XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
ANÁLISE DA INSERÇÃO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE
INFORMAÇÃO E DE COMUNICAÇÃO NOS CURRÍCULOS DO CURSO
BIBLIOTECONOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
Marielle Barros de Moraes
Universidade de São Paulo
Profa. Dra. Virginia Bentes Pinto
Universidade Federal do Ceará
RESUMO
Apresentam os resultados da pesquisa sobre o movimento curricular do
curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará durante seus quarenta e
oito anos de existência, levando em consideração a inserção de disciplinas consagradas
às Tecnologias Digitais de Informação e de Comunicação (TDIC’s) na formação dos
bibliotecários cearenses, buscando responder o seguinte questionamento: como as
tecnologias digitais de informação e de comunicação alteraram o desenho curricular do
novo currículo do Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará? O
objetivo da pesquisa é: analisar as mudanças curriculares concernentes à inclusão das
disciplinas relativas às tecnologias digitais de informação e de comunicação no Curso
de Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará concernentes à formação de base
dos bibliotecários egressos desse curso. Adotaram-se como metodologia a análise de
conteúdo do desenho curricular, bem como estudos da literatura relativa à sociedade da
informação, educação e história desse curso. Os resultados evidenciam que essas
tecnologias vêm sendo inseridas pari passu no currículo, com inclusão de, pelo menos,
cinco disciplinas voltadas para a compreensão e o uso dessas tecnologias. Entretanto,
devido ao avanço acelerado das Tecnologias Digitais de Informação e de Comunicação
verifica-se que elas ainda não dão conta das demandas das competências informacionais
que venham efetivamente contribuir para uma formação bibliotecária que possa trazer
maiores contribuições para atender às demandas formativas do novo modelo de
sociedade que vem exigindo novas competências tanto por parte dos educadores, quanto
dos estudantes, para atender a problemática da chamada educação para a informação.
Palavras-Chaves: Currículo. Ensino de Biblioteconomia. Formação de Bibliotecários.
Tecnologias Digitais de Informação e de Comunicação.
1 INTRODUÇÃO
As transformações pelas quais vem passando a sociedade contemporânea,
impulsionadas pelas Tecnologias Digitais de Informação e de Comunicação (TDIC’s),
vêm afetando os mais diversos setores, tanto no que diz respeito ao individuo, quanto à
sociedade como um todo. Tanto é verdade que a sociedade atual, inclusive passou a
agregar o predicativo “da informação”, devido ao papel fundamental desempenhado por
essa matéria-prima de primeira necessidade, independentemente, do tipo, da forma e do
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suporte de registro, se analógico ou digital. Este fato impõe um novo paradigma para o
mundo da educação.
Como forma de atender às demandas formativas desse novo modelo de
sociedade, o mundo da educação, nos últimos anos, vem exigindo novas competências
tanto por parte dos educadores, quanto dos estudantes, competências essas que também
requerem domínios que dizem respeito ao mundo informacional. Nesse movimento,
podemos dizer que, nos últimos anos, se tem discutido a problemática da chamada
educação para a informação, principalmente, nas áreas de Biblioteconomia,
Arquivologia e Museologia que, no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq), estão inseridas nas Ciências da Informação. É nesse contexto de
demanda de novas competências por parte de alunos e professores que o Ministério da
Educação (MEC) lançou as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para serem
implementadas nos cursos superiores brasileiros, a partir do ano de 2001, como forma
de atender a esse novo contexto informacional, que, também, necessita ser ensinado,
como forma de os alunos se apropriarem desses novos dispositivos a fim de que eles
sejam sujeitos ativos no uso e na construção dos conhecimentos. Para contemplar as
exigências da sociedade da informação e das diretrizes do MEC, os currículos vêm
realizando inovações em seus projetos pedagógicos, dentre eles, os cursos de
Biblioteconomia, a exemplo daquele existente na Universidade Federal do Ceará (UFC),
cujas discussões em torno dessas mudanças, tiveram inicio a partir da Lei nº 9.394 de 20
de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional- LDB) sendo o
novo currículo implantado no ano de 2005.
