2 CONSTRUÇÃO LÉXICA DA TRAJETÓRIA DA ATIVIDADE FÍSICA NA EMPRESA: Ginástica Laboral no Brasil em Abordagem de Gestão do Conhecimento POR HEGLISON CUSTÓDIO TOLEDO ____________________________________ TESE APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA DA UNIVERSIDADE GAMA FILHO COMO REQUISITO PARCIAL A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE DOUTOR EM EDUCAÇÃO FÍSICA JULHO, 2010 3 CONSTRUÇÃO LÉXICA DA TRAJETÓRIA DA ATIVIDADE FÍSICA NA EMPRESA: Ginástica Laboral no Brasil em Abordagem de Gestão do Conhecimento HEGLISON CUSTÓDIO TOLEDO APRESENTA A TESE BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________ PROF. Dr. LAMARTINE PEREIRA DaCOSTA - ORIENTADOR___________________________________________________ PROF. Dr. FRANCISCO EDUARDO DA FONSECA DELGADO -CO-ORIENTADOR___________________________________________________ PROF. Dr. RENATO MIRANDA -EXAMINADOR___________________________________________________ PROF. Dr. MAURÍCIO GATTÁS BARA FILHO -EXAMINADOR___________________________________________________ PROFa. Dra. EDNA HERNANDEZ MARTIN -EXAMINADOR- JULHO, 2010 4 Dedico ao meu saudoso pai Oswaldo de Melo Toledo e minha mãe Leny Lopes de Melo Toledo pelos exemplos de determinação, esforço e inquietude em sua trajetória. Dedico também a minha esposa Alesandra que me ajudou a transformar este sonho em realidade, seu auxílio reforçou minha confiança na execução de um projeto de vida construído a dois, a você, minha eterna e calorosa gratidão. Aos meus filhos Hugo e Yuri por serem a minha maior alegria 5 AGRADECIMENTOS Ao meu pai in memorian, por me ensinar ir à luta. À minha mãe, por sua dedicação incondicional. À minha esposa, Alesandra Toledo, pelo amor, carinho, empenho e por ser meu suporte em todas as dificuldades da vida. Aos meus filhos, Hugo e Yuri, por serem o motivo da minha dedicação. A minha irmã, Lilian, por me ensinar o gosto pelo estudo. A minha irmã, Adriana e minha sobrinha Liana, por todo o apoio e incentivo. Ao meu irmão Saulo, por ser um parceiro para todas as horas e saber que sempre posso contar. Ao meu cunhado Douglas, pela disponibilidade irrestrita. Ao meu sogro Iran e minha sogra Dionéia, pelo apoio e constantes colaborações. Ao meu orientador Prof. Dr. Lamartine, pela sabedoria e ensinamentos. Ao meu co-orientador Prof. Dr. Francisco, pelo empenho dedicado. Ao Prof. Renato Miranda, por ser uma referência em minha vida. Ao Prof. Maurício Gattás Bara Filho, pela amizade e colaboração. A Profa. Dra. Edna Hernandez Martin, pela preciosa colaboração. Ao Prof. Giuliano Pimentel, pela grande colaboração na reunião dos autores estudados. Ao amigo Leonardo Beire, pela amizade e auxílio nos momentos difíceis. A amiga Gláucia Sartori, pela amizade e incentivo. Ao amigo Moacir Marocolo Jr., pela amizade e companhia. Ao amigo Daniel Schimitz, pela amizade e colaboração. Aos amigos Marcus Paulo e Jaqueline Fam, pela força e apoio constantes. 6 Ao amigo Everson Ciccarini, pela construção de uma nova amizade. Ao amigo Robson Aguiar, pela amizade e companheirismo. Aos amigos do doutorado, Tadeu Correa, Hamilton, Bernardo, Marcus Bechara, Paulo Rodrigo, Elaine, Dirce, Rose e Lilian, por contribuírem em minha formação. A Floripes e Vilma, pelo apoio e encorajamento. Ao Gilberto e Danilo Carvalho Esteves, pela confiança e compreensão em meu empenho. A Anna Marcella Neves Dias, pelo apoio e confiança em minha dedicação. Ao Prof. Antônio Bara Miguel, por me dar a primeira oportunidade de aprendizado e experiência na Ginástica Laboral. Aos colegas, Coordenadores da Universidade Presidente Antônio Carlos, pelo companheirismo e apreço. Aos Colegas, professores da Universidade Presidente Antônio Carlos, pelo encorajamento e colaboração em todo meu doutoramento. A todos os Funcionários da Universidade Presidente Antônio Carlos, pelo apoio e auxílio em minhas licenças funcionais por meu doutoramento. Aos Colegas da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer de Juiz de Fora, pelo companheirismo, colaboração e amizade. Aos meus alunos, por serem o motivo de meu aperfeiçoamento constante. À Universidade Gama Filho, por fazer parte de toda minha história acadêmica. Aos Funcionários da Pós-Graduação da Universidade Gama Filho, Antônio e Denise, pelo constante auxilio na rotina acadêmica. A todos aqueles que me ajudaram direta e indiretamente, meus sinceros agradecimentos. 7 TOLEDO, H. C. CONSTRUÇÃO LÉXICA DA TRAJETÓRIA DA ATIVIDADE FÍSICA NA EMPRESA: Ginástica Laboral no Brasil em Abordagem de Gestão do Conhecimento (TESE DE DOUTORADO). Rio de Janeiro: PPGEF/ UGF, 2010. Orientador: Prof. Dr. Lamartine Pereira DaCosta RESUMO A Ginástica Laboral e Atividade Física na empresa têm uma prática representativa no Brasil desde a década de 70. O presente trabalho teve como objetivo analisar significados, desvios, desequilíbrios e impactos do conhecimento produzido. A pesquisa de caráter qualitativo descritivo se estabeleceu a partir da análise de 21 trabalhos captados a partir da chamada pública realizada em junho de 2007. Para a análise, foi utilizado o software SPHINX LEXICA & EURECA® V. 5., na qual permitiu a revisão e análise do conteúdo. Foi verificado as estruturas léxicas e as relações feitas na construção das obras e materiais compilados para a tese. A análise qualitativa dos dados foi realizada através da Análise Fatorial de Correspondência (AFC) que teve por objetivo, analisar uma tabela de contingência formada pelas freqüências de objetos (autores-focos-notas), não considerando os valores absolutos, mas as correspondências entre caracteres. Analisando os padrões de freqüências relativas (probabilidades) a partir do cálculo dos autovetores da matriz de variâncias-covariâncias. A análise permitiu avaliar que o fenômeno estudado, apesar de se apresentar como um arcabouço capaz de formação e construção do conhecimento, nos últimos anos não está gerando novos conhecimentos a partir da interação dos conhecimentos tácitos e conhecimentos explícitos. Palavras-chave: Ginástica Laboral; Atividade Física na Empresa; Gestão do Conhecimento. 8 TOLEDO, H. C. LEXICAL CONSTRUCTION OF WORKSITE PHYSICAL ACTIVITY TRAJECTORY: work site exercises in Brazil in boarding of knowledge management (THESIS OF DOCTORATE). Rio de Janeiro: PPGEF/ UGF, 2010. Orientador: Prof. Dr. Lamartine Pereira DaCosta ABSTRACT The worksite exercise and Physical Activity has one practical representation in Brazil since 1970. The current study ained to analyzey meanings, and impacts of the produced knowledge. A descriptive qualitative research was established from the analysis of 21 works through public call in June 2007. For the analysis was used the software SPHINX LEXICA; EURECA® V. 5. , in which it allowed the revision and analysis of the content. It was verified the lexical structures and the relations made in the construction of the workmanships and materials compiled for this thesis. The data qualitative analysis was done using Factorial Analysis (AFC) that it had as objective, analyze a schedule of contingency formed from the object frequencies (author-focus-notes), not considering the absolute values, but the correspondences among characters. Analyzing the relative frequencies standards (probabilities) from the calculation of the of matrix (variances-co variances). The analysis allowed to evaluate that the phenomenon studied, although presented as one knowledge capable to create and construct, in last years not generating new knowledge from the interaction of the tacit and explicit knowledge. Key-words: work site exercise; Physical Activity in the company; knowledge management. 9 SUMÁRIO VOLUME I Apresentação.............................................................................................. 10 Capítulo I..................................................................................................... 12 1. Introdução................................................................................................. 12 1.2 Problema................................................................................................ 17 1.3 Questões a investigar............................................................................. 20 1.4 Objetivos da Pesquisa............................................................................ 21 1.4.1 Objetivo Geral...................................................................................... 21 1.4.2 Objetivos Específicos.......................................................................... 21 1.5 Justificativa/ Relevância do Estudo........................................................ 22 Capítulo II.................................................................................................... 24 Revisão de Literatura.................................................................................... 24 2.1 Homem e Trabalho................................................................................. 24 2.2 História do Trabalho............................................................................... 27 2.3 Idade Moderna........................................................................................ 31 2.4 Idade Contemporânea............................................................................ 33 2.5 Evolução do Capitalismo........................................................................ 34 2.6 Novas Dimensões do Trabalho.............................................................. 37 2.7 A Era do Bem Estar................................................................................ 41 2.8 Transformações e Gestão – Impactos no Trabalho............................... 49 2.9 Cibercultura............................................................................................ 56 2.10 Gestão do Conhecimento..................................................................... 60 2.11 Ginástica Laboral Através dos Tempos................................................ 67 Capítulo III................................................................................................... 74 3.1 Metodologia............................................................................................ 74 3.2 Análise Estatística.................................................................................. 80 3.3 Resultados e Discussão ........................................................................ 82 3.4 Considerações Finais............................................................................. 91 3.5 Referências ............................................................................................ 92 10 VOLUME II SEÇÃO I – Práticas da Ginástica Laboral no Brasil A Ginástica Laboral e a Importância da Atividade Física para os Trabalhadores............................................................................................... 105 Dimensões da Qualidade de Vida no Local de Trabalho: perspectiva ecológica para a integração de fatores pessoais, ambientais e organizacionais............................................................................................. 114 O Profissional de Educação Física e sua Atuação na Ginástica Laboral 123 Ginástica Laboral Integrada e Biomecânica Ocupacional............................ 139 Programa de Ginástica Laboral (GL): etapas de Implantação..................... 148 Ginástica Laboral no Rio Grande do Sul...................................................... 157 O Berço da Ginástica Laboral no Brasil: a experiência do Centro Universitário Feevale.................................................................................... 167 Ginástica Laboral e Promoção da Saúde como Extensão Universitária: A Experiência Da Ufscar.................................................................................. 177 Trajetória dos Estudos sobre Ginástica Laboral........................................... 191 SEÇÃO II – Pesquisas Realizadas em Ginástica Laboral e Atividade Física na Empresa no Brasil Efetividade da Ginástica Laboral.................................................................. 202 Informações Provenientes de um Programa de Ginástica Laboral na Promoção da Qualidade de Vida do Trabalhador e de sua Comunidade.... 216 Efeitos da Ginástica Laboral na Qualidade de Vida de Trabalhadores........ 231 Ginástica Laboral e Controle da Ansiedade em Telefonistas....................... 238 SEÇÃO III – Impressões, Relatos e Ensaios da Ginástica Laboral no Brasil Um Panorama da Ginástica Laboral no Brasil.............................................. 250 Ginástica Laboral: relato de uma prática fundamentada....................... 263 Qualidade de Vida no Trabalho: estudos do grupo gestão de recursos humanos para o ambiente produtivo............................................................ 272 Ginástica Laboral: breve retrospectiva e tendências para o curso de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa.................................. 289 Cases sobre Ginástica Laboral..................................................................... 292 11 Ginástica Laboral na Escola: programa de promoção de saúde.................. 322 A Visão das Empresas Gaúchas sobre as Atividades Físico-Desportivas na Empresa.................................................................................................. 333 Reflexões sobre a Educação Física e o mundo do Trabalho....................... 336 Perspectiva de Mercado de Trabalho em Ginástica Laboral........................ 338 12 LISTA DE FIGURA Figura 1 - Proporção de trabalhadores da Indústria que referiram oferecimento do Programa Ginástica na Empresa, por porte da empresa.... 69 Figura 2 – Proporção de trabalhadores da indústria que referiram não participar do Programa Ginástica na Empresa, por região e gênero............. 70 Figura 3 – Proporção de trabalhadores da indústria que relataram não participar do Programa de Ginástica na Empresa......................................... 71 13 LISTA DE GRÁFICOS VOLUME I CAPÍTULO III Gráfico 1 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e suas abordagens focais............................................................................. Gráfico 2 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e suas abordagens focais............................................................................. Gráfico 3 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e suas abordagens focais............................................................................. Gráfico 4 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e suas abordagens focais............................................................................. Gráfico 5 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e suas abordagens focais............................................................................. Gráfico 6 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e suas abordagens focais............................................................................. Gráfico 7 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e suas abordagens focais............................................................................. Gráfico 8 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e suas abordagens focais............................................................................. Gráfico 9 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e sua abordagem no foco 1.......................................................................... Gráfico 10 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e sua abordagem no foco 2.......................................................................... Gráfico 11 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e sua abordagem no foco 3.......................................................................... Gráfico 12 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e sua abordagem no foco 4.......................................................................... Gráfico 13 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e sua abordagem no foco 5.......................................................................... Gráfico 14 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e sua abordagem na nota 1.......................................................................... Gráfico 15 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e sua abordagem na nota 2.......................................................................... Gráfico 16 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e sua abordagem na nota 3.......................................................................... VOLUME II SEÇÃO II - CAPÍTULO IX Gráfico 1 - Média do questionário SF-36 pré e pós a interferência de 3 meses de ginástica laboral. n=10. *p<0,05................................................... SEÇÃO II – CAPÍTULO XII Gráfico 1 – Média (em pontos) do nível de ansiedade-estado de mulheres trabalhadoras............................................................................ 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 237 247 14 LISTA DE QUADRO VOLUME II SEÇÃO I – CAPÍTULO V Quadro 1 - Características dos PGL desenvolvidos no período de 20012006.............................................................................................................. SEÇÃO II – CAPÍTULO IX Quadro 1- Classificação em porcentagem de funcionários praticantes e não-praticantes da GL nos estágios de prontidão. Média e desvio padrão da QdV dos dois grupos............................................................................... Quadro 2 - Porcentagem das respostas para cada adjetivo....................... Quadro 3 - Média e desvio-padrão dos dados antropométricos e da preensão manual com braço direito e esquerdo, com participantes sem dor e com dor............................................................................................... SEÇÃO III – CAPÍTULO XVII Quadro 1 – Características específicas dos colaboradores........................ Quadro 2 - Fatores relacionados à diminuição da taxa de participação em programas de atividade física................................................................ Quadro 3 - Razões apresentadas por colaboradores para não participar em programas de atividades físicas............................................................. 167 210 213 216 306 313 314 15 LISTA DE TABELAS VOLUME II SEÇÃO II – CAPÍTULO IX Tabela 1 - Médias dp dos valores da flexibilidade, coordenação, agilidade e força........................................................................................... Tabela 2 - Valores médios e desvio-padrão de RMSSD e pNN50, nos dois tempos analisados, para os dois protocolos de teste (com GL e sem GL)............................................................................................................... . SEÇÃO II – CAPÍTULO XI Tabela 1- Freqüência cardíaca antes, durante (7 minutos) e 1 minuto após o final dos 15 minutos de ginástica laboral apresentados em média e desvio padrão........................................................................................... Tabela 2- Diversos domínios do questionário SF-36 pré e pós a interferência de 3 meses de ginástica laboral apresentados em média e desvio padrão.n=10..................................................................................... SEÇÃO II – CAPÍTULO XII Tabela 1 – Dados gerais da amostra...................................................... 214 215 237 237 246 16 VOLUME I 17 APRESENTAÇÃO A tese em apresentação é fruto de um esforço conjunto do autor Heglison Toledo e dos professores Lamartine Pereira DaCosta e Giuliano Pimentel, que reuniram autores que produzem ou produziram informações sobre Ginástica Laboral e Atividade Física na Empresa. A referida tese se desenvolveu a partir do planejamento do livro sobre “Atividades Físicas no Trabalho e Ginástica Laboral no Brasil”, a ser lançado, tendo os profissionais de Educação Física Giuliano Pimentel (PR), Heglison Toledo (MG) e Lamartine DaCosta (RJ) para desenvolver a produção da obra, atuando como editores. O livro planejado terá propósitos técnico-científicos, sobretudo voltados para o inventário de seu tema central tendo em vista os últimos 50 anos, desde que foi introduzido e aperfeiçoado por professores de Educação Física e profissões correlatas no Brasil, atendendo a solicitações das áreas de lazer, terapêuticas, fisiológicas e segurança do trabalho. Cabe também destacar que a elaboração da tese se iniciou a partir da reunião do conteúdo disponibilizado pelos autores voluntários a participar do projeto. A tese está formatada em dois volumes, o primeiro volume se refere ao conteúdo da pesquisa propriamente dito, em que se buscou verificar uma da análise criteriosa dos textos disponíveis para a confecção do livro, baseado na gestão do conhecimento e na utilização do software SPHINX®. A tese contém três capítulos, sendo que o primeiro trata da introdução, problema da pesquisa, questões a investigar, objetivos, justificativa e relevância do estudo. O segundo capítulo aborda a revisão de literatura em que envolve o homem e o trabalho, a evolução do capitalismo e a gestão do conhecimento e o capítulo três finaliza com a metodologia adotada, a análise estatística, discussão, resultados e considerações finais. No volume dois, o presente trabalho apresenta toda a reunião dos estudos e relatos dos participantes do projeto do livro a ser publicado e que serviu de fonte para o estudo feito para a confecção da tese em apresentação. O volume dois foi dividido em três seções com um total de vinte e um capítulos. Sendo a primeira seção o agrupamento dos trabalhos que apresentam as práticas desenvolvidas no Brasil em Ginástica Laboral e Atividade Física na 18 Empresa, organizados em oito capítulos. A segunda seção revela as pesquisas realizadas em ginástica laboral e atividade Física na Empresa no Brasil, reunidas em quatro capítulos. Finalizando, a seção três apresenta as impressões, relatos e ensaios da Ginástica Laboral e Atividade Física na Empresa no Brasil. 19 CAPÍTULO I 1. INTRODUÇÃO Estudar o trabalho é um desafio intenso para o pesquisador pela dificuldade e densa complexidade das inúmeras tendências, diversidade e óticas que o estudo permite. O presente estudo busca a compreensão de um fenômeno, que acontece particularmente no Brasil, de uma grandeza e envolvimento de pessoas e de um amplo cabedal de conhecimentos, que é a ginástica laboral e a atividade física na empresa. Neste sentido, o entendimento da trajetória da ginástica laboral e atividade física na empresa torna-se uma importante ferramenta para a compreensão dos diferentes fenômenos e espaços de atuação que a educação física e outros conhecimentos tornam-se capazes de desenvolver. A gestão do conhecimento é uma disciplina que permite que o conhecimento seja o resultado de experiências vividas pelo indivíduo, como elemento observador de seu mundo em diversos cenários. É neste referencial, que o estudo se estrutura para um tipo de conhecimento incorporado que por vezes sequer temos consciência de sua existência (Melo, 2003). Considerando que a Ginástica Laboral se desenvolveu no país como conhecimento explícito, ou seja, toda a carga de informação digerida e analisada por indivíduos, que por meio de técnicas estruturadas, permite a sua disseminação. Assim esta tese tem o objetivo de analisar significados, desvios, desequilíbrios e impactos do conhecimento produzido em Ginástica Laboral e Atividade Física na Empresa no Brasil. Para isto, uma importante revisão da trajetória do trabalho desde seu primórdio até os dias atuais e a compreensão da inserção da ginástica neste contexto laboral permitirão uma análise mais acurada da trajetória histórica deste fenômeno. Assim, para o entendimento da evolução histórica e o impacto da construção léxica da trajetória da atividade física na empresa, a ginástica laboral no Brasil, em abordagem de gestão do conhecimento, permitirá uma profunda análise da produção científica e empírica da Ginástica Laboral/ 20 Atividade Física na Empresa que apresentam consistência histórica-social em seu arcabouço textual e que pautam a prática da Ginástica Laboral/ Atividade Física na Empresa, como também, a produção de conhecimento sobre ginástica laboral/ Atividade Física na Empresa e sua prática mercadológica, centrada nos cuidados primários de saúde, o que permite apontar os significados, desvios, desequilíbrios e impactos do conhecimento produzidos na prática da ginástica laboral/ Atividade Física na empresa. O presente estudo busca a compreensão do problema de pesquisa que é a crescente evolução da ginástica laboral e sua construção teórica-científica consolidada pela abordagem da gestão do conhecimento que trata da construção dos paradoxos e legitimização das contradições existentes nesta máquina de processamento de informações, que é a Ginástica Laboral/ Atividade Física na Empresa. É notório saber que a atividade física traz benefícios à saúde humana, no entanto, diversas atividades e modelos específicos de intervenção vêm sendo criados para potencializar a capacidade humana de se beneficiar da atividade física e em consequência melhorar a qualidade de vida e o estado de saúde. A preocupação com a saúde do trabalhador vem crescendo nas últimas décadas em especial, já que a velocidade das informações, o avanço da tecnologia vêm de forma geral impactando a saúde e o bem-estar do trabalhador. No início do século XX, as empresas esboçavam uma preocupação com a saúde do trabalhador, em virtude da melhoria na produção, pautada no aspecto da produção em série e em quantidade. Por outro lado, neste início do século XXI, pode-se perceber que há uma preocupação não somente com a saúde do trabalhador como também com sua capacidade de trabalhabilidade e empregabilidade. A discussão teórica sobre o assunto vem se desenvolvendo em várias linhas de investigação. A saúde mental é retratada em estudos, envolvendo o adoecimento psicológico do trabalhador, assim como a preocupação com a saúde física do indivíduo, tendo como auxílio teórico ciências ligadas ao 21 escopo da Educação Física, Fisioterapia, Medicina do Trabalho, Psicologia e Ergonomia. A partir deste pressuposto, desafios inerentes ao comportamento humano são apontados, principalmente, relacionados à conduta e intervenção laboral, visto que as trocas, o aparelhamento, a informatização solidificam-se cada vez mais na estrutura do trabalho, forçando o homem a uma adaptação constante na sua perspectiva de ação no mundo laboral. Ao traçar a evolução do trabalho, percebe-se que sua história é marcada por fatos que tendem da opressão à liberdade, da dor à alegria, da crueldade ao gesto de amor, da barbárie à civilidade (Oliveira, 1999; Saul, 2001). A história do trabalho nos mostra uma trajetória oriunda da necessidade de organização social, desde os tempos do escravismo, passando por uma evolução tecnológica (instrumental), caminhando para o Feudalismo, no momento seguinte, o Renascimento constituído de novas formas de vida e consequentemente com o encontro de novas culturas, direcionam o homem a encontrar-se consigo mesmo. Como afirma Oliveira (1999), “a história humana é essencialmente a história do trabalho”. Nesse sentido, é importante compreender a essência do comportamento laboral para refletir sobre as questões éticas e morais. Já que, de acordo com a trajetória humana o trabalho e seus significados vêm se transformando e sendo redirecionados à funcionalidade humana. Ao se resgatar a História pode-se perceber a existência de um dualismo na qualificação do trabalho, visto que, no mundo ocidental, desde a Grécia antiga, o trabalho manual era considerado desprovido de dignidade. Pautando este pensamento, Xenofonte (apontado por Oliveira, 1999) dizia que “o trabalho é a redistribuição da dor mediante a qual os deuses nos vendem os bens”. Em relação à afirmação deste pensamento da época, Bataglia (apud Oliveira, 1999) relata o seguinte: Os homens livres devem desprezar o trabalho, elevandose deste modo aos deuses enquanto contemplam e 22 gozam. A produção das coisas materiais da vida é confiada aos seres não livres, abjetos, aos escravos. O homem livre que trabalha se avilta, perde a liberdade. O exercício da política e das armas é vocação do homem livre: magistrado ou soldado deve servir a pátria; portanto, se deseja, pode elevar-se à ciência desinteressada e penetrar a essência e o destino seu e do mundo, ou ser pensador ou homem religioso. Mas, de qualquer modo, jamais deve ser trabalhador, pois sua dedicação às coisas, ao que está fora de nós, é subalterna e deve deixar-se a seres não livres, ao operário e ao escravo. Nesse sentido, ficam claros o dualismo e a grande diferença nos comportamentos e percepções do trabalho, tendo nos dias atuais a valorização do trabalho enquanto meio de dignificação do Homem, como também o seu bem estar, manutenção da saúde e redução de fatores psicofisiológicos negativos. A evolução humana caminha pari passu à evolução do trabalho, o que justifica a denominação atual de nossa sociedade como a sociedade do conhecimento. As transformações alinham-se com a perspectiva da valorização humana e consequentemente com a valorização do trabalho, nesse aspecto, as inversões de valores relacionadas ao capital, energia e matéria-prima para o conhecimento tornam-se uma característica presente em nossa sociedade, visto que, modifica-se o modelo de mão-de-obra para cérebro-de-obra. Dentro desse referencial, indicam-se modelos paradigmáticos quanto à melhoria das condições de trabalho, nesta tendência, apontamentos históricos nos mostram que a prática de ginástica em ambientes de trabalhos são realizadas desde 1925, na Polônia, alguns anos depois foi introduzida na Holanda, o que era chamado de ginástica de pausa; já na década de 60, registros revelam o início da prática na Alemanha, Suécia, Bélgica, Japão e em 1968 os Estados Unidos adotaram a ginástica laboral (DaCosta, 1991). Conforme o documento coordenado pelos professores Lamartine Pereira DaCosta, Paulo Pegado e José Carlos Grando, os fundamentos do lazer e esporte na empresa indicam registros de que a manifestação de atividades físicas na empresa é tradicionalmente antiga no Brasil. Dacosta (1991) distingue três momentos das manifestações de atividades físicas nas 23 empresas, o que para o autor, é denominado como surtos: sendo o primeiro nos anos 30-40, caracterizado como surto corporativo-assistencialista; o segundo nos anos 40-70, como assistencialista e, nos anos 70-80, surto de reordenamento das relações internas na empresa. A ginástica laboral no Brasil ganhou bastante destaque na década de 90, em virtude de um novo comportamento empresarial e de percepções do trabalho, além disso, houve o avanço da medicina do trabalho, que em consequência ativou práticas alternativas visando à saúde do trabalhador. O trabalho realizado pelo Ministério da Saúde, em 1991, deu um novo fôlego para as atividades e estudos relacionados à ginástica laboral, atividade física na empresa, esporte e lazer, provocando um aumento nas discussões acadêmicas relacionadas ao assunto. Em virtude desse fato, a produção acadêmica-científica relacionada à ginástica laboral e à atividade física na empresa vem crescendo a cada ano, isso pode ser percebido com o número de trabalhos apresentados em congressos, artigos científicos publicados e livros especializados, além da procura sempre crescente de cursos de extensão que abordam tal temática. Um ponto importante a ser destacado é que a produção científica na área vem se desenvolvendo em diferentes frentes de investigação, e em diferentes regiões no nosso país. Percebendo a necessidade de se realizar um inventário da temática central da ginástica laboral e atividade física na empresa, e atendendo a uma demanda acadêmica nas áreas do lazer, da segurança do trabalho, aspectos fisiológicos e terapêuticos, o CONFEF, em 2007, decretou o ano da ginástica laboral a fim de celebrar tal data, assim como incentivou a elaboração de uma obra que pudesse reunir os principais trabalhos relacionados à ginástica laboral e a assuntos correlatos. Portanto, o estudo que se segue contou com as participações dos professores Lamartine Pereira DaCosta e Giuliano Pimentel que iniciaram o processo de captação e seleção dos trabalhos realizados no Brasil sobre o tema e que é parte fundamental da pesquisa ora apresentada com o intuito de realizar uma varredura nos documentos, a fim de ilustrar a construção de todo o espaço da Ginástica Laboral no Brasil. 24 1. 2 PROBLEMA O processo de industrialização avançado nas últimas décadas parece ter priorizado o instrumental, o maquinário e os métodos de produção. Nota-se, no entanto, que com o tempo, esta forma de conduzir o processo tem se mostrado inadequada, pois ao ser colocado mediante as exigências do meio produtivo, a máquina “homem” deu os primeiros sinais de inadaptabilidade, desorganização, surgindo, portanto, distúrbios ocupacionais na saúde do trabalhador (Jesus, 1999). A partir dos anos 70 iniciou-se no Brasil uma preocupação científica a respeito do tema Ginástica de Pausa como foi apontado no artigo publicado na Revista Brasileira de Educação Física em março/abril de 1974 de Mario Ribeiro Cantarino Filho e Ewerton Negri Pinheiro. Nesse contexto, a evolução do conhecimento se mostrou relativamente estática, tendo em vista que as obras sobre o tema ginástica laboral não se destacam por um poder científico sólido, no entanto, se mostram como um importante nicho mercadológico. A ginástica laboral e atividade física na empresa surgem a partir da necessidade de melhoria da saúde do trabalhador e das condições de trabalho. A evolução temática imprime uma discussão acadêmica em torno da qualidade de vida, desde as ações necessárias para oferecer condições de atingir tal qualidade até ferramentas capazes de minimizar e/ou maximizar as potencialidades de qualidade de vida. Nesse paralelo, discussões acerca da promoção da saúde, tende a justificar as ações e o crescimento da área de atuação e intervenção na saúde do trabalhador. Outrossim, a problematização epistemológica da saúde cria elementos de que não há possibilidade de se ter qualidade de vida, promoção da saúde e humanização do trabalho sem atividade física (Bagrichevsky, Estevão & Palma, 2006). A ginástica laboral ao longo do tempo se desenvolveu no Brasil a partir de uma base teórica e modelos científicos, entretanto, nos últimos tempos o crescimento se mantém, porém não tem a mesma consolidação científica. Portanto, a gestão do conhecimento é uma disciplina que permite e demonstra 25 que a criação do conhecimento não passa somente pela via teórica-científica e sim pela complexidade da criação do conhecimento na valorização da prática do indivíduo e criação de conhecimento através desta prática (Filho & Pinheiro, 1974; Silva, 2002). O modelo deste problema de pesquisa segue na direção da sistematização da criação do conhecimento a partir da compreensão do conhecimento tácito e conhecimento explícito. O conhecimento tácito se baseia nas raízes das ações e experiências corporais do indivíduo, não somente, contém uma importante dimensão cognitiva, que consiste nas crenças, valores e emoções. O conhecimento explícito é aquele que é transmitido rapidamente aos indivíduos de maneira formal e sistemática (Melo, 2003, Nonaka e Takeuchi, 2008; Bukowitz & Williams, 2002; Silva, 2002). Conforme Nonaka e Takeuchi (2008), a passagem da sociedade industrial para sociedade do conhecimento nos induz a uma nova perspectiva de enxergarmos o paradoxo, que contextualiza toda a formação e criação do conhecimento, antes se buscava a eliminação desse paradoxo, hoje se tenta a compreensão por meio da gestão do conhecimento, na qual a ginástica laboral está engajada, e na construção do conhecimento, a partir da aceitação dos paradoxos existentes (Melo, 2003; Karpinski & Stefano, 2008). Portanto, o modelo de Nonaka e Takeuchi (2008) demonstra como os conhecimentos tácitos e explícitos são amplificados tanto em qualidade como em quantidade, no modelo SECI a conversão de conhecimento se dá pela socialização, externalização, combinação e internalização. Este modelo consolida a problematização deste estudo por combinar a prática da ginástica laboral em uma aboradagem da gestão do conhecimento, tendo em vista a evolução e comportamento da Ginásica Laboral no Brasil, como uma entidade criadora de conhecimento através do modelo SECI, ou seja, Socialização: de indivíduo para indivíduo; Externalização: de indivíduo para o grupo; Combinação: do grupo para a organização e Internalização: da organização para o indivíduo. A ginástica laboral ao longo do tempo se mostra uma disseminadora de conhecimentos tácitos e explícitos, por ser por vezes, uma prática empírica e 26 com bases científicas frágeis. A gestão do conhecimento traz uma capacidade de entendimento do fenômeno da expansão e solidificação da ginástica laboral, por apresentar um importante modelo que cria e utiliza o conhecimento, convertendo o conhecimento tácito em explícito e vice-versa. 27 1. 3 QUESTÕES A INVESTIGAR A problematização da presente investigação nos remete a questionamentos, tendo como foco o aspecto prático de intervenção a ser feita pelos profissionais ligados à prática da Ginástica Laboral/ Atividade Física na Empresa. Os pressupostos obtidos na literatura sobre o tema em investigação nos fornecem uma riqueza de informações, as quais permitem inúmeros desdobramentos e direções em relação ao estudo proposto. A conduta prática observada no mercado impõe uma série de dúvidas e questões a cerca do modelo praticado. As publicações e o vasto campo de atuação têm em sua trajetória inúmeras direções no campo da Ginástica Laboral, desde os aspectos médicos até as atitudes empreendedoras. Com o desenvolvimento de ações ligadas a um estilo próprio de “fazer negócio” ou à oferta de um produto como ferramenta de gestão, com objetivos na saúde do trabalhador, bem como considerando o contexto histórico-social da Ginástica Laboral, as seguintes questões a investigar são sugeridas: (1) A produção científica e empírica da Ginástica Laboral/ Atividade Física na Empresa apresentam consistência histórica-social em seu arcabouço textual que pautem a prática da Ginástica Laboral/ Atividade Física na Empresa? (2) Como a produção de conhecimento sobre Ginástica Laboral/ Atividade Física na Empresa se coaduna com a prática mercadológica e de cuidados primários de saúde? (3) Quais os significados, desvios, desequilíbrios e impactos do conhecimento produzidos na prática da Ginástica Laboral/ Atividade Física na empresa? 28 1.4 OBJETIVOS DA PESQUISA 1.4.1 OBJETIVO GERAL Analisar significados, desvios, desequilíbrios e impactos do conhecimento produzido em Ginástica Laboral e Atividade Física na Empresa no Brasil. 1.4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Verificar o impacto da produção lexical na prática da Atividade Física na Empresa/ Ginástica Laboral representada por textos técnicos, científicos e informacionais. Investigar a relação da trajetória da Ginástica Laboral/ Atividade Física na Empresa com sua base científica, através da produção lexical. Analisar o conhecimento da Ginástica Laboral e Atividade Física na Empresa produzido no Brasil, através do uso de software apoiado na Gestão do Conhecimento. 29 1. 5 JUSTIFICATIVA/ RELEVÂNCIA DO ESTUDO Sob a ótica da Gestão do Conhecimento, o presente empreendimento científico justifica-se pelo entendimento dos conceitos emergentes desta nova área epistemológica sobre as práticas e estudos realizados no âmbito da Ginástica Laboral/ Atividade Física na Empresa. Para viabilizar a construção do conhecimento, a investigação será realizada a partir da produção técnica-científica de vários autores atuantes no cenário da Ginástica Laboral/ Atividade Física na Empresa, buscando analisar o constructo de argumentação e suas contribuições efetivas no desenvolvimento da temática em pauta. Considerando que a literatura sobre o tema é abrangente e está nos dias atuais, pautada no conhecimento prático, a análise das produções científicas e empíricas sobre ginástica laboral e atividade física permitirá realizar um retrato do comportamento de nicho mercadológico que se tornou esta área. Do ponto de vista científico e pilar para elaboração desta tese, a análise léxica da construção da trajetória da ginástica laboral no Brasil, baseada na abordagem da gestão do conhecimento, permitirá uma compreensão do paradoxo existente entre o campo prático e de mercado e a produção científica sobre o tema. Sinalizando a necessidade de investimento científico no campo em questão, a pesquisa tem sua relevância não só por apresentar uma obra capaz de reproduzir todo o conhecimento produzido sobre a Ginástica Laboral/ Atividade Física na Empresa no Brasil, como também por realizar um importante e inédito estudo meta-analítico na área pautado na Gestão do Conhecimento. Os pontos estudados na pesquisa caminham pelas práticas da Ginástica Laboral no Brasil, pesquisas realizadas em Ginástica Laboral e Atividade Física na empresa até impressões, relatos e ensaios da ginástica laboral e atividade física na empresa, no Brasil. Os temas estudados nesta tese transitam na importância da atividade física para os trabalhadores e na qualidade de vida no local de trabalho, através da perspectiva ecológica. O profissional de educação física e sua atuação na ginástica laboral, a ginástica laboral integrada e biomecânica 30 ocupacional. O programa de ginástica laboral e suas etapas de implantação, o histórico da ginástica laboral no Brasil. A ginástica laboral como ferramenta da promoção da saúde, estudos sobre ginástica laboral e sua efetividade. Os efeitos da ginástica laboral na qualidade de vida de trabalhadores, além do controle da ansiedade. Proposta da ginástica laboral na escola como meio de promoção a saúde e o mercado de trabalho em ginástica laboral. A relevância da pesquisa é impactante, tanto na perspectiva prática quanto na perspectiva teórica, a Ginástica Laboral e Atividade Física na empresa apresentam ao longo dos anos um saber-fazer que está pautado no empirismo, no qual, a evolução do campo em estudo demanda de uma análise aprofundada deste fenômeno para uma compreensão com o olhar científico que paute a prática em questão. Para isso, a gestão do conhecimento é uma base teórica capaz de descortinar novos olhares para o fato, tendo em vista que a pesquisa, ora apresentada, remete a uma condição de analisar de forma pontual as produções de informações e conhecimento e apontar as direções das categorias de interpretação e intervenção da Ginástica Laboral e Atividade Física na empresa. 31 CAPÍTULO II REVISÃO DE LITERATURA 2.1 HOMEM E TRABALHO Pensar o trabalho permite amplas considerações, compreender a constituição e superação do ser social, refletir sobre as categorias de produção e reprodução, orgânicas e inorgânicas em suas faces do labor. Conforme Marx, o processo de trabalho é a atividade orientada a um fim para produzir valores de uso, apropriação do natural para a satisfação das necessidades, comum a todas as formas sociais. O trabalho é produção de valores de uso, no entanto, enquanto modo organizado pelo capital, com vistas à acumulação de riquezas pela energia humana e depositada na mercadoria, assim o desgaste da fonte humana requer cuidados para a continuidade e geração de valor (Aquino, 2010). O ser humano é envolvido por uma das mais expressivas atividades essenciais de sua complexidade: o trabalho. Muitas definições apontam o trabalho como uma atividade consciente de transformação da relação do Homem com a natureza. A explicação do surgimento do trabalho está em concomitância ao desenvolvimento humano (Ornellas: Monteiro, 2006). Tendo em vista a construção humana, parte-se do desenvolvimento do trabalho. Várias definições aproximam o conceito do trabalho à transformação da natureza, um meio de inserção do ser à sociedade, um caminho à realização pessoal, construção religiosa, política e social. O processo histórico do trabalho parte do período de transumância humana, em que a ausência da percepção de propriedade permite ao homem manter um comportamento de coletor, nesse período as atividades do homus sapiens caracterizavam-se em caça, pesca e coletas (Borges, 1999; Ornellas: Monteiro, 2006). O surgimento do homem se dá na era Cenozóica. Os estudos de Darwin demonstram que o Homem é descendente de um ancestral que habitou 32 a Terra há 7 milhões de anos, desde seu surgimento, a relação HomemNatureza aperfeiçoa-se em seus limites. O trabalho representa a construção, experiência e vivência humana em todas as suas dimensões. A busca constante na compreensão da condição humana revela um intrigante contexto sócio-filosófico nas atribuições do trabalho em sua trajetória, na evolução do Homem, da sociedade e da significação do ser (Almeida et al., 2009; De Toni et al., 2004). Muito se tem procurado definir o trabalho nos mais diversos âmbitos, seja sociológico, filosófico, antropológico, organizacional, econômico, religioso e político (Borges, 1999). A prática transformadora da existência humana potencializa as capacidades do ser e contextualiza a vida em sociedade, neste intuito de realização, o homem materializa sua condição ontológica na dependência e domínio da natureza (De Toni et al., 2004). A compreensão da evolução do trabalho caminha pari passu a evolução da sociedade, que, nesse caso, permite uma construção dialética no que tange o envolvimento do homem ao trabalho e sua relação com o mundo. Na tentativa de compreender a evolução e desenvolvimento histórico do homem, partimos de sua natureza nômade, exploradora, coletora da natureza, usufruindo dos seus ambientes e benefícios (Huberman, 1981). A era em que a atividade humana e sua relação com a natureza se mostram de modo exploratório, coletor, caracteriza o primórdio da concepção de trabalho a qual conhecemos. Nessa dinâmica, a organização humana intensifica sua prática e significação (Almeida et al., 2009). A evolução humana diretamente ligada a sua práxis informa em sua história que o trabalho é condizente com sua existência. Nesse sentido, a construção da sociedade que conhecemos parte de sua evolução comportamental e de sua transformação de coletor-nômade, ou seja, o trabalho humano estava envolvido com a coleta e exploração da natureza em seu espaço habitacional. O homem transforma-se em sua característica primária que era a de ser coletor e caçador. Nesse aspecto, sua atividade resumia-se ao extrativismo para seu sustento, por meio da coleta de raízes e frutos 33 silvestres, da caça e da pesca, posteriormente, do pastoreio e da agricultura (Albornoz, 1986; Almeida et al., 2009). Neste momento histórico, a agricultura demonstra-se em uma ferramenta de grande impacto nas ações humanas e na organização da sociedade, já que as ações humanas e seu trabalho característico estão envoltos com a agricultura, e neste caso o trabalho humano amplia sua dimensão, pois não somente o esforço físico está presente mas também sua condição cognitiva, já que o domínio das técnicas da agricultura demanda a compreensão do comportamento da natureza, logo o Homem passa de coletor e explorador do espaço, a desbravador de novas ocupações, no caso do comportamento nômade (Carvalho, 2007). A dimensão de agricultor e agente transformador tornam a compreensão da relação Homem/ terra e Homem/trabalho diferente. Aponta-se que a descoberta da agricultura foi por acaso, assim como, se supõe que as mulheres tenham principiado o desenvolvimento inicial da agricultura, ou até mesmo, a superação do nomadismo tenha surgido a partir das mulheres que estavam grávidas, ou com crianças de colo (Albornoz, 1986; Carvalho, 2007). É nesta direção que o ser humano desenvolve e evolui até o status atual de sociedade e trabalho, conforme é conhecido nos dias de hoje. A partir do momento em que o Homem descobre que é possível dominar algumas técnicas de agricultura, adestrar alguns animais para alimentação e/ou auxílio nas tarefas de manipulação da terra, percebe que não há mais a necessidade de transferir-se de local, de ambiente ou de habitat. Então, o desenvolvimento de outra percepção torna-se eminente, na qual o ser humano passa a ter a noção de propriedade, ou seja, torna-se dono, proprietário do território. Os historiadores destacam como importante, nesse período de fixação do homem em terras férteis, o processo de sedentarização, pois o desenvolvimento da agricultura permite ampliar o potencial de criatividade humana, permitindo, assim, a criação de engenhosidades, que facilitariam os esforços humanos para a exploração da terra. A organização humana, que antes era em bandos, tribos ou grupos, passa a ter a representação de local, de território, de espaço e de estado. 34 Neste tempo, o comportamento reprodutor também se modifica, pois a ideia de território é instaurada, o Homem cria a concepção de propriedade, logo a ideia de território é desenvolvida, o que fornece a dimensão de monogamia, para que justamente possa arraigar sua dimensão de posse, de propriedade, permitindo, portanto, a transferência de seu poder para seus herdeiros. A instauração desta conduta permite a construção da vida em sociedade. Nasce a concepção de manejo da terra frente aos desejos humanos. Nessa ordem, o desenvolvimento de tecnologias e a racionalização das ações e do trabalho humano conduzem para o surgimento do excesso de alimentos ou volumes para além das necessidades de consumo. Nesse cenário, a organização da vida em sociedade permite o intercâmbio, a troca, a permuta entre as grandezas e volumes construídos. É nessa relação que o Homem amplia suas capacidades e sua organização enquanto sociedade. A transformação do Homem em sua estrutura nômade, coletora, revoluciona sua forma de vida e sua ligação com a natureza. O ser humano transcende sua base de conexão e exploração da natureza para a vida em sociedade e exploração numa outra esfera organizacional e cultural, pautada numa estrutura econômica. A partir do domínio da agricultura, há o crescimento das atividades de intercambio, permuta ou mesmo comércio. Com a redução da característica humana de desbravador, a instalação em espaços restritos, localizações, logradouros, configura-se um cenário de novos elementos e delineiam um novo contexto nas relações humanas e nas relações de trabalho. 2.2 HISTÓRIA DO TRABALHO Ao analisar o trabalho a partir da Grécia antiga, percebem-se distinções entre o esforço do trabalho e a atividade livre do cidadão que estava envolvido com os problemas de sua comunidade e buscava soluções a partir de discussão e conversas entre os pares. A divisão do trabalho, na antiguidade grega, estava caracterizada em duas vertentes básicas: uma relacionada à nobreza, ou seja, elites dominantes 35 que se, ocupavam exclusivamente dos trabalhos intelectuais, e a outra vertente que se ocupava de funções consideradas subalternas e penosa, que ficava a cargo dos escravos, oriundos das guerras de conquista (Ornellas & Monteiro, 2006). Para os gregos, o trabalho tinha um significado ligado ao valor e ao prestígio, pois o trabalho atrelado à terra, era estabelecido como um elo com as divindades, que controlavam a fertilidade e os ciclos naturais. A vida humana se desenvolvia na esfera íntima e na esfera pública, e o trabalho doméstico eram atividades específicas que aproximavam o homem dos animais (Lima, 2008). Por outro lado, o trabalho público consolidava o espaço da polis, em que os negócios eram realizados, no entanto, a vida era estabelecida a partir do sentimento de liberdade. Neste sentimento, a liberdade era conquistada a partir da superação da sujeição às necessidades vitais, permitindo assim o direito no envolvimento, na participação da vida pública da polis (Almeida, 2008; Woleck, 2010). O ideal grego estava na transcendência da atividade de labor (trabalho doméstico), pois a liberdade era o meio pelo qual o homem se tornava cidadão. Neste entendimento, o homem não tinha o direito de participar dos negócios do mundo, pois sem ser proprietário de sua casa não havia no homem algo que lhe fosse significativo. Nesse contexto histórico, o mundo greco-romano era estabelecido no modelo escravagista de produção, desta forma, as propriedades cresciam e os trabalhos eram realizados por escravos. Na cultura da época, a condição de escravo era por um fator político e não por uma condição econômica. O trabalho era percebido como uma adaptação à natureza, sendo assim, a classe dirigente se abstinha de maneira radical de qualquer forma de trabalho, seja na esfera agrícola ou na esfera artesanal (Ornellas & Monteiro, 2006). Para os gregos, as necessidades de manutenção da vida estavam envolvidas por atividades de natureza servil e que neste cenário, a escravidão se justificava, pois neste período histórico, a escravidão era uma tentativa de excluir o trabalho das condições da vida humana (Callegaro, 2009). 36 Nesse sentido, o trabalho estava envolvido por significados atrelados à escravidão, pois nesta época a escravidão, ou o regime escravagista era inerente às condições humanas (Arendt, 2007). Com a expansão habitacional, a conquista de novas áreas de cultivo e plantio, o Homem desenvolve a noção de propriedade e excedente. Com o excesso, gradativamente foi-se criando uma camada de ociosidade, e neste contexto, estabelecem-se níveis de evolução do direito da propriedade do ocioso. Assim, a prática da guerra oferece outra perspectiva que transforma os povos conquistados em operadores da produção, tendo a entrega de seus excedentes aos donos da terra. Logo, o desenvolvimento da economia se pauta na distribuição e produção dos bens, pois estes somente tinham valor pela sua utilização. As atividades agrícolas estabelecidas continuaram sendo a ocupação predominante, no entanto, com o desenvolvimento do Império Romano, o desenvolvimento do comércio passa a ser uma tônica. A instalação do comércio permite uma nova concepção do labor, havendo, então, a evolução de uma diversificação das atividades laborais, perdurando até o final da Idade Antiga. O trabalho tem em sua trajetória uma associação à idéia de punição, maldição, maus tratos. No pensamento bíblico é encontrada uma passagem que mostra que o trabalho é duro, impiedoso e doloroso. Em Genesis (3, 19), “comerás o pão com o suor de teu rosto”. Este princípio bíblico impregna a idéia de obrigação, dever, exaustão, transformando-se assim na idéia do trabalho. A concepção do trabalho transmitido na Bíblia requer um esforço para conquistar uma aproximação com Deus, pois somente através do trabalho, o homem estará livre da tentação. A prática da ideia ora et labora teve um impacto importante na transmissão do pensamento e na negação do trabalho como forma de prazer (Oliveira, 1999). A Idade Média é considerada um período de grandes transformações, principalmente no que tange ao estilo de vida do Homem, após um período de 37 exploração e produção escravagista, inicia-se nesta época uma organização da sociedade em feudos, neste caso, a relação do trabalho se modifica, estabelecendo-se uma relação servil de trabalho. O trabalho humano se situava na produção das necessidades, o que se constituía em um sistema de produção para o uso, logo não havia excedente, e em consequência não havia uma relação de troca ou comércio. O pensamento da época se traduzia na ideologia da servidão, ou seja, o trabalho era feito para servir ao senhor. A organização da sociedade no período da Idade Média ou período feudal se compunha em classes, que se dividiam em sacerdotes, guerreiros e trabalhadores (servos). O papel da Igreja estava na orientação espiritual, o que lhe permitiu um enriquecimento através da posse de terras e poder. Na Idade Média o sentido da riqueza estava enraizado na posse da terra, pois era através dela que era possível extrair tudo de que se necessitava. Os guerreiros eram representados pela nobreza e sua preocupação estava voltada para a proteção e conquista de mais terras. Por outro lado, os trabalhadores cultivavam a terra e serviam aos senhores feudais, para a busca da proteção espiritual e também militar. Nesse sentido, o trabalho se mostrava cada vez mais fortalecido como a chave da vida (Hubermann, 1981). No período histórico da Idade Média, o desenvolvimento do regime feudal contribui para as relações de poder e de trabalho, e neste cenário destacam-se a evolução e a influência da Igreja, o que permite seu enraizamento nas relações de poder. O Feudalismo é apontado como a base para as formações capitalistas. Com o avanço das Cruzadas, patrocinadas pela Igreja, o comércio tem início, principalmente, por que se procuravam mercadorias as quais teriam tido acesso durante as viagens. Em decorrência deste comportamento, os hábitos de consumo forçam o início de um novo mercado e o acesso das pessoas aos produtos, fortalecendo assim, a idéia do surgimento do Capitalismo e o desenvolvimento de novas tecnologias (Lima & Seconi, 2010). 38 2.3 IDADE MODERNA O período que compreendeu os séculos XVI ao século XVIII permitiu o desenvolvimento de pequenas manufaturas, que têm sua origem nos artesãos independentes da Idade Média. Com o declínio desses artesãos, surgem os assalariados, cada vez mais capazes de criar e atender as demandas daquele período, e neste caso emerge a dependência do capitalismo, do mercado e do empreendedorismo (Huberman, 1981). O desenvolvimento destas características envolve diversas iniciativas peculiares do trabalho e da natureza humana, pois de posse de uma ampla capacidade de controle e domínio da agricultura e de uma nova organização societária, emerge uma revolução agrária, na qual precipita o crescimento industrial e em consequência o desenvolvimento das potencialidades humanas. Paralelo a este cenário, o trabalho ganha um fôlego em relação as suas observâncias na cultura da época. Os movimentos ocorridos no mundo revigoram transformações importantes no cenário do labor. O novo período denominado como Renascimento transmite uma nova capacidade de percepção do trabalho e suas relações humanas. Na Idade Média, o trabalho era visto como impuro, penoso e não recomendável, sofre uma transformação que consolida valores éticos e morais, desmoronando todo o preceito do mundo antigo, baseado nas doutrinas da Igreja, principalmente na Europa. O trabalho revisto e revalorizado pelos pensamentos Lutero-calvinistas, possibilita revoluções liberal-democráticas que passam a redefinir um novo espectro social. Neste novo período, conhecido como Era Moderna, indicou-se uma era de novos valores, principalmente, ligados ao trabalho. O ócio passa a ter outra conotação, o homem, por intermédio do trabalho, torna-se o centro do mundo. Na doutrina Lutero-calvinista, o trabalho deixa de ser uma punição ou pecado e transpõe-se como uma dádiva de Deus, logo, o ato de trabalhar não transmite mais a ideia de pagar pecados e sim, permite o regaste de sua dignidade (Oliveira, 1999). 39 As transformações oriundas dos avanços e a ruptura com as ideias antigas do trabalho; a Revolução Industrial inicia-se no último terço do século XVIII, e concretiza uma das maiores transformações do Homem em sua história e consequentemente na história do trabalho. O avanço da economia permite uma nova organização social e o avanço da burguesia, que processa um comportamento ilimitado de acúmulo de capital, tendo o poder humano, circunscrito na ideologia de propriedade crescente, fundamentada num dinamismo de nova classe social que é absolutamente afetada pela idéia de poder balizada pela economia de fornecimento de bens e serviços demandados pela sociedade (Arendt, 2007). A transferência do trabalho manual para a máquina, do atelier para a fábrica gera no dia-a-dia uma transformação na mentalidade das pessoas, na cultura e em diversos setores da vida. Não obstante, o surgimento de novos trabalhos, novos serviços aprimoram o setor de prestação de serviços, desenvolvendo a economia e a ideia capitalista. É a partir do século XVIII, que o trabalhador, camponês, de índole servil, torna-se parte do mundo burguês, em que a fábrica, passa a ser pensada a partir das máquinas e não a partir do homem, caminhando para cisão entre a concepção do trabalho e a execução do trabalho. Em consequência à evolução histórica do trabalho, à cooperação simples à manufatura e à grande indústria surgem nas fábricas, no início do século XX, esforços direcionados à racionalização do trabalho. No século XX, o trabalhador se torna um operador de motores, ou empregado de escritório. O desenvolvimento do trabalho assalariado impõe um significado e uma nova visão do mundo do trabalho. Neste contexto, o trabalho torna-se um processo consciente, no qual o Homem se apropria da natureza para transformá-la em bens materiais, elementos úteis para a própria vida, fundamentalmente, o homem produz sua própria existência (Gorz, 2007). Em síntese, as características da sociedade moderna permitem o desenvolvimento crescente das forças produtivas, aumento nas conquistas da natureza, crescente satisfação das necessidades socialmente construídas e, 40 finalmente, o estabelecimento de novas necessidades e novas aspirações (Silva, 1997). 2.4 IDADE CONTEMPORÂNEA Na trajetória do século XX, o mercado e a sociedade transformam-se em uma fonte de valores do Homem. Nesse momento, trabalho e ocupação tornam-se indistintos, o trabalho é a prática de um esforço inerente à sua realização pessoal, culminando numa ideia material da vida. Nesse sentido, a sociedade de mercado, o lazer se apresenta como atividade fora do trabalho e da ocupação, assim, torna-se sinônimo do ócio, o que até então não era entendido como tal. O homem moderno toma a sua atividade como caminho para felicidade, o trabalho nesta era está ligado a uma atividade compulsiva, na qual a servidão torna-se liberdade e a liberdade tornase servidão. O homem entende neste momento que o tempo livre é escasso ou até mesmo inexiste. Nesse caso, a diversão, o lazer, o tempo livre é apenas o prolongamento do trabalho, logo, o trabalho perpassa a cultura, o esporte e até mesmo a intimidade, sendo assim, o trabalho ultrapassa sua dimensão e se apodera das esferas da vida e da existência humana (Silva, 2000). No avanço histórico do trabalho e da produção, o mundo centrado no mercado permite uma evolução da produção econômica, produzindo um embate em relação ao crescimento econômico e ao progresso da sociedade. A ascensão do comércio, do artesanato, a formação de riquezas configura-se sobremaneira em um novo contexto nas relações de trabalho. O surgimento e desenvolvimento do comércio criam a base da revolução industrial na qual irá eclodir um novo estilo de vida. Esse novo estilo de vida demanda numa nova organização social, com estruturas políticas institucionalizadas, com uma nova base cultural, iniciada por uma nova era cultural. Assim, a relação de trabalho do homem tem uma nova conotação, uma (re)significação e (re)estruturação de um novo sujeito. 41 Nesse contexto, o trabalho tem um fator estruturante de uma organização econômica, política e social. 2.5 EVOLUÇÃO DO CAPITALISMO Com o avanço do mundo do trabalho, e a nova ordem social instalada no mundo, diversos intelectuais refletiram em relação à reforma protestante, que influenciou de maneira significativa a organização social e sua visão do trabalho. Max Weber foi um dos principais autores que discutia a ética protestante e o espírito capitalista. A contribuição calvinista e luterana consagra o trabalho a partir de sua influência na reforma protestante (Lima & Seconi, 2010). Com este panorama, o desenvolvimento do capitalismo se deu de forma mais acentuada pelo avanço dos mercados e da revolução industrial, principalmente pela invenção do motor a vapor, que permite a produção em escala e contribui para o progresso econômico. No entanto, as relações conflituosas entre capital e trabalho revelam a sociedade e o indivíduo. O surgimento do dinheiro não necessariamente partiu da operacionalização da troca, do escambo. No início do uso do dinheiro, os valores eram pautados na necessidade humana e naquilo que o homem percebia como válido pelo seu esforço laboral. Para Smith (2006), desde que a sociedade se estabeleceu na divisão do trabalho, o homem satisfaz suas necessidades exercendo a troca de seus produtos supérfluos. Então, o exercício do comércio é estabelecido, criando o que chamamos de sociedade comercial. Conforme demonstra Smith (2006), o uso do dinheiro é iniciado com vários produtos, como metais, bois, ovelhas, sal ou ferro. A necessidade da troca, do comércio era inerente ao cumprimento das necessidades humanas, logo, estabeleceu-se um instrumento comum para permitir o comércio entre diferentes povos. A partir da relação econômica entre os povos e o comércio estabelecido, impulsionou o modelo capitalista de organização societária. 42 Neste campo, desembocam inúmeras discussões e reflexões acadêmicas, econômicas e políticas para o pensar do trabalho e o envolvimento do homem nesta dinâmica. As energias políticas e ideológicas encontradas no período inicial do capitalismo contextualizam o arranjo societário do ocidente. A busca moderna do fundamento ético faz surgir os conservadores liberais, o que permite um encontro com a eficiência do capitalismo pautado no indivíduo autocentrado e indiferente ao bem comum, e é neste campo que se estabelecem a “cultura da indiferença” (Garlipp, 2006). O crescimento do “mundo novo” coaduna com o livre comércio e com o crescimento exponencial do livre mercado. Assim, a convicção do fundamento neoliberal caminha para a reconciliação da humanidade com a natureza (Garlipp, 2006). O crescente cenário novo implica numa nova ordem do trabalho, de ocupação e da economia. Conforme aponta Garlipp (2006), o princípio da concorrência cria uma maior mobilidade do capital produtivo e financeiro, impactando na flexibilização e nas relações de trabalho, além das limitações dos direitos econômicos e sociais dos mais fracos. Logo, a economia do século XX apresenta uma capacidade de minimizar a vida social, afetando também no cenário político. Entendendo a relação humana no cenário da evolução capitalista, a existência da relação homem/natureza necessita de um restabelecimento, tendo em vista, que com o crescimento da sociedade industrial, o homem passou a se sentir cada vez menos parte da natureza. O avanço da globalização garante uma expansão da tecnologia, culminando em transformações econômicas e sociais (Almeida et al., 2009). O capitalismo e sua evolução imperam um panorama de uma revolução, iniciada pela sua transformação dos modelos de trabalho, ocupação e desemboca numa noção de emprego e serviços. As transformações do labor transbordam aos ideais humanos, no entanto, a capacidade de transformação e adaptação faz do trabalho a condição da existência humana. As interpretações do mundo laboral geram uma diversidade de análises as quais permeiam o trabalho, suas formas de realização e ocupação, que são 43 inerentes à existência humana. Conforme retrata Eric Hobsbawm, o século XX foi o berço do processo de globalização, e neste local encontra-se um paradoxo do trabalho, que o historiador chamou de a Era dos Extremos. Para Hobsbawm (1995), o século XX foi um período de estruturação, sendo que as duas décadas finais ilustram uma transição de um novo tempo. O resultado de um conjunto de fatores originou um desenvolvimento econômico sem precedentes na história, o mercado internacional ganhou um dinamismo próprio, assim efetivou os fluxos de capitais, permitindo uma grande expansão de empresas transnacionais. Neste contexto, apesar de ter iniciado no século XIX, é no século XX que ocorre a grande aceleração da expansão do capital em diversos mercados, assim denominada de a era da globalização (Ataide, 2001). O processo de globalização aglutina transformações complexas, reunindo aspectos econômicos e tecnológicos e que envolvem relações sociais e culturais, conforme Ianni (2000): Os diversos aspectos do processo de transnacionalização, mundialização ou, mais propriamente, globalização, logo se torna necessário reconhecer que ele leva consigo também a ocidentalização do mundo. Algo que ocorre desde os inícios dos tempos modernos, parece adquirir novos desenvolvimentos na época da globalização (p. 93). A transculturação remete a uma reflexão de que há uma ocidentalização do mundo, no século XX, abrindo as possibilidades de ruptura histórica de grandes proporções. É neste caminho, que finda o século XX e inicia o século XXI com desafios que a globalização irá permitir ao rebuscar o passado, se empenhando para conhecer o presente e imaginar o futuro (Ianni, 2000). Portanto, a compreensão da trajetória percorrida na organização social, a cultura do tripalium e a qualidade de vida são condições primárias para se entender o processo de transculturação. Processo este que, conforme Ianni (2000), resulta num processo em que ambas as partes da equação são modificadas. 44 A respeito da transculturação Ianni (2000) entende que: Transculturação expressa melhor as diferentes fases do processo transitivo de uma cultura a outra, porque este não consiste somente em adquirir uma cultura distinta, que é o que a rigor indica a expressão inglesa aculturation, mas que o processo implica também e necessariamente a perda ou o desenraizamento de uma cultura precedente, o que se poderia denominar deculturação; e, além disso, significa a conseqüente criação de novos fenômenos culturais que se poderiam denominar de neoculturação a criatura sempre tem algo de ambos os progenitores, mas também sempre é distinta de cada um dos dois. Em conjunto, o processo é uma transculturação e este vocábulo compreende todas as fases de sua parábola. 2.6 NOVAS DIMENSÕES DO TRABALHO As transformações do trabalho ao longo da história registram inúmeros significados em vários períodos. Desde o período primata até os dias atuais, correspondem às atividades que estão inseridas no contexto humano. O trabalho se mostra uma medida de valor tanto de ordem individual, quanto de ordem coletiva (Jardim, 1997). O modo de intervenção do homem sobre a natureza é uma questão cultural e também uma questão histórica. Várias são as configurações em torno do trabalho, a simbologia que representa uma sociedade traz consigo uma marca ideológica que apresenta o trabalho como uma atividade repugnante. O ócio na antiguidade grega era considerado uma virtude. Já no império romano, em que houve a instalação do comércio, o labor apresenta uma nova concepção (Csikszentmihalyi, 1999). O trabalho sofre uma transformação radical a partir do século XVIII em que o trabalho, pautado na energia muscular, se torna uma atividade primitiva. O desenvolvimento da máquina a vapor, da eletricidade, revoluciona os meios de produção e em consequência a organização do trabalho. Através das ideias calvinistas e luteranas, uma percepção diferente ao trabalho se instala. O pensamento da ética do trabalho e as contribuições filosóficas permitem 45 reverter a ideia de que o trabalho estava ligado ao sofrimento, ao esforço, à luta e à dor. As evoluções tecnológicas impregnadas ao trabalho trazem um resultado de que as atividades especializadas são uma manifestação da genialidade e criatividade humana, assim, a avaliação clássica do trabalho de que só através da atividade produtiva podemos realizar todo potencial humano, torna-se inválida (Csikszentmihalyi, 1999). O trabalho tem uma dimensão que vai além do simples esforço e da transformação da natureza em bens úteis. O trabalho está impregnado de significados, pois a relação do homem com o trabalho se tornou uma atividade que vai além da mera necessidade de sobrevivência. Com a industrialização, o avanço do capitalismo, a oferta de produtos e serviços, o aspecto de sobrevivência não está na dimensão vida e morte e sim, na dimensão sociológica. Tendo em vista que a sobrevivência humana está arraigada de sentidos e significados na vida em sociedade. A ideia de trabalho, que antes estava numa plataforma Sujeito-Objeto, hoje pertence a uma plataforma Sujeito-Objeto-Significado, pois o sujeito transforma o objeto e se transforma. O trabalho, recheado de significado, transforma, transcende e imortaliza o sujeito trabalhador (Soratto & OlivierHeckler, 1999). A partir da revolução industrial, a preocupação estava pautada na produção, logo, o tempo e produção estavam intimamente ligados. Assim, o trabalho estava numa esfera de desumanização, em que os trabalhadores eram submetidos às mais inóspitas formas de degradação humana. O ideal do trabalho impactava na crença humana de dignidade, pois as condições insalubres às quais os trabalhadores eram submetidos iam de encontro com os ideais de dignidade. Com a introdução da máquina, o início do capitalismo é demarcado e em consequência o aumento da produção e a relação da mais valia são instalados. A economia cresce em abundância, em virtude da produtividade e da exploração da força de trabalho. Para Adam Smith, o trabalho era diferenciado em produtivo e improdutivo, conforme relata Borges e Yamamoto 46 (2004), o pensamento de Smith estava pautado na distinção entre produtivo e improdutivo e no que se refere à produção, agrega valor, e à improdução não agrega valor em nada. Assim, o trabalho, considerado como mercadoria, impunha uma instrumentalidade à economia do trabalho, nessa visão, o trabalho estava num patamar que extrapolava a compreensão de quem produzia e sim para quem era o detentor do capital, o qual buscava a máxima lucratividade. O novo modo de produção trouxe uma série de mudanças, seja no aspecto da organização, seja nos conceitos, seja na compreensão de vida em sociedade. No trâmite da economia, com a intensificação do desenvolvimento e o crescimento das cidades revela-se uma mudança nos rumos da sociedade, em que o êxodo rural implica na aglomeração das cidades e na vida em torno da fábrica. Com a ideia advinda da reforma protestante, quanto mais se trabalhava mais se era merecedor da graça divina, além do entendimento de que a riqueza era o resultado de trabalho duro (Borges & Yamamoto, 2004). O trabalhador livre, para vender sua força de trabalho, tornou-se uma engrenagem ligada à máquina na qual dita o ritmo e o nível de produção que atendia a necessidade de acúmulo de capital, retirado do máximo aproveitamento dos equipamentos e da força de trabalho das pessoas. Neste cenário, configura-se uma transição na construção ideológica, que inicia na exploração do trabalho às lutas para melhoria das condições de trabalho, quanto a isto Borges & Yamamoto (2004) assinala: Sem dúvida, o desenvolvimento de uma ideologia que enfatizava a importância do trabalho durante todo século XVIII, a partir das formulações econômicas de Adam Smith, apoiadas mais diretamente no protestantismo, resulta, entretanto, em uma exploração radical da classe trabalhadora. A história do desenvolvimento capitalista é, também, a história da resistência dos trabalhadores. Os embates em torno da regulamentação da jornada de trabalho, nas leis fabris da segunda metade do século XIX são exemplos da luta do proletariado impor um limite à exploração capitalista (p. 32). 47 As jornadas longas de trabalho, os ambientes extremamente desfavoráveis eram incompatíveis com a saúde humana, logo, a presença do médico no território laboral torna-se apropriado. Visto que este fosse o agente recuperador do trabalhador para retornar o mais breve possível ao seu local de produção. Instaurava-se assim o que seria uma das características da Medicina do Trabalho, mantida, até hoje, na forma tradicional, sob uma visão eminentemente biológica e individual, no espaço restrito da fábrica (MinayoGomes & Thedim-Costa, 1997). Karl Marx e outros pensadores relutavam por uma estruturação social diferente a que este período histórico se apresentava. O capitalismo, a industrialização eram considerados um mal para a sociedade e o trabalho estava num patamar que o homem enquanto ser não valorava. Historicamente, o mundo do trabalho foi marcado por inúmeras lutas por direitos e melhores condições de trabalho (Bara Filho & DaCosta, 2002). É importante lembrar que a história do trabalho é marcada por fatos que tendem da opressão à liberdade, da dor à alegria, da crueldade ao gesto de amor, da barbárie à civilidade (Oliveira, 1999). Nos tempos antigos, ocorre a não valorização do trabalho, sendo conquistada a sua sistematização através do tripalium, escravização, exploração e sofrimento. Nesse sentido, ficam claros o dualismo e a grande diferença nos comportamentos e percepções do trabalho, tendo nos dias atuais a valorização do trabalho enquanto meio de dignificação do Homem, como também o seu bem estar, manutenção da saúde e redução de fatores psicofisiológicos negativos. Diversas discussões foram impostas para a melhoria das condições de trabalho, a luta sindical foi um dos grandes avanços da nova era, conquistando direitos que imperam até os dias atuais. Um novo cenário se constrói, a partir da luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho. A luta se mostra como uma nova revolução de costumes, esta se baseando em três elementos intimamente relacionados: a diminuição das horas de trabalho; o aumento das horas livres e melhoria do salário. 48 A história do trabalho nos mostra uma trajetória oriunda da necessidade de organização social, desde os tempos do escravismo, até os tempos de feudalismo, no momento seguinte, o Renascimento constituído de novas formas de vida e consequentemente com o encontro de novas culturas, direcionam o homem a encontrar-se consigo mesmo. Neste encontro, o homem se estabelece e se dignifica através do trabalho, no entanto, com os avanços e novo cenário laboral, o trabalhador se torna um agente produtor. No aspecto da produção, a sua aceleração, com o aporte de novas tecnologias provoca uma demasiada exigência o que acarreta numa patologização do trabalhador. Assim, o campo de estudo da Saúde do Trabalhador é abrangente, e a ação desenvolvida para resgatar a condição do homem no trabalho é através da compreensão da relação saúde-doença, construída no espaço entre os interesses e direitos dos próprios atores sociais (Palma, 1998; Bagrichevsky, Estevão & Palma, 2006). 