Anais do XV Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 26 e 27 de outubro de 2010 ISSN 1982-0178 ESTRATÉGIAS DE GESTÃO E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA PAULISTA DE FABRICAÇÃO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS Renata Castillo Quattrer Celeste Aída Sirotheau Corrêa Jannuzzi Faculdade de Administração – Comércio Exterior Centro de Economia e Administração [email protected] Informação para Gestão e Inovação Centro de Economia e Administração [email protected] Resumo: O presente artigo busca descrever os principais conceitos de inovação, assim como o cenário atual da indústria de máquinas e equipamentos. Deste modo, a partir da revisão de literatura e da análise empírica com base nos dados da Pesquisa de Atividade Econômica Paulista (PAEP), produzida pela Fundação SEADE (Fundação Sistema Estadual de Dados do Estado de São Paulo), e da Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC), produzida pelo IBGE, identificou-se o estágio inovativo apresentado pelas indústrias de máquinas e equipamentos em relação às estratégias de gestão adotadas pelas indústrias paulistas. Palavras-chave: Máquinas e equipamentos, inovação, estratégia. 1. INTRODUÇÃO Antes de começar a falar sobre a inovação, é necessário ter em mente o conceito desta palavra: “Inovação é a introdução de algo novo em qualquer atividade humana”. Sendo assim para melhor entendimento e classificação do termo, existem alguns tipos de inovação, nos quais, a de produtos e a de processos (que correspondem à inovação tecnológica), são os mais relevantes para este artigo. [1] [2] A Inovação tecnológica de produtos corresponde àquela cujo uso ou as suas características são distintos das invenções já produzidas anteriormente, podendo equivaler a produtos novos ou significativamente aperfeiçoados (frisa-se que aqueles que tiveram apenas uma adaptação tecnológica ou sofreram pequenas modificações não são inovações tecnológicas e sim inovações incrementais). Já a inovação tecnológica de processo é quando são adotados métodos novos ou significativamente aperfeiçoados de produção. É importante destacar que a inovação de processo pode ser utilizada tanto para a fabricação de produtos tecnologicamente novos ou aperfeiçoados ou para aumentar a eficiência da produção ou distribuição dos produtos já existentes. Porém, não basta apenas a existência de um novo produto ou processo, a inovação tecnológica só pode ser considerada concretizada se ela foi efetivamente introduzida no mercado como uma inovação de produto ou se foi realmente utilizada no processo de produção. Deve-se considerar também, que existe a inovação para a firma, ou seja, o produto é relativamente novo para a empresa e já existe no mercado; e a inovação para o mercado, na qual o produto é inédito para a empresa e para o mercado também [2] [3]. O processo de inovação é a chave do negócio de uma organização, pois renova o que a empresa tem a oferecer. Sendo assim, é possível dizer que a inovação está ligada à sobrevivência e ao crescimento de uma firma [4]. Já se sabe que enquanto os países desenvolvidos possuem um alto grau de inovação e de investimentos em P&D, os países em desenvolvimento ainda se encontram em uma fase em que existe baixo nível de inovação, pois “estão mais distantes da fronteira do conhecimento e dispõem de menor infra-estrutura tecnológica”, fato que, se torna um dos principais entraves para o crescimento da produtividade e para a economia do país em questão. Neste cenário, o Brasil pode ser considerado como um país em desenvolvimento, com alguns “pontos isolados de referência” na área de inovação [5] [6]. Para entender melhor a infra-estrutura tecnológica e o baixo nível de inovação nas indústrias brasileiras, é necessário perceber que em sua história econômica, o Brasil passou por grandes dificuldades externas, fator que acabou por impactar negativamente o desenvolvimento tecnológico e industrial do país. Além dos problemas de descontrole inflacionário já enfrentado na década de setenta, com o início dos anos oitenta, iniciou-se e perdurou-se por dez anos a instabilidade e a estagnação econômica, o que acarretou o atraso da indústria brasileira em comparação com o restante do mundo (que passava por um processo de intensa transformação, enquanto o investimento produtivo do Brasil se contraía e o produto interno bruto do país caia). Sendo assim, a indústria brasileira foi incapaz de sustentar seu crescimento, pois, a desfavorável conjuntura macroeconômica durou por um tempo