6
79,2
10,3
13,8
13,8
6,9
17,2
6,9
6,9
6,9
10,3
10,3
13,8
17,2
6,9
10,4
De acordo com as análises, a aula de alongamento melhorou os
estados de ânimo para os adjetivos positivos, indicando que a Ginástica
Laboral é um importante instrumento na contribuição da melhoria do estado
psicológico dos funcionários e, dessa maneira, viabiliza a aquisição da
Qualidade de Vida.
Papini et al. (2007) realizaram um estudo com dez funcionários, de
ambos os gêneros, três homens (52,7 ±9,7 idade) e sete mulheres (39,6 ±14,9
idade), todos do restaurante universitário e praticantes de Ginástica Laboral há
pelo menos seis meses no projeto de extensão da UNESP-RC. As aulas de
Ginástica Laboral preparatória foram realizadas três vezes por semana com
duração de 15 minutos.
231
As atividades desenvolvidas nas aulas foram constituídas por
exercícios de força, alongamento, coordenação e dinâmica em grupo. Os
participantes foram avaliados através da bateria de testes da American
Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance (AAHPERD),
em dois momentos: avaliação inicial e avaliação após quatro meses. A
resistência aeróbia não foi avaliada, pois no programa estudado de Ginástica
Laboral não inclui atividades para desenvolver tal capacidade. Para a análise
estatística dos resultados foi utilizado o teste t. Os resultados desse estudo
estão ilustrados na tabela 3.
Tabela 1: Médias  dp dos valores da flexibilidade, coordenação, agilidade e força.
Teste
Flexibilidade (m)
(média  dp)
Coordenação (seg)
(média  dp)
Agilidade (seg)
(média  dp)
Força(nº repet)
(média  dp)
Inicial
60,9  12,1
10,7  1,7
19,5  2,6
29,8  5
Após 4 meses
54,5 9,9
9,7  1,5
19,4  2,3
31,4  9,2
Significância de p<0,05.
Os resultados desse estudo demonstram que a Ginástica Laboral
apresenta
indicativos
na
melhoria
das
capacidades
funcionais
dos
participantes, pois dos dez funcionários, sete participam do programa há mais
de um ano, tendo como consequência a melhoria da qualidade de vida, pois
não há indicações da diminuição das atividades diárias.
Na literatura que envolve a Ginástica Laboral, são poucos estudos que
verificaram as respostas fisiológicas durante ou após as aulas de Ginástica
Laboral. A análise da Variabilidade da Frequência Cardíaca (VFC) é uma
possibilidade licita para se investigar os benefícios da Ginástica Laboral, tendo
em vista que é um método não invasivo que mede e registra o ciclo cardíaco
(intervalo R-R), permitindo-nos estimar o tônus simpático e parassimpático, sob
diversas condições fisiológicas, sobretudo nas respostas aguda ou crônica do
exercício. Atualmente, tem se dado muita atenção à VFC, por sua correlação
com índices de saúde. Uma baixa VFC está relacionada à disfunção
autonômica, a DANTs e aumento do risco de mortalidade.
Gonzálvez et al. (2006) verificaram a influência da Ginástica Laboral
Preparatória, constituída de alongamentos, na VFC durante a jornada de
232
trabalho. Participaram seis trabalhadores de ambos os gêneros (40,6712,87),
praticantes de GL há mais de seis meses, do Restaurante Universitário (n= 3) e
de uma micro-empresa de costura (n= 3) que participam do projeto de
extensão da UNESP-RC. A VFC foi medida (Polar S-810i) em duas situações:
1) Durante uma jornada matinal de 4 h de trabalho precedida de 15 min de
GL;
2) Durante uma jornada matinal de 4h de trabalho sem Ginástica Laboral.
A VFC foi analisada utilizando o RMSSD e pNN50, pelo programa HRV
analisys. Para a análise estatística foi utilizado o Teste t, adotando significância
de p < 0,05.
Tabela 2 - Valores médios e desvio-padrão de RMSSD e pNN50, nos dois tempos analisados, para os dois
protocolos de teste (com GL e sem GL).
15 primeiros minutos
15 minutos até 4 horas
RMSSD
pNN50
RMSSD
pNN50
Com sessão de GL
27,409,15
5,332,08
25,336,49
6,204,22
Sem sessão de GL
44,6653,01
5,12,50
24,475,76
5,574,35
A partir dos resultados apresentados na tabela 4, verificou-se que a GL
Preparatória com exercícios de alongamento não influenciou a VFC durante a
jornada de trabalho. Embora não tenha sido verificado, especula-se que os
participantes tenham sofrido um efeito de treinamento por realizarem a
Ginástica Laboral por mais de 6 meses ou devido as distintas atividades
ocupacionais. Deste modo, necessita-se de mais estudos com intuito de
verificar se o tipo de exercício e/ou atividade laboral influenciam na VFC.
Todos os estudos citados até o momento indicam os benefícios da
Ginástica Laboral, utilizando instrumentos e testes não específicos. Desse
modo, é interessante elaborar instrumentos específicos para avaliar a
efetividade da Ginástica Laboral. Um dos focos principais da Ginástica Laboral
é combater as DORTs, porém são necessários instrumentos eficientes para
avaliação dos funcionários. Considerando que baixos valores de força muscular
podem contribuir para o desequilíbrio postural e lesões em determinados
grupos musculares.
233
Queiroga et al. (2007) realizaram um estudo com o objetivo de verificar
os valores de força de preensão manual em trabalhadores com e sem dor nos
membros superiores. Participaram do estudo noventa e oito mulheres (34 ± 7,8
anos; 66,8 ± 12,8 kg) e 178 homens (33 ± 8,7 anos; 77,3 ±14,8kg) que
exerciam tarefas repetitivas em duas distintas empresas nos setores
administrativos e operacionais (empacotador/embalador).
Os funcionários foram questionados a respeito da presença de dor nos
braços durante e após a jornada de trabalho mediante a escala de dor (verde:
sem dor; amarelo: levemente desconfortável; vermelho: desconfortável). Em
seguida, foram submetidos a um teste de preensão manual com o braço direito
(D) e esquerdo (E) utilizando um dinamômetro eletrônico com célula de carga
(Cefise®). Os avaliados, em pé com os braços ao lado do corpo, realizaram
uma contração de familiarização e, após intervalo, uma contração máxima
durante dois segundos. Os dados foram apresentados mediante estatística
descritiva e analisados por meio do teste t para amostras dependentes.
Quadro 3- Média e desvio-padrão dos dados antropométricos e da preensão manual com braço direito
e esquerdo, com participantes sem dor e com dor.
Idade
MC
Estatura
IMC
%
Força D Força E Força
(anos)
(kg)
(cm)
(kg/m2) Gordura
(kg)
(kg)
D+E
Mulheres SD
n = 61
34,7
± 7,8
66,7
± 13
161,4
± 6,9
25,7
± 5,2
29,1
± 6,6
28,8
± 6,9
27,3
± 6,9
28,8
± 6,3
Mulheres CD
n = 37
34,4
± 7,8
6,7
± 1,9
161,4
± 6,9
25,7
± 5,2
29,2
± 8,3
28,7
± 6,8
27,2
± 6,9
26,6
± 7,5*
Homens SD
n = 143
33,3
± 8,8
77,4
± 14,9
172,0
± 01
26
± 4,2
23,2
± 6,9
47,8
± 9,3
46,2
± 9,3
46,9
± 9,3
Homens CD
n = 35
33,1
± 8,6
76,6
± 14,8
171,0
± 0,1
26
± 4,1
23
± 6,6
48,3
± 9,1
46,8
± 9,4
47,5
± 9,8
*Diferença significante entre dor e sem dor (p=0,03).
SD = sem dor; CD = com dor; D+E =: somatório dos valores preensão manual braço direito e esquerdo.
Gordura corporal = densidade corporal estimada a partir da equação de regressão proposta por Petroski (1995, 1996) e %G pela
fórmula de Siri (1961).
Não houve diferença estatística na força de preensão manual entre o
braço D e o braço E, porém, quando considerados os dois membros (D+E) a
análise revelou diferença entre as mulheres com dor e sem dor (p=0,03), mas
234
não entre os homens (p=0,63). Tendo em vista que a redução da força
muscular é considerada um sintoma de DORT, sugere-se que as mulheres com
dor, ao contrário dos homens, estariam mais predispostas a desenvolver e/ou
possuir uma lesão osteomuscular.
Em resumo, os estudos supracitados verificaram que a Ginástica
Laboral é uma intervenção que pode trazer benefícios para promover mudança
no comportamento, elevar o nível de atividade física, melhorar a Qualidade de
vida, melhorar os estados de ânimo e prevenir declínio das capacidades
funcionais e psicossociais. Neste caso, necessita-se de muitos esforços dos
estudiosos e profissionais para se atingir uma plena efetividade da Ginástica
Laboral.
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236
CAPÍTULO X
INFORMAÇÕES PROVENIENTES DE UM PROGRAMA DE GINÁSTICA
LABORAL NA PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR
E DE SUA COMUNIDADE
Caroline de Oliveira Martins
Resumo: O objetivo desta pesquisa, caracterizada como um estudo de caso
descritivo longitudinal, foi verificar se a informação proveniente de um
Programa de Ginástica Laboral (PGL) vivenciado por 42 trabalhadores de
escritório, de 2002 a 2004, em oito municípios catarinenses (SC/Brasil), bem
como se a difusão de ensinamentos pelo trabalhador esteve associada à carga
de trabalho e aderência semanal à GL. O PGL foi constituído pela oferta de três
aulas semanais de GL compensatória (quinze minutos de duração),
acompanhada pela disseminação no ambiente de trabalho de informações para
a promoção da qualidade de vida (QV). Questionários semi-abertos foram
aplicados no final de cada um dos três anos da pesquisa, sendo que seus
dados foram discutidos a partir de análise descritiva, teste exato de Fisher e Q
de Cochran. Os resultados sugerem que a difusão de ensinamentos pelo
trabalhador em sua comunidade não esteve associada à carga de trabalho,
mas esteve associada à aderência semanal à GL no ano de 2003 (p=0, 043), e
que a informação proveniente do PGL foi vivenciada pelo trabalhador de
escritório (p=7,64). Pesquisas científicas, que retratem o impacto de programas
de promoção da saúde do trabalhador, devem ser realizadas e publicadas a fim
de que possam colaborar para que a adoção de tais programas seja cada vez
mais corriqueira e aprimorada, inclusive solidificando a noção de que o
ambiente ocupacional pode originar modificações que acrescentam qualidade à
vida do cidadão.
Palavras-chave: informação, programa de ginástica laboral, qualidade de vida.
Introdução
Um Programa de Promoção da Saúde do Trabalhador (PPST) é um
programa que apresenta o objetivo principal de melhorar a qualidade de vida
do colaborador dentro e fora do ambiente de trabalho, mas também pode
beneficiar familiares do trabalhador e até trabalhadores aposentados,
idealizado de acordo com as características do trabalhador, da empresa e da
comunidade na qual a organização está inserida (Martins, 2007).
237
Partindo deste conceito, um Programa de Ginástica Laboral (PGL)
pode apresentar-se como um dos programas que compõe o leque de opções
voltadas para melhorar a Qualidade de Vida (QV) e Qualidade de Vida no
Trabalho (QVT). A ginástica laboral (GL) pode ser definida como uma pausa
ativa realizada no ambiente de trabalho, cuja duração média é de cinco minutos
quando efetuada na fábrica e quinze minutos quando executada no escritório,
efetuada através de exercícios de alongamento e demais atividades, tais como
exercícios respiratórios, massagens e atividades lúdicas que apresentam os
objetivos principais de prevenir os DORT (Distúrbios Ósteo-musculares
Relacionados ao Trabalho) e reduzir o distresse psicológico (estresse
negativo). Qualquer trabalhador, com qualquer roupa, pode participar da GL
desde que o professor adapte as atividades às suas peculiaridades (Martins,
2004).
Entretanto, para atuar holisticamente na saúde do trabalhador, além da
GL um PGL deve ter diferentes abordagens, como, por exemplo, viabilizar a
exposição semanal de informações sobre QV no ambiente de trabalho (Martins,
2001). Dependendo da natureza da informação, a mesma pode beneficiar não
só o trabalhador da empresa em que o exercício físico é efetuado, mas
também a comunidade na qual ele está inserido, caso o trabalhador dissemine
esta informação aos seus familiares, vizinhos e amigos. Tal fato já foi verificado
por pesquisa realizada com trabalhadores de escritório (Martins, 2000), tendo
em vista que 84,6% dos indivíduos que participaram de um PGL difundiram o
conhecimento oriundo do programa em suas comunidades.
Como contribuição para otimizar a aplicação de PPSTs, o objetivo
deste trabalho foi verificar se a difusão de ensinamentos pelo trabalhador
esteve associada à carga de trabalho e aderência semanal à GL, bem como se
a informação proveniente do PGL foi vivenciada pelo trabalhador de escritório.
Metodologia
O presente estudo de caso descritivo longitudinal foi realizado com
trabalhadores de escritório de uma instituição federal, com atuação em oito
238
municípios do estado de Santa Catarina (Blumenau, Chapecó, Florianópolis,
Jaraguá do Sul, Joaçaba, Joinville, Lages e Tubarão) nos anos de 2002, 2003
e 2004, com jornada de trabalho que iniciava às 13:00h e terminava às 19:00h,
compreendida entre segunda-feira e sexta-feira. Os trabalhadores efetuavam
tarefas que envolviam grande pressão temporal (cumprimento de prazos finais)
e requisição manual (digitação e manuseio de documentos), propiciando um
campo fértil para o desenvolvimento dos DORT. Foi aplicado um questionário
semi-aberto ao final de cada ano (em anexo), com intuito de avaliar a aplicação
do PGL, bem como sua repercussão na QV e QVT dos trabalhadores.
A amostra (n = 42) foi formada por trabalhadores que responderam ao
questionário em 2002, 2003 e 2004, sendo vinte e três indivíduos do sexo
feminino (n = 23) e dezenove do sexo masculino (n = 19), com uma média de
idade de aproximadamente 31 anos e desvio padrão de  6,22, que aderiram à
GL três vezes por semana, duas vezes por semana, uma vez por semana e
uma vez por mês. É importante ressaltar que independente do ano em que foi
realizada a pesquisa, pelo menos 50% dos entrevistados aderiram à GL, em
média, três vezes por semana, sugerindo uma alta aderência dos
respondentes.
No PGL foram ministradas aulas de GL compensatória (durante a
jornada de trabalho), aplicada por educadores físicos, com duração de quinze
minutos, e disseminadas semanalmente, no ambiente de trabalho, informações
para a promoção da QV (ex: postura corporal adequada para executar tarefas
utilizando o computador, exercício físico e metabolismo, benefícios da doação
de sangue, receita de bolo de casca de mamão - impressas em papel de
tamanho A4), além do atendimento mais individualizado aos trabalhadores,
pelo professor de GL nos dias das aulas, após o horário da GL. Exercícios de
alongamento estático formaram a base da GL, projetados para atuar na
musculatura mais requisitada durante a jornada de trabalho - região lombar da
coluna vertebral, ombros, punhos e mãos, uma vez que as tarefas
ocupacionais da amostra envolviam grande requisição manual, principalmente
pela intensa utilização do computador.
239
A análise estatística desta pesquisa foi inicialmente realizada através
da
análise
descritiva
das
informações
obtidas
para
cada
variável
independentemente, sendo que o teste exato de Fisher e o teste Q de Cochran
foram posteriormente efetuados através do software Statistical Analysis
System. Vale ressaltar que o presente estudo cumpriu os princípios éticos de
pesquisas que envolvem seres humanos.
Resultados
As informações provenientes dos dados coletados sugerem que a
maior parte dos participantes (mais de 59%) divulgaram o conhecimento
oriundo das informações semanais sobre QV, sendo que em 2002 (n=32), a
divulgação foi maior (76,2%), se comparada com 2003 (n=25) e 2004 (n=29).
Os resultados do teste exato de Fisher demonstram não ter sido
significativos para o cruzamento entre difusão do conhecimento e carga de
trabalho em 2002 (p=0,246), 2003 (p=0,243) ou 2004 (p=0,261), considerandose o nível de significância de 5% (p>0,05), indicando que a carga de trabalho
não influenciou a difusão do conhecimento proveniente das informações
semanais sobre QV.
Já dentre os resultados do teste exato de Fisher para o cruzamento
entre difusão do conhecimento e aderência à GL, somente parece ter sido
significativo o resultado para o ano de 2003 (em 2002, p=0,061; em 2003,
p=0,043; em 2004, p=0,077), considerando-se o nível de significância de 5%
(p<0,05).
Os resultados do teste Q de Cochran para verificar a relação da
vivência de ensinamentos ao longo dos anos sugerem que existiu significância
somente entre vivência de ensinamentos e tempo (p=7,64), com um nível de
5% de significância (p<0,05).
240
Discussão
O presente artigo apresentou limitações referentes à utilização de
questionário (cujas informações prestadas pelos respondentes dependem de
sua compreensão, recordação e colaboração), à dificuldade de se coletar a
maior quantidade possível de dados ao longo de três anos e ao acesso a
estudos científicos sobre a influência de um PGL na QV de trabalhadores de
escritório.
De acordo com os resultados referentes à difusão do conhecimento
advindo
do
PGL,
aproximadamente
60%
dos
sujeitos
difundiram
o
conhecimento em 2002 (76,2%), 2003 (59,5%) e 2004 (69%), sendo que no
ano de 2002 a difusão foi 11,95% maior do que a média dos anos
subsequentes. Isso pode ter ocorrido tanto pela natureza das informações
sobre QV, que podem ter despertado mais a atenção do trabalhador e/ou
destas terem sido mais aplicáveis à melhoria da sua QV (propiciando uma
maior divulgação em 2002), quanto pela teoria da adaptação ao PPST
(relacionada a 2003 e 2004).
Tal teoria reflete que, num PPST/PGL, o trabalhador pode observar
com nitidez os benefícios provenientes do programa em sua implantação
porque é algo novo, mas à medida que o tempo passa, ele se acostuma a tais
melhorias e não consegue mais identificá-las perfeitamente, fazendo com que a
criatividade em todas as vertentes do programa (ex: atividades da GL,
divulgação do programa) seja essencial para que o trabalhador constantemente
se interesse e se conscientize de sua repercussão. A adaptação causada pela
ausência de estímulos ao longo do tempo pode, inclusive, tornar-se uma
barreira para a aderência ao programa (Martins, 2005).
O estímulo pode ser definido como um sinal que desencadeia um
comportamento, podendo ser verbal, físico ou simbólico. O objetivo do estímulo
é diminuir os sinais para comportamentos concorrentes e aumentar os sinais
para o comportamento desejado por meio de cartazes, slogans, mala direta,
colocação de equipamentos de exercícios em lugares visíveis, recrutamento de
apoio social e realização do exercício na mesma hora e no mesmo lugar todos
241
os dias, por exemplo, (Weinberg e Gould, 2001). Um estudo observacional com
17.901 adultos analisou a eficácia de sinais para encorajar o uso da escada ao
invés da escada rolante em um shopping center situado em Baltimore/EUA
(Andersen et al, 1998).
A intervenção deu-se por intermédio de três fases distintas, sendo que
cada fase ficou exposta durante um mês. Durante a primeira fase, a frequência
da utilização da escada, comparada ao uso da escada rolante, foi gravada (as
escadas estavam situadas lado a lado). Na segunda fase, que visava ressaltar
os benefícios de saúde, um cartaz com a caricatura de um coração no topo de
um lance de escada, com a frase “Seu coração precisa de exercício, use a
escada” foi colocado em um cavalete que, por sua vez, foi disponibilizado ao
lado das escadas. Na terceira fase de intervenção, que objetivava destacar o
controle da massa corporal, um cartaz igualmente foi colocado no cavalete,
mas trazia a caricatura de uma mulher no topo de um lance de escadas, sendo
que a mulher tinha cintura fina e estava vestindo uma calça com cintura
demasiadamente larga, com a seguinte frase: “Melhore sua cintura, use a
escada”.
Os resultados demonstraram que no total houve aumento na utilização
da escada de 4,8% para 6,9% e 7,2% com os sinais de benefícios de saúde e
controle da massa corporal, respectivamente; os jovens aumentaram o uso da
escada de 4,6% para 6,0% com o sinal de saúde e 6,1% com o sinal de
controle de massa corporal; os idosos aumentaram a utilização da escada de
5,1% para 8,1% com o sinal de saúde e 8,7% para o sinal de controle de
massa corporal; a utilização diferenciada da escada foi observada entre grupos
étnicos: entre caucasianos, o uso da escada aumentou de 5,1% para 7,5% e
7,8% com o sinal de saúde e controle de massa corporal, respectivamente;
entre negros, a utilização da escada decresceu de 4,1% para 3,4% com o sinal
de saúde e aumentou para 5,0% com o sinal de controle de massa corporal; na
primeira fase, indivíduos magros usaram a escada com mais frequência do que
indivíduos com sobrepeso (5,4% e 3,8%, respectivamente); o sinal de saúde
aumentou o uso da escada para 7,2% entre indivíduos com massa corporal
considerada normal e 6,3% com indivíduos com sobrepeso; o sinal de controle
242
de massa corporal aumentou a utilização da escada para 6,9% entre indivíduos
com massa corporal normal e 7,8% com indivíduos com sobrepeso. Uma das
conclusões deste estudo foi que intervenções simples e de baixo investimento
poderiam aumentar o nível de atividade física habitual da população.
A aplicação de estímulos visando à melhoria da QV por meio da
promoção de um estilo de vida ativo também foi observada com uma pesquisa
na Nova Zelândia (Elley et al, 2003). O referido estudo procurou constatar a
eficácia de um programa de incentivo à atividade física em que os sujeitos
recebiam, no início do estudo, aconselhamento oral e escrito de seus médicos,
bem como o apoio de especialistas por telefone, cartas (contendo desde
iniciativas da comunidade relacionadas à atividade física até programas
específicos de exercício físico) e material motivacional, no decorrer de um ano.
Tanto as cartas quanto o material motivacional eram enviados pelo correio. Os
resultados levam a crer que tais informações foram eficazes no aumento da
atividade física e na melhoria da QV, em um período superior a doze meses.
No Brasil, uma pesquisa demonstrou que informações provenientes de
um PGL, advindas de informações semanais para a promoção da QV
(impressas em papel A4 com letra de tamanho mínimo 36, com textos
objetivos) e de conversas informais com a professora de GL, parecem ter sido
eficazes no tocante à prevenção aos DORT para os trabalhadores que
participavam de tais aulas, se comparados aos trabalhadores que não
participavam da GL (Martins et al., 2002).
É bom ressaltar que para a informação sobre saúde disponibilizada
através de panfletos surtir efeito, deve ser elaborada de maneira clara, a fim de
permitir que o indivíduo realmente compreenda o texto (Gal e Prigat, 2005).
Nas empresas, tal informação pode ser semanalmente disseminada, real ou
virtualmente, pelo ambiente de trabalho, abordando temas como atividade
física, ergonomia, nutrição e outros assuntos relacionados à QV, além da
própria “propaganda” do PGL/PPST (Martins, 2004). Tais informações devem
ser sucintas e chamativas (ex: impressas com letras grandes em papel
colorido), fixadas em locais estratégicos (ex: banheiros, bebedouros, copa,
243
quadro de avisos) ou até, enviadas por e-mail aos trabalhadores que
desejarem recebê-las em casa ou no trabalho (Martins, 2000).
Dependendo da natureza da informação, a mesma pode beneficiar não
só o trabalhador da empresa onde o exercício físico é efetuado, mas também a
comunidade na qual ele está inserido, desde que o colaborador dissemine esta
informação aos seus familiares, vizinhos e amigos. Os resultados de uma
pesquisa com trabalhadores de escritório indicam que 84,6% dos trabalhadores
de escritório que participaram de um PGL difundiram o conhecimento
procedente deste programa em sua comunidade, conferindo ao PGL uma
contribuição expressivamente benéfica em se tratando de promoção da saúde
individual e coletiva (Martins, 2000).
No presente estudo, conforme os resultados do teste exato de Fisher
para o cruzamento entre carga de trabalho e difusão do conhecimento ao longo
dos anos, independente da carga de trabalho ter aumentado ou se mantido, os
sujeitos foram capazes de difundir o conhecimento proveniente das
informações semanais sobre QV em 2002 (76,2%), 2003 (59,5%) e 2004
(69,1%), indicando que a carga de trabalho não interferiu negativamente no
repasse de informações sobre QV para a comunidade dos trabalhadores em
questão, fazendo com que o PGL pudesse ter apresentado a capacidade de
exercer um impacto positivo na saúde e bem-estar das famílias dos
trabalhadores, comunidades e sociedade, conforme salientado pela PAHO
(2001).
Todavia, convém observar que aliada à carga de trabalho, a influência
mútua de quatro fatores psicossociais negativos, relacionados à demanda, ao
controle, ao esforço e à recompensa, podem ter um grande impacto na saúde
no trabalhador (Shain e Kramer, 2004), em que:
1. A grande demanda equivale a ter muito a fazer com pouco tempo
durante longo período;
2. O baixo controle corresponde a não ter suficiente influência sobre
como o trabalho é feito no dia-a-dia;
3. O grande esforço equivale a ter que empregar muita energia mental
durante longo período e;
244
4. Reduzida recompensa corresponde a não receber feedback
adequado sobre o desempenho, além da falta de reconhecimento ou
gratidão pelo trabalho bem feito.
Assim, indivíduos sob estresse negativo contínuo podem ser mais
suscetíveis à deterioração de sua própria saúde, sendo que trabalhadores
expostos a
constantes condições de grande
esforço,
com
reduzida
recompensa, grandes demandas e baixo controle podem, inclusive, contrair de
duas a três vezes mais infecções e lesões do que seus colegas de trabalho
“desestressados”.
Em relação aos resultados do teste exato de Fisher para o cruzamento
entre aderência à GL e difusão do conhecimento ao longo dos anos na
presente pesquisa, os trabalhadores que aderiram à GL três vezes por semana
em todos os anos (50% dos respondentes em 2002, 38,1% em 2003 e 40,5%
em 2004) foram os que mais difundiram o conhecimento. Vale ressaltar que a
difusão do conhecimento foi diretamente proporcional à aderência à GL.
O resultado estatisticamente significante em 2003 pode ter ocorrido
devido ao fato de que, dos indivíduos que difundiram o conhecimento
proveniente do PGL, a maioria (38,1%) aderiu à GL três vezes por semana,
sendo que para os que não difundiram tal conhecimento, a maior parte dos
respondentes (14,3%) aderiu à GL duas vezes por semana neste ano. Isto
pode sugerir que a aderência à GL pôde ter significativamente incentivado a
difusão do conhecimento oriundo das informações semanais, ou seja, quanto
maior for à aderência do trabalhador à GL, maior a possibilidade dele difundir
as informações semanais sobre QV.
