SISTEMAS LOCAIS DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, INCUBADORAS DE EMPRESAS E DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA NO PARÁ Gonzalo Enríquez* Jair Galdino Cabral Costa** RESUMO O artigo revela a importância das inovações tecnológicas e o conhecimento na competitividade das empresas. Faz uma analise da relação existente entre os sistemas locais de inovação tecnológica e as incubadoras de empresas no Brasil, mostrando o importante papel das incubadoras enquanto parte dos sistemas ou arranjos locais de produção, na transferência tecnológica, na geração de emprego e no desenvolvimento regional. O trabalho analisa a evolução, no Brasil das Incubadoras de Empresas e dos Parques Tecnológicos explica como eles operam, no contexto de das diferentes regiões na procura de uma maior competitividade na economia global. No texto são também tratados aspectos específicos da evolução das incubadoras na Região Amazônica do Brasil destacando sua contribuição no processo de busca de agregação de valor e da abertura de novos mercados para produtos não tradicionais, principalmente os produtos naturais que hoje contam com uma crescente demanda no mercado internacional. Finalmente o artigo conclui sobre a importância dos setores público e privado do Estado do Pará incorporarem as sua políticas o conceito de empreendedorismo nas diversas formas, definindo ações de apoio às incubadoras de empresas e a criação de parques tecnológicos, a exemplo de outras estados da federação onde esse fato é uma realidade. PALAVRAS CHAVES Inovação Tecnológica, Incubadora de Empresas, Gestão Tecnológica, Biodiversidade, Amazônia, Política de Governo. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS NA ECONOMIA GLOBAL. A maioria dos analistas da evolução da economia moderna e da globalização afirmam que a tecnologia, mais especificamente, a inovação tecnológica constitui o fator determinante para a competitividade e o desenvolvimento de nações, regiões e empresas, e a globalização é considerada o principal fator para o aumento da concorrência entre estes segmentos. A geração de competitividade e inovação tecnológica estão cada vez mais baseadas no conhecimento e na organização do aprendizado, daí o papel central desempenhado pela * Mestre em Política Científica e Tecnológica (UNICAMP), Professor do Departamento de Economia – UFPA, Coordenador da Incubadora da UFPA, Diretor da Anprotec e Presidente da Rede Amazônica de Incubadoras – RAMI. [email protected]. ** Mestre em Educação (Unama) , Professor de Administração e Gestão – Unama e CESUPA, Coordenador da Incubadora CESUPA de Empresas de Base Tecnológica – ICBT . [email protected] 2 capacitação tecnológica e pelo conhecimento para o aumento da competitividade das empresas (CASSIOLATO E LASTRES, 2000). Portanto a estratégia fundamental para ganhar competitividade está na capacidade de inovar. Segundo CASSIOLATO e LASTRES (2000), nos últimos anos, já se alcançou alguns consensos em torno do processo de inovação, dentre os quais: • A inovação constitui-se em processo de busca e aprendizado e, na medida em que depende de interações, é socialmente determinada e fortemente influenciada por formatos institucionais e organizacionais específicos, tais como: diversidade regional, especificidades locais etc; • Nem todos os agentes ou atores da inovação tecnológica têm a mesma capacidade de transferir, incorporar ou apreender tecnologicamente, já que dependem de aprendizados anteriores, assim como da própria capacidade de esquecer e reaprender tecnologias; • Existem importantes diferenças entre sistemas de inovação de países, regiões, organizações, em função de cada contexto social, político e institucional. As próprias diferenças regionais do Brasil são um exemplo. O processo de inovação tecnológica assume, todavia, características específicas, dependendo da região, do nível das instituições que o comportam e do próprio processo de articulação entre os atores da inovação que são: empresas, universidades, centros de pesquisas, órgãos de C&T da região, incubadoras de empresas, condomínios empresariais, parques tecnológicos, organizações não governamentais etc. Para os sistemas nacionais de inovação, os atores econômicos, sociais e as relações entre eles determinam, em grande medida, a capacidade de aprendizado de um país ou região, assim como a experiência histórica e cultural, educação, etc. Os sistemas nacionais, regionais ou locais de inovação podem ser considerados como uma rede de instituições dos setores públicos - instituições de pesquisa e universidades, agências governamentais de fomento e financiamento, empresas estatais e incubadoras, entre outros - e privado - empresas, associações empresariais, sindicatos, organizações não governamentais e incubadoras - cujas atividades e interações geram, adotam, importam, modificam e difundem novas tecnologias, sendo a inovação e o aprendizados seus aspectos cruciais. Dessa forma, o processo de inovação é interativo e dependente dos atores envolvidos e da capacidade de apreender, gerar e absorver conhecimentos, bem como da articulação dos agentes e fontes de inovação e do nível de conhecimento alcançado no ambiente específico. AS INCUBADORAS DE EMPRESAS E PARQUES TECNOLÓGICOS COMO PARTE DOS SISTEMAS LOCAIS DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA. As incubadoras de empresas e os parques tecnológicos são parte substancial dos sistemas locais de inovação tecnológica, na medida em que permitem a transferência de tecnologia entre a universidade e o setor produtivo. Nas localidades onde atuam, desenvolvem políticas para apoiar as empresas incubadas na gestão tecnológica e, sobretudo, são o centro mais importante da cultura empreendedora das regiões. Elas são estruturas desenhadas para estimular a criação, o desenvolvimento e a consolidação de empreendimentos competitivos e inovadores. 