00_C&T18.book Page 1 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA Revista de Ciência & Tecnologia MÁQUINAS DE MEDIR POR COORDENADAS E PROCESSOS DE FABRICAÇÃO ISNN 0103-8575 • Piracicaba, SP • Volume 9 • Número 18 • P 1-132 • Dezembro/2001 REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 18 1 00_C&T18.book Page 2 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA Reitor ALMIR DE SOUZA MAIA Vice-reitor Acadêmico ELY ESER BARRETO CÉSAR Vice-reitor Administrativo GUSTAVO JACQUES DIAS ALVIM EDITORA UNIMEP CONSELHO DE POLÍTICA EDITORIAL Almir de Souza Maia (presidente) Antonio Roque Dechen Cláudia Regina Cavaglieri Elias Boaventura Ely Eser Barreto César (vice-presidente) Gislene Garcia Franco do Nascimento Marco Polo Marchese Nivaldo Lemos Coppini NÚMERO 18 – VOLUME 9 – 2001 COMISSÃO EDITORIAL Nivaldo Lemos Coppini (presidente) Angela M.C. Jorge Corrêa Klaus Schützer Maria Isabel Santoro Sônia Maria Malmonge EDITOR EXECUTIVO Heitor Amílcar da Silveira Neto (MTb 13.787) SECRETÁRIA DA COMISSÃO EDITORIAL acadêmica Flavia Paduan Bellani A REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA é uma publicação semestral da Universidade Metodista de Piracicaba. Os textos são selecionados por processo anônimo de avaliação por pares (peer review). Veja as normas para publicação no final da revista. Os originais devem ser encaminhados por e-mail ([email protected]) ou pelo Correio para Comissão Editorial da RC&T, a/c Prof. Nivaldo Coppini: UNIMEP – Campus Santa Bárbara d´Oeste – Rod. Santa Bárbara/Iracemápolis, km 1 – 13450-000 – Santa Bárbara d´Oeste/SP. As opiniões expressas nos artigos, tanto os encomendados como os enviados espontaneamente, são de responsabilidade dos seus autores. Revista de Ciência & Tecnologia (Science and Technology Journal) is published twice a year by Universidade Metodista de Piracicaba (São Paulo – Brazil). It contains papers on scientific and technological issues. Manuscripts 2 are selected through a blind peer review process. Editorial norms for submission of articles can be requested tothe Editor. A Revista Ciência & Tecnologia é indexada por Revista de Ciência & Tecnologia is indexed by Base de Dados do Centro de Informações Científicas e Tecnológicas (Comissão Nacional de Energia Nuclear); Internacional Abstracts in Operations Research/IOR (University of Exeter); Periódica – Incide de Revistas Latinoamericanas em Ciencias (Unam); Subis (Sheffield Academic Press). Aceita-se permuta / Exchange is desired. EQUIPE TÉCNICA SECRETÁRIA Ivonete Savino ASSITENTE ADMINISTRATIVO Altair Alves da Silva EDIÇÃO DE TEXTO Suzana Verisssimo BOLSISTA ATIVIDADE Nilson César de Sousa CAPA Genival Cardoso Impressa por Sitta Gráfica GRÁFICA UNIMEP COORDENAÇÃO Carlos Terra EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Carla Cynthia Smanioto REVISÃO GRÁFICA Juraci Vitti Impresso em Duplicadora Digital Xerox Doutech 135 ASSINATURAS E REDAÇÃO EDITORA UNIMEP www.unimep.br/editora Rodovia do Açúcar, km 156 13400-911 – Piracicaba – SP Tel./fax: (19) 3124-1620 / 1621 E-mail: [email protected] REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA V. 1 • N. 1 • 1991 Piracicaba, Editora UNIMEP Semestral / Twice a year 1- Tecnologia – periódicos CDU – 62 (05) ISNN 0103-8575 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 3 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM RC&T 18 Editorial O PRAZER DE DIVULGAR O CONHECIMENTO Estarmos interessados e envolvidos com a divulgação do conhecimento através de nossa REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA tem sido uma tarefa bastante árdua, porém altamente prazerosa. No início, o periódico apenas divulgava artigos e material da própria UNIMEP. Já há alguns anos fomos instados a publicar também artigos de pesquisadores externos à nossa Universidade. Naquela ocasião, criamos a possibilidade de publicar artigos em inglês e espanhol, com o objetivo de ampliar o campo de abrangência da revista e estarmos consonantes com as alterações ocorridas no mundo, ditas globalização. Este número de nossa revista é um exemplo típico da mencionada evolução. Para tanto, muitos colegas pesquisadores têm colaborado conosco como autores e/ou revisores. Temos procurado, também, contar com o maior número possível de revisores externos à UNIMEP, com a finalidade de sermos o mais possível exógenos. No momento, estamos criando o Comitê Científico da Revista, que deverá ser composto exclusivamente por professores e pesquisadores externos à nossa Universidade. Esta nova instância, junto com nossa Comissão Editorial, composta apenas de pesquisadores da Casa, estará enriquecendo ainda mais a qualidade de nossa revista. Para concluir, ressalte-se que tem sido uma enorme satisfação para os membros do Comissão Editorial da RC&T estar envolvidos com a produção deste periódico. NIVALDO LEMOS COPPINI Presidente da Comissão Editoria da RC&T REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 18 3 00_C&T18.book Page 4 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM 4 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 5 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Sumário 9 PROJETO DE SISTEMA PARA GERENCIAMENTO DE ACESSO À WEB Project for a Web Management Access System ANGELA M.C.J. CORRÊA, MARIA I. DE L. MONTEBELO, ELISABETE M. D’ÁVILA BARINI, JOSÉ CARLOS CHRISTOFOLETTI, SILVIO LUIZ PLOTEGHER & WLADIMIR DA COSTA 21 IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA KANBAN EM UMA EMPRESA FABRICANTE DE ARMAÇÕES DE ÓCULOS Kanban System Implementation in an Optical Eyeglass Frame Manufacturing Company MOACIR PEREIRA & SILVIO ROBERTO IGNÁCIO PIRES 31 UMA MACROVISÃO SOBRE A MODELAGEM CINEMÁTICA DE MÁQUINAS DE MEDIR POR COORDENADAS (MMCs) An overview on the Kinematic Modeling of Coordinate Measuring Machines (CMMs) ALVARO J. ABACKERLI & ROXANA M. MARTINEZ ORREGO 45 CALIBRAÇÃO DE MM3CS UTILIZANDO UMA BARRA DE FUROS Calibration of the CMM Using Hole Bar BENEDITO DI GIACOMO & RENATA BELLUZZO ZIRONDI 55 MODELO ESTATÍSTICO PARA O ERRO VOLUMÉTRICO NA MEDIÇÃO POR COORDENADAS Statistical Model for Volumetric Error on Coordinate Measurement BENEDITO DI GIACOMO, ROSENDA VALDÉS ARENCIBIA & VAGNER AUGUSTO DE SOUZA REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 18 5 00_C&T18.book Page 6 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM 67 A REVIEW OF GRINDING FLUIDS – PERFORMANCES AND MANAGEMENT Uma Revisão de Fluidos de Corte – Desempenho e Manutenção ERALDO JANNONE DA SILVA, Eduardo Carlos Bianchi & Paulo Roberto de Aguiar 79 ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA PRESSÃO E VAZÃO DO FLUIDO DE CORTE NO PROCESSO DE RETIFICAÇÃO Evaluation of the Cutting Fluid Pressure and Flow Rate Influence in the Surface Grinding EDUARDO CARLOS BIANCHI, RODRIGO DAUN MONICI, ERALDO JANNONE DA SILVA, PAULO ROBERTO DE AGUIAR & IVAN DE DOMENICO VALARELLI 87 FORMALIZAÇÃO DO PROCESSO DE PROJETO MECÂNICO VISANDO AO USO EM SISTEMAS INTELIGENTES DE PROJETO AUXILIADO POR COMPUTADOR (ICAD) Formalization of the Mechanical Design Process Aiming to the Use of Intelligent Computer Aided Design Systems (ICAD) FRANCISCO JOSÉ DE ALMEIDA 97 RESINAS BISMALEIMIDAS: OBTENÇÃO E POTENCIAL DE APLICAÇÃO NO SETOR AEROESPACIAL Bismaleimide Resins: on Production and Applicattion at Aerospace Field MICHELLE LEALI COSTA, MIRABEL CERQUEIRA REZENDE & SÉRGIO FRASCINO MÜLLER DE ALMEIDA 109 ANÁLISE DE SÉRIES TEMPORAIS DE VAZÃO E DE PRECIPITAÇÃO NA BACIA DO RIO PIRACICABA Time Series Analysis of Flow and Precipitation of the Piracicaba River Basin JULIANO DANIEL GROPPO, LUIZ CARLOS EDUARDO MILDE, MANUEL ENRIQUE GUAMERO, JORGE MARCOS DE MORAES & LUIZ ANTONIO MARTINELLI 6 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 7 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM 119 ALIMENTOS TRANSGÊNICOS – SIM OU NÃO? Transgenic Food – yes or not? CARLOS OTAVIO MARIANO REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 18 7 00_C&T18.book Page 8 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM 8 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 9 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Projeto de Sistema para Gerenciamento de Acesso à Web Project for a Web Management Access System ANGELA M.C.J. CORRÊA Universidade Metodista de Piracicaba [email protected] MARIA I. DE L. MONTEBELO Universidade Metodista de Piracicaba [email protected] ELISABETE M. D’ÁVILA BARINI Universidade Metodista de Piracicaba [email protected] JOSÉ CARLOS CHRISTOFOLETTI Universidade Metodista de Piracicaba [email protected] SILVIO LUIZ PLOTEGHER Indústrias Romi S/A [email protected] WLADIMIR DA COSTA Universidade Metodista de Piracicaba [email protected] RESUMO – Com o crescente uso dos serviços da internet, principalmente a internet acadêmica da Universidade Metodista de Piracicaba (IA), o administrador do sistema necessitará cada vez mais de meios que lhe permitam proceder a análises comportamentais das máquinas computacionais alocadas para fornecer tais serviços. O resultado dessas análises deve servir de auxílio nos processos de tomada de decisão. O projeto em questão vem preencher uma lacuna existente, já que as ferramentas hoje disponíveis nessa área são de uso mais genérico, não focando seus resultados estatísticos dentro da realidade da IA. Trata-se de estudo aplicado ao Núcleo de Computação da UNIMEP com o objetivo de identificar o comportamento dos usuários e dos tipos e perfis dos serviços oferecidos pela IA. Para tanto, estudou-se o comportamento dos arquivos Log gerados pelo sistema operacional (SO) e, a partir do estudo, chegou-se a vários resultados estatísticos. A produção de dados fundamenta-se em amostragem estratificada e a análise, em metodologias estatísticas descritivas. Palavras-chave: ACESSO À WEB – INTERNET – ARQUIVO LOG – ESTATÍSTICA DESCRITIVA – AMOSTRAGEM ESTRATIFICADA – PROJETO DE SISTEMA. ABSTRACT – Due to the deployment of all services being offered by the internet, mainly the academic internet of the Universidade Metodista de Piracicaba (IA), the system administrator will require software tools providing him means to proceed in all behavioral analyses of all computer machines allocated to supply such services. The result of these analyses can be used as an aid in the decision-making-processes. This project intends to fulfill the existent gap, as the available software tools off-the-shelf are designed for a more generic application and they rarely focus their results as expected by internet academic. This is related to the study conducted mainly to the UNIMEP’s Computer Department in order to identify the characteristics of all users of the system as well as the services offered by the internet academic. The project studied the behavior off Log files generated by the operating system resulting, in several statistical results. Data aquision is based on stratification sampling, and data analysis on descriptive statistic. Keywords: WEB ACESS – INTERNET – LOG FILE – DESCRIPTIVE STATISTIC – STRATIFICATION SAMPLING – SYSTEM PROJECT. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 9-12 9 00_C&T18.book Page 10 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM INTRODUÇÃO A área administrativa, dentro da arquitetura atual do sistema da IA, em sua configuração, precisa ser constantemente monitorada em termos de acessos. Essa monitoração visa um acompanhamento da carga de máquina, ou seja, da disponibilidade de acessos aos usuários. Entretanto, pela inexistência de ferramentas específicas de análise dentro da realidade da IA e pela não aplicabilidade das ferramentas de uso genérico, por questões técnicas e de custos, relata-se o desenvolvimento de um Projeto de Sistema de Gerenciamento de Acessos à Web, para os tratamentos específicos dos dados produzidos pelo SO. A arquitetura atual do ambiente computacional dos laboratórios do Núcleo de Computação da Unimep é constituída, basicamente, de duas estruturas físicas. A primeira estrutura concentra as máquinas dos Laboratórios de Rede (Rede 1 até Rede 5), Estação RISC, Laboratório de Estágio Supervisionado e Laboratório de Orientação (Rede 6 até Rede 9). A segunda estrutura está vinculada à sala dos servidores. Nela encontram-se dispostas as máquinas responsáveis pelos serviços de Rede Local e Serviços da Web. Apesar de toda a malha de rede constituir-se basicamente de duas arquiteturas, o Projeto de Sistema de Gerenciamento de Acessos à Web está afeto somente ao servidor fcti.unimep.br, já que este é o servidor responsável pelos serviços da IA (Serviços da Web e FTP). O Projeto de Sistema para Gerenciamento de Acessos à Web aqui relatado visa dotar o Laboratório de Informática do Núcleo de Computação da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Informação (FCTI) da UNIMEP de uma ferramenta de análise comportamental de uso da IA e auxiliar o administrador do sistema na análise dos serviços prestados. Fornece, também, meios para previsão de alocação de recursos operacionais e de estrutura computacional em função das cargas das máquinas (computadores), ou seja, propõe-se a subsidiar o gerenciamento, o planejamento e as informações para auxiliar o processo de tomada de decisões. Justificativa adicional para o desenvolvimento do projeto é que, atualmente, não há nenhum controle estatístico dos serviços da Web oferecidos pela IA, nem tampouco pode-se fazer previsão do que se 10 convenciona chamar de carga de máquina, dificultando sobremaneira todo o processo de decisão relacionado a esses serviços. Da mesma forma, pela inexistência de controle estatístico, tem sido muito difícil identificar os pontos críticos dos serviços oferecidos pela Web, o que impede a oferta de melhores serviços aos usuários. Também não há no mercado ferramentas específicas que produzam resultados de análise desses serviços, e as ferramentas de uso genérico não se aplicam, posto que o tratamento dos dados produzidos pelo SO é muito particular da IA. METODOLOGIA O presente projeto está baseado na análise dos arquivos Log (relatórios) gerados pelo SO da IA. Esses arquivos Log estão no formato padrão ASCII e dessa forma são interpretados, resultando em informações fundamentais para a produção e análise de dados. Os serviços da Web ou FTP podem ser configurados para registrar os acessos e atividades do servidor. O Log (Relatório Padrão Microsoft IIS) pode auxiliar no processo de regulação dos acessos, determinar tipos de acessos, desenvolver planos de segurança, e ainda pode ser um potencial meio de identificar problemas nos sites. [...] Os Logs gerados pelo SO podem ser lidos através de um editor de texto (formato padrão ASCII), podendo assim ser interpretados por uma ferramenta de SW. [...] O tipo de Log no formato Microsoft IIS possui um formato ASCII não customizável, incluindo itens básicos como User’s IP Address, User Name, Request Date and Time. [...] Inclui ainda informações detalhadas sobre bytes recebidos/enviados. (Manual Microsoft – About Logging Site Activity, Help do Sistema Operacional, Microsoft Corporation, 2000) A partir dos dados registrados em um arquivo Log – no caso, dentro do padrão determinado pela Microsoft (Relatório Padrão Microsoft ISS-SO Windows NT) –, o Projeto de Sistema para Gerenciamento de Acessos à Web faz uso de metodologias da estatística descritiva, produzindo os resultados estatísticos que são usados na análise do administrador do sistema. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 11 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM A estatística descritiva pode ser definida como os métodos que envolvem a coleta, a apresentação e a caracterização de um conjunto de dados de modo a descrever, apropriadamente, as várias características de um conjunto. [...] Quando a população se torna grande, é geralmente dispendioso demais, consome muito tempo e é muito enfadonho obter informações sobre a população inteira. Decisões pertinentes às características da população devem ser baseadas na informação contida numa amostra da população. A teoria da probabilidade oferece a ligação, averiguando a probabilidade de que os resultados da amostra reflitam os resultados da população. (Levine et al., 2000: 5) A coleta de dados, no caso constituída pela interpretação dos eventos registrados pelo arquivo Log, é parte importante considerada no projeto deste sistema, pois: A fase de coleta de dados é uma parte importante nesse processo, pois se a amostra não contiver informações adequadas, todo o tratamento estatístico realizado posteriormente não trará informações conclusivas sobre a população sob investigação ou estudo. Além disso, podem-se tomar decisões erradas quando a amostra não é adequada. (Akanime & Yamamoto, 1998: 8) O Log gerado pelo SO registra todos os eventos executados pela IA. Entretanto, considerando que a quantidade de informações registradas pelo arquivo Log é demasiadamente grande, o projeto faz uso da amostragem estratificada para a produção de dados, conforme Freund & Simon: Se dispusermos de dados sobre a composição de uma população, e isto tem importância para a nossa pesquisa, podemos eventualmente melhorar uma amostragem aleatória mediante estratificação. Trata-se de um processo que consiste em estratificar (ou dividir) a população em certo número de subpopulações que não se superpõem, chamadas estratos, ou camadas, e extrair uma amostra de cada estrato. Se os elementos selecionados em cada estrato constituem amostras aleatórias simples, o processo global – estratificação seguida de amostragem aleatória – é chamado amostragem aleatória estratificada (simples). (Freund & Simon, 1997: 185) REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 9-12 O Projeto de Sistema para Gerenciamento de Acesso à Web foi desenvolvido dentro da metodologia da prototipagem não operacional, conforme Pressman (1987) e Stair (1998). A partir dessa metodologia, criou-se um modelo de sistema em que a visualização dos resultados estatísticos interage de forma mais rápida com o usuário. Registrase que: A prototipagem pode produzir protótipos operacionais, parcialmente operacionais ou não-operacionais. [...] Um protótipo nãooperacional normalmente inclui especificações e formatos de saídas e entradas. As saídas consistem em relatórios impressos e/ou em telas de computadores. [...] A principal vantagem de um protótipo não-operacional é que ele pode ser desenvolvido com mais rapidez, [...] permitindo ao usuário do sistema visualizar seus resultados mais rapidamente. (Stair, 1998: 301) A produção dos resultados estatísticos e a construção de tabelas e gráficos foram projetadas de forma a apresentar as informações do modo mais amigável ao usuário, objetivando guiá-lo para conclusões mais rápidas. Apesar de o Projeto de Sistema de Gerenciamento de Acessos à Web ser uma ferramenta de uso específico, a construção dos gráficos e das tabelas de freqüência foi baseada nas apresentações sugeridas por Levine et al. (2000) e Corrêa (2000). Ratifica-se que o Projeto de Sistema para Gerenciamento de Acessos à Web foi desenvolvido com a aplicação de métodos estatísticos e o uso da metodologia da prototipagem não-operacional. As telas foram geradas pelo software Microsoft Visual Basic For 32-bit Windows Development. Com as metodologias estatísticas Amostragem Estratificada e Estatística Descritiva integradas à prototipação, analisaram-se os dados contidos nos arquivos Log (relatórios) gerados pelo SO, disponibilizando-se as informações produzidas na forma de relatórios diversos (tabelas de freqüência e gráficos). O projeto proposto não trabalha com sistema de computação no sistema de computação em tempo real – ou seja, a análise das informações (rodando em batch) provenientes dos arquivos Log é computada em uma base de tempo já transcorrido, não havendo processamento das informações no momento exato em que um determinado acesso e/ou serviço for solicitado à IA. No entanto, o projeto está estruturado de 11 00_C&T18.book Page 12 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM forma a permitir, no futuro, análise comportamental em tempo real. About Logging Site Activity, Help do Sistema Operacional, Microsoft Corporation, 2000). CARACTERIZAÇÃO DOS ARQUIVOS LOG Quadro 1. Critérios para geração dos arquivos Log. Nº CRITÉRIO ARQUIVO LOG GERADO O arquivo Log gerado pelo SO é um arquivo do tipo denominado diário. Isso significa que são registrados todos os eventos a partir da 00:00:00 hora de um dia até as 23:59:59 horas do mesmo dia, ficando o arquivo Log armazenado em um diretório previamente definido quando da configuração do SO. Por evento entende-se todos os acessos e serviços realizados e/ou solicitados pelos usuários ao provedor da IA. Dessa forma, o SO armazena todos os arquivos Log gerados ao longo do mês e ano, que são mantidos no mesmo diretório. No ano seguinte, esse mesmo sistema operacional cria, automaticamente, um novo diretório, no qual armazena todos os arquivos Log do referido ano, e assim o processo continua, sucessivamente. É interessante observar que, como todos os arquivos Log são mantidos pelo SO, o administrador pode, a qualquer momento, fazer uma análise comportamental, tomando como amostra o arquivo Log desejado. Dentro da estrutura dos arquivos Log, pode-se, então, consultar qualquer Log que se queira. É preciso lembrar, contudo, que a escolha deve ser sempre em uma base de tempo já transcorrido. Para efeito deste estudo, todos os arquivos Log gerados pelo SO estão contidos no diretório C:\WINNT\SYSTEM32\LOGFILES\W3SVC1 (estrutura do servidor fcti.unimep.br). Os arquivos Log gerados são identificados pelo SO com facilidade. Por exemplo, consideremos que o arquivo desejado é o arquivo Log IN000402.LOG. Sua localização e identificação será C:\WINNT\SYSTEM32\LOGFILES\W3SVC1\IN000402.LOG, sendo que IN são as iniciais do arquivo Log; 00 indica o ano (no caso, o ano 2000); 04 indica o mês (no caso, abril) e 02 indica o dia (no caso, dia 2). Assim, o arquivo IN000402.LOG contém todas as informações registradas pelo SO para o dia 2 de abril de 2000, das 00h até as 23:59:59 do mesmo dia. No dia seguinte, o SO cria outro arquivo Log, identificado como IN000403.LOG. O formato do arquivo Log no padrão Microsoft IIS Log Format pode ser configurado em um dos cinco diferentes critérios para geração de relatórios registrados no quadro 1 (Manual Microsoft – 1 2 3 4 5 12 Por tamanho de arquivo Registro por hora Registro diário Registro semanal Registro mensal Inetsvnn.Log Inyymmddhh.Log Inyymmdd.Log Inyymmww.Log Inyymm.Log O presente projeto trabalha com o critério número 3 (registro diário) pois essa é a configuração atual do provedor da IA. Registra-se que “o processo de Log para o acesso à Web é realizado por módulos, dentro do SO, operando independentemente de outras atividades do servidor. Consiste no registro de todas as informações pertinentes aos acessos realizados na Web, chamado de Logging” (Manual Microsoft – About Logging Site Activity, Microsoft Corporation, 2000). Normalmente, como processo de configuração do sistema de Log, o administrador pode determinar diferentes formatos a serem gerados pelo processo de Logging – o que é permitido durante a configuração do SO, habilitando ou desabilitando determinados diretórios para os sites. No caso do provedor da Web objeto deste estudo, todos os sites estão habilitados, o que significa que todos os acessos são possíveis e todos os seus eventos são registrados pelo arquivo Log. O quadro 2 ilustra o resultado de um arquivo Log no formato Microsoft IIS Log Format, com todos os seus campos registrados em um determinado dia (período). Para efeito da análise da natureza dos serviços executados pela IA, o projeto selecionou os três principais. Esses serviços são tratados de Natureza dos Serviços. Os serviços não classificados dentro dos selecionados são interpretados pelo projeto como Outros, de menor importância para a análise estatística. Os serviços oferecidos estão registrados no campo do arquivo Log denominado Request Type. Os serviços selecionados são descritos no quadro 3. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 13 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Quadro 2. Arquivo Log gerado no modelo Microsoft IIS Log Format. CAMPOS LOG1 LOG2 User´s IP Address User Name Date Time Service and Instance Computer Name IP Address of Server Time Taken Bytes Received Bytes Sent Service Status Code Windows 2000 Status Code Request Type Target of Operation 200.246.52.195 02/04/2000 07:55:20 200.246.52.195 02/04/2000 23:53:11 W3SVC1 W3SVC1 NT02_FCTI 172.21.13.45 4297 332 202 200 NT02_FCTI 172.21.13.45 4391 330 139 200 0 0 GET /pessoais/ index.htm GET /reta_v.gif Quadro 3. Natureza dos principais serviços executados pelo provedor. NATUREZA DESCRIÇÃO DOS SERVIÇOS GET LOAD HEAD OUTROS Realiza uma operação de busca de informação na Web. Toda operação de busca, feita por um determinado usuário. Significa uma requisição ou solicitação de informação. Realiza uma operação de carga à Web. Disponibiliza informação no site. Pode ser realizada pelos usuários que possuem acesso a todas as informações disponíveis. Realiza uma operação de atualização ou de disponibilização de novas informações ao provedor pelo usuário com status de proprietário daquela determinada informação. Qualquer outra atividade executada pelo Servidor fora das três classificações anteriores. A descrição do significado de cada campo de registro contido em um arquivo Log está registrada no quadro 4. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 9-12 Quadro 4. Descrição do significado de cada campo do arquivo Log. CAMPOS DESCRIÇÃO Indica o usuário do serviço. Aquele que solicitou o serviço User Name Normalmente estará em branco Data de acesso ao serviço. Date Formato dd/mm/aa Hora de acesso ao serviço. Time Formato hh:mm:ss Service and Ins- Identifica o endereço lógico da máquina tance (Servidor) Identifica o nome lógico da máquina Computer Name (Servidor) IP Address of Identifica o endereço IP da máquina Server (Servidor) Tempo gasto para estabelecer link de acesso Time Taken (dado em ms) Bytes recebidos pelo Servidor no momento Bytes Received da conexão Bytes Sent Bytes enviados pelo Servidor ao usuário Service Status Código do serviço realizado Code Windows Status Código do SO Code Request Type Natureza do serviço executado Target of Endereço IP visitado pelo usuário Operation User´s IP Address TRATAMENTO DAS INFORMAÇÕES No processo de produção de dados a partir do arquivo Log desejado, o projeto prevê que as informações não necessárias à análise estatística sejam filtradas. Isso significa que, como parte inicial do processo de produção de dados, alguns campos do arquivo Log serão eliminados, por não possuírem significado para o objetivo proposto. O quadro 5 apresenta todos os campos do arquivo Log, sendo que campo identifica os registros do arquivo Log; tipo identifica a natureza da informação – quantitativa ou qualitativa – e status identifica se a variável será usada (significando que é válida para a análise estatística proposta pelo projeto) ou filtrada (significando que não tem importância para a análise estatística) no processo inicial de análise. 13 00_C&T18.book Page 14 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Quadro 5. Definição dos campos usados no processo de análise, filtragem e tipo das variáveis. CAMPO TIPO STATUS User´s IP Address User Name Date Time Service and Instance Computer Name IP Address of Server Time Taken Bytes Received Bytes Sent Service Status Code Windows Status Code Request Type Target of Operation Qualitativa Quantitativa Quantitativa Quantitativa Quantitativa Quantitativa Qualitativa Qualitativa Usada Filtrada Usada Usada Filtrada Filtrada Filtrada Usada Usada Usada Filtrada Filtrada Usada Usada Como parte do processo de filtragem das informações desnecessárias à produção de dados primários, o projeto prevê a criação de um arquivo temporário de dados denominado Log.Tmp, no qual são armazenados, para as fases posteriores, todos os registros a ser utilizados na análise. A figura 1 ilustra o fluxograma inicial do processo de produção de dados primários. Nesse fluxograma, existem blocos principais, conforme mostra o quadro 6. Fig. 1. Fluxograma inicial do processo de produção de dados primários. Início Seleção do arquivo Log Filtragem das informações Geração de arquivo temporário (Log. Tmp) Aplicações das rotinas de análise Visualização dos resultados Fim 14 Quadro 6. Apresentação descritiva do fluxo básico de leitura, filtragem, geração do arquivo temporário, rotinas de análise e visualização dos resultados. TAREFAS DESCRIÇÃO Usuário seleciona o arquivo Log desejado. Isto significa que o primeiro arquivo Log de uma semana já transcorrida deve ser escolhida pelo usuário. Filtragem Processo de eliminação dos campos das Informações desnecessários. Veja Quadro 5. Gera arquivo temporário para uso posterior. Este é o arquivo, já filtrado, que conGeração de Arquivo tém todas as informações dos Log Temporário acumulados durante a semana escolhida. Log.Tmp Veja Metodologia de Produção e Análise de Dados. Executa, a partir da seleção pelo usuário, as análises estatísticas. Estas são as funAplicações das ções estatísticas produzidas pelo projeto. rotinas de Análise Veja Quadro 9 – Sumário das funções disponíveis pelo Gerenciamento Estatístico de Acessos a Web. Visualização dos resultados estatísticos Visualização produzidos através de tabelas de freqüêndos Resultados cia e gráficos. Seleção do Arquivo Log Os registros que devem permanecer após o processo denominado de filtragem, como demonstrado no quadro 5, são aqueles que o projeto manipula para a produção dos resultados estatísticos. DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA Os dados a ser analisados são todas as informações restantes do processo de filtragem do arquivo denominado Log.Tmp de um certo número de subpopulações que não se superpõem, posto que são informações incrementais, mudando ao longo do tempo, obtidas por amostragem estratificada proporcional com seleção sistemática (Freund & Simon, 1997). Observa-se que a população alvo, constituída pelo conjunto de informações do arquivo Log.Tmp, é quantificada em megabytes. Considerando o volume de dados contidos no Log, que todos os acessos são registrados e que a resolução do sistema, para registro da hora do acesso, é de um segundo, chegou-se empiricamente ao valor de 20% para a estratificação proporcional. Isso significa que, para cada cinco acessos registrados no Log, será extraído o primeiro acesso para a amostra objeto de análise. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 15 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM O Projeto de Sistema para Gerenciamento de Acesso à Web prevê sempre a análise estatística em lote do período de uma semana, iniciando-se sempre em uma segunda-feira. Dessa forma, a amostra deve ser sempre obtida de modo a que a seleção de um arquivo Log coincida com o início de uma dada semana. Como o sistema projetado não estará operando em tempo real, a seleção da amostra deve, obrigatoriamente, levar em conta o período de uma semana já transcorrido. A seleção dos arquivos Log se dá na forma de seleção semanal, isto é, por numeração da semana. Considerando-se, como ilustração, outubro de 2000 e que a semana 41 se inicia no domingo, o gerenciamento fará a análise dos arquivos Log a partir da segunda-feira, dia 9 de outubro. A partir dessa data, o gerenciamento de acessos será processado do dia 9 até o dia 15 de outubro, como pode ser observado na tabela 1. Isso significa que todo o processamento computacional (seleção, filtragem e produção dos resultados) será tomado dos arquivos Log IN001009.LOG, IN001010.LOG, IN001011.LOG, IN001012.LOG, IN001013.LOG, IN001014.LOG e o IN001015.LOG, gerando o arquivo Log.Tmp. Tab. 1. Calendário do mês de outubro de 2000, com a disposição do número das semanas. OUTUBRO/2000 1 8 15 22 29 2 9 16 23 30 3 10 17 24 31 4 11 18 25 1 5 12 19 26 2 SEMANA 6 13 20 27 3 7 14 21 28 4 40 41 42 43 44 Considerando que a seleção de informações para análise a partir do arquivo Log será feita de forma estratificada, ela se dará pela divisão em quatro estratos temporais. A divisão em estratos, como mostrado no quadro 7, objetiva identificar melhor o comportamento dos acessos à IA dentro e fora do REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 9-12 período regular de aula. Cada estrato conterá parte da população geral de informações de interesse a cada seis horas. Quadro 7. Demonstrativo dos estratos produzidos em função dos horários pela estratificação definida. 1º ESTRATO 2º ESTRATO 3º ESTRATO 4º ESTRATO 00:00:01 06:00:00 - 06:00:01 12:00:00 - 12:00:01 18:00:00 - 18:00:01 24:00:00 - Observa-se que o Projeto do Sistema de Gerenciamento de Acessos à Web produz diversos resultados estatísticos, que estão resumidos no quadro 8. Esses resultados podem ser visualizados em tabelas de freqüência e gráficos para cada uma das funções definidas no quadro 8, e todas elas podem ser acessadas por meio de diversas telas criadas pelo projeto. Como ilustração dos resultados produzidos, apresenta-se as várias figuras a seguir. A figura 2 ilustra uma das páginas de acesso. No caso, tem-se a página que dá acesso à função 7 (quantidade de bytes recebidos para o estrato 1). A figura 3 apresenta o resultado da geração da informação referente à função 7 (quantidade de bytes recebidos para o estrato 1). Esses resultados são apresentados pelo projeto de três formas: 1. um gráfico de setores para a distribuição percentual do estrato (quantidade de bytes recebidos); 2. um gráfico de barras apresentando a quantidade de bytes gastos por natureza de serviço, com distribuição durante a semana; e 3. uma tabela de freqüência com o total dos bytes recebidos no mesmo período. Outro resultado gerado pelo projeto pode ser visualizado nas figuras 4 e 5. A figura 4 ilustra a página de acesso da função 2 (origem dos acessos). Através dessa tela, o projeto permite que se visualize a origem dos acessos. No caso, apresenta-se a origem dos acessos para o NCU. 15 00_C&T18.book Page 16 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Quadro 8. Sumário das funções disponíveis pelo Gerenciamento Estatístico de Acessos à Web. Nº DA FUNÇÃO FUNÇÃO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Total de acessos por estrato. Registra a quantidade de acessos ocorridos em cada estrato nos dias da semana. Apresenta ainda a totalização dos acessos por dia e na semana, apresentando ainda a sua distribuição percentual. Origem dos acessos – Identifica a origem dos acessos a IA, sendo esses, basicamente, de 5 (cinco) tipos diferentes. O Núcleo de Computação da UNIMEP (NCU); os externos; os de outros departamentos da UNIMEP; os de origem confidencial e os classificados como Outros. Quantidade de serviços executados, natureza dos serviços e tabela de freqüência. Neste caso o projeto prevê a classificação dos tipos de serviços em 4 (quatro), quais sejam, a função GET; a função LOAD; a função HEAD e as funções classificadas como OUTROS. Horário de pico dos acessos (dentro de um estrato). É definido pela maior quantidade de acessos ocorrido em um estrato no intervalo de uma (1) hora. Ainda para esta função, o projeto registra, para aquele dado horário de pico, quais foram os serviços executados (GET;LOAD;HEAD ou OUTROS). Determinação do valor mais freqüente da natureza dos serviços (GET;LOAD;HEAD ou OUTROS) Área mais visitada. Registra as últimas dez (10) áreas mais visitadas. Nesse caso, o administrador do sistema pode selecionar previamente quais as áreas que pretende monitorar. Quantidade de bytes recebidos/bytes enviados pelo servidor por natureza de serviço. Registra a totalização dos bytes recebidos/enviados pelo servidor/para usuário ao estabelecer o link de comunicação. Tempo gasto por acesso à CPU em função da natureza do serviço. Os tempos registrados no arquivo Log estão em milisegundos. Gráfico de tendência mensal. Registro dos tempos acumulados de acesso à CPU por natureza de serviço, fornecendo também a totalização dos tempos. Fig. 2. Tela de acesso à função 7 – quantidade de bytes recebidos para o estrato 1. 16 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 17 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 3. Tela da função 7 – quantidade de bytes recebidos/enviados pelo servidor por natureza de serviço. Apresentação dos resultados por meio de gráfico de setores, gráfico de barras e tabela de freqüência. Fig. 4. Tela de acesso à função 2 – origem dos acessos (NCU). REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 9-12 17 00_C&T18.book Page 18 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 5. Tela de resultados produzidos pela função 2 (origem dos acessos – NCU). Apresentação dos resultados por meio de gráfico de barras e tabelas de freqüência. Já a figura 5 apresenta o resultado da geração da informação origem de acesso de quatro maneiras: 1. um gráfico de barras, com a distribuição percentual de todas as origens dos acessos (nesse caso, o administrador do sistema pode visualizar, para a origem selecionada, qual sua distribuição percentual comparada às demais origens); 2. um gráfico de barras apresentando a quantidade de acessos diários ocorridos; 3. uma tabela de freqüência com a totalização dos acessos; e 4. uma segunda tabela de freqüência, para a totalização de todas as origens dos acessos na semana. CONSIDERAÇÕES FINAIS O projeto disponibilizou ao Núcleo de Computação da Universidade Metodista de Piracicaba uma importante ferramenta de análise comportamental de sua IA. Por ter sido desenvolvido de forma a produzir resultados estatísticos relevantes e de acesso amigável, constitui importante ferramenta de auxílio ao processo de tomada de decisão, permitindo ao administrador do setor monitorar constan18 temente o perfil de utilização de todos os recursos disponíveis na IA. Resultados como horários de pico por estrato permitem ao administrador identificar diretamente os períodos em que há maior concentração de uso, podendo agir prontamente para a disponibilização de recursos ou, ainda, identificar possíveis congestionamentos na rede. Conhecer a natureza dos serviços mais solicitados permite identificar a necessidade de expandir a capacidade do sistema, em termos de meios físicos de armazenamento. Esses são apenas alguns exemplos da importância da ferramenta projetada, função intrínseca deste Projeto de Sistema para Gerenciamento de Acesso à Web. É possível registrar, ainda, que, dada a importância do Projeto de Sistema para Gerenciamento de Acesso à Web para o ambiente de gerenciamento da IA, ele poderá ter continuidade posterior, viabilizando o desenvolvimento de um sistema em tempo real, ou mesmo ser expandido para outros serviços ou acessos à Web. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 19 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AKANIME, C.T. & YAMAMOTO, R.K. Estatística Descritiva. São Paulo: Érica, 1998. CORRÊA, A.M.C.J. Conceitos Básicos de Estatística Descritiva para Análise Exploratória de Dados (Notas de Aulas). Piracicaba: FCTI-UNIMEP, 2000 [digitado]. FREUND, J.E. & SIMON, G.A. Estatística Aplicada. Trad. A.A. Farias. Porto Alegre: Bookman, 1997. LEVINE, D.M.; BERENSON, M.L. & STEPHAN, D. Estatística: teoria e aplicações. Trad. C.P. de Souza. Rio de Janeiro: LTC, 2000. Manual Microsoft. About Logging Site Activity – conceitos básicos sobre sistemas de Log para provedores Web e SFTP. Microsoft Corporation, 2000. PRESSMAN, R.S. Software Engineering – a practitioner’s approach. 2.ª ed. Singapore: McGraw Hill International Editions, 1987. Software Microsoft Visual Basic For 32-bit Windows Development. Microsoft Corporation, 1997. STAIR, R.M. Princípios de Sistemas de Informação – uma abordagem gerencial. Trad. M.L.I. Vieira (cap. 1-8) & D.C. de Alencar (cap. 9-16). Rio de Janeiro: LTC, 1998. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 9-12 19 00_C&T18.book Page 20 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM 20 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 21 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Implantação do Sistema KANBAN em uma Empresa Fabricante de Armações de Óculos Kanban System Implementation in an Optical Eyeglass Frame Manufacturing Company MOACIR PEREIRA Universidade Metodista de Piracicaba. [email protected] SILVIO ROBERTO IGNÁCIO PIRES Universidade Metodista de Piracicaba [email protected] RESUMO – O presente artigo relata a experiência da implantação do sistema Kanban em uma área piloto, dentro de uma empresa nacional fabricante de armações de óculos. A implantação do sistema Kanban deveu-se à necessidade de melhorar o desempenho do planejamento e controle da produção e de implementar um processo de gestão mais coerente com a realidade atual brasileira. Para implantação do sistema Kanban, criou-se um ambiente Just-in-Time na área piloto a fim de gerar um fluxo contínuo de produção e um ambiente propício ao contínuo aprendizado dentro da fábrica. Trabalhouse com funcionários que muito pouco conheciam de JIT/Kanban. Após um ano de trabalho na empresa, chegou-se a resultados bastante satisfatórios, tanto qualitativos quanto quantitativos. Palavras-chave: PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO – JUST-IN-TIME – KANBAN – ESTUDO DE CASO. ABSTRACT – This paper describes the experience of implementing the Kanban system in a pilot area of a company that manufactures eyeglass frames.The purpose of implementing the Kanban system emerged as a way of conducting improvements and helps the Production Planning and Control in order to reach managerial standards more appropriated to the Brazilian reality. In order to implement the Kanban system, a Just-in-Time environment was created in the pilot area to generate a solid continuous production flow and to stimulate a continuous learning inside the plant. Employees with low knowledge in JIT/Kanban have participated of the training program. After one year working in the company, it is possible to start that very good qualitative and quantitative results have been reached. Keywords: PRODUCTION PLANNING AND CONTROL – JUST-IN-TIME – KANBAN – CASE STUDY. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 21-29 21 00_C&T18.book Page 22 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM INTRODUÇÃO N o início da década de 90, houve a abertura da economia brasileira e os produtos estrangeiros começaram a competir intensamente com os nacionais. A globalização da economia mundial tem provocado uma considerável atualização tecnológica em muitos setores industriais brasileiros e nos processos de fabricação. Dessa forma, torna-se cada vez mais importante ser um produtor de classe mundial, posicionando-se de maneira competitiva diante dos mercados globais. Os produtos manufaturados, geralmente vindos de países onde o modelo classe mundial já está consolidado, apresentam maior qualidade e variedade, além de serem bastante competitivos, quanto a preços, com os similares nacionais. Esse fato colocou ao alcance dos consumidores brasileiros uma maior variedade de produtos de alta qualidade e a preços bastante atraentes. Nessa nova conjuntura, as empresas brasileiras veêm-se diante da necessidade de se adequar a essa tendência, adotando técnicas atuais de administração de produção, alinhando-se com o novo paradigma mundial. O setor óptico brasileiro é constituído por empresas que formam um grupo que detém, aproximadamente, 90% do mercado nacional. Esse grupo é formado pela empresa principal, cuja linha de produção fabrica, além da linha normal, modelos sob licença das marcas Playboy, Turma da Mônica (infantil), Pierre Cardin e Platini. Outras quatro empresas menores, com linhas próprias de produção, fazem parte do grupo. A importação de armações de óculos não faz concorrência à empresa estudada: normalmente, é realizada por lojas distribuidoras e atende a um público de maior poder aquisitivo. É importante salientar que, no exterior, a armação de óculos é também utilizada como complemento embelezador do rosto, enquanto no Brasil tem efeito de produto de receituário (óculos de grau). Dentro desse contexto, a indústria óptica nacional buscou se adequar a novos modelos de administração da produção para evitar uma concorrência internacional agressiva, uma vez que não há fábricas estrangeiras de armações de óculos instaladas no país. 22 A produção Just-in-Time (JIT) apresenta grandes vantagens ao permitir, após sua implantação, a redução dos estoques de materiais em processo e produto acabado, além de propiciar ao sistema de manufatura maior flexibilidade para atender à variedade da demanda, menor preocupação com o fator qualidade e a possibilidade de preços condizentes, pela redução dos custos de produção. Embora o JIT tenha sido desenvolvido na indústria automobilística e seu sucesso seja consagrado no mundo todo, como não há chance de importação pura e simples das técnicas JIT/Kanban, houve necessidade de ajustes e adequação à realidade brasileira e à indústria óptica nacional. O propósito principal deste artigo é relatar a implantação do sistema JIT/Kanban em uma empresa fabricante de armações de óculos de capital nacional e gestão familiar. OS SISTEMAS JUST-IN-TIME E KANBAN O JIT é um sistema que se destina a estimular a produtividade, eliminar estoques ociosos, melhorar a qualidade do produto e reduzir o tempo de entrega do produto acabado ao consumidor. Segundo Taiichi Ohno (Monden, 1984), a idéia é “total eliminação de desperdícios”, entendendo-se como desperdício tudo aquilo que não agrega nenhum valor ao produto acabado, como filas de materiais, produção além do programado etc. A proposta básica consiste na determinação dos momentos exatos de fabricação e entrega de produtos, submontagem, montagem e aquisição de materiais. Isso significa colocar todos os materiais em uso ativo, integrando o material em processamento e não o deixando ocioso. Portanto, seu ideal é alcançar uma alta flexibilidade, em condições de atender qualquer encomenda, a qualquer momento, em pequenos lotes. Yoshimoto (1992) define a cultura organizacional baseada no sistema JIT como um conjunto de padrões de comportamento, crenças e outros valores que caracterizam a empresa. O seu desenvolvimento é lento, feito mediante as experiências e os treinamentos comuns ocorridos com as pessoas que trabalham na empresa. A alta rotatividade de pessoal é prejudicial, podendo colocar a perder, em alguns casos por completo, uma cultura formada em longos anos de trabalho. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 23 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 1. Elementos do JIT (Wantuck, 1989, adaptado pelo autor). Manutenção Produtiva Tota Tecnologia de Grupo Treinamento de Pessoal Redução de Set-up Controle de Qualidade Total JUST-INTIME Housekeeping Melhoramento Contínuo Fábrica Focada Arranjo Físico De acordo com Wantuck (1989), o JIT é uma estratégia central que tem como pontos de apoio uma série de ferramentas distribuídas por todas as fases do processo produtivo. Podem ser implementadas simultaneamente ou em partes, como mostra a figura 1. Quando se deseja implantar o sistema Kanban, deve-se seguir alguns processos de implantação. Moura (1989) define os seguintes passos: 1) preparar os funcionários para os conceitos e ferramentas do Just-in-Time; 2) escolher uma área-piloto para permitir o aprendizado da técnica; 3) determinar a demanda dos componentes ao longo de todo o processo produtivo; 4) definir as quantidades por contentor; 5) definir o tipo de sistema Kanban (duplo cartão, cartão único ou Kanban-contentor) e os procedimentos; 6) criar painéis porta-Kanbans. Por sua vez, o Kanban é um sistema de informações, controle e coordenação da produção e do suprimento de materiais no piso de fábrica. É baseado na manufatura puxada, no controle de estoques FIFO (First In, First Out) e na manutenção de mínimos níveis de estoques. O Kanban é o mecanismo que viabiliza a manufatura no chão de fábrica. Conforme Pires (1995), duas das maiores virtudes do sistema JIT são ele ter uma abrangência conceitual, que extrapola os limites das atividades de planejamento e controle da produção, e conceber um sistema de controle da produção simples e REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 21-29 Kanban eficiente (sistema Kanban), quando devidamente implementado. No nível de programação, as tarefas não são programadas como nas formas convencionais. A produção é puxada, e ocorre somente quando há uma necessidade sinalizada pelo elemento seguinte da cadeia produtiva. Ainda segundo Pires (1995), empresas que priorizam o desempenho das entregas e a qualidade, e possuem pequena variabilidade no volume e no total de itens produzidos, têm grande potencial para usufruir o sistema de controle Kanban. Schonberger (1993) comenta que a manufatura puxada representa um dos pressupostos básicos do JIT, e fundamenta-se no princípio de que não deve haver o processamento de um pedido até sua real solicitação por um estágio ou operação subseqüente no fluxo de produção. O Kanban é, essencialmente, um sistema de fluxo de informações que controla harmoniosamente as quantidades produzidas em todas as fases dos processos de manufatura. Deve, obrigatoriamente, pertencer a um sistema de manufatura puxada, como o JIT. A INDÚSTRIA DE ARMAÇÕES DE ÓCULOS NO BRASIL E A EMPRESA ESTUDADA A Indústria de Armações de Óculos A partir da década de 80, o êxodo de pessoas do meio rural para o meio urbano aumentou significativamente no Brasil. Segundo Rego & Marques (2000), os dados do IBGE publicados em 1997 informavam que 78,36% dos brasileiros moravam 23 00_C&T18.book Page 24 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM nas cidades. As pessoas passaram a viver mais tempo e a ser, na maioria, alfabetizadas e dependentes de sua capacidade de visão, não só para leitura, mas para realizar outras atividades diárias. Por sua vez, a indústria de armações de óculos no Brasil foi, de certa forma, protegida pelo principal instrumento de contenção de importações durante os anos 1980, medidas não tarifárias, entre as quais se destacava a Lei do Similar Nacional, que listava produtos cuja importação era proibida. Em função do quadro de instabilidade reinante praticamente durante toda a década de 80, grande parte dos setores da economia brasileira encontravam-se em atraso tecnológico quando comparados aos padrões internacionais. Por outro lado, em vez de os produtores nacionais se aperfeiçoarem, aproveitando a proteção e a vantagem permitida pelas diversas medidas governamentais desse período, o que houve foi um efeito exatamente contrário. Boa parte deles se acomodou, não fez o investimento necessário para garantir que seus processos de produção e produtos alcançassem padrões internacionais, acreditando que a proteção seria perene. Assim, o conjunto de fatores citados propiciou à industria de armação de óculos um crescimento rápido e consolidação no mercado interno. No período entre 1990 e 1994, a política industrial do governo restringiu-se à abertura comercial. Nesse mesmo período, a empresa estudada neste artigo já detinha, aproximadamente, 90% do mercado nacional de armações de óculos e, quando da abertura comercial ao exterior, já estava consolidada, buscando novas tecnologias para o desenvolvimento da capacitação competitiva e o lançamento de diversos modelos de armações, novas cores e materiais. A Empresa Estudada Fundada em agosto de 1972, a empresa nasceu como a maioria das pequenas empresas familiares, em que os próprios sócios se encarregavam das operações produtivas e de comercialização. Ao longo do tempo, passou por vários momentos de transformação, procurando, sempre, manter-se atualizada por meio da modernização de seus processos e de melhorias no seu parque fabril, com a aquisição de máquinas e equipamentos modernos. A preocupação da diretoria da empresa não era 24 somente a busca de novas tecnologias, mas também de técnicas adequadas de planejamento e de um fluxo contínuo de produção, consistente e rápido. Diante disso, optou pela implantação do sistema JIT/Kanban, pois chegou à conclusão que, por ser simples e de regras fáceis a ser seguidas pelo pessoal do chão de fábrica, era a melhor opção de execução e de resposta rápida à implantação. Justificativa e Metodologia O sistema Kanban foi desenvolvido inicialmente na indústria automobilística, e espalhou-se pelo mundo. Entretanto, a aplicação da técnica em uma empresa de armações de óculos era um desafio a ser vencido, pois não há, no Brasil, aplicação similar. A empresa estudada conta com 650 colaboradores, está instalada numa única planta e fabrica um produto que pode ser manuseado com facilidade, por ser leve e pequeno. A baixa variação de produção no volume diário – 10.500 peças/dia – e um mix de produtos relativamente pequeno (a grande diferença está na aplicação de detalhes sobrepostos na lateral da haste da armação) – propiciava a implantação do Kanban, aliada à intenção da alta direção em implementar/ investir em novas práticas gerenciais. A fim de evitar um impacto muito grande em toda a empresa e montar uma área que pudesse servir de modelo para as outras, optou por iniciar a implantação do Kanban em uma área-piloto. Segundo Moura (1984), um bom candidato a setor piloto é aquele que apresenta um número pequeno de itens individuais, com programas de produção razoavelmente estáveis e poucas restrições de produção (capacidade, tamanho de lotes etc.). Assim, a empresa definiu que a área-piloto seria o setor de tornos. Os produtos dessa área são parafusos para armações de óculos, buchas para fixação de lentes e apliques para hastes de armações. A figura 2 mostra componentes de uma armação de óculos. Deve-se ainda levar em conta que é de considerável importância a formulação de uma metodologia específica que contemple as etapas e os aspectos necessários à eficiente implantação do Kanban e a sua posterior perenidade, a médio e longo prazos. A metodologia adotada, a pesquisa-ação, é uma estratégia da pesquisa na qual o objetivo consiste em resolver, ou pelo menos em esclarecer, os problemas da situação observada. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 25 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 2. Componentes de uma armação de óculos. Segundo Thiollent (1994: 15), toda pesquisa-ação é do tipo participativo, ou seja, “a participação das pessoas implicadas nos problemas investigados é absolutamente necessária”. Na pesquisa-ação, os pesquisadores desempenham um papel ativo no equacionamento dos problemas encontrados. O autor atuou como consultor por dois anos e implantou o sistema Kanban na empresa estudada. A Implantação do Kanban na Empresa Estudada É interessante destacar como as pessoas podem participar a fim de se atingir a produção JIT. Isso é feito pelo conhecimento das ferramentas ou pré-requisitos, fase em que os funcionários discutem o que pode ser feito com a colaboração de cada um. Essa etapa é, antes de tudo, um estímulo para discussões. Foi elaborado o treinamento, distribuído em diversas fases, dos colaboradores no sistema Kanban, conforme mostrado na figura 3. Fig. 3. Etapas de implantação do sistema Kanban na empresa estudada. 1ª Etapa Palestra de 2 horas transmitindo a lógica do JIT/Kanban. 2ª Etapa Elaboração de uma apostila com conceitos simples e apropriados à empresa. 4ª Etapa Apresentação do projeto de funcionamento do Kanban proposto. 3ª Etapa Simulação de funcionamento dos sistema Kanban. 5ª Etapa Fixação de placas com conceitos e regras do Kanban na área-piloto. 6ª Etapa Implantação e execução do projeto na área-piloto. 7ª Etapa Avaliação do desempenho e mensuração dos resultados. (Figura 8) REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 21-29 25 00_C&T18.book Page 26 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 4. A sistemática de funcionamento do Kanban (Monden, 1984, adaptado pelo autor). Processo de Usinagem Processo de Banhos Fluxo do Kanban de produção Fluxo de materiais Com relação à importância da preparação da mão-de-obra, Campos (1992) comenta que o conceito de crescimento do ser humano está baseado na intenção de que as pessoas devem fazer sempre serviços de valor agregado cada vez mais alto. Maior valor agregado para pessoas significa trabalho no qual se escreve, fala, ordena, mostra, instrui etc. Crescimento do ser humano significa utilizar cada vez mais a mente do indivíduo, e não somente a força braçal. Para isso, o indivíduo deve ser preparado durante toda sua vida. (Campos, 1992: 155) Portanto, uma força de trabalho motivada e comprometida é de importância vital para a empresa. Em paralelo, um treinamento específico foi montado (4.ª fase) para mostrar como funcionaria o sistema Kanban da empresa na prática, apresentar os contentores-Kanban e os procedimentos adotados. Nesse módulo, os funcionários puderam praticar os novos procedimentos mediante simulação da situação real e tomaram as decisões interpretando o painel. Na figura 4, pode-se ver o diagrama de funcionamento do sistema Kanban proposto. Como observação, mencione-se que o suprimento de materiais é efetuado no próprio centro de trabalho, de acordo com a programação. O posto de coleta indica a programação para o próximo período, ante a retirada do contentor pelo cliente. O contentor vazio retorna ao porta-Kanban da área produtora, reiniciando o ciclo do sistema Kanban. Após essas etapas, com a aplicação de alguns testes de conhecimentos, foi possível concluir que houve absorção dos conceitos por parte dos funcionários, melhorando, portanto, sua qualificação. Deve-se observar, aqui, que foram afixadas placas na área-piloto (5.ª fase) contendo conceitos e 26 Processo de Submontagem Linha de Montagem Final regras do sistema Kanban. Isso foi realizado com o objetivo de fazer com que as informações chegassem o mais próximo possível dos funcionários, de forma a que eles pudessem ler, autoinstruir-se e tirar dúvidas – o que ajudou a estimular a curiosidade dos funcionários das outras áreas. As Mudanças Efetuadas na Área Para a efetiva implantação do sistema Kanban, as principais mudanças foram um programa de organização e limpeza, a definição do local para o painel porta-contentor e da fixação de prateleiras. O Kanban atuou no sentido de facilitar a programação dos centros de trabalho na empresa. Com a implantação do Kanban, o objetivo maior da administração da produção foi a redução dos estoques, tanto em processo quanto os de segurança, baseada na minimização dos ciclos de produção e dos estoques intermediários. Para a consecução desses objetivos, foi dada prioridade às seguintes etapas: 1) redução dos estoques intermediários dos materiais produzidos; 2) redução de riscos relacionados à obsolescência dos materiais através do atendimento às necessidades internas em níveis mais precisos; 3) busca da flexibilidade da mão-de-obra (polivalência dos funcionários); 4) melhoria dos níveis de qualidade dos processos e dos itens produzidos. Para haver confiabilidade no funcionamento do Kanban, foram feitos planos relativos à implantação da manutenção produtiva total e planos de auditoria interna do sistema. As figuras 5 e 6 mostram os resultados das ações implantadas. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 27 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 5. Situação anterior à implantação do Kanban. Fig. 6. Vista do porta-contentor após a implantação do Kanban. Com relação ao sistema Kanban, a figura 7 mostra claramente o fluxo de produção e processo dos contentores entre a área produtora (tornos), a área intermediária (acabamento) e a área consumidora (usuário final). É importante destacar uma observação feita por Taiichi Ohno (Monden, 1984: 28): “o Kanban deve ter início sempre dentro de um setor da empresa, passar paulatinamente para outro, ter suas falhas corrigidas e ser consolidado internamente, para só depois ser passado para as outras áreas”. E ainda: “começar o Kanban de fora (fornecedores) para dentro da empresa é o maior erro que se pode cometer”. Fica, portanto, destacada a importância de se iniciar por uma área-piloto, para permitir o REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 21-29 aprendizado da técnica, e só depois expandir o sistema. Para essa expansão, é importante criar um clima cliente-fornecedor dentro da empresa toda. É relevante que, depois da implantação do sistema, seja reservado um tempo para medir seu desempenho e aumentar seus benefícios. Monden (1984) alerta para o fato de que, apesar de o Kanban ser bastante simples, sua implementação é de extrema complexidade. A falta de entendimento do sistema JIT pode levar a um pífio aproveitamento da técnica ou, pior, ao fracasso e posterior falta de credibilidade, provocando geralmente uma rejeição a ela, caracterizada pelo fracasso anterior. 27 00_C&T18.book Page 28 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 7. Fluxo de contentores na linha de produção. Movimentação de contentores no Kanban. Consumidor Acabamento Tornos 4 Material Pronto Material Pronto Contentor Vazio Material Pronto Contentor Cheio 3 1 Material em Processo 2 Contentor Vazio Material em Processo CONSIDERAÇÕES FINAIS E RESULTADOS DA IMPLANTAÇÃO O conceito ocidental de maximização da utilização da capacidade produtiva instalada em função da discussão do enfoque contábil-financeiro versus operacional, ou seja, a utilização plena da capacidade, necessita ser alterado para o conceito de atendimento rápido das necessidades dos clientes, recursos transformadores bem conservados e qualidade total, conceitos preconizados pelo JIT. O argumento que justificaria a manufatura baseada na plena capacidade seria a diluição dos custos no alto volume de produção, sem a preocupação com a formação excessiva de estoques, pois esses eram considerados como investimentos em capital. Em contrapartida, o JIT pressupõe a produção somente para o atendimento das necessidades, sendo este um ponto de extrema relevância para a confiabilidade do sistema de manufatura e para a efetividade do Kanban como mecanismo de execução das atividades produtivas. Para a implantação do Kanban, a empresa estudada mostrou-se, desde o início, extremamente aberta à pesquisa e às mudanças que permitissem a adoção do sistema. Isso não é comum ou corriqueiro nas empresas brasileiras e familiares, que ainda resistem à integração e às informações da Universidade. Procurou-se estabelecer um processo de execução com acompanhamento pari passu, buscando melhorias contínuas no processo produtivo sem perturbar demasiadamente o andamento das atividades no chão de fábrica. 28 A implantação apresentou bons resultados. Eles foram quantificados e obtidos a partir de dados coletados da seguinte forma: • antes da implantação: os dados foram obtidos com a comparação entre os registros de alguns anos anteriores à implantação do Kanban junto ao PCP; • após a implantação: os dados foram obtidos diretamente na área-piloto destinada para a implantação inicial. Os resultados podem ser visualizados na tabela 1. Tab. 1. Demonstrativo dos resultados obtidos após a implantação do Kanban. CONITEM JAN/99 MAR/ 00 SUMO Parafusos (pçs.) Buchas (pçs.) Ordens de fabricação (documento emitido) Atrasos (pçs não entregues a operação seguinte) Taxa de rejeição (% ao mês) 1.100.000 45.900 1 semana 1.200.000 50.000 1 semana 510 390 _ por dia por dia 100.000/ -0- (zero) _ mês 7,5 a 8,0 4,0 a 5,5 _ O presente trabalho confirma, na prática, a possibilidade de se implantar modelos de gestão de produção com o intuito de melhorar os processos produtivos em ramo diverso da indústria automobilística ou de autopeças. Porém, ressalta de forma veemente que a adaptação das técnicas deve ser cuidadosamente estudada, não se tratando de um processo simples. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 29 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Essa adaptação e a conseqüente transição para um patamar superior em termos de gestão da produção poderão acontecer se requisitos como o aprendizado das novas técnicas, a estabilização da demanda e o treinamento da mão-de-obra forem observados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAMPOS, V.F. Controle da Qualidade Total – no estilo japonês. Belo Horizonte: Fundação Cristiano Ottoni, 1992. MONDEN, Y. Sistema Toyota de Produção. São Paulo: Imam, 1984. MOURA, R.A. Sistema Kanban de Manufatura Just-In-Time. São Paulo: Imam, 1984. PIRES, S.R.I. Gestão Estratégica de Produção. Piracicaba: Unimep, 1995. REGO, J.M. & MARQUES, R.M. Economia Brasileira. São Paulo: Saraiva, 2000. SCHONBERGER, R.J. Técnicas Industriais Japonesas: nove lições ocultas sobre a simplicidade. São Paulo: Pioneira, 1993. THIOLLENT, M. Metodologia da Pesquisa-ação. São Paulo: Cortez Editora, 1994. WANTUCK, K.A. Just in Time for America. Southfield, Michigan: KWA Media, 1989. YOSHIMOTO, T. Qualidade, Produtividade e Cultura: o que podemos aprender com os japoneses. São Paulo: Saraiva, 1992. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 21-29 29 00_C&T18.book Page 30 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM 30 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 31 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Uma Macrovisão sobre a Modelagem Cinemática de Máquinas de Medir por Coordenadas (MMCS) An Overview on the Kinematic Modeling of Coordinate Measuring Machines (CMMs) ALVARO J. ABACKERLI Universidade Metodista de Piracicaba [email protected] ROXANA M. MARTINEZ ORREGO Universidade Metodista de Piracicaba [email protected] RESUMO – Apesar das três décadas de utilização das MMCs, ainda não existe uma norma internacionalmente aceita que lhes garanta medidas de desempenho adequadas. Isso torna o desempenho das MMCs muitas vezes duvidoso, impedindo a determinação exata da sua cadeia de rastreabilidade. As soluções disponíveis para a sua calibração e rastreabilidade permitem atualmente a verificação individual das partes da máquina, sem ponderar diretamente a complexidade do conjunto. Uma solução viável para o problema são as chamadas máquinas virtuais de medir por coordenadas, por permitirem a simulação das tarefas de medição sob inúmeras condições, ponderando inclusive a complexidade da máquina e da tarefa por ela executada. Essas máquinas virtuais constam de modelos de simulação especialmente desenvolvidos e parametrizados fielmente em relação à prática metrológica realizada com a máquina. Entretanto, o conceito da máquina virtual está historicamente associado à modelagem das máquinas de medir, motivando, por isso, uma discussão sobre a conceituação geral de modelagem. Neste trabalho, isso é feito por meio de um breve relato sobre o desenvolvimento de modelos para MMCs e sobre os procedimentos historicamente difundidos, como sintetização de erros. Exclui-se da discussão presente as modelagens dinâmicas e de efeitos térmicos, objeto de um futuro trabalho. Palavras-chave: MODELAGEM – COMPENSAÇÃO DE ERROS – MEDIÇÃO POR COORDENADAS. ABSTRACT – Despite the three decades of utilization of CMMs in industry, there is no internationally agreed standard by which their performances are unequivocally defined yet. This imposes additional difficulties to be overcome towards the determination of their traceability chain. A feasible solution for such a problem is the Virtual Coordinate Measuring Machine (VCMMs), by which a real CMM can be simulated considering both its natural complexity and the performed measurement task, i.e. the simulated measurement task. The Virtual Coordinate Measuring Machines are complex arrangements of mathematical models derived each specific simulated CMM according its mechanical parameters, errors and working conditions. However, to get a reasonable understanding about the VCMM concept and its powerful results, REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 31-43 31 00_C&T18.book Page 32 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM it is important to start with a clear understanding about kinematic modeling and their relationships. To do so, in this paper an overview of kinematic modeling is brought to the readers attention, by which the concept of error compensation is up to dated just from its earlier predecessors called error synthesizing technique. No detailed discussion is developed about dynamic or thermal modeling, which will be subjects for future work. Keywords: MODELLING – ERROR COMPENSATION – CO-ORDINATE MEASUREMENT. MODELOS MATEMÁTICOS PARA MÁQUINAS DE MEDIR A idéia de modelagem matemática de máquinas de medir por coordenadas (MMCs) não é nova. De fato, desde as décadas de 60-70 (NIST, 1995), modelos matemáticos são escritos como ferramentas de previsão e compensação de erros em máquinas de medir por coordenadas. Atualmente, com a evolução, miniaturização e disseminação dos computadores, um grande número de instrumentos metrológicos usam modelos de compensação de erros, sendo deles dependentes para a mais simples operação. O problema a ser tratado na modelagem de MMCs envolve, portanto, a representação matemática de um conjunto de elementos mecânicos dispostos seqüencialmente em uma cadeia cinemática. Em última análise, essa representação tem como objetivo materializar o sistema de coordenadas do equipamento, partindo da hipótese de corpo rígido e baseada no esquema geral de uma MMC, conforme ilustra a figura 1. Fig. 1. Esquema geral de uma MMC (Cardosa, 1995). 32 Nas MMCs convencionais, os mecanismos cuja relação cinemática é modelada são guias de deslizamento de alta qualidade, cada qual destinada a materializar um grau de liberdade de um sistema cartesiano de coordenadas. Uma máquina convencional possui três guias preferenciais de movimento, materializando, assim, os três eixos ortogonais X, Y e Z do sistema cartesiano. Desse modo, pode-se dizer que a modelagem de MMCs visa estabelecer um modelo matemático com o qual a posição efetivamente alcançada (real) pela máquina possa ser prevista e comparada com a posição teórica alcançável (ideal) pela mesma sob as mesmas condições, porém sem a influência de erros. Existem inúmeros fatores que contribuem para a geração de erros e a conseqüente degradação da capacidade de posicionamento das máquinas de medir (Trapet, 1991; Busch, 1996, e Miguel, 1997). Os principais erros associados às respectivas fontes podem ser, entretanto, agrupados em três grandes classes: 1. erros devido à geometria; 2. erros devido às forças estáticas; e 3. erros térmicos (Abackerli, 1996a e 1996b). Para a presente discussão, a diferença entre a posição efetivamente alcançada pela máquina (real) e aquela alcançável (ideal) pela mesma será atribuída exclusivamente aos erros dos movimentos cinemáticos, ou seja, serão atribuídos prioritariamente aos erros da geometria da máquina. Tal direcionamento fundamenta-se, inicialmente, na relevância desse grupo de erros no desempenho global da máquina (Burdekin, 1981; Hocken, 1980, e Love, 1973), além da importância que esse tipo de modelagem tem ganho, ao longo dos anos, em inúmeras aplicações práticas. Inicialmente, pode-se dizer que os referidos erros geométricos ocorrem em função de folgas de guias de deslizamento da máquina, necessárias para que exista o movimento relativo entre suas partes. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 33 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Tais folgas provocam pequenos movimentos indesejáveis em direções alheias àquelas do eixo preferencial. Convencionalmente, os erros originados na geometria da máquina podem ser classificados como erros de deslocamento, ou translacionais, e erros rotacionais, ou angulares. Tomando o eixo X da máquina como referência, os erros de deslocamento ou translacionais são identificados como retilineidade no plano X-Z, retilineidade no plano X-Y e desvio de posição em X. Os angulares ou rotacionais, por sua vez, são denominados rotação em torno de Y (pitch de X), rotação em torno de Z (yaw de X) e rotação em torno de X (roll de X). A mesma análise pode ser feita para outros eixos de referência, como o Y ou o Z. Excetuando-se o erro de posição na própria direção preferencial X, todos os demais representam graus de liberdade adicionais em direções diferentes às do movimento preferencial, causados pelas já citadas características mecânicas das guias de deslizamento. O erro de posição em X, por sua vez, caracteriza a dificuldade que a máquina exibe ao tentar se posicionar ao longo da direção preferencial de movimento. É, portanto, um grau de liberdade adicional, porém na direção do movimento. A dificuldade de posicionamento é típica dos mecanismos de deslocamento, aparecendo sempre nas diversas máquinas, em maior ou menor intensidade. São, por isso, também conhecidos como erros de escala ou de posição. Além desses erros, inerentes a cada eixo preferencial X, Y ou Z da máquina, verifica-se também que a ortogonalidade entre cada par de eixos X-Y, XZ e Y-Z também não é perfeita. Tais erros, conhecidos como erros (ou desvios) de perpendicularismo ex, ey e ez, podem ser acrescentados à lista de fatores geométricos que contribuem para a degradação do desempenho das máquinas de medir. Considerando, portanto, os seis graus de liberdade adicionais de cada eixo preferencial de movimento, além dos três erros de perpendicularismo, chega-se ao total de 21 erros geométricos que influenciam no desempenho das máquinas de medir e que são tipicamente formulados matematicamente nas modelagens. Para o tratamento desse problema na modelagem, os erros geométricos associados aos eixos preferenciais X, Y e Z são ditos erros paramétricos REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 31-43 (ANSI/ASME, 1992; ANSI/ASME, 1985), por permitirem sua descrição em função das coordenadas x, y e z da máquina. Assim, por exemplo, o erro de posição em X causado pelo movimento da máquina na direção preferencial X é escrito como uma função dx(x), ou dxx para simplicidade de notação. Analogamente, a rotação em torno de X causada pelo movimento da máquina também na direção X é escrito como ex(x) ou exx. Genericamente, denota-se pela função dj(k) ou djk o erro translacional verificado na direção J quando a máquina se movimenta na direção preferencial K . Os erros angulares, por sua vez, são denotados por ej(k) ou ejk, representando rotações em torno da direção J quando a máquina se movimenta também na direção K . É importante lembrar que o tratamento dos erros das máquinas de medir segundo a discussão acima baseia-se na hipótese de corpo rígido (Hocken, 1977, e Schultschik, 1977). Na abordagem aqui discutida, exclusivamente geométrica, é suposta, ainda, a inexistência de outros efeitos que contribuam para degradação do desempenho da máquina, como deformações devidas às cargas ou deformações térmicas. Hipóteses de contorno adicionais podem ser acrescidas para introduzir esses efeitos, além dos erros geométricos (Everhart, 1991, e Sata, 1973). Entretanto, cuidados devem ser tomados nessa iniciativa, uma vez que procedimentos experimentais de validação e teste da máquina simulada devem ser conduzidos a cada novo fator de influência introduzido no processo de modelagem – não sendo essa uma possibilidade rotineira para muitos casos práticos de aplicação de modelagem de máquinas de medir (Abackerli, 1996a). Aspectos Históricos da Modelagem de Máquinas de Medir por Coordenadas Existe um grande número de publicações relatando o desenvolvimento de modelos matemáticos para MMCs, bem como metodologias de ensaio e implementação dos referidos modelos em diversos tipos de máquinas. Um documento particularmente interessante apresentando esses desenvolvimentos foi produzido pelo National Institute of Standards and Technology (NIST), dos Estados Unidos, em 1993, e atualizado em 1995. O documento 33 00_C&T18.book Page 34 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM traz uma excelente cronologia dos principais desenvolvimentos da área, conforme ilustra a discussão a seguir. Um primeiro aspecto a ser considerado na discussão desses modelos diz respeito às condições de contorno normalmente aplicáveis na sua elaboração e utilização. Num modelo já bastante utilizado em máquinas de medir (Everhart, 1991, e Bell, 1992), foi assumido que os erros geométricos acima discutidos eram os únicos presentes na máquina, mantendo-se a hipótese de corpo rígido no tratamento do movimento da máquina. Tais condições permitiram parametrizar os erros unicamente em função da posição de cada eixo da máquina, excluindo-se outros efeitos, como velocidade e aceleração do movimento. Adicionalmente, considerou-se que a variação dos erros era suficientemente lenta para que eles pudessem ser descritos por funções contínuas entre os pontos de calibração dentro do volume de trabalho. Essa foi uma pequena variação da idéia usada nos anos 70, na qual o erro de cada eixo da máquina foi escrito como função de todos os eixos (Hocken, 1977). Um modelo seguinte, dito de maior ordem, incluiu erros dependentes da velocidade de movimentação da máquina, e por essa razão foi chamado de modelo de velocidade. Essa iniciativa foi usada em controladores de máquinas de usinagem, nos quais o sinal da velocidade (positivo ou negativo), ou sua mudança, foi usado para compensar a histerese de movimentação do equipamento. Nesses modelos, funções matemáticas bastante simples foram usadas para representar apenas o erro de posição do eixo considerado. Os demais erros geométricos e os desvios de ortogonalidade entre eixos não foram usados. Modelos envolvendo aceleração do movimento também são possíveis, mas não são assim referidos na literatura. Em geral, são encontrados em modernos sistemas de controle (Fanuc, 1993), como parte de esquemas chamados feed forward, utilizando perfís de aceleração para posicionamento em arestas e contornos de variação abrupta. Por não se enquadrarem no escopo da discussão presente, tais modelos são deixados fora deste contexto. Maiores detalhes sobre eles podem ser encontrados em literatura especializada (Weck, 1990). 34 Erros térmicos também aparecem em modelos, sob uma grande variedade de formas. Numa forma simples chamada modelo de ordem zero, a dimensão é corrigida simplesmente pela aplicação do coeficiente de expansão ao material considerado, a partir da temperatura de referência. Discussões detalhadas dessa abordagem podem ser encontradas em algumas normas (ANSI/ASME, 1973, 1990 e 1992). Modelos térmicos mais aprimorados envolvem compensação da expansão térmica das escalas da máquina (Everhart, 1991, e Bell, 1992). Eles podem ser implementados usando valores nominais de coeficientes de expansão com um único sensor por escala ou usando múltiplos sensores com a medição do valor efetivo do coeficiente de expansão da máquina modelada (Zhang, 1985). Alguns pesquisadores têm explorado a idéia de executar modelos usando o perfil de temperatura completo da máquina, uma vez que os gradientes de temperatura e sua variação têm provado ser de grande influência (Bryan, 1968). Uma abordagem para isso (Donmes, 1986) trata o problema usando modelos geométricos como os acima discutidos, mas tornando tais erros função também da temperatura, além da posição. Modelos menos empíricos já foram usados (Sata, 1973, e Weck, 1974) para prever distorções através da técnica de Elementos Finitos, porém com sérios problemas de previsão de alinhamento de partes da máquina sob certas condições (especialmente em máquinas ferramentas). O uso de modelos para ponderação de erros induzidos por carregamento não está tão aprimorado como os efeitos térmicos acima discutidos, apesar de alguns efeitos de carregamento das próprias máquinas já terem sido relativamente explorados. Além disso, um bom modelo geométrico pode compensar grande parte dos efeitos de carregamento característicos da estrutura das máquinas, desde que as partes móveis possam sustentar a hipótese de corpo rígido. Isso, dentro de certos limites, suprime a necessidade de modelagem específica para carregamentos. Um próximo nível de complexidade na ponderação de efeitos do carregamento envolve a ponderação das peças introduzidas nas máquinas. Essa abordagem vem sendo considerada já há vários anos (Hocken, 1977, e Schultschick, 1979), mas ainda Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 35 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM não pode ser tratada como um assunto bem desenvolvido. Alguns esforços também têm sido feitos pela comunidade de máquinas de medir para desenvolver normas de auxílio à avaliação da perda de exatidão em função do carregamento (ANSI/ ASME, 1993). É importante observar que todos os erros acima discutidos classificam-se como quase-estáticos, caracterizando-se pela grande estabilidade e lenta variação no tempo. Isso, em geral, permite sua monitoração em tempo real e a correspondente modelagem para fins de compensação. Porém, existem outros efeitos dinâmicos, que não estão incluídos na classe de efeitos acima discutidos. Apenas como exemplo citamos as vibrações induzidas por unidades hidráulicas e os efeitos dinâmicos de forças devido à interação peça-ferramenta presente em operações de usinagem, para os quais tratamentos especializados e fora do presente contexto são necessários (Tlusty, 1985). Com tais possibilidades de modelagem, é imediato inferir sobre a grande variedade de testes e metodologias de implementação dos modelos nos esquemas de compensação. De fato, muitas possibilidades existem. Contudo, estão excluídas da presente discussão, que visa apenas a elaboração de modelos quase-estáticos para erros geométricos em máquinas de medir. Um aspecto interessante a ser observado é a estreita relação entre o desenvolvimento de modelos para máquinas ferramentas e para máquinas de medir. A simples revisão bibliográfica revela que ambos sempre estiveram bastante relacionados, ao ponto em que sucessos numa área fossem experimentados na outra, com as devidas adaptações. Disso decorre o fato, por exemplo, de a terminologia dos erros geométricos para máquinas de medir ser encontrada nas referência sobre máquinas ferramentas, segundo a bibliografia americana aqui utilizada. Sob o aspecto estritamente histórico, pode-se dizer que o conhecimento dos efeitos da geometria sobre o desempenho das máquinas é tão antigo quanto a sua própria criação (NIST, 1995). Evidências de montagens cinemáticas (Maxwell, 1876, in NIST, 1995), referências sobre retilineidade (RamsREVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 31-43 den, 1779, in NIST, 1995) e cuidados extremos para desenvolver fusos de precisão (Holtzapffel, 1846, in NIST, 1995) existem desde os primeiros desenvolvimentos de máquinas e instrumentos. É provável que as iniciativas reais de desenvolvimento de modelos de erros angulares e deslocamentos tenham sido conduzidas por Abbè (Abbè, 1890, in NIST, 1995). Nelas, entretanto, não existem evidências explícitas da aplicação de matemática. Apesar disso, o uso de artifícios mecânicos para compensação de imperfeições surgiu por volta de 1865 (Sip, 1952, in NIST, 1995), antes até da maioria das idéias formais de modelagem. Na era moderna da metrologia de máquinas, o provável precursor dos trabalhos foi Schlesinger (Schlesinger, 1927, in NIST, 1995), mas sem ter publicado modelos matemáticos detalhados para fins de previsão e compensação de erros. Na década de 60, French (French, 1967) apresentou seu trabalho, no qual claramente faz aplicação de correção de erros por software através de um programa de computador. Nele, o autor usa geometria euclidiana para deduzir um modelo da máquina e compensar os erros angulares e a histerese do movimento. No trabalho, é usado um modelo de velocidade, com o sinal da velocidade indicando a direção do movimento. Mais tarde, Bryan apresenta o International Status of Thermal Error Research, no qual não apresenta grandes modelagens, mas traz as complexas relações dos efeitos térmicos nas máquinas, relacionando-os com suas origens (Bryan, 1968). Ainda nos anos 70, Love e Scarr (Love, 1973) discutem a análise de erros planos e volumétricos, fazendo o que talvez seja a primeira menção de exatidão volumétrica. Em 1975, trabalhos tratando de compensação de erros térmicos através de software aparecem, demarcando a importância entre os efeitos da temperatura e os erros de deslocamento em máquinas (Okushima, 1975). Nos anos seguintes, outros trabalhos de compensação por software foram publicados, fundamentando importantes bases da conceituação metrológica do problema, como cinemática de corpos rígidos para análise de máquinas, além de modelos em que o erro generalizado é função da posição, da distribuição de temperatura e do carregamento da máquina modelada (Hocken, 1977). 35 00_C&T18.book Page 36 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM A década de 80 foi especialmente ativa na área, trazendo inúmeros trabalhos voltados, principalmente, à correção de erros em máquinas-ferramentas. Zhang trabalha com correção de erros via software em máquinas de medir (Zhang, 1985). Nesse trabalho, aparece, provavelmente, a primeira a menção do uso do ensaio das diagonais do volume de trabalho para avaliação dos erros, testes esses atualmente normalizados pela ANSI (ANSI/ASME, 1990). O desenvolvimento de modelos e esquemas de compensação prossegue até que Teeuwsen apresenta o que parece ser o estado da arte na modelagem de máquinas de medir, através de um método geral para descrição dos erros usando ajustes polinomiais (Teeuwsen, 1989). Uma análise detalhada dos resultados revela o uso de transformações homogêneas na modelagem cinemática, além dos gradientes térmicos não terem sido medidos até aquele momento. Isso tornou o trabalho uma boa contribuição na área. Mais tarde, Balsamo publica um método para correção térmica em máquinas de medir que talvez tenha sido o mais complexo modelo matemático já utilizado até então (Balsamo, 1990). Nele, a informação de mais de cem sensores térmicos é utilizada sob a hipótese da completa descrição dos erros usando os 18 erros geométricos anteriormente discutidos, modificados pela temperatura. Outros trabalhos também trouxeram importantes contribuições na modelagem de temperatura em máquinas-ferramentas e máquinas de medir, não se tendo, hoje, variações significativas nas abordagens de modelagem para os fins discutidos (Trapet, 1989a; Bryan, 1990, e Lingard, 1991). Apesar de breve, e provavelmente omissa em alguns importantes trabalhos da área, a presente revisão traz importantes marcos históricos do desenvolvimento de modelos matemáticos para máquinas de medir e de usinagem. Pode ser notado que os métodos de compensação atuais mais comuns tiveram origem nas décadas de 70 e 80, principalmente no NIST, sendo levados à Universidade de Purdue, onde métodos derivados foram desenvolvidos. Só foi no final dos anos 80 que grupos europeus introduziram inovações no processo, particularmente através dos grupos do Physikalisch36 Technische Bundesanstalt (PTB), da Alemanha, e da Universidade de Eindhoven (NIST, 1995). Com relação específica à modelagem, pode-se dizer que os modelos têm se tornado matematicamente mais complexos, porém, o uso de transformações matriciais tem se tornado quase universal. Os modelos geométricos têm sido adaptados para muitas máquinas de medir, ainda não estando em grande uso em máquinas-ferramentas. O mesmo ocorre com modelos de baixa ordem para compensação térmica, particularmente em uso nas MMCs de grande exatidão. Finalmente, pode-se dizer que modelos envolvendo velocidades e acelerações não têm sido de grande uso, embora esses efeitos comecem a ser representativos nas máquinas de medir de última geração. MODELAGEM CINEMÁTICA DE MÁQUINAS DE MEDIR POR COORDENADAS Discutidos os aspectos gerais e históricos da modelagem, passa-se aqui a uma breve revisão sobre o desenvolvimento dos modelos cinemáticos diretamente relacionados a MMCs. Para isso, seu conceito de desenvolvimento será apresentado, junto com as principais condições de contorno de cada trabalho usado na discussão. Conforme citado, a descrição matemática dos erros quase-estáticos visa representar a cadeia cinemática da figura 1, tomando a hipótese de corpo rígido e a caracterização dos erros paramétricos da máquina acima discutidos. Além deles, os modelos desenvolvidos baseiam-se na hipótese de superposição de efeitos geométricos, a partir da qual o erro total (composto) de um determinado eixo pode ser obtido adicionando-se apropriadamente os erros individuais daquele eixo. Essa abordagem tem gerado discussões, uma vez que tem implicações diretas na forma pela qual os erros são medidos na máquina modelada (Abackerli, 1997a). O primeiro aspecto relevante da modelagem é o seu efetivo significado na máquina de medir. A figura 2 ilustra de maneira interessante uma interpretação que pode ser dada ao problema. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 37 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 2. Representação vetorial da modelagem cinemática (Cardosa, 1995). Como ilustra a figura, tomando-se um sistema de referência absoluto, fixo à base da máquina, um vetor Sem Erro pode ser escrito para descrever a posição tridimensional ideal do apalpador. Se considerados, então, os erros cinemáticos, um outro vetor, Com Erro, pode ser escrito para representar também a posição do apalpador, porém influenciado pelos citados erros cinemáticos. Sob tais condições, o erro tridimensional procurado pode ser escrito diretamente como a diferença da posição fina do apalpador pelos dois caminhos, Com Erro e Sem Erro, como ilustra a relação a seguir. Erro = Caminho com Erros – Caminho sem Erros (1). Existem várias técnicas para o desenvolvimento matemático desses modelos. Uma técnica bastante conhecida, quase em desuso atualmente, baseia-se na análise da contribuição individual de cada erro geométrico (dxx, dxy, dxz, exx ...) dentro do erro global e na subseqüente elaboração de pequenas equações para cada contribuição (Burdekin, 1985, e Di Giacomo, 1986). Tomando essas pequenas equações e usando da superposição, as equações dos erros para cada eixo preferencial envolvido podem ser escritas conforme mostram as expressões a seguir. Ex = dx (x) + dx (y) – ez (x).y – ez(x).y + [ey (x) + ey (y) + ey].z Ey = dy (y) + dy (z) + dy (x) – [ex (y) + ey (x) + ex].z (2). Ez = dz (z) + dz (x) + dz (y) – ex(x).y Nessa formulação, cada termo teve seu sinal, positivo ou negativo, atribuído a partir da análise individual de cada erro geométrico equacionado. Assim, por exemplo, o termo ez(x).y que integra a componente Ex do erro (ver equação 2) teve seu sinal negativo atribuído mediante constatação prática de que quando o erro angular ez(x) e a coordenada y são positivos, a contribuição desse efeito no erro global Ex é negativa. Esse procedimento implica, necessariamente, na análise detalhada da estrutura da máquina modelada para a determinação da influência individual de cada erro. Uma abordagem menos trabalhosa envolve a adoção de sistemas de coordenadas intermediários ao longo de toda a cadeia cinemática e para cada grau de liberdade da máquina (Zhang, 1985 e 1988; Cardosa, 1995, e Abackerli, 1999). Vide a figura 1 para ilustração. Adotados os sistemas, pode-se escrever matricialmente as componentes vetoriais do caminho Com Erro, conforme ilustram as expressões a seguir. Nas referidas expressões, {Xe}, {Ye} e {Ze} são as componentes das coordenadas influenciadas por erros, {Tp} = {xp yp zp}t é o afastamento do apalpador (probe off-set) referido ao extremo do eixo Z e R(u) é a matriz de rotações elementares dos erros angulares, onde u representa cada direção preferencial. Nessa representação, a matriz R(u) é assumida linearizada, tendo sido excluídos os produtos cruzados dos erros angulares geradores de termos de segunda e terceira ordens. x + dx ( x ) dx ( y )—ez.y { Xe } = dy ( x ) ; { Ye } = y + dy ( y ) dz ( x ) dz ( y ) dx ( z )— ey.z xp { Ze } = dy ( z )— ex.z ; { Tp } = yp z + dz ( z ) zp (4). Na equação acima, os valores Ex, Ey e Ez são as componentes vetoriais do erro conforme definido na equação 1, ou seja, 1 ez ( u ) – ey ( u ) R ( u ) = – ez ( u ) 1 ex ( u ) ey ( u ) – ex ( u ) 1 Ex Erro = Ey Ez Usando tais expressões, a posição tridimensional do apalpador pode ser definida pela seguinte expressão (Zhang, 1988): REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 31-43 (3). 37 00_C&T18.book Page 38 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM –1 –1 –1 –1 –1 –1 { Pe } = { Xe } + R ( X ) .{Ye}+R ( X ) .R ( Y ) { Ze } + [ R ( X ) .R ( y ) R ( Z ) ]. { Tp } Isolando a influência do afastamento do apalpador {Tp}, além das coordenadas x, y e z da máquina não influenciadas pelos erros, chega-se aos erros geométricos Ex, Ey e Ez na forma: Erro = 0 x –1 –1 –1 { Pe } – y – [ R ( X ) . R ( Y ) . ( R ( Z ) ) ]. z xp (6). yp zp Uma outra notação mais sintética para obtenção de expressões de erros equivalentes é conseguida com o uso de transformações homogêneas na representação dos erros e movimentos individuais (Teeuwsen, 1989). As expressões seguintes ilustram essa representação: 1 ez ( u ) – ey ( u ) 1 ex ( u ) R ( u ) h = – ez ( u ) ey ( u ) – ex ( u ) 1 0 0 0 1 T ( u )h = 0 0 0 0 1 0 0 0 dx ( u ) 0 dy ( u ) ; { Tp } = h 1 dz ( u ) 0 1 0 0 ;0 0 1 (7). xp yp zp 1 (7). Nessas expressões, a matriz homogênea R(u)h representa os erros angulares, T(u)h representa os erros translacionais e {Tp}h representa o afastamento do apalpador anteriormente citado. Nessa representação homogênea, com coordenadas P = {x, y, z, w}t, o elemento w é chamado de fator de escala. Para as aplicações de modelagem em que a ampliação ou a redução do espaço de coordenadas não é de interesse, um valor unitário é atribuído ao mesmo. Maiores detalhes sobre transformações homogêneas podem ser encontrados em Alves (1988), Denavit (1955), Ferreira (1986), Cardosa (1995) e Abackerli (1992). As expressões 8 e 9 ilustram as transformações homogêneas para uma máquina de medir genérica, onde Xeh, Yeh, Zeh são os equivalentes homogêneos de {Xe}, {Ye} e {Ze} das expressões 4 acima. As 38 (5) . matrizes R(X)h, R(Y)h e R(Z)h são também a forma homogênea de expressão dos erros angulares também citados. É importante frisar que, para o efetivo aproveitamento da forma sintética de notação das transformações homogêneas, é conveniente expressar os desvios de perpendicularismo ex, ey e ez junto com alguns dos erros de retilineidade. Tal procedimento elimina as operações que envolvem separadamente os desvios de retilineidade e perpendicularismo nas expressões de erro. Entretanto, é importante notar que esse procedimento tem implicações diretas nas formas de calibração da máquina e no ajuste matemático das referidas funções de erro, reafirmando, portanto, a estreita dependência entre os modelos elaborados e a forma de avaliação da MMC modelada. Disso decorrem inúmeras outras formulações desenvolvidas para adequar os modelos matemáticos aos procedimentos efetivos de teste da MMC modelada (Jouy, 1986; Trapet, 1989b; Kunsmann, 1990; Zhang, 1991; e Kruth, 1994). 1 Xe h = 0 0 0 0 1 0 0 1 Ze h = 0 0 0 0 x + dxx 10 0 dyx ; Ye = 0 1 h 1 dzx 00 0 1 00 0 1 0 0 0 dxy – ez. y 0 y + dyy ; 1 dzy 0 1 (8). 0 dxz – ey. z 0 dyz — ex.z 1 z + dzz 0 1 1 ezx – eyx 0 – ezx 1 exx 0 R ( X )h = eyx – exx 1 0 0 0 0 1 1 ezx – eyy 0 R ( Y ) h = – ezy 1 exy 0 eyy – exy 1 0 0 0 0 1 (9). 1 ezz – eyz 0 – ezz 1 exz 0 R ( Z )h = eyz – exz 1 0 0 0 0 1 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 39 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Escritas essas expressões, a posição tridimensional do apalpador passa ser escrita através de transformações homogêneas, como segue: {Pe}h = Xeh . R(X)h .Yeh . R(Y)h . R(Z)h . Zeh . {Tp}h (10). Se o afastamento do apalpador {Tp}h também é escrito na forma de T(u)h, ao resultado da equação acima acrescentam-se as seguintes informações. [ Pe ] 4x4 = nx ox ax 0 n y o y a y Pe n o a 0 z z (11). z 0 0 0 1 No resultado acima, o {Pe} ainda expressa as coordenadas do apalpador. A matriz quadrada superior esquerda (3 x 3) representa a orientação espacial (atitude) do apalpador em relação ao sistema de coordenadas absoluto adotado para a modelagem. Essa informação é importante quando apalpadores não esféricos ou com pontas múltiplas são usados nas medições tridimensionais. Isolando novamente a influência do afastamento do apalpador {Tp} e as coordenadas x, y e z da máquina, chega-se aos erros geométricos Ex, Ey e Ez anteriormente discutidos. Cabe observar que muitas vezes não é interessante retirar a influência do afastamento {Tp} do apalpador da expressão. Isso porque, em geral, escrevem-se modelos exatamente para prever erros na extremidade do apalpador, sendo, portanto, uma parte importante do resultado obtido. Entretanto, algumas vezes ocorre a necessidade de equacionar o afastamento {Tp} para representar a complexidade real dos apalpadores usados em MMCs. Esse procedimento é ilustrado nos parágrafos seguintes. Da mesma maneira que as máquinas de medir são modeladas para compensação de erros, também seus apalpadores (probes) podem receber tal tratamento. Na verdade, vários trabalhos têm sido desenvolvidos para investigar o desempenho e a influência dos apalpadores no desempenho das máquinas de medir (Peggs, 1991; Liao, 1995; e Miguel, 1996). REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 31-43 Em algumas iniciativas, são investigadas formas alternativas de confecção de apalpadores que apresentem desempenhos melhores do que os modelos comerciais em uso (Butler, 1990; Lotze, 1994; e Dobosz, 1994). Apesar disso, dois são os modelos principais de apalpadores em uso no mercado: os apalpadores analógicos e os apalpadores mecânicos do tipo touch trigger. Entretanto, o tipo touch trigger é o mais largamente utilizado, sendo o de interesse na presente discussão (Abackerli, 1996a). Na modelagem desses apalpadores, busca-se também equacionar os fatores de influência no seu desempenho, de maneira a obter informações de erros que permitam corrigir as coordenadas do vetor {Tp} anteriormente discutido (Mayer, 1995 e 1996). Maiores detalhes sobre os fatores de influência podem ser encontrados em Phillips ou Butler (Butler, 1991, e Phillips, 1995). Uma análise dos fatores de influência revela que o efeito direcional de lóbulos (lobbing effect ou pré-travell variation) é dominante na maioria das aplicações, devido ao mecanismo típico de três contatos cinemáticos existentes nesse tipo de apalpador. A figura 3 mostra um exemplar desses apalpadores instalado na cabeça indexadora (Indexing Probe Head). Fig. 3. Apalpador do tipo comutador (touch trigger). 39 00_C&T18.book Page 40 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Dada a grande sensibilidade do mecanismo de três contatos contido nesses apalpadores, ele apresenta variações de desempenho em função das características mecânicas dos componentes, das condições de funcionamento da máquina de medir na qual está instalado e do contato apalpador-peça durante o processo de medição (Butler, 1991). Quanto ao processo de modelagem dos apalpadores, é aplicada uma grande diversidade de técnicas, de acordo com o efeito que se pretende modelar. Modelagens elaboradas são encontradas para ponderar efeitos elásticos da ponta de contato em função das suas propriedade mecânicas e da interação apalpador-peça (Shen, 1995). Também os efeitos de reação da mola do mecanismo podem ser modelados, ponderando-se, inclusive, a orientação espacial do apalpador (Shen, 1996a, e 1996b). Cabe citar que a configuração efetiva dos apalpadores varia bastante segundo os acessórios com eles utilizados nas medições, sendo, portanto, parte integrante da modelagem. Esses acessórios envolvem uma grande variedade de cabeças indexadoras, prolongadores, adaptadores, pontas de contato e apalpadores propriamente ditos, o que torna as modelagens em condições específicas geralmente feitas vertical (Shen, 1995 e 1996a) ou horizontal (Shen, 1996b), casos particulares das configurações possíveis. Tudo isso conduz a técnicas de modelagem mais flexíveis, capazes de acomodar rapidamente as variabilidades de configuração próprias desses componentes, bem como os seus fatores de influência mais relevantes. Isso torna as notações matriciais bastante interessantes, particularmente as transformações homogêneas, pelos aspectos de notação compacta já discutidos (Abackerli, 1997b). Cabe, contudo, uma importante distinção prática na aplicação de modelos matemáticos de apalpadores como parte integrante das máquinas de medir. A possibilidade de caracterizar erros da máquina de medir como paramétricos e usá-los na formulação da modelagem está diretamente relacionada à possibilidade de recuperar seus parâmetros, ou seja, as posições da máquina durante as medições. Uma condição um pouco diferente ocorre com a modelagem de apalpadores, porque eles podem ser parametrizados em função de variáveis internas do próprio apalpador ou da cabeça 40 indexado, porém sua utilização depende de variáveis externas. Efetivamente, modelam-se os apalpadores pelas suas variáveis internas, mas sua utilização depende da direção do contato entre apalpador e peça, condição que ainda restringe sua aplicação em alguns casos práticos (Pahk, 1996). CONSIDERAÇÕES FINAIS A discussão aqui apresentada, embora não completa, proporciona uma contextualização bastante precisa da questão de modelagem, sua conceituação geral, alguns elementos históricos do seu desenvolvimento e uma abordagem envolvendo as transformações homogêneas atualmente utilizadas para tratamento do problema. Por esta abordagem, destaca-se a importância e aplicabilidade da modelagem cinemática na compensação de erros em máquinas de medir, enfatizando-se o fato de ser, atualmente, a mais comum estratégia de compensação de erros em máquinas de medir comerciais. Contudo, é interessante frisar que, num grande número de casos, a utilização dessas técnicas em máquinas comerciais não se baseia em modelos paramétricos completos, por várias razões de ordem econômica e técnica. Alguns estudos recentes demonstram resultados promissores com a utilização de modelos cinemáticos de compensação bastante linearizados e simplificados (Orrego, 1999). Entretanto, mesmo esses modelos são sofisticados, se comparados com alguns de usos comercial, que se restringem a compensar alguns poucos parâmetros da máquina, de maneira a ajustar seu desempenho dentro dos limites da sua especificação. Quanto à modelagem do apalpador, várias iniciativas também foram vistas, destacando-se o fato de o contato entre o apalpador e a peça ser, ainda, um fator bastante determinante nas suas aplicações práticas. De uma forma geral, é importante perceber, pela discussão apresentada, as estreitas ligações existentes entre as várias iniciativas de modelagem verificadas ao longo dos anos, que vão desde as equações de sintetização (Burdekin, 1985, e Di Giacomo, 1986) até as recentes máquinas virtuais (Pahk, 1993; Kunsmann, 1990-94; Schwenke, 1994; Cardosa, 1995; Abackerli, 1996-99, e Orrego, 1999). Estabelecidas as condições periféricas da sua implementação, como o avanço dos computadores e softwares, Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 41 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM elas podem ser interpretadas como abordagens semelhantes para o mesmo problema de compensação de erros – portanto, diferentes fases evolutivas desta abordagem tecnológica. Agradecimentos À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) pelo apoio financeiro à realização deste trabalho (96/ 5961-1). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABACKERLI, A.J. Análise de desempenho de máquinas de medir a três coordenadas. Piracicaba, São Paulo, mai. 1999. [Relatório de projeto Fapesp n.º 96/5961-1]. ___________. Análise de desempenho de máquinas de medir a três coordenadas. Teddington, Mddlx, UK, jun. 1996a. [Proposta de projeto Fapesp n.º 96/5961-1]. ___________. Avaliação e classificação de máquinas de medir a três coordenadas. Teddington, Mddlsx, UK, jul. 1996b. 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REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 31-43 43 00_C&T18.book Page 44 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM 44 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 45 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Calibração de MM3Cs Utilizando uma Barra de Furos Calibration of the CMM Using Hole Bar BENEDITO DI GIACOMO Escola de Engenharia de São Carlos-Universidade de São Paulo [email protected] RENATA BELLUZZO ZIRONDI Escola de Engenharia de São Carlos-Universidade de São Paulo [email protected] RESUMO – Estudos têm sido realizados sobre os principais artefatos utilizados na calibração de máquinas de medir a três coordenadas com a finalidade de indicar as diferenças de desempenho entre eles. Aspectos como a capacidade de testar diferentes erros de geometria, do sistema de sondagem, a facilidade de calibração, a rastreabilidade à unidade fundamental, as dimensões e níveis de qualidade, as incertezas e a estabilidade sob influências ambientais são os mais estudados. Este artigo apresenta um procedimento para calibração de máquinas de medir a três coordenadas utilizando uma barra de furos.Com este procedimento é possível obter com facilidade, rapidez e baixo custo, a rastreabilidade e a expressão das incertezas. Uma comparação entre diferentes artefatos é apresentada e os resultados da calibração de uma MM3C utilizando a barra de furos foram comparados aos obtidos por meio de um sistema interferométrico . Palavras chave: MM3CS – CALIBRAÇÃO DE ERROS – CALIBRAÇÃO DE ARTEFATOS. ABSTRACT – Research has been made and still are on the comparison of the performance of different artifacts under different aspects such as: capacity of measuring different geometric errors, of evaluating the measuring system and the probe behavior, the easiness of use, the traceability to the fundamental unity, the size, the bulkiness, the quality level, the uncertainty and stability under environmental influences. This paper describes the calibration of coordinate measuring machines using a hole bar and shows that the traceability and the expression of the errors uncertainties can be obtained very easily, fast and at low cost. A comparison among different artifacts is presented and the calibration data obtained using the hole bar are compared with data obtained with an interferometric system. Keywords: CMM – ERROR CALIBRATION – CALIBRATION ARTIFACTS. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 45-53 45 00_C&T18.book Page 46 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM INTRODUÇÃO D esde a introdução das máquinas de medir por coordenadas (MM3Cs) na indústria, pela Ferranti, organizações internacionais de padronização, institutos de pesquisas, universidades e indústrias têm desenvolvido métodos de calibração e testes de desempenho para avaliar os erros das medições. Em muitos casos, esses métodos são baseados em artefatos, como blocos padrões, barras de esferas, padrões passo a passo etc. Segundo Knapp et al. (1991), estudos realizados pelo Comitê Suíço de Normalização sobre os principais artefatos indicam diferenças no seu desempenho em relação aos seguintes aspectos: capacidade de testar diferentes erros geométricos, do sistema de sondagem; facilidade de calibração; rastreabilidade à unidade fundamental; dimensões e níveis de qualidade; incertezas e estabilidade sob influências ambientais. Os artefatos testados foram padrões passo a passo, barras de esferas, círculos padrões, além das placas de esferas e de furos. Entre as conclusões apresentadas pelo autor, destacam-se duas, relacionadas ao escopo deste trabalho: • nas placas de esferas e de furos, os erros de forma das esferas e dos furos deixam de ser importantes se um número razoável de pontos forem tomados; • há a sugestão para a utilização da autocalibração, especialmente a técnica da reversão para a qualificação de placas de esferas e furos, sobre a qual até então nada havia sido publicado. Entretanto, devido à complexidade e universalidade das máquinas de medir a três coordenadas, não se dispõe até hoje de meios de calibração que propiciem a rastreabilidade das dimensões aos padrões internacionais – mesmo porque, até o presente momento, a noção de rastreabilidade aplicada às medições tridimensionais é um tanto incipiente, e não se dispõe de procedimentos claros e práticos para os usuários (Swyt, 1995). Segundo Swyt (1995), no período que antecedeu os anos 90, rastreabilidade, para os fabricantes do mercado americano, resumia-se a apresentar os certificados de calibração dos seus instrumentos. Com a formação dos grandes blocos econômicos, a globalização e o advento de normas internacionais da qualidade, iniciou-se a busca por conceitos mais modernos de rastreabilidade, como forma de adequação aos requisitos dos sistemas de garantia da 46 qualidade dos compradores. Esses conceitos, necessários em todas as medições, estabelecem que: • é necessário que se esteja apto a demonstrar a cadeia contínua de padrões pela qual a medição foi realizada; • é necessário que a incerteza da medição com relação ao padrão internacional seja sempre expressa. Baseado no exposto acima, o uso de uma barra de furos para calibrar as componentes do erro volumétrico de uma máquina de medir a três coordenadas torna-se muito interessante. Entre as muitas razões que qualificam o artefato para a tarefa, estão o baixo custo e o tempo de fabricação e de pré-calibração. A barra também é manipulada facilmente e o procedimento de calibração da MM3C não apresenta dificuldades. A rastreabilidade pode ser alcançada pela calibração da distância entre os centros do primeiro e último furo, o que diminui os custos associados à pré-calibração do artefato. A calibração utilizando a barra de furos associa as vantagens dos procedimentos de calibração diretos e indiretos.1 Além disso, permite a identificação dos erros individuais e suas fontes, considera a influência do sistema de sondagem, e o tempo relativamente pequeno do processo de calibração reduz influências ambientais. Portanto, a utilização da barra de furos é útil aos fabricantes e usuários. Este artigo descreve como podem ser avaliadas as componentes dos erros volumétricos de uma máquina de medir a três coordenadas utilizando uma barra de furos (fig. 1). Além disso, é apresentada uma análise detalhada do método de separação dos erros e da técnica de reversão utilizada.2 Simultaneamente, é demonstrado que a rastreabilidade e a expressão da incerteza dos erros medidos podem ser obtidas de forma rápida e fácil. Uma comparação entre artefatos diferentes é apresentada, e os dados de calibração obtidos usando a barra de furos são comparados com aqueles em que se usou um sistema de interferométrico a laser. 1 A calibração indireta tem como característica principal a avaliação dos erros da máquina utilizando-se peças padrões pré-qualificadas e normalizadas. Essas técnicas são de especial interesse para os usuários, uma vez que oferecem como resultado direto a capacidade da máquina na execução de determinados serviços. Já a calibração direta é aquela em que os erros lineares e angulares são observados diretamente na máquina avaliada. Tais técnicas são as mais comuns no meio científico e junto aos fabricantes. 2 Ver ESTLER, W.T. Calibration and use of optical straightedges in the metrology of precision machines, Optical Engineering, 24: 372379, 1985. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 47 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 1. Barra de furos. OS ARTEFATOS NA CALIBRAÇÃO DAS MM3Cs Durante muitos anos, a medição de artefatos unidimensionais, como blocos padrões, foi utilizada como método prático para verificar o desempenho de MM3Cs. Entretanto, já nos anos 80, houve a expansão do uso de padrões passo a passo e das barras de esferas, sendo que essas últimas tornaram-se um dos artefatos mais populares quando se trata de verificação de erros em máquinas de medir a três coordenadas. Tanto que, em 1982, outras variantes de barras de esferas foram propostas, utilizando suportes magnéticos: a barra de esferas magnética fixa e a barra de esferas magnética telescópica. Essas versões diminuem o tempo de verificação das máquinas (Bryan, 1982). Apesar do sucesso inicial das barras de esferas magnéticas, hoje elas são menos utilizadas, devido ao uso limitado de algumas de suas características. O desenho de barras de esferas mais difundido e usado atualmente é o sistema de barras de esferas livres, que pode ser utilizado com qualquer tipo de sistema de sondagem (Phillips, 1993). Uma outra variante de barras de esferas possui um interferômetro a laser, que monitora a distância entre os centros das esferas. Seus criadores afirmam que, com a ajuda do artefato, podem-se obter os erros de posição para todo o volume de trabalho de forma muito rápida. Além disso, essas barras permitem a determinação dos erros geométricos (Ziegerth & Mize, 1994). Atualmente, uma grande tendência na avaliação do desempenho e determinação dos erros geométricos de MM3Cs é o uso de padrões bidimensionais, como o padrão placa de esferas e placa de furos. Porém, o elevado custo de construção e calibração e a duração dos ensaios são aspecREVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 45-53 tos negativos do uso desses artefatos, e estimulam usuários de MM3Cs a continuar utilizando barras de esferas e padrões passo a passo. As mesmas restrições de uso podem ser atribuídas aos padrões tridimensionais, como os padrões volumétricos tetraédricos (Peggs, 1990). Resumindo, os artefatos utilizados na avaliação do desempenho de MM3Cs possuem as mais diversas formas, desde as mais simples, como blocos e barras padrões, até estruturas volumétricas complicadas, construídas à base de múltiplas barras e esferas. Todos esses artefatos foram criados devido ao interesse de pesquisadores e fabricantes em desenvolver um sistema eficaz e de baixo custo para a calibração de MM3Cs. Outro fator importante quanto aos artefatos de referência que deve ser considerado é o custo, no que diz respeito à fabricação, calibração, manutenção e à própria aplicação. Além disso, a maioria dos artefatos foi projetada para verificações qualitativas por parte dos usuários, tornando complicada a realização de uma avaliação detalhada das máquinas. Assim, pode-se dizer que ainda existe a necessidade de pesquisas envolvendo o desenvolvimento de artefatos para calibração de MM3Cs e que permitam a realização dessa atividade com baixo custo, em curto espaço de tempo e facilidade de obtenção dos erros geométricos – além de considerar aspectos fundamentais, como a influência dos sistemas de sondagem e compensação e a estratégia de medição – a fim de que essa atividade seja cada vez mais acessível aos usuários desses equipamentos. METODOLOGIA A metodologia utilizada na calibração das componentes do erro volumétrico de MM3Cs pode ser dividida em duas partes: o procedimento 47 00_C&T18.book Page 48 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM experimental utilizado e o modelo matemático para separação de erros. Além disso, será demonstrado simultaneamente como a rastreabilidade pode ser conseguida. Fig. 2. Ilustração das posições normal e reversa. Procedimento Experimental O procedimento experimental é simples e consiste na medição das distâncias entre os centros dos furos. Entretanto, alguns passos devem ser seguidos: 1) pré-calibrar a distância entre os centros dos furos extremos. Determinar o valor verdadeiro da distância (Mcbarra ) entre o primeiro e último furo; 2) numerar os furos da barra a partir de 1 até n, onde n é o número de furos; 3) posicionar a barra paralelamente à escala a ser calibrada. Colocar o sistema de referência da máquina no centro do furo 1. Essa posição será denominada normal; 4) medir as distâncias entre furos consecutii ) = distância entre o cenvos. Fazer (MN tro do furo i e (i+1) na posição normal para i =1 a n-1; 5) girar a barra 1800 sobre o plano normal ao eixo de medição, alinhando a reta que passa pelo primeiro e último furo com o eixo a ser calibrado. Colocar o sistema de referência no centro do furo n. Essa posição será denominada reversa; 6) medir as distâncias entre furos consecutivos. Fazer (MRi ) = distância entre o centro do furo (i+1) e i na posição reversa para i =1 a n-1. A figura 2 apresenta uma ilustração das posições de medição. MODELO MATEMÁTICO O erro [em] que uma máquina comete ao determinar a medida [M] de uma distância qualquer entre centros de dois furos pode ser escrito como: em = M – medida verdadeira da distância 48 (1). Considerando que a distância não tenha sido pré-calibrada, o valor tido como sua medida verdadeira é, então, desconhecido. Entretanto, pode-se escrevê-lo como o valor da distância especificada no projeto [VN] mais o erro da fabricação da barra [ef]. Portanto, a equação 1 pode ser reescrita como: em = Mcbarra – (VN + efc) (2). Rearranjando os termos de (2), tem-se: Mcbarra – VN = em + efc (3). Observe-se que as distâncias especificadas no projeto e o erro de fabricação da barra não variam com a mudança da posição normal para a reversa, pois são características de cada distância entre furos consecutivos. Então, pode-se reescrever a equação (3) para cada uma das posições: • para a posição normal i MN -VNi = efi + emi para i = 1 a (n-1) (4), onde: n = número de furos; emi = erro que a máquina comete ao medir a distância entre os furos i e (i+1); efi = erro de fabricação da barra entre os furos i e (i+1); VNi = valor nominal da distância entre os furos i e (i+1). Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 49 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM último furo e, portanto, possui uma incerteza definida; u M • para a posição reversa (n–1) C barra MN -VN(n-i) = ef(n-i) + emi para i = (n-1) a 1(5). Considerando que n é um número ímpar,3 pode-se fazer: • para a posição normal (n – 1) ⁄ 2 ∑ ∑ i 1 ∑ ef i + (n – 1) ∑ ( M N – VN i ) = i [(n—1)/2+1 em i (6) em i (7) 1 1 (n – 1) (n – 1) ∑ ∑ ef i + [(n—1)/2]+1 [(n—1)/2]—1 • para a posição reversa [ ( n – 1 )/2 + 1) ∑ (n – 1) ⁄ 2 [ ( n – 1 )/2 ] + 1 ∑ ( M N – VN i ) = i (n – 1) δef C 2 - u C = ------------------ δM C Mbarra barra 1 a n 2 u 1 a n ef c = u 2 C M barra = u C M barra (12), (n – 1) ⁄ 2 (n – 1) ⁄ 2 ( M N – VN i ) = tem-se que: ef i + (n – 1) ∑ em i (8) Como a incerteza de ef 1C a n pôde ser expressa e seu valor foi obtido através de uma cadeia contínua de medições pela definição de rastreabilidade, pode-se dizer que trata-se de um valor rastreado até a unidade padrão de comprimento. Somando as equações 6 e 8, tem-se como resultado a equação (13) a seguir: De (10) e (13), pode-se escrever: Observe-se que é possível calcular o valor de (n – 1) ⁄ 2 ∑ 1 em i e que esse valor é rastreável até a unidade 1 fundamental. A justificativa para essa afirmação 1 ∑ ( M N – VN i ) = i (n – 1) ⁄ 2 ∑ reside no fato de que todas as grandezas de entrada4 (n – 1) 1 ef i + (n – 1) ⁄ 2 ∑ em i (9). [ ( n – 1 )/2 ] + 1 têm incerteza definida, e, por meio da aplicação da Lei de Propagação de Incertezas, é possível expres(n – 1) ⁄ 2 Sabendo que sar a incerteza de ∑ em i . 1 n–1 1 a n ef C = ∑ efi n–1 ∑ VNi – = i=1 c MC barra (10). Somando as equações 7 e 9, a equação 15 obtém a seguinte expressão: i=1 a incerteza de ef 1C a n pode ser definida através dos requisitos propostos pelo Guia para a Determinação das Incertezas de Medição (1996) como: (n – 2) ⁄ 2 ∑ [(n—2)/2+1) ( M N – VN i ) + i ∑ u 1 a n ef c = δef C 2 - u C + ------------------ δM C Mbarra barra 0 = 1 a n 2 ∑ 1 (11), i (13). (n – 1) 1 [ ( n – 1 )/2 ] + 1 (n – 1) ⁄ 2 1 a n 2 δef C 2 -------------------- u VN δVN ( M R – VN i ) = 0 ( ef i + 2em i ) + ∑ ef i (13). (n – 1) e que: a • os valores de VNi são constantes, portanto n–1 derivada parcial de ef 1C em relação a ∑ VN é i=1 zero; • C é obtido através de medições repetidas na pré-calibração da distância entre o primeiro e M barra 3 O modelo matemático também é válido para barras com número par de furos, e o procedimento de cálculo é semelhante. A diferença reside no fato de não haver um furo central e, sim, uma distância central. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 45-53 4 Ver definição no Guia para a Expressão das Incertezas de Medição (1996). 49 00_C&T18.book Page 50 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM (n – 2) ⁄ 2 (n – 1) ⁄ 2 [(n—2)/2+1) ∑ ∑ ( M N – VN i ) + i ( M R – VN i ) = – ef C i 1 a n—1 = 2 (n – 1) 1 (n – 1) ∑ (n – 1) 1 i ( M R – VN i ) = – ef C i 1 a n—1 Da mesma forma, observe-se que é possível (n – 1) ∑ calcular o valor de em i . [ ( n – 1 ) ⁄ 2 ]+1 (n – 1) ⁄ 2 ∑ Com os valores de (n – 1) ∑ em i e em i , [ ( n – 1 ) ⁄ 2 ]+1 1 e utilizando as equações 16 e 17, é possível calcular (n – 1) ⁄ 2 os valores de ∑ (n – 1) ef i e (n – 1) ⁄ 2 ∑ (n – 1) ⁄ 2 ( Mi – Vi ) = ∑ ∑ 1 (n – 1) ⁄ 2 ef i + 1 (n – 1) ∑ ∑ [(n – 1) ⁄ 2 + 1] em i (16). 1 (n – 1) ( Mi – Vi ) = ∑ [(n – 1) ⁄ 2 + 1] (n – 1) ef i + ∑ em i (17). [(n – 1) ⁄ 2 + 1] Observe-se que as parcelas calculadas são rastreáveis até a unidade fundamental, o metro, pelas mesmas razões anteriormente explicadas. O erro de fabricação [ef] é o erro de posicionamento do centro de um furo i em relação ao centro de um furo i-1. Portanto, cada efi possui um referencial diferente. Assim, torna-se importante transladar todos esses erros para um mesmo referencial. Esse processo dá-se da seguinte forma: inicialmente, escreve-se o erro da distância entre dois furos como função da posição P. Do centro de cada furo a e b tem-se: d = Pb – Pa ∑ (15). em i epb = erro de posicionamento do furo b com relação a um referencial O; Pa e Pb podem ser reescritos como: Pa = Pideal + epa a (19) + epb Pb = Pideal b (20). Substituindo as equações 17 e 18 na equação 16, pode-se escrever: ef i . [ ( n – 1 ) ⁄ 2 ]+1 1 = 2 [ ( n – 1 ) ⁄ 2 ]+1 (n – 1) ⁄ 2 [(n — 1)/2 + 1 (14). em i 1 ∑ ( M N – VN i ) + ∑ (18), – Pideal + epb – epa d = Pideal b a (21) onde: Pideal – Pideal pode ser visto como o valor b a nominal [VN] da distância entre os furos a e b. Se VN = Pideal – Pideal e d = M – em, é possíb a vel escrever a equação (22) para cada distância medida: M – em – VN = epb – epa (22) ou epb = M – VN – em + epa . A equação 22 pode ser generalizada e reescrita como: • para a posição normal epiN = [MiN – VNi] + epi – 1 – emi (23) • para a posição reversa Pa Pb ideal Pa Pideal b epa 50 onde: = posição absoluta do furo a; = posição absoluta do furo b; e sabendo que: = posicionamento absoluto ideal do furo a; = posicionamento absoluto ideal do furo b; = erro de posicionamento do furo a com relação a um referencial O; epiR = [MiR – VNi] + epi – 1 – emi (24). Para a posição normal, pode-se escrever : (n – 1) ⁄ 2 ∑ i=1 (n – 1) ⁄ 2 i ep N = ∑ i=1 (n – 1) ⁄ 2 ( M N – VN i ) + i ∑ 1 (n – 1) ⁄ 2 ep i – 1 – ∑ em i (25), 1 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 51 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 3. Resultados obtidos com o modelo proposto e com interferometria a laser. substituindo-se na equação 25 os valores encontrados através das equações 14, 15, 16 e 17. O mesmo procedimento pode ser aplicado para: i = [(n-1)/2]+1 a n. Desde que o sistema de coordenadas de referência tenha sido posicionado no centro do furo 1, o erro de posicionamento absoluto ep1 deste furo é zero, isto é, ep1 = 0. Usando um programa5 computacional de linguagem simbólica, o sistema de equação pode ser resolvido. RESULTADOS E DISCUSSÕES Durante o procedimento de medição, a temperatura da sala onde está localizada a MM3C foi mantida constante em 20 ± 1oC. Cada distância entre furos consecutivos foi medida 5 (cinco) vezes em cada uma das posições (normal e reversa). Os dados obtidos são as entradas para o modelo matemático. A medição do erro de posicionamento utilizando o sistema interferométrico foi realizada para fins de validação do modelo proposto. Para essa medição, foi usado um interferômetro da marca HP em conjunto com ópticas para medições lineares. O gráfico da figura 3 apresenta uma comparação entre os resultados da calibração dos erros de posicionamento do eixo com movimentação em Y de uma MM3C, tipo ponte móvel, obtidos através do modelo proposto e os obtidos utilizando um sistema interferométrico laser. Pode-se observar na figura 3 que a maior diferença entre o valor medido e o calculado é de 0,6 µm na posição 50 mm. Isso demonstra que o modelo apresentou-se eficaz na determinação dos erros de posicionamento da MM3C. As figuras 4 e 5 apresentam as incertezas relacionadas à calibração da MM3C. Os valores foram obtidos utilizando os requisitos propostos pelo Guia para Expressão da Incerteza de Medição (1996). Fig. 4. Incerteza dos erros de posicionamento obtidos por meio do método proposto. 5 5 Exemplos: MatLab, Mathematica. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 45-53 51 00_C&T18.book Page 52 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 5. Incerteza dos erros de posicionamento obtidos com interferometria a laser. Comparando os gráficos das figuras 4 e 5, pode-se observar que a incerteza dos erros obtidos através do método proposto é, em média, maior do que a dos erros obtidos com o uso do interferômetro laser. Isso ocorre pela introdução de novas variáveis, como sistema de sondagem, sistema de compensação e estratégia de medição, que são fontes de incerteza não consideradas quando do uso do interferômetro. CONCLUSÕES A vantagem do procedimento apresentado em relação ao sistema interferométrico laser é considerar as influências do sistema de sondagem, do sistema de compensação da máquina, dos programas computacionais e da estratégia de medição. Tais influências são fundamentais para os usuários de MMC, que têm, todos, as suas medições influenciadas por esses aspectos. Quanto à facilidade de aplicação, o método proposto utilizando a barra de furos é um método simples para a determinação dos erros individuais, se comparados aos utilizados na aplicação de artefatos como círculos padrão, barra de duas esferas. Outras vantagens do método proposto que podem ser citadas são: • a barra de furos possui menor preço e maior disponibilidade que outros artefatos, pois pode ser fabricada sem cuidados excessivos; • o método proposto pode ser aplicado, também, junto com artefatos como as barras de esferas múltiplas e os padrões passo a passo; • a calibração pelo método proposto necessita de um tempo relativamente pequeno para ser realizada, minimizando, assim, as influências de possíveis variações da temperatura ambiente; • o procedimento permite que as componentes do erro volumétrico sejam obtidas e rastreadas pré-calibrando somente a distância entre os furos extremos da barra, diminuindo, assim, o custo da pré-calibração do artefato. Devido a essas características, pode-se dizer que o método atende às expectativas e é capaz de satosfazer as necessidades tanto de usuários quanto de fabricantes. Agradecimentos À Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pela concessão do auxílio, e ao Laboratório de Metrologia do Departamento de Engenharia Mecânica da Escola de Engenharia de São Carlos-USP, onde foi desenvolvido o trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRYAN, J.B. A simple method for testing measuring machines and machine tools, part 2: principles and applications. Precision Engineering, 4: 61-69, 1982. GUIA PARA A EXPRESSÃO DA INCERTEZA DE MEDIÇÃO. Programa RH – Metrologia (apoio PADCT – TIB). Rio de Janeiro, 1996 52 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 53 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM HARVIE, A. Factors affecting component measurement on coordinate measuring machines. Precision Engineering, 8: 13-18, 1986. KNAPP, W.; TSCHUDI, U. & BUCHER, A. Comparison of different artefacts for interim coordinate measuring machine checking: a report from the Swiss Standards Committee. Precision Engineering, 13: 277-291, 1991. KUNZMANN, H.; TRAPET, E. & WÄLDELE, F. A uniform concept for calibration acceptance test and periodic inspection of coordinate measuring machines using reference objects. Annals of the CIRP, 39 (1): 561-564, 1990. PEGGS, G.N. Traceability for Co-ordinate Measurement Technology. 27th International Matador Conference, 1990. PHILLIPS, S.D. et al. Properties of free-standing ball bar systems. Precision Engineering, 5: 16-24, 1993. SWYT, D.A. The International Standard of Lenght. In: BOSCH, J.A. Coordinate Measuring Machines and Systems. New York: Marcel Dekker Inc., 1995. ZIEGERT, J.C. & MIZE, C.D. The Laser Ball Bar: a new instrument for machine tool metrology. Precision Engineering, 16: 259-267, 1994. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 45-53 53 00_C&T18.book Page 54 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM 54 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 55 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Modelo Estatístico para o Erro Volumétrico na Medição por Coordenadas Statistical Model for Volumetric Error on Coordinate Measurement BENEDITO DI GIACOMO Escola de Engenharia de São Carlos-Universidade de São Paulo [email protected] ROSENDA VALDÉS ARENCIBIA Escola de Engenharia de São Carlos-Universidade de São Paulo [email protected] VAGNER AUGUSTO DE SOUZA Departamento de Produção-Tecumseh do Brasil Ltda. [email protected] RESUMO – O presente trabalho tem por objetivo a determinação de equações matemáticas que descrevam o comportamento das componentes do erro volumétrico em Máquinas de Medir a Três Coordenadas (MM3Cs). Dessa forma, é apresentada uma metodologia geral, utilizando técnicas de regressão múltipla. Tal metodologia, aplicada a uma MM3C do tipo Ponte Móvel, permitiu obter, de forma simples, três equações de regressão a partir de dados levantados através da calibração direta, especificamente o método do volume dividido. O modelo proposto foi avaliado estatística e experimentalmente. A avaliação estatística abrange o cálculo do coeficiente de correlação amostral, uma análise dos resíduos e a verificação de hipóteses. A avaliação experimental foi realizada por meio da comparação dos resultados previstos pelo modelo com os resultados obtidos a partir da medição de uma barra de esferas. A partir dos resultados, pode-se constatar a adequabilidade do modelo proposto e a sua excelente capacidade de previsão do erro volumétrico da máquina. Palavras-chave: EQUAÇÕES DE REGRESSÃO – CALIBRAÇÃO – BARRA DE ESFERAS. ABSTRACT – The work here presented has as objective the determination of the mathematical equations, which describes the behavior of the volumetric errors components of a Three Coordinate Measuring Machine (3CMM). It is shown a general method using multiple regression technique. The application of the method to a “Moving Bridge” 3CMM, permitted to obtain in a very simple way all three regression equations from data collected through a direct calibration procedure, specifically the grid calibration method. The proposed model was evaluated statistically and experimentally. The statistical evaluation covered the calculation of the correlation coefficient, residual analyze and hypothesis verification. The experimental evaluation was made through the comparison of results from the proposed method and results obtained from a ball bar calibration procedure. From the results of the comparison one can say that the model is adequate and it has an excellent capacity of forecasting volumetric errors components. Keywords: REGRESSION EQUATIONS – CALIBRATION – BOLL BAR. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 55-66 55 00_C&T18.book Page 56 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM INTRODUÇÃO A s Máquinas de Medir a Três Coordenadas (MM3Cs) são os instrumentos metrológicos encarregados de satisfazer as necessidades apresentadas pela indústria moderna. Elas apresentam simplicidade de operação, flexibilidade, acuracidade e permitem a medição de estruturas complexas com extrema rapidez e precisão, assim como o controle simultâneo de diversas características metrológicas de uma peça (Kunzmann, 1988). Pode-se dizer que essas máquinas revolucionaram a metrologia dimensional. No entanto, o desempenho das MM3Cs fica limitado devido à presença dos braços de Abbé, à dificuldade de montagem de três eixos teoricamente ortogonais e às imperfeições decorrentes dos processos de usinagem que se apresentam nos diversos elementos mecânicos que compõem o sistema. Esses fatores atuam de maneira conjunta, combinando-se de forma complexa por todo o volume de trabalho da máquina, gerando os denominados erros volumétricos. Toda leitura, então resultado de uma medição, estará sempre sujeita a erros, sendo necessário o desenvolvimento de metodologias para que eles sejam minimizados e seja possível, assim, alcançar um melhor desempenho. O objetivo do presente trabalho é equacionar as componentes do erro volumétrico de uma MM3C do tipo Ponte Móvel através das técnicas de regressão múltipla. Tal equacionamento permite prever o erro volumétrico em um ponto qualquer do volume de trabalho da máquina. impossível a obtenção das coordenadas verdadeiras ou reais dos pontos, porque muitos fatores interferem no processo de medição. Para determinar a relação entrada-saída do sistema Máquina de Medir, deve-se definir e classificar as variáveis envolvidas no processo de medição, sendo que, para isso, é necessário efetuar uma análise preliminar da mesma. Dessa análise, tem-se que as coordenadas dos pontos podem ser consideradas como sendo as entradas desejadas do sistema, ou entradas preliminares. Cada uma dessas coordenadas pode ter a influência de muitos dos 21 erros geométricos que afetam o resultado de uma medição. Esses erros geométricos constituem o que se pode chamar de entradas interferentes do sistema. Também merece ser destacado que as entradas modificantes – nesse caso, temperatura, umidade e vibrações – são mantidas sob controle. Portanto, não há necessidade de incluí-las no modelo. A combinação dos erros geométricos num ponto do espaço em cada uma das direções preferenciais é denominada componente do erro volumétrico. Essas três componentes são consideradas saídas preliminares do sistema, tendo-se como saída final o erro volumétrico propriamente dito. Ficam assim definidas as entradas e saídas do sistema Máquina de Medir (fig. 1). Fig. 1. Representação do sistema Máquina de Medir. CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS E SISTEMA DE MEDIÇÃO A estrutura da MM3C serve de suporte e permite o movimento de um sensor em três eixos ortogonais X, Y e Z, de comprimentos 457 x 610 x 381 mm, respectivamente. Essas dimensões são denominadas cursos de operação, e caracterizam a Máquina de Medir em estudo como de pequenas dimensões e peso moderado, quando comparada às demais existentes. A posição dos pontos das superfícies de peças no espaço fica determinada por coordenadas X, Y e Z. Qualquer MM3C é intencionalmente desenhada para medir essas grandezas. No entanto, resulta 56 Observe-se que para a determinação da relação entrada-saída, o sistema Máquina de Medir pode ser considerado como três subsistemas, cada um com três entradas e uma saída. Uma vez definidas as entradas e saídas do sistema, pode-se fazer uma classificação do mesmo. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 57 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Segundo a teoria de controle exposta por Ogata (1982), Ralph et al. (1972) e Harris (1996), o sistema Máquinas de Medir a Três Coordenadas do tipo Ponte Móvel pode ser classificado como (Valdés Arencibia, 1999): • invariável no tempo: a grandeza do erro volumétrico em qualquer instante de tempo depende somente dos valores das coordenadas X, Y e Z, e não do instante de tempo no qual as coordenadas estão sendo medidas; • contínuo com relação à posição: o erro volumétrico é uma função matemática contínua de três variáveis; nesse caso, das coordenadas X, Y e Z que definem a posição dos pontos de medição; • quase-estático: a grandeza do erro volumétrico em qualquer posição depende somente da posição presente, e não dos valores passados ou futuros. Assim sendo, por hipótese, assume-se que a memória do sistema MM3C Ponte Móvel é nula; • MISO: o sistema apresenta múltiplas entradas e uma única saída. Dada essa classificação, a relação entradasaída do sistema Máquina de Medir pode ser expressa através de um modelo matemático que descreve as componentes do erro volumétrico em função da posição, representado no sistema de equação 1. volumétrico Ex, Ey, Ez, medidas através de um procedimento de calibração direta. A utilização de uma equação de regressão linear múltipla para cada um dos eixos coordenados caracterizou a primeira tentativa na determinação do modelo que relaciona as entradas e saída do sistema Máquina de Medir. Dessa forma, para o eixo X, tem-se: E Xi = β X0 + β X1 X i' + β X2 Y i + β X3 Z i + ε Xi (3), onde: E Xi é a componente do erro volumétrico na direção X, em micrômetros para as diferentes posições; β X0, β X1, β X2, β X3 são os coeficientes da regressão; Xi, Yi, Zi são as coordenadas do ponto i, em milímetros para i=1, 2, ..., n; ε Xi são os resíduos da regressão. A equação 3 é denominada equação de regressão linear múltipla por apresentar múltiplas variáveis independentes. Os estimadores de mínimos quadrados são determinados de forma tal que a soma dos quadrados dos resíduos seja minimizada, isto é: n 2 d εx i = 1 i d ( S ( β X0, β X1, β X2, β X3 ) ) ------------------------ = -------------------------------------------------------------- = 0 dx i dx i ∑ Ex = ƒ1(x,y,z) Ey = ƒ2(x,y,z) (1) Ez = ƒ3(x,y,z) Conhecidas as componentes Ex, Ey e Ez, o erro volumétrico pode ser calculado pela equação 2: Ev = Ex + Ey + Ez n 2 d ( E Xi – β X0 – β X1 X i – β X2 Y i – β x3 Z i ) i = 1 0 = --------------------------------------------------------------------------------------------------------------- = 0 (4). dx i ∑ Nesse caso, resulta conveniente escrever a regressão múltipla na forma vetorial (equação 5): (2) E X = Hβ + ε X (5), EQUACIONAMENTO MATEMÁTICO E X1 ; Ex= 0 0 0 0 1 Xn Yn Zn β X0 β β X1 β X2 β X3 E X2 … º onde: 1 X2 Y2 Z2 ; 0 E Xn ε X1 ; e ε Xi = ε X2 . … REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 55-66 1 X1 Y1 Z1 … … … … Box et al. (1978), Draper & Smith (1981), Hoffmann & Vieira (1977) e Achcar (1993) falam das possibilidades que as técnicas de regressão oferecem para a determinação da relação existente entre as variáveis envolvidas num determinado processo. Dessa forma, utilizando técnicas de regressão, é possível determinar a relação existente entre as coordenadas dos pontos X, Y, Z e as componentes do erro 0 ε Xn 57 00_C&T18.book Page 58 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM As estimativas coeficientes de regressão volumétrico. foi utilizandoefetuada uma As estimativas dos dos coeficientes de regressão na na tricoerro na direção do eixoInicialmente X e os resíduos, equação 5 podem determinadas utilizando equação 5 podem ser ser determinadas utilizando o o se asanálise equações 7 e 8, respectivamente: da máquina para definição do ponto onde método Mínimos Quadrados. tanto, é pre- seria colocado o sistema de coordenadas de método dos dos Mínimos Quadrados. ParaPara tanto, é pre= Hβ̂ X (7) no (HTseja H) seja matriz invertível (equação Eˆ X referência. cisociso queque (HTH) umauma matriz invertível (equação O sistema de referência foi colocado 6): 6): ponto (0, 0, -260 mm) com relação ao zero da ε̂ X = E X – Eˆ X = E X – Hβ̂ X (8). –1 T máquina. – 1 T T ˆ T βˆX β=X( H= (HH) HH) EHX E X (6). (6). O volume ser modelado foi dividido Numa segundaatentativa, o modelo proposto por retas paralelas a cada umtermos dos eixos Conhecidos os valores numéricos coefici- em linhas (3) foi melhorado, incluindo novos inde- da Conhecidos os valores numéricos dos dos coefici2 2 2 uma rede com um total de entes da regressão, é possível, então, determinar os máquina, formando pendentes – X , Y , Z , XY, XZ e YZ –, gerando, entes da regressão, é possível, então, determinar os valores previstos da componente do erro volumé- assim, 147uma geratrizes (fig. 2). As posições de medida nova equação: valores previstos da componente do erro volumétrico na direção do eixo X e os resíduos, utilizando- foram definidas como sendo os pontos de interse2 2 2 equações 8,Yrespectivamente: E Xi se (9) = as β X0 + β X1 X i +7βeX2 β X8 X i Z i + (Burdekin, β X9 Y i Z i + ε Xi1977, e Di Giacomo, i + β X3 Z i + β X4 X i + β X5 Y i + β X6 Z i + βção X7 X das i Y i +geratrizes 1986). 2 Eˆ XComo = Hβ̂ X pode ser notado, a equação 9 é não (7) como segue: X=Z1, Y=Z Z=Z 2, erro 3, X =Z4, Cada componente do volumétrico pode 2 2 2 2 2 linear nas variáveis X , Y , Z , XY, XZ e YZ. Assim, Y =Z5, Z =Z6, XY=Z XZ=Z YZ=ZNo . entanto, ˆ 7, 8, 9 ser medida em dois planos diferentes. (8). ε̂ X = E X – E X = E X – Hβ̂ X considera-se importante fazer uma transformação Como resultado dessa transformação, obtém-num por economia de tempo, elas foram medidas nas variáveis independentes, com o objetivo deproposto faciNuma segunda tentativa, o modelo se asóequação 10, que é uma equação de regressão plano. Dessa forma, as componentes Ex, Ey e Ez litarem o cálculo dos coeficientes de regressão. Nesseinde- linear múltipla, com nove variáveis independentes, (3) foi melhorado, incluindo novos termos foram levantadas nos planos XZ, YZ e XY, respecti2 caso, recomenda-se substituição pendentes – X2, Ya2, Z , XY, XZ edas YZvariáveis –, gerando, umavamente. variável dependente e dez coeficientes de assim, uma nova equação: regressão: 2 2 2 E Xi = β X0 + β X1 X i + β X2 Y i + β X3 Z i + β X4 X i + β X5 Y i + β X6 Z i + β X7 X i Y i + β X8 X i Z i + β X9 Y i Z i + ε Xi (9) E Xi = β X0 + β X1 Z 1i + β X2 Z 2i + β X3 Z 3i + β X4 Z 4i + β X5 Z 5i + β X6 Z 6i + β X7 Z 7i + β X8 Z 8i + β X9 Z 9i + ε Xi (10). Como pode ser notado, a equação 9 é não Fig. 2. Representação esquemática do método do volume 2 2 De forma similar,Xforam as componentes Ex, Ey e Ez foram levanlinear nas variáveis , Y2, Zpropostas , XY, XZ equações e YZ. Assim, Dessa forma, dividido. tadas nos planos XZ, YZ e XY, respectivamente. de regressão para equacionar as componentes do considera-se importante fazer uma transformação erronas volumétrico nas direções Y e Z. variáveis independentes, com o objetivo de facilitar o cálculo dos coeficientes de regressão. Nesse Fig. 2. Representação esquemática do método do volume dividido. caso, recomenda-se a DAS substituição das variáveis LEVANTAMENTO 2 como segue: X=Z1,DO Y=Z2, Z=Z3, X =Z4, COMPONENTES Y2=Z5, Z2=Z6, XY=Z7, XZ=Z8, YZ=Z9. ERRO VOLUMÉTRICO Como resultado transformação, obtémA calibração direta dessa da Máquina de Medir se ado equação 10,doque é uma equação de regressão através método volume dividido permitiu o linear múltipla, com novedas variáveis independentes, levantamento experimental componentes do variável dependente coeficientes errouma volumétrico. Inicialmente efoidezefetuada uma de regressão: análise da máquina para definição do ponto onde seriaE Xi colocado sistema coordenadas de referên= β X0 +oβ X1 Z 1i + βde (10). X2 Z 2i + β X3 Z 3i + β X4 Z 4i + β X5 Z 5i + β X6 Z 6i + β X7 Z 7i + β X8 Z 8i + β X9 Z 9i + ε Xi cia. O sistema de referência foi colocado no ponto forma equações O procedimento de calibração pelo método do (0, 0, -260De mm) comsimilar, relaçãoforam ao zeropropostas da máquina. deOregressão para equacionar as componentes do volume dividido permite a medição direta das compovolume a ser modelado foi dividido por erro volumétrico nas direções Y e Z. nentes do erro volumétrico Ex, Ey e Ez. Esses erros linhas retas paralelas a cada um dos eixos da são medidos ao longo das geratrizes, utilizando o máquina, formando uma rede com um total de 147 interferômetro laser. O processo de medição foi passo LEVANTAMENTO geratrizes (fig. 2). As posições deDAS medida foram defia passo e o procedimento de coleta de dados foi autoCOMPONENTES DO nidas como sendo os pontos de interseção das geramatizado. Os resultados dessas medições levam em ERRO VOLUMÉTRICO trizes (Burdekin, 1977, e Di Giacomo, 1986). A calibração direta da Máquina de Medir consideração a influência de diversas fontes de erros, Cada componente do erro volumétrico pode ser através do método do volume dividido permitiu o entre elas, os braços de Abbé. Vale ressaltar que o medida em dois planos diferentes. No entanto, por ecolevantamento experimental das componentes do efeito do sistema de sondagem não está incluído. nomia de tempo, elas foram medidas num só plano. 58 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 59 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM O erro de posição é calculado como sendo a diferença entre o valor indicado pela máquina e o valor indicado pelo laser (equação 11), onde Eii representa as componentes Ex, Ey ou Ez: Eii = Erro de posição = Indicação da máq. – Indicação do laser (11). Cada geratriz foi medida cinco vezes no sentido de ida e cinco vezes no sentido de volta. Sabe-se que, devido à influência dos erros de forma e posição e à falta de ortogonalidade entre eixos, o valor do erro no ponto inicial das geratrizes numa determinada direção não é igual a zero. Nesses pontos, os erros assumem o valor zero devido a uma imposição de ensaio, uma vez que o interferômetro deve ser zerado antes do início de cada medição. Assim, para a obtenção dos valores verdadeiros dos erros é necessário fazer uma correção do ponto inicial de cada uma das geratrizes. Para tanto, efetuou-se a medição direta dos fatores de correção para cada plano de calibração (Voutsadopoulos, 1980, e Hocken, 1980). Durante a medição, utilizou-se um esquadro mecânico alinhado ao eixo dos erros que se desejava corrigir e um apalpador do tipo LVDT colocado no ponto de prova (fig. 3). Os valores de correção são os valores lidos nos pontos onde as geratrizes atravessam o esquadro. Esses fatores de correção constituem uma somatória de erros de retilinidade, angulares e de ortogonalidade. Fig. 3. Posicionamento do esquadro e do apalpador durante a medição. RESULTADOS DA CALIBRACÃO A partir dos dados resultados da calibração, foram construídas as superfícies que descrevem o comportamento das componentes do erro volumétrico para as três direções preferenciais da máquina. Assim, as componentes Ex, Ey e Ez foram descritas em função das coordenadas X, Y e Z. Na prática, é impossível construir gráficos em quatro dimensões. Por isso, foram construídos gráficos em três dimensões, mantendo-se constante uma das três coordenadas, obtendo-se desse modo as superfícies de erros nos diferentes planos de medição. As superfícies que mostram o comportamento da componente do erro volumétrico na direção do eixo X da MM3C estão dispostas na figura 4. Essa componente foi medida em sete planos, definidos por valores constantes da coordenada Y. Nos gráficos da figura 4, os valores da componente Ex oscilam entre -4 e 55 µm. O erro em cada um dos planos medidos se apresenta de forma similar, com uma tendência sensivelmente crescente na medida em que os valores da coordenada Y aumentam. Da mesma forma, foram construídas as superfícies de erros para as componentes Ey e Ez. Os valores da componente Ey encontram-se no intervalo 3 até 226 µm e incrementam consideravelmente na medida em que os valores da coordenada Z aumentam. A amplitude para todos os planos de medição está na ordem de 40 µm. Os valores da componente Ez do erro volumétrico oscilam entre -10 e 17 µm e diminuem à medida que os valores da coordenada Y aumentam. Esta componente apresenta um comportamento similar para todos os planos. Quando comparada a componente na direção do eixo Z com as componentes nas direções dos eixos X e Y, pode-se notar que seu valor é muito menor. Obtenção do Modelo Cada medição foi repetida cinco vezes, obtendo-se um conjunto de valores que permitiram corrigir as curvas de erros Ex. De forma semelhante, foram medidos os fatores de correção dos zeros e corrigidas as curvas de erros Ey e Ez. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 55-66 De posse dos dados da calibração das componentes do erro volumétrico, eles foram substituídos no sistema de equações 10 e introduzidos num programa computacional (STATISTICA), com o objetivo de determinar os coeficientes das equações de regressão. 59 00_C&T18.book Page 60 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 4. Superfícies da componente Ex nos diferentes planos de medição. 50 – 60 µm 50 – 60 µm 50 – 60 µm 50 – 60 µm 50 – 60 µm 50 – 60 µm 50 – 60 µm a-) Ex no Plano XZ, Y = 50 mm 60 b-) Ex no Plano XZ, Y = 100 mm d-) Ex no Plano XZ, Y = 200 mm c-) Ex no Plano XZ, Y = 150 mm e-) Ex no Plano XZ, Y = 250 mm f-) Ex no Plano XZ, Y = 300 mm g-) Ex no Plano XZ, Y = 350 mm Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 61 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 55-66 Resíduos (micrometros) Resíduos (micrometros) Valores Previstos (micrometros) Valores previstos Valores pela Regressão vs. Resíduos de Regressão Previstos (micrometros) Valores previstos pela Regressão vs. Resíduos de Regressão Resíduos (micrometros) meiro O passo consiste no cálculo do coeficiente modelo proposto foi avaliado estatísticade e 2 para cada uma das equações correlação amostral rA experimentalmente. avaliação estatística abrange de regressão Os coeficientes de correlação o cálculo dosobtidas. coeficientes de correlação amostral, uma análise dos a verificação de hipótecalculados são deresíduos 99,19%,e 99,93% e 98,15% para ses. A avaliação experimental foi realizada através as equações que descrevem as componentes do erro da comparação dos dos resultados pelo volumétrico na direção eixos X, previstos Y e Z, respectimodelo com obtidosque a partir medição de uma vamente. Issoossignifica umadaporcentagem alta barra de esferas em algumas das posições e orientada variabilidade de cada uma das componentes do ções no volume deé trabalho da pelas máquina sugeridas erro volumétrico explicada equações de pela norma (ANSI/ASME B89.4.1, 1995). regressão obtidas, indicando que os modelos propostos são adequados para os do dados analisados. Avaliação Estatística Modelo Na avaliação estatística do dos modelo, o priA avaliação estatística através resíduos inimeiro passo consiste no cálculo do coeficiente de cia com a análise dos gráficos dos valores previstos 2 correlação amostral r para cada uma das equações das componentes do erro volumétrico em função de regressão obtidas. Os coeficientes de correlação dos resíduos de regressão (fig. 5). Valores previstos pela Regressão vs. Resíduos de Regressão Resíduos (micrometros) Avaliação Estatística do Modelo AVALIAÇÃO DO Na avaliação estatística do modelo, o priMODELO PROPOSTO Resíduos (micrometros) Resíduos (micrometros) calculados de 99,19%, e 98,15% para Para determinar determinar os valores dos coeficientes de Para nas direçõessão preferenciais X,99,93% Y e Z, respectivamente. asseguir, equações que descrevem asde componentes regressão nessas nessas equações, foi testada a significância regressão A estão essas equações regressão. do erro volumétrico dos eixos X, Y e Z, respectide cada cada um deles. Assim, somente foram calculados de Obtidasnaasdireção equações, comprovou-se que os vamente. significa queEx, uma alta da os coeficientes coeficientes das variáveis independentes que os valores dasIsso componentes Eyporcentagem e Ez não assumiam variabilidade de cada uma das componentes do erro estão altamente correlacionadas com a resposta ou estão altamente o valor zero para as coordenadas X = Y = Z = 0 volumétrico é explicada pelas equações de regressão variável dependente. O procedimento utilizado variável devido ao método de cálculo utilizado. Isso contraobtidas, indicando que osem modelos propostos são para selecionar selecionar as variáveis significativas na regrespara ria a hipóteses de partida, que essas componenadequados paravalores os dados analisados. são foi foi o chamado stepwise (Draper & Smith, são tes teriam seus iguais a zero no ponto zero A avaliação estatística através dos resíduos ini1966).Dessa Dessaforma, forma,com comum um0.95 0.9595% 95%dedeconfiabiconfia1966). da máquina. Assim, a regressão foi trasladada para a cia com Em a análise dos gráficos dos valores previstos bilidade, foram obtidas equaçõesque quedescrevem descrevema lidade, foram obtidas asasequações origem. conseqüência, os valores dos coeficiendasβcomponentes dodeerro volumétrico em função a relação entrada-saída do sistema máquina de relação entrada-saída do sistema máquina de medir tes regressão que descrevem as 0 nas equações dos resíduos de (fig. 5). são iguais a zero: medir nas direções preferenciais X, Y e Z, respecticomponentes doregressão erro volumétrico vamente. A seguir, estão essas+equações de 2regresEx = 0,0875*Z - 0,03428*Y 0,00003*X + 0,00006Z2 + 0,00031*Y2 - 0,00015*XZ são. Fig. 5.2 - 0,00005*YX Gráfico dos resíduos em função dos valores previstos. (13) Ey = 0,08204*X - 0,70775*Z + 0,00011*Y2 + 0,00011*Z Obtidas as equações, comprovou-se que os 2 Valores previstos pela vs. Resíduos de Regressão Ez = 0,10429*Z - 0,06733*X + 0,01186*Y + 0,00015*Z - 0,00008*Y2 - Regressão 0,00002*ZX valores das componentes Ex, Ey e Ez não assumiam o valor zero para as coordenadas X = Y = Z Fig. 5. Gráfico dos resíduos em função dos valores previstos. AVALIAÇÃO DO = 0 devido ao método de cálculo utilizado. Isso Valores previstos pela Regressão vs. Resíduos de Regressão MODELO PROPOSTO contraria a hipóteses de partida, em que essas comO modelo proposto foi avaliado estatística e ponentes teriam seus valores iguais a zero no ponto experimentalmente. A avaliação estatística abrange zero da máquina. Assim, a regressão foi trasladada o cálculo dos coeficientes de correlação amostral, para a origem. Em conseqüência, os valores dos uma análise β dosnas resíduos e a de verificação hipótecoeficientes equações regressãodeque desValores Previstos (mm) 0 ses. A avaliação experimental foi realizada através crevem as componentes do erro volumétrico são da comparação dos resultados previstos pelo iguais a zero: modelo com os obtidos a partir da medição de uma Ex = 0,0875*Z - 0,03428*Y + 0,00003*X2 + 0,00006Z2 + 0,00031*Y2 - 0,00015*XZ barra de esferas em algumas das posições e orientaValores Previstos (mm) Ey = 0,08204*X - 0,70775*Z + 0,00011*Y2 + 0,00011*Z2 - 0,00005*YX (13) ções no volume de trabalho da máquina sugeridas Valores previstos pela Regressão vs. Resíduos de Regressão Ez = 0,10429*Z - 0,06733*X + 0,01186*Y + 0,00015*Z2 - 0,00008*Y2 - 0,00002*ZX pela norma (ANSI/ASME B89.4.1, 1995). Valores Previstos (micrometros) Valores Previstos (micrometros) 61 00_C&T18.book Page 62 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 6. Gráfico dos resíduos da equação de regressão da componente Ex. Pela figura 5, observa-se que os valores dos resíduos estão distribuídos aleatoriamente em torno de zero, em todos os casos. Isso indica que a especificação é apropriada. Pode-se ainda observar que os resíduos encontram-se no intervalo ± 4 µm, ± 4 µm e ± 2 µm, respectivamente. Observou-se um bom comportamento dos resíduos na ordem temporal, isto é, eles estão distribuídos aleatoriamente em torno de zero, sem nenhuma tendência. Isso indica que os experimentos foram realizados adequadamente, ou seja, as componentes do erro volumétrico foram levantadas corretamente. Pode-se concluir que não foram cometidos erros experimentais, como manipulação incorreta da instrumentação, as condições de ensaio não sofreram grandes variações etc. Na figura 6, estão os gráficos dos resíduos em função de cada uma das variáveis independentes 62 que formam a equação de regressão da componente do erro volumétrico para a direção X. Nos gráficos, observam-se vários níveis definidos por valores constantes das variáveis X, Y e Z. Esses valores representam cada uma das geratrizes de medição. No caso específico da componente Ex do erro volumétrico, tem-se 13 x 7 x 7, níveis das variáveis X, Y e Z, respectivamente. A variável X assume valores entre 0 (zero) e 300 mm com espaçamento de 25 mm, a variável Y assume valores entre 50 e 350 mm com espaçamento de 50 mm, enquanto os valores da variável Z oscilam entre -35 e -235 mm com espaçamento de 50 mm, e entre -10 mm e -260 mm. Na figura 6, pode-se observar que os resíduos estão distribuídos aleatoriamente em torno de zero, para todas as variáveis independentes. Isso confirma que a especificação é apropriada. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 63 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Da mesma forma foram construídos os gráficos dos resíduos em função das variáveis independentes para as equações de regressão das componentes Ey e Ez. Os resultados foram similares, e por isso não estão aqui apresentados. Além das análises apresentadas anteriormente, foram efetuados testes de normalidade para os resíduos utilizando-se gráficos de probabilidade normal. Na figura 7, pode-se observar que quase a totalidade dos valores dos resíduos, da equação que descreve a componente Ex, encontram-se sobre a reta teórica. Dessa maneira, a hipótese de normalidade da distribuição não pode ser rejeitada. Fig. 7. Gráficos de probabilidade normal dos resíduos. Valor Normal Esperado Gráfico de Probabilidade Normal dos Resíduos Resíduos (micrometros) Para os resíduos das equações de regressão que descrevem as componentes Ey e Ez, também foi efetuado o teste de normalidade. Observou-se que alguns valores dos resíduos apresentavam pequenos desvios em relação à reta teórica. No entanto, podese aceitar a normalidade da distribuição dos resíduos. Pelo fato de eles se encontrarem numa região de baixa probabilidade, sua probabilidade de ocorrência é muito pequena. Foram, ainda, construídos os histogramas para cada um dos conjuntos de resíduos, confirmando-se que eles apresentam uma distribuição aproximadamente normal, com média quase igual a zero para todos os casos e desvio padrão de 0,99 µm, 1,73 µm e 0,76 µm, respectivamente. O nível de confiança utilizado foi de 95%. Concluindo, os resíduos gerados a partir das equações de regressão que descrevem as componentes do erro volumétrico gerados no volume de trabalho da máquina nas direções preferenciais de movimento apresentam uma distribuição normal de probabilidades. Pelo exposto anteriormente, as REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 55-66 equações de regressão obtidas são consideradas adequadas para descrever o comportamento das componentes do erro volumétrico da máquina de medir a três coordenadas analisada. Verificação Experimental do Modelo Proposto Outra verificação do modelo proposto foi efetuada por meio da comparação dos resultados previstos e os obtidos pela medição de uma barra de esferas em diferentes posições, tomadas a partir da sugestão da norma (ANSI/ASME B89.4.1, 1995). A norma especifica a medição de uma barra de esferas não calibrada em 20 posições e orientações diferentes no volume de trabalho da máquina. Decidiu-se utilizar uma barra de esferas com comprimento nominal conhecido para o levantamento dos dados necessários. Realizaram-se testes em 12 das 20 posições recomendadas pela norma. Os posicionamentos selecionados da barra foram paralelos às direções dos eixos, nas diagonais dos planos XY, XZ e YZ e nas diagonais volumétricas. A medição da barra de esferas consiste na determinação da distância entre os centros das esferas da barra. Envolve a medição dos diâmetros das esferas, o cálculo de seus centros e a distância entre eles. À distância entre os centros da barra, convencionou-se chamar de comprimento da barra. Para as distintas posições, as esferas foram medidas cinco vezes e coletadas as coordenadas X, Y e Z dos pontos de medição. É requisito indispensável que as coordenadas desses pontos sejam linearmente independentes. A partir dos pontos coordenados coletados e a equação da esfera, aplicou-se o método dos Mínimos Quadrados. Foram calculadas as coordenadas dos centros das esferas e suas respectivas médias em cada posição. Em seguida, calculou-se o comprimento da barra com erros (DBE). Os erros volumétricos nos pontos pertencentes ao volume de trabalho da máquina podem apresentar direções diferentes entre si e diferentes da direção de medição da barra. Portanto, antes do cálculo do comprimento real da barra, os erros volumétricos devem ser projetados na direção de medição, ou seja, na direção da barra. O comprimento real da barra (DBR) é calculado como a diferença entre o comprimento 63 00_C&T18.book Page 64 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM medido (DBE) e a diferença da projeção dos erros volumétricos (PEB) na direção da barra: DBR = DBE – PEB (14) PEB = EB1 – EB2 Para isso, por meio das equações de regressão obtidas, os valores numéricos das componentes do erro volumétrico foram sintetizados. Através de um programa computacional, os centros das esferas foram calculados, assim como seus respectivos erros volumétricos. De posse desses valores, procedeu-se à projeção dos mesmos na direção de medição. Para tanto, foram calculados os cossenos diretores que definem a orientação da barra dentro do volume de trabalho da máquina. As projeções da barra nas direções preferenciais são determinadas a partir das coordenadas dos centros das esferas 1 e 2: DBEx = X2 – X1; DBEy = Y2 – Y1; DBEz = Z2 – Z1 Os ângulos que definem a posição da barra com as direções OX, OY e OZ são designados por α, β e γ. Assim sendo, os cossenos diretores podem ser calculados como: cosα = DBEx/DBM cosβ = DBEy/DBM cosγ = DBEz/DBM Com isso, calculam-se as projeções das componentes do erro volumétrico Ex, Ey e Ez na direção da barra, denotadas por EBx, EBy e EBz, usando as expressões 15, 16 e 17, respectivamente: EBx = EXcosα (15) EBy = EYcosβ (16) EBz = EZcos (17). Portanto, a projeção do erro volumétrico na direção da barra (EBn) para os pontos centros das esferas 1 e 2, respectivamente, é dado por: EB1 = EBx1 + EBy1 + EBz1 EB2 = EBx2 + EBy2 + EBz2, 64 enquanto o erro cometido durante a medição é a diferença das projeções dos erros volumétricos, denotada por PEB: (18). Finalmente, o valor do erro volumétrico (PEB) calculado é corrigido do comprimento da barra com erro (DBE), obtendo-se o comprimento real (DBR): DBR = DBE – PEB (19). Para a avaliação da eficácia do modelo proposto para previsão do erro volumétrico, é preciso que seja determinada a diferença entre os valores dos comprimentos calculados e o comprimento padrão (DP). O comprimento padrão da barra de esferas pode ser determinado através de um procedimento de calibração. Para tanto, foi utilizada uma máquina universal de medir, fabricada pela Societé Genevoise d’Instruments de Physique (SIP), tipo 302 M, cuja resolução e incerteza são 0,1 µm e ± 0,1 µm, respectivamente. Tanto a distância entre as extremidades das esferas quanto seus diâmetros foram medidos nove vezes. Os valores das médias e dos desvios padrões foram calculados e usados para determinação do comprimento padrão da barra de esferas. Como resultado, tem-se que o comprimento ou dimensão padrão da barra é de 197,486 ± 0,001 mm, com 99,7% de confiabilidade. De posse do comprimento real da barra (DBR) e do comprimento padrão (DBP), calcula-se a diferença entre esses valores pela equação 20. Essa diferença é denominada erro residual. Erro Residual = DBR – DBP (20) A partir de uma análise da figura 8, tem-se que, nas posições 1, 2, 3, 4 e 6, correspondentes a diagonais nos planos XY, XZ e YZ, os valores do erro residual, em módulo, não ultrapassam 5 µm. Esses resultados podem ser considerados adequados. As posições 8, 9 e 10, correspondentes a diagonais volumétricas, apresentam valores de erros residuais que atingem até 7 µm, na posição 8. Esses valores são maiores que os esperados. Nas posições 11, 16, 17 e 18, correspondentes às direções preferenciais, apresentam valores de erros residuais adequados, à exceção da posição 17, cujo erro residual é de 9 µm. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 65 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 8. Resultados da avaliação experimental. Também foram calculadas algumas estatísticas para caracterizar essa distribuição, como a média, o desvio padrão e os coeficientes de kurtosis e skewness, cujos valores são, respectivamente, 0,94 µm, 4,12 µm, 0,75 µm e 0,01 µm. CONCLUSÕES Sabendo que o erro volumétrico na direção Y pode atingir valores de até 240 µm, o valor de 9 µm na posição 17 pode ser considerado bom, pois representa 3,75% do erro máximo nessa direção. O mesmo acontece com o valor de 7 µm na posição 8, que corresponde a uma das diagonais do volume com sentido de movimentação positivo para o eixo X e negativo para os eixos Y e Z. O fato de se obter valores de erros residuais fora do intervalo ± 6 µm pode ser explicado pela ausência do efeito do sistema de sondagem. Durante a coleta dos dados para obtenção do modelo proposto, os erros foram levantados utilizando o sistema interferométrico. Sabe-se que durante a medição da barra de esferas, o efeito do sistema de sondagem está incluído. Um teste de normalidade foi aplicado aos valores numéricos do erro residual (fig. 9). O teste de normalidade efetuado mostra que os valores do erro residual apresentam pequenos desvios em relação à reta teórica. Porém, a hipótese de normalidade dos resíduos pode ser aceita. Fig. 9. Gráfico de probabilidade normal dos valores do erro residual. Valor Normal Esperado Gráfico de Probabilidade Normal dos Resíduos Erro Residual REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 55-66 Os principais resultados obtidos no desenvolvimento deste trabalho podem ser resumidos e apresentados como as conclusões abaixo: • as equações de regressão que descrevem as componentes do erro volumétrico nas direções X, Y e Z apresentam coeficientes de correlação de 99,19%, 99,93% e 98,15%, respectivamente; • os valores numéricos dos resíduos para cada uma das equações do modelo proposto são de ± 4 µm, ± 4 µm e ± 2 µm para cada uma das direções preferenciais X, Y e Z, respectivamente. Em conseqüência, caso seja implementado um sistema de compensação a partir do modelo, independentemente da posição de medição, o erro volumétrico após a compensação não ultrapassará ± 6 µm; • a variável Z, que no caso representa a coordenada Z dos pontos medidos, é quem mais influência tem nos valores numéricos das componentes do erro volumétrico nas três direções; • o método proposto pode ser estendido à totalidade das MM3Cs, sendo sua aplicação mais adequada nas MM3Cs com maior grau de automação. Com isso, o tempo de experimentação requerido na aplicação do método de calibração volume dividido pode ser sensivelmente reduzido; • quando comparado ao método de sintetização, o modelo proposto mostra-se matematicamente mais simples e não necessita da calibração dos 21 erros geométricos; o modelo permite uma sintonia fina a partir do conhecimento do sistema. Subvenção Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão do auxílio, e Laboratório de Metrologia do Departamento de Engenharia Mecânica da Escola de Engenharia de São Carlos-USP, onde foi desenvolvido o trabalho. 65 00_C&T18.book Page 66 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACHCAR, J.A. Planejamento de Experimentos em Engenharia e Indústria. Notas de aula, ICMSC, EESC-USP, 1993. ANSI/ASME B89.4.1. Methods for performance evaluation of coordinate measuring machines, 1995. BOX, G.E.P.; HUNTER, W.G. & HUNTER, J.S. Statistic for Experimenters – an introducing to design, data analysis, and model building. New York: John Wiley & Sons Inc., p. 653, 1978. BURDEKIN, M. Calibration of coordinate inspection machines. Machinery and Production Engineering, Sep. 1977. DI GIACOMO, B. Computer aided and hybrid compensation of geometric errors in coordinate measuring machines. Manchester, UK, 1986. [Tese de Doutoramento, UMIST]. 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[Tese de Doutoramento, UMIST]. 66 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 67 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM A Review of Grinding Fluids – performaces and management Uma Revisão de Fluidos de Corte-Desempenho e Manutenção ERALDO JANNONE DA SILVA São Paulo State University [email protected] EDUARDO CARLOS BIANCHI São Paulo State University [email protected] PAULO ROBERTO DE AGUIAR São Paulo State University [email protected] RESUMO – O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma revisão dos princípios básicos envolvidos na seleção, aplicação, manutenção correta e no meios de descarte dos diferentes tipos de fluidos de corte disponíveis para utilização em processos de retificação. Após uma detalhada caracterização e classificação dos diferentes tipos de fluidos de corte, são apresentadas as principais funções dos mesmos na retificação. Os aspectos que afetam o desempenho dos fluidos de corte são descritoss, dentre os quais destacam-se: a ocorrência da evaporação do filme de fluido de corte e as influências do formato do bico de aplicação e da velocidade do jato de saída do fluido na eficiência da lubrificação e na remoção de calor por convecção na região de corte. Para os diferentes tipos de fluidos de corte são descritos os fatores que afetam a estabilidade dos mesmos, sendo apresentadas as ações de controle, as quais podem evitar o despojamento prematuro dos mesmos. Em função das tendências mundiais de adequação dos processos industriais às normas ambientais vigentes são apresentados os procedimentos-padrão de descarte dos diferentes tipos de fluidos de corte. Palavras-chave: FLUIDOS DE CORTE – GERENCIAMENTO – DESCARTE – RETIFICAÇÃO. ABSTRACT – This paper presents a review of the basic procedures to the right selection, use, management and disposal of different types of cutting fluids used in the grinding. After the cutting fluids detailed characterization and classification, their main functions are presented. The aspects that affect the cutting fluids performance are described, including the film boiling effect occurrence and the nozzle design and jet velocity influences in the cutting fluid lubricant and convective cooling abilities in the grinding zone. For the different cutting fluid types, the aspects that affect their stability and the monitoring and controlling actions are described. These actions can prevent the premature cutting fluid disposal. According to the new global environmental trends the standard disposal procedures are presented for each cutting fluid type. Keywords: CUTTING FLUIDS – MANAGEMENT – DISPOSAL – GRINDING. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 67-77 67 00_C&T18.book Page 68 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM INTRODUCTION T he former common practice of dumping metalworking fluids (MWF) when they show signals of contamination is no longer feasible. Tighter environmental regulations and higher coolant and disposal costs are forcing users to manage their fluids and investing in recycling (Bienkowski, 1993). The investment, however, does more than avoid regulation costs and liability. Clean coolant also boosts productivity, reduces consumption and makes the shop healthier and safer. In fact, a good management program and the proper recycling equipment can increase the life in service of the cutting fluid. Fluid application in grinding process is becoming more important as higher stock-removal rates, higher quality, and longer wheel life are sought. Selection of an efficient way to apply it, and straight follow of standard procedures of cutting fluid maintenance are extremely important to meet productivity goals and can be as important as selection of the grinding wheel specification (Webster, 1995). The conventional method of grinding fluid application is in the form of flood through a remote nozzle. Frequently, this method of flood application is not very effective, specially under severe grinding conditions, as the energy of the fluid is not sufficient to overcome the centrifugal force of the wheel or to penetrate the boundary layer of air surrounding the wheel. As a result, only 5% to 30% of the cutting fluid is effectively used in conventional flood application in grinding operation. (Guo & Malkin, 1992). The non-effective cooling and poor lubricity at the wheel-workpiece interface cause an increase in the number of grind wheel dressings. With the frequent resharpening a premature failure of the grinding wheel occurs, because about 90% of the wheel material is lost during dressing and only about 10% of the wheel is consumed during grinding, making the process highly uneconomical and inefficient. This dressing process also leads to grinding interruptions, machine down time and additional setup time (Kovacevic & Mohan, 1995). The optimization of the grinding process implies not only the selection of the right grinding wheel and cutting parameters but also the most 68 effective grinding fluid and its correct way of application. Although, a correct use of the cutting fluid implies the adoption of standard procedures of maintenance and application, which can slightly differs, depending on the type of cutting fluid used. Thus, it is essential the correct understanding of the important role played by the cutting fluid, the differences among the groups and the efforts required to the application, maintenance and disposal of each type of cutting fluid. These aspects are discussed in this paper. CUTTING FLUIDS: CLASSIFICATION, FUNCTIONS AND SELECTION Classification Each of the basic types of fluids has distinct features, advantages and limitations, although the dividing line is not always clearly identifiable (Motta & Machado, 1995). According to ASM (1991), the four basic types of cutting fluids are: a) cutting oils: Straight or compounded mineral oil (plus additives); b) water-miscible (water-soluble) fluids: Emulsifiable oils (soluble oils), semichemical (semisynthetical) fluids, chemical solutions (synthetic); c) gases; d) paste and solid lubricants. Cutting oils have a mineral oil base and may be used straight (uncompounded) or compounded (combined with polar additives and/or chemically active or inactive additives or compounds). According to Webster (1995), these oils are napthenic and paraffinic hydrocarbons refined from natural crude oil. Their major function is to provide a base for blends and additives and should be severely hydrogenated to destroy most carcinogenic polycyclic aromatics. The cutting oils have excellent lubrication properties, good rust control and long life, but they don’t cool as well as water-miscible fluids do. The water-miscible fluids are oils mixed with water at different ratios depending on the machining operation. They can be classified as emulsions (emulsifiable oils), or synthetics depending on the basic formulation of the concentrate of the cutting Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 69 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM fluid (mineral oil or chemical agents, respectively). Blended with water, the water-miscible fluids provide the combined cooling and moderate lubrication required by metal removal operations conducted at high speeds and lower pressures. An emulsion is a suspension of oil droplets in water made by blending the oil with emulsifying agents and other materials. These emulsifiers (soap and soap-like materials) break the oil into minute particles, conferring to them an electron-negative charge, creating a repulsive interaction between the oil particles, keeping them dispersed in water for long periods of time (fig. 1). The emulsions can offer less lubricant protection and more effective cooling than mineral oils. Speciall attention must be given to the quality of the water used, to the type and number of microorganism presented, to the pH value and to the concentrate of the emulsion (Bienkowski, 1993). Fig. 1. Representation of an emulsion (Motta & Machado, 1995) Synthetic fluids are chemical solutions consisting of inorganic and/or other materials dissolved in water and containing no mineral oil. In general, the advantages of using these fluids are rapid heat dissipation, detergent proprieties, excellent workpiece visibility and long product life. The disadvantages are insufficient lubricity in severe operations and the formation of sticky compounds, resulted from the combination of chemical agents and minerals dissolved in the water used to prepare the blend (ASM, 1991). The semisynthetic fluids are essentially a combination of chemical fluids and emulsified oils in REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 67-77 water. These fluids are actually chemical solutions that contain only a small amount of emulsified mineral oil, about 5 to 30% of the base fluid, which are added to form a translucent and stable emulsion of small droplet size. They combine some of the best qualities of chemical fluids with emulsified oils. In general, the advantages and limitations are similar to those described for chemical fluids, except that the semisynthetic fluids have a better lubricating properties than chemical fluids (ASM, 1991). In general, the air is the most common gaseous fluid. Others, such as argon, helium and nitrogen are also used, in order to prevent rust of the chip. Gases such as CO2, with boiling point below room temperature, can be compressed and sprayed into cutting zone to provide evaporative cooling. The use of liquid argon or nitrogen allows cooling to several degrees below zero. Thus, care is necessary to prevent part warpage caused by large temperature differentials. Advantages of inert gases include good cooling ability, increase of tool life, a clear view of the operation, elimination of mist, and no contamination of the workpiece, chip or machine lubricants. However, researches are still being conducted to evaluate the real large-scale applicability of such gases in precision machining. Among the pastes and solid lubricants, there are those usually applied manually by brush or by oilcan to the tool or workpiece in operations such as tapping and hand reaming. Grinding wheels are sometimes impregnated with solid possessing lubricant qualities. The solids most often used in heavyduty operations are graphite, molybdenum disulfide, pastes, soaps and waxes. The roles played by the cutting fluid in grinding According to Kovacevic & Mohan (1995), material removal in grinding which takes place in the form of very fine chips, is performed by a multitude of cutting edges randomly distributed and randomly oriented. However, this material removal is accompanied by high energy consumption. Due to the presence of plastic deformation, friction and surface generation, most of this energy is converted into heat, causing high-localized temperatures at the grinding zone. This results in severe thermal damage to the workpiece surface in form of cracks, 69 00_C&T18.book Page 70 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM distortions, tensile residual stress and dimensional inaccuracies. These undesirable effects are accompanied by wheel wear and wheel loading (adherence of workpiece particles on the grains and into the pores of the wheel periphery). Grinding fluids are traditionally used as an external means to improve the process performance by providing lubrication and cooling at the wheel-workpiece interface. However, the effectiveness of the grinding fluid depends upon the location of placement, velocity and quantity of flow, direction of application, design of the nozzle, among others factors. To be really effective therefore, a coolant should not only provide good convective cooling of the workpiece but also promote cutting as opposed to plowing. As a result, there is a decrease in the grinding specific energy required in the process (Malkin, 1989). According to Hitchiner (1990), the cutting fluid can lead to cutting instead of plowing by two different ways: 1) Making the wheel sharp: the coolant can act to inhibit glazing and capping of the grits by the decrease of the coefficient of friction; 2) Reducing the coefficient of friction: lowering the coefficient of friction between grit and workpiece allows blunter grits to cut, as well as reducing overall forces levels for a given stock removal rate. This brings a double benefit: the energy to be dissipated is lowered, and because cutting is favored, the heat is more easily dissipated. Seven characteristics of the four major types of grinding fluids are listed in table 1 (Webster, 1995). The cooling and lubricate qualities of grinding fluid are the main contributors of good grinding, although the other qualities also need to be considered before a choice is made. Tab. 1. Grinding fluids characteristics (1-worst; 4-best) (Webster, 1995). CUTTING SYNTHE- SEMI-SYN SOLUBLE OILS TICS THETICS OILS (STRAIGHT OILS) Heat removal Lubricity Maintenance 70 4 3 2 1 1 2 3 4 3 2 1 4 Filterability Environmental Cost Wheel life 4 3 2 1 4 3 2 1 4 3 2 1 1 2 3 4 According to Carius (1989) cited by Webster (1995), in almost all cases wheel wear is reduced and, consequently, the G ratio is increased by using straight oils, as shown on figure 2. Fig. 2. Wheel wear comparison Carius (1989). The soluble oils have superior heat transfer coefficient as compared to the straight oil (Howes, 1990; Ye and Pearce, 1984). According to these authors, the critical power flux of around 9 W/mm2 was obtained with straight oil when ground in creep-feed a nickel-based alloy with a high porosity wheel, at the full depth of cut region. With soluble oil a critical power flux of 17 W/mm2 was achieved, representing a significant increase over the straight oil. This oil has been found to perform better in shallow cut grinding (Webster, 1995). Its higher lubricity, as compared to soluble oil, gives rise to lower specific energies, resulting in the reduction in specific energy and rate of growth of wear flats on the grits. It would thus seem possible that straight oil could also produce lower values of specific energies than soluble oils in creep-feed grinding and therefore possibly outweigh the disadvantage of its critical power flux lower values. Hard steel components are probably better ground with a straight oil than with a water-soluble fluid. The heat treatment used to harden them (especially thick sections) is liable to leave them in a state of tensile stress, therefore relatively small grinDezembro • 2001 00_C&T18.book Page 71 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM ding stress will often induce catastrophic cracking and the high-quenched rates found with synthetics are a disadvantage. Avoidance of burn is better achieved by good lubrication, which will reduce grinding forces and promote cool cutting. With softer and more ductile components, emulsion or synthetic fluids may be useful. High quench rates can be tolerated without cracking, and higher temperatures must be reached before burn occurrence. In order to fit the new environment concepts of safeness, the use of new combinations between grinding wheel and cutting fluid is being encouraged. As a result, new procedures which leads to decrease of the energy generated during grinding and make its fast dissipation out of the grinding zone are being adopted. It includes the use of CBN grinding wheels, which allow more heat to be conducted by them away from the grinding zone (Kohli; Guo & Malkin, 1995). Some of the fluid passing through the grinding zone may also come into contact with the workpiece ahead of the grinding zone and provide cooling at that location. One approach to quantitatively estimate the effect of cooling on the grinding temperatures was to assume a constant convective heat transfer coefficient over the entire workpiece top surface. However, this does not seem to be a reasonable representation for actual grinding. A much higher convective heat transfer is expected where the fluid is applied behind the grinding zone than ahead of it for up grinding. Within the grinding zone, convective cooling by the grinding fluid can usually be neglected in regular grinding due to film boiling (Lavine & Malkin, 1990), but not in creepfeed grinding where cooling by the fluid is critical. Fig. 3. Illustration of the straight surface grinding and thermal model (Guo & Malkin, 1995) ASPECTS THAT AFFECTS ON THE PERFORMANCE OF CUTTING FLUIDS USED IN GRINDING The effectiveness of cooling in grinding According to Guo & Malkin (1995), fluid is usually applied to the wedge formed by the wheel and the workpiece through a nozzle as illustrated in figure 3 for up grinding. The situation for down grinding is similar except that the fluid is applied from the opposite leading edge side instead of the trailing edge side as for up grinding. Of the fluid applied to the wedge, part penetrates the porous wheel surface and is carried through the grinding zone, while the rest splashes away sideways or backwards onto the workpiece surface. The percentage of the applied fluid passing through the grinding zone has found to depend on the wheel structure and fluid application conditions (Guo & Malkin, 1992; Engineer, Guo & Malkin, 1992; e Krishnan, Guo & Malkin, 1995). Creep-feed grinding wheels were found to be much more effective than regular wheels in carrying fluid through the grinding zone, so the cooling provided by fluid within the grinding zone for creep-feed wheels should be more effective than for regular wheels. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 67-77 According to Yasui & Tsukuda (1983), the film boiling phenomenon affects water-soluble fluids and cutting oils in a different way. As reported by the authors, the occurrence of the film boiling in water-soluble fluids lowers the heat transfer coefficient of the fluid to almost the same as air. As a result, the cooling performance in these fluids deteriorates to become almost the same as in dry cutting. Since the physical properties of water-soluble fluids are almost the same as water, the film boiling seems to occur at a temperature slightly exceeding 100oC. Conversely, the cutting oil is a mixture of different oils having different boiling temperature and its average boiling point is about 300 oC. Therefore, at a rougher grinding conditions, the effect of film boiling is more critical when a water-soluble fluid is applied. 71 00_C&T18.book Page 72 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Guo & Malkin (1995) studied the effectiveness of the grinding fluid as a coolant within the grinding zone, ahead and behind of it, and on the end face of the workpiece during initial cut-in and final cut-out. They concluded that cooling by the fluid within the grinding zone is critical for creepfeed grinding, but ineffective for conventional shallow grinding due to the film boiling. Cooling behind and ahead of the grinding zone has little influence on the maximum grinding zone temperature rise for regular grinding, but cooling on the end face can significantly reduce the maximum grinding zone temperature especially during cut-out for creep-feed grinding. Although, the effect of cooling out of the grinding zone is significant and must be considered in the convective heat transfer formulations and in the predictions on the workpiece temperatures (Kohli, Guo & Malkin, 1995). Influence of the grinding wheel type on the grinding temperatures generated and on the energy partition An experimental investigation of the energy partition to the workpiece for grinding steels with aluminum oxide and cubic boron nitride (CBN) abrasive wheels was carried out by Kohli, Guo & Malkin (1995). The energy input to the workpiece was obtained by measuring the temperature distribution in the workpiece using an embedded thermocouple technique and matching the results with analytically computed values. It was found that 6075 percent of the grinding energy is transported to the workpiece as heat with an aluminum oxide abrasive wheel, as compared to only 20% with CBN wheels. An analysis of the results indicates that the much lower energy partition to the workpiece with CBN can be attributed to its very high thermal conductivity (CBN = 3,3cal/ºC.cm.s and Al2O3 = 0,08cal/ºC.cm.s) whereby a significant portion of the grinding heat is transported to the abrasive instead of to the workpiece. The much lower energy partition to the workpiece with CBN wheels results in much lower grinding temperatures and a greatly reduced tendency for thermal damage to the workpiece. Therefore, the incidence of the film boiling can be reduced, improving the use of water-soluble fluids, due to the lower grinding zone temperatures when using CBN wheels. 72 Influence of the nozzle design, jet velocity and improvement of the filtration systems on the cutting fluid performance According to Webster (1995), the performance of the cutting fluids will be improved if the delivery system is also improved. It means that all the delivery system (pump, nozzle design, and pipes) must be managed to obtain high quality workpieces. According to him, the following topics must be carefully analyzed: a) Nozzle design: The nozzle must be designed to insure the best jet coherence. Webster (1995) developed a new round nozzle, based on a round nozzle for fire hoses proposed by Rouse et al. (1952). See figure 4. In this figure Cr is the contraction ratio, D is the diameter of nozzle feed pipe and Dn is the diameter of the nozzle exit. The traditional grinding nozzle generally has one or two convex inner walls (fig.5), which allow the downstream flow to separate (Webster, 1995). The separated flow has a higher level of turbulence and pressure drop, which will significant affect jet coherence. In contrast, the round nozzle has concave inner walls, which reduce boundary layer growth. According to the former author, round nozzles, which inherently have a better coherence, can be used effectively to replace expensive, profiled nozzles. Fig. 4. Fire hose nozzle based on Rouse et al. (Webster, 1995). Fig. 5. Traditional Nozzle (Webster, 1995). Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 73 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM The design of a coolant nozzle should consider nozzle aperture geometry (inside and out), nozzle surface finish, nozzle filters, break-edges and high contact ratios (Webster, 1995). The coolant system design considerations include the use of primary (entry) and secondary (exit) nozzles, nozzle positioning, coolant flow rate settings, pump capability, flow conditioners, large-diameter straight pipes and flexible hoses to avoid pressure loses from sharp bends. Cooling performance has only a small sensitivity to nozzle angle, as long as the flow is directed to the grinding zone. An increase in nozzle distances reduces the cooling performance, especially with a low-coherence jet nozzle. Therefore, the nozzle should be placed as close as possible to the workpiece (Webster, 1995). b) Jet velocity: the jet velocity should be increased to match the grinding wheel speed to overcome the air-barrier created by the grinding wheel spindle. According to Webster (1995), a matched wheel-to-coolant speed ratio is optimum for most applications, except where pump cost or power consumption is excessive. To investigate the effect of wheel speed versus jet speed, Webster (1995) performed tests where the flux for 3 wheel speeds (vs) with jet velocity ranging from less than wheel speed to greater than wheel speed, was measured, as shown in figure 6. In this figure, V* is defined as the ratio between the jet velocity and the wheel speed. Fig. 6. Jet/Wheel velocity ratio at three wheel speeds for 1/16” nozzle aperture (Webster, 1995). the heat flux capability levels off when the jet speed matches the wheel speed. Hydrodynamic pressure measurements can be used to optimize fluid application in terms of nozzle direction, jet velocity and volume flow rate. In addition, the presence of nonnegative pressure within the grinding zone suggested that film boiling is occurring and, therefore, stock removal rate should be reduced (Webster, 1995). According to Kovacevic & Mohan (1995), the improved cooling/lubrication effect at the grinding zone, effective cleaning action and reduced wheel loading effect of the high-speed jet are responsible for the improvement in the grinding performance. The waterjet stream at higher speeds also provides dressing/resharpening effect on the wheel by removing a layer of grains from the surface, exposing new grains. The high flow rate of grinding fluid improves the convective cooling effects and prevents complete evaporation of the fluid film at the grinding zone. The effectiveness of high speed grinding fluid increases as the jet velocities increases. As a result, the grinding forces, wheel wear and burn are reduced, leading to overall improvement in the grinding process. c) The effect of the improvement of the filtration systems: An effective filtration is an important factor that must be applied if quality workpieces are desirable to be ground. The filtration is extremely import if CBN wheels are used. According to Leal (1993), the grinding wheel will become loading earlier if the cutting fluid has an excessive amount of abrasive particles and chips. As a result, the number of dressing operations will increase, resulting in an increase of the grinding costs. If there is a poor filtration, the problems observed in the high pressure pumps used when grinding with CBN wheels will increase due to the abrasion between the grinding particles dissolved in the cutting fluid and the internal parts of the pumps used. ASPECTS THAT INLFUENCE THE STABILITY OF THE CUTTING FLUIDS It can be noted that a higher heat flux indicates better cooling effectiveness of the cooling configuration because more power is being applied for a constant element temperature. The results indicate that REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 67-77 Cutting fluids The temperature of the cutting oil should be between 21 and 24oC (70 and 75oF) and the entrance of another fluids in the sump must be avoi73 00_C&T18.book Page 74 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM ded. This undesirable mix can lead to the formation of insoluble composites due to the incompatibility of some additives. The life of cutting oils will be improved if periodic filtration is carried, removing the swarf and abrasive particles generated during grinding, preventing the wear in the internal pump components. Water-soluble fluids The stability of the emulsion depends on the maintenance of the repulsive charges among the oil droplets dispersed in water. This stability can be broken, leading to the premature disposal of the emulsion, when one of the situations below occurs: The introduction of acids and organic or inorganic salts in the emulsion; the acidulation of the emulsion due to CO2 absorption during the preparation of the emulsion; the proliferation of microorganisms, such as bacteria and fungi. The bacteria consume the emulsifiers and anti-rust agents, generating acids as a subproduct of their metabolism. It causes the breakdown of the emulsion, reduces the pH and decreases in the anti-rust protection. Since soluble oils can be up to 99% water, its quality affects overall performance more than any other factor. Dissolved minerals and gases, organic matter, microorganisms or combinations of these factors cause scum, rancidity, foam and excess concentrate usage. Hardness, is, perhaps, the most significant influence on quality. It comes from dissolved mineral such as calcium and magnesium salts. Soft water falls within the 0-100 ppm range, and hard water contains 200 ppm or more. Ideal hardness is 80-125 ppm (Bienkowski, 1993). Concentrate mixed with water of hardness less than 75 ppm foams easily, especially in applications that agitate the fluid excessively. Mix concentrate with hard water tends to form insoluble soaps. Dissolved minerals combined with anionic emulsifiers in the concentrate form insoluble compounds that appears as scum coating the sump, coggling pipes, bilding filters, and even covering the machine and gages. High hardness can also affect the soluble oil’s stability. The water’s positive ions neutralize the anionic emulsifiers, causing separation. Even in soft water, monitoring and controlling hardness is important because dissolved minerals accumulate and stay in solution when water evaporates. The make-up water simply adds more minerals, which eventually 74 cause problems. To prevent foaming yet avoid salt accumulation, recharge the sump with untreated water (if mineral content is acceptable) and use demineralized water in the make-up. The pH value is a good indicator of microbiological problems occurring in the emulsion, strongly related with bacterial contamination. Besides, lower pH values also indicate that the anti-rust properties of the emulsion are decreasing. The decreasing of the pH values should indicate a bacterial proliferation in non-permissible levels. The gradual emulsion acidulation can be function of the release of acid subproducts generated during the bacterium metabolism. The pH value must be constantly monitored, and its value must be between 9 and 10.5, to avoid bacterial proliferation (Runge & Duarte, 1990) The control of the concentration of watersoluble fluids is extremely important, in order to insure all the design anti-rust and lubricity properties of the fluid in use. The mix rate can vary widely, depending on the type of water-soluble fluid used. Especially attention must be given when interpreting concentration results. Depending on the concentration measurement method applied to its determination, tramp oils, cleaners, hydraulic fluids and others contaminants should impair the accuracy of the method used (Bienkowski, 1993). The microbiological control of the emulsions is essential because they can suffer many types of contamination. The results of a contamination by aerobic and anaerobic bacteria are a decreasing in the pH value, skin irritations, corrosion, production and release of H2S (called as “Monday morning stink”) by the anaerobic ones, tramp-oil formation and the premature disposal of the emulsion. The fungi contamination produces fungal growth accompanied by a locker-room odor, block flumes, clog sprays, leading to hydraulic leaks, blocking pipes and filters. The control of the microbiological contamination is the key to avoid the premature disposal of the cutting fluid. A weekly or biweekly test is usually enough to catch biological contamination (Bienkowski, 1993). Two common ones are plate counts and dipslide tests. The key in controlling rancidity is maintaining the proper pH and concentration, keeping the equipment clean and aerating the coolant, to avoid anaerobic bacteria proliferation. Since Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 75 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM many coolants contain biocides, maintaining concentration in properly cleaned systems helps control microorganisms. Adding biocides always extend the fluid’s life. Although, this addition could not be made when only a high level of contamination were detected, because at this time a high level of biocide must be introduced, which not always is possible, due to safeness requirements, and the pH will have dropped to undesirable levels. It will be necessary the addition of anti-rust substances and others that rise the pH value, resulting in emulsions with low quality, only acceptable, but not efficient. Besides, using only one biocide, however, may allow some species to proliferate. It is recommended that the chemicals should be randomly rotated. STANDARD PROCEDURES OF CUTTING FLUIDS DISPOSAL Solid residues found in the grinding fluids The type of the metallic particles found depends on the ground material, the operation done and the type of cutting fluid used. The abrasive particles come from the abrasive grains released during grinding. Dissolved minerals in the water combine with anionic emulsifiers in the concentrate to form insoluble compounds as scum. The particles resulted from the biological degradation should form “black precipitates” generated by the combination of H2S and iron ions, conferring the emulsion a gray aspect. The fungi contamination produces fungal growth which blocks pipes and filters. The external contaminants, such as dust, oil, organic materials and the fluid-metal interaction residues have a negative effect in the cutting fluid filtration system, and in its efficiency. Disposal of cutting oils The cutting oils can be sent to a new refining or can be recovered by the user or by specialized companies. The cutting fluid can also be boiled in kettles if there are no legal restrictions and the oil must be dry, with no impurities, with low concentration of sulfur and must not contain chlorine. Disposal of water-soluble fluids According to Roosmore (1990), there are several legal restrictions on dumping used soluble REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 67-77 oils either into waterways or indirectly into municipal waste treatment facilities. These fluids contain excessive levels of oil, suspended and dissolved metals, biocides, corrosion inhibitors and products of microbiological metabolism. For the emulsion, the method used to separate the oil from the water consist in adding acids to decrease the pH and metallic salts (aluminum sulfate, iron chloride), forming insoluble compounds, breaking the emulsion. The oil phase is removed from the water phase and treated as a cutting oil. The water phase, resulted from emulsion breakdown, after its neutralization, must be in order with the disposal legal recommendations. The disposal of the lees generated during the emulsion breakdown must follow the legal recommendations. The emulsion disposal procedures can be divided in two types: physical and chemical. The selection of one method depends on the composition of the emulsion, on the total costs involved and on the legal recommendations. Although, all the processes have the same three basic steps: emulsion breakdown, oil phase removal and treatment of the water phase. The physical processes used to breakdown emulsion includes ultrafiltration (the oil molecules are “caught” by filters with membranes with controlled pores) and thermal separation in which the separation occurs by the heating of the emulsion. In the chemical processes, metallic salts are added to the emulsion causing the degradation of the emulsifiers and the separated oil is removed. The synthetic fluids by design have all their substituents in solution. Waste fluids must have biochemical oxygen demands (BODs) in excess of 10,000 mg/l. This level should be reduced before entering sanitary system. Many users have installed biological treatment systems to handle this type of fluid. An alternative is reverse osmoses, which can effectively reduce the level of dissolved constituents. NEW CUTTING FLUIDS GLOBAL TRENDS According to Simon (1999), the adoption of standard procedures related with the environment concepts when manufacturing the new machining machines it is a new global trend. The manufacturers are given special attention to the new environ75 00_C&T18.book Page 76 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM ment recommendations in order to fit their machines to the ISO environment standards. The manufacturers and researchers are focusing on the “environment non-aggressive machining” which includes the new trends related to the development and analysis of large-scale applicability of new machining approaches, such as “dry machining”, machining with minimal quantity of lubricant, the use of gases such as air, argon, in order to substitute the usual cutting fluids. Besides, new methods to separate the chips and swarf from the cutting fluid are being developed, which make the disposal easier and improve the cutting fluid life. In many European countries, the cutting oils are being gradually substituted by water-soluble fluids, due to its high cost and to the health hazards caused by the use of mineral oils. According to Webster (1995), the mineral oils are known to be carcinogenic, causing skin cancers. The use of chlorine as an EP additive is being restricted in many countries, due to the hazards it can cause when cutting fluids containing this additive are not correctly disposed. The chlorine solvents can easily penetrate in the soil, accumulate and easily reach underground waters, poisoning them. Approximately, 1kg (2,2 lb.) of chlorine solvent can poisoned 40,000 m3 (10,566,882 gal) of water. In Germany, there is a severe legislation, which controls the disposal of chlorine hydrocarbon. According to Runge & Duarte (1990), the chlorine paraffin presented in some cutting fluids, is included too. The maximum concentration of chlorine in cutting fluids for disposal is 0.5% of total chlorine. When higher values are found, this cutting fluid must be incinerated, but in temperatures higher than 1.100oC (2012oF), in incinerator which has gas washing towers, a tighter control and monitoring of the gases production to completely avoid the release of dioxins. The use of fluids that contains nitrite may present a hazard, because nitrites can react with amines to form nitrosamines, which are carcinogenics. The use of nitrites and amines is being restricted. CONCLUDING REMARKS Nowadays, the control of actual machining parameters (cutting conditions and selection of abrasive tool) are not enough to ensure the optimization of the grinding operation. The important role played by the cutting fluid can’t be considered as a secondary one. The use of cutting fluids needs to be optimized. It implies not only the right selection of the most effective cutting fluid, which can better fit the abrasive tool and cutting conditions selected but also the implementation of its most effective way of application. In addition, a correct use of the cutting fluid implies the adoption of standard procedures of maintenance and application, which can slightly differs, depending on the type of cutting fluid used. As a result, it is essential the correct understanding of the important role played by the cutting fluid, the differences between the groups and the efforts and costs required to the application, maintenance and disposal of each cutting fluid type. The total grinding costs depends on a proper analysis. As the cutting fluids formulations are becoming more sophisticated and the environment regulations of disposal are tighter, it is essential that efforts and costs involved in the cutting fluid disposal must be carefully investigated before using an specific type of cutting fluid. Otherwise, the non-planned disposal costs can catastrophically increase the total grinding costs, making the process uneconomical. Acknoledgments The authors wish to thank the financial support given to this review by Fapesp. REFERENCES ASM “International Handbook Committee”, Metals Handbook, 6th ed., chap. 27, pp. 14-20, 1991. 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REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 67-77 77 00_C&T18.book Page 78 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM 78 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 79 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Estudo da Influência da Pressão e Vazão do Fluido de Corte no Processo de Retificação Evaluation of the Cutting Fluid Pressure and Flow Rate Influence in the Surface Grinding EDUARDO CARLOS BIANCHI Universidade Estadual Paulista-Unesp [email protected] RODRIGO DAUN MONICI Universidade Estadual Paulista-Unesp [email protected] ERALDO JANNONE DA SILVA Universidade Estadual Paulista-Unesp [email protected] PAULO ROBERTO DE AGUIAR Universidade Estadual Paulista-Unesp [email protected] IVAN DE DOMENICO VALARELLI Universidade Estadual Paulista-Unesp [email protected] RESUMO – A retificação é um processo de fabricação em desenvolvimento no setor industrial, principalmente nas áreas de usinagem que necessitam de grande precisão dimensional, qualidade superficial e de custo. Ocorre, também, uma maior exigência na qualidade das peças produzidas, mas com o uso racional de recursos diminuindo o custo do processo, em geral. Este trabalho apresenta um estudo sobre a influência da intensidade de pressão e vazão do fluido de corte no comportamento do processo de retificação do tipo tangencial plana. Para a análise do resultados, manteve-se constantes as condições de usinagem e variou-se os valores de pressão e vazão do fluido de corte. Os ensaios foram realizados com um rebolo convencional de óxido de alumínio, retificando como corpo de prova o aço VC 131, com dureza média de 60 HRc. Dos resultados obtidos, verifica-se que, com o aumento dos valores de pressão e vazão do fluido de corte, a força tangencial de corte cresceu, o rebolo desgastou diametralmente menos (consequentemente, com maior valor obtido de relação G) e os valores de rugosidade média aritmética da peça e da temperatura diminuíram. Palavras-chave: FLUIDO DE CORTE – RETIFICAÇÃO PROFUNDA – REFRIGERAÇÃO. ABSTRACT The rectification is a production process in development in the industrial section, mainly in grinding sections that need great dimensional precision, superficial quality and cost. It also happens a larger demand in the quality of the produced pieces even so with the rational use of resources decreasing the cost of the process in general. This paper presents a study of the cutting fluid pressure and flow rate influence on the surface grinding. On the tests performed, an unique cutting condition was applied and the cutting fluid pressure and flow rate were varied. The trials were conducted using an Al2O3 grinding wheel and the material of the test specimens was the VC 131 steel, 60 HRc. As a result, it can be concluded that an increase in the cutting fluid flow rate and pressure leads to an increase in the cutting force and a decrease in the grinding wheel wear (and, consequently, an increase in the G ratio), in the roughness and in the workpiece temperature. Keywords: CUTTING FLUID – ABUSIVE GRINDING – COOLING. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 79-85 79 00_C&T18.book Page 80 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM INTRODUÇÃO A dinâmica e a velocidade de transformações em nossa sociedade estão rompendo padrões de qualidade e de exigências dos consumidores com uma intensidade inusitada, culminando com o freqüente surgimento de produtos que já estão obsoletos poucos dias após o seu lançamento. Essa é a realidade que se tem presenciado em diversos segmentos de consumo, tanto de bens físicos como de serviços. A globalização é hoje um fato consumado na ordem mundial. Por meio dela, um grande número de trocas comerciais, culturais, tecnológicas e financeiras ocorre entre países numa velocidade sem precedentes na história da humanidade. Na economia globalizada, os processos de usinagem passam por constante evolução para atender a um mercado cada vez mais exigente. Dentro das condições de usinagem, devido à crescente velocidade de corte em que as máquinas operam e, consequentemente, com a maior quantidade de calor gerada, o fluido de corte e a forma de aplicação no processo passam a ter uma maior relevância. Há disponível no mercado uma grande diversidade de óleos e fluidos de corte para os diferentes processos de usinagem em que se deseje usá-los. Diversos fatores influem na escolha do melhor fluido, como viscosidade, características técnicas, custo etc. Mesmo após essa escolha, ainda existem outras considerações que devem ser feitas para seu melhor aproveitamento. Entre elas, destacam-se a geometria do bocal pelo qual o fluido será introduzido na operação, a intensidade de pressão e vazão na saída do bocal, a melhor posição em que deve ser colocado o bocal, sendo todas de substancial importância para a melhoria da qualidade final da peça. Este trabalho tem como objetivo apresentar um estudo comparativo do desempenho de um rebolo convencional de óxido de alumínio (Al2O3) submetido a uma condição de usinagem para dois valores de pressão e vazão do fluido de corte, denominados por máximo e mínimo, de forma a se obter subsídios para análise do comportamento do processo de retificação. Para a realização dos ensaios, um bocal foi especialmente projetado e construído de modo a que a vazão de fluido de corte fosse direcionada 80 com o mínimo atrito entre o fluido e as paredes internas, para o melhor escoamento. As condições de usinagem (penetração do rebolo na peça a [µm], velocidade da peça vw [m/s] e velocidade de corte vs [m/s]) foram mantidas constantes durante os ensaios. Assim, foram avaliadas as variáveis de saída do processo de retificação (força tangencial de corte Ftc [N], rugosidade média aritmética Ra [µm], relação G [--] e temperatura T [ºC]) em relação aos valores de pressão e vazão do fluido de corte. EFEITOS DA ALTA VELOCIDADE DO FLUIDO DE CORTE Segundo Kovacevic & Mohan (1995), fluidos de corte têm sido tradicionalmente usados para a refrigeração e lubrificação na interface entre o rebolo e a peça. O desempenho do fluido de corte pode ser melhorado se for utilizada uma maior velocidade de saída do bocal, pois isso pode superar a força centrífuga do rebolo e penetrar as redondezas do envelope de ar. A taxa de volume de fluido também pode ser grande o suficiente para providenciar a efetiva refrigeração/lubrificação para a zona de usinagem. A remoção de material em retificação ocorre em forma de cavacos finos e é realizada por grande quantidade de arestas de corte distribuídas e orientadas ao acaso na superfície de corte do rebolo. Contudo, a remoção desse material é acompanhada por um alto consumo de energia, com a presença da deformação plástica, atrito e geração de energia calorífica causando altas temperaturas localizadas na zona de usinagem. Isso resulta em vários danos térmicos para a superfície da peça, na forma de fissuras, distorções, tensões residuais e incerteza dimensional e geométrica. Esses efeitos indesejáveis são acompanhados pela aderência de partículas da peça (cavacos) nos poros do rebolo. Fazendo uma comparação da aplicação do fluxo de fluido de corte a alta velocidade em todo o raio de ação da velocidade do jato, tanto as componentes da força tangencial de corte quanto da força normal de corte são reduzidas em mais de 50% com a aplicação do jato de fluido de corte que sai do bocal em alta velocidade. A utilização do fluido de corte com elevada velocidade de penetração Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 81 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM melhora significativamente a refrigeração e a lubrificação, reduzindo os esforços gerados durante o processo e melhorando o acabamento da peça, diminuindo em mais de 50% os valores de rugosidade superficial da peça. Assim, o desempenho total do processo foi melhorado pela aplicação do fluido de corte a alta velocidade. Conforme Guo & Malkin (1995), a energia gasta pelo processo de usinagem pode causar temperaturas muito altas e danos térmicos para a peça. Os fluidos são aplicados principalmente para providenciar lubrificação e refrigeração, sendo que tais propriedades estão relacionadas à eficiência do fluido quanto a esses parâmetros. O processo de usinagem requer alta energia por unidade de volume de material, que é virtualmente todo convertido em calor na zona de usinagem. Isso resulta em elevadas temperaturas e possíveis danos térmicos à peça. Fluidos são aplicados para remover calor da peça de trabalho. Segundo Malkin (1989), a retificação ocorre por meio de interações entre os grãos abrasivos e a peça a ser retificada. De acordo com o modelo de análise dos mecanismos de geração do cavaco, a energia total de retificação (u) inclui as energias referentes à remoção do cavaco propriamente dita (uch), ao deslizamento dos grãos abrasivos de áreas de topo de grãos desgastadas com a peça (usl) e à energia referente ao deslocamento de material por deformação plástica (sulcagem), sem a remoção do mesmo (upl). Conforme Mariani & Trebing (1992), fluidos sintéticos têm uma viscosidade menor do que os óleos integrais. Para aplicar corretamente um fluido refrigerante sintético em operações de usinagem com diamante e CBN, é necessário aumentar o volume de fluido refrigerante, ou a velocidade, ou rearranjar o bocal do refrigerante para capturar o máximo de fluido possível para a peça de trabalho. Um rebolo em alta velocidade forma uma turbulenta camada com alta pressão de ar próxima à sua superfície. Usinagem com altas velocidades requer a aplicação de refrigerante em alta velocidade para penetrar nessa camada. Considerando que os fluidos de corte sintéticos são mais miscíveis que os óleos, eles necessitam de uma velocidade de aplicação na região de corte superior aos óleos, evitando REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 79-85 sua dispersão excessiva e, conseqüentemente, baixa refrigeração/lubrificação da região de corte. Um volume grande de refrigerante também é necessário para efetivamente resfriar a interface entre o rebolo e a peça de trabalho e retirar os cavacos da área de usinagem. Desde que os sintéticos tenham uma viscosidade menor, pode-se também querer usar um volume de fluido maior. O arranjo do bocal de refrigerante pode maximizar a lubrificação e a refrigeração, ajustando-se o bocal à parte crítica da interface entre o rebolo e a peça de trabalho para o refrigerante ser continuamente jogado. De acordo com Webster & Ciu (1995), a aplicação do fluido em processos de usinagem está se tornando mais importante devido à alta taxa de remoção, à alta qualidade e à longa vida do rebolo. A seleção de um eficiente método de aplicação é um modo significativo de encontrar metas de produtividade, e pode ser tão importante quanto a seleção das especificações do rebolo. O papel do fluido em operações de usinagem é o de refrigerar a peça, retirar os cavacos, lubrificar a zona de usinagem, refrigerar e limpar o rebolo. Geralmente, a energia de usinagem é dissipada no cavaco, na peça, no rebolo e no fluido. Segundo Guo & Malkin (1995), apud Webster & Ciu (1995), a energia gasta pelo processo de usinagem pode causar temperaturas muito altas e danos térmicos à peça. A utilização de fluidos propicia a retirada de calor, minimizando os danos térmicos que poderiam criar tensões indesejáveis na superfície da peça, além de comprometer a fixação dos grãos abrasivos na superfície de corte. METODOLOGIA Visando a realização deste trabalho, foram realizados dois ensaios laboratoriais, mantendo constantes as condições de usinagem (vs, vw e a) e alterando os valores da pressão e vazão do fluido de corte. Foram medidos os parâmetros de saída: força tangencial de corte, rugosidade média aritmética da peça, temperatura e relação G. Para a medição da força tangencial de corte, optou-se pela determinação em tempo real da mesma através da rotação n da ferramenta e da potência elétrica Pc consumida pelo motor de acionamento do rebolo durante o corte. Para tanto, uti81 00_C&T18.book Page 82 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM lizou-se um circuito condicionador de sinais que permite a aquisição e transformação dos valores de corrente elétrica, tensão elétrica e rotação do motor em sinais de tensão elétrica compatíveis para ser enviados a uma placa de aquisição de dados A/D. Utilizando o software de aquisição de dados LabView 4.1, equações de calibração previamente determinadas e os valores de tensão lidos pela placa de aquisição de dados, foi possível calcular a força tangencial de corte Ftc. Para o cálculo da força tangencial de corte, utilizou-se a equação (F = 1.000 x P x 30/3,1416xnxd), mas a potência elétrica do motor foi conseguida através de uma equação de calibração, medindo-se a tensão no motor do cabeçote da máquina (P = 3 x (1574,517 x V + 2,416)). A rotação do rebolo foi obtida por meio do acoplamento de um encoder ao eixo do motor da máquina, medindo-se a rotação do eixo com um tacômetro e medindo-se a tensão. Obteve-se, assim, a equação de calibração do encoder (n = 0,7587 x V6 - 10,5274 x V5 + 56,0349 x V4 -143,7373 x V3 + 189,3093 x V2 + 669,8487 x V + 7,765). A calibração do termopar foi realizada medindo-se a temperatura com um termômetro e a medição da tensão, com um multímetro, obtendo-se desse modo a equação de calibração para a temperatura (T = 244,0409 + 240,52825 x V). O material utilizado para a realização dos ensaios foi o aço VC 131, temperado e revenido, com dureza média de 60 HRc. As dimensões dos corpos de prova foram de 263,5 mm de comprimento, 40 mm de altura e 5 mm de espessura. Inicialmente, o corpo de prova foi fixado sobre a mesa da máquina retificadora e, posteriormente, foram acertadas todas as condições de usinagem (velocidade de corte, velocidade da mesa e penetração do rebolo na peça). Depois, deu-se início aos ensaios, medindo-se a força tangencial de corte em tempo real, rugosidade média aritmética da peça e o desgaste diametral do rebolo no final de cada ensaio. Os valores de temperatura na peça foram medidos com dois termopares inseridos em pequenos furos transversais nas peças, espaçados de 5 mm na direção vertical. Assim, o corpo de prova era retificado até que o próprio termopar também o fosse. Nesse momento, o termopar desprendia-se natural82 mente da peça, e o termopar seguinte continuava a registrar a temperatura até que fosse retificado de forma similar ao anterior. Os valores de temperatura também foram registrados via software. A rugosidade média aritmética (Ra) dos corpos de prova era medida periodicamente (a cada número predeterminado de passadas do rebolo sobre a peça, dependendo da condição de usinagem), utilizando-se um rugosímetro marca Taylor Hobson, modelo Sutronic 3+ (com cut-off de 0,8 mm e filtro 2CR [ISO]), em três posições distintas do corpo de prova (laterais e centro) e quatro vezes consecutivas em cada posição. Depois, era feita a média dos valores obtidos e anotadas para posterior utilização. Os ensaios foram realizados com o uso da metade da largura (altura) do rebolo. Dessa forma, a metade não utilizada no ensaio servia como referência para a medição da perda diametral do rebolo. No final de cada ensaio, o perfil geométrico do rebolo era marcado sobre uma chapa metálica (aço com baixo teor de carbono), para posterior medição do desgaste do rebolo. Como o volume de material removido era constante a cada ensaio, a determinação da relação G era direta. A operação de dressagem foi realizada através de um dressador de ponta única, com grau de recobrimento de dressagem (Ud) igual a 1, para a obtenção da máxima agressividade da superfície de corte do rebolo. As condições de usinagem utilizadas foram: penetração do rebolo na peça a = 185 µm, velocidade de corte do rebolo vs = 33 m/s e velocidade da peça vw = 1,1 m/min. Os valores de pressão do fluido de corte foram medidos por meio de um orifício existente no bocal, fixado a uma mangueira ligada a um tubo em U contendo mercúrio. Variava-se a válvula de controle do fluido até obter a pressão desejada (máxima ou mínima), que era verificada através do desnível da coluna de mercúrio. A medição da vazão do fluido corte foi feita pela tomada de tempo para encher um recipiente graduado em cinco litros. Foram feitas três medidas antes de cada ensaio, para se obter um valor médio confiável. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 83 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Os valores de pressão e vazão utilizados nos ensaios foram Pmáx = 28.417 Pa com Qmáx = 0,33 l/s e Pmin = 2.935 Pa com Qmin = 0,0735 l/s. Para se obter os valores de pressão e vazão, foi projetado e construído um bocal com perfil de bico arredondado, baseado em Webster & Ciu (1995), conforme mostrado na figura 1. Isso foi realizado porque os bicos tradicionais geralmente têm uma ou duas paredes internas convexas e proporcionam um nível alto de turbulência, o que afeta significativamente a convergência do jato. Em contraste, o novo bocal arredondado tem paredes internas côncavas, o que impede o crescimento da turbulência. Fig. 1. Bico de refrigeração baseado em Webster (1995). de corte é maior, o que diminui a temperatura na região de corte e acarreta menor deterioração do ligante. Dessa forma, o grão abrasivo permanece aderido por mais tempo na superfície de corte do rebolo. Assim, há uma ampliação da área de contato do rebolo com a peça, que, consequentemente, aumenta a força tangencial de corte. No caso em que a refrigeração ocorreu com os menores valores de pressão e vazão, houve uma maior degradação do ligante (pelo aumento da temperatura na região de corte), fazendo com que os grãos abrasivos se desprendessem mais rapidamente da superfície de corte do rebolo. Dessa forma, os novos grãos abrasivos (que são mais afiados do que os já desgastados) possuem maior capacidade de remoção de material, o que implica menores valores de força tangencial de corte. Assim, de acordo com o gráfico, a força tangencial de corte com mínima pressão e vazão apresentou-se menor do que a força tangencial de corte com máxima pressão e vazão ao longo do volume de material removido, nas duas condições citadas. Fig. 2. Resultados obtidos de força tangencial em função do volume de material removido. onde: D = 4,8 mm é o diâmetro da tubulação de entrada; Dn = 3,2 mm é o diâmetro de saída do bico; e Cr (D/Dn) = 1,5 é a razão de contração. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados obtidos nos ensaios são apresentados na forma de gráficos de força tangencial de corte, temperatura e rugosidade média aritmética da peça em função do volume de material removido e relação G em função da pressão e vazão. Resultados de força tangencial de corte Na figura 2 são apresentados os valores obtidos de força tangencial de corte. Pode-se verificar que quando os valores de pressão e vazão foram maiores, a magnitude da força tangencial de corte foi maior. Isso ocorre por que, no caso, a capacidade de refrigeração do fluido REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 79-85 Resultados de temperatura Para a constatação da influência da temperatura no desempenho do processo de retificação, são apresentados nas figuras 3 e 4 os valores de temperatura medidos com os dois termopares. Pela análise dessas figuras, pode-se verificar, tanto para o termopar 1 quanto para o termopar 2, que a temperatura é mais elevada quando a pressão de saída foi mínima. 83 00_C&T18.book Page 84 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Esses resultados já eram esperados, pois quando a vazão e a pressão são menores, há menor refrigeração na área de contato entre o rebolo e a peça de trabalho. Devido a essa menor capacidade de refrigeração e ao constante atrito entre o rebolo e a peça, a quantidade de calor gerada é relativamente grande. Portanto, a temperatura medida nesse caso é maior. Na situação em que os valores de pressão e vazão foram máximos, verificou-se que a ação da refrigeração foi mais eficiente e os valores de temperatura foram menores, devido à redução da ação do constante atrito entre o rebolo e a peça. Ou seja, não é gerada a mesma quantidade de energia em forma de calor que a gerada pela pressão e vazão menores. Fig. 3. Resultados de temperatura obtidos em relação ao volume de material removido, referente ao termopar 1. Fig. 4. Resultados de temperatura obtidos em relação ao volume de material removido, referente ao termopar 2. 84 Maris & Snoyes (1973) concluíram, após um extenso levantamento bibliográfico, que cerca de 60 a 90% do calor gerado no processo de retificação fluía para a peça quando da utilização de rebolos convencionais de óxido de alumínio (Al2O3). Esses valores foram experimentalmente comprovados por Malkin & Anderson (1974), que utilizaram calorímetros para a determinação dessa partição de energia. Dessa forma, a redução da geração de calor promovida pela melhor refrigeração da região de corte mantém a capacidade de corte do rebolo durante tempos maiores, diminuindo o seu desgaste, reduzindo as parcelas de energia relativas ao plowing (upl) e ao deslizamento de grãos cegos (usl). Resultados de Relação G Fig. 5. Resultados de relação G em função da pressão e vazão. A relação G é definida como a relação do volume de material removido e o volume de ferramenta gasta durante do tempo de usinagem. Na figura 5, são apresentados os valores de relação G obtidos nos ensaios. Pode-se verificar que quando os valores de pressão e vazão são maiores, a relação G (8,73) é maior. Isso ocorre pela melhor refrigeração na interface entre o rebolo e a peça, conforme comentários realizados anteriormente. Portanto, os grãos abrasivos permanecem mais tempo fixos à superfície de corte do rebolo, proporcionando um menor desgaste diametral do rebolo (consequentemente, com um aumento da relação G). No caso dos valores de pressão e vazão serem menores, devido à menor refrigeração, os grãos abrasivos apresentam menor capacidade de fixação Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 85 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM pelo ligante, em função da deterioração térmica do ligante, o que proporciona maior desgaste diametral do rebolo. Nesse caso, o valor de relação G (5,07) obtido foi menor. Resultados de rugosidade média aritmética da peça Com a maior retenção dos grãos abrasivos na superfície de corte do rebolo, o que ocorreu quando os valores de pressão e vazão foram maiores, há maior desgaste no topo dos grãos abrasivos. Isso faz com que o material sofra menor riscamento e, consequentemente, a rugosidade média aritmética da peça seja menor. Pela análise da figura 6, pode-se verificar que a rugosidade média aritmética obtida em cada passada do rebolo sobre a peça foi menor quando utilizados os valores máximos de pressão e vazão. Seguindo o mesmo raciocínio utilizado para a força tangencial de corte e da relação G, devido aos grãos abrasivos se manterem ligados aos rebolos por mais tempo para a máxima pressão, pela maior refrigeração, a área de contato é maior, pois os topos dos grãos em contato durante a usinagem acabam ficando com o diâmetro relativamente maior. Isso ocasiona menores valores de rugosidade, não promovendo a remoção efetiva de material, causando maior deformação plástica na superfície do mesmo e, consequentemente, não gerando grandes vales e picos como os ocasionados com a remoção de material quando da utilização de grão abrasivo que possui arestas de corte mais afiadas (expostas). Já quando a pressão é mínima, o diâmetro dos topos dos grãos abrasivos serão relativamente menores, o que ocasionará maior valor à rugosidade. Fig. 6. Resultados obtidos do valores de rugosidade em relação ao volume de material removido. CONCLUSÃO Dos resultados obtidos, pode-se concluir que, de uma maneira geral, quando o fluido de corte foi utilizado com valores de pressão e vazão mais elevados, o desempenho do rebolo foi melhorado. Neste caso, apesar da força tangencial de corte ter se elevado, o calor gerado na zona de corte foi menor, a relação G foi maior e a rugosidade média aritmética, menor. Estes resultados mostram que a instalação de um bocal que melhore a refrigeração na interface entre o rebolo e a peça, por meio de um nível adequado de turbulência, pressão e vazão, é mais eficaz para o processo de refrigeração do tipo tangencial plana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GUO, C. & MALKIN, S. Efectiveness of Cooling in Grinding. CIRP Annual Convention, Enschede, 1995. KOVACEVIC, R. & MOHAN, R. Effect of high speed grinding fluid on surface grinding performance. SME Technical Paper MR95-213, pp. 919-931, 1995. MALKIN, S. Grinding Mechanisms e Grinding Temperatures and Thermal Damage. In: MALKIN, S. 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REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 79-85 85 00_C&T18.book Page 86 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM 86 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 87 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Formalização do Processo de Projeto Mecânico Visando ao uso em Sistemas Inteligentes de Projeto Auxiliado por Computador (ICAD) Formalization of the Mechanical Design Process Aiming to the Use of Intelligent Computer Aided Design Systems (ICAD) FRANCISCO JOSÉ DE ALMEIDA Universidade Metodista de Piracicaba [email protected] RESUMO – Este artigo apresenta uma proposta para formalização e implementação de sistemas computacionais de auxílio ao processo de projeto conceitual. Ele identifica e localiza o projeto conceitual nas fases do projeto mecânico e define os passos componentes do projeto conceitual. Neste artigo, escolhe-se o Método de Projeto Sistemático como método a ser implementado no sistema computacional. Paralelamente, conclui-se pela necessidade do uso de sistemas inteligentes para auxílio ao projeto conceitual, sugerindo suas características desejáveis, bem como seus componentes. O artigo levanta a necessidade de trabalhar-se com base de conhecimentos, propondo soluções para a manipulação dos vários tipos de informações envolvidas. O artigo, por fim, apresenta um exemplo de aplicação desses conceitos, através de um programa computacional, em que tais conceitos são implementados. Palavras-chave: METODOLOGIA DE PROJETO POR COMPUTADOR. – PROJETO SISTEMÁTICO – SISTEMAS INTELIGENTES DE PROJETO AUXILIADO ABSTRACT – This work proposes the formalization and implementation of auxiliary computational systems within the Conceptual Design Process. It identifies and localizes the conceptual design within the mechanical design phases, and defines the concern conceptual design procedures. In this work, the Systematic Design Method is elected as the method to be implemented by the computational system. Also, it concludes for the necessity of the use of intelligent computer aided design systems within the conceptual design, sugesting its related desirable characteristics and components. This work rises up the necessity of the existence of knowledge bases, proposing solutions for the manipulation of the several kinds of envolved information into the conceptual design. Finally, this work presents an application example, a computational system that applies that concepts. Keywords: DESIGN METHODOLOGY – SISTEMATIC DESIGN – INTELLIGENT COMPUTER AIDED DESIGN SYSTEMS. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 87-96 87 00_C&T18.book Page 88 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM INTRODUÇÃO O uso do computador como ferramenta no projeto mecânico, e em outras áreas do conhecimento, já tem apresentado vantagens inquestionáveis, constituindo um processo irreversível. Utilizando-se uma divisão clássica do processo de projeto mecânico, verifica-se que o uso dos computadores teve início pela fase de detalhamento do projeto, com os denominados sistemas de CAD, passando posteriormente para a fase de anteprojeto, com os sistemas de CAE, e chegando agora à fase de projeto conceitual, com os sistemas de ICAD, ou Intelligent Computer Aided Design. A principal dificuldade no uso de sistemas computacionais no projeto conceitual é que esta fase caracteriza-se pelo uso da inteligência do projetista, na proposição e avaliação das soluções variantes para a necessidade identificada. Tal característica exige a criação de uma base de conhecimentos, além das bases de dados usuais utilizadas num sistema de manufatura, gerando o respectivo aumento na complexidade do sistema de gerenciamento dessas informações. Vários estudos na área têm sido feitos por equipes distribuídas por vários países. Entre estas, podem ser citados os trabalhos pioneiros de Akman (1990), Chandrasekaran (1990), Gero (1990), Tomiyama & Yoshikawa (1987) e Yoshikawa (1989). Fases do projeto Pode-se dividir a etapa de projeto em quatro fases: a Identificação das Necessidades, o Projeto Conceitual, o Anteprojeto e o Projeto Detalhado (fig. 1) (Pahl & Beitz, 1996). Na Identificação das Necessidades, busca-se coletar as informações referentes aos requisitos a serem cumpridos pela futura solução. Essa fase envolve a elaboração de especificações detalhadas ou de lista de requerimentos para a necessidade levantada. No Projeto Conceitual, são estabelecida a estrutura funcional das soluções idealizadas e buscados os princípios de solução e sua combinação em variantes de conceito de solução para a necessidade já identificada. As variantes das soluções devem ser julgadas com base em critérios específicos, definidos na fase anterior. Essa fase finda pela eleição do melhor conceito de solução (solução conceitual). No anteprojeto, determina-se a distribuição física do sistema que soluciona o problema, com verificação de funções, tamanho e compatibilidade espacial desse sistema. São delimitadas as características globais e principais do projeto, tais como peso, tamanho e custo final aproximado e potência necessária. Finalmente, no Detalhamento desmembra-se o projeto em subelementos, até os mais simples. Nessa fase procede-se à definição das dimensões finais de todos os elementos componentes do projeto. Projeto Conceitual No Projeto Conceitual trabalha-se com as necessidades do cliente e as restrições externas e internas, objetivando-se definir o Conceito da Solução (fig. 2). Para tanto, seguem-se os passos: a) abstração, a fim de identificar os problemas essenciais; b) estabelecimento das estruturas funcionais da solução geral; Fig. 1. Fases do projeto (Pahl & Beitz, 1996). Identifica o das Necessidades 88 ICAD CAE CAD Intelligent Computer Aided Design Computer Aided Engineering Computer Aided Design Ante Projeto Projeto Detalhado Projeto Conceitual Projeto (Solu o) Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 89 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 2. Fase de projeto conceitual. Restri es Necessidades do Cliente Projeto Conceitual c) definição das subfunções e busca pelos princípios da solução; d) combinação de princípios de solução; e) seleção das combinações viáveis; f) geração das variantes dos conceitos; g) e avaliação das variantes da solução (Pahl & Beitz, 1996: 58). Esse processo é eminentemente criativo, além de exigir do projetista o conhecimento de várias disciplinas diferentes, tais como tecnologia, ciências, psicologia, estética, sociologia, história e planejamento (Nadin & Novak, 1987: 149; Wang et al., 1995: 260). A NECESSIDADE DE IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE ICAD Como se sabe, o computador se presta muito bem para a execução de tarefas repetitivas e de rotina, apresentando nessas condições vantagens indiscutíveis frente ao desempenho humano. Entre outras capacidades, pode-se citar a repetição sistemática e invariável de um mesmo processo indefinidamente, a não ocorrência de cansaço ou de desgaste físico e a execução das tarefas com maior rapidez (Iida, 1990). Na área de projeto, e devido a essas características, a aplicação do computador iniciou-se pela fase de detalhamento. A geração dos desenhos de detalhes, os denominados desenhos para a fabricação, pode ser facilmente roteirizada e esta é, sem dúvida, uma tarefa repetitiva. Traçar linhas, círculos, cotar e executar hachuras são tarefas nas quais o computador vence o homem. Essa é a grande razão para a enorme explosão no oferecimento de sistemas de CAD comerciais e para o interesse da gerência em iniciar a automação do projeto por tal fase. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 87-96 Conceito da Solu o Voltando-se para a fase de anteprojeto, verifica-se a ocorrência de algumas tarefas repetitivas, como a execução de vários cálculos matemáticos. Surgem os sistemas de CAE como, por exemplo, os sistemas baseados no Método dos Elementos Finitos. Esses sistemas, porém, não podem prescindir da direção de um bom projetista, que define, com seu conhecimento, bom senso e criatividade, alterações de projeto, com base nas respostas apresentadas pelos sistemas computacionais. Finalmente, chega-se ao projeto conceitual. Nessa fase, a criatividade é fator preponderante para se definir, ou descobrir, a melhor solução para uma necessidade identificada. O projetista trabalha constantemente com dados imprecisos e incompletos e deve preencher essas lacunas com seu conhecimento anterior de projetos semelhantes e da área de conhecimento relacionada, bem como com sua criatividade. Ele usa sua inteligência. Considerando-se a necessidade do uso do computador em todas as etapas, a fim de prover as vantagens já amplamente citadas para o processo de manufatura integrado – tais como otimização do processo, aumento da qualidade, agilidade de execução do processo e controle e facilidade de interação através da integração –, conclui-se que se deve buscar também uma forma de aplicar a informática nessa fase. Pelos passos contidos no projeto conceitual, conclui-se que, para se poder aplicar o computador, deve-se dotá-lo de inteligência, e aqui se passa a utilizar dos conceitos da Inteligência Artificial. Esta possibilita o modelamento do processo de raciocínio empregado pelos especialistas e a representação simbólica adequada dos conceitos e relações do domínio do problema. Numa definição já clássica, Inteligência Artificial pode ser entendida como: “the study of how to make computers do things at which, at the moment, people are better” (Rich & Knight, 1991: 1). 89 00_C&T18.book Page 90 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 3. Relação entre projetista e sistema de ICAD (Nadim & Novak, 1987: 160). A o Projetista Sistema ICAD Sugest o Sem a Inteligência Artificial, não é possível trazer para um sistema computacional o procedimento complexo utilizado durante essa fase do projeto. APLICAÇÃO DE SISTEMAS INTELIGENTES O uso de sistemas inteligentes no projeto conceitual pode ocorrer basicamente por duas linhas: o Projeto Automatizado, em que o sistema computacional trabalha autônomo, e o Projeto Auxiliado por Computador Inteligente (sistemas de ICAD), no qual o sistema computacional interage com o projetista (fig. 3). A atual tecnologia não permite o desenvolvimento de um sistema de projeto automatizado. O que se tem hoje em dia são sistemas de projeto auxiliado por computador inteligente, sublinhando-se o termo “projeto auxiliado”. Em outras palavras, é função do homem aplicar a criatividade. Ao computador fica a função de assistir ao projetista em todos os estágios e objetos do projeto (Xiao et al., 1995: 107). Paralelamente, sistemas inteligentes computacionais devem apresentar um domínio muito bem definido. São, na verdade, Sistemas Especialistas. Esse fato advém da grande complexidade resultante do desenvolvimento de um sistema inteligente computacional generalista, em virtude principalmente da enorme base de conhecimentos necessária para tanto. Assim como os especialistas são capacitados a resolver problemas de um domínio específico, apresentando baixo desempenho na resolução de problemas de outras áreas, os sistemas inteligentes computacionais também têm de ter limitada a sua área de atuação, de modo a serem de construção viável e apresentarem desempenho satisfatório (David, 1987: 57; Durkin, 1994: 33; e Bento et al., 1997: 1.017). Da mesma forma que os especialistas, os sistemas especialistas baseiam-se na qualidade e na completeza da sua base de conhecimentos. É agindo sobre esta base, retirando dela as informações pertinentes, que o sistema especialista soluciona o pro90 blema. São, na verdade, Sistemas Especialistas Baseados em Conhecimento. REQUISITOS PARA SISTEMAS DE ICAD Sistemas de ICAD devem apresentar uma série de requisitos de funcionalidade, visando o bom desempenho do projetista que o utiliza. Assim, segundo Kimura (1989: 31), pode-se citar entre esses requisitos os seguintes: a) criar e manter múltiplos trabalhos simultâneos: essa característica empresta ao sistema flexibilidade e o aproxima do trabalho usual do projetista, ligado normalmente a mais de um projeto ao mesmo tempo; b) permitir esboços das soluções: sendo o projeto um processo eminentemente iterativo, o projetista muitas vezes inicia com um esboço, melhorado durante o processo de projeto mecânico; c) tratar e manter restrições: as restrições do projeto devem ser inseridas no sistema de ICAD, que as utilizará para filtrar e avaliar os conhecimentos contidos em sua base; d) verificar a integridade dos dados: a fim de impedir conflitos ou omissões que poderiam prejudicar o desenvolvimento do projeto; e) sugerir soluções apropriadas ao projetista: o sistema de ICAD deve trabalhar como uma extensão da memória do projetista, informando-o sobre as soluções viáveis para um problema; f) avaliar o projeto: o sistema de ICAD deve avaliar as opções de soluções, auxiliando o projetista na escolha de uma delas; g) simular soluções e resultados: através da simulação, o projetista pode verificar com Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 91 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM mais confiança a aplicabilidade da solução proposta; h) efetuar a transição do conceitual para o detalhamento: automatizando essa característica, o sistema de ICAD libera o projetista de tal preocupação, permitindo que ele se aprofunde na busca criativa do conceito da solução; i) produzir documentação e justificativas: visando garantir a confiabilidade do sistema, este deve apresentar as justificativas para as suas proposições, as quais podem ser analisadas pelo especialista, que avalizará ou não a resposta. Componentes de Sistemas de ICAD Tomando por base a definição dos sistemas de ICAD, e considerando-se que eles devem trabalhar conjuntamente com o homem, define-se como seus componentes básicos: a) procedimentos para aquisição e verificação de conhecimentos; b) representação e controle de esquemas de conhecimentos (base de conhecimentos); c) aplicação do conhecimento de projeto (motor de inferência); d) interface inteligente com o usuário (fig. 4) (Schmitt, 1990: 290). Essa interface deve ser gráfica, já que é esta a linguagem com que o projetista está acostumado a trabalhar. Mais especificamente, pode-se definir como desejável para a interface características de modelagem em duas e em três dimensões, trabalho com ícones e com esquemas, hipermídia e possibilidade de simulação e de manutenção da história do processo de projeto mecânico (Waldron, 1991: 72-74; e Roy et al., 1995: 571). A característica de aquisição e verificação de conhecimentos objetiva, num sistema de ICAD, municiá-lo da base de conhecimentos necessária para auxiliar o projetista, além de permitir-lhe atualizá-la e completá-la. Tal sistema deve servir como um repositório de conhecimentos disponíveis ao homem e, mais ainda, apresentados em auxílio ao processo mental humano. A característica de representação e controle do conhecimento tem por finalidade manter esse conhecimento organizado dentro do sistema computacional, facilitando sua recuperação e manutenção. Como já foi dito, é sobre essa base de conhecimentos que o sistema computacional infere para deduzir as soluções. Por fim, a característica de aplicação do conhecimento de projeto é o cerne do sistema de ICAD. Ele precisa conter os procedimentos de raciocínio relativos ao seu domínio, inferindo corretamente sobre a base de conhecimentos, a fim de cumprir sua função básica, qual seja, a de auxiliar o projetista no seu trabalho criativo. ESCOLHA DA METODOLOGIA DE PROJETO CONCEITUAL Os procedimentos de raciocínio, no caso do processo de projeto mecânico, formam o método de projeto. Assim, para se desenvolver um sistema de ICAD, deve-se embutir nele um determinado método de projeto. Esse método precisa ser suficientemente conhecido e formalizado, de modo a viabilizar a sua utilização (Smithers et al., 1989: 296). Fig. 4. Estrutura de um sistema especialista (adaptado de Durkin, 1994: 28). Motor de Infer ncia Base de Conhecimentos Aquisi o de Conhecimentos REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 87-96 Interface gr fica com o Usu rio Fatos Conhecimentos Usu r io (projetista) Sugest o (Explana o) 91 00_C&T18.book Page 92 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM O método de projeto a ser implementado tem de apresentar, entre outras, as seguintes características (Pahl & Beitz, 1996: 4-5): a) encorajar a abordagem direta; b) estimular a inventividade e o entendimento; c) facilitar a aplicação de soluções conhecidas; d) ser compatível com o processamento eletrônico; e) ser de fácil ensino e aprendizado; f) refletir o moderno gerenciamento, ou seja, reduzir a sobrecarga, economizar tempo, prevenir erros humanos e manter o interesse. O Método de Projeto Sistemático (Pahl & Beitz, 1996) é um método baseado em conceitos e princípios físicos, aplicável a diferentes tipos de atividades e independente de oportunidade, intuição ou brilhantismo. Além de apresentar as características acima citadas, tal como sugerido pelo próprio nome, é um método suficientemente formalizado e, portanto, indicado para a implementação em sistemas de ICAD. Sem deixar de ser altamente interativo, esse método compõe-se de cinco etapas bem definidas, a saber: a) redução por abstração do problema para termos gerais; b) ênfase à seleção do melhor processo físico; c) separação do problema em subproblemas, procurando-se mais de uma solução para cada um deles; d) produção de várias soluções por meio da combinação e realocação das subssoluções; e) avaliação das soluções. IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMA DE ICAD Talvez a fase que exige maior trabalho seja a de implementação da base de conhecimentos. Ela pode ser dividida em duas etapas: a de geração da base, com a aquisição do conhecimento inicial, e a de representação desse conhecimento. A geração da base requer a busca do conhecimento junto aos especialistas na área. Esse processo exige a aplicação de várias técnicas de psicologia para a transmissão e recepção do conhecimento entre especialista e res92 ponsável pelo desenvolvimento do sistema inteligente. Quanto à representação do conhecimento, pode-se iniciar sua discussão afirmando-se que não há um modelo ideal de representação (Bernus & Letray, 1987: 44) e que, no caso específico de sistemas de ICAD, a representação de dados geométricos é necessária (Dixon & Cunningham, 1989: 137; e Dai et al., 1997: 514). O fato de não haver modelo ideal para a representação do conhecimento já sugere a complexidade dessa área. Vários modelos podem ser utilizados, cada qual com suas vantagens e desvantagens, cada qual apresentando melhor compatibilidade com um determinado tipo de conhecimento, modelos tais como uso de lógica pura, regras de produção, redes semânticas, frames, scripts e lógicas não monotônicas (Durkin, 1994; e Barr & Feigenbaum, 1990). Considerando-se pois um sistema computacional integrado, ele apresenta três tipos de bases de dados: dados gráficos (por ser o desenho a linguagem comum na área), dados para manufatura (em complemento à base de dados geométrica, traz informações como acabamento superficial, material utilizado, tratamento térmico, entre outras) e base de conhecimentos (para os sistemas inteligentes, tais como ICAD no projeto conceitual e outros sistemas especialistas que atuem nas demais etapas da manufatura). Esse fato traz problemas adicionais para a perfeita integração dentro do sistema computacional, desde o projeto até a fabricação. Propõe-se, então, a organização da base de dados e de conhecimentos em três partes distintas, inter-relacionadas, conforme a figura 5. Trabalhar com bases de dados distintas facilita o seu tratamento e, por conseguinte, a sua integração. Fig. 5. Bases de dados/conhecimentos no processo de projeto mecânico. Sistema de Projeto ICAD / CAE / CAD Base de dados Base de dados Base de de Geometria de Manufatura Conhecimentos Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 93 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM A fase de aplicação do conhecimento de projeto (geração do motor de inferência), sendo o já citado cerne do problema, implica a implementação da metodologia escolhida em um sistema computacional. O desenvolvimento dessa fase permite observar algumas características comuns no desenvolvimento de sistemas computacionais inteligentes: a grande iteração existente e o desenvolvimento paulatino do sistema. Diferente do desenvolvimento de sistemas computacionais procedurais, quando a resposta do sistema é definida antes de começar a implementá-lo, no desenvolvimento de sistemas computacionais declarativos inicia-se com um sistema contendo uma pequena base de conhecimentos e algum raciocínio embutido, ampliando-se iterativamente ora um ora outro, até se obter a qualidade de resposta considerada desejável para o sistema em desenvolvimento. Por ele ser “inteligente”, normalmente não se sabe de antemão a resposta que o sistema computacional vai encontrar para um problema proposto. UM EXEMPLO DE APLICAÇÃO Vem sendo desenvolvido pelo autor um sistema de ICAD com o objetivo de obter, verificar e adaptar know-how na área de sistemas inteligentes voltados para o projeto. Em seu desenvolvimento tem sido aplicadas e verificadas todas as considerações já apresentadas, quanto a abrangência do sistema, facilidades disponíveis no programa, levantamento de conhecimentos relacionados, implementação e verificação de uma base de conhecimentos, implementação e verificação de um processo de raciocínio, disponibilização de uma interface amigável e escolha e implementação de um método de projeto. Com o propósito de facilitar seu desenvolvimento, esse sistema de ICAD está dividido em duas partes, a saber, a primeira envolvendo as fases de definição das necessidades e busca da solução conceitual, e a segunda tratando da etapa de avaliação e preparação para o anteprojeto. As duas partes interligam-se e apresentam total integridade entre seus dados específicos. Por ser um trabalho de pesquisa, procurou-se projetar um sistema o mais genérico possível, a fim de que ele servisse como um embrião para futuros sistemas mais complexos, completos e específicos, sem esquecer, porém, que se trata de um sistema para aplicação na atividade de projeto. Essa generalidade é conseguida com uma representação de conhecimento REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 87-96 bem esquematizada, em forma de regras de produção, e com possibilidades de atualização e inclusão de novos conhecimentos pelo próprio usuário. Assim, para atuação em uma área de conhecimento, basta ao usuário inserir conhecimentos relativos a essa área. Tal inserção é implementada de maneira simples e direta pelo usuário, sem necessidade de se alterar o código fonte do programa. A escolha da representação do conhecimento mediante regras de produção deve-se ao fato de esse tipo de raciocínio ser mais comumente utilizado por projetistas. O uso da primeira parte do sistema inicia com a definição do problema, em termos de um binômio verbo-predicado (fig. 6). Com isso, fica garantida a sua abstração em termos genéricos, segundo a metodologia de projeto empregada. Permite-se a caracterização tanto do objeto a receber a ação quanto da ação (ou verbo) propriamente dita. Isso significa, em outras palavras, definir o escopo do problema de projeto a ser resolvido pelo programa computacional considerando todas as restrições do problema, tais como rapidez necessária, ruído admissível, custo admissível (características da ação) e peso, tamanho e fragilidade do objeto (características do objeto). Todas as características podem ser gerenciadas pelo próprio usuário, que tem condições de as incluir, excluir e alterar suas propriedades (fig. 7). Na seqüência, de acordo com a metodologia de projeto utilizada, o sistema executa interativamente a separação do problema em subfunções (funções parciais) e depois em funções elementares, identifica os princípios físicos relacionados e sugere uma solução para o problema proposto na forma de componentes físicos reais, fazendo ainda a recombinação deles, com o objetivo de prover maior leque de soluções para avaliação posterior (fig. 8). Nesse processo, o sistema aplica o conhecimento de projeto contido em sua base de conhecimento, gerenciável pelo usuário (fig. 7). Esse gerenciamento engloba inclusive a manipulação das regras internas do problema, o que oferece uma flexibilidade muito grande no escopo coberto pelo programa. Incluindo na base de conhecimentos os fatos relativos a uma certa área de conhecimento, e também as regras que regem as relações entre essas características, pode-se alterar, ou abranger, o escopo de aplicabilidade do programa computacional. 93 00_C&T18.book Page 94 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 6. Definição do problema em termos de verbo-predicado. Fig. 7. Módulos para gerenciamento da base de conhecimentos. CONCLUSÕES Este trabalho objetivou formalizar um método de projeto com vistas à aplicação em sistemas computacionais de auxílio ao processo de projeto conceitual. Para tanto, verificou-se a necessidade de sistematizar o processo de projeto conceitual, possibilitando a sua transferência para o computador. Na eleição do método utilizado, optou-se pelo Método de Projeto Sistemático, em razão das suas características intrínsecas. Apresentadas as fases do projeto, com detalhamento dos passos do projeto conceitual e das suas características, concluiu-se a necessidade de os sistemas computacionais apresentarem inteligência, 94 valendo-se, então, da inteligência artificial. Esse fato gerou uma nova dificuldade: a necessidade de trabalhar com sistemas de informação contendo bases de dados e bases de conhecimentos. A solução foi estruturar essas informações em três tipos: base de dados geométricos, base de dados de manufatura e base de conhecimentos para os sistemas especialistas baseados em conhecimento. Um exemplo de aplicação, na forma de programa computacional, foi desenvolvido e apresentado, demonstrando a validade das considerações feitas anteriormente. Esse programa, ainda em desenvolvimento, aplica todos os conceitos discutidos, com bons resultados. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 95 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 8. Aplicação da metodologia de projeto pelo sistema computacional. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, F.J. Sistematização e Automatização do Ambiente de Projeto: o enfoque da sintaxe. São Carlos, 1997. [Tese de doutorado, EESC-USP]. AKMAN, V.; HAGEN, P.J.W. ten & TOMIYAMA, T.A Fundamental and Theoretical Framework for an Intelligent CAD System. Computer Aided Design, 22 (6): 352-367, 1990. BARR, A. & FEIGENBAUM, E.A. (eds.). The Handbook of Artificial Intelligence, v. 1, Morgan Kaufman Pub, 1990. BENTO, J.; FEIJO, B. & SMITH, D.L. Engineering Design Knowledgem Representation Based on Logic and Objects. Computers and Structures, 63 (5): 1.015-1.032, 1997. BERNUS, P. & LETRAY, Z. Intelligent Systems Interconnections: what should come after open systems interconnection? In: HAGEN, P.J.W. ten & TOMIYAMA, T. Intelligent CAD Systems I, Berlim, Springer Verlag, 1987. CHANDRASEKARAN, B. Design problem solving: a task analysis. AI Magazine, 11 (4): 59-71, 1990. 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In: YOSHIKAWA, H. & GOSSARD, D. Intelligent CAD, I. Amsterdam: North-Holland, 1989. 96 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 97 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Resinas Bismaleimidas: obtenção e potencial de aplicação no setor aeroespacial Bismaleimide Resins: on production and application at aerospace field MICHELLE LEALI COSTA Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) [email protected] MIRABEL CERQUEIRA REZENDE Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) [email protected] SÉRGIO FRASCINO MÜLLER DE ALMEIDA Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) [email protected] RESUMO – As bismaleimidas (BMIs) são resinas termorrígidas utilizadas como matrizes poliméricas que resistem a altas temperaturas de trabalho. Os engenheiros de materiais buscam cada vez mais novas matrizes poliméricas que ofereçam alto grau de versatilidade em termos de disponibilidade, menor massa específica, resistência mecânica e, em alguns casos, menor custo quando comparadas aos metais e suas ligas. A maioria das novas oportunidades de aplicação para as BMIs surgiu com os materiais compósitos, devido à demanda da indústria aeronáutica e espacial por materiais que resistissem a temperatura de serviço contínuo elevada (150°C) em meio úmido, condições que as BMIs atendem bem. Assim, o presente trabalho mostra as principais áreas de aplicação, as características químicas e mecânicas das BMIs mais comuns, juntamente com seus parâmetros de processamento. Palavras-chave: BISMALEIMIDAS – POLIIMIDAS – COMPÓSITOS AVANÇADOS. ABSTRACT – The bismaleimide (BMI) thermosetting resins are considered as excellent organic matrices regarding the requirements of high-temperature applications. Design engineers are demanding more organic materials as matrix resin because they offer a higher degree of versatility in terms of availability, weight savings, strengths, and, in some cases, cost, in comparison to metals and metal alloys. One of the requirements for polymeric reinforced composites to be used in aircraft and aerospace applications is to withstand a continuous service temperature of 150°C in moist environment, for which BMIs are well suited. This paper presents the main characteristics of this area, showing the chemical characteristics of the more common bismaleimides together with their processing parameters and uses. Keywords: BISMALEIMIDES – POLIIMIDES – ADVANCED COMPOSITES. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 97-107 97 00_C&T18.book Page 98 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM INTRODUÇÃO A inovação tecnológica nas áreas de química de novos polímeros e de polímeros modificados está cada vez mais intensa, em resposta às inúmeras solicitações de um mercado cada vez mais exigente quanto às propriedades dos materiais. A evolução da síntese e da aplicação dos polímeros sintéticos na engenharia de materiais teve início em torno de 1900, tendo como importante aplicação o uso como matriz de compósitos reforçados com fibras. Vários exemplos típicos podem ser citados, como os poliésteres e os vinil ésteres reforçados com fibras de vidro, de aplicação nas indústrias automotiva e marítima, e as resinas epóxi, amplamente utilizadas em compósitos estruturais na indústria aeroespacial. Entretanto, a utilização dos polímeros e dos compósitos poliméricos é limitada à sua temperatura de serviço contínuo, podendo-se citar as epóxi, no setor aeroespacial, que têm seu uso limitado a cerca de 130°C. Na tentativa de superar essa limitação de aplicação, principalmente no setor aeroespacial, trabalhos de inovação tecnológica na área de química de polímeros têm sido realizados e, como resultado desses esforços, surgiram as resinas bismaleimidas (BMI). Essa classe de polímeros exibe uma capacidade térmica que lhe permite suportar temperaturas de serviço superiores às da epóxi (~150°C), combinando um número singular de elevadas propriedades, como excelentes propriedades físicas a altas temperaturas e em meios úmidos, baixa inflamabilidade e maiores valores de temperatura de transição vítrea (Gillham, 1986; Hayes, 1984, e Lee, 1991). A primeira referência à homo e/ou copolimerização da BMI na literatura é de 1968 e trata de uma patente, resultando em uma resina com maiores valores de densidade de ligações cruzadas e de temperatura de transição vítrea (Stenzenberger, 1989). A primeira indústria a produzir a BMI comercialmente, a partir do metileno-dianilina (MDA), foi a Rhône-Poulenc Inc., em 1968 (ASM International, 1995). Surgia, então, o que foi chamado de primeira geração de BMI, correspondente aos anos de 1968-1987. A segunda geração apareceu somente no final dos anos 80, em 1987, com o início da tenacificação das BMIs. Em torno de 98 1991, surgiu a terceira geração das BMIs, apresentando maior resistência ao impacto, maiores valores de módulo elástico e de elongação e a introdução de novos agentes tenacificantes (Rewiew by Hexcel, 1998). A maioria das novas oportunidades de aplicação para as bismaleimidas surgiu com os materiais compósitos (matriz/reforço), que, por sua vez, tiveram seu mercado aquecido devido à demanda das indústrias aeronáutica e espacial por materiais que resistissem a temperaturas de serviço contínuo mais elevadas (~150°C) em meio úmido, condições que as resinas epóxi não atendem (Gillham, 1986; Hayes, 1984, e Lee, 1991). Porém, as BMIs, assim como as epóxi e a maioria das resinas termorrígidas, exibem fragilidade. Existem na literatura inúmeros estudos para tornar essa classe de resina mais tenaz, a fim de ampliar sua aceitação em aplicações estruturais. Isso inclui reações de adição com copolímeros, como os monômeros vinílicos, alílicos, diminas, resinas epóxi e elastômeros (ASM International, 1995; Review by Hexcel, 1998; Delaware Composite Design, 1990; Gawin, 1990; Nesbitt, 1996; Xuanzhang et al., 1990; Ho, 1990; Meissonier et al., 1989; Gebhardt, 1989; Konarski, 1989; Qusen et al., 1989, e Boyd et al., 1990). Em função do crescente interesse por essa classe de resinas, principalmente nos setores aeronáutico e espacial, o presente trabalho mostra as rotas mais utilizadas de síntese dos polímeros bismaleimídicos, os principais agentes tenacificantes usados no ajuste de suas propriedades físico-químicas e mecânicas e o seu potencial de aplicação na área de materiais compósitos. ASPECTOS MERCADOLÓGICOS Custos Os dados referentes aos preços correspondem ao ano de 1997: BMIs ~US$ 8,00/kg; Epóxi ~US$ 5,00/kg. Já os pré-impregnados de BMIs com: tecido de carbono ~US$ 100,00/kg; tecido de vidro ~US$ 50,00/kg e a fita unidirecional de fibra de carbono (tape) ~US$ 60,00/kg (Review by Hexcel, 1998). Mercado As bismaleimidas participam de vários segmentos da indústria, produzindo as mais diversas Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 99 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM peças de aplicação estrutural, atendendo mercados como os de eletroeletrônicos, automobilístico e aeroespacial (Stenzenberger et al., 1989). Os principais consumidores de BMIs com ou sem reforço são Aerospatiale, Boeing Aircraft, Boeing Helicopter, British Aerospace, Dornier, Du Pont, General Electric, Pratt and Whitney, McDonell Douglas, entre outros (Review by Hexcel, 1998). Aplicações Apesar de as poliimidas apresentarem propriedades atrativas, seu custo ainda é elevado quando comparado à maioria das resinas disponíveis no mercado, como as epóxi e as poliésteres (Delaware Composite Design, 1990). Assim, a utilização das poliimidas termorrígidas está restrita, principalmente, ao processamento de compósitos estruturais que são submetidos a temperaturas de serviço superiores a 130°C, simultaneamente a altos níveis de umidade (Stenzenberger et al., 1989; ASM International, 1995; Review by Hexcel, 1998, e Delaware Composite Design, 1990). As duas famílias de imidas que encontram numerosas aplicações e têm sido arduamente pesquisadas nesses últimos anos são as nadimidas (PMR-15, Larc 160 etc.) e as bismaleimidas (Stenzenberger et al., 1989; ASM International, 1995; Review by Hexcel, 1998, e Delaware Composite Design, 1990). O primeiro exemplo comercial de poliimidas de adição foram as bismaleimidas, introduzidas pelo grupo Rhône-Poulenc, e as poliimidas P13N, desenvolvidas pela TRW/NASA (Serafini et al., 1973) e introduzidas pela Ciba-Geigy. Hoje, provavelmente as bismaleimidas são as poliimidas comerciais mais vastamente usadas para aplicação em compósitos (Kourtides, 1988). A poliimida P13N, por outro lado, vem lentamente desaparecendo do mercado comercial, e é representada pelas PMR-15, em que a sigla PMR significa Polimerização de Reagentes Monoméricos (Bagget et al., 1990; Bowles, 1990; Cler, 1990, e Kranbuehl et al., 1990). As formulações de bismaleimidas têm sido constantemente modificadas para adequar suas condições de processamento às limitações das autoclaves hoje disponíveis nas indústrias aeroespaciais. Assim, o ciclo de cura das BMIs é muito semelhante, senão o mesmo, das resinas epóxi, necessitando, em geral, apenas de uma posterior pós-cura (Stenzenberger et al., 1989; ASM International, 1995; Review by Hexcel, 1998, e Delaware Composite Design, 1990). Fig. 1. Exemplos de aplicação de compósitos carbono/epóxi e carbono/BMI em aviões comerciais (Lee, 1991). Dutos de ar condicionado - fibra de carbono/BMI Trens de direção - fibra de vidro S/epóxi - fibra de carbono/BMI Dutos S - fibra de carbono/epóxi ou BMI Piso interno - Alumínio/fibra de vidro/epóxi - Colméias Radome - fibra de carbono/BMI Portas de entrada - fibra de vidro/BMI - fibra de vidro/epóxi REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 97-107 Pás dos estatores - fibra de vidro/BMI - fibra de vidro/epóxi Nacele - fibra de carbono/epóxi - fibra de carbono/BMI 99 00_C&T18.book Page 100 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Logo no início de sua produção, as BMIs foram utilizadas em placas de circuitos eletrônicos e aplicações similares, em que as resistências à umidade e às altas temperaturas de serviço eram necessárias, sendo a fragilidade da resina um fator não considerado. Hoje, as BMIs são empregadas principalmente na manufatura de peças estruturais com exigências de estabilidade a altas temperaturas de serviço e tenacidade adequada ao esforço, como naceles (casulos da turbina), dutos de pré-resfriamento, dutos de entrada, saídas da turbina, mísseis, barreiras contra incêndio, pás da turbina, trens de direção, pás dos estatores, guias dos estatores, capô da turbina, reversores de potência, portas de acesso, radomes militares e comerciais e unidades de potência auxiliar, entre outras (Delaware Composite Design, 1990) (fig.1). Obtenção Como um dos resultados dos estudos de obtenção da bismaleimida com melhores propriedades térmicas, tem-se a imidação de 2 mols de anidrido maleico com 1 mol de diamina, formando, inicialmente, o ácido da bismaleimida. Esse ácido é conhecido como ácido N,N’arileno bismaleimídico e é produzido, geralmente, a temperatura ambiente em presença de cloreto de metileno, tolueno ou dimetilformamida. A desidratação ou a imidação do ácido podem ser feitas sob várias condições, por exemplo, usando o anidrido acético com uma certa quantidade de acetato de sódio como catalisador, na temperatura de 90°C, sob refluxo constante em dimetilformamida, ou simplesmente aquecendo o ácido bismaleimídico (Lee, 1991, e Delaware Composite Design, 1990) (fig.2). Esse tipo de processo gera a bismaleimida com 65-75% de grau de pureza. Vários subprodutos são também formados, como isoimidas, acetanilidas etc. (Stenzenberger et al., 1989). Outro processo de obtenção de BMI é a partir dos reagentes iniciais anidrido maleico e diamina sem o isolamento do produto intermediário – que no caso é o ácido –, sob refluxo constante de ácido acético ou dimetilformamida (Lee, 1991, e Delaware Composite Design, 1990) . Uma gama de diaminas tem sido utilizada para preparar as BMIs. Essas diaminas podem ser aromáticas ou alifáticas, e cada uma delas produzirá um tipo diferente de bismaleimida. A tabela 1 mostra algumas estruturas das principais BMIs (Stenzenberger et al., 1989). 