Tal resultado pode ser corroborado pelo fato da probabilidade do teste
exato de Fisher ter se apresentado próximo ao nível de 5% de significância em
2002 (p = 0,061), tornando possível que uma amostra maior novamente
identifique significância na associação entre aderência à GL e difusão de
conhecimentos. Os resultados do teste exato de Fisher para o ano de 2003
inclusive corroboram com os dados apresentados em outras pesquisas (Martins
e Duarte, 2000; Martins et al, 2002a) em que o PGL igualmente apresentou-se
capaz de promover a difusão do conhecimento entre seus participantes, que
245
apontaram um elevado grau de aderência. Tais resultados indicam que a
constante preocupação em manter a aderência elevada em um PGL/PPST
pode efetivamente viabilizar melhorias para o empresário, trabalhador e
comunidade.
A fim de manter e/ou elevar a aderência do trabalhador à GL, o
primeiro passo é informá-lo sobre todos os aspectos que envolvem o programa
(ex: objetivos, vantagens relacionadas à participação), desde sua implantação.
Quando a participação da GL for voluntária, as seguintes abordagens são
recomendadas para manter/elevar a aderência do colaborador (Martins, 2004;
Martins, 2005):
1.Observação de todos os itens que compõem o perfil/didática do
professor de GL (expostos a seguir);
2.Realização da aula o mais próximo possível do posto de trabalho
(desde que não haja risco à segurança e saúde do colaborador),
principalmente quando a GL for compensatória, a fim de que
seja reduzida a possibilidade dos trabalhadores se dispersarem;
3.Utilização de músicas de acordo com a preferência da maioria dos
trabalhadores;
4.Conscientização
dos
líderes/chefes
dos
setores
sobre
a
importância de sua participação nas aulas ou, no mínimo,
conscientização sobre seu papel no incentivo à aderência à GL
por todos os trabalhadores;
5.Realização da aula com o professor vestido de acordo com a data
comemorativa (ex: na páscoa, trajado e/ou maquiado completa
ou parcialmente como coelho), desde que a empresa permita tal
procedimento e o professor sinta-se à vontade em fazê-lo;
6.Oferta esporádica de uma aula especial, contendo atividades que
normalmente não são realizadas durante a GL (ex: abdominal,
forró);
7.Entrega mensal de troféu para o setor que alcançou a maior
aderência, com sorteio de um prêmio (ex: bicicleta) para os
trabalhadores cujo setor obteve a maior aderência anual;
246
8.Realização de gincanas, onde cada setor ganha pontos
específicos ao completar tarefas (ex: reunião do maior número
de agasalhos que serão doados à instituição de caridade, maior
aderência trimestral à GL) e concorrem no final de um período
(ex: semestral, anual) a prêmios (ex: desconto em diária de hotel
campestre, inscrição gratuita e/ou desconto em mensalidade de
academia de ginástica);
9.Distribuição de cartões repassados pelo professor de GL com
frases enfatizando tanto a importância da presença do
trabalhador na próxima aula quanto expondo informações
especifica sobre saúde (ex: benefícios do exercício físico) aos
que não participaram da aula;
10. Disponibilização periódica no local de trabalho de depoimentos
(anônimos ou não) dos próprios trabalhadores sobre a
importância da GL.
Em relação ao professor-aluno, os instrutores podem seguramente
influenciar no sucesso de um programa e, portanto, o professor deve ser
experiente, fornecer muito feedback e elogios aos participantes, ajudar os
indivíduos a estabelecerem metas flexíveis, além de demonstrar preocupação
por sua segurança e conforto psicológico (Weinberg e Gould, 2001). E o
professor de GL, como qualquer outro professor, deve se esforçar para
dominar a técnica de ensino/didática, dirigindo e orientando a aprendizagem
(Barbanti, 2004). Simpatia, criatividade e motivação (ex: transmitir animação ao
realizar as atividades da aula) também devem compor o perfil do professor de
GL (Martins, 2004), cativando os trabalhadores inclusive ao convidá-los para
participar das aulas, além de:
1.Demonstrar os exercícios e explicar com clareza as atividades
que serão realizadas;
2.Adaptar as atividades à individualidade do trabalhador;
3.Manter postura corporal adequada durante sua permanência na
empresa e, principalmente, antes da realização dos exercícios;
247
4.Corrigir os exercícios durante e/ou após a GL (este último,
preferencialmente efetuado durante o tempo destinado ao
atendimento individualizado);
5.Ter um tom de voz audível e agradável durante a aula (com ou
sem microfone, que geralmente é utilizado nas aulas ministradas
na fábrica), de modo que seus comandos não concorram com a
música ou com os ruídos do ambiente de trabalho (o professor
de GL nunca deve gritar, fato que pode prejudicar sua própria
voz, além de irritar os trabalhadores);
6.Posicionar-se adequadamente durante a aula, a fim de que todos
os trabalhadores possam acompanhar a demonstração dos
exercícios;
7.Constatar se a atividade foi eficaz (ex: alongamento, técnica de
relaxamento) e se agradou a maioria dos participantes (ex:
atividade lúdica, massagem).
Por fim, conforme os resultados do teste Q de Cochran para verificar
no presente estudo a relação da vivência de ensinamentos ao longo dos anos,
em 2003 ocorreu a maior vivência de ensinamentos (40,5%), seguidos pelos
anos de 2002 (21,4%) e 2004 (16,6%). Tal relação pode ter ocorrido pelo fato
de que em 2003, a diferença entre a quantidade de indivíduos que
responderam ter vivenciado os ensinamentos advindos do programa não foi
muito superior à quantidade de pessoas que responderam não terem
vivenciado. Já para os anos de 2002 e 2004, tal diferença ficou mais evidente.
O resultado estatisticamente significante da vivência de ensinamentos em
2003, além de corroborar com os achados de pesquisa anteriormente realizada
(Martins e Duarte, 2000), apresenta-se expressivamente importante, pois
sugere que o PGL implementado pôde ter sido capaz de influenciar o
comportamento dos participantes através do estímulo a atitudes saudáveis.
248
Conclusão
Um PPST/PGL pode ser capaz de repercutir positivamente na QVT do
trabalhador, além de poder beneficiar sua QV e sua comunidade, contribuindo
para melhorias individuais, organizacionais e sociais dos indivíduos envolvidos.
Todavia, nenhuma iniciativa do PPST/PGL tem consistência se o trabalhador
não se mantiver regularmente em contato com os fatores benéficos, sejam
modificações ambientais, implementação de programas ou até mesmo, a
veiculação de conhecimento. E no caso dos programas que incluem a prática
de exercícios físicos, a aderência às sessões de exercício é especialmente
importante (Martins, 2005; Weinberg e Gould, 2001).
Considerando que as estratégias do PGL estudado incluíam vários
estímulos, principalmente na forma de informações semanais, sugere-se que
houve uma modificação do ambiente pelo programa, mesmo levando-se em
consideração o declínio da repercussão do PGL ao longo do tempo/teoria da
adaptação ao PPST (Martins, 2005). Esta modificação, que pode ter tornado o
ambiente emocional da instituição mais adequado (fator otimizador da saúde e
da QV), acabou por estimular ações favoráveis, numa rede de comportamentos
que foi expressa nesta pesquisa pela elevada aderência à GL e difusão de
conhecimentos, principalmente em 2003, apesar do aumento da carga de
trabalho reportado pela maioria dos sujeitos em 2003 e 2004.
Ainda, a difusão de conhecimentos mais elevada dentre os que mais
participaram do programa pôde inclusive sugerir como o maior tempo de
contato e a interação do grupo (trabalhadores entre si, trabalhadores e
professor de GL, PGL e os trabalhadores que não participaram das aulas, mas
estiveram em contato com as informações sobre QV) foram importantes, sendo
que o conjunto de todos os dados insinua que tal programa pôde ter sido o
principal ponto de partida para melhorar a QV dos sujeitos envolvidos,
colaborando para a criação/manutenção de um ambiente mais saudável e de
um suporte social benéfico (PAHO, 2001). E considerando que houve
significativa vivência de ensinamentos ao longo dos anos (2002, 2003 e 2004),
sugere-se que as informações semanais do PGL possam ter contribuído para a
melhoria da QV dos sujeitos tanto dentro quanto fora do ambiente de trabalho,
249
corroborando os dados de pesquisas anteriores (Martins et al., 2002; Martins et
al., 2002a; Martins, 2004), colaborando para significativamente aprimorar o
bem-estar e a saúde do trabalhador.
Finalmente,
como
os
resultados
estatisticamente
significantes
ocorreram no ano de 2003, sugere-se, a partir da teoria da adaptação ao PPST
e da importância que o professor de GL tem no sucesso de tal programa, que
constantes métodos de promoção do PGL devam ser empregados com o
intuito de torná-lo o mais atraente possível aos trabalhadores (Andersen et al.,
1998; Barbanti, 1994; Elley, 2003; Gal e Prigat, 2005; Martins, 2000; Martins,
2005), principalmente no que se refere à didática e à criatividade do professor
de GL, fazendo-se imperativa a capacitação mais frequente de seus
professores a fim de otimizar a repercussão do programa (PAHO, 2001;
Martins, 2000).
Acredita-se que a realização e divulgação de pesquisas científicas que
retratem o impacto de diferentes PPSTs no trabalhador e em sua comunidade
possam colaborar enfaticamente para que a adoção de tais programas seja
cada vez mais corriqueira e aprimorada, inclusive solidificando a noção de que
o ambiente ocupacional apresenta a capacidade de germinar profícuas
transformações na qualidade da vida do cidadão.
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251
CAPÍTULO XI
Efeitos da Ginástica Laboral na Qualidade de Vida de Trabalhadores
José Alexandre Curiacos de Almeida Leme
Elaine Curiacos Meyer
INTRODUÇÃO
Os efeitos da ginástica laboral na saúde dos trabalhadores têm sido
muito estudados, contudo, diversas lacunas ainda necessitam ser preenchidas.
Os benefícios da atividade física regular para a saúde da população são
clássicos, como a redução do risco de doenças cardiovasculares, diabetes,
obesidade, alguns tipos de cânceres e condições musculoesqueléticas (1).
O sedentarismo é considerado um dos maiores fatores de risco na
população mundial. A prevenção e tratamento do sedentarismo são
considerados prioridade e pesquisas nesta área são urgentemente necessárias
para descrever a prevalência, grupos de risco e consequências do
sedentarismo, além de identificar estratégias mais efetivas de intervenção e
mudanças nas políticas públicas em cidades e empresas que promovam um
estilo de vida fisicamente ativo (2). Durante um ano em uma empresa,
determinadas doenças influenciadas pela piora na qualidade de vida dos
trabalhadores afastaram 56% dos funcionários por três dias causando grande
prejuízo (3).
Estudos têm demonstrado que a atividade física pode contribuir para
melhora na saúde de trabalhadores em diversos setores. A implantação de um
programa de atividade física promoveu melhora na flexibilidade, além de
contribuir para diminuição do percentual de gordura e aumento da massa
corporal magra, devido a alterações no estilo de vida dos sujeitos da amostra,
assim como, a atividade física também se apresentou um fator contribuinte
para a diminuição da incidência de câncer de mama em trabalhadores (4). O
252
objetivo deste estudo foi verificar a interferência de três meses de atividade
física na qualidade de vida de funcionários em uma indústria metalúrgica.
METODOLOGIA
O consentimento para participar do estudo foi solicitado aos
participantes de forma verbal, no momento em que elas respondiam o
questionário. Participaram deste estudo 10 funcionários de uma indústria de
Piracicaba, estado de São Paulo que desempenhavam suas funções na linha
de produção e escritório.
O instrumento utilizado para a coleta de dados foi o questionário SF-36
visto que é bem aceito mundialmente e validado também no Brasil (5). Este
questionário avalia saúde física e mental. O SF-36 contém 36 itens, dos quais
35 encontram-se agrupados em oito dimensões. Para cada dimensão, os ítens
do SF-36 são codificados, agregados e transformados em uma escala de zero
(pior estado de saúde) a 100 (melhor estado de saúde). As pontuações do SF36 foram calculadas para cada dimensão para o total da amostra (5). A função
cardíaca foi avaliada pelo monitoramento diário da frequência cardíaca (FC) de
um funcionário escolhido aleatoriamente a cada dia, através de um
frequencímetro Polar®, coletada no início, aos 7 minutos e 1 minuto após o
final da sessão de ginástica.
O questionário foi aplicado no começo do experimento, previamente ao
inicio do programa de ginástica laboral e reaplicado após três meses de
realização do programa. A frequência cardíaca foi aferida diariamente de um
funcionário escolhido diariamente de forma aleatória. As sessões de ginástica
laboral foram realizadas durante três meses, cinco vezes por semana e 15
minutos por dia, composta por exercícios de aquecimento, alongamento,
massagens e relaxamento. Os exercícios foram direcionados de acordo com os
grupos musculares que foram avaliados como os mais requisitados pelo grupo
experimental nos postos de trabalho segundo análise ergonômica previamente
realizada (articulações do pescoço, ombro, punho, tronco e dedos das mãos).
253
Para a análise estatística, utilizou-se o teste t de Student, sendo
considerados estatisticamente significantes os resultados, cujos níveis
descritivos (valores de P) fossem inferiores a 0,05. Os resultados estão
expressos em média e desvio padrão.
RESULTADOS
Participaram deste estudo 10 funcionários com média de idade de
26±6,7 anos sendo todos homens. Dos participantes do estudo, 30%
apresentam como escolaridade completa o ensino fundamental e 70% o ensino
médio. Referente ao estado civil, 40% dos participantes declararam solteiros
enquanto 60% declararam serem casados. Quando perguntados sobre o tempo
no cargo, quatro funcionários disseram ter menos de um ano, dois
trabalhadores tinham de 1 a 2 anos, 2 trabalhadores disseram ter entre 2 e 3
anos e 2 funcionários tinham acima de 3 anos de casa.
Dentre os funcionários que participaram do estudo todos faziam horas
extras, sendo que 70% faziam horas extras 1-2 vezes por semana enquanto
30% faziam horas extras 3-4 dias por semana. Quanto ao tipo de cansaço que
sentiam ao final do turno de trabalho, 70% dos trabalhadores relataram
predominância de cansaço físico enquanto 30% relatam cansaço mental.
Na tabela 1 podem ser observadas as médias da frequência cardíaca
(FC) obtidas no início, meio (7 minutos) e 1 minuto após o final da ginástica. Os
dados apresentaram aumento significativo da FC durante a atividade física e
diminuição na coleta pós-ginástica.
A tabela 2 apresenta os valores referentes às oito dimensões avaliadas
pelo SF-36. A capacidade funcional foi a única dimensão cujo valor não sofreu
nenhuma alteração. Nos valores referentes à limitação por aspectos físicos,
dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e
saúde mental foi observado um aumento nestes valores após a aplicação dos
três meses do protocolo experimental, não comprovado pela análise estatística.
O parâmetro Estado geral de saúde apresentou aumento após o protocolo de
ginástica laboral.
254
Quando traçada a média geral em todas as dimensões do SF-36, foi
encontrado um aumento na pontuação após o período experimental (Gráfico 1).
Tabela 1- Frequência cardíaca antes, durante (7 minutos) e 1 minuto após o
final dos 15 minutos de ginástica laboral apresentados em média e desvio
padrão.
Antes
Durante (7minutos)
Final (Após 1 minuto)
76,2±9,5
94,3±15,1
81,8±12,2
Tabela 2- Diversos domínios do questionário SF-36 pré e pós a interferência de
3 meses de ginástica laboral apresentados em média e desvio padrão. n=10
Limitação
Capacida por
de
aspectos
funcional físicos
Dor
Estado
Aspectos
geral
Aspectos emociona Saúde
De saúde Vitalidade sociais
is
mental
PRÉ
96,1±4,2 86,1±22
96,1±6,5 100,0±0
PÓS
81,1±27,3 77±13,9
87,4±10,3 88,3±8*
80,6±11,6 86,9±17,8 74,2±32,4 83,6±17
83,9±8,9 90,3±14,9 96,3±11 85,3±9,8
* p<0,05
Gráfico 1. Média do questionário SF-36 pré e pós a interferência de 3 meses
de ginástica laboral. n=10. *p<0,05
120
*
100
80
60
40
20
0
INÍCIO
APÓS 3 MESES
255
DISCUSSÃO
Os efeitos do exercício físico para a população são alvo de diversos
estudos, visto que o sedentarismo é considerado um dos maiores fatores de
risco de nossa sociedade. Dentro das empresas, o alto índice de afastamentos
por lesões (LER/DORT), efeitos negativos do estresse e piora na qualidade de
vida dos colaboradores levou a implantação de sessões de exercícios físicos
dentro da empresa, durante o turno de trabalho. O efeito da ginástica laboral é
foco de grande interesse para comprovar a existência de seus benefícios.
No presente estudo, foi avaliada a frequência cardíaca média durante a
sessão de ginástica e foi verificado um aumento de 24% da frequência
cardíaca de repouso alcançando 48% da frequência cardíaca máxima. A
avaliação deste parâmetro é importante para confirmar a ação do exercício na
aceleração de batimentos cardíacos, demonstrando que o exercício realizado
durante a ginástica pode ser considerada leve(6).
Quanto aos valores encontrados na aplicação do questionário SF-36,
não foi encontrada diferença no parâmetro capacidade funcional. A capacidade
funcional é definida como a capacidade do indivíduo realizar as atividades
cotidianas de forma independente, incluindo atividades ocupacionais e
recreativas, ações de deslocamento e auto cuidado (7). A idade dos
participantes pode não ter tido influencia na alteração dos valores deste
parâmetro, visto que é uma população jovem (26 anos).
Nos parâmetros limitação por aspectos físicos, dor, vitalidade, aspectos
emocionais, aspectos sociais e saúde mental foi observada tendência a
aumento após o período experimental. É esperado que os praticantes de
atividade física sintam-se menos limitados em aspectos físicos e sintam
aumento da vitalidade, pois, no caso da ginástica laboral são realizadas
atividades que contribuem para aumento da flexibilidade como alongamentos e
relaxamento, leve melhora na capacidade aeróbia, força muscular e
coordenação motora através das atividades nela realizadas (8, 9).
A melhora nos aspectos emocionais, sociais e saúde mental
encontradas neste estudo, apesar de não serem confirmadas pela análise
256
estatística, também estão de acordo com a literatura, visto que a atividade
física contribui para a diminuição dos efeitos negativos da ansiedade, estresse,
depressão, irritabilidade, aumentando autoconfiança e contribuindo para
cooperatividade no trabalho em grupo (10,14). Um estudo prévio demonstrou
que a ginástica laboral aumentou a produtividade do trabalho mental em
estudantes (11).
A diminuição na dimensão dor encontrada no presente estudo,
possivelmente está relacionada na diminuição das lesões por esforço repetitivo
(LER) e dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT)
encontrados na literatura (12).
O mesmo fator pode ter influenciado na
dimensão estado geral de saúde, em que o protocolo de treinamento causou
melhora significativa nos participantes. A melhora global na saúde de
praticantes de atividade física é clássica (8) e o estudo atual demonstrou
melhora na percepção de estado geral de saúde nos praticantes de ginástica
laboral.
Foi verificada, no presente estudo, melhora na média geral das
dimensões do questionário SF-36 após o período experimental, demonstrando
haver melhora na qualidade de vida dos funcionários. Estudos prévios também
identificaram melhora na qualidade de vida verificada através do SF-36 após
aplicação de um protocolo de atividade física (13, 14).
Conclui-se, então, que a aplicação de três meses de ginástica laboral
melhorou a qualidade de vida em funcionários de indústria, principalmente, na
dimensão estado geral de saúde.
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258
CAPÍTULO XII
GINÁSTICA
LABORAL
E
CONTROLE
DA
ANSIEDADE
EM
TELEFONISTAS
Maurício Gattás Bara Filho
Lamartine Pereira DaCosta
Heglison Custódio Toledo
INTRODUÇÃO
A atividade física é considerada, dentre outros fatores, um importante
elemento na promoção da saúde e qualidade de vida da população. Vários
estudos demonstram que o sedentarismo ou a falta de atividade física,
juntamente com o fumo e a dieta inadequada, são fatores de risco associados
ao estilo de vida, o que pressupõe aumento substancial no risco de
desenvolver /agravar várias doenças, principalmente, as de natureza crônicodegenerativa, como cardiopatias, câncer, hipertensão, diabetes melito e
obesidade (Bara Filho et al., 2000; Bernardini et al., 2004; Cerin et al. 2005;
Fontaine et al., 2005; Hu et al., 2005; LaMonte et al., 2005;. Mello et al., 2000;
Nemet et al., 2005; Shrier e Kahn, 2005; Young et al., 2005).
Juntamente com o aumento da incidência dessas doenças ligadas ao
sedentarismo, o estresse psicofísico é, atualmente, considerado um dos
maiores
problemas
da
saúde
pública
no
mundo,
influenciando
o
comportamento de toda sociedade e de importantes grupos como os
trabalhadores. Estes são submetidos a pressões tanto físicas (ex: desgaste
orgânico gerado por sucessivas horas de trabalhos) quanto psíquicas (ex:
sustento
econômico,
empregabilidade,
estabelecimento
de
metas),
influenciando diretamente no estilo de vida desses indivíduos, de suas famílias
e, principalmente, na disponibilidade para opções de lazer e da prática de
atividades físicas.
Um importante método para o controle do estresse psicofísico é a
prática da atividade física regular ou assistemática como forma de lazer. O
259
exercício físico, segundo Brown(1990), está diretamente relacionado com uma
boa saúde mental, significando humor elevado e ausência de problemas como
ansiedade e depressão.
Apesar dessa importância, o nível de prática de atividades físicas em
diferentes populações está muito aquém da real necessidade dos indivíduos
mesmo em populações teoricamente mais esclarecidas. Bara Filho et al.(2000)
e Silva et al. (2007) analisaram a prática regular de atividade física através de
questionários aplicados em graduados e mestres em Educação Física e
verificaram que atividade física não é um hábito corriqueiro na maioria dos
profissionais em questão.
Dentro da realidade do trabalhador, uma empresa que oferece
programas diretamente elaborados para seus trabalhadores pode gerar em
diversos benefícios tanto para a empresa como para seus empregados
gerando um aumento do bem-estar e contribuindo para a melhoria da
qualidade de vida dos trabalhadores, viabilizando um uso sadio do tempo livre
fora da empresa.
A prática da atividade física no local de trabalho e dentro do expediente
pode
com
seu
crescimento
transformar-se
numa
nova
tendência
e
possibilidade de exercícios físicos e lazer aos trabalhadores: suprindo
problemas da atualidade como a falta de tempo e local adequado.
Entre os benefícios da atividade física na empresa, conforme DaCosta
& Pegado (1990), pode-se destacar:
 Melhoria e promoção da saúde;
 Maior benefício e segurança social;
 Humanização do local de trabalho atingindo a sociedade;
 Melhoria do desempenho profissional;
 Diminuição de acidentes de trabalho, rotatividade e absenteísmo;
 Aumento da produtividade e qualidade do trabalho;
 Controle do “stress”;
 Melhoria da Qualidade de Vida.
260
Além disso, Andrade et al. (1993) afirmam que a aptidão física dos
indivíduos é um dos principais indicadores da saúde de um país, levandonos a concluir que um programa de atividades físicas é um elemento
importante na promoção da saúde da população. No ambiente empresarial,
a promoção da saúde através de atividades físicas pode ser justificado numa
perspectiva de saúde pública, acarretando melhoria na qualidade de vida da
população (Lovato, Green e Stainbrook, 1995).
Para Landers (1994), a relação entre a atividade física e o estresse
está bem estabelecida. Segundo Wrisberg (1994), esta relação encontra-se
entre a ativação emocional e a performance motora. O exercício físico está
diretamente associado com benefícios psicofisiológicos que permitem ao
indivíduo melhor lidar com o estresse, pois tipos e dosagens específicas de
exercícios estão associados ao decréscimo da reatividade ao estresse.
Observa-se, com isso, um crescente interesse na importância de
estudos que relacionem a atividade física com a saúde mental e com as
respostas psicofisiológicas a vários estressores (Berger, 1996 e Brown,
1990).
Além desses fatores, uma população que ainda merece ser
estudada com mais cuidado é a das trabalhadoras mulheres, universo este
que vem crescendo. Essa mulheres possuem uma dupla jornada de trabalho
(trabalho formal e serviços em casa) sugerindo uma dupla carga de
estresse, o que torna este grupo-alvo prioritário nos estudos sobre estresse
e nos estudos de condições sociais para a disponibilização do lazer.
No presente estudo, a variável do estresse avaliada será a
ansiedade-estado que caracteriza-se pelo nível excitação momentâneo
variável conforme as circunstâncias. Pode-se dizer que é o componente
mutável da ansiedade. Caracteriza-se por um sentimento subjetivo,
conscientemente percebido de apreensão e tensão, associados à ativação
do sistema nervoso autônomo e gerando reações psicofisiológicas como
taquicardia, tremores e sudorese excessiva (Miranda e Bara Filho, 2008).
261
Isto posto, a presente investigação teve como objetivo verificar a
influência da atividade física no controle dos níveis de ansiedade-estado em
mulheres trabalhadoras.
Metodologia
O presente estudo caracteriza-se por uma pesquisa Ex Post facto,
pois a seleção dos grupos experimental e controle ocorreu após a introdução
da variável experimental - atividade física (Lakatos e Marconi, 1986).
Uma das vantagens dessa metodologia é que os indivíduos
pesquisados não podem ser influenciados pelo objeto da investigação, pois
não sabem que estão sendo testados e sua exposição à variável
experimental ocorreu antes de se selecionar a amostra (Lakatos e Marconi,
1986).
Amostra
A população se constituiu por 30 telefonistas, exclusivamente
mulheres aderiram ao Programa de Ginástica na Empresa - SESI/MG, cinco
meses antes da aplicação dos instrumentos.
As 30 telefonistas foram divididas igualmente nos seguintes grupos:
 Experimental – mulheres que participavam do PGE;
 Controle – mulheres que não participavam do PGE.
Estas trabalhadoras foram escolhidas por exercerem uma função
laboral caracterizada por alta repetitividade de movimentos, tensão
excessiva (por serem responsáveis pelo recebimento de reclamações dos
consumidores) e uma postura estática no trabalho. Outro fator a ser
considerado é a complexidade da tarefa, já que as telefonistas necessitam
ouvir, falar, digitar e olhar na tela do computador simultaneamente.
Todas estas características citadas favorecem o aparecimento do
estresse psicofisiológico, gerando altos níveis de ansiedade estado.
Os instrumentos de pesquisa utilizados foram os seguintes:
262
 Questionário estruturado a fim de obter informações gerais da
população como dados pessoais, tempo e carga horária de trabalho, meio
de transporte, realização de atividades físicas e tarefas domésticas e o
ambiente de trabalho.
 Inventário de Ansiedade-estado de Spilberger aplicado durante o
expediente de trabalho e, posteriormente, na casa das telefonistas após a
realização de todas suas tarefas domésticas. Este teste possui uma escala
de pontos que varia de 20( ansiedade mais baixa) a 80( ansiedade mais
alta) e mede como a pessoa está se sentindo no momento de sua aplicação.
Sua aplicabilidade concerne aos efeitos do exercício sobre o estresse de
acordo com proposições de Brown (1990).
Por outro lado, Landers(1994) afirma que o Distress (estresse
negativo) tem sido referenciado pela literatura da Psicologia do Esporte e do
Exercício como ansiedade-estado. Isto justifica a aplicação do instrumento
na medição do estresse.
