UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS MIRIAM VILELA PENAFORTE PROJETOS PRIORITÁRIOS DE INTERVENÇÃO EM ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS: Um estudo de caso do reassentamento de famílias no bairro Jardim dos Pequis, na cidade de Sete Lagoas/MG. SETE LAGOAS 2012 0 MIRIAM VILELA PENAFORTE PROJETOS PRIORITÁRIOS DE INTERVENÇÃO EM ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS: Um estudo de caso do reassentamento de famílias no bairro Jardim dos Pequis, na cidade de Sete Lagoas/MG. Monografia apresentada ao Programa de PósGraduação em Educação para a Diversidade da Universidade Federal de Ouro Preto, como requisito parcial à obtenção do grau de Especialista em Gestão de Políticas Públicas. Área de concentração: Gênero e Raça. Orientadora: Profa. Paula Chaves Teixeira Universidade Federal de Ouro Preto SETE LAGOAS 2012 0 MIRIAM VILELA PENAFORTE PROJETOS PRIORITÁRIOS DE INTERVENÇÃO EM ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS: Um estudo de caso do reassentamento de famílias no bairro Jardim dos Pequis, na cidade de Sete Lagoas/MG. Monografia apresentada ao Programa de PósGraduação em Educação para a Diversidade da Universidade Federal de Ouro Preto, como requisito parcial à obtenção do grau de Especialista em Gestão de Políticas Públicas. Área de concentração: Gênero e Raça. BANCA EXAMINADORA MS. Paula Chaves Teixeira (Orientadora) MS. Ana Amélia Chaves Teixeira MS. Monalisa Pavonne Oliveira SETE LAGOAS 2012 0 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço à Universidade Federal de Ouro Preto pela oportunidade, por acreditar e apoiar um curso de formação nas relações em gênero e raça. À Universidade Aberta do Brasil, que através do atendimento no Pólo de Sete Lagoas, facilitou a realização desse curso, com competência e profissionalismo. Agradeço a disponibilidade e paciência da Orientadora, Tutora e Professora Paula Chaves que não mediu esforços para que esse trabalho pudesse ser concluído. E também ao meu colega e companheiro de muitas lutas, Tchó, pela disposição e competência, que esteve comigo em todos os momentos, desde as visitas de campo até a construção final desse trabalho. E, especialmente, aos moradores do bairro Jardim dos Pequis, serei eternamente grata pelo carinho, receptividade e convivência, de onde aprendi a ter esperanças que um mundo melhor ainda é possível. 0 Resumo PENAFORTE, Miriam Vilela. Projetos Prioritários de Intervenção em Assentamentos Precários: Um estudo de caso do reassentamento de famílias no bairro Jardim dos Pequis, na cidade de Sete Lagoas/MG. UFOP, 2012. RESUMO Através de uma breve revisão da literatura sobre a história recente da política habitacional no Brasil, especificamente, da Política de Habitacional de Interesse Social, o trabalho se propôs a analisar o empreendimento Jardim dos Pequis, em Sete Lagoas/MG. Localizado em área periférica da cidade, o bairro foi construído com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o reassentamento de duzentas e quarenta famílias vindas de duas comunidades assentadas irregularmente, denominadas Kwait e Iraque, consideradas de alto risco social e ambiental. O trabalho técnico social com as famílias beneficiárias do projeto foi de grande importância para a preparação e acompanhamento da mudança para a nova unidade habitacional, considerando, principalmente, o número significativo de mulheres chefes de família (60%). Em atividades de campo e através dos dados levantados pelo recadastramento das famílias, foram identificados diversos problemas construtivos nas habitações, como também ausência de serviços básicos de atendimento ao cidadão. A partir dos relatos dos moradores, o trabalho pode concluir que esta obra encontra-se inacabada e que para garantir uma moradia digna a esta população é necessário ir além da oferta de uma unidade habitacional, é necessário uma integração de políticas públicas e oferta de serviços que possibilitem uma real inserção dessa população à chamada cidade formal. PALAVRAS CHAVE: Habitação de Interesse Social – Assentamentos Precários – Jardim dos Pequis. 0 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Foto 1 – Comunidade do Iraque – Arquivo PAC/PPI/Sete Lagoas/2009 p. 13 Foto 2 – Casa no Kwait – Arquivo PAC/PPI/Sete Lagoas/2009 p. 14 Foto 3 – Visita às obras do bairro – Arquivo PAC/PPI/Sete Lagoas/2010 p.16 Foto 4 – Visita às obras do bairro – Arquivo PAC/PPI/Sete Lagoas/2010 p.16 Foto 5 – Imagem do Jornal “De Mudança pro Futuro” – Arquivo PAC/PPI/Sete Lagoas/2011 p.17 Foto 6 – Grupo Produtivo “Maria das Cores” – Arquivo PAC/PPI/Sete Lagoas/2009 p.18 Foto 7 – Vista geral – Rua do bairro Jardim dos Pequis – Autor – PENAFORTE, 2012 p.19 Foto 8 – Ponto de ônibus escolar – Autor – PENAFORTE, 2012 p.23 0 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Gênero dos Chefes de Família p.20 Tabela 2 – Faixa Etária dos Chefes de Família p.20 Tabela 3 – Escolaridade dos Chefes de Família p.20 Tabela 4 – Identificação por Raça dos Chefes de Família p.20/21 Tabela 5 – Renda dos Chefes de Família p.21 Tabela 6 – Situação de Ocupação dos Chefes de Família p.21 Tabela 7 – Profissão dos Chefes de Família p.21 Tabela 8 – Inscrição no CadÚNICO (NIS) p.22 0 LISTA DE ABREVIATURAS CADUNICO – Cadastro único para programas sociais CEF – Caixa Econômica Federal CF – Constituição Federal COTS – Caderno de Orientação Técnico Social FNHIS – Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social FUNDEP – Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa NIS – Número de Identificação Social PAC – Programa de Aceleração do Crescimento PlanHab – Plano Nacional de Habitação PMCMV – Programa Minha Casa Minha Vida PPI – Projetos Prioritários de Investimentos PTTS – Projeto de Trabalho Técnico Social SNHIS – Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social UH – Unidade Habitacional 0 SUMÁRIO CAPÍTULO I Política Habitacional p.10 Breves Considerações sobre a Questão Habitacional no Brasil ................................................ CAPÍTULO II O Projeto “De Mudança pro Futuro” p.12 O Trabalho Técnico Social ......................................................................................................... CAPÍTULO III Os Resultados do Projeto. p.18 O Perfil da População Beneficiada ............................................................................................ CAPÍTULO IV O Impacto das Mudanças na Vida das Pessoas. p.22 O Exercício da Cidadania. Uma Análise Crítica da Política sob o Viés do Gênero .............................................................. CONCLUSÃO ............................................................................................................................. p.24 Anexos......................................................................................................................................... p.26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... p.30 0 CAPITULO I POLÍTICA HABITACIONAL BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A QUESTÃO HABITACIONAL NO BRASIL A Constituição Federal de 1988 trouxe um novo marco regulatório para a questão habitacional brasileira. Ela estabelece que os governos federal, estaduais, municipais e o Distrito Federal têm a responsabilidade de prover moradias à população. A Emenda Constitucional n° 26/2000 inclui a moradia entre os direitos sociais do cidadão e ratifica o papel dos governos na provisão de habitação para os que mais necessitam. Moradia digna é aquela localizada em terra urbanizada, com acesso a todos os serviços públicos essenciais por parte da população que deve estar abrangida em programas geradores de trabalho e renda. Moradia é um direito humano, afirma o Tratado dos Direitos Econômicos e Sociais da Organização das Nações Unidas (ONU), ratificado pelo Brasil em 1992, e como tal deve ser reconhecido, protegido e efetivado através de políticas públicas específicas (PROJETOMORADIA, 2000, p. 12). Hoje, o Estatuto da Cidade é a principal legislação de regulação do espaço urbano que visa o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana. O Estatuto torna os municípios os principais responsáveis pela política de desenvolvimento urbano, com gestão democrática da cidade, processos de decisão e com controle social sobre a implementação da política urbana. A Constituição Federal, o Estatuto da Cidade, o Ministério das Cidades (criado em 2003 no Governo Lula) e o Conselho das Cidades são os principais meios para a implementação de uma nova política de habitação no país. Em 2004 foi aprovada pelo Conselho das Cidades a Política Nacional de Habitação (PNH), complementada pela regulamentação da Lei n° 11.124/2005 – que dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), cria o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) e institui o Conselho Gestor do FNHIS. O SNHIS foi regulamentado pela Lei Federal no. 11.124 de Junho de 2005 para gerir as políticas habitacionais voltadas para a população de baixa renda, limitada a três salários mínimos, que são as que mais fazem parte do total do déficit habitacional. Dentre as determinações da PNH, merecem destaques as seguintes: • Direito à moradia, enquanto um direito individual e coletivo, previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Constituição Brasileira de 1988; • O direito à moradia deve ter destaque na elaboração dos planos, programas e ações; • Moradia digna como direito e vetor de inclusão social garantindo padrão mínimo de habitabilidade, infraestrutura, saneamento ambiental, mobilidade, transporte coletivo, equipamentos, serviços urbanos e sociais; • Função social da propriedade urbana buscando implementar instrumentos de reforma urbana que possibilitem melhor ordenamento e maior controle do uso do solo, de forma a combater a retenção especulativa e garantir o acesso à terra urbanizada; • Questão habitacional como uma política de Estado uma vez que o poder público é agente indispensável na regulação urbana e do mercado imobiliário, na provisão da moradia e na regularização de assentamentos precários, devendo ser ainda, uma política pactuada com a sociedade e que extrapole um só governo; 10 • Gestão democrática com participação dos diferentes segmentos da sociedade, possibilitando controle social e transparência nas decisões e procedimentos; • Articulação das ações de habitação à política urbana de modo integrado com as demais políticas sociais e ambientais.. Em 2008 foi elaborado o Plano Nacional de Habitação (PlanHab) onde estão discriminadas ações que visam solucionar o problema da falta de habitação no Brasil até o ano de 2023. Também no ano de 2008, dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC Habitação), foi criado pelo Governo Federal o Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) visando incidir no déficit habitacional e dar condição a mais de um milhão de famílias a ter a casa própria. O projeto contempla famílias com renda máxima de dez salários mínimos, mas prioriza a habitação de interesse social (limitada a três salários). Destaca-se a importância desse programa por estar articulado com outras ações previstas no PNH para melhor agir nas políticas pensadas. Através a Portaria n° 140, de 05/03/2010, nos critérios de elegibilidade e seleção dos beneficiários do PMCMV, definiu-se pela prioridade no atendimento às mulheres chefes de família, sendo esse um critério nacional. Também os municípios participantes poderiam criar outros critérios, sendo que na cidade de Sete Lagoas, o Conselho Municipal de Habitação aprovou que teria prioridade no atendimento mulheres com filhos menores de quinze anos. O direito indiscriminado à cidade e a universalização das oportunidades de acesso à moradia digna são princípios norteadores do cumprimento da função social da cidade. O direito à moradia digna amplia a visão do que deve ser a habitação, que não se restringe à unidade habitacional. Outros direitos fundamentais são agregados à idéia da moradia como o direito à terra urbanizada, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte coletivo, aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, conforme apontado no Estatuto da Cidade. Nesta perspectiva, o enfoque desse estudo de caso é discutir também o conceito da intersetorialidade, significando uma nova maneira de abordar os problemas sociais, enxergando o cidadão em sua totalidade. A efetividade de uma política pública de remoção de duzentas e quarenta famílias de áreas