EFEITOS DE UM PROGRAMA DE ATIVIDADE FÍSICA NA CAPACIDADE AERÓBIA DE MULHERES IDOSAS Érica Pinto Miranda Graduada em Educação Física pelo Unileste-MG Heloisa Thomaz Rabelo Mestre em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília. Docente do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - Unileste-MG RESUMO O envelhecimento se manifesta pelo declínio funcional que afeta a capacidade aeróbia. O objetivo deste estudo foi verificar os efeitos de um programa de atividade física na capacidade aeróbia de mulheres idosas, assim como comparar a capacidade aeróbia de mulheres idosas praticantes de atividade física, com valores referenciais. A amostra constituiu-se de 20 mulheres, na faixa etária de 60 a 64 anos (média de 62,55 anos) praticantes de um programa de atividade física, há pelo menos três meses. Para este estudo utilizou-se um teste de caminhada de seis minutos, usando o protocolo de Rikli Jones (1998) citado por Matsudo (2000). A análise estatística baseou-se na estatística descritiva (média e desvio padrão) e estatística inferencial (teste t de student) com nível de significância de p≤ 0,05. Ao analisar os resultados observou-se que não houve diferença significativa em relação às médias (da amostra e do protocolo de Rikli e Jones). Verificou-se que um programa de atividade física para idosos é essencial para que se alcance um nível desejável de capacidade aeróbia para se viver funcionalmente independente. Assim estes resultados apontam a necessidade de incluir atividades aeróbicas em programas de atividade física para a população idosa, como forma de promover a melhora da função física e a manutenção da independência, além de reduzir o impacto negativo da idade sobre as variáveis da aptidão física. Palavras-chave: Envelhecimento; Atividade física; Capacidade aeróbia. ABSTRACT The aging shows for the functional decline that affects the capacity aerobics. The objective of this study went verify the effects of a program of physical activity in the capacity aerobics of senior women, as well as comparing the capacity aerobics of women senior apprentices of physical activity, with values referenciais. The sample was constituted of 20 women, in the age group of 60 to 64 years (62 - 55 years-old average) apprentices of a program of physical activity to three months. For this study a test of walk of six minutes was used, using the protocol of Rikli & Jones (1998) mentioned by Matsudo (2000). The statistical analysis based on the descriptive statistics (average and standard deviation) and statistical inference (it tests student t) with significance level of p≤ 0,05. To analyze the results it was observed that there was not significant difference in relationship the averages (of the sample and of the protocol of Rikli & Jones). It was verified that a physical activity program for seniors is essential so that he/she is reached 1 MOVIMENTUM - Revista Digital de Educação Física - Ipatinga: Unileste-MG - V.1 - Ago./dez. 2006. a desirable level of capacity aerobics to live functionally independent. These results aim like this the need to include aerobics activities in programs of physical activity for the senior population as form of promoting the improvement of the physical function and the maintenance of the independence, besides reducing the negative impact of the age on the variables of the physical aptitude. Key Words: Aging. Physical activity. Aerobic activitiy. INTRODUÇÃO De acordo com Meirelles (1999) e Raso et al (1997), o envelhecimento pode ser conceituado como um processo dinâmico e progressivo, no qual há alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas, que vão alterando progressivamente o organismo, tornando-o mais suscetível às agressões intrínsecas e extrínsecas que terminam por levá-lo à morte. Para Papaléo Netto (2002), o organismo humano passa por diversas fases: desenvolvimento, puberdade, maturação e envelhecimento, este ultimo manifesta-se por declínio das funções dos diversos órgãos que, caracteristicamente, tende a ser linear em função do tempo, não