É, pois, diante deste contexto de transformações curriculares nas
universidades brasileiras e, mais especificamente, no curso de Biblioteconomia, que
surgiu a seguinte indagação: como as Tecnologias Digitais de Informação e de
Comunicação alteraram o desenho curricular do novo currículo do Curso de
Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará? Numa tentativa de encontrar
respostas a este questionamento, perseguimos o seguinte objetivo-base: analisar as
mudanças curriculares concernentes à inclusão das disciplinas relativas às tecnologias
digitais de informação e de comunicação no Curso de Biblioteconomia da UFC,
concernentes à formação de base dos bibliotecários egressos desse curso.
Portanto, a fim de alcançar nossos objetivos pautamo-nos na pesquisa
exploratória acerca dos temas da educação na Sociedade da Informação e das
Tecnologias Digitais de Informação e de Comunicação e seu impacto nos processos
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educacionais. Em seguida, apoiamo-nos na metodologia da análise de conteúdo do
desenho curricular do currículo do Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal
do Ceará, a fim de perceber as mudanças advindas da reformulação dos currículos desde
a implantação do curso em 1964 até a mudança curricular de 2005.
2 EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO: AS TDIC’S EM
QUESTÃO
A revolução das tecnologias em sua forma mais expressiva nas Tecnologias
Digitais de Informação e de Comunicação vem remodelando a base material da
sociedade contemporânea num ritmo veloz, e o próprio sistema do capital foi
reformulado, uma vez que se caracteriza por uma maior flexibilidade de produção,
acesso e gestão da informação, caracterizando o que Castells (2010, p. 53) denomina de
“Sociedade em Rede”. A “sociedade em rede” é uma nova estrutura social que se
manifesta das mais variadas formas conforme a diversidade de culturas e instituições
(CASTELLS, 2010, p. 53). A revolução das TDIC’s difundiu pela cultura mais
significativa da sociedade o espírito libertário dos movimentos dos anos 60. Por outro
lado, Assmann (2000, p. 8) afirma se tratar de sociedade da informação “a constituirse”. Isso porque se verifica a ampla utilização “das tecnologias de armazenamento e
transmissão de dados e informação de baixo custo”. Outra característica é que a
“generalização da utilização da informação e dos dados é acompanhada por inovações
organizacionais, comerciais, sociais e jurídicas que alterarão profundamente o modo de
vida tanto no mundo do trabalho como na sociedade em geral”. Trata-se, portanto, de
um novo modo de produção sustentado na informação e a fonte de produtividade se
pauta nas tecnologias digitais de geração de conhecimentos, de processamento da
informação e de comunicação de símbolos.
Numa tentativa previsionista, Masuda (1982, p. 60) afirma que a
constituição dessa sociedade é o conhecimento em massa, sendo que, o estágio mais
avançado da era da informação estará concretizado pela metade do século XXI. No
entanto, as previsões desse autor já se concretizam, principalmente na educação, desde a
o surgimento do sistema World Wide Web, popularmente conhecida por Web, a partir
dos anos de 1989. Conforme Masuda (1982), a primeira transformação é liberar a
educação das escolas formais, fato que vem ocorrendo com a criação dos cursos de
Educação a Distância (EAD) em outros moldes; na possibilidade da instantaneidade. A
segunda é a introdução de um tipo de educação pessoal, adequado às habilidades de
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cada individuo, substituindo o tradicional sistema uniforme de educação coletiva por
um sistema determinado pela habilidade e escolha individual. Em terceiro lugar, o
sistema de autoensino tornou-se a principal forma de educação. Quando se introduz um
sistema de autoaprendizado, os professores passam a agir como consultores ou
conselheiros. A quarta mudança é a educação criadora de conhecimento, sendo que a
quinta vai significar educação por toda a vida. Isso será necessário para permitir que as
pessoas possam se adaptar às mudanças da sociedade da informação e que estão
implícitas no Relatório Delors, documento da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o qual foi publicado em 1996.
No contexto da educação superior relativa aos cursos de Biblioteconomia,
Arquivologia e Museologia, não podemos esquecer a grande importância das TDIC’s e,
nesse contexto, a necessidade da educação para a informação, principalmente, no que se
refere à oportunização da aprendizagem das competências informacionais. Embasadas
em Perrenoud (1999), entendemos que nesse novo ambiente- no caso das áreas aqui
mencionadas-, as competências exclusivas desses domínios não deixam de ter relação
com os programas curriculares e com os saberes disciplinares. Mas, também, se faz
necessário, o ensino e conhecimentos de outra natureza, que possam dar conta do
ambiente da Sociedade da Informação e, consequentemente, do espaço informacional.