de risco ambiental e social para um bairro urbanizado e com claras possibilidades de uma melhoria da qualidade de vida das pessoas beneficiadas se esbarra na desarticulação de ações que deveriam ter como objetivo maior a inclusão social. Assim, o sonho da casa própria não se encerra na entrega da unidade habitacional. A cada conjunto entregue, devem-se fazer as avaliações, monitoramento e correção de rotas. E com relação à questão de gênero, observa-se um avanço nas políticas públicas, a legislação beneficia as mulheres, chefes de família, responsáveis pelo sustento da casa. Mas, ainda falta nos planos e projetos de urbanização a implantação de equipamentos sociais de apoio às tarefas domésticas, como lavanderias, restaurantes comunitários e espaços de lazer, como centros de convivência e cidadania para o esporte e a cultura. Há ainda que se prever uma política de instalação de creches públicas, integradas à política educacional, que garanta a universalização do acesso. Dessa forma, devem ser consideradas as desigualdades de gênero na formulação dos programas de regularização. Como as mulheres são, freqüentemente, quem garante estabilidade do núcleo familiar, elas são um elemento chave nesse processo de regularização. Estudos mostram que as mulheres vendem menos suas casas que os homens, onde o indicador maior é 11 que elas estejam centradas na segurança de sua vida doméstica e familiar. Nesse sentido, estabelecer a mulher como figura prioritária para receber uma titulação significa uma opção na direção de garantir a permanência na área, que é uma das preocupações constantes dos programas públicos de regularização fundiária. CAPÍTULO II O Projeto “De Mudança para o Futuro” O Trabalho Técnico Social “De Mudança pro Futuro” é o nome do Projeto realizado pelos técnicos da Equipe Social da FUNDEP (Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa), com recursos do Governo Federal através do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e PPI (Projetos Prioritários de Investimentos) sendo este um dos seis projetos em desenvolvimento na cidade de Sete Lagoas/MG. O PAC é uma política econômica e social, no âmbito do governo federal, que visa proporcionar condições para o desenvolvimento sustentável, articulado diretamente com a política social do Estado - assistência social, previdência, habitação, saúde e educação - dentro das normas da proteção dos direitos sociais básicos dos cidadãos brasileiros. O conjunto de investimentos do PAC está organizado em três eixos: infraestrutura logística, envolvendo a construção e ampliação de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias; infraestrutura energética, correspondendo à geração e transmissão de energia elétrica, produção, exploração e transporte de petróleo, gás natural e combustíveis renováveis; e infraestrutura social e urbana, englobando saneamento, habitação, metrôs, trens urbanos, universalização do programa Luz para Todos e recursos hídricos. No município de Sete Lagoas, o PAC tem se desenvolvido no setor de infraestrutrura social, com ações principalmente na área de habitação. O projeto “De Mudança pro Futuro” teve por objetivo promover o reassentamento de duzentas e quarenta famílias residentes em áreas de risco social e ambiental, e, não somente por decorrência destes fatores, mas, em razão, também, de outros, uma vez que as famílias apresentavam alto grau de vulnerabilidade social. Para o início das atividades, tendo como foco as diretrizes para os trabalhos técnico-sociais apontadas pela Caixa Econômica Federal e Ministério das Cidades, foi realizado um diagnóstico a população alvo do projeto. A área de intervenção foi, prioritariamente, os bairros Iraque e Kwait, no município de Sete Lagoas. Foram beneficiadas pelo projeto duzentas e quarenta famílias, totalizando mais de novecentas pessoas transferidas para um novo bairro, construído na região do Belo Vale II, denominado Jardim dos Pequis. A região de intervenção do Projeto está localizada ao norte da cidade, área periférica, distante aproximadamente 7 km da região central. Esses loteamentos irregulares possuem aproximadamente quinze anos e localizam-se na região do Verde Vale, sendo áreas com sérios problemas de saneamento e infraestrutura urbana. A população beneficiada caracteriza-se pela baixa renda, em torno de ½ salário mínimo. Na organização familiar, 60% dos chefes de família são mulheres e a média de pessoas por unidade 12 familiar é de 3,8 pessoas. O número médio de crianças e adolescentes é de três pessoas, o que já se constitui em um indicador para a necessidade de criação de oportunidades educacionais, culturais e de lazer direcionados a estes segmentos. Verifica-se nessas áreas um nível elevado de infecções e patologias causadas por vetores hídricos, causas estas responsáveis, em grande medida, pela precariedade ou ausência da infraestrutura de saneamento básico. Foto 1: Comunidade do Iraque Arquivo: PAC/PPI/Sete Lagoas/2009 O grau de sedentarismo, ociosidade, violência e consumo de drogas acompanha a média nacional, ou seja, percebe-se uma elevação dos registros referentes à segurança e fatos correlatos, tais como crimes violentos, roubos e expulsão de famílias. As condições desfavoráveis que se encontram as famílias na área de intervenção do projeto são, na maioria dos casos, similares, agenciados por processos de exclusão, que foram mantidos e aprofundados ao longo do tempo pela ausência de políticas públicas, projetos ou programas sociais pontuais para elevação dos indicadores sociais da região. Dessa forma, na estruturação deste projeto, o objetivo maior foi promover o reassentamento de famílias localizadas nas áreas definidas como de assentamentos precários, nas comunidades do Kwait e Iraque, buscando a sustentabilidade individual e coletiva, e elevação dos indicadores sociais dessas comunidades. Por se tratar de uma intervenção junto a famílias de baixíssima renda, inserida no PPI, nenhuma obrigação financeira caberia aos beneficiários do projeto, sendo as obras financiadas com recursos do Governo Federal. 