se conseguindo definir um ponto exato de transição, como nas demais fases. O processo de envelhecimento ocasiona uma diminuição da capacidade aeróbia máxima, um dos componentes da aptidão física relacionada à saúde; o autor complementa que o consumo máximo de 02 diminui com a idade sendo que ele não pode ser prevenido, no entanto as alterações podem ser minimizadas com o treinamento aeróbio e sistemático (MORAGAS, 1997; OKUMA, 2002). Segundo Matsudo et al (2000), para manter as demandas fisiológicas necessárias para viver funcionalmente independente, em análise de perda da potencia aeróbica com o decorrer da idade é requerido um mínimo de 15 ml/Kg-1. min-1. De acordo com Hayflick (1996), o ritmo de perda de fibras musculares nos seres humanos se acelera, dos vinte aos sessenta anos, o que os torna mais fracos, diminuindo a capacidade aeróbica cerca de 1% ao ano, e Faro Jr. et al (1996), corresponde a 58% de perda, devido à queda da FC máxima e do volume sistólico. Matsudo (1987) define a potência aeróbica como a capacidade que um indivíduo tem em realizar uma atividade física com duração superior a quatro minutos, na qual a energia provém do metabolismo oxidativo dos nutrientes; sendo a potência aeróbica uma das mais importantes que compõe a aptidão física, pois de sua avaliação podemos obter dados sobre o sistema cardio-respiratório de um individuo e de que forma várias funções fisiológicas se adaptam às necessidades metabólicas quando da realização de um trabalho físico. Tem sido documentado que a inatividade física pode ser um fator determinante na velhice com prejuízos cruciais para a qualidade de vida, segundo Faro jr. et al (1996). A prática da atividade física quando realizada regularmente, contribui com respostas positivas para um envelhecimento saudável, por isso é um importante recurso para minimizar a degeneração provocada pelo envelhecimento, possibilitando ao idoso manter um estilo de vida melhor. Além de estimular várias funções essenciais do organismo, não só como um importante controle de doenças-degenerativas, mas é também essencial na manutenção das funções do aparelho locomotor, principal responsável pelo desempenho das atividades da vida diária e pelo grau de independência e autonomia do idoso (OKUMA, 1998). 2 MOVIMENTUM - Revista Digital de Educação Física - Ipatinga: Unileste-MG - V.1 - Ago./dez. 2006. De acordo com Wagorn et al. (1991) o envelhecimento causa no sistema cardiovascular as seguintes alterações: uma diminuição do número de batimentos cardíacos em repouso; um rápido aumento dos batimentos cardíacos durante a atividade física; um aumento da pressão arterial; respiração mais curta; decréscimo na função de alguns órgãos, entre outros. Segundo a ACMS (2000) a capacidade cardiorrespiratória é um dos componentes da aptidão física relacionada à saúde que declina com o aumento da idade e uma baixa capacidade cardiorrespiratória poderá desencadear doenças crônicas degenerativas como: hipertensão arterial, diabetes, problemas cardíacos, entre outros. No entanto, por outro lado, uma boa capacidade cardiovascular melhora a aptidão física, interferindo de forma a reduzir os declínios funcionais e contribuindo para um estilo de vida independente e mais saudável. O treinamento aeróbico pode ajudar a manter e melhorar vários aspectos da função cardiovascular, levando a um maior consumo de 02, aumento do débito cardíaco e contribui para um envelhecimento mais saudável com menor risco de doenças, quedas, longos períodos de morbidade que certamente afetarão sua qualidade de vida. Torna-se, portanto, necessário o acompanhamento de programas de atividade física de idosos, para ver se estão sendo efetivos, apresentando valores desejáveis da potencia aeróbia, pois é necessária uma quantidade mínima de absorção de 02 para se viver funcionalmente independente. O objetivo deste estudo foi verificar os efeitos de um programa de atividade física na capacidade aeróbia de mulheres idosas e comparar a capacidade aeróbia de mulheres idosas praticantes de atividade física, com