2.7 ERA DO BEM ESTAR Os modelos de organização do trabalho impunham um novo contingente de necessidades, o agente produtor, o dono do capital, o industrial, o empresário, o comerciante, o escriturário estabelecem uma nova rota de consumo e, em consequência, uma política de remuneração pautada em cargos e especialidades. Este modelo revela um comportamento do trabalhador orientado ao consumo, seguindo as premissas do capitalismo e da economia estabelecida. Este panorama cria outros desdobramentos tanto para o trabalhador quanto para o dono do capital, representado pelo industrial, empresário, comerciante, trabalhador liberal, entre outros ramos. Assim, a preocupação no mundo do trabalho se desenrola pelo modelo da saúde, que não embota somente a ideia do trabalhador saudável para produzir mais, mas também pelo impacto que as mazelas ocasionadas pelo trabalho sejam reduzidas, portanto, as políticas do bem estar são postas, 49 gerando um cenário voltado para políticas de saúde, epidemiologia, bem estar e qualidade de vida. Ao correlacionar a evolução do trabalho com o homem, seu comportamento, estilo de vida e consequentemente qualidade de vida, oportuniza-se uma série de observações em relação ao processo de produção e confecção de produtos, desde a época da produção artesanal, até os dias atuais, os quais se qualificam como um período de abertura de mercado e de produção, ocorrem avanços significativos nas inovações e tecnologias e com este perfil, o mundo laboral afeta de forma direta e indireta a saúde do trabalhador. O período de produção artesanal caracterizava-se, basicamente, pela qualidade dos produtos e baixa quantidade de oferta, entretanto, o trabalho era rico desde seu processo de fabricação até a venda, tendo em vista que o fabricante dominava todo o processo, desde a busca de matéria-prima até o acabamento. O processo criativo estava instalado em todas as fases de produção, assim, o próprio artesão ditava o ritmo de trabalho e gerenciava seu tempo. Nesta formatação, não havia muita necessidade de supervisão, pois as ferramentas eram de simples manuseio, além de o trabalhador ter autonomia de todos os processos de fabricação e poder amplo de seu próprio trabalho (Zilli, 2002). Com a industrialização, ocorre a mudança da mão-de-obra humana por maquinários e a revolução industrial permite a criação de mercado tanto no âmbito nacional quanto no âmbito internacional, assim, a modificação da matriz trabalhadora individual para matriz de grupos e, posteriormente, para produção em massa, contribuiu para uma série de mudanças, desde os aspectos salariais, aumento na jornada de trabalho até a exploração de mulheres, crianças e adolescentes. Ao final do século XIX e início do século XX, a população mundial assistia a grandes transformações, principalmente, relacionada à revolução industrial. No Brasil, surgiram avanços sociais e econômicos similares ao mundo em desenvolvimento acelerado. Este fato permitiu um crescimento em infra-estrutura ligado à energia, transporte e equipamentos, no Brasil 50 especificamente, estradas são construídas, fábricas instaladas, aparato estrutural com hidrelétricas permitem um avanço tecnológico, produção em massa e mudança social (Toledo & DaCosta, 2006). Neste ambiente, a economia cresceu apoiada na difusão da indústria de índole fordista, com o aumento do maquinário e o fim dos problemas relacionados à infra-estrutura ligados à energia, transporte e equipamentos, explode a produção em massa e cria-se um mercado consumidor, levando a um consequente aumento na produtividade. Com o avanço nas modificações do cenário laboral, principalmente no aspecto organizacional, inicia-se, então, a preocupação da organização científica cunhada pelo taylorismo e fordismo, em que os princípios básicos caracterizavam-se pelo tempo certo para cada serviço. A contribuição do norte-americano Frederick Winslow Taylor está relacionada à distribuição e organização do trabalho, suas contribuições ficaram conhecidas como taylorismo ou administração científica. Esta nova ordem do labor é um sistema de divisão de tarefas, cujo objetivo é obter o máximo de resultado e o mínimo de atividades e de tempo. Entretanto, seu sistema se caracterizava em divisão de tarefas, especialização do trabalhador, treinamento e preparação do trabalhador, otimização do trabalho, redução de custos, recompensas salariais, supervisão humana no controle do processo e eliminação do improviso (Botelho, 2008). Já no fordismo ou sistema de produção criado pelo também norteamericano Henry Ford, a característica de fabricação se baseava na produção em massa, dentro de um sistema de linha de montagem. Neste sistema, o principal objetivo estava centrado na redução máxima dos custos de produção para consequentemente reduzir o custo do produto, assim atingindo maior número de consumidores. Outra característica central deste sistema era a baixa capacitação do trabalhador, tendo em vista, a execução de uma única tarefa dentro de um sistema de produção (Botelho, 2008). Assim, tanto o taylorismo quanto o fordismo marcaram significativamente o sistema capitalista e econômico do mundo, principalmente ligado à estrutura do trabalho e aos trabalhadores, promovendo novos 51 comportamentos e organização social. Neste status, os sistemas referidos foram muito positivos para os donos de capital, por outro lado, para os trabalhadores instalou-se um amplo cenário de adoecimento gerado pelo trabalho, neste período, a percepção social era de que o trabalhador era sugado e depois desprezado. Desta forma, a evolução do mercado, da economia e em paralelo a globalização geraram um cenário extenso de consequências para saúde do trabalhador, sendo gerada uma série de doenças desenvolvidas de forma direta e indireta ao trabalho, tanto na estrutura física do trabalhador quanto na estrutura psíquica, neste caso inicia-se um aumento significativo de ferramentas e processos que auxiliem na prevenção, tratamento e melhoria na saúde do trabalhador. Para Greuel (1999), o trabalho é um sistema de constante estresse e os sinais negativos do estresse são vinculados ao acúmulo de atividades e pressões ocupacionais, assim o sacrifício emocional imposto pelas repressões e demandas do trabalho é um fator preponderante nas doenças relacionadas ao estresse originado pelo trabalho. È fundamental apontar que os aspectos psicofisiológicos influenciam na capacidade para o trabalho, ou seja, sem possuir uma alta capacidade psíquica não há como possuir uma alta capacidade física para a labuta (Miranda, 2000). No século XX, percebe-se que o mundo do trabalho intensificou-se de forma impactante, passando por várias modificações, transformações e inovações, acarretando portanto uma nova dinâmica nas relações do trabalho, nos objetivos trabalhistas e nas concepções de funcionamento das empresas. Essas novas concepções tiveram o seu início a partir das tecnologias desenvolvidas, desde os tempos da Revolução Industrial, dos processos de produção, da qualidade dos produtos, da preocupação mercantilista, até chegarem aos tempos atuais. Pode-se perceber que estamos numa nova era, ou mesmo numa outra Revolução Industrial, melhor dizendo, numa Revolução Tecnológica, advindo assim novas tecnologias e consequente ampliação do mercado. 52 Com isto, concepções, transformações, objetivos e novas preocupações passaram a fazer parte do cotidiano do trabalhador. No entanto, as modificações sofridas nas relações de trabalho caminham para o aumento da qualificação, do conhecimento, das experiências e da globalização, fazendo com que o trabalhador, para se manter no mercado de trabalho, necessite aumentar o seu nível de empregabilidade. Neste sentido, no mundo atual, o trabalhador pode perceber sua capacidade de empregabilidade ou até mesmo a sua capacidade de trabalhabilidade ser aumentada, por meio de sua qualificação profissional. Desta forma, isso pode ser considerado um grande fator e um dos indicadores do estado de patologização do trabalhador. O mundo do trabalho envolve uma série de fatores, entre os quais está a pressão exercida pelo mercado, o estresse ocorrido pelo desgaste psicofisiológico, além do acúmulo de funções que o processo de globalização desencadeia. Por sua vez, a empresas passaram a se preocupar com a saúde do seu trabalhador, com qualidade de vida no local de trabalho e com o bem estar físico e emocional de seus empregados. Aparecem, então, várias iniciativas para levar ao trabalhador subsídios que amenizem todas as pressões exercidas sobre ele no seu dia-a-dia, é crescente o número de publicações, sejam revistas, jornais ou periódicos científicos, voltados para esta temática. Conforme Palma (1998), o caso da saúde do trabalhador não deve se tratado apenas como um clichê sócio-político-econômico, mas sim deve-se tratar da saúde do trabalhador não como um problema semântico, e sim como uma questão importante para a superação do quadro hegemônico que associa as pessoas ao conjunto de recursos. A preocupação com um dos aspectos psicofisiológicos no trabalho está evidenciada na reportagem de Anna Paula Buchalla na revista Veja do dia 14 de junho de 2000, sob o título “Risco no batente – Trabalho tem limite e seu corpo também”, esta reportagem mostra o levantamento feito pela CPH – Tecnologia em Saúde, sobre os distúrbios sofridos pelos trabalhadores devido o excesso de estresse. 53 Outro exemplo de utilização dos princípios psicofisiológicos no trabalho é o artigo publicado por Mônica Martins na revista Banas Qualidade de agosto de 2000, relatando o exemplo da empresa “zen”. É identificada neste artigo a preocupação das empresas com o bem estar dos seus funcionários, já que nesta empresa existe uma variedade de profissionais ligados à melhoria da qualidade de vida no trabalho, atuando, portanto, profissionais da área alternativa como, instrutores de ikebana, massagistas, instrutores de shiatsu, aplicadores de técnicas de relaxamento, musicoterapia, acupuntura, meditação e uma série de outras técnicas, com o mesmo objetivo. Estudos psicofisiológicos estão sendo feitos também na Universidade de Kuopio, na Finlândia, através da Profa. Dra. Helli Toivanen. Os estudos da Professora Toivanen focalizam os efeitos psicofisiológicos do estresse ocupacional em mulheres trabalhadoras. O estudo feito em 1994 foi realizado em bancárias, donas de casa e enfermeiras. O homem é por si só um ser em movimento, isto nos faz refletir que a preocupação com a qualidade de vida ou meios que permitem tal melhoria é condizente com o nosso tempo. O desenvolvimento da sociedade, a busca incessante de novas tecnologias faz com que haja um retrocesso no comportamento humano e consequentemente uma mudança no estilo de vida do ser humano. A psicologia do movimento nos ajuda a compreender todo este processo de sedentarização do homem, visto que a qualidade de vida tem um papel equilibrador, fazendo com que haja um entendimento melhor, a partir do seu desenvolvimento humano, definido dentro de objetivos totais e integrados da pessoa. Desenvolver é uma condição sine qua non da qualidade de vida e da funcionalidade do ser humano, por conseguinte é de fundamental importância o desenvolvimento, este é uma forma psicológica de ter coerência entre os objetivos existentes na forma estrutural de uma entidade e sua relação final das potencialidades. Entender qualidade de vida é compreender o homem através de um prisma holístico, o qual percebe o ser humano dentro de uma complexidade 54 psicofisiológica, a qual analisa os fenômenos psicológicos e fisiológicos simultaneamente (Toledo & Ribeiro, 2000; Miranda, 2000). Portanto, qualidade de vida não é somente boa condição financeira, status social, bom emprego, gozar de tempo para família, mas sim de ter um estilo de vida que permita estar em harmonia com o universo, evitando o sedentarismo físico e mental, ou seja, sedentarismo psicofisiológico (Bara Filho, DaCosta & Ribeiro, 1998; Miranda, 2000). Neste aspecto, podemos dizer também que o ser humano é uma estrutura em constante processo de equacionamento com a complexidade do meio ambiente em que vive, e que o homem é um sistema com a finalidade de eficácia, de dar certo, portanto as emoções, a inteligência e a vontade são consideradas como atribuições de valores e significados que estão caminhando pari passu com as vivências humanas (Bara Filho & DaCosta, 2002; Feijó, 1992). Na vida diária do Homem, estes significados permitem um papel de prognóstico do nosso comportamento. Qualidade de vida é, nos dias de hoje, o reflexo da funcionalidade, e funcionalidade é a solução de problemas, o que nada mais é do que emoções inteligentes. De acordo com Feijó(1998): Qualidade de vida é resolver problemas pessoais com eficácia(com o máximo de resultado e o mínimo de desgaste), se inteligência é a função de resolver problemas novos e se a natureza dos valores e significados propiciada pelas emoções pode bloquear o processo equacionador, qualidade de vida só poderá advir quando a pessoa cultivar valores construtivos e positivos no seu mundo interior. Podemos inferir a respeito de um dos novos fenômenos do mundo do trabalho o atleta corporativo. Este termo foi inicialmente utilizado por James Campbell Quick (professor de comportamento organizacional da Universidade do Texas). Quick et al. (2002) afirmam que para o indivíduo obter sucesso profissional é necessário ser um atleta corporativo, ou seja, estar munido de instrumentos capazes de favorecer a manutenção da saúde, o bem estar psícofísico e ser aderente a um programa de exercício físico. 55 Pode-se perceber que há uma transculturação no campo do trabalho e que o esporte é um fator preponderante nesta transformação. Esta tendência é confirmada por Bara Filho & Da Costa (1998), para os autores o esporte demonstra ser um fenômeno social de grande magnitude e complexidade, tendo ainda o poder de influenciar positiva ou negativamente o comportamento da pessoa. Os autores complementam afirmando que este comportamento pode atingir tanto a classe trabalhadora quanto a sociedade como um todo, tornando-se um importante meio na promoção de ideais educacionais, democráticos e de paz mundial. Partindo-se de um enfoque descritivo, qualidade de vida passa necessariamente por qualidade corporal e pela preocupação com a manutenção dessa qualidade. A melhoria da sanidade do corpo e de suas possibilidades é o momento em que a prática do exercício encontra o conceito de Wellness (Saba, 2001). Portanto, vários programas de ginástica laboral relatam que é um instrumento que permite a melhoria de qualidade de vida no trabalho, como também é um instrumento motivador na modificação do comportamento e do estilo de vida da pessoa, desencadeando, por conseguinte, satisfação pessoal e melhoria da qualidade de vida do indivíduo. Contudo, a atividade de lazer, a atividade física, a auto-percepção e percepção de saúde são variáveis importantes para induzir à satisfação pessoal. Ao pensarmos em qualidade de vida, em termos concretos, temos que enfatizar a qualidade de vida que só irá ocorrer com um estilo de vida adequado, proporcionando um estado de Wellness, fazendo com que o indivíduo adquira a aderência necessária que irá mantê-lo em programas, sejam eles de atividade física, recreação ou lazer, permitindo assim a aquisição da qualidade de vida. 56 2.8 TRANSFORMAÇÕES E GESTÃO – IMPACTOS NO TRABALHO A característica da sociedade ocidental se dá pela grande capacidade de transformação e permanente permeabilidade à mudança, entretanto, quando as transformações, alterações e modificações se tornam um padrão cultural, a adaptação se torna um problema e uma dificuldade de ampliação para futuro. A mudança na maneira como os negócios são geridos, passando de uma ideia departamental e de operações para uma visão de processos é necessária e imposta a todas as empresas (Chalhoub, & Sciammarella, 2002). Diante das transformações que o mundo vive de forma muito dinâmica, as manifestações comportamentais, tanto do ponto de vista dos trabalhadores quanto do ponto de vista das empresas, implicam numa série de modificações nas relações sociais, nas relações de trabalho e nas características que impactam na vida em sociedade. Diante de todas as transformações tecnológicas, os ajustamentos na base técnica de produção representam modificações qualitativas e quantitativas no trabalho humano (Silva, 1997). Nesta lógica, os modelos de gestão e administração se modificaram ao longo do tempo, e essas modificações interferem de maneira significativa na vida do ser humano. Já que, desde seus primórdios a atividade laboral é inerente à sobrevivência, assim, as configurações entre o mundo do trabalho e o trabalhador manifestam-se diante de uma evolução das necessidades que muitas vezes são naturalmente desenvolvidas e outras que são criadas, diante de uma nova formatação da demanda. Nesse sentido, o impacto da gestão atua de maneira significativa na trajetória do trabalho, logo, as cobranças, as pressões do mercado, oriundas da evolução econômica onde o mundo ocupacional se instaurou, refletem na saúde do trabalhador. Portanto, a entrada da medicina no universo do trabalho cria dispositivos sólidos dos quais emanam preocupações para a vida do trabalhador, em consequência a busca de diferentes ferramentas para 57 minimizar os efeitos deletérios do trabalho fomenta diversas especialidades voltadas para a saúde do trabalhador e melhoria do processo de trabalho. De acordo com Borges e Yamamoto (2004), o início da fuga espontânea dos trabalhadores insatisfeitos com a monotonia do trabalho, com as exigências pesadas, a aceleração do ritmo do trabalho e o não atendimento de suas expectativas econômicas, inicia-se com um processo de uma série de manifestações sociais pautadas no cenário laboral, como o absenteísmo, a rotatividade e o aumento de refugos. A medicina do trabalho, a ergonomia, a ginástica laboral, a psicologia do trabalho, terapias ocupacionais, fisioterapias, entre outras especialidades se fazem necessárias nos tempos atuais, estimuladas pela preocupação pautada na saúde do trabalhador, na engrenagem de produção, nas consequências sindicais, oriundas das lutas dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e no impacto econômico que este agente social gera. As modificações do universo laboral, principalmente com o advento do sistema capitalista, introduziram profundas transformações na organização social do trabalho, principalmente a partir do surgimento de movimentos como os tayloristas e fordistas, no século XX. Além desses movimentos mais a contribuição da globalização, a inserção de novas tecnologias e a reestruturação produtiva provocaram mudanças significativas na organização social do trabalho, sendo responsáveis por um aumento da produtividade com redução dos custos de produção, possibilitando o acesso de uma parcela cada vez maior da população aos bens de consumo. Em contrapartida, verificou-se que a forma de trabalho instituída resultou numa perda de autonomia do trabalhador e de sua relação com o trabalho, de modo que se constituiu uma fonte de sofrimento para o indivíduo, culminando na deterioração de sua qualidade de vida (Descanio & Lunardelli, 2007). O artigo de Descanio & Lunardelli (2007) relata que, nos anos 30 e 40, houve uma rápida conscientização dos trabalhadores e um aumento das mobilizações sindicais que motivaram a realização de pesquisas que enfocavam os elementos que afetam a satisfação dos trabalhadores e sua 58 produtividade. A origem do movimento de qualidade de vida no trabalho remonta a 1950, na Inglaterra, a partir dos estudos de Eric Trist e colaboradores, do Tavistock Institute, que pretendiam analisar a relação entre indivíduo, trabalho e organização. Com os avanços oriundos desta nova perspectiva e desse novo olhar para o trabalho, a preocupação se virou para a qualidade vida e em especial à qualidade de vida no trabalho. Outro aspecto que tem uma significativa interferência são as tecnologias e a nova organização mundial relacionada ao trabalho, economia e recursos na ótica da globalização. As inovações tecnológicas e organizacionais vêm causando importantes mudanças no mundo do trabalho, seja na produção, seja na sociedade como um todo, com repercussões que parecem ser bastante profundas. A introdução de novas tecnologias representa um incremento significativo de produtividade no trabalho com suposta eliminação de tarefas penosas ou pesadas, levando a uma nova relação homem/máquina. Esta nova relação faz surgir novos riscos para a saúde dos trabalhadores. Dessa forma, estes riscos mais sutis para a saúde não podem ser compreendidos com base na ótica estreita da Medicina do Trabalho, que busca sempre uma conexão direta com acidentes e doenças profissionais (Oliveira, 1997). Especificamente no Brasil, os modelos de gestão estão baseados na compreensão e na relação do trabalho e produtividade com lucro. Baseado no modelo japonês, o Brasil se caracteriza por implantar programas de qualidade total. As inovações tecnológicas e organizacionais traduziram-se basicamente, nos últimos anos programas que trazem em sua concepção a qualificação dos trabalhadores, a crescente intervenção no processo produtivo e a interferência nos programas de qualidade total. Tais mudanças pressupõem uma maior participação e envolvimento do trabalhador, criando uma identificação dele com os objetivos da empresa. A pressão da modernidade pela qualidade atinge toda a sociedade, que por sua vez, também atinge os trabalhadores, gerando, então consequências para a saúde física e mental e, neste caso, o trabalhador, em todos os momentos da vida, passa a viver e a pensar na empresa (Oliveira, 1997). 59 Contudo, as tendências revestidas pelos apelos da gestão convergem para a compreensão de que as exigências do mercado ganharam uma velocidade que não pode ser ignorada, assim como a qualidade, sendo assim, a sobrevivência de uma empresa pauta-se em cinco dimensões no mundo contemporâneo que são: qualidade do produto; custo; eficiência na entrega; satisfação e segurança dos empregados; usuários e comunidade (Oliveira, 2007). Nos anos 80, ocorreu a apologia da dedicação exaustiva, workaholics, com a prioridade para o trabalho e a abdicação do lazer e do prazer. Cada vez mais trabalhadores se queixam de uma maior rotina de trabalho, de condições de trabalho inadequadas, muitas vezes até desumanas. A qualidade de vida no trabalho surge como esforço, no sentido da humanização do trabalho. De fato, observa-se que a forma de estruturação do trabalho e das organizações impõem a necessidade de adequação do indivíduo aos parâmetros organizacionais, sem considerar os seus interesses e desejos. A abordagem da qualidade de vida no trabalho vem, então, incorporar algumas preferências humanas no desenho e na gestão de sistemas organizacionais, buscando torná-los mais satisfatórios ao indivíduo e contribuir para a qualidade de vida geral. Assim, a qualidade de vida no trabalho pode ser definida como uma forma de pensamento que envolve pessoas, trabalho e organizações, em que se destacam dois aspectos importantes: a preocupação com o bem-estar do trabalhador e com a eficácia organizacional; e a participação dos trabalhadores nas decisões e problemas do trabalho (Descanio & Lunardelli, 2007). As transformações em curso na sociedade brasileira, decorrentes das mudanças técnico-organizacionais no mundo do trabalho, estão fazendo ressurgir em todos aqueles que se preocupam com as questões relativas ao trabalho humano e às suas metamorfoses, expressões tais como: "qualificação", "competência", "formação profissional". Tais expressões ocupam lugar de destaque nos discursos e documentos dos diferentes agentes e instituições sociais (Manfredi, 1999). 60 É a partir deste panorama, que as transformações e metamorfoses sociais aplicam uma diversidade de ações que trazem uma adequação e uma adaptação do trabalho aos modelos de gestão. As inovações tecnológicas imbuídas e significados ligados à melhoria da produção, condição de trabalho e preocupação na saúde do trabalhador promovem também uma aceleração na transmissão e propagação das informações e conhecimento, o que também transforma o trabalho e sua ocupação, nascendo, então, uma nova categoria de trabalhador que é o trabalhador do conhecimento. Conforme Davenport (2006) o aumento do trabalho do conhecimento foi previsto há muitos anos, muito em virtude da automação das fábricas ocorridas há mais de um século, com isto liberou grande parte da mão-de-obra das tarefas físicas no trabalho. Na última metade do século passado, os computadores e a presença penetrante da informação desenvolveram um novo tipo de ocupação, na qual os funcionários deveriam ser capazes de, em primeiro lugar, produzir informações e, em seguida, extrair seus significados, para então agir a respeito. Diante deste paradigma, Davenport (2006) complementa informando que: No início do século XX, era provável que entre um quarto e a metade dos trabalhadores nas economias avançadas fossem trabalhadores do conhecimento cujas tarefas principais envolviam a manipulação de conhecimento e informações (p. 4). Em contato com este novo preceito, as crescentes metamorfoses nas organizações, os trabalhadores do conhecimento tendem a obter um crescimento paralelo ao da empresa, logo, sem os trabalhadores do conhecimento, não haveria novos produtos e serviços, tampouco crescimento. Contudo, no século XXI, a importância do trabalhador do conhecimento tem um aspecto importante no desenvolvimento da economia e avanços no mundo do trabalho, principalmente na saúde do trabalhador. Drucker (1995) foi um dos primeiros autores a descrever os trabalhadores do conhecimento, para o autor tornar o trabalhador do conhecimento produtivo será a grande missão deste século, assim como tornar 61 produtiva a mão-de-obra braçal foi o principal desafio do século passado. O Autor ainda afirma que os trabalhadores do conhecimento e sua produtividade são tão importantes para economia mundial quanto a fabricação de produtos e serviços. A produtividade do conhecimento e de seus trabalhadores não será o único elemento competitivo na economia mundial. Entretanto, é provável que se torne o fator decisivo, pelo menos para a maior parte dos setores dos países desenvolvidos (Drucker, 1995, p. 52). No roteiro evolutivo das organizações emana um complexo cenário de mudanças, tendo em vista que, as alterações no perfil do trabalhador, as ocupações, as necessidades e, principalmente, as demandas da vida cotidiana se alternam, pois as mudanças tecnológicas provocam uma ebulição na aproximação das pessoas, no transporte das informações e na aquisição do conhecimento devido principalmente pela caracterização da aldeia global em que vivemos. A percepção da importância do conhecimento nas atividades que uma organização deve realizar, bem como o fato de que se trata de uma habilidade inerentemente ligada a pessoas, faz parte do pensamento administrativo. Nos anos 80, este tema tornou-se mais presente, devido ao advento das abordagens teóricas relacionadas à sociedade do conhecimento, ao aprendizado organizacional e às competências essenciais na gestão. Nos dias atuais, o impacto causado pela acentuada evolução da tecnologia da informação na sociedade, bem como as modificações resultantes de um modelo econômico que prega uma competitividade intensa, tem causado significativas mudanças na forma com que as organizações devem se estruturar e trabalhar com o conhecimento para desenvolver novos produtos, novos processos e novas formas organizacionais (Silva, 2002). Um atributo de suma importância neste cenário globalizado é a internet e a capacidade de relações que ela permite, tanto na aproximação das pessoas quanto na funcionalidade de realização de negócios, portanto, esta aldeia global, conectada, tem uma nova configuração na economia e 62 principalmente, uma nova economia que está em um ambiente de rápidas transformações e novos tipos de negócios. A principal característica seria a quantidade de informações a serem processadas por uma organização, que cresceu muito quando comparada ao montante que se processava há alguns anos. O advento da Internet e a possibilidade de realizar negócios de formas diversas fizeram surgir uma preocupação quanto ao processamento de informações necessárias à tomada de decisões no ambiente de negócios da empresa, impactando diretamente na saúde do trabalhador (Cohen, 2002). A contribuição da evolução tecnológica assentou perfeitamente no universo econômico da globalização onde as condições de realização do trabalho estariam experimentando radical transformação em obediência a circunstâncias novas que se verificavam no terreno da produção, derivadas estas últimas de uma nova configuração do mercado mundial (Saul, 2001). Nessa perspectiva, as origens do modelo atual de trabalho estão vinculadas à terceira revolução tecnológica, à revolução cibernética. A raiz do problema do sistema capitalista, que utiliza uma versão determinística de ciência como um véu cultural para investir na tecnologia e na ciência, para “conquistar” a natureza em nome de um inevitável e inquestionável progresso científico, torna-se a condição fundamental para uma transformação no mundo do conhecimento que está intrinsecamente vinculado a uma transformação do sistema mundial (Saul, 2001). O ingresso da terceira revolução tecnológica implica num cenário novo de profundas transformações, a revolução cibernética aponta para uma adaptação estrutural, tanto na dimensão sociológica organizacional quanto laboral. O atual curso dos acontecimentos converge para a constituição de um novo meio de comunicação, de pensamento e de trabalho para a sociedade humana (Levy, 2003). Nesse sentido, a velocidade dos avanços tecnológicos tem proporcionado impactos significativos no funcionamento das organizações. A ampla disponibilização de tecnologia de informação de alto desempenho permite o aumento da eficiência da comunicação interpessoal e 63 interorganizacional através do meio eletrônico, além disso, possibilita tratar massas de dados com muita rapidez e armazenar informações de forma organizada e controlada, de maneira que estas se tornam facilmente acessíveis, recuperáveis e reutilizáveis (Cardoso, Cameira & Proença, 2001). Os computadores substituíram os maquinários pesados, e esses funcionam como extensões da memória humana, tornando-se a ferramenta básica para um novo tipo de trabalhador, que precisa de informações oportunas e precisas para tomar decisões e criar. No mesmo sentido, ao passo que a tecnologia avança, a complexidade do trabalho humano nas organizações aumenta. Isto ocorre tanto porque os novos dispositivos de automação substituem as atividades puramente “musculares” e/ou lógicas, empurrando as pessoas para atividades mais inteligentes, quanto porque as atividades inteligentes são acrescidas de inovações mais frequentemente, ampliando a sofisticação do conhecimento necessário para executá-las (Cardoso, Cameira & Proença, 2001). 2.9 CIBERCULTURA O mundo atual caracteriza-se por um processo de globalização das relações sociais, geográficas, econômicas e políticas (Hobsbawn, 1995). As transformações ocorridas na história da humanidade apontam para uma maior valorização do homem, mais particularmente, nos dias atuais. Este fato apóiase na perspectiva de que um ser globalizado reconhece a construção do conhecimento e, por conseguinte, prima pela sua capacidade de armazenamento, transformação e compartilhamento das informações. As transformações ocorridas no último século permitem inferir sobre a necessidade de gerir e gerenciar o conhecimento, tendo em vista a grande capacidade de produção e acesso às informações, visto que produzimos mais dados e informações do que somos capazes de sintetizar e assimilar. Ao analisar a história, percebe-se que a terra e o capital foram fatores decisivos de produção, na atualidade, o fator decisivo é cada vez mais o homem, já que o 64 conhecimento hoje é a moeda de troca nas relações humanas, definindo-se assim, a sociedade do conhecimento (Melo, 2003). A partir desse pressuposto, desafios inerentes ao comportamento humano são apontados, principalmente, relacionados à conduta e à intervenção laboral, visto que as trocas, o aparelhamento, a informatização solidificam-se cada vez mais na estrutura do trabalho, forçando o homem a uma adaptação constante na sua perspectiva de ação no mundo laboral. O espaço do trabalho, dentro de um contexto global, insere diversas conotações e relações aparentemente novas entre o indivíduo e seu espaço de relação, assim, o sujeito, dentro de um espaço rico em informações e trocas de conhecimento, se estabelece por uma série de ações e reações que conduzem o alicerce de uma nova prática na troca do conhecimento e da informação. Neste paradigma, o labor se insere numa constante troca de informações que, por vezes, pode se situar num instante de descanso ou de lazer, pois na sociedade do conhecimento, a resignificação do trabalho está diretamente ligada ao mundo da informação, e pode-se dizer que as informações e troca de conhecimento se situam num ambiente amplo, sem limites, no qual o lazer e o trabalho podem se misturar. Diante desta perspectiva, recorre-se ao que Pierry Levy aponta: o chamado ciberespaço. Este mundo, tanto do trabalho quanto das relações sociais, busca uma resignificação, pautada em infovias nas quais o comportamento e as relações estabelecem um caráter lúcido de aprendizado constante em todas as dimensões e direções. De acordo com Levy (2003), foi a partir dos anos 80 que a comunicação informatizada surgiu como um fenômeno econômico e cultural, em que redes mundiais de universitários, empresários, pesquisadores criaram comunidades virtuais se desenvolvendo como uma base de acesso direto aos dados. Para Levy (2003), a rede das redes se transforma numa cooperação anarquista de milhares de centros de informação, em que a internet se transforma num meio transfronteiriço, heterogêneo o qual se designa como Ciberespaço. 65 A significação do ciberespaço emerge da nova postura mundial de troca de informações, de saberes, esta conduta cria, dimensiona e resignifica o trabalho, desde sua base rústica até seu modelo mais sofisticado, e recorre ao pensamento e ao apontamento de Levy sobre a inteligência coletiva. A evolução deste contexto, ainda sensível a transformações reflete um desenvolvimento de infovias, multimídias, as relações transbordam ao papel do trabalho em sua concepção histórica. Ainda em conformidade com Levy (2003), a forma e o conteúdo do ciberespaço são especialmente indeterminados, pois a não existência de um determinismo tecnológico ou econômico pausa em estruturas políticas e culturais que se abrem para os atores econômicos, os cidadãos. O trabalho no contexto da informação é prática social, na vivência do espaço urbano e na forma de produzir e consumir informação. A cibercultura solta as amarras e desenvolve-se de forma onipresente, fazendo com que não seja mais o usuário que se desloca até a rede, mas a rede que passa a envolver os usuários e os objetos numa conexão generalizada (Lemos, 2004; Santaella, 2004). A internet é um fenômeno muito maior a que simplesmente o aspecto tecnológico possa responder. A sociedade encontra diferentes formas de utilização da rede, o que torna um fenômeno social intrigante. Poucas foram as invenções que influenciaram a humanidade com tamanha rapidez, forjando novos padrões de comportamento e efetivamente, alterando a forma como as pessoas executam tarefas diárias e vivem suas vidas, pois a nova revolução da reorganização da informática, o comércio eletrônico, a troca de informações, trarão o trabalho para dentro dos lares e, assim, uma nova organização prática da existência humana (Davenport, 2005; De Masi, 2000; Terra, 2009). Para Levy (2003): A prosperidade das nações, das regiões, das empresas e dos indivíduos depende de sua capacidade de navegar no espaço do saber. A força é conferida de agora em diante pela gestão ótima dos conhecimentos, sejam eles técnicos, científicos, da ordem da comunicação ou derivem da relação ética com o outro (p. 19). Logo se materializa a relação do homem com o mundo, homem com o trabalho e seu vigor laboral se mantém por uma formidável infra-estrutura 66 epistêmica, pois o continuum do saber-fazer se desloca para uma flexibilidade, vitalidade das redes de produção, comércio e troca de saberes (Levy, 2003; Terra, 2009; Gardner, Csikszentmihalyi & Damon, 2004). Nessa evolução histórica da humanidade, as competências adquiridas por um indivíduo em seu percurso profissional ficarão ultrapassadas ao final de sua carreira. Por outro lado, a nova natureza do trabalho, cuja a transmissão de conhecimentos não para de crescer renova seu modo laboral, pois trabalhar significa cada vez mais aprender, transmitir saberes e produzir conhecimentos. Assim, o ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que amplificam e modificam numerosas funções cognitivas humanas, e essas tecnologias favorecem novas formas de acesso e novos estilos de raciocínio e conhecimento (Levy, 1999). Portanto, na era do conhecimento, a economia planificada, organizada de forma burocrática se mostra incapaz de seguir as transformações impostas pela evolução contemporânea das técnicas e da organização do trabalho. Logo, a interpretação do trabalho, do lazer e da cultura se torna um novo cenário envolto de subjetividade e essa subjetividade é a principal atividade econômica neste mundo contemporâneo. No regime assalariado, o sujeito vende sua força de trabalho de modo quantitativo, facilmente mensurável, sendo que na perspectiva da cibercultura a valorização se dá pelas suas competências qualitativamente diferenciadas. Em adição, a competição em um espaço econômico mundializado, as interações cooperativas no ciberespaço internacional se darão através da redefinição das identidades do labor. O novo horizonte da nossa civilização requer um domínio triplo de velocidade, envolvimento das massas e criação de novas ferramentas que geram consequências diárias sobre a vida cotidiana e o trabalho (Levy, 1993; 1999; 2003, Davenport, 2006). O modelo da cibercultura nos permite entender a nova concepção de comportamento humano, sua condição de lidar com o universo de informação e conhecimento. O conhecimento se transforma a partir da inter-relação com o outro, assim, a cibercultura proporciona esta condição, no entanto, a necessidade de organização, produção, interação, assimilação requer uma 67 capacidade de gerenciamento e de gestão capazes de conduzir benefícios as atividades humanas e em consequência ao trabalho, portanto, o caminho tendenciado no século XXI está pautado na base teórica da gestão do conhecimento. 2.10 GESTÃO DO CONHECIMENTO As mudanças no mundo organizacional têm revelado um papel transformador no comportamento de gestores em todos os setores. Tais mudanças são captadas nas informações e na maneira como as informações são disseminadas e trabalhadas. As organizações públicas têm percebido também que a solidez governamental está pautada em resultados, sendo assim, os resultados se apresentam a partir de uma gestão baseada nas informações e nas políticas de disseminação de tais informações. Os conflitos encontrados entre as organizações atuais e as antepassadas estão na discrepância entre a operacionalização dos comandos e construção de políticas voltadas para os interesses da sociedade. As organizações do século passado se caracterizavam pela burocracia, ocupação especialista, centralização das decisões, hierarquia rígida de autoridade, além de uma interação vertical e comportamento introspectivo. Entretanto, as organizações atuais se mostram estáveis e flexíveis, adaptáveis, tendo cargos continuamente modificados, além de dar ênfase ao relacionamento humano aberto e extrovertido. Portanto, a gestão do esporte, exercício físico, ginástica laboral, atividade física na empresa, sociedade e poder público passam necessariamente pela compreensão das características e demandas do ambiente e da sociedade e, também, pelo entendimento das necessidades tanto individuais quanto coletivas, alicerçadas pelos processos legítimos do esporte, exercício físico, Ginástica laboral, atividade física na empresa enquanto educação. Nesse panorama, permanentemente ações o que desafio a provoquem ser enfrentado transformações é produzir diante da 68 complexidade crescente da sociedade, utilizando o esporte, exercício físico, Ginástica laboral, atividade física na empresa como ferramenta para que as empresas concentrem esforços não somente em alguns poucos indivíduos, áreas ou regiões. A importância de canalizar os esforços em ações e articulações deve estar estruturada em um viés não imediatista, e toda a gestão deve estar voltada para um cientificismo sólido, capaz de retratar de fato a realidade do fenômeno social, que é o esporte, o exercício físico, e a ginástica laboral, e a atividade física na empresa. Nesse sentido, organizações como associações esportivas são uma fonte de processos criativos, que demandam uma motivação intrínseca de interação com os outros, combinada de múltiplas perspectivas e experiências, que são capazes de gerir diretrizes apoiadas na naturalidade cultural, na ampliação das condições de prática e governança, permitindo assim, que políticas públicas sejam desenvolvidas a partir de uma visão compartilhada com a empresa alicerçada na sociedade. Ao examinar os arquivos pessoais do prof. Dr. Lamartine Pereira DaCosta, defronta-se com documentos de caráter experimentais, de organização e mobilização da comunidade acadêmica e empresarial, apontando os direcionamentos para as políticas e ações voltadas para saúde e qualidade de vida, como o exemplo do Banco Nacional, que, estruturou iniciativas com preocupações de perdas e ganhos, iniciadas em 1987. Outro exemplo de grande relevância para a compreensão de que associações são fontes de processos criativos, está retratado no periódico da Volvo, de nome O Viking, o qual traz informações e estímulos para a prática de hábitos e atitudes saudáveis. Nesse contexto, a Gestão do Conhecimento representa um esforço para reparar prejuízos anteriores e uma política de segurança contra a perda de memória organizacional no futuro (Bukowitz: Williams, 2002; Botelho: Monteiro & Valls, 2007). A Gestão do Conhecimento (GC) pode ser definida como a criação de um contexto organizacional favorável à criação, uso e compartilhamento de informações, de modo a reunir e integrar pessoas e/ou organizações que compartilham dados e saberes, construindo conhecimentos por meio de suas 69 interações ou desenvolvimento individual e grupal (DaCosta, 2007). Entretanto, a GC se manifesta por trabalhos em redes sociais – internas ou externas a uma determinada instituição ou grupo - as quais são caracterizadas pelo seu direcionamento múltiplo: cada membro e cada unidade podem em princípio, aprender com todos os outros. A primeira discussão a ser inserida é a definição de conhecimento. Conforme Platão argumenta na citação de Nonaka e Takeuchi (1995), o conhecimento genuíno é uma “crença verdadeira justificada”. Este pensamento de origem na antiguidade clássica permanece atualizado e é amplamente aceito na comunidade acadêmica (Lessa, 2004). Essa rede concentra seus esforços na eficiência organizacional e na reutilização do conhecimento existente, como também no desenvolvimento científico e tecnológico, sobretudo com base em computadores e seus metasistemas. Em termos epistemológicos, a Gestão do Conhecimento é inovadora, sobretudo por incorporar conhecimento tácito, nem sempre produto de fundamentação científica. Este reconhecimento surgiu no meio das empresas em que práticas de resultados eficientes foram aceitas mesmo sem explicações teóricas (DaCosta, 2009). Nessa linha Melo (2003) apresenta que a gestão do conhecimento é uma disciplina que objetiva democratizar o acesso aos conhecimentos obtidos por indivíduos, seja qual for o meio escolhido pelo gestor, organizando, classificando e criando dispositivos para sua disseminação, conforme o interesse e propósito de um grupo. Além disso, os projetos de gestão do conhecimento têm como característica a ausência de metodologia que auxilie na construção dos modelos. A gestão do conhecimento revela o paradoxo das contradições e dilemas que a criação do conhecimento é capaz de promover. O conhecimento é formado por dois componentes dicotômicos e opostos: o conhecimento tácito e o conhecimento explícito. O conhecimento explícito pode ser rapidamente disseminado e divulgado aos indivíduos de maneira formal e sistemática. O conhecimento tácito está profundamente enraizado nas ações e na experiência 70 corporal do indivíduo, nos valores, crenças e emoções que incorpora (Nonaka: Takeuchi, 2008). Nesse disposto, a apresentação do homem e sua relação com a máquina inauguram uma série de processos que desencadeiam novas perspectivas, que se podem chamar de Tecnologia, assim, o envolvimento do Homem dentro de sua intenção-avaliação; especificação-interpretação; execução-percepção torna sua capacidade ampla de inovação e renovação, contudo, a capacidade humana na construção do conhecimento torna-se potencializada com a Tecnologia da Informação (TI), logo, a interface entre um conhecimento e um novo conhecimento é a linguagem utilizada. Portanto, as Tecnologias de Informação objetivam aproximar e otimizar os dados e informações disponibilizadas na World Wide Web (WWW) para dinamizar e possibilitar a construção do conhecimento, viabilizada pela constante busca da informação. O grande avanço das tecnologias da informação (TI) nos torna cientes de que as mesmas conduzem a um aumento da capacidade de compartilhamento da informação e do conhecimento. Percepções apontam que o uso de TI é um fenômeno social, que resultam em produtos de dimensão material e social, sua natureza constituída – a TI é o produto social da ação humana subjetiva dentro de contextos culturais e estruturais específicos. Seu papel constitutivo – a TI é simultaneamente um conjunto de regras e recursos objetivos envolvidos na mediação (facilitação e restrição) da ação humana e, portanto, contribui para a criação, recriação, e transformação destes contextos (Orlikowski: Robey, 1991). A tecnologia tem rituais que se impõe em interfaces; plataformas; organização; linguagem e infra-estrutura. A tecnologia da World Wide Web, incute na valorização da base remota, permitindo uma atualização perene das informações, pesquisa e análise dos dados real-virtual. Assim, a gestão do conhecimento permite criar uma ambiência capaz de induzir uma modificação cultural e tecnológica, favorável à criação, compartilhamento, organização e aplicação de conhecimento para o pleno alcance de sua missão e de seus objetivos estratégicos (Lessa et al., 2004). 71 Sendo a interface, o motor das operações, os dados; as informações potencializam o conhecimento tácito em conhecimento explícito, sendo o conhecimento tácito o resultado de experiências vividas pelo indivíduo, como elemento observador de seu mundo em diversos cenários, a partir das interações humanas em rede e sua evolução em sistemas, já o conhecimento explícito entende-se como toda a carga de informação digerida e analisada por um indivíduo, que por meio de técnicas estruturadas permite a sua disseminação (Takeuchi: Nonaka, 2008). Todavia, hospedar uma nova tecnologia enseja uma redefinição de identidades, tanto por parte daqueles que hospedam a tecnologia como desta em si, pois a tecnologia pode ser mudada, adaptada e reformulada pelos usuários, adquirindo um novo significado, aplicação e identidade (Saccol: Reinhard, 2006). A arquitetura organizacional permite à instituição ter uma capacidade de vencer as dificuldades, visto que, uma organização flexível, baseada numa visão compartilhada, liberta a gestão da empresa para fazer coisas apropriadas com as circunstancias atuais e futuras (Souza: Caulliaux, 2002). Assim, o esporte, exercício físico, Ginástica laboral, atividade física na empresa e lazer se apresentam sob vários aspectos, a representação do esporte como fenômeno social, sua influência na vida das pessoas e as ações que a humanidade tem tomado para divulgar e promover o esporte em todos os seus níveis e representações na sociedade embutem uma necessidade de gestão capaz de atender este cenário de manifestação e demanda, cabe então, um entendimento capaz de gerir e atuar de maneira inovadora, pautada nos princípios de gestão para resultados. De acordo com DaCosta (2007), um marco no esporte nacional foi a publicação do Atlas do Esporte no Brasil, que traz inúmeras informações e características do esporte no país. A partir dele, percebeu-se que o retrato esportivo nacional deixou de ser um instrumento de manipulação das pessoas pautado em ideologias políticas que, muitas vezes, foram propagadas pela mídia e aceitas por várias camadas da sociedade e, consequentemente, utilizadas pelo poder público para a construção de políticas ligadas ao esporte. 72 As informações contidas no Atlas mostram que há um aumento acentuado da prática esportiva, assim como, produtos e serviços ligados a essa cultura. Tal perspectiva desencadeia uma crescente qualificação e especialização profissional, o que corrobora com o perfil das organizações do século XXI (Senge, 2004). As organizações atuais apresentam um modelo gerencial que se caracteriza pela responsabilidade e pela autonomia aliadas à compreensão dos riscos e das incertezas. O caso da Ginástica Laboral/ Atividade Física na Empresa incorpora a gestão do conhecimento em virtude de retratar a própria natureza da organização o que contribui também para o aumento do volume de dados e informações tratados, pois ela responde formalmente a múltiplos stakeholders (Empresários, Diretores, Executivos, Agentes, Colaboradores, entre outros), requerendo um controle apurado de todas as suas decisões e operações. Portanto, também neste caso, requer um ambiente informático de alto nível, muitas vezes apoiado nas mais recentes tecnologias disponíveis no mercado, para dar conta de toda complexidade de seus fluxos de conhecimento explícito de maneira eficiente e eficaz (Lessa et al., 2004; Silva et al., 2005; Terra, 2009). A Gestão do Conhecimento concebe-se em três aspectos base: foco no fator humano (capital intelectual), a transformação da gestão de paradoxos em uma gestão do conhecimento, ou seja, conhecimento explícito é aquele que incentiva e cria mecanismos que ajuda os empregados (capital humano) com o compartilhamento de seus conhecimentos. Ao contextualizar a ginástica laboral com a gestão do conhecimento, além de ser um ativo importante na promoção da saúde e qualidade de vida pode ser um importante disseminador de conhecimento explícito (Intangível) (Terra, 2009; Botelho: Monteiro & Valls, 2007). Na categoria “informação” e, apesar de poderem ser intensivos em conhecimento, ou seja, terem uma grande quantidade e/ou qualidade de conhecimento passíveis de serem interpretados e assimilados por seres humanos, não são capazes de induzir seus detentores à ação inteligente por si próprio. Ou seja, entre o que está explícito (informações e modelos) e a ação 73 inteligente, sempre haverá uma avaliação mental mediadora para contextualizar o primeiro, transformando-o em conhecimento propriamente dito, para que presida a ação em si. O conhecimento tácito, por sua vez, caracteriza-se por sua capacidade de ser aplicado de acordo com o contexto em que o seu detentor se encontra. A importância da gestão do conhecimento na área esportiva tem um caráter embrionário como estratégia para gestão do esporte, pois seu desenvolvimento vem ganhando espaço para a criação de centros/ redes/ sistema em âmbito nacional (Botelho: Monteiro & Valls, 2007). Além deste avanço no setor da gestão esportiva, a gestão do conhecimento tem a função de reconhecer e desenvolver mecanismos que privilegiam a transformação do conhecimento tácito em explícito, permitindo fazer fluir a espiral do conhecimento, característico desta disciplina (Nonaka: Takeushi, 2008; Botelho: Monteiro & Valls, 2007, Terra, 2010). A gestão do conhecimento guarda o potencial de tornar as organizações realmente vivas (De Geus, 1998), capazes de perdurarem no tempo e de se renovarem para sobreviver a diferentes ambientes „ecológicos‟. Só terá sucesso, entretanto, se integrar suas abordagens „humanística‟ e „tecnológica‟ (Cardoso, Cameira & Proença, 2001). 74 2.11 GINÁSTICA LABORAL ATRAVÉS DOS TEMPOS O trabalho desde os primórdios representa a sobrevivência humana e sua relação com a natureza. A evolução dos tempos imprimiu uma diversidade de fenômenos que afligem o mundo laboral. Entretanto, ao entender a evolução do trabalho, as mudanças do perfil do trabalhador e o avanço tecnológico, percebe-se que existe um esforço para minimizar os efeitos que o trabalho provoca, sejam eles de cunho físico, emocional ou psíquico. A linha histórica do trabalho parte desde a característica nômade, coletora, até o avanço enquanto ser explorador e consumidor de sua própria evolução. O período em que o trabalho e principalmente a saúde do trabalhador se estabelece como preocupação das autoridades e do mundo acadêmico, é consequência de uma época que a partir da revolução industrial se primou pela exploração do trabalho e aumento de capital. A partir desse período, o estilo de vida dos trabalhadores mudou muito desde a sua característica agrícola até se transformar num modus vivendi industrial. O ser humano passou de uma vida fisicamente ativa para uma predominantemente sedentária. A automação das tarefas diárias na empresa e na indústria somada à tecnologia dos computadores na era atual tem dispensado, muitas vezes, as tarefas físicas mais intensas. Por outro lado, não se imaginava que, com a industrialização e a consequente mudança de uma vida rural para uma vida urbana, ocorressem aumentos significativos de doenças que, muitas vezes estão relacionadas ao trabalho, como distúrbios mentais, afecções cardiovasculares, alterações das gorduras sangüíneas, problemas com drogas, álcool e doenças nutricionais e osteoarticulares (Militão, 2001). Diversos aspectos estão presentes na sociedade moderna, como questões relacionadas às condições de trabalho, o mercado altamente competitivo, o grau de trabalhabilidade, de empregabilidade e outras dificuldades do dia-a-dia fazem os trabalhadores vivenciarem cada vez mais situações estressantes no ambiente de trabalho e fora dele. As condições gerais de vida, assim como as condições de trabalho, contribuem para tornar 75 muitos trabalhadores incapazes de responder as demandas diárias de atividade laboral e cotidianas (Pinto, 2003; Benavides et al., 2008; MartinezLopez & Saldarriaga-Franco, 2008). Várias são as tentativas de se criar ferramentas e procedimentos para minimizar os efeitos do trabalho à saúde. Assim como, várias são as linhas de investigação que buscam soluções capazes de reduzir os diversos danos à saúde que o trabalhador de diferentes setores apresentam. Com o desenvolvimento de uma série de recursos voltados para a saúde do trabalhador, programas de promoção da saúde são instituídos desde o início da vida laboral, a partir da revolução industrial, seja pelo ponto de vista da produtividade, seja pela redução da fuga de trabalhadores, seja pela melhoria das condições de trabalho e, até os dias atuais, pela preocupação com a saúde e qualidade de vida do trabalhador (Casas & Klijn, 2006; Descanio & Lunardelli, 2007). Em relatório publicado em 2009, o Serviço Social da Indústria (SESI), apresentou o perfil de estilo de vida e hábitos de lazer dos trabalhadores da indústra abrangendo 2.775 empresas e 47.886 trabalhadores no período de 2006 a 2008. Nesse relatório, foram apresentados dados que permitem a gestão nos estilos de vida dos trabalhadores fundamentada nas demandas de longevidade saudável e força produtiva. Na figura a seguir, demonstra-se o quantitativo de oferecimento de programas de ginástica na empresa em relação ao tamanho da empresa. No caso apresentado, observa-se uma desigualdade regional na proporção de trabalhadores ao não oferecimento do Programa Ginástica na Empresa (SESI, 2009). 76 Figura 1 – Proporção de trabalhadores da Indústria que referiram o oferecimento do Programa Ginástica na Empresa, por porte da empresa Fonte: Relatório Geral – Lazer Ativo (SESI, 2009) Apesar das ofertas de programas e ferramentas que auxiliem na melhoria das condições de saúde dos trabalhadores e estímulos para a prática de hábitos e atitudes saudáveis, como o exercício físico, no relatório é apresentada a proporção de trabalhadores da indústria que relataram não participar do Programa de Ginástica na Empresa. Na Figura 2, são apresentados a proporção por região e gênero em todo o país. 77 Figura 2 – Proporção de trabalhadores da indústria que referiram não participar do Programa Ginástica na Empresa, por região e gênero. Fonte: Relatório Geral – Lazer Ativo (SESI, 2009) O relatório realizado pelo SESI mostra a participação dos homens e mulheres, a relação entre a idade e a participação em programas de ginástica, o estado civil, escolaridade, renda familiar e o tamanho da empresa de pequeno, médio ou grande porte, conforme indicado na Figura 3. 78 Figura 3 – Proporção de trabalhadores da indústria que relataram não participar do Programa de Ginástica na Empresa Fonte: Relatório Geral – Lazer Ativo (SESI, 2009) O nível de prática de atividades físicas em diferentes populações está muito aquém da real necessidade dos indivíduos, mesmo em populações teoricamente mais esclarecidas. Bara Filho et al.(2000) e Silva et al. (2007) analisaram a prática regular de atividade física através de questionários aplicados em graduados e mestres em Educação Física e verificaram que atividade física não é um hábito corriqueiro na maioria dos profissionais em questão. A relação entre qualidade de vida e saúde tem uma relação vazia de significado, tal afirmativa se revela ao encontrar um sentido teórico e epistemológico fora do marco referencial do sistema médico, culminando numa prática do campo da saúde pública, portanto como afirma Minayo, Hartz & Buss, (2000): 79 Qualidade de vida é uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial. Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar. Sem perder de vista a ideia da melhoria do trabalho, a preocupação com a saúde e a qualidade de vida, o panorama da economia mundial, a globalização e as tecnologias evoluindo, os parâmetros de valorização do trabalho têm modificado e com isto a organização e ambiente do trabalho estão diretamente ligados à saúde do trabalhador. Dentre os aspectos, destaca-se a preocupação de diversos programas de saúde do trabalhador em que estão embutidos programas de atividade física e ginástica laboral (Descanio & Lunardelli, 2007; Vasconcelos, 2001; Moretti, 2010). Dentro da realidade do trabalhador, uma empresa que oferece programas diretamente elaborados para seus trabalhadores pode gerar diversos benefícios tanto para a empresa como para seus empregados, gerando um aumento do bem-estar e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores, viabilizando um uso sadio do tempo livre fora da empresa. A prática da atividade física no local de trabalho e dentro do expediente pode com seu crescimento transformar-se numa nova tendência e possibilidade de exercícios físicos e lazer aos trabalhadores: suprindo problemas da atualidade como a falta de tempo e local adequado (Ruiz-Frutos, 2007; Martinez & Latorre, 2008). Entre os benefícios da atividade física na empresa, conforme DaCosta & Pegado (1990), pode-se destacar: Melhoria e promoção da saúde; Maior benefício e segurança social; Humanização do local de trabalho atingindo a sociedade; Melhoria do desempenho profissional; Diminuição de acidentes de trabalho, rotatividade e absenteísmo; Aumento da produtividade e qualidade do trabalho; 80 Controle do “stress”; Melhoria da Qualidade de Vida. Além disso, Andrade et al. (1993) afirmam que a aptidão física dos indivíduos é um dos principais indicadores da saúde de um país, levando-nos a concluir que um programa de atividades físicas é um elemento importante na promoção da saúde da população. No ambiente empresarial, a promoção da saúde através de atividades físicas, pode ser justificado numa perspectiva de saúde pública, acarretando melhoria na qualidade de vida da população (Lovato, Green e Stainbrook, 1995, Martins, 2001). A partir dos anos 70, iniciou-se no Brasil uma preocupação científica a respeito do tema Ginástica de Pausa como foi apontado no artigo publicado na Revista Brasileira de Educação Física em março/abril de 1974 de Mario Ribeiro Cantarino Filho e Ewerton Negri Pinheiro. Nesse contexto, a evolução do conhecimento se mostrou relativamente estática, tendo em vista que as obras sobre o tema ginástica laboral não se destacam por um poder científico sólido, no entanto, se mostram como um importante nicho mercadológico. A história da atividade física dentro da empresa no Brasil começou no Rio de Janeiro em 1901, em uma empresa chamada Fábrica de Tecidos Bangu. Conforme DaCosta (1990), as manifestações de esporte e lazer nas empresas são retratadas em forma de “surtos”, através dos quais são apresentados registros históricos e uma caracterização da história brasileira de ginástica na empresa semelhante à história internacional. A busca sócio-política-filosófica identifica propósitos para os quais caminham as atividades de lazer e esporte nas empresas brasileiras. DaCosta ainda relata que houve um “surto Corporativo-Assistencialista” nos anos 30-40 e que o esporte nas empresas consistia num setor corporativo filiando-se a clubes, federações, ligas, entre outros. Entretanto, nos anos 40-70, um novo “surto” assistencialista ocorre, influenciado por modelos externos, é possível que no caso brasileiro as influências ocorram a partir dos modelos americanos e europeus e que não seja um produto genuinamente brasileiro. Ainda nos anos 70-80, ocorreu o “surto de reordenamento das relações internas na 81 empresa”, a retrospectiva histórica mostra que este surto aconteceu simultaneamente ao ocorrido nos Estados Unidos. Mais recentemente no Brasil, uma empresa de influência nipônica, a Ishikawagima do Brasil (Ishibras) iniciou um programa com dois tipos de atividades: uma atividade no início da Jornada de trabalho e outra ginástica compensatória nas pausas ocorridas na empresa durante a jornada, envolvendo 4300 funcionários. Iniciada a partir desta experiência, o SESI desenvolveu o seu programa através dos seus vários Departamentos Regionais, utilizando uma metodologia própria e adaptada às realidades locais, tendo uma denominação de “Ginástica na Empresa(GE)”. Em 1978, um de seus Departamentos Regionais participou, durante 7 meses, de um projeto de ginástica laboral compensatória, em parceria com a Escola de Educação Física da Federação dos Estabelecimentos de Ensino Superior de Novo Hamburgo – Feevale (Schimitz, 1981). Com o intuito de se revelar a observação histórica a respeito das tendências da ginástica laboral a partir das construções teóricas e científicas, foi verificado que comercialmente existem apenas sete obras que revelam as intervenções práticas e teóricas da ginástica laboral. O desenvolvimento da Ginástica laboral no Brasil se caracterizou por um produto capaz de beneficiar a saúde do trabalhador, entretanto, os estudos relacionados ao tema ainda têm uma série de comprometimentos que impactam na relevância científica, e na sua importância no meio acadêmico (Fonseca, 2006). De acordo com Toledo (2008) em um levantamento feito na base de dados do LILACS apenas 16 trabalhos foram publicados no período de 1985 a 2007, tendo como foco de investigação a saúde do trabalhador, ergonomia, alimentação, qualidade de vida e adesão a programas de Ginástica Laboral. Toledo & Delgado (2009) realizaram um levantamento através da análise lexical das obras publicadas no Brasil e disponíveis no mercado, e observaram que a literatura investigada apresenta um desdobramento teórico ainda limitado, apesar de ser uma temática que se estabelece historicamente no Brasil há mais de 30 anos, observações iniciais apontam para o fenômeno 82 desde o início do século XX. A evolução histórica da temática não se apresenta cientificamente sólida, tendo em vista uma caracterização doutrinária a respeito do tema, impedindo talvez evoluções no campo epistemológico e científico que possam esclarecer as transformações reais a partir da intervenção do homem no mundo do trabalho. A Ginástica Laboral e Programas de Atividade Física na Empresa são temas de preocupação acadêmica, tendo em vista o número expressivo de teses e dissertações sobre a temática e que relacionam a ginástica laboral, qualidade de vida e saúde do trabalhador (Martins, 2005; Martins 2000; Militão, 2001; Alvarez, 2002; Pinto, 2003; Logen, 2003). Atualmente, o crescimento na procura e o interesse por empresas de diversos ramos de atuação, para atuar em programas de qualidade de vida e atividade física, evolui significativamente, este fato ocorre em função de alguns apontamentos terem indicado que funcionários sedentários custam mais em despesas com saúde do que funcionários não sedentários. Uma das estratégias utilizadas pelas empresas é a implantação de programas de ginástica laboral, com o objetivo de melhorar variáveis da aptidão física geral como força muscular e flexibilidade, nível de atividade física, além de colaborar para o nível de satisfação dos funcionários (Lima, 2007). Estas ofertas que várias empresas apresentam ainda não estão cientificamente comprovadas, em virtude da produção acadêmica e a envergadura dos trabalhos e pesquisas apresentadas até então. A ginástica laboral é divulgada e informada como um meio eficiente de incentivo e valorização da prática de atividades físicas por atuar como um instrumento de promoção da saúde, no entanto, a solidificação em termos científicos e metodológicos ainda não apresenta materiais disponíveis e não há um estado da arte no tema que defina que a ginástica laboral contribua para um melhor desempenho profissional. A diminuição do sedentarismo, o controle do estresse, a melhora da qualidade de vida, o aumento do desempenho são atribuições dadas à ginástica laboral, não há pesquisas com metodologia robusta que possa afirmar tais benefícios, por outro lado, a cultura e a 83 popularização criam um ambiente que talvez seja capaz de beneficiar alguns destes atributos. Partindo dessa visão, um Programa de Ginástica Laboral (PGL) pode apresentar-se como um dos programas que compõe o leque de opções voltadas para melhorar a Qualidade de Vida (QV) e Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). A ginástica laboral (GL) pode ser definida como uma pausa ativa realizada no ambiente de trabalho, cuja duração média é de cinco minutos, quando efetuada na fábrica e quinze minutos quando executada no escritório, efetuada através de exercícios de alongamento e demais atividades, que apresentam os objetivos principais de prevenir os DORT (Distúrbios Ósteomusculares Relacionados ao Trabalho) e reduzir o distresse psicológico (Martins, 2005). A Ginástica Laboral (GL) tem se tornado no decorrer das últimas décadas uma ferramenta muito importante para as empresas. Atualmente, a discussão realizada em relação ao tema está pautada na forma de execução, implantação e sua manutenção (Lima, 2004; Zilli, 2002; Mendes & Leite, 2008; Polito & Bergamaschi, 2006; Oliveira, 2006; Lima, 2007). A Ginástica Laboral tem em sua metodologia três momentos ou fases de aplicação: a ginástica aplicada antes da jornada de trabalho é denominada de fase 1 ou ginástica laboral preparatória, a ginástica aplicada durante a jornada de trabalho é denominada de fase 2 ou Ginástica Laboral Compensatória e a fase 3 é composta pela ginástica laboral de relaxamento pois é aplicada após a jornada de trabalho (Lima, 2004; Zilli, 2002; Mendes & Leite, 2008; Polito & Bergamaschi, 2006; Oliveira, 2006; Lima, 2007). 84 CAPÍTULO III 3.1 METODOLOGIA No presente estudo, a metodologia utilizada visa ilustrar a estrutura de investigação e intervenção capaz de informar as diretrizes teóricas que envolvem a construção da pesquisa como um todo. A estrutura do estudo tem por finalidade elucidar diferentes percepções à luz da tecnologia e uso de software. O presente estudo contou com a captação de trabalhos cujo propósito técnico-científico é, sobretudo, voltar-se para o inventário do tema central dos últimos 50 anos, desde que foi introduzido e aperfeiçoado por professores de Educação Física e profissionais de áreas correlatas no Brasil, atendendo as demandas nas áreas de lazer, terapêuticas, fisiológicas e segurança do trabalho. Os trabalhos já publicados ou em andamento, que apresentaram significado de memória ou de avanço científico sobre o tema do livro, nas últimas cinco décadas, também foram considerados para análise da pesquisa. A pesquisa de caráter qualitativo descritivo se estabeleceu a partir da análise de 21 trabalhos captados a partir da chamada pública realizada em junho de 2007. Os procedimentos foram o recolhimento e leitura de todas as obras apresentadas, análise críticas e triagem para o tema específico. No segundo momento, os trabalhos selecionados e caracterizados passaram por uma leitura crítica e reflexiva para se definir os elementos de investigação com a construção dos focos e em sequência as notas críticas da investigação. Portanto, a chamada pública de autores e pesquisadores na temática a fim de captar e reunir os agentes produtores e interventores de informação sobre a ginástica laboral e atividade física na empresa, para poder retratar a realidade da produção acadêmica no Brasil nos últimos anos sobre a temática citada. Permitiu a compilação da produção reunida de autores de várias regiões do país, incidindo na confecção de um Livro em Ginástica Laboral e Atividade Física na Empresa, de acordo com a análise e revisão do conteúdo, que serviu de constructo para a elaboração da tese. 85 A análise e revisão do material coletado foram realizadas a partir da leitura e organização das temáticas, seguidas da interpretação e crítica do conteúdo, em outro momento, foi analisada também a estrutura lexical do conteúdo, sendo plotada em uma matriz, construindo um banco de dados pela tabulação e codificação dos dados, utilizando o software MS Excel©, em que foram separados por colunas, os autores e títulos das obras, organizados em focos 1; 2; 3; 4 e 5, complementados por notas 1; 2; e 3 de cada obra, observados pelo autor das análises. A análise teve também a verificação do material a partir de obras literárias disponíveis no mercado, sendo levantadas a partir da utilização da ferramenta de busca Google Book Search, estabelecendo as obras que fizeram parte da análise. Além da análise e interpretação das obras, foi realizada a metanálise dos artigos e produções feitas a partir do material captado pela chamada pública, em que as análises foram confeccionadas cruzando os focos temáticos com as notas emitidas pelo analisador. Para a análise, foi utilizado o software SPHINX LEXICA & EURECA® V. 5. de origem francesa que permitiu a revisão e análise do conteúdo, podendo ser verificadas as estruturas léxicas e as relações feitas na construção das obras e materiais compilados para a tese. A análise foi feita também não somente pela análise lexical do conteúdo como também a análise de correlação múltipla do conteúdo. É importante citar que o uso de dados qualitativos permite identificar ou até mesmo antecipar oportunidades e problemas de forma bem mais pontual e precisa. As ideias de complementariedade, recorrência e sequencialidade do uso da análise léxica e de conteúdo atribuem diferentes aspectos metodológicos para exploração mais criteriosa da análise qualitativa (Santos, 2004). Este tipo de análise se configura como o estudo científico do vocabulário, com aplicações de métodos estatísticos para a descrição do vocabulário: ela permite identificar com maior detalhe as citações dos participantes, utilizando indicadores que relacionam aspectos relativos às citações e às palavras (Freitas & Moscarola, 2000). Além disso, este tipo de 86 análise contribui para a interpretação das questões abertas ou textos, a partir da descrição objetiva, sistemática e quantitativa do seu conteúdo. A análise de conteúdo como um método de pesquisa utiliza um conjunto de procedimentos para tornarem válidas inferências a partir de um texto, assim foi necessário um esforço de desvendamento, conduzindo à lucidez das informações (Santos, 2004). Do ponto de vista da análise qualitativa, portanto com um grau de subjetividade no estudo, é lúcido afirmar que a subjetividade é que vai permitir explicar ou compreender as verdadeiras razões do comportamento ou preferência de um certo grupo de dados, logo a preparação e análises de dados passam pela identificação e categorização adequada de seus conteúdos, na busca pela produção de conhecimentos e identificação de relações que permite avançar na compreensão dos fenômenos investigados. Segundo Santos (2004), o rigor científico afere-se pelo rigor das medições, o que não é quantificável é cientificamente irrelevante, já que a natureza teórica do conhecimento decorre dos pressupostos epistemológicos, assim, as leis da ciência moderna são um tipo de causa formal que privilegia o como funciona das coisas, em função de qual o agente ou qual o fim das mesmas. Santos (2004) completa; o mundo que o racionalismo cartesiano torna cogniscível, a ideia homem-máquina é de tal força que a ordem e a estabilidade do mundo são pré-condição da transformação tecnológica do real. Entretanto, Prigogine (1996) ilustra que a manutenção da ótica contemporânea da ciência constrói certezas temporárias e que a ciência, a subjetividade e a cultura, podem ser vistas por um prisma multidimensional e transformativo, relatando que os fenômenos podem ser examinados, inseridos nos campos científicos e culturais emergentes. Para o autor, as leis da natureza não são estáveis, e o pensamento atual está relacionado a uma estabilidade científica, e a argumentação centrase em leis, sendo que a natureza não está obrigada a seguir certas leis. Na sequência, Prigogine (1996) argumenta que esta ideia de que o mundo está sujeito a certas leis surgiu no pensamento do ocidente. Não obstante, dentro de 87 seu pensamento, a vida da sociedade como um todo não pode esperar alcançar certezas, a história é instável, ao contrário, se supunha que a natureza era estável e que a ciência iria alcançar a certeza, entretanto, nos dias atuais, esta suposição não é válida. O autor põe à luz a discussão dos erros gerados pelas generalizações, principalmente, na área da preditibilidade. Para tanto, o propósito é mostrar que temos que revisar os nossos conceitos de leis da natureza para incluir a probabilidade e a irreversibilidade. Consequentemente, para o autor estamos somente começando na ciência, pois na verdade estamos chegando ao final da ciência convencional, já que este momento é um momento que surge uma nova perspectiva da natureza (Schnitman, 1996). Nesta perspectiva, há uma nova referência, o descobrimento da instabilidade dinâmica, ou seja, o Caos, termo este que corresponde às consequências temporais irregulares. Em seus pensamentos conclusivos, Ilya Prigogine crê que o tempo é real e que a irreversibilidade cumpre na natureza um papel construtivo fundamental. O autor segue dizendo que não podemos aceitar que o tempo é uma ilusão, a história do conceito do tempo é um excelente exemplo da criatividade científica. Deste modo, a teoria de Prigogine recupera inclusivamente conceitos de potencialidade e virtualidade que a revolução científica permite. A escolha pelo método de investigação recai na ideia de que a ciência moderna faz erguer sobre si uma nova ordem científica, que o sentido global da revolução da ciência passa pela reconceituação em condições epistemológicas e metodológicas do conhecimento científico (Santos, 2004). Ainda Geertz (1989) refere-se às ciências através de analogias humanísticas e restringe o uso das ciências às ciências de cunho social, por acreditar que as categorias de inteligibilidade são universais. Por outro lado, as ciências matemáticas têm brindado com as ciências de linguagem lógico-formal para expressar, analisar e compreender múltiplos fenômenos e teorias. O uso do computador ou softwares abre novas linguagens que ampliam a capacidade de expressar uma explicação e 88 contribuição indispensável para estudar e entender fenômenos em quase todos os âmbitos do conhecimento (Boden, 1994). O computador é capaz de realizar processos mais complexos que o homem, tendo em vista que a relação homem-máquina é carregada de intenção, especificação, execução, avaliação, interpretação e percepção, o Homem é o motor de operações e a interface na relação Homem-máquina. A evolução tecnológica nos últimos anos avançou de forma rápida, enquanto que a evolução humana não esteve na mesma aceleração deste desenvolvimento (Orlikowski & Robey, 1991; Freitas, Janissek-Muniz & Moscarola, 2005; Weber, 1990; Freitas & Moscarola, 2000). Portanto, a escolha do método se faz necessária não somente pela capacidade de informações, mas também pela amplitude conceitual, como de fato, impõe um novo modelo de investigação para análises de textos e construções históricas temporais e atemporais, dentro de um marco investigativo. Logo, a análise léxica consiste em se passar da análise do texto para análise do léxico (conjunto de todas as palavras encontradas no texto analisado), além da análise de conteúdo que consiste em uma leitura aprofundada, codificando-se cada uma obtêm-se uma idéia sobre o todo. A análise qualitativa dos dados foi realizada através de procedimentos de estatística multivariada. Para tanto, os dados serão processados em software estatístico sendo utilizado o pacote SPHINX LEXICA & EURECA® V. 5. Foi realizada Análise Fatorial de Correspondência (AFC) que tem por objetivo analisar uma tabela de contingência formada pelas frequências de objetos (autores-focos-notas) que possui a característica da linha i e da coluna k, não considerando os valores absolutos, mas as correspondências entre caracteres, isto é, os valores relativos cuja soma é igual a 1. Analisando os padrões de freqüências relativas (probabilidades) a partir do cálculo dos autovetores da matriz de variâncias-covariâncias entre as linhas (ou as colunas) (Benzécri, 1969; Benzécri, 1973). A compreensão do um mapa geográfico é realizada através da observação das distâncias menores entre categorias-linha e categorias-coluna em que representam associações mais fortes, enquanto que distâncias maiores 89 representam dissociações (repulsões) entre estas categorias (Lagarde, 1995; Moscarola, 1991). A análise proporcionada pelo mapa de Análise Fatorial de Correspondências Múltiplas (AFCM) permitem que associações múltiplas fossem identificadas simultaneamente em duas (ou mais) dimensões, com distâncias geradas subjetivamente pelos respondentes (sem que as similaridades fossem diretamente avaliadas por estes), conforme sugerem Hoffman & Franke, (1986). A AC é uma técnica que visa a redução da quantidade de dados a serem analisados pelo pesquisador, a partir de procedimentos de estatística multivariada, de forma que este possa analisar um número maior de variáveis/categorias simultaneamente a partir de um espaço com dimensões reduzidas, com o mínimo de perda de informação possível. A partir da identificação das categorias que mais se afastavam do centro do gráfico (quando o interesse foi o de se buscar características específicas), permitiu-se a observação das representações mais originais e que caracterizavam as dependências existentes. As categorias próximas ao centro do gráfico demonstram estar associadas a um grande número, senão a todas, de categorias de uma linha e de uma coluna, representando um comportamento médio das tendências de foco no que se refere a estas categorias. Quanto mais afastadas do centro encontravam-se as categorias de autores e/ou focos, e quanto mais próximas entre si, mais características daquelas categorias-linha (autores) serão aquelas das categorias coluna (focos). Adicionalmente, depreende-se que as categorias-coluna mais afastadas das categorias-linha representam não serem características umas das outras (Lagarde, 1995; Moscarola, 1991; Moscarola, 1996; Green, Shaffer & Patterson, 1988). A metodologia deste estudo partiu de uma necessidade de avaliar e verificar a trajetória da ginástica laboral no Brasil. Para cumprir com os objetivos buscou-se, através de uma chamada pública de todos os autores, pesquisadores e agentes atuantes em ginástica laboral, captar os diversos e diferentes textos sobre a temática. 