13 Foto 2 – Casa no Kwait Arquivo – PAC/PPI/Sete Lagoas/2009 O TRABALHO TÉCNICO SOCIAL Para todo programa de interesse social financiado pela Caixa Econômica Federal (CEF) é necessário que se realize um trabalho social com as famílias participantes. Para isso, a CEF criou um Caderno de Orientação Técnico Social (COTS) para que as equipes técnicas trabalhassem conforme o que foi estruturado nesse documento. Ele contém as diretrizes e informações para a elaboração, implantação, registro, monitoramento e avaliação do Projeto de Trabalho Técnico Social (PTTS), dando base para as ações desde o início até a conclusão das obras e serviços. O trabalho é desenvolvido de maneira interdisciplinar, acompanhando todo o processo das obras físicas. Em um primeiro momento são levantadas informações e dados que permitem a caracterização da situação do local onde se pretende intervir. A seguir, é planejado e elaborado o plano de intervenção social que se integra ao projeto de intervenção física de forma que ambos possam ser desenvolvidos simultaneamente. Após a aprovação do projeto pela CEF, sua execução é devidamente monitorada e avaliada de acordo com as atividades desenvolvidas. As equipes de obras e social enviam à CEF relatórios periódicos de acompanhamento para que sejam liberadas as parcelas contratuais. Eles são acompanhados de documentos de registros e sistematização das atividades. Dessa forma, trabalho técnico social junto às famílias do Projeto “De Mudança para o Futuro” teve por objetivo garantir a participação da população em todas as etapas do trabalho, possibilitando, através da busca de parcerias, a implementação de ações para a elevação dos indicadores de qualidade de vida da população beneficiária do projeto. Em razão do perfil da população, bem como da relevância dos fatores que dizem respeito ao reassentamento, a realização do trabalho técnico social buscou estabelecer os elementos necessários à apropriação dos bens públicos produzidos pela intervenção. Portanto, o planejamento e execução das ações de mobilização social, participação comunitária, disseminação de informações e acompanhamento social da população beneficiada 14 permitiu trabalhar os indicadores no sentido de elevá-los, como forma de se alcançar melhores condições de vida. Os trabalhos técnico-sociais desenvolvidos buscaram desenvolver ações levando-se em consideração três eixos centrais para o alcance de suas metas: Geração de Trabalho e Renda, Mobilização e Organização Comunitária e Educação Sanitária, Patrimonial e Ambiental. Toda execução do projeto baseou-se numa metodologia participativa e interativa e gestão democrática, através do qual considerou as famílias envolvidas co-participantes de todo o processo. O projeto realizou as atividades conforme um cronograma de execução previamente estabelecido. A princípio, os trabalhos seriam desenvolvidos ao longo de vinte e quatro meses, subdividido em dois momentos, respectivamente, de pré-morar e pós-morar. Em razão de fortes chuvas ocorridas no mês de março de 2011, com registros de muitos desabrigados na área do projeto, foi necessária a antecipação da transferência das famílias para o novo bairro, sem que houvesse na época uma finalização dos trabalhos de engenharia (obras). Esse fato trouxe muitos transtornos no planejamento das atividades da equipe social, sendo que foi cumprida a seguinte agenda: fase pré-morar – de julho de 2009 a março de 2011; fase pós-morar – de março a novembro de 2011. Nesses dois períodos, merecem destaque as seguintes atividades: REUNIÕES COMUNITÁRIAS MENSAIS Foram formados grupos de referência, com reuniões previamente agendadas nas duas comunidades. Nas dinâmicas realizadas, além da preparação para a mudança, foram realizadas ações para escolha de vizinhos, encaminhamento para serviços socioassistenciais, cursos e encaminhamentos para o mercado de trabalho. CLAO – COMISSÃO LOCAL DE ACOMPANHAMENTO DAS OBRAS Mensalmente, a Prefeitura Municipal disponibilizava um ônibus para que os moradores das duas comunidades, previamente escolhidos, visitassem as obras do bairro. As visitas eram monitoradas pela Equipe Social e acompanhadas pela Equipe de Engenharia. Ao longo dessas visitas, as famílias foram se apropriando do empreendimento e conhecendo por antecipação a localização de sua casa. Nessa etapa do trabalho, houve a necessidade de muita negociação uma vez que eram oferecidas casas de um, dois e três quartos e foi necessário o estabelecimento de critérios para que as famílias ocupassem as unidades conforme a sua composição. Somando-se a esse fato, tinha a questão da casa ser geminada, o que necessariamente exigia um trabalho de escolha e indicação de vizinhos. Também nessas visitas eram trabalhadas a integração das duas comunidades para a convivência no novo bairro. 15 Foto 3 – Visita às obras do novo bairro Arquivo – PAC/PPI/Sete Lagoas/2010 Foto 4 – Visita às obras do novo bairro Arquivo – PAC/PPI/Sete Lagoas/2010 JORNAL “DE MUDANÇA PRO FUTURO” Foram vinte e quatro edições, com matérias focalizadas no projeto, nas famílias envolvidas e comunidade. Foi um importante canal de comunicação, com grande aceitação junto às comunidades, com tiragem de dois mil exemplares por edição. 16 Foto 5 – Imagem do Jornal “De Mudança pro Futuro” Arquivo – PAC/PPI/Sete Lagoas/2011 Dentro do eixo de Geração de Trabalho e Renda, duas ações direcionadas às mulheres merecem registros: a formação de um grupo produtivo denominado “Maria das Cores – Um jeito de Ser Feliz” e o curso de Pedreira de Acabamento, em parceria com o SESI local. FORMAÇÃO DO GRUPO PRODUTIVO MARIA DAS CORES Nos meses de novembro e dezembro de 2009, foi realizado um curso de confecção de bolsas em patchwork, para um grupo de quatorze mulheres das comunidades do Iraque e Kwait. Este curso foi realizado nas dependências da Escola Municipal Dalva Ferreira Diniz, que disponibilizou o espaço durante quatro meses: de novembro/2009 a fevereiro/2010. Para a continuidade dos trabalhos, a partir do mês de março, um novo espaço foi estruturado, através da Secretaria Municipal de Educação, que mantém um contrato de comodato com um Clube do SESI, localizado na região. Na área onde funcionava a rouparia, foram feitas adequações para o funcionamento do Grupo Produtivo. Posteriormente, esse espaço também passou a ser utilizado pelo Grupo de Convivência