UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIFÚNGICA in vitro DO VENENO DAS SERPENTES AMAZÔNICAS Bothrops atrox (LINNAEUS, 1758) E Crotalus durissus ruruima (HOGE, 1965) MARCELO DOS SANTOS NEVES MANAUS 2008 ii MARCELO DOS SANTOS NEVES AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIFÚNGICA in vitro DO VENENO DAS SERPENTES AMAZÔNICAS Bothrops atrox (LINNAEUS, 1758) E Crotalus durissus ruruima (HOGE, 1965) Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em Convênio com a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas para a obtenção do grau de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientador: Prof. Dr. Jorge Luis López Lozano Co-orientadora: Profa. MSc. Maria Zeli Moreira Frota MANAUS 2008 iii FICHA CATALOGRÁFICA NEVES, Marcelo dos Santos Avaliação da atividade antifúngica in vitro do veneno das serpentes amazônicas Bothrops atrox (LINNAEUS, 1758) e Crotalus durissus ruruima (HOGE, 1965) xiv. 36 pág. Dissertação de Mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas. 1. Venenos de serpentes Atividade antifúngica 2. Bothrops atrox 3. Crotalus durissus ruruima 4. iv FOLHA DE JULGAMENTO AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIFÚNGICA in vitro DO VENENO DAS SERPENTES AMAZÔNICAS Bothrops atrox (LINNAEUS, 1758) E Crotalus durissus ruruima (HOGE, 1965) MARCELO DOS SANTOS NEVES “Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas”. Banca Julgadora: ______________________________________________ Profº. Jorge Luiz López Lozano, Dr. Presidente ______________________________________________ Profª. Maria Rosa Lozano Borras, Dra. ______________________________________________ Profº. José Camilo Hurtado Guerrero, Dr. v Aos meus pais Greicy e Manoel. Às minhas irmãs Ingrid e Inger. Dedico-lhes esta conquista. vi AGRADECIMENTOS Ao meu orientador Prof. Dr. Jorge Luis López Lozano pelo estímulo constante, pelos ensinamentos, por este presente e pela realização deste sonho. À minha co-orientadora Profa MSc. Maria Zeli Moreira Frota pela amizade, apoio e colaboração neste trabalho. A Universidade do Estado do Amazonas e a Fundação de Medicina Tropical pela oportunidade de realização deste curso. A Superintendência da Zona Franca de Manaus pelo apoio ao Curso de Mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas. A Profa Dra. Maria das Graças do Vale Barbosa, coordenadora do Mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas pelo apoio prestado no decorrer do curso. A todos os colegas que auxiliaram na realização das análises laboratoriais com os fungos, Ivaneide Lima Maciel, Edilamar, Fabiano de Souza Vargas, Luciana Paula de Amaral Coelho, em especial a Maria Zeli Moreira Frota pela paciência e por ter acreditado no trabalho desde a sua elaboração. Ao Prof. Dr. Emerson Silva Lima do Laboratório de Bioquímica Clínica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UFAM, por disponibilizar as drogas e equipamentos que foram indispensáveis na realização das análises laboratoriais. A Ana Claudia Cortez e Augusto Almendros de Oliveira do Laboratório de Micologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) por disponibilizarem a cepa padrão de Candida albicans. Aos colegas do Laboratório de Toxinologia Molecular da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Fabiana Oliveira da Rocha, André Miasato Higa, Thiago Ferreira de Araújo, Maria das Dores Nogueira Noronha e Emiro Gnutzmann Muniz pelo apoio prestado na análise dos venenos. Aos colegas de Mestrado, Fabiane Giovanella Borges, Suiane da Costa Negreiros do Valle, Maria das Graças Gomes Saraiva, Kleber Pinheiro de Oliveira, Débora Laís dos Santos Justo, Laura Patrícia Viana Maia, Jander Tôrres da Silva, Flávio Silveira de Barros e Rosilene Viana de Andrade, pela convivência e companheirismo. vii Aos professores do Mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas pelos ensinamentos. Aos Professores Doutores Maria Rosa Lozano Borrás e José Camilo Hurtado Guerrero por participarem da banca de defesa contribuindo para o desenvolvimento desta dissertação. A Emanuella Corrêa Alves pelo estímulo e companhia fundamental nesta jornada. Aos funcionários do Mestrado Maria da Conceição dos Santos Tufic, Samantha Teixeira Vasconcelos, Marcos André de Oliveira e Casta e Lucilene Guerra Pinheiro pelo carinho e colaboração. A amiga Andréia Queiroz de Camargo pelo apoio e colaboração na execução deste trabalho. A todos aqueles, que de forma direta ou indireta, me incentivaram a concluir este trabalho. Agradeço em especial, a minha família, sem a qual não teria conquistado esta vitória. viii “Nada é supérfluo na natureza” Averróis ix RESUMO Em conseqüência do desenvolvimento de microrganismos antibióticoresistentes, peptídeos antibacterianos e antifúngicos despertaram o interesse nos últimos anos para estudos sobre novos agentes terapêuticos. O objetivo deste estudo foi avaliar a atividade inibitória in vitro de venenos brutos de duas serpentes amazônicas das espécies Bothrops atrox e Crotalus durissus ruruima frente ao crescimento de Candida albicans em meio de cultura líquido YPD. Os ensaios de inibição foram realizados a partir de uma adaptação do protocolo M27-A2 (NCCLSCLSI, 2002) para macro e microdiluição. Perfil molecular dos constituintes protéicos dos venenos foi obtido por cromatografia líquida de alta performance em fase reversa (high performance liquid chromatografy-reversed phase, HPLC-RP) e eletroforese utilizando dodecil sulfato de sódio/gel de poliacrilamida (SDS-PAGE). Os resultados obtidos mostraram discreta inibição para ambos os venenos estudados e não haver diferença estatisticamente significante ao nível de 5% entre as médias obtidas das diferentes concentrações testadas tanto para o veneno de Bothrops atrox quanto para o de Crotalus durissus ruruima, todavia os mesmos apresentaram diferenças quanto ao perfil molecular segundo análise cromatográfica e eletroforética. O procedimento técnico empregado mostrou-se de simples execução, de baixo custo além de ter acurácia e reprodutibilidade satisfatórias para a avaliação in vitro da atividade antifúngica de venenos de serpentes. Palavras-chaves: Venenos de serpentes; Bothrops atrox; Crotalus durissus ruruima; Atividade antifúngica. x ABSTRACT As a consequence of the development of antibiotic-resistant microorganisms, antibacterial and antifungal peptides woke up the interest in the last years for studies on new therapeutic agents. The objective of this study was to evaluate the inhibitory activity in vitro of rude venoms of two amazonian snakes, Bothrops atrox and Crotalus durissus ruruima, in the growth of Candida albicans in liquid culture middle YPD. The inhibition rehearsals were accomplished starting from an adaptation of the M27-A2 protocol (NCCLS-CLSI, 2002) for macro and microdilution. The molecular profile of the proteics representatives of the venoms was obtained by high performance liquid chromatography-reversed phase (HPLC-RP) and sodium dodecyl sulfate polyacrylamide gel electrophoresis (SDS-PAGE). The obtained results showed discreet inhibition for both studied venoms and there not to be differentiates statistically significants at the level of 5% among the obtained averages of the different concentrations tested so much for the venom of Bothrops atrox as for the one of Crotalus durissus ruruima, though the same ones presented differences as for the molecular profile second chromatography and electrophoresis analysis. The technician employed procedure was shown of simple execution, of low cost besides having accuracy and satisfactory reproducibility for the evaluation in vitro of the antifungal activity of snake venoms. Key-words: Snake venoms; Bothrops atrox; Crotalus durissus ruruima; Antifungal activity. xi LISTA DE FIGURAS Figura 1. Perfil cromatográfico de veneno de Bothrops atrox – 4mg/500µl, velocidade de fluxo de 1mL/minuto, Solução A – 0,1% de TFA, Solução B - 0,1% de TFA em acetonitrila, Coluna – RP C18. .................................................................................... 24 Figura 2. Perfil cromatográfico de veneno de Crotalus durissus ruruima – 4mg/500µl, velocidade de fluxo de 1mL/minuto, Solução A – 0,1% de TFA, Solução B - 0,1% de TFA em acetonitrila, Coluna – RP C18. .................................................................................... 25 Figura 3. Perfil SDS/PAGE dos venenos em condições redutoras onde: 1. Controle de B.atrox (10µg/µl); 2. Controle de C.d.r (10µg/µl); 3. C.d.r (0,4 µg/µl); 4. B.atrox (0,2 µg/µl).................................. 26 Figura 4. Perfil SDS/PAGE dos venenos em condições não-redutoras: 1. Controle de B.atrox (10µg/µl); 2. Controle de C.d.r (10µg/µl); 3. B.atrox (0,2 µg/µl); 4. C.d.r (0,4 µg/µl). ................................................. 26 xii LISTA DE TABELAS Tabela 1. Percentuais de inibição do crescimento de Candida albicans obtidos em testes de microdiluição em caldo YPD a 35oC de dois derivados triazólicos com ação antifúngica. ..................................... 20 Tabela 2. Efeito das diferentes concentrações analisadas, em macrodiluição, do veneno de Bothrops atrox sobre o crescimento de Candida albicans em meio YPD a 35º C, Manaus – AM. .......................................................................................... 21 Tabela 3. Efeito das diferentes concentrações analisadas, em macrodiluição, do veneno de Crotalus durissus ruruima sobre o crescimento de Candida albicans em meio YPD a 35º C, Manaus – AM. .......................................................................................... 21 Tabela 4. Efeito das diferentes concentrações analisadas, em microdiluição, do veneno de Bothrops atrox sobre o crescimento de Candida albicans em meio YPD a 35º C, Manaus – AM. .......................................................................................... 