Universidade de São Paulo Centro de Energia Nuclear na Agricultura Laboratório de Ecotoxicologia CONCEITOS BÁSICOS PARA O USO DE HERBICIDAS EM SISTEMA SUSTENTÁVEL Jussara Borges Regitano, Ph.D. Agricultura Sustentável Forma de buscar maior produção, com mínimo de “degradamento” do ambiente, É aquela capaz de manter-se estável independentemente da variação da bolsa de Nova Iorque, Deve estar a serviço da saúde e da biodiversidade, É aquela em que o ciclo produtivo é fechado dentro da propriedade, havendo equilíbrio energético entre produção e consumo, Não basta proteger e melhorar o solo ou a propriedade agrícola se não resulta em melhoria nas condições de vida das pessoas envolvidas, É aquela que deixa lucro ao produtor e alimentos de boa qualidade ao consumidor Refere-se à capacidade de uma unidade agrícola tem de continuar a produzir, numa sucessão sem fim, com um mínimo de aquisição do exterior. Portanto, envolve: conservação do meio ambiente, unidades agrícolas produtivas e criação de comunidades agrícolas prósperas. Destino dos herbicidas no ambiente Atmosfera VOLATILIZADO ESCOAMENTO/EROSÃO DERIVA FOTÓLISE Solo DEGRADAÇÃO ABSORVIDO PELAS PLANTAS herbicida fase sólida sorção Dessorção Lençol freático herbicida Metabólitos Hidrólise Metabolismo herbicida solução solo LIXIVIADO Rios Oceanos Herbicidas no ambiente Sítio de aplicação transporte Destino final ar, água, solo e alimento TRANSFORMAÇÃO 1. Potencial de sorção 2. Velocidade de degradação 3. Condições edafo-climáticas 4. Propriedades físico-químicas do solo e do herbicida Potencial de sorção Refere-se ao potencial de retenção de uma det. molécula junto à superfície do solo Fase sólida Kd = (L kg-1) concentração do herbicida sorvido ao solo concentração do herbicida na sol. solo Fase aquosa Kd sorção Potencial de sorção Refere-se ao potencial de retenção de uma det. molécula junto à superfície do solo Fase sólida Kd = (L kg-1) concentração do herbicida sorvido ao solo concentração do herbicida na sol. solo Fase aquosa Kd sorção Solubilidade x Sorção Koc = >300 l kg-1 Baixa solubilidade Solo Fração mineral + Húmus Fração Coloidal Sw = 11,6 g l-1 O HO P CH2 NH CH2 COOH OH H+ Ca2+ Al3+ Mg2+ H+ K+ Al3+ Mg2 Na2+ Ca2+ Alta solubilidade Al3+ K+ Mg2+ Ca2+ Na2+ H+ H+ Sorção Dessorção Ca2+ Mg2+ K+ H+ Solução do solo Sorção em f (solubilidade) Koc sorção Sw sorção (Koc) 100000 Koc 1000 10 0,1 0,1 10 Solubility (mg/L) 1000 Sorção e teor de C orgânico (CO) Refere-se ao potencial de retenção normalizado ao teor de CO do solo. Kd KOC = (L kg-1) Kd x 100 Teor de CO do solo (%) Por que? Afinidade orgânico/orgânico CO (%) Sorção em f (profundidade) Profundidade (m) Superfície 0,0 - 0,2 0,2 - 1,0 Subsuperfície Aquífero 1,0 - 4,0 Aquífero > 4,0 0 Fração sorvida Degradação Refere-se à transformação na estrutura química da molécula, resultando: - Subprodutos (metabólitos) e/ou - CO2 + água (mineralização) Pode ser: Abiótica (química): fotólise, hidrólise, oxi-redução etc. Biótica: metabolizado por microrganismos, plantas etc. Degradação biótica BIÓTICA: enzimas promovem a catálise da reação - Normalmente, promove mudanças extensivas na estrutura e nas propriedades toxicológicas dos herbicidas (ativação ou detoxicação). Pode ser causada por microrganismos, plantas e animais. - Pode levar à completa mineralização do produto Compostos CO2, N, P, S e outros Orgânicos Compostos Inorgânicos Importante: promove a “detoxicação” do ambiente Condições necessárias à biodegradação • Existir pelo menos 1 organismo capaz de produzir