do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS II), que atende mulheres em situação de risco social e com necessidades específicas de acompanhamento. Da formação inicial do Grupo Maria das Cores, hoje não há nenhuma mulher da área do reassentamento que esteja efetivamente participando das atividades. A maioria alega que a mudança para o novo bairro, distante do local, impediu a continuidade da participação. O Grupo 17 Maria das Cores continua suas atividades com a participação de outras mulheres, moradoras da região e com vínculos com o CRAS II. As atividades desse grupo receberam um incentivo para a sua continuidade, com a aprovação de um projeto de geração de trabalho e renda pelo Programa das Nações Unidas (PNUD) para a compra de máquinas de costura e cursos de capacitação para as mulheres residentes nas comunidades do Kwait e Iraque. (Anexo 1) Foto 6 – Grupo Produtivo Maria das Cores Arquivo – PAC/PPI/Sete Lagoas/2009 CURSO DE FORMAÇÃO DE PEDREIRA DE ACABAMENTO Em parceria com o SESI, foram certificadas vinte e duas mulheres para trabalhar na área da construção civil. Um empreendimento do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) requisitou essa mão de obra e foi feita uma parceria com o Projeto. Das vinte e duas mulheres certificadas, dez foram efetivamente contratadas pela Construtora. CAPITULO III Os resultados do projeto O perfil dos beneficiários No que diz respeito à entrega das casas, foram registrados diversos problemas construtivos, considerando-se principalmente a baixa qualidade dos materiais utilizados. Conforme relato dos moradores, no início do ano de 2012, período de elevada precipitação pluvial, muitas casas foram parcialmente destelhadas e a água entrou em boa parte delas. Somando a isso, muitas residências apresentaram goteiras e rachaduras nos cômodos. Alguns preferiram resolver os problemas por conta própria, desacreditando no atendimento obrigatório da construtora responsável pelas obras e poder público local. E de acordo com os moradores, o trabalho realizado por eles mesmos é que deu uma maior sustentação às casas. Percebeu-se também que muitas famílias já realizaram modificações na casa, grande parte já construiu muros e fez ampliações. Algumas casas foram complementadas para contemplar atividades comerciais variadas como: mercearia, bar, lanchonete e oficinas de consertos. 18 Por outro lado, embora sendo minoria, observa-se a presença de casas ainda intactas, com muros improvisados com materiais reciclados e cercas de arame. Foto 7 – Vista Geral – Jardim dos Pequis Autor – PENAFORTE, 2012 A partir dessas informações, torna-se importante ressaltar uma das determinações do PNH onde “o poder público é agente indispensável na regulação urbana, na provisão da moradia e na regularização de assentamentos precários e na integração das ações de habitação com as demais políticas sociais e ambientais”. Dessa forma, a presença do poder público se faz necessária de forma que o bairro receba os contornos da cidade legal e integrada. Essa apropriação torna-se fundamental considerando-se as ocorrências registradas, onde famílias já foram expulsas por força do tráfico, já realizaram vendas e trocas e algumas simplesmente abandonaram suas casas. Ao se defrontar com as características das famílias reassentadas, a partir de dados obtidos com o recadastramento dos moradores feito em agosto de 2011, essas observações ganham mais sustentação e reforçam a necessidade de intervenções do poder público. Nesse recadastramento, efetivamente foram entrevistados 199 (cento e noventa e nove) chefes de família. Esta diferença em relação ao universo total, 240 (duzentas e quarenta) unidades habitacionais, deve-se a vários fatores, como a família não ter sido encontrada ou a casa estar fechada. Na Tabela 1, verifica-se uma maioria absoluta de mulheres chefes de família (72,4% do total dos entrevistados). Estudos recentes têm demonstrado que a predominância de mulheres como chefes de famílias nos lares brasileiros vêm aumentando. Essa tendência ocorre principalmente nas famílias de baixa renda. Portanto, quando ocorre a identificação no recadastramento desse percentual expressivo, confirmando o processo crescente de feminização da chefia do lar, deve-se ter uma atenção redobrada na elaboração de planos e ações a serem desenvolvidos, de forma que possam responder às demandas dessa parcela da população. Há de se considerar também a faixa etária dessas mulheres, conforme a Tabela 2. Quando se analisa quesitos como escolaridade, renda, ocupação e situação no mercado de trabalho dos chefes de famílias, tem-se um perfil bastante desolador da realidade. Por exemplo, no que se refere à ocupação principal, observa-se grande percentual de pessoas ocupando empregos que apresentam altos índices de precariedade. A lista da Tabela 7 permite uma leitura mais 19 acurada da posição ocupacional geral. Quando se compara com a renda, percebe-se que os dados encontram ressonância no grau de escolaridade. Esta realidade requer sensibilidade social, principalmente no momento de se ofertar cursos de qualificação que tenham como pré-requisito a escolaridade formal. Outro dado que merece atenção especial refere-se ao NIS (Número de Identificação Social). De acordo com as normas em vigor, todo imóvel de interesse social, construído com recursos do poder público, necessariamente, exige que o beneficiário da unidade habitacional tenha o NIS. Para aqueles que já inscritos no Programa Bolsa Família, a exigência é de que haja uma atualização junto ao Cadastro Único (CadÚnico). De acordo com a Tabela 8, quase 50% dos beneficiários ainda não possuem esse número de identificação. Esse cadastro é de grande importância para o poder público, para que sejam pensadas e executadas políticas voltadas para a população que mais necessita de atenção e investimentos. (Anexo 2) Tabela 1: Gênero dos Chefes de Família GÊNERO FREQ. PERCENT. Mulheres 144 72,40 Homens 55 27,60 199 100,00 TOTAL Org. PENAFORTE, 2012. Tabela 2: Faixa Etária dos Chefes de Família FAIXA FREQ. PERCENT. Até 20 anos 8 4,02 De 21 e 30 anos 44 22,11 De 31 e 40 anos 50 25,13 De 41 e 50 anos 49 24,62 De 50 a 60 anos 30 15,08 Acima de 60 anos 18 9,05 199 100,00 TOTAL Org. PENAFORTE, 2012. Tabela 3: Escolaridade dos Chefes de Família FAIXA FREQ. PERCENT. Analfabeto 2 1,01 Até a 3ª. Série - Fundamental 35 17,59 Da 3ª a 7ª Série - Fundamental 72 36,18 Fundamental Completo 48 24,12 Médio Incompleto 16 8,04 Médio Completo 5 2,51 199 100,00 TOTAL Org. PENAFORTE, 2012. Tabela 4: Identificação por Raça dos Chefes de Família 20 RAÇA FREQ. PERCENT. Branco 27 13,57 Mulato/pardo 138 69,35 Afrodescendente/Negro 34 17,09 199 100,00 TOTAL Org. PENAFORTE, 2012. Tabela 5: Renda dos Chefes de Família RENDA FREQ. PERCENT. Menos de 1 SM 63 31,66 De 1 SM a menos de 2 SM 31 15,58 De 2 SM a menos de 3 SM 28 14,07 Não declarou 74 37,19 199 100,00 TOTAL Org. PENAFORTE, 2012. Tabela 6: Situação de Ocupação dos Chefes de Família FAIXA FREQ. PERCENT. Emprego formal (com registro) 30 15,08 Emprego informal (sem registro) 20 10,05 Por conta própria 7 3,52 Diarista 5 2,51 Eventual/bicos 46 23,12 Aposentado/Pensionista/ 23 11,56 Bolsa Família 1 0,50 Não respondeu 67 33,67 199 100,00 Benefício (seguro-desemprego) TOTAL Org. PENAFORTE, 2012. Tabela 7: Profissão dos Chefes de Família FAIXA FREQ. PERCENT. Açougueiro 1 0,50 Apontador (construção civil) 1 0,50 Aposentado 14 7,04 Atendente 1 0,50 Auxiliar de cozinha 1 0,50 Bicos 38 19,10 Cabeleireira 1 0,50 Carregador 1 0,50 Diarista 11 5,53 Dona de casa (do lar) 25 12,56 21 Empregada doméstica 4 2,01 Gari 1 0,50 Manicure 2 1,01 Montador 3 1,51 Operador de Máquinas 2 1,01 Pensionista 3 1,51 Pintor autônomo 2 1,01 Polidor de pedra 1 0,50 Proprietário de comércio 4 2,01 Servente de obras 4 2,01 Serviços gerais 2 1,01 Técnico em enfermagem 1 0,50 Vendedor 1 0,50 Vendedor ambulante 2 1,01 Outros 25 12,56 Não declarou 41 20,60 Mais de uma resposta 7 3,52 199 100,00 TOTAL Org. PENAFORTE, 2012. Tabela 8: Inscrição no CadÚnico (NIS) SITUAÇÃO FREQ. PERCENT. Sim 100 50,25 Não 99 49,75 199 100,00 TOTAL Org. PENAFORTE, 2012. CAPÍTULO IV O impacto das mudanças na vida das pessoas O exercício da cidadania – uma análise crítica da política sob o viés do gênero Se o déficit habitacional em todo o território brasileiro é considerado alarmante e que, historicamente, não é sanado, governo após governo, quando se tem uma política pública de investimento em habitação de interesse social deve-se ficar atento ao destino final dos projetos propostos. A questão habitacional envolve o espaço integrado onde as pessoas vivem, considerandose todas as condições da dignidade humana. Nessa perspectiva, somam-se equipamentos de educação, saúde, transporte coletivo, acesso a atividades culturais e outros serviços. Essa é a forma de construção da cidadania, que implica em modificações nas condições estruturais da sociedade, com melhor distribuição de renda, redução das desigualdades sociais, meio ambiente saudável, elementos indispensáveis para uma vida digna dos seres humanos. Quando se analisa a realidade dos moradores do bairro Jardim dos Pequis, encontramos no pensamento de Maricato e Refinetti (2008) uma lógica que se perpetua nos programas oferecidos. Segundo esses autores, o que se tem notado com relação à moradia no âmbito social é a 22 população de classe mais baixa que se instala em áreas de risco do ponto de vista ambiental pela necessidade maior de morar. E, em nome do meio ambiente, essas famílias são desapropriadas e/ou reassentadas, mas a questão social, a pobreza em que vivem e a exclusão sócioterritorial em que se encontram são deixadas de lado, ou seja, ficam na mesma. Para o caso em análise, os benefícios se encerram na oferta de uma unidade habitacional, inserida em um bairro com uma infraestrutura dotada de ruas asfaltadas, água encanada e rede de esgoto. Permanece o distanciamento da cidade formal, com a ausência de serviços básicos próximos ao local da moradia, como escolas, creches e espaços para o lazer. Foto 8 – Ponto de ônibus escolar/Jardim dos Pequis Autor – PENAFORTE, 2012 Sobre a mobilização comunitária, existe uma tímida movimentação de alguns moradores no sentido de se organizar uma Associação de Bairro, visando buscar alternativas para esta comunidade que está se formando com uma dinâmica própria e com pouca participação do poder público local. Das reivindicações mais citadas pelos moradores destacamos: • Entrega do documento de posse da casa (regularização fundiária); • Posto de Atendimento Médico; • Escola; • Espaço de lazer para as crianças; • Serviços de correios (entrega de correspondências); • Iluminação da praça; • Instalação de quebra-molas nas vias principais. Para a maioria dos moradores, a vida no novo bairro está melhor se comparada com o local que habitavam anteriormente. Mas foram muitos os que registraram que antes se sentiam mais seguros e tinham mais liberdade. A construção de muros na maioria das casas pode ser um indicador para essa falta de segurança. 23 Quanto a questão de gênero, ao se constatar que o bairro é formado por uma grande maioria de mulheres chefes de família, novamente evidencia-se a necessidade de sensibilidade e foco do poder público para esta população específica. Embora haja preceitos legais para garantir a igualdade de gênero, ainda há muitos obstáculos no mundo do trabalho e na esfera público e privada. A inserção da mulher no mercado de trabalho e a criação de mecanismos de conciliação entre emprego e família são fundamentais para a autonomia feminina. O modelo tradicional de família no qual a mulher se ocupa exclusivamente da casa e o homem do provimento material tem sofrido profundas transformações. Mas ainda que as mulheres tenham conquistado significativo espaço no mercado de trabalho, a participação dos homens nas decisões e nas obrigações referentes à vida doméstica não se faz na mesma proporção, cabendo à mulher a tarefa de conciliar família e emprego. Essa situação se torna mais crítica nas camadas mais empobrecidas da população. Assim, o grande desafio é a efetivação de políticas públicas que favoreçam uma conciliação do trabalho com os cuidados familiares. Para as mulheres que estão no mercado de trabalho e para aquelas que necessitam trabalhar para o sustento da casa, as políticas públicas que podem contribuir para uma melhor gestão dos conflitos advindos dessa situação estão na oferta de creches para os filhos menores, escolas em tempo