prolongado, marcada pela estagnação da eco- Anais do XV Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 26 e 27 de outubro de 2010 ISSN 1982-0178 nomia, descontrole da inflação e crise de financiamento do setor público; o que provocou maiores dificuldades para o desenvolvimento das indústrias [7]. Na década de oitenta, o país ainda mantinha a política de substituição de importações (no qual um dos princípios básicos foi a proteção da indústria interna, o que auxiliou o avanço da construção da matriz industrial, e a implantação de diversos setores industriais com a instalação alguns que não existiam na indústria brasileira), que durou um período de aproximadamente cinqüenta anos. Porém, o modelo estava entrando em crise, devido a sérios problemas enfrentados com a dívida externa. A crise não retira o mérito do projeto, que também apresentou resultados positivos, porém, deixou deficiências no desenvolvimento da industrialização brasileira como, por exemplo, a indiferença á inovação tecnológica causada pela excessiva presença do Estado na economia e pela falta de competição enfrentada pelas empresas nacionais [8] [5] [7]. É importante ressaltar que na época do modelo de substituição de importações, as indústrias brasileiras vivenciaram um ambiente fechado, onde não havia a obrigação de se preocupar com a qualidade e eficiência dos concorrentes do exterior. Sendo assim, naquela época, as inovações não eram incentivadas, sendo inclusive, dispensáveis para a conservação das empresas brasileiras no mercado. A falta de investimentos em tecnologia está associada, portanto, ao excesso de protecionismo e também a falta de mecanismos permanentes de financiamento da inovação tecnológica; que surgiram apenas na segunda metade dos anos noventa, buscando a ampliação e a estabilidade de recursos para o incremento tecnológico. Outra razão para a baixa importância que a inovação tecnológica tinha na época, é a falta de qualificação do trabalho produtivo, necessário para que pudesse ocorrer a assimilação tecnológica vinda dos países mais desenvolvidos. Devido à crise da política de substituição de importações e aos demais problemas econômicos brasileiros, o país propõe mudanças ao comércio interno, escolhendo a abertura de mercado deflagrada nos início dos anos noventa, década que também foi caracterizada por impactos significativos na estrutura produtiva brasileira. As mudanças na estrutura produtiva brasileira foram causadas principalmente por reformas institucionais relacionadas com a superação da crise econômica dos anos oitenta e a adoção de um novo modelo de desenvolvimento em que entra em destaque a privatização das estatais, e o fim do protecionismo, que deixa seu espaço para a concorrência de produtos importados [8] [7]. A abertura comercial e a valorização cambial ocorrida nos anos noventa promoveram uma aquisição mais fácil de máquinas e equipamentos importados e mais sofisticados tecnologicamente. Como conseqüência, houve o aprimoramento da capacidade produtiva, assim como o aprimoramento destes processos. O aumento da concorrência devido à entrada de produtos importados e a necessidade de exportar acabaram por estimular as indústrias a buscarem uma maior eficiência. Dessa forma, após a abertura da economia brasileira para o mundo, as indústrias precisaram se adaptar à concorrência internacional, na qual, toda a acomodação tecnológica oriunda da substituição de importação pela falta de concorrência inovativa, abre espaço para um novo modo de trabalhar, em que se destacava a preocupação com a competitividade, a busca pela qualidade e redução de custos dos produtos e serviços brasileiros. Portanto, pode-se afirmar que o contexto econômico brasileiro causou um forte impacto sobre o processo de industrialização do país e no seu desenvolvimento tardio com relação às nações mais desenvolvidas. Deste modo, mesmo após a melhoria e evolução da indústria brasileira no quesito inovação e qualidade, ocorrida durante os anos noventa, ao se comparar o Brasil com o restante dos países desenvolvidos, notase que a distância entre eles ainda é muito grande. Um dos pontos que ilustram essa afirmação é que nos países desenvolvidos, as empresas são o maior agente responsável pela inovação tecnológica, o que não minimiza a participação de outras agências, como os institutos de pesquisa, consultorias e as universidades. Já no Brasil, este processo se inverte: são as universidades, e não as empresas, as responsáveis pelo maior gasto em pesquisa e desenvolvimento no país. Sendo