Conforme esse autor, o ensino baseado nas competências busca a inclusão de
conhecimentos como “recursos a serem mobilizados; trabalhar regularmente por
problemas; criar ou utilizar outros meios de ensino; negociar e conduzir projetos com os
alunos; adotar um planejamento flexível e indicativo”. Também busca a improvisação, a
implementação e a explicitação de “um novo contrato didático; praticar uma avaliação
formadora em situação de trabalho e caminhar em direção a uma menor
compartimentação disciplinar” (PERRENOUD, 1999, p. 53).
Nessas reflexões, fica evidente que, para o ensino baseado em
competências, em primeiro lugar, é necessária a compreensão de que o ensino não se
configura mais na antiga suposta transmissão de conteúdos, porém, na implementação
de uma nova metodologia voltada para a “dialog-ação” fazendo com que a educação
seja dialógica, conforme os pressupostos do pensador Paulo Freire (1983).
3 MOVIMENTO DAS MUDANÇAS CURRICULARES NO CURSO DE
BIBLIOTECONOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
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O curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará foi criado
pela Resolução de nº 153 de 17 de fevereiro de 1964, em plena efervescência da
ditadura militar. O funcionamento foi autorizado para o primeiro semestre de 1965,
através da Resolução n° 174, de 22 de janeiro de 1965. Este empreendimento,
anunciado publicamente por ocasião do 3° Congresso de Bibliografia e Documentação,
realizado em Fortaleza, deve-se ao empenho do ex-Reitor da UFC, Prof. Antônio
Martins Filho, e da bibliotecária Lydia Sambaquy. Também sempre lembrada, é a
importante colaboração da bibliotecária Maria da Conceição Sousa. A criação desse
curso visava, num primeiro momento, a formar bibliotecários que iriam atender às
necessidades da própria universidade.
O desenho curricular desse curso continha 150 créditos, perfazendo um total
de 13 disciplinas obrigatórias podendo ser cursado, no mínimo, em dois anos e meio e,
no máximo, em 6 anos, sendo constituído de primeiro ciclo e ciclo profissional. Esse
currículo permaneceu até 1984, embora que, desde 1982, a Associação Brasileira das
Escolas de Biblioteconomia e Documentação (ABEBD), criada em 1967, tenha
encaminhado ao Conselho Federal de Educação (CFE) novas propostas de alterações
curriculares que viessem ao encontro das necessidades de formação do bibliotecário e
que, prontamente, foram atendidas. No entanto, de acordo com Souza (2009, p. 126127) “o currículo aprovado em 1982, não respondia exatamente as expectativas da
diretoria da [ABEBD]. Isso desfigurava e até piorava e muito a proposta apresentada
pela ABEBD [..]. Com isso, iniciou-se um processo de preparação das escolas para
implantá-lo”. Após 20 anos da implantação desse currículo e, em consequência das
transformações advindas do massivo desenvolvimento científico e tecnológico e da
atuação da ABEBD, o Curso de Biblioteconomia da UFC altera seu currículo que passa
a ser implantado em 1985, já com uma nova configuração, não somente acrescentando
novas disciplinas (33) ao currículo anterior, mas também, apresentando outra estrutura
curricular nos moldes da ABEBD e que foram prescritas na Resolução de nº 08/82, de
29 de outubro de 1982, que se configura em: Matérias de Fundamentação Geral,
Matérias Instrumentais e Matérias de Formação Profissional, perfazendo um total de
190 créditos, e cursados em, no mínimo, 4 e, no máximo, 7 anos.
O Curso de Biblioteconomia da UFC faz nova reformulação curricular em
1988, desta feita, realizando as seguintes alterações: títulos de algumas disciplinas com
os devidos conteúdos, ementas, números de créditos, integralização curricular, primeiro
ciclo, permanente e profissional totalizando 176 créditos passando a ser no mínimo
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concluído em 4 e, no máximo, em 8 anos (COSTA; CARVALHO; ANDRADE, 1991).