valores referenciais. REVISÃO DE LITERATURA Envelhecimento A população brasileira, até bem pouco tempo considerada jovem, tem hoje cerca de 20% de seus indivíduos com idade superior a 60 anos, o que os enquadra na chamada terceira idade, Simões (1998), o envelhecimento é, sem dúvida, um processo biológico cujas alterações determinam mudanças estruturais no corpo e, em decorrência, modificam suas funções. Porém, se envelhecer é inerente a todo ser vivo, no caso do homem esse processo assume dimensões que ultrapassam o simples ciclo biológico, pois pode acarretar, também, conseqüências sociais e psicológicas, conforme afirma Okuma (1998), podendo ser desencadeado por uma série de fatores como estilo de vida, genética, doenças crônicas entre outros (MAZZEO et al, 1998 citado por PASSOS e OLIVEIRA, 2001). A expectativa média de vida vem adquirindo um acréscimo. Isto se dá, devido à melhora da qualidade de vida, que "é a satisfação harmoniosa dos objetivos e desejos de alguém, além de implicar numa idéia de felicidade, ou seja, a ausência de aspectos negativos" conforme Barbosa (2001). De acordo com Hayflick (1996), não existe uma definição perfeita para o envelhecimento, mas como ocorre com o amor e a beleza, grande parte de nós o reconhece quando o sente ou vê. Verderi (2004), a aparência física pode influir imensamente sobre a maneira como nos sentimos a respeito de nós mesmos, as mudanças na aparência dos últimos anos podem se converter numa fonte de frustração para algumas pessoas se elas as associarem a uma perda de atração e perda de possibilidades. 3 MOVIMENTUM - Revista Digital de Educação Física - Ipatinga: Unileste-MG - V.1 - Ago./dez. 2006. Um estresse pode geralmente provocar problemas físicos tais como tensões, dores de cabeça ou ataques cardíacos. A primeira coisa é identificar os eventos em sua vida que o conduzam à sensação de estresse e gradativamente substituindo por eventos de prazerosidade (VERDERI, 2004). É certo que não se pode evitar o envelhecimento. De acordo com Olimpio (2003), no entanto, podemos exercer influência sobre a maneira de como envelhecer, contribuindo para um significativo bem estar com qualidade de capacitação em nossas atividades, movimentos e relacionamento social. Nas teorias de Pires et al (2004), em decorrência da idade avançada e das perdas biológicas e sociais, o idoso passa a sofrer preconceitos, dentre eles a exclusão do meio produtivo como também das perdas afetivas. Antigamente, nas sociedades tradicionais, os velhos eram muito considerados, por serem sinônimos de lembranças e sabedoria. Atualmente o descaso e o desprezo os excluem da sociedade, que os julga improdutivos. Uma velhice tranqüila é o somatório de tudo quanto beneficie o organismo, como por exemplo, exercícios físicos, alimentação saudável, espaço para lazer, bom relacionamento familiar, enfim, é preciso investir numa melhor qualidade de vida, ao contrário do que se pensa, os idosos pedem e devem manter uma vida ativa, essa vitalidade se estende à vida sexual e suas transformações hormonais, com isso a idade avançada não deve impedir que um casal tenha uma vida sexual ativa (ALMEIDA et al, 2004). Alterações Fisiológicas O processo de envelhecimento ocasiona alterações consideráveis no individuo, no qual são destacados os aspectos físicos, psicológicos e sociais, que de certa maneira um está relacionado com o outro e caminham juntos conforme afirma Zanini et al (2003), e pode-se citar dentre os fatores físicos, alterações em todos os órgãos e sistema do organismo intracelulares, que prejudicam não somente sua função como também sua multiplicação. Matsudo (2002) diz que em relação ao envelhecimento existem mudanças principalmente na estatura, no peso e na composição corporal. Muitas mudanças físicas que ocorrem com a idade afetam a aparência, ganho de gordura generalizado, perda dos músculos, perda da estatura, má postura, pele seca, renovação mais lenta das células lubrificantes, pele pálida devido à perda de pigmentos da pele, manchas na pele muito exposta ao sol, os