90 Além da chamada pública, a metodologia utilizada neste estudo foi a realização de uma revisão e análise sistemáticas de seis obras literárias (livros) publicadas e disponíveis no mercado sobre ginástica laboral, a partir do sistema de buscas Google Book Search, que se constituiu em ordenar logicamente as ideias dos autores, formando um sistema conexo, em que cada idéia para ser examinada particularmente com vistas a ser mais bem compreendida e caracterizada (Lakatos: Marconi, 1992). Este estudo constituiu na realização de uma revisão e análise sistemáticas de seis obras literárias (livros) publicadas e disponíveis no mercado sobre ginástica laboral, que se estruturou em ordenar logicamente as ideias dos autores. As obras analisadas foram: 1) Ginástica Laboral: Teoria e prática de Eliane Polito; Elaine Cristina Bergamaschi; 2) Ginástica laboral: Metodologia de implantação de programas com abordagem ergonômica, autor: Deise Guadalupe de Lima; 3) Ginástica Laboral custos e orçamentos na implantação de programas, autor: Deise Guadalupe de Lima; 4) A prática da Ginástica Laboral, autor: João Ricardo Gabriel de Oliveira; 5) Ginástica Laboral atividade física no ambiente de trabalho, autor: Valquíria de Lima; 6) Ginástica laboral princípios e aplicações práticas, autor: Ricardo Alves Mendes e Neiva Leite. Após a referida análise, foi realizado um resumo crítico de cada obra e, em seguida, foi construído um banco de dados pela tabulação e codificação dos dados utilizando o software MS Excel© em que foram separados por colunas, os autores e títulos das obras, organizados em focos 1; 2; 3; 4 e 5, complementados por notas 1; 2; e 3 de cada obra observado pelo autor das análises. 91 3.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA O gráfico obtido foi interpretado como um mapa geográfico, onde distâncias menores entre categorias-linha e categorias-coluna representavam associações mais fortes, enquanto que distâncias maiores representavam dissociações (repulsões) entre estas categorias (Lagarde, 1995; Moscarola, 1991). 92 3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O mapa geográfico (Gráfico-1) exibe as posições, as categorias e as coordenadas das observações (autores-foco). 49.99% da variância é explicada pelos dois eixos representados. As não-respostas foram ignoradas. 3 categorias não foram consideradas (freqüência nula). Cada observação é representada por um ponto. Gráfico 1 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e suas abordagens focais Eixo 2 (24.99%) ASPECTOS EMPREENDEDORES NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL ELIANE POLITO_ BREVE REVISÃO HISTÓRICA DEISE GUADALUPE DE LIMA JOÃO RICARDO GABRIEL DE OLIVEIRA ASPECTO EMPREENDEDOR APLICADO A PROGRAMAS DE GINÁSTICA LABORAL Eixo 1 (24.99%) ASPECTO EMPREENDEDOR COM PLANO DE NEGÓCIO E PLANO DE MARKETING ASPECTO EMPREENDEDOR ABORDADO RICARDO ALVES MENDES E NEIVA LEITE ELAINE CRISTINA BERGAMASCHI_ Os resultados obtidos neste estudo apontam para uma associação em correspondência entre as abordagens focais dos autores Deise Guadalupe de Lima e João Ricardo Gabriel de Oliveira, no que tange aos aspectos empreendedores relacionados à ginástica laboral, contudo, evidenciou-se também que a autora Deise Guadalupe enfoca preponderantemente atuação do profissional e o autor João Ricardo Gabriel os programas de ginastica laboral como um todo. 93 No mapa geográfico a seguir (grafico 2), observa-se a análise das correspondências múltiplas, relacionando autores com o foco 1, neste mapa exibe as posições das 11 categorias e as coordenadas das observações, sendo que 44,44% da variância é explicada pelos eixos representados, as nãorespostas foram ignoradas e 3 categorias não foram consideradas, lembrando que cada observação é representada por um ponto. Gráfico 2 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e suas abordagens focais Eixo 2 (22.22%) MONTAGEM DE EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS EM GINÁSTICA LABORAL REVISÃO RELACIONADA A LER E DORT JOÃO RICARDO GABRIEL DE OLIVEIRA DEISE GUADALUPE DE LIMA ABORADAGEM ERGONÔMICA COM UMA SÍNTESE HISTÓRICA Eixo 1 (22.22%) RICARDO ALVES MENDES E NEIVA LEITE ELAINE CRISTINA BERGAMASCHI_ ELIANE POLITO_ AMPLA REVISÃO SOBRE VÁRIAS TEMÁTCAS BASE CIENTÍFICA MAIS SÓLIDA ASPECTOS DA SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA No gráfico 2, observa-se que as obras analisadas têm uma correlação lexical abordando a prestação de serviços com abordagem ergonômica, tendo um distanciamento de eixo, mas matendo a estrutura lexical, o aspecto da prestação de serviço em virtude da LER e DORT, na obra de João Ricardo. Os autores Ricardo Alves, Neiva Mendes e Eliane Polito e Elaine Cristina se relacionam com a abordagem voltada para saúde e o impacto científico mais sólido. A análise das correspondencias múltiplas, com as variáveis autores e foco 2, o mapa 3 exibe as posições de 10 categorias e as coordenadas das 6 94 observações, em que 43,72% da variancia é explicada pelos dois eixos representados, lembrando que as não-respostas foram ignoradas. Gráfico 3 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e suas abordagens focais Eixo 2 (18.73%) CALCULO DO VALOR DO SERVÇO DEISE GUADALUPE DE LIMA ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL, NUTRIÇÃO, YOGA, MASSAGEM E REEDEUCAÇÃO CORPORAL ADOECIMENTO DO TRABALHADOR ARGUMENTAÇÕES NA PROMOÇÃO DA SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA Eixo 1 (24.99%) PRINCIPAIS PATOLOGIAS ELAINE CRISTINA BERGAMASCHI_ RICARDO ALVES MENDES E NEIVA LEITE ELIANE POLITO_ JOÃO RICARDO GABRIEL DE OLIVEIRA Nesta análise, observa-se que três autores se correlacionam quanto a abordagem ligada à promoção da saúde, havendo um distanciamento entre os autores João Ricardo e Deise Guadalupe, por outro lado, estes autores se alinham em termos de abordagem, no que tange aos aspectos comercais do programa Ginástica Laboral e atividade física na Empresa. A análise das correspondencias múltiplas, relacionando os autores e o foco 3, exibe as posições das 11 categorias e as coordenadas das 6 observações, em que 44,44% da variancia é explicada pelos eixos representados, cada observação é representada por um ponto. 95 Gráfico 4 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e suas abordagens focais Eixo 2 (22.22%) BASE TEÓRICA DO COMPORTAMENTO SAUDÁVEL E ATITUDES SAUDÁVEIS NO TRABALHO DEISE GUADALUPE DE LIMA ELAINE CRISTINA BERGAMASCHI_ PRINCIPAIS PATOLOGIAS ELIANE POLITO_ ELEMENTOS DE FORMAÇÃO DE PREÇOS Eixo 1 (22.22%) PROCEDIMENTOS ALTERNATIVOS E SUGESTIVOS PARA IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMAS DE GINÁSTICA LABORAL APONTAMENTOS RELATIVOS AO TRATAMENTO E ESTATÍSTICA DAS INTERVENÇÕES RICARDO ALVES MENDES E NEIVA LEITE JOÃO RICARDO GABRIEL DE OLIVEIRA COMPREENSÃO COMERCIAL DO PRODUTO GINÁSTICA LABORAL A Análise das correspondências múltiplas com as variáveis autores e foco 4 permite exibir as posições das 10 categorias e as coordenadas das 6 observações. Em que 50.00% da variância é explicada pelos dois eixos representados. As não-respostas foram ignoradas. 3 categorias não foram consideradas (frequência nula). Cada observação é representada por um ponto. 96 Gráfico 5 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e suas abordagens focais Eixo 2 (25.00%) ASPECTO EMPREENDEDOR EM DESTAQUE ELAINE CRISTINA BERGAMASCHI_ DEISE GUADALUPE DE LIMA IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMAS DE GINÁSTICA LABORAL Eixo 1 (25.00%) CUSTOS E DESPESAS FIXAS E CUSTOS DO SERVIÇO ABORADAGEM ERGONÔMICA JOÃO RICARDO GABRIEL DE OLIVEIRA RICARDO ALVES MENDES E NEIVA LEITE PROPÕE ÁREAS DE ATUAÇÃO COMO GINÁSTICA LABORAL ESCOLAR E RECREAÇÃO OCUPACIONAL ELIANE POLITO_ 97 Análise das correspondências múltiplas no gráfico 6 apresenta as variáveis autores e foco 5, na qual o mapa exibe as posições das 9 categorias e as coordenadas das 5 observações. 42.83% da variância é explicada pelos dois eixos representados. As não-respostas foram ignoradas. 4 categorias não foram consideradas (frequência nula). Cada observação é representada por um ponto. Gráfico 6 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e suas abordagens focais Eixo 2 (14.26%) PLANOS DE NEGÓCIO E PLANO DE MARKETING JOÃO RICARDO GABRIEL DE OLIVEIRA RICARDO ALVES MENDES E NEIVA LEITE APONTA BENEFÍCIOS EMPRESARIAIS COM O PORGRAMA ASPECTO EMPREENDEDOR COM EXEMPLOS DE PROJETOS DE IMPLANTAÇÃO E DIAGNÓSTICO DEISE GUADALUPE DE LIMA Eixo 1 (28.57%) ELIANE POLITO_ ASPECTOS EMPREENDEDORES NA FORMAÇÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS DE GINÁSTICA LABORAL FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA Neste gráfico também se observa a tendência da aplicação da ginástica laboral com o viés empreendedor, situando os aspectos na formação de preços, projetos de implantação, benefícios empresariais e planejamento de marketing. Nos Gráficos 7 e 8 as análises das correspondências múltiplas adotam as variáveis autores, nota 1 e nota 3. O mapa exibe as posições das 10 98 categorias e as coordenadas das 6 observações. 37.48% da variância é explicada pelos dois eixos representados no gráfico 7 e 0,0% no gráfico 8. As não-respostas foram ignoradas. 3 categorias não foram consideradas (frequência nula), para o mapa 7 e 5 categorias não foram consideradas para o mapa 8. Cada observação é representada por um ponto. Gráfico 7 – Mapa fatorial de coorespondencia entre os autores das obras e suas abordagens focais Eixo 2 (24.99%) REVISÃO DE LITERATURA SUPERFICIAL JOÃO RICARDO GABRIEL DE OLIVEIRA NENHUM APROFUNDAMENTO TEÓRICO SOBRE GINÁSTICA LABORAL ABORDAGEM PRÁTICA COM VIÉS ERGONÔMICO DEISE GUADALUPE DE LIMA Eixo 1 (12.49%) ABORDAGEM PRÁTICA ELIANE POLITO_ ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL RICARDO ALVES MENDES E NEIVA LEITE ELAINE CRISTINA BERGAMASCHI_ 99 Gráfico 8 – Mapa fatorial de correspondencia entre os autores das obras e suas abordagens focais Eixo 2 (0.00%) ELAINE CRISTINA BERGAMASCHI_ ELIANE POLITO_ ELAINE CRISTINA BERGAMASCHI_ ELIANE POLITO_ VALQUÍRIA DE LIMA RICARDO ALVES MENDES E NEIVA LEITE Eixo 1 (0.00%) PROMOÇÃO NA SAÚDE DO TRABALHADOR PROMOÇÃO NA SAÚDE DO TRABALHADOR ESTRUTURAÇÃO DE PROGRAMAS COM ABORDAGEM ERGONÔMICA PROPOSTA DE ATUAÇÃO EM TEMÁTICAS POUCO EXPLORADAS NO CAMPO CIENTÍFICO ESTRUTURAÇÃO DE PROGRAMAS COM ABORDAGEM ERGONÔMICA Não resposta PROPOSTA DE ATUAÇÃO EM TEMÁTICAS POUCO EXPLORADAS NO CAMPO CIENTÍFICO Os resultados representam a caracterização da ginástica Laboral no final da década de 90 e início do século 21 como um negócio, diante da demanda apresentada pelas empresas para oferecer condições de melhoria e manutenção da saúde conforme vários estudos apontaram para necessidade de políticas para melhoria da qualidade de vida e hábitos saudáveis (Descaino & Lunardelli, 2007; Martinez & Latorre, 2008; Ruiz-Frutos et al., 2007; Trierweiler & Silva, 2007; Vasconcelos, 2001; Casas & Klijn, 2006; Lipp & Tanganelli, 2002; Shimazu et al., 2003; Gitanjali & Ananth, 2003; Oliveira et al., 1997; Borges, 2001; Moretti, 2010). Esses resultados se coadunam com a trajetória histórica indicada por Dacosta (1990) em que o desenvolvimento histórico da ginástica laboral e 100 atividade física na empresa foi estruturado por surtos iniciando com uma característica sócio-política-filosófica atrelada às atividades físicas de lazer e esporte nas empresas brasileiras, já a autora Elaine Cristina centra suas ideias nos aspectos empreendedores ligados a planos de negócios e planos de marketing, em que aparentemente se torna este espaço de atuação como um nicho de mercado. Contudo, os resultados apontados estão afinados com o levantamento de Fonseca (2006) em que os estudos de Ginástica Laboral estão agregados às ideias organizacionais e sociais, retomando, então, o viés sócio-político-filosófico em que se desenvolveu a temática nos anos 70. Gráfico 9 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e sua abordagem no foco 1 Eix o 2 (0 .00 %) GL ve m pas sa ndo por uma f as e de c res cime nto ca da ve z ma is e vidente em todo o país A VISÃ O DA S EMPR ESAS GAÚ CH AS SOB RE AS A TIVID AD ES FÍSIC O- DESPOR TIVAS N A EMPR ESA A G IN ÁSTIC A LA BO RAL E A IMPOR TÂ NC IA DA A TIVID AD E FÍSICA PAR A OS TR ABA LH AD ORES impac t os prov enient e da gl na sa úde do t rabalhador Para rea liza r uma int erve nçã o no ambie nt e de t rabalho é ne ce ss ário c onhe c er e rec onhe ce r a sua c ent ra lida de na s organiza çõe s soc ia is moderna s e cont e mporânea s DIMEN SÕES D A QU ALIDAD E D E VID A NO LO CAL DE TRA BA LHO : PER SPECTIVA ECOLÓG ICA PARA A INTEG RAÇ ÃO D E FATORES PESSOAIS, A MB IENTAIS E OR GA NIZA CION AIS c ompree ns ão do socia l nã o pe rma ne ce a me s ma qua ndo a ela se junt a o ima ginário Efe itos da G iná st ica La bora l na Qua lida de de Vida de Tra ba lha dore s EFETIVID AD E DA GINÁ STICA LABO RA L implanta çã o de um progra ma de G L junt o à s e mpre sa s GIN ÁSTICA LA BOR AL E CO NTROLE D A AN SIEDAD E EM TELEFONISTA S A giná st ica laboral ( GL) t e m sido a dota da por empres as que pos suem um progra ma de qualidade de vida no t rabalho ( QVT) import ância do Prof iss ional de Educa çã o Físic a GIN ÁSTICA LA BOR AL E PR OMOÇÃ O DA SA ÚDE COMO EXTEN SÃ O UN IVERSITÁR IA : A EXPERIÊNCIA D A UFSCAR his t órico da Giná st ic a La boral TRAJ ETÓR IA DO S ESTUDO S SOBR E G IN ÁSTIC A LA BO RAL Ginás t ic a Labora l ( PGL) pode a pres e nt ar- se como um dos programas que c ompõem opções volt a da s para melhorar a Q ua lida de de Vida ( QV) e Q ua lida de de Vida no Tra ba lho ( QVT) rela to his tóric o de progra ma de condiciona me nt o f ísic o e m tra ba lha dore s UM PA NOR AMA DA G INÁSTIC A LA BO RAL NO B RA SIL Eix o 1 (4 .99 %) profis siona l da Educ aç ão Fís ic a um s ta t us oc upac ional ma is de um ex ec utor do que o de um pe ns a dor, e m f unçã o do c arát e r e mine nt e me nt e prát ico de s ua at uaç ão a tiv ida de s des envolvidas pe lo Programa de G inás t ica La bora l GIN ÁSTICA LA BOR AL N A ESC OLA : Progra ma de Promoç ão de Sa úde GIN ÁSTICA LA BOR AL IN TEGR ADA E BIO MECÂN ICA O CUPAC IO NA L O indiv íduo pre cis a s er educ ado para a dot ar um es tilo de v ida sa udáv el des de a e sc ola GIN ÁSTICA LA BOR AL: rela to de uma prá t ic a Fundame nta da GIN ÁSTICA LA BOR AL N O RIO GRA NDE DO SUL Ginás t ic a Labora l Int egra da e B iome câ nic a O cupa ciona l inc remento na inc idê nc ia da s doe nç a s do t ra ba lho, como a s le sões por e sf orç o re pe tit ivo (LER ) e dis túrbios os t eomusc ula re s re la ciona dos a o t rabalho ( DO RT) PERSPECTIVA DE MER CA DO D E TR AB ALHO EM GIN ÁSTICA LAB OR AL PROG RAMA D E GIN ÁSTICA LAB OR AL ( GL) : ETA PA S DE IMPLAN TA ÇÃ O inf luê ncia da a t iv ida de fís ica no cont role dos nív eis de a nsieda de -e st a do em mulheres t ra ba lha dores QU ALIDAD E D E VID A NO TRA BA LH O c onhe cime nto no âmbit o da sa úde do t rabalhador Re f le x õe s s obre a Educa çã o Físic a e o mundo do Tra ba lho O PRO FISSION AL D E EDU CAÇ ÃO FÍSICA E SUA A TU AÇÃ O NA GINÁ STICA LAB ORA L e fe itos da giná st ica laboral na s aúde dos t ra balha dores múltiplas dime nsões da qualida de de vida e da s aúde dos t rabalhadore s O B ER ÇO D A GINÁ STICA LAB ORA L N O BR ASIL: A EXPERIÊNCIA DO C EN TRO UNIVER SITÁRIO FEEVALE gra u de c onhe cimento dos ges t ores empres a ria is ac erc a do papel que a s a t iv ida de s f ísic as INFOR MAÇ ÕES PROVEN IEN TES DE UM PRO GR AMA DE G INÁSTIC A LA BO RAL NA PRO MO ÇÃO DA Q UALIDA DE D E VID A DO TR ABA LH AD OR E DE SUA C OMUNID ADE A G iná st ica La bora l no Comba t e a o Sedenta rismo Ginás t ic a Labora l: B re ve re t rospec t iva e t endê nc ias pa ra o c urso de Educ a çã o Fís ica da Univ ers ida de Fe de ra l de Viç os a No Gráfico 9, foi realizada a verificação das correlações entre os títulos e o foco 1, dado pelo autor, nas análises dos textos estudados, indicando que as associações entre as variáveis não mostrou nenhuma novidade ou pensamento inovador. 101 Gráfico 10 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e sua abordagem no foco 2 Eixo 2 (0.00%) GL representa uma fatia do mercado de trabalho em ascendência e expansão implantação da Ginástica Laboral nas empresas A GINÁSTICA LABORAL E A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA PARA OS TRABALHADORES profissionais despreparados para enfrentar toda a diversidade de situações que ocorrem durante a intervenção nesse segmento A VISÃO DAS EMP RESAS GAÚCHAS SOBRE AS ATIV IDADES FÍS ICO-DESPORTIVAS NA EMPRESA qualidade de vida sócio-ambiental contém o pensamento de or dem que resume uma am bição civilizacional Efeitos da Ginástica Laboral na Qualidade de Vida de Trabalhadores EFETIV IDADE DA GINÁSTICA LABORAL etapas adotadas para implantar e desenvolver um programa de ginástica laboral (GL) GINÁS TICA LABORAL E CONTROLE DA ANSIEDADE E M TELEFONISTAS ações praticadas pelas empresas nos program as de QVT GINÁS TICA LABORAL INTEGRADA E BIOMECÂNICA OCUPACIONAL GINÁS TICA LABORAL NA ESCOLA: Programa de Prom oção de Saúde viés em preendedor GINÁS TICA LABORAL NO RIO GRANDE DO SUL GINÁS TICA LABORAL E PROMOÇÃO DA S AÚDE COMO EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: A EX PERIÊNCIA DA UFSCAR Ginástica Laboral conceitos e benefícios GINÁS TICA LABORAL: relato de uma prática Fundamentada difusão de ensinamentos pelo trabalhador esteve associada à carga de trabalho e aderência semanal à GL Ginástica Laboral: Breve retrospectiva e tendências para o curso de Educação Física da Universidade Federal de V içosa Eixo 1 (5.00%) prepar ação profissional espelham em sua grade curricular a ênfase dada às disciplinas orientadas para as atividades em comparação às de abordagens teóricas qualidade de vida e Ginástica Labor al INFORMAÇÕES PROVENIENTE S DE UM P ROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL NA PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR E DE SUA COMUNIDADE O estilo de vida adotado pela população potencializou o aumento de doenças hipocinéticas em todas as faixas etárias, atingindo na escola tanto os escolares, como os professores e os funcionários estabelecer condutas éticas da interação profissional como também das diretrizes de intervenção na área da saúde ocupacional O BERÇO DA GINÁSTICA LABORAL NO BRASIL: A EXP ERIÊNCIA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO FEEVALE O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA ATUAÇÃO NA GINÁSTICA LABORAL registr os da prática da Ginástica Laboral PERS PECTIVA DE MERCADO DE TRABALHO EM GINÁSTICA LABORAL PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL (GL): ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO GL realizado em em presas sobre os níveis de ansiedade-estado tanto no am biente de trabalho quanto no dia-a-dia de mulheres trabalhadoras Reflexões sobre a E ducação Física e o mundo do Trabalho QUALIDADE DE V IDA NO TRABALHO sessões de GL são efetivas em promover mudanças nos estágios de prontidão e se os funcionários atendem as recomendações do CDC TRAJE TÓRIA DOS ESTUDOS S OBRE GINÁSTICA LABORAL UM PANORAMA DA GINÁSTICA LABORAL NO BRASIL atividade física pode contribuir par a melhora na saúde de trabalhadores em diversos setores ginástica laboral com o objeto de investigação sob múltiplas abordagens no Curso de Educação Física interação entre as pessoas, o ambiente e a sociedade empresas que incentivavam a prática de atividades físicas para seus colaboradores o faziam em função dos aspectos socializadores e integrativos da prática A Ginástica Laboral no contexto pr eventivo às LE R/DORT DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA NO LOCAL DE TRABALHO: PERSPECTIVA ECOLÓGICA PARA A INTEGRAÇÃO DE FATORES PESS OAIS, AMBIE NTAIS E ORGANIZACIONAIS O Gráfico 10 também apresenta uma formatação semelhante ao gráfico anterior, porém com análise relacionando as variáveis títulos e foco 2 de interpretação da pesquisa. 102 Gráfico 11 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e sua abordagem no foco 3 Eix o 2 (0 .00 %) e nfoq u e e rg on ômico emba sa nd o o pr og r ama d e GL na empr es a A G IN ÁSTIC A LA BO RAL E A IMPO RTÂNC IA DA ATIVIDA DE FÍSICA PA RA O S TRAB ALHA DOR ES A VISÃ O DA S EMPRESAS GA ÚCH AS SO BRE AS ATIVIDA DES FÍSICO- D ESPO RTIVAS NA EMPRESA c on he cimen to s n a á r ea de En ge nh ar ia d e Pro d uç ão Efe itos da G iná st ica La boral na Qualida de de Vida de Tra balha dores EFETIVID AD E DA GINÁ STICA LAB ORA L o rg an iza çã o d e p es qu isa d or es foc ad os em e s tu d os d ir ig ido s à qu alid ad e d e v id a e qu alid ad e d e v id a n o tr ab a lh o GIN ÁSTICA LA BOR AL E CO NTROLE D A AN SIEDA DE EM TELEFON ISTAS imp lan taç ão da gin ás tic a la bo ra l é a lte r na tiv a p ar a o r es ga te d a u nião do tra ba lho co m o la z er . GIN ÁSTICA LA BOR AL IN TEGR ADA E B IO MECÂ NICA O CU PA CION AL GIN ÁSTICA LA BOR AL NA ESC OLA: Programa de Promoçã o de Saúde c re sc ime nto p a ra a GL a s er ex p lo r ad o p elo s p ro fiss io n ais d a á r ea n a s mic ro e p eq ue n as emp r es as GIN ÁSTICA LA BOR AL E PROMOÇÃ O D A SA ÚD E CO MO EXTENSÃ O U NIVERSITÁ RIA: A EXPER IÊNC IA DA UFSCA R c on he cimen to s e s pe cífico s e in teg r an do - se c o m ou tra s á r ea s q ue co mp õe m a d inâ mic a d a g in á stica lab or al r ela to s d e G L n a FEEVALE e stud o s o br e a de r ên cia a pr o gr ama g l A g iná stic a lab o ra l es tu d ad a a tu a n a p r ev en çã o e no co mb ate a o e str e ss e inte ra ç ão en tr e un ive rs ida de e c omun ida de Eix o 1 (5 .26 %) g in ás tica no lo c al de tra ba lho co mo fo r ma pr ev en tiva e ter a pê utic a po r me io de ex er c íc ios GIN ÁSTICA LA BOR AL NO R IO GRA ND E DO SU L GIN ÁSTICA LA BOR AL: re la t o de uma prát ica Fundament ada O p ro g ra ma de GL p od e s e r imp lan tad o e m ins titu içõ es de en sin o, c omo for ma de pr e ve nç ão e p ro mo çã o d e s aú d e no ambie nte es co lar INFOR MAÇ ÕES PROVENIEN TES D E UM PR OGR AMA DE GINÁ STICA LAB ORA L N A PR OMOÇÃ O DA QUA LID ADE DE VIDA DO TRA BALHA DO R E D E SUA C OMU NIDA DE for ma ç ão de r e cu r so s h uman os O B ER ÇO D A GIN ÁSTICA LAB OR AL N O BR ASIL: A EXPER IÊNC IA DO CEN TR O UN IVERSITÁ RIO FEEVA LE O PRO FISSION AL DE EDU CAÇ ÃO FÍSIC A E SUA ATU AÇ ÃO N A GIN ÁSTICA LA BOR AL g in ás tica La bo r al e p ro mo ç ão d a s aú d e c omo ex ten sã o u n iv er s itá r ia PERSPEC TIVA DE MER CA DO D E TRAB ALHO EM G IN ÁSTIC A LA BO RAL PROG RA MA D E GIN ÁSTICA LA BOR AL (G L) : ETAPA S D E IMPLA NTAÇ ÃO c on sid er ad a u m mec an ismo me dia do r d o e str e ss e d o tr ab alh o me smo q ua nd o h á u ma du pla jo r na da oc up ac ion a l, c as o c omum e ntr e a s mulh er e s tra b alha d or as TRAJ ETÓR IA DO S ESTUD OS SOB RE G INÁSTIC A LABO RA L QU ALIDAD E D E VID A NO TR ABA LH O Gin ás tica La bo ra l é u ma a tivid ad e físic a n a q ua l a p re se nta co nd içõ es de po de r c o ntr ib u ir n a me lho ra do es tad o p sic oló gic o d os pr atic an tes UM PA NOR AMA DA G INÁ STIC A LABO RA L NO BRA SIL inte rfe r ên cia d e tr ê s me se s d e g l na q u alida de de vid a d e fu nc io n ár ios em u ma ind ús tria me ta lúr g ic a Ginás t ic a Labora l: B re ve ret ros pe ct iva e t endê ncias pa ra o c urs o de Educa çã o Físic a da Unive rsidade Federa l de Viçosa q ua lid ad e d e v ida no lo c al de tra ba lho DIMEN SÕ ES D A Q UALIDA DE D E VID A N O LO CA L DE TR ABA LH O: PERSPECTIVA ECO LÓ GICA PA RA A IN TEGR AÇÃ O DE FA TO RES PESSO AIS, A MBIENTAIS E OR GAN IZA CION AIS mo da lida de s d e a tivida d es fís ica s a do tad as ca ra c te r iz a va m- se po r jo go s e sp or tivo s c ompe titiv os atr av é s de co mp etiç õe s e xte rn as ( to r ne ios e c amp e on ato s) e jog o s e sp or tivo s r ec r ea tiv os Gin ás tica La bo ra l pa ra a Aptid ão Físic a R ela cio na da à Saú de O Gráfico 11 apresenta uma configuração semelhante aos anteriores, porém com uma sutil variação dos elementos em análise e correlacionados. A correlação entre as variáveis títulos e foco 3 aponta que, apesar de apresentar uma sutil variância, porém, não significativa, a produção textual da ginástica laboral e atividade física na empresa no Brasil estão dentro de um molde textual que não foi modificado e não apresenta uma inovação no pensamento desta área, culminando na estagnação da retórica sobre a temática. 103 Gráfico 12 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e sua abordagem no foco 4 E ixo 2 (0.00% ) emprego eficaz na prevenção das chamadas doenças ocupacionais A GIN ÁS TICA LA B OR AL E A IMP OR TÂ NC IA DA A TIV IDA DE FÍS IC A P AR A OS TRA BA LH AD OR E S A V IS ÃO DA S EMP RE SA S GAÚ CH A S SOB RE A S A TIV ID AD E S FÍS ICO-D ES P OR TIV A S NA E MPR ES A padronizaç ão dos exercícios para todos os postos de trabalho D IMEN SÕE S DA QU ALIDA D E DE V IDA N O LOCA L D E TR AB A LHO: P ER SP EC TIVA E C OLÓGIC A PA RA A IN TEGR AÇ ÃO DE FA TORE S PE S SOAIS , AMBIEN TA IS E OR GA NIZA CION A IS E FETIVID AD E DA GINÁ STIC A LAB ORA L Gestão de Pessoas e Qualidade de Vida no A mbiente P rodutivo, Trabalho e Lazer GIN ÁS TIC A LA BOR AL E C ON TROLE D A AN S IE DA D E EM TE LE FON IS TA S GIN ÁS TIC A LA BOR AL E P ROMOÇÃ O D A S AÚ DE C OMO E XTEN SÃ O U NIVE R SITÁR IA : A E XP E RIÊN CIA D A UFSC AR implantação da GL foram às melhorias da qualidade de vida, bem-estar geral e s aúde, diminuições da fadiga muscular, estresse e fadiga mental, bem como, maior integração com os colegas de trabalho GIN ÁS TIC A LA BOR AL NO RIO GR A ND E DO SU L GIN ÁS TIC A LA BOR AL IN TE GR AD A E B IOMEC ÂN IC A OCU PA C IONA L conscientização dos empresários de sua viabilidade e benefícios alcançados tanto para a empresa quanto para os seus funcionários. diferencial do P rofis sional de E ducação Física atuando nas aulas de Ginástica Laboral informações provenientes de um PGL, advindas de informaç ões semanais para a promoção da QV e de conversas informais com o professor de GL, é eficaz à prevenção aos DOR T para os trabalhadores que participavam das aulas, comparados aos trabalhadores que não E ixo 1 (7.14% ) conteúdos necessários à aplic ação da Ginástica Laboral Modelos de aplicações de GL em empresas P ER SP E CTIVA D E MER C AD O DE TRA BA LH O EM GINÁ STIC A LAB ORA L Ginástica Laboral, C orreção Funcional e Promoção da Saúde O P ROFIS S IONA L DE E DU C AÇ ÃO FÍS IC A E S UA A TU AÇ ÃO NA GIN Á STICA LAB OR A L P ROGR A MA D E GIN ÁS TIC A LA BOR AL (GL): ETA PA S D E IMP LAN TAÇ Ã O benefícios psicofisiológicos apresentados, a maioria das trabalhadoras (mesmos as não participantes) consideraram que houve melhoria do ambiente profissional QUA LID A DE D E V ID A NO TRA BA LH O TR AJE TÓRIA DOS E STU D OS S OB R E GINÁ S TIC A LA BORA L poucos estudos verificam as respostas fisiológicas durante ou após as aulas de Ginástica Laboral U M PA NOR AMA D A GINÁ S TIC A LA BORA L NO B RA S IL programas baseados numa perspectiva ecológica que considera os amplos aspectos que compõem a qualidade de vida das pess oas Os horários que se valiam os funcionários para a prática das atividades físicas situavam-s e preferencialmente no período vespertino (após o horário de trabalho) e nos fins de semana melhorar variáveis c omo força muscular e flexibilidade, nível de atividade física e o nível de satisfação dos funcionários para com a empresa INFORMA ÇÕES P R OV EN IEN TES D E U M P ROGR AMA D E GIN ÁS TIC A LA BOR AL NA P R OMOÇ Ã O DA QU ALIDA D E DE V IDA D O TR AB ALH A DOR E D E SU A C OMUN IDA DE Da análise do Gráfico 12, é possível constatar que, para a totalidade das correlações entre as variáveis títulos das obras e foco 4, para cada um dos itens, as diferenças registradas entre os grupos não tiveram diferenças estatísticas significativas. Na comparação dos elementos, a dependência não é significativa entre os significados e que todos têm uma associação entre as variáveis, no entanto, não houve nenhuma novidade entre os aspectos analisados. 104 Gráfico 13 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e sua abordagem no foco 5 Eixo 2 (0.00%) não se pode implantar a Ginástica Laboral sem estar trabalhando com a Abordagem Ergonômica. grupo de pesquisa está trabalha na elaboração de um instrumento de pesquisa que visa à leitura da qualidade de vida, sobretudo do trabalhador, e toma como base as estruturas de tempo e ocupações DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA NO LOCAL DE TRABALHO: PERSPECTIVA ECOLÓGICA PARA A INTEGRAÇÃO DE FATORES PESSOAIS, AMBIENTAIS E ORGANIZACIONAIS PPST/PGL pode ser capaz de repercutir positivamente na QVT do trabalhador GINÁSTICA LABORAL INTEGRADA E BIOMECÂNICA OCUPACIONAL QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO Eixo 1 (20.00%) EFETIVIDADE DA GINÁSTICA LABORAL TRAJETÓRIA DOS ESTUDOS SOBRE GINÁSTICA LABORAL atividade física no local de trabalho, aliada à ergonomia e à biomecânica ocupacional INFORMAÇÕES PROVENIENTES DE UM PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL NA PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR E DE SUA COMUNIDADE Ginástica Laboral combate as DORTs, porém são necessários instrumentos eficientes para avaliação dos funcionários avaliar os Domínios Físico, Psicológico, Social e do Ambiente relacionados com a saúde e a qualidade de vida de uma população de trabalhadores no seu local de trabalho No Gráfico 13, é apresentada a correlação entre os títulos analisados e o foco 5. As variáveis em observação não apresentaram uma dependência significante, entretanto, todos os aspectos à esquerda estão relacionados ao quadrante inferior do mapa, assim como, todos os aspectos posicionados à direita estão relacionados aos aspectos do quadrante superior. Todas as construções léxicas estão correlacionadas e descorrelacionadas, indicando a estagnação do pensamento e da produção de conhecimento sobre o tema estudado. 105 Gráfico 14 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e sua abordagem na nota 1 Eix o 2 (0 .00 %) a pr es en ata çã o d o p an or a ma d a g iná stic a lab o ra l A G IN ÁSTIC A LA BO RAL E A IMPOR TÂ NC IA DA A TIVID AD E FÍSICA PAR A OS TR ABA LH AD ORES A VISÃ O DA S EMPR ESAS GAÚ CH AS SOB RE AS A TIVID AD ES FÍSIC O- DESPOR TIVAS N A EMPR ESA r ela to da tra jetó ria pr ofis sio na l d o a uto r e gin ás tic a la bo ra l Efe itos da G iná st ica La bora l na Qua lida de de Vida de Tra ba lha dore s GIN ÁSTICA LA BOR AL E CO NTROLE D A AN SIEDAD E EM TELEFONISTA S p re pa r aç ão do pr ofis sion a l d e Edu ca çã o Físic a p ar a a tua r n o lo ca l d e tr ab alh o EFETIVID AD E DA GINÁ STICA LABO RA L e xp os içã o d o n ov o c on te x to do mu nd o d o tr ab alh o Ginás t ic a Labora l: B re ve re t rospec t iva e t endê nc ias pa ra o c urso de Educ a çã o Fís ica da Univ ers ida de Fe de ra l de Viç os a GL co mo pr od u to de ve nd a GIN ÁSTICA LA BOR AL IN TEGR ADA E BIO MECÂN ICA O CUPAC IO NA L GIN ÁSTICA LA BOR AL N A ESC OLA : Progra ma de Promoç ão de Sa úde foc o n a g iná stic a lab or a l e nq ua n to pr o du to a rg umen tos so br e b en efíc ios d a g iná stic a lab o ra l GIN ÁSTICA LA BOR AL E PR OMOÇÃ O DA SA ÚDE COMO EXTEN SÃ O UN IVERSITÁR IA : A EXPERIÊNCIA D A UFSCAR r ela to his tór ico da gin ás tic a la bo ra l no Br as il QU ALIDAD E D E VID A NO TRA BA LH O Re f le x õe s s obre a Educa çã o Físic a e o mundo do Tra ba lho c or re laç ão en tr e gin ás tica la bo r al e q ua lida de de vid a UM PA NOR AMA DA G INÁSTIC A LA BO RAL NO B RA SIL TRAJ ETÓR IA DO S ESTUDO S SOBR E G IN ÁSTIC A LA BO RAL r ela to his tór ico da gin ás tic a la bo ra l Eix o 1 (5 .00 %) r ela to de pr á tic a u niv er sitá ria em g iná stic a lab o ra l r ela to s d e a plic aç õe s d e G in ás tica La bo ra l PERSPECTIVA DE MER CA DO D E TR AB ALHO EM GIN ÁSTICA LAB OR AL PROG RAMA D E GIN ÁSTICA LAB OR AL ( GL) : ETA PA S DE IMPLAN TA ÇÃ O p ro po sta de impla nta çã o d e g in á stica lab or al e m ambie nte es co lar GIN ÁSTICA LA BOR AL: rela to de uma prá t ic a Fundame nta da GIN ÁSTICA LA BOR AL N O RIO GRA NDE DO SUL for ma ç ão d e p r ofiss ion ais INFOR MAÇ ÕES PROVEN IEN TES DE UM PRO GR AMA DE G INÁSTIC A LA BO RAL NA PRO MO ÇÃO DA Q UALIDA DE D E VID A DO TR ABA LH AD OR E DE SUA C OMUNID ADE r ela to de pr o gr ama d e e xtn sã o u nive r sitár ia e m g iná stica La bo r al influ ên cia s d e v ar iáv eis p s ic ofis iológ ica s n a s aú de do tra ba lha do r O B ER ÇO D A GINÁ STICA LAB ORA L N O BR ASIL: A EXPERIÊNCIA DO C EN TRO UNIVER SITÁRIO FEEVALE a rg umen taç ão pa ra efe tiv ida de da gin ás tic a la bo r al O PRO FISSION AL D E EDU CAÇ ÃO FÍSICA E SUA A TU AÇÃ O NA GINÁ STICA LAB ORA L r ela to de pe sq u is a c ien tífic a e b e ne fíc ios da gin ás tic a L ab or a l Ava lia çã o d e v ar iav e is ps ico lóg ica s e s oc iais a p ar tr d e e stu do s q ua lita tiv o s o s r es ultad o s d a pe s qu is a mos tra r am a gin ás tica la bo r al er a d e sc on he cid a p ar a muitos empr e sá rio s e stud o r e la c io n an do ativid ad e físic a e Giná stic a L ab or al DIMEN SÕES D A QU ALIDAD E D E VID A NO LO CAL DE TRA BA LHO : PER SPECTIVA ECOLÓG ICA PARA A INTEG RAÇ ÃO D E FATORES PESSOAIS, A MB IENTAIS E OR GA NIZA CION AIS No cruzamento dos títulos e notas emitidas pelo pesquisador, retomase a 100% de associação entre as variáveis indicando, conforme mostrado no gráfico 14, que não houve nenhuma novidade ou novo conhecimento na trajetória da construção léxica da ginástica laboral e atividade física na empresa. O gráfico representa o mapa geográfico capaz de apontar alta precisão na informação da correlação dos títulos e nota 1 analisada. 106 Gráfico 15 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e sua abordagem na nota 2 Eixo 2 (0.00%) argumento da ginástica laboral pautado na ergonomia A GINÁSTICA LABORAL E A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA PARA OS TRABALHADORES A VISÃO DAS EMPRESAS GAÚCHAS SOBRE AS ATIVIDADES FÍSICO-DESPORTIVAS NA EMPRESA base científica para implantação da ginástica laboral há a melhora da qualidade de vida na organização empresarial A organização curricular dos cursos de Educação Física não apresenta todos os conteúdos específicos relacionados ao mundo do trabalho GINÁSTICA LABORAL E PROMOÇÃO DA SAÚDE COMO EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: A EXPERIÊNCIA DA UFSCAR GINÁSTICA LABORAL INTEGRADA E BIOMECÂNICA OCUPACIONAL caracterização do mundo tecnológico e novo perfil de trabalhador GINÁSTICA LABORAL NO RIO GRANDE DO SUL GINÁSTICA LABORAL NA ESCOLA: Pr ogr ama de Pr om oção de Saúde proposta de implementação de um programa de atividade física no ambiente do trabalho expansão de mercado e ocupação de nicho mercadológico GINÁSTICA LABORAL: r elato de um a pr ática Fundamentada importância do profissional de educação física na ginástica laboral INFORMAÇÕES PROVENIENTES DE UM PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL NA PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR E DE SUA COMUNIDADE pesquisa em ginástica laboral com perfil multidisciplinar O BERÇO DA GINÁSTICA LABORAL NO BRASIL: A EXPERIÊNCIA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO FEEVALE O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA ATUAÇÃO NA GINÁSTICA LABORAL eliminação de tarefa única, através de rotação de tarefas_ Ginástica Labor al: Breve r etrospectiva e tendências para o curso de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa Eixo 1 (5.26%) EFETIVIDADE DA GINÁSTICA LABORAL GINÁSTICA LABORAL E CONTROLE DA ANSIEDADE EM TELEFONISTAS estratégia de prevenção destas lesões deve estar ligada a vários fatores: mudanças da organização do trabalho_ PERSPECTIVA DE MERCADO DE TRABALHO EM GINÁSTICA LABORAL PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL (GL): ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO argumentação pautada nos benefícios a saúde proposta curricular de ginástica laboral para ensino superior melhorias dos locais de trabalho e das condições ergonômicas_ Reflexões sobre a Educação Física e o mundo do Trabalho TRAJETÓRIA DOS ESTUDOS SOBRE GINÁSTICA LABORAL QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO relação de programas de atividade física e redução da aniedade ginástica laboral como ferramenta de aprendizagem a extensão universitária UM PANORAMA DA GINÁSTICA LABORAL NO BRASIL apontamentos para implantação de programa curricular em educação física correlação entre prática da ginástica laboral e evidências científicas corelação entre programas de ginástica e saude e capacidade para o trabalho o valor das pausas de compensação durante o trabalho ou mesmo os diferentes tipos de ginástica de compensação revelou sérias e preocupantes deficiências na concepção acerca dos benefícios das atividades físicas no ambiente de trabalho relação entre dores e Ginástica Laboral DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA NO LOCAL DE TRABALHO: PERSPECTIVA ECOLÓGICA PARA A INTEGRAÇÃO DE FATORES PESSOAIS, AMBIENTAIS E ORGANIZACIONAIS 107 Gráfico 16 – Mapa fatorial de correspondencia entre os Títulos das obras e sua abordagem na nota 3 Eixo 2 (0.00%) apresentação de caminhos para ginástica laboral como meio de empreender para o mercado e enquanto produto argumentação para ginástica laboral enquanto tema na engenharia de produção A GINÁSTICA LABORAL E A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA PARA OS TRABALHADORES A VISÃO DAS EMPRESAS GAÚCHAS SOBRE AS ATIVIDADES FÍSICO-DESPORTIVAS NA EMPRESA relação entre trabalho e lazer e novas dimensões desta relação GINÁSTICA LABORAL E CONTROLE DA ANSIEDADE EM TELEFONISTAS EFETIVIDADE DA GINÁSTICA LABORAL implantação da Ginástica Laboral satisfação dos trabalhadores com a empresa e produtividade, diminuições das doenças ocupacionais, absenteísmo, afastamentos do trabalho por doenças ocupacionais e acidentes de trabalho GINÁSTICA LABORAL E PROMOÇÃO DA SAÚDE COMO EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: A EXPERIÊNCIA DA UFSCAR GINÁSTICA LABORAL INTEGRADA E BIOMECÂNICA OCUPACIONAL relatos de vários estudos em ginpastica laboral e seus benefícios na saúde, flexibilidade, dor, estado emocional, ergonomia GINÁSTICA LABORAL NO RIO GRANDE DO SUL GINÁSTICA LABORAL: r elato de um a pr ática Fundamentada realização e divulgação de pesquisas científicas que retratem o impacto de diferentes PPSTs no trabalhador ação aputada nos conhecimentos prévios e divulgados no setor da ginástica laboral Eixo 1 (7.14%) argumentação para intervernção multidisciplinar INFORMAÇÕES PROVENIENTES DE UM PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL NA PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR E DE SUA COMUNIDADE pesquisas em perfil antropométrico, imc, flexibilidade, estado de saúde, força O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA ATUAÇÃO NA GINÁSTICA LABORAL PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL (GL): ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO análise da efetividade de um programa de ginástica laboral como redução de ansiedade QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO TRAJETÓRIA DOS ESTUDOS SOBRE GINÁSTICA LABORAL base científica como argumento da prática da ginástica laboral UM PANORAMA DA GINÁSTICA LABORAL NO BRASIL relatos de investigaçõe realizadas de 2001 a 2006 sobre ginástica labora e resultados positivos relação entre a prática de atividade física realizada no ambiente laboral e a percepção subjetiva da qualidade de vida quanto aos aspectos específicos de dor e desconforto, energia e fadiga, e capacidade de trabalho visão do empregador a cerca da atividade física na empresa ginástica laboral implantação de programas que objetivem a prevenção e a diminuição das dores corporais, que são indicadores do surgimento de doenças relacionadas ao trabalho como as LER e os DORT DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA NO LOCAL DE TRABALHO: PERSPECTIVA ECOLÓGICA PARA A INTEGRAÇÃO DE FATORES PESSOAIS, AMBIENTAIS E ORGANIZACIONAIS Nos Gráficos 15 e 16, a configuração dos resultados demonstra grande semelhança por não haver uma dependência significativa entre os aspectos em análise. A associação entre as variáveis não apresentou nenhuma novidade, no entanto, todos os aspectos estão correlacionados, ou seja, dentro de um molde de significados, os quais não consistem numa reformulação do pensamento, apresentando, então uma estagnação nas reflexões a cerca dos léxicos analisados. Diante dos resultados apresentados, pode-se dizer que as observações realizadas se coadunam com a literatura em que se apresentam uma redundância das informações e uma repetição do conhecimento (Fonseca, 2006; Pegatin et al., 2007; Lima, Reis & Moro, 2010; Filho, Witt & Firmino, 2007; Almeida, 2010). No que tange ao envolvimento da ginástica laboral e atividade física na empresa com a gestão do conhecimento, os resultados apresentados não 108 ofereceram uma condição de criação do conhecimento, já que a criação do conhecimento depende de uma fluidez de forma espiralada para a conversão do conhecimento em novo conhecimento. Conforme aponta Takeuchi e Nonaka (2008), o conhecimento contém uma importante dimensão cognitiva na qual estão contidas crenças, percepções, ideais, valores, emoções e modelos mentais, no entanto, no material analisado não foi possível averiguar a espiral do conhecimento a ser amplificada, a partir de distanciamentos entre as estruturas léxicas, as quais permitiriam combinações ontológicas, gerando um caminho para a fluidez da espiral do conhecimento. 109 3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A Ginástica Laboral é uma atividade que se desenvolveu no Brasil há mais de 30 anos. Este fenômeno se desenvolveu particularmente no Brasil como um programa de ginástica de pausa, com uma metodologia própria que caracteriza hoje a Ginástica Laboral. Em vários países como Canadá, Japão, Estados Unidos, entre outros desenvolvem-se programas para a melhoria das condições de saúde do trabalhador. Este fenômeno, que se desenvolveu no Brasil, tomou grandes proporções no envolvimento de praticantes, adeptos e usuários de tais programas. O cenário que se apresenta no Brasil se caracteriza como uma prática comum a vários estados e regiões do país, embora apesar de ser representativa, ainda requer um cabedal de conhecimentos científicos para que a referida prática tenha sustentação teórica. O delineamento desta pesquisa permitiu uma ampla revisão e análise dos conhecimentos produzidos na área, de forma que acolhesse diferentes manifestações da prática da Ginástica laboral e Atividade Física na Empresa. Com o objetivo de analisar os significados, desvios, desequilíbrios e impactos do conhecimento produzido em Ginástica Laboral e Atividade Física na Empresa no Brasil, buscou-se também verificar o impacto da produção lexical na prática da atividade física na empresa/ Ginástica Laboral representada por textos técnicos, científicos e informacionais, tendo em vista que estes materiais representam de forma clara a produção real que acontece no Brasil sobre a temática. Ao se investigar a relação da trajetória da Ginástica Laboral/ Atividade Física na Empresa com sua base científica, através da produção lexical, permitiram-se descortinar cenários que até então estavam mascarados pelas campanhas e apelos de mercado sobre os benefícios da ginástica laboral e atividade física na empresa no Brasil. O estudo mostrou que a ginástica laboral apresenta um repertório variado de conhecimento tácito, mas ainda não conseguiu transformar este benefício em conhecimento explícito e em 110 consequência gerar conhecimento novo, conforme a gestão do conhecimento preconiza. Então, ao analisar o conhecimento da Ginástica Laboral e Atividade Física na Empresa produzido no Brasil, através do uso de software apoiado na Gestão do Conhecimento, imprimiu-se uma condição clara de capacitar as informações distribuídas sobre o tema para que se possa compreender as condutas e comportamentos gerados até então. Para a disciplina Gestão do Conhecimento, os dados, as informações se concentram de forma que se possa transitar numa espiral de conhecimento, capaz de gerar novos conhecimentos. O software permitiu uma análise dentro de um mapa geográfico o qual deu condições para a preparação e análises de dados, identificação e categorização adequada de seus conteúdos, busca pela produção de conhecimentos e identificação de relações o que permitiu avançar na compreensão dos fenômenos investigados. A análise léxica consistiu em se passar da análise do texto para análise do léxico (conjunto de todas as palavras encontradas no texto analisado). A análise de conteúdo consistiu, por sua vez, em uma leitura aprofundada, codificando-se cada uma, obtendo, portanto, uma idéia sobre o todo. Desta forma, a redução da quantidade de dados a serem analisados, a partir de procedimentos de estatística multivariada permitiu analisar um número maior de variáveis/categorias simultaneamente, a partir de um espaço com dimensões reduzidas, com o mínimo de perda de informação possível. Assim, criou-se um ambiente de soluções que indicam que a ginástica laboral se desenvolveu por crenças e afirmações, no entanto, tem uma grande dificuldade de confirmar tais afirmações através do contexto científico, por outro lado, a gestão do conhecimento traz uma capacidade de situar os elementos de produção de conhecimento que o ambiente da ginástica laboral incorpora. As crenças são compartilhadas, as pesquisas impõem verdades, nas quais a reunião das crenças verdadeiras com as crenças justificadas torna-se conhecimento. Entretanto, a redundância é a existência de informação que vai além das exigências operacionais imediatas, neste caso, a redundância aumenta a 111 quantidade de informação o que pode levar a um grau extremo de informações. Conforme a gestão do conhecimento o conhecimento, não existe somente na cognição da pessoa e sim no espaço, tempo e relacionamento, o conhecimento não é criado no vácuo, necessita ser significante, interpretado para se transformar em conhecimento. Logo, a gestão do conhecimento é uma metodologia precisa de sistematização de dados, informações e conhecimento, o que permite o mapeamento dos dados transformando-os em processos de formação do conhecimento, sendo uma eficaz ferramenta para tomada de decisões. Através do referido estudo, pode-se perceber que a trajetória da Ginástica laboral e Atividade Física na Empresa está sem capacidade de inovar, de criar novos produtos e serviços, mas por outro lado tem um mercado muito grande tendo em vista a preocupação constante pela melhoria das condições de saúde da população. A Ginástica Laboral e Atividade Física na Empresa representam a alternativa capaz de beneficiar grande número de pessoas, mas desde que se consiga estruturar ações de sucesso apoiadas na gestão do conhecimento, como o desenvolvimento de projetos que não sejam de um indivíduo, mas sim da organização; desenvolver uma definição de conhecimento na área; criar ambientes para que o mercado de conhecimentos possa florescer (incentivado pela confiança e reconhecimento); dar a mesma importância ao conhecimento em diferentes formatos; incentivar o aprendizado e a criatividade; focalizar o passado/ presente e também o futuro; reconhecer a importância da experimentação; dar a mesma importância para a interface humana e tecnológica; procurar formas de avaliação das iniciativas de conhecimento realizadas, tanto pela mensuração quantitativa como qualitativa, além de criar uma plataforma de produção de conhecimento e sistematização deste conhecimento para a transmissão, disseminação e ampliação da espiral do conhecimento. Contudo, ao analisar os significados, desvios, desequilíbrios e impactos do conhecimento produzido em Ginástica Laboral e Atividade Física na Empresa no Brasil, o presente trabalho permitiu avaliar, interpretar e subsidiar 112 conhecimento a partir de um amplo cenário de informações. A partir da tese ora apresentada, surge uma possibilidade de criação de ambiente teórico sustentável, para auxiliar na criação, transformação, disseminação e tomada de decisão para a manifestação humana que se tornou a Ginástica Laboral e atividade física na empresa. 113 3.5 REFERÊNCIAS ALBORNOZ, S. O que é Trabalho. Ed. Brasiliense: São Paulo, 1986, 100p. ALMEIDA, G. C. F. O Corpo e o Trabalho: reflexões sobre ginástica laboral e sua necessidade no sistema produtivo. Revista Digital. Buenos Aires: ano 14, março 2010. Disponível em: <www.efdeportes.com>. Acesso em 05/07/2010. ALMEIDA, V. S. Educação e Liberdade em Hannah Arendt. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 34 n. 3, Set./Dez. 2008: 465-479. 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Curitiba: Lovise, 2002. 124 VOLUME II 125 SEÇÃO I PRÁTICAS DA GINÁSTICA LABORAL NO BRASIL 126 CAPÍTULO I A GINÁSTICA LABORAL E A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA PARA OS TRABALHADORES Valquíria de Lima Cynara Cristina Pereira Juliana Romero 1. A Ginástica Laboral no Combate ao Sedentarismo O estilo de vida sedentário representa um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de diversas doenças crônicas degenerativas como doenças cardiovasculares, diabetes, osteomusculares e alguns tipos de cânceres. Por outro lado, a prática regular de atividade física já é bem conhecida como um instrumento poderoso na prevenção das doenças crônicas. Atualmente, a recomendação mínima para a prática de atividade física para a promoção da saúde é de ao menos cinco dias na semana, 30 minutos ao dia, com intensidade de leve a moderada e de forma contínua ou acumulada (PATE et al., 1995). Atualmente, tem crescido o interesse e a procura, por empresas de diversos ramos de atuação, por programas de qualidade de vida e atividade física, em função de alguns apontamentos terem indicado que funcionários sedentários custam mais em despesas com saúde do que funcionários não sedentários. Uma das estratégias utilizadas pelas empresas é a implantação de programas de ginástica laboral, com o objetivo de melhorar variáveis da aptidão física geral como força muscular e flexibilidade, nível de atividade física, além de colaborar para o nível de satisfação dos funcionários para com a empresa. A ginástica laboral é um meio eficiente de incentivo e valorização da prática de atividades físicas por atuar como um instrumento de promoção da saúde, o que acaba contribuindo para um melhor desempenho profissional. Assim, diminuindo o sedentarismo, controlando o estresse e melhorando a 127 qualidade de vida, o aumento do desempenho profissional acaba ocorrendo naturalmente. O conceito de “trabalho” vem sofrendo alterações ao longo dos anos devido às mudanças dos processos de produção. Cada vez menos as funções atuais de trabalho exigem dos indivíduos tarefas envolvendo a atividade física. As atividades sentadas substituíram a posição em pé e diminuiu os movimentos durante a jornada de trabalho, representando a transição da sociedade industrial para a sociedade da comunicação e da informação, baseada, sobretudo na utilização de computadores. A sociedade atual apresenta um crescimento enorme no número de pessoas que trabalham sentadas. Em 1717, Doutor Ramazzini, ao descrever sobre os que trabalhavam sentados, citou “aqueles que levam a vida sedentária, e são chamados por isso, de artesãos de cadeira, como os sapateiros, os alfaiates e os notários, sofrem doenças especiais, decorrentes de posições viciosas e da falta de exercícios” (MILLANDER, LOUIS & SIMMONS, 1992). Os processos mecanizados e parcialmente automatizados tornaram mais leve o trabalho, mas resultou no aumento da regularidade dos movimentos físicos com atividade concentrada localmente, além de aumentar a velocidade. O uso repetido ou a manutenção de postura inadequada resulta em alteração músculo-esquelético (SAKATA & ISSY, 2003). Em um estudo realizado por Lima et al. (2006), com amostra composta por 323 funcionários administrativos de uma indústria farmacêutica na cidade de São Paulo, foi observada uma diferença estatística significativa (X 2=4,739) entre as proporções, demonstrando que os funcionários que participaram do programa de ginástica laboral foram mais ativos quando comparados aos funcionários que não participaram do programa (p<0,029). Nesse ponto, podese dizer que há 1,67 vezes mais chance de um funcionário ser ativo quando participa da ginástica laboral. Concluiu-se, portanto, que a prática regular de ginástica laboral no ambiente de trabalho tem um papel fundamental para incrementar o nível de 128 atividade física dos funcionários e estimular a adoção de comportamentos para um estilo de vida mais ativo e saudável. 1.2 A Ginástica Laboral no contexto preventivo às LER/DORT A partir de uma perspectiva atual da ergonomia, torna-se clara a importância de se considerarem também as questões fisiológicas, biomecânicas, do ambiente físico e da organização do trabalho, para minimizar tanto o sofrimento físico quanto mental de trabalhadores acometidos por lesões ocupacionais. As dores corporais são importantes manifestações da inadequação das estruturas corporais frente às exigências do trabalho e representam um relevante sintoma de caracterização de males como as Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT). Trabalhadores em fase de maior produtividade estão sendo impossibilitados de seguir o percurso traçado para a sua vida profissional, familiar e social, devido a essas doenças. No Brasil, essa expansão começou no início dos anos 80, no setor de processamento de dados, sendo que, atualmente, é possível encontrar casos em quase todo tipo de atividade (Merlo, 1999). Existem muitas queixas na saúde pública e privada referente à saúde do trabalhador, que colocam os DORT em destaque em relação à demanda, representando hoje 65% do total dos acidentes de trabalho. Essa porcentagem leva atualmente a gastos de 1,2 bilhões de reais por ano e atinge dois bilhões de reais quando unidas a outras doenças (Previdência Social, 2001). Todo esse dinheiro poderia ser revertido para a prevenção, ao contrário do que acontece hoje, com os pagamentos de benefícios por afastamentos e aposentadorias por invalidez, que trazem muitos prejuízos para a Previdência Social, sem resolver o problema. Baseado nesse emblema, Pereira (2005) publicou um estudo com 263 trabalhadores, cujo objetivo foi comparar a proporção de dores corporais entre funcionários de setores administrativos e fabris. Após a análise dos dados estabeleceu-se que 71,1% dos funcionários para a amostra total relataram sentir algum tipo de dor corporal, enquanto 77,2% dos funcionários do setor 129 administrativo e 65,4% do setor fabril relataram sentir dores corporais. Houve diferença estatística significante na proporção de funcionários do setor administrativo que relataram sentir dores corporais em comparação com os funcionários do setor fabril. Os resultados encontrados reforçam a importância da implantação de programas que objetivem a prevenção e a diminuição das dores corporais, que são indicadores do surgimento de doenças relacionadas ao trabalho como as LER e os DORT. 1.3 A Contribuição da Ginástica Laboral para a Aptidão Física Relacionada à Saúde A Ginástica Laboral destaca-se como uma atividade de auxílio à prevenção de lesões no ambiente de trabalho, pois, anatomicamente, visa melhorar a flexibilidade e a mobilidade articular, diminuir a fadiga – decorrente de tensão e repetitividade que acometem tendões, músculos, fáscias e nervos – e beneficiar a postura do indivíduo diante de seu posto e rotina de trabalho. Um estilo de vida pouco ativo e a falta de exercícios de alongamentos geralmente levam à incapacidade para execução de movimentos amplos e globais, em virtude da diminuição da amplitude articular (Lima, 2007). Os exercícios de alongamento, quando realizados com freqüência, podem auxiliar os trabalhadores a manterem ou aumentarem sua amplitude articular, minimizando o encurtamento muscular e a utilização de outras estruturas para compensar a falta de amplitude e as situações de estresse. Avaliar a flexibilidade possibilita verificar se há correlações com a profilaxia de lesões, percepção de dor, recuperação e melhora do desempenho do atleta, independência de movimentos na terceira idade, entre outros, identificando os grupos músculo-articulares com insuficiência de flexibilidade, possibilitando a ênfase nestas regiões com exercícios de alongamento e relaxamento (Achour Jr., 2004). A flexibilidade é uma importante variável da aptidão física que pode promover adaptações físicas que contribuem para a melhora da mobilidade 130 articular, alívio de cansaço, diminuição da tensão e do encurtamento muscular, além de corrigir vícios de postura, minimizando os riscos de lesões no ambiente de trabalho. Por isso, os programas de ginástica laboral têm fundamental importância para a melhoria dos níveis de flexibilidade, garantindo assim, melhor mobilidade articular e amplitude de movimento (LIMA, 2007). Lima (2001) realizou um estudo com 47 trabalhadores, com o objetivo de observar os efeitos de um programa de ginástica laboral sobre os níveis de flexibilidade, após 60 dias de intervenção, houve uma evolução de 15,62%, demonstrando que, mesmo em um período curto (dois meses), os exercícios ministrados nas aulas de ginástica laboral podem ocasionar mudanças significativas nos níveis de flexibilidade. Outro estudo realizado por Lima e Ceschini (2005), com 375 colaboradores da área administrativa de uma empresa do setor bancário da cidade de São Paulo, teve como objetivo verificar o impacto de um programa de doze meses de ginástica laboral sobre a flexibilidade, de acordo com o gênero. No início do programa (pré-intervenção) o valor médio de flexibilidade de tronco para a amostra total foi de 18,3 cm. Para o gênero masculino foi 14,2 cm e para o gênero feminino 17,7 cm. Quando foram comparados os valores médios de flexibilidade, houve diferença estatística significativa entre a pré e a pós-intervenção para a amostra total e também para ambos os gêneros, sendo que os valores apresentaram evolução de 30,6% para a amostra total, 28,2% para o gênero masculino e 33,8% para o gênero feminino, demonstrando que os valores de flexibilidade aumentaram significativamente após o período de 12 meses do programa. É fato que, a cada dia, as empresas necessitam de novos recursos de diagnóstico, prevenção e tratamento para os mais diferentes tipos de enfermidades e situações relacionadas à saúde. Nos casos em que há necessidade de fortalecimento de estruturas enfraquecidas, pode-se propor um programa complementar ao de ginástica laboral, fora do expediente de trabalho, visando o condicionamento físico geral. Sendo a resistência muscular a capacidade de um segmento do corpo de realizar e sustentar um movimento por um determinado período, os 131 exercícios resistidos adaptados para aulas de ginástica laboral podem ser englobados na série de exercícios de prevenção para melhorar a resistência, como forma de melhor suportar determinados esforços, sem comprometer a saúde. Os exercícios também podem ser desenvolvidos de forma progressiva. Nessa variação, o funcionário deverá iniciar o exercício resistido com um esforço mínimo e, a cada aula, progredir para maior resistência. Lima et al. (2004) demonstraram em um estudo, realizado com 272 trabalhadores do setor bancário, que participaram regularmente de um programa de ginástica laboral por um período de doze meses, que houve, além de melhora significativa da variável flexibilidade, aumento de 24,66% (delta percentual) na força de preensão manual, fato que pode estar relacionado com o aumento no nível de atividade física, também encontrado nesse estudo. 1.4 Integração, Motivação e Percepção de Saúde A saúde social, que por algum tempo cedeu espaço para a saúde profissional e intelectual, é formalizada na ginástica laboral como um meio de estar entre as pessoas. As relações saudáveis no ambiente de trabalho facilitam a comunicação, transformam o ambiente, proporcionam maior interação e disposição para o trabalho. Os ambientes organizacionais apresentam um contexto social onde os afetos e as emoções manifestam-se e se inter-relacionam. Ao mesmo tempo, o contexto profissional exige que os indivíduos sejam racionais e que se foquem nas estratégias e nos resultados. Esse conflito aumenta a demanda de energia psíquica e física nas interações de trabalho, podendo gerar um processo de estresse, com prejuízo ao bemestar dos trabalhadores. O programa de ginástica laboral favorece um maior convívio social por sua capacidade de integração, possibilitando às pessoas conhecerem-se melhor por meio da comunicação ativa expressa pelo corpo, pela cooperação nas atividades e dinâmicas de grupo. Dentre os benefícios da ginástica laboral pode-se destacar a melhora da coordenação motora, do autoconhecimento do corpo, da percepção corporal e da saúde. 132 Romero et al. (2005) realizaram um estudo com o objetivo de comparar a percepção da saúde de trabalhadores administrativos, de acordo com a participação em um programa de ginástica laboral. Foram entrevistados 308 colaboradores de uma empresa do setor farmacêutico na cidade de São Paulo. Houve diferença estatística significativa quando os valores de percepção da saúde em relação à participação nas aulas de ginástica laboral foram comparados, demonstrando que os funcionários que participaram das aulas regularmente apresentaram melhor percepção da saúde do que os que não participaram. 133 1.5 Indicações Conclusivas A articulação entre o trabalho, a saúde e a doença dos trabalhadores tem sido objeto da observação e reflexão dos homens há séculos, e estão registradas, ao longo dos tempos, nas obras de historiadores, filósofos, escritores, médicos, cientistas sociais e artistas, de forma diversificada, segundo as lentes utilizadas para “olhar” o mundo (Mendes & Dias, 1999). O programa de ginástica laboral é um grande desafio para o Profissional de Educação Física que, com qualidade na prestação de serviço, embasamento técnico e científico, integra-se cada vez mais nas equipes interdisciplinares de Promoção da Saúde nos ambientes corporativos. Apesar do impacto preventivo da ginástica laboral nas LER/DORT não ter sido completamente elucidado do ponto de vista científico, sua prática nas empresas parece colaborar para uma maior integração psicossocial, com momentos de descontração e relaxamento, que podem funcionar como "pausas" bem-vindas, além de diminuírem a percepção de fadiga e dores musculares ao longo da jornada de trabalho. Os programas de Ginástica Laboral bem estruturados têm apontado ainda resultados importantes, como a melhora de variáveis da aptidão física relacionada à saúde, que levam a um aumento da mobilidade articular, alívio de cansaço, diminuição da tensão e do encurtamento muscular, além de auxiliarem na correção de vícios posturais. 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Nesta nova abordagem, os programas focam as respostas individuais de cada trabalhador e também a análise sobre os vários fatores ambientais e organizacionais que possam influenciar, por exemplo, a sensibilização para as questões da saúde, o envolvimento com as novas práticas e a manutenção dos comportamentos (O‟DONNELL, 1989). Dentre as condições facilitadoras que contribuem para o êxito destes programas, considera-se, em especial, a atitude dos empregadores para encorajar sua implantação e, também, que as atividades sejam amplas o suficiente para atingir as múltiplas dimensões da qualidade de vida e da saúde dos trabalhadores, entre elas a física, a emocional e a que considera o ambiente social e intelectual (CHENOWETH, 1998). No entanto, na prática, os programas de atividade física aplicados no local de trabalho atingem sucesso modesto sobre a melhoria das condições de qualidade de vida dos trabalhadores. Isto pode estar relacionado às próprias peculiaridades organizacionais da empresa, da inadequação da estrutura física do ambiente de trabalho e da falha para suprir as necessidades específicas de 136 classes de trabalhadores, especialmente os idosos (LINNAN & MARCUS, 2001). Assim, compreender a qualidade de vida e influenciá-la no local de trabalho exige a definição de objetivos, formas de abordagem, observação de resultados e interpretações apropriadas ao contexto no qual é estudada ou aplicada. Cabe, hoje, valorizar as formas de interação entre as pessoas, o ambiente e a sociedade, com uma análise adequada, segundo diferentes épocas, culturas, classes sociais, posse de bens materiais, valores e padrões éticos (VILARTA & GONÇALVES, 2004). A Qualidade de Vida, enquanto área de pesquisa, apresenta a possibilidade de levar a reflexão sobre o bem-estar das pessoas a um novo patamar. Uma de suas mais importantes inovações está na ênfase da dimensão pessoal da percepção das condições de vida, ou seja, não se trata simplesmente da melhoria expressa em indicadores objetivos, mas também da forma pela qual a evolução geral é subjetivizada desde a perspectiva individual das pessoas. Nesse sentido, tanto a reflexão no campo, como as práticas e intervenções apresentam um alto grau de dificuldade e complexidade. A partir de um referencial de origem multidisciplinar, é necessário considerar aspectos que vão desde a percepção pessoal do ambiente em que o sujeito atua, até as questões macro da economia, política, e cultura. Tendo em vista pesquisas em Qualidade de Vida, Saúde Coletiva e Atividade Física da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, têm-se procurado desenvolver pesquisas e orientar trabalhos levando em conta a sua complexidade inerente. Ao lidar especificamente com a questão da qualidade de vida no local de trabalho consideram-se fundamental ter presente alguns aspectos diferenciadores: Todos os ambientes em que o ser humano atua possuem algum grau de especificidade, como a família, o lazer, a escola ou a política. O local de trabalho não é uma exceção. É preciso, portanto, ao pensar a questão da qualidade de vida em ambientes corporativos não perder de vista algumas das suas características fundamentais como, por exemplo, a 137 lógica da eficiência e da produtividade, a relação concreta com a produção e comercialização de algum produto ou serviço, e a existência de um ambiente interno fortemente competitivo que, ao mesmo tempo, não pode prescindir de algum grau de cooperação e de alianças entre seus membros. As pessoas em geral, assim como as instituições e os meios de comunicação, quase nunca têm uma postura neutra com relação às empresas. Fruto das lutas e conflitos que surgem no século XIX e atravessa todo o século seguinte, qualquer atuação em parceria com as empresas desperta um grau de indagação e questionamento. As intervenções em qualidade de vida nos ambientes corporativos constituem uma manifestação sincera de preocupação com o bem-estar dos membros ou, pelo contrário, é uma forma de manipulação e engodo? São intervenções que, de fato, levam a uma melhoria na qualidade de vida ou trata-se antes de uma maquiagem, já que a pressão e concorrência do ambiente corporativo geram muitos mais malefícios do que as intervenções podem vir a minorar? Estas questões vão depender, para serem esclarecidas, de trabalhos empíricos e pontuais nas organizações. As mesmas intervenções podem ter sentidos muito diferentes dependendo do ambiente em que são implementadas, ou até mesmo do momento em que ocorrem. O que deve ser levado em conta, sem nenhuma dúvida, é que neste momento, independente das suas verdadeiras intenções, apenas uma minoria das empresas demonstra preocupação com a implementação de programas e políticas voltadas para a qualidade de vida de seus membros. Ou seja, dentro das opções de política de recursos humanos que todas as empresas dispõem, estas organizações optam por manifestar interesse e dispor de recursos, com diferentes graus de envolvimento, numa linha de atuação que procura, senão necessariamente privilegiar, pelo menos colocar em destaque o aspecto de bem-estar das pessoas que atuam nelas. 138 A discussão sobre qualidade de vida é complexa e multifacetada. Seu desenvolvimento e implantação no ambiente corporativo vêm somar um grau de controvérsia e tensão inerente ao ambiente empresarial. É importante ter presente esta realidade ao lidar com as iniciativas, de forma a aumentar as possibilidades de sucesso e desenvolver intervenções mais próximas da realidade em questão, dos interesses e necessidades dos grupos humanos envolvidos, e da disponibilidade de recursos existentes. 2.1 Práticas de Avaliação da Qualidade de Vida em Ambientes Corporativos Programa recentemente aplicado em empresa de produtos eletrônicos de alta tecnologia na região de Campinas/SP teve por objetivo avaliar os Domínios Físico, Psicológico, Social e do Ambiente relacionados com a saúde e a qualidade de vida de uma população de trabalhadores no seu local de trabalho, utilizando instrumento padronizado e desenvolvido pela OMS, o WHOQOL Abreviado. Tratou-se de estudo de tipo qualitativo, de desenho transversal, que avaliou aspectos da qualidade de vida utilizando amostra voluntária de ambos os sexos, entre 164 trabalhadores dos 1200 que trabalham na área de montagem, na manufatura de produtos eletrônicos, nos três turnos de trabalho (turno 1 – matutino; turno 2 - vespertino e turno 3 - noturno). Foram pesquisados também aspectos sócio-demográficos (sexo, renda familiar, idade, escolaridade e tempo de empresa). Dentre os principais resultados observou-se que o Domínio Ambiente demonstrou ser o que impacta negativamente a qualidade de vida desta população, em especial as facetas relacionadas à “satisfação com os aspectos financeiros” e “lazer”. O Domínio Físico foi o que apresentou diferença, estatisticamente significante (P<= 0,05), entre os turnos (turnos 2 e 3), na faceta “sono”. Ainda no Domínio Físico, observou-se que as facetas, que avaliam “dor” e “capacidade para o trabalho”, contribuem positivamente para a qualidade de vida do grupo. 139 No Domínio Psicológico, a faceta “sentido da vida” foi a que mais contribuiu positivamente para a qualidade de vida. No Domínio Social, a faceta “suporte social” contribuiu menos para a qualidade de vida neste grupo e significativamente diferente entre os turnos 1 e 3. Partindo do constructo de que qualidade de vida compreende uma dimensão holística e multifacetada, o questionário da OMS, WHOQOL - versão abreviada – permitiu demonstrar quais os domínios (físico, emocional, social e ambiente) impactam a Qualidade de Vida desse grupo de trabalhadores. A ferramenta mostrou-se bastante satisfatória nessa avaliação, fornecendo subsídios para a implementação e manutenção de programas e ações na empresa. O diagnóstico desenvolvido com essa metodologia demonstrou haver aspectos positivos da qualidade de vida tais como a baixa incidência da dor, pouca demanda por tratamento médico, boa mobilidade e a capacidade para o trabalho, demonstrando a efetividade dos programas já estabelecidos pela área de Segurança e Saúde Ocupacional. Por outro lado, sobre o Domínio Ambiente, ações como treinamento em planejamento financeiro pessoal, bem como consultoria individualizada nesta área, devem ser intensificadas para melhora deste aspecto. Da mesma forma, as ações voltadas ao lazer podem ser incentivadas e intensificadas na empresa, entre elas as políticas de férias, programas de incentivo ao lazer, redução de horas extras. Ações educativas relacionadas à melhoria da qualidade do sono dos trabalhadores do terceiro turno devem ser estabelecidas, assim como melhorias no ambiente físico e na disponibilidade de informações1. Uma dissertação de mestrado, recentemente defendida em na linha de pesquisa supracitada, considerou que a dor e a fadiga são, atualmente, as maiores queixas do trabalhador, influenciando negativamente a sua capacidade de trabalho e a sua qualidade de vida. Estruturou-se, então, o desenvolvimento de um programa focado na discussão da importância da atividade física como agente protetor e preventivo em relação a essas queixas. 1 Consultar Banco de Teses da UNICAMP in: Telma Terezinha Ribeiro da Silva, 2008. 140 O trabalho teve por objetivo investigar a relação entre a prática de atividade física realizada no ambiente laboral e a percepção subjetiva da qualidade de vida quanto aos aspectos específicos de dor e desconforto, energia e fadiga, e capacidade de trabalho. Para isso, foram selecionados dois grupos, cada um composto por 25 trabalhadores de fábrica do setor metalúrgico, independente de gênero, sendo o primeiro grupo formado por Praticantes de Exercícios Físicos no local de trabalho (PEF) e o segundo, por indivíduos sedentários. Todos preencheram o questionário WHOQOL Abreviado e as questões específicas dos aspectos de dor e desconforto, energia e fadiga e capacidade de trabalho do instrumento WHOQOL-100. A análise estatística dos dados mostrou que o grupo PEF possui melhores índices de qualidade de vida, principalmente nos Domínios Físico, Psicológico e Ambiental, quando comparado com os sedentários, não sendo encontrada a mesma diferença no Domínio Social. Mostra, também, que o grupo PEF possui índices mais baixos de dor e fadiga, assim como um melhor índice de capacidade de trabalho, se comparado aos sedentários. Existe uma relação positiva entre a prática de exercícios físicos no trabalho e a qualidade de vida dos trabalhadores que pode ser alterada pelos exercícios. Apesar dos grupos serem compostos por uma população pequena e em faixas etárias dispersas, observou-se nesse estudo que os Domínios Físico, Psicológico, Ambiental e os aspectos de dor e desconforto, energia e fadiga, e capacidade de trabalho apresentaram melhores índices para o grupo de trabalhadores que fazem exercícios físicos no local de trabalho, quando comparado ao grupo de sedentários. O Domínio Social, provavelmente por ser inespecífico para essa avaliação, não apresentou diferenças entre os grupos. Esses dados são indicativos para a recomendação que as empresas interessadas em melhorar os índices de qualidade de vida de seus trabalhadores, bem como preocupadas com os aspectos de dor e fadiga e melhora da capacidade de trabalho, utilizem um programa bem estruturado de prática de exercícios físicos realizados nas instalações da própria empresa. 