22 Tabela 5. Efeito das diferentes concentrações analisadas, em microdiluição, do veneno de Crotalus durissus ruruima sobre o crescimento de Candida albicans em meio YPD a 35º C, Manaus – AM. .......................................................................................... 23 xiii LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS % µg µl µm AgNO 3 ATCC 3632 B.atrox C. albicans C. d. r Ca2+ CLSI CO 2 DP ECA FMTAM FUAM g GLP1 H+ hERG HIV HPLC- RP K+ kDa L M27-A2 mg min mL mm Na 2 S 2 O 3 NaCl NaCO 3 NCCLS nm ºC p pH SDS-PAGE SIDA T EM TFA UEA UFAM YPD Percentagem Micrograma Microlitros Micrômetro Nitrato de prata American Type Culture Collection Bothrops atrox Candida albicans Crotalus durissus ruruima Cálcio Clinical and Laboratory Standards Institute Gás carbônico Desvio padrão Enzima conversora de angiotensina Fundação de Medicina Tropical do Amazonas Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta Grama Glucagon like peptide 1 Hidrogênio Gene humano regulador de éter Vírus da imunodeficiência humana high performance liquid chromatography-reversed phase Potássio Kilodalton Litro Método de Referência para Testes de Diluição em Caldo Miligrama Minutos Mililitros Milímetro Tiossulfato de sódio Cloreto de sódio Carbonato de sódio National Committee for Clinical Laboratory Standards Nanômetro Grau Celsius Nível de significância estatística Potencial hidrogênio iônico Sodium Dodecyl Sulfate Polyacrylamide Gel Electrophoresis Síndrome da Imunodeficiência adquirida Células T mieloproliferativas Acido trifluoracético Universidade do Estado do Amazonas Universidade Federal do Amazonas Yeast peptone dextrose agar xiv SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1 1.1 Constituintes dos venenos .................................................................................. 1 1.2 Peptídeos antimicrobianos .................................................................................. 2 1.3 Aperfeiçoamento de peptídeos de venenos ........................................................ 3 1.4 Farmacologia dos peptídeos de venenos............................................................ 4 1.4.1Peptídeos de canais de cálcio ............................................................................. 4 1.4.2Toxinas de Canais de sódio ................................................................................ 4 1.4.3Toxinas de canais de potássio ............................................................................ 5 1.4.4Toxinas de canais de cloro .................................................................................. 5 1.4.5Peptídeos de venenos utilizados em doenças cardiovasculares......................... 5 1.4.6Inibidores de transportadores de noradrenalina .................................................. 6 1.4.7Peptídeos de venenos úteis em diabetes............................................................ 6 1.4.8Peptídeos com atividade antifúngica ................................................................... 6 1.4.9Possíveis mecanismos de ação .......................................................................... 7 1.5 Importância dos Fungos em Saúde..................................................................... 9 1.5.1Candida ............................................................................................................. 10 2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 12 2.1 Geral ................................................................................................................. 12 2.2 Específicos ........................................................................................................ 12 3 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................... 13 3.1 Modelo de Estudo ............................................................................................. 13 3.2 Obtenção das amostras .................................................................................... 13 3.2.1Venenos ............................................................................................................ 13 3.2.2Drogas ............................................................................................................... 14 3.2.3Fungo ................................................................................................................ 14 3.3 Preparação das culturas e efeito dos venenos no crescimento fúngico ............ 14 3.3.1Cultivo do fungo ................................................................................................ 14 3.3.2Preparação do inóculo ...................................................................................... 15 3.3.3Técnica de macrodiluição em caldo .................................................................. 15 3.3.4Técnica de microdiluição em caldo ................................................................... 16 3.4 Obtenção e caracterização molecular ............................................................... 17 3.4.1Por métodos cromatográficos ........................................................................... 17 3.4.2Por eletroforese ................................................................................................. 17 4 ANÁLISE ESTATÍSTICA ....................................................................................... 19 5 RESULTADOS ....................................................................................................... 20 5.1 Teste com drogas.............................................................................................. 20 5.2 Testes de inibição em macrodiluição ................................................................ 20 5.3 Testes de inibição em microdiluição.................................................................. 22 5.4 Caracterização molecular dos venenos testados .............................................. 24 5.4.1Por cromatografia .............................................................................................. 24 5.4.2Por eletroforese ................................................................................................. 25 xv 6 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 27 7 CONCLUSÃO......................................................................................................... 30 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 31 1 1 INTRODUÇÃO Os venenos de animais evoluíram dando origem a um vasto grupo de toxinas peptídicas, para captura da presa e defesa. Estes peptídeos encontram-se direcionados contra uma ampla variedade de alvos farmacológicos, tornando-os uma inestimável fonte de protótipos de drogas, para estudar as propriedades destes alvos em diferentes processos experimentais. Uma parte desses peptídeos tem sido usada in vivo para estudos de comprovação de eficácia, sendo submetidos a diversos ensaios pré-clinicos ou clínicos no intuito de desenvolver tratamentos para dor, diabetes, esclerose múltipla e doenças cardiovasculares (Garcia e Lewis, 2003). A maioria dos venenos compreende uma mistura de peptídeos altamente complexa, geralmente com farmacologia diversa e seletiva. Diante desta diversidade, os peptídeos de venenos parecem ter evoluído a partir de um número relativamente pequeno de estruturas que são particularmente bem ajustadas para atender problemas cruciais de potência e estabilidade. É esta biodiversidade desenvolvida que faz dos peptídeos de venenos uma fonte única de precursores e modelos estruturais, dos quais novos agentes terapêuticos podem ser desenvolvidos (Garcia e Lewis, 2003). 1.1 Constituintes dos venenos De acordo com Tu (1977), o veneno de serpentes peçonhentas é composto de substâncias simples e complexas, cuja proporção e características específicas variam entre as diferentes espécies conhecidas. A toxicidade do veneno das serpentes deve-se à presença de enzimas e proteínas, e sua ação letal é atribuída principalmente às neurotoxinas. Os venenos de serpentes, em especial da família Crotalidae, que comporta os gêneros Bothrops, Crotalus e Lachesis, contêm um grande número de proteínas farmacológica e bioquimicamente ativas, são mais complexos que os de outras famílias e contêm proteínas de maior massa molecular. São ainda particularmente importantes, pois os gêneros acima citados são abundantes na América do Sul e causam a maior parte dos acidentes ofídicos em humanos (Varanda e Giannini, 1999). 2 Cerca de 90% a 95% do peso seco dos venenos de serpentes consiste de proteínas, onde tanto as frações protéicas quanto as não-protéicas são biologicamente importantes. Os componentes não-protéicos podem ser divididos em orgânicos: aminoácidos livres e peptídeos, nucleotídeos, carboidratos, lipídios e aminas biogênicas; e inorgânicos: cátions e ânions (Varanda e Giannini, 1999). Segundo Varanda e Giannini (1999), dentre os constituintes orgânicos destacam-se os aminoácidos e pequenos peptídeos por serem biologicamente ativos. Os venenos contêm somente uma pequena quantidade de aminoácidos livres e 11 desses foram detectados no veneno da Trimeresurus mucrosquamatos. Em Vipera ammodytes foram encontrados histidina, ácido aspártico, glicina, ácido glutâmico, serina, alanina e espermina. Nos venenos de serpentes estão presentes também vários peptídeos ricos em prolina que potenciam a ação da bradicinina. Uma seqüência de três peptídeos potenciadores da bradicinina foi identificada no veneno de Agkistrodon halys blomhoffi e um desses peptídeos foi isolado do veneno de Bothrops jararaca por Ferreira et al. (1970). 