vasos sanguíneos se tornam mais evidentes devido ao afinamento da pele e outras no sistema funcional (VERDERI, 2004). A estatura diminui começando entre os 50 e 55 anos devido à compressão das vértebras a aos achatamentos dos discos intervertebrais, e da cifose (FIATARONESINGH, 1998a citado por MATSUDO, 2002), há uma constante perda de equilíbrio devido a mudanças motoras, ombros se curvam, a cabeça se inclina para adiante, a curvatura dorsal acentua-se, ocorre um flexionamento dos joelhos, os ossos passam de um estado consistente para um estado esponjoso, a descalcificação, que caracteriza a osteoporose (ZANINI et al, 2003). Nas articulações a sobrecarga é danosa e se torna mais delgada e mais frágil, há perda de tônus muscular, ocasionando atrofia muscular nos grandes grupos musculares. No sistema cardiovascular o coração aumenta seu volume, a freqüência cardíaca diminui, há uma diminuição de volume de sangue que o coração bombeia, os pulmões diminuem de tamanho e peso. Já no aspecto social, se dá ao isolamento e ao 4 MOVIMENTUM - Revista Digital de Educação Física - Ipatinga: Unileste-MG - V.1 - Ago./dez. 2006. esquecimento dos idosos, prejudicando também o psicológico, de acordo com a afirmação de Zanini et al (2003). Nas teorias de Barros Neto (2000), a perda da massa muscular e força muscular é a principal responsável pela deterioração na mobilidade e na capacidade funcional no processo do envelhecimento, dificultando a locomoção, equilíbrio, aumentando o risco de quedas, contribuindo também para o risco de doenças crônicas, como o diabetes e a osteoporose. A osteoporose é um dos mais sérios problemas de saúde pública no mundo, sendo uma das principais causas de invalidez e incapacidade física, especialmente nas mulheres após a menopausa, pois a ela se associam fraturas (OKUMA, 2002). Para Rauchbach (1990), atrás de uma barreira de isolamento social, podemos encontrar o pessimismo na sua existência, passividade, queixas somáticas, baixa estima, a ansiedade, a depressão e a insônia precursoras comuns de infarto do miocárdio. Há também modificações no decorrer dos anos, quando alteram seus valores e atitudes; os entusiasmos são menores, a motivação tende a diminuir, é preciso criar estímulos bem maiores para fazê-lo empreender uma nova ação, para lutar contra fatores internos e externos que ameaçam a vida. Atividade Física e Envelhecimento Não se pode pensar em prevenir ou minimizar os efeitos do envelhecimento sem que além das medidas gerais de saúde se inclua a atividade física (MATSUDO et al, 2000). Por isso, os benefícios ao idoso, ocasionado através da prática regular de exercícios físicos, transcendem os aspectos fisiológicos e contemplam o ser humano em sua globalidade: atendem também suas necessidades sociais e psicológicas (CORAZZA, 2001). O programa de exercícios para idosos deve proporcionar benefícios em relação às capacidades motoras que apóiam a realização das atividades da vida diária, melhorando a capacidade de trabalho e lazer e alterando a taxa de declínio do estado funcional (MARQUES, 1996). De acordo com a afirmação de Corazza (2001), a atividade física é citada como componente mais importante para uma boa qualidade de vida, a busca pelo prazer, pela satisfação e bem estar pessoal que vem crescendo positivamente. Segundo Okuma (1998), o envelhecimento combinado à prática de atividade física é um grande triunfo nessa fase da vida a qual chamamos de terceira idade ou mesmo melhor idade. Hoje em dia se tem uma expectativa de vida maior, portanto, é importantíssimo determinar os mecanismos pelo qual o exercício pode melhorar a saúde, a capacidade funcional e a qualidade de vida dessa população. Para Corazza (2001), a atividade física proporciona à terceira idade os seguintes benefícios: Obtenção de saúde, domínio corporal, aumento da mobilidade, cura contra a depressão, uma respiração saudável, vitalidade, autoconfiança, reações positivas, tensão e ansiedades reduzidas, emagrece, previne doenças (cardiorespiratorias, hipertensão, diabetes e outras), promove a