141 Os resultados observados no aspecto da energia e fadiga mostram que o trabalhador que pratica exercícios no local de trabalho não fica cansado com facilidade e, quando o fica, não se sente incomodado por ele. Possui mais energia para o dia-a-dia e está mais satisfeito com a disposição que tem, quando comparado a um trabalhador sedentário. A capacidade de trabalho segue a mesma disposição dos outros dois aspectos verificados, ou seja, o grupo PEF possui melhores índices se comparados aos sedentários. Uma pessoa com menos dor se sentirá mais capaz de realizar suas atividades diárias, bem como seu trabalho, pois não possui um fator físico de limitação. O mesmo acontece com a fadiga, pois aqueles que consideram possuir maior energia e disposição se sentirão mais capazes2. A dissertação de mestrado “Esporte e qualidade de vida: reflexão sociológica” influência 3 traz à tona uma análise sobre questões sociais que exercem sobre a qualidade de vida dos indivíduos na sociedade contemporânea. Nesse trabalho, o esporte é tido como um dos inúmeros objetos de interferência sobre a percepção de vida dos sujeitos. Tal análise tem como base os conceitos de condição, modo e estilo de vida que permeiam o acesso das pessoas a bens de consumo e a forma com que elas os incorporam e adotam hábitos em seu cotidiano. A reflexão defende que o esporte pode ser um fator de melhoria da qualidade de vida dos sujeitos que com ele se relacionam desde que esteja inserido de forma apropriada ao ambiente em que se manifesta. Isso envolve desde o sentido adotado, até a modalidade e a condição de acesso, prática e consumo dos sujeitos envolvidos. Esses conceitos podem ser aplicados ao ambiente corporativo, para melhoria das condições de saúde e produtividade dos trabalhadores. É possível afirmar que tais atividades não garantem a melhoria de qualidade de vida de forma direta, mas que colaboram de forma positiva quando somadas a outros fatores. A principal contribuição deste trabalho para a reflexão sobre as 2 Consultar Banco de Teses da UNICAMP in: Ricardo Martineli Massola, 2007. 3 Consultar Banco de teses da UNICAMP in: Renato Francisco Rodrigues Marques, 2007. 142 intervenções em qualidade de vida no ambiente corporativo está no alerta à necessidade de re-significar práticas de atividade física e esporte de acordo com as necessidades, expectativas e possibilidades dos sujeitos envolvidos, em sintonia com outros programas e políticas de melhoria das condições de vida dos funcionários e facilitação do acesso a práticas e informações voltadas a um estilo de vida saudável. Finalmente, com os trabalhos em andamento cujos dados ainda não estão suficientemente sistematizados, cabe destacar uma dissertação de mestrado que objetiva conhecer e avaliar as características específicas da qualidade de vida dos trabalhadores de cooperativas de trabalho organizadas na forma de autogestão, procurando perceber sua especificidade e apontar diferenças e coincidências com aspectos das empresas de gestão tradicional, na qual se procura desenvolver uma análise que leve em conta também aspectos de bem-estar psicológico e de saúde mental. Tem-se também procurado incentivar análises comparativas de políticas e intervenções em qualidade de vida entre diferentes organizações. 2.2 Desafios e Práticas Inovadoras Integradas à Responsabilidade Social das Empresas Programas e avaliações como os aqui descritos, baseados na percepção dos trabalhadores sobre os domínios e facetas da qualidade de vida, podem trazer à tona novos desafios aos profissionais de recursos humanos e saúde. Condição de vida, estilo de vida e modo de vida podem ser melhorados a partir das iniciativas da empresa frente a estes determinantes. Do ponto de vista conceitual, sugere-se que as práticas de gestão que envolvem a qualidade de vida devem estar relacionadas à atividade física e promoção da saúde, responsabilidade social e fadiga organizacional. Procurase assim, de acordo com o que foi apontado no início, atuar dentro de um amplo leque de alternativas que englobe a totalidade do ambiente corporativo, ou pelo menos grande parte da sua realidade, indo desde questões muito concretas e específicas, cuja abordagem utiliza com sucessos indicadores 143 quantitativos, a exemplo da LER, hipertensão ou tabagismo, até questões de fundo organizacional e ético, a exemplo do assédio moral e sexual, sofrimento no trabalho e auto-estima. Destacam-se aqui também as oportunidades de valorização de práticas relacionadas à responsabilidade social. Em decorrência da retração do Estado em atender às demandas sociais, cresce a consciência dos setores empresariais sob a responsabilidade para com as ações de recuperação das condições de vida em geral (GUTIERREZ, GONÇAVES e VILARTA, 2005). A aplicação do WHOQOL, utilizado como uma ferramenta de estudo e diagnóstico da qualidade de vida em um grupo de trabalhadores, permite demonstrar quais as áreas em que se deve atuar para a melhoria da qualidade de vida, levando em consideração o constructo multifacetado deste termo. Ações estabelecidas estrategicamente pela área de Recursos Humanos e Saúde podem contemplar aspectos da condição de vida, modo de vida e estilo de vida da população de trabalhadores, direcionando ações para a melhoria das facetas que impactam negativamente a qualidade de vida do grupo e, do mesmo modo, reforçar a importância dos programas e ações estabelecidos que impactem positivamente sobre o bem-estar do trabalhador. REFERÊNCIAS Chenoweth, D.H. Worksite health promotion. Champaign, Human Kinetics, 1998, 186 p. Gutierrez, L.G.; Gonçalves, A.& Vilarta, R. Planejamento de projetos de qualidade de vida na empresa. In: Gonçalves, A.; Gutierrez, L.G.; & Vilarta, R (orgs.) Gestão da qualidade de vida na empresa. Campinas, IPES Editorial, 2005. Linnan, L.A. & Marcus, B. Worksite-based physical activity programs and older adults: current status and priorities for the future. J.Aging Physical Activity, v. 9; S59-S70, 2001. O´Donnell, M.P. Definition of health promotion: Part III: Expanding the definition. Am. J. Health Promotion, v.3, n. 3: 5, 1989. Vilarta, R. & Gonçalves, A.. Qualidade de vida e o mundo do trabalho. In: Gonçalves, A.& Vilarta, R. (orgs.) Qualidade de vida e atividade física: explorando teoria e prática. Barueri, Manole, 2004. p 103-139. 144 CAPÍTULO III O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA ATUAÇÃO NA GINÁSTICA LABORAL Fabiane Maria Zat Adriana Klein da Rosa Fredrich A Ginástica Laboral (GL) tem se tornado no decorrer das últimas décadas uma ferramenta muito importante para as empresas. Atualmente, a discussão realizada em relação ao tema está pautada na forma de execução e implantação e sua manutenção. Para Lima (2004, p.20) a GL pode ser definida como: A prática de exercícios físicos, realizada coletivamente durante a jornada de trabalho, prescrita de acordo com a função exercida pelo trabalhador, tendo como finalidade a prevenção de doenças ocupacionais, promovendo o bem-estar individual por intermédio da consciência corporal: conhecer, respeitar, amar e estimular o seu próprio corpo. A prática da GL vem sendo desenvolvida por Profissionais de algumas áreas, principalmente por Professores de Educação Física. A discussão que se pauta está na importância do Profissional de Educação Física, especificamente nesta área do mercado de trabalho, em relatar vivências, conhecimento construído e resultados obtidos. A vivência na GL desde 1999 permite uma percepção que tanto os profissionais quanto os trabalhadores enxergam a GL como sessões de alongamento, porém tem ocorrido um amadurecimento relativo a esta questão. Atualmente os Profissionais de Educação Física estão se especializando, além de estarem constituindo um saber fazer, além de estabelecerem um viés empreendedor de certa forma sofisticado, atuando assim como pessoa jurídica; 145 aperfeiçoando-se também em conhecimentos específicos e integrando-se com outras áreas que compõem a dinâmica da ginástica laboral, como exemplo a ergonomia. Segundo Couto (2002, p. 11), a ergonomia pode ser definida da seguinte forma: Ergonomia pode ser definida como o trabalho interprofissional que, baseado num conjunto de ciências e tecnologias, procura o ajuste mútuo entre ser humano e seu ambiente de trabalho de forma confortável e produtiva, basicamente procurando adaptar o trabalho ao homem. (Grifos do autor) Ter condições de identificar situações inadequadas nos postos de trabalho e efetuar ajustes nos mesmos tem contribuído muito com os bons resultados na GL. Pode-se considerar que a GL tem sua função na preparação e compensação da musculatura e o trabalhador que permanece durante toda sua jornada de trabalho em postura inadequada, ou exposto a altas temperaturas, ruídos, má iluminação, entre outras condições, a ergonomia unicamente não poderá obter resultados significativos, ao passo que, se forem desenvolvidos de forma conjunta, a ergonomia poderá melhorar as condições dos postos de trabalho e a GL, por ter uma frequência semanal o Professor poderá acompanhar e orientar os trabalhadores, quanto às pausas, posturas e comportamentos. O diferencial do Profissional de Educação Física atuando nas aulas de GL está na sua capacidade técnica de desenvolver junto com o alongamento, atividades lúdicas e recreativas, as quais são fundamentais para tornar este momento atrativo para o trabalhador e, atuar também como uma forma de integração entre os colaboradores. Obviamente, o professor qualificado deverá ter coerência de como e quando implantará este tipo de atividade. 146 3.1 Estudos Realizados e Resultados Obtidos: Em trabalho realizado nas agências do Banco do Estado do Rio Grande do Sul – BANRISUL e unidades de atendimento do Sistema de Crédito Cooperativo – SICREDI, UNIMED ALTO JACUÍ, empresas de METALURGIA, SUPERMERCADOS, ESCRITÓRIOS na região do Planalto Médio do sul do país, pode-se obter resultados interessantes em algumas pesquisas realizadas. Nas avaliações realizadas nos locais supracitados, percebeu-se que a GL auxilia principalmente na redução de dores e melhora dos níveis de flexibilidade, dados estes confirmados através de investigações realizadas no ano de 2003. O trabalho em que se buscou verificar o Efeito do Exercício Laboral na Pressão Sangüínea e na Qualidade de Vida de Pacientes Assintomáticos (ZAT, NUNES, 2003) caracterizou-se da seguinte forma: Características do Estudo: Este estudo foi desenvolvido a partir do curso de especialização em Atividade Física e Qualidade de Vida (UPF) e que, posteriormente, foi publicado no “Congreso Sudamericano FIEP/03 y Octava Jornada de Educacion Física Del Mercosur”, realizado em Córdoba, Argentina. O estudo apresenta característica quali-quantitativa, foi realizado com dois grupos participantes do Programa de Ginástica Laboral (PGL), divididos em: Grupo I, Agências bancárias do Banrisul (das cidades gaúchas, Colorado, Selbach e Ibirubá) e unidade de atendimento do Sicredi (Colorado), sendo participantes do PGL há no mínimo seis (6) meses), Grupo II, composto de unidades de atendimento iniciantes no PGL, do Sicredi (Selbach, Tapera e Lagoa dos Três Cantos). Os materiais e instrumentos utilizados partiram da anamnese e da reavaliação (contendo questões relacionadas aos níveis de dor, estado emocional, entre outros aspectos), entrevista para investigar o histórico de saúde familiar, além da aplicação do teste de flexibilidade (FLEXITESTE – ARAÚJO E PÁVEL, 1980) e utilizando o esfigmomanômetro digital marca “MARK of FITNESS”. 147 Resultados Obtidos: Incidência de Dor e Estado Emocional: Quando foi implantado o PGL nas Agências Bancárias que compõem o Grupo I: 38,48% dos funcionários sentiam dores frequentemente. Em seis meses, houve uma redução de 27,08% (apenas 11,50% dos funcionários permanecem com dor). Já no Grupo II, os níveis de dor reduziram de 18, 25% com dores regulares no início do PGL, para apenas 2,27%, mantendo o percentual dos que sentiam dores esporádicas (de 55,5% para 56,99%) e aumentando o percentual dos que não sentem dores (de 26,25% para 40,74%). Constatou-se, então, melhora significativa quanto ao estado emocional e grau de amplitude articular. Pode-se observar, através dos resultados, que o PGL contribui sensivelmente para o aumento do grau de amplitude articular (flexibilidade). No início do PGL, o GRUPO I apresentava 36,89 graus (considerado Médio Fraco (M-)), em seis meses passou para 45,83 graus, em 8 meses 47,03 graus, em 1 ano e 2 meses 50,87 graus, 1 ano e 11 meses depois 51 graus. Observa-se que houve evolução gradativa, sendo mais acentuada no início e estabilizandose no final. O GRUPO II iniciou em um nível de amplitude articular mais elevado 42,59 graus (M+) e em seis meses 47,83 graus (M+). Quanto aos níveis de Pressão Arterial e batimentos cardíacos de repouso mantiveram-se sem alterações estatisticamente significativas, durante os seis (6) meses em que a pesquisa foi desenvolvida. 3.1.2- Ergonomia e Ginástica Laboral: Mecanismos de Melhoramento e Humanização no Trabalho (DIOGO; MAIDANA; ZAT, 2006): A apresentação do estudo seguinte foi oriunda da Monografia apresentada no Trabalho de Conclusão de Curso, da Faculdade de Educação 148 Física, Universidade Católica Dom Bosco - UCDB, pelos então acadêmicos Emerson Silva Diogo e Gledson da Silva Maidana. Características do Estudo: Este estudo foi realizado durante o ano de 2006, em uma gráfica de Campo Grande – MS, tendo como objetivo investigar as condições ergonômicas dos postos de trabalho. Os participantes do estudo foram seis trabalhadores do sexo masculino com idade que variava entre 30 e 50 anos, tendo uma média de 38 anos, dos setores de impressão, corte e acabamento (blocagem). O instrumento de pesquisa foi o método REBA (Rapid Entire Body Assessment), de Hignett & McAtamney (2000), que tem por objetivo avaliar as posturas em cada posto de trabalho através de imagens fotográficas, analisando então os segmentos corporais e suas respectivas angulações, para desenvolver um sistema de análise postural sensível aos riscos músculoesqueléticos em várias tarefas, sendo estáticas e/ou dinâmicas, ressalta-se ainda a sua simples execução, pois necessita apenas de imagens fotográficas e as tabelas fornecidas pelo método. 149 Resultados Obtidos: Setor: Impressão II Foto 01: Funcionário realização checagem da qualidade de impressão. Função: O funcionário está realizando a conferência do material, ou seja, analisando se as cores estão bem distribuídas e seus registros (traços no canto do papel) estão se encaixando, para isso ele tem o auxílio de um objeto chamado “conta fio”, o qual aumenta a imagem em dez vezes, essa função é praticada o tempo todo no processo de impressão. Resultados: Tabela A (Cervical, Perna, Tronco): 09 Pontos. Tabela B (Antebraço, Punho, Braço): 10 Pontos e Tabela C (A e B): 12 Pontos. Nível de risco- Muito alto. Intervenção imediata. Intervenção: O grande malefício dessa função é a necessidade de realizar por diversas vezes ao dia, com um alto grau de flexão cervical, o que acarreta em uma relevante tensão muscular localizada, além da aderência há uma má postura. Sendo assim, recomenda-se uma estrutura plana com uma altura regulável e com uma inclinação de aproximadamente 45°, para ser posto o material que irá ser analisado com o propósito de diminuir a flexão da coluna, principalmente na região cervical, gerando menos dores musculares e proporcionando melhores condições de trabalho. Setor: Corte I Foto 02: Funcionário realizando corte de Função: Esta é outra etapa que ocorre no processo gráfico do papel. setor de produção, o corte do papel. O mesmo é realizado em diversos formatos, neste caso trata-se do maior que se utiliza na gráfica, (65.8 X 47.8cm advindo de um formato com 66.0 X 96.0cm), ele começa cortando o papel ao meio e depois refila (corte de mm realizados nos quatro cantos do papel para que todas as folhas fiquem do mesmo tamanho), após o corte é retirado o papel da guilhotina e transportados manualmente para o impressor pré-definido. Resultados: Tabela A (Cervical, Perna, Tronco): 08 Pontos. Tabela B (Antebraço, Punho, Braço): 06 Pontos e Tabela C (A e B): 3 Pontos. Nível de risco- Muito Alto. Intervenção imediata. Intervenção: O grande complicador desta função é o alto grau de flexão de tronco combinado com o peso do papel, que dependendo pode pesar mais que 15 kg, o mesmo só não é pior pelo auxilio do colchão de ar (diversos forames na mesa da máquina, que soltam ar contra o papel diminuindo assim seu peso), porém auxiliam somente durante o corte e não na sua entrada e retirada da máquina, momento de maior tensão na coluna vertebral principalmente na região lombar. Neste caso há duas variáveis a serem analisadas no intuito de amenizar esta combinação, uma é a altura do funcionário e a outra é a altura da mesa da máquina. A partir dessa observação, sugere-se a construção de uma 150 bancada posta embaixo da guilhotina para assim diminuir a flexão de tronco do funcionário, lembrando que na intervenção da altura deve-se trabalhar dentro da média, pois se acontecer trocas de funcionário não se perde a bancada. Para amenizar o peso, o trabalhador deverá tanto retirar como colocar o papel na máquina por etapas, dessa forma pode-se obter uma menor flexão, combinada a uma carga mais leve resultando em uma menor tensão muscular e evitando uma possível adoção da má postura cifótica. Setor: Acabamentos (Blocagem) Foto 3: Funcionária realizando o acabamento Função: Esta é uma etapa final no processo gráfico, onde o funcionário realiza diversas funções, por exemplo: dobras, intercalações, colagens entre outras. Neste caso o mesmo está fazendo apenas uma dobra no centro do papel casando com imagem no fundo. Resultado: Tabela A (Cervical, Perna, Tronco): 3 Pontos.Tabela B (Antebraço, Punho, Braço): 4 Pontos e Tabela C (A e B): 5 Pontos. Nível de Risco- médio. Intervenção necessária. Intervenção: O fator mais preocupante neste processo é o movimento repetitivo que de acordo com nossa revisão bibliográfica é a variável determinante no aparecimento da LER/DORT, porém, é uma situação complicada, pois não tem como evitar esse movimento, desta forma, recomenda-se a criação de um sistema de rodízio na blocagem, em que os funcionários deste setor alternem as funções entre eles a cada hora, porém, acontece de ter serviços com apenas uma fase, neste caso o mais viável seria a realização de pausas de 10 min a cada 1hora de repetição. Outro ponto analisado é em relação à postura do funcionário, sugere-se então, a troca do acento por outro com a mesma altura, mas com encosto na região lombar e a retirada das caixas situadas a baixo da mesa proporcionando que o mesmo fique com as pernas num ângulo aproximadamente de 90° melhorando desta forma a circulação dos membros inferiores. 151 6.1.3 Análise Ergonômica de um Posto de Trabalho em uma Fábrica de Aerogeradores (FEITOSA, FIGUEIREDO, ZAT, SANTOS, 2007): O referente estudo foi realizado em virtude da conclusão do curso de Especialização em Ergonomia (UGF), pelos profissionais de Educação Física Edson Alves Feitosa e Fabiane Maria Zat, pela Fisioterapeuta Mirian Cristina Figueiredo, sob orientação da Professora Doutoranda Alda Paulina dos Santos. Características do Estudo: O Estudo tem característica descritiva e de caráter qualitativo, o qual se realizou em uma multinacional que fabrica e instala aerogeradores (para usinas de energia eólica), o setor investigado foi o de fabricação de longarias4. 4 Estruturas de reforço que compõe uma pá (alicerce estrutural da hélice do aerogerador), composta de vários feixes de tecidos de lã de vidro impregnados com resina de secagem rápida. 152 Realizou-se avaliação pré e pós intervenção ergonômica realizada pelo setor de engenharia da própria empresa. Utilizando-se como protocolo de avaliação o Método REBA (Rapid Entire Body Assessment), de Hignett & McAtamney (2000). Resultados Obtidos: A primeira imagem analisada é do posto de trabalho antes da intervenção ergonômica. Resultados das avaliações, de acordo com o Método REBA: Análise Pré-Intervenção: Foto 4: funcionário com postura inadequada Resultados: Tabela A (Cervical, Perna, Tronco): 05 Pontos. Tabela B (Antebraço, Punho, Braço): 07 Pontos. Tabela C (A e B): 08 Pontos. Nível de Risco e Ação: Nível: 03 Pontuação: 08 - 10 (08 Pontos) Nível de Risco: Alto Intervenção: Necessário em breve Ao se realizar uma análise mais aprofundada sobre o posto de trabalho avaliado e com o resultado obtido com o Método REBA, observa-se que a pontuação obtida foi oito (08), considerado um nível de Risco Alto, sendo a intervenção necessária e breve. Pôde-se perceber que o colaborador realiza um esforço muito elevado para poder empurrar o suporte com o rolo de manta de lã de vidro, além de ficar em uma postura inadequada, pois é forçado a realizar flexão lateral de tronco. Ou seja, permanece em postura estática de tronco e realiza trabalho repetitivo, pois realiza a mesma tarefa durante toda jornada de trabalho. Levando em consideração a NR-17, íten 17.2 (17.2.6): O transporte e a descarga de materiais feitos por impulsão ou tração de vagonetes sobre trilhos, carros de mão ou qualquer outro aparelho mecânico deverão ser executados de forma que o esforço físico realizado pelo 153 trabalhador seja compatível com sua capacidade de força e não comprometa a sua saúde ou a sua segurança. Preocupados com este aspecto e devido à incidência de queixas por 5 parte dos colaboradores , o departamento de engenharia da empresa desenvolveu um carrinho motorizado, o qual transporta os rolos de manta de lã de vidro, como mostra a imagem a seguir. Análise Pós-Intervenção: Foto 02: Trabalhador conduzindo o equipamento. 120° Ombro elevado a mais de 90°. Apoio unilateral. Resultados: Tabela A (Cervical, Perna, Tronco): 02 Pontos. Tabela B (Antebraço, Punho, Braço): 06 Pontos. Tabela C (A e B): 05 Pontos. Nível de Risco e Ação: Nível 02 Pontuação: 04 – 07 (05 Pontos) Nível de Risco: Médio Intervenção: Necessária. Ao comparar este posto de trabalho, pós-intervenção ergonômica e o anterior, observou-se que houve melhoras significativas, pois no anterior obteve-se uma pontuação oito (08) considerada de risco alto e necessário intervenção em breve. Após as intervenções, reduziu-se a pontuação para cinco (05) e o risco para médio, porém ainda são necessárias intervenções de melhoramento. O carrinho projetado auxiliou consideravelmente, pois os colaboradores não precisam realizar esforços excessivos para empurrá-lo, porém percebe-se que ainda existem posturas de trabalho inadequadas, observa-se ainda que o 5 Não tivemos acesso aos percentuais de queixas, lesões e afastamentos. 154 braço do trabalhador está elevado a 120 graus, no momento em que ele aciona a chave de partida do carrinho, sendo considerada uma postura extremamente favorável para o desenvolvimento de lesões, principalmente bursites. Observou-se a necessidade dos ajustes no carrinho: Existem fios soltos enquanto este se movimenta (o carrinho ao andar vai arrastando a fiação elétrica à qual ele é ligado), podendo laçar alguém que esteja próximo derrubando-o. A proposta seria colocar fiação aérea ou embaixo do molde com dispositivo de acompanhamento do carrinho; Também colocar um contrapeso no lado oposto da plataforma para que não tombe, quando o operador estiver em cima; Além de melhorar os suportes para a tesoura elétrica e manual; As chaves estão em locais inadequados, sendo um muito alto (obrigando assim a elevação do ombro) e outra muito baixa (sendo necessário fazer flexão de tronco). Estas chaves poderiam estar em uma bancada, posicionada um pouco abaixo da linha do cotovelo, a frente do colaborador; O acelerador do carrinho, obriga o trabalhador a ficar em apoio unilateral, podendo perder o equilíbrio, além de poder apresentar problemas posturais, devido o quadril ficar desalinhado. Sugere-se, então, que este acelerador seja manual, projetado em cima da bancada que foi mencionada anteriormente, pois assim o trabalhador poderá realizar sua tarefa com o antebraço apoiado; Também sugere-se que seja adotado um banco semi-sentado para o trabalhador, podendo assim permanecer com uma postura mais adequada, evitando assim fadiga. 155 4 3 5 2 1 Foto 05: Imagem do posto de trabalho, pós intervenção e apontando as recomendações de adequação. 3.1.4- Estudo IV – Ginástica Laboral e Ergonomia Aplicada a Profissionais de Odontologia (CASTRO, ZAT, 2007): Estudo realizado a partir da Monografia apresentada no Trabalho de Conclusão de Curso, da Faculdade de Educação Física, Universidade Católica Dom Bosco - UCDB, pela então acadêmica, Priscila Castro. Características do Estudo: Buscando comprovar a eficácia da ginástica laboral e da ergonomia aplicada aos profissionais de odontologia. O presente estudo qualitativo foi aplicado a um odontólogo em clínica particular, utilizando os seguintes métodos de avaliação: questionário de anamnese, escala de Corllet (mensuração de dor) e método REBA (avaliação das posturas de trabalho). Foram adotados os seguintes procedimentos: observação, anamnese inicial, aplicação da escala de Corllet (e re-avaliação) avaliação das posturas de trabalho através do método REBA e aplicação de sessões de GL e alongamentos para serem realizados antes da jornada de trabalho. Seguindo procedimentos éticos, 156 utilizou-se o termo de consentimento livre esclarecido e termo de consentimento de uso da imagem. As sessões de ginástica laboral (compensatória) foram realizadas do dia 01 de agosto a 14 de setembro de 2007, sendo feitas três (03) vezes na semana (segundas, quartas e sextas das 16:00h às 16:20h), totalizando 19 sessões, os grupos musculares mais trabalhados foram os que através dos testes apresentaram maior índice de dor, sendo eles: costas-superior(dorsal), costas-médio (cintura), ombro direito, braço direito, punho direito e joelho direito. Resultados Obtidos: As posturas de trabalho do investigado, foram avaliadas através do método REBA, também foi aplicada a Escala de Corllet para mensurar os níveis de dor, antes de iniciar as sessões de GL e após dezenove sessões, obtendo-se os seguintes resultados: Escala de Corllet: 1 Pré-teste Nível 3 2 3 4 5 Pós-teste Nível 3 157 Como se pôde perceber e já mencionado, houve redução de dor/desconforto passando do nível 03, para 02, nos seguintes segmentos: ombro direito, punho direito, joelho direito, costas-médio (cintura) e costassuperiores (dorsal). Após as sessões de ginástica laboral, foram visíveis as melhoras conseguidas, enfatizando o quanto a ginástica laboral e a ergonomia podem sim fazer a diferença na qualidade de vida dos odontólogos. Apesar do pouco tempo em que foram desenvolvidas, as sessões de GL auxiliaram consideravelmente na redução de dores, fazendo lembrar também que o cuidado com a postura e a sequência dada aos alongamentos, conforme foi indicado, foi alguns dos requisitos que também ajudaram no importante resultado conseguido, além da consciência do investigado, o qual tem uma vida ativa, pois quanto menor o nível de sedentarismo melhor os resultados que as sessões de GL e as intervenções ergonômicas trarão. 3.1.5- Estudo V - Ginástica Laboral na Empresa: Relato de Experiência (GALVÃO, ZAT, 2007): Estudo realizado a partir da Monografia apresentada no Trabalho de Conclusão de Curso, da Faculdade de Educação Física, Universidade Católica Dom Bosco - UCDB, pela então acadêmica Ducymar Martins Galvão. Características do Estudo: Esta pesquisa é de caráter qualitativo cujo o objetivo foi investigar a GL para colaboradores de uma empresa de águas, na cidade de Campo Grande/MS, na qual já é realizada a GL. Foram aplicados questionários a três colaboradores do setor de atendimento personalizado e três do setor “call center”, também foram colhidos depoimentos sobre a GL. 158 Resultados Obtidos: Pode-se perceber que a GL, nesta empresa tem caráter obrigatório, segundo a literatura (LIMA, V., 2003) deve ser uma prática voluntária. E muitas vezes as sessões são repetitivas, não tendo novos estímulos. Também se constatou que não são feitos trabalhos de motivação e de orientação e alterações ergonômicas. Acredita-se que a GL realmente deve contribuir com a melhora das condições de trabalho, com o ambiente ocupacional e não ser mais uma tarefa a ser cumprida. Percebe-se que grande parte dos bons resultados vem das questões de humanização e motivação encontradas nas sessões de GL (CAÑETE, 1996). A participação do trabalhador, com sugestões, depoimentos sobre o seu entendimento do trabalho, além do desgaste físico e psíquico gerado (GUARESCHI, GRISCI, 1993), poderá contribuir para um aumento dos benefícios da GL. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A GL é uma ferramenta do mundo empresarial que possibilita ao trabalhador compreender melhor a sua atividade laboral. Incorporar o trabalho dentro do universo de uma empresa é, no mínimo, desafiador. Deve-se ter cuidado e respeitar o ambiente empresarial, observando a forma de comunicação, as roupas utilizadas para a aula, o trato com as pessoas, enfim à adaptação a realidade da empresa deve ser sempre observada. É necessário o discernimento dos colaboradores no sucesso dessa empresa, sem interferir no sistema gerencial, e sim, agregar valor a ele através do trabalho. Os profissionais de Educação Física que atuam na GL têm que ter claro que esse processo, estruturado, mensurado, executado com excelência técnica leva à valorização do ser humano e sua relação com o trabalho e a valorização da profissão. 159 Deve-se pautar o trabalho no ser humano Integral. Ver os alunos colaboradores das empresas, como pessoas que pensam, sentem dor, ficam tristes e felizes dentro de sua jornada de trabalho e também na sua vida pessoal. Levar alternativas coerentes e seguras para aliviar suas angustias físicas, emocionais, sociais é parte da responsabilidade de um programa de GL. Referências: ARAÚJO, C. G. S., Pável, R. C., PINA-ALMEIDA A. Flexiteste-análise preliminar de sua objetividade e confiabilidade. In: Congresso Regional Brasileiro de Ciências do Esporte. Volta Redonda, 1980. CAÑETE, I. Humanização: desfio da empresa moderna, a ginástica laboral como um caminho. Porto Alegre: Foco editorial, 1996. COUTO, H. A. Ergonomia Aplicada ao Trabalho em 18 Lições. Ilustradao por Ricardo Sá, Ergo, Belo Horizonte, 2002. GUARESCHI, P. A.; GRISCI, C. L. I. A fala do trabalhador. Petrópolis/SP: Vozes, 1993. HIGNETT, MCATAMNEY. Rapid Entire Body Assessment, 2000. LIMA, Deise Guadelupe de. Ginástica laboral: metodologia de implantação de programa com abordagem ergonômica. Jundiaí/SP: Fontura, 2004. LIMA, Valquíria de. GINÁSTICA LABORAL: ATIVIDADE FÍSICA NO AMBIENTE DE TRABALHO. Phorte: São Paulo, 2003. NR – 17 www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr17.htm - 54k. 160 CAPÍTULO IV GINÁSTICA LABORAL INTEGRADA E BIOMECÂNICA OCUPACIONAL José Marques Novo Júnior Este capítulo trata dos valores e dos princípios norteadores nos quais o Projeto de Extensão denominado “Programa de Ginástica Laboral Integrada e de Biomecânica Ocupacional”-(GLiBO) tem se baseado em suas condutas e práticas, tanto na contribuição à formação de recursos humanos na área da Educação Física como nas ações de pesquisa científica. Concebido em 2003, está registrado na Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora em 2005, com o objetivo de agregar tanto a característica generalista da formação do profissional de Educação Física como a multiplicidade de opções de sua intervenção profissional, razões pelas quais justificam a identificação do projeto como atividade INTEGRADA, embasada nos conceitos e métodos da BIOMECÂNICA OCUPACIONAL. O projeto tem contribuído para que os acadêmicos das áreas da saúde tenham a oportunidade de vivenciar um ambiente multiprofissional com ações interdisciplinares, visando estabelecer condutas éticas da interação profissional como também das diretrizes de intervenção na área da saúde ocupacional, comprometendo-se a melhorar a qualidade de vida e do ambiente de trabalho, promovendo ações de humanização do trabalho, interação e integração, socialização, contribuindo às recomendações de atividade física diária, minimizando os efeitos deletérios ao sistema músculo-esquelético, cardiovascular e psicológico. Um dos principais objetivos do projeto tem sido o contínuo investimento na formação de recursos humanos, uma consequência desse esforço foi a implantação, na reforma curricular, de disciplinas que contemplassem os conteúdos necessários à aplicação da Ginástica Laboral. Considerando a tendência atual que a doença ocupacional vem assumindo, são muito comuns as referências às LER/DORT (Lesões por Esforços Repetitivos/Doenças Osteomusculares Relacionadas com o Trabalho) 161 e às situações geradoras de stress emocional no dia a dia, cuja busca constante da maior produção tem sido priorizada em detrimento da saúde, física ou mental. A intensificação do trabalho, causando sofrimento na execução de tarefas, realizadas muitas vezes por movimentos repetitivos, com posturas inadequadas, trabalho muscular estático, conteúdo pobre de tarefas, monotonia e sobrecarga mental, associadas a relações interpessoais conflituosas afetam diretamente a vida dos indivíduos, seu ambiente de trabalho e suas relações sociais. Tais situações podem gerar afastamentos do trabalho e inclusive evoluir para a incapacidade parcial ou permanente e aposentadorias por invalidez. Assim, a atividade física no local de trabalho, aliada à ergonomia e à biomecânica ocupacional, tem sido uma das opções para aliviar e/ou eliminar o sofrimento dos trabalhadores, que vivenciam dores musculares. Trata-se de um procedimento que pode reduzir consideravelmente os índices de acidente de trabalho, os afastamentos devido a doenças ocupacionais e as faltas motivadas pelas dores, cansaço excessivo e stress. Os bons resultados estão relacionados com os efeitos de relaxamento, descontração, aumento da disposição e redução ou eliminação das dores e sintomas físicos. Logo, busca-se, pela Ginástica Laboral, a melhoria da saúde dos trabalhadores dentro e fora do seu ambiente de trabalho, a melhoria das condições para se cultivar hábitos saudáveis, a promoção de um melhor condicionamento físico, bem como o estímulo ao convívio salutar no ambiente de trabalho. Nota-se que pela ampla variedade de fatores que envolvem a saúde ocupacional, é inconcebível que a Ginástica Laboral seja abordada apenas como um simples projeto dentro das empresas. Ela deve ser parte de um programa efetivo de saúde ocupacional e de bem estar dos trabalhadores. Sendo assim, a GL deve ser INTEGRADA ao ambiente corporativo, envolvendo tanto os setores da administração como da produção, juntamente com a equipe responsável pela organização, planejamento e execução da Ginástica Laboral Integrada (GLi). 162 Desse modo, evidencia-se a importância da GL INTEGRADA aos departamentos de Segurança do Trabalho, de Medicina Ocupacional, de Recursos Humanos, de produção, da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), e de outros setores administrativos, cujo sucesso se fará pela parceria e cumplicidade na promoção da saúde e qualidade de vida no ambiente de trabalho. Essa INTEGRAÇÃO, sob vários aspectos, deverá contribuir para identificar: 1. Os fatores de risco para pré-disposição de doenças cardiovasculares, muitas delas assintomáticas (hipertensão e diabetes, por exemplo) e que, dependendo do caso, trariam impedimento do colaborador à participação das aulas de GLi; 2. Os distúrbios do aparelho locomotor que levariam aos desconfortos e dores musculares nas execuções das tarefas, levando às más posturas que proporcionariam as LER/DORT; 3. Os níveis de desajustes nas relações interpessoais e profissionais no ambiente de trabalho, que desencadeariam processos de estresse psicológico; 4. Os aspectos ergonômicos das ferramentas e do ambiente de trabalho; 5. O grau de conhecimento dos colaboradores sobre as características e limites de seu corpo; 6. As relações trabalhistas no contexto da missão da empresa e dos objetivos dos serviços por ela prestados. Tem sido evidenciado em muitas situações que o sucesso das implantações de um programa de GLiBO só é alcançado pela integração dos setores acima descritos, numa ação conjunta e parceira, desde a concepção até a execução do programa, em conjunto e dependendo do grau de necessidade e dos objetivos, outras técnicas poderão ser aplicadas nas aulas de GLi como ioga, massagem, exercícios chineses e sessões de relaxamento. Assim posto, e considerando-se a reforma curricular pela qual passou o curso de Educação Física da Universidade Federal de Juiz de Fora, definiu-se algumas disciplinas eletivas específicas que possibilitam ao acadêmico 163 pesquisar e entender o ambiente corporativo bem como absorver parte do conhecimento de outras áreas da saúde que complementam o Programa GLiBO. As principais disciplinas são: 1)na Graduação, “Biomecânica”, “Exercício Físico e Doenças Crônicas Não-Transmissíveis”, “Ginástica Laboral Integrada”, “Biomecânica Experimental”, 2)na Pós-Graduação, “Métodos e Técnicas de Avaliação Biomecânica” (lato sensu) e “Biomecânica Ocupacional” (stricto sensu). Há de se considerar que tais disciplinas apenas complementam a formação do acadêmico, que tem à sua disposição um conjunto de conceitos que satisfazem o seu perfil para atuar em GLiBO: anatomia e fisiologia, ergonomia e riscos ambientais, biomecânica e avaliação postural, avaliação morfo-funcional e condicionamento físico, normas de segurança e qualidade de vida no trabalho, psicofisiologia e estresse ocupacional, dinâmica de grupo e recursos humanos, promoção da saúde e triagem de risco. Além desses aspectos técnicos e formativos, é característica do profissional de Educação Física a sua capacidade de observação e de motivação tão necessária à interação com os funcionários da empresa. Além disso, é sua função atuar na prevenção e por isso é de sua responsabilidade a triagem de risco cardiovascular, identificando fatores de risco tais como: sedentarismo, tabagismo, hipertensão, diabetes, dentre outros. Em se tratando das LER/DORT, é necessário conhecimento sobre a postura e sobrecarga do aparelho locomotor, aliando os conceitos da ergonomia e da biomecânica, utilizando de métodos de avaliação antropométrica e de esforços musculares, e de identificação das características psico-fisiológicas relacionadas aos ritmos circadianos e à influência do ambiente físico. Têm-se aqui dois campos do conhecimento humano em destaque: a Ergonomia e a Biomecânica. Ambos, apesar de mencionados em resoluções do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), sejam a do Código de Ética ou a das competências e campos de atuação profissional, não definem as prováveis vertentes e especificidades. Torna-se necessário, portanto, contextualizar tais campos de conhecimento no tema da Ginástica Laboral, 164 escopo deste livro. A Ergonomia busca entender e explicar como determinadas variáveis afetam o desempenho humano no trabalho, ou seja, seu foco é sobre o trabalho e as ações ocupacionais. A Biomecânica, por sua vez, disponibiliza diversos métodos e técnicas de quantificação do movimento humano em diversas situações, desde as ações esportivas de alto rendimento às situações de avaliação funcional. É nesse caso que a Biomecânica adquire uma especificidade denominada Biomecânica Ocupacional, cujo objetivo central é a investigação de diversos fatores nos movimentos corporais em situações de trabalho. É imprescindível, no entanto, a identificação dos limites desses dois campos, no sentido de viabilizar e valorizar toda proposta de GLi. Na Ergonomia, pode-se verificar a sua preocupação com o ser humano, na vertente que investe na melhoria das condições específicas do trabalho humano, juntamente com a higiene e a segurança do trabalho, independentemente das linhas de atuação ou das estratégias e dos métodos que possa utilizar. Nota-se, nessas afirmações, um indício do que identificou-se como “Integrada” em nossa proposta de GL. A Ergonomia torna-se eficiente nos seus propósitos a partir da consideração de outros fatores, tais como hábitos saudáveis e aspectos de segurança. Quando se visa à prevenção das LER/DORT e se o objeto principal é o homem, na sua condição de agente no ambiente de trabalho, devem-se considerar também alguns conceitos importantes no entendimento dessas lesões/distúrbios. Nesse sentido, é importante considerar também que as lesões provenientes de situações ocupacionais, baseadas em evidências científicas, têm sido sustentadas por diversas teorias. Apesar das causas serem multifatoriais, é comum a todas as lesões ou às desordens músculo-esqueléticas, a influência biomecânica por natureza. Partindo desse princípio, uma lesão significa rompimento mecânico de tecidos que resulta em dor. Todo evento traumático, tal como os das LER/DORT, significa que a integridade do tecido envolvido foi corrompida e que sua organização mecânica foi alterada. Como consequência, há a geração 165 de desconforto e dificuldade de empregar as mesmas estruturas biológicas na realização das tarefas ocupacionais. Pode-se dizer que, se um programa de GL pretende satisfazer a necessidade da empresa na redução e/ou prevenção das LER/DORT, é preciso cautela nesse entendimento, pois se torna necessária, em primeiro lugar, a identificação dos fatores de risco que podem desencadear tais lesões e em segundo lugar, planejar a GL de modo que tais fatores possam ser reduzidos e/ou eliminados. Fatores de risco à estrutura músculo-esquelética proveniente de ações/tarefas ocupacionais, relacionadas ao trabalho, podem ser agrupados em quatro categorias: genética, morfológica, psicofisiológica e biomecânica. As características inerentes a essas categorias têm sido muito exploradas em vários estudos sobre as LER/DORT. Mas daí, extrapolar as ações de GL justificando sua aplicação na prevenção direta das mesmas requer muita pesquisa científica cuidadosa e com metodologia adequada. Infelizmente, poucos estudos têm abordado o controle de tais fatores para o entendimento das lesões músculo-esqueléticas. Pode-se verificar que são fatores não-manipuláveis os morfológicos e genéticos; restando os biomecânicos e os psicofisiológicos, que podem ser manipulados e controlados. Para uma GL que se proponha potencialmente prevenir as LER/DORT, é preciso entender as bases biomecânicas das lesões músculo-esqueléticas. As atividades laborais são cinesiologicamente complexas, envolvendo grande número de biomateriais tais como músculos, ossos, tendões, ligamentos, cartilagens, líquido sinovial e articulações. Todos esses biomateriais, que são tecidos vivos, possuem comportamentos e características específicas quando atuam na realização de movimento. Algumas teorias têm sido propostas para descrever (ou categorizar) os processos das lesões: Teoria de interação multivariada, pela qual fatores morfológicos, genéticos, psicofisiológicos e biomecânicos são responsáveis, em 166 conjunto, pelo desencadeamento das lesões ao sistema músculoesquelético; Teoria da fadiga diferencial, na qual as atividades ocupacionais são planejadas para a produção e não na otimização da compatibilidade biológica, contemplando valores industriais e econômicos, tornandose atividades com movimentos repetitivos; Teoria da carga cumulativa, apoiada nas características mecânicas dos biomateriais, cuja estrutura e composição são passíveis de deformação e adaptação, mas que sob cargas prolongadas e/ou repetitivas podem sofrer alterações que, se crônicas, podem implicar em deformações permanentes; Teoria da sobrecarga, que justifica as lesões a partir da excessiva solicitação das estruturas para o movimento e a manipulação durante as tarefas laborais (sejam de carga, tempo de esforço, repetitividade de movimento, interação postura e movimento). Verifica-se desse modo que, tanto a Biomecânica Ocupacional como a Ergonomia, são disciplinas de grande importância na formação do profissional de Educação Física, juntamente com o perfil já tradicional da área: formação didático-pedagógica, biológica e antropológica. Além disso, o projeto de extensão “Programa de Ginástica Laboral Integrada e de Biomecânica Ocupacional” da Faculdade de Educação Física e Desportos da UFJF tem investido na formação de recursos humanos capazes de interação multiprofissional, construindo uma prática de atividades laborais, que visam o aprimoramento dos colaboradores perante os meios de produção, dando-lhes condições para melhoria dos hábitos de vida através de ações preventivas, conscientizadoras e educacionais. Nossa prática tem sido exaustivamente aplicada nos vários ambientes da universidade (transporte, vigilância, parques e jardins, hospital universitário), com o objetivo de identificar as possibilidades de adaptação e integração entre os vários setores produtivos e de seus objetivos específicos. Metodologicamente, a ação conjunta dos alunos de Educação Física, 167 fisioterapia, serviço social, medicina e enfermagem tem consolidado as diretrizes de um trabalho em equipe, juntamente com a administração superior. Tem-se obtido sucesso nas ações, primeiro porque o investimento no programa é focado nos recursos humanos, e segundo, porque há grande liberdade de identificação dos diversos fatores que causam o absenteísmo, insatisfação com o trabalho, sedentarismo e doenças cardiovasculares. Uma característica fundamental de nosso programa é a não utilização de facilitadores, o que promove níveis de adesão mais evidentes e o envolvimento mais responsável e espontâneo dos trabalhadores, num processo de cumplicidade com nossa equipe. A Pró-Reitoria de Recursos Humanos e suas coordenações possibilitam a análise dos periódicos médicos, dos prontuários dos funcionários e da execução de avaliações morfo-funcionais durante os exames periódicos. O nosso protocolo baseia-se em análise ergonômica do ambiente de trabalho e as relações com as funções ali exercidas. As intervenções de Gli são elaboradas em conjunto com os trabalhadores, respeitando-se o mesociclo de intervenção sob a forma de planos de aula. Não necessariamente as atividades são exclusivamente corporais, com exercícios de alongamento ou de flexibilidade. Por vezes, dinâmicas de grupo, jogos empresariais, lazer ativo e o circuito de minipalestras sobre assuntos ligados à saúde e bem-estar têm produzido bons efeitos. São aplicados questionários psicossociais e morfo-funcional, além daqueles que possam identificar fatores de risco cardiovascular. A avaliação semestral de todo o trabalho realizado completa o mesociclo das intervenções. Vale ressaltar a importância que o nosso projeto de extensão possui enquanto ambiente para discussão de temas relevantes, compartilhamento de conhecimento e de suporte às pesquisas científicas. O desenvolvimento de estudos desse nível tem o suporte do Laboratório de Avaliação Física, localizado no Centro de Atenção à Saúde do Hospital Universitário da UFJF, o qual possui equipamentos de última geração para a avaliação dos esforços musculares em atividades ocupacionais. 168 Com o uso de um sistema portátil de avaliação muscular quantitativa (dinamometria, extensiometria e eletromiografia), da cinemetria (registro e análise dos movimentos através de filmagem) e de técnicas de análise estatístico-matemática para interpretação dos dados, os projetos a serem desenvolvidos no próprio local de trabalho, visam identificar os níveis de fadiga muscular, as correlações entre força e desempenho na realização de tarefas, os ajustes cardiovasculares durante o trabalho, e análise postural estática e dinâmica. Os resultados a serem obtidos visam identificar parâmetros que possam efetivamente auxiliar na definição dos procedimentos adequados de técnicas e de atividades nas aulas de Gli, específicas ao perfil do trabalhador e das atividades ocupacionais requeridas no desempenho de suas tarefas. REFERÊNCIAS ABERGO. Regimento dos grupos técnicos da ABERGO-Associação Brasileira de Ergonomia. Assembléia Geral Ordinária da ABERGO de 4 de setembro de 2002, Recife, Pernambuco. 2003, 14p. BINI, Isabel Cristina. Elaboração de programa de prevenção e verificação dos fatores de risco para as coronariopatias. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, 2004, 97p. CONFEF. Resolução CONFEF No.046: sobre a Intervenção do Profissional de Educação Física e respectivas competências e define os seus campos de atuação profissional.. Conselho Federal de Educação Física, 2002. CONFEF. Resolução CONFEF No.056: sobre o Código de Ética dos Profissionais de Educação Física registrados no Sistema CONFEF/CREFs. Conselho Federal de Educação Física, 2003. KUMAR, Shrawan. Theories of musculoskeletal injury causation. Ergonomics, vol.44, n.1, p.17-47, 2001. MINISTÉRIO DA SAÚDE, Brasil. LER / DORT - Protocolo de Investigação, diagnóstico, Tratamento e Prevenção de LER/DORT. Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de Gestão de Políticas Estratégicas, Coordenação de Saúde do Trabalhador. 2002, 10p. MINISTÉRIO DA SAÚDE, BRASIL. Lesões por esforços repetitivos (LER)/ Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho(DORT). Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de Gestão de Políticas Estratégicas, Coordenação de Saúde do Trabalhador. 2000, 38p. MORAES, Anamaria de. Ergonomia: conceitos e aplicações / Anamaria de Moraes, Cláudia Mont‟Alvão, Rio de Janeiro: A. de Moraes, 2003, 140p. ISBN 85-902862-4-X. 169 CAPÍTULO V PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL (GL): ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO Ricardo Alves Mendes Neiva Leite Este capítulo apresenta a síntese da produção científica dos pesquisadores, professores Mestre Ricardo Alves Mendes e Doutora Neiva Leite sobre ginástica laboral (GL) e saúde do trabalhador, em conexão com as experiências práticas como: profissionais, pesquisadores da área da saúde ocupacional, professores universitários, professores de educação física e instrutores de ginástica laboral. Metodologicamente serão utilizadas a Dissertação de Mestrado de Ricardo Alves Mendes intitulada “Ginástica Laboral: implantação e benefícios nas indústrias da Cidade Industrial de Curitiba (CIC)”, bem como o livro “Ginástica Laboral: princípios e aplicações práticas”, dos dois pesquisadores, dos artigos publicados nos anais do Primeiro Encontro de Ergonomia, Saúde e Trabalho da Universidade Federal do Paraná (UFPR), também escrito pelos dois pesquisadores, trabalhos realizados e apresentados pelos pesquisadores, juntamente com os bolsistas do Núcleo de Pesquisa em Qualidade de Vida (NQV) da UFPR e monografias de graduação e pós-graduação orientadas pelos mesmos. 5.1 PRÉ-REQUISITOS PARA PROPOSTA DE GL JUNTO ÀS EMPRESAS Antes de o profissional propor a implantação de um programa de GL junto às empresas, sugere-se aos iniciantes estudo aprofundado na área de GL e conhecimento detalhado sobre o funcionamento da empresa para a elaboração de projeto. A avaliação pré-projeto inclui as tarefas realizadas pelos trabalhadores, horários dos turnos para facilitar o planejamento da proposta de implementação de um programa de atividade física no ambiente do trabalho. 170 O profissional de educação física, ao propor a implantação de programa de GL, precisa saber que a empresa ao realizar investimento, deseja conhecer as perspectivas de retorno. Cabe a esse profissional da GL ressaltar que, em curto prazo, os resultados e os benefícios encontrados são mais relevantes para os trabalhadores participantes do programa. Os resultados mais significativos para as empresas são atingidos em longo prazo. 5.2 Resultados dos estudos científicos com GL Conhecer e divulgar os resultados e os benefícios associados, à prática da GL tanto para as empresas e trabalhadores é elemento imprescindível para justificar a implementação de um programa de GL junto aos empresários. Muitas empresas programam a GL pelo objetivo de prevenção e reabilitação de doenças ocupacionais, alcançando resultados significativos para a saúde dos trabalhadores e, consequentemente, para empresa. De forma didática, as doenças ocupacionais podem ser agrupadas em dois grandes grupos, ou seja, os Distúrbios Osteomusculares Relacionados com o Trabalho (DORT) e os Distúrbios Psicológicos Relacionados com o Trabalho (DPRT). Quando se menciona os DORT, ressaltam-se as lesões como: a tendinite e a tenossinovite dos músculos dos antebraços, a compressão dos nervos ulnar e radial, a síndrome da tensão cervical, a lombalgia e as bursites de ombro e cotovelo ocasionados nos trabalhadores a partir de esforços repetitivos e cumulativos ocorridos com nexo causal com o trabalho. Os DPRT agrupam as doenças como o estresse organizacional, a fadiga mental, a síndrome de Burnout, a depressão e outras doenças psicológicas que ocorrem nos trabalhadores por causa do trabalho moderno e competitivo. Os resultados mais relevantes encontrados nas indústrias, após implantação da GL foram o aumento da satisfação dos trabalhadores com a empresa e produtividade, diminuições das doenças ocupacionais, absenteísmo, número de horas de afastamentos do trabalho por doenças ocupacionais e acidentes de trabalho (MENDES, CASAGRANDE e LEITE, 2001). 171 Os resultados mais relevantes encontrados nos trabalhadores, após a implantação da GL foram às melhorias da qualidade de vida, bem-estar geral e saúde, diminuições da fadiga muscular, estresse e fadiga mental, bem como, maior integração com os colegas de trabalho (MENDES, 2000). Podem-se apresentar outros resultados e benefícios, a partir de estudos realizados pelos integrantes do Núcleo de Pesquisa em Qualidade de Vida (NQV/ UFPR): 1. Aumento significativo da flexibilidade em todas articulações avaliadas(p<0,01) e da flexibilidade do teste sentar-alcançar (p<0,0033) (MENDES, COLPANI, DONINI e LEITE, 2005); 2. Diminuição significativa das algias em todas partes do corpo de 57% para 14% (p<0,01) (PROENÇA, MENDES e LEITE, 1998); 3. Diminuição dos encurtamentos musculares do músculo peitoral menor (p<0,05) PROENÇA, MENDES e LEITE, 1998); 4. Diminuição significativa das queixas de insônia, distúrbios do sono (p< 0,005) e do mau humor (p<0,001) (ALVES,1999). Atualmente o programa de ginástica laboral é considerado um programa de qualidade de vida e, por isso, a GL sendo implantada com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de seus praticantes tem alcançado vários benefícios para os trabalhadores dentro e fora do ambiente de trabalho. 5.3 ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE GL Existem algumas etapas imprescindíveis que devem ser adotadas para implantar e desenvolver um programa de ginástica laboral (GL) com sucesso. Após vários anos de estudo e experiência prática na área da saúde ocupacional, percebeu-se que para iniciar uma proposta de GL junto às empresas há necessidade de ultrapassar cinco etapas principais. A primeira etapa é o conhecimento que o profissional de GL deverá ter para demonstrar aos diretores, empresários e à chefia da empresa para convencê-los da importância de investir no capital humano. Muitas empresas 172 não possuem programa de GL pela falta de informação, por valorizar mais a tecnologia que o ser humano, por não achar importante investir na qualidade de vida e na promoção da saúde de seus trabalhadores. Exemplo disso vem de um estudo realizado junto às 257 indústrias na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), em que somente oito (3,11%) possuíam programa de GL (MENDES, 2000). Outro estudo realizado na CIC em 2004 mostrou que houve um aumento para 20 indústrias que possuíam programa de ginástica laboral, mas o número de indústrias aumentou para 511, logo o percentual de indústrias com GL aumentou para 3,91%(DONINI, 2004). Estes percentuais demonstraram que houve aumento de programas de GL, mas este aumento ainda é muito pequeno. Existe um grande mercado a ser explorado, talvez pelo desconhecimento dos benefícios da GL por parte dos empresários, pela carência de profissionais especializados na área da saúde ocupacional e da ginástica laboral denotando propostas de implantação com baixa qualidade. A segunda etapa para a implementação e manutenção do programa de GL é a associação da GL com os setores de recursos humanos (RH), medicina ocupacional e/ou segurança do trabalho (Serviço especializado em segurança e medicina do trabalho - SESMT), sendo aplicada em conjunto com os outros programas de promoção de saúde e QV desenvolvidos pela empresa. A massagem corporal, relaxamento, academia de ginástica, musculação e dança oferecida pelas empresas e voltada somente para os trabalhadores são considerados programas de qualidade de vida e/ou programas de promoção de saúde realizados no ambiente do trabalho. Os resultados desses programas juntamente com a GL devem ser divulgados dentro da empresa e também pela mídia, pelo profissional de GL através de trabalhos científicos em congressos de Educação Física e em outros eventos científicos que forem possíveis de serem apresentados. O profissional responsável pela GL deverá verificar se existem outros programas de qualidade de vida, além do programa GL, pois certamente um será o complemento do outro e dará consistência aos benefícios alcançados pelos trabalhadores e pela empresa. 173 A terceira etapa da implantação é o planejamento das atividades físicas, tão preconizadas nos programas de ginástica laboral, em forma de plano de aula, de planejamento mensal, semestral e anual. Planejar é a melhor forma de objetivar e alcançar os benefícios compatíveis às duas classes trabalhistas. Dessa forma, haverá uma maior aceitação do programa de GL pela empresa e consequentemente uma maior adesão dos trabalhadores e empresários. A falta de planejamento e seleção das atividades físicas, na maioria das vezes, é uma característica dos profissionais que trabalham com ginástica laboral, mas que não são da área da educação física. Muitos profissionais ainda fazem confusão na prescrição dos exercícios de ginástica laboral, ou seja, selecionam somente exercícios de alongamentos e, muitas vezes, repetem sempre os mesmos exercícios. Essa distorção restringe os objetivos e os resultados esperados das atividades da GL junto aos trabalhadores e empresários. A diversidade das atividades aplicadas garante o sucesso da GL. As atividades selecionadas no planejamento podem envolver exercícios de fortalecimento, coordenação, alongamento, atividades lúdica-recreativas e relaxamento. Os materiais disponíveis à prática de GL incluem bolas de diferentes tamanhos e texturas, bandas de borrachas, bastões, bambolês, cordas, bexigas coloridas, fitas, halteres, entre outros equipamentos. A quarta etapa na implantação de um projeto de GL está relacionada com a participação efetiva dos trabalhadores e dos empresários no programa de ginástica laboral. A falta de participação dos trabalhadores e da chefia significa a falta de comprometimento. Isso é uma situação crítica e, muitas vezes, de difícil solução. Somente com o exemplo de participação e de comprometimento da chefia é que os trabalhadores entenderão a importância da GL. Além disso, a falta de obrigatoriedade na participação do referido programa torna as sessões dependentes da vontade individual. O interesse em praticar atividades físicas varia de acordo com as aprendizagens motoras prévias, bem como com o estilo de vida de cada um. A modificação do hábito 174 sedentário arraigado na cultura exige uma mudança no comportamento interno (individual) e também da sociedade atual. Para algumas pessoas, o exercício físico é percebido como um fator estressor negativo, logo é necessário um trabalho paralelo de reeducação do comportamento das pessoas frente à proposta da GL. Sugere-se, então, que a GL seja obrigatória por um período de quatro a seis meses, até que se faça uma reavaliação e se verifiquem os resultados. Esse período é suficiente para que os instrutores realizem um trabalho de educação e/ou reeducação corporal e ressaltem a importância da saúde do trabalhador. O comprometimento de todos auxilia a obtenção de resultados significativos. Então, a partir desse momento, poderia ser implantada uma GL de participação não-obrigatória e/ou voluntária. O instrutor deverá estimular e despertar a motivação da prática da GL com diferentes estratégias, por exemplo, ao planejar atividades e o uso de materiais de apoio, tanto para os praticantes, como para aquelas pessoas que ainda não participam do programa. A quinta etapa está associada à manutenção do programa de GL. Essa fase avalia o grau de comprometimento de todos os participantes no processo, desde a coordenação, instrutor, trabalhadores e empresários. A reavaliação constante do programa de GL, agregado ou não a outros programas que promovam saúde, qualidade de vida e educação dos trabalhadores, revela resultados que, divulgados dentro da empresa, funcionam como retroalimentação e uma forma de continuidade do programa. Quanto maior o grau de formação e informação dos participantes maior será o grau de consciência dos mesmos, e isso aumenta a possibilidade do programa de GL ter sucesso. A fase de manutenção divulga resultados para os trabalhadores e para as organizações que possuem a ginástica laboral. Se os trabalhadores estiverem com boa qualidade de vida, dentro e fora da empresa, conseguirão se preocupar com a qualidade do produto, do processo, da matéria-prima e dos demais itens relacionados à implantação e desenvolvimento de programa de qualidade total. 175 A divulgação dos resultados deve ser de forma clara e objetiva. Às vezes, os resultados não podem ser mensurados, como um simples aumento de produtividade. Na maioria das vezes, é difícil de medir a produtividade e apresentá-la de forma numérica e direta aos empresários. Nesse caso, é mais seguro ressaltar que a imagem da empresa melhorará perante seus clientes e, provavelmente, isso aumentará a venda de seus produtos. A GL entrará como um valor agregado ao produto, ou seja, as pessoas, ao saberem que a empresa oferece benefícios para seus empregados, comprarão mais produtos por causa dessa boa imagem. A adesão dos participantes às atividades da GL depende também de estarem saciadas as necessidades básicas dos trabalhadores como a sede, fome, sono, organização no ambiente familiar e ocupacional. Após atingir essas necessidades, o ser humano poderá buscar outros anseios importantes e imprescindíveis para a qualidade de vida, como a auto-estima, a auto-imagem e a auto-realização. 5.4 PARADIGMAS ORGANIZACIONAIS No velho paradigma, o empresário investia nas máquinas, nos equipamentos, enfim, investia somente na tecnologia, e se esquecia totalmente do ser humano, da sua saúde e do seu bem-estar. Atualmente, os empresários chegaram à conclusão de que, para aumentar sua produtividade e seus lucros, deverão investir tanto na tecnologia como no capital humano. Nesse contexto, a implantação da ginástica laboral e de outros benefícios que as empresas têm oferecido para os trabalhadores é alternativa para o resgate da união do trabalho com o lazer. O novo paradigma de administração preconiza que as empresas devem criar planos para colocar as pessoas certas nos lugares certos, trabalhar a motivação, o treinamento do capital humano e estabelecer a divisão dos lucros e/ou incentivos por meio de prêmios, como a criação e promoção de uma gestão participativa. Infelizmente, muitas empresas não oferecem facilidades para os seus colaboradores, como programas de educação e 176 saúde, porque a classe patronal possui o receio de que se o trabalhador aumentar muito o seu conhecimento aumentará o seu poder. A GL deve ser um momento de descontração, relaxamento, distração e forma de se exercitar, com isso, ela promove a interação entre os funcionários e proporciona um momento para que o indivíduo seja um ser mais integral, deixando o ambiente de trabalho mais descontraído. A ginástica laboral mesmo sendo praticada no horário de trabalhado foi considerada por 74% trabalhadores que a praticam como um momento de lazer (MENDES, 2000). A GL deve ser amplamente divulgada entre os funcionários antes e durante a sua implementação. A decisão da implantação da GL não pode ser uma determinação de cima para baixo, da chefia para os funcionários. O ideal é envolver, no mínimo, os representantes dos trabalhadores, para que a decisão sirva para o interesse de todos. Talvez a GL seja um caminho para humanizar as organizações, e as evidências pesquisadas e observadas na prática mostram esse direcionamento. Com isso, juntos o trabalhador e a empresa só têm a ganhar. 5.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O profissional da promoção da saúde que trabalha com ginástica laboral quando consegue alcançar as cinco etapas de implantação da GL, pode avaliar os resultados e os benefícios e divulgá-los à empresa e aos trabalhadores. Mas deve ressaltar que os resultados da GL normalmente extrapolam o ambiente de trabalho e vão para a vida do trabalhador. Sugere-se às empresas e aos profissionais que ministram as aulas de GL, que estão envolvidos com a implantação e com a manutenção da realizem uma revisão constante das estratégias de GL, que envolvimento e comprometimento dos responsáveis pela empresa com a prática, a implantação e o desenvolvimento da GL. Isso garantirá um melhor apoio e uma maior manutenção do programa. A promoção da saúde nas empresas não deve se limitar apenas ao atendimento médico. Todo programa implantado em uma organização, que 177 visa à prevenção da saúde das pessoas, é considerado um programa de promoção de saúde e consequentemente de qualidade de vida dos trabalhadores. A ginástica laboral, por suas características intrínsecas, é considerada um programa de prevenção de saúde e qualidade de vida que, por meio do exercício físico, favorece as pessoas, a empresa e a sociedade como um todo. REFERÊNCIAS ALVES, Evanise Angela. A ginástica laboral relacionada a aspectos da qualidade de vida e dores corporais. Curitiba, 1999. Monografia (Graduação em Educação Física). Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná. DONINI, Humberto Délio. Ginástica laboral: resultados e benefícios para as indústrias e para os trabalhadores na visão dos coordenadores de programas na cidade industrial de Curitiba (CIC). Curitiba, 2004. Monografia (Licenciatura em Educação Física) Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná. MENDES, Ricardo Alves. Ginástica laboral (GL): implantação e benefícios nas indústrias da Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Curitiba, 2000. Dissertação (Mestrado em Tecnologia). Programa de Pós graduação em Tecnologia, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. MENDES, Ricardo Alves; CASAGRANDE, Cláudia; LEITE, Neiva . A ginástica laboral na visão dos representantes das indústrias. Rev. Bras. Med. Esp., 7 (3):103, 2001. MENDES, R.A.; LEITE, N. Ginástica Laboral: princípios e aplicações práticas. Barueri (SP): Manole, 2004, 208 p. MENDES, R.A.; COLPANI, F; DONINI, H.D. LEITE, N. A ginástica laboral e a flexibilidade em trabalhadores administrativos. Revista Brasileira de Ciência e Movimento,v13, n.4, p.48, 2005. PROENÇA, L. J. L.; MENDES, R. A. & LEITE, N. Os efeitos de um programa de ginástica implantado no ambiente de trabalho. Anais do II Congresso Sul Brasileiro e II Congresso Paranaense de Medicina Desportiva. Curitiba, SMDP, 1998, p.29 178 CAPÍTULO V GINÁSTICA LABORAL NO RIO GRANDE DO SUL Débora Rios Garcia 5.1 INTRODUÇÃO Relata-se neste trabalho as atividades desenvolvidas pelo Programa de Ginástica Laboral (PGL), no período de 2001 a 2006, junto às empresas no Rio Grande do Sul, mais especificamente situadas nas cidades de Porto Alegre, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, São Leopoldo e Farroupilha. Essas empresas envolveram-se no PGL com a finalidade de proporcionarem a seus trabalhadores condições de melhoria de saúde como fator indispensável para a qualidade de vida. Notadamente, a vida moderna tem apresentado aos cidadãos situações estressantes que provocam um desequilíbrio entre o físico, o psicológico e o social, acarretando mudanças no metabolismo do indivíduo. Não só na circunstância do trabalhador, mas também nas que lhe estão circunscritas: a pressa para chegar na hora, um salário que deve atender suas necessidades, uma vida sem lazer, atraso do ônibus cheio, etc. Esses fatores somados aos períodos longos de trabalho estático ou com movimentos cíclicos, curtos e repetitivos podem provocar má postura, lesões musculares, redução do nível de flexibilidade e diminuição da aptidão física, promovendo, possivelmente, um deficiente nível na qualidade de vida. O reflexo desta situação está diretamente ligado a um dos maiores problemas, hoje enfrentado pelo setor de recursos humanos das empresas, que se refere às queixas frequentes de dores, provenientes de todas as classes profissionais, gerando pedidos de afastamentos e licenças-saúde e até, em muitos casos, à aposentadoria precoce e por invalidez no desempenho de funções. Considerando-se que o ser humano passa a metade de sua vida ativa trabalhando em condições que não lhe permitem desenvolver-se, nem 179 psicologicamente nem fisicamente, é lícito reconhecer os efeitos nefastos que daí advém. Observa-se que na maior parte das vezes ele está preocupado unicamente em obter uma maior produtividade, sem considerar as necessidades, as possibilidades e as limitações do ser humano. A natureza do trabalho nos dias de hoje proporciona meios de conforto e facilidade na execução de funções, favorecendo uma vida sedentária e, muitas vezes, provocando posturas inadequadas e movimentos repetitivos. Baseando-se na premissa de que o homem passa parte de sua vida ativa envolvido com o trabalho, é necessário que ações sejam desenvolvidas a fim de que diminuam os efeitos causados pelo desempenho inadequado das atividades laborais. Entre as ferramentas utilizadas na procura desta melhoria de qualidade de vida, está a Ginástica Laboral, que tem tomado lugar de destaque em vários segmentos e não mais somente entre as empresas de origem oriental, como era comum há duas décadas (GARCIA, 1999). Dentro deste enfoque, a Ginástica Laboral tem merecido destaque no Brasil nos últimos anos, sendo utilizada pelas empresas como importante ferramenta no conjunto de medidas que visam prevenir o aparecimento das Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). A principal vantagem da ginástica no local de trabalho é atuar de forma preventiva e terapêutica, por meio de exercícios que podem apresentar características preparatórias, compensatórias, terapêuticas, relaxantes e, assim, contribuir para a promoção do bem estar do trabalhador. A prática corporal estimula o indivíduo ao seu autoconhecimento e o estimula a buscar continuidade dessas atividades, em situações externas ao ambiente de trabalho. Genericamente falando, a prática da ginástica regular é extremamente importante para todas as pessoas, desde que respeitados os limites físicos de cada um. No entanto, isoladamente, não é uma técnica de prevenção das LER/DORT. Uma política de prevenção de LER/DORT deve considerar fatores organizacionais do trabalho, que se não estudados e alterados, continuarão sendo fatores de risco. A experiência em vários 180 trabalhos demonstra que, entre populações expostas a determinadas condições de trabalho, a incidência de quadros dolorosos causadores de limitações funcionais é alta (BRASIL, 2001). Pesquisas revelam que o maior número de acidentes de trabalho ocorre nas primeiras duas horas de trabalho, quando o trabalhador não está totalmente desperto, e nas duas últimas, quando há diminuição da concentração e do reflexo em consequência da fadiga muscular. Os próprios trabalhadores e os responsáveis pelos recursos humanos nas empresas devem estar atentos aos primeiros sinais característicos das LER ou DORT, tais como: dores nas extremidades superiores, com queixas de grande incapacidade funcional, uma vez que os membros superiores são utilizados em tarefas que envolvam movimentos repetitivos ou posturas forçadas (GARCIA 2004); dores geradas por aspectos ergonômicos incorretos que provocam afastamentos por licença médica; fadiga e cansaço durante a jornada de trabalho, em que há um desgaste diário orgânico, mental, emocional e físico. Deve-se estar atento aos sintomas citados e propor uma mudança no cotidiano da empresa através da atividade especializada de Ginástica Laboral, ao mesmo tempo em que deve ocorrer acompanhamento da implantação das mudanças, avaliação contínua dos resultados, de forma conjunta com os trabalhadores e ajuste de medidas necessárias. Nem sempre os resultados obtidos são os esperados e é preciso estar atento a isso, não se jogando a responsabilidade de “insucessos” sobre os trabalhadores. 5.2 Modelos de Aplicações de PGL em Empresas São descritos a seguir os trabalhos que foram desenvolvidos e publicados de 2001 a 2006 por profissionais da área de Educação Física 6 As contribuições previstas nestes projetos são: melhorar a postura dos funcionários, prevenir e reduzir acidentes de trabalho, reduzir o estresse, prevenir e diminuir as LER/DORT. Foi prioritário nestes projetos traçar propostas de prevenção e/ou reabilitação o mais precocemente possível, 6 Importante salientar que todos os participantes das pesquisas estiveram de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. 181 contribuir para a integração dos funcionários, e consequentemente gerar um aumento de produtividade e minimizar os afastamentos. Outro aspecto importante é o de informar à comunidade quanto a importância da minimização da dor visando uma melhoria da vida do funcionário. Com base nisso, a atuação do profissional de Educação física é de primordial importância no sentido de reabilitar e integrar da melhor maneira possível essas pessoas na sociedade. As aulas foram realizadas diariamente com duração entre 10 a 15 minutos, compostas por exercícios respiratórios, alongamento, relaxamento muscular e mobilidade articular. 5.3 Os projetos desenvolvidos foram: Câmara de Vereadores de Porto Alegre: em 2001, o PGL diminuiu a incidência das LER/DORT em Taquígrafas da Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Para a coleta de dados foram utilizados dois instrumentos: questionário e a escala analógica de dor (GARCIA, 2001). Após a análise estatística, evidenciou-se a associação entre Escala de McGill e a maioria dos dados: diminuição das LER/DORT, redução do estresse, redução dos acidentes de trabalho, tendo como consequência a melhoria da qualidade de vida e a integração das participantes. Os resultados demonstraram que o PGL diminui a incidência das LER/DORT, as dores, as licenças e as idas ao ambulatório, contribuindo sensivelmente para a promoção do bem-estar das profissionais, (GARCIA, 2001). Através de relatos das taquígrafas esses resultados refletiram, também, na melhoria das relações interpessoais. Junta Comercial do Rio Grande do Sul: em 2002, um PGL diminui a incidência das LER/DORT no Setor de Planilhamento da Junta Comercial do Rio Grande do Sul. A amostra foi composta por oito homens e seis mulheres, com uma jornada de trabalho de 8h diárias. Os resultados demonstraram que os participantes do PGL diminuíram a LER/DORT em 64,3%, contribuindo sensivelmente para a promoção do bem-estar dos funcionários, (57,1%) 182 refletindo na melhoria das relações interpessoais, (92,9%) destacando um elevado nível de satisfação por ter participado do programa (GARCIA, 2002a). Escritório de advocacia na cidade de Porto Alegre: foi investigada a eficácia de um PGL em trabalhadores de um escritório de advocacia na cidade de Porto Alegre. Os resultados obtidos sugerem que 83,4% dos trabalhadores obtiveram melhora no seu estado físico; 16,6% permaneceram estáveis; 100% dos trabalhadores sentiram-se mais relaxados ao fazerem ginástica; 50% dos trabalhadores melhoraram a disposição para o trabalho; em 50% de trabalhadores houve redução de dores; 100% dos trabalhadores responderam que o referido programa auxiliou na melhoria do bem estar diário, por fim 100% dos trabalhadores aprovaram o programa (GARCIA, 2002b). Empresa metalúrgica de Caxias do Sul: Dal‟agnol et al. (2005a) avaliaram o sobrepeso e a obesidade de um grupo de funcionários praticantes de Ginástica Laboral de uma empresa metalúrgica de Caxias do Sul. A amostra foi composta por 87 funcionários sendo 38 homens e 49 mulheres. Para a avaliação do sobrepeso e da obesidade foi utilizada a escala do IMC, que é reconhecido como padrão internacional pela OMS, tendo como resultado entre 25 a 29,9 considerado sobrepeso, 30 a 34,9 obesidade grau 1, 35 a 39,9 obesidade grau II e acima de 40 obesidade grau III. Para a verificação das medidas antropométricas foram utilizados os protocolos propostos por Fernandes Filho (1999), 32% dos homens apresentaram sobrepeso, 5% obesidade grau 1, 5% obesidade grau 2, 3% obesidade em grau III. Em relação às mulheres, verificou-se que 27% estavam com sobrepeso, 8% obesidade grau 1, 2% obesidade grau II. O estudo demonstrou um elevado índice de sobrepeso e obesidade, pois, somados apresentam 45% dos homens e 37% das mulheres com excesso de peso. Com isso a necessidade de implantar um programa de atividade física fora do programa de Ginástica Laboral se fez necessário, a fim de diminuir os índices de sobrepeso e da obesidade dos trabalhadores do grupo. Empresa metalúrgica de Caxias do Sul: Tieppo et al. (2005) analisaram um grupo de 71 funcionários, sendo 27 homens e 44 mulheres de uma empresa metalúrgica de Caxias do Sul, com o objetivo de verificar a diminuição 183 da intensidade das dores musculares. Para esta avaliação foi aplicado um questionário e, posteriormente, tabulados os dados com a utilização do programa Excel for Windows 1998. Foram aplicadas duas avaliações num intervalo de 90 dias para os participantes do PGL. Obtiveram-se os seguintes resultados: houve uma diminuição de dores de 59% dos homens e 77% das mulheres. Permaneceu sem alterações em 15% nos homens e 9% nas mulheres. Os autores concluíram que, através do PGL, obtiveram um resultado positivo em relação à diminuição da intensidade de dores nos funcionários. Escritório de contabilidade na cidade de Farroupilha: Garcia et al.