assim, a taxa de inovação brasileira ainda é vista como muito baixa [5] [9] [7]. Nos dias atuais, o Brasil é caracterizado por lento crescimento econômico, baixa taxa de inovação e maior importância da inovação de processo, o que demonstra que as firmas brasileiras estão menos propensas a diferenciação de produto, possuindo uma competição de preços mais acirrada [6], enquanto nos países desenvolvidos, é a diferenciação do produto que é considerada como um fator competitivo mais importante [8]. Outro ponto a se destacar é que a maioria das inovações brasileiras é nova apenas para a empresa (e não para o mercado), o que leva a entender, que a forma de inovação predominante na economia brasileira é a partir dos processos de difusão tecnológica, enquanto as atividades de P&D são descontinuadas e com pouca acumulação de conhecimento. Pode-se dizer também que a maioria das inovações provém mais de uma oportunidade ou de uma disponibilidade de um novo modelo de equipamento do que de uma busca planejada de inovação [6]. Anais do XV Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 26 e 27 de outubro de 2010 ISSN 1982-0178 Algumas das razões para explicar essa situação é a pequena participação dos setores que utilizam alta intensidade de tecnologia na estrutura industrial e de serviços na economia. Os custos elevados de implementação da inovação também são considerados como grandes razões para que as empresas não mantenham estratégias regulares de desenvolvimento tecnológico. Outro fator importante, segundo Queiroz (2004), são as condições de pouca igualdade presentes na economia brasileira, que podem ser um fator limitante das atividades tecnológicas [9]. Outro motivo que também merece destaque na explicação da baixa taxa de inovação no Brasil, é o de natureza fiscal, que parece propiciar um diferencial competitivo maior do que o ganho de custo ou de qualidade adquiridos com a P&D, pois, assim os custos seriam reduzidos sem dispêndios em grandes investimentos. A forte internacionalização da economia brasileira também está entre os motivos, pois, a maioria das firmas multinacionais são apenas importadoras de tecnologia; porém, apesar deste fato, as firmas estrangeiras continuam com investimentos em inovação maiores do que os das indústrias nacionais [8] [9] [10]. Dentre as razões apontadas pelas indústrias nãoinovadoras domésticas para o baixo índice de inovação, estão como principais obstáculos, as condições de mercado; os outros fatores (como elevados custos da inovação, riscos econômicos excessivos e escassez de fontes apropriadas de financiamento) e por fim, as inovações prévias. Essas informações tendem a confirmar a relevância do fraco crescimento econômico, do alto nível de incerteza e do pequeno porte das firmas domésticas brasileiras como motivos principais para a baixa taxa de inovação [6] [9] [10]. Também se deve considerar que no Brasil as empresas encontram dificuldades na transferência do conhecimento científico e tecnológico, pois, a informação e a produção de dados pelos institutos de pesquisa e universidades são transmitidas em formatos considerados como de difícil uso e absorção pelas empresas, sendo que as firmas pequenas e médias, nem ao menos possuem qualificação suficiente para utilizar estes recursos de informação [11] [12] [13]. 2. MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS O setor de máquinas e equipamentos foi assim classificado de acordo com o Manual Oslo, a partir de sua principal atividade de atuação, de acordo com os critérios da CNAE, que também serviu como base para a Pesquisa Industrial – Inovação tecnológica PINTEC. Nos parágrafos que se seguem será realizada uma caracterização do setor e de seu grau de inovação [2] [8] [14]. Uma característica do setor de máquinas e equipamentos é que este é uma indústria alvo de preferência nas compras e em financiamentos públicos, e a maioria de suas empresas não apresenta um grande porte. Mesmo assim, existem organizações de diferentes tamanhos e capacitações competitivas, além de existir também a tendência de concentração do capital por meio de fusões e associações. Os movimentos tecnológicos deste setor são orientados para a inovação de produto, com foco na elevação de desempenho de seus artigos. Logo, as características mais valorizadas nos produtos do setor são a qualidade e a confiabilidade, enquanto o preço não é um muito determinante para a compra. As decisões de financiamento do setor por parte do governo são decisivas para a inovação da indústria [7] [8] Outra característica