100 Como pode ser observado, existem inúmeros tipos de bismaleimidas. Entretanto, uma das mais utilizadas é a BMI produzida a partir do metileno dianilina (MDA) com o anidrido maleíco, formando a bis(4-maleimidadifenil)metano (MDA BMI), mostrada na primeira linha da tabela 1. Como mencionado anteriormente, a Rhône-Poulenc Inc. foi a primeira companhia a produzir a MDA BMI. Essa BMI tem as desvantagens de possuir alta temperatura de processamento (igual a 156°C) e de não fluir facilmente no seu estado não curado; porém, possui temperatura de transição vítrea (Tg) de 300°C e sua temperatura de decomposição é de 460°C. O material curado é muito frágil, característica que pode ser atribuída tanto à estrutura final do material curado quanto à pequena distância molecular das ligações cruzadas (Lee, 1991). Esse material é ideal para o uso em indústria eletrônica, em que o processo de polimerização mais utilizado é a cura dos pré-impregnados de BMIs em prensas térmicas. Entretanto, para as aplicações aeroespaciais, em que o uso de autoclave é predominante no processo de cura dos laminados, essa resina não foi aceita devido às altas temperaturas de cura (Lee, 1991). Fig. 2. Esquema geral da preparação da bismaleimida (Lee, 1991, e Delaware Composite Design, 1990). Assim, para permitir a processabilidade em autoclaves e reduzir o caráter frágil da MDA BMI associado à sua estrutura rígida, o grupo Rhône-Poulenc desenvolveu uma blenda de BMIs, que foi chamada de Kerimids. A Kerimid 601 é uma mistura de três BMIs: MDA BMI, uma cadeia estendida de BMI resultante da reação de adição de Michael de MDA BMI e MDA e uma BMI baseada na 2,5-diaminotolueno, como mostra a figura 3. Na literatura, encontram-se inúmeros trabalhos (Iijima et al., 1997; Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 101 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Abbate et al., 1997; Katiyar et al., 1997; Liang et al., 1997, e Musto et al., 1998) mostrando novas formulações, cada vez mais sofisticadas e com propriedades superiores às já existentes. Propriedades Mecânicas As propriedades que tornam as bismaleimidas atrativas são mecânicas, uma vez que sua principal aplicação é estrutural. Sabe-se, porém, que as BMIs têm excelente compatibilidade com outros polímeros, superior resistência a umidade, não liberam voláteis, não são inflamáveis e apresentam baixa toxicidade (Review by Hexcel, 1998, e Delaware Composite Design, 1990). As propriedades de sistemas de resina puros estão resumidas na tabela 2. As propriedades típicas de resistência a tração das poliimidas a temperatura ambiente apresentadas na tabela 2 estão na mesma faixa das epóxi normalmente utilizadas em aplicações de alto desempenho: resistência a tração na faixa de 48 a 58 MPa, módulo de tração de aproximadamente 3241 MPa e elongação menor que 6,9% (Delaware Composite Design, 1990). As propriedades de flexão da bismaleimida mostradas na tabela 2 são mantidas aproximadamente constantes até a temperatura de 250°C (60% de retenção da resistência a fletir, 78% de retenção do módulo) e também a temperaturas baixas -200°C (Delaware Composite Design, 1990). As propriedades mecânicas do sistema de resina pura e de laminados com bismaleimida e reforço unidirecional de fibras de carbono, tipo T300, têm sido avaliadas na literatura (Harruff et al., 1979). A retenção das propriedades de compressão e de cisalhamento são de 80 a 100% a temperatura de 232°C (Delaware Composite Design, 1990). Uma comparação entre as propriedades de resistência à delaminação e a condições ambientais foi feita entre duas resinas disponíveis comercialmente por Wilkins (1981): laminado de fibras de carbono/ bismaleimida e laminado de fibras de carbono impregnado com resina epóxi de última geração. A poliimida utilizada foi a V-378A (U.S. Polymeric) e a epóxi foi a 3501-6, da Hércules. Uma das conclusões desse estudo é que a bismaleimida resiste aproximadamente 40°C a mais a condições ambientais adversas do que a resina epóxi (Delaware Composite Design, 1990). Os testes incluíram tenacidade a fratura tanto em modo I como em modo II, temperatura de transição vítrea (Tg) seca e úmida, resistência térmica, propriedades de cisalhamento, compressão quente/úmido, e apenas no ensaio de tenacidade a fratura modo II é que a epóxi teve valor cerca de 50% superior (Delaware Composite Design, 1990). Tab. 1. Estruturas de alguns substituintes (-R-) das bismaleimidas (Stenzenberger, 1989). O O C C N-R-N C O O TFUSÃO (˚C) TMAX(˚C) (1) H (J/G) (2) CH2 155-157 235 198 CH2 195-196 ND ND 210-212 ND ND 150-154 298 187 149-151 328 206 GRUPAMENTO –R- H2C CH3 CH2 H3C C 2H6 CH2 H6C 2 CH3 H 6C2 C2H6 CH2 H 6C2 C C2H6 (1)Pico de cura máximo exotérmico obtido por calorimetria diferencial de varredura (DSC) (2)Entalpia de polimerização ND – não disponível REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 97-107 101 00_C&T18.book Page 102 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Tab. 2. Propriedades de sistemas de resina puros de poliimidas (Delaware Composite Design, 1990). BISMALEIMIDA PROPRIEDADES PMR-15 (K ERIMID 601) Módulo de tração (MPa) Resistência à tração (MPa) Elongação (%) Resistência à compressão (MPa) Resistência à flexão (MPa) Módulo de flexão (MPa) Tg (˚C) Índice de oxigênio 3241 55,8 187,5 350 - 48,3-58,6 < 6,9 200 97 3137 35 Odom & Adams (1983) compararam sistemas puros de resina bismaleimida e epóxi estrutural (Hércules 3501-6) em ensaios de fadiga (R = 0,1) e estimaram que o nível máximo de tensão a temperatura ambiente para um ciclo de vida de 106 foi em torno de 41,3 MPa para a poliimida e 34,4 MPa para a epóxi, ambas em condições secas. A 88°C, o nível de tensão foi de aproximadamente 29,6 MPa para a bismaleimida e de 24,8 MPa para a epóxi. Ensaios de fadiga torsional deram os mesmos resul- tados, ou seja, propriedades superiores para o sistema de resina bismaleimida (nível de tensão na faixa de 27-42 MPa). As BMIs possuem valores de tenacidade a fratura cerca de 1,6 superiores à epóxi. Propriedades Térmicas Uma das principais razões para a escolha da resina bismaleimida como matriz polimérica é o satisfatório desempenho das suas propriedades em elevadas temperaturas. Muitos trabalhos têm avaliado a retenção das suas propriedades em temperaturas altas tanto por curtos quanto por longos períodos de exposição (Delaware Composite Design, 1990). As características estruturais que tornam a resina resistente a elevadas temperaturas por curto período de tempo não são as mesmas que a tornam resistente a exposição por longos períodos de tempo e/ou resistente aos efeitos oxidativos a que está sujeita no tempo de vida de serviço (Delaware Composite Design, 1990). Em geral, estudos têm determinado aproximadamente a temperatura de serviço de 250°C para as bismaleimidas e de 320°C para PMR (Delaware Composite Design, 1990). Tab. 3. Desempenho do laminado de carbono/bismaleimida sob ensaio de tempo de vida (USA Polymeric V-378A/T-300, Vf = 64-66%) (Delaware Composite Design, 1990). TEMPERATURA DO ENSAIO (˚C) PROPRIEDADES AMBIENTE (22) 177 232 [0]s, Resistência à flexão, Inicial 6 meses a 177˚C % do valor inicial 6 meses a 232˚C % do valor inicial 9 meses a 232˚C % do valor inicial Resistência ao ILSS*, Inicial 9 meses a 232˚C % do valor inicial Perda de massa, % 6 meses a 177˚C 6 meses a 232˚C 9 meses a 232˚C MPa 2054,7 2206,4 107 1896,1 92 1840,9 90 MPa 108,9 106,9 98 1689,3 1868,5 111 - 1606,5 1241,1 77 1413,5 88 69,6 - 53,1 59,3 112 0,57 2,3 3,4 *ILSS – resistência ao cisalhamento interlaminar Carbono/epóxi (Delaware Composite Design, 1990) 121˚C – Nenhum efeito por 10.000 horas. A degradação da matriz começou entre 10.000 e 25.000 horas e foi severa depois de 50.000 horas. 177˚C – A degradação da matriz começou entre 1.000 e 5.000 horas. Carbono/bismaleimida (Delaware Composite Design, 1990) 232˚C – Nenhum efeito por 25.000 horas, decresce a resistência à tração observada depois de 50.000 horas mas não observa-se a degradação da matriz. 102 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 103 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Dados de um laminado disponível comercialmente de bismaleimida/carbono (V378A, da U.S Polymeric) são mostrados na tabela 3. Apesar da exposição à temperatura de 232°C por nove meses, o laminado retém 88% da resistência a fletir inicial e 100% da resistência ao cisalhamento, com apenas 3,4% de perda de massa (Delaware Composite Design, 1990). Resistência às condições ambientais A resistência química das poliimidas é geralmente boa, tanto para as obtidas por condensação quanto para as conseguidas por adição. Os solventes orgânicos típicos encontrados em algumas partes de aeronaves têm pouco ou nenhum efeito sobre as poliimidas. Entretanto, o anel poliimídico é susceptível à hidrólise alcalina na presença de bases fortes até mesmo em temperatura ambiente (Delaware Composite Design, 1990). Dine-Hart et al. (1971), por exemplo, mostraram que em uma condensação típica da poliimida ocorre uma lenta hidrólise em presença de hidróxido de sódio a temperatura ambiente, gerando um sal de sódio do ácido poliimídico inicial, que pode ser convertido em poliimida de baixo peso molecular. A completa hidrólise da diamina e do tetra-ácido ocorreu a 80°C. A degradação de um laminado de fibra de vidro com poliimida obtida por condensação observada quando o mesmo é imerso em água entre 60100°C pode ser atribuída tanto ao efeito plastificante na resina quanto ao dano irreversível atribuído à hidrólise da resina (Deiasi et al., 1974). O coeficiente de difusão varia com a temperatura, e é relativamente constante com a variação da umidade relativa a temperatura constante, como esperado. O conteúdo de umidade de equilíbrio a 95% de RH (umidade relativa) é cerca de 32 a 38% maior que para os laminados com matriz epóxi MY-720. Em adição, os coeficientes de difusão da bismaleimida são maiores que aqueles de laminados de epóxi (por um fator de 8 a 10 vezes), com aproximadamente a mesma dependência da temperatura (Mauri et al., 1978; Hough et al., 1998, e Heisey et al., 1995). Propriedades elétricas As poliimidas têm, geralmente, boas propriedades elétricas, incluindo alta resistência dielétrica, baixa constante dielétrica e baixo fator de dissipação, mantendo essas propriedades em uma larga REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 97-107 faixa de temperatura e freqüência (Delaware Composite Design, 1990). O uso de resinas bismaleimidas em placas de circuitos impressos (PCB) com exigência de resistência a elevada temperatura tem se tornado cada vez mais amplo, substituindo com maior eficiência as placas padrão de epóxi FR-4. A química das resinas bismaleimidas permite seu uso na modificação de resinas epóxi usuais, visando aumentar a temperatura de transição vítrea e abaixar o coeficiente de expansão térmica (CTE), sem o sacrifício das propriedades elétricas e da resistência química da resina epóxi inicial (US Patent, French Patent e Japanese Patent). Inflamabilidade e Fumaças O comportamento dos materiais em relação à resistência a chama é muito dependente da composição química do polímero e dos aditivos que compõem a formulação do material polimérico, em que será vital a dependência da presença de aditivos retardantes de chama. Assim, dentro desse conceito, as poliimidas são classificadas como polímeros inerentemente retardantes de chama. As poliimidas, junto com as resinas fenólicas, são resinas poliméricas com bom desempenho de inflamabilidade e fumaças, ou seja, possuem boas propriedades de inflamabilidade que atendem ao setor aeronáutico, com baixos valores de inflamabilidade e liberação de fumaças (Lee, 1991; e ASM International, 1995). Na simulação do comportamento de inflamabilidade dos materiais poliméricos puros ou aditivados (com retardantes de chama, podendo ou não conter cargas minerais e/ou reforços), podem ser realizados vários tipos de ensaios, abrangendo principalmente dois aspectos: 1. a avaliação da resistência a chama, em geral verificando a ignição (estado dos corpos em combustão), a tendência a continuar queimando e a característica da queima, incluindo a presença de fumaça; e 2. a determinação dos tipos de subprodutos de combustão do material polimérico, fundamentalmente observando se há emissão de produtos voláteis tóxicos. Entre os testes de resistência a chama, destacam-se os testes ASTM D 2863, como índice de oxigênio, o teste de inflamabilidade dos Underwriters Laboratories, o UL 94, e o teste de densidade de fumaça realizado em câmara de fumaça, normalizado pelo National Bureau of Standards (NBS) (Lee, 1991; e ASM International, 103 00_C&T18.book Page 104 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM 1995). Segundo a norma ASTM D 2863, quanto maior for o índice de oxigênio, melhor é a resistência intrínseca a chama do polímero. Os valores de índice de oxigênio para as bismaleimidas e PMRs estão na faixa de 30-35%, para os sistemas de resina puros, enquanto as epóxi estão na faixa de 15%. E o desempenho da bismaleimida em uma câmara de fumaça segundo a norma NBS, mostrado na figura 3, é significativamente melhor que o da maioria das outras resinas (máximo de densidade de fumaça de 5-10 contra 90-150 para a epóxi) (Delaware Composite Design, 1990). Fig. 3. Concentração de fumaças em uma câmara segundo norma NBS, para alguns termoplásticos e termorrígidos (sistemas puros de resina, exceto onde há observação do reforço, exposição: 2,5 watts/cm2) (Delaware Composite Design, 1990). A Ciba-Geigy desenvolveu um agente tenacificante muito eficiente para as resinas BMIs. O agente é um dialil que reage com as duplas ligações da maleimida, como ilustrado na figura 4. Seu nome comercial é Matrimid 5292 (formulado XU 292), e possui a estrutura química mostrada na figura 4. Embora a Technochémie também tenha desenvolvido adjuvantes similares, eles aumentam muito o peso molecular, uma vez que são estruturas muito densas, como pode ser observado na figura 5. Outros agentes tenacificantes muito utilizados são o divinil benzeno e o trialil isocianato, que estão disponíveis na US Polymeric V378 e na Hexcel F178, respectivamente (ASM International, 1995). Fig. 4. Agente tenacificante Matrimid 5292 (Lee, 1991). H2C=CH CH2 CH2 H2 C=CH CH3 HO C OH Fumaça, D s CH3 Fig. 5. Agentes tenacificantes da BMI (Stenzeberger et al., 1989), da Technochémie. H2C=CH CH 2 CH 2 SO2 O H2C=CH O O H2C=CH Cargas e Reforços Sabe-se que as resinas bismaleimidas são termicamente estáveis. Entretanto, no passado, o seu processo de cura era bem difícil, devido às altas temperaturas de processamento, o que, em geral, conferia materiais muito frágeis. Assim, com a finalidade de eliminar as microtrincas associadas aos materiais frágeis, agentes tenacificantes têm sido incorporados à produção das resinas BMIs. Além disso, para facilitar a impregnação dos tecidos e fibras para a produção de pré-impregnados, são adicionados diluentes à formulação de resina. Alterações nas quantidades dos reagentes usados na produção das BMI também têm forte influência nas propriedades mecânicas do produto final (ASM International, 1995; Yerlikaya et al., 1996; Morgon et al., 1997; Favre et al., 1996; e Liang et al., 1997). 104 CH2 O O( C O C O )n H2 C=CH CH2 Além desses adjuvantes, as bismaleimidas são muito utilizadas com reforços, que podem estar na forma de tecidos ou fitas unidirecionais. Aliás, como mencionado anteriormente, essa é a principal forma de aplicação das resinas BMI, ou seja, como matéria-prima para a produção de compósitos estruturais com atrativas propriedades mecânicas. Os reforços utilizados são, em geral, fibras de vidro, aramida e/ou carbono na forma de tecidos ou de fibras unidirecionais (Review by Hexcel, 1998). Processamento e Concepção de Peças As reações de cura ou de polimerização da bismaleimida ocorrem por meio da ligação dupla da maleimida. A reação é de adição sem a evolução de Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 105 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM voláteis. Assim, as BMIs são resinas termorrígidas que, após a cura, possuem alta densidade de ligações cruzadas, tornando-se insolúveis e infusíveis. A ausência ou presença de co-reagentes (agentes de cura, adjuvantes etc.) é responsável pelo caminho da reação de cura das BMIs (ASM International, 1995). A homopolimerização da BMI pode ser termicamente induzida. Essa cura térmica gera um produto final com alta densidade de ligações cruzadas e uma estrutura muito frágil. A homopolimerização das BMIs pode ser observada na figura 6 (ASM International, 1995). As BMIs, como visto anteriormente, têm sido curadas com diversos tipos de reagentes. Os mais utilizados são as diaminas, as olefinas e os ésteres dicianato (ASM International, 1995). As diaminas, bem como outros tipos de monômeros nucleofílicos, copolimerizam com a BMI por meio da reação de adição de Michael, como mostra a figura 7. Geralmente, a diamina está presente em menor quantidade na mistura em relação à BMI. O produto resultante é essencialmente uma cadeia estendida de BMI ainda capaz de fazer novas ligações cruzadas por meio da funcionalidade da maleimida. Entretanto, o grau de flexibilidade da molécula está restrito à cadeia principal do oligômero (ASM International, 1995). Fig. 6. Homopolimerização das bismaleimidas (ASM International, 1995). O A reação de cura das bismaleimidas com as olefinas ocorre de maneira muito similar à reação de homopolimerização. As olefinas contendo um ou mais grupos vinílicos conferem ao produto final um material com grande número de ligações cruzadas. Quando os grupos divinílicos estão adjacentes ao anel aromático, o mecanismo de cura se passa por meio de um intermediário cíclico, isto é, pela reação de Diers-Alder, como pode ser visto na figura 8. Deve-se mencionar que os diluentes dialílicos, como o 0,0’dialil bisfenol-A, são muito mais comuns que os diluentes vinílicos (divinil benzeno), e conferem ao produto final melhor tenacidade a fratura (ASM International, 1995). Outro grupo que tem sido utilizado na cura de BMIs é o éster dicianato. A estrutura final do produto curado pode ser complicada, dependendo das quantidades estequiométricas utilizadas. Diversas possibilidades de reações de cura podem ocorrer simultânea ou independentemente (ASM International, 1995). Fig. 8. Seqüência de reação das BMIs com compostos divinílicos aromáticos (ASM International, 1995). O O C C CH = CHR1 + R1CH=CH N-R-N C C O O Reação de DiersAlder CH = CHR1 R1CH=CH R R1 O C C N O R N- R-N C N O O O O R N O O O N R R2 C N O N O O O O N O N O O O O Fig. 7. Reação de Michael para as bismaleimidas (ASM International, 1995). O O C C O C C C C O O R N + N -R-N C R1CH=CH O Formação de lig. cruzadas Polímero Infusível, insolúvel H NH2-R1-NH2 C O O O O H C C H N H 1 R H O H C N ( N-R-N N C C O O H H H H O H O C N C H O C R1 ) N n H R1 N C C O O REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 97-107 Produtos, Fabricantes e Nomes Comerciais Ao longo do texto já foram mencionados alguns nomes comerciais e fabricantes das resinas bismaleimidas, sendo os principais listados na tabela 4, a seguir. 105 00_C&T18.book Page 106 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Tab. 4. Principais fornecedores e nomes comerciais de BMIs. NOME COMERCIAL FABRICANTE DO PRODUTO Rhône-Poulenc Inc. Technochémie GMbH BTL Specialty Resins and Ciba-Geigy Corporation Mitsubishi Petrochemical Company Hexcel Corporation Narmco US Polymeric Fiberite Quantum Materials Kerimids Kinel FE 70003 H 353 M 751 MDA BMI Matrimid 5292 BMI polifuncional Pré-impregnados: F-178, F650, F652, F655, F6552 5245C V-378A 987 Q-Bond CONCLUSÃO Como pode ser visto ao longo do texto, a química das formulações e sua adequada manipulação são ferramentas muito valiosas na busca de novos produtos para a engenharia de materiais. As bismaleimidas são um exemplo disso. Os estudos envolvendo essa classe de polímeros foram motivados, principalmente, pelo objetivo de tentar superar as deficiências que as epóxi apresentam nas suas propriedades. As bismaleimidas são uma classe de resinas relativamente recente dentro do grupo das poliimidas. Apesar de, no início da sua produção, serem resinas poliméricas muito frágeis, hoje, com a adição de agentes tenacificantes, as BMIs ganharam maior resistência a impacto. Em geral, têm propriedades semelhantes às das resinas epóxi – sendo, em alguns casos, superiores a elas –, e possuem a grande vantagem de ter alta temperatura de serviço. O seu processamento é semelhante ao das resinas epóxi, necessitando apenas de uma posterior pós-cura. As bismaleimidas estão disponíveis no mercado por parte de vários fornecedores, tanto em forma de sistemas de resina pura quanto combinada com diversos tipos de reforços, porém a preços um pouco mais elevados do que os das epóxi. No entanto, as bismaleimidas têm se mostrado muito adequadas ao processamento de compósitos avançados, principalmente no que se refere à sua utilização indústria aeroespacial. Agradecimento À Fapesp, pelo suporte financeiro (processo 98/10079-1). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBATE, M. et al. Thermosetting bismaleimide reactive rubber blends: curing kinects and mechanical behavior. J. Appl. Polym. Sci, 65 (5): 979, 1997. ASM INTERNATIONAL. Engineering Materials Handbook: engineering plastics. 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REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 97-107 107 00_C&T18.book Page 108 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM XU, J. et al. A morphological investigation of thermosets toughened with novel thermoplastics. I. Bismaleimide modified with hyperbranched polyester. J. Appl. Polym. Sci., 72 (8): 1.065, 1999. XUANZHANG, W. et al. Fracture morphology of toughened bismaleimide/carbon fiber composites. 35th International Sampe Symp., Apr. 2-5: 1.997, 1990. YERLIKAYA, Z. et al. Chain-extended bismaleimides. II. A study of chain-extended bismaleimides as matrix elements in carbon fiber composites. J. Appl. Polym. Sci., 59 (3): 537, 1996. ZHANG, B.Y. et al. Studies of modified bismaleimide resins-Part I - the influence of resin composition on thermal and impact properties. Mater. Sci, 33 (23): 5.683, 1998. COLTON, J. S. Resin transfer molding of BMIs and polymides. Polym. 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Esse quadro é agravado pela reversão de 31 m3/s pelo Sistema Cantareira (Sabesp), para o abastecimento da Grande São Paulo, e pela falta de tratamento do esgoto doméstico e industrial. Considerando que a racionalização do uso da água e a preservação desse recurso natural exigem uma melhor compreensão do comportamento hidrológico e suas interações com as atividades antrópicas, analisou-se aqui mudanças no comportamento da vazão e da precipitação ao longo dos anos. A análise estatística foi realizada com os dados anuais do período de 1947 a 1996, utilizando uma versão mais recente do banco de dados do projeto Piracena (CENA, USP). Foram detectadas como estatisticamente significativas uma diminuição na vazão dos rios Atibaia e Jaguari, assim como um aumento na precipitação no mesmo período. Palavras-chave: HIDROLOGIA – ANÁLISE DE TENDÊNCIAS – SÉRIES TEMPORAIS. ABSTRACT - The last decade development of urban, industrial and agricultural activities within Piracicaba river basin, has led to a significant increase in water demand and decrease in water quality. This scenario was deteriorated by 31 m3/s of water transfer from the Piracicaba river basin to the metropolitan region of São Paulo city (Sistema Cantareira, Sabesp) and the small amount of urban and industrial waste treatment.Considering that enhancement of water resources preservation and management needs a better comprehension of the hydrologic behavior and its interactions with anthropogenic activities, analysis of temporal patterns of flow and precipitation in the basin were carried out. Statistical analysis on yearly data, from 1947 to 1996, were performed using a more recent Piracena project database. Statisticaly significant changes were detected, as runoff decrease on Atibaia and Jaguari rivers and a precipitation increase at the same period. Keywords: HYDROLOGY – TREND ANALYSES – TIME SERIES. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 109-117 109 00_C&T18.book Page 110 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM INTRODUÇÃO O acelerado desenvolvimento urbano e agroindustrial de algumas regiões do Brasil tem provocado a degradação dos seus recursos hídricos em seus aspectos quantitativos e qualitativos, principalmente devido ao uso da água e do solo sem um gerenciamento adequado e à falta de tratamento de esgoto urbano e industrial. A bacia do Rio Piracicaba (12.400 km2) é um exemplo típico dessa situação preocupante. Apresenta um crescimento populacional e industrial maior que a média do país – e devido ao seu acelerado desenvolvimento tornou-se um pólo de diversas atividades altamente consumidoras e degradadoras dos recursos hídricos, em que o aumento do consumo de água e das cargas de esgotos urbanos e agroindustrial, as mudanças no uso da terra e a transferência de água interbacias são as principais causas passíveis de alterarem tanto a quantidade quanto a qualidade dos recursos hídricos (Moraes et al., 1998 e 1997; Martinelli et al. 1999, e Krush et al., 1997). Uma das intervenções antrópicas mais marcantes no comportamento hidrológico da bacia foi a implantação do Sistema Cantareira (Sabesp), responsável pela reversão interbacias de 31 m3/s para abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo. Esse sistema compreende quatro reservatórios localizados nas cabeceiras dos formadores do Rio Piracicaba (Jaguari, Jacareí, Atibainha e Cachoeira) (fig.1) e um reservatório situado na cabeceira do Rio Juqueri (fora da bacia do Piracicaba). Os reservatórios encontram-se interligados por túneis e canais até a Estação de Tratamento de Água do Guaraú, na cidade de São Paulo. Sua construção começou em 1965 e foi implantada em duas etapas: a primeira compreendeu o aproveitamento dos rios Juqueri, Atibainha e Cachoeira, com início das operações em 1975, fornecendo a vazão nominal de 11 m3/s para São Paulo. Em 1976 começaram as obras relativas à segunda etapa, com início de operação em 1981, compreendendo as barragens dos rios Jaguari e Jacareí, e que propiciaram a adução de 33 m3/s, dos quais 31 m3/s provêm da bacia do Rio Piracicaba e 2 m3/s da bacia do Rio Juqueri (DAEE, 1986, e Sabesp, 1989). A população atendida pelo sistema integrado saltou da cifra de 60% da população presente em 1975 para 95%, em 1984 (Sabesp, 1989). 110 Nesse quadro, uma avaliação mais aprofundada do comportamento das séries temporais de vazão e precipitação faz-se necessária, no intuito de obter informações sobre o comportamento natural e as influências das ações antrópicas em seu funcionamento que possam auxiliar na compreensão e no gerenciamento dessa bacia de drenagem. Para o estudo, foram selecionadas as séries de vazão e precipitação dos rios Camanducaia, Atibaia, Jaguari e Piracicaba (fig. 1). A análise das séries temporais oferecem a possibilidade de verificar a variabilidade natural, assim como o efeito de barragens no escoamento. Neste estudo, a análise de séries temporais dos dados foi realizada utilizando testes de tendência e de ruptura, ou seja, a versão seqüencial do teste de Mann-Kendall e o teste de Pettitt. O objetivo deste trabalho é atualizar os estudos de séries temporais do projeto Piracena do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena-USP), buscando avaliar a persistência do impacto do Sistema Cantareira na vazão dos rios, a evolução da tendência positiva na precipitação e completar a metodologia com teste de independência dos valores da série temporal. MATERIAIS E MÉTODOS As séries de vazão e precipitação foram escolhidas pela existência de dados completos no período de estudo, entre 1947 e 1996, e pela distribuição espacial na bacia. As estações utilizadas foram as mostradas na figura 1. A metodologia consistiu nos seguintes passos: 1) verificação da independência da série temporal através do teste de autocorrelação serial. Esse teste é necessário já que, sem ele, tendências inexistentes podem ser detectadas (Clarke & Brusa, 1997, e Marengo & Tomasella, 1996). Com essa finalidade, foi utilizado o software MHTS Mcleod-Hipel Time Series Package (Mcleod & Hipel, 1994); 2) estudo exploratório: versão seqüencial do teste de tendência de Mann-Kendall e teste de mudanças bruscas nas médias de Pettitt (Sneyers, 1975; Pettitt, 1979; Goossens & Berger, 1986; Demarée, 1990, e Moraes et al., 1997 e 1998). Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 111 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM O teste seqüencial de Mann-Kendall, proposto inicialmente por Sneyers (1975), é um teste estatístico não paramétrico, no qual, na hipótese da estabilidade de uma série temporal, os valores devem ser independentes e a distribuição de probabilidades deve permanecer sempre a mesma (série aleatória simples). Considerando uma dada série temporal Yi de N termos (1 ≤ i ≤ N) a ser analisada, esse teste consiste no somatório mostrado na equação 1: tn = ΣNi=1 mi (1) onde: tn = somatório mi = número de termos da série, relativo ao valor Yi, cujos termos precedentes (j < i) são inferiores ao mesmo (Yj < Yi) N = número de termos da série Para N grande, sob hipótese nula Ho de ausência de tendência, tn apresentará uma distribuição normal com média E(tn) e variância Var(tn), conforme mostrado nas equações 2 e 3: E(tn) = N(N-1)/N (2) Var(tn) = N(N-1)(2N+5)/72 (3) Testando a significância estatística de tn para a hipótese nula usando um teste bilateral, ela pode ser rejeitada para grandes valores da estatística u(tn) através de: u(tn) = (tn- E(tn))/(var(tn))1/2 (4). O valor da probabilidade α1 é calculada por meio de uma tabela da normal reduzida, tal que α1 = prob(u > u(tn) ). Sendo α0 o nível de significância do teste (α0 = 0,05 e 0,1 para significante e levemente significante, respectivamente), a hipótese nula é aceita se α1 > α0. Caso a hipótese nula seja rejeitada, significará a existência de tendência significativa, sendo que o sinal da estatística u(tn) indica se a tendência é positiva (u(tn) > 0) ou negativa (u(tn) < 0). Em sua versão seqüencial, a equação 4 é calculada no sentido direto da série, partindo do valor de i = 1 até i = N, gerando a estatística u(tn), e no sentido inverso da série, partindo do valor de i = N até i = 1, gerando a estatística u*(tn). A interseção das duas curvas geradas representa o ponto aproxiREVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 109-117 mado de uma mudança brusca na média, se ele ocorre dentro do intervalo de confiança -1,96 < u (tn) < 1,96 (1,96 correspondendo a α0 = 0,05). Nesse teste, uma tendência é constatada quando a curva u(tn), que é o teste aplicado no sentido direto da série temporal, cruza os limites de confiança de 90% e 95%, representados pelas linhas horizontais pontilhadas e contínuas, respectivamente. O teste de Pettitt (Pettitt, 1979), também não paramétrico, utiliza uma versão do teste de MannWhitney, em que se verifica se duas amostras Y1,..., Yt e Yt+1,..., YT são da mesma população. A estatística Ut,T faz uma contagem do número de vezes que um membro da primeira amostra é maior do que um membro da segunda, e pode ser escrita: U t, T = U t – 1, T + ∑j T sgn (Yt – Yj) = 1 (5) para t = 2,…., T onde: sgn(x) = 1 para x > 0; sgn(x) = 0 para x = 0; sgn(x) = -1 para x < 0. A estatística Ut,T é então calculada para os valores de 1 ≤ t ≤ T e a estatística k(t) do teste de Pettitt é o máximo valor absoluto de Ut,T. Essa estatística localiza o ponto em que houve uma mudança brusca na média (changing point) de uma série temporal, e a sua significância pode ser calculada aproximadamente pela equação: p ≅ 2 exp {-6k(t)2/(T3 + T2} (6). RESULTADOS As séries não apresentaram autocorrelação serial significativa. Portanto, os valores são independentes e os testes estatísticos podem ser aplicados. A forma gráfica do teste de Mann-Kendall para a precipitação, com os dados do posto D3027, em Monte Alegre do Sul, é apresentada na figura 2a. Ela mostra aplicações diretas (1947-1997 - u(t), linha espessa) e inversa (1997-1947 - u*(t), linha padrão) na série temporal. As linhas horizontais representam os intervalos de confiança bilaterais de 90% (linha pontilhada) e 95% (linha padrão). A tendência é significativa quando os valores absolutos de u(t) são maiores que os limites de confiança, e a mudança brusca na média da mesma pode ser localizada pela interseção das curvas u(t) e u*(t) se ela 111 00_C&T18.book Page 112 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM ocorre dentro dos valores críticos do intervalo de confiança. Nesse caso, observa-se uma tendência crescente da precipitação, tornando-se significativa em torno de 1990 – mas as três interseções tornam difícil a localização de uma mudança brusca na média. O ponto de ruptura (mudança brusca na média) dessa série temporal pode ser detectado mais claramente utilizando-se o teste estatístico de Pettitt, através do valor máximo absoluto de k(t) (fig. 2b), ocorrendo no ano de 1972, com significância aproximada de 0,013. Esses testes aplicados aos outros postos de vazão e precipitação da bacia e suas análises estatísticas estão sumariados nas tabelas 1 e 2, onde: T+++ e T++ mostram a tendência positiva com níveis de significância α0 = 0,05 e 0,1, respectivamente, seguido do ano em que esta tornou-se significativa; T+ ns é a tendência positiva, mas não significativa; T--- e T-- são tendências negativas com níveis de significância α0 = 0,05 e 0,1, respectiva- mente, seguido do ano em que ela tornou-se significativa; T- ns, tendência negativa não significativa; ano de ocorrência de mudança brusca CP; ns, não significativo. Os principais resultados são: 1. a precipitação apresenta uma tendência positiva no período estudado (ver exemplo na fig. 2); e 2. as mudanças bruscas nas médias, quando ocorreram, foram detectadas principalmente no início dos anos 70. A vazão do Rio Camanducaia (postos 3D-001 e 3D-002) apresenta tendência positiva, mas não significativa. Os testes de Mann-Kendall e Pettitt aplicados para a vazão do posto 3D-001 podem ser observados nas figuras 3a e b respectivamente. Pode-se notar que a tendência positiva é ligeiramente inferior ao limite de confiança de 90%, ou seja, levemente significativa, mostrando que esse rio, sem a influência do Sistema Cantareira, apresenta um comportamento que acompanha a tendência da precipitação. Fig. 1. Bacia do Rio Piracicaba, localização, principais tributários, estações fluviométricas e pluviométricas e esquema de reservatórios do Sistema Cantareira. Bacia do Rio Piracicaba (12.400 km2) Brasil Bacia do rio Piracicaba (12400 km2) Estado São Paulo N W cidade de São Paulo Corumbatai E S 4D-021 Piracicaba 4D-007 4D-001 CESP-Carioba CESP-Piracicaba 4D-009 3D-006 estações fluviométricas e códigos 0 112 Jaguari 3D-009 3D-003 Atibaia estações pluviométricas reservatórios Camanducaia 3D-001 35 70 cidade de São Paulo transferência de água inter-bacias (Sistema Cantareira) Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 113 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Tab. 1. Sumário das análises estatísticas da vazão. VAZÃO MANNKENDAL PETTITT T- - - 1989 CP 1984 T---1978 CP ns T+ ns CP ns T+ ns CP ns CP 1983 SL 0.0033 CP ns SL ns CP ns SL ns CP ns SL ns T--- 1978 CP ns CP ns SL ns T- ns CP ns T--- 1996 4D-009 CP ns CESP T- ns Piracicaba CP 1948 CP ns SL ns CP ns SL ns CP ns SL ns ESTAÇÃO 3D-009 3D-006 3D-001 3D-002 3D-003 4D-007 BACIA Jaguari POSTO Buenópolis Bairro da Ponte Camandu- Fazenda da caia Barra Camandu- Monte Alecaia gre do Suk DesembarAtibaia gador Furtado Atibaia Piracicaba Artemis Atibaia Paulínia Piracicaba Piracicaba Tab. 2. Sumário das análises estatísticas de precipitação. PRECIPITAÇÃO ESTAÇÃO D3-009 D3-018 D3-027 D3-052 D4-012 D4-036 D4-043 D4-044 D4-052 D4-059 D4-060 D4-061 E3-099 MANNKENDAL T+ ns CP ns T ns CP ns T+++ 1990 CP 1980/80 T+ ns CP ns T+++ 1994 CP 1989 T+ ns CP ns T+++ 1973 CP ns T+ ns CP ns T+ ns CP ns T+ ns CP ns T+++ 1975 CP ns T+ ns CP ns T+++ 1995 CP 1986 PETTITT CP ns SL ns CP ns SL ns CP 1972 SL 0.013 CP ns SL ns CP 1975 SL 0.046 CP ns SL ns CP 1956 SL 0.052 CP ns SL ns CP ns SL ns CP ns SL ns CP 1971 SL 0.019 CP ns SL ns CP 1982 SL 0.054 BACIA POSTO Jaguari Martin Francisco Jaguari Vargem Camandu- Monte Alecaia gre do Suk Jaguari Pedreira Corumbatai Rio Claro Corumbatai Grauna Corumbatai Corumbatai Piracicaba Campinas Jaguari Usina Ester Corumbatai Santa Gertrudes Piracicaba São Pedro Piracicaba Artemis Atibainha REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 109-117 Nazaré Paulista A resposta da vazão é atenuada com relação à precipitação devido à influência dos outros componentes do ciclo hidrológico, principalmente o armazenamento no solo e a evapotranspiração. Os rios sob a influência do Sistema Cantareira apresentam tendências negativas, sendo elas altamente significativas perto das barragens. O efeito negativo é atenuado rio abaixo. O rio sobre o qual a influência da barragem é mais forte é o Jaguari (posto 3D-009), cujos testes são apresentados nas figuras 4a e b. Nesse rio, a tendência negativa tornou-se estatisticamente significativa a partir de 1989, e uma mudança brusca na média foi detectada no ano de 1984, na aplicação do teste de Mann-Kendall (fig. 4a), e no ano de 1983, na aplicação do teste de Pettitt, mostrando coerência nos resultados. A análise dos resultados para o Rio Atibaia (postos 3D-006 e 3D-003), apresentados nas figuras 5a e b, mostram também tendências negativas, que se tornam significativas a partir de 1978 nos dois postos analisados. Nenhuma mudança brusca na média foi detectada na aplicação dos testes. A tabela 3 mostra os valores percentuais das médias de vazão antes e depois do início da retirada de água pelo Sistema Cantareira, a partir de 1975 no Rio Atibaia, e a partir de 1981 no Rio Jaguari. Nessa comparação, um valor anômalo de vazão em 1983, provocado pelo fenômeno El Niño, foi substituído pela média após o início da retirada de água. Pode-se notar nessa tabela que na maioria dos rios houve um decréscimo na média, sendo o Rio Jaguari o que sofreu maior impacto, com um decréscimo na vazão de 37,7% no período estudado. Já nos rios Atibaia e Piracicaba, a diminuição na média foi em torno de 18% e 10%, respectivamente. Esses resultados estão qualitativamente coerentes com os de Moraes et al. (1997), nos quais se obteve 52%, 24% e 21% de decréscimo de vazão para os rios Jaguari, Atibaia e Piracicaba, utilizando modelos estocásticos que incluíam a precipitação como entrada. As diferenças numéricas são devidas à diferença de período e metodologia empregada. 113 00_C&T18.book Page 114 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 2. Exemplo dos testes de Mann-Kendall (a) e Pettitt (b) para a precipitação no posto D3-027. estatisticas u(t),u*(t) D3-027 4 3 2 1 u*(t) u(t) 0 -1 -2 -3 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 anos D3-027 estatistica k(t) 100 0 -100 -200 -300 -400 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 anos Fig. 3. Exemplo dos testes Mann-Kendall (a) e Pettitt (b) para a vazão do Rio Camanducaia no posto 3D-001. 3d-001 estatisticas u(t), u*(t) 3 2 u*(t) 1 0 -1 u(t) -2 -3 1940 1950 1960 1 970 1980 1990 20 00 anos 3 d-001 estatistica k(t) 200 100 0 -100 -200 -300 19 40 1950 1 960 1970 1980 1990 20 00 anos 114 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 115 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Fig. 4. Exemplo dos testes Mann-Kendall (a) e Pettitt (b) para a vazão do Rio Jaguari no posto 3D-009. estatisticas u(t),u*(t) 3d-009 4 2 u(t) 0 -2 u*(t) -4 -6 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 anos 3d-009 400 estatistica k(t) 300 200 100 0 -100 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 anos Fig. 5. Exemplo dos testes de Mann-Kendall (a) e Pettitt (b) para as vazões do Rio Atibaia no posto 3D-006. estatisticas u(t),u*(t) 3d-006 3 2 1 0 -1 -2 -3 -4 1940 u*(t) u(t) 1950 1960 1970 1980 1990 2000 anos estatistica k(t) 3d-006 300 250 200 150 100 50 0 -50 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 anos REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 109-117 115 00_C&T18.book Page 116 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Tab. 3. Comparação das médias de vazão dos rios da bacia do Piracicaba antes e depois do início da retirada de água pelo Sistema Cantareira, ou seja, a partir de 1975 no Rio Atibaia, e a partir de 1981 no Rio Jaguari. 3D-006 Média stdev 19471974 28.86 7.06 3D-003 Média stdev 34.13 8.87 27.98 8.39 -18.04 -5.49 4D-009 Média stdev 36.74 9.46 31.38 9.77 -14.59 -3.30 RIO ATIBAIA Rio Piracicaba CESP 4D-007 Rio Jaguari 3D-009 Média stdev Média stdev Média stdev 19751996 23.51 6.58 -18.55 -6.78 % VAR 1947-1974 1975-1996 % var 122.68 113.31 -7.63 32.91 31.71 -3.63 142.91 42.44 126.42 41.58 CONCLUSÕES Foram detectadas tendências positivas na maior parte dos postos de precipitação analisados, mas é difícil creditar o aumento da precipitação a causas de origem antrópica, já que ele depende de fenômenos que não podem ser atribuídos somente a mudanças locais. A tendência positiva também foi observada no Rio Camanducaia, sem a influência do Sistema Cantareira. Já os principais rios formadores do Rio Piracicaba sob a influência desse sistema, ou seja, o Jaguari e o Atibaia, apresentam tendências negativas estatisticamente significativas na vazão. A comparação do comportamento dos rios com e sem a influência do Sistema Cantareira e a análise dos períodos em que as mudanças ocorrem sugerem que a retirada de água da bacia para o abastecimento da Grande São Paulo é a mais provável causa da tendência negativa na vazão. -11.54 -2.02 1947-1981 1982-1996 % var 33.09 20.61 -37.70 8.51 6.31 -25.85 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CLARKE, R.T. & BRUSA, L.C. O método bootstrap para detectar tendências em séries de vazão. Anais do 12.º Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Vitória, ES, pp. 621-628, nov. 1997. DEMARÉE, G.R. An indication of climatic change as seen from the rainfall data of a Mauritanian station. Theor. Appl. Climatol., 42: 139-147, 1990. Departamento de Águas e Energia Elétrica-DAEE. 