socialização e melhora a capacidade funcional. A atividade física realizada com regularidade é uma das principais bases para a manutenção da saúde em qualquer idade. Segundo Olimpio et al (2003) na terceira idade a atividade física é fundamental tanto para as funções cardiovasculares e pulmonares, como também na manutenção da saúde mental, só devemos lembrar que o exagero na atividade é sempre prejudicial; assim como em todas as idades o descanso para a terceira idade se faz ainda mais. 5 MOVIMENTUM - Revista Digital de Educação Física - Ipatinga: Unileste-MG - V.1 - Ago./dez. 2006. De acordo com Manidi e Michel (2001), a atividade física é identificada constantemente como uma das intervenções de saúde mais significativas da vida das pessoas de idade avançada. Dentro dos benefícios imediatos da participação regular em programas de exercícios, se identificam no aspecto físico: maiores níveis de auto eficácia, controle interno, melhoria nos padrões de sono, relaxamento muscular, entre outros. A elaboração de um programa de atividade física para a terceira idade deve levar em consideração o preparo para que o idoso possa cumprir suas necessidades básicas diárias, ou seja, tentar impedir que o idoso perca a sua auto - suficiência, através da manutenção de sua saúde física e mental (ALMEIDA et al, 2004). O exercício físico moderado e regular contribui para preservar as estruturas orgânicas e o bem estar físico, levando à diminuição do ritmo do processo de degeneração. Segundo Simões (1998), o sistema cardiovascular, seu metabolismo, ossos, articulações e músculos estão fisicamente adaptados a realizar diariamente atividades variadas em qualquer idade. Para Manidi e Michel (2001), os efeitos da diminuição natural do desempenho físico podem ser atenuados se forem desenvolvidos com os idosos, programas de atividades físicas que visem à melhoria das capacidades motoras que apóiam a realização de sua vida cotidiana, dando ênfase na manutenção das aptidões físicas de principal importância no seu bem estar. Aptidão Cardiorrespiratória e Envelhecimento Tem-se percebido que a redução dos níveis de atividade física habitual, assim como outros fatores não definidos, associados à velhice, são as principais causas do declínio da capacidade cardiorrespiratória, de acordo com Manidi e Michel et al (2001). Para Leite (2000), a aptidão cardiorrespiratória de qualquer indivíduo refere-se à capacidade funcional de seu sistema de absorção, transporte, entrega e utilização de oxigênio aos tecidos ativos durante exercícios físicos, à medida que cresce a intensidade do exercício cresce a necessidade de oxigênio, pelos músculos em atividade, para esforços contínuos e prolongados. O sistema energético predominante é o aeróbico que para funcionar adequadamente necessita de um eficiente sistema cardiorrespiratório, ou seja, ele depende da capacidade do organismo. Para Barros et al (1999) o VO2 máx é freqüentemente usado como um indicador da função cardiovascular e capacidade máxima, pesquisas indicam que o VO2 máx diminui aproximadamente 5 a 15 % por década iniciando a partir 25 -30 anos de idade. Este declínio pode ser atribuído ao processo de envelhecimento na redução da capacidade cardíaca e na diferença da oxigenação arteriovenosa, sendo que os batimentos cardíacos máximos diminuem de 6 a 10 batidas por minuto por década e é responsável pela diminuição da capacidade respiratória, no entanto, a redução do volume sanguíneo durante o exercício máximo no idoso, também contribui para a diminuição da capacidade cardíaca. A redução do volume de sangue parece ser um fator de maior responsabilidade para a perda dos batimentos cardíacos, por minuto, observados durante o exercício submáximo e a pressão sanguínea é também mais alta nesta situação, comparando idosos e pessoas mais jovens. Assim, associada com a resposta da pressão sanguínea, a resistência total periférica é geralmente mais alta em idosos, do que em pessoas mais jovens na estimativa dos resultados da intensidade do exercício, de acordo com Barros Neto (2000). 