Com o movimento da nova LDB, a ABEBD não se furta a entrar nessas discussões e
organiza inúmeros eventos para discutir outras mudanças no Ensino de Biblioteconomia
no Brasil, a partir do inicio da década 1990 e que culminaram com mais uma alteração
curricular que, no âmbito da UFC, ocorreu em 1995. Conforme Costa e Andrade (1999)
essas alterações proporcionaram: integralização curricular, diminuição dos créditos
obrigatórios e inclusão de mais disciplinas, perfazendo um total de 178 créditos
obrigatórios e 64 optativos com duração igualmente ao currículo anterior.
A publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Filosofia,
História, Geografia, Serviço Social, Comunicação Social, Ciências Sociais, Letras,
Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia, por meio do Parecer CNE/CES 492/2001,
publicado no Diário Oficial da União de 9/7/2001, Seção 1e, p. 50, exige novas
mudanças curriculares. Mais uma vez, o Curso de Biblioteconomia da UFC promoveu
alterações no seu currículo de modo a atender às novas exigências de uma educação
voltada para as competências e habilidades que estejam em consonância com a
Sociedade da Informação e implanta o chamado currículo de 2005, o qual traz em suas
diretrizes gerais as seguintes alterações: estruturação em sete unidades curriculares,
acréscimo de 11 disciplinas (incluindo monografia), perfazendo um total de 200
créditos, sendo que a conclusão do curso se configura na mesma distribuição temporal
do currículo de 1995.
4 METODOLOGIA
Em um primeiro momento, nos pautamos na pesquisa bibliográfica e
documental sobre os seguintes temas: Sociedade da Informação, Tecnologias Digitais
de Informação e de Comunicação, Educação, bem como na história da criação do Curso
de Biblioteconomia da UFC.
Em seguida nos detemos na Análise de Conteúdo do desenho curricular
desse curso, desde a sua criação em 1964, bem como das alterações propostas em cada
currículo, ao longo dos 48 anos de existência desse curso. Para este estudo analisamos
os conteúdos das grades curriculares que formam o núcleo celular da formação do
bibliotecário, fazendo um estudo comparativo dos currículos postos em prática e,
também, daquelas disciplinas relativas às Tecnologias Digitais de Informação e de
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Comunicação que foram inseridas nesses currículos, e que se configuram como objeto
de estudos desta pesquisa.
5 ANÁLISE DE DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Seguindo o que foi delineado como problema desta pesquisa e nos objetivos
propostos, constatamos que no decorrer do curso de Biblioteconomia da UFC, foram
elaborados e implementados cinco (5) currículos que buscam contemplar as mudanças
da sociedade, oriundas do desenvolvimento científico e tecnológico.
O primeiro Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará,
com currículo de 1964, era constituído de 29 disciplinas, um total 150 créditos, duração
mínima de 2 anos e meio e máxima de seis anos e era dividido em ciclo básico e ciclo
profissional, com as seguintes disciplinas ofertadas: História da Literatura I-II, Estudo
de Problemas Brasileiros, Evolução do Pensamento Filosófico e Científico, Introdução
aos Estudos Históricos, Bibliografia I-II, Classificação I-IV, Catalogação I-IV,
Organização de Bibliotecas I-II, Documentação I-II, História dos Livros e das
Bibliotecas I-II, Paleografia, Referência I-II, Pesquisa Bibliográfica, Tópicos Especiais
em Biblioteconomia I-II, Estágio Supervisionado e História da Arte. Nas disciplinas dos
Tópicos Especiais foram alocadas: Bibliotecas Públicas e Escolares, Bibliotecas
Especializadas e Universitárias; Planejamento e Projetos, Introdução à Biblioteconomia
e Hábitos de Leitura.