O Programa Ginástica na Empresa (PGE) do SESI (Serviço Social
da Indústria) era oferecido aos trabalhadores objetivando diversos benefícios
como a promoção da saúde, integração entre os praticantes e a melhoria do
ambiente profissional.
Define-se este programa por uma prática voluntária de atividades
físicas realizadas coletivamente, dentro do próprio local de trabalho e
durante a jornada diária, fundamentando-se no momento da pesquisa nos
exercícios e nas condições que se seguem:
 A atividade deve ser realizada diariamente;
 Duração entre 8 e 12 minutos;
 As séries são elaboradas e supervisionadas por um professor de
Educação Física e dirigidas por um monitor( trabalhador);
 As séries constituem-se de aquecimento articular e alongamentos,
exercícios que desenvolvam força, flexibilidade, coordenação e
resistência, exercícios respiratórios, relaxamento e deslocamentos
quando o espaço permitir.
 Não há necessidade de roupa específica;
263
 As séries são modificadas temporariamente;
 Os exercícios devem exigir uma baixa intensidade de esforço,
evitando grandes variações nas frequências cardíaca e respiratória.
Os resultados da presente investigação apresentaram alguns dados
gerais demonstrados por suas médias:
Tabela 1 – Dados gerais da amostra
Idade(anos)
Tempo
trabalho
(anos)
G.experimental
31,5
8,1
G. controle
36,0
11,0
Geral
33,8
9,5
Os
dados
apresentados
Realiza
atividade
física além do
PGE
Sim = 20%
Não = 80%
Sim=26,7%
Não=73,3%
Sim=23,3%
Não=76,7%
na
Tabela
1
Realiza tarefas
domésticas
Sim = 86,7%
Não = 13,3%
Sim = 80%
Não = 20%
Sim = 83,3%
Não= 16,7%
corroboram
alguns
pressupostos e estudos (Bara Filho et al., 2001 e Santos et al, 2007) como o
fato de uma grande parcela da população ser sedentária demonstrado pelos
77,6% que não realizam atividades físicas além do PGE.
Outro fator importante é a constatação de que 83,3% das mulheres
trabalhadoras realizam tarefas domésticas, confirmando a existência de uma
dupla
jornada
de
trabalho
(empresa
e
domicílio),
aumentando
a
possibilidade do aparecimento do fenômeno do estresse.
Com relação ao ambiente de trabalho, verifica-se que 76,67% das
trabalhadoras declaram que esse melhorou após a introdução do PGE. Fato
este que corrobora com a literatura de DaCosta e Pegado(1990) e
Shephard(1995).
A relação atividade física com a ansiedade-estado apresenta as
seguintes médias em pontos:
264
Gráfico 1 – Média (em pontos) do nível de ansiedade-estado de mulheres
trabalhadoras
Pode-se observar na Figura 1, que o nível de ansiedade-estado fora
do trabalho era semelhante nos dois grupos (31,5 pontos no experimental e
31,8 no controle) não apresentando diferenças estaticamente significativas
(p>0,05).
No entanto, ao se analisar o nível de ansiedade-estado dentro do
local de trabalho, as mulheres que realizavam a ginástica apresentam um
menor nível de ansiedade-estado (38,8 pontos) em relação ao grupo
controle (42 pontos). Através do teste “t” de Student verificou-se uma
diferença estatisticamente significativa entre os grupos (p<0,05).
Além disso, essa diferença de 3,2 na escala de Spilberger na
ansiedade-estado no trabalho confirma os dados de Dishman(1994) que
afirma a diferença no nível de ansiedade ser de apenas aproximadamente 2
a 3 pontos dentro de uma variação normal na escala de 20 a 80 pontos.
CONCLUSÃO
O propósito deste estudo foi avaliar a influência de um programa de
atividades físicas realizado em empresas sobre os níveis de ansiedadeestado tanto no ambiente de trabalho quanto no dia-a-dia de mulheres
trabalhadoras.
265
A principal confirmação do estudo foi o fato da atividade física poder
ser considerada um mecanismo mediador do estresse do trabalho mesmo
quando há uma dupla jornada ocupacional, caso comum entre as mulheres
trabalhadoras.
Além dos benefícios psicofisiológicos apresentados, a maioria das
trabalhadoras (mesmos as não participantes) consideraram que houve
melhoria do ambiente profissional. Isto influencia diretamente no bem-estar
pessoal das respondentes, contribuindo para a humanização do local de
trabalho, para a redução do estresse e, pretensamente, na busca de
interesses de lazer.
Observou-se o fato de que a maioria da população feminina
estudada
ser
sedentária,
um
dos
maiores
problemas
atuais
e
potencializador, principalmente quando associado a diversos problemas de
saúde.
Dentro deste contexto, fica exposto que as empresas devem
realmente investir num programa de atividades físicas para seus
trabalhadores, pois diversos benefícios são adquiridos para a empresa como
um todo e, principalmente, para os trabalhadores.
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SEÇÃO III
IMPRESSÕES, RELATOS E
ENSAIOS DA GINÁSTICA
LABORAL NO BRASIL
270
CAPÍTULO XIII
UM PANORAMA DA GINÁSTICA LABORAL NO BRASIL
Inês Alessandra Xavier Lima
Pedro Ferreira Reis;
Antônio Renato Pereira Moro
RESUMO
A Ginástica Laboral (GL) tem sido alvo de inúmeras discussões quanto
a sua abordagem metodológica e seu emprego eficaz na prevenção das
chamadas doenças ocupacionais. Neste sentido, objetivou-se com este artigo
tecer algumas reflexões sobre o panorama da GL no Brasil, procurando
evidenciar as características e relações entre o mercado de trabalho, o
contexto metodológico e o perfil do profissional atuante nesta área. Também foi
abordada a relação da Ginástica Laboral com a Ergonomia, a qual se mostra
como uma estratégia efetiva para viabilizar a melhora do ambiente de trabalho
e da qualidade de vida do trabalhador.
PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Laboral; Mercado de Trabalho; Educador
Físico
ABSTRACT
The Labor Gymnastic (GL) has been the objective of countless
discussions because of its methodological approach and effectiveness role in
prevention of occupational diseases. This article objectives to reflect about LG
in Brazil, to evidence the characteristics and relationships among the market,
the methodological context and the active professional's profile in this area.
Also, it considers the Labor Gymnastic´s relationship with Ergonomics, which is
shown as an effective strategy to improve of the atmosphere at work and the
quality of the worker's life.
KEY-WORDS: Labor Gymnastics; Market; Physical Educator
271
RESUMEN:
La Gimnasia Laboral (GL) tiene sido objeto de innumeras discusiones
acerca de su abordaje metodológico y su empleo eficaz en la prevención de las
dichas enfermedades ocupacionales. En este sentido, objetivamos con este
artículo discurrir con respecto a algunas reflexiones sobre el panorama de la
GL en Brasil, procurando evidenciar las características y relaciones entre el
mercado de trabajo, el contexto metodológico y el perfil del profesional injerido
en esta área. La relación entre la Gimnasia Laboral y la Ergonomía ha
igualmente sido abordada, esta última mostrándose como una estrategia
efectiva para viabilizar el mejoramiento del ambiente de trabajo y de la calidad
de vida del trabajador.
PALABRAS-LLAVE: Gimnasia Laboral; Mercado Laboral; Educador Físico
INTRODUÇÃO
O relógio, ícone dos dias atuais, “move” o tempo para frente. Os
homens, envolvidos, voam atrás do tempo que não desejam perder. O tempo,
em sua excelência se apresenta em uma sensação de que passa ainda mais
rápido. Nessa eterna luta contra o tempo, os seres humanos desgastam suas
relações interpessoais, comportando-se de forma cada vez mais fria, dura e
impessoal. A rapidez é essencial na vida moderna. O homem, então, constrói
máquinas para agilizar e apressar a sua vida. Surgem as grandes indústrias,
com o seu massacrante processo de reprodução mecânica (RIBEIRO, 2000).
A
revolução
industrial foi importante para
o progresso
e o
desenvolvimento da tecnologia, desencadeando grande concorrência entre os
setores empresariais, fazendo com que cada vez mais as empresas
procurassem se aperfeiçoar e melhorar os seus produtos. Dentro deste
contexto está o trabalhador que começa a sofrer as consequências referentes a
estas mudanças, pois foi este o fator desencadeador dos problemas laborais,
como aumento da jornada de trabalho, lesões por esforços repetitivos (LER),
distúrbios osteosmusculares referentes ao trabalho (DORT) e acidentes de
272
trabalho. Chaplin, em seu filme "Tempos Modernos", já relatava alguns destes
problemas, como um acidente típico de trabalho, onde ele é engolido por uma
engrenagem mecânica do maquinário da fábrica.
É neste contexto, que no ano de 1925, na Polônia, foi registrado pela
primeira vez na história a prática da Ginástica Laboral (GL), estendendo-se em
seguida pela Rússia, Bulgária e Alemanha, até chegar ao Japão, país este em
que a GL encontra um grande número de adeptos e passa a ser praticada em
várias empresas. Desde então, a GL tem a preocupação de prevenir e/ou
combater o surgimento das chamadas doenças ocupacionais geradas pelo
processo de modernização dos sistemas produtivos.
Dejours (1992) comenta que, quando o homem é condicionado ao
comportamento produtivo pela organização do trabalho, acaba por adotar o
mesmo comportamento fora dele; ou seja, são muitos os empregados que
mantém um programa de tempo livre em que as atividades e o repouso são
cronometrados. Nesse sentido, segundo Florindo (1988), a implantação de um
programa de prática regular de exercícios físicos no ambiente do trabalho
poderia ser uma alternativa para que os trabalhadores que não possuem tempo
disponível para a prática de atividades físicas.
Entretanto, o maior agravante decorrente da modernidade das
organizações, tanto para o empregado quanto para o empregador, foi o
surgimento de patologias no meio laboral. Para Musse (1989), o mais
importante, no que concerne à patologia laboral, é evitar que a mesma chegue
à fase clínica, etapa em que se torna difícil à cura. Para que para esta etapa
seja evitada, existe a necessidade de verificação da organização do trabalho
da empresa e de suas atividades de risco a ela relacionadas. Para se poder
proporcionar um melhor relacionamento entre o homem e seu ambiente
laborativo se faz necessário um estudo profundo de cada seção de trabalho, do
quadro funcional, dos períodos de trabalho, da característica da organização e
dos diversos setores (BARNES, 1963).
Uma das formas de alterar a prevalência de comportamentos de risco
nas populações de trabalhadores é através dos Programas de Promoção de
Saúde no Trabalho. No Brasil, são poucas as iniciativas em larga escala
273
visando à promoção da saúde dos trabalhadores, a maioria das experiências é
restrita a uma empresa, ou mais comumente, a um setor da empresa
(BARROS; SANTOS, 2003). Uma das estratégias utilizadas em um Programa
de Promoção de Saúde no Trabalho é a GL, a qual é definida por Cañete
(1996) como “a atividade física programada realizada no ambiente e durante o
expediente de trabalho”. Para Santos (2003), a GL tem sido alvo de inúmeras
discussões quanto a sua aplicação metodológica, participação nos programas
de promoção da saúde e certificação nos programas de qualidade total dentro
das organizações.
Sendo assim, busca-se com este artigo tecer algumas reflexões sobre
o panorama da GL no Brasil, procurando evidenciar as características e
relações entre o mercado de trabalho, o contexto metodológico e o perfil do
profissional atuante nesta área.
O PANORAMA DA GL
Atualmente, a GL vem passando por uma fase de crescimento cada
vez mais evidente em todo o país, quadro que é evidenciado pela grande
quantidade de profissionais que estão trabalhando neste setor, principalmente
em grandes agroindústrias, como em Santa Catarina, ou seja, a GL representa
uma “fatia” do mercado de trabalho em ascendência e expansão para os
profissionais da Saúde, especialmente para os profissionais de Educação
Física e de Fisioterapia.
No Brasil, a implantação da GL acontece em indústrias dos mais
diversos ramos, dentre elas podem-se citar as indústrias de extração de
petróleo, as metalúrgicas, indústrias têxteis, madeireiras, terminais portuários,
setor de extração mineral, alimentação, transporte, hidrelétricas, papelaria,
indústria cerâmica, agroindústrias, call centers e setores de programação de
computadores.
Um grande incentivador e promotor da GL no Brasil é o Serviço Social
da Indústria/SESI, o qual coordena vários programas e ações nesta área
(LIMA, 2003). O SESI foi o pioneiro do programa de Ginástica na Empresa e,
274
em Santa Catarina, por exemplo, é a instituição que detém o maior espaço, em
termos quantitativos, no que se refere à GL. O programa de GL do SESI em
Santa Catarina teve início na cidade de Blumenau, em 1998, e, atualmente,
atende mais de 176 empresas, com aproximadamente 40 mil praticantes
espalhados em todas as regiões do Estado. Na capital do estado de Santa
Catarina, são aproximadamente 14 empresas conveniadas, com 3200
praticantes. Segundo um levantamento da Gerência de Lazer na Empresa do
SESI Nacional, em todo o país são atendidas aproximadamente 1304
empresas, com a participação de 554,8 mil trabalhadores. A expectativa da
instituição é que, com um processo de remodelação e aperfeiçoamento do
programa, estes números cresçam, pelo menos, 50% até o final de 2005 (SESI,
2004).
Segundo Militão (2001), a abertura econômica iniciada no governo
Collor forçou um aumento da competitividade e as empresas brasileiras tiveram
que reagir para se manterem no mercado. Os empresários passaram por um
processo de modernização do pensamento e se viram na obrigação de investir
mais em programas de prevenção e manutenção da saúde, objetivando a
qualidade de vida de seus funcionários e, ao mesmo tempo, a redução de
gastos com seguros, e processos de seleção e treinamento de substitutos dos
funcionários afastados do trabalho por doenças ocupacionais. Com este
quadro, a GL passou a ser mais procurada nos últimos anos e surgiram várias
empresas oferecendo esses serviços diferenciando, entretanto, em quem
orienta a GL. Algumas oferecem a ginástica diretamente orientada por um
professor ou estagiário de Educação Física, outras oferecem treinamento aos
funcionários da própria empresa contratante para orientar a ginástica, os
chamados facilitadores.
Para Alvarez (2004), houve, desde 1997, uma abertura de mercado em
Florianópolis no que se refere à GL; uma vez que os primeiros contratantes
expressaram sua satisfação e percepção positiva baseada na diminuição do
índice de absenteísmo de seus colaboradores.
Conforme entrevista feita com os responsáveis por programas de GL
no estado de Santa Catarina, observou-se que mais de 50% das empresas que
275
participam de programas de GL são orientadas por facilitadores e que estes
não recebem designação de profissionais de Educação Física, não são
remunerados para executar esta tarefa, são trabalhadores das empresas onde
existe o programa de GL – escolhidos, treinados, orientados e supervisionados
por um professor de Educação Física, responsável pelo programa (MILITÃO,
2001).
Para Pegado (1990), algumas empresas experimentam resultados
frustrantes em seus programas de GL, porque os orientadores não estavam
preparados para conduzir e administrar adequadamente a aplicação da GL,
porém, os contratantes não fazem distinção entre o uso de facilitadores ou de
profissionais de Educação Física. Schmitz (1990) comenta que em um estudo
feito pela FEEVALE em Novo Hamburgo, no estado do Rio Grande do Sul,
quando foi implantado um programa de GL compensatória orientado por
monitores, acadêmicos do curso de Educação Física, somente duas das cinco
empresas que iniciaram o programa permaneceram com a prática da GL
compensatória, apesar dos resultados terem sido positivos; o custo foi a
principal questão colocada pelos demais empresários para a não continuidade
do programa em suas empresas, uma vez que, com o final do projeto, os
monitores teriam que ser contratados pelas empresas.
Militão (2001), Soares e Assunção (2002) e Cañete (1996) colocam
que os programas de GL acompanhados constantemente por profissionais
capacitados, sejam eles professores de Educação Física ou fisioterapeutas,
têm melhores resultados e adesão do que programas que utilizam
multiplicadores de exercícios. Investigações voltadas para o estudo da
percepção que trabalhadores que realizavam GL tinham desta prática,
realizadas por Soares e Assunção (2002), confirmando também o que foi
encontrado por Militão (2001), trazem que um dos motivos para redução na
adesão e nos benefícios dos exercícios é a falta do acompanhamento
constante de um profissional da área. Sobre este assunto, Pellegrinotti (1998)
defende a grande necessidade da orientação adequada de uma prática de
atividade física, que atenda aos objetivos propostos e aos anseios do público
alvo em relação à saúde. Dentro da mesma perspectiva, Pimentel (1999),
276
referindo-se aos programas conduzidos por monitores, critica essa prática e
defende o acompanhamento profissional constante, promovendo com isso a
possibilidade de formação de consciência corporal engajada com o real bemestar do trabalhador.
Segundo
Alvarez
(2004),
existe
uma
grande
quantidade
de
profissionais trabalhando com GL atualmente sem estarem devidamente
registrados em seus conselhos profissionais, no caso da cidade de
Florianópolis existem, aproximadamente, 24 empresas atuantes na área de GL,
sendo que, em apenas 4 destas, os profissionais de Educação Física estão
regularizados com seu conselho (CREF3, 2004). Este quadro sugere que, das
empresas sem registro no sistema CONFEF/CREF, fazem parte profissionais
atuantes no mercado que não estão sujeitos à fiscalização da instituição
competente, fato que pode repercutir de forma negativa na qualidade do
serviço prestado e, consequentemente, nivelar abaixo do esperado a atuação
profissional com relação à GL, seja através de orçamentos abaixo do
condizente com o serviço ofertado, com intervenções inadequadas ou com a
oferta de uma equipe formada através da contratação de estagiários sem
formação acadêmica suficiente para a aplicação da GL.
Para Cañete (1996), a GL pode fornecer vários benefícios para a
empresa e para o empregado, dependendo da competência, grau de
conscientização e postura ética adotada pelos profissionais que a conduzem.
Targa (1973) complementa dizendo que a GL pode ser um instrumento de alto
valor educativo ou poderá produzir lesões e qualidades físicas e morais
negativas, dependendo do profissional que a oriente.
O quadro promissor apresentado anteriormente referente à GL levou a
um aumento no número de contratações de profissionais de Educação Física
para aplicá-la – temos o exemplo do SESI, que contrata somente profissionais
de Educação Física para o trabalho com GL; entretanto, estas contratações
são, predominantemente, para que a atuação deste profissional seja voltada
especificamente para a aplicação da GL, ou seja, não existe a implantação de
um Programa de Promoção da Saúde do Trabalhador que seja baseado nos
princípios da Ergonomia. Este quadro nos leva aos seguintes questionamentos:
277
 A GL, quando utilizada como prática isolada dentro do ambiente de
trabalho, não acaba funcionando como uma estratégia de marketing da
empresa contratante, uma vez que fica evidenciada a “preocupação” do
empregador com a saúde e qualidade de vida do trabalhador?
 A utilização da GL não seria um “álibi” da empresa para se defender do
Ministério do Trabalho, no caso de denúncia pelo funcionário, da
existência de quadro patológico decorrente do trabalho?
 Esta abordagem pontual é suficiente para resolver as necessidades do
trabalhador na sua relação com o ambiente de trabalho?
Segundo Logen (2003), para que a GL mostre-se eficaz e efetiva, fazse necessária a análise ergonômica do trabalho, pois sem ela a GL seria
apenas um paliativo momentâneo, já que alguns minutos de alongamento e
relaxamento não seriam capazes de atuar com eficácia sobre a má postura
ocasionada por um mobiliário anti-ergonômico ou tarefas deficientemente
prescritas, realizadas durante seis, oito ou mais horas.
Seguindo a mesma linha de pensamento, Reis e Moro (2003) colocam
que a Ergonomia exerce uma importante função no meio de trabalho, sendo
necessária a associação da GL com a prática ergonômica, ou seja, conhecer o
perfil profissiográfico do trabalhador, especialmente as ações e exigências
gestuais e posturais adotadas no trabalho através do suporte de uma análise
ergonômica do posto de trabalho, para que seu sucesso seja alcançado.
Entretanto,
segundo
Alvarez
(2004),
atualmente
as
empresas
contratantes ainda se mostram reticentes com relação aos gastos de um
Programa de Promoção de Saúde no Trabalho, optando por contratar
empresas de GL que se atenham a aplicar sessões de GL aos seus
colaboradores, sem priorizar o enfoque ergonômico da intervenção.
Os profissionais de Educação Física que atuam em Programas de
Promoção da Saúde do Trabalhador baseados em um enfoque ergonômico e
que utilizam a GL como estratégia de intervenção deixam claro: para que se
possa obter um resultado satisfatório e consistente no sentido da real melhora
geral das capacidades físicas e mentais das pessoas em geral (dentre elas se
278
incluem os trabalhadores) é preciso um planejamento conjunto, que passa por
uma mesa de negociações - da qual devem fazer parte todos os interessados
(representante dos funcionários, comissão da CIPA, profissionais e as
gerências); seria uma espécie de pacto corporativo para a promoção da saúde.
Existe atualmente uma gama de profissionais atuando na área
ergonômica; entretanto, neste trabalho com profissionais de diferentes
formações
enfermeiros,
(educadores
assistentes
físicos,
sociais,
fisioterapeutas,
engenheiros,
médicos
do
psicólogos,
trabalho,
designers,
administradores, engenheiros de segurança, entre outros) ainda acontece uma
ação incipiente, superficial e multidisciplinar. Torna-se evidente a necessidade
da formação de uma equipe interdisciplinar para desenvolver um trabalho
significativo nos Programas de Promoção de Saúde no Trabalho (SANTOS,
2003).
O CONTEXTO METODOLÓGICO DA GL
A presença do enfoque ergonômico embasando o programa de GL na
empresa, aparentemente, não é o que prevalece no panorama da GL no Brasil.
A princípio, o que se apresenta é uma prática baseada em sessões de GL do
tipo preparatória e compensatória – existem casos pontuais de utilização de GL
do tipo corretiva; com frequência variando entre 2 a 5 vezes por semana, de 1
a 4 vezes por dia e com tempo de duração entre 5 e 15 minutos. Para Alvarez
(2004), o tempo de duração curto, característico das sessões de GL, dificulta a
inclusão do trabalho de fortalecimento muscular nas séries de exercícios, uma
vez que as necessidades dos colaboradores, geralmente, se concentram nas
queixas de dor e desconforto corporal decorrentes da má postura e do excesso
de trabalho muscular.
A colocação da autora pode explicar o fato de as sessões de GL serem
constituídas, predominantemente, por exercícios de alongamento, relaxamento
e, ocasionalmente, fortalecimento muscular; além de palestras e estratégias
específicas com intenção de garantir um diferencial no serviço ofertado – ex:
entrega de artigos; caminhadas ecológicas e gincanas; avaliação morfo-
279
funcional; organização de SIPAT; curso de transporte/levantamento/manuseio
de carga; análise ergonômica do trabalho; mapa de risco; testes admissionais;
integração ao ambiente de trabalho e dinâmicas voltadas à mudança de
comportamento (alimentação, gerenciamento de stress, comportamento
preventivo e relacionamentos).
Segundo Alvarez (2004), as características da GL dependem da
gerência da empresa contratante, do risco ergonômico do trabalho, das
peculiaridades do setor e das necessidades dos colaboradores.
Baseados nestas informações surgem alguns questionamentos:
 A utilização isolada da GL é eficaz para combater a incidência das
LER/DORT nas empresas contratantes?
 É possível que a dedicação de alguns minutos para exercícios de
alongamento, relaxamento e dinâmicas de grupo no local de trabalho
afastem o estresse, as tensões musculares e alterem o estilo de vida do
trabalhador?
 O tempo diminuto alocado para a prática da GL não seria uma falha
metodológica, uma vez que dificulta a realização de enfoques/técnicas
propostas
e
o
acontecimento
dos
mecanismos
fisiológicos
necessariamente presentes no trabalho de alongamento muscular,
principalmente quando o mesmo objetiva a melhora da flexibilidade –
questões tão difundidas na literatura?
Para Longen (2003), a GL é apresentada por alguns autores como uma
medida preventiva eficaz para LER/DORT. Por outro lado, segundo Reis e
Moro (2004) somente a prática de alongamentos, sem a melhoria dos métodos
organizacionais, poderá prejudicar o bom andamento do projeto GL. Esses
autores consideram que a GL de forma isolada não alcança êxito na
prevenção, devendo ser associada a várias outras medidas, simples, mas
fundamentais, como a volta de férias com ritmo gradativo e rodízio de tarefas,
se faz necessária para que o trabalhador tenha no seu meio laboral um
ambiente confortável e seguro para o pleno exercício de suas atividades.
280
Já Couto (1988) coloca que as pausas existentes no trabalho repetitivo
são, de certa maneira, baseadas em comportamentos, quando na verdade
fisiologicamente não se sabe o momento mais favorável de sua execução e
tampouco a duração das mesmas. Portanto, as práticas corporais adotadas
nos programas de GL devem ser orientadas a partir do estudo sistemático de
ergonomia, em que pese as exigências e as características sócio-técnicas do
respectivo ambiente de trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados apresentados levam a crer que existe uma abertura do
mercado no Brasil para a atuação do profissional de Educação Física na área
da Saúde do Trabalhador, mais especificamente através da GL. Entretanto, fica
evidente que o profissional ainda atua com uma abordagem paliativa, em
função das características das sessões de GL e uma vez que grande parte das
empresas contratantes ainda não garante estrutura física e financeira para a
implantação de Programas de Promoção da Saúde do Trabalhador,
impossibilitando a inserção desta estratégia em uma abordagem mais global.
Acredita-se que, aos poucos, a cultura empresarial brasileira, para a
qual todas as ações precisam se justificar economicamente de acordo com os
lucros que devem angariar está mudando. Espera-se que esta mudança
repercuta de forma positiva na relação entre empresas contratantes e
profissionais de Educação Física, possibilitando, assim, através da GL, a qual
é, definitivamente, uma das estratégias da Ergonomia para auxiliar na melhora
da qualidade de vida dos trabalhadores, a garantia desta área promissora para
os profissionais de Educação Física.
Além disso, mostra-se necessária a
atuação fiscalizadora do sistema CONFEF/CREF, no sentido de balizar e
nivelar a atuação do profissional de Educação Física na área da GL.
Por último, lança-se o seguinte questionamento: de que forma
profissionais de Educação Física podem efetivamente contribuir para mudar o
contexto atual em que a GL está inserida, para que a sua utilização leve
efetivamente a resultados significativos na promoção da saúde do trabalhador?
281
Nesse sentido, espera-se que esta não seja mais uma pergunta sem resposta
indefinidamente.
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283
CAPÍTULO XIV
GINÁSTICA LABORAL: relato de uma prática fundamentada
Rosa Maria Mesquita
A sociedade atual atribui ainda ao profissional da Educação Física um
status ocupacional mais de um executor do que o de um pensador, em função
do caráter eminentemente prático de sua atuação (Lawson, 1984; Rarick apud
Tani 1996). Esta imagem se cristaliza mais quando o profissional não tem
condições de fundamentar a sua prática, através de um corpo específico de
conhecimentos que o possibilite a dar uma sustentação acadêmico-científica às
suas ações.
