Organizadores: Crislayne Gloss Kelly Eleutério Machado de Oliveira Virgínia A. C. Buarque Almanaque Histórico de Mariana Volume 1: Santana 1ª edição le ç ão Co i a na M ar e 2007 a n a qu Edição do autor Al m Mariana E JA H is t ó r i co de ALMANAQUE HISTÓRICO DE MARIANA: SANTANA SUPERVISÃO Virgínia Albuquerque de Castro Buarque ASSESSORIA Fernanda Aparecida Oliveira Rodrigues Silva CONSELHO EDITORIAL Álvaro Araújo Antunes Fernanda A. O. Rodrigues Silva Juam Carlos Thimótheo Suellen Mayara Peres de Oliveira Tatiana Hundrel Diastor Silva Tatiana Mol Gonçalves Virgínia A. C. Buarque EDITORAÇÃO Juam Carlos Thimótheo Suellen Mayara Peres de Oliveira Tatiana Mol Gonçalves Virgínia A.C. Buarque PROJETO GRÁFICO E FORMATAÇÃO Suellen Mayara Peres de Oliveira Tatiana Hundrel Diastor Silva CAPA Tatiana Hundrel Diastor Silva PESQUISA DE IMAGEM E PRODUÇÃO DE TEXTO Ana Luiza Prates Crislayne Gloss Filipe Dias Dulce Gisela Morena de Souza Morena Maria Alice Queiroz Fialho Kelly Eleutério Machado Oliveira Virgínia A. de Castro Buarque AGRADECIMENTOS Agradecemos ao GEPAM (Grupo de Estudos Patrimoniais) DISTRIBUIÇÃO GRATUITA E CONTROLADA Tiragem: 1500 exemplares Almanaque Histórico de Mariana. Mariana: BUARQUE, Virginia, OLIVEIRA, Kelly E. M. e GLOSS, Crislayne. n. 1 – agosto, 2007. ISSN: Sumário 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. Apresentação................................................................................................. 04 Nossas Mascotes .......................................................................................... 05 Santana ......................................................................................................... 06 Marcas do tempo ........................................................................................... 08 Um calendário abençoado ............................................................................ 10 Construindo um calendário ........................................................................... 11 O que sabemos sobre o assunto .................................................................. 12 Que lugar é este? ......................................................................................... 15 Vamos descontrair um pouco ....................................................................... 16 Sujeito de nossa história ............................................................................... 17 Que tal conhecer mais .................................................................................. 19 “Remédios Secretos” .................................................................................... 20 Um crime de feitiçaria ................................................................................... 22 Como cuidar ................................................................................................. 23 Benzeduras ................................................................................................... 25 Simpatias ...................................................................................................... 27 Entrevistando uma benzedeira ..................................................................... 28 Você Sabia? ................................................................................................. 31 Receita da canja de galinha da vovó ............................................................ 32 Entre o passado e o futuro ........................................................................... 33 Sabedoria de cuidado e da cura ................................................................... 35 Palavras cruzadas ........................................................................................ 37 Bibliografia .................................................................................................... 38 Apresentação A partir do primeiro semestre de 2007, o Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto deu início a uma modalidade pedagógica inovadora em sua Graduação: a Atividade Coordenada de Ensino, Pesquisa e Extensão I, cursada por estudantes do 2º e 3º períodos. O objetivo desta Atividade é o de efetivar uma transposição didática da produção historiográfica, sobretudo daquela formulada pelos próprios alunos e professores da UFOP, voltando este novo e específico saber – o saber histórico escolar – para um setor educativo muito especial: a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Para isto, foi preciso articular a metodologia do ensino de História, com suas problematizações, suas maneiras de selecionar e interpretar as fontes, sua forma de narrar as conclusões promovidas (isto é, os sentidos históricos atribuídos às experiências vividas no tempo), com a proposta educacional de Paulo Freire, tão cara à EJA. Com isto, buscou-se desenvolver um material didático que, partindo da realidade vivida pelo aluno – no caso, a cidade de Mariana, com sua ampla gama de relações sociais, políticas, culturais... -, viabilizasse a construção de um conhecimento histórico com facetas transdisciplinares, pautado numa abordagem inter-relacional (local-global), dialógica (identidades plurais-direitos universais) e politizante (ética cidadã-políticas