ACIDENTES OFÍDICOS DE INTERESSE MÉDICO BENEDITO BARRAVIERA Departamento de Doenças Tropicais Faculdade de Medicina de Botucatu UNESP GÊNEROS DE SERPENTES DE INTERESSE EM SAÚDE PÚBLICA PEÇONHENTAS DE MUITO INTERESSE Bothrops, Crotalus, Lachesis, Micrurus, Bothriopsis, Porthidium PEÇONHENTAS OU NÃO DE POUCO INTERESSE Família Boidae – jibóia, sucuri, cobra papagaio Família Colubridae – caninana, boipeva, jararacuçu do brejo, cobra-verde, falsas corais, mussuranas GÊNERO Bothrops (32 espécies) Bothrops jararaca, alternatus, moojeni, jararacussu, neuwiedi, erythromelas, atrox, cotiara, leucurus, insularis, etc. Exemplar de Bothrops moojeni GÊNERO Crotalus (6 sub-espécies) Crotalus durissus terrificus, collilineatus, cascavella, ruruima, marajoensis, trigonicus. Exemplar de Crotalus durissus terrificus GÊNERO Lachesis (2 espécies) Lachesis muta muta, muta rhombeata. Exemplar de Lachesis muta rhombeata GÊNERO Micrurus (29 espécies) Micrurus corallinus, filiformis, paraensis, lemniscatus, etc Exemplar de Micrurus filiformis filiformis Boa constrictor FAMÍLIA BOIDAE Eunectus murinus Corallus caninus Elapomorphus mertensi FAMÍLIA COLUBRIDAE Philodryas olfersii Clelia clelia EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTES LOCAL DA PICADA GÊNERO DA SERPENTE Membros inferiores – 62,75% Bothrops – 86,16% Membros superiores – 12, 15% Crotalus – 8,94% Outros locais – 25,1% Lachesis – 2,39% Micrurus – 0,63% Outros – 1,88% MESES DE MAIOR OCORRÊNCIA Dezembro a Maio – meses quentes SEXO, FAIXA ETÁRIA E PROFISSÃO Masculino – 76,84% Feminino – 23,16 Idade – 15 a 49 anos (64,0%) Trabalhador rural PATOGENIA – AÇÃO COAGULANTE É a propriedade que os venenos de Bothrops, Crotalus e Lachesis têm de transformar a molécula de fibrinogênio em fibrina. Os venenos botrópicos ainda ativam o fator X, a protrombina e consomem os fatores V, VII e as plaquetas. Em resumo: ocorre ativação da cascata da coagulação, com consumo de fibrinogênio levando à incoagulabilidade sangüínea e um quadro de coagulação intravascular disseminada. HEMORRAGIAS Bothrops jararaca Bothrops atrox PATOGENIA – AÇÃO PROTEOLÍTICA Também denominada de necrosante. É uma das principais ações dos venenos botrópicos e laquéticos. Decorre da ação citotóxica direta das frações proteolíticas sobre os tecidos. Pode haver liponecrose, mionecrose e lise das paredes vasculares. As lesões locais, como rubor, edema, bolhas e necrose estão sempre presentes. NECROSES Bothrops moojeni Bothrops jararaca Bothrops atrox PATOGENIA – AÇÃO VASCULOTÓXICA É causada por fatores hemorrágicos denominados hemorraginas. Estas são encontradas nos venenos botrópicos, crotálicos e laquéticos. Agem sobre os vasos capilares, destruindo e rompendo a membrana basal. EPISTAXE Crotalus durissus terrificus PATOGENIA – AÇÃO MIOTÓXICA A atividade miotóxica sistêmica do veneno crotálico está bem estabelecida. O diagnóstico de rabdomiólise é comprovado pelo aumento de mioglobina sangüínea e urinária, além do aumento de creatina-quinase (CK), desidrogenase láctica (DHL) e aspartato aminotransferase (AST). Os venenos botrópicos e laquéticos, especialmente o de Bothrops jararacussu, têm atividade miotóxica. Os doentes picados por estas serpentes apresentam discretos aumentos de CK e AST. RABDOMIÓLISE Crotalus durissus terrificus PATOGENIA – AÇÃO NEUROTÓXICA Apresentam atividade neurotóxica os venenos de Crotalus, Micrurus e Lachesis. Os venenos crotálicos, principalmente a fração crotoxina, atuam bloqueando a junção neuromuscular. Os venenos elapídicos atuam na pré e na póssinápse, havendo portanto, bloqueio da junção neuromuscular. Admite-se que o veneno laquético tenha atividade neurotóxica capaz de produzir síndrome de excitação vagal causando bradicardia, diarréia, hipotensão arterial e choque. FÁCIES MIASTÊNICO OU NEUROTÓXICO Crotalus durissus terrificus Crotalus durissus terrificus PATOGENIA – AÇÃO NEFROTÓXICA O veneno crotálico é um dos mais nefrotóxicos, embora os botrópicos e laquéticos possam também causar insuficiência