Todavia, é necessário reconhecer que a própria Educação Física tem
contribuído para este perfil. Os cursos de preparação profissional espelham em
sua grade curricular a ênfase dada às disciplinas orientadas para as atividades
em comparação às de abordagens teóricas.
A Educação Física, durante longo período, esteve mais voltada para
aspectos relacionados ao ensino e à prestação de serviços do que à
estruturação de um corpo específico de conhecimentos (Tani, 1996).
Atualmente, este fator acadêmico é mais emergente e solidificado
através de estudos e pesquisas possibilitando fundamentar cientificamente os
conhecimentos em nossa área. Esta nova perspectiva sofreu, sem dúvida,
implicações diretas das discussões acadêmicas sobre a caracterização da
Educação
Física
enquanto
uma
disciplina
acadêmica
(Henry,
1964).
Discussões que se iniciaram na década de 60, nos Estados Unidos, e que
repercutiram fortemente no Brasil na década de 80 e promoveram inúmeras e
profundas modificações tanto a nível acadêmico quanto na própria preparação
profissional (Manoel, 1986; Mariz de Oliveira, 1988).
No tocante a este último aspecto, preparação profissional, as
instituições de nível superior em Educação Física cada vez mais se veem
comprometidas em oferecer aos seus alunos uma preparação de qualidade
que os possibilite atuar de forma consciente face às necessidades do mercado
284
de trabalho, não como meros artesãos, mas como profissionais que
fundamentam suas ações (Morford, 1972).
Segundo Medina (1983, p. 86) "os profissionais da Educação Física,
quaisquer que sejam as suas áreas de atuação, só se realizam na medida em
que assumem plenamente o seu papel como agente renovador e
transformador”. Para que isto ocorra é necessário que a proficiência
profissional esteja relacionada ao domínio dos conhecimentos que fundamenta
a prática e as habilidades e sensibilidades profissionais (Lawson, 1984).
Neste processo dois fatores são fundamentais durante a preparação
deste futuro profissional: a construção do conhecimento científico e a
construção de uma reflexão crítica sobre este conhecimento. Só é possível
alcançar estes dois fatores e a interação entre eles através da possibilidade
que o ser humano tem de perceber, interpretar, optar e atuar no mundo. A
racionalidade humana que permite transcender e ultrapassar o determinismo
biológico através da consciência.
Medina (1986) sintetiza as ideias básicas da teoria Freiriana sobre os
graus de consciência através dos quais o ser humano tem a possibilidade de
interferir, interagir com o mundo e que são: 1) a consciência intransitiva; 2) a
transitiva ingênua e 3) a transitiva crítica.
A consciência intransitiva é caracterizada e restrita às percepções que
são biologicamente vitais para o indivíduo; a consciência transitiva ingênua
permite ultrapassar os limites vegetativos ou biológicos, porém, limita-se às
interpretações simplistas e argumentações inconsistentes dos fenômenos e,
finalmente, a consciência crítica que possibilita ao indivíduo transcender à
superficialidade dos fenômenos, a interpretar e argumentar apoiando-se em
conhecimentos fundamentados e a assumir ações críticas e eficazes.
Portanto compete ao aluno, futuro profissional, o exercício fundamental
deste ritual de passagens da consciência, pois, é a consciência que possibilita
a expansão do conhecimento e por outro lado, é o conhecimento que amplia as
percepções do indivíduo em relação a si mesmo, ao outro e ao mundo.
Compete, porém, ao professor possibilitar e motivar este processo.
Assim, o aluno pode ser agente ativo e não passivo no seu processo
285
de profissionalização no qual o conhecimento deve ser adquirido, entendido e
transformado em verdade nas suas práticas profissionais. Esta prática não é a
prática pura, é a prática objetivada pela teoria, é a prática fundamentada por
um corpo específico de conhecimentos científicos e aprofundada por uma
reflexão crítica.
A produção deste corpo específico de conhecimentos é um processo
contínuo e, contínua deve ser a busca deste conhecimento para fundamentar
sempre a atuação do profissional. Assim, o projeto "Ginástica Laboral",
desenvolvido junto a uma empresa multinacional pode se constituir em um
relato desta prática fundamentada e busca contínua de conhecimentos.
Este projeto possibilitou a interação entre universidade e comunidade,
e o trabalho conjunto entre professor-aluno permitindo: 1) a implantação de um
programa de Educação Física adequado às necessidades dos funcionários da
empresa 2) o desenvolvimento de uma pesquisa aplicada e 3) o estágio de
discentes nesta área do mercado de trabalho. Todos estes aspectos
contribuíram
para
a
produção
e
difusão
de
novos
conhecimentos
fundamentados cientificamente.
O projeto foi elaborado e executado face à solicitação da Empresa
Gessy Lever do Brasil - Unidade Anastácio, situada na capital do Estado de
São Paulo. Esta empresa solicitou à Escola de Educação Física e Esporte da
Universidade de São Paulo um programa de ginástica que fosse adequado às
necessidades circunstanciais das tarefas dos trabalhadores em sua jornada de
trabalho.
As características destes trabalhos funcionais eram relativas aos
movimentos repetitivos uni e bilaterais, a maioria na posição em pé, e
movimentos que envolviam o transporte e/ou levantamento de peso, durante
uma jornada diária de 8 horas de trabalho, o setor em questão era o de
embalagens de pós.
Relacionadas diretamente a estas características funcionais estavam
as queixas de lombalgias dos funcionários e a preocupação dos responsáveis
do setor, e da equipe médica com possíveis lesões por esforços repetitivos
(LER). Também foi evidenciada uma preocupação relativa aos aspectos
286
psicossociais dos funcionários; esperava-se que o programa pudesse, de
alguma forma, contemplar uma melhora no nível de disposição, satisfação
pessoal e sociabilização destes trabalhadores.
Esta preocupação foi devido ao risco que corria este setor da empresa
de ser desativado ou totalmente automatizado, isto poderia significar possíveis
demissões ou transferências de postos. Este fator gerava um estado de
ansiedade e desmotivação nos funcionários.
Considerando todos os aspectos solicitados, foram realizadas visitas ao
setor para que outras informações e dados complementares pudessem ser
coletados junto à equipe administrativa, médica e funcionários. Após estas
visitas e análise dos dados coletados foi elaborado um primeiro delineamento
do programa "Ginástica Laboral" a ser desenvolvido.
A
elaboração
e
coordenação
do
projeto
estiveram
sob
a
responsabilidade da Professora Rosa Maria Mesquita. Participaram na
implantação e desenvolvimento deste projeto as alunas: Fábia Antunes,
Cláudia Sacardo, Elizabeth Uzuba, Flávia Freire respectivamente do 8º
semestre/1995 e a aluna Patrícia Nascimento do 6º semestre/1995 do curso de
bacharelado em Educação Física. A professora Patrícia Pedotti foi convidada a
fazer parte do grupo para a execução do programa.
Foi traçada uma estrutura geral para o desenvolvimento do projeto.
Nesta estrutura foram previstos um plano de ação e outro plano relativo à
organização de estudos, pesquisa e orientação. Com relação à parte
acadêmica foram determinadas reuniões semanais entre a coordenação e o
grupo de ação do projeto com a finalidade de orientar e supervisionar o
desenvolvimento dos trabalhos na empresa, bem como orientar estudos e
pesquisas sob responsabilidade de cada integrante do grupo. Reuniões extras
foram realizadas sempre que as mesmas se fizeram necessárias.
Para o plano de ação foi necessário especificar duas alunas-estagiárias
para cada turno de trabalho e um grupo de alunos de apoio para efetivar a
avaliação diagnóstica. Esta avaliação foi realizada para analisar as condições
iniciais físico-motoras e de saúde dos funcionários e permitiu também
estabelecer as metas do programa.
287
A avaliação diagnóstica permitiu: 1) através da observação dos
funcionários em suas atividades e da observação de filme em video-tape
analisar os movimentos funcionais envolvidos nas tarefas. 2) através de um
questionário obter maiores informações sobre: a) a execução dos movimentos
dos funcionários em seus postos de atuação; b) horário de maior cansaço e
maior prontidão para as tarefas; c) as queixas de dores localizadas; d)
possíveis doenças passageiras ou crônicas; e) medicamentos prescritos; f)
conhecimento/interesse/envolvimento em atividades físicas; 3) através de
informações obtidas junto ao serviço de saúde da empresa as condições de
saúde e as queixas relativas à LER e à lombalgia; 4) através de um exame
postural e biométrico realizar uma avaliação física e 5) através de uma bateria
de testes determinar o nível de condição física e perceptivo-motora dos
funcionários.
Assim, após a análise destes dados e considerando a solicitação da
empresa, o programa "Ginástica Laboral" teve como metas propiciar: 1) uma
melhor condição das capacidades físicas e perceptivo-motoras; 2) diminuição
das afecções músculo esqueléticas, minimizando ou prevenindo as lesões por
esforços repetitivos (LER) e lombalgias e, 3) maior conscientização quanto à
execução dos movimentos adequados para a realização da função
instrumental do corpo nas atividades de trabalho.
O trabalho consistiu de: 1) sessão de atividades físicas durante os 30
minutos iniciais de cada jornada de trabalho; 2) exercícios de compensação e
relaxamento estabelecidos em função das características individuais dos
funcionários e de suas atividades de trabalho e 3) orientação teórica sobre o
corpo em movimento e os benefícios das atividades físicas.
O programa foi desenvolvido com 116 funcionários, sendo 47 do turno
da manhã, 27 do turno da tarde e 42 do turno da noite. Todos os trabalhadores
eram do sexo masculino com idades médias variando entre 35 a 40 anos,
dependendo do turno. A implantação do programa foi realizada em duas
etapas, sendo que cada uma teve a duração de 6 semanas. A primeira etapa
foi constituída, exclusivamente, por uma atividade denominada de sessão de
condicionamento físico e, a segunda etapa foi desenvolvida através de duas
288
atividades distintas: a sessão de condicionamento físico e a ginástica de
pausa.
Na primeira etapa, todos os funcionários participaram simultaneamente
da sessão de condicionamento físico, 5 dias por semana. Essa sessão tinha a
duração de 30 minutos e foi realizada durante a meia hora inicial de cada
turno, somente após a sessão de atividade física é que se iniciava a jornada de
trabalho,
neste
setor
da
empresa.
Conteúdos
teórico-práticos
foram
ministrados pelas alunas-estagiárias. As vivências práticas foram sempre
acompanhadas por informações teóricas pertinentes; ao término de cada
sessão estes conhecimentos foram retomados e sintetizados.
As metas deste trabalho foram desenvolvimento das capacidades
físicas e perceptivomotoras e a assimilação e aplicação dos conhecimentos
transmitidos sobre o corpo em movimento e sobre os benefícios da atividade
física sistemática. Estas metas tinham por objetivo propiciar uma melhor
qualidade de vida tanto na relação funcionário trabalho quanto na vida pessoal
de cada indivíduo. Este período permitiu também preparar física, cognitiva e
emocionalmente os trabalhadores para a segunda etapa do programa.
Para a segunda etapa foram realizadas modificações no programa
estabelecido inicialmente, uma vez que foi constatada a importância de se dar
continuidade ao trabalho de condicionamento físico a partir da análise dos
resultados do reteste intermediário. Assim, nesta segunda etapa, a sessão de
condicionamento físico foi mantida com as mesmas características estruturais
da etapa anterior reduzindo-se apenas a frequência das atividades para três
vezes por semana, no entanto, as habilidades e as capacidades físico-motoras
foram trabalhadas com mais intensidade. Foi implantada neste período a
ginástica de pausa, cuja função era possibilitar através de exercícios, o
relaxamento e o alongamento dos grupos musculares envolvidos nos
movimentos repetitivos unilaterais ou nos movimentos de transporte com
levantamentos de cargas.
Nesta sessão de ginástica, cada indivíduo desenvolveu um programa
personalizado de exercícios. Este programa foi pesquisado e elaborado pelas
alunas estagiárias respeitando as capacidades e restrições pessoais de cada
289
funcionário, e de acordo com as características funcionais de seus postos de
serviço.
A ginástica de pausa foi realizada pelos trabalhadores após o
cumprimento da metade da jornada diária de trabalho; em cada posto de
trabalho havia um horário pré-estabelecido que determinava quais os
funcionários que permaneceriam nas atividades profissionais e quais os que
sairiam para a realização da ginástica de pausa. Assim sendo, a empresa
continuava os trabalhos do setor e aos funcionários era possibilitada, por
rodízio, a execução desta atividade.
Durante as duas primeiras semanas da implantação da ginástica de
pausa, os alunos estagiários realizaram plantões em cada turno, procurando
assistir aos funcionários com relação às orientações para a prática dos
exercícios, efetuar as observações necessárias para uma execução correta
dos movimentos e responder às dúvidas e a possíveis questionamentos.
Após este período e considerando os conhecimentos adquiridos pelos
funcionários, a ginástica de pausa foi desenvolvida através do envolvimento
individual consciente e autônomo de cada trabalhador, porém, as alunasestagiárias estavam sempre à disposição dos funcionários para atendê-Ios em
suas dúvidas e necessidades, após a sessão de condicionamento físico.
Associado ao programa foi implantado também um quadro mural da
Educação Física, neste setor da Empresa. Nesse quadro eram afixadas, a
cada semana, informações importantes sobre a atividade física e os benefícios
para saúde e para as atividades de trabalho. O objetivo dessa estratégia era o
de estimular e motivar os funcionários a deter mais conhecimentos e
possibilitar assim maior autonomia para uma prática consciente da atividade
física sistemática.
Após o término dos três meses de trabalho foi realizada novamente a
bateria de testes para avaliar o nível da condição física e perceptivo-motor
alcançado com o desenvolvimento do programa. Paralelamente a este
desenvolvimento foram realizadas com os funcionários e responsáveis desse
setor da empresa três palestras. A primeira palestra teve por objetivo expor os
motivos que levaram ao desenvolvimento deste projeto junto àquela empresa,
290
apresentar o plano para o desenvolvimento do programa "Ginástica
Empresarial" e apresentar o grupo que executaria o projeto.
A segunda reunião foi dedicada a apresentar e discutir os resultados
parciais alcançados, referentes ao trabalho de condicionamento físico
realizado, nas seis primeiras semanas. Os funcionários ao constatarem os
resultados obtidos nos testes de capacidades físicas e perceptivo-motoras,
antes e após o desenvolvimento deste trabalho, ficaram satisfeitos pela
melhora alcançada e ainda mais motivados para a prática do programa.
Perceberam os benefícios para a saúde e constataram que assimilaram
conhecimento para esta prática e, como efetuar a aplicação destes
conhecimentos, também, nas ações de trabalho.
A terceira e última palestra foi realizada após o término do programa e
aplicação da bateria de testes que permitiu avaliar, novamente, as capacidades
físicas e perceptivo-motoras dos funcionários. Nesta reunião, foi apresentado,
sinteticamente, todo o trabalho desenvolvido e os resultados alcançados.
Os resultados finais permitiram constatar que, em um programa de
apenas 12 semanas, os trabalhadores obtiveram melhor nível de suas
condições físico-motoras, maior conhecimento sobre o seu corpo em
movimento tanto nas atividades físicas sistemáticas quanto na relação posto de
serviço/trabalho,
diminuição
significativa
das
queixas
e
atendimento
ambulatorial das lombalgias chegando a zero em dezembro de 1995,
diminuição das tensões dos grupos musculares envolvidos nos movimentos
repetitivos uni e bilaterais, diminuindo assim os riscos de afecções músculoesqueléticas ocasionadas pela LER e aumento do entrosamento social entre
os funcionários e melhora do ambiente de trabalho como na motivação,
camaradagem, disposição física e psicológica.
É necessário ressaltar que as alunas estagiárias tiveram um papel
fundamental para o sucesso deste Projeto devido à dedicação aos estudos
desenvolvidos, à habilidade e eficiência na regência das sessões de atividades
físicas, à participação efetiva no desenvolvimento da pesquisa e à promoção
de laços empáticos de amizade e confiança com seus respectivos grupos de
funcionários.
291
Estes novos conhecimentos adquiridos, fundamentados cientificamente
através de pesquisa, são fruto da organização, estruturação, de conhecimentos
anteriores aplicados a uma situação real do campo de atuação do profissional
da Educação Física, a Ginástica Empresarial.
A prática profissional fundamentada constitui o grande desafio para o
profissional da Educação Física. Certamente, o status que atualmente ocupa
na sociedade, mais de um executor do que de um pensador, poderá ser
modificado pela sustentação acadêmico-científica que norteia e fundamenta
suas ações.
REFERÊNCIAS
HENRY, F.M. Physical education - an academic discipline. JOPHER, 35, 32 38; 69, 1964.
LAWSON, H.A. Invitation to physical education. Champaign, IL: Human
Kinetics, 1984.
MANOEL, E.J. Movimento humano: considerações acerca do Objeto de estudo
da educação física. Boletim FIEP, 56, 33-39, 1986.
MARIZ DE OLIVEIRA, J.G. Preparação profissional em educação física. In:
Educação física e esportes na universidade. Brasílía: SEED MEC/UNB,
1988.
MEDINA, J.P.S. A Educação Física cuida do corpo... e "mente": bases para
a renovação e transformação da educação física. Campinas: Papirus, 1983.
MORFORD, W.R. Toward a profission, not a craft. Quest, 18,88-93, 1972.
TANI, G. Vivências práticas no curso de graduação em Educação Física:
Necessidade, luxo ou perda de tempo? Caderno Documentos, 2, 1-22, 1996.
292
CAPÍTULO XV
QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO: Estudos do Grupo Gestão de
Recursos Humanos para o Ambiente Produtivo
José Roberto Herrera Cantorani
Luiz Alberto Pilatti
Antônio Carlos Frasson
A compreensão do social não permanece a mesma quando a ela se
junta o imaginário “qualidade de vida”. Mais que uma operação intelectual,
trata-se de um verdadeiro movimento que se exprime nesta unidade.
Qualidade de vida, e mais amplamente, qualidade de vida sócioambiental contém o pensamento de ordem que resume uma ambição
civilizacional. Na tradição das ciências sociais, contudo, palavras como
qualidade ambiental e desenvolvimento social caminham de forma bem
separadas.
Na economia, com raras e recentes exceções, a natureza, o meio
ambiente e a qualidade de vida aparecem, no máximo, como externalidades:
não estão organicamente, interiormente, associadas àquilo que orienta as
decisões. Economia e sociedade de um lado, natureza, qualidade de vida e
material humano do outro, esta parecia ser mesmo a essência da construção
das sociedades ocidentais. Contudo, o importante é a constatação de que, nas
últimas duas décadas, seus componentes básicos vêm sofrendo alteração.
São várias as vertentes a subsidiarem esta transformação, entre as
quais, resumidamente: anseios sociais, estudos dirigidos, obras de eminentes
pesquisadores; fortalecendo a idéia de que a economia e o crescimento
econômico não são finalidades, mas meios que não podem nem devem
escamotear questões decisivas a respeito da qualidade de vida dos indivíduos,
da distribuição da renda e do uso que uma sociedade faz de sua riqueza.
293
Grupo Gestão de Recursos Humanos para o Ambiente Produtivo
O grupo “Gestão de Recursos Humanos para o Ambiente Produtivo” é
um exemplo da organização de pesquisadores focados em estudos dirigidos à
qualidade de vida e à qualidade de vida no trabalho. Este grupo está alocado
no Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Engenharia de Produção da
Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR e conta com a junção
de pesquisadores vindos da Engenharia de Produção e da Educação Física,
proporcionando debates e frentes de pesquisa interessantes, frutos do embate
de olhares e perspectivas diferentes. Duas das linhas de pesquisa deste grupo
se destacam a este respeito: “Gestão de Pessoas e Qualidade de Vida no
Ambiente Produtivo” e “Trabalho e Lazer”.
As pesquisas desenvolvidas por estas linhas, dentro de uma
perspectiva histórica e sociológica, discutem o ambiente laboral. O foco é a
qualidade de vida do trabalhador, as transmutações do trabalho determinadas
pela sociedade do conhecimento e a relação trabalho/lazer.
Inovação e a Sociedade do Conhecimento
A sociedade do conhecimento não é, definitivamente, um tipo ideal de
sociedade inferida como uma hipótese explicativa pelos weberianos ou mesmo
um esboço do estágio final do capitalismo pensado pelos marxistas.
O novo mundo do trabalho – nascido depois da Segunda Guerra
Mundial – é um mundo marcado por fantásticos avanços científicos e
tecnológicos,
sofisticados
métodos
e
instrumentos
de
trabalho,
pela
complexidade, pelo trabalho em rede. A valorização das pessoas, agora
tratadas como capital humano faz parte do discurso desta sociedade de
oportunidades e ameaças.
A passagem do paradigma industrial para a era da informação trouxe
como pré-suposto que as riquezas produzidas nas organizações do
conhecimento são oriundas dos subutilizados ativos intangíveis, o capital
humano e o capital estrutural interno e externo. A ideia exige um olhar
294
cauteloso, mas otimista. Com efeito, na era do conhecimento as pessoas
deixaram de ser geradores de custos ou recursos para se tornarem geradores
de receita (SVEIBY, 1998).
A dinâmica dessa sociedade é determinada pela ciência. É da ciência
que depende os negócios do futuro. Para Meyer (2006, p. 57),
[...] cada novo ciclo começa quando os cientistas
fazem alguma descoberta sobre como funciona o
mundo. Depois vem a fase da tecnologia: as
inovações no laboratório convertem-se em novas
capacidades produtivas. Na terceira etapa, as
empresas incorporam a tecnologia para melhorar
seu rendimento. Finalmente, o declínio determina o
fim do ciclo, até que nova descoberta marque o
início de outro.
Nesses ciclos, a inovação, que não é ciência nem tecnologia e tem
estreita ligação com o mercado, apresenta-se como uma possibilidade efetiva
de sobrevivência para as empresas; por ser uma forma real do aumento da
produtividade.
A inovação diz respeito à capacidade de efetuar mudanças no modelo
mental e no comportamento de produtores e consumidores de tecnologia. Os
avanços tecnológicos, que Garcia dos Santos (2006) denomina de “avalanche
tecnológica”, apresentam uma tendência exponencial: o índice de progresso
tecnológico duplica a cada década (KURZWEIL, 2006).
No curso desta história o trabalho foi humanizado. A jornada de
trabalho diminuiu, as condições de trabalho melhoraram, o ser humano ganhou
centralidade.
No entanto, os avanços não atingiram os patamares que alguns, em
exercícios de futurologia, anteviram. Freyre (1973), em Além do apenas
moderno, ao discutir a questão “tempo” inferiu que:
[...] criado pela mecanização do trabalho e,
sobretudo, em anos recentes, pela automação em
começo [...] o tempo desocupado começa a avultar
de tal maneira sobre o ocupado que se pode prever
a redução do ocupado a verdadeira insignificância
quantitativa. Problemas, portanto, como o da
295
organização do trabalho, o da organização de
trabalhadores, o dos sindicatos de atividades
operárias – problemas relacionados com o tempo
ocupado – tomam o aspecto, nos países mais
automatizados, de problemas já meio arcaicos, ao
lado dos de preenchimento e organização do tempo
desocupado (FREYRE, 1973, p. 108-109).
A leitura mostrou-se equivocada. As exigências impostas aos
trabalhadores do conhecimento ultrapassaram as fronteiras do local de
trabalho. A qualificação exigida do trabalhador aumentou. A automação, além
de não criar mais tempo disponível para os trabalhadores, diminui postos de
trabalho.
A valorização do capital humano tem se mostrado incongruente com o
mundo empresarial: é preciso produzir mais, em menos tempo, com custos
reduzidos, atendendo padrões de qualidade mais elevados. Ainda que
humanizado nos aspectos elementares, a qualificação demandada coloca
exigências cada vez mais sofisticadas aos trabalhadores do conhecimento.
A qualidade de vida desse trabalhador é afetada de duas formas:
dentro e fora do trabalho, apesar de que, crescentemente, existe uma
convergência desses tempos. A ideia dos frankfurtianos de que o tempo de
não-trabalho era um tempo de compensação está se esvaindo.
A esfera do trabalho, apesar das melhorias proporcionadas pela
tecnologia, tem determinado uma priorização em relação às demais. Trata-se
de uma condição para a manutenção da empregabilidade do trabalhador.
A diversidade desejada pelo setor produtivo apresenta uma conotação
perversa: deixou de se valorizar o igual; a individualidade, com capacidade
elevada de trabalho em equipe, não é mais apenas desejada, é requerida.
Criou-se a percepção de que o trabalho não é algo para todos, e sim
apenas para os especialmente talentosos. Com outro nível de sofisticação, os
patamares demandados pelo setor produtivo, mais uma vez, apontam para
níveis inumanos.
A implicação prática do novo modelo é o aparecimento de uma massa
ainda maior de trabalhadores sem qualificação que ficam à margem dos
avanços tecnológicos. O quadro agrava-se quando se está falando de um país
296
em desenvolvimento, em que os limites da miséria são ampliados diariamente.
Mesmo os movimentos operários que garantiram a elevação dos
padrões de qualidade de vida do trabalhador no período da industrialização, na
sociedade do conhecimento tiveram seus limites de atuação estreitados. O foco
da luta mudou. Não se busca mais avanços significativos nas condições de
trabalho: busca-se a manutenção do trabalho, num cenário de exigências
ampliadas.
Os avanços tecnológicos que supostamente inferem qualidade de vida
fora do trabalho se colocam mais acessíveis com ofertas cada vez mais
ampliadas, mas, ao mesmo tempo, tornam-se cada vez mais inacessíveis a
uma massa de excluídos e/ou sem tempo disponível cada vez mais em
expansão.
Os problemas relacionados à qualidade de vida no mundo moderno
ganham terreno. Os benefícios do avanço tecnológico só atingem a sociedade
até determinada faixa econômica, fortalecendo a exclusão de muitos. Não
obstante, as exigências do mundo do trabalho na era da informação são
responsáveis pela geração de um tipo de stress que violenta física e
emocionalmente a classe trabalhadora. As exigências impostas ao trabalhador
do
conhecimento têm
tornado o
trabalho
um elemento que
ocupa
majoritariamente o tempo do trabalhador. Essa centralidade em uma esfera
compromete, em diferentes medidas, as demais esferas da vida humana.
Avanços tecnológicos e qualidade de vida, num sentido positivo, não são
elementos tão convergentes como se é possível supor.
Tempo de trabalho e Tempo de Lazer
O avanço da tecnologia resultou não apenas em fatores positivos, mas
também em problemas, dos quais derivam necessidades.
No inicio da década de noventa, de acordo com Souza e Ribeiro
(2004), a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou o estresse como
a doença do século XX. Mais recentemente, também a Organização Mundial
da Saúde elevou o estresse ao status de maior epidemia mundial deste século.
297
Grande parte das doenças hoje relacionadas à medicina do trabalho está
intimamente ligada ao estresse.
Para melhor entender os problemas que resultam desta nova ordem de
exigências sociais e trabalhistas é preciso pensar a respeito do tempo,
denominadamente os tempos de trabalho e livre.
Ao acompanhar o ideário de Norbert Elias e Eric Dunning (1992) tornase possível tanto a desmistificação da dicotomia trabalho/lazer como a
compreensão das relações e diferenças entre tempo de trabalho e tempo de
lazer.