3 As incubadoras de empresas têm por objetivo servir de suporte estrutural para pequenas e micro empresas de base tecnológica, que buscam a diversificação e a revitalização econômicas, agregando valor ao produto, através de uma interação com os centros de ensino e pesquisa, por meio de informação e conhecimento tecnológico, visando melhorar a eficácia produtiva da região para uma inserção mais competitiva no mercado. Propiciam, também, o desenvolvimento de novos empreendimentos que sejam financeiramente viáveis e capazes de se adaptar ao mercado após o período de permanência na incubadora. Apóiam a transformação de empresários potenciais em empresas crescentes e lucrativas. Diminuem os riscos dos empreendimentos e, finalmente, contribuem para a revitalização regional, na medida que favorecem a criação de novas empresas e empregos. As incubadoras são altamente geradoras de emprego e o custo de emprego é muito mais baixo do que uma grande empresa. A incubadora também contribui para melhorar a distribuição de renda das regiões onde atua. No Brasil, as incubadoras são instrumentos capazes de transformar idéias em negócios e o espaço ideal para o desempenho do empreendedorismo. Dentro da incubadora as empresas nascentes encontram ambiente ideal para o seu crescimento e desenvolvimento e o tempo em que permanecem incubadas é o intervalo necessário entre a idealização e a realização do negócio. Os principais conglomerados de incubadoras aconteceram nos Estados Unidos, na década de cinqüenta, no Vale do Silício, na Califórnia. Aí foram constatadas as primeiras incubadoras de empresas, geralmente em parceria com as universidades e centros de pesquisa da região. A partir desses acontecimentos, que marcaram o surgimento dos Os mecanismos mais visíveis de colaboração Universidade/Indústria, os processos de incubação espalharam-se pelo mundo de forma quase permanente. Segundo dados da National Business Incubation Association - NBIA (Gráfico 1), em 1997, existiam nos Estados Unidos aproximadamente 550 incubadoras, a maioria delas de base tecnológica e quase sempre fortemente apoiadas pelas universidades, centros de pesquisa e pelo próprio governo. INCUBADORAS DE EMPRESAS NOS EUA 600 500 400 300 200 100 0 1980 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 Fonte: NBIA - National Business Incubation Association Gráfico 1. Incubadoras de Empresas nos Estados Unidos - International Association of Science Parks - IASP 4 No entanto, a implantação de incubadoras no EUA aconteceu de maneira mais consistente a partir de 1985, quando houve um crescimento de 100% em relação ao início da década de 80, quando existiam pouco mais de 50 incubadoras. A partir de 1987, é positiva a tendência de crescimento de incubadoras nos Estados Unidos, apesar de ter passado por momentos de relativa estagnação no final da década de 90. No Brasil o fenômeno da incubação de empresas de base tecnológica deu-se de forma consistente e contínua. Entre os anos 1988-89 implantaram-se as primeiras incubadoras brasileiras apoiadas por centros de pesquisa, universidades e governo. Segundo dados da Associação Nacional de Entidades Promotores de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas - Anprotec, existem no Brasil, 135 incubadoras (dados de 2000), distribuídas, principalmente, nas regiões Sul e Sudeste (Gráfico 2). INCUBADORAS NO BRASIL NORTE AM PA AP TOTAL NORDESTE AL 02 BA 07 CE 04 PB 02 RN 02 PE 02 TOTAL 19 01 01 01 03 C E N T R O-O E S T E DF 01 TOTAL 01 SUL PR 08 SC 07 RS 35 TOTAL 50 SUDESTE SP 36 MG 16 RJ 09 ES 01 TOTAL 62 Total Brasil - 1 3 5 I n c u b a d o r a s Gráfico 2 Distribuição das Incubadoras no Brasil - Anprotec (2000) Os mesmos dados revelam que, no ano 2000, 59% das incubadoras eram de base tecnológica, 23% tradicionais e 18% incubadoras mistas. Segundo a Anprotec, as incubadoras tradicionais mostraram aumento relativamente às de base tecnológica. Em 1998, 72% das incubadoras eram de base tecnológica e 18% tradicionais (Gráfico 3). As incubadoras tradicionais começaram a ser importantes no país a partir de uma maior difusão do conceito, função e importância, que nos processos de desenvolvimento regional elas estavam desempenhando. Esse processo foi paralelo a maior participação das entidades dos estados e municípios das regiões onde o processo de inovação tecnológica foi difundindo-se, de forma mais paulatina do que nas regiões Sul e Sudeste. Foram o Serviço Brasileiro de Apoio ás Micro e Pequenas Empresas - Sebrae dos estados, municípios, centros de pesquisas regionais e governos estaduais que têm contribuído maioritariamente com a implantação de incubadoras tradicionais, o que tem feito crescer, também, as incubadoras mistas. 5 ANÁLISE DE EVOLUÇÃO DAS INCUBADORAS CLASSIFICAÇÃO DA INCUBADORA 59% 64% Tecnológica 72% 23% 22% Tradicional 18% 18% 1997 1999 14% Mista 2000 10% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% Gráfico 3. – Classificação das Incubadoras - Anprotec (2000) No Brasil, existem diversas experiências de Incubadoras de Empresas desenvolvidas com a idéia de pólos ou parques tecnológicos, sendo as mais importantes as seguintes: Quadro 1. Incubadoras de empresas no Brasil NOME CIDADE ÁREA DE ATUAÇÀO Blumenau Polo de Blumenau/SC Software CDT Brasília/DF Informática, Biotecnologia, mecânica de precisão, novos materiais e áreas afins. CDT/UnB Brasília/DF Informática/software, eletrônica, biotecnologia CEDIN São Carlos/SP Eletrônica, agricultura, química, mecânica e materiais. CEI/II-UFRGS Porto Alegre/RS Informática CELTA Florianópolis/SC Informática/software, mecânica e eletrônica. CENTRO DE Porto Alegre/RS BIOTECNOLOGIA Genética, microbiologia, imunologia, bioquímica, biofísica e biologia molecular. Centro de Biotecnologia/RS Porto Alegre/RS Biotecnologia CERTI Florianópolis/SC Informática, automação, qualidade industrial e mecânica de precisão CERTI Florianópolis/SC Informática/software, mecânica e eletrônica. CESUPA Belém, PA Informática, química e farmácia. 