públicas). Optou-se, então, pela elaboração de um material alternativo ao livro didático que, voltado para o segundo segmento do Ensino Fundamental, contextualizasse, de forma crítica e criativa, o cotidiano da cidade de Mariana. Tal produção também deveria possibilitar seu contínuo refazer pelos alunos da EJA, que nela deixariam seus traços sob a forma de textos e imagens e, sobretudo, seu pensamento (sua visão de mundo). Após muitas pesquisas, reuniões e telefonemas, a professora credenciada pelo Departamento de História da UFOP para EJA, Fernanda Aparecida Rodrigues Silva (a quem deixamos o nosso agradecimento), apresentou-nos uma alternativa promissora: - Que tal um almanaque? Afinal, o almanaque é uma obra que se distancia de um saber escolar centrado exclusivamente na autoridade científica e docente; nele, as formas, as cores e os saberes do “povo”, em suas diferentes histórias e linguagens, emergem e nos fazem pensar – e também agir. Justaposição de muitos estilos, ele forma, contudo, uma unidade de sentido, seja pelo tema adotado em cada um de seus volumes, seja pelo “outro saber” que ele suscita, para além da ultrapassada dicotomia “popular/erudito”. Trata-se, como diria Guimarães Rosa, de uma “terceira margem do rio”, ou de uma terceira via – reflexiva, estética e lúdica. Afinal, rir e ser feliz, inclusive na sala de aula, nada tem de alienante; pelo contrário, trata-se de uma das mais expressivas formas de resistência à injustiça e à dor, bem como uma das mais significativas maneiras de (re)descoberta e (re)construção de si. A todos os alunos e educadores da EJA, então dedicamos o Almanaque Histórico de Mariana, fruto de grandes esforços, mas também de nossas maiores esperanças. Virgínia Buarque. 04 Nossas mascotes Convidamos você a folhear o Almanaque Histórico de Mariana em companhia de mascotes muito legais: as espertas corujinhas! Desde a Antiguidade, a coruja foi considerada um sinal de sabedoria, por manter seus olhos bem abertos durante os tempos de escuridão. Ela foi a companheira predileta de Atenas, a deusa grega da inteligência e da cultura. Para muitos xamãs (líderes religiosos de sociedades indígenas) dos Estados Unidos e Canadá, a coruja está associada ao mundo dos espíritos e, por isto, ao dom da clarividência. Aliás, você já reparou que existe uma imagem minúscula da coruja na nota de um dólar? Para vê-la distintamente, é necessário usar uma lente de aumento, focalizando acima do algarismo 1. É só digitar, no site de busca da internet, “owl and one dollar bill”. A associação entre a coruja e o conhecimento chegou a causar problemas a este animalzinho, que foi visto como cúmplice de feiticeiras e sinal de mau agouro. Afinal, todas as vezes que um modo de viver não é compreendido (como acontece com muitas mulheres no período da Idade Média, que foram vistas sob suspeita porque dominavam o segredo das ervas, dos partos...), ele é repudiado como maligno. Mas as corujas resistiram às perseguições e voltaram a ser tidas como representações da sabedoria no Ocidente moderno e contemporâneo. Atualmente, elas são consideradas o símbolo dos professores e estudantes, exprimem nosso grande desejo de conhecer a nós mesmos e ao mundo. Então, nossas mascotes não são também nossas amigas nesta aventura de entender a vida? 05 Santana Era uma vez na Cidade de Mariana........ Aqueles que moram no município de Mariana, sobretudo os que costumam caminhar diariamente pelas ruas do centro urbano, certamente já interromperam seu percurso para admirar as belas fachadas e as tocantes imagens e pinturas das antigas igrejas da cidade. Mas, para além desses imponentes edifícios religiosos católicos, quem não se encanta com as modestas capelas urbanas, algumas das quais ainda podem ser encontradas em Mariana? Tal é o caso da Capela de Santana, quarta ermida levantada na então vila de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo (antigo nome da cidade), construída por volta de 1720. Ao lado desta capela, foi construído, ainda no século XVIII, um pequeno hospital (ou “hospício”, como eram chamados na época os prédios dedicados à hospedagem e ao tratamento dos viajantes e peregrinos religiosos). A construção desta capela e do hospital junto a ela não foi nada fácil: foi a fé do povo, traduzida em forma de esmolas, que permitiu que tais locais, de culto e de cura, pudessem surgir e se manter por mais de um século, tendo Santana como padroeira. E embora o prédio do hospital tenha posteriormente caído em ruínas, a singela capela permanece erguida, como sinal da importância conferida a esta tradição religiosa por tantas gerações. “Lembrar é fácil para quem tem memória; esquecer é difícil para quem tem coração”. (Shakespeare) 06 Fig.1 Imagem de Santana com a menina Maria Para as pessoas que vivem neste bairro ou que freqüentam as celebrações na Capela, ou ainda que compartilham com a comunidade a devoção à mãe de Maria, Santana não é um simples nome. Pelo contrário, Santana significa muito: ela é, ao mesmo tempo, a rua, o bairro, a devoção, a capela e..., mais importante que tudo, as pessoas que por lá estiveram. Santana, portanto, faz parte da cidade de Mariana, de seu cotidiano, de sua memória. Por isto, as memórias de Santana não são simples lembranças sobre o passado; são imagens, pensamentos e desejos que nos fazem viver de uma forma diferente na cidade de Mariana, tornando-a mais especial, mais única, mais nossa. “Não existe o esquecimento total: as pegadas impressas na alma são indestrutíveis”. (Thomas De Quincey) 07 Marcas do tempo Se realizarmos uma pesquisa nos livros de História sobre os principais eventos relativos à Capela e ao Hospital de Santana, provavelmente encontraremos os seguintes registros: 1696 - Criação do Arraial de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo, depois cidade de Mariana. 