Podemos perceber que neste currículo, a ênfase dá-se nas disciplinas de
classificação
e
catalogação,
as
quais
constituem
o
núcleo
ontológico da
Biblioteconomia. Por outro lado, as disciplinas contemplando aspectos culturais da
formação do bibliotecário são muito poucas e não levam em conta a formação de um
bibliotecário educador e, muito menos, de agente cultural. Este fato pode ser
consequência de que a criação de cursos no Brasil era pautada, inicialmente, na
profissionalização técnica e, também, porque esses cursos vieram para atender às
necessidades imediatas de mão-de-obra qualificada no âmbito da Biblioteconomia, o
caso em questão. No entanto, a sociedade evoluía e clamava por novos conhecimentos,
e a Biblioteconomia não poderia estar fora dessa realidade. Mesmo assim, somente após
20 anos houve o movimento em prol da uma mudança curricular. Então, em 1984,
estruturou-se o desenho curricular, desta feita com 34 disciplinas obrigatórias e 19
optativas, com um total de 190 créditos. Esse currículo foi organizado em disciplinas de
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Fundamentação Instrumentais (17): Teoria da Comunicação, Introdução à Sociologia,
História Econômica, Social e Política do Brasil, Introdução aos Estudos Históricos,
História da Cultura e dos Meios de Comunicação, Introdução à Filosofia, Lógica,
Língua Portuguesa I, Literatura em Língua Portuguesa, Inglês Técnico I, Estatística
Aplicada à Biblioteconomia, Métodos e Técnicas de Pesquisa I, Elaboração do Trabalho
Intelectual, Introdução à Biblioteconomia, História dos Livros e das Bibliotecas,
Editoração, Tecnologia dos Registros do Conhecimento. As disciplinas Obrigatórias
Profissionais (17) são: Formação e Desenvolvimento de Coleções, Introdução ao
Controle Bibliográfico, Catalogação, Catalogação de Materiais Especiais, Análise da
Informação, Classificação I-III, Fontes de Informação I-II, Serviço de Informação I-II,
Introdução à Administração, Organização e Administração de Bibliotecas, Estudos de
Usuários, Planejamento Bibliotecário, Estágio Supervisionado. Além dessas também
existiam 19 disciplinas Optativas, quais sejam: Fundamentos de Educação, Evolução do
Pensamento Filosófico, Psicologia Social, Teoria e Prática da Leitura, Teoria da
Literatura, Literatura Infantil, Prática da Redação, Técnica Mercadológica em
Bibliotecas, Técnicas de Arquivos, Tópicos Especiais de Biblioteconomia I-II,
Paleografia, Preservação e Restauração de Coleções, Princípios de Computação,
Bibliotecas Especializadas e Universitárias, Bibliotecas Públicas e Escolares,
Bibliotecas Infanto-Juvenis, Organização e Métodos em Bibliotecas.
Este currículo de 1984 apresenta certa evolução que pode ser consequência,
da volta à normalidade política do País- fim da ditadura-, quanto pelas inovações
tecnológicas que já estavam sendo inseridas nos ambientes de informação presentes no
País, quer sejam: bibliotecas, arquivos, museus, centros de informação e de
documentação, etc. Nesse período, as TDIC`s ainda não estavam tão presentes no
cotidiano desses espaços, mesmo assim, aparecem em dois momentos. No primeiro a
palavra tecnologia ressalta na denominação de uma disciplina- Tecnologia dos Registros
do Conhecimento-, que contemplava aspectos da história desses registros desde os
paleográficos até as edições impressas com as tecnologias gutenberguianas, trazendo,
assim, a compreensão do conceito de tecnologia para além daquelas digitais. É também
contemplada nesse currículo a disciplina Princípios de Computação, aí sim, traz
explícita as chamadas TDIC’s. Também chama atenção nesse currículo a presença da
disciplina Fundamentos da Educação, como um indício da possibilidade da formação de
bibliotecários educadores.
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As mudanças de paradigmas da sociedade se faziam presentes em todas as
áreas de conhecimentos sendo sentida, pelo curso da UFC, a necessidade de mais uma
reformulação curricular tendo sido aprovada em 1988 e, que constava com 35
disciplinas, sendo que 08 créditos foram reservados para aquelas optativas, embora que
tais disciplinas não tenham sido mencionadas no documento curricular. Esse currículo
já é estruturado nos moldes da integralização curricular, em 8 semestres, com as
seguintes disciplinas: Teoria da Comunicação, Introdução à Sociologia, Introdução aos
Estudos Históricos, História da Cultura e dos Meios de Comunicação, Introdução à
Filosofia, Lógica, Língua Portuguesa I, Literatura em Língua Portuguesa, Inglês
Técnico I, Estatística Aplicada à Biblioteconomia, Elaboração do Trabalho Intelectual,
Introdução à Biblioteconomia, História dos Livros e das Bibliotecas, Editoração,
Formação e Desenvolvimento de Coleções, Introdução ao Controle Bibliográfico,
Catalogação, Catalogação de Materiais Especiais, Análise da Informação, Classificação
I-III, Fontes de Informação I-II, Serviço de Informação I, Administração de Bibliotecas,
Estudos de Usuários, Planejamento Bibliotecário, Estágio Supervisionado, Introdução à
Informática, Bibliotecas e Sociedade Brasileira, Organização e Métodos em Bibliotecas,
e Metodologia da Pesquisa em Biblioteconomia.