(2005a) investigaram a eficácia de um PGL em trabalhadores de um escritório de contabilidade na cidade de Farroupilha, interior do Rio Grande do Sul. A amostra foi composta por 18 mulheres e dois homens. Os resultados apontaram que 80% dos trabalhadores obtiveram melhora no seu estado físico, enquanto 20% permaneceram estáveis; 96% dos trabalhadores perceberam maior relaxamento durante o dia inteiro, enquanto 4% apenas em horário de trabalho; 31% responderam que melhoraram a disposição para o trabalho; 24% responderam que houve redução de dores e 45% sentiram-se mais relaxados quando praticavam a ginástica e 100% dos trabalhadores aprovaram o PGL. Indústria metalúrgica da cidade de Caxias do Sul/RS: Marcon et al.(2005) verificaram a prevalência de queixas de dores e a prática de atividades físicas em 32 funcionários de uma indústria metalúrgica da cidade de Caxias do Sul/RS. Utilizou-se, como instrumento, uma planilha contendo os dados pessoais, percepção do esforço e modelo de silhueta proposto por Corlett (1992). Foi realizada estatística descritiva para análise dos dados. A correlação entre a prática de atividade física e a queixa de dor, observou-se através do teste de Spermann, (p<0,05). Não foram verificadas diferenças com relação à queixa de dor entre os grupos praticantes ou não de atividades físicas fora do trabalho. Hospital na cidade de Caxias do Sul: Garcia et al (2005b) investigaram a eficácia de um PGL em trabalhadores de um hospital na cidade de Caxias do Sul, no interior do Rio Grande do Sul. A amostra foi composta por 57 funcionários (13 homens e 44 mulheres) com uma jornada de trabalho de 8h 184 diárias. Os resultados obtidos sugerem que 93% sentiram alguma melhora física desde que o PGL foi implantado, enquanto 7% não observaram melhora; 21% sentiram que a melhora ocorreu no início da jornada, 56% no meio da jornada e 16% que a melhora ocorreu no final da jornada de trabalho. A aceitabilidade do PGL foi de 100%, pois consideraram que as atividades proporcionam não apenas momentos de relaxamento, mas também de descontração e a consequente disposição para realização das tarefas. Empresa metalúrgica de Caxias do Sul/RS: Dal‟Agnol et al. (2005b) verificaram o nível de flexibilidade dos colaboradores de uma empresa metalúrgica de Caxias do Sul/RS. A amostra foi composta por 69 colaboradores (43 mulheres e 26 homens) e para a avaliação da flexibilidade foi utilizado o protocolo proposto por Aahperd (1980). Os resultados obtidos demonstraram que 6% da amostra apresentaram flexibilidade alta, 14% intermediária e 80% baixa, sendo que os homens apresentaram 15% alta, 27% intermediária e 58% baixa e as mulheres com 7% intermediária e 93% baixa. Setor administrativo de uma empresa alimentícia na cidade de Bento Gonçalves: Meletti et al.(2005) investigaram a eficácia de um PGL em trabalhadores do setor administrativo de uma empresa alimentícia na cidade de Bento Gonçalves, RS. A amostra foi composta por cinco mulheres e seis homens com uma jornada de trabalho de 8h diárias. Os resultados obtidos sugerem que 100% dos trabalhadores observaram melhora no seu estado físico, 83,4% dos trabalhadores sentiram-se mais relaxados quando faziam a ginástica e 16,6% dos trabalhadores melhorou a disposição para o trabalho; 83,4% dos trabalhadores responderam que o referido programa auxiliou na melhoria do bem estar diário, e 100% dos trabalhadores aprovaram o PGL. Restaurante de uma Universidade de São Leopoldo: em 2006 Garcia, investigou os motivos e sentimentos que levaram as funcionárias do restaurante de uma universidade de São Leopoldo a realizar o PGL. A amostra foi composta por 31 mulheres que trabalhavam regularmente no restaurante. Os resultados obtidos sugerem que 37% das funcionárias sentiram-se mais relaxadas ao realizar a ginástica; 33,3% observaram que diminuíram as lesões do sistema músculo-esquelético; 22,2% relataram que a ginástica lhes evitou 185 dores; 14,8% sentiram-se mais despertas e aquecidas para a atividade profissional que desempenham; 14,8% sentiram alívio do estresse e 11,1% apontaram melhora na saúde. Das entrevistadas, 27% apontaram que o programa auxiliou no relaxamento do corpo; 53% sentiram o corpo leve e alongado e por fim, 100% das funcionárias aprovaram o PGL. Para facilitar a leitura dos dados dos PGL desenvolvidos pela equipe o Quadro 1 identifica: ano, público-alvo, instrumentos, distribuição das aulas e participantes das amostras. Esclarece-se que todos os trabalhadores dos 11 projetos tinham uma jornada de 8h diárias e as aulas eram compostas por exercícios respiratórios, alongamento, relaxamento muscular e mobilidade articular. NNº Público-alvo Instrumentos 2001 Taquigrafas Questionário e analógica da dor Questionário 2002 Setor planilhamento 2002 Advogados 2005 Metalúrgicos 2005 Metalúrgicos Duração Frequência Amostra das aulas (min) escala 10 Diária Mulheres 10 Questionário 10 Escala do IMC e medidas 15 antropométricas Diária Questionário Diária 15 2005 Escritório de Questionário 10 contabilidade 2005 Metalúrgicos Planilha com dados pessoais, 15 percepção do esforço e modelo de silhueta (Corlett.) 2005 Funcionários de Questionário 10 um Hospital 2005 Metalúrgicos 2005 Setor administrativo Protocolo (Aahperd) 15 20 2x por dia Diária 8 homens e 6 mulheres Homens e mulheres 87 funcionários, sendo 38 homens e 49 mulheres. 71 funcionários sendo 27 homens e 44 mulheres 18 mulheres e 2 homens 32 funcionários 4x por 57 funcionários (13 semana homens e 44 mulheres) Diária 69 funcionários (43 mulheres e 26 homens) Diária 5 mulheres e 6 homens Questionário 2006 Funcionárias de Questionário 15 2x por dia 31 mulheres um restaurante Quadro 1: Características dos PGL desenvolvidos no período de 2001-2006. 186 5.4 CONCLUSÃO Conclui-se que todos os PGL atingiram seus objetivos: geraram integração e disposição trazendo ao trabalhador maior satisfação na realização das tarefas, trouxeram melhoria na qualidade de vida e aumento da produtividade. A estratégia de prevenção destas lesões deve estar ligada a vários fatores: mudanças da organização do trabalho; melhoria dos locais de trabalho e das condições ergonômicas; eliminação de tarefa única, através de rotação de tarefas; descanso intercalado durante a jornada de trabalho; condicionamento físico, e trabalho das qualidades físicas. Sendo assim, recomenda-se que empresas e instituições estabeleçam propostas de prevenção ou reabilitação o mais precocemente possível, através dos PGL. Em geral, a empresa necessita de especialistas que auxiliem no diagnóstico da situação e na construção de alternativas. Mas um ponto é fundamental: eles não podem nunca agir sozinhos, descolados da empresa e dos trabalhadores. REFERÊNCIAS AAHPERD. Health Related Physical Fitness Manual. Washington, DC., 1980. BRASIL. Ministério do Trabalho. LER/DORT: dilemas, polêmicas e dúvidas. Brasília, 2001. (Série A: Normas e manuais técnicos, 104). CORLETT, E. N. 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Programa de Ginástica Laboral em restaurante universitário. The FIEP bulletin, Foz do Iguaçu, v. 76, p. 39-42, 2006. 187 GARCIA, D. R. ; PALMEIRO, Rodrigo Meletti . Programa de Ginástica Laboral em um escritório de Contabilidade. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 28, 2005, São Paulo. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, São Paulo, v. 13, p. 268-268, 2005a. GARCIA, D. R. Programa de Ginástica Laboral e a diminuição de LER/DORT em taquigrafas da Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Monografia (Graduação). Escola de Educação Física do Instituto Porto Alegre. Porto Alegre, 1999. GARCIA, D. R. Programa de Ginástica Laboral implantado em Escritório de Advocacia na cidade de Porto Alegre. In: SIMPÓSIO NORDESTINO DE ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE, 4, 2002. Maceió, Comitê Nordestino de Atividade Física & Saúde, 2002b. p.116. GARCIA, D. R. Validação da Termografia no Diagnóstico de Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho. Dissertação (Mestrado), 123f Porto Alegre: Escola de Educação Física Programa de Pós-graduação em Ciências do Movimento Humano. Porto Alegre: UFRGS, 2004. GARCIA, D. R.; MARCON, M. A.; LEITE, P. M.; DALAGNOL, M. J. . Programa de Ginástica Laboral em Hospital de Caxias do Sul-RS. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, Florianópolis, v. 10, p. 194, 2005b. MARCON, M. A.; GARCIA, D. R.; HEYDRICH, V.; BARBOSA, R. M.. A prevalência de dores musculares e a prática de atividade física regular em funcionários de uma indústria metalúrgica da cidade de Caxias do Sul. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE & CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 1, 2005, Porto Alegre: UFRGS, 2005. p. 83-83. MELETTI, R.P ; GARCIA, D. R. . Programa de Ginástica Laboral implantado em uma empresa alimentícia na cidade de Bento Gonçalves. In: ENCONTRO NACIONAL DE PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA, 31, 2005. Capão da Canoa. 2005. p. 84. TIEPPO, E.; GARCIA, D. R. ; DALAGNOL, M. J. Programa de Ginástica Laboral e a diminuição da intensidade de dores muscular. In: Simpósio Internacional de Ciências do esporte, 28, 2005, São Paulo. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, São Paulo, v. 13, p. 304, 2005. 188 CAPÍTULO VI O BERÇO DA GINÁSTICA LABORAL NO BRASIL: A EXPERIÊNCIA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO FEEVALE Magale Konrath Francisco Carlos Lemes de Menezes 6.1 Introdução A Ginástica Laboral é uma prática de exercício físico que foi concebida para prevenção da fadiga muscular durante a jornada de trabalho e de todos os males decorrentes da atividade laboral. Discute-se muito sobre a verdadeira origem da Ginástica Laboral. No início da década de 1960, surgiram os primeiros programas de atividade física em empresas na Bulgária, Alemanha, Suécia e Bélgica, embora o Japão afirme ser o pioneiro na consolidação e obrigatoriedade da Ginástica Laboral Compensatória, com a implantação de sessões de exercícios no Correio Japonês em 1928 (CAÑETE, 1996). No Brasil, o primeiro estudo ocorreu entre 1978 e 1979, como uma experiência pioneira que tem como berço o Curso de Educação Física do Centro Universitário Feevale. Tratou-se de uma pesquisa cuja proposta era baseada em análises biomecânicas dos trabalhadores em seu ambiente de trabalho e serviu de suporte para a elaboração do Projeto de Educação Física Compensatória e Recreação. O trabalho iniciou com uma sondagem na região, contatando com as empresas interessadas em contribuir para o estudo. Após, foram realizadas filmagens nas diferentes seções de cada indústria para verificar detalhadamente o tipo de movimento e a tarefa efetuada por cada operário. Numa outra etapa, a equipe de professores e acadêmicos analisava e diagnosticava os grupos musculares mais ativos, os tipos de contração e os grupos musculares antagonistas para compensação. De acordo com levantamentos realizados, identificando horários de fadiga e acidentes de trabalho, ficaram estabelecidos os momentos de aplicação da prática. Cinco empresas participaram do projeto, confirmando os objetivos propostos e 189 alcançando os resultados esperados (KOLLING, 1982). Não foi dada continuidade a este projeto na ocasião, em virtude dos custos para contratação de profissionais, e a Ginástica Laboral caiu no esquecimento por cerca de uma década. Nos anos 90, impulsionada pela explosão de programas do tipo “Qualidade Total”, “Reengenharia” e apoiada em novas formas de gestão empresarial, a ginástica laboral é retomada e ganha um novo impulso que a projeta de modo crescente até os dias atuais (CAÑETE, 1996). Embora hoje tenhamos uma visão mais humanizada7 sobre a Ginástica Laboral e toda a gama de benefícios que ela apresenta, logo no seu surgimento ela serviu aos interesses da classe dominante e do Estado, assim como a Educação Física num todo. No que se refere à Educação Física propriamente dita, isto ocorreu a partir do Estado Novo (1937-1945) e durante o período da ditadura militar (1964-1985). Esta disciplina era vista como um meio para desenvolver pessoas mais saudáveis para gerar uma nação mais saudável, na qual a concepção militarista de formar homens fortes, capazes, eficientes, obedientes e mais produtivos teve influência marcante. Assim, essa visão da Educação Física também foi passada para a Ginástica Laboral, conforme observamos no depoimento da socióloga Maria Isabel de Souza Lopes (BRUHNS, 2001, p.91) “o perigo desta prática de Educação Física é concebê-la como um torno que molda seres humanos para servirem às máquinas que os próprios homens criaram e fabricaram para servir a eles”. Mesmo decorrido um bom tempo, quebradas as barreiras e a rigidez dos quartéis, podemos ainda encontrar alguns indivíduos que carregam resquícios desta época e olham a Ginástica Laboral como forma de disciplina e para obter maior produtividade no trabalho. O que propomos hoje é um enfoque que se contrapõe a este ultrapassado modo de pensar. Ao invés de controle, rigidez, obediência e treinamento visando unicamente produtividade, acreditamos nos benefícios gerados em termos de consciência corporal, bemestar físico e social, prevenção de doenças decorrentes do trabalho e ganhos 7 Compreendemos a visão mais humanizada da ginástica laboral, como sendo aquela que realmente se preocupa com o bem-estar dos trabalhadores e não apenas objetiva prepará-los melhor para o trabalho, incrementando a produtividade. 190 para a saúde num âmbito geral, o que acarreta em uma melhor qualidade de vida. 6.2 Ginástica Laboral – conceitos e benefícios A Ginástica Laboral é uma atividade que está em expansão sendo um novo campo de trabalho para os acadêmicos e profissionais da área. Para um bom entendimento do assunto é importante esclarecermos um pouco o que significa esta prática. A Ginástica Laboral é uma prática realizada no próprio ambiente de trabalho com o objetivo de amenizar os impactos nocivos do trabalho sobre o indivíduo8. Tem como meta principal atuar de forma preventiva, tanto em relação aos acidentes de trabalho, quanto nas situações de estresse, agindo também no aumento do bem-estar e na disposição das pessoas, promovendo o relacionamento e a cooperação entre os diversos colaboradores. Pode-se afirmar, ainda, que as bases para a construção de um ambiente propício à criatividade, à inovação e à aprendizagem estão na auto-estima, na empatia e na afetividade. Sem esses elementos, não se estabelece a comunicação nem o entendimento (CAÑETE, 1996). Para Fontes (apud LIMA, 2003), a Ginástica Laboral é uma atividade física diária, realizada no local de trabalho, com exercícios de compensação para movimentos repetidos, para ausência de movimentos e para posturas incorretas no local de trabalho. A Ginástica Laboral pode ser classificada das seguintes formas: Ginástica Laboral de aquecimento ou preparatória: realizada no início do expediente de trabalho, visando preparar o indivíduo para as atividades. Aquece e prepara os músculos, ativa a circulação geral e o aparelho 8 Os impactos nocivos do trabalho sobre o indivíduo podem ser exemplificados pelas condições anti-ergonômicas dos equipamentos e mobiliários; o ritmo intenso das máquinas, que desconsidera as limitações individuais; a longa jornada de trabalho na qual se está exposto a tudo isto, além de outras situações associadas ao trabalho que podem desencadear conseqüências nocivas ao indivíduo. 191 respiratório, aguça os reflexos, reduz a formação de vícios posturais e, consequentemente, a diminuição das doenças da coluna. Ginástica Laboral Compensatória ou de pausa: realizada durante a jornada de trabalho, com exercícios específicos para promover a compensação dos grupamentos musculares utilizados e quebrar a monotonia do trabalho, evitando acidentes. Relaxa, dispersa tensões e renova energias para prosseguir na atividade. Ginástica de relaxamento ou no final de expediente: encontrada também, embora com menor frequência, visa relaxar e oxigenar as estruturas musculares envolvidas na execução do trabalho, bem como propiciar um momento de reflexão ao término do período trabalhado. Para Cañete (1996) e Lima (2003), a Ginástica Laboral objetiva, principalmente, prevenir a fadiga muscular, diminuir o índice de acidentes de trabalho, corrigir vícios posturais, prevenir os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (D.O.R.T.), aumentar a disposição do trabalhador e promover o bem-estar individual, entre outros. Entende-se que a Ginástica Laboral vai muito além do que simples exercícios físicos. Ela serve também como meio de incentivar e valorizar a promoção da saúde, diminuindo o sedentarismo e o estresse, além de favorecer a consciência corporal e o relacionamento interpessoal de seus praticantes. Alguns estudos estão sendo realizados, apontando positivamente nesse sentido. Dentro desta nova proposta, buscamos compreender o ser humano com vontades e aspirações, nos cercando de diferentes olhares e contemplando a complexidade dos aspectos que concorrem para sua saúde, numa abordagem interdisciplinar (TAMAYO, 2004). Observa-se entre os praticantes uma melhora importante na socialização, interação e no clima organizacional, em virtude da promoção de atividades que consideram tais aspectos. Sob o aspecto social, Lima (2003, p. 12) contribui reforçando esta tese de que “As relações saudáveis no ambiente de trabalho facilitam a comunicação, transformam o ambiente, proporcionam maior interação e aumentam a disposição para o trabalho”. A autora complementa afirmando: 192 O programa de Ginástica Laboral estabelece um convívio social diário, sendo também um encontro marcado com a saúde, integrando as pessoas, de forma que se conheçam, através de uma comunicação ativa, expressada pelo corpo e pela cooperação nas atividades em duplas e dinâmicas em grupo (LIMA, 2003, p.12). Desta forma, podemos afirmar que os benefícios da Ginástica Laboral vão muito além dos aspectos físicos, ultrapassando o objetivo inicial dos primeiros estudos realizados. 6.3 Projeto “Ginástica Laboral Feevale” – passado e presente Como explicitou-se anteriormente, a Feevale é considerada pioneira no Brasil na prática da Ginástica Laboral. Os primeiros estudos foram realizados em 1973, mas apenas em 1978 implantou-se o Projeto de Ginástica Laboral Compensatória em convênio com o SESI/RS. Após aval do SESI Nacional iniciou-se uma sondagem junto às empresas da região do Vale do Rio dos Sinos que resultou na adesão de cinco empresas. Definidas as empresas, foram esclarecidas as metas do trabalho aos empresários e contatou-se com os técnicos da empresa a fim de obter dados estatísticos para embasamento do trabalho, tais como: índices de acidente de trabalho e horários de maior incidência, além da produção individual e setorial. Com metodologia bem definida e bastante aprofundada, foi realizada análise biomecânica através de fotografias, filmagens e observações, a fim de estabelecer com exatidão os exercícios a serem ministrados. Antes de iniciar a prática, os trabalhadores foram motivados e tiveram palestras de esclarecimento com vistas a sua participação no projeto. Ao mesmo tempo em que o projeto era implantado nestas cinco empresas, os funcionários da própria Feevale puderam ser beneficiados, contribuindo (KOLLING, 1982). no processo com sugestões de melhorias 193 Após este período, três das cinco empresas participantes mantiveram a prática por mais alguns meses até interromperem a Ginástica Laboral alegando corte de custos. Em 2001, o Centro Universitário Feevale resolveu reiniciar os estudos com a Ginástica Laboral, implantando nos setores da própria Instituição. Próximo de completar sete anos, desde que foi retomado, o projeto “Ginástica Laboral Feevale” segue consolidando-se cada vez mais. Esta é uma atividade de extensão que possui entrelaçado os aspectos referentes à relevância social e identidade institucional, pois atinge e beneficia o público interno da Instituição, impactando na saúde e qualidade de vida dos mesmos. Além disso, pela sua relevância histórica, marca presença e possui significação junto à região como Instituição de referência no assunto. Apresenta como objetivo geral promover a saúde e qualidade de vida no trabalho dos colaboradores do Centro Universitário Feevale e como objetivos específicos: Prevenir e amenizar os efeitos do trabalho sobre os indivíduos, principalmente no que se refere aos Distúrbios Ósteo-musculares Relacionados ao Trabalho (DORT); Produzir conhecimentos sobre a Ginástica Laboral e sua contribuição para os indivíduos; Contribuir para o aumento do grau de satisfação junto à Instituição; Despertar o interesse por um estilo de vida sadio e ativo; Propiciar uma maior consciência corporal; Melhorar o relacionamento interpessoal e Criar um espaço de pesquisa e estudo para que os acadêmicos de Educação Física possam vivenciar a prática além da sala de aula. Atualmente a Ginástica Laboral é uma das ações do “Projeto QVT Feevale” que a cada ano reestrutura-se com a aderência de novos cursos participando com interesse na promoção da saúde e da qualidade de vida dos colaboradores desta importante instituição de ensino. 194 6.4 Metodologia O projeto vem sendo desenvolvido em ambos os Campi do Centro Universitário Feevale, atendendo 65 setores e mais de 500 colaboradores. Os grupos de Ginástica Laboral estão divididos, de tal forma que os indivíduos participem de pelo menos duas sessões coletivas semanais, com dez minutos de duração em média. De início, é aplicada uma entrevista para verificar a situação de cada indivíduo e dar a devida atenção e encaminhamento ao Serviço de Medicina e Segurança do Trabalho, quando necessário. A cada novo grupo o procedimento se repete. As atividades são planejadas para cada setor, de acordo com as funções exercidas e os tipos de movimentos realizados. 6.5 Resultados Os frutos deste trabalho são vistos através das avaliações. Para demonstrar isto, temos como resultados a última avaliação realizada em 2007. Dentre os participantes, 100% dos colaboradores responderam sentir melhora com a prática da Ginástica Laboral (100%), embora 77,78% ainda apresentassem certo tipo de desconforto/dor em algum momento esporádico. Em relação a exercícios físicos, 44,44% praticam regularmente, sendo que 40% destes iniciaram após a adesão à Ginástica Laboral. Outro item importante refere-se a cuidados com hábitos de vida: 67,41% dos participantes passaram a ter algum tipo de mudança, seja controlando a alimentação, observando a postura adequada ou realizando alongamentos em outros momentos do dia, inclusive em casa. Além dos índices quantitativos, os comentários dos participantes reforçam os resultados positivos desta prática. Os indivíduos sentem alteração no seu desempenho durante o trabalho após a realização da Ginástica Laboral; comentam que até melhoram seu bem-estar como um todo; acabam descobrindo-se como capazes, que podem tanto dar e receber, sendo úteis de 195 forma integral; aumentam sua auto-estima, sua consciência corporal e o que é ainda melhor, o relacionamento interno dos setores é alterado, ficando mais harmônico. Vale lembrar que indivíduos saudáveis são mais felizes, trabalham melhor e têm consciência do seu potencial como seres formadores da sociedade onde vivem. Sabendo que a Instituição tem por objetivo ser um centro de excelência, busca também o bem-estar dos seus funcionários, os quais se sentem "à vontade" e trabalhando melhoram seu atendimento para com as pessoas que solicitam os serviços. Logo, contribuem de forma direta para o crescimento da imagem da Instituição. Observa-se a importante contribuição no sentido de educar e conscientizar para uma vida mais ativa e sadia, procurando realizar pequenas mudanças de atitude em busca de alterações mais globais. A mudança de atitudes com a conscientização do quanto é primordial darmos atenção ao nosso corpo completam o rol de aspectos que determinam a importância da Ginástica Laboral na relação do indivíduo com o trabalho. Acreditamos que um indivíduo de bem com seu corpo pode relacionar-se melhor com sua atividade laboral. De acordo com Cañete (1996, p.82) “a Ginástica Laboral é um excelente agente de mudanças e de prevenção no campo da saúde e bemestar do ser humano. [...] Mas não faz milagres”. A Ginástica Laboral pode ser uma das estratégias, uma das ferramentas ou uma das ações adotadas pelas empresas, que certamente surtirá efeitos, mas que pode ser potencializada por outras estratégias e ações. No que diz respeito às relações sociais e afetivas entre os praticantes de Ginástica Laboral, observou-se que as mesmas são expressivas para o grupo. Todos os participantes afirmaram que o momento da prática propicia o encontro, a interação e a descontração, já que é a única oportunidade em que estão todos reunidos de fato. O entrosamento, a união, a amizade, o clima descontraído e de brincadeira resumem bem o que representam estas relações sociais e afetivas, refletindo na socialização que também é propiciada pela Ginástica Laboral (KONRATH, 2006). 196 É importante ressaltar a integração entre os setores da Instituição, pois somente trabalhando em conjunto é que se obtêm os resultados esperados. Exemplo mais forte disso é a integração que se tem com o Setor de Medicina do Trabalho da FEEVALE, encaminhando as demandas que necessitem de maior atenção, evitando a instalação de situações danosas ao indivíduo e atuando de forma mais preventiva possível. Outro ponto que vem sendo atacado mais fortemente diz respeito às melhorias ergonômicas. Desta forma, obteve-se uma análise mais completa e resultados mais efetivos em nosso objetivo principal. Além disso, preocupada com a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, vários estudos foram realizados envolvendo a temática, tanto na Feevale, quanto em outras empresas. Inclui-se no rol de produções três trabalhos de conclusão de curso, quatro artigos e duas dissertações de mestrado, sem considerar os demais quatorze TCC‟s realizados em outras empresas, mas cujo interesse surgiu a partir da observação do projeto. 6.6 Considerações finais Percorrendo a bibliografia pertinente ao tema, bem como demais pesquisas existentes na área, obteve-se a certeza de que a prática da Ginástica Laboral agrega importantes benefícios para o indivíduo e para a organização a qual ele pertence. No Centro Universitário Feevale, não poderia ser diferente, prova disto são os resultados obtidos até o momento e que continuarão sendo buscados. Em boa hora, o resgate deste projeto beneficia a todos que dele participam, assim como possibilita o retorno da Instituição ao seu lugar de destaque dentro da história dos cursos de Educação Física do país. Como já dito anteriormente, a Ginástica Laboral ganhou novo impulso e demonstra estar num caminho sem volta. Isto significa dizer que a prática só tende a se disseminar e crescer. As perspectivas futuras são muito boas, com a adesão cada vez maior de organizações que valorizam seus colaboradores e se preocupam com a saúde e qualidade de vida destes. Nesse contexto, as 197 universidades, no momento que reestruturam seus cursos de graduação, contemplam nos novos currículos a disciplina que aborda todos os aspectos conceituais e metodológicos desta prática. Cabe aos profissionais de Educação Física realizar seu trabalho com seriedade, empenho e valorização. Ainda há uma grande carência de materiais e bibliografias que tratem do assunto com cientificidade. Mas, com o comprometimento de profissionais, acadêmicos e pesquisadores, poder-se-á ocupar esta lacuna encontrada e projetar cada vez mais esta prática. REFERÊNCIAS CAÑETE, Ingrid. Humanização: desafio da empresa moderna – a ginástica laboral como um caminho. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1996. 200p. KOLLING, Aloysio. Estudo sobre os efeitos da ginástica laboral compensatória em grupos de operários de empresas industriais. Porto Alegre: 1982. 116 p. Dissertação (Pós-Graduação em Educação) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1982. KONRATH, Magale. As representações sociais do trabalho entre um grupo de praticantes de ginástica laboral: um estudo de caso no Centro Universitário FEEVALE. São Leopoldo: 2006. 131 f. Dissertação (PósGraduação em Ciências Sociais Aplicadas) - UNISINOS LIMA, Valquiria de. Ginástica Laboral – atividade física no ambiente de trabalho. São Paulo: Phorte editora, 2003. 240p. TAMAYO, Álvaro. Cultura e saúde nas organizações. Porto Alegre, RS: Artmed, 2004. 255p. 198 CAPÍTULO VII GINÁSTICA LABORAL E PROMOÇÃO DA SAÚDE COMO EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: A EXPERIÊNCIA DA UFSCAR Ana Cláudia Garcia de Oliveira Duarte Selva Maria Guimarães Barreto Bárbara Ellen Martinez As exigências atuais da divisão do trabalho profissional impõem aos trabalhadores em geral regras de conduta racional e especializada, normalmente vinculadas ao ritmo rotineiro do trabalho. Desta forma, as tarefas mecânicas e automatizadas realizadas pelos trabalhadores podem conduzi-los à inércia e ao isolamento, gerando problemas agudos em sua estrutura biológica, advindos da hiper e hipoatividade muscular e funcional geradas pelas exigências impostas pela, e para, a realização do trabalho. A nova forma de organização do trabalho resultante das exigências da produção, da qualidade e quantidade do trabalho promove uma sobrecarga física e psíquica no trabalhador que, somadas à ausência ou tempo insuficiente de pausa para a recuperação das sobrecargas físicas e/ou psíquicas e às inadequadas condições físico-espaciais do local do trabalho, têm gerado um incremento na incidência das doenças do trabalho, como as lesões por esforço repetitivo (LER) e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT). Aliado aos fatores acima, o sedentarismo e/ou a utilização de alguns tipos de movimentos considerados ineficientes e lesivos, impostos pela divisão do trabalho, têm tornado o quadro de saúde do trabalhador comprometido. Estimativas da Organização Mundial da Saúde e do Trabalho indicam que um grande número de pessoas é acometido anualmente por problemas posturais e desordens na execução dos movimentos funcionais e que, por estes motivos, afastam-se do trabalho por longos períodos ou reduzem sua produção. 199 Desta forma, se defende a estruturação e aplicação de um programa físico-motor específico às necessidades destes trabalhadores, a ser implementado no próprio local de trabalho e que objetiva a melhoria da qualidade de vida destes. Sob estas considerações, a Educação Física, pelas suas especificidades enquanto campo profissional pode subsidiar a elaboração de estratégias que possibilitem o desenvolvimento de uma atitude positiva do trabalhador em relação aos seus hábitos corporais diários. Concomitantemente, associada a outras áreas de conhecimentos, estimula a proposição de alternativas que incentivam a incorporação no quotidiano do trabalhador, da prática física consciente e adequada às suas necessidades e potencialidades, dando-lhe condições para estabelecer parâmetros de seus limites, seja ele físico-motor-psíquico, já que a atividade motora sistematizada pode contribuir positivamente para que o trabalhador perceba seu corpo e suas limitações-potencialidades em favor de sua qualidade de vida, dentro e fora do trabalho. Quando assumida coletivamente pelos trabalhadores, consciente de seus problemas físicos adquiridos no desempenho de suas funções pode contribuir de forma significativa para a superação das dificuldades encontradas e orientar na criação de alternativas concretas na relação saúde/trabalho. A incorporação do hábito da prática regular de atividades físicas, associada à adoção de cuidados quanto à alimentação, à redução do uso do cigarro, do álcool e do stress, entre outros, representam um conjunto de mudanças de atitude frente à qualidade de vida do indivíduo com implicações importantes dentro e fora do ambiente de trabalho. Assim, os profissionais da Educação Física, ao atuarem na promoção da saúde do trabalhador, identificam problemas na relação entre sobrecarga e capacidade de trabalho e elaboram estratégias para o restabelecimento de um equilíbrio destas relações, de forma a coibir o surgimento de problemas músculo-esqueléticos, dores e outros males. 200 7.2 A Ginástica Laboral Reconhecendo que o trabalho ocupa um espaço muito importante na vida de todo indivíduo, e que, muitas vezes, é gasto mais horas dentro do local ocupacional do que nas residências, e que tal fato resulta na necessidade da criação de propostas diferenciadas para melhoria e incentivo da saúde e qualidade de vida do trabalhador ativo, entende-se como Ginástica Laboral a realização de exercícios físicos orientados, no local de trabalho, dentro do expediente, para promover a saúde dos funcionários e evitar lesões de esforços repetitivos e doenças ocupacionais. Tem como objetivo principal melhorar a condição física do indivíduo em seu trabalho, buscando um melhor condicionamento e desempenho físico, concentração e um melhor posicionamento frente aos postos de trabalho. Os primeiros registros da prática da Ginástica Laboral são de 1925, na Polônia. Era chamada de Ginástica de Pausa e destinada a operários. Existem relatos que na Rússia 5 milhões de operários em 150 mil empresas passaram a praticar ginástica de pausa, adaptada a cada ocupação. Até o inicio dos anos 60, movimentos isolados ocorreram na Bulgária, Suécia, Alemanha Oriental e Bélgica. No entanto, foi no Japão que a preocupação com ginástica no ambiente de trabalho consolidou-se, tornando-a obrigatória em todas as indústrias e serviços. Nos Estados Unidos, desde 1974, cerca de 50 mil empresas estão envolvidas em programas diários de ginástica durante a jornada de trabalho. A partir dos anos 70, a prática começou a ser difundida no Brasil, a partir de uma experiência de sucesso que aconteceu no Rio de Janeiro nos estaleiros da ISHBRAS. Em 1978, a Federação de Ensino Superior – FEEVALE, em parceira com o SESI, desenvolveu um projeto que ajudou a divulgar a ginástica laboral no Brasil. Mas o que se vê é que, somente a partir dos anos 90, a prática da ginástica laboral vem sendo aceita e principalmente procurada pelos empresários e funcionários das empresas. 201 7.3 A Ginástica Laboral na UFSCar Considerando: o contexto anteriormente exposto, a demanda pela ginástica Laboral e promoção da saúde por Empresas de São Carlos e a necessidade de consolidação das três atividades afins da Universidade: ensino-pesquisa-extensão, uma equipe formada por professores do Departamento de Educação Física e alunos do curso de graduação em Educação Física estruturou um Projeto de Extensão, com a finalidade de aplicar a Ginástica Laboral na Electrolux do Brasil – planta São Carlos, vislumbrando: Consolidar o ensino sobre o tema aplicado na graduação; Possibilitar a efetivação de estágios curriculares de forma sistematizada e funcional; Confrontar a realidade pelo processo de prestação de serviços; Coletar dados da experiência com a possibilidade de propor novas ações diferenciadas e baseadas em pesquisas sedimentadas; Produção de novos conhecimentos da realidade. 7.3.1 Projeto de Extensão “Ginástica Laboral, Correção Funcional e Promoção da Saúde” Desta forma, desde o início de 2000 executa-se este projeto através de um convênio estabelecido entre a Universidade e a Empresa e apresentamos como justificativas relevantes para a sua realização: Os casos de L.E.R. estão se tornando cada vez mais comuns nos ambientes de trabalho, principalmente nos postos de trabalho em que há repetição de movimentos e sobrecarga física. É uma nova área que pode ser explorada pelo profissional de Educação Física, desempenhando o papel importante da prevenção. Está intimamente ligado à disciplina “Educação Física para Populações Especiais” do curso de EFMH da UFSCar, e com optativas como Ginástica Corretiva. 202 Os dados coletados na empresa podem ser divulgados e referenciados como fonte de pesquisa. A possibilidade de atuação direta de profissionais na Empresa , tratando de assuntos de saúde pública e coletiva, que envolve o trabalhador das linhas de produção pode promover a produção de conhecimento na melhoria da qualidade de vida e funcional destes trabalhadores. 7.3.2 Objetivos do Projeto Este projeto vem sendo executado com os seguintes objetivos: Auxiliar na prevenção da LER e DORT nos trabalhadores que possuem uma função de esforço repetitivo; Promover a aplicação de um treinamento físico e corretivo que visem à adequação das posturais dos indivíduos durante e no seu ambiente de trabalho; Resgatar as possibilidades do uso de ações motoras com objetivos de maior produção muscular aliada a um menor desgaste físico e mental e preservando assim as necessidades básicas da saúde do trabalhador; Propiciar a ação de atendimento individualizado para funcionários afastados ou com dores, com auxílio na reinserção profissional, Caracterizar a população de trabalhadores desta fábrica, para que se possa identificar as atividades físicas espontâneas e complementares que melhor se adequariam a todos os funcionários, com o objetivo de pensar também na atividade física como promotora de saúde. Visa promover a atuação direta de futuros profissionais da área de Educação Física e Motricidade Humana no Mercado de Trabalho, oferecendo, portanto uma oportunidade real para alunos da graduação relacionarem teoria e prática. Dar fomento à extensão universitária. 203 7.4 Pressupostos Conceituais Faz-se necessária a estruturação de um processo informativo e formativo do trabalhador, a fim de capacitá-lo para assumir a iniciativa da mudança de hábitos, bem como para reconhecer-se autônomo na manutenção de práticas corporais diárias saudáveis, com vistas a uma melhor qualidade de vida. O processo formativo requer a participação dos trabalhadores em programas sistematizados de atividades físicas orientadas, a fim de desenvolverem o gosto e o prazer pela prática regular de atividades físicas, incorporando os benefícios destas à saúde e qualidade de vida. O processo informativo deve conscientizar os indivíduos de que a inatividade física é um importante fator de risco para o acometimento de doenças da vida moderna como o tabagismo e a hipertensão. Este processo envolve ainda a transferência de conhecimentos acerca dos benefícios da prática regular de atividades físicas, do abandono de um estilo de vida sedentário, de cuidados com a alimentação e com as práticas corporais da vida diária, além da importância do envolvimento em atividades de lazer, enfim do reconhecimento do papel da atividade física como parte de um estilo de vida saudável. Nesse sentido, há que se realizar uma primeira etapa diagnóstica da situação da empresa que identifique atividades, atitudes, políticas, bem como eventuais demandas existentes atualmente em relação à promoção da qualidade de vida e melhora na função do trabalhador. 7.5 Ações Realizadas: Este projeto vem se desenvolvendo por meio da aplicação de um programa de atividades físicas, pelos alunos estagiários do Projeto, atividades estas regulares, sistemáticas e motivadoras, que buscam o desenvolvimento das capacidades físicas, ligadas ao sistema cardio-vascular, músculo- 204 esquelético e respiratório, facilitando a integração social e o auto-conhecimento de capacidades e limites individuais. São realizadas atividades diárias com os trabalhadores de toda a Empresa, que são elaboradas após a avaliação dos funcionários, conhecimento do trabalho e aplicação de princípios ergonômicos. Tem servido de base e suporte também para a elaboração de monografias e pesquisas na área. As ações se baseiam em intervenções diárias, de aproximadamente 10 minutos, no próprio local de trabalho e durante o expediente, da prática de atividades motoras aplicando-se o treinamento corretivo postural (TCP)®, no qual os proponentes utilizam-se de movimentos naturais e exercícios de alongamento visando promover um fortalecimento muscular que permita aos trabalhadores manter uma postura adequada, bem como o desenvolvimento das capacidades para o trabalho e a manutenção de uma vida saudável. Nas intervenções também são introduzidos conceitos básicos de saúde, qualidade de vida e os princípios científicos do treinamento físico, conscientizando a população alvo da importância da atividade física para a manutenção de uma vida saudável. Cada linha de produção é dividida em células, com 10 colaboradores em média, e, normalmente os setores são atendidos separadamente, para melhor atender as necessidades específicas de cada setor. O estagiário vai então percorrendo os setores e aplicando um trabalho mais qualificado para cada grupo. É necessário acrescentar que antes da intervenção, questionários por nós denominados de Questionário de Percepção Subjetiva de Esforço no Trabalho e Caracterização da Saúde da População Envolvida são aplicados aos trabalhadores, e cuja aplicação é feita visando subsidiar as ações que serão propostas e somadas às queixas (ambulatório)/ Nexo Causal) dos funcionários e das observações coletadas a respeito das funções e ações motoras realizadas pelos trabalhadores, além da realização de observações sistemáticas do comportamento dos indivíduos em cada célula atendida. A adesão à ginástica laboral não é obrigatória e depende normalmente da permissão por parte dos superiores, foi iniciado, então, o projeto em dois 205 setores da empresa, atuando somente com 30 funcionários e com 2 alunos estagiários. Ainda com o entendimento de que a Ginástica Laboral é uma das possibilidades da Educação Física na promoção da saúde e que o desenvolvimento da saúde na Empresa deve ser considerado como um processo paralelo à Ginástica Laboral são desenvolvidas ações educativas em parceria com o setor médico, de segurança do trabalho e comitê de ergonomia, como a confecção de folhetos rápidos de caráter promocional das atividades e de cadernos completos de orientações sobre condutas corporais relacionadas às atividades de trabalho e da vida diária, a realização de palestras com temas relacionados ao trabalho, como a pausa ativa, denominada de “Paradinha da Saúde”. Outra ação educativa desenvolvida foi o “Arrastão da Ergonomia”, com identificação dos postos de trabalho mais desconfortáveis e possíveis soluções para a sua modificação. Avaliações Físicas para caracterização da População, e Avaliação do Programa de Ginástica Laboral são realizadas sistematicamente. 7.6 Recursos Humanos Envolvidos Atualmente, o Projeto envolve dois professores do Departamento de Educação Física e Motricidade Humana, seis bolsistas remunerados, alunos da graduação em Educação Física, que são responsáveis pela execução das atividades na empresa, além de quatro alunos que participam do Projeto para cumprir a carga horária de estágio profissional. 7.7 Resultados e Discussão Acredita-se que, ainda que de maneira processual, houve resultados positivos, uma vez que os objetivos propostos têm sido atingidos. Apresentamse então como resultados: 206 A ampliação da GL, uma vez que a Ginástica Laboral hoje é aplicada em toda a empresa, o que nos remete para a consideração de que a população trabalhadora desta empresa é mais ativa atualmente. Pôde-se constatar, ao longo destes anos, nos setores em que a GL foi aplicada uma redução em cerca de 50% nas visitas dos funcionários ao Ambulatório, uma redução em cerca de 60% nas queixas com relação a dores durante o trabalho e um aumento de 100% na disposição para o trabalho, fatos não observados nas demais células, o que nos possibilitou inferir que as atividades de alongamento, fortalecimento e relaxamento apresentaram-se eficientes quanto aos resultados esperados em sua forma de aplicação. O principal objetivo acadêmico do Projeto que é permitir a atuação profissional dos alunos do Curso, sobre orientação e coordenação de professores (estágio remunerado), fora do âmbito escolar, vem sendo atingido, uma vez que o Projeto e o seu dinamismo na troca de informações entre a experiência profissional e a relação teórica envolvida no processo de ensino são discutidas nos laboratórios e salas de aula da UFSCar. Uma das novidades do projeto foi introduzir a Ginástica Laboral sem paradas, com a utilização dos facilitadores e a participação de grupos reduzidíssimos, quase com atividade física personalizada. Para que isso acontecesse, foi necessária a contratação de mais um bolsista, exclusivo para aquela linha de produção. A partir dos resultados alcançados por este Projeto, novos projetos foram elaborados e também estão em execução, como é o caso do Projeto de Extensão “Ginástica Laboral, Correção Funcional e Promoção da Saúde na Husqvarna- planta São Carlos”, outra empresa da cidade. A real integração das atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico na formação de alunos da graduação, envolvidos no trabalho, têm levado este tema para trabalhos de pesquisa e de iniciação científica. 207 Buscando aumentar a relação das atividades extensionistas com a pesquisa, todas as atividades desenvolvidas têm sido registradas e os dados coletados têm gerado publicações. Finalizando, evocar as mazelas provenientes das ações no trabalho é sempre mais fácil e comumente realizado do que propor e aplicar ações que promovam a melhoria da qualidade de vida do trabalhador. Intentou-se, com essa exposição, alterar esta realidade. 7.8 Publicações Geradas NETTO, J.S.O.; BARRETO,S.M.G.; DUARTE,A.C.G.O. Avaliação da Saúde analisando Pressão Arterial, Índice de Massa Corporal, Gordura Corporal e Flexibilidade nos funcionários da Electrolux do Brasil S.A. – São Carlos. In: XXVII Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, 2004, São Paulo. Edição Especial da Revista Brasileira de Ciência e Movimento, p.176. OLIVEIRA, P.H.Z..; VIOLA, V.R.; PEREIRA,V.C.A.; BARRETO,S.M.G.; DUARTE,A.C.G.O. Incidência de Desconforto Físico em Trabalhadores da Linha de Produção da Electrolux do Brasil S.A. – São Carlos . In: XXVII Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, 2004, São Paulo. Edição Especial da Revista Brasileira de Ciência e Movimento, p.167. PEREIRA, V.C.A.; OLIVEIRA,P.H.Z.; VIOLA,V.R.;. BARRETO, S.M.G.; DUARTE, A.C.G.O. Análise dos Índices de Força, Flexibilidade e Massa Corporal em Trabalhadores da Husqvarna – São Carlos . In: XXVII Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, 2004, São Paulo. Edição Especial da Revista Brasileira de Ciência e Movimento, p.167. OLIVEIRA, P.H.Z.; VIOLA, V.R.; PEREIRA,V.C.A.; BARRETO,S.M.G.; OKABE, M. B.; OLIVEIRA NETTO, J.S.; DUARTE,A.C.G.O. Efeitos da Prática de Ginástica Laboral sobre parâmetros antropométricos, composição corporal, flexibilidade e força. In: IV Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade Humana, Rio Claro. Motriz – Revista de Educação Física – UNESP, v.11 nº 1, 2005, Supl. Jan /Abril. p. S131. OKABE, M. B.; OLIVEIRA NETTO, J.S.; OLIVEIRA, P.H.Z.; DUARTE,A.C.G.O. Análise da Incidência de Dor em Funcionários do Setor de Cortes da Linha de Produção da Empresa Electrolux -São Carlos. In: IV Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade Humana, Rio Claro. Motriz – Revista de Educação Física – UNESP, v.11 nº 1, 2005, Supl. Jan /Abril. p.S127. 208 OLIVEIRA NETTO, J.S.; DUARTE,A.C.G.O. A ginástica Laboral como solução de Problemáticas. In: IV Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade Humana, Rio Claro. Motriz – Revista de Educação Física – UNESP, v.11 nº 1, 2005, Supl. Jan /Abril. p.S127. PASCHOALINO Jr, L.C.; DUARTE,A.C.G.O. A Academia Corporativa e a Qualidade de Vida na Empresa. In: IV Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade Humana, Rio Claro. Motriz – Revista de Educação Física – UNESP, v.11 nº 1, 2005, Supl. Jan /Abril. p.S134. OKABE, M. B.; OLIVEIRA NETTO, J.S.; OLIVEIRA, P.H.Z.; DUARTE,A.C.G.O. Variação da Incidência de Dor em Programa de Ginástica Laboral. In: Anais do XIII Congresso de Iniciação Científica - UFSCar, 2005. OKABE, M.B.; OLIVEIRA NETTO, J.S.; OKADA, G.; CEZARINO, R.; VIOLA.V.R.; OLIVEIRA, P.H.Z.; DUARTE,A.C.G.O. “Semana da Saúde” na Electrolux -São Carlos. In: Anais do XIII Congresso de Iniciação Científica UFSCar, 2005. OKADA, G. T.; OKABE, M.B.; OLIVEIRA NETTO, J.S.; VIOLA.V.R.; DUARTE,A.C.G.O. Caracterização e Análise da Percepção de Esforço de Funcionários da Linha de Produção do Fogão na Electrolux do Brasil /São Carlos. In: XXVII Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, 2005, São Paulo. Edição Especial da Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v.3 nº 4,supl.,p.344. VIOLA.V.R.; OLIVEIRA, M.G.; LEITE,C.S.; DUARTE,A.C.G.O. Perfil do estilo de Vida dos Colaboradores da Empresa Husqvarna de São Carlos/SP. In: Anais do 5º Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde, 2005, Florianópolis. p.86. OKADA, G.T.; OKABE, M.B.; OLIVEIRA NETTO, J.S.; CEZARINO, R.; DUARTE,A.C.G.O. Efeito da Ginástica Laboral na Fábrica da Electrolux do Brasil Ltda da cidade de São Carlos. In: Anais do 5º Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde, 2005, Florianópolis. p.133. DUARTE, A.C.G.O.; VIOLA.V.R.; OKABE, M.B.; OLIVEIRA, M.G.; LEITE,C.S. Efeito da Prática de Ginástica Laboral sobre o IMC, Percentual de Gordura e Flexibilidade em Colaboradores da Husqvarna / São Carlos. In: Anais do 5º Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde, 2005, Florianópolis. p.131. 209 OKABE, M.B.; OLIVEIRA NETTO, J.S.; DUARTE,A.C.G.O. Efeito da Ginástica Laboral sobre a Flexibilidade. In: Anais do 5º Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde, 2005, Florianópolis. p.87. PASCHOALINO Jr, L.C. A Academia Corporativa e a Qualidade de Vida na Empresa. Monografia de Conclusão do Curso de Bacharel em Educação Física, UFSCar/2005. Orientador: Ana Cláudia Garcia de Oliveira Duarte. DUARTE, A. C. G. O. ; ARRUDA, E. A. B. ; VENANCIO, J. C. L. ; BARRETO, Selva Maria Guimarães ; OLIVEIRA, S. B. M. . Promovendo e recuperando a Saúde do Trabalhador na Empresa: Ginástica Laboral e Correção Funcional na Electrolux da Brasil. In: I Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, 2002, João Pessoa -PB. Anais do Primeiro Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, 2002. DUARTE, A. C. G. O. ; OKABE, Márcio Bazana ; OLIVEIRA NETTO, José Soares ; OLIVEIRA, Paulo Henrique Zicarelli e . Análise da Incidência de Dor em Funcionários do Setor de Cortes da Linha de Produção da Empresa Electrolux - São Carlos. In: IV Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade Humana, 2005, Rio Claro. Motriz - Revista da Educação Física UNESP, 2005. v. 11. p. S127-S127. OLIVEIRA, Paulo Henrique Zicarelli e ; DUARTE, A. C. G. O. ; BARRETO, Selva Maria Guimarães ; VIOLA, Vivian Renata ; PEREIRA, Vivian Carla Araújo e ; OKABE, Márcio Bazana ; OLIVEIRA NETTO, José Soares . Efeitos da Prática de Ginástica Laboral sobre Parâmetros Antropométricos, Composição Corporal, Flexibilidade e Força. In: IV Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade Humana, 2005, Rio Claro. Motriz Revista da Educação Física - UNESP, 2005. v. 11. p. S131-S131. OKADA, Guilherme Takayoshi ; OLIVEIRA NETTO, José Soares ; OKABE, Márcio Bazana ; VIOLA, Vivian Renata ; DUARTE, A. C. G. O. . Caracterização e Análise da Percepção de Esforço de Funcionários da Linha de Produção do Fogão na Electrolux da Brasil/São Carlos. In: XXXVIII Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, 2005, São Paulo. Edição Especial da Revista Brasileira de Ciência e Movimento, 2005. v. 13. p. 344-344. OLIVEIRA NETTO, José Soares ; OKABE, Márcio Bazana ; CEZARINO, Ricardo ; OLIVEIRA, Paulo Henrique Zicarelli de ; DUARTE, A. C. G. O. . A Prática do Atendimento Individualizado na Ginástica Laboral e promoção da Saúde. In: XIII Congresso de Iniciação Científica da UFSCar, 2005, São Carlos. Anais do XIII CIC da UFSCar, 2005. 210 OKABE, Márcio Bazana ; OLIVEIRA NETTO, José Soares ; OLIVEIRA, Paulo Henrique Zicarelli de ; DUARTE, A. C. G. O. . Variação da Incidência de Dor em Programa de Ginástica Laboral. In: XIII Congresso de Iniciação Científica da UFSCar, 2005, São Carlos. Anais do XIII CIC da UFSCar, 2005. DUARTE, A. C. G. O. ; VIOLA, Vivian Renata ; OKABE, Márcio Bazana ; LEITE, Clene da Silveira ; OLIVEIRA, Mariana Gomes de . Efeito da Prática de Ginástica Laboral sobre o IMC, Percentual de Gordura e Flexibilidade em Colaboradores da Husqvarna/São Carlos. In: 5º Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde, 2005, Florianópolis. Anais do 5º Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde, 2005. p. 131-131. VENANCIO, J. C. L. ; DUARTE, A. C. G. O. ; BARRETO, Selva Maria Guimarães ; ARRUDA, E. A. B. ; OLIVEIRA, S. B. M. ; CAMARGO, P. M. S. ; NOVAK, T. . Ginástica Laboral e Correção Funcional na Eletrolux do Brasil Atravez de Parceria com o Departamento de Educação Física e Motricidade Humana (DEFMH) / UFSCAR. In: XXIV Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, 2001, São Paulo. Anais do XXIV Simpósio Internacional de Ciências do Esporte. Londrina : Elaborado pelo Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Pública Municipal de Londrina, 2001. v. I. p. 112-112. MARTINS, G. C. A transferência bilateral como alternativa para a divisão do trabalho. Monografia (Graduação em Educação Física). São Carlos: UFSCar, Educação Física, 2001. 40 p. DUARTE, A. C. G. O. ; BARRETO, Selva Maria Guimarães ; ARRUDA, E. A. B. ; OLIVEIRA, S. B. M. ; VENANCIO, J. C. L. ; CAMARGO, P. M. S. . Ginástica Laboral e Correção Funcional na Electrolux do Brasil S.A.. In: III Encontro de Extensão da UFSCAR: Interação Entre a Universidade e a Sociedade, 2001, São Carlos. Anais do III Encontro de Extensão da UFSCAR : A Interação Entre Universidade e Comunidade. Saõ Carlos : Edufscar, 2001. DUARTE, A. C. G. O. ; BARRETO, S. M. G. ; ARRUDA, E. A. B. ; MORAES, F. ; MARTINS, G. C. . A Busca de um Trabalho Diferenciado Através da Ginástica Laboral e Correção Funcional na Empresa Electrolux do Brasil S.A.. In: VIII Congresso de Educação Física e Ciência do Desporto dos Países de Língua Portuguesa, 2000, Lisboa. Anais do VIII Congresso de Educação Física e Ciência do Desporto dos Países de Língua Portuguesa, 2000. 211 REFERÊNCIAS DUARTE, A. C. G. O. ; ARRUDA, E. A. B. ; VENANCIO, J. C. L. ; BARRETO, S. M. G.; OLIVEIRA, S. B. M.. Promovendo e recuperando a Saúde do Trabalhador na Empresa: Ginástica Laboral e Correção Funcional na Electrolux da Brasil. In: I Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, 2002, João Pessoa -PB. Anais do Primeiro Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, 2002. DUARTE, A. C. G. O. et. al Relatório PROEX: Ginástica Laboral e Correção Funcional na Electrolux. São Carlos: UFSCar, DEFMH, PROEX, 2000. 38 p. _______ Relatório PROEX: Ginástica Laboral e Correção Funcional na Electrolux. São Carlos: UFSCar, DEFMH, PROEX, 2001. 25 p. _______ Relatório PROEX: Ginástica Laboral e Correção Funcional na Electrolux. São Carlos: UFSCar, DEFMH, PROEX, 2002. 39 p. RIO, R. P.; PIRES, L. Ergonomia: fundamentos da prática ergonômica. São Paulo: LTR, 2001. SILVA, J. da; TARANTO, I. C.; PIASECKI, F. Ginástica laboral: alongamento x flexionamento. SaBios-Revista Saúde e Biologia, Campo Mourão, v. 1, n.2, 2006. BARBANTI, V.J. Treinamento físico bases científicas. São Paulo: Balieiro, 1986 FRANCISCHETTI,A.C. Trabalho Sedentário- Um problema para a Saúde do Trabalhador. Campinas : Editora da UNICAMP, 1990. GAIARSA, J.A. O corpo e a terra. São Paulo: Ïcone,1991. SILVA, V.L.S. Atividades Físicas na Empresa. Motriz, v. 1, n.2 , dez.,1995. ANDERSON, B. Alongue-se no trabalho. Summus, São Paulo, 1ª ed., 1997. BRANDIMILLER,P.A. O Corpo no Trabalho- Guia de Conforto e saúde para quem trabalha em Microcomputadores. São Paulo: Editora SENAC, 1999. 212 CAPÍTULO VIII TRAJETÓRIA DOS ESTUDOS SOBRE GINÁSTICA LABORAL Deise Guadelupe de Lima 8.1 Apresentação Com a globalização econômica e seus impactos nas práticas administrativas vivenciadas pelas organizações empresarias nas últimas décadas, vários questionamentos se fazem, principalmente no que diz respeito a paradigmas estabelecidos ao longo do desenvolvimento da Administração Científica com relação aos métodos de gestão das organizações, fundamentados na separação entre o planejamento e execução e na divisão do trabalho e especialização, práticas estas que se constituíram em ações instrumentais da manutenção do modo de produção capitalista. A evolução tecnológica, bem como sua disseminação ocorrida nas últimas décadas entre os diversos países e, também na Economia Internacional, obrigou as organizações empresariais a se adequarem a esta nova dinâmica tendo que diminuir de tamanho para ser mais flexível e ágil a fim de responder mais rapidamente às exigências do mercado. Para tanto, práticas de gerenciamento tradicionais estão sendo revistas para que a organização possa se tornar mais competitiva, tendo respostas positivas no quesito qualidade. As exigências de certificação (ISO 9000 e família, ISO 14000) e das diretrizes da ISO 18000 estão fazendo com que as empresas tenham um controle mais efetivo em seus processos produtivos e seus impactos ambientais, além de ter a preocupação com os impactos sociais que estas organizações tendem a causar no meio em que estão inseridas. Diante destas transformações, novos nichos de trabalho apareceram; profissões que antes apontavam para um enfoque, agora aparecem com vários, como é o caso do Profissional de Educação Física. Nesse sentido, em 1990 o ingresso no curso de Economia permitiu entender melhor a nova 213 dinâmica econômica e, entender os impactos dela proveniente na saúde do trabalhador. Em 1994, já no último ano do curso, foi protelado término do curso de ergonomia para dar início ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGEP-UFSC), na área de concentração em Ergonomia, onde foi defendido o título de mestre em 1997 com o trabalho intitulado “Qualidade de Vida na Organização Empresarial (QVO) e Macroergonomia: validação de um instrumento de avaliação da QVO” 9;10 . Este tema foi abordado, quando do estudo da implantação da Ginástica Laboral nas empresas, havia dificuldades em levantar dados para entender a sobrecarga e solicitações exigidas na execução das tarefas laborais. Desse modo, criou-se um instrumento para verificar a percepção da QVO pelos trabalhadores e, associado à metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), mais os métodos de avaliação da Educação Física (antropometria, biomecânica, nível de aptidão física relacionada à saúde), obteve-se, então, mais fidedignidade nos relatórios emitidos junto à empresa, permitindo maior confiança ao prescrever o Programa de Ginástica Laboral ou indicação de Programas de Exercícios Físicos na Empresa. No ano seguinte, o engajamento do pesquisador no doutorado credenciou a continuidade do estudo sobre a questão da saúde do trabalhador. Uma questão importante que foi percebida na época, foi a dificuldade da obtenção de dados sobre a Saúde e Segurança do Trabalho (SST). Dentro desta perspectiva, desenvolveu-se o trabalho intitulado: “Modelo de alianças estratégicas entre a sociedade civil e o setor público na gestão da segurança e saúde no trabalho”11, em que o título de doutorado no PPGEPUFSC, em 2005 foi obtido. Durante o desenvolvimento da tese de doutorado, muitas ideias surgiram, entre elas as de sistematizar procedimentos metodológicos na implantação de Programas de Ginástica Laboral o que resultou na produção de 9 Texto completo disponível em http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/1147.pdf LIMA, D. G. Qualidade de vida na organização empresarial (qvo) e macroergonomia: validação de um instrumento de avaliação da qvo. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, Londrina, v. 4, n. 1, p. 72-72, 1999. 11 Texto completo disponível em http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/3828.pdf 10 214 um livro12 e, em seguida, o convite por parte do senhor Ricardo Fontoura (Editora Fontoura), de ministrar um curso sobre formação de preço do Programa de Ginástica Laboral, na cidade de Jundiaí, uma vez que havia a procura por este curso devido a dificuldade dos profissionais em estabelecer preço neste serviço. Este curso também resultou na produção de um livro13. O lançamento dos mesmos foi no ano de 2004. 8.2 Pontos de reflexão No ano de 1994, a Ginástica Laboral era pouco discutida, praticamente não havia publicações, excetuando-se o livro, que é considerado o marco da ginástica laboral, escrito por uma estudante do Mestrado de Administração, senhora Ingrid Cañete14. Nele, a autora defende a idéia de que com a implantação da ginástica laboral há a melhora da qualidade de vida na organização empresarial e o auxilio numa melhor gestão dos recursos humanos da empresa. Iniciou-se, a partir deste marco, a trajetória com relação a uma participação mais efetiva da categoria de profissionais de Educação Física nesta área, já que não havia material científico suficiente, tendo um número significativo de profissionais de Educação Física no Programa de Mestrado em Engenharia de Produção da UFSC (seis profissionais), o que possibilitou o início de discussão, com base de conhecimento em Educação Física e Ergonomia, através do Núcleo de Pesquisa em Atividade Física e Saúde – NuPAF da UFSC, tendo o enfoque da atividade física e saúde dentro das empresas. Questões sobre a Ginástica Laboral: 1. Parte conceitual: Ginástica de pausa? Ginástica compensatória? Ginástica no trabalho? Ginástica 12 LIMA, D. G. Ginástica Laboral - metodologia de implantação de programas com abordagem ergonômica. Jundiaí: Editora Fontoura, 2004. v. 01. 120 p. 13 LIMA, D. G. Ginástica Laboral - custos e orçamentos na implantação e implementação de programas com abordagem ergonômica. 1ª. ed. Jundiaí: Editora Fontoura, 2004. v. 01. 72 p. 14 CAÑETE, I. Humanização - Desafio da empresa moderna. Porto Alegre: Artes & Ofícios, 1996. 215 laboral? Não havia definição do que era e adoção de um conceito. 2. Definição do Programa: conteúdo da que trabalhar O prescrição junto do aos trabalhadores? De que forma? Como proceder na avaliação? O que avaliar? Não havia uma metodologia desenvolvida para se implantar um Programa de Ginástica Laboral e nem definição das variáveis de avaliação pertinentes para este programa. 3. Planilha de custos: Quando se inicia o trabalho de consultoria junto às empresas, dificuldade em estabelecer preços justos ao serviço. 4. Suporte ao cliente: Há uma diferenciação da implantação pois, nesta, há um estudo mais demorado em que são identificados os problemas daquele setor, há o envolvimento de uma equipe qualificada em várias áreas para que, posteriormente, se possa estabelecer o programa. Na implementação, os custos são outros, pois não se necessita da participação de profissionais de várias áreas como na implantação. Contudo, havia a necessidade de se elaborar escalas, definir os profissionais que iriam atuar, definir o processo de controle, tendo que se estabelecer vários itens para melhor gerir o Programa, respondendo junto ao corpo diretivo da empresa, quando do surgimento de algum problema. 216 8.3 Metodologia utilizada No início, a Ginástica Laboral era baseada em uma sugestão de atividades produzida pela equipe do SESI. Era uma cartilha que continha uma avaliação da empresa (nome, número de empregados, tipo de atividades desenvolvidas e sugestões de exercícios, padronizados). Em contato com conhecimentos na área de Engenharia de Produção, buscou-se a proposta inicial que havia sobre ginástica laboral e, vários aspectos foram indagados, tais como: padronização dos exercícios para todos os postos de trabalho (dever-se-ia ter um estudo das cargas e solicitações das tarefas); para isso, havia necessidade de se saber levantar estas informações e sistematizá-las a fim de que se pudessem conhecer quais eram os problemas oriundos: do posto de trabalho; da condição física do trabalhador; do nível de estresse e a sua somatização; que controle adotar para justificar a implementação do programa, do custo do programa e da melhoria da QVO e da produtividade. Após estas reflexões, chegou-se a um entendimento: não se pode implantar a Ginástica Laboral sem estar trabalhando com a Abordagem Ergonômica. Isto significa que o Profissional de Educação Física que não entende o mundo do trabalho, as implicações deste sobre o organismo humano, os aspectos fisiológicos do trabalho, não poderá elaborar uma proposta adequada que venha atender as necessidades daquela empresa ao se implantar um Programa de Ginástica Laboral. A metodologia, adotada para a implantação de um Programa de Ginástica Laboral, segue as seguintes fases: 1. Contato com a empresa 2. Diagnóstico da QVO 3. AET (análise da demanda, análise da tarefa prescrita, análise da tarefa realizada, diagnóstico, caderno de encargos e recomendações) 4. Relatório final de recomendações 5. Proposta do Programa de Ginástica Laboral 217 6. Prescrição dos exercícios 7. Palestras de sensibilização 8. Implantação do projeto piloto 9. Relatório do projeto piloto 10.Implantação final A proposta junto ao corpo diretivo da empresa deve ser: objetiva; haver a identificação das necessidades (inclusive a necessidade de mudança); solução adequada a estas necessidades; verificação da adequação desta necessidade e, assegurar que a necessidade seja satisfeita. Assim, nasceu o conceito de Ginástica Laboral com Abordagem Ergonômica e, ao nosso ver, a Ergonomia anda e andará sempre junta com o Profissional de Educação Física, em se tratando de atividades físicas na empresa. 8.4 Projeções em discussões práticas e acadêmicas Uma vez discutidas as práticas metodológicas, apresentaram-se outros problemas. Talvez eles sempre estivessem presentes, mas não foram notados devido a necessidade urgente de se discutir a parte metodológica e conceitual. Uma vez realizados os ajustes, Caminhou-se para fase da implementação e, com estes, surge o problema da adesão ao programa. No caso de se desenvolver o programa em instituição pública, ainda pairam muitas dúvidas na metodologia de implementação, além da falta de conhecimento sobre o nível de percepção dos benefícios da ginástica laboral pelos servidores. Nesse sentido, foi realizado um estudo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, no setor de manutenção, para verificar a adesão e percepção dos benefícios da ginástica laboral pelos servidores15. É obrigatório? Deve-se sensibilizar o trabalhador quanto a importância de sua participação no programa? E o que dizer das chefias que não entendendo do objetivo do programa, levantam vários problemas de modo a 15 LIMA, D. G. e PEREIRA, G. N. Benefícios do programa de ginástica laboral no setor de manutenção da universidade federal de mato grosso do sul. In: Pesquisa em educação física. Paula Fontoura (org.). Jundiaí: Fontoura, 2007. 218 comprometer a eficiência e a eficácia dos mesmos? O que fazer? Como devemos nos comportar? Deparou-se com novos problemas tão importantes quanto a definição de uma metodologia de implantação do programa: conduta ética. Há uma inclinação para que esta participação venha por livre e expontânea vontade, por intermédio de uma sequência de ações frente a este grupo de indivíduos: palestras de sensibilização inicial, palestras sobre informações em saúde e trabalho; elaboração de jornais e informativos a serem disponibilizados em lugares que estes trabalhadores tenham acesso. Houve várias discussões sobre o assunto em cursos, listas de discussão onde se cogitava a “obrigatoriedade da participação” dos funcionários no programa. Diante deste problema, procurou-se argumentar que a obrigatoriedade da participação pela empresa poderia reverter em fator negativo para o trabalhador. Também verificou-se se, no Congresso Nacional havia algum projeto de lei que tratasse sobre o assunto, uma vez que as estatísticas que dizem respeito sobre doenças como Distúrbio ósteo-muscular relacionado ao trabalho – DORT vêm aumentando consideravelmente, sendo um problema para a sociedade brasileira, que acaba suprindo o afastamento destes trabalhadores debilitados (pagando para eles estarem afastados) e, para a economia de um modo geral, onde o fator da repetitividade das tarefas associado às mudanças ocorridas na sociedade com relação ao aumento da participação da mulher e, das exigências da qualidade e produtividade, contribuiu vertiginiosamente para este aumento. O assunto no workshop promovido no 11° Congresso Paulista de Educação Física, em Jundiaí, no ano de 2007, procurou apresentar os aspectos legais da Ginástica Laboral. Nele foram apresentadas as reflexões sobre a participação do trabalhador ao programa apresentado, num primeiro momento, sobre o por quê desta discussão. No contexto atual são pertinentes as dúvidas apresentadas pelos profissionais de Educação Física sobre este assunto principalmente por aqueles que querem garantir qualidade no serviço 219 prestado e salvaguardar a sua empresa e/ou a pessoa física de ações trabalhistas que possam surgir. Nos aspectos legais, atualmente, verifica=se que não há a obrigatoriedade da participação dos trablhadores no programa. Porém, na Norma Regulamentadora 17 – Ergonomia (NR-17) - há a obrigatoriedade da empresa, em caso do ambiente laboral propiciar o aparecimento da DORT, que sejam propostos programas de melhorias e, neste caso, o Programa de Ginástica Laboral é enquadrado. Sendo assim, caso o trabalhador venha a se recusar a participar, ele estará sujeito a sanções disciplinares estabelecidas no regimento interno da empresa. Seria algo similar como “não utilizar um equipamento de proteção individual – EPI”. Também constatam-se alguns projetos de lei que estão tramitando na Câmara dos Deputados Federais. São eles: PL 4347/98 – Deputado Walter Pinheiro: Obriga as empresas públicas e privadas que desenvolvem atividades com esforços físicos repetitivos a criar programas de ginástica laboral. PL 6213/05 – Deputado Fernando Sabino: Obriga as empresas públicas e privadas que desenvolvem atividades com esforços físicos repetitivos a criar programas de ginástica laboral. PL1897/99 – Deputado Luiz Bittencourt (apense-se ao PL 4347/98): Acrescenta seção ao Capítulo III da CLT, a fim de estabelecer a jornada de trabalho em atividades que exigem esforços repetitivos. PL 317/07 – Deputado Fábio Souto: Acrescenta à Consolidação das Leis do Trabalho para dispor sobre a Ginástica Laboral nas empresas. Como pôde-se observar, a Ginástica Laboral há dez anos atrás era um assunto sem muita expressão; “desnecessária” aos olhos dos gerentes 220 empresariais e que, atualmente, ganhou forças para a sua obrigatoriedade devido as mudanças do contexto empresarial sendo que a presença do Profissional de Educação Física está sendo a cada dia mais solicitada. Entretanto, este para desenvolver um Programa de Qualidade, deve ter um controle em todas as etapas; apresentar relatórios periodicamente; Sensibilizar constantemente os trabalhadores para adesão ao programa e, ter conhecimento dos aspectos laborais (Ergonomia), da fisiologia do trabalho e dos aspectos legais pertinentes. 8.5 Considerações Finais No início da participação na Implantação de Programas de Ginástica Laboral, tinha-se muito cuidado devido a fragilidade da falta de conhecimento sobre o assunto. Podem-se pesquisar fontes em outras áreas (fisiologia do trabalho; Ergonomia; Teoria Científica da Administração; Engenharia da Produção) para que o conhecimento fosse elaborado nesta área; contribuímos com o desenvolvimento de metodologia para implantação da Ginástica Laboral em um período em que não se tinha praticamente nada sistematizado; vimos os problemas decorrentes da não adesão ao programa e procuramos apresentar soluções, trabalhando na perspectiva da participação consciente do trabalhador; em nossas consultorias nas listas de discussão16, quando os questionamentos chegavam, pode-se verificar vários problemas de conhecimentos básicos na área e outros que são barreiras que devemos superar, entre elas os aspectos legais (quem deve desenvolver os programas de Ginástica Laboral? A questão das adesões; os projetos de lei sobre o assunto). Isso nos dá satisfação, pois podemos acompanhar o crescimento da Ginástica Laboral no Brasil e, sabemos que com ampla discussão e estudos científicos esta área tende a ser muito importante na Gestão dos Recursos Humanos nas Empresas. 16 Ver CDOF http://www.cdof.com.br/gl5.htm 221 Espera-se que nossos colegas venham a discutir a possibilidade de se realizar o I° Fórum sobre Atividades Físicas nas Empresas, iniciando com a Ginástica Laboral, onde poder-se-á sintetizar o conhecimento sobre o assunto, além de traçar o perfil da Ginástica Laboral no Brasil. A partir destas discussões, poderemos traçar “A Qualidade de Programa de Ginástica Laboral” com requisitos mínimos para implantação, a fim de se promover a saúde no trabalho. 