Tempo livre, de acordo com os atuais usos lingüísticos, é todo tempo
liberto
das
ocupações
de
trabalho.
No
entanto,
nas
sociedades
contemporâneas, uma fatia cada vez mais reduzida deste tempo pode ser
direcionada às atividades de lazer.
Para Elias, as atividades do tempo livre são divididas em cinco
categorias que se confundem e se sobrepõem de várias maneiras.
A primeira categoria, formada pelo trabalho privado e administração
familiar, por dedução lógica, dificilmente pode ser reconhecida como campo de
lazer. A este grupo pertencem as atividades relacionadas aos cuidados com a
família e também à provisão da casa.
Destacamos que, de acordo com as pesquisas de campo realizadas
pelo grupo aqui apresentado, este tipo de atividade toma uma parte bastante
significativa do tempo livre dos trabalhadores.
Estas atividades, em muitos casos, constituem trabalho duro; muitos
destes trabalhos são obrigatoriamente executados, independentemente da
existência de prazer na sua realização e, não obstante, transformam-se em
rotina.
A segunda categoria é expressa pelas atividades relacionadas ao
repouso: atividades como dormir, artesanato, futilidades da casa e o não fazer
nada em particular. As pesquisas de campo têm mostrado que estas atividades
aparecem com certa frequência no tempo livre dos trabalhadores. Estas
atividades até podem ser consideradas como lazer, mas não são atividades de
significativo impacto em termos de revigoramento emocional.
298
A terceira categoria é composta pelas atividades ligadas ao provimento
das necessidades biológicas: necessidades como comer, beber, dormir, bem
como, necessidades fisiológicas e fazer amor.
As atividades relacionadas a este grupo estão sempre presentes no
tempo livre. Sem grande significado para a diferenciação entre o tempo de não
trabalho, mas de ocupação rotineira e estressante, e o tempo de não trabalho,
que de fato pode ser utilizado como lazer e de forma prazerosa, esta categoria
compõe a análise completa da ocupação das pessoas.
As atividades que formam a quarta categoria são as atividades de
sociabilidade: atividades como passear em um clube, um bar, um restaurante,
"jogar conversa fora" com os vizinhos ou mesmo estar com outras pessoas
sem fazer nada demais. Estas atividades aparecem com frequência na
estrutura do tempo livre. Não é trabalho, mesmo que envolva esforços
significativos como, por exemplo, jantares de negócios. Contudo, a sua
valoração segunda uma escala que varia entre o prazer e o stress vai depender
de uma multiplicidade de fatores: sociabilidade do indivíduo, formalidade da
situação, obrigatoriedade e dependência da mesma, e outros fatores que a
possam estar relacionados.
A última categoria é constituída pelas atividades miméticas ou jogos.
As atividades deste tipo são atividades de tempo livre que possuem caráter de
lazer, quer se tome parte nelas como ator ou como espectador. Estas
atividades estão diretamente associadas à destruição da rotina, presente na
quase totalidade do restante do tempo. Os estudos têm demonstrado que a
presença destas atividades, e, não obstante, a disponibilidade de um tempo
para a vivência deste tipo de atividade, é significativamente baixa.
A tipologia apresentada serve para demonstrar que a utilização do
termo tempo livre como sinônimo de lazer não é verdadeira. Mostra de forma
muito nítida, que uma parcela considerável do tempo livre dos indivíduos não
pode ser vinculada às atividades de prazer, e sim às atividades que têm como
característica a rotina.
299
Mecanismo de Equilíbrio
O termo mimético, por Elias empregado, não é aquele que em seu
sentido literário simplesmente responde pelo "imitativo". Elias o utiliza num
sentido mais alargado e figurado. Com efeito, na Teoria Eliasiana, o termo
deve ser compreendido como uma "relação entre os sentimentos miméticos e
as situações sérias específicas da vida” (ELIAS, DUNNING, 1992. p.102). Nas
situações sérias da vida, as pessoas podem perder o controle e assim
tornarem-se um perigo para si e para outros. A excitação mimética, na
perspectiva social e individual, é desprovida de perigo, proporcionando às
pessoas experimentarem a explosão de fortes emoções em público, um tipo
de excitação que não coloca em risco a ordem da vida social como ocorre nas
situações sérias da vida.
Os conceitos eliasianos a respeito do processo civilizacional, para além
do avanço tecnológico e das respectivas mudanças quanto às formas de
trabalho analisadas sob a perspectiva de um recorte temporal, ajudam a
compreender as mudanças sociais historicamente configuradas: a evolução do
controle, da padronização e da rotina na perspectiva do longo prazo e suas
consequências nas sociedades contemporâneas.
Ajudam também a entender como o lazer se caracteriza como uma das
poucas formas de atividades em que os seres humanos adultos podem agir de
forma espontânea em um contexto em que poucas são as oportunidades,
aceitas socialmente, para se exporem dessa forma.
De acordo com Elias:
Na nossa sociedade, como em muitas outras, faz-se
sentir uma necessidade corrente de motivação de
fortes emoções que aparecem e, se encontram
satisfação, desaparecem, para só voltarem a
manifestar-se algum tempo depois. Seja qual for a
relação que esta necessidade possa ter com outras
necessidades mais elementares como a fome, a
sede e o sexo, todos os dados acentuam o fato de
que esta representa um fenômeno muito mais
complexo, um fenômeno muito menos puramente
biológico, pode bem considerar-se que o desprezo
quanto à atenção dedicada a esta necessidade
300
constitui uma das maiores lacunas na abordagem
dos problemas da saúde mental (ELIAS; DUNNING,
1992, p. 136-137).
As atividades de lazer proporcionam, ainda que por um breve tempo,
“[...] a erupção de sentimentos agradáveis fortes que, com frequência, estão
ausentes nas suas rotinas habituais da vida” (ELIAS; Dunning, 1992, p. 137).
A função do lazer, por conseguinte, não é simplesmente, como muitas
vezes se pensa, “uma libertação das tensões, mas a renovação dessa medida
de tensão, que é um ingrediente essencial da saúde mental” (ELIAS; Dunning,
1992, p. 137). Trata-se de um fenômeno em que não estão dissociados fatores
ligados ao nível social e os que se encontram nos níveis psicológico e
fisiológico.
As sociedades, ao atingirem um nível relativamente avançado de
civilização e avanço tecnológico, com relativa estabilidade, controle, alto grau
de rotina e, consequentemente, com grande necessidade de sublimação, têm
nas atividades de lazer uma das poucas formas de libertação das tensões
derivadas das pressões sociais rotineiras.
Como resultado tem-se que
[...] um dos principais traços fisionômicos das
sociedades altamente diferenciadas e abastadas do
nosso tempo é o fato de apresentarem uma
variedade de atividades de lazer superior a qualquer
outra sociedade que se possa imaginar. Muitas
dessas ocupações de lazer, entre as quais o
desporto nas suas formas de prática ou de
espetáculo, são então consideradas como meios de
produzir um descontrole de emoções agradável e
controlado (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 73).
Dessa forma:
Uma ou outra podem ser adotadas, de acordo com
os temperamentos, constituição física, necessidades
libidinais, afetivas ou emocionais. Algumas destas
atividades de lazer podem evocar, de forma
mimética, arrependimento ou medo, tanto quanto
alegria e triunfo, afeição e amor ou ódio. No contexto
de uma peça ou de um concerto, de um quadro ou
301
de um jogo, ao permitir-se que estes sentimentos
fluam livremente no seu contexto simbólico, alivia-se
o fardo global que é inerente à vida das pessoas,
fora do âmbito do lazer (ELIAS; DUNNING, 1992, p.
73).
As sociedades complexas promoveram não apenas uma grande
carga cumulativa de estresse, a qual se contrabalancearia com atividades
quaisquer de lazer. Elas se desenvolveram de tal forma que impuseram
padrões de vida amplamente civilizados e tecnologizados, resultado de uma
contínua busca por satisfação de necessidades e geradores de tantas outras
necessidades, que por sua vez afastaram o homem, sobretudo aqueles
residentes em grandes centros, de grande parte daquilo que era ou que é
inerente à sua constituição humana: uma vida ativa fisicamente, a possibilidade
de expressar os seus sentimentos, e a convivência com um ambiente natural.
Este cenário fortalece o ideário de que as atividades de lazer surgem
e/ou são criadas para a manutenção do equilíbrio emocional. O surgimento e a
aceitação de determinadas atividades de lazer estão diretamente ligados às
necessidades vigentes nas sociedades em curso. Não obstante, na medida em
que as sociedades se tornam mais complexas, com o nível de controle cada
vez mais acentuado e com a padronização e a rotina cada vez mais
amplamente estabelecidos, o nível de necessidades se modifica, se amplia, se
torna mais complexo.
A complexidade das necessidades vigentes nas sociedades hodiernas
favorece e/ou estimula o desenvolvimento de novos tipos de atividades
miméticas de lazer.
Para facilitar o estudo do lazer e apontar um caminho para a resolução
dos problemas a ele relacionados, Elias e Dunning (1992, p. 116) formularam
duas questões: “quais as características das necessidades individuais de lazer
desenvolvidas em nossa sociedade?”; e, “quais as características das
atividades específicas de lazer desenvolvidas na sociedade para a satisfação
das referidas necessidades?”. Essas questões podem ser consideradas como
um norte na resolução dos problemas relacionados ao processo de
interdependência entre sociedade e lazer.
302
De forma a facilitar um exame mais rigoroso, focado no fator
“necessidade”, é destacada a necessidade de um tipo particular de excitação
agradável e, na sequência, proferida a sua eleição ao centro da primeira
questão: “[...] pode demonstrar-se que esta necessidade se encontra no fulcro
da maior parte das necessidades de diversão”. A “excitação” é, por assim dizer,
“o condimento de todas as satisfações próprias dos divertimentos” (ELIAS;
DUNNING, 1992, p. 116). Já em relação aos objetivos e implicações da
segunda questão, Elias e Dunning argumentam que não é tão fácil a sua
compreensão.
No entanto, esses mesmos autores, versam que
[...] uma das razões por que parece conveniente
usar um termo específico para todos os fatos de
lazer que podem ser justamente classificados como
miméticos foi o reconhecimento de que todos esses
fatos possuem uma estrutura particular que lhes
permite satisfazer as necessidades específicas de
lazer (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 116).
Com base no reconhecimento de que a compreensão dos objetivos e
implicações das atividades específicas de lazer desenvolvidas para a
satisfação das necessidades é algo que envolve certa complexidade, parece
factível a interpretação de que também as necessidades específicas de lazer
oferecem semelhante complexidade.
Em outras palavras, as atividades de lazer respondem às necessidades
específicas de lazer e, portanto, a complexidade está em ambas, ou melhor, no
processo de interdependência entre elas.
Apesar de parecer claro que como característica central da maior parte
das necessidades de lazer está excitação, parece também que em sociedades
complexas como as hodiernas há uma série de determinantes que vão
influenciar não apenas o tipo de necessidade de excitação, mas também se de
um grau menor ou maior, e, por conseguinte, o tipo de atividade para a sua
satisfação.
Procede, portanto, que a complexidade das características das
necessidades
individuais
de
lazer
desenvolvidas
nas
sociedades
contemporâneas responde não apenas à complexidade da própria sociedade,
303
mas também ao estilo de vida imposto por esta. As características das
atividades específicas de lazer, desenvolvidas para a satisfação das referidas
necessidades, vão responder ao já comentado fulcro comum às necessidades
de lazer, a excitação, como também vão variar em grau de intensidade e
complexidade em função de determinantes diretamente ligados ao grau de
complexidade das sociedades em que vive cada indivíduo e ao seu respectivo
estilo de vida.
A construção teórica de Gilberto Freyre acerca da diferença entre o
homem civilizado e o não-civilizado e as consequências dos diferentes modos
de vida a que cada um está sujeito ajudam na elucidação que aqui se propõem
estas linhas:
[...] o moderno homem civilizado, vivendo sob um
sentido de tempo e dentro de um ritmo de vida
matematicamente físico e, por conseguinte,
uniformemente fluente, que impõe a todos os
membros de uma comunidade, sob esse jugo
uniformemente fluente, compromissos de caráter
quantitativamente exatos, resultaria [...] em doenças
cardíacas e das artérias, das quais os nãocivilizados se resguardariam pela sua diferente
concepção das relações de compromissos sociais –
sempre retardáveis, sempre adiáveis – com aquele
tempo quantitativamente exato e, por isto mesmo,
angustiante, inquietante, policialesco até, para
usarmos
caricaturalmente
expressão
já
antropológica para retratar o moderno homem
civilizado como submetido, em sua vida, às
constantes imposições de cassetete de um polícia
disfarçado em ponteiro de relógio, que o obrigasse a
uma sucessão de atos em desacordo com seus
pendores, quer de ordem fisiológica, quer de caráter
emocional (FREYRE, 1973, p. 113).
Em relação à vida cronometrada e aos avanços tecnológicos e
problemas derivativos desse processo, Gilberto Freyre aponta a importância da
colaboração do Professor Northrop17. A obra de Northrop considera como dado
empírico os hospitais, que “nos modernos países de mais adiantada civilização
17
De acordo com Freyre, Northrop é organizador de uma das mais importantes obras coletivas de caráter sociológico
publicada nos últimos decênios – Ideologicals Differences and World Order (Nova Iorque, 1959).
304
técnica, estão sobrecarregados de doentes mentais, de esquizofrênicos e de
enfermos do sistema vascular” (FREYRE, 1973, p. 115-116).
Com tais considerações, firma-se o alerta para a
[...] necessidade do moderno homem civilizado
assimilar à sua mentalidade matematicamente e
mecanicamente exigente de precisão e socialmente
exigente de exatidão no cumprimento de obrigações
assim matemática e mecanicamente condicionadas,
o que ele chama os “valores e os modos de sentir,
de pensar e de proceder mais intuitivos, emotivos e
impressionisticamente estéticos” [...] das sociedades
e das culturas não-civilizadas, assim como das
civilizadas do Oriente (FREYRE, 1973, p. 115).
De acordo com Freyre, devidamente apoiado em Northrop, como
demonstrado acima, povos menos adiantados no que se refere à modernidade,
e que mantém suas raízes, suas culturas, têm muito que ensinar aos que,
[...] tendo a eles se adiantado em aspectos
tecnológicos da civilização, de tal modo associaram
sua tecnologia, sua economia, sua convivência, ao
sentido cronométrico e, por conseguinte, apenas
mecânico, de tempo que, estabilizando-se em
modernices crescentemente arcaicas – por mais que
se proclamem modernas – perderam quase de todo
a capacidade de viverem ludicamente o tempo livre.
Parte em que – repita-se – podem receber lições dos
tecnologicamente
retardados
povos
ibéricos.
Tecnologicamente retardados, mas, por isto mesmo,
senhores de vastas reservas de cultura folclórica,
dentro da qual se conservam danças, músicas,
jogos, saudáveis tanto do ponto de vista sociológico
como do ponto de vista médico; e capazes de serem
adaptadas
a
situações
modernas,
em
correspondência com a crescente necessidade que
experimentam as sociedades civilizadas, de matéria
lúdica, festiva, recreativa, com que encham o seu
crescente tempo livre – admitindo-se o maior número
de participantes nessas expansões de caráter lúdico
– em vez de nos entristecermos em sociedades de
apenas passivos espectadores de grandes jogos de
futebol. Jogos para multidões imensas, porém
inermes; de torneios de voleibol; de corridas de
automóvel (FREYRE, 1973, p. 115).
305
As palavras de Freyre sintetizam de forma bastante rica esse lado
negativo do avanço tecnológico e da modernidade. Auxiliam também na
fundamentação de que esse avanço é desencadeador de necessidades
específicas e de que o suprimento destas necessidades exige atividades
miméticas também específicas.
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
Os procedimentos metodológicos mais amplos adotados pelo grupo
“Gestão de Recursos Humanos para o Ambiente Produtivo” nas pesquisas
dirigidas à qualidade de vida no ambiente produtivo buscam uma convergência
teórico-metodológica entre um autor clássico oriundo da sociologia: Norbert
Elias, o que produz uma abordagem qualitativa, e um instrumento nitidamente
quantitativo: o WHOQOL – instrumento desenvolvido pela Organização Mundial
da Saúde para o levantamento da qualidade de vida.
É importante que se diga que, considerando o WHOQOL, as atividades
físicas têm papel pouco significativo na qualidade de vida. Mas, também é
verdade que a mesma pode influenciar outras facetas, como a psicológica.
Neste contexto teórico-metodológico o que se busca é a fertilização cruzada
entre o raciocínio teórico e a realidade empírica. Procedimento este que é
sugerido por Norbert Elias (1992, p. 21), fonte teórica que vem amparando
amplamente os estudos do referido grupo.
Faz-se também importante mencionar que este grupo de pesquisa está
trabalhando na elaboração de um instrumento de pesquisa que visa à leitura da
qualidade de vida, sobretudo do trabalhador, e toma como base as estruturas
de tempo e ocupações. O objetivo é construir um instrumento que permita
alcançar a mensuração das atividades de rotina e geradoras de stress no dia-adia das pessoas e também as atividades que atuam na quebra dessa rotina e
geram prazer. O referido instrumento apóia-se na estrutura funcional do
WHOQOL e na base teórica de Norbert Elias a respeito do lazer.
306
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mundo mudou e o trabalho também. A Revolução Industrial criou um
novo trabalhador; a Era do conhecimento criou outro trabalhador. As
transformações tiveram dois pontos de convergência determinados por
avanços tecnológicos: a demanda de um trabalhador mais qualificado e a
diminuição de um tempo dentro do tempo livre que possa, efetivamente, ser
dedicado ao lazer, ao exercício do prazer, da excitação mimética.
Ainda que historicamente condições mais satisfatórias de trabalho
tenham sido conquistadas, o que de certa forma humanizou o trabalho, as
exigências impostas ao trabalhador do conhecimento têm tornado o trabalho
um elemento que ocupa majoritariamente o tempo do trabalhador, inclusive o
seu tempo livre. Essa centralidade em uma esfera compromete, em diferentes
medidas, as demais esferas da vida humana.
Mesmo se tornando mais humanizado em sua estrutura funcional, o
trabalho passou a exigir certas condições de envolvimento que o tornaram
menos humano e mais alienante em seu processo estrutural mais amplo.
Dentro desta estrutura sócio-laboral o que se verifica é um distanciamento
crescente das possibilidades de lazer e da prática esportiva. Cria-se a
percepção de que a atividade física é algo para se ver e não fazer.
Essa percepção é algo que vem se estruturando culturalmente: a
cultura da tecnologia, da sofisticação, do mínimo esforço, do sedentarismo.
Portanto, não é o bastante pensar em resolver este problema, que vem
se tornando congênito, com programas de ginástica laboral que apenas servem
para que as empresas apresentem de forma documentada o cumprimento de
seu papel social. Afinal, dentro deste padrão de envolvimento, muito do que se
pode esperar das empresas, principalmente as de grande porte, tem sido feito.
É preciso trabalhar a conscientização de todos. A vida cotidiana nas
sociedades contemporâneas acarreta problemas substanciais. Estilos de vida
tumultuosos, agitados e vertiginosos, por um lado; e rotineiros, padronizados e
sob controle, por outro, constituem-se numa constante agressão à estrutura
física e mental do homem.
307
Neste contexto, é preciso pensar em programas de qualidade,
programas que trabalhem com foco em uma atividade física estimulante, e não
apenas de forma a cumprir formalidades.
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309
CAPÍTULO XVI
Ginástica Laboral: Breve retrospectiva e tendências para o curso de
Educação Física da Universidade Federal de Viçosa
José de Fátima Juvêncio
A relação existente entre estudos sobre saúde, trabalho e ginástica
laboral no Departamento de Educação Física na Universidade Federal de
Viçosa – DES/UFV teve inicio, ainda, nos anos de 1993/1994, quando já se
pensava, entre alguns docentes da área de ginástica, como iniciar uma ação
para beneficiamento dos funcionários desta instituição. Nessa época, o apelo
do esporte de competição era muito forte e poucos professores, tanto aqui,
como no restante do Brasil, ainda não se preocupavam com o fator saúde de
seus clientes. Ao se implementar uma ação desta natureza, foi escolhido o
órgão da instituição que, constantemente, solicitava ajuda do DES/UFV, qual
seja
o
RESTAURANTE
UNIVERSITÁRIO.
Neste
órgão
era
comum
“afastamentos por motivo alegado de saúde”, em que muitos estavam com
queixas de dores lombares e nos membros superiores. Posteriormente outros
órgãos foram atendidos e atualmente se planeja uma implantação gradual em
todos os órgãos solicitantes para que, já em 2010, possam-se ter estagiários
suficientes em toda a UFV*.
Ressalta-se que ainda nesta época não se utilizava o termo “ginástica
laboral”, embora o propósito final fosse semelhante ao atual, e, ainda, que, no
ano de 1982 uma ação desta natureza foi efetivada em empresas de
mineração na cidade de Juiz de Fora, em que professores desse departamento
(Profª Vera Lúcia Simões e Profº José de Fátima Juvêncio), auxiliaram com um
programa de condicionamento físico para os empregados daquelas empresas.
Por muito tempo, após este fato, ficou a ginástica para funcionários
estacionada em projetos de pesquisa (ou intenção de pesquisa) engavetados
por estes docentes.
Mais tarde, em 1997, um primeiro passo foi dado em direção ao estudo
cientifico desta atividade, quando foi enviado um artigo para ser apresentado,
310
sob a forma “artigo oral‟, no I Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde,
na cidade de Florianópolis, SC. Durante este congresso iniciou-se contato com
professores doutores do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção/ UFSC, e, no ano seguinte.
Durante os anos deste curso de pós-graduação foram implementadas e
solidificadas ações na ginástica laboral, que, atualmente desenvolve-se na
Universidade Federal de Viçosa. Estas ações práticas forneceram subsídios
para que fosse implementado algo parecido na UFV, o que tem sido feito desde
2002.
A ginástica laboral vem sendo objeto de investigação sob múltiplas
abordagens no Curso de Educação Física, e outros cursos da instituição desde
então, pois com a divulgação dos benefícios que esta causa nos praticantes
ficou claro que esta seria uma “ferramenta” útil em todos locais de aplicação do
ser humano trabalhador.
No DES/UFV estes estudos tiveram inicio ainda em 2002 com alguns
alunos formandos daquele ano, quando foi necessária a elaboração de uma
disciplina para o curso, a qual teve inicio no ano seguinte. O estresse laboral,
junto com possíveis lesões músculo-esqueléticas, tornaram-se assuntos
investigados em projetos de iniciação cientifica e de extensão. Além disso,
durante as consultorias realizadas em ergonomia pelo país afora durante 2002
até 2005, a inclusão, como sugestão de sessões de ginástica laboral, foram
efetuadas e a aceitação pôde ser considerada como boa.
Ainda existem poucos livros sobre este assunto, e nas revistas e
periódicos da área o assunto ainda é pouco explorado. Algumas teses e
dissertações têm sido dedicadas ao tema, porém ainda em termos de possíveis
benefícios de sua prática e de sua relação com o ambiente de trabalho. Não se
tem registro gravado de toda produção nesta área, daí a dificuldade de se
estabelecer um “estado-da-arte”. É oportuno o momento de reflexão sobre o
quanto de atividade física é necessário para uma sessão de ginástica laboral,
e, principalmente, discussões de como qualificar melhor o formando neste
curso e nesta instituição.
311
Desta mesma forma, no DES/UFV, o assunto vem sendo tratado, pois
o único ponto de ligação desta disciplina com o “mundo do trabalho” ocorre
com a adoção de programas de promoção da saúde do trabalhador-PPST,
aliado a outros programas da empresa.
A ginástica laboral estudada nesta IES também atua na prevenção e no
combate ao estresse, pois durante a atividade física o ser humano libera a
endorfina, o que causa o bem-estar e o alívio das tensões. A intenção é
sempre passar conteúdos que possam qualificar e preparar profissionais para
atuarem nesta direção, uma vez que o mercado de trabalho para ginástica
laboral está muito concorrido com outras áreas de formação na saúde. Como a
formação profissionalizante do doutorado foi em ergonomia torna-se uma
consequência natural a passagem de conteúdos desta disciplina para alunos
do curso de Educação Física. Estes, por sua vez, ao receberem estes
conhecimentos e a inevitável discussão passam a possuir um diferencial
substancial para o exercício da profissão. Os conhecimentos da ergonomia
aplicados na ginástica laboral, e consequente modificação do ambiente laboral,
fazem com que o PPST adotado na empresa tenha mais chances de sucesso
pleno.
Um Programa de Ginástica Laboral – PGL bem estruturado e com base
na realidade do local onde será implantado deverá contribuir para minimização
de acidentes, assim como dos aspectos estressantes do cotidiano.
Os
apontamentos são favoráveis a que se tenha esta disciplina como integrante do
currículo do bacharel em Educação Física em todas as IES possíveis, e que
cada vez mais, se possa aprofundar com conhecimentos que agreguem valor
aos conteúdos nela inseridos.
312
CAPÍTULO XVII
CASES SOBRE GINÁSTICA LABORAL
Edson Toshiyuki Degaki
INTRODUÇÃO
As profundas mudanças que estão ocorrendo em todas as dimensões
do mundo contemporâneo exigem que as empresas se adaptem às mudanças,
para que possam sobreviver. As mudanças podem ser graduais ou radicais, na
iniciativa pessoal do executivo, nos colaboradores e nos fatores externos à
empresa.
A qualidade de um programa e suas modificações dependem de sua
correta execução, comunicação interna, além de monitorar os resultados,
ajustar e prevenir para possíveis mudanças durante a implantação.
Para garantir o sucesso, necessita-se de constantes revisões e
aprimoramento das mudanças, como exemplo o fenômeno da mão-de-obra
não qualificada que está desaparecendo rapidamente do ambiente empresarial
substituída por equipamentos e máquinas.
As empresas que mantêm a linha de montagem com instalações fixas,
uso da uniformidade na produção em massa, economia e escala em longos
processos de produção, combinados às crises financeiras promovem o
aumento descontrolado do ritmo nos setores de produção para compensar a
falta de tecnologia, elevando o número de reclamações e de lesões
provenientes de movimentos contínuos, repetitivos e intensos.
Na busca de alternativas, as empresas passaram a investir em
programas de qualidade de vida, saúde e ergonomia, para atenuar os sinais e
sintomas de “stress” no ambiente de trabalho, aliados aos programas de
combate ao fumo, álcool, dependência química e na elaboração de cardápios
alimentares balanceados, melhorando a qualidade de vida dos colaboradores.
Na saúde, os gastos com planos médicos e os afastamentos
acompanharam esse crescimento, alertando aos empresários, visto que, na
313
ausência do colaborador, as tarefas são distribuídas entre os colaboradores
ativos ou na contratação de mão-de-obra temporária para substituir o
colaborador afastado, onerando a folha de pagamento.
O excesso de trabalho leva ao rompimento do equilíbrio do corpo e da
mente. Algumas manifestações constituem-se em indicadores da adequação
ou
inadequação
Osteomusculares
desse
entrelaçamento.
Os
chamados
“Distúrbios
Relacionados ao Trabalho” (DORT) são indicadores
importantes desse tipo de inadequação.
No momento, a DORT é o mais revelador grupo de manifestações
clínicas e reflete a dinâmica conjunta da ciência, trabalho e saúde.