renal. A ação do veneno crotálico sobre as células renais pode ser direta ou indireta. A indireta seria causada pela mioglobinúria, decorrente da rabdomiólise Crotalus durissus terrificus PATOGENIA – AÇÃO HEPATOTÓXICA Degeneração hidrópica Estas alterações foram descritas por Barraviera et al. em doentes picados por Crotalus durissus terrificus. Os doentes graves apresentam aumento da retenção da bromossulfaleína, do aspartato (AST) e da alanina aminotransferase (ALT) sangüíneas. Lesões mitocondriais QUADRO CLÍNICO – ACIDENTE BOTRÓPICO LEVE MODERADO GRAVE Manifestações locais (calor, rubor, dor, edema) Discretas Evidentes Manifestações sistêmicas (hemorragias, choque) Ausentes Ausentes ou Evidentes presentes Normal Alterado Incoagulável Tempo de coagulação Quantidade de veneno a ser neutralizado 100 mg Uso do garrote Ausente Tempo decorrido até o socorro médico 200 mg Ausente ou presente < 6 horas = 6 horas Intensas 300 mg Presente > 6 horas QUADRO CLÍNICO – ACIDENTE CROTÁLICO MODERADO GRAVE Fácies miastênico Discreta ou ausente Evidente Mialgia Discreta ou ausente Presente Visão turva Discreta ou ausente Presente Mioglobinúria Ausente ou presente Presente Oligúria e/ou anúria Ausente Presente ou ausente Tempo de coagulação Normal Alterado Quantidade de veneno a ser neutralizado 150 mg 300 mg ou mais QUADRO CLÍNICO – ACIDENTE LAQUÉTICO As manifestações clínicas são semelhantes aos acidentes botrópicos. Além disso, os doentes podem apresentar sintomas de excitação vagal, tais como bradicardia, diarréia, hipotensão arterial e As complicações são as choque. mesmas do acidente botrópico. QUADRO CLÍNICO – ACIDENTE ELAPÍDICO A sintomatologia ocorre minutos após, em virtude do baixo peso molecular das neurotoxinas. O doente apresenta fácies miastênico, ptose palpebral bilateral e paralisia flácida dos membros. O quadro é um dos mais graves devido a elevada incidência de paralisia respiratória de instalação súbita. SERPENTES CONSIDERADAS NÃO PEÇONHENTAS Acidente com Philodryas olfersii Acidente com Boa constrictor TRATAMENTO MEDIDAS GERAIS INDICADAS Colocar o doente em repouso absoluto Transportar o mais rápido para Hospital onde há soro Retirar anéis e alianças dos dedos Fazer imunoprofilaxia contra tétano Manter o membro acometido em posição de drenagem postural Internar sempre o doente para avaliação tardia TRATAMENTO MEDIDAS GERAIS CONTRA-INDICADAS Fazer torniquete ou garrote acima do local da picada Fazer perfurações ou cortes no local da picada Realizar fasciotomia na presença de sangue incoagulável Dar beberagens ao doente (alcoólicas ou não) Realizar teste intradérmico antes de aplicar o soro TRATAMENTO DO ACIDENTE BOTRÓPICO Tratamento específico com soro antibotrópico CASOS QUANTIDADE DE SORO Leves 100 mg (2 ampolas) Moderados 200 mg (4 ampolas) Graves 300 mg ou mais (6 ampolas ou +) Tratamento de suporte Local da picada, Uso de antibióticos, Tempo de coagulação, Fasciotomia, Internação do doente TRATAMENTO DO ACIDENTE CROTÁLICO Tratamento específico com soro anticrotálico CASOS QUANTIDADE DE SORO Moderados 150 mg (10 ampolas) Graves 300 mg ou mais (20 ampolas ou +) Tratamento de suporte Hidratação adequada, Induzir diurese osmótica, Alcalinizar urina, Reavaliar o tempo de coagulação, Insuficiência renal aguda, Internação do doente TRATAMENTO DO ACIDENTE ELAPÍDICO Tratamento específico com soro antielapídico Aplicar 150 mg de soro pela via intravenosa Tratamento de suporte Neostigmina Atropina Cloridrato de Edrofônio Vigilância permanente – insuficiência respiratória Internar o doente TRATAMENTO DO ACIDENTE LAQUÉTICO Tratamento específico com soro antilaquético Aplicar entre 150 a 300 mg de soro pela via intravenosa Tratamento de suporte Local da picada, Uso de antibióticos, Tempo de coagulação, Fasciotomia, Equilíbrio hidroeletrolítico, Cirurgia plástica, Fisioterapia, Internação do doente Esta aula está disponível no seguinte endereço: Site: www.jvat.org.br/barraviera/index.htm Email: [email protected] Pela atenção, Muito obrigado !!!