integral, espaços públicos para o lazer e também, a possibilidade de uma maior flexibilização da jornada de trabalho. Com relação às mulheres atendidas pelo projeto “De Mudança pro Futuro”, algumas delas tiveram a oportunidade de passar por uma capacitação profissional. O curso de pedreira de acabamento deu condições para que elas tivessem um trabalho com carteira assinada em uma obra do PMCMV próxima ao bairro. Mas, segundo suas informações, a falta de local para deixar os filhos impediram que assumissem novos compromissos, após a conclusão dessa obra. Houve também registro de uma mulher que estava trabalhando mas teve o benefício do Bolsa Família cortado por que os filhos não estavam freqüentando a escola. Complementando esse dado, não se tem como deixar de fazer referência ao baixo nível de escolaridade do público alvo do projeto, que é também um grande obstáculo para a inserção no mundo do trabalho. CONCLUSÃO Em que pesem os problemas elencados no presente trabalho, acreditamos que as possibilidades desse reassentamento se tornar exitoso são grandes, principalmente se considerarmos que a maioria dos beneficiários do projeto reconhece que houve uma melhoria da sua qualidade de vida quando comparada à situação de habitabilidade vivida anteriormente. Para tanto, torna-se importante que seja retomada a relação de confiança com o poder público local. A consolidação desse novo bairro, dentro dos aspectos previstos na elaboração do Programa de Trabalho Técnico Social (PTTS) ainda apresenta muitas lacunas. Mas um estreitamento com os órgãos municipais, como a Assistência Social, a Educação e a Saúde são elementos fundamentais para que seja feito um plano de atendimento a essa comunidade recém instalada. 24 A partir do recadastramento de todos os beneficiários do programa, poderão ser pensadas políticas para serem implantadas, com oferta de serviços indicados ao perfil dessa população, carentes de recursos de toda ordem. Quanto aos problemas verificados na construção das casas, torna-se necessário uma fiscalização rigorosa de forma que a qualidade das obras executadas tenha um bom padrão, considerando-se que elas são para atender uma população de menor renda e que não possuem recursos financeiros para corrigir erros de construções. De imediato, existem duas questões que merecem status de prioridade: a definição quanto a documentação do imóvel e solução das pendências relativas ao licenciamento ambiental do loteamento, que trará como conseqüência a formalização oficial do bairro, com oferta de serviços básicos, como por exemplo, os serviços de entrega de correspondências (correios). Especificamente quanto a questão de gênero, insistimos na premissa de que a igualdade de acesso às oportunidades entre homens e mulheres se promove com investimentos em políticas públicas. A iniciativa de programas habitação de interesse social em priorizar o registro das casas em nome das mulheres se reveste de grande importância, considerando-se as funções exercidas por elas no espaço privado e também pela preservação do imóvel, que contempla um dos objetivos desses programas, que é o de manter as famílias no local do reassentamento. Consideramos finalmente que, apesar dos avanços obtidos, o fortalecimento da cidadania da mulher tem muito ainda a caminhar e o grande desafio é ter políticas públicas efetivas que favoreçam a sua autonomia, contribuindo para a conciliação do trabalho com os cuidados familiares, numa perspectiva de melhoria constante da sua qualidade de vida e de toda a sua família. E no que se refere à política habitacional de interesse social, não se tem como planejá-la sem o envolvimento com as políticas econômicas e sociais e seu sucesso depende, fundamentalmente, da complementariedade de todas elas, potencializando seus efeitos em ações conjuntas. Dessa forma, a população de menor renda, que é o principal foco das políticas públicas, só tem a ganhar, usufruindo de um direito que lhe é garantido constitucionalmente. 25 Anexos (1) – Fragmentos do Projeto de Geração de Trabalho e Renda – Grupo Maria das Cores (2) Modelo do formulário utilizado para o recadastramento das famílias reassentadas 26 (ANEXO 1) PARTE II – DADOS DO PROJETO 2- TÍTULO: MARIA DAS CORES Um jeito de ser feliz 3- LINHA TEMÁTICA: (X) Geração de trabalho e renda 4- RESPONSÁVEL E EQUIPE TÉCNICA: Nome Adriane Branco Penna Delma Ap. Salles Pereira Jair da Costa Júnior Miriam Vilela Penaforte Atribuição Coordenação Técnico - Apoio Técnico - Apoio Técnico- Apoio Telefone (31) 8684-3151 (31) 9986-9577 (31) 86377230 (31) 8741-5523 Fax 3771-7363 Email [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] 5- PÚBLICO BENEFICIÁRIO: Sessenta (60) mulheres moradoras dos bairros Iraque, Kwait e adjacências e suas famílias. 6- CARACTERIZAÇÃO DOS BENEFICIÁRIOS (*): BENEFICIÁRIOS Jovens 20 – 29 Adultos 30 – 59 Idosos Acima de 60 Total SEXO FEMININO 15 30 15 60 (*) projeção 7- LOCAL DE REALIZAÇÃO: Município: Sete Lagoas Estado: Minas Gerais Região: Sudeste 8- PERÍODO DE REALIZAÇÃO: Início do projeto: 04/outubro/2010 Término do projeto: 30/setembro/2011 11- OBJETIVO GERAL: Garantir oportunidade de trabalho e geração renda para sessenta mulheres e suas famílias, residentes nas comunidades do Iraque, Kwait e adjacências, proporcionando-lhes maior domínio sobre suas vidas e sobre seus direitos. 12- OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Fomentar processos de geração de trabalho e renda, contribuindo para a sustentabilidade econômico-financeira das famílias e comunidade; Fortalecer, individual e coletivamente, o trabalho das mulheres por meio de ações que visam a elevação da autoestima das moradoras destas áreas identificadas como de maior vulnerabilidade social; Incentivar e assessorar a formação de grupos produtivos em processos associativos, conforme preceitos da economia solidária; Propiciar às mulheres oportunidades de se expressarem artisticamente por meio da linguagem têxtil, produzindo peças utilitárias em patchwork; Aproveitar integralmente a matéria prima utilizada, desenvolvendo subprodutos para o reaproveitamento das sobras de produção. 