as enzimas necessárias, • Este organismo precisa estar presente no local de ação, • O herbicida tem que estar acessível ao organismo, • Se a enzima de atuação inicial for extracelular, esta precisa estar disponibilizada, • Se as enzimas forem intracelulares, o herbicida terá que atravessar a parede celular do organismo, • As condições ambientais têm que serem favoráveis, permitindo a proliferação dos organismos potencial/e ativos. ACLIMAÇÃO Período prévio à degradação do herbicida, em que nenhuma transformação do produto é observada. Também conhecido como “período de adaptação” ou “fase-lag”. Importante: aumenta o período de exposição do herbicida. Atividade microbiana em f (temperatura) Atividade microbiana (%) 15 oC 100 45 oC 80 60 40 20 0 20 40 60 80 100 120 Temperatura do solo (oC) 140 160 Atividade microbiana em f (umidade) Atividade microbiana (aeróbica) Alta Baixa 0 20 40 60 80 Umidade (%) 100 Colonia Filme de água ÚMIDO herbicida SECO Umidade/Sorção/Degradação LA d 60 80 25 % cc LA d 50 % cc 75 % cc 70 50 2 5 % cc 5 0 % cc 40 7 5 % cc 30 20 % aplicado Mineralização (% aplicado) 90 60 50 40 30 20 10 10 0 0 2 ,4 - D 2,4-D D iuro n Diuron 2 ,4 - D 2 ,4 - D 2,4-D e xtra íd o s o rvid o Extraído Sorvido D iuro n D iuro n Diuron e xtra íd o s o rvid o Extraído Sorvido Dissipação Refere-se às frações “inativas” e/ou “perdidas” da molécula, em formas distintas àquelas da molécula original. Abrange: mineralização e degradação resíduos ligados absorção volatilização lixiviação escoamento superficial Formas de dissipação Perda 100 CO2 + H20 Degradação Res. ligados 0 Tempo (dias) Dissipação (% aplicado) Meia-vida (t 1/2) de dissipação C = C0 e-k t Fração (% do aplicado) t1/2 = ln 2 . k 1/2 perdido t1/2 (meia-vida) Tempo para 1/2 do aplicado ser dissipado Tempo (dias) Características desejáveis do herbicida em relação à persistência O herbicida tem que ser persistente o suficiente para exercer sua função, mas não o bastante para promover efeitos adversos e acumulativos no ambiente! Importância das formulações! Degradação em f (sorção) Meia vida (dias) 140 Flumetsulam 120 Sorção t1/2 persistência 100 80 60 40 20 0 0 0.2 0.4 0.6 Sorção (Kd) 0.8 1 1.2 Lehmann et al, 1992 EEFEITO DA SORÇÃO Mineralização do diquat Afeta a biodisponibilidade do herbicida CO2 (CPM X 103) SEM ARGILA MONTMORILONITA (baixa concentração) MONTMORILONITA (em excesso) SEMANAS Solo Sol. solo Dessorção Tempo Removidas Dessorção Biodisponibilidade simazina Propriedades físico-químicas dos solos Argila Silte Areia Corg % % % % BR-1 22 11 67 0,98 5,6 3,6 BR-2 40 8 52 1,34 5,5 4,0 US-1 4 3 93 0,95 6,3 0,7 US-2 19 56 25 2,26 6,3 3,6 HW-1 15 66 19 2,62 8,0 6,2 HW-2 * * * * 5,5 1,0 Solo * Amostra de solo em re-análise pH Kd L kg-1 Dissipação da simazina Simazina (% do aplicado) 100 Solos BR-1 BR-2 US-1 US-2 HW-1 HW-2 80 60 20 0 20 40 60 Tempo (dias) 80 100 DT 50 .........................dias........................ 40 0 t1/2 120 BR-1 30,4 21,3 BR-2 34,9 22,0 US-1 75,4 55,5 US-2 45,1 34,0 HW-1 4,1 1,0 HW-2 55,3 44,3 Envelhecimento da simazina Valores de Kdap determinados para o herbicida simazina nos diferentes períodos de incubação. ap Valores de Kd Tempo dias BR-1 BR-2 US-1 US-2 HW-1 HW-2 ....................................................... L kg-1 ....................................................... 