6 MOVIMENTUM - Revista Digital de Educação Física - Ipatinga: Unileste-MG - V.1 - Ago./dez. 2006. As alterações no processo cardiovascular consistem, tanto a função miocárdio central, quanto o sistema vascular periférico. A redução na FC de repouso é pequena, no entanto a FC máxima durante o exercício ou outro tipo de estímulo decresce progressivamente e linearmente com a idade, Faro Jr. et al (1996). Para Manidi e Michel (2001), a freqüência cardíaca é definida pelo número de contrações do músculo cardíaco por minuto. Potência Aeróbia A capacidade aeróbica é definida como capacidade máxima para absorver, transportar e utilizar oxigênio. O valor resultante, expresso em mililitros de oxigênio por quilograma de peso corporal por minuto (ml/kg/min.), permite comparação direta de indivíduos, independentemente do tamanho corporal, essa medida, também conhecida como potência aeróbica, é mais relacionada ao desempenho de resistência em corrida e outros esportes em que o atleta sustenta o próprio peso e é a forma preferida para expressar a capacidade aeróbica (SHARKEY, 1998). A capacidade aeróbica máxima geralmente diminui com a idade, entretanto, a pessoa idosa tem capacidade de exercício semelhante a das pessoas jovens ativas, isso significa que alguns processos fisiológicos que diminuem com a idade podem ser modificados pelo exercício e pelo condicionamento físico, podendo melhorar a eficiência cardíaca, função pulmonar e níveis de cálcio ósseo (HAYFLICK, 1996). Para Sharkey (1998), até recentemente, o valor de capacidade aeróbica (VO2 máx.) era visto como a melhor medida de aptidão física e acreditava-se ser correlacionado à saúde e relacionado ao desempenho no trabalho e esporte. Outras formas de medir a capacidade física começam a emergir, algumas parecem ser melhor correlacionadas à resistência e ao desempenho em atividades que duram 30 min. ou mais, o consumo máximo de oxigênio, que utiliza o escore mais alto atingido é um teste de intensidade de exercício, melhor correlacionado a eventos com duração de 12-15 minutos. Um programa de treinamento aeróbio pode aumentar a potência em sujeitos de 60 anos tanto quanto 10 ml/kg/mim num período de 3 meses de treino, reduzindo efetivamente a idade biológica do sistema transportador de oxigênio em 20 anos. A falta de um treinamento aeróbio, no entanto, não deve limitar a independência de indivíduos ativos, a menos que ele, ou ela viva até uma idade, não comum, de 100 anos (SHEPHARD, 1998). O treinamento melhora a função e a capacidade dos sistemas respiratório e cardiovascular e aumenta o volume de sangue, mas as mudanças mais importantes ocorrem nas fibras musculares que são utilizadas no exercício. O treinamento aeróbico aumenta a capacidade do músculo para produzir energia aerobicamente e muda o metabolismo de carboidrato para gordura (SHARKEY, 1998). A capacidade aeróbica é influenciada pela hereditariedade e treinamento, bem como por outros fatores tais como idade, gênero e gordura corporal, como também para desempenhar um evento de resistência que deverá também ser influenciado pela sua saúde atual, dieta, hidratação, nível e descanso e aclimatação ao calor e altitude, de acordo com Sharkey (1998). 7 MOVIMENTUM - Revista Digital de Educação Física - Ipatinga: Unileste-MG - V.1 - Ago./dez. 2006. METODOLOGIA Amostra A seleção foi realizada aleatoriamente em 20 mulheres idosas, na faixa etária de 60 a 64 anos (media de 62,55 anos) praticantes de um programa de atividade física como alongamento, ginástica aeróbia, ginástica localizada, relaxamento e atividades lúdicas, há três meses do núcleo Ativaidade em movimento – campus I do Unileste-MG em Coronel Fabriciano-MG. Instrumentos Para este estudo utilizou-se um teste de caminhada de seis minutos, usando o protocolo de Rikli Jones (1998) citado por Matsudo (2000), no qual permitiu indiretamente medir a potência aeróbica ou a endurance física na terceira idade. Foram usados cones, fita métrica, palitos de pirulito, giz, fita crepe, cadeiras, um cronômetro (Sport Timer), balança mecânica da