Expressando a complexidade na qual a capacidade de adaptação humana vem
sendo testada de forma intensa, os fatores internos e externos ao trabalho
ultrapassam com frequência à resistência do colaborador.
Surgem desajustes mentais, físicos e sociais, desafiando a ciência e a
lei, representando as dificuldades enfrentadas por pessoas e organizações
para equacionar as questões do trabalho.
A resolução das questões, como definir se uma determinada pessoa
tem ou não DORT, embora esse seja um passo importante, significa investir
em projetos de saúde ocupacional, reformulação de equipamentos e tecnologia
e implantação de programas de atividade física de forma dinâmica e
construtiva, para que se possa responder aos desafios do mundo atual como
instrumento de saúde e produtividade num mundo de acirrada competitividade.
Esses aspectos justificam a realização de um trabalho em que se
procurou avaliar a funcionalidade e as alternativas dos programas de Atividade
Física
nas
Empresas,
através
dos
profissionais
envolvidos
no
seu
desenvolvimento, estando o Professor de Educação Física relacionado com a
motricidade e a saúde, para que se possa ter uma avaliação dos resultados
com a implantação dos projetos em empresas e salientar a importância da
atividade física e dos exercícios para indivíduos sedentários, inativos e para
colaboradores que desenvolvam tarefas repetitivas.
314
Aptidão Física (Physical Fitness)
Dentro do novo paradigma de saúde (dinâmica e multidimensional),
não há duvida de que a atividade física desempenha papel importante e deve
estar presente nos hábitos de vida de qualquer indivíduo (atividade física
habitual). Quanto à aptidão física e saúde embora associadas signifiquem
coisas distintas, os programas de atividade física serão diferentes dependendo
do objetivo (altos níveis de aptidão, bem estar e saúde). NAHAS (1992)
acrescenta que níveis moderados de aptidão física são suficientes para reduzir
os riscos de doenças do coração. Níveis excepcionalmente altos de aptidão
física não são necessários para a boa saúde, apesar de serem muito
importantes para a performance
esportiva ou para certas atividades
profissionais. Torna-se necessário, antes de se aprofundar, definir alguns
termos, como Aptidão Física. Segundo BARBANTI (1986): “é um estado de
desenvolvimento do corpo, cuja condição permite realizar com eficiência
trabalhos físicos; depende de um desenvolvimento mútuo dos sistemas
muscular, circulatório e respiratório, integrados e coordenados pelo Sistema
Nervoso Central”.
Fitness
Desde a realização de uma bateria de testes chamada “Aptidão Física
Relacionada à Saúde” pela Aliança Americana para a Saúde, Educação Física,
Recreação e Dança (AAFPEERD) em 1980, surgiu um novo conceito
relacionando Fitness à saúde funcional.
Especialistas chegaram a um consenso sobre uma nova definição de
Fitness de acordo com os seguintes critérios:
1. Referir-se às capacidades funcionais exigidas para um envolvimento
confortável e produtível nas atividades diárias;
2. Conter manifestações de resultados relacionados à saúde;
3. Empregar linguagem clara e facilmente operacionalizável.
315
De acordo com os critérios, Fitness ficou caracterizado por uma
capacidade de realizar atividades físicas com vigor e energia, assim como por
uma demonstração de traços e capacidades que são um risco de
desenvolvimento prematuro de doenças “hipocinéticas”, como as doenças do
coração, obesidade, diabetes e dores lombares. Além disso, os componentes
da aptidão relacionados à saúde são mais sujeitos a um desenvolvimento
decorrente de mudanças de habito de atividade física (NAHAS, 1992;
PATE,1988).
Independente do sexo, idade e necessidades pessoais, para que a
atividade física represente fator positivo para a saúde, é necessário que seja
incorporada aos hábitos de vida. A aderência (fixação) a tal comportamento na
sociedade moderna resulta de decisões pessoais em função de conhecimento
adquirido e da possibilidade de perceber satisfação prazer e autocompetência
nas atividades praticadas, não apenas exercício corporal.
No sentido de enfrentar novos desafios, o aumento da concorrência e a
necessidade de se atender à demanda do mercado acarretam um aumento no
ritmo de trabalho, na busca da eficiência quanto aos resultados, um aumento
da jornada de trabalho e consequentemente um aumento nas tensões
musculares. A mecanização e o ritmo acelerado das máquinas parecem se
impor à vida humana de uma maneira cada vez mais nefasta. Numerosas
causas de fadiga, de mal-estar e de doenças.
As fibras musculares vão perdendo o seu potencial de elasticidade e os
músculos se mantêm encurtados, fora da sua condição anatômica natural.
Antes do aprofundamento, são apresentadas duas definições de alongamento.
Segundo BARBANTI (1979): é a extensão do músculo de seu
comprimento em repouso, onde sua extensão, neste estado, mantém o
equilíbrio contra forças externas. É sempre passivo, depende da ação do
antagonista ou do peso das partes do corpo, pois um músculo por si só não
pode alongar-se. O trabalho do alongamento de um músculo diminui com a
tensão durante a atividade muscular.
HOLLMANN & HETTINGER (1983) definem alongamento como a
capacidade de um músculo se alongar em estado ativo e passivo
316
(extensibilidade) e retornar a seu tamanho e forma ou repouso (elasticidade).
Dependendo da elasticidade, viscosidade e plasticidade do músculo.
O alongamento a partir do toque, de manipulações terapêuticas e
movimentos, permitem que os músculos retornem ao estado de tônus mais
equilibrado, os tendões voltem a ter o seu espaço normal, sem pressões
erradas assumidas durante a vida. Proporcionando um bem-estar ao
colaborador, são enfatizadas as práticas regulares de exercícios e sua
importância como componente positivo nos hábitos de vida, se for lembrada
essa sensação de bem-estar; pode-se fazer disso um exercício especial.
Segundo
Anderson
“as
sensações
sutis
e
revigorantes
dos
alongamentos permitem entrar em sintonia com os músculos” (...) “Na medida
em que relaxam a mente e regulam o corpo, deveriam constituir-se em parte da
vida diária.” (RIO, 1998).
São importantes, portanto, para combater um dos desajustes mais
nocivos para a saúde do sistema musculosesquelético, muito freqüente na
atualidade: a distorção na percepção corporal.
Através do ritmo acelerado e fortemente automatizado, com que muitas
pessoas
convivem
diariamente,
as
sobrecargas
de
atividades,
responsabilidades e pressões geram padrões de percepções corporais
distorcidas (em desequilíbrio ou insuficientes), com utilização indevida do
próprio corpo, seja em termos de atitudes psicomotoras ou em termos de
posturas e movimentos inadequados.
Os desajustes biomecânicos que derivam dessas condições podem ser
acentuados; a prática regular de exercícios de alongamento pode ser um
método simples para a correção desses desajustes e para manter a percepção
corporal dentro de padrões mínimos de qualidade.
Para esse exercício, é preferível começar com uma pequena parte do
corpo, porque a observação deve ser muito minuciosa. Fazer o exercício com a
atenção na mão; observar as sensações; se sentir a necessidade de se mexer,
executar o movimento observando as sensações que o acompanham e lhe
sucedem (BRIECHEL & MULLER, 1987).
317
O alongamento associado à promoção da saúde e à redução de riscos
das chamadas doenças da civilização (associadas ao estilo de vida
sedentário), a flexibilidade não é uma questão de força muscular, nem de
repetições fastidiosas de trações mecânicas para alongar os músculos. Tornase claro também que a flexibilidade não é o dom próprio de alguns indivíduos
privilegiados, mas que ela é natural para o corpo humano com boa saúde, pois,
se subsistem tensões além de seu tempo útil (ou seja, após o trabalho), elas
acumulam-se, criam contrações progressivas, impedem a circulação do sangue
e predispõem, assim, a diversos estados doentios, como esgotamento,
cansaço, câimbras, tendinite entre outros.
Além disso, é certo que a rigidez das articulações predispõe aos
acidentes; há, portanto, múltiplas razões para querer adquirir mais flexibilidade,
mesmo para aqueles que não aspiram, de maneira nenhuma, a demonstrações
físicas particulares.
Se um dos desequilíbrios mais importantes da atualidade consiste no
excesso de “stress”, com a escassez de relaxamento, a consequência desse
desequilíbrio, além dos desajustes de comportamento e ineficácia no trabalho,
tem aumentado o número de infartos do coração, a insônia, a ansiedade, a
depressão, o abuso de drogas e álcool. A alternativa mais eficaz e viável para
restaurar esse equilíbrio consiste na prática regular de técnicas de
relaxamento, que têm efeitos poderosos na manutenção da saúde e da
produtividade em alto nível.
São técnicas úteis nas mais diversas condições de vida, tornam
disponíveis as forças físicas e mentais, e permitem preservar e restabelecer a
saúde rapidamente, se o equilíbrio foi momentaneamente rompido. No
desempenho qualificado, em que o movimento é caracterizado por suavidade,
coordenação, graça, autocontrole e liberdade total do movimento, assim como
o corpo aprende a relação aplicada com a ausência de ansiedade, inibição,
tensão ou movimentos estranhos.
Nas linhas de montagem, em que os movimentos são repetitivos,
contínuos, exigindo grande concentração por parte do colaborador, surgem
sensações incômodas que são reconhecidas como tensões residuais, pelo
318
excesso de esforço na execução das tarefas. Supondo que a tensão no braço
direito manifeste-se claramente, recusando-se a obedecer à vontade,
permanecendo num estado de passividade já adquirido com período de
trabalho, deixa-se de considerar a tensão residual como uma sensação
estranha a eliminar, continua-se a tarefa até terminá-la. Com o passar do
tempo, acostuma-se com estas sensações nos processos de adaptação
(BRIECHEL & MULLER, 1987; CASTRO, 1998; RIO, 1998).
Passando a fazer parte da rotina do colaborador, um obstáculo
importante à tomada de consciência de todos esses fatos consiste na falta de
aparência das tensões, se não se sentir tensões, acredita-se estar relaxados.
A ausência de sensações não garante o relaxamento; procura-se levar
consciência aos locais insensíveis à imagem corporal. Através de exercícios de
relaxamento pode-se recuperar a sensação do esforço muscular, e
restabelecer o equilíbrio corporal e seus benefícios; se for lembrada essa
sensação de bem-estar, pode-se fazer disso um exercício especial que permite
que o sistema funcione graças à “distensão” que se procura periodicamente e
que faz o colaborador suportar melhor a tensão do modo de vida. Essa técnica
pode ser utilizada também em caso de doenças ocupacionais em seu estágio
inicial, paralelamente ao tratamento médico, obtendo uma regressão da dor e
um restabelecimento mais rápido.
A dor extremamente violenta das doenças ocupacionais é tal que não
se pode suportar tomar plenamente consciência delas. Se aceita com gratidão,
o alívio bem vindo dos anestésicos. Não se deve esquecer, contudo, que para
toda uma série de pequenos males o relaxamento representa um meio
terapêutico mais saudável e mais eficaz que o abuso habitual de
medicamentos. Aliás, um treino regular permite empregar essa técnica com
uma maior facilidade, recurso pessoal sempre à disposição.
Esse método pode ser desenvolvido posteriormente, através de
exercícios de concentração que têm por objetivo uma melhora das partes
tratadas, ou seja, a regularização de seu tônus vital. É um procedimento
terapêutico que estimula os tecidos hipotônicos e acalma os tecidos
hipertônicos, levando o tônus dos mesmos ao estado ideal.
319
A prática regular de técnicas de relaxamento tem um efeito
extraordinário sobre a capacidade de concentração e pensamento, sobre a
estabilidade emocional, sobre a capacidade produtiva, tanto em termos
qualitativos, quanto quantitativos. A utilização de técnicas de curta duração é
também um requisito importante, em função do tempo frequentemente escasso
de que dispõe grande parte das pessoas no seu cotidiano.
Deve-se lembrar que o relaxamento excessivo conduz à inércia, à
deterioração por desuso. E o “stress” excessivo leva à ruptura da homeostase.
Esse equilíbrio, além de ser um objetivo na prevenção e controle do “stress”, é
também a consequência de uma vida sábia, saudável e feliz. O estudo
sistemático de uma descontração profunda conduz a uma tomada de
consciência de si mesmo que desenvolve toda a personalidade (BRIEGHELL &
MULLER, 1987; RIO, 1998).
Os programas de atividade física dentro das empresas resumiam-se
apenas a campeonatos desenvolvidos através dos grêmios, em que
normalmente um dos colaboradores administrava as atividades e, em alguns
casos contratava-se um especialista de Educação Física para organizá-las.
Com a necessidade de promover mudanças nos hábitos de vida dos
colaboradores, as empresas passaram a incorporar, junto às linhas de
produção, profissionais de Educação Física, com o objetivo de promoverem
sessões de alongamento para que compensassem as cadeias musculares
solicitadas nas tarefas diárias dos colaboradores.
Desenvolveu-se, então, um programa que através de atividades físicas
motivacionais e sistematizadas busca, primeiramente, o desenvolvimento das
qualidades físicas ligadas ao sistema cardiovascular, pulmonar e muscular seja
de forma preventiva e, ou compensatória, bem como a integração social e uma
composição corporal adequada (BITTENCOURT, 1994).
Características para a elaboração de programas de ginástica laboral
A Ginástica Laboral consiste em exercícios físicos específicos que são
realizados no próprio local de trabalho, atuando de forma preventiva e
320
terapêutica, sem levar o colaborador ao cansaço por ser de curta duração,
trabalhando-se o alongamento das estruturas musculares envolvidas nas
tarefas operacionais diárias.
A sessão de ginástica com duração de 5 a 8 minutos pode ser
executada dentro ou fora do período de trabalho; atividades dirigidas para
diferentes setores da empresa, baseadas em exercícios musculares de
compensação às posições exigidas para a execução das tarefas, trabalham
principalmente o fortalecimento da musculatura antagonista e o alongamento
da musculatura agonista mais solicitada durante a tarefa, favorecendo a
circulação sanguínea e a oxigenação muscular, evitando a fadiga e
enfermidades profissionais crônicas. Atividades propostas: Trabalhar os
músculos antagonistas aos da atividade diária; alongar músculos diretamente
envolvidos na atividade diária; trabalhar membros opostos nas atividades
unilaterais.
A Ginástica Preventiva é uma ginástica cuja proposta é uma sessão de
ginástica com 10 a 15 minutos realizados antes da jornada de trabalho.
Atividade educacional dirigida de forma a se estabelecer uma postura
preventiva; tem como objetivo preparar o colaborador para sua tarefa diária,
aquecer os grupos musculares que serão solicitados nas tarefas, despertandoos para que sintam mais disposição para iniciar o trabalho.
A Ginástica de Relaxamento é uma sessão de Ginástica realizada após
o horário de trabalho, com duração de 15 a 30 minutos, proporcionando ao
colaborador um equilíbrio corpóreo e mental através de técnicas de
alongamento e relaxamento.
O objetivo da ginástica é encontrar um gênero de movimento agradável
em si mesmo e gerador de um bem-estar global.
É preciso atingir uma
qualidade de trabalho muscular adequada para fazer nascer uma sensação
agradável no próprio local de esforço e em volta dele.
É, portanto, uma
verdadeira busca e o que importa é não cair em um automatismo inconsciente,
totalmente ineficaz.
Como o objetivo é o bem-estar, toda sensação desagradável indica que
o mesmo não foi atingido e que, por consequência, é preciso procurá-lo por
321
outra via, por um movimento em outro local ou modificando a maneira de
movimentar (acelerado ou lento, com mais ou menos energia).
Se o exercício funciona, disso resulta um movimento quase contínuo,
acompanhado de uma sensação de bem estar crescente. Sem sentir fadiga,
tem-se a sensação de estar em plena forma, de recuperar a energia. Se o
movimento é preciso, pode-se continuar o exercício sem precisar parar.
Este exercício deve ser feito a cada parte do corpo separadamente,
depois com o corpo inteiro; quando trabalhar uma parte do corpo, observa-se
em detalhe essa parte, mas não é necessário manter o resto do corpo imóvel;
ao contrário, ele pode mover-se livremente à medida que isso contribua para o
bem estar global.
Novos Paradigmas em Atividade Física em Empresas
As empresas estão sendo fortemente pressionadas pelo mercado, que
exige qualidade e competitividade. Por outro lado, são forçadas a encarar os
índices alarmantes de acidentes de trabalho (1.9 milhão de acidentes de
trabalho no Brasil em 1975), corroendo-lhe significativamente a produtividade e
os lucros (PARRO, 1999).
“No Brasil, ocorreram 369 mil casos no ano de 1997, com aumento dos
casos de DORT. O chefe do programa de Saúde e Segurança da OIT, TAKALA
(1999), detalhou a situação mundial em sua área, afirmando que o custo dos
acidentes e doenças ocupacionais correspondem à cerca de 4% do produto
bruto do mundo. Conforme o documento, 1,1 milhão de trabalhadores morrem,
por ano, vítimas de acidentes e doenças ocupacionais”.
O antigo pensamento da administração pelo qual o ser humano é visto
de forma fragmentária e apenas como um instrumento a serviço do capital ou
como uma fonte de energia a ser exaurida e, depois, sucateada.
Da mesma forma que se pergunta quanto ao grau de evolução de
consciência das empresas sobre os paradigmas e a nova ordem mundial,
também se pergunta em que medida a Educação Física está, de fato,
322
ampliando sua consciência e assimilando a mudança de paradigma na
educação.
As
empresas
necessitam,
mais
do
que
nunca,
de
pessoas
comprometidas com os objetivos e resultados. Além de ser essencial para a
consolidação de qualquer projeto ou programa, o comprometimento é algo
muito mais complexo e profundo do que muitas empresas imaginam. Só pode
ser conquistado através de uma relação de confiança e de respeito, entre
indivíduos conscientes, responsáveis e livres.
Antes de implantar os projetos de Ginástica Laboral devem-se analisar
os anseios de cada grupo, para que haja maior participação dos colaboradores,
a quem a atividade se dirige, e também verificar o tipo de trabalho executado
(administração/produção), que gera necessidades diferentes. A idade e a
formação social dos indivíduos também influenciarão na escolha dos
programas.
Através de um questionário pode-se analisar quais as expectativas de
cada grupo, evitando-se assim um desgaste desnecessário. CARVALHO
(1996) cita projeto em indústrias têxteis e conclui que eles possuem atitude
favorável em relação à prática de atividades físicas no tempo livre, não sendo
encontradas diferenças significativas na atitude, considerando as variáveis:
idade, nível de escolaridade e faixa salarial. A justificativa para a não prática foi
à falta de tempo. Pode-se inferir daí a importância de dois aspectos, o primeiro,
a possibilidade de realizar, na empresa, aproveitando-se a motivação do grupo
e diminuindo a chance de concorrência com outras atividades de tempo livre, o
segundo aspecto tem correlação com campanha de esclarecimento que deve
ser realizada a fim de fixar a importância da atividade física para a qualidade de
vida. Uma vez atingidos os objetivos, deve-se incentivar a prática frequente. A
causa mais comum de abandono das atividades é a perda de entusiasmo
(CARVALHO, 1996).
Fatores a considerar na escolha das atividades, segundo a idade e
características específicas dos colaboradores:
323
Quadro 1 – características específicas dos colaboradores
Características Específicas
Período da Vida
Jovem:
Casado:
Quase
aposentado:
Objetivos/Estratégias
Pouca disponibilidade de tempo;
Atividades atrativas;
Perspectiva de curto-prazo;
Metas próximas, tangíveis;
Suprir
às
necessidades
da Envolvimento com a empresa;
empresa.
Prevenção de acidentes.
Maior demanda familiar;
Ênfase em benefícios próprios à família
Foco direcionado à família.
(“stress”, saúde, peso);
Atividades com participação de crianças
(andar, etc.);
Envolvimento da vizinhança.
Mais tempo disponível;
Identificação das atividades interessantes
Perspectiva de atenção (netos, (passado e presente);
esposa, pais).
Atividades moderadas diárias;
Ênfase em atividades independentes, suporte
da família.
Fonte: Carvalho, (1996)
A Ginástica Laboral pode colaborar com esse processo no sentido do
desenvolvimento e da evolução dos indivíduos e organizações, dependendo do
grau de conscientização e postura ética adotada pelo profissional que a
conduz.
Disso dependerá também sua afirmação e valorização como um
importante instrumento de educação, prevenção e manutenção da saúde dos
colaboradores (CAÑETE, 1996).
A Ginástica Laboral é realizada normalmente em grupos reunidos nas
proximidades ou no próprio local de trabalho. Os atendimentos individualizados
são recomendados e realizados com aqueles indivíduos que, além dos
problemas característicos da sua atividade ou posto laboral, apresentem outros
problemas que precisem ser tratados de forma especifica, como, por exemplo,
os problemas com membros superiores que aparecem nos trabalhadores dos
setores de montagem.
Alguns
profissionais
vêm
buscando
constante
inovação
e
o
aperfeiçoamento de suas técnicas visando também melhor atender às
necessidades, expectativas especificas de cada cliente. Isso é fundamental,
324
principalmente, pelo risco que a ginástica corre de se tornar monótona e
repetitiva, transformando-se em mais um fardo para o trabalhador, tal como a
sua rotina laboral.
Assim, vários profissionais e empresas estão adotando a prática de
caminhadas ao ar livre, próximas ao seu local de trabalho, que são intercaladas
com exercícios de alongamento e respiração. A sequência dessa atividade
depende do tempo disponível e o objetivo é justamente quebrar a rotina e o
ritmo/repetição da ginástica, evitando o desgaste e a monotonia, conforme
informa DIAS (apud CAÑETE, 1996); além disso, é muito estimulante para os
participantes o fato de poderem olhar para o céu, entrarem em contato com a
natureza e respirar. O autor pode acompanhar tal reação em algumas das
empresas pesquisadas, que possuem uma área verde nas proximidades de
suas instalações.
Conforme já foi dito, quando realizada em grupo, a ginástica exigirá
pausa de atividades laborais por dez minutos e já deverá estar programada. Se
não houver condições de espaço e/ou segurança no próprio local de trabalho,
será realizada no lugar mais próximo que possua tais condições. Se a empresa
decidir, junto com os profissionais orientadores do programa, para utilização de
música, deverá providenciar instalações e equipamentos necessários.
Para o atendimento individual será necessário um local reservado,
colchonetes, sendo também importante que esta ou outra sala possam ser
usadas pelos professores e monitores diariamente para o atendimento, registro
de fichas e preparo de material escrito. Portanto, são necessárias mesas com
cadeiras, material de escritório e telefone. Afinal, os profissionais contratados
participarão do dia-a-dia da empresa e trabalharão em equipe interdisciplinar,
necessitando dispor de instalações adequadas, como qualquer outro
colaborador. Isso independente de serem terceirizados ou não.
Atividades físicas, quando desenvolvidas diariamente, de forma
organizada e sistematizada, com um caráter preventivo objetivando a melhora
da qualidade de vida do colaborador, buscando primeiro as qualidades físicas
necessárias para desenvolver as atividades diárias no local de trabalho, com
menor gasto energético e melhor qualidade do serviço prestado, fortalecem os
325
músculos opostos do local de trabalho, alongam os músculos agonistas ou que
executam diretamente as atividades e fortalecem os músculos antagonistas.
Na Du Pont da América do Sul, em São Paulo, a fim de proporcionar
Programas de Exercícios Físicos para o quadro de colaboradores e familiares,
foi montada uma academia que dispõe de equipamentos de musculação,
esteiras e bicicletas; há quatro anos a empresa mantém aulas de ginástica.
O
programa
inicialmente
estava
voltado
para
pessoas
com
necessidade de fazer exercícios atendendo a orientação médica; atualmente, a
empresa abriu espaço para todos os interessados. O procedimento faz parte de
um programa que busca a Qualidade Total, assinala Adroaldo Pális Guimarães,
Gerente-médico da Du Pont. Professor de Educação Física, Fisioterapeuta e
Ergonomista integram equipe multidisciplinar de profissionais especializados
que orientam funcionários a realizarem exercícios (JIMENES,1995).
O sucesso na implantação deste programa, além de ter como base o
comprometimento da cúpula da empresa, implica necessariamente na
mudança e na transformação da cultura organizacional. Portanto, é necessária
uma equipe interdisciplinar, com profissionais de RH, medicina ocupacional,
segurança do trabalho, Educação Física, engenharia de fábrica, chefes,
supervisores, e diretores.
A fase 1 é fundamental e crítica para a continuidade e o sucesso nos
resultados, podendo ser comparada ao diagnóstico médico; investigações e
avaliações cuidadosas devem ser realizadas a fim de se evitar um erro na
indicação do tratamento, já que isso seria desastroso e até, em muitos casos,
fatal.
1. Escolher o grupo piloto, que deverá ser feito tendo como principal critério
(não o único) a incidência de problemas como: dores, lombalgias, tendinites,
“stress”. Normalmente, esse grupo piloto pertence à área de montagem, no
caso das indústrias. Sendo bem sucedida nesse grupo, tal experiência poderá
ser repassada para as outras áreas da empresa, com vantagens, pois além de
contar com o melhor sistema de divulgação, que é o “marketing boca-a-boca”
dos colaboradores praticantes, conta-se ainda com a possibilidade de se
passar para o próximo grupo, já com os ajustes necessários feitos.
326
2. Definição do perfil do grupo e do setor, tendo sido identificado, como parte
inicial do diagnóstico, no grupo piloto; os próximos passos serão na direção de
um estudo detalhado, que deverá incluir pelo menos os seguintes aspectos:
 Características e condições do setor e do posto de
trabalho, incluindo uma avaliação ergonômica;
 Funções desempenhadas pelas pessoas;
 Ritmo do trabalho;
 Turno do trabalho;
 Jornada de trabalho;
 Condições
do
ambiente
físico
(ruído,
temperatura,
iluminação etc.);
 Ambiente de trabalho, clima organizacional (relacionamento
interpessoal, comunicação, pressões etc.).
É fundamental que os professores contratados trabalhem, desde a
etapa de diagnóstico, em conjunto com os profissionais da empresa
responsáveis por RH, Engenharia, Segurança e Saúde Ocupacional.
Na fase dois é o momento decisivo para a continuidade do processo,
uma vez que se pretende “tocar” as pessoas, chamar a sua atenção,
sensibilizá-las e, mais do que isso, conscientizá-las sobre a relevância do tema
para cada uma delas e para a organização.
É necessário usar técnicas e estratégias que despertem o interesse e
convidem todos a “participar” de fato do programa, sem manipulações, pois
somente assim estar-se-á cultivando a semente para um futuro compromisso
ou comprometimento com o mesmo. Não manipular significa ser honesto
transparente e, portanto, íntegro.
Trata-se, então, de trazer as primeiras informações sobre ginástica
laboral (o que é; objetivos; resultados) para dentro da empresa, através de
palestras, vídeos, material informativo nos murais entre outras ações. É
fundamental que todos os níveis hierárquicos passem por esta etapa, ou seja:
a) Reunião com presidente, diretores, executivos;
b) Nível gerencial e chefias/supervisores;
c) Colaboradores em geral.
327
Salienta-se, também, que todos sem exceção, devem ser envolvidos.