1.2 Peptídeos antimicrobianos Os peptídeos antimicrobianos representam um grupo extremamente diverso de pequenas proteínas assim conhecidas devido a suas atividades antimicrobianas naturais. A existência de tais proteínas é conhecida há diversas décadas, no entanto apenas recentemente foram reconhecidas como essenciais à resposta imunitária animal. Participam primariamente no sistema imunológico inato atuando como barreira inicial de imuno defesa em muitos organismos, incluindo plantas, insetos, bactérias e vertebrados (Broekaert et al., 1997; Bulet et al., 1999; Metz-Boutigue et al., 2003). Estes peptídeos atuam como primeira linha de defesa do sistema imunológico à agressão por bactérias na forma de resposta induzida, como no caso das defensinas de insetos (Hofmann et al., 1992), ou estão presentes de forma constitucional, como as magaininas na pele de Xenopus laevis (Zaslof, 1987). 3 Como efetores da imunidade inata, tais peptídeos atuam diretamente em um amplo espectro de microrganismos, incluindo bactérias gram-positivas e gramnegativas, fungos e certos vírus. Além disso, estes peptídeos interagem com o próprio hospedeiro, desencadeando eventos que complementam seu papel como antibióticos. Combinadas, as funções destes peptídeos sugerem que os mesmos são importantes, e anteriormente subestimados, componentes da imunologia animal (Gallo et al., 2002). Steiner et al. (1981) identificaram os primeiros peptídeos antimicrobianos, as cecropinas em Hyalophora cecropia. Nos anos seguintes, tais peptídeos com atividade antibacteriana foram encontrados em todo o reino animal e vegetal, em bactérias, diferentes ordens de insetos, anfíbios, mamíferos e humanos (Boman, 1991; Broekaert et al., 1997; Stefanie et al., 2000). Diferentes grupos de peptídeos antimicrobianos podem ser produzidos baseados em diferenças estruturais (Haeberli et al., 2000), como por exemplo: as cecropinas (Boman, 1991); defensinas de insetos e plantas (Lehrer et al., 1991; Hofmann et al., 1992; Cammue et al., 1992); dois peptídeos ricos em prolina, a apidaecina e a abaecina (Casteels et al., 1989, 1990); diferentes polipeptídeos antibacterianos induzíveis: atacinas (Kockum et al., 1984), sarcotoxina, diptericina (Dimarcq et al., 1988), coleoptericina (Bulet et al., 1991); e magainina, de Xenopus laevis (Duclohier et al., 1989; Matsuzaki et al., 1997). 1.3 Aperfeiçoamento de peptídeos de venenos Segundo Chen et al. (1988), simultaneamente ao achado de peptídeos antimicrobianos em diferentes classes de animais, peptídeos análogos e híbridos foram sintetizados, por vezes até mais potentes. Peptídeos de venenos precisam estar suficientemente estáveis para suportar à degradação química em solução à temperatura ambiente e à degradação enzimática por proteases presentes no próprio veneno (Milne et al., 2003), assim como nos tecidos das diferentes espécies de presa. Esta estabilidade usualmente é adquirida de forma natural por meio de modificações estruturais e/ou ligações dissulfídicas as quais rearranjam o peptídeo a uma estrutura quimicamente estável. 4 Enzimas específicas são usadas durante a produção destes peptídeos para introduzir modificações em locais específicos, as quais podem aumentar a biodisponibilidade, potência e estabilidade (Garcia e Lewis, 2003). Todos estes compostos compartilham aspectos comuns como carga catiônica e habilidade para formar estruturas anfipáticas (Maloy e Kari, 1995). Apesar destas modificações, não é sempre que tais peptídeos de venenos preenchem todos os requisitos associados a potenciais aplicações terapêuticas. Discussões envolvendo o uso terapêutico de peptídeos incluem formulação, custo de produção, estabilidade, seletividade e mecanismo de ação. A síntese química de análogos permite que relações estrutura-atividade sejam desenvolvidas de forma que possam levar a melhoria coordenada destes aspectos (Garcia e Lewis, 2003). 1.4 Farmacologia dos peptídeos de venenos Peptídeos de venenos têm como alvo uma ampla variedade de canais protéicos de membrana e receptores, conforme descrição abaixo. 1.4.1 Peptídeos de canais de cálcio Estudos investigando o papel de canais de cálcio voltagem-dependente, na liberação de neurotransmissores, têm apontado que a liberação de um neurotransmissor específico está ligada à atividade de diferentes subtipos de canais de cálcio em diferentes neurônios. Além do que, múltiplas junções variantes de canais de cálcio existem em tecidos centrais e periféricos. Devido a esta diversidade, oportunidade considerável existe para se desenvolver inibidores seletivos de canais de cálcio voltagem-dependente (Lin et al., 1997). 1.4.2 Toxinas de Canais de sódio Canais de sódio voltagem sensíveis são cruciais ao funcionamento do sistema nervoso (Goldin et al., 2000). Alguns subtipos estão envolvidos em estados clínicos tais como dor, apoplexia e epilepsia (Akopian et al., 1996; Rabert et al., 1998). 5 1.4.3 Toxinas de canais de potássio Os canais de potássio representam uma família ampla e diversa de proteínas envolvidas na regulação de muitas funções celulares, tais como, excitabilidade da musculatura lisa e neuronal, proliferação, secreção de eletrólitos e regulação do volume de líquidos corporais. Peptídeos inibidores têm auxiliado a elucidar o papel fisiológico de alguns canais de potássio em tecidos naturais, incluindo canais de potássio presentes no sistema de inervação entérico (Suarez-Kurtz et al., 1999). Em humanos, células T mielo-reativas (T EM ) ativadas de pacientes com esclerose múltipla expressam níveis significativamente mais altos de canais de potássio em relação a células T de memória centrais ou simples, além do que, alguns inibidores de canais de potássio suprimem a proliferação de células T EM . Logo, inibidores seletivos de canais de potássio podem representar uma terapia apropriada para o tratamento de doenças auto-imunes como esclerose múltipla, bem como, diabetes tipo 1, psoríase e artrite reumatóide (Beeton et al., 2001; Beeton et al., 2003; Wulff et al., 2003). Bloqueadores seletivos de canais de potássio também podem ter potencial efeito no tratamento de câncer. Semelhante ao gene humano relacionado à entrada e saída de éter (hERG), canais de potássio parecem estar presentes em diferentes tumores (Pardo et al., 1999; Bianchi et al., 1998). 1.4.4 Toxinas de canais de cloro Canais de cloro também estão entre as muitas proteínas de membrana expressas na superfície de diferentes tipos de câncer. Uma Clorotoxina isolada do escorpião Leiurus quinquestriatus (Debin et al., 1993) liga-se a canais de cloro específicos e a certos tumores e gliomas, podendo assim representar potencial agente no tratamento deste tipo de câncer (Ullrich et al., 1995). 1.4.5 Peptídeos de venenos utilizados em doenças cardiovasculares O primeiro exemplo de uma droga de sucesso que teve como protótipo um veneno é o captopril, o qual inibe a enzima conversora de angiotensina (ECA), uma enzima essencial para a produção de angiotensina, a qual por sua vez é um 6 vasoconstritor associado à hipertensão. O Teprotide, peptídeo isolado do veneno de Bothrops jararaca, foi escolhido como modelo estrutural de referência devido sua atividade de longa duração in vivo, mesmo mostrando não ser oralmente ativo (Ondetti et al., 1971; Ondetti, 1988). 1.4.6 Inibidores de transportadores de noradrenalina Transportadores de noradrenalina (NET) são importantes na redução da concentração de noradrenalina liberada nos neurônios, como conseqüência influindo no aprendizado e memória, bem como nas funções endócrinas e autônomas (Ressler e Nemeroff, 1999). Drogas que inibem os NET têm efeitos antidepressivos e/ou psicoestimulantes (Charney, 1998), produzem exacerbação de efeitos nas vias inibitórias descendentes na medula espinhal (Millan, 2002), o que representa possível utilidade no tratamento de desordens cardiovasculares e incontinência urinária (Andersson, 1999). Conopeptídeos–χ (peptídeos tóxicos encontrados na casca dos caracóis) são inibidores não competitivos e altamente específicos da captação de noradrenalina por NET de humanos e ratos (Sharpe et al., 2001). 1.4.7 Peptídeos de venenos úteis em diabetes O peptídeo 1 similar ao glucagon (GLP1) é um hormônio insulinotrópico, secretado por células endócrinas do intestino grosso e delgado, de forma nutrientedependente. O GLP-1 inibe o fluxo interno e esvaziamento gástrico, e controla os níveis sanguíneos de glicose. Um peptídeo relacionado ao GLP, a exendina - 4 do veneno do monstro de Gila Heloderma suspectum (Eng et at., 1992), mostrou ser ativo in vivo (Szayna et al., 2000). Com base nesta atividade, exendina - 4 passa por ensaios clínicos de Fase III visando tratamento de diabetes tipo 2. 1.4.8 Peptídeos com atividade antifúngica Um peptídeo com atividade antifúngica foi encontrado no veneno de uma serpente brasileira. Estudos utilizando veneno de Bothrops jararaca revelaram que o 7 composto denominado Pep5Bj, isolado de uma fração peptídica (FV), possui alta atividade inibitória sobre o crescimento dos fungos fitopatogênicos Fusarium oxysporum e Colletotrichum lindemuthianum e das leveduras Candida albicans e Saccharomyces cerevisiae (Gomes et al., 2005). A concentração inibitória mínima deste peptídeo encontrado no veneno de Bothrops jararaca foi comparável ao de outros peptídeos antifúngicos como defensinas de insetos e cecropinas encontradas em uma ampla diversidade de animais (Sitaram e Nagaraj, 1999; Moerman et al., 2002). Segundo Garcia e Lewis (2003), como conseqüência de sua alta seletividade, peptídeos de veneno têm provado que são úteis particularmente para estudos de comprovação de eficácia in vitro e in vivo. Todavia, para aplicações terapêuticas, vários aspectos associados à segurança, farmacocinética e liberação precisam ser esclarecidos. A otimização da liberação de peptídeos em alvos periféricos e centrais ajudará a determinar se estes podem ser considerados candidatos ao desenvolvimento de novas drogas. Permanecem a serem estudados quantos dos peptídeos presentes em venenos animais podem vir a ter utilidade clínica. 