6 CIDE Manaus, AM Informática, cosméticos, química e produtos naturais. CINET São Carlos/SP Informática/software, mecânica, aerodinâmica, automação, robótica. CITPAR Curitiba/PR Informática, eletroeletrônica, mecânica de precisão, microeletrônica, biotecnologia, química fina, novos materiais e tecnologia de alimentos. COPPE Rio de Janeiro/RJ Informática, instrumentação, mecânica precisão, eletrônica e química fina CRITT Juiz de Fora/MG eletrônica, de Informática/software, mecânica, química, setor agro-alimentar, manutenção hospitalar, oficina de usinagem. FUNDAÇÃO BIO- Rio de Janeiro/RJ Biotecnologia celular RIO microorganismos. e molecular de FUNDETEC Cascavel/PR Agroindústria IBTEC Rio de Janeiro/RJ Informática e software, eletrônica, novos materiais, tecnologia habitação, construção e automação IECAN Canoas/RS MULTISETORIAL IEPA Macapá, AP Alimentos, cosméticos, óleos e produtos naturais. IETI/CEFET-RJ Rio de Janeiro/RJ Informática, telecomunicações, mecânica, mecânica de precisão. INATEL Santa Rita Sapucaí/RJ eletrônica, do Eletrônica, telecomunicações e informática Incubadora de Base Belo Tecnológica em Horizonte/MG Biotecnologia Química Fina e Informática Aplicada Microbiologia, química, biomedicina. Incubadora de Viçosa/MG Empresas de Base Tecnológica Informática e Software, agroindústria, química e biotecnologia. Incubadora Empresarial Tecnológica Informática/Software Barretos/SP Incubadora Industrial Londrina/PR de Londrina Informática e software, mecânica, eletrônica, tecnologia de alimentos, produtos convencionais. Projetos não poluentes. Incubadora Panambi/RS Tecnológica Alfredo Informática/software, mecânica, construção civil e meio ambiente. eletrônica, 7 Fockink – ITAAF Incubadora Betim/MG Tecnológica de Betim Novos materiais, mecânica, eletrônica, química, indústria petrolífera, indústria automobilística, perfumaria, fertilizantes, mineração, metalurgia e farmacêutica. Incubadora São Matheus do Petroquímica, novos Tecnológica de São Sul/RS construção civil. Matheus do Sul Incubadora Tecnológica Liberato Incubadora/Parque de Bodocongó materiais, cerâmica, MULTISETORIAL Campina Grande/PB Informática/software, química. serviço, eletrônica e Incubadoras de Natal/RN Empresas Inovadoras e de Base Tecnológica Informática/Software, eletrônica, novos materiais. INCUBATEC Camaçari/BA Informática/Software, biotecnologia, agroindústria/alimentos, minero-metalurgia INCUBATEC Recife/PE Informática/software, eletrônica, biotecnologia, química, novos engenharia agrícola. INCUBATEP Recife/PE Eletrônica, informática e mecânica de precisão. INSOFT-BH Belo Horizonte/MG Informática/software INTEC Curitiba/PR Metal mecânica, e engenharia biomédica. NADE NOME mecânica, materiais, Informática/software, mecânica, eletrônica, novos materiais e prestação de serviços. CIDADE ÁREA DE ATUAÇÀO Núcleo de São Paulo/SP Desenvolvimento Empresarial de Araraquara Calçados, confecção, mecânica, química, têxtil. Núcleo de Botucatu/SP Desenvolvimento Empresarial de Botucatu MULTISETORIAL Núcleo de Brotas/SP Desenvolvimento Empresarial de Brotas MULTISETORIAL 8 Núcleo de Garça/SP Desenvolvimento Empresarial de Garça Confecção, brinquedos, embalagens plásticas, vassouras. Núcleo de Itú/SP Desenvolvimento Empresarial de Itú MULTISETORIAL Núcleo de Pirassununga/SP Desenvolvimento Empresarial de Pirassununga Calçado, massas, embalagens, vestuário. Núcleo de Porto Ferreira/SP MULTISETORIAL Desenvolvimento Empresarial de Porto Ferreira Núcleo de Rio Claro/SP Desenvolvimento Empresarial de Rio Claro Jóias, bijuterias, confecção, artefatos plásticos, cabos incineradores. Núcleo de São Paulo/SP Desenvolvimento Empresarial do Brás Eletro-eletrônica, artefatos de couro, confecção, tintas. Núcleo SOFTEX de Curitiba/PR Curitiba Informática/software PACTC Campina Grande/PB Eletrônica, informática, design biotecnologia e novos materiais. PADETEC Fortaleza/CE Química fina com aplicações em informática PADETEC Fortaleza/CE Informática/software, mecânica, eletrônica, novos materiais e prestação de serviços. PAQTEC São Carlos/SP Novos materiais, informática, ótica, mecânica de precisão e química fina. PETROSIX São Mateus do Sul/RS Produção de fertilizantes a partir do xisto betuminoso. PIEBT Belém/PA Química fina, informática/software, cosméticos, óleos essenciais, fitoterápicos e biotecnologia. Pólo Regional Incubação Empresas Pier Mucuripe POLOVALE de Mucuripe/CE de do São José Campos/SP Química dos MULTISETORIAL industrial, 9 PREFEITURA Porto Alegre/RS Eletrônica e informática PUC Rio de Janeiro/RJ Informática RITU Belém, PA Alimentos, química. RITU Santarém, PA Móveis, Design SOFTVALE Santa Rita Sapucaí/MG SOFTVILLE Florianópolis/SC Informática/software UNAMA Belém, PA Incubadora de negócios. do Informática/software e eletrônica OS PARQUES TECNOLÓGICOS Os parques tecnológicos, conforme citado em LALKAKA (1990) e BAETA (1997), constituem um espaço físico amplo com múltiplos edifícios, projetados para um conjunto de atividades relacionadas à tecnologia. Geralmente incluem pesquisa científica, projeto e desenvolvimento, fabricação de produtos especiais, apoio de serviços técnicos e estabelecem um modelo de parques tecnológicos com quatro tipos de elementos: escola de empreendedores, centro de inovação, unidades para empresas maiores e laboratórios de P&D. No Brasil, os parques tecnológicos e incubadoras também vêm sendo considerados instrumentos capazes de transformar idéias em negócios e o local ideal para o desempenho do empreendedorismo. Dentro da Incubadora, as empresas nascentes encontram ambiente ideal para o seu crescimento e desenvolvimento sendo que o tempo que permanecem incubadas é o intervalo entre a idealização e a realização do negócio. Conforme a International Association of Science Parks - IASP o conceito geral de parques tecnológicos ou científicos é um espaço físico que: • mantém relações de cooperação com Universidades, Centros de Pesquisa e outras instituições de ensino superior; • é concebido para fomentar a criação e o crescimento de empresas inovadoras de base tecnológica e empresas do setor terciário de alto valor agregado; • dispõe de equipe de gestão permanente que participa ativamente no estímulo à transferência de tecnologia e na geração de negócios para as empresas do parque. De acordo com a localização geográfica existem vários modelos instalados, os principais são de parques tecnológicos localizados “numa área delimitada, com os distritos industriais do paradigma passado, ou podem estar disseminados na cidade, tendência que tem crescido nos últimos anos em decorrência de limitações de recursos, da possibilidade de maior sinergia dos agentes de inovação e da necessidade de evitar a degradação do tecido urbano” (SPOLIDORO, 