marca Filizola, com estadiometro acoplado. Procedimentos As voluntárias deste estudo foram submetidas ao teste de caminhada de seis minutos do Rikli Jones (1998) citado por Matsudo (2000), o qual propôs à avaliada caminhar a maior distância possível em 6 minutos em um percurso de 45,72 metros marcada em 10 segmentos de 4,57 metros. O percurso foi marcado com cones e os segmentos com fita crepe. A área de caminhada foi em um local aberto, e com uma superfície não derrapante. Para determinar a distancia caminhada, um palito de pirulito foi dado à participante toda vez que passou pelo cone ou ainda quando um avaliador ou ajudante marcou a volta completada. Ao sinal de “Atenção! Já!!” as avaliadas foram instruídas para caminhar tão rápido quanto foi possível (sem correr) no percurso, quantas vezes elas puderam em 6 minutos. Se fosse necessário, as avaliadas podiam parar e descansar (em cadeiras disponíveis) e depois continuar caminhando. Tratamento dos Dados Os dados foram discutidos através de estatística descritiva (média e desvio padrão) e estatística inferencial (teste t de Student) com nível de significância de p≤ 0,05. Cuidados éticos Cumprindo-se a ética e o profissionalismo, foi solicitada à orientadora permissão para a aplicação do teste, sendo que o mesmo não será mencionado. A participação da amostra foi voluntária, sendo apresentado a elas um termo de consentimento, informando do objetivo e dos procedimentos deste estudo e todas as informações pessoais obtidas ficarão de posse do pesquisador, e será divulgado apenas o resultado para fins científicos. 8 MOVIMENTUM - Revista Digital de Educação Física - Ipatinga: Unileste-MG - V.1 - Ago./dez. 2006. RESULTADO E DISCUSSÃO A maioria das funções fisiológicas declina com a idade, porém em graus diferentes, geralmente o envelhecimento causa efeitos negativos sobre: nível antropométrico, composição corporal, etc... sendo o estilo de vida o maior responsável. O exercício físico regular demonstra ser um fator importante para estimular diversos órgãos e torná-los mais eficazes em relação às agressões na velhice. A Tabela 1 apresenta a media e desvio padrão das idades, peso corporal e estatura caracterizando o presente estudo, sendo 62,55 ±1,32; 63,5 ± 11,34; 1,53 ± 0,06 respectivamente. Obteve-se como amostra 20 mulheres idosas, na faixa etária de 60 a 64, praticantes de um programa de atividade física, há pelo menos três meses, do núcleo Ativaidade em movimento. TABELA 1: Médias e Desvio padrão das medidas antropotométricas das idosas Idade (anos) Peso (kg) Altura (cm) X 62,55 63,5 1,53 SD 1,32 11,34 0,06 A capacidade cardiorrespiratória torna-se um fator determinante para se viver independente, pois é um dos principais componentes da aptidão física relacionado à saúde. De acordo com os valores padrões de referência de Rikli e Jones no teste de caminhada de 6 minutos, aplicado neste estudo a média é de 548,7 metros, para a faixa etária de 60 a 64 anos. Os resultados encontrados no presente estudo foram média de 544,1 metros. Ao analisarem os resultados através do teste t de Student, observou-se que não houve diferença significativa ao nível de p≤ 0,05 em relação as medias, conforme pode ser visualizado na Tabela 2 e Figura 1. TABELA 2: Média (x) e desvio padrão (s) do teste de 6 minutos do grupo praticante de atividade física e do valor referencial de Rikli e Jones. MEDIA DES. PADRAO t AtivaIdade em Movimento 544,1 69,1 -0,03 Rikli e Jones (1998) 548,7 76,4 9 MOVIMENTUM - Revista Digital de Educação Física - Ipatinga: Unileste-MG - V.1 - Ago./dez. 2006. Distância percorrida (m) FIGURA 1 - Média e desvio padrão do teste de 6 minutos do grupo praticante de atividade física e do valor referencial de Rikli e Jones 600 544,1 548,7 500 400 AtivaIdade em Movimento 300 Rikli e Jones (1998) 200 69,1 76,4 100 0 1 Média 2 Desvio Padrão Acredita-se que pelo fato das voluntárias deste estudo terem um histórico de atividade física, realizando treinamento aeróbicos, localizados, danças, alongamentos, entre outros, constatou-se a importância do