1.4.9 Possíveis mecanismos de ação Segundo Egorov et al. (2005), tornou-se muito nítido nos últimos anos que peptídeos antimicrobianos desempenham um papel importante na proteção contra infecções associadas a diferentes microorganismos e que estudos envolvendo estes compostos contribuem de forma significante ao desenvolvimento de resistência a diferentes patógenos. Muitos destes peptídeos têm sido exaustivamente estudados no intuito de elucidar seus mecanismos de ação. Diferentes modelos para este tipo de atividade já foram propostos: peptídeos podem formar poros, seja por desorganização ou desestabilização da membrana celular do patógeno. De maneira geral, os resultados destes modelos mostram aumento na permeabilidade da membrana e lise da célula patogênica (Gazit et al., 1995; Heller et al., 2000; Brogden, 2005). As tioninas foram os primeiros peptídeos para os quais uma atividade antipatogênica foi relatada, mostrando alterar a permeabilidade da membrana 8 celular. São tóxicas tanto para bactérias gram-positivas quanto negativas, fungos, leveduras e vários tipos de células de mamíferos. A toxicidade requer uma interação eletrostática das tioninas com fosfolipídios de membrana carregados negativamente, seguida ou pela formação de poros ou uma interação específica com certo domínio na membrana (García-Olmedo et al., 1989; Theevissen et al., 1996). Thevissen et al. (1996) também afirmam que as tioninas inibem crescimento fúngico como resultado direto de interações proteína-membrana, agindo por mecanismos possivelmente mediados por receptores. Todos estes dados são consistentes com a noção de que tioninas afetam o crescimento de fungos filamentosos, mais provavelmente devido à ligação à superfície da membrana e o distúrbio de sua organização do que a formação de poros. Além disso, a interação entre tioninas e células fúngicas também leva a efeitos secundários tais como o influxo de Ca 2+ , o qual possivelmente pode resultar da ativação de um canal de cálcio endógeno (Thevissen et al., 1996). Peptídeos antimicrobianos como a gramicidina A e alameticina já foram utilizados para descrever interações peptídeo-membrana. Por serem pequenos e de fácil disponibilidade têm tornado possível estudar interações com lipídios de membrana a fundo por uma variedade de técnicas biofísicas. Estudos também apontam que estes peptídeos apresentam habilidade para modular o fluxo de íons através de membranas, tornando-se conseqüentemente modelos populares para compreensão de como proteínas de canais de íons funcionam (Sitaram e Nagaraj, 1999). Gomes et al. (2005) demonstraram que a inibição do crescimento de fungos fitopatógenos e de leveduras como Candida albicans, por uma fração peptídica chamada FV presente no veneno de Bothrops atrox, pode ter sido mediada pela inibição da enzima ATPase H+ ou pelo aumento na permeabilidade de H+ da membrana plasmática destes fungos. Cociancich et al. (1993) demonstraram que defensinas de insetos rompem a permeabilidade da membrana citoplasmática de Micrococcus luteus, resultante a formação de canais de íons voltagem dependentes na membrana citoplasmática. 9 Defensinas de plantas induzem o fluxo de íons pela membrana plasmática de hifas fúngicas in vivo. Diferente de defensinas de insetos e mamíferos, as de plantas não formam poros permeáveis a íons em membranas artificiais nem mudam as propriedades elétricas de bicamadas lipídicas artificiais. Este achado indica uma interação direta com componentes lipídicos da membrana plasmática (kagan et al., 1990; Cociancich et al.,1993; Thevissen et al., 1996). Provavelmente estas respostas de membrana são iniciadas através de interação com um receptor que poderia traduzir um sinal para canais endógenos de íons na membrana ou, alternativamente, facilitar inserção da defensina de planta na membrana com subseqüente formação de canais de íons (Thevissen et al., 1996). De acordo com Theevissen et al. (1996), dois diferentes membros da família de peptídeos antifúngicos oriundos de defensinas de plantas, Rs-AFP2 e Dm-AMP1, induziram a uma resposta de membrana em Neurospora crassa, incluindo captação de Ca2+, saída de K+, alcalinização do meio e alterações no potencial de membrana. Segundo Galo et al. (2002), análises estruturais da sequência de aminoácidos, estudos diacrônicos circulares bem como estudos farmacológicos da ação em diferentes patógenos, auxiliam a elucidar os mecanismos de ação de peptídeos antimicrobianos presentes em venenos de serpentes. 1.5 Importância dos Fungos em Saúde Nas últimas décadas, mudanças relevantes na epidemiologia das infecções fúngicas humanas são observadas nas diferentes regiões do mundo, em especial, no que concerne ao aumento na freqüência e espectro clínico das mesmas. Algumas espécies fúngicas figuram atualmente entre as principais causas de infecções disseminadas em pacientes imunodeprimidos internados, tais como diferentes espécies de Candida, Aspergillus, Cryptococcus neoformans, dentre outras (Pfaller e Yu, 2001). Tais mudanças são resultantes principalmente do aumento das populações mais suscetíveis a infecções oportunistas, dentre as quais, se destacam os indivíduos portadores da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA); indivíduos 10 com imunossupressão iatrogênica devido ao uso prolongado de corticoesteróides, antibióticos e outras drogas imunomoduladoras; pacientes neoplásicos, póstransplantados e portadores de outras doenças graves e debilitantes, os quais tiveram sobrevida aumentada pelos modernos recursos terapêuticos (Sidrim e Moreira, 1999). 1.5.1 Candida A candidíase ou candidose é uma infecção primária ou secundária causada por microrganismos do gênero Candida, comprometendo pele e anexos, mucosas e semimucosas, podendo ocasionalmente disseminar-se produzindo lesões em órgãos distintos, em pacientes com algum tipo de imunodepressão (Negroni et al., 2001). Ocupa lugar de destaque entre as doenças tropicais, pois vem sendo relatada como uma das principias infecções que acometem predominantemente pacientes imunossuprimidos (Ferreira e Ávila, 2001). Apesar deste gênero compreender 163 espécies, mais de 60% das infecções são causadas por Candida albicans. A Candida faz parte da microbiota de indivíduos sadios e está amplamente distribuída no meio ambiente, na fauna, na flora, no solo e na água (Ferreira e Ávila, 2001; Negroni et al., 2001). O clima quente e úmido da região Amazônica contribui favoravelmente para o desenvolvimento desta infecção fúngica. Estudos realizados por Negroni et al. (2001), evidenciaram que nas infecções causadas pelo gênero Candida, C. albicans foi a espécie mais freqüente (70%). Outras espécies descritas são C. tropicalis, C. parapsilosis, C. krusei, C. glabrata, C. stelladoidea, C. guilliermondii e C. dubliniensis. A candidíase é a infecção fúngica mais freqüente e de ocorrência mais precoce em indivíduos HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) positivos, sendo a C. albicans a espécie mais comumente encontrada (Trope, 1995), o que também foi comprovado por Cruz (2004), ao estudar pacientes HIV positivos na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, onde o gênero Candida também foi o mais freqüentemente isolado. 11 Outro aspecto que tem aumentado a predominância de infecções fúngicas, principalmente a candidíase, é o desenvolvimento de mecanismos de resistência primária e secundária aos antimicóticos, podendo ser explicada, em parte, pela ação fungistática e pela terapêutica prolongada, o que permite a seleção de clones resistentes (Arango et al., 2004). Apesar da disponibilidade no mercado de fármacos para o tratamento da candidíase cutânea, cutâneomucosa ou sistêmica, tais como Anfotericina B, Fluconazol, Cetoconazol, entre outros, existem limitações à utilização dos mesmos, como problemas com cepas resistentes, efeitos adversos (hepatoxicidade, nefrotoxicidade) além do custo elevado (Sidrim e Moreira, 1999; Arango et al., 2004). Nas últimas décadas houve não só um notável aumento das infecções fúngicas em todo o mundo, mas também um incremento na resistência farmacológica de diversas espécies de fungos, entre eles o gênero Candida aos diferentes antimicóticos que se utiliza na prática médica (Arango et al., 2004). Diante do exposto, é de total relevância a busca de novos antifúngicos de origem natural, para o tratamento das candidíases, objetivando aliar menores efeitos secundários, maior espectro de ação e menor custo que os fármacos disponíveis atualmente. 12 2 2.1 OBJETIVOS Geral Avaliar a atividade antifúngica dos venenos de serpentes amazônicas por meio de ensaios in vitro sobre o crescimento de cepa de levedura de interesse clínico. 2.2 • Específicos Testar uma metodologia simplificada de diluição em caldo adaptada do protocolo M27-A2 (CLSI – Clinical and Laboratory Standard Institute) para avaliação da atividade inibitória in vitro de venenos de serpentes amazônicas sobre o crescimento de levedura do gênero Candida. • Detectar, por meio de técnica de diluição em caldo, a atividade inibitória dos venenos de serpentes amazônicas das espécies Bothrops atrox e Crotalus durissus ruruima sobre o crescimento de cepa clínica de Candida albicans. • Determinar a concentração inibitória mínima dos venenos de Bothrops atrox e Crotalus durissus ruruima sobre o crescimento de cepa clínica de Candida albicans. • Caracterizar molecularmente, por meio de métodos cromatográficos e eletroforéticos, os venenos das serpentes amazônicas Bothrops atrox e Crotalus durissus ruruima. 13 3 3.1 MATERIAL E MÉTODOS Modelo de Estudo Estudo experimental descritivo, onde se avaliou a atividade inibitória in vitro de moléculas com potencial antifúngico, provenientes de venenos de serpentes amazônicas, sobre cepa de Candida albicans. Foram realizados seis testes utilizando a técnica de macrodiluição e quinze testes utilizando a técnica de microdiluição em caldo, em que foi testada a ação inibitória de diferentes concentrações dos venenos sobre o crescimento fúngico. Foram realizados ainda testes utilizando-se drogas antifúngicas como controle de eficácia do método utilizado. 