1997). No que diz respeito aos resultados concretos, o papel dos parques e empreendimentos implantados é : (MEDEIROS, 1996): 10 • “facilitar a articulação entre as empresas e o setor educacionalcientífico-tecnológico”; • permitir repensar a questão urbana; • proporcionar a adoção de novas tecnologias; • melhorar o desempenho das empresas (levando ao aumento da qualidade e competitividade); • proporcionar a redução de custos, decorrente de ações compartilhadas entre as empresas; • estimular o associativismo e o empreendedorismo; • sintonizar as empresas com a chamada sociedade do conhecimento; • permitir uma melhor inserção das empresas no processo de globalização da economia (tanto nos segmentos chamados de base tecnológica como nos setores econômicos tradicionais)”. Neste sentido, verifica-se a grande importância dos parques tecnológicos, por servir como instrumento ou mecanismo para congregar empresas mais intensivas em ciência e tecnologia. O parque tecnológico é também um espaço geográfico onde se concentram instituições de pesquisa científica e tecnológica, convivendo com pequenas e médias empresas de base tecnológica e, em alguns casos, com a presença dos departamentos de P&D das grandes empresas de tecnologia de ponta. Junto com a convivência física entre pequenas empresas e instituições de C&T, o parque tecnológico deve assegurar mecanismos autônomos e eficientes que permitam, no mínimo, os seguintes elementos (ENRÍQUEZ, 2001): • cooperação entre instituições científicas, empresas e escolas técnicas na formação, aperfeiçoamento e educação contínua de recursos humanos para a pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico; • colaboração entre instituições científicas e empresas para a pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico, com especial atenção para a colaboração pré competitiva entre empresas, de forma consorciada (propriedade comum de resultados); • apoio gerencial e técnico científico para empresas nascentes, em regime de "incubadora de empresas"; • apoio gerencial e técnico científico para a implantação de centros de P&D e de industrialização de tecnologias avançadas em empresas associadas, residentes ou não; • captação de recursos financeiros públicos e privados (capital de risco, financiamentos, contratos) e incentivos fiscais para a implantação e consolidação de atividades de P&D nas empresas; • racionalização de investimentos, através da complementaridade e utilização compartilhada das principais facilidades e recursos ou da elevada especialização, entre instituições científicas e empresas. • promoção de intercâmbio e colaboração científica com outros centros, pólos e empresas do Brasil e do exterior; 11 • incentivo para a captação e absorção externa de tecnologias e ao estabelecimento de "joint ventures" em torno de produtos, tecnologias e seu desenvolvimento cooperativo. • estabelecimento de núcleos de controle e certificação de qualidade de produtos, como parte intrínseca de uma ação permanente de promoção da qualidade como base de "marketing" de um conjunto de empresas de base tecnológica. Os parques tecnológicos também funcionam como um espaço, onde : • eleva-se o relacionamento entre as indústrias e os centros de pesquisa e de ensino; • o capital de risco, como um dos fatores chaves para o êxito dos pólos, adquire grande importância, já que os bancos geralmente não contam com linhas de crédito adequadas a este tipo de iniciativa; • prevalece um novo conceito de empresa onde o risco é valorizado; • valoriza-se a existência de novos modelos de organização empresarial, sem burocracias, com estruturas leves, espírito empreendedor, trabalho de equipe e ênfase especial ao trabalho de marketing; • o fator ambiental é valorizado, destacando-se a volta as cidades pequenas e médias, a qualidade de vida e a valorização do verde e da biodiversidade (ENRÍQUEZ, 2001). CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS, OBJETIVOS E GESTÃO DAS INCUBADORAS. Para o ingresso em uma incubadora de base tecnológica, os empreendedores postulantes devem participar de um processo de seleção com normas previamente estabelecidas e, em muitos casos, através de um mecanismo de publicação de editais em jornais e revistas especializadas e, em outros casos, por chamada contínua de projetos. Esses mecanismos têm como propósito selecionar os melhores projetos, identificados com as reais potencialidades da região ou localidade onde atuará a empresa e, também selecionar empreendimentos que tenham capacidade de aumentar a interação da universidade e centros de pesquisa com o setor produtivo e contribuir com o desenvolvimento tecnológico do País. Os dados da Anprotec mostram que os critérios para a seleção dos empreendimentos procuram mostrar as reais possibilidades das empresas conseguir sucesso no mercado, além de revelar qual a capacidade de inovar dos empreendedores. Por outro lado, também é importante o critério que identifica as potencialidades do empreendedor interagir com centros de pesquisa e universidades. Pela ordem de importância a pesquisa agrupou os seguintes critérios: Ø Viabilidade econômica; Ø Perfil dos empreendedores; Ø Potencial interação com universidade e centros de pesquisa; Ø Aplicação de novas tecnologias; Ø Número de empregos criados Ø Potencial para rápido crescimento 12 Os objetivos de uma incubadora encontram-se fortemente relacionados com a missão da própria incubadora que em geral no Brasil foram identificados como sendo os mais importantes: Ø Incentivo ao empreendedorismo; Ø Desenvolvimento econômico regional; Ø Desenvolvimento tecnológico; Ø Diversificação da economia regional; Ø Geração de empregos; Ø Lucro para a incubadora. A infra-estrutura e os principais serviços oferecidos pelas incubadoras são: Ø Orientação empresarial; Ø Secretaria; Ø Sala de reunião; Ø Consultoria em Marketing; Ø Consultoria financeira Ø Suporte em informática; Ø Apoio para a colaboração da universidade e centros de pesquisa; Ø Suporte em informática; Ø Apoio em propriedade industrial e assistência jurídica; Ø Apoio para exportação; Ø Auditório e biblioteca; Ø Show-Room e restaurante; Ø Laboratórios especializados. Segundo a pesquisa anual da Anprotec a maioria