222 SEÇÃO II PESQUISAS REALIZADAS EM GINÁSTICA LABORAL ATIVIDADE FÍSICA NA EMPRESA NO BRASIL 223 CAPÍTULO IX EFETIVIDADE DA GINÁSTICA LABORAL Priscila M. Nakamura Camila B. Papini Natália Varela González Thatiany Brienza Hebling Silvia Deutsch Na atual dimensão da atividade física e suas contribuições no campo da saúde e qualidade de vida, o Núcleo de Atividade Física, Esporte e Saúde (NAFES) da Universidade Estadual Paulista de Rio Claro busca dinamizar a produção do conhecimento nesta área, desenvolvendo pesquisas que contribuam com a construção de um corpo teórico sólido que visa esclarecer as diversas manifestações da saúde do trabalhador. Nesse sentido, o capítulo que se segue tem a intenção de demonstrar e divulgar os esforços realizados na área para o desenvolvimento do conhecimento no âmbito da saúde do trabalhador, em que as pesquisas realizadas se distinguem em compreender o comportamento dos trabalhadores pautado no modelo transteorético (MTT), além de buscar uma compreensão do comportamento em relação à atividade física e a ginástica laboral. Na sequência, outro estudo realizado pelo NAFES está relacionado com a análise do estágio de prontidão e intensidade de trabalho ocupacional. No Brasil, existem cerca de 140 milhões de pessoas que permanecem aproximadamente 8 horas por dia no local de trabalho. Desses, 50% são classificados como sedentários (Silva e Marchi, 1997) o que contribui para o aumento na incidência das Doenças de Agravos Não Transmissíveis (DANTs). Desse modo, o local de trabalho é reconhecido como um importante meio de intervenção para a promoção de um estilo de vida fisicamente ativo. O Center Disease Control and Prevention (CDC), já inclui no seu programa de metas (Health People 2010) a prática de atividades físicas no 224 trabalho. O objetivo é atingir 75% dos empregados das indústrias, sendo que no ano de 1999 essa marca atingia 34% das empresas com mais de 50 funcionários. No Brasil, há um movimento significativo de empresas que buscam intervenções para a redução da inatividade física, logo, a promoção de um estilo de vida ativo, entre várias manifestações se destaca a ginástica laboral por indicar benefícios psicológicos, sociais e físicos na saúde do trabalhador. Para obter bons resultados frente a uma intervenção é necessário adotar estratégias para mudança de comportamento que sejam efetivas. O modelo transteorético sugerido por Prochaska e Diclemente (1983) é um importante instrumento que auxilia na análise do estilo de vida fisicamente ativo e que pode contribuir na intervenção de estratégias que visam a mudança do estilo de vida. Esse modelo sugere, para que uma mudança de comportamento seja bem sucedida, as intervenções devem ser adaptadas ao estágio atual da pessoa, adotando-se intervenções adequadas para cada estágio de prontidão. Esses estágios são classificados em: Pré-contemplativo: indivíduos que não estão participando de nenhuma atividade física (AF) e não tem intenções futuras de fazê-la; Contemplativo: indivíduos que não estão participando de nenhuma AF, porém pensam em realizá-la nos próximos seis meses; Preparação: indivíduos que pretendem iniciar a participação em AF regular nos próximos seis meses e iniciaram pequenas mudanças em seu comportamento para AF; Ação: indivíduos que realizam AF, menos de seis meses; Manutenção: indivíduos que realizam AF, mais de seis meses. Segundo Taylor e Miller (2003), as estratégias para os estágios précontemplativo, contemplativo e preparação (Fase de antecedentes) devem ser de: a) Informação: é o primeiro fator que influencia a mudança. Deve ser apresentada de forma simples e clara utilizando uma linguagem compreensível. A informação sobre os benefícios proporcionados pela mudança, em vez dos 225 riscos devidos à ausência de qualquer mudança, pode ser enfatizada para conseguir mais impacto; b) Instruções: quando a instrução é fornecida por uma pessoa de autoridade constitui um poderoso antecedente para a mudança comportamental. O público considera os profissionais de assistência à saúde como a fonte de informação mais digna de confiança; c) Modelos de papéis: sejam modelos de família, amigos ou outras fontes dignas de confiança podem facilitar a mudança por permitir que o participante veja como os outros indivíduos fizeram essa mudança, reagiram à mudança, generalizaram a mudança para diferentes tipos de situações e lidam com as situações difíceis de forma a apresentar os hábitos saudáveis e d) Experiência prévia: é o principal fator que determina o início de um novo hábito relacionado à saúde. É mais provável que as pessoas repitam um comportamento se o mesmo foi útil no passado. Para a fase de adoção, a estratégia é fazer com que os participantes estabeleçam metas e identifiquem as áreas em que é necessária mais assistência. Para a última fase, de manutenção, existem quatro estratégias: a) Monitoramento: deve ser simples e conveniente. Um relatório espontâneo, um diário, alguns dados fisiológicos e outros tipos de monitoramento são úteis para manter a mudança de comportamento e ajudar os profissionais do exercício a determinar o progresso; b) Reforço: tornar a atividade tão satisfatória quanto possível. Muitos estímulos ambientais, tais como alimento, água, atividade sexual e calor, são elementos naturais de reforço. Os reforçadores sociais e/ou simbólicos incluem atenção, aplauso, dinheiro e prêmios. O reconhecimento por partes dos companheiros ou os jogos e a competição podem ajudar a manter um comportamento; c) Prevenção da recaída: antecipação da recaída ou das interrupções e d) Contratos: assumir um compromisso formal. Os contratos por escrito são extremamente úteis para preservar uma mudança e ajudar com a manutenção. Como a mudança de comportamento é dinâmica, os objetivos devem ser avaliados, atualizados e revisados conforme necessário. Contudo, para as pessoas obterem melhora na saúde, não basta apenas mudar de comportamento. Segundo recomendações do CDC é necessário realizar uma AF moderada com uma duração maior que 150 226 minutos semanais, realizar duas vezes por semana atividades de flexibilidade e força muscular e pelo menos 60 minutos de atividades vigorosas semanais. Com isso, é importante verificar se as sessões de GL são efetivas em promover mudanças nos estágios de prontidão e se os funcionários atendem às recomendações do CDC. Nesta intenção, Nakamura et al. (2005) realizaram um estudo com trinta e três funcionários de ambos os gêneros com idade de 39 (± 11 anos), pertencentes a postos de saúde da cidade de Rio Claro (13), a um restaurante universitário (10) e a uma micro-empresa (10) os quais eram atendidos pelos estagiários do projeto de extensão da Universidade Estadual Paulista no câmpus de Rio Claro (UNESP-RC). Todos eram praticantes da Ginástica Laboral há mais de dois meses. A GL Preparatória foi realizada três vezes por semana, durante 30 minutos, no próprio local de trabalho e os funcionários recebiam informações sobre alimentação e benefícios da prática de AF. Os funcionários responderam o questionário do Modelo Transteorético logo após uma sessão de aula. Para a análise dos dados, as respostas foram avaliadas por porcentagem. Os resultados demonstraram que dos trinta e três indivíduos, 6% estavam no Pré-contemplativo, 0% no Contemplativo, 12% Preparação, 24% Ação e 58% Manutenção, porém 73% das pessoas que praticavam AF não atendiam as recomendações do CDC, sendo apenas 27% dos funcionários sendo classificados como ativos, conforme recomendação do CDC. Esses dados indicam que há um grande número de funcionários que praticam AF, porém a grande maioria não satisfaz a relação frequência e/ou duração mínima sugerida pela CDC. Desse modo, foi verificado que os funcionários necessitam de mais informações sobre as recomendações mínimas de AF para que possam obter benefícios para sua saúde. Papini et al. (2006) realizaram um estudo com quarenta e dois funcionários (35 11,4 anos) de ambos os gêneros, pertencentes a diferentes empresas e ocupações profissionais de empresas do município de Rio Claro, os quais foram divididos em dois grupos: G1 (n=21) praticantes da GL há mais de seis meses e G2 (n=21) funcionários de empresas que não oferecem GL. 227 Foram aplicados: “Questionário de Atividade Física Diária” (QAFD), “Estágio de Prontidão” e o “SF-36”. O QAFD avalia a quantidade de atividade física realizada na vida diária, o questionário de estágio de prontidão avalia a pré-disposição das pessoas a praticarem atividade física e o SF-36 avalia a percepção da qualidade de vida. O QAFD foi analisado, segundo dois critérios: classificação no MTT (Manutenção e Antecedentes + Ação) e atendimento à recomendação do CDC. Os dados foram comparados através da Razão de Odds e teste T- Student. Os resultados do estudo estão ilustrados na Tabela 1. Quadro 1- Classificação em porcentagem de funcionários praticantes e não-praticantes da GL nos estágios de prontidão. Média e desvio padrão da QdV dos dois grupos. MTT Critério CDC Classificação Manutenção Antecedentes+ Ação G1 81% 19% 57% 43% 82 13 G2 42% 58% 38% 63% 83 9 Razão de Odds (IC 95%) 2,00 (1,41:22,76) Ativos Inativos QdV 2,00 (0,63:7,44) O estudo acima apontado corrobora com os achados de Nakamura et al. (2005) que também verificaram que os praticantes de GL foram classificados nos estágios de manutenção e ação, porém não atendem à recomendação mínima preconizada pelo CDC. Esses resultados também verificaram que não houve diferença na QdV entre o G1 e G2, porém pode-se especular que as pessoas que praticam a GL sejam mais criteriosas quando avaliam a sua QdV devido ao maior conhecimento sobre o assunto. Conforme indica a Organização Mundial de Saúde (OMS), Qualidade de Vida (QdV) é a “percepção do individuo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Para Nahas (2003), a QdV é diferente de pessoa para pessoa, tende a mudar ao longo da vida de cada um 228 e admite a combinação de múltiplos fatores determinantes que moldam e diferenciam o cotidiano do ser humano. Esses fatores, que podem ser classificados em parâmetro sócio-ambientais e individuais, compreendem: estado de saúde, longevidade, lazer, relações familiares, disposição, prazer, espiritualidade, satisfação no trabalho e remuneração. Pires (1996) acredita que os funcionários sacrificam as horas de lazer e cuidados com a saúde devido à cobrança para uma maior produção na empresa, acarretando uma piora na QdV. Porém, durante os últimos anos, um número crescente de empresas vem investindo cada vez mais no aprimoramento do bem-estar e do condicionamento físico de seus funcionários, sejam estes alto executivos ou operários. Essas empresas descobriram que a saúde dos funcionários não pode ser dissociada do próprio equilíbrio da empresa e o investimento feito em programas de AF acaba resultando em uma qualidade melhor de trabalho (Papini, 2006). Papini et al. (2007) realizaram um estudo com duzentos funcionários (32,19 ± 10,46 anos) com diferentes ocupações, dos quais cento e vinte e nove são mulheres (32,19 ± 10,46 idade) e setenta e um homens (31,60±10,27 idade). Todos os participantes responderam o questionário de AF diária e o SF36. Para a análise estatística foi utilizado Anova-One Way para cada componente de QdV e MTT. Post-Hoc de Tukey foi utilizado para identificar as diferenças. Os resultados demonstraram que os componentes vitalidade, saúde mental, saúde física total e saúde mental total são influenciados pelo MTT e indicam que a QdV total pode ser influenciada pelo MTT, porém necessita de novos estudos que possam certificar tal observação. Anova One-Way apontou diferença para QdV total entre os estágios do MTT, porém o Post-Hoc de Tukey não identificou as diferenças, porém existe uma tendência da QdV do estágio de manutenção ser melhor do que o de ação e antecedentes e o de ação ser pior do que os antecedentes. Desse modo, é possível assumir que a GL é capaz de melhorar a QdV dos funcionários, pois os que praticam GL se encontram em sua grande maioria nos estágios de manutenção e ação. 229 Papini et al (2006) verificaram se severidades ocupacionais (carga horária, horas extras, frequência semanal e intensidade ocupacionais) se relacionam com os estágios de prontidão em trabalhadores. Participaram do estudo cem funcionários (33±11anos), de ambos os gêneros, pertencentes a cargos e trabalhos distintos de empresas do município de Rio Claro. Foram aplicados questionários de Identificação Ocupacional e de Estágio de Prontidão. A análise estatística dos dados foi realizada através do Qui-Quadrado. Para isso, os estágios de prontidão foram agrupados em dois grupos: a) Manutenção e Ação; b) Preparação, pré-contemplativo e contemplativo. O teste Qui-Quadrado (2x2) com 1 grau de liberdade (gl) (x2= 6,63; p<0,01) não revelou diferença entre estágio de prontidão, horas de trabalho, frequência semanal e horas extras. O Qui-Quadrado (3x3) com 12 gl (x2 = 23,21; p<0,01) não revelou diferença entre estágio de prontidão e intensidade de trabalho ocupacional. Desse modo, as severidades ocupacionais parecem não interferir no estágio de prontidão, podendo ter ocorrido falha do questionário utilizado devido à falta de validação do instrumento, necessitando de mais estudos e instrumentos capazes de avaliar essas variáveis. A Ginástica Laboral é uma atividade física que apresenta condições de poder contribuir na melhora do estado psicológico dos praticantes, conforme Frazier e Nagy (1989), pesquisas foram realizadas com amostras diagnosticadas clinicamente, que suportam a hipótese de que a depressão é diminuída e a auto-estima aumentada através de exercícios. Através dos estados de ânimo, é possível perceber o estado psicológico do praticante e a influência da atividade física nessa variável. Os estados de ânimo são estados subjetivos cuja duração e intensidades são determinadas com a situação vivida naquele momento e que são capazes de desencadear uma série de reações orgânicas. Miranda (2001) afirma que os estados de ânimo podem ser avaliados imediatamente após uma sessão única de atividade física, pois são fenômenos de curta duração que podem ser claramente relacionados com o exercício, porém avaliações de longo prazo apresentam uma mudança de difícil interpretação. 230 No estudo realizado por González et al. (2005) foi verificado o efeito de uma sessão de Ginástica Laboral no estado de ânimo em 29 (vinte e nove) funcionários, de ambos os gêneros, com idade 36,45 ( 11,13 anos) todos participantes da Ginástica Laboral há mais de dois meses do projeto de extensão da UNESP-RC. Foi aplicado o questionário LEA – RI (Lista de Estados de Ânimo – Reduzida e Ilustrada) para identificar os estados de ânimo antes e após uma aula de alongamento de Ginástica Laboral preparatória, com duração de 20 minutos. O resultado do estudo está ilustrado na Quadro 2. Quadro 2. Porcentagem das respostas para cada adjetivo MELHOROU (%) FELIZ, ALEGRE 58,6* PESADO,CANSADO 38 AGRADÁVEL 38 TRISTE 20,7 ESPIRITUAL 38 LEVE, SUAVE 58,6* CHEIO DE ENERGIA 55,1* ATIVO,ENERGÉTICO 58,6* AGITADO,NERVOSO 34,5 DESAGRADÁVEL 20,7 CALMO,TRANQUILO 48,2* INÚTIL, APÁTICO 10,4 TÍMIDO 34,5 COM MEDO 10,4 * Adjetivos que apresentaram melhora MANTEVE (%) PIOROU (%) 31,1 48,2 48,2 72,4 44,8 34,5 38 34,5 55,2 69 38 72,4 58,6 79,2 10,3 13,8 13,8 6,9 17,2 6,9 6,9 6,9 10,3 10,3 13,8 17,2 6,9 10,4 De acordo com as análises, a aula de alongamento melhorou os estados de ânimo para os adjetivos positivos, indicando que a Ginástica Laboral é um importante instrumento na contribuição da melhoria do estado psicológico dos funcionários e, dessa maneira, viabiliza a aquisição da Qualidade de Vida. Papini et al. (2007) realizaram um estudo com dez funcionários, de ambos os gêneros, três homens (52,7 ±9,7 idade) e sete mulheres (39,6 ±14,9 idade), todos do restaurante universitário e praticantes de Ginástica Laboral há pelo menos seis meses no projeto de extensão da UNESP-RC. As aulas de Ginástica Laboral preparatória foram realizadas três vezes por semana com duração de 15 minutos. 231 As atividades desenvolvidas nas aulas foram constituídas por exercícios de força, alongamento, coordenação e dinâmica em grupo. Os participantes foram avaliados através da bateria de testes da American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance (AAHPERD), em dois momentos: avaliação inicial e avaliação após quatro meses. A resistência aeróbia não foi avaliada, pois no programa estudado de Ginástica Laboral não inclui atividades para desenvolver tal capacidade. Para a análise estatística dos resultados foi utilizado o teste t. Os resultados desse estudo estão ilustrados na tabela 3. Tabela 1: Médias dp dos valores da flexibilidade, coordenação, agilidade e força. Teste Flexibilidade (m) (média dp) Coordenação (seg) (média dp) Agilidade (seg) (média dp) Força(nº repet) (média dp) Inicial 60,9 12,1 10,7 1,7 19,5 2,6 29,8 5 Após 4 meses 54,5 9,9 9,7 1,5 19,4 2,3 31,4 9,2 Significância de p<0,05. Os resultados desse estudo demonstram que a Ginástica Laboral apresenta indicativos na melhoria das capacidades funcionais dos participantes, pois dos dez funcionários, sete participam do programa há mais de um ano, tendo como consequência a melhoria da qualidade de vida, pois não há indicações da diminuição das atividades diárias. Na literatura que envolve a Ginástica Laboral, são poucos estudos que verificaram as respostas fisiológicas durante ou após as aulas de Ginástica Laboral. A análise da Variabilidade da Frequência Cardíaca (VFC) é uma possibilidade licita para se investigar os benefícios da Ginástica Laboral, tendo em vista que é um método não invasivo que mede e registra o ciclo cardíaco (intervalo R-R), permitindo-nos estimar o tônus simpático e parassimpático, sob diversas condições fisiológicas, sobretudo nas respostas aguda ou crônica do exercício. Atualmente, tem se dado muita atenção à VFC, por sua correlação com índices de saúde. Uma baixa VFC está relacionada à disfunção autonômica, a DANTs e aumento do risco de mortalidade. Gonzálvez et al. (2006) verificaram a influência da Ginástica Laboral Preparatória, constituída de alongamentos, na VFC durante a jornada de 232 trabalho. Participaram seis trabalhadores de ambos os gêneros (40,6712,87), praticantes de GL há mais de seis meses, do Restaurante Universitário (n= 3) e de uma micro-empresa de costura (n= 3) que participam do projeto de extensão da UNESP-RC. A VFC foi medida (Polar S-810i) em duas situações: 1) Durante uma jornada matinal de 4 h de trabalho precedida de 15 min de GL; 2) Durante uma jornada matinal de 4h de trabalho sem Ginástica Laboral. A VFC foi analisada utilizando o RMSSD e pNN50, pelo programa HRV analisys. Para a análise estatística foi utilizado o Teste t, adotando significância de p < 0,05. Tabela 2 - Valores médios e desvio-padrão de RMSSD e pNN50, nos dois tempos analisados, para os dois protocolos de teste (com GL e sem GL). 15 primeiros minutos 15 minutos até 4 horas RMSSD pNN50 RMSSD pNN50 Com sessão de GL 27,409,15 5,332,08 25,336,49 6,204,22 Sem sessão de GL 44,6653,01 5,12,50 24,475,76 5,574,35 A partir dos resultados apresentados na tabela 4, verificou-se que a GL Preparatória com exercícios de alongamento não influenciou a VFC durante a jornada de trabalho. Embora não tenha sido verificado, especula-se que os participantes tenham sofrido um efeito de treinamento por realizarem a Ginástica Laboral por mais de 6 meses ou devido as distintas atividades ocupacionais. Deste modo, necessita-se de mais estudos com intuito de verificar se o tipo de exercício e/ou atividade laboral influenciam na VFC. Todos os estudos citados até o momento indicam os benefícios da Ginástica Laboral, utilizando instrumentos e testes não específicos. Desse modo, é interessante elaborar instrumentos específicos para avaliar a efetividade da Ginástica Laboral. Um dos focos principais da Ginástica Laboral é combater as DORTs, porém são necessários instrumentos eficientes para avaliação dos funcionários. Considerando que baixos valores de força muscular podem contribuir para o desequilíbrio postural e lesões em determinados grupos musculares. 233 Queiroga et al. (2007) realizaram um estudo com o objetivo de verificar os valores de força de preensão manual em trabalhadores com e sem dor nos membros superiores. Participaram do estudo noventa e oito mulheres (34 ± 7,8 anos; 66,8 ± 12,8 kg) e 178 homens (33 ± 8,7 anos; 77,3 ±14,8kg) que exerciam tarefas repetitivas em duas distintas empresas nos setores administrativos e operacionais (empacotador/embalador). Os funcionários foram questionados a respeito da presença de dor nos braços durante e após a jornada de trabalho mediante a escala de dor (verde: sem dor; amarelo: levemente desconfortável; vermelho: desconfortável). Em seguida, foram submetidos a um teste de preensão manual com o braço direito (D) e esquerdo (E) utilizando um dinamômetro eletrônico com célula de carga (Cefise®). Os avaliados, em pé com os braços ao lado do corpo, realizaram uma contração de familiarização e, após intervalo, uma contração máxima durante dois segundos. Os dados foram apresentados mediante estatística descritiva e analisados por meio do teste t para amostras dependentes. Quadro 3- Média e desvio-padrão dos dados antropométricos e da preensão manual com braço direito e esquerdo, com participantes sem dor e com dor. Idade MC Estatura IMC % Força D Força E Força (anos) (kg) (cm) (kg/m2) Gordura (kg) (kg) D+E Mulheres SD n = 61 34,7 ± 7,8 66,7 ± 13 161,4 ± 6,9 25,7 ± 5,2 29,1 ± 6,6 28,8 ± 6,9 27,3 ± 6,9 28,8 ± 6,3 Mulheres CD n = 37 34,4 ± 7,8 6,7 ± 1,9 161,4 ± 6,9 25,7 ± 5,2 29,2 ± 8,3 28,7 ± 6,8 27,2 ± 6,9 26,6 ± 7,5* Homens SD n = 143 33,3 ± 8,8 77,4 ± 14,9 172,0 ± 01 26 ± 4,2 23,2 ± 6,9 47,8 ± 9,3 46,2 ± 9,3 46,9 ± 9,3 Homens CD n = 35 33,1 ± 8,6 76,6 ± 14,8 171,0 ± 0,1 26 ± 4,1 23 ± 6,6 48,3 ± 9,1 46,8 ± 9,4 47,5 ± 9,8 *Diferença significante entre dor e sem dor (p=0,03). SD = sem dor; CD = com dor; D+E =: somatório dos valores preensão manual braço direito e esquerdo. Gordura corporal = densidade corporal estimada a partir da equação de regressão proposta por Petroski (1995, 1996) e %G pela fórmula de Siri (1961). Não houve diferença estatística na força de preensão manual entre o braço D e o braço E, porém, quando considerados os dois membros (D+E) a análise revelou diferença entre as mulheres com dor e sem dor (p=0,03), mas 234 não entre os homens (p=0,63). Tendo em vista que a redução da força muscular é considerada um sintoma de DORT, sugere-se que as mulheres com dor, ao contrário dos homens, estariam mais predispostas a desenvolver e/ou possuir uma lesão osteomuscular. Em resumo, os estudos supracitados verificaram que a Ginástica Laboral é uma intervenção que pode trazer benefícios para promover mudança no comportamento, elevar o nível de atividade física, melhorar a Qualidade de vida, melhorar os estados de ânimo e prevenir declínio das capacidades funcionais e psicossociais. Neste caso, necessita-se de muitos esforços dos estudiosos e profissionais para se atingir uma plena efetividade da Ginástica Laboral. REFERÊNCIAS FRAZIER, S.E., NAGY, S. Moods state changes of women as a function of regular aerobic exercise. Perceptual and Motor Skills. Missoula, v. 68, p. 283287, 1989. GONZÁLEZ, N. V., NAKAMURA, P. M., DEUCHT, S., KOKUBUN, E., PAPINI, C. B., BARBIERI, R. A. Influência da Ginástica Laboral nos Estados de Ânimo. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. p.295 - 295, 2005. GONZÁLEZ, N. V., PAPINI, C. B., NAKAMURA, P. M., KOKUBUN, E. Influência da Ginástica Laboral preparatória na variabilidade da freqüência cardíaca durante a jornada de trabalho. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde. p 74-74, 2006. MIRANDA, M, L, J. Efeitos da atividade física com música sobre estados subjetivos de idosos. 189f. Tese (Doutorado em Psicologia) Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. NAHAS, M. 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A Influência dos estágios de prontidão para atividade física na qualidade de vida em trabalhadores. Motriz Revista de Educação Física. Rio Claro, p.277 – 277, 2007. PAPINI, B.C; NAKAMURA, M.P; GONZÁLEZ, V.N; HEBLING, B.T; ROCHA, T.A. R; KOKUBUN, E. Influência da Ginástica Laboral nas capacidades funcionais. Trabalho aceito para Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v.3, n.2 suplemento 1, 2007. QUEIROGA, M.R, NAKAMURA, P. M., GONZALEZ, N. V., BOTTCHER, L. B., RIBEIRO, P. A. B., SILVEIRA. R, KOKUBUN, E. Força de preensão manual e relato de dor em trabalhadores que exercem tarefas repetitivas. Motriz Revista de Educação Física. Rio Claro, 2007. PIRES, W. R. Qualidade de vida. 2. ed. Campinas: Cartgraf, 1996. PROCHASKA JO; DICLEMENTE CC. Stages and processes of self-change of smoking: toward an integrative model of change. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 51, 390-395, 1983. SILVA, M.; MARCHI, R. Saúde e Qualidade de vida no trabalho. São Paulo: Círculo do livro, 1997. 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O PGL foi constituído pela oferta de três aulas semanais de GL compensatória (quinze minutos de duração), acompanhada pela disseminação no ambiente de trabalho de informações para a promoção da qualidade de vida (QV). Questionários semi-abertos foram aplicados no final de cada um dos três anos da pesquisa, sendo que seus dados foram discutidos a partir de análise descritiva, teste exato de Fisher e Q de Cochran. Os resultados sugerem que a difusão de ensinamentos pelo trabalhador em sua comunidade não esteve associada à carga de trabalho, mas esteve associada à aderência semanal à GL no ano de 2003 (p=0, 043), e que a informação proveniente do PGL foi vivenciada pelo trabalhador de escritório (p=7,64). Pesquisas científicas, que retratem o impacto de programas de promoção da saúde do trabalhador, devem ser realizadas e publicadas a fim de que possam colaborar para que a adoção de tais programas seja cada vez mais corriqueira e aprimorada, inclusive solidificando a noção de que o ambiente ocupacional pode originar modificações que acrescentam qualidade à vida do cidadão. Palavras-chave: informação, programa de ginástica laboral, qualidade de vida. Introdução Um Programa de Promoção da Saúde do Trabalhador (PPST) é um programa que apresenta o objetivo principal de melhorar a qualidade de vida do colaborador dentro e fora do ambiente de trabalho, mas também pode beneficiar familiares do trabalhador e até trabalhadores aposentados, idealizado de acordo com as características do trabalhador, da empresa e da comunidade na qual a organização está inserida (Martins, 2007). 237 Partindo deste conceito, um Programa de Ginástica Laboral (PGL) pode apresentar-se como um dos programas que compõe o leque de opções voltadas para melhorar a Qualidade de Vida (QV) e Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). A ginástica laboral (GL) pode ser definida como uma pausa ativa realizada no ambiente de trabalho, cuja duração média é de cinco minutos quando efetuada na fábrica e quinze minutos quando executada no escritório, efetuada através de exercícios de alongamento e demais atividades, tais como exercícios respiratórios, massagens e atividades lúdicas que apresentam os objetivos principais de prevenir os DORT (Distúrbios Ósteo-musculares Relacionados ao Trabalho) e reduzir o distresse psicológico (estresse negativo). Qualquer trabalhador, com qualquer roupa, pode participar da GL desde que o professor adapte as atividades às suas peculiaridades (Martins, 2004). Entretanto, para atuar holisticamente na saúde do trabalhador, além da GL um PGL deve ter diferentes abordagens, como, por exemplo, viabilizar a exposição semanal de informações sobre QV no ambiente de trabalho (Martins, 2001). Dependendo da natureza da informação, a mesma pode beneficiar não só o trabalhador da empresa em que o exercício físico é efetuado, mas também a comunidade na qual ele está inserido, caso o trabalhador dissemine esta informação aos seus familiares, vizinhos e amigos. Tal fato já foi verificado por pesquisa realizada com trabalhadores de escritório (Martins, 2000), tendo em vista que 84,6% dos indivíduos que participaram de um PGL difundiram o conhecimento oriundo do programa em suas comunidades. Como contribuição para otimizar a aplicação de PPSTs, o objetivo deste trabalho foi verificar se a difusão de ensinamentos pelo trabalhador esteve associada à carga de trabalho e aderência semanal à GL, bem como se a informação proveniente do PGL foi vivenciada pelo trabalhador de escritório. Metodologia O presente estudo de caso descritivo longitudinal foi realizado com trabalhadores de escritório de uma instituição federal, com atuação em oito 238 municípios do estado de Santa Catarina (Blumenau, Chapecó, Florianópolis, Jaraguá do Sul, Joaçaba, Joinville, Lages e Tubarão) nos anos de 2002, 2003 e 2004, com jornada de trabalho que iniciava às 13:00h e terminava às 19:00h, compreendida entre segunda-feira e sexta-feira. Os trabalhadores efetuavam tarefas que envolviam grande pressão temporal (cumprimento de prazos finais) e requisição manual (digitação e manuseio de documentos), propiciando um campo fértil para o desenvolvimento dos DORT. Foi aplicado um questionário semi-aberto ao final de cada ano (em anexo), com intuito de avaliar a aplicação do PGL, bem como sua repercussão na QV e QVT dos trabalhadores. A amostra (n = 42) foi formada por trabalhadores que responderam ao questionário em 2002, 2003 e 2004, sendo vinte e três indivíduos do sexo feminino (n = 23) e dezenove do sexo masculino (n = 19), com uma média de idade de aproximadamente 31 anos e desvio padrão de 6,22, que aderiram à GL três vezes por semana, duas vezes por semana, uma vez por semana e uma vez por mês. É importante ressaltar que independente do ano em que foi realizada a pesquisa, pelo menos 50% dos entrevistados aderiram à GL, em média, três vezes por semana, sugerindo uma alta aderência dos respondentes. No PGL foram ministradas aulas de GL compensatória (durante a jornada de trabalho), aplicada por educadores físicos, com duração de quinze minutos, e disseminadas semanalmente, no ambiente de trabalho, informações para a promoção da QV (ex: postura corporal adequada para executar tarefas utilizando o computador, exercício físico e metabolismo, benefícios da doação de sangue, receita de bolo de casca de mamão - impressas em papel de tamanho A4), além do atendimento mais individualizado aos trabalhadores, pelo professor de GL nos dias das aulas, após o horário da GL. Exercícios de alongamento estático formaram a base da GL, projetados para atuar na musculatura mais requisitada durante a jornada de trabalho - região lombar da coluna vertebral, ombros, punhos e mãos, uma vez que as tarefas ocupacionais da amostra envolviam grande requisição manual, principalmente pela intensa utilização do computador. 239 A análise estatística desta pesquisa foi inicialmente realizada através da análise descritiva das informações obtidas para cada variável independentemente, sendo que o teste exato de Fisher e o teste Q de Cochran foram posteriormente efetuados através do software Statistical Analysis System. Vale ressaltar que o presente estudo cumpriu os princípios éticos de pesquisas que envolvem seres humanos. Resultados As informações provenientes dos dados coletados sugerem que a maior parte dos participantes (mais de 59%) divulgaram o conhecimento oriundo das informações semanais sobre QV, sendo que em 2002 (n=32), a divulgação foi maior (76,2%), se comparada com 2003 (n=25) e 2004 (n=29). Os resultados do teste exato de Fisher demonstram não ter sido significativos para o cruzamento entre difusão do conhecimento e carga de trabalho em 2002 (p=0,246), 2003 (p=0,243) ou 2004 (p=0,261), considerandose o nível de significância de 5% (p>0,05), indicando que a carga de trabalho não influenciou a difusão do conhecimento proveniente das informações semanais sobre QV. Já dentre os resultados do teste exato de Fisher para o cruzamento entre difusão do conhecimento e aderência à GL, somente parece ter sido significativo o resultado para o ano de 2003 (em 2002, p=0,061; em 2003, p=0,043; em 2004, p=0,077), considerando-se o nível de significância de 5% (p<0,05). Os resultados do teste Q de Cochran para verificar a relação da vivência de ensinamentos ao longo dos anos sugerem que existiu significância somente entre vivência de ensinamentos e tempo (p=7,64), com um nível de 5% de significância (p<0,05). 240 Discussão O presente artigo apresentou limitações referentes à utilização de questionário (cujas informações prestadas pelos respondentes dependem de sua compreensão, recordação e colaboração), à dificuldade de se coletar a maior quantidade possível de dados ao longo de três anos e ao acesso a estudos científicos sobre a influência de um PGL na QV de trabalhadores de escritório. De acordo com os resultados referentes à difusão do conhecimento advindo do PGL, aproximadamente 60% dos sujeitos difundiram o conhecimento em 2002 (76,2%), 2003 (59,5%) e 2004 (69%), sendo que no ano de 2002 a difusão foi 11,95% maior do que a média dos anos subsequentes. Isso pode ter ocorrido tanto pela natureza das informações sobre QV, que podem ter despertado mais a atenção do trabalhador e/ou destas terem sido mais aplicáveis à melhoria da sua QV (propiciando uma maior divulgação em 2002), quanto pela teoria da adaptação ao PPST (relacionada a 2003 e 2004). Tal teoria reflete que, num PPST/PGL, o trabalhador pode observar com nitidez os benefícios provenientes do programa em sua implantação porque é algo novo, mas à medida que o tempo passa, ele se acostuma a tais melhorias e não consegue mais identificá-las perfeitamente, fazendo com que a criatividade em todas as vertentes do programa (ex: atividades da GL, divulgação do programa) seja essencial para que o trabalhador constantemente se interesse e se conscientize de sua repercussão. A adaptação causada pela ausência de estímulos ao longo do tempo pode, inclusive, tornar-se uma barreira para a aderência ao programa (Martins, 2005). O estímulo pode ser definido como um sinal que desencadeia um comportamento, podendo ser verbal, físico ou simbólico. O objetivo do estímulo é diminuir os sinais para comportamentos concorrentes e aumentar os sinais para o comportamento desejado por meio de cartazes, slogans, mala direta, colocação de equipamentos de exercícios em lugares visíveis, recrutamento de apoio social e realização do exercício na mesma hora e no mesmo lugar todos 241 os dias, por exemplo, (Weinberg e Gould, 2001). Um estudo observacional com 17.901 adultos analisou a eficácia de sinais para encorajar o uso da escada ao invés da escada rolante em um shopping center situado em Baltimore/EUA (Andersen et al, 1998). A intervenção deu-se por intermédio de três fases distintas, sendo que cada fase ficou exposta durante um mês. Durante a primeira fase, a frequência da utilização da escada, comparada ao uso da escada rolante, foi gravada (as escadas estavam situadas lado a lado). Na segunda fase, que visava ressaltar os benefícios de saúde, um cartaz com a caricatura de um coração no topo de um lance de escada, com a frase “Seu coração precisa de exercício, use a escada” foi colocado em um cavalete que, por sua vez, foi disponibilizado ao lado das escadas. Na terceira fase de intervenção, que objetivava destacar o controle da massa corporal, um cartaz igualmente foi colocado no cavalete, mas trazia a caricatura de uma mulher no topo de um lance de escadas, sendo que a mulher tinha cintura fina e estava vestindo uma calça com cintura demasiadamente larga, com a seguinte frase: “Melhore sua cintura, use a escada”. Os resultados demonstraram que no total houve aumento na utilização da escada de 4,8% para 6,9% e 7,2% com os sinais de benefícios de saúde e controle da massa corporal, respectivamente; os jovens aumentaram o uso da escada de 4,6% para 6,0% com o sinal de saúde e 6,1% com o sinal de controle de massa corporal; os idosos aumentaram a utilização da escada de 5,1% para 8,1% com o sinal de saúde e 8,7% para o sinal de controle de massa corporal; a utilização diferenciada da escada foi observada entre grupos étnicos: entre caucasianos, o uso da escada aumentou de 5,1% para 7,5% e 7,8% com o sinal de saúde e controle de massa corporal, respectivamente; entre negros, a utilização da escada decresceu de 4,1% para 3,4% com o sinal de saúde e aumentou para 5,0% com o sinal de controle de massa corporal; na primeira fase, indivíduos magros usaram a escada com mais frequência do que indivíduos com sobrepeso (5,4% e 3,8%, respectivamente); o sinal de saúde aumentou o uso da escada para 7,2% entre indivíduos com massa corporal considerada normal e 6,3% com indivíduos com sobrepeso; o sinal de controle 242 de massa corporal aumentou a utilização da escada para 6,9% entre indivíduos com massa corporal normal e 7,8% com indivíduos com sobrepeso. Uma das conclusões deste estudo foi que intervenções simples e de baixo investimento poderiam aumentar o nível de atividade física habitual da população. A aplicação de estímulos visando à melhoria da QV por meio da promoção de um estilo de vida ativo também foi observada com uma pesquisa na Nova Zelândia (Elley et al, 2003). O referido estudo procurou constatar a eficácia de um programa de incentivo à atividade física em que os sujeitos recebiam, no início do estudo, aconselhamento oral e escrito de seus médicos, bem como o apoio de especialistas por telefone, cartas (contendo desde iniciativas da comunidade relacionadas à atividade física até programas específicos de exercício físico) e material motivacional, no decorrer de um ano. Tanto as cartas quanto o material motivacional eram enviados pelo correio. Os resultados levam a crer que tais informações foram eficazes no aumento da atividade física e na melhoria da QV, em um período superior a doze meses. No Brasil, uma pesquisa demonstrou que informações provenientes de um PGL, advindas de informações semanais para a promoção da QV (impressas em papel A4 com letra de tamanho mínimo 36, com textos objetivos) e de conversas informais com a professora de GL, parecem ter sido eficazes no tocante à prevenção aos DORT para os trabalhadores que participavam de tais aulas, se comparados aos trabalhadores que não participavam da GL (Martins et al., 2002). É bom ressaltar que para a informação sobre saúde disponibilizada através de panfletos surtir efeito, deve ser elaborada de maneira clara, a fim de permitir que o indivíduo realmente compreenda o texto (Gal e Prigat, 2005). Nas empresas, tal informação pode ser semanalmente disseminada, real ou virtualmente, pelo ambiente de trabalho, abordando temas como atividade física, ergonomia, nutrição e outros assuntos relacionados à QV, além da própria “propaganda” do PGL/PPST (Martins, 2004). Tais informações devem ser sucintas e chamativas (ex: impressas com letras grandes em papel colorido), fixadas em locais estratégicos (ex: banheiros, bebedouros, copa, 243 quadro de avisos) ou até, enviadas por e-mail aos trabalhadores que desejarem recebê-las em casa ou no trabalho (Martins, 2000). Dependendo da natureza da informação, a mesma pode beneficiar não só o trabalhador da empresa onde o exercício físico é efetuado, mas também a comunidade na qual ele está inserido, desde que o colaborador dissemine esta informação aos seus familiares, vizinhos e amigos. Os resultados de uma pesquisa com trabalhadores de escritório indicam que 84,6% dos trabalhadores de escritório que participaram de um PGL difundiram o conhecimento procedente deste programa em sua comunidade, conferindo ao PGL uma contribuição expressivamente benéfica em se tratando de promoção da saúde individual e coletiva (Martins, 2000). No presente estudo, conforme os resultados do teste exato de Fisher para o cruzamento entre carga de trabalho e difusão do conhecimento ao longo dos anos, independente da carga de trabalho ter aumentado ou se mantido, os sujeitos foram capazes de difundir o conhecimento proveniente das informações semanais sobre QV em 2002 (76,2%), 2003 (59,5%) e 2004 (69,1%), indicando que a carga de trabalho não interferiu negativamente no repasse de informações sobre QV para a comunidade dos trabalhadores em questão, fazendo com que o PGL pudesse ter apresentado a capacidade de exercer um impacto positivo na saúde e bem-estar das famílias dos trabalhadores, comunidades e sociedade, conforme salientado pela PAHO (2001). Todavia, convém observar que aliada à carga de trabalho, a influência mútua de quatro fatores psicossociais negativos, relacionados à demanda, ao controle, ao esforço e à recompensa, podem ter um grande impacto na saúde no trabalhador (Shain e Kramer, 2004), em que: 1. A grande demanda equivale a ter muito a fazer com pouco tempo durante longo período; 2. O baixo controle corresponde a não ter suficiente influência sobre como o trabalho é feito no dia-a-dia; 3. O grande esforço equivale a ter que empregar muita energia mental durante longo período e; 244 4. Reduzida recompensa corresponde a não receber feedback adequado sobre o desempenho, além da falta de reconhecimento ou gratidão pelo trabalho bem feito. Assim, indivíduos sob estresse negativo contínuo podem ser mais suscetíveis à deterioração de sua própria saúde, sendo que trabalhadores expostos a constantes condições de grande esforço, com reduzida recompensa, grandes demandas e baixo controle podem, inclusive, contrair de duas a três vezes mais infecções e lesões do que seus colegas de trabalho “desestressados”. Em relação aos resultados do teste exato de Fisher para o cruzamento entre aderência à GL e difusão do conhecimento ao longo dos anos na presente pesquisa, os trabalhadores que aderiram à GL três vezes por semana em todos os anos (50% dos respondentes em 2002, 38,1% em 2003 e 40,5% em 2004) foram os que mais difundiram o conhecimento. Vale ressaltar que a difusão do conhecimento foi diretamente proporcional à aderência à GL. O resultado estatisticamente significante em 2003 pode ter ocorrido devido ao fato de que, dos indivíduos que difundiram o conhecimento proveniente do PGL, a maioria (38,1%) aderiu à GL três vezes por semana, sendo que para os que não difundiram tal conhecimento, a maior parte dos respondentes (14,3%) aderiu à GL duas vezes por semana neste ano. Isto pode sugerir que a aderência à GL pôde ter significativamente incentivado a difusão do conhecimento oriundo das informações semanais, ou seja, quanto maior for à aderência do trabalhador à GL, maior a possibilidade dele difundir as informações semanais sobre QV. Tal resultado pode ser corroborado pelo fato da probabilidade do teste exato de Fisher ter se apresentado próximo ao nível de 5% de significância em 2002 (p = 0,061), tornando possível que uma amostra maior novamente identifique significância na associação entre aderência à GL e difusão de conhecimentos. Os resultados do teste exato de Fisher para o ano de 2003 inclusive corroboram com os dados apresentados em outras pesquisas (Martins e Duarte, 2000; Martins et al, 2002a) em que o PGL igualmente apresentou-se capaz de promover a difusão do conhecimento entre seus participantes, que 245 apontaram um elevado grau de aderência. Tais resultados indicam que a constante preocupação em manter a aderência elevada em um PGL/PPST pode efetivamente viabilizar melhorias para o empresário, trabalhador e comunidade. A fim de manter e/ou elevar a aderência do trabalhador à GL, o primeiro passo é informá-lo sobre todos os aspectos que envolvem o programa (ex: objetivos, vantagens relacionadas à participação), desde sua implantação. Quando a participação da GL for voluntária, as seguintes abordagens são recomendadas para manter/elevar a aderência do colaborador (Martins, 2004; Martins, 2005): 1.Observação de todos os itens que compõem o perfil/didática do professor de GL (expostos a seguir); 2.Realização da aula o mais próximo possível do posto de trabalho (desde que não haja risco à segurança e saúde do colaborador), principalmente quando a GL for compensatória, a fim de que seja reduzida a possibilidade dos trabalhadores se dispersarem; 3.Utilização de músicas de acordo com a preferência da maioria dos trabalhadores; 4.Conscientização dos líderes/chefes dos setores sobre a importância de sua participação nas aulas ou, no mínimo, conscientização sobre seu papel no incentivo à aderência à GL por todos os trabalhadores; 5.Realização da aula com o professor vestido de acordo com a data comemorativa (ex: na páscoa, trajado e/ou maquiado completa ou parcialmente como coelho), desde que a empresa permita tal procedimento e o professor sinta-se à vontade em fazê-lo; 6.Oferta esporádica de uma aula especial, contendo atividades que normalmente não são realizadas durante a GL (ex: abdominal, forró); 7.Entrega mensal de troféu para o setor que alcançou a maior aderência, com sorteio de um prêmio (ex: bicicleta) para os trabalhadores cujo setor obteve a maior aderência anual; 246 8.Realização de gincanas, onde cada setor ganha pontos específicos ao completar tarefas (ex: reunião do maior número de agasalhos que serão doados à instituição de caridade, maior aderência trimestral à GL) e concorrem no final de um período (ex: semestral, anual) a prêmios (ex: desconto em diária de hotel campestre, inscrição gratuita e/ou desconto em mensalidade de academia de ginástica); 9.Distribuição de cartões repassados pelo professor de GL com frases enfatizando tanto a importância da presença do trabalhador na próxima aula quanto expondo informações especifica sobre saúde (ex: benefícios do exercício físico) aos que não participaram da aula; 10. Disponibilização periódica no local de trabalho de depoimentos (anônimos ou não) dos próprios trabalhadores sobre a importância da GL. Em relação ao professor-aluno, os instrutores podem seguramente influenciar no sucesso de um programa e, portanto, o professor deve ser experiente, fornecer muito feedback e elogios aos participantes, ajudar os indivíduos a estabelecerem metas flexíveis, além de demonstrar preocupação por sua segurança e conforto psicológico (Weinberg e Gould, 2001). E o professor de GL, como qualquer outro professor, deve se esforçar para dominar a técnica de ensino/didática, dirigindo e orientando a aprendizagem (Barbanti, 2004). Simpatia, criatividade e motivação (ex: transmitir animação ao realizar as atividades da aula) também devem compor o perfil do professor de GL (Martins, 2004), cativando os trabalhadores inclusive ao convidá-los para participar das aulas, além de: 1.Demonstrar os exercícios e explicar com clareza as atividades que serão realizadas; 2.Adaptar as atividades à individualidade do trabalhador; 3.Manter postura corporal adequada durante sua permanência na empresa e, principalmente, antes da realização dos exercícios; 247 4.Corrigir os exercícios durante e/ou após a GL (este último, preferencialmente efetuado durante o tempo destinado ao atendimento individualizado); 5.Ter um tom de voz audível e agradável durante a aula (com ou sem microfone, que geralmente é utilizado nas aulas ministradas na fábrica), de modo que seus comandos não concorram com a música ou com os ruídos do ambiente de trabalho (o professor de GL nunca deve gritar, fato que pode prejudicar sua própria voz, além de irritar os trabalhadores); 6.Posicionar-se adequadamente durante a aula, a fim de que todos os trabalhadores possam acompanhar a demonstração dos exercícios; 7.Constatar se a atividade foi eficaz (ex: alongamento, técnica de relaxamento) e se agradou a maioria dos participantes (ex: atividade lúdica, massagem). Por fim, conforme os resultados do teste Q de Cochran para verificar no presente estudo a relação da vivência de ensinamentos ao longo dos anos, em 2003 ocorreu a maior vivência de ensinamentos (40,5%), seguidos pelos anos de 2002 (21,4%) e 2004 (16,6%). Tal relação pode ter ocorrido pelo fato de que em 2003, a diferença entre a quantidade de indivíduos que responderam ter vivenciado os ensinamentos advindos do programa não foi muito superior à quantidade de pessoas que responderam não terem vivenciado. Já para os anos de 2002 e 2004, tal diferença ficou mais evidente. O resultado estatisticamente significante da vivência de ensinamentos em 2003, além de corroborar com os achados de pesquisa anteriormente realizada (Martins e Duarte, 2000), apresenta-se expressivamente importante, pois sugere que o PGL implementado pôde ter sido capaz de influenciar o comportamento dos participantes através do estímulo a atitudes saudáveis. 248 Conclusão Um PPST/PGL pode ser capaz de repercutir positivamente na QVT do trabalhador, além de poder beneficiar sua QV e sua comunidade, contribuindo para melhorias individuais, organizacionais e sociais dos indivíduos envolvidos. Todavia, nenhuma iniciativa do PPST/PGL tem consistência se o trabalhador não se mantiver regularmente em contato com os fatores benéficos, sejam modificações ambientais, implementação de programas ou até mesmo, a veiculação de conhecimento. E no caso dos programas que incluem a prática de exercícios físicos, a aderência às sessões de exercício é especialmente importante (Martins, 2005; Weinberg e Gould, 2001). Considerando que as estratégias do PGL estudado incluíam vários estímulos, principalmente na forma de informações semanais, sugere-se que houve uma modificação do ambiente pelo programa, mesmo levando-se em consideração o declínio da repercussão do PGL ao longo do tempo/teoria da adaptação ao PPST (Martins, 2005). Esta modificação, que pode ter tornado o ambiente emocional da instituição mais adequado (fator otimizador da saúde e da QV), acabou por estimular ações favoráveis, numa rede de comportamentos que foi expressa nesta pesquisa pela elevada aderência à GL e difusão de conhecimentos, principalmente em 2003, apesar do aumento da carga de trabalho reportado pela maioria dos sujeitos em 2003 e 2004. Ainda, a difusão de conhecimentos mais elevada dentre os que mais participaram do programa pôde inclusive sugerir como o maior tempo de contato e a interação do grupo (trabalhadores entre si, trabalhadores e professor de GL, PGL e os trabalhadores que não participaram das aulas, mas estiveram em contato com as informações sobre QV) foram importantes, sendo que o conjunto de todos os dados insinua que tal programa pôde ter sido o principal ponto de partida para melhorar a QV dos sujeitos envolvidos, colaborando para a criação/manutenção de um ambiente mais saudável e de um suporte social benéfico (PAHO, 2001). E considerando que houve significativa vivência de ensinamentos ao longo dos anos (2002, 2003 e 2004), sugere-se que as informações semanais do PGL possam ter contribuído para a melhoria da QV dos sujeitos tanto dentro quanto fora do ambiente de trabalho, 249 corroborando os dados de pesquisas anteriores (Martins et al., 2002; Martins et al., 2002a; Martins, 2004), colaborando para significativamente aprimorar o bem-estar e a saúde do trabalhador. Finalmente, como os resultados estatisticamente significantes ocorreram no ano de 2003, sugere-se, a partir da teoria da adaptação ao PPST e da importância que o professor de GL tem no sucesso de tal programa, que constantes métodos de promoção do PGL devam ser empregados com o intuito de torná-lo o mais atraente possível aos trabalhadores (Andersen et al., 1998; Barbanti, 1994; Elley, 2003; Gal e Prigat, 2005; Martins, 2000; Martins, 2005), principalmente no que se refere à didática e à criatividade do professor de GL, fazendo-se imperativa a capacitação mais frequente de seus professores a fim de otimizar a repercussão do programa (PAHO, 2001; Martins, 2000). Acredita-se que a realização e divulgação de pesquisas científicas que retratem o impacto de diferentes PPSTs no trabalhador e em sua comunidade possam colaborar enfaticamente para que a adoção de tais programas seja cada vez mais corriqueira e aprimorada, inclusive solidificando a noção de que o ambiente ocupacional apresenta a capacidade de germinar profícuas transformações na qualidade da vida do cidadão. REFERÊNCIAS Andersen RE, Franckowiak SC, Snyder J, Bartlett SJ, Fontaine KR. Inexpensive Signs Encourage the Use of Stairs? Results from a Community Intervention. Annals os Internal Medicine. 1998 Sept 1; 129(5): 363-369. Barbanti VJ. Dicionário de educação física e do esporte. São Paulo: Manole; 1994. Elley CR, Kerse N, Arrol B, Robinson E. Effectiveness of counselling patients on physical activity in general practice: cluster randomised controlled trial. British Medical Journal. 2003; 326: 793-799. Gal I, Prigat A. 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Porto Alegre: Artmed, 2001. 251 CAPÍTULO XI Efeitos da Ginástica Laboral na Qualidade de Vida de Trabalhadores José Alexandre Curiacos de Almeida Leme Elaine Curiacos Meyer INTRODUÇÃO Os efeitos da ginástica laboral na saúde dos trabalhadores têm sido muito estudados, contudo, diversas lacunas ainda necessitam ser preenchidas. Os benefícios da atividade física regular para a saúde da população são clássicos, como a redução do risco de doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, alguns tipos de cânceres e condições musculoesqueléticas (1). O sedentarismo é considerado um dos maiores fatores de risco na população mundial. A prevenção e tratamento do sedentarismo são considerados prioridade e pesquisas nesta área são urgentemente necessárias para descrever a prevalência, grupos de risco e consequências do sedentarismo, além de identificar estratégias mais efetivas de intervenção e mudanças nas políticas públicas em cidades e empresas que promovam um estilo de vida fisicamente ativo (2). Durante um ano em uma empresa, determinadas doenças influenciadas pela piora na qualidade de vida dos trabalhadores afastaram 56% dos funcionários por três dias causando grande prejuízo (3). Estudos têm demonstrado que a atividade física pode contribuir para melhora na saúde de trabalhadores em diversos setores. A implantação de um programa de atividade física promoveu melhora na flexibilidade, além de contribuir para diminuição do percentual de gordura e aumento da massa corporal magra, devido a alterações no estilo de vida dos sujeitos da amostra, assim como, a atividade física também se apresentou um fator contribuinte para a diminuição da incidência de câncer de mama em trabalhadores (4). O 252 objetivo deste estudo foi verificar a interferência de três meses de atividade física na qualidade de vida de funcionários em uma indústria metalúrgica. METODOLOGIA O consentimento para participar do estudo foi solicitado aos participantes de forma verbal, no momento em que elas respondiam o questionário. Participaram deste estudo 10 funcionários de uma indústria de Piracicaba, estado de São Paulo que desempenhavam suas funções na linha de produção e escritório. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi o questionário SF-36 visto que é bem aceito mundialmente e validado também no Brasil (5). Este questionário avalia saúde física e mental. O SF-36 contém 36 itens, dos quais 35 encontram-se agrupados em oito dimensões. Para cada dimensão, os ítens do SF-36 são codificados, agregados e transformados em uma escala de zero (pior estado de saúde) a 100 (melhor estado de saúde). As pontuações do SF36 foram calculadas para cada dimensão para o total da amostra (5). A função cardíaca foi avaliada pelo monitoramento diário da frequência cardíaca (FC) de um funcionário escolhido aleatoriamente a cada dia, através de um frequencímetro Polar®, coletada no início, aos 7 minutos e 1 minuto após o final da sessão de ginástica. O questionário foi aplicado no começo do experimento, previamente ao inicio do programa de ginástica laboral e reaplicado após três meses de realização do programa. A frequência cardíaca foi aferida diariamente de um funcionário escolhido diariamente de forma aleatória. As sessões de ginástica laboral foram realizadas durante três meses, cinco vezes por semana e 15 minutos por dia, composta por exercícios de aquecimento, alongamento, massagens e relaxamento. Os exercícios foram direcionados de acordo com os grupos musculares que foram avaliados como os mais requisitados pelo grupo experimental nos postos de trabalho segundo análise ergonômica previamente realizada (articulações do pescoço, ombro, punho, tronco e dedos das mãos). 253 Para a análise estatística, utilizou-se o teste t de Student, sendo considerados estatisticamente significantes os resultados, cujos níveis descritivos (valores de P) fossem inferiores a 0,05. Os resultados estão expressos em média e desvio padrão. RESULTADOS Participaram deste estudo 10 funcionários com média de idade de 26±6,7 anos sendo todos homens. Dos participantes do estudo, 30% apresentam como escolaridade completa o ensino fundamental e 70% o ensino médio. Referente ao estado civil, 40% dos participantes declararam solteiros enquanto 60% declararam serem casados. Quando perguntados sobre o tempo no cargo, quatro funcionários disseram ter menos de um ano, dois trabalhadores tinham de 1 a 2 anos, 2 trabalhadores disseram ter entre 2 e 3 anos e 2 funcionários tinham acima de 3 anos de casa. Dentre os funcionários que participaram do estudo todos faziam horas extras, sendo que 70% faziam horas extras 1-2 vezes por semana enquanto 30% faziam horas extras 3-4 dias por semana. Quanto ao tipo de cansaço que sentiam ao final do turno de trabalho, 70% dos trabalhadores relataram predominância de cansaço físico enquanto 30% relatam cansaço mental. Na tabela 1 podem ser observadas as médias da frequência cardíaca (FC) obtidas no início, meio (7 minutos) e 1 minuto após o final da ginástica. Os dados apresentaram aumento significativo da FC durante a atividade física e diminuição na coleta pós-ginástica. A tabela 2 apresenta os valores referentes às oito dimensões avaliadas pelo SF-36. A capacidade funcional foi a única dimensão cujo valor não sofreu nenhuma alteração. Nos valores referentes à limitação por aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental foi observado um aumento nestes valores após a aplicação dos três meses do protocolo experimental, não comprovado pela análise estatística. O parâmetro Estado geral de saúde apresentou aumento após o protocolo de ginástica laboral. 254 Quando traçada a média geral em todas as dimensões do SF-36, foi encontrado um aumento na pontuação após o período experimental (Gráfico 1). Tabela 1- Frequência cardíaca antes, durante (7 minutos) e 1 minuto após o final dos 15 minutos de ginástica laboral apresentados em média e desvio padrão. Antes Durante (7minutos) Final (Após 1 minuto) 76,2±9,5 94,3±15,1 81,8±12,2 Tabela 2- Diversos domínios do questionário SF-36 pré e pós a interferência de 3 meses de ginástica laboral apresentados em média e desvio padrão. n=10 Limitação Capacida por de aspectos funcional físicos Dor Estado Aspectos geral Aspectos emociona Saúde De saúde Vitalidade sociais is mental PRÉ 96,1±4,2 86,1±22 96,1±6,5 100,0±0 PÓS 81,1±27,3 77±13,9 87,4±10,3 88,3±8* 80,6±11,6 86,9±17,8 74,2±32,4 83,6±17 83,9±8,9 90,3±14,9 96,3±11 85,3±9,8 * p<0,05 Gráfico 1. Média do questionário SF-36 pré e pós a interferência de 3 meses de ginástica laboral. n=10. *p<0,05 120 * 100 80 60 40 20 0 INÍCIO APÓS 3 MESES 255 DISCUSSÃO Os efeitos do exercício físico para a população são alvo de diversos estudos, visto que o sedentarismo é considerado um dos maiores fatores de risco de nossa sociedade. Dentro das empresas, o alto índice de afastamentos por lesões (LER/DORT), efeitos negativos do estresse e piora na qualidade de vida dos colaboradores levou a implantação de sessões de exercícios físicos dentro da empresa, durante o turno de trabalho. O efeito da ginástica laboral é foco de grande interesse para comprovar a existência de seus benefícios. No presente estudo, foi avaliada a frequência cardíaca média durante a sessão de ginástica e foi verificado um aumento de 24% da frequência cardíaca de repouso alcançando 48% da frequência cardíaca máxima. A avaliação deste parâmetro é importante para confirmar a ação do exercício na aceleração de batimentos cardíacos, demonstrando que o exercício realizado durante a ginástica pode ser considerada leve(6). Quanto aos valores encontrados na aplicação do questionário SF-36, não foi encontrada diferença no parâmetro capacidade funcional. A capacidade funcional é definida como a capacidade do indivíduo realizar as atividades cotidianas de forma independente, incluindo atividades ocupacionais e recreativas, ações de deslocamento e auto cuidado (7). A idade dos participantes pode não ter tido influencia na alteração dos valores deste parâmetro, visto que é uma população jovem (26 anos). Nos parâmetros limitação por aspectos físicos, dor, vitalidade, aspectos emocionais, aspectos sociais e saúde mental foi observada tendência a aumento após o período experimental. É esperado que os praticantes de atividade física sintam-se menos limitados em aspectos físicos e sintam aumento da vitalidade, pois, no caso da ginástica laboral são realizadas atividades que contribuem para aumento da flexibilidade como alongamentos e relaxamento, leve melhora na capacidade aeróbia, força muscular e coordenação motora através das atividades nela realizadas (8, 9). A melhora nos aspectos emocionais, sociais e saúde mental encontradas neste estudo, apesar de não serem confirmadas pela análise 256 estatística, também estão de acordo com a literatura, visto que a atividade física contribui para a diminuição dos efeitos negativos da ansiedade, estresse, depressão, irritabilidade, aumentando autoconfiança e contribuindo para cooperatividade no trabalho em grupo (10,14). Um estudo prévio demonstrou que a ginástica laboral aumentou a produtividade do trabalho mental em estudantes (11). A diminuição na dimensão dor encontrada no presente estudo, possivelmente está relacionada na diminuição das lesões por esforço repetitivo (LER) e dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) encontrados na literatura (12). O mesmo fator pode ter influenciado na dimensão estado geral de saúde, em que o protocolo de treinamento causou melhora significativa nos participantes. A melhora global na saúde de praticantes de atividade física é clássica (8) e o estudo atual demonstrou melhora na percepção de estado geral de saúde nos praticantes de ginástica laboral. Foi verificada, no presente estudo, melhora na média geral das dimensões do questionário SF-36 após o período experimental, demonstrando haver melhora na qualidade de vida dos funcionários. Estudos prévios também identificaram melhora na qualidade de vida verificada através do SF-36 após aplicação de um protocolo de atividade física (13, 14). Conclui-se, então, que a aplicação de três meses de ginástica laboral melhorou a qualidade de vida em funcionários de indústria, principalmente, na dimensão estado geral de saúde. REFERÊNCIAS Bouchard C, Stevens T, Shephard RJ. Proceedings from the 1992 International Conference on Physical Activity, Fitness and Health. Champaign, Illinois: Human Kinetics Publisher, 1994. 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Escores de depressão, ansiedade e qualidade de vida em idosos após um programa de exercícios aeróbios Rev. bras. psiquiatr;27(4):266-271, dez. 2005. 258 CAPÍTULO XII GINÁSTICA LABORAL E CONTROLE DA ANSIEDADE EM TELEFONISTAS Maurício Gattás Bara Filho Lamartine Pereira DaCosta Heglison Custódio Toledo INTRODUÇÃO A atividade física é considerada, dentre outros fatores, um importante elemento na promoção da saúde e qualidade de vida da população. Vários estudos demonstram que o sedentarismo ou a falta de atividade física, juntamente com o fumo e a dieta inadequada, são fatores de risco associados ao estilo de vida, o que pressupõe aumento substancial no risco de desenvolver /agravar várias doenças, principalmente, as de natureza crônicodegenerativa, como cardiopatias, câncer, hipertensão, diabetes melito e obesidade (Bara Filho et al., 2000; Bernardini et al., 2004; Cerin et al. 2005; Fontaine et al., 2005; Hu et al., 2005; LaMonte et al., 2005;. Mello et al., 2000; Nemet et al., 2005; Shrier e Kahn, 2005; Young et al., 2005). Juntamente com o aumento da incidência dessas doenças ligadas ao sedentarismo, o estresse psicofísico é, atualmente, considerado um dos maiores problemas da saúde pública no mundo, influenciando o comportamento de toda sociedade e de importantes grupos como os trabalhadores. Estes são submetidos a pressões tanto físicas (ex: desgaste orgânico gerado por sucessivas horas de trabalhos) quanto psíquicas (ex: sustento econômico, empregabilidade, estabelecimento de metas), influenciando diretamente no estilo de vida desses indivíduos, de suas famílias e, principalmente, na disponibilidade para opções de lazer e da prática de atividades físicas. Um importante método para o controle do estresse psicofísico é a prática da atividade física regular ou assistemática como forma de lazer. O 259 exercício físico, segundo Brown(1990), está diretamente relacionado com uma boa saúde mental, significando humor elevado e ausência de problemas como ansiedade e depressão. Apesar dessa importância, o nível de prática de atividades físicas em diferentes populações está muito aquém da real necessidade dos indivíduos mesmo em populações teoricamente mais esclarecidas. Bara Filho et al.(2000) e Silva et al. (2007) analisaram a prática regular de atividade física através de questionários aplicados em graduados e mestres em Educação Física e verificaram que atividade física não é um hábito corriqueiro na maioria dos profissionais em questão. Dentro da realidade do trabalhador, uma empresa que oferece programas diretamente elaborados para seus trabalhadores pode gerar em diversos benefícios tanto para a empresa como para seus empregados gerando um aumento do bem-estar e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores, viabilizando um uso sadio do tempo livre fora da empresa. A prática da atividade física no local de trabalho e dentro do expediente pode com seu crescimento transformar-se numa nova tendência e possibilidade de exercícios físicos e lazer aos trabalhadores: suprindo problemas da atualidade como a falta de tempo e local adequado. Entre os benefícios da atividade física na empresa, conforme DaCosta & Pegado (1990), pode-se destacar: Melhoria e promoção da saúde; Maior benefício e segurança social; Humanização do local de trabalho atingindo a sociedade; Melhoria do desempenho profissional; Diminuição de acidentes de trabalho, rotatividade e absenteísmo; Aumento da produtividade e qualidade do trabalho; Controle do “stress”; Melhoria da Qualidade de Vida. 260 Além disso, Andrade et al. (1993) afirmam que a aptidão física dos indivíduos é um dos principais indicadores da saúde de um país, levandonos a concluir que um programa de atividades físicas é um elemento importante na promoção da saúde da população. No ambiente empresarial, a promoção da saúde através de atividades físicas pode ser justificado numa perspectiva de saúde pública, acarretando melhoria na qualidade de vida da população (Lovato, Green e Stainbrook, 1995). Para Landers (1994), a relação entre a atividade física e o estresse está bem estabelecida. Segundo Wrisberg (1994), esta relação encontra-se entre a ativação emocional e a performance motora. O exercício físico está diretamente associado com benefícios psicofisiológicos que permitem ao indivíduo melhor lidar com o estresse, pois tipos e dosagens específicas de exercícios estão associados ao decréscimo da reatividade ao estresse. Observa-se, com isso, um crescente interesse na importância de estudos que relacionem a atividade física com a saúde mental e com as respostas psicofisiológicas a vários estressores (Berger, 1996 e Brown, 1990). Além desses fatores, uma população que ainda merece ser estudada com mais cuidado é a das trabalhadoras mulheres, universo este que vem crescendo. Essa mulheres possuem uma dupla jornada de trabalho (trabalho formal e serviços em casa) sugerindo uma dupla carga de estresse, o que torna este grupo-alvo prioritário nos estudos sobre estresse e nos estudos de condições sociais para a disponibilização do lazer. No presente estudo, a variável do estresse avaliada será a ansiedade-estado que caracteriza-se pelo nível excitação momentâneo variável conforme as circunstâncias. Pode-se dizer que é o componente mutável da ansiedade. Caracteriza-se por um sentimento subjetivo, conscientemente percebido de apreensão e tensão, associados à ativação do sistema nervoso autônomo e gerando reações psicofisiológicas como taquicardia, tremores e sudorese excessiva (Miranda e Bara Filho, 2008). 261 Isto posto, a presente investigação teve como objetivo verificar a influência da atividade física no controle dos níveis de ansiedade-estado em mulheres trabalhadoras. Metodologia O presente estudo caracteriza-se por uma pesquisa Ex Post facto, pois a seleção dos grupos experimental e controle ocorreu após a introdução da variável experimental - atividade física (Lakatos e Marconi, 1986). Uma das vantagens dessa metodologia é que os indivíduos pesquisados não podem ser influenciados pelo objeto da investigação, pois não sabem que estão sendo testados e sua exposição à variável experimental ocorreu antes de se selecionar a amostra (Lakatos e Marconi, 1986). Amostra A população se constituiu por 30 telefonistas, exclusivamente mulheres aderiram ao Programa de Ginástica na Empresa - SESI/MG, cinco meses antes da aplicação dos instrumentos. As 30 telefonistas foram divididas igualmente nos seguintes grupos: Experimental – mulheres que participavam do PGE; Controle – mulheres que não participavam do PGE. Estas trabalhadoras foram escolhidas por exercerem uma função laboral caracterizada por alta repetitividade de movimentos, tensão excessiva (por serem responsáveis pelo recebimento de reclamações dos consumidores) e uma postura estática no trabalho. Outro fator a ser considerado é a complexidade da tarefa, já que as telefonistas necessitam ouvir, falar, digitar e olhar na tela do computador simultaneamente. Todas estas características citadas favorecem o aparecimento do estresse psicofisiológico, gerando altos níveis de ansiedade estado. Os instrumentos de pesquisa utilizados foram os seguintes: 262 Questionário estruturado a fim de obter informações gerais da população como dados pessoais, tempo e carga horária de trabalho, meio de transporte, realização de atividades físicas e tarefas domésticas e o ambiente de trabalho. Inventário de Ansiedade-estado de Spilberger aplicado durante o expediente de trabalho e, posteriormente, na casa das telefonistas após a realização de todas suas tarefas domésticas. Este teste possui uma escala de pontos que varia de 20( ansiedade mais baixa) a 80( ansiedade mais alta) e mede como a pessoa está se sentindo no momento de sua aplicação. Sua aplicabilidade concerne aos efeitos do exercício sobre o estresse de acordo com proposições de Brown (1990). Por outro lado, Landers(1994) afirma que o Distress (estresse negativo) tem sido referenciado pela literatura da Psicologia do Esporte e do Exercício como ansiedade-estado. Isto justifica a aplicação do instrumento na medição do estresse. O Programa Ginástica na Empresa (PGE) do SESI (Serviço Social da Indústria) era oferecido aos trabalhadores objetivando diversos benefícios como a promoção da saúde, integração entre os praticantes e a melhoria do ambiente profissional. Define-se este programa por uma prática voluntária de atividades físicas realizadas coletivamente, dentro do próprio local de trabalho e durante a jornada diária, fundamentando-se no momento da pesquisa nos exercícios e nas condições que se seguem: A atividade deve ser realizada diariamente; Duração entre 8 e 12 minutos; As séries são elaboradas e supervisionadas por um professor de Educação Física e dirigidas por um monitor( trabalhador); As séries constituem-se de aquecimento articular e alongamentos, exercícios que desenvolvam força, flexibilidade, coordenação e resistência, exercícios respiratórios, relaxamento e deslocamentos quando o espaço permitir. Não há necessidade de roupa específica; 263 As séries são modificadas temporariamente; Os exercícios devem exigir uma baixa intensidade de esforço, evitando grandes variações nas frequências cardíaca e respiratória. Os resultados da presente investigação apresentaram alguns dados gerais demonstrados por suas médias: Tabela 1 – Dados gerais da amostra Idade(anos) Tempo trabalho (anos) G.experimental 31,5 8,1 G. controle 36,0 11,0 Geral 33,8 9,5 Os dados apresentados Realiza atividade física além do PGE Sim = 20% Não = 80% Sim=26,7% Não=73,3% Sim=23,3% Não=76,7% na Tabela 1 Realiza tarefas domésticas Sim = 86,7% Não = 13,3% Sim = 80% Não = 20% Sim = 83,3% Não= 16,7% corroboram alguns pressupostos e estudos (Bara Filho et al., 2001 e Santos et al, 2007) como o fato de uma grande parcela da população ser sedentária demonstrado pelos 77,6% que não realizam atividades físicas além do PGE. Outro fator importante é a constatação de que 83,3% das mulheres trabalhadoras realizam tarefas domésticas, confirmando a existência de uma dupla jornada de trabalho (empresa e domicílio), aumentando a possibilidade do aparecimento do fenômeno do estresse. Com relação ao ambiente de trabalho, verifica-se que 76,67% das trabalhadoras declaram que esse melhorou após a introdução do PGE. Fato este que corrobora com a literatura de DaCosta e Pegado(1990) e Shephard(1995). A relação atividade física com a ansiedade-estado apresenta as seguintes médias em pontos: 264 Gráfico 1 – Média (em pontos) do nível de ansiedade-estado de mulheres trabalhadoras Pode-se observar na Figura 1, que o nível de ansiedade-estado fora do trabalho era semelhante nos dois grupos (31,5 pontos no experimental e 31,8 no controle) não apresentando diferenças estaticamente significativas (p>0,05). No entanto, ao se analisar o nível de ansiedade-estado dentro do local de trabalho, as mulheres que realizavam a ginástica apresentam um menor nível de ansiedade-estado (38,8 pontos) em relação ao grupo controle (42 pontos). Através do teste “t” de Student verificou-se uma diferença estatisticamente significativa entre os grupos (p<0,05). Além disso, essa diferença de 3,2 na escala de Spilberger na ansiedade-estado no trabalho confirma os dados de Dishman(1994) que afirma a diferença no nível de ansiedade ser de apenas aproximadamente 2 a 3 pontos dentro de uma variação normal na escala de 20 a 80 pontos. CONCLUSÃO O propósito deste estudo foi avaliar a influência de um programa de atividades físicas realizado em empresas sobre os níveis de ansiedadeestado tanto no ambiente de trabalho quanto no dia-a-dia de mulheres trabalhadoras. 265 A principal confirmação do estudo foi o fato da atividade física poder ser considerada um mecanismo mediador do estresse do trabalho mesmo quando há uma dupla jornada ocupacional, caso comum entre as mulheres trabalhadoras. Além dos benefícios psicofisiológicos apresentados, a maioria das trabalhadoras (mesmos as não participantes) consideraram que houve melhoria do ambiente profissional. Isto influencia diretamente no bem-estar pessoal das respondentes, contribuindo para a humanização do local de trabalho, para a redução do estresse e, pretensamente, na busca de interesses de lazer. Observou-se o fato de que a maioria da população feminina estudada ser sedentária, um dos maiores problemas atuais e potencializador, principalmente quando associado a diversos problemas de saúde. Dentro deste contexto, fica exposto que as empresas devem realmente investir num programa de atividades físicas para seus trabalhadores, pois diversos benefícios são adquiridos para a empresa como um todo e, principalmente, para os trabalhadores. REFERÊNCIAS ANDRADE, D.R. et alii(1993). Modelo Biológico para Diagnóstico de salud y prescripcion de Actividad Física. Archivos de Medicina del Deporte. 2(37): 35-48. BERGER, B.G.(1994). Coping with Stress: The efectiveness of Exrcise and Others Techniques. Quest. 46: 100 – 119. _____________ (1996). 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Neste sentido, objetivou-se com este artigo tecer algumas reflexões sobre o panorama da GL no Brasil, procurando evidenciar as características e relações entre o mercado de trabalho, o contexto metodológico e o perfil do profissional atuante nesta área. Também foi abordada a relação da Ginástica Laboral com a Ergonomia, a qual se mostra como uma estratégia efetiva para viabilizar a melhora do ambiente de trabalho e da qualidade de vida do trabalhador. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Laboral; Mercado de Trabalho; Educador Físico ABSTRACT The Labor Gymnastic (GL) has been the objective of countless discussions because of its methodological approach and effectiveness role in prevention of occupational diseases. This article objectives to reflect about LG in Brazil, to evidence the characteristics and relationships among the market, the methodological context and the active professional's profile in this area. Also, it considers the Labor Gymnastic´s relationship with Ergonomics, which is shown as an effective strategy to improve of the atmosphere at work and the quality of the worker's life. KEY-WORDS: Labor Gymnastics; Market; Physical Educator 271 RESUMEN: La Gimnasia Laboral (GL) tiene sido objeto de innumeras discusiones acerca de su abordaje metodológico y su empleo eficaz en la prevención de las dichas enfermedades ocupacionales. En este sentido, objetivamos con este artículo discurrir con respecto a algunas reflexiones sobre el panorama de la GL en Brasil, procurando evidenciar las características y relaciones entre el mercado de trabajo, el contexto metodológico y el perfil del profesional injerido en esta área. La relación entre la Gimnasia Laboral y la Ergonomía ha igualmente sido abordada, esta última mostrándose como una estrategia efectiva para viabilizar el mejoramiento del ambiente de trabajo y de la calidad de vida del trabajador. PALABRAS-LLAVE: Gimnasia Laboral; Mercado Laboral; Educador Físico INTRODUÇÃO O relógio, ícone dos dias atuais, “move” o tempo para frente. Os homens, envolvidos, voam atrás do tempo que não desejam perder. O tempo, em sua excelência se apresenta em uma sensação de que passa ainda mais rápido. Nessa eterna luta contra o tempo, os seres humanos desgastam suas relações interpessoais, comportando-se de forma cada vez mais fria, dura e impessoal. A rapidez é essencial na vida moderna. O homem, então, constrói máquinas para agilizar e apressar a sua vida. Surgem as grandes indústrias, com o seu massacrante processo de reprodução mecânica (RIBEIRO, 2000). A revolução industrial foi importante para o progresso e o desenvolvimento da tecnologia, desencadeando grande concorrência entre os setores empresariais, fazendo com que cada vez mais as empresas procurassem se aperfeiçoar e melhorar os seus produtos. Dentro deste contexto está o trabalhador que começa a sofrer as consequências referentes a estas mudanças, pois foi este o fator desencadeador dos problemas laborais, como aumento da jornada de trabalho, lesões por esforços repetitivos (LER), distúrbios osteosmusculares referentes ao trabalho (DORT) e acidentes de 272 trabalho. Chaplin, em seu filme "Tempos Modernos", já relatava alguns destes problemas, como um acidente típico de trabalho, onde ele é engolido por uma engrenagem mecânica do maquinário da fábrica. É neste contexto, que no ano de 1925, na Polônia, foi registrado pela primeira vez na história a prática da Ginástica Laboral (GL), estendendo-se em seguida pela Rússia, Bulgária e Alemanha, até chegar ao Japão, país este em que a GL encontra um grande número de adeptos e passa a ser praticada em várias empresas. Desde então, a GL tem a preocupação de prevenir e/ou combater o surgimento das chamadas doenças ocupacionais geradas pelo processo de modernização dos sistemas produtivos. Dejours (1992) comenta que, quando o homem é condicionado ao comportamento produtivo pela organização do trabalho, acaba por adotar o mesmo comportamento fora dele; ou seja, são muitos os empregados que mantém um programa de tempo livre em que as atividades e o repouso são cronometrados. Nesse sentido, segundo Florindo (1988), a implantação de um programa de prática regular de exercícios físicos no ambiente do trabalho poderia ser uma alternativa para que os trabalhadores que não possuem tempo disponível para a prática de atividades físicas. Entretanto, o maior agravante decorrente da modernidade das organizações, tanto para o empregado quanto para o empregador, foi o surgimento de patologias no meio laboral. Para Musse (1989), o mais importante, no que concerne à patologia laboral, é evitar que a mesma chegue à fase clínica, etapa em que se torna difícil à cura. Para que para esta etapa seja evitada, existe a necessidade de verificação da organização do trabalho da empresa e de suas atividades de risco a ela relacionadas. Para se poder proporcionar um melhor relacionamento entre o homem e seu ambiente laborativo se faz necessário um estudo profundo de cada seção de trabalho, do quadro funcional, dos períodos de trabalho, da característica da organização e dos diversos setores (BARNES, 1963). Uma das formas de alterar a prevalência de comportamentos de risco nas populações de trabalhadores é através dos Programas de Promoção de Saúde no Trabalho. No Brasil, são poucas as iniciativas em larga escala 273 visando à promoção da saúde dos trabalhadores, a maioria das experiências é restrita a uma empresa, ou mais comumente, a um setor da empresa (BARROS; SANTOS, 2003). Uma das estratégias utilizadas em um Programa de Promoção de Saúde no Trabalho é a GL, a qual é definida por Cañete (1996) como “a atividade física programada realizada no ambiente e durante o expediente de trabalho”. Para Santos (2003), a GL tem sido alvo de inúmeras discussões quanto a sua aplicação metodológica, participação nos programas de promoção da saúde e certificação nos programas de qualidade total dentro das organizações. Sendo assim, busca-se com este artigo tecer algumas reflexões sobre o panorama da GL no Brasil, procurando evidenciar as características e relações entre o mercado de trabalho, o contexto metodológico e o perfil do profissional atuante nesta área. O PANORAMA DA GL Atualmente, a GL vem passando por uma fase de crescimento cada vez mais evidente em todo o país, quadro que é evidenciado pela grande quantidade de profissionais que estão trabalhando neste setor, principalmente em grandes agroindústrias, como em Santa Catarina, ou seja, a GL representa uma “fatia” do mercado de trabalho em ascendência e expansão para os profissionais da Saúde, especialmente para os profissionais de Educação Física e de Fisioterapia. No Brasil, a implantação da GL acontece em indústrias dos mais diversos ramos, dentre elas podem-se citar as indústrias de extração de petróleo, as metalúrgicas, indústrias têxteis, madeireiras, terminais portuários, setor de extração mineral, alimentação, transporte, hidrelétricas, papelaria, indústria cerâmica, agroindústrias, call centers e setores de programação de computadores. Um grande incentivador e promotor da GL no Brasil é o Serviço Social da Indústria/SESI, o qual coordena vários programas e ações nesta área (LIMA, 2003). O SESI foi o pioneiro do programa de Ginástica na Empresa e, 274 em Santa Catarina, por exemplo, é a instituição que detém o maior espaço, em termos quantitativos, no que se refere à GL. O programa de GL do SESI em Santa Catarina teve início na cidade de Blumenau, em 1998, e, atualmente, atende mais de 176 empresas, com aproximadamente 40 mil praticantes espalhados em todas as regiões do Estado. Na capital do estado de Santa Catarina, são aproximadamente 14 empresas conveniadas, com 3200 praticantes. Segundo um levantamento da Gerência de Lazer na Empresa do SESI Nacional, em todo o país são atendidas aproximadamente 1304 empresas, com a participação de 554,8 mil trabalhadores. A expectativa da instituição é que, com um processo de remodelação e aperfeiçoamento do programa, estes números cresçam, pelo menos, 50% até o final de 2005 (SESI, 2004). Segundo Militão (2001), a abertura econômica iniciada no governo Collor forçou um aumento da competitividade e as empresas brasileiras tiveram que reagir para se manterem no mercado. Os empresários passaram por um processo de modernização do pensamento e se viram na obrigação de investir mais em programas de prevenção e manutenção da saúde, objetivando a qualidade de vida de seus funcionários e, ao mesmo tempo, a redução de gastos com seguros, e processos de seleção e treinamento de substitutos dos funcionários afastados do trabalho por doenças ocupacionais. Com este quadro, a GL passou a ser mais procurada nos últimos anos e surgiram várias empresas oferecendo esses serviços diferenciando, entretanto, em quem orienta a GL. Algumas oferecem a ginástica diretamente orientada por um professor ou estagiário de Educação Física, outras oferecem treinamento aos funcionários da própria empresa contratante para orientar a ginástica, os chamados facilitadores. Para Alvarez (2004), houve, desde 1997, uma abertura de mercado em Florianópolis no que se refere à GL; uma vez que os primeiros contratantes expressaram sua satisfação e percepção positiva baseada na diminuição do índice de absenteísmo de seus colaboradores. Conforme entrevista feita com os responsáveis por programas de GL no estado de Santa Catarina, observou-se que mais de 50% das empresas que 275 participam de programas de GL são orientadas por facilitadores e que estes não recebem designação de profissionais de Educação Física, não são remunerados para executar esta tarefa, são trabalhadores das empresas onde existe o programa de GL – escolhidos, treinados, orientados e supervisionados por um professor de Educação Física, responsável pelo programa (MILITÃO, 2001). Para Pegado (1990), algumas empresas experimentam resultados frustrantes em seus programas de GL, porque os orientadores não estavam preparados para conduzir e administrar adequadamente a aplicação da GL, porém, os contratantes não fazem distinção entre o uso de facilitadores ou de profissionais de Educação Física. Schmitz (1990) comenta que em um estudo feito pela FEEVALE em Novo Hamburgo, no estado do Rio Grande do Sul, quando foi implantado um programa de GL compensatória orientado por monitores, acadêmicos do curso de Educação Física, somente duas das cinco empresas que iniciaram o programa permaneceram com a prática da GL compensatória, apesar dos resultados terem sido positivos; o custo foi a principal questão colocada pelos demais empresários para a não continuidade do programa em suas empresas, uma vez que, com o final do projeto, os monitores teriam que ser contratados pelas empresas. Militão (2001), Soares e Assunção (2002) e Cañete (1996) colocam que os programas de GL acompanhados constantemente por profissionais capacitados, sejam eles professores de Educação Física ou fisioterapeutas, têm melhores resultados e adesão do que programas que utilizam multiplicadores de exercícios. Investigações voltadas para o estudo da percepção que trabalhadores que realizavam GL tinham desta prática, realizadas por Soares e Assunção (2002), confirmando também o que foi encontrado por Militão (2001), trazem que um dos motivos para redução na adesão e nos benefícios dos exercícios é a falta do acompanhamento constante de um profissional da área. Sobre este assunto, Pellegrinotti (1998) defende a grande necessidade da orientação adequada de uma prática de atividade física, que atenda aos objetivos propostos e aos anseios do público alvo em relação à saúde. Dentro da mesma perspectiva, Pimentel (1999), 276 referindo-se aos programas conduzidos por monitores, critica essa prática e defende o acompanhamento profissional constante, promovendo com isso a possibilidade de formação de consciência corporal engajada com o real bemestar do trabalhador. Segundo Alvarez (2004), existe uma grande quantidade de profissionais trabalhando com GL atualmente sem estarem devidamente registrados em seus conselhos profissionais, no caso da cidade de Florianópolis existem, aproximadamente, 24 empresas atuantes na área de GL, sendo que, em apenas 4 destas, os profissionais de Educação Física estão regularizados com seu conselho (CREF3, 2004). Este quadro sugere que, das empresas sem registro no sistema CONFEF/CREF, fazem parte profissionais atuantes no mercado que não estão sujeitos à fiscalização da instituição competente, fato que pode repercutir de forma negativa na qualidade do serviço prestado e, consequentemente, nivelar abaixo do esperado a atuação profissional com relação à GL, seja através de orçamentos abaixo do condizente com o serviço ofertado, com intervenções inadequadas ou com a oferta de uma equipe formada através da contratação de estagiários sem formação acadêmica suficiente para a aplicação da GL. Para Cañete (1996), a GL pode fornecer vários benefícios para a empresa e para o empregado, dependendo da competência, grau de conscientização e postura ética adotada pelos profissionais que a conduzem. Targa (1973) complementa dizendo que a GL pode ser um instrumento de alto valor educativo ou poderá produzir lesões e qualidades físicas e morais negativas, dependendo do profissional que a oriente. O quadro promissor apresentado anteriormente referente à GL levou a um aumento no número de contratações de profissionais de Educação Física para aplicá-la – temos o exemplo do SESI, que contrata somente profissionais de Educação Física para o trabalho com GL; entretanto, estas contratações são, predominantemente, para que a atuação deste profissional seja voltada especificamente para a aplicação da GL, ou seja, não existe a implantação de um Programa de Promoção da Saúde do Trabalhador que seja baseado nos princípios da Ergonomia. Este quadro nos leva aos seguintes questionamentos: 277 A GL, quando utilizada como prática isolada dentro do ambiente de trabalho, não acaba funcionando como uma estratégia de marketing da empresa contratante, uma vez que fica evidenciada a “preocupação” do empregador com a saúde e qualidade de vida do trabalhador? A utilização da GL não seria um “álibi” da empresa para se defender do Ministério do Trabalho, no caso de denúncia pelo funcionário, da existência de quadro patológico decorrente do trabalho? Esta abordagem pontual é suficiente para resolver as necessidades do trabalhador na sua relação com o ambiente de trabalho? Segundo Logen (2003), para que a GL mostre-se eficaz e efetiva, fazse necessária a análise ergonômica do trabalho, pois sem ela a GL seria apenas um paliativo momentâneo, já que alguns minutos de alongamento e relaxamento não seriam capazes de atuar com eficácia sobre a má postura ocasionada por um mobiliário anti-ergonômico ou tarefas deficientemente prescritas, realizadas durante seis, oito ou mais horas. Seguindo a mesma linha de pensamento, Reis e Moro (2003) colocam que a Ergonomia exerce uma importante função no meio de trabalho, sendo necessária a associação da GL com a prática ergonômica, ou seja, conhecer o perfil profissiográfico do trabalhador, especialmente as ações e exigências gestuais e posturais adotadas no trabalho através do suporte de uma análise ergonômica do posto de trabalho, para que seu sucesso seja alcançado. Entretanto, segundo Alvarez (2004), atualmente as empresas contratantes ainda se mostram reticentes com relação aos gastos de um Programa de Promoção de Saúde no Trabalho, optando por contratar empresas de GL que se atenham a aplicar sessões de GL aos seus colaboradores, sem priorizar o enfoque ergonômico da intervenção. Os profissionais de Educação Física que atuam em Programas de Promoção da Saúde do Trabalhador baseados em um enfoque ergonômico e que utilizam a GL como estratégia de intervenção deixam claro: para que se possa obter um resultado satisfatório e consistente no sentido da real melhora geral das capacidades físicas e mentais das pessoas em geral (dentre elas se 278 incluem os trabalhadores) é preciso um planejamento conjunto, que passa por uma mesa de negociações - da qual devem fazer parte todos os interessados (representante dos funcionários, comissão da CIPA, profissionais e as gerências); seria uma espécie de pacto corporativo para a promoção da saúde. Existe atualmente uma gama de profissionais atuando na área ergonômica; entretanto, neste trabalho com profissionais de diferentes formações enfermeiros, (educadores assistentes físicos, sociais, fisioterapeutas, engenheiros, médicos do psicólogos, trabalho, designers, administradores, engenheiros de segurança, entre outros) ainda acontece uma ação incipiente, superficial e multidisciplinar. Torna-se evidente a necessidade da formação de uma equipe interdisciplinar para desenvolver um trabalho significativo nos Programas de Promoção de Saúde no Trabalho (SANTOS, 2003). O CONTEXTO METODOLÓGICO DA GL A presença do enfoque ergonômico embasando o programa de GL na empresa, aparentemente, não é o que prevalece no panorama da GL no Brasil. A princípio, o que se apresenta é uma prática baseada em sessões de GL do tipo preparatória e compensatória – existem casos pontuais de utilização de GL do tipo corretiva; com frequência variando entre 2 a 5 vezes por semana, de 1 a 4 vezes por dia e com tempo de duração entre 5 e 15 minutos. Para Alvarez (2004), o tempo de duração curto, característico das sessões de GL, dificulta a inclusão do trabalho de fortalecimento muscular nas séries de exercícios, uma vez que as necessidades dos colaboradores, geralmente, se concentram nas queixas de dor e desconforto corporal decorrentes da má postura e do excesso de trabalho muscular. A colocação da autora pode explicar o fato de as sessões de GL serem constituídas, predominantemente, por exercícios de alongamento, relaxamento e, ocasionalmente, fortalecimento muscular; além de palestras e estratégias específicas com intenção de garantir um diferencial no serviço ofertado – ex: entrega de artigos; caminhadas ecológicas e gincanas; avaliação morfo- 279 funcional; organização de SIPAT; curso de transporte/levantamento/manuseio de carga; análise ergonômica do trabalho; mapa de risco; testes admissionais; integração ao ambiente de trabalho e dinâmicas voltadas à mudança de comportamento (alimentação, gerenciamento de stress, comportamento preventivo e relacionamentos). Segundo Alvarez (2004), as características da GL dependem da gerência da empresa contratante, do risco ergonômico do trabalho, das peculiaridades do setor e das necessidades dos colaboradores. Baseados nestas informações surgem alguns questionamentos: A utilização isolada da GL é eficaz para combater a incidência das LER/DORT nas empresas contratantes? É possível que a dedicação de alguns minutos para exercícios de alongamento, relaxamento e dinâmicas de grupo no local de trabalho afastem o estresse, as tensões musculares e alterem o estilo de vida do trabalhador? O tempo diminuto alocado para a prática da GL não seria uma falha metodológica, uma vez que dificulta a realização de enfoques/técnicas propostas e o acontecimento dos mecanismos fisiológicos necessariamente presentes no trabalho de alongamento muscular, principalmente quando o mesmo objetiva a melhora da flexibilidade – questões tão difundidas na literatura? Para Longen (2003), a GL é apresentada por alguns autores como uma medida preventiva eficaz para LER/DORT. Por outro lado, segundo Reis e Moro (2004) somente a prática de alongamentos, sem a melhoria dos métodos organizacionais, poderá prejudicar o bom andamento do projeto GL. Esses autores consideram que a GL de forma isolada não alcança êxito na prevenção, devendo ser associada a várias outras medidas, simples, mas fundamentais, como a volta de férias com ritmo gradativo e rodízio de tarefas, se faz necessária para que o trabalhador tenha no seu meio laboral um ambiente confortável e seguro para o pleno exercício de suas atividades. 280 Já Couto (1988) coloca que as pausas existentes no trabalho repetitivo são, de certa maneira, baseadas em comportamentos, quando na verdade fisiologicamente não se sabe o momento mais favorável de sua execução e tampouco a duração das mesmas. Portanto, as práticas corporais adotadas nos programas de GL devem ser orientadas a partir do estudo sistemático de ergonomia, em que pese as exigências e as características sócio-técnicas do respectivo ambiente de trabalho. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados apresentados levam a crer que existe uma abertura do mercado no Brasil para a atuação do profissional de Educação Física na área da Saúde do Trabalhador, mais especificamente através da GL. Entretanto, fica evidente que o profissional ainda atua com uma abordagem paliativa, em função das características das sessões de GL e uma vez que grande parte das empresas contratantes ainda não garante estrutura física e financeira para a implantação de Programas de Promoção da Saúde do Trabalhador, impossibilitando a inserção desta estratégia em uma abordagem mais global. Acredita-se que, aos poucos, a cultura empresarial brasileira, para a qual todas as ações precisam se justificar economicamente de acordo com os lucros que devem angariar está mudando. Espera-se que esta mudança repercuta de forma positiva na relação entre empresas contratantes e profissionais de Educação Física, possibilitando, assim, através da GL, a qual é, definitivamente, uma das estratégias da Ergonomia para auxiliar na melhora da qualidade de vida dos trabalhadores, a garantia desta área promissora para os profissionais de Educação Física. Além disso, mostra-se necessária a atuação fiscalizadora do sistema CONFEF/CREF, no sentido de balizar e nivelar a atuação do profissional de Educação Física na área da GL. Por último, lança-se o seguinte questionamento: de que forma profissionais de Educação Física podem efetivamente contribuir para mudar o contexto atual em que a GL está inserida, para que a sua utilização leve efetivamente a resultados significativos na promoção da saúde do trabalhador? 281 Nesse sentido, espera-se que esta não seja mais uma pergunta sem resposta indefinidamente. REFERÊNCIAS ALVAREZ, B. R. Comunicação pessoal. 22 out. 2004. BARNES, R. Estudos de movimentos e tempos: projeto e medida de trabalho. São Paulo: Edgard Blücher, 1963. CAÑETE, I. Humanização: Desafio da Empresa Moderna – a ginástica laboral como um novo caminho. Porto Alegre: Foco, 1996. COUTO, H. A. As tenossinovites ocupacionais. Informativo ABERGO, n.31, 1988. CREF3/SC. Conselho Regional de Educação Física – Santa Catarina. Disponível em: <http://www.crefsc.org.br>. Acesso em: 15 set. 2004. DEJOURS, C. A loucura do trabalho. 5 ed. São Paulo: Cortez, 1992. FLORINDO, A. A. 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A ilusão da ginástica laboral preparatória na prevenção de doenças ocupacionais em trabalhadores que 282 executam tarefas com ciclos repetitivos In: Anais XIII Congresso Brasileiro de Ergonomia, 2004, Fortaleza,: ABERGO, 2004. REIS, P. F.; MORO, A. R. P. The prevention of occupational diseases in workers of repetitive cycles: the association of the ergonomic knowledge to the stretch break. FIEP Bulletin, Foz do Iguaçu, v.74, 2004. RIBEIRO, D. Tempos modernos: o fim de Carlitos e do cinema mudo em Chaplin. Disponível em: <http://geocities.yahoo.com.br/d10g0/ofimdecarlitos.htm>. Acesso em: 23 out. 2004. SANTOS, J. B. Programa de exercício físico na Empresa. 2003. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. SCHMITZ, J. C. Ginástica laboral compensatória: relato de experiência em Novo Hamburgo. 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Esta imagem se cristaliza mais quando o profissional não tem condições de fundamentar a sua prática, através de um corpo específico de conhecimentos que o possibilite a dar uma sustentação acadêmico-científica às suas ações. Todavia, é necessário reconhecer que a própria Educação Física tem contribuído para este perfil. Os cursos de preparação profissional espelham em sua grade curricular a ênfase dada às disciplinas orientadas para as atividades em comparação às de abordagens teóricas. A Educação Física, durante longo período, esteve mais voltada para aspectos relacionados ao ensino e à prestação de serviços do que à estruturação de um corpo específico de conhecimentos (Tani, 1996). Atualmente, este fator acadêmico é mais emergente e solidificado através de estudos e pesquisas possibilitando fundamentar cientificamente os conhecimentos em nossa área. Esta nova perspectiva sofreu, sem dúvida, implicações diretas das discussões acadêmicas sobre a caracterização da Educação Física enquanto uma disciplina acadêmica (Henry, 1964). Discussões que se iniciaram na década de 60, nos Estados Unidos, e que repercutiram fortemente no Brasil na década de 80 e promoveram inúmeras e profundas modificações tanto a nível acadêmico quanto na própria preparação profissional (Manoel, 1986; Mariz de Oliveira, 1988). No tocante a este último aspecto, preparação profissional, as instituições de nível superior em Educação Física cada vez mais se veem comprometidas em oferecer aos seus alunos uma preparação de qualidade que os possibilite atuar de forma consciente face às necessidades do mercado 284 de trabalho, não como meros artesãos, mas como profissionais que fundamentam suas ações (Morford, 1972). Segundo Medina (1983, p. 86) "os profissionais da Educação Física, quaisquer que sejam as suas áreas de atuação, só se realizam na medida em que assumem plenamente o seu papel como agente renovador e transformador”. Para que isto ocorra é necessário que a proficiência profissional esteja relacionada ao domínio dos conhecimentos que fundamenta a prática e as habilidades e sensibilidades profissionais (Lawson, 1984). Neste processo dois fatores são fundamentais durante a preparação deste futuro profissional: a construção do conhecimento científico e a construção de uma reflexão crítica sobre este conhecimento. Só é possível alcançar estes dois fatores e a interação entre eles através da possibilidade que o ser humano tem de perceber, interpretar, optar e atuar no mundo. A racionalidade humana que permite transcender e ultrapassar o determinismo biológico através da consciência. Medina (1986) sintetiza as ideias básicas da teoria Freiriana sobre os graus de consciência através dos quais o ser humano tem a possibilidade de interferir, interagir com o mundo e que são: 1) a consciência intransitiva; 2) a transitiva ingênua e 3) a transitiva crítica. A consciência intransitiva é caracterizada e restrita às percepções que são biologicamente vitais para o indivíduo; a consciência transitiva ingênua permite ultrapassar os limites vegetativos ou biológicos, porém, limita-se às interpretações simplistas e argumentações inconsistentes dos fenômenos e, finalmente, a consciência crítica que possibilita ao indivíduo transcender à superficialidade dos fenômenos, a interpretar e argumentar apoiando-se em conhecimentos fundamentados e a assumir ações críticas e eficazes. Portanto compete ao aluno, futuro profissional, o exercício fundamental deste ritual de passagens da consciência, pois, é a consciência que possibilita a expansão do conhecimento e por outro lado, é o conhecimento que amplia as percepções do indivíduo em relação a si mesmo, ao outro e ao mundo. Compete, porém, ao professor possibilitar e motivar este processo. Assim, o aluno pode ser agente ativo e não passivo no seu processo 285 de profissionalização no qual o conhecimento deve ser adquirido, entendido e transformado em verdade nas suas práticas profissionais. Esta prática não é a prática pura, é a prática objetivada pela teoria, é a prática fundamentada por um corpo específico de conhecimentos científicos e aprofundada por uma reflexão crítica. A produção deste corpo específico de conhecimentos é um processo contínuo e, contínua deve ser a busca deste conhecimento para fundamentar sempre a atuação do profissional. Assim, o projeto "Ginástica Laboral", desenvolvido junto a uma empresa multinacional pode se constituir em um relato desta prática fundamentada e busca contínua de conhecimentos. Este projeto possibilitou a interação entre universidade e comunidade, e o trabalho conjunto entre professor-aluno permitindo: 1) a implantação de um programa de Educação Física adequado às necessidades dos funcionários da empresa 2) o desenvolvimento de uma pesquisa aplicada e 3) o estágio de discentes nesta área do mercado de trabalho. Todos estes aspectos contribuíram para a produção e difusão de novos conhecimentos fundamentados cientificamente. O projeto foi elaborado e executado face à solicitação da Empresa Gessy Lever do Brasil - Unidade Anastácio, situada na capital do Estado de São Paulo. Esta empresa solicitou à Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo um programa de ginástica que fosse adequado às necessidades circunstanciais das tarefas dos trabalhadores em sua jornada de trabalho. As características destes trabalhos funcionais eram relativas aos movimentos repetitivos uni e bilaterais, a maioria na posição em pé, e movimentos que envolviam o transporte e/ou levantamento de peso, durante uma jornada diária de 8 horas de trabalho, o setor em questão era o de embalagens de pós. Relacionadas diretamente a estas características funcionais estavam as queixas de lombalgias dos funcionários e a preocupação dos responsáveis do setor, e da equipe médica com possíveis lesões por esforços repetitivos (LER). Também foi evidenciada uma preocupação relativa aos aspectos 286 psicossociais dos funcionários; esperava-se que o programa pudesse, de alguma forma, contemplar uma melhora no nível de disposição, satisfação pessoal e sociabilização destes trabalhadores. Esta preocupação foi devido ao risco que corria este setor da empresa de ser desativado ou totalmente automatizado, isto poderia significar possíveis demissões ou transferências de postos. Este fator gerava um estado de ansiedade e desmotivação nos funcionários. Considerando todos os aspectos solicitados, foram realizadas visitas ao setor para que outras informações e dados complementares pudessem ser coletados junto à equipe administrativa, médica e funcionários. Após estas visitas e análise dos dados coletados foi elaborado um primeiro delineamento do programa "Ginástica Laboral" a ser desenvolvido. A elaboração e coordenação do projeto estiveram sob a responsabilidade da Professora Rosa Maria Mesquita. Participaram na implantação e desenvolvimento deste projeto as alunas: Fábia Antunes, Cláudia Sacardo, Elizabeth Uzuba, Flávia Freire respectivamente do 8º semestre/1995 e a aluna Patrícia Nascimento do 6º semestre/1995 do curso de bacharelado em Educação Física. A professora Patrícia Pedotti foi convidada a fazer parte do grupo para a execução do programa. Foi traçada uma estrutura geral para o desenvolvimento do projeto. Nesta estrutura foram previstos um plano de ação e outro plano relativo à organização de estudos, pesquisa e orientação. Com relação à parte acadêmica foram determinadas reuniões semanais entre a coordenação e o grupo de ação do projeto com a finalidade de orientar e supervisionar o desenvolvimento dos trabalhos na empresa, bem como orientar estudos e pesquisas sob responsabilidade de cada integrante do grupo. Reuniões extras foram realizadas sempre que as mesmas se fizeram necessárias. Para o plano de ação foi necessário especificar duas alunas-estagiárias para cada turno de trabalho e um grupo de alunos de apoio para efetivar a avaliação diagnóstica. Esta avaliação foi realizada para analisar as condições iniciais físico-motoras e de saúde dos funcionários e permitiu também estabelecer as metas do programa. 287 A avaliação diagnóstica permitiu: 1) através da observação dos funcionários em suas atividades e da observação de filme em video-tape analisar os movimentos funcionais envolvidos nas tarefas. 2) através de um questionário obter maiores informações sobre: a) a execução dos movimentos dos funcionários em seus postos de atuação; b) horário de maior cansaço e maior prontidão para as tarefas; c) as queixas de dores localizadas; d) possíveis doenças passageiras ou crônicas; e) medicamentos prescritos; f) conhecimento/interesse/envolvimento em atividades físicas; 3) através de informações obtidas junto ao serviço de saúde da empresa as condições de saúde e as queixas relativas à LER e à lombalgia; 4) através de um exame postural e biométrico realizar uma avaliação física e 5) através de uma bateria de testes determinar o nível de condição física e perceptivo-motora dos funcionários. Assim, após a análise destes dados e considerando a solicitação da empresa, o programa "Ginástica Laboral" teve como metas propiciar: 1) uma melhor condição das capacidades físicas e perceptivo-motoras; 2) diminuição das afecções músculo esqueléticas, minimizando ou prevenindo as lesões por esforços repetitivos (LER) e lombalgias e, 3) maior conscientização quanto à execução dos movimentos adequados para a realização da função instrumental do corpo nas atividades de trabalho. O trabalho consistiu de: 1) sessão de atividades físicas durante os 30 minutos iniciais de cada jornada de trabalho; 2) exercícios de compensação e relaxamento estabelecidos em função das características individuais dos funcionários e de suas atividades de trabalho e 3) orientação teórica sobre o corpo em movimento e os benefícios das atividades físicas. O programa foi desenvolvido com 116 funcionários, sendo 47 do turno da manhã, 27 do turno da tarde e 42 do turno da noite. Todos os trabalhadores eram do sexo masculino com idades médias variando entre 35 a 40 anos, dependendo do turno. A implantação do programa foi realizada em duas etapas, sendo que cada uma teve a duração de 6 semanas. A primeira etapa foi constituída, exclusivamente, por uma atividade denominada de sessão de condicionamento físico e, a segunda etapa foi desenvolvida através de duas 288 atividades distintas: a sessão de condicionamento físico e a ginástica de pausa. Na primeira etapa, todos os funcionários participaram simultaneamente da sessão de condicionamento físico, 5 dias por semana. Essa sessão tinha a duração de 30 minutos e foi realizada durante a meia hora inicial de cada turno, somente após a sessão de atividade física é que se iniciava a jornada de trabalho, neste setor da empresa. Conteúdos teórico-práticos foram ministrados pelas alunas-estagiárias. As vivências práticas foram sempre acompanhadas por informações teóricas pertinentes; ao término de cada sessão estes conhecimentos foram retomados e sintetizados. As metas deste trabalho foram desenvolvimento das capacidades físicas e perceptivomotoras e a assimilação e aplicação dos conhecimentos transmitidos sobre o corpo em movimento e sobre os benefícios da atividade física sistemática. Estas metas tinham por objetivo propiciar uma melhor qualidade de vida tanto na relação funcionário trabalho quanto na vida pessoal de cada indivíduo. Este período permitiu também preparar física, cognitiva e emocionalmente os trabalhadores para a segunda etapa do programa. Para a segunda etapa foram realizadas modificações no programa estabelecido inicialmente, uma vez que foi constatada a importância de se dar continuidade ao trabalho de condicionamento físico a partir da análise dos resultados do reteste intermediário. Assim, nesta segunda etapa, a sessão de condicionamento físico foi mantida com as mesmas características estruturais da etapa anterior reduzindo-se apenas a frequência das atividades para três vezes por semana, no entanto, as habilidades e as capacidades físico-motoras foram trabalhadas com mais intensidade. Foi implantada neste período a ginástica de pausa, cuja função era possibilitar através de exercícios, o relaxamento e o alongamento dos grupos musculares envolvidos nos movimentos repetitivos unilaterais ou nos movimentos de transporte com levantamentos de cargas. Nesta sessão de ginástica, cada indivíduo desenvolveu um programa personalizado de exercícios. Este programa foi pesquisado e elaborado pelas alunas estagiárias respeitando as capacidades e restrições pessoais de cada 289 funcionário, e de acordo com as características funcionais de seus postos de serviço. A ginástica de pausa foi realizada pelos trabalhadores após o cumprimento da metade da jornada diária de trabalho; em cada posto de trabalho havia um horário pré-estabelecido que determinava quais os funcionários que permaneceriam nas atividades profissionais e quais os que sairiam para a realização da ginástica de pausa. Assim sendo, a empresa continuava os trabalhos do setor e aos funcionários era possibilitada, por rodízio, a execução desta atividade. Durante as duas primeiras semanas da implantação da ginástica de pausa, os alunos estagiários realizaram plantões em cada turno, procurando assistir aos funcionários com relação às orientações para a prática dos exercícios, efetuar as observações necessárias para uma execução correta dos movimentos e responder às dúvidas e a possíveis questionamentos. Após este período e considerando os conhecimentos adquiridos pelos funcionários, a ginástica de pausa foi desenvolvida através do envolvimento individual consciente e autônomo de cada trabalhador, porém, as alunasestagiárias estavam sempre à disposição dos funcionários para atendê-Ios em suas dúvidas e necessidades, após a sessão de condicionamento físico. Associado ao programa foi implantado também um quadro mural da Educação Física, neste setor da Empresa. Nesse quadro eram afixadas, a cada semana, informações importantes sobre a atividade física e os benefícios para saúde e para as atividades de trabalho. O objetivo dessa estratégia era o de estimular e motivar os funcionários a deter mais conhecimentos e possibilitar assim maior autonomia para uma prática consciente da atividade física sistemática. Após o término dos três meses de trabalho foi realizada novamente a bateria de testes para avaliar o nível da condição física e perceptivo-motor alcançado com o desenvolvimento do programa. Paralelamente a este desenvolvimento foram realizadas com os funcionários e responsáveis desse setor da empresa três palestras. A primeira palestra teve por objetivo expor os motivos que levaram ao desenvolvimento deste projeto junto àquela empresa, 290 apresentar o plano para o desenvolvimento do programa "Ginástica Empresarial" e apresentar o grupo que executaria o projeto. A segunda reunião foi dedicada a apresentar e discutir os resultados parciais alcançados, referentes ao trabalho de condicionamento físico realizado, nas seis primeiras semanas. Os funcionários ao constatarem os resultados obtidos nos testes de capacidades físicas e perceptivo-motoras, antes e após o desenvolvimento deste trabalho, ficaram satisfeitos pela melhora alcançada e ainda mais motivados para a prática do programa. Perceberam os benefícios para a saúde e constataram que assimilaram conhecimento para esta prática e, como efetuar a aplicação destes conhecimentos, também, nas ações de trabalho. A terceira e última palestra foi realizada após o término do programa e aplicação da bateria de testes que permitiu avaliar, novamente, as capacidades físicas e perceptivo-motoras dos funcionários. Nesta reunião, foi apresentado, sinteticamente, todo o trabalho desenvolvido e os resultados alcançados. Os resultados finais permitiram constatar que, em um programa de apenas 12 semanas, os trabalhadores obtiveram melhor nível de suas condições físico-motoras, maior conhecimento sobre o seu corpo em movimento tanto nas atividades físicas sistemáticas quanto na relação posto de serviço/trabalho, diminuição significativa das queixas e atendimento ambulatorial das lombalgias chegando a zero em dezembro de 1995, diminuição das tensões dos grupos musculares envolvidos nos movimentos repetitivos uni e bilaterais, diminuindo assim os riscos de afecções músculoesqueléticas ocasionadas pela LER e aumento do entrosamento social entre os funcionários e melhora do ambiente de trabalho como na motivação, camaradagem, disposição física e psicológica. É necessário ressaltar que as alunas estagiárias tiveram um papel fundamental para o sucesso deste Projeto devido à dedicação aos estudos desenvolvidos, à habilidade e eficiência na regência das sessões de atividades físicas, à participação efetiva no desenvolvimento da pesquisa e à promoção de laços empáticos de amizade e confiança com seus respectivos grupos de funcionários. 291 Estes novos conhecimentos adquiridos, fundamentados cientificamente através de pesquisa, são fruto da organização, estruturação, de conhecimentos anteriores aplicados a uma situação real do campo de atuação do profissional da Educação Física, a Ginástica Empresarial. A prática profissional fundamentada constitui o grande desafio para o profissional da Educação Física. Certamente, o status que atualmente ocupa na sociedade, mais de um executor do que de um pensador, poderá ser modificado pela sustentação acadêmico-científica que norteia e fundamenta suas ações. REFERÊNCIAS HENRY, F.M. Physical education - an academic discipline. JOPHER, 35, 32 38; 69, 1964. LAWSON, H.A. Invitation to physical education. Champaign, IL: Human Kinetics, 1984. MANOEL, E.J. Movimento humano: considerações acerca do Objeto de estudo da educação física. Boletim FIEP, 56, 33-39, 1986. MARIZ DE OLIVEIRA, J.G. Preparação profissional em educação física. In: Educação física e esportes na universidade. Brasílía: SEED MEC/UNB, 1988. MEDINA, J.P.S. A Educação Física cuida do corpo... e "mente": bases para a renovação e transformação da educação física. Campinas: Papirus, 1983. MORFORD, W.R. Toward a profission, not a craft. Quest, 18,88-93, 1972. TANI, G. Vivências práticas no curso de graduação em Educação Física: Necessidade, luxo ou perda de tempo? Caderno Documentos, 2, 1-22, 1996. 292 CAPÍTULO XV QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO: Estudos do Grupo Gestão de Recursos Humanos para o Ambiente Produtivo José Roberto Herrera Cantorani Luiz Alberto Pilatti Antônio Carlos Frasson A compreensão do social não permanece a mesma quando a ela se junta o imaginário “qualidade de vida”. Mais que uma operação intelectual, trata-se de um verdadeiro movimento que se exprime nesta unidade. Qualidade de vida, e mais amplamente, qualidade de vida sócioambiental contém o pensamento de ordem que resume uma ambição civilizacional. Na tradição das ciências sociais, contudo, palavras como qualidade ambiental e desenvolvimento social caminham de forma bem separadas. Na economia, com raras e recentes exceções, a natureza, o meio ambiente e a qualidade de vida aparecem, no máximo, como externalidades: não estão organicamente, interiormente, associadas àquilo que orienta as decisões. Economia e sociedade de um lado, natureza, qualidade de vida e material humano do outro, esta parecia ser mesmo a essência da construção das sociedades ocidentais. Contudo, o importante é a constatação de que, nas últimas duas décadas, seus componentes básicos vêm sofrendo alteração. São várias as vertentes a subsidiarem esta transformação, entre as quais, resumidamente: anseios sociais, estudos dirigidos, obras de eminentes pesquisadores; fortalecendo a idéia de que a economia e o crescimento econômico não são finalidades, mas meios que não podem nem devem escamotear questões decisivas a respeito da qualidade de vida dos indivíduos, da distribuição da renda e do uso que uma sociedade faz de sua riqueza. 293 Grupo Gestão de Recursos Humanos para o Ambiente Produtivo O grupo “Gestão de Recursos Humanos para o Ambiente Produtivo” é um exemplo da organização de pesquisadores focados em estudos dirigidos à qualidade de vida e à qualidade de vida no trabalho. Este grupo está alocado no Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Engenharia de Produção da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR e conta com a junção de pesquisadores vindos da Engenharia de Produção e da Educação Física, proporcionando debates e frentes de pesquisa interessantes, frutos do embate de olhares e perspectivas diferentes. Duas das linhas de pesquisa deste grupo se destacam a este respeito: “Gestão de Pessoas e Qualidade de Vida no Ambiente Produtivo” e “Trabalho e Lazer”. As pesquisas desenvolvidas por estas linhas, dentro de uma perspectiva histórica e sociológica, discutem o ambiente laboral. O foco é a qualidade de vida do trabalhador, as transmutações do trabalho determinadas pela sociedade do conhecimento e a relação trabalho/lazer. Inovação e a Sociedade do Conhecimento A sociedade do conhecimento não é, definitivamente, um tipo ideal de sociedade inferida como uma hipótese explicativa pelos weberianos ou mesmo um esboço do estágio final do capitalismo pensado pelos marxistas. O novo mundo do trabalho – nascido depois da Segunda Guerra Mundial – é um mundo marcado por fantásticos avanços científicos e tecnológicos, sofisticados métodos e instrumentos de trabalho, pela complexidade, pelo trabalho em rede. A valorização das pessoas, agora tratadas como capital humano faz parte do discurso desta sociedade de oportunidades e ameaças. A passagem do paradigma industrial para a era da informação trouxe como pré-suposto que as riquezas produzidas nas organizações do conhecimento são oriundas dos subutilizados ativos intangíveis, o capital humano e o capital estrutural interno e externo. A ideia exige um olhar 294 cauteloso, mas otimista. Com efeito, na era do conhecimento as pessoas deixaram de ser geradores de custos ou recursos para se tornarem geradores de receita (SVEIBY, 1998). A dinâmica dessa sociedade é determinada pela ciência. É da ciência que depende os negócios do futuro. Para Meyer (2006, p. 57), [...] cada novo ciclo começa quando os cientistas fazem alguma descoberta sobre como funciona o mundo. Depois vem a fase da tecnologia: as inovações no laboratório convertem-se em novas capacidades produtivas. Na terceira etapa, as empresas incorporam a tecnologia para melhorar seu rendimento. Finalmente, o declínio determina o fim do ciclo, até que nova descoberta marque o início de outro. Nesses ciclos, a inovação, que não é ciência nem tecnologia e tem estreita ligação com o mercado, apresenta-se como uma possibilidade efetiva de sobrevivência para as empresas; por ser uma forma real do aumento da produtividade. A inovação diz respeito à capacidade de efetuar mudanças no modelo mental e no comportamento de produtores e consumidores de tecnologia. Os avanços tecnológicos, que Garcia dos Santos (2006) denomina de “avalanche tecnológica”, apresentam uma tendência exponencial: o índice de progresso tecnológico duplica a cada década (KURZWEIL, 2006). No curso desta história o trabalho foi humanizado. A jornada de trabalho diminuiu, as condições de trabalho melhoraram, o ser humano ganhou centralidade. No entanto, os avanços não atingiram os patamares que alguns, em exercícios de futurologia, anteviram. Freyre (1973), em Além do apenas moderno, ao discutir a questão “tempo” inferiu que: [...] criado pela mecanização do trabalho e, sobretudo, em anos recentes, pela automação em começo [...] o tempo desocupado começa a avultar de tal maneira sobre o ocupado que se pode prever a redução do ocupado a verdadeira insignificância quantitativa. Problemas, portanto, como o da 295 organização do trabalho, o da organização de trabalhadores, o dos sindicatos de atividades operárias – problemas relacionados com o tempo ocupado – tomam o aspecto, nos países mais automatizados, de problemas já meio arcaicos, ao lado dos de preenchimento e organização do tempo desocupado (FREYRE, 1973, p. 108-109). A leitura mostrou-se equivocada. As exigências impostas aos trabalhadores do conhecimento ultrapassaram as fronteiras do local de trabalho. A qualificação exigida do trabalhador aumentou. A automação, além de não criar mais tempo disponível para os trabalhadores, diminui postos de trabalho. A valorização do capital humano tem se mostrado incongruente com o mundo empresarial: é preciso produzir mais, em menos tempo, com custos reduzidos, atendendo padrões de qualidade mais elevados. Ainda que humanizado nos aspectos elementares, a qualificação demandada coloca exigências cada vez mais sofisticadas aos trabalhadores do conhecimento. A qualidade de vida desse trabalhador é afetada de duas formas: dentro e fora do trabalho, apesar de que, crescentemente, existe uma convergência desses tempos. A ideia dos frankfurtianos de que o tempo de não-trabalho era um tempo de compensação está se esvaindo. A esfera do trabalho, apesar das melhorias proporcionadas pela tecnologia, tem determinado uma priorização em relação às demais. Trata-se de uma condição para a manutenção da empregabilidade do trabalhador. A diversidade desejada pelo setor produtivo apresenta uma conotação perversa: deixou de se valorizar o igual; a individualidade, com capacidade elevada de trabalho em equipe, não é mais apenas desejada, é requerida. Criou-se a percepção de que o trabalho não é algo para todos, e sim apenas para os especialmente talentosos. Com outro nível de sofisticação, os patamares demandados pelo setor produtivo, mais uma vez, apontam para níveis inumanos. A implicação prática do novo modelo é o aparecimento de uma massa ainda maior de trabalhadores sem qualificação que ficam à margem dos avanços tecnológicos. O quadro agrava-se quando se está falando de um país 296 em desenvolvimento, em que os limites da miséria são ampliados diariamente. Mesmo os movimentos operários que garantiram a elevação dos padrões de qualidade de vida do trabalhador no período da industrialização, na sociedade do conhecimento tiveram seus limites de atuação estreitados. O foco da luta mudou. Não se busca mais avanços significativos nas condições de trabalho: busca-se a manutenção do trabalho, num cenário de exigências ampliadas. Os avanços tecnológicos que supostamente inferem qualidade de vida fora do trabalho se colocam mais acessíveis com ofertas cada vez mais ampliadas, mas, ao mesmo tempo, tornam-se cada vez mais inacessíveis a uma massa de excluídos e/ou sem tempo disponível cada vez mais em expansão. Os problemas relacionados à qualidade de vida no mundo moderno ganham terreno. Os benefícios do avanço tecnológico só atingem a sociedade até determinada faixa econômica, fortalecendo a exclusão de muitos. Não obstante, as exigências do mundo do trabalho na era da informação são responsáveis pela geração de um tipo de stress que violenta física e emocionalmente a classe trabalhadora. As exigências impostas ao trabalhador do conhecimento têm tornado o trabalho um elemento que ocupa majoritariamente o tempo do trabalhador. Essa centralidade em uma esfera compromete, em diferentes medidas, as demais esferas da vida humana. Avanços tecnológicos e qualidade de vida, num sentido positivo, não são elementos tão convergentes como se é possível supor. Tempo de trabalho e Tempo de Lazer O avanço da tecnologia resultou não apenas em fatores positivos, mas também em problemas, dos quais derivam necessidades. No inicio da década de noventa, de acordo com Souza e Ribeiro (2004), a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou o estresse como a doença do século XX. Mais recentemente, também a Organização Mundial da Saúde elevou o estresse ao status de maior epidemia mundial deste século. 297 Grande parte das doenças hoje relacionadas à medicina do trabalho está intimamente ligada ao estresse. Para melhor entender os problemas que resultam desta nova ordem de exigências sociais e trabalhistas é preciso pensar a respeito do tempo, denominadamente os tempos de trabalho e livre. Ao acompanhar o ideário de Norbert Elias e Eric Dunning (1992) tornase possível tanto a desmistificação da dicotomia trabalho/lazer como a compreensão das relações e diferenças entre tempo de trabalho e tempo de lazer. Tempo livre, de acordo com os atuais usos lingüísticos, é todo tempo liberto das ocupações de trabalho. No entanto, nas sociedades contemporâneas, uma fatia cada vez mais reduzida deste tempo pode ser direcionada às atividades de lazer. Para Elias, as atividades do tempo livre são divididas em cinco categorias que se confundem e se sobrepõem de várias maneiras. A primeira categoria, formada pelo trabalho privado e administração familiar, por dedução lógica, dificilmente pode ser reconhecida como campo de lazer. A este grupo pertencem as atividades relacionadas aos cuidados com a família e também à provisão da casa. Destacamos que, de acordo com as pesquisas de campo realizadas pelo grupo aqui apresentado, este tipo de atividade toma uma parte bastante significativa do tempo livre dos trabalhadores. Estas atividades, em muitos casos, constituem trabalho duro; muitos destes trabalhos são obrigatoriamente executados, independentemente da existência de prazer na sua realização e, não obstante, transformam-se em rotina. A segunda categoria é expressa pelas atividades relacionadas ao repouso: atividades como dormir, artesanato, futilidades da casa e o não fazer nada em particular. As pesquisas de campo têm mostrado que estas atividades aparecem com certa frequência no tempo livre dos trabalhadores. Estas atividades até podem ser consideradas como lazer, mas não são atividades de significativo impacto em termos de revigoramento emocional. 298 A terceira categoria é composta pelas atividades ligadas ao provimento das necessidades biológicas: necessidades como comer, beber, dormir, bem como, necessidades fisiológicas e fazer amor. As atividades relacionadas a este grupo estão sempre presentes no tempo livre. Sem grande significado para a diferenciação entre o tempo de não trabalho, mas de ocupação rotineira e estressante, e o tempo de não trabalho, que de fato pode ser utilizado como lazer e de forma prazerosa, esta categoria compõe a análise completa da ocupação das pessoas. As atividades que formam a quarta categoria são as atividades de sociabilidade: atividades como passear em um clube, um bar, um restaurante, "jogar conversa fora" com os vizinhos ou mesmo estar com outras pessoas sem fazer nada demais. Estas atividades aparecem com frequência na estrutura do tempo livre. Não é trabalho, mesmo que envolva esforços significativos como, por exemplo, jantares de negócios. Contudo, a sua valoração segunda uma escala que varia entre o prazer e o stress vai depender de uma multiplicidade de fatores: sociabilidade do indivíduo, formalidade da situação, obrigatoriedade e dependência da mesma, e outros fatores que a possam estar relacionados. A última categoria é constituída pelas atividades miméticas ou jogos. As atividades deste tipo são atividades de tempo livre que possuem caráter de lazer, quer se tome parte nelas como ator ou como espectador. Estas atividades estão diretamente associadas à destruição da rotina, presente na quase totalidade do restante do tempo. Os estudos têm demonstrado que a presença destas atividades, e, não obstante, a disponibilidade de um tempo para a vivência deste tipo de atividade, é significativamente baixa. A tipologia apresentada serve para demonstrar que a utilização do termo tempo livre como sinônimo de lazer não é verdadeira. Mostra de forma muito nítida, que uma parcela considerável do tempo livre dos indivíduos não pode ser vinculada às atividades de prazer, e sim às atividades que têm como característica a rotina. 299 Mecanismo de Equilíbrio O termo mimético, por Elias empregado, não é aquele que em seu sentido literário simplesmente responde pelo "imitativo". Elias o utiliza num sentido mais alargado e figurado. Com efeito, na Teoria Eliasiana, o termo deve ser compreendido como uma "relação entre os sentimentos miméticos e as situações sérias específicas da vida” (ELIAS, DUNNING, 1992. p.102). Nas situações sérias da vida, as pessoas podem perder o controle e assim tornarem-se um perigo para si e para outros. A excitação mimética, na perspectiva social e individual, é desprovida de perigo, proporcionando às pessoas experimentarem a explosão de fortes emoções em público, um tipo de excitação que não coloca em risco a ordem da vida social como ocorre nas situações sérias da vida. Os conceitos eliasianos a respeito do processo civilizacional, para além do avanço tecnológico e das respectivas mudanças quanto às formas de trabalho analisadas sob a perspectiva de um recorte temporal, ajudam a compreender as mudanças sociais historicamente configuradas: a evolução do controle, da padronização e da rotina na perspectiva do longo prazo e suas consequências nas sociedades contemporâneas. Ajudam também a entender como o lazer se caracteriza como uma das poucas formas de atividades em que os seres humanos adultos podem agir de forma espontânea em um contexto em que poucas são as oportunidades, aceitas socialmente, para se exporem dessa forma. De acordo com Elias: Na nossa sociedade, como em muitas outras, faz-se sentir uma necessidade corrente de motivação de fortes emoções que aparecem e, se encontram satisfação, desaparecem, para só voltarem a manifestar-se algum tempo depois. Seja qual for a relação que esta necessidade possa ter com outras necessidades mais elementares como a fome, a sede e o sexo, todos os dados acentuam o fato de que esta representa um fenômeno muito mais complexo, um fenômeno muito menos puramente biológico, pode bem considerar-se que o desprezo quanto à atenção dedicada a esta necessidade 300 constitui uma das maiores lacunas na abordagem dos problemas da saúde mental (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 136-137). As atividades de lazer proporcionam, ainda que por um breve tempo, “[...] a erupção de sentimentos agradáveis fortes que, com frequência, estão ausentes nas suas rotinas habituais da vida” (ELIAS; Dunning, 1992, p. 137). A função do lazer, por conseguinte, não é simplesmente, como muitas vezes se pensa, “uma libertação das tensões, mas a renovação dessa medida de tensão, que é um ingrediente essencial da saúde mental” (ELIAS; Dunning, 1992, p. 137). Trata-se de um fenômeno em que não estão dissociados fatores ligados ao nível social e os que se encontram nos níveis psicológico e fisiológico. As sociedades, ao atingirem um nível relativamente avançado de civilização e avanço tecnológico, com relativa estabilidade, controle, alto grau de rotina e, consequentemente, com grande necessidade de sublimação, têm nas atividades de lazer uma das poucas formas de libertação das tensões derivadas das pressões sociais rotineiras. Como resultado tem-se que [...] um dos principais traços fisionômicos das sociedades altamente diferenciadas e abastadas do nosso tempo é o fato de apresentarem uma variedade de atividades de lazer superior a qualquer outra sociedade que se possa imaginar. Muitas dessas ocupações de lazer, entre as quais o desporto nas suas formas de prática ou de espetáculo, são então consideradas como meios de produzir um descontrole de emoções agradável e controlado (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 73). Dessa forma: Uma ou outra podem ser adotadas, de acordo com os temperamentos, constituição física, necessidades libidinais, afetivas ou emocionais. Algumas destas atividades de lazer podem evocar, de forma mimética, arrependimento ou medo, tanto quanto alegria e triunfo, afeição e amor ou ódio. No contexto de uma peça ou de um concerto, de um quadro ou 301 de um jogo, ao permitir-se que estes sentimentos fluam livremente no seu contexto simbólico, alivia-se o fardo global que é inerente à vida das pessoas, fora do âmbito do lazer (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 73). As sociedades complexas promoveram não apenas uma grande carga cumulativa de estresse, a qual se contrabalancearia com atividades quaisquer de lazer. Elas se desenvolveram de tal forma que impuseram padrões de vida amplamente civilizados e tecnologizados, resultado de uma contínua busca por satisfação de necessidades e geradores de tantas outras necessidades, que por sua vez afastaram o homem, sobretudo aqueles residentes em grandes centros, de grande parte daquilo que era ou que é inerente à sua constituição humana: uma vida ativa fisicamente, a possibilidade de expressar os seus sentimentos, e a convivência com um ambiente natural. Este cenário fortalece o ideário de que as atividades de lazer surgem e/ou são criadas para a manutenção do equilíbrio emocional. O surgimento e a aceitação de determinadas atividades de lazer estão diretamente ligados às necessidades vigentes nas sociedades em curso. Não obstante, na medida em que as sociedades se tornam mais complexas, com o nível de controle cada vez mais acentuado e com a padronização e a rotina cada vez mais amplamente estabelecidos, o nível de necessidades se modifica, se amplia, se torna mais complexo. A complexidade das necessidades vigentes nas sociedades hodiernas favorece e/ou estimula o desenvolvimento de novos tipos de atividades miméticas de lazer. Para facilitar o estudo do lazer e apontar um caminho para a resolução dos problemas a ele relacionados, Elias e Dunning (1992, p. 116) formularam duas questões: “quais as características das necessidades individuais de lazer desenvolvidas em nossa sociedade?”; e, “quais as características das atividades específicas de lazer desenvolvidas na sociedade para a satisfação das referidas necessidades?”. Essas questões podem ser consideradas como um norte na resolução dos problemas relacionados ao processo de interdependência entre sociedade e lazer. 302 De forma a facilitar um exame mais rigoroso, focado no fator “necessidade”, é destacada a necessidade de um tipo particular de excitação agradável e, na sequência, proferida a sua eleição ao centro da primeira questão: “[...] pode demonstrar-se que esta necessidade se encontra no fulcro da maior parte das necessidades de diversão”. A “excitação” é, por assim dizer, “o condimento de todas as satisfações próprias dos divertimentos” (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 116). Já em relação aos objetivos e implicações da segunda questão, Elias e Dunning argumentam que não é tão fácil a sua compreensão. No entanto, esses mesmos autores, versam que [...] uma das razões por que parece conveniente usar um termo específico para todos os fatos de lazer que podem ser justamente classificados como miméticos foi o reconhecimento de que todos esses fatos possuem uma estrutura particular que lhes permite satisfazer as necessidades específicas de lazer (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 116). Com base no reconhecimento de que a compreensão dos objetivos e implicações das atividades específicas de lazer desenvolvidas para a satisfação das necessidades é algo que envolve certa complexidade, parece factível a interpretação de que também as necessidades específicas de lazer oferecem semelhante complexidade. Em outras palavras, as atividades de lazer respondem às necessidades específicas de lazer e, portanto, a complexidade está em ambas, ou melhor, no processo de interdependência entre elas. Apesar de parecer claro que como característica central da maior parte das necessidades de lazer está excitação, parece também que em sociedades complexas como as hodiernas há uma série de determinantes que vão influenciar não apenas o tipo de necessidade de excitação, mas também se de um grau menor ou maior, e, por conseguinte, o tipo de atividade para a sua satisfação. Procede, portanto, que a complexidade das características das necessidades individuais de lazer desenvolvidas nas sociedades contemporâneas responde não apenas à complexidade da própria sociedade, 303 mas também ao estilo de vida imposto por esta. As características das atividades específicas de lazer, desenvolvidas para a satisfação das referidas necessidades, vão responder ao já comentado fulcro comum às necessidades de lazer, a excitação, como também vão variar em grau de intensidade e complexidade em função de determinantes diretamente ligados ao grau de complexidade das sociedades em que vive cada indivíduo e ao seu respectivo estilo de vida. A construção teórica de Gilberto Freyre acerca da diferença entre o homem civilizado e o não-civilizado e as consequências dos diferentes modos de vida a que cada um está sujeito ajudam na elucidação que aqui se propõem estas linhas: [...] o moderno homem civilizado, vivendo sob um sentido de tempo e dentro de um ritmo de vida matematicamente físico e, por conseguinte, uniformemente fluente, que impõe a todos os membros de uma comunidade, sob esse jugo uniformemente fluente, compromissos de caráter quantitativamente exatos, resultaria [...] em doenças cardíacas e das artérias, das quais os nãocivilizados se resguardariam pela sua diferente concepção das relações de compromissos sociais – sempre retardáveis, sempre adiáveis – com aquele tempo quantitativamente exato e, por isto mesmo, angustiante, inquietante, policialesco até, para usarmos caricaturalmente expressão já antropológica para retratar o moderno homem civilizado como submetido, em sua vida, às constantes imposições de cassetete de um polícia disfarçado em ponteiro de relógio, que o obrigasse a uma sucessão de atos em desacordo com seus pendores, quer de ordem fisiológica, quer de caráter emocional (FREYRE, 1973, p. 113). Em relação à vida cronometrada e aos avanços tecnológicos e problemas derivativos desse processo, Gilberto Freyre aponta a importância da colaboração do Professor Northrop17. A obra de Northrop considera como dado empírico os hospitais, que “nos modernos países de mais adiantada civilização 17 De acordo com Freyre, Northrop é organizador de uma das mais importantes obras coletivas de caráter sociológico publicada nos últimos decênios – Ideologicals Differences and World Order (Nova Iorque, 1959). 304 técnica, estão sobrecarregados de doentes mentais, de esquizofrênicos e de enfermos do sistema vascular” (FREYRE, 1973, p. 115-116). Com tais considerações, firma-se o alerta para a [...] necessidade do moderno homem civilizado assimilar à sua mentalidade matematicamente e mecanicamente exigente de precisão e socialmente exigente de exatidão no cumprimento de obrigações assim matemática e mecanicamente condicionadas, o que ele chama os “valores e os modos de sentir, de pensar e de proceder mais intuitivos, emotivos e impressionisticamente estéticos” [...] das sociedades e das culturas não-civilizadas, assim como das civilizadas do Oriente (FREYRE, 1973, p. 115). De acordo com Freyre, devidamente apoiado em Northrop, como demonstrado acima, povos menos adiantados no que se refere à modernidade, e que mantém suas raízes, suas culturas, têm muito que ensinar aos que, [...] tendo a eles se adiantado em aspectos tecnológicos da civilização, de tal modo associaram sua tecnologia, sua economia, sua convivência, ao sentido cronométrico e, por conseguinte, apenas mecânico, de tempo que, estabilizando-se em modernices crescentemente arcaicas – por mais que se proclamem modernas – perderam quase de todo a capacidade de viverem ludicamente o tempo livre. Parte em que – repita-se – podem receber lições dos tecnologicamente retardados povos ibéricos. Tecnologicamente retardados, mas, por isto mesmo, senhores de vastas reservas de cultura folclórica, dentro da qual se conservam danças, músicas, jogos, saudáveis tanto do ponto de vista sociológico como do ponto de vista médico; e capazes de serem adaptadas a situações modernas, em correspondência com a crescente necessidade que experimentam as sociedades civilizadas, de matéria lúdica, festiva, recreativa, com que encham o seu crescente tempo livre – admitindo-se o maior número de participantes nessas expansões de caráter lúdico – em vez de nos entristecermos em sociedades de apenas passivos espectadores de grandes jogos de futebol. Jogos para multidões imensas, porém inermes; de torneios de voleibol; de corridas de automóvel (FREYRE, 1973, p. 115). 305 As palavras de Freyre sintetizam de forma bastante rica esse lado negativo do avanço tecnológico e da modernidade. Auxiliam também na fundamentação de que esse avanço é desencadeador de necessidades específicas e de que o suprimento destas necessidades exige atividades miméticas também específicas. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS Os procedimentos metodológicos mais amplos adotados pelo grupo “Gestão de Recursos Humanos para o Ambiente Produtivo” nas pesquisas dirigidas à qualidade de vida no ambiente produtivo buscam uma convergência teórico-metodológica entre um autor clássico oriundo da sociologia: Norbert Elias, o que produz uma abordagem qualitativa, e um instrumento nitidamente quantitativo: o WHOQOL – instrumento desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde para o levantamento da qualidade de vida. É importante que se diga que, considerando o WHOQOL, as atividades físicas têm papel pouco significativo na qualidade de vida. Mas, também é verdade que a mesma pode influenciar outras facetas, como a psicológica. Neste contexto teórico-metodológico o que se busca é a fertilização cruzada entre o raciocínio teórico e a realidade empírica. Procedimento este que é sugerido por Norbert Elias (1992, p. 21), fonte teórica que vem amparando amplamente os estudos do referido grupo. Faz-se também importante mencionar que este grupo de pesquisa está trabalhando na elaboração de um instrumento de pesquisa que visa à leitura da qualidade de vida, sobretudo do trabalhador, e toma como base as estruturas de tempo e ocupações. O objetivo é construir um instrumento que permita alcançar a mensuração das atividades de rotina e geradoras de stress no dia-adia das pessoas e também as atividades que atuam na quebra dessa rotina e geram prazer. O referido instrumento apóia-se na estrutura funcional do WHOQOL e na base teórica de Norbert Elias a respeito do lazer. 306 CONSIDERAÇÕES FINAIS O mundo mudou e o trabalho também. A Revolução Industrial criou um novo trabalhador; a Era do conhecimento criou outro trabalhador. As transformações tiveram dois pontos de convergência determinados por avanços tecnológicos: a demanda de um trabalhador mais qualificado e a diminuição de um tempo dentro do tempo livre que possa, efetivamente, ser dedicado ao lazer, ao exercício do prazer, da excitação mimética. Ainda que historicamente condições mais satisfatórias de trabalho tenham sido conquistadas, o que de certa forma humanizou o trabalho, as exigências impostas ao trabalhador do conhecimento têm tornado o trabalho um elemento que ocupa majoritariamente o tempo do trabalhador, inclusive o seu tempo livre. Essa centralidade em uma esfera compromete, em diferentes medidas, as demais esferas da vida humana. Mesmo se tornando mais humanizado em sua estrutura funcional, o trabalho passou a exigir certas condições de envolvimento que o tornaram menos humano e mais alienante em seu processo estrutural mais amplo. Dentro desta estrutura sócio-laboral o que se verifica é um distanciamento crescente das possibilidades de lazer e da prática esportiva. Cria-se a percepção de que a atividade física é algo para se ver e não fazer. Essa percepção é algo que vem se estruturando culturalmente: a cultura da tecnologia, da sofisticação, do mínimo esforço, do sedentarismo. Portanto, não é o bastante pensar em resolver este problema, que vem se tornando congênito, com programas de ginástica laboral que apenas servem para que as empresas apresentem de forma documentada o cumprimento de seu papel social. Afinal, dentro deste padrão de envolvimento, muito do que se pode esperar das empresas, principalmente as de grande porte, tem sido feito. É preciso trabalhar a conscientização de todos. A vida cotidiana nas sociedades contemporâneas acarreta problemas substanciais. Estilos de vida tumultuosos, agitados e vertiginosos, por um lado; e rotineiros, padronizados e sob controle, por outro, constituem-se numa constante agressão à estrutura física e mental do homem. 307 Neste contexto, é preciso pensar em programas de qualidade, programas que trabalhem com foco em uma atividade física estimulante, e não apenas de forma a cumprir formalidades. REFERÊNCIAS A visão de Laymert Garcia dos Santos. A avalanche tecnológica e o desmanche do País. O Estado de São Paulo, 15 set. 2006. Aliás Debate, p. H6. A visão de Silvio Meira. Inovação não é tecnologia nem ciência. É mercado. O Estado de São Paulo, 15 set. 2006. Aliás Debate, p. H5. CANTORANI, J. R. H.; PILATTI, L. A. Teias de interdependência entre a vida em sociedade, a rotina e o prazer: o estudo do lazer sob a perspectiva da teoria elisiana. Lecturas educacion fisica y deportes (Buenos Aires), Buenos Aires, v. 11, n. 102, 2006. CANTORANI, J. R. H.; OLIVEIRA JR. C. R. de. 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Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. 3 v. 309 CAPÍTULO XVI Ginástica Laboral: Breve retrospectiva e tendências para o curso de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa José de Fátima Juvêncio A relação existente entre estudos sobre saúde, trabalho e ginástica laboral no Departamento de Educação Física na Universidade Federal de Viçosa – DES/UFV teve inicio, ainda, nos anos de 1993/1994, quando já se pensava, entre alguns docentes da área de ginástica, como iniciar uma ação para beneficiamento dos funcionários desta instituição. Nessa época, o apelo do esporte de competição era muito forte e poucos professores, tanto aqui, como no restante do Brasil, ainda não se preocupavam com o fator saúde de seus clientes. Ao se implementar uma ação desta natureza, foi escolhido o órgão da instituição que, constantemente, solicitava ajuda do DES/UFV, qual seja o RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO. Neste órgão era comum “afastamentos por motivo alegado de saúde”, em que muitos estavam com queixas de dores lombares e nos membros superiores. Posteriormente outros órgãos foram atendidos e atualmente se planeja uma implantação gradual em todos os órgãos solicitantes para que, já em 2010, possam-se ter estagiários suficientes em toda a UFV*. Ressalta-se que ainda nesta época não se utilizava o termo “ginástica laboral”, embora o propósito final fosse semelhante ao atual, e, ainda, que, no ano de 1982 uma ação desta natureza foi efetivada em empresas de mineração na cidade de Juiz de Fora, em que professores desse departamento (Profª Vera Lúcia Simões e Profº José de Fátima Juvêncio), auxiliaram com um programa de condicionamento físico para os empregados daquelas empresas. Por muito tempo, após este fato, ficou a ginástica para funcionários estacionada em projetos de pesquisa (ou intenção de pesquisa) engavetados por estes docentes. Mais tarde, em 1997, um primeiro passo foi dado em direção ao estudo cientifico desta atividade, quando foi enviado um artigo para ser apresentado, 310 sob a forma “artigo oral‟, no I Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde, na cidade de Florianópolis, SC. Durante este congresso iniciou-se contato com professores doutores do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção/ UFSC, e, no ano seguinte. Durante os anos deste curso de pós-graduação foram implementadas e solidificadas ações na ginástica laboral, que, atualmente desenvolve-se na Universidade Federal de Viçosa. Estas ações práticas forneceram subsídios para que fosse implementado algo parecido na UFV, o que tem sido feito desde 2002. A ginástica laboral vem sendo objeto de investigação sob múltiplas abordagens no Curso de Educação Física, e outros cursos da instituição desde então, pois com a divulgação dos benefícios que esta causa nos praticantes ficou claro que esta seria uma “ferramenta” útil em todos locais de aplicação do ser humano trabalhador. No DES/UFV estes estudos tiveram inicio ainda em 2002 com alguns alunos formandos daquele ano, quando foi necessária a elaboração de uma disciplina para o curso, a qual teve inicio no ano seguinte. O estresse laboral, junto com possíveis lesões músculo-esqueléticas, tornaram-se assuntos investigados em projetos de iniciação cientifica e de extensão. Além disso, durante as consultorias realizadas em ergonomia pelo país afora durante 2002 até 2005, a inclusão, como sugestão de sessões de ginástica laboral, foram efetuadas e a aceitação pôde ser considerada como boa. Ainda existem poucos livros sobre este assunto, e nas revistas e periódicos da área o assunto ainda é pouco explorado. Algumas teses e dissertações têm sido dedicadas ao tema, porém ainda em termos de possíveis benefícios de sua prática e de sua relação com o ambiente de trabalho. Não se tem registro gravado de toda produção nesta área, daí a dificuldade de se estabelecer um “estado-da-arte”. É oportuno o momento de reflexão sobre o quanto de atividade física é necessário para uma sessão de ginástica laboral, e, principalmente, discussões de como qualificar melhor o formando neste curso e nesta instituição. 311 Desta mesma forma, no DES/UFV, o assunto vem sendo tratado, pois o único ponto de ligação desta disciplina com o “mundo do trabalho” ocorre com a adoção de programas de promoção da saúde do trabalhador-PPST, aliado a outros programas da empresa. A ginástica laboral estudada nesta IES também atua na prevenção e no combate ao estresse, pois durante a atividade física o ser humano libera a endorfina, o que causa o bem-estar e o alívio das tensões. A intenção é sempre passar conteúdos que possam qualificar e preparar profissionais para atuarem nesta direção, uma vez que o mercado de trabalho para ginástica laboral está muito concorrido com outras áreas de formação na saúde. Como a formação profissionalizante do doutorado foi em ergonomia torna-se uma consequência natural a passagem de conteúdos desta disciplina para alunos do curso de Educação Física. Estes, por sua vez, ao receberem estes conhecimentos e a inevitável discussão passam a possuir um diferencial substancial para o exercício da profissão. Os conhecimentos da ergonomia aplicados na ginástica laboral, e consequente modificação do ambiente laboral, fazem com que o PPST adotado na empresa tenha mais chances de sucesso pleno. Um Programa de Ginástica Laboral – PGL bem estruturado e com base na realidade do local onde será implantado deverá contribuir para minimização de acidentes, assim como dos aspectos estressantes do cotidiano. Os apontamentos são favoráveis a que se tenha esta disciplina como integrante do currículo do bacharel em Educação Física em todas as IES possíveis, e que cada vez mais, se possa aprofundar com conhecimentos que agreguem valor aos conteúdos nela inseridos. 312 CAPÍTULO XVII CASES SOBRE GINÁSTICA LABORAL Edson Toshiyuki Degaki INTRODUÇÃO As profundas mudanças que estão ocorrendo em todas as dimensões do mundo contemporâneo exigem que as empresas se adaptem às mudanças, para que possam sobreviver. As mudanças podem ser graduais ou radicais, na iniciativa pessoal do executivo, nos colaboradores e nos fatores externos à empresa. A qualidade de um programa e suas modificações dependem de sua correta execução, comunicação interna, além de monitorar os resultados, ajustar e prevenir para possíveis mudanças durante a implantação. Para garantir o sucesso, necessita-se de constantes revisões e aprimoramento das mudanças, como exemplo o fenômeno da mão-de-obra não qualificada que está desaparecendo rapidamente do ambiente empresarial substituída por equipamentos e máquinas. As empresas que mantêm a linha de montagem com instalações fixas, uso da uniformidade na produção em massa, economia e escala em longos processos de produção, combinados às crises financeiras promovem o aumento descontrolado do ritmo nos setores de produção para compensar a falta de tecnologia, elevando o número de reclamações e de lesões provenientes de movimentos contínuos, repetitivos e intensos. Na busca de alternativas, as empresas passaram a investir em programas de qualidade de vida, saúde e ergonomia, para atenuar os sinais e sintomas de “stress” no ambiente de trabalho, aliados aos programas de combate ao fumo, álcool, dependência química e na elaboração de cardápios alimentares balanceados, melhorando a qualidade de vida dos colaboradores. Na saúde, os gastos com planos médicos e os afastamentos acompanharam esse crescimento, alertando aos empresários, visto que, na 313 ausência do colaborador, as tarefas são distribuídas entre os colaboradores ativos ou na contratação de mão-de-obra temporária para substituir o colaborador afastado, onerando a folha de pagamento. O excesso de trabalho leva ao rompimento do equilíbrio do corpo e da mente. Algumas manifestações constituem-se em indicadores da adequação ou inadequação Osteomusculares desse entrelaçamento. Os chamados “Distúrbios Relacionados ao Trabalho” (DORT) são indicadores importantes desse tipo de inadequação. No momento, a DORT é o mais revelador grupo de manifestações clínicas e reflete a dinâmica conjunta da ciência, trabalho e saúde. Expressando a complexidade na qual a capacidade de adaptação humana vem sendo testada de forma intensa, os fatores internos e externos ao trabalho ultrapassam com frequência à resistência do colaborador. Surgem desajustes mentais, físicos e sociais, desafiando a ciência e a lei, representando as dificuldades enfrentadas por pessoas e organizações para equacionar as questões do trabalho. A resolução das questões, como definir se uma determinada pessoa tem ou não DORT, embora esse seja um passo importante, significa investir em projetos de saúde ocupacional, reformulação de equipamentos e tecnologia e implantação de programas de atividade física de forma dinâmica e construtiva, para que se possa responder aos desafios do mundo atual como instrumento de saúde e produtividade num mundo de acirrada competitividade. Esses aspectos justificam a realização de um trabalho em que se procurou avaliar a funcionalidade e as alternativas dos programas de Atividade Física nas Empresas, através dos profissionais envolvidos no seu desenvolvimento, estando o Professor de Educação Física relacionado com a motricidade e a saúde, para que se possa ter uma avaliação dos resultados com a implantação dos projetos em empresas e salientar a importância da atividade física e dos exercícios para indivíduos sedentários, inativos e para colaboradores que desenvolvam tarefas repetitivas. 314 Aptidão Física (Physical Fitness) Dentro do novo paradigma de saúde (dinâmica e multidimensional), não há duvida de que a atividade física desempenha papel importante e deve estar presente nos hábitos de vida de qualquer indivíduo (atividade física habitual). Quanto à aptidão física e saúde embora associadas signifiquem coisas distintas, os programas de atividade física serão diferentes dependendo do objetivo (altos níveis de aptidão, bem estar e saúde). NAHAS (1992) acrescenta que níveis moderados de aptidão física são suficientes para reduzir os riscos de doenças do coração. Níveis excepcionalmente altos de aptidão física não são necessários para a boa saúde, apesar de serem muito importantes para a performance esportiva ou para certas atividades profissionais. Torna-se necessário, antes de se aprofundar, definir alguns termos, como Aptidão Física. Segundo BARBANTI (1986): “é um estado de desenvolvimento do corpo, cuja condição permite realizar com eficiência trabalhos físicos; depende de um desenvolvimento mútuo dos sistemas muscular, circulatório e respiratório, integrados e coordenados pelo Sistema Nervoso Central”. Fitness Desde a realização de uma bateria de testes chamada “Aptidão Física Relacionada à Saúde” pela Aliança Americana para a Saúde, Educação Física, Recreação e Dança (AAFPEERD) em 1980, surgiu um novo conceito relacionando Fitness à saúde funcional. Especialistas chegaram a um consenso sobre uma nova definição de Fitness de acordo com os seguintes critérios: 1. Referir-se às capacidades funcionais exigidas para um envolvimento confortável e produtível nas atividades diárias; 2. Conter manifestações de resultados relacionados à saúde; 3. Empregar linguagem clara e facilmente operacionalizável. 