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REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 109-117 117 00_C&T18.book Page 118 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM 118 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 119 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Alimentos Transgênicos – sim ou não? Transgenic Food – yes or not? CARLOS OTAVIO MARIANO Universidade Metodista de Piracicaba [email protected] RESUMO – Este trabalho apresenta uma revisão bibliográfica de artigos publicados na internet a respeito de alimentos transgênicos, devido à importância do assunto e ao caráter polêmico que o mesmo gera, pois trata-se mais uma questão pessoal de cada pesquisador frente ao tema. A intenção aqui não é tomar partido quanto à pergunta apresentada no título, mas apresentar a maneira como são desenvolvidos os alimentos transgênicos, os principais produtos existentes no mercado, as vantagens e desvantagens de sua utilização e a posição da legislação brasileira no desenvolvimento desses produtos. Palavras-chave: ALIMENTOS TRANSGÊNICOS – TRANSGÊNICOS – BIOTECNOLOGIA – ENGENHARIA GENÉTICA. ABSTRACT - This paper presents a bibliographical revision of papers published in the internet about transgenic foods. Due to the importance of the subject and to the controversial character that this subject generates, therefore is a personal point of each researcher have about the theme. The intention here is not to take a party with relationship to the question presented in the title, but to present the way as are developed the transgenic foods, the mean products existent in the market, the advantages and disadvantages of the uses and the position of the Brazilian legislation in the development of the transgenics products. Keywords: TRANSGENICS FOODS - TRANSGENICS - BIOTECHNOLOGY – GENETICS ENGINEER. HYDROLOGY – TREND ANALYSES – TIME SERIES. REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 119-128 119 00_C&T18.book Page 120 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM INTRODUÇÃO E ste trabalho apresenta uma revisão bibliográfica realizada a partir de textos obtidos na internet sobre o assunto. A biotecnologia teve um progresso crescente até o início da segunda metade do século passado, porém sem apresentar grandes novidades depois disso. No entanto, na última década, ela rejuvenesceu com a revolução provocada pela engenharia genética. Inúmeros produtos biotecnológicos deixaram de ser uma promessa para se tornar uma realidade do nosso cotidiano. Entre eles, destacam-se diversos produtos usados na medicina, no processamento industrial, na produção de alimentos e na agricultura (tab. 1). A engenharia genética consolidou produtos controlados por genes únicos, ou seja, monogenes. O grande desafio que agora se apresenta é controlar processos ou rotas metabólicas que envolvam genes múltiplos. Assim, a biotecnologia ingressará numa rota de evolução, com possibilidades de gerar produtos inovadores (Binsfeld, 2000). Tab. 1. Alguns exemplos de produtos obtidos por meio da engenharia genética que já são amplamente utilizados no cotidiano (Kleinmann, 1998; Sachse, 1998; e Malik, 1999). assim como maior tolerância a fatores de estresses bióticos e abióticos. Para tanto, os biólogos moleculares lançam mão de complexos sistemas de cruzamentos e retrocruzamentos, quando os genes de interesse localizam-se na mesma espécie. Porém, quando os genes de interesse encontram-se fora do pool gênico primário da espécie, a engenharia genética oferece as ferramentas básicas para identificar, selecionar, isolar e transferir genes específicos escolhidos dentro de um vasto pool gênico englobando um amplo espectro de seres vivos como fonte de genes, conforme Binsfeld (2000). A figura 1 mostra um esquema comparativo das duas abordagens para melhoramento de plantas. Plantas transgênicas ou organismos geneticamente modificados (OGM) caracterizam-se por possuir um ou mais genes provenientes de um pool gênico mais distante. Com o uso dessa tecnologia, espera-se produzir novos produtos ecologicamente sustentáveis, mais produtivos, com superior qualidade e que sejam capazes de colaborar na solução dos problemas nutricionais dos mais de 1,5 bilhões de pessoas no mundo (Malik, 1999), bem como reduzir substancialmente a agressão ao meio ambiente (Sachse, 1998). Fig. 1. Representação esquemática do vasto pool gênico e métodos de melhoramento aplicados na transferência de genes entre espécies, em programas de melhoramento de plantas. O melhoramento de plantas agrícolas é obtido por meio do acúmulo de genes que conferem maior produtividade e qualidade aos produtos agrícolas, 120 Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 121 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM DESENVOLVIMENTO Os Genes de Interesse Gander e Marcellino (2000) salientam que o genoma de uma bactéria contém aproximadamente 5 mil genes, o de plantas tem em torno de 40 mil a 60 mil, enquanto o genoma de seres humanos é formado por cerca de 100 mil genes. Independentemente do organismo e de sua complexidade, os genes são segmentos de um mesmo tipo da molécula: o ácido desoxirribonucléico (DNA). Essa característica permite que genes de um organismo sejam potencialmente funcionais em outro. Uma das possibilidades para isolamento de um gene é a construção de uma biblioteca genômica. Para tanto, o DNA do organismo contendo o gene de interesse é extraído. Em seguida, esse DNA é cortado em fragmentos menores, utilizando as enzimas de restrição – que são tesouras moleculares. Esses fragmentos são ligados a outros fragmentos de DNA, inseridos em bactérias e aí replicados diversas vezes. A partir daí, seleciona-se a colônia de bactérias que contém o fragmento do DNA correspondente ao gene de interesse. Dessa maneira uma quantidade impressionante de genes de bactérias, plantas, animais e humanos é isolada e posta à disposição da comunidade científica. Diversos genes de interesse agronômico estão isolados e disponíveis, com potencial de uso no melhoramento de plantas. Eles são: • gene que codifica uma proteína de alto valor nutricional, presente na castanha do Pará. Esse gene poderia ser usado para aumentar o valor nutricional de algumas culturas importantes, como feijão, soja, ervilha etc.; • genes que codificam proteínas capazes de modificar herbicidas, inativando-os. Herbicidas são muito usados no controle de ervas daninhas em algumas culturas. Entretanto, algumas plantas não sobrevivem à aplicação dos produtos. Assim, culturas contendo esses genes poderiam se tornar resistentes aos herbicidas, facilitando o controle das ervas; • genes bacterianos que codificam proteínas tóxicas para insetos. Os insetos que se alimentassem de plantas expressando estes genes morreriam ou se desenvolveriam com menor eficiência, levando ao seu controle na cultura. O exposto indica características monogênicas, em que o fenótipo é determinado pela expressão de REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 119-128 um único gene. Deve ser salientado que certas características importantes, como resistência a seca, salinidade ou acidez do solo, são muitas vezes definidas por vários genes. Todas elas são produto de ações coordenadas em tempo e em espaço por baterias de genes e, devido a essa complexidade, a identificação de todos os componentes genéticos que resultem nessas características ainda está em início de estudo. A Engenharia Genética Com o advento da tecnologia do DNA recombinante, foi aberta a possibilidade de isolar e clonar genes de bactérias, vírus, plantas e animais, introduzi-los e expressá-los em plantas. Dessa forma, a barreira do cruzamento entre espécies, e até entre diferentes reinos, foi rompida. A transformação genética de vegetais permite a introdução de genes específicos no genoma de cultivares comerciais. Essa tecnologia vem auxiliar os programas de melhoramento, permitindo o fluxo de genes para plantas que seriam impossíveis de ser transferidos através de cruzamentos sexuais ou fusão de genomas (Aragão et al., 2000). As primeiras plantas transgênicas foram desenvolvidas em 1983, quando um gene codificante para a resistência contra o antibiótico canamicina foi introduzido em plantas de fumo (Gander & Marcellino, 2000). Desde então, após os primeiros testes de campo com plantas transgênicas, já foram realizados experimentos com mais de 40 espécies de culturas agrícolas transformadas em 31 países (Bilang & Potrikus, 1997). Desde que se iniciou o uso comercial de plantas transgênicas nos Estados Unidos, em meados da década de 90, tem havido um crescimento médio de 20% ao ano na oferta de novos produtos provenientes da engenharia genética (Kleinmann, 1998). Por meio da engenharia genética de plantas, pode-se alterar importantes rotas metabólicas e, com isso, promover mudanças no tipo e composição de amido, óleos, proteínas, vitaminas etc. (Binsfeld, 2000). Com essas modificações, objetiva-se: • elevar o valor nutricional dos alimentos; • desenvolver plantas transgênicas que funcionem como biorreatores capazes de produzir polipeptídeos de valor farmacêutico, como vacinas na forma de antígenos de vírus ou anticorpos; • produzir inúmeras enzimas (proteínas) para fins industriais. A lista de possibilidades de aplicações dessa tecnologia poderia ser significativamente estendida. 121 00_C&T18.book Page 122 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM A Transferência dos Genes de Interesse Sendo o isolamento de genes uma técnica dominada pela ciência atual, para obter uma planta transgênica é necessária a inserção do gene isolado em células vegetais. A natureza já realiza esse processo antes mesmo de o homem se tornar o Senhor do Planeta. Logo, não se trata de uma invenção humana. Na verdade, o homem apenas aprendeu a usar uma ferramenta oferecida pela própria natureza. Gander e Marcellino (2000) afirmam que as bactérias do solo do gênero Agrobacterium associam-se a plantas dicotiledôneas, causando-lhes tumores. Estudos demonstraram que esses genes estão codificados no DNA de grandes plasmídeos de Agrobacterium, os plasmídeos Ti (Tumor inducing = indutores de tumores), em um segmento de DNA denominado T-DNA (Transferred DNA = DNA transferido). O T-DNA carregando os genes bacterianos integra-se ao genoma da planta, que passa a expressar esses genes – o que resulta na síntese de auxinas e citocininas que levam à formação de tumores em plantas e em aminoácidos modificados (opinas), substâncias necessárias à sobrevivência da bactéria. Em outras palavras, através dessa estratégia, a agrobactéria transfere alguns de seus genes para a planta com os seus plasmídeos Ti, que representam vetores naturais de transferência de material genético para plantas. Para aproveitar-se dessas propriedades naturais na transferência de genes de interesse em plantas, é necessário eliminar as características indesejáveis do T-DNA, mantendo sua capacidade de inteirar-se ao genoma da planta hospedeira. Ou seja, os genes responsáveis pela formação de tumores devem ser eliminados e no lugar deles, inseridos os genes de interesse. Com as tesouras moleculares, é possível executar a substituição desses genes sem interferir nas propriedades que permitem a integração do T-DNA ao DNA da célula hospedeira. Assim, qualquer gene pode ser introduzido em uma célula vegetal com essa ferramenta. Transferência Direta de Genes Os genes são inseridos diretamente na célula vegetal sem intermédio da agrobactéria. Há dois métodos, basicamente, para transferência em plantas monocotiledôneas, como milho, trigo etc. São eles: 122 1) eletroporação de protoplastos e células vegetais: os protoplastos são células de vegetais desprovidas de parede celular. Para a transformação, são incubados em soluções que contêm os genes a ser transferidos e, em seguida, um choque elétrico de alta voltagem é aplicado, por curtíssimo tempo. O choque altera a membrana celular, o que permite a penetração e eventual reintegração dos genes no genoma. Esse processo apresenta uma baixa taxa de transformação quando aplicado em células vegetais; 2) biobalística: é baseado no princípio da arma de fogo (fig. 2). A diferença é que, na engenharia genética, os microprojéteis são de ouro ou tungstênio acelerados a alta velocidade com pólvora ou gás (superior a 1.500km/h) para carrear e introduzir genes de interesse em células de tecidos in vivo. Na figura 3, é apresentado um equipamento típico de biobalística. As micropartículas (fig. 4) são aceleradas para penetrar na parede e membrana celulares de maneira não letal, localizando-se aleatoriamente nas organelas celulares. Em seguida, o DNA é dissociado das micropartículas pela ação do líquido celular, ocorrendo o processo de integração do gene exógeno no genoma do organismo a ser modificado. Por esse processo, pode-se introduzir a expressão gênica em qualquer tipo celular (Aragão et al. 2000). Plantas Transgênicas Uma vez inserido o gene na célula vegetal por meio de um dos métodos mencionados, essa célula, ou grupo delas, é estimulada a gerar uma planta inteira transformada. Assim, essa tecnologia vem sendo mais e mais utilizada. Em 1987, cinco tipos de plantas transgênicas foram testadas no campo. Já em 1995, um total de 707 tipos de plantas transgênicas foram para o campo. Entre as espécies geneticamente manipuladas, encontram-se aquelas que são as mais importantes na alimentação humana e animal e na indústria de tecido, ou seja, milho, batata, tomate, soja, feijão, algodão e, como planta modelo em experimentos de pesquisa básica, o fumo, sobre o qual foram realizados os primeiros ensaios de transgenicidade em plantas. Além dessas espécies, foram transDezembro • 2001 00_C&T18.book Page 123 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM formadas melancia, couve, cenoura, alfafa, arroz, trigo, girassol, alface, maçã e amendoim, entre outras. Fig. 2. Desenho esquemático do equipamento de biobalística. Fig. 3. Equipamento utilizado nos processos de biobalística. Fig. 4. Micropartículas de ouro com 1 a 3 micrômetros de diâmetro recobertas com o DNA a ser introduzido na célula vegetal. De maneira geral, mais de 50% dessas espécies foram transformadas com genes que conferem resistência a herbicidas, vírus e insetos. Em outros REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 119-128 30% dos casos, o objetivo da transformação genética foi aumentar a qualidade dos produtos, e o restante visou a resistência a fungos, secas etc ou a obtenção de conhecimentos básicos nas áreas de biologia molecular de plantas ou das interações entre patógenos e plantas (Gander & Marcellino, 2000). Hoje, a grande polêmica se dá em torno da soja transgênica. A linhagem em questão, conhecida como Roundup Ready ou soja RR, foi obtida a partir da inserção de três genes estrangeiros na planta. Um deles foi extraído de um vírus e os outros, da bactéria Agrobacterium sp. Essa modificação genética não incrementa a produtividade da cultura ou o valor nutricional do grão, mas o resultado da modificação, alegado como economicamente vantajoso, consiste em possibilitar a substituição de vários herbicidas por apenas um, o Roundup da Monsanto. O glifosato, princípio ativo do Roundup, é a terceira maior causa de problemas de saúde em agricultores americanos, em virtude do alto grau de alergias de vários tipos que provoca. Cerca de 70% dos alimentos processados têm soja ou milho entre seus ingredientes. A soja está presente em quase 60% dos alimentos vendidos nos supermercados. Com relação à utilização em escala comercial da cultura da soja transgênica requerida pela Monsanto no Brasil, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) regulamentou, por meio da Instrução Normativa n.o 18, de 15/12/98, os procedimentos a observar para sua liberação planejada no meio ambiente e seu plantio comercial por entender que, do ponto de vista da biossegurança, não há risco ambiental ou para a saúde humana e animal na utilização da soja em questão, exceto aqueles inerentes ao consumo do grão pela parcela da população que apresenta reações adversas à ingestão da soja em geral (Scholze, 2000). A batata é um cultivar muito suscetível a vírus, fungos e bactérias, causando grandes prejuízos quando é infectada. A batata transgênica, resistente ao vírus do mosaico (PVY) a partir da variedade Achat com resistência ao vírus PVY, foi desenvolvida no Brasil em um trabalho de parceria entre a Embrapa Hortaliças, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, a Universidade Federal de Pelotas e o Instituto de Ingenieria Genética y 123 00_C&T18.book Page 124 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM Biotecnologia (Ingebi-Argentina), com apoio do CNPq, programa RHAE/Biotecnologia do Centro Brasileiro-Argentino de Biotecnologia e da FAP/DF. No Brasil, esse cultivar é um dos mais importantes, ocupando cerca de 45 mil hectares (25% da área total cultivada com batata no país). Esse genótipo é um dos mais facilmente encontrados comercialmente. O efeito direto do vírus se traduz na redução da produtividade na lavoura e o indireto reflete-se no aumento dos custos do produto. O projeto permitiu a introdução no genótipo da batata do gene da capa protéica do próprio vírus. Assim, as plantas portadoras do gene adquiriram resistência ao vírus (Torres et al., 2000). O feijão transgênico resistente ao vírus do mosaico-dourado (BGMV) está sendo desenvolvido em parceria pelos grupos do Centro Nacional de Pesquisa de Arroz e Feijão (Embrapa/CNPAF) e do Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Embrapa/Cenargen). A cultura do feijão ocupa uma área de 12 milhões de hectares, e o grão constitui-se na leguminosa mais importante para a alimentação de mais de 500 milhões de pessoas na América Latina e na África. O Brasil é o maior produtor, da ordem de 2 milhões de toneladas por ano, o equivalente a cerca de 20% da produção mundial. As plantas foram geneticamente transformadas por meio do seu meristema apical, e pelo método da biobalística receberam as seqüências do BGMV (AC1, AC2, AC3 e BC1) em seu DNA. Em seguida, os brotos transgênicos foram regenerados a partir das células transformadas. Esses brotos foram transferidos para o solo e geraram sementes transgênicas. As plantas foram autofecundadas durante cinco geraçõe, e então desafiadas contra o vírus. A inoculação do vírus foi feita através das moscas brancas virulíferas (vetor responsável pela transmissão do vírus na natureza). Algumas linhagens não apresentaram diferença significativa em relação às plantas correspondentes não transgênicas, mas duas linhagens apresentaram um retardamento no aparecimento dos sintomas, estando eles bem enfraquecidos. Outro objetivo do melhoramento genético é aumentar a qualidade nutricional, principalmente no teor de metionina e triptofano nos grãos, já que se trata de uma planta importante para a alimentação humana e extremamente defici124 ente desses aminoácidos essenciais. Para tanto, foram desenvolvidas plantas transgênicas expressando o gene da albumina 2S da castanha do Pará, proteína que possui um alto teor de metionina (18%). Essas plantas encontram-se em estudos de aplicação no campo (Aragão et al., 2000). O Brasil é o maior produtor de mamão do planeta, responsável por aproximadamente 40% da produção mundial, tendo plantado em 1997 cerca de 40 mil hectares e produzido quase 1.550 milhões de frutos. Porém, só cerca de 1% do mamão produzido é exportado, o que rendeu ao país quase 10 milhões de dólares em 1998. É uma fruta com alto valor nutritivo, ficando em primeiro lugar quando comparada a frutas de regiões tropicais, subtropicais e temperadas. Um dos principais fatores que limitam sua cultura no país é uma doença provocada pelo vírus da mancha anelar, o mamoeiro ou papaya ringspot virus (PRSV). Os mamoeiros atacados por essa doença apresentam clorose e mosaico nas folhas jovens, que perdem considerável área foliar na medida em que maturam, resultando em diminuição na taxa de crescimento da planta, e consequentemente na produtividade, e em manchas anelares no fruto, reduzindo sua aceitação no mercado. O mamão transgênico resistente ao PRSV foi desenvolvido no início da década de 90, resultado de uma colaboração entre a Universidade de Cornell, a Universidade do Havaí e a empresa UpJohn, todas nos Estados Unidos. Porém, essa planta mostrou-se susceptível quando cultivada em outras regiões geográficas, inclusive no Brasil. A Embrapa, através do Centro de Mandioca e Fruticultura na Bahia, em acordo com a Universidade de Cornell, desenvolveu um mamoeiro transgênico resistente ao vírus brasileiro isolado. Os novos mamoeiros, expressando o gene de capa protéica do vírus brasileiro, demonstrou resistência não somente ao doador isolado como também a isolados do Havaí e da Tailândia. A perspectiva é que até o final de 2001, depois de encerrados os ensaios de campo, seja possível ter um material em condições de ser transferido para o produtor (Souza Jr., 2000). A Legislação Em 5 de janeiro de 1995 foi sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso a Lei 8.974, que estabelece normas para o uso das Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 125 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM técnicas de engenharia genética e a liberação no meio ambiente de OGM. A partir dessa lei, em junho de 1996 foi criada a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia com a função de examinar a segurança dos OGMs. Ela emite pareceres e autorizações no caso da certificação de sementes, mas o plantio cabe ao Ministério da Agricultura. O Senado Federal organizou um seminário a respeito de transgênicos, o Clonagem e Transgênicos – impactos e perspectivas, realizado em Brasília no período de 8 a 10 de junho de 1999. O seminário contou com seis grupos de trabalho: • grupo 1. Biotecnologia e Meio Ambiente, cuja síntese conclusiva é: como não se pode prever as conseqüências a curto, médio e longo prazos da liberação de OGMs no ambiente, é necessário que se estabeleça uma avaliação de riscos caso a caso, considerando as variações de cada organismo em cada um dos ambientes em que se proponha sua liberação e/ou cultivo; • grupo 2. Biotecnologia: educação, ciência e tecnologia: a educação científica deve formar o cidadão responsável, crítico e capaz de tomar decisões. Para tanto, é fundamental fortalecer o ensino de ciências nos 1.o e 2.o graus e reforçar o ensino superior nas diversas áreas científicas; • grupo 3. Biotecnologia X Agronegócios: há necessidade de ajustes e adequações da legislação aos fatos relacionados com OGMs. Sugerese o congelamento da liberação comercial de OGM, concentrando esforços apenas na área de pesquisa e desenvolvimento. Os OGMs envolvem toda a cadeia de agronegócios e deverão ser vistos como mais uma opção de mercado para os agricultores decidirem seus processos produtivos. Mas deverão atender a preceitos de biossegurança, com a participação representativa da sociedade e da comunidade técnico-científica, e a uma liberação planejada, seguindo o princípio de precaução; • grupo 4. Biotecnologia e Saúde: formulação de proposições ou exigências para que a introdução de novos produtos biotecnológicos no mercado brasileiro tenha experimentos realizados no país, financiados pelos órgãos/empresas de origem. Incentivo a novas tecnologias alternatiREVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 119-128 vas para a produção de vacinas, biofármacos e medicamentos; • grupo 5. Biotecnologia e Legislação: investimento em educação ambiental e de biossegurança. Criação de um Comitê Nacional de Bioética pluricameral. Ampliar o número de representantes na CTNBio de forma a abranger mais áreas do conhecimento (por exemplo, ecologia e toxicologia) e da sociedade civil. Rotulagem obrigatória dos produtos. Obrigatoriedade do EIA e respectivo RIMA, levando em conta a supremacia do texto constitucional. Reconhecer a competência da CTNBio para propor a Política Nacional de Biossegurança vinculada aos objetivos dispostos na Lei 6.938/81, que institui a Política Nacional de Meio Ambiente, Lei 9.605/98 (crimes ambientais), Lei 9.279/96 (patentes), Lei 9.456/97 (cultivares) e na revisão e aperfeiçoamento da Lei 8.974/95 (Biossegurança); • grupo 6. Bioética: estabelecimento de programas educacionais que estimulem o ensino e a reflexão crítica das questões de bioética, com enfoque particular sobre OGMs. A linguagem de rotulagem deve ser precisa e acessível aos consumidores. Criação de uma Comissão Consultiva Nacional de Bioética. Transgênicos e o Meio Ambiente É prematuro fazer afirmações sobre as conseqüências que os transgênicos poderão causar ao meio ambiente, uma vez que ainda não existem dados consistentes sobre o impacto que poderão causar. Alguns partidos políticos assumiram posição contrária, em consonância com ativistas como a Organização Greenpeace, entre outros, mais isolados. Para Menasche (2000), entre as possibilidades de uso irresponsável da engenharia genética estão o empobrecimento da biodiversidade – na medida em que as plantas modificadas geneticamente podem interagir no meio ambiente com as variedades naturais –, a eliminação de insetos e microrganismos benéficos ao equilíbrio ecológico, o aumento da contaminação dos solos e lençóis freáticos – devido ao uso intensificado de agrotóxicos – e o desenvolvimento de plantas e animais resistentes a uma ampla gama de antibióticos e agrotóxicos, o que poderá 125 00_C&T18.book Page 126 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM estimular o aparecimento de novos vírus, mediante a recombinação de vírus engenheirados com os já existentes no meio ambiente. Caso algumas dessas conseqüências negativas da engenharia genética ocorram, será talvez impossível controlá-las, pois, à diferença de outros poluentes químicos, os OGMs, por serem formas vivas, são capazes de sofrer mutações, multiplicar-se e disseminar-se no meio ambiente. Como lembra o Greenpeace, todas as substâncias responsáveis por catástrofes ambientais em nossa época contaram com o endosso de cientistas responsáveis: o DDT, o ascarel e a talidomida, entre outros. Plantas Transgênicas: vantagens e desvantagens Conforme publicado por Cordeiro (2000), somente depois de muitos testes e controles as plantas que apresentam o resultado desejado são multiplicadas in vitro, passando depois para aclimatação em câmaras de cultura, estufas e finalmente canteiros experimentais isolados, onde são selecionadas em competição com as cultivares originais sob todos os aspectos possíveis. Antes do lançamento da transgênica como produto, são feitos testes de campo em grande escala para verificar se há vantagem dessa cultira em relação à original. As transgênicas são liberadas condicionalmente, ficando em observação permanente. Vantagens: 1) toda a variabilidade genética dos organismos da Terra fica à nossa disposição. Portanto, não haverá jamais exaustão da variabilidade genética para o melhoramento de vegetais e animais domésticos; 2) em uma construção, é possível usar um gene e um promotor para funcionar de maneira programada no tecido ou órgão com a intensidade e no tempo de desenvolvimento do organismo escolhido. Também é possível usar promotores que superativem o gene com o aumento ou a redução da temperatura ou luminosidade ambientes; 3) obtêm-se plantas resistentes a insetos e pragas, herbicidas, metais tóxicos do solo, fungos, amadurecimento precoce, com maior 126 teor protéico e proteínas mais completas, óleos mais saudáveis, arroz com carotenos, entre outras; 4) o princípio da precaução, enunciado em 1992 na Declaração do Rio sobre Desenvolvimento e Ambiente, diz: “lack of full scientific certainly shall not be used as a reason for postponing cost-effective measures to prevent environmental degradation” (possível tradução: “a falta do fundamento científico certamente não deverá ser usada como razão para adiar medidas de custo efetivo para prevenir a degradação ambiental”). Agora está claro que são as plantas transgênicas com suas defesas genéticas que representam a esperança de uma efetiva redução da presença dos agrotóxicos nos custos produtivos e aumento da produção. Desvantagens: 1) somente poucos laboratórios têm os dispendiosos equipamentos e reagentes e os pesquisadores capazes de obter organismos transgênicos com toda a segurança exigida pela Lei de Biossegurança e fiscalizada pela CTNBio; 2) após a obtenção do organismo transgênico, segue-se a fase mais longa e dispendiosa, de cinco ou mais anos e milhões de dólares, para selecionar e desenvolver o produto. Apenas empresas têm arcado com os custos necessários para lançar novas culturas transgênicas; 3) apesar de todas as precauções, as pessoas leigas e mesmo pesquisadores de áreas afins temem que possa haver inconvenientes no futuro; 4) apesar das plantas transgênicas serem cultivadas em 39,9 milhões de hectares e consumidas por milhões de pessoas há mais de dez anos sem inconvenientes, é fácil para organizações leigas intimidar, sem provas, os consumidores submetidos a propagandas movidas por milhões de dólares. Amedrontado, o público paga essas organizações para ser informado; Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 127 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM 5) os alimentos orgânicos, isentos de agrotóxicos e transgênicos, parecem ideais. Entretanto, sua produção é mais cara, demanda muito trabalho, espaço e não passa de 1% do necessário para atender o mercado. Infelizmente, orgânicos foram os alimentos dados às vacas e aos porcos na Inglaterra que se contaminaram com graves doenças. Também o estrume de vaca usado na cultura de verduras orgânicas pode conter a Escherichia coli 715 H7, que é letal. Alimentos Bioengenheirados: benefícios e riscos Existem atualmente duas importantes correntes sobre a questão da rotulagem dos alimentos com transgênicos. Uma propõe três tipos de rótulos: 1. não contém OGM; 2. contém OGM; e 3. pode conter OGM. A outra simplesmente defende a não identificação da tecnologia que envolve a produção de tais alimentos. Os produtos bioengenheirados, como frutas, podem manter o sabor e a consistência por vários dias em temperatura ambiente, e vegetais podem ser produzidos sem a necessidade de agrotóxicos (Valle, 2000). Há, ainda, a possibilidade de introduzir genes que possam alterar importantes rotas metabólicas no cultivar e com isso alterar o tipo e a composição de amido, óleos, proteínas, vitaminas etc., objetivando elevar o valor nutricional dos alimentos e melhorar o processamento industrial e a comercialização dos produtos. Entretanto, quando tentaram melhorar a qualidade nutricional da soja com genes da castanha do Pará, algumas pessoas que eram alérgicas à castanha passaram a apresentar os mesmos sintomas quando ingeriam a soja modificada. Há, ainda a questão ética. Se um gene animal fosse incluído em um determinado vegetal, o vegetal passaria a produzir uma proteína animal. Como ficariam os consumidores que são vegetarianos? Esses consumidores não deveriamser informados? O risco à saúde animal e humana da alimentação com produtos geneticamente modificados são imprevisíveis, embora já se tenha detectado alguns casos de alergia desenvolvida pelo seu consumo. Contudo, ainda não existe no mundo um grupo de monitoramento a esse tipo de procedimento. É necessário adotar uma política de precaução e pesquisar muito mais para conhecer os riscos e possíveis benefícios dos alimentos geneticamente modificados. CONCLUSÃO No início do século passado, um pesquisador americano resolveu estudar o processo de hibridização vegetal com o milho objetivando melhor produtividade. Os resultados foram desastrosos, sendo ele estimulado a abandonar seus estudos. No entanto, um grupo resolveu continuar com o trabalho. No início da década de 30, os resultados já se apresentavam satisfatórios (Stadler, 1932). Nos anos 40, o milho híbrido fazia o maior sucesso em termos de produtividade. Hoje, são inúmeras as culturas híbridas na agricultura, que têm contribuído no combate à fome. O desenvolvimento de transgênicos está ainda muito embrionário, o que torna difícil qualquer conclusão definitiva no momento. Com certeza, um estudante universitário do ano de 2060 responderá se estávamos certos ou não em nossos atos. Por isso, não me sinto à vontade em apresentar qualquer resposta à pergunta: alimentos transgênicos – sim ou não? A CTNBio é um órgão governamental, que já elaborou normas de procedimentos para o desenvolvimento de OGMs, com plena capacidade de acompanhar esse processo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAGÃO, F.J.L.; VIANNA, G.R. & RECH, E.L. “Feijão transgênico – um produto de engenharia genética”. 2000. <http:// www.biotecnologia.com.br/bio/5_i.htm>. BILANG, R. & POTRIKUS, I. Pflanzenzüchtung. In: GASSEN, H.G. & HAMMES, W.P. Handbuch Gentechnologie Lebensmittell. 1.o Auflage. Hamburgo: Behr Verlag, 1997. BINSFELD, P.C. “Análise diagnóstica de um produto transgênico”. 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Os temas podem ser apresentados através dos seguintes tipos de artigos: • ensaio: artigo teórico sobre determinado tema; • relato: artigo sobre pesquisa experimental concluída ou em andamento; • revisão de literatura: levantamento do estágio atual de determinado assunto e compilação crítica de dados experimentais e propostas teóricas recentes; • resenha: comentário crítico de livros e/ou teses; • carta: comentário a artigos relevantes publicados anteriormente. 3. Os artigos devem ser inéditos, sendo vedada sua publicação em outras revistas brasileiras. A publicação do mesmo artigo em revistas estrangeiras deverá contar com a autorização prévia da Comissão Editorial da RC&T. 4. A aceitação do artigo depende dos seguintes critérios: • adequação ao escopo da revista; • qualidade científica ou tecnológica avaliada pela Comissão Editorial e por processo anônimo de avaliação por pares (peer review), com consultores não remunerados, especialmente convidados, cujos nomes são divulgados anualmente, como forma de reconhecimento; • cumprimento da presente Norma. Os autores serão sempre informados do andamento do processo de avaliação e seleção dos artigos e os originais serão devolvidos nos casos de sua não aceitação. 5. Os artigos devem considerar como unidade padrão a página A4, com margens 2,5 cm, paráREVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 00-00 grafo justificado, fonte Times New Roman, tamanho 12, digitada em espaço 1,5 e em editor Word 97 for Windows, sem qualquer formatação especial. Os artigos devem ter as seguintes dimensões: • ensaio e relato: de 12 a 20 páginas-padrão, nelas incluídas todas as subdivisões dos capítulos, figuras, tabelas e referências bibliográficas; • revisão de literatura: de 10 a 15 páginaspadrão, nelas incluídas todas as subdivisões dos capítulos, figuras, tabelas e referências bibliográficas; • resenha e carta: de 2 a 4 páginas-padrão. 6. Os artigos podem sofrer alterações editoriais não substanciais (reparagrafações, correções gramaticais e adequações estilísticas), que não modifiquem o sentido do texto. O autor será solicitado a revisar as mudanças eventualmente introduzidas. 7. Não há remuneração pelos trabalhos. O autor de cada artigo recebe gratuitamente 3 (três) exemplares da revista; no caso de artigo assinado por mais de um autor, são entregues 5 (cinco) exemplares. O(s) autor(es) pode(m) ainda comprar outros exemplares com desconto de 30% sobre o preço de capa. 8. Os artigos devem ser encaminhados pelo Correio para: Comissão Editorial da RC&T A/c: prof. Nivaldo Lemos Coppini Unimep – Campus Santa Bárbara d’Oeste Km 1, Rod. Santa Bárbara d’Oeste/Iracemápolis CEP:13450-000 – Santa Bárbara d’Oeste através de ofício, do qual deve constar: • declaração de cessão dos direitos autorais para publicação na revista; • declaração de concordância com as Normas para Publicação da RC&T. Opcionalmente, os artigos e as declarações poderão ser encaminhadas através de arquivos anexados ao e-mail [email protected]. 129 00_C&T18.book Page 130 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM ESTRUTURA CONCLUSÕES, NOTAS e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. No caso de Resenhas, o texto deve conter todas as informações para identificação do livro comentado (autor; título, tradutor, se houver; edição, se não for a primeira; local; editora; ano; total de páginas; e título original, se houver). No caso de teses/ dissertações, segue-se o mesmo princípio, no que for aplicável, acrescido de informações sobre a instituição na qual tiver sido produzida. 9. Cada artigo deve conter os seguintes elementos: Identificação: • • Nome do(s) autor(es); Telefone, e-mail e endereço do(s) autor(es) para contato; • Titulação acadêmica; função e origem (instituição e unidade) do(s) autor(es); • Título e, se for o caso, subtítulo: precisa(m) indicar claramente o conteúdo do texto e ser(em) conciso(s) (título: no máximo 10 palavras; subtítulos: no máximo 15 palavras); • Subvenção: menção de apoio e financiamento eventualmente recebidos; • Agradecimentos, apenas se absolutamente indispensáveis. Esses elementos devem ser apresentados em folha separada, pois contêm dados que não serão divulgados aos consultores. Após a aceitação do artigo, os dados serão incluídos para publicação. O texto deve conter: • Título e, se for o caso, subtítulo em português e inglês, qualquer que seja o idioma utilizado dentre os determinados por estas normas, bem como os limites de palavras acima definidos; • Resumo em português e Abstract em inglês, qualquer que seja o idioma utilizado no texto dentre os determinados por estas normas. Conterão entre 150 a 200 palavras com a mesma formatação da página padrão acima definida; • Para fins de indexação, o autor deve indicar no mínimo três e no máximo seis palavraschave logo após a apresentação do Resumo, e, posteriormente ao Abstract, sua versão para o inglês (keywords). • O texto pode ser escrito em português, inglês ou espanhol e deve estar subdividido em: INTRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO, CONCLUSÃO e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. Cabe ao autor criar os intertítulos para o seu trabalho: em letras maiúsculas e sem numeração. No caso de Relatos, podem ter as seguintes seções: INTRODUÇÃO, METODOLOGIA (ou MATERIAIS E MÉTODOS), RESULTADOS, DISCUSSÕES, 130 DOCUMENTAÇÃO 10. O artigo poderá apresentar notas explicativas.1 Elas devem ser indicadas por numeração seqüencial sobrescrita e apresentadas no rodapé da página, com a mesma formatação da página padrão. O artigo precisa apresentar as referências bibliográficas de acordo com a norma NBR 6.023/1989 da ABNT, em sua versão exemplificada abaixo, que consiste em fazer a citação da referência ao longo do texto: Para se ter uma idéia do avanço nesta direção, até novembro de 1997, inúmeras empresas foram certificadas conforme uma das normas de série ISO 9000 (Emmanuel, 1997). Entretanto, requisitos da Qualidade, segundo Brederodes (1996), não estão somente restritos à esfera da ISO 9000. As Referências Bibliográficas deverão ser apresentadas em ordem alfabética pelo sobrenome dos autores. I– Sobrenome do autor (maiúsculo), nome (minúsculo). Título da obra (itálico). Tradutor, edição, cidade em que foi publicado: editora, ano de publicação. Ex.: HOBSBAWM, E.J. Era dos Extremos: o breve século XX; 1914-1991. Trad. Marcos Santarrita, São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Obs.: sendo 1.ª edição, esta não deve ser indicada. II– Designação de parentes não pode abrir referência bibliográfica. Ex.: JUNQUEIRA NETTO, P.... Sobrenome composto: CASTELLO BRANCO, H. de,... VILLA-LOBBOS, H.,... 1 As notas explicativas devem ser apresentadas desta forma. Dezembro • 2001 00_C&T18.book Page 131 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM ao neoliberalismo em educação em educação. Petrópolis: Vozes, 1995. III– Obras escritas por dois autores. Ex.: ARANHA, M.L. de A. & MARTINS, M.H.P. Filosofando: introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1986. IV– Obras escritas por três ou mais autores. Coloca-se o nome do primeiro autor, seguido da expressão et al. Ex.: PIRES, M.C.S. et al. Como fazer uma Monografia. 4.ª ed., São Paulo: Brasiliense, 1991. Se houver um responsável pela obra (coordenador ou organizador): GENTILI, P. (org.). Pedagogia da Exclusão: o neoliberalismo e a crise da escola pública. Petrópolis: Vozes, 1995. V– Artigos de revistas e jornal. Revista: sobrenome do autor (maiúsculo), prenome. Título do artigo, título do jornal (itálico), local, volume (número/fascículo): páginas incursivas, ano. Ex. com autor: ZAMPRONHA, M.L.S. Música e semiótica. Arte, Unesp, Rio Claro, 6: 105-128, 1990. Ex. sem autor: Máquinas paradas braços cruzados. Atenção, Página Aberta, ano 2, (7): 10-17, 1996. Jornal: sobrenome do autor (maiúsculo), prenome, título do artigo, título do jornal (itálico), local, dia, mês, ano, número ou título do caderno, seção ou suplemento, página inicial-final. Ex. com autor: FRIAS FILHO, O. Peça de Calderón sintetiza teatro barroco. Folha de S.Paulo, São Paulo, 23/out./91, Ilustrada, p. 3. Ex. sem autor: Duas economias, duas moedas. Gazeta Mercantil, São Paulo, 31/jan./97, p. 7. VI– Capítulo de um livro escrito por um único autor. Substituir o nome do autor depois do “in” por um travessão de três toques. Ex.: ECO, U. A procura do material. In: ________. Como se faz uma tese em ciências humanas, 4.ª ed. Lisboa: Presença, 1988. VII– Autor do capítulo diferente do responsável pelo livro. Sobrenome do autor (maiúsculo) que realizou o capítulo, prenome. Título do capítulo. In (sobrenome do organizador do livro em maiúsculo), nome, título do livro (itálico), edição, local de publicação, editora, data. Ex.: COSTA, M. da. A educação em tempos de conservadorismo. In: GENTILI, P. Pedagogia da Exclusão: crítica REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 8, Nº 18 – pp. 00-00 VII– Enciclopédia e dicionário. GRANDE ENCICLOPÉDIA DELTA LAROUSSE. Rio de Janeiro, Delta, 1974, v. 7, p. 2.960. FERREIRA, A.B.H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 397. VIII– Fontes eletrônicas A documentação de arquivos virtuais deve conter as seguintes informações, quando disponíveis: • sobrenome e nome do autor; • título completo do documento (entre aspas); • título do trabalho no qual está inserido (em itálico); • data (dia, mês e/ou ano) da disponibilização ou da última atualização; • endereço eletrônico (URL) completo (entre parênteses angulares); • data de acesso (entre parênteses). Exemplos : Site genérico LANCASHIRE, I. Home page. Sept. 13, 1998. <http:// www.chass.utoronto.ca:8080/~ian/ index.html> (10/dez./98). Artigo de origem impressa COSTA, Florência. Há 30 anos, o mergulho nas trevas do AI-5. O Globo, 6.12.98. <http:// www. oglobo.com.br> (6/dez./98). Dados/textos retirados de CD-rom ENCICLOPÉDIA ENCARTA 99. São Paulo: Microsoft, 1999. Verbete “Abolicionistas”. CD-rom. Artigo de origem eletrônica CRUZ, Ubirajara Buddin. “The Cranberries: discography”. The Cranberries: images. Feb./97. <http:// www.ufpel.tche.br/~bira/cranber/ cranb_04.html> (12/jul./97) . OITICICA FILHO, Francisco. “Fotojornalismo, ilustração e retórica”. <http://www.transmidia.al.org.br/ retoric.htm> (6/dez./98). Livro de origem impressa LOCKE, John. A Letter Concerning Toleration. Translated by William Popple. 1689. <http://www.constitution.org/jl/tolerati.htm>. Livro de origem eletrônica GUAY, Tim. A Brief Look at McLuhan's Theories. WEB Publishing Paradigms. <http://hoshi.cic.sfu.ca/ ~guay/Paradigm/McLuhan.html> (10/dez./ 98). KRISTOL, Irving. Keeping Up With Ourselves. 30/jun/96. <http://www.english.upenn.edu/~afilreis/ 50s/kristol-endofi.html> (7/ago./98). Verbete 131 00_C&T18.book Page 132 Wednesday, September 10, 2003 3:05 PM ZIEGER, Herman E. “Aldehyde”. The Software Toolworks Multimedia Encyclopedia. Vers. 1.5. Software Toolworks. Boston: Grolier, 1992. “Fresco”. Britannica Online. Vers. 97.1.1. Mar./97. Encyclopaedia Britannica. 29/mar./97. http:// www. eb.com:180. E-mail BARTSCH, R. <[email protected]> “Normas técnicas ABNT – Internet”. 13/nov./98. Comunicação pessoal. Comunicação sincrônica (MOOs, MUDs, IRC etc.) ARAÚJO, Camila Silveira. Participação em chat no IRC #Pelotas. <http://www.ircpel.com.br> (2/ set./97). lista de discussão SEABROOK, Richard H. C. <[email protected]> “Community and Progress”. 22/jan./94. <[email protected]> (22/ jan./94). FTP (File Transfer Protocol) BRUCKMAN, Amy. “Approaches to Managing Deviant Behavior in Virtual Communities”. <ftp:// ftp.media.mit.edu/pub/asb/papers/deviancechi-94> (4/dez./94). Telnet GOMES, Lee. “Xerox's On-Line Neighborhood: A Great Place to Visit”. Mercury News. 3 May 1992. telnet lamba.parc.xerox.com 8888, @go #50827, press 13 (5/dec./94). Gopher QUITTNER, Joshua. “Far Out: Welcome to Their World Built of MUD”. Newsday, 7/nov./93. gopher University of Koeln/About MUDs, MOOs, and MUSEs in Education/Selected Papers/ newsday (5/dec./94). Newsgroup (Usenet) SLADE, Robert. <[email protected]> “UNIX Made Easy”. 26 Mar.1996. <alt.books.reviews> (31/mar./96). APRESENTAÇÃO 11. O encaminhamento de artigos passa por várias ETAPAS: • Apresentar três (3) cópias paginadas para apreciação prévia, dispostas pelas normas. Se aceito preliminarmente pela Comissão Editorial, o artigo é submetido à apreciação por processo anônimo de avaliação por pares (peer review), sendo posteriormente devolvido ao autor para eventual revisão. • Após a revisão, deve-se apresentar uma via do texto impressa e outra em disquete, com 132 arquivo gravado no formato Word 97 for Windows. Encaminhar também via do texto definitivo em papel, destacando as correções efetuadas com base nas alterações sugeridas pelos consultores, para facilitar a conferência. O trecho corrigido deverá ser grifado com tinta vermelha, ou marcado com cor vermelha da fonte através do editor de texto, ou ainda marcado com caneta “hidrocor destaca texto”. Concluído o processo de editoração, o autor recebe uma prova final que lhe será submetida à aprovação. • Caso o artigo seja vetado pela Comissão Editorial, é encaminhada justificativa ao(s) autor(es) juntamente com a devolução do texto original. 12. As ILUSTRAÇÕES (tabelas, gráficos, desenhos, mapas e fotografias) necessárias à compreensão do texto devem ser numeradas seqüencialmente com algarismos arábicos e apresentadas, de modo a garantir uma boa qualidade de impressão. Precisam ter título conciso, grafado em minúsculas. 13. TABELAS devem ser editadas em Word 97 for Windows ou Excel. Sua formatação precisa estar de acordo com as dimensões da revista. Devem vir inseridas nos pontos exatos de suas apresentações ao longo do texto. 14. GRÁFICOS e DESENHOS, além da inclusão nos locais exatos do texto (cópia impressa e disquete), precisam ser enviados em seus arquivos originais em separado (p.ex.: Excel, CorelDraw, PhotoShop, PaintBrush etc.). 15. As FOTOGRAFIAS devem oferecer bom contraste e foco nítido e precisam ser fornecidas em arquivos em formato “tif” ou “gif”. 16. Outras informações poderão ser conseguidas através da secretaria da Comissão Editorial da RC&T pelos telefones (19) 430-1767 ou 430-1770 ou ainda através do e-mail [email protected]. Dezembro • 2001