do pessoal que administra a incubadora é graduado e/ou pós-graduação: 49% possuem terceiro grau, 17% especialização em nível de pós-graduação e 16% são mestres e doutores. O restante dos funcionários conta com segundo grau (16%) e apenas 1% o primeiro grau. Em muitos casos são selecionados alunos bolsistas financiados pelo CNPq que fazem estágios nas empresas incubadas. Conforme o planejamento do tempo de incubação, as incubadoras são organizações que abrigam empreendimentos nascentes, geralmente até três anos de existência, oriundos de pesquisa científica, cujo projeto implica inovações. Tais organizações oferecem espaço, infraestrutura compartilhada e serviços subsidiados que favorecem o desenvolvimento de empresas e de produtos ou processos de alto conteúdo científico-tecnológico. Segundo pesquisa realizada pelo Sebrae, em 1998, 80% das empresas nascentes quebram antes de completar dois anos de atuação no mercado. Alguns dos fatores mais importantes para o fracasso empresarial prematuro das pequenas empresas, estão na falta de visão empreendedora dos empresários, na falta de planejamento da preparação de um plano de 13 negócios que identifique os fatores de sucesso do futuro empreendimento e, principalmente na falta de inovação tecnológica em produtos e/ou processos dos produtos que são colocados no mercados. Dentro das incubadoras a situação se inverte, registrando-se sucesso em 80% das empresas, após dois anos de existência. O capital de risco é outro elemento fundamental para que a parceria em incubadoras possa se desenvolver. Nas empresas de base tecnológica, como os riscos tendem a ser altos, o capital se torna, em geral , um dos pontos críticos (MEIRELLES, 2000). Uma parceria bem sucedida depende da disposição dos organismos envolvidos em dividir e cumprir as metas programadas. Não há um padrão de comportamento entre as organizações parceiras. O fato de a parceria envolver organizações tão diferentes constitui uma questão determinante na análise da experiência. A título de exemplo, podem ser citados: a prefeitura, com seus diferentes níveis organizacionais e interesses políticos locais; o estado, com interesse político mais abrangente, em termos regionais, temáticos, e processos decisórios mais complicados; e as entidades privadas, com processos decisórios simples e interesses políticos e econômicos específicos (MEIRELLES, 2000). Para garantir o sucesso das incubadoras, os governos devem formular políticas de apoio não apenas a elas, mas à formação educacional e ao desenvolvimento de pequenas empresas. As incubadoras têm lugar num contexto que resulta de diversas medidas políticas e por isso elas desempenham um papel complementar ao desenvolvimento econômico. O papel das incubadoras, como instrumento de política integradora, responde a um ambiente caracterizado por um amplo conjunto de programas de suporte às pequenas e médias empresas. As incubadoras se propõem a assegurar um mecanismo de rápido diagnóstico e controle para o decréscimo da taxa de falências das empresas residentes, o que fortalece o desenvolvimento regional. A estrutura de parceria tem exigido das universidades e das empresas ultrapassar as fronteiras tradicionais, desenvolvendo redes de comunicação que acabam por compatibilizar a pesquisa, o ensino e o desenvolvimento econômico. INCUBADORAS DA AMAZÔNIA DESENVOLVIMENTO REGIONAL. E SUA CONTRIBUIÇÃO AO Na Região Amazônica a realidade das incubadoras está mudando, em 2001 existem sete já implantadas (Quadro 2) e oito em processo de implantação, que estarão operando até o final do ano. Há dois anos atrás existia apenas uma incubadora no estado do Pará. A Região,também já conta, com a Rede Amazônica de Incubadoras - RAMI, com representantes dos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia Tocantins. Em meados da década de 90, quando foi implantada a Incubadora da UFPA, contar com uma Rede de Incubadoras na Amazônia era apenas um sonho. Seguindo a tendência das outras incubadoras brasileiras, as incubadoras da Amazônia atuam nas áreas de software, informática, eletroeletrônica, telecomunicações, agroindústria, biotecnologia e, nos últimos três anos, novos nichos estão sendo difundidos nas áreas de: produtos naturais, cosméticos, óleos essenciais e naturais e, fitofármacos ou fitoterápicos, design e móveis. As parcerias estratégicas com Sebrae, FINEP, CNPq, CNI/IEL, Ministério da C&T, órgãos estaduais de C&T e entidades privadas de ações empreendedoras capacitadas para o 14 desenvolvimento de tecnologias avançadas, formam o substrato para se pensar num crescimento ainda maior desse movimento, nos próximos anos. Quadro 2 - Incubadoras da Amazônia NOME CIDADE ÁREA DE ATUAÇÀO ANO DE EMPRESAS IMPLANTA INCUBADAS ÇÃO CESUPA Belém, PA Informática. 2000 CIDE Manaus, AM Informática, cosméticos, 1999 química e produtos naturais. 10 PIETEC/IEPA Macapá, AP Alimentos, cosméticos, 1997 óleos e produtos naturais. 5 Química fina, informática/software, cosméticos, óleos 1995 essenciais, fitoterápicos e biotecnologia. 10 PIEBT/UFPA Belém/PA 5 RITU/UEPA Belém, PA Tecnologia de alimentos e 2000 design. 2 RITU/UEPA Santarém, PA Design de móveis, 2001 2 UNAMA Belém, PA Incubadora de negócios. 2000 4 Com a implantação de novas incubadoras no Estado do Pará (CESUPA, UEPA e UNAMA) estão-se abrindo novos nichos para produtos que, até então, eram pouco conhecidos e/ou difundidos como produtos da amazônica brasileira. Basta olhar a pauta das exportações do Pará, para constatar que até que empresas incubadas no começassem a produzir, em larga escala: cosméticos, óleos naturais, chocolates com recheios de açaí, cupuaçu, castanha do Pará e flocos torrados, ou produtos de “fronteira” como são os óleos bifásicos, e óleos em pó de andiroba, destinados ao mercado internacional*, esses produtos estavam apenas nas potencialidades do Estado e poucos acreditavam que eles pudessem estar presentes em praticamente todos os aeroportos do Brasil ou em shoppings das principais cidades brasileiras, através das franquias implantadas por uma empresa incubada. As incubadoras recém implantadas no Pará já estão dando frutos concretos. Recentemente foi inaugurada a incubadora do CESUPA, com instalações próprias e com seis empresas de informática já em período de pré-incubação. Estas empresas estarão produzindo “soluções gerenciais e de gestão tecnológica”, altamente atrativas para os mercados das regiões Norte e Nordeste. * Duas empresas de uma Incubadora paraense já estão exportando para Estados Unidos, Europa e os mercados da Ásia, os produtos são: óleos naturais e insumos para as indústrias de cosméticos e produtos finais óleo em pó de andiroba e chocolates recheios . 