COMENTÁRIO ECONÔMICO
23 de setembro de 2014
SUMÁRIO EXECUTIVO
Alemanha joga mais uma vez na sombra;
A questão é cambial sim;
Liquidez está subindo, não caindo;
Real vai se valorizar
.
Bem vindo ao 4º Reich, mais uma vez.
A Alemanha está mais uma vez jogando seu jogo discreto nessa crise financeira e o ocaso de 2008 se traduziu numa
oportunidade de ouro para Berlim atingir diversos objetivos simultaneamente. Esse jogo não é novo, em 10 de janeiro de
2012 havia escrito um Comentário intitulado “Bem vindo ao 4º Reich” e já naquela oportunidade estava evidente que Angela
Merkel estava ganhando mais que perdendo com todo o derretimento global.
A crise permitiu como dissemos atingir vários objetivos simultâneos e o Reichstag está levando a cabo o que duas guerras
mundiais não conseguiu. O primeiro objetivo que a crise permitiu atingir foi a disciplina fiscal ao sul do continente. Com os
títulos dos países do PIIGS explodindo na esteira das suas inconsistências fiscais no pós-2008 a Alemanha teve autoridade
política, e, principalmente, econômica, para impor sua disciplina a estes países. O jogo era sutil, mas enfático: para o PIIGS
era ruim a austeridade, mas sair do Euro seria como desarticular numa tacada só todo seu tecido econômico. Fora do Euro
suas moedas depreciariam o que faria os déficits comerciais explodirem e sem o lastro do Bundesbank indireto ao Euro o
custo das suas dívidas tornariam proibitivos qualquer financiamento da dívida pública.
Seria como se Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha vissem do dia para noite seus países amanhecerem sem moeda
num enredo surrealista que lembra os filmes de Luis Buñuel ou os livros de Saramago. A ponte com o futuro teria se
rompido por não poderem desenvolverem uma curva à termo de juros razoável, implodindo assim qualquer investimento.
Uma tragédia.
A Alemanha conseguiu mais uma vantagem com esta situação. Ao prolongar a agonia do PIIGS negociando
extensivamente politicamente os termos da ajuda financeira impetrada pela Troika, Berlim conseguiu evitar que a enxurrada
de dólares dos Q1 e QE2 que o FED impôs ao planeta acabassem valorizando o Euro. Neste processo de ampla liquidez
outras moedas entraram no ralo da liquidez se apreciando, entre elas o Franco Suíço, a Coroa Sueca, o Yiene e o Real. A
Zona do Euro protegeu a Alemanha absorvendo a primeira onda de impacto dessa crise financeira como um relógio suíço.
Agora vemos mais um capítulo deste jogo germânico. Os EUA abusaram do instrumento monetário, e Washington, em
especial o FED, sabem muito bem. O certo seria fazer política fiscal e não monetária tanto nos EUA quanto na Alemanha.
Os capitais amedrontados do mundo inteiro no pós-crise fugiram para debaixo das asas protetoras do FED e do
Bundesbank; cabia a Washington e Berlim conduzir uma rodada global de investimentos muito maiores que o Plano
Marshall, afinal os EUA e a Alemanha estavam se financiando a uma taxa de zero. Os capitais se voltaram para os líderes
políticos e os líderes políticos resolveram não fazer nada numa mistura de covardia, inabilidade e de descontrole político da
nova-velha ordem mundial.
O Obama foi uma decepção muito maior do que se podia imaginar. Se a vitória do Democrata deu esperança ao mundo
quando foi eleito criando uma febre global em relação ao seu nome – e evitando assim uma guerra monetária típica da
antessala de conflitos armados de maior monta – ele foi absolutamente incapaz de liderar o “mundo livre” rumo a um futuro
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mais razoável. Os EUA não souberam se reinventar como superpotência e o resultado da contradição inerente ao sistema é
que os EUA vão fazer a única coisa que podem fazer: imprimir dinheiro. Este é o último refúgio da sua credibilidade.
Que falta faz um Helmult Kokl ou um Franklin Roosevelt.
O jogo alemão agora consiste em fazer sua versão teutônica de QE quando os EUA já levaram ao limite sua expansão
monetária. O jogo é simples, quase um exercício de livro texto. Como o objetivo é depreciar o Euro basta que a Alemanha
mantenha, com o auxílio do BCE, deixe as taxas europeias baixas e o diferencial de juros fará o trabalho como que por
diferença de potencial gravitacional fazendo a liquidez vazar de um lado para o outro. A diferença entre os títulos de 10
anos alemães e americanos está no ápice e isso sugere que os capitais europeus irão migrar de um lado para o outro do
atlântico, como de fato vem ocorrendo.
A situação é tão esdrúxula que os juros dos próprios PIIGS (que iriam quebrar, lembra?) estão hoje mais baixos que os dos
EUA. Se observarmos os títulos de 2 anos vemos algo ainda mais inédito, os juros nominais desses contratos da Alemanha
estão rendendo juros negativos. E isso em termos nominais! Os juros alemães já haviam rendido yields negativos, mas isso
quando o Euro iria “quebrar”, hoje não é nem de longe esse o caso.
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A liquidez global está aumentado, não diminuindo. Se de um lado os EUA pararam de colocar alguns bilhões na margem a
Europa e o Japão (por sinal Tóquio está simplesmente paralisado com os amplos déficits comerciais, algo que não
conhecem há mais de meio século pelo menos) estão forçando suas moedas goela abaixo do resto do planeta.
E la nave va...
E por aqui neste canto esquecido do planeta? O que esperar?
Por mais que muitos analistas estejam ponderando que o avanço do Ibovespa e da apreciação do Real em 2014 tenha
como causa primeira as eleições a verdade é que levando em conta o ineditismo dos volumes financeiros existentes nas
praças financeiras o pleito de outubro é diminuto. A ampla liquidez é quem vai ditar os movimentos.
O Real descolou da trajetória do título de 10 anos e isso não pode ser muito persistente, salvo, é claro, que haja uma piora
realmente significativa na percepção sobre o Brasil, algo que ainda não é claro. Se estivermos certos que o fluxo Europa em
direção dos EUA estiver correto isto implica dizer que o Dólar vai, num primeiro momento, se apreciar, mas pode recuar
uma vez que estes capitais irão comprar títulos e assim fazer os juros caírem por lá.
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Falei sobre este fenômeno em diversos fóruns, seja em palestras ou nas reuniões trimestrais no BCB ou no ministério da
Fazenda. Acredito que os economistas não estão prestando atenção devida aos fenômenos propriamente monetários e
hoje sabemos muito bem que preços chaves como juros e câmbio são fenômenos quase que somente financeiros uma vez
que o FED, o BCE, o BoE e o BOJ mandaram às favas os bons modos monetaristas.
Não é nada simples, mas uma coisa é certa boa ou ruim: o 4º Reich está aí.
André Perfeito, economista-chefe
[email protected]
Fernanda Dall’Antonia
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