As principais diferenças entre o currículo de 1984 e o de 1988 é que a partir
dele se fala em integralização curricular, há uma diminuição do total de disciplinas que
passam de 190 créditos para 166 em 1988 e reduzem-se as disciplinas de 53 para 33.
Houve mudanças no que se refere à inserção das disciplinas de Metodologia da Pesquisa
em Biblioteconomia e de Biblioteca e Sociedade Brasileira e, se no currículo de 1984, a
disciplina de Princípios de Computação era optativa, ela passa a ser obrigatória no
currículo de 1988, sendo denominada de Introdução à Informática.
Em razão das primeiras discussões da Nova LDB, mais uma proposta de
mudança curricular é levada a cabo sendo implementado em 1995 um novo currículo,
com 32 disciplinas obrigatórias e 16 optativas, permanecendo a estrutura da
integralização curricular. As disciplinas obrigatórias são: Teoria da Comunicação,
Introdução à Sociologia, Introdução aos Estudos Históricos, História da Cultura e dos
Meios de Comunicação, Introdução à Filosofia, Lógica, Língua Portuguesa I, Literatura
em Língua Portuguesa, Inglês Técnico I, Estatística Aplicada à Biblioteconomia,
Elaboração do Trabalho Intelectual, Introdução à Biblioteconomia, História dos Livros e
das Bibliotecas, Editoração, Formação e Desenvolvimento de Coleções, Introdução ao
Controle Bibliográfico, Catalogação, Catalogação de Materiais Especiais, Análise da
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Informação, Classificação I-III, Fontes de Informação I-II, Serviço de Informação I,
Administração de Bibliotecas, Estudos de Usuários, Planejamento Bibliotecário, Estágio
Supervisionado, Introdução à Informática, Bibliotecas e Sociedade Brasileira,
Organização
e
Métodos
em
Bibliotecas,
e
Metodologia
da
Pesquisa
em
Biblioteconomia. As disciplinas optativas são: Evolução do Pensamento Filosófico e
Científico I, Psicologia Social, Teoria e Prática da Leitura, Marketing em Bibliotecas,
Técnicas de Arquivos, Princípios de Computação, Bibliotecas Especializadas e
Universitárias, Bibliotecas Públicas e Escolares, Tecnologia dos Registros do
Conhecimento, Teorias e Sistemas Psicológicos III, Literatura Infantil I, Fundamentos
da Educação, O Brinquedo no Desenvolvimento da Criança, Novas Tecnologias da
Informação, Automação em Bibliotecas e Documentação. Nesse currículo não foram
constatadas alterações substanciais com relação às disciplinas, de modo geral, mas, no,
que diz respeito, às TDICS, percebe-se que já há uma tímida inserção de disciplinas
dedicadas a esse aspecto, pois, foram acrescidas mais quatro disciplinas além da
Introdução a Informática, disciplina já existente no currículo de 1984.