3.2 Obtenção das amostras 3.2.1 Venenos As amostras de veneno de exemplares adultos das serpentes Bothrops atrox e Crotalus durissus ruruima foram obtidas de espécimes provenientes de diferentes localidades da Amazônia, mantidas nos serpentários do Centro de Ofidismo “Prof. Paulo Friedrich Bührnhein” da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMTAM), por meio de pressão manual sobre as glândulas de veneno, após anestesiar as serpentes com gás carbônico (CO 2 ). O sobrenadante das amostras coletadas foi centrifugado, filtrado utilizando-se filtro de 0,45 μm, liofilizado e estocado a -20ºC. A concentração inicial (ou estoque) do veneno de Bothrops atrox utilizada para os testes de inibição em macrodiluição foi de 16.000 µg/mL, e 20.000 µg/mL para os testes de inibição em microdiluição. Do veneno de Crotalus durissus ruruima, as concentrações iniciais utilizadas para os testes de inibição em macrodiluição e microdiluição foram respectivamente 10.000 µg/mL e 20.000 µg/mL. A partir destes valores iniciais e de diluições sucessivas de cada um dos venenos amostrados foram selecionadas as concentrações teste (em µg/mL) de 14 0,78125; 1,25; 1,5625; 2,5; 3,125; 5; 6,25; 10; 12,5; 20; 25; 40; 50; 100; 200; 250 e 400 para realização dos ensaios de inibição. 3.2.2 Drogas No intuito de avaliar a eficiência do método simplificado de diluição em caldo YPD empregado no presente estudo foram realizados ensaios com duas drogas antifúngicas da família dos triazóis, sintetizadas no Laboratório de Química da Universidade Federal Fluminense, fornecidas pelo Laboratório de Bioquímica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UFAM. Estas drogas foram identificadas com os códigos IVS-0320 e IVS-0322 e foram testadas nas concentrações de 8 e 16 µg/mL. 3.2.3 Fungo Foi utilizada nos testes in vitro para avaliação da atividade antifúngica dos venenos, cepa de Candida albicans isolada de paciente com diagnóstico clínico e laboratorial de candidíase vulvovaginal de evolução crônica ou recorrente, que apresentava resistência clínica à terapêutica convencional, atendida no centro de referência para Doenças Sexualmente Transmissíveis - Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta (FUAM). Esta cepa foi identificada com o código KL-07. Como amostra padrão foi utilizada cepa de Candida albicans ATCC 3632, fornecida pelo Laboratório de Micologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). 3.3 Preparação das culturas e efeito dos venenos no crescimento fúngico A preparação das culturas de leveduras utilizadas nos testes de inibição, a padronização dos inóculos e o ensaio quantitativo foram realizadas a partir de uma adaptação do protocolo M27-A2 (NCCLS, 2002) para macro e microdiluição. 3.3.1 Cultivo do fungo Das cepas de levedura isoladas de material clínico foram realizadas subculturas (repiques), em tubos estéreis com ágar YPD, incubando-os em estufa a 15 35°C durante 24 horas. Durante todo o período que envolveu os ensaios foram executadas passagens para assegurar pureza e viabilidade das cepas. 3.3.2 Preparação do inóculo Dos repiques de 24 horas foram retiradas colônias com diâmetro aproximado de 1 mm. As colônias foram então suspensas em 5mL de solução salina estéril 0,145 mol/L (8,5g/L NaCl; salina a 0,85%). A suspensão resultante foi homogeneizada em agitador vortex por 15 segundos e a densidade celular ajustada com espectrofotômetro, acrescentando-se solução salina suficiente para obter absorbância equivalente a de uma soluçãopadrão de 0,5 na escala de Mc Farland (no caso, 0,1 de absorbância), em comprimento de onda de 530 nanômetros (nm). Esse procedimento permitiu a obtenção de uma suspensão-padrão de levedura contendo 1 x 106 a 5 x 106 células por mL. 3.3.3 Técnica de macrodiluição em caldo Para a técnica de macrodiluição foi realizada uma diluição 1:100 seguida de uma diluição de 1:20 da suspensão-padrão em meio líquido YPD, obtendo-se assim uma concentração de 5,0 x 102 a 2,5 x 103 células por mL2 na suspensão teste após a mistura com o veneno. Foram transferidos 0,2 mL das diferentes concentrações do veneno previamente diluído em solução salina, em tubos de ensaio 12 x 75mm. Os testes foram realizados em triplicata utilizando-se concentrações que variaram entre 0,78125 e 400 µg/mL. Para controle de crescimento do inóculo fúngico utilizou-se 0,2 mL do diluente dos venenos, sem veneno. Acrescentou-se 1,8 mL do inóculo ajustado, a cada tubo de ensaio da série de concentrações, homogeneizando-se em vortex por 15 segundos. Este procedimento resultou em diluição 1:10 de cada concentração de veneno testada e uma diluição do inóculo em 10%. Os tubos foram incubados sem agitação em estufa a 35°C, durante um período de 24 horas. Leituras ópticas foram realizadas em espectrofotômetro com 16 comprimento de onda de 530nm, no intuito de avaliar o crescimento do inóculo fúngico nos diferentes tubos contendo os venenos diluídos. Os percentuais de crescimento e de inibição do crescimento nos tubos teste foram estimados comparando-se com as leituras obtidas nos tubos controle usados em cada série de análises. 3.3.4 Técnica de microdiluição em caldo Os testes foram realizados em placas de microdiluição estéreis de 96 poços com fundo plano. A suspensão padrão de levedura foi homogeneizada durante 15 segundos em vortex, e depois diluída na proporção de 1:50. Desta última foi obtida uma diluição de 1:20 subsequentemente com o meio de cultura YPD, obtendo-se assim um inóculo 2X concentrado na suspensão teste (de 1 x 103 a 5 x 103 células por mL). As diferentes concentrações de veneno foram dispensadas em quadriplicata nos poços da microplaca em volumes de 100µL, iniciando-se na fileira 1 com a diluição mais concentrada (400 µg/mL), concluindo-se na fileira 5 com a diluição de menor concentração do veneno (0,781µg/mL). Para os controles positivos foram adicionados 100µL de meio de cultura, isento de veneno, nos quais foram acrescentados 100µL das suspensões 2X concentradas dos inóculos. Realizou-se ainda o controle negativo inoculando-se em uma das fileiras da placa apenas o meio de cultura com solução salina, isento de veneno e de inóculo. Desta maneira, o inóculo 2X concentrado foi então acrescentado na proporção 1:1 ao ser inoculado nos poços, obtendo-se assim uma concentração final de 0,5 x 103 a 2,5 x 103 células por mL. Uma vez misturados veneno e meio com inóculo, as placas de microdiluição foram incubadas em estufa a 35° C por 24 horas. Após a incubação, leituras ópticas a 630 nm foram realizadas do conteúdo dos poços com os venenos em diferentes concentrações e os controles, em leitora de placa (Thermo Plate TP Reader) obtendo-se os valores em absorbância. 17 3.4 Obtenção e caracterização molecular A obtenção e caracterização do perfil molecular das frações protéicas dos venenos com atividade inibitória sobre o crescimento dos fungos amostrados foram realizadas conforme técnicas descritas abaixo. 3.4.1 Por métodos cromatográficos As frações protéicas dos venenos utilizados nos testes de inibição foram obtidas utilizando-se método cromatográfico convencional de fase reversa, associado a fracionamento por solventes orgânicos e soluções tampão segundo López-Lozano (2002). A detecção do perfil molecular dos constituintes protéicos dos venenos das serpentes foi obtida usando-se cromatografia líquida de alta performance em fase reversa (high performance liquid chromatografy-reversed phase, HPLC-RP), com coluna semipreparativa ODS Shim-Pack C18 (10 mm x 250 mm, 10 µm), equilibrada com 0,1% de ácido trifluoracético (TFA, solução A). A eluição dos constituintes dos venenos era iniciada com fluxo da solução A por 10 min e continuada com gradiente 0,1% de TFA em acetonitrila (solução B), de 0 a 60% em 70 minutos (min). A velocidade de fluxo para eluição dos constituintes era de 2,5 ml/min, monitorando-se com detector analítico sob radiação luminosa a 216 nm. Para cada processo cromatográfico eram aplicadas 4 mg de amostra e, para cada amostra, realizavamse duas análises cromatográficas. 3.4.2 Por eletroforese Foi utilizada técnica descrita por Laemmli (1970) utilizando dodecil sulfato de sódio/gel de poliacrilamida (SDS-PAGE), conforme descrito a seguir. A concentração do gel de corrida foi de 15%, enquanto que a do gel de empilhamento foi de 4%. As amostras de venenos foram diluídas volume a volume com tampão da amostra Tris 0,125M, SDS 2%, glicerol 10% e azul de bromofenol 0,05%, com e sem β – mercaptoetanol, resultando frações reduzidas e não reduzidas respectivamente, e aquecidas por 5 minutos a 100°C (reduzidas) 40ºC por 30 minutos (não reduzidas). 18 Foram submetidas à eletroforese amostras de veneno de Bothrops atrox na concentração de 0,2 µg/µl (diluição equivalente a 200 µg/ml) e Crotalus durissus ruruima na concentração de 0,4 µg/µl (diluição equivalente a 400 µg/ml), juntamente com dois controles de corrida para Bothrops atrox e Crotalus durissus ruruima ambos com concentração de 10 µg/µl. As amostras aplicadas no gel foram submetidas a uma corrente elétrica constante de 20 mA / gel, usando Tris-glicina pH 8,3 (Tris 0,025M, glicina 0,192M, SDS 0,1%) como tampão de corrida. Após a corrida os géis foram corados com Nitrato de Prata conforme descrito abaixo. Os géis foram lavados durante 5 minutos com água destilada e em seguida imersos em 150 ml de solução fixadora (composta por metanol 50%, ácido acético 12% e formaldeído 0,1%) por 24 horas. Após este período, os géis foram submetidos a três lavagens com etanol. Cada lavagem durou 20 minutos, sob agitação, utilizando-se 300 ml de solução de etanol 50%. A próxima etapa foi deixar os géis imersos em 300 ml de solução de tiossulfato de sódio 0,02% por 1 hora. Os géis foram então submetidos a três ciclos de lavagem com água destilada, sob agitação, por cerca de 20 minutos cada ciclo. Após lavagem, os géis foram imersos em solução de nitrato de prata (AgNO 3 0,2% e formaldeído 0,075%) e água destilada, por 30 minutos, sob agitação. Logo em seguida, foram lavados com água destilada por não mais que 1 minuto e imersos em solução reveladora (Na 2 CO 3 6%; formaldeído 0,008%; Na 2 S 2 O 3 ) sob agitação até surgimento das bandas e spots. Evidenciadas as bandas, os géis foram então imersos em solução de interrupção (composta de ácido acético 5%) por 10 minutos finalizando assim o processo de coloração. O perfil molecular obtido nos géis foi registrado utilizando-se Image Scanner (GE) com auxílio do software Platino 6.0 (GE). 