importante para sinalizar o grau de inovação na indústria de máquinas e equipamentos, é que esta, é líder entre os setores que mais possuem patentes no Brasil, o que indica que o setor possui atividades de pesquisa continuadas. O setor de máquinas e equipamentos também está entre o segundo grupo de setores que apresentaram as melhores performances quanto aos resultados da inovação, e também está em terceiro lugar dentre as indústrias que mais realizaram atividades de P&D com o maior número de pessoas alocadas [15] [16]. Uma ameaça para o setor que precisa ser notada é a elevada carga tributária, que está por volta de 35% e acaba por desestimular o produtor brasileiro a adquirir novas máquinas e equipamentos. Este cenário está distante do restante do mundo, principalmente dos países desenvolvidos, que aplicam somente baixas taxas tributárias, ou até mesmo as deixam de aplicar com o intuito de estimular o setor. Existem países que até mesmo abatem impostos de empresas que adquirem máquinas e equipamentos destinados a investimento em inovação tecnológica. Sendo assim, podese dizer que o brasileiro está desestimulado a sempre modernizar seus equipamentos, de tal forma que, a idade média dos equipamentos brasileiros é de dezessete anos, enquanto na Alemanha, é de cinco. Portanto, o problema da indústria não é a falta de conhecimento ou de capacidade, mas sim, a falta de condições de investimento na produção, que são inibidos principalmente em virtude de taxas de juros altas e grandes cargas tributárias [17]. Por fim, pode-se afirmar que o setor de máquinas e equipamentos é um transmissor de avanço tecnológico, por ter o poder de viabilizar o aumento de capacidade produtiva das indústrias, a elevação da produtividade econômica, assim como viabilizar o avanço tecnológico para outros setores usuários. Portanto, este setor deve ser considerado estratégico [17]. Anais do XV Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 26 e 27 de outubro de 2010 ISSN 1982-0178 Deste modo, dentre as estratégias para aprimorar a competitividade da indústria destaca-se o estabelecimento de alianças com empresas estrangeiras que ainda não atuam no Brasil, o que pode vir a ampliar o acesso a tecnologias desenvolvidas em outros países. Já em relação a políticas públicas, podem-se adotar as ferramentas clássicas de financiamento as atividades inovadoras, como os incentivos fiscais para as atividades inovativas e de P&D, assim como a realização de um programa de difusão de tecnologia [8]. 3. ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA Trata-se de uma análise empírica com base nos dados da Pesquisa de Atividade Econômica Paulista (PAEP), produzida pela Fundação SEADE (Fundação Sistema Estadual de Dados do Estado de São Paulo) e da Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC), produzida pelo IBGE. A análise é focada no setor industrial no segmento de Fabricação de Máquinas e Equipamentos. O recorte temático do universo de dados é feito em relação às estratégias de gestão e inovação tecnológica [18] [19]. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS Em uma análise dos dados sobre as estratégias de gestão das empresas do segmento industrial no estado de São Paulo, a pesquisa mostrou os seguintes resultados (Tabela 01) em todos os segmentos industriais contemplados na PAEP: TABELA 01 - Estratégias de Gestão – PAEP 1996 / 2001 Estratégias de Gestão Tipos de Procedimentos Desativação de Linhas de Produção Ampliação Produtos do Número/Variedade 1996 (%) 2001 %) Variação % 14,5 15,3 0,8 32,2 52,2 20 20,1 23,7 3,6 de Redução do Número de Fornecedores Substituição de Parte da Produção Local por Insumos/Produtos Importados 3,2 3,2 0 Crescimento da Automação Industrial 18,3 25,7 7,4 Instalação de Novas Unidades Locais 3 2,3 -0,7 FONTE: Fundação Seade, Pesquisa de Atividade Econômica Paulista 1996- 2001. A ampliação da variedade de produtos é a estratégia que mais se destaca nas indústrias paulistas ao se considerar todos os segmentos industriais. Com uma variação de 20 pontos porcentuais entre os anos de 1996 e 2001, essa estratégia tem como possíveis razões o aumento da concorrência no mercado nacional, incluindo os produtos importados, bem como dos avanços tecnológicos que diminuem o ciclo de vida dos produtos [20] [21]. A automação industrial é a estratégia que ocupa o segundo lugar entre as indústrias paulistas dos diversos segmentos. Esse tipo de estratégia, respaldada em processos, vem associada à necessidade de necessidade de ampliação de capacidade