1711 – Elevação do Arraial do Carmo à categoria de vila. 1720 - Fundação da Capela de Santana na vila do Carmo. 1735 - Fundação de hospital em anexo à Capela de Santana. 1745 – Elevação da Vila do Carmo à categoria de cidade, com o nome de Mariana. 1745 – Criação da diocese de Mariana. 1832 – Re-inauguração do Hospital de Santana, que acumulou funções de Santa Casa da Misericórdia. 1903 - Fim do serviço hospitalar em Santana. 1945 - Reconhecimento da Cidade de Mariana como patrimônio cultural. Tic-tac, tictac, tic- tac... “Se o tempo corrói as colunas de mármore, que dirá os corações dos homens”. (Padre Antônio Vieira) 08 Você percebeu que a maioria das datas citadas nesta linha de tempo refere-se a eventos políticos e religiosos oficiais? Que tal refazer esta linha, construindo-a a partir das memórias que você considere como as mais significativas, tanto pessoais como coletivas? Mas, para isto, é importante que você estipule um (ou mais) critério, que orientará sua escolha sobre quais eventos incluir ou retirar nesta linha de tempo. Que critério você adotaria para reconstrução desta linha de tempo, de maneira a torná-la “a sua cara”? Resposta: “O tempo é o melhor autor: sempre encontra um final perfeito”. (Charles Chaplin) 09 Um calendário abençoado: O tempo de nossa vida pode ser contado de muitas formas, e a este registro damos o nome de “calendário” . Cada sociedade, ao longo da história, inventou um (e até muitos) tipos de calendário: eles podiam ter como referência as fases da lua, as etapas do trabalho agrícola, os acontecimentos que geraram identidade no povo... Nos países de cultura católica, um dos calendários mais conhecidos é aquele baseado nos dias de celebração dos santos – é o chamado calendário “hagiográfico” (hagio = santo; grafia = escrita). Você conhece o calendário hagiográfico de algumas igrejas e capelas já existentes em Mariana colonial? Junho 13 - Santo Antônio 23 - São Pedro Setembro 22 - Santa Efigênia 24 – Na. Sa. das Mercês 29 - São Miguel Julho 16 – Na. Sa. do Carmo 26 - Santana Outubro 04 – S. Francisco de Assis 07 – Na. As. do Rosário Agosto 15 – Na. Sa. Da Assunção Dezembro 13 - Santa Luzia 26 - São Benedito Fig.2 Igreja da Sé “Onde existe fé, sempre brilha esperança” (Autor Desconhecido). 10 Construindo o seu calendário: A localidade em que você mora tem o costume de festejar alguma festa religiosa? E sua família? Caso as respostas a estas perguntas sejam afirmativas, como ficaria organizado o seu calendário de fé? Janeiro Julho Fevereiro Agosto Março Setembro Abril Outubro Maio Novembro Junho Dezembro “O otimismo é a fé que leva à realização. Nada pode ser feito ser esperança ou confiança”. (Helen Keller) 11 O que sabemos sobre o assunto? Capela, hospital, dia de Santana... Será que você já havia parado para conversar sobre estes assuntos? O tema é bem interessante, não? Então, que tal organizar um grupo de colegas e ir até o bairro Santana, a fim de conhecer de perto esta realidade? Eis algumas sugestões para incrementar a sua pesquisa: Montar um arquivo de fotos; Entrevistar um morador sobre as práticas sociais e culturais atualmente promovidas; Redação de um texto com base nestas fotos e entrevista, a ser enviado para um jornal ou outro meio de divulgação local. Por que o cachorro entrou na Igreja? “No deserto do mundo a única terra fértil é o coração do homem”. (Dom Héider Câmara) 12 Resp. Porque a porta estava aberta. Você pode estar contribuindo, através desta atividade, para que outras pessoas venham a conhecer um pouco mais sobre a história do bairro e da cidade onde moram! Entrevista “Ao ver uma luz no fim do túnel certifique-se de que não é um trem...” (Autor Desconhecido) 13 Continuação “Carpe Diem – Aproveite o dia”.(Autor Desconhecido) 14 Que lugar é este? CAPELA DE SANTANA Data da construção: por volta de 1720. Finalidade atual: culto religioso. Localização: Morro de Santana, parte baixa da cidade. Proprietário: pertence à Irmandade de Santana, mas hoje é administrada pela Cúria Metropolitana. Fig. 3- Capela de Santana História: A Capela de Santana foi a quarta ermida erguida na antiga Vila de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo. Sua construção se deu, ao que tudo indica, através da arrecadação de esmolas de romeiros que vinham ali rezar. Junto à capela foi fundado, em 1735, um hospital para atendimento aos doentes e peregrinos. Por quê, quando construíram uma igreja no fundo do mar, chamaram o polvo para ser o pastor? Resp. Porque a voz do polvo é a voz de Deus. “O melhor profeta do futuro é o passado”. (Robert Frost) 15 Vamos descontrair um pouco.... O que o