Em 2001, foram publicadas, pelo MEC, as novas diretrizes curriculares,
para os cursos de graduação de todas as áreas de conhecimentos, como forma de atender
às demandas das diretrizes curriculares. A UFC alterou o seu currículo, implementandoo a partir de 2005. Consta na apresentação do referido Projeto Pedagógico (2004) que
sua elaboração foi orientada por uma concepção de educação fundamentada na
perspectiva transdisciplinar, cuja abordagem remete para o aprender a aprender,
aprender a fazer, aprender a viver em conjunto e aprender a ser, conforme sugestões do
Relatório Delors (1996). Constam desse currículo, 44 disciplinas obrigatórias, 6
optativas e 47 eletivas. As obrigatórias são: Fundamentos Teóricos da Biblioteconomia
e da Ciência da Informação, Teoria da Informação e da Comunicação, Introdução à
Sociologia, Cultura e Mídia, Introdução à Filosofia, Introdução à Pesquisa
Documentária, Editoração, Tecnologias da Informação I-II, Métodos Quantitativos
em Biblioteconomia e Ciência da Informação, Metodologia do Trabalho Científico,
Introdução à Biblioteconomia, História dos Registros do Conhecimento, Formação e
Desenvolvimento de Acervos, Controle dos Registros do Conhecimento, Representação
Descritiva da Informação I-II, Representação Temática da Informação: Indexação,
Linguagens
Documentárias
Alfanuméricas:
CDD,
Linguagens
Documentárias
Alfanuméricas: CDU, Fontes Gerais de Informação, Fontes Especializadas de
Informação, Serviço de Informação, Gestão de Unidades de Informação, Estudos de
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Comunidades e de Usuários, Planejamento de Unidades de Informação, Estágio
Supervisionado-I-III, Informática Aplicada à Biblioteconomia e à Ciência da
Informação, Informação e Sociedade, Organização, Sistemas e Métodos em
Bibliotecas, Metodologia da Pesquisa em Biblioteconomia e Ciência da Informação,
Geração e Uso de Bases de Dados para Unidades de Informação, Recuperação da
Informação, Teoria e Prática da Leitura, Monografia I-III, Gestão de Recursos
Humanos em Unidades de Informação, Seminário de Atuação Profissional. Com relação
às disciplinas optativas não foi listado no currículo pesquisado. Esse currículo, embora
tenha apresentado inovações nas terminologias das disciplinas, ainda é bastante similar
aquele de 1995. É interessante observar que, embora esse currículo tenha sido
implementado em 2005, na efervescência das TDICS, o avanço em relação aos
anteriores é baixo, pois, o que acontece é que é inserida a disciplina Tecnologias de
Informação I, Tecnologias de Informação II (em substituição a Princípios de
Computação), Informática Documentária (em substituição à Automação de Bibliotecas),
Geração e Uso de Base de Dados para Unidades de Informação, Recuperação da
Informação.
Na verdade, o currículo de 2005 deixa transparecer a sensação de maior
abertura para disciplinas de cunho humanístico, embora, paradoxalmente, amplie o
elenco das disciplinas que dão cunho tecnicista e tecnológico à profissão, tendo em
vistas construir e manter a identidade do curso. Mesmo com essas poucas alterações no
âmbito das TDICS, já se vislumbra que o elenco de disciplinas vêm, timidamente, ao
encontro das competências informacionais.
5 CONCLUSÃO
Nesta pesquisa analisamos a presença das Tecnologias Digitais de
Informação e de Comunicação no movimento curricular do Curso de Biblioteconomia
da Universidade Federal do Ceará. Os resultados apontam que ao longo dos quarenta e
oito anos de existência deste curso as Tecnologias Digitais de Informação e de
Comunicação vêm sendo pouco a pouco introduzidas na formação do bibliotecário
cearense. Entretanto, como nosso objetivo não contemplava a análise das ementas das
disciplinas, não foi possível verificar se essas disciplinas efetivamente estão
contribuindo para uma formação baseada nas novas propostas de competências
abordadas ou defendidas por Perrenoud (1999) e presentes nas diretrizes do que está
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explícito no Relatório Delors. Com outras palavras, uma formação que contemple o
diálogo, a criatividade, a mobilização de conhecimentos, a negociação, a construção de
projetos coletivos, enfim, um ensino reflexivo, flexível e transdisciplinar.
6 REFERÊNCIAS
ABEBD. Comissão para os estudos de Currículo Mínimo de Biblioteconomia.
Currículo Mínimo de Biblioteconomia: proposta de alteração a ser apresentado ao
Conselho Federal de Educação. Brasília, maio, 1978. 13 f.
______. Comissão para Estudos de Currículo Mínimo. Relatório 11: material recebido
do Conselho Federal de Educação. 1979.
______. Relatório final do V seminário nacional de avaliação curricular. Porto
Alegre, 2000.
ASSMANN, Hugo. A metamorfose do aprender na sociedade da informação. Ciência
da Informação, Brasília, v. 29, n. 2, p. 7-15, maio/ago. 2000.
BRASIL. Ministério da Educação. Parecer n.º: CNE/CES 492/2001, de 3 abr. 2001.
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de: Filosofia, História, Geografia, Serviço
Social, Comunicação Social, Ciências Sociais, Letras, Biblioteconomia, Arquivologia e
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