exercício físico, para se obter mais saúde, prevenir doenças e minimizar a degeneração provocada pelo envelhecimento, possibilitando ao idoso manter uma qualidade de vida ativa. Pode-se observar que através desses exercícios, há uma contribuição para que as mesmas apresentassem resultados dentro da média estipulada, dessa forma podendo refletir numa melhora da capacidade aeróbia, no ganho de força muscular, flexibilidade, agilidade, combate à obesidade, redução do risco de osteoporose e diabetes, aumento da auto-estima e combate à depressão. Recentes pesquisas apontam que indivíduos idosos podem se beneficiar dos exercícios, reduzindo os riscos de quedas e lesões, melhorando a autonomia funcional (ACSM, 2003; FLECK; FIGUEIRA JR., 2003; FRONTERA; BIGARD, 2002; MATSUDO, 2002), citado por Dantas e Vale, 2004. E segundo Raso et al (1997), estes estudos confirmam a importância da participação de pessoas idosas em programas de atividade física regular, reduzindo o impacto negativo da idade sobre as variáveis da aptidão física, diminuindo os custos com tratamentos médicos e internações, além das taxas de incidências de morbidade e mortalidade. Faro Jr et al (1996), dizem que se o envelhecimento for seguido por inatividade física o indivíduo irá declinar a capacidade funcional, comprometendo a saúde e qualidade de vida. Wagorn et al (1991) afirmam que os aspectos como estilo de vida, dieta e nível de exercícios podem ser substancialmente benéficos para um envelhecimento saudável. Segundo Faro Jr. et al (1996), a prática regular contribui para um usufruto da terceira idade de maneira ativa, independente, saudável e com melhor qualidade de vida e Matsudo et al (2000), confirmam a afirmação de Faro Jr. et al (1996) em que a prática irá promover melhoras significativas na resistência cardiorrespiratória devendo levar em conta o declínio da FC máxima de 1 bpm por ano, que é responsável pela diminuição da potência aeróbica, na qual haverá menor débito cardíaco máximo e menor volume sistólico máximo com o aumento da idade. Matsudo et al (2000) apontam em estudos realizados com mulheres idosas, a importância da prática sistematizada de exercícios físicos como uma das principais causas a produzir efeitos protetores contra a evolução das doenças crônicasdegenerativas e infecto-contagiosas em todos os estágios da vida e que irão propiciar 10 MOVIMENTUM - Revista Digital de Educação Física - Ipatinga: Unileste-MG - V.1 - Ago./dez. 2006. não somente aumento nos anos de vida como também melhorias no estado de saúde da pessoa. As principais modificações funcionais associadas ao envelhecimento e à inatividade física são: capacidade aeróbia reduzida, perda de massa muscular, diminuição da força muscular e da flexibilidade, osteoporose, aumento de gordura corporal, metabolismo lipídico alterado e perda dos reflexos posturais (FARO JR. et al, 1996). É importante que a atividade física seja introduzida na vida das pessoas o mais cedo possível para que os efeitos inevitáveis do envelhecimento sejam menos desastrosos. Acredita-se, portanto na evidência que a atividade física, realizado pelas idosas melhora a capacidade aeróbica, sendo necessário que elas participem sempre, minimizando esses efeitos, e obtendo um melhor estilo de vida. CONCLUSÃO Em resposta à investigação deste estudo, conclui-se que a amostra apresentou valores dentro da média referencial sendo, portanto, essencial um programa de atividade física para idosos, para que se alcance um nível desejável de capacidade aeróbia para se viver funcionalmente independente. Assim estes resultados apontam a necessidade de incluir atividades aeróbicas em programas de atividade física para a população idosa, como forma de promover a melhora da função física e a manutenção da independência, além de reduzir o impacto negativo da idade sobre as variáveis da aptidão física. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, A.D. et al. Faculdade de Educação Física da Associação Cristã de Moços de Sorocaba, 2004. 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