vento não conseguiu levar No fim tu hás de ver que as coisas leves são as únicas que o vento não conseguiu levar Fig.4- Capela de Santana Um estribilho antigo, Um carinho no momento preciso, O folhear de um livro de poemas, O cheiro que tinha o próprio vento... Mário Quintana Resp. Porque ele não sabia rezar. Ajude o padre a chegar na Igreja Por que o cachorro saiu da Igreja? Qual a semelhança entre o padre e o martelo? Resp. Ambos pregam! “Há uma primavera em cada vida e é preciso cantá-la assim florida”; (Florbela Espanca) 16 Trava-língua O padre pouca capa tem, porque pouca capa compra. Sujeitos de nossa história DEVOÇÃO À SANTANA Santana é um nome feminino, cujo significado em hebraico é “graça”. Segundo a tradição judaico-cristã, Santana foi casada com Joaquim, que pertencia à família real de Davi. O casal, já idoso, não havia tido filhos, o que, para a cultura da época, era sinal de maldição divina. Mas, segundo a piedade católica, devido à grande fé que ambos possuíam, Deus concedeu-lhes não apenas uma filha, como permitiu que aquela menina por eles gerada viesse a tornar-se a mãe de Jesus. A devoção aos pais de Nossa Senhora é muito antiga no Oriente, remontando ao início do cristianismo. Já no Ocidente, o culto de Santana data do século VIII, mas foi durante a Idade Média que ele tornou-se muito popular. O dia dedicado à Santana foi escolhido como data comemorativa dos avós, já que, para os católicos, Santana foi a avó de Cristo. É também o dia dedicado aos idosos. Fig.4 Imagem de Santana com Maria “Os verdadeiros mestres de um homem nem sempre são seus professores, mas todos aqueles de quem, nos acasos da vida recebe exemplo e lição”. (Autor Desconhecido) 17 . Você sabia que Santana é a padroeira dos professores? Como os avós são importantes na formação das novas gerações! Muitos de nós fomos criados por avós, e sabemos bem como sua presença tornou nossa vida muito melhor. E outros de nós já são avós, e dedicam parte de seu tempo e de suas energias a cuidar dos netos. Vamos deixar que nosso carinho e nossa criatividade nos inspirem? Em sua opinião, como podemos homenagear os avós, com justiça e afeto? Resposta “A boa educação é moeda de ouro, em toda parte tem valor”. (Autor Desconhecido) 18 Que tal conhecer mais? HOSPITAL DE SANTANA No início do século XVIII, a cura de doenças era indissociável da vivência da fé. Foi nesse contexto que surgiu o primeiro hospital de Mariana, ainda conhecida como Vila de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo, o qual era administrado pela Irmandade de Santana. Com a criação do hospital, os moradores que viviam próximos ao atual bairro de Santana começaram a mudar-se dali, pois temiam os “maus ares” ou “miasmas”, provenientes dos doentes internados naquela instituição. Com isto, o bairro de Santana só veio a desenvolver-se novamente a partir do final do século XIX, justamente na ocasião em que ocorreu o fechamento do hospital. A partir de então, o prédio do hospital entrou em ruínas, e atualmente as poucas paredes que ainda restam ameaçam desabar. Na sua opinião, o desaparecimento do hospital de Santana é uma perda para a população que reside em Mariana? E se for, é possível fazer algo a respeito? Por que o pneu foi para o Hospital? Pesp. Porque estava com pneumonia. “O primeiro passo para a cura é saber qual é a doença!!!” (Provérbio latino) 19 “Remédios secretos” O universo das práticas curativas no Brasil do século XVIII era bastante variado: os doentes recorriam a lagoas miraculosas, a remédios secretos e poções conhecidas por descendentes de africanos e indígenas, não raramente acusados de feiticeiros. Muitos desses “remédios secretos”, geralmente produzidos com ervas, vinham acompanhados por bulas, o que inaugurou o costume de automedicação. O pior é que as poções continham muitos efeitos colaterais: a nomeada “Jurema”, por exemplo, empregada para a cura de infecções, também atuava como abortivo. As autoridades civis tentavam diferenciar os médicos dos preparadores de “remédios de segredo”, mas para a população essa distinção não era muito importante, havendo amplo consumo de todas essas “drogas”. Cebola Mamão Alho “Corpo são, mente sã”. (Sócrates) 20 Dica O poder da cebola: Devem ser incluídas na alimentação diária pois previnem tosses e resfriados, estimulam a memória e a circulação do sangue. Exemplos da procura por esses “remédios secretos” são anúncios publicados nos principais jornais da época. Assim, periódicos como Idade d’Ouro da Bahia, Gazeta do Rio de Janeiro e o Farol Paulistano publicaram em suas páginas de “avisos” propagandas de “remédios secretos”. Os curadores faziam de tudo um pouco. Circulavam muitos anúncios a seu respeito, junto com a propaganda de parteiras e de venda de livros de medicina e farmácia. Mas os curadores sofriam grande concorrência por parte da religião oficial do Brasil Colônia, a católica. Assim, quando os padres ungiam um doente, eles também invocavam o santo a quem era atribuída a cura daquela moléstia: Santana, por exemplo, era muito invocada no combate à esterilidade. Enfim, fórmulas contendo ervas, morcegos, sapos, burricos e excrementos formavam juntamente coma magia e a religião os recursos de cura presentes nas boticas (as farmácias da época) e nas ruas. Café: mil e uma utilidades! • Passar café no cabelo é bom para ficar preto. Café • O cheiro de ovo em uma vasilha pode ser tirado passando café Café “Ser feliz é o maior afrodisíaco que existe” (Elvis Presley) 21 Um crime de feitiçaria Você já leu algum documento do século XVIII? Então dê uma olhadinha neste “auto de exame”, redigido por ocasião da prisão de Pai Caetano, que foi acusado de feitiçaria por tratar de pessoas sem possuir o diploma de médico: “Dois patuás ou bolsas de uma pele de bicha que parece ser de lagarto cosidas, e descosendo-se se lhe achou dentro delas um relicário encustoado [sic] em latão com vidro de uma banda com várias relíquias que disse o dito preto Caetano ser Agnus Dei [...] um registro em pergaminho de São Francisco = um osso zinho com dentes que parece de peixe ou de outro bicho = um pouco de incenso = uma oração embrulhada que parecia ser breve e outras orações a letra redonda = e assim mais se lhe achou dentro em um saquinho de linhagem uma imensidade de papéis que alguns estavam dentro em um escapulário ou bentinho de estamenha e constavam a maior parte dos ditos papéis de várias orações escritas de mão, que eram escritas em latim nem em português e três delas com vários Y = digo várias cruzes uma com uma imagem de Nosso Senhor crucificado outras escritas em português e junto com elas algumas folhas de breviário em letra redonda [...]” ROMEIRO, Adriana e BOTELHO, Ãngela Vianna. Planeta Natural. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. Qual é a primeira planta que os portugueses trouxeram para o Brasil? Resp. A planta dos pés. “Só com uma intensa paciência conquistaremos a esplêndida cidade que trará luz, justiça e dignidade a todos os homens” (Rimbaud) 22 Como cuidar? A FITOTERAPIA Um método de tratamento similar ao dos “remédios secretos” do século XVIII, e cada vez mais utilizados na atualidade, é a fitoterapia, uma prática de cura baseada no uso de ervas e vegetais. O nome “fitoterapia” provém da língua grega - phyton (vegetal) e therapia (tratamento) -, mas esta modalidade de tratamento foi inicialmente praticada na China, já existindo 3000 anos antes do nascimento de Cristo. Em nossa residência podemos ter uma farmácia caseira com medicamentos fitoterápicos, como por exemplo: A Aloe, conhecida como babosa, é recomendada para queimaduras, intestino preso, úlcera e ferimentos. Allium cepa ou alho, além de ótimo tempero, pode ser útil para tratar gripe e febre. A Chamomilla recutita ou camomila pode aliviar a irritabilidade, dores, sedeintensa e a TPM (tensão prémenstrual). O café é recomendado para insônia, dor de cabeça, dor de dente e palpitações. Babosa “Segredo para uma vida longa: pouca cama, pouco prato, muita sola de sapato”. (Autor desconhecido) 23 O jasmim-amarelo ou Gelsemium é usado para combater o desânimo, a fraqueza, a sonolência, a fadiga e a preguiça mental. Camomila Mas cuidado! Há sérios riscos no uso de plantas medicinais para tratar de doenças. Além do princípio ativo de efeitos benéficos, a planta também pode conter substâncias tóxicas ou estar contaminada por agrotóxicos. Todos os medicamentos, inclusive os fitoterápicos, devem ser consumidos com orientação médica. Ei, você já reparou que muitas vezes não cuidamos de nós e daqueles a quem amamos como gostaríamos? Na vida agitada que levamos, parece que não temos mais tempo para nada! Porém, encontrar tempo para nós mesmos é uma das mais importantes “dicas” para o nosso bem-estar. E podemos empregar este tempo de forma bastante saudável, de maneira harmoniosa com o nosso jeito de ser e com o lugar que moramos. Como podemos cuidar mais de nós, em relação: Aos alimentos que ingerimos? Ás atividades físicas que realizamos (ou deixamos de realizar)? À relação com nossas emoções e desejos? Pensar nisto é uma ótima maneira de começar a ser feliz! “Se eu soubesse que ia durar tanto tempo, tinha tido mais cuidado comigo”. (George Burns, ator de comédia) 24 Benzeduras De maneira semelhante à fitoterapia, a benzedura foi uma prática de cura promovida em Minas colonial, e que existe até hoje. Muitas vezes considerada de maneira negativa, sendo então associada a uma “superstição” ou ignorância, a benzedura vem sendo aos poucos sendo tida como uma das formas mais legítimas de saber popular. O que leva alguém a pedir uma benzedura? Além da cura de doenças, muitas pessoas recorrem às benzeduras na intenção de espantar o “mau-olhado”. Mas o que é mau-olhado? Trata-se, segundo este mesmo saber popular, de um tipo de “energias negativas”, enviadas por alguém, às vezes até de forma nãointencional, mas despertadas por sentimentos de inveja, cobiça, raiva.... Você conhece as práticas de benzedura praticadas nas terras mineiras? Eis algumas delas: Para benzer espinhela caída, emprega-se uma tira de pano, amarrada na altura da cintura. Caso a pessoa esteja com a espinhela caída, sobrará um pedaço de tira, cujo tamanho permitirá à benzedeira saber quantas vezes será necessário benzer. “Há mais coisas entre o céu e a terra do que pensa nossa vã filosofia”. (Shakespeare) 25 Quando uma pessoa pega um “cobreiro” (pequenas feridas, que não saram de jeito nenhum), a benzedeira corta mamonas em