INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA
LINGUAGEM E DO DISCURSO
Fernanda Miranda Menéndez
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
Universidade Nova de Lisboa
Ideias feitas sobre o que é um linguista
(ou o que os linguistas NÃO são)
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NÃO são poliglotas
NÃO são um dicionário ambulante
NÃO são forçosamente etimologistas
NÃO são GRAMÁTICOS PRESCRITIVOS
O que faz um linguista
• Tem conhecimentos sobre os
mecanismos de funcionamento das
línguas
• Estuda uma língua (ou mais) de forma
objectiva, analisando –a descritivamente,
sem conferir à sua descrição carácter
afectivo.
• Interpreta uma língua a partir da sua
realização efectiva
O que é a linguística?
• Estudo científico da linguagem
humana
A linguagem, a língua a fala
• Linguagem: capacidade de comunicar, inata a
todos os seres humanos ditos «normais»
• Língua: instrumento de comunicação adquirido,
constituído por um código linguístico dotado de
um sistema de regras comuns a uma mesma
comunidade
• Fala: utilização individual de um código
linguístico por um sujeito falante
• As teorias de Hjelmslev e de Coseriu
Sous peine d'en rester à jamais à l'induction incomplète, la
grammaire comparative que nous envisageons doit être dès
l'abord une grammaire générale. Dun certain point de vue la
langue est au langage ce qu'est la parole à la langue et l'usage à
la norme: c'est la réalisation d'un réalisable. Le système du
langage est un système de réalisables généraux , et non un
système de réalisés universels. La grammaire générale ne se
confond pas avec la grammaire universelle. La grammaire
générale est faite par la reconnaissance des faits réalisables et
des conditions immanentes de leur réalisation.”
HJELMSLEV, L. (1939) La structure morphologique, p.140
As teorias de Hjelmslev e de Coseriu
Diz Coseriu que é possível distinguir na língua três
séries de características, conforme o grau de abstração
e de formalização:
1) as características concretas, infinitamente variadas e
variáveis, dos fatos lingüísticos observados nas infinitas
manifestações individuais → a fala ;
2) as características normais, comuns e mais ou
menos constantes, independentemente da função
específica dos objetos → primeiro grau de abstração: a
norma ;
3) as características indispensáveis, isto é, funcionais →
segundo grau de abstração: o sistema.
Tipos de código para comunicar
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Código linguístico
Códigos sociais
Códigos culturais
Códigos comportamentais
Códigos gestuais
Etc.
LÍNGUA
• Não há correspondência entre língua,
povo e etnia. A maioria das sociedades é
plurilingue ou, pelo menos, pluridialectal.
• Para colmatar as diferenças, várias têm
sido as soluções encontradas. Mas todas
passam por uma vontade política (ex.
França, Suíça, Angola)
Língua e falante
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Competência linguística
Competência comunicativa
Competência metalinguística
Competência discursiva
Competência social
Etc.
Tipos de variação
• Variação Geográfica ou Diatópica
(do grego: dia + topos = "através de" + "lugar")
variação que ocorre de local para local, característica de
uma região ou até de um continente.
• Variação Sociocultural ou Diastrática
(do grego: dia + stratos = "através de" + "nível")
variação que ocorre entre as diversas camadas e grupos
sociais e culturais.
• Variação de Modalidade Expressiva ou
Diafásica
(do grego: dia + phasis = "através de" + "discurso")
variação que ocorre entre diferentes modos específicos
de comunicar (diferenças oral/escrito, linguagens
«secretas» ou especializadas como as gírias, diferenças
de adequação a situações sociais, etc.)
Variação e mudança
• Variação histórica do português
• Variação dialectal em território português
• Variação fora do território português
• O mito da norma padrão
Dialectos
setentrionais
Dialectos
centromeridionais
• INF Se for um macho, é um borrego, e se for
uma fêmea, é uma borrega. Só têm esse
nome enquanto são novas; passandem (…)
já a parir, (…) já não é borrega já é ovelha.