27 13- METODOLOGIA: A partir da experiência do Grupo Produtivo, vinculado e acompanhado pela Equipe Social do PAC/PPI (Intervenção em áreas de risco), que por meio de curso de confecção de bolsas em patchwork, capacitou um grupo de mulheres das comunidades do Kwait e Iraque para trabalhar de forma coletiva, e dentro dos moldes da economia solidária, a proposta é que esta atividade seja replicada para outras mulheres, dando-lhes oportunidades para a obtenção de renda com produtos utilitários têxteis como colchas, almofadas, jogos americanos, panôs de parede, além das bolsas, na técnica do patchwork. Proposta: Cursos de Capacitação em Patchwork e Quilt – com acompanhamento e assessoria para a formação de grupos produtivos. Formato Carga horária total: 24 horas/aula N° de turmas: 04 N° de alunas por turma: 15 Total de mulheres capacitadas: 60 Grade do curso (*): Atividade Básico de patchwork Uso do cortador, base e réguas Aplicações e técnicas usadas nos produtos utilitários Dinâmicas de grupo e atividades de integração Conteúdo Confecção de uma peça utilitária utilizando a técnica do quilting (processo de acolchoamento) e combinação de cores através da montagem de blocos geométricos A correta utilização dessas ferramentas proporciona um melhor aproveitamento do tempo e uma boa qualidade do produto Bordados e aplicações, paper foundation, seminole, montagem de peças, dobras e pregas Realização de atividades de socialização e de integração do Grupo Carga Horária 12 h/a 3 h/a 6 h/a 3 h/a (*) para as mulheres sem domínio com a máquina de costura, através do SERPAF, será feito um treinamento na Associação Comunitária, onde serão repassadas técnicas de manuseio do equipamento. Esta opção mostrou-se ser positiva com o Grupo Produtivo, que trouxe ganhos significativos na condução dos trabalhos. PARTE IV – GESTÃO DO PROJETO 20- MECANISMOS DE MONITORAMENTO E DE AVALIAÇÃO: Avaliação de alunas e professores Acompanhamento sistemático através de observação e entrevistas Elaboração de relatórios quantitativos e qualitativos 21- INSTRUMENTOS DE DIVULGAÇÃO: Jornal “De Mudança pro Futuro” Faixas Folders 22- ESTRATÉGIAS DE SUSTENTABILIDADE: Estabelecimento de parcerias Organização formal de uma associação ou cooperativa após as capacitações 23- REAPLICABILIDADE: Através da metodologia desenvolvida, os cursos e atividades poderão ser difundidos em outras comunidades dentro dos seguintes eixos: Erradicação da pobreza através da capacitação profissional, com geração de trabalho e renda; Desenvolvimento Econômico, através da formação de Empreendedores; Igualdade de Gênero e Inclusão Social, através da integração social, poder de decisão para as mulheres e acesso aos recursos. Valor total da subvenção do PNUD – R$25.000,00 (vinte e cinco mil reais). 28 (ANEXO 2) 1 PESSOA RESPONSÁVEL PELA FAMÍLIA: A - IDENTIFICAÇÃO: NOME:____________________________________________________________________________ ENDEREÇO RESIDENCIAL:_____________________________________________________________________ BAIRRO:_________________________________ MUNICÍPIO/UF________________________ TEL:_______________________RECADOS C/________________________ B – SEXO E – GRUPO ÉTNICO/RACIAL □ 1 - Homem □ 2 – Mulher 1 – Branco Asiático/Amarelo C – IDADE F – TRABALHO □ □ 4- □ 2 – Mulato/Pardo □ 5 - Indígena □ 3 – Afro-descendente/Negro □1 - até 25 anos □4 - entre 41 e 50 anos □2 - entre 26 e 30 anos □5 - entre 51 e 60 anos □3 - entre 31 e 40 anos □6 - acima de 60 anos Ocupação ___________________________ Salário/renda: R$ _____________________ D – ESCOLARIDADE G – SITUAÇÃO DE OCUPAÇÃO □ 0 - Até a 3º série do Fundamental □ 1 - Da 3º série a 7º do Fundamental □ 2 - Fundamental completo □ 3 - Médio incompleto □ 4 - Médio completo □ 5 - Superior completo □ 1 - Emprego Formal (com registro) □ 2 - Emprego Informal (sem registro) □ 3 - Por conta própria □ 4 - Diarista □ 5 - Eventual/Bicos □ 6 - Aposentado/pensionista/Beneficio □ 7 - Bolsa Família 2 PERFIL DA FAMÍLIA 2.1 RENDA Nº DE PESSOAS RENDA FAMILIAR Nº DE PESSOAS COM Nº DE PENSIONISTAS/ MENSAL TRABALHO REMUNERADO APOSENTADOS 2.2 COMPOSIÇÃO Nº DE PESSOAS Crianças com até 5 anos Crianças de 6 a 10 anos Crianças de 11 a 14 anos Adolescentes de 15 a 17 Jovens de 18 a 24 anos Adultos de 25 a 60 anos Idosos acima de 60 anos FREQUENTA ESCOLA □0 – NÃO □ 1 – SIM → QUANTAS? □0 – NÃO □1 – SIM → QUANTAS? □0 – NÃO □1 – SIM → QUANTAS? □0 – NÃO □1 – SIM → QUANTAS? □0 – NÃO □1 – SIM → QUANTAS? □0 – NÃO □1 – SIM → QUANTAS? □0 – NÃO □1 – SIM → QUANTAS? 2.3 PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS Pessoas com deficiência física permanente Usuário de Cadeira de Rodas □0 – NÃO □1 – SIM □0 – NÃO □1 – SIM 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BONDUKI, N. G.; ROSSETTO, R. Política e Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social. In: Ações Integradas de Urbanização e Assentamentos Precários. Curso à Distância. Módulo I. Disciplina II. Brasília: Ministério das Cidades, 2008. FERREIRA, J. S. W; UEMURA, M. M. Política Urbana. In: Ações Integradas de Urbanização e Assentamentos Precários. Curso à distância. Módulo I. Disciplina I. Brasília: Ministério das Cidades, 2008. GOMES, M. F. C. M. Habitação e questão social – análise do caso brasileiro. In: Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografia y Ciencias Sociales. Universidad de Barcelona, 2005. Disponível em: http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-194-26.htm. Acesso em Novembro de 2011. INSTITUTO CIDADANIA. Projeto Moradia. São Paulo: IC, 2000. LAVINAS, L. Luta contra a pobreza urbana. Rede Urbal: Documento base URBAL 10. [Documento de Guia]. In: Rede Urbal. São Paulo: PSP/Sec. Rel. Internacionais, 2003. [mímeo]. MARICATO, Ermínia. Metrópole na Periferia do capitalismo. São Paulo: Hucitec, 1996. _________. Habitação e Cidade. São Paulo: Atual Editora, 1997. MARICATO, E.; REFINETTI, M.L. 2° Jornada Moradia e Meio Ambiente. São Paulo.2008 PAZ, R. D. O.; TABOADA, K. J. Trabalho Social em Programas e Projetos de Habitação de Interesse Social. Curso à distância. Módulos I, II e III. Ministério das Cidades. Brasília, 2010. SITES CONSULTADOS CAIXA. Caixa Econômica Federal. Disponível em: http://www.caixa.gov.br. Acesso em novembro de 2011. Ministério das Cidades. Disponível em: http://www.cidades.gov.br. Acesso em novembro de 2011. 30