pedaços, fazendo três montinhos com nove pedaços em cada, e coloca no canto do fogão à lenha para secar. À medida que mamona for secando, o cobreiro da pessoa vai sarando. Para espantar o mau-olhado benzedeira recolhe nove brasas de um fogão à lenha e coloca-as num copo com água. Caso a pessoa esteja com mal-olhado, a brasa irá afundar. A benzedeira também sabe se foi homem ou mulher que colocou o mal-olhado de acordo com a posição em que a brasa afunda, na vertical ou na horizontal. Dica: Você sabia que comer abacate ajuda a aumentar a disposição física e mental? Mas cuidado com a balança! Ah, sim, um detalhe fundamental: todas essas benzeduras têm um elemento em comum – elas devem ser realizadas às sextas-feiras. Somente se uma pessoa estiver muito doente, ou com um mal-olhado “dos bravos” é que pode ser benzida no meio da semana, mas neste caso a benzedura deve ser repetida durante três dias para fazer efeito. “A fé é a certeza das coisas que se esperam e a convicção de fatos que não se vêem”. (Hebreus 11:1) 26 Simpatia Além das benzeduras, também as simpatias eram muito utilizadas como forma de cura, quando as práticas de medicina tradicional não davam o resultado esperado. Eis alguns exemplos de simpatias bastante utilizadas: Para curar bronquite, era costume que a pessoa doente fizesse um pequeno buraco em um ovo e escarrasse dentro dele. Depois, o ovo era colocado dentro de uma palha de milho, posta por sua vez em cima de um fogão à lenha para secar. Quando secasse, a pessoa estaria curada. Para ficar curada de diabetes, a pessoa doente deveria cortar um mamão verde ao meio e urinar dentro dele; depois, ela fecharia o mamão e outra pessoa o enterraria em um lugar onde o doente nunca iria passar. Mas cuidado: a pessoa que fizer a simpatia não poderia nunca mais comer mamão. Essas simpatias deveriam ser feitas sempre nas sextas-feiras, em fase de lua minguante. “Mahatma Gandhi, líder hindu, assassinado em 1948. Martin Luther King, pastor protestante,assassinado em 1968. Oscar Ranulfo Romero, arcebispo católico, assassinado em 1980”. (Rubem Alves) O que mata é a intolerância religiosa, o que traz vida é a fé independente da religião. 27 Entrevistando uma benzedeira Entrevistada: Maria das Dores Pereira Fraga, moradora de Cachoeira do Brumado, Distrito de Mariana. Entrevistadora: Kelly Eleutério Machado Oliveira, estudante do 3º período do Curso de Graduação em História da UFOP. Como aconteceu a entrevista: Desde criança, eu, Kelly, era levada pela minha mãe para visitar a senhora Maria Fraga, a fim de receber dela proteção e cura das enfermidades do corpo e da alma. Ela bastante conhecida em Cachoeira do Brumado, sendo muitos os que recorrem a ela em busca de conforto. Na sexta-feira, dia 27/07/07, fui entrevistá-la para que pudéssemos conhecer um pouco mais de sua trajetória. Como sempre, ela recebeu-me com muita amabilidade e revelou-me um pouco de sua vida, bem como seu conhecimento sobre as benzeduras. Fig.5 Foto da benzedeira Maria das Dores Arquivo pessoal de Kelly Eleutério “Não existe religião alguma que seja falsa. Todas elas respondem, de formas diferentes, a condições dadas da existência humana”. (Émile Durkheim) 28 Há quanto tempo à senhora benze? _ Comecei a benzer as crianças que tinham dor de barriga com quinze anos, e Deus ajudava, que melhorava. Com quem aprendeu a arte da benzedura? _ Aprendi um pouco com a minha bisavó e com um moço que passou na minha casa pedindo comida, mas tem que ter o Dom de benzer com a palavra de Deus. Qual mal é mais combatido? _ Qualquer coisa, mas o que é mais procurado é mau-olhado, atraso e falta de sossego. Qual meio é mais utilizado pela senhora ao fazer a benzedura? _De vez em quando uso brasa, mas o que eu mais uso é o terço, que é usado só na terça-feira, quarta, e sexta-feira. De todos os casos tratados, qual foi o que mais preocupou? _ Uma moça precisou de benzedura pesada porque o avô dela morreu e ela dormia com ele, o espírito dele encarnou nela e queria levar ela embora. A senhora já tem alguém em vista para passar seus ensinamentos? _ Quem quiser aprender eu ensino, mas tem que ter o dom. Trava-língua: Se o papa papasse pão, se o papa papasse papa, se o papa papasse tudo, seria um papa papão! “A religião é um sonho da mente humana”. (L. Feuerbach) 29 Comentários sobre a entrevista, feitos pela entrevistadora: Nas respostas dadas por D. Maria das Dores, pude perceber o entrecruzamento de diferentes concepções religiosas. Esta mescla de idéias e valores é comumente chamada de sincretismo. Aproveitei para entrevistar alguns padres da Arquidiocese de Mariana, perguntando sua opinião sobre a prática da benzedura. Segundo eles, não existe nenhum documento da Igreja proibindo a benzedura. Afinal, afirmam eles, o que importa é a fé com que as pessoas recorrem a Deus, pedindo-lhe a graça da cura. Fiz a mesma pergunta a um freqüentador do Centro Espírita São Francisco de Assis, em Teixeiras, chamado Manoel Machado Filho. Ele diz não opor-se à benzedura, destacando que, nesta prática, o que importa é a caridade promovida por quem benze. Verifiquei então que embora o catolicismo e o espiritismo divirjam em muitos pontos de doutrina e de culto, em relação à benzedura essas duas