produtiva com saltos de eficiência e significativa diminuição de custos capacidade produtiva com saltos de eficiência e significativa diminuição de custos [6]. Assim, considerando-se que as principais estratégias de gestão adotadas pela indústria paulista são Ampliação de Novos Produtos e a Automação Industrial é possível observar o comportamento da indústria em relação à inovação, pois a primeira estratégia tem estreita relação com a inovação de produtos e a segunda com a inovação de processos. Entretanto, ao se observar o resultado da inovação no Brasil, notase que ainda existe um distanciamento entre as estratégias de gestão adotadas pela indústria e a inovação tecnológica propriamente dita. É o que se pode verificar na Tabela 02. Tabela 02 - Empresas da Indústria que Introduziram Produto Tecnologicamente Novo ou Significativamente Aperfeiçoado para o Mercado Nacional, no Período 1999/2001, segundo Atividades. Atividades Total Fab. de Maq. E Equipamentos Fab. de Maq. Escritório e Equipamentos de Informática Fab. Mat. Eletrônico e Aparelhos e Eq. de Comunicações Total Empresas Inovadoras Taxa de Inovação (%) 41.206 1.656 4,02 2.995 327 10,92 128 41 32,03 413 81 19,61 Fonte: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Paulista Paep 2001. – Adaptado pela autora. O número de empresas inovadoras da indústria de máquinas e equipamentos é maior do que o número das inovadoras dos setores listados na tabela, porém, o total de indústrias deste setor também é muito maior. Sendo assim, a taxa de inovação deste setor ficou em apenas 10,92%, uma taxa significativamente menor do que a dos demais setores ilustrados, porém significativamente maior do que o total de indústrias que realizam a inovação. Isto ocorre porque a indústria de máquinas e equipamentos é uma fonte primária de progresso técnico. Sendo assim a taxa de inovação da indústria de máquinas e equipamentos é naturalmente mais elevada do que as demais indústrias brasileiras. O mesmo ocorre com os demais setores ilustrados na tabela, que exigem inovações mais constantes e velozes devido às exigências de seus mercados. Anais do XV Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 26 e 27 de outubro de 2010 ISSN 1982-0178 Tabela 03 - Empresas da Indústria, Inovadoras para o Mercado Nacional, que Realizaram Atividades Internas de Pesquisa e Desenvolvimento, por Forma de Execução, segundo Atividades. Realizaram P&D Atividades Inovadoras contínua Ocasional Total TOTAL 1.656 685 553 1.239 Fab. de Máq. e E327 93 124 217 quipamentos Fab. de Máq. Escritório e Eq. 41 24 17 40 de Informática Fab. Mat. El. e Apare81 50 25 74 lhos e Eq. de Com. Fonte: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Paulista - Paep 2001. – Adaptado pela autora Nota-se que as atividades P&D nesta indústria são, em sua maioria, ocasionais. Porém, existem também muitas indústrias que realizam estas atividades sistemática ou continuadamente. Comparando a indústria de máquinas e equipamentos, com as demais da tabela, a situação se inverte: a maior inovação em P&D é sistemática ou contínua. Esta situação ocorre principalmente devido as exigências de mercado dos setores, fator que é decisivo para a inovação. Enquanto o mercado de aparelhos eletrônicos exige inovações constantes e notáveis devido a crescente concorrência no setor, o mercado de máquinas e equipamentos exige uma menor velocidade de transformações (em comparação a indústria citada), devido a maior dificuldade (ou falta de estímulos) das demais indústrias para adquirirem novas máquinas e equipamentos. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nota-se a importância da inovação tecnológica para o Brasil, assim como seu atraso em relação aos países mais desenvolvidos. Apesar do apoio governamental, parece que a questão de falta de investimento em P&D no Brasil, além de cultural, é histórica. A falta de políticas públicas que realmente consigam atingir as empresas, sem burocracia também é outro entrave a inovação. A questão cultural está associada também a história do Brasil, pois, é um país que foi colonizado e teve suas primeiras inovações atrasadas com relação ao restante dos países desenvolvidos. O foco do país estava em produção de commodities (café, algodão, açúcar) na primeira e na segunda onda, enquanto ocorria a revolução industrial (introdução da indústria têxtil, de ferro e hidráulica) e a introdução de máquinas a vapor e de estradas de ferro na Inglaterra. Foi somente na terceira onda que a industrialização chega ao efetivamente ao Brasil a partir