19 4 ANÁLISE ESTATÍSTICA Todos os experimentos foram realizados em triplicata, e os dados obtidos utilizados para cálculo das médias das leituras, medianas e desvio-padrão (DP). Na comparação das medianas dos diferentes níveis de diluição utilizou-se o teste Não-paramétrico de Kruskal-Wallis com nível de significância de 5%. O software utilizado na análise foi o programa Epi-Info 3.3 for Windows desenvolvido e distribuído pelo CDC (www.cdc.org/epiinfo). 20 5 5.1 RESULTADOS Teste com drogas Ensaios realizados com duas drogas antifúngicas da família dos triazóis, (IVS – 0320 e IVS – 0322) visando demonstrar eficiência do método de microdiluição em caldo YPD, mostraram potente atividade inibitória sobre o crescimento de Candida albicans. Foi possível observar correlação positiva entre concentração e atividade inibitória Tabela 1. Percentuais de inibição do crescimento de Candida albicans obtidos em testes de o microdiluição em caldo YPD a 35 C de dois derivados triazólicos com ação antifúngica. *Concentração Atividade (µg/mL) Inibitória (%) IVS-0320 8 IVS-0320 DP Mediana 50,08 3,01 50,88 16 81,23 1,37 80,49 IVS-0322 8 99,70 0,58 100 IVS-0322 16 100 0,00 100 Drogas DP – desvio padrão, * concentrações obtidas a partir de diluições da droga purificada. 5.2 Testes de inibição em macrodiluição Nos ensaios utilizando-se diluições do veneno de Bothrops atrox, obteve-se maior atividade inibitória (16,05%) sobre a cepa clínica KL-07 com uma concentração de 10 µg/mL de veneno e menor atividade (3,61%) com concentração de 2,5 µg/mL, conforme apresentado na Tabela 2. Com relação à cepa padrão ATCC observou-se maior atividade inibitória (14,26%) com uma concentração de veneno de 400 µg/mL e menor (5,45%) com concentração de veneno de 1,25 µg/mL. Nossos dados sugerem similar efeito inibitório, nas concentrações testadas, do veneno de B. atrox sobre ambas as cepas de Candida albicans. 21 Tabela 2. Efeito das diferentes concentrações analisadas, em macrodiluição, do veneno de Bothrops atrox sobre o crescimento de Candida albicans em meio YPD a 35º C, Manaus – AM. Atividade Inibitória (%) Concentração* (µg/mL) KL-07 ATCC DP KL- 07 Mediana ATCC KL-07 ATCC 400 12,32 14,26 1,33 1,05 9,42 8,43 40 5,21 12,71 2,57 1,51 3,23 7,87 20 5,56 10,93 8,52 1,48 3,65 6,39 10 16,05 14,07 11,72 1,06 10,50 9,70 5 12,64 7,8 20,48 1,17 8,46 3,87 2,5 3,61 7,07 25,56 1,14 3,16 4,70 1,25 13,93 5,45 26,99 1,20 10,39 3,54 DP - desvio padrão, * concentrações obtidas a partir de diluições do veneno bruto de Bothrops atrox, p-valor = 0,785(KL-07) e p-valor = 0,220 (ATCC) - (Teste de Kruskal-Wallis). Ao testar o veneno de Crotalus durissus ruruima, observou-se frente à cepa clínica KL-07 maior atividade inibitória (9,19%) com concentração de 12,5 µg/mL e menor atividade (0,35%) com 1,5625 µg/mL. Frente a cepa padrão ATCC a maior atividade inibitória (13,21%) foi obtida na concentração de 3,125 µg/mL e a menor (2,84%) na concentração de 250 µg/mL. Em vista destes dados, observa-se atividade inibitória semelhante para este veneno sobre ambas as cepas analisadas (Tabela 3). Tabela 3. Efeito das diferentes concentrações analisadas, em macrodiluição, do veneno de Crotalus durissus ruruima sobre o crescimento de Candida albicans em meio YPD a 35º C, Manaus – AM. Concentração* (µg/mL) Atividade Inibitória (%) KL-07 ATCC DP KL-07 Mediana ATCC KL-07 ATCC 250 2,98 2,84 8,14 1,02 2,85 2,84 25 1,01 12,73 5,03 4,50 1,01 12,73 12,5 9,19 12,0 24,44 1,95 9,19 12,0 6,25 1,34 8,69 1,68 3,76 1,34 8,69 3,125 5,91 13,21 7,00 2,0 5,91 13,21 1,5625 0,35 9,34 13,51 2,23 0,35 9,34 0,78125 7,50 9,26 5,65 1,03 7,50 9,26 DP – desvio padrão, * concentrações obtidas a partir de diluições do veneno bruto de Crotalus durissus ruruima, p-valor = 0,785 (KL-07) e 1 (ATCC) - (Teste de Kruskal-Wallis). 22 5.3 Testes de inibição em microdiluição De acordo com os dados apresentados na Tabela 4, ao se testar o veneno da espécie Bothrops atrox, a maior atividade inibitória alcançada (9,09%) sobre a cepa KL-07 foi observada com concentração de 200 µg/mL, e a menor (1,86%) com concentração de 3,125 µg/mL. Não houve inibição pelo veneno de B. atrox, em nenhuma das concentrações testadas, frente à cepa ATCC. Tabela 4. Efeito das diferentes concentrações analisadas, em microdiluição, do veneno de Bothrops atrox sobre o crescimento de Candida albicans em meio YPD a 35º C, Manaus – AM. Atividade Inibitória (%) Concentração* (µg/mL) KL-07 ATCC DP KL-07 Mediana ATCC KL-07 400 5,54 7,04 2,73 200 9,19 9,79 7,03 100 5,88 6,56 3,27 50 4,96 5,47 4,93 25 6,87 12,5 4,31 6,25 6,08 5,01 5,37 3,125 1,86 5,06 1,19 1,5625 4,32 10,04 2,0 0,78125 5,45 5,58 4,57 0,00 10,12 3,57 0,00 2,91 5,80 ATCC 0,00 DP – desvio padrão, * concentrações obtidas a partir de diluições do veneno bruto de Bothrops atrox, p-valor = 0,785 (KL-07) e 0,20(ATCC) - (Teste de Kruskal-Wallis). A Tabela 5 mostra que ao se testar o veneno da espécie Crotalus durissus ruruima frente à cepa clínica KL-07, a atividade inibitória mais elevada (7,88%) foi obtida com concentração de 400 µg/mL e a menor (1,91%) com 25 µg/mL e que diante da cepa padrão ATCC não foi observada atividade inibitória em nenhuma das concentrações utilizadas do veneno supramencionado. 23 Tabela 5. Efeito das diferentes concentrações analisadas, em microdiluição, do veneno de Crotalus durissus ruruima sobre o crescimento de Candida albicans em meio YPD a 35º C, Manaus – AM. Atividade Inibitória (%) Concentração* (µg/mL) KL-07 ATCC DP KL-07 ATCC Mediana KL-07 400 7,88 2,38 6,61 200 5,29 2,25 4,07 100 4,29 0,53 4,05 50 6,47 1,87 7,49 25 1,91 12,5 2,83 6,25 3,30 1,08 3,19 3,125 5,42 1,73 6,35 1,5625 3,14 0,41 3,09 0,78125 4,25 1,91 4,86 0,00 2,84 4,12 0,00 2,13 1,42 ATCC 0,00 DP – desvio padrão, * concentrações obtidas a partir de diluições do veneno bruto de Crotalus durissus ruruima, p-valor = 0,785(KL-07) e 0,04(ATCC) - (Teste de Kruskal-Wallis). Na análise dos resultados obtidos nos testes de inibição, realizados em macro e microdiluição, observou-se não haver diferença estatisticamente significante ao nível de 5% entre as médias obtidas segundo as diferentes concentrações testadas tanto para o veneno da espécie Bothrops atrox (Tabelas 2 e 4), como da espécie Crotalus durissus ruruima (Tabelas 3 e 5). 24 5.4 Caracterização molecular dos venenos testados 5.4.1 Por cromatografia A análise comparativa dos perfis cromatográficos HPLC-RP-C18 dos venenos de Bothrops atrox (Figura 1) e Crotalus durissus ruruima (Figura 2), obtidos segundo procedimento cromatográfico descrito no item 4.6.1, mostrou diferenças quanto ao número, intensidade e tempo de retenção dos picos. 1,25 1,25 80 60 0,50 40 0,75 Volts 0,75 1,00 Acetonitrila (%) 1,00 Volts Absorbância (λ 216 nm) 100 Detector A - 1 (214nm) B.atrox teste2 0,50 0,25 0,25 20 0,00 0,00 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Minutes Figura 1. Perfil cromatográfico de veneno de Bothrops atrox – 4mg/500µl, velocidade de fluxo de 1mL/minuto, Solução A – 0,1% de TFA, Solução B - 0,1% de TFA em acetonitrila, Coluna – RP C18. 90 25 100 Detector A - 1 (216nm) cdr thiacasam10.dat 3,0 3,0 80 1,5 1,5 40 1,0 1,0 0,5 Volts 2,0 60 Acetonitrila (%) 2,5 2,0 Volts Absorbância (λ 216 nm) 2,5 0,5 20 0,0 0,0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 Minutes Figura 2. Perfil cromatográfico de veneno de Crotalus durissus ruruima – 4mg/500µl, velocidade de fluxo de 1mL/minuto, Solução A – 0,1% de TFA, Solução B - 0,1% de TFA em acetonitrila, Coluna – RP C18. 5.4.2 Por eletroforese Segundo o perfil por SDS-PAGE dos venenos testados (Figuras 3 e 4), observaram-se variações quanto ao perfil molecular, tanto em condições redutoras (presença de β mercaptoetanol) quanto em condições não redutoras (ausência de β mercaptoetanol), com ausência de algumas bandas protéicas nas amostras mais diluídas e predomínio das bandas com 14, 23 e 50 kDa (kiloDaltons) em ambos os venenos analisados. 26 MM (kDa) 50 23 14 1 2 3 4 Figura 3. Perfil SDS/PAGE dos venenos em condições redutoras onde: 1. Controle de B.atrox (10µg/µl); 2. Controle de C.d.r (10µg/µl); 3. C.d.r (0,4 µg/µl); 4. B.atrox (0,2 µg/µl). MM (kDa) 50 23 14 1 2 3 4 Figura 4. Perfil SDS/PAGE dos venenos em condições não-redutoras: 1. Controle de B.atrox (10µg/µl); 2. Controle de C.d.r (10µg/µl); 3. B.atrox (0,2 µg/µl); 4. C.d.r (0,4 µg/µl). 