• INQ1 Olhe, mas quando têm um ano de
idade, mais ou menos?
• INF (…) Já é ovelha. Já se emprega…
• INQ1 Mas ainda não pariu mas já tem um
ano?
• INF (…) É que a ovelha está alfeira, ainda
não pariu.
(Alcochete, Estremadura)
in Coral-Sin (CLUL)
• Enquanto os outros ouvem as coisas, ou vêem,
e de si mesmo não têm inteligência, muitas
vezes, para descobrir qualquer coisa –
julgandem-se eles inteligentes! – e eu, como sei
descobrir qualquer coisa e não sei ler, pois sou
bruto, sou parvo.
Porches, Algarve
In Coral-sin (CLUL)
• No sábado foramos todos à praia.
Cabanas de Viriato, Beira Alta
• Atão despois venderamos tudo e
abalaramos para França.
Idem
Usos literários
«É bom que eu conheça Tormes nos seus
hábitos de Inverno.
Mas como o Melchior lhe afiançara que «a
chuvinha só viria para a tarde», Jacinto decidiu
ir antes de almoço à Corujeira (…). Não
andáramos porém meio caminho, quando,
depois de um arrepio nas árvores, um negrume
carregado, bruscamente, desabou sobre nós
uma grossa chuva oblíqua (…).»
Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (ed. Livros
do Brasil, pp. 184-187)
O que é a norma padrão?
• Um dialecto que, por questões
socioculturais e políticas, se impôs ou foi
escolhido para ser usado na escola e na
administração pública.
• Os conhecimentos básicos da língua
portuguesa à saída da escolaridade
obrigatória correspondem – em princípio –
ao domínio da norma padrão.
Fonética e Fonologia
• O que é a Fonologia?
• Distinção
SOM / FONEMA / GRAFEMA
- Os traços distintivos (diferentes teorias)
- Hipótese de trabalho prático
1. Traqueia
2./3 Glote / Cordas vocais
4. Faringe
5. Cavidade bucal
6. Cavidade nasal
7.Véu palatino / ponta = úvula
8. Alvéolos
9. Língua
10. Dentes
11. Palato
Cavidade bucal
MORFOLOGIA
PALAVRA
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Palavra ortográfica
Palavra fonológica
Formas de palavra
Lexema
As palavras podem ser divididas em
«bocadinhos», ou seja, são formadas por
constituintes morfológicos
MORFOLOGIA:
classes de palavras
• Palavras variáveis
• Palavras invariáveis
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•
Nomes
Adjectivos
Determinantes
Pronomes
Verbos
Advérbios
Preposições
Conjunções
MORFOLOGIA
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•
•
Palavra
Radical
Tema
Afixo
Radical
• Simples – nas palavras simples
• Forma complexa – nas palavras
complexas que integra duas ou mais
constituintes, um dos quais é um radical
simples
• Radical simples: unidade lexical
portadora de informação idiossincrática
de natureza morfológica, sintáctica e
semântica
Tema
(constituinte temático)
• Lexicalmente determinado, é geralmente visível num
sufixo.
• Verbos  conjugações (vogal temática)
• Nomes e adjectivos  índice temático
• Com formas a
o
e
ø (atemática)
constituintes temáticos marginais
Afixo
• Constituinte morfológico que ocorre
obrigatoriamente junto de uma forma de
base. São uma classe fechada, isto é, há
um conjunto fechado de formas que
podem ser usados para formar todas as
palavras aceites pela língua portuguesa.
• Conforme a sua posição na palavra, o
afixo pode ser prefixo, interfixo (p.ex. a
vogal de ligação em amabilidade) e
sufixo.
Prefixo
• Afixo que se coloca à esquerda de uma forma
de base. A maioria é modificador, incidindo a
nível semântico e não alterando nem a
categoria morfológica nem a função sintáctica:
re- (repetir, refazer, reconstruir)
pre- (prefácio)
in- (incapaz, infeliz)
No entanto, também pode haver prefixos
derivacionais. Estes alteram a categoria
morfológica da forma de base a que se
associam.