religiões possuem uma postura bem parecida, valorizando a fé e a caridade do ser humano. Atualmente, muitas confissões religiosas estão dando mais atenção aquilo que as une, e não ao que as separa. Elas afirmam que a prática do bem e a crença do poder da oração é o caminho para a construção de uma vida interior saudável, bem como da justiça e da paz social. Você concorda com esta afirmação? “A essência da religião não é a idéia, mas a força”. (Rubem Alves) 30 Dica:O pêssego é especialmente indicado para gestantes e pessoas que têm enjôos com freqüência. Você sabia? ...que a canja de galinha era um dos remédios mais utilizados na época colonial? A tradicional receita da canja de galinha é uma herança da colonização portuguesa. Porém, como seu ingrediente principal – a galinha – custava caro (já naquela época!), este prato só era servido em caso de doença, ou então de festa. Que por muito tempo foi recomendada para auxiliar a cura de várias doenças, desde as mais graves até as gripes, não esquecendo da ressaca. Embora estudos científicos estejam bem avançados, os especialistas não chegaram a um consenso a respeito de sua eficácia. Uns consideram que seu sucesso decorra dos muitos carboidratos e proteínas de sua receita, e não por nenhuma propriedade específica. Além disso, a canja é servida quente, o que aumenta a sensação de melhora dos sintomas de gripe. Outros dizem, ao contrário, que a eficácia da canja está diretamente relacionada à atuação em conjunto dos diversos ingredientes da canja. Mas o que todos estamos de acordo, é que a canja de galinha é um ótimo pedido para aquecer aquela noite fria de inverno ou para nocautear aquela gripe que nos pegou de surpresa. Além disso, ela é um prato econômico e muito prático de ser feito, sobretudo quando é feita com o carinho da vovó! “A fome é o melhor tempero do alimento”. (Ditado popular) 31 Receita da canja de galinha da vovó: Ingredientes: • 1 galinha caipira pequena. • 4 colheres (sopa) de suco de limão. •4 colheres (sopa) de óleo de soja. • ½ xícara (chá) de arroz lavado e escorrido. • ½ xícara (chá) de cebolinha-verde picada. • 2 colheres (sopa) de hortelã picada • sal a gosto Modo de Preparo: Resp. Botar ovos com clara em neve! O que a galinha foi fazer no freezer? Lave a galinha, corte-a pelas juntas, elimine o excesso de gordura e coloque numa tigela. Regue com o suco de limão, misture e deixe os pedaços de galinha escorrerem sobre uma peneira. Numa panela, aqueça o óleo e junte, aos poucos, a carne de galinha (coloque um pouco de cada vez). Frite até dourar de maneira uniforme. À medida que dourar, retire os pedaços de galinha. Escorra o excesso de gordura da panela. Volte a galinha para a panela, adicione 1 litro de água, tampe parcialmente a panela e cozinhe por 2 horas, ou até a carne da galinha ficar macia. Durante o cozimento, adicione 1,5 litro de água e retire a espuma que se formar na superfície. Na panela devem restar 2,5 litros de caldo. Retire do fogo, coe o caldo e desfie os pedaços de galinha. Volte o caldo coado para a panela e leve ao fogo por 15 minutos, ou até ferver. Acrescente o arroz e cozinhe, mexendo de vez em quando, por 20 minutos, ou até ficar macio. Acerte o sal, incorpore a carne de galinha desfiada, a cebolinha-verde e a hortelã. Deixe cozinhar por mais 5 minutos e retire do fogo. Sirva em seguida e, se preferir, decore com folhas de hortelã. “Gastronomia é comer olhando para o céu”. (Millör Fernandes) 32 Entre o passado e o Futuro A SITUAÇÃO DA SAÚDE NO BRASIL O neoliberalismo, política econômica que visa retirar do Estado suas responsabilidades sociais, foi decisivamente implantando no Brasil a partir do governo Collor, na década de 1990. O neoliberalismo foi então apresentado como a possível solução para a suposta ausência de recursos financeiros por parte dos governos federais, estaduais e municipais. Porém, os impostos brasileiros estão entre os mais altos do mundo, o que indica que o problema não está na baixa arrecadação, e sim no mal emprego da verba existente e na corrupção. Infelizmente, porém, a crise da saúde no Brasil nâo começou a acontecer apenas nos anos 1990. Durante o regime militar, quando o Estado intervinha em muitos setores da economia e da sociedade, a situação da saúde também era problemática. Dessa forma, o neoliberalismo apenas aprofundou os problemas neste campo da vida social. Com o neoliberalismo, a saúde das camadas sociais médias e enriquecidas passou a ser administrada pelos planos de saúde privados, restando aos grupos empobrecidos um sistema público de saúde desprovido de uma estrutura mínima de atendimento. “Os verdadeiros vencedores na vida são pessoas que olham para cada situação com a esperança de poder resolvê-la ou melhorá-la”. (Barbara Pletcher) 33 Assim, por exemplo, para cada 1000 habitantes no Brasil, existem apenas 0,84 leitos e 1,68 médicos disponíveis nos hospitais públicos. Esses dados demonstram a crise que vivenciamos, realidade que também atinge o município de Mariana. Tabela sobre a saúde no Brasil Região (2002) Número de internações Hospitalares Taxa de mortalidade Infantil* Norte 935.705 29,5 Nordeste 3.342.361 44,7 Sudeste 4.390.399 21,3 Sul 1.853.640 18.9 Cento-Oeste 970.780 21,6 *Taxa de