15 Antes do CESUPA, já havia sido implantada a Rede de Incubadoras Tecnológicas – RITU, da UEPA com incubadoras em Belém e Santarém que atuarão nas áreas de alimentos e de “design” de móveis. A UNAMA conta hoje com empresas incubadas que proverão capacitação na área de gestão empresarial. É uma incubadora mais voltada para serviços do que produtos, no entanto o diferencial dessa incubadora está no valor intangível que agrega aos empresários e empresas incubadas. Estas incubadoras, como parte dos chamados “arranjos produtivos locais” ou “sistemas locais de inovação tecnológica”, não teriam sido viáveis se não contassem com as entidades parceiras, aliadas a um intenso trabalho de articulação e difusão das incubadoras e apoiados pela Anprotec. Além de gerar empregos e aumentar a distribuição da renda, as incubadoras geram um importante “efeito demonstração” de que é possível consolidar um novo perfil de produtos chamados “não tradicionais”. Apesar de ainda pouco expressivos na economia do Estado, os produtos naturais mostram uma tendência crescente, que é similar à maioria dos países que conta com uma biodiversidade abundante, como é o caso da Amazônia. Nestes países, os produtos naturas já representam uma parcela importante das suas exportações e, no caso local, podem ser um diferencial para o desenvolvimento do Estado. O mercado mundial de fármacos, por exemplo, que têm como insumos plantas e produtos naturais, apresenta uma tendência de crescimento constante há pelo menos duas décadas. A difusão dos insumos naturais se deve ao menor custo frente aos produtos sintéticos e às melhores possibilidades para seu aproveitamento a partir dos avanços tecnológicos já alcançados, além da atual tendência de se voltar aos produtos naturais, pelos efeitos negativos dos produtos sintéticos. Nos EUA 25% das prescrições médicas, nos últimos 20 anos, foram para remédios derivados de plantas. Em 1990, no mercado dos países desenvolvidos, as vendas atingiram US$ 15,5 bilhões e ,em 1998, as vendas alcançaram US$ 50 bilhões. Os valores podem ser ainda maiores se for incluída a economia informal de plantas medicinais. A esses dados podem ser acrescidos aqueles relativos ao potencial de desenvolvimento de 375 novas drogas a partir da exploração das florestas tropicais com um valor estimado de US$ 147 bilhões. Muito se discute sobre a importância das cadeias produtivas para atingir maior desenvolvimento e melhorar a competitividade das empresas, bem como conseguir maior retorno social (emprego e distribuição de renda). Nas incubadoras esse processo se dá e desde a origem, principalmente, pelo valor agregado na inovação tecnológica que elas aportam. Como exemplo verifica-se que qualquer um dos produtos extraído da biodiversidade e produzido nas incubadoras reúne as condições de uma cadeia produtiva completa: das comunidades onde são extraídas as matériasprimas até o consumidor final, no mercado nacional ou internacional que utilizam óleos bifásicos ou óleos em pó de sementes naturais, quando se fecha o círculo que vai conseguindo gerar empregos distribuir renda, gerar melhores condições de vida para a sociedade, agregando conhecimento científicos aos produtos. Esse importante papel das incubadoras está baseado na transferência de tecnologia que elas são capazes de produzir, já que chave de uma cadeia produtiva está no conhecimento tecnológico que possa ser incorporado aos produtos, em cada uma de suas etapas. Esse é precisamente um dos mais importantes papéis das incubadoras de empresas de base tecnológica. 16 ACONTRIBUIÇÃO DAS INCUBADORAS DE EMPRESAS DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR PARA FUTURO DA INDUSTRIA NO PARÁ Jair Galdino Cabral Costa O panorama sócio econômico da região aponta a existência de significativa oportunidade para o Estado do Pará tornar-se um dos vetores institucionais no processo de geração de emprego e renda, em conseqüência contribuindo para o desenvolvimento da região e do país. Essa oportunidade traduz-se em realidade a partir dos projetos implantados pelas Instituições de Ensino Superior do Estado do Pará por meio da criação das incubadoras de empresas de base tecnológica e gerencial que objetiva atender as necessidades identificadas no processo de formação e capacitação de empreendedores visando a criação de novos negócios cujos produtos e serviços agreguem tecnologia, com isso aumentando a capacidade de oferta para o mercado interno e o nível de competição junto ao externo. O movimento do empreendedorismo como proposta de desenvolvimento é uma realidade facilmente constada nos estados da região sul e sudeste do Brasil, superando nos resultados muitas das ações decorrentes das políticas de governo que são amplas, porem dispersivas pois os recursos aplicados via de regra resultam em custos, não se consolidando como benefícios permanentes, pois seu caráter é nitidamente de despesa e não de investimento, em conseqüência gerando avaliações essencialmente quantitativas sem perspectiva qualitativa que viabilize a continuidade do processo. Um exemplo é os programas de capacitação profissional que treina o indivíduo não o fixando na atividade produtiva, gerando grandes estatísticas de indivíduos treinados desempregados ou sem os meios de viabilizar de forma sistemática ações que os conduzam a implantar um empreendimento sustentável, daí a importância do processo de incubação de empresas. Essa constatação pode ser feita em várias unidades da federação que se integraram ao movimento em parceria com os programas de empreendedorismo implantados nas Instituições de Ensino Superior com o incentivo e apoio do SEBRAE, IEL, FINEP e o CNPq em todo o Brasil que comemoram grandes resultados obtidos em termos de oferta