315 De acordo com os critérios, Fitness ficou caracterizado por uma capacidade de realizar atividades físicas com vigor e energia, assim como por uma demonstração de traços e capacidades que são um risco de desenvolvimento prematuro de doenças “hipocinéticas”, como as doenças do coração, obesidade, diabetes e dores lombares. Além disso, os componentes da aptidão relacionados à saúde são mais sujeitos a um desenvolvimento decorrente de mudanças de habito de atividade física (NAHAS, 1992; PATE,1988). Independente do sexo, idade e necessidades pessoais, para que a atividade física represente fator positivo para a saúde, é necessário que seja incorporada aos hábitos de vida. A aderência (fixação) a tal comportamento na sociedade moderna resulta de decisões pessoais em função de conhecimento adquirido e da possibilidade de perceber satisfação prazer e autocompetência nas atividades praticadas, não apenas exercício corporal. No sentido de enfrentar novos desafios, o aumento da concorrência e a necessidade de se atender à demanda do mercado acarretam um aumento no ritmo de trabalho, na busca da eficiência quanto aos resultados, um aumento da jornada de trabalho e consequentemente um aumento nas tensões musculares. A mecanização e o ritmo acelerado das máquinas parecem se impor à vida humana de uma maneira cada vez mais nefasta. Numerosas causas de fadiga, de mal-estar e de doenças. As fibras musculares vão perdendo o seu potencial de elasticidade e os músculos se mantêm encurtados, fora da sua condição anatômica natural. Antes do aprofundamento, são apresentadas duas definições de alongamento. Segundo BARBANTI (1979): é a extensão do músculo de seu comprimento em repouso, onde sua extensão, neste estado, mantém o equilíbrio contra forças externas. É sempre passivo, depende da ação do antagonista ou do peso das partes do corpo, pois um músculo por si só não pode alongar-se. O trabalho do alongamento de um músculo diminui com a tensão durante a atividade muscular. HOLLMANN & HETTINGER (1983) definem alongamento como a capacidade de um músculo se alongar em estado ativo e passivo 316 (extensibilidade) e retornar a seu tamanho e forma ou repouso (elasticidade). Dependendo da elasticidade, viscosidade e plasticidade do músculo. O alongamento a partir do toque, de manipulações terapêuticas e movimentos, permitem que os músculos retornem ao estado de tônus mais equilibrado, os tendões voltem a ter o seu espaço normal, sem pressões erradas assumidas durante a vida. Proporcionando um bem-estar ao colaborador, são enfatizadas as práticas regulares de exercícios e sua importância como componente positivo nos hábitos de vida, se for lembrada essa sensação de bem-estar; pode-se fazer disso um exercício especial. Segundo Anderson “as sensações sutis e revigorantes dos alongamentos permitem entrar em sintonia com os músculos” (...) “Na medida em que relaxam a mente e regulam o corpo, deveriam constituir-se em parte da vida diária.” (RIO, 1998). São importantes, portanto, para combater um dos desajustes mais nocivos para a saúde do sistema musculosesquelético, muito freqüente na atualidade: a distorção na percepção corporal. Através do ritmo acelerado e fortemente automatizado, com que muitas pessoas convivem diariamente, as sobrecargas de atividades, responsabilidades e pressões geram padrões de percepções corporais distorcidas (em desequilíbrio ou insuficientes), com utilização indevida do próprio corpo, seja em termos de atitudes psicomotoras ou em termos de posturas e movimentos inadequados. Os desajustes biomecânicos que derivam dessas condições podem ser acentuados; a prática regular de exercícios de alongamento pode ser um método simples para a correção desses desajustes e para manter a percepção corporal dentro de padrões mínimos de qualidade. Para esse exercício, é preferível começar com uma pequena parte do corpo, porque a observação deve ser muito minuciosa. Fazer o exercício com a atenção na mão; observar as sensações; se sentir a necessidade de se mexer, executar o movimento observando as sensações que o acompanham e lhe sucedem (BRIECHEL & MULLER, 1987). 317 O alongamento associado à promoção da saúde e à redução de riscos das chamadas doenças da civilização (associadas ao estilo de vida sedentário), a flexibilidade não é uma questão de força muscular, nem de repetições fastidiosas de trações mecânicas para alongar os músculos. Tornase claro também que a flexibilidade não é o dom próprio de alguns indivíduos privilegiados, mas que ela é natural para o corpo humano com boa saúde, pois, se subsistem tensões além de seu tempo útil (ou seja, após o trabalho), elas acumulam-se, criam contrações progressivas, impedem a circulação do sangue e predispõem, assim, a diversos estados doentios, como esgotamento, cansaço, câimbras, tendinite entre outros. Além disso, é certo que a rigidez das articulações predispõe aos acidentes; há, portanto, múltiplas razões para querer adquirir mais flexibilidade, mesmo para aqueles que não aspiram, de maneira nenhuma, a demonstrações físicas particulares. Se um dos desequilíbrios mais importantes da atualidade consiste no excesso de “stress”, com a escassez de relaxamento, a consequência desse desequilíbrio, além dos desajustes de comportamento e ineficácia no trabalho, tem aumentado o número de infartos do coração, a insônia, a ansiedade, a depressão, o abuso de drogas e álcool. A alternativa mais eficaz e viável para restaurar esse equilíbrio consiste na prática regular de técnicas de relaxamento, que têm efeitos poderosos na manutenção da saúde e da produtividade em alto nível. São técnicas úteis nas mais diversas condições de vida, tornam disponíveis as forças físicas e mentais, e permitem preservar e restabelecer a saúde rapidamente, se o equilíbrio foi momentaneamente rompido. No desempenho qualificado, em que o movimento é caracterizado por suavidade, coordenação, graça, autocontrole e liberdade total do movimento, assim como o corpo aprende a relação aplicada com a ausência de ansiedade, inibição, tensão ou movimentos estranhos. Nas linhas de montagem, em que os movimentos são repetitivos, contínuos, exigindo grande concentração por parte do colaborador, surgem sensações incômodas que são reconhecidas como tensões residuais, pelo 318 excesso de esforço na execução das tarefas. Supondo que a tensão no braço direito manifeste-se claramente, recusando-se a obedecer à vontade, permanecendo num estado de passividade já adquirido com período de trabalho, deixa-se de considerar a tensão residual como uma sensação estranha a eliminar, continua-se a tarefa até terminá-la. Com o passar do tempo, acostuma-se com estas sensações nos processos de adaptação (BRIECHEL & MULLER, 1987; CASTRO, 1998; RIO, 1998). Passando a fazer parte da rotina do colaborador, um obstáculo importante à tomada de consciência de todos esses fatos consiste na falta de aparência das tensões, se não se sentir tensões, acredita-se estar relaxados. A ausência de sensações não garante o relaxamento; procura-se levar consciência aos locais insensíveis à imagem corporal. Através de exercícios de relaxamento pode-se recuperar a sensação do esforço muscular, e restabelecer o equilíbrio corporal e seus benefícios; se for lembrada essa sensação de bem-estar, pode-se fazer disso um exercício especial que permite que o sistema funcione graças à “distensão” que se procura periodicamente e que faz o colaborador suportar melhor a tensão do modo de vida. Essa técnica pode ser utilizada também em caso de doenças ocupacionais em seu estágio inicial, paralelamente ao tratamento médico, obtendo uma regressão da dor e um restabelecimento mais rápido. A dor extremamente violenta das doenças ocupacionais é tal que não se pode suportar tomar plenamente consciência delas. Se aceita com gratidão, o alívio bem vindo dos anestésicos. Não se deve esquecer, contudo, que para toda uma série de pequenos males o relaxamento representa um meio terapêutico mais saudável e mais eficaz que o abuso habitual de medicamentos. Aliás, um treino regular permite empregar essa técnica com uma maior facilidade, recurso pessoal sempre à disposição. Esse método pode ser desenvolvido posteriormente, através de exercícios de concentração que têm por objetivo uma melhora das partes tratadas, ou seja, a regularização de seu tônus vital. É um procedimento terapêutico que estimula os tecidos hipotônicos e acalma os tecidos hipertônicos, levando o tônus dos mesmos ao estado ideal. 319 A prática regular de técnicas de relaxamento tem um efeito extraordinário sobre a capacidade de concentração e pensamento, sobre a estabilidade emocional, sobre a capacidade produtiva, tanto em termos qualitativos, quanto quantitativos. A utilização de técnicas de curta duração é também um requisito importante, em função do tempo frequentemente escasso de que dispõe grande parte das pessoas no seu cotidiano. Deve-se lembrar que o relaxamento excessivo conduz à inércia, à deterioração por desuso. E o “stress” excessivo leva à ruptura da homeostase. Esse equilíbrio, além de ser um objetivo na prevenção e controle do “stress”, é também a consequência de uma vida sábia, saudável e feliz. O estudo sistemático de uma descontração profunda conduz a uma tomada de consciência de si mesmo que desenvolve toda a personalidade (BRIEGHELL & MULLER, 1987; RIO, 1998). Os programas de atividade física dentro das empresas resumiam-se apenas a campeonatos desenvolvidos através dos grêmios, em que normalmente um dos colaboradores administrava as atividades e, em alguns casos contratava-se um especialista de Educação Física para organizá-las. Com a necessidade de promover mudanças nos hábitos de vida dos colaboradores, as empresas passaram a incorporar, junto às linhas de produção, profissionais de Educação Física, com o objetivo de promoverem sessões de alongamento para que compensassem as cadeias musculares solicitadas nas tarefas diárias dos colaboradores. Desenvolveu-se, então, um programa que através de atividades físicas motivacionais e sistematizadas busca, primeiramente, o desenvolvimento das qualidades físicas ligadas ao sistema cardiovascular, pulmonar e muscular seja de forma preventiva e, ou compensatória, bem como a integração social e uma composição corporal adequada (BITTENCOURT, 1994). Características para a elaboração de programas de ginástica laboral A Ginástica Laboral consiste em exercícios físicos específicos que são realizados no próprio local de trabalho, atuando de forma preventiva e 320 terapêutica, sem levar o colaborador ao cansaço por ser de curta duração, trabalhando-se o alongamento das estruturas musculares envolvidas nas tarefas operacionais diárias. A sessão de ginástica com duração de 5 a 8 minutos pode ser executada dentro ou fora do período de trabalho; atividades dirigidas para diferentes setores da empresa, baseadas em exercícios musculares de compensação às posições exigidas para a execução das tarefas, trabalham principalmente o fortalecimento da musculatura antagonista e o alongamento da musculatura agonista mais solicitada durante a tarefa, favorecendo a circulação sanguínea e a oxigenação muscular, evitando a fadiga e enfermidades profissionais crônicas. Atividades propostas: Trabalhar os músculos antagonistas aos da atividade diária; alongar músculos diretamente envolvidos na atividade diária; trabalhar membros opostos nas atividades unilaterais. A Ginástica Preventiva é uma ginástica cuja proposta é uma sessão de ginástica com 10 a 15 minutos realizados antes da jornada de trabalho. Atividade educacional dirigida de forma a se estabelecer uma postura preventiva; tem como objetivo preparar o colaborador para sua tarefa diária, aquecer os grupos musculares que serão solicitados nas tarefas, despertandoos para que sintam mais disposição para iniciar o trabalho. A Ginástica de Relaxamento é uma sessão de Ginástica realizada após o horário de trabalho, com duração de 15 a 30 minutos, proporcionando ao colaborador um equilíbrio corpóreo e mental através de técnicas de alongamento e relaxamento. O objetivo da ginástica é encontrar um gênero de movimento agradável em si mesmo e gerador de um bem-estar global. É preciso atingir uma qualidade de trabalho muscular adequada para fazer nascer uma sensação agradável no próprio local de esforço e em volta dele. É, portanto, uma verdadeira busca e o que importa é não cair em um automatismo inconsciente, totalmente ineficaz. Como o objetivo é o bem-estar, toda sensação desagradável indica que o mesmo não foi atingido e que, por consequência, é preciso procurá-lo por 321 outra via, por um movimento em outro local ou modificando a maneira de movimentar (acelerado ou lento, com mais ou menos energia). Se o exercício funciona, disso resulta um movimento quase contínuo, acompanhado de uma sensação de bem estar crescente. Sem sentir fadiga, tem-se a sensação de estar em plena forma, de recuperar a energia. Se o movimento é preciso, pode-se continuar o exercício sem precisar parar. Este exercício deve ser feito a cada parte do corpo separadamente, depois com o corpo inteiro; quando trabalhar uma parte do corpo, observa-se em detalhe essa parte, mas não é necessário manter o resto do corpo imóvel; ao contrário, ele pode mover-se livremente à medida que isso contribua para o bem estar global. Novos Paradigmas em Atividade Física em Empresas As empresas estão sendo fortemente pressionadas pelo mercado, que exige qualidade e competitividade. Por outro lado, são forçadas a encarar os índices alarmantes de acidentes de trabalho (1.9 milhão de acidentes de trabalho no Brasil em 1975), corroendo-lhe significativamente a produtividade e os lucros (PARRO, 1999). “No Brasil, ocorreram 369 mil casos no ano de 1997, com aumento dos casos de DORT. O chefe do programa de Saúde e Segurança da OIT, TAKALA (1999), detalhou a situação mundial em sua área, afirmando que o custo dos acidentes e doenças ocupacionais correspondem à cerca de 4% do produto bruto do mundo. Conforme o documento, 1,1 milhão de trabalhadores morrem, por ano, vítimas de acidentes e doenças ocupacionais”. O antigo pensamento da administração pelo qual o ser humano é visto de forma fragmentária e apenas como um instrumento a serviço do capital ou como uma fonte de energia a ser exaurida e, depois, sucateada. Da mesma forma que se pergunta quanto ao grau de evolução de consciência das empresas sobre os paradigmas e a nova ordem mundial, também se pergunta em que medida a Educação Física está, de fato, 322 ampliando sua consciência e assimilando a mudança de paradigma na educação. As empresas necessitam, mais do que nunca, de pessoas comprometidas com os objetivos e resultados. Além de ser essencial para a consolidação de qualquer projeto ou programa, o comprometimento é algo muito mais complexo e profundo do que muitas empresas imaginam. Só pode ser conquistado através de uma relação de confiança e de respeito, entre indivíduos conscientes, responsáveis e livres. Antes de implantar os projetos de Ginástica Laboral devem-se analisar os anseios de cada grupo, para que haja maior participação dos colaboradores, a quem a atividade se dirige, e também verificar o tipo de trabalho executado (administração/produção), que gera necessidades diferentes. A idade e a formação social dos indivíduos também influenciarão na escolha dos programas. Através de um questionário pode-se analisar quais as expectativas de cada grupo, evitando-se assim um desgaste desnecessário. CARVALHO (1996) cita projeto em indústrias têxteis e conclui que eles possuem atitude favorável em relação à prática de atividades físicas no tempo livre, não sendo encontradas diferenças significativas na atitude, considerando as variáveis: idade, nível de escolaridade e faixa salarial. A justificativa para a não prática foi à falta de tempo. Pode-se inferir daí a importância de dois aspectos, o primeiro, a possibilidade de realizar, na empresa, aproveitando-se a motivação do grupo e diminuindo a chance de concorrência com outras atividades de tempo livre, o segundo aspecto tem correlação com campanha de esclarecimento que deve ser realizada a fim de fixar a importância da atividade física para a qualidade de vida. Uma vez atingidos os objetivos, deve-se incentivar a prática frequente. A causa mais comum de abandono das atividades é a perda de entusiasmo (CARVALHO, 1996). Fatores a considerar na escolha das atividades, segundo a idade e características específicas dos colaboradores: 323 Quadro 1 – características específicas dos colaboradores Características Específicas Período da Vida Jovem: Casado: Quase aposentado: Objetivos/Estratégias Pouca disponibilidade de tempo; Atividades atrativas; Perspectiva de curto-prazo; Metas próximas, tangíveis; Suprir às necessidades da Envolvimento com a empresa; empresa. Prevenção de acidentes. Maior demanda familiar; Ênfase em benefícios próprios à família Foco direcionado à família. (“stress”, saúde, peso); Atividades com participação de crianças (andar, etc.); Envolvimento da vizinhança. Mais tempo disponível; Identificação das atividades interessantes Perspectiva de atenção (netos, (passado e presente); esposa, pais). Atividades moderadas diárias; Ênfase em atividades independentes, suporte da família. Fonte: Carvalho, (1996) A Ginástica Laboral pode colaborar com esse processo no sentido do desenvolvimento e da evolução dos indivíduos e organizações, dependendo do grau de conscientização e postura ética adotada pelo profissional que a conduz. Disso dependerá também sua afirmação e valorização como um importante instrumento de educação, prevenção e manutenção da saúde dos colaboradores (CAÑETE, 1996). A Ginástica Laboral é realizada normalmente em grupos reunidos nas proximidades ou no próprio local de trabalho. Os atendimentos individualizados são recomendados e realizados com aqueles indivíduos que, além dos problemas característicos da sua atividade ou posto laboral, apresentem outros problemas que precisem ser tratados de forma especifica, como, por exemplo, os problemas com membros superiores que aparecem nos trabalhadores dos setores de montagem. Alguns profissionais vêm buscando constante inovação e o aperfeiçoamento de suas técnicas visando também melhor atender às necessidades, expectativas especificas de cada cliente. Isso é fundamental, 324 principalmente, pelo risco que a ginástica corre de se tornar monótona e repetitiva, transformando-se em mais um fardo para o trabalhador, tal como a sua rotina laboral. Assim, vários profissionais e empresas estão adotando a prática de caminhadas ao ar livre, próximas ao seu local de trabalho, que são intercaladas com exercícios de alongamento e respiração. A sequência dessa atividade depende do tempo disponível e o objetivo é justamente quebrar a rotina e o ritmo/repetição da ginástica, evitando o desgaste e a monotonia, conforme informa DIAS (apud CAÑETE, 1996); além disso, é muito estimulante para os participantes o fato de poderem olhar para o céu, entrarem em contato com a natureza e respirar. O autor pode acompanhar tal reação em algumas das empresas pesquisadas, que possuem uma área verde nas proximidades de suas instalações. Conforme já foi dito, quando realizada em grupo, a ginástica exigirá pausa de atividades laborais por dez minutos e já deverá estar programada. Se não houver condições de espaço e/ou segurança no próprio local de trabalho, será realizada no lugar mais próximo que possua tais condições. Se a empresa decidir, junto com os profissionais orientadores do programa, para utilização de música, deverá providenciar instalações e equipamentos necessários. Para o atendimento individual será necessário um local reservado, colchonetes, sendo também importante que esta ou outra sala possam ser usadas pelos professores e monitores diariamente para o atendimento, registro de fichas e preparo de material escrito. Portanto, são necessárias mesas com cadeiras, material de escritório e telefone. Afinal, os profissionais contratados participarão do dia-a-dia da empresa e trabalharão em equipe interdisciplinar, necessitando dispor de instalações adequadas, como qualquer outro colaborador. Isso independente de serem terceirizados ou não. Atividades físicas, quando desenvolvidas diariamente, de forma organizada e sistematizada, com um caráter preventivo objetivando a melhora da qualidade de vida do colaborador, buscando primeiro as qualidades físicas necessárias para desenvolver as atividades diárias no local de trabalho, com menor gasto energético e melhor qualidade do serviço prestado, fortalecem os 325 músculos opostos do local de trabalho, alongam os músculos agonistas ou que executam diretamente as atividades e fortalecem os músculos antagonistas. Na Du Pont da América do Sul, em São Paulo, a fim de proporcionar Programas de Exercícios Físicos para o quadro de colaboradores e familiares, foi montada uma academia que dispõe de equipamentos de musculação, esteiras e bicicletas; há quatro anos a empresa mantém aulas de ginástica. O programa inicialmente estava voltado para pessoas com necessidade de fazer exercícios atendendo a orientação médica; atualmente, a empresa abriu espaço para todos os interessados. O procedimento faz parte de um programa que busca a Qualidade Total, assinala Adroaldo Pális Guimarães, Gerente-médico da Du Pont. Professor de Educação Física, Fisioterapeuta e Ergonomista integram equipe multidisciplinar de profissionais especializados que orientam funcionários a realizarem exercícios (JIMENES,1995). O sucesso na implantação deste programa, além de ter como base o comprometimento da cúpula da empresa, implica necessariamente na mudança e na transformação da cultura organizacional. Portanto, é necessária uma equipe interdisciplinar, com profissionais de RH, medicina ocupacional, segurança do trabalho, Educação Física, engenharia de fábrica, chefes, supervisores, e diretores. A fase 1 é fundamental e crítica para a continuidade e o sucesso nos resultados, podendo ser comparada ao diagnóstico médico; investigações e avaliações cuidadosas devem ser realizadas a fim de se evitar um erro na indicação do tratamento, já que isso seria desastroso e até, em muitos casos, fatal. 1. Escolher o grupo piloto, que deverá ser feito tendo como principal critério (não o único) a incidência de problemas como: dores, lombalgias, tendinites, “stress”. Normalmente, esse grupo piloto pertence à área de montagem, no caso das indústrias. Sendo bem sucedida nesse grupo, tal experiência poderá ser repassada para as outras áreas da empresa, com vantagens, pois além de contar com o melhor sistema de divulgação, que é o “marketing boca-a-boca” dos colaboradores praticantes, conta-se ainda com a possibilidade de se passar para o próximo grupo, já com os ajustes necessários feitos. 326 2. Definição do perfil do grupo e do setor, tendo sido identificado, como parte inicial do diagnóstico, no grupo piloto; os próximos passos serão na direção de um estudo detalhado, que deverá incluir pelo menos os seguintes aspectos: Características e condições do setor e do posto de trabalho, incluindo uma avaliação ergonômica; Funções desempenhadas pelas pessoas; Ritmo do trabalho; Turno do trabalho; Jornada de trabalho; Condições do ambiente físico (ruído, temperatura, iluminação etc.); Ambiente de trabalho, clima organizacional (relacionamento interpessoal, comunicação, pressões etc.). É fundamental que os professores contratados trabalhem, desde a etapa de diagnóstico, em conjunto com os profissionais da empresa responsáveis por RH, Engenharia, Segurança e Saúde Ocupacional. Na fase dois é o momento decisivo para a continuidade do processo, uma vez que se pretende “tocar” as pessoas, chamar a sua atenção, sensibilizá-las e, mais do que isso, conscientizá-las sobre a relevância do tema para cada uma delas e para a organização. É necessário usar técnicas e estratégias que despertem o interesse e convidem todos a “participar” de fato do programa, sem manipulações, pois somente assim estar-se-á cultivando a semente para um futuro compromisso ou comprometimento com o mesmo. Não manipular significa ser honesto transparente e, portanto, íntegro. Trata-se, então, de trazer as primeiras informações sobre ginástica laboral (o que é; objetivos; resultados) para dentro da empresa, através de palestras, vídeos, material informativo nos murais entre outras ações. É fundamental que todos os níveis hierárquicos passem por esta etapa, ou seja: a) Reunião com presidente, diretores, executivos; b) Nível gerencial e chefias/supervisores; c) Colaboradores em geral. 327 Salienta-se, também, que todos sem exceção, devem ser envolvidos. No entanto, é crucial que o primeiro escalão dê o exemplo e esteja à frente de todas as ações e iniciativas, mostrando o seu aval e legitimando o processo. A etapa de conscientização visa envolver os diferentes grupos e níveis hierárquicos no sentido de aprofundar os conhecimentos sobre a Ginástica Laboral. O objetivo é conscientizar sobre a implantação, confirmando-a e alertando sobre as mudanças que acarretará. Isso significa que precisarão ficar claros os objetivos deste programa e os da empresa ao adotá-lo, bem como as responsabilidades de cada um na viabilização do processo. Baseando-se na experiência pessoal, pode-se afirmar que a conscientização dos altos escalões, gerências, significa não só acordo verbal, mas ação efetiva no sentido de praticar a ginástica diariamente, junto com os colaboradores sendo exemplo vivo dos valores e objetivos enunciados e perseguidos. Esse é, sem dúvida, o ponto mais crítico para o sucesso do programa de Ginástica Laboral e de tantos outros. Na verdade, o exemplo é determinante. Alcançado um nível suficiente de conscientização de todos e, principalmente, dos altos escalões, como se acabou de enfatizar, colocando em prática o programa. A Implantação do grupo piloto será coordenada pelo professor de Educação Física contratado para orientar as séries de exercícios, mantendo-se atenta à supervisão e procurando despertar a motivação e o interesse, bem como estimular a participação. A duração dessa etapa tem sido de três a seis meses. A resistência por parte de alguns colaboradores demonstrou-se ser mínima nas empresas pesquisadas. Nesses casos, algumas eram pessoas de idade mais avançadas e/ou associadas a não participação de sua chefia, ou ainda eram pessoas que necessitavam de maior investimento e atenção quanto a informações e conscientização. Essas últimas, tendo sido chamadas para uma orientação mais personalizada, acabaram se entrosando com a atividade. É importante salientar que a resistência, dentro de certos limites, deve ser 328 esperada e compreendida como reação natural a todo e qualquer processo de mudança. A resistência do colaborador do sexo masculino, na fase de implantação é decorrente da associação da ginástica laboral com os movimentos afeminados desenvolvidos, em função de heranças culturais e preconceitos por parte de alguns colaboradores. A mão de obra mais jovem comprovadamente está mais sujeita às DORT, pelo despreparo físico para o trabalho e pelas condições de vida nos grandes centros urbanos. Os jovens vêm sistematicamente partindo para as atividades producentes cada vez mais cedo, desperdiçando o aprendizado motor da infância e da adolescência, que proporcionam uma adequação, para as futuras atividades profissionais. A questão é por que os colaboradores jovens adquirem com mais facilidade as DORT em comparação a colaboradores adultos e de meia idade? Para responder essa questão deve-se lembrar que, na “vida moderna”, as crianças deixam de lado as brincadeiras de roda ou atividades lúdicas. Anteriormente, a criança tinha liberdade de sair correndo junto a outras crianças, jogar bola no campinho improvisado, nadar em lagoas, empinar pipa, jogar bolinha-de-gude e rodar pião. A inatividade provocada pela falta de segurança ou pelo fato de os pais terem que trabalhar, a alimentação inadequada promovem o aparecimento de problemas como a anemia nas classes C, B e A e nas classes D e E a subnutrição pela falta de alimentação, ocasionando um desenvolvimento intelectual irregular. O desenvolvimento motor fica comprometido; quando os pais possuem condições de pagar uma academia, seja ela de natação ou outro esporte, a criança possui um desenvolvimento motor relativo, quando analisado o comportamento individual esportivo. Mas, o desenvolvimento motor não está relacionado apenas ao esporte; a sensibilidade, a agilidade, a percepção a movimentos mais refinados necessários para o crescimento e para a solicitação ocupacional ou para os movimentos diários que não estão ligados à 329 modalidade esportiva escolhida ficam relegados a segundo plano, e quando esses forem solicitados existirá uma deficiência de tais movimentos. Existe um agravante ainda maior, quando os pais não possuem o recurso financeiro para custear tais atividades ou quando a criança não se identifica na modalidade escolhida, como desenvolver tais qualidades físicas? Os adolescentes anualmente ingressam para o campo de trabalho cada vez mais cedo - segundo a UNICEF, aos 14 anos, quando relacionadas às atividades de estágio e profissionalizações, (a criança tem o direito a aperfeiçoamento profissional e não podem ser atividades que caracterizem escravidão). Quando esses passam a atuar nas atividades profissionais, o amadurecimento motor ainda está em desenvolvimento, eles se encontram em fase de crescimento e em desenvolvimento maturacional e por isso estão mais sensíveis às lesões causadas pelas atividades profissionais. Através de palestras, a conscientização da necessidade de atividades que venham a colaborar com a compensação do trabalho repetitivo tem se tornado cada vez mais importante dentro das empresas, vê-se nessas atividades uma forma de aumentar a produtividade e a qualidade de vida do colaborador. Quanto ao caso dos colaboradores do sexo feminino, a resistência se torna menor ou quase nula, a mulher possui o objetivo de manter-se em forma, bonita, e muitas vezes confunde a Ginástica Laboral com atividades físicas desenvolvidas nas academias; mas, através das palestras, essas dúvidas se dissipam e passam a participar das atividades com frequência. Durante a jornada de trabalho, existem os afazeres domésticos, quando as colaboradoras são obrigadas a comprometer sua vida particular, pela dupla jornada de trabalho empreendida; muitas vezes, as atividades domésticas são similares às atividades ocupacionais, como passar roupa, lavar louça, muitas vezes em tanques com altura inadequada ao biotipo da mulher. Os problemas são acentuados ainda mais quando, na gravidez, ocorre um “afrouxamento” natural das articulações, aumentando a sensibilidade às lombalgias e as DORT. 330 A própria composição corporal da mulher é diferente da composição do homem e acabam-se tornando mais sensíveis às lesões funcionais, não pela falta de capacidade, como já foi comprovado, a mulher é mais atenta às atividades profissionais e, sim, pela formação estrutural e corpórea que não está adaptada para desenvolver tais funções. É claro que existem muitos aspectos e particularidades referentes à esfera da psicologia humana por este tipo de programa, para que os resultados sejam mais efetivos e mesmo por questões de respeito e ética para com as pessoas. Além disso, destaca-se a importância vital do envolvimento e entrosamento entre profissionais de RH, saúde, e segurança da empresa, com o professor e ou a equipe de profissionais contratados para coordenar o programa de ginástica. Quadro 2 - Fatores relacionados à diminuição da taxa de participação em programas de atividade física. Fatores pessoais Fatores do programa Outros Fumo. Inatividade no tempo livre; Profissão sedentária; Trabalhador da produção; Força física aumentada. Local/horário inconveniente. Custo excessivo; Exercício muito intenso; Falta de variedade de exercícios; Exercícios individuais isolados; Falta de reforço positivo. Metas do programa inflexíveis; Taxas de agradabilidade baixa; Pouca liderança de exercícios. Falta de apoio do cônjuge. Clima desfavorável; Viagens a serviço; Ferimentos; Problemas médicos. Introvertido/extrovertido; Obesidade; Hipocondríaco; Depressão/ansiedade; Auto-imagem /ego rebaixado. Fonte: FRANKLIN (in DISHMAN, 1988) Um dos problemas sérios nas fases intermediárias dos projetos de Ginástica Laboral são as séries de exercícios que são desenvolvidas nas linhas de trabalho; quando as séries são assimiladas e executadas pelos colaboradores diariamente, tornam-se cansativas e rotineiras. Os colaboradores passam a perder o interesse pelos exercícios e preferem muitas vezes ficar nas linhas de montagem a participar das aulas; nesses casos, a motivação se torna fundamental para o bom andamento das aulas. 331 Através de palestras dentro da jornada de trabalho a fim de minimizar as possíveis lesões de trabalho, além de preparar o colaborador para desempenhar as atividades exigidas nos setores. Segundo depoimento de Carlos César Alves, da empresa Albarus Transmisões Homocinéticas, “Queríamos que as pessoas se sentissem melhores nos seus setores de trabalho”. Mas somente a ginástica não funciona. Conforme apontam estudos de PULCINELLI (1994) e CANETE (1996), deverão ocorrer outras iniciativas de qualidade de vida dos colaboradores, inclusive interferência dos técnicos e engenheiros de segurança. Quadro 3 - Razões apresentadas por colaboradores para não participar em programas de atividades físicas Razões para não se Exercitar Respostas (%) Sem tempo, muito trabalho 40% Tenho muito exercício em casa ou no trabalho 20% Preguiça 15% Problemas de saúde 12% Falta de interesse, exercício é chato 12% Velho demais 10% Exercício não é necessário 09% Muito cansado 07% Fonte : GETTMAN, in DISHMAN (1988). Para aumentar a frequência aos programas, os benefícios podem ser simbólicos, deixar para os colaboradores escolherem o nome do programa, através de concurso com prêmios simbólicos (camisetas, botons, troféus, etc.), materiais (prêmios em dinheiro, tempo livre, pagamento de despesas) ou psicológicos (atenção, encorajamento, reconhecimento, amizade) (DISHMAN,1988; SHEPHARD, 1994). A avaliação da experiência e resultados após o tempo estabelecido na fase de implantação da implementação (três a seis meses), com o grupo piloto, é hora de aplicar-se uma cuidadosa avaliação dos resultados alcançados, 332 mudanças observadas e fazer os ajustes necessários, visando-se a continuidade do processo. Se a experiência for positiva, bem como seus resultados, o que ocorreu em todas as empresas pesquisadas, isso facilita e oferece um bom prognóstico para a continuidade do programa. Observa-se que, nesta etapa, as pessoas já puderam sentir os benefícios do exercício físico em si mesmas e nos colegas, de forma livre e espontânea, sem imposição. E, assim, desejam continuar. Com a aceitação ou consentimento, quando começa a ocorrer e se mantém na continuidade da implantação, têm-se boas razões para acreditar que a ideia foi aceita e que as pessoas, além de perceberem os benefícios, estão abertas e receptivas a esses, consentindo que façam parte de seu dia-adia. Na fase de consolidação, em que se dá continuidade ao processo e o programa de Ginástica Laboral já deve estar pelo menos sendo comentado por todos na empresa e aguardado por muitos com grande expectativa. A preparação dos monitores selecionados é fundamental, será planejada e executada pelo professor contratado, inclui teoria e prática, bem como supervisão cuidadosa. A implantação em outros setores ocorrerá de acordo com as necessidades e características da empresa. Será feito o diagnóstico e, a seguir, a implantação conforme as especificidades de cada setor e grupo. Seguem-se avaliações e ajustes, e assim por diante, continuadamente. O comprometimento só terá sido alcançado quando todas as pessoas de todos os diferentes níveis hierárquicos estiverem participando ativamente da ginástica, diariamente por livre e espontânea vontade e decisão. Acreditando, percebendo, e valorizando os resultados e os benefícios colhidos por todos: empresa, colaborador, clientes, fornecedores e comunidade. Então, significará que a Ginástica Laboral foi interiorizada pelas pessoas e incorporada pela cultura da empresa, tornando-se um hábito saudável e parte da vida laboral. Nesse estágio, certamente, tal conquista será fortemente defendida por todos. A Ginástica Laboral se divide em duas etapas: 333 Ginástica Preparatória: utilizada para aquecer as articulações e músculos. Normalmente, realizada antes da jornada de trabalho e em grupos; os exercícios são modificados semanalmente. Atividades Físicas de Compensação: São aplicados àqueles colaboradores que já apresentam doenças funcionais, neste caso os exercícios são específicos para cada tipo de problema; se o colaborador já apresenta um processo inflamatório ou uma lesão como, por exemplo: “LER- tendinites”, são administrados exercícios de flexão, extensão, adução, abdução e rotação do membro atingido. À medida que a ginástica compensatória recupera o colaborador doente, a ginástica preparatória é utilizada para prevenção de lesões. As pessoas que trabalham sentadas possuem a probabilidade maior de adquirir problemas na coluna a médio ou longo prazo em relação às pessoas que trabalham em pé. Do ponto de vista empresarial, apesar de se utilizar um tempo de 5 a 15 minutos de produção na Ginástica Laboral, não ocorre diminuição da produção, quando avaliado através dos gráficos de eficiência no final do mês. Segundo CAÑETE (1996), os resultados obtidos são um aumento de 39% nos índices médios de produtividade, melhoria da saúde dos colaboradores e redução da procura ambulatorial por problemas de dores nas costas e hipertensão. Na Panasonic do Brasil, não foi possível mensurar o aumento da produtividade decorrente da contribuição da ginástica, mas esse aumento fica implícito, uma vez que o objeto dos programas de ginástica é despertar o corpo e prevenir acidentes de trabalho. Exame (1995): “uma distribuidora deixa de lado porcas e parafusos três vezes por semana para fazer uma atividade bem diferente: ginástica. No mesmo barracão onde trabalham vestidos com os mesmos macacões sujos de graxa, eles seguem atentamente as ordens de uma mulher que, ao som de música pop, exige que pulem, dancem, mexam com as pernas e braços, em exercícios que constituem a chamada ginástica compensatória, destinada a 334 trabalhadores que passam a maior parte do tempo fazendo movimentos automatizados” (...) “Os mecânicos da Vepasa fazem parte do programa Ginástica em Empresas, criado pela prefeitura de Curitiba e que será estendido a outras companhias incluindo também indústrias.” Produtividade: “(...) Cedi 10 minutos para a ginástica, mas ganhei 30 min em produtividade”, diz o gerente da Vepasa Herman Proruneck, admitindo que os trabalhadores estão mais bem dispostos desde que começaram os exercícios. “(...) Esta é a primeira vez que uma prefeitura ou qualquer órgão público oferece este tipo de serviço em empresas. Por trás da oferta está a intenção de tornar a ginástica uma conquista do trabalhador. Assim como as empresas já oferecem médico, assistente social, psicólogo, passam a oferecer atividades físicas orientadas”. Na Du Pond, segundo o médico Adroaldo Páli Guimarães, 77% das pessoas que começaram a fazer ginástica têm um ganho na produtividade; isso resultou em uma diminuição da gordura corporal, evitando problemas cardiovasculares. A questão das pausas no trabalho tem recebido atenção insuficiente por parte dos profissionais de Educação Física. No Brasil, têm-se registros de um experimento realizado pela Federação de Ensino Superior (FEEVALE) e sua escola de Educação Física, em 1973, cuja proposta era a elaboração de exercícios baseada em análise biomecânica, para relaxar os músculos agônicos pela contração dos antagônicos, em face da exigência funcional unilateral. O projeto de Educação Física Compensatória e Recreação tem por finalidade esclarecer as linhas gerais que deverão nortear a criação de Centros de Educação Física junto aos núcleos fabris, com atividades compensatórias e recreativas. Em 1978, a FEEVALE juntamente com o SESI (Serviço Social da Indústria) elaborou e implantou um projeto denominado “Ginástica Laboral Compensatória”. Seu início datou de 23 de novembro de 1978, envolvendo 335 cinco empresas do Vale dos Sinos. O projeto tinha caráter experimental e visava aprofundar estudos nessa área, conforme informou a diretora de uma das empresas. Em 1992, a iniciativa da fábrica Xerox, de Resende, no Rio de Janeiro, em que no período da manhã (7h15min) 177 trabalhadores exercitam-se sob a orientação de um professor de Educação Física, durante 15 minutos, trouxe os seguintes resultados: Aumento de 39% nos índices médios de produtividade; Melhoria da saúde dos colaboradores; Redução da procura ambulatorial por problemas de hipertensão e dores nas costas. Na Panasonic do Brasil não foi possível mensurar o aumento da produtividade decorrente da contribuição da ginástica, mas ele fica implícito, uma vez que o objetivo dos programas de ginástica é despertar o corpo e prevenir acidentes de trabalho (CAÑETE, 1998). Em 1994, foi introduzida na Empresa Avon, nas linhas de montagem e separação de materiais, a “Ginástica Laboral de Pausa”, com o objetivo de compensar as atividades operacionais que os colaboradores desenvolviam durante o período de trabalho. Os colaboradores em sua maioria aderiram à ginástica e aprovaram as atividades, incorporando-as em seu cotidiano. Quanto aos resultados, não foi detectado aumento significativo na produção, pois a produção no período trabalhava em sua capacidade máxima para atender aos pedidos, mas verificou-se uma diminuição na procura ambulatorial, melhora da autoestima, maior disposição para desenvolver as tarefas, e menor índice de erros. Em 1996, na empresa Spal-Pananco (Coca-Cola), foi desenvolvido o projeto piloto com 90 colaboradores de chão de fábrica, cujo produto são galões de aço para refrigerantes e chope e montagem de máquinas para “Postmix”. As reclamações convergiam nos problemas na coluna cervical; foram implantadas as Ginásticas Laborais de Pausa e de Preparação, os resultados foram favoráveis à ginástica, com declaração do médico do trabalho, em 336 entrevista, de ganho para cada dólar investido no programa retornavam-se 3 dólares. Os resultados destas experiências confirmam o que diz a literatura quanto aos efeitos positivos da ginástica de pausa sobre os aspectos subjetivos como a boa forma física e a disposição para o trabalho (GUERRA, 1996; CAÑETE, 1998). A globalização e os programas de qualidade induzem as empresas a adotarem mudanças radicais nas organizações, custos enxutos, flexibilidade de produção, decisões rápidas, ausência de desperdício e incorporações de novas tecnologias. Embora as empresas estejam adotando ferramentas ditas inovadoras quanto à gestão, continuam apenas reagindo às exigências do mercado, baseadas ainda no antigo modelo de administração e nos modelos mecanicistas e fragmentados, sendo que o principal motivo para adoção da ginástica laboral é dar manutenção e lubrificar o homem-máquina, visando à produtividade, à competitividade e ao lucro. As pessoas são submetidas a intensos desafios, as cobranças são maiores, os trabalhos monótonos e repetitivos. Essas considerações são importantes para pensar a problemática das DORT. As cobranças conduzem diretamente às relações que as pessoas estabelecem com o grupo em que estão inseridas, principalmente, nas relações psicológicas e sociais, dentro e fora do trabalho. Tais relações podem ser fonte de prazer ou de dor, de saúde ou doença, em maior ou menor intensidade. As condições internas da pessoa, e, acima de tudo, das relações que são estabelecidas em função do medo e da ansiedade decorrentes da ignorância sobre sensações dolorosas, dores discretas que passariam despercebidas, RIO (1998) alerta para o fato de que nem toda dor é negativa e reflete processos nocivos de lesão orgânica. Ainda segundo o autor, considerar toda e qualquer sensação um pouco mais intensa como dor nociva pode conduzir a um processo de hiperfocalização de certos seguimentos corporais, como intensificação da percepção dolorosa. 337 Assim, pode-se concluir que o aspecto fundamental desta questão deve ser direcionado à humanização do trabalho. A Ginástica Laboral possibilita aprimorar a produtividade, mas não deve ser vista como algo que oprime, aliena ou mesmo explora o homem que trabalha; pelo contrário, deve ser vista como algo vantajoso para o colaborador e para a empresa. Quando orientada por profissionais especializados dentro da empresa, proporciona melhor aproveitamento de suas horas livres, além de satisfação pessoal, aumento da sua qualidade de vida e produtividade. Através do respeito à saúde do colaborador, à sua segurança e sanidade no local de trabalho, uma vez que é inevitável o fato de que o colaborador passa boa parte do seu tempo dentro da empresa, diante da difícil possibilidade de humanizar o trabalho, a empresa procura contribuir para que o tempo livre do colaborador seja vivenciado de forma mais digna e rica. Apesar das constantes mudanças que atingem as pessoas, as ações sobre as condições de trabalho raramente recebem a atenção necessária ao bom andamento no processo de gestão da qualidade. A saúde e a segurança no trabalho ainda são vistas como custos a mais por alguns executivos, sem nenhum retorno para as organizações. O bom funcionamento do corpo depende de certa quantidade de atividade física. Com a inatividade, os processos degenerativos assumirão o comando e os vários tecidos do sistema locomotor atrofiarão. Otimizar a carga de atividade física significa mantê-la dentro de níveis ótimos, abaixo dos quais os músculos são subconduzidos e acima dos quais podem sofrer danos por uso excessivo. Através desta pesquisa procurou-se elucidar a problemática sobre os fatores que as empresas investigadas possuem acerca dos benefícios dessas atividades, no que se refere à recuperação dos processos degenerativos, como a redução da gordura corporal e do colesterol, redução da tensão arterial, diminuição dos problemas de coluna, de ansiedade e depressão, ou mesmo no que se refere ao aumento da produtividade, redução dos acidentes de trabalho, redução da rotatividade de pessoal e do absenteísmo. 338 Segundo FOSS & KETEYIAN (2000), “é difícil realizar uma pesquisa que avalie quanto se economizou em virtude da atividade física; as experiências científicas bem controladas são complicadas por muitos fatores, dentre os quais certamente não é o menor aquele relacionado ao problema ético de pedir ao grupo-controle que permaneça sedentário”. Com a implantação dos programas de ginástica laboral, a preocupação com a saúde e com a qualidade de vida aumentou entre os colaboradores, as doenças ocupacionais e as faltas devido às dores, cansaço excessivo e fadiga estabilizaram e, em algumas empresas, diminuíram; houve melhora na autoestima, na descontração, no relacionamento dentro do ambiente de trabalho, aumento da disposição para o trabalho, diminuição das queixas de dor e do consumo de medicamentos. As atividades físicas nas empresas eram mecanismos utilizados para a integração social dos colaboradores, através dos campeonatos organizados pelos grêmios; com a mudança do paradigma, a aptidão física relacionada à saúde e de qualidade de vida dos colaboradores, diminuindo os fatores de risco e os hábitos negativos adquiridos, como o tabagismo, alcoolismo e dependências químicas que interferem na vida do colaborador, de seus familiares e amigos, tem-se comprovado que, através da prática esportiva esses hábitos diminuem e em certos casos desaparecem. A ginástica laboral busca a disseminação destes conhecimentos voltados à correta e eficiente utilização das atividades corporais, enfatizando as atividades corretivas, através de exercícios de alongamento para a compensação de movimentos executados na tarefa laboral, em conformidade com a Educação Física, e se torna motivo de inquietação, principalmente quando se depara com “funcionários multiplicadores”, sem formação profissional adequada, incumbidos de coordenar e implementar essas atividades nos pátios das empresas. Acredita-se ser importante a inclusão de disciplinas que visem dar aos acadêmicos uma visão mais clara das relações sociais do trabalho e a responsabilidade social dos órgãos empregadores. 339 Para a Educação Física, apresenta-se uma área de atuação extremamente promissora, desde que corretamente explorada. A pesquisa deverá ser incentivada para os docentes e discentes, no sentido de esclarecer os temas relativos aos benefícios provenientes da atividade física no trabalho e para o bem estar social do colaborador. Entre eles: Traçar metas a serem alcançadas no final de cada etapa do programa de Ginástica Laboral junto com a organização, dimensionando os dados que cada grupo deverá coletar. Enfatizar a participação ativa da direção durante as sessões, para o sucesso dos projetos. A Ginástica Laboral, isolada, não consegue controlar o avanço das DORT, é necessário um empenho conjunto da organização, com participação direta da direção. Não basta que as soluções sejam sólidas em si mesmas, é preciso saber que elas se encaixam no contexto e nas expectativas de curto, médio e longo prazo das organizações. Com a eficiência dos programas, as corporações procuram empresas prestadoras de serviço que ofereçam esses produtos, e por parte de profissionais sérios, demonstrando a preocupação e o reconhecimento dos benefícios que os programas promovem pela mudança comportamental, de hábitos que geram uma população organizada e informada, disposta a modificar e melhorar a qualidade de vida. REFERÊNCIAS Avon em Revista, São Paulo, 1995, p 9. BARBANTI, V. J. Teoria e prática do treinamento desportivo. São Paulo, Ed. Edgard Blucher. 1979. BARRETO, R.E.B. Atualização das normas técnicas sobre distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho – DORT, Ministério da Previdência e Assistência Social, Brasília – DF, Diário Oficial, 1997, nº 131 seção 3, p 14230. BITTENCOURT, N. Palestras sobre atividade física em empresas - Curitiba, 1994. 340 BRIECHEL, G. & MULLER Eutonia e relaxamento. São Paulo: Ed. Manole, 1987. CAÑETE, I. Humanismo: Desafio da empresa moderna - Ginástica laboral como um caminho. 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O objetivo deste capítulo é apresentar os estudos com atividades físicas e ginástica laboral conduzidos pelos autores e outros pesquisadores, destacando os programas de promoção de saúde na escola e atividades extracurriculares voltadas para os professores, funcionários e alunos. ESTILO DE VIDA ATUAL As crianças e adolescentes por viverem em uma sociedade com desenvolvimento tecnológico anteciparam o aparecimento de problemas de saúde evidenciados nos adultos. O crescimento urbano acelerado, a industrialização, a diminuição do gasto energético nas tarefas diárias e nos deslocamentos acarretaram em redução do movimento humano. Além disso, as mudanças nos hábitos culturais da alimentação, incluindo o tipo, a quantidade e a qualidade dos alimentos ingeridos potencializaram algumas doenças. A população em geral apresenta o hábito de assistir televisão (TV) como atividade mais comum no tempo livre da vida diária, no período fora da 343 escola ou do trabalho. O aumento da idade se associa ao maior número de horas despendidas na frente do aparelho, iniciando com 2,5 horas diárias nas crianças menores. Esse hábito pode influenciar o comportamento na população infanto-juvenil quanto às escolhas da alimentação e sedentarismo, associandose à maior adiposidade, à menor capacidade física, ao tabagismo e à elevação dos níveis de colesterol (HANCOX, MILNE, POULTON, 2004). O estilo de vida sedentário e os hábitos alimentares inadequados provocaram uma maior prevalência de obesidade na população, inclusive o excesso de peso foi encontrado em aproximadamente 17% das crianças e adolescentes de escolas públicas de Curitiba (LEITE et al., 2003). As doenças consideradas como fatores de risco cardiovasculares em adultos, estão sendo diagnosticadas em crianças e adolescentes, associadas ao crescimento da obesidade infantil, ao aumento da gordura visceral e à menor massa muscular. Estudo em escolares curitibanos (LEITE, 2005) verificou que os adolescentes obesos apresentaram significativamente maiores níveis de triglicerídios sanguíneos (29,7%) e menores concentrações de colesterol-HDL (26,6%) do que os não-obesos. A hipertensão arterial sistólica ocorreu em 15,6% e a diastólica em 23,4% dos adolescentes obesos e em nenhum dos não-obesos. A resistência insulínica (RI) foi diagnosticada em 65,6% dos obesos. A associação de três ou mais fatores de risco cardiovasculares, denominada como síndrome metabólica, estava presente em 50% dos indivíduos obesos. As modificações no comportamento social que ocorreram nas grandes cidades potencializaram também o agravamento das doenças respiratórias préexistentes como a asma brônquica (LEITE et al., 2004). O aumento do tempo de permanência dentro de casa, o sedentarismo e à exposição de alérgenos, bem como o maior consumo de alimentos industrializados hipercalóricos e ricos em sódio provocaram uma maior prevalência da asma e da obesidade (OLIVEIRA: LEITE, 2007). Dessa forma, perpetua o ciclo vicioso da criança e adolescente asmáticos pelo medo de realizar atividades físicas na escola, que acarreta em redução da aptidão física e aumento da obesidade, dificultando a sua participação nas aulas de educação física (LEITE, 2003). 344 Além desses fatores ligados às doenças cardíacas e respiratórias, o excesso de peso acarreta também problemas ortopédicos como as lombalgias e as dores articulares ocasionadas pelo maior impacto direto e indireto nas articulações. A participação em exercícios regulares e a execução das atividades diárias podem ser dificultadas por problemas ortopédicos, tanto em professores e funcionários, como em alunos da escola que são obesos (MENDES e LEITE, in press). O último relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/ Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF, 2004) divulgou que o percentual de brasileiros com excesso de peso atingiu 40,6% dos indivíduos acima de 18 anos e 16,7% dos adolescentes. Ao relacionar esses percentuais entre si, a tendência é um aumento ainda maior na prevalência de excesso de peso entre os adultos na próxima década. O aparecimento de fatores de risco cardiovasculares na população infanto-juvenil traz como consequência maior proporção de adultos apresentando várias doenças crônicas na próxima década, quando os atuais adolescentes iniciarem no mercado de trabalho (MENDES E LEITE, in Press). O diagnóstico precoce possibilita o trabalho preventivo e terapêutico nessa fase, evitando a persistência na vida adulta. A obesidade e a inatividade física na infância têm sido identificadas como situações a serem prevenidas (AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS, 2003). INTERVENÇÃO EDUCATIVA NO ESTILO DE VIDA A escola é um espaço de educação para a saúde, que precisa ser aproveitado pelos professores de educação física durante a realização de exercícios físicos em suas aulas específicas e ao desenvolver atividades de GL que envolvam todos os participantes do ambiente escolar. O programa de GL pode ser implantado em instituições de ensino, como forma de prevenção e promoção de saúde no ambiente escolar. A preocupação com o bem-estar e com a qualidade de vida (QV) dos escolares, professores e funcionários, proporcionará uma função laboral com mais prazer 345 e saúde. A saúde de todos que frequentam a escola regularmente se relaciona com as atividades desempenhadas fora e dentro da escola, bem como a realidade social em que estão inseridos. Preocupações com a Saúde no Ambiente Escolar Em termos históricos, a preocupação dos médicos-higienistas quanto ao espaço escolar no início do século XX era estabelecer um ambiente escolar adequado ao processo ensino-aprendizagem, às características físicas e psicológicas dos escolares. A proposta estava alicerçada em uma escola que, diferente das fábricas, estações, hospitais, entre outros locais, desenvolveria o silêncio, a atenção e a saúde dos escolares, proporcionando local, espaço, ventilação, tempo para o estudo e descanso, mobiliário ergonômico, material escolar, exercícios físicos e ginástica (ROCHA, 2005). O fato é que, no final do século XX e no início do XXI, a diminuição das atividades ao ar livre, o aumento dos jogos dentro de casa e o hábito de assistir TV das crianças e adolescentes foram apoiadas pelos pais e educadores, em razão da insegurança nas cidades e pelo maior acesso ao desenvolvimento tecnológico. No entanto, ninguém imaginava que em tão pouco tempo, aproximadamente trinta anos, houvesse uma redução no movimento humano, diminuindo o gasto energético, acelerando o sedentarismo e a ocorrência das doenças hipocinéticas desde a infância. A preocupação no ambiente escolar atual, além do processo ensinoaprendizado, é minimizar os efeitos negativos do estilo de vida moderno sobre a saúde dos escolares, dos professores e funcionários. Algumas cidades brasileiras centralizaram a ação na regulamentação dos produtos alimentícios oferecidos pela merenda escolar e vendidos nas cantinas, principalmente proibindo alimentos industrializados hipercalóricos e de valor nutritivo reduzido, denominados de calorias vazias. O fato é que essas medidas preventivas não estão sendo suficientes e precisam ser ampliadas. Além dos escolares, as mudanças nas características do trabalho e no nível de conhecimento do trabalhador com os avanços tecnológicos provocaram uma passagem do paradigma industrial para a era da informação (PILATTI, 2007). Nessa nova era do conhecimento, os professores sofrem 346 diretamente as consequências negativas do querer saber e do se apropriar de todas as novas informações reproduzidas na mídia digital, falada e escrita. Os professores desenvolvem a síndrome de burnout em maior proporção do que os outros trabalhadores, relacionada às pressões internas, que dependem das condições físicas, sociais e emocionais dos estudantes, dos colegas de trabalho e do ambiente (D‟ORIA et al., 2005). Os distúrbios psiquiátricos, como o estresse e a depressão, são os mais frequentes no adoecimento, alcançando níveis de 68,5% das causas de afastamento do trabalho em professores (FONSECA, 2001). O adoecimento está relacionado às questões inerentes ao processo ensino-aprendizagem e aos fatores referentes à localização da escola, como por exemplo, em bairros em que há muita violência, muitas vezes os professores, funcionários e alunos chegam à escola, tensos e estressados pela falta de segurança dentro e fora da escola (MENDES E LEITE, in press). Além dessas questões próprias da realidade escolar, o sedentarismo atinge também os integrantes da escola. Os alunos, professores ou funcionários, inserem-se nessa realidade por diferentes vias de acesso. Os alunos são atingidos pelo sedentarismo pelas reduções dos espaços livres e modificações das opções do brincar. O professor trabalha na escola e em casa, em constante cobrança pela direção da escola, pais, alunos, equipe pedagógica e sociedade em geral. Os funcionários, apesar de trabalharem em instituição de ensino, apresentam baixa escolaridade e trabalham em outros locais para complementar o salário. O resultado é a diminuição progressiva da amplitude e da força nos movimentos executados no ambiente escolar, mas principalmente fora dele, com a redução da prática regular de atividades físicas no cotidiano, no trabalho e no lazer, tornando-os sedentários. As principais causas de afastamento ao trabalho são as doenças músculo-esqueléticas e o estresse, que também estão relacionadas à diminuição da atividade física, obesidade e trabalho repetitivo nos professores e funcionários da escola. 347 Intervenção na escola Programas de qualidade de vida (QV) e promoção de saúde podem ser implementados e desenvolvidos em diferentes tipos de instituições de ensino como nas escolas e universidades. Muitas vezes, os programas contemplam somente os professores, alunos ou funcionários. Em outras oportunidades a implantação abrange todos que frequentam o âmbito escolar e, isto, parece ser uma atividade nova no mundo do trabalho. Os principais objetivos para a implantação e desenvolvimento de programas de promoção de saúde e estilo de vida saudável para todos do âmbito escolar são o desenvolvimento de atividades preventivas, proporcionando maior rendimento escolar dos estudantes, melhor QV para professores e funcionários e, para o empregador, maior rendimento e saúde dos trabalhadores. Portanto, as razões que justificam a implantação de um programa de estilo de vida saudável na escola devem atender, simultaneamente, aos interesses do empregado e do empregador. As principais ações que podem ser propostas em um programa de educação e promoção de saúde na escola envolvem a construção de materiais informativos e atividades especiais em sala de aula com os alunos, ginástica laboral, palestras, entrega de panfletos educativos e outras atividades que abordem a QV, melhoria da saúde, alimentação saudável e aumento da atividade física para todos. Os resultados encontrados em alguns estudos brasileiros demonstraram que programas de promoção de saúde, que incluíram a ginástica laboral em escolas e universidades trazem muitos benefícios para os trabalhadores que atuam em escolas e nas universidades. Os funcionários da Universidade Federal de Santa Catarina relataram diminuição de dores, melhoria no relacionamento interpessoal, aumento nos exercícios físicos e alongamento com a prática de GL (MARTINS e MICHELS, 2001). Em trabalhadores administrativos da Universidade Federal do Paraná, a ginástica laboral aplicada em 10 minutos, três vezes por semana, durante dois meses, aumentou a flexibilidade nas articulações de coluna, membros 348 superiores e inferiores em relação ao grupo controle (p<0,01), que não participou das atividades (MENDES, COLPANI, DONINI e LEITE, 2005). Estudo realizado em professores da rede estadual de ensino avaliando a presença de dor e estresse antes e após quatro meses de GL, com duração de 10 minutos, cinco vezes por semana, encontrou redução significativa de dor nos pés e na cabeça (p<0,05) em relação ao grupo controle (AMPESSAN, 2002). Outra pesquisa avaliou a recuperação mental dos alunos de 5ª a 8ª series do ensino fundamental de uma escola do Rio Grande do Sul com a prática de GL e os alunos apresentaram aumento da produtividade no trabalho mental em 26% nos alunos da 5ª série, 16% nos da 6ª série, 15% nos da 7ª série e 11% nos alunos da 8ª série (KALININE e GÖLLER, 2002). A aplicação de 10 minutos de GL em funcionárias da limpeza, cozinha e biblioteca de uma escola em Chopinzinho, PR. ao final do expediente, três vezes por semana, durante três meses resultou em diminuição da intensidade dolorosa em 22,4% das praticantes, melhora do bem-estar e qualidade de vida (DONEDA, 2004). Outra pesquisa após quatro meses de GL em funcionários e educadores de Centro Municipais de educação infantil em Curitiba encontrou a redução em 27% das dores corporais, 51% da fadiga e em 81% do estresse ocupacional, e de aumento em 56% na consciência corporal, 50% da flexibilidade, 48% no humor e 36% na auto-estima (MENDES e SALIBIAN, 2006). A experiência de um programa de promoção de saúde implantado em uma escola municipal de Curitiba encontrou que os professores e funcionários participantes diminuíram as dores, apresentaram aumento da integração entre funcionários, autoestima e reconhecimento corporal, bem como o fato de que as crianças do grupo experimental cuidavam mais da saúde, frequentando consultório médico regularmente, do que os não-participantes no programa (grupo controle – GC). Outra visão sobre a atividade física evidenciada neste estudo foi uma maior diversão para crianças e adultos, visto que as atividades incluíram palestras, teatro, confecção e fixação de cartazes educativos em toda escola, a entrega de panfletos e a prática da GL duas vezes por semana (REIS JÚNIOR e MENDES, 2006). 349 Os professores de Educação Física da escola têm conhecimento do significado da GL, sabem da relevância para os alunos, professores e funcionários, melhorando QV, evitando lesões e melhorando a flexibilidade (BASTOS, 2006), no entanto poucos estudos utilizam a prática da GL em suas aulas e atividades na escola. Atividades Extracurriculares As atividades físicas (AF) regulares aliadas à orientação nutricional fazem parte das ações terapêuticas para diminuir a obesidade infanto-juvenil e suas co-morbidades. Portanto, programas extracurriculares que visem à educação e saúde de escolares devem ter incentivo à sua implementação. Os resultados da intervenção no estilo de vida dependem da abordagem realizada por equipe multidisciplinar e do processo educativo despendido nessa faixa etária. A tese de doutorado de Leite (2005) teve por objetivo avaliar o efeito de 12 semanas de atividades físicas programadas (AF) e orientação nutricional na redução da resistência à insulina (RI) em crianças e adolescentes com excesso de peso. Foram estudados 64 indivíduos (26 meninos e 38 meninas) com índice de massa corporal (IMC) acima do percentil 90, entre 10 e 16 anos. Na fase inicial e após 12 semanas foram avaliados: peso, estatura, IMC, estágio puberal, pressão arterial (PA), circunferência abdominal (CA), consumo máximo de oxigênio direto (VO2max) e composição corporal. Realizou-se o recordatório alimentar de 24 horas, registro alimentar de três dias e gasto metabólico de repouso (GMR). Foram dosados glicemia, insulinemia, triacilglicerol (TG), colesterol total (CT) e frações em jejum. Cada sessão de AF consistiu de 45 min de ciclismo indoor e 45 min de caminhada, em intensidade entre 35 a 55% do VO 2max nas primeiras quatro semanas e aumento progressivo até 55 a 75%, e 20 min de alongamento, três vezes por semana, perfazendo um total de 36 sessões. A orientação nutricional baseou-se no sistema de equivalentes, retirando 500 quilocalorias (Kcal) do valor calórico total (VCT), visando à redução de 0,5 kg de peso por semana. 350 Além disso, os indivíduos participaram de dois encontros de orientações nutricionais e de incentivo a prática de atividades físicas. A adesão às atividades propostas foi em 86% em 12 semanas. Cinquenta e cinco obesos (23 meninos e 32 meninas) completaram, no mínimo, 60% das sessões. Após o tratamento, os participantes reduziram significativamente o peso, IMC, CA, FCrep, TG e aumentaram o HDL, VO2170 e VO2max. Não existiram modificações na glicemia em jejum, CT e LDL. Os níveis pressóricos reduziram-se somente nos hipertensos. Os níveis sanguíneos de insulina em jejum diminuíram nos indivíduos hiperinsulinêmicos ou com síndrome metabólica, e nos que reduziram o IMC escore Z 0,5. A sensibilidade insulínica aumentou em todos participantes hiperinsulinêmicos, independente da redução do IMC. Os benefícios das AF para a redução de RI foram mais evidentes em obesos que apresentavam alterações prévias. A AF e a orientação nutricional foram efetivas para a diminuição do peso, aumento da sensibilidade e redução na resistência insulínica (LEITE et al., 2005). CONSIDERAÇÕES FINAIS Programas de promoção de saúde e GL devem ser propostos em escolas para ampliar a atuação dos profissionais de educação física, na função de coordenadores e aplicadores das atividades, no entanto, a participação de todos os professores e alunos é fundamental no planejamento das atividades a serem implantadas. Sugere-se que mais estudos sejam realizados abordando os resultados de programas de GL na escola. Ressalta-se que há um mercado carente de profissionais que proponham atividades preventivas e educativas em ambientes escolares. REFERÊNCIAS AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. Prevention of pediatric overweight and obesity. Pediatrics, v. 112, n.2, p. 424-430, 2003 AMPESSAN, Y.P.A. A ginástica laboral e sua contribuição à saúde dos trabalhadores. Monografia de Especialização Lato-Sensu em Exercício e 351 Qualidade de Vida no Departamento de Educação Física, da Universidade Federal do Paraná. 59p., 2002. Orientação: Neiva Leite BASTOS, J. F. A ginástica laboral como conteúdo curricular do ensino fundamental. In: OLIVEIRA, H.F.R.; VILELA JÚNIOR, G.B.; OLIVEIRA JUNIOR, C.R. Qualidade de vida, esporte e sociedade. Ponta Grossa: UEPG, p. 419, 2006. DONEDA, L. Ginástica laboral: benefícios e resultados da implantação de um programa para os funcionários de serviços gerais de uma escola pública estadual do município de Chopinzinho (Pr). 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Logo se percebeu que a ideia ainda não havia sido completamente assimilada por parte dos gestores empresariais, uma vez que experiências práticas deste tipo de atividade no Brasil eram escassas. Diante de inúmeras e fracassadas tentativas de implementação do projeto nas empresas, optou-se por mudar a estrutura metodológica da investigação acadêmica, que passou a descrever a visão das empresas acerca das atividades físicas no local de trabalho, ou seja, procurou-se descrever o grau de conhecimento dos gestores empresariais acerca do papel que as atividades físicas poderiam desempenhar dentro do processo de produção, bem como caracterizar a tipologia das atividades físicas adotadas pelas empresas no Estado do Rio Grande do Sul. Especificamente, o estudo procurou obter respostas para os seguintes questionamentos: As empresas adotam programas de atividades físicas para os seus colaboradores? 354 Que tipo de empresa adota tais programas? Quais as modalidades predominantes e seus objetivos dentro do processo de produção? Este levantamento teve uma amostragem de 144 empresas dentre 574 empresas consultadas através do envio de questionários. Os resultados mostraram que os objetivos atribuídos às atividades físicas, quando presentes nas empresas estavam relacionados à melhoria das relações sociais entre os colaboradores, bem como uma maior integração destes com a empresa. As modalidades de atividades físicas adotadas caracterizavam-se por jogos esportivos competitivos através de competições externas (torneios e campeonatos) e jogos esportivos recreativos, sendo os diferentes tipos de ginástica ignorados. Os horários que se valiam os funcionários para a prática das atividades físicas situavam-se preferencialmente no período vespertino (após o horário de trabalho) e nos fins de semana. Pelas respostas obtidas, observou-se que as empresas que incentivavam a prática de atividades físicas para seus colaboradores o faziam em função dos aspectos socializadores e integrativos da prática, porém, sem adoção de procedimentos científicos de avaliação da eficácia dos programas no processo de produção, ou mesmo no estado de saúde dos colaboradores. Também não foram observadas evidências relacionando as atividades físicas com controles indiretos de produtividade, redução de acidentes de trabalho e absenteísmo. Na realidade, estas atividades eram concebidas majoritariamente com um mecanismo de socialização e integração dos colaboradores. O fato de praticamente serem ignoradas o valor das pausas de compensação durante o trabalho ou mesmo os diferentes tipos de ginástica de compensação revelou sérias e preocupantes deficiências na concepção acerca dos benefícios das atividades físicas no ambiente de trabalho. Também o fato de "funcionários voluntários" sem uma formação profissional adequada serem os responsáveis pela coordenação e implementação das atividades, quando presentes na empresa, demonstrava a precariedade técnica e pedagógica daqueles programas. 355 Em síntese, os resultados da pesquisa mostraram que a ginástica laboral era desconhecida para muitos empresários e era preciso vencer as desconfianças típicas proporcionadas pelas iniciativas inovadoras. Por outro lado, era algo promissor para a educação física, em face do interesse manifestado pelas empresas no recebimento de informações sobre os objetivos, benefícios e meios de implantação da ginástica nos locais de trabalho. REFERÊNCIA PULCINELLI, A. J. A visão das empresas gaúchas sobre as atividades físico-desportivas na empresa. Dissertação de Mestrado. UFSM: Santa Maria, 1994. 356 CAPÍTULO XX RESUMOS Reflexões sobre a Educação Física e o mundo do Trabalho Priscila Maia da Silva Jeane Barcelos Soriano Para realizar uma intervenção no ambiente de trabalho é necessário conhecer e reconhecer a sua centralidade nas organizações sociais modernas e contemporâneas. Ao mesmo tempo, como fenômeno social, é preciso considerar as constantes mudanças em sua organização e exploração no decorrer da história. A literatura crítica do trabalho vem apontando-o como instrumento de alienação e de desumanização, principalmente nos sistemas em que as divisões sociais privilegiam poucos, submetendo a maioria a tarefas impostas, rotineiras e cansativas, afastando o trabalhador dos processos de tomar decisão da sua própria ação, como também da apropriação do seu produto final, submetendo o trabalhador ao capital. Por meio dessa divisão, o capitalismo acaba exercendo uma condição de dominação, se revelando um meio de exploração aceita como civilizada e refinada. A rotina imposta nos meios laborais ignora o organismo humano e não respeita limites individuais: o sistema de trabalho exige um ritmo constante e intenso, muitas vezes até superior ao que o organismo suporta. Isso gera consequências negativas, como as lesões ocupacionais, e geralmente são mascaradas pela pressão sofrida no local de trabalho. Com isso, surge a ergonomia e seus estudos, que passou a compor os conhecimentos relacionados ao trabalho, por analisar a relação do homem com seu trabalho e tem como um dos objetivos a melhoria da produtividade. Pensando nas consequências, como as doenças ocupacionais, inúmeras empresas passaram a introduzir em suas rotinas a execução de exercícios. Assim, associação da ergonomia com a ginástica laboral vem sendo vista, pelas indústrias e empresas, como uma possível solução para prevenção 357 dessas doenças e aumento da produção. Diante da complexidade em se iniciar um estudo sobre a relação da Educação Física com o Trabalho, é imprescindível expor a seguinte questão: quais conhecimentos são necessários para analisar os fatores que constituem o mundo do trabalho e identificar as variáveis que podem influenciar na organização de programas de exercícios físicos realizados junto à empresas, fábricas e instituições? Esses aspectos vêm ao encontro da necessidade de se propor aspectos fulcrais sobre o que deve permear a preparação do profissional de Educação Física para atuar no local de trabalho. A organização curricular dos cursos de Educação Física não apresenta todos os conteúdos específicos relacionados ao mundo do trabalho, o que resulta em profissionais despreparados para enfrentar toda a diversidade de situações que ocorrem durante a intervenção nesse segmento. Referências LIMA, Valquíria de. Ginástica laboral: atividade física no ambiente de trabalho. São Paulo: Phorte, 2003. 240 p. DEJOURS, Christophe. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 4 ed. São Paulo: Cortez – Oboré, 1991. 168 p. IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blücher LTDA., 2003. 465 p. 358 CAPÍTULO XXI PERSPECTIVA DE MERCADO DE TRABALHO EM GINÁSTICA LABORAL Marcos Gonçalves Maciel A ginástica laboral (GL) tem sido adotada por empresas que possuem um programa de qualidade de vida no trabalho (QVT), utilizando-a como uma ferramenta para melhorar o clima organizacional, aumentar a disposição para o trabalho, reduzir os índices de dores musculares e doenças ocupacionais, bem como incentivo à adoção de um estilo de vida saudável. Em contrapartida, a empresa ganha com a redução dos gastos médicos, dos acidentes de trabalho, do absenteísmo e o presenteísmo, que repercute diretamente no aumento de sua competitividade e lucratividade. Kallas e Cozzo (2009) realizaram um estudo em que a amostra final foi composta por 1.000 organizações. Objetivou identificar quais são as ações praticadas pelas empresas nos programas de QVT, e quais os benefícios diretos e indiretos aos colaboradores e às próprias organizações; os resultados demonstraram que com relação ao tipo de atividade física oferecida, a GL acontece em 57,7% delas, sendo a mais adotada. Segundo Exame (2006) 31,3% das 150 melhores empresas para se trabalhar oferece a GL com a mesma finalidade. Esses dados demonstram o grande e crescente interesse das empresas, principalmente, as grandes e médias em desenvolver essa atividade. Porém, para Bedê (2006) as empresas de grande porte, não constituem o principal segmento de mercado no país. Pois há aproximadamente 5,11 milhões de empresas no Brasil, sendo que as médias e grandes representam 81,9 mil estabelecimentos; enquanto as micro e pequenas correspondem a 98% delas, ou seja, 5.028 milhões. A parcela de 36% pertencem ao segmento de serviços; 50% no comércio, apenas 14% na indústria. O SEBRAE classifica como micro e pequena empresa, aquela que possui até 49 empregados (comércio e serviços), até 100 empregados 359 (indústria); média e grande empresa, a que possui 50 ou mais empregados (comércio e serviços), 100 ou mais empregados no segmento industrial. Assim sendo, há ainda uma possibilidade de crescimento para a GL a ser explorado pelos profissionais da área nas micro e pequenas empresas, principalmente nas áreas de serviços e comércio. Esses profissionais devem conhecer as peculiaridades desses segmentos para elaborar estratégias de abordagem e convencimento dos empresários para a adoção e desenvolvimento da GL, bem como procurar adaptá-la às características das mesmos. A melhoria da QVT não deve se limitar às médias e grandes empresas, mas, ser extendida a todos os segmentos do mercado. Conforme os indicativos de crescimento da GL, deve-se procurar expandir para os setores ainda tímidos e que possam admitir programas de saúde aos trabalhadores, de forma que todos possam usufruir dos benefícios que a GL traz. Possibilitando assim, a valorização e proteção dos trabalhadores, já que a GL poderá contribuir com esse intuito através da conscientização dos empresários de sua viabilidade e benefícios alcançados tanto para a empresa quanto para os seus funcionários. REFERÊNCIAS BEDÊ, M.A. Onde estão as Micro e Pequenas Empresas no Brasil. 1ª ed. São Paulo: SEBRAE, 2006. EXAME. Edição especial - as melhores empresas para se trabalhar. Editora Abril, São Paulo, 2006. MACIEL, M.G. Ginástica laboral – instrumento de produtividade e saúde nas empresas. Editora Shape, RJ. (no prelo). KALLAS, Daniele Barrionuevo e COZZO, Alexandre Slivnik. Programas de Qualidade de Vida no Trabalho: um olhar sobre seus benefícios para as empresas e para os colaboradores. Disponível em: < http://www.abqv.org.br/artigos_leitura.php?id=26>. Acesso em 13 de outubro de 2009.