No entanto, é crucial que o primeiro escalão dê o exemplo e esteja à frente de
todas as ações e iniciativas, mostrando o seu aval e legitimando o processo.
A etapa de conscientização visa envolver os diferentes grupos e níveis
hierárquicos no sentido de aprofundar os conhecimentos sobre a Ginástica
Laboral. O objetivo é conscientizar sobre a implantação, confirmando-a e
alertando sobre as mudanças que acarretará. Isso significa que precisarão ficar
claros os objetivos deste programa e os da empresa ao adotá-lo, bem como as
responsabilidades de cada um na viabilização do processo.
Baseando-se
na
experiência
pessoal, pode-se
afirmar
que
a
conscientização dos altos escalões, gerências, significa não só acordo verbal,
mas ação efetiva no sentido de praticar a ginástica diariamente, junto com os
colaboradores sendo exemplo vivo dos valores e objetivos enunciados e
perseguidos. Esse é, sem dúvida, o ponto mais crítico para o sucesso do
programa de Ginástica Laboral e de tantos outros. Na verdade, o exemplo é
determinante.
Alcançado um nível suficiente de conscientização de todos e,
principalmente, dos altos escalões, como se acabou de enfatizar, colocando
em prática o programa.
A Implantação do grupo piloto será coordenada pelo professor de
Educação Física contratado para orientar as séries de exercícios, mantendo-se
atenta à supervisão e procurando despertar a motivação e o interesse, bem
como estimular a participação. A duração dessa etapa tem sido de três a seis
meses.
A resistência por parte de alguns colaboradores demonstrou-se ser
mínima nas empresas pesquisadas. Nesses casos, algumas eram pessoas de
idade mais avançadas e/ou associadas a não participação de sua chefia, ou
ainda eram pessoas que necessitavam de maior investimento e atenção quanto
a informações e conscientização. Essas últimas, tendo sido chamadas para
uma orientação mais personalizada, acabaram se entrosando com a atividade.
É importante salientar que a resistência, dentro de certos limites, deve ser
328
esperada e compreendida como reação natural a todo e qualquer processo de
mudança.
A resistência do colaborador do sexo masculino, na fase de
implantação é decorrente da associação da ginástica laboral com os
movimentos afeminados desenvolvidos, em função de heranças culturais e
preconceitos por parte de alguns colaboradores.
A mão de obra mais jovem comprovadamente está mais sujeita às
DORT, pelo despreparo físico para o trabalho e pelas condições de vida nos
grandes centros urbanos. Os jovens vêm sistematicamente partindo para as
atividades producentes cada vez mais cedo, desperdiçando o aprendizado
motor da infância e da adolescência, que proporcionam uma adequação, para
as futuras atividades profissionais.
A questão é por que os colaboradores jovens adquirem com mais
facilidade as DORT em comparação a colaboradores adultos e de meia idade?
Para responder essa questão deve-se lembrar que, na “vida moderna”, as
crianças deixam de lado as brincadeiras de roda ou atividades lúdicas.
Anteriormente, a criança tinha liberdade de sair correndo junto a outras
crianças, jogar bola no campinho improvisado, nadar em lagoas, empinar pipa,
jogar bolinha-de-gude e rodar pião.
A inatividade provocada pela falta de segurança ou pelo fato de os pais
terem que trabalhar, a alimentação inadequada promovem o aparecimento de
problemas como a anemia nas classes C, B e A e nas classes D e E a
subnutrição pela falta de alimentação, ocasionando um desenvolvimento
intelectual irregular.
O desenvolvimento motor fica comprometido; quando os pais possuem
condições de pagar uma academia, seja ela de natação ou outro esporte, a
criança possui um desenvolvimento motor relativo, quando analisado o
comportamento individual esportivo. Mas, o desenvolvimento motor não está
relacionado apenas ao esporte; a sensibilidade, a agilidade, a percepção a
movimentos mais refinados necessários para o crescimento e para a
solicitação ocupacional ou para os movimentos diários que não estão ligados à
329
modalidade esportiva escolhida ficam relegados a segundo plano, e quando
esses forem solicitados existirá uma deficiência de tais movimentos.
Existe um agravante ainda maior, quando os pais não possuem o
recurso financeiro para custear tais atividades ou quando a criança não se
identifica na modalidade escolhida, como desenvolver tais qualidades físicas?
Os adolescentes anualmente ingressam para o campo de trabalho
cada vez mais cedo - segundo a UNICEF, aos 14 anos, quando relacionadas
às atividades de estágio e profissionalizações, (a criança tem o direito a
aperfeiçoamento profissional e não podem ser atividades que caracterizem
escravidão). Quando esses passam a atuar nas atividades profissionais, o
amadurecimento motor ainda está em desenvolvimento, eles se encontram em
fase de crescimento e em desenvolvimento maturacional e por isso estão mais
sensíveis às lesões causadas pelas atividades profissionais.
Através de palestras, a conscientização da necessidade de atividades
que venham a colaborar com a compensação do trabalho repetitivo tem se
tornado cada vez mais importante dentro das empresas, vê-se nessas
atividades uma forma de aumentar a produtividade e a qualidade de vida do
colaborador.
Quanto ao caso dos colaboradores do sexo feminino, a resistência se
torna menor ou quase nula, a mulher possui o objetivo de manter-se em forma,
bonita, e muitas vezes confunde a Ginástica Laboral com atividades físicas
desenvolvidas nas academias; mas, através das palestras, essas dúvidas se
dissipam e passam a participar das atividades com frequência.
Durante a jornada de trabalho, existem os afazeres domésticos,
quando as colaboradoras são obrigadas a comprometer sua vida particular,
pela dupla jornada de trabalho empreendida; muitas vezes, as atividades
domésticas são similares às atividades ocupacionais, como passar roupa, lavar
louça, muitas vezes em tanques com altura inadequada ao biotipo da mulher.
Os problemas são acentuados ainda mais quando, na gravidez, ocorre um
“afrouxamento” natural das articulações, aumentando a sensibilidade às
lombalgias e as DORT.
330
A própria composição corporal da mulher é diferente da composição do
homem e acabam-se tornando mais sensíveis às lesões funcionais, não pela
falta de capacidade, como já foi comprovado, a mulher é mais atenta às
atividades profissionais e, sim, pela formação estrutural e corpórea que não
está adaptada para desenvolver tais funções.
É claro que existem muitos aspectos e particularidades referentes à
esfera da psicologia humana por este tipo de programa, para que os resultados
sejam mais efetivos e mesmo por questões de respeito e ética para com as
pessoas.
Além disso, destaca-se a importância vital do envolvimento e
entrosamento entre profissionais de RH, saúde, e segurança da empresa, com
o professor e ou a equipe de profissionais contratados para coordenar o
programa de ginástica.
Quadro 2 - Fatores relacionados à diminuição da taxa de participação em programas de atividade
física.
Fatores pessoais
Fatores do programa
Outros
Fumo.
Inatividade no tempo livre;
Profissão sedentária;
Trabalhador da produção;
Força física aumentada.
Local/horário inconveniente.
Custo excessivo;
Exercício muito intenso;
Falta de variedade de exercícios;
Exercícios individuais isolados;
Falta de reforço positivo.
Metas do programa inflexíveis;
Taxas de agradabilidade baixa;
Pouca liderança de exercícios.
Falta de apoio do cônjuge.
Clima desfavorável;
Viagens a serviço;
Ferimentos;
Problemas médicos.
Introvertido/extrovertido;
Obesidade;
Hipocondríaco;
Depressão/ansiedade;
Auto-imagem /ego rebaixado.
Fonte: FRANKLIN (in DISHMAN, 1988)
Um dos problemas sérios nas fases intermediárias dos projetos de
Ginástica Laboral são as séries de exercícios que são desenvolvidas nas linhas
de trabalho; quando as séries são assimiladas e executadas pelos
colaboradores
diariamente,
tornam-se
cansativas
e
rotineiras.
Os
colaboradores passam a perder o interesse pelos exercícios e preferem muitas
vezes ficar nas linhas de montagem a participar das aulas; nesses casos, a
motivação se torna fundamental para o bom andamento das aulas.
331
Através de palestras dentro da jornada de trabalho a fim de minimizar as
possíveis lesões de trabalho, além de preparar o colaborador para
desempenhar as atividades exigidas nos setores.
Segundo depoimento de Carlos César Alves, da empresa Albarus
Transmisões Homocinéticas, “Queríamos que as pessoas se sentissem
melhores nos seus setores de trabalho”. Mas somente a ginástica não
funciona. Conforme apontam estudos de PULCINELLI (1994) e CANETE
(1996), deverão ocorrer outras iniciativas de qualidade de vida dos
colaboradores,
inclusive
interferência
dos técnicos
e
engenheiros de
segurança.
Quadro 3 - Razões apresentadas por colaboradores para não participar em programas de
atividades físicas
Razões para não se Exercitar
Respostas (%)
Sem tempo, muito trabalho
40%
Tenho muito exercício em casa ou no trabalho
20%
Preguiça
15%
Problemas de saúde
12%
Falta de interesse, exercício é chato
12%
Velho demais
10%
Exercício não é necessário
09%
Muito cansado
07%
Fonte : GETTMAN, in DISHMAN (1988).
Para aumentar a frequência aos programas, os benefícios podem ser
simbólicos, deixar para os colaboradores escolherem o nome do programa,
através de concurso com prêmios simbólicos (camisetas, botons, troféus, etc.),
materiais (prêmios em dinheiro, tempo livre, pagamento de despesas) ou
psicológicos
(atenção,
encorajamento,
reconhecimento,
amizade)
(DISHMAN,1988; SHEPHARD, 1994).
A avaliação da experiência e resultados após o tempo estabelecido na
fase de implantação da implementação (três a seis meses), com o grupo piloto,
é hora de aplicar-se uma cuidadosa avaliação dos resultados alcançados,
332
mudanças observadas e fazer os ajustes necessários, visando-se a
continuidade do processo.
Se a experiência for positiva, bem como seus resultados, o que ocorreu
em todas as empresas pesquisadas, isso facilita e oferece um bom prognóstico
para a continuidade do programa. Observa-se que, nesta etapa, as pessoas já
puderam sentir os benefícios do exercício físico em si mesmas e nos colegas,
de forma livre e espontânea, sem imposição. E, assim, desejam continuar.
Com a aceitação ou consentimento, quando começa a ocorrer e se
mantém na continuidade da implantação, têm-se boas razões para acreditar
que a ideia foi aceita e que as pessoas, além de perceberem os benefícios,
estão abertas e receptivas a esses, consentindo que façam parte de seu dia-adia.
Na fase de consolidação, em que se dá continuidade ao processo e o
programa de Ginástica Laboral já deve estar pelo menos sendo comentado por
todos na empresa e aguardado por muitos com grande expectativa. A
preparação dos monitores selecionados é fundamental, será planejada e
executada pelo professor contratado, inclui teoria e prática, bem como
supervisão cuidadosa.
A implantação em outros setores ocorrerá de acordo com as
necessidades e características da empresa. Será feito o diagnóstico e, a
seguir, a implantação conforme as especificidades de cada setor e grupo.
Seguem-se avaliações e ajustes, e assim por diante, continuadamente.
O comprometimento só terá sido alcançado quando todas as pessoas
de todos os diferentes níveis hierárquicos estiverem participando ativamente da
ginástica, diariamente por livre e espontânea vontade e decisão. Acreditando,
percebendo, e valorizando os resultados e os benefícios colhidos por todos:
empresa, colaborador, clientes, fornecedores e comunidade.
Então, significará que a Ginástica Laboral foi interiorizada pelas
pessoas e incorporada pela cultura da empresa, tornando-se um hábito
saudável e parte da vida laboral. Nesse estágio, certamente, tal conquista será
fortemente defendida por todos.
A Ginástica Laboral se divide em duas etapas:
333
 Ginástica Preparatória: utilizada para aquecer as articulações e
músculos. Normalmente, realizada antes da jornada de trabalho e
em grupos; os exercícios são modificados semanalmente.
 Atividades Físicas de Compensação: São aplicados àqueles
colaboradores que já apresentam doenças funcionais, neste caso
os exercícios são específicos para cada tipo de problema; se o
colaborador já apresenta um processo inflamatório ou uma lesão
como, por exemplo: “LER- tendinites”, são administrados exercícios
de flexão, extensão, adução, abdução e rotação do membro
atingido.
À medida que a ginástica compensatória recupera o colaborador
doente, a ginástica preparatória é utilizada para prevenção de lesões. As
pessoas que trabalham sentadas possuem a probabilidade maior de adquirir
problemas na coluna a médio ou longo prazo em relação às pessoas que
trabalham em pé. Do ponto de vista empresarial, apesar de se utilizar um
tempo de 5 a 15 minutos de produção na Ginástica Laboral, não ocorre
diminuição da produção, quando avaliado através dos gráficos de eficiência no
final do mês.
Segundo CAÑETE (1996), os resultados obtidos são um aumento de
39% nos índices médios de produtividade, melhoria da saúde dos
colaboradores e redução da procura ambulatorial por problemas de dores nas
costas e hipertensão. Na Panasonic do Brasil, não foi possível mensurar o
aumento da produtividade decorrente da contribuição da ginástica, mas esse
aumento fica implícito, uma vez que o objeto dos programas de ginástica é
despertar o corpo e prevenir acidentes de trabalho.
Exame (1995): “uma distribuidora deixa de lado porcas e parafusos três
vezes por semana para fazer uma atividade bem diferente: ginástica. No
mesmo barracão onde trabalham vestidos com os mesmos macacões sujos de
graxa, eles seguem atentamente as ordens de uma mulher que, ao som de
música pop, exige que pulem, dancem, mexam com as pernas e braços, em
exercícios que constituem a chamada ginástica compensatória, destinada a
334
trabalhadores que passam a maior parte do tempo fazendo movimentos
automatizados”
(...) “Os mecânicos da Vepasa fazem parte do
programa Ginástica em Empresas, criado pela
prefeitura de Curitiba e que será estendido a outras
companhias incluindo também indústrias.”
Produtividade: “(...) Cedi 10 minutos para a ginástica,
mas ganhei 30 min em produtividade”, diz o gerente
da Vepasa Herman Proruneck, admitindo que os
trabalhadores estão mais bem dispostos desde que
começaram os exercícios.
“(...) Esta é a primeira vez que uma prefeitura ou
qualquer órgão público oferece este tipo de serviço
em empresas. Por trás da oferta está a intenção de
tornar a ginástica uma conquista do trabalhador.
Assim como as empresas já oferecem médico,
assistente social, psicólogo, passam a oferecer
atividades físicas orientadas”.
Na Du Pond, segundo o médico Adroaldo Páli Guimarães, 77% das
pessoas que começaram a fazer ginástica têm um ganho na produtividade; isso
resultou em uma diminuição da gordura corporal, evitando problemas
cardiovasculares.
A questão das pausas no trabalho tem recebido atenção insuficiente
por parte dos profissionais de Educação Física. No Brasil, têm-se registros de
um experimento realizado pela Federação de Ensino Superior (FEEVALE) e
sua escola de Educação Física, em 1973, cuja proposta era a elaboração de
exercícios baseada em análise biomecânica, para relaxar os músculos
agônicos pela contração dos antagônicos, em face da exigência funcional
unilateral. O projeto de Educação Física Compensatória e Recreação tem por
finalidade esclarecer as linhas gerais que deverão nortear a criação de Centros
de Educação Física junto aos núcleos fabris, com atividades compensatórias e
recreativas.
Em 1978, a FEEVALE juntamente com o SESI (Serviço Social da
Indústria) elaborou e implantou um projeto denominado “Ginástica Laboral
Compensatória”. Seu início datou de 23 de novembro de 1978, envolvendo
335
cinco empresas do Vale dos Sinos. O projeto tinha caráter experimental e
visava aprofundar estudos nessa área, conforme informou a diretora de uma
das empresas.
Em 1992, a iniciativa da fábrica Xerox, de Resende, no Rio de Janeiro,
em que no período da manhã (7h15min) 177 trabalhadores exercitam-se sob a
orientação de um professor de Educação Física, durante 15 minutos, trouxe os
seguintes resultados:
 Aumento de 39% nos índices médios de produtividade;
 Melhoria da saúde dos colaboradores;
 Redução da procura ambulatorial por problemas de hipertensão e
dores nas costas.
Na Panasonic do Brasil não foi possível mensurar o aumento da
produtividade decorrente da contribuição da ginástica, mas ele fica implícito,
uma vez que o objetivo dos programas de ginástica é despertar o corpo e
prevenir acidentes de trabalho (CAÑETE, 1998).
Em 1994, foi introduzida na Empresa Avon, nas linhas de montagem e
separação de materiais, a “Ginástica Laboral de Pausa”, com o objetivo de
compensar as atividades operacionais que os colaboradores desenvolviam
durante o período de trabalho.
Os colaboradores em sua maioria aderiram à ginástica e aprovaram as
atividades, incorporando-as em seu cotidiano. Quanto aos resultados, não foi
detectado aumento significativo na produção, pois a produção no período
trabalhava em sua capacidade máxima para atender aos pedidos, mas
verificou-se uma diminuição na procura ambulatorial, melhora da autoestima,
maior disposição para desenvolver as tarefas, e menor índice de erros.
Em 1996, na empresa Spal-Pananco (Coca-Cola), foi desenvolvido o
projeto piloto com 90 colaboradores de chão de fábrica, cujo produto são
galões de aço para refrigerantes e chope e montagem de máquinas para “Postmix”. As reclamações convergiam nos problemas na coluna cervical; foram
implantadas as Ginásticas Laborais de Pausa e de Preparação, os resultados
foram favoráveis à ginástica, com declaração do médico do trabalho, em
336
entrevista, de ganho para cada dólar investido no programa retornavam-se 3
dólares.
Os resultados destas experiências confirmam o que diz a literatura
quanto aos efeitos positivos da ginástica de pausa sobre os aspectos
subjetivos como a boa forma física e a disposição para o trabalho (GUERRA,
1996; CAÑETE, 1998).
A globalização e os programas de qualidade induzem as empresas a
adotarem mudanças radicais nas organizações, custos enxutos, flexibilidade de
produção, decisões rápidas, ausência de desperdício e incorporações de novas
tecnologias.
Embora as empresas estejam adotando ferramentas ditas inovadoras
quanto à gestão, continuam apenas reagindo às exigências do mercado,
baseadas ainda no antigo modelo de administração e nos modelos
mecanicistas e fragmentados, sendo que o principal motivo para adoção da
ginástica laboral é dar manutenção e lubrificar o homem-máquina, visando à
produtividade, à competitividade e ao lucro.
As pessoas são submetidas a intensos desafios, as cobranças são
maiores, os trabalhos monótonos e repetitivos. Essas considerações são
importantes para pensar a problemática das DORT.
As cobranças conduzem diretamente às relações que as pessoas
estabelecem com o grupo em que estão inseridas, principalmente, nas relações
psicológicas e sociais, dentro e fora do trabalho. Tais relações podem ser fonte
de prazer ou de dor, de saúde ou doença, em maior ou menor intensidade.
As condições internas da pessoa, e, acima de tudo, das relações que
são estabelecidas em função do medo e da ansiedade decorrentes da
ignorância sobre sensações dolorosas, dores discretas que passariam
despercebidas, RIO (1998) alerta para o fato de que nem toda dor é negativa e
reflete processos nocivos de lesão orgânica.
Ainda segundo o autor,
considerar toda e qualquer sensação um pouco mais intensa como dor nociva
pode conduzir a um processo de hiperfocalização de certos seguimentos
corporais, como intensificação da percepção dolorosa.
337
Assim, pode-se concluir que o aspecto fundamental desta questão
deve ser direcionado à humanização do trabalho. A Ginástica Laboral
possibilita aprimorar a produtividade, mas não deve ser vista como algo que
oprime, aliena ou mesmo explora o homem que trabalha; pelo contrário, deve
ser vista como algo vantajoso para o colaborador e para a empresa.
Quando orientada por profissionais especializados dentro da empresa,
proporciona melhor aproveitamento de suas horas livres, além de satisfação
pessoal, aumento da sua qualidade de vida e produtividade.
Através do respeito à saúde do colaborador, à sua segurança e
sanidade no local de trabalho, uma vez que é inevitável o fato de que o
colaborador passa boa parte do seu tempo dentro da empresa, diante da difícil
possibilidade de humanizar o trabalho, a empresa procura contribuir para que o
tempo livre do colaborador seja vivenciado de forma mais digna e rica.
Apesar das constantes mudanças que atingem as pessoas, as ações
sobre as condições de trabalho raramente recebem a atenção necessária ao
bom andamento no processo de gestão da qualidade. A saúde e a segurança
no trabalho ainda são vistas como custos a mais por alguns executivos, sem
nenhum retorno para as organizações.
O bom funcionamento do corpo depende de certa quantidade de
atividade física. Com a inatividade, os processos degenerativos assumirão o
comando e os vários tecidos do sistema locomotor atrofiarão. Otimizar a carga
de atividade física significa mantê-la dentro de níveis ótimos, abaixo dos quais
os músculos são subconduzidos e acima dos quais podem sofrer danos por
uso excessivo.
Através desta pesquisa procurou-se elucidar a problemática sobre os
fatores que as empresas investigadas possuem acerca dos benefícios dessas
atividades, no que se refere à recuperação dos processos degenerativos, como
a redução da gordura corporal e do colesterol, redução da tensão arterial,
diminuição dos problemas de coluna, de ansiedade e depressão, ou mesmo no
que se refere ao aumento da produtividade, redução dos acidentes de trabalho,
redução da rotatividade de pessoal e do absenteísmo.
338
Segundo FOSS & KETEYIAN (2000), “é difícil realizar uma pesquisa
que avalie quanto se economizou em virtude da atividade física; as
experiências científicas bem controladas são complicadas por muitos fatores,
dentre os quais certamente não é o menor aquele relacionado ao problema
ético de pedir ao grupo-controle que permaneça sedentário”.
Com a implantação dos programas de ginástica laboral, a preocupação
com a saúde e com a qualidade de vida aumentou entre os colaboradores, as
doenças ocupacionais e as faltas devido às dores, cansaço excessivo e fadiga
estabilizaram e, em algumas empresas, diminuíram; houve melhora na autoestima, na descontração, no relacionamento dentro do ambiente de trabalho,
aumento da disposição para o trabalho, diminuição das queixas de dor e do
consumo de medicamentos.
As atividades físicas nas empresas eram mecanismos utilizados para a
integração social dos colaboradores, através dos campeonatos organizados
pelos grêmios; com a mudança do paradigma, a aptidão física relacionada à
saúde e de qualidade de vida dos colaboradores, diminuindo os fatores de risco
e os hábitos negativos adquiridos, como o tabagismo, alcoolismo e
dependências químicas que interferem na vida do colaborador, de seus
familiares e amigos, tem-se comprovado que, através da prática esportiva
esses hábitos diminuem e em certos casos desaparecem.
A ginástica laboral busca a disseminação destes conhecimentos
voltados à correta e eficiente utilização das atividades corporais, enfatizando as
atividades corretivas, através de exercícios de alongamento
para a
compensação de movimentos executados na tarefa laboral, em conformidade
com a Educação Física, e se torna motivo de inquietação, principalmente
quando se depara com “funcionários multiplicadores”, sem formação
profissional adequada, incumbidos de coordenar e implementar essas
atividades nos pátios das empresas.
Acredita-se ser importante a inclusão de disciplinas que visem dar aos
acadêmicos uma visão mais clara das relações sociais do trabalho e a
responsabilidade social dos órgãos empregadores.
339
Para a Educação Física, apresenta-se uma área de atuação
extremamente promissora, desde que corretamente explorada.
A pesquisa
deverá ser incentivada para os docentes e discentes, no sentido de esclarecer
os temas relativos aos benefícios provenientes da atividade física no trabalho e
para o bem estar social do colaborador. Entre eles:
 Traçar metas a serem alcançadas no final de cada etapa do
programa de Ginástica Laboral junto com a organização,
dimensionando os dados que cada grupo deverá coletar.

Enfatizar a participação ativa da direção durante as sessões, para
o sucesso dos projetos.

A Ginástica Laboral, isolada, não consegue controlar o avanço
das DORT, é necessário um empenho conjunto da organização,
com participação direta da direção. Não basta que as soluções
sejam sólidas em si mesmas, é preciso saber que elas se
encaixam no contexto e nas expectativas de curto, médio e longo
prazo das organizações.
Com a eficiência dos programas, as corporações procuram empresas
prestadoras de serviço que ofereçam esses produtos, e por parte de
profissionais sérios, demonstrando a preocupação e o reconhecimento dos
benefícios que os programas promovem pela mudança comportamental, de
hábitos que geram uma população organizada e informada, disposta a
modificar e melhorar a qualidade de vida.
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342
CAPÍTULO XVIII
GINÁSTICA LABORAL NA ESCOLA: Programa de Promoção de Saúde
Neiva Leite
Ricardo Alves Mendes
INTRODUÇÃO
O indivíduo precisa ser educado para adotar um estilo de vida saudável
desde a escola, antes do início da fase ocupacional, período esse que tende
em agravar o sedentarismo e os hábitos alimentares inadequados. O estilo de
vida adotado pela população potencializou o aumento de doenças hipocinéticas
em todas as faixas etárias, atingindo na escola tanto os escolares, como os
professores e os funcionários (MENDES E LEITE, 2004). O objetivo deste
capítulo é apresentar os estudos com atividades físicas e ginástica laboral
conduzidos pelos autores e outros pesquisadores, destacando os programas
de promoção de saúde na escola e atividades extracurriculares voltadas para
os professores, funcionários e alunos.
ESTILO DE VIDA ATUAL
As crianças e adolescentes por viverem em uma sociedade com
desenvolvimento tecnológico anteciparam o aparecimento de problemas de
saúde evidenciados nos adultos. O crescimento urbano acelerado, a
industrialização, a diminuição do gasto energético nas tarefas diárias e nos
deslocamentos acarretaram em redução do movimento humano. Além disso,
as mudanças nos hábitos culturais da alimentação, incluindo o tipo, a
quantidade e a qualidade dos alimentos ingeridos potencializaram algumas
doenças.
A população em geral apresenta o hábito de assistir televisão (TV)
como atividade mais comum no tempo livre da vida diária, no período fora da
343
escola ou do trabalho. O aumento da idade se associa ao maior número de
horas despendidas na frente do aparelho, iniciando com 2,5 horas diárias nas
crianças menores. Esse hábito pode influenciar o comportamento na população
infanto-juvenil quanto às escolhas da alimentação e sedentarismo, associandose à maior adiposidade, à menor capacidade física, ao tabagismo e à elevação
dos níveis de colesterol (HANCOX, MILNE, POULTON, 2004).
O estilo de vida sedentário e os hábitos alimentares inadequados
provocaram uma maior prevalência de obesidade na população, inclusive o
excesso de peso foi encontrado em aproximadamente 17% das crianças e
adolescentes de escolas públicas de Curitiba (LEITE et al., 2003). As doenças
consideradas como fatores de risco cardiovasculares em adultos, estão sendo
diagnosticadas em crianças e adolescentes, associadas ao crescimento da
obesidade infantil, ao aumento da gordura visceral e à menor massa muscular.