0 3,7 4,0 0,5 3,0 7,0 1,0 7 8,1 10,3 1,0 5,2 - 1,9 13 8,4 9,5 0,9 4,7 - 2,0 27 9,3 8,2 1,2 3,4 - 2,0 54 14,7 14,6 1,1 6,7 - 3,4 102 25,5 17,2 1,3 8,1 - 3,5 C-CO2 (% aplicado) 14 80 60 Biodegradação real (Pseudomonas) 40 0 dia 7 dias 14 dias 20 28 dias 55 dias 0 14 C-CO2 (% aplicado) 100 Solo HW-1 Solo HW-2 0 dia 80 7 dias 60 14 dias 28 dias 56 dias 40 20 0 0 30 60 90 Tempo (horas) 120 150 0 30 60 90 Tempo (horas) 120 150 Características do Plantio direto Plantio direto (ou cultivo mínimo) x Plantio convencional - Adotado com objetivo de reduzir erosão do solo - Diminui o uso de herbicidas a longo prazo - Maior teor de MO na superfície (até 1,5 cm) (Sorção e atividade microbiana e a biomassa) - Presença da palhada (restos culturais) - Maior teor de água em superfície - Taxa de biodegradação dos herbicidas Persistência (PD x PC) Glifosato CO2 t1/2min t1/2dis Atividade microbiana (nmol glicose g-1 h-1) 30 (%) 25 PD PC 20 15 17,1 8,6 10 0 0 15 252 539 19 26 Diclosulam PD PC 5 ............dias............ 30 Dias Days 45 60 PD PC 13,9 11,2 67 87 Escoamento Lixiviação X superficial Contaminação de águas Subsuperfície Superfície Lixiviação: refere-se ao movimento vertical do herbicida, pela ação da água. Escoa/o superficial: refere-se ao movimento horizontal do herbicida, pela áção da água. Em ambos os casos, o herbicida pode ser carreado: - “livre” na solução do solo - “sorvido” junto aos sedimentos Parâmetros que sugerem lixiviação dos herbicidas - contaminação de águas Parâmetros Critérios Dissipação no campo (t1/2): Metabolismo no solo (t1/2): > 2-3 semanas > 2-3 semanas Hidrólise (t1/2): Fotólise (t1/2): Sorção no solo (Kd): > 25 semanas > 1 semana < 5 (normal/e <1-2 ml/g) Sorção no solo (Koc): Constande de Henry Solubilidade em água: < 300-500 ml/g carbono < 10-2 atm-m3/mol > 30 ppm Natureza dos Solos Coleção de agregados conectados Agregados do solo Natureza dos Solos Coleção de agregados conectados Escoamento superficial (erosão) Impedimento da infiltração Lixiviação Lixiviação em f (sorção) 1 0,8 Imazaquin leaching (% of applied) (% aplicado) Lixiviação 100 0,6 0,4 y = -3.3 + 113.5 e R2 = 0.85 -x 80 60 40 20 0,2 0 0 2 4 6 8 -1 Kd values (L kg ) 0 0 20 40 60 Sorção (%) 80 100 Lixiviação x Escoamento superficial 2 (% aplicado) Escoamento superficial Limite de evento catastrófico Sorção 1,6 Lixiviação Escoament o Superficial 1,2 0,8 0,4 0 0 20 40 60 Lixiviação (%) 80 100 Comercialização de herbicidas no Estado do Paraná Miriam Inoue/Rubem Silvério - UEM - Ano da coleta dos dados: 2000 - Herbicida comercializado: 15283,2 ton de i.a. (68% total de herbicidas) - Áreas milho e soja: 2,79 e 2,78 milhões de ha - Parâmetros levantados (mobilidade): Koc e t1/2 Comercialização de herbicidas no Paraná Herbicida Glifosato Atrazina 2,4-D Sulfosate Simazina Trifluralina MSMA Metolaclor Diuron Ametrina Paraquat Alaclor Bentazon Imazaquin Acetoclor Cloransulam-metil Fomesafen Outros Total comercializado ton i.a. % 4562 3076 1659 632 568 551 437 388 362 300 236 198 126 119 98 89 86 932 29,8 20,1 10,9 4,1 3,7 3,6 2,6 2,5 2,4 2,0 1,5 1,3 0,8 0,8 0,6 0,6 0,6 6,1 60,8 % Critérios de mobilidade: GUS (Groundwater Ubiquity Score) GUS = log t1/2 (4 - log Koc) - GUS < 1,8 - não lixiviável - GUS > 2,8 - lixiviável - 1,8 < GUS < 2,8 - intermediário Critérios para mobilidade: CDFA (California Dep. of Food and Agric.) Koc < 512 L kg-1 e t1/2 > 11 dias - lixiviável Cohen et al. (1984) Koc < 300 L kg-1 e t1/2 > 21 dias - lixiviável Koc > 500 L kg-1 e t1/2 < 14 dias - não lixiviável Mobilidade dos herbicidas Herbicidas Glifosato Atrazina 2,4-D Sulfosate Simazina Trifluralina MSMA Metolaclor Diuron Koc t1/2 GUS 24000 100 60 57000 <97 7000 7000 200 480 47 60 10 22 45 185 195 90 NL L