27 6 DISCUSSÃO Nos últimos anos, diversos peptídeos antimicrobianos têm sido encontrados em venenos de diferentes fontes animais e intensamente estudados no sentido de elucidar suas habilidades em inibir o crescimento de potenciais microorganismos patógenos (Gallo et al., 2002). No presente estudo foi avaliada a atividade inibitória in vitro de venenos brutos de duas serpentes amazônicas das espécies Bothrops atrox e Crotalus durissus ruruima frente o crescimento de Candida albicans, empregando-se uma metodologia simplificada de diluição em caldo YPD, a partir do protocolo M27A CLSI. De uma maneira geral, a atividade inibitória foi discreta em ambos os venenos testados. As médias de inibição relativas as diferentes concentrações selecionadas para os ensaios, com veneno de Bothrops atrox e de Crotalus durissus ruruima, não mostraram diferenças estatísticamente significativas entre si, sugerindo que os níveis de concentração não interferiram no grau de inibição ao se utilizar o veneno bruto. O perfil molecular, segundo as análises cromatográficas, mostrou diferenças quanto ao número, intensidade e tempo de retenção dos picos nos dois venenos estudados. Nas análises eletroforéticas foi possível observar ausência de algumas bandas protéicas nas amostras mais diluídas e predomínio das bandas com 14, 23 e 50 kDa em ambos os venenos analisados. Nos ensaios realizados em macrodiluição foi possível notar médias de inibição mais elevadas que as obtidas nos ensaios em microdiluição para ambos os venenos utilizados, entretanto estes valores distribuiram-se em diferentes níveis de concentração. Por conseguinte não foi possível se evidenciar uma correlação entre concentração e atividade inibitória. Ao se analisar a atividade inibitória nos ensaios realizados em microdiluição nota-se similaridade com os ensaios macro, tendo em vista a distribuição das médias de inibição onde não foi possível estabelecer correlação entre concentração e atividade inibitória. Observou-se também, discreta inibição frente a cepa clínica 28 identificada como KL-07, e curiosamente a ausência de efeito inibitório sobre a cepa padrão ATCC 3632. Com base nestes dados, é possível inferir se no veneno bruto a concentração de princípios ativos pode ser inferior ou não ideal se comparada a de venenos fracionados (Ribeiro et al., 2007) ou que talvez os compostos presentes no veneno bruto venham a sofrer algum tipo de interferência quanto à atividade inibitória por não se encontrarem plenamente ativos, uma vez que o veneno é constituído por um “pool” de proteínas e peptídeos, que apresentam diferenças no que se referem à quantidade e natureza química, e que desta forma ao interagirem em uma mesma reação podem gerar efeitos antagônicos entre si, anulando assim algum tipo de atividade biológica (Haeberli et al., 2000; Konno et al., 2001; Moerman et al., 2002). Estudos de Gomes et al. (2005) podem corroborar estes achados ao demonstrarem que uma fração peptídica (FV) isolada, presente no veneno de Bothrops jararaca, apresentou maior atividade inibitória sobre o crescimento de Candida albicans quando comparada ao efeito do veneno bruto. Sugere-se ainda, segundo os dados obtidos, a hipótese de que os venenos avaliados podem ter sofrido proteólise advinda de mecanismos de defesa do fungo, no caso a Candida albicans, haja vista a existência de cepas providas de genes específicos ligados à resistência clínica como MDR1 e CDR1 codificadores de proteínas que provocam a eliminação de um fármaco, com isso reduzindo seu acúmulo intracelular (Hernáez et al., 1997). Importante frisar a ausência de inibição frente à cepa padrão ATCC, levantando-se o questionamento se não existiriam diferenças entre as duas cepas testadas no que diz respeito a interações proteína-membrana mediadas por receptores (Thevissen et al., 1996), sugerindo que a cepa padrão em nosso estudo apresente mecanismos de defesa que impedem a ligação de proteínas específicas presentes no veneno a receptores na membrana da célula fúngica, levando assim a neutralização de um possível efeito inibitório. Uma outra hipótese a cerca dos resultados apresentados no presente trabalho seria a de que os venenos testados podem ter sido auto-degradados durante a fase de incubação com a suspensão de leveduras por proteases próprias 29 num processo conhecido como autoproteólise (Milne et al., 2003). Tanto o veneno de Bothrops atrox como o de Crotalus durissus ruruima apresentam na sua composição altas concentrações de serino e metaloproteases (Muniz, 2002; LópezLozano, 2002). Em referência aos métodos de avaliação da atividade antifúngica empregados neste estudo, verificou-se que os procedimentos técnicos, oriundos de adaptação do protocolo M27-A2 (NCCLS-CLSI, 2002), demonstraram boa reprodutibilidade, eficiência e acurácia, haja vista os resultados obtidos ao se testar as drogas antifúngicas IVS-0320 e IVS-0322, além de simplicidade quanto à execução, uma vez que não houve necessidade de aparato técnico de grande complexidade e o baixo custo que envolveu a realização dos mesmos. A complexidade metodológica; o alto custo; a demora do teste; e a dificuldade na leitura, são as principais limitações apontadas por diferentes autores em relação ao método padrão-ouro preconizado no protocolo M27-A do referido Comitê. Deste modo, através dos experimentos realizados sugere-se a aplicação de um protocolo alternativo que possibilita testar princípios ativos outros, além dos de serpentes, oriundos de fontes animais ou vegetais com potencial atividade antifúngica. 30 7 • CONCLUSÃO Os venenos de Bothrops atrox e Crotalus durissus ruruima mostraram discreta inibição in vitro frente ao crescimento de Candida albicans em meio de cultura líquido YPD; • Não foi possível estimar a concentração inibitória mínima dos venenos de Bothrops atrox e Crotalus durissus ruruima sobre o crescimento das cepas de Candida albicans empregadas nos testes. • Não houve diferença significativa no grau de inibição entre as concentrações selecionadas para análise em ambos os venenos testados tanto em macro quanto em microdiluição; • Os venenos de Bothrops atrox e Crotalus durissus ruruima mostraram diferenças quanto ao perfil molecular segundo análise cromatográfica e eletroforética; • Por meio deste estudo foi possível demonstrar que as técnicas de macro e microdiluição em caldo são eficazes para se avaliar a taxa de inibição de substâncias como venenos animais. • Com o presente trabalho surge a possibilidade de isolar e averiguar se frações protéicas e peptídicas, presentes em venenos de serpentes das espécies Bothrops atrox e Crotalus durissus ruruima, apresentam alguma atividade inibitória frente a cepas de Candida albicans. 31 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Akopian AN, Sivilotti L, Wood JN. A tetrodotoxin resistant voltage-gated sodium channel expressed by sensory neurons - Discovery of the first neuronal TTX-resistant sodium channel. Nature 1996; 379: 257-62. Andersson KE. Advances in the pharmacological control of the bladder. Exp Physiol 1999; 84:195-213. Arango MAC, Sanchez BJG, Galvis BLA. Productos naturales com actividad antimicótica. Rev Esp Quimioterap 2004; 17(4):325-31. Beeton C, Wulff H, Singh S, Botsko S, Crossley G, Gutman GA, Cahalan MD, Pennington M, Chandy KG. A novel fluorescent toxin to detect and investigate Kv1.3 channel up-regulation in chronically activated T lymphocytes. Journal of Biological Chemistry 2003; 278: 9928-37. Beeton C, Wulff H, Barbaria J, Clot-Faybesse O, Pennington M, Bernard D, Cahalan MD, Chandy KG, Béraud E. Selective blockade of T lymphocyte K+ channels ameliorates experimental autoimmune encephalomyelitis, a model for multiple sclerosis. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America 2001; 98: 13942-947. Bianchi L, Wible B, Arcangeli A, Tagliatatela M, Morra F, Castaido P, Crociani O, Rosati B, Faravelli L, Olivotto M, Wanke E. HERG encodes a K+ current highly conserved in tumors of different histogenesis: a selective advantage for cancer cells? Cancer Research 1998; 58: 815-22. Boman HG. Antibacterial peptides: key components needed in immunity. Cell 1991; 65: 205-07. Broekaert WF, Cammue, BPA, De Bolle MFC, Thevissen K, De Samblanx G, Osborn RW. Antimicrobial peptides from plants. Crit Rev Plant Sci 1997; 16: 297-323. Broekaert WF, Terras FRG, Cammue BPA, Vanderleyden J. An automated quantitative assay for fungal growth inhibition. FEMS Microbiol 1990; 69: 55-60. Brogden KA. Antimicrobial peptides: pore formers or metabolic inhibitors in bacteria? Nat Rev 2005; 3:238–50. Bulet P, Cociancich S, Dimarcq JL, Lambert J, Reichhart JM, Hoffmann D, Hetru C, Hoffmann JA. Insect immunity: isolation from a coleopteran insect of a novel inducible antibacterial peptide and of new members of the insect defensin family. J. Biol Chem 1991; 266: 24520-525. Bulet P, Hetru C, Dimarcq JL, Hoffmann D. Antimicrobial peptides in insects; structure and function. Dev Comp Immunol 1999; 23: 329-44. Cammue BPA, De Bolle MGC, Terras FRG, Proost P, Damme J, Van Rees SB, Vanderleyden J, Broekaert WF. Isolation and characterization of a novel class of plant antimicrobial peptides from Mirabilis jalapa L. seeds. J Biol Chem 1992; 267: 2228-233. 32 Casteels P, Ampe C, Jacobs F, Vaeck M, Tempst P. Apidaecins: antibacterial peptides from honeybees. EMBO J 1989; 8: 2387–391. Casteels P, Ampe C, Riviere L, Damme JV, Elicone C, Flemming F, Jacobs F, Tempst P. Isolation and characterization of abaecin, a major antibacterial response peptide in the honey-bee (Apis mellifera). Eur J Biochem 1990; 187: 381-386. Charney DS. Monoamine dysfunction and the pathophysiology and treatment of depression. J Clin Psychiatry 1998; 59: S11 – S14. Chen HC, Brown JH, Morell JL, Huang CM. Synthetic magainin analogues with improved antimicrobial activity. FEBS Lett 1988; 236: 462– 466. Cociancich S, Ghazi A, Hetru C, Hoffmann JA, Letellier L. Insect defensin, an inducible antibacterial peptide, forms voltage-dependent channels in Micrococcus luteus. J Biol Chem 1993; 268:19239 –245. Cruz KS. Prevalência de Agentes de Micoses em Pacientes Portadores do Vírus HIV Atendidos na Fundação de Medicinal Tropical do Amazonas–FMTAM [Dissertação]. Manaus (AM): Universidade do Estado do Amazonas, 2004. Debin JA, Maggio JE, Strichartz GR. Purification and characterization of chlorotoxin, a chloride channel ligand from the venom of the scorpion. Am J Physiol 1993; 264: 361–369. Dimarcq JL, Keppi E, Dunbar B, Lambert J, Reichhart JM, Hoffmann D, Rankine SM, Fothergill JE, Hoffmann JA. Insect immunity. Purification and characterization of a family of novel inducible antibacterial proteins from immunized larvae of the dipteran Phormia terranovae and complete aminoacid sequence of the predominant member, diptericin A. Eur J Biochem 1988; 171:17–22. Duclohier H, Molle G, Spach G. Antimicrobial peptide magainin I from Xenopus skin forms anion-permeable channels in planar lipid bilayers. Biophys J 1989; 56: 1017– 21. Egorov TA, Odintsova TI, Pukhalsky VA, Grishin EV. Diversity of wheat anti- microbial peptides. Peptides 2005; 26: 2064–73. Eng J, Kleinman WA, Singh L, Singh G, Raufman JP. Isolation and characterization of exendin - 4, an exendin - 3 analogue, from Heloderma suspectum venom. Further evidence for an exendin receptor on dispersed acini from guinea pig pancreas. J. Biol Chem 1992; 267: 7402 –05. Epi-info, Versão 3.3 For Windows. Centro de Controle de Doenças - CDC, Califórnia(LA); 1997. Ferreira A W, Ávila SLM. Diagnóstico Laboratorial das principais doenças Infecciosas e Auto-Imunes. 