Sufixo
• Afixo que se coloca à direita da forma de
base. No caso do Português, todas as
flexões são realizadas por sufixos, mas
podem ter também funções modificadoras
(por exemplo, os diminutivos e os
aumentativos) e derivacionais (por
exemplo, o sufixo –ar continua hoje
produtivo para formar verbos a partir de
nomes ou adjectivos)
Parassíntese
• Processo de formação de palavras em
que co-ocorrem um prefixo e um sufixo.
Actualmente, em Português, a
parassíntese está activa sobretudo na
formação de verbos (com os prefixos a- e
en-)
Nome
• É uma classe aberta de palavras. Apresenta flexão em
género, número e grau.
• Designa, ou nomeia, seres com existência real ou
ficcional : seres animados (pessoas, animais) objectos,
estados, qualidades, acções sentimentos.
• Pode ser especificado por determinantes e
quantificadores.
• O nome serve o núcleo do sujeito, dos complementos
directo e indirecto e de agente da passiva. Toda a
palavra que ocupar esse núcleo sofre um processo de
conversão para se tornar um nome.
Nome
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•
•
•
•
•
Flexão dos nomes
Quanto ao género:
Feminino
Masculino
Epiceno ( a que se junta «macho» ou «fêmea»)
Sobrecomum (que apresentam a mesma forma)
Comum de dois (o morfema de flexão de género
é suportado pelo determinante)
Adjectivo
• Funciona como modificador do adjectivo.
Serve para caracterizar seres, objectos ou
noções atribuindo-lhes uma qualidade –
adjectivos qualificativos. São assim
qualificadas as qualidades, o modo de ser,
a aparência, o estado e a relação
estabelecida.
• Podem também servir para atribuir uma
quantificação – adjectivos numerais
Adjectivo
• Flexão
• Adjectivo biforme (branco, branca)
• Adjectivo uniforme (triste)
Determinante
• Trata-se de uma classe fechada que
especifica um nome e que ajuda a
construir a sua referência. Tem por isso
valor deíctico, uma vez que resulta de
uma operação de localização.
• Ex: O meu carro é vermelho.
Determinante
• Os determinantes podem ser artigos,
demonstrativos e possessivos. Convém reter
que, ao contrário dos pronomes com a mesma
designação, os determinantes demonstrativos e
possessivos co-ocorrem com nomes em posição
pré-nominal.
• Os determinantes nulos não têm realização
lexical e acompanham nomes não contáveis.
• Ex: Comprei terra para o meu jardim.
Quantificador
• Palavra que fornece especificações de
um nome sobre o número, quantidade ou
parte de um todo que a sua construção de
referência necessita.
• O quantificador pode ser indefinido,
interrogativo (que, quanto(s), quanta(s)),
relativos (cujo/a), ou universal (todo(s),
toda(s), ambos, cada e qualquer).
Advérbio
• Palavra invariável em género e número.
• Funcionam como modificadores de frase e
do grupo verbal
• Sintacticamente são complementos
adverbiais.
Conjunção
• Classe fechada de palavras
• Função:
• Conjunções subordinativas – introdutora
de frases subordinadas
• Conjunções coordenativas – introdutora
quer de frases quer de grupos nominais,
adjectivais, verbais, preposicionais e
adverbiais.
Sintaxe
• Conhecimento sintáctico intuitivo/ juízos de
gramaticalidade
• As combinações de palavras são linearmente
ordenadas – caso contrário achamos que a
frase está errada.
• Há elementos da língua que seleccionam
outros «automaticamente» - ou seja, há
dependências léxico-sintácticas (por exemplo
certos verbos seleccionam como complemento
finito o conjuntivo (espero que chegues a
tempo)
juízos de gramaticalidade
• Segundo Chomsky, qualquer falante
consegue emitir juízos de
gramaticalidade sobre a sua língua,
distinguindo o que é correcto do que é
agramatical (isto é, mal formado
sintacticamente).