IN NL IN NL NL L IN CDFA Cohen L L L L L L L - Mobilidade dos herbicidas Herbicidas Koc t1/2 Ametrina 300 60 Paraquat 1000000 1000 Alaclor 124 80 Bentazon 34 20 Imazaquin 20 60 Acetoclor 55 20 Cloransulan-m 485 9 Fomesafen 60 100 GUS IN NL L L L L NL L CDFA Cohen L L L L L L L L L L Critérios para escoamento superficial: Goss (1992) - Koc ≥ 1000 e t1/2 ≥ 40 dias - Koc ≥ 500, t1/2 ≥ 40 dias e Sw ≤ 0,5 mg l-1 - Transporte associado a sedimentos Leonard (1990) - Sw > 30 mg l-1 - chuva logo após aplicação (> 10 mm, 14 d) - Transporte “livre” em solução (na água) Escoamento dos herbicidas Herbicidas Glifosato Atrazina 2,4-D Sulfosate Simazina Trifluralina MSMA Metolaclor Diuron Koc 24000 100 60 57000 <97 7000 7000 200 480 t1/2 47 60 10 22 45 185 195 90 Sw (mg l ) 11600 33 890-45000 6,2 0,22 488 42 -1 Goss ES ES ES ES ES Escoamento dos herbicidas Herbicidas Koc t1/2 Ametrina 300 Paraquat 1000000 Alaclor 124 Bentazon 34 Imazaquin 20 Acetoclor 55 Cloransulam-m 485 Fomesafen 60 60 1000 80 20 60 20 9 100 Sw (mg l-1) 200 700000 170 60 233 3 50 Goss ES ES - Fatores que afetam o escoamento superficial dos herbicidas Climáticos: - Intervalo de chuva em relação à aplicação: - Intensidade de chuva: chuva > infiltração - Duração da chuva: lavagem folhas e lixiviação - Tempo de ocorrência da erosão: antes, escoa/o Fatores que afetam o escoamento superficial dos herbicidas Solo: - Textura e mat.orgânica: solo com text. fina: infiltração, tempo para escoa/o e escoa/o - Compactação: infiltração, tempo e escoa/o - Teor de água: tempo, escoa/o - Declividade: erosão, escoa/o - Grau de agregação: melhor, infiltr., escoa/o Fatores que afetam o escoamento superficial dos herbicidas Pesticida: - Solubilidade: lixiviação e escoa/o - Sorção: lixiviação e escoa/o - Persistência: tempo de residência, escoa/o - Formulação: Pó molhavel, líquida > granular - Dose de aplicação: escoa/o - Local de aplicação: incorporação escoa/o Fatores que afetam o escoamento superficial dos herbicidas Práticas de manejo - Controle da erosão: transporte, escoa/o - Restos culturais: tempo, vol. água, erosão, escoa/o Sw, chuva intensa, lavagem direto, escoa/o - Linhas de contorno vegetada: infilt., deposição de sedi/os, erosão, escoa/o - Plantio direto: escoa/o Plantio convencional e Qualidade da água Aração: - Destrói os macroporos “ativos” ( fluxo preferencial) - Altera suas propriedades (tortuosidade e continuidade) - Altera propriedades do solo (condutividade hidráulica) - tempo de percolação (redistribuição às paredes) - lixiviação e escoa/o superficial Plantio direto e Qualidade da água Plantio direto: proporciona [herbicidas] em águas percoladas, rasas e de drenagem. - Mantém integridade dos macroporos - Presença da palhada: impacto da gota - tempo de percolação (+ rápido o fluxo) - lixiviação e escoa/o superficial Plantio direto e Qualidade da água Casos contrários: escoa/o superficial - Moléculas com Sw (> 30 mg l-1) - Aplicadas sobre os restos culturais (palha) - Ocorrência de chuva logo após a aplicação (14 d) - Chuvas intensas - teor de água no solo - taxa de infiltração (compactação ou solo argiloso) Conclusões: Necessidade de estabelecer a persistência (t1/2) e a sorção (Kd) dos herbicidas sob condições brasileiras de clima e solo, Necessidade de monitorar a qualidade da água (sub e superficial), devido ao uso intenso de herbicidas, No Brasil: 60 % de latossolos (> 4 m de prof.), chuvas intensas e menor duração da palhada (Cerrados) maiores cuidados com problemas de erosão e escoamento superficial