2ª ed. Rio de Janeiro(RJ): Guanabara Koogan; 2001. Ferreira SH, Greene lJ, Alabaster VA, Bakhle YS, Vane JR. Activity of various fractions of bradykinin-potentiating factor against angiotensin I. Converting enzyme. Nature 1970; 225: 379. 33 Gallo RL, Murakami M, Ohtake T, Zaiou M. Biology and clinical relevance of naturally occurring antimicrobial peptides. J Allergy Clin Immun 2002; 110: 823 – 831. Garcia LM, Lewis RJ. Therapeutic potential of venom peptides. Nature 2003; 2: 790 – 802, García-Olmedo F, Rodríguez-Palenzuela P, Hernández-Lucas C, Ponz F, Maraña C, Carmona MJ, López-Fando JL, Fernández JA e Carbonero P. Oxford Surveys Plant. Mol Cell Biol 1989; 6: 31-60. Gazit E, Boman HG, Shai Y. Interaction of the mammalian antibacterial peptide cecropin P1 with phospholipids vesicles. Biochemistry 1995; 34: 11479–488. Goldin AL et al. Nomenclature of voltage-gated sodium channels. Neuron 2000; 28: 365 – 368. Gomes VM, Carvalho AO, Da Cunha M, Keller MN, Bloch JRC, Deolindo P, Alves EW. Purification and characterization of a novel peptide with antifungal activity from Bothrops jararaca venom. Toxicon 2005; 45:817 –27. Haeberli S, Kuhn-Nentwig L, Schaller J, Nentwig W. Characterisation of antibacterial activity of peptides isolated from the venom of the spider Cupiennius salei (Araneae: Ctenidae). Toxicon 2000; 38: 373 – 80. Heller WT, Waring AJ, Leher RI, Harroun TA, Weiss TM, Yang L. Membrane thinning effect of the betasheet antimicrobial protegrin. Biochemistry 2000; 39:139–45. Hernáez ML, Pla J, Nombela C. Aspectos moleculares y genéticos de la resistencia a azoles en Candida albicans. Revista Iberoamericana de Micologia 1997; 14: 150154. Hofmann JA, Dimarcq JL, Bulet P. Les peptides antibacteriens inductibles des insectes. Medicine/Science 1992; 8: 432–39. Kagan BL, Selsted ME, Ganz T e Lehrer RI. Antimicrobial defensin peptides form voltage-dependent ion-permeable channels in planar lipid bilayer membranes. Proc Natl Acad Sci 1990; USA; 87:210–14. Kockum K, Faye I, Hofsten P, Lee JY, Xanthopoulos KG, Boman HG. Insect immunity. Isolation and sequence of two cDNA clones corresponding to acidic and basic attacins from Hyalophora cecropia. EMBO J 1984; 3: 2071–75. Konno K, Hisada M, Fontana R, Lorenzi CCB, Naoki H, Itagaki Y, Miwa A, Kawai N, Nakata Y, Yasuhara T, Neto JR, Azevedo Jr WF, Palma MS, Nakajima T. Anoplin, a novel antimicrobial peptide from the venom of the solitary wasp Anoplius samariensis. Biochim Biophys Acta 2001; 1550: 70–80. Laemmli UK. Cleavage of structural proteins during the assembly of the head of bacteriophage T4. Nature 1970; 227:680-85. Lehrer RI, Ganz T, Selsted ME. Defensins: endogenous antibiotic peptides of animal cells. Cell 1991; 64: 229–30. 34 Lin Z, Haus S, Edgerton J, Lipscombe D. Identification of functionally distinct isoforms of the N-type Ca2+ channel in rat sympathetic ganglia and brain. Neuron 1997; 18: 153-66. López-Lozano JL. Venenos de Serpentes da Amazônia: Propriedades e relações moleculares, fisiológicas e taxionômicas [Tese]. Brasília(DF): Universidade de Brasília,2002. Maloy WL, Kari UP. Structure – acitvity studies on magainins and other host defense peptides. Biopolymers 1995; 37: 105–22. Matsuzaki K, Sugishita K, Harada M, Fujii N, Miyajima K. Interactions of an antimicrobial peptide, magainin 2, with outer and inner membranes of Gram-negative bacteria. Biochim Biophys Acta 1997; 1327: 119–30. Metz-Boutigue MH, Kieffer AE, Goumon Y, Aunis D. Innate immunity: involvement of new neuropeptides. Trends Microbiol 2003; 11: 585 - 92. Millan MJ. Descending control of pain. Prog Neurobiol 2002; 66: 355 – 474. Milne TJ, Abbenante G, Tyndall JD, Halliday J. e Lewis RJ. Isolation and characterization of a cone snail protease with homology to CRISP proteins of the pathogenesis-related protein superfamily. J Biol Chem 2003; 278: 31105 –110. Moerman I, Bosteels S, Noppe W, Willems J, Clynen E, Schoofs I, Thevissen K, Tytgat J, Van Eldere J, Walt JVD, Verdonck F. Antibacterial and antifungal properties of a-helical, cationic peptides in the venom of scorpions from southern Africa. Eur. J. Biochem 2002; 269: 4799 – 4810. Muniz EG. Veneno de Crotalus durissus ruruima: Propriedades moleculares, farmacológicas e imunológicas [Dissertação]. Manaus (AM): Universidade Federal do Amazonas,2002. National Committee for Clinical Laboratory Standards/Clinical And Laboratory Standard Institute. Reference method for broth dilution antifungal susceptibility testing of Yeast; approved standard. NCCLS document. M27-A2 2002; 22: 15. Negroni R et al. Micosis associadas al SIDA. FUNDAI 2001; 301-24. Oliveira JC. Candidíase. In: Oliveira JC, editor. Micologia Médica. 1ª ed. Rio de Janeiro; 1999. p. 165 – 172. Ondetti MA et al. Angiotensin-converting enzyme inhibitors from the venom of Bothrops jararaca. Isolation, elucidation of structure and synthesis - Discovery of a biologically active peptide that led to the development of the drug Captopril. Biochemistry 1971, n.19, p. 4033 – 4039. Ondetti MA. Structural relationships of angiotensin converting-enzyme inhibitors to pharmacologic activity. Circulation 1988, n. 77, p. I74-I78. Pardo LA et al. Oncogenic potential of EAG K channels. EMBO J 1999, n.18, p. 5540 -5547. + 35 Pfaller MA, YU WL. Antifungal susceptibility testing. New technology and clinical applications. Infect Dis Clin North Am 2001, v.15, n. 4, p.1227 – 1261. Powderly WG. Cryptococcal meningitis and AIDS. Clin. Infect. Dis 1993, v.17, p. 837– 842. Rabert DK. et al. A tetrodotoxin-resistant voltage-gated sodium channel from human dorsal root ganglia, hPN3/SCN10A. Pain 1998, n. 78, p. 107-114. Ressler KJ, Nemeroff CB. Role of norepinephrine in the pathophysiology and treatment of mood disorders. Biol. Psychiatry 1999, n. 46, p.1219 -1233. Ribeiro SFF, Carvalho AO, Da Cunha M, Rodrigues R, Cruz LP, Melo VMM, Vasconcelos IM, Melo EJT, Gomes VM. Isolation and characterization of novel peptides from chilli pepper seeds: Antimicrobial activities against pathogenic yeasts. Toxicon 2007; 50: 600–11. Sharpe IA et al. Two new classes of conopeptides inhibit the adrenoceptor and noradrenaline transporter. Nature Neuroscience 2001, n. 4, p. 902–907. Discovery of the first peptide inhibitors of the adrenoceptor and noradrenaline transporter. Both classes were shown to act at allosteric sites on their targets. Sidrim CJJ, Moreira BJL. Fundamentos Clínicos e Laboratoriais da Micologia Médica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. Sitaram N, Nagaraj R, Interaction of antimicrobial peptides with biological and model membranes: structural and charge requirements for activity. Biochim Biophys Acta 1999, 1462, p. 29–54. Stansell JD. Pulmonary fungal infections in HIV-Infected persons. Semin Respir Infect 1993, v. 8, p. 116 –123. Stefanie H, Lucia KN, Johann S, Wolfgang N. Characterisation of antibacterial activity of peptides isolated from the venom of the spider Cupiennius salei (Araneae: Ctenidae). Toxicon 2000, n. 38, p. 373–380. Steiner H, Hultmark D, Engstrom A, Bennich H, Boman HG. Sequence and specificity of two antibacterial proteins involved in insect immunity. Nature 1981, n. 292, p. 246– 248. Suarez-Kurtz G, Vianna-Jorge R, Pereira BF, Garcia ML, Kaczorowski GJ. Peptidyl blockers of Shaker-type K v 1 channels elicit twitches in guinea-pig ileum by blocking K v 1.1 at the enteric nervous system and enhancing acetylcholine release. J Pharmacol Exp Ther 1999; 289: 1517-22. Szayna M et al. Exendin-4 decelerates food intake, weight gain, and fat deposition in Zucker rats. Endocrinology 2000; 141: 1936–41. Theevissen K, Ghazi A, De Samblanx GW, Brownlee C, Osborn RW e Broekaert WF. Fungal Membrane Responses Induced by Plant Defensins and Thionins. J Biol Chem 1996; 271:15018-25. 36 Trope MB. AIDS e Dermatologia Tropical. In: Talhari SNRG. Dermatologia Tropical. Rio de Janeiro: Medsi; 1995. TU AT. Venoms: chemistry and molecular biology, I, II. New York, John Wiley e Sons. 1977. P. 560. Ullrich N, Gillespie GY, Sontheimer H. Human astrocytoma cells express a unique chloride current. Neuroreport 1995; 7: 343 –47. Varanda EA, Giannini MJSM. Bioquímica de venenos de serpentes. In: Barraviera B, editor. Venenos: aspectos clínicos e terapêuticos dos acidentes por animais peçonhentos. 1ª ed. Rio de Janeiro: EPUB; 1999. P. 205 –23. Vieira S. Bioestatística, Tópicos Avançados. 2ª ed. Rio de Janeiro(RJ): Elservier, 2004. Wulff H et al. The voltage-gated K v 1.3 K+ channel in effector memory T cells as new target for MS. J Clin Invest 2003; 111: 1703 –13. Zaslof M. Magainins, a class of antimicrobial peptides from Xenopus skin: isolation, characterization of two active forms, and partial c-DNA sequence of a precursor. Proc Natl Acad Sci USA 1987; 84: 5449 –453.