• No entanto, podemos produzir frases
agramaticais que sejam aceitáveis sob
o ponto de vista do sucesso da
comunicação.
Conhecimento sintáctico
intuitivo
• Ordem linear
• Relações gramaticais e processos de as
marcar
• Estruturas dos constituintes
• Dependências léxico-sintácticas
• Condições de referência
Frase
• Conjunto de uma ou mais palavras que é
dotada de um determinado sentido
completo. A sua capacidade de ter um
sentido lógico não depende da extensão –
há frases de apenas uma palavra – nem
da presença efectiva de unidades
representativas de todas as classes de
palavras (há frases com omissão do
verbo, por exemplo).
Tipos de Frase
•
•
•
•
Declarativa
Interrogativa
Imperativa
Exclamativa
Estrutura dos constituintes
• Só algumas das combinações possíveis
de palavras são gramaticais (jogo de
recortar palavras de um jornal, e depois
dividi-las por envelopes para se formar
frases a partir daí seguindo os passos do
jogo «formar palavras». Em princípio,
nem todas as combinações serão
possíveis. Convém explorar porque
razão não o são).
Critérios para obter frases bem
formadas
• Critério formal
• Distribuição: soma dos contextos sintácticos em
que cada palavra ocorre num «corpus»
representativo de uma língua natural.
• Por serem distribucionalmente equivalentes, as
palavras que pertencem à mesma categoria
sintáctica não podem co-ocorrer no mesmo
ponto da cadeia sintagmática
Composição fixa de palavras
• Geralmente chamadas frases feitas ou
expressões fixas, são adquiridas desde cedo
por um falante de língua materna. É mais
complicado ensiná-las a alunos estrangeiros,
porque muitas vezes subvertem a lógica da
frase em que se inserem ou não são sequer
usadas em toda a sua extensão, deixando ao
interlocutor o ónus do preenchimento da paret
omitida.
Frase simples / frase complexa
• Frase simples – unidade sintáctica dotada de
sentido lógico em que existe um único verbo
(ou principal ou copulativo), juntamente com o
sujeito e os complementos seleccionados pelo
verbo principal.
• Frase complexa - unidade sintáctica dotada
de sentido lógico em que existe mais do que
um verbo (ou principal ou copulativo),
juntamente com o sujeito e os complementos
seleccionados por um dos verbos.
Universais de linguagem
• 1. em frases declarativas com sujeito e
objecto nominais, o sujeito precede
habitualmente os objectos.
• 2. em língua com preposições, o genitivo
segue-se geralmente ao nome de que
depende (o despacho do ministro)
Propriedades sintacticamente relevantes
dos itens lexicais
• Há restrições nas combinações dos verbos
com outros constituintes:
• Verbos intransitivos - não seleccionam
complemento directo
• Verbos transitivos – necessitam de
complemento para que a frase possa ter um
sentido completo. Podem ser:
• Transitivos directos – que definem um SN
Transitivos directos e indirectos – que definem
um SN e SPREP
• Transitivos indirectos - que definem um
SPREP
Modificador
• Função desempenhada por constituintes não
seleccionados pelo grupo sintáctico que
modificam. Podem ser nominais, adjectivais,
preposicionais, adverbiais e frásicos e cada um
deles modifica respectivamente a categoria a
que pertence.
• Os modificadores nominais podem ser restritivos
(restringem a informação dada pelo núcleo) ou
apositivos (não restringem a informação)
Elementos essenciais
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Sujeito
Predicado
Predicativo do sujeito
Predicativo do complemento directo
Complemento directo
Complemento indirecto
Complemento agente da passiva
Complemento preposicionado
Elementos não essenciais
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Modificador, que pode ser:
Preposicional
Adverbial
Frásico
Modificador restritivo
Adjectivais
Apositivos
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