mortalidade Infantil é o número de óbitos de menores de . um ano de idade a cada mil crianças nascidas vivas Fonte: www.saudetotal.com Tendo em vista essa conjuntura lamentável, o que você acha de nos mobilizarmos sobre o assunto? O que podemos fazer para evitar o sucateamento da saúde pública, inclusive em Mariana? Estas não são perguntas cujas respostas sejam simples ou fáceis. Mas não fazer nada, nem sequer pensar sobre isto, só contribuirá para a situação da saúde no Brasil ficar cada vez pior. Vamos enfrentar este dilema, a exemplo das pessoas que, há quase 300 anos, deparando-se com a situação de sofrimento que acometia o povo, reuniu forças e recursos, e construiu o Hospital de Santana, que funcionou por tanto tempo? “Dois homens olharam através das grades da prisão; um viu lama, o outro as estrelas”. (Santo Agostinho) 34 SABEDORIA DO CUIDADO E DA CURA Relato de Fílon, judeu que viveu na cidade de Alexandria (Egito) no primeiro século da Era Cristã, sobre os “terapeutas (grupos de homens e constituíram para si um novo estilo de vida: “O próprio nome dos [...] assim chamados “terapeutas”revela o seu projeto, em primeiro lugar porque a medicina que professam é superior àquela exercida em nossas cidades – uma medicina que apenas cuida do corpo, enquanto a outra também cuida da alma, atormentada por essas doenças penosas e difíceis de curar que são o apego ao prazer, a desorientação do desejo, a tristeza, os medos, as invejas, a ignorância, o não conformar-se ao que é, e uma infinidade de outros sofrimentos. Se eles se chamam terapeutas, é também porque [...] cuidam do Ser [...] impulsionados pelo amor divino. “É preciso ter ainda caos dentro de si para dar a luz a uma estrela dançante” (Nietzsche) 35 “Portanto eis que vos digo: Não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes? Olhai as aves do céu: não semeiam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas? Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo; não trabalham nem fiam. Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão acrescentadas”.( Mt. 6: 25-30,33). 36 Palavras Cruzadas Vertical 1. Prédio construído anexo à Capela de Santana com a finalidade de atender os doentes. 2. Mulher que utiliza rituais para conceder às pessoas a cura do corpo e da alma. 3. Fruto utilizado em uma simpatia com a finalidade de curar a diabete. 4. Pequena igreja, que possui apenas um altar. 5. Pessoa da família de Jesus. 6. Ritual para prevenir ou curar enfermidades ou mal-estar. 7. Cidade onde se construiu a primeira igreja do Brasil. Horizontal 1. Santa celebrada no dia 26 de julho. 2. Cidade tombada como “monumento nacional” em 1945, que foi a primeira capital de Minas Gerais. 3. Distúrbio do metabolismo dos açúcares do corpo humano. 4. Refeição saborosa que era recomendada para a cura de diversas doenças. 5. Doença que atinge o sistema respiratório atacando os brônquios. 6. Chá à base de flor, bebido para alívio da irritabilidade, dores, sede intensa e TPM (tensão pré-menstrual). 7. Bebida que contêm propriedades medicinais como aliviar a insônia, dor de cabeça, dor de dente e palpitações. Resp. Vert.: 1-Hospital,2-Benzedeira,3-Mamão,4-Capela,5-Joaquim,6-Simpatia,7-Olinda. Horiz.: 1-Santana,2-Mariana,3-Diabete,4-Canja,5-Bronquite,6-Camomila,7-Café. 37 Bibliografia: ALVES, Rubem. O que é religião? São Paulo: Edções Loyola, 1999. Almanaque do Aluá; Rio de Janeiro: Sapé: Nº2 – Janeiro, 2006. BOSI, Ecléa. Mémoria e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. CHALLOUB, Sidney; MARQUES, Vera Regina Beltrão; SAMPAIO, Gabriela dos Reis e SOBRINHO, Carlos Roberto Galvão (Orgs). Artes e ofícios de curar no Brasil: Editora da Unicamp, 2003. FONSECA, Claúdia Damasceno. Mariana: Gênese e transformações de uma paisagem cultural. Dissertação. Departamento de História – ICHS/ UFOP. Ouro Preto: Editora da UFOP, 1998. GONÇALVES, Andréa; POLITO, Ronald. Termo de Mariana: História e Documentação. Departamento de História – ICHS/ UFOP. Ouro Preto: Editora da UFOP, 1998. _______ Termo de Mariana II: História e documentação. Mariana: Imprensa Unitária da UFOP, 2004. LEITE, Maria Ângela Faggin Pereira. Destruição ou descontrução? Questões de paisagens e tendências de regionalização. São Paulo: Hucitec/ Fapesp, 1994. MATA, Sérgio da. Chão de Deus: catolicismo, espaço e proto-urbanização em Minas, Brasil, Séculos XVIII-XIX. Wiss Verl, 2002. NOVAES, Priscila de Weitzel. O patrimônio histórico como recurso pedagógico na educação de jovens e adulto. V Encontro Nacional – Perspectivas do Ensino de História: sujeitos, saberes e práticas. Rio de Janeiro, 26 a 29 de julho 2004. CD-ROM. ROMEIRO, Adriana e BOTELHO, Ângela Vianna. Planeta Natural. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. VASCONCELLOS, Salomão. Mariana e seus templos (era colonial) 1703 – 1797. Belo Horizonte: Graphica Queiroz Breyner Ltda. MCMXXXVIII. Lei 38 Sites de Referência: www.divertudo.com.br/adivinhas www.planetanatural.com.br/detalhe.asp?cod_secao=12&idnot=427 www.piada.com www.irenes.com.br http://www.jangadabrasil.com.br/fevereiro18/ca18020d.htm www.saudetotal.com www.2dm.ufscar.br www.plenaarinho.gov.br www.citynet.com.br www.ociocriativo.com.br www.rivalcir.com.br www.sacredartwork.com 39