de empregos, geração de renda, com significativa contribuição para a arrecadação tributária dos estados e municípios. Os dados e informações a respeito das empresas graduadas nas incubadoras de empresas, e que já se encontram competindo no mercado, confirmam que o processo de incubação é muito mais eficaz do que aqueles que prescindem de uma orientação sistematizada para consolidar-se no mercado. Segundo o relatório da ANPROTEC - Panorama 2000, na analise da pesquisa de 1999 aponta, aproximadamente 70% das incubadoras apresentam taxas de mortalidade 17 inferiores a 21%,. Os números são de extrema importância para a avaliação do movimento, eles devem ser discutidos e aprofundados através de estudo especifico por todas as instituições envolvidas nas ações de criação de novos empreendimentos. Em contrapartida, como bem confirma a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, divulgada em fevereiro passado, constatou que o surgimento de pequenas empresas ( fora do movimento de incubação) entre 96 e 98 ajudou a elevar em 12 % o número de empresas formalmente constituída no país. Regionalmente o impulso na abertura de empresas veio com mais força do Norte (25%) e do Nordeste (18.91%). O menor crescimento foi o do Sudeste (8.6%), onde já está mais da metade do número de empresas de todo o país, sendo 30% em São Paulo. Por área de atuação, a variação no número de empresas de serviços (21.71%) disparou na frente das demais. De acordo com o instituto, a mortalidade das empresas tem girado em torno de 50% aproximadamente. Das novas empresas, 99% tinham até 20 pessoas empregadas, o que comprova que pequenas empresas são as que mais surgem no país. O IBGE constatou ainda que, apesar da redução no número de empregados da indústria – tendência dos anos 90 que começou a ser invertida no ano passado, o número de indústrias cresceu (5.75%) entre 96 e 98. Diante desse cenário, nosso entendimento é que o Brasil e em especial o Estado do Pará precisa renovar suas estratégias em relação as formas de geração de trabalho, emprego e renda. As fontes de apoio ao desenvolvimento, começam a reconhecer o imenso potencial criativo e empreendedor instalado em nossas pequenas empresas que sobrevivem de forma reativa às necessidades da sociedade em razão do contexto tributário e creditício brasileiro que limitam suas ações empreendedoras que as conduzem a insolvência. A estratégia inovadora é tornar grandes os pequenos, por meio de mecanismos de parceria, cooperação e alianças, transformando suas aparentes fragilidades em potenciais forças empreendedoras capazes de determinar resultados surpreendentes no segmento social e econômico dos países. É uma forma inteligente de canalizar e gerir recursos para um mesmo objetivo, evitando dispersão de esforços tão comuns nas políticas de apoio ao desenvolvimento, neste particular a literatura aponta exemplos de sucesso centrados em processos de parcerias. Os processos de parcerias são múltiplos, dentre os quais podemos referir dois, o da criação de redes empresariais e das redes de incubadoras de empresas que encontram-se praticamente instaladas regionalmente em todo o Brasil. Para tipificar as ações estratégicas decorrentes das redes empresariais é só analisar os exemplos a seguir, um ocorrido no norte da Itália, como revela a pesquisadora Jessica Lipnack , sobre o movimento iniciado na região de Emília – Romanha. Durante os anos 70, aquela região estava na 18a colocação em termos de renda entre as 21 regiões administrativas da Itália. Uma década depois, impulsionada pelo crescimento consciente de suas pequenas empresas, tornou-se a segunda região mais rica do país. Sua taxa de desemprego caiu efetivamente de 20% para zero ao longo do referido período. O outro exemplo, da mesma política de incentivo de criação de redes empresariais, articulando pequenos negócios, foi adotado com grande êxito na Dinamarca a partir de 1989, com um programa de investimentos de 25 milhões de dólares. Em decorrência no ano de 1991 a Dinamarca foi a única nação da Comunidade Econômica Européia que conseguiu obter saldo positivo em sua balança comercial juntamente com a Alemanha. Os dados econômicos apontam que este pequeno país iniciou a década de 90 com mais elevado saldo na balança per capita do mundo, ultrapassando inclusive o Japão. 18 Sem nenhuma duvida devemos reconhecer as diferenças culturais da Itália e Dinamarca em relação ao Brasil, mais não podemos ignorar os exemplos, dai a importância do Brasil desenvolver um programa de empreendedorismo com responsabilidade social, pois só desta forma se justifica o desenvolvimento econômico de um país, a questão que se coloca não e só de inteligência mas fundamentalmente da ação para fazer acontecer. Não resta dúvida que deve haver a necessária articulação entre objetivo e resultados do empreendimento fazendo constar em todas sua etapas ações de responsabilidade social que projetem positivamente a imagem institucional das empresas. Em recente matéria publicada no jornal “ O Liberal” de Belém (PA), sobre os resultados da pesquisa do IQV – Índice de Qualidade de Vida dos municípios do Pará, ficou demonstrando os baixos índices qualidade de vida dos cidadãos em municípios com alto desenvolvimento industrial, o que é um paradoxo, daí a necessidade de avaliar-se o nível de responsabilidade social dos empreendimentos apoiados com verbas do governo. No caso do Brasil temos o exemplo do governo do Rio Grande do Sul que encontrou uma forma criativa de potencializar os empreendimentos com o Programa Empresas de Participação Comunitária (EPC’s) - sociedades municipais que formam poupanças para investimento no próprio município. Existem atualmente 80 municípios com EPC’s, totalizando 12 mil pequenos investidores que em conjunto com técnicos especializados estudam alternativas de viabilização de projetos que beneficiem todos os cidadãos sem a interveniência especulativa dos bancos, o fato demonstra a capacidade de organização e mobilização dos cidadãos. O mesmo poderia ter sido feito em relação ao processo de privatização das telecomunicações, onde os cidadãos proprietários de ações ordinárias e preferenciais poderiam juntar suas respectivas ações em Comunidades de Pequenos Acionistas(CPA’s) por distrito ou municípios, para que unidos obtivessem representatividade nos ganhos e nas decisões relacionadas com os resultados dos negócios oriundos da indústria das telecomunicações, um dos mais rentáveis do mundo, ao contrário de venderem suas ações isoladamente ficando a mercê dos especuladores bem mais articulados em seus propósitos (COSTA,1997). Acreditamos que investir na criação de redes de pequenos empreendimentos traz retorno seguro com a geração de postos de trabalho, aumento da renda e melhoria da qualidade de vida das pessoas. Portanto estruturar e organizar pequenas empresa em alianças cooperativas por meio de parcerias cria sinergia econômica e social sem nenhuma dúvida. Nesse sentido o modelo de incubadoras de empresas apresenta o perfil adequado, pois trata-se de um empreendimento em regime de condomínio com estrutura reduzida, baixo custo e ampla capacidade de alavancagem de novos negócios. Em razão dessas possibilidades é hora das forças decisórias do Estado do Pará – governo estadual, governos municipais, FIEPA, SEBRAE, IEL, associações e sindicatos em conjunto com as instituições de Ensino Superior – definirem ações de cooperação e incentivo integrando definitivamente os programas de empreendedorismo as políticas de governo. A conseqüência do envolvimento dos decisores do segmento empresarial privado e das instituições públicas no processo, amplia as possibilidades com a conseqüente e imediata criação do Parque de Base Tecnológica do Estado do Pará como espaço de referência para abrigar os empreendimentos oriundos do processo de incubação contribuindo para consolidação de novos negócios. Como registro desse momento identificamos algumas ações práticas em favor do movimento do empreendedorismo no Brasil que tem o apoio dos governos dos municípios e dos estados do Rio 19 de Janeiro e São Paulo como na criação do Parque Tecnológico do Rio de Janeiro (RJ) e o CIETEC/SP - Centro Incubador de Empresas Tecnológicas com área de 3.600 m2 para abrigar 78 novas empresas em regime de incubação resultantes das pesquisas desenvolvidas nas Instituições de Ensino Superior e na comunidade em geral. Dentro da perspectiva empreendedora os decisores devem atuar com uma visão de futuro mas com ações voltadas para o presente. É com essa intenção que o projeto de Incubadoras de Empresas das Instituições de Ensino Superior do Estado do Pará, se colocam à disposição dos segmentos responsáveis pelas políticas de desenvolvimento para estabelecer alianças e parcerias de forma a contribuir para construção de uma sociedade mais justa, onde emprego e renda ampliem a geração de tributos com sua justa aplicação, e que o resultado desse esforço coletivo seja em benefício de toda a sociedade. CONCLUSÕES Sabe-se ao tentar criar ou modernizar empresas, o grande desafio social e político do país é criar empreendedores capacitados a desenvolver e iniciar empresas, daí o papel fundamental das incubadoras que, além de contribuir para a criação e desenvolvimento tecnológico, formam e elevam a massa crítica de empreendedores. A grande aposta para o futuro do Brasil é a gestação de um grande capital humano empreendedor. Os países que contam com capital humano progridem rápido, inovam e criam bem-estar social. Nesse sentido, o dever do governo é dispor das melhores condições e incentivos para que esta capacidade empreendedora se propague. As incubadoras e as pequenas empresas não são uma carga para o governo e sim um berço de empreendedores. Para conseguir esse crescimento empreendedor o Estado e a sociedade devem arriscar. Não há empreendedores de sucesso se não há risco. Alguns terão sucesso e outros fracassarão. Não há sucesso sem fracasso. O apoio dado às pequenas empresas pelas incubadoras é de extrema importância uma vez que proporciona um aumento significativo na taxa de sucesso dos empreendimentos. Em uma economia global, o veloz avanço tecnológico e a conseqüente mudança na estrutura produtiva, se expressam através da criação de novas empresas que desenvolvem novos processos, produtos e serviços. As empresas pré-existentes, mais cedo ou mais tarde, acabam incorporando essa nova tecnologia aos produtos e serviços clássicos. Portanto, para manter e não ficar atrás do processo de desenvolvimento econômico, o Estado do Para e o Brasil devem promover aações propíciem a cria;áo de novas empresas e modernizar as já existentes. O país que melhor se adapte à economia global ou aquele que dê respostas mais rápidas aos processos da economia global, será o mais competitivo, e essa qualidade requer um forte estímulo para a inovação nas empresas existentes e criação massiva de novas empresas afinadas à nova dinâmica tecnológica. Nos dias atuais, ainda subsiste, em amplos setores da comunidade, a visão de que a pequena empresa é um organismo de segunda classe, necessária, porém pouco eficaz. Muitos afirmam que o moderno está na média e na grande empresa, uma vez que elas possuem os recursos tecnológicos, humanos e financeiros, justificando que é aí que o Governo deve concentrar seus esforços para modernizar o país. Grande erro, há que se mudar a concepção predominante e, inclusive, a própria visão que os pequenos empresários têm de si próprios. A 20 pequena empresa não é ineficaz porque não chegou a ser grande. A pequena empresa é eficaz por seu próprio tamanho para enfrentar situações de mudanças e mercados cada vez mais diferenciados e localizados. A maior demonstração é que 90% do número total de empresas, nos países desenvolvidos da Europa e nos Estados Unidos, são as pequena empresas. As pequenas empresas são, portanto, parte insubstituível da estrutura produtiva e devem expandir sua qualidade e ser apoiada por seus próprios méritos, enquanto empresa pequena e inovadora. BIBLIOGRAFIA. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INCUBADORAS DE EMPRESAS E PARQUES TECNOLÓGICOS. - ANPROTEC. Disponível em: <http://www.anprotec.org.br>. Acesso em: 08 agosto 2001. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INCUBADORAS DE EMPRESAS E PARQUES TECNOLÓGICOS. - ANPROTEC. Panorama das Incubadoras Brasileira. Ed. 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