da indústria têxtil, enquanto nos países desenvolvidos iniciava-se a eletricidade, a química e combustão. Os produtos com maior intensidade tecnológica sempre eram importados, o que mudou, somente após a política de substituição de importações (na qual, a produção interna foi incentivada, porém, não a modernização e a qualidade dos produtos aqui desenvolvidos), mas voltou a ocorrer com a liberalização comercial. A transferência tecnológica dos países desenvolvidos é uma importante e necessária contribuição para que estes alcancem o desenvolvimento econômico. Porém, este mesmo mecanismo de inovação tornou os países menos desenvolvidos dependentes, pois, estes não procuram desenvolver suas próprias tecnologias (ou por falta de condições financeiras, de renda, culturais, entre outros), uma situação difícil de ser superada. Desta forma, o brasileiro não está habituado a inovar da mesma forma que os outros países mais desenvolvidos. Uma grande prova disso é o baixo índice de patentes brasileiras. Outro indicador é que são as universidades que mais realizam atividades de P&D no Brasil, e não as maiores interessadas: as empresas. E mesmo assim ainda faltam universidades habilitadas a realizar pesquisas de ponta importantes para as organizações. Pode-se dizer até, que o consumidor brasileiro costuma crer que os produtos importados são de melhor qualidade. Portanto, o costume é trazer a tecnologia de fora do país. Porém, não se deve dizer, que não existem incentivos governamentais para a inovação tecnológica no Brasil. Existem diversos incentivos, como as incubadoras de empresas, os fundos de financiamento, dentre outros; porém, são métodos burocráticos que dificultam ou até mesmo chegam a impossibilitar o acesso as pequenas e médias empresas a esses incentivos. Mais um fator a se acrescentar é que só existe o financiamento para as áreas de interesse do governo, como por exemplo, o setor de petróleo e gás, de biotecnologia, etc. Outro fator determinante para a cultura de baixa inovação brasileira são as altas taxas tributárias, que acabam por desestimular a modernização das fábricas a partir da compra de novas máquinas e equipamentos e a pesquisa inovativa. Como há altas taxas tributárias e poucos incentivos fiscais para empresas inovadoras, as organizações se interessam mais pelas estratégias focadas e subsidiadas pelos incentivos fiscais do que investir em inovações tecnológicas. Enfim, pode-se afirmar que o atraso do Brasil com relação à inovação é ruim para o país todo, e não Anais do XV Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 26 e 27 de outubro de 2010 ISSN 1982-0178 somente para as indústrias afetadas. Isto é ruim para o desenvolvimento econômico brasileiro e para o avanço de suas indústrias, pois, a inovação está ligada ao crescimento dos empregos e da economia como um todo. Para que o cenário brasileiro com relação as inovações mude para melhor, o governo precisa adotar e desburocratizar políticas públicas a fim de incentivar e facilitar o acesso a inovação. Além disso, também deve dar prioridade e incentivo as pequenas empresas, uma vez que estas são a grande maioria no país e são as que menos inovam, e as que mais sentem a falta de apoio do governo e de recursos próprios, itens considerados as maiores barreiras à inovação. É valido destacar também, que a indústria de máquinas e equipamentos merece atenção especial, pois pode ser considerada com um setor de difusão de progresso técnico, ou seja, traz a inovação para os demais setores. A indústria de máquinas e equipamentos possui uma participação importantíssima na economia, principalmente por ser a indústria base para as demais, ou seja, é a indústria do provimento dos parques industriais. Deste modo, pode-se afirmar que este segmento pode ser capaz de impulsionar a economia do país. Deste modo, devido à importância do setor para a economia e desenvolvimento do país, pode-se dizer que a redução de taxas tributárias; o incentivo as exportações; e a substituição das importações; poderão promover maior independência do Brasil em relação a bens essenciais ao desenvolvimento econômico estável e sustentável. AGRADECIMENTOS À Pontifícia Universidade Católica de Campinas pela Bolsa de Iniciação Científica (FAPIC/Reitoria) concedida para esta pesquisa. REFERÊNCIAS [1] SENAI/CETIQT – O futuro presente. Disponível em: <http://www.abit.org.br/pdfs/SENAI_CETIQT.pdf>. Acesso em dez. 2010. [2] IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 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