Estudo em escolares curitibanos (LEITE, 2005) verificou que os
adolescentes obesos apresentaram significativamente maiores níveis de
triglicerídios sanguíneos (29,7%) e menores concentrações de colesterol-HDL
(26,6%) do que os não-obesos. A hipertensão arterial sistólica ocorreu em
15,6% e a diastólica em 23,4% dos adolescentes obesos e em nenhum dos
não-obesos. A resistência insulínica (RI) foi diagnosticada em 65,6% dos
obesos. A associação de três ou mais fatores de risco cardiovasculares,
denominada como síndrome metabólica, estava presente em 50% dos
indivíduos obesos.
As modificações no comportamento social que ocorreram nas grandes
cidades potencializaram também o agravamento das doenças respiratórias préexistentes como a asma brônquica (LEITE et al., 2004). O aumento do tempo
de permanência dentro de casa, o sedentarismo e à exposição de alérgenos,
bem como o maior consumo de alimentos industrializados hipercalóricos e ricos
em sódio provocaram uma maior prevalência da asma e da obesidade
(OLIVEIRA: LEITE, 2007). Dessa forma, perpetua o ciclo vicioso da criança e
adolescente asmáticos pelo medo de realizar atividades físicas na escola, que
acarreta em redução da aptidão física e aumento da obesidade, dificultando a
sua participação nas aulas de educação física (LEITE, 2003).
344
Além desses fatores ligados às doenças cardíacas e respiratórias, o
excesso de peso acarreta também problemas ortopédicos como as lombalgias
e as dores articulares ocasionadas pelo maior impacto direto e indireto nas
articulações. A participação em exercícios regulares e a execução das
atividades diárias podem ser dificultadas por problemas ortopédicos, tanto em
professores e funcionários, como em alunos da escola que são obesos
(MENDES e LEITE, in press).
O último relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE/ Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF, 2004) divulgou que o
percentual de brasileiros com excesso de peso atingiu 40,6% dos indivíduos
acima de 18 anos e 16,7% dos adolescentes. Ao relacionar esses percentuais
entre si, a tendência é um aumento ainda maior na prevalência de excesso de
peso entre os adultos na próxima década.
O aparecimento de fatores de risco cardiovasculares na população
infanto-juvenil
traz
como
consequência
maior
proporção
de
adultos
apresentando várias doenças crônicas na próxima década, quando os atuais
adolescentes iniciarem no mercado de trabalho (MENDES E LEITE, in Press).
O diagnóstico precoce possibilita o trabalho preventivo e terapêutico nessa
fase, evitando a persistência na vida adulta. A obesidade e a inatividade física
na infância têm sido identificadas como situações a serem prevenidas
(AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS, 2003).
INTERVENÇÃO EDUCATIVA NO ESTILO DE VIDA
A escola é um espaço de educação para a saúde, que precisa ser
aproveitado pelos professores de educação física durante a realização de
exercícios físicos em suas aulas específicas e ao desenvolver atividades de GL
que envolvam todos os participantes do ambiente escolar.
O programa de GL pode ser implantado em instituições de ensino,
como forma de prevenção e promoção de saúde no ambiente escolar. A
preocupação com o bem-estar e com a qualidade de vida (QV) dos escolares,
professores e funcionários, proporcionará uma função laboral com mais prazer
345
e saúde. A saúde de todos que frequentam a escola regularmente se relaciona
com as atividades desempenhadas fora e dentro da escola, bem como a
realidade social em que estão inseridos.
Preocupações com a Saúde no Ambiente Escolar
Em termos históricos, a preocupação dos médicos-higienistas quanto
ao espaço escolar no início do século XX era estabelecer um ambiente escolar
adequado ao processo ensino-aprendizagem, às características físicas e
psicológicas dos escolares. A proposta estava alicerçada em uma escola que,
diferente das fábricas, estações, hospitais, entre outros locais, desenvolveria o
silêncio, a atenção e a saúde dos escolares, proporcionando local, espaço,
ventilação, tempo para o estudo e descanso, mobiliário ergonômico, material
escolar, exercícios físicos e ginástica (ROCHA, 2005).
O fato é que, no final do século XX e no início do XXI, a diminuição das
atividades ao ar livre, o aumento dos jogos dentro de casa e o hábito de assistir
TV das crianças e adolescentes foram apoiadas pelos pais e educadores, em
razão da insegurança nas cidades e pelo maior acesso ao desenvolvimento
tecnológico. No entanto, ninguém imaginava que em tão pouco tempo,
aproximadamente trinta anos, houvesse uma redução no movimento humano,
diminuindo o gasto energético, acelerando o sedentarismo e a ocorrência das
doenças hipocinéticas desde a infância.
A preocupação no ambiente escolar atual, além do processo ensinoaprendizado, é minimizar os efeitos negativos do estilo de vida moderno sobre
a saúde dos escolares, dos professores e funcionários. Algumas cidades
brasileiras centralizaram a ação na regulamentação dos produtos alimentícios
oferecidos pela merenda escolar e vendidos nas cantinas, principalmente
proibindo alimentos industrializados hipercalóricos e de valor nutritivo reduzido,
denominados de calorias vazias. O fato é que essas medidas preventivas não
estão sendo suficientes e precisam ser ampliadas.
Além dos escolares, as mudanças nas características do trabalho e no
nível de conhecimento do trabalhador com os avanços tecnológicos
provocaram uma passagem do paradigma industrial para a era da informação
(PILATTI, 2007). Nessa nova era do conhecimento, os professores sofrem
346
diretamente as consequências negativas do querer saber e do se apropriar de
todas as novas informações reproduzidas na mídia digital, falada e escrita.
Os professores desenvolvem a síndrome de burnout em maior
proporção do que os outros trabalhadores, relacionada às pressões internas,
que dependem das condições físicas, sociais e emocionais dos estudantes,
dos colegas de trabalho e do ambiente (D‟ORIA et al., 2005). Os distúrbios
psiquiátricos, como o estresse e a depressão, são os mais frequentes no
adoecimento, alcançando níveis de 68,5% das causas de afastamento do
trabalho em professores (FONSECA, 2001).
O adoecimento está relacionado às questões inerentes ao processo
ensino-aprendizagem e aos fatores referentes à localização da escola, como
por exemplo, em bairros em que há muita violência, muitas vezes os
professores, funcionários e alunos chegam à escola, tensos e estressados pela
falta de segurança dentro e fora da escola (MENDES E LEITE, in press).
Além dessas questões próprias da realidade escolar, o sedentarismo
atinge também os integrantes da escola. Os alunos, professores ou
funcionários, inserem-se nessa realidade por diferentes vias de acesso. Os
alunos são atingidos pelo sedentarismo pelas reduções dos espaços livres e
modificações das opções do brincar. O professor trabalha na escola e em casa,
em constante cobrança pela direção da escola, pais, alunos, equipe
pedagógica e sociedade em geral. Os funcionários, apesar de trabalharem em
instituição de ensino, apresentam baixa escolaridade e trabalham em outros
locais para complementar o salário.
O resultado é a diminuição progressiva da amplitude e da força nos
movimentos executados no ambiente escolar, mas principalmente fora dele,
com a redução da prática regular de atividades físicas no cotidiano, no trabalho
e no lazer, tornando-os sedentários. As principais causas de afastamento ao
trabalho são as doenças músculo-esqueléticas e o estresse, que também estão
relacionadas à diminuição da atividade física, obesidade e trabalho repetitivo
nos professores e funcionários da escola.
347
Intervenção na escola
Programas de qualidade de vida (QV) e promoção de saúde podem ser
implementados e desenvolvidos em diferentes tipos de instituições de ensino
como nas escolas e universidades. Muitas vezes, os programas contemplam
somente os professores, alunos ou funcionários. Em outras oportunidades a
implantação abrange todos que frequentam o âmbito escolar e, isto, parece ser
uma atividade nova no mundo do trabalho.
Os principais objetivos para a implantação e desenvolvimento de
programas de promoção de saúde e estilo de vida saudável para todos do
âmbito
escolar
são
o
desenvolvimento
de
atividades
preventivas,
proporcionando maior rendimento escolar dos estudantes, melhor QV para
professores e funcionários e, para o empregador, maior rendimento e saúde
dos trabalhadores.
Portanto, as razões que justificam a implantação de um programa de
estilo de vida saudável na escola devem atender, simultaneamente, aos
interesses do empregado e do empregador. As principais ações que podem ser
propostas em um programa de educação e promoção de saúde na escola
envolvem a construção de materiais informativos e atividades especiais em
sala de aula com os alunos, ginástica laboral, palestras, entrega de panfletos
educativos e outras atividades que abordem a QV, melhoria da saúde,
alimentação saudável e aumento da atividade física para todos.
Os
resultados
encontrados
em
alguns
estudos
brasileiros
demonstraram que programas de promoção de saúde, que incluíram a
ginástica laboral em escolas e universidades trazem muitos benefícios para os
trabalhadores que atuam em escolas e nas universidades.
Os funcionários da Universidade Federal de Santa Catarina relataram
diminuição de dores, melhoria no relacionamento interpessoal, aumento nos
exercícios físicos e alongamento com a prática de GL (MARTINS e MICHELS,
2001). Em trabalhadores administrativos da Universidade Federal do Paraná, a
ginástica laboral aplicada em 10 minutos, três vezes por semana, durante dois
meses, aumentou a flexibilidade nas articulações de coluna, membros
348
superiores e inferiores em relação ao grupo controle (p<0,01), que não
participou das atividades (MENDES, COLPANI, DONINI e LEITE, 2005).
Estudo realizado em professores da rede estadual de ensino avaliando
a presença de dor e estresse antes e após quatro meses de GL, com duração
de 10 minutos, cinco vezes por semana, encontrou redução significativa de dor
nos pés e na cabeça (p<0,05) em relação ao grupo controle (AMPESSAN,
2002). Outra pesquisa avaliou a recuperação mental dos alunos de 5ª a 8ª
series do ensino fundamental de uma escola do Rio Grande do Sul com a
prática de GL e os alunos apresentaram aumento da produtividade no trabalho
mental em 26% nos alunos da 5ª série, 16% nos da 6ª série, 15% nos da 7ª
série e 11% nos alunos da 8ª série (KALININE e GÖLLER, 2002).
A aplicação de 10 minutos de GL em funcionárias da limpeza, cozinha
e biblioteca de uma escola em Chopinzinho, PR. ao final do expediente, três
vezes por semana, durante três meses resultou em diminuição da intensidade
dolorosa em 22,4% das praticantes, melhora do bem-estar e qualidade de vida
(DONEDA, 2004). Outra pesquisa após quatro meses de GL em funcionários e
educadores de Centro Municipais de educação infantil em Curitiba encontrou a
redução em 27% das dores corporais, 51% da fadiga e em 81% do estresse
ocupacional, e de aumento em 56% na consciência corporal, 50% da
flexibilidade, 48% no humor e 36% na auto-estima (MENDES e SALIBIAN,
2006).
A experiência de um programa de promoção de saúde implantado em
uma escola municipal de Curitiba encontrou que os professores e funcionários
participantes diminuíram as dores, apresentaram aumento da integração entre
funcionários, autoestima e reconhecimento corporal, bem como o fato de que
as crianças do grupo experimental cuidavam mais da saúde, frequentando
consultório médico regularmente, do que os não-participantes no programa
(grupo controle – GC). Outra visão sobre a atividade física evidenciada neste
estudo foi uma maior diversão para crianças e adultos, visto que as atividades
incluíram palestras, teatro, confecção e fixação de cartazes educativos em toda
escola, a entrega de panfletos e a prática da GL duas vezes por semana (REIS
JÚNIOR e MENDES, 2006).
349
Os professores de Educação Física da escola têm conhecimento do
significado da GL, sabem da relevância para os alunos, professores e
funcionários, melhorando QV, evitando lesões e melhorando a flexibilidade
(BASTOS, 2006), no entanto poucos estudos utilizam a prática da GL em suas
aulas e atividades na escola.
Atividades Extracurriculares
As atividades físicas (AF) regulares aliadas à orientação nutricional
fazem parte das ações terapêuticas para diminuir a obesidade infanto-juvenil e
suas co-morbidades. Portanto, programas extracurriculares que visem à
educação e saúde de escolares devem ter incentivo à sua implementação. Os
resultados da intervenção no estilo de vida dependem da abordagem realizada
por equipe multidisciplinar e do processo educativo despendido nessa faixa
etária.
A tese de doutorado de Leite (2005) teve por objetivo avaliar o efeito de
12 semanas de atividades físicas programadas (AF) e orientação nutricional na
redução da resistência à insulina (RI) em crianças e adolescentes com excesso
de peso. Foram estudados 64 indivíduos (26 meninos e 38 meninas) com
índice de massa corporal (IMC) acima do percentil 90, entre 10 e 16 anos.
Na fase inicial e após 12 semanas foram avaliados: peso, estatura,
IMC, estágio puberal, pressão arterial (PA), circunferência abdominal (CA),
consumo máximo de oxigênio direto (VO2max) e composição corporal.
Realizou-se o recordatório alimentar de 24 horas, registro alimentar de três dias
e gasto metabólico de repouso (GMR). Foram dosados glicemia, insulinemia,
triacilglicerol (TG), colesterol total (CT) e frações em jejum.
Cada sessão de AF consistiu de 45 min de ciclismo indoor e 45 min de
caminhada, em intensidade entre 35 a 55% do VO 2max nas primeiras quatro
semanas e aumento progressivo até 55 a 75%, e 20 min de alongamento, três
vezes por semana, perfazendo um total de 36 sessões. A orientação nutricional
baseou-se no sistema de equivalentes, retirando 500 quilocalorias (Kcal) do
valor calórico total (VCT), visando à redução de 0,5 kg de peso por semana.
350
Além disso, os indivíduos participaram de dois encontros de orientações
nutricionais e de incentivo a prática de atividades físicas.
A adesão às atividades propostas foi em 86% em 12 semanas.
Cinquenta e cinco obesos (23 meninos e 32 meninas) completaram, no
mínimo, 60% das sessões. Após o tratamento, os participantes reduziram
significativamente o peso, IMC, CA, FCrep, TG e aumentaram o HDL, VO2170 e
VO2max. Não existiram modificações na glicemia em jejum, CT e LDL. Os
níveis pressóricos reduziram-se somente nos hipertensos.
Os níveis sanguíneos de insulina em jejum diminuíram nos indivíduos
hiperinsulinêmicos ou com síndrome metabólica, e nos que reduziram o IMC
escore Z  0,5. A sensibilidade insulínica aumentou em todos participantes
hiperinsulinêmicos, independente da redução do IMC. Os benefícios das AF
para a redução de RI foram mais evidentes em obesos que apresentavam
alterações prévias. A AF e a orientação nutricional foram efetivas para a
diminuição do peso, aumento da sensibilidade e redução na resistência
insulínica (LEITE et al., 2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Programas de promoção de saúde e GL devem ser propostos em
escolas para ampliar a atuação dos profissionais de educação física, na função
de coordenadores e aplicadores das atividades, no entanto, a participação de
todos os professores e alunos é fundamental no planejamento das atividades a
serem implantadas.
Sugere-se que mais estudos sejam realizados abordando os resultados
de programas de GL na escola. Ressalta-se que há um mercado carente de
profissionais que proponham atividades preventivas e educativas em
ambientes escolares.
REFERÊNCIAS
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and obesity. Pediatrics, v. 112, n.2, p. 424-430, 2003
AMPESSAN, Y.P.A. A ginástica laboral e sua contribuição à saúde dos
trabalhadores. Monografia de Especialização Lato-Sensu em Exercício e
351
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Federal do Paraná. 59p., 2002. Orientação: Neiva Leite
BASTOS, J. F. A ginástica laboral como conteúdo curricular do ensino
fundamental. In: OLIVEIRA, H.F.R.; VILELA JÚNIOR, G.B.; OLIVEIRA
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DONEDA, L. Ginástica laboral: benefícios e resultados da implantação de um
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estadual do município de Chopinzinho (Pr). Monografia apresentada no Curso
de Pós-Graduação Lato Sensu em Educação Física – Saúde e Qualidade de
Vida – Centro Universitário Diocesano do Sudeste do Paraná, 55p, 2004.
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ROCHA, H.H.P. Inspecionando a escola e velando pela saúde das crianças.
Educar em revista, Dossiê: Educação e saúde – Diferentes olhares. Curitiba:
editora da UFPR, n. 25, p. 91-109, 2005.
353
CAPÍTULO XIX
A VISÃO DAS EMPRESAS GAÚCHAS SOBRE AS ATIVIDADES FÍSICODESPORTIVAS NA EMPRESA
Adauto João Pulcinelli
INTRODUÇÃO
Como profissional da Educação Física com interesse nas questões
relativas à saúde do trabalhador, o ingresso no estudo sobre a ginástica laboral
compensatória no final dos anos 80, na expectativa de comprovar os benefícios
que aquela atividade poderia trazer tanto para a empresa como para os seus
colaboradores: À época, a questão das pausas de compensação no trabalho
ainda não recebia atenção suficiente por parte dos profissionais da educação
física e gestores empresariais.
Com um projeto acadêmico que procurava experimentalmente
comprovar os benefícios mútuos da ginástica compensatória no trabalho, foram
realizadas visitas às empresas para apresentação da proposta. Logo se
percebeu que a ideia ainda não havia sido completamente assimilada por parte
dos gestores empresariais, uma vez que experiências práticas deste tipo de
atividade no Brasil eram escassas.
Diante de inúmeras e fracassadas tentativas de implementação do
projeto nas empresas, optou-se por mudar a estrutura metodológica da
investigação acadêmica, que passou a descrever a visão das empresas acerca
das atividades físicas no local de trabalho, ou seja, procurou-se descrever o
grau de conhecimento dos gestores empresariais acerca do papel que as
atividades físicas poderiam desempenhar dentro do processo de produção,
bem como caracterizar a tipologia das atividades físicas adotadas pelas
empresas no Estado do Rio Grande do Sul. Especificamente, o estudo
procurou obter respostas para os seguintes questionamentos:
 As empresas adotam programas de atividades físicas para os
seus colaboradores?
354
 Que tipo de empresa adota tais programas?
 Quais as modalidades predominantes e seus objetivos dentro do
processo de produção?
Este levantamento teve uma amostragem de 144 empresas dentre 574
empresas consultadas através do envio de questionários.
Os resultados
mostraram que os objetivos atribuídos às atividades físicas, quando presentes
nas empresas estavam relacionados à melhoria das relações sociais entre os
colaboradores, bem como uma maior integração destes com a empresa. As
modalidades de atividades físicas adotadas caracterizavam-se por jogos
esportivos competitivos através de
competições externas (torneios
e
campeonatos) e jogos esportivos recreativos, sendo os diferentes tipos de
ginástica ignorados. Os horários que se valiam os funcionários para a prática
das atividades físicas situavam-se preferencialmente no período vespertino
(após o horário de trabalho) e nos fins de semana.
Pelas
respostas
obtidas,
observou-se
que
as
empresas
que
incentivavam a prática de atividades físicas para seus colaboradores o faziam
em função dos aspectos socializadores e integrativos da prática, porém, sem
adoção de procedimentos científicos de avaliação da eficácia dos programas
no processo de produção, ou mesmo no estado de saúde dos colaboradores.
Também não foram observadas evidências relacionando as atividades físicas
com controles indiretos de produtividade, redução de acidentes de trabalho e
absenteísmo. Na realidade, estas atividades eram concebidas majoritariamente
com um mecanismo de socialização e integração dos colaboradores.
O fato de praticamente serem ignoradas o valor das pausas de
compensação durante o trabalho ou mesmo os diferentes tipos de ginástica de
compensação revelou sérias e preocupantes deficiências na concepção acerca
dos benefícios das atividades físicas no ambiente de trabalho. Também o fato
de "funcionários voluntários" sem uma formação profissional adequada serem
os responsáveis pela coordenação e implementação das atividades, quando
presentes na empresa, demonstrava a precariedade técnica e pedagógica
daqueles programas.
355
Em síntese, os resultados da pesquisa mostraram que a ginástica
laboral era desconhecida para muitos empresários e era preciso vencer as
desconfianças típicas proporcionadas pelas iniciativas inovadoras. Por outro
lado, era algo promissor para a educação física, em face do interesse
manifestado pelas empresas no recebimento de informações sobre os
objetivos, benefícios e meios de implantação da ginástica nos locais de
trabalho.
REFERÊNCIA
PULCINELLI, A. J. A visão das empresas gaúchas sobre as atividades
físico-desportivas na empresa. Dissertação de Mestrado. UFSM: Santa
Maria, 1994.
356
CAPÍTULO XX
RESUMOS
Reflexões sobre a Educação Física e o mundo do Trabalho
Priscila Maia da Silva
Jeane Barcelos Soriano
Para realizar uma intervenção no ambiente de trabalho é necessário
conhecer e reconhecer a sua centralidade nas organizações sociais modernas
e contemporâneas. Ao mesmo tempo, como fenômeno social, é preciso
considerar as constantes mudanças em sua organização e exploração no
decorrer da história. A literatura crítica do trabalho vem apontando-o como
instrumento de alienação e de desumanização, principalmente nos sistemas
em que as divisões sociais privilegiam poucos, submetendo a maioria a tarefas
impostas, rotineiras e cansativas, afastando o trabalhador dos processos de
tomar decisão da sua própria ação, como também da apropriação do seu
produto final, submetendo o trabalhador ao capital.
Por meio dessa divisão, o capitalismo acaba exercendo uma condição
de dominação, se revelando um meio de exploração aceita como civilizada e
refinada. A rotina imposta nos meios laborais ignora o organismo humano e
não respeita limites individuais: o sistema de trabalho exige um ritmo constante
e intenso, muitas vezes até superior ao que o organismo suporta. Isso gera
consequências negativas, como as lesões ocupacionais, e geralmente são
mascaradas pela pressão sofrida no local de trabalho. Com isso, surge a
ergonomia e seus estudos, que passou a compor os conhecimentos
relacionados ao trabalho, por analisar a relação do homem com seu trabalho e
tem como um dos objetivos a melhoria da produtividade.
Pensando nas consequências, como as doenças ocupacionais,
inúmeras empresas passaram a introduzir em suas rotinas a execução de
exercícios. Assim, associação da ergonomia com a ginástica laboral vem sendo
vista, pelas indústrias e empresas, como uma possível solução para prevenção
357
dessas doenças e aumento da produção. Diante da complexidade em se iniciar
um estudo sobre a relação da Educação Física com o Trabalho, é
imprescindível expor a seguinte questão: quais conhecimentos são necessários
para analisar os fatores que constituem o mundo do trabalho e identificar as
variáveis que podem influenciar na organização de programas de exercícios
físicos realizados junto à empresas, fábricas e instituições?
Esses aspectos vêm ao encontro da necessidade de se propor
aspectos fulcrais sobre o que deve permear a preparação do profissional de
Educação Física para atuar no local de trabalho. A organização curricular dos
cursos de Educação Física não apresenta todos os conteúdos específicos
relacionados ao mundo do trabalho, o que resulta em profissionais
despreparados para enfrentar toda a diversidade de situações que ocorrem
durante a intervenção nesse segmento.
Referências
LIMA, Valquíria de. Ginástica laboral: atividade física no ambiente de
trabalho. São Paulo: Phorte, 2003. 240 p.
DEJOURS, Christophe. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do
trabalho. 4 ed. São Paulo: Cortez – Oboré, 1991. 168 p.
IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blücher
LTDA., 2003. 465 p.
358
CAPÍTULO XXI
PERSPECTIVA DE MERCADO DE TRABALHO EM GINÁSTICA LABORAL
Marcos Gonçalves Maciel
A ginástica laboral (GL) tem sido adotada por empresas que possuem
um programa de qualidade de vida no trabalho (QVT), utilizando-a como uma
ferramenta para melhorar o clima organizacional, aumentar a disposição para o
trabalho, reduzir os índices de dores musculares e doenças ocupacionais, bem
como incentivo à adoção de um estilo de vida saudável. Em contrapartida, a
empresa ganha com a redução dos gastos médicos, dos acidentes de trabalho,
do absenteísmo e o presenteísmo, que repercute diretamente no aumento de
sua competitividade e lucratividade.
Kallas e Cozzo (2009) realizaram um estudo em que a amostra final foi
composta por 1.000 organizações. Objetivou identificar quais são as ações
praticadas pelas empresas nos programas de QVT, e quais os benefícios
diretos e indiretos aos colaboradores e às próprias organizações; os resultados
demonstraram que com relação ao tipo de atividade física oferecida, a GL
acontece em 57,7% delas, sendo a mais adotada. Segundo Exame (2006)
31,3% das 150 melhores empresas para se trabalhar oferece a GL com a
mesma finalidade. Esses dados demonstram o grande e crescente interesse
das empresas, principalmente, as grandes e médias em desenvolver essa
atividade.
Porém, para Bedê (2006) as empresas de grande porte, não
constituem
o
principal
segmento
de
mercado
no
país.
Pois
há
aproximadamente 5,11 milhões de empresas no Brasil, sendo que as médias e
grandes representam 81,9 mil estabelecimentos; enquanto as micro e
pequenas correspondem a 98% delas, ou seja, 5.028 milhões. A parcela de
36% pertencem ao segmento de serviços; 50% no comércio, apenas 14% na
indústria. O SEBRAE classifica como micro e pequena empresa, aquela que
possui até 49 empregados (comércio e serviços), até 100 empregados
359
(indústria); média e grande empresa, a que possui 50 ou mais empregados
(comércio e serviços), 100 ou mais empregados no segmento industrial.
Assim sendo, há ainda uma possibilidade de crescimento para a GL a
ser explorado pelos profissionais da área nas micro e pequenas empresas,
principalmente nas áreas de serviços e comércio. Esses profissionais devem
conhecer as peculiaridades desses segmentos para elaborar estratégias de
abordagem
e
convencimento
dos
empresários
para
a
adoção
e
desenvolvimento da GL, bem como procurar adaptá-la às características das
mesmos.
A melhoria da QVT não deve se limitar às médias e grandes empresas,
mas, ser extendida a todos os segmentos do mercado. Conforme os indicativos
de crescimento da GL, deve-se procurar expandir para os setores ainda tímidos
e que possam admitir programas de saúde aos trabalhadores, de forma que
todos possam usufruir dos benefícios que a GL traz. Possibilitando assim, a
valorização e proteção dos trabalhadores, já que a GL poderá contribuir com
esse intuito através da conscientização dos empresários de sua viabilidade e
benefícios alcançados tanto para a empresa quanto para os seus funcionários.
REFERÊNCIAS
BEDÊ, M.A. Onde estão as Micro e Pequenas Empresas no Brasil. 1ª ed. São Paulo: SEBRAE, 2006.
EXAME. Edição especial - as melhores empresas para se trabalhar. Editora
Abril, São Paulo, 2006.
MACIEL, M.G. Ginástica laboral – instrumento de produtividade e saúde
nas empresas. Editora Shape, RJ. (no prelo).
KALLAS, Daniele Barrionuevo e COZZO, Alexandre Slivnik. Programas de
Qualidade de Vida no Trabalho: um olhar sobre seus benefícios para as
empresas
e
para
os
colaboradores.
Disponível
em:
<
http://www.abqv.org.br/artigos_